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1 FACULDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR GESTÃO DEMOCRÁTICA UTOPIA OU REALIDADE? RIO DE JANEIRO 2010 SANDRA HELENA DE MOURA CARVALHO

GESTÃO DEMOCRÁTICA UTOPIA OU REALIDADE? · Vitor Henrique Paro, Libâneo, Gadotti, entre outros procurei estabelecer as características de uma verdadeira gestão democrática

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FACULDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR

GESTÃO DEMOCRÁTICA UTOPIA OU REALIDADE?

RIO DE JANEIRO

2010

SANDRA HELENA DE MOURA CARVALHO

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SANDRA HELENA DE MOURA CARVALHO

GESTÃO DEMOCRÁTICA UTOPIA OU REALIDADE?

Monografia apresentada à Faculdade Cândido Mendes como requisito parcial à obtenção do título de pós-graduação em Administração e Supervisão Escolar.

Orientador: Maria Esther de Araújo

RIO DE JANEIRO 2010

FACULDADE CÂNDIDO MÊNDES CURSO DE ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO ESCOLAR

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AGRADECIMENTO

A minha grande amiga Eliane, pela colaboração e incentivo

em todos os momentos.

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"Se administrar é utilizar racionalmente os

recursos para a realização de fins determinados, administrar a escola

exige a permanente impregnação de seus fins pedagógicos na forma

de alcançá-los".

Vitor Henrique Paro. Gestão Democrática da Escola Pública, (2006, p. 161)

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Resumo Nesta pesquisa procuro mostrar a gestão democrática, analisando a mesma

em períodos anteriores e a sua real importância no panorama atual. Assinalo

as dificuldades encontradas por um gestor na tentativa de implantação de um

processo democrático que favoreça um amplo e coeso desenvolvimento do

processo educacional. O motivo para escolha deste tema foi a observação de

um panorama autocrata da gestão escolar no município onde sou professora e

onde o gestor não é eleito, como acontece na rede estadual de educação.

Sendo assim, pretendo apresentar as vantagens e benefícios que uma gestão

democrática pode oferecer se adequadamente implantada. Fazer um

comparativo de como se deu esse tipo de gestão ao longo dos anos anteriores

(se é que ela realmente existiu ou existe). Além de apresentar as beneficies de

uma gestão democrática, pretendo também, por meio desta monografia,

apresentar como deve ser uma gestão democrática, seus aspectos positivos e

seus perigos. A hipótese que pretendo apresentar por meio desta monografia é

a apresentação de um adequado perfil de gestão democrática, indicar as

possíveis posturas que devem ser tomadas para que se possa garantir a

implantação de um processo de gestão realmente democrático. Pretendo fazer

estudo de campo do ambiente que atuo como gestora.

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Metodologia

Esta pesquisa apresenta a gestão democrática na escola pública sobre dois

enfoques. O primeiro tem um caráter histórico e documental da gestão

democrática no Brasil., através de pesquisas sobre o tema e os trabalhos

existentes, principalmente os posteriores à incorporação da Gestão

Democrática na Constituição Federal de 1988. Tendo como base autores como

Vitor Henrique Paro, Libâneo, Gadotti, entre outros procurei estabelecer as

características de uma verdadeira gestão democrática. Separei os dados

coletados em capítulos contendo informações relevantes como escolha de

diretores, conselhos escolares, participação, descentralização, autonomia. O

segundo é mais empírico, envolveu, principalmente a minha experiência como

educadora e gestora de uma escola pública do Município de Duque Caxias. É

resultado de muita observação, de visitação às outras unidades do município

onde atuo. Fiz uma análise crítica da nossa realidade, ressaltei a necessidade

da participação dos diversos segmentos da comunidade escolar, a importância

da escolha democrática para diretor e procurei indicar o longo caminho que

ainda temos a percorrer para a implementação gestão democrática nas escolas

públicas.

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GESTÃO DEMOCRATICA: “Utopia ou Realidade”?

SUMÁRIO

Introdução............................................................................................................

I - Histórico: A Gestão Escolar no Brasil............................................................11

1.1 Brasil Colônia...............................................................................................12

1.2 Brasil Império: .............................................................................................14

1.3 Brasil República ..........................................................................................15

1.4 Contextualização: .......................................................................................19

II - Gestão Democrática: ...................................................................................20

2.1 Componentes Básicos de uma Gestão Democrática..................................22

2.2 A Gestão Democrática na Legislação Brasileira ........................................27

2.3 Princípios e características de uma Gestão Democrática...........................29

2.4 O perfil do gestor e dos demais profissionais envolvidos numa .

Gestão Democrática .........................................................................................35

2.5 Os benefícios da Gestão Democrática e os perigos de uma

interpretação equivocada de seus princípios. ..................................................41

III - A Gestão Democrática na Escola Pública ..................................................47

IV – Gestão Democrática: utopia ou realidade?................................................52

Conclusão..........................................................................................................55

Bibliografia.........................................................................................................57

Anexo.................................................................................................................58

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GESTÃO DEMOCRATICA: “Utopia ou Realidade”?

1- INTRODUÇÃO

“Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem

medo do risco, por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que

se atua, em que se cria, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que

apaixonadamente diz sim a vida.”

Paulo Freire (Um salto para o futuro – Construindo a Escola Cidadã – MEC,1998, p. 31)

Em decorrência aos contínuos processos de transformação que veem

acontecendo em todo o mundo nos aspectos econômicos, sociais e culturais, e

com a globalização e os recursos tecnológicos o intercâmbio é quase imediato

de conhecimentos e padrões sociais e culturais entre outros fatores. Na

educação, um efeito deste movimento são os processos de descentralização

da gestão escolar, hoje percebidos como uma das mais importantes tendências

das reformas educacionais em nível mundial. Para se alcançar uma gestão

democrática se faz necessário um estudo profundo sobre o tema, para que se

possa estabelecer mecanismos legais e institucionais ligados às ações que

busquem a participação de toda sociedade na formulação de políticas

educacionais; no planejamento; na tomada de decisões; na definição do uso de

recursos e necessidades de investimento; na execução das deliberações

coletivas; nos momentos de avaliação da escola e da política educacional. Tais

ações serão analisadas ao longo deste trabalho. Como se dá essa

participação? Quem participa? Em que momentos? No que participa? Qual a

importância das decisões tomadas? Quais os desafios enfrentados por escolas

que decidem praticar a gestão democrática e conquistar mais autonomia? São

aspectos a serem definidos para a implantação de uma gestão democrática

A construção de uma escola democrática pressupõe uma forma de

gestão preocupada com a participação de todos os membros da comunidade

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escolar – alunos e seus pais, professores, funcionários e direção. Atualmente

não se concebe uma escola sem o mínimo de abertura ao diálogo com aqueles

que, direta ou indiretamente, contribuem para a consecução do ensino e

promoção da aprendizagem. Assim é que a escola, além de estimular a

integração interna, deve procurar estabelecer parcerias com organizações

comunitárias, ONG’s e outras associações que possam somar esforços e

garantir a continuidade do processo de democratização da sociedade e de

suas instituições educacionais. Antes disso, porém, os professores,

coordenadores, diretores e demais servidores devem estar dispostos a

construir a democracia na escola, e esta apresentar as condições institucionais

favoráveis à participação. O primeiro passo desta investigação é verificar a

estrutura da gestão escolar; como seus instrumentos institucionais contribuem

para a gestão democrática; e o grau de resistência à implementação dessa forma

(democrática) de gerir a escola.

Todo processo de democratização da escola é calcado na figura do gestor e

em suas ações que consistem em administrar democraticamente para

professores, alunos, pais, funcionários e comunidade. Que se interessa pelo

aprendizado dos alunos e a qualidade do ensino. Que não se intimida diante

das dificuldades que enfrenta pela resistência de alguns às mudanças e ou até

porque existe pessoas inclusive professores que tentam burlar,impedir as

mudanças por comodismo. O gestor democrático realiza o planejamento, as

reuniões pedagógicas os eventos educativos e culturais com a participação, de

fato, de todos inclusive a comunidade, e não nesta outra realidade que a

Escola vive, os diretores articulam quase que isoladamente as tomadas de

decisões e isso não melhorava a qualidade de ensino. O perfil deste gestor e

seu trabalho será tratado e analisado nesta pesquisa.

Em suma a proposta desta dissertação sobre gestão democrática é:

• abordar as diferentes concepções que disputam, na arena educacional,

as proposições e vivências em termos de autonomia escolar, na

construção do projeto político-pedagógico de cada unidade de ensino;

• definir o papel da comunidade na gestão escolar, nos conselhos

escolares e no processo de escolha para cargo de direção;

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• estabelecer parâmetros para gerir de forma racional os recursos

financeiros; demonstrar a importância do PPP na construção da

identidade da escola

• fazer uma avaliação institucional da escola pública como o processo

que confere informações para as decisões, suas possibilidades e

limites;

• demonstrar que as mudanças nas escolas só irão acontecer de fato se

houver uma organização do trabalho pedagógico com equipe técnica e

gestor trabalhando em conjunto com o corpo docente, funcionários e

demais membros da equipe escolar avaliando e reconstruindo seus

projetos, planejamentos e planos.

Em sua totalidade esta dissertação, terá com objeto de análise a escola

pública, por se encontrar dentro do meu campo de atuação e por considerar ser

este o melhor caminho para uma verdadeira democracia, tanto na escola como

na vida. Pretendo demonstrar que o primeiro trabalho do gestor no sentido de

provocar mudanças no âmbito escolar é motivar professores, funcionários e

alunos, valorizando-os escutando-os e depois traçando um plano de ação

focando o que é prioritário A partir daí envolver as lideranças do bairro, os

meios de comunicação locais e o trabalho voluntário da comunidade. Uma

reflexão sobre gestão democrática da escola, a partir da compreensão por

parte dos professores e dos demais sujeitos com ela envolvidos e, neste caso,

especificamente relacionada à escolha e a atuação do gestor escolar, pode

contribuir para a superação de conflitos com vistas à melhoria do trabalho, das

relações estabelecidas na escola e, fundamentalmente, da qualidade do

ensino. Pretendo identificar princípios para implementação de uma gestão

democrática e também localizar atribuições fundamentais dos diretores na

definição de propostas de implementação daquele tipo de gestão, que devem

ser compreendidas também pelos docentes, técnicos e demais sujeitos

educacionais.

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I-HISTÓRICO

A GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL

É impossível desvincular gestão escolar dos processos políticos do país, por

isso se faz necessário uma análise das diversas formas de gestão dentro dos

vários períodos de nossa história até chegarmos a esta conscientização da

importância de um trabalho participativo, autônomo e direcionado para a

qualidade do ensino, com vistas a uma escola democrática e formadora de

cidadãos cientes de seus direitos e deveres.

Além das conjunturas históricas aludidas reativas ao sentido da palavra

educação, originária do termo latino "educere", tal palavra significa conduzir,

criar e sustentar. Ao longo do seu desenvolvimento histórico, adquiriu novo

significado e associações, a exemplo da Grécia Antiga, onde a palavra latina

citada se transformou em sinônimo do conceito de escola. O elo criado entre

educação e escola permitiu o nascimento de uma nova instituição ocidental

dedicada ao trabalho e ensinamento de crianças e jovens. Essa veio

acompanhada da necessidade de organização e administração. A

administração, assim como a educação se transformou; abandonaram as

primeiras regras de organização, baseadas na família, na religião e no exército

e construíram novos mecanismos e metodologias de organização institucional,

principalmente a partir da Revolução Industrial, ocorrida na Europa do século

XVIII.

"Se administrar é utilizar racionalmente os recursos para a realização de fins

determinados, administrar a escola exige a permanente impregnação de seus fins

pedagógicos na forma de alcançá-los".

Vitor Henrique Paro. Gestão Democrática da Escola Pública, (2006, p. 161).

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1.1 A GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL COLÔNIA

A história da educação colonial no Brasil se inicia com a consolidação territorial

e se estende ao ano de 1822, quando se consolida o processo de

emancipação política.

O Estado português mantinha uma atuante relação com a Igreja. Durante o

período colonial, a monarquia portuguesa delegou à Companhia de Jesus, o

papel eminente de desenvolver a educação.

A administração geral da Companhia de Jesus era executada em Roma, tendo

como articulador a figura do provincial geral, responsável pelo andamento das

casas e colégios em todas as províncias. Na colônia, o cargo de provincial era

o nível máximo e obtinha a função de promover o estudo na província e vigiar o

cumprimento das normas do Ratio Studiorum. O Ratio simbolizava as formas

de administração e organização dos currículos e métodos de ensino que

orientavam os professores em suas aulas.

A crise da educação jesuítica no Brasil se deu no reinado de D. José I,

principalmente pelas estratégias do seu primeiro ministro, Sebastião José de

Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, que aboliu algumas das estruturas do

Antigo Regime, principalmente pelo monopólio da Igreja.

Em 1759, os jesuítas são expulsos de Portugal e de todas as suas colônias e o

governo Português toma o encargo de administrar a educação, sendo esta

considerada de interesse do Estado e não mais da Igreja.

Pombal instaura o Alvará Régio na tentativa de dar continuidade ao trabalho

pedagógico implementado pelos jesuítas, a partir deste período o Estado passa

a intervir na administração e gestão do sistema escolar.

O Alvará estabelece o cargo de Diretor Geral de Estudos, a prestação de

exames para professores, institui a licença para o funcionamento do ensino

público e particular, os concursos para admissão de professores, cria o cargo

de comissários para a inspeção e controle das escolas. Decorreram quase

trinta anos entre a expulsão dos jesuítas e a assunção do controle da educação

pelo Governo português, tempo suficiente para ocasionar o desmantelamento

do único sistema educacional presenciado pelo país.

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A Era de Pombal teve seu fim em 1777, e até a vinda da Família Real em 1808

pouco se mudou em relação a administração escolar no Brasil.

Para atender à elite que chegara junto com a família real, D. João VI criou

novos cursos, instituições culturais e educacionais e ampliou o número de

vagas nos cursos que já existiam. As medidas criadas por D João VI,

propiciaram a possibilidade de se construir no país uma educação formalizada,

com a concentração de estudos específicos, direcionados a formação

especializada. Em síntese, a administração escolar joanina se limitou ao

atendimento dos interesses do governo, criando os cursos superiores no intuito

de atender as necessidades da sua corte, delegando a segundo plano as

escolas de primeiras letras. A administração escolar nada mudou ao período

anterior, com a manutenção das aulas avulsas e a fiscalização e controle do

poder central sobre a educação.

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1.2 A GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL IMPÉRIO

As rupturas políticas e sócio-culturais refletiram na administração pública

escolar do Brasil independente. O novo projeto educacional brasileiro tinha

como principal interesse garantir a instrução primária para a população branca

e livre. Para a concretização deste ideal pedagógico foi necessário reformular

os quadros administrativos e burocráticos do Brasil, valorizando a elite nacional

recém formada e quebrando os últimos vínculos existentes no âmbito

educacional com Portugal.

A Lei Geral de 1827, que contribuiu para expandir a organização da

administração escolar no Brasil, citava o compromisso do Estado com a criação

de escola de primeiras letras, para todos os cidadãos em todas as cidades,

vilas e vilarejos.

Durante o período regencial se efetivou o Ato Adicional de 1834, promovendo a

descentralização do ensino. A administração escolar foi dividida por fatores

sociais; a coroa ficaria responsável pelo nível superior, promovendo a

educação da elite; por outro lado as províncias se responsabilizavam pela

educação popular, gerenciando a escola elementar e secundária.

O Segundo Reinado se inicia em 1840, com o golpe da maioridade de D Pedro

II e se estende ao ano de 1889, quando é proclamada a República no Brasil. O

maior avanço do Segundo Reinado se dirigiu ao nascimento de um novo

modelo de administração, marcada pela conscientização dos professores.

No campo da administração escolar, os professores ficaram responsáveis pela

administração e manutenção das escolas elementares; a junta de professores

de cada colégio exercia a função de diretor. Somente no segundo segmento o

cargo de diretor existia, sendo tanto nas escolas elementares e no segundo

segmento, tais professores eram subordinados e fiscalizados pelo Estado.

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1.3 A GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL REPÚBLICA

O projeto político da educação republicana e sua administração propunham o

plano de educação para todos, porém na prática foi marcado por um forte

dualismo. De um lado existia a elitização do ensino que procurava a

continuidade dos estudos científicos e para o povo se direcionava a proposta

de uma educação elementar e profissional. A educação superior e secundária

ficaria a cargo da União e a educação profissional e fundamental caberia à

administração dos estados.

A partir de 1914 com a Primeira Guerra Mundial, ocorreu a decadência da

política cafeeira, passando a se desenvolver e se investir em novos setores

econômicos, a exemplo da indústria. O desenvolvimento da indústria

proporcionou o surgimento de uma pequena burguesia urbana, procurando

uma educação de cunho acadêmico e científico. Foi neste contexto que as

classes populares, ligadas ao setor industrial, denominadas como operariado,

passou a exigir a implantação e consolidação das necessidades mínimas de

escolarização, desenvolvendo protestos referentes a possibilidade de

expansão do ensino.

Na década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de

mudança das características políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu

o Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a

fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna

Prestes (1924 a 1927). Além disso, no que se refere à educação, foram

realizadas diversas reformas de abrangência estadual, como as de Lourenço

Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de

Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de

Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro

Leão, em Pernambuco, em 1928.

Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo

capitalista de produção. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão-

de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Sendo

assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em

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1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário

e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram

conhecidos como "Reforma Francisco Campos".

Em 1934 a nova Constituição (a segunda da República) dispõe, pela primeira

vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e

pelos Poderes Públicos.

É outorgada uma nova Constituição em 1937 e seu texto sugere a preparação

de um maior contingente de mão-de-obra para as novas atividades abertas

pelo mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o ensino pré-

vocacional e profissional.

Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, são reformados alguns

ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do

Ensino, e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino profissionalizante.

O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma nova Constituição

de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área da Educação,

determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência

à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Ainda em

1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha regulamenta o Ensino Primário e o

Ensino Normal, além de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial -

SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução

de 1930.

Depois de anos de acirradas discussões foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de

dezembro de 1961, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos

donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto com os que

defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros.

Em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro

Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a

sua idéia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do

Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas

teorias científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a

educação passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da

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Educação e Cultura; em 1961 a tem inicio uma campanha de alfabetização,

cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em

40 horas adultos analfabetos; em 1962 é criado o Conselho Federal de

Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos

Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano Nacional de

Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da

Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.

Em 1964, um golpe militar põe fim a todas as iniciativas de se revolucionar a

educação brasileira.

É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular

contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência

física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a

formação educacional um cunho profissionalizante.

No fim do Regime Militar a discussão sobre as questões educacionais já

haviam perdido o seu sentido pedagógico e assumido um caráter político.

profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico,

passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em

nome do saber pedagógico.

Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente

marcante na educação, foi o trabalho do economista e Ministro da Educação

Paulo Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através de uma Medida

Provisória extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho

Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta

mudança tornou o Conselho menos burocrático e mais político.

Mesmo que possamos não concordar com a forma como foram executados

alguns programas, temos que reconhecer que, em toda a História da Educação

no Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve execução de tantos

projetos na área da educação numa só administração.

Modificar a organização e reordenar a gestão da educação foram problemas

que compareceram recorrentemente na discussão da política educacional

brasileira, em diferentes momentos históricos, pondo em pauta temas como

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descentralização, municipalização, participação comunitarismo, gestão

democrática e "modernização" da gestão educacional.

Concluindo podemos dizer que a História da Educação Brasileira tem um

princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. Ela é feita em

rupturas marcantes, onde em cada período determinado teve características

próprias. É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura.

Na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura precisaria

implantar um modelo que fosse único, que atenda às necessidades de nossa

população e que seja eficaz e o ponto de partida é autonomia das escolas e a

gestão democrática. , que exige uma mudança de mentalidade de todos os

membros da comunidade escolar e participação ativa do Estado.

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1.4 CONTEXTUALIZAÇÃO

Durante muito tempo, o nosso país vivenciou um governo democrático de

"fachada", tendencioso, e, sobretudo, autoritário, em que a classe social

dominante apresentava como um dos mais eficazes procedimentos

administrativos, a limitação e a inibição das manifestações e participações

populares em qualquer tipo de instituição mantida ou subsidiada pelo Estado.

Na busca de uma educação que possibilite ao sujeito superar os desafios do

momento, aumentando a auto-estima e a confiança necessária para operar

sobre a restrição do que lhe é negado, observa-seque, desde então, vários

educadores procuram respostas que levem em consideração o problema de

desenvolvimento econômico e a participação da comunidade, iniciando assim,

a busca da inserção crítica do cidadão brasileiro no processo de

"democratização da escola".

Uma escola democrática é uma escola que se baseia em princípios

democráticos, em especial na democracia participativa, dando direitos de

participação iguais para estudantes, professores e funcionários. Esses

ambientes de ensino colocam as vozes da juventude como os atores centrais

do processo educacional, ao engajar estudantes em cada aspecto das

operações da escola, incluindo aprendizagem, ensino e liderança. Os adultos

participam do processo educacional facilitando as atividades de acordo com os

interesses dos estudantes

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II .GESTÃO DEMOCRÁTICA

“A Administração Escolar, em sua forma democrática e cooperativa, não é algo

pronto, que se possa aplicar como uma receita (...). Embora se tenha presente que a

autoridade deve ser compartilhada por todos, o que supõe formas coletivas ou

colegiadas de gestão escolar, não é possível estabelecer a priori, com precisão, qual

a forma mais adequada dessa administração.” Paro (2006, p. 161)

É interessante verificar como o conceito evoluiu com o a passar dos anos do

que seria gestão escolar e permitir pensar em gestão no sentindo de gerir uma

instituição escolar, desenvolvendo estratégias no cotidiano com a finalidade de

uma democratização da gestão educacional.

Conforme apontado por Lück (2000, p. 11), gestão escolar:

[...] constitui uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva promover a

organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e

humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos

estabelecimentos de ensino orientadas para a promoção efetiva da aprendizagem

pelos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar adequadamente os desafios

da sociedade globalizada e da economia centrada no conhecimento..

A Gestão Democrática é uma forma de gerir uma instituição de maneira que

possibilite a participação, transparência e democracia. È um sistema único e

descentralizado que supõe objetivos e metas educacionais claramente

estabelecidos entre escolas e governo, visando à democratização do acesso e

da gestão e à construção de uma nova qualidade de ensino, sem que seja

necessário passar por incontáveis instâncias de poder intermediário, como no

caso do modelo hierárquico e vertical de poder. A gestão democrática da

escola é um passo importante no aprendizado da democracia da escola é um

passo importante no aprendizado da democracia. A gestão democrática pode

melhorar o que é específico na escola, isto é, seu ensino.

A gestão democrática não é um processo simples de curtíssimo prazo, mas

também não é um processo irrealizável, de prazo interminável. Isso significa

que o mesmo se constituirá numa ação, numa pratica a ser construída na

escola. Ela acontecerá, por exemplo, associada à elaboração do projeto-

político-pedagógico da escola e à implantação de Conselhos Escolares que

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efetivamente influenciem na gestão escolar com um todo e de medidas que

garantam autonomia administrativa, pedagógica e financeira da escola, sem

eximir o Estado de suas obrigações com ensino público. Gestão democrática

se caracteriza por reconhecer a importância da participação consciente e

esclarecida da comunidade escolar nas decisões sobre a orientação e

manejamento do trabalho a ser desenvolvido.

Os princípios que norteiam a Gestão Democrática são:

• Descentralização: A administração, as decisões, as ações devem ser

elaboradas e executadas de forma não hierarquizada.

• Participação: Todos os envolvidos no cotidiano escolar devem

participar da gestão: professores, estudantes, funcionários, pais ou

responsáveis, pessoas que participam de projetos na escola, e toda a

comunidade ao redor da escola.

• Transparência: Qualquer decisão e ação tomada ou implantada na

escola tem que ser de conhecimento de todos.

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2.1 COMPONENTES BÁSICOS

A Gestão Democrática é formada por alguns componentes básicos:

Constituição do Conselho escolar; elaboração do Projeto Político

Pedagógico de maneira coletiva e participativa; definição e fiscalização da

verba da escola pela comunidade escolar; divulgação e transparência na

prestação de contas; avaliação institucional da escola, professores, dirigentes,

estudantes, equipe técnica; eleição direta para diretor (a);

Conselhos Escolares

O Conselho Escolar é um colegiado com membros de todos os segmentos da

comunidade escolar com a função de gerir coletivamente a escola. Os

Conselhos Escolares podem servir somente para discutir problemas

burocráticos, ser compostos apenas por professores e diretor (a), como um

‘Conselho de Classe’, mas se estiver dentro dos princípios da Gestão

Democrática esse Conselho terá que discutir politicamente os problemas reais

da escola e do lugar que ela está inserida com a participação de todos os

sujeitos do processo. Para que se garanta a constituição de um Conselho

Escolar com essas características, Antunes (SEED, 1998) aponta alguns

parâmetros importantes a serem considerados:

Natureza do Conselho Escolar: Deve ser deliberativa, consultiva, normativa e

fiscalizadora.

Atribuições fundamentais: Elaborar seu regimento interno; elaborar, aprovar,

acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico; criar e garantir

mecanismos de participação efetiva e democrática da comunidade escolar;

definir e aprovar o plano de aplicação financeiros da escola; participar de

outras instâncias democráticas, como conselhos regional, municipal, e estadual

da estrutura educacional, para definir, acompanhar e fiscalizar políticas

educacionais.

Normas de funcionamento: O Conselho Escolar deverá se reunir

periodicamente, conforme a necessidade da escola, para encaminhar e dar

continuidade aos trabalhos aos quais se propôs; a função do membro do CE

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não será remunerada; serão válidas as deliberações tomadas por metade mais

um dos votos dos presentes da reunião.

Composição: Todos os segmentos existentes na comunidade escolar deverão

estar representados no CE, assegurada a paridade (número igual de

representantes por segmento); o diretor é membro nato do conselho.

Processo de escolha dos membros: A eleição dos membros e suplentes

deverá ser feita na unidade escolar, por votação direta, secreta e facultativa.

Presidência do Conselho Escolar: Qualquer membro efetivo do conselho

poderá ser eleito seu presidente, desde que esteja em pleno gozo de sua

capacidade civil.

Critérios de participação: Participam do Conselho com direito a voz e voto

todos os membros eleitos por seus pares; os representantes dos estudantes a

partir da 4ª série ou com mais de 10 anos terão sempre direito a voz e voto,

salvo nos assuntos que, por força legal, sejam restritivos aos que estiverem no

gozo de sua capacidade civil; poderão participar das reuniões do Conselho,

com direito a voz e não voto, os profissionais de outras secretarias que

atendam às escolas, representantes de entidades conveniadas, Grêmio

Estudantil, membros da comunidade, movimentos populares organizados e

entidades sindicais.

Mandato: Um ano, com direito à recondução.

Projeto político pedagógico

Para que se tenha êxito em fazer um Projeto Político-Pedagógico, com a

participação da comunidade, e para que sua implementação esteja presente na

realidade escolar, algumas características são fundamentais:

Comunicação eficiente: Um projeto deve ser factível e seu enunciado

facilmente compreendido.

Adesão voluntária e consciente ao projeto: Todos precisam estar

envolvidos. A co-responsabilidade é um fator decisivo no êxito de um projeto.

Suporte institucional e financeiro: Tem que ter vontade política, pleno

conhecimento de todos e recursos financeiros claramente definidos.

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Controle, acompanhamento e avaliação do projeto: Um projeto que não

pressupõe constante avaliação não consegue saber se seus objetivos estão

sendo atingidos.

Credibilidade: As idéias podem ser boas, mas, se os que as defendem não

têm prestígio, comprovada competência e legitimidade, o projeto pode ficar

bem limitado.

Eleição para diretor.

Na Gestão Democrática o dirigente da escola só pode ser escolhido depois da

elaboração de seu Projeto Político-Pedagógico. A comunidade que o eleger

votará naquele que, na sua avaliação, melhor pode contribuir para

implementação do PPP. Porém, existem outras formas de escolha de diretor,

que são a realidade da maioria das escolas públicas do Brasil. A escolha para

diretor nas escolas sempre foi um assunto muito polêmico e discutido tanto nas

escolas quanto entre especialistas da educação. O assunto encontra-se em

grande evidência também devido ao fato de ser, entre as outras práticas de

administração da escola, aquela que envolve um maior interesse dos

governantes, pois é uma importante ferramenta de cooptação pelo poder – "te

dou o cargo e você me dá o apoio". A grande atenção voltada a este tema faz

alguns até pensarem que a Gestão Democrática se restringe à eleição direta

para diretor.

Na gestão democrática, as "queixas-lamentos" dos professores, coordenadores

e diretores, ou seja, as reclamações de determinadas situações que procuram

sempre um responsável para o problema, sem tomar nenhuma atitude efetiva,

são substituídas cada vez mais, pela compreensão dos problemas abordados e

as buscas de soluções possíveis, procurando priorizar o que de melhor

poderão oferecer para o desenvolvimento harmonioso das próprias crianças. É

preciso acabar com o circulo de lamentações, mas isso não ocorre a partir da

negação dos problemas, faz-se necessário que as reclamações sejam

trabalhadas, consideradas e refletidas (isso não significa, necessariamente,

que todos os problemas serão resolvidos). O mais importante é o processo de

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busca de soluções, em que o professor transforme essas "queixas-lamentos"

em juízo crítico, abrindo e valorizando o espaço para a elaboração das

questões necessárias à (re) construção do conhecimento, da aprendizagem.

A gestão democrática deve estar impregnada por uma certa atmosfera que se

respira na escola, na circulação das informações, na divisão do trabalho, no

estabelecimento do calendário escolar, na distribuição das aulas, no processo

de elaboração ou de criação de novos cursos ou de novas disciplinas, na

formação de grupos de trabalho, na capacitação dos recursos humanos. A

gestão democrática é, portanto, atitude e método. A atitude democrática é

importante, mas não o suficiente. Precisamos de métodos democráticos, de

efetivo exercício da democracia. A democracia também é um aprendizado,

demanda tempo, atenção e trabalho.

Avaliação

É necessária uma avaliação da escola como instituição, do gestor, dos

professores, dos alunos e de todos os envolvidos no processo de gestão

democrática de uma unidade escolar.

Rever o PPP, buscar novas tecnologias, observar o caminhar do aluno e o seu

progresso assim como as suas dificuldades, procurar novos caminhos, sempre

dando ênfase ao trabalho em equipe.

A avaliação do sistema escolar e das escolas pode se dar por duas

modalidades: a avaliação institucional e a avaliação acadêmica.

A avaliação institucional é uma função primordial do sistema de organização e

gestão dos sistemas escolares e das escolas. Essa avaliação, também

chamada de administrativa, visa à obtenção de dados quantitativos r

qualitativos sobre os alunos, os professores, a estrutura organizacional, os

recursos físicos e materiais, as práticas de gestão, a produtividade dos cursos

e dos professores, etc., com o objetivo de emitir juízos valorativos e tomar

decisões em relação ao desenvolvimento da instituição. A avaliação acadêmica

ou científica visa à produção de informações sobre resultados da

aprendizagem escolar em função do acompanhamento e revisão das políticas

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educacionais, do sistema escolar e das escolas, tendo em vista formular

indicadores de qualidade dos resultados do ensino. Ambas estão centradas na

obtenção de dados e informações relacionados com a eficiência e eficácia dos

sistemas de ensino e das escolas. Porém deve ser ressaltado que a avaliação

dos alunos não pode ser substituída pela avaliação do sistema de ensino. Ao

contrário, a avaliação do sistema de ensino e da escola é que deve buscar

seus critérios de relevância na avaliação feita pelos professores, ou seja, a

serviço da melhoria da qualidade cognitiva da aprendizagem, onde os objetivos

de ensino é que irão determinar as formas de avaliação.

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2.2 A Gestão Democrática na Legislação Brasileira

No Brasil, com a reabertura político-democrática, pós Ditadura Militar (1964 –

1985), a Constituição Federal de 1988 chegou para definir a “gestão

democrática do ensino público, na forma da lei” como um de seus princípios

(Art. 206, Inciso VI). .A promulgação da Constituição, em 1988, tornou

obrigatória a adaptação das Constituições Estaduais e das Leis Orgânicas do

Distrito Federal e dos municípios às novas determinações, dentre elas a do

princípio da gestão democrática do ensino público. Alguns anos mais tarde, a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, vem reforçar esse

princípio, acrescentando apenas “e a legislação do sistema de ensino” (Art. 3º,

Inc. VIII). A partir de então, o tema se tornou um dos mais discutidos entre os

estudiosos da área educacional.

A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A participação da sociedade civil no processo constituinte fez-se mais

organizada em função da existência de um Fórum que congregou entidades de

âmbito nacional na defesa do ensino público e representou uma plataforma

avançada dessa defesa. A gestão democrática do ensino fez-se presente nas

reivindicações das entidades, indicando que, já naquele momento, a idéia de

democratização da educação superava o conceito de escola para todos,

incluindo a noção da escola como espaço de vivência democrática e de

administração participativa. A despeito das mobilizações para que a gestão

democrática do ensino fosse incluída na Constituição sem restrições, manobras

de grupos conservadores no Congresso Nacional, se não conseguiram

expurgar a expressão em sua totalidade, terminaram por limitá-la ao ensino

público.

Antes mesmo de incorporada a gestão democrática do ensino público na

Constituição de 1988, a mobilização em torno de sua introdução na LDB foi

iniciada. Coube ao Deputado Octávio Elísio (PSDB-MG), apresentar um projeto

de lei à Câmara Federal, partindo de um estudo de Dermeval Saviani publicado

na revista da ANDE8 e substituindo o componente sobre financiamento da

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educação por um texto mais detalhado, baseado em estudos realizados por

Jacques Velloso e José Carlos Merchior. O projeto apresentado não continha

nenhuma referência explícita sobre a gestão democrática como princípio do

ensino público, apesar de, naquele momento, este já ser um ponto conquistado

na Constituição recentemente promulgada. A mobilização do Fórum,

transformado em Fórum em Defesa da Pública na LDB, com a ampliação de

sua base de representação. O substitutivo Jorge Hage (PSDB-BA), como ficou

conhecido, incorporou, no entanto, importantes avanços no campo da

democratização da educação, inclusive de sua gestão democrática, por meio

de mecanismos como autonomia pedagógica e administrativa e de gestão

financeira das unidades escolares, bem como de descentralização dos

sistemas de ensino. Somente aprovado pelo plenário da Câmara Federal em

13 de maio de 1993, quando a correlação de forças políticas já havia se

alterado, seguiu para o Senado Federal, onde já havia sido apresentado pelo

Senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) outro projeto, em 20 de maio de 1992. O

Senado Federal teve, então, a incumbência de analisar o projeto aprovado na

Câmara Federal e o originado na própria casa. Tendo passado por um período

de intensa turbulência, em sua tramitação no Senado, a LDB finalmente

promulgada em dezembro de 1996 como Lei 9394/96 termina por contemplar

de maneira direta ou indireta a gestão democrática do ensino público.

Além dessas referências diretas, a LDB fixa incumbências dos

estabelecimentos de ensino, incluindo, no Art. 12, a elaboração e execução da

proposta pedagógica, e no Art. 15, a ampliação progressiva de autonomia

pedagógica, administrativa e de gestão financeira nas escolas. Lei 9394/96,

Art. 3º, Inciso VIII sobre a legislação dos sistemas de ensino. Lei 9394/96, Art.

14. sobre a elaboração do PPP e a criação dos conselhos escolares. Lei

9394/96, Art. 56. trata da gestão democrática nas instituições de ensino

superior “Estes artigos da LDB, acima citados, dispõem que a “gestão democrática do ensino

público na educação básica aos sistemas de ensino, oferece ampla autonomia às

unidades federadas para definirem em sintonia com suas especificidades formas de

operacionalização da gestão, com a participação dos profissionais da educação

envolvidos e de toda a comunidade escolar e local” (VIEIRA, p.7 – 20, 2005).

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2.3 PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DE UMA GESTÃO

DEMOCRÁTICA

Princípios da gestão democrática

Por ser um trabalho complexo a o gestão democrática requer o conhecimento e

adoção de alguns princípios básicos, cuja aplicação, deve estar subordinada às

condições concretas de cada escola, São eles:

• Autonomia das escolas e da comunidade educativa.

Autonomia de uma escola é representada pelo poder de decisão sobre seus

objetivos e suas formas de organização; manter-se relativamente independente

do poder central: gerir livremente os recursos financeiros.. Poder traçar o seu

próprio caminho com a participação e dos professores, alunos, funcionários,

pais e comunidade.Na escola pública a autonomia é relativa, uma vez que a

escola está vinculada ao sistema e às políticas publicas.

• Relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da

equipe escolar.

Este princípio engloba o exercício da direção e a responsabilidade individual de

cada membro da equipe escolar, a serviço dos objetivos do ensino,

especialmente da qualidade cognitiva dos processos de ensino e

aprendizagem.

“..., a organização escolar democrática implica não só a participação na gestão mas a

gestão da participação.”

Jose Carlos Libâneo (2008, p.143)

• Envolvimento da comunidade no processo escolar

A presença da comunidade na escola têm várias implicações, tais como:

preparar o projeto pedagógico-curricular e acompanhar e avaliar a qualidade

dos serviços prestados. Além disso, a participação da comunidade escolar em

processos decisórios dá respaldo a governos municipais e estaduais para

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encaminhar ao Poder Legislativo projetos de lei que atendam aos ensejos da

população.

• Planejamento das tarefas

O plano de ação de uma escola ou o projeto pedagógico curricular, discutido e

analisado publicamente pela equipe escolar, torna-se instrumento unificador

das atividades escolares, convergindo em sua execução o interesse e o

esforço coletivo dos membros da escola.

• Formação continuada para o desenvolvimento pessoal e

profissional dos integrantes da comunidade escolar

A organização e a gestão do trabalho escolar requerem o constante

aperfeiçoamento profissional de toda a equipe escolar. Dirigir uma escola

implica conhecer bem seu estado real, observar e avaliar constantemente o

desenvolvimento do processo de ensino, analisar com objetividade os

resultados, fazer compartilhar experiências docentes bem sucedidas. Para o

efetivo exercício da gestão democrática da escola é necessário capacitar tosos

os seus segmentos, principalmente pais e alunos, respondendo às exigências

dessa prática. As secretarias de Educação devem, portanto, comprometer-se

com esta capacitação.

• Consultar a comunidade escolar

Se desejarmos que a população se incorpore à vida social, com presença ativa

e decisória, não podemos conceber a definição de política educacional e a

gestão escolar com caráter centralizador e autoritário. O processo de consulta

e intervenção por parte dos usuários junto aos órgãos governamentais deve ser

prática constante. Nesse sentido, seminários, assembléias, debates, encontros

etc., devem, portanto, comprometer-se com esta capacitação.

• Utilização de informações concretas e análise de cada problema em

seus múltiplos aspectos, com ampla democratização das

informações

Analisar os problemas em seus múltiplos aspectos significa verificar a

qualidade das aulas, o cumprimento dos programas, a qualificação e a

experiência dos professores, as características socioeconômicas e culturais

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dos alunos, os resultados do trabalho que a equipe propôs atingir, a saúde dos

alunos, a adequação dos métodos e procedimentos didáticos. A

democratização das informações implica o acesso de todos às informações e

canais de comunicação que agilizem a tomada de conhecimento das decisões

e de sua execução.

• Garantir a lisura nos processos de definição da gestão

Para que se garantam transparência e respeito aos princípios éticos nas ações

relacionadas à gestão democrática - escolha dos dirigentes escolares,

implantação dos Conselhos de Escola e gestão da instituição educativa-, todos

os cuidados devem ser tomados pela comunidade escolar e pelas instituições e

pessoas envolvidas nesse processo. É preciso garantir a todos acesso aos

acontecimentos e às resoluções e fixar democraticamente as normas e

mecanismos de fiscalização;

• Avaliação compartilhada

Todas as decisões e procedimentos devem ser acompanhados e avaliados

com base na organização de um trabalho voltado para as ações pedagógicas,

que atenda aos objetivos básicos da instituição e que conte com a participação

de todos os membros da equipe escolar.

• Relações humanas produtivas e criativas assentadas na busca de

objetivos comuns

È muito importante as relações interpessoais em função da qualidade do

trabalho de cada educador, da valorização da experiência individual, do clima

amistoso de trabalho. As relações devem ser baseadas no diálogo e no

consenso.

CARACTERÍSTICAS DE UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA

• Estrutura organizacional

A Gestão Democrática implica a existência de uma sólida estrutura

organizacional, responsabilidades muito bem definidas, posições seguras em

relação às formas de assegurar relações interativas democráticas,

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procedimentos explícitos de tomada de decisões, formas de acompanhamento

e de avaliação.

• Objetivos Comuns

A consolidação de uma gestão escolar de cunho democrático-participativo

requer competência cognitiva e afetiva, respaldada na contextualização de

valores, hábitos, atitudes e conhecimentos. Para o desenvolvimento de atitudes

coletivas, é importante cultivar o espírito de coesão, a partir da formação da

equipe escolar, em torno de objetivos comuns.

• Proposta pedagógica inovadora

Gestão democrática se concebe como a tarefa de abrir os portões da escola

acompanhada de uma nova proposta pedagógica, servindo de instrumento de

transformação dessas práticas e não apenas uma reiteração dessa nova

formulação. Faz-se necessário superar as formas conservatórias de

organização e gestão, adotando formas alternativas, criativas, de modo que

aos objetivos sociais e políticos da escola correspondam estratégias

adequadas e eficazes de organização e gestão.

“A gestão democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de ser

consolidado, pois se trata da participação crítica na construção do projeto político

pedagógico e na sua gestão.”

Zilah Veiga (2002, p. 18):

• Participação

A participação fortalece a gestão democrática, contudo há uma necessidade de

descentralização e democratização da educação para que venha provocar

mudanças pedagógicas no processo ensino-aprendizagem

“O entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a idéia de participação,

isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre seu

encaminhamento e agir sobre elas em conjunto”.

Lück(1998,p.15),

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Uma gestão é considerada democrática e participativa quando existe um

movimento de participação, que tanto pode vir do interior da escola quanto da

comunidade, e que pode ser de desconstrução da subalternidade. Não são

dois movimentos, mas um movimento em rede. Para isso, faz-se necessário

superar as formas conservadoras de organização e gestão, adotando formas

alternativas, criativas, de modo alcançar estratégias adequadas e eficazes para

se implantar uma gestão democrática. A participação influi na democratização

da gestão e na melhoria de ensino.

“Todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o funcionamento

da escola, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e trabalham,

intensificar seu desenvolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação

ali oferecida.”

Gadotti e Romão(1997, p.16)

Participação significa a atuação dos profissionais da educação e dos usuários

(alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação

articulados entre si. Há a participação como meio de conquista da autonomia

da escola, dos professores, dos alunos, constituindo-se como prática formativa,

como elemento pedagógico, metodológico e curricular. Há a participação como

processo organizacional em que os profissionais e usuários da escola

compartilham alguns processos de tomada de decisões.

• Diálogo

A escola democrática é aquela que está aberta ao diálogo intenso com toda

comunidade escolar, sem distinção; procura moldar as formas instituídas de

organização da escola ao novo momento de democratização da sociedade e

da educação escolar.

• Gestor comprometido

A escola precisa ter liderança de um gestor comprometido com a qualidade da

educação e com as transformações sociais que possibilite avançar o aluno nos

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mais variados aspectos: social, político, intelectual e humano. As atitudes os

conhecimentos o desenvolvimento de habilidades na formação do gestor da

educação são elementos cruciais para o funcionamento da educação escolar

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2.4 O PERFIL DO GESTOR E DOS DEMAIS PROFISSIONAIS

ENVOLVIDOS NUMA GESTÃO DEMOCRÁTICA

“É que a democracia, como qualquer sonho, não se faz com palavras

desencarnadas, mas com reflexão e prática”

Paulo Freire (Um salto para o futuro – Construindo a Escola Cidadã – MEC, 1998, p. 43 )

Este capítulo tem inicio com o seguinte questionamento: Quais as formas

ditas democráticas de participação de pais, alunos, funcionários,

professores e gestor dentro do ambiente escolar?

“Uma grande escola exigirá docentes competentes, abertos para o mundo e para o

saber, sempre de novo redefinidos. Docentes e estudantes conscientemente

comprometidos. Uma grande escola exigirá espaços físicos, culturais, sociais e

artísticos, equipados que abriguem toda a sabedoria acumulada da humanidade e

toda a esperança de futuro – que não seja continuidade do presente, porque este está

em ritmo de barbárie – mas seja sua ultrapassagem. Uma grande escola exigirá

tempo. Tempo de encontro, de encanto, de canto, de poesia, de arte, de cultura, de

lazer, de discussão, de gratuidade, de ética e de estética, de bem-estar e de bem-

querer e de beleza. Porque escola grande se faz com grandes cabeças (é certo!), mas

também com grandes corações, com muitos braços, que se estendem em abraços

que animam caminhadas para grandes horizontes.” Redin(1999,p.07)

A divisão do trabalho corresponde ao agrupamento de funções, segundo

determinados critérios, de forma a permitir que a carga total de trabalho seja

desempenhado satisfatoriamente pelas pessoas disponíveis para o seu

desempenho.

PAIS E/OU REPONSÁVEIS

A participação de pais no processo pedagógico e na definição das propostas

educacionais, o que supõe avaliação, foi, durante muito tempo, indesejada, um

tabu nos meios educacionais. Mas faz parte do domínio público de que "é

preciso toda uma aldeia para se educar uma criança". E a legislação tem

previsto a participação de pais em Conselhos, de Escola, Fundos Gestores os

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mais variados e outras modalidades. Apesar de entender como positiva a

incorporação de novos setores à discussão – e, quiçá, decisão – educacional, é

importante destacar que este é um terreno de contradições e disputas de

propostas políticas variadas. Finalmente, a participação de pais é um caminho

ainda longo a se percorrer, pois "não representa algo que apenas seja

adicionável à atual organização da escola, para que, melhorando-a, ela

permaneça, no essencial, igual àquilo que tem sido e que é", conforme

indica Licínio Lima (2002, p. 71). Trata-se de investir na transformação da

"cara da escola" que passa pela criação e efetivação de mecanismos de

participação como base à Gestão Democrática.

ALUNOS

A escola convive com alunos diariamente e, de maneira consciente ou não,

ensina não só por meio de conteúdo com o qual trabalha em sala de aula. Mas

também pelas relações que estabelece no dia-a-dia. Se o aluno só ouvir,

dificilmente aprenderá a falar; se fala no momento que bem entende,

apresentará dificuldade para ouvir o outro; se só é avaliado, não aprenderá a

avaliar; se só realizar tarefas individuais, dificilmente aprenderá a pensar e

decidir coletivamente; se só cumprir ordens, não aprenderá a estabelecer seus

limites; se suas tarefas forem sempre dirigidas, não aprenderá a ser criativo.

A forma como a escola organiza seu tempo e a forma como ela organiza

seu espaço também ensinam aos alunos. Por isso, a escola não educa só

quando educadores escrevem ou falam. Querendo ou não, a prática cotidiana

contribui para reforçar ou superar determinadas formas de agir e pensar. É

necessário que os educadores tenham consciência de sua prática e saibam a

serviço de que projeto de sociedade ele está. O conteúdo com o qual a escola

trabalha e a prática que adota estão contribuindo para formar que tipo de ser

humano? Para viver em que sociedade?

Em relação a estes questionamentos, Gadotti tem a resposta:

“O aluno aprende quando ele se torna sujeito de sua aprendizagem. E, para ele se

tornar sujeito de sua aprendizagem, ele precisa participar das decisões que dizem

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respeito ao projeto da escola, projeto esse inserido no projeto de vida do próprio

aluno. Não há educação e aprendizagem sem sujeito da educação e da

aprendizagem. A participação pertence a própria natureza doa ato pedagógico.”

Gadotti ( Um salto para o futuro – Construindo a Escola Cidadã – MEC, 1998, p.44)

O Conselho Escolar pode ser o espaço de construção do projeto da escola

voltado aos interesses da comunidade que dela se serve, proporcionando o

exercício da cidadania, o aprendizado de relações sociais mais democráticas, a

formação de cidadãos ativos. Por meio do conselho o aluno e demais membros

da comunidade poderá controlar a qualidade de um serviço prestado,

acompanhando e opinando sobre a educação que lhe é oferecida. Outra

atividade que garante a participação dos alunos no processo de

democratização da gestão é o Grêmio Estudantil. O Grêmio Estudantil é uma

entidade representativa dos alunos criada pela Lei Federal nº. 7.398/85, que

lhes confere autonomia para se organizarem em torno de seus interesses, com

finalidades educacionais, culturais, cívicas e sociais. Deve ser regulamentado

no Regimento Escolar da Unidade.

FUNCIONÁRIOS ADMINISTRATIVOS E DE APOIO ESCOLAR

A concepção democrático-participativa também deve estar presente na relação

entre a direção e seus funcionários. Acentua a importância da busca de

objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de tomada

de decisões, sem, todavia, desobrigar as pessoas da responsabilidade

individual. Ou seja, uma vez tomadas as decisões coletivamente, cada

profissional deve assumir a sua parte no trabalho.

PROFESSORES

Os professores têm como função básica realizar o objetivo prioritário da escola,

o processo de ensino e aprendizagem. Os professores formam junto com a

direção e os especialistas, a equipe escolar. Além de seu papel específico de

docência, também têm a responsabilidade de participar na elaboração do

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projeto-político-pedagógico, na realização das atividades da escola e nas

decisões dos conselhos de escola e de classe, das reuniões com pais e das

demais atividades cívicas, culturais e recreativas da comunidade. A Gestão

Democrática concebe a docência como trabalho interativo, aposta na

construção coletiva dos objetivos e das práticas escolares, no diálogo e na

busca do consenso. Os professores devem participar ativamente da gestão e

organização da escola, contribuindo nas decisões de cunho organizativo.

administrativo e pedagógico-didático. Para isso, ele precisa conhecer bem os

objetivos e funcionamento da escola, dominar e exercer competentemente sua

profissão de professor, trabalhar em equipe e cooperar com os outros

profissionais.

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

produção ou a sua construção.”

Paulo Freire (Pedagogia da Autonomia-1996-p.47)

COORDENADOR PEDAGÓGICO OU SUPERVISOR EDUCACIONAL

Também chamado de Orientador Pedagógico. Deve ser o especialista nas

diversas didáticas e o parceiro mais experiente do professor. É ele quem

responde por esse trabalho junto ao diretor, formando assim uma relação de

parceria – e cumplicidade – para transformar a escola num espaço de

aprendizagem. As funções de coordenação pedagógica podem ser sintetizadas

nesta formulação: planejar, coordenar, gerir e acompanhar e avaliar todas as

atividades pedagógico-didáticas e curriculares da escola e da sala de aula,

visando atingir níveis satisfatórios de qualidade cognitiva e operativa das

aprendizagens dos alunos. “os elementos materiais e conceituais não cumprem sua função no processo se não

estiverem associados ao esforço humano coletivo; da mesma forma, o esforço

humano coletivo necessita dos elementos materiais e conceituais para ser aplicado

racionalmente.”

(Paro,1988, p.24)

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ORIENTADOR EDUCACIONAL

É o profissional cujo papel principal é atuar com os alunos, conscientizando-os

de seus valores e dificuldades, levando-os à realização em todas as estruturas

e em todos os planos de sua vida. Tendo o aconselhamento sua principal

forma de atuação.

O orientador educacional assume funções de assistência ao professor, aos

pais, às pessoas da escola com os quais os educandos mantêm contatos

significativos, no sentido de que estes se tornem mais preparados para

entender e atender às necessidades dos alunos, tanto com relação aos

aspectos cognitivos e psicomotores, como os afetivos.

SUPERVISOR ESCOLAR

É o funcionário destacado pela Secretaria de Educação, geralmente um

educador (especialista), para dar apoio às escolas e fazer a interface do

Executivo com elas. Tem como função dar apoio técnico e administrativo e

garantir a implantação da política pública.

DIRETOR

O diretor é o gestor escolar por excelência, aquele que lidera, gerencia e

articula o trabalho de professores e funcionários em função de uma meta: a

aprendizagem de todos os alunos. É ele quem responde legal e judicialmente

pela escola e pedagogicamente por seus resultados- essa última atribuição, a

mais importante, é às vezes esquecida. È um profissional com conhecimentos

e habilidades para exercer liderança, iniciativa e utilizar práticas de trabalho em

grupo para assegurar a participação de alunos, professores, especialistas e

pais nos processos de tomada de decisões e na solução dos problemas. Tem

uma importância significativa para que a escola seja respeitada pela

comunidade. O diretor é um líder, uma pessoa que consegue aglutinar as

aspirações, os desejos, as expectativas da comunidade escolar e articular a

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adesão e a participação de todos os segmentos da escola na gestão de um

projeto comum. Como gestor da escola, como dirigente, o diretor tem uma

visão de conjunto e uma atuação que apreende a escola nos seus aspectos

pedagógicos, culturais, administrativos, financeiros. Em razão disso, a escolha

do diretor requer muita responsabilidade do sistema de ensino e da

comunidade escolar. Infelizmente, predomina ainda um sistema escolar público

brasileiro a nomeação arbitrária de diretores por indicação política. As funções

do diretor são, predominantemente, gestoras e administrativas, entendendo-se,

todavia, que elas têm conotação pedagógica, uma vez que se referem a uma

instituição e a um projeto educativos e existem em função do campo educativo.

Como foi relatado neste capítulo, a gestão de uma escola para ser eficaz e

democrática depende do trabalho e do compromisso de todos os integrantes da

comunidade escolar. È necessário acontecer a racionalidade e a coordenação

dos trabalhos em prol de objetivos comuns..

“Uma grande escola exigirá docentes competentes, abertos para o mundo e para o

saber, sempre de novo redefinidos. Docentes e estudantes conscientemente

comprometidos. Uma grande escola exigirá espaços físicos, culturais, sociais e

artísticos, equipados que abriguem toda a sabedoria acumulada da humanidade e

toda a esperança de futuro – que não seja continuidade do presente, porque este está

em ritmo de barbárie – mas seja sua ultrapassagem. Uma grande escola exigirá

tempo. Tempo de encontro, de encanto, de canto, de poesia, de arte, de cultura, de

lazer, de discussão, de gratuidade, de ética e de estética, de bem-estar e de bem-

querer e de beleza. Porque escola grande se faz com grandes cabeças (é certo!), mas

também com grandes corações, com muitos braços, que se estendem em abraços

que animam caminhadas para grandes horizontes.” Redin (1999,p.07)

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2.5 Os benefícios da Gestão Democrática e os perigos de uma

interpretação equivocada de seus princípios.

A gestão democrática é o processo de aprendizado e luta política que não

circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra a criação da

participação e o aprendizado do jogo democrático e do repensar das estruturas

do poder autoritário que permeiam as relações e as práticas educativas.

Qualquer política que se volte para a democratização das relações escolares

devem considerar o contexto em que elas se inserem, as necessidades

decorrentes e as condições objetiva s em que elas se efetivem.

Mas, como se pensar uma escola democrática se o seu principal instrumento

de gestão, o Projeto Político Pedagógico, é construído por sujeitos que ainda

não conquistaram o grau necessário de autonomia frente à direção da escola?

Onde o desconhecimento generalizado da função dos elementos , envolvidos

no processo de gestão, não resguardam a representatividade, continuidade e

legitimidade necessárias à gestão democrática.?

Para poder constituir um caminho real de melhoria da qualidade de ensino a

gestão democrática deve ser concebida, em profundidade, como mecanismo

capaz de alterar a prática pedagógica. A gestão democrática é o instrumento

de transformação da prática escolar, não sua reiteração. Este é o seu maior

desafio, pois envolverá, necessariamente, a formação de um novo projeto

pedagógico.

Uma gestão de qualidade requer liderança abalizada e dedicação, visando

valores que inspirem a todos á trabalharem em prol de uma escola produtiva.

Daí aos responsáveis pela Gestão de criarem um ambiente estimulador para o

aprendizado e para a participação de todos no processo educativo. A qualidade

da educação não depende apenas de uma gestão democrática,mas de um

planejamento participativo e de um projeto pedagógico eficiente e

contextualizado com a realidade da escola. Nesse âmbito,faz mister romper

com as tendências fragmentadas e desarticuladas do modo de conceber o

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projeto para re-significar as suas práticas, para criar a identidade de cada

escola particularmente.Tendo como ponto de partida, o planejamento.

Partindo desse princípio,a escola precisa da participação da comunidade como

usuária consciente deste serviço,não apenas para servir como instrumento de

controle em suas dependências físicas.Trata-se de romper com os muros da

escola.

Mudar as relações de trabalho esse é o principal objetivo de uma gestão

democrática,para que essa meta seja atingida precisamos redefinir o conceito

de educação através de um planejamento pedagógico consistente voltado ao

aprendizado do aluno.Várias escolas não consegue planejar por despreparo da

equipe técnica e no fim acabam perdendo a qualidade do ensino. A escola e

sua equipe devem estar preparadas para ocupar esse espaço com

compromisso, competência humana, teórica, técnica e política. A consolidação

de uma gestão escolar de cunho democrático-participativo requer competência

cognitiva e afetiva, respaldada na contextualização de valores, hábitos,atitudes

e conhecimentos,para o desenvolvimento de atitudes coletivas, é importante

cultivar o espírito de coesão,a partir da formação da equipe escolar,em torno

de objetivos comuns.

O gestor deve utilizar os meios burocráticos para facilitar,não para atrapalhar

o processo ensino aprendizagem, o que precisa ficar claro é a perspectiva de

uma gestão voltada para as pessoas.Uma escola de sucesso usará todo o

potencial crítico e volitivo dos seus recursos humanos e procurará rentabilizar

as possibilidades de cada um,pois as escolas tendem a ter os professores que

merecem. Ao observarmos a totalidade do ambiente escolar, temos como

principal lócus desse movimento a sala de aula e promovemos o tom de

democracia pela prática que aplicamos nesse espaço, onde a relação

saber/poder passa a ser um mero fator, pois o importante são as trocas de

experiências e o que se apreende daqueles diversos saberes expostos. Ou

podemos cair na mediocridade, trabalhando a democracia, onde o professor

na sua “sapiência” ensina aos alunos que educadamente “absorvem” as

informações e se fazem entendidos, sem discussões e diálogos, mas também

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sem a capacidade de deliberar qualquer medida, pois não dominam os seus

conhecimentos.

No Brasil, experiências isoladas de gestão democrática de escolas sempre

existiram, mas não tiveram um impacto maior sobre os sistemas de ensino. Os

relatos dessas experiências nos dão conta de muitas dificuldades e

resistências. Muitas delas são fruto de iniciativa de alguns educadores e foram

interrompodas quando estes deixavam a escola; não tiveram continuidade.

Essas tentativas se sustentaram no pressuposto mais amplo: maior autonomia

das escolas. Existem ainda críticos da gestão democrática que temem que

iniciativas desse tipo levem à privatização e desobriguem o Estado de sua

função de oferecer uma escola pública gratuita de qualidade para todos. Outra

objeção que costuma ser feita aos “automistas” é a de que autonomia da

escola leva à pulverização, à dispersão e à preservação do localismo, o que

dificultaria ações reformistas ou revolucionárias mais profundas e globais. É

verdade que é mais fácil lidar com programas unificados de reformas. A

heterogeneidade dificulta o controle, quando não o impossibilita. Todavia,

essas objeções- sustentadas frequentemente por uma concepção

centralizadora da educação- são cada vez mais frágeis, na medida em que o

pluralismo é defendido como valor universal e fundamental para o exercício da

cidadania.

A idéia de autonomia é intrínseca à idéia de democracia. Autonomia se refere à

criação de novas relações sociais que se opõem às relações autoritária

existentes. Autonomia é o oposto da uniformização. Autonomia admite a

diferença e, por isso, supõe a parceria. Só a igualdade na diferença e a

parceria são capazes de criar o novo. Por isso, escola autônoma não significa

escola isolada, mas em constante intercâmbio com a sociedade.

É necessário que a gestão democrática seja vivenciada no dia-a-dia das

escolas; que seja incorporada ao cotidiano e se torne tão essencial à vida

escolar quanto é a presença de professores e alunos para que a escola exista.

Para isso, há de se criar as condições concretas para o seu exercício, que

requer, entre outras providências, a construção cotidiana e permanente de

atores sociopolíticos capazes de atuar de acordo com as necessidades desse

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novo fazer pedagógico-político; a redefinição de tempos e espaços escolares

que sejam adequados à participação: condições legais de encaminhar e

colocar em prática propostas inovadoras; respeito aos direitos elementares dos

profissionais da área de ensino.

É necessário ainda que conheçamos as experiências já vividas, tomemos

conhecimento de sues limites e avanços e, num processo contínuo de prática e

reflexão, superemos suas falhas, aperfeiçoando seus aspectos positivos e

criando novas propostas para os problemas que persistem.

Nos municípios e Estados que já acumularam experiência em relação à prática

da democratização, a gestão democrática vem exercendo influência positiva

sobre:

• a estrutura e o funcionamento dos sistemas – “colaboração” entre os

sistemas e comunicação direta da Secretaria de Educação com as

escolas;

• o órgão de gestão de Educação: plano estratégico de participação,

canais de participação (ampliação do acesso à comunicação) e, por

isso, transparência administrativa;

• a qualidade do ensino: formação para a cidadania (cria possibilidade de

participar da gestão pública);

• a definição e acompanhamento da política educacional: o aumento da

capacidade de fiscalização da sociedade civil sobre a execução da

política educacional, se não tem extinguido, pelo menos tem diminuído

os lobbies corporativistas.

O grande problema de uma gestão democrática é a tensão, o conflito

permanente entre os interesses das autoridades e os interesses das

autoridades das Secretarias de Educação. A primeira resistência à construção

de uma escola democrática é a participação incipiente dos próprios servidores,

embora seja tarefa que faz parte de seu trabalho e para a qual percebem um

salário Depois, a dificuldade se refere à estrutura de gestão já consolidada na

escola, onde os órgãos de gestão democrática figuram como meros apêndices

da direção, logo dependentes e sem autonomia.

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A escola e sua equipe devem estar preparadas para ocupar esse espaço com

compromisso, competência humana, teórica, técnica e política. A consolidação

de uma gestão escolar de cunho democrático-participativo requer competência

cognitiva e afetiva, respaldada na contextualização de valores, hábitos,atitudes

e conhecimentos,para o desenvolvimento de atitudes coletivas, é importante

cultivar o espírito de coesão,a partir da formação da equipe escolar,em torno

de objetivos comuns.

É fundamental que nesse processo de mudança a escola busque a unidade

entre a família, gestor, comunidade, professores, alunos,funcionários onde

cada um sinta-se responsável em transformar a educação.Se realmente

desejar formar crianças que no futuro sejam indivíduos autônomos,criativos e

participativos,precisa hoje trabalhar a autonomia do próprio professor,levando-o

a estabelecer relações democráticas em sala de aula,excluindo o autoritarismo

com seus alunos,pois só pode auxiliar as crianças a tornarem-se autônomas e

com caráter democrático,por meio de atitudes e posturas das pessoas com

quais elas convivem. As mudanças nas escolas só irão acontecer de fato se

houver uma organização do trabalho pedagógico manada por um corpo técnico

alçado diretor e coordenador pedagógico trabalhando em conjunto com o corpo

docente, funcionários e demais membros da equipe escolar avaliando e

reconstruindo seus projetos,planejamentos e planos.

O maior perigo da implementação de uma gestão democrática é que ela

se faça presente apenas nos discursos e nas reuniões pedagógcas, mas fique

ausente nas ações do dia-a-dia.

As mudanças são visíveis no que dizem respeito às práticas educacionais, as

escolas com uma gestão democrática dão aos professores liberdade para levar

os alunos a construírem conhecimentos e mostrarem suas diferenças, alunos

envolvidos com a escola passam a futuros promissores, pais preocupados com

a escola são futuros colaboradores para a educação em uma sociedade

envolvida, isto é um país desenvolvido em educação.

O Diretor ou Coordenador tem neste contexto o dever de corroborar as

transformações e construções que favoreçam a unidade escolar como um todo,

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incluindo todos os seus participantes (funcionários, alunos e comunidade) e

jamais ser causídico de um poder centralizado.

Porém, isso não demanda deixar de exercer sua autoridade perante os

acontecimentos cotidianos, como o caso da falta de funcionários e do “famoso”

desvio de funções e muito menos deixar de cumprir o plano pedagógico

Municipal ou Estadual. Não da maneira hierarquizada e autoritária às vezes

imposta, mas, de maneira reflexiva utilizando constantemente o discernimento.

Abranger os conhecimentos e colocar em prática novas concepções e novos

Projetos Pedagógicos, como inserir novas teorias no planejamento, demandam

o famoso “jogo de cintura”, pois, as aversões estão logo à frente e o medo do

desconhecido pode surtir no enfraquecimento da direção como um todo.

Surpreendentemente, esse “fazer” também pode despertar no corpo docente à

vontade de inovar e de “arregaçar as mangas”.

Ao ser implementada a gestão democrática é que, não sendo fim em si, ela

pode articular-se com uma variedade infinita de objetivos, não precisando estar

necessariamente articulada com a dominação que vige em nossa sociedade.

Mas isto não deve servir a qualquer pretexto de imputar-lhe uma neutralidade

que não existe. Embora toda gestão tenha a característica básica de mediação,

não significa que toda gestão seja idêntica. Precisamente por ser mediação a

determinado fim, a gestão tem que adequar-se (nos métodos e nos conteúdos

de seus meios) ao objetivo que pretende alcançar, diferenciando-se, portanto, à

medida que se diferenciam os objetivos.

A democratização da gestão da escola não pode restringir-se ao limites do

próprio estado, — promovendo a participação coletiva apenas dos que atuam

em seu interior — mas envolver principalmente os usuários e a comunidade em

geral, de modo que se possa produzir, por parte da população, uma real

possibilidade de controle democrático do Estado no provimento de educação

escolar em quantidade e qualidade compatíveis com as obrigações do poder

público e de acordo com os interesses da sociedade.

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III. A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA

As instituições escolares vêm sendo pressionadas a repensar seu papel diante

das transformações que caracterizam o acelerado processo de integração e

reestruturação capitalista mundial. Essas transformações acabem por

caracterizar novas realidades sociais, políticas, econômicas, culturais,

geográficas. A escola pública não pode ficar fora dessas transformações ou

ignorá-las.

A democratização da educação é um elemento indispensável para de uma

escola pública de qualidade e comprometida com os valores da cidadania,

considerando o contexto em que as escolas estão inseridas e as suas

necessidades. Nesse processo, a participação e a descentralização são fatores

essenciais.

Gestão democrática é aquela que abre toda organização da escola pública à

participação de todos no poder de decisão.

Há pelo menos duas razões que justificam a implantação de um processo de

gestão democrática na escola pública:

• a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve dar o

exemplo. A gestão democrática da escola é um passo importante no

aprendizado da democracia. A escola não tem um fim em si mesma. Ela

está a serviço da comunidade. Nisso, a gestão democrática da escola

está prestando um serviço também à comunidade que a mantêm;

• a gestão democrática pode melhorar o que é específico da escola, isto

é, o seu ensino. A participação na gestão da escola proporcionará um

melhor conhecimento mútuo e, em conseqüência, aproximará também

as necessidades dos alunos dos conteúdos ensinados pelos

professores.

Existem, certamente, algumas limitações e obstáculos à instauração de um

processo democrático como parte do projeto- político-pedagógico da escola.

Entre eles, podemos citar:

• nossa pouca experiência democrática;

• a mentalidade que atribui aos técnicos e apenas a eles a capacidade de

planejar e governar e que considera o povo incapaz de exercer o

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governo ou de participar de um planejamento coletivo em todas as suas

fases;

• a própria estrutura vertical do nosso sistema educacional;

• o autoritarismo que impregnou nossa prática educacional;

• o tipo de liderança que tradicionalmente domina nossa atividade política

no campo educacional.

A gestão escolar no cotidiano se constitui, hoje, de forma diferenciada: o

trabalho fragmentado de inúmeros funcionários público, concursados,

contratados temporariamente ou indicados por políticos, que mediante leis,

normas, decretos, ofícios e memorandos controlam e coordenam não só o

trabalho coletivo da escola, mas também a vida cotidiana dos profissionais.

Mais do que controle e coordenação, esses funcionários negociam seus

poderes e seus saberes específicos com poderes e saberes tanto das

Secretarias de Educação quanto da comunidade. Portanto. O trabalho desses

funcionários não pode ser reduzido a uma burocracia impessoal controlada

pela hierarquia e pelos meios de comunicação, atualmente tendo como

mediação a informática. A gestão escolar é exercida hoje, muito mais por

sujeitos individuais que ocupam temporariamente cargos e funções;

Ao falar de Escola Pública tomo como base as escolas municipais de Duque de

Caxias, onde atuo por mais de trinta anos. Estamos dando os primeiros passos

em direção a uma gestão realmente democrática. Construímos o nosso Projeto

Político Pedagógico, dentro da nossa realidade e necessidades; elegemos um

Conselho Escolar com representantes de todos os segmentos da comunidade

escolar, que ainda está aprendendo a deliberar e a participar ativamente da

vida da instituição; gerimos algumas verbas principalmente as enviadas pelo

governo federal. Ainda não elegemos os diretores e estamos aguardando

ansiosamente esse processo. Houve avanços, mas ainda não se pode afirmar

que existe uma política pública efetiva de democratização da escola nem

tampouco um movimento político, mas apenas uma mobilização vivenciada no

cotidiano escolar. A gestão democrática atinge espaços e tempos provisórios

de algumas escolas, não conseguindo se universalizar. As escolas estaduais

do Estado do Rio de Janeiro já avançaram mais um pouco, elegem seus

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diretores, quando os governantes marcam eleições, e conseguem gerir todas

as suas verbas. Na maioria das escolas públicas tanto municipais como

estaduais a participação de pais e responsáveis ainda não tem grande

significação.

Raramente os pais são convidados para reuniões regulares que não sejam

entrega de boletim, não vejo a direção ouvir o que os pais têm a dizer, nem

mesmo para participarem de eventos como jantares, festas ou uma

apresentação de trabalho dos seus filhos. Ao contrário, os pais são chamados

a comparecer na escola quando seus filhos estão dando problema.

Sinceramente, quem gosta de ir à escola para ouvir reclamação de seus filhos,

tudo bem que a família anda muito ausente na educação de nossas crianças,

mas nem por isso devemos castigar os pais. Devemos sim, tornar a escola um

lugar agradável e fazer com que todos os envolvidos sintam como sua e,

portanto responsáveis pelo bem estar de todos.

As práticas dentro da escola pública precisam ser construídas, discutidas e

refletidas pelo coletivo escolar. A garantia de um sistema mais ético e justo

estará no permanente exercício da cidadania. O desafio é grande, mas não

inatingível. Transformações na própria organização do tempo e do espaço,

questionamentos em relação ao currículo, legislações que garantam a

educação básica e pública para todos, planos que propiciam mais verbas para

o desenvolvimento educacional, apesar de ainda serem insuficientes.Políticas e

reformas que prometem garantias de avanços, mas escondem o perigo do não-

reconhecimento dos sujeitos que constroem a educação diariamente no nosso

Brasil. “Os únicos recursos novos, pelo menos em termos do conjunto nacional das redes

estaduais e municipais, são a complementação federal, insignificante no FUNDEF

(menos de 1 % da receita nacional em 2006) e muito pequena no FUNDEB ( menos de

5% da receita em 2007 e 10% a partir de 2010).”

(Davies, 2008,p.67)

A escola pública ainda é vista pelos usuários como propriedade do governo ou

do pessoal que nela trabalha. O professor comporta-se como dono do seu

cargo e dos alunos de suas classes. O diretor, em alguns casos, funciona como

guardião dessa concepção, evitando interferências de servidores e de pais.

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Mas está na figura do diretor a possibilidade de facilitar ou dificultar a

implantação de procedimentos participativos.

Na prática, o que existe na maioria das escolas brasileiras é uma gestão

compartimentada. Um pequeno grupo decide e a maioria executa. Construir

uma gestão democrática exige tempo e planejamento e dá mais trabalho do

que simplesmente agir de forma diretiva. Contudo, os ganhos são enormes

quando as decisões sobre os gastos, a montagem do projeto pedagógico e os

instrumentos de avaliação, entre outros, são compartilhados e a comunidade e

a equipe se sentem, de fato, parte da escola. Assim o democrático deixa de ser

adjetivo para se tornar prática.

A escola pública produz e reproduz diferenças sociais e cabe a organização

pedagógica reconhecer essa problemática e tentar tomar medidas que possam

superar esses entraves,construindo uma gestão escolar que ofereça

reciprocidade,mudança de mentalidade e atitude,sem a qual essa organização

não poderia ser efetiva em seu papel social.A gestão democrática,pressupõe a

idéia de participação,isto é, do trabalho associado de pessoas,analisando

situações,decidindo sobre o seu encaminhamento e agindo sobre elas em

conjunto. A educação não será acessível a todos enquanto todos os

trabalhadores não se interessarem por ela. A educação para todos supõe todos

pela educação.

Com relação à baixa produtividade do ensino, o que se constata é certa

renúncia da escola pública a responsabilizar-se por um produto pelo qual ela

deve prestar conta ao estado e à sociedade. Mas, pela dificuldade de medida

de sua qualidade apenas por meio de exames ou testes pontuais, faz-se mister

um acompanhamento constante do trabalho escolar, garantindo um bom

produto pela garantia de um bom processo. Para responder às exigências de

qualidade e produtividade da escola pública, a gestão da educação deverá

realizar-se plenamente em seu caráter mediador. Ao mesmo tempo,

consentânea com as características dialógicas da relação pedagógica, deverá

assumir a forma democrática para atender tanto ao direito da população ao

controle democrático do estado quanto à necessidade que a própria escola tem

da participação dos usuários para bem desempenhar suas funções.

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O padrão de formação dos dirigentes escolares das escolas públicas está se

alterando, no sentido de que este tem que desenvolver novas habilidades que

até então não eram exigidas de um administrados escolar. O diretor da escola

se tornou um agente político mais atuante, tendo que fazer a interface dos

objetivos estabelecidos pelos órgãos de administração central da educação e

os interesses da comunidade local onde está inserida. Além disto, o dirigente

passou a ter que desenvolver a habilidade de gerenciar novos recursos

públicos, cuja administração depende do prévio conhecimento de toda uma

regulamentação específica gravada em textos legais, tais como, o processo de

licitações, de direito tributário, direito de trabalho, obrigações de informações às

agências governamentais (Receita Federal, INSS, etc.). Ficou muito mais

complexo administrar uma escola e o Diretor passou a ter a necessidade de

compartilhar com representantes da Comunidade escolar, nos conselhos ou

associações, as deliberações para uma utilização racional dos recursos

financeiros. Há de se entender que a participação comunitária vem

acontecendo de forma lenta e gradual e que, indiscutivelmente, ainda se tem

um longo caminho a ser percorrido.

É verdade que as escolas públicas se diferenciam pela qualidade de ensino e

qualidade quem faz é quem organiza o trabalho pedagógico, ou seja, é

importante que a gestão esteja embasada numa concepção democrática e

participativa, pois os novos tempos exigiram um padrão educacional voltado

para o desenvolvimento de um conjunto de competências e de habilidades

essenciais, a fim de que os alunos possam fundamentalmente compreender e

refletir sobre a realidade, participando e agindo no contexto de uma sociedade

comprometida com o futuro.

“Houve uma época em que eu pensava que as pequenas mudanças impediam a

realização de uma grande mudança. Por isso, no meu entender, as pequenas

mudanças deveriam ser evitadas e todo investimento deveria ser feito nu8ma

mudança radical e ampla. Hoje, minha certeza é outra: penso que, no dia-a-dia,

mudando passo a passo, com pequenas mudanças numa certa direção, podemos

operar a grande mudança, a qual poderá acontecer como resultado de um esforço

contínuo, solidário e paciente. E o mais importante, isso pode ser feito já. Não é

preciso mais esperar para mudar.”

Gadotti (Um salto para o futuro – Construindo a Escola Cidadã – MEC, 1998, p.22)

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IV. GESTÃO DEMOCRÁTICA: UTOPIA OU REALIDADE?

A palavra utopia significa lugar que não existe, algo inalcançável. Não quer

dizer que nunca possa existir ou que nunca será alcançável. Podemos

considerá-la com algo desejável e possível. Assim é a gestão democrática,

principalmente na escola pública, ainda não existe totalmente, mas é colocada

como um objetivo a ser atingido. Inicialmente a tarefa deve consistir numa

tomada de consciência das condições concretas, que apontam para a

viabilidade de um projeto de democratização das relações no interior da escola.

Coloco a utopia como um resultado, que pressupõe obviamente um processo

e não um sentido antagônico à realidade. Realidade é o que está e utopia é o

pode e deve vir a ser.

Infelizmente a escola, com pequenas melhoras, ainda é reprodutora de uma

certa ideologia dominante. Se queremos uma escola transformadora,

precisamos transformar a escola que temos., para tal é necessário ser

transformado o sistema de autoridade e a distribuição do próprio trabalho no

interior da escola. Na medida em que se conseguir a participação de todos os

setores da escola nas decisões a respeito de seus objetivos e de seu

funcionamento, ter-se-á melhores condições para pressionar os escalões

superiores no sentido de dotar a escola de autonomia e de recursos. No papel,

a autonomia escolar parece ser ampla, mas sua realização ainda é uma utopia

por falta de informação das pessoas que têm que exercê-la e pela tradição

centralista da Educação brasileira. O primeiro passo nessa direção foi a criação

dos conselhos escolares, ainda um instrumento imperfeito, mas é o que existe

e que precisa ser aperfeiçoado e ele é o embrião de uma verdadeira gestão

democrática, desde que articulado com os interesses populares na escola.

Hoje quando o diretor reivindica, é fácil dizer-lhe não, porém quando essa

reivindicação não for de uma pessoa, mas de um grupo, que representa outros

grupos a resposta tende a ser outra, é neste sentido, portanto, que a escola

necessita organizar-se democraticamente com vistas ao alcance de objetivos

transformadores. Cada escola deve exigir o atendimento dos direitos e contar

com a participação efetiva da comunidade. Não basta permitir formalmente que

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os pais participem da administração da escola; é preciso que haja condições

materiais propiciadoras dessa participação.

Uma providência dessa natureza é de fundamental importância na medida em

que rompe com a idéia de que os problemas escolares podem ser resolvidos

nos estritos limites da escola e procura, ao mesmo tempo, propiciar condições

concretas de participação da comunidade escolar nos destinos da educação. É

neste sentido que a utopia de uma escola participativa. Ou seja, no sentido de

que aceita a necessidade, ou a imprescindibilidade, da participação efetiva da

comunidade nas decisões que dizem respeito à educação de seus filhos, se

procura identificar as condições de possibilidade dessa participação e se

buscam os mecanismos necessários à distribuição da autoridade no interior da

escola, de modo a adequá-la ao mister de, ao mesmo tempo em que procura

formas democráticas de alcance dos objetivos educacionais a ela inerentes, se

constitua em mecanismo de pressão junto ao Estado e à classe detentora do

poder, no sentido de serem propiciadas as condições que possibilitam o seu

funcionamento e autonomia. Afinal, autonomia não é uma palavra de fácil

interpretação e sua subjetividade exige dos gestores muita discussão e prática

para lhe dar vida.

Mas, se a transformação da autoridade no interior da escola for entendida

como uma quimera, se a participação efetiva da comunidade nos destino da

educação for uma utopia no sentido de um sonho irrealizável, e não no sentido

que foi dado no início do capítulo, então de nada adianta continuar falando de

escola como algo que possa contribuir para a transformação social e,

definitivamente, devemos deixar caírem as máscaras e as ilusões com relação

à escola que aí está e partir para outras soluções, ou, então, cruzar os braços e

esperar passivamente que a classe dominante, através de suas “reformas” e

“acomodações” de interesses continue fazendo-nos engolir as soluções

paliativas que a mantêm perenemente do poder.

Para que utopia de uma gestão democrática seja realidade será necessário

relativizar o papel da escola por meio da problematização da relação entre

sociedade e escola; recuperar na escola o trabalho docente em sua

globalidade e dinamicidade; problematizar formas de provimento ao cargo de

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diretor; criar novos mecanismos de democratização, como importância política

do conselho escolar, comunidade e construção do PPP da escola; rediscutir a

organização do trabalho no interior da escola para além das barreiras

corporativas e funcionais. Como também rever a autonomia e o papel dos

movimentos no interior das escolas. Deve-se criar mecanismos de avaliação do

PPP, envolvendo avaliação docente, discente e institucional por meio da

definição do parâmetro de qualidade; criar e garantir canais de democratização

das informações entre todos os segmentos envolvidos; lutar pela autonomia

financeira da escola e estabelecer canais de articulação com outras esferas;

rever o papel dos dirigentes das escolas para atuarem mais eficazmente para a

construção de uma escola democrática. Dar ênfase à pluralidade de projetos

para a defesa da escola pública, gratuita, democrática e de qualidade.

A participação da população na escola ganha sentido, assim, na forma de uma

postura positiva da instituição com relação aos usuários, em especial aos pais e

responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de diálogo, de convivência

verdadeiramente humana, em suma, de participação na vida da escola. Levar o aluno

a querer aprender implica um acordo tanto com educandos, fazendo-os sujeitos,

quando com seus pais, trazendo-os para o convívio da escola, mostrando-lhes quão

importante é sua participação e fazendo uma escola pública de acordo com seus

interesses de cidadãos. (PARO, In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO

DA EDUCAÇÃO, 18, 1997)

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CONCLUSÃO

Nesta monografia sob o título de Gestão Democrática: Utopia ou Realidade?

Foi desenvolvida em quatro capítulos onde foi mostrado o conceito de gestão

através das varias etapas de nossa história, seus beneficios e os entraves para

a implementação de uma gestão democratica de fato nas escolas públicas. Foi

realizado um estudo para melhor entender o papel, a competência, a

responsabilidade dos gestores escolares e importância de um projeto-político-

pedagógico consciente e da participação de todos os segmentos da

comunidade escolar.

Dentro da minha experiência como educadora e gestora tentei mostrar que a

democratização do sistema público de ensino enfrenta dificuldades quanto a

sua forma de gestão e na escolha de seus gestores Organizar o trabalho

pedagógico em escola pública não é uma tarefa fácil é algo abrangente,requer

uma formação de boa qualidade além de exigir do gestor um trabalho coletivo

que busque incessantemente a autonomia, liberdade, emancipação e a

participação na construção do projeto político-pedagógico. Numa gestão

democrática,o gestor precisará saber como trabalhar os conflitos e

desencontros, deverá ter competência para buscar novas alternativas e que as

mesmas atendam aos interesses da comunidade escolar, deverá compreender

que a qualidade da escola dependerá da participação ativa de todos membros,

respeitando individualidade de cada um e buscando nos conhecimentos

individuais novas fontes de enriquecer o trabalho coletivo.

Procuro demonstrar que a gestão democrática deve ser incluída na prática

social que pode levar à conscientização e à participação popular no interior da

escola, como pais, moradores, movimentos populares e sindicais, constituindo

um caminho real para a melhoria da qualidade de ensino se ela for concebida

em profundidade,como um mecanismo capaz de alterar prática pedagógica,

tornando-se um instrumento de transformação. Este é o seu maior desafio, pois

envolverá, necessariamente a formação de um novo projeto político, abertura

dos portões e muros escolares devem sempre estar acompanhados de novos

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projetos pedagógcos. É lamentável perceber que, após tantas lutas e apesar

da asociedade civil, com avaços e recuos, ter alcançado diferentes formas de

organização, as práticas escolares ainda apresentem-se continuamente

conformadas com a situação, fundamentando-se na imposição e na coerção

legal e burocrática de um estado que ignora o caminho já percorrido pelos

profissionais de educação,

Usei Utopia e realidade, não como palavras antônimas, mas como processo e

resultado. Verifiquei que o caminho para a concretização da grande utopia

pretendida por todo educador consciente– gestão democrática da educação- é

a participação da população usuária, visando superar a atual situação de

precariedade do ensino público no país, em especial no Estado do Rio de

Janeiro. E que esta adesão redunde em ações efetivas que contribuam para o

bom desempenho do aluno. A gestão democrática somente será um modelo

preponderante de administração, quando, no cotidiano da escola, dirigente e

dirigidos participarem desse debate tanto nas reuniões administrativas e

pedagógicas quanto nas aulas.

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Bibliografia

• FREIRE, Wendel – Gestão Democratica – Reflexoes e pratica do/no

cotidiano escolar- editora wak, 2009 - RJ

• LIBANEO, Jose Carlos – Organização e Gestão da Escola – Teoria e

Prática – MF livros- 5ª edição ,,2008 – GO

• FREIRE, Paulo. Pedagogia de Autonomia: Saberes necessários a

prática educativa. SP: ed. Paz e Terra, 1996, 20ª edição

• BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação

a Distância. Salto para o Futuro: Construindo uma escola cidadã, projeto

político-pedagógico. Brasília: SEED, 1998. ISBN

• PARO, Vitor Henrique. Administração escola: introdução

crítica. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

• WIKIPEDIA. Gestão Democrática. Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Gestão_democrática>.

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Anexo

Detalhamento LDB 9394/96

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o

pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da

legislação dos sistemas de ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e

as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;

IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de

integração da sociedade com a escola;

VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o

caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem

como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada

pela Lei nº. 12.013, de 2009).

VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da

Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos

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alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do

percentual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº. 10.287, de 2001).

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão

democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas

peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto

pedagógico da escola;

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares

ou equivalentes.

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares

públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia

pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas

gerais de direito financeiro público.

Art. 56. As instituições públicas de educação superior obedecerão ao

princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados

deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade institucional,

local e regional.

Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão setenta por

cento dos assentos em cada órgão colegiado e comissão, inclusive nos que

tratarem da elaboração e modificações estatutárias e regimentais, bem como

da escolha de dirigentes.