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Gestão Fiscal e Benefícios Fiscais Martina da Silva Fernandes Dissertação de Mestrado Mestrado em Auditoria Porto 2013 INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DO PORTO INSTITUTO POLITÉCNICO DO PORTO

Gestão Fiscal e Benefícios Fiscais Martina da Silva Fernandesrecipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/2051/1/DM_MartinaFernandes_2013.pdf · 1.2.1 Objetivos e Finalidades do Planeamento

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  • Gesto Fiscal e Benefcios Fiscais

    Martina da Silva Fernandes

    Dissertao de Mestrado

    Mestrado em Auditoria

    Porto 2013

    INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAO DO PORTO

    INSTITUTO POLITCNICO DO PORTO

  • Gesto Fiscal e Benefcios Fiscais

    Martina da Silva Fernandes

    Dissertao de Mestrado apresentado ao Instituto de Contabilidade e Administrao

    do Porto para a obteno do grau de Mestre em Auditoria, sob orientao de Doutor

    Jos Campos Amorim

    Porto 2013

    INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAO DO PORTO

    INSTITUTO POLITCNICO DO PORTO

  • iii

    Resumo

    O escrutnio pblico a que esto sujeitas as empresas pblicas e privadas leva-nos a

    concluir que a gesto e o planeamento fiscal devem ocupar um lugar de destaque no

    processo de tomada de deciso dos gestores. Note-se que o atual contexto econmico

    requer mais envolvimento na criao de valor por parte destes nas empresas.

    No entanto, o entendimento da legislao fiscal no domnio de todos, pelo que, o

    envolvimento de profissionais competentes na rea permitir levar ao conhecimento dos

    interessados os seus benefcios para dela tirarem proveito legtimo atravs de ganhos nas

    suas empresas.

    Neste sentido, procedemos apresentao de exemplos prticos de utilizao de

    benefcios fiscais, evidenciando os formalismos a observar para a aplicao dos referidos

    benefcios, impostos pelo Estatuto dos Benefcios Fiscais e consequentemente referimos a

    poupana fiscal obtida no imposto sobre o rendimento por via do seu uso.

    Por ltimo, elaboramos um programa de trabalho e um questionrio de controlo interno

    para auditoria rea dos benefcios fiscais, que sirva de instrumento para exame da

    regularidade de aplicao dos benefcios fiscais enunciados.

    Recorremos anlise da legislao aplicvel, da doutrina da Administrao Fiscal, bem

    como, consulta de artigos e de livros publicados sobre assuntos de fiscalidade, auditoria e

    outros temas relacionados com o estudo, tendo em vista aferir a importncia da gesto e do

    planeamento fiscal, e tambm, um conhecimento mais aprofundado acerca dos requisitos

    para os benefcios fiscais.

    Conclumos que existe legislao fiscal suscetvel de provocar positivamente impactos

    fiscais relevantes nos resultados das empresas, contudo, as informaes encontram-se

    dispersas e obedecem a critrios rigorosos nem sempre respeitados. Impe-se assim a

    necessidade de conceber ferramentas de apoio que auxiliem aos corretos procedimentos,

    mormente devido ao inequvoco interesse na divulgao dessas oportunidades.

    Palavras-chaves: Gesto e planeamento fiscal, benefcios fiscais, poupana fiscal,

    auditoria.

  • iv

    Abstract

    The public scrutiny that is subjected to public and private companies leads us to conclude

    that the management and tax planning should occupy a prominent place in the process of

    decision making by managers. It should be noted that the current economic environment

    requires more involvement in the creation of value in business.

    Although, the understanding of tax legislation is not common knowledge, as such, the

    involvement of competent professionals in the area will allow a heightened awareness of

    interested parties about their benefit to take advantage of it through legitimate gains in their

    companies.

    In this sense, we proceed to the presentation of a practical case using the tax benefit of job

    creation showing the procedures to be followed when applying this tax benefit, required by

    the Tax Benefits Code and consequently the tax savings achieved in income tax due its use.

    Finally, we develop a work program and draw up an internal control questionnaire in the

    area of tax benefits, to be used as a tool to validate the correct application of the tax

    benefits in this study.

    We appealed to the analysis of the applicable law, of the doctrine of the Tax

    Administration, as well as, the consultation of articles and books published on issues of

    taxation, auditing and other themes related to the study, in order to gauge the importance of

    fiscal management, and also, a deeper knowledge about the requirements of the tax

    benefits.

    We conclude that there is tax legislation likely to lead to a relevant positive fiscal impact in

    corporate results; however, the information is widely dispersed and requires strict criteria

    not always respected.The need of designing support tools which would help to correct

    procedures, mainly due to unequivocal interest in publishing these opportunities imposes

    itself.

    Keywords: Fiscal management, tax benefits, tax savings, auditing.

  • v

    Agradecimentos

    Ao meu orientador, professor Doutor Jos Campos Amorim, por ter confiado nas minhas

    capacidades e pela ateno demonstrada ao longo deste trabalho.

    Doutora Cidlia Teixeira, pela disponibilidade manifestada, pela amizade e pelo

    contributo para a melhoria deste trabalho.

    A todos os professores do Mestrado, que pelo estmulo, contriburam para a concretizao

    deste trabalho.

    Aos meus clientes, pela pacincia e tolerncia nas horas mais difceis.

    Aos meus familiares e amigos, pelo carinho com que me acompanharam apesar das minhas

    ausncias.

    Aos meus pais, pela educao e valores transmitidos ao longo da vida, a eles, tudo devo.

    Aos meus irmos, cunhados e sobrinhos, pela valorizao e reconhecimento dos meus

    esforos, fonte de incentivo para continuar.

    Aos meus filhos, Clara, Emanuel e Lucas, minha fonte de motivao e de orgulho,

    principais prejudicados pelo tempo dedicado a este trabalho, pela compreenso da falta de

    sorrisos, e da ausncia de presena.

    Ao meu marido, Fernando, que com todo o carinho me substituiu em todos os momentos,

    pelo infinito apoio e pelo inestimvel incentivo para a concluso deste trabalho, sem ele,

    nada seria possvel.

  • vi

    Lista de Abreviatura

    AT Autoridade Tributria e Aduaneira

    CIRC Cdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

    CRP Constituio da Repblica Portuguesa

    DRA Diretriz de Reviso/Auditoria

    EBF Estatuto dos Benefcios Fiscais

    IES/DA Informao Empresarial Simplificada/Declarao Anual

    IMI Imposto Municipal sobre Imveis

    IMT Imposto Municipal sobre as Transmisses Onerosas de Imveis

    IRC Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

    IRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    IS Imposto do Selo

    ISA Internacional Standards Auditing

    IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado

    LGT Lei Geral Tributria

    LOE Lei do Oramento do Estado

    NIF Nmero de Identificao Fiscal

    NIR Norma Internacional de Reviso/Auditoria

    PGR Procuradoria-Geral da Repblica

    RGIT Regime Geral das Infraes Tributrias

    ROC Revisor Oficial de Contas

    TOC Tcnico Oficial de Contas

  • vii

    ndice

    Introduo .............................................................................................................................. 1

    Captulo I Gesto e Planeamento Fiscal ............................................................................. 4

    1.1 Gesto fiscal ............................................................................................................ 5

    1.1.1 A importncia da gesto fiscal ........................................................................ 5

    1.1.2 Conceito de gesto fiscal ................................................................................. 5

    1.2 Planeamento fiscal .................................................................................................. 7

    1.2.1 Objetivos e Finalidades do Planeamento fiscal ............................................... 9

    1.2.2 Modos de poupana fiscal ............................................................................. 10

    1.2.2.1 Comportamento intra legem ...................................................................... 10

    1.2.2.2 Comportamento extra legem ...................................................................... 11

    1.2.2.3 Comportamento contra legem ................................................................... 12

    1.2.3 O combate fraude e evaso fiscal ............................................................. 14

    1.2.3.1 Objetivo da lei e o novo regime ................................................................. 19

    1.2.3.2 Novas medidas de combate ........................................................................ 22

    1.2.3.3 Denncias de fraudes fiscais ...................................................................... 24

    Captulo II Benefcios Fiscais .......................................................................................... 26

    2.1 Benefcios fiscais .................................................................................................. 27

    2.1.1 Enquadramento .............................................................................................. 27

    2.1.2 Conceito de benefcio fiscal .......................................................................... 28

    2.1.3 Benefcios fiscais em sede de IRC ................................................................ 29

    2.1.3.1 Benefcios fiscais de natureza social ......................................................... 30

    2.1.3.2 Benefcios fiscais poupana .................................................................... 31

    2.1.3.3 Benefcios fiscais s zonas francas ............................................................ 31

    2.1.3.4 Benefcios fiscais ao investimento produtivo ............................................ 32

    2.1.3.5 Outros benefcios fiscais ............................................................................ 32

    2.1.3.6 Benefcios fiscais relativos ao mecenato ................................................... 34

    2.1.3.7 Benefcios s cooperativas ......................................................................... 35

    2.1.3.8 Benefcios fiscais com carcter temporrio ............................................... 35

    2.1.4 Fiscalizao ................................................................................................... 36

    2.2 Estatsticas da despesa fiscal agregada por benefcio ........................................... 36

    2.3 Anlise a benefcios fiscais ................................................................................... 37

    2.3.1 Benefcio fiscal Criao de emprego Artigo 19. .................................... 37

    2.3.1.1 mbito do benefcio .................................................................................. 38

    2.3.1.2 Requisitos do benefcio .............................................................................. 38

    2.3.1.3 Quantificao do benefcio ........................................................................ 40

    2.3.1.4 Natureza temporal do benefcio ................................................................. 41

  • viii

    2.3.1.5 Limitao do benefcio .............................................................................. 41

    2.3.2 Benefcios fiscais relativos ao Mecenato Artigo 62 .................................. 42

    2.3.2.1 Mecenato social ......................................................................................... 44

    2.3.2.2 Mecenato cultural ...................................................................................... 46

    2.3.2.3 Mecenato ambiental ................................................................................... 47

    2.3.2.4 Mecenato desportivo .................................................................................. 48

    2.3.2.5 Mecenato educacional ................................................................................ 49

    2.3.2.6 Organismos associativos ............................................................................ 50

    2.3.3 Limitaes ao artigo 62. ............................................................................... 50

    2.3.4 Mecenato Cientfico - Artigo 62.-A ............................................................. 51

    2.3.4.1 Tipo de donativos ....................................................................................... 51

    2.3.5 Obrigaes acessrias .................................................................................... 52

    Captulo III - Exemplos Prticos ......................................................................................... 53

    3.1 Benefcio fiscal Artigo 19. - Criao de emprego ............................................... 54

    3.1.1 Apuramento dos trabalhadores enquadrveis ................................................ 54

    3.1.2 Clculo do benefcio ...................................................................................... 56

    3.2 Benefcio fiscal do Mecenato Artigo 62. .......................................................... 57

    3.3 Efeitos no imposto sobre o rendimento ................................................................ 58

    3.3.1 1. Simulao ................................................................................................. 58

    3.3.1.1 Clculo do imposto a pagar ....................................................................... 59

    3.3.1.2 Clculo da poupana obtida ....................................................................... 60

    3.3.2 2. Simulao ................................................................................................. 60

    3.3.2.1 Clculo do imposto a pagar ....................................................................... 61

    3.3.2.2 Clculo da poupana obtida ....................................................................... 61

    3.3.2.3 Consideraes ............................................................................................ 62

    3.4 Procedimentos declarativos .................................................................................. 62

    Captulo IV Auditoria aos Benefcios Fiscais .................................................................. 65

    4.1 Programa de trabalho para auditoria aos benefcios fiscais .................................. 66

    4.2 Questionrio de controlo interno .......................................................................... 72

    Captulo V - Concluses ...................................................................................................... 76

    Referncias Bibliogrficas ................................................................................................... 76

    Anexos ................................................................................................................................. 85

  • ix

    Lista de Anexos

    Anexo I Ficha doutrinria 2691/2007. 86

    Anexo II Ficha doutrinria 1979/2008. 87

    Anexo III Ficha doutrinria 1498/2006. 88

    Anexo IV Ficha doutrinria 1145/07. 89

    Anexo V Artigo 115. Lei n.3-B/2010, de 28 de Abril... 91

    Anexo VI Anexo D Modelo 22IRC... 92

    Anexo VII Portaria 92 A/2011, de 28 de Fevereiro 94

    Anexo VIII ISA 300 95

    Anexo IX DRA 230.. 97

  • x

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 - Limites e majorao Mecenato Social................................................................ 46

    Tabela 2 - Limites e majorao Mecenato Cultural ............................................................ 47

    Tabela 3 - Limites e majorao Mecenato Ambiental ......................................................... 48

    Tabela 4 - Limites e majorao Mecenato Desportivo ........................................................ 49

    Tabela 5 - Limites e majorao Mecenato Educacional ...................................................... 50

    Tabela 6 - Limites e majorao Mecenato Cientfico .......................................................... 51

    Tabela 7 - Lista de trabalhadores apurados para anlise ..................................................... 55

    Tabela 8 - Clculo do benefcio fiscal- criao de emprego 2012 ...................................... 57

    Tabela 9 - Apuramento do lucro tributvel - Simulao 1 .................................................. 58

    Tabela 10 - Apuramento do lucro tributvel - Simulao 2 ................................................ 60

    Tabela 11 - Programa de Trabalho ...................................................................................... 68

    Tabela 12 - Questionrio de controlo interno ...................................................................... 74

  • Introduo

  • 2

    A presente abordagem prende-se com a realizao da dissertao no mbito do Mestrado

    em Auditoria do Instituto Superior de Contabilidade e Administrao do Porto.

    O interesse para o tema em apreo, que trata da gesto e planeamento fiscal e dos

    benefcios fiscais em sede de IRC, inscreve-se em fatores de ordem pessoal e profissional.

    A motivao pessoal para esta temtica deve-se vontade de conhecer melhor as razes

    que conduzem pouca utilizao dos benefcios fiscais por parte das pequenas e mdias

    empresas, uma vez que eles existem na legislao fiscal e proporcionam uma criao de

    valor para as empresas, tendo-nos apercebido desse facto no mbito da atividade

    profissional.

    A este fator alia-se outro de ordem profissional: enquanto Tcnica Oficial de Contas,

    sentimos necessidade e vontade de investir no nosso desenvolvimento profissional.

    Centrando-se a nossa prtica em permanente ligao com a Administrao Fiscal, ao

    encetar um estudo sobre esta temtica, pretendemos acurar a nossa atuao profissional na

    vertente fiscal, a qual se reflete nos resultados fiscais das empresas pelas quais somos

    responsveis.

    Subjacente a este trabalho est tambm a vertente cientfica, j que constatamos, a partir da

    investigao realizada, a escassa produo literria sobre a matria e consideramos

    pertinente elaborar um estudo consistente, que contribua para facilitar a atividade dos

    profissionais no mbito da auditoria aos benefcios fiscais.

    Este trabalho tem como objetivo identificar a importncia de uma boa gesto e

    planeamento fiscal e as vantagens na sua prtica, nomeadamente atravs da utilizao de

    benefcios fiscais em sede de IRC, demonstrando-o atravs da simulao de dois exemplos

    prticos.

    Concomitantemente, apresentamos um programa de trabalho para auditoria aos benefcios

    fiscais e um modelo de questionrio de controlo interno, que pretende servir de

    instrumento de apoio ao trabalho a realizar numa auditoria aos benefcios fiscais.

    No que respeita metodologia, quanto natureza partimos de uma pesquisa aplicada, onde

    se objetivava gerar conhecimentos acerca da boa gesto e planeamento fiscal para

    aplicao prtica atravs da utilizao dos benefcios fiscais.

    Quanto forma, decidimos enveredar por um trabalho exploratrio, atravs de pesquisas

    bibliogrficas, a fim de proporcionar maior familiaridade com o tema da pouca utilizao

    dos benefcios fiscais para melhor compreender o facto. De seguida, um estudo emprico,

  • 3

    que visa a elaborao de um programa de trabalho para auditoria dos benefcios fiscais e

    um questionrio de controlo interno.

    O presente trabalho encontra-se organizado do seguinte modo: o captulo I, intitulado

    Gesto e planeamento fiscal, ser consagrado reviso de literatura sobre a importncia

    da gesto e do planeamento fiscal. No captulo II abordamos o conceito e enquadramento

    de benefcios fiscais, centrando-nos no caso concreto dos benefcios fiscais da criao de

    emprego e do mecenato. A finalidade do captulo III prende-se com a apresentao de dois

    exemplos prticos acerca do benefcio fiscal de criao de emprego e mecenato para aferir

    as suas vantagens e o impacto no imposto do rendimento das empresas por via da sua

    aplicao. No captulo IV, debruar-nos-emos sobre a auditoria aos benefcios fiscais

    expondo um programa de trabalho e um questionrio de controlo interno, procurando

    assim refletir sobre os temas deste trabalho. Por ltimo, no captulo V sero esboadas as

    principais concluses e as perspetivas para novos trabalhos.

  • Captulo I Gesto e Planeamento Fiscal

  • 5

    1.1 Gesto fiscal

    1.1.1 A importncia da gesto fiscal

    Uma grande parte do tecido empresarial existente em Portugal constituda por micro,

    pequenas e mdias empresas, ficando a gesto das mesmas ao cargo dos prprios

    empresrios.

    No entanto, verifica-se que esses empresrios apresentam uma carncia significativa a

    nvel do conhecimento da legislao fiscal em vigor, originado em parte pela sua falta de

    formao acadmica ou pela dificuldade na sua compreenso e nas alteraes constantes.

    A concomitante falta de sensibilidade para o tema determina, por vezes, que as suas

    tomadas de decises no sejam baseadas num planeamento fiscal, tendo especialmente

    como principal funo a manuteno e continuidade do negcio.

    Devido ao atual contexto econmico, ao mundo da globalizao e ao esmagamento das

    margens de comercializao, as empresas tm necessidade de se tornarem mais

    competitivas. Por essa razo, cada vez mais a gesto fiscal deve tomar um lugar de

    destaque na gesto das empresas, a fim de melhorar a rendibilidade das mesmas, usando as

    medidas de planeamento fiscal que a lei proporciona atravs dos benefcios e incentivos

    fiscais.

    Por conseguinte, os empresrios devem rodear-se de profissionais competentes, que os

    informem das medidas fiscais disponveis que possam influenciar as suas decises, com

    vista obteno de uma poupana fiscal.

    nesse sentido que profissionais como os TOC, ROC, consultores fiscais, entre outros,

    tm um papel importante a desempenhar neste mbito, usando a sua competncia

    profissional. Estes devem intervir, prestando esclarecimento sobre a legislao fiscal em

    vigor e alertando os empresrios para as medidas fiscais suscetveis de reduzir os impostos

    a pagar.

    Nesse campo de ao, nas pequenas e mdias empresas, o TOC inevitavelmente o

    interveniente principal que, atravs do uso das medidas fiscais disponveis, pode provocar

    uma poupana fiscal, criando assim uma fonte de gerao de valor para a empresa.

    1.1.2 Conceito de gesto fiscal

    Antunes (2006) refere que a evaso e fraude fiscal no se assemelham aos atos de

    poupana fiscal, de planeamento fiscal ou de gesto fiscal.

  • 6

    Atravs da gesto fiscal, as empresas tentam encontrar forma de pagar menos impostos,

    fazendo uso das medidas mais adequadas sua real situao fiscal, mas disponveis no

    quadro jurdico existente.

    Uma boa gesto comercial, financeira e fiscal implica necessariamente o dever de utilizar

    todas as medidas disponveis com vista ao mximo lucro nem que seja atravs da poupana

    fiscal.

    O princpio constitucional da liberdade de iniciativa econmica concede um direito aos

    contribuintes que visa na poupana fiscal. A esse propsito, Gomes, (Gomes, 2005, p. 14)

    assevera A gesto fiscal consiste no estudo e planeamento do acesso a benefcios fiscais e

    incentivos financeiros e no uso de alternativas fiscais, permitidas pela lei, de modo a que

    sejam prosseguidos os objetivos da empresa. A autora refere tambm que a gesto fiscal

    nada tem a ver com evaso e fraude fiscal. Mas que consiste numa atividade em que se

    recorre frequentemente a benefcios fiscais e a incentivos.

    Por se verificar que a gesto fiscal cada vez mais importante e indispensvel no mundo

    empresarial de hoje, foram disponibilizados diversos planos de estudos a nvel acadmico

    sobre esta temtica, com vista a preparar profissionais de qualidade.

    De acordo com um plano de estudo da INDEG Business School Borges (2011) afirma.

    A gesto e o planeamento fiscais tm vindo a revelar-se como elementos

    essenciais na gesto global das empresas, sendo reconhecidamente uma fonte de

    gerao de valor. A performance empresarial passa, cada vez mais, tambm, pela

    eficcia e eficincia da Gesto Fiscal. Trata-se de uma rea de grande interesse e

    atualidade

    Acrescenta tambm que so diversos os pontos que exigem uma ateno redobrada ao

    planeamento e gesto fiscal das empresas, citando como relevante o peso de cada vez

    maior da carga fiscal, as medidas governamentais para reforo do combate evaso e

    fugas fiscais, a crescente integrao das economias europeias e mundiais e consequente

    contradio entre, por um lado, a tendncia para a progressiva harmonizao fiscal

    internacional e, por outro, a necessidade de cada pas ser fiscalmente competitivo.

    De acordo com Mallard, Mazas e Selles (1994) a fiscalidade tem uma funo social. Os

    investigadores so da opinio que essa funo representa o mais recente papel

    desempenhado pela fiscalidade nessa tica da fiscalidade, assegurando que Gerir a

    fiscalidade, intervir nas escolhas fiscais que se oferecem empresa, mas igualmente um

  • 7

    estado de esprito. 1 (Mallard et al.,1994, p. 17). Referem que o gestor tem um papel a

    desempenhar que consiste em procurar as solues fiscais mais vantajosas para a empresa.

    Os autores mencionam como indispensvel para o desempenho, com eficcia, do papel do

    gestor, este deve ser conhecedor e tomar em considerao a situao fiscal atual da

    empresa, assim como integrar o contexto econmico da empresa e as desvantagens da

    operao na deciso fiscal. Apontam igualmente como importante o saber antecipar ou

    atrasar uma deciso com vista obteno da mxima vantagem fiscal, o saber avaliar as

    escolhas entre vantagens econmicas e inconvenientes fiscais em certas situaes.

    Segundo um estudo de Alesina e Ardagna (2009), os incentivos fiscais baseados em

    reduo de impostos so mais propensos a aumentar o crescimento econmico.

    Conclumos, assim, que os impostos so uma evidncia inevitvel e da maior importncia

    no dia-a-dia das empresas devido conjuntura atual dos mercados.

    1.2 Planeamento fiscal

    A poupana fiscal um direito do contribuinte que assenta no princpio constitucional da

    liberdade de iniciativa econmica.

    De acordo com o artigo 61. n.1 da CRP, A iniciativa econmica privada exerce-se

    livremente nos quadros definidos pela Constituio e pela lei e tendo em conta o interesse

    geral.

    As empresas de mdia e grande dimenso so as que normalmente efetuam planeamento

    fiscal recorrendo a servios de profissionais especializados, tais como consultores ou

    gestores fiscais.

    lcito, as empresas e contribuintes, efetuar um planeamento fiscal e aproveitar os

    conhecimentos das leis fiscais para pagarem menos impostos.

    Sanches (2006, p.21) refere que:

    O planeamento fiscal consiste numa tcnica de reduo da carga fiscal pela qual o

    sujeito passivo renuncia a um certo comportamento por este estar ligado a uma

    obrigao tributria ou escolhe, entre as vrias solues que lhe so proporcionadas

    pelo ordenamento jurdico, aquela que, por ao intencional ou omisso do

    legislador, est acompanhada de menos encargos fiscais.

    O autor (Sanches, 2006, p.9) acrescenta tambm que O planeamento fiscal como atividade

    lcita e juridicamente tutelada constitui no s um direito subjetivo do sujeito passivo das

    1 Traduo livre

  • 8

    obrigaes fiscais, mas tambm uma condio necessria para a segurana jurdica das

    relaes tributrias.

    Segundo Fabretti (2006, p.32; citado por Lima, 2010),O estudo feito preventivamente, ou

    seja, antes da realizao do fato administrativo, pesquisando-se seus efeitos jurdicos e

    econmicos e as alternativas legais menos onerosas, denomina-se Planejamento Tributrio,

    que exige antes de tudo, bom senso do planejador.

    Domingues (2000, p. 112; citado por Silva, 2012) define o Planeamento Tributrio como:

    Atividade empresarial que, desenvolvendo-se de forma estritamente preventiva,

    projeta os atos e fatos administrativos com o objetivo de informar quais os nus

    tributrios em cada uma das opes legais disponveis, cuidando de implementar

    aquela menos onerosa, formando um conjunto de condutas, comissivas, da pessoa

    fsica ou jurdica, realizadas antes ou depois da ocorrncia do fato gerador,

    destinadas a reduzir, mitigar, transferir ou postergar legalmente os nus dos

    tributos.

    Nogueira (1980, p.202; citado por Ferreira e Duarte, 2005) argumenta que:

    Ningum obrigado a escolher, entre vrias formas possveis, aquela que seja

    sujeita a impostos mais altos (...), pois a possibilidade de uma estruturao, que em

    face da legislao tributria seja mais favorvel, corresponde ao interesse justo do

    contribuinte, reconhecido pela ordem jurdica.

    Para Batista Jnior (2002, p.42; citado por Ferreira e Duarte, 2005)

    (...) existe o direito do contribuinte de se auto-organizar, entretanto, esse direito

    para alm de no ser absoluto, no est isolado no mundo, mas se situa dentro de

    um contexto, que no se circunscreve apenas ao contexto do ato em si, mas a um

    contexto dos efeitos que acarreta pelo exerccio. H que se levar em conta no

    apenas o interesse de quem pratica o ato, mas o interesse de terceiro e o prprio

    interesse coletivo.

    Borges (1998, p.56; citado por Ferreira e Duarte, 2005) considera o Planeamento Fiscal

    Uma tcnica gerencial que visa projetar as operaes industriais, os negcios

    mercantis e as prestaes de servios, visando conhecer as obrigaes e os encargos

    tributrios inseridos em cada uma das respetivas alternativas legais pertinentes para,

    mediante meios e instrumentos legtimos, adotar aquela que possibilita a anulao,

    reduo ou adiamento do nus fiscal.

  • 9

    Neste sentido podemos dizer que o planeamento fiscal se baseia no uso das alternativas e

    lacunas autorizadas nas leis, visando tomadas de decises que otimizem a fiscalidade das

    empresas.

    Resume-se ento a eleger entre as opes lcitas disponveis as que se apresentam mais

    vantajosa para a empresa, de forma a obter, atravs de meios legais, uma reduo na fatura

    fiscal.

    Dada essa realidade, revela-se imprescindvel ter um conhecimento adequado acerca do

    planeamento e gesto fiscal nas empresas, para que possam ser usadas as alternativas

    fiscais com vista criao de valor para a empresa.

    O uso dessas alternativas consiste em, atravs de um bom planeamento fiscal, obter

    vantagens competitivas derivadas da reduo da carga fiscal.

    1.2.1 Objetivos e Finalidades do Planeamento fiscal

    O planeamento fiscal, definido como um instrumento eficaz de estratgia empresarial para

    a tomada de decises que otimizem a fiscalidade das empresas, apresenta-se evidenciado

    com as seguintes caractersticas:

    a) Permite evitar a incidncia do imposto, isto , antes de praticar um facto

    gerador de imposto, caso se verifique consequncias negativas no

    compensatrias ou no desejadas. Por exemplo ao optar pela aquisio de uma

    viatura de turismo de valor inferior ao limite estabelecido por portaria de acordo

    com o artigo 34. do CIRC, de forma a evitar o agravamento da taxa de

    tributao autnoma, sendo agravada se o valor de aquisio for superior a esse

    limite.

    b) Possibilita reduzir o valor do imposto a pagar (veja-se, citamos a ttulo de

    exemplo, a utilizao de benefcios fiscais que so de deduo ao rendimento

    ou coleta, ou a opo por um regime de contabilidade mais vantajoso).

    c) Diferimento no tempo do pagamento do imposto, com as medidas que assim o

    possibilitam. Exemplo disso poder ser, caso seja legislado a autorizao

    legislativa de IRC referida no artigo 242. da Lei n. 66-B/2012, de 31 de

    dezembro que concerne o regime de transferncia de residncia de uma

    sociedade para o estrangeiro e cessao de atividade de entidade no residente,

    em que o sentido e a extenso da legislao a aprovar consta:

  • 10

    a) Estabelecer um regime fiscal de pagamento, imediato ou em

    fraes anuais, do saldo positivo apurado pela diferena entre os

    valores do mercado e os valores fiscalmente relevantes dos

    elementos patrimoniais de sociedades que transferem.

    b) Estabelecer um regime optativo entre o pagamento do imposto,

    nos termos referidos na alnea anterior, e o diferimento do imposto

    para quando ocorra ..

    A sua finalidade essencialmente a poupana na fatura fiscal, levando, desta forma, ao

    objetivo estratgico fundamental - a criao de valor para a empresa.

    1.2.2 Modos de poupana fiscal

    Existem diferentes vias de atuao que permitem ao contribuinte obter uma diminuio da

    sua carga fiscal.

    O contribuinte pode agir tendo um comportamento intra legem (planificao fiscal), extra

    legem (eliso fiscal) ou contra legem (evaso fiscal), sendo que todas estas condutas levam

    a uma reduo do seu contributo em impostos. No entanto, nem todas so consideradas

    legtimas.

    1.2.2.1 Comportamento intra legem

    Ao adotar uma conduta intra legem, o contribuinte est a fazer uso dos meios legais ao seu

    dispor, neste caso com o objetivo de um menor esforo tributrio, isto , utilizando regras

    expressas nas prprias leis tributrias que determinam normas negativas de tributao.

    Neste mbito, esto contempladas, entre outras, as excluses tributrias, as dedues

    especficas, os abatimentos matria coletvel, o reporte de prejuzos, as isenes fiscais,

    os benefcios fiscais e as zonas francas.

    Este procedimento revela-se como um ato lcito, que sustenta uma tomada de deciso numa

    base de rentabilidade, o que se traduz num ato de bom senso por parte de quem o

    aproveita, j que a poupana fiscal um direito que assiste a qualquer contribuinte.

    Exemplo de comportamento intra legem: o artigo 44. do CIRC, Quotizaes a

    favor de associaes empresariais

  • 11

    1 considerado gasto do perodo de tributao, para efeitos da

    determinao do lucro tributvel, o valor correspondente a 150% do total das

    quotizaes pagas pelos associados a favor das associaes empresariais em

    conformidade com os estatutos.

    2 O montante referido no nmero anterior no pode, contudo, exceder o

    equivalente a 2 do volume de negcios respetivo.

    Uma empresa A apresentou no ano N um volume de negcio no valor de 1.200.000,00 e

    pagou quotizaes a uma associao empresarial no montante de 980,00.

    Verificando o n. 2 do artigo 44. do CIRC, o limite mximo aceite fiscalmente ser de

    1.200.000,00 x 2 que corresponde a 2.400,00.

    De acordo com o n. 1 do artigo 44. do CIRC, esta empresa poder considerar como gasto

    do perodo de tributao o montante de 980,00 x 150% o que representa 1.470,00.

    O valor de 980,00 contabilizado atravs de um documento fsico numa conta de gastos, a

    diferena para 1.470,00 no montante de 490,00 deduzido na linha prpria de benefcios

    fiscais do quadro 07 da modelo 22 do IRC.

    Tal direito ao benefcio decorre expressamente de uma norma, logo a sua aplicao traduz

    um comportamento intra legem.

    1.2.2.2 Comportamento extra legem

    A eliso fiscal, que configura uma atuao extra legem, conduz a uma poupana fiscal

    atravs da utilizao de negcios jurdicos que no esto expressos nas normas tributrias.

    No entanto, no significa por isso que estejamos perante a prtica de atos ilcitos ou

    anmalos.

    De acordo com Shingaki (2010; citado por Silva, 2012), A eliso fiscal definida como a

    economia lcita, mediante toda e qualquer operao anterior concorrncia do fato gerador

    que, sem violar a lei, evita, reduz ou posterga o imposto.

    Tambm subscreve o autor Koch (2003, p.116, citado por Silva, 2012) que declara, A

    eliso fiscal hodiernamente tratada como planejamento tributrio consiste em praticar atos

    legais, sem dissimulao, sem fraude, visando minimizar o imposto a recolher.

  • 12

    Este tipo de procedimento resulta de um estudo prvio realizado mediante uma anlise

    cuidada a possveis omisses na lei, aproveitando essas ocorrncias para alcanar

    vantagens tributrias, contudo, sem qualquer transgresso lei, j que esses factos no

    surgem referidos nas normas tributrias como proibidos.

    Neste contexto, o contribuinte age intencionalmente na procura da minimizao da sua

    carga fiscal, antes de ocorrer o facto gerador do imposto mas sem pretender violar a lei.

    Exemplo de comportamento extra legem

    Um empresrio pretende estabelecer-se num determinado ramo de atividade. Antes de

    iniciar a atividade, faz um estudo s diversas formas de tributao existentes, em sede de

    IRS, como empresrio em nome individual com contabilidade organizada ou no regime

    simplificado e em sede de IRC em forma de sociedade.

    Tendo em conta a previso dos gastos, dos rendimentos esperados para a atividade e

    analisando as exigncias legais de cada um dos regimes, assim como o peso dos benefcios

    existentes em ambas as tributaes, chega concluso que conseguir uma menor carga

    tributria, caso desenvolva a sua atividade sob a forma societria.

    Verifica igualmente que, como trabalhador dependente da sociedade, ser-lhe-o

    concedidos apoios sociais que no usufruiria, caso optasse pelo regime de tributao em

    sede de IRS para os ganhos resultantes da atividade desenvolvida.

    Considerando todos os itens envolvidos, o empresrio decide-se pelo regime que lhe ser

    fiscalmente e economicamente mais favorvel.

    Sem infringir a lei, o contribuinte procura as solues que melhor se adequam sua

    vontade em pagar menos, obter mais benefcios e cumprir os seus deveres fiscais.

    1.2.2.3 Comportamento contra legem

    J no sucede o mesmo nas situaes de comportamentos contra legem, ou seja, de evaso

    fiscal. Neste caso, a poupana fiscal resulta da prtica voluntria de atos ilcitos, que

    normalmente so de origem premeditada.

    Constitui evaso fiscal a omisso, a ocultao de informao, a deturpao de documentos

    fiscais e as manobras artificiosas que apenas tm um nico objetivo o no pagamento ou a

    apropriao ilcita de impostos.

  • 13

    Evidentemente que estas leses ao sistema fiscal pem em causa a eficincia econmica e

    a equidade fiscal e conduzem a uma concorrncia desleal, provocando igualmente na

    esfera psicolgica um sentimento de injustia por parte de quem cumpridor e no v

    devidamente punidos os que praticam esses atos, sendo certo que estes esto sujeitos a

    sanes criminais e no criminais, de acordo com a gravidade do ato que se encontra

    expressas no RGIT.

    Referimos, como exemplo, que a fraude fiscal e a fraude fiscal qualificada esto previstas e

    sero punidas pelos artigos 103. e 104. do RGIT.

    No plano estratgico de combate fraude e evaso fiscais e aduaneiras 2012-2014 emitido

    em 31 de Outubro de 2011 pelo Ministrio das Finanas so identificadas os tipos de

    comportamentos mais comuns em fraude e evaso fiscais, assim como os procedimentos

    para os detetar.

    Exemplo de comportamento contra legem

    No tocante s empresas, so enquadradas nomeadamente as seguintes atuaes:

    - Ocultao de rendimentos

    - Utilizao abusiva de operaes de reestruturao e participaes em entidades no

    residentes (pode dar origem a manipulao artificial ou transferncia de resultados,

    eliminao de mais-valias suspensas de tributao ou para evitar a tributao de mais-

    valias latentes com utilizao de prejuzos fiscais intra-grupo).

    - Irregularidades com preos de transferncia

    - No entrega de reteno na fonte

    - Registo de gastos fictcios

    - Fraude carrossel

    - Faturas falsas

    - Viciao dos registos de faturao em mquinas registadoras e sistemas informtico.

    Se dois sujeitos passivos acertarem entre si a emisso de uma fatura referente a aquisies

    de bens ou prestaes de servios sem que tenha ocorrido qualquer gnero de transao

    entre ambas as partes, somente com o propsito de obter uma reduo da base tributvel.

    Trata-se de um facto designado por emisso de fatura falsa que representa uma fraude

    fiscal.

  • 14

    1.2.3 O combate fraude e evaso fiscal

    Tem vindo a revelar-se elevada a imaginao do ser humano na busca constante de formas

    de evitar a tributao, facto que tem levado o legislador a criar normas antiabuso, no

    sentido de combater as mentes criativas dos contribuintes.

    a) LGT

    A clusula geral antiabuso, prevista no artigo 38. da LGT tem como funo a de limitar

    esses abusos, assim como todas as normas especiais antiabuso expressas nos diversos

    cdigos fiscais.

    Comecemos pela clusula geral antiabuso que trata da ineficcia de atos e negcios

    jurdicos, ao citar

    2 - So ineficazes no mbito tributrio os atos ou negcios jurdicos essencial ou

    principalmente dirigidos, por meios artificiosos ou fraudulentos e com abuso das

    formas jurdicas, reduo, eliminao ou diferimento temporal de impostos que

    seriam devidos em resultado de factos, atos ou negcios jurdicos de idntico fim

    econmico, ou obteno de vantagens fiscais que no seriam alcanadas, total ou

    parcialmente, sem utilizao desses meios, efetuando-se ento a tributao de

    acordo com as normas aplicveis na sua ausncia e no se produzindo as vantagens

    fiscais referidas.

    Igualmente, no que concerne o artigo 89.-A da LGT que se refere a manifestaes de

    fortuna e outros acrscimos patrimoniais no justificados, conforme indica a norma:

    1 - H lugar a avaliao indireta da matria coletvel quando falte a declarao de

    rendimentos e o contribuinte evidencie as manifestaes de fortuna constantes da

    tabela prevista no n. 4 ou quando o rendimento lquido declarado mostre uma

    desproporo superior a 30 %, para menos, em relao ao rendimento padro

    resultante da referida tabela.

    b) IRC

    No mbito do IRC, deparamos com o artigo 23. que trata dos gastos, ao excluir de

    aceitao fiscal determinados gastos quando considerados ilcitos ou gastos na transmisso

    onerosa de partes de capital sob certas condies.

    Assim como o artigo 49. sobre os instrumentos financeiros derivados, ao serem tributados

    os rendimentos ou gastos que resultem da aplicao do justo valor a instrumentos

  • 15

    financeiros derivados, ou a qualquer outro ativo ou passivo financeiro utilizado como

    instrumento de cobertura restrito cobertura do risco cambial.

    Da mesma forma que o artigo 51. relativo eliminao da dupla tributao econmica de

    lucros distribudos, que apenas permite a deduo quando os rendimentos provenham de

    lucros que tenham sido sujeitos a tributao efetiva.

    De igual modo, verifica-se atravs das normas que constam nos artigos 63.13

    e seguintes, o

    objetivo de travar essa luta por via de correes para efeitos da determinao da matria

    coletvel, designadamente no campo dos preos de transferncia, casos em que se verifique

    situao de relaes especiais entre um sujeito passivo e outra entidade ao determinar que

    devem ser contratados, aceites e praticados termos ou condies substancialmente

    idnticos aos que normalmente seriam contratados, aceites e praticados entre entidades

    independentes em operaes comparveis. Quando tal facto envolver operaes com

    entidades no residentes, cabe ao sujeito passivo efetuar, na declarao a que se refere o

    artigo 120., as necessrias correes positivas na determinao do lucro tributvel, pelo

    montante correspondente aos efeitos fiscais imputveis a essa inobservncia.

    Exige-se tambm correes ao valor de transmisso de direitos reais sobre bens imveis

    quando este apresente valores inferiores aos valores patrimoniais tributrios definitivos que

    serviram de base liquidao do imposto municipal sobre as transmisses onerosas de

    imveis (IMT), sendo este o valor a considerar pelo alienante e adquirente, para

    determinao do lucro tributvel.

    O artigo 65. Pagamentos a entidades no residentes sujeitas a um regime fiscal

    privilegiado, sustenta essa contemplao de norma antiabuso, ao no reconhecer para

    efeitos fiscais as importncias pagas ou devidas, a qualquer ttulo, a pessoas singulares ou

    coletivas residentes fora do territrio portugus e a submetidas a um regime fiscal

    claramente mais favorvel, salvo se o sujeito passivo puder provar que tais encargos

    correspondem a operaes efetivamente realizadas e no tm um carcter anormal ou um

    montante exagerado.

    Aferimos a mesma condio de norma antiabuso no artigo 66. relativo a imputao de

    rendimentos de entidades no residentes sujeitas a um regime fiscal privilegiado, dado que

    nela consta que os lucros ou rendimentos obtidos por entidades no residentes em territrio

    portugus e submetidos a um regime fiscal claramente mais favorvel so imputados aos

    sujeitos passivos de IRC residentes em territrio portugus em determinadas

    circunstncias.

  • 16

    Surge no oramento de estado de 2013 uma limitao dedutibilidade de gastos de

    financiamento por via do artigo 67., contudo essa norma no abarca a maioria das

    empresas, sendo esta mais especificamente, direcionada para grandes empresas, ao admitir

    um limite dedutvel em gastos de financiamento no montante de 3.000.000,00 euros.

    Prev-se igualmente um regime especial aplicvel s fuses, cises, entradas de ativos e

    permutas de partes sociais nos artigos 73. a 78., sendo estabelecido um regime de

    neutralidade fiscal nessas operaes quando assim definidas. No entanto, a

    transmissibilidade dos prejuzos fiscais est condicionada a prvia autorizao, a ser

    concedida pelo Ministro das Finanas.

    Alm de existir obrigao de comunicao a opo pela aplicao deste regime especial na

    declarao anual de informao contabilstica e fiscal, a que se refere o artigo 121.,

    relativa ao perodo de tributao em que a operao realizada.

    c) IRS

    J no contexto que visa as pessoas singulares, isto , no cdigo do IRS constatamos que no

    n. 5 do artigo 16.; So ainda havidas como residentes em territrio portugus as pessoas

    de nacionalidade portuguesa que deslocalizem a sua residncia fiscal para pas, territrio

    ou regio, sujeito a um regime fiscal claramente mais favorvel constante de lista aprovada

    por portaria do Ministro das Finanas, no ano em que se verifique aquela mudana e nos

    quatro anos subsequentes, salvo se o interessado provar que a mudana se deve a razes

    atendveis, designadamente exerccio naquele territrio de actividade temporria por conta

    de entidade patronal domiciliada em territrio portugus.

    Averiguamos no artigo 43., aquando do apuramento de mais-valias, quando existam

    perdas respeitantes a operaes efetuadas por residentes previstas nas alneas b), e), f) e g)

    do n. 1 do artigo 10., realizadas com outrem, sujeito no pas, territrio ou regio de

    domiclio a um regime fiscal claramente mais favorvel, constante da lista aprovada por

    portaria do Ministro das Finanas, as referidas perdas no so relevante para o apuramento

    das mais-valias.

    Ainda no mbito de regimes fiscais claramente mais favorveis, diz-nos o artigo 73. que

    esto sujeitas a tributaes autnomas taxa de 35% as despesas correspondentes a

    importncias pagas ou devidas, a qualquer ttulo, a pessoas singulares ou coletivas

    residentes fora do territrio portugus, salvo se o sujeito passivo puder provar que tais

    encargos correspondem a operaes efetivamente realizadas e no tm um carcter

    anormal ou um montante exagerado.

  • 17

    Idntica situao se apura nos n.s 4 e 5 do artigo 85. no que respeita a encargos com

    imveis impedindo a deduo coleta, quando sejam devidos a favor de entidade residente

    em pas, territrio ou regio, sujeito a um regime fiscal claramente mais favorvel,

    constante de lista aprovada por portaria do Ministro das Finanas, e que no disponha em

    territrio portugus de estabelecimento estvel ao qual os rendimentos sejam imputveis.

    d) IVA

    No que concerne ao IVA, de acordo com o artigo 19., no exerccio do direito deduo

    fica vedada essa possibilidade, em operaes simuladas ou em que seja simulado o preo

    constante da fatura, assim como, quando resulte de operaes em que o transmitente dos

    bens ou prestador dos servios no entregar nos cofres do Estado o imposto liquidado,

    quando o sujeito passivo tenha ou devesse ter conhecimento de que o transmitente dos bens

    ou prestador de servios no dispe de adequada estrutura empresarial suscetvel de

    exercer a atividade declarada.

    Ao abrigo do artigo 80. deparamos com a responsabilizao de modo solidrio, no

    pagamento do imposto, quando ocorram transmisses de bens ou prestaes de servios

    realizadas ou declaradas com a inteno de no entregar nos cofres do Estado o imposto

    correspondente, para os sujeitos passivos abrangidos pela alnea a) do n. 1 do artigo 2.

    que tenham intervindo ou venham a intervir, em qualquer fase do circuito econmico, em

    operaes relacionadas com esses bens ou com esses servios desde que aqueles tivessem

    ou devessem ter conhecimento dessas circunstncias.

    e) EBF

    Ao analisarmos o EBF encontramos no artigo 27. que nos fala das mais-valias realizadas

    por no residentes uma limitao s isenes em sede de IRS e IRC para certas entidades;

    a) A entidades no residentes e sem estabelecimento estvel em territrio

    portugus que sejam detidas, direta ou indiretamente, em mais de 25 %, por

    entidades residentes;

    b) A entidades no residentes e sem estabelecimento estvel em territrio portugus

    que sejam domiciliadas em pas, territrio ou regio sujeitas a um regime fiscal

    claramente mais favorvel, constante de lista aprovada por portaria do Ministro das

    Finanas;

    c) s mais-valias realizadas por entidades no residentes com a transmisso

    onerosa de partes sociais em sociedades residentes em territrio portugus cujo

    ativo seja constitudo, em mais de 50 %, por bens imveis a situados ou que, sendo

    sociedades gestoras ou detentoras de participaes sociais, se encontrem em relao

  • 18

    de domnio, tal como esta definida no artigo 13. do Regime Geral das

    Instituies de Crdito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo Decreto-Lei n.

    298/92, de 31 de Dezembro, a ttulo de dominantes, com sociedades dominadas,

    igualmente residentes em territrio portugus, cujo ativo seja constitudo, em mais

    de 50 %, por bens imveis a situados.

    Alarga ainda a excluso de iseno nas seguintes situaes;

    a) A pessoas singulares no residentes e sem estabelecimento estvel em territrio

    portugus que sejam domiciliadas em pas, territrio ou regio sujeitas a um regime

    fiscal claramente mais favorvel, constante de lista aprovada por portaria do

    Ministro das Finanas;

    b) s mais-valias realizadas por pessoas singulares com a transmisso onerosa de

    partes sociais em sociedades residentes em territrio portugus cujo ativo seja

    constitudo, em mais de 50 %, por bens imveis a situados ou que, sendo

    sociedades gestoras ou detentoras de participaes sociais, se encontrem em relao

    de domnio, tal como esta definida no artigo 13. do Regime Geral das

    Instituies de Crdito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo Decreto-Lei n.

    298/92, de 31 de Dezembro, a ttulo de dominantes, com sociedades dominadas,

    igualmente residentes em territrio portugus, cujo ativo seja constitudo, em mais

    de 50 %, por bens imveis a situados.

    J no que respeita ao artigo 46. que abrange os prdios urbanos construdos, ampliados,

    melhorados ou adquiridos a ttulo oneroso, destinados a habitao, concedida uma

    iseno do imposto municipal sobre imveis mas condicionada a certas regras

    nomeadamente s pode ser concedido a sujeitos passivos cujo o rendimento coletvel para

    efeitos de IRS no seja superior a 153.300 euros, deve o referido prdio destinar-se a

    habitao prpria e permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar. Outros

    casos se verificam em situaes de prdios destinados a arrendamento. Contudo, esta

    iseno carece de requerimento e deve ser reconhecida pelo chefe de finanas da rea da

    situao do prdio.

    f) IS

    Ao examinar o cdigo do imposto do selo no artigo 7. que prev outras isenes de

    imposto, quanto alnea o) do n. 1 deste artigo, todo o seu contedo indica que qualquer

    ato sobre o qual incide imposto do selo em que as instituies comunitrias e o Banco

    Europeu de Investimento intervenham, isento de imposto.

  • 19

    g) IMI

    No cdigo do Imposto Municipal sobre imveis no artigo 112. que estabelece as taxas a

    aplicar sobre o valor patrimonial dos bens imveis l-se no n.4 o agravamento

    significativo da taxa para 7,5% quando os prdios sejam propriedade de entidades que

    tenham domiclio fiscal em pas, territrio ou regio sujeito a regime fiscal claramente

    mais favorvel, constantes de lista aprovada por portaria do Ministro das Finanas.

    Enquanto que na sua generalidade as taxas situam-se entre 0,3% e 0,8% de acordo com o

    regime de avaliao em que se encontre o prdio abrangido.

    h) IMT

    Finalmente na anlise realizada ao cdigo do Imposto Municipal sobre as Transmisses

    Onerosas de Imveis aferimos no n. 4 do artigo 17., mais uma vez a inteno do

    legislador em combater o flagelo em questo, ao inflacionar a taxa para 10% no se

    aplicando qualquer iseno ou reduo sempre que o adquirente tenha a residncia ou sede

    em pas, territrio ou regio sujeito a um regime fiscal mais favorvel, constante de lista

    aprovada por portaria do Ministro das Finanas, sem prejuzo da iseno prevista no artigo

    7. do Decreto-Lei n. 540/76, de 9 de Julho.

    Comprovando-se insuficientes as normas acima enunciadas, para a frtil imaginao dos

    peritos em fiscalidade e com vista a combater mais eficazmente o planeamento fiscal

    abusivo, foi legislado o novo regime do planeamento fiscal abusivo, que consta da norma

    antiabuso prevista no Decreto-Lei n. 29/2008, publicado no Dirio da Repblica n. 39, 1.

    Srie, de 25 de Fevereiro, com data de entrada em vigor em 15 de Maio de 2008, onde

    provinha da autorizao legislativa concedida no artigo 98. da Lei 53-A/2006, de 29 de

    Dezembro (OE 2007).

    A Portaria n. 364-A/2008, de 14 de Maio aprova o modelo de declarao para

    comunicao dos esquemas ou atuaes de planeamento fiscal e respetivas instrues de

    preenchimento.

    1.2.3.1 Objetivo da lei e o novo regime

    A publicao deste decreto-lei deve-se pretenso em reforar a eficcia no combate

    fraude e evaso fiscais, atravs da consagrao de obrigaes de comunicao, informao

    e esclarecimento administrao tributria e de uma maior cooperao entre as autoridades

    Tributrias e certas entidades. Tem como finalidade acrescida regular o exerccio da

    consultoria fiscal agressiva, que sustenta uma procura incessante das debilidades da lei

  • 20

    fiscal, mesmo que em discordncia com o plano e o esprito legislativo. Espera-se tambm

    efeitos que conduzam diminuio dos custos administrativos da fiscalizao.

    O novo regime tem como propsito determinar especiais deveres de comunicao,

    informao e esclarecimento Administrao Fiscal por parte de consultores fiscais e

    entidades financeiras de esquemas pr-fabricados de planeamento fiscal -agressivo para

    oferta a clientes que visam obteno de vantagem fiscal.

    Quanto ao seu mbito, abarca os impostos geridos pela Autoridade Tributria,

    nomeadamente o imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, o imposto sobre o

    rendimento das pessoas coletivas, o imposto sobre o valor acrescentado, o imposto

    municipal sobre imveis, o imposto municipal sobre as transmisses onerosas de imveis e

    o imposto do selo.

    A publicao desta lei esclarece o que considerado Planeamento fiscal Esquema

    Atuao e Vantagem fiscal neste contexto.

    Nela est definido que o planeamento fiscal consiste em qualquer esquema, sendo este

    referenciado como qualquer plano que tenha como finalidade, exclusiva ou

    predominantemente, a obteno de vantagens fiscais, entendendo-se estas como a reduo,

    eliminao ou diferimento temporal de imposto ou a obteno do benefcio fiscal, que no

    se alcanaria, no todo ou em parte, sem a utilizao do esquema ou a atuao.

    No que concerne a sua abrangncia, esto includos os esquemas ou atuaes de

    planeamento fiscal que envolva a participao de entidade total ou parcialmente isenta ou a

    participao de entidade sujeita a um regime fiscal privilegiado, assim como esquemas que

    pretenda a requalificao do rendimento ou a alterao do beneficirio em operaes

    financeiras ou sobre seguros ou esquemas que impliquem a utilizao de prejuzos fiscais.

    Esto identificados como promotores os residentes ou estabelecidos em territrio nacional

    que prestem servios de apoio, assessoria, aconselhamento, consultoria ou anlogos no

    domnio tributrio, considerando-se, nomeadamente para o efeito, as instituies de crdito

    e financeiras, os revisores oficiais de contas, os advogados, os solicitadores, as sociedades

    desses profissionais, os tcnicos oficiais de contas e outras entidades que prestem servios

    de contabilidade.

    Tal como determinado no objetivo desta lei, todos estes promotores tm o dever de

    comunicar ao diretor-geral dos impostos os esquemas ou atuaes de planeamento fiscal

    propostos a clientes e outros interessados nos 20 dias subsequentes ao termo do ms em

    que o esquema ou atuao de planeamento fiscal tenha sido proposto pela primeira vez.

  • 21

    A comunicao consiste em prestar informao acerca do esquema ou atuao de

    planeamento fiscal atravs de uma descrio detalhada, a base legal em que assenta a

    pretenso da vantagem fiscal, alm de ser devidamente identificado o promotor.

    Com o intuito de prestar apoio s atividades de inspeo tributria, o presente decreto-lei

    prev a criao de uma base de dados nacional, onde se encontre publicitado os esquemas

    de planeamento fiscal por imposto.

    De forma a prevenir a fraude e evaso fiscais, o artigo 15. do presente decreto-lei

    estabelece a divulgao dos esquemas ou atuaes de planeamento fiscal considerados

    abusivos. Contudo, obedecendo aos princpios de confidencialidades que implica a

    sujeio ao dever de sigilo fiscal, no so revelados os intervenientes em causa.

    Por ltimo, importa acrescentar que a falta de comunicao ou a comunicao fora do

    prazo legal, a no prestao ou a prestao de esclarecimentos fora do prazo legal so

    condutas sujeitas a coima que variam consoante se tratar de uma entidade coletiva ou de

    pessoa singular.

    Quanto ao seu enquadramento legal, para alm do decreto-lei n. 29/2008 de 25 de

    fevereiro e da portaria n. 364-A/2008 de 4 de maio, que aprova o modelo da declarao

    para o cumprimento do dever de comunicao e os procedimentos para a respetiva entrega,

    foram publicados o despacho n. 11873/2009 de 18 de maio, que vem prestar mais

    esclarecimentos acerca do decreto-lei n. 29/2008 de 25 de fevereiro, e o despacho n.

    14592/2008 de 27 de maio, que dispe das orientaes interpretativas em matria de

    revelao de esquemas de planeamento fiscal para preveno e combate a atuaes

    abusivas e evasivas.

    Concluiu-se, assim que as comunicaes exigidas acerca dos esquemas ou atuaes de

    planeamento fiscal permitiro ao legislador, atravs da produo de novas normas, corrigir

    as incorrees ou lacunas da lei, melhorando as formas de combate fuga fiscal, na

    certeza, porm, de que se revelaro sempre insuficientes dada a investigao permanente

    dos peritos da rea fiscal, que procura satisfazer aqueles que lutam e apresentam resistncia

    ao pagamento de imposto.

    Consequentemente, depreende-se que a tarefa do legislador nesta matria no se avizinha

    como findvel, mas tornar-se- antes um permanente estudo para a prossecuo dos

    objetivos de eliminao de fraude e evaso fiscais.

    Confirmada a importncia do planeamento fiscal, as suas vias de aplicao e as respetivas

    implicaes mediante a escolha da modalidade, centramos este estudo no comportamento

    intra-legem que se baseia nas opes permissivas ao abrigo da legislao fiscal.

  • 22

    A nossa escolha direcionou-se para a utilizao dos benefcios fiscais contemplados no

    estatuto dos benefcios fiscais, exemplificando-os atravs de exemplos prticos e

    demonstrando a ponderao dos seus efeitos em sede de IRC.

    Por vezes, constata-se que no aproveitada a vantagem fiscal que se obtm atravs da

    utilizao dos benefcios fiscais, quer seja por desconhecimento ou falta de informao

    suficiente ou mesmo negligncia por parte dos profissionais. No entanto, pretende-se

    comprovar que o seu uso pode, por vezes, consistir num fator significativo para a reduo

    da fatura fiscal.

    1.2.3.2 Novas medidas de combate

    No sentido de aumentar o combate fraude e evaso fiscais, entrou em vigor a Portaria n.

    363/2010, de 23 de junho, que regulamenta a certificao prvia dos programas

    informticos de faturao do Cdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas

    Coletivas, estabelecendo um conjunto de regras tcnicas, a observar pelas empresas

    produtoras de software.

    A referida publicao teve como propsito principal o combate aos riscos de viciao dos

    dados registados nos sistemas de processamentos eletrnico de dados, nomeadamente para

    a faturao da transmisso de bens ou de prestaes de servios.

    A posteriori, a portaria n. 363/2010 de 23 de junho foi atualizada pela portaria n. 22-

    A/2012, de 24 de janeiro, alargando o universo de contribuintes que, obrigatoriamente,

    devem utilizar programas certificados como meio de emisso de faturas ou documentos

    equivalentes e tales de venda. Assim, de acordo com o artigo 2. da portaria, ficam

    abrangidos todos sujeitos passivos de IRS e IRC, excluindo no entanto, os sujeitos

    passivos, que utilizem software produzido internamente ou por empresa integrada no

    mesmo grupo econmico, do qual sejam detentores dos respetivos direitos de autor;

    aqueles que, no perodo de tributao anterior, tenham tido um volume de negcios inferior

    ou igual a (euro) 100 000 ou um nmero de faturas, documentos equivalentes ou tales de

    venda inferior a 1 000 unidades. So igualmente excludos os sujeitos passivos que

    efetuem transmisses de bens atravs de aparelhos de distribuio automtica ou

    prestaes de servios em que seja habitual a emisso de talo, bilhete de ingresso ou de

    transporte, senha ou outro documento pr-impresso e ao portador comprovativo do

    pagamento. Contudo, os sujeitos passivos que apesar de reunir alguma das condies

    previstas na excluso, ficam obrigados a utilizar programa certificado quando optem, a

  • 23

    partir da entrada em vigor da presente portaria, pela utilizao de programa informtico de

    faturao ou aqueles que utilizem programa de faturao multiempresa.

    Todavia o caminho nesta luta prossegue; persiste, assim, por parte dos governantes, o

    empenho no reforo significativo do combate fraude e evaso fiscais.

    Assim, na sequncia da autorizao legislativa concedida ao Governo pelo artigo 172. da

    LOE 2012, cuja temtica versava sobre a criao de meios eficazes de combate economia

    paralela, foi publicado o Decreto-Lei n. 198/2012 de 24 de Agosto.

    Neste contexto, pretende-se alcanar um alargamento da base tributvel e uma tributao

    mais justa e repartida, contribuindo estas imposies para a diminuio da concorrncia

    desleal.

    Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n. 198/2012 de 24 de Agosto, vem promover -se a

    exigncia de fatura por cada transao e reduz-se as situaes de evaso fiscal aliadas

    omisso do dever de emitir documento comprovativo da transao.

    Este regime vem regular, particularmente, a obrigatoriedade da transmisso eletrnica dos

    elementos das faturas e outros documentos com relevncia fiscal Autoridade Tributria e

    Aduaneira (AT), com entrada em vigor a 1 de janeiro de 2013. Define tambm a forma da

    sua comunicao e cria um incentivo de natureza fiscal exigncia daqueles documentos

    por adquirentes pessoas singulares. De acordo com o artigo 3. deste decreto-lei, as pessoas

    singulares e coletivas que pratiquem operaes sujeitas a IVA ficam obrigadas a comunicar

    AT, por transmisso eletrnica de dados, os elementos das faturas emitidas nos termos do

    cdigo do IVA. Essa transmisso dever ocorrer at ao dia 25 do ms seguinte ao da

    emisso da fatura por meio de uma das seguintes vias:

    Por transmisso de dados em tempo real (integrada em programa de faturao eletrnica);

    Por transmisso eletrnica de dados, mediante remessa de ficheiro normalizado estruturado

    com base no ficheiro SAFT-T (PT), contendo os elementos das faturas;

    Por insero direta no Portal das Finanas;

    Por outra via eletrnica, nos termos a definir por portaria do Ministrio das Finanas.

    Quanto aos documentos de transporte, a presente legislao determina que a sua

    comunicao obrigatria antes do incio do mesmo, para todos os sujeitos passivos com

    um volume de negcios superior a 100.000.

    A comunicao AT deve efetuar-se por meio de transmisso eletrnica de dados, para os

    documentos de transporte emitidos por via eletrnica, em programa informtico

    certificado, por software produzido internamente ou diretamente no portal das finanas.

  • 24

    No que se refere aos documentos emitidos em papel, a comunicao dever ser realizada

    por meio de servio telefnico, com insero no Portal das Finanas at ao 5. dia til

    seguinte.

    1.2.3.3 Denncias de fraudes fiscais

    A Procuradoria-Geral da Repblica disponibiliza, no seu site na Internet, uma pgina para

    a denncia de atos de corrupo e fraudes: https://simp.pgr.pt/dciap/denuncias/.

    Atravs deste meio, o Ministrio Pblico procurou possibilitar s pessoas condies para

    efetuar denncias de casos de corrupo, permitindo que essas denncias sejam feitas de

    forma annima ou no.

    A PGR refere que combater e eliminar a corrupo uma responsabilidade de todos e

    quem no denuncia, conhecendo os fatos relevantes, tem tambm a sua quota de culpa.

    Incentiva utilizao deste meio para quem dispem de informao privilegiada,

    sublinhando que poder ser determinante para o sucesso da investigao. Todas as

    denncias sero analisadas pelo Departamento Central de Investigao e Ao Penal,

    sendo-lhe dado o seguimento considerado mais adequado.

    O autor da denncia poder acompanhar o desenvolvimento processual, atravs de uma

    chave de acesso atribuda aquando da denncia, na qual dever forosamente constar, o

    setor de atividade em que sucederam os factos, a descrio o mais pormenorizada possvel

    dos mesmos, a indicao das datas em que eles ocorreram, assim como a identificao dos

    suspeitos e das empresas.

    Com efeito, a revelao da fonte de conhecimento dos dados comunicados outro requisito

    obrigatrio para a apresentao da denncia. preservado ao autor da comunicao o

    direito ao anonimato, contudo privilegia-se a identificao, por se considerar til para o

    decurso da investigao.

    A denncia de atos de corrupo constitui um dever de qualquer cidado. Esta

    responsabilidade tem, no entanto, um peso acrescido para profissionais cuja atividade tem

    uma importncia significativa na gesto do sistema fiscal. Certas disposies legais

    preveem o dever de participao ao Ministrio Pblico por parte dos Tcnicos Oficiais de

    Contas e dos Revisores Oficiais de Contas quando, no exerccio das suas funes, forem

    detetadas irregularidades.

    Exemplo disso o artigo 58. do Estatuto dos Tcnicos Oficiais de Contas publicado no

    Decreto-lei n. 310/2009 de 26 de outubro constitui um dever do tcnico oficial de contas a

    participao de crimes pblicos. Os tcnicos oficiais de contas devem participar ao

    https://simp.pgr.pt/dciap/denuncias/

  • 25

    ministrio Pblico, atravs da Ordem, os factos detetados no exerccio das suas funes de

    interesse pblico que constituam crimes pblicos.

    No que concerne ao ROC, o Decreto-Lei n 224/2008 de 20 de novembro anexo integrado

    na Republicao do Decreto-Lei n. 487/99, de 16 de Novembro, que respeita aos Estatutos

    dos Revisores Oficiais de Contas, no seu artigo 158. referente a Participao de crimes

    pblicos cita;

    1 - Os revisores oficiais de contas devem participar ao Ministrio Pblico, atravs

    da Ordem, os factos, detetados no exerccio das respectivas funes de interesse

    pblico, que indiciem a prtica de crimes pblicos.

    2 - Tratando-se dos crimes previstos na Lei n. 25/2008, de 5 de Junho, a comunicao

    feita igualmente Unidade de Informao Financeira.

  • Captulo II Benefcios Fiscais

  • 27

    2.1 Benefcios fiscais

    2.1.1 Enquadramento

    O sistema fiscal portugus dispe de um conjunto de benefcios fiscais, com vista a

    promover ou incentivar determinadas operaes, setores econmicos, atividades, regies

    ou agentes econmicos, desempenhando, por isso, um papel relevante no desenvolvimento

    do tecido empresarial do nosso pas, acentuado pela conjuntura empresarial vigente.

    Algumas dessas alternativas constam do EBF publicado pelo Decreto-Lei n. 215/89 de 1

    de julho, com atualizaes efetuadas pelo Decreto-Lei n. 198/2001, de 3 de julho,

    Decreto-Lei n. 108/2008, de 26 de junho e com ltima alterao atravs do Decreto-Lei

    n. 198/2012, de 24 de agosto.

    De acordo com o Decreto-Lei inerente sua publicao:

    entendeu o Governo acolher princpios que passam pela atribuio aos benefcios

    fiscais de um carcter obrigatoriamente excecional, s devendo ser concedidos em

    casos de reconhecido interesse pblico; pela estabilidade, de modo a garantir aos

    contribuintes uma situao clara e segura; pela moderao, dado que as receitas so

    postas em causa com a concesso de benefcio, quando o Pas tem de reduzir o peso

    do dfice pblico e, simultaneamente, realizar investimentos em infraestruturas e

    servios pblicos.

    Castro (2006) entende que a poltica fiscal tem um impacto permanente na taxa de

    crescimento econmico. Na sequncia de um estudo realizado, analisando as relaes entre

    a poltica fiscal ao crescimento econmico de longo prazo, baseando-se em vrios modelos

    de teoria de crescimento econmico, estudou as relaes tericas do crescimento

    econmico entre variveis de finanas pblicas e crescimento econmico, procurando

    aferir se a poltica fiscal tem um impacto permanente no crescimento econmico.

    Constatou que o nvel de fiscalidade exerce influncia na deciso do investir o que

    consequentemente afeta o crescimento econmico.

    Em concluso para este autor fundamental a utilizao de instrumentos fiscais, de forma

    a equilibrar os ciclos econmicos.

    Barro e Sala-i-Martin (1992, p.31) Estudaram o papel da poltica fiscal em modelos

    endgenos de crescimento econmico. Concluram que, se a taxa de retorno social sobre o

    investimento ultrapassa o retorno privado, as polticas fiscais que incentivem o

    investimento podem aumentar a taxa de crescimento e assim aumentar a utilidade

  • 28

    agregada. Os incentivos fiscais ao investimento no so apelativos para o setor privado se a

    taxa de retorno sobre o investimento for igual taxa social de retorno.

    Conclumos, assim, que a concesso dos benefcios fiscais tende a desencadear alteraes

    no comportamento dos agentes econmicos, sendo que, na realidade, os benefcios fiscais

    propem-se alterar o comportamento dos agentes econmicos, de modo a alcanar o

    crescimento econmico.

    Para melhor compreenso do tema, vamos tentar esclarecer qual o conceito de benefcio

    fiscal, dado que a sua finalidade foi revelada no ponto anterior.

    2.1.2 Conceito de benefcio fiscal

    Conforme j referido anteriormente, os benefcios fiscais constituem hoje uma grande

    relevncia na gesto fiscal das empresas e representam manifestamente uma fonte de

    gerao de valor.

    Assim, o artigo 2. do EBF define como benefcio fiscal .as medidas de carcter

    excecional institudas para tutela de interesses pblicos extrafiscais relevantes que sejam

    superiores aos da prpria tributao que impedem.

    So diversas as formas de manifestao dos benefcios fiscais, que podem representar-se

    como isenes, redues de taxas, dedues matria coletvel e coleta, amortizaes e

    reintegraes aceleradas ou outras medidas fiscais.

    Para Mallard et al. (1994, p.18) O benefcio fiscal consiste numa reduo do lucro

    tributvel conduzindo a uma reduo do imposto. Deve ser distinguido de crdito de

    imposto que uma reduo direta do prprio imposto e que reembolsvel em alguns

    casos pela frao excedente do imposto devido inicialmente. 2

    Significa, portanto, que o benefcio fiscal reduz a base tributvel, levando a uma poupana

    fiscal, mas no constitui qualquer reembolso de imposto.

    De acordo com um relatrio do tribunal de contas, as despesas fiscais verificam-se sempre

    que ocorre um afastamento ao regime geral de tributao e a esta perda de receitas

    corresponde um ganho para determinados contribuintes3

    O intuito do benefcio fiscal dar algo a ganhar aos contribuintes em contrapartida de

    determinados objetivos da ordem econmica. Gomes (2005, p. 14) assevera que: Os

    benefcios fiscais constituem derrogao das regras de tributao, traduzindo-se numa

    vantagem para o contribuinte e visando um objetivo econmico-social.

    2 Traduo livre

    3 Relatrio n 44/2010 2 seco Dezembro 2010 do Tribunal de contas em Relatrio de auditoria despesas fiscal em

    IRC p.25

  • 29

    De acordo com Costa, Rainha e Pereira (1977) os benefcios fiscais so instrumentos de

    poltica que visam certos objetivos econmicos sociais. Tambm referem que o benefcio

    fiscal existe sempre que uma entidade ou atividade abrangida pela incidncia dum imposto

    fica em situao mais favorvel relativamente s que se encontram sujeitas ao regime fiscal

    geral.

    Freitas (1980) reconhece trs requisitos do benefcio fiscal: ser uma derrogao s regras

    de tributao; constituir uma vantagem para os contribuintes e ter um objetivo econmico

    ou social relevante.

    De acordo com Azevedo (n.d), est implcito no conceito de benefcio fiscal uma natureza

    excecional, sendo que essa exceo constitui, porm, uma vantagem (ou desagravamento)

    em favor de certa entidade, atividade ou situao.

    Os benefcios so sempre instrumentos de poltica que visam certos objetivos econmico-

    sociais ou outras finalidades que justifiquem o seu caracter excecional em relao

    normalidade.

    Podemos ento definir que um benefcio fiscal uma medida que visa reduzir ou eliminar

    um custo fiscal que, na sua falta, incidiria sobre um determinado sujeito passivo ou

    atividades. Logo constatamos que o conceito de benefcio fiscal est relacionado com uma

    situao de tributao.

    O benefcio fiscal, como incentivo econmico, social e cultural, representa todas as

    vantagens atribudas aos sujeitos com o objetivo de promover determinados

    comportamentos. Tendo em vista o aumento da competitividade da economia, uma vez que

    so diminudos os encargos tributrios para os sujeitos passivos, nota-se uma diminuio

    bastante significativa da receita que o estado obteria, se no fossem concedidos os

    mencionados benefcios fiscais.

    2.1.3 Benefcios fiscais em sede de IRC

    Os benefcios fiscais pressupem a influncia de determinados comportamentos. O seu

    objetivo prende-se no incentivo poupana, ao investimento ou no fomento ao

    investimento produtivo em determinados setores. Os benefcios fiscais so uma forma legal

    de reduzir ou anular o imposto a pagar, podem revestir-se de diversas formas isenes,

    redues de base de clculo ou atravs de incentivos.

    Resumidamente vamos a seguir transcrever o texto da lei referente a alguns dos principais

    benefcios fiscais disponveis para sujeitos passivos de IRC, extrados do EBF.

  • 30

    2.1.3.1 Benefcios fiscais de natureza social

    Ao contribuir para fins de natureza social, os fundos de penses e equiparveis alm de

    serem isentos em sede de IRC, so igualmente aceites fiscalmente nos termos do artigo

    23. e 43. do CIRC:

    Quando sejam direitos adquiridos e individualizados dos trabalhadores;

    Quando no sejam direitos adquiridos e individualizados dos trabalhadores, at ao

    limite de 15% das despesas com o pessoal escrituradas a ttulo de remuneraes,

    salrios e ordenados respeitantes ao exerccio, desde que garantam, exclusivamente,

    o benefcio de reforma, pr-reforma, complemento de reforma, invalidez ou

    sobrevivncia, a favor dos trabalhadores da empresa. Este limite elevado para

    25%, se os trabalhadores no tiverem direito a penses da Segurana Social.

    Devendo no entanto verificar-se as condies seguintes que destacamos:

    Os benefcios serem estabelecidos para a generalidade dos trabalhadores e segundo

    um critrio objectivo e idntico para todos;

    As disposies do regime geral de segurana social serem acompanhadas no que se

    refere idade de reforma e aos titulares do direito s correspondentes prestaes.

    Artigo 16. Fundos de penses e equiparveis

    1 - So isentos de IRC os rendimentos dos fundos de penses e equiparveis, que

    se constituam e operem de acordo com a legislao nacional.

    O benefcio fiscal de criao de emprego resultou de uma proposta do combate ao

    desemprego jovem, visando incentivar a criao de postos de trabalho. Atualmente foi

    alargado aos desempregados de longa durao devido crescente taxa de desemprego.

    Este benefcio pode reduzir substancialmente a matria coletvel, todavia est sujeito a

    diversas regras, que no so propriamente evidentes se baseadas apenas na leitura do

    artigo. Necessita sem dvida de serem complementadas com legislao anexa para

    adequado entendimento.

    Artigo 19. Criao de emprego

    1 - Para a determinao do lucro tributvel dos sujeitos passivos de IRC e dos

    sujeitos passivos de IRS com contabilidade organizada, os encargos

    correspondentes criao lquida de postos de trabalho para jovens e para

    desempregados de longa durao, admitidos por contrato de trabalho por tempo

  • 31

    indeterminado, so considerados em 150% do respetivo montante, contabilizado

    como custo do exerccio.

    2.1.3.2 Benefcios fiscais poupana

    Tendo em conta a importncia reconhecida aos planos poupana-reforma (PPR) como

    incentivadores da poupana e como esquemas complementares de reforma, no intuito de

    no ocorrerem situaes de dupla tributao para os intervenientes, ficam isentos do IRC

    os rendimentos dos fundos de poupana-reforma. Alm de serem considerados gastos do

    exerccio tal como consta no artigo 23. alnea d) do CIRC.

    Artigo 21. Fundos de poupana-reforma e planos de poupana-reforma

    1 - Ficam isentos de IRC os rendimentos dos fundos de poupana-reforma,

    poupana-educao e poupana-reforma/educao, que se constituam e operem nos

    termos da legislao nacional.

    2.1.3.3 Benefcios fiscais s zonas francas

    No intuito de promover e captar investimentos para as zonas francas foram concedidos

    benefcios fiscais neste mbito, para alm de benefcios fiscais atribudos noutras matrias

    tais como redues das taxas de IVA, IRS e IRC.

    De notar que estes se revelam muito atrativos se compararmos a taxa de IRC aplicada no

    continente, atualmente de 25%, permitindo assim obter grandes vantagens competitivas.

    Artigo 33. Zona Franca da Madeira e Zona Franca da ilha de Santa Maria

    4 - So isentos de IRC os juros de emprstimos contrados por entidades instaladas

    nas zonas francas, desde que o produto desses emprstimos se destine realizao

    de investimentos e ao normal funcionamento das muturias, no mbito da zona

    franca, e desde que os mutuantes sejam no residentes no restante territrio

    portugus, excetuados os respetivos estabelecimentos estveis nele situados.

    Artigo 36. Regime especial aplicvel s entidades licenciadas na Zona Franca da

    Madeira a partir de 1 de Janeiro de 2007

    1 - Os rendimentos das entidades licenciadas, a partir de 1 de Janeiro de 2007 e at

    31 de Dezembro de 2013, para o exerccio de atividades industriais, comerciais, de

    transportes martimos e de outros servios no excludos do presente regime, que

    observem os respetivos condicionalismos previstos no n. 1 do artigo 33. do

  • 32

    presente Estatuto, so tributados em IRC, at 31 de Dezembro de 2020, nos

    seguintes termos:

    a) Nos anos de 2007 a 2009, taxa de 3%;

    b) Nos anos de 2010 a 2012, taxa de 4%;

    c) Nos anos de 2013 a 2020, taxa de 5%.

    2.1.3.4 Benefcios fiscais ao investimento produtivo

    Os benefcios fiscais contratuais aos projetos de investimento produtivo encontram-se

    regulados no Decreto-Lei n. 249/2009, tem como destinatrios empresas de grande

    dimenso tendo em conta o valor mnimo de investimento que se situa nos 5.000.000

    euros.

    Aos projetos de investimento acima referidos podem ser concedidos, cumulativamente,

    incentivos fiscais relacionados com crdito de imposto, Iseno ou reduo de IMI, iseno

    ou reduo de IMT, iseno ou reduo do imposto do selo.

    No EBF, esse benefcio fiscal consta do artigo 41. com a seguinte redao:

    Artigo 41. Benefcios fiscais ao investimento de natureza contratual

    1 - Os projetos de investimento em unidades produtivas realizados at 31 de

    Dezembro de 2020, de montante igual ou superior a 5 000 000, que sejam

    relevantes para o desenvolvimento dos sectores considerados de interesse

    estratgico para a economia nacional e para a reduo das assimetrias regionais,

    que induzam a criao de postos de trabalho e que contribuam para impulsionar a

    inovao tecnolgica e a investigao cientfica nacional, podem beneficiar de

    incentivos fiscais, em regime contratual, com perodo de vigncia at 10 anos, a

    conceder nos termos, condies e procedimentos definidos no Cdigo Fiscal do

    Investimento, de acordo com os princpios estabelecidos nos n.s 2 e 3.

    2.1.3.5 Outros benefcios fiscais

    As comisses vitivincolas regionais tm como atribuies garantir a genuidade e a

    qualidade dos vinhos da regio demarcada e apoiar a sua produo, dado o interesse que

    apresentam para o enriquecimento nacional, beneficiam de iseno nos termos do artigo

    seguinte;

    Artigo 52. Comisses vitivincolas regionais

  • 33

    Ficam isentas de IRC, exceto quanto aos rendimentos de capitais tal como

    definidos para efeitos de IRS, as comisses vitivincolas regionais, reguladas nos

    termos do Decreto-Lei n. 212/2004, de 23 de agosto, e legislao complementar.

    A gesto de fluxos de resduos est delegada a uma ou vrias entidades gestoras que devem

    realizar os esforos necessrios para dar cumprimento s metas europeias de recolha,

    reutilizao, reciclagem e valorizao de resduos. Atendendo importncia a nvel

    ambiental beneficiam estas entidades de um regime especial de iseno, quando

    devidamente licenciadas.

    Artigo 53. Entidades gestoras de sistemas integrados de gesto de fluxos especficos

    de resduos

    Ficam isentas de IRC, exceto quanto aos rendimentos de capitais, tal como so

    definidos para efeitos de IRS, as entidades gestoras de sistemas integrados de

    gesto de fluxos especficos de resduos, devidamente licenciadas nos termos

    legais, durante todo o perodo correspondente ao licenciamento, relativamente aos

    resultados que, durante esse perodo, sejam reinvestidos ou utilizados para a

    realizao dos fins que lhes sejam legalmente atribudos.

    A promoo do desporto, do desenvolvimento social e cultural tem merecido o interesse

    por parte dos governantes, contribuindo assim com este benefcio para alm de outros

    concedidos noutros mbitos de natureza fiscal.

    Artigo 54. Coletividades desportivas, de cultura e recreio

    1 - Ficam isentos de IRC os rendimentos das coletividades desportivas, de cultura

    e recreio, abrangidas pelo artigo 11. do Cdigo do IRC, desde que a totalidade dos

    seus rendimentos brutos sujeitos a tributao, e no isentos nos termos do mesmo

    Cdigo, no exceda o montante de 7500.

    Artigo 55. Associaes e confederaes

    1 - Ficam isentos de IRC, exceto no que respeita a rendimentos de capitais e a

    rendimentos comerciais, industriais ou agrcolas, tal como so definidos para

    efeitos de IRS, e sem prejuzo do disposto no nmero seguinte:

    Espaos com importantes caractersticas encarados como fatores de desenvolvimento e

    potencial para manter vivo o tecido social nas zonas rurais, valorizando e tirando partido

    dos recursos, beneficiam de iseno de IRC.

  • 34

    Artigo 59. Baldios e comunidades locais

    1 - Esto isentas de IRC as comunidades locais, enquadrveis nos termos da alnea

    b) do n. 1 do artigo 2. do Cdigo do IRC, quanto aos rendimentos derivados dos

    baldios, incluindo os resultantes da cesso de explorao, bem como os da

    transmisso de bens ou da prestao de servios comuns aos compartes, quando, em

    qualquer caso, aqueles rendimentos sejam afetos, de acordo com o plano de

    utilizao aprovado, com os usos ou costumes locais, ou com as deliberaes dos

    rgos competentes dos compartes, em investimento florestal ou outras benfeitorias

    no prprio baldio ou, bem assim, em melhoramentos junto da comunidade que os

    possui e gere, at ao fim do quarto exerccio posterior ao da sua obteno, salvo em

    caso de justo impedimento no cumprimento do prazo de afetao, notificado

    Direco-Geral dos Impostos, acompanhado da respetiva fundamentao escrita,

    at ao ltimo dia til do 1. ms subsequente ao termo do referido prazo.

    2.1.3.6 Benefcios fiscais relativos ao mecenato

    A promoo do desenvolvimento da sociedade nas reas social, cultural, ambi