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Projeto martina

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54 NESTA EDIÇÃO

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76TÊTE-À-TÊTEMonstros colorem BerlimGraças ao artista Kim Köster, as ruas da região de Berlim, na Alemanha, estão mais coloridas. Kim aproveitou o espaço de prédios antigos e abandonados para desenhar suas obras. Chamada de Mon-zter, a série de monstrinhos coloridos, além de enfeitar as ruas, se transformará em um e-book infantil disponibilizado em iPad. Kim também tem outros projetos digitais como o Ana Somnia e 99 rooms.Fonte:

Sem-teto trocar ruas por ônibusSabe a capital do Havaí, Onolulu? Lá alguns ônibus estão se trans-formando em mais do que isso. Graças ao grupo chamado Group 70 Internacional, que está transformando veículos abandonados em abri-gos para os sem-teto. Com unidades e frotas diferentes, as peças são de chuveios, espaços de recreação e de convivência. A meta, segun-do a LIFT, empresa que ajuda o grupo, é a construção de um ônibus a cada final de semana. Ao final do verão (no mês de setembro) 70 abrigos provisórios devem estar construídos. Este projeto já tem seus esboços montados e podem ser conferidos aqui do lado.Fonte:

MAIS QUE ENFEITAR, VESTIDO PURIFICA O ARHelen Storey, designer, e o químico Tony Ryan criaram, pensando em quem vive nas grandes cida-des, um vestido capaz de purificar o ar perto dele. O Herself, como foi batizado, serve como alter-nativa para os que que vivem em metrópoles e não podem utilizar mais vezes uma roupa antes de lavá-la, por conta da poluição. Feito de fotocatalisadores, o vestido mantém o ar limpo, pois absorve a poluição, os tais fotocatalisadores são postos no vestido enquanto o tecido ainda está na fase de fabricação. Quando a luz alcança o pano, os elétrons entram em ação com as moléculas presentes no oxigênio e limpam o ar, porque liberam radicais livres que quebram os poluentes, transformando-os em substâncias positivas à saúde.Fonte:

Nem rosa, nem azulQuando Tiffe Fermaint, designer, teve sua filha percebeu algo no mercado de roupas infantis. Para vestir a pequena Violet ela só encontrava roupas com estampas de princesa e cor-de-rosa. Foi aí que ela se valeu do seu co-nhecimento de design e moda e, com o marido, Keit Walker, criou a marca de roupas infantis Baby Teith – para vencer qualquer estereótipo e confec-cionar peças infantis sem definição de gênero. A nova coleção de roupas inventadas pelo casal denomina-se Medieval Time Traveler – na tradução em português Viajante do Tempo Medieval – e foi pensada através da per-sonagem histórica Joana D’Arc. O motivo é fazer com que as crianças tor-nem-se corajosas como a jovem que lutou na Guerra dos Cem Anos. Fonte:

Sítio sustentado com água da chuvaConscientizado da falta de água e em busca de independência neste setor, Sérgio Pamplona, bio-arquiteto, mora, há 17 anos, em um sítio, em Brasília, consumindo somente água da chuva nos seus afazeres. Fonte:

A felicidade vive off-linePara incentivar e valorizar o que fazemos fora da internet é que nasceu o Not on App Store, criado por Caio Andrade, Rafel Ochoa e Linn Wexell. A ideia do trio é colocar plaquinhas disponíveis no site NotonAppStore.com, iguais às das fotografias dispostas aqui, em locais, junto de pessoas ou situações que tragam mensagens positivas e façam o bem. As imagens, juntas, formam um mosaico de atitudes e cenas leves e lindas que não se pode comprar ou atualizar em aplicativos da internet. Agora é a vez dos nossos leitores. Mande sua fotografia com alguém ou fazendo algo, que não é possível adquirir numa loja de aplicativos. As imagens for-marão o mosaico da próxima edição da Lado B.

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98CRENÇA

Em uma manhã de sábado, no mês de maio, co-nheci seu Rainvino Helvino Pape, que, apesar da resistência em revelar o nome completo, recebe quem chega em sua casa com muito bom humor e um grande sorriso no rosto. Morando com a esposa, perto do cemitério e do Parque de Even-tos de Arroio do Tigre, Rainvino recebe gente de segunda a sábado, vindas de vários cantos do Rio Grande do Sul, para benzê-las e, assim, me-lhorar sua saúde e estado de espírito.

“Se eu trabalhar em domingo, todo o pessoal vem em domingo”, comenta ele, com sinceridade. Ou seja, a benzedura é permitida, não é proibida, mas Rainvino resguarda o domingo para poder descansar neste dia. As origens deste pessoal atendido pelo benzedor são cidades como So-bradinho, Segredo, Estrela Velha, Tamanduá e, claro, o seu próprio município, Arroio do Tigre. Enquanto o visitava, uma mãe e seu filho, ainda de colo, foram visitá-lo. O motivo era o da maio-ria dos visitantes – serem benzidos pelo senhor de 76 anos. A criança estava agitada e chorosa e, logo ao receber a bênção feita com ramo de cipreste, tornou-se mais calma. “Amanhã tu vai ser bom comigo”, sorri Rainvino para a criança.

Para Rainvino não há frescuras na hora de benzer alguém. Das primeiras coisas que ele disse, quan-do estive ali, comprovam isso. “Meu trabalho é bem

simples, sem cerimônias, tem que ter fé”, explica. Na sala, a garagem da casa, onde ele benze, já estevi-veram, como Rainvino conta, 15 pessoas e ele ben-ze todas, sem necessidade de qualquer “frescura”.

De quem vêm os ensinamentosEste filho de alemães, com seus avôs vindos da Ponperânea (região da Polônia), aprendeu a benzer com sua mãe, porém, não apenas com ela. Rainvino explica que “catava” conhecimen-tos de quem ele sabia conhecer alguma benze-dura. Tudo que conhece, o senhor que benze há mais de cinco décadas, preserva na cabeça. Instruir-se com várias pessoas e guardou tudo na memória, longe do papel.

Ao contar os causos de quem ajudou a se curar de minga, problemas de pele e afins, o senhor gesticula, muda o tom de voz, sorri e se mostra um ótimo contador de histórias. Não há nenhu-ma vergonha também, e nomes e sobrenomes são citados. Em uma dessas histórias ele conta que não só sabe a benzer, mas ensina também. Uma sobrinha sua, morando agora em Curitiba, é sua aprendiz faz algum tempo. Ela apreende as informações da mesma forma que Rainvino – um pouco em “brasileiro”, um pouco em alemão. Ela era uma pastora evangélica, largou a profissão e agora, segundo o tio, trabalha com “negócio de corpo humano”, além de ter feito Psicologia.

Para que ele use seu poder você precisa acreditarSeu Rainvino tem 76 anos e há mais de meia década benze pessoas de Arroio do Tigre e região

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Dom poderosoBenzer, para Rainvino, precisa de duas coisas. Além do poder de

quem realiza o trabalho, é preciso a fé de quem recebe a benzedura. Estas, segundo ele, seriam as chaves

principais para o bem estar e a cura – poder e fé. “Uns 58 anos atrás eu comecei a benzer”,

ele conta. E explica: “meu trabalho é bem simples, sem cerimônias, tem que ter fé”. Mesmo com toda a fé, simplicidade e dom, Rainvino, bezendo há tanto tempo, já pensou em desistir. Foi então em uma Casa Espiritual onde lhe disseram para

continuar, pois ele era um em mil. “De mil é só tu” disseram pra ele. Assim, Rainvino se

convenceu a continuar fazendo o trabalho de cura, sem cobrar nada e com um grande sorriso

no rosto. Cheio de energia e de história para contar.

OrigensDe família em maioria alemã, seu Rainvino conhece

também um pouco da origem dos avôs paternos, que vieram da Ponperânea, na Polônia, fugi-

dos, com 5 e 9 anos. “Sou natural da antiga linha dos ponperâneos”, diz ele com brilho nos olhos. Rainvino tem muito orgulho da sua origem e lembra que dos familiares, era a mãe quem benzia, dos outros paren-tes ele não tem certeza. Nunca lhe conta-

ram sobre mais benzedores da família, mas uma coisa que ele sempre conta com alegria é

de sua antiga propriedade, da qual tem fotogra-fia e vídeo em casa. O local foi abandonado porque

foi alagado e agora Rainvino mora no meio urbano, com a mesma alegria de sempre. “Vou mostrar uma foto que era da

minha propriedade”, diz ele, animado.

Formas de benzerPor ter aprendido a benzer com várias pesso-as, seu Rainvino conhece muitas maneiras de curar vários males. Porém, ele tem suas pre-ferências, e há benzeduras que não realiza. As principais formas de benzedura dele são o ramo. Poucas vezes ele não o utiliza. Outra forma bastante utilizada por ele para benzer é com a tesoura. Apesar de ser muito conhecida a benzedura que envolve brasa e cinza, ele diz não utilizar nenhuma dessas técnicas para curar quem o procura. Nem benze verrugas. Uma forma que ele utiliza envolvendo fogo é quando vai tratar alguém da picada de cobra ou aranha. Rainvino coloca um ramo no fogão à lenha, depois de sua esposa fazer o fogo, e deixa o cipreste queimar até o fim. Conforme é consumido, o veneno vai saindo de quem pre-cisa da cura.

Para dor de cabeça, que os benzedores uti-lizam uma garrafa de água branca – técnica que ele também conhece –, mas seu Rainvi-no ainda prefere o ramo de cipreste. Usar o ramo é mesmo sua técnica preferida, pois con-tra cobreiro, em que geralmente se costuma escrever ao redor do machucado, o benzedor prefere, novamente, ramos de cipreste.

Para curar tudo que se imagina, procuram o benzedor. Espalham o poder de Rainvino de boca em boca e, quando ele pode, se pron-tifica a ajudar. Porém, quando percebe que o problema ultrapassa o que pode ser feito por ele, já avisa. Certa vez ele disse para uma pessoa, que lhe veio com algo que era mais grave: “não vou te enganar, não é pra mim”. Nesses casos, Rainvino aconselha procurar um médico, afinal, “não engano nenhuma pes-soa” diz ele.

Como não é médico, Rainvino não manda que venham ou quantas vezes alguém precisa vi-sitá-lo, porém, acha necessário que a pessoa o visite sempre mais de uma vez. Muita gente, de vários municípios, sempre telefona para sa-ber se ele está por casa e se pode benzê-las.

Por ser um trabalho que não querer cerimô-nias, Rainvino atende conforme lhe telefonam, não levando em consideração a questão de fa-ses de lua, embora saiba que a lua minguante é a melhor e a crescente a pior. Afinal, a cres-cente ajuda a “crescer” os males que seriam benzidos.

“MEU TRABALHO É BEM SIMPLES, SEM CERIMÔNIAS, TEM QUE TER FÉ”

Rainvino Helvino Pape

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1312COLETIVIDADEPreocupar-se com a sociedade e não só pensar em si mesmo e em seus lucros. Este é um dos preceitos do ativismo e de quem o pratica, como é o caso de Rafael Rezende, um dos integrantes do projeto Meu Rio. Para ele, o ativismo são ações capazes de trans-formar algo. Nesse sentido, o ativismo estaria, para o estudante de Publicidade e Propaganda, muito liga-do com a política. “Eu acredito muito em ação para transformar alguma política ou algo politicamente”, explica ele. Já para Amanda Tiedt, arquiteta e uma das responsáveis pelo Nossa Blumenau, o ativis-mo é mais que engajamento por uma causa. “Acre-dito que depois que você passa a trabalhar com

Unidos pelo ativismo urbanoDois jovens que trabalham em lugares diferentes com o mesmo objetivo: viver em cidades melhores

a mobilização de pessoas diariamente, se conecta a tantas causas coletivas e comunidades, e passa a entender suas respectivas demandas e realida-des”, diz ela. Assim, “o ativismo se torna uma forma de conduzir sua vida. Você deixa de ser ativista de uma causa única, e este espírito passa a conduzir suas ações do dia a dia, sua forma de pensar e agir. Sempre buscando entender e trabalhar pelo que favorece o coletivo”, completa.

Além do ativismo, Rafael e Amanda têm mais uma coisa em comum: os dois fazem parte da rede Nossas Cidades. Rafael no Rio de Janeiro, com

o Meu Rio, e Amanda em Blumenau, Santa Ca-tarina, com a Nossa Blumenau. Cerca de 170 mil pessoas envolvidas, o Nossas Cidades foi criado em 2011 com o objetivo de aproximar o cidadão comum para que ele possa participar das deci-sões dos municípios ondem vivem.

Conforme Amanda, o momento que os cidadãos de Blumenau estão vivendo é único e a Nossa Blu-menau precisa acontecer agora. Para a arquiteta, “mais do que tecnologia e mobilização, a Rede Nossas Cidades é um resgate do papel do cida-dão, e o momento de falta de representatividade política, união dos coletivos e ação, só reforça a necessidade da existência do Minha Blumenau”. A cidade está querendo inovar e unir-se através de movimentos para poder ser ainda melhor do que atualmente é. Amanda acredita que este movimen-to é capaz de chegar nas redes e também nas ruas de todos os blumenauenses.

“Ativismo é pensar que não necessariamente pre-ciso ser a pessoa mais rica do mundo pra ter fe-licidade, mas trabalhar com algo que eu gosto e ser feliz. Isso é legal”, avalia Rezende. Este, con-tudo, nem sempre foi seu ideal de vida. Recém ingressado em Publicidade e Propaganda, ele era mais novo e tinha consigo apenas o desejo de empreender e ganhar dinheiro visando o sucesso. Atualmente as coisas são diferentes. A descoberta do ativismo ocorreu no segundo semestre da fa-culdade, em 2011, ao visitar Barcelona. Ele lembra que aquela época foi o “estopim dos indignados”, quando centenas de milhares de jovens ocuparam espaços públicos de Barcelona. Rezende ficou surpreso “Nossa! Tem alguma coisa no mundo acontecendo e isso vai acontecer no Brasil em al-gum momento”, pensou.

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Como tudo começou...Para a arquiteta o primeiro contato com a rede Nossas Cidades foi através do Meu Rio, no final de 2012, durante um evento de lideranças em São Paulo. Amanda gostou da proposta e decidiu acompanhar o trabalho do grupo, seguindo-o nas redes sociais e se inscrevendo na plataforma. Foi aí que ela indicou o grupo Nossas Cidades para os amigos e conheci-dos, porém, com receio de que ninguém tivesse maneiras de participar da rede em Blumenau e se inscreveu para fazer a residência – treinamento do Nossas Cidades - no Rio de Janeiro.

Depois de se inscrever, o processo seletivo foi, conforme Amanda, um “grande aprendizado”. Apesar da inscrição ser algo individual, a arquiteta recebeu o apoio de muitos coletivos e de pessoas que trocaram experi-ências com Amanda. “Além de entender mais sobre as minhas vontades e desejos para Blumenau, também consegui entender mais sobre o mo-mento que a cidade está vivendo e conhecer muita gente incrível pelo caminho. A última fase deste processo foi o financiamento coletivo para que eu pudesse ir para a residência Rio de Janeiro, onde arrecadamos R$ 10. 2000,00 e mostramos para nós mesmos a força que Blumenau tem quando pensa e faz acontecer junto”, declara, satisfeita.

Na opinião de Rezende o ativismo faz bem para a alma. Fomentar o ativis-mo, diz o jovem, é algo necessário, que pode ajudar processo de acabar com o consumismo. Para Amanda – apesar de considerar até pretensão dizer isso – o ativismo pode mudar o mundo. “Eu acredito que quando você realmente vive o ativismo, e não faz disso um discurso, mas trans-forma o que você acredita e quer transformar em pequenas atitudes e espalha suas ideias, você consegue impactar um determinado grupo de pessoas. Aos poucos estas pessoas estão se multiplicando e formando uma rede forte, consciente e empoderada para transformar a realidade das cidades”, detalha.

PAOLAESPAÇO DO LEI-TOREXPE-DIENTE

Inspiração“Uma das inspirações locais com certeza é o Wilberto Boos, cicloativis-ta que co-fundou a ABC Ciclovias. O seu amor e dedicação pelo que ele acreditava ser um modelo de cidade sustentável e saudável sempre foi exem-plo para todos, e mesmo depois de ter falecido, o trabalho dele ainda é ensi-namento e inspiração para muitas pessoas. O que marca não é o discurso que ele teve, mas a forma como ele tratava a cidade, a bicicleta e as pessoas”

Amanda Tiedt, ativista do projeto Minha Blumenau

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1716ESPORTES

Quase todo mundo já viu cenas de futebol ame-ricano. Os filmes de Hollywood apresentam atletas jovens praticando este esporte que é praticamente um mistério para muitos brasilei-ros. Mas nem para todos. Há um grupo de jo-vens em Santa Cruz do Sul que pode chamar o futebol americano de “tudo”, menos “mistério”. Dentre os que consideram este esporte uma paixão está Maurício Dreher.

Seus primeiros momentos com o futebol ameri-cano vieram através da sétima arte. “Sempre tive curiosidade de jogar para ver como seria. Lem-bro-me de assistir filmes na TV envolvendo fute-bol americano como Golpe Baixo (Adam Sandler e Chris Rock), Virando o Jogo (Keanu Reeves) e Duelo de Titãs (Denzel Washington). Então, meu primeiro contato com o esporte foi de uma forma mais romantizada, sem muitas regras ou conhe-

Onde se levanta e cai juntoHistórias de jovens que descobriram uma paixão esportiva pouco tradicional nas terras brasileiras – o futebol americano

cimentos aprofundados. Minha primeira partida aconteceu no final da temporada de 2012, pelo Santa Cruz Chacais, num jogo contra o Santa Maria Soldiers. Eu usava a camisa número 8 e era meu primeiro ano na equipe. Entrei nos times especiais, faltava experiência para jogar no ata-que ainda”, relembra Maurício.

Neste esporte, tão popular nos Estados Unidos, tudo é apaixonante para Maurício. Segundo ele, um Wide receiver e Tight End, ou “Recebedor”, em português, o futebol americano tem um ar de guerra, além de ser impecável no quesito estra-tégia. “Você pode ser aquele gigante musculoso, mas, se não for capaz de compreender a estra-tégia de jogo, será facilmente anulado”, explica.

Outra característica que apaixona Maurício é o trabalho em equipe que o esporte exige. “Uma das coisas mais lindas do futebol americano é ver o que acontece além do jogador que está com a bola. Você vê que a jogada teria acabado se um colega de equipe não tivesse feito um bloqueio essencial. No futebol americano, o camisa 10 ou 1.000 não vai conseguir carregar o time. A única forma de vencer é evoluir todo o plantel”, diz ele. Companheiro de time de Maurício, Gustavo Weiss joga no ataque do Chacais. Ele participa-va da equipe de atletismo na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), treinava na pista da Oktoberfest e, por volta de 2006, viu o time trei-nando futebol americano. Gustavo jogou pela pri-meira vez em 2007, contra a equipe da cidade de Porto Alegre, que na época chamava-se Preda-dores e hoje atende por Bulls. Para ele, a admi-ração pelo esporte se encontra na complexidade. “A mistura da aptidão física (força e velocidade) com a inteligência das jogadas”, conta Gustavo.

Das outras paixõesPorém, não é só de futebol americano que se ali-menta a vida esportiva dos rapazes. Maurício jo-gou, durante toda a vida escolar, no time de vôlei, como meio de rede, e também participou de com-petições de basquete, como pivô. Além disso, como Gustavo, praticou atletismo, como arremessador de peso. “Em contrapartida, nunca consegui chutar uma bola sequer”, brinca ele. Maurício conta que se a cidade de Santa Cruz do Sul tivesse um time de vôlei competitivamente, ele não teria acabado como jogador de futebol americano. “Depois da escola eu não encontrei mais alternativa para praticar espor-tes, então, um dia, um amigo me perguntou e disse: ‘Por que não tenta os Chacais?’. Fui pela curiosi-dade e fiquei porque fui conquistado pelo esporte”, comenta o jovem. Gustavo acredita que preferiu o futebol americano por ser o oposto do atletismo que praticava. “O futebol americano roubou este espaço pela união os jogadores”, julga.

Pioneiro. Dessa forma que se considera Maurício por praticar este esporte aqui, no Brasil, em San-ta Cruz do Sul. Segundo ele, “todos nós sabemos que não vamos atingir o nível americano nesta geração, mas estamos plantando sementes. Eu conheci o esporte com 19 anos, meus filhos co-nhecerão desde o nascimento. O Brasil fez tanto, com tão poucos recursos para este esporte, que al-gumas vezes chego a me emocionar só de lembrar que conquistamos, pela primeira vez na história, uma vaga para o Mundial. Eu vejo o futebol ame-ricano cada vez mais consolidado em nosso País”.

Ao falar sobre referências do futebol americano, Gustavo lembra do time Pittsburgh Steelers, da ci-

“O FUTEBOL AMERICANO ROUBOU ESTE ESPAÇO PELA UNIÃO OS JOGADORES”

Gustavo Weiss

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1918dade de Pittsburgh, do estado norte-americano da Pensilvânia. A primeira referência para Maurício é o próprio Santa Cruz Chacais. O time é respeita-do eternamente pelo jovem em virtude do trabalho que vem realizado até o momento. Com muito es-forço. “Muitas lições que carregarei para o resto da minha vida aprendi treinando abaixo de Sol forte com estas pessoas”, diz ele. Outra equipe que ins-pira Maurício é o New Orleans Saints. Ele explica que ela pode ser considerada, de forma relativa, jovem e fracassada nos seus primeiros 20 anos de existência, mas que foi acolhida por sua cidade de forma admirável. Maurício virou torcedor do time por duas razões. “Quando a equipe acolheu os moradores da cidade desabrigados pelo furação Katrina em seu estádio, permanecendo sem jogar lá até que a situação fosse estabilizada (e o está-dio reformado), em 2006. E a outra é a história de Steve Gleason, ex-jogador da equipe”.

Por mais que seja um esporte pouco conhecido para os brasileiros, conforme Gustavo, o que é

mais complicado no esporte não são as regras do futebol americano. “O maior problema eu ainda acredito que não são as regras, mas as pausas! É um esporte que, diferente do futebol tradicional, é jogado em pequenas etapas. Cada etapa dura alguns segundos. Entre uma e outra milhares de coisas acontecem, pode-se mudar todo o time, toda a estratégia, tudo. É fascinan-te!”, argumenta Gustavo.

Em relação às regras, Maurício acredita que elas podem parecer complexas, no início, mas que isso é “pura falta de hábito”. Ainda sim, dá exemplo de regras que ele considera mais com-plicadas, como as que envolvem a Linha de Scrimmage e suas funções. “Ataque e defesa são diferentes, não apenas nas funções, mas em algumas regras também. Vamos usar como exemplo a regra do False Start: resumidamente, o ataque não pode se mover antes do início da jogada, já a defesa está livre para se movimentar da forma que quiser, inclusive tentando assus-

tar algum jogador do ataque que este se mova e cometa falta. A limitação da defesa nesta in-fração é justamente a Linha de Scrimmage, que não pode ser atravessada. Existem faltas mais complicadas relacionadas a esta linha, como a Invasão de Zona Neutra e o Encroachment”, de-talha Maurício.

Para Gustavo, o futebol americano ultrapassou as fronteiras do esporte, “Já virou quase uma filosofia de vida. E, quem sabe no futuro, pode

ser tão querido como o irmão mais tradicional”, prospecta. O futebol americano é definido por Maurício como o xadrez dos esportes jogados em equipe. Na sua opinião, “é um esporte que

leva seu corpo e mente ao limite. Em campo, você esquece a dor, esquece o cansaço... Eu fico tomado por este sentimento de que o ‘de-pois’ não importa, eu simplesmente preciso dar tudo de mim ou vou me arrepender pra sempre. No Brasil não estamos acostumados a falar em ‘honra’, mas sim em ‘paixão’. Futebol americano para mim é colocar o próprio orgulho numa apos-ta pela vitória, ele me faz quere lutar pela minha honra e da minha equipe. Eu passei por muitos esportes coletivos e nunca encontrei este senti-

mento que compartilho com meus companheiros em nenhum outro lugar, você não quer vencer por você, você quer vencer por eles. Caímos e levantamos juntos”, define Maurício, orgulhoso.

“É UM ESPORTE QUE LEVA SEU CORPO E MENTE AO LIMITE. EM CAMPO, VOCÊ ESQUECE A DOR, ESQUECE O CANSAÇO... ”

Maurício Dreher

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2120MORADA

Em uma manhã de sábado, no mês de maio, co-nheci seu Rainvino Helvino Pape, que, apesar da resistência em revelar o nome completo, recebe quem chega em sua casa com muito bom humor e um grande sorriso no rosto. Morando com a esposa, perto do cemitério e do Parque de Even-tos de Arroio do Tigre, Rainvino recebe gente de segunda a sábado, vindas de vários cantos do Rio Grande do Sul, para benzê-las e, assim, me-lhorar sua saúde e estado de espírito.

“Se eu trabalhar em domingo, todo o pessoal vem em domingo”, comenta ele, com sinceridade. Ou seja, a benzedura é permitida, não é proibida, mas Rainvino resguarda o domingo para poder descansar neste dia. As origens deste pessoal atendido pelo benzedor são cidades como So-bradinho, Segredo, Estrela Velha, Tamanduá e, claro, o seu próprio município, Arroio do Tigre. Enquanto o visitava, uma mãe e seu filho, ainda de colo, foram visitá-lo. O motivo era o da maio-ria dos visitantes – serem benzidos pelo senhor de 76 anos. A criança estava agitada e chorosa e, logo ao receber a bênção feita com ramo de cipreste, tornou-se mais calma. “Amanhã tu vai ser bom comigo”, sorri Rainvino para a criança.

Para Rainvino não há frescuras na hora de benzer alguém. Das primeiras coisas que ele disse, quando estive ali, comprovam isso. “Meu trabalho é bem

Para que ele use seu poder você precisa acreditarSeu Rainvino tem 76 anos e há mais de meia década benze pessoas de Arroio do Tigre e região

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2322 MÚSICAPaixão de A até BDois jovens que trabalham em lugares diferentes com o mesmo objetivo

Se alguma coisa tem um Lado B que é bem aproveitado, esse é o disco de vinil. Quem aprecia o som dele sabe: essa paixão tem dois lados, A e B. Entre as pessoas que amam ouvir música e ainda não cansaram de virar o disco está Cristiane Lautert, jornalista e que conver-sou com a gente e contou, além de ter mostra-do um pouco dessa paixão. Veja abaixo alguns dos itens da coleção de Cristiane e já que o tema é música, nada melhor do que ouvir a en-trevista que ela concedeu à Lado B .

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24INFO-GRÁFI-CO/CON-TRACA-PA