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GUIÃO PARA AS SOMBRAS CHINESAS A MINHA AVÓ YU-FANG ( adaptação de um segmento do cap.1 da obra Cisnes Selvagens ) Narradora e marcadora do ritmo:Ana Salema Música: Luís Filipe Manobras das figuras e dos bonecos: Cristina Heitor e Teresa Bento Lopes :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: CENÁRIO COM ELEMENTOS FIXOS E MÓVEIS FIGURAS A USAR:Conjunto de cavaleiros e cavalos; os senhores da guerra; a figura delicada da avó, os pés, as faixas de 6 m, conjunto de sapatinhos,templo, cipreste, 2 homens chineses, estátua de buda com 9 m, bonsai, sol, figura delicada da bisavó,liteira, cortejo do casamento, pendões, lanternas, faixas de seda, fénix dourada, general Xue e Yu-Fang, cascata de corações, chinesa grávida, chinesa transportando bébé, setas apontadoras. Com quinze anos de idade, a minha avó tornou-se concubina de um general, chefe da polícia de um vago governo nacional chinês. Corria o ano de 1924 e a China estava mergulhada no caos.( ruído, vocalizações, estrépito/TODOS) Em grande parte do território, incluindo a Manchúria, onde vivia a minha avó, o poder era exercido por chefes militares, os senhores da guerra.( ruídos de metais, vocalizações de cmbate, estrépito/TODOS) (Espanta-espíritos para mudança de quadro+música suave e apaziguadora) A minha avó era uma beldade. Tinha um rosto de forma oval, com faces rosadas e pele sedosa. Usava os cabelos, negros, compridos e muito brilhantes, entretecidos numa grossa trança que lhe caía até à cintura. Sabia ser discreta quando a ocasião o exigia, o que significava quase sempre, mas sob aquele exterior recatado fervilhava um vulcão de energia reprimida. Era de` pequena estatura, um pouco menos de um metro e sessenta, e tinha uma figura muito esbelta, de ombros descaídos, o que era considerado o ideal. O seu grande valor residia, porém, nos pés enfaixados, chamados em chinês «lírios dourados com oito centímetros» (san-tsun-gin-lian). Significava isto que caminhava «como um tenro rebento de salgueiro numa brisa primaveril». ( agitar o ramo da pimenteirasoprar para o fazer balouçar)

Guião Cisnes Selvagens

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Guião elabrado para a actividade de animação para a leitura «Histórias da China»

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Page 1: Guião Cisnes Selvagens

GUIÃO PARA AS SOMBRAS CHINESAS

A MINHA AVÓ YU-FANG

( adaptação de um segmento do cap.1 da obra Cisnes Selvagens)

Narradora e marcadora do ritmo:Ana Salema

Música: Luís Filipe

Manobras das figuras e dos bonecos: Cristina Heitor e Teresa Bento Lopes

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: :::::::::::::::::::::::::::::

CENÁRIO COM ELEMENTOS FIXOS E MÓVEIS

FIGURAS A USAR:Conjunto de cavaleiros e cavalos; os senhores da guerra; a figura

delicada da avó, os pés, as faixas de 6 m, conjunto de sapatinhos,templo, cipreste, 2

homens chineses, estátua de buda com 9 m, bonsai, sol, figura delicada da

bisavó,liteira, cortejo do casamento, pendões, lanternas, faixas de seda, fénix dourada,

general Xue e Yu-Fang, cascata de corações, chinesa grávida, chinesa transportando

bébé, setas apontadoras.

Com quinze anos de idade, a minha avó tornou-se concubina de um general, chefe da

polícia de um vago governo nacional chinês. Corria o ano de 1924 e a China estava

mergulhada no caos.( ruído, vocalizações, estrépito/TODOS)

Em grande parte do território, incluindo a Manchúria, onde vivia a minha avó, o

poder era exercido por chefes militares, os senhores da guerra.( ruídos de metais,

vocalizações de cmbate, estrépito/TODOS)

(Espanta-espíritos para mudança de quadro+música suave e apaziguadora)

A minha avó era uma beldade. Tinha um rosto de forma oval, com faces rosadas e pele

sedosa. Usava os cabelos, negros, compridos e muito brilhantes, entretecidos numa

grossa trança que lhe caía até à cintura. Sabia ser discreta quando a ocasião o exigia, o

que significava quase sempre, mas sob aquele exterior recatado fervilhava um vulcão

de energia reprimida. Era de` pequena estatura, um pouco menos de um metro e

sessenta, e tinha uma figura muito esbelta, de ombros descaídos, o que era considerado

o ideal. O seu grande valor residia, porém, nos pés enfaixados, chamados em chinês

«lírios dourados com oito centímetros» (san-tsun-gin-lian). Significava isto que

caminhava «como um tenro rebento de salgueiro numa brisa primaveril». ( agitar o

ramo da pimenteira…soprar para o fazer balouçar)

Page 2: Guião Cisnes Selvagens

Tinha a minha avó dois anos quando lhe enfaixaram os pés. A mãe, que também

tinha pés enfaixados, começou por enrolar-lhe à volta dos pés uma tira de pano com

cerca de seis metros de comprimento, dobrando todos os dedos, excepto o grande, para

dentro e para debaixo da planta do pé. Depois, pôs-lhes uma grande pedra em cima,

para esmagar o arco plantar. A minha avó gritou de dor ( gritos de dor)e suplicou-lhe

que parasse, e a mãe teve de meter-lhe um pano na boca, para amordaçá-la. (

reproduzir vocalizações de alguém amordaçado).A infeliz desmaiou diversas vezes,

devido à dor.

Durante anos, a minha avó viveu cheia de dores terríveis e constantes. Quando

suplicava à mãe que lhe tirasse as faixas, ela chorava e dizia-lhe que isso arruinaria

toda a sua vida futura, e que fazia aquilo pela felicidade dela. ( mimar choro e súplica

com semelhanças com vocalizes em chinês)

( Espanta espíritos para fazer mudança de quadro)

O costume de enfaixar os pés foi introduzido na China há cerca de mil anos,

segundo se diz por uma concubina do imperador. Além de a visão das mulheres a

coxear sobre uns pés minúsculos ser considerada erótica, os homens excitavam-se a

acariciar os pés enfaixados, que permaneciam sempre escondidos nuns sapatinhos

de seda bordada. As mulheres não podiam tirar as faixas mesmo depois de adultas,

pois os pés começariam a crescer novamente. Só à noite, na cama, lhes era possível

aliviar temporariamente o tormento, afrouxando um pouco as tiras de pano.

Calçavam, então, uns sapatos de sola macia. Os homens raramente viam nus uns pés

enfaixados, que estavam geralmente cobertos de carne apodrecida e exalavam um

cheiro horroroso quando se retiravam as faixas. Lembro-me de, em criança, ver a

minha avó constantemente cheia de dores. Sempre que regressávamos das compras,

a primeira coisa que ela fazia era meter os pés numa bacia de água quente,

suspirando de alívio. Depois punha-se a cortar pedaços de pele morta. A dor era

provocada não só pelos ossos partidos, mas também pelas unhas, que cresciam para

dentro das pontas dos dedos.

( música para mudança de quadro)

Ora um dia, para obter privilégios e ascender socialmente , o meu bisavô

empurrou a minha avó para o general Xue , mas por via indirecta, pois uma oferta

explícita da filha faria baixar o preço.Naqueles tempos, uma mulher respeitável não

podia ser apresentada a estranhos, de modo que Yang ordenou à filha que fosse ao

templo num determinado dia. Era um templo budista, velho de 900 anos, que se erguia

no meio de um elegante jardim cheio de belos ciprestes onde uma sobressaía uma

estátua de Buda com 9 m de altura.

Page 3: Guião Cisnes Selvagens

Enquanto rezava, chegou o pai com o general Xue. Os dois homens ficaram a

observá-la, meio ocultos nas sombras da nave. O meu bisavô tinha feito bem os seus

planos. A posição em que a minha avó estava ajoelhada revelava não só as calças de

seda, bordadas a fio de ouro como o casaco, mas também os minúsculos pés

enfaixados, nos seus sapatinhos de cetim bordado brilhando como um sol.

O general ficou fascinado e, nunca falando de casamento, propos ao meu bisavô

que a minha avó fosse sua concubina.As esposas não serviam para dar prazer , esse era

o papel das concubinas e embora estas pudessem por vezes, ter um poder

considerável, o seu estatuto era muito diferente do da esposa.

A primeira vez que a minha avó soube da sua iminente mudança de situação foi

quando a mãe lhe comunicou a noticia, poucos dias antes do acontecimento. Yu-fang

inclinou a cabeça e chorou. ( choro nervoso e baixinho ) Detestava a ideia de ser

concubina, mas o pai tinha tomado uma decisão, e era impensável opor-se aos seus

desejos. Discutir uma decisão paterna era considerado «impróprio de um filho», e fazer

qualquer coisa imprópria de um filho equivalia praticamente a traição.

No dia do casamento, uma liteira fechada, envolta em pesados panejamentos de

seda vermelha bordada a ouro e de cetim, apareceu diante da casa dos Yang. Precedia-

a uma procissão transportando pendões, faixas e lanternas de seda em que estava

pintada a imagem de uma fénix dourada, o mais belo símbolo da mulher. A cerimónia

do casamento teve lugar ao fim da tarde, como era de tradição, com lanternas

vermelhas a brilhar no crepúsculo. Havia uma orquestra com tambores, címbalos e

agudos instrumentos de sopro, que tocou músicas alegres. Fazer muito barulho era

considerado essencial para um bom casamento.(FAZER MUITO BARULHO:

FLAUTA,PANDEIRETAS; SINOS, TAMPAS DE TACHOS )/TODOS)

O general Xue não saiu de casa durante os três dias que se seguiram à cerimónia.

A minha avó estava feliz. Julgava amá-lo, e ele mostrava por ela uma espécie de rude

afecto. Mas quase nunca lhe falava de assuntos sérios, seguindo o antigo ditado que

diz: «As mulheres têm cabelos compridos e inteligências curtas.» O homem chinês

devia supostamente manter-se reservado e distante, mesmo em família, Por isso ela

conservou-se calada, massajando-lhe os pés antes de se levantarem, de manhã, e

tocando qin para ele ouvir, ao fim da tarde. ( TOCAR A VIOLA TURCA ,

DEDILHANDO-A /LUÍS)

Passada uma semana ( RUFAR O TAMBOR/LUÍS )o general anunciou-lhe

repentinamente que estava de partida. Não lhe disse para onde ia, e ela sabia muito

bem que não lhe competia perguntar. O seu dever era esperar que ele regressasse. Teve

de esperar seis anos.

Page 4: Guião Cisnes Selvagens

Então, certo dia, seis anos depois de ter saído tranquilamente porta fora, o

«esposo» reapareceu. O encontro foi muito diferente do que ela sonhara durante os

primeiros tempos da sua separação. Criara, então, fantasias em que se lhe entregava

completa e apaixonadamente. ( suspiros e beijos ruidosos …/Todos)

A visita do general Xue à minha avó não durou muito tempo. Tal como da

primeira vez, passados uns poucos dias anunciou subitamente que se ia embora. Na

noite anterior à partida, convidou a minha avó a ir viver com ele em Lulong.

Pouco tempo depois, a minha avó apercebeu-se de que estava grávida. No

décimo sétimo dia da terceira lua, na Primavera de 1931, deu à luz uma menina: a

minha mãe. Escreveu ao general Xue a dar-lhe a notícia, e ele respondeu-lhe

dizendo-lhe que desse à menina o nome de Bao Qin e a levasse a Lulong logo que

estivessem ambas suficientemente fortes para viajar.

Lulong ficava nada mais nada menos do que a 300 quilómetros e para a minha

avó, que nunca viajara, a jornada equivalia a um grande empreendimento. Era, além

disso, difícil viajar com pés enfaixados; tornava praticamente impossível transportar

qualquer bagagem, sobretudo com uma criança nos braços.

Acabara de chegar a Lulong quando o general Xue morreu e, com 24 anos de

idade, a minha avó estava livre…

[ e para ficarem a conhecer a história de YU –FANG, BAO QIN e YUNG

SHANG…passem na BECRE e, claro requisitem o livrinho!]