GURAN, Milton. Linguagem fotográfica

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    1/19

    o

    ". , 6 p . r J G TG( 1 < : , fo - rOG~A r ; t P r l LINGUAGEM FOTOGRAFICA

    ~/ A fotograftae l.lma.,_exte!u:;~()_d?-_Il~o~,.s.e_capaci-)dade de olhar, e se constttul em umatecrilcaderepresentacao da realidade q u e : pelo seu r igoi ' epartlcularlsmo. se expressa c i t Y -aY es-de ufriaJrn::guagem propria e Inconfundfvelf Sendo apartict-pacao do autor (fot6grafo) baliz;tja por uma tecnt-ca completamente vtnculada as espectflcldades deuma determinada realidade, a foto resultante po-de traduzir com bastante rigor a evldencla dessarealidade.A relacao da fotografia corn a reaJidade estarnarcada ate nas suas dtferentes denommacoes.Como lembra a fotografo Antonio Augusto Fontes.'fo tografia , em grego. e escrever com a luz. Ate apalavra jd esta atrelada a escrlta, enquanto quepara osjaponeses e sha-shtn, a imagem real. Tal-vez esta seja a grande especiftcidade daJotografia,porque e a imaqem que tern ,urn contato fistco,concreto, quimico, com 0 real. E umJra~mento doreal. Tern uma carga nuiqtca desse real", (Mas, pormats proxima que esteja do Teal. nao e 0 real emst, e stm sua representacao,

    -c , Concretarnerite. ao iiossioilitar a apreensao ex-tremamente rapida de uma sltuacao, a foto_grafiapermlte lnventariar cenartos, eventos e ctrcuns-tanclas com muito mais preclsao e abrangenclado que a memoria au rnesmo apontamentos escrl-6 Fontes, Antonio Augusto, in Oltuxres Refteudos , org. Joaqulm

    Paiva. AGiL. Dazlbao , Rio de Janeiro, 1989. p.15!.

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    2/19

    16 LINGUAOEM FmOORAFICA E INFonMAc;Ao

    tos. E, ao flxar 0 tmprevrsto e 0 inusitado, abrenovas perspectivas de absorcao e cornpreensao deurn fato,/ Asstm como 0 cinema e 0 video, a fctograftarepresenta plasttcamente a realidade de manetrapr6pria e particular (dlferentemente do que farlaa pmtura ou 0 desenho, por exemplo), posstbtli-tando uma leitura tanto mats rica quanto a capa-cidade do letter de se aperceber das repre-sentacoes contidas na imagem, uma vez que estanao se reduz a uma mera transcrir;do/Por oirtrolado.jcorno explica 0 fotografo americana EdwardWeston, "opoder dafotoqrajta reside na sua capa-cidade de recriar 0 seu objeto nos termos da reali-dade bastca dele, e de apresentar esta recriar;aode talJorma que 0 espectador sinta que esia dianiendo apetias 'do simbolo daquele objeio, mas dapropria essencta da natureza dele revelada pelaptimetra vezllJ

    E evtderite' que se trata de uma linguagem e deurn processo de crlacao extremamente complexos,razao pela qual e enorme a distancla que separao ato de operar urn equipamento fotografico -sobretudo se se tratar das modernas camerasautornatlzadas, de operacao rnutto facil - e auttlizacao maximlzada desta tecnica por quemdomine a linguagem fotograuca. Pelo menos taogrande quanto a distancla existente entre a ex-pressao de urn sentimento por quem saiba apenasfalar, e esse mesmo sentimento expresso por urnpoeta, por exemplo, No entanto, a fotografla. porter se tornado uma atividade de massa. aeaboutendo 0 "entendtmento" de seu discu rso e a con-7 Weston. Edward. "What is photography beauty?" in Camera

    Craft; v: 46. 1939. p. 254, transcritc em Photographers onPhotography. op. cit, p. 154..

    I(., .,1IIIIiII

    MILTON GUIlAN 11

    sequente mantpulacao de sua linguagem listadosno rol das cotsas "stmples", 0 que acarreta umaserte de dtstorcoes, tnclusive na producao do fo-tojornaltsmo.Entendemos que nem tudo que se ve - e quenos parece interessante de ser vista - e fotogra-favel, ou seja, pode ser plasticamente traduzido deforma eflciente atraves da linguagem fotograftca,Por outro lado, uma das potenclalidades da foto-grafia e destacar urn aspecto particular que seencontra dlluido em um vasto e sequenctado cam-po de vtsao, expltcrtando, atraves da selecao domomenta e do enquadramento, 6 significado e atranscendencia de uma determlnada eena (videpaginas 60, 84, 90. 93 e 95).:f ~ 0 ate de totografar se realiza em uma fracaominima de tempo, e essa caracteristtca marc a toda~ complexidade e a singulartdade da fbtograf~y Nasimples e precisa deflnicao do fotografo francesFrank Horvat, Ira Jotograjla e a escolha de umenquadramento no espaco e de um tnstante notempol/,S a que a eoloca como a untca tecnica derepresentacao da realidade que) utilizando a luz,trabalha com urn unlco momento seleclonado.Portanto, fotografar e efetivar urn reconheeimentoanteclpado: aquilo que e vista nao pode mats serIotografado, porque ja passou,Sao elementos da linguag.em-fotog~nonosso cnte ride r. aC @:V aC_scolhado mornef!1o.,)oajuste focal. 0 enquadrarnento, alern da questaocolocada pela atuacao das diversas objetrvas e dosdtferentes codtgos representados pela toto e m pre-to-e- braneo e a cores. , 'j)0. I \""L

    J, _ f; : 1'. l\ \ I \ "q.. (j_ _ _ _ _ _ ' , 1 : . . . \ ' ) 1 , \ .\,,\i \,,_' . f,:, c5J~-:'1''t\ '\\l.[)'.j' ' r : ; J " ) . ' "8 Horvat. Frank. "Lecondu photographe". in Photographle Maga-zine. nQ . 21. abrll 1990. p. 37.

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    3/19

    18 LINGUAQI,M FOTOGrtAF'ICA E INFORMAc:;Ao

    Satisfcitos as pre-requtsttos tecnlcos - afert-cao da luz disponivel, velocidade de reglstro eajuste focal - sao a fetcao da luz e a selecao domomenta a ser regtstrado, conjugados ao enqua-dramento - ou seja, 0 instante em que todo 0conjunto de fatores tecnicos e as dad os de conteu-do se integram, attngindo a plenitude da expres-sao plastlca fotograflca -. que separarn a born domau resultado em fotografta.. No fotojornalismo. mats do que em qualqueroutro campo do Iazer fotograflco. a escolha domomenta e fundamental para a ottrruzacao doreaultadoJl'ortando. Iotografar e urn ato pessoal emtransferivel, resultante da Imprescindivel Inte-racao entre . fotografo e 0 con teudo da ceriaabordada.z"

    "A fotoqrofia - explica Cartier-Bresson, quedlspensa apresentacoes -parece ser uma atlvlda-deftictl, mas dejato e urn processo diversljlcado eamblguo noqual 0unfeDdenominador comum entreseus praticanies e 0 uso da camera.o que surge das cameras ndo escapa dascontradit;6es de um mundo dedesperdicio e caren-cia. de tens6es que tern se tornado tnsuportaoei-mente lntensas e suas insanas conseqilenclas eco-l6gicas. (...J Para mlm. 0 aparelho fotogrofico e umcaderno de notas, um instrumento da intuir;do e daespontaneidade, senhor do instante que - emtermos visuals - pergunta e responde a um s6tempo. Para expressarmos 0 mundo. temos de nossentlr etuxnuidos com aquilo que descobrimos novisor. Esta atitude exiqe concenrmcdo. disciplinamental. sensibilidade. e sense de equiUbrio qeome-trtco. E pela grande economia de meios que sechega d simplicidade de expressdo. 0Jot6graJo temsempre de buscar suasfotos com grande respetto

    MIl.TON GUnAN 19

    pelo objeto JotograJado e por sf proprio. Tlrar jotose pretuier a respiracao quando todas: asfaculiadesconvergempara a realidadej'ugaz. E neste lnstanteque apodetar-se de uma lmagem torna-se um pta-zer fistco e tntelectuai. Fotografar e - simuitanea-mente e numa mesma Jrat;do de segundo .- reco-nhecer 0 fato em st e organizar rigorosamente asformas visuals percebidas para expressar 0 seusignificado. E por numa me sma linha: cape~a, olhoe comedo. II~Essas caracteristicas Intrinsecas do fazer toto-granco, tao bern realcadas pelo grande mestre do

    fotojornalismo e da fotografla de expressao pes-soal, constituem um aspecto bastante importantenas relacoes entre rep6rteres de texto e reporte-res-fotograflcos. tanto na pratlca cotidiana da re-portagem, como tambern no processo de edtcaofinal. E esta presente em todo trabalho Interdisci-plinar com a fotografla, como a pesquisa em Cten-clas Soctais. por exernplo.

    o PRETOEBRANCO E A CORJa foi dlto que a fotografla em preto-e-brapcorepresenta a realtdade, enquanto a Iotografla acores pretende Imlta-Ia. Apesar de stmplista. esta ,.atlrmattva toea no cerne da questao. sao processos

    e codlgos de llnguagem diferentes. tanto nos pro-cedimentos tecnlcos. quanta na mecantcade lei-tura e no grau de trnpacto sabre 0 letter, apesar9 'Cartier- Bresson, Henrl. Prefaclo deHenri Cartle-Bresson v. 1daserle "The Aperture History of Photography", Aperture, NewYork. 1976.,0 grlfo e ncsso.

    ' - . . . . . . .

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    4/19

    20 LINGUAGEM FOlOGMF'ICA E INFOHMAC;Ao

    c

    de guardarern sernelhancas no que toea a nature-za da colsa.Ver colortdo e a que fazemos desde que nasce-mos.~A ernpatia com a foto cor e muito maior e maistmedlata, e ate rgaiS natural do que com a foto e mpreto-e- branco. E mats factl de entender uma fotocolortda, e aparentemente mars facil de fazer, por-que, mesmo que nao saia perfeita em termos deenquadramento e foco. ela apresenta "mas outras"pistas" para se localizar seu significado Irnedtato, epara 0 senso comum is so basta.) Nao e por outromotivo que a industria da foto de consumo (albumde familia) e ho]e totalmente voltada para esse tipode fotografla. Alern do fa to de que em economla deescala torna-se mais barata mesmo.\- A cor pOI' st s6 ja e uma Informacao preciosa, eem muitos cas os Insubstltuivel. Porern, apesardos avances tecntcos recentes. o filme coloridoatnda nao tern condtcoes para uma Interpretacaolivre e profunda da realidadej Como realca Car-tier-Bresson, em observacao ferta em 1985. natecnlca do desenho a pastel, para tomarmos urnexemplo eviden te. a gama dtsporuvel da cor verdee composta de 375 nuances, que podem ser com-binadas ao tnflnlto. 10 .Ja a foto colorida s6 conse-gue uma fidelidade de cores nas producoes em quee total 0 controle sobre todas as variavets doprocesso fotograflco. Na pratica da reportagem,afoto cor po de acabar sendo uma tentativa derepeticao mecaruca da realidade, perdendo a ca~pacidade de interpreta-Ia, ate pela propria seme-lhanca com essa realtdade.rSe ever-dade que a cor~._Ipode se constituir em inforrnacao valiosa. tambern

    10 Cartier-Bresson. Henri. Post scttptutn a "0 Instante Decistvo"Ca/tlerde ta Pltolographle. nil 18. Paris, 1986 p 20.

    t .1--::_;;-:.-;! MILTON GUHAN 21lrC '~ . e notorto que ela apresente muttas arrnad ilh as ,! " funclonando frequenternente como urn fator eva-.~" stvo e ret6rtco na composicao, dtlutndo a essenctada mensagern, Insubstrtufvel em algumas situ a-t r;Oes. a fotocor apresenta-se tnoperante em outrastantas. Isso porque a cornunicacao pela cor e rnals! natural. mas tambem tende facilmente para 0t ~ . . superficial e 0mecantco,~>},{~_e_~t~!!~.~.

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    5/19

    22 LINGUAGEM f'01DGMFICA E INFORMAC;Ao

    o processo preto-e-branco, por outro lado, des-de logo se coloca como uma representacao doessenctal, E ao representar uma cena apenas comtons e lln has , a Ioto' em preto-e- branco se definecomo urn codtgo dtferenciado da nossa formanatural de ver a realtdade, e ganha malar poderde penetracao e interpretacao das sttuacoes: elaparece sem ser tgual, e testemunha e Interpreta apartir de sua propria dtferenca.Alern desse aspecto conceitual. que rnerece sermelhor estudado. ha a questao tecntca. No processopreto-e-branco, pode-se fotografar em qualquer 51 -tuacao com 0 mesmo resultado, enquanto que nocaso da cor, apesar dos modem as filmes de altissimasensibilidade, nao ha como se garanUr sempre afidelidade das cores. E quando se perde a fidelidadedas cores, e como se se cnasse urn novo codtgo deleitura da realidade. sernelhante ao que acontece nocaso do preto-e- branco. S6 que sem ter 0 carater deuniversalidade ja conquistado por este ultimo.A tendencla da rnidta e cacla vez mats operar coma foto colorlda. par opcao de mercado (e de consumomats facil. e mats "moderno") e ate tdeologlca. acredt-to. Mas a foto cor e tratada exatarnente como se fosseem preto-e- bran co. Troca-se urn fi.lme por outro, quee operado da mesma forma, sem se considerar asdtferencas de l1nguagem. com a agravante de quepara a rnalorta das pessoas -leitores e ate jomalistas- em sendo colondo "ja e parecido". entao esta born"

    Como consequencta. a mformacao visual tendepara a superflclalldade. Ou tro aspecto da questaoeo comprometimento da memoria visual, ja que afoto cor que nao e impressa graficamente, ~ per-manece nos arquivos. tern uma Vida muito matscurta do que a preto-e- branco desbotando e de-saparecendo em pouco tempo, atrida que sejaconservacla nas melhores condicocs

    !.8.0~w" " ' . . . .COMPOSI0Ao 02~ ~ - - - - - - - - - ~ ~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ~ Io < m(/)-U1.tC. . .

    A compostcao fotograflca tern como flnalldadedispor os elementos plasticos percebidos atravesdo visor para confertr significado a uIl}a cena. Eresultado da harrnontzacao de diversos fatores deordem tecnlca e de conteudo, constttulndo, naessencta, 0 plena exercicio da linguagem totogra-flea.Na verdade, 0 ato de fotografar comeca peloreconhecimento do conteudo de urna situacao,ou seja, a selecao do que val se enfocar, daqutloque c realrnente Importante em u:na cena. Norecorte do visor. exc1uem-se ou nao eleme~tqsvisuals, que sao tarnbern dados de conteudo,para destacar 0 essencial.}J;: fun.daInental ~ol.haras quatro cantos do visor e eltminar ao maximoas assessortos, limpando a totografla de tudoque possa polurr a m_ensag:n: p:inc~ipal1. As~imcomo uma transrntssao radiofontca e prejudtca-da por ruidos ocorrentes, a ettciencta da cornu-nicacao na fotografla sofre com a pre~en~a decomponentes nao organtzados. A eflclencia darnensagem fotograflca - tanto nos aspectos evl-dentes da imagem quanto nos su bjacentes esubentendidos - depende, portanto, de urncontrole rigoroso sobre tudo que apal~ece"" novisor da camera. Voltando as palavrasde Car-tier-Bresson. "uma .fotagraJla e ( " . ) 0 recC?~heci-menta simultdneci, num mesma fracao de se-gundo, do significado de umJato e tambem'd~uma organizQ(;do rtqorosa das Jormas percebi-

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    6/19

    24 LINGUAGEM FOTOOrWlCA E INFORMAc;.AO

    das visualmente que exprimem esse fa toll,13Sao divers os os aspectos a serem considerados

    na cornpostcao de uma fotografta, e nem semprena mesma ordem de precedencia. Os prtnctpals,na nossa optruao. sao 0 enquadramento, Isto e, 0recorte resultante do ponto de observacao do au-tor; a luz, que, alern de viabillzar 0 processo em st,valoriza as lmhas. volumes e superficies; a atua-cao das dlferentes objetivas; o.foco: e 0 momentodo "cllck". aquele em que todo 0 quadro deve estarplasttcamente organizado para expressar commaier intensidade 0 conteudo da ceria enfocada.Ha que se consrderar tambern as particulartdadesdas fotos a cores e em preto-e- branco. Os divers osfllmes. pOI' sua vez, comportarn-se diferentemen-te, pOI'suas caracteristicas proprias de sensibtlt-dade, acutancta, grao e contraste, entre outras,que examtnarernos mats adiante.

    Alern dtsso, como compor e na pratlca [azerurna fotografla, devemos ter em mente a posturado proprio totograto, ja que, como frisou 0 tambernfrances Edouard Boubat, "mais cia que uma ques-tao de iectuca, aforca de uma imagem reside napureza da intew:;do do autot". 14~) A compostcao em fotografla, como dernonstra-"rnos na Apresentacao, vat alern da dtsposlcaogeornetrtca de llnhas e volumes e do recorte dacena no espaco. 0 enquadramento se da stmulta-neamente a escolha do momenta que e registradodentro dos padroes tecnicos disponivels (objetlva.fllme, etc.). e tudo isso e parte da cornpostcao emfotografla, ja que na pratlca as declsoes e procedi-13 Cartier-Bresson, Henri "0 Instante Declsivo". prefaclo de Irnu-ges a fa Sauvette. Edition Verve. Paris. 1952.

    14 Boubat, Edouard ta Pliotoqraplite . Le Livre de Poche. Paris,1974.p,144.

    MiLTON GURAN 25

    mentos necessarlos a consecucao do processo saotndtssoctaveis uns dos outros.lE importante destacar esta parttcularidade.porque na elaboracao de urn quadro, por exemplo.a compostcao se da em diversos tempos, e a ptntorpode alterar seu trabalho como qutser, tntrodu-zlndo elementos novas ou elimmando outros, mu-dando a perspectiva, etc. Existem entao pelo me-nos dots momentos, comple tarnerrte mde-pendentes: 9 do esboco do quadro e 0 da suaflnalizacao. Em fotografta, porem, ate as possfveisrecursos de laboratorio sao definidos na hora do"click". concentrando em uma unica opcao (0"click") a solucao para todos as problemas OCO[-rentes. "Soluclonar" ou "resolver" uma fotografla ejustamente proceder corretamente a sua cornpo-stcao. Tanto que e bastante comum se classiflcaruma foto como "mal resolvtda" quando a tmagerne pobre e tneflclente. apesar de mostrar uma cenainteressante.N o caso do fotojornallsrno. .com excecao talvezde alguns trabalhos de estudto, todo 0 matertalatualmente e produzido em filme 35mm. de for-mato 24x36mm. Esse formato apresenta a propor-C;30 de 2 para 3, sendo conhecido desde Vltruveoe consagrado par Leonardo da Vinci como retan-gula dureo, par propiciar como nenhurn outro aharmonia e 0dtnamtsmo da compostcao. Bastanteestudado nas artes plastlcas, 0 retangulo aureo epara n6s 0 palco onde tudo acontece, razao pelaqual 0 examinaremos melhor mats adiante.-Assim como temos uma stntaxe na Itnguagern

    escrita - por exemplo, as relacoes sujeitc /ver-bo / predicado -, poderiamos falar de uma smtaxefotograflca, que Infellzrnente ainda esta por ser'devldamente estudada. De qualquer forma. a rma-gem preclsa ser lida, e a lettura tern que comecar

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    7/19

    26 LINGUAOEM FOT'OOMFICA E INFORMA~Ao

    por algum ponto, que e 0 elemento visual a partirdo qual se constr6i a totografla. A ausencta desseponte, ou a existencta de varies pontos igualmentedestacados, pode ser um recu rso estettco quandointencionalmente trabalhado. mas, de maneirageral. resulta em uma imagem confusa e semimpacto, e que por ISS0 mesmo nao desperta maierinteresse. 0 ponto principal de que falamos e dereconhecimento imediato e universaL E 0prtmetroelemento que chama a atencao em uma fotografia.Ele e evidente, e e de se esperar que toda equalquer pessoa comece a ver a fotografia a partirdele. Nao confundir com a tdeta de "pu notu m'',desenvolvida por Roland Barthes. 15A face plastica do mundo real e a materta-prl-rna do nosso tipo de totografia. As cgisas VaGacontecendo, pOI' assim dlzer, e cabeao fotografoescolher 0 que valorizar atraves da fotografia. 1ssoporque fotografar e antes de mats nada atrtbulrvalor, dar importancia. POI'que se da importanciaa uma determinada cena, ou melhor, a urn certoaspecto dessa cena. e 0 que tern que ficar evidentedesde 0 primeiro momento em que a foto e vista,Ai reside a mensagem principal. Compor, em ultl-rna analise, e dar evldencia a essa mensagem, queno nosso caso deve ser a noncra.t .~ ;. ;

    .1,Il'

    15 Barthes , Roland. La Cluimbre ClaIre ..Cahters du Cinema/Gal-limard/SelliL Paris. 1980.0 "punctum". segundo Barthes. e 0ponto que nos toea mats subjeuvarnente. de acordo com nossasexperlencias e vtvenclas pessoais Portanto ..ele pode ser coin-cidente au nao com a ponto inicial de leltura de que falarnos. Epode ainda aparecer apenas nurn segundo momento de urnaleltura mats apurada

    MILTON GUHAN 27/ ENQUADRAMENTOo postcionamento do fotografo diante de umacena e 0 I(rimeirO passo para 0 enquadramento deuma fo~ Lembra urn POllCO 0 poslctonamento deu111goletro de fute bol, que bern colocado ja repre-senta meia defesa (vfde paglna 82). Enquadrar uma

    cena e organizar no visor da camera todos os ele-mentos geometricos que formam sua realidade plas-ttca, dtspondo-os de tal forma que evidenciern 0aspecto da cena que e noticia. com clareza e objeti-vidade. \Q _ born enquadramento, portanto, e resulta-do da capactdade do fotografo de perceber geometrtcamente a realtdade, trabalhando a dinamica dassuperficies, mass as e llnha_ E essa capacldade ternde ser mtrojetada a ponto de se transfonnar em algoquase que instlnttvo. que acontece junto com 0desenrolar da cena, em urn dlalogo slmultaneo sobreas vanas possibilidades de compostcao.Basta 0 totograto chegar urn pouquinho para 0lado, levantar mals a cabeca ou se abaixar pararnudar tntetrarnente a perspectiva de uma ima-gem, e com Isso talvez ate 0 seu significado. En-tretanto, e mutto comum vennos fot6grafos, so-bretudo Intctantes. procurando "angulos espeta-culares". ernbora. como enstna Cartier- Bresson ,17~s llr : iCO? angulos que ~nteressam para a fotogra-Ita sao angulos geometricos da composlcao daimagem. Isso quer dizcr que, nao obstante 0 re-porter-fotograflco ter de ban car frequentemente 0trapezista para cumprir uma pauta, na malortadas vezes basta urn leve movimento de corpo parase obter 0 melhor enquadramento de uma cena(Vide paglna 74).17 Cartier-Bresson. Henri. Prefacto a Images d fa Sauuelle. op cit.

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    8/19

    28 LINCUi\GEM F'OroOMFICi\ E INFORMA

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    9/19

    30 LINGUAGEM F'Ol"OaRI\FICA E INFORMAt;Ao

    geral. ja que, nunca e dernals Iernbrar. trabalha-mos com 0 movimento constante, nas condrcoesde registro que se apresentam.A principal dessas regras e a que estabelece ospontos dureos do retangulo e a chamada DtottuiProporciio na divisao desse espaco. Os pontosaureos sao pontos de harmonia na proporcao dasmassas do retangulo em questao, e que se constt-tuem em eentros otlcos (vtsuals) desse espaco,Obtern-se os pontos aureos tazendo passar pelosquatros angulos linhas perpendiculares as dtago-nais do retangulo:

    Se tracarrnos uma paralela aos lados merioresdo retangulo passando por dais pontos aureos.dividiremos este espaco em duas partes propor-ctonais (Divina Proporcao), em que 0 retangulomenor resultante estara para 0 rnalor asstrn comoeste esta para 0 todo:

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    10/19

    32 LINCUAGEM FOTOCMFICA E INFORMAC;Ao

    Mas e preclso muita atencao, porque a foto naofunciona da mesma maneira que urn texto escrito.Este pode ser copidescado e mesmo reescrito semprejuizo do seu conteudo tnformattvo, ja 0 que secorta de uma toto sai fora e nao volta mats.

    trnagem total

    imagemcortada

    ~ imagem resuJtante

    \ \ /\ \ /\ \ I\ \ I\ \ I\ \ I

    \ \ I\ \ /\\ \ /\~\ /\L/'\\i

    ~

    uiz_, Fotografia e luz, e. por conseguinte. sombra,que e 0 que c ia volume e protundtdade plastica auma tmagernz A tntenstdade, 0 tlpo e a dtrecao da

    !

    33

    luz sao fatores deterrmnantes para 0 resultado deuma foto. A luz e 0 que da 0 clima (atmosfera) deuma foto, e isso ja e tnformacao.....- A luz atua de forma dtversa nas fotos empreto-e- bran co e a cores, tanto no que toea aquestao da linguagem em 51 quanto aos fatorestecnicos. Para 0 preto-e- branco a luz e pratica-mente tudo, pots nao s6 desenha as formas comoestabelece os diverso tons de ctnza (claro Zescuro)a partir dos quais se constr6i plasttcamente a toto.No caso da toto a cores, as areas de luz e desombra, embora tmportantes, funcionam combi-nadas com 0 resultado da vibracaodas proprlascores. Por exemplo, urn amarelo na sornbra podeser mats forte do que urn marrorn no sol, ou urnWas junto a urn amarelo na sombra pode ter mats U) ..impacto do que se estiver sozinho no sol. r ~+: Com relacao ao ttpo, a luz pode ser direta, (ou ~ I-dura, como e a luz do sol ern dia de.c.c"p'aberto) au ( 1 0difusa (como em dia de ceu nublad...Q1J\ luz direta ~:;gera mats sombras, marcando mais fortemente as t/)!linhas e as massas, e aumentando a tmpressao de ~ volume da trnagem. Quanto mats .dura for a luz. k.mais fortes sao as sombras eo contraste da foto,resultando em luna carga maior da dramatlctdadeplastlca.A luz difusa e mats suave, mesmo quando emulto intensa. Ilumtna de manetra untforme e assombras sao menos profundas. Enquanto a luz rdireta ten de a estabelecer uma hierarquta de va-lares a partir de st. destacando os elementos pelasua tncldencla. a luz dtfusa se derrarna por.Igualsobre urna cena, perrnitmdo que outros fatores devalonzacao do conteudo ganhem peso na cornpo-stcao.Adirecao da luz e outro dado fundamental paraa compostcao totografrca. Se a luz vern de cima,

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    11/19

    LlNGUAGEM ForOGM,FICA E INF 'ORMAcjlO4

    como no sol a pino, achata e tira a Irnpressao devolume. Se vem de baixo, causa uma sensacaoesqutsita. Para nos, 0 normal e a luz do sol. queesta acima de nossas cabecas. e nao e a toa quenos fllmes de terror se usa uma tluminacao quevem de baixo, para dar urn clima macabre.o relevo das massas e a textura das superficiessao destacadas pela tlurntnacao lateral, a partir daprojecao das sornbras. Nao e por outra razae: queas rnelhores horas do dla para se fotografar sao as ~'prtmeiras da martha e as da segunda metade da ~.tarde.~,A posicao do fotografo em relacao a fonte prin- ,;,cipal de luz representa outre recurso muito imp?r- ~ I : :tante na cornpostcao fotograflca, Com a fonte pnn- ' :clpal de luz as suas costas, 0 fotografo tera urna .cena francarnente iluminada. de leitura visual ';rnais facil e direta .. .J a a contraluz - quando 0 ~~objeto fotografado esta entre 0 fotografo e ~ fO,n~eprincipal de luz - favorece a sutileza e 0 misterto(vide paglnas 68 e 70). tMuitas vezes somos obrtgados a abrtr mao 9Vclima proptctado pela luz disponivel em favor de i f .uma maior deflnicao fotograflca proporcionadalpela luz do flash, Sem falar nas fotos que se Storn am possiveis apenas com a ajuda deste recur-so (seja pela iluminacao insuflciente -vide pagtna82 -, seja pela mistura de luzes de temperaturasdiversas que s6 podem ser rapidamente cornpatl-bilizadas com 0 fllme pela acao do flash. no casoda toto a cores. como explicarernos adiante).A alta deflmcao e a dureza doj7ash. que tendea achatar os volumes, tambern pode ser urn recur-so de linguagern eflcaz e e largamente utilizadopara provocar impacto a partir da crueza da trna-gem. Pode-se recorrer ainda aoj1ash indireto, sejacom urn rebatedor preso a tocha, seja utlltzando-

    MILTON GURAN 35

    se das paredes ou do teto como rebatedor, a queda uma boa quantldade de luz difusa. multo matssuave (vide paglna 74).A cor na verdade varia de acordo com a natu-reza e a qualidade da fonte Iummosa. Isso porquea luz, como 0 som, e uma onda, sendo que no seucaso pode inclusive se propagar no vacuo. A Iuzvlsivel e apenas uma parte do espectro de ondaseletrornagneticas que a compoe. Outros exemplossao as ondas de radio, televisao, forno de micro-ondas etc.- Para fins fotograncos, as fonteslumtnosas saoclassificadas a partir da sua temperatura. medtdaem graus Kelvin.21 A medicao da temperatura seda da seguinte manerra: esquenta-se urn corponegro perfeito (aquele que nao reflete nenhurna luzque incida sobre ele) ate que. pela acao do calor.ele erntta luz. Atraves da comparacao da qualidadedesta luz - 011 seja, da cor - com a da fonte quequer medir. afere-se a qual temperatura do corponegro a luz ernltlda e igual a da fonte, esta?elecen-do-se asstrn a temperatura desta, Isso e funda-mental porque os filmes com emulsao a cores saofabricados para responder com exatldao a fontesde duas ternperaturas: 1) cerca de 5.400oK, que ea da luz do sol no mete da martha de ceu llmpo.011 a luz doflash eletronlco: e 2) 3.200oK. que e atemperatura da lampada comum de filamento detungstento, conhecida como "tipo B". Para s~ ade-quar 0 fllrne as variacoes das diversas fonteslumtnosas ha que se recorrer ao usa de flltros na21 Grau Kelvin: unidade de temperatura doSistema Internacional.deflnida pela escala de Lard Kelvin. na qual a zero correspondea temperatura mats baixa posslvel (zero ab voluto). equlvalentea aproximadamente menos 273 'a .scala C.(~lslusou centlgra-dos: usada para rnedlr a temper ura da c .,

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    12/19

    36 LlNGUAGEM F'oTOORAF'ICA E INFORMAt;AO

    objetlva. Estes sao indicados pelo colorimetro,aparelho que faz a correlacao entre a qualidade(temperatura) da luz e 0 tipo de fllrne utlltzado.Atraves da afericao da Iuz e consequente ajustedo diafragma tambem se pode definir 0 conteudode uma foto, uma vez que frequenternente encon-tramos diferentes areas de intensidade de luz emuma mesma ceria. Ao escolher uma determtnadaarea como pararnetro para adequar a operacao dacamera. 0 fotografo esta tambern seleeionando 0aspeeto que quer registrar corn malor clareza, e,conseqtienternente, com maier enfase. Bonsexemplos deste procedimento eneontramos nasfotos de silhuetas. e naquelas fettas ern contraluz(vide pagtnas 68 e 701.1- roco. DIAFRAGMA E VELOCIDADE

    -Foco, diafragma e velocldade de obturacao saoajustes operactonals da camera. Porern, muttomais do que simples imperativos tecntcos, constt-tuern-se e m instru meritos importantes da lingua-gem fotogratk a , na rnedida ern que atraves deJesse pode deftnir ate 0 conteudo da mensagern. Etodos tres demandam uma escolha deliberada doautor: 0 foco. pOI' exemplo, pode estar em urnplano au em outro, au nos dais ao mesmo tempo.Diafragma e velocidade. como veremos adiante,trabalham assoctados. e a cada combinacao deambos eorresponde urna solucao plastlca dtferen-ciada.Essa relacao entre velocidade e diafragma seda da seguinte maneira: cada filme, de acordo coma sensibilidade que apresenta a acao da luz, pre-elsa de uma quantldade determinada de luz, ne-cessaria e suficiente para formar a imagem foto-

    graftca. Essa quantidade de luz que chega a peli-cula e regulada pelo diafragma da lente (0 buracoatraves do qual passa a luz) e da velocidade deobturacao (0 tempo durante 0 qual esse buraco ~~fica aberto). Velocldade e dtafragma funclonarn , ' ) ' rconjugadamente, e para tanto guar'dam as me~- ~J.,'mas relacoes entre st. Na escala dos diafragmas(2, 2.8. 4. 5.6, 8. 11, 16), eada urn dos pontos(abertura) corresponde a uma area duas vezesmater do que 0 posterior. e a metade do anterior.Ou seja, a abertura 2.8 terri.uma superficte duasvezes maior do que a 4. e e a metade da 2. No quetoea a veloctdade de obturacao (1, 2, 4, 8, 15, 30,60. 125, 250. 500. 1.000, na maiorta das carne-ras), eada uma e duas vezes mais raptda do que aanterior, e duas vezes mats lenta do que a seguin-te.ja que representam 1/1 segundo. 1/2 segundo,1/4. 1/8, e asslm pOI' diante.Como a pelicula, segundo a sua senslbtltdade,necesstta de uma quantidade necessaria e sufl-clente.Ie luz para formar a Imagem, 0 ajuste dodiafragma e da velocldade se da da mesrna formacomo se fossemos encher urn balde de agua,regulando a tornetra, 0 balde clieto representa aquantidade de luz de que 0 ftlrne prectsa paraformar .a Imagem, 0 diametro da tornetra e 0diafragma e 0 tempo em que ela fica aberta, avelocidade de obturacao. Entao, considerando-seconstante 0 fluxo de agua, dtgamos que uma

    torneira de 1 em de diarnetro deve flcar abertadurante 2 mmutos para encher 0 balde. q_eeiativer 2 em de dlametro. levara apenas 1 mtnutopara chegar ao mesmo resultado. Logo. para en-cher 0 balde podemos escolher entre uma tomeiramaior, aberta menos tempo, au uma menor abertamats tempo. Se 0 balde transbordar. a foto flcarasuperexposta. com 0 negativo muito dense, e as

    MILTON GURAN

    ,"

    37

    . .

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    13/19

    I, II

    , '

    38 LINCUf\GEM ForOGfU\FICA E INFOHMAC;AO

    areas de luz perdidas. Se 0 balde nao encher, afoto flea subexposta, com 0 negattvo transparentedernais. e as areas de sornbra completamenteperdidas, ou talvez nem chegue a formar ima~em.Cabe ao fotornetro (ou a expertencla do fotogra-fo) medir a quantidade de luz dtsponivel e informarque diafragrna e que velocidade sao corre~os ?araa perfeita exposlcao do fllme. Como 0que funcionae a cornblnacao veloctdade/dtafragma, podemosoptar pOI' varlas combtnacoes equivale,..ntes emtermos de quantidade de luz a chegar ate 0 ftlme,salvo nas sttuacoes limites.;;{j 0foco eo ajuste das dive~sas ler:tes da ob~etivapara confertr nitidez a uma fotografla. Esta nittdezpode estar presente em toda a imagem, quandotodos os planos estao em joco. ou abranger apenasurn ou mals planos, destacandoos dos dematsAescolha do dtafragrna da objetiva e da velocidadede obturacao e urn importante artlficlo de compo-stcao porque a cada diafragma corresI?onde um~determinada pro)'undidade de campo jocal, que ea area em que vigora 0 foco. E 0 foco, como eevidente, ao confertr nitidez a urn plano, destaca-odos demais.Por forca de sua propria construcao, a objetlvase comporta de forma dlversa em cada dtafragma.Normalmente, seu melhor desempenho em termosde corte e de deflnlcao e no meio do espectro dediafragmas, na abertura 5.6, Quanto mals abertofor a diafragma (rnenor for 0nurnero de referencia~,rnenor sera a capactdade da lente no que toea anittdez. ou seja, 0 campo focal. 0 foco, como javlrnos, nada mats e do que 0 ajuste das dtversaslentes que compoern a objetiva para dar nitidez aimagem em urn determinado plano. paralelo aoplano da camara: e campo f?cal e a ~rea e~ quevtgora 0 foco. Quanto mais fechado for 0 diafrag-

    MILTON GUllAN

    rna, mater sera 0campo focal, isto e , 0ajuste daslentes confere mater nltidez a urn espaco rnalor.compreendendo varlos planes vlsuais.

    em foco

    I-I II- - - - iIIIII_ I8

    fora de foco

    ..),.i.!. '; ~: \

    I; II

    8fora de foco

    diafragmamals Iechado

    dlafragmamais aberto

    o foeo seletlvo. que valonza os elementos de urnplano pela nitidez do foco, se coloca como urn dosrecursos de maier forca da linguagern fotografica.partlcularrnente util ao fotojomaltsmo para destacaro essenclal da lnformacao (vide pagtnas 76 e 78)._ Alern da funcao de regular a quantidade de luza chegar ate a ernulsao. que cumpre conjugada aodiafragma. a velocidade de obturacao (na pratlcao "tempo de expostcao" do fllme) e 0 que nospermite parar ou nao urn corpo ern movtmento.Sao varlas as possibilidades de expressao pelaescolha da velocidade. Para exernplificar, tome-mos a foto de urn hornem correndo. Se ele correr

    39

    , '

    ,.

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    14/19

    40 LINGUAGEM F'OTOGIlAFICA E [NFORMIlr;:Ao

    diretamente sabre a camera, poderemos parar seurnovimento com a velocidade 125, por htpotese. Seele correr no sentido paralelo ao plano da objettvateremos de aumen tar a ve locidade pelo menospara 250. Alem dtsso, as pernas de urn corredormovern-se multo mats raptdamente do que seutronco, de mane ira que, se usarmos nesse mesmocaso uma velocidade mats batxa (125 p. ex.),teremos 0 tronco registrado com nitidez, enquantoas pernas aparecem trerntdas. 0 que pode reforcara impressao de rnovtrnento. Ou poderemos acorn-panhar com a camera a corrlda, quando entao 0corredor estara parade em relacao ao equipamen-to. e 0 [undo parecera estar "correndo" - e 0ehamado panning (vide pagina 72),Dtversos sao, portanto, os reeursos para setransrntttr a impressao de movimento. E. de todcs,o mats eflctente consiste em captar 0 momentaexato em que 0 movtmento da pessoa enfocadachega praticamente ao seu apice, restando s6 urnpouqumho desse movimento para se realizar natrnagmacao de quem ve a foto.

    l )) ATUAc;Ao DAS OBJETlVASxf ) o fotojornalisrno tem urn dogma, que e a obriga-cao de se obter a foto que e noticla. e Isso leva 0reporter-fotograflco a escolher 0 equipamento de

    acordo c9m a pauta, independente de sua opcaopessoal. E importante ressaltar esse aspecto porque.sendo a fotografia urn meio de expressao, e naturalque cada urn queira mterpretar 0 rnundo pela suapropria otica, 0que. e clare. resulta na eletcao de limtipo de objettva. entre outras escolhas.

    Cada objetiva tern sua propria linguagem, ouseja, sua forma particular de reproduzir a realida-

    MILTON G URAN 41

    de, 0 que Ihe confere uma funcao especiflea, cor-respondente a sua capacidade de viabilizar urndeterminado tlpo de toto. POl'isso mesmo a esco-lha da objetlva depende tambern de como 0 foto-grafo quer abordar a cena ou, mats precisamente.de qual aspecto da cena e noticta para ele, 0 que,por sua vez, varia de acordo com a edrtorta para aqual trabalha, com 0 tlpo de veiculo (diarto. serna-nal, etc.) e com respectlva politlca editorial.A objetiva tambem deterrntna na pratlca 0graude aproximacao fistca do objetivo a ser fotografa-do, De qualquer forma. 0 fotografo expertente

    conhece a sua dtstancla ideal em relacao ao objetoenfocado e a maneira de atuar, de modo a mantera intimidade impresctndfvel com a cena sem des-figura-Ia com a sua presence.

    "Eu atuo tao normalmente - conta 0americanaWilliam Klein. considerado urn mestre no usa dagrande angular. e cuja maior parte do trabalhoconstste em fatos de multldao - que jleo quaseinvisfveL Ntiofaco do ato de iirar fotos urn grandeaconiecimenio, nem chego de forma agressiva.Entiu, logo logo as pessoas ndo prestam maisatenc;do em rntrn. ,,22 .

    As objetlvas de usa comum podem ser de tresttpos _' normal. grande angular ou tele - alem damicro, propria para fotografar detalhes e objetospequenos com aproximacao maxima. A lente nor-mal reproduz 0 campo de vtsao do ser humane,que tem sua capacidade plena de observacao den-tro de urn angulo de aproxtmadarnente 50~.A grande angular c;!t:;ye_sJJg_denomina

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    15/19

    42 LINGll, \( :EM r010CIu\F lCA E INIUI lMM,:Ao

    compreendido por um angulo de 50, tornando-secomo base 0 equipamento 135 ..A tele opera em umangulo menor do que 500, aproximando ottcamenteos objetos observados. dai sua denomlnacao (te-le=distancia),Cada objetlva organtza 0 espaco de forma pro-pria, tanto em relacao a perspectiva quanto aotratamento dado aos planes. apresentando lnclu-stve diferentes profundidacles de campo focalNormal Rcproduz a perspecuva do olho huma-no, 0 que ccnfere a foto lima inttrmdade de simplesobservacao natural (vide paginas 60, 74 e 103).Apresenta excelente rendimento a urna distanctade 1 a 5 metros. Sua protundldade de campo tema justa medlda para the permltir tanto a selecaode pIanos atraves do foco. quanto uma certa defl-ntcao em funcao da profundidacle focal. is to e .realcar lim detalhe ou trabalhar 0 conju nto dacena. Geralrnente sao lentes bastante "luminosas"(com abertura de dlafragrna ate 1..2 e 1) capazesde operar com pouca luz disponivel.

    \ L Inormal: p= Ia profu ndidade eperceblda comproporciona!ldade alargura - como no'0 1 1 1 0 hu manoi I \(l,~

    \ I /\ I /\ I /\ I /I /\ I p /\ I I\ I /\ J /

    \ I /I I\ I Iv-r-I\ I /6, :

    j j

    ,u\_.

    MILlON GURAN (~G... r{[.,/ ()V'~\ G L . / X t .; J L '4~Jc . . . . . . : _ \j\'"\OfVoW& 1 )Jo~\. dYl&

    Grande angular. Fundamental quando se tern Of)muita cotsa e pouco espaco para fotografar, 0 que ~.ac?r:tece dernals na prattca da reportagem foto-graftca. Vat de 35mm. que e quase normal. comC':"vuuma Ilusao de perspectiva muito proxima a da cY1'ilnossa visao. ate a chamada "olho-de-petxe", que dO\abraI}ge pratlcamente 3600 A partir da 35 mrn, .que e ideal para palsagens e cenas externas em i f 1 : i Z

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    16/19

    44 LING lJAGEM FOTOG l u\FICA E IFORMAC;Ao

    Teteobjetuxi, Cumpre a insubstituivel funcaode nos permitir fotografar a dlstancla. Vat desde a85 mm, ideal para retratos, ate a 1.000 mm (auate mais), que fotograta urn rosto a mats de 100metros. Quanto mats longa (maier milimetragem)for a tele, menor e a sua abertura de diafragma(ou seja, precisa de mais luz disponivel para suaoperacao) e menor tam bern a profundldade decampo focal. ainda que com 0 diafragma bernfechado.

    \ I\ I\ I\ I\ I\\ I\ I\ I\ p I\ I \\ I\ I

    \ I\ I\ I\ I\ I\ J\-fI6

    "p" (que na realidade e rnator) fica reduztdo a rnesrna proporcao que"1" (as dlstartcias sao "encolhldas").

    MILTON GUfUlN 45

    A tele tende a aproximar os planos uns dosoutros, achatando tudo, mas destaca com muttaclareza 0 plano que estiver focado, dtlulndo com-p1etamente os demais (foco seletivo). E por encherbern 0 quadro, e multo 11tH na valorizacao dedetalhes stgnrftcattvos. Por flm, a tele e como 0olhar indiscreto, que leva 0 observador para den-tro de urna cena. mas sem transmttlr aquelaImpressao de intimidade que vemos na lente nor-mal, e. em. alguns casas, tambern na grande an-gular (vide pagmas 72, 76 e 78).

    FILME. REVELAC;Ao E COPlAIt born nao esquecerrnos de que fotografla e urnprocesso fistco-quirmco. e. por isso mesmo, taoImportante quanta objettvas, diafragma e veloct-

    da,de sao a constttuicao dofilme_e sua revelacao,alern da execucao da c6pia final: que constttuema parte quirruca do processc." -)Ftlmes preto-e- branco e a cores Lt~llJ.p_r_Q~"essosdiferentes de formacao de imagern e cada c i l i a . lapresenta urna serte de especificidades. Mas, emgeraI. quatro caracteristlcas influem diretarnentena linguagem fotograflca, em ambos os casos: a

    sensibilidade (capacidade de registrar a Iuz): aacutancia (capacidade de registrar detalhes): acontraste (dlferenca entre as areas mats e menostlurmnadas. tons de clnza no preto-e-branco esaturacao das ~ores no fllrne cor) e ,a qrariulaciic:(0 tamariho e a forma do grao influem na acutanciae no contraste).Tats caracteristlcas chegam a sua fei

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    17/19

    46 LINGUAOEM F'OTOGMFICA E .INFoRMA

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    18/19

    48 LINGlJi\GEM F'oronRAfICi\ E INFOHMM;f . .O

    perfetto, Esse e urn dado importante. que faz dofllme do reporter-fotograflco rascunho el!texto~fi-naIII a urn s6 tempo.E preclso cuidado para nao se editar 0 rascu-nho, 0 que muitas vezes acontece, infelizrnente.o dorninlo sobre 0 instante mudou 0 rumo dafotografta, conferindo-Ihe 0 perfil e a irnportanclaque ela tern hoje, e consolidando deflruttvarnentea figura do autor no processo fotograflco. Ate 0comeco deste seculo, para se obter uma foto eranecessario urn tempo de exposlcao do fllme demurtos segundos, e urn equipamento relattvarnen-te pesado. 0 fotografo, entao, na prattca dtvidla aautorla intelectual da imagem com 0 fotografado,que fazla a pose, ou com a "producao", que deter-rninava 0que Ia ser regtstrado, e como. A partir dosurgimento de cameras mats leves como a Erma-nox e mais tarde a Letca, e de fllmes rna is raptdos,ja na decada de 20, 0 fotografo ganhou Iiberdadede atuacao, e a totografla como urn todo novocaminho estetico. E Isso marcou a surglmento dototojornalismo moderno, notadamente com 0 tra-balho do fotografo alernao Erich Salomon. EIe,segundo Gisele Freund, fot 0primetro a se dedicara fotojrafar as pessoas sem que elas percebes-sern." DL Salomon, como ele fazta questao de sercharnado, "mventou" 0 tnstantaneo, e com issoInaugurou a pratica da charnada candid photo-graphy (foto sincera au espontanea), que e a basedo fotojornalismo hoje. Esse ttpo de foto faz dofotografo - e do letter da foto - urn simplesespectador da ceria fotografada, Ilbertando-o dainc6moda postcao de coadjuvante, como ocorre natoto posada.

    23 Freud, Glsele. op. cit, p..103.

    MILTDN GURAN 49

    E e pOI' trabalhar sobre .omomento que afotografla hoje se faz (mica. na.funcao de repre-sentar a realidade. 0 momenta fotograflco. nuncae dernais lembrar, eo momento intuido. A fotogra-fla e uma fatia multo raplda da ..realidade. Mats"raplda, alias, do que pode perceber consctente-mente a olho humano. Por Isso mesmo, escolhero momenta exato s6 e possivel a partir do envolvi-menta do fotografo com acena que se desenrolano ViSOL Cartier- Bresson fala na "decisao doolholl24 que percebe 0 lnstante decisrvo em quetodos os elementos se organizam para conferir stg-nificado fotograftco a uma situacao, Esse aspecto efundamental para que 0 hornem seja senhor damaqulna, no processo fotograflco,o reporter fotograflco, porern, se defronta coma tarefa de registrar a noticia. que e muitas vezesfugaz demais. E atnda com a obrtgacao de obtervarias fotos semelhantes da mesma noticta, paraatender a diversos orgaos, no easo das agenctas,Neste aspecto, 0 motor (motor drive) e de grandevalia. Alern de bater varias chap as par segundo,faz 0 transporte do filme serrr que 0 fotogratoprecise tirar olho do ViSOL lsso the permite, ope-rando chapa a chapa, nao perder coisa algurna doque se passa.Tomemos 0 exemplo do gol no futebol, Para

    obter a foto do gal, temos de fotografar 0 chute, etreinar multo antes de acertar, au seja, ate conse-gutr registrar 0 momenta em que a bola chega narede. .Ja motor multipliea essa chance pOI'rriuitasvezes, alern de com tocta a eerteza forneeer matsde uma foto aproveitavel, E sao muitas as sttua-coes em que os reporteres-fotograflcos dis poem de

    24 Cartier-Bresson. Henri. "0 instante Declslvo" op. cit.

    50 LINGUAGEM F'010GRA.F'ICA I!: INFOHMA

  • 5/14/2018 GURAN, Milton. Linguagem fotogr fica'

    19/19

    ~oucos minutos e ate de segundos apenas parafazer seu trabalho, sendo 0motor nestes casos urn1nstrumento mutto uttl.o uso indiscriminado do motor, porern. podedescaracterizar a fotografla como expressao. Issoporque, como vimos anteriormente, a escolha domomento representa, no nosso ttpo de totograflamats doque em qualquer Dutro, urn dos prtnclpalselementos construtivos da imagem. Disparando 0motor 0 fot6grafo na pratica esta trabalhando comurn plano continuo, como rio cinema. 0resultadoe uma serte de fotogramas sequenclados que powderiam ate ser projetados como uma cena de fllmeclnematograftco. Quem escolhe 0momento decl-sivo, entao, e 0 acaso, e 0 fotografo apenas 0recolhe a posteriori. Ou seja, 0 motor e uttl comorecurso, mas pode descaractertzar 0 ate de foto-grafar quando vira vicio, como pode ocorrer tam-bern COITI outros avances tecnologtcos incorpora-dos pela industria da fotografla.

    1i

    PRODUc;Ao E EDIc;Ao

    ~.9 fotojornalismo, desde a ,sua conflguracao nadecada de 2Q ate hoje, tern vivido em permanenteevolucao, desernpenhando vanes papers na tarefade mforrnar. Prlmetro. mudou a vlsao das massas,na feliz expressao de Otsele Freund. A fotografiapassou a representar 0 grande canafa:traves:tloqual 0mundo se dava a conhecer nos seus aspec-tos fistcos e na diversidade da vida cottdiana. Estafase. que comecou com a revista francesa Vu eteve seu apogeu nas revistas Ilustradas como Lire,Look, Paris Match, entre outras, e no Brasil prin-cipalinente com 0 Cruzeiro e Manchete e matstarde, com a Realldade. E tambem com ~sj~rna1Sdtartos, como a Ultima Hora de Samuel Wainer, 0prlmetro jomal braslletro a reconhecer e valortzaro trabalho do reporter-fotograflco, dando salariocompativel e credlto nas fotos. Sao exemplos des-tacados tambem 0 Jornai do Bra'sil, depots da suagrande reforma na decada de 50. e. mats adtante,o Jornal da Tarde, do gru po "0 Estado de SaoPaulo", que atnda hoje se destacam pela valortza-cao da fotografta.Este quadro fol mudando gradativamente com 0advento e a rapid a untversalizacao da televisao. Aabrangencta e avelocidade desse veiculo emfornecerurn volume demformacao visual multo mator a umaaudtencia multo mais ampla e concentrada leva-o a~cupar grande part~ doespa~ooutrora ocupadopelafotografla, e, 0 que e decisivo, absorve as prlnctpaisverbas da publlctdade que sustentavam a cara evasta estrutura fotograftca das revlstas .. .

    (