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Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Mestrado em Saúde Pública ____________________________________________________________________ HANSENÍASE: CARACTERÍSTICAS AUDITIVAS E EPIDEMIOLÓGICAS ____________________________________________________________________ Rita de Cássia Rodrigues Orientadora: Profa. Dra. Zulma Medeiros Co-orientador: Prof. Fábio Lessa Recife, 2005

Hanseníase: características auditivas e epidemiológicascpqam.fiocruz.br/bibpdf/2005rodrigues-rc.pdfEm virtude do elevado percentual de ... considering the particulary samples to

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Fundação Oswaldo Cruz

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

Departamento de Saúde Coletiva

Mestrado em Saúde Pública

____________________________________________________________________

HANSENÍASE: CARACTERÍSTICAS

AUDITIVAS E EPIDEMIOLÓGICAS

____________________________________________________________________

Rita de Cássia Rodrigues

Orientadora: Profa. Dra. Zulma Medeiros

Co-orientador: Prof. Fábio Lessa

Recife, 2005

Fundação Oswaldo Cruz

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

Departamento de Saúde Coletiva

Mestrado em Saúde Pública

____________________________________________________________________

HANSENÍASE: CARACTERÍSTICAS

AUDITIVAS E EPIDEMIOLÓGICAS

____________________________________________________________________

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora, como requisito parcial à

obtenção do Grau de Mestre do Curso de

Mestrado em Saúde Pública do

Departamento de Saúde Coletiva

NESC/CpqAM/FIOCRUZ.

Recife, 2005

À minha família, meu alicerce, pelo apoio

incondicional que me foi dado em todos os momentos do

mestrado.

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Zulma Medeiros, pela orientação e disponibilidade nas horas mais

difíceis, contribuindo com seus conhecimentos e dissernimento para a realização

desse trabalho.

Ao Prof. Fábio Lessa, que apesar dos inúmeros compromissos e da saúde

fragilizada, contribuiu com sua vasta e rica experiência como sanitarista e

fonoaudiólogo. A você, Fábio, todo meu respeito e admiração pela sua luta e

perseverança, pelo caminho construído, só tenho a agradecer por ser, acima de

tudo, meu grande amigo.

A Henrique, uma pessoa maravilhosa que sempre me incentivou com suas palavras

de otimismo e apoio. Obrigada pela compreensão nos momentos de ausência,

quando a minha presença se fazia necessária.

A todos os pacientes que voluntariamente concordaram em participar dessa

pesquisa, permitindo a realização das avaliações auditivas e a concretização do

estudo.

A minha irmã Poliana pelos seus conhecimentos de português dispensados para a

revisão do texto.

À Maria Luíza Timóteo, porque além de ser ter sido uma excelente professora foi

também uma grande amiga nos momentos de indefinições.

À Diretoria de Epidemiologia e Vigilância em Saúde (DIEVS) da Prefeitura de Recife,

pela disponibilidade dos dados e acesso às informações importantes, sem as quais,

esse trabalho não se realizaria.

À Profa. Eduarda Cesse, Profa. Vera Gregório e Profa. Dra. Ana Augusta de

Andrade, pelas valiosas sugestões na aula de qualificação.

Aos meus colegas de turma do mestrado, Alda, André, Daniela, Kamila, Gerlane,

Gisele, Luciana, Maristela, Naíde, Veruska, Rosimery, pela amizade sincera e auxílio

quando as dúvidas surgiam.

Ao Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco, por

disponibilizar local apropriado para a realização dos exames e, em especial, à Dona

Celeste, à Da Paz e à Dona Zezé, secretárias eficientes e disponíveis que muito me

ajudaram na etapa da coleta de dados.

Às orientações estatísticas do Prof. Carlos Luna.

Ao NESC, pelo acompanhamento e apoio durante todo o trabalho.

Muito Obrigada!

“Aquilo que vos peço é muito pouco.

Peço um avião bombardeiro a cada um,

porque sei que este avião custa cinco

milhões de francos. Eu calculei que com o

dinheiro desses aparelhos de morte se

poderiam curar todos os leprosos do mundo".

(trecho da carta de Raoul Follereau aos dois

líderes máximos da terra em 1954, o norte-

americano Dwight Eisenhower e o russo

Georgi Malenkov)

RESUMO A hanseníase, doença milenar, infecciosa e endêmica, vem, desde a última década,

atingindo um número maior de pessoas e destacando-se no campo da saúde

pública. Apesar de já se ter sua cura, muitas questões ainda são desafios, como as

conseqüências ocasionadas na vida das pessoas que adoecem. Estudos

evidenciaram, desde 1960, a relação entre hanseníase e audição, que pode ser

explicada por três teorias fisiopatológicas: envolvimento coclear, comprometimento

do VIII par craniano ou difusão de processos rinofaríngeos para o ouvido médio. O

objetivo desse trabalho foi descrever o perfil auditivo, destacando também algumas

características epidemiológicas de pessoas com hanseníase em Recife, no ano de

2003. Através do banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN), identificou-se a população alvo e, por uma amostragem

sistemática, determinou-se a amostra, no total de 119 pacientes. Foram investigados

71 portadores de hanseníase, compreendidos entre 12 e 59 anos, os quais passaram

por entrevista inicial, meatoscopia e audiometria tonal. Os resultados mais relevantes

encontrados foram: sexo feminino (52%), média de anos (33,5 anos), forma clínica

tuberculóide (33,8%), avaliação do grau de incapacidade do diagnóstico 0 (zero)

(62%), classificação operacional multibacilar (50,7%), esquema terapêutico inicial

PQT/PB/06 doses (40,8%). Houve 54% de casos que apresentaram alteração de

audição e o mais freqüente achado da avaliação foi a perda auditiva sensorioneural

(50,7%), com predominância bilateral (81,6%). Comprovou-se associação

estatisticamente significante entre alteração auditiva e faixa etária, classificação

operacional, queixas auditivas, doenças gerais associadas, bem como entre faixa

etária e tipo de perda auditiva sensorioneural. Em virtude do elevado percentual de

perda auditiva encontrado, resta aos profissionais de saúde envolvidos no programa

de controle atentarem para a necessidade de encaminhamentos para avaliações

audiológicas. Recomenda-se que outros estudos sejam realizados, considerando as

particularidades da amostra, para investigar a associação existente entre perda

auditiva e hanseníase.

ABSTRACT

The Hansen’s disease or leprosy, a millennium disease, is an endemic and infectious

disease that has laced the majority of people up since the last decade. It has got

worse and worse and it has got top line on public health field so far even though

Physic have already demonstrated healing. There are still many questions up to

challenge these findings, for instance, consequences arisen on people’s lives as soon

as they get ill. Some studies have proven, since the 60´s decade, a relationship

between Leprosy and hearing function that may be explained through three

physiopathological theories: cochlear wrapping, eighth cranial nerve lacing up and

some diffusion rhinal-pharyngal process leading to middle ear. This present study

aimed to describe the hearing profile and also underline some clinical and

epidemiological characteristics of people with leprosy in Recife – 2003. According to

SINAN data (Deep Noting Information Department) it was noticed 119 patients

(through systematic sample following up). There were 71 cases of leprosy identified,

aged between 12 and 59 years. Patients were submitted to an interview firstly, then

meatuscopy and tonal audiometry examinations. The results found, the most

detached ones, were the following: feminine sex – 52%; 33-35 aged; tuberculoid

clinical form – 33,8%; unableness grade assessment on diagnosis 0 (62%);

operational multibacilar classifying (50,7%); initial therapeutical outline PQT/PB/06

doses (40,8%). There was hearing alteration (54%) and the recently found

assessment result hearing loss (sensorineural one) (50,7%) showing bilateral

predominancy (81,6%). It is statistically proven there is a significant association

between the auditive alteration and the age range, operational classifying, hearing

claims, general related diseases and also age versus sensorioneural hearing loss

kind. Because high percentual level of hearing loss registered, it is necessary that

health specialists who are included in control programmes turn up their attention to

serious hearing evaluations whenever episodes come up. It is recommended that

other studies be realized, considering the particulary samples to investigate an

existant association between auditive loss and the Hansen´s disease.

LISTA DE GRÁFICOS Pág. GRÁFICO 1 Distribuição dos casos de hanseníase, segundo alterações

auditivas, Recife – 2003.......................................................

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GRÁFICO 2 Distribuição das médias das audiometrias, por freqüências

agrupadas e por orelha dos casos de hanseníase, Recife –

2003.......................................................................................

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LISTA DE TABELAS Pág. TABELA 1 Distribuição da amostra final dos casos de hanseníase –

recife, 2003...............................................................................

33

TABELA 2 Distribuição dos casos de hanseníase, segundo a faixa

etária – Recife, 2003...............................................................

41

TABELA 3 Distribuição dos casos de hanseníase, segundo

unidade/centro de saúde – Recife, 2003................................

42

TABELA 4 Distribuição dos casos de hanseníase, segundo a forma

clínica, a avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico,

a classificação operacional, a baciloscopia e o esquema

terapêutico inicial – Recife, 2003.............................................

43

TABELA 5 Audiometrias dos casos de hanseníase, por freqüências, de

acordo com a orelha testada – Recife, 2003............................

45

TABELA 6 Distribuição dos casos de hanseníase segundo resultado da

avaliação auditiva, queixas auditivas referidas, ruído

ocupacional, doenças gerais associadas – Recife, 2003.........

46

TABELA 7 Alterações auditivas nos casos de hanseníase, segundo

sexo e faixa etária (anos) – Recife, 2003..............................

48

TABELA 8 Resultados da avaliação auditiva dos casos de hanseníase,

segundo a faixa etária (anos) – Recife, 2003...........................

48

TABELA 9 Alterações auditivas em pessoas portadoras de hanseníase,

segundo forma clínica, avaliação do grau de incapacidade no

diagnóstico, classificação operacional, baciloscopia e

esquema terapêutico inicial – Recife, 2003..............................

49

TABELA 10 Alterações em pessoas portadoras de hanseníase, segundo

presença de queixas auditivas, queixas referidas, ruído

ocupacional, presença de doenças gerais e doenças gerais

associadas – Recife, 2003.......................................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANSI – American National Standards Institute

CPqAM – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

HD – hanseníase dimorfa

HDT – hanseníase dimorfa tuberculóide

HDV – hanseníase dimorfa virchowiana

HI – hanseníase indeterminada

HT – hanseníase tuberculóide

HV – hanseníase virchowiana

MAE – meato acústico externo

MB – multibacilar

ROM – rifampicina, ofloxocina e minociclina

OMS – Organização Mundial de Saúde

PB – paucibacilar

PQT – poliquimioterapia

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

SUMÁRIO 1. Introdução.......................................................................................................

2. Marco Teórico.................................................................................................

2.1. Aspectos clínicos.............................................................................

2.2. Aspectos epidemiológicos da hanseníase......................................

2.3. Audição e Hanseníase....................................................................

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3. Objetivos.........................................................................................................

3.1. Objetivo geral..................................................................................

3.2. Objetivos específicos.......................................................................

4. Procedimentos metodológicos.......................................................................

4.1. Desenho de estudo........................................................................

4.2. Área de estudo................................................................................

4.3. População de estudo.......................................................................

4.4. Seleção da amostra.........................................................................

4.5. Elenco de variáveis.........................................................................

4.5.1. Variável dependente...............................................................

4.5.2. Variáveis independentes.........................................................

4.6. Coleta de dados..............................................................................

4.6.1. Dados secundários.................................................................

4.6.2. Dados primários......................................................................

4.6.3. Plano de descrição, processamento e análise dos dados......

4.7. Controle de bias.............................................................................

4.8. Considerações éticas.....................................................................

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5. Resultados......................................................................................................

6. Discussão.......................................................................................................

7. Comentários finais..........................................................................................

8. Referências bibliográficas..............................................................................

9. Apêndices.......................................................................................................

10. Anexo...........................................................................................................

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1. INTRODUÇÃO

Doença milenar, infecciosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, a

hanseníase ficou conhecida universalmente pelas deformidades físicas

incapacidades, as quais na Antigüidade foram responsáveis pela rejeição e

segregação de milhares de pessoas.

A quantidade de casos novos detectados por ano no Brasil é elevada, infectando

grande número de pessoas. Pernambuco mantém-se na segunda posição em

ocorrências do Nordeste. Recife, capital do estado pernambucano apresenta a maior

parte dos casos do estado, o qual pode ocorrer pela melhoria da qualidade das

notificações e/ou pela própria magnitude da endemia.

Investigar o comprometimento auditivo na hanseníase é um desafio, principalmente,

se for considerado que essa doença ainda constitui um sério problema de saúde

pública, apesar de sua cura já ser conhecida. Mesmo com os elevados números da

doença na cidade de Recife, ela não é incluída no Brasil como um risco para a

audição.

A orelha humana pela sua complexidade e especialidade é suscetível a inúmeras

doenças que podem causar graus e tipos variados de perdas auditivas. Em relação

ao envolvimento da hanseníase nesse órgão, existem três teorias fisiopatológicas

importantes: por problemas relacionados à orelha média, secundários aos processos

infecciosos da rinofaringe; por comprometimento coclear (orelha interna) ou por

envolvimento do VIII par craniano.

Diante da ausência de pesquisas no Brasil que enfoquem a relação entre alteração

auditiva e hanseníase, torna-se fundamental descrever alguns aspectos importantes,

visto que pesquisas relatam a possibilidade de disfunção na audição entre casos de

hanseníase. Para tanto, torna-se apropriado descrever, além do perfil auditivo,

alguns aspectos epidemiológicos desses pacientes, de forma que os dados possam

contribuir para o programa de controle da hanseníase nesta cidade.

2. MARCO TEÓRICO

2.1. Aspectos clínicos da hanseníase

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo M. leprae, podendo

afetar o sistema nervoso periférico, a pele e alguns outros tecidos humanos

(JOPLING; McDOUGALL, 1991; BRASIL, 2002a).

O M. leprae tem como principal característica a capacidade de infectar grande

número de indivíduos, mas poucos adoecem tendo em vista sua baixa

patogenicidade. Apresenta afinidade por células cutâneas e pelos nervos periféricos,

localizando-se, preferencialmente, em regiões frias do corpo humano como nariz,

testículos e locais próximos à pele, como os lóbulos de orelhas (FUNDAÇÃO

NACIONAL DE SAÚDE, 2002). Também apresenta predileção pela mucosa do trato

respiratório e artérias vasculares (KOYUNCU et al., 1994a).

As vias de eliminação, o mecanismo de transmissão, a via de saída e a porta de

entrada do bacilo ainda não são inteiramente conhecidos. No entanto, sabe-se que o

principal meio de eliminação são as vias aéreas superiores. A pele intacta não

apresenta bacilos, mas as lesões ulceradas ou exculceradas podem representar uma

outra via de eliminação de bacilos (URA; OPROMOLLA, 2000).

São também admitidas como vias de eliminação, as secreções como esperma, suor,

lágrima, sendo relatado ainda, o contágio indireto por vetores animais e objetos

contaminados (MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI,1996). A maioria dos estudos

considera o homem o único reservatório de importância comprovada. Assim, para

que a transmissão do M. leprae bacilo ocorra, é necessário um contato direto com o

doente não tratado (BRASIL, 2001).

O tempo de incubação da doença é longo, entre três a sete anos, mas faz-se

referência a períodos mais curtos, de sete meses (FUNDAÇÃO NACIONAL DE

SAÚDE, 2002; BRASIL, 2002a).

Os principais sinais e sintomas da hanseníase são: manchas esbranquiçadas ou

avermelhadas (alteração da cor da pele sem relevo), pápulas (lesões sólidas com

elevação superficial e circunscrita), madarose (queda dos supercílios), tubérculos

(lesões sólidas externas elevadas) e nódulos (lesões sólidas internas palpáveis).

Qualquer distúrbio de pele com alteração de sensibilidade, característica diferencial,

deve ser devidamente investigado e tratado (BRASIL, 2001).

O M. leprae acomete o sistema nervoso periférico (os ramos sensitivos cutâneos),

provocando dormências nas lesões de pele, além dos troncos nervosos periféricos,

ocasionando as conhecidas incapacidades e deformidades. Tais lesões podem surgir

com a evolução da doença ou, simplesmente, serem a única forma de manifestação

Também podem ocorrer processos inflamatórios dos nervos, causados pela ação

direta do bacilo ou pela reação do organismo a este. As neurites podem se

manifestar por dor e/ou espessamento dos nervos periféricos, diminuição e/ou perda

de sensibilidade nas áreas de inervação (principalmente olhos, mãos e pés),

diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados (principalmente pálpebras,

membros inferiores e superiores) (BRASIL, 2001).

As diferentes formas de manifestações clínicas da doença evoluem de acordo com o

sistema imunológico de cada pessoa. A fase inicial da doença denomina-se

hanseníase indeterminada (HI) , que pode curar-se espontaneamente ou evoluir

para umas das formas clínicas descritas a seguir, dependendo do potencial da

resposta celular do hospedeiro ao M. leprae (NOGUEIRA et al., 2000).

A forma denominada hanseníase tuberculóide (HT) possui lesões bem

delimitadas, com raros bacilos e os pacientes podem se curar espontaneamente. No

lado oposto, encontra-se a forma de baixa resistência, denominada de hanseníase

virchowiana (HV), que apresenta numerosas lesões, mal definidas, com excessiva

multiplicação de bacilos e disseminação das lesões para vísceras e nervos. Entre

esses dois pólos, existe a forma chamada de hanseníase dimorfa (HD) , que

apresenta manifestações clínicas, baciloscópicas e imunológicas intermediárias,

predominando lesões bem delimitadas como na HT e/ou lesões disseminadas como

na HV. A HD pode adquirir características tuberculóides, denominada hanseníase

dimorfa tuberculóide (HDT) ou virchoviana (HDV) (NOGUEIRA et al. 2000).

A OMS, em 1982, simplificou a classificação da hanseníase, utilizada para fins do

tratamento, baseando-se no número de lesões apresentadas pelo paciente. Assim,

os casos de hanseníase dividem-se em paucibacilares (PB), com até cinco lesões

de pele, englobando a HT e a HI; e os multibacilares (MB) , com mais de cinco

lesões, compreendendo a HD e a HV (BRASIL, 2001; OPROMOLLA, 2000c).

Por meio da baciloscopia, sugere-se uma outra classificação, a qual determina que

são considerados PB, os casos que apresentam baciloscopia negativa e MB, aqueles

com baciloscopia positiva. Geralmente, os casos HI e HT apresentam baciloscopia

negativa e os HD e HV apresentam baciloscopia positiva. No entanto, a HD pode

apresentar resultado de baciloscopia positivo ou negativo (FUNDAÇÃO NACIONAL

DE SAÚDE, 2002).

No Brasil, a classificação do grau de incapacidade física do doente é feita no

momento da alta ao paciente. Existem três graus de incapacidade física, de acordo

com determinados critérios: grau 0 - não há incapacidade (sem comprometimento

neural nos olhos, mãos e pés); grau I - há incapacidade (diminuição ou perda de

sensibilidade nos olhos, mãos ou pés); grau 2 - há incapacidade e deformidade nos

olhos, mãos e pés (OPROMOLLA, 2000c).

A OMS define como critério para tratamento quimioterápico de hanseníase um

indivíduo que apresente um dos critérios listados a seguir: lesão de pele, alteração

de sensibilidade, acometimento de nervo com espessamento neural ou baciloscopia

positiva. É importante destacar que mesmo a baciloscopia negativa não afasta o

diagnóstico de hanseníase (BRASIL, 2002a).

Atualmente, o tratamento da hanseníase é ambulatorial, chamado de

Poliquimioterapia (PQT/OMS) e constitui-se pela associação dos seguintes

medicamentos: rifampicina, dapsona e clofazimina, tendo como objetivo evitar a

resistência do bacilo, o que ocorre com freqüência quando se utiliza um único

medicamento (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002).

Nos casos PB é utilizada a associação da rifampicina e dapsona, no seguinte

esquema: dose mensal de rifampicina de 600 mg (2 de 300 mg), com administração

supervisionada e dose diária de dapsona auto-administrada de 100 mg; a duração do

tratamento é de 6 a 9 meses e o critério da alta é de 6 doses em até 9 meses

(BRASIL, 2001).

Nos casos MB, utilizam-se as três drogas, rifampicina, dapsona e clofazimina, no

esquema: dose mensal de rifampicina de 600 mg (2 de 300 mg), com administração

supervisonada, dose mensal de clofazimina de 300 mg (3 de 100 mg) e dose diária

auto-administrada de 50 mg, dose diária de dapsona auto-administrada de 100 mg; a

duração do tratamento é de 12 a 18 meses e o critério de alta é de 12 doses em até

18 meses (BRASIL, 2001).

Alguns casos MB podem necessitar de 12 doses adicionais do esquema-padrão MB,

por conta da pouca melhora. Para as crianças, as doses dos medicamentos devem

ser ajustadas de acordo com a sua idade. Ambos os esquemas são acondicionados

em cartelas para utilização mensal (de 28 em 28 dias) (BRASIL, 2002a).

Os esquemas alternativos de tratamento são aqueles em que se substitui um ou

mais medicamentos do esquema-padrão por medicamentos equivalentes. Esses

esquemas só devem ser utilizados em pacientes que apresentarem contra-indicação

formal ou intolerância confirmada (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002).

Existe um esquema de tratamento, conhecido como ROM, que corresponde ao

conjunto de rifampicina, ofloxacin e minociclina, devendo ser administrado através de

dose única supervisonada, sendo recomendado para pacientes PB com lesão única

de pele, sem comprometimento neural. O esquema ROM não pode ser usado por

gestantes e crianças menores de 5 anos e deve ser indicado apenas em

unidades/centros de referência (BRASIL, 2001; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE,

2002).

A regularidade do tratamento é fundamental para a cura do doente. Os prazos

estabelecidos devem ser rigorosamente cumpridos. Quando não tratado de maneira

adequada, cada doente MB contagia cerca de cinco pessoas por ano, sendo que

apenas 1/3 destas são diagnosticadas. Muitos dos casos fazem tratamento irregular

ou o abandonam, favorecendo a disseminação de bacilos resistentes às medicações

(MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI et al., 1996).

Outra consideração importante é que, quando o doente inicia seu tratamento

quimioterápico, deixa de transmitir a doença, pois as primeiras doses da medicação

deixam o bacilo incapaz de infectar outras pessoas (BRASIL, 2001). Um paciente

com hanseníase só será internado diante da gravidade dos efeitos colaterais aos

medicamentos e dos estados reacionais ou pela necessidade de correção cirúrgica

devido às limitações físicas (BRASIL, 2002a).

2.2. Aspectos epidemiológicos da hanseníase

Doença que constitui grave problema de saúde pública, com cerca de 10 a 15

milhões de pessoas doentes no mundo, distribuídas especialmente nas regiões

tropicais e subtropicais. De todos os casos registrados, 83% localizam-se em cinco

países em ordem decrescente de prevalência - Índia, Brasil, Nigéria, Myanmar e

Indonésia. Estima-se que a Ásia tenha a maior parte dos doentes do mundo, cerca

de 62% (com 59% dos casos localizados na Índia), seguida pela África com 34%;

pela América do Sul com 3% e o resto do mundo com 1% (ARAÚJO, 2003)

Em termos de intensidade, a hanseníase da África é três vezes mais intensa que a

da Ásia (MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI, 1996). Embora tenha avançada

tecnologia nuclear, a Índia, juntamente com o Brasil que possui uma economia cujo

produto interno bruto (PIB) está entre os doze maiores do planeta, são os mais

prevalentes em casos de hanseníase (ARAUJO, 2003).

Somente a partir de 1980, depois da introdução da poliquimioterapia, os números da

hanseníase começaram a reduzir e a prevalência global diminuiu em mais de 80%

nos últimos dez anos. Em 1997, a estimativa global era de 1,15 milhões de casos em

contraste com 10 a 12 milhões de casos estimados na década de 70 (URA;

OPROMOLLA, 2000).

No entanto, ainda existe cerca de 2 bilhões de pessoas que vivem em regiões com

prevalência maior do que 1 doente para cada 10.000 habitantes e aproximadamente

cerca de 2 milhões de doentes encontram-se incapacitados devido à hanseníase

(MARCHESE; MARCHESE; RIVITTI, 1996).

Na Índia e no Havaí, cerca de 50% dos doentes têm menos de 20 anos; na África,

não é tão grande o número de casos de hanseníase na infância, assim como na

América do Sul, especialmente na Venezuela e no Brasil (URA; OPROMOLLA,

2000).

As crianças menores de quinze anos adoecem mais, geralmente quando há maior

endemicidade da doença, por exposição precoce em focos domiciliares (BRASIL,

2002a; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002).

A influência do sexo na hanseníase, assim como a idade, também é variável.

Considerando-se apenas os casos de HV, a prevalência é constantemente mais

elevada no sexo masculino depois da puberdade, em uma proporção geralmente de

dois para um. Quanto às deformidades, também parece haver uma freqüência menor

no sexo feminino. Um estudo realizado na Índia mostrou que a incidência de

deformidades é duas vezes maior no sexo masculino que no feminino (URA;

OPROMOLLA, 2000).

A distribuição irregular da prevalência desta doença no Brasil é uma característica

importante, com diferenças marcantes entre os estados, os municípios e até entre os

núcleos familiares (URA; OPROMOLLA, 2000).

O coeficiente de prevalência da hanseníase no Brasil, em 2003 (dados preliminares),

foi de 3,86/10.000 habitantes e taxa de detecção foi de 2,39/10.000 habitantes. A

cada ano são diagnosticados no Brasil em torno de 43.000 casos novos da doença e

a prevalência atual está em torno de 4 doentes/10.000 habitantes (BRASIL, 2005).

Se for considerada que a prevalência de 1/10 mil significa cerca de 20 mil casos,

ainda há muito o que ser feito em cada estado brasileiro, principalmente naqueles

com alta prevalência, como os da Região Norte e alguns do Nordeste e do Centro-

Oeste (BRASIL, 2005).

Uma iniciativa concreta para atingir o objetivo de eliminação da hanseníase está

sendo adotada pelo governo brasileiro em parceria com a Organização das Nações

Unidas (ONU). Recentemente, foi feito um acordo para reestruturar o banco de

dados para calcular o índice de casos de hanseníase por 10 mil habitantes. Agora,

só ficam na base os casos diagnosticados e ainda em tratamento. Com essa

mudança, acredita-se que o Brasil cumprirá a meta de eliminar a doença até 2005.

Esse novo critério fez os centros de saúde do país detectar casos de pacientes que

estavam há dez anos em tratamento, mas que não tinham sido computados como

curados. Acredita-se que, com tal medida, os dados sejam mais fiéis, facilitando a

tomada de decisões para os problemas encontrados (GOIS, 2005).

No Brasil, do total de casos detectados, cerca de 4 mil (13,43%) são de pessoas com

menos de 15 anos, o que demonstra de certa forma, falha na detecção da doença

em adultos ou no tratamento. Para conseguir diminuir a prevalência até dezembro de

2005, com atenção especial às crianças infectadas, é preciso investir no tratamento

adequado, para que seja quebrada a cadeia de transmissão familiar, o que é um dos

principais objetivos do Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase. Com a

segunda edição das Cartas de Eliminação da Hanseníase, chama-se a atenção das

secretarias municipais e estaduais de Saúde, para que novas ações sejam

desencadeadas e, com isso, a doença seja detectada e tratada mais precocemente

(BRASIL, 2005).

Souza et al. (2001) afirmam, inclusive, que, para se alcançar o objetivo do Plano de

Eliminação da Hanseníase, os programas de controle necessitam incorporar

estratégias direcionadas aos grupos populacionais mais acometidos. Pois, quando

crianças são infectadas muito cedo, o processo de transmissão é intenso, o que

pode também ser conseqüência da resposta imune ligada ao seu estado nutricional

O Nordeste é a região com maior número de casos (209.699) no Brasil e

Pernambuco é o segundo estado mais endêmico (42.218 casos), numa série de

1980 até 2003 (dados preliminares) (BRASIL, 2005). No final de 1990, 60% dos

casos comprovados de hanseníase no estado pernambucano se concentravam em

Recife (RECIFE, 2001). No ano de 2003, esta cidade detectou cerca de 1.115 casos

de hanseníase, mantendo-se com alta taxa de prevalência (coeficiente de detecção

anual maior que 4,0 casos por 10000 habitantes) (RECIFE, 2003).

2.3. Audição e hanseníase

A audição é uma sensação de vital importância para os seres humanos, pois ela é a

base da sua comunicação (MUNHOZ et al., 2000). O limiar auditivo é definido pela

American National Standards Institute - ANSI (1973) como o nível mínimo de pressão

sonora de um sinal acústico capaz de produzir sensação auditiva (YANTIS, 1999).

Muitas são as patologias que podem se instalar nas orelhas externa, média e interna,

nas vias auditivas e no sistema nervoso central, acometendo a audição. As perdas

auditivas podem ser classificadas topograficamente quanto ao seu tipo em:

condutiva, sensorioneural, mista, central e funcional (LOPES FILHO, 1994).

A perda auditiva condutiva possui limiares por via óssea normais e por via aérea

rebaixados, sugerindo alterações de orelha externa e/ou média (cerume, oclusão do

meato acústico externo, presença de corpo estranho, perfuração de mambrana

timpânica, otite média). A sensorioneural é aquela que engloba desde lesões

sensoriais (orelha interna ou órgão de Corti) até neurais, desde o nervo coclear até

os núcleos auditivos, no tronco encefálico, havendo conservação para os sons

graves, com perda auditiva mais acentuada em agudos. A morfologia da curva

audiométrica poderá ser descendente, com audição pior nas agudas, mas também é

possível não haver uma configuração típica para as curvas audiométricas (LOPES

FILHO, 1994; FRAZZA et al., 2000).

A perda auditiva mista é a que apresenta componentes condutivos e

sensorioneurais em uma mesma orelha, depende do predomínio do fator de

condução ou da gravidade da lesão sensorial. A central ocorre quando o

comprometimento da audição localiza-se nas vias auditivas e sistema nervoso

central. O paciente, portanto, ouve, mas não compreende. Geralmente está

associada aos distúrbios neurológicos. Por último, a alteração auditiva funcional é

aquela em que paciente não apresenta lesões orgânicas no aparelho auditivo,

periférico ou central, podendo ser atribuída aos problemas emocionais ou psíquicos

(LOPES FILHO, 1994).

A fisiopatologia da perda auditiva na hanseníase foi objeto de vários estudos na

Índia, no Egito e na Turquia. Esta se baseia em três teorias: envolvimento coclear,

comprometimento do VIII par craniano (nervo vestibulococlear) ou problemas na

orelha média secundários a processos rinofaríngeos (SINGH et al., 1984; MANN et

al., 1987).

O primeiro a investigar a relação entre perda auditiva e hanseníase foi Latif em 1967

(apud ARINI; SHEHATA; ZEID, 1970), evidenciando a ocorrência de 25% de perda

auditiva como conseqüência do envolvimento do VIII nervo. A dúvida sobre o

envolvimento auditivo na doença teria surgido a partir de um grande número de

pacientes que apresentaram queixa de diminuição auditiva.

Singh et al. (1984), consideram que a principal discussão sobre a fisiopatologia da

perda auditiva na hanseníase é se esta disfunção é de origem coclear ou não.

Awasthi et al. (1990) só confirmam que as duas hipóteses de comprometimento

auditivo na hanseníase ocorrem por conta do envolvimento secundário do processo

da doença no trato respiratório superior ou devido ao envolvimento do VIII nervo

(vestibulococlear), descartando a possibilidade de um problema coclear.

A perda auditiva, então, seria devido à afecção do nervo vestibulococlear, sem

relação com idade dos pacientes ou duração da doença. A principal patogenia da

perda sensorioneural de audição seria a afecção bilateral do nervo vestibulococlear,

sem lesões detectáveis na orelha interna e média ou nas conexões centrais da

audição. O envolvimento do VIII par craniano, sem mudanças nas fibras terminais da

orelha interna ou conexões centrais é devido ao fato da hanseníase afetar as células

de Schwann, envolvendo as fibras nervosas individuais, mas não os tratos cerebrais.

Portanto, seria afetado o nervo vestibulococlear, devido à infiltração celular e edema

que causam relativa isquemia do referido nervo, evoluindo para sua gradual

destruição até irreversível prejuízo, sendo a mais provável patogenia de afecção

auditiva na hanseníase (ARINI; SHEHATA; ZEID, 1970).

É freqüente observar processos secundários de hanseníase na rinofaringe, apesar

de não serem produzidos pelo bacilo. Por conta desses processos infecciosos,

poderia haver propagação para a orelha média, através da tuba auditiva,

ocasionando uma diminuição da audição do tipo condutiva de maior ou menor

intensidade. Então, devido ao envolvimento do trato respiratório superior, existiria a

possibilidade de doença secundária na orelha média, a qual acarretaria uma

alteração auditiva (SACHERI, 1963).

No entanto, Mann et al. (1987) afirmam que, na ausência de uma doença local ou

sistêmica e/ou descartando-se o uso prolongado de drogas ototóxicas, a hanseníase

seletivamente poderia vir a envolver apenas a cóclea (orelha interna). Inclusive,

Koyuncu et al. (1995) relataram que existem poucos casos documentados na

literatura de envolvimento do nervo vestibulococlear na hanseníase. Somente a

hanseníase de longa duração aumentaria o risco de envolvimento de lesões nos

nervos cranianos. Assim, para estes autores, a perda auditiva na hanseníase seria

de origem coclear.

A utilização da ultrasonografia com Doppler mostrou que houve diminuição do fluxo

sangüíneo da artéria vertebral, a qual afetaria a nutrição das estruturas que contém o

vestíbulo, a cóclea, o labirinto e os núcleos cerebrais. Alguns sintomas relatados

podem ocorrer justamente por causa da má nutrição destas estruturas, incluindo

perda auditiva, zumbidos e tonturas, resultado da diminuição do fluxo sangüíneo para

o núcleo cócleo-vestibular, o labirinto ou núcleos cerebrais. Essa redução do fluxo

sangüíneo aumentaria mais ainda devido às lesões na artéria vertebral, diante da

ocorrência da hanseníase. Portanto, a perda auditiva sensorioneural na hanseníase

poderia ser atribuída à diminuição do fluxo de sangue para a cóclea (KOYUNCU et

al., 1995).

Em estudos realizados por Awasthi et al. (1990), não foi verificada disfunção

audiovestibular nos pacientes submetidos ao tratamento com rifampicina, clofazimina

e dapsona, no período de um ano, revelando que não há efeito adverso destas

drogas relacionado à audição nos portadores de hanseníase. Esses acreditam que

haveria depósitos de complexos imunes, associados à reação tipo II, mais comuns

em pacientes na forma MB, as quais causariam vasculites generalizadas, envolvendo

a orelha interna e danificando a cóclea. As perdas auditivas condutivas que foram

encontradas nesse estudo estavam associadas às otites médias crônicas

supurativas, não se evidenciando a presença do bacilo nas secreções da orelha

média.

As afecções puramente vestibulares são menos comuns que as afecções

cocleovestibulares e cocleares (AWASTHI et al., 1990; KOYUNCU et al., 1994;

KOYUNCU et al., 1995), as quais, para seu diagnóstico, indicam-se os testes que

compõem a bateria de exames audiológicos.

A avaliação auditiva é utilizada para quantificar e qualificar a perda auditiva, dentre

outros aspectos, em relação ao tipo. Também serve para monitorar um problema de

audição já existente. Por meio dela, o tratamento será definido, podendo incluir

intervenção cirúrgica ou medicamentosa, habilitação/reabilitação ou, simplesmente,

monitoramento da alteração, por meio de entrevista inicial (anamnese), da

metatoscopia e do teste de audiometria tonal por via aérea e por via óssea, além de

outros procedimentos (American Speech - Language - Hearing Association, 2004).

A audiometria por tons puros (na faixa de freqüências convencional de 250 Hz a

8000 Hz) é um exame que deve ser realizado em cabine acústica isolada de ruídos

externos. Seus resultados são anotados em um gráfico (audiograma), onde as

freqüências são referidas em Hertz (Hz) e a intensidade em decibel (dB). A

associação entre os testes por via aérea e por via óssea permite saber se a perda

auditiva é devido a um problema na orelha média, na interna, ou nas duas (American

Speech - Language - Hearing Association, 2004).

Para Wilber (2001), a audiometria tonal é a base da avaliação audiológica. Após a

realização da entrevista inicial (anamnese) e da pesquisa dos limiares de

audibilidade para tons puros, o audiologista tem condições de dizer se o paciente

tem ou não perda auditiva. Sua finalidade é mensurar a intensidade mínima audível

(limiar auditivo) para tons puros. Mesmo aceitando que existem outros

procedimentos necessários para essa confirmação, o quadro geral de um caso

clínico só deve estar claro diante da audiometria de tons puros por via aérea e óssea.

Portanto, torna-se a ferramenta principal dentro da avaliação auditiva.

Considera-se, portanto, fundamental aprofundar-se nos aspectos auditivos

envolvidos na hanseníase, em virtude do elevado número de casos desta

enfermidade em Recife e da possibilidade do envolvimento discutido por estudos

realizados fora do Brasil, configurando um risco para a audição.

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

• Estudar a prevalência de alterações auditivas e as características

epidemiológicas de pessoas que tiveram hanseníase no município de Recife-

PE, no ano de 2003.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Descrever as características da amostra de estudo, segundo sexo, faixa

etária, unidade/centro de saúde, distritos sanitários (por local de residência),

forma clínica, avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, classificação

operacional, baciloscopia, esquema terapêutico inicial, resultado da avaliação

auditiva, lateralidade da alteração auditiva, limiares auditivos por freqüências

isoladas, queixas auditivas referidas, ruído no trabalho e doenças gerais

associadas;

• Relacionar as alterações auditivas encontradas na amostra pesquisada, de

acordo com sexo, faixa etária, forma clínica, avaliação do grau de

incapacidade no diagnóstico, classificação operacional, baciloscopia,

esquema terapêutico inicial, além de queixas auditivas referidas, ruído no

trabalho, doenças gerais associadas.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1. Desenho de estudo

Trata-se de um desenho descritivo do tipo transversal ou seccional porque produzem

“instantâneos” da situação de saúde de uma população ou comunidade com base na

avaliação individual do estado de saúde de cada um dos membros do grupo. Esse

tipo de estudo, também chamado estudo de prevalência utiliza uma amostra

representativa da população, devido às óbvias dificuldades para a realização de

investigações que incluam a totalidade dos membros de grupos numerosos.

Portanto, faz-se valer da teoria estatística para seleção da amostra aleatoriamente,

pois cada indivíduo tem a mesma chance de participar da amostra (ALMEIDA FILHO;

ROUQUAYROL, 2003).

Considerando o objetivo desse trabalho estudar a prevalência das alterações

auditivas, enfocando também características epidemiológicas de pessoas que

tiveram hanseníase, pretende-se, portanto, levantar questões que poderão, no futuro,

serem respondidas.

4.2. Área de estudo

O estudo foi realizado no município de Recife, capital do estado de Pernambuco,

situado no litoral oriental da região nordeste do Brasil. Este município possui 22

unidades de saúde voltadas para o controle da hanseníase, distribuídas em 06

distritos sanitários da seguinte forma: 03 unidades no distrito sanitário I, 06 unidades

no distrito sanitário II, 05 unidades no distrito sanitário III, 02 unidades no distrito

sanitário IV, 03 unidades no distrito sanitário V e 03 unidades no distrito sanitário VI

(RECIFE, 2004).

4.3. População de estudo

O total de 1.115 casos de hanseníase foram notificados em Recife, no Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN), em 2003 (RECIFE, 2004).

A população-alvo correspondeu ao total de número de casos de hanseníase

pertencentes ao banco de dados do SINAN, classificados de acordo com a forma HT,

HD, HV ou HI em 2003, compreendidos na faixa etária entre 12 e 59 anos, o que

corresponde a 844 pessoas que tiveram hanseníase. Para a seleção da amostra foi

utilizado o programa SPSS 8.0.

Foram excluídos os casos abaixo de 12 anos, devido às dificuldades que porventura

poderiam surgir nas idades inferiores, tendo em vista que a audiometria tonal é um

exame que depende da cooperação do paciente, tendo a criança ser capaz de

responder de forma sistemática aos sons apresentados (FRAZZA et al, 2000)

Também foram excluídos os casos acima de 59 anos, pois a partir de 60 anos de

idade há forte influência da presbiacusia, que, segundo HUNGRIA (1995), é a

deficiência auditiva que surge em virtude da idade mais avançada, com o declínio da

audição, que envelhece como tudo o mais no organismo.

4.4. Seleção da amostra

Para o cálculo de dimensionamento da amostra, foi utilizado o software EPI INFO

6.04, admitindo uma população alvo de 844, erro de 5%, precisão de 5% e intervalo

de confiança de 95%, resultando na amostra final de 119 indivíduos portadores de

hanseníase.

A estimativa de prevalência da doença considerada foi de 10%. Os trabalhos

existentes sobre o tema mostram uma variação de percentuais de alteração auditiva

na hanseníase, apresentando prevalências de 7% a 28%, confirmando a polêmica

discussão existente sobre o assunto (SACHERI, 1963; ARINI et al., 1970; AWASTHI

et al., 1990; KOYUNCU et al., 1994; MANN et al., 1987; SINGH et al., 1984).

Devido aos possíveis problemas operacionais foi realizado o sorteio de mais de 25%

da amostra calculada, totalizando 148 indivíduos selecionados do universo de 844

casos de hanseníase.

Para convidar os 148 pacientes foram enviadas aos domicílios cartas registradas

informando o propósito do trabalho e agendados os dias e horários para a realização

dos exames de audição. As cartas continham telefones para contato em caso do

paciente apresentar impossibilidade de comparecimento naquele dia e hora sugerido.

Diante das cartas que retornaram informando problemas nos endereços realizaram-

se visitas domiciliares na tentativa de resgatar os casos não localizados, que se

mudaram ou se recusaram a participar da pesquisa. Abaixo, destaca-se a situação

da amostra ao final da coleta.

TABELA 1 – Distribuição da amostra final dos casos de hanseníase – Recife,

2003

Situação da amostra final N % Participaram da pesquisa 71 48,0 Não foram localizados 66 44,6 Negaram-se a participar 11 7,4 Total 148 100,0

É importante destacar que as características epidemiológicas e clínicas encontradas

nos pacientes que não foram localizados e se negaram a participar são equivalentes

à maioria das variáveis pesquisadas na amostra, como pode ser observado no

apêndice A.

4.5. Elenco de variáveis

4.5.1. Variável dependente:

Alterações auditivas: alterações ocorridas na audiometria com a presença de limiares

acima de 20 dB NA na (s) freqüência (s) testada (s).

4.5.2. Variáveis independentes:

Sexo: é referido como sendo feminino ou masculino no momento do nascimento.

Faixa etária: idade, em anos completos, categorizada de 12 a 19 anos, 20 a 29 anos,

30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos.

Unidade/Centro de saúde: representa o local em que o paciente foi registrado

através da ficha de notificação para hanseníase, sendo diagnosticado e tratado.

Distrito sanitário: é uma divisão política-administrativa. Foi determinado através do

bairro residencial que a pessoa informou no preenchimento da ficha de notificação. A

distribuição dos 6 distritos sanitários contendo os seus bairros encontra-se no

apêndice B.

Forma clínica: refere-se à classificação clínica, que pode ser HI, HT, HV, HD ou não

classificada.

Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico: refere-se ao grau de

incapacidade que o paciente apresenta no momento da avaliação médica, sendo

classificada em graus – grau 0, grau I, grau II, grau III, podendo ainda não ser

avaliado ou ignorado na ficha de notificação.

Classificação operacional: é baseada no resultado da baciloscopia, diante de

resultado negativo – PB, resultado positivo – MB.

Baciloscopia: é o resultado do teste bacteriológico relação à presença do bacilo no

material biológico examinado, que pode ser positivo, negativo, não realizado ou

ignorado.

Esquema terapêutico inicial: é o tratamento que foi indicado inicialmente para a

pessoa com hanseníase, de acordo com os esquemas PQT/PB/06 doses,

PQT/MB/12 doses, PQT/MB 24 doses, ROM, ou ignorado.

Resultado da avaliação auditiva: refere-se à conclusão do exame audiométrico,

categorizada em perda auditiva do tipo sensorioneural, quando na audiometria em

qualquer freqüência testada, os limiares auditivos por via aérea e por via óssea estão

iguais e ambos abaixo de 20 dB NA ou quando houver alteração apenas na via aérea

das freqüências de 6000 e 8000 Hz; perda auditiva condutiva, aquela em que os

limiares nas freqüências testadas estão normais por via óssea e abaixos de 20 dB

NA na via aérea, com diferença aéreo-óssea (gap) de pelo menos 15 dB e de no

máximo 60 dB em uma freqüência; perda auditiva mista, quando os limiares obtidos

estão abaixo de 20 dB NA por via aérea e por via óssea, existindo entre estas, uma

diferença de pelo menos 15 dB, ou quando houver presença de componente

condutivo e sensorioneural concomitantemente na mesma curva audiométrica.

Quando não existir perda auditiva, os limiares estão dentro do limite da normalidade,

ou seja, abaixo de 20 dB NA (LOPES FILHO, 1994).

Lateralidade da alteração auditiva: refere-se ao lado das alterações auditivas, que

constam na audiometria, podendo ser bilateral ou unilateral para orelha direita ou

unilateral para orelha esquerda.

Limiares auditivos por freqüências isoladas e agrupadas: é o registro dos limiares (o

mínimo de audição que o sujeito ouve) no audiograma em freqüências de 250 Hz a

8000 Hz.

Queixas auditivas referidas: são os sinais e sintomas relatados ou não pelo paciente

no momento da entrevista, como dificuldade para ouvir, dor, zumbido, ardor,

dificuldade para ouvir associada ao zumbido.

Ruído no trabalho: quando o paciente refere que é possível conversar no ambiente

de trabalho sem a interferência do ruído ambiente.

Doenças gerais associadas: entendidas como aquelas enfermidades que o paciente

tem ou teve e foram citadas na anamnese, como hipertensão arterial, diabetes, aids

e tuberculose.

4.6. Coleta de dados

4.6.1. Dados secundários

As informações epidemiológicas das pessoas que tiveram hanseníase foram obtidas

na base de dados do SINAN em Recife-PE. Somente após a autorização da Diretoria

de Epidemiologia do Município (Secretaria de Saúde de Recife), as variáveis do

estudo foram disponibilizadas em um banco de dados do EPI-INFO 6.04. Assim,

todos os pacientes investigados tiveram as informações retiradas do SINAN, para

posterior análise (APÊNDICE C).

O SINAN foi implantado em todo território nacional a partir das Secretarias Estaduais

de Saúde em 1993, mas, seus bancos de dados foram melhores estruturados em

1995, sendo idealizado para racionalizar o processo de coleta e transferência de

dados relacionados às doenças e agravos de notificação compulsória (CARVALHO,

1998). Portanto, seu objetivo principal é coletar dados sobre agravos de notificação

compulsória no território nacional, podendo ser ativado a partir do município, gerando

informações por distrito e bairro. É a principal fonte da Vigilância Epidemiológica para

desencadear medidas de controle (FERREIRA, 2001).

4.6.2. Dados primários

Com base nos dados do SINAN, os indivíduos sorteados aleatoriamente para

compor a amostra receberam cartas-convite registradas (APÊNDICE D) lhes

convocando para comparecerem à Clínica-Escola do Curso de Fonoaudiologia da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em data e horário definido. Todos os

pacientes foram agendados de acordo com uma ordem previamente estabelecida, no

período de agosto a novembro de 2004. Portanto, fizeram parte dos dados primários,

a entrevista inicial, a meatoscopia e a audiometria tonal.

Previamente às avaliações auditivas propriamente ditas, os pacientes responderam

às entrevistas realizadas pela própria pesquisadora, contendo perguntas fechadas e

abertas relacionadas aos dados clínicos (APÊNDICE E). Posteriormente, foi feita

meatoscopia (inspeção do meato acústico externo), a qual objetivou revelar a

presença ou ausência de obstrução de cerúmen na orelha, condição esta que

impossibilita a realização do exame. Por fim, realizou-se a audiometria tonal.

A audiometria utilizada foi a de tom puro convencional, utilizado rotineiramente no

diagnóstico de perdas auditivas. Foram testadas as freqüências de 1000, 2000,

3000, 4000, 6000, 8000, 500 e 250 Hz, para via aérea e as freqüências de 1000,

2000, 3000, 4000 e 500Hz, para a via óssea. O estímulo do tipo pulsátil foi

apresentado do som para o silêncio (audibilidade para inaudibilidade). O audiômetro

utilizado é da marca DAMPLEX, com dois canais e fones TDH39, com calibração

segundo o padrão ANSI S 3.6, 1989. Realizou-se calibração biológica, ou seja,

verificação do funcionamento geral dos equipamentos antes da realização dos

exames. Os limiares auditivos obtidos até 20 dB NA foram considerados dentro da

normalidade e a classificação do tipo de perda auditiva foi baseada em Lopes Filho

(1994).

4.6.3. Plano de descrição, processamento e análise dos resultados

Para a análise dos dados, utilizou-se o programa Epi-info 6.04, produzido pelo

Centers for Disease Control (CDC).

Nos cálculos da estatística descritiva foram necessários: apresentação tabular e

gráfica (distribuição de freqüências), média aritmética e desvio padrão.

Utilizaram-se os testes da estatística analítica para a análise das associações: risco

relativo, cálculo do intervalo de confiança, teste do Qui-quadrado (através de tabelas

de contingência 2x2 e a correção de Yates), teste de Fisher (quando indicado para

substituir os teste do X2) e teste de t-Student para amostras independentes.

Através das tabelas de dimensão 2x2, envolvendo as alterações auditivas, obteve-se

a razão das proporções de perda e um intervalo de 95% para a proporção da perda

populacional. O nível de significância considerado para a decisão dos testes foi de

5%.

4.7. Controle de bias

Os possíveis bias a serem encontrados: de seleção, de memória, de classificação e

de aferição foram minimizados no desenvolvimento do projeto (durante a coleta de

dados).

O controle do bias de seleção ocorreu à medida que os casos de hanseníase

notificados em 2003 (provindos do banco de dados do SINAN), passaram por uma

seleção aleatória, através de uma amostragem sistemática.

Considera-se que o instrumento de coleta de dados é o elemento de maior controle

no processo de obtenção de informações, quer seja no tocante ao conteúdo, à forma

ou às respostas obtidas com a aplicação, o conteúdo deve ser coerente com o objeto

estudado e a forma, o mais simples possível, evitando-se assim, o uso de palavras

vagas, ambíguas e embaraçantes (ALMEIDA FILHO, 1989). Por isso, a entrevista

elaborada possui perguntas claras e objetivas, aplicadas antes da avaliação auditiva,

constituindo o momento em que serão tomadas todas as precauções para a

obtenção fiel das respostas dos participantes.

Portanto, o bias de memória foi suavizado também a partir dos cuidados durante a

realização das entrevistas por parte da pesquisadora. Já na correspondência houve

informação sobre o objeto do estudo para que os participantes soubessem do que

trata a pesquisa. Isso facilitou para que, se possível, eles referissem informações

relevantes sobre a audição, inclusive, outros exames, se houvesse.

O bias de aferição foi evitado através da calibração biológica dos aparelhos usados

para realização das audiometrias (coleta de dados), sendo feita previamente aos

exames, a aferição em 20 alunos do Curso de Fonoaudiologia da UFPE que

possuíam limiares auditivos dentro da normalidade.

Em relação ao bias de classificação houve a preocupação com todas as

classificações clínicas existentes: da perda auditiva, considerada a sugerida por

Lopes Filho (1994); da hanseníase (forma clínica, avaliação do grau de incapacidade

no diagnóstico e classificação operacional, referidas por meio dos manuais

consultados (JOPLING, McDOUGALL, 1991; BRASIL, 2001; 2002a, 2002b;

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002).

4.8. Considerações Éticas

Após a autorização do Comitê de Ética do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

(CPqAM) (ANEXO A), o projeto foi devidamente encaminhado para a Diretoria de

Epidemiologia do Município do Recife, a fim de se obter o consentimento para o

início da pesquisa, utilizando-se do banco de dados de hanseníase referente ao ano

de 2003.

Somente com a autorização da Secretaria de Saúde do Município, foram iniciados os

procedimentos de coleta de dados, por meio de correspondências enviadas para os

participantes do estudo, com todas as informações relevantes sobre o objeto da

pesquisa.

Aqueles que se dispuseram à realização dos exames assinarão um Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (APÊNDICE F), elaborado em duas vias

(uma para ficar em posse do participante e outra da pesquisadora). Em seguida,

foram feitas as avaliações auditivas (entrevista, meatoscopia e audiometria tonal).

Cada participante avaliado recebeu o resultado de seu exame, bem como orientação

e encaminhamento apropriados, diante das alterações auditivas encontradas.

Para todos os participantes foram fornecidos vales-transporte (ida e volta) e

comprovante de presença somente para aqueles que necessitaram, conforme

comunicado na carta-convite.

5. RESULTADOS

Das 71 pessoas que tiveram hanseníase, 37 pessoas (52%) pertenciam ao sexo

feminino e 34 (48%) ao sexo masculino. A idade mínima foi de 12 anos e a máxima

de 59 anos, sendo a média de 33,5 anos e desvio-padrão de 13,3 anos. A tabela 2

apresenta a distribuição dos pacientes, segundo a idade, verificando-se percentuais

aproximados em cada faixa etária. Percebe-se que a maior dos casos estudados

parte pertencia à faixa etária de 30 a 39 anos (24,0%).

Tabela 2 – Distribuição dos casos de hanseníase, se gundo a faixa etária –

Recife, 2003

Faixa etária (anos) N % 12-19 14 19,7 20-29 15 21,1 30-39 17 24,0 40-49 12 16,9 50-59 13 18,3 Total 71 100,0

Quanto à distribuição das pessoas que tiveram hanseníase, por unidade/centro de

saúde, a maioria dos participantes (39,5%) é ou foi acompanhada pelo Centro de

Saúde Lessa de Andrade (localizado no distrito sanitário IV) confirmando sua posição

como unidade referência no atendimento da hanseníase e a segunda posição foi

para o Centro de Saúde Agamenon Magalhães (localizado no distrito sanitário V)

(TABELA 3).

Do ponto de vista da distribuição das residências das pessoas investigadas segundo

o distrito sanitário, observa-se que a maior parte das pessoas da amostra moravam

no distrito sanitário II (24,0%), seguido pelo distrito sanitário IV (21,1%) e o que

apresentou o menor percentual de pessoas foi o distrito I (7,0%).

Tabela 3 – Distribuição dos casos de hanseníase, se gundo unidade/centro de

saúde – Recife-PE, 2003

Unidade/centro de saúde N % Centro de Saúde Lessa de Andrade¹ 28 39,5 Centro de Saúde Agamenon Magalhães² 14 19,7 Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros³ 9 12,8 Centro de Saúde Clementino Fraga 3 4,2 Unidade Mista 53-Policlínica Arnaldo Marques 3 4,2 PSF Brasilit 3 4,2 PSF Guabiraba 2 2,8 Unidade mista 40-Posto de Dois Unidos 1 1,4 Unidade Mista 36-Posto do Córrego do Deodoro 1 1,4 PSF Aderbal Jurema 1 1,4 PSF Barreiras 1 1,4 PSF Alto do Curió 1 1,4 PSF Córrego da Bica 1 1,4 PSF Alto do Céu 1 1,4 Junta Médica da Prefeitura de Recife 1 1,4 Hospital das Clínicas 1 1,4 Total 71 100,0 1- Distrito sanitário IV 2 - Distrito sanitário V 3 - Distrito Sanitário II

Quanto à forma clínica da hanseníase, verifica-se que o maior percentual, de 33,8%

ocorreu na forma HT, seguido por 31,0% da forma HV. Em relação à avaliação do

grau de incapacidade no diagnóstico, destacam-se o percentual de pessoas

avaliadas no grau 0 (62%), além de 14,1% dos casos não avaliados ou ignorados no

preenchimento da ficha de notificação. A classificação operacional evidenciou que

50,7% das pessoas apresentaram classificação multibacilar e 49,3% classificação

paucibacilar. No exame baciloscópico, 60,6% das pessoas com hanseníase

apresentaram resultado negativo e para o esquema terapêutico inicial 53,6% fez uso

do PQT/MB (38,1% usaram o PQT/MB 12 doses e 15,5% usaram o PQT/MB 24

doses) (TABELA 4).

Tabela 4 – Distribuição dos casos de hanseníase, se gundo a forma clínica, a

avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico, c lassificação operacional,

baciloscopia e esquema terapêutico inicial – Recife , 2003

Variáveis N % Forma clínica Tuberculóide (HT) 24 33,8 Virchowiana (HV) 22 31,0 Dimorfa (HD) 10 14,1 Indeterminada (HI) 09 12,7 Não classificada 06 8,4 Total 71 100,0 Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico

Grau 0 44 62,0 Grau I 13 18,3 Grau II 03 4,2 Grau III 01 1,4 Não avaliado 10 14,1 Total 71 100,0 Classificação operacional Multibacilar 36 50,7 Paucibacilar 35 49,3 Total 71 100,0 Baciloscopia Positivo 43 60,6 Negativo 20 28,2 Não realizado 07 9,8 Ignorado 01 1,4 Total 71 100,0 Esquema terapêutico inicial PQT/PB/06 doses 29 40,8 PQT/MB/12 doses 27 38,1 PQT/MB/24 doses 11 15,5 ROM 02 2,8 Ignorado 02 2,8 Total 71 100,0

A distribuição das 71 pessoas que tiveram hanseníase em 2003 na cidade de Recife-

PE, submetidas à avaliação auditiva, mostra que 38 (54%) apresentaram alteração

de audição, como ilustra o gráfico 1.

Sem alterações auditivas 46% (N = 33)

Com alterações auditivas 54% (N = 38)

GRÁFICO 1 – Distribuição dos casos de hanseníase, s egundo as alterações

auditivas – Recife, 2003

Apenas a freqüência de 1000Hz apresentou diferença estatística significante para a

orelha direita, predominando o resultado biilateral nas audiometrias (TABELA 5).

Tabela 5 – Audiometrias dos casos de hanseníase, po r freqüências, de acordo

com a orelha testada - Recife, 2003

Freqüências Estatísticas Orelha Valor de P Direita Esquerda 250 Média 20,7 19,7 P¹ = 0,270 Desvio-padrão 5,4 5,9 Coeficiente de

variação³ 26,2 30,2

500 Média 20,7 19,4 P¹=0,193 Desvio-padrão 6,1 6,0 Coeficiente de

variação 29,8 31,1

1000 Média 20,2 17,9 P¹=0,045* Desvio-padrão 7,1 6,5 Coeficiente de

variação 35,1 36,5

2000 Média 18,9 17,2 P¹=0,209 Desvio-padrão 7,8 7,5 Coeficiente de

variação 41,1 43,8

3000 Média 18,2 18,1 P¹=0,928 Desvio-padrão 9,7 8,8 Coeficiente de

variação 53,0 48,8

4000 Média 19,3 18,1 P¹=0,450 Desvio-padrão 8,7 10,1 Coeficiente de

variação 44,9 55,5

6000 Média 20,3 19,1 P¹=0,526 Desvio-padrão 11,1 11,3 Coeficiente de

variação 54,9 59,1

8000 Média 17,1 17,5 P¹=0,825 Desvio-padrão 10,7 11,9 Coeficiente de

variação 62,8 67,8

* Diferença significativa em nível de 5% 1 – Teste de t-Student para amostras independentes 2 – Medidas em dB 3 – Medidas em percentual (%)

O resultado audiológico mais encontrado foi o sensorioneural (50,7%), sendo a

lateralidade bilateral a mais evidente (81,6%). Em relação aos itens investigados na

entrevista, houve 56,3% que negaram a existência de queixas auditivas; 83,1% que

afirmaram não trabalhar em ambiente ruidoso e 81,7% que não referiram a presença

de doenças gerais associadas (TABELA 6).

Tabela 6 – Distribuição dos casos de hanseníase, se gundo resultado da

avaliação auditiva, queixas auditivas referidas, ru ído ocupacional, doenças

gerais associadas – Recife, 2003

Variáveis N % Resultado da avaliação auditiva Perda sensorioneural 36 50,7 Audição normal 33 46,4 Perda mista 02 2,8 Total 71 100 Lateralidade da alteração auditiva Bilateral 31 81,6 Unilateral para orelha direita 04 10,5 Unilateral para orelha esquerda 03 7,9 Total 38 100,0 Presença de queixas auditivas Não 40 56,3 Sim 31 43,7 Total 71 100 Queixas referidas Dificuldade para ouvir 14 45,2 Dor 05 16,1 Ardor 05 16,1 Dificuldade para ouvir e prurido 04 12,9 Zumbido 03 9,7 Total 31 100,0 Ruído ocupacional Não 59 83,1 Sim 12 16,9 Total 71 100,0 Presença de doenças gerais Não 58 81,7 Sim 13 18,3 Total 71 100,0 Doenças gerais associadas Hipertensão arterial 04 30,8 Diabetes 04 30,8

Tuberculose 03 23,0 Aids 01 15,4 Total 13 100,0

O gráfico 2 ilustra as médias das intensidades (em dB) por freqüência (em Hz),

segundo as orelhas (direita e esquerda) de todos os casos de hanseníase com perda

auditiva.

GRÁFICO 2 – Distribuição das médias das audiometria s, por freqüências

agrupadas e por orelha dos casos de hanseníase com perda auditiva – Recife,

2003

A tabela 7 mostra 32,4% pessoas do sexo feminino e 21,1% do sexo masculino com

alteração auditiva (P>0,05). Quanto à presença de alterações auditivas segundo a

faixa etária, observa-se o percentual de 70,6% para a faixa etária entre 30 e 39 anos,

(média de 36,92 e desvio-padrão de 11,21). O maior percentual sem alteração

0

5

10

15

20

25

30

250Hz 500Hz 1000Hz 2000Hz 3000Hz 4000Hz 6000Hz 8000Hz Freqüências (Hz)

Méd

ias

das

audi

omet

rias

(dB

)

Esquerdo Direito

auditiva (92,9%) foi para a faixa etária entre 12 e 19 anos, média de 29,55 e desvio-

padrão de 14,48.

Tabela 7 – Alterações auditivas nos casos de hansen íase, segundo o sexo e a

faixa etária (anos) – Recife, 2003

Variáveis Alterações auditivas Sim Não Total N % N % N % Sexo 1 Feminino 23 32,4 14 19,7 37 52,1 Masculino 15 21,1 19 26,8 34 47,9 Total 38 53,5 33 46,5 71 100 Faixa-etária (anos) 2

12-19* 01 7,1 13 92,9 14 19,7 20-29* 10 66,7 05 33,3 15 21,1 30-39 12 70,6 05 29,4 17 24,0 40-49 07 58,3 05 41,7 12 16,9 50-59 08 61,5 05 38,5 13 18,3 Total 38 53,5 33 46,5 71 100 1 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,198/RP = 1,41; IC = 0,8 a 2,22 2 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,004/RP = 0,11; IC = 0,02 a 0,73

A perda auditiva sensorioneural foi a mais encontrada nas audiometrias na faixa

etária entre 30 e 39 anos (70,6%) (P< 0,05) (TABELA 8).

Tabela 8 – Resultados da avaliação auditiva dos cas os de hanseníase, segundo

a faixa etária – Recife, 2003

Resultados da avaliação auditiva Faixa etária (anos) Sensorioneural* Mista Audição normal* TOTAL N % N % N % N % 12-19* 01 7,1 - - 13 92,9 14 19,7 20-29 * 10 66,7 - - 05 33,3 15 21,1 30-39 12 70,6 - - 05 29,4 17 24,0 40-49 06 50,0 01 8,3 05 41,7 12 16,9 50-59 07 53,8 01 7,7 05 38,5 13 18,3 Total 36 50,7 02 2,8 33 46,5 71 100,0 * Teste do Qui-quadrado: P = 0,004/ RP = 0,11; IC = 0,02 a 0,73

As maiores casuísticas de alteração auditiva ocorreram para a forma clínica HT

(66,7%; P>0,05); para o grau I de incapacidade no diagnóstico (69,2%; P>0,05); para

a classificação operacional do tipo MB (66,7%; P<0,05); para a baciloscopia negativa

(55,9%; P>0,05) e para o esquema terapêutico inicial (PQT/MB;P>0,05) (TABELA

10).

Tabela 9 – Alterações auditivas nos casos de hansen íase, segundo a forma

clínica, a avaliação do grau de incapacidade no dia gnóstico, a classificação

operacional, a baciloscopia e o esquema terapêutico inicial– Recife, 2003

Variáveis Alterações auditivas Sim Não Total N % N % N % Forma clínica 1 Tuberculóide (HT) *

16 66,7 08 33,3 24 33,8

Dimorfa (HD)* 05 50,0 05 50,0 10 14,1 Indeterminada (HI)

04 44,4 05 55,6 09 12,7

Virchowiana (HV)

09 40,9 13 59,1 22 31,0

Não classificada 04 66,7 02 33,3 06 8,4 Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 Grau de incapacidade no diagnóstico 2

Grau 0* 22 50 22 50 44 62,0 Grau I * 09 69,2 04 30,7 13 18,3 Grau II 01 33,3 02 66,7 03 4,2 Grau III - - 01 100 01 1,4 Não avaliado 06 60,0 04 40,0 10 14,1 Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 Classificação operacional 3

MB 24 66,7 12 33,3 36 50,7 PB 14 40,0 21 60,0 35 49,3 Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 Baciloscopia 4 Negativo* 24 55,8 19 44,2 43 60,6 Positivo* 09 45,0 11 55,0 20 28,1 Não realizado 03 42,9 04 57,1 07 9,9 Ignorado 01 100,0 - - 01 1,4

Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 Esquema terapêutico inicial 5

PQT/PB/06 doses *

12 41,4 17 58,6 29 40,9

PQT/MB/12 doses *

18 66,7 09 33,3 27 38,0

PQT/MB/24 doses *

06 54,5 05 45,5 11 15,5

ROM 01 50,0 01 50,0 02 2,8 Não informado 01 50,0 01 50,0 02 2,8 Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 1 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,6/ RP = 1,33; IC = 0,67 a 2,64 2 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,36/ RP = 0,72; IC = 0,45 a 1,15 3 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,043/ RP = 1,67; IC = 1,04 a 2,66 4 – *Teste do Qui-quadrado: P= 0,6/RP = 1,24; IC = 0,71 a 2,16 5 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,16

A seguir, observa-se que para os 31 casos que referiram queixas auditivas na

entrevista, 71,0% apresentaram alteração auditiva (P<0,05). Observa-se que 45,2%

queixaram-se de dificuldade para ouvir e destes, 78,6% tiveram perda auditiva.

Todos os casos com ardor e zumbido tiveram alterações auditivas, comprovadas

pelo exame audiométrico. Quanto à presença de ruído ocupacional, dentre as 12

pessoas que alegaram trabalhar em ambientes com ruído, houve 75% com perda

auditiva (P>0,05). Percebe-se que as alterações auditivas foram 38% mais elevadas

nos casos de presença de doenças gerais (84,6%; P>0,05). Em relação às principais

doenças, percebe-se que dos 14 (18,3%) pacientes que referiram possuir doenças, a

hipertensão arterial esteve presente em 30,8% dos pacientes, sendo que 75%

destes, tiveram alteração auditiva. Não foram realizados testes estatísticos em

virtude do pequeno número de casos para cada doença, que pudessem justificar a

associação entre tais variáveis.

Tabela 10 – Alterações auditivas nos casos de hanse níase, segundo presença

de queixas auditivas, queixas referidas, ruído no t rabalho, presença de

doenças gerais e doenças gerais associadas– Recife , 2003

Variáveis Alterações auditivas Sim Não Total N % N % N % Presença de queixas auditivas 1

Não 16 40,0 24 60,0 40 56,3 Sim 22 71,0 09 29 31 43,7 Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 Queixas referidas 2

Dificuldade para ouvir*

11 78,6 03 21,4 14 45,2

Dor* 02 40,0 03 60,0 05 16,1 Ardor 05 100,0 - - 05 16,1 Dificuldade para ouvir e prurido

02 50,0 02 50,0 04 12,9

Zumbido 03 100,0 - - 03 9,7 Total 22 74,2 08 25,8 31 100,0 Ruído no trabalho 3

Não 09 75,0 03 25,0 12 16,9 Sim 29 49,1 30 50,9 59 83,1 Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 Presença de doenças gerais 4

Não 27 46,6 31 53,4 58 81,7 Sim 11 84,6 02 15,413 43 18,3 Total 38 53,5 33 46,5 71 100,0 Doenças gerais associadas 5

Hipertensão arterial*

03 75,0 01 25,0 04 30,8

Diabetes* 04 100,0 - - 04 30,8 Tuberculose 02 66,7 01 33,3 03 23,0 Aids 02 100,0 - - 01 15,4 Total 11 84,6 02 15,4 13 100,0 1 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,018/RP = 1,77;IC = 1,14 a 2,76 2 – *Teste do Qui-quadrado: P = 0,3/ RP = 1,96; IC = 0,65 a 5,95 3 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,18/RP = 0,66; IC = 0,43 a 0,99 4 – Teste do Qui-quadrado: P = 0,03/RP = 0,55; IC = 0,38 a 0,79 5 – *Teste do Qui-quadrado: P = 1,0/RP = 0,75; IC = 0,43 a 1,32

6. DISCUSSÃO

A hanseníase é uma doença antiga que carrega em sua história as marcas do

desprezo, do preconceito e a imagem de um mal incurável. Estima-se que no período

compreendido entre 2000 e 2005 existam mais de dois milhões de casos da doença

em todo o mundo (BRASIL, 2005).

A partir da dapsona e seus derivados, a cura tornou-se possível e atualmente, seu

tratamento engloba uma associação de medicamentos, a poliquimioterapia. Para a

saúde pública a hanseníase é um problema com alguns desafios a serem vencidos.

As seqüelas podem ser minimizadas, quando realizados o diagnóstico precoce e o

tratamento adequado. Mas, ainda hoje, há uma forte associação entre hanseníase e

pobreza, como a falta de higiene e as condições mínimas de vida. Além disso, várias

pessoas já curadas, permanecem seqüeladas (BRASIL, 2001).

As investigações revelam que a doença continua a incidir em maior proporção entre

homens, embora nos últimos anos, a diferença entre os sexos tenha diminuído,

acometendo mulheres em plena capacidade de reprodução (OLIVEIRA; GOMES,

2000). Embora a maior parte dos estudos revelem que a influência do sexo é variável

para cada região ou país, as mulheres parecem ter uma resposta imune mais efetiva

contra a infecção do que os homens, como revelam Ura e Opromolla (2000). No

entanto, observa-se que no presente estudo, do total de 71 diagnosticados com

hanseníase, 52% pertencia ao sexo feminino.

Pode-se explicar o maior número da amostra pesquisada pertencer ao sexo

feminino, pelo fato de haver maior preocupação das mulheres com a saúde, assim,

ao receberem as cartas-convite, elas tendem a comparecer para a realização das

avaliações auditivas. Como afirma Gregório (1999), é da mulher a tarefa de conduzir

ao serviço de saúde os seus familiares, estando, portanto, mais informada e

disponível ao diagnóstico da própria doença e de suas conseqüências. Os homens,

geralmente, são mais temerosos em relação aos seus problemas de saúde. No

presente trabalho, do total de 38 pessoas investigadas com alteração auditiva, 23

eram do sexo feminino. No entanto, concordando com Nogueira (2000) não existe

influência dos sexos na determinação da hanseníase.

Quanto à faixa etária, o Brasil possui menor quantidade de casos em crianças do que

em adultos em comparação a países como Índia e Havaí. Mas, a influência da idade,

assim como ocorre com o sexo, é também variável (URA; OPROMOLLA, 2000). A

faixa etária de 12 a 19 anos foi a que possuía menos casos de alteração auditiva

(7,1%), enquanto a de 30 a 39 anos (24,0%) foi a que apresentou maior

comprometimento na audição (70,6%), indo de acordo com os achados de Koyuncu

et al. (1994), que também evidenciou maior números de casos de alteração auditiva

na faixa etária acima de 30 anos.

Considerando os percentuais encontrados, houve 92,9% de pessoas entre 12 e 19

anos que não apresentaram alteração de audição, em contrapartida, existiu cerca de

70,6% e 66,7% de pessoas entre 30 e 39 anos e entre 20 e 29 anos,

respectivamente, que apresentaram perda auditiva, o que comprova a associação

estatisticamente significante entre a faixa etária e as alterações auditivas nos casos

investigados de hanseníase, ou seja, com o avançar da idade, a partir dos 20 anos

até os 39 anos existiu maior possibilidade de encontrar-se alteração auditiva entre os

casos de hanseníase avaliados.

Mesmo tendo sido eliminado à influência da presbiacusia, excluindo-se aqueles

pacientes com mais de 59 anos, a partir dos 30 anos existe uma concomitância de

doenças metabólicas e cardiovasculares que podem ocasionar alterações auditivas,

dependendo da susceptibilidade individual, da gravidade da doença, do diagnóstico

precoce, bem como tratamento adequado (MAUDONNET; FRANCIS; MAUDONNET,

1999). Os estudos realizados por Mann et al. (1987) e Singh et al. (1984) também

evidenciaram maior número de casos de alteração auditiva em pacientes com

hanseníase na faixa etária acima de 30 anos.

Em relação ao resultado da avaliação auditiva de acordo com a faixa etária, o tipo de

alteração auditiva mais freqüente na faixa etária de 30 a 39 anos foi o sensorioneural

(61,9%), o qual pode ser dividida em surdez de percepção (na cóclea) e surdez

retrococlear (no nervo auditivo e vias auditivas centrais), embora para tal

topodiagnóstico seja preciso a realização dos testes audiométricos supralimiares, da

audiometria de tronco cerebral, além de estudos radiológicos (MINITE; BENTO;

BUTUGAN, 2000).

A distribuição da amostra pesquisada de acordo com os distritos sanitários, seguindo

o local da residência, mostra que o distrito sanitário II foi o que apresentou maior

número de casos de hanseníase (24,0%), seguido pelo distrito sanitário IV (21,1%),

enquanto o distrito I foi o que apresentou menos pessoas com hanseníase (7,0%).

Estudos da Diretoria de Epidemiologia e Vigilância à Saúde (RECIFE, 2004) em

relação ao ano de 2003, mostram uma inversão na primeira posição, possuindo o

distrito sanitário IV, 22,6% dos casos e o distrito II, 22,3%. Provavelmente tal

inversão na primeira posição deve-se ao fato de que nesses estudos, foi considerado

o distrito sanitário do paciente pelo local de realização do tratamento e não pela sua

residência. Dessa forma, localiza-se no distrito sanitário IV o Centro de Saúde Lessa

de Andrade, uma unidade referencial para o atendimento da hanseníase no

município.

A forma clínica da doença predominante foi a HT (33,8%), seguida pela HV (31%);

tais resultados estão próximos aos de Gregório (1999), onde a forma HT foi a mais

comum num período estudado de 10 anos. Sabe-se que quanto mais alto a

proporção de casos HT em relação aos demais, maior a endemia, apontando para o

acometimento de indivíduos imunologicamente competentes. Enquanto o aumento

dos coeficientes da HI significa uma melhora nas ações de busca e controle da

doença, sendo um indicador bastante utilizado para medir a precocidade da detecção

de casos novos com menores riscos de seqüela (PEREIRA, 1995), o que não foi

evidenciado no presente estudo, pois houve apenas 12,7% da forma HI em

comparação com as outras formas. O maior número de casos (66,7%) com perda

auditiva corresponderam a HT, provavelmente por conta dessa forma clínica ser a

mais encontrada no estado, como afirma Gregório (1999).

Sabe-se que a classificação do grau de incapacidade física do doente é feita através

da avaliação neurológica, que deve ser realizada ao final do processo de diagnóstico

da doença (BRASIL, 2001). Como foi mostrado em relação a esta avaliação, o maior

percentual, de 62% foi para o grau 0, significando que mais da metade da amostra

estudada não possuía incapacidade neural nos olhos, nas mãos ou nos pés. Esse

resultado merece desataque porque, na verdade, muitos profissionais no momento

do diagnóstico, freqüentemente avaliam seus pacientes com grau de incapacidade 0,

sem, no entanto, realizar exame físico mais detalhado (NASCIMENTO, 2001).

A classificação do grau de incapacidade seria um excelente indicador da precocidade

do diagnóstico, se fosse realmente confiável, demonstrando que em Recife o

programa de controle da hanseníase vem conseguindo detectar, em tempo, os casos

da doença, antes de maiores complicações (como aumento do grau de incapacidade

física). Sem dúvida, as incapacidades constituem o principal problema decorrente da

hanseníase, por isso, a avaliação é fundamental também por identificar todos os

fatores de risco envolvidos e, assim, acompanhar os pacientes com maiores riscos

(PIMENTEL et al., 2003).

Evidenciou-se que a classificação operacional mais encontrada na amostra estudada

foi a MB. Essa classificação da doença baseia-se no número de lesões, podendo

utilizar-se da baciloscopia, quando disponível; é indicada para o tratamento

poliquimioterápico e é recomendada para as unidades básicas de saúde (BRASIL,

2001). As alterações auditivas foram mais freqüentes nos casos MB (P<0,05).

Apesar dessa classificação englobar pacientes dimorfos e virchowianos e existir no

presente trabalho um maior número de casos da forma clínica tuberculóide, é sabido

que existe uma recomendação para diante de dúvidas na classificação pelo número

de lesões de pele, que o paciente seja considerado como MB.

Informação que deverá ser analisada diante do maior número de casos encontrados

pertencerem ao tipo MB, refere-se ao fato de que as formas MB têm grande

responsabilidade epidemiológica na transmissão da doença, enquanto as pessoas

que têm contato intra domiciliar com pacientes PB estão 2 vezes mais propensas a

contrair a doença do que os sem-contato, as pessoas em contato com os casos MB

correm o risco de 4 a 10 vezes maior (QUEIROZ; PUNTEL 1997).

O esquema terapêutico inicial para o tratamento da hanseníase evidenciou que mais

da metade da amostra pesquisada foi tratada pelo esquema PQT/MB (53,6%),

acordando com o resultado da classificação operacional MB (50,7%). Por serem

portadores de uma maior quantidade de bacilos, esses casos recebem um número

maior de medicamentos do que os PB e são tratados durante um período mais longo

(BRASIL, 2001).

Do total de 38 pessoas com alteração auditiva, 24 pessoas usaram o esquema

PQT/MB e 12 o PQT/PB (P>0,05). É necessário comentar que esses resultados

confirmam aqueles estudos realizados pelo Ministério da Saúde sobre os efeitos

colaterais das drogas usadas no tratamento da doença, de que não há qualquer

aspecto relacionado à presença de substâncias tóxicas para a orelha (ototoxidade).

Inclusive, Jopling (1985) refere que todas as reações adversas e efeitos colaterais da

PQT são conhecidos, não havendo nenhuma referência na literatura que indique

presença de ototoxidade. Awasthi et al. (1990) estudaram um grupo de doentes que

se submeteram ao tratamento no período de 1 ano e não houve evidências de que

as drogas ocasionaram prejuízo à audição.

A perda auditiva sensorioneural foi o resultado predominante das audiometrias

(50,7%) de todos os pacientes investigados. Para Singh et al. (1984), a perda

auditiva sensorioneural é a mais freqüente em pacientes com hanseníase, com

queda maior para freqüências agudas, estando as outras também prejudicadas. Tais

autores acreditam que a perda condutiva está presente quando associada às

alterações rinológicas, as quais seriam as responsáveis pelos quadros de otites

médias. No estudo realizado por Arini, Shehata e Zeid (1970), o maior percentual

também foi para os casos de perda auditiva sensorioneural e o único caso de perda

condutiva foi devido à otite média crônica supurativa.

Para Sacheri (1963), as alterações condutivas são mais comuns na forma clínica HV

e as sensorioneurais na forma HT. Quanto maiores os processos infecciosos na

rinofaringe, mais intensas são as queixas como a diminuição auditiva e os zumbidos.

Os exames realizados por este autor não demonstraram presença do M. leprae nas

secreções da orelha média. Portanto, percebe-se que a literatura refere relação entre

a HV e a presença de alteração auditiva condutiva. Sabe-se que essa forma clínica

se caracteriza por infiltração difusa de lesões na face e pavilhões auriculares,

constituindo, principalmente, nos estados reacionais, uma doença sistêmica com

manifestações viscerais importantes, o que justifica a perda auditiva condutiva. Neste

trabalho, 31% pertenciam à forma clínica HV, sendo que, 40,9% apresentou perda

auditiva; os 2 únicos casos que tiveram perda auditiva mista pertenciam exatamente

à forma HV, o que reforça ainda mais a relação entre alteração condutiva com a

forma clínica HV.

Sacheri (1963) refere que todo dano causado ao ouvido pela hanseníase decorre por

causa dos processos infecciosos originados das vias aéreas superiores que se

estendem para a orelha média por meio da tuba auditiva. Mas, até a última década, a

maioria das pesquisas é unânime em afirmar que o envolvimento da hanseníase na

audição é coclear (MANN et al., 1987).

O resultado de lateralidade nas alterações auditivas aponta para 81,6% bilateral.

Esse achado condiz com os estudos realizados por Awasthi et al. (1990) que

encontraram 10 casos com perda auditiva sensorioneural bilateral, dentre 16 no total

com alteração de audição. O prejuízo auditivo é atribuído por estes autores a própria

doença. Sua conclusão equivale aos achados do presente estudo, verificando-se que

os limiares auditivos se mantiveram próximos em todas as freqüências. Apesar de ter

havido piores limiares auditivos para a orelha direita, percebe-se que houve uma

variação pequena entre as médias de cada freqüência, comparando as duas orelhas.

Quanto à presença de queixas auditivas na amostra pesquisada, percebe-se que

43,7% da amostra apresentaram queixas auditivas e destes, 71% tiveram perda

auditiva (P<0,05). Considerando que existe óbvia relevância entre as queixas

apresentadas pelo paciente e os resultados audiométricos, é imprescindível que se

dê a devida importância para tais problemas, à medida que podem ser sugestivas de

um comprometimento na audição. Nesse caso, os profissionais de saúde precisam

encaminhar para os serviços de Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia, todos aqueles

pacientes com hanseníase que apresentarem quaisquer queixa relacionada à

audição.

A queixa de dor, assim como a de ardor referida cada uma por 16,1% dos pacientes,

difere dos principais sintomas relatados por Arini, Shehata e Zeid (1970) e Mann et

al. (1987), que encontraram a diminuição auditiva, o zumbido e a vertigem como

principais sintomas correlacionados à hanseníase. Entretanto, é possível que

infiltrados da doença localizem-se no lóbulo da orelha, aparecendo nos primeiros

estados da doença ou posteriormente (SACHERI, 1963) e, provavelmente, estas

lesões explicariam a presença da dor e do ardor que muitos doentes referem sentir.

O diabetes, a hipertensão, a tuberculose e a aids são as doenças associadas

identificadas. Dentre as patologias que podem se instalar e lesar a orelha interna ou

as vias auditivas, Hungria (1995) relata que as perdas auditivas sempre se

relacionam ao local afetado pela doença e na orelha interna, o diabetes mellitus

inclui-se como uma das causas pós-natais mais freqüentes para a surdez, além de

ser um fator de predisposição para a surdez súbita. Segundo Azevedo et al. (1985),

dentre as alterações endócrinas mais comuns que se relacionam com as perdas

auditivas estão o diabetes mellitus e a hipertensão. A tuberculose é uma doença

bacteriana que atinge primordialmente os pulmões, mas pode propagar-se para

outros órgãos secundariamente, como a orelha (PINHO; KOS, 2003). Ainda existe a

possibilidade do efeito tóxico das drogas utilizadas no seu tratamento, as quais

poderão trazer conseqüências desastrosas para a audição e para o sistema

vestibular, como indaga Lima (2003).

O percentual de pessoas que possuía doenças gerais associadas foi de 16,9%,

destas, 84,6% apresentaram alteração auditiva (P<0,05). Entretanto, considerando

que algumas afecções podem causar alterações auditivas, é necessário que outras

pesquisas sejam desenvolvidas.

O presente estudo aborda um tema novo relacionado à hanseníase no Brasil, a

possibilidade de alteração auditiva. Sem dúvida, é um problema que o Sistema de

Saúde terá que resolver, por meio de ações ofertadas em serviços especializados de

Otorrinolaringologia/ Fonoaudiologia. Os achados apontam para a necessidade de

mais investigações, tendo em vista que os resultados são “desafiadores”.

Se faz parte do Programa de Controle da Hanseníase minimizar as seqüelas que a

doença pode deixar no indivíduo, torna-se imprescindível realizar também um

acompanhamento de todos os sintomas que os pacientes venham a queixar-se,

inclusive os auditivos, porque essas pessoas, convivem com sérios problemas no

seu cotidiano, sendo importante evitar mais uma dificuldade, no caso, a de ouvir.

7. COMENTÁRIOS FINAIS

Percebe-se, pela descrição dos principais aspectos epidemiológicos e auditivos

relacionados a um grupo de pessoas diagnosticadas com hanseníase, no ano de

2003 na cidade de Recife, que houve associação estatística entre alterações

auditivas e as seguintes variáveis: faixa etária; faixa etária e tipo de perda, com

predominância da perda auditiva do tipo sensorioneural para as idades mais

avançadas; classificação operacional do tipo MB; queixas auditivas e doenças gerais

associadas.

A partir do percentual (54%) encontrado de perda auditiva, deve-se considerar que

um problema auditivo poderá comprometer muitas atividades diárias como manter

um diálogo, escutar TV ou programações em público, conversar em lugares com

ruído ambiente, usar o telefone, etc. Tais dificuldades parecem simples quando

descritas, mas são muito importantes na rotina de qualquer pessoa, acarretando em

limitações que prejudicam, sem dúvida, sua qualidade de vida.

Sugere-se como fundamental a existência de um monitoramento auditivo para a

hanseníase. Isto implicaria na presença de um serviço especializado de

Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia nos serviços de referência para realização de

avaliações auditivas nas pessoas diagnosticadas com hanseníase, justificado pelo

alto percentual de perda auditiva encontrado na amostra investigada.

Portanto, é preciso um olhar diferenciado para a realização de avaliações auditivas

para os casos de hanseníase, principalmente àqueles compreendidos entre a faixa

etária de 20 a 40 anos, pertencentes à classificação operacional MB, à forma clínica

HT e que apresentam queixas relacionadas à audição, não esquecendo de que em

todos os casos, deve haver preocupação com os aspectos auditivos.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9. APÊNDICES

APÊNDICE A:

Tabela 12- DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS NÃO PARTICIPANTES SEGUNDO AS

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E AUDITI VAS – RECIFE,

2003

Variáveis N % Sexo Feminino 42 54,5 Masculino 35 45,5 Total 77 100,0 Faixa etária 12-19 16 20,8 20-29 19 24,7 30-39 22 28,5 40-49 10 13,0 50-59 10 13,0 Total 77 100,0 Centro/Unidade de saúde Centro de Saúde Lessa de Andrade 32 41,5 Centro de Saúde Agamenon Magalhães 16 20,8 Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros

10 13,0

Demais 19 24,7 Forma clínica Tuberculóide (HT) 28 36,3 Virchowiana (HV) 20 26,0 Dimorfa (HD) 11 14,3 Demais 18 23,4 Total 77 100,0 Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico

Grau 0 49 63,6 Grau I 11 14,3 Demais 17 22,1 Total 77 100,0 Classificação operacional Multibacilar 41 53,2 Paucibacilar 36 46,8 Total 77 100,0 Baciloscopia Positivo 45 58,4 Negativo 22 28,6 Outros 10 13,0

Total 77 100,0 Esquema terapêutico inicial PQT/MB 51 66,2 PQT/PB 22 28,6 Outros 04 5,2 Total 77 100,0

APÊNDICE B: DISTRIBUIÇÃO DOS DISTRITOS SANITÁRIOS S EGUNDO OS

BAIRROS EM RECIFE-PE

Quadro 1 - DISTRIBUIÇÃO DOS DISTRITOS SANITÁRIOS SE GUNDO OS

BAIRROS EM RECIFE-PE

Distrito Sanitário Bairros Distrito Sanitário I Boa Vista, Cabanga, Coelhos Ilha Joana

Bezerra, Ilha do Leite, Paissandu, Recife, Santo Amaro, Santo Antônio, São José e Soledade

Distrito Sanitário II Arruda, Campina do Barreto, Campo Grande, Encruzilhada, Hipódromo, Peixinhos, Ponto de Parada, Rosarinho, Torreão, Água Fria, Alto Santa Terezinha, Bomba do Hemetério, Cajueiro, Fundão, Porto da Madeira, Beberibe, Dois unidos e Linha do Tiro

Distrito Sanitário III Aflitos, Alto do Mandu, Apipucos, Derby, Dois Irmãos, Espinheiro, Graças, Jaqueira, Monteiro, Parnamirim, Poço, Santana, Sítio dos Pintos, Tamarineira, Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho, Mangabeira, Morro da Conceição, Vasco da Gama, Brejo da Guabiraba, Brejo de Beberibe, Córrego do Jenipapo, Guabiraba, Macaxeira, Nova Descoberta, Passarinho, Pau Ferro, Casa Amarela e Casa Forte

Distrito Sanitário IV Cordeiro, Ilha do Retiro, Iputinga, Madalena, Prado, Torre e Zumbi, Engenho do meio, Torrões, Caxangá, Cidade Universitária e Várzea

Distrito Sanitário V Afogados, Areias, Barro, Bongi, Caçote, Coqueiral, Curado, Estância, Jardim São Paulo, Jiquiá, Mangueira, Mustardinha, San Martin, Sancho, Tejipió e Totó

Distrito Sanitário VI Boa Viagem, Brasília Teimosa, Cohab, Ibura, Imbiribeira, Ipsep, Jordão e Pina

APÊNDICE C – FICHA DE DADOS RETIRADOS DO SINAN

No. de ordem da pesquisa ________

Unidade ou outra fonte notificadora _________________

Sexo: ( ) feminino ( ) maculino

Idade: ( )12-19anos ( )20-29 anos ( ) 30-39 anos ( )40-49 anos ( )50-

59 anos

Forma clínica: ( ) hanseníase indeterminada/HI ( ) hanseníase tuberculóide/HT

( ) hanseíase virchowiana/HV ( ) hanseníase dimorfa/HD ( ) não classificada

Avaliação do grau de incapacidade no diagnóstico: ( ) grau 0 (1) ( )grau I (2)

( )grau II ( )grau III ( )não avaliado ( ) ignorado

Classificação operacional: ( ) paucibacilar ( ) multibacilar ( ) ignorado

( ) não avaliado ( ) ignorado

Baciloscopia: ( ) positiva ( ) negativa ( ) não realizada ( ) ignorada

Esquema terapêutico inicial: ( ) PQT/PB/6doses (1) ( )PQT/MB/12 doses (2)

( ) PQT/MB/24 doses ( ) ROM ( ) ignorado

APÊNDICE D – CARTA-CONVITE AO PARTICIPANTE

Prezado (a) senhor(a):

Através do Programa Nacional de Controle de Hanseníase do Ministério da

Saúde, tivemos conhecimento que o (a) senhor (a) vem sendo ou foi acompanhado

para o tratamento desta doença. Considerando que a hanseníase poderá estar

associada a alguns problemas de saúde, vimos por meio desta, solicitar seu

comparecimento à Clínica de Audiologia do Curso de Fonoaudiologia da UFPE, para

realizarmos uma investigação na sua audição (exames no ouvido), gratuitamente.

A clínica de Fonoaudiologia está situada na Av. Prof. Artur de Sá (atrás do

Hospital das Clínicas), s/n, Bairro: Cidade Universitária, Recife-PE.

O seu atendimento foi agendado para o dia ____de __________ de 2004

entre ______e ______. Caso haja impossibilidade nesta data e/ou horário, você

poderá marcar uma outra, o telefone para contato ou esclarecimento de dúvidas é:

2126-8929.

Procurar a Fonoaudióloga Rita Rodrigues.

Se você possuir informações importantes e/ou exames relacionados a sua

audição, favor trazer na data marcada.

Caso compareça em horário de trabalho, serão fornecidos declaração de

comprovação da sua presença e vale-transporte tipo A ida e volta.

_______________________________________

Assinatura do responsável

Recife, ____________________________

FIOCRUZ

Ministério da SaúdeCentro de Pesquisas

AGGEU MAGALHÃES

APÊNDICE E - ENTREVISTA

I – Você tem algum problema atual no ouvido? ( ) não ( ) dificuldade para

ouvir ( ) dor ( ) zumbido ( ) ardor ( ) prurido (coceira) ( )

dificuldade para ouvir e zumbido ( ) outros

________________________________________________

II – Há quanto tempo? ( ) de 1a a 2 a ( ) de 2a a 3a ( ) de 3a a 4a ( )

mais de 4a ( ) não se aplica

III – Você se enquadra em uma dessa situações?

( ) não ( ) já fez cirurgia no ouvido ( ) tem uma doença no ouvido

( ) possui hábitos prejudiciais como uso de walkman, pratica vôo livre, mergulho, tiro

ao alvo, vai a boates e shows e boates com freqüência. Qual destes?

____________________

IV – Onde você trabalha tem ruído (barulho)? ( ) sim ( ) não

V – Qual a sua ocupação? __________________________

VI – Você possui alguma dessas doenças abaixo? ( ) não ( ) hipertensão

( ) diabetes ( ) AIDS ( ) tuberculose

( ) Outras__________________

APÊNDICE F - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO (TCLE)

Eu,________________________________________________,RG____________,

Participarei voluntariamente da pesquisa intitulada “Hanseníase: características

epidemiológicas e auditivas”, desenvolvida pela mestranda Rita de Cássia

Rodrigues, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/NESC/Fundação Oswaldo

Cruz.

Segundo me foi informado este trabalho tem o propósito de investigar a hanseníase

e a audição de pessoas que tiveram a doença em 2003 e caso apresente qualquer

alteração auditiva, serei orientado e devidamente encaminhado para

acompanhamento adequado na Clínica de Audiologia do Curso de Fonoaudiologia

da UFPE.

Voluntariamente, participarei da entrevista e da avaliação auditiva, exame que me foi

dito ser de rápida execução, simples e indolor, sem nenhum ônus da minha parte.

Autorizo a pesquisadora a conservar sob sua guarda, os resultados dos exames,

com objetivo de estudos futuros. Autorizo ainda a utilização das informações sobre

meu caso em congressos, reuniões e publicações científicas, desde que seja

garantido o sigilo na minha identificação.

Este termo de consentimento me foi apresentado e entendi perfeitamente seu

conteúdo. Estou ciente de que poderei recusar ou retirar meu consentimento, em

qualquer momento da investigação, sem qualquer penalidade.

Recife, _____________________________________

___________________________ _______________________________

Participante Pesquisadora

(Rita de Cássia Rodrigues)

FIOCRUZ

Ministério da SaúdeCentro de Pesquisas

AGGEU MAGALHÃES

10. ANEXO

ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA