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99 DEBATER A EUROPA Periódico do CIEDA e do CIEJD, em parceria com GPE, RCE e o CEIS20. N.1 Junho/Dezembro 2009 – Semestral ISSN 1647-6336 Disponível em: http://www.europe-direct-aveiro.aeva.eu/debatereuropa/ Hidro/morfologia da Ria de Aveiro: alterações de origem antropogénica e natural João Miguel Dias Professor Auxiliar do Departamento de Física da UA Resumo É objectivo deste trabalho apresentar os resultados de alguns estudos efectuados pelo Grupo de Modelação Estuarina do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, relativamente a alterações na hidro/morfodinâmica da Ria de Aveiro induzidas por factores antropogénicos e naturais. Nomeadamente, serão analisadas as tendências de variação das características da maré no interior da laguna, as consequências de variações na área alagável da laguna, e ainda apresentadas estimativas para 2100 de modificações induzidas pela subida do nível médio do mar em cenários de alterações climáticas. Palavras-chave: Ria de Aveiro, hidro/morfologia, alterações climticas Abstract The aim of this paper is to present the results of some studies done by the Estuarine Modeling Group, of the Environment and the Sea studies Centre, University of Aveiro, in what changes in the hydro / morphodynamics of Ria de Aveiro induced by natural and anthropogenic are concerned. In particular, the trends of variation of the tide inside the lagoon will be analysed, as well as the consequences of variations in the flooded area of the lagoon and, also, the estimates of changes for 2100 induced by the rise in the sea level from climate changes scenarios will be shown. Keywords: Haff Delta of Aveiro, hydro / morphology, climate changes

Hidro/morfologia da Ria de Aveiro: alterações de origem ... · A Ria de Aveiro tem uma geometria bastante complexa, caracterizada pela presença de sapais, marinhas de ... Tendência

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DEBATER A EUROPA Periódico do CIEDA e do CIEJD, em parceria com GPE, RCE e o CEIS20. N.1 Junho/Dezembro 2009 – Semestral ISSN 1647-6336 Disponível em: http://www.europe-direct-aveiro.aeva.eu/debatereuropa/

Hidro/morfologia da Ria de Aveiro: alterações de

origem antropogénica e natural 

João Miguel Dias

Professor Auxiliar do Departamento de Física da UA

 

Resumo

É objectivo deste trabalho apresentar os resultados de alguns estudos efectuados pelo

Grupo de Modelação Estuarina do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da

Universidade de Aveiro, relativamente a alterações na hidro/morfodinâmica da Ria de

Aveiro induzidas por factores antropogénicos e naturais. Nomeadamente, serão

analisadas as tendências de variação das características da maré no interior da laguna, as

consequências de variações na área alagável da laguna, e ainda apresentadas estimativas

para 2100 de modificações induzidas pela subida do nível médio do mar em cenários de

alterações climáticas.

Palavras-chave: Ria de Aveiro, hidro/morfologia, alterações climticas

Abstract

The aim of this paper is to present the results of some studies done by the Estuarine

Modeling Group, of the Environment and the Sea studies Centre, University of Aveiro,

in what changes in the hydro / morphodynamics of Ria de Aveiro induced by natural

and anthropogenic are concerned. In particular, the trends of variation of the tide inside

the lagoon will be analysed, as well as the consequences of variations in the flooded

area of the lagoon and, also, the estimates of changes for 2100 induced by the rise in the

sea level from climate changes scenarios will be shown.

Keywords: Haff Delta of Aveiro, hydro / morphology, climate changes

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1. Introdução 

A Ria de Aveiro (Figura 1) é uma laguna costeira de águas pouco profundas, situada a Noroeste 

na  costa  portuguesa  (40°38’N,  8°45’W),  ligada  ao  Oceano  Atlântico  através  de  uma  única 

embocadura (Figura 2).  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1 – Imagem da Ria de Aveiro, extraída do Google Earth. 

 

Localiza‐se no litoral centro de Portugal, estando integrada na bacia hidrográfica do rio Vouga. 

Tem uma área variável entre 83 km2 (preia‐mar) e 66 km2 (baixa‐mar), uma  largura máxima 

de  8.5  km  na  sua  zona  central,  um  comprimento  de  45  km  e  uma  profundidade  média 

relativamente  ao  zero  hidrográfico  de  aproximadamente  1  m  (Dias  et  al.,  2000).  As 

profundidades máximas  (cerca de 30 m) são observadas no canal da embocadura  (Figura 2). 

São também observadas profundidades elevadas (a rondar os 10 m) nos canais de navegação, 

que são mantidos artificialmente através da  realização de dragagens de manutenção  (Dias e 

Lopes, 2006). 

Canal de S.Jacinto-Ovar

Canal de Mira

Canal do Espinheiro

Canal de Ílhavo

Canal de S.Jacinto-Ovar

Canal de Mira

Canal do Espinheiro

Canal de Ílhavo

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Figura 2 – Fotografia aérea da embocadura da Ria de Aveiro e zona envolvente (cedida pelos 

Pilotos da Barra de Aveiro). 

 

A Ria de Aveiro tem uma geometria bastante complexa, caracterizada pela presença de sapais, 

marinhas  de  sal  e  canais  meandrizados  de  dimensão  muito  reduzida  (Figura  3).  Na  sua 

geometria destacam‐se 4 canais principais (Figura 1): 3 que se estendem segundo a direcção 

Norte‐Sul (S.Jacinto‐Ovar, Mira e Ílhavo) e um segundo a direcção Este‐Oeste (Espinheiro).  

 

Figura 3 – Fotografia aérea da zona central da Ria de Aveiro. 

 

A zona envolvente da Ria de Aveiro tem reduzida altitude e relevo orográfico (Figura 4), o que 

implica uma elevada vulnerabilidade às inundações (Figura 5). 

 

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Figura  4  –  Imagem  da  zona  central  da  Ria  de Aveiro  (extraída  do Google  Earth),  onde  se 

verifica a inexistência de relevo orográfico acentuado. 

 

Figura 5 – Fotografia da cidade de Aveiro (2003) numa situação de inundação devida à subida 

do nível de água na Ria de Aveiro. 

 

As principais  acções  forçadoras da dinâmica da Ria de Aveiro  são:  a maré oceânica, que  se 

propaga de Sul para Norte ao longo da costa Oeste de Portugal, penetrando na laguna através 

do canal de embocadura e  fazendo  sentir os  seus efeitos mesmo na extremidade montante 

dos vários canais; o caudal dos rios Vouga (desagua no Canal do Espinheiro), Antuã (desagua 

na bacia no Laranjo), Boco (desagua no Canal de  Ílhavo), Caster, Gonde e Fontela (desaguam 

no  Canal  de  S.Jacinto‐Ovar)  e  de  diversos  ribeiros  e  cursos  de  água  que  desaguam  na 

extremidade montante do Canal de Mira; e o vento, que  faz sentir a sua acção por períodos 

curtos e especialmente nas zonas mais largas da laguna. 

Deste modo,  a  hidrodinâmica  da  Ria  de  Aveiro  depende  de  condições  climáticas  adversas: 

chuvas  torrenciais,  que  conduzem  ao  aumento  dos  caudais  fluviais;  ocorrência  de  baixas 

pressões a N/NW de Portugal e altas pressões a S/SW, associadas a ventos fortes de Sul, que 

originam sobre‐elevações do nível do mar. Saliente‐se que a ocorrência destas sobre‐elevações 

em  simultaneidade  com marés‐altas,  e  tendo  também  em  consideração  a  subida  do  nível 

médio  do  mar  projectada  para  a  costa  portuguesa,  podem  originar  inundações  costeiras 

significativas. A morfodinâmica  da  Ria  de Aveiro  depende  também  do  regime  de  ondas  do 

Atlântico Nordeste. 

Tendo em consideração as características da hidro/morfodinâmica da Ria de Aveiro, constata‐

se  a  sua  sensibilidade  a  factores  externos,  nomeadamente  factores  antropogénicos  e 

alterações  climáticas.  No  primeiro  caso  devem  salientar‐se  os  efeitos  que  as  obras 

costeiras/portuárias,  o  abandono  da  exploração  da  área  de  salgado  e  a  ausência  de 

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manutenção de vários canais da  laguna podem provocar na  resposta da  laguna aos diversos 

forçamentos. Os  fenómenos associados às alterações climáticas podem amplificar os efeitos 

dos  forçamentos da hidro/morfodinâmica da Ria de Aveiro. Apesar de alguma ambiguidade 

sobre o  futuro das condições climáticas, o  IPCC  (2007) prevê um  incremento substancial das 

condições climáticas extremas: aumento na intensidade da precipitação; subida do nível médio 

do mar;  intensificação de ciclones extratropicais no Atlântico Norte e, consequentemente, de 

tempestades costeiras; mudanças acentuadas no regime de ondulação. 

É objectivo deste trabalho apresentar os resultados de alguns estudos efectuados pelo Grupo 

de Modelação  Estuarina  do  Centro  de  Estudos  do  Ambiente  e  do Mar  da Universidade  de 

Aveiro,  relativamente  a  alterações  na  hidro/morfodinâmica  da  Ria  de  Aveiro  induzidas  por 

factores  antropogénicos  e  naturais.  Nomeadamente,  serão  analisadas  as  tendências  de 

variação das características da maré no  interior da  laguna, as consequências de variações na 

área  alagável  da  laguna,  e  ainda  apresentadas  estimativas  para  2100  de  modificações 

induzidas pela subida do nível médio do mar em cenários de alterações climáticas. 

 

2. Evolução temporal do nível médio do mar 

Uma  análise  efectuada por Araújo  (2005)  aos  registos de  longo período dos níveis de  água 

registados  nos marégrafos  da  costa  Ibérica  Atlântica  (Santander,  Corunha,  Vigo  e  Cascais  ‐ 

Figura 6), correspondentes aos períodos disponíveis até 2002, revela um padrão de subida do 

nível médio do mar em todos eles (ver Tabela 1). 

 

Figura 6 – Localização dos marégrafos na costa Ibérica Atlântica (extraída do Google Earth). 

 

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Tabela 1 – Tendências do nível médio do mar para a costa Ibérica Atlântica (extraída de Araújo 

(2005)). 

 

 

 

 

 

 

Para o marégrafo de Aveiro (Figura 6),  localizado na embocadura da Ria de Aveiro, o período 

durante o qual foram efectuados registos é ainda considerado curto (1979‐2002), mas as suas 

medições  foram  também  analisados  face  à  respectiva  importância  local  (Figura  7).  Foi 

determinado o valore da tendência da subida do nível médio do mar (Tabela 2), assim como as 

tendências para o constituinte semi‐diurno lunar principal (M2), que é o principal constituinte 

da maré na Ria de Aveiro (Figura 8).  

 

 

 

 

 

Figura  7  –  Evolução  temporal  do  nível médio  anual  do  mar  para  o marégrafo  de  Aveiro 

(extraída de Araújo (2005)). 

 

 

 

0.380.43Cascais 0.332.62Vigo 0.311.38 Corunha 0.362.18Santander

Desvio Padrão (mm/ano) Tendência 

(mm/ano)

206

208

210

212

214

216

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Nív

el (

cm)

206

208

210

212

214

216

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Nív

el (

cm)

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Tabela 2 ‐ Tendências do nível médio do mar e das constantes harmónicas do constituinte M2 

para Aveiro (extraída de Araújo (2005)). 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura  8  –  Evolução  temporal  das  constantes  harmónicas  do  constituinte  semi‐diurno  lunar 

principal (M2) para o marégrafo de Aveiro (extraída de Araújo (2005)). 

 

Da análise dos valores obtidos para Aveiro, verifica‐se que existe uma tendência para a subida 

do nível médio do mar de 1.15 mm/ano. Relativamente aos valores para o constituinte M2, a 

tendência observada  é para um maior  incremento da  sua  amplitude  (4.52 mm/ano)  e para 

uma diminuição da sua  fase de 0.09 º/ano. Face a estes  resultados, em que se verifica uma 

evolução  temporal  nas  características  da  maré  na  embocadura  da  Ria  de  Aveiro,  e 

considerando que a maré  constitui o principal  forçamento da dinâmica da  laguna,  serão de 

esperar modificações também nos padrões observados no seu interior. 

 

3. Variação da maré na Ria de Aveiro entre 1987/88 e 2002/03 

Em  1987/88  o  Instituto  hidrográfico  efectuou  um  levantamento  geral  da maré  na  Ria  de 

Aveiro,  através  da  utilização  de  um  número  elevado  de  marégrafos  ao  longo  dos  canais 

principais da  laguna. No âmbito da  investigação conducente à elaboração de um trabalho de 

Doutoramento  (Araújo  (2005)), esse  levantamento  foi  replicado em 2002/03 para a maioria 

dos  locais  monitorizados  anteriormente.  Na  Figura  9  estão  representados  os  valores  das 

0.03 (º/ano) ‐0.09 (º/ano)Fase M2 0.61 (mm/ano) 4.52 (mm/ano)Amplitude M2 Maré 0.68 (mm/ano) 1.15 (mm/ano)Nível médio do mar Desvio Padrão Tendência

8486889092949698

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Nív

el (

cm)

Amplitude M2

78

79

80

81

82

83

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Fas

e (º

)

Fase M2

8486889092949698

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Nív

el (

cm)

Amplitude M2

78

79

80

81

82

83

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Fas

e (º

)

Fase M2

78

79

80

81

82

83

1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Fas

e (º

)

Fase M2

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constantes  harmónicas  do  constituinte  M2  (amplitude  e  fase),  determinados  por  análise 

harmónica das  séries de altura de água obtidas em ambos os  levantamentos  (Araújo et al., 

2008). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 9 – Comparação entre a amplitude e  fase das constantes harmónicas do constituinte 

semi‐diurno  lunar  principal  (M2)  determinadas  a  partir  de  registos  de maré  efectuados  em 

1987/88 e em 2002/03 (dados extraídos de Araújo et al. (2008)). 

 

A análise da Figura 9 permite concluir que existiu um aumento da amplitude da maré ao longo 

dos  canais  principais  da Ria  de Aveiro  desde  1987/88  até  2002/03,  que  em  alguns  locais  é 

superior  a  20  cm.  Relativamente  à  fase,  verifica‐se  uma  diminuição  consistente  da mesma 

(diferenças máximas a rondar os 50º), o que significa que o mesmo instante de maré passou a 

ocorrer mais cedo. Na Figura 10 representa‐se a razão entre as amplitudes determinadas em 

2002/03 e as determinadas em 1987/88 e as diferenças de fase correspondentes. 

0102030405060708090

100

Carrega

l (C)

Ovar (

O)

Puxado

uro

(PU)

Pardilh

ó (PA)

Man

chão

(M)

Torre

ira (T

)

Cais do

Bico

(CB)

S. Jacin

to (S

J)

Lota

(L)

Rio N

ovo (R

N)

Cacia (C

)

1987/8

2002/3

0

50

100

150

200

250

Carrega

l (C)

Ovar (

O)

Puxado

uro

(PU)

Pardilh

ó (PA)

Man

chão

(M)

Torre

ira (T

)

Cais do

Bico

(CB)

S. Jacin

to (S

J)

Lota

(L)

Rio N

ovo (R

N)

Cacia (C

)

1987/8

2002/3

Fa

se M

2(º

)

Am

plit

ud

e M

2(c

m)

0102030405060708090

100

Carrega

l (C)

Ovar (

O)

Puxado

uro

(PU)

Pardilh

ó (PA)

Man

chão

(M)

Torre

ira (T

)

Cais do

Bico

(CB)

S. Jacin

to (S

J)

Lota

(L)

Rio N

ovo (R

N)

Cacia (C

)

1987/8

2002/3

0

50

100

150

200

250

Carrega

l (C)

Ovar (

O)

Puxado

uro

(PU)

Pardilh

ó (PA)

Man

chão

(M)

Torre

ira (T

)

Cais do

Bico

(CB)

S. Jacin

to (S

J)

Lota

(L)

Rio N

ovo (R

N)

Cacia (C

)

1987/8

2002/3

Fa

se M

2(º

)

Am

plit

ud

e M

2(c

m)

0

20

40

60

80

100

120

Costa N

ova

(CN)

Vague

ira (V

G)

Areão (

A)

Sacor (

S)

Ponte

Cais

II (P

C2)

Vista

Alegre

(VA)

Cais da

Pedr

a (CP)

1987/8

2002/3

020406080

100120140160180

Costa N

ova

(CN)

Vague

ira (V

G)

Areão (

A)

Sacor (

S)

Ponte

Cais

II (P

C2)

Vista

Alegre

(VA)

Cais da

Pedr

a (CP)

1987/8

2002/3

Fas

e M

2(º

)

Am

plit

ud

e M

2(c

m)

0

20

40

60

80

100

120

Costa N

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(CN)

Vague

ira (V

G)

Areão (

A)

Sacor (

S)

Ponte

Cais

II (P

C2)

Vista

Alegre

(VA)

Cais da

Pedr

a (CP)

1987/8

2002/3

020406080

100120140160180

Costa N

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(CN)

Vague

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A)

Sacor (

S)

Ponte

Cais

II (P

C2)

Vista

Alegre

(VA)

Cais da

Pedr

a (CP)

1987/8

2002/3

Fas

e M

2(º

)

Am

plit

ud

e M

2(c

m)

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Figura 10 – Mapa da Ria de Aveiro representando a razão entre as amplitudes e diferenças de 

fase  para  o  constituinte  harmónico M2  determinadas  a  partir  dos  registos  efectuados  em 

2002/03 e em 1987/88 (adaptado de Araújo (2005)). 

 

A  análise  desta  figura  revela  que  entre  as  datas  em  análise  existiu  uma  amplificação 

considerável das amplitudes da maré ao  longo dos canais principais da Ria de Aveiro e uma 

diminuição  significativa  das  fases,  acentuando‐se  estes  padrões  de  um  modo  geral  para 

montante.  Sendo  os menores  valores  observados  na  embocadura,  onde  está  localizado  o 

marégrafo cujos registos foram analisados na secção anterior, conclui‐se que estas alterações 

são mais do que apenas a consequência da  tendência para o aumento do nível do mar e da 

amplitude do constituinte harmónico M2 previamente  identificados na secção referida. Deste 

modo,  estas  tendências  resultarão  também  de  alterações  nas  características 

geométricas/morfológicas da Ria de Aveiro durante este período. 

A  Figura  11  representa  a  batimetria  da  Ria  de  Aveiro,  e  as  diferenças  de  profundidade 

observadas em diversos locais da laguna entre 1987/88 e 2002/03. 

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Figura 11 – Batimetria da Ria de Aveiro, e representação da diferença de profundidades entre 

2002/03 e 1987/88 (nota: a escala representa a diferença em metros) (adaptada de Araújo et 

al. (2008)). 

 

As Figura 11 revela que existiu um aprofundamento significativo de diversas zonas da laguna, 

com especial ênfase no canal da embocadura, onde as diferenças são da ordem dos 10 metros. 

Consequentemente,  foi  desenvolvido  um  modelo  analítico  para  estudar  a  resposta  da 

dinâmica  da  Ria  de  Aveiro  a  um  aprofundamento  do  canal  da  embocadura  (Araújo  et  al,. 

2008).  Este modelo  foi  aplicado  considerando  as  características  gerais  da  Ria  de  Aveiro,  e 

efectuando  simulações para diferentes profundidades do  canal,  adoptando  valores  realistas 

(Figura 12).  

 

 

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16Pr

ofun

dida

de (

m)

A

B

C

D

E

F

G

H

IJ

KL

M

N

O

P

Q

8º45' 40'

35'

40'

45'

40º50'

Canal do Espinheiro

Can

al d

e M

ira

Can

al d

e Íl

hav

o

Rio Vouga

Rio Antuã

Can

al d

e S.

Jaci

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Fas

e (º

)

Am

plit

ud

e (c

m)

Profundidade (m) Profundidade (m)

Fas

e (º

)

Am

plit

ud

e (c

m)

Profundidade (m) Profundidade (m)

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109 

 

Figura 12 – Variação da amplitude e  fase do constituinte M2 em  função da profundidade do 

canal da embocadura (extraída de Araújo et al. (2008)).  

 

Os resultados apresentados na Figura 12 revelam que um aumento da profundidade do canal 

da embocadura resulta num aumento da amplitude e numa diminuição da fase do constituinte 

M2. As barras verticais  representadas nos gráficos desta  figura  identificam as profundidades 

médias do canal em 1987 e em 2003; as variações correspondentes de amplitude e de  fase 

apesar  de  um  pouco  superiores,  são  consistentes  com  as  observações  reportadas 

anteriormente. Assim, verifica‐se que as variações da maré na Ria de Aveiro entre 1987/88 e 

2002/03 são induzidas pela subida do nível médio do mar e pelo aprofundamento do canal da 

embocadura  durante  este  período,  mas  que  provavelmente  existirão  efeitos  contrários, 

responsáveis por uma subida mais moderada do que a prevista nestas simulações.  

 

4. Variações na área da laguna 

A área da Ria de Aveiro tem vindo a variar ao  longo do tempo, com especial ênfase nos anos 

mais  recentes,  devido  ao  abandono  da  exploração  das marinhas  de  sal,  à  subida  do  nível 

médio  do  mar  e  também  devido  à  ausência  de  manutenção  periódica  dos  muros  que 

delimitam  a  maioria  dos  seus  canais.  A  variação  da  área  da  laguna  conduz  também  a 

alterações na sua dinâmica. Para avaliar a natureza destas alterações, foi novamente aplicado 

o modelo analítico referido na secção anterior, considerando as características gerais da Ria de 

Aveiro, e efectuando simulações para diferentes áreas da  laguna, adoptando valores realistas 

(Figura 13).  

 

 

 

 

 

 

Fas

e (º

)

Am

pli

tud

e (c

m)

Área da laguna (km2) Área da laguna (km2)

Fas

e (º

)

Am

pli

tud

e (c

m)

Área da laguna (km2) Área da laguna (km2)

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110 

 

Figura 13  – Variação da  amplitude  e  fase do  constituinte M2  em  função da  área da  laguna 

(extraída de Araújo et al. (2008)).  

 

Da  análise  da  Figura  13  verifica‐se  que  um  aumento  da  área  da  laguna  resulta  numa 

diminuição  da  amplitude  e  num  aumento  da  fase  do  constituinte M2.  As  barras  verticais 

representadas nos  gráficos desta  figura  identificam  a  área da  laguna  estimada para  1987  e 

para  2003;  as  variações  correspondentes  de  amplitude  e  de  fase  durante  este  período 

apresentam uma tendência contrária à verificada em resposta ao aprofundamento do canal da 

embocadura, mas menos  significativa. Deste modo, o aumento da área da  laguna diminuirá 

um pouco os efeitos do aprofundamento do canal da embocadura em termos de variação da 

maré observada na Ria de Aveiro. 

Para  além  das  alterações  das  constantes  harmónicas,  a  variação  da  área  da  laguna  altera 

também outras características hidrodinâmicas do sistema, que podem ser avaliadas através da 

aplicação  de  um  modelo  numérico  a  diferentes  configurações  da  Ria  de  Aveiro. 

Concretamente,  foi  aplicado  o modelo  ELCIRC  (Zhang  et  al.,  2004;  Picado,  2008)  à  Ria  de 

Aveiro, com o objectivo de avaliar as consequências da variação da área da  laguna devido ao 

abandono da exploração do salgado. 

A área ocupada por marinhas de sal na Ria de Aveiro é de aproximadamente 15 km2  (Figura 

14). No século XV existiam cerca de 500 marinhas activas, há 50 anos estavam 270 activas, mas 

na actualidade apenas 8 permanecem activas. Consequentemente, verifica‐se um acentuado 

estado de degradação das zonas de salgado na actualidade e um aumento da área  inundável 

da Ria de Aveiro (Figura 15). 

 

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111 

 

Figura 14 – Fotografia aérea da zona central da Ria de Aveiro, onde são visíveis várias marinhas 

de sal.  

 

 

Figura 15 – Fotografias de marinhas de sal em elevado estado de degradação. 

 

As marinhas de sal na Ria de Aveiro estão divididas em 5 grupos: São Roque ou Esgueira, Sul, 

Mar, Norte, Monte Farinha (Figura 16). 

 

 

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112 

 

Figura 16 – Zonas de marinhas de sal na Ria de Aveiro (extraída de Picado (2008)). 

 

Este estudo baseia‐se no alagamento dos grupos Mar e Norte, que  são os mais vulneráveis 

devido às fortes correntes que se fazem sentir nos canais envolventes. Neste âmbito utilizou‐

se  uma  grelha  numérica  de  elementos  finitos  desenvolvida  para  o modelo  ELCIRC  (Picado, 

2008), tendo a mesma sido alterada para contemplar o alagamento das zonas referidas (Picado 

et al., 2009) (Figura 17). Face à incerteza na profundidade das zonas a alagar, e também com o 

propósito de efectuar um teste de sensibilidade à respectiva variação de profundidade, foram 

consideradas duas situações distintas: áreas alagadas com profundidades iguais a 1 e 3 metros.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 17 – a) Grelha horizontal de elementos finitos da Ria de Aveiro; Detalhes da grelha junto 

à  área de  estudo: b)  configuração  actual;  c)  configuração  resultante do  colapso parcial dos 

muros das marinhas de sal (extraída de Picado (2008)). 

 

Na Figura 18 estão representadas os campos do vector velocidade da corrente determinados 

pelo  modelo  para  o  canal  da  embocadura  numa  situação  de  maré  viva,  para  as  três 

b)

c)

a) b)

c)

a)

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113 

 

configurações  em  análise.  Foram  também  efectuadas  simulações  em maré morta, mas  os 

resultados não são apresentados neste trabalho. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 18 – Campo do vector velocidade da corrente no canal da embocadura da Ria de Aveiro 

numa situação de maré viva. a) configuração actual; b) área alagada com profundidade igual a 

1 m; c) área alagada com profundidade igual a 1 m (a escala de cores representa a intensidade 

da corrente).  

 

Os  resultados  revelam que na  embocadura da Ria de Aveiro os  fluxos de  vazante  são mais 

intensos que os fluxos de enchente, indicando uma dominância de vazante na embocadura. As 

velocidades  da  corrente  aumentam  com  o  aumento  da  área  alagável,  nomeadamente  em 

marés  vivas  as  velocidades máximas  de  vazante  aumentam  ~5%,  enquanto  as  velocidades 

máximas de enchente aumentam ~6%. Em marés mortas, as velocidades máximas de vazante 

aumentam ~6% e as velocidades máximas de enchente aumentam ~9%. Verifica‐se ainda que 

Enchente Vazante

a)

c)

b)

Enchente

Enchente

Vazante

Vazante

Enchente Vazante

a)

c)

b)

Enchente

Enchente

Vazante

Vazante

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114 

 

entre  as  duas  configurações  de  alagamento  (profundidades  de  1  e  3 m),  as  diferenças  são 

negligenciáveis. 

Para melhor quantificar o efeito do aumento da área alagável da Ria de Aveiro, procedeu‐se à 

determinação  do  prisma  de maré  (volume  total  de  água  que  passa  através de  uma  secção 

transversal  de  um  canal  durante  um  período  de  enchente)  nas  várias  configurações  e 

condições simuladas, para as 6 secções indicadas na Figura 19. 

 

Figura 19 – Batimetria da zona central da Ria de Aveiro, com a indicação das secções definidas 

para o cálculo do prisma de maré (extraída de Picado (2008)).  

 

Os valores determinados por simulação numérica para os prismas de maré são representados 

graficamente na Figura 20, para situação de maré viva e para situação de maré morta. 

 

Figura 20 – Prismas de maré determinados por simulação numérica para a Ria de Aveiro, em 

maré viva e em maré morta.  

 

Configuração actual  Profundidade da área alagada = 1 m  Profundidade da área alagada = 3 m 

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115 

 

Os  resultados obtidos  revelam que o aumento da área da  laguna  resulta num acréscimo do 

prisma de maré. O maior aumento relativo do prisma de maré verifica‐se em maré morta, mas 

o maior aumento absoluto ocorre em maré viva. O aumento da profundidade da área alagada 

resulta num acréscimo mais significativo do prisma de maré.  

Os resultados obtidos  indicam que um aumento da área alagável da  laguna resulta então em 

alterações da sua hidrodinâmica, projectando‐se a diminuição da amplitude e o aumento da 

fase do constituinte M2 ao  longo da Ria de Aveiro, e uma  intensificação dos prismas de maré 

em  todos  os  canais  principais.  Consequentemente,  em  resposta  ao  aumento  da  área, 

perspectivam‐se maiores  fluxos  e  correntes  de maré,  com  um  incremento  dos  volumes  de 

água do mar que se propagam ao longo da laguna durante as enchentes, e resultante aumento 

da intrusão salina. 

 

5. Estimativas para o nível médio do mar em 2100 (cenário de alterações climáticas) 

Na secção 2 verificou‐se que tem havido uma evolução temporal do nível médio do mar junto 

à  embocadura  da  Ria  de  Aveiro,  sugerindo  a  necessidade  de  estimar  as  alterações  da  sua 

hidro/morfodinâmica induzidas pela subida do nível médio do mar, num cenário de alterações 

climáticas  de  origem  antropogénica.  Com  este  objectivo,  são  apresentados  resultados 

extraídos de Lopes (2009), relativos a cenários locais de subida do nível médio do mar, que são 

posteriormente utilizados para forçar modelos hidro/morfodinâmicos da Ria de Aveiro.   

Cenários do nível médio do mar para o período de 2071‐2100  relativamente ao período de 

1980‐1999 foram estimadas para a costa Portuguesa (Lopes, 2009; Lopes et al., 2009) através 

do  processamento  de  dados  de  um  Modelo  Geral  de  Circulação  da  Atmosfera‐Oceano 

(AOGCM), neste caso específico o modelo GISS-ER (Russel et al., 1995; 2000), para o cenário 

SRES A2 (IPCC, 2007).  

A  Figura  21  representa  a  variação  do  nível  médio  do  mar  para  a  zona  Norte  Atlântica, 

revelando uma subida do nível médio do mar para toda a região, com uma variação espacial 

muito reduzida junto à costa portuguesa.  

 

 

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116 

 

 

 

 

 

 

 

Figura  21  –  Variação  do  nível  do mar  (m)  para  o  período  de  2071‐2100  relativamente  ao 

período  de  1980‐1999,  para  o  cenário  SRES  A2,  para  o  Atlântico Norte  (extraída  de  Lopes 

(2009)). 

 

Foram obtidas projecções locais a partir dos resultados do modelo para os 8 pontos da grelha 

mais próximos de Portugal (representados na Figura 21), tendo‐se obtido um valor de 0.34 m 

para a subida local do nível médio do mar (Lopes et al., 2009). 

Este  resultado  foi  utilizado  para  forçar  o  sistema  de modelação MORSYS2D,  previamente 

implementado e calibrado para a Ria de Aveiro  (Oliveira et al., 2006),  tendo sido efectuadas 

simulações para o nível médio actual do mar e simulações considerando uma subida de 0.34 m 

no nível médio. Tal como na secção 4, foram determinados os prismas de maré para as secções 

dos principais canais da Ria de Aveiro (Figura 19), em situação de maré viva e de maré morta 

(Figura 22).  

 

 

 

 

 

 

Variação do nível do m

ar (m)

Longitude (º)

Lat

itud

e (º

)

UK

Península Ibérica

Norte de África

Variação do nível do m

ar (m)

Longitude (º)

Lat

itud

e (º

)

UK

Península Ibérica

Norte de África

Nível médio do mar actual Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)

Projectada para 2100 uma subida do nível médio do mar para Aveiro de ~0.34m

Nível médio do mar actualNível médio do mar actual Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)

Projectada para 2100 uma subida do nível médio do mar para Aveiro de ~0.34m

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117 

 

Figura 22 – Prismas de maré determinados por simulação numérica para a Ria de Aveiro, em 

maré  viva  e  em maré morta, para um  cenário de  alterações  climáticas  (adaptada de  Lopes 

(2009)). 

 

Os prismas de maré para o cenário projectado são ~20% superiores aos actuais, verificando‐se 

o maior aumento relativo do prisma de maré em maré morta, mas o maior aumento absoluto 

em maré viva. 

Através de  simulações numéricas  foram  estimados para  a  embocadura da Ria de Aveiro os 

campos de fluxo residual de sedimentos para o nível médio do mar actual, e para o cenário de 

subida do nível médio do mar. Foi  também efectuada a diferença entre ambas as situações, 

para avaliar o efeito da subida do nível do mar (Figura 23). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nível médio do mar actual

Fluxo residual (10-6 m2/s)

Nível médio do mar actual

Fluxo residual (10-6 m2/s)

Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)

Fluxo residual (10-6 m2/s)

Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)

Fluxo residual (10-6 m2/s)

Diferença

Diferença do fluxo residual (10-6 m2/s)

Diferença

Diferença do fluxo residual (10-6 m2/s)

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118 

 

Figura  23  –  Campos  do  fluxo  residual  de  sedimentos  para  a  embocadura  da  Ria  de Aveiro 

(extraída de Lopes (2009)). 

 

Da Figura 23 verifica‐se que o  fluxo residual de sedimentos é essencialmente dirigido para o 

exterior da  laguna, promovendo a exportação de  sedimentos.  Identificam‐se  também  zonas 

com  tendência para o aumento da erosão nos  locais de maior  intensidade do  fluxo  residual 

(mais profundas), e zonas com tendência para o assoreamento nos locais de fluxo nulo. Estes 

padrões são  intensificados no cenário de alterações climáticas, como se verifica da análise da 

imagem que representa a diferença entre os fluxos residuais. 

Através  da  aplicação  do modelo MORSYS2D  foram  ainda  estimados  para  diversas  zonas  da 

embocadura da Ria de Aveiro (Figura 24) o fluxo residual de sedimentos (Figura 25) e taxa de 

sedimentação (Figura 26). 

 

Figura 24 – Localização das secções onde foi determinado o transporte de sedimentos (1 a 6) e 

das  regiões onde  foram determinadas  as  taxas de  sedimentação  (I  a  IV)  (extraída de  Lopes 

(2009)). 

 

 

 

 

Figura  25  –  Fluxo  residual  de  sedimentos  para  diversas  secções  da  embocadura  da  Ria  de 

Aveiro (dados extraídos de Lopes (2009)). 

 

  

Nível médio do mar actual Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)Nível médio do mar actualNível médio do mar actual Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)

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119 

 

 

 

 

 

Figura  26  –  Taxa  de  sedimentação  para  diversas  regiões  da  embocadura  da  Ria  de  Aveiro 

(adaptada de Lopes (2009)). 

 

Os  resultados  revelam  um  aumento  do  volume  de  sedimentos  transportados  através  das 

secções da embocadura da Ria de Aveiro num cenário de alterações climáticas, assim como 

indicam que o balanço do volume sedimentar através destas secções tende a aumentar. Deste 

modo,  existirá  uma  tendência  para  a  intensificação  dos  padrões  de  assoreamento/erosão 

existentes presentemente na embocadura. 

Deste modo, verifica‐se através do recurso à modelação que a subida do nível médio do mar 

conduzirá a alterações da hidro/morfodinâmica da Ria de Aveiro, com um aumento do prisma 

de maré para os seus principais canais, e consequentemente dos fluxos e correntes de maré 

nestes  canais. Perspectiva‐se  também um  incremento dos  volumes de  água do mar que  se 

propagam ao longo da laguna durante as enchentes, e resultante aumento da intrusão salina. 

O  volume  de  sedimentos  transportados  na  zona  da  embocadura  será  também  superior, 

resultando numa maior tendência na sua exportação para o oceano e numa intensificação dos 

actuais padrões de assoreamento/erosão.  

 

6. Conclusões 

A  hidrodinâmica  e  morfodinâmica  da  Ria  de  Aveiro  são  extremamente  dependentes  de 

modificações da sua geomorfologia induzidas tanto pela evolução natural da laguna como por 

acções  antropogénicas,  assim  como  por  modificações  dos  forçamentos  induzidas  pelas 

alterações climáticas. 

Verifica‐se o  aumento da  amplitude de maré  e  a diminuição da  sua  fase  em  toda  a Ria de 

Aveiro, em consequência da subida do nível médio do mar e do aprofundamento do canal da 

Nível médio do mar actualNível médio do mar actual

Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)Nível médio do mar em 2100 (> 0.34 m)

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embocadura. Um aumento da área alagável da  laguna conduz a um aumento dos prismas de 

maré, a uma intensificação das correntes na Ria de Aveiro, e a uma diminuição da amplitude e 

a  um  aumento  da  fase  da maré.  A  subida  do  nível médio  do mar  conduz  também  a  um 

aumento do prisma de maré, a maiores transportes sedimentares e incrementa as tendências 

de assoreamento e erosão verificadas actualmente no canal da embocadura. 

 

Agradecimentos 

Este  trabalho  resultou das  colaborações de Ana  Picado, Carina  Lopes,  Paulo  Silva  e Alfredo 

Rocha  do  Departamento  de  Física  da  Universidade  de  Aveiro,  de  André  Fortunato  do 

Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de  Isabel Araújo do National Oceanography Centre, 

Southampton, UK e de David Pugh do Proudman Oceanographic Laboratory, Liverpool, UK. 

 

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