Historia Constitucional.pdf

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  • Nota: este texto serviu de base s Lies de Direito Constitucional do Prof. Doutor Vital Moreira, na parte relativa ao constitucionalismo

    portugus

    Histria do constitucionalismo portugus Pretende-se neste captulo descrever, em breves traos, dois sculos de histria constitucional portuguesa. 1. Contextualizao O constitucionalismo portugus, semelhana do que sucedeu em outros pases, afirmou-se como reaco ao absolutismo monrquico (ao poder ilimitado dos monarcas). Localiza-se temporalmente j no sculo XIX (a primeira Constituio portuguesa surgiu em 1822). O movimento constitucional portugus no foi portanto pioneiro como o foram emblematicamente os movimentos constitucionais ingls, norte-americano e francs. Recebeu e tem recebido influncias de outros pases (por outras palavras, as constituies portuguesas tm-se inspirado em grande medida em algumas constituies estrangeiras). Isto no quer dizer que o legislador constituinte portugus se tenha limitado a copiar textos constitucionais estrangeiros. Todas as constituies portuguesas, sem excepo, foram o produto de um particular contexto histrico-poltico vivido no pas em diferentes momentos. 2. Caractersticas genricas do constitucionalismo portugus 2.1. A descontinuidade formal Do ponto de vista formal, a histria constitucional portuguesa caracteriza-se por uma certa descontinuidade. Em dois sculos, a ordem jurdica portuguesa conheceu seis diferentes textos constitucionais (Constituies de 1822, 1826, 1838, 1911, 1933, 1976). H pases cuja histria constitucional apresenta uma continuidade formal manifesta (por exemplo, os EUA com apenas uma constituio a nvel federal constituio de 1787) e pases onde a descontinuidade formal da sua histria

  • constitucional ainda mais notria do que no caso portugus (v.g. a Frana com 16 constituies 1). De salientar que a descontinuidade formal no impediu que, a nvel material, no que se refere aos contedos constitucionais, se tenha verificado uma certa sedimentao de princpios (v.g., princpio da legalidade da administrao, princpio representativo, princpio da separao de poderes), instituies (v.g., as autarquias locais), direitos e deveres, etc., os quais, invariavelmente, tm marcado presena nas sucessivas constituies portuguesas. De referir ainda que a histria constitucional portuguesa conheceu um perodo de interregno constitucional de 1828 a 1834 correspondente ao reinado de D. Miguel, um absolutista contrrio aos esquemas jurdico-constitucionais, em particular aos limites impostos pelas constituies ao poder real. 2.2. A via revolucionria Exceptuando a Carta Constitucional (1826) 2, todas as outras constituies portuguesas foram precedidas por actos revolucionrios, tendo por eles sido fortemente condicionadas. Constituio de 1822 precedida pela revoluo de 1820; Constituio de 1838 precedida pela revoluo de Setembro de1836; Constituio de 1911 precedida pela revoluo de 5 de Outubro de1910; Constituio de 1933 precedida pela revoluo de 28 de Maio de 1926; Constituio de 1976 precedida pela revoluo de 25 de Abril de 1974. Este no um fenmeno tipicamente portugus. Outrora era muito comum a sua verificao, ao ponto de se ter chegado a afirmar que o poder constituinte originrio (poder de criar uma constituio) era um mero poder factual e no um verdadeiro poder jurdico. Hoje em dia a criao de novas constituies continua, sem dvida, a verificar-se aps uma ruptura ou mudana de regime, mas esta no tem que ser necessariamente

    1 Apenas so tidos em considerao aqueles textos constitucionais que entraram

    efectivamente em vigor. 2 Na realidade, a Carta Constitucional tambm foi cronologicamente precedida de um

    acto revolucionrio, a Vilafrancada (1823). Tratou-se porm, como se ver, de uma revoluo de sinal contrrio ao constitucionalismo.

  • revolucionria. Ela pode estar ligada a distintos "momentos constitucionais extraordinrios" 3, como por exemplo o fenmeno da descolonizao (v.g., nas antigas colnias inglesas, francesas e portuguesas) ou o da democratizao dos pases (v.g., em grande parte dos antigos pases do bloco sovitico). 2.3. A vigncia intermitente das constituies monrquicas Trata-se de uma caracterstica aplicvel apenas s duas primeiras constituies portuguesas, ambas inseridas no ciclo do constitucionalismo liberal monrquico. Esta intermitncia constituiu o reflexo, no plano jurdico-constitucional, da turbulncia e instabilidade que marcaram a histria poltica correspondente a este primeiro perodo 4: a instaurao do liberalismo em Portugal (1820-51), a Regenerao (1851-1891) e, finalmente, a crise da monarquia constitucional (1891-1910). Constituio de 1822 (dois perodos de vigncia): de 1822 a 1823 de 1836 a 1838 Carta Constitucional de 1826 (trs perodos de vigncia): de 1826 a 1828 de 1834 a 1836 de 1842 a 1910 3. Os perodos da histria constitucional portuguesa A histria constitucional portuguesa conheceu distintos perodos. A sua particular delimitao tem sido objecto de estudo da doutrina nacional, sendo vrias as sugestes apresentadas. Segundo Vital Moreira existem quatro perodos 5. So eles:

    3 A expresso utilizada por Gomes Canotilho. 4 Esta mesma turbulncia reflectiu-se tambm em sucessivas rupturas constitucionais

    (trs constituies em menos de um sculo) e em sucessivos actos de reviso constitucional (vlido sobretudo para a Carta Constitucional).

    5 Gomes Canotilho apresenta uma diferente periodizao. I) o constitucionalismo vintista; II) o constitucionalismo da restaurao; III) o constitucionalismo setembrista; IV) o constitucionalismo republicano; V) o constitucionalismo corporativo; VI)

    Tambm Jorge Miranda apresenta a sua prpria periodizao: I) o constitucionalismo liberal; II) o constitucionalismo corporativo e autoritrio; III) o constitucionalismo democrtico.

    Ver J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituio (6 ed.), Coimbra, 2002, pp. 127 e ss. e JORGE MIRANDA, ,

  • I) O constitucionalismo liberal monrquico (Constituies de 1822, 1826 e 1838); II) O constitucionalismo liberal republicano (Constituio de 1911); III) O constitucionalismo corporativo e autoritrio (Constituio de 1933); IV) O constitucionalismo democrtico (Constituio de 1976). 4. Os vrios perodos da histria constitucional portuguesa. Desenvolvimento 6 A/ Monarquia I ) O perodo do constitucionalismo liberal monrquico 1. A Constituio de 1822 (a fase de iniciao constitucional) 7 1.1. Contexto histrico-poltico A primeira constituio portuguesa foi profundamente marcada pela revoluo de1820. Tratou-se de um acto revolucionrio inserido na vaga das revolues liberais que ocorreram um pouco por toda a Europa continental. No se pretendia propriamente derrubar a monarquia. Pelo contrrio, o que a maior parte dos revolucionrios desejava era que o Rei, D. Joo VI, que tinha ido para o Brasil em 1807 (aquando da primeira invaso francesa), regressasse a Portugal e reassumisse o poder, expulsando os ingleses que cada vez mais se iam assenhoriando desse mesmo poder e assim assegurando a independncia nacional e pondo cobro ao descalabro econmico de um pas cada vez mais empobrecido. Por outro lado, tambm no era inteno dos mentores da revoluo retornar aos esquemas tradicionais da monarquia absoluta. H que no esquecer que esta revoluo se insere num movimento mais amplo que varreu fundamentalmente a Europa continental que o movimento liberal, o qual se opunha a um poder real ilimitado.

    6 Os preceitos constitucionais citados no texto reportam-se sempre ao texto originrio

    das correspondentes constituies. 7 Segundo Gomes Canotilho, o movimento constitucional portugus no se iniciou com a

    Constituio de 1822 mas sim, um pouco antes, com a Splica de constituio dirigida a Junot em 1808 por um conjunto de personalidades portuguesas (nele se destacando alguns professores universitrios). Fala o autor, a este propsito, da existncia de um "movimento pr-constitucional".

    Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO, ob. cit., p. 127.

  • O que se pretendeu ento foi instaurar uma monarquia constitucional, isto , um regime em que o monarca deve partilhar alguns dos seus poderes com o parlamento e, para alm disso, deve exercer apenas os poderes que a constituio lhe atribui e nos exactos termos nela regulados. 1.2. Principais influncias recebidas de outros textos constitucionais A Constituio espanhola de Cdis de 1812 8 parece ter constitudo a principal fonte de inspirao da Constituio de 1822. Essa mesma constituio, por sua vez, inspirou-se nas constituies francesas de 1891 e 1895, igualmente constituies revolucionrias. Assim sendo, a nossa primeira constituio acabaria por reter algumas das ideias liberais oriundas de Frana, como sejam, a separao de poderes, a soberania nacional, o regime representativo e a atribuio de uma srie de direitos e deveres aos indivduos. 1.3. Procedimento constituinte utilizado A Constituio de 1822 foi elaborada e aprovada pelas Cortes Gerais Extraordinrias e Constituintes da Nao Portuguesa (reunidas entre Janeiro de 1821 e Setembro de 1822). O monarca (D. Joo VI) teve que aceitar e jurar, sem nenhuma participao constitutiva, o texto constitucional que lhe foi submetido. Tratou-se portanto de um procedimento constituinte representativo ou indirecto levado a cabo por uma assembleia constituinte soberana (ou seja, com poderes no s para elaborar mas tambm para aprovar a constituio). O processo constituinte teve duas fases: 1 fase Em Maro de 1821 foram definidas e aprovadas pelas Cortes as Bases da Constituio (37 princpios orientadores da organizao do poder poltico e a sua relao com os indivduos). Estas Bases, que foram juradas pelo Rei ainda no Brasil, serviriam depois de documento de orientao para o trabalho das Cortes Constituintes. 2 Posteriormente foram elaborados pelas Cortes os preceitos constitucionais que seriam reunidos num documento nico e escrito (a Constituio), o qual foi de novo jurado pelo Rei.

    8 Surgida na sequncia da guerra da independncia em 1810 tambm ela uma

    revoluo liberal , que derrubou Fernando VII, monarca absoluto.

  • 1.4. Contedo fundamental da Constituio de 1822 1.4.1. No domnio dos direitos fundamentais A Constituio de 1822 consagra no seu texto principal uma srie de direitos e deveres que, por um lado, esto previstos num compartimento prprio (ttulo I) e, por outro, esto previstos nos 19 primeiros artigos da Constituio, dando assim a entender a importncia que os constituintes de 1822 atribuam a esta questo 9. Os principais traos caractersticos neste domnio so: o maior peso dado s garantias no confronto com as liberdades; a distino estabelecida entre direitos individuais e direitos da Nao (estes relegados para o ttulo II) como exemplos de direitos individuais temos o direito liberdade, o direito de propriedade, o direito segurana, etc., e como exemplos de direitos da Nao temos o direito de fazer leis, o direito de ter uma representao, etc.; a presena de direitos que constituem como que formas embrionrias dos actuais direitos econmicos, sociais e culturais, direitos esses que no eram muito frequentes na poca liberal na medida em que exigem prestaes do Estado sendo certo que os liberais preconizavam uma rgida sepao entre o Estado e a Sociedade (exs: arts 237, 238 e 240); a conivncia com a escravatura em mais de um preceito (arts 21, IV, 35, VII e 37) contrariando assim as concepes crists e liberais que inspiraram a primeira constituio portuguesa. 1.4.2. No domnio da organizao do poder poltico 1.4.2.1. Os princpios inspiradores fundamentais Princpio da soberania nacional (arts 26 e 27)

    9 Curiosamente, as constituies que mais influenciaram o nosso primeiro texto

    constitucional possuem uma sistematizao distinta neste particular domnio. A Constituio de Cdis consagrava alguns direitos fundamentais em preceitos dispersos pelo seu texto. J as Constituies francesas de 1891 e 1895 tm as suas declaraes de direitos parte (alis, a primeira declarao de direitos surgiu antes mesmo da prpria Constituio Declarao de Direitos dos Homens e dos Cidados de 1789).

  • Nos termos do disposto no texto constitucional, o poder soberano pertence Nao e j no ao monarca 10. A afirmao constitucional da soberania nacional no era totalmente incompatvel com o princpio monrquico, tambm presente neste texto constitucional. O que sucede que o monarca deixa de ser o titular do poder soberano e passa a ser um simples representante da Nao esta sim a verdadeira titular do poder soberano , exercendo o poder em nome dela (ver art. 121). Princpio representativo (arts 26, 27, 32, 94) Como foi antecipado, sendo a Nao uma entidade abstracta, necessrio que o poder de que ela titular seja exercido, em nome dela, por representantes legalmente eleitos (art. 26). Princpio da separao de poderes (art. 30) O legislador constituinte de 22 optou, em matria de separao de poderes, pela trilogia clssica de Montesquieu (poderes legislativo, executivo e judicial). O poder legislativo cabia fundamentalmente s Cortes, concebidas como uma assembleia legislativa unicameral (art. 30). Os Secretrios de Estado tambm podiam fazer propostas de lei que, dependendo da vontade das Cortes, poderiam vir a transformar-se em projectos de lei (art. 105).

    10 A teoria da soberania nacional teve como figura de proa Emmanuel Sieys. Este autor

    defendia que o poder deveria pertencer ao povo e no ao rei, clero e nobreza. Ele entendia, contudo, que no era possvel pr o povo a governar (diferentemente de Rousseau), no s por questes tcnicas ou logsticas (grande extenso territorial dos Estados, populao considervel) mas, do mesmo modo, porque o povo pura e simplesmente no tinha instruo e cultura suficientes para governar. Elaborou assim uma teoria nos termos da qual o poder competiria no ao monarca nem s classes privilegiadas mas Nao.

    E quem era a Nao? A Nao era uma fico poltica. Simplisticamente, poder-se- dizer que se tratava de uma entidade abstracta que representava o povo ou "terceiro estado" (e os seus interesses), sem contudo ser a mera soma dos elementos que o compem. Assim se evitava, segundo Sieys, a reivindicao popular do poder. Este ltimo dado que a Nao era uma entidade abstracta seria exercido por representantes do povo, os quais deveriam ser pessoas instrudas, cultas, etc..

  • Apesar de o texto constitucional fazer referncia sano real das leis, logo d a entender que mais no se trata que de um simples veto poltico suspensivo (arts 30, 110 e 111). As Cortes tinham tambm competncias polticas (tomar o juramento do monarca, reconhecer o sucessor da Coroa, etc. art. 103). O poder executivo foi confiado ao monarca, concentrando-se nele (embora com alguns limites) a totalidade deste poder (art. 30). O monarca possua em simultneo poderes tpicos de um chefe de Estado e poderes tpicos de um chefe do Executivo. No exerccio destes ltimos poderes ele era coadjuvado por Secretrios de Estado, aos quais incumbiria a assinatura de todos os decretos do rei referenda (art. 161). Em certos casos ele deveria ouvir o Conselho de Estado (arts 162 e 163, n 2). De salientar a proibio de interferncia do poder executivo no poder legislativo (o monarca no pode dissolver as Cortes) e no poder judicial (art.124). 1.5. Forma de Estado A Constituio de 1822 adoptou, como forma de Estado, a monarquia constitucional hereditria (art. 29). Ainda no que respeita forma de Estado, h que referir a consagrao constitucional de uma unio real 11 com o Brasil (arts 20 e 113). Em 1815 o Brasil deixou de ter o estatuto de colnia e foi erigido em Reino por D. Joo VI, que no entanto o declarou unido antiga metrpole (Portugal e Algarves). Passou a haver ento o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A Constituio de 1822 d precisamente conta dessa unio real. Como rgos comuns do Reino Unido temos o monarca, as Cortes e o Conselho de Estado). No Brasil h uma delegao do poder executivo uma Regncia formada por cinco membros nomeados pelo Rei, ouvido o Conselho de Estado (arts 128 e ss.). 1.6. Caracterizao genrica do regime poltico

    11 A unio real por vezes tambm designada de confederao bilateral existe

    quando dois Estados so governados por um mesmo chefe e possuem instituies comuns. A identidade do chefe de Estado no depende, ou no depende apenas, do destino sucessrio mas de um acto jurdico.

  • O legislador constituinte de 1822 optou por uma combinao atpica dos princpios monrquico, da soberania nacional e representativo, combinao caracterizada por uma partilha de poderes bastante rgida entre as Cortes e o monarca, com preponderncia para as primeiras. No se trata porm ainda de um sistema parlamentar, faltando aqui um elemento fundamental dele, a saber, a responsabilidade poltica dos executivo perante o parlamento os Secretrios de Estado so responsveis perante as Cortes mas trata-se de uma simples responsabilidade jurdico-penal (accionvel apenas quando cometam certo tipo de crimes artigos 103, 159 e 160).

    2. A Carta Constitucional 12 de 1826 (a fase de reafirmao constitucional) 2.1. Contexto histrico-poltico A revoluo de 1823 (Vilafrancada), chefiada pelo Infante D. Miguel (filho de D. Joo VI e irmo do futuro D. Pedro IV) foi de sinal contrrio revoluo de 1820. D. Miguel era um absolutista e pretendia a restaurao do regime anterior a esta revoluo. No entanto, as sementes do liberalismo tinham sido lanadas j pela revoluo de 20, pelo que D. Joo VI preferiu adoptar uma via mais realista e moderada, prometendo ao seu povo a elaborao de uma Carta Constitucional. Numa proclamao rgia de 1823 confessa: "Eu no desejo nem desejei nunca o poder absoluto, e hoje mesmo o rejeito ". Chegou a haver um projecto oficial da Carta Constitucional (ao lado de outros), mas o certo que ele nunca viu a luz do dia (de alguma forma em resultado de presses estrangeiras). S aps a sua morte surgiu a prometida constituio. Quando D. Joo VI morreu, D. Pedro era na altura Imperador do Brasil o qual se tornara independente em Setembro de 1822, embora o reconhecimento oficial s tenha acontecido em 1825, reconhecimento oficial esse condicionado instaurao de uma unio pessoal (D. Pedro sucederia a seu pai no trono de Portugal). D. Pedro era simultaneamente o prncipe real de Portugal e por isso a regncia aclamou o Imperador

    12 A denominao Carta Constitucional era utilizada para designar um texto constitucional elaborado atravs de um procedimento constituinte monrquico. O monarca elaborava a constituio e depois doava-a ou outorgava-a ao seu povo como um acto de liberalidade (da tambm se falar de constituio doada ou outorgada). Tratava-se, no fundo, de uma forma de os monarcas afirmarem a sua prpria soberania, distinguindo os textos constitucionais por eles elaborados de acordo com a sua prpria vontade daquelas constituies que contavam com a participao, ou pelo menos com o consentimento, da Nao.

  • do Brasil como Rei de Portugal. Esta unio pessoal no interessava nem a portugueses nem a brasileiros, pelo que D. Pedro optou por abdicar do trono portugus a favor da sua filha Maria da Glria. Imps contudo algumas condies: que ela casasse com o seu tio D. Miguel e que a Carta Constitucional, que ele entretanto pensava doar ao seu povo portugus, fosse posta em vigor. D. Pedro IV abdicou do trono portugus dias depois de ter assinado a Carta Constitucional. 2.2. Principais influncias recebidas de outros textos constitucionais A principal fonte de inspirao foi sem dvida a Constituio brasileira de 1824. Na verdade, a Carta Constitucional foi decalcada dela, tendo sido introduzidas algumas alteraes. Atravs da constituio brasileira, a nossa constituio acabaria por receber influncias da Carta Constitucional francesa de 1814, doada por Luis XVIII aps a Restaurao. Como exemplos dessas influncias temos a consagrao da sano real das leis e a existncia de uma cmara dos Pares, com Pares hereditrios e vitalcios nomeados pelo monarca. ainda de realar a influncia das teses de Benjamin Constant (1767-1830), em particular a previso de um poder moderador. 2.3. Procedimento constituinte utilizado A Carta Constitucional foi elaborada e assinada pelo monarca (D. Pedro IV), que depois a outorgou ou doou Nao. Tratou-se pois de um genuno procedimento constituinte monrquico. A designao de Carta Constitucional permitia, como foi dito, que no se confundisse este tipo de constituio com aquelas constituies que, elaboradas na sequncia das revolues liberais, foram redigidas e/ou aprovadas por assembleias eleitas pelo povo. 2.4. Contedo fundamental da Carta Constitucional 2.4.1. No domnio dos direitos fundamentais Os direitos dos cidados foram relegados para o ltimo artigo do texto constitucional, o artigo 145. Neste preceito estavam previstos alguns direitos vintistas, lado a lado com novos direitos, liberdades e garantias (v.g., a liberdade de deslocao e emigrao e a garantia da no retroactividade das leis, etc.).

  • Deve ainda mencionar-se a consagrao de direitos e garantias de natureza estamentria, mais especificamente de direitos e garantias da nobreza e da burguesia. Finalmente, refira-se a manuteno alguns dos direitos sociais previstos na Constituio de 1822. 2.4.2. No domnio da organizao do poder poltico 2.4.2.1. Os princpios inspiradores fundamentais Princpio monrquico (art. 4) O monarca passa a ser o titular e detentor por excelncia do poder soberano, aceitando contudo, por um lado, ceder parte do seu poder e, por outro, relativamente parte do poder que lhe cabe, comprometendo-se a exerc-lo de acordo com os esquemas constitucionais. Princpio representativo (art. 4) O legislador constituinte de 26 optou, tambm ele, por um regime representativo, sem qualquer interveno directa do povo na conduo da vida poltica do pas. Princpio da separao de poderes (art. 10) A grande novidade introduzida pelo texto constitucional de 1826 foi a consagrao de um quarto poder, o denominado poder moderador (arts 11 e 71). Este novo poder foi atribudo ao monarca. Trata-se de um poder neutro ao qual caber velar "incessantemente () sobre a manuteno da independncia, equilbrio e harmonia dos demais poderes polticos". O poder moderador compreende, entre outras faculdades, a de nomear os Pares, a de sancionar os decretos das Cortes, a de dissolver da cmara dos deputados e a de nomear e de demitir os ministros. O poder legislativo foi atribudo s Cortes. Trata-se agora de uma assembleia legislativa bicameral, composta pela Cmara dos Deputados (cmara electiva, cujos membros eram escolhidos por meio de sufrgio censitrio e indirecto) e Cmara dos

  • Pares (cmara composta por membros hereditrios, presentes por direito prprio, e por membros vitalcios nomeados pelo rei) artigos 13 e 14. A iniciativa das leis cabe a qualquer das cmaras bem como ao poder executivo (arts 45 e 46). De salientar que tambm o monarca participa no processo de elaborao legislativa, cabendo-lhe, no exerccio do poder moderador, sancionar (aprovao) ou vetar (reprovao ou no aprovao), com carcter absoluto, as leis. O poder executivo foi cometido ao monarca. Como inovao da Carta Constitucional deve referir-se o aparecimento de Ministros de Estado, que exercem o poder executivo em nome do Rei (art.75). Os actos do poder executivo carecem de referenda dos Ministros (art. 102). O exerccio por parte do Rei de algumas das atribuies compreendidas no poder moderador depende da auscultao do Conselho de Estado conselheiros vitalcios por ele nomeados (art. 107). 2.5. Forma de Estado Foi adoptada, como forma de Estado, a monarquia hereditria (art. 4). A submisso do monarca aos esquemas constitucionais atesta que o que est em causa uma monarquia constitucional, entendida em sentido amplo, por oposio monarquia absoluta. 2.6. Caracterizao genrica do regime poltico Tambm o legislador constituinte de 26 optou por uma combinao de princpios mas, desta feita, apenas dos princpios monrquico e representativo. Isto mesmo determinou um regime algo diferente do estabelecido pela constituio anterior. Em 22 havia um regime fortemente representativo. O poder soberano pertencia Nao e era exercido em exclusivo pelos seus representantes, as Cortes Gerais e o monarca. Na Carta Constitucional o que temos uma forma poltica mista, combinando-se uma monarquia limitada com uma monarquia representativa 13. Apesar de no artigo 12 se declarar que o Rei era um representante da Nao, juntamente com as Cortes

    13 Em sentido prximo, JORGE MIRANDA,

  • Gerais, ele era mais do que isso porque detinha a titularidade do poder soberano o que se manifestava sobretudo na considervel concentrao de poderes nas suas mos. No era, porm, uma concentrao total, uma vez que as Cortes Gerais tambm dispunham de alguns poderes, nomeadamente o poder de reviso constitucional (dependente de sano rgia). Com o tempo e, sobretudo, por efeito das sucessivas alteraes constitucionais (Actos Adicionais), acentua-se a estrutura mista do regime com a perda progressiva de poderes por parte do Rei. Verifica-se, desde logo, a autonomizao do Ministrio em face do Rei, passando este tambm a ser responsvel politicamente perante as Cortes Gerais. Para alm disso, alguns dos actos do poder moderador passam a ser objecto de referenda ministerial. Evoluiu-se assim lentamente de uma monarquia representativa (menos atpica do que a que existia luz do texto constitucional de 1822) para um regime parlamentar dualista ou orleanista.

    3. A Constituio de 1838 (a fase de afirmao do parlamento)

    3.1. Contexto histrico-poltico A Carta Constitucional vigorou at 1828 (primeiro perodo de vigncia: 1826-28). De 1828 a 1834 verifica-se um perodo de interregno do regime constitucional com a tomada do poder por D. Miguel. Segue-se um perodo de guerra civil entre liberais (partidrios de D. Pedro) e absolutistas (partidrios de D. Miguel). Com a vitria dos liberais, volta a vigorar a Carta Constitucional (segundo perodo de vigncia: 1834-6). A Revoluo de Setembro de1836 marca o auge das lutas entre faces liberais, mais especificamente, entre os vintistas (mais radicais), defensores da Constituio de 1822, e os cartistas (mais conservadores), defensores da Carta Constitucional. Com este acto revolucionrio foi derrubado o Governo conservador do duque da Terceira e a oposio democrtica chegou ao poder com Passos Manuel. reposta em vigor a Constituio de 1822 (segundo perodo de vigncia: 1836-38). 3.2. Principais influncias recebidas de outros textos constitucionais

  • A Constituio de 1838 foi influenciada essencialmente pelas duas constituies portuguesas anteriores. Da Constituio de 1822 reteve-se, fundamentalmente, a teoria da soberania nacional, a inexistncia do poder moderador e o sufrgio directo. Da Carta Constitucional de1826 reteve-se, fundamentalmente, o bicameralismo do parlamento e a amplido dos poderes do monarca. Influenciaram ainda a Constituio de 1838 a Carta Constitucional francesa de 1830, a Constituio belga de 1831, e as Constituies brasileira e espanhola, ambas de 1837. 3.3. Procedimento contituinte utilizado A Constituio de 1838 foi elaborada por uma assembleia constituinte eleita pelo povo as Cortes Gerais Extraordinrias e Constituintes. Inicialmente pretendia-se apenas que as Cortes revissem a Constituio de 1822. Ulteriormente, porm, ser-lhe-iam concedidos poderes constituintes para fazer uma nova constituio. Depois de discutida e votada nas Cortes, ela foi submetida aprovao da Rainha D. Maria II, que a aceitou e jurou. No resulta abolutamente claro qual o valor jurdico a atribuir a estes actos da monarca. Segundo Jorge Miranda, tratou-se de uma verdadeira sano real e no de actos meramente formais (como o foram a aceitao e juramento de D. Joo VI em relao Constituio de 1822). A feitura do texto constitucional seria assim o produto de uma cooperao entre as Cortes e a monarca, resultando pois de um concurso de duas vontades, a real e a parlamentar 14. Em suma, consoante se atribua ou no valor jurdico constitutivo aos actos praticados pela monarca, poder-se- dizer que foi utilizado um procedimento constituinte misto representativo-monrquico (seria, deste modo, uma constituio pactuada) ou um procedimento constituinte representativo ou indirecto. 3.4. Contedo fundamental da Constituio de 1838 3.4.1. No domnio dos direitos fundamentais Os direitos e liberdades voltam a estar enunciados num compartimento parte, mais especificamente na Parte III da Constituio (arts 9 a 32).

    14 Ver JORGE MIRANDA,

  • Como aspectos mais salientes neste particular domnio temos a verificao de um maior equilbrio entre as liberdades e garantias e ainda a circunstncia de neste novo texto constitucional figurarem novos direitos e liberdades v.g., direito de resistncia contra ordens violadoras das garantias individuais (art. 25) e liberdades de reunio e de associao (art.14). 3.4.2. No domnio da organizao do poder poltico 3.4.2.1. Os principais princpios orientadores Princpio da soberania nacional (art. 33) No plano da fundamentao da legitimidade do poder soberano, d-se a substituio da teoria da soberania monrquica (inspiradora da Carta Constitucional) pela teoria da soberania da Nao. Princpio representativo (art. 4) Mais uma vez, afirma-se o carcter representativo das instituies. Os principais representantes so o parlamento (o corpo legislativo) e o monarca. Princpio da independncia ou separao dos poderes (art. 35) De novo, constata-se a adopo da tripartio clssica de poderes. O poder legislativo era exercido pelas Cortes, as quais, semelhana do que sucedia no mbito da Carta Constitucional, foram institudas como um parlamento bicameral (art. 36). Havia a Cmara dos Deputados (cmara baixa) e a Cmara dos Senadores (cmara alta). Os membros de ambas as cmaras eram recrutados atravs de uma eleio por sufrgio directo (art. 71). O poder executivo foi atribudo ao monarca (Chefe do Poder Executivo), que o exerce atravs dos seus Ministros e Secretrios de Estado (art. 80). Enquanto chefe do Executivo o rei dispunha, entre outros, dos seguintes poderes: poder de sancionar e promulgar as leis excepto as de reviso constitucional (arts 81, I e 139);

  • poder de dissolver a Cmara dos Deputados quando assim o exigir a salvao do Estado o que, a acontecer, implicaria a renovao de metade da Cmara dos Senadores (art. 81, III). Contrariamente ao disposto nas duas constituies anteriores, a Constituio de 1838 no prev nenhum Conselho de Estado junto do rei. 3.5. Forma de Estado Uma vez mais escolhida a forma de Estado monrquica-hereditria, na sua modalidade de monarquia constitucional ou limitada (art. 4). 3.6. Caracterizao genrica do regime poltico Como acabou de afirmar-se, a forma de Estado ainda a monrquica; mas, no que toca a governao propriamente dita, os poderes esto cada vez mais concentrados no parlamento com o consequente apagamento poltico do Rei. Encontramos pois um regime poltico misto com um pendor parlamentar bastante forte, ainda mais acentuado do que em 1822. Uma vez que, por via do compromisso celebrado entre monarca e a representao nacional, o primeiro ainda dispe de alguns poderes polticos efectivos (no se tornou ainda uma figura meramente simblica), pode-se caracterizar o regime como um parlamentarismo dualista ou orleanista. B/ Repblica II) O perodo do constitucionalismo liberal republicano (I Repblica) A Constituio de 1911 (a fase da Repblica parlamentar) Contexto histrico-poltico A implantao da Repblica na sequncia da Revoluo de 5 de Outubro de 1910 representa indubitavelmente o momento poltico mais relevante em termos de antecedentes condicionadores da feitura da Constituio de 1911. J antes houvera uma

  • tentativa importante de implantao da Repblica, a sublevao de 31 de Janeiro de 1891, no Porto. A crise que afectava a monarquia tradicional j vinha de longe, tendo-se agravado nas duas ltimas dcadas do sculo XIX . Vrios foram os acontecimentos histrico-polticos que comprovaram a decadncia do regime monrquico. Entre outros, destacam-se a supramencionada rebelio no Porto, o Ultimato ingls de 1890, a crise econmica e financeira, a represso cada vez maior e o regcidio em 1908 o qual apressaria os acontecimentos subsequentes. Principais influncias recebidas de outros textos constitucionais As Constituies sua e brasileira (ambas de 1891) so habitualmente referenciadas como as principais fontes de inspirao do primeiro texto constitucional republicano. Na realidade, a sua influncia no ter sido to importante como se poderia supor. Da Constituio sua de 1891 reteve-se a impossibilidade de dissoluo das cmaras pelo presidente e o referendo local. Da Constituio brasileira de 1891 reteve-se a fiscalizao judicial das leis, o habeas corpus, a equiparao de direitos entre portugueses e estrangeiros, etc.. Registam-se tambm influncias das constituies monrquicas e da prtica da III Repblica francesas. Procedimento constituinte utilizado Foi empregue um procedimento constituinte representativo ou indirecto. A Constituio de 1911 foi elaborada e aprovada por uma assembleia constituinte eleita pelo povo Assembleia Nacional Constituinte. Esta assembleia especial no se limitou a elaborar o texto constitucional, tendo-o tambm aprovado. Representa, deste modo, uma assembleia constituinte soberana. Contedo fundamental da Constituio de 1911 No domnio dos direitos fundamentais A primeira constituio republicana possui um catlogo de direitos fundamentais ainda muito marcado pelo individualismo liberal. Efectivamente, um nmero

  • considervel dos direitos fundamentais a consagrados so ainda direitos de defesa do indivduo contra o Estado. Ao lado desta influncia liberal, divisa-se tambm a presena do iderio republicano neste domnio dos direitos fundamentais. Encontramos, por um lado, a consagrao da proibio da pena de morte, do direito de habeas corpus, da liberdade de religio e culto. Por outro lado, institudo um igualitarismo jurdico-poltico, com a consequente extino dos ttulos nobilirquicos. de assinalar a instituio de uma clusula aberta ou de no tipicidade dos direitos fundamentais, ou seja, admite-se a existncia de direitos fundamentais fora da constituio. Apesar do impulso humanista presente no iderio republicano, constata-se uma presena muito modesta dos direitos sociais (basicamente reduzidos obrigatoriedade e gratuitidade do ensino primrio elementar). No domnio da organizao do poder poltico Os principais princpios orientadores Princpio republicano (art. 1) Derrubada a monarquia, a adopo do regime republicano constitui uma sequncia lgica. A legitimidade monrquica de direito divino assim substituda por uma legitimidade republicana laica assente na soberania nacional. Princpio da soberania nacional (art. 5) O texto constitucional de 1911 reconhece tambm ele o princpio da soberania nacional, embora a entidade Nao seja cada vez menos entendida no sentido liberal-burgus e cada vez mais num sentido democrtico. Sintomticos da democratizao do regime so o alargamento do catlogo dos direitos fundamentais e a consagrao do referendo, ainda que apenas o de mbito local. Princpio representativo

  • Apesar de no positivada de forma expressa, a opo por um regime representativo resulta clara do primeiro texto constitucional republicano. A consagrao do referendo local e administrativo no desmente esta opo fundamental na medida em que no interfere com a aco poltica. Princpio da separao de poderes (art. 6) O princpio da separao de poderes, enquanto princpio incontornvel num Estado de Direito, no poderia deixar de estar presente no texto da nova constituio uma vez mais numa verso mais flexvel (razovel interdependncia entre os poderes) que rgida (autonomia acentuada entre os poderes). O poder legislativo acha-se atribudo ao parlamento, designado de Congresso. Trata-se de um parlamento bicameral, o que no constitui propriamente uma novidade na histria constitucional portuguesa. O Congresso composto pela Cmara dos Deputados e pelo Senado (art. 7), ambos eleitos directamente (art. 8). As cmaras tinham uma competncia legislativa tendencialmente igual. Cmara dos Deputados cabia a iniciativa de criao de impostos, a organizao das Foras Armadas, a reviso constitucional, etc. (art. 23). Ao Senado cabia, entre outras coisas, a aprovao das propostas de nomeao dos governadores e comissrios da Repblica para as provncias do ultramar (art. 25). O Congresso reunia quatro meses por ano (art. 11), embora a sesso pudesse ser prorrogada por vontade expressa das duas cmaras (em sesso conjunta). Para alm das competncias legislativas, as cmaras dispunham ainda de outras funes. Entre elas, destacam-se as funes eleitorais (eleio do Presidente da Repblica art. 38) e o controlo poltico do Ministrio (arts 51 e ss). O poder executivo partilhado pelo presidente da Repblica e pelos Ministros (art. 36). Em relao ao primeiro, curioso assinalar que durante os trabalhos da assembleia constituinte se chegou a discutir se deveria ou no ser consagrada a figura do Presidente da Repblica. Apesar de se ter optado pela sua consagrao, foi-lhe concedido um papel bastante apagado. A sua eleio era indirecta. Efectivamente, ele era eleito pelo Congresso podendo de igual modo ser por ele destitudo atravs de resoluo fundamentada e aprovada por 2/3 dos membros do Congresso ou por fora de

  • condenao por crime de responsabilidade (arts 38, 1 e 46) 15. De acordo com o texto originrio da Constituio no podia dissolver as cmaras e no dispunha de poder de veto. Mais tarde, e por fora da reviso de 1919-21, passou a poder, em certos casos, dissolver as cmaras legislativas. Em relao ao Ministrio, determinava-se que de entre os Ministros haveria um nomeado pelo Presidente da Repblica que ocuparia o cargo de Presidente do Ministrio, responsvel no s pelos negcios da sua pasta mas tambm pelos de poltica geral (art. 53). Forma de Estado A Constituio de 1911 reconhece a forma de Estado republicana (art. 1), vista por muitos como a nica compatvel com uma concepo democrtica da organizao poltica da sociedade. Apreciao genrica do regime poltico Quanto ao modelo de governao, no fcil enquadrar o regime poltico da I Repblica em nenhum dos modelos puros mais conhecidos. Poder-se- falar de um parlamentarismo atpico 16. Procurou-se porventura realizar uma transaco e consequente equilbrio entre o parlamentarismo monista e o parlamentarismo de assembleia. Do primeiro foi retirado o apagamento quase completo do Presidente da Repblica e tambm a responsabilidade poltica dos Ministros perante as Cmaras. Do segundo (caracterizado fundamentalmente pela no reconhecimento da figura do Presidente da Repblica, rectius, da figura tradicional do chefe de Estado) foi retirada a impossibilidade de o Congresso ser dissolvido antes do tempo. III) O perodo do Estado autoritrio e corporativo (II Repblica)

    15 Com a reforma ditatorial de 1918 foi prevista a eleio directa do Presidente da

    Repblica. Nesse mesmo ano Sidnio Pais foi eleito Presidente da Repblica por meio de sufrgio directo. Foi esta uma reforma de curtssima durao e em breve retornar-se-ia ao sufrgio indirecto.

    16 Neste sentido, Jorge Miranda. Com uma opinio algo distinta, Gomes Canotilho afirma que o regime da I Repblica foi caracterizado por um parlamentarismo absoluto.

    Ver JORGE MIRANDA, e J.J. GOMES CANOTILHO, ob. cit., p. 175.

  • A Constituio de 1933 (a fase do Estado Novo) Contexto histrico-poltico A revoluo de 28 de Maio de 1926 deu incio a um perodo de Ditadura militar que durou at 1933. Esta nova experincia revolucionria pode ser vista, em termos genricos, como uma tentativa de combater as deformaes do regime parlamentar causadas pela prtica poltica. Mais especificamente, o principal objectivo a alcanar era o de pr termo grande instabilidade poltica que marcou a I Repblica, em especial, a frequncia das crises ministeriais (em 15 anos, 44 Governos), causada, em grande medida, por uma certa imaturidade e competio desenfreada entre os vrios partidos polticos. A indisciplina partidria (constantes cises, fuses e unies) e tambm parlamentar (coligaes dbeis, hbito de o Governo se demitir sempre que era posto em causa pelas cmaras) influenciaram o novo regime, o qual preconizava, entre outras coisas, um executivo forte e a inexistncia de partidos. Este foi, na histria constitucional portuguesa, o caso em que houve uma mais dilatada separao temporal entre o acto revolucionrio e a feitura da constituio (a revoluo ocorreu em 26 e s em 31 foi decidido fazer-se uma nova constituio, a qual, por sua vez, s entraria em vigor em 1933). Isto ficou a dever-se a uma certa indefinio quanto ao futuro poltico do pas. Com efeito, havia quem entendesse que a Ditadura devia ser um perodo transitrio prvio e preparatrio da instaurao de um novo regime. Havia, inversamente, quem entendesse que ela prpria era um regime, o melhor regime para o pas. Principais influncias recebidas de outros textos constitucionais No existir nenhum texto constitucional estrangeiro que tenha influenciado de forma genrica a Constituio de 1933. Aqui e ali notam-se algumas influncias estrangeiras, designadamente da Constituio de Weimar e da experincia fascista italiana. De assinalar que, apesar de se ter imposto uma nova concepo de Estado de corte corporativo, no houve uma ruptura total com as constituies portuguesas anteriores (v.g., adoptou-se, uma vez mais, o princpio da soberania nacional).

  • Deve reter-se ainda a circunstncia de que a Constituio de 1933 ter influenciado ela prpria constituies estrangeiras, como a austraca de 1934, a brasileira de 1937 e a egpcia de 1956. Procedimento constituinte utilizado Em virtude do forte sentimento anti-parlamentarista que se fazia sentir na poca, optou-se por um procedimento constituinte directo. Foi criado um Conselho Poltico Nacional ao qual caberia, entre outras coisas, apreciar projectos de constituio que fossem apresentados. Circunstncias polticas vrias fizeram com que o rgo mencionado apenas tivesse feito incidir a sua actuao no projecto de Oliveira Salazar (ento Ministro das Finanas), elaborado com a colaborao de algumas personalidades conhecidas do meio poltico e do meio universitrio (v.g., Fezas Vital, Quirino de Jesus, Marcello Caetano). Apreciado e aceite pelo Conselho Poltico Nacional, em seguida publicitado nos jornais, o projecto de constituio seria ulteriormente submetido a uma consulta popular (plebiscito a nvel nacional realizado em 19 Maro de 1933). De acordo com os resultados oficiais, a maioria dos portugueses (no esquecendo as limitaes existentes em matria de sufrgio) aceitou o projecto, tendo posteriormente entrado em vigor a nova constituio. Contedo fundamental da Constituio de 1933 No domnio dos direitos fundamentais Os direitos fundamentais foram quase todos eles condensados no artigo 8 da Constituio. O exerccio de alguns dos direitos mais importantes consagrados no texto constitucional (v.g., liberdades de expresso do pensamento, de ensino, de reunio e de associao) estava condicionado existncia de uma lei especial que os regulamentasse (art. 8, 2) com o que se colocava os cidados na dependncia da boa vontade do legislador ordinrio. O reconhecimento de vrios direitos sociais (v.g., proteco da famlia, direito educao e cultura, direito ao trabalho) reflectia as concepes anti-individualista e corporativista do regime.

  • semelhana do que sucedia j no mbito do texto constitucional anterior, estava prevista uma clasula aberta neste domnio dos direitos fundamentais. Meno especial merecem os partidos polticos. A Constituio de 1933 no proibia expressamente a existncia de partidos polticos. Do mesmo modo, tambm no havia nenhuma lei que, igualmente de forma expressa, os proibisse. No obstante, a lei que regulava a liberdade de associao determinava que a criao de associaes polticas dependia de autorizao administrativa. Tendo em considerao a hostilidade do Estado Novo e de Salazar em face dos partidos polticos, os quais foram considerados os principais causadores da instabilidade e excessos da I Repblica, era fcil adivinhar que a necessria autorizao administrativa para a criao de um partido poltico no seria facilmente concedida. Praticamente h a registar a existncia da Unio Nacional e, posteriormente, da Aco Nacional Popular (sua sucessora). H quem se questione sobre a natureza jurdico-poltica destas entidades configurariam verdadeiros partidos polticos? Terminologia parte, o que se pode afirmar que se tratava de estruturas organizatrias destinadas a desempenhar funes que so tradicionalmente atribudas aos partidos, como sejam a de recrutamento do pessoal poltico (em particular daqueles que vo ocupar cargos polticos), a de estruturao do voto e a de realizao de campanhas eleitorais. No domnio da organizao do poder poltico Os principais princpios orientadores Princpio da soberania nacional (art. 71) Princpio republicano (art. 5) Princpio corporativo (art. 5) Nos termos do artigo 5 da Constituio, Portugal era uma repblica corporativa. Esta afirmao constitua uma reaco lgica ao individualismo liberal. Em termos polticos isto significava o reconhecimento de que a Nao no assentava apenas nos indivduos assentava igualmente numa srie de corpos intermdios, entre os quais se salientam a famlia, a Igreja e as autarquias locais. Mais do que isso, significava que era necessrio fomentar a participao desses corpos intermdios no exerccio do poder poltico (para isso, por exemplo, tendo sido criada a Cmara corporativa).

  • Princpio da separao dos poderes Na verdade, o texto constitucional de 33 no faz referncia expressa a este princpio, apenas mencionando a existncia de rgos de soberania (art. 71). A anlise da parte relativa organizao do poder poltico permite contudo defender a sua presena e influncia na distribuio e articulao dos poderes. O poder legislativo foi confiado Assembleia Nacional (art. 91), concebida como um parlamento unicameral de base electiva (art. 85). Para alm de fazer leis, a Assembleia Nacional possua outro tipo de competncias, como fossem as de aprovar convenes internacionais, de autorizar o Governo a cobrar as receitas do Estado e a pagar as despesas pblicas, de deliberar sobre a reviso constitucional decorridos 10 anos sobre a ltima reviso (art. 91). de assinalar o facto de que o Governo tambm dispunha de poder legislativo (poder que exercia atravs da criao de decretos-leis), o qual seria progressivamente ampliado. O poder executivo foi atribudo ao Governo, rgo colegial composto pelo Presidente do Conselho e seus Ministros (art.106). No mbito do exerccio do poder executivo competia-lhe, entre outras coisas, superintender no conjunto da Administrao Pblica, referendar os actos do PR e elaborar os decretos, regulamentos e instrues necessrios para a boa execuo das leis (art. 108). O Conselho de Ministros deveria reunir-se sempre que o Presidente do Conselho ou Chefe de Estado julgassem necessrio (art. 110) 17 18.

    17 No poder deixar de mencionar-se a figura do Presidente da Repblica, o qual,

    durante o perodo inicial do regime, era detentor de um conjunto razovel de poderes polticos efectivos, certamente consequncia da sua legitimidade democrtica.

    Nos termos do artigo 72, o Chefe de Estado (designao utilizada pela primeira vez neste texto constitucional) o Presidente da Repblica eleito directamente pela Nao com a reviso constitucional de 1959 passou a ser utilizado o sufrgio indirecto. Entre os poderes que lhe cabiam, cumpre assinalar o de nomear o Presidente do Conselho e os Ministros, o de dissolver a AN quando assim o exigissem os interesses superiores da Nao, o de dirigir a poltica externa do Estado, o de exercer o direito de veto e o de demitir o Presidente do Conselho.

    18 Como rgos polticos auxiliares h a destacar a Cmara Corporativa, composta por representantes das autarquias locais e dos interesses sociais (art. 102). Era um rgo consultivo (art. 103), competindo-lhe relatar e dar parecer sobre todas as propostas e projectos de lei e sobre

  • Forma de Estado Apesar da existncia de alguns focos de resistncia monrquicos, optou-se novamente pela forma de Estado republicana. Caracterizao genrica do regime poltico Haver que distinguir, no mbito deste terceiro perodo do constitucionalismo portugus, dois momentos distintos no que concerne a caracterizao do regime poltico. De incio, o regime podia ser classificado como um presidencialismo atpico 19, isto , como um regime prximo do sistema presidencial mas que apresentava algumas distorses por comparao com este ltimo: 1) existia um Governo, que se apresentava como rgo um colegial, solidrio e autnomo; 2) esse mesmo Governo era responsvel politicamente perante o Presidente da Repblica; 3) o Presidente da Repblica no era o chefe do Executivo; 4) estava prevista a dissoluo do parlamento por vontade do Presidente da Repblica. Por fora das sucessivas revises constitucionais e, outrossim, da prpria praxis poltica, caminhou-se progressivamente para um modelo de governao que Marcello Caetano designou de "Presidencialismo de Primeiro-Ministro", Jorge Miranda de "sistema representativo simples de chanceler" e Galvo Teles de "sistema presidencialista de chanceler". Em breves palavras, transitou-se para um regime caracterizado simultaneamente pelo apagamento poltico do Chefe de Estado e do parlamento (da AN) e pelo excessivo protagonismo do chefe do executivo ento designado Presidente do Conselho , o qual passou a constituir a pedra angular do edifcio constitucional. O apagamento da Assembleia Nacional era visvel desde o texto originrio da constituio, tendo-se posteriormente acentuado. Como exemplos da menorizao do papel do parlamento h a assinalar: a) a curta durao da sesso legislativa (de apenas trs meses art. 94); b) a relativizao da sua competncia legislativa, s lhe cabendo estabelecer os princpios fundamentais dos regimes jurdicos, ficando a cargo do Governo todas as convenes internacionais que fossem apresentados Assembleia Nacional era pois um rgo auxiliar desta ltima.

    Dada a especfica natureza da Cmara Corporativa, no parece acertado falar-se da existncia de um parlamento de estrutura bicameral durante o regime do Estado Novo.

    Refira-se ainda a existncia de um Conselho de Estado (art. 83), tambm ele um rgo de natureza consultiva, cuja funo era de assessorar o Chefe de Estado.

    19 Neste mesmo sentido, Gomes Canotilho (ob. cit., p. 183).

  • a tarefa de completar esses regimes atravs de decretos-leis; c) o reconhecimento ao governo, a partir da reviso de 1945, de uma competncia normal para legislar, etc.. Sintomtica do apagamento da figura do Presidente da Repblica foi indubitavelmente a instituio da sua eleio indirecta 20. IV) O perodo do constitucionalismo democrtico (III Repblica) A Constituio de 1976 (a fase do constitucionalismo democrtico) 21

    Contexto histrico-poltico A revoluo de 25 de Abril de 1974 foi levada a cabo pelo MFA (Movimento das Foras Armadas), que posteriormente entregou o poder a uma Junta de Salvao Nacional (JSN) rgo revolucionrio presidida pelo General Antnio de Spnola. O objectivo declarado deste acto revolucionrio era o da ruptura com o regime autoritrio e corporativo anterior e o da consequente instaurao de um regime democrtico. O processo revolucionrio conheceu vrias fases: 1 fase de 25 de Abril a 11 de Maro 1975: a confuso e indefinio iniciais do regime; 2 fase de11 de Maro 1975 a 25 de Novembro de 1975: as nacionalizaes e o clima de pr-guerra civil; 3 fase de 25 de Novembro de 1975 em diante: a imposio e consolidao de um regime democrtico pluralista com tendncias descentralizadoras. No se pode deixar de chamar a ateno para o fenmeno das leis constitucionais (ao todo 35) que antecederam a preparao da Constituio de 1976 e que constituram um ordenamento constitucional transitrio. Destacam-se as seguintes: LC n1/74, de 25 de Abril (JSN): destitui o Presidente da Repblica (Amrico Thomaz), demite o Presidente do Conselho (Marcello Caetano), dissolve a Assembleia Nacional e o

    20 Embora extravase o domnio da organizao do poder poltico, no pode deixar de ser

    mencionada a consagrao, pela primeira vez, de uma Constituio econmica, isto , de uma parte do texto constitucional dedicada organizao econmica.

    21 A actual Constituio j foi revista cinco vezes revises de 1982,1989, 1992, 1997, 2001 tendo a terceira e a quinta revises sido extraordinrias e as restantes ordinrias (ver artigo 284 CRP).

  • Conselho de Estado e, implicitamente, a Cmara Corporativa. Confere JSN os poderes que a Constituio de 1933 atribua ao PR, ao Governo e AN 22. LC n 2/74, de 14 de Maio (JSN): extingue a Assembleia Nacional e a Cmara Corporativa; LC n 3/74, de 14 de Maio (JSN): conta 24 artigos e contm, em anexo, o Programa do MFA 23, de certa forma funcionando como uma constituio provisria; LC n 5/75, de 14 de Maro: cria o Conselho da Revoluo, ao qual so conferidos os poderes, entre outros, da JSN, rgo que passa a representar o MFA. LC n 7/74, de 27 de Julho: reconhece os direitos dos povos dos territrios ultramarinos autodeterminao. Principais influncias recebidas de outros textos constitucionais Foram vrios os textos constitucionais que serviram de inspirao ao legislador constituinte portugus de 76. No podero deixar de ser mencionadas a Constituio alem de 1949 (o catlogo dos direitos fundamentais), a Constituio francesa de 1958 (os especficos contornos da figura do Presidente da Repblica), a Constituio italiana de 1947 (o reconhecimento da autonomia regional), as constituies dos pases de Leste (os direitos econmicos, sociais e culturais) e ainda, genericamente, as constituies portuguesas anteriores. Procedimento constituinte utilizado Foi empregue um procedimento constituinte representativo ou indirecto, com o que este passou a ser o procedimento constituinte tradicional em Portugal. A opo por este tipo de procedimento foi feita pelo MFA, e estava contida na proclamao distribuda em 25 de Abril de 1974 e ainda no Programa daquele movimento. Foi ento eleita pelos portugueses uma assembleia constituinte com poderes soberanos para elaborar e aprovar o projecto de constituio (Assembleia Nacional Constituinte).

    22 No feita qualquer referncia expressa Constituio anterior. 23 O programa do MFA (divulgado no dia 26 de Abril) era um documento

    simultaneamente poltico e jurdico, o qual preconizava, como medidas a adoptar imediatamente, a substituio dos rgos do poder e a restaurao dos direitos fundamentais. De entre as medidas a tomar a curto prazo destacava-se a preparao de uma nova constituio (ou seja, a substituio da ordem constitucional anterior por uma nova).

  • Particular relevo assumiram as Plataformas de acordo constitucional celebradas entre o MFA e os partidos polticos 24 e, igualmente, a Comisso de acompanhamento do MFA 25. Contedo fundamental da Constituio de 1976 26 No domnio dos direitos fundamentais consagrado um extenso catlogo de direitos fundamentais (arts 24 a 79), complementado pela previso de uma clusula aberta neste domnio (art. 16, n 1). No domnio da organizao do poder poltico Os principais princpios orientadores Princpio republicano (art. 1) Princpio do Estado de Direito (art. 2) Princpio democrtico (art. 2) Princpio da soberania popular (art. 3) Princpio da separao de poderes (art. 111)

    24 As duas Plataformas de Acordo Constitucional (tambm conhecidas sob a designao

    "Pactos MFA-partidos") constituam pactos polticos celebrados entre o MFA e os seis partidos que conseguiram representao na Assembleia Nacional constituinte. O objectivo da sua criao foi o de orientar os trabalhos da assembleia constituinte dentro do esprito do programa do MFA por outras palavras, garantir que o futuro texto constitucional positivasse aquilo a que os militares chamavam as conquistas revolucionrias.

    A 1 Plataforma foi celebrada em 13 de Abril de 1975. A 2 Plataforma foi celebrada em 26 de Fevereiro de 1976.

    25 Comisso de acompanhamento dos trabalhos da assembleia constituinte. O seu papel era o de "facilitar a cooperao entre os partidos" e o de "impulsionar o andamento dos trabalhos, dentro do esprito do Programa do MFA e da presente plataforma".

    26 Deliberadamente optmos por uma descrio mais sumria desta parte, uma vez que ela ser objecto de uma anlise mais profunda em outra sede.

  • Princpio da autonomia regional (art. 6) 27 Forma de Estado Foi adoptada a forma de Estado republicana (art. 1). Caracterizao genrica do regime poltico Temos uma forma de governo mista parlamentar-presidencial, com acentuao, sobretudo depois da reviso constitucional de 1982, da componente parlamentar. Sintomtica desta parlamentarizao do regime foi a relativizao do papel do Presidente da Repblica: 1) deixou de poder demitir o Governo com a mesma liberdade de que dispunha inicialmente; 2) foram impostos limites temporais ao seu poder de dissoluo da AR.

    27 Tal como j sucedera com a Constituio de 1933, tambm a Constituio prev uma

    parte relativa organizao econmica (Parte II).

  • HISTRIA CONSTITUCIONAL PORTUGUESA

    Regime Perodos Constituies Vigncia Caractersticas principais

    1822

    1822-3

    1836-8

    monarquia constitucional

    separao de poderes

    soberania nacional

    regime representativo

    direitos fundamentais

    MONARQUIA

    I

    1826 (C.C.)

    1826-28

    1834-36

    1842-1910

    monarquia constitucional hereditria

    separao de poderes

    soberania monrquica

    regime representativo

    direitos fundamentais (alguns estamentais)

    1838

    1838-42

    monarquia constitucional

    separao de poderes

    soberania nacional

    regime representativo

    direitos fundamentais

    II

    1911

    1911-

    repblica

    separao de poderes

    soberania nacional

    regime representativo (apesar da introduo do

    referendo administrativo local)

    direitos fundamentais (abolio dos direitos

    estamentais)

    REPBLICA

    III

    1933

    1933-

    repblica

    separao de poderes (implicitamente)

    soberania nacional

    regime representativo (apesar da consagrao

    do referendo local)

    direitos fundamentais (alguns dos quais na

    dependncia do legislador ordinrio)

    IV

    1976

    1976-

    repblica

    separao de poderes

    soberania popular

    regime representativo (apesar da consagrao

    de trs tipos de referendo)

    direitos fundamentais