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19/08/2015 1 Homem, Cultura e Sociedade 2) O HOMEM NA SUA ORGANIZAÇÃO SOCIAL 2.1. Estado e sociedade civil na tradição marxista 2.2. A cientificação da sociedade e o positivismo 2.3. Sociologia Compreensiva e Estado Racional em Weber 2.4. A dialética do esclarecimento e a escola de Frankfurt 2.5. A influencia da industria farmacêutica na pratica dos profissionais da saúde 2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich O homem na sua organização social Literatura: MONTAÑO, C., DURIGUETTO, M.,L., Estado, Classe e Movimento Social, São Paulo: Cortez, 2011 COSTA, C., Sociologia – Introdução à ciência da sociedade, São Paulo: Moderna 1997 REALE, G., História da Filosofia, São Paulo: Paulus, 1990 CHAUÍ, M. Convite à Filosofia, São Paulo: Editora Attica, 2010 O homem na sua organização social 2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista Século XVII a XVIII - Contexto socioencômico: Avanços científicos e tecnológicos: Revolução Industrial Motor a vapor (James Watt 1767) Locomotiva e navio a vapor Maquina de semear Descaroçador de algodão Máquina de fiar Uso do carvão para baratear produção de ferro Pintura retratando laminação de ferro. Arte: Adolf Menzel, 1872 O homem na sua organização social 2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista Século XVII a XVIII - Contexto socioencômico: Transformações econômicas e sociais: Transição para o capitalismo : formação de grandes cidades, separação do produtor dos meios de produção , transformação da força de trabalho em mercadoria Colonialismo europeu : Exploração das matérias-primas na Africa, Asia, America Latina... Ilustração do livro “Oliver Twist” de Charles Dickens 1838 Trabalho na produção de açúcar. Gravura do século XVII. Collection Roger-Viollet.

Homem, Cultura e Sociedademichaelschmidlehner.at/uninorte/2015-2_HCS_Saude_2_Org_Social... · Homem, Cultura e Sociedade 2) O HOMEM NA SUA ORGANIZAÇÃO SOCIAL 2.1. Estado e sociedade

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19/08/2015

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Homem, Cultura e Sociedade

2) O HOMEM NA SUA ORGANIZAÇÃO SOCIAL

2.1. Estado e sociedade civil na tradição marxista2.2. A cientificação da sociedade e o positivismo2.3. Sociologia Compreensiva e Estado Racional em Weber2.4. A dialética do esclarecimento e a escola de Frankfurt2.5. A influencia da industria farmacêutica na pratica dos profissionais da saúde

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

O homem na sua organização social

– Literatura:

• MONTAÑO, C., DURIGUETTO, M.,L., Estado, Classe e Movimento Social, São Paulo: Cortez, 2011

• COSTA, C., Sociologia – Introdução à ciência da sociedade, São Paulo: Moderna 1997

• REALE, G., História da Filosofia, São Paulo: Paulus, 1990• CHAUÍ, M. Convite à Filosofia, São Paulo: Editora Attica, 2010

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

Século XVII a XVIII - Contexto socioencômico:Avanços científicos e tecnológicos: Revolução Industrial� Motor a vapor (James Watt 1767)� Locomotiva e navio a vapor� Maquina de semear� Descaroçador de algodão� Máquina de fiar� Uso do carvão para baratear

produção de ferro

Pintura retratando laminação de ferro. Arte: Adolf Menzel, 1872

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

Século XVII a XVIII - Contexto socioencômico:

Transformações econômicas e sociais: Transição para o capitalismo:� formação de grandes cidades, � separação do produtor dos meios de produção , � transformação da força de trabalho em mercadoria

Colonialismo europeu:� Exploração das matérias-primas

na Africa, Asia, America Latina...

Ilustração do livro “Oliver Twist” de Charles Dickens 1838

Trabalho na produção de açúcar. Gravura do século XVII. Collection Roger-Viollet.

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O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

[relembrando: 1.1 Possíveis conceituações de filosofia]

Marx : A filosofia passou muito tempo apenas contemplando o mundo, e que trata-se agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos.

Karl Marx(1818-1883)

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

Alienação e ideologia (Chauí 2000, p 215-224)

Explicação da religião pelo filósofo Ludwig Feuerbach: � humanos sentem necessidade de uma explicação para a origem e a finalidade do

mundo� humanos projetam fora de si um ser superior� humanos se esquecem de que foram os criadores desse ser� Não se reconhecem nesse “outro” que criaram. → alienação religiosa

→ Análise sociopolítica de Marx em analogia com Feuerbach� Homens ignoram que são os criadores da sociedade � Homens esquecem que são agentes da história. � A ação sociopolítica e histórica chama-se práxis� O desconhecimento de suas origens e de suas causas chama-se → alienação social

Karl Marx(1818-1883)

Alienus (latim)= outro

Ludwig Feuerbach (1804-1872)

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

Como sociedades são produzidas pela práxis?

� divisão sexual e social do trabalho: tarefas diferentes de homens, mulheres, crianças → instituição social da família

� divisão social das trocas - famílias trocam ente si → instituição social do comercio

� Algumas famílias acumulam riqueza: pobres precisam trabalhar para ricos → instituição social da escravidão

� Mais ricos distribuem entre si o poder político → instituição social do Estado

� Famílias dirigentes dão a alguns de seus membros autoridade exclusiva para narrar mitos e celebrar ritos (Sacerdotes) → instituição social da religião

� Grupos de famílias dirigentes disputam entre si terras, animais e servos→ instituição social da guerra

uma parte da sociedade detêm riqueza, poder, saber, armas...variação das condições materiais de uma sociedade constitui sua História

Karl Marx(1818-1883)

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

� Alienação social = desconhecimento das condições histórico-sociais concretas

� Exemplo alienação:“quando alguém diz que uma pessoa é pobre porque quer, porque é preguiçosa, ou perdulária, ou ignorante, está imaginando que somos o que somos somente por nossa vontade, como se a organização e a estrutura da sociedade, da economia, da política não tivesse qualquer peso sobre nossas vidas. A mesma coisa acontece quando alguém diz ser pobre 'pela vontade de Deus' e não por causa das condições concretas em que vive. Ou quando faz uma afirmação racista,segundo a qual 'a Natureza fez alguns superiores e outros inferiores'.” (Chauí 2000, p.218)

Karl Marx(1818-1883)

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O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

� Ideologia= produção da "ilusão social" (Chauí 2000, p.212)

Ideologia tem a função de dissimular as divisões sociais e políticas, fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente

� Exemplo ideologia: Condenação do adultério e valorização da virgindade na cultura burguesaVínculo entre sexo e procriação (procriação apenas pelo casamento) é importante

porque garante, para a classe dominante, a transmissão do capital aos herdeiros.

Karl Marx(1818-1883)

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

(Montaño e Duriguetto 2011, p.33-49)

Duas esferas da vida política:� Sociedade civil = base econômica, esfera das relações econômicas

Esfera da produção e da reprodução da vida material� Estado = “superestrutura”, produto da sociedade civil,

Esfera que emerge das relações de produção

Propriedade dos meios de produção divide a sociedade moderna em duas classes:� Classe dos trabalhadores (=proletariado):

forçados a vender sua força de trabalho� Classe dominante (= sociedade burguesa ou sociedade capitalista):

detém propriedade sobre meios de produção

Classe capitalista estendeu seu poder ao estado→ Estado = instrumento de dominação da classe capitalista

Karl Marx(1818-1883)

Bourgeois (francês)= burguês= “habitante dos burgos”

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

Emancipação humana e Revolução

� “Emancipação política” como proposta por Rousseau não é possível� Erradicação das bases materiais da sociedade civil (burguesa) é condição para

emancipação humana� Luta das classes é verdadeiro motor da história

� Revolução marxista visa�Estado proletário: ditadura (provisória) do proletariado�Eliminação das classes�Estado proletário se extingue juntos com a extinção das classes

→ fim do estado

� Diferença da “revolução burguesa”, que afirma o Estado(Exemplo: Revolução Francesa = revolução burguesa)

Karl Marx(1818-1883)

O homem na sua organização social

2.1 Estado e sociedade civil na tradição marxista

Para os contratualistas (Hobbes Locke e Rousseau): � o Estado é portador de uma razão própria� o Estado é legítimo

→ legitimação racionalista do Estado(não divina, mágica ou natural)

Para tradição marxista:� Estado não é legítimo� Estado = instrumento de dominação de uma classe

Karl Marx(1818-1883)

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O homem na sua organização social

2.2 A cientificação da sociedade e o positivismo (Chauí 2000, p.246-247, Costa, p.1997 46-69)

Século XIX – surgimento das “Ciências humanas”

� Revoluções científica e Industrial→ confiança plena e total no saber científico e na tecnologia para dominar

natureza, sociedade e indivíduos→ homem torna-se objeto da ciência

� aplicação de conceitos, métodos e técnicas das ciências naturais no ser humano

� homem como uma coisa natural “matematizável” e “experimentável”.

“Acreditava-se que a sociologia, por exemplo, nos ofereceria um saber seguro edefinitivo sobre o modo de funcionamento das sociedades e que os sereshumanos poderiam organizar racionalmente o social, evitando revoluções,revoltas e desigualdades.”(Chauí 2000, p.60)

O homem na sua organização social

2.2 A cientificação da sociedade e o positivismo

A ideologia cientificista

“O senso comum, ignorando as complexas relações entre as teorias científicas e astécnicas, entre ciência pura e ciência aplicada, entre teoria e prática e entreverdade e utilidade, tende a identificar as ciências com os resultados de suasaplicações.

(Chauí 2000, p. 357)

Cientificismo = crença que� a ciência conhece tudo� a ciência é a explicação causal das leis da realidade tal como esta é em si mesma.

Sacralização das ciências:"A ciência [...] havia conquistado parte da sacralidade que antes pertencia às explicações

religiosas: a de descobrir e apontar aos homens o caminho em direção da verdade." (Costa 1997, p.41)

→ do Cientificismo deriva o Positivismo

O homem na sua organização social

2.2 A cientificação da sociedade e o positivismo

O positivismo de Auguste Comte(Costa, p.1997 46-58, Reale 2005, vol 5, p.290-291)� Ciência da sociedade como “física social” → Sociologia� Objetivo: controle científico da sociedade� Sociologia divide-se em estática social e dinâmica social conforme

dois princípios vitais:

1) Dinâmico Passagem para formas mais complexas da existência. Exemplo: Industrialização→ progresso

2) EstáticoPreservação dos elementos permanentes da organização social: Exemplos: religião,

propriedade, linguagem, direito→ ordem

Intervenção na sociedade é justificada para assegurar ordem ou promover progressoLema “Ordem e Progresso” na bandeira brasileira inspirado pelo Positivismo

(ente outros, Benjamin Constant e Getúlio Vargas eram positivistas)

Auguste Comte(1798-1857)

O homem na sua organização social

2.2 A cientificação da sociedade e o positivismo

Lei dos três estágios: Evolução da humanidade e dos indivíduos em três etapas

1. Estágio teológicoFenômenos são interpretados como produtos da ação de agentes sobrenaturais, mais ou menos numerosos;

2. Estágio metafísicoFenômenos são interpretados com referência a essências, ideias, forças abstratas como a "simpatia", a "alma vegetativa" etc.;

[relembrando 1.6: “Na historia da filosofia, periodicamente foi declarada a morte da metafisica” (Chaui 2010, p 262)]

3. Estágio positivoDescoberta das as leis efetivas "de sucessão e de semelhança” que presidem ao acontecimento dos fenômenos

Auguste Comte(1798-1857)

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O homem na sua organização social

2.2 A cientificação da sociedade e o positivismo

� Sociologia é ciência mais complexa, ciência da humanidade� Filosofia deve determinar o espirito de cada ciência

Humanidade = conjunto de todos os homens vivos, dos mortos e dos que devem ainda nascer.

• Indivíduos como células que se regeneram dentro de um organismo dentro da humanidade, como as células de um organismo

Sistema de politica positiva assume forma religiosaReligião da humanidade organizada em analogia com igreja católica

� dogmas a humanidade = leis da filosofia positiva, leis cientificas,

� sacramentos, batismo secular, crisma secular etc.; � templos leigos = institutos científicos� papa positivo vigia desenvolvimento d indústria

Auguste Comte(1798-1857)

Templo da Igreja Positivista em BrasíliaImagem: anofrancabrasil.blogspot.com

O homem na sua organização social

2.2 A cientificação da sociedade e o positivismo

Émile Durkheim (Costa 1997, p 59-65, Reale 2005, v.5, p.355-357)Constituição da sociologia como disciplina rigorosamente científica→ definição do objeto e das regras do método

Obras principais: • A divisão do trabalho social 1893• As regras do método sociológico 1895• O Suicídio 1897

Objeto da sociologia: os “fatos sociais”O fato social é caracterizado por

1. Exercer a coerção social: força o indivíduo a conformar-se com as regras da sociedade Exemplo: adoção do idioma, formação familiar, educação

2. Ser exterior ao indivíduo: atua sobre o indivíduo independente da sua vontade3. Ser geral: se repete em todos os indivíduos

Exemplos de fatos sociais: leis, normas morais, costumes, sistemas financeirosDiferenciação entre fatos sociais normais e patológicos

Émile Durkheim (1855-1917)

O homem na sua organização social

2.2 A cientificação da sociedade e o positivismo

“Ciências humanas procuram “tratar o objeto humano usando os modelos hipotético-indutivos e experimentais de estilo empirista” (Chauí 2000,p.345)

As regras do método da sociologia:Medição e matemática

� Fatos sociais são coisas, objetos que devem ser medidos: Exemplos: taxa de natalidade, taxa de suicídio

� Análise quantitativa por meio da matemática estatística

Objetividade do pesquisador� Pesquisador deve manter distância e neutralidade em relação aos fatos� Fatos sociais devem ser e observados e comparados independente do que os

indivíduos envolvidos pensam.→ Racionalidade das leis da organização social é acessível só ao cientista.→ saber afastado do saber comum das comunidades

→ [relembrando 1.2 – nascimento da filosofia – ausência de casta sacerdotal como condição para nascimento da filosofia]

Émile Durkheim (1855-1917)

O homem na sua organização social

2.3 Sociologia Compreensiva e Estado Racional em Weber

Max Weber – a sociologia compreensiva

Perspectiva históricaWeber considera a pesquisa histórica como essencial para compreensão das

particularidades de cada sociedade→ diferente do positivismo que se interessava por um processo universal de evolução

Método compreensivo:Esforço interpretativo do passado → atribuição de sentido social e histórico → diferente do positivismo que buscava “causas naturais”

Objeto de investigação: Ação social� Conduta humana é dotada de sentido.

� Homem dá sentido a sua ação ao conectar motivo, ação e efeito. � Não há oposição entre indivíduo e sociedade.

� Normas sociais se manifestam na motivação do indivíduo.� Ato estabelece relação social entre atores

Exemplo de ação social: Envio de uma carta → relação entre atendente, carteiro etc..

Max Weber (1864-1920)

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O homem na sua organização social

2.3 Sociologia Compreensiva e Estado Racional em Weber

Max Weber – a sociologia compreensivaPapel do cientista:Decomposição da ação social (Exemplo da carta: escrever, selar) para descobrir sentido

� Não há exterioridade do cientista em relação ao objeto.� Cientista também age conforme sua motivação, cultura� “Objetividade” pura do pesquisador (como propunha Durkheim) é impossível� Embora acontecimentos sócias possam ser quantificáveis, a análise envolve sempre

uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade.� Sociólogo deve buscar não julgar os valores dos grupos sociais que estiver

analisando

� Principal instrumento de análise: O tipo ideal� Construção teórica abstrata,obtida por meio de um trabalho teórico indutivo que

sintetiza elementos da vida social.Exemplo: Patrício romano: “O tipo do grande proprietário de terra romana não é o do

agricultor que dirige pessoalmente a empresa, mas é o homem que vive na cidade, pratica a política e quer, antes de tudo perceber rendas em dinheiro. A gestão de suas terras está nas mãos dos servos inspetores.”

Max Weber (1864-1920)

O homem na sua organização social

2.3 Sociologia Compreensiva e Estado Racional em Weber

Max Weber: Protestantismo e Capitalismo

Obra: A ética protestante e o espírito do capitalismo

Weber mostra por meio de dados estatísticos:– proeminéncia de protestantes entre empresários bem-sucedidos

Weber estabelece conexão causal: Oa valores do protestantismo: disciplina, poupança, austeridade, vocação, dever,

propensão ao trabalho é diferente da atitude contemplativa e do “ alheamento” dos católicos. → aumento da probabilidade que protestantes

� preferem estudos técnicos em vez de humanísticos � optam por atividades mais lucrativas

Pintura mostra valorização do trabalho por protestantes: O vendedor de peixes, (Artista: Adriaen van Ostade, séc. XVII)

Max Weber (1864-1920)

O homem na sua organização social

2.3 Sociologia Compreensiva e Estado Racional em Weber

Max Weber – o Estado Racional(Montaño, Duriguetto 2010, p.66-70)

Estado = racionalização própria da sociedade

Obra: A política como vocação (Politik als Beruf) 1919Estado = “agrupamento político que possui o monopólio do uso legítimo da ação

coercitiva.“

Caraterísticas do Estado Racional� Racionalização do direito: legislativo, judiciário e executivo� Administração racionalizada: educação, cultura, saúde, economia� Atividade política desenvolvida em um território delimitado, sobre seus habitantes

Crítica marxista: � Definição weberiana do Estado é a-histórica: não permite diferenciar socialismo e

capitalismo, países periféricos e centrais,

Max Weber (1864-1920)

O homem na sua organização social

2.3 Sociologia Compreensiva e Estado Racional em Weber

Max Weber – o Estado Racional(Montaño, Duriguetto 2010, p.66-70)

Toda coerção requer legitimidade → relação mando – obediência Três tipos (ideais) de dominação:

1. Dominação legal� Legitimidade fundada na crença da validade dos regulamentos� Ordens impessoais e objetivas, legalmente instituídas

2. Dominação tradicional� Legitimidade repousa nas tradições e nos costumes. � Por linhagem, herança, propriedade

3. Dominação carismática� Legitimidade baseia-se no culto à personalidade e na crença no seu valor pessoal� Puramente emocional e não racional

Max Weber (1864-1920)

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O homem na sua organização social

2.4 A dialética do esclarecimento e a escola de Frankfurt

1923 – Criação do Instituto de Pesquisas Sociais em Frankfurt (Alemanha)Financiado pelo “Mecenas” Felix WeilPrincipais pensadores:

• Theodor W. Adorno, • Max Horkheimer• Herbert Marcuse, • Erich Fromm, • Walter Benjamin

1933 – Instituto fechado pelos Nazistas→ Integrantes fogem para exterior

1944 a 1947 - Adorno e Horkheimer escrevem obra principal da escola:Dialektik der Aufklärung( = Dialética do Esclarecimento ou Dialética do Iluminismo)

1950 – Volta dos intelectuais e reabertura da Escola

Adorno e Horkheimer 1964Fonte: http://de.wikipedia.org

O homem na sua organização social

2.4 A dialética do esclarecimento e a escola de Frankfurt

Teoria crítica � Projeto cientifico de uma filosofia social, reunindo elementos do:� Marxismo (marxismo renovado, não ortodoxo ou partido-partidario)� Sociologia de Max Weber� Psicanálise de Sigmund Freud

� Objetivo:� Análise critica da sociedade capitalista burguesa e descoberta de suas

mecanismos de dominação e de suas ideologias.

O homem na sua organização social

2.4 A dialética do esclarecimento e a escola de Frankfurt

Dialética do esclarecimento:� Erupção do nacional-socialismo na Alemanha → Holocausto� Adorno e Horkheimer questionam as ideias do Esclarecimento:� Razão não libertou o homem, mas promoveu dominação e o desencantamento do mundo

“escrever um poema após Auschwitz é um ato bárbaro”

(Adorno 1949)

Campo de Exterminação em Auschwitz –Polonia(Foto: www.jewishgen.org)

Theodor W. Adorno (1903-1969)

O homem na sua organização social

2.4 A dialética do esclarecimento e a escola de Frankfurt (Chauí 2000, p.360-365)

Conceito central da teoria crítica: Razão Instrumental= razão técnico-científica= razão iluminista

“Na medida em que a razão se torna instrumental, a ciência vai deixando de ser uma forma de acesso aos conhecimentos verdadeiros para tornar-se um instrumento de dominação, poder e exploração. Para que não seja percebida como tal, passa a ser sustentada pela ideologia cientificista, que, através da escola e dos meios de comunicação de massa, desemboca na mitologia cientificista.”(Chauí 2000,p.361)

.”

Theodor W. Adorno (1903-1969)

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O homem na sua organização social

2.4 A dialética do esclarecimento e a escola de Frankfurt

Indústria de cultura e cultura de Massas (Chauí 2000, p.422-428)

“Sob o poderio de empresas capitalistas as obras de arte verdadeiramente criadoras, críticas e radicais foram esvaziadas para se tornarem entretenimento… A força de conhecimento, crítica e invenção das artes ficou reduzida a algumas produções de arte erudita”

→ arte “erudita” para “elite culta”

O Esclarecimento Como Mistificação das Massas: Produtos massificados são vendidas pela Indústria cultural para “de fato vetar a atividade mental do espectador”

→ cultura de massa para “massa inculta”

[relembrando 1.2.nascimento da filosofia: Ulysses como protótipo do homem moderno e suas relações

� Ulysses escutando amarrado: canto mágico das sereias se tornou entretenimento

� Remadores com cera no ouvido: alienados, atividade mental vetada ]

Theodor W. Adorno (1903-1969)

O homem na sua organização social

2.5. A influencia da industria farmacêutica na pratica

dos profissionais da saúde

� O(s) (dois) símbolo(s) da medicina � A influencia da industria farmacêutica na pratica dos profissionais

da saúde

O homem na sua organização social

2.5. A influencia da industria farmacêutica na prat ica dos profissionais da saúde

O(s) (dois) símbolo(s) da medicina

O homem na sua organização social

2.5. A influencia da industria farmacêutica na prat ica dos profissionais da saúde

O(s) (dois) símbolo(s) da medicina

Bordão de AsclépiosAsclépios = Deus da Medicina e da cura da mitologia greco-romana

? ?Caduceu de Hermes

Hermes = Deus grego que representa lucro e comércio(Equivalente Deus romano = Mercurio)

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O homem na sua organização social

2.5. A influencia da industria farmacêutica na prat ica dos profissionais da saúde

Assista a vídeo-aula do Medico Ronaldo Zonta (UFSC- SMS Flortipa)Parte 1 disponível em https://www.youtube.com/watch ?v=w6SaE8GT9IsParte 2 disponível em https://www.youtube.com/watch ?v=KhBnisR9MaY

O homem na sua organização social

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

Quem é Ivan Illich?Que significa Medicalização?O que é iatrogenêse clínica?O que é iatrogenêse social?O que é iatrogenêse cultural?

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

– Literatura:

• ILLICH, Ivan, A expropriação da saúde; Nêmesis da medicina , 3a ed., Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro-RJ, 1975

• GAJARADO, Marcela, Ivan Illich , Recife-PE; Editora Massangana, 2010

• NOGUEIRA, Roberto Passos, A segunda crítica social da Saúde de Ivan Illich, Revista Interface Comunic, Saúde, Educ, v7, n12, p.185-90, fev 2003

• TESSER, Charles Dalcanale, Medicalização social (I) - o excessivo sucesso do epistemicídio moderno na saúde, Revista Interface - Comunic., Saúde, Educ ., v.10, n.19, p.61-76, jan-jun 2006

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

Quem é Ivan Illich?

Teólogo, filósofo, pedagogo austríaco:• nasceu em Viena (Áustria), 1926 • estudou teologia e filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana do Vaticano • trabalhou como padre em Nova Ioque (EUA)• foi vice-reitor da Universidade Católica de Porto Rico• fundou 1956 o Centro Intercultural de Documentación (CIDOC) em México,

(Encontros com Paulo Freire, Erich Fromm)• CIDOC entrou em conflito com o Vaticano e fechou 1976• morreu de câncer em Bremen (Alemanha) 2002

Fonte: www.decrescita.it/

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2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

Quem é Ivan Illich?

Crítico da sociedade industrial e de suas instituições;

• Obra de maior impacto: A sociedade desescolarizada (1971)• Desde o encontro com Paulo Freire, Illich reflet sobre uma sociedade sem escola.• A educação universal pela escolarização não é viável;• Escola = uma das múltiplas instituições públicas que servem apenas

à estabilização e à proteção da estrutura social que as produz;• Proposta: formação de redes educativas que aumentem

as chances de aprender, de partilhar, de se interessar.• A educação devia ser oferecida na sociedade, sem a necessidade de instituições

escolares.

Fonte: www.decrescita.it/

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

Exprópriação da saúde(expropriar = desapossar alguém de sua propriedade)

� O consumidor de cuidados da medicina torna-se impotente para curar-se ou curar seus semelhantes.

� Autonomia pessoal constitui justamente a saúde de cada indivíduoA medicina moderna profissionalizada é heterônoma,

ao tirar esta autonomia das pessoas.

autós (αὐτός) = "de sí mesmo"héteros (ἕτερος) = “outro”nómos (νόµος) = lei, norma

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

A Nêmesis da medicina

“A medicina institucionalizada transformou-se numa grande ameaça à saúde” (Illich 1976)

medicina institucionalizada causa diversas formas de Iatrogênese (ou iatrogenia) = efeitos nocivos sobre a saúde devidos à ação médica

Nêmesis (νέµεσις ) = vingança justa, retribuição= deusa grega da da vingança

Iatros (Ἰατρός) = médico Genesis (γένεσις) = origem

“Nemesis” - Pintura de Gheorghe Tattarescu (Romênia sec. XIX)

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

A Nêmesis da medicina

“A medicina institucionalizada transformou-se numa grande ameaça à saúde” (Illich 1976)

medicina institucionalizada causa A medicalização da vida

Medicalização =“expansão progressiva do campo de intervenção

da biomedicina por meio da redefinição de experiências e comportamentos humanos como se fossem problemas médicos.”

(TESSER 2006, p.62)

Nêmesis (νέµεσις ) = vingança justa, retribuição= deusa grega da da vingança

“Nemesis” - Pintura de Gheorghe Tattarescu (Romênia sec. XIX)

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19/08/2015

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2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

Illich amplia o conceito de iatrogênese (iatrogenia) e diferencia três formas:

1.Iatrogênese clínica,

2.Iatrogênese social,

3.Iatrogênese cultural,

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

O que é iatrogenêse clínica

– se constitui nos danos ao indivíduo ocasionados pelo uso da tecnologia médica, diagnóstica e terapêutica. (TESSER 2006)

– os próprios cuidados de saúde resultam em danos à saúde atribuíveis à falta de segurança e ao abuso das drogas e das tecnologias médicas mais avançadas.(NOGUEIRA 2003)

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

O que é iatrogenêse social?

� efeito social danoso do impacto da medicina, que gera uma desarmonia entre o indivíduo e o seu grupo social, resultando em perda de autonomia na ação e no controle do meio, expropriação da saúde enquanto responsabilidade das pessoas e disseminação do papel de doente como comportamento apassivado e dependente da autoridade médica. (TESSER 2003)

� crescente dependência da população para com as drogas, os comportamentos e as medidas prescritas pela Medicina; iatrogênese social = medicalização social, porque anula o sentido da saúde enquanto responsabilidade de cada indivíduo e de sua família e o torna dependente da autoridade médica. (NOGUEIRA 2003)

2.6. A problemática da medicalização em Ivan Illich

O que é iatrogenêse cultural?

� destruição do potencial cultural das pessoas e das comunidades para lidar de forma autônoma com a enfermidade, a dor e a morte. (TESSER 2006

� práticas tradicionais e saber espontâneo são substituídos pela figura plenipotente do médico e de sua técnica profissional heterônoma, que trazem a promessa delusória de estender indefinidamente a existência das pessoas.(NOGUEIRA 2003)