Homem e Sociedade - UNIP

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CONTEDO DO 1 BIMESTRE (PROVA NP-1) Mdulo 1 DESENVOLVIMENTO DO CONTEDO - item 1 1. A ORIGEM HUMANA Neste contedo so abordados temas e idias como: - a teoria evolucionista e a explicao da biologia para a origem e evoluo do ser humano; - a colaborao da teoria antropolgica sobre a viso da biologia e do evolucionismo; a antropologia defende que a explicao puramente biolgica apenas uma parte de nossa complexa evoluo o papel do comportamento cultural tambm foi determinante para surgimento de nossa espcie como hoje. - a antropologia afirma que falsa a afirmao que o ser humano determinado pelo clima ou pela herana gentica; sim, as populaes se adaptam a diferentes meio ambientes para sobreviver, mas no o meio ambiente que determina nosso comportamento; sim, cada indivduo resultado de uma herana gentica, o que no significa que escravo dessa herana.

Voltar s origens da cultura tambm voltar origem da humanidade. Ter costumes e hbitos aprendidos um comportamento relacionado com a nossa sobrevivncia e evoluo enquanto espcie. O tema possibilita uma abordagem que ressalta a importncia da compreenso do ser humano como um ser bio-psico-social, ou seja, somos seres cujo comportamento determinado ao mesmo tempo: BIO - por nossas caractersticas orgnicas (o tipo de aparelho fsico que temos e como podemos utiliz-lo); PSICO - por nossas experincias pessoais racionais e afetivas de mundo e; SOCIAL - pelo meio social onde vivemos. Parece a voc que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence desde o nascimento) certos comportamentos como preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e ainda se comunicar atravs desta ou daquela lngua?

Pois a Antropologia, junto com outras cincias como a Arqueologia, a Paleontologia e a Histria, tem explorado profundamente essa questo sobre a diferena do Homem em relao ao resto do mundo animal que nos cerca. At o momento puderam concluir que nosso comportamento fruto de um processo histrico no qual BIOLOGIA e CULTURA modelaram nossos ancestrais. Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biolgico e a cultura foram responsveis por tamanhas mudanas em nossa espcie, que hoje achamos um fato natural no necessitarmos entrar na luta pela sobrevivncia, na lei da selva. Quem comeou a inventar palavras para dar nomes s coisas, ou saber que alimentos so comestveis e como devemos preparlos? Quem inventou o primeiro tipo de calado, ou descobriu como fabricar o vidro? Enfim, como surgiu a cultura? Que importncia decifrar esse fato pode ter para nossa compreenso de ser humano? Essas questes devem ser respondidas ao longo desse tema. No sc. XIX Charles Darwin (bilogo), afirmou que todas as espcies vivas resultam de uma EVOLUO ao longo do tempo. Isso significa, que se retornssemos em nosso planeta h milhes de anos atrs no encontraramos as espcies conforme as vemos hoje. Cada ser vivo, para chegar at hoje, passou por sucessivas e pequenas transformaes que possibilitaram sua sobrevivncia; esse processo de mudanas orgnicas ocorre por necessidade de ADAPTAO AO MEIO. Consideremos que as condies do meio como clima, quantidade na oferta de alimentos e todas as questes relacionadas s condies ambientais, esto em constante mudana. Pois bem, as formas de vida existentes precisam acompanhar essas mudanas, estando sujeitas segundo Darwin a dois destinos: a) podem se adaptar e ao longo de muitas geraes apresentarem mudanas visveis; b) no conseguem se adaptar, entrando em extino. Quais so as espcies que conseguem se adaptar? So as que possuem alguns indivduos do grupo dotados de caractersticas tais que o permitem sobreviver e gerar uma prole (conjunto de filhos/as) que d continuidade a essas caractersticas. Os outros indivduos de sua mesma espcie que no possuam tais caractersticas, no conseguindo lutar pela sobrevivncia, tm mais chances de morrer sem deixarem descendentes. Assim, aps muitas geraes, temos uma espcie que j no se parece com seu primeiro exemplar. A possibilidade da gerao de uma prole com caractersticas que permitam a adaptao ao meio , para os evolucionistas, chamada de seleo natural sobrevivem apenas aqueles indivduos com traos que os permitam a sobrevivncia. Ao lado da seleo natural, as mutaes aleatrias tambm so responsveis pelas modificaes de um organismo ao longo do tempo.

Uma das dificuldades do senso-comum em aceitar as idias evolucionistas, est no fato que no podemos ver a evoluo acontecendo apesar de ela estar sempre acontecendo -, isto , no testemunhamos alteraes expressivas, pois as mudanas so muito sutis e ao longo de perodos de tempo muito longos do ponto de vista do ser humano. As alteraes podem ser consideradas em intervalos de tempo no inferiores a cem ou duzentos mil anos. Portanto, muito alm de qualquer evento que possamos acompanhar. Mas podemos acompanhar sim a luta pela sobrevivncia e a mudana de hbitos em muitas espcies, como os pombos que povoam as cidades, mas no esto to concentrados demograficamente nos campos. Essa espcie encontrou um ambiente timo nas cidades construdas pelos seres humanos, aprendendo rapidamente como obter abrigo e alimento, com a vantagem de estar livre de predadores como nas florestas e campos. Faz parte de sua evoluo esse novo ambiente. Assim entendemos que a evoluo biolgica de todas as espcies vivas no acontece sem influencia de muitos fatores, no acontece de forma mgica e independente do tipo de meio e hbitos que podemos observar. Hoje em dia o darwinismo est com uma nova roupagem e temos teorias como o ps-darwinismo ou neo-darwinismo, que so conseqncia do desenvolvimento de nossa tecnologia de pesquisa, e do prprio conhecimento cujas portas foram abertas por Charles Darwin para seus sucessores.

"O APARECIMENTO DO HOMO SAPIENS- uma espcie que trabalha" O homem descende do macaco. Essa foi a afirmao polmica de Darwin na segunda metade do sc. XIX e que dividiu opinies na sociedade moderna. Essa polmica permanece at hoje, pois encontrou como opositor o ponto de vista de uma prtica humana muito mais antiga que a teoria da evoluo: a religio. No conhecemos nenhuma crena, em nenhuma cultura que coincida e concorde totalmente com a afirmao de Darwin. Da perspectiva das crenas, a criao da vida atribuda a um ser criador, a algo externo e superior a toda a vida existente. Ao conjunto de teorias e explicaes que partem desse tipo de raciocnio, denominamos criacionismo. Pois bem, para pensar como Darwin e a maior parte dos cientistas at hoje, esquea suas crenas. A cincia no reconhece como possvel a existncia de seres superiores que tenham dado origem vida, e muito menos entende que o ser humano uma espcie privilegiada ou superior, seja pela capacidade de raciocnio, seja pela capacidade de criar crenas.

Para os evolucionistas, todas as espcies vivas foram surgindo das transformaes de outras j existentes, dando origem a novas espcies, enquanto outras se extinguiram. Os primeiros humanos, chamados cientificamente de homindeos, surgiram das transformaes de algumas famlias de smios que fazem parte dos chimpanzs. Nossa espcie surgiu devido a mudanas biolgicas e ao surgimento da cultura. Que mudanas biolgicas so essas que nos diferenciam dos smios? O aumento da caixa craniana que nos dotou de um volume cerebral muitas vezes maior que o de um macaco. A postura ereta, que possibilita utilizarmos apenas os membros inferiores para nos locomover. E o surgimento do polegar opositor, que possibilita a nossa espcie da capacidade do chamado movimento de pina. a partir dessas trs caractersticas bsicas que desenvolvemos inmeras outras caractersticas fascinantes como a capacidade da fala ou ainda a de fabricar instrumentos para nossa sobrevivncia. Mas essas caractersticas como inteligncia, fala e indstria no teriam surgido em nossos ancestrais se no fosse a presena de um tipo de comportamento que ajudou a modelar o corpo de nossos ancestrais, que o comportamento baseado na CULTURA. Ou seja, a necessidade de comunicao, cooperao e diviso de tarefas facilitou o desenvolvimento dessas caractersticas BIOLGICAS. Caractersticas biolgicas: forma, funcionamento e estrutura do corpo. a nossa anatomia, caractersticas herdadas biologicamente e que no so resultado da nossa escolha pessoal. Caractersticas culturais: todo comportamento que no baseado nos instintos, mas nas regras de comportamento em grupo que nos permite transformar a natureza para a sobrevivncia (trabalho), e nos permite atribuir significados e sentidos ao mundo atravs dos smbolos (a cor branco simboliza a paz, ou o tipo de vestimenta simboliza status). Durante muito tempo pensou-se que o ser humano j teria surgido plenamente dotado dessas caractersticas em conjunto. Hoje sabemos que nossa cultura foi determinante para modelar nossas caractersticas biolgicas ao longo do tempo, e vice-versa. Nossos ancestrais foram lentamente se transformando em humanos, e essa espcie que somos agora, foi aos poucos sofrendo pequenas transformaes que ao longo de milhes de anos nos diferenciaram totalmente de qualquer ancestral smio. No incio da histria humana, nossos ancestrais eram muito semelhantes a um macaco. Tinham mais pelos pelo corpo, o crebro era menor e a mandbula maior. A postura no era totalmente ereta, e as mos no tinham muita habilidade, pois o polegar ficava mais prximo dos outros dedos. O tamanho do crebro foi aumentando muito devagar, como tambm a postura ereta surgiu gradualmente, e igualmente o polegar opositor no surgiu repentinamente. A cada gerao, mudanas muito sutis

transformaram a espcie, e nesse processo a cultura teve um papel fundamental, pois possibilitou ou exigiu que nosso ancestral desenvolvesse comportamentos capazes de mudar nossa estrutura biolgica. Um exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relao com duas caractersticas que so a posio da laringe resultante da postura ereta e a utilizao das mos para trabalhos de fabricao de instrumentos. Ao fabricar os chamados instrumentos de pedra lascada, nosso ancestral permitiu operaes mais complexas e passou a utilizar uma rea do crebro, que a mesma que nos permite falar. importante compreender que nossa espcie no fruto de coisas inexplicveis, mas resulta de um longo e lento processo de evoluo, que significa mudanas ao longo do tempo. Essas mudanas por sua vez, so fruto de uma dura luta por parte de nossos ancestrais para sobreviver em condies pouco favorveis e convivendo com espcies mais fortes e predadores mais bem preparados fisicamente para tal. Nossos ancestrais no tinham a mesma caixa craniana que temos hoje, e no eram to inteligentes; no tinham a postura totalmente ereta, e no viviam em cidades. Eram mais uma espcie entre tantas outras, e o pouco que puderam fazer ento determinou sua sobrevivncia, e mais que isso, determinou COMO somos hoje. Sobreviveram lascando uma pedra na outra para conseguir objetos pontiagudos e cortantes que serviam como arma de caa, como raspador de alimentos ou qualquer utilidade para a vida humana. Dormiam em cavernas, ao invs de fabricar abrigos. Durante muito tempo o domnio do fogo era um mistrio, portanto no comiam muitos alimentos cozidos. Nessa poca no havia escrita, e os nicos vestgios de comunicao encontrados so as pinturas em cavernas (arte rupestre) e pequenas estatuetas representando figuras femininas. Eram organizados em bandos que praticavam caa e coleta, por isso dependiam de deslocamentos constantes em busca de alimento. Durante quase quatro milhes de anos sobreviveram dessa forma, e nesse perodo de tempo nossa forma fsica foi se alterando, at que no chamado perodo neoltico, houve uma revoluo. A revoluo neoltica foi um perodo marcante em nossa evoluo, durante o qual o ser humano desenvolveu tcnicas determinantes para a histria de nossa espcie: a agricultura e a domesticao de animais, que permitiram o sedentarismo (comeamos a construir abrigos e povoados ao invs de habitar em abrigos naturais). A agricultura e a domesticao de animais significaram a garantia de alimentao dos grupos humanos, independente do sucesso na caa e coleta. Isso permitiu nossa espcie se fixar por perodos prolongados em determinados lugares, formando aldeias e tambm colaborou para o crescimento demogrfico. nesse momento que o ser humano comea a TRABALHAR, e no mais viver da caa/coleta que o tornava dependente dos recursos nos territrios habitados. A introduo do trabalho como estratgia de sobrevivncia, segue um padro estabelecido em nossa evoluo para obter resultados:

a diviso de tarefas; a cooperao com o grupo; e a especializao. Essas caractersticas so importantes uma vez que possibilita que cada um de ns realize apenas um tipo de tarefa. No possvel produzir sozinho tudo que necessitamos em nossa vida. Se no tivessem desenvolvido a capacidade de trabalho, baseado nos princpios acima, provavelmente, nossos ancestrais no teriam tido sucesso em sua evoluo, e nenhum de ns estaria aqui hoje, compartilhando a condio se HUMANOS. At hoje utilizamos essas habilidades de trabalho em grupo para viabilizar nossa existncia social. A capacidade de dividir tarefas, cooperar e se especializar permite atingir objetivos com resultados mais efetivos e tambm possibilita um conjunto social com melhor qualidade de vida. O conjunto de tudo que o grupo social produz torna vivel uma existncia cultural, nos libertando da lei da selva. O trabalho humano se fundamenta em caractersticas bsicas como comunicao e cooperao. Fixando-se em um lugar, inaugurando o sedentarismo, o ser humano passa a viver em uma sociedade organizada. Mais alimentos disponveis, mais segurana com as casas fabricadas, maior permanncia do grupo, isso tudo levou a uma maior reproduo da espcie. Tais condies permitiram aos nossos ancestrais uma organizao social mais complexa baseada na SOCIEDADE, e no mais em bandos. A comunicao tambm sofre uma revoluo que foi o surgimento da ESCRITA. A partir da escrita e do surgimento das grandes civilizaes da Antiguidade como Egito, Grcia e China, conhecemos exatamente como a humanidade se desenvolveu. Mas para chegar at esse ponto, nossos ancestrais percorreram um longo caminho. Ele o resultado de um processo muito longo no tempo, e para os quais foram determinantes: a postura ereta, a capacidade craniana, o polegar opositor e a aquisio da fala. Entretanto, nenhuma dessas caractersticas nos valeria muita coisa se no tivssemos desenvolvido um tipo de comportamento baseado em regras de convivncia social, diviso de grupos em parentesco, diviso do trabalho e uma mente dotada de raciocnio lgico e abstrato ligado criatividade e imaginao. Foram nossas capacidades de ORGANIZAO e COMUNICAO que definiram tal resultado, afastando nossa espcie do comportamento instintivo e determinando essa longa e rica viagem chamada HUMANIDADE.

Exerccio resolvido para o item 1.: 1) A respeito do evolucionismo e dos resultados obtidos por suas pesquisas, podemos afirmar que: c) A busca de restos humanos pr-histricos nos obrigou a considerar a evoluo da espcie humana como outro animal qualquer. Alm disso, segundo essa teoria todas as espcies vivas so fruto de uma longa e lenta evoluo, no apenas o ser humano. Devemos ento compreender que o processo da vida evolutivo, inacabado e sem um objetivo ou plano pr-definido. Ttulo : 1.1 O debate das determinaes biolgicas e geogrficas no comportamento humano. 1 bimestre Contedo : Contedo de 1 bimestre (prova NP-1) DESENVOLVIMENTO DO CONTEDO - item 1.1 1.1 - O debate das determinaes biolgicas e geogrficas no comportamento humano. J antiga e muito conhecida a idia segundo a qual as diferenas de comportamento humano de uma cultura para outra, so totalmente provenientes das caractersticas biolgicas de um povo (sua carga gentica) ou ainda totalmente provenientes do meio ambiente (ecossistema, clima) onde ele se desenvolve. A antropologia discorda dessas idias, que denominamos de teorias deterministas, por pretenderem que um povo determinado por variveis sobre as quais no h controle humano. Ou seja, essas teses deterministas descartam a possibilidade do comportamento e valores de um povo ser proveniente de sua historia e das caractersticas humanas que giram em torno da experincia de mundo. Neste item sero apresentadas todas as idias acima, e importante para resoluo dos exerccios que voc perceba que esses conceitos podem ser observados em nossa vida cotidiana. Reconhecer as inconsistncias das teses deterministas um importante aprendizado para valorizar a vida cultural dos povos da humanidade.

Como a Antropologia evidencia a importncia da cultura na evoluo da espcie humana a viso do antroplogo Clifford GEERTZ.

Silas GUERRIERO afirma na pg. 24 do texto A origem do antropos, indicado na bilbiografia:

Como Geertz, podemos afirmar que a cultura produto do humano, mas o humano tambm produto da cultura. No fosse essa extraordinria capacidade de articulao e fabricao de smbolos, provavelmente no teramos sobrevivido e, se o tivssemos conseguido, no teramos diferenas anatmicas to marcantes frente a nossos parentes mais prximos. Em outras palavras, no estaramos aqui contando essa histria. E Roque de Barros LARAIA, na pg. 58 do texto Idia sobre a origem da cultura no livro CULTURA UM CONCEITO ANTROPOLGICO: A cultura desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o prprio equipamento biolgico e , por isso mesmo, compreendida como uma das caractersticas da espcie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume cerebral. A leitura desses textos desenvolve a compreenso predominante atualmente na Antropologia, que o ser humano no teve uma evoluo puramente biolgica para nos capacitar de inteligncia e postura ereta, mas antes, essa evoluo BIOLGICA no foi independente de sua parceira, a CULTURA humana.

- R. de Barros LARAIA discute se somos DETERMINADOS ou no pelo meio ambiente e pela herana gentica : Da perspectiva biolgica, o ser humano uma nica espcie. Somos todos partes de uma mesma famlia que foi dividida ao longo do tempo por sucessivas migraes. Esse movimento de populaes resultou em aparncias distintas para cada grupo populacional, popularmente conhecida como raas humanas. Vamos esclarecer alguns aspectos importantes. Cada indivduo possui um fentipo, que corresponde aparncia fsica. Entretanto somos portadores de gentipos, que so os genes que carregamos e podem ser determinantes nos resultados de nossa reproduo. Um indivduo com o fentipo pele clara e olhos azuis carrega genes com essa informao, mas tambm portador de informaes genticas outras. Assim, cada indivduo vai resultar de uma combinao gentica de seus antepassados, formando um fentipo prprio.

Durante muito tempo a sociedade em geral, e a cincia, debateram sobre essa questo. Acreditava-se que a cada raa correspondia uma cultura. Dessa perspectiva ultrapassada, surgiram as teorias deterministas. O determinismo biolgico defendia que a herana gentica seria a responsvel pelo comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura. Bem, importante ressaltar que esse tipo de afirmao logo encontrou furos, pois nem sempre a totalidade dos herdeiros de genes brancos ou negros apresentavam comportamentos semelhantes entre si. Multiplicavam-se os exemplos de comportamentos diferentes para pessoas da mesma raa. Assim, somou-se a esse equvoco cientfico um outro, que pretendia ser complementar ao anterior e preencher as lacunas explicativas. Trata-se do determinismo geogrfico, que defendia que a ecologia (o meio ambiente) no qual essa ou aquela populao se desenvolveu, tambm seria um fator DETERMINANTE para a cultura ali desenvolvida. Portanto, populaes de lugares com clima muito quente, ou muito frio teriam sofrido influncias que, somadas ao fator biolgico, explicariam costumes, mentalidade, valores e tradies. Mesmo tendo sido totalmente desacreditadas pela cincia, esses determinismos ainda hoje permeiam a viso de mundo do senso comum. fcil encontrarmos pessoas que atribuem ao clima, vegetao, aos animais circundantes, e ao fentipo de cada populao a explicao sobre porque essas pessoas desse lugar agem de tal forma. Voc mesmo deve estar se lembrando de muitos exemplos que condizem com esse esquema explicativo. Entretanto, fundamental que voc conhea os pressupostos com os quais a cincia humana contempornea trabalha. ? TODOS OS SERES HUMANOS EXISTENTES HOJE DESCENDEM DE UM NICO GRUPO HUMANO ORIGINRIO DO CONTINENTE AFRICANO. Essa uma afirmao resultante de um sculo e meio de pesquisas, cujo material arqueolgico foi mais recentemente reforado pelo conhecimento gentico. No h como refutar que qualquer indivduo humano, seja ele um esquim, um indiano, um escocs, um dinamarqus, um japons e assim por diante so descendentes de grupos oriundos da frica. Sim, todos os indivduos carregam genes desses primeiros agrupamentos humanos, apesar de terem fentipos diferentes.

Portanto, somos uma mesma famlia, que foi desenvolvendo aparncias distintas como resposta adaptativa ao meio. A geografia desempenhou um importante papel para a diversidade de tipos humanos? Sem dvida! Ao longo do processo evolutivo, mudanas importantes ocorreram para permitir a sobrevivncia de nossa espcie em diferentes meios. A quantidade de melanina na pele e a dimenso do aparelho nasal foram sendo modelados para permitir nossa sobrevivncia. Como a grande famlia humana foi seguindo rumos diferentes, os grupos que migravam para esse ou aquele lugar, carregavam um conjunto gentico que foi se estabilizando ao longo de sculos e sculos. Isso foi criando fentipos prprios a cada populao humana, que viveram praticamente isoladas umas das outras durante tempo suficiente para que fosse surgindo um tipo de padro que chamamos etnia. Mas, at que ponto a essa herana biolgica e essa influncia do meio tm relao com a diversidade cultural? Leia novamente a questo. De fato, h um LIMITE para tal influncia, e nem biologia, nem ecologia so isolados ou em conjunto a nica explicao para o comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura. Portanto, NO EXISTE UMA DETERMINAO BIOLGICA / GEOGRFICA que sustente a explicao sobre a diversidade cultural. O que se aceita hoje que esses so fatores importantes na relao do ser humano com o meio, seja para sobreviver, seja para se relacionarem uns com os outros. Mas no so determinantes. Vamos a exemplos? Tomemos o caso da facilidade de indivduos afrodescendentes para o desempenho em alguns esportes, como o basquete ou atletismo e que popularmente divulgado. No h dvidas sobre a base biolgica que fundamenta essa associao. Mas vamos refletir melhor sobre o comportamento humano, e no apenas sobre seu legado biolgico. Desculpe, mas vou formular a seguinte questo sem qualquer preocupao cientfica ou poltica. O que o senso comum diria a esse respeito: Um indivduo descendente de brancos pode se desempenhar to bem quanto um descendente de negros nesses esportes? A resposta bvia, para a qual h inmeros exemplos : Sim!

Entretanto, vamos considerar o que se segue. O ser humano depende de desejos, estmulos e condies para chegar a objetivos. Concorda? Um indivduo descendente de brancos que se determine a ser exemplar no basquete ou no atletismo pode atingir esse objetivo perfeitamente. Ele no necessita dos genes para ser isso ou aquilo. Basta que se dedique a aperfeioar o que deseja ser. O que ocorre que um indivduo com facilidades genticas chega ao mesmo resultado com mais facilidades. Aquele que tem a gentica contra si, precisa se dedicar mais para atingir igual resultado. Isso para qualquer coisa que voc possa pensar. A gentica e a geografia so elementos na relao do homem com o meio, e no fatores determinantes. Os genes podem ser facilitadores para certas coisas, mas acima de tudo est a determinao, os desejos e o investimento social que cada indivduo pode dispor para desenvolver certas caractersticas de seu comportamento. O que explica a diversidade cultural, se no h determinismos? O ser humano uma espcie moldvel e criativa. Em cada grupo social, as respostas s necessidades e a qualidade dos vnculos sociais resultam de uma histria que nica quele grupo. Portadores das marcas da histria, das experincias coletivamente vividas, das solues criadas, cada grupo vai construindo um conjunto absolutamente nico que sua cultura. Vamos supor que voc tome uma parcela da populao norte-americana de hoje e os coloque para viver durante um longo perodo de tempo em um outro local, com caractersticas ambientais muitos semelhantes s quais esto acostumados. Daqui a algumas geraes, se voc for analisar esse grupo e o grupo de origem, poder ver que existem caractersticas que os diferenciam. E assim se d, quanto mais o tempo passa. Qualquer coletividade est sujeita a um destino prprio. E a cultura o resultado, a cada momento, dessa experincia de vida que no se repete exatamente com os mesmos eventos, da mesma forma em todos os lugares. A diversidade cultural inerente ao ser humano. Onde quer que se forme um grupo social, o resultado ser sempre o mesmo: uma cultura prpria.

Exerccio resolvido para o tema 1.1: 1) Um menino e uma menina agem diferentemente em funo apenas de seus hormnios, e no em decorrncia de uma educao diferenciada. Esse tipo de afirmao est corretamente associado com que se segue: A ) Determinismo biolgico

Ttulo : 2- O surgimento da cultura na humanidade. 1 bimestre Contedo : CONTEDO DO 1 BIMESTRE (PROVA NP-1) Mdulo 2 2- O surgimento da cultura na humanidade. 2.1 - O conceito de cultura atravs da Histria. Bibliografia Textos bsicos: Idia sobre a origem da cultura (item 2), Antecedentes histricos do conceito de cultura, O desenvolvimento do conceito de cultura (item 2.1), in LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropolgico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 19 ed., 2005. , in LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropolgico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 17 ed., 2005. pp 30-52. Textos complementares: A pr-histria da Antropologia, O sculo XVIII: a inveno do conceito de homem, in LAPLANTINE, F. APRENDER ANTROPOLOGIA, SP: Brasiliense, 2007. pgs. 37-62. Sugesto de texto eletrnico disponvel na Web: NUNES, Rossano Carvalho. Antropologia. Texto disponvel eletronicamente no endereo: http://www.gpveritas.org/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Itemid=63 NUNES, Rossano Carvalho. Cultura. Texto disponvel eletronicamente no endereo: http://www.gpveritas.org/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=55&Itemid=64

Objetivos: O termo cultura no utilizado apenas para descrever o conjunto de conhecimentos e tradies de um povo. H inmeras formas em seu uso, e esse termo pode servir para diferenciar pessoas de acordo com seu status ou ainda para afirmar a superioridade de alguns povos sobre outros. Portanto h questes ticas envolvidas com esse conceito. Nosso comportamento baseado em valores e tradies, que chamamos de cultura, modelou a evoluo at mesmo biolgica de nossa espcie. Compreender como isso se deu, modifica nossa tica de relao com o meio ambiente. Ao final deste tema, voc poder confrontar as noes de cultura do senso-comum que remetem a hierarquias sociais de educao e formao de valores, com a viso cientfica que universaliza a condio cultural humana. Poder tambm identificar a importncia da cultura como mediadora das relaes humanas e nossa capacidade de comunicao atravs dos smbolos. Identificar a pesquisa antropolgica como instrumento de aproximao entre diferentes universos culturais. DESENVOLVIMENTO DO CONTEDO - item 2 A antropologia prope que a cultura a base de nossa forma de encarar o mundo nossa volta e dar formas e significados a ele. Mas afinal, em que momento de nossa evoluo o ser humano passou a viver distante da natureza e dos instintos, e passou a depender da cultura? Ou ainda, como podemos relacionar a evoluo de nossa espcie e a influencia da cultura no desenvolvimento geral da Humanidade? Somos seres culturais, portanto todo o nosso comportamento depende de uma combinao complexa entre caracterstica inatas (que fazem parte de nossa natureza, nossa carga gentica) e meio social. Vamos considerar que grande parte das coisas que realizamos em nosso dia-a-dia, incluindo planos pessoais e organizao de regras de convivncia, resultado de um modelo coletivo de pensar como devemos ser? Isto significa que aprendemos a estar no mundo, e no simplesmente somos jogados nele. Desde a lngua que falamos para nos comunicar, at os smbolos que associamos a crenas, sonhos e mensagens, so criados de acordo com uma mentalidade coletiva comum. Esse modelo para nos comunicar e dar sentido ao que pensamos, dado pela nossa cultura. E em cada uma das culturas humanas, aquilo que nos faz rir, chorar ou sonhar varia imensamente.

Mas, quando o ser humano passou a se comportar de forma cultural? Segundo a antropologia, o ser humano nunca foi uma espcie apenas por suas habilidades orgnicas, como capacidade de raciocnio e postura ereta. Pelo contrrio, essas caractersticas foram acentuadas, pois nossos ancestrais se comportavam de forma cultural. Nesse comportamento podemos citar: - desenvolvimento de tecnologia e de saberes; - desenvolvimento de linguagens para a comunicao; - regras de comportamento em grupo; - ideias e crenas; - tradies e hbitos comuns, etc... Parece a voc que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence desde o nascimento) certos comportamentos como preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e ainda se comunicar atravs desta ou daquela lngua? Pois a Antropologia, junto com outras cincias como a Arqueologia, a Paleontologia e a Histria, explorou profundamente essa questo sobre a diferena do Homem em relao ao resto do mundo animal que nos cerca, e puderam concluir que nosso comportamento fruto de um processo histrico no qual BIOLOGIA e CULTURA modelaram nossos ancestrais. Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biolgico e a cultura foram responsveis por tamanhas mudanas em nossa espcie, que hoje achamos um fato natural no necessitarmos entrar na luta pela sobrevivncia, na lei da selva. Quem comeou a inventar palavras para dar nomes s coisas, ou saber quais alimentos so comestveis e como devemos prepar-los? Quem inventou o primeiro tipo de calado, ou descobriu como fabricar o vidro? Enfim, como surgiu a cultura? Que importncia decifrar esse fato pode ter para nossa compreenso de ser humano? Uma resposta bastante simplista, e que se encontra repetida muito comumente, aquela que afirma que somos capazes de desenvolver cultura, pois somos biologicamente dotados de inteligncia. Mas, por que nosso crebro se desenvolveu de forma a permitir esse tipo de inteligncia que os humanos se gabam por ter exclusividade? Essa questo foi investigada largamente por especialistas tanto das reas de conhecimento das cincias biolgicas como das cincias humanas. Eles acabaram por definir que no houve na evoluo humana apenas um fator isolado que tenha, de forma surpreendente, nos dotado dessa inteligncia. Pelo contrario, nossa evoluo biolgica teve influencia de muitos fatores, entre eles, o comportamento de nossos ancestrais. Conforme o aumento gradativo do crebro[1] permitia o desenvolvimento de habilidades mais complexas, como fala e fabricao de instrumentos, mais necessrio sobrevivncia seria ter essas capacidades. Assim, os indivduos cujo crebro no era

desenvolvido o suficiente para adquirir fala ou fabricar instrumentos, no deixavam descendentes, pois tinham menores chances de sobrevivncia. Ento, isso a seleo natural na teoria da evoluo de Darwin. Assim, a cada gerao, um crebro mais complexo e seu uso para desenvolver habilidades sociais, eram fundamentais aos nossos ancestrais humanos. Portanto, se diz atualmente entre muitos cientistas, que somos biologicamente culturais, ou culturalmente biolgicos. Um fator (biologia) ajudou a modelar o outro (cultura), e vice-versa. Leia aos trechos abaixo, que podem ser encontrados no texto que est indicado na bibliografia complementar: O modo de vida estritamente cultural impe uma srie de exigncias para seu funcionamento. Para comear, aumenta muito a importncia da proximidade e das relaes sociais por um lado, e da inteligncia, por outro. Nenhuma espcie envereda por um caminho destes impunemente. Dentro de um jogo complicado, pode-se pensar que a cultura, ao aumentar as chances de sobrevivncia do grupo, tambm aumenta a sua dependncia da cultura para sobreviver. Ao mesmo tempo em que liberta, submete. Escapa-se de uma armadilha, entrando em outra. Compreender o impacto da cultura na evoluo humana tem sido um desafio constante. Ao que tudo indica, assim que nossos ancestrais desenvolveram uma dependncia da cultura para sobreviver, a seleo natural comeou a favorecer genes para o comportamento cultural. (...) A prpria cultura uma caracterstica biolgica H, porm, mais do que isso: o ser cultural do homem deve ser entendido como biolgico. H mais do que um jogo de palavras na afirmao de que o homem naturalmente cultural, ou ainda, de que a chave para a compreenso da natureza humana est na cultura e a chave para a da cultura est na natureza humana. O homem a um s tempo, criatura e criador da cultura. Nas palavras de Morin (1973, p.92), "o que ocorreu no processo de hominizao foi uma aptido natural para a cultura e a aptido cultural para desenvolver a natureza humana". Desse modo, "desaba o antigo paradigma que opunha natureza e cultura" (p.94). Entretanto, apesar da fora do argumento, mesmo vrias dcadas depois, ainda no se foi muito adiante. (BUSSAB, Vera S. R.; RIBEIRO, Fernando L.; Biologicamente Cultural, texto disponvel em: http://pet.vet.br/puc/vera%20bussab.pdf ) Um exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relao com duas caractersticas que so a posio da laringe resultante da postura ereta e a utilizao das mos para trabalhos de fabricao de instrumentos. Ao fabricar os chamados instrumentos de

pedra lascada, nosso ancestral permitiu operaes mais complexas e passou a utilizar uma rea do crebro, que a mesma que nos permite falar. Segundo uma grande quantidade de pesquisas arqueolgicas, que consiste na teoria cientfica mais aceita, a origem dos primeiros humanos ocorreu no continente africano entre 200 e 100 mil anos atrs. Esse grupo teria comeado sua imigrao para fora da frica entre 65 e 50 mil anos atrs, povoando os outros continentes. Nesse longo caminho, as famlias humanas foram adquirindo caractersticas fsicas diferentes em funo tanto da necessidade de adaptao a novos meios, como pela combinao da carga gentica de cada grupo. Existe toda uma corrente de pensadores na Antropologia, inaugurado pelo americano Alfred KROEBER, que defendem inclusive, que a cultura uma caracterstica que torna a humanidade completamente diferente em seu curso evolutivo, pois enquanto as outras espcies passam por modificaes anatmicas ao longo do tempo para se adaptar a novas condies, o Homem utiliza um equipamento extra-orgnico, que a cultura. Leia o trecho que se encontra no livro de nossa bibliogrfica bsica para esclarecer melhor essa questo: A baleia no s um mamfero de sangue quente, mas reconhecida como o descendente remoto de animais terrestres carnvoros. Em alguns milhes de anos ... esse animal perdeu suas pernas para correr, suas garras para segurar e dilacerar, seu plo original e as orelhas externas que, no mnimo, nenhuma utilidade teriam na gua, e adquiriu nadadeiras e cauda, um corpo cilndrico, uma camada de banha e a faculdade de reter a respirao. Muita coisa perdeu a espcie, mais, talvez, em conjunto do que ganhou. L certo que algumas de suas partes degeneraram. Mas houve um novo poder que ela adquiriu: o de percorrer indefinidamente o oceano. Encontramos o paralelo e tambm o contraste na aquisio humana da mesma faculdade. No transformamos, por alterao gradual de pai a filho, nossos braos em nadadeiras e no adquirimos uma cauda. Nem precisamos absolutamente entrar na gua para navegar. Construmos um barco. E isto quer dizer que preservamos intactos nossos corpos e faculdades de nascimento, inalterados com relao aos de nossos pais e dos mais remotos ancestrais. Os nossos meios de navegao martima so exteriores ao nosso equipamento natural. Ns os fazemos e utilizamos, ao passo que a baleia original teve de transformar-se ela mesma em barco. Foram-lhe precisas incontveis geraes para chegar sua condio atual. (LARAIA, Roque de Barros. Cultura - Um Conceito Antropolgico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 21 Ed, 2007, pgs 40-41) Kroeber chama a cultura de superorgnico, pois dota a humanidade de uma flexibilidade adaptativa a tantos ambientes, que compensa a falta de expressividade de nosso organismo. Explicando. Frente a outros animais, o ser humano no possui capacidades anatmicas muito destacadas como velocidade, olfato, viso ou mesmo fora fsica. Entretanto, ao utilizar os recursos da inteligncia de forma cultural, superamos limites de nosso organismo.

Portanto, a origem da cultura humana coincide com a origem de toda nossa espcie. Ela sempre existiu, e faz parte de nossa forma de sobrevivncia. J outros antroplogos, compreendem que esse debate sobre a evoluo de nossa espcie, no mais importante que o debate sobre nossa condio de existncia. Para um grupo iniciado pelo francs Claude Lvi-Strauss, o foco dessa questo sobre a origem da cultura est em conseguir perceber a importncia do impacto do comportamento orientado por valores e regras, muito mais do que as consideraes sobre nosso equipamento biolgico. Assim, Lvi-Strauss afirma que o fato de possuir cultura, dota a espcie humana de uma caracterstica fenomenal, que a de ter nos distanciado dos instintos. Ou seja, para ele, importante perceber como a cultura nos moldou como seres que agem no apenas preocupados com realizaes praticas de sobrevivncia, e sim, como agimos o tempo todo pautados em uma moral, uma tica de mundo que nos d conscincia. Ele afirma inclusive, que entre todas as atitudes humanas que nos caracteriza como uma espcie cultural, uma tem importncia especial, por marcar em nossa evoluo, o momento em que o ancestral humano deixou de agir como animal e passou a agir como Homem. Esse momento teria sido a instituio da regra, que universal ao ser humano, que probe as relaes incestuosas. Ou seja, relaes sexuais entre indivduos relacionados por vnculos familiares muito diretos, como pais e filhos, ou tios e sobrinhos. Segundo Lvi-Strauss, no h sustentao na afirmao simplista de que tenha sido apenas pela observao de problemas genticos resultantes dessas relaes que o ser humano tenha institudo essa regra. O horror moral que provoca em qualquer ser humano, a notcia de que algum individuo tenha burlado essa regra, supera em qualquer condio o horror a uma prole com problemas genticos. uma regra de ordem moral, muito mais do que de efeito prtico. Concorda? Pois bem, trata-se de uma das nicas regras que tem validade universal em nossa espcie. Ou seja, no depende de poca ou cultura. Todo se humano, em qualquer sociedade evita e pune essa prtica. Ento, podemos pensar que de fato, ela tem uma importncia especial. Sua importncia, para Lvi-Strauss, est no fato de ter retirado definitivamente o ser humano da esfera da natureza, dos instintos. A partir do momento em que nossos ancestrais formularam essa regra, inaugura-se a cultura. um marco simblico, entenda. Mas uma forma muito importante de explicar nossa espcie. Outros animais podem fabricar coisas, e ter atitudes inteligentes, ou memria.

Mas muito mais difcil um animal, e todos os indivduos de sua mesma espcie, aos mesmo tempo, controlarem um instinto, conseguindo agir de forma a neg-lo. Os animais domesticados quase sempre o conseguem. Mas j no fazem parte da natureza. Como o nome diz, so domesticados, vale dizer, seu comportamento passa a ser orientado por outras regras que no o instinto. E, mesmo assim, no se pode garantir que seu instinto no venha a aflorar em certas situaes, como a exposio a alimentos, situaes de agressividade contra os prprios donos e assim por diante.SAIBA MAIS Origem da cultura a tica da relao ser humano / natureza

Apesar de voc no encontrar referncia a isso na bibliografia indicada, importante ressaltar qual a importncia dessa temtica sobre a evoluo humana e o desenvolvimento de nossa inteligncia que nos permite viver em cultura. O ser humano tem uma tendncia a compreender que sua prpria espcie superior a todas as outras, por ter um crebro que permite controlar o ambiente e os recursos de nossa sobrevivncia. Infelizmente, a consequncia disso tem sido uma prepotncia humana em relao natureza circundante. isso mesmo, o ser humano que se sente superior, se sente tambm no direito de se apoderar, esgotar, destruir, manipular a natureza. O resultado, bem conhecido de todos, tem sido um meio ambiente que ameaa os destinos de nossa prpria espcie, e subjuga extino uma grande quantidade de outras espcies. O desequilbrio provocado pelo Homem em seu meio no consequncia apenas da necessidade de avano industrial e urbano. tambm do modelo para realizar esse progresso, que sofre de uma ausncia de tica no relacionamento com as outras espcies vivas. Voc pode ler mais sobre isso no livro: GUERRIERO Silas (org). Antropos e Psique o Outro e sua subjetividade, SP: Olho dgua, 2005. Procure o captulo intitulado As origens do antropos. Exerccio 1) O antroplogo americano Clifford GEERTZ, afirma que o crescimento cortical humano (o crtex cerebral) foi posterior e no anterior ao surgimento da cultura. Ele afirma que isso de importncia fundamental para o nosso ponto de vista sobre a natureza do homem que se torna, assim, no apenas o produtor de cultura. Mas tambm, num sentido especificamente biolgico, o produto da cultura (LARAIA, R.B. Cultura, RJ: Jorge Zahar, 2005 pg. 57). Essa afirmao faz parte do debate sobre a evoluo biolgica humana e o surgimento da cultura, e pode ser interpretada como segue. Assinale a alternativa correta: e) Prope pensarmos a evoluo biolgica humana como um processo simultneo ao desenvolvimento das habilidades culturais.

[1] O aumento do crebro permitiu o desenvolvimento do CRTEX CEREBRAL. Veja a definio da Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_cerebral ): O crtex cerebral corresponde camada mais externa do crebro dos vertebrados, sendo rico em neurnios e o local do processamento neuronal mais sofisticado e distinto. O crtex humano tem 2-4mm de espessura, com uma rea de 0,22m2 (se fosse disposto num plano) e desempenha um papel central em funes complexas do crebro como na memria, ateno, conscincia, linguagem, percepo e pensamento. Em animais com capacidade cerebral mais desenvolvida, o crtex forma sulcos para aumentar a rea de processamento neuronal, minimizando a necessidade de aumento de volume. constitudo por cerca de 20 bilhes de neurnios, que parecem organizados em agrupamentos chamados microcolunas. formado por massa cinzenta e responsvel pela realizao dos movimentos no corpo humano. O crtex o local de representaes simblicas, o que ele recebe processado e integrado, respondendo com uma ao. a sede do entendimento, da razo, se no houvesse crtex no haveria: linguagem, percepo, emoo, cognio, memria. No Homem, o desenvolvimento do crtex permitiu o desenvolver da cultura que, por sua vez, foi servindo de estimulo ao desenvolvimento cortical.

Contedo do 1 bimestre PROVA NP-12.1 - O conceito de cultura atravs da histria

A antropologia social tem como conceito central o conceito de CULTURA. Ento ele um conceito cientfico certo? isso mesmo. Mas no essa a origem da palavra. O termo cultura existia muito antes da Antropologia e outras cincias humanas passarem a utiliz-lo para fazer referencia ao conjunto de hbitos que torna uma sociedade algo totalmente nica e particular. Para refletir sobre a complexidade desse conceito, vamos comear tomando exemplos de como podemos encontrar o uso da palavra cultura em situaes cotidianas. Normalmente as pessoas utilizam essa palavra em frases como: O brasileiro precisa valorizar mais sua prpria cultura; Fulano uma pessoa que tem muita cultura; A cultura desse lugar muito atrasada; A cultura oriental muito antiga. Nesses exemplos j possvel percebermos a complexidade e a multiplicidade do uso que fazemos desse conceito. Precisamos comear a diferenciar quais so utilizaes do chamado senso-comum e, por outro lado, como a cincia antropolgica compreende e define cultura. De acordo com o uso popular, percebemos que existe uma concepo segundo qual cultura uma questo de status e est muito relacionada com a aquisio de conhecimento letrado[1]. Na frase fulano uma pessoa que tem muita cultura, o sentido atribudo a esse conceito que se trata de uma coisa possvel de ser acumulada e que distingue um indivduo dos demais.

A sociedade em geral pensa cultura como relacionada ao acesso a estudos clssicos e letrados. O conhecimento letrado aquele que no faz parte da escola da vida, mas que se acumula no conhecimento transmitido por livros, autores, autoridades em cada assunto. J numa outra situao como na frase o brasileiro precisa valorizar mais sua prpria cultura, h a preocupao em situar o conjunto da produo cultural e da histria de nosso pas. Comparam-se assim as chamadas culturas nacionais, e somos capazes de perceber que de uma sociedade para outra mudam regras, valores, arte, religio, folclore, culinria e assim por diante. Assim podemos ver que os limites polticos e geogrficos que so as naes, podem compreender tambm culturas prprias. Vamos a outro de nossos exemplos. Na frase a cultura desse lugar muito atrasada, existe uma ntida noo popular segundo a qual deve existir uma hierarquia entre as diferentes culturas, que vo das mais atrasadas s mais avanadas. Normalmente as pessoas se referem ao comportamento coletivo, qualidade da vida social. Elas querem expressar a existncia de culturas que desenvolvem meios para que as necessidades sociais sejam mais bem solucionadas, seja em seu desenvolvimento tecnolgico, ou pela chamada educao do povo, que nesse caso, nada mais significa que o acesso a informaes e cultura letrada. Finalmente, na frase a cultura oriental muito antiga, surge a noo que cultura algo que se acumula e se mantm (ou se perde) ao longo do tempo. Nesse caso, h a preocupao em pensar cultura como um conjunto de coisas (denominados elementos da cultura) que podem se transformar tradies, pois so mantidas ao longo do tempo; j outros elementos se transformam, dando a idia de passagem do tempo. Para compreender essa multiplicidade de usos do conceito de cultura, importante resgatar o processo histrico que transformou seu uso. importante ressaltar que no h maneira mais correta ou incorreta de pensar cultura nos exemplos apontados, mas importante, que voc como estudante dessa disciplina, consiga perceber que o uso popular tem formas de julgar pessoas e povos atravs de sua cultura. Nesse caso, cultura se torna um conceito que permite fazer discriminaes, ou at mesmo usar preconceitos contra outros. J o uso do conceito de cultura pela Antropologia, tem como idia central fazer referencia a hbitos, costumes, saberes, tcnicas e todo o conjunto de valores de um povo, sem a lgica do julgamento. o que voc poder perceber com o texto que segue e utilizando a bibliografia indicada. ETIMOLOGIA DA PALAVRA CULTURA[2] * At o sc. XVIII, a palavra cultura existia APENAS com o registro de agricultura.

* Em sua origem, o conceito de cultura demonstra j uma relao entre HABILIDADES HUMANAS e o domnio da natureza circundante. Agricultura uma habilidade em observar o desenvolvimento das espcies vegetais e aperfeioar as condies para o bom desenvolvimento e o cultivo em larga escala. * Os diversos comportamentos culturais humanos, nesse registro demonstrariam nossa capacidade de manipular, aperfeioar, utilizar, consumir. Isso tudo aplicado ao UNIVERSO humano das coisas e idias que nos cercam. COMO A PARTIR DO SC. XVIII A DEFINIO DA PALAVRA CULTURA SOFRE UMA GRANDE TRANSFORMAO A partir desse momento histrico, a palavra cultura adquire uma MULTIPLICIDADE de sentidos. Alm de agricultura, hoje ela associada a conhecimento, educao, costumes e tradies. Como se deu essa mudana? * Revolues anteriores sculos XV, XVI e XVII: * RENASCIMENTO * GRANDES NAVEGAES E A ENTRADA DO NOVO MUNDO NO MAPA MUNDI. * A mentalidade europia passa por um impacto de profundas alteraes econmicas e sociais (os lucros com as Colnias, o contato com outros povos); * O contato com povos de outros continentes fora da Europa, chamados de ndios, aborgenes, primitivos, e que habitam a frica, as Amricas e a Austrlia traz inquietao aos europeus. * LEMBRE-SE: at o momento das Grandes Navegaes, o mundo conhecido pelos povos da Europa se resumia ao Norte da frica, Oriente Mdio, China e ndia. O contato com os povos nativos de outros continentes, com um modo de vida totalmente desconhecido para eles, causou espanto e dividiu as reaes da populao europia [3]. * Nesse contexto, o contato com outros povos prepara o momento seguinte, quando o conceito de cultura comea a ser associado a comportamento coletivo de um povo. Veja abaixo. Aps isso, na FRANA E ALEMANHA surgem duas diferentes definies de cultura (sculos XVIII e XIX) * ALEMANHA (cultura = kultur), idia de que um povo cultiva suas tradies * FRANA (cultura = civilization), preocupados em diferenciar pessoas/povos que cultivam a educao refinada (burguesa) * Nos scs. XVIII e XIX estavam em processo de criao os Estados nacionais, os pases como conhecemos hoje. Era necessria a discusso sobre cultura, pois a classe dominante precisava algum apoio ideolgico para convencer diferentes povos que a partir de ento eles fariam parte de uma mesma nao.

* Perceba como nesse momento que a palavra cultura amplia seu significado, sendo associada TAMBM idia de COMO UM POVO CULTIVA SEU COMPORTAMENTO COLETIVO. Como observamos, dominamos e orientamos a conduta e o cultivo das relaes sociais (registro alemo da palavra). * Tambm nesse momento que a palavra cultura passa a ser associada com DISTINO SOCIAL, pessoas civilizadas e cultas e pessoas atrasadas e incultas (registro francs da palavra). Vale lembrar que o registro que o senso-comum tem hoje da palavra cultura, est bem prximo da forma como na Frana se desenvolveu esse conceito, voc pode perceber isso? Continuando. Os primeiros registros do uso cientfico do conceito de cultura surgem na segunda metade do sc. XIX (1871). O autor Edward TYLOR que definiu cultura como "um conjunto complexo que inclui os conhecimentos, as crenas, a arte, a lei, a moral, os costumes e todas as outras capacidades e hbitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade". Todas as definies que antecedem e foram trabalhadas por filsofos dos sculos XVII e XVIII, e as que surgem aps Tylor, tm em comum a tentativa de explicar a diversidade de povos e culturas. O sc. XIX sofre um profundo impacto da teoria evolucionista de Charles Darwin. Apesar de sua teoria ser relativa nica e exclusivamente biologia, ela foi to importante e revolucionaria que acabou criando o que chamamos nas cincias de PARADIGMA. Um paradigma uma teoria que adquire tamanha fora explicativa, que passa a ser utilizada para alm de seu campo original. Ento muitos pensadores utilizam aquela idia como fonte explicativa para suas prprias questes. Pois o evolucionismo se transformou em paradigma, e influenciou profundamente cientistas sociais, historiadores e at filsofos daquele sculo. No que diz respeito ao conceito de cultura, foi criado o chamado EVOLUCIONISMO SOCIAL, ou ainda darwinismo social. Trata-se de uma teoria que defende existirem ESTGIOS EVOLUTIVOS para a cultura humana, da mesma forma que existem os estgios evolutivos para cada espcie. Ateno a um detalhe importante: repetindo, estgios evolutivos para a cultura humana, assim, no singular mesmo! Pois havia na poca a convico de que haveria uma nica forma de cultura humana, cujo exemplo mximo de evoluo seria aquela praticada pelos povos europeus. Quanto aos outros povos, representavam estgios mais atrasados e pouco importantes em relao aos povos europeus. Perceba ento que na poca no se pensava no plural: culturas humanas. Esse tipo de pensamento se encontra em quase todos os pensadores de ento. o que chamamos de evoluo unilinear, em oposio ao tipo de pensamento que surge no sec. XX, com a idia de evoluo multilinear (localize essas idias no cap. 4 do livro Cultura um conceito antropolgico).

Evoluo unilinear seria exatamente essa idia de estgios evolutivos para a cultura humana, que enxergava como uma nica linha dentro da qual poderiam ser encaixados em diferentes estgios evolutivos a cultura de cada povo. Como era organizada a lgica evolutiva da cultura, dentro dessa concepo de uma linha nica e imaginaria de desenvolvimento dos povos? Os critrios eram basicamente a presena ou ausncia de quesitos como: escrita, metalurgia, tecnologia, cincia, Estado, mercado e assim por diante. Entendia-se que quanto maior o acmulo de semelhanas com todos esses quesitos, que curiosamente estavam presentes apenas em algumas sociedades europias e que so as criadoras dessa teoria, maior a evoluo de uma cultura. Quanto menor a semelhana com esse tipo de aparato cultural, menor a sua evoluo cultural. Surgiram termos para marcar pontos nessa linha evolutiva como: selvagens, brbaros e civilizados. Os povos indgenas brasileiros, por exemplo, que no possuam escrita, no fabricavam metais, no produziam alm do necessrio para a subsistncia, seriam colocados nas etapas mais primitivas dessa linha imaginaria, e eram chamados de selvagens. Ento seguiriam os povos como os chineses, rabes e hindus, que possuam sofisticada tecnologia (lembra-se que Marco Polo trouxe a plvora da China?), instituies polticas complexas, mercado.... mas tinham uma grave falha: no desenvolveram a cincia, como a conhecemos em sua herana europia[4]. Eles eram chamados de brbaros. Por fim, algumas sociedades europias, como os ingleses, franceses ou alemes entre outros, eram os chamados povos civilizados. A principal reao ao evolucionismo tem incio com o pensamento de Franz BOAS, um pensador americano de origem alem. Ele funda uma corrente de pensamento denominada PARTICULARISMO HISTRICO, que ficou bastante conhecida como Escola Cultural Americana. Ele defende que cada grupo humano cria um caminho prprio de desenvolvimento. Isso gera a idia de mltiplas linhas de culturas (veja que agora aparece o plural). Durante todo o sculo XX o evolucionismo continuou sendo combatido, e todos os dados de pesquisas feitas por antroplogos reforavam cada vez mais os erros do evolucionismo social. Entretanto, aquele pensamento to antigo e equivocado permanece incrivelmente presente no pensamento do senso-comum at hoje, pois foi divulgado de forma bastante eficiente pelas elites europias que ento dominavam todos os povos dos outros continentes, suas ex-colnias. Muitas pessoas at hoje, no apenas utilizam esse pensamento evolucionista para tratar de forma pejorativa outros povos, inferiorizando-os. Acredita-se, inclusive, que uma suposta superioridade cultural seja consequncia de uma superioridade gentica de alguns povos. Ao associar cultura e gentica, erros de pensamento so criados, e acabam adquirindo status de verdade, pois os genes acabaram se tornando mitos no mundo moderno. Neles parecem residir chaves e segredos incrveis, solues de toda ordem.

Por isso muito importante ressaltar o pensamento de antroplogos como Geertz e Kroeber, que colaboram para desmistificar o poder de influencia dos genes em nosso comportamento cultural. Nesse ponto, vamos destacar alguns trechos de LARAIA (indicado na bibliografia do item) para finalizar: Resumindo, a contribuio de Kroeber para a ampliao do conceito de cultura pode ser relacionada nos seguintes pontos: 1. A cultura, mais do que a herana gentica, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizaes. 2. O homem age de acordo com os seus padres culturais. Os seus instintos foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou. (Voltaremos a este ponto mais adiante.) 3. A cultura o meio de adaptao aos diferentes ambientes ecolgicos. Em vez de modificar para isto o seu aparato biolgico, o homem modifica o seu equipamento superorgnico. 4. Em decorrncia da afirmao anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras das diferenas ambientais e transformar toda a terra em seu hbitat. 5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que a agir atravs de atitudes geneticamente determinadas. 6. Como j era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, este processo de aprendizagem (socializao ou endoculturao, no importa o termo) que determina o seu comportamento e a sua capacidade artstica ou profissional. 7. A cultura um processo acumulativo, resultante de toda a experincia histrica das geraes anteriores. Este processo limita ou estimula a ao criativa do indivduo. 8. Os gnios so indivduos altamente inteligentes que tm a oportunidade de utilizar o conhecimento existente ao seu dispor, construdo pelos participantes vivos e mortos de seu sistema cultural, e criar um novo objeto ou uma nova tcnica. Nesta classificao podem ser includos os indivduos que fizeram as primeiras invenes, tais como o primeiro homem que produziu o fogo atravs do atrito da madeira seca; ou o primeiro homem que fabricou a primeira mquina capaz de ampliar a fora muscular, o arco e a flecha etc. So eles gnios da mesma grandeza de Santos Dumont e Einstein. Sem as suas primeiras invenes ou descobertas, hoje consideradas modestas, no teriam ocorrido as demais. E pior do que isto, talvez nem mesmo a espcie humana teria chegado ao que hoje. (LARAIA, R. B. Cultura, um conceito antropolgico, RJ: Jorge Zahar, 2005, pgs. 48-49) Sabemos que o ser humano apesar de viver em cultura e ter se afastado de seu comportamento geneticamente determinado (= instintos), no perdeu seus instintos. Entretanto, a maneira de satisfazer s necessidades vitais feita de acordo com a cultura. Alimentao, horrios de sono, atividade sexual, proteo, ou qualquer outro item que faa parte da sobrevivncia de nossa espcie possui regras culturais para serem satisfeitos.

Exerccio resolvido para o item 2.1: 1) Alfred KROEBER afirma que existe uma diferena muito grande entre a evoluo biolgica dos animais e do ser humano. Para fundamentar sua idia, ele cita o fato que os ursos polares desenvolveram ao longo de muitas geraes grossas camadas de pelos para sobreviver ao clima de seu meio ambiente, enquanto o ser humano ao invs de desenvolver pelos, utiliza roupas e cobertas. Ao realizar essa comparao, o autor est: D ) demonstrando que a evoluo biolgica do ser humano diferente, pois nossa espcie no necessitou de uma adaptao biolgica aos diferentes meios. A cultura se mostrou como uma forma de adaptao ainda melhor e superior, pois possibilita a adaptao a qualquer ambiente sem necessidade da lenta adaptao gentica.

[1] Conhecimento letrado todo estudo que utiliza o estudo e aprofundamento de um assunto atravs de livros, uma forma de erudio, um conhecimento que deriva de estudos. [2] Etimologia estudo da origem e da evoluo das palavras. Lembre-se que as palavras so coisas vivas e seu uso pode mudar atravs do tempo, adquirindo novos sentidos, ou ganhando novas formas de emprego no vocabulrio cotidiano. [3] Para saber mais sobre o assunto, leia LAPLANTINE, F. Aprender Antropologia, SP; Brasiliense, 1995, A pr historia da Antropologia, pgs. 37-53. [4] O pensamento cientfico oriental at hoje considerado pelo mundo ocidental como carente de valores para legitimar sua racionalidade, pois encontrase permeado de filosofias que por muitos ainda so consideradas crenas, portanto no so validados como afirmaes aceitveis dentro da metodologia cientifica.

Contedo do 1 bimestre PROVA NP-1 MDULO 3 3. A ANTROPOLOGIA E O ESTUDO DA CULTURA. 3.1 - A diversidade cultural. Etnocentrismo e relativismo cultural. Bibliografia Textos bsicos

Teorias modernas sobre a cultura, in LARAIA, R.B. CULTURA - Um Conceito Antropolgico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 17 ed., 2005. Pgs. 59-64. Cultura e Diversidade, in SANTOS, Jos Luiz dos. O QUE CULTURA, SP: Brasiliense, 2006. pp 07-20. Textos complementares NUNES, Rossano Carvalho. Antropologia. Texto disponvel eletronicamente no endereo: http://www.gpveritas.org/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Itemid=63 NUNES, Rossano Carvalho. Cultura. Texto disponvel eletronicamente no endereo: http://www.gpveritas.org/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=55&Itemid=64 DESENVOLVIMENTO DO CONTEDO item 3 3 A antropologia e o estudo da cultura Antropologia uma cincia dedicada ao estudo do Homem. O radical latino anthropos significa Homem (Ser Humano), e logia o estudo. Surge no sc. XIX empenhada em aprofundar o conhecimento cientfico sobre as chamadas sociedades primitivas, como eram chamadas as tribos e povos no-europeus, os nativos das Amricas, Austrlia e frica. Para explicar a grande diferena de comportamento entre esses povos e os povos europeus, a Antropologia acabou se concentrando no conceito de cultura. Hoje, essa cincia no estuda apenas as tribos ou pequenas comunidades distantes dos centros desenvolvidos, mas qualquer ambiente social. Isso ocorreu, pois ficou comprovado que a diversidade cultural no gira apenas em torno de povos primitivos e povos civilizados, mas est em toda parte onde haja contato entre dois povos que cultivam costumes e valores diferentes. E recentemente, em nossa histria, com o incio da chamada globalizao, o contato entre pessoas e organizaes com diferentes referenciais de mundo, ou seja diferentes culturas, intensificou-se num ritmo frentico. Por isso compreender o conceito cientfico de cultura to importante. No captulo de LARAIA, intitulado Teorias Modernas sobre a cultura h uma apresentao de duas correntes diferentes da antropologia quanto definio do que cultura. Vamos dividi-las abaixo: 1) teorias que definem cultura como um SISTEMA ADAPTATIVO. Para esses autores, a cultura tudo que for criado pelo ser humano para adaptar suas comunidades s suas bases biolgicas (ecossistemas e territrio). A tecnologia, a economia e a organizao de um grupo social servem totalmente aos propsitos de promover essa adaptao, e as mudanas culturais so consequncia direta de mudanas no meio. 2) teorias que definem cultura como um SISTEMA COGNITIVO (teorias idealistas)

Para esses autores, o que o ser humano produz em termos materiais no o mais importante. Interessa perceber a capacidade humana em desenvolver nos domnios intelectuais o mundo que nos rodeia. Assim, cultura um SISTEMA DE CONHECIMENTO do mundo. Tudo que a inteligncia traduz em linguagem e smbolos, regras, crenas e formas de pensar o mundo fazem parte de nossa cultura. Para citar algumas idias dessa ltima definio que parece ser mais complicada para compreender: W.H. Goodenough (1957) - A cultura de uma sociedade consiste em tudo aquilo que se conhece ou acredita para influenciar de uma maneira aceitvel os seus membros. A cultura no um fenmeno material: no consiste em coisas, pessoas, condutas ou emoes. melhor, uma organizao de tudo isso. a forma das coisas que as pessoas tm em sua mente, seus modelos de perceb-las, de relacion-las ou de interpret-las. Perceba como, na viso desse autor, a cultura no CONSISTE EM COISAS (bens materiais), mas a cultura um MODELO MENTAL, uma certa forma de interpretar o mundo. Clifford Geertz (1966) - Se compreende melhor a cultura no como complexos de esquemas concretos de conduta costumes, usos, tradies, conjuntos de hbitos mas sim como planos, receitas, frmulas, regras, instrues (o que os engenheiros de computao chamam de programas) e que governam a conduta. Desenvolvendo ainda mais a mesma idia do autor acima (Goodenough), Geertz indica que a cultura um conjunto de planos e receitas que GOVERNAM A NOSSA CONDUTA. Traduzindo, todas as nossas atitudes, sejam elas de ordem prtica ou de ordem afetiva seriam organizadas em nossa mente atravs da receita proporcionada pela nossa cultura. Para ele, a cultura como um cdigo, um conjunto de smbolos, que para conseguirmos interpretar precisamos ter o segredo, a chave para a interpretao. O mundo um grande cdigo, um conjunto de smbolos embaralhados e a nossa cultura proporciona um entendimento desse mundo. Clifford Geertz, (1973) - Cultura um sistema simblico, caracterstica fundamental e comum da humanidade de atribuir, de forma sistemtica, racional e estruturada, significados e sentidos s coisas do mundo. Mais uma frase do mesmo autor acima, Geertz, que nos chama ateno para o fato que o pensamento simblico EXCLUSIVAMENTE HUMANO. A capacidade de interpretar smbolos a base de nosso pensamento. Associamos smbolos a coisas, e organizamos o mundo em nossas mentes. Por exemplo, o animal co. Para pensar no co, criamos um smbolo que o som da palavra co, e ao pensar atravs de palavras, estamos pensando simbolicamente. Para Geertz, no existe nada no mundo que o ser humano deixe de atribuir um significado. Isso o que explica a cultura humana.

Em que aspecto exatamente, est a importncia desse debate em torno de diferentes concepes sobre cultura?

Para qualquer rea do conhecimento, importante compreender que trata-se de definir a condio do ser humano em relao ao restante das espcies. Os tericos da cultura como sistema adaptativo, concebem que a cultura uma ferramenta como qualquer outra, e que permite solues de sobrevivncia e reproduo aos membros de nossa espcie, homo sapiens sapiens. Isso a torna interessante, uma vez que desmistifica as capacidades humanas, e nos faz olhar para ns mesmos como seres que batalham pela sobrevivncia como qualquer outro. J os tericos mais idealistas, entendem que somos seres cujo crebro no permite outra forma de uso, a no ser para criar cultura. Nosso rgo pensante se tornou, ao longo da evoluo, preparado para entender o mundo atravs de uma lgica simblica. Ele nos impele a formar vnculos familiares e afetivos, pensar solues prticas dentro de concepes culturais, nos pensar como indivduos que compem grupos organizados. Isso a torna interessante, pois mostra que essa caracterstica universal. No h culturas que produzam indivduos mais inteligentes ou capazes. Ambas so vlidas e seus autores produziram uma grande quantidade de conhecimento atravs de pesquisas e teorias que aprofundaram nosso saber sobre a nossa prpria espcie. Em comum o que se pode perceber nessas teorias a tentativa de abarcar todas as realizaes humanas, representadas em dois nveis complementares que so as realizaes materiais e as imateriais. Entre as realizaes materiais, podemos citar todo o universo de coisas fabricadas pelo ser humano, de arados at nibus espaciais. Entre as imateriais esto nossas crenas, conhecimento, arte, idias e todos os sentimentos. Os autores que enfatizam os aspectos materiais argumentam que eles so importantes uma vez que somos a nica espcie a transformar a natureza de forma sistemtica, mesmo quando no h necessidades que afetem a sobrevivncia. Outros autores, entretanto, entendem que nossas maiores realizaes esto contidas nos aspectos imateriais, uma vez que somos a nica espcie dotada da capacidade de abstrao (pensar em coisas que no esto presentes, criar, imaginar). Mas no usamos essas capacidades realizadoras de qualquer forma, e sim de acordo com regras, normas e hbitos estabelecidos coletivamente. O ponto sobre o qual parece haver muita polmica a viso que cada autor tem de ser humano. Aqueles que do maior importncia s nossas realizaes materiais procuram ressaltar a nossa capacidade adaptativa, mostrando a cultura como sendo uma forma de soluo da sobrevivncia, onde grupo social, recursos e meio ambiente se combinam para determinar os hbitos de um povo. Para eles, as tcnicas desenvolvidas para solucionar todos os tipos de empresa humana, que vo de uma simples pescaria s necessidades comunicativas, passando por todo tipo de engenhos que nos cercam que definem propriamente a cultura. Aqui, podemos dizer que cultura equivale a solues prticas para a existncia humana.

Outros autores entendem que a soluo prtica para a vida humana uma conseqncia de outras capacidades, que muito mais do que nos fazer capazes de fabricar instrumentos, nos faz diferentes de todas as outras espcies existentes. So as capacidades de criar, planejar, prever, avaliar, imaginar, atribuir significado e modificar a natureza no apenas por necessidade de sobrevivncia, mas por necessidade de se sentir bem. Podemos denominar isto de capacidade de simbolizao. No construmos o mesmo tipo de prdio para servir a qualquer uso, para cada fim encontramos uma arquitetura. No apenas pelos aspectos prticos que o fazemos, mas porque cada espao deve carregar significados que orientem os indivduos e os faa compreender como devem se comportar. Os templos so diferentes dos teatros, as casas diferentes dos escritrios (ou pelo menos deveriam ser!). A funcionalidade de cada um desses espaos to importante quanto o que nos faz sentir atravs de suas formas e cores. As formas de nossa casa nos transmitem sensaes de pensamentos diferentes de um escritrio ou de um templo, atravs dos smbolos que criamos para cada um deles. Para os autores que defendem a preponderncia desse aspecto, cultura equivale nossa incansvel capacidade intelectiva de carregar o mundo de smbolos. Resposta a necessidades prticas, ou respostas a necessidades intelectivas, a cultura uma forma de estarmos no mundo. Ela nos orienta em cada situao da vida social, como um modelo que recebemos e sobre o qual passamos a vida operando pequenas modificaes. Vamos ver mais adiante, que algumas regras presentes nas culturas podem ser modificadas, suprimidas, desgastadas; enquanto outras so mais difceis de negociar. assim, e pronto. Ou seja, h aspectos mais dinmicos e outros mais permanentes em cada cultura. Independente da teoria sobre cultura que se utiliza, existem duas reaes diferentes na forma de compararmos as culturas. A primeira, que usa a HIERARQUIA para afirmar que existem culturas mais avanadas ou evoludas. Assim, haveria culturas que, desse ponto de vista, obtm mais domnio tcnico sobre a natureza, ou formulam mais conhecimento letrado. Faz parte do evolucionismo social, j trabalhado em nosso contedo anteriormente. A hierarquia entre as culturas tambm faz parte de uma realidade mundial que se encontra nas relaes internacionais. Existem centros de poder econmico que influenciam no julgamento de culturas que se diferenciam delas. Assim, so inferiorizadas as culturas de povos dominados ou dependentes economicamente. Sim, a cultura uma realizao humana na qual as relaes de poder tambm se faz presente. A outra, que mais presente entre os estudiosos mais contemporneos das culturas, que no v sentido em hierarquizar as culturas, pois para fazer isso temos que privilegiar uma delas e tom-la como referncia. Isso faz com que todas as outras sejam subjugadas. Nessa compreenso mais contempornea, se uma cultura no desenvolveu motores, mas garante a todos os seus membros os recursos de sobrevivncia, ela adaptada ao seu meio. Como faz para resolver isso, passa a ser irrelevante. Exerccio resolvido para o item 3

1) A respeito das teorias que definem o conceito de cultura, leia as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta: Existe uma grande diversidade cultural na espcie humana. PORQUE Algumas sociedades possuem padres de conduta e tecnologia atrasadas em relao s outras. c) Ambas as afirmaes fazem parte dos estudos da cultura, mas atualmente a segunda no justia a primeira. MDULO 3 3.1 - A diversidade cultural. Etnocentrismo e relativismo cultural. Relativismo cultural e etnocentrismo so conceitos bsicos da Antropologia para a compreenso de fenmenos que envolvem CONTATO CULTURAL, ou seja, o contato entre universos culturais DIFERENTES. Esses conceitos se referem a julgamentos que podemos ter quando em contato com o outro (algum com padres culturais diferentes do nosso). Esses julgamentos so responsveis pela qualidade de nosso contato com a diversidade. Quando o outro tem padres de comportamento, hbitos e valores muito diferentes dos nossos prprios possvel reagirmos de forma positiva ou negativa a isso. Julgar positivamente ou negativamente o comportamento alheio, tem relao com as atitudes de etnocentrismo ou com o exerccio de relativismo que podemos utilizar. RELATIVISMO CULTURAL considerar o mundo DO PONTO DE VISTA DO OUTRO, entendendo seu sistema simblico, seus prprios valores de mundo como beleza, justia, honra, medo, e assim por diante. deixar de tomar a NOSSA prpria cultura (viso de mundo) como medida para julgar os outros. ETNOCENTRISMO O fato de que o homem v o mundo atravs de sua cultura tem como conseqncia a propenso em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (isso denominado etnocentrismo). Ao pensar de forma etnocntrica as pessoas depreciam o comportamento daqueles que agem fora dos padres de sua comunidade. Comportamentos etnocntricos resultam em apreciaes negativas dos padres culturais de povos diferentes. Prticas e idias ou valores de outros sistemas culturais so vistas como absurdas. O etnocentrismo um comportamento universal. comum a crena de que a sua prpria sociedade o centro da humanidade. A antropologia trabalha com alguns conceitos centrais que vamos passar a aprofundar neste tpico.

Cultura, diversidade cultural, relativizao e etnocentrismo sero fundamentais para compreender o debate cientfico e da sociedade em geral em torno do comportamento coletivo humano. O encontro com o diferente suscita reaes e atitudes que se vm vinculadas posio de poder ou submisso das pessoas na sociedade, bem como de preconceitos e verdades pr-estabelecidas que o senso comum reproduz. A cultura no uma RECEITA de mundo, no sentido de ser algo inquestionvel, sempre inconsciente que controla rigorosamente a todos os indivduos. Podemos recorrer a uma metfora para facilitar a compreenso sobre a relao entre os padres culturais que herdamos/repetimos, e nossa atuao individual: A mente humana corresponde a um disco rgido (hardware), que apesar de capaz de muitas tarefas, no consegue realizar nada sem um programa (software). Esse programa a cultura. Vamos lembrar que um software um programa determinado e fechado, mas que aqui em nossa metfora, operando a cultura h sempre um ser humano. Somos dotados de criatividade, subjetividade, carregamos histrias pessoais e coletivas. Assim, interferimos o tempo todo no programa que recebemos. A cultura no apenas um modelo, um quadro de referncia, ela uma forma de acesso s possibilidades humanas. H uma dinmica na relao entre cultura e sujeito, entre sujeito e histria, entre indivduo e grupo. Se pensarmos que a cada cultura corresponde uma diferente viso de mundo, percebemos que os indivduos se organizam mentalmente para estar no mundo de acordo com os valores introjetados de sua cultura. Tornamos nosso aquilo que cultural. Exercitando. Vamos pensar sobre os sentimentos humanos. Obviamente, nossas emoes so universais. Amor, dio, paixo, rivalidade, raiva, afeto, ironia, alegria, euforia e tudo quanto possamos lembrar agora, fazem parte da humanidade. Entretanto, as EXPERINCIAS QUE SUSCITAM este ou aquele sentimento, e a forma como expressamos o que sentimos isso cultural. Muitas situaes que fazem um brasileiro rir podem no ter o mesmo efeito em pessoas de outros povos. Ou ainda, situaes como o funeral que exigem circunspeco e tristeza em algumas culturas podem exigir expresses de alegria em outras. O exerccio de relativizar se colocar na condio do outro. Pois bem, muitas vezes fazemos julgamento equivocados do comportamento alheio, simplesmente pelo fato de desconhecer as motivaes que levaram a tal ou qual atitude. Quando no temos a chave simblica que permite a relativizao dos costumes, tendemos a nos fechar em nosso etnocentrismo. Tudo bem, precisamos relativizar, no mesmo?

Sim, correto que tenhamos reaes mais respeitosas e ticas com os outros. Mas tanto o relativismo cultural como o etnocentrismo podem ser encontrados em diferentes graus, e quando praticados de forma radical, se tornam destrutivos das relaes humanas. Quer dizer que relativizar demais pode ser perigoso? Sim! Quando apenas relativizamos tudo, aceitando qualquer atitude alheia como normal, natural e aceita, podemos correr o risco de no ter mais referencial tico de mundo. Em termos prticos, isso significaria, por exemplo, tornar aceito como normal as mutilaes dos rgos genitais femininos praticados em algumas sociedades de cultura mulumana, principalmente em comunidades africanas. Percebe que deve existir um limite para a prtica do relativismo? Relativizar deve ser algo estimulado socialmente, mas dentro de padres de respeito integridade fsica, psquica e moral do outro. O oposto tambm verdadeiro. Etnocentrismo sempre ruim? No! Na verdade, todas as culturas praticam etnocentrismo de alguma forma. Quando reagimos com averso ao fato da alimentao em algumas culturas incluir pratos com animais como insetos, ces ou lesmas (o famoso escargot francs), preferindo um bom arroz com feijo, estamos sendo um pouco etnocntricos. Isso necessariamente ruim? Bem, na medida em que pode servir para reforar nossa identidade cultural e nos trazer bem estar dentro de nosso prprio padro cultural, no uma atitude ruim. Mas quando a averso ao outro to grande que precisamos exclu-lo, destruir seus costumes forosamente ou mesmo agredi-lo fsica e moralmente, estamos atingindo um grau de etnocentrismo inaceitvel. O relativismo extremo pode levar ausncia de noes ticas. O etnocentrismo extremo pode levar ao genocdio e s prticas racistas / preconceituosas. Exerccio resolvido para o item 3.1 1) Das situaes abaixo, assinale aquela que tem relao com o conceito de RELATIVISMO CULTURAL: Resposta do exerccio 1): C) julgar uma cultura a partir de seus prprios valores e hbitos, e no a partir de valores dominantes de uma cultura alheia que se impe sobre outras por se considerar superior.

MDULO 4 4. A cultura; a simbolizao da vida social. 4.1 - As principais caractersticas da cultura como viso de mundo: herana cultural e formas de compreender o mundo, a participao dos indivduos na cultura. Bibliografia Textos bsicos O que se entende por cultura in SANTOS, Jos Luiz dos. O QUE CULTURA, SP: Brasiliense, 2006. pp 21-50. A cultura condiciona a viso de mundo do homem, A cultura interfere no plano biolgico, Os indivduos participam diferentemente de sua cultura, A cultura tem uma lgica prpria, A cultura dinmica, in LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropolgico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 19 ed., 2005. Pgs. 65-101. Textos complementares sugeridos: Cultura e seus significados, in GOMES, Mrcio Pereira. Antropologia cincia do homem, filosofia da cultura. So Paulo: Contexto. 2009. Pp. 33-51. RIBAS, Joo C. O olhar, in GUERRIERO, Silas (org). ANTROPOS E PSIQUE o outro e sua subjetividade. SP: Olho dgua, 2003. Pp 87-96. MINER, Horace. Ritos Corporais entre os Nacirema, texto disponvel em: http://www.aguaforte.com/antropologia/nacirema.htm Objetivos: ao final deste tema voc deve ser capaz de identificar a importncia da cultura como mediadora no processo de construo de nossa viso de mundo, bem como da relao do ser humano com sua corporalidade e das noes de sade e doena. Poder perceber que apesar de vivermos em uma cultura que determina padres de comportamento, h um espao para nossa individualidade. importante ao final deste item que se perceba a profunda influncia da cultura em todas as dimenses de nossa experincia fsica, emocional e intelectual no mundo. DESENVOLVIMENTO DE CONTEDO - item 4 Nos textos indicados, voc ser capaz de identificar informaes e conceitos sobre a cultura que j desenvolvemos anteriormente. O foco deste item a compreenso de cultura em seus aspectos simblicos. Vamos desenvolver um pouco mais a compreenso sobre o que smbolo, simbolizar, e a importncia disso para a cultura? A cultura depende de nossa capacidade de comunicao. Sem comunicao nossa sociedade seria mais semelhante a uma sociedade de outros animais que vivem em coletividade como abelhas, formigas e lees.

A cultura humana tem caractersticas que diferenciam nossa forma de vida coletiva. Para expressar a cultura, dependemos da utilizao dos smbolos. Lngua, conceitos, valores, idias, crenas, tudo que faz parte da cultura humana baseado em smbolos que precisam de uma conveno social para que os indivduos associem a um mesmo significado, e faz com que seja possvel a INTERPRETAO dos contedos comunicados. Entretanto, de uma cultura para a outra esses significados variam imensamente, o que torna necessria a compreenso do contexto cultural onde os smbolos so criados e utilizados para que nossa comunicao seja eficaz e consiga atingir seus objetivos. Ao entrar em contato com esse fenmeno que se chama comunicao atravs da Antropologia, possvel ampliarmos nossa capacidade de compreenso do outro. A simbolizao pode mesmo ser tomada como sinnimo do conceito de cultura, segundo Geertz. Para o a antropologia atual, cultura um sistema simblico (Geertz, 1973), caracterstica fundamental e comum da humanidade de atribuir, de forma sistemtica, racional e estruturada, significados e sentidos s coisas do mundo . A cultura depende dos smbolos, a comunicao humana baseada na simbolizao. Mas, o que smbolo mesmo? Segundo o Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa (edio de 2001): 1 aquilo que, por um principio de analogia formal ou de outra natureza, substitui ou sugere algo 1.1 aquilo que, num contexto cultural, possui valor evocativo, mgico ou mstico (...) 2 aquilo que, por pura conveno, representa ou substitui outra coisa. Vamos fazer um pequeno exerccio para tentar aplicar todas essas definies de smbolo nossa realidade? A palavra gato. Ns convencionamos que a palavra gato simboliza aquela espcie de felinos que encontramos na natureza e que se tornou um de nossos animais domsticos. Apesar de existir uma imensa diversidade de tipos de gatos, quando pensamos em um gato para comunicar uma situao corriqueira envolvendo gatos, no pensamos em gatos de tipos muito especficos ou em suas qualidades. Quando pensamos em um gato e queremos comunicar essa idia bsica, de forma generalizadas sobre gatos, temos que recorrer a um som, uma palavra que ao ser pronunciada, faa com que todos os presentes entendam no que o comunicador estava pensando. Ento a palavra GATO no a coisa real que existe na natureza, mas antes um som que representa essa realidade. Esse um primeiro passo para entendermos o processo de simbolizao, e at aqui j deu para entender que sem smbolos, no conseguiramos sequer compartilhar o que se passa em nossas mentes. Pois bem, vamos avanando. A palavra GATO um dos smbolos para a coisa em si, o prprio gato. Para cada coisa existente, o ser humano cria muitos smbolos. Temos por exemplo, a representao da flor atravs dos desenhos, que tambm um smbolo. Assim:

Essa imagem fotogrfica, apesar de parecer o prprio gato, ou uma delas, no . uma representao do gato em si, pois j deixou de ser o prprio gato, e simbolizado nessa imagem que no tridimensional, e sim bidimensional, criando assim algo que a representa, mas deixou de ser ela mesma. um smbolo.

Knia Kemp, 2010

Gato amarelo e flor, de Aldemir Martins, 2001.

Essas duas imagens so desenhos, ou seja, representaes artsticas do gato e, portanto,

tambm no so o gato em si, e sim formas simblicas para elas. A arte em essncia, simblica. O artista procura sempre representar algo. Na pintura, na msica, na dana, o artista procura atravs da forma obtida (a forma plstica, a sonoridade ou o movimento) criar um smbolo para algo visto, percebido, sentido ou experimentado antes. Ento, podemos compreender que as coisas em si so transportadas para a nossa mente, e podemos pensar nelas, mesmo quando no estamos em sua presena. A maior parte de nossa comunicao diria tem como finalidade narrar, descrever, lembrar, conceituar, coisas que no esto presentes. Ao fazer isso, retiramos todas as coisas de seus contextos originais, que no pode ser reproduzido em toda a sua riqueza e complexidade, e escolhemos alguns de seus aspectos a serem ressaltados. Assim que ns SIMBOLIZAMOS as experincias vividas, e atravs dessa comunicao simblica podemos atribuir qualidades ao mundo. Essa flor alegre, esse cheiro me lembra a infncia, as cores dessa bandeira simbolizam a paz e a riqueza, o crucifixo identifica os cristos, so formas de simbolizar experincias e sensaes. No est na flor em si ser alegre ou triste, mas o ser humano atribui a umas e outras certas qualidades. No existe cheiro de infncia, mas aromas que so convencionalmente usados em bebs, ou ainda aromas de um lugar que marcaram a infncia de UMA pessoa, e assim por diante. O correto observarmos que na natureza no existem qualidades que so criadas pelo Homem, como bondade/maldade, justo/injusto, belo/feio. Uma catstrofe da natureza como um terremoto, no ruim seno do ponto de vista dos prejuzos que possa causar aos seres humanos. Para a terra, onde ele se originou, no existe esse tipo de julgamento. Bondade, justia e beleza, bem como todos os conceitos de mundo que dispomos so resultados da criao das culturas humanas, e no da natureza. Portanto, so valores, que se expressam atravs de smbolos. Um cu escuro e carregado de nuvens pode simbolizar preocupaes e problemas, ou um terremoto pode ser utilizado para simbolizar algum inquieto, agitado. Ao utilizar um crucifixo, uma pessoa identificada pelos outros como cristo, pois a cruz simboliza um evento da figura fundadora dessa f, que Cristo. Essa uma outra associao possvel com os smbolos. Os smbolos representam coisas, idias e pessoas que no esto presentes. Cada profisso elege seu smbolo; os times utilizam brases, cores e emblemas; placas de trnsito so smbolos; placas de proibido fumar, proibido ces e outras regras de uso do espao so smbolos. O smbolo facilita e agiliza a comunicao, transmite idias complexas e sentimentos, e tudo isso possvel porque como diz Geertz, a humanidade atribui, de forma sistemtica, racional e estruturada, significados e sentidos s coisas do mundo. Tudo na comunicao smbolo? Sim! Os smbolos so frutos: da persistncia humana de olhar para o mundo e ver significados, da rotinizao de solues racionalmente pensadas, de significados coletivamente construdos. A cada cultura corresponde um processo coletivo nico

de criar smbolos, portanto a maioria dos smbolos cotidianos tem um significado apenas local. Mas alguns smbolos, por efeito da sistemtica e rotina de circulao em outros meios, conseguem ter significado para praticamente a humanidade toda. Assim ocorreu com a logo marca da Coca-Cola, presente em todo o mundo como um cone de prazer e do mercado, ou com o smbolo da juventude dos anos 1960 para paz e amor. Quando nos comunicamos, seja pela linguagem escrita, falada, filmada, ou pelas artes, o contedo do que comunicado sempre algo que precisa ser interpretado. Interpretar dar sentido, entender, julgar. A maior parte de nossa comunicao composta de contedos que se tornaram conveno social. Ser membros da mesma cultura uma garantia de que todos estejam interpretando de forma muito semelhante os contedos comunicados. Claro que isso no garante eventuais desentendimentos, os chamados erros de comunicao, ou mal entendidos. Mas garante que no tenhamos que explicar minuciosamente o tempo todo nosso uso dos contedos comunicativos. Como os smbolos cotidianos dependem desse consenso em torno da interpretao, muito comum que quando usados em um contexto diferente do original, eles sejam interpretados de formas inusitadas ou at mesmo, incorretas. Isso porque ao sarem de sua cultura original, podem ir parar em lugares onde no h essa conveno sobre como ele deve ser interpretado. Ento, o que acontece que as pessoas tendem a dar o sentido mais apropriado ao seu prprio contexto. No interessa muito para o senso comum ter entendimento e investigar a origem de certos smbolos, para utiliz-los da forma mais adequada. Hoje em dia esse fenmeno muito comum no mundo da moda e das tendncias de comportamento. O que aprendemos sobre os smbolos, portanto? Primeiramente, que a comunicao humana baseada na criao, divulgao, incorporao e rotinizao de smbolos. A linguagem falada simblica, a linguagem escrita simblica, tambm a linguagem gestual, ou ainda a comunicao udio-visual. Para que nossa comunicao seja eficaz, precisamos dominar e compartilhar os mesmos smbolos. Em segundo lugar, os smbolos comunicam no apenas o mundo exterior nossa mente, que o mundo que nos rodeia, mas comunicam tambm coisas imateriais como sentimentos, idias abstratas e conceitos. Por isso utilizamos os smbolos para comunicar quem somos, o que fazemos, nossas preferncias, nossa condio, e assim por diante. Atravs dos smbolos, materializamos aquilo que interior nossa mente. Sem tal comunicao, no realizaramos nenhuma de nossas capacidades como raciocnio, criatividade, emotividade e assim por diante. Portanto, sem os smbolos no haveria cultura humana. Vamos ler juntos um trecho do texto indicado na bibliografia desse item para concluir sobre a importncia da capacidade de simbolizao humana no estudo da cultura? Uma maneira mais complicada de apresentar essa dimenso dizer que a cultura inclui o estudo de processos de simbolizao, ou seja, de processos de substituio de uma coisa por aquilo que a significa, que permitem, por exemplo, que uma idia expresse um acontecimento, descreva um sentimento ou uma paisagem; ou ento que a distribuio de pessoas numa sala durante uma

conversa formal possa expressar as relaes de hierarquia entre elas. Assim, a idia de uma divindade nica pode ser vista como significando a unidade da sociedade; nas brincadeiras infantis tradicionais numa sociedade como a nossa pode-se mostrar a presena simblica de mecanismos de competio e hierarquia do mundo dos adultos. De fato, os processos de simbolizao so muito importantes no estudo da cultura. a simbolizao que permite que o conhecimento seja condensado, que as informaes sejam processadas, q