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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
ADRIANO FERREIRA BARROS
ÁLCOOL E INFRAÇÕES:
Um Estudo da Influência do Álcool nas Ocorrências de Infrações
de Trânsito dos Motoristas de Transporte Coletivo de Aracaju/SE
MACEIÓ - AL
2013
ADRIANO FERREIRA BARROS
ÁLCOOL E INFRAÇÕES:
Um Estudo da Influência do Álcool nas Ocorrências de Infrações de
Trânsito dos Motoristas de Transporte Coletivo de Aracaju/SE
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
Orientador: Prof. Dr. Manoel Ferreira do Nascimento Filho
MACEIÓ - AL
2013
ADRIANO FERREIRA BARROS
ÁLCOOL E INFRAÇÕES:
Um Estudo da Influência do Álcool nas Ocorrências de Infrações de
Trânsito dos Motoristas de Transporte Coletivo de Aracaju/SE
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
APROVADO EM ____/____/____
______________________________________ PROF. DR. MANOEL FERREIRA DO NASCIMENTO FILHO
ORIENTADOR
_____________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________ PROF. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
DEDICATÓRIA
Dedico,
A minha esposa, Mirza Tamara e ao meu filho, Murilo.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e família maravilhosa que me ofereceu.
Ao meu pai, pelo exemplo de pai, pessoa e profissional.
A minha mãe pelo amor incondicional e por sempre ter uma palavra de conforto.
Ao minha esposa pelo apoio, amor e paciência.
Ao meu filho pelo sorriso e alegria quando da minha volta.
Ao professor Manoel Ferreira, por ser um professor exemplar, firme,
descontraído.
Aos entrevistados, pela disponibilidade e observações que em muito ajudaram a
minha pesquisa.
A todos que de alguma forma contribuíram para a finalização deste trabalho:
MUITO OBRIGADO.
6
“Todo o homem é doido. Quem não é doido não é
normal; e isso nada tem a ver com ser homem de
verdade”.
(Manoel Ferreira).
7
RESUMO
O presente trabalho traz uma pesquisa para entender o modo como o uso de álcool pode influenciar na conduta dos motoristas de veículos de transporte coletivo da cidade de Aracaju. Para tanto fez-se necessária uma teorização acerca do modo como a citada substância age no corpo humano, elucidando assim os seus efeitos que podem ser mais prejudiciais no trânsito. Assim, fez-se uma pesquisa de caráter quanti-qualitativa com o intuito de entender as reais dinâmicas dos entrevistados, bem como para saber se o modo como a empresa lida com estas questões está adequado. Em termos de resultados, pudemos entender que os condutores encontram-se em sua situação de estresse bastante acentuado, o que os leva a fazer o consumo de substâncias entorpecentes para lidar melhor com esta variável, porém, o álcool não é a principal destas substâncias, sendo ele associado com o uso de remédios e até mesmo drogas ilícitas. Assim, cabe às empresas conseguirem desenvolver meios de acompanhamento mais eficazes, com uma equipe multidisciplinar, tendo como foco o bem-estar do seu funcionário, o que, por conseguinte, melhorará os resultados do desenvolvimento de suas funções. Palavras-chave: Trânsito; Condutor; Estresse; Alcoolismo; Acompanhamento.
8
ABSTRACT
This paper presents a survey to understand how alcohol use can influence the behavior of drivers of public transport vehicles in the city of Aracaju. Therefore it was necessary theorizing about how the substance acts cited in the human body, thereby elucidating the effects that can be more damaging in transit. So we did a survey of quantitative and qualitative character in order to understand the real dynamics of the respondents, as well as to see if how the company deals with these issues is appropriate. In terms of results, we understand that drivers are in a stressful situation rather sharp, which leads to the consumption of narcotic substances to cope better with this variable, however, alcohol is not the main these substances, it being associated with the use of drugs and even illegal drugs. Thus, companies should manage to develop more effective means of monitoring, with a multidisciplinary team, focusing on the welfare of its employees, which consequently improve development outcomes of their duties. Keyword: Transit; driver; Stress; Alcoholism; Monitoring.
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................12
2.1 Trânsito...............................................................................................................12
2.2 Acidentes de Trânsito........................................................................................13
2.3 Álcool e Direção.................................................................................................15
2.4 Lei Seca (11.705/08)............................................................................................17
2.5 Efeitos do Uso de Bebidas Alcoólicas.............................................................18
3 . MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................25
3.1 Ética................................................................................................................... 25
3.2 Tipo de Pesquisa...............................................................................................25
3.3 Universo.............................................................................................................25
3.4 Sujeitos e Amostra.............................................................................................25
3.5 Instrumento de Coleta de Dados......................................................................26
3.6 Procedimentos para Coleta de Dados..............................................................26
3.7 Procedimentos para Análise dos Dados..........................................................26
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................27
5 . CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................37
REFERÊNCIAS ........................................................................................................40
ANEXOS....................................................................................................................44
10
1 INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, há muita discussão acerca do modo como o álcool interfere
nas funções cognitivas e, por consequência, na capacidade das pessoas
discernirem situações de perigo no trânsito. Leis e medidas coercitivas são cada vez
mais enrijecidas na tentativa de combater o terrível ato de se dirigir sob o efeito de
tal substância.
A Lei Seca, trazida como nova tentativa de se combater este hábito, vem
sendo cada vez mais elaborada, a fim de coibir o condutor de fazer uso de bebida
alcoólica antes de pegar o seu veículo. Assim, pode-se dizer que há uma crescente
necessidade de estudo e entendimento acerca do modo como o álcool altera as
funções motoras do motorista, além de que, faz-se necessário entender se os
motoristas profissionais também estão entrando nesta conduta perigosa de fazer uso
de substâncias entorpecentes antes de exercer a sua profissão.
No caso dos motoristas de transporte coletivo, a questão ganha uma
proporção um pouco mais exacerbada, afinal, além de ser o responsável por suas
ações no trânsito, o condutor também responde pela vida dos passageiros que
fazem uso deste tipo de transporte.
O trabalho é, com certeza, bastante estressante e desgastante. Esta
característica específica do trabalho pode fazer com que alguns condutores
recorram ao uso de substâncias entorpecentes na tentativa de lidar com o estresse.
Este comportamento pode levar ao vício, no álcool e em outras substâncias.
Em decorrência destas atitudes citadas acima, muitos acidentes vem
envolvendo condutores de transporte coletivo. O álcool é um fator que contribui para
a infração das normas, alterando a percepção do indivíduo, originando um
sentimento de rendimento melhorado, ao mesmo tempo em que diminui a
capacidade crítica e dificulta as relações lógicas e a associação de ideias. Desta
forma, o condutor embriagado não tem condições de prever as situações (direção
defensiva) porque está com sua liberdade de escolha comprometida.
Neste sentido, o risco é muito alto para todos os envolvidos no processo. O
alto risco que os usuários do transporte coletivo da empresa em questão enfrentam
diante deste fenômeno. O alto custo de indenizações por responsabilidade solidaria
da empresa as infrações de trânsito de seus motoristas, uma vez que a mesma é a
proprietária do veículo. A constatação de aumento de incidência de motoristas
11
condutores de transportes coletivos alcoolizados. Todos estes são motivadores
interessantes para o desenvolvimento de uma pesquisa com o intuito de entender o
que motiva este tipo de comportamento, bem como é necessário entender se o
álcool é a única substância utilizada, ou se está apenas levando a fama por ser a
mais conhecidamente difundida na sociedade.
Assim, esta pesquisa terá como público alvo os condutores de uma empresa
de transporte coletivo da cidade de Aracaju, capital do estado de Sergipe. Este
intento científico tem o objetivo de Identificar a relação do uso do álcool e as
infrações de trânsito pelos motoristas, utilizando um estudo de caso de uma
empresa transporte coletivo.
Desta forma, acredita-se que se tornará possível entender as medidas
necessárias para amenizar tal comportamento, melhorando a qualidade de vida do
trabalhador e, consequentemente, o serviço prestado à população da cidade que
utiliza, por necessidade, o transporte coletivo.
A pesquisa terá o intuito de colher dados para o desenvolvimento de uma
análise qualitativa, com base em uma revisão bibliográfica e a aplicação de
questionário estruturado, para entender a dinâmica existente entre o ato de beber e
a conduta do motorista enquanto profissional, no exercício de sua atividade laboral.
Além disso, torna-se relevante entender se a própria atividade pode ser um gatilho
para o surgimento de atitudes que levam ao vício como uma válvula de escape do
estresse.
Para tanto, haverá uma revisão bibliográfica para embasamento do
direcionamento da pesquisa, afinal, é necessário ter um entendimento mais
específico acerca do modo como esta substância age no organismo e do porque que
a mesma é considerada tão nociva ao comportamento do motorista. Após esta
reflexão, se tentará entender como o uso de substância entorpecente pode alterar o
comportamento do condutor do transporte, influenciando assim na relação existente
entre passageiros e motoristas.
Contudo, não se pode perder de vista que muitas outras substâncias
entorpecentes também podem fazer parte do dia-a-dia dos condutores de transporte
público, o que faz com que o entendimento acerca de suas rotinas e intempéries
torna-se bastante relevante para conseguir informações que possam facilitar a
aplicação de medidas mais eficientes por parte das empresas de transporte coletivo,
visando a melhoria da qualidade de vida de seus trabalhadores e de seus serviços.
12
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Trânsito
No início, os seres humanos utilizavam os animais com o intuito de facilitar a
sua mobilidade. Vicentino (1999) esclarece que os seres humanos entenderam que
a facilidade de locomoção era necessária para a sua evolução, na medida em que
perceberam que animais que poderiam ser domados, eram muito mais rápidos do
que eles e fortes o suficiente para aguentar o seu peso em percurso. Isso ocorreu
nos primórdios do desenvolvimento da sociedade.
Ao passar do tempo, o homem começou a entender que a mobilidade, além
de ser uma necessidade, poderia ser também uma forma de ostentar riquezas e
poder. Este movimento fez com que se criassem meios de instituir status e glamour
à possibilidade de mobilidade, vide as grandes e pomposas carruagens das eras
medievais, que denotavam, em sua própria estrutura, a importância contida no seu
limiar de utilização pela nobreza e realeza (SUETONIO, 2004).
Este sentimento nada mais fez do que crescer com o passar do tempo,
acompanhado também pelo desenvolvimento industrial e tecnológico, que
impulsionou a descoberta e desenvolvimento de diversos aparatos que tinham o
intuito de facilitar a vida do ser humano em sociedade.
Dentre estes avanços, houve o advento do automóvel. O advento deste
instrumento de locomoção trouxe diversos avanços para os mais diversos
segmentos sociais, possibilitando uma mobilidade mais ágil e eficaz do homem, que,
àquele tempo, necessitava empreender diversas funções em um espaço cada vez
menor de tempo para a execução (ARRUDA e PILLETTI, 2000).
Em pouco tempo, o automóvel se tornou um artigo de desejo de diversas
pessoas. A sociedade, imersa em conceitos capitalistas cada vez mais veementes,
passou a perceber que a felicidade vinha a partir do modo como consumiam o que
gerou a cultura do consumismo capitalista (MARX, 2000)
No topo da cadeia social do consumismo, encontrava-se o automóvel, que, no
início de sua produção, era artigo de luxo, geralmente correlacionado ao sucesso
financeiro e capital de uma pessoa, tal qual se fazia com as carruagens em tempos
anteriores. Porém, este instrumento de locomoção exigia uma perícia muito maior
para ser guiado do que as antigas carruagens, que, geralmente não eram guiadas
13
por seu próprio dono e sim por lacaios especializados em sua direção
(NEGROMONTE, 2002).
2.2 Acidentes de Trânsito
Por conta do supracitado, acidentes de trânsito começaram a acontecer com
frequência e gravidade. Kleinübing (2009) cita que o primeiro acidente registrado,
envolvendo automóvel, data de 1870, na cidade de Nova York, onde uma mulher,
que havia acabado de adquirir um automóvel, saiu da fábrica direto para encontra-se
com uma árvore, que ficava exatamente à frente do estabelecimento fabril.
A título de informação, cabe abrir-se um parêntese para explanação acerca
do primeiro acidente de trânsito registrado no Brasil, por conta da peculiaridade dos
envolvidos. Na Coleção Nosso Século Brasil (1985, p.84) diz-se que:
O primeiro acidente de trânsito no Brasil envolvendo automóveis que se tem notícia foi protagonizado por uma figura ilustre - Olavo Bilac. O poeta tentava aprender a dirigir quando chocou o carro do amigo José do Patrocínio contra uma árvore na Estrada Velha da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Com base no supracitado, é claramente plausível afirmar que o automóvel, desde os
seus primórdios, além de ser um instrumento de locomoção e ostentação de um
status social, também se tornou um motivo de preocupação, por conta de sua
predisposição à exposição do seu condutor e de todos os atores do trânsito, ao
perigo por conta do modo como o mesmo se locomovia, sendo guiado,
exclusivamente, pela perícia do indivíduo que o conduz. E, com o passar do tempo,
a tecnologia de fabricação de automóveis foi sendo cada vez mais elaborada e
aprimorada. Com isto, surgiram automóveis cada vez mais funcionais, acessíveis e
potentes. Seguindo a linha de produção em massa proposta pela revolução
industrial, as fábricas de automóveis começaram a expor a população à uma
produção massiva de autos. Com isto, cada vez mais pessoas tinham o acesso ao
automóvel, sendo que, este passou a ser imprescindível ao desenvolvimento
socioeconômico de uma sociedade, fazendo parte da instituição de transportes
coletivos. Assim, com o aumento do número de automóveis, aumentaram também
os acidentes envolvendo os mesmos. E, a preocupação com a utilização correta e
segura deste aparato locomotivo passou a fazer parte do inconsciente coletivo da
14
população mundial, cada vez mais globalizada e atenta ao modo como os seus
aparatos de facilitação da vida cotidiana estavam afetando a sua qualidade de vida,
tanto no tocante aos acidentes como também com relação aos impactos naturais
que estes vinham causando. Assim, estudos passaram a ser feitos para viabilizar o
desenvolvimento de tecnologias que gerassem maior segurança aos atores do
trânsito, no que dizia respeito à utilização de automóveis. Para tanto, diversos itens
de segurança foram sendo adicionados aos veículos em sua rápida evolução, tais
como os airbags, por exemplo. Contudo, notou-se que, apesar do desenvolvimento
tecnológico, a principal causa dos acidentes não consistia no modo como os
automóveis se comportavam durante, ou antes, do sinistro, mas sim no modo como
o condutor se comportava. Assim, houve a necessidade de se voltar a atenção ao
modo como as pessoas estavam direcionando os seus veículos e às causas dos
acidentes de trânsito, concluindo-se que havia a necessidade de um estudo ainda
mais aprofundado acerca do comportamento do cidadão enquanto condutor e das
variáveis que poderiam estar acarretando na falta de segurança no trânsito de um
modo geral (HOFFMANN, 2005).
Com isso, diversas pesquisas e estudos voltados para o entendimento das
causas de acidentes de trânsito foram desenvolvidos, com o intuito de gerar formas
de minimiar a incidência destes como causa de morte e lesão para as pessoas
envolvidas no trânsito, neste caso, condutores, passageiros e pedestres.
Esta preocupação com o trânsito se torna ainda mais evidente e relevante, ao
se refletir sobre notícia divulgada pelo jornal Estado de São Paulo em 2010, que diz:
Acidentes rodoviários são a principal causa de morte de pessoas entre 5 e 29 anos, afirma a Organização Mundial de Saúde (OMS) em estudo divulgado nesta quarta-feira, 2. De acordo com a agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), quase metade dos mortos em acidentes rodoviários no mundo são pedestres, ciclistas e motociclistas. Por ano, 1,2 milhão de pessoas morrem no trânsito, segundo a OMS. Mais de 90% das mortes ocorrem nas nações em desenvolvimento. Nos países mais pobres, 80% das mortes no trânsito são de "usuários vulneráveis", ou pessoas que não estão nos carros. Ainda segundo a OMS, o número de pessoas feridas no trânsito se aproxima de 50 milhões.
Porém, a explicação para a incidência destes acidentes continuou sendo
discutida durante muito tempo, a fim de se entender o modo como estes acidentes
eram causados, tendo como hipotético principal, a imperícia e/ou imprudência do
15
próprio condutor, sendo que, as origens destas variáveis eram o real foco da
tentativa de entendimento dos intentos científicos.
Muitas pesquisas sobre o tema foram empreendidas e, em grande parte
destas, o consumo de substâncias entorpecentes apareceu como sendo a principal
causa das mortes no trânsito estarem atingindo a população mais jovem, que, em
teoria, é a classe que mais consome este tipo de substância.
2.3 Álcool e Direção
Nesta linha de raciocínio, cabe citar que dentre as substancias entorpecentes,
o álcool é apontado como a droga de abuso mais utilizada e que está mais ligada
aos acidentes de trânsito. A preocupação com a relação existente entre o uso
abusivo do álcool e a condução de veículos motorizados passou a ser extremamente
presente nas organizações e governos, sendo tratado como um objeto de
calamidade pública.
Quase 4% de todas as mortes no mundo são atribuídas ao álcool, alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS) em relatório divulgado nesta sexta-feira. A entidade da Organização das Nações Unidas (ONU) lembrou que o álcool é associado com muitas questões sociais sérias, como violência, negligência infantil e abusos, além de faltas ao trabalho. A porcentagem de mortes por álcool é maior do que as de mortes causadas por aids, violência e tuberculose, diz a OMS. O relatório afirma que o uso abusivo do álcool provoca 2,5 milhões de mortes todos os anos. No grupo com idades entre 25 e 39 anos, 320 mil pessoas morrem por problemas relacionados ao álcool, resultando em 9% das mortes nessa faixa etária. A OMS informou ainda que o álcool prejudica a vida não somente de quem o consome em excesso, mas também dos que se relacionam com essas pessoas. "Uma pessoa intoxicada pode prejudicar outras ou colocá-las em risco de acidentes de trânsito ou por comportamento violento, ou afetar negativamente colegas de trabalho, parentes e desconhecidos", afirma o texto (G1 Brasil, 2011).
Portanto, é notória a relação entre o consumo de álcool e os acidentes de
trânsito registrados no mundo inteiro, sendo que a OMS chega a apontar o uso de
álcool como sendo a principal causa de morte de jovens nos dias atuais, superando
doenças e mazelas. Além disso, é sabido que o álcool também é considerado a
como sendo a porta de entrada para o obscuro e sombrio mundo das drogas.
Em termos de trânsito, a preocupação é ainda mais presente pelo fato de a
pessoa que faz o consumo de bebida alcoólica e em seguida coloca-se em posição
de condutor de um veículo, expõe não só a sua vida ao perigo, mas também a vida
16
de terceiros que façam parte da dinâmica deste processo de mobilidade urbana. O
problema é tão difundido, que há um manual sobre como tentar lidar com a relação
existente entre álcool e direção nos países em desenvolvimento, elaborado pela
Global Road Safety Partnership, Programa sediado pela Federação Internacional
das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Cabe ressaltar que
este manual será mais bem destrinchado e discutido mais à frente nesta pesquisa
reflexiva.
Em todo o mundo pensa-se em maneiras de como lidar com este problema,
com o intuito máster de reduzir os acidentes e, principalmente, o número de mortes
e de pessoas feridas por conta de acidentes de trânsito envolvendo pessoas que
fizeram uso de bebidas com teor alcoólico.
No Brasil, a preocupação com a utilização de bebidas alcoólicas por parte de
condutores de veículos esteve presente desde a promulgação do Código de Trânsito
Brasileiro, o CTB. Neste documento eram estipulados os modos de aferição, bem
como as punições cabíveis aos condutores flagrados neste ilícito. Contudo, houve
um clamor social pela severidade de aplicação das regras descritas no CTB com
relação aos motoristas alcoolizados que causavam acidentes. Isso aconteceu pelo
crescente número de acidentes nestas condições, além, é claro, da maior exposição
por parte da mídia destes acidentes. Assim, como todo fenômeno social, os
acidentes de trânsito passaram a ter um maior destaque no noticiário do país, o que
fez com que a atenção da sociedade se voltasse para este de forma mais
contundente do que em períodos anteriores da história brasileira. Com isto, a
sensação de impunidade, presente em diversos motes da sociedade, começou a
atingir também esta leva social, no tocante aos acidentes de trânsito, principalmente
aqueles com vítimas fatais. Isso fez com que a população cobrasse mais rigor das
autoridades e do poder legislativo, que se viu compelido a tentar satisfazer o anseio
popular com relação à legislação de trânsito no Brasil. E, reforçando esta
preocupação e clamor social, Nivaldino (2008) afirma que:
O automóvel tornou-se um poderoso símbolo cultural de aventura e liberdade: a capacidade de ir além, de se movimentar sem pedir permissão, de dirigir livremente. A mistura entre álcool e direção é explosiva e coloca em risco a vida de quem dirige e de quem transita pelas ruas.
17
2.4 Lei Seca (11.705/08)
Neste âmbito, houve o advento da Lei Seca, que, muita gente entendeu como
sendo uma nova teorização legislativa, tendo como base o ineditismo. Contudo,
cabe ressaltar que a Lei Seca foi uma modificação feita em alguns artigos do Código
de Trânsito Brasileiro, a fim de aumentar o rigor coercitivo destes.
Com os elevados índices de acidentes nas rodovias e estradas do Brasil, o legislador levantou a propositura de leis mais rígidas que pudessem conter esse nível. Assim, o advento da lei 11.705/2008, a chamada “Lei seca”, espera[va] reduzir os índices de acidentes de trânsito com feridos e mortos cometidos por condutores de veículos automotores, haja vista que atentam contra a segurança, a integridade e a liberdade de locomoção das pessoas, causando grandes problemas concernentes à vida e a economia de nosso país, revelando questão de segurança e saúde pública (SOARES; SILVA, 2011, p. 19).
Contudo, a aplicabilidade da Lei Seca vem sendo bastante discutida, bem
como a sua eficácia enquanto mecanismo para a mudança de padrão
comportamental dos condutores que têm por costume o fato de dirigir após a
ingestão de algum tipo de bebida alcoólica. Muito se discutiu também sobre a
constitucionalidade desta Lei e suas aplicações em termos de utilização de materiais
para a aferição e deflagração do delito da direção sob o efeito de substância
entorpecente. Assim, durante este intento reflexivo, serão apresentados dados
específicos com relação ao modo como a Lei Seca vem sendo aplicada no Brasil,
tentando aferir a sua real eficácia, por meio de fatos noticiados acerca das medidas
tomadas pelo Estado a fim de fazer valer as suas determinações.
Para tanto, se fará um apanhado histórico acerca do conceito de Lei Seca, bem
como sobre o modo como o Brasil vem aplicando tal conceito, desde o advento da
regulação do uso de automóveis no Brasil, revisando o Código de Trânsito Brasileiro
e suas emendas.
Juridicamente, haverá uma análise acerca do modo como as pessoas vêm
interpretando a Lei e utilizando-se de suas lacunas para manter-se em liberdade,
enfatizando algumas falhas que a Lei possa ter e que estejam afetando a sua
eficácia enquanto norma coercitiva no trânsito nacional.
Não obstante, faz-se extremamente necessário entender o modo como o
álcool age no corpo humano e seus impactos metabólicos que afetam o sujeito,
pondo em cheque a sua capacidade motora e cognitiva, afinal, para se analisar um
18
processo é necessário entender as suas origens, pois só assim é possível ver o
fenômeno pela ótica de suas soluções (PLATÃO, 2006).
Assim, este relato de pesquisa será dividido de forma a poder empreender
uma compreensão mais completa acerca da Lei Seca, trazendo á tona os impactos
do uso de bebida alcoólica ao sujeito condutor de veículos, para assim entender a
necessidade de uma regulamentação acerca deste comportamento, para em
seguida entender o modo como a legislação brasileira está lidando com este
problema, para então empreender a discussão acerca da aplicabilidade e das
disposições legais que esta lei apresenta à população. Assim, haverá a instituição
de um intento de entender o objeto de estudo por diferentes óticas, sem
pressupostos ou pré-concepções acerca do tema, na tentativa de empreender uma
análise crítica acerca do tema, trazendo à tona interpretações e conclusões
pautadas no cotidiano hermenêutico no qual está inserida a Lei Seca, mostrando as
razões para a sua existência, assim como também mostrando os seus possíveis
defeitos, a fim de gerar uma discussão pautada na cientificidade focal do intento
reflexivo (OLIVEIRA, 1997).
2.5 Efeitos do Uso de Bebidas Alcoólicas
O uso de substâncias entorpecentes faz parte da história da humanidade há
muito tempo, vide citação de textos antigos descrevendo a utilização de plantas
alucinógenas ou mesmo de bebidas processadas e fermentadas para o seu uso com
teor alcoólico, tal como o vinho que, tinha divindades específicas em sua
homenagem em diversas culturas antigas. Assim, a presente pesquisa bibliográfica
versa exatamente sobre o uso destas substâncias, mais especificamente
relacionadas ao abuso por parte de condutores de veículos. O álcool é a droga de
abuso mais difundida entre a população mundial. Dados de pesquisas recentes
mostram que o álcool mata mais do que o consumo de drogas ilícitas, bem como
apontam que o Brasil tem o quarto maior grau de consumo de bebidas alcoólicas
das Américas.
Todavia, é necessário entender os efeitos que o uso do álcool causam no
corpo humano, seja de forma motora ou psíquica, para assim entender as
correlações existentes entre o uso desta substância e suas consequências maléficas
para o bom desenvolvimento do trânsito e do lapso de segurança que causa. Para
19
tanto, se fará um apanhado histórico e cultural acerca do álcool etílico, utilizado no
preparo das bebidas de abuso, tais como a cerveja, vodka e uísque. Em seguida se
versará sobre os efeitos que a substância do álcool causa no corpo humano, para
fazer as ligações necessárias entre os seus efeitos motores e cognitivos e suas
consequência enquanto fator determinante para a falta de segurança no trânsito, o
que terá o intuito principal de justificar a significativa importância da instituição da Lei
Seca no Brasil, que visa diminuir a quantidade de acidentes causados por pessoas
sob o efeito nocivo do álcool enquanto droga de abuso.
Ao ser ingerido, o álcool etílico é absorvido ainda no estômago, o que faz com
que o seu efeito seja muito rápido. Uma quantidade do álcool ingerido passa pelas
paredes estomacais e cai diretamente na corrente sanguínea, o que faz com que a
pessoa que acabou de fazer uso de bebida alcoólica, sinta seu efeito de forma
bastante rápida, sendo que, como a maior parte do álcool só é absorvido no
intestino, a pessoa bebe e, no momento, acha que op efeito causado pelo álcool é
leve, porém, o restante a quantidade ingerida ainda será processada e direcionada à
corrente sanguínea, o que pode vir a causar embriaguez.
Vários fatores afetam a taxa do aumento da concentração de etanol no sangue e, consequentemente, as alterações comportamentais. Pessoas mais magras e também mulheres e jovens, cuja massa corporal frequentemente é menor que de homens adultos, embriagam-se com maior facilidade. O estômago vazio faz a taxa de elevação da concentração ser maior, uma vez que outros alimentos ajudariam a diluir e reter temporariamente o álcool, diminuindo seu ritmo de absorção pelo sangue (LEAL; ARAUJO; PINHEIRO, 2012, p. 60).
Esta concentração de álcool e sua absorção no sangue são muito
veementemente ligados aos efeitos motores e cognitivos que o álcool causa no
corpo humano. A fim de se elucidar melhor o efeito do álcool no corpo, segue em
anexo uma tabela explicativa.
Muitos são os efeitos do álcool no organismo. A fim de tecer um entendimento
acerca dos efeitos do álcool no corpo e na mente humana, segue uma descrição
presente no site http://pubs.niaaa.nih.gov. Como o artigo é de domínio público e tem
a sua cópia liberada para qualquer uso, o mesmo será citado aqui, apenas
respeitando a regra de citação indireta, nomeando o órgão responsável pelas
afirmações.
20
Dificuldade para caminhar, visão turva, fala arrastada, diminuiu os tempos de
reação, memória prejudicada: Claramente, o álcool afeta o cérebro. Algumas dessas
deficiências são detectáveis depois de apenas um ou dois drinques e se resolvem
rapidamente quando se para de beber. Por outro lado, uma pessoa que bebe
pesadamente em um longo período de tempo pode apresentar deficiências cerebrais
que persistem bem depois de ele ou ela conseguir a sobriedade. Entender como o
álcool afeta o cérebro e qual a probabilidade de reverter o impacto da bebedeira
sobre o cérebro permanecem tópicos quentes na pesquisa de álcool hoje. Sabe-se
que beber pesado pode ter efeitos amplos e de longo alcance sobre o cérebro, que
vão desde simples "deslizes" em memória às condições permanentes e debilitantes
que requerem cuidados e uma vida privativa de liberdade. E até mesmo o consumo
moderado leva, em curto prazo, à deficiência, como mostrado por uma extensa
pesquisa sobre o impacto do consumo na condução.
O álcool pode produzir prejuízos detectáveis na memória depois de apenas
algumas bebidas e, como a quantidade de álcool aumenta, o mesmo acontece com
o grau de comprometimento. Grandes quantidades de álcool, especialmente quando
consumidos de forma rápida e com o estômago vazio, podem produzir um apagão,
ou um intervalo de tempo para que a pessoa intoxicada não pode lembrar detalhes
importantes de eventos, ou até eventos inteiros.
As pessoas que bebem grandes quantidades de álcool durante longos
períodos de tempo correm o risco de desenvolvimento de alterações graves e
persistentes no cérebro. O dano pode ser resultado dos efeitos diretos do álcool
sobre o cérebro ou pode resultar indiretamente, de um mau estado geral ou de uma
doença grave do fígado. Por exemplo, a deficiência de tiamina é uma ocorrência
comum em pessoas com alcoolismo e os resultados de nutrição em geral pobres.
Tiamina, também conhecido como vitamina B1, é um nutriente essencial necessário
para todos os tecidos, incluindo o cérebro. Tiamina é encontrada em alimentos como
carnes e aves; cereais integrais; nozes e feijão, ervilha e soja (NATIONAL
INSTITUTE ON ALCOHOL ABUSE AND ALCOHOLISM, 2003).
O álcool diminui drasticamente as capacidades motoras, fazendo com que as
reações passem a ser mais lentas perante ás adversidades. Isso, no trânsito, implica
dizer que o sujeito passa a ser incapaz de lidar com a velocidade com a qual as
intempéries acontecem, o que põe em risco a sua vida e a vida dos demais atores
do trânsito. Em momentos nos quais os motoristas são flagrados embriagados ao
21
volante, não é incomum presenciar comportamentos condizentes com a falta de
equilíbrio, um dos principais sintomas de quem fez a ingestão de uma quantidade
muito grande de bebidas alcoólicas. Há, por exemplo, na rede mundial de
computadores, diversos vídeos que mostram pessoas embriagadas em situações
que depreciam a sua própria capacidade intelectual, demonstrando que as pessoas
sob o efeito do álcool acabam perdendo o seu senso de comportamento adequado,
passando por situações patéticas que, por muitas vezes, nunca o fariam se
estivessem em seu estado normal de consciência.
Assim, pode-se afirmar categoricamente que a ingestão de uma grande
quantidade de bebidas alcoólicas altera o estado de consciência do sujeito, afetando
diversos dos seus processos motores e cognitivos, não permitindo assim, que o
mesmo passo executar algumas funções de forma satisfatória e esperada.
No tocante ao ato de dirigir, especificamente, há um enorme agravante, o fato
de a ação de desempenhar a direção de um veículo, exige um grau de atenção e
destreza muito elevadas, o que, obviamente, se torna muito mais complicado
quando o condutor se encontra sob o efeito de alguma substância entorpecente, tal
como o álcool. Contudo, é importante entender como o uso do álcool altera, segundo
pesquisas, o nível de discernimento e destreza do condutor do veículo. Para tal,
torna-se interessante analisar o modo como Hoffman (2005, p.18) descreve os
níveis de funções cognitivas e comportamentais exigidas ao ato de dirigir:
[...] três níveis são distinguidos: nível estratégico, tático ou nível de manobra e operacional ou nível de controle. O nível estratégico define o estágio de planejamento geral de uma viagem, incluindo a determinação dos objetivos, a rota e a escolha formal, além da previsão de custos e riscos da viagem. No nível tático, os condutores exercitam controle de manobras que lhes permitem negociar as circunstâncias diretamente prevalecentes (evitar obstáculos, prioridade em dobrar à esquerda ou à direita e ultrapassagem). O nível operacional envolve o controle real do veículo, como distância de seguimento e ajuste de velocidade.
Assim, torna-se plausível fazer uma análise uma pouco mais detalhada sobre
o modo como o uso, ou abuso, de bebidas alcoólicas por parte do condutor, pode
afetar, consideravelmente, as suas funções motoras e cognitivas relacionadas com
cada um dos níveis de necessidade para o bom desenvolvimento da direção, como
supracitado.
Ao se pensar no nível estratégico, que descreve o modo como a pessoa
define o seu modus operandi durante a vindoura viagem, ou seja, momento no qual
22
o indivíduo faz a sua programação referente aos percursos que irá traçar, ou mesmo
com relação às previsões das situações que pode encontrar com relação à pista, por
exemplo, pode-se afirmar que este discernimento fica bastante alterado. Não dá
para imaginar uma pessoa que, por vezes, mal consegue manter-se de pé, possa
analisar as variáveis estratégicas referentes a sua porvindoura utilização de um
veículo motorizado, o que implica em uma situação de risco para o próprio condutor
e para as pessoas em seu caminho, afinal, o mesmo poderá perder-se em sua rota e
com isso necessitar voltar a sua atenção não mais à via e à perícia de direção, mas
sim para a tentativa de situar-se no tempo e espaço, função prejudicada pelo uso de
bebidas alcoólicas.
O nível tático, que envolve a destreza do condutor em se manter fora de
situações que possam gerar perigo para e para os outros atores do trânsito, fica
muito prejudicado. As funções cognitivas que definem a capacidade do condutor
conseguir desviar de obstáculos ou evitar situações perigosas ficam visivelmente
mais lentas. Com isso, não é incomum perceber condutas bastante inadequadas em
pessoas que ingeriram bebidas alcoólicas e acabam se tornando um condutor de
veículo motorizado sob o efeito desta substância entorpecente. Na internet há vários
vídeos que mostram pessoas dirigindo babadas, que acabam por bater em paredes
e portões, causando danos materiais a elas e a terceiros, pelo simples fato de não
conseguir distinguir os obstáculos insurgentes em seu caminho, função alterada
pelas reações do álcool enquanto substância depressora das funções do sistema
nervoso central.
O nível operacional, que envolve a capacidade do sujeito em controlar o
veículo, o que inclui a sua direção e sua velocidade, por exemplo, é um dos mais
prejudicados quando o assunto é a combinação indesejada entre bebida e direção.
Fica muito difícil para uma pessoa que ingere bebida alcoólica manter o seu eixo
gravitacional, pois, como depressora do sistema nervoso central, a bebida alcoólica
diminui a capacidade de recepção dos neurotransmissores que estão ligados à
cóclea, órgão responsável pela manutenção do equilíbrio no corpo humano, mais
coloquialmente conhecido como labirinto (PAULINO, 1998).
Assim, imaginar que uma pessoa sob o efeito do álcool seja capaz de guiar
um veículo em linha totalmente reta, ou seja, respeito o seu lado da via, ou mesmo
que a pessoa possa ter total consciência acerca da velocidade necessária para a
manutenção de uma distância de segmento segura entre ele e o veículo que siga à
23
sua frente é quase impossível. O estado alterado de consciência proveniente do uso
do álcool gera uma sensação de conhecida como “síndrome da marcha lenta”
(SAMULSKI, 2002). Nesta reação, o indivíduo começa a perceber que tudo a sua
volta está em um movimento mais lento, o que faz com que a velocidade
empreendida no veículo seja cada vez maior, pois, na percepção do condutor, a
velocidade está sempre abaixo do que ele imagina que deveria ser o ideal para
chegar ao seu destino final. Esta reação torna-se muito perigosa, pois faz com que a
combinação existente entre o excesso de confiança, a alta velocidade e a
incapacidade de reações efetivamente velozes, torne o condutor sob o efeito do
álcool uma verdadeira bomba relógio, que, ao explodir pode fazer com que não
apenas ele machuque-se gravemente, mas também todos os outros à sua volta. Há
quem afirme que estes comportamentos podem ser evitados com a utilização de
uma punição mais severa para os condutores que apresentarem este tipo de
comportamento. Contudo, há de se ter em mente que a legislação e as regras de
conduta moral já fazem parte do conhecimento do condutor enquanto cidadão, como
fica bem esclarecido na seguinte citação:
As ações de motoristas são regidas por regras estabelecidas pelo Código de Trânsito Brasileiro (Conselho Nacional de Trânsito, 1998) aprovado por lei federal. Por outro lado, paralelamente a esse rigor, regras informais estabelecem a conduta dos motoristas, tendo em vista as questões sociais que ocorrem á sua volta (ROCHA; MARTIN; GALVÃO, 2011, p. 392).
Assim, é evidente que os motoristas que fazem uso de bebidas alcoólicas
antes de desempenhar tal função, sabem muito bem as regras e normas de conduta
que o regem na sociedade, além das representações sociais que implicam tal ato,
entendendo assim as consequências que suas ações podem ter.
A representação social se constrói no processo de comunicação, no qual o sujeito põe a prova, através de suas ações, o valor ─ vantagens e desvantagens ─ do posicionamento dos que se comunicam com ele, objetivando e selecionando seus comportamentos e coordenando—os em função de uma procura de personalização (Malrieu [1978] apud Lane e Codo [1991, p. 15]).
O sujeito, quando ingere bebida alcoólica e assume o volante ou o guidão de
um veículo motorizado, tem total consciência, enquanto cidadão, que esta
cometendo um ato que fere a legislação regente e as normas de conduta e
convivência sociais. Contudo, o efeito do álcool sob os processos cognitivos do
24
sujeito podem afetar o seu julgamento, fazendo com que o mesmo possa perder a
noção do certo e do errado, mesmo que por um breve instante, o que põe em risco
real a sua vida e de terceiros.
25
3 . MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Ética
A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais
conforme determina o Conselho Nacional de Saúde - CNS nº 196/96 do Decreto nº
93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos:
A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa
a Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao
responder o questionário. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Foram coletados dados a respeito de idade, tempo de
profissão e tempo de atuação como condutores de transporte coletivo, para que se
possa obter maiores informações sobre a população pesquisada.
3.2- Tipo de Pesquisa
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com dupla, combinação de
abordagens, a saber quanti-qualitativa.
3.3 – Universo
O presente trabalho científico abrangeu um público restrito de condutores de
transporte público da cidade de Aracaju, capital do estado de Sergipe. Abrangendo
assim uma empresa de transporte coletivo, trabalhando por amostragem.
3.4 - Sujeitos da Amostra
A amostra deu-se por necessidade de conhecimento da realidade vivenciada
pelos condutores de transporte coletivo de uma empresa que atua na cidade de
Aracaju. Para tanto, foram colhidas as informações de 10 (dez) condutores.
26
3.5 - Instrumentos de Coleta de Dados
Construiu-se um instrumento estruturado, um questionário com perguntas
objetivas que levavam a repostas abertas. Composto por 10 perguntas, que
abrangem a caracterização dos sujeitos, cujas variáveis incorporadas tais como
idade, tempo de profissão e tempo atuação como profissional do trânsito,
envolvimento com o uso de bebidas alcoólicas ou outras entorpecentes e suas
experiências relacionadas a problemas enfrentados no trânsito por conta dos efeitos
causados por estas.
3.6 - Planejamento para Coleta dos Dados
Na oportunidade, o questionário foi entregue pessoalmente aos motoristas,
num total de 10 (dez) participantes, que concordaram em responder e participar da
pesquisa. Foram respondidos 10 questionários. Além disso, algumas perguntas
podiam ser feitas para complementar as respostas dadas.
3.7 - Planejamento para Análise dos Dados
Os dados foram tratados e analisados com auxílio de um software (Excel)
para o tratamento estatístico (Média, Mediana e Moda). Quanto à parte qualitativa
recorreu-se a análise de conteúdo enquanto técnica para dar sentido às falas dos
sujeitos entrevistados.
27
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação ao tempo de serviço dos participantes, apresentado no gráfico 01,
pode-se verificar que a maioria deles conduz veículos de transporte coletivo há 05
anos ou mais (60%). Isto faz com que a coleta de dados se torne mais precisa, pois
passa a entender a dinâmica de comportamento das pessoas também de acordo
com o tempo o qual exercem esta função.
Gráfico 01 – Distribuição do tempo de serviço dos motoristas, em porcentagem, na condução
de veículos de transporte coletivo.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Observou-se também que alguns motoristas fizeram comentários negativos
com relação ao tempo de serviço, principalmente aqueles com menos de um ano na
profissão (10%), expressando que estão neste ramo por falta de oportunidade de
exercer outro, o que denota uma insatisfação bastante latente com relação ao
exercício de suas profissões.
Foi solicitado aos participantes para expressarem, em uma escala de 0 a 10,
o nível de estresse que eles vivenciavam todos os dias em seu trabalho, gráfico 02,
28
sendo que, 10% deles descreveram como Nível 09 e 90% como sendo Nível 10. Isto
denota claramente que o desenvolvimento da função de condutor de transporte
coletivo é algo bastante estressante.
Gráfico 02 – Nível de estresse, expressado pelos motoristas, em porcentagem, em uma escala
de 0 a 10, que eles vivenciavam todos os dias.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Os participantes comentaram que estas questões acontecem, muitas vezes,
por conta da necessidade de contato direto com os passageiros que, muitas vezes
estão estressados, o que reflete no modo como os motoristas encaram o
desenvolvimento de suas funções. Segundo dados da OMS, uma das maiores
causas para o uso de substâncias entorpecentes, de qualquer natureza, é o
estresse. Considerado por muitos como o mal do milênio, o estresse vem
acometendo cada vez mais pessoas em um mundo cada vez mais exigente de
medidas imediatas, exacerbando assim a angústia do sujeito perante o mundo que o
cerca (KIERKEGAARD, 1972).
No gráfico 03 apresenta os dados com relação ao comportamento dos
participantes sobre o modo como fazem para relaxar, ou seja, com bater o estresse
29
do dia-a-dia, foi perguntado qual seria o hábito, dando quatro alternativas: faz uso de
bebida alcoólica; fuma; usa drogas ilícitas; mais de uma resposta.
Gráfico 03 - Comportamento dos motoristas sobre o modo como fazem para relaxar.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Como se pode verificar que 10% dos participantes afirmaram que faz o uso de
bebida alcoólica apenas. Outros 10% afirmaram que usam drogas ilícitas, mais
especificamente maconha. A grande maioria (80%) afirmou que faz uma
combinação de elementos, dependendo da situação (Nível de Estresse). Sendo que
muitos descreveram o uso de remédios controlados em combinação com o álcool,
sendo que, 90% deles afirmou que tem o hábito de fumar presente em sua vida.
Contudo, a maior combinação citada foi realmente relacionada ao álcool com outras
substâncias.
Para entender a frequência com a qual os participantes da pesquisa fazem o
uso de bebidas alcoólicas, gráfico 04, lhes foram dadas algumas opções:
Diariamente; De dois em dois dias; Semanalmente; Raramente; Nunca.
30
Gráfico 04 - Frequência do uso de bebidas alcoólicas pelos motoristas.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Como se pode constatar que, todos os participantes entrevistados fazem uso
de bebidas alcoólicas, sendo que o que difere uns dos outros é a frequências deste
consumo. A maioria (60%) bebe diariamente. Eles afirmaram que sempre vão a um
bar ou algo do tipo com os amigos após a jornada de trabalho, porém, nenhum deles
se reconhece como dependente do álcool, afirmando que bebem socialmente e
apenas para dar uma relaxada no fim do dia. E, uma minoria (10%) afirmou que
bebe de forma mais esporádica, ou seja, de dois em dois dias, mas também com a
intenção de conseguir relaxar perante o estresse do dia-a-dia. Sendo assim, é
possível afirmar que a bebida é usada como uma válvula de escape por todos os
entrevistados, porém, nenhum deles enxerga tal comportamento como um problema.
Para entender se, em alguma oportunidade, algum dos entrevistados havia
trabalhado sob o efeito de álcool, lhes foi indagado exatamente isto, e no gráfico 05
apresenta os resultados obtidos. Foi interessante observar que boa parte dos
motoristas disse que com a Lei Seca eles não estão sequer bebendo socialmente,
para não serem presos e terem multas e fianças a pagar.
31
Gráfico 05 – Distribuição, em porcentagem, dos motoristas profissionais que dirigiram
alcoolizados.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Verifica-se que, 40% deles afirmaram que já trabalharam sob o efeito de
álcool ou seja, alcoolizado, que significa completamente bêbado. Cabe ressaltar que
eles afirmaram que isso aconteceu geralmente quando os chamavam a trabalhar
para cobrir a escala de um colega, sendo que, por estarem de folga, estariam
bebendo com amigos e se dirigiram diretamente para o trabalho, o que gerou este
comportamento aqui descrito. Embora que, em termos de comportamento, os
resultados concordam com Rozestraten (1981), quando afirma que a pessoa que
dirige sob o efeito de algum tipo de substância entorpecente tende a não entender o
risco que envolve tal ação. Neste contexto, verifica-se que a quantidade de
motoristas que afirmaram já ter guiado o transporte coletivo sob efeito de álcool foi
bastante preocupante, pois o mesmo é responsável direto pela vida de diversas
pessoas mas não têm total discernimento sob a gravidade de tal ato.
Por outro lado, também existe o uso das drogas ilícitas, conforme demonstra
os resultados no gráfico 06, percebe-se que 30% dos motoristas entrevistados
afirmaram que fazem o uso deste tipo de droga para se acalmar das tensões do dia-
32
a-dia, principalmente, da Cannabis Sativa, também conhecida como maconha, uma
droga que tem efeitos depressores do sistema nervoso central e que causa
relaxamento muscular. Porém, ninguém afirmou ter dirigido sob o efeito de tal droga.
Gráfico 06 – Distribuição, em porcentagem, dos motoristas profissionais que dirigiram
drogados.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Segundo as explicações, eles já fizeram uso algumas vezes para poder ter
energia para dobrar o turno, geralmente por trabalharem em duas ou mais empresas
ao mesmo tempo. Por exemplo, um dos motoristas disse que trabalha na empresa
pesquisada e também faz o transporte de passageiros para o interior do estado em
uma cooperativa. Assim, quando se faz necessário que o mesmo dobre o seu turno
de trabalho e permaneça acordado por mais de 24 horas seguidas, o mesmo faz uso
de algum medicamento ou droga para se mantiver alerta.
No gráfico 07, apresenta os resultados da consulta sobre os remédios lícitos.
Neste caso, verifica-se que a quantidade de motoristas que afirmaram ter trabalhado
sob os seus efeitos foi quase que a totalidade (90%) dos entrevistados. Sendo
utilizados regularmente, com ou sem prescrição médica, para tratar diversos
problemas, sejam eles físicos e/ou psíquicos.
33
Gráfico 07 – Distribuição, em porcentagem, dos motoristas profissionais que dirigiram sob
efeito de remédios.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Constatou-se também que na grande maioria das vezes a empresa não sabe
dos problemas enfrentados pelos motoristas em termos de saúde da utilização de
medicamentos. Onde os motoristas afirmaram que têm muito receio de passar os
casos para os seus superiores imediatos, pois acreditam que eles seriam afastados
do trabalho ou até mesmo demitidos, o que faz com que eles tenham de lidar com os
seus problemas de forma solitária. Isto faz com que pessoas com problemas mais
agudos de saúde, como desvios na coluna por exemplo, trabalhem de forma
sacrificante para não repassar o seu problema à empresa, dependendo de remédios
para suportar a dor.
Com relação ao tipo de remédio utilizado, gráfico 08, verifica-se que a
maioria, 56%, afirmou que utiliza remédios controlados, os conhecidos como “tarja
preta”, para controlar a depressão e a ansiedade. Entretanto, afirmaram que têm
acompanhamento rotineiro com um psiquiatra, geralmente em CAPS. Nestes locais
eles conseguem as receitas e os atestados de suas condições que, não repassam à
empresa, na maioria das vezes.
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Gráfico 08 – Distribuição, em porcentagem, do tipo de remédio utilizado pelos motoristas
profissionais.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Outros afirmaram utilizar remédios para dores de cabeça quase todos os dias.
O grande motivo para isso seria o nível de estresse que enfrentam no seu cotidiano,
lidando com o trânsito, os passageiros e os horários que precisam ser cumpridos
para que não sofram sanções da empresa.
Verifica-se através dos resultados apresentados no gráfico 09 que os
motoristas não tendem a procurar a empresa para repassar suas angústias e
necessidades.
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Gráfico 09 – Distribuição, em porcentagem, dos motoristas profissionais que procuram a
empresa para repassar seus problemas.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Isso se dá por dois motivos que eles especificaram bem na questão, ou seja,
30% afirmou que não faz diferença alguma procurar a empresa para estas questões,
pois a mesma estaria preocupada apenas em manter os funcionários produzindo
para assim poder desfrutar do seu lucro. E, 70% dos motoristas foram mais ou
menos na mesma linha, afirmando categoricamente que eles não se importam com
a saúde dos colaboradores, pois, conhecem casos em que motoristas foram
demitidos ou substituídos apenas por estarem passando por problemas de saúde.
No gráfico 10 demonstra que todos (100%) os motoristas profissionais
apontaram como sendo necessário um acompanhamento psicológico mais
específico com eles. Eles disseram que seria interessante ter um profissional de
psicologia para fazer este intermédio de comunicação entre eles e a empresa, pois,
os mesmos se sentem desamparados em diversas situações.
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Gráfico 10 – Importância, em porcentagem, de acompanhamento psicológico para os
motoristas profissionais.
Fonte: dados da pesquisa. Aracaju/SE. 2012.
Além disso, eles comentaram que, por muitas vezes, quando há um encontro
com um psicólogo contratado pela empresa, o foco é apenas entender o porque dos
passageiros não estarem satisfeitos com o serviço oferecido, ou seja, o foco não é o
bem-estar dos condutores mas sim os seus erros e falhas no cotidiano laboral.
37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa foi possível tecer definições
claras acerca dos mais variados conceitos que permeiam o tema objeto deste
intento científico. Para falar sobre o modo como o trânsito poderia ter a sua dinâmica
alterada por conta do uso de substâncias entorpecentes, tornou-se necessário
definir o trânsito e suas variáveis.
A teorização para entender o porquê de o álcool ser tão prejudicial para o
desenvolvimento correto de ações necessárias no trânsito também foi muito
importante para poder se entender a razão do seu uso ser proibido nestas
circunstâncias.
A demanda a ser estudada versava sobre a problemática de haver motoristas
de transporte coletivo sob o vício alcoólico. A pesquisa então teve o objetivo de
entender o modo como este vício vinha sendo experienciado pelos motoristas, a fim
de entender a real gravidade do problema.
Ficou claro que, apesar de a grande maioria dos pesquisados fazer uso diário
de bebida alcoólica, nenhum deles tem a noção de ser um alcoólatra. Eles entendem
que a situação é facilmente contornável, pelo simples fato de não fazerem ouso de
tal substância durante o seu turno de trabalho, mas sim em seu horário de
descanso.
Contudo, isto denota que os entrevistados não têm uma noção exata sobre as
consequências do uso indiscriminado do álcool, tanto para seus organismos como
para a sua vida social, o que envolve o seu trabalho, ainda mais sendo estes
profissionais que lidam com um grau de estresse elevado no seu cotidiano. Isto
denota outro fator preponderante. Muitos dos motoristas vêm no álcool uma saída
para o estresse diário, sendo que, ingerem a substância após o trabalho com o
intuito de relaxar. Assim pode-se entender que o álcool é utilizado como um
condicionador corporal para a medida de relaxamento após uma carga de trabalho.
Porém, não se pode deixar de enfatizar o fato de que, durante a pesquisa, ficou
claro que o uso de remédios é ainda mais indiscriminado do que o do próprio álcool.
É evidente que o advento da Lei Seca contribui para este tipo de mudança de atitude
comportamental por parte dos motoristas, afinal, ser flagrado tendo ingerido bebida
alcoólica, fazendo uso de um veículo, pode, inclusive, acarretar na prisão do
38
indivíduo, fato este que amedronta muitos que antes tinham tal postura. Porém, se
entendemos que há um problema em termos de vício por parte dos condutores
entrevistados, este precisa ser suprido de outra forma que não pelo uso do álcool, e
neste ponto entram em ações os alotrópicos e drogas ilícitas de toda a sorte.
Ficou evidenciado que o dia-a-dia de trabalho é um gatilho importante para a
elevação do estresse e da ansiedade destes trabalhadores, ou seja, o fator causador
de angústia não pode ser expurgado da rotina do sujeito, já que constitui, muitas
vezes, a única fonte de renda familiar. Assim, muitos acabam buscando no uso dos
remédios controlados uma válvula de escape e de controle dos sintomas de
ansiedade e estresse. Contudo, isto pode gerar outra dependência, além de que
estes medicamentos podem alterar as funções cognitivas do sujeito, tornando-o
inapto a guiar um veículo sob os seus efeitos.
Neste contexto fica evidente também a necessidade de um acompanhamento
mais específico com relação ao cotidiano destes profissionais, tendo como foco o
seu bem-estar e a sua saúde mental. Afinal, os sinais do uso de um medicamento
alotrópico não são facilmente detectáveis e, se o profissional não repassa à empresa
que está fazendo uso destes medicamentos, fica muito complicado fazer o devido
acompanhamento. Além disso, o número de participantes que fazem, ou fizeram,
uso de drogas ilícitas é bastante alarmante. É sabido que o uso destas substâncias
entre pessoas que trabalham, principalmente, no turno noturno é razoavelmente
frequente, contudo, elas alteram a percepção cognitiva, temporal e de espaço do
sujeito, o que interfere de forma bastante ativa no modo de dirigir de uma pessoa.
Assim, não adianta apenas focar na resolução de um problema que aparentava
estar surgindo de forma isolada e esporádica, que era o envolvimento dos
condutores com o uso de bebidas alcoólicas. Há de se fazer uma investigação mais
a fundo sobre o cotidiano de trabalho e as medidas podem ser tomadas para
melhoras esta dinâmica.
Enquanto sugestão de medida para alterar, de forma positiva, esta
problemática pode citar, a necessidade de um setor de acompanhamento
multiprofissional para os colaboradores destas empresas. A intenção seria fazer um
acompanhamento periódico dos sujeitos para aferir sustentabilidade nas medidas
tomadas. Acompanhando assim o seu desenvolvimento psíquico, físico e emocional
no cotidiano laboral. Não adianta ter um profissional responsável pela avaliação
psicologia de todos os colaboradores da empresa, pois, se este trabalha sozinho
39
também não tem a possibilidade real de mudar as realidades ali encontradas de
forma rápida e eficaz. Há a necessidade de as empresas começarem a enxergar os
seus colaboradores como o que eles são: seres humanos. Na fala dos motoristas
pode-se notar um ressentimento sempre presente, pelo fato de nunca conseguir
atingir plenamente as exigências demandadas, pois, como eles explicam, não
depende apenas deles.
Com certeza os fatores de estresse presentes no dia-a-dia influenciam
bastante e podem levar as pessoas a procurar meios ilícitos para lidar com os seus
problemas, porém, com o apoio e intervenções certas todos eles podem voltar a lidar
com os seus problemas de forma mais saudável, entendendo suas limitações e
conseguindo suprir as necessidades mais básicas da empresa em que trabalham.
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REFERÊNCIAS
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APÊNDICE
Questionário para participação em pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso de
Pós-Graduação em Psicologia do Trânsito.
Não há a necessidade de identificação.
Idade:
Tempo de profissão: ( ) 01 ano ou menos ( ) 02 a 04 anos ( ) 05 anos ou mais
01) Em um nível de 0 a 10, descreva o nível de estresse que você enfrenta no trabalho
todos os dias.
02) Marque o que você costumeiramente faz para aliviar o estresse do dia-a-dia:
( ) Faz uso de bebida alcoólica ( ) Fuma ( ) Usa droga ilícita ( ) Usa remédios ( )
N.d.r.
03) Com que frequência você ingere bebida alcoólica?
( ) Diariamente ( ) De dois em dois dias ( ) Semanalmente ( ) De vez em quando ( )
Nunca
04) Você já trabalhou sob o efeito de álcool?
( ) Sim ( ) Não
05) Você já trabalhou sob o efeito de sustância ilícita?
( ) Sim ( ) Não
06) Você já trabalhou sob efeito de remédios?
( ) Sim ( ) Não
07) Se sim, que tipo de remédio? _____________
08) Você já procurou a empresa para repassar seus problemas?
( ) Sim ( ) Não. Porque?
09) Você acha que um acompanhamento psicológico seria importante para você lidar
com as questões do dia-a-dia? ( ) Sim Não ( )
10) Mais alguma consideração?
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ANEXOS
ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO
Pesquisador: ADRIANO FERREIRA BARROS
Título da Pesquisa: UM ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO ÁLCOOL NAS INFRAÇÕES DE
TRÂNSITO DOS MOTORISTAS DE TRANSPORTE COLETIVO DE ARACAJU/SE.
Nome do Participante:________________________________________________________
Caro Participante,
Gostaríamos de convidá-lo a participar como voluntário da pesquisa intitulada UM ESTUDO
DA INFLUÊNCIA DO ÁLCOOL NAS INFRAÇÕES DE TRÂNSITO DOS MOTORISTAS DE
TRANSPORTE COLETIVO DE ARACAJU/SE, que se refere a um projeto de conclusão de
curso de Especialização, o qual pertence ao curso de Psicologia do Trânsito da
Universidade Paulista. Sua forma de participação consiste em preencher um questionário de
pesquisa sobre o determinado tema.
Seu nome não será utilizado em qualquer fase da pesquisa o que garante seu
anonimato.
Não será cobrado nada, não haverá gastos nem riscos na sua participação neste estudo;
não estão previstos ressarcimentos ou indenizações; não haverá benefícios imediatos na
sua participação. Os resultados contribuirão para o desenvolvimento da pesquisa dobre a
influência do álcool nas infrações de trânsito.
Gostaríamos de deixar claro que sua participação é voluntária e que poderá recusar-se a
participar ou retirar seu consentimento, ou ainda descontinuar sua participação se assim, o
preferir.
Desde já agradecemos sua atenção e participação e colocamos a disposição para maiores
informações.
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Em caso de dúvida(s) e outros esclarecimentos sobre a pesquisa você poderá entrar em
contato como responsável pela pesquisa, o psicólogo Adriano Ferreira Barros pelo telefone
(79) 9964.8499.
Eu confirmo que o Psicólogo Adriano Ferreira Barros CRP 19/00631, explicou-me os
objetivos desta pesquisa, bem como, a forma de participação. As alternativas para minha
participação também foram discutidas. Eu li e compreendi este termo de consentimento,
portanto, eu concordo em dar meu consentimento para participar como voluntário desta
pesquisa.
Aracaju/SE, ___ de ___________, de 2013.
______________________________________
(Assinatura do participante)
ANEXO 2 - TABELA DE EFEITOS ALCOÓLICOS NO CORPO HUMANO
1 Tabela presente em Beber e Dirigir: manual de segurança viária para profissionais de
trânsito e saúde. Genebra, Global Road Safety Partnership, 2007.