Upload
lenguyet
View
223
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
HORIZONTES IDENTITRIOSA construo da narrativa nacional brasileira
pela historiografia do sculo XIX
ChancelerDom Dadeus GringsReitorJoaquim ClotetVice-ReitorEvilzio Teixeira
Conselho EditorialAna Maria Lisboa de MelloElaine Turk Fariarico Joo HammesGilberto Keller de AndradeHelenita Rosa FrancoJane Rita Caetano da SilveiraJernimo Carlos Santos BragaJorge Campos da CostaJorge Luis Nicolas Audy PresidenteJos Antnio Poli de FigueiredoJurandir MalerbaLauro Kopper FilhoLuciano KlcknerMaria Lcia Tiellet NunesMarlia Costa MorosiniMarlise Arajo dos SantosRenato Tetelbom SteinRen Ernaini GertzRuth Maria Chitt Gauer
EDIPUCRSJernimo Carlos Santos Braga DiretorJorge Campos da Costa Editor-chefe
Salah H. Khaled Jr.
HORIZONTES IDENTITRIOSA construo da narrativa nacional brasileira
pela historiografia do sculo XIX
Porto Alegre2010
EDIPUCRS, 2010
CAPA Deborah CattaniDIAGRAMAO Rodrigo VallsREVISO Rafael Saraiva
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Ficha Catalogrfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informao da BC-PUCRS.
EDIPUCRS Editora Universitria da PUCRSAv. Ipiranga, 6681 Prdio 33Caixa Postal 1429 CEP 90619-900 Porto Alegre RS BrasilFone/fax: (51) 3320 3711e-mail: [email protected] - www.pucrs.br/edipucrs
K45h Khaled Junior, Salah H. Horizontes identitrios : a construo da narrativa nacionalbrasileirapelahistoriografiadosculoXIX [recur- so eletrnico] / Salah H. Khaled Jr. Dados eletrnicos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. 263 p.
Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader Modo de Acesso: World Wide Web: ISBN: 978-85-7430-979-8 (on-line)
1.HistoriografiaBrasilSculoXIX.2.IdentidadeNaci- onal. 3. Na cionalidade Brasil. I. Ttulo.
CDD 981.033
Para Aline de Almeida Motta Khaled, meu amor para todo o sempre.
Salah H. Khaled Jr.
Professor Assistente de Direito Penal e Criminologia da Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Doutorando em Cincias Criminais (PUCRS)Mestre em Cincias Criminais (PUCRS)
Mestre em Histria (UFRGS)Especialista em Histria do Brasil (FAPA)
Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais (PUCRS)Licenciado em Histria (FAPA)
Lder do Grupo de Pesquisa Hermenutica e Cin-cias Criminais (FURG/CNPq)
AGRADECIMENTOS
Agradeo professora Cludia Wasserman, pela inestimvel orientao.
Agradeo professora e querida amiga Ruth Gauer, pelo proveitoso aprendizado
e por tudo que fez por mim nos ltimos anos.
Agradeo aos professores Cezar Guazzelli e Regina Weber pelas contribuies
prestadas no colquio, que uma vez internalizadas, se mostraram fundamentais para
o desenvolvimento desta pesquisa.
Agradeo aos meus antigos mestres e amigos, Vra Barroso e Ricardo Fitz,
pela contribuio minha formao e professora Maria Emlia Prado pela riqueza de
sua arguio na defesa de minha dissertao, assim como pela gentileza na aceitao
do convite para prefaciar a presente obra.
Agradeo ao professor Aury Lopes Jr, por ter me ajudado a encontrar novamente
algo que eu julgava ter perdido. Trata-se de uma dvida impagvel.
Agradeo aos colegas do curso de Cincias Jurdicas e Sociais, em especial
ao meu cunhado Felipe, por terem me auxiliado a concluir a graduao em meio s
responsabilidades com o mestrado em Histria.
Agradeo aos meus alunos e ex-alunos dos colgios Protsio Alves e
Ernesto Dornelles, pela compreenso diante da exausto e pelas contribuies que
emprestaram indiretamente ao meu trabalho. Em especial, agradeo por me tornarem
mais humano e por me lembrarem constantemente o motivo pelo qual escolhi ser
professor.
Finalmente, agradeo a Deus, que me deu foras para suportar a pesada carga
de trabalho e a multiplicidade de compromissos e responsabilidades que assumi nos
ltimos anos.
SUMRIO
PREFCIO .................................................................................................................10
APRESENTAO ......................................................................................................13
INTRODUO ...........................................................................................................15
1. ERGUENDO OS ALICERCES DA NARRATIVA NACIONAL FACE HETERO-GENEIDADE DA NAO: O IHGB E VON MARTIUS.........................................221.1 O legado colonial: fragmentao, heterogeneidade e uma identidadeportuguesa ................................................................................................................221.1.1 O Brasil independente e o Brasil-Nao......................................................... ..361.2 O IHGB e sua misso: inventar a narrativa nacional ......................................461.2.1 Por que preciso inventar a nao? .................................................................461.2.2 O IHGB e o poder ..............................................................................................491.2.3 O discurso fundador de Janurio da Cunha Barboza .......................................551.2.4 A narrativa nacional escrita pelo sujeito nacional: o brasileiro ..........................691.3 Martius: como escrever a histria do Brasil ....................................................721.3.1 O marco fundador da nao ..............................................................................731.3.2 As trs matrizes e o assimilacionismo...............................................................761.3.3 A exaltao dos feitos portugueses e a repulsa aos atos de rebeldia ..............811.3.4 O todo e a parte: questo-chave da problemtica nacional ..............................83
2. O MONUMENTO VARNHAGEN E O ENREDO DA NAO: A NARRATIVA NACIONAL............................................................................................882.1 O que representou Varnhagen? ........................................................................882.1.1 Biografia ............................................................................................................902.1.2 Convices pessoais .........................................................................................962.1.3 A providncia ...................................................................................................1112.2 As partes se tornam um todo a partir da narrativa nacional: uma histria geral da nao brasileira ...........................................................................1182.3 A tragdia, o inimigo e o heri: a funo paradigmtica da narrativanacional.. .....................................................................................................140
3. O ESTADO-NAO: PROTAGONISTA DA NARRATIVA NACIONAL ...............1793.1 A relao com Portugal na narrativa nacional ...............................................1793.2 O Estado dentro do Estado: os jesutas ........................................................1883.3 Revolta e (i)legitimidade: os movimentos e sua apreenso ........................1943.4 Transferncia e presena do Estado portugus: um Brasil independente em afirmao? ..................................................................................................2033.5 Uma teoria da nao na obra de Varnhagen? ................................................2173.6 Varnhagen: advogado do estado e juiz inquisidor do tribunal da histria .............................................................................................................................234
CONSIDERAES FINAIS .....................................................................................253
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................259
Horizontes Identitrios
10
PREFCIO
Claudia Wasserman (UFRGS)Orientadora
Maria Emlia Prado (UERJ)Banca de avaliao
Na Amrica Latina, o processo de constituio do Estado-Nao foi o resultado
de uma complexa interface entre os fatores materiais objetivos, tais como lngua,
territrio e histria comuns, existncia de um mercado interno, criao de smbolos
ptrios, etc, e a interveno criativa dos intelectuais, ligados ao Estado, destinados a
definir o aspecto subjetivo da identidade nacional.
O fator subjetivo refere-se ao nacionalismo, ou seja, inteno explcita de
construir e consolidar uma fraternidade que ultrapassasse os limites locais e regionais.
Os nacionalismos foram os veculos por meio dos quais se construram as naes
modernas; eles elaboraram programas capazes de, em sociedades to desiguais como
as nossas latino-americanas, por exemplo, incorporar grande parte da populao e
fazer com que todos se sentissem partcipes dessa comunidade imaginada.
As primeiras discusses a respeito da identidade nacional, do surgimento
das naes e dos obstculos para a sua constituio plena surgiram a partir das
independncias, pautadas por uma preocupao poltica por parte dos protagonistas do
processo. Depois das independncias, os pases da Amrica Latina se transformaram
em espao de debates sobre a questo constitucional, sobre o povoamento e
acerca das medidas necessrias para implantao dos ordenamentos polticos e
administrativos. Essas discusses tambm foram realizadas por polticos e intelectuais
que se propunham a fazer parte das administraes.
Somente mais tarde, na segunda metade do sculo XIX, apareceram os
Salah H. Khaled Jr.
11
primeiros historiadores, intelectuais ligados a academias de histria ou centros e
institutos sem carter oficial, mas cujos membros tiveram uma preocupao destacada
com a investigao histrica e suas obras transformaram-se em um legado de valor
documental e analtico para futuros historiadores.
A dissertao de Mestrado de Salah H. Khaled Jr, intitulada A Construo da
narrativa nacional brasileira: a escrita da nao em Barboza, Martius e Varnhagen,
defendida em julho de 2007, no Programa de Ps-Graduao em Histria da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e agora publicada pela
EDIPUCRS com o ttulo de Horizontes identitrios: a construo da narrativa nacional
brasileira pela historiografia do sculo XIX, prope a anlise da elaborao de uma
narrativa nacional por parte da historiografia oitocentista, a partir de alguns dos mais
destacados intelectuais da poca: Janurio da Cunha Barboza, Karl Friedrich Von
Martius e Francisco Adolpho de Varnhagen.
Como fio condutor da anlise, Salah optou pela interpretao do amplo grau
de pragmatismo presente nas obras dos autores brasileiros do sculo XIX que,
segundo sua tica, perseguiam o objetivo de construir uma narrativa fundadora da
nacionalidade e da nao. Sem prescindir dos tericos contemporneos a respeito
da questo nacional e dos demais comentadores das obras analisadas, Salah constri
um trabalho original e que contribui para compreenso do que ele mesmo chama de
pedagogia social ou estratgias de convencimento.
A utilizao adequada das fontes revela a escrita daqueles intelectuais do
sculo XIX, que pretendiam pautar condutas de comportamento e moldar o cidado
nacional. A exegese dos textos, permeada pelo contexto histrico, propicia a
emergncia desse discurso que , segundo Salah, sobretudo poltico. Sendo assim,
Salah recupera o grau de inventividade, sugerido por Ernest Gellner, ao discurso da
nacionalidade, recuperando os episdios nacionais que se prestam aos objetivos dos
pioneiros e militantes da questo nacional.
A preocupao com a pedagogia social e com as estratgias de
convencimento resultou na tentativa de erradicao da diferena, demonstrando a
intolerncia e recusa da heterogeneidade e revelou o recorte e seleo arbitrria de
fatos, bem como de prefigurao do passado de acordo com os objetivos de uma elite
no presente realizada pelos autores estudados.
So estes os objetivos prticos que Salah descobre por trs de toda a narrativa
Horizontes Identitrios
12
fundadora do Brasil-Nao, parecendo por vezes, as intenes polticas se sobreporem
a revelarem toda a insdia dos autores.
O resultado do esforo um texto fluente, bem escrito e que contribui para a
historiografia brasileira e latino-americana a respeito de um assunto sobre o qual os
historiadores subcontinentais tiveram tanta responsabilidade, para o bem e para o
mal.
Salah H. Khaled Jr.
13
APRESENTAO
A anlise desenvolvida por Salah H. Khaled Jr. d visibilidade ao pensamento
histrico brasileiro do sculo XIX, que buscava estabelecer um futuro promissor
para o Imprio e simultaneamente preservar o vnculo com Portugal, enfatizando a
importncia da ancestralidade europeia para o Brasil independente. Salah realiza
essa tarefa buscando nos nexos analticos presentes nos textos de Barboza, Martius
e Varnhagen a forma com que o processo de uniformizao do discurso histrico foi
construdo, desde uma perspectiva de constituio de uma identidade nacional. O
autor relata como se articulou o enfoque da problemtica da conformao do Brasil
a um ideal de civilizao, nacionalidade brasileira, apresentada e representada
pela identidade nacional cuja ambiguidade retratada nos discursos encoberta por
diferentes estratgias de convencimento.
Partindo dessas premissas, Salah detecta, com objetividade, o problema que
o modelo de narrativa construdo pela intelectualidade da poca tentava solucionar:
o que era disperso precisava ser agregado discursivamente por uma estratgia de
convencimento que pretendia superar a impossibilidade de utilizao de um modelo
eurocntrico e homogneo para explicar a brasilidade. Ao se utilizarem de tal modelo,
os historiadores se defrontavam com o paradoxo da diversidade nacional, problema
este que foi enfrentado diretamente por Martius: como explicar a unidade nacional
a partir de tantas diferenas e dar a ela, nacionalidade, uma igualdade, tal como
pretendida pelo pensamento histrico da poca?
Com esse enfoque, a pesquisa desenvolvida por Salah revela que o problema
de aplicao de um modelo que considerasse a diversidade logo foi deixado de lado,
sendo priorizado o modelo cientifico moderno, homogneo e igualitrio, o que pode
ser nitidamente percebido na obra de Varnhagen. O autor retrata que a inscrio
da diversidade representou um problema que a intelectualidade da poca tentou
solucionar, buscando uma estratgia de convencimento que ansiava pela assimilao
Horizontes Identitrios
14
e eventual anulao do outro (ndios e negros) e que se valia de holandeses, franceses
e espanhis propriamente reconhecidos narrativamente como outros, condio
negada a negros e ndios para constituir o carter heroico dos brasileiros unidos na
defesa da ptria, prefigurada argumentativamente nos tempos coloniais.
Salah prope ainda, no conjunto de sua dissertao, uma difcil tarefa: captar
os postulados de construo do conhecimento histrico no contexto do sculo XIX,
comparando-os aos postulados do heri na narrativa de Varnhagen e como ele
pensou o Brasil de forma global. O autor consegue, de forma exemplar, demonstrar
a especificidade da construo narrativa oitocentista, revelando como Varnhagen
subordina a ao individual aos objetivos colocados pelo Estado, de forma a dificultar
a mobilidade dos indivduos frente conduo da histria pela Providncia. A
singularidade nacional apresentada por Varnhagen como relato por excelncia de
um personagem: o Brasil-Estado. Dessa forma, a Histria Geral do Brasil configura uma
narrativa nacional que assume carter de grande relato da nacionalidade. Um relato
que tem ntida vocao pragmtica, apesar de sua pretenso cientfica, propondo-se
a fundar uma ideia de nao de acordo com as premissas do Imprio e assumindo
assim carter de verdadeira pedagogia social.
A anlise desenvolvida enfatiza a originalidade com que essas ideias foram
utilizadas pelos autores analisados, em especial por Varnhagen, que aborda diversas
questes referentes ao que entendia ser um processo de domnio da civilizao sobre
a barbrie, demonstrando a percepo do processo de colonizao pelo pensamento
dos historiadores brasileiros do sculo XIX. A desconstruo da obra Histria Geral
do Brasil, de Varnhagen, revela uma narrativa estruturada para produzir identificao
subjetiva nos habitantes do pas, dentro de um contexto histrico no qual havia uma
pretenso de fazer do Brasil um grande Imprio, no sculo XIX.
A anlise discursiva das simetrias e assimetrias brasileiras representa um olhar
apurado, pode-se dizer emblemtico sobre uma etapa importante e significativa da
histria do pensamento brasileiro, revelando um carter unificador, que desde os seus
primrdios procurou erradicar a diferena, expressando um conhecimento construdo
sob o signo do poder e de sua justificao.
Ruth Maria Chitt Gauer
Salah H. Khaled Jr.
15
INTRODUO
A proposta deste livro consiste em analisar a construo da narrativa nacional
por Janurio da Cunha Barboza, Karl Friedrich Phillipe Von Martius e Francisco
Adolpho de Varnhagen no sculo XIX, durante a primeira etapa de constituio da
nao brasileira. A investigao desse processo de construo identitria a partir da
escrita da histria tem como base o estudo de trs obras significativas para a sua
compreenso: O discurso fundador do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, de
Janurio da Cunha Barboza; o artigo Como se deve escrever a Histria do Brasil de
Martius; e a Histria Geral do Brasil de Varnhagen. A opo pelo tratamento conjunto
dos textos referidos relaciona-se existncia de um fio de continuidade entre o discurso
fundador do IHGB, o guia para escrita da histria nacional de Martius e a concretizao
de tais ideais atravs do grande relato da nacionalidade de Varnhagen, que o
produto mais elaborado do esforo discursivo de construo da nao brasileira nos
oitocentos. Dentro de tal proposta, um horizonte de anlise privilegiado nos textos
referidos: a preocupao com a construo da nao e da identidade nacional a partir
de uma narrativa, enfatizando um recorte de natureza poltica. Sendo assim, feita
uma anlise da narrativa nacional construda no sculo XIX, buscando compreender o
seu sentido propriamente identitrio, atravs de uma pesquisa pautada pelos critrios
de procedimento da Histria Intelectual.
Uma vez que a abordagem do problema refere-se construo de identidades
nacionais, se torna importante destacar que o recorte , sobretudo, poltico e no
historiogrfico, estando a discusso voltada para as questes chave da definio
identitria brasileira nos autores referidos e nas suas respectivas obras. Logo, no se
trata de uma investigao sobre mtodo, escrita, paradigma ou utilizao de fontes
pelos autores, embora tais questes possam ser incidentalmente abordadas. O que
interessa, sobretudo, o contedo das respectivas falas. A anlise est centrada no
carter da narrativa nacional por eles proposta e na relao entre a realidade externa
Horizontes Identitrios
16
e o seu discurso, que se d a partir de um horizonte decididamente pragmtico. Esse
o enfoque proposto para a investigao realizada. Portanto, a inteno de uma
leitura das obras como integrantes de uma narrativa fundadora da nacionalidade e da
nao, e no como obras de histria em sentido estrito, motivo pelo qual as questes
propostas extrapolam o mbito de interesse especfico dos historiadores.
O enfoque da obra poltico, pois se refere inveno do Brasil-Nao
pela historiografia oitocentista. Sendo assim, o componente privilegiado de anlise
a identidade nacional e a nao, na forma com que a narrativa nacional busca
estabelec-los. Entretanto, estes so elementos que no se evidenciam facilmente,
pois a obra de Varnhagen privilegia o Estado, tendo inclusive sido taxada no passado
de uma histria administrativa do Imprio Portugus. Todavia, percebe-se de forma
subjacente uma srie de elementos que permitem ao observador inferir uma teoria
da nao na obra do autor. Alm disso, h uma tentativa deliberada de construo
de sentidos ao longo da narrativa, atravs do estabelecimento de uma pedagogia
social que busca determinar condutas a partir de exemplos. Para o enfoque proposto
para essa anlise, interessante observar a dinmica dessa funo exemplar inserida
no discurso intelectual, principalmente no que se refere sua insero na narrativa
nacional.
Como a narrativa nacional desenvolvida nos oitocentos o objeto analisado a
partir do fio de continuidade anteriormente citado, os referenciais tericos oferecidos
pelos vrios elementos que compem a teoria do nacionalismo, bem como pelos
comentadores de Barboza, Martius e Varnhagen se mostram de grande valia. Sendo
assim, como se espera do tema da identidade nacional, a obra se vale de uma srie
de autores para fins de embasamento terico. As consideraes de ordem terica so
aproveitadas como parmetros que orientam e fundamentam a anlise, norteando a
prpria leitura do discurso intelectual, sendo esse o sentido de sua utilizao. Dessa
forma, a inteno pensar a partir dos tericos da nao e dos comentadores, sem,
no entanto, se limitar a eles. Esta , portanto, uma obra que se vale exclusivamente
de fontes de ordem bibliogrfica para a formao dos elementos de convico que lhe
so pertinentes.
A contribuio que o presente estudo visa prestar encontra-se ligada
construo de identidades nacionais, atravs da narrativa nacional e em particular, do
modo como a historiografia buscou construir tais identidades. Portanto, a dimenso de
Salah H. Khaled Jr.
17
anlise em questo privilegia a forma com que a constituio de um passado histrico,
a partir de recortes especficos e exemplos delimitados, trabalha para formar o tipo
de conscincia que tpico de uma identidade nacional. Nesse sentido, a inteno
descer ao nvel do discurso e de suas estratgias de convencimento e dessa maneira,
contribuir para a discusso em torno da elaborao do Brasil-Nao nos oitocentos.1
As avaliaes sobre a obra de Varnhagen costumam se reportar aos mesmos
pontos, destacando-se, principalmente, a questo da nao. Nesse sentido, o
diferencial da anlise aqui proposta est na forma de abordar o objeto, ou seja, no
enfoque adotado para problematizar a narrativa nacional: revelar a existncia de um
sistema de pensamento dotado de considervel sofisticao e alicerado por um
pragmatismo poltico cuja inteno , efetivamente, moldar o cidado nacional.
Em virtude dessa opo analtica, a utilizao de citaes abundante, uma
vez que interessante permitir que os autores falem por si mesmos e na sua prpria
forma de se expressar. Essa opo se deu, inclusive, em funo da leitura de alguns
comentadores dar a impresso de que eles, por vezes, se afastam demais dos
autores que procuram analisar.2 A inteno aqui, ao contrrio, permitir que o leitor
conhea no apenas uma interpretao sobre os textos escolhidos, mas que tambm
efetivamente os conhea, ainda que, obviamente, dentro de um recorte estabelecido
pelas necessidades da anlise em questo.
A inteno de revelar um sistema de pensamento refere-se a uma compreenso
que diz respeito ao contedo e sentido do que posto atravs da historiografia. No
se trata de uma refutao factual ou de uma afirmao de superao de um modelo
em tese, defasado de historiografia at porque isso j foi feito , mas sim, da busca
de um entendimento abrangente do que, de fato, se pretendia, como se fazia e o que
se realizava ao constituir-se um passado para a nao brasileira no sculo XIX. Em
outras palavras, uma tentativa de apreenso do sentido por trs da narrativa nacional
inserida dentro de uma obra descritiva como a de Varnhagen. Portanto, o que move
esta anlise uma reflexo crtica sobre os textos que encaminharam a narrativa
nacional e a obra de Varnhagen, que por fim a constituiu e dessa forma, inventou,
legitimou e celebrou a nao.
importante que esses questionamentos fiquem claros para que seja
1 Os demais estudiosos de Martius e Varnhagen trataram de outros aspectos de suas produes inte-lectuais, de forma que esta parece ser uma questo na qual ainda h espao para discusso.2 o caso, por exemplo, de Nilo Odalia, Jos Carlos Reis e Jos Honrio Rodrigues.
Horizontes Identitrios
18
evidenciada a diferena deste estudo em relao ao trabalho realizado por outros
comentadores de Varnhagen, cujo enfoque geralmente historiogrfico. Varnhagen
um autor que j foi observado por uma srie de autores. Dentre a extensa literatura,
podem ser citados os trabalhos de Arno Wehling, Temstocles Cezar, Nilo Odalia, Jos
Carlos Reis, Jos Honrio Rodrigues, Manuel Salgado Guimares e Capistrano de
Abreu, entre tantos outros. So autores de renome. Aqui no h qualquer pretenso
de super-los. Procura-se apenas contribuir para essa extensa discusso a partir de
uma anlise que conta com um enfoque diferenciado em relao aos estudos at
ento realizados. Tais autores so, inclusive, muito utilizados e citados no decorrer da
presente obra.
Tambm importante salientar que, diferentemente dos autores acima
referidos, no existe aqui a pretenso de realizar um extenso levantamento da obra
de Varnhagen, mas sim, em sintonia com o recorte previsto, verificar os elementos
importantes para o estudo da identidade nacional, em sua Histria Geral do Brasil.
Alm disso, interessante referir que enquanto objeto, a HGB tem uma particularidade,
que a existncia de duas edies distintas, sendo que h diferenas significativas
de posicionamento do autor em ambas. Quanto ao recorte aqui proposto, embora em
certa medida a primeira edio seja contemplada quando considerada relevante, a
opo foi pela segunda edio, por entender que nela se encontram mais cristalizados
os pontos de vista de Varnhagen sobre a questo nacional, que o aspecto que,
sobretudo, interessa verificar.
Um outro ponto que deve ser destacado a questo do contexto. Para a anlise
aqui proposta e em busca de respostas para uma srie de questes levantadas,
parece fundamental verificar de que forma uma srie de fatores concorreram para
a realizao dessa historiografia dos oitocentos. Nesse sentido, a anlise leva em
considerao os elementos contextuais integrantes do processo histrico em que se
deu a inveno da narrativa nacional, alm das obras dos autores. A observao dos
elementos materiais que compem esse contexto no pode ser ignorada, sob pena
de incorrer-se em um empobrecimento injustificado do objeto de pesquisa. Logo, uma
vez que para essa anlise o contexto imprescindvel, o seu estabelecimento se d
atravs da utilizao da historiografia contempornea que se reporta s questes
pertinentes para a investigao do objeto em questo, bem como ao prprio perodo
em que Varnhagen escreveu sua obra. A importncia do contexto est ligada ao
Salah H. Khaled Jr.
19
entendimento de que, sendo todo o texto, por excelncia, datado, no h possibilidade
de compreenso proveitosa de uma obra sem que fique estabelecido o devido marco
temporal e espacial em que se deu sua escrita.3
Como se trata de uma pesquisa cujo elemento central uma anlise de
discurso intelectual, isso levanta questes de ordem metodolgica. Sendo assim, pela
natureza do objeto selecionado e pela forma de sua abordagem uma vez que se
preocupa com a relao entre os intelectuais e o poder poltico esta pesquisa insere-
se dentro da metodologia da Histria Intelectual, cujo projeto pautado pela busca de
uma elucidao das obras dos pensadores dentro de sua historicidade.4 Em sntese,
a Histria Intelectual procura inscrever historicamente o discurso dos intelectuais,
tentando ultrapassar a alternativa entre explicaes internas e externas.5
Para que essa ambio analtica da Histria Intelectual seja bem sucedida,
se faz necessria a superao da dicotomia entre uma anlise interna e externa,
observando as duas escalas de anlise.6 Portanto, tanto o contexto histrico integra o
seu enfoque, como os paradigmas intelectuais, os modelos dominantes que integram
o pensamento cientfico da poca, ainda que a apreenso de tais modelos no seja
to simples.7 Nesse sentido, uma anlise determinada por tais critrios leva em
3 Nesse sentido, relevante a afirmao de Hobsbawm, que afirma que conceitos, certamente, no so parte de discursos filosficos flutuantes, mas so histrica, social e localmente enraizados e, por-tanto, devem ser explicados em termos destas realidades. HOBSBAWM, Eric J. Naes e nacionalis-mo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p.18.4 O historiador francs Franois Dosse afirma que a Histria Intelectual se estabeleceu em um espao vazio entre a histria clssica das ideias, a histria da filosofia, a histria das mentalidades e a histria cultural. Como afirma o autor, esse novo espao de investigao tende a adquirir autonomia, pois a histria intelectual tem como ambio a convergncia em sua anlise, das obras, seus autores e o con-texto em que haviam nascido, dentro de um processo que rechaa a alternativa empobrecedora entre, de um lado, uma leitura internalista das obras e de outro, uma aproximao externalista que privilegia somente as redes de sociabilidade. DOSSE, Franois. Regreso al pas de la historia intelectual In: Con-trahistoiras. La otra mirada de clio, n. 3, setembro de 2004-fevereiro de 2005. p.87.5 SILVA, Helenice Rodrigues. A histria Intelectual em questo In: LOPES, Marco Antnio (org.). Gran-des nomes da Histria Intelectual. So Paulo: Contexto, 2003. p.15. Disponvel em:http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22%20%22Grandes%20nomes%20da%20hist%C3%B3ria%26 A ideia ir alm de uma abordagem que privilegie a relao entre a anlise externa dos acontecimen-tos (histricos, sociais, polticos) e a anlise interna da obra (a hermenutica ou a anlise do discurso), a Histria Intelectual deve levar em considerao, simultaneamente, a dimenso diacrnica (histria) e sincrnica (os aspectos diferentes de um mesmo conjunto em um mesmo momento de evoluo) (falta fechar aspas). Ibid., p.19. Para Dosse, a vontade de manter juntas estas dimenses que caracteriza o objeto da histria intelectual. DOSSE, op cit. p.87.7 SILVA, op cit, p.20. Disponvel em: http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22%20
http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2
Horizontes Identitrios
20
considerao a trajetria pessoal dos autores, assim como o contexto histrico em que
esto inseridos, para efeito de anlise de seu discurso e decifrao de seus sistemas
de pensamento, bem como de sua relao com o poder e o poder que exercem
atravs da cincia.8 Esse entendimento parte da noo que aponta que uma anlise
de produo intelectual no pode ser realizada fora de um contexto social, poltico,
econmico e cultural, uma vez que nenhum fenmeno/objeto ser compreendido se
analisado de forma isolada e independente dos demais.9 Evidente que trata-se de um
objeto dotado de complexidade imensa, o que por sua vez, conduz insuficincia da
anlise, que no se reveste aqui de qualquer pretenso de estabelecer uma verdade
absoluta.
Esse , em linhas gerais, o esprito de investigao atravs do qual o problema
da narrativa nacional ser abordado dentro do objeto e das fontes escolhidas. Tendo
como base tais norteadores, para que a avaliao da trajetria e do carter da
construo da narrativa nacional brasileira no sculo XIX seja realizada com sucesso,
dentro do esprito aqui proposto, se faz necessrio que sejam percorridas algumas
etapas, que se refletem na estrutura da presente obra.
No primeiro captulo, a inteno estabelecer as bases em torno das quais
foi elaborada a narrativa nacional. Dessa forma, so abordadas questes como: a
condio poltica de ex-colnia; o que havia de identificao com o pas; por que era
necessrio inventar a nao; e finalmente, qual o sentido da fundao do Instituto
Histrico e Geogrfico Brasileiro e como ele se articula com o poder. A partir do
estabelecimento desse contexto, a anlise de desloca para o discurso fundador de
Janurio da Cunha Barboza e como ele busca estabelecer os parmetros de uma
narrativa nacional. Finalmente, chega-se ao artigo de Karl Friedrich Von Martius, que
efetivamente se constitui em um guia para a inveno discursiva da nao.
No segundo captulo, a anlise enfoca Varnhagen. Assim, em um primeiro
momento, procura-se discutir a trajetria do autor do grande relato da nacionalidade
%22Grandes%20nomes%20da%20hist%C3%B3ria%28 Helenice Rodrigues da Silva refere que a Histria Intelectual, domnio pluridisciplinar por excelncia, como o dos contextos de produo de idias, o dos agentes socioprofissionais e o das correntes de pensamento. [...] ela parece visar dois plos de anlise: de um lado o conjunto de funcionamento de uma sociedade intelectual (o campo, na verso de Pierre Bordieu), isto , suas prticas, seu modo de ser, suas regras de legitimao, suas estratgias, seus habitus; e de outro lado, as caractersticas de um momento histrico e conjuntural que impe formas de percepo e de apreciao, ou seja, modali-dades especficas de pensar e de agir de uma comunidade intelectual. Ibid., p.16.9 Ou seja, para Silva, em outras palavras, a histria intelectual [...] teria por principal pressuposto res-tituir, do ponto de vista sociolgico, filosfico e histrico, o contexto de produo de uma obra. Ibidem.
http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=fCC-wB_mPjcC&oi=fnd&pg=PA9&dq=%22Lopes%22+%22Grandes+nomes+da+hist%C3%B3ria+intelectual.%22+&ots=4EVkG2eFcq&sig=X4f7fySi9BDtEN93GM-K_V75F2s#v=onepage&q=%22Lopes%22 %22Grandes nomes da hist%C3%B3ria%2
Salah H. Khaled Jr.
21
oitocentista, expondo sua biografia e avaliando suas convices pessoais. Em um
segundo momento, a anlise voltada para o discurso, enfocando dois pontos
marcantes da sua obra: a ideia de uma histria geral que por excelncia nega a
diferena e procura promover integrao; e a construo de sentidos exemplares,
paradigmticos, atravs das categorias da tragdia, dos nossos e do inimigo.
No terceiro captulo, surge o personagem central da narrativa nacional
de Varnhagen: o Estado-Nao. Assim, possvel observar como Varnhagen se
posiciona diante de questes que envolvem tal personagem, como: o relacionamento
com Portugal; os jesutas e a ideia de Estado dentro do Estado; os movimentos
rebeldes; e finalmente, a transferncia do Estado portugus para o Brasil. A partir de
tais elementos, possvel esboar uma teoria da nao que transparece na obra de
Varnhagen, ainda que de forma difusa ou subjacente. Finalmente, no ltimo trecho,
fica claro como o pragmatismo de Varnhagen acaba por lhe conferir dois papis que
ele mesmo repudiava: o de advogado (do Estado-Nao) e o de juiz inquisidor (do
tribunal da histria). Com base nos subsdios investigados ao longo dos trs captulos
torna-se possvel uma apreciao analtica do carter da narrativa nacional brasileira
concebida pela historiografia oitocentista.
Boa leitura!
Horizontes Identitrios
22
1. ERGUENDO OS ALICERCES DA NARRATIVA NACIONAL FACE
HETEROGENEIDADE DA NAO: O IHGB E MARTIUS
A proposta neste captulo consiste em demonstrar o esforo necessrio para
inventar o Brasil-Nao no sculo XIX e as primeiras iniciativas nesse sentido, com
a fundao do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e o artigo de Karl Friedrich
Von Martius. A estruturao do captulo desenvolve-se em trs etapas, atendendo a
essa proposta. Em um primeiro momento, esboado um quadro da problemtica
nacional que precede fundao do IHGB, utilizando as contribuies mais recentes
da historiografia sobre a questo identitria brasileira. Em um segundo momento,
a preocupao se desloca para o Instituto propriamente dito: seu surgimento, sua
associao com o poder, seus objetivos e seu discurso fundador, nos quais j so
delineados os parmetros tericos e polticos da escrita da histria da nao. Finalmente,
no terceiro trecho, analisado o artigo de Martius, Como se deve escrever a histria
do Brasil, o qual funciona como verdadeiro guia para a elaborao do produto mais
acabado do esforo de inveno da nao, a Histria Geral do Brasil de Varnhagen,
que passa a ser abordada no segundo captulo.
1.1 O Legado Colonial: fragmentao, heterogeneidade e uma identidade
portuguesa
A inveno da nao se tornou, por excelncia, a misso da histria como
cincia no sculo XIX. O Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro se props a elaborar
um passado para a nao, a construir esse passado discursivamente e, portanto, a
compor uma narrativa nacional. Nesse sentido, parece interessante verificar quais
eram os elementos sobre os quais a nao poderia ser construda discursivamente e
porque a inveno da nao se fazia to necessria viabilidade do pas. Qual era a
Salah H. Khaled Jr.
23
situao do Brasil enquanto colnia e enquanto pas recm independente, e de que
forma esse passado poderia ou no ser moldado para promover, atravs de uma
narrativa nacional, um sentimento de identificao com o todo da nao?
Se antes dos oitocentos havia alguma identidade brasileira, era somente de
forma tmida e embrionria, e mesmo assim era difcil separ-la de sua vinculao
lusitana. As elites do pas preservavam, sobretudo, a sua origem branca e europeia e
isso implicava em uma falta de identificao com a colnia. Afinal, era essa herana
que os diferenciava de ndios e negros e, portanto, no havia como abrir mo dessa
vinculao. De fato, tudo indica que o Brasil pouco representava enquanto foco de
identificao.10
Alm disso, a prpria percepo e sentido atribudos colnia, pelos
colonizadores, no lhes era prpria. O Brasil no era reconhecido por suas
caractersticas, mas sim, como uma extenso da cultura portuguesa localizada no
alm-mar.11 Em essncia, pode ser dito que o Brasil era tido pelos portugueses como
uma espcie de reproduo de Portugal.12 Evidentemente, essa no era realidade
concreta da colnia, ainda que os colonizadores pudessem ter tal compreenso.13
Desde os primrdios de sua existncia, portanto, o Brasil no foi institudo
pelos portugueses para ser algo novo, mas sim, para existir em funo das
necessidades e dos modelos impostos pela metrpole.14 Em funo disso, parece
10 De acordo com Evaldo Cabral de Melo, o sentimento no primeiro sculo de colonizao (1532-1630) no era de originalidade, mas sim, de orgulho pela lusitanidade da nova terra. MELO, Evaldo Cabral de. Uma nova Lusitnia. In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem Incompleta. A experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo. Senac,1999. Disponvel parcialmente em:http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v= onepage&q=Uma%20nova%20Lusit%C3%A2nia&f=false11 Jorge Couto, em sentido semelhante, observa que os visveis progressos alcanados no final do sculo XVI levaram muitos a considerar a promissora provncia sul-americana como uma Nova Lu-sitnia ou um Outro Portugal. COUTO, Jorge. A gnese do Brasil. In: MOTA, Carlos Guilherme (org).Viagem Incompleta. A experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo: Senac, 1999. p.48. Grifo nosso. Disponvel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA45&dq=a+g%C3%12 O jesuta Ferno Cardim proclamava: este Brasil j outro Portugal. MELO, Op cit., p.73. Dispon-vel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v= onepage&q=Uma%20nova%20Lusit%C3%A2nia&f=false 13 Couto afirma que o Brasil trata-se de um componente do Imprio portugus que possua caracte-rsticas bem vincadas e que apesar da prevalncia, sobretudo nas reas urbanas, de elementos da matriz cultural, lingustica e religiosa lusitana no poderia, desde o incio do processo de colonizao, ser automaticamente associada ao padro metropolitano. COUTO, Op cit., p.65. Disponvel parcial-mente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA45&dq=a+g%C3%AAnese+do+brasil#v= onepage&q=a%20g%C3%AAnese%20do%20brasil&f=false14 nesse sentido que Stuart Schwartz afirma que em termos sociais ou religiosos, o Brasil foi cria-do para reproduzir Portugal, no para transform-lo ou transcend-lo. SCHWARTZ, Stuart B APUD
http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v=onepage&q=Uma nova Lusit%C3%A2nia&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v=onepage&q=Uma nova Lusit%C3%A2nia&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA45&dq=a+g%C3%http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA45&dq=a+g%C3%http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v=onepage&q=Uma nova Lusit%C3%A2nia&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v=onepage&q=Uma nova Lusit%C3%A2nia&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA45&dq=a+g%C3%AAnese+do+brasil#v=onepage&q=a g%C3%AAnese do brasil&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA45&dq=a+g%C3%AAnese+do+brasil#v=onepage&q=a g%C3%AAnese do brasil&f=false
Horizontes Identitrios
24
claro que o ambiente colonial no era nada propcio ao surgimento de algo que,
mesmo remotamente, lembrasse uma identidade nacional. Pensando a partir da
categoria de protonacionalismo15, de Hobsbawm, percebe-se que mesmo que de
forma embrionria, no havia, por parte dos portugueses, uma ligao com o Brasil. O
que havia de identificao remetia metrpole. Alm disso, sequer havia um Estado
propriamente dito e localizado em seu territrio, em virtude da condio colonial. Como
um dos fatores para a promoo do sentimento nacional o Estado, percebe-se o
quanto o Brasil estava distante de ter um sentido prprio para os seus habitantes. Isso
representa um problema com que a elaborao discursiva da nao teria que lidar,
pois um dos elementos que por excelncia legitimam uma nao a sua antiguidade,
o fato de sua existncia j estar longamente solidificada pelo decurso do tempo.
Embora fosse desejvel para a inveno da narrativa nacional que um sentimento
de identificao com o Brasil j estivesse presente desde os primrdios da colonizao,
o fato que durante sculos, a nica perspectiva identitria realmente existente, para
as prprias elites, era a portuguesa. O sentimento de identidade nacional se que
pode ser entendido assim em pleno Brasil, era luso ou inexistente. Isso dificultava o
surgimento de uma identidade brasileira, uma vez que nada vinculava subjetivamente
os portugueses mesmo os no reinis ao Brasil. A relao dos colonizadores era,
na realidade, de espoliao. O que se buscava era o enriquecimento individual e o
retorno a Portugal.16 Dentro dessa perspectiva, a percepo dos ndios e negros em
relao colnia pouco importava para as elites, pois o Brasil era, por excelncia,
uma inveno do homem europeu, e cabia a ele atribuir sua significao.
Somente no final do sculo XVIII comeou a surgir, ainda que de forma inicial,
MELO, Evaldo Cabral de. Uma nova Lusitnia. In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem Incompleta. A experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo. Senac,1999.p.73. Disponvel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v= onepage&q=Uma%20nova%20Lusit%C3%A2nia&f=false15 HOBSBAWM, Eric J. Naes e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Ja-neiro: Paz e Terra, 1990. p.63.16 Como assinala Schwartz, apesar do reconhecimento do potencial econmico do Brasil, este era visto pela maioria dos portugueses como um lugar de exlio e perigo; um lugar para enriquecer ou progredir na carreira, mas um lugar a ser evitado a qualquer custo. SCHWARTZ, Stuart B. Gente da terra braziliense da naso. Pensando o Brasil: a construo de um povo. In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem Incompleta. A experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo: Se-nac, 1999. p.109. Disponvel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente%20da%20terra%20brazilien-se%20da%20nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false
http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v=onepage&q=Uma nova Lusit%C3%A2nia&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA48&dq=Uma+nova+Lusit%C3%A2nia#v=onepage&q=Uma nova Lusit%C3%A2nia&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false
Salah H. Khaled Jr.
25
uma espcie de identificao com o Brasil dentro de tais elites. Para que isso ocorresse
foi necessrio que fosse operada uma inverso de significado, em que o conquistador
passasse a se enxergar como nativo, um processo nada simples. Essa constatao
faz com que transparea a imensido da tarefa a ser realizada atravs da inveno
da nao nos oitocentos. Para os intelectuais que elaboravam a narrativa nacional
no sculo XIX, no bastava que o Brasil fosse uma nova nao. Ele devia estar
prefigurado desde os tempos coloniais, pois esse passado podia se constituir em um
cimento importante para um pas que tinha a integridade do seu territrio ameaada.
Fica, portanto, a pergunta: como deixar de lado a identificao com Portugal
fonte de orgulho e prestgio e assumir uma proximidade com um territrio satlite do
imprio portugus que detinha pouca importncia alm de uma lgica de exportao
de produtos tropicais? O pouco que havia de identificao, era, sobretudo, regional.
Justamente a identificao que teria que ser ferrenhamente combatida no sculo XIX
para estimular o sentimento nacional. Havia identidade local no Brasil colnia, mas
no nacional. A identificao era, sobretudo, regional, ou ento, com Portugal. Jancs
e Pimenta, por exemplo, afirmam que os colonos de So Paulo, ao mesmo tempo que
reconheciam-se como paulistas, eram percebidos pelos espanhis como portugueses,
e assim se sentiam ao confront-los. Paulista, baiense ou pernambucano, significava
ser portugus ainda que uma forma diferenciada de s-lo mas no brasileiro.17
Tais constataes do uma boa amostra do quanto era limitado o sentido de Brasil
para aqueles que passariam a ser considerados como brasileiros no futuro, pela
historiografia dos oitocentos. O exemplo demonstra o quanto difcil pensar o Brasil
antes da independncia e mesmo depois como uma nao a partir de critrios
subjetivos, a partir da ideia de vontade, de adeso ao todo da nao.
A que fatores pode ser atribuda essa condio? Por que era to difcil a
identificao com o Brasil? Ser que a manuteno de uma identidade portuguesa se
17 Para os autores, o que interessa ressaltar a concomitante emergncia de trs diferenas. A primei-ra aquela que distinguia o portugus da Amrica (por exemplo, um baiense) de todos que no fossem portugueses (holandeses, franceses, espanhis). A segunda, simultnea com a anterior, a que lhe permitia distinguir-se, ao baiense, de outros portugueses (por exemplo, do reinol, do paulista). Final-mente, uma terceira diferena a que distingue, entre os portugueses, aqueles que so americanos dos que no partilham essa condio. JANCS, Istvn e PIMENTA, Joo Paulo G. Peas de um mosai-co (ou apontamentos para o estudo da emergncia da identidade nacional brasileira). In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem Incompleta. A experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo: Senac, 1999. p.137. Disponvel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as%20de%20um%20mosaico%20(ou%20apontamentos%20para%20o%20es&f=false
http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=false
Horizontes Identitrios
26
restringia ao diferencial em relao a negros e ndios? A questo no parece limitar-
se a esse aspecto, pois no abrange o florescimento de uma identidade regional,
estabelecida pela convergncia de interesses locais. Nesse sentido, importante
salientar que antes que fruto do mero acaso, a fragmentao era propositalmente
engendrada: os funcionrios da Coroa referiam-se a Amrica portuguesa como Brasil,
mas jamais a seus habitantes como brasileiros. Todo o cuidado era tomado para evitar
o surgimento de uma identidade coletiva que ultrapassasse o mbito regional.18 Ou
seja, a prpria metrpole tratou de dificultar o surgimento de uma identificao que
fizesse com que os habitantes do Brasil se voltassem contra ela. Isso significa que
Portugal, apesar de alm-mar, no deveria ser percebido, de forma alguma, como um
outro. Os outros deveriam ser os espanhis, e no os portugueses. Tais constataes
aprofundam o entendimento por trs da manuteno, no campo subjetivo, de uma
identidade portuguesa. Mas e quanto ao campo objetivo?
A extenso do que implicava a condio colonial para o surgimento de uma
identificao nacional bem demonstrada por impedimentos que so de ordem
poltico-administrativa. Alm do mbito subjetivo, encontrava-se a prpria questo
do espao colonial, da disparidade de seu desenvolvimento e de sua delimitao
poltica.19 Enquanto na costa, entre Pernambuco e Rio de Janeiro, havia uma
pretenso de constituir uma rplica da Europa, no interior e nas periferias da colnia,
a composio da sociedade e a estrutura do governo eram muito afastadas desse
padro civilizatrio. So Paulo permaneceu uma regio rstica at bem avanado o
sculo XVIII.20 O Estado do Maranho era, em essncia, uma colnia independente
(1621-1777) e as capitanias do Sul eram tratadas como regio separada, embora as
18 Segundo Jancs e Pimenta, a fora coesiva do conjunto luso-americano era indiscutivelmente a Metrpole, e o continente do Brasil representava, para os coloniais, pouco mais que uma abstrao, enquanto para a Metrpole se tratava de algo muito concreto, unidade cujo manejo impunha esta per-cepo. por isso que correto afirmar que a apreenso de conjunto de partes que genericamente se chamou de Brasil estava no interior da burocracia estatal portuguesa. Ibid., p.140.19 Como Schwartz afirma, preciso considerar, tambm, a dimenso geogrfica desse processo. O Brasil no era, em realidade, apenas um, mas era constitudo por uma srie de colnias. Os Ingleses tinham razo quando falavam, nos sculos XVII e XVIII, dos Brasis, pois havia de fato mais de uma co-lnia. SCHWARTZ, Stuart B. Gente da terra braziliense da naso. Pensando o Brasil: a construo de um povo. In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem Incompleta. A experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo: Senac, 1999. p.112. Disponvel parcialmente em:http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente%20da%20terra%20braziliense%20da%20nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false20 Ibid., p.112-113.
http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false
Salah H. Khaled Jr.
27
tentativas de criao de um governo parte do Rio de Janeiro (1573-1578, 1608-
1612) tivessem fracassado. Percebe-se que a coeso no era sequer poltica e a
fragmentao era a regra.21 A prpria diversidade, que depois com a independncia
teria de ser erradicada, era antes, de certa forma, incentivada.
Esse processo se manteve em curso de forma eficaz durante sculos. A prpria
heterogeneidade da colnia e as diferenas regionais implicavam em uma pluralidade
de horizontes identitrios, e nesse sentido, de expectativas no correspondidas que
explodiriam com toda a fora nas primeiras dcadas aps a Independncia. Em meio
a tanta heterogeneidade, o que havia de comum era o lao que prendia a colnia a
Portugal.22 No por acaso, esse aspecto foi enfatizado pelos inventores da narrativa
nacional oitocentista, pois promovia uma certa coeso.
Tais questionamentos do uma boa dimenso do esforo necessrio para
inventar uma narrativa nacional no sculo XIX. De alguma forma esse todo inteiramente
disperso devia ser reunido. Na medida em que a fragmentao se dava tanto no
mbito objetivo quanto na prpria esfera subjetiva, fica evidente o esforo monumental
que teria que ser dado para tornar a antiga colnia uma nao no sculo XIX. No
seria uma tarefa fcil superar a pluralidade que era intencionalmente incentivada
com inegveis xitos como demonstra a fragmentao poltica, o poder pulverizado
localmente e a permanncia de uma identificao com Portugal. Alm disso, ainda
restava o problema de toda uma populao segregada socialmente, a qual em maior
ou menor grau deveria ser integrada de alguma forma ao projeto de nao que o
horizonte identitrio oitocentista gostaria de ver concretizado.
Essa tendncia fragmentao e no identificao com o Brasil no se
sustentou, entretanto, em virtude de uma srie de circunstncias que modificaram,
ao menos parcialmente, a percepo dos habitantes da colnia em relao a ela e
a si mesmos. No sculo XVIII, o surgimento de uma articulao comercial interna
que se deveu principalmente ao ciclo do ouro fez com que vrias provncias
21 O estado do Maranho se reportava diretamente a Lisboa, e no a Salvador. Da mesma forma, as capitanias do Sul embora no independentes, tinham pouco controle por parte do governo na Bahia. Em ambos os casos, as populaes de origem europeia eram bem pequenas e predominavam os mis-sionrios j desaparecidos das zonas de exportao. Enquanto isso, na costa entre Pernambuco e Rio de Janeiro, predominavam os modelos culturais europeus.22 Odalia afirma que a unidade da colnia se perde no momento mesmo em que se desvincula do Im-prio que a assegurava; em vez dela o que se tem a heterogeneidade, a diviso, a discriminao em todos os nveis. ODALIA, Nilo. As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiogrfico de Varnhagen e Oliveira Vianna. So Paulo: UNESP, 1997. p.41. Disponvel em: http://www.dominiopubli-co.gov.br/download/texto/up000007.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/up000007.pdfhttp://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/up000007.pdf
Horizontes Identitrios
28
incrementassem a realizao de trocas comerciais, o que integrou, por exemplo, de
forma mais pronunciada, a regio Sul colnia. Isso subverteu em certo sentido a
lgica colonial, ainda que o Estado luso tenha se feito mais presente no pas a partir
de ento, reforando a sua autoridade administrativa em virtude da riqueza que o ouro
representava.
Ironicamente, foi justamente a partir do momento que Portugal intensificou
sua ao na colnia que a integrao regional mais se dinamizou. Subitamente, a
presena do Estado portugus no territrio brasileiro se fez sentir de forma indita,
e com ela, uma dimenso de controle a que a colnia no estava habituada.
Dessa sbita contraposio mais acentuada de interesses comeou a surgir uma
compreenso de que as elites coloniais, enquanto tais, sendo dotadas de ambies
diversas de suas contrapartes metropolitanas, constituam-se em algo diverso. Ou
seja, os portugueses de alm-mar comeavam a ser percebidos como um outro,
uma dimenso de alteridade fundamental para a ideia de nao. Entretanto, ainda
que um componente importante, a mera identificao do outro no bastava para a
existncia de um sentimento nacional. Era ainda necessrio que esse antagonismo se
intensificasse ao limite do insuportvel, e que a identificao passasse a ser nacional e
no regional em relao aos portugueses. Isso em certa medida se verificou nas lutas
pela Independncia, que, todavia, no se deram dentro de um clima de unanimidade,
mas sim de diversidade imensa de interesses e horizontes identitrios.
O surgimento de uma identidade nacional sempre ocorre dentro de um processo
truncado, desconexo e descontnuo. Existe uma tendncia a enxergar uma evoluo
provida de linearidade e continuidade, o que no verdadeiro, ainda que para um setor
considervel da historiografia, uma nao brasileira j estivesse prefigurada antes da
independncia.23 Um primeiro indcio para essa corrente da suposta continuidade
23 De acordo com Richard Graham, essa vertente relaciona-se com a ideia de nativismo, na qual se enxerga, nos sculos que antecederam a emancipao poltica, uma identidade brasileira e uma cons-cincia nacional. Jos Honrio Rodrigues argumenta em Independncia: revoluo e contra-revoluo (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975) que a nao j existia h muito tempo. De acordo com o autor, D. Pedro I descobriu que os brasileiros estavam animadamente preparados para endossar sua decla-rao de independncia do Brasil e que permaneceram unidos, a partir de ento, por um sentimento nacional. O autor refere-se a um sentido profundo da histria nacional, cuja unidade o tema central, a motivao permanente. Dessa forma, Rodrigues afirma que desde o princpio a unidade nacional foi uma aspirao partilhada por todos. O sonho de um Brasil nico e indivisvel teria dominado todos os brasileiros, evidenciando o orgulho nacional nascente. Rodrigues segue a trilha aberta por Manuel de Oliveira Lima (1867 1928), o qual afirma que, antes da separao de Portugal, o Brasil j tinha seu objetivo, aquilo que j passara a ser, expressa ou latente, sua aspirao comum, a independncia. Ver O movimento da independncia. O Imprio brasileiro (1821 1889), 2 ed. (So Paulo: Melhoramentos, 196(?) [1 ed. 1922], p. 22.) Essa viso predominante nos primeiros trabalhos publicados pelo Instituto
Salah H. Khaled Jr.
29
seria a Inconfidncia Mineira, em 1789. Nesse sentido, Schwartz assinala que ainda
que de maneira difusa, no final do sculo XVIII vrios membros da sociedade colonial
comearam a reivindicar o lugar de filhos da terra e a constituir o povo do Brasil, mas
agora sob a influncia da Revoluo Francesa, com um novo significado inclusivo.24
Assim, os jovens que participaram do movimento inconfidente fracassado no Rio de
Janeiro, em 1794, comeavam a se considerar brasileiros e a conceber um Brasil
de outro tipo.25 Para Schwartz, ainda que tais conspiradores pertencessem elite
colonial, quatro anos depois, na Bahia, uma conspirao de artesos, escravos,
brancos, pardos e negros, manifestou preocupaes semelhantes, com uma ntida
preocupao social que no estava evidente nos movimentos anteriores. De acordo
com Schwartz, para eles e muitos brasileiros do sculo XIX, no restava dvida de
Histrico e Geogrfico Brasileiro, como pode se observado em Manuel Luiz Lima Salgado Guimares, no artigo A Revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e os temas de sua historiografia (1835-1857): fazendo a histria nacional, em Origens do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro: idias filosficas e sociais e estrutura do poder no segundo reinado, organizado por Arno Wehling (Rio de Janeiro: Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, 1989) p. 21-41; e tambm em Lilia K.Moritz Schwarz, Os guardies da nossa histria oficial: os institutos histricos e geogrficos brasileiros, em Histria das Cincias Sociais, n. 9 (So Paulo: Instituto de Estudos Econmicos, Sociais e Polticos de So Paulo [IDESP], 1989), p. 7-32. Tambm um ponto de vista que recorre em histrias intelectuais, como a que E. Bradford Burns escreveu sobre o nacionalismo brasileiro: O crescimento da conscincia nacional [...] teve seu triunfo inevitvel na proclamao da independncia do Brasil [...] o Brasil apareceu e cres-ceu como uma nao unificada graas, pelo menos em parte, ao nativismo viril ou nacionalismo preco-ce. Esse sentimento nacional e sentimento de devoo sua terra natal, acrescenta Burns, ajuda a explicar porque aquele gigantesco pas, diferente das outras enormes reas administrativas da Amrica Latina colonial, no se fragmentou aps a independncia E. Bradford Burns, Nationalism in Brazil: a historical survey (Nova York: Praeger, 1968), p. 28. A opinio comum dos brasileiros de hoje (excluindo historiadores profissionais) refletida nas palavras de um crtico literrio que escreveu: Se existe um fenmeno verdadeiramente maravilhoso na histria do Brasil, este deve ser o sentimento nacional, que se manifesta desde os primeiros dias (coloniais) e tem mantido a unio das provncias (estados), Wil-son Martins, Brazilian Politics, Luso-Brazilian Review, 1:2 (Inverno de 1964), p. 33. Rodrigues, Oliveira Lima e Burns tomam como certa a unidade brasileira. Eles precisam apenas estabelecer que alguns brasileiros nativos veem a si mesmos como diferentes e oprimidos por parte daqueles que nasceram em Portugal e, pronto, a est a nao, nica e unida. GRAHAM, Richard. Construindo a nao no BrasildosculoXIX:vises novas e antigas sobre classe, cultura e estado. In: Dilogos, Maring, v. 5, 2001. Disponvel em: http://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/vol5_mesa1.html24 SCHWARTZ, Stuart B. Gente da terra braziliense da naso. Pensando o Brasil: a construo de um povo. In: MOTA, Carlos Guilerme (org). Viagem Incompleta: a experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo: Senac, 1999. p.123. Disponvel parcialmente em:http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente%20da%20terra%20braziliense%20da%20nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false25 Ibidem. Disponvel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente%20da%20terra%20brazilien-se%20da%20nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false
http://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/vol5_mesa1.htmlhttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false
Horizontes Identitrios
30
que o Brasil tinha um povo.26 Todavia, parece questionvel atribuir a essa viso dos
estratos inferiores uma perspectiva propriamente nacionalista, ainda que dotada de
alguns de seus indcios.27 A interpretao de tais movimentos constitui-se, sem dvida,
em uma das maiores polmicas da historiografia nacional: Varnhagen, por exemplo,
os condenou, por motivos que sero discutidos posteriormente.
De qualquer forma, para expor uma outra interpretao, Jancs e Pimenta no
compartilham do entendimento de Schwartz, pois afirmam que a Conjurao Baiana
no pode ser considerada como um movimento de carter nacional, o que parece ser o
entendimento mais acertado.28 E sendo assim, no h que se falar em uma identidade
brasileira j existente, pois os supostos movimentos precursores da independncia no
Brasil, as conspiraes tramadas em Minas Gerais e na Bahia, tentaram libertar do
domnio portugus somente aquelas reas especficas e no visaram a independncia
de uma nao brasileira.29 Portanto, embora as consideraes sobre os movimentos
26 Ibid., p.123-124. Disponvel parcialmente em:http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente%20da%20terra%20braziliense%20da%20nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=false Graham indica que Schwartz tambm expressa a viso de que os habitantes colo-niais tinham uma identidade distinta de Portugal em The Formation of a Colonial Identity in Brazil. In: Colonial Identity in the Atlantic World, 1500 - 1800, Nicholas Canny e Anthony Pagden (org). (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1987.p.15-50). GRAHAM, Richard. Construindo a nao no Brasil do sculoXIX:vises novas e antigas sobre classe, cultura e estado. In: Dilogos, Maring, v. 5, 2001. Disponvel em: http://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/vol5_mesa1.html27 Claro que quem de fato fez a separao e deu incio efetivo ao processo de constituio da nao foi a elite. Mas isso est longe de ser uma especificidade do pas. Como diz Hobsbawm, em muitos casos, a nao poltica que originalmente formulou o vocabulrio do que, mais tarde, tornou-se o povo-nao compreendia uma pequena frao dos habitantes de um Estado, a sua elite privilegiada ou a nobreza e a aristocracia. HOBSBAWM, Eric J. Naes e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p.88.28 Os autores afirmam que intil procurar alguma ideologia nacionalista entre os sediciosos baianos de 1798. A nova ordem que propugnavam no buscava sua legitimidade em direitos histricos ou em ancestral trajetria comum, tpicos dos nacionalismos europeus emergentes no sculo XVIII. O con-fronto delineado em 1798 na Bahia colocava frente a frente a monarquia absoluta e uma comunidade que afirmava ter configurao especfica; o povo baiense instituidor potencial de um novo Estado que viria a ser nacional mediante um pacto de cidados [...] o inimigo do povo no tinha uma configurao nacional, a opresso no era percebida como a de uma nao estrangeira [...] a privao de liberda-de do povo baiense no advinha da sujeio nao portuguesa, mas ao trono. JANCS, Istvn e PIMENTA, Joo Paulo G. Peas de um mosaico (ou apontamentos para o estudo da emergncia da identidade nacional brasileira). In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem Incompleta: a experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo: Senac, 1999. p.147. grifos dos autores. Dis-ponvel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as%20de%20um%20mosaico%20(ou%20apontamentos%20para%20o%20es&f=false29 Jancs e Pimenta apontam, atravs de jornais da poca que nos termos dos pasquins o povo baiense, pelo que intil procurar o brasileiro. Este o povo que configura a comunidade imaginada, a
http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA103&lpg=PA103&dq=Gente+da+terra+braziliense+da+nas%C3%A7%C3%A3o&source=bl&ots=6yhETIYdcX&sig=nA25vURQTJe3IBZ1GOCYgnU8t1I&hl=pt-BR&ei=vpjfSouxOoul8Abp4NBl&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CAoQ#v=onepage&q=Gente da terra braziliense da nas%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o&f=falsehttp://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/vol5_mesa1.htmlhttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=false
Salah H. Khaled Jr.
31
anticoloniais sejam relevantes, parece haver um perigo, inclusive apontado por Jancs
e Pimenta, que a tendncia a enxergar uma continuidade entre o que costuma ser
chamado de nativismo e a eventual Independncia. Partindo desse enfoque, o regional
visto sob uma perspectiva nacional e, portanto, afirma-se a existncia de uma
identidade brasileira ou conscincia nacional nos sculos anteriores Independncia,
o que para Jancs e Pimenta no passa de um mito, ainda que enraizado na memria
coletiva e na historiografia.30 O processo certamente muito mais complexo do que uma
mera continuidade pode sugerir e de qualquer forma, a divergncia de interpretao
entre autores de renome sinaliza a imensa problemtica envolvida, e inclusive indica
que tais movimentos foram utilizados posteriormente, de uma forma ou de outra, com
conotao nacional.
Se j existe tal percepo em relao aos movimentos anticoloniais,
evidentemente que a transferncia do Estado portugus para o Brasil tambm seria
vista por muitos como um indicativo que aponta para a afirmao da nacionalidade
brasileira. Afinal, com a vinda da famlia real ao Brasil, foi extinto o exclusivo
metropolitano, atravs da Abertura dos Portos. Dessa forma, praticamente chegava
ao fim o Pacto Colonial, pois o que configurava a prpria ideia de Metrpole passou
a estar presente no Brasil. Esse detalhe permite uma percepo melhor do que
representavam os prprios fundamentos do sistema. Como a subordinao era ao
monarca, e no a Portugal, no h nada de contraditrio na medida, pois uma vez
que a sua pessoa se faz presente fisicamente no territrio, o seu quinho pode ser
nao pensvel, opondo-se ou aliando-se a outras naes conforme seus interesses. JANCS, Istvn e PIMENTA, Joo Paulo G. Peas de um mosaico (ou apontamentos para o estudo da emergncia da identidade nacional brasileira). In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem Incompleta: a experincia brasileira. (1500-2000). Formao: histrias. So Paulo: Senac, 1999. p.144. Disponvel parcialmente em: http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as%20de%20um%20mosaico%20(ou%20apontamentos%20para%20o%20es&f=falseGraham refere que ponto de vista semelhante pode ser encontrado em Kenneth R. Maxwell A devassa da devassa: a inconfidncia mineira, Brasil-Portugal, 1750-1808. (3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995); Lus Henrique Dias Tavares, Histria da sedio intentada na Bahia, em 1798: a conspirao dos alfaiates. (So Paulo: Livraria Pioneira, 1975); e Istvn Jancs Na Bahia, contra o Imprio: histria do ensaio de sedio de 1798 (So Paulo: HUCITEC; e Salvador: EDUFBA, 1995). GRAHAM, Richard. ConstruindoanaonoBrasildosculoXIX:vises novas e antigas sobre classe, cultura e estado. In: Dilogos, Maring, v. 5, 2001. Disponvel em: http://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volu-me01/vol5_mesa1.html30 JANCS, Istvn e PIMENTA, Joo Paulo G. Op cit., p.133-134. Disponvel parcialmente em:http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as%20de%20um%20mosaico%20(ou%20apontamentos%20para%20o%20es&f=false
http://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/vol5_mesa1.htmlhttp://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/vol5_mesa1.htmlhttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=falsehttp://books.google.com.br/books?id=fJspt-N0PWYC&pg=PA127&dq=Pe%C3%A7as+de+um+mosaico+%28ou+apontamentos+para+o+estudo+da+emerg%C3%AAncia+da+identidade+nacional+brasileira%29#v=onepage&q=Pe%C3%A7as de um mosaico (ou apontamentos para o es&f=false
Horizontes Identitrios
32
coletado diretamente. Embora a separao poltica s tenha ocorrido em 1822, a
principal caracterstica da colonizao, o monoplio, estava extinta.31 Poderia ser
e inclusive foi afirmado algumas vezes que a transferncia do governo portugus
para o Brasil representou a independncia de fato, seno de direito, da colnia, pois
encerrou o monoplio comercial ultramarino, elemento cen