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Reabilitação
Identificação e tratamento de patologias em edifícios
série REABILITAÇÃO
carlos da cruz jâcome
joão guerra martins 1ª edição / 2005
Apresentação
Este texto resulta, genericamente, o repositório da Monografia do Eng.º Carlos da Cruz Jâcome.
Pretende, contudo, o seu teor evoluir permanentemente, no sentido de responder quer à
especificidade dos cursos da UFP, como contrair-se ainda mais ao que se julga pertinente e alargar-
se ao que se pensa omitido.
Embora o texto tenha sido revisto, esta versão não é considerada definitiva, sendo de supor a
existência de erros e imprecisões. Conta-se não só com uma crítica atenta, como com todos os
contributos técnicos que possam ser endereçados. Ambos se aceitam e agradecem.
João Guerra Martins
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
I
ÍNDÍCE GERAL
Apresentação
ÍNDÍCE GERAL .........................................................................................................................I
ÍNDICE DE FIGURAS .......................................................................................................... VII
ÍNDICE DE QUADROS........................................................................................................ XII
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
CAP I – GENERALIDADES.....................................................................................................4
I.1 – Porque se repetem os insucessos....................................................................................4
I.2 – Consequências técnicas da não qualidade – patologias .................................................5
I.3 – Causas das patologias.....................................................................................................6
CAPÍTULO II – CORROSÃO DE ARMADURAS EM BETÃO ARMADO..........................7
II.1 – Introdução .....................................................................................................................7
II.2 – Origem e formas de manifestação ................................................................................8
II.3 – O papel do recobrimento no betão..............................................................................12
II.3.1 – Protecção física ....................................................................................................12
II.3.2 – Protecção química................................................................................................12
II.4 – Causas da corrosão......................................................................................................13
II.4.1 – Carbonatação do betão.........................................................................................13
II.4.2 - Características do meio ambiente .........................................................................13
II.4.3 – Agentes agressivos presentes na atmosfera .........................................................13
II.4.4 – Agentes agressivos incorporados ao betão ..........................................................14
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
II
II.4.5 – Qualidade do betão de recobrimento ...................................................................15
II.5 – Medidas preventivas ...................................................................................................15
II.5.1 – Na etapa de projecto.............................................................................................15
II.5.2 – Na etapa de recepção dos materiais .....................................................................15
II.5.3 – Na etapa de execução...........................................................................................16
II.6 – Medidas correctivas ....................................................................................................17
CAP III - ALVENARIAS ........................................................................................................19
III.1 – Introdução..................................................................................................................19
III.2 – Execução de alvenaria em zona corrente...................................................................19
III.3 – Execução de paredes duplas ......................................................................................20
III.4 - Isolamento térmico em paredes duplas ......................................................................21
III.4.1 -Isolamento térmico pelo interior ..........................................................................21
III.4.2 - Isolamento térmico pelo exterior.........................................................................22
III.4.3 - Isolamento térmico na caixa de ar.......................................................................23
III.4.3.1 - Materiais rígidos...........................................................................................23
III.4.3.2 - Materiais flexíveis ........................................................................................24
III.4.3.3 - Materiais projectados ...................................................................................24
III.4.3.4 - Materiais a granel .........................................................................................25
III.4.3.5 - Materiais injectados......................................................................................25
III.5 – Correcção das pontes térmicas ..............................................................................26
III.6 – Patologias das alvenarias ...........................................................................................27
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
III
III.6.1 – Origem e formas de manifestação ......................................................................27
III.6.2 - Fissuras provocadas por deformabilidade das estruturas de betão armado.........30
III.6.3-Fissuras provocadas por recalques diferenciados das fundações ..........................34
III.6.4 - Medidas correctivas ............................................................................................37
CAPÍTULO IV – ARGAMASSA DE REVESTIMENTO ......................................................38
IV.1 – Introdução..................................................................................................................38
IV.2 - Origem e formas de manifestação..............................................................................39
IV.2.1 - Causas decorrentes da qualidade dos materiais utilizados..................................39
IV.2.1.1 - Agregados ....................................................................................................39
IV.2.1.2 - Ligantes........................................................................................................39
IV.2.1.3 - Adições ........................................................................................................40
IV.2.1.4 - Adjuvantes ...................................................................................................40
IV.2.2 - Causas decorrentes do traço da argamassa .....................................................40
IV.2.3 - Causas decorrentes do modo de aplicação do revestimento ...............................41
IV.2.4 - Medidas preventivas ...........................................................................................45
IV.2.4 - Medidas Correctivas ...........................................................................................46
CAPÌTULO V – FISSURAÇÃO EM EDIFICAÇÕES............................................................47
V.1 - Introdução........................................................................................................................47
V.2 - Fissuração provocada por variação de temperatura dos materiais ou elementos de
construção.............................................................................................................................47
V.3 – Fissuras Provocadas por Variações do Teor de Humidade dos Materiais de
Construção............................................................................................................................52
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
IV
V.4 – Fissuras provocadas pela actuação da sobrecarga ......................................................54
CAP VI - HUMIDADES..........................................................................................................58
VI.1 - Introdução ..................................................................................................................58
VI.2 - Formas de manifestação da humidade .......................................................................58
VI.2.1 - Humidade de construção.....................................................................................58
VI.2.1.1 - Origem e formas de manifestação................................................................58
VI.2.1.2 - Medidas preventivas ....................................................................................59
VI.2.1.3 – Medidas correctivas.....................................................................................60
VI.2.2 – Humidade do solo...............................................................................................62
VI.2.2.2 - Medidas preventivas ....................................................................................65
VI.2.2.3 – Medidas correctivas.....................................................................................66
VI.2.3 - Humidade devida a fenómenos de higroscopicidade..........................................69
VI.2.3.1 - Origem e formas de manifestação................................................................69
VI.2.3.2 - Medidas preventivas ....................................................................................70
VI.2.3.3 – Medidas correctivas.....................................................................................71
VI.2.4 - Humidade de condensação..................................................................................72
VI.2.4.1 - Origem e formas de manifestação................................................................72
VI.4.2.2 - Medidas preventivas ....................................................................................74
VI.2.4.3 – Medidas correctivas.....................................................................................76
VI.2.5 – Humidade de precipitação ..................................................................................77
VI.2.5.1 - Origem e formas de manifestação................................................................77
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
V
VI.2.5.3 - Medidas preventivas ....................................................................................80
VI.2.5.3 – Medidas correctivas.....................................................................................80
VI.2.6 – Humidade devida a causas fortuitas ...................................................................81
VI.2.6.1 - Origem e formas de manifestação................................................................81
VI.2.6.2 – Medidas preventivas....................................................................................82
VI.2.6.3 – Medidas correctivas.....................................................................................83
CAP VII - EFLORESCÊNCIAS ..............................................................................................84
VII.1 - Introdução.................................................................................................................84
VII.2 - Factores que contribuem para a formação de eflorescências....................................86
VII.3 - Tipos e características das eflorescências.................................................................87
VII.3.1 - Tipo 1.................................................................................................................87
VII.3.1.1 - Soluções de reparação.................................................................................88
VII.3.2 - Tipo.2.................................................................................................................88
VII.3.2.1 - Soluções de reparação.................................................................................90
VII.3.3 - Tipo 3.................................................................................................................90
VII.3.3.1 - Soluções de reparação.................................................................................90
VII.4 - Medidas preventivas .................................................................................................91
VII.5 - Medidas correctivas ..................................................................................................92
CAPÍTULO VIII - PINTURAS................................................................................................93
VIII.1 – Origem e Formas de manifestação .........................................................................93
VIII.1.1 – Defeitos na película de pintura ........................................................................94
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
VI
VIII.1.2 - Problemas com a natureza da tinta. ..................................................................94
VIII.1.3 - Problema com a natureza do substrato .............................................................96
VIII.1.4 - Aplicação em condições inadequadas ..............................................................96
VIII.2 – Medidas preventivas ...............................................................................................97
VIII.2.1 - Preparo inadequado do substrato ou ausência de preparação...........................97
VIII.2.2 - Aplicação em substrato instável .......................................................................97
VIII.2.3 - Aplicação em base húmida...............................................................................98
VIII.5 – Medidas correctivas ................................................................................................99
CAP IX – PRINCÍPIOS DE DIAGNÓSTICO.......................................................................100
CONCLUSÃO........................................................................................................................102
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................104
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
VII
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1 - Célula de corrosão em betão armado [10] ...................................................................10
Fig. 2 - Fissuração do betão devido às forças de expansão dos produtos da corrosão [10] .....11
Fig. 3 - Deterioração progressiva devida à corrosão das armaduras [10].................................11
Fig. 4 - Recobrimento precário – pilar apresenta “ninhos” e armadura principal sem
recobrimento.............................................................................................................................12
Fig. 5 - Fraca qualidade do betão e respectiva vibração (ninhos e materiais estranhos
incorporados) ............................................................................................................................16
Fig. 6 – Aspectos de juntas de argamassa irregulares ou mal preenchidas [14].......................19
Fig. 7 - Cunhal mal executado e esquema para correcta execução [14]...................................20
Fig. 8 – Aspecto do tubo de drenagem da caixas de ar (solução correcta, esquerda, e
incorrecta, direita) [14]. ............................................................................................................21
Fig. 8 – Exemplos de colocação incorrecta de isolamento térmico na caixa de ar ..................23
Fig. 9 – Exemplos de correcção de pontes térmicas [14]. ........................................................26
Fig. 10 - Fissuração típica de alvenaria devida a excessiva sobrecarga [10] ...........................28
Fig.11 - Padieira para porta maior que a necessária, resultando futuramente na fissuração ao
longo da padieira inicial ...........................................................................................................29
Fig. 12 - Fissuração de alvenaria no contorno de vão de janela devido à concentração de
tensões [10]...............................................................................................................................29
Fig. 13 - Solução para o caso da fig. 12 [10]............................................................................29
Fig. 14 - Fissuração de paredes de alvenaria devida a apoio transversal de uma viga [10] .....30
Fig, 15 - Fissuração de paredes de alvenaria devido a carga excêntrica [10]...........................30
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
VIII
Fig.16 - Fissuração característica de divisórias de alvenaria devida a deformação excessiva do
pavimento inferior [10].............................................................................................................32
Fig. 17 - Fissuração característica devida a deformação do pavimento superior [10] .............32
Fig.18 - Fissuração característica devido a deformação semelhante dos pavimentos superior e
inferior [10] ..............................................................................................................................32
Fig.19 - Fissuração característica em vãos de alvenaria devida a deformação excessiva do
pavimento inferior [10].............................................................................................................33
Fig.20-Fissuras na alvenaria e destacamentos no encontro com a estrutura em decorrência da
deflexão das vigas em consola [10]..........................................................................................33
Fig.21- Fissura provocada pela deformação da viga lintel de sustentação da parede ..............33
Fig. 22 - Fissuras provocadas por assentamentos diferenciados de fundação assente sobre
secção mista [10] ......................................................................................................................35
Fig. 23 - Fissuras devidas a assentamentos diferenciais em edificação assente sobre aterro mal
compactado...............................................................................................................................35
Fig. 24 - Fissura provocada pelo abatimento da base -aterro mal compactado........................35
Fig. 25 - Fundações contínuas, fissuras de flexão sobre as aberturas [10]...............................36
Fig, 26 - Assentamento diferencial entre pilares provocando o aparecimento de fissuras
inclinadas nas paredes [10].......................................................................................................37
Fig.28 – Deslocamento do revestimento por eventual argamassa bastante rica em cimento...41
Fig. 29 – Destacamento por má qualidade das argamassas [4] ................................................42
Fig. 30 - Empolamento resultante de dilatações térmicas por ausência de juntas [12] ............48
Fig.31 - Fissura em parede causada pela movimentação térmica de laje de cobertura [10] ....49
Fig.32 - Fissuração entre a estrutura e a alvenaria, por questões térmicas, devido à má
concepção e pormenorização da cobertura [4] .........................................................................50
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
IX
Fig, 33 - Fissuração de paredes inseridas em estrutura reticulada de betão armado, devido a
variações térmicas da estrutura [10] .........................................................................................50
Fig. 34 - Fissuração de paredes divisórias devida ao movimento da laje de cobertura em
terraço por efeito da variação de temperatura [10]...................................................................50
Fig. 35- Juntas móveis de apoio das lajes de cobertura na sua estrutura de suporte.
Pormenores construtivos [10]...................................................................................................51
Fig. 36 – Fissuração entre a alvenaria e estrutura, provocado pela contracção da alvenaria
devido à variação da humidade dos materiais ..........................................................................52
Fig, 37-Fissuraçâo de paredes de alvenaria devido a variação de humidade [10]....................54
Fig. 38 - Fissuração típica de viga isostática sub-armada, solicitada à flexão [10]..................55
Fig. 39 - Fissura de esforço de corte em viga alta de betão armado, com provável entrada de
água de chuva para o interior da edificação [1]........................................................................56
Fig, 40-Fissuração típica em viga de betão armado devido a esforços de torção [10].............56
Fig. 41 - Fissuras típicas em pilares de betão armado [10] ......................................................57
Fig.42 - Descolamento da pintura do pavimento em armazém – pintura executada antes da
secagem total do betão (higróscopicidade do betão). ...............................................................61
Fig.43 - Efeito da humidade da floreira sobre a pintura -tanto a película como a argamassa
acham-se pulverulentas e em desagregação. ............................................................................62
Fig.44 – Camadas de impermeabilização [10] .........................................................................63
Fig. 45 - Mecanismo de formação de eflorescências e criptoflorescências [5]. .......................64
Fig. 46 - Humidade ascendente de águas freáticas em paredes interiores [4] ..........................64
Fig. 47 - Humidade ascendente de águas superficiais numa parede exterior. A “linha” é aqui
perfeitamente visível [4]...........................................................................................................64
Fig. 48 - Sistema de drenagem com seixo rolado ou brita [10]................................................66
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
X
Fig. 49 – Princípio de funcionamento dos drenos atmosféricos (ou de Knapen) e dreno em
material plástico utilizado actualmente (dreno Speedy) [5]. ....................................................67
Fig. 50 – Esquema geral do funcionamento do processo electro – osmótico [5] .....................67
Fig. 51 - Causas do bolor em forro de casa de banho: excesso de vapor de água, material
empregado no revestimento, ventilação precária [10]..............................................................72
Fig. 52 - Formação de bolor, devido à condensação da humidade resultante da utilização de
compartimento. Provavelmente por razões de ventilação precária [4].....................................73
Fig. 53 -Algumas soluções de projectos dificultam a remoção imediata do vapor para o
exterior, fazendo com que as superfícies das paredes e tecto fiquem humedecidas,
particularmente nos períodos de chuva, quando as janelas são mantidas totalmente fechadas
[10] ...........................................................................................................................................76
Fig. 54 - 0 alinhamento de portas e janelas pode dificultar circulação de ar pêlos ambientes
facilitando o aparecimento e proliferação de bolor [10]...........................................................76
Fig. 55 - A geometria e dimensões das saliências introduzidas sobre as superfícies das
fachadas vão determinar o maior ou menor grau da dissipação dos fluxos de água da chuva
que se forma na superfície [10] ................................................................................................79
Fig. 56 - Desenvolvimento de bolor na região do contorno da janela devido a infiltração de
água pela junção caixilho/parede [4] ........................................................................................79
Fig.57 - Formação de bolor, película de pintura destruída - parede com infiltração de água da
chuva pela ausência de impermeabilização pelo lado exterior [4] ...........................................79
Fig. 58 - Infiltração de água da chuva devido a problemas na cobertura, danificando o
revestimento e pondo risco à instalação eléctrica.....................................................................81
Fig. 59 - A drenagem de um tubo de queda feita directamente no solo é um dos motivos mais
frequentes da patologia [10]. ....................................................................................................82
Fig. 60 - Escorrimentos de ao longo da parede [4]...................................................................84
Fig. 61– Manifestação de eflorescências na base de uma parede [5] .......................................87
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
XI
Fig. 62 – Eflorescências do “ tipo 2” [4] ..................................................................................89
Fig. 63 - Eflorescências “tipo 2”-por falta de tomada da junta entre as pedras, a água atinge o
cimento cola, reagindo com a cal criando um depósito de sal .................................................89
Fig. 66 - Fissuração e descolamento da película de pintura, provocada pela variação
dimensional da madeira ............................................................................................................95
Fig. 67 - Efeito da humidade do substrato em pintura com baixa resistência ao ataque por
agentes biológicos [4]...............................................................................................................95
Fig.68 - Enrugamento da película de pintura, devido a incompatibilidade das varias camadas
do sistema de pintura, secagem muito rápida ou espessura muito elevada [4]. .......................96
Fig. 64 - Efeito dos sais solubilizados do substrato sobre a pintura por efeito de humidade de
infiltração [10] ..........................................................................................................................98
Fig.65 - Efeito da humidade do solo sobre a pintura. Tanto a película como a argamassa
acham-se pulverulentas e em desagregação [5]........................................................................98
Fig. 66 - Diagnóstico de intervenção diagrama de fluxo [10] ................................................101
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
XII
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Danos do revestimento – manifestações, aspectos, causas prováveis e reparações
[10] ...........................................................................................................................................42
Quadro 2 – Características da humidade nas paredes devida à água superficial e à água
freática ......................................................................................................................................65
Quadro 3 – Soluções para correcção de anomalias [4].............................................................68
Quadro 4 – Variação da resistência térmica de parede em alvenaria de tijolo maciço em
função da humidade existente na parede [10] ..........................................................................75
Quadro 5 – Tipos e Caratcerísticas das Eflurescências [10] ....................................................85
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
1
INTRODUÇÃO
O tema “ Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios” é suficientemente vasto para
não poder ser tratado com plenitude numa única monografia. Contudo, dissertar sobre este
tema torna-se um desafio na intenção de fazer o melhor, não procurando o óptimo, mas
apenas contribuir com a esperança que a leitura do texto, que se procura dar uma estrutura
clara, simples e acessível, possa conquistar novos entusiasmos para a causa das patologias.
Para a concretização desta monografia foram tido em conta conhecimentos adquiridos ao
longo da vida profissional do seu autor, assim como a consulta de bibliografia relacionada
com o tema, pretendendo descrever de uma forma sumária as patologias mais correntes em
edifícios, sem qualquer intenção de se exaustiva, face às condicionantes temporais definidas
para a sua realização, deixando desta forma um pequeno contributo.
Assim, numa primeira fase procede-se à caracterização e classificação das várias patologias,
sua formas de manifestação e causas associadas, passando finalmente à análise das medidas
preventivas e correctivas, de forma dar cumprimento às exigências funcionais que lhes estão
associadas.
A monografia está estruturada em nove capítulos:
! No primeiro é feita uma abordagem genérica ao problema em análise, designadamente
o apontar de razões para o sistemático repetir de erros na Construção Civil,
conducente ao aparecimento de múltiplas avarias, muito relacionado com o problema
da não qualidade. São, ainda, identificados os casos basilares e mais exemplares
resultantes desta situação.
! No segundo capítulo, o primeiro do corpo do texto, propriamente dito, são abordados
os problemas decorrentes da corrosão das armaduras em estruturas de betão armado,
procurando-se definir a origem das causas e propondo-se medidas preventivas e
correctivas para esta matéria.
! O terceiro capítulo faz referência às alvenarias, abordando de uma forma não
exaustiva a execução de paredes duplas (sistemas de isolamento térmico e correcção
das pontes térmicas), passando a enumerar o tipo de patologias associadas a estes
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
2
elementos da construção, nomeadamente a fissuração e formas de minimizar o
problema.
! O quarto capítulo faz referência ao tipo de patologias que mais vulgarmente ocorrem
nos revestimentos, no caso (argamassa), sua origem e formas de actuação preventivas
e correctivas.
! O quinto capítulo faz referência ao tipo de patologias que ocorrem com bastante
frequência nas edificações (fissuração), procurando-se analisar a sua origem e
manifestações.
! O sexto capítulo vai dirigido para os problemas derivados das humidades, que tanto
afectam os edifícios criando condições de insalubridade, procedendo-se à apresentação
das principais formas de humidade em paredes, suas causas e respectivas acções
preventivas e correctivas, na tentativa de minimizar ou reparar o problema.
! O sétimo capítulo faz referência aos mecanismos associados à formação de sais na
superfície ou no interior das alvenarias, formando depósitos que originam
eflorescências, suas causas e diferentes formas de ocorrência, procurando arranjar um
conjunto de medidas preventivas quer correctivas que façam face a esta patologia. Por
vezes, devido à natureza desses sais e à sua distribuição espacial nas alvenarias,
verificamos a impossibilidade física de se proceder à sua remoção total, consistindo
muitas das vezes na mera ocultação.
! No oitavo capítulo é feita uma abordagem aos problemas relacionados com os
sistemas de pintura, as patologias que lhes estão associadas, medidas preventivas e
correctivas para a obtenção de resultados satisfatórios.
! Por fim, no nono capítulo, é feita uma breve referência à forma de diagnóstico das
causas patológicas e proposta de sistematização da mesma.
Acredita-se que o presente trabalho poderá ser um documento útil para pequenas e médias
empresas que, pela sua dimensão, não possuam uma estrutura e quadro técnico abrangente e
sólido. Complementarmente, julga-se que poderá ainda mostrar-se válido e aproveitável para
técnicos e alunos de engenharia e arquitectura, construtores, fiscalizações, proprietários e
investidores, enumerando um conjunto de técnicas e alertando igualmente para os problemas
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
3
que mais se verificam no nosso parque habitacional, tendo por objectivo não cometer os
mesmos erros efectuados anteriormente.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
4
CAP I – GENERALIDADES
I.1 – Porque se repetem os insucessos
A patologia de edifícios pode hoje ser considerada um ramo da ciência da construção, em
grande parte derivada da modernização tecnológica induzida no pós-guerra (1939/45) e de
alguns insucessos decorrentes de novas soluções tecnológicas. Não deixa, porém, de ser
surpreendente que continuem correntemente a fazer parte do cardápio muitos dos insucessos
cujo diagnóstico de causas e formas de prevenção são conhecidos há quase cinquenta anos
[8].
Limitando-nos aos aspectos referentes a exigências de habitabilidade, onde avultam
normalmente as questões relativas a manifestação de humidades, condensações, infiltrações,
problemas térmicos, deficiências de ventilação, ruído, degradação de aspecto geral da
construção, etc., são inúmeras as situações deste tipo que se vêem repetindo ao longo dos
anos, que na maior parte dos casos seriam previsíveis (e passíveis de serem facilmente
evitadas) desde as fases de projecto e/ou construção. O que está então a falhar neste processo?
A exposição de algumas das razões possíveis constitui, deste modo, o objecto da presente
monografia [1].
Em Portugal, muito embora haja uma preocupação crescente com a qualidade da Construção,
principalmente por parte dos construtores, com um incremento nos seus métodos de controlo
e com a certificação das empresas, continua a verifica-se que os edifícios construídos nos
últimos anos não apresentam a qualidade esperada. Pode mesmo afirmar-se que há milhares
de fogos, construídos recentemente, com patologias muito graves que condicionam a sua
utilização. Esta situação traduz-se em inúmeras reclamações por parte dos utentes e no
descrédito de alguns construtores (é usual a responsabilização única dos construtores pelos
defeitos de uma construção, quando em inúmeros casos essas anomalias resultam de má
concepção dos edifícios por parte dos projectistas) [8].
A resolução definitiva de algumas dessas anomalias revela-se por vezes impossível de realizar
e noutras situações com custos elevados de reparação. Todo este processo provoca nos utentes
dos edifícios um desgaste psicológico e custos associados, bem como reclamações e perda de
confiança para as empresas construtoras. Neste sentido a adopção, no decorrer de todo o
processo construtivo, de medidas e disposições construtivas que minimizem a ocorrência de
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
5
anomalias será sempre uma boa opção, além do que se traduzirá, por um lado, num aumento
da qualidade e, por outro, por uma diminuição de custos.
A falta de sistematização do conhecimento, a ausência de informação técnica, a inexistência
de um sistema efectivo de garantias e de seguros, a velocidade exigida ao processo de
construção, as novas preocupações arquitectónicas, a aplicação de novos materiais, a
inexistência na equipa de projecto de especialistas em física das construções são algumas das
causas fundamentais da não qualidade dos edifícios [8].
I.2 – Consequências técnicas da não qualidade – patologias
No sector da construção, as formas mais comuns da não qualidade são os sinistros que
aparecem aquando da sua utilização.
A não-qualidade não se limita a esses sinistros, os erros comerciais, projectos incompletos,
acidentes, mau planeamento orçamentário, calendarização etc.
Cabe ressaltar que a identificação da origem do problema permite identificar, também para
fins judiciais, quem cometeu a falta.
Assim:
! Se o problema teve origem na fase do projecto, o projectista falhou;
! Quando a origem está na qualidade do material, o fabricante errou;
! Se na etapa de execução, trata-se de falha de mão-de-obra/empreiteiro ou da
fiscalização;
! Se na etapa de uso, a falha é da operação e manutenção.
Uma elevada percentagem das manifestações patológicas tem origem nas etapas de
planeamento e projecto, sendo estas, em geral, mais graves que as falhas de qualidade dos
materiais ou má execução.
Segundo Messeguer: “ O êxito e a qualidade do produto final, bem como o custo do mesmo,
dependem grandemente da qualidade do projecto que se tem” [2].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
6
I.3 – Causas das patologias
Quase sempre as anomalias decorrem da conjugação de vários factores adversos, confluência
essa que se pode dar simultaneamente no tempo, ou suceder em sequência com acumulação
de efeitos, até ao limiar de desencadeamento do processo. Tal concentração de factores é
normalmente tanto mais necessária quanto mais improváveis são as anomalias em jogo.
A tipificação das causas de anomalias em edifícios é tarefa extremamente difícil e,
possivelmente, não alcançável numa forma única e coerente. Esta dificuldade resulta, entre
outros, dos seguintes aspectos [12]:
! A grande variedade de elementos e materiais que constituem um edifício;
! A multiplicidade de funções a desempenhar pelos vários componentes de um edifício
e a diferenciação existente entre os critérios de aceitabilidade de ocorrências
prejudicando diferentes funções;
! A grande complexidade do meio ambiente envolvente de um edifício e a larga margem
de actuação que os seus utentes podem ter;
! As várias fases por que passa um edifício, incluindo a concepção, projecto,
construção, utilização, manutenção e demolição;
! A grande ligação entre causas e efeitos dos vários fenómenos que se podem
desenvolver simultaneamente, o que gera situações em que um mesmo acontecimento
é consequência dum fenómeno a montante e ao mesmo tempo é causa de um outro
fenómeno a jusante.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
7
CAPÍTULO II – CORROSÃO DE ARMADURAS EM BETÃO ARMADO
II.1 – Introdução
Várias são as vezes em que o profissional de engenharia civil se vê diante de um problema de
corrosão de armaduras nas estruturas de betão armado.
Como as variáveis que intervêm no processo tem origem em diferentes fontes, em muitas
situações não é fácil, nem rápido, explicar o porquê de uma estrutura corroída, quando tantas
outras em tudo semelhantes e similares não apresentam o problema. A justificativa mais
cómoda, em geral, é atribuir o facto à falta de recobrimento adequado de betão.
O recobrimento de betão tem a finalidade de proteger fisicamente a armadura e propiciar um
meio alcalino elevado que evite a corrosão passiva do aço. Essa protecção depende, portanto e
essencialmente, das características e propriedades intrínsecas do betão. Aos diferentes tipos de
betões deverão corresponder diferentes recobrimentos, mantendo o mesmo nível de protecção.
Por outro lado, o meio ambiente no qual se insere a estrutura e que, em última instância, é o
agente promotor de eventual corrosão, também deve ser considerado. É de se esperar que
regiões com atmosfera seca e "pura" não agridam tanto a estrutura quantas atmosferas
húmidas e fortemente contaminadas por gases ácidos.
Como manter uma mesma exigência de recobrimento sem considerar esses factores regionais?
Aumentar o recobrimento, em geral, significa aumentar as dimensões das peças ou manter as
dimensões e aumentar as secções de aço, ou seja, aumentar o custo da estrutura.
Também a região onde se encontra o componente estrutural, laje, vigas, pilares ou paredes e a
própria natureza, devem ser levados em conta. Lajes em ambientes húmidos podem sofrer
muito mais o fenómeno da condensação do que elementos verticais. Da mesma forma, pilares
semi-enterrados poderão ter problemas de corrosão mais rapidamente que pilares em
ambientes interiores e secos.
Neste capítulo, pretende-se ressalvar a importância da consideração desses factores no
problema da protecção das armaduras de betão armado, chegando a sugerir alguns aspectos
principais de engenharia preventiva e de engenharia correctiva. Para tal, inicia-se analisando
simplificadamente o mecanismo da corrosão e algumas propriedades básicas dos betões,
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
8
conhecimentos necessários à interpretação dos fenómenos e ao entendimento da patologia das
estruturas de betão armado [3, 8, 10, 12].
II.2 – Origem e formas de manifestação
O processo de produção e uso de uma estrutura compreende, normalmente, várias etapas:
! Planeamento e concepção;
! Projecto e especificações;
! Selecção e recepção dos materiais e componentes elaborados fora do estaleiro da obra;
! Execução, propriamente dita;
! Utilização de construção após conclusão.
Tem-se observado, por experiência, que a maior incidência de problemas de corrosão são
originados por deficiências no projecto, especificações e falhas de execução. A maioria dos
projectos não prevê diferentes betões ou diferentes recobrimentos de um mesmo betão,
segundo a posição que o componente estrutural ocupa na obra ou segundo a agressividade do
meio ambiente onde a estrutura será inserida. Da mesma forma, durante a execução não são
tomados os cuidados necessários com a colocação dos dispositivos que asseguram o
recobrimento do betão, tais como pastilhas e espaçadores. A composição do betão, sua
porosidade, descarga e cura adequada são, em alguns casos, parâmetros e técnicas
construtivas desconhecidas do engenheiro ou encarregados das obras.
Como evitar ninhos em junta de betonarem? Como aumentar a compacidade superficial do
betão? Como curar superfícies verticais, ou mesmo fundos de vigas e lajes? Como especificar
o recobrimento da armadura de um pilar de garagem ou do pavimento térreo (deve ser
diferente dos demais?). O desconhecimento ou pequena importância dada a esses aspectos
durante as etapas de projecto e execução são, na maior parte dos casos, os factores que dão
origem aos problemas de corrosão [10, 12].
Pode-se definir corrosão como a interacção destrutiva de um material por reacção química, ou
electroquímica, com o meio ambiente.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
9
Basicamente, são dois os principais processos de corrosão que podem sofrer as armaduras de
aço para betão armado: a oxidação e a corrosão, propriamente dita.
Por oxidação entende-se o ataque provocado por uma reacção gás-metal com formação de
uma película de óxido. Este tipo de corrosão é extremamente lento à temperatura ambiente e
não provoca deterioração substancial das superfícies metálicas, salvo se existirem gases
extremamente agressivos na atmosfera.
Por corrosão, propriamente dita, entende-se o ataque de natureza preponderantemente
electroquímica que se dá em meio aquoso. Ela ocorre quando se forma uma película de
electrólito sobre a superfície dos varões ou barras de aço. Esta película é causada pela
presença de humidade, em geral sempre presente no betão [10].
O mecanismo de corrosão do aço no betão é electroquímico, tal qual a maioria das reacções
corrosivas em presença de água ou ambiente húmido (humidade relativa > 60%). Esta
corrosão conduz à formação de óxido/hidróxidos de ferro (produtos de corrosão,
avermelhados, pulverulentos e porosos, denominados “ferrugem”) e só é possível nas
seguintes condições:
! Deve existir um electrólito;
! Deve existir uma diferença de potencial;
! Deve existir oxigénio.
A formação de uma célula ou pilha de corrosão electroquímica pode ocorrer como indicado
na fig. 1, que explícita graficamente o fenómeno.
Como em qualquer outra célula, há um ânodo, um cátodo, um condutor metálico e um
electrólito. Qualquer diferença de potencial entre as zonas anódicas e catódicas acarreta o
aparecimento de corrente eléctrica. Dependendo da magnitude dessa corrente e do excesso de
oxigénio poderá ou não haver corrosão.
A água está sempre presente no betão e geralmente em quantidades suficientes para actuar
como electrólito, principalmente nas regiões da obra expostas à intempérie. Qualquer
diferença de potencial que se conduza entre dois pontos da barra, por diferença de humidade,
aeração, concentração salina, tensão no betão e no aço, etc., é capaz de desencadear pilhas ou
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
10
cadeias de pilhas conectadas em série. Na maioria das vezes formam-se micropilhas que
podem, inclusive, alternar de posição os pólos.
Fig. 1 - Célula de corrosão em betão armado [10]
É necessário, também, que haja oxigénio para a formação da ferrugem cuja reacção de
formação pode ser simplificadamente indicada por:
4 Fe + 3O2 + 6 H 2 O 4 Fe (OH) 3 (ferrugem)
Na realidade, as reacções são mais complexas e o produto de corrosão, denominado ferrugem,
nem sempre é Fe (OH)3, mas sim uma gama de óxidos e hidróxidos de ferro.
A corrosão pode ser acelerada por agentes agressivos contidos ou absorvidos pelo betão.
Entre eles podem-se citar os iões sulfuretos, iões cloretos, o dióxido de carbono, os nitritos, o
gás sulfídrico, etc. Os agentes agressivos permitem a formação de corrosão, ou destroem a
película já existente de passivação do aço, acelerando a corrosão.
Nas regiões em que o betão não é adequado, ou não recobre ou recobre deficientemente a
armadura, há a formação de óxidos de ferro que passam a ocupar volumes três a dez vezes
superiores ao volume original do aço da armadura, originando tensões no betão superiores a
15 MPa. Essas tensões provocam inicialmente a fissuração do betão na direcção paralela à
armadura corroída, o que favorece a carbonatação e a penetração do CO2 e agentes agressivos,
podendo causar o fissuramento do betão, conforme figura 2.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
11
Fig. 2 - Fissuração do betão devido às forças de expansão dos produtos da corrosão [10]
Fig. 3 - Deterioração progressiva devida à corrosão das armaduras [10]
Essa fissuração acompanha, em geral, a direcção da armadura principal e, mais raramente, a
direcção dos estribos, a não ser que estejam à superfície. Na maioria das vezes aparecem
manchas castanhas avermelhadas na superfície do betão e bordos das fissuras.
É típico da corrosão, predominantemente electroquímica em meio aquoso, a descontinuidade
do fenómeno ao longo da extensão da armadura principal. Verifica-se, geralmente, a
alternância de trechos não alterados com trechos fortemente corroídos [3, 10, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
12
II.3 – O papel do recobrimento no betão
Uma das grandes vantagens do betão armado é que ele pode, por natureza e desde que bem
executado, proteger a armadura contra a corrosão. Essa protecção baseia-se no impedimento
da formação de células electroquímicas, através de duas maneiras:
! Protecção física;
! Protecção química.
II.3.1 – Protecção física
Um bom recobrimento de armadura com um betão de boa compacidade, sem " ninhos”, com
teor de cimento adequado e homogéneo, garante, por impermeabilidade, a protecção do aço
ao ataque de agentes agressivos externos [3].
Fig. 4 - Recobrimento precário – pilar apresenta “ninhos” e armadura principal sem recobrimento
II.3.2 – Protecção química
Em ambiente altamente alcalino forma-se na superfície do aço uma película protectora de
carácter passivo. O betão tem carácter alcalino porque as reacções de hidratação dos silicatos
de cálcio libertam hidróxido de cálcio que se dissolve em água e preenche os poros e capilares
do betão, conferindo-lhe um carácter alcalino. O hidróxido de cálcio tem um pH da ordem de
12,6 (à temperatura ambiente) que proporciona a passivação do aço, conforme experiências
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
13
efectuadas por Pourbaix. Pode-se adoptar, como referência, que a armadura estará
normalmente passiva, quando em meio alcalino apresente um pH entre 10,5 a 13 [3].
II.4 – Causas da corrosão
II.4.1 – Carbonatação do betão
A corrosão de superfícies metálicas expostas a gases ácidos de atmosferas urbanas e
industriais e a salinidade presente na atmosfera marinha, contribuem para a rápida redução da
alcalinidade do betão, aumentando a velocidade e profundidade de carbonatação e,
consequentemente, a perda de passividade da armadura. Nas superfícies dos componentes
estruturais a alta alcalinidade inicial do betão vai sendo reduzida com o tempo. Essa redução
ocorre essencialmente pela acção do C02 presente na atmosfera e outros gases ácidos, tais
como gás sulfídrico e dióxido de enxofre, que penetram no betão por difusão. Esse processo,
denominado carbonatação do betão dá-se lentamente [3, 8, 12].
II.4.2 - Características do meio ambiente
As atmosferas, nas quais poderão estar inseridas as estruturas de betão, podem ser
classificadas em atmosferas rurais, urbanas industriais, marinhas e viciadas. Como a
atmosfera viciada, entende-se aquela resultante de ambientes fechados e específicos, tais
como galerias de águas pluviais, interceptores e colectores de esgoto, cozinhas industriais e
outros ambientes.
A característica principal de atmosferas urbanas e industriais é que elas possuem elevados
teores de óxidos de enxofre e fuligem ácida que se depositam por impacto sobre as superfícies
dos componentes estruturais, penetrando no seu interior por difusão gasosa. A acção danosa
dessas atmosferas, deve ser considerada sempre em conjunto com a humidade relativa da
região, pois se não for atingida a humidade critica não haverá risco de corrosão acentuada [3,
8, 12].
II.4.3 – Agentes agressivos presentes na atmosfera
O agente agressivo mais intenso é o cloreto, presente em atmosferas marinhas (até
aproximadamente 5 km da costa).
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
14
Pequenos teores de cloreto podem ser responsáveis por grande intensidade de corrosão, pois
eles não são incorporados aos produtos de corrosão, actuando na maioria dos casos como
catalizados das reacções electroquímicas.
Outros aniões, tais como sulfatos e amónia, podem actuar de modo similar, porém, sempre
com intensidades menores [3, 8, 12].
II.4.4 – Agentes agressivos incorporados ao betão
É usual na maioria das vezes, por absoluto desconhecimento dos técnicos envolvidos, a
incorporação de elementos agressivos durante a amassadura do betão.
O agente agressivo mais comum é o cloreto, que pode ser adicionado involuntariamente ao
betão, a partir de aditivos aceleradores de presa, agregados e águas contaminadas. A grande
maioria dos aditivos aceleradores de presa e endurecedores tem, na sua composição, cloreto
de cálcio.
Concentrações de cloretos iguais ou superiores a 700 mg/1 retiram a perda de passividade ao
aço, além de reduzirem, significativamente, a resistividade eléctrica do betão. Os agregados
de regiões próximas ao mar e águas contaminadas ou salobras também podem conter cloretos,
na maioria das vezes sob a forma de cloreto de sódio, elemento abundante na orla marítima
(vulgar sal).
Embora não muito comum, o que também pode acarretar problemas, é o emprego de
agregados com concentrações ferruginosas, na maioria decorrentes de rochas em alteração. Os
produtos das reacções podem ser ácidos, que irão contribuir para o aceleramento do fenómeno
de carbonatação superficial do betão, reduzindo a protecção química do recobrimento.
Praticamente, todos os revestimentos nos quais predominem a cal e o cimento portland como
aglomerantes, não acarretam problemas á armadura, podendo até pelo contrário, auxiliar na
protecção. Não é o caso põe exemplo de outros revestimentos, à base de gesso. O sulfato de
cálcio tem carácter ácido, principalmente quando decorrente da obtenção de fertilizantes. Esse
subproduto industrial pode originar pastas e argamassas com pH por volta de 6 que,
consequentemente, por serem porosos e higroscópicos, podem contribuir para o aumento da
corrosão das armaduras. Da mesma forma, há que ter cuidado no emprego indiscriminado de
argamassas prontas [3, 8, 10, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
15
II.4.5 – Qualidade do betão de recobrimento
A carbonatação superficial dos betões é variável conforme a natureza de seus componentes, o
meio ambiente e as técnicas construtivas de transporte, descarga e cura utilizada. Como
consequência a profundidade de carbonatação é de difícil previsão e também variável dentro
de amplos limites.
Tendo a relação água/cimento papel preponderante na permeabilidade dos betões, é natural
que tenha grande influência na velocidade de carbonatação. A cura da superfície dos
componentes estruturais tem um papel importantíssimo na protecção contra a corrosão. Com
tratamentos adequados, é possível evitar-se a retracção superficial e a consequente micro e
macro-fissuração que poderiam permitir a penetração de agentes agressivos.
Outro aspecto que deve ser ressalvado é o relativo à homogeneidade do betão e à
uniformidade do recobrimento. Sendo a corrosão um fenómeno essencialmente
electroquímico, regiões porosas ou de pequeno recobrimento, alternadas com regiões densas e
com maior recobrimento, podem gerar pilhas de corrosão e concentração diferencial
aumentando o risco de corrosão ou acelerando uma corrosão já iniciada [3, 10, 12].
II.5 – Medidas preventivas
II.5.1 – Na etapa de projecto
Alguns dos principais factores a considerar, na etapa de projecto, são [10, 12]:
! Avaliar agentes agressivos da atmosfera no local de implantação da obra;
! Avaliar as condições higrotérmicas do local de implantação da obra;
! Especificar recobrimentos maiores ou betão de melhor qualidade para as armaduras de
componentes semi-enterrados, garagens, casas de banho, áreas de serviço, coberturas e
exteriores;
! Evitar proximidade de diferentes metais e tratamentos metálicos superficiais.
II.5.2 – Na etapa de recepção dos materiais
Alguns dos principais factores a considerar, na etapa de recepção de materiais, são [10, 12]:
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
16
! Determinar teor de agentes agressivos nos adjuvantes ou aditivos, nos agregados e na
água de amassadura;
! Rejeitar barras de aço excessivamente corroídas;
! Preparar pastilhas de argamassas ou adquirir pastilhas plásticas.
II.5.3 – Na etapa de execução
Alguns dos principais factores a considerar, na etapa de execução, são [10, 12]:
! Evitar betões com relação água/ cimento superior a 0,55;
! Não permitir o derrame de agentes agressivos sobre as barras e fios de aço nos stocks;
! Empregar agregados com dimensão máxima característica da mesma ordem de
grandeza da espessura do recobrimento;
! Aumentar o teor de argamassa dos primeiros betões lançados sobre juntas de
betonagem;
! Cuidar da vibração do betão para evitar ninhos;
! Curar, pelo menos 15 dias, as superfícies do betão;
! Evitar revestimentos neutros ou ácidos à base de gesso;
! Promover a hidrofugação periódica (manutenção) das superfícies de betão aparente;
! Proteger temporariamente os arranques ou esperas.
Fig. 5 - Fraca qualidade do betão e respectiva vibração (ninhos e materiais estranhos incorporados)
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
17
II.6 – Medidas correctivas
Antes de se decidir por um certo procedimento de recuperação e protecção contra a corrosão,
devem ser efectuadas análise e diagnósticos precisos do caso patológico ocorrido.
As medidas correctivas devem ser tomadas em função das causas e origens específicas de
cada problema.
De um modo geral, a recuperação desse tipo de fenómeno patológico é delicada e requer mão-
de-obra especializada.
Consiste basicamente em três etapas:
! Limpeza rigorosa, de preferência com jacto de areia e apicoamento de todo o betão
solto ou fissurado, inclusive das camadas de óxidos e hidróxidos das superfícies das
barras;
! Análise criteriosa da possível redução da secção transversal das armaduras atacadas.
Se necessário, colocar novos estribos e/ou novas armaduras longitudinais. Sempre que
for empregue solda, deve-se controlar o tempo e temperatura por forma de evitar a
mudança das estruturas do aço;
! Reexecução do recobrimento das armaduras de preferência com betão bem adensado.
Este recobrimento tem a finalidade de:
! Impedir a penetração de humidade, oxigénio e agentes agressivos até as armaduras;
! Recompor a área da secção de betão original;
! Propiciar um meio que garanta a manutenção da capa protectora no aço.
Esse novo recobrimento pode ser executado através de qualquer procedimento que atenda aos
requisitos abaixo mencionados:
! Betão projectado com espessura mínima de 5 cm. Esse betão tem boa aderência ao
betão velho e não requer formas, no entanto tem a desvantagem de acarretar perda de
material e sujar o ambiente;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
18
! Adesivos à base de epóxi para união do betão velho com o novo, sendo este aplicado
no local por método tradicional. Esta solução apresenta vantagens em relação a
anterior, pois impermeabiliza a armadura definitivamente, impedindo que, mesmo
com carbonatação superficial, haja corrosão. No entanto, ela tem a desvantagem de
requerer formas e de dificultar a compactação e adensamento do betão novo.
Geralmente este procedimento acarreta secções finais maiores que as iniciais com
prejuízo estéticos;
! Betões e argamassas poliméricas obtidas de resinas à base de epóxi ou metil-
metacrilatos. Eles possuem alta durabilidade, impermeabilidade, aderência ao betão
velho e a armadura, porém necessitam formas e requerem mão-de-obra especializada e
teste prévios de desempenho, pois há muita flutuação nas características destes
produtos. Esses betões e argamassas têm a vantagem de não acarretarem problemas
estéticos pois podem ser moldados em pequenos espaços disponíveis;
! Betões e argamassas especiais para “grauteamento” (“graute” é uma palavra de origem
brasileira que simboliza um betão ou argamassa que permite enchimento e
descofragem rápida, porque proporciona uma resistência à compressão mais rápida
num curto espaço de tempo e que ao ser aplicado se auto nivela com cura ultra-rápida.
Pode também ser injectado ou projectado. “Grout” em inglês, cite-se o "jet-grouting"
como a técnica de injecção de calda no terreno como reforço.). Estes produtos não
apresentam retracção, tem boa aderência e podem ser auto adensáveis, não exigindo
aumento de secção, além da original. Pode, algumas vezes, requerer cofragem;
! Betões e argamassas mais comuns, bem proporcionados, com baixa relação
água/cimento e aplicados com forma e dentro das técnicas de bem construir. Essa
solução geralmente exige grande aumento de secção e requerem auto conhecimento de
tecnologia de betão para segurar a aderência do betão velho ao novo;
! Finalmente, cabe reforçar que, devem ser identificadas e sanadas as causas. Caso isso
não seja observado, corre-se o risco de acarretar corrosão em outros locais, por se
haver criado mais descontinuidade na estrutura, além das originalmente existentes.
Quando a causa é devida a cloretos incorporados ao betão, a melhor solução pode não ser
simples e em geral requer respostas específicas para cada caso [3, 10, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
19
CAP III - ALVENARIAS
III.1 – Introdução
A qualidade da execução das alvenarias depende de forma significativa de aspectos que
dificilmente se definam ou quantificam no projecto, nomeadamente da qualificação dos
operários, sua destreza e atitude geral face às estratégias de planeamento e controlo da obra.
Assim face à diversidade de pormenores, operações, variantes de execução, tradições
regionais e outras variáveis envolvidas, pretende-se registar uma partilha de vivências ligadas
à execução, validadas pela experiência e pelo conhecimento técnico [10, 14].
III.2 – Execução de alvenaria em zona corrente
Os tijolos são elementos cerâmicos resultantes da cozedura da pasta de argila, e como tal,
sendo porosos, absorvem facilmente água por contacto. Assim, antes de serem assentes devem
ser molhados, pois sem este cuidado absorvem parte da água da amassadura da argamassa o
que a torna desagregável.
0 assentamento do tijolo, deve ser realizado de modo que as juntas verticais e horizontais
fiquem desencontradas de pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo (“matar ajunta”). As
juntas, com espessura final de cerca de 10 mm, devem ser realizadas com argamassa pouco
consistente preenchendo completamente o intervalo entre tijolos.
Fig. 6 – Aspectos de juntas de argamassa irregulares ou mal preenchidas [14]
A opção pelo preenchimento das juntas verticais tem sido motivo de alguma polémica nos
meios técnicos ao longo dos últimos anos. Em defesa do não preenchimento, são usados
argumentos relativos à economia e à má qualidade natural das juntas verticais, devido a
dificuldades de execução. No entanto, em paredes sujeitas a solicitações horizontais e em
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
20
paredes com cargas excêntricas aplicadas, considera-se vantajosa a opção pelo seu
preenchimento, não obstante a reduzida contribuição para o aumento da resistência da parede
à compressão.
Nos cunhais e esquadrias das paredes deverá haver um cuidado especial de modo que os
tijolos fiquem bem travados entre si. Nos cunhais das paredes de fachada, ombreiras e outras
extremidades de parede em contacto com o exterior, é fundamental que o tijolo não fique com
os furos voltados para o exterior. Na ausência de tijolos de formato especial para estas
situações, pode usar-se o tijolo furado corrente, ao alto (furação na vertical) cortado para as
dimensões convenientes, mas sempre devidamente travado.
Fig. 7 - Cunhal mal executado e esquema para correcta execução [14]
Nos cunhais, como nos restantes cruzamentos de paredes é muito vantajoso que as fiadas das
duas direcções estejam niveladas, para permitir um adequado travamento. Nos casos em que
se pretenda uma maior rigidez da ligação, podem aplicar-se grampos metálicos na junta
horizontal ligando as duas [14].
III.3 – Execução de paredes duplas
A elevação dos dois panos da parede dupla pode ser feita em simultâneo ou de forma
sequencial. A execução simultânea dos 2 panos facilita a aplicação dos grampos de ligação
mas apresenta, em geral, maiores dificuldades de execução.
Na execução de paredes duplas devem ser adoptadas as medidas e precauções descritas para
as paredes simples com as seguintes particularidades [14]:
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
21
! Execução da meia cana ou caleira que remata o fundo da caixa de ar, com aplicação de
tubos de drenagem (em plástico) salientes para o exterior (espaçados de cerca de 2
metros);
! Os tubos de drenagem devem recolher as águas do fundo da caleira e conduzi-las ao
exterior, através de inclinação dada a estes. Deverá igualmente providenciar-se uma
saliência em relação ao revestimento final não inferior a 15 mm. Face a eventuais
incertezas relativa à espessura final dos revestimentos, os tubos devem ficar mais
compridos, para posterior alinhamento por corte.
! A limpeza da caixa de ar e em particular a caleira é um dos aspectos mais importantes
da execução de paredes duplas.
Fig. 8 – Aspecto do tubo de drenagem da caixas de ar (solução correcta, esquerda, e incorrecta, direita) [14].
III.4 - Isolamento térmico em paredes duplas
III.4.1 -Isolamento térmico pelo interior
É pouco frequente a realização de isolamento térmico pelo interior, uma vez que reduz a
inércia térmica, aumenta o risco de condensações no interior da parede e obriga a cuidados
especiais de revestimento (reboco armado, forros de madeira, revestimento com gesso
cartonado, etc.). A aplicação de isolamento térmico pelo interior é executada após a conclusão
e secagem das alvenarias e deve ser encarada como uma actividade de revestimento especial
[14].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
22
III.4.2 - Isolamento térmico pelo exterior
Do ponto de vista do comportamento térmico das construções, o isolamento térmico pelo
exterior constitui a solução mais eficaz, proporcionando uma elevada inércia térmica e
reduzindo o risco de condensação no interior das paredes. Face às características dos isolantes
disponíveis e às exigências funcionais dos revestimentos das paredes de fachada, incluindo a
sua durabilidade e resistência às intempéries, este tipo de isolamento térmico é feito com
recurso a técnicas mais complexas, das quais se destacam, entre outras, as seguintes soluções:
! Revestimento sintético delgado armado sobre isolamento térmico;
! Isolamento térmico pelo exterior sob placas rígidas de revestimento independente,
com caixa de ar (“bardage”).
A primeira solução exige um bom desempeno do suporte, uma vez que as placas rígidas de
isolamento térmico (poliestireno expandido) são coladas directamente à parede e sobre elas é
executado um reboco delgado armado, com rede de fibra de vidro ou polipropileno. Deste
modo, as irregularidades da parede afectam de imediato a qualidade do assentamento das
placas e o aspecto final do revestimento.
Nos sistemas com revestimento independente, este é constituído por placas rígidas assentes
sobre uma estrutura secundária colocada sobre a parede e o seu aspecto e desempenho não
dependem do isolamento térmico, uma vez que este fica encostado à parede e separado do
revestimento exterior por um espaço de ar ventilado.
Qualquer destes sistemas é utilizado sobretudo em acções de reabilitação, sendo aplicável
com igual desempenho em construções novas. A sua aplicação não interfere com a construção
das paredes de alvenaria, uma vez que só tem lugar algum tempo após a conclusão destas,
sendo assumida como uma actividade de revestimento, embora com características especiais
[14].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
23
III.4.3 - Isolamento térmico na caixa de ar
III.4.3.1 - Materiais rígidos
Os materiais destinados ao isolamento térmico das paredes podem apresentar-se sob a forma
de placas rígidas com espessuras correntes de 3 a 5 cm. A colocação deste tipo de placas na
caixa de ar de uma parede dupla deve obedecer às seguintes exigências:
! O material deve ser imputrescível, indeformável e apresentar uma reduzida absorção
de humidade (dado que resistência térmica da parede com o aumento do teor de
humidade diminui, tendo por origem a não garantia de total estanquicidade da parede
exterior);
! As placas de isolamento térmico devem estar aprumadas, encostadas à face exterior da
parede interior e fixas por grampos. Esta deverá estar desempenada de forma a
facilitar a circulação de ar.
As placas devem constituir uma barreira contínua sem juntas verticais ou horizontais abertas
entre elas, de modo a impedir fenómenos de convecção entre as suas duas faces.
Fig. 8 – Exemplos de colocação incorrecta de isolamento térmico na caixa de ar
A colocação de placas rígidas do isolamento deve ser coordenada com a sequência de
operações da execução das alvenarias, uma vez que inviabiliza, por exemplo, o levantamento
simultâneo dos 2 panos de parede (exterior e interior).
A colocação de placas rígidas do isolamento deve ser coordenada com a sequência de
operações da execução das alvenarias, uma vez que inviabiliza, por exemplo, o levantamento
simultâneo dos 2 panos de parede (exterior e interior).
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
24
As placas de material isolante não hidrófilo podem ser aplicadas entre os dois panos de parede
sem caixa de ar. Verifica-se todavia que a contribuição da caixa de ar remanescente (com
largura mínima livre de 2 cm), trás significativas vantagens do ponto de vista da prevenção de
problemas ligados à humidade, quer no que respeita às infiltrações exteriores, quer às
eventuais condensações devidas à difusão do vapor de água proveniente do interior do edifício
[14].
III.4.3.2 - Materiais flexíveis
Os materiais de isolamento térmico flexíveis, apresentam-se em geral em rolos, com larguras
variáveis entre 0,60 e1,20 m, o que permite que sejam cortados com a altura da parede a
isolar.
Estes materiais têm uma maior versatilidade na adaptação a zonas irregulares da construção
mas apresentam diversas condicionantes de fixação em zona corrente.
Para uma correcta colocação e garantia, devem ser aplicados e fixos através de dispositivos
adequados depois de construída a parede interior, o que obriga a inverter a ordem do processo
de construção, isto é, obriga à construção da parede exterior em último lugar, a partir de
andaimes exteriores e com maiores dificuldades na limpeza final da caleira da caixa de ar.
A utilização de materiais de isolamento térmico flexíveis sem caixa de ar, fixados ao pano
exterior da parede, poderia permitir a construção posterior da parede interior, mas está
limitada, em geral, pela elevada capacidade de absorção de água destas mantas e pela
fragilização da parede exterior nos pontos de fixação, que poderão constituir zonas
preferenciais para a entrada de água [14].
III.4.3.3 - Materiais projectados
Os materiais projectados são geralmente compostos sintéticos com grande capacidade de
aderência, baixa porosidade e insensíveis à água. Têm como vantagem a facilidade de cobrir
todas as zonas irregulares da construção, incluindo pequenos ressaltos e reentrâncias,
garantindo a continuidade total da camada isolante.
Apresentam no entanto duas importantes limitações [14]:
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
25
! A primeira diz respeito à necessidade da construção da parede exterior só após a
aplicação do isolante, como já sucedia nos materiais flexíveis;
! A segunda à dificuldade de garantir uma espessura uniforme da camada isolante.
III.4.3.4 - Materiais a granel
A utilização de isolamentos térmicos a granel obriga ao preenchimento total da caixa de ar, o
que poderá ser feito por etapas ou no fim da parede executada antes da execução da última
fiada. O sistema é pouco corrente e apresenta as seguintes condicionantes [14]:
! É necessário garantir o total preenchimento da caixa de ar, sem vazios ou zonas de
diferente compacidade (o que é particularmente difícil em paredes com aberturas ou
outros elementos singulares);
! É necessário garantir que o material não sofre qualquer compactação ou adensamento
natural com o tempo, que provoque a diminuição do volume que ocupa na caixa de ar;
! O material deve ser imputrescível, não absorvente e insensível à água;
! A face exterior do pano exterior deve ser impermeável à água mas permeável ao vapor
de água;
! Deve ser garantida a drenagem do fundo da caixa de ar, apesar de totalmente
preenchida com material granular, mas impedindo que os grânulos de isolante saiam
ou obstruam os tubos de drenagem.
III.4.3.5 - Materiais injectados
Os materiais injectados são constituídos por espumas, cujas misturas são normalmente
efectuadas no local, recorrendo a equipamento próprio. Esta técnica está reservada em geral a
situações de reabilitação em que não é viável a alteração das faces exterior e interior da
parede. A execução deve ser feita por pessoal especializado que tenha meios para garantir e
verificar o integral preenchimento da caixa de ar, o que, mais uma vez, se torna
particularmente difícil nas paredes recortadas ou de geometria irregular e nas paredes com
grampeamento entre os dois panos. Uma vez que este sistema implica o preenchimento total
da caixa de ar, exige-se a sua total insensibilidade à acção da água.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
26
A aprovação da injecção de espumas na caixa de ar implica a verificação prévia das
características físicas e químicas da espuma no tempo, nomeadamente a sua estabilidade
dimensional e a eventual libertação de gases nocivos resultantes de solventes.
Ao aplicar-se em situações de reabilitação de paredes que não tenham tido qualquer correcção
inicial das pontes térmicas, este sistema agravará, inevitavelmente, essa situação, pelo que
deve ser utilizado com reserva [14].
III.5 – Correcção das pontes térmicas
O projecto deve definir com exactidão o tipo de correcção da ponte térmica a executar assim
como criar as condições necessárias de aplicação e compatibilização entre os diversos
elementos estruturais.
A correcção das pontes térmicas, consiste na protecção (interior ou exterior) da estrutura de
betão armado e outros pontos singulares da construção que apresentam menor resistência
térmica do que as paredes de alvenaria, com uma forra de tijolo furado, sendo utilizado com
muita frequência, tijolo furado de 7 cm.
Do ponto de vista da execução, as correcções interiores são mais fáceis de executar que as
protecções exteriores.
No caso das protecções exteriores, é frequente que a laje de piso tenha uma aba saliente
(rebordo) em relação ao alinhamento exterior dos pilares e das vigas, que permite o apoio
total ou parcial da referida forra da estrutura em alvenaria. Nestas situações é particularmente
delicada a colocação de tijolo na face exterior da viga, abrangendo também o topo da laje.
Este tijolo não pode naturalmente ser considerado como um apoio do pano superior.
Fig. 9 – Exemplos de correcção de pontes térmicas [14].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
27
Na zona dos pilares, as dificuldades são menores, desde que se planeie correctamente o
travamento da parede e a transição da dimensão corrente para a dimensão de protecção. As
forras devem se concluídas antes das alvenarias, uma vez que poderiam constituir um factor
de descontinuidade grave na parede com grande probabilidade de fissuração posterior.
Existem várias técnicas de correcção das pontes térmicas, mas que não serão abordadas nesta
monografia [3, 12, 14].
III.6 – Patologias das alvenarias
III.6.1 – Origem e formas de manifestação
Inúmeros factores intervêm na resistência final de uma alvenaria a esforços axiais de
compressão, tais como:
! Resistência mecânica dos componentes de alvenaria e da argamassa de assentamento;
! Módulos de deformação (longitudinal e transversal) dos componentes da alvenaria e
da argamassa;
! Dimensões e rugosidade superficial dos componentes de alvenaria;
! Poder de aderência da argamassa;
! Espessura e tipo das juntas adoptadas;
! Dimensões da parede.
Diversos estudos já foram efectuados em várias partes do mundo, procurando-se correlacionar
a resistência final de uma alvenaria com todos os factores mencionados, tendo-se tirado
desses estudos algumas conclusões importantes) [1, 3, 6, 10, 12]:
! A resistência da alvenaria é inversamente proporcional a quantidade de juntas de
assentamento;
! Componentes assentes com juntas travadas, produzem alvenarias com resistência
significativamente superior àquelas, onde os componentes são assentes com juntas
verticais aprumadas
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
28
! A resistência da parede não varia linearmente com a resistência do componente de
alvenaria, nem com a resistência da argamassa de assentamento
! De forma geral, as fissuras em alvenarias carregadas axialmente começam a surgir
muito antes de serem atingidas as cargas limite de ruptura.
! As fissuras que se manifestam nas alvenarias, decorrentes de sobrecarregamentos, são
geralmente verticais originando-se da deformação transversal da argamassa de
assentamento e dos próprios componentes de alvenaria. Em casos muitos específicos,
contudo, podem aparecer fissuras horizontais em ocorrência do esmagamento da
argamassa de assentamento (caso bastante raro) ou em ocorrência da ruptura dos
próprios componentes de alvenaria (tijolos maciços com pequena resistência a
compressão ou blocos vazados horizontalmente, com paredes muitos delgadas.
Um factor de primordial importância no fissuramento de alvenarias é a presença de aberturas
de portas e janelas, em cujos vértices ocorrem acentuadas concentrações de tensões. Na
prática, procura-se combater essa concentração de tensões através da construção de vergas
sobre as aberturas, esquecendo-se na maioria das vezes que também na região dos vértices
inferiores das janelas a concentração de tensões é bastante significativa.
Fig. 10 - Fissuração típica de alvenaria devida a excessiva sobrecarga [10]
As fissuras nos contornos dos vãos, podem assumir diversas configurações em função da
influência dos seguintes factores:
! Dimensões do painel de alvenaria;
! Anisotropia dos materiais constituintes;
! Magnitude das tensões desenvolvidas;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
29
! Dimensões da abertura e localização da mesma na parede.
Fig.11 - Padieira para porta maior que a necessária, resultando futuramente na fissuração ao longo da padieira
inicial
Fig. 12 - Fissuração de alvenaria no contorno de vão de janela devido à concentração de tensões [10].
Fig. 13 - Solução para o caso da fig. 12 [10]
A actuação de cargas concentradas nas alvenarias, sem o emprego de dispositivos adequados
para redistribuição das tensões, pode provocar o esmagamento localizado ou a manifestação
de fissuras inclinadas a partir do ponto de aplicação da carga (caso típico de asnas ou vigas
apoiadas directamente sobre a alvenaria ou sobre coxins excessivamente curtos) fig. 14 e 15.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
30
Fig. 14 - Fissuração de paredes de alvenaria devida a apoio transversal de uma viga [10]
Um último caso que se pode ainda citar, embora não muito frequente, é a manifestação de
fissuras horizontais em alvenarias portantes da ocorrência da actuação de cargas verticais
excêntricas ou cargas horizontais. Em função da intensidade dessas cargas podem surgir
fissuras de tracção numa das faces da parede, já que a mesma é solicitada à flexão –
compressão [3, 10, 12].
Fig, 15 - Fissuração de paredes de alvenaria devido a carga excêntrica [10]
III.6.2 - Fissuras provocadas por deformabilidade das estruturas de betão armado
As estruturas de betão armado deformam-se naturalmente sob acção das cargas permanentes e
das cargas acidentais. Os componentes estruturais podem admitir flechas que não
comprometem em nada a estabilidade da construção e mesmo estética do componente
flectido. Essas flechas, entretanto, podem ser incompatíveis com o bom comportamento de
paredes ou outros componentes que se apoiam sobre as peças flectidas.
O “Centre Scientifique et Technique de la Construction” propôs num trabalho diversas
limitações de flechas para vigas e lajes, levando em conta a natureza dos componentes
apoiados sobre essas peças estruturais e a parcela da flecha desenvolvida após a instalação da
carga transmitida pelo componente.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
31
A previsão correcta das flechas que ocorrerão nos componentes estruturais é tarefa
praticamente impossível de ser realizada, devido aos inúmeros factores intervenientes. Uma
das primeiras dificuldades que se apresentam é a determinação da parcela da flecha que se
desenvolve após a fissuração do betão, o que conduz a uma acentuada redução de inércia da
peça flectida.
Levando em conta a fissuração, a retracção e a deformação lenta do betão, considerando
inclusive a influência de factores tais como a humidade do ambiente e a idade do betão por
ocasião da colocação em serviço do componente estrutural, o C.E.B., propõe uma formulação
bastante completa para a previsão da curvatura de componentes flectidos.
Existem formas simplificadas de se considerar a influência da deformação lenta do betão, na
curvatura final de um componente flectido. Uma outra forma simplificada, é aquela onde se
considera, que a parcela da flecha oriunda da deformação lenta do betão, seja equivalente ao
dobro da flecha instantânea, calculada para cargas permanentes e que, em ultima instância,
provocam deformação lenta.
A deformação (flecha) de componentes estruturais podem provocar avarias de diferentes
ordens como o emperramento de caixilhos, ruptura de placa de vidro pela sobrecarga sobre os
caixilhos, fissuramento de tectos e pisos, desprendimentos de ladrilhos cerâmicos etc.
Ao que tudo indica, os componentes das edificações mais sensíveis à deformabilidade das
estruturas são as alvenarias. As deformações da estrutura, de forma geral, tendem a introduzir
nesses componentes esforços de tracção e de cisilhamento (corte) provocando fissuras com
diversas configurações.
Nas figs. 16, 17, 18 e 19, ilustram-se configurações clássicas de fissuras em alvenarias,
provocadas pela flexão da viga – suporte e/ou da viga superior
No caso de vigas em consola, a flexão normalmente provoca o aparecimento de fissuras de
cisalhamento no painel de alvenaria e o destacamento entre a alvenaria e a estrutura, conforme
indicado na fig. 20.
As flexões diferenciadas entre vigas em balanço, para dois pavimentos consecutivos, tendem
a provocar a fissuração horizontal de paredes localizadas na extremidade da consola
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
32
(geralmente na altura dos peitoris das janelas) ou ainda o esmagamento dessas paredes,
conforme ilustrado na fig. 21 [3, 10, 12].
Fig.16 - Fissuração característica de divisórias de alvenaria devida a deformação excessiva do pavimento inferior
[10]
Fig. 17 - Fissuração característica devida a deformação do pavimento superior [10]
Fig.18 - Fissuração característica devido a deformação semelhante dos pavimentos superior e inferior [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
33
Fig.19 - Fissuração característica em vãos de alvenaria devida a deformação excessiva do pavimento inferior
[10]
Fig.20-Fissuras na alvenaria e destacamentos no encontro com a estrutura em decorrência da deflexão das vigas
em consola [10]
Fig.21- Fissura provocada pela deformação da viga lintel de sustentação da parede
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
34
III.6.3-Fissuras provocadas por recalques diferenciados das fundações
Os solos são constituídos basicamente por partículas sólidas, água, ar e não raras vezes por
materiais orgânico.
Sob efeito de cargas externas, todos os solos, em maior ou menor proporção, se deformam.
No caso destas deformações serem significativamente diferentes ao longo do plano das
fundações de uma obra, origina que tensões de grande intensidade serão introduzidas na
estrutura, provocando o aparecimento de fissuras.
A determinação dos assentamentos absolutos que ocorrerão numa fundação é tarefa bastante
difícil, constituindo-se ainda hoje um grande desafio para a Mecânica dos Solos.
A rigor, estimativas razoavelmente precisas, só poderiam ser efectuadas através de provas de
carga ou de ensaios de laboratório relativamente sofisticados, o que nem sempre é viável do
ponto de vista económico.
Como no caso das fissuras, o interesse recai quase que invariavelmente nos assentamentos
diferenciais, pelo que se entende válido, na falta de indicações mais precisas, a tentativa de
estima-los com base na previsão do módulo de deformabilidade (E) ou do coeficiente de
reacção do solo (Ks) a partir de ensaios de penetração dinâmica (SPT) ou ensaios de
penetração estática (Rpr - deepsounding). “Vítor Mello”, analisa diversas propostas de
correlações entre esses parâmetros, julgando como muito promissor o emprego de Rpr para
previsão de assentamentos, mas advertindo para o perigo de pseudo-correlações.
Abstraindo-se da dificuldade de se estimarem valores precisos de E ou Ks, poder-se-á dizer
que existem boas teorias para os cálculos de recalques de placas rasas ou profundas (Terzaghi,
Schmertmann, Skempton, etc.).
Para o caso de estacas, com particular interesse para estacas agrupadas, a teoria de (Davis e
Poulos) parece ser uma das mais actualizadas e respeitadas.
De uma maneira geral, as fissuras provocadas por assentamentos diferenciais manifestam-se
de forma semelhante aquelas produzidas por excessiva deformabilidade da estrutura. A
direcção em que ocorrer a maior movimentação da fundação normalmente é indicada pela
inclinação da fissura ou mesmo pela variação de abertura verificada ao longo de sua extensão.
Os casos mais frequentes de fissuras devidas a assentamentos, ocorrem em edificações
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
35
assentes sobre secções mistas, conforme indicado na fig. 22, ou sobre aterros mal
compactados, conforme ilustrado pela figs.23 e 24 [3, 10, 12].
Fig. 22 - Fissuras provocadas por assentamentos diferenciados de fundação assente sobre secção mista [10]
Fig. 23 - Fissuras devidas a assentamentos diferenciais em edificação assente sobre aterro mal compactado
Fig. 24 - Fissura provocada pelo abatimento da base do aterro mal compactada ou insuficiência da fundação.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
36
A adopção de sistemas diferentes de fundação numa mesma obra., conduz geralmente a
assentamentos diferenciais, o mesmo ocorrendo para obras dotadas de um corpo principal
(mais carregado) e de um corpo secundário (menos carregado). Assentamentos diferenciais
podem surgir mesmo ao longo de um componente com trechos diferentemente carregados,
havendo a tendência de formação de fissuras com configuração indicada na fíg. 25.
Os assentamentos diferenciais em fundações profundas podem ocorrer por diversos motivos,
podendo-se citar [3, 10, 12]:
! Estimativa incorrecta do atrito lateral mobilizado,
! Não consideração do efeito de grupo de estacas,
! Controle deficiente das negas de cravação,
! Falhas de betonagem de estacas moldadas in situ
! Atrito negativo desenvolvido pelo lançamento de aterros e pelo adensamento de
camadas de argila.
! Assentamentos diferenciais com distorção angular superior a 1/300, segundo diversas
fontes, geralmente provocam a incidência de fissuras inclinadas nas paredes, conforme
indicado na fig. 26, enquanto que distorções de ordem do 1/150 já são suficientes para
provocar o surgimento de danos em componentes estruturais.
Fig. 25 - Fundações contínuas, fissuras de flexão sobre as aberturas [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
37
Fig, 26 - Assentamento diferencial entre pilares provocando o aparecimento de fissuras inclinadas nas paredes
[10]
III.6.4 - Medidas correctivas
Por falta de informação, excesso de arrojo ou negligência, parte das fissuras nasce
conjuntamente com o projecto da obra. O reconhecimento de que as movimentações dos
materiais de construção, e da obra como um todo é inevitável, poderiam de alguma forma
minimizar o problema. A execução de obras a em prazos excessivamente curtos e as medidas
pretensamente económicas tomadas por alguns construtores e agentes promotores contribuem
de forma intensa para a má qualidade final do produto.
As obras de reparação, são geralmente difíceis e dispendiosas, sendo que nem sempre
resolvem os problemas em definitivo, pois todos os trabalhos de recuperação ou reforço por
melhor que tenham sido executados não deixam de ser um remendo.
Assim sendo, parece-nos prudente que os profissionais ligados à construção actuem
directamente sobre as causas do problema, prevenindo a ocorrência de fissuras através de
bons projectos, especificações correctas e exaustivas dos materiais a serem empregues,
controle de recepção dos materiais e componentes, fiscalização eficiente da obra etc. Caso
isso não ocorra, umas das melhores soluções que tivemos para o problema é aquela sugerida
por Pfeffermann e que consiste em encobrir-se as fissuras com quadros, retratos, calendários
ou qualquer outra camuflagem [3, 10, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
38
CAPÍTULO IV – ARGAMASSA DE REVESTIMENTO
IV.1 – Introdução
Independentemente de sua idade, podem-se observar nas edificações os seguintes fenómenos,
prejudiciais ao aspecto estético de paredes e tectos:
! A pintura acha-se parcial ou totalmente fissurada, descolando da argamassa de
revestimento;
! Há formação de manchas de humidade com desenvolvimento de bolor;
! Há formação de eflorescências na superfície da tinta ou entre a tinta e o revestimento;
! A argamassa do revestimento descola inteiramente da alvenaria, em placas compactas
ou por desagregação completa;
! A superfície do revestimento apresenta fissuras de conformação variada;
! A superfície do revestimento apresenta vesículas com descolamento da pintura;
! O revestimento endurecido empola progressivamente, descolando do emboco.
Estes fenómenos podem apresentar-se como resultados de uma ou mais causas actuando,
sobre a argamassa de revestimento, de entre os quais se podem citar:
! Factores externos ao revestimento;
! Má aplicação do revestimento;
! Má proporção dos componentes das argamassas;
! Tipo e qualidade dos materiais utilizados no preparo da argamassa de revestimento.
Estão excluídas desta análise as fissuras de revestimento, resultantes de causas como
assentamento de fundação, movimentação de estrutura, dilatações térmicas diferenciadas, bem
como os problemas apresentados pelas fissuras de per-si [3, 10, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
39
IV.2 - Origem e formas de manifestação
IV.2.1 - Causas decorrentes da qualidade dos materiais utilizados
No estudo de qualquer produto, devem conhecer-se os desempenhos das matérias-primas. No
caso das argamassas, falamos de agregados, ligantes, adições, adjuvantes e água potável.
IV.2.1.1 - Agregados
A areia é o constituinte em maior abundância na argamassa e as suas características
influenciam fortemente as propriedades deste produto.
No nosso meio é utilizada como agregado a areia natural, essencialmente de origem
quartezítica, podendo este material ter as mais diversas origens (siliciosas, sílico-calcárias, ou
calcárias) e características (roladas ou britadas). São particularmente prejudiciais as
impurezas, tais como: aglomerados argilosos, pirite, mica, concreções ferruginosas e matéria
orgânica.
A presença de areias reactivas, e na presença de água, pode levar à alteração do ligante
cimento (reacções silico-alcalinas), com formação de gel e degradação das argamassas e
pinturas sobre rebocos.
A expansão, pode ser resultante da formação de produtos de oxidação da pirite e das
concreções ferruginosas-sulfatos e óxidos de ferro hidratados, respectivamente da hidratação
de argilo-minerais ou de matéria orgânica. A matéria orgânica pode ser a causa de formação
de vesículas de esporos, observando-se no interior de cada vesícula um ponto escuro.
A desagregação do revestimento por sua vez, tem como causa a presença de torrões argilosos,
com excesso de finos na areia ou de mica em quantidade apreciável. A mica pode também
reduzir a aderência do revestimento à base de duas camadas entre si.
IV.2.1.2 - Ligantes
Como a designação sugere, estes constituintes têm a função de ligar os grãos de areia entre si.
Não existe inconveniente quanto ao tipo de cimento, mas sim, quanto à finura que regulará os
níveis de retracção por secagem. A retracção nas primeiras 24 horas é controlada pela
retenção de água que, por sua vez é proporcional ao teor de finos. Mas, em idades maiores, a
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
40
retracção aumenta como teor de finos. De modo a contornar o problema, costuma-se adicionar
aditivo incorporador de ar às argamassas de cimento, excepção feita à de chapisco. Outra
alternativa é a de adicionar-se cal hidratada que aumenta o teor de finos, melhorando a
retenção de água e a trabalhabilidade do conjunto.
Podem empregar-se um conjunto de produtos diferentes como cimentos compostos (tipo II),
cimentos brancos, cimentos refractários, cais aéreas hidratadas e cais hidráulicas; mas todos
têm em comum, um processamento de cozedura que lhe dá as características de produzirem
com a água uma pasta que irá endurecendo progressivamente.
IV.2.1.3 - Adições
São produtos que em algumas situações se poderão adicionar durante a confecção das
argamassas, em percentagens superiores a 5% da dosagem de ligante. São normalmente de
natureza pulverulenta, destinados a melhorar desempenhos e poderão distinguir-se entre
pozolânicas (cinzas, pozolanas naturais e sílicas de fumo), hidráulicas (escórias de alto-forno),
corantes (diversos óxidos), polímeros (epoxis) e fibras (de vidro não reactivas, ou de
polipropileno).
IV.2.1.4 - Adjuvantes
Tal como as adições, são igualmente produtos que se poderão adicionar às argamassas, mas
em percentagens inferiores a 5% da dosagem de ligante, que servirão também para melhorar o
desempenho destas, corrigindo situações menos boas, nos domínios da impermeabilização, da
plasticidade, da resistência ao gelo, na alteração da velocidade de presa ou de endurecimento,
ou na retenção da água [1, 3, 10, 12].
IV.2.2 - Causas decorrentes do traço da argamassa
Observa-se fissuração e descolamento quando a argamassa é excessivamente rica em cimento
(proporção), condição agravada quando aplicada em espessura maior do que 2 cm.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
41
Fig.28 – Deslocamento do revestimento por eventual argamassa bastante rica em cimento
IV.2.3 - Causas decorrentes do modo de aplicação do revestimento
Independentemente do número de camadas de argamassas aplicadas, ou da qualidade dos
materiais empregues, é essencial que existam condições de aderência do revestimento à base.
A aderência dá-se pela penetração da nata do aglomerante nos poros da base e subsequente
endurecimento. Consequentemente, vai depender da textura e da capacidade de absorção da
base, bem como da homogeneidade dessas propriedades. Assim, pode apresentar problema de
aderência, uma camada de revestimento aplicada sobre outra impregnada de um produto
orgânico, o qual impede a penetração da nata do aglomerante. Cita-se como exemplo, uma
superfície de betão impregnada por descofrante ou uma camada de chapisco contendo um
produto hidrófogo.
Outra causa a ser citada é a ausência de rugosidade da camada de base. O revestimento
mantém-se aderente apenas nas regiões correspondentes às juntas de assentamento [1, 3, 10,
12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
42
Fig. 29 – Destacamento por má qualidade das argamassas [4]
Quadro 1 – Danos do revestimento – manifestações, aspectos, causas prováveis e reparações [10]
Manifest
ação
Aspectos observados Causas prováveis
actuando com ou sem
simultaneidade
Reparações
Eflorescê
ncias
Manchas de humidade
Humidade constante
Eliminação da infiltração
de humidade
Pó branco acumulado
sobre a superfície
Sais solúveis presentes no
elemento da alvenaria
Sais solúveis presentes na
água de amassadura ou
humidade infiltrada
Escovamento da superfície
Reparo do revestimento
quando pulverulento
Bolor Manchas esverdeadas
ou escuras
Humidade constante
Área não exposta ao sol
Eliminação da infiltração
da humidade
Revestimento em
desagregação
Reparo do revestimento
quando pulverulento
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
43
Vesículas Empolamento da
pintura, apresentando-
se as partes internas
das empolas na:
Cor
branca
Cor
preta
Cor
vermelho acastanhada
Bolhas contendo
humidade no interior
Hidratação retardada de
óxido de cálcio da cal
Presença de pirite ou de
matéria orgânica na areia
Presença de
concentrações
ferruginosas na areia
Aplicação prematura de
tinta impermeável
Renovação da camada de
reboco
Eliminação da infiltração
da humidade
Deslocam
ento com
Empolam
ento
A superfície do reboco
descola do emboço
formando bolhas, cujos
diâmetros aumentam
progressivamente
0 reboco apresenta
som oco sob percussão
Infiltração de humidade
Hidratação retardada do
óxido de magnésio da cal
Renovação da pintura
Renovação da camada de
reboco
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
44
Descolam
ento em
Placas
A placa apresenta-se
endurecida quebrando
com dificuldade
Sob percussão o
revestimento apresenta
som oco
A superfície de contacto
com a camada inferior
apresenta placas
frequentes de mica
Argamassa muito rica
Argamassa aplicada em
camada muito espessa
A superfície da base é
muito lisa
A superfície da base está
impregnada com
Renovação do
revestimento, reparação
mostra-se muito difícil
Picar a base (textura)
Eliminação da base
hidrófuga
A placa apresenta-se
endurecida mas
quebradiça,
desagregando-se com
facilidade.
Sob percussão o
Ausência da camada de
chapisco
Renovação do
revestimento
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
45
Descolam
ento com
Pulverulê
ncia
A película de tinta
descola arrastando o
reboco que se
desagrega com
facilidade
0 reboco apresenta
Excesso de finos no
agregado
Traço pobre em
aglomerantes
Traço excessivamente
rico em cal
Renovação da camada de
reboco
Fissuras
Horizonta
is
Apresenta-se ao longo
de toda a parede
Deslocamento do
revestimento em
placas, com som oco
sob percussão
Expansão da argamassa
de assentamento por
hidratação da cal
Expansão da argamassa
de assentamento por
reacção cimento sulfatos
ou devido à presença de
argilo-minerais
i d
Renovação do
revestimento após
hidratação completa da cal
da argamassa de
assentamento
A solução a adoptar é
função da intensidade da
reacção expansiva
Fissuras
Mapeada
s
As fissuras têm forma
variada e distribuem-se
por toda a superfície
Retracção da argamassa
de base
Renovação do
revestimento Renovação da
pintura
IV.2.4 - Medidas preventivas
Para além das soluções de reparação propostas no quadro 1, à que ter atenção aos seguintes
aspectos que, de seguida, se referem.
Como medidas preventivas na fase de concepção / construção poder-se-ão destacar as
seguintes [1, 3, 12]:
! Limpeza eficiente do suporte, devendo os paramentos ser convenientemente lavados
antes da aplicação;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
46
! Cura do revestimento, no caso da argamassa ser aplicada em tempo quente e seco, o
processo de cura deverá consistir na humidificação homogénea das superfícies durante
as 72 horas seguintes à execução, por forma a evitar – se a desidratação.
A prevenção dos problemas de revestimento pode ser feita em duas frentes [1, 3, 12]:
! Dos conceitos básicos sobre argamassa – preparação e aplicação e os seus materiais
constituintes
! Certificação de qualidade dos materiais, auxiliar no julgamento da responsabilidade do
dano observado, isto é, se do fabricante, pela má qualidade do produto, se do
construtor, pela utilização dos materiais escolhidos.
IV.2.4 - Medidas Correctivas
As apresentadas no quadro 1.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
47
CAPÌTULO V – FISSURAÇÃO EM EDIFICAÇÕES
V.1 - Introdução
Dentre os inúmeros problemas patológicos que atingem as edificações, parece-nos
particularmente importante o problema da fissuração, devido a três aspectos fundamentais:
! O aviso de um eventual estado perigoso;
! O comprometimento da durabilidade da obra;
! O constrangimento psicológico a que são submetidos os utentes do edifício, por razões
de medo ou simplesmente aborrecidos por terem de conviver com uma anomalia.
"Aos olhos dos leigos em construção, a fissura constitui um defeito cujo responsável é o
arquitecto, o engenheiro, o empreiteiro ou fabricante do material. Entretanto, desde as origens
da construção, as fissuras sempre existiram, pois elas são consequências de fenómenos
naturais". Essa tese do arquitecto francês “Charles Rambert”, procura explicar de maneira
relativamente simples a origem do defeito: se considerarmos que os ditos fenómenos naturais
são dados irrefutáveis do problema, a antítese nos parece mais verdadeira [3, 10, 12].
V.2 - Fissuração provocada por variação de temperatura dos materiais ou
elementos de construção
Os elementos e componentes de uma construção estão sujeitos a variações de temperatura,
sazonais e diárias, que provocam a variação dimensional dos materiais de construção
(dilatação ou contracção). Segundo a fórmula:
! l = " * !t *l
! ! l= variação de comprimento
! " = coeficiente de dilatação térmica linear
! !t = variação de temperatura
! l = comprimento inicial.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
48
Esses movimentos de dilatação e contracção são restringidos pelas diversas ligações que
envolvem os elementos e componentes, desenvolvendo-se nos materiais, por este motivo,
tensões que poderão provocar o aparecimento de fissuras.
As dilatações térmicas de um material, estão relacionadas com as propriedades físicas do
mesmo e com a intensidade da variação da temperatura. A magnitude das tensões
desenvolvidas é função da intensidade da dilatação ou contracção do material, do grau de
restrição imposto pelas ligações ao movimento e da capacidade de deformação do material.
As fissuras de origem térmica, podem também surgir por dilatações diferenciais entre
materiais distintos de um componente, entre componentes distintos e entre regiões distintas de
um mesmo material.
Fig. 30 - Empolamento resultante de dilatações térmicas por ausência de juntas [12]
Considerando-se o caso mais comum das edificações residenciais e comerciais, a principal
fonte de calor que actua sobre seus componentes é o sol. A amplitude e a taxa de variação de
temperatura de um componente exposto ao sol irão depender, além da intensidade da radiação
(directa e difusa), das seguintes propriedades do material e/ou da sua superfície:
! Absorção;
! Emissão;
! Condutância térmica superficial;
! Calor especifico;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
49
! Massa específica;
! Coeficiente de condutibilidade térmica.
De forma prática, a temperatura da superfície do componente exposta a radiação solar pode
ser estimada a partir da temperatura do ar e da cor desta superfície, podendo se analisar a
intensidade das movimentações em função dos limites extremos de temperatura a que estará
submetido o componente e em função do coeficiente de dilatação térmica linear do seu
material constituinte. As tensões desenvolvidas no material poderão ser estimadas com base
no seu módulo de deformação e nas condições de contorno do componente, podendo-se, de
maneira análoga, verificar o efeito de sua deformação sobre componentes vizinhos.
As lesões verificadas em obras, sob efeitos das movimentações diferenciadas, assumem
diversas configurações e diferentes intensidades:
! Destacamentos e entre panos de alvenaria e estrutura,
! Fissuras inclinadas em paredes devidas a movimentações diferentes entre pilares
expostos e pilares protegidos;
! Fissuras verticais regularmente espaçadas em muros longos;
! Fissuras horizontais em alvenaria resistente devida a movimentações térmicas da placa
de cobertura;
Esse último caso, ocorre mesmo em placa protegida por telhado, no caso da protecção térmica
fornecida a placa ser insuficiente e/ou onde não se tenha adoptado nenhum detalhe construtivo
especial na região de contacto entre placa e alvenaria fig. 31 à 35 [3, 10, 12].
Fig.31 - Fissura em parede causada pela movimentação térmica de laje de cobertura [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
50
Fig.32 - Fissuração entre a estrutura e a alvenaria, por questões térmicas, devido à má concepção e
pormenorização da cobertura [4]
Fig, 33 - Fissuração de paredes inseridas em estrutura reticulada de betão armado, devido a variações térmicas da
estrutura [10]
Fig. 34 - Fissuração de paredes divisórias devida ao movimento da laje de cobertura em terraço por efeito da
variação de temperatura [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
51
Fig. 35- Juntas móveis de apoio das lajes de cobertura na sua estrutura de suporte. Pormenores construtivos [10]
Um último aspecto que se pode ainda comentar a respeito de problemas oriundos de
dilatações térmicas é a fissuração ou mesmo ruptura de placas de vidro, com destaque especial
para três tipos de problemas [3, 12]:
! Colocação de placas com folga insuficiente – problema particularmente importante em
vidros com absorção sensivelmente maior que aquela verificada para o vidro comum
(é o caso, por exemplo, de alguns vidros translúcidos, dos vidros coloridos, dos vidros
termo absorventes e dos vidros térmo - reflectores);
! Alteração de absorção original do vidro – problema decorrente da diminuição de
transparência do vidro, por efeito da aplicação de pinturas ou filmes plásticos sobre
placas de vidro comum já instaladas (o vidro passa a absorver maior quantidade de
calor, o que repercute em maior dilatação, e a folga inicialmente adequada toma-se
insuficiente para acomodar as movimentações da placa);
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
52
! Sombreamento diferenciado – a fissura ocorre porque o sombreamento origina uma
diferença de temperatura entre as distintas regiões da placa, sendo esta diferença
significativa por ser o vidro. De forma geral, num mau condutor de calor, a fissura
origina-se a partir do bordo da placa de vidro, região particularmente susceptível à
actuação de tensões de tracção devido à presença de irregularidades provenientes da
operação de corte.
V.3 – Fissuras Provocadas por Variações do Teor de Humidade dos
Materiais de Construção
As alterações de humidade dos materiais porosos provocam variações dimensionais nos
elementos e componentes da construção. O aumento da humidade repercute-se numa
expansão e a diminuição da humidade numa retracção do material.
As fissuras de retracção são quase sempre verticais ou pouco inclinadas em relação à vertical,
apresentando traçado descontínuo e sendo de largura reduzida (raramente ultrapassando os 0,2
mm. ou 0,3 mm.).
Fig. 36 – Fissuração entre a alvenaria e estrutura, provocado pela contracção da alvenaria devido à variação da
humidade dos materiais
Aparecem em geral durante o primeiro verão que se segue à conclusão da execução das
alvenarias.
O mecanismo de formação das fissuras por variação do teor de humidade, é idêntico ao
analisado para as movimentações provocadas por variações térmicas.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
53
As variações no teor de humidade provocam movimentações de dois tipos: irreversíveis e
reversíveis.
As movimentações irreversíveis, são aquelas que ocorrem geralmente logo após a fabricação
do material e originam-se da perda ou ganho de água até que se atinja a humidade
higroscópica de equilíbrio.
As movimentações reversíveis ocorrem por variações do teor de humidade do material ao
longo do tempo, ficando delimitadas a um certo intervalo, mesmo no caso de se secar ou se
saturar completamente o material.
Materiais cerâmicos normalmente apresentam pequenas movimentações reversíveis com as
variações de humidade e de temperatura. Em 1950, entretanto, pesquisas efectuadas na
Austrália e nos EUA mostraram que expansões irreversíveis de grande intensidade podem
ocorrer em tijolo cerâmico, por efeito do ganho de humidade.
Essas expansões começam a ocorrer imediatamente após a queima do produto e tendem a
estabilizar-se após longos períodos de tempo, dependendo fundamentalmente da natureza dos
argilo – minerais presentes na matéria-prima e das condições de queima do tijolo.
Para os materiais de construção que apresentam contracção inicial por secagem, de forma
geral, os movimentos irreversíveis são superiores aos reversíveis. Nos produtos à base de
cimento, uma relação água – cimento de aproximadamente 0,40 é suficiente para que ocorra a
hidratação completa do cimento, considerando-se que cerca de 22% a 32% de água seria
necessária para que se processasse a reacção química completa (estequeométrica) e que uma
quantidade adicional em torno de 15% a 25% seria necessária para formação do gel.
A reacção química entre o cimento e a água ocorrem com redução de volume, devido a
grandes forças interiores de coesão, a água combinada quimicamente sofre uma contracção de
cerca 25% do seu volume (esta é a chamada retracção química). Quantidades de água
adicionais aos produtos à base de cimento, e que excedam os 40% mencionados, permanecem
livres no interior da massa, evaporando-se posteriormente provocando o fenómeno conhecido
da retracção fig. 37 [3, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
54
Fig, 37-Fissuraçâo de paredes de alvenaria devido a variação de humidade [10].
V.4 – Fissuras provocadas pela actuação da sobrecarga
A actuação de sobrecargas, previstas ou não em projecto, pode produzir a fissuração de
componentes de betão armado sem que isto implique, necessariamente, ruptura ou
instabilidade do componente.
A ocorrência de fissuras num determinado componente de betão armado provoca uma
redistribuição de tensões ao longo do componente fissurado e mesmo nos componentes
vizinhos, de maneira que a solicitação acaba sendo absorvida de forma globalizada pela
estrutura ou parte dela. Obviamente que este raciocínio não pode ser estendido
indiscriminadamente, já que existem casos em que é limitada a possibilidade de redistribuição
das tensões, seja pelo critério de dimensionamento da peça, seja pela magnitude das tensões
desenvolvidas ou mesmo pelo próprio comportamento, conjunto do sistema estrutural
adoptado.
Para os casos comuns de estrutura de betão armado, os componentes flectidos são em geral
dimensionados prevendo-se a fissuração do betão em regiões tracionadas, procurando-se
somente limitar esta fissuração em função de requisitos estéticos e/ou em função da
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
55
deformabilidade e da durabilidade da estrutura, principalmente no que se refere ao perigo de
ocorrência de corrosão das armaduras.
Levando em conta as tensões de serviço, os módulos de deformação longitudinal do aço e do
betão, o coeficiente de deformação superficial da armadura e diversas outras características
geométricas (diâmetro das barras tracionadas, recobrimento da armadura, taxa geométrica da
armadura, etc.), foram desenvolvidas diversas teorias com a finalidade de prever-se o
espaçamento médio entre fissuras e suas aberturas mais prováveis em componentes de betão
armado submetido a flexão ou tracção pura.
Essas formulações teóricas, associadas a coeficientes empiricamente determinados e factores
probabilísticos, conduzem a estimativa bastante precisas do nível de fissuração das peças.
As fissuras que ocorrem numa viga flectida são praticamente verticais no terço médio do vão,
e apresentam aberturas gradativamente maiores em direcção a face inferior da viga, onde se
encontram as fibras mais tracionadas. Junto aos apoios, as fissuras inclinam-se
aproximadamente a 45 graus, conforme representado na fig. 38, devido à influência dos
esforços cortantes. Nas vigas altas esta inclinação tende a ser da ordem de 60 graus. Nas vigas
deficientemente armadas contra o esforço de corte, manifestam-se fissuras inclinadas junto
aos apoios, conforme ilustrado pela fig. 39, podendo ou não ocorrer as fissuras de flexão no
meio do vão.
Fig. 38 - Fissuração típica de viga isostática sub-armada, solicitada à flexão [10]
Um tipo característico de fissuramento de vigas em betão armado, é aquele resultante da
torção da viga, provocada por excessiva deformabilidade de lajes ou vigas que lhes são
transversais, por recalques diferenciados das fundações ou mesmo pela acção de sobrecargas
como aquelas transmitidas por marquises. Neste caso, as fissuras inclinam-se a
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
56
aproximadamente 45 graus e aparecem nas duas superfícies laterais da viga segundo rectas
reversas; conforme indicado na fig. 40.
Fig. 39 - Fissura de esforço de corte em viga alta de betão armado, com provável entrada de água de chuva para
o interior da edificação [1]
Fig, 40-Fissuração típica em viga de betão armado devido a esforços de torção [10]
A manifestação de fissuras em pilares de betão armado é um facto bastante raro, já que as
tensões instaladas nesses componentes são, em geral, bastante inferiores às tensões últimas.
Em função de eventual sub-dimensionamento da armadura, falhas de betonagem, desaprumos
excessivos ou mesmo por movimentações acentuadas do vigamento (deflexões e/ou
dilatações), podem surgir nos pilares algumas fissuras características, conforme indicados na
fig. 11 [3, 10, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
57
Fig. 41 - Fissuras típicas em pilares de betão armado [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
58
CAP VI - HUMIDADES
VI.1 - Introdução
Os problemas de humidade que tantos afectam os edifícios, nas suas variadas formas de
manifestação, constituem umas das acções mais gravosas e correntes nos nossos dias.
Estes problemas originam condições de insalubridade significativas para os residentes,
contribuindo também para uma acelerada deterioração dos materiais.
O conhecimento das formas de manifestação destas patologias, é um dado importante para a
elaborações de diagnósticos, que permitam identificar as respectivas causas no sentido de
propor soluções para a sua reparação.
No sentido de facilitar a exposição dividimos os vários tipos de manifestações da humidade
em cinco grupos:
! Humidade de construção;
! Humidade do solo;
! Humidade devida a fenómenos de higroscopicidade;
! Humidade de condensação;
! Humidade de precipitação;
! Humidade devido a causas fortuitas.
VI.2 - Formas de manifestação da humidade
VI.2.1 - Humidade de construção
VI.2.1.1 - Origem e formas de manifestação
A maioria dos materiais empregues na construção de edifícios ou em acções de reparação
necessitam de água para a sua confecção, como por exemplo as argamassas e os betões, ou
para a sua colocação, como é o caso dos tijolos na execução de alvenarias. As quantidades de
água introduzidas por essa via são, duma forma geral, importantes e muitas vezes
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
59
menosprezadas. Por outro lado, os materiais e os edifícios ainda em fase de construção estão
sujeitos à acção directa da chuva, o que aumenta ainda mais o respectivo teor de água. Assim
um edifício pode no curso da construção vir a acumular um número significativo de litros de
água em excesso.
Alguma desta água evapora rapidamente, mas uma quantidade substancial demora bastante
tempo a fazê-lo. O processo de secagem de materiais porosos, tais como os tijolos ou o betão,
decorre normalmente em três fases distintas.
A primeira consiste na evaporação da água superficial dos materiais, ocorrendo normalmente
de uma forma bastante rápida
A segunda dá-se pela evaporação da água existente nos poros de maiores dimensões dos
materiais, sendo este um processo mais demorado na medida em que a água que está contida
no interior dos materiais tem de atravessar os poros sob a forma líquida ou de vapor até atingir
a superfície.
A terceira dá-se pela evaporação da água existente nos poros de menores dimensões, sendo
este processo extremamente lento, decorrendo muitas vezes ao longo de vários anos.
A humidade de construção pode dar origem à ocorrência de anomalias generalizadas ou
localizadas, devidas quer à evaporação da água existente, quer ao simples facto de os
materiais terem um teor de água superior ao normal. No primeiro caso água ao evaporar-se
pode provocar expansões ou destaques de alguns materiais ou em virtude de fazer diminuir a
temperatura superficial dos materiais, dar origem à ocorrência de condensações. No segundo
caso podem ocorrer manchas de humidade ou condensações, estas últimas motivadas pelo
facto da condutibilidade térmica dos materiais variar em função do respectivo teor de água.
Duma forma geral as anomalias devidas a este tipo de humidades cessam ao fim dum período
mais ou menos curto, o qual é função das características e do tipo de utilização do edifício em
causa e da região climática em que se insere [3, 5, 9, 12].
VI.2.1.2 - Medidas preventivas
O dado essencial para um diagnóstico de humidade de construção é o conhecimento da data
em que as obras de construção ou de reparação tiveram lugar. Intervalos de tempo inferiores a
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
60
l ou 2 anos indicam que se pode estar em face de uma manifestação deste tipo de humidades,
o que por si só não significa que não possam ocorrer outras anomalias provocadas ou não por
aquela causa.
As zonas de humedecimento atingem, em geral, toda a superfície das paredes, quer exteriores
quer interiores, decrescendo ao longo do tempo mais rapidamente nas primeiras do que nas
segundas.
Torna-se difícil fixar um padrão de variação dos teores de água das paredes para este tipo de
manifestações, na medida em que ele vai variando ao longo do tempo.
Em países com um clima ameno, como é o caso de Portugal, as anomalias devidas a
humidade de construção não são muito frequentes, se tiverem sido tomadas as precauções
mínimas que é corrente serem observadas na construção de qualquer edificação [3, 5, 9, 12].
VI.2.1.3 – Medidas correctivas
A humidade de construção é, por definição, um fenómeno limitado no tempo. As soluções de
reparação a utilizar em casos deste tipo devem ser orientadas no sentido de criar de condições
ambientes que favoreçam a secagem das paredes, na tentativa de remover a água em excesso
que ocorreu durante o processo construtivo.
As reparações a efectuar nos elementos afectados pelas manifestações de humidade de
construção, só devem ser executadas após se ter procedido à secagem completa das paredes.
Assim, as medidas a tomar para facilitar a evaporação da água em excesso dos materiais
devem ter sempre como objectivo garantir que a humidade relativa do ar em contacto com a
parede seja o mais baixa possível. Este objectivo pode ser alcançado através das seguintes
medidas:
! Reforço da ventilação dos ambientes – este é o método mais eficaz e mais económico
de secagem de paredes. A simples abertura de janelas, de forma a criar correntes de ar,
permite que ar relativamente seco esteja permanentemente em contacto com as
paredes humedecidas, favorecendo-se desta forma o processo de secagem.
Naturalmente, este tipo de procedimento só é exequível em condições climáticas
favoráveis, designadamente no que se refere ao binómio humidade
relativa/temperatura do ar exterior;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
61
! Aumento da temperatura do ar – Como é sabido, o aumento de temperatura do ar
provoca a diminuição da respectiva humidade relativa. Este facto pode ser aproveitado
para, em conjunto com o reforço de ventilação referido anteriormente, melhorar as
condições de secagem de paredes húmidas.
! Assim poder-se-ão utilizar aquecedores destinados a aumentarem a temperatura do ar
ambiente, em especial quando o diferencial das temperaturas interior e exterior for
baixo;
! É importante, no entanto, ter em conta que o aquecimento dos locais só deve ser
efectuado em conjugação com uma ventilação eficiente. Por outro lado, a utilização de
aparelhos de gás butano para aquecimento ambiente é totalmente contra-indicada, na
medida em que a combustão daquele gás, provoca a libertação de quantidades
apreciáveis de vapor de água, as quais conduzem a um acréscimo da humidade relativa
do ar, contribuindo de uma forma negativa para os objectivos cm causa;
! Diminuição da humidade relativa do ar – A diminuição da humidade relativa do ar
pode ser forçada através da utilização de desumidificadores que retiram água do ar. A
utilização destes equipamentos só tem sentido se se mantiverem todas as janelas
fechadas, sendo a sua eficácia aumentada em termos de secagem das paredes se forem
aplicados em conjunto com aquecedores.
A abertura das portas de comunicação entre os vários compartimentos que se pretendam
secar, mantendo todas as outras fechadas, permite que se estabeleça um equilíbrio que torna
desnecessário mover os equipamentos para os vários locais afectados [3, 5, 9, 12].
Fig.42 - Descolamento da pintura do pavimento em armazém – pintura executada antes da secagem total do
betão (higróscopicidade do betão).
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
62
Fig.43 - Efeito da humidade da floreira sobre a pintura -tanto a película como a argamassa acham-se
pulverulentas e em desagregação.
VI.2.2 – Humidade do solo
VI.2.2.1 – Origem e formas de manifestação
Nas paredes dos pisos térreos e paredes de caves não protegidas, a humidade existente no solo
tende a penetrar pela parte inferior das fundações e pelos paramentos em contacto com o solo,
quer horizontalmente, quer ascendendo por capilaridade, vindo posteriormente a manifestar-se
na parte não enterrada da alvenaria fig. 44.
Assim na ausência de barreiras de protecção, as migrações de humidade verificam-se nas
seguintes condições:
! Existência de zonas de parede em contacto com a água do solo;
! Constituição das paredes com materiais de elevada capilaridade;
! Inexistência ou deficiente posicionamento de barreiras estanques nas paredes.
A ascensão da água nas paredes é função da porometria dos materiais, da quantidade de água
em contacto com a parede e das condições de evaporação de água nos materiais.
A espessura das paredes é directamente proporcional à altura de água atingida pela humidade
Os sais existentes no terreno e nos materiais de construção, após terem sido dissolvidos pela
água são transportados através da parede através do fenómeno de capilaridade. Quando a água
que atingiu as superfícies das paredes se evapora, os sais cristalizam e ficam aí depositados,
provocando a colmatação dos poros e consequentemente uma redução da permeabilidade dos
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
63
materiais ao vapor de água, dando origem a que o nível atingido pela ascensão capilar possa
ainda aumentar. Os sais depositados nas superfícies propiciam, por outro lado, a ocorrência de
fenómenos de higroscopicidade, fenómenos estes que perduram mesmo após terem sido
resolvidos os problemas devidos à ascensão de água nas paredes.
Fig.44 – Camadas de impermeabilização [10]
Quando a cristalização dos sais ocorre sobre a superfície da parede, este fenómeno dá origem
à formação de eflorescências, quando a deposição dos sais e respectiva cristalização ocorre
sob os revestimentos de parede, dá origem a criptoflorescências.
A água pode existir no solo em zonas bem localizadas, variando, de acordo com a origem, as
manifestações de humidade nas paredes, constatando-se que existem basicamente dois tipos
de fontes de alimentação de água às paredes, as quais correspondem diferentes
sintomatologias e reparações: águas superficiais e águas freáticas.
A água superficial é frequentemente devida a uma recolha defeituosa da água das chuvas e a
ruptura de canalizações de águas e esgotos.
Na água freática, a humidade do solo aparece em paredes inferiores dos edifícios, não subindo
normalmente a mais de 2m acima do solo, em geral, mas podendo atingir valores
significativamente superiores.
No quadro 2 apresenta-se um resumo que permite diagnosticar a origem da humidade do solo,
conhecidos os seus principais efeitos [3, 5, 9, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
64
Fig. 45 - Mecanismo de formação de eflorescências e criptoflorescências [5].
Fig. 46 - Humidade ascendente de águas freáticas em paredes interiores [4]
Fig. 47 - Humidade ascendente de águas superficiais numa parede exterior. A “linha” é aqui perfeitamente
visível [4]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
65
Quadro 2 – Características da humidade nas paredes devida à água superficial e à água freática
Água Superficial Água Freática
1) As manifestações são importantes e,
em geral, muito localizadas.
2) As construções afectadas são em
número restrito.
l)As manifestações aparecem
uniformemente em todas as paredes em
contacto com o solo, a menos que sejam
constituídas por materiais diferentes.
2) 0 Nível máximo é atingido para
orientações isoladas (norte).
3) As construções afectadas são em largo
VI.2.2.2 - Medidas preventivas
As grandes dificuldades de ordem técnica e económica, que se põem na reparação de
construções afectadas por humidades do solo, justificam plenamente que se tomem nas fases
de projecto e execução, as medidas preventivas necessárias para suprimir ou minimizar essas
anomalias.
Sem a preocupação de ser exaustivo, indicam-se os princípios gerais a seguir:
! Procurar não construir em terrenos alagados;
! Drenar as águas afastando-as das fundações;
! Interposição de revestimentos estanques horizontais e verticais;
! Utilização de materiais densos e poucos permeáveis nos elementos de construção em
contacto com o solo;
! Execução de valas em caves situadas abaixo do nível freático;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
66
A medida preventiva mais eficaz consiste em realizar e manter uma drenagem conveniente no
solo de fundação, técnica que nem sempre se revela satisfatória ou viável, tornando-se então
necessário recorrer a outras soluções fig.48.
Fig. 48 - Sistema de drenagem com seixo rolado ou brita [10].
A realização de juntas de construção ou dilatação deve ser muito cuidada, pois verifica-se
frequentemente pontos de má vedação nas zonas enterradas.
Quando se apliquem revestimentos estanques, é essencial a sua ligação mútua de forma a
eliminar quaisquer pontos de infiltração de humidade [3, 5, 9, 12].
VI.2.2.3 – Medidas correctivas
Se a origem da humidade é acidental, como acontece na maioria das manifestações devidas a
águas superficiais, a solução mais eficiente será reparar a avaria, tratando-se em geral de
reparações elementares exigindo, alguma atenção.
Para o tratamento das paredes em elevação afectadas por água freática, além da drenagem do
terreno, podem empregar-se varias técnicas, umas realizando ou favorecendo a secagem, e
outras impedindo o acesso de humidades as paredes.
Entre as primeiras destacam-se as seguintes:
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
67
! Execução de simples furos de arejamento dispostos em quincôncio e inclinados de 20
a 30 graus com horizontal. O ar seco que entra no orifício carrega-se de humidade,
torna-se mais denso e escoa-se para o exterior ao longo da face inferior do furo. Este
sistema, inventado por Knapen e largamente difundido, é apesar disso muito criticado
por alguns estudiosos.
! Electro-osmose, método este que por meio duma diferença de potencial criada entre
eléctrodos inseridos na parede húmida e outros enterrados no solo, dá origem a uma
descida de água na parede. Este processo, baseia-se na inversão da tensão, que é
naturalmente criada entre o terreno e a parede quando da humidificação desta.
Fig. 49 – Princípio de funcionamento dos drenos atmosféricos (ou de Knapen) e dreno em material plástico
utilizado actualmente (dreno Speedy) [5].
Fig. 50 – Esquema geral do funcionamento do processo electro – osmótico [5]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
68
O acesso de humidade do solo pode ser contrariado por várias técnicas, entre as quais:
! Inserção de membranas impermeabilizantes em fendas horizontais abertas na parte
inferior das paredes. Os materiais usados são diversos: feltros betuminosos, chumbo,
cobre, polietileno, resinas de poliéster, etc.
! Injecção de produtos impermeabilizantes numa fiada de orifícios abertos na parede.
Além das técnicas acabadas de enumerar existem outras, não sendo ainda de excluir
combinações de diferentes processos.
Quadro 3 – Soluções para correcção de anomalias [4].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
69
! ++ eficiente
! + eficiência variável
! ± eficiência duvidosa
! - ineficiente
Tendo em conta o grande número de soluções, apresenta-se o quadro 3, onde é possível
visualizar de uma forma sucinta a eficiência das várias soluções, na correcção das anomalias
devido á ascensão da água nas paredes provenientes do lençol freático ou das águas
superficiais [3, 5, 9, 12].
VI.2.3 - Humidade devida a fenómenos de higroscopicidade
VI.2.3.1 - Origem e formas de manifestação
Um grande número de materiais de construção apresenta na sua constituição sais solúveis em
água, assim como nos solos, especialmente em locais ricos em matérias orgânicas.
A existência de sais no interior das paredes não é, em circunstâncias correntes,
particularmente gravosa, no entanto, se as paredes forem humedecidas os sais dissolvidos
acompanharão as migrações da água até às superfícies onde cristalizarão designadamente sob
a forma de eflorescências e criptoflorescências.
Alguns destes sais são higroscópicos, isto é, têm a propriedade de absorverem humidade do ar
dissolvendo-se, quando a humidade relativa está acima de 65-75%, voltando a cristalizar
proporcionando um aumento significativo de volume quando a humidade relativa baixa
daqueles valores. Como se sabe as condições ambientes dum determinado espaço podem
variar bastante e várias vezes ao longo do dia, propiciando a ocorrência de diversos ciclos de
dissolução-cristalização dos sais.
Por vexes pode-se ser levado a pensar que as degradações devidas aos sais solúveis são
consequência de elevados da humidade relativa. Esta ideia não é de forma alguma válida, na
medida em que não é a humidade relativa baixa ou elevada que provoca os danos, mas sim a
sequência de ciclos de variação acima e abaixo dum valor crítico da ordem dos 65-75% que
provoca as destrutivas sequências dissolução/cristalização.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
70
Estes sais são susceptíveis de provocarem não só o humedecimento das superfícies sobre as
quais se encontrem mas também darem origem anomalias de grande significado, resultantes
dos aumentos de volume que acompanham a sua cristalização, em consequência da sucessão
de ciclos dissolução – cristalização.
Os sais solúveis que normalmente se encontram associados à ocorrência deste tipo de
manifestações patológicas são os sulfatos, os carbonatos, os cloretos, os nitritos e os nitratos,
dos quais os dois primeiros não são higroscópicos.
As anomalias devidas a fenómenos de higroscopicidade são caracterizadas pelo aparecimento
de manchas de humidade em locais com fortes concentrações de sais, encontrando-se
associadas a degradação do revestimento das paredes.
Estas manifestações podem ocorrer durante lodo o ano, mesmo no Verão, em períodos em que
se verifica uma elevada humidade relativa do ar, e implicam em geral a existência de um
outro tipo de anomalia, que pode eventualmente já ter cessado, mas que no entanto tenha
criado as condições propicias para a realização do fenómeno.
È o caso por exemplo de um edifício em Lisboa que sofreu um incêndio, tendo sido extinto
com recurso a água salgada. Verificou-se que determinados paramentos de paredes e de tetos
duma dada zona se desagregavam continuamente, ao ponto de dificultarem uma utilização
normal dos espaços. O diagnóstico efectuado mostrou que a causa das anomalias era a
ocorrência de fenómenos de higroscopicidade, em virtude de os materiais apresentarem
elevadas concentrações de cloreto de sódio, proveniente da água utilizada no combate ao
incêndio.
Importa realçar a semelhança existente ao nível visual, entre este tipo de anomalias e as
resultantes de fenómenos de condensação superficial, o que é susceptível de criar algumas
dificuldades no processo de diagnóstico [3, 5, 9, 12].
VI.2.3.2 - Medidas preventivas
Neste caso as soluções passam por em manter a humidade relativa em valores elevados ou
baixos (fora do intervalo 65-75%), conforme for mais razoável e as condições o permitam.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
71
O controlo da humidade relativa do ar pode ser realizado através de dispositivos mecânicos de
humidificação ou desumidificação (conforme os casos), actuando quer sobre todo o espaço
disponível, quer apenas nas zonas junto às paredes afectadas [3, 5, 9, 12].
VI.2.3.3 – Medidas correctivas
As anomalias provocadas por humidade devida a fenómenos de higroscopicidade são de uma
forma geral as de mais difícil resolução, sempre que se pretenda preservar o aspecto das
superfícies em que elas ocorrem [3, 5, 9, 12].
Em termos gerais são quatro os tipos de soluções destinados a corrigir estas patologias,
passando-se a sua apresentação sumária.
VI.2.3.3.1 - Remoção dos sais higroscópicos
A remoção dos sais higroscópicos é um tipo de operação extremamente delicado, que se
efectua, em geral, apenas em paredes que apresentem um valor artístico.
Este tipo de operação, é efectuado utilizando compressas de algodão ou de papel absorvente,
embebido em água destilada colocado sobre as zonas afectadas. Por acção da humidade, os
sais vão sendo transferidos para as compressas, diminuindo dessa forma a sua concentração
nas zonas superficiais das paredes.
VI.2.3.3.2 - Substituição dos elementos afectados
Sempre que seja viável a substituição dos elementos afectados por outros novos, essa
operação constitui um tipo de intervenção bastante eficaz, desde que haja preocupação em
assegurar que os novos materiais, sejam impermeáveis ou de muito baixa permeabilidade ao
vapor de água e que não fiquem em contacto com as zonas afectadas das paredes existentes
VI.2.3.3.3 - Ocultação das anomalias
Trata-se de uma forma prática e económica de resolver este tipo de problemas.
A solução consiste quer na execução duma nova parede pelo interior, afastada alguns
centímetros da existente, quer na aplicação de revestimentos de parede especiais.
VI.2.3.3.4 - Controlo da humidade relativa do ar
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
72
Procede-se ao controlo da humidade relativa do ar em contacto com as zonas afectadas de
forma a que esta seja sempre inferior ou superior a 65-75%.Desta forma os sais higroscópicos
permanecerão respectivamente sempre cristalizados ou dissolvidos, não exercendo a sua
acção destrutiva devida à sucessão de fenómenos de dissolução/cristalização.
VI.2.4 - Humidade de condensação
VI.2.4.1 - Origem e formas de manifestação
O ar é constituído por uma mistura de gases e por vapor de água. A quantidade máxima de
vapor de água que o ar pode conter, designada limite de saturação, é limitada, variando na
razão directa da temperatura, isto é, aumentando ou diminuindo consoante a temperatura do ar
aumenta ou diminui, respectivamente.
Nas edificações em geral, as superfícies interiores dos componentes tendem a apresentar
temperaturas mais baixas que a temperatura do ambiente, especialmente nos períodos de
Inverno. Nessas condições, considerando a produção intensa de vapor nos ambientes (casa de
banho, cozinha, etc. fig. 51), facilmente são geradas situações em que ocorre o fenómeno de
condensação superficial nos componentes. Esse fenómeno, decorre do facto de existir no ar
uma quantidade de vapor de água igual ou superior, aquela que o ar poderia conter na
temperatura a qual se encontra. Tal quantidade de vapor é tanto mais alta quanto mais elevada
a temperatura do ar ambiente.
Fig. 51 - Causas do bolor em forro de casa de banho: excesso de vapor de água, material empregado no
revestimento, ventilação precária [10]
Toma-se portanto essencial proceder a uma correcta ventilação dos espaços de forma a
conduzir para o exterior o excesso de vapor de água, em particular naqueles em que não
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
73
existam dispositivos que executem essa função duma forma automática. A ventilação das
edificações é uma necessidade muitas vezes mal compreendida, em especial nas condições em
que é mais necessária, ou seja no período de Inverno.
Com efeito, causa alguma preocupação aos utentes dos espaços o permitir que o ar frio e por
vezes muito húmido do exterior, nalguns casos mesmo em condições de saturação, possa
penetrar nos espaços ocupados, por troca com o ar interior. Este receio é completamente
infundado. Na realidade, o ar frio e húmido do exterior é aquecido em contacto com o ar
interior, provocando esse acréscimo de temperatura uma consequente diminuição da sua
humidade relativa e, por extensão, da humidade relativa da massa de ar que preenche as
edificações.
Os sintomas associados aos fenómenos de condensação superficial manifestam-se através do
aparecimento de manchas de humidade e de bolores, generalizadas ou localizadas, nos
paramentos interiores das paredes. Se bem que na maioria dos casos as paredes afectadas
sejam as exteriores, designadamente em zonas de pontes térmicas, (paredes heterogéneas a
elementos estruturais, parapeitos, etc), estes fenómenos podem também ocorrer em paredes
interiores, como é o caso das situações muito correntes de anomalias nas paredes de
instalações sanitárias.
Fig. 52 - Formação de bolor, devido à condensação da humidade resultante da utilização de compartimento.
Provavelmente por razões de ventilação precária [4].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
74
Em resumo e em termos genéricos, a ocorrência de condensações superficiais em paredes
depende dos seguintes factores [3, 5, 9, 12]:
! Condições de ocupação, das quais depende a produção de vapor nas edificações;
! Ventilação dos locais;
! Isolamento térmico das paredes (que contactem com espaços mais frios);
! Temperatura ambiente interior.
VI.4.2.2 - Medidas preventivas
Como medida preventiva à não ocorrência de condensações é da maior importância
verificarem-se as seguintes condições:
! Melhoria do isolamento térmico
! Acréscimo da temperatura ambiente
! Melhoria da ventilação
Nota-se que a ventilação nestes casos tem dupla função:
! Remover total ou parcialmente o vapor de água gerado no ambiente (reduzindo assim
o risco da condensação superficial nas paredes, coberturas, etc.);
! Secar as superfícies molhadas devido à condensação do vapor de água não removido
para o exterior.
Nos casos em que a ventilação dos ambientes é precária, a película de água que se deposita na
superfície dos componentes pode gerar condições ao aparecimento de bolor. Paralelamente à
precariedade da ventilação, outras variáveis contribuem para que tal situação se agrave, como
por exemplo a apresentação de superfícies frias.
O resfriamento das paredes externas e coberturas se deve, particularmente, à baixa resistência
térmica das mesmas. Deve-se ressaltar, no entanto, que apesar de devidamente dimensionados
alguns componentes (principalmente paredes) podem apresentar um desempenho térmico
inadequado (temperaturas superficiais baixas) devido à presença de água no interior dos
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
75
mesmos. A resistência térmica dos componentes reduz-se consideravelmente em função de
água no mesmo. Essa água pode ser decorrente de infiltração e ou humidade remanescente da
fase de construção, quadro 4 [5, 10]
Quadro 4 – Variação da resistência térmica de parede em alvenaria de tijolo maciço em função da
humidade existente na parede [10]
Quantidade de humidade (% em peso seco
do componente)
Resistência térmica (m K/W)
0 0,35
9 0,22
10 0,21
11 0,21
12 0,20
13 0,20
14 0 19
16 0,18
Nestes casos, tem-se observado que a precariedade na ventilação é uma das responsáveis mais
significativas; especialmente se a edificação é ocupada por um grande número de pessoas.
Nessas situações, o volume de ar por pessoa é reduzido e a quantidade de vapor de água é
aumentada. Essa situação torna-se crítica nos períodos de frio, quando os usuários mantêm as
janelas totalmente fechadas.
O aumento da incidência dos problemas de humidade devido a condensação em apartamentos,
explica-se pela maior estanquicidade à água necessária para as janelas e, consequentemente
maior estanquicidade ao ar. Isto faz com que a ventilação dos ambientes seja precária pois,
geralmente, não é planeada. Para resolver o problema da infiltração de água da chuva cria-se
outro, o da condensação figs. 53 e 54.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
76
Fig. 53 -Algumas soluções de projectos dificultam a remoção imediata do vapor para o exterior, fazendo com
que as superfícies das paredes e tecto fiquem humedecidas, particularmente nos períodos de chuva, quando as
janelas são mantidas totalmente fechadas [10]
Fig. 54 - 0 alinhamento de portas e janelas pode dificultar circulação de ar pêlos ambientes facilitando o
aparecimento e proliferação de bolor [10]
VI.2.4.3 – Medidas correctivas
A ventilação dos ambientes, evacuando o ar interior húmido e substituindo-o por ar exterior
mais seco, constitui a medida mais importante no combate às condensações.
Nesse sentido as medidas a tomar para conseguir essa ventilação são [3, 5, 9, 12]:
! Execução de orifícios de ventilação nas fachadas, devidamente protegidas no interior
de modo a evitarem-se as correntes de ar incomodas;
! Montagem de janelas especiais providas de aberturas de ventilação;
! Montagem de sistemas de ventilação mecânica;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
77
! Aumento de isolamento térmico da parede por aplicação; no interior, de um
revestimento de agregados leves, placas isolantes, etc.
! Aplicação de revestimentos porosos que absorvem a humidade quando o ambiente está
saturado, perdendo-a posteriormente quando o ambiente se torna mais seco;
! Aplicação de revestimentos impermeáveis que, embora não impedindo as
condensações, põe o interior da parede ao abrigo da humidade;
! Desumidificadores, aparelhos que obrigam o ar a contactar com materiais que
absorvem parte da sua humidade.
VI.2.5 – Humidade de precipitação
VI.2.5.1 - Origem e formas de manifestação
A chuva, por si só, não constitui uma acção especialmente gravosa para as paredes de
edifícios, desde que a componente vento não lhe esteja associada.
No entanto no caso do vento lhe estar associado, origina que seja a principal fonte de
humidades de infiltração nas paredes exteriores dos edifícios.
A penetração da água da chuva nas paredes é um fenómeno normal que não apresenta
problemas se aqueles elementos tiverem sido concebidos para resistirem a este tipo de acções,
no entanto as situações de ocorrência de anomalias devidas a este tipo de fenómenos são
muito frequentes, em consequência de vários factores designadamente deficiências de
concepção, existência de fissuração, etc.
As anomalias, provocadas por esse tipo humidade, manifestam-se com particular interesse a
seguir a períodos de chuvas intensas, acompanhadas de vento forte fig. 55.
A humidade que se infiltra através das paredes exteriores de um edifício, pode causar os mais
sérios danos nos materiais e na sua eficiência construtiva. São características deste tipo de
humidade as eflorescências, criptoflorescências, ocorrência de bolores, manchas de humidade
e água visível, acompanhadas por vezes de difusão de humidade em círculos concêntricos,
que aparecem em paredes exteriores muito batidas pelas chuvas e pelo vento.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
78
Essas manchas tendem a desaparecer quando cessam os períodos de chuva, acabando por
desaparecerem quando o tempo se apresenta seco.
Os pontos de maior vulnerabilidade em que essas infiltrações são mais frequentes, são [3, 5, 9,
12]:
! As juntas de argamassa de assentamento das alvenarias de tijolo;
! As partes inferiores de paredes com revestimentos impermeáveis;
! As áreas desagregadas de rebocos exteriores fissurados ou fendidos;
! As ligações dos panos de alvenaria com elementos da estrutura e com caixilharia dos
vãos.
7mm DE PROJEÇÃO 13mm DE PROJEÇÃO
26mm DE PROJEÇÃO 39mm DE PROJEÇÃO
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
79
39mm DE PROJEÇÃO 39mm DE PROJEÇÃO
Fig. 55 - A geometria e dimensões das saliências introduzidas sobre as superfícies das fachadas vão determinar o
maior ou menor grau da dissipação dos fluxos de água da chuva que se forma na superfície [10]
A desagregação das alvenarias devida à congelação da água contida nos seus poros, pode
ainda agravar a infiltração da água da chuva através da mesma.
Fig. 56 - Desenvolvimento de bolor na região do contorno da janela devido a infiltração de água pela junção
caixilho/parede [4]
Fig.57 - Formação de bolor, película de pintura destruída - parede com infiltração de água da chuva pela
ausência de impermeabilização pelo lado exterior [4]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
80
VI.2.5.3 - Medidas preventivas
A protecção eficiente do paramento exterior das paredes e a pormenorização cuidadosa de
pontos especiais remates superiores e ligações às coberturas, ligações das alvenarias às
caixilharias, portas, juntas de dilatação, etc. são algumas das medidas preventivas para evitar
as infiltrações nas paredes, além da escolha de materiais adequados e a boa execução dos
trabalhos.
A impermeabilização é obtida normalmente por aplicação de materiais com componentes
betuminosos, que constitui uma barreira mecânica que se opõe à passagem da água através da
parede. Na hidrofugação, é evitada a infiltração da água por capilaridade, já que os produtos
aplicados recobrem as paredes dos poros dos materiais tomando-os não molháveis. Esta
técnica tem sobre a impermeabilização a vantagem de os produtos aplicados (principalmente
compostos à base de silicones) permitirem que a parede continue a respirar, visto que não se
tornam impermeável ao vapor.
As palas em betão ou metálicas que formam uma primeira protecção à incidência directa da
chuva nas paredes, são correntes no Norte do País onde as empenas são protegidas com
chapas onduladas de fibrocimento ou metálicas.
O uso de paredes duplas, desde que executadas com os cuidados indispensáveis, constitui a
solução mais eficiente para evitar a penetração da água da chuva no interior das construções
[3, 5, 9, 10].
VI.2.5.3 – Medidas correctivas
As deficiências de estanquicidade das paredes são devidas, em geral, a problemas
construtivos, motivados por erros de projecto ou de execução, à inexistência de operações
regulares de manutenção atingido o limite do seu tempo de vida útil, ou à inadequação entre a
sua constituição e o respectivo grau de exposição à acção da chuva incidente.
A correcção destas anomalias pode ser efectuadas através da implementação das seguintes
medidas correctivas:
! Aplicação de revestimentos de parede novos, após remoção dos existentes;
! Aplicação dum hidrófugo de superfície nos paramentos exteriores;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
81
! Aplicação dum revestimento exterior curativo com base em ligantes sintéticos;
! Aplicação dum revestimento exterior de elementos descontínuos.
Tratando-se de anomalias da superfície corrente da parede, as soluções a aplicarem não
deferirão muito das medidas preventivas indicadas anteriormente [3, 5, 9, 10].
VI.2.6 – Humidade devida a causas fortuitas
VI.2.6.1 - Origem e formas de manifestação
São diversas as situações de ocorrência de humidades devidas a causas fortuitas e torna-se
devido a este facto a sistematização de todas as causas possíveis. Duma forma geral
caracterizam-se pela sua natureza pontual, em termos espaciais, e decorrem de defeitos de
construção, falhas de equipamentos ou de erros humanos, quer activos como por exemplo os
acidentes, quer passivos como no caso de falta de manutenção.
De entre as causas mais frequentes deste tipo de anomalias, destacam-se as que decorrem de
roturas de canalizações, nomeadamente redes de distribuição de águas, águas pluviais e
esgotos ou devidas a infiltrações nas paredes de águas provenientes da cobertura, devidas a
entupimentos de caleiras, algerozes ou tubos de queda, a deficiências dos remates da
cobertura com as paredes emergentes ou, a deficiência no capeamento destas.
Fig. 58 - Infiltração de água da chuva devido a problemas na cobertura, danificando o revestimento e pondo risco
à instalação eléctrica
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
82
Fig. 59 - A drenagem de um tubo de queda feita directamente no solo é um dos motivos mais frequentes da
patologia [10].
Os sintomas associados aos fenómenos de humidade devida a causas fortuitas são,
naturalmente, muito variáveis, apresentando, contudo, em bom número de casos algumas
características típicas, das quais se destacam as seguintes [3, 5, 9, 10]
! Natureza localizada das anomalias;
! Associação com os períodos de precipitação em situações relacionadas com
infiltrações de água das chuvas e maior gravidade dos fenómenos em relação aos que
resultariam normalmente daquelas infiltrações;
! Carácter permanente e de grande gravidade em situações de rotura de canalizações,
eventualmente sazonal se estas forem de águas pluviais;
! Migração da humidade para locais afastados da origem das anomalias em situações em
que o débito de água propicie a actuação dos mecanismos da capilaridade.
VI.2.6.2 – Medidas preventivas
Como medidas preventivas poder-se-ão enumerar:
! Limpeza de algerozes e caleiras no início do Outono;
! Verificação do bom estado geral das redes de água, águas pluviais e saneamento;
! Trabalhos de manutenção periódicos;
! Verificação periódica de pontos singulares, susceptíveis de ocorrência de humidades.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
83
VI.2.6.3 – Medidas correctivas
O tipo de reparação a efectuar depende da causa que a origina, podendo esta ser bastante
variada. Assim, há que detectar primeiramente a causa para posteriormente sanar o problema.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
84
CAP VII - EFLORESCÊNCIAS
VII.1 - Introdução
Na ciência das edificações, o termo eflorescência significa a formação de depósitos salinos na
superfície de alvenarias como resultado da exposição a intempéries. O fenómeno, no entanto,
pode ocorrer em qualquer elemento da edificação. Normalmente, ela é considerada como um
dano, por alterar a aparência do elemento onde se deposita, assim como causar degradação
profunda no caso dos sais constituintes serem bastante agressivos.
A alteração do aspecto visual pode ser exuberante, principalmente em casos onde se verifica
contraste de cor entre o sal e a base sobre a qual se deposita, como por exemplo, a formação
de eflorescência branca sobre tijolo vermelho.
Fig. 60 - Escorrimentos de ao longo da parede [4].
Quimicamente, a eflorescência é constituída principalmente de sais de materiais alcalinos
(sódio e potássio) e alcalino-terrosos (cálcio e magnésio) solúveis ou parcialmente solúveis
em água. Pela acção da água da chuva ou da proveniente do solo, o elemento fica saturado e
estes sais são dissolvidos. A solução migra para a superfície e, por evaporação resulta na
formação de um depósito salino. No presente trabalho, a eflorescência é classificada de
acordo com o aspecto e forma de manifestação conforme quadro 5 [3, 10, 12].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
85
Quadro 5 – Tipos e Caratcerísticas das Eflurescências [10]
Aspectos e
características das
eflorescências
Locais de formação Causas prováveis
actuando com ou
sem simultaneidade
Reparações
Tipo 1
Pó branco
pulverulento, solúvel
em água
- em superfície de
alvenaria aparente
- em superfície de
alvenaria de
argamassa revestida
- em regiões
próximas a caixilhos
mal vedados
- em superfícies de
l d ilh â i
- sais solúveis
presentes nos
materiais : água de
amassadura,
agregados ou
aglomerados
- sais solúveis
presentes nos
materiais cerâmicos (
tijolos, ladrilhos ,
etc)
sais solúveis
- eliminação da fonte
de humidade
- aguardar a
eliminação dos sais
pela acção da chuva
em casos de
eflorescência em
superfície externa
- lavagem com água
dTipo 2
Depósito branco com
aspecto de
escorrimento, muito
aderente e pouco
solúvel em água, em
presença de ácido
apresentam
efervescência
-em superfície de
componentes
próximos a
elementos em
alvenaria e concreto
- em superfície de
argamassa ou
- carbonatação da cal
libertada na
hidratação do
cimento
- carbonatação da cal
não carbonatada
proveniente de
- eliminação da
percolação de água
- lavagem com
solução clorídrica
conforme indicado
anteriormente
- em caso de
depósito abundante,
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
86
TIPO 3
Deposito branco,
solúvel em água,
com efeito de
expansão
- entre fissuras de
juntas de alvenaria
- entre juntas de
argamassa e tijolos
- locais da alvenaria
- expansão devido à
hidratação do sulfato
de cálcio existente
no tijolo ou da
reacção tijolo -
cimento
- não realizar
reparos, esperar a
estabilização do
fenómeno
- reparo usando
cimento isento de
VII.2 - Factores que contribuem para a formação de eflorescências
A eflorescência é causada por três factores igualmente importantes:
! O teor de sais solúveis presentes nos materiais ou componentes;
! A presença de água;
! A pressão hidrostática para propiciar a migração da solução para a superfície.
Todas estas três condições devem existir e, se uma delas for eliminada, não ocorrerá o
fenómeno.
Além disso, existem factores externos que favorecem o fenómeno, tais como:
! A quantidade de solução que aflora, para os sais pouco solúveis, implicando que
quanto maior a quantidade de água, maior é a fracção solubilizada
! O aumento do tempo de contacto, o qual favorece a solubilização de maior teor de sais
! A elevação da temperatura, além de favorecer a solubilização dos sais, aumenta a
velocidade de evaporação da humidade absorvida pelo elemento de alvenaria. Os sais
dissolvidos podem tanto permanecer nos poros capilares como migrar para a sua
superfície;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
87
! A porosidade dos componentes (tijolos, blocos, ladrilhos, argamassas e betão),
permitindo a percolação da solução. Nem sempre a eflorescência é formada sobre o
componente que possui maior teor de sais solubilizáveis.
Por vezes devido a uma melhor capilaridade do componente vizinho, os sais tendem,
preferencialmente, a depositar-se sobre este último [3, 10, 12].
VII.3 - Tipos e características das eflorescências
VII.3.1 - Tipo 1
O tipo mais comum de eflorescências caracteriza-se por um depósito de sal branco,
pulverulento, muito solúvel em água. Pode apresentar-se bastante abundante, na forma de um
véu, aparecer em superfície de alvenaria aparente (tijolos cerâmicos) ou revestida com
argamassa, em juntas de assentamento, em regiões próximas a caixilhos mal vedados, em
ladrilhos cerâmicos e em juntas de ladrilhos cerâmicos esmaltados e azulejos.
Em geral, este tipo de eflorescência somente modifica o aspecto estético, não sendo
prejudicial à alvenaria. No entanto, se esta se acumular na interface alvenaria/pintura a
película de pintura poder-se-á descolar.
Fig. 61– Manifestação de eflorescências na base de uma parede [5]
Os sais neste caso são frequentemente sulfatos de sódio e de potássio e, com menor
incidência, sulfato de cálcio e de magnésio, carbonato de sódio e de potássio.
Esses sais podem ser provenientes de tijolos, de cimentos, da reacção química entre os
compostos do tijolo com o cimento, da água utilizada na amassadura dos agregados, das
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
88
substâncias contidas em solos contaminados por produtos químicos e da poluição atmosférica
[10].
VII.3.1.1 - Soluções de reparação
Se o problema da eflorescência aparecer em alvenaria externa de edificação recentes, a
maneira mais fácil é deixar que esta desapareça por si mesmo. Em primeiro lugar porque as
reacções ainda não se encontram terminadas, por outro lado, sendo os sais solúveis em água, a
eflorescência desaparece após um período mais ou menos prolongado, pela acção da chuva. A
eliminação mais rápida é realizada por remoção dos sais depositados na superfície da
alvenaria com uma escova de aço, seguida de lavagem com água abundante
A água deve penetrar na alvenaria dissolvendo os sais existentes. Deve-se repetir a operação
até eliminação total, podendo ser utilizado um sabão com poder tensoactivo que facilite a
penetração de água. No entanto, há casos de sabões à base de esteorato e oleastos de sódio que
podem até aumentar o teor de sais.
Como um último recurso, pode-se realizar a limpeza, com uma solução de ácido muriático
(ácido clorídrico técnico) a 10%. Inicialmente, deve-se saturar a alvenaria com água, a fim de
evitar uma penetração profunda do ácido; a seguir, lavar com água abundante. No caso de
penetração profunda pode haver aumento de eflorescência, pois o ácido clorídrico em
contacto com os álcalis dos componentes podem formar cloretos alcalinos, muito solúveis em
água. Este procedimento implica precauções quanto a protecção de elementos em áreas
próximas, executadas com pedra calcária, bem como a protecção das mãos e dos olhos [10]
VII.3.2 - Tipo.2
Um tipo menos comum de eflorescência, caracteriza-se por um depósito de cor branca com
aspecto de escorrimento, muito aderente e pouco solúvel em água que em contacto com ácido
clorídrico apresenta efervescência. Estes sais geralmente formam-se em regiões próximas a
elementos de betão ou sobre as suas superfícies e por vezes sobre superfícies de alvenaria.
Este sal é basicamente carbonato de cálcio.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
89
Fig. 62 – Eflorescências do “ tipo 2” [4]
Fig. 63 - Eflorescências “tipo 2”-por falta de tomada da junta entre as pedras, a água atinge o cimento cola,
reagindo com a cal criando um depósito de sal
Na hidratação do cimento há liberação de cal, esta, em presença da água proveniente de
chuvas ou de infiltração de humidade, dissolve-se e deposita-se na superfície das fachadas. Na
evaporação da água, em presença do anidrido carbónico do ar, esta cal transforma-se em
carbonato de cálcio, um composto pouco solúvel em água, sendo esta a reacção responsável
pela formação deste tipo de eflorescências.
Entretanto, há casos de utilização de argamassas mistas, isto é, de cimento e cal, onde existe
um elevado teor de cal não hidratada. Esta cal em contacto com água, também será dissolvida,
vindo a depositar-se sobre a superfície, carbonatando-se.
Estes casos, de modo geral, não produzem qualquer perigo à estabilidade da alvenaria. Os
depósitos brancos formados, apenas apresentam um efeito estético negativo e são difíceis de
serem eliminados [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
90
VII.3.2.1 - Soluções de reparação
Em caso de depósito abundante, o problema pode ser solucionado escovando-se a superfície
por processo mecânico, eliminando-se parte dos sais, de forma a facilitar-se a acção do
tratamento químico. Segue-se lavagem com solução de ácido muriático, conforme descrito
anteriormente.
Ás vezes é difícil eliminar totalmente o fenómeno, pelo que se deverá ter cuidados nas
aplicações frequentes de solução ácida com concentração muito elevada, podendo ser
prejudicial à durabilidade do componente [10].
VII.3.3 - Tipo 3
A eflorescência também pode -se manifestar com um depósito de sal branco entre juntas de
alvenaria aparente, que se apresentem fissuradas por efeito de expansão da argamassa de
assentamento. O fenómeno ocorre tanto em fachadas expostas à acção de chuva como nas não
expostas. A ocorrência deste tipo de eflorescência não é frequente entretanto, encontra-se
citada em literatura.
Este fenómeno ocorre em zonas abrigadas da chuva por efeito de fissuração e expansão
causadas pela hidratação do sulfato de cálcio que transforma -se em gesso.
Em zonas húmidas da alvenaria ocorrem fissuração e expansão devido a formação de um
produto expansivo conhecido como sal de “candlot”, resultado da reacção entre o sulfato de
cálcio e um aluminato de cálcio hidratado do cimento, neste caso, estão também presentes os
sulfato de sódio de potássio.
O sulfato de cálcio responsável pelo fenómeno descrito pode ser originário ou do tijolo ou do
resultado da reacção entre os sulfatos de sódio de potássio existentes, com a cal do cimento
[10]
VII.3.3.1 - Soluções de reparação
Nestes casos, não se devem realizar reparações até que o fenómeno estabilize.Logo que o
fenómeno tenda a estabilizar, poderá efectuar-se a reparação e o fecho das fissuras, usando
um cimento isento de sulfatos [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
91
VII.4 - Medidas preventivas
O fenómeno da eflorescência pode ser evitado, observando-se os seguintes cuidados [3, 10,
12]:
! Não utilizar materiais e componentes com elevado teor de sais solúveis. A presença
dos sais pode ser verificada através da realização de ensaios em laboratório
! Prolongamento da cosedura, que não só leva a uma redução do conteúdo dos sais
solúveis como, por outro lado, promove um aumento de capacidade do material
dificultando a circulação de humidade e as possíveis reacções tijolo - argamassa
! Neutralização de determinados sais solúveis, sulfatos alcalino-terrosos, de cálcio, de
magnésio e, ainda, sais de vanádio e molibdénio por prévia adição de produtos
químicos à pasta cerâmica
! Tratamento dos tijolos, após a cozedura com soluções muito diluídas de siliconatos
solúveis na água que diminuam a penetração da água por capilaridade
! Em caso de parede em alvenaria aparente, a absorção de água de chuva por
capilaridade, pode ser diminuída utilizando-se uma pintura impermeável resistente à
exposição em solução alcalina
! Em caso de execução de alvenaria em período seco, saturar os tijolos com água a fim
de diminuir absorção de água de amassadura da argamassa pelo tijolo, por
capilaridade, reduzindo o risco de reacção tijolo/cimento
! Reduzir ao máximo a penetração de água na alvenaria;
! Evitar infiltração de humidades provenientes do terreno ou da chuva executando-se
boa vedação e impermeabilização;
! A reacção tijolo-cimento pode ser evitada utilizando-se argamassa mista/bastarda
(cimento: cal: areia);
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
92
! A lixiviação da cal e do cimento pode ser reduzida, utilizando-se cimentos que
libertem menor teor de cal na sua hidratação, tais como: cimento pozolâmico ou de
alto-forno.
VII.5 - Medidas correctivas
De uma maneira geral, o fenómeno de eflorescência causa apenas danos de ordem estética, no
entanto é importante, na medida que é o resultado de um problema mais grave e frequente em
patologia das edificações: a humidade.
A ausência de precauções contra a humidade, durante as várias fases do projecto e execução
dos edifícios pode provocar condições favoráveis não só para a formação de eflorescência
como para a deterioração dos materiais utilizados. Assim sendo, na execução do edifício
devem ser observados os seguintes factores [3, 10, 12]:
! Humidade do solo;
! Água da chuva acumulada antes da cobertura da obra ou infiltrada através de paredes e
fissuras;
! Estado das canalizações de água, esgoto e águas pluviais;
! Água utilizada na limpezA.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
93
CAPÍTULO VIII - PINTURAS
Sendo esta a ultima actividade numa construção, em geral não se dá a devida importância à
qualidade dos serviços de pintura por motivo de economia, procuram-se firmas de pintura de
segunda linha ou simplesmente pintores que oferecem serviços mais baratos.
VIII.1 – Origem e Formas de manifestação
A experiência mostra que as falhas existentes com a pintura normalmente manifestam-se de
duas maneiras:
! Na interface da película com o substrato de aplicação
! Na própria película de pintura.
De maneira geral, estes problemas são ocasionados por uma combinação de factores e não
somente devido ao produto em si, isto é, à tinta.
As principais razões para a ocorrência dos problemas são os seguintes [7, 10, 11]:
! Selecção inadequada da tinta – exposição a condições muito agressivas em relação à
qualidade normal do produto, ou por incompatibilidade com o substrato;
! Condições meteorológicas inadequadas – aplicação de pintura em ambiente de
temperatura e humidade relativa muito baixa ou elevada ou ocorrência de vento forte;
! Ausência de preparação da superfície ou preparação de modo inadequado – aplicação
da pintura sobre base que apresenta deposição de materiais pulverulentos,
contaminados de sujeira, óleo, bolor e materiais soltos, base muito porosa;
! Substrato que não apresenta estabilidade – aplicação sobre alvenaria e betão
insuficientemente curado, superfície deteriorada;
! Humidade excessiva no substrato – remanescente da execução do edifício, de
infiltração ou de condensação;
! Diluição excessiva da tinta na aplicação;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
94
! Formulação inadequada da tinta.
VIII.1.1 – Defeitos na película de pintura
Os principais tipos de defeitos são [7, 10, 11]:
! Película apresentando fissuras e trincas em alguns casos, com perda de brilho e
pulverulência;
! Película pegajosa, com sinais de bolha de água e de oleosidade, de cor amarela e
castanha, alguns casos apresentando sinais de descoloramento;
! Desagregação pulverulenta (empolamento ou calcinação), com deterioração da
película;
! Formação de bolhas e vesículas;
! Enrugamento com aspecto de “pele de jacaré”;
! Manchas de cor castanha, cinza, preta, vermelho ou verde sobre a película;
! Manchas suaves de cor castanha clara e amarela.
VIII.1.2 - Problemas com a natureza da tinta.
Os principais problemas com a natureza da tinta surgem [7, 10, 11]:
! Aplicação de tinta com baixa resistência à radiação solar em ambientes externos,
verifica-se a destruição da película por fissuração ou por deterioração com
pulverulência. Em geral perde brilho ou apresenta descoloramento;
! Aplicação de tinta com baixa flexibilidade sobre substrato de variação dimensional
elevada, a película apresenta fissuração, fig 66;
! Aplicação de tinta com baixa resistência a alcalis, sendo exemplo as tintas a óleo ou
alquídicas aplicadas sobre base húmida e com elevada alcalinidade. A película fica
pegajosa com sinais de bolha de água e óleo;
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
95
! Aplicação prematura de tinta, que forme película impermeável, sobre substrato de
argamassa (de cimento, cal ou gesso) ou betão mal curado. A película apresenta-se
deteriorada, em alguns casos com pulverulência;
! Aplicação de tinta com baixa resistência ao ataque por agentes biológicos, tais como
bolor, fungos e algas, em substrato que apresenta elevado grau de humidade A película
deteriora-se, apresentando manchas escuras sobre a superfície fig. 67;
! Incompatibilidade das várias camadas do sistema de pintura, secagem muito rápida ou
espessura elevada. A película mostra-se enrugada fig.68.
Fig. 66 - Fissuração e descolamento da película de pintura, provocada pela variação dimensional da madeira
Fig. 67 - Efeito da humidade do substrato em pintura com baixa resistência ao ataque por agentes biológicos [4].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
96
Fig.68 - Enrugamento da película de pintura, devido a incompatibilidade das varias camadas do sistema de
pintura, secagem muito rápida ou espessura muito elevada [4].
VIII.1.3 - Problema com a natureza do substrato
Os principais problemas com a natureza do substrato são [7, 10, 11]:
! Aplicação de tinta sobre argamassa de revestimento contendo partículas expansivas. O
fenómeno geralmente é favorecido pela temperatura e humidade e a película
apresenta-se com bolhas e vesículas;
! Aplicação de tinta sobre argamassa de revestimento com partículas contendo
substâncias solúveis em água. A película apresenta-se com manchas;
! Aplicação de tinta que forme película de elevada porosidade em substâncias que
contêm elevado teor de sais solúveis em água. Há deterioração da película,
manifestando-se pulverulência;
! Aplicação de tinta sobre substrato muito poroso. O veículo da tinta é absorvido pela
base, ficando na superfície apenas os pigmentos e cargas na forma de uma camada
pulverulenta, facilmente removível.
VIII.1.4 - Aplicação em condições inadequadas
Secagem muito rápida da superfície pintada, devido a temperatura e humidade relativa
inadequadas e ocorrência de ventos fortes. A película mostra-se enrugada.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
97
VIII.2 – Medidas preventivas
VIII.2.1 - Preparo inadequado do substrato ou ausência de preparação
Os principais problemas com preparo inadequado ou ausência de preparação [7, 10, 11]:
! Aplicação de tinta em superfície contaminada por sujeira, poeira, óleo, eflorescências,
partículas soltas, óleos descofrantes (betão);
! Aplicação sobre substrato muito poroso o veículo da tinta é absorvida pelo substrato,
ficando apenas os pigmentos e cargas na forma de uma camada pulverulenta,
facilmente removível;
! Aplicação de tinta em substrato muito liso, tais como pintura em betão com
descofrante ou cerâmica.
VIII.2.2 - Aplicação em substrato instável
Os principais problemas com substrato instável [7, 10, 11]:
! Aplicação prematura de tinta, que forme película impermeável sobre a argamassa (de
cal, cimento ou gesso) ou betão mal curado Há perda de aderência e sinais de
pulverulência e humidade na interface da película com a superfície de aplicação.
! Aplicação de tinta, que forme película impermeável, em substratos que contêm
elevado teor de sais solúveis em água. A presença de humidade solubiliza estas
substâncias que, por acção da evaporação e capilaridade, depositam-se na interface da
película com a superfície, com posterior descolamento da mesma.
! Aplicação de tinta em substratos que estejam sujeitos à deterioração, isto é, expansão
ou desagregação. O fenómeno geralmente é favorecido pela humidade ou temperatura
fig.65.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
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Fig. 64 - Efeito dos sais solubilizados do substrato sobre a pintura por efeito de humidade de infiltração [10]
VIII.2.3 - Aplicação em base húmida
Os principais problemas com aplicação em base húmida [7, 10, 11]:
! Aplicação de tinta com baixa resistência a alcalis, sendo exemplo as tintas a óleo ou
alquídicas, aplicadas sobre o substrato húmido a alcalino. Há perda de aderência e
sinais de pulverulência, humidade, oleosidade na interface da película com a superfície
de aplicação.
! Aplicação de tinta que forme película impermeável, em base muito húmida. A
humidade condensa na interface da película com a superfície de aplicação provocando
o descolamento da pintura.
Fig.65 - Efeito da humidade do solo sobre a pintura. Tanto a película como a argamassa acham-se pulverulentas
e em desagregação [5].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
99
VIII.5 – Medidas correctivas
De um modo geral, as falhas em pinturas são ocasionadas pela selecção inadequada da tinta,
aplicação em condições meteorológicas inadequadas, aplicação sobre superfícies inadequadas
ou excesso de diluição da tinta na aplicação. Muitas vezes, a má qualidade da tinta é a razão
para a falha da pintura, entretanto é difícil separar esta razão da outra, isto é, a selecção
inadequada da tinta.
Uma mesma tinta aplicada sobre superfície exposta a um ambiente agressivo (ex.: parede
externa de zona industrial) apresenta deterioração, no entanto pode mostrar bom desempenho
quando aplicada em ambiente não agressivo (parede interna de uma sala ou quarto).
A selecção inadequada da tinta para uma aplicação específica é um erro comum nos dias de
hoje A introdução de uma grande variedade de matérias-primas na indústria de tinta
ocasionou o aparecimento de ampla gama de produtos no mercado. Desta forma, o
consumidor vê-se à frente de uma grande variedade de tintas, com nomes comerciais que
podem levar a enganos, pois determinadas características da tinta podem ser modificadas na
formulação.
Muitas vezes os problemas de pintura podem ser atenuados por:
! Consideração do aspecto da pintura na edificação na fase de projecto;
! Conhecimento sobre a tinta e procedimentos para aplicação;
! Supervisão adequada na obra durante a aplicação;
! Especificar tintas para uma determinada aplicação em obra, envolve um conhecimento
dos tipos de tinta, das propriedades físicas e químicas, do substrato na qual será
aplicada a tinta e dos efeitos da macro e micro condições climáticas.
Tanto no substrato, como na tinta, alguns dos problemas apresentados, se ocorrerem logo após
à aplicação, são considerados como falha da pintura. Entretanto, se ocorrerem após a
aplicação, são considerados como ausência de manutenção, já que as pinturas não são
permanentes e se deterioram rapidamente [7, 10, 11].
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
100
CAP IX – PRINCÍPIOS DE DIAGNÓSTICO
Dada a vastidão da matéria que está associada à resolução dos problemas da patologia em
edifícios, deverá haver o maior cuidado na análise do diagnóstico devendo o mesmo passar
pelas seguintes quatro fases fundamentais:
! Percepção das anomalias;
! Recolha de informação;
! Exame mais detalhado da situação;
! Restabelecimento do diagnóstico das causas;
! Definição da actuação correctiva.
A complexidade do comportamento das construções, envolvendo mecanismos cuja verdadeira
essência não está ainda em muitos casos suficientemente estabelecida, leva a que a
experiência profissional tenha um papel preponderante. Essa experiência, não está
normalmente "estruturada", dificultando a sua transmissão.
Assim, haverá a necessidade de procurar a sistematização dos processos de diagnóstico, pelo
que se acha oportuno a elaboração de um conjunto de fichas vocacionadas para a reparação de
anomalias. Essas fichas, deverão ser individualizadas por anomalias e organizadas, todas do
mesmo modo” sintomas, exame, diagnóstico de causas e reparação”, tendo por objectivo
contribuir para uma mais fácil resolução dos casos concretos, que se colocam na resolução de
identificação e reparação de patologias.
Face à tarefa de grande complexidade, apresentam-se no anexo I, a título de exemplo um
conjunto de fichas “tipo” que se poderiam considerar.
Perante a ocorrência de anomalias, um diagnóstico correcto proporcionando uma identificação
precisa das causas e a avaliação rigorosa da situação real é condição indispensável para a
resolução dos problemas tendentes à sua correcção.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
101
Fig. 66 - Diagnóstico de intervenção diagrama de fluxo [10]
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
102
CONCLUSÃO
Retomando o início desta monografia, foi objectivo da mesma estabelecer uma abordagem à
panorâmica das patologias mais correntes que afectam os nossos em edifícios. Retrataram-se
nesse sentido a caracterização e classificação das várias patologias, sua formas de
manifestação e causas associadas, passando finalmente à análise das medidas preventivas e
correctivas, de forma dar cumprimento às exigências funcionais que lhes estão associadas.
À medida que a investigação sobre o tema foi decorrendo, ficou perfeitamente claro o que à
partida era já um dado adquirido, isto é, um tema amplamente vasto para se tratar numa só
monografia. Por outro lado, tratar estes assuntos de uma forma aprofundada, ultrapassa
significativamente a dimensão razoável para um trabalho deste âmbito.
No início foi falado num documento de referência, dentro do assunto tratado,
fundamentalmente dirigido para pequenas e médias empresas, técnicos de arquitectura e de
engenharia, construtores, fiscalizações, alunos de engenharia, proprietários e investidores, que
ainda não se encontram devidamente despertos para estas questões. Pois bem, acha-se
demasiada pretensão tratá-lo como “documento de referência”, no entanto ele poderá de
algum modo ser assim entendido, se analisado globalmente como o despertar das consciências
para tamanha responsabilidade que cada vez mais se nos depara – Evitar erros passados!
De facto, os edifícios são dos bens produzidos pelo Homem, aqueles com quem mais
partilhamos a vida, estando presentes em todas as fases importantes, desde a nascença,
passando pela formação escolar, trabalho, saúde, lazer, e fundamentalmente, pela protecção e
privacidade dadas pela habitação.
Importa interrogar-nos sobre o tipo de construções que estamos actualmente a construir e se a
experiência adquirida e as medidas preventivas que estão a ser utilizadas podem também
assegurar maior longevidade às actuais construções.
Assim a prevenção, será normalmente a forma mais económica de minimizar as
consequências das patologias construtivas, equacionando meios de monitorização para a
através da realização de inspecções periódicas, no intuito de avaliar o desempenho dos
elementos em condições em serviço.
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
103
Não quero colocar ponto final, sem que antes deixar algumas reflexões neste domínio:
! Como foi visto ao longo do tema tratado, as anomalias mais correntes foram, a
existência de fissuras, o destacamento de elementos de revestimento, originando
desconforto interior, infiltrações e problemas térmico-higrométricos (ou
higrométricos) nas habitações. Muitas destas anomalias ocorrem de forma prematura,
poucos anos após a construção, agravando-se ao longo do tempo, até atingir níveis de
degradação preocupantes que, afectam, em muitos casos, as condições de segurança
dos utentes e transeuntes (queda de elementos pétreos ou cerâmicos), nada condizentes
com os padrões de vida actuais;
! Para a minimização destes problemas, é necessária a realização de inspecções
periódicas, no intuito de avaliar o desempenho dos elementos em condições em
serviço, e a realização de reparações / substituições localizadas (manutenção
periódica) que permitam limitar a propagação das anomalias ou solucioná-las. Neste
sentido, a elaboração de um plano de inspecção e manutenção, logo na fase de
projecto, permitirá optimizar recursos, controlar prazos e minimizar custos;
! Construir é um acto excepcional que implica compromissos delicados, devendo ser
feito com todo o saber e dentro das regras de bem construir.
Urge terminar este trabalho, pelo que o tempo a ele dedicado foi relevante, para mais uma
etapa passada na vida., reforçando a consciência do elevado grau de competência que a
profissão requer nos mais diversos domínios.
“O êxito e a qualidade do produto final, bem como o custo do mesmo, dependem
grandemente da qualidade do projecto que se tem”
Identificação e Tratamento de Patologias em Edifícios
104
BIBLIOGRAFIA
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Edifícios (6 a 8 de Novembro 2003).“Aprendendo com os Erros e Defeitos da Construção”.
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de Edifícios Habitacionais”. Volume 2. Lisboa, LNEC- 6ª edição.
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Intervenção”. Edições Orion-1ª Edição
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construção”. Lisboa, LNEC
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Encontro sobre Conservação e Reabilitação de Edifícios de Habitação”. Lisboa, LNEC
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Quixote- 1ª Edição
[14] Sousa, Augusto Vaz Serra / Dias, A. M. Baio / Silva, M. S. Pereira / Ferreira, F. C.
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APICER (Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica), CTCV (Centro Tecnológico da
Cerâmica e do Vidro), FCTUC (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra).