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IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE AS ABORDAGENS DE MELHORIA CONTÍNUA E INOVAÇÃO Fabiane Leticia Lizarelli (UFSCar) [email protected] Jose Carlos de Toledo (UFSCar) [email protected] A diferenciação e qualidade dos produtos são importantes para assegurar o aumento da competitividade das organizações, para isso duas abordagens podem auxiliar: a Inovação e a Melhoria Contínua de produtos e processos. A compreensão e o esttudo das relações entre essas duas abordagens são fundamentais para as organizações. Uma questão que as empresas enfrentam é como realizar uma gestão integrada das abordagens de Melhoria Contínua e de Inovação, buscando,assim, resultados estratégicos e, conseqüentemente, benefícios competitivos para a empresa. O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir como ocorre a integração entre as abordagens de Melhoria Contínua e de Inovação, a partir de informações retiradas da revisão bibliográfica. Objetiva-se também, identificar práticas que podem ser adotadas para essa integração, assim como em que níveis organizacionais (estratégico, tático e operacional) elas devem ser aplicadas. Como resultados foram identificadas as práticas mais importantes para a integração. Palavras-chaves: Melhoria contínua, inovação, integração XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS

PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO ENTRE AS

ABORDAGENS DE MELHORIA

CONTÍNUA E INOVAÇÃO

Fabiane Leticia Lizarelli (UFSCar)

[email protected]

Jose Carlos de Toledo (UFSCar)

[email protected]

A diferenciação e qualidade dos produtos são importantes para

assegurar o aumento da competitividade das organizações, para isso

duas abordagens podem auxiliar: a Inovação e a Melhoria Contínua

de produtos e processos. A compreensão e o esttudo das relações entre

essas duas abordagens são fundamentais para as organizações. Uma

questão que as empresas enfrentam é como realizar uma gestão

integrada das abordagens de Melhoria Contínua e de Inovação,

buscando,assim, resultados estratégicos e, conseqüentemente,

benefícios competitivos para a empresa. O objetivo deste trabalho é

apresentar e discutir como ocorre a integração entre as abordagens de

Melhoria Contínua e de Inovação, a partir de informações retiradas da

revisão bibliográfica. Objetiva-se também, identificar práticas que

podem ser adotadas para essa integração, assim como em que níveis

organizacionais (estratégico, tático e operacional) elas devem ser

aplicadas. Como resultados foram identificadas as práticas mais

importantes para a integração.

Palavras-chaves: Melhoria contínua, inovação, integração

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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1. Introdução

As empresas podem construir vantagem competitiva desenvolvendo modificações

sistemáticas na manufatura ou no serviço, mas sustentar, durante certo período, essa vantagem

competitiva, requer habilidades em desenvolver um fluxo contínuo de novos ou melhores

produtos e serviços (TERZIOVSKI; SOHAL, 2000; IRANI; SHARP, 1997).

O aumento da velocidade da mudança tecnológica e a aceleração da globalização implicam

que a vantagem competitiva, para muitas organizações, recai sobre sua habilidade de

implementar, eficientemente, uma contínua inovação em produtos, serviços e processos

(TERZIOVSKI; SOHAL, 2000).

A inovação é um processo complexo e facilmente percebido como de crítica importância para

o sucesso das organizações (TERZIOVSKI, 2002; COOPER, 1998; UTTERBACK;

ABERNATHY, 1975). A inovação pode ser classificada em relação aos seus diferentes graus

de novidade, que pode variar desde melhorias incrementais menores até mudanças realmente

radicais (MCADAM; ARMSTRONG; KELLY, 1998). Um aspecto da separação entre esses

dois tipos (incremental e radical) é a ocorrência ou não de uma ruptura com as práticas e

tecnologias existentes, envolvendo alto risco e mudanças estruturais. Nestes casos a

ocorrência seria entendida como inovação radical (ETTLIE; BRIDGES; O´KEEFE, 1984).

Muitas empresas, em função do seu mercado de atuação e da dinâmica tecnológica do setor,

utilizam conjuntamente atividades de inovação incremental e radical para manter e melhorar

as vantagens competitivas. Para o presente trabalho, os dois extremos em relação ao grau de

novidade da inovação são definidos como duas abordagens: a Melhoria Contínua (MC),

relacionada com melhorias incrementais, e a Inovação, relacionada com mudanças abruptas e

radicais. Existe uma relação entre essas duas abordagens e, quando integradas e gerenciadas

de maneira apropriada, geram resultados favoráveis para a organização (IRANI; SHARP,

1997; PRAJOGO; SOHAL, 2001; IRANI; BESKESE; LOVE, 2002).

A MC e a Inovação são abordagens complementares e, em geral, são executadas por equipes e

áreas funcionais distintas da organização. Dessa forma, essas atividades necessitam de um

gerenciamento interfuncional para alcançar níveis de integração adequados, atingir os

objetivos específicos e contribuir para os objetivos competitivos da empresa.

Uma Inovação radical, depois de implementada, deve ser aperfeiçoada por meio de processos

de Melhoria Contínua. Já a aplicação sistemática da Melhoria Contínua, num processo ou

produto existente, atinge um limite de melhoria do desempenho, do objeto que está sendo

melhorado, o que, muitas vezes, passa a exigir a adoção de inovações maiores, para sustentar

a vantagem competitiva da empresa (UPTON, 1998).

Mesquita e Alliprandini (2003), ao analisarem programas de Melhoria Contínua em empresas

brasileiras, identificaram a necessidade de se criar, nas empresas, as habilidades de capturar,

analisar a viabilidade, capacitar-se para implementar e implementar as mudanças, optando por

aplicar a Melhoria Contínua ou a Inovação. Para isso, é importante que a empresa conheça seu

ambiente competitivo e suas necessidades, em termos de capacitações e estratégias, para

implementar a Melhoria Contínua e ou a Inovação, conforme a necessidade, com uma

podendo complementar a outra. Para os mesmos autores a empresa, observando seu

desempenho e metas, escolhe-se a abordagem da Melhoria Contínua ou da Inovação, ou

mesmo uma combinação das duas (porém não se há muita clareza sobre como essa

combinação pode ser feita por parte da organização). Existe, portanto, a necessidade de serem

analisadas conjuntamente para melhor análise (MESQUITA; ALLIPRANDINI, 2003).

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Uma questão que as empresas enfrentam é como realizar uma gestão integrada das de

Melhoria Contínua e de Inovação, buscando, com essa integração, resultados estratégicos e,

conseqüentemente, benefícios competitivos para a empresa (MIRICA; ITO, 2010).

Para Mirica e Ito (2010) existe um paradoxo nas organizações causado pelo conflito entre

eficiência, obtida por melhorias contínuas por intermédio de inovações incrementais, e pela

exploração, que busca novas oportunidades com a criação de novas tecnologias pelas

inovações radicais. Essas duas abordagens, para serem balanceadas, necessitam de decisões

distributivas e integradoras, para aliar eficiência e exploração (ADLER; GOLDOFTAS;

LEVINE, 1999; MIRICA; ITO, 2010).

A compreensão e o estudo das relações entre essas duas abordagens são de fundamental

importância para as organizações (IRANI; BESKESE; LOVE, 2002). O ambiente de negócio

atual enfatiza a capacidade da organização desenvolver tanto a inovação incremental quanto a

radical (TUSHMAN; O‟REILLY, 1996; MIRICA; ITO, 2010).

De acordo com Smith e Tushman (2005) trabalhos teóricos e empíricos em relação ao

gerenciamento das relações entre essas duas abordagens ainda permanecem periféricos no

campo de pesquisa, mesmo que as necessidades sejam abundantes. Grover, Purvis e Segars

(2007) salientam a dificuldade em fazer pesquisa nesses temas devido à necessidade de

estudos exploratórios e pontos de vista contraditórios na literatura.

Para Voss et al. (2002), no estágio inicial de muitos programas de pesquisa, a exploração é

necessária para desenvolver idéias e questões de pesquisa, portanto, este trabalho tem a

intenção de fazer uma exploração inicial sobre a relação entre essas abordagens, com a

finalidade de identificar questões relevantes a serem estudadas posteriormente, essa

exploração será feita com base em revisão bibliográfica.

O foco deste trabalho é a integração entre as abordagens da Melhoria Contínua e da Inovação.

O objetivo geral é apresentar e discutir como ocorre a integração entre as abordagens de

Melhoria Contínua e de Inovação, a partir de revisão bibliográfica. Objetiva-se também,

identificar práticas que podem ser adotadas para essa integração, assim como em que níveis

organizacionais (estratégico, tático e operacional) elas devem ser aplicadas. A estrutura do

trabalho pode ser observada na figura 1.

O trabalho está organizado em cinco sessões, incluindo esta introdução. A segunda sessão

revisa fundamentos teóricos da Inovação e da Melhoria Contínua. A partir dessa

fundamentação teórica são discutidas, na sessão três, as dificuldades da relação e integração

entre essa duas abordagens e na sessão seguinte são apresentadas alternativas para integração

das duas abordagens. A última sessão apresenta as considerações finais.

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•Estratégico•Tático•Operacional

•Estrutura Organizacional•Cultura organizacional•Outros

Melhoria Contínua Inovação

Revisão Teórica Revisão Teórica

Integração

Revisão Teórica

Identificação das principais práticas

de integração.

Níveis organizacionais para aplicação das

práticas de integração

Figura 1. Estrutura do trabalho

2. Inovação e Melhoria Contínua

2.1 Tipos de Inovação

Para Cooper (1998) a inovação existe como um conceito multidimensional, as de mais

destaque são: radical, incremental, produto, processo, administrativa, tecnológica. O autor

sugere que seja mais apropriado tratar inovação como um fenômeno que consiste de múltiplas

dimensões ao mesmo tempo. Todas as dimensões são importantes, mas mais importante é que

essas dimensões se relacionam com as outras. Isto pode proporcionar a descrição de relações

entre essas variáveis, necessitando-se de pesquisas mais complexas para compreensão e

descrição dessas relações (COOPER, 1998).

Tidd, Bessant e Pavitt (2008) salientam que uma dimensão importante é o grau de novidade

envolvido. Há diferentes graus de novidade desde melhorias incrementais menores até

mudanças realmente radicais. No gerenciamento do processo de inovação as diferenças no

grau de novidade tornam-se importantes, pois a maneira como se lida com a mudança

incremental difere da mudança radical, e é importante salientar que o grau de inovação é

aquele percebido por quem a implanta (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).

Apesar de a inovação envolver, esporadicamente, uma mudança descontínua, algo

completamente novo, na maioria das vezes ela é incremental. A inovação de processos, por

exemplo, é basicamente centrada na eliminação de desperdícios e problemas. Essas inovações

incrementais ou melhorias contínuas têm recebido considerável atenção devido a movimentos

como qualidade total, mentalidade enxuta de gestão, programas seis sigma entre outros, que

mostram os ganhos de qualidade e produtividade por meio desse tipo de inovação contínua

(TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).

A distinção entre incremental e radical, é proveniente, também, do grau percebido do novo

conhecimento que está sendo incorporado no que está sendo inovado. Inovação radical

incorpora novos conhecimentos e tecnologias que representa uma ruptura das praticas

existentes e envolve maiores níveis de risco. Enquanto a inovação incremental representa

aperfeiçoamentos da rotina de uma tecnologia existente (GROVER; PURVIS; SEGARS,

2007).

Para o presente trabalho, os dois extremos em relação ao grau de novidade da inovação são

definidos como Melhoria Contínua e Inovação. A Melhoria esta associada a mudanças

menores, incrementais, como inovação incremental e o termo proposto por March (1991)

exploitation (inovações incrementais que são orientadas para as necessidades dos mercados ou

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dos consumidores existentes, reforçam conhecimentos, habilidades, processos e estruturas

existentes). Enquanto Inovação esta associada a mudanças maiores, de ruptura, descontínuas

ou radicais, ou o termo proposto por March (1991) exploration (inovações radicais que são

orientadas para identificar necessidades latentes nos mercados e consumidores emergentes).

2.2 Inovação

A palavra inovação se refere a fazer algo novo, porém é diferente de termos como invenção

ou criatividade. Diferentemente da invenção, a inovação deve necessariamente gerar algum

impacto econômico (SCHUMPETER, 1985). Inovação consiste na introdução de novos

produtos e métodos produtivos, a abertura de novos mercados, a descoberta de novas matérias

primas e a implantação de novas formas de organização (SCHUMPETER, 1934 apud REJEB

et al., 2008).

Damanpour (1992) define inovação como a adoção de uma idéia ou comportamento, ou

mesmo um sistema, política, programa, processo, produto ou serviço, que é novo para a

organização que a esta adotando. Para Kanter (1998) a inovação pode ser definida como a

criação e exploração de novas idéias. Esta definição esta relacionada com as diferentes áreas

da inovação como tecnologia, produto, processo, design, organização, mercado e matérias

primas.

Para Tidd, Bessant e Pavitt (2008) inovação representa mudança, podendo–se descrevê-la em

quatro categorias abrangentes: Inovação de produto, que é a mudança nos produtos/serviços

que uma empresa oferece; Inovação de processo, que é a mudança na forma em que estes são

produzidos e entregues; Inovação de posição, que é a mudança no contexto de inserção destes;

e, Inovação de paradigma, mudança nos modelos mentais que orientam o que a empresa faz.

O Manual de Oslo (OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico,

2005) define quatro tipos de inovação, dois semelhantes à definição anterior: inovações em

produtos, inovações em processos, inovações organizacionais e inovações em marketing.

2.3 Melhoria Contínua

Para Caffyn e Bessant (1996), Melhoria Contínua é um processo de inovação incremental

evidente e intermitente. Segundo os autores, as atividades de melhoria surgem como resposta

a um contexto de grande dinamismo do mercado, onde há necessidade de se adaptar

continuamente. O desempenho dos negócios está relacionado à capacidade da empresa gerir

seus processos e suas operações. Caffyn (1999) conceitua Melhoria Contínua como um

processo de inovação incremental, focada e contínua, abrangendo todas as áreas da empresa.

Jha et al. (1996) definem Melhoria Contínua como um conjunto de atividades que constituem

um processo de raciocínio e intervenção que busca alcançar a melhoria de desempenho. Na

manufatura, estas atividades constituem, primeiramente, simplificação do processo produtivo,

principalmente por meio da eliminação de desperdícios.

Esse processo de melhoria, conhecido no Japão como Kaizen, de acordo com Imai (1992),

significa melhoramento contínuo envolvendo todas as pessoas da empresa, da alta

administração ao pessoal de nível operacional. Para Bhuiyan e Baghel (2005), a Melhoria

Contínua é uma cultura de melhoria que tem como objetivo a eliminação de desperdícios em

todos os sistemas e processos de uma organização. Isso envolve todas as pessoas trabalhando

conjuntamente, capacitadas e motivadas, para fazer melhorias, sem necessariamente fazer

altos investimentos de capital.

Para Bessant, Caffyn e Gallagher (2000) o processo de implantação da Melhoria Contínua é

complexo e passa por diversos estágios de evolução. Cada estágio é chamado pelos autores de

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nível de maturidade, e varia desde o nível 0 – nenhuma atividade de Melhoria Contínua até o

nível 5 – estágio de capacidade total em Melhoria Contínua, gerando a “organização que

aprende”. Cada estágio prevê comportamentos e atitudes que o caracteriza. Os padrões de

comportamento associados a cada nível de maturidade são também conhecidos como rotinas,

que fazem parte da cultura organizacional da empresa. Esses comportamentos estão

relacionados com habilidades organizacionais da empresa.

A Melhoria Contínua é composta de um conjunto de rotinas e práticas que direcionam os

comportamentos da organização e resultam em sua cultura (BESSANT; CAFFYN;

GALLAGHER, 2000). A MC apresenta também uma estrutura que possibilita seu

desenvolvimento na organização e de métricas para sua avaliação (IMAI, 1992).

De acordo com Upton (1998), os processos podem ser operados de uma maneira que não é

utilizada sua capacidade máxima de desempenho. As Melhorias Contínuas podem ser

realizadas até que o limite máximo para o desempenho seja alcançado. Podem ser realizadas

também Inovações para que o limite de desempenho seja expandido. Quando não existem

mais maneiras de apenas com melhorias aumentar os limites de desempenho, é necessária

uma substituição do processo ou produto, incluindo a adoção de novas tecnologias. Isso pode

ser entendido como a utilização da abordagem de Melhoria Contínua e, posteriormente, da

abordagem de Inovação. Portanto, os dois processos (Melhoria Contínua e Inovação) devem

ser conduzidos conjuntamente para alcançar a melhor utilização dos recursos da organização

(IMAI, 1992; HARRINGTON, 1995; UPTON, 1998; SLACK et al., 2002; TERZIOVSKI,

2002).

3. Problemas da relação entre Inovação e Melhoria

Para alguns autores a estrutura criada para a Melhoria Contínua pode dificultar a introdução

de Inovações radicais. Lam (2004), Rothwell (1994), Crawford (1992) afirmam que a a

estrutura criada para a Melhoria Contínua não seria benéfica para as empresas que desejam ter

uma estrutura organizacional voltada para a Inovação radical; enquanto Tidd, Bessant e Pavitt

(2005), Thamhain (2003), Tushman e O‟Reilly (2007) afirmam que a relação é possível e até

mesmo positiva.

Segundo Cole e Matsumiya (2008), para entender como a Melhoria Contínua pode dar

suporte a Inovações, especialistas devem entender, primeiramente, as condições em que a

busca pela Melhoria Contínua pode interferir de maneira negativa na busca pela Inovação. As

Melhorias sucessivas do processo constroem uma base para processos repetitivos e

relativamente estáveis, tendo sucesso principalmente em empresas onde a tecnologia muda de

forma mais lenta. Estudos são propostos pelos autores para avaliar se a melhoria da qualidade

auxilia na inovação radical. Intuitivamente essa é uma questão que faz sentido, atividades de

melhoria da qualidade, gerenciadas corretamente, podem levar ao longo do tempo a inovações

incrementais e radicais que contribuem para a vantagem competitiva (COLE; MATSUMIYA,

2008).

Smith e Tushman (2005) argumentam que a capacidade de adaptação organizacional é

baseada em balancear atividades de exploitation e exploration. Se a empresa investe muito em

exploitation, isso cria uma inércia e um conservadorismo em relação à introdução de

mudanças, por outro lado, investir muito em exploration faz com que a empresa não ganhe

eficiência, de economias de escala nem aprendizado das tecnologias já adotadas (SMITH;

TUSHMAN, 2005). A empresa que consegue balancear esses dois tipos de atividades é

chamada de ambidestra. Quando bem realizada as mudanças evolucionárias são parte crucial

do sucesso de curto prazo, porém podem causar uma resistência a mudanças maiores,

baseadas no tamanho, complexidade e interdependência na estrutura, sistema, procedimentos

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e processos da organização (TUSHMAN; O‟REILLY, 1996).

A empresa pode criar um entrave em relação à inovação por preocupar-se demasiadamente

com sua reputação em relação à qualidade. Portanto, existe uma variedade de desafios nos

quais a Melhoria da qualidade pode se contrapor à Inovação radical. Uma forte cultura de

melhoria pode levar a empresa a ser insensível a mudanças de tecnologia e de mercados. Uma

empresa com uma forte cultura de confiabilidade pode não ser receptiva a novas tecnologias

que inicialmente apresentam baixa confiabilidade. Em resumo, uma empresa que prioriza

Melhoria pode levar um tempo excessivamente lento para inovar no mercado quando introduz

Inovações radicais (COLE; MATSUMIYA, 2008).

A cultura da empresa pode prover vantagem competitiva, mas também pode criar obstáculos

para a inovação. A adaptação às mudanças envolve modificações na estrutura e nos sistemas

assim como na cultura e nas competências da organização. A questão da gestão da cultura da

organização para poder efetivamente lidar com mudanças, tanto incrementais como radicais,

é, talvez, o aspecto mais difícil na gestão estratégica da inovação (TUSHMAN; O‟REILLY,

1996).

Um número maior de empresas está tentando melhorar simultaneamente as dimensões

relacionadas tanto com eficiência quanto com flexibilidade (ADLER; GOLDOFTAS;

LEVINE, 1999). Enquanto pesquisadores e gerentes continuamente procuram maneiras para

que a empresa possa ser ambidestra, pode haver contradições fundamentais e sem solução

entre as capacidades e práticas requeridas para Inovações incrementais versus radicais

(COLE; MATSUMIYA, 2008). Por isso o estudo das relações entre essas duas abordagens se

torna importante, tanto para o campo de conhecimento teórico quanto para as práticas das

organizações.

Problemas da relação entre Melhoria e Inovação

Estrutura Organizacional A estrutura organizacional que propicia a implantação da MC pode dificultar

a geração e realização de inovações radicais.

Ênfase na Melhoria e na

Confiabilidade

Uma empresa que prioriza a Melhoria e que os produtos sejam extremamente

confiáveis pode levar um tempo excessivamente lento para inovar

Cultura da empresa A cultura voltada para a Melhoria pode dificultar a visão para a Inovação

Práticas para a Melhoria e para

Inovação

Pode haver contradições fundamentais e sem solução entre as capacidades e

práticas requeridas para Inovações incrementais versus radicais

Tabela 1. Síntese dos principais problemas da relação entre MC e Inovação

4. Integração entre as abordagens de Melhoria Contínua e de Inovação

O tema integração relacionado à gestão das organizações vem sendo estudado há décadas,

mas sua relevância é crescente, especialmente em atividades que necessitam do trabalho em

conjunto de diversas áreas funcionais, departamentos, especialidades ou áreas de

conhecimento, seja dentro de uma empresa ou entre duas ou mais empresas (CARVALHO,

2007). Em ambientes de mudanças, as organizações necessitam de capacidades dinâmicas

para integrar, construir e reconfigurar recursos e competências para alcançar desempenho

superior (TEECE et al., 1997). Como os objetivos da Inovação e da Melhoria são aumentar a

capacidade competitiva da empresa, a integração entre essas abordagens possibilita resultados

ainda melhores (HARRINGTON, 1995; SOOSAY; HYLAND, 2008). Terziovski (2002)

afirma que sem uma cultura de Melhoria Contínua os ganhos provenientes de Inovações

radicais não são sustentáveis.

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Lawrance e Lorsch (1968) definem a integração como o processo de atingir unicidade de

esforços entre os vários subsistemas na realização de tarefas da organização. Os subsistemas

podem estar relacionados com a integração entre empresas, entre diferentes

funções/departamentos ou mesmo entre pessoas, sendo este o mais difícil de ser estudado

(CARVALHO, 2007).

Para Peixoto (2003) o termo integração é definido como a existência de uma relação

simbiótica, que preserva as orientações individuais dos grupos especializados e que é

resultante da divisão de atividades e da existência de esforço para obter unidade de ações e

compatibilidade de resultados.

Integração, intra-organização, é definida por Kahn (1996) como a interação entre os

departamentos, representando a necessidade de atividades conjuntas entre estes. Um dos

enfoques da integração é o uso da comunicação (em reuniões de rotina, conferências,

memorandos, fluxo de documentos etc.). Uma maior integração, neste caso, se consegue com

mais reuniões regulares e um maior fluxo de documentos e informações entre as partes. Outro

enfoque consiste em buscar a integração com a colaboração, sendo esta representada pelas

relações de natureza afetiva, não formal. Com a integração busca-se também um alinhamento

estratégico dos departamentos por meio de uma visão compartilhada, metas coletivas e

recompensas conjuntas, conseguindo-se mais integração com o aumento da atuação e esforço

coletivo em busca de metas comuns. Assim, para Kahn (1996), a integração é função da

comunicação e da colaboração entre as áreas funcionais.

Rothwell (1994) apresenta estágios de evolução para a inovação, em que o estágio mais

avançado é constituído por um modelo que se baseia na cooperação e integração, que visa

diminuir o tempo dos projetos de desenvolvimento e aumentar a qualidade das saídas. Um dos

fatores identificados pelo autor que permitem a evolução da gestão da inovação e

consequentemente um ganho maior de velocidade e flexibilidade é a estratégia de Melhoria

Contínua (ROTHWELL, 1994). Isto mostra a importância do envolvimento e cooperação

entre as duas abordagens.

Observando-se de maneira mais específica a integração entre Melhoria Contínua e Inovação,

Irani e Sharp (1997) e Terziovski (2002) acreditam que muitas empresas estão

complementando a Melhoria Contínua com a Inovação e que existe uma sinergia entre essas

duas abordagens quando integradas sob uma cultura organizacional apropriada.

As implicações dessa constatação é que os gerentes precisam balancear a abordagem da

Inovação radical com a abordagem da Melhoria Contínua, podendo, assim, alcançar

diferenciação de produtos, processos e mercados (devido às atividades de Inovação) e

liderança em custo (devido às atividades de melhoria) simultaneamente. Quando essas duas

abordagens estão atuando na organização, os gerentes podem alcançar a integração das

mesmas (TERZIOVSKI, 2002). Para o autor isso ocorre por meio do envolvimento das

pessoas e de uma cultura que permita a colaboração entre as abordagens.

Para Irani e Sharp (1997) uma cultura organizacional que vise à integração das duas

abordagens é importante para permitir que a empresa gerencie tanto os princípios da Melhoria

Contínua quanto da Inovação. A cultura organizacional que permite ambas as abordagens

pode ser atribuída a facilitadores e também a um estilo de gerenciamento por processos

horizontal, cultura aberta para novas sugestões e idéias e empowerment da força de trabalho,

que facilitam a procura por Melhoria Contínua e por Inovação.

Algumas características organizacionais que permitem tanto a Inovação quanto a Melhoria

Contínua e a integração entre elas, incluem (IRANI; SHARP, 1997):

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Um fluxo de informação livre que permite aos gerentes encontrar idéias em lugares

inesperados;

Contato próximo e freqüente entre estações de trabalho e ênfase em relações laterais e

verticais;

Trabalho em equipe;

Gerentes que acreditam em inovação e dão suporte e recursos necessários;

Gerentes que dedicam tempo para a inovação.

Dois sistemas de gestão que influenciaram o desenvolvimento organizacional das últimas

décadas e relacionam-se com a Melhoria e a Inovação são: a Gestão da Qualidade Total

(TQM) e o processo de reengenharia (BPR). Uma integração das idéias relacionadas a cada

um desses conceitos promove a excelência do negócio. Tonessen (2005) denominou inovação

contínua como uma forma integrada entre TQM e BPR.

As empresas precisam de ambos, um processo sistemático para melhoria contínua e uma

maneira para lidar com a mudança radical que esteja integrada com a melhoria contínua. Por

outro lado, também são necessárias, para dar prosseguimento às mudanças radicais,

ferramentas, técnicas e uma cultura de melhoria contínua. Tonessen (2005) mostrou, por meio

de estudos de caso na Noruega, que propostas de melhorias (provenientes dos funcionários)

podem gerar tanto mudanças incremental como radical.

Essa integração entre TQM e BPR pode se dar por meio da participação dos empregados, que

pode ser direta ou indireta (TONESSEN, 2005). Com o intuito de aumentar a habilidade de

inovação de uma empresa, tanto a Qualidade (Melhoria Contínua) quanto a Reengenharia

precisam desenvolver suas técnicas e ferramentas para garantir aumento da participação dos

colaboradores (TONESSEN, 2005).

A participação direta dos colaboradores pode atingir seis níveis (TONESSEN, 2005):

Determinação própria: nas situações de trabalho os trabalhadores podem fazer

melhorias sem ter que perguntar ou envolver outras pessoas;

Linha de comando: os trabalhadores podem propor mudanças ou melhorias por meio

da gerência;

Tarefa: utiliza-se o conhecimento das pessoas quando do desenvolvimento de projetos

específicos;

Grupo/departamento: propor melhorias e realiza-as dentro do grupo – por exemplo,

círculos de controle da qualidade;

Processos: foco contínuo na inovação de processos e estabelecimento de times de

inovação para cada projeto, o potencial da inovação radical está no trabalho entre

grupos e departamentos e ao longo da cadeia de valor;

Empresa: pode envolver todos os empregados e áreas da empresa.

Se a empresa não desenvolve boas rotinas para gerenciar as propostas dos colaboradores,

entre os diferentes níveis hierárquicos, pode haver prejuízos coma a falta de participação e

comprometimento desses. Além disso, como a integração depende desse envolvimento e

comprometimento ela pode não ocorrer. Nem todas as pessoas da empresa, dos

departamentos, dos grupos precisam estar envolvidas nas atividades de inovação, por isso a

participação pode ser indireta por meio de representantes nos vários níveis da organização

(TONESSEN, 2005).

Quando utilizado de forma integrada, BPR e TQM podem produzir um perfil de mudança

organizacional caracterizada por períodos de Melhoria Contínua interrompidos por saltos de

Inovação radical, que servem para aumentar a melhoria global e evoluir na curva de

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aprendizagem (HILL; COLLINS, 1998).

Um estudo realizado por O‟Reilly e Tushman (1994) identificou que algumas empresas bem

sucedidas em relação à melhoria e à inovação tem uma separação entre as unidades que

realizam “exploitation” e “exploration”, permitindo diferentes processos, estruturas e cultura;

ao mesmo tempo elas mantêm ligações firmes por meio das unidades no nível dos executivos

seniores. A organização gerencia, portanto, a separação organizacional por meio da integração

da equipe de executivos. São chamadas organizações ambidestras.

A estrutura da organização ambidestra (conforme apresentado na figura 2) permite que, com a

integração no nível de gerência, as unidades possam cooperar em relação a recursos

importantes como dinheiro, conhecimento, habilidades e clientes. Mas a separação

organizacional garante que os processos, estrutura e cultura das unidades não são prejudicados

por influência da outra unidade. Cada uma das unidades pode focar toda sua atenção para sua

operação específica, só melhoria do negócio existente ou inovações para o negócio emergente

(O‟REILLY;TUSHMAN, 2004; GIBSON; BIRKINSHAW, 2004; HE; WONG, 2004).

Numa visão um pouco mais aprimorada, Smith e Tushman (2004) afirmam que é necessário

que equipes dentro da empresa negociem as decisões, em relação aos produtos já existentes e

às inovações, de forma conjunta. As decisões para esse balanceamento são baseadas em dois

critérios: na natureza distributiva (como realizar trade-offs ao longo do tempo) e na natureza

integradora (a identificação de sinergias) (SMITH; TUSHMAN, 2005).

Gerente Geral

Negócio

Existente

Negócio

Emergente

Vendas P&DManufatura Vendas P&DManufatura

Gerente Geral

Negócio

Existente

Negócio

Emergente

Vendas P&DManufatura Vendas P&DManufatura

Figura 2. Integração na organização ambidestra

Fonte: O‟Reilly e Tushman (2004)

O aspecto distributivo da decisão envolve a divisão de recursos entre os produtos existentes e

a inovação. As decisões de natureza integradora envolvem o reconhecimento de

oportunidades, relações e sinergias que devem ser provenientes das atividades de Melhoria e

de Inovação (SMITH; TUSHMAN, 2005). A alta gerência deve ser apta a alcançar integração

em suas decisões quando são percebidas maneiras de encontrar benefícios na aplicação de

exploitation e exploration por uma mesma organização, estando os recursos divididos entre

essas duas áreas.

Smith e Tushman (2005) desenvolveram um modelo de equilíbrio de contradições

estratégicas. O modelo leva em consideração os desafios da inércia (fatores psicológicos e

estruturais da inércia fazem com que as decisões pesem para melhorias dos produtos

existentes do que para inovações); e da consistência (a consistência faz com que as decisões

tendam para um só comportamento, evitando inconsistências em relação à estrutura

organizacional e as competências necessárias para geri-las); que reforçam um caminho

estratégico único ao invés de múltiplo.

Para Smith e Tushman (2005) a empresa pode desenvolver estruturas cognitivas (que é a

maneira como as pessoas enxergam uma determinada situação) e processos para superar a

inércia e consistência causadas pela utilização da abordagem de Melhoria Contínua. Também

foram identificadas características estruturais que podem melhorar a habilidade da equipe para

lidar com contradições estratégicas (SMITH; TUSHMAN, 2005).

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Tanto as melhorias dos produtos existentes quanto as inovações devem ser bem sucedidas,

para isso, deve-se confrontar diferenças e semelhanças das experiências de cada uma,

possibilitando a integração entre práticas e conhecimento, mas também a diferenciação, por

perceber que uma prática poderia não ser benéfica para a outra (SMITH; TUSHMAN, 2005).

A diferenciação envolve a percepção de possíveis diferenças e suas articulações; já a

integração envolve a mudança do nível de análise para a identificação de possíveis relações. A

integração auxilia a encontrar maneiras para as quais as abordagens contraditórias podem

ajudar uma à outra.

Soosay e Hyland (2008) também evidenciam a importância da integração entre a Melhoria e a

Inovação. Utilizam, para isso, o conceito exploration/exploitation do conhecimento.

“Exploration” para novas idéias, tecnologias e conhecimento e “exploitation” de

conhecimentos existentes e novos, sendo que ambos são essenciais para a inovação contínua.

Inovação contínua relaciona-se com aprendizado e melhoria de pessoas e grupos em relação

ao conhecimento; preocupa-se com questões relacionadas à como o conhecimento pode ser

adquirido, criado, difundido, consolidado e então aplicado na organização (BOER, et al.,

2001; BOER; GERTSEN, 2003; SOOSAY; HYLAND, 2008;). O conhecimento pode estar

relacionado com as atividades, práticas, projetos de Melhoria como com os de Inovação.

Soosay e Hyland (2008) afirmam que esse conhecimento deve ser compartilhado e as

experiências integradas, aumentando a capacidade da empresa para desenvolver inovações

radicais e incrementais, que os autores chamaram de capacidade dinâmica.

Portanto, para os autores, o conhecimento e sua gestão estão relacionados com a integração da

Melhoria e da Inovação. A informação e o conhecimento adquiridos têm que ser convertidos

em uma forma transferível para a organização, envolvendo uma reconfiguração de recursos. A

capacidade dinâmica envolve a habilidade para entender e aplicar a combinação de

conhecimentos para atividades do negócio (SOOSAY; HYLAND, 2008). Isto permite a

inovação contínua, a qual envolve ambas as atividades de inovação, radical e incremental e a

sua integração.

5. Considerações Finais

Após o levantamento bibliográfico e a revisão teórica dos temas foram identificados dois

fatores principais em relação à integração: o primeiro em que nível organizacional ela ocorre,

estratégico, tático ou operacional; e o segundo quais são as principais práticas utilizadas para

essa integração, que pode ser visualizada na Tabela 2.

Foi observado em relação ao nível organizacional em que pode ocorrer a integração, que o

envolvimento das pessoas deve ocorrer em todos os níveis da organização, estratégico, tático

e operacional (TONESSEN, 2005). Já a integração da gerência ocorre nos níveis mais

estratégicos da organização (SMITH; TUSHMAN, 2005) e a integração das equipes de

Inovação e Melhoria ocorre no nível tático das operações (SMITH; TUSHMAN, 2005).

Fator de integração Práticas Autor

Cultura Organizacional Desenvolvimento de facilitadores chaves

Gerenciamento horizontal

Cultura aberta

Empowerment da força de trabalho

Apoio da gerência

Fluxo de informação

(IRANI; SHARP, 1997)

Estrutura Organizacional Separação das unidades de „exploration” e

“exploitation”

Integração do nível de gerência

(O‟REILLY III;TUSHMAN,

2004; GIBSON; BIRKINSHAW,

2004; HE; WONG, 2004)

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Envolvimento das

Pessoas

Envolvimento direto e indireto dos

funcionários

Realização e propostas de melhorias

Equipes de inovação

Envolvimento de todas as pessoas e áreas

(TONESSEN, 2005; SOOSAY;

HYLAND, 2008)

Gestão do Conhecimento Transferência de conhecimento e

experiências de Melhoria e Inovação

Utilização do conhecimento

Combinação de conhecimentos provenientes

da Melhoris e da Inovação

(TONESSEN, 2005; SOOSAY;

HYLAND, 2008)

Integração da Gerência e

das equipes de Melhoria

e Inovação

Integração das equipes de gerência das

unidades de Melhoria e de Inovação

Integração entre as equipes de projetos de

Melhoria e Inovação

(SMITH; TUSHMAN, 2005)

Identificação de

sinergias

Reconhecimento de oportunidades

Identificação de possíveis relações entre as

abordagens

(SMITH; TUSHMAN, 2005)

Tabela 2.Fatores e práticas relacionados com a integração da Melhoria e da Inovação

As práticas organizacionais, identificadas na teoria, foram separadas pelos autores em grupos,

que reúnem as práticas semelhantes, denominados fatores de integração, como cultura da

organização, estrutura organizacional e gestão do conhecimento, entre outros. As práticas são

as ações específicas que a empresa deve desenvolver para promover a integração. Tanto as

práticas quanto os níveis organizacionais auxiliam a delinear possibilidades para a integração

entre a Melhoria e a Inovação e fornecem uma prospecção de como a integração pode ocorrer

nas organizações.

A identificação dos fatores, práticas e níveis organizacionais que devem ser utilizados pela

empresa para permitir a gestão da integração é apenas o início de um trabalho exploratório

sobre a gestão e integração da Melhoria Contínua e Inovação, outros trabalhos devem ser

desenvolvidos, com observação práticas dessas relações, permitindo desenvolvimentos e

aplicações mais amplos.

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