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7/25/2019 Imagem Corporal_obesidade Em Crianas_livro
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DIANA SILVA
AVALIAO DAIMAGEM CORPORAL
EM CRIANAS EADOLESCENTES OBESOS
COM IDADES COMPREENDIDASENTRE OS 7 - 12 ANOSE SEUS PROGENITORES
PORTO2003
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Diana Maria Veloso e Silva
I ANAVALIAO DA IMAGEM CORPORAL EM CRIANAS E
ADOLESCENTES OBESOS COM IDADESCOMPREENDIDAS ENTRE OS7 - 1 2 ANOS E SEUS PROGENITORES
Porto,2003
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Em memria de duas grandes mulheres,
minha Me e Av Paterna, cuja imagemcorporal contemplo com saudade...
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A concretizao desta dissertao s foi possvel graas existncia e ao dedicadoapoio de uma equipa. A todos eles gostaria de expressar a minha maior gratido.Pela prestigiada colaborao e desempenho e especial importncia dos seus conhecimentos, crticas e sugestes gostaria de salientar:
Professor Doutor Norberto Teixeira Santos, meu professor de Nutrio Peditrica noento Curso de Nutricionismo da Universidade do Porto e a quem devo parte daminha formao como nutricionista no Departamento de Pediatria do Hospital deS. Joo, o meu profundo reconhecimento e gratido, em memria por tudo aquilo queme ensinou e apoio no entusistico trabalho da nutrio peditrica.
Professor Doutor Antnio Jos Mnica Guerra, agradeo a orientao desta disser
tao, pelo apoio, incentivo, crticas e sugestes que tanto contriburam para melhorar e enriquecer este trabalho. O seu rigor e competncia, bem como ensinamentose conselhos, foram um precioso contributo. O meu sincero reconhecimento pelaamizade com que me distingue.
Mestre Carla Maria Barreto da Silva de Sousa Rego, pela sua inteira disponibilidadepara apoiar, como co-orientadora, este projecto. A sua prestigiada colaborao, estmulo, crticas e sugestes, contriburam sem dvida, para o xito desta tese. O seupermanente entusiasmo e rigor cientfico, presentes ao longo deste trabalho,
reflectem o companheirismo e esprito de grupo que tanto caracterizam a sua personalidade. Uma prova de amizade.
Ao Departamento de Pediatria do Hospital S. Joo, onde permaneo h 22 anos, eseu Director Professor Doutor lvaro Machado de Aguiar, agradeo o apoio e incentivo que me foi prestado na concretizao deste trabalho.
s nutricionistas Laura Ribeiro e Susana Sinde pela solidariedade, companheirismoe amizade que sempre mostraram.
A todo o pessoal Docente e Discente da Faculdade de Cincias da Nutrio daUniversidade do Porto pelas sugestes e interesse prestado.
Ao Servio de Estatstica Mdica da F M U P, pela imprescindvel colaborao notratamento e anlise estatstica.
Aos grandes companheiros da minha vida Henrique e Diogo, pelo carinho, pacinciae compreenso que sempre manifestaram.
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INDICE
Resumo 9
Abstract 13
I - INTRODUO 17
II - MATERIAL E MTODOS 31
1 - Populao 32
2 - Metodologia 32
2.1 - Seleco da amostra e recolha de dados 32
2.1.1 Seleco da amostra 32
2.1.2 Normas e protocolos 32
2.2 - Metodologia e tcnicas de avaliao 33
2.2.1.Avaliao antropomtrica, do estado de
nutrio e da composio corporal 33
2 2.2. Avaliao scio-econmico-cultural 34
2.2.3. Classificao do tipo de obesidade 342.2.4. Avaliao da imagem corporal 34
2.2.5. Caracterizao de hbitos de vida da criana/adolescente
e progenitores 35
2.2.6. Tratamento estatstico 35
III - RESULTADOS 37
IV - DISCUSSO 57
V - CONCLUSES 71
VI - PROPOSTAS 75
VII - BIBLIOGRAFIA 77
VIII-ANEXOS 87
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RESUMO
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Resumo
Desde idades muito jovens que se manifesta uma enorme preocu
pao com o peso e a imagem corporal. A alterao da imagem corporal do obeso reflecte-se, na maioria das vezes, de uma forma ne
gativa na relao com a famlia e a sociedade. Est descrita a asso
ciao entre obesidade e alteraes comportamentais graves,
nomeadamente sndromes depressivos e insucesso escolar. Vrios
autores apontam a importncia da consciencializao pelas cri
anas/adolescentes e respectivos progenitores da situao de obesi
dade,para que se registe uma mudana de atitudes e hbitos de vida.
Assim, objectivo do presente trabalho avaliar a auto-imagem em
crianas/adolescentes obesos e seus progenitores.
Foram estudadas 94 crianas de ambos os sexos, seguidas na
Consulta Externa de Nutrio/Obesidade do Departamento de
Pediatria do Hospital de S. Joo, e seus progenitores.
Tendo por base um protocolo de avaliao da imagem corporal, pre
viamente testado e avaliado, procedeu-se caracterizao dos
seguintes parmetros: estado de nutrio avaliado por determinao
do IMC da criana (Frisancho) e dos progenitores (OMS), nvel scio-
econmico-cultural (Classificao de Graffar), imagem corporalda criana e progenitores e hbitos de vida da criana. A imagem cor
poral da criana e progenitores foi avaliada atravs de uma escala
constituda por 7 imagens de crianas e adultos de ambos os sexos,
compreendidas entre a magreza (F1) e a obesidade (F7). Os dados
foram analisados estatisticamente considerando a globalidade da
amostra, por sexos e grupos etrios (GA=7-9 anos; GB=10-12 anos).Do total da amostra (n=94), 48 pertencem ao sexo masculino (51%)
e 46 ao sexo feminino (49%) (Quadro 3). Os dois grupos amostrais
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Resumo
GA (n= 41) e GB (n= 53) apresentam uma mdia de idades de 8.17
0.83 e 10.64 0.52 anos respectivamente. A totalidade das cri
anas/adolescentes apresenta uma obesidade grau 3 ( IMO percentil
95),registando-se uma elevada prevalncia de sobrepeso/obesidade
nos progenitores de ambos os sexos (Pai=78%; Me=66%). A maior
ia da populao pertence s classes III (57%) e IV (15%) de Graffar.
As crianas estudadas identificam-se predominantemente com a
imagem F6 (M=54% e F=57%), independentemente do sexo. Emambos os sexos a maioria das crianas (M=54% e F=50%) gostaria
de ter uma imagem F4, considerada pela escala aplicada a
imagem ideal. Regista-se, no entanto, para ambos os sexos, uma
tendncia para a identificao com imagens relacionadas com
a magreza F1+F2+F3 (F=39% e M=36%). Verifica-se uma concor
dncia entre a imagem que a criana tem de si prpria e a que o paie a me tm do seu filho. Apesar de uma alta prevalncia de sobrepe
so/obesidade registada, uma elevada percentagem dos progenitores
(Me=30% e Pai=62%) est satisfeito com a sua imagem corporal.
'Numa percentagem elevada de crianas/adolescentes, observa-se
uma identificao com a prpria imagem corporal e um reconheci
mento da situao de obesidade. A atitude ambivalente por parte dosprogenitores, sobretudo a ausncia de reconhecimento da inade
quao da prpria situao nutricional, poder ser responsvel pela
1 falncia da mudana de hbitos e comportamentos necesssria ao
jsucesso do tratamento da obesidade.
Considera-se que a avaliao da imagem corporal ocupa um
lugar importante na avaliao da obesidade peditrica, permitindo
estratgias de interveno mais realistas e eficazes.
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ABSTRACT
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Abstract
Body image and weight are a major source of concern from early in
life.Among obese children body image may have a negative influence
on family and social relationships. There is some association between
obesity and adverse behaviours, namely depression and lack of
scholastic success.
Some authors point out that children and parents both should be
aware of the child's obesity, in order to start changing habits andatti
tudes.The aim of this study is to evaluate self-image among 94 obese chil
dren and their parents.
We evaluated 94 children (48 males and 46 female) and their parents,
followed at the Nutrition Outpacient Pediatric Clinic. Study protocol
included nutritional status and body image (BMI: Frisancho) and their
parents (BMI: WHO): socio-economic and cultural level was also
determined (Graffar Classification). The body image of children and
parents was evaluated through a scale consisting of seven pictures of
children and adults of both sexes, varying between thinness (F1) and
obesity (F7), considering the ideal image as F4.
Data were statistically analised taking into account the subjects, sexes
and different age groups (GA=7-9 years old; GB=10-12 years old).
The two groups GA (n= 41) and GB (n=53) have a mear age of 8.17
0.83 and 10.64 0.52 respectively. All children present a BMI
greater than the 95th percentile and a high prevalence of over
weight/obesity was observed among parents (Father = 78%; Mother =
66%). The majority of children are III (57%) and IV (15%) of Graffarclassification. The children studied identified themselves predomi
nantly with the F6 picture (M=54% and F=57%). The majority of boys
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Abstract
and girls (M= 54% and F= 50%) would like to have a ideal image F4.
However, females (39%) and males (36%) would like to be thin (F1+F2 + F3). Despite the high prevalence of overweight/obesity observed
among parents, a great percentage of them (55%) were satisfied with
their corporal image.
There is an adequate perception of image and recognition of the obe
sity by most children and adolescents. However, there is an inade-
\ quate perception of children's body image by their parents which
could be responsible for the lack of success in treatment, namely
changes of food habits andjjejjavior.
The body image perception has an important place in the evaluation
and intervention of pediatric obesity.
'^FCNAUP BIBLIOTECA
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I-INTRODUO
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Introduo
Na histria da humanidade a obesidade infantil nunca ter sido um
problema de sade pblica. No entanto, nas ltimas dcadas, tanto aobesidade nos adultos como a obesidade da criana e do adoles
cente tm atingido propores epidmicas (1,2,3,4,5).
A obesidade tem uma expresso tanto mais importante quanto maior
for o risco de morte prematura e de vrias complicaes conducentes
a uma pior qualidade de vida das populaes. J Hipcrates afirma
va que " a morte sbita era mais comum nos indivduos mais gordosdo que nos magros" (6)
A Organizao Mundial de Sade define obesidade como uma
"doena crescente", podendo mesmo duplicar no incio do prximo
milnio (7).
Estudos epidemiolgicos realizados nas ltimas dcadas indicam que
a principal causa da obesidade assenta em alteraes ambientais e
comportamentais (8).
Tratando-se de um grave problema de sade pblica, a obesidade
considerada uma das patologias do foro nutricional mais frequente dos
nossos dias. Integrada no grupo de doenas do comportamento,
parece ser no sculo XXI a primeira causa de doena crnica a nvel
mundial,sendo definida como tal em Maro de 1997 (9,10,11,12,13).
A distribuio e prevalncia da obesidade parece estar associada com
a raa, o nvel scio-econmico-cultural das populaes, bem como
com estilos de vida sedentrios e hbitos alimentares incorrectos (13).
Ao longo da histria podemos observar que o ganho de peso era
compreendido como sinal de sobrevivncia e prosperidade (14). H25.000 anos atrs foram encontradas algumas estatuetas de mu
lheres opulentas, mostrando que a obesidade no um fenmeno
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Introduo
actual,mas sim algo que reflecte a histria do ser humano (7,14).
Na ltima metade do sculo passado, as profundas alteraes sociais e econmicas dos pases industrializados conduziram a um
aumento drstico da obesidade. Um estilo de vida laboral e quotidi
ano com tendncia para uma crescente inactividade conduz a um
reduzido gasto energtico e acompanhado de um aumento acentu
ado da oferta de alimentos energeticamente densos. Observa-setam
bm o constante aparecimento de uma enorme variedade de alimentos novos, sobretudo preparados para consumidores apressados e
uma reduzida utilizao da cozinha tradicional (1,15,16).
Em 1995 foi estimado em 200 milhes o nmero de adultos obesos
em todo o mundo e 18 milhes o nmero de crianas com idade infe
rior a 5 anos tinham sobrepeso. Neste mesmo ano, nos Estados
Unidos da Amrica, Wolf e Colditz estimam que os gastos totais notratamento do sobrepeso/obesidade atingiram cerca de 99.2 bilies
de dlares (17). Foreyt calcula que no ano de 2230, a manterem-se
as condies actuais, todos os americanos tenham ndices de massa
corporal superiores a 27 quilogramas por metro quadrado, ou seja,
100%da populao ser obesa (18,19).
Tambm na Europa a obesidade tem registado valores crescentes em
todos os grupos etrios, registando-se na ltima dcada um aumento
de 10 - 40% da sua prevalncia na maioria dos pases europeus
(7,13,20,21).
Em Portugal a prevalncia de sobrepeso/obesidade na populao
adulta aponta para valores de 35% e 14,4% respectivamente (22).
O aumento da prevalncia da obesidade no um problema confina
do somente populao adulta, pois a obesidade na criana e no
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Introduo
adolescente tem vindo a aumentar e subsequentemente o maior risco
de morbilidade e mortalidade na idade adulta (23,24).
A obesidade na infncia e na adolescncia, denominada tambm por
obesidade juvenil, hoje considerada a doena nutricional mais
comum na idade peditrica, no s nos pases desenvolvidos, como
mesmo nos pases em vias de desenvolvimento (24,25,26).
Nos Estados Unidos da Amrica a obesidade infantil um dos mais
graves problemas de sade, verificando-se um aumento de 40%entre 1965 e 1980 (27) . Alguns estudos mostram mesmo que esta
prevalncia triplicou nos indivduos com idades compreendidas entre
os 6-11 anos (28,29).
Portugal no possui qualquer estudo que permita ter uma real noo
da prevalncia da obesidade peditrica embora tenham sido realiza
do vrios estudos locais. Num trabalho realizado com adolescentesdo grande Porto, a prevalncia de obesidade entre os 8-13 anos
oscila entre4-11%(30). Um outro estudo realizado em 1999 no Porto
envolvendo adolescentes do sexo feminino, aponta para uma
prevalncia de 21% de sobrepeso e 6% obesidade (31). No arqui
plago dos Aores observam-se valores de sobrepeso e obesidade
de 19,6% e 22% respectivamente (32).
Segundo a Organizao Mundial de Sade, define-se obesidade
como uma doena multifactorial, complexa, resultante de uma
condio crnica, entrando em linha de conta com diversos factores
de risco como a hereditariedade, alteraes hormonais, bem como
factores ambinciais e sociais, nos quais se incluem os hbitos ali
mentares, stress e sedentarismo (33,34,35). Este mesmo organismo
define a obesidade como um excesso de gordura corporaltotal,asso-
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ciado ou no a perturbaes da sua distribuio anatmica e desen-
volvendo-se, na maioria dos casos, na ausncia de doena subjacente ou de causas orgnicas (36).
do conhecimento geral que o sobrepeso/obesidade se desenvolve
medida que a energia ingerida superior energia dispendida,
dando origem a um balano energtico positivo. Se este sistema se
mantiver, a situao anteriormente apontada tende a agravar-se ao
longo do tempo. Na maioria das vezes o excesso energtico consumido, atravs de dietas de elevado teor em gordura, e uma reduzi
da actividade fsica no perceptvel pela maior parte dos doentes
obesos (9,37,38). Parece mesmo haver uma predisposio gentica
para um consumo acentuado de alimentos ricos em gorduras e
baixos nveis de actividade fsica (39,40).
No se conhece bem a histria natural da obesidade, ainda que se
saiba que em condies normais, o tecido adiposo se desenvolve nacri
ana em vrias fases: aumento rpido durante o primeiro ano, estabili
dade entre o 1oe o 6oanos e novo incremento a partir desta idade (41).
O ndice de Massa Corporal (IMC) de Quetelet (peso em kg/estatura
ao quadrado em metros) considerado pela OMS como o mtodo de
avaliao clnica mais fivel, sendo um bom indicador de adiposidade
na criana no adolescente e no adulto (42,43,44,45,46).
Muito recentemente um grupo de especialistas props valores de
corte do IMC para definir excesso de peso/obesidade (47). Os valores
de corte dependem do gnero e da idade (de 6 em 6 meses) corres
pondendo por extrapolao aos valores de 25 e 30 kg/m
2
- estabelecido pela Organizao Mundial de Sade para adultos. Estes foram
compilados a partir de uma srie de estudos representativos da popu-
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lao infantil a nvel mundial, e os valores de corte propostos no se
afastam muito dos actualmente utilizados em Portugal. necessrio existir concomitantemente um aumento de massa gorda
corporal total, uma vez que a criana ou adolescente pode estar
acima do Pc 95, mas no custa de massa gorda (43,44).
Cerca de 95% das situaes de obesidade peditrica apresentam
uma etiologia primria, nutricional ou exgena (47).
A obesidade na idade peditrica um factor preditivo da obesidadeno adulto (48). Muitos estudos mostram que as crianas obesas
esto mais sujeitas, comparativamente a crianas eutrficas, a serem
adultos obesos, sobretudo se a obesidade persiste durante a puber
dade (47,48).
A obesidade em idades muito jovens parece constituir um risco
acrescido de obesidade em idade adulta, sendo mesmo duas vezes
mais elevada nas crianas obesas do que nas no obesas, para alm
de ser mais severa e difcil de tratar (2,29,49,50,51,52).
De facto se uma criana obesa no perder peso at chegar ado
lescncia, apresenta maior probabilidade de se manter obesa na
idade adulta, associando-se uma elevada morbilidade e mortalidade
(15,53,54,55,56,57). Vrios trabalhos demonstram que o sobrepeso e
a obesidade na infncia e adolescncia se encontram fortemente
relacionados com indicadores de doena cardiovascular, hipertenso,
perturbaes endcrinas, metablicas, alteraes osteoarticulares e
psicoafectivas (24,29,37,58,59,60,61,62,63,64,65,66). A diabetes tipo
II na criana, antes um fenmeno inexistente, apresenta actualmenteem algumas populaes uma prevalnvia de 30% (67,68,69). A idade
em que se instala a obesidade, o grau de adiposidade, existncia ou
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no de obesidade familiar e factores soci-econmico-culturais,
podem tambm influenciar o aparecimento desta patologia(37,70,71).
Verifica-se que a obesidade paterna pode influenciar a obesidade da
criana e do adolescente. Na maioria dos casos pelo menos um dos
progenitores tambm obeso (69,50). Lake e colaboradores mos
traram mesmo um risco de obesidade 8,4 vezes maior se ambos os
progenitores forem obesos e 6,8 vezes se a me for obesa (57).A obesidade habitualmente associada a aspectos de vida nega
tivos, onde as crianas e adolescentes obesos so estigmatizados
desde idades muito precoces at idade adulta (72). Os prprios
meios de comunicao social, nomeadamente a televiso, ao culti
varem fortemente a ideia de magreza agravam esta situao de
rejeio social ( 51).
O envolvimento familiar importante na aquisio de preferncias e
modelos alimentares (73). Numerosos estudos sociolgicos apontam
para significativas mudanas da estrutura familiar ao longo das lti
mas dcadas, bem como alteraes profundas dos estilos de vida.
Hoje em dia a criana e o jovem raramente so educados e alimen
tados num meio familiar e escolar restrito (74).
O gosto da criana por correr atrs dos pintos, do co e do gato desa
pareceram, dando lugar ao infantrio confinado a um apartamento,
onde h televiso, jogos de computador e outras actividades virtuais
(67). A complexidade da interaco destas situaes parece estar na
base do desenvolvimento da obesidade em idade peditrica. (41,75).
bom lembrar que o aumento da actividade fsica uma componente
importante no programa de perda de peso. Contudo, o exerccio por
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si s, sem alteraes alimentares, insuficiente para produzir perdas
de peso significativas em doentes obesos. O incio da actividade fsica est relacionado com a mobilizao do glicognio muscular. No
entanto, medida que o exerccio se mantm e prolonga no tempo, a
mobilizao de gordura aumenta e os cidos gordos tornam-se aprin
cipal fonte de combustvel do organismo (76,77,78).
A inactividade e a pouca disponibilidade dos pais para a prtica regu
lar de exerccio poder contribuir para estilos de vida cada vez maissedentrios da criana e do adolescente. Reduzidos nveis de activi
dade fsica assumem-se como elemento preditivo no desenvolvimen
to da obesidade, quer na criana quer no adulto (2,79).
Em 1984 e mais tarde em 1990, a Academia Americana de Pediatria
expressou a sua preocupao quanto ao nmero de horas despendi
do pela criana e pelo adolescente a ver televiso e jogos de computador, alertando para a influncia que os mdia tm em relao ao
comportamento alimentar e hbitos sedentrios nestes grupos etrios
(80,81,82,83,84).
Um estudo Europeu que incluiu Portugal em 1999, estimava que aproxi
madamente 70% dos portugueses com mais de 15 anos era sedentrio,
ou seja, praticava 1,5 horas/semana ou menos de exerccio fsico (85).
Rego e colaboradores registaram em grupos de crianas e adoles
centes obesos valores na ordem das 20-30 horas/semana a ver
TV/jogos de computador, bem como uma associao positiva entre
inactividade e adiposidade (24).
Podamos mesmo dizer que o nmero de horas despendido a verteleviso pode contribuir para a obesidade, podendo funcionar como
estmulo condicionado para comer e um convite ao sedentarismo
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(29,86,87,88,89). Tm sido sugeridos dois mecanismos para esta
associao: reduo do gasto energtico por diminuio da actividade fsica e um aumento do contedo energtico da dieta durante os
perodos despendidos a ver televiso (86,90,91,92). Paralelamente o
tempo despendido a ver televiso significa uma maior exposio ao
"aconselhamento" de produtos alimentares ricos em gordura e de alta
densidade energtica (50,93,94). Os anncios televisivos, promoven
do uma variedade de modelos e mensagens volta da comida, tmalguns efeitos sobre a preferncia e seleco dos alimentos. Por sua
vez, crianas e adolescentes podem influenciar os pais na compra e
no consumo de produtos alimentares publicitados pela televiso
(95,96,97).
A palatibilidade, a disponibilidade e a variedade so factores determi
nantes da ingesto alimentar (98,99,100). Douglas referia que
"Comer como falar, uma actividade padronizada "e" cada refeio
um evento social estruturado que estrutura outros sua imagem"
(101,102,103).
A refeio a forma estruturada que o Homem encontrou para a
ingesto de alimentos, considerada a unidade bsica no estudo do
comportamento alimentar da espcie humana. Este pode ser influen
ciado por conhecimentos, crenas e atitudes de familiares ou pes
soas com as quais nos relacionamos (93).
Podemos pois concluir que os estilos e hbitos alimentares das
famlias e a grande oferta de alimento a preos relativamente
acessveis, contribuiu para a alterao dos padres alimentaresverificada a nvel mundial, sobretudo nas ltimas duas dcadas
(37,104,105,106).
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A sociedade portuguesa no ficou indiferente s recentes modifi
caes dos estilos de vida verificados e fizeram de ns o pas daUnio Europeia que mais consome per capita (107) e que menos
gasta em actividade de lazer (85).
A insatisfao sentida pelo obeso em relao ao seu corpo reflecte-
-se na maioria dos casos numa diminuda auto-estima rodeada de
uma sensao de infelicidade (36,106,108).
Stunkard,em 1962, faz a primeira descrio terica sobre os problemas da imagem corporal, inserida na fenomologia das alteraes do
comportamento alimentar (109). Posteriormente, colaboradores seus
tentaram demonstrar que a insatisfao pela imagem corporal em
idades mais jovens torna-se ainda mais severa na idade adulta
(110,111).
Desde idades muito jovens que se manifesta uma enorme preocu
pao com o peso e a imagem corporal. A exagerada valorizao do
aspecto fsico e a grande insatisfao com a imagem corporal agra-
va-se com a presso exercida pelos meios de comunicao social, na
difuso de um "corpo delgado" que pode ser sinnimo de populari
dade, inteligncia e xito social (112,113,114).Nem sempre a magreza foi smbolo de beleza. No perodo da
renascena, a mulher desejvel envergava uma imagem corporal
opulenta, smbolo de reproduo e conhecimento influente (84).
Contudo, nas ltimas quatro dcadas, a magreza tornou-se progres
sivamente a imagem ideal (115).
Crianas e adolescentes, principalmente do sexo feminino, insatisfeitos com a sua aparncia, tm sido alvo de grande ateno, noslti
mos anos. Muito mais vulnerveis, apresentam uma baixa auto-esti-
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ma,depresso e ansiedade (116,117,118,119).
A insatisfao com a imagem corporal na infncia e na adolescncia,
pode ser factor de risco para o desenvolvimento de algumas altera
es do comportamento alimentar. A bulimia, a anorexia nervosa
e a obesidade so doenas do comportamento alimentar que se
manifestam pelo aumento de ansiedade e perturbaes da
personalidade inseridas nas transformaes culturais da sociedade
(84,118,120,121,122,123,124,125,126,127,128).A famlia assume um papel importante no desenvolvimento das alter
aes do comportamento alimentar e da imagem corporal da criana
e do adolescente. A consciencializao da imagem corporal dos
jovens obesos e seus progenitores reflecte-se, na maioria das vezes,
de uma forma negativa (124). As atitudes familiares existem dentro de
um contexto scio-cultural e estas podem ser influenciadas por correntes sociais standarizadas (129).
Os comentrios verbais negativos por parte de familiares, amigos ou
colegas surtem frequentemente efeitos psicolgicos negativos nas
crianas e adolescentes com excesso de peso/obesidade
(130,131,132,133).
O conceito e a identificao da imagem corporal est presente em
diferentes raas e grupos tnicos, relacionando-se com a percepo,
o desenvolvimento e maturao do corpo, bem como factores socio-
-culturais (36,102).
Percepo
a partir de idades muito precoces, que se tem uma percepo dife
renciada da imagem corporal em relao ao peso. Feldman e
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Introduo
Goodman referem existir, na criana e no adolescente, padres de
beleza que se manifestam e prevalecem posteriormente (134).
A percepo da imagem corporal varia com o sexo e com a idade.
Tem-se observado que desde idades muito precoces, raparigas obe
sas esto preocupadas com a sua imagem corporal, muito embora
esta atitude em relao ao prprio corpo se altere ao longo do ciclo
da vida (135).
Comparativamente aos indivduos normoponderais, os obesossubestimam ou distorcem as suas dimenses corporais e so mais
insatisfeitos e preocupados com a sua aparncia fsica (116). Por
outro lado, crianas e adolescentes associam com bastante frequn
cia a "silhueta" de um jovem obeso preguia, sujidade, insucesso
escolar e pior qualidade de vida (7,136).
Enquanto a magreza para as raparigas prpuberes toma a dimensobsica no conceito de beleza, sendo smbolo da imagem corporal
"ideal" e de atraco pelo sexo oposto, para os rapazes a figura
"ideal" aquela que mais musculosa e pesada (72,90,
137,138,139,140,141,142,143,144).
H mesmo quem considere que a imagem corporal representa uma
experincia subjectiva que cada indivduo tem com o seu prprio
corpo e a forma como interage com a sociedade (145,146).
Desenvolvimento e maturao
O desenvolvimento pubertrio relaciona-se com vrias mudanas
fsicas e psicolgicas consideradas um marco importante no desen
volvimento da imagem corporal (131).
O tempo de maturao parece estar relacionado com a ocorrncia de
28
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Introduo
uma maturao precoce ou tardia, e com as alteraes fsicas da
resultantes, podendo colocar o adolescente em risco depreciativo ou
de insatisfao com o seu prprio corpo (147).
Comentrios depreciativos relacionam-se com uma profunda insatis
fao da imagem corporal, alteraes do comportamento alimentar e
baixa auto-estima, com repercusses na idade adulta (148,149).
Factores socio-culturaisO que eventualmente poder influenciar o desenvolvimento da
imagem corporal nas sociedades ocidentais deve-se a vrios factores
e ideais de beleza que variaram ao longo dos tempos.
As alteraes do comportamento alimentar, tipo de dietas praticadas
e tristeza com a forma do corpo, so consideradas respostas naturais
s presses da sociedade. Actualmente os obesos so consideradosfisicamente menos atractivos desenvolvendo uma imagem corporal
negativa (65).
Perante o que foi exposto, e sendo a obesidade uma doena com
portamental, torna-se pois necessrio incluir a caracterizao da
imagem corporal como critrio de diagnstico no tratamento da obesi
dade (150).
Este interesse emergente pelo estudo da satisfao ou insatisfao
com o corpo levou execuo de uma enorme quantidade de
trabalhos, que nos anos 70 e 80 permitiram Slade e Russell's desen
volver metodologias necessrias avaliao da percepo da
imagem corporal (67,151).
Vrias escalas tm sido desenvolvidas para avaliar a imagem corpo-
29
7/25/2019 Imagem Corporal_obesidade Em Crianas_livro
26/90
Introduo
ral.Numa primeira abordagem esta poder envolver aspectos cogni
tivos,afectivos e comportamentais. Em alguns estudos, este tipo de
avaliao tem sido mesmo usado como estimativa do peso corporal
(65,67,152,153,154,155).
Nos ltimos 15 anos um largo nmero de correlaes, tendo como
base trabalhos longitudinais em adolescentes, permitiu verificar uma
forte associao entre a imagem corporal e alteraes do comporta
mento alimentar (156,157).Verifica-se que a imagem corporal um problema para os indivduos
obesos, independentemente do grupo etrio em causa. O desejo de
melhorar a imagem corporal pode ser uma forma de motivao, para
iniciar um programa de perda de peso (154,158,159).
Embora existam hoje em dia muitos estudos sobre imagem corporal
efectuados em adultos, recentes investigaes tm sido direccionadas a populaes mais jovens.
Foram objectivos do presente trabalho avaliar a auto-imagem emcri
anas e adolescentes obesos de ambos os sexos e seus progeni
tores, identificar a influncia da imagem corporal dos progenitores
nas atitudes e comportamentos dos filhos e estudar a interferncia
dos factores scio-econmicos, culturais e demogrficos na satis
fao ou insatisfao da imagem corporal.
30
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Il - MATERIAL E MTODOS
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Materialemtodos
1 . Populao
A amostra constituda por 94 crianas e adolescentes obesos deambos os sexos, seguidos na Consulta de Nutrio/Obesidade do
Departamento de Pediatria do Hospital de So Joo, e respectivos
progenitores.
2. Metodologia
2.1 Seleco da amostra e recolha de dados
2.1.1 Seleco da Amostra
Da totalidade das crianas/adolescentes obesos seguidos na
Consulta Externa de Nutrio/Obesidade do Departamento de
Pediatria do Hospital de So Joo desde Maio de 1998 a Outubro de
2002 (n= 333), foram convocadas todas as 120 crianas e adoles
centes com idades cpmpreendidas entre os 7 - 12 anos (n=120), cor-
respondendo a6GTZ%da populao com esta idade. Responderam
convocatria e foram avaliadas 94 (78,3% da amostra seleccionada).
2.1.2 Normas e Protocolos
Procedeu-se aplicao de um protocolo de Avaliao Nutricional e
da Imagem Corporal em relao a cada criana/adolescente e seus
progenitores (Anexos 1e 2). O referido protocolo foi previamente testado e avaliado, sendo o seu preenchimento sempre efectuado pelo
mesmo elemento do grupo de estudo.
32
7/25/2019 Imagem Corporal_obesidade Em Crianas_livro
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Materialemtodos
2.2 Metodologia e Tcnicas de Avaliao
2.2.1. Avaliao antropomtrica, do estado de nutrio
e da composio corporal
Para a avaliao antropomtrica, em relao a cada criana/adoles
cente, foram utilizadas metodologias e tcnicas internacionalmente
recomendadas (160).A determinao da estatura foi efectuada em estadimetro "Seca"
(sensibilidade de 0,5 cm) e do peso em balana "Tanita" (sensibili
dade de 100 g). Procedeu-se ao clculo do Z-score (Zs) do peso e
estatura, usando-se como padro de referncia as tabelas de
Frisancho (161).
Para a caracterizao do estado de nutrio foi utilizado o ndice demassa corporal (IM C/kg/m2) obtido atravs de um software incorpora
do na balana. Procedeu-se posteriormente ao clculo do Zs do IMC,
tendo como padro de referncia as tabelas de Frisancho (161). Foi
calculado o grau de obesidade, sendo considerado: grau I (Pc >75 85 < 95 ) sobrepeso; grau III (Pc
>95) obesidade (7).
A caracterizao do estado de nutrio dos progenitores teve por
base o ndice de massa corporal (42). Para a determinao do grau
de obesidade nos progenitores foi utilizada a classificao da
Organizao Mundial de Sade (OMS) (8).
A composio corporal tricompartimental na criana foi determinada
por impedncia bioeltrica (BIO) obtida atravs de um software incor
porado na balana. Determinou-se a percentagem de massa gorda
33
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Material e mtodos
para o valor de referncia, utilizando para o efeito as tabelas de
Brook e Haschke (162,163).
2 2.2. Avaliao scio-econmico-cultural
Para a caracterizao scio-econmico-cultural dos agregados fami
liares foi utilizada a classificao de Graffar adaptada (164), sendo as
questes respondidas pelos progenitores no momento da consulta.
2.2.3 Classificao do tipo de obesidade
Na criana/adolescente, a classificao do tipo de obesidade em
andride, ginide e generalizada teve por base a relao permetro
da cinta/permetro da anca (Peint / Pa). Uma razo Peint /Pa superi
or a 1 para o sexo feminino e a 0,9 para o sexo masculino define
obesidade andride; se a razo for inferior a 0,75 para o sexo femini
no e inferior a 0,85 para o sexo masculino sugere uma obesidade
ginide, enquanto os valores fora destes intervalos so indicadores
de obesidade generalizada (165).
2.2.4 Avaliao da imagem corporal
Aps convocatria prvia dos progenitores, foi-lhes explicado o objec
tivo do trabalho.
A avaliao da imagem corporal foi efectuada com a criana/adolescente e com os progenitores, e foi obtida de uma forma individual,
aps observao das respectivas figuras. Foi avaliada atravs de
34
7/25/2019 Imagem Corporal_obesidade Em Crianas_livro
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Material e mtodos
uma escala constituda por 7 imagens de crianas/adolescentes e
adultos de ambos os sexos, compreendidas entre a magreza (F1) e a
obesidade (F7) (Anexo 2) (142) .
2.2.5 Caracterizao de hbitos de vida da criana/ado
lescente e progenitores
Tendo como base uma entrevista dirigida criana e com a colabo
rao dos pais, o protocolo pretendeu ainda avaliar hbitos de vida,
bem como atitudes e comportamentos em relao sua prpria
obesidade.
O ndice de actividade fsica da criana/adolescente e seus progeni
tores foi determinado pela prtica regular de actividade fsica e pelo
nmero de horas por semana passadas a ver TV/Jogos ou outrasactividades conotadas com sedentarismo.
2.2.6 Tratamento estatstico
Os dados foram analisados estatisticamente considerando a globali
dade da amostra e por sexos. De acordo com a idade cronolgica a
amostra foi dividida em dois grupos: GA (7 - 9 anos) e GB (10 - 12anos).
No estudo esto includos resultados da anlise descritiva das va
riveis estudadas bem como, quando apropriado, estudos compara
tivos.
Nos estudos comparativos utilizamos os teste de Exacto de Fisher,
teste de Pearson e Linear by Linear para comparar grupos, e testes
T para comparar variveis contnuas.
35
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Material e mtodos
Calcularam-se propores de concordncia para comparar resulta
dos obtidos entre os pais e a criana.
Em todas as anlises considera-se com significado estatstico um
valor de p
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Ill-RESULTADOS
"
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Resultados
1 . Caracterizao da amostra
1.1 PopulaoForam convocados todas as crianas/adolescentes com idadescorn
u e y1'
preendidas entre os 7-12 anos (n=120), correspondendo a Q^% da
populao deste grupo etrio seguida na Consulta Externa de
Nutrio/Obesidade do Departamento de Pediatria do Hospital de
So Joo desde Maio de 1998 a Outubro de 2002 (n=333).Responderam convocatria e foram avaliadas 94 (78,3% da
amostra seleccionada).
A amostra foi dividida em dois grupos: GA=7-9 anos correspondendo
ao 1ociclo e GB=10-12 anos correspondente ao 2ociclo.
Em 90% das crianas/adolescentes estudados, a referida consulta foi
solicitada pelo mdico assistente (Quadro 1).Quadro 1- Referncia consulta em funo do grupo de estudo.GA GB Tota
n (90)
(2)41 (100) 53 (100) 94 (100)
GA=7-9 anos; GB=10-12 anos
1.2 Caracterizao scio-econmico-cultural
A recolha de dados referentes aos aspectos scio-econmico-cultu-
rais e sanitrios visando a caracterizao dos agregados familiares
segundo a classificao de Graffar, permitiu obter os resultados referi
dos no Quadro 2.
Quadro 2 - Distribuio dos agregados familiares segundo a Classificao de Graffar.
I II III IV V Total
ri
(%)
12
(13)
13
(14)
54
(57)
14
(15)
1
(1)
94
(100)
38
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Resultados
1.3 Caracterizao dos agregados familiares
1.3.1 Criana
Do total da amostra (n=94), 48 pertencem ao sexo masculino (51%)
e 46 ao sexo feminino (49%) (Quadro 3). Os dois grupos amostrais
GA (n= 41) e GB (n= 53) apresentam uma mdia de idades de 8.17
0.83 e 10.64 0.52 anos respectivamente (Quadro 4), e 37% das
crianas estudadas so filhos nicos (Quadro 5).Quadro 3 - Crianas e adolescentes obesos: distribuio por sexos.
n (%)Masculino
Feminino
Total
48
46
94
(51)
(49)
(100)
Quadro 4 - Crianas e adolescentes obesos: Idade mdia cronolgica em funo do grupo de estudo.
M dp
GA(n=41)
GB (n=53) 8.1710.640.8340.522
Quadro 5 - Crianas e adolescentes obesos Caracterizao do agregado fami ar em funo do nmero de irmos.
0 1/1 1/2 1/3 Total
n
(%)35
(37)
60
(53)
8
(9)
1
(1)
94
(100)
M - Mdia; dp - Desvio Padro
Todas as crianas estudadas frequentavam o 1oe 2ociclo de esco
laridade (Quadro 6). Observa-se algum insucesso escolar em ambos
os grupos, havendo necessidade de recorrer ao ensino especial em
certos casos (Quadro 7).
Quadro 6 - Crianas e adolescentes obesos: Caracterizao do nvel de escolaridade em funo do grupo de estudo.
GA GB Total
n
(%)n
(%)n
(%)Frequenta o1oCiclo
Frequenta o 2 CicioTotal
38
3
41
(93)
(7)(100)
8
45
53
(15)
(85)
(100)
46
4894
(49)
(51)
(100)
GA=7-9anos; GB=10-12 anos
39
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Resultados
Quadro 7-Aproveitamento escolar das crianas e adolescentes obesos (n=94): distribuio percentual por
grupo de estudo.
Reprovaes Ndeanos reprovados Ensino especial
Sim No Total Sim Nao Total
n (%) n (%) n (%) n Min Med Max [ i (%) n (%) (%)GA 7 (17) 34 (83) 41 (100) 6 1 1 1 1 (10) 37 (90) 41 (100)
GB 7 (13) 46 (8/) 53 (100) 7 1 2 2 5 (S) 48 (91) 53 (100)
Total 14 (15) 80 (85) 94 (100) 13 1 1 2 8 (10) 85 (90) 94 (100)
Min-Mnimo; Med-Mediana; Max- MximoGA=7-9 anos; GB=10-12 anos
Em ambos os grupos houve crianas que foram enviadasconsulta
de pedopsiquiatria e psicologia, pornecessitarem de umacompa
nhamento mais especfico (Figura1).F i g 1 - Crianas e adolescentes obesos (n=94). Acompanhamento pedopsiquiatrico e psicolgico.
Distribuio porgrupo deestudo.
100%
8 0 %
6 0 %
40%20%
2 3 % p = O T a s G B ( n = 5 3 )
I D S i m N S o
GA=7-9 anos; GB=10-12 anos
40
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Resultados
Fig 3 - Crianas e adolescentes obesos (n=74). Fontes de informao sobre alimentao e nutrio.Distribuio porgruposdeestudo.
1 0 0 %
8 0 %
9 6 %9 1 %
1 0 0 %
8 0 % 16 0 % I4 0 % I2 0 % 15 % 16 % l
0 % m 0 % 0 % 0 % 2 % 6 % 2 %0 % m 0 % 0 % 0 % 2 % 0 %T V R d i o R e v i s t a s E s c o l a F a m l i a
0 %
T V
Q G A( n = 3 4 ) M G B ( n = 4 5 )
F a m l i a
GA=7-9anos;GB=10-12anos
1.3.2 Progenitores
Onmero,distribuioporsexo,mdiade idades,estadocivilegrau
de escolaridade dos progenitores, encontram-se descritos nosQuadros8,9 e 10.
De referir que shavia dois casos depais divorciados, razoque
levousuaexcluso.
Quadro 8 - Idade mdiadosprogenitores (anos):distribuio porsexo.
M dpSexo Masculino
Sexo Feminino
39.19
36.50
5.6
4.8 M- Mdia;dp- DesvioPadro
Q u a d r o 9 - Progeni tores: estado civil.
n (%)C a s a d o s 94 (100)
Q u a d r o 10- Progeni tores: caracter izao dograu deescolar idade emfunodosexo.
Se mescolaridade 1Ciclo 2-3ciclo Secundrio Superior
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)Sexo Mascul ino 1 (1)Sexo Feminino 1 (1)Total 2 (1)
41 (43)29 (31)70 (37)
26 (28)38 (40)64 (34)
131528
(14)(16)(15)
131124
(14)(12)(13)
41
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Resultados
1.4 Estado de nutrio e composio corporal
A caracterizao do estado de nutrio da criana, expressa emZ-Score, pode ser observada na Fig 4.Fig4 - Crianas e adolescentes obesos (n=94). Indicadores nutricionais (Z Score) (mdia). Distribuio porgrupo de estudo.
S 3
LPesop=0.006 p=0.508GA Estp=0.115GB IIMC
p=0.439
GA=7-9 anos; GB= 10-12 anos
Observa-se um elevado grau de adiposidade nos dois grupos de
estudo (GA e GB) em relao %MNG e %MG registando-se dife
renas significativas entre os sexos no que diz respeito %MG parao valor de referncia (Quadro 11).
Quadro 11 - Crianas e adolescentes obesos. Composio corporal por sexo e por grupo de estudo (% MNG
e %MG por impedncia bioelctrica (BIO) e % MG expressa em percentagem para o valor de referncia).
GA(n*18)
GB(n=30)
_d_ dp
Total(n=48)
GA
("=23>
GB(n=23)
Total(n=46)
dp dp _dp_ _dp_
%MNG%MG%MG para valor dereferncia
6238
(8)(8)
6040
(8)(8)
6040
(8)(8)
5941
(4)(4)
5940
(8)(4)
5941
(5) 0.330(4) 0.517
270 (70) 236 (53) 249 (61) 232 (32) 180 (24) 206 (39)
M- mdia; dp - Desvio Padro;" Independent-Samples T TestGA=7-9 anos; GB= 10-12 anos
A quase totalidade da amostra apresenta um grau 3 de obesidade para
ambos os sexos (Quadro 12).
Quadro 12-- Crianas e adolescentes obesos. Grau de obesidade em funo do sexo (%)G1
(IMC 75-85)G2
(IMC 85-95)G3
(IMC>95
n
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Resultados
Regista-se, para ambos os grupos etrios, um predomnio de obesi
dade do tipo andride no sexo masculino (GA=83% e GB=97%),
enquanto que a obesidade generalizada predominante no sexo
feminino (GA 70% e GB 74%) (Quadro 13).
Quadro 13 - Crianaseadolescentes obesos. Distribuio percentual do tipo de obesidade nos grupos deestudo e em ambos os sexos.
Mascul no Feminino
GA GB GA GBn (%) n (%) n (%) n (%)
GIN
AND
GENTotal
1
15
218
(6)(83)
(11)(100)
129
030
(3)(97)
(0)(100)
07
1623
(0) 1(30) 5
(70) 17(100) 23
(4)(22)
(74)
(100)
GA=7-9 anos; GB=10-12 anos
O ndice de massa corporal de Quetelet (IMC) dos progenitores pode
ser observado no Quadro 14.
Quadro 14 - Mdia do IMC dos progenitores: distribuio por sexo.
M dp_Sexo mascul ino 28 06 4 14
Sexo femin ino 27.64 4.85
M- Mdia; dp- Desvio Padro
Tendo como base a classificao da Organizao Mundial de Sade
(OMS), verifica-se uma elevada percentagem de excesso de
peso/obesidade nos progenitores (Pai 78% e Me 66%) (Quadro 15).De realar que em 54% das famlias, ambos os progenitores apre
sentam excesso de peso/obesidade (Quadro 16).
Qu ad ro 15 - Grau de obesidade dos progeni tores. Distribuio percentual por sexo em ambos os progenitores.
Normoponderal Excesso peso(IMC18.4-24.9) (IMC25-29.9)
Grau 1(IMC30-34.9)
Grau 2(IMC35-39.9)
Grau 3(IMO40)
n % n % n % n % n %Mascul ino (n=94) 20 (22) 50 (53)Feminino (n=94) 32 (34) 36 (38)Total 52 (28) 86 (46)
18 (19)17 (18)35 (18)
4 (4)8 (9)12 (6)
2 (2)1 (1)3 (2)
43
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Resultados
Quadro 16 - Progenitores (n=94). Incidncia de obesidade.
Am bososProgenitores
(n=94)
Pelo menos1progenitor
(n=94)
(%) n (%)ExcessodePeso/Obesidade 51 (54)
Normo Ponderal 43 (46)
Total 94 (100)
85 (90)
9 (10)
94 (100)
1.5 Hbitos devida dacriana e progenitores
As crianas dos dois grupos (GA e GB)e deambosossexos apre
sentam elevados ndicesdesedentarismo (Fig5).Noseregistam
diferenas significativas do nmero de horas de TV/Computador nos
dois grupos etrios.
Fig 5 - Criana eadole scentes ob esos (n=94). Hbitos devida: Sedentarismo e actividade fsica porsexo
e grupo de estudo (mdia).
2 5
2 0
F 15
1 0O).u Ro
I ISeden tari smo Activi dade Ffsicap=0.568 p=0.695GAM
Seden tari smo Activi dade Fsica
p=0.235 p=0.132G B
GA=7-9 anos; GB= 10-12 anos
Aponta-se umaelevada inactividade fsica dos progenitores em
ambos os sexos (Quadro 17).
Q u a d r o 1 7- Hbitos devida dosprogenitores (n=94): Indice de actividade tsica porsexo(%).
(%)Masculino
No
Sim
Feminino
No
Sim
84 (89)
10 (11)
>69 (95)
5 (5)
O grau de sedentarismo dos progenitores no se correlaciona nem com
o grau de escolaridade nem comondice de Graffar (Quadros 18e19).
44
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Resultados
Quadro 18 - Progenitores (n=94). ndice de actividade fsica praticada pela Me e pelo Pai: estudo comparativo de acordo com grau de escolaridade.
Escolaridade dos Pais
Semescolar idade/ 2 e 3o ciclo Secu ndri o/1" Ciclo Superi or
J2a TJ n f%>MeN
30 (100 ) 35 (92) 24 (92) 89 (95)
(0) 3 CS) 2 (8) 5 (5) (100 ) 38 (100 ) 26 (100) 9 4 (10 0)
5 (19) O (O) 10 (11)
(100) 26 (100) 26 (100) 94 (100)
SimTotal
PaiNoSimTotal
* Linear by linear
Quadro 19 -Progenitores (n=94). Indice de actividade fsica praticada pela Me e pelo Pai: estudo comparativo com a classe de Graffar.
Escolaridade dos Pais
Classe Mdia Classe Baixa
(%) n
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Resultados
Quad ro 2 1- Crianas e adolescentes obesos. Relao como corpo: distribuio por sexos e grupos de estudo.
Masculino Feminino Total
G A G B
P
G A G B
P
Total
n (%) n (%) P n (%) n (%) P n (%) pBem
Mal
Total
1
17
18
(6)(94)
(100)
6 (20)
24 (60)
30 (100)0.231 '
3
20
23
(13)
(87)
(100)
2
21
23
(9)
(91)
(100)1.000
1
12
8?
94
(13)
(87)
(100)0.59o'
1-teste de Person;2 -teste Exacto de Fisher. GA=7-9 anos; GB=10-12 anos
Uma elevada percentagem (50%) de crianas so indiferentes ao facto
de serem obesas. Contudo a tristeza e a revolta so sentimentos pre
dominantes em relao ao sintoma (Quadro 22).Quadro 2 2- Crianase adolescentes obesos. Relao ao sintoma: Distribuio (%) por sexo e grupos de estudo.
Feminino Total
3 A G B (%)N n (%) r n (%) n (%) #* n (%) P*
Indiferena NoSim
612
(33)(67)
1317
(43)(47) 0.493*
149
(61)(36)
149
(61)(39) r
1 4747
(50)(50) 0.039*
Esconde NauSim
162
(89)(11)
291
(97)(3) 0.547
1221
(96)(4)
230
(100)(0) fa
904
(96)(4) 0.617*
Exalta NoSirn
171
(94)(6)
255
(83)(17) 0.38S
1221
(96)(4)
203
(87)(13) 0.60a1
8410
(89)(11) 0.740'
Tristeza NoSim
153
(83)(17)
219
(70)(30) 0.302*
1013
(44)(56)
1013
(44)(56) 1*
5638
(60!
(40) 0.002*
Revolta NoSim
153
(83)(17)
237
(77)(23) 0.582*
203
(87)(13)
203
(87)(13) 1*
7816
(83)(17) 0.315'
1-teste de Person;2 -teste Exacto de Fisher. GA=7-9 anos; GB=10-12 anos
Verifica-se que todas as crianas querem perder peso e, em 87% dos
casos, o exerccio foi apontado como a forma mais correcta de o obter
(Quadros 23 e 24). Contudo, encontraram-se diferenas significati
vas entre os dois sexos no referente ao recurso medicao e
dieta,com uma procura maior do primeiro pelos rapazes (p=0,027) e
do segundo pelo sexo feminino ( p=0,013) (Quadro 24).Quadro 2 3- Crianaseadolescent es obesos(n =94). Motiva o para perder peso: distribuio por grupos de est udo.
ti [%} ti J%J n i% l_" 5 ^ 41 (lj 53 (100) 94 (100)
41 (100) 53 (100) 94 (100)Total
GA=7-9anos;GB=10-12 anos
2.2 Imagem corporal
As crianas e adolescentes do sexo feminino (n=46) identificam-se predominantemente com a imagem F6 (57%) sendo concordantemente esta a
imagem escolhida pelo respectivo pai e me (Fig 6).
46
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Resultados
A maioria das raparigas escolheria uma imagem ideal (F4), sendo
tambm esta a imagem escolhida pela maioria dos progenitores.
Regista-se, no entanto, numa percentagem considervel da popu
lao feminina (39%), uma tendncia para a identificao com ima
gens relacionadas com a magreza (F1 + F2 + F3) ( Fig 6).
Fig 6 - Imagem corporal das raparigas (n=46: distribuio percentual da imagem que a rapariga considera quetem e gostaria de ter e a imagem corporal que a me e o pai pensam que a filha tem e a que gostariam que elativesse.
Na Figura 7 mantem-se a concordncia da imagem corporal escolhida
pelas raparigas e seus progenitores nos dois grupos etrios (GA e GB).
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Resultados
Fig 7 - Imagem corporal das raparigas por grupos de estudo: distribuio percentual da imagem que a rapariga considera
que tem e gostaria de ter e a imagem corporal que a me e o pai pensam que a filha tem e a que gostariam que ela tivesse.
GA (n= 23 ): 7-9 anos A imagem que a criana considera que temA imagem que a me tem da filha
A imagem que o pai tem da filha
9%
13% 35% 35% 9%9% 13% 57% 21%
9% 70% 17%A imagem que a criana gostaria de terA imagem que a me gostaria que a filha tivesseA imagem que o pai gostaria que a filha tivesse
4%
GB (n = 23 ): 10-12 anos
4 %
A imagem que a criana considera que temA imagem que a me tem da filha
A imagem que o pai tem da filha
30% 57% 13%26% 57% 13%48% 44% 8%
1
4% 17% 65%13% 57%13% 70%
A imagem que a criana gostaria de terA imagem que a me gostaria que a filha tivesseA imagem que o pai gostaria que a filha tivesse
5
13%30%17%
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Resultados
A imagem corporal com que a rapariga se identifica e aquela com que
o pai e a me identificam a sua filha tm uma proporo de concordncia de61%e 59% respectivamente. Contudo, pai e me esco
lhem a mesma imagem para a sua filha, numa proporo e con
cordncia de 57% (Quadro 25).
A imagem corporal que o pai e a me escolheriam para a sua filha
tm uma proporo de concordncia de 42% e31% respectivamente.
Pai e me escolhem para a sua filha a mesma imagem, numa proporo e concordncia de 50% (Quadro 26).
As crianas e adolescentes do sexo masculino (n=48) identificam-se
predominantemente com a imagem F6 ( 44%), sendo esta a imagem
igualmente escolhida pelo respectivo pai e me (Fig 8).
Fig 8 - Imagem corporal dos rapazes(n=48): distribuio percentual da imagem que o rapaz considera que teme gostaria de ter e a imagem corporal que a me e o pai pensam que o filho tem e a que gostariam que ele tivesse.
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Resultados
Apesarde54%dos rapazes preferiraimagem F4,35% das mes e52%dos
pais escolheria para o seu filho uma imagem mais pesada (F5) (Fig 8).
Na Figura 9 mantem-se a concordncia da imagem corporal escolhida pelos
rapazes e seus progenitores nos dois grupos etrios (GAeGB).Fig 9 - Imagem corporal dos rapazes por grupos etrios: distribuio percentual da imagem que o rapaz considera quetem e gostaria de ter e a imagem corporal que a me e o pai pensam que o filho tem e a que gostariam que ele tivesse.
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Resultados
A imagem corporal com que o rapaz se identifica e aquela com que o pai
e a me identificam o seu filho tm uma proporo de concordncia de
46% e 50% respectivamente. Pai e me escolhem para o seu filho a
mesma imagem, numa proporo de concordncia de 63% (Quadro 25).
A imagem corporal que o pai e a me escolhem para o seu filho tm uma
proporo de concordncia de 38% e31%respectivamente. Contudo pais
e mes escolhem a mesma imagem para o seu filho, numa proporo de
concordncia de 48% (Quadro 26).Os valores percentuais apontados nas Figuras 10 e11referem-se iden
tificao da imagem corporal dos progenitores. Pode ainda observar-se a
imagem corporal que o pai e a me gostariam de ter, e aquela que os
seus filhos escolheriam quando fossem adultos.
Fig 10 - Imagem corporal da me(n=94): distribuio percentual da imagem que a me considera que tem e quegostaria de ter e a imagem que a filha (n=46) gostaria de ter.
2 % 13 % 2 7% 3 2 %
A imagem que a filha acha que a me temA imagem que a me considera que tem
28% 24%
ahl MSM!Mil
u uM M M V7% 9% 43 % 37 % 4%1 % 10 % 4 7% 34 % 8%
2% 4% 18% 59% 13%
A imagem que a filha gostaria de ter no futuro
A imagem que a me gostaria de terA imagem que a filha gostaria que a me tivesse
,__, , 30% das mes esto satisfeitas com a sua imagemib/odas mes com excesso de peso ou obesidade esto satisfeitas com a sua imagem
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Resultados
Fig 11 - Imagem corporal do pai (n=94): distribuio percentual da imagem que o pai considera que tem e que gostaria
de ter e a imagem que o filho (n=48) gostaria de ter no futuro.
15%
15%
(4;r
vu
A imagem que o f ilho acha que o pai temA imagem que o pai considera que tem
33% 15%27% 11% 5%
i l
6%2%10%
25%25%21%
58%54%42%
11%19%23% 4%
A imagem que o f ilho gostaria de ter no futuro
A Imagem que o pai gostaria de terA imagem que o f ilho gostaria que o pai tivesse
62%dos pais esto satisfeitos com a imagem que tm
60%dos pais com excesso de peso ou obesidade esto satisfeitos com a imagem que tm
Entre a imagem corporal que os rapazes e raparigas tm dos seus progeni
tores e a que estes tm de si prprios encontra-se uma proporo de con
cordncia de 44% para os pais e 49% para as mes em relao ao total da
amostra (Quadro 27).Quadro 27 - Crianas e adolescentes obesos (n=94). Proporo de concordncia entre a imagem corporal que a criana
acha que o pai e a me tem em relao imagem corporal que o pai e a me tm de si prprios. Distribuio por sexo.
Pai
Rapazes(n=48)
Pai
Raparigas(n=46)
Total(n=94)
Me
Nenhuma1 Figura2 Figuras3 Figuras
j%L24 (50)22 (46)2 (4)0 (0)
i%L (%)24 (50)18 (38)3 (6)
_ 2 SL-
17 (37)22 (48)6 (13)
J SL
(%)22 (48)21 (46)3 (6)
_2 !2L
J%L J%2_41 (44)44 (47)8 (8)1 (D
46 (49)39 (42)6 (6)3 (3)
A imagem corporal que as crianas gostariam que os seus pais
tivessem e a que eles gostariam de ter permitiu uma proporo de
concordncia num total de 47% para os pais e 32% para as mes em
relao ao total da amostra (Quadro 28).
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Resultados
Quadro 28 - Crianas e adolescentes obesos (n=94). Proporo de concordncia entre a imagem corporal que a crianagostaria que os seus pais tivessem e a que eles gostariam de ter. Distribuio porsexo.
Rapazes(n=48)
Raparigas(n=46) (
Totaln=94)
Pai Me Pai Me Pai Men (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
Nenhuma1 Figura
2 Figuras3 Figuras
241932
(50)(40)
(6)
(4>
132384
(27)(48)(17)
(8)
201970
(44)(41)(15)
()
172054
(37)(43)(11)(9)
4438102
(47)(40)(11)
(2)
30 (32)43 (46)13 (14)8 (8)
Regista-se uma associao significativa entre a escolaridade do pai e a
escolha da imagem corporal ideal que ele gostaria que a sua filha tivesse(Quadro 29).
Em ambos os sexos, aqueles que se identificam com figuras mais pesadas
(F6 e F7) escolhem, como imagem corporal que gostariam de ter, aquelas
mais relacionadas com a magreza (Quadro 30).
Quadro 30 - Crianas e adolescentes obesos (n=94). Imagem corporal que a rapariga e o rapaz consideram que tm eaquela que eles gostariam de ter.
Quai a figura que achas que tens
Fig4 Fig 5 Fig6 Fig 7 Totaln (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
Qual a figura que gostarias deter
Raparigas
Fig 1 0 (0) 0 (0) 2 (8) 0 (0) 2 (4)Fig 2 0 (0) 2 (14) 2 (8) 0 (0) 4 (9)Fig3 2 (100) 4 (29) 6 (23) 0 (0) 12 (26)
Fig4 0 (0) 8 (57) 13 (50) 2 (50) 23 (50)Fig5 0 (0) 0 (0) 3 (11) 2 (50) 5 (11)Total 2 (100) 14 (100) 26 (100) 4 (100) 46 (100)
Rapazes
Fig2 0 (0) 1 (7) 2 (10) 1 (10) 4 (8)Fig 3 0 (0) 5 (33) 3 (14) 5 (45) 13 (27)Fig4 1 (100) 9 (60) 13 (62) 3 (27) 26 (54)
Fig 5 0 (0) 0 (0) 3 (14) 2 (18) 5 (11)Total 1 (100) 15 (100) 21 (100) 11 (100) 48 (100)
No se encontraram diferenas significativas entre a imagem corporal
que as raparigas e os rapazes acham que tm ou gostariam de ter, na
dependncia da zona onde habitam (Quadro 31).
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IV DISCUSSO
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Discusso
A obesidade na criana e no adolescente surge actualmente como
um dos grandes problemas de sade pblica, no s nos Estados
Unidos da Amrica mas tambm nos pases ocidentais (7,166). O
crescente aumento da obesidade em idades peditricas deve-se, na
maioria dos casos, a uma causa extrnseca ao indivduo, tornando-se
fundamental a promoo de uma alimentao equilibrada aliada ao
incremento da actividade fsica (2,24,33,167).
Na consulta de Nutrio Peditrica/Obesidade so seguidas unicamente crianas e adolescentes com obesidade nutricional, sendo
esta caracterizada com base na avaliao clnica, laboratorial e ima-
giolgica efectuada na primeira observao.
A amostra estudada est equitativamente distribuda por sexos
(Quadro 3), tendo sido enviada maioritariamente nossa consulta
pelo mdico assistente (Quadro 1). Procedeu-se diviso em doisgrupos etrios (GA=7-9anos; GB=10-12anos) fundamentalmente
devido ao facto de se verificar, em mdia, aos dez anos, a transio
do primeiro para o segundo ciclo, caracterizado entre outros aspec
tos, por mudanas profundas de autonomia pessoal/independncia
familiar, bem como com alteraes na logstica comportamental esco
lar. Por outro lado o perodo da adolescncia s por si tambm ca
racterizado por menor envolvncia do meio familiar, maior condi
cionamento do efeito de grupo e maior autonomia. Assim, ser de
supor que a influncia parental e o condicionamento de comporta
mento pela envolvncia familiar seja mais marcada nas crianas (GA).
A obesidade uma vez instalada em idades muito jovens um dos fac
tores de risco major para o desenvolvimento de formas mais graves
de obesidade na idade adulta (168,169).
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Discusso
Durante a infncia e a adolescncia a composio corporal modifica-
-se substancialmente. Para o rastreio da obesidade peditrica, a
OMS recomenda a determinao do IMC de Quetelet (peso/estatura
ao quadrado), nomeadamente pela forte correlao que apresenta
com a percentagem de gordura corporal. A populao por ns avalia
da apresenta uma obesidade grau 3 (IMC > 95), (Quadro 12), com
valores significativamente superiores da adiposidade para o sexo
masculino, no apenas traduzida pelo valor do IMC (p = 0,001), (Fig4) mas tambm pelo valor de gordura corporal total (% MG para o
valor de referncia) (p< 0,001) (Quadro 11). Tratando-se de uma pop
ulao muito jovem, a magnitude do IMC da globalidade da amostra
torna-a um grupo de elevado risco e de mau prognstico.
Ao contrrio do que acontece no adulto, interessante registar um
predomnio de obesidade do tipo andride no sexo masculino e generalizada para o sexo feminino, independentemente do grupo etrio
(Quadro 13). As rpidas alteraes na distribuio da gordura corpo
ral,bem como a acumulao preferencial de gordura a nvel subcut
neo registadas durante a idade peditrica podero justificar tal facto
(47).Por outro lado, sabido que a deposio intraabdominal de gor
dura est associada a uma maior dificuldade de mobilizao, bemcomo a uma maior comorbilidade (24, 47), o que refora a importn
cia de preveno e interveno precoce.
A obesidade dos progenitores foi definida com base nos critrios da
OMS (8) e permite verificar que 78% dos pais e 66% das mes tm
excesso de peso/obesidade (Quadro 15). de salientar que o exces
so de peso/obesidade est presente em ambos os progenitores ou
pelo menos em um progenitor respectivamente em 54% e 90% dos
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Discusso
casais (Quadro 16).
As crianas cujos pais ou irmos tenham excesso de peso/obesidade
apresentam um risco acrescido de virem a ser obesas, parecendo,
contudo, a obesidade materna ser o factor preditivo de maior peso na
ocorrncia de obesidade da criana (84,142,170,171). Estima-se em
um risco acrescido de 6,8 vezes se o pai for obeso e 8,4 se a me for
obesa (103).
Na populao por ns estudada, 16% das mes e 60% dos pais comexcesso de peso/obesidade sentem-se bem com a sua prpria
imagem corporal (Fig 10 e 11). Entretanto, uma percentagem con
sidervel de progenitores escolhe para os seus filhos como a imagem
ideal,as silhuetas compatveis com sobrepeso e obesidade (Fig 6-9).
Esta atitude de aceitao e satisfao pessoal por parte dos proge
nitores em relao sua sobrecarga poderal necessariamente comprometer a motivao para a mudana comportamental.
Estilos de vida no saudveis, como maus hbitos alimentares e ele
vados nveis de sedentarismo, parecem contribuir fortemente para a
alta prevalncia de obesidade (13,152,172) da a importncia das
mudanas de comportamentos.
A prtica regular de actividade fsica tornou-se mais um " fssil " daera da industrializao e da computao (22,173). A Academia
Americana de Pediatria tem vindo a alertar para o efeito "hipnoti-
zador" da televiso e dos jogos de computador nas camadas mais
jovens, considerando como limite mximo 1 a 2 horas por dia
(172,174,175).
No entanto, o nmero de horas passadas em frente televiso na
infncia frequentemente superior, como alguns autores apontam,
60
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Discusso
de valores mdios de 20-24 horas semanais (118, 174, 176, 177,
178).Os resultados por ns encontrados sublinham esta ideia, pois
assustador verificar a tendncia crescente de inactividade/reduzida
actividade fsica nas crianas, independentemente do grupo etrio
(Hg 5).
Apesar de alguns trabalhos serem controversos, parece existir uma
relao positiva entre obesidade e televiso. Quer pelo efeito promo
tor de sedentarismo, quer ainda pelo estmulo condicionado paracomer alimentos densamente energticos, normalmente publicitados
pela televiso (60,61,82,112,135,179,180,181,182,183,184,185).
No que diz respeito ao grau de sedentarismo dos progenitores,
os nossos resultados so sobreponveis aos da literatura (101,
105,106,135,183). Observa-se que 89% dos pais e 95% das mes
por ns avaliados no praticam qualquer actividade fsica organizada(Quadro 17), no se verificando qualquer tipo de associao entre o
grau de escolaridade e o nvel scio-econmico destes com a prtica
regular de exerccio fsico (Quadros 18 e 19). No entanto, regista-se
uma associao positiva entre uma maior escolaridade dos progeni
tores e nveis mais elevados de actividade fsica praticada pelos _,
seus filhos, com valores significativamente mais elevados para e-pef >.
(p < 0,001) (Quadro 20). Tratando-se de crianas com idades muito
jovens, pai e me devero ser os elementos familiares com maior
influncia e mais responsabilidade sobre os hbitos de vida
saudveis nesta faixa etria, ressaltando assim a importncia dotra
balho comportamental com a famlia.
Desde idades muitos precoces que crianas e adolescentes obesos
so estigmatizados, sendo apontados pelos pares como tendo um
61
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Discusso
carcter defeituoso ou feios (131,186,187), apresentando pois maior
probabilidade de estados depressivos e baixa auto-estima (188).
"Pipa", "bomboca", "bucha" foram, entre outros, alguns dos nomes
apontados s crianas/adolescentes obesas por ns observadas
(Anexo 3). No vasto leque de comorbilidade associada obesidade
infantil, as alteraes de comportamento so sem dvida o sintoma
mais precoce e mais frequente.
A maioria das crianas estudadas (87%) refere no se sentir bem como seu prprio corpo (Quadro 21). Apesar de 50 % do total da amostra
ser indiferente em relao a este sintoma, a tristeza o sentimento
que mais afecta as crianas obesas, sobretudo o sexo feminino e em
idades mais velhas ( p=0,002) (Quadro 22). Estes e outros sentimen
tos podem explicar um estado de ansiedade permitindo uma ingesto
compulsiva de alimentos, factor de agravamento da sua obesidade.Curiosamente, com tendncia a consumir alimentos aucarados e
ricos em gorduras, a ingesto excessiva deste tipo de produtos ali
mentares parece funcionar como resposta a estados emocionais de
irritao ou depresso ou mesmo de proteco familiar (189,190,191,
192,193).
A totalidade das crianas avaliadas gostaria de perder peso (Quadro
23),mas nem todas tiveram a mesma atitude sobre a forma mais cor
recta de o fazer. Apesar de 44% da totalidade da amostra considerar
a alimentao associada ao exerccio fsico a melhor forma para
perder peso, na maioria dos casos, o exerccio fsico ser a forma
mais correcta de emagrecer (Quadro 24). Para o sexo feminino o
recurso exclusivo dieta a segunda opo (69% dos casos), regis-
tando-se uma diferena significativa entre os sexos (p=0,013)
62
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Discusso
(Quadro 24). Mais marcada a diferena entre sexos no que respei
ta opo pela teraputica medicamentosa, que tem uma recusatotal em 100% das raparigas, com aceitao para 12% dos rapazes.
A excessiva ingesto alimentar e a reduzida actividade fsica so
componentes de um problema biopsicossocial complexo, que assen
ta num enorme leque de factores comportamentais (155,182,194). A
teraputica da obesidade peditrica baseia-se quase exclusivamente
na manipulao destes dois aspectos, facto que alerta para aimportncia do envolvimento familiar e social (52,195,196,197).
A educao alimentar deve ser seguramente implementada logo que
o lactente inicie a sua diversificao alimentar, com uma aprendiza
gem contnua ao longo da sua vida e envolvimento de todo o agre
gado familiar. A maioria da populao por ns avaliada possui jalgu
ma informao sobre alimentao e nutrio (Fig 2), sendo a escolana esmagadora maioria, a responsvel pela transmisso destescon
hecimentos (Fig 3). Para alm das instituies de sade tradicional
mente envolvidas no tratamento da obesidade, a escola funciona
como um ptimo local de aprendizagem, podendo intervir em progra
mas dinamizadores de reduo de peso (90,107,133).
A medida que a criana vai crescendo, a obesidade parece tomar-se
uma situao mais complexa e difcil de tratar. A combinao entre as
recomendaes nutricionais e dietticas com a prtica regular do
exerccio fsico so desejveis para um emagrecimento saudvel, no
entanto, as alteraes comportamentais frequentemente encon
tradas, tornam necessrio em alguns casos, a interveno de tera
peutas especializados. Foram enviadas consulta de pedopsiquiatria
e psicologia respectivamente 19% e 13% de crianas de ambos os
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grupos estudados, e 7% necessitaram de medicao (Fig 1). Neste
contexto de perturbaes de auto-imagem/auto-estima, concordantecom o descrito na literatura, regista-se algum insucesso escolar na
populao por ns estudada, com 15% de reprovaes e 10% de
apoio do ensino especial (Quadro 7) (198). Estes aspectos reforam
a individualidade de cada uma destas situaes que devem ser
tratadas de forma particular, no s no que se refere a uma alimen
tao saudvel e prtica regular de exerccio fsico, mas tambm noque diz respeito s componentes psquico-sociais e familiares.
Provavelmente na origem de aspectos anteriormente referidos, reside
uma profunda insatisfao com a prpria imagem corporal, que no
indiferente criana e ao adolescente. Desde idades muito precoces
que se tem verificado uma enorme preocupao pela imagem corpo
ral,principalmente em crianas e adolescentes do sexo feminino (46,
199). Deste modo, quando se pretende relacionar o excesso de
peso/obesidade vs imagem corporal, importante considerar a idade
em que os rapazes e as raparigas comeam a sua auto-avaliao,
no s em relao a si prprios, como tambm em relao a outros
elementos do grupo. Alguns autores apontam para a ocorrncia deste
processo em idades precoces (198,200).
A descrio verbal e a apreciao da imagem ao espelho so alguns
dos mtodos de avaliao da imagem corporal. Contudo, a auto-
-avaliao por observao de diferentes tipos de silhueta a mais
usual.Esta ltima efectuada atravs da apresentao de fotografias
ou desenhos de imagens corporais, que vo desde a magreza atobesidade (67,55,135,137,142,158,159,163,201,202,203). O modelo
por ns escolhido, constitudo por 7 figuras de ambos os sexos,
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permite caracterizar de uma maneira fcil a auto-avaliao da
imagem corporal em crianas e adultos (1).Observa-se que a imagem corporal que as raparigas e os rapazes
consideram que tm sobreponvel imagem corporal que os pro
genitores consideram que o seu filho ou filha tm (Fig. 6 e 8). Na
maioria dos casos, o pai e a me escolheram a mesma imagem cor
poral para o seu filho ou filha, com uma proporo de concordncia
de 63% para os rapazes e 57% para as raparigas (Quadro 25). Estesresultados apontam para uma certa consciencializao das famlias
em relao imagem corporal da criana.
No que diz respeito imagem corporal que a criana gostaria de ter
e a que os pais gostariam que os seus filhos tivessem, 50% dascri
anas do sexo feminino gostariam de ter uma imagem corporal ideal
(F4), sendo esta a imagem igualmente escolhida para as suas filhas
por 57% das mes e 70% dos pais.
Mais de 1/3 do total das raparigas d preferncia magreza, selec
cionando as figuras 1 (4%), 2 (9%) e 3 (23 %) como imagens ideais
(Fig 6), sendo esta escolha mais evidente em idades mais jovens (Fig
7). Em ambos os grupos, esta tambm a silhueta preferida por
algumas das mes para as suas filhas (Fig. 6 e 7). Estes resultados
so concordantes com os de outros trabalhos, onde se verifica que a
beleza ideal do sexo feminino coincide com a magreza extrema, alia
da a uma atitude negativa acerca da obesidade, podendo esta ser
particularmente influenciada pelo comportamento da me (139,144,
199,204).
Apesar da imagem ideal (F4) ser a que 54% do total dos rapazes
estudados gostaria de ter, imagens relacionadas com a magreza so
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idealmente escolhidas em 27% (F3) e 8% (F2) dos casos (Fig 8). Tal
como acontecia para o sexo feminino, este resultado tambm maisevidente nos rapazes com idades mais jovens (Fig 9). Alguns estudos
mostram que os rapazes apresentam uma insatisfao da imagem
corporal mais tarde que as raparigas, provavelmente aliada ao seu
processo maturativo mais tardio (139,205). Contudo, na avaliao por
ns efectuada, a preferncia dos rapazes por imagens corporais mais
adelgaantes parece tambm ser evidente desde idades muitojovens. interessante verificar que 35% das mes e 52% dos pais
escolhe para o seu filho uma imagem corporal mais pesada (F5)
(Fig 8). Esta atitude poder ter uma explicao cultural, que se rela
ciona com um corpo firme e musculoso (90,206,207). A proporo de
concordncia de apenas 48% para os rapazes e 50% para as
raparigas, no que diz respeito s atitudes destes e dos seus proge
nitores em relao imagem corporal que gostariam de ter (Quadro
26).
Para alm de uma crescente preocupao em relao aos aspectos
fsicos, tm vindo a verificar-se algumas alteraes dos conceitos e
preferncias pela imagem corporal, tanto no homem como na mulher
(90,106,208). Do grupo de crianas avaliadas, uma percentagem ele
vada daquelas que se identifica com imagens corporais correspon
dentes a figuras pesadas (F6 e F7) gostaria de ter uma imagem cor
poral relacionada com a magreza (F1, F2, e F3) (Quadro 30).
Est bem documentada a enorme importncia do envolvimento dos
pais no tratamento da obesidade em idade peditrica (46,209). necessrio compreender a complexidade familiar, no somente em
relao aos distrbios do comportamento alimentar, mas tambm da
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aceitao da imagem corporal dos pais e da percepo que os seus
filhos tm desta (129). No estudo por ns efectuado, a sintonia da
auto-avaliao da imagem corporal dos progenitores e dos seus filhos
traduz a consciencializao familiar em relao quilo que os rodeia.
Observa-se que 57% das mes e 43% dos pais avaliados identificam-
-se com imagens corporais mais pesadas (F5,F6,F7), sendo tambm
estas as escolhidas pela filha (57%) e pelo filho (48%). Apesar de
59% das crianas do sexo feminino preferir que a sua me tivesseuma imagem corporal ideal (F4), 58% das mes preferia ter uma
imagem corporal relacionada com um dos trs graus de magreza
(F1,F2,F3), precisamente aquela que a sua filha gostaria de ter quan
do fosse adulta (Fig 10). Pai e filho respectivamente em 54% e 58%
dos casos gostaria de ter uma imagem corporal em F4. No to evi
dente como no sexo feminino, tambm aqui se verifica uma preferncia por imagens corporais relacionadas com a magreza (F2 e F3)
(Filho 31% e Pai 27%) (Fig 11). satisfatria a proporo de con
cordncia entre as atitudes dos filhos e dos pais em relao auto-
-avaliao da imagem corporal relacionada com as questes anteri
ormente referidas (Quadros 27 e 28,) facto que aponta no sentido de
uma consciencializao individual e em relao ao grupo familiar noque diz respeito realidade e ao ideal .
A satisfao ou insatisfao do sexo feminino em relao sua
prpria imagem corporal est provavelmente relacionada com o
suposto conceito de beleza "ideal" preferido pelo sexo oposto (210).
No entanto, e fazendo prova de que os tempos so de mudana, 31%
dos rapazes por ns observados preferem tambm uma silhueta mais
magra quando forem adultos (F2 e F3) (Fig 11).
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Contrariamente ao verificado para o sexo feminino, indivduos adultos
do sexo masculino, independentemente da idade, parecem estar
mais satisfeitos com o seu peso corporal (84,137,187,210). Os resul
tados por ns encontrados so concordantes com esta situao, pois
60%dos pais e apenas 16% das mes com excesso de peso/obesi
dade,esto satisfeitos com a imagem corporal que tm (Fig. 10 e 11).
Talvez estes resultados possam justificar, em parte, a falta de colab
orao do pai na abordagem multidisciplinar do tratamento da crianaobesa. Na realidade frequente a referncia por parte da me falta
de interesse manifestada pelo pai, no s no acompanhamento
consulta mas tambm atravs das dificuldades levantadas no que diz
respeito implementao de novos estilos de vida. Se as mudanas
dos estilos de vida forem o alvo preferencial de todo o agregado famil
iar, a longo prazo os resultados sero bastante mais eficazes(52,170,211). Esta estratgia permite criana no se sentir isolada
ou "diferente" dos restantes elementos da famlia (1,11,39,51,
212,213). Este tipo de atitudes permite tambm uma melhoria da
auto-estima e da imagem corporal da criana e do adolescente
obeso. Alguns estudos mostram que o desejo de vir a ter uma
imagem corporal ideal, ou mesmo de ser magro, o maior e maisimportante factor preditivo no tratamento da obesidade, quer em
idades mais jovens quer no adulto (214,215). O estudo continuado da
imagem corporal de jovens e adultos obesos de ambos os sexoscon
tribui, como factor de reforo, para a implementao de hbitos
alimentares saudveis e prtica regular de exerccio fsico
(210,216,217).
O estudo da imagem corporal apresenta uma estrutura complexa que
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compreende no somente a imagem corporal por si s, mas tambm
o seu envolvimento social e pessoal. A sociabilizao tambm
envolve modelos interpessoais relativos a aquisies de valores eati
tudes acerca do aspecto fsico (218, 219, 220). Alguns autores con
sideram que a localizao geogrfica e o nvel scio-econmico ecul
tural dos pais possam contribuir para um aumento de ponderosidade
na criana e influenciar a percepo da imagem corporal (84,104,
221). Na populao por ns avaliada, essencialmente de classemdia baixa e com escolaridade obrigatria (Quadros 2 e 10), no se
verificou uma associao positiva entre a escolaridade dos progeni
tores e a imagem corporal que escolheriam para os seus filhos
(Quadro 29). De igual modo a zona habitacional parece no influen
ciar a auto-avaliao da imagem corporal da criana (Quadro 31). Tal
facto pode estar relacionado com o tamanho da amostra e a mdia deidades da nossa populao, fundamentalmente restrita rea de
residncia do Distrito do Porto.
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V-CONCLUSES
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Concluses
Da reviso bibliogrfica, pode concluir-se que:
- A obesidade considerada a doena nutricional mais comum na
infncia e na adolescncia, no s nos pases desenvolvidos como
tambm nos pases em vias de desenvolvimento.
- Comparativamente s eutrficas, as crianas obesas esto mais
sujeitas a serem adultos obesos, sobretudo se a obesidade persiste
durante a puberdade.- A obesidade familiar pode influenciar a criana e o adolescente
obeso, oferecendo maior resistncia a alteraes de estilos de vida .
-A reduzida prtica de actividade fsica, com destaque para o eleva
do nmero de horas passadas em frente TV/Computador, podefun
cionar como estmulo condicionado da ingesto de alimentos densa
mente calricos e um convite ao sedentarismo.
- Desde idades muito jovens que a criana e o adolescente tem per
cepo da sua imagem corporal, sendo esta uma preocupao nos
indivduos obesos, independentemente da idade e o sexo.
- O tratamento da obesidade durante a infncia e a adolescncia con
tinua a ser uma das situaes mais difceis e frustrantes entre aque
les que se propem trat-la.
- de salientar o enorme contributo da auto-avaliao da imagem
corporal da criana e dos seus progenitores no tratamento da obesi
dade.O desejo de vir a ter uma imagem corporal ideal, ou mesmo de
ser magro, parece ser o maior e mais importante factor preditivo no
tratamento da obesidade, tanto no jovem como no adulto.- No menos importante que inverter a situao da obesidade dacri
ana o de reduzir o excesso de peso/obesidade dos pais.
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Concluses
- A responsabilizao e o envolvime