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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Sociais e Aplicadas PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS IMPAIRMENT E PCLD: ANÁLISE DA CONVERGÊNCIA ENTRE A IFRS 9 E RESOLUÇÃO 2.682/99 COMO ARGUMENTO PARA PLEITEAR, JUNTO AO BANCO CENTRAL DO BRASIL, UM AJUSTE NA NORMA NACIONAL MARIANA DO NASCIMENTO FERREIRA SÃO PAULO 2016

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

IMPAIRMENT E PCLD: ANÁLISE DA CONVERGÊNCIA ENTRE A IFRS 9 E

RESOLUÇÃO 2.682/99 COMO ARGUMENTO PARA PLEITEAR, JUNTO AO

BANCO CENTRAL DO BRASIL, UM AJUSTE NA NORMA NACIONAL

MARIANA DO NASCIMENTO FERREIRA

SÃO PAULO

2016

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MARIANA DO NASCIMENTO FERREIRA

IMPAIRMENT E PCLD: ANÁLISE DA CONVERGÊNCIA ENTRE A IFRS 9 E

RESOLUÇÃO 2.682/99 COMO ARGUMENTO PARA PLEITEAR, JUNTO AO

BANCO CENTRAL DO BRASIL, UM AJUSTE NA NORMA NACIONAL

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ciências

Contábeis da Universidade Presbiteriana

Mackenzie para a obtenção do título de

Mestre em Controladoria Empresarial

Orientador: Prof. Dr. Octavio Ribeiro de Mendonça Neto

SÃO PAULO

2016

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F586i Ferreira, Mariana do Nascimento

Impairment e PCLD : análise da convergência entre a

IFRS 9 e a Resolução 2.682/99 como argumento para pleitear,

junto ao Banco Central do Brasil, um ajuste na norma

nacional / Mariana do Nascimento Ferreira - 2016.

73 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.

Orientação: Prof. Dr. Octavio Ribeiro de Mendonça Neto

Bibliografia: f. 69-73

1. Impairment. 2. PCLD. 3. Convergência. 4. IFRS 9. 5.

Resolução 2.682/99. I. Título.

CDD 657

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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação

Profa. Dra. Helena Bonito Couto Pereira

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Prof. Dr. Adilson Aderito da Silva

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Prof. Dr. Henrique Formigoni

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Aos sonhadores, que não estão adormecidos pela espera, mas que são despertados pela esperança e toda manhã se levantam para realizar.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, a quem confesso como meu único e suficiente salvador, pelos sonhos que

gera em meu coração, pelas oportunidades que coloca em meu caminho e pela

coragem e ousadia que me concede para conquista-los.

Miguel de Cervantes de Saavedra, celebre escritor espanhol autor, dentre outras

obras, de Dom Quixote de La Mancha, escreveu “quando se sonha sozinho é apenas

um sonho, quando se sonha juntos é o começo da realidade”, e é por isso que sou

imensamente grata ao meu marido William Ferreira, por sonhar comigo e me ajudar a

tornar todos os nossos sonhos em realidade.

Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Octavio Ribeiro de Mendonça Neto por seu

incentivo, contribuições e paciência na realização deste trabalho, e aos professores

Profa. Dra. Marta Cristina Pelucio Grecco e Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes

que muito agregaram com suas experiências e conhecimentos durante o processo de

qualificação.

Expresso minha gratidão aos meus colegas de trabalho no Itaú Unibanco,

especialmente à Camila e Andrea, pelo suporte, incentivo e contribuições, vocês me

ajudam a pensar fora da caixa.

Por fim, agradeço a todos aqueles que indiretamente fizeram parte dessa caminhada

e ajudaram-me com encorajamentos, conselhos e orações.

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EPÍGRAFE

Sabemos que Deus age em todas as

coisas para o bem daqueles que o

amam, dos que foram chamados de

acordo com o seu propósito.

(Romanos 8:28)

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma comparação entre as normas IFRS 9 Instrumentos

Financeiros (norma internacional) e a Resolução CMN 2.682/99 (norma nacional), em

relação às perdas por redução ao valor recuperável de ativos financeiros,

demostrando que existe uma aproximação relevante entre elas. As análises mostram

que ambas estão alinhadas aos padrões e metodologias de risco estabelecidos pelo

Acordo da Basiléia, e destaca que a nova norma internacional é mais conservadora

que a norma local, pois estabelece métodos específicos para classificação e

mensuração dos riscos e perdas, enquanto que os critérios vigentes no Brasil são

subjetivos e dão às entidades certa liberdade ao desenvolver seus modelos internos

de risco de crédito.

Com objetivo de propor aos normatizadores um ajuste na norma nacional, a fim de

alinhá-la aos padrões internacionais, foram elaborados argumentos que justifiquem

esse alinhamento ou a adoção da nova norma IFRS 9 pelo Banco Central do Brasil.

As instituições financeiras no Brasil são obrigadas a desenvolver modelos segundo os

padrões do Acordo da Basiléia, portanto, um alinhamento entre as normas

proporcionará a definição de um único modelo que atenda diferentes reguladores,

além de proporcionar maior controle e confiabilidade nas informações, e gerar

benefícios como a redução de custos, processo e ajustes contábeis.

Palavras-chave: Impairment, PCLD, Convergência, IFRS 9, Resolução 2.682/99.

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ABSTRACT

This paper presents a comparison of IFRS 9 Financial Instruments standards

(international standard) and CMN Resolution 2.682 / 99 (national standard), in relation

to losses due to impairment of financial assets, showing that a significant

rapprochement between them. The show analysis that both are aligned with standards

and risk methodologies established by the Basel Accord, and stresses that the new

international standard is more conservative than the local standard, because it

establishes specific methods for classification and measurement of risks and losses,

while the criteria in force in Brazil are subjective and give the entities some freedom to

develop their internal models for credit risk.

In order to the propose to the standard-setting body an adjustment to the national

standard in order to align it with international standards, were elaborate arguments

justifying this alignment or the adoption of new IFRS 9 by the Central Bank of Brazil.

Financial institutions in Brazil are required to develop models by the standards of the

Basel Accord, therefore, an alignment between standards provides the definition of a

single model that meets different regulators, in addition to providing greater control and

reliability of the information, and generate benefits such as cost reduction, process and

avoid accounting adjustments.

Keywords: Impairment, PCLD, Convergence, IFRS 9, Resolution 2.682 / 99

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Fluxograma da estrutura de regulação contábil no Brasil.......................39

Quadro 2 Comparações entre Basiléia II e a Resolução CMN 2.682/99................49

Quadro 3 Fluxograma da aplicação de impairment segundo a IFRS 9..................56

Quadro 4 Fluxograma de estágios de mudanças na qualidade de crédito.............57

Quadro 5 Diferenças Metodológicas entre IFRS 9 e Basiléia III.............................63

Quadro 6 Comparativo entre Resolução CMN 2.682/99, IFRS 9 e Basiléia...........65

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Critérios de provisão do Banco Central..................................................44

Tabela 2 Critérios de prazos de inadimplência do Banco Central.........................45

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar

BACEN Banco Central do Brasil

CFC Conselho Federal de Contabilidade

CMN Conselho Monetário Nacional

CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CVM Comissão de Valores Mobiliários

EAD Exposure at Default

ECL Expected Credit

EL Expected Losses

ER Escola de Regulação

FASB Financial Accounting Standards Board

FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos

FED Federal Bank

IAS International Accounting Standards

IASB International Accounting Standards Board

IASC International Accounting Standards Committee

IBAI Instituto Brasileiro de Auditores Independentes

IBRACON Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

ICPB Instituto dos Contadores Públicos do Brasil

IFRS International Financial Reporting Standards

IRB Internal Ratings Based

LGD Loss Given Default

M Effective Maturity

PCLD Provisão para crédito de liquidação duvidosa

PD Probability of Default

RFB Secretaria da Receita Federal do Brasil

SPC-MPS Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social

ABRASCA Associação Brasileira das Companhias Abertas

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AGENERSA Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico

AGERSA Agência Reguladora de Saneamento Básico

AGNESP

ANA Agência Nacional de Águas

ANAC Agência Nacional de Aviação Civil

ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações

ANCINE Agência Nacional de Cinema

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ANP Agência Nacional do Petróleo

ANS Agência Nacional de Saúde

ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar

ANTAQ Agência Nacional de Transportes Aquaviários

ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

APIMEC Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais

ARTESP Agência de Transporte do Estado de São Paulo

ASEP Associação de Educação e Pesquisa

BACEN Banco Central do Brasil

BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo

CFC Conselho Federal de Contabilidade

CMN Conselho Monetário Nacional

CNI Confederação Nacional da Indústria

CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CVM Comissão de Valores Mobiliários

EAD Exposure at Default

ECL Expected Credit

EL Expected Losses

ER Escola de Regulação

FASB Financial Accounting Standards Board

FIPECAF Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras

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GLENIF Grupo Latino-americano de Emissores de Normas de Informações Financeiras

IAS International Accounting Standards

IASB International Accounting Standards Board

IASC International Accounting Standards Committee

IBAI Instituto Brasileiro de Auditores Independentes

IBRACON Instituto Brasileiro de Contadores

ICPB Instituto dos Contadores Públicos do Brasil

IFRS International Financial Reporting Standards

IRB Internal Ratings Based

LGD Loss Given Default

M Effective Maturity

PCLD Provisão para crédito de liquidação duvidosa

PD Probability of Default

RFB Secretaria da Receita Federal do Brasil

SEC Securities and Exchange Commission

SFRB Secretaria da Receita Federal do Brasil

SPC-MPS Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social

Susep Superintendência de Seguros Privados

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 17

Estrutura do Trabalho.......................................................................................... 21

1 CONTEXTO E CAUSAS DA CRISE DO SUBPRIME.............................................. 22

2 TEORIA DA REGULAÇÃO...................................................................................... 26

2.1 AS CRISES E A ESCOLA FRANCESA DA REGULAÇÃO..................................... 26

2.2 TEORIAS DA REGULAÇÃO E A CONTABILIDADE.............................................. 29

2.2.1 Teoria do Interesse Público................................................................................... 29

2.2.2 Teoria da Captura.................................................................................................... 30

2.2.3 Teoria da Competição entre os Grupos de Interesse.......................................... 31

2.2.4 Teoria Tridimensional do Direito e a Contabilidade............................................ 32

2.3 REGULAÇÃO CONTÁBIL E A CONVERGÊNCIA DOS PADRÕES

INTERNACIONAIS.................................................................................................... 34

2.3.1 A Convergência das Normas Contábeis............................................................... 34

2.3.2 Principais Órgãos Normativos da Contabilidade................................................. 35

2.4 REGULAÇÃO CONTÁBIL PARA PERDA DO VALOR RECUPERÁVEL DE

ATIVOS FINANCEIROS............................................................................................ 39

2.4.1 Provisão Para Crédito De Liquidação Duvidosa – (PCLD) ................................. 39

2.4.2 Tratamento da PCLD No Brasil.............................................................................. 40

2.4.2.1 Classificação das Operações de Crédito.................................................................. 41

2.4.2.2 Constituição de provisão para créditos de liquidação duvidosa............................... 43

2.4.3 Conceitos de Perda Esperada Conforme Basiléia............................................... 47

2.4.3.1 Resolução CMN 2.682/99 e a Abordagem IRB (Internal Ratings Based) para

Risco de Crédito do Acordo de Basiléia II................................................................. 48

2.4.3.2 Basiléia III.......................................................................... ....................................... 50

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2.4.4 A Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa Segundo o IFRS................ 51

2.4.4.1 Conceito de Perda Incorrida Segundo a IAS 39....................................................... 52

2.4.4.2 Conceito de Perda Esperada Segundo a IFRS 9..................................................... 54

2.4.5 Diferenças Metodológicas entre IFRS 9 e Basiléia III no Cálculo de

Impairment............................................................................................................... 62

3 METODOLOGIA....................................................................................................... 64

4 RELATÓRIO DE ARGUMENTAÇÕES..................................................................... 65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 68

REFERÊNCIAS.................. ...................................................................................... 69

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Introdução

Autores como Riahi-Belkaoui (2004), Deegan e Unerman (2011) afirmam que o

processo regulatório da contabilidade foi potencializado pelas crises econômicas

ocorridas a partir do século XX, que afetaram investidores nos países onde o mercado

de capitais era mais desenvolvido.

A crise do subprime de 2008 apontou explicitamente a ocorrência de pressões

políticas sobre padrões contábeis mostrando mais evidências de que a regulação

contábil tem consequências sociais e econômicas para muitas pessoas e

organizações. Um exemplo desta afirmação é a substituição da International

Accounting Standards (IAS) 39 Instrumentos Financeiros – Reconhecimento e

Mensuração pela International Financial Reporting Standards (IFRS) 9 Instrumentos

Financeiros, que foi acelerada em resposta a pressão exercida pelos países

integrantes do Grupo dos 20 (G20). (DEEGAN; UNERMAN, 2011).

A crise, que começou nos EUA, alcançou todos os continentes, por ser uma das mais

sérias crises econômicas de todo capitalismo, tornou-se um marco na história. Sua

causa direta foi à concessão de créditos hipotecários para credores sem capacidade

de pagamento, que levou ao não pagamento dos títulos e a reboque ocasionou a

quebra de grandes bancos mundiais, levando a redução do crédito e dificultando a

vida das empresas. A crise trouxe muitos questionamentos quanto à “qualidade” dos

padrões estabelecidos na IAS 39, principalmente no tocante ao uso do valor justo e

das perdas por redução ao valor recuperável de ativos financeiros.

O modelo existente na IAS 39, referente à redução ao valor recuperável (impairment),

é o de “perda incorrida”. Nesse modelo, uma perda por impairment deve ser

reconhecida a cada balanço patrimonial quando houver evidencia objetiva da

ocorrência de um evento de perda que afete o fluxo de caixa futuro estimado do ativo

financeiro e que tal perda possa ser estimada com razoável confiança. Inicialmente

isto foi projetado pelo International Accounting Standards Board (IASB), Comitê de

Normas Internacionais de Contabilidade, para limitar a capacidade da entidade de

criar reservas ocultas que poderiam ser usadas para melhorar ganhos contábeis em

anos ruins.

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Porém, a crise financeira de 2008 mostrou que o reconhecimento atrasado das perdas

por impairment foi identificado como uma fraqueza nas normas, pois as regras

vigentes na IAS 39 permitem atrasar o reconhecimento de perdas do valor recuperável

de ativos financeiros, mesmo quando já existe evidencia probabilística que as perdas

esperadas serão maiores e, na essência econômica, as perdas deveriam ser

provisionadas, mesmo que o IAS 39 não exigisse provisionar a perda antes do

reconhecimento efetivo.

Em resposta às críticas atribuídas à contabilidade no agravamento da crise financeira

de 2008, o IASB emitiu a IFRS 9 Instrumentos Financeiros, cuja proposta é ser menos

complexa e substituir a IAS 39.

A mais recente versão da nova norma contábil foi publicada pelo IASB em 24 de julho

de 2014 e contém orientações alteradas sobre a classificação e mensuração de ativos

financeiros, incluindo um novo modelo de provisão para créditos de liquidação

duvidosa baseada nas perdas esperadas, além de complementar os novos requisitos

gerais de contabilidade de hedge publicados em 2013, e terá impacto massivo sobre

a forma como instituições financeiras classificam e mensuram as perdas esperadas

em suas carteiras de empréstimos e recebíveis.

No Brasil, as instituições financeiras seguem a tabela de ratings do Banco Central

para registrar provisões, já alinhada ao conceito de perda esperada, de acordo com a

Resolução CMN 2.682/99 do Banco Central do Brasil (BACEN). Essa Resolução

determina a classificação das operações de crédito por nível de risco, considerando e

avaliando aspectos como: devedor, garantidor, operação, atraso, entre outros, o que

difere das práticas internacionais vigentes estabelecidas pelo IAS 39 que determina o

reconhecimento das perdas apenas se houver evidência objetiva de que uma perda

por redução no valor recuperável foi incorrida.

Uma vez emitida a nova regra pelo IASB os bancos, com requerimentos para a

divulgação de demonstrações financeiras no padrão internacional, poderão perceber

o efeito da alteração em seus balanços para fins de IFRS e terão que avaliar os

possíveis impactos e começar a planejar a transição, para compreender o tempo, os

recursos e as mudanças nos sistemas e processos necessários.

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A nova norma é obrigatória a partir de 1º de janeiro de 2018, mas pode ser adotada

antecipadamente em IFRS. Tal opção ainda não está disponível nas práticas

contábeis brasileiras.

O padrão contábil brasileiro ainda será adaptado para incluir - total ou parcialmente -

as normas do IFRS 9. Normalmente o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) adota

os critérios indicados pelo IASB, mas o mesmo processo de avaliação e adaptação

das normas também deverá acontecer com o padrão contábil dos bancos, regulado

pelo BACEN, e das seguradoras, regulado pela Superintendência de Seguros

Privados (Susep). Os órgãos reguladores devem adotar os padrões internacionais

para que as entidades possam aplicá-las. Portanto, o impacto da nova no Brasil, para

os bancos, dependerá de como o Banco Central vai abordar e “diagnosticar” a IFRS

9, e se irá adotá-la.

Desde o início da convergência das normas internacionais, o BACEN adotou apenas

alguns pronunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC),

responsável pelo estudo, preparo e emissão de procedimentos contábeis

convergentes aos padrões internacionais, isso significa que os CPCs que não foram

aprovados pelo BACEN não são aplicáveis às Instituições Financeiras.

Embora não tenha adotado todas as normas internacionais, o BACEN por meio da

Resolução 3.786/09 requer que as instituições financeiras autorizadas a funcionar

pelo Banco Central do Brasil elaborem e divulguem anualmente suas demonstrações

contábeis consolidadas com base no padrão contábil internacional emitido pelo IASB,

ou seja, mesmo que o BACEN não adote as normas internacionais, em função das

divergências, as instituições financeiras são obrigadas a apresentar duas

demonstrações em padrões contábeis diferentes: uma no padrão nacional, emitidos

pelo Banco Central; e outra no padrão internacional, emitido pelo IASB.

A grande problemática é que, praticamente não existe convergência entre as normas

locais e as normas internacionais, por isso as instituições financeiras são obrigadas a

elaborar e divulgar suas demonstrações em padrões distintos.

Existe divergência entre a norma local, referente à perda por impairment, e a norma

internacional vigente, a IAS 39. Por essa razão o BACEN não adotou a norma

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internacional e, em seu documento de Diagnóstico da Convergência às Normas

Internacionais, apresenta a situação do diagnóstico como: parcialmente divergente.

Segundo o documento, a perda por impairment é tratada pela Resolução CMN

2.682/99, de 1999, e regulação complementar, e apresenta divergências em relação

ao IAS 39:

[...] as normas nacionais determinam a classificação das operações de crédito em níveis de risco e exigem a constituição de provisão mínima para créditos de liquidação duvidosa com base em percentuais preestabelecidos. O IAS 39 não permite o reconhecimento da perda por imparidade com base em evento futuro, o que não é explicitamente vedado pelas normas nacionais. (BRASIL, 2006).

Dentro do contexto desse trabalho, foi observado que a divergência entre as normas

faz com que as instituições financeiras percam em custo benefício no momento de

elaborar as suas demonstrações financeiras, pois precisam produzir informações

diferentes partindo de uma única base, manter diversos controles, realizar cálculos

diferentes, investir em processos onerosos e morosos, realizar ajustes contábeis que

muitas vezes atrasam as publicações para que possam atender diferentes

reguladores.

De forma sucinta é possível dizer que a solução para esse problema no Brasil é a

convergência entre as normas locais e internacionais, ou seja, a adoção das normas

internacionais pelo Banco Central, ou um ajuste na norma local proporcionando

alinhamento entre as normas.

Diante do problema exposto, essa pesquisa tem por objetivo analisar a convergência

entre a nova norma IFRS 9 Instrumentos Financeiros, e a Resolução CMN 2.682/99,

no que se refere a valor recuperável dos ativos, a fim de identificar argumentos que

possam ser usados para defender o alinhamento entre elas.

A aproximação percebida entre a norma internacional IFRS 9 Instrumentos

Financeiros e a norma nacional Resolução CMN 2.682/99 é o que remete a pesquisa

a elaborar um relatório argumentativo que possa ser usado para pleitear um ajuste na

Resolução CMN 2.682/99 a fim de alinha-la a nova norma internacional.

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21

A relevância deste estudo está relacionada ao potencial de apresentar ao grupo de

trabalho da FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos), cuja linha de atuação é

propor e defender mudanças ou edições de normas que aumentem a eficiência do

sistema financeiro e o aprimoramento dos seus instrumentos, argumentos que

comprovem a aproximação da IFRS 9 com a Resolução 2.682/99, para pleito junto ao

Banco Central do Brasil. E a principal contribuição do estudo é apresentar um relatório

de argumentação, a partir da análise das normas, a fim de evidenciar a congruência

entre elas e dar subsídios para discussão junto ao BACEN, quanto ao alinhamento

das normas.

Estrutura do Trabalho

Esta dissertação está estruturada em cinco capítulos.

Após esta introdução, o capítulo um apresenta os contextos e causas da crise

financeira de 2008.

O capítulo dois se encarrega de apresentar o referencial teórico, no qual são

estudadas: as crises e a Escola Francesa de Regulação, a Teoria da Regulação e a

contabilidade, a Regulação Contábil e a Convergência dos Padrões Internacionais e,

os padrões contábeis internacionais e locais sobre perdas por impairment e Provisão

para Créditos de Liquidação Duvidosa.

No capítulo três, é apresentada a metodologia e os procedimentos da pesquisa.

O capítulo quatro apresenta o relatório de argumentação proposto, obtido a partir das

pesquisas nas normas e teorias. E, finalmente, no capítulo cinco são apresentadas as

considerações finais e recomendações para futuras pesquisas.

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22

1 CONTEXTO E CAUSAS DA CRISE DO SUBPRIME

A crise começou a ser desencadeada no final do ano 2000, quando houve o estouro

da bolha das empresas de tecnologia. Temendo uma iminente recessão, os Estados

Unidos aumentaram suas injeções de dinheiro no sistema bancário para gerar uma

redução nos juros. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, seguidos

pelas guerras contra o terrorismo no Afeganistão e Iraque, eles viviam um período de

grande abalo econômico, por isso, na tentativa de alavancar o consumo interno, o

governo reduziu a taxa de juros para empréstimos.

As baixas taxas de juros incentivaram o governo a adotar medidas para ampliar o

acesso à casa própria aos americanos de baixa renda e também estimularam a

realização de novas hipotecas sobre o mesmo imóvel, com isso algumas pessoas

refinanciaram suas casas, dando o próprio imóvel como garantia, para usar o dinheiro

do banco no pagamento das prestações e obter lucro.

A expansão do crédito para habitação impulsionou os negócios do subprime

(financiamentos de risco), ou seja, os bancos ofereciam créditos às famílias de risco,

que poderiam não arcar com a dívida do financiamento, transformavam as casas

oferecidas como garantia de pagamento em títulos (hipotecas subprime), e

repassavam aos investidores. Com essa manobra de securitização, os bancos norte-

americanos repassavam os títulos para os mercados financeiros globais, que em geral

não tinham acesso ao real perfil de risco das operações, espalhando o risco de

inadimplência pelo mundo e gerando o cenário da crise.

Segundo Herbst e Duarte (2013, p.21) foi criada uma cadeia de titularização onde não

importava a qualidade das hipotecas, o jogo consistia em passar o risco adiante e

ainda ganhar uma comissão por isso – aqueles que agissem dessa forma eram

premiados com bônus dentro das instituições financeiras; havia, portanto, uma política

de encorajamento desse comportamento. O problema é que nem todos tinham

consciência deste risco, pois os bancos de investimento pagavam as agências de

rating para avaliarem os títulos com uma falsa nota AAA (a mais alta nota de

classificação da segurança de um investimento).

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A partir de meados de 2004, com a economia americana já recuperada da recessão

de 2001, o banco central dos Estados Unidos, FED (Federal Bank), começou a reduzir

o ritmo de injeções de dinheiro no sistema bancário, consequentemente, os juros

começaram a subir. O aumento da taxa básica de juros afetou os empréstimos

imobiliários e esfriou a demanda por imóveis. Uma redução na demanda por imóveis

em conjunto com um acentuado aumento na oferta de imóveis gerou o inevitável: no

final de 2006, os preços começaram a cair. As pessoas pararam de pagar suas

hipotecas simplesmente porque o aumento dos juros havia tornado impossível

continuar honrando suas prestações.

O aumento da inadimplência fez com que todos os bancos de investimento que

haviam comprado títulos lastreados em hipotecas repentinamente não mais

auferissem essa receita. O valor destes ativos caiu para zero. Uma redução nos

ativos sem uma concomitante redução nos passivos fez com que vários destes bancos

sofressem uma brutal redução em seu capital (patrimônio líquido). Com o capital

afetado, os bancos simplesmente pararam de conceder novos empréstimos, inclusive

entre eles próprios no mercado interbancário. Isso gerou o famoso problema do

congelamento do mercado de crédito, consequentemente, vários bancos começaram

a enfrentar sérios problemas de liquidez.

Para Wolf (2008) a crise percorreu o seguinte caminho: liberalização financeira,

excessiva assunção de riscos por instituições financeiras, regulamentação ineficaz por

reguladores ingênuos, rápido crescimento do crédito, falência de bancos e contágio

de instituições saudáveis.

Velloso e Rocca (2009) concluem que a crise do subprime foi causada:

Pela ausência de regulação adequada especialmente em relação à atuação dos bancos de investimento. Promoveu-se forte expansão de crédito, especialmente no segmento de hipotecas, mediante a utilização de critérios de concessão de financiamento pouco seletivos, do que resultou forte elevação do preço dos imóveis e elevados níveis de inadimplência. Inovações financeiras permitiram que a expansão do crédito tivesse se desenvolvido com crescente alavancagem das instituições envolvidas, acompanhada de pouca transparência e deficiente monitoração de riscos. (p. 32).

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Conforme Krugman (2009) a verdadeira causa da crise foi a desregulação: a

revogação de leis que já existiam e a não criação de leis que deveriam controlar a

crescente financeirização, criou um ambiente onde títulos garantidos por dívidas

poderiam ser vendidos como confiáveis, onde o domínio do sistema financeiro estava

concentrado nas mãos de poucos e gigantes – tais como o Goldman Sachs, JP

Morgan e Lehman Brothers – respaldados por companhias de seguro e agências de

rating que cooperavam com suas fraudes.

O autor pondera sobre a diferença entre desregulamentação e não regulamentação:

A crise, em boa parte, não envolveu problemas de instituições desregulamentadas, que assumiram novos riscos. Ao contrário, girou em torno de riscos assumidos por instituições que, para começar, nunca foram regulamentadas. (KRUGMAN, 2009, p. 170).

Herbst e Duarte (2013) acreditam que a crise de 2008 tornou explícita e urgente a

necessidade de se criar uma regulação para prevenir crises, ao invés de apenas

remediá-las. Eles destacam que, entre as causas imediatas da crise, podem ser

citados o uso indiscriminado da alavancagem, a má avaliação dos créditos, as

inovações financeiras pouco compreendidas e a política de encorajamento da tomada

de riscos. E, com uma análise detida concluem que todas estas causas – ou a maioria

delas – tiveram início com a desregulação do sistema financeiro.

Após a crise, uma das decisões tomadas por políticos e reguladores foi regular

novamente o sistema financeiro, tanto doméstica como internacionalmente, com isso,

alterações relevantes aconteceram na regulamentação do mercado financeiro e nas

normas contábeis internacionais (IFRS).

No âmbito da regulação contábil, a crise financeira de 2008 expos uma fraqueza

existente nas normas IFRS. O modelo vigente no IAS 39 (modelo de “perda incorrida”

histórica) foi inicialmente projetado para limitar a capacidade da entidade de criar

reservas ocultas que poderiam ser usadas para melhorar ganhos contábeis, porém a

crise financeira mostrou exatamente o contrário, já que as regras de impairment

existentes permitiam atrasar o reconhecimento de perdas do valor recuperável de

ativos financeiros, mesmo quando já existia evidencia probabilística que as perdas

esperadas eram maiores. Portanto, em resposta às críticas atribuídas à contabilidade

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no agravamento da crise financeira de 2008, o IASB (International Accounting

Standards Board), emitiu a IFRS 9 cujo modelo passou a ser de perda esperada, ou

seja, modelo baseado na expectativa e probabilidade de perdas.

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2 TEORIA DA REGULAÇÃO

2.1 AS CRISES E A ESCOLA FRANCESA DA REGULAÇÃO

O contexto do nascimento da teoria da regulação foi marcado pelo surgimento de uma

crise econômica, em que se assistiu uma ruptura do crescimento econômico

observado nos anos 60. As transformações das estruturas produtivas e das formas de

organização e, sobretudo, as respostas para a crise das diversas correntes do

pensamento econômico modelaram uma nova configuração em termos de teoria

econômica.

A busca pela interpretação da crise econômica, a partir de meados de 70, desenvolveu

a Escola de Regulação (ER). O trabalho pioneiro da escola de regulação é de autoria

de Michael Aglietta, “Regulation et Crises du Capitalisme – L’Experience des Etats

Unis”, Calmann-Lévy, tese doutoral publicada em 1976, cujo principal objetivo foi

compreender as transformações do capitalismo no século XX através de duas

separações: mercadoria e assalariamento. Tais fatores do sistema econômico

produtivo produzem formas sociais que se entrelaçam e geram, transitoriamente, uma

série de regularidades, designadas “regime de crescimento”.

Para Aglietta (1979), o eixo central de análise da ER constitui-se na articulação das

leis da acumulação, expressas pela relação salarial, com as leis da concorrência

expressas pela relação mercantil. A noção de regulação avança além do conceito de

reprodução. “Enquanto a reprodução objetiva mostrar que os processos que

sancionam o que existe continuam existindo, a regulação busca estudar o modo como

surge o novo e como este novo transforma as estruturas existentes qualitativamente”.

(MORAES, 1998, p.8).

Para Lipietz (1986, p. 91-92), que também é considerado um fundador da Escola de

Regulação, entende-se por “regulação de uma relação social o modo como essa

relação se reproduz apesar de seu caráter conflituoso e contraditório”.

Romeiro e Silveira (1997) declaram que o objetivo do conceito de regulação é o de

chamar a atenção para as formas que a sociedade cria para superar a natureza

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contraditória de suas relações sociais, isto é, o modo, os mecanismos, os instrumentos

e as instituições capazes de assegurar a continuidade do sistema.

Conforme Cascione (2011) regulação, para os regulacionistas franceses, seria a

modulação de uma relação social. E a regulação de uma relação social pode ser

entendida como “a maneira pela qual essa relação é reproduzida, e ser entendida

dentro de um esquema particular: relação-reprodução-contradição-crises”.

(LIPIETZ, 1988, p. 11, tradução nossa).

Aos mecanismos de mediação é que os regulacionistas denominaram o nome de

“modo de regulação”, estabelecendo coerência aos desbalanceamentos inerentes ao

sistema capitalista. (AGLIETTA, 2000, p. 403).

O modo de regulação, de um modo geral, é um conjunto de mediações, estabelecidas

pelos diversos agentes sociais, que asseguram que as distorções criadas pela

acumulação do capital sejam mantidas em limites compatíveis com a “coesão social”

de uma determinada sociedade. O que é compatível pode variar de sociedade para

sociedade, e depende também de momentos históricos. (AGLIETTA, 2000, p. 391).

Cascione (2011) destaca que as crises foram objeto-chave no estudo dos

regulacionistas. Há na história econômica do capitalismo um número incontável de

crises. Variando em intensidade, em espaço e tempo. Desde as menores, até as

grandes crises mundiais, como as de 1929, dos anos de 1970 e de 2008. Alguns

autores atribuem como causas das crises à superprodução, o desequilíbrio entre

produção e demanda, os excessos creditícios, etc. Há também aqueles que se

distanciam das causas específicas e enxergam as crises como parte do capitalismo

ou a ele relacionado de forma intrínseca e necessária.

É possível notar uma grande correlação entre crise e crédito, e muitos autores creem

que seja o excesso do crédito o verdadeiro causador das crises econômicas. Para

Mises (2002) a crise surge no desequilíbrio entre produção e consumo incendiada por

um problema monetário, quando as grandes instituições financeiras emprestadoras

exageram na dose do crédito.

Como citado anteriormente, a teoria da regulação baseia-se na análise das relações

sociais subjacentes à acumulação e reprodução do capital. “E nessa acumulação e

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reprodução do capital exercem as instituições financeiras papel central e fundamental

para o pleno funcionamento do sistema capitalista. Como grupo dominante que são,

pois se estabelece já na relação creditícia ou mesmo antes que ela ocorra uma relação

de domínio - ao terem o privilégio de impor suas condições ou de estabelecer juros

elevados (decorrente da permanente escassez da moeda e do crédito) logo se aliam

ao Estado e coordenam com ele uma estratégia de hegemonia capitalista.

Obviamente que seria impossível a manutenção de uma estratégia hegemônica sem

a lei”. (CASCIONE, 2011, p.6).

Na crise de 2008, a exemplo de todas as outras anteriores a essa, os preços de

determinados ativos, anos antes da eclosão, principalmente os de imóveis, se

elevaram consistentemente, o que incentivou as instituições financeiras a concederem

crédito tendo por base a geração de caixa desses ativos ou acreditando, quando os

recebia em garantia, que sua venda forçada teria valor suficiente para pagar seus

empréstimos.

E justamente na crise, quando os preços caem, que o sistema financeiro enfrenta

sérios problemas, pois tanto a geração de caixa quanto os novos valores dos ativos

garantidos são inferiores ao principal e juros até então acumulados. O mesmo

problema ocorre com os papéis securitizados, pois usualmente representam feixe de

créditos que tem sua inadimplência aumentada.

Portanto, em tempos de crise, as instituições financeiras merecem atenção especial,

pois trabalham alavancadas e, como tomam emprestado (normalmente no curto

prazo) para emprestar (normalmente em prazo maior), passam a enfrentar problemas

com os pagamentos de suas obrigações. “Como o sistema financeiro está interligado

em redes pela concessão de créditos recíprocos temos então o mais grave risco para

a economia de um país, e dependendo de suas proporções para a economia mundial

(vide a quebra de bancos nos Estados Unidos da América durante o segundo

semestre de 2008), o chamado risco sistêmico, ou o risco de quebra de várias

instituições financeiras seguidas e dependentes de crédito entre si. (CASCIONE,

2011, p. 35).

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2.2 TEORIAS DA REGULAÇÃO E A CONTABILIDADE

De acordo com Baldwin e Cave (1999, p. 63), "a regulação pode ser empreendida por

uma variedade de órgãos e a natureza das instituições pode afetar não somente o

estilo da regulação e as estratégias empregadas, mas também o sucesso das

intenções regulatórias".

Baldwin e Cave (1999) afirmam que regulamentação é, com frequência, associada a

uma atividade que restringe ou previne a ocorrência de certos comportamentos

indesejados, limitando a liberdade dos agentes. Segundo os autores, esse termo

também pode ser utilizado para determinar e influenciar o comportamento.

Diversas teorias surgiram para explicar a regulação e predizer quando e quais

mercados provavelmente seriam regulados ou desregulamentados, bem como para

mostrar como ela aparece, se desenvolve e declina. Essas teorias podem ser

meramente descritivas dos fenômenos regulatórios, podem ser prescritivas de como

deve ser organizado o processo de regulação, ou podem ser uma combinação das

duas perspectivas. (CARDOSO et al., 2009).

Neste trabalho serão abordados quatro conceitos, das diversas teorias sobre

regulação, que ajudarão a compreender a regulação da contabilidade.

2.2.1 Teoria do Interesse Público

A primeira abordagem que surgiu na teoria da regulação foi a Teoria do Interesse

Público, que se baseia no feito de que a regulação existe para resolver falhas de

mercado, tais como monopólios, externalidades negativas e assimetria informacional.

Seu principal propósito é zelar pelo interesse público.

Essa teoria admite que o regulador sempre visa maximizar o bem-estar da sociedade

como um todo e age sempre nos melhores interesses para isso, buscando remediar

as falhas onde os mecanismos do próprio mercado não forem suficientes para resolvê-

las. (BALLEISEN; MOSS, 2010).

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O propósito dessa abordagem é atingir certos resultados desejados pela comunidade

e que o mercado não teria condições de facilitar. Por exemplo, sempre que o interesse

público estiver na iminência de ser atingido, o órgão regulador deve agir para evitar

que concentrações do poder de mercado prejudiquem os consumidores.

A intervenção do Estado na economia, atuando para combater as falhas de mercado,

é também um instrumento para assegurar uma maior estabilidade diante dos

inevitáveis ciclos econômicos, atenuando os efeitos dos períodos negativos – uma

ideia que é amplamente difundida desde o impacto da Grande Depressão. (HERBST

e DUARTE, 2013, p. 26).

2.2.2 Teoria da Captura

A segunda abordagem que surgiu, denominada Teoria da Captura, baseia- se em que

a regulação sempre é criada em benefício das entidades reguladas.

A teoria da captura surgiu como contraponto à teoria do interesse público, uma vez

que diversas evidências empíricas apresentam provas de que a regulação fora

exercida em prol da empresa regulada e, consequentemente, em detrimento da

sociedade. (CARDOSO et al., 2009).

Beaver (1998, p.164) explica a teoria da captura: “o principal beneficiário da regulação

não é o público (ou investidores, no caso da Lei das Sociedades por Ações), mas

aqueles sendo regulados”.

Viscusi, Vernon e Harrington Jr. (2005, p.379-380) afirmam que, segundo a teoria da

captura, a regulação é oferecida como resposta à demanda da indústria por regulação

de forma que “os legisladores são capturados pela indústria”, ou a agência reguladora

se torna controlada pela indústria com o passar do tempo, isto é, “os reguladores são

capturados pela indústria”.

A maioria dos modelos baseados na Teoria de Captura reconhecem as demandas

conflitantes sobre as agências reguladoras. Interesses privados, bem como os

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interesses públicos podem afetar a sobrevivência política dos agentes regulatórios,

bem como o orçamento da agência. (VISCUSI, VERNON; HARRINGTON, 2005).

2.2.3 Teoria da Competição entre os Grupos de Interesse

A Teoria da Competição entre os Grupos de Interesse, também chamada de Teoria

Econômica da Regulação, baseia-se na premissa de que o poder do regulador pode

ser usado para beneficiar grupos ou indivíduos particulares, ou seja, a regulação é

fruto da pressão exercida por grupos de influência nos processos de normatização.

Aqueles que conseguirem exercer melhor o poder de pressão, alcançarão a regulação

conforme seu interesse.

Na teoria da Competição Entre os Grupos de Interesse, o legislador e o regulador

estão preocupados em se perpetuarem no poder. Portanto, a regulação é desenhada

para atender às necessidades do grupo de interesse que exerce maior pressão

relativa sobre o regulador e o legislador. (CARDOSO et al.,2009).

Tandy e Wilburn (1996) identificaram cinco categorias de interesses, especificamente

para a regulação contábil sob o enfoque da Teoria da Competição entre Grupos de

Interesses: Normatizadores e Associações Profissionais Ligadas a Contabilidade;

Empresas de Auditoria; Outras Empresas e Associações de Empresas; Acadêmicos

e Outros Participantes.

Uma pesquisa realizada por Tavares, Anjos e Paulo (2014) demonstrou

empiricamente que o processo de regulação das práticas contábeis não é neutro e

apresenta vieses de interesses de agentes econômicos, que podem afetar a decisão

final do normatizador.

A pesquisa constatou que os requisitos iniciais dos normatizadores aproximam-se dos

argumentos da teoria do interesse público, mas acabam sendo contrariados pelos

incentivos das firmas, relacionados com a teoria da competição entre grupos de

interesses. Assim, é perceptível que setores específicos se posicionam de forma

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convergente na busca pelos seus interesses, com o intuito de conduzir o normatizador

para suas posições.

2.2.4 Teoria Tridimensional do Direito e a Contabilidade

O fenômeno da regulação pode ser analisado sob o ponto de vista de diversas

ciências sociais, dentre as quais a do Direito. Segundo Silva (2007), nesse enfoque,

a teoria tridimensional do direito, de Miguel Reale, pode ajudar a esclarecer e

determinar velhos problemas e situar novas questões envolvendo a legitimidade do

emissor das normas, a sua qualidade, os efeitos e sua pertinência ou necessidade da

norma em relação aos aspectos histórico-socioculturais.

Segundo a teoria tridimensional, o Direito se compõe da conjugação harmônica dos

três aspectos primordiais das distintas concepções unilaterais: i) aspecto normativo,

ou seja, o aspecto de ordenamento do Direito; ii) aspecto fático, ou seja, o seu nicho

social e histórico; e iii) o aspecto axiológico, ou seja, os valores buscados pela

sociedade, como a justiça.

Cardoso et al. (2009), definem regulação da mesma forma que Reale, como uma

construção social que decorre da dinâmica dialética entre o fato, o valor e a norma.

“A contribuição dessa teoria se apoia no seu caráter concreto e dinâmico, ou seja, em

perceber que os três elementos – fato, valor e norma – além de possuírem natureza

funcional e dialética, também estão sempre presentes e correlacionados em qualquer

expressão da vida cultural. Em síntese, a visão dessa teoria é a de que o elemento

normativo pressupõe sempre uma situação de fato segundo valores” (SILVA, 2007, p.

7).

No âmbito das normas contábeis, a regulação inclui a produção de padrões pelos

normatizadores estatais ou privados, os quais definem os elementos da prática

contábil, as regras e os princípios a serem seguidos nos relatórios financeiros das

organizações. (KOTHARI; RAMANNA; SKINNER, 2010).

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A Teoria da Regulação exerce considerável influência sobre a contabilidade uma vez

que estabelece padrões a serem cumpridos em nome do interesse coletivo. De acordo

com Cardoso at al. (2009), por nortear a forma de elaboração e divulgação dos

relatórios, a regulação da contabilidade assume papel determinante no atendimento

às necessidades dos usuários das informações contábeis.

O trabalho apresentado por Carmo at al. (2012), evidenciou como a Teoria dos Grupos

de Interesse está relacionada com a regulação do International Accounting Standards

Board (IASB), Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade, testando a possível

influência de alguns grupos de interesse sobre o processo de normatização

internacional. A pesquisa mostrou que a Teoria dos Grupos de Interesse está mais

adaptada para descrever o ambiente contábil normativo internacional do que a Teoria

do Interesse Público. Os resultados da pesquisa apresentaram evidências de que o

sucesso no processo de pressão (lobbying) exercido pelos grupos de interesse não

está associado ao tipo de stakeholder que ele representa, mas, sim, com o tipo de

sistema jurídico predominante no país, e consequentemente, com o modelo contábil

desse país.

Silva (2007) adaptou a teoria tridimensional do direito à regulação da contabilidade e

concluiu que os três elementos da Teoria Tridimensional do Direito, o fato, a norma e

o valor, podem ser identificados na estrutura conceitual da contabilidade:

“Sendo assim, a norma, na qualidade de realidade cultural, compõe-se de conflitos e de interesses, que se renovam constantemente em decorrência das tensões que envolvem fatos e valores (relação fático-axiológica). De acordo com esse entendimento, o processo de emissão de normas, no campo contábil, pode ser formado pelas contínuas intenções de valor, que, ao incidirem sobre um determinado evento econômico, definem os padrões a serem seguidos. Os padrões seriam representados pelas normas contábeis, com a inferência dos entes reguladores como expressão de poder. Notamos, então, que a norma contábil não pode surgir espontaneamente dos fatos e dos valores, pois ela não pode prescindir da apreciação da autoridade, ou seja, de quem define a oportunidade e conveniência da norma a ser consagrada”. (p. 149).

Dentre as teorias apresentadas, a Teoria da Competição Entre os Grupos de Interesse

está mais alinhada ao presente trabalho, cujo objetivo é elaborar argumentos que

auxiliem as Instituições Financeiras no processo de lobbying junto ao regulador

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(BACEN), em relação a possível adequação da Resolução 2.682/99 aos requisitos da

IFRS 9.

2.3 REGULAÇÃO CONTÁBIL E A CONVERGÊNCIA DOS PADRÕES

INTERNACIONAIS

2.3.1 A Convergência das Normas Contábeis

O início da regulação da contabilidade remonta à Grande Depressão de 1929, quando

a regulação das instituições se intensificou. Nos Estados Unidos os profissionais

contábeis empreenderam uma grande quantidade de trabalho para estabelecer regras

contábeis particulares e doutrinas.

Como exposto anteriormente, autores afirmam que o processo regulatório da

contabilidade, do sistema financeiro, e outros, foi potencializado pelas crises

econômicas ocorridas a partir do século XX, com isso, “é possível afirmar que o início

do processo regulatório na contabilidade foi consequência do cenário econômico da

época e, portanto, encontra sua raiz teórica atrelada às teorias desenvolvidas no

âmbito da economia que procuraram explicar as razões pelas quais deveria ocorrer a

intervenção do Estado no mercado e o comportamento do regulador frente aos

diversos incentivos advindos dos grupos de interesses”. (TAVARES; ANJOS; PAULO,

2014, p. 46).

Silva (2007) pondera que devido à grande variedade de usuários e de interesses nas

informações contábeis, cada país desenvolveu um processo peculiar de elaboração

de suas normas contábeis.

Com a finalidade de harmonizar a contabilidade no contexto internacional, promover

a convergência entre normas contábeis locais e as normas internacionais de

contabilidade, foi criado, em 29 de junho de 1973, o International Accounting

Standards Committee (IASC) com objetivo de elaborar e emitir Normas Internacionais

de contabilidade para uso em todo mundo. Em 2001 foi criado o International

Accounting Standards Board (IASB) que assumiu as responsabilidades do IASC.

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O processo de regulação contábil ganhou força com a parceria entre o IASB e o

Financial Accounting Standards Board (FASB), a partir de 2002, cujo objetivo é

elaborar e emitir normas internacionais que diminuam as diferenças nas práticas

contábeis adotadas em diferentes países e alinhe um mesmo padrão contábil.

Na Europa, a harmonização entre os padrões contábeis dos diversos países da União

Europeia foi acelerada em 2002, quando se anunciou que, a partir do ano de 2005, as

companhias listadas em bolsas de valores europeias deveriam adotar os padrões do

IASB em seus relatórios contábeis. (CHIAPELLO; MEDJAD, 2009).

No Brasil, um importante passo para esse processo de convergência foi dado com o

surgimento do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a partir da Resolução

1.055/05 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O início do processo se deu

com a entrada em vigor da Lei nº 11.638/07, que previa a adoção de um novo modelo

de regulação contábil e resultou na emissão de Pronunciamentos Técnicos pelo CPC,

aderentes aos novos padrões internacionais emitidos pelo IASB. (OLIVEIRA; COSTA

JÚNIOR; SILVA, 2013).

2.3.2 Principais órgãos normativos da Contabilidade

Os principais órgãos normativos responsáveis pela emissão das normas

internacionais são o International Accounting Standard Board (IASB) e o Financial

Accounting Standards Board (FASB) que emite os padrões contábeis nos Estados

Unidos.

No Brasil, são diversas as instituições que emitem normas e diretrizes contábeis, entre

as quais: o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), a Comissão de Valores

Mobiliários (CVM), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), o

Banco Central do Brasil (BACEN) a Secretaria de Previdência Complementar do

Ministério da Previdência Social (SPC-MPS), a Superintendência de Seguros Privados

(SUSEP), o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a Agência Nacional de

Saúde Suplementar (ANS) e a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB). (SILVA,

2007, p.32).

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O CFC - Conselho Federal de Contabilidade é uma Autarquia Especial Corporativa

dotada de personalidade jurídica de direito público, possui estrutura, organização e

funcionamento regulamentados pela Resolução CFC nº 1.370/2001. As finalidades do

CFC seriam, dentre outras, orientar, normatizar e fiscalizar o exercício da profissão

contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade, cada um em sua

base jurisdicional, nos Estados e no Distrito Federal; decidir, em última instância, os

recursos de penalidade imposta pelos Conselhos Regionais; além de regular acerca

dos princípios contábeis, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de

educação continuada, bem como editar Normas Brasileiras de Contabilidade de

natureza técnica e profissional.

O IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil foi constituído em 13

de dezembro de 1971. Surgiu da união de dois institutos que congregavam contadores

que trabalhavam com auditoria independente: o Instituto dos Contadores Públicos do

Brasil (ICPB) e o Instituto Brasileiro de Auditores Independentes (IBAI), que se

juntaram para a obtenção de uma melhor estrutura e representatividade em benefício

da profissão. Sua função é discutir, desenvolver e aprimorar as questões éticas e

técnicas da profissão de auditor e, ao mesmo tempo, atuar como porta-voz dessa

categoria diante de organismos públicos e privados e da sociedade em geral.

A CVM - Comissão de Valores Mobiliários é uma entidade autárquica em regime

especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, foi criada em 07/12/1976 pela Lei

6.385/76, com o objetivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado

de valores mobiliários no Brasil. Seu poder regulamentador abrange todas as matérias

referentes ao mercado de valores mobiliários.

O BACEN - Banco Central do Brasil, por delegação de competência do Conselho

Monetário Nacional (CMN), é responsável por estabelecer os padrões contábeis para

as instituições financeiras, regulamentar a organização e a fiscalizar o Sistema

Financeiro Nacional.

A SUSEP - Superintendência de Seguros Privados e a SPC - Secretaria da

Previdência Complementar avaliam se as entidades reguladas possuem ativos

garantidores (lastro financeiro) para suportar os encargos, dívidas e provisões

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atuariais assumidas em virtude das suas atividades operacionais e, para tanto, emitem

normas contábeis a serem observadas pelas sociedades seguradoras e pelas

instituições de previdência complementar, respectivamente. (Silva 2007).

A ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar é a agência reguladora vinculada

ao Ministério da Saúde responsável pelo setor de planos de saúde no Brasil. Sua

missão é promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde,

regular as operadoras setoriais - inclusive quanto às suas relações com prestadores

e consumidores - e contribuir para o desenvolvimento das ações de saúde no país.

A RFB - Secretaria da Receita Federal do Brasil é um órgão específico, singular,

subordinado ao Ministério da Fazenda, exercendo funções essenciais para que o

Estado possa cumprir seus objetivos. É responsável pela administração dos tributos

de competência da União, inclusive os previdenciários, e aqueles incidentes sobre o

comércio exterior, abrangendo parte significativa das contribuições sociais do País.

Também subsidia o Poder Executivo Federal na formulação da política tributária

brasileira, previne e combate à sonegação fiscal, o contrabando, o descaminho, a

pirataria, a fraude comercial, o tráfico de drogas e de animais em extinção e outros

atos ilícitos relacionados ao comércio internacional.

O CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis foi Criado pela Resolução CFC

nº 1.055/05, cujo objetivo é "o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos

Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa

natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira,

visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando

sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões

internacionais".

O CPC foi idealizado a partir da união de esforços e comunhão de objetivos das

seguintes entidades: Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA);

Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais

(APIMEC NACIONAL); Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA); Conselho Federal

de Contabilidade (CFC); Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e

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Financeiras (FIPECAFI); e Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

(IBRACON).

Sua criação se deu em função das necessidades de:

Convergência internacional das normas contábeis (redução de custo de

elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e

decisões, redução de custo de capital);

Centralização na emissão de normas dessa natureza (no Brasil, diversas

entidades o fazem);

Representação e processos democráticos na produção dessas informações

(produtores da informação contábil, auditor, usuário, intermediário, academia,

governo).

Após a sua criação, o CPC passou a emitir Pronunciamentos, Interpretações e

Orientações Técnicas compatíveis com as normas contábeis internacionais emitidas

pelo IASB. Os novos Pronunciamentos Técnicos passam por amplo processo de

Audiência Pública (consulta pública) antes de serem aprovados. Após sua aprovação,

os mesmos passam a ter aplicação obrigatória por força da emissão de ato do

Conselho Federal de Contabilidade e de cada Agência Reguladora, incluindo CVM e

BACEN. (OLIVEIRA; COSTA JÚNIOR; SILVA, 2013).

As instituições financeiras de capital aberto, objeto de estudo nesse trabalho,

apresentam suas demonstrações financeiras nos padrões BR GAAP (conjunto de leis,

normas e princípios que integram a contabilidade brasileira), de acordo com as

diretrizes contábeis estabelecidas pelas Leis n° 4.595/64- Lei do Sistema Financeiro

Nacional e n° 6.404/76- Lei das Sociedades por Ações (e suas alterações pelas Leis

n° 11.638/07 e n° 11.941/09, que tiveram por objetivo harmonizar a lei brasileira com

a internacional). E também em consonância com os normativos do Conselho

Monetário Nacional (CMN), BACEN, CVM, SUSEP e Conselho Nacional de Seguros

Privados (CNSP). Além disso, essas instituições financeiras (S/A) passaram a divulgar

demonstrações contábeis consolidadas de acordo com as normas internacionais de

relatório financeiro, o IFRS, após a exigência do CMN, pelo Comunicado n° 14.259 do

BACEN. (CORRÊA, 2013).

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A estrutura de regulação contábil no Brasil está representada na Quadro 1 abaixo:

Quadro 1: Fluxograma da estrutura de regulação contábil no Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor, com base no material de Oliveira, Costa Junior e Silva (2013)

2.4 REGULAÇÃO CONTÁBIL PARA PERDA DO VALOR RECUPERÁVEL DE

ATIVOS FINANCEIROS

2.4.1 Provisão para crédito de liquidação duvidosa – (PCLD)

A PCLD tem como uma de suas funções fazer com que o resultado contábil das

instituições espelhe as prováveis perdas decorrentes de insolvência em sua carteira

de crédito. E também pode ser considerada uma ferramenta administrativa que

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demonstra a qualidade da carteira de crédito das empresas, fornecendo bons indícios

para avaliação das políticas de crédito em vigor.

Atualmente, as Instituições Financeiras brasileiras devem observar a Resolução CMN

2.682/99 que dispõe sobre critérios de classificação das operações de crédito e regras

para constituição de provisão para créditos de liquidação duvidosa. Em observação a

norma estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a PCLD é calculada

com base na classificação de risco de crédito segundo a abordagem da visão perda

esperada.

De acordo com o padrão internacional, estabelecido pelo IASB a instituição deve

verificar, a cada data-base, se ocorreu evento de perda que reduza o valor recuperável

de uma operação para reconhecer a perda – essa é a abordagem segundo a visão

perda incorrida da IAS 39.

Conforme exposto anteriormente, as instituições financeiras são obrigadas a elaborar

suas demonstrações contábeis de acordo com os padrões nacionais e internacionais,

entretanto, a divergência de critério entre as normas, no tratamento da Provisão para

Créditos de Liquidação Duvidosa, pode incorrer em custos, como por exemplo, de

processos e pessoas, que não justifiquem os benefícios gerados.

2.4.2 Tratamento da PCLD no Brasil

O Banco Central do Brasil tem determinações específicas quanto a provisão para

crédito de liquidação duvidosa nas instituições financeiras, que estão regulamentadas

na Resolução CMN 2.682/99, que determina a classificação dos créditos concedidos

de acordo com o risco das operações e o tempo de atraso, considerando o histórico

do cliente, sua capacidade como tomador de empréstimos no mercado e sua

capacidade de pagamento futura, além do setor de atividade econômica, limite de

crédito, natureza da operação e garantias.

Como já mencionado, segundo a norma estabelecida pelo Bacen, a PCLD é calculada

com base na classificação de risco de crédito - visão perda esperada, ou seja, no

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crédito bancário é natural que algumas perdas ocorram ao longo do tempo e, embora

uma Instituição Financeira não possa conhecer antecipadamente as perdas que

incorrerá em período futuros, ela pode, dada a sua experiência, estimar um nível de

perda para este período.

No contexto de Basiléia II esta estimativa é conhecida por Perda Esperada ou EL do

inglês Expected Losses. A perda esperada (EL) de qualquer transação é definida

como: EL = EAD. LGD.PD

A ideia básica é: o banco atribui uma probabilidade de inadimplência (PD) – em inglês,

probability of default –, uma fração da perda que é chamada de perda dada a

inadimplência (LGD) – em inglês, loss given default –, que descreve a fração da

exposição que se espera ser perdida em caso de inadimplência, e a exposição a

inadimplência (EAD) – em inglês, exposure at default – sujeita a ser perdida no período

de tempo considerado. É importante mencionar que a LGD é específica do tipo de

facilidade considerada (um empréstimo, um título etc.), pois as perdas podem ser

influenciadas pelas características-chave da transação, como a presença de

colaterais e o grau de subordinação. (LIMA, J., 2008).

2.4.2.1 Classificação das operações de Crédito

O art. 1° da Resolução CMN n° 2.682/99, determina que:

[...] as instituições financeiras e demais instituições autorizadas

a funcionar pelo Banco Central do Brasil devem classificar as

operações de crédito, em ordem crescente de risco, nos

seguintes níveis: I - nível AA; II - nível A; III - nível B; IV - nível C;

V - nível D; VI - nível E; VII - nível F; VIII - nível G; IX - nível H.

(Brasil, 1999).

Conforme tal Resolução, além da classificação da operação no nível de risco

adequado, é de responsabilidade da instituição verificar a consistência das

informações quando pretende emprestar para um cliente pessoa física, ou um grupo

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econômico, outros aspectos internos e externos para negociação, para manter a

solidez da carteira de crédito, tais como:

Em relação ao devedor e seus garantidores:

o Situação econômico-financeira;

o Grau de endividamento;

o Capacidade de geração de resultados;

o Fluxo de caixa;

o Pontualidade nos pagamentos;

o Contingências;

o Setor de Atividade Econômica; e

o Limite de Crédito.

Em relação à operação:

o A natureza e finalidade da transação; e

o Características das garantias, particularmente quanto à suficiência, à

liquidez e ao valor.

Tais aspectos subsidiam não apenas a decisão de conceder ou não o crédito, como

também contribuem para apuração e diferenciação do nível de risco dos créditos

concedidos. Entretanto, a norma estabelece que os bancos devem avaliar o risco do

tomador de crédito, mas não determina a forma sobre como esses fatores devem ser

combinados. Elenca os elementos que devem ser combinados na avalição, mas cabe

aos bancos a responsabilidade de avaliar e ponderar cada um desses elementos a

seu critério, desde que “com base em critérios consistentes e verificáveis” (Res.

2.682/99, art. 2º), a fim de apurar o risco de seus créditos.

Segundo Verrone (2007) a Resolução CMN n° 2.682/99 introduziu uma certa liberdade

às instituições financeiras para modelar o risco, o que representou uma importante

inovação nas normas de crédito brasileiras, que eram, prescritivas e descritivas sobre

o que poderia e não poderia ser realizado, sobre como deveria ser sua execução, e

qual o procedimento a adotar em cada possível situação.

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Apesar da abordagem aberta e flexível da norma, a delegação de poder ao mercado

não foi completa, pois o CMN determina algumas linhas gerais da sistemática de

classificação de risco, como por exemplo, avaliação dos riscos do devedor e o risco

da operação, aponta quesitos mínimos que devem ser considerados para esses itens,

estabelece prazos para a revisão periódica das classificações, provisionamento em

função de atrasos e outros procedimentos específicos a serem observados, cuja

função é moderar a liberdade delegada às instituições financeiras.

2.4.2.2 Constituição de provisão para créditos de liquidação duvidosa

A Constituição de PCLD deve ser verificada conforme critérios consistentes e

verificáveis, como: a sistemática de provisionamento, o prazo de inadimplência e a

possibilidade de ação do órgão de supervisão.

Sistemática de provisionamento

O primeiro elemento moderador presente na Resolução é a sistemática de

provisionamento. O Artigo 6° da norma prevê que, para o total de operações

classificadas em determinado nível de risco, deve ser constituído um total de provisão

correspondente a um percentual específico do saldo dessas operações, conforme

Tabela 1.

Para fazer face aos créditos de liquidação duvidosa, deve-se constituir provisão

mensalmente, não podendo ser inferior ao somatório decorrente da aplicação dos

percentuais apresentados no Tabela 1, sem prejuízo da responsabilidade dos

administradores das instituições pela constituição de provisão insuficiente.

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Tabela 1 - Critérios de provisão do Banco Central

Nível de risco Provisão constituída

AA 0,00%

A 0,50%

B 1,00%

C 3,00%

D 10,00%

E 30,00%

F 50,00%

G 70,00%

H 100,00%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de análise da Resolução CMN 2.682/99.

Do ponto de vista contábil, a provisão destina-se à cobertura de perdas prováveis,

tendo um caráter estimativo. A associação de cada classificação com um certo nível

de provisão cria um efeito moderador pelo fato de que se um determinado modelo de

classificação atribuísse uma expectativa de perda a um determinado crédito, tem-se

que essa expectativa de perda indicaria qual o nível de provisão que a ele deveria ser

associado e, portanto, em qual classificação de risco o mesmo se enquadraria. Não

haveria logica em outro procedimento, pois não haveria sentido se as perdas

esperadas fossem diferentes da provisão constituída, dado o conceito contábil desta

última. (VERRONE, 2007, p. 90)

Apesar de terem sido determinados nove níveis de risco com faixas especificas de

provisionamento, isso não constitui impedimento à evolução para modelos com maior

granularidade (modelos com mais níveis de risco). Se considerarem necessário a um

adequado gerenciamento de sua carteira, as instituições financeiras não encontram

impedimento na norma para que utilizem internamente níveis adicionais de risco,

subdividindo aqueles pré-definidos.

Prazo de inadimplência

O segundo elemento moderador à liberdade das instituições financeiras em

modelarem seus riscos de crédito para fins regulatórios refere-se ao prazo de

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inadimplência, o Artigo 4° da norma estabelece a classificação mínima admitida para

créditos que se apresentem em atraso. Conforme Tabela 2, o prazo de inadimplência

é o que classifica o cliente em um determinado nível de risco.

Tabela 2 - Critérios de prazos de inadimplência do Banco Central

Dias de atraso Nível de risco

0 AA

0 A

15 e 30 dias B

31 e 60 dias C

61 e 90 dias D

91 e 120 dias E

121 e 150 dias F

151 e 180 dias G

151 e 180 dias H

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de análise da Resolução CMN 2.682/99.

O Artigo 4º da resolução determina que a classificação da operação nos níveis de

risco de que trata o artigo 1º deve ser revista, no mínimo:

I - Mensalmente, por ocasião dos balancetes e balanços, em função de atraso verificado no pagamento de parcela de principal ou de encargos, devendo ser observado o que segue: a) atraso entre 15 e 30 dias: risco nível B, no mínimo; b) atraso entre 31 e 60 dias: risco nível C, no mínimo; c) atraso entre 61 e 90 dias: risco nível D, no mínimo; d) atraso entre 91 e 120 dias: risco nível E, no mínimo; e) atraso entre 121 e 150 dias: risco nível F, no mínimo; f) atraso entre 151 e 180 dias: risco nível G, no mínimo; g) atraso superior a 180 dias: risco nível H; II - Com base nos critérios estabelecidos nos arts. 2º e 3º: a) a cada seis meses, para operações de um mesmo cliente ou grupo econômico cujo montante seja superior a 5% (cinco por cento) do patrimônio líquido ajustado; b) uma vez a cada doze meses, em todas as situações, exceto na hipótese prevista no art. 5º. (Brasil, 1999).

A norma estimula que os bancos sejam proativos em reconhecer seus riscos, mesmo

os que não se encontram em atraso, fazendo-o segundo seus próprios critérios. Mas,

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segundo Verrone (2007) se esses critérios se revelarem ineficazes, o critério do prazo

de inadimplência funciona como um limitador, um teto máximo para o grau de

liberdade concedido às instituições financeiras.

Possibilidade de ação do órgão de supervisão

O terceiro elemento que permite corrigir eventuais desvios é a intervenção direta do

órgão de supervisão, ao qual se concedem algumas prerrogativas descritas no artigo

13° da Resolução CMN 2.682/99:

Art. 13. O Banco Central do Brasil poderá baixar normas complementares necessárias ao cumprimento do disposto nesta Resolução, bem como determinar:

I - reclassificação de operações com base nos critérios estabelecidos nesta Resolução, nos níveis de risco de que trata o art. 1º;

II - provisionamento adicional, em função da responsabilidade do devedor junto ao Sistema Financeiro Nacional;

III - providências saneadoras a serem adotadas pelas instituições, com vistas a assegurar a sua liquidez e adequada estrutura patrimonial, inclusive na forma de alocação de capital para operações de classificação considerada inadequada;

IV - alteração dos critérios de classificação de créditos, de contabilização e de constituição de provisão;

V - teor das informações e notas explicativas constantes das demonstrações financeiras;

VI - procedimentos e controles a serem adotados pelas instituições. (Brasil, 1999).

Para Verrone (2007), a previsão normativa de impor a alteração de critérios de

classificação representa a possível recusa pelo BACEN dos critérios adotados pela

instituição financeira, ou seja, uma invalidação do modelo que pode levar à

substituição, parcial ou total. Portanto, se o órgão de supervisão, durante seu

processo de fiscalização em risco de crédito, não apontar problemas ou correções a

serem efetuadas na sistemática de classificação de uma determinada instituição, ou

seja, se não invalidá-la explicitamente, tem- se de fato uma validação do modelo

adotado.

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Tal prática difere dos critérios de Basiléia, que, em seu quadro regulatório atual prevê

uma validação a posteriori, pela não invalidação, em que os bancos e demais

instituições são autorizados pela norma a usar seus modelos próprios, sem

necessidade de autorização ou validação a priori. “Sob esse aspecto a Resolução

CMN 2.682/99 é mais ousada que Basiléia no que tange à auto-regulação, pois

introduz e aplica a ideia de modelo interno sem validação previa e para todas as

instituições do SFN, ainda que, tanto uma quanto outra possuam elementos com a

função de moderar a liberdade das instituições financeiras”. (VERRONE, 2007, p. 96).

2.4.3 Conceitos de Perda Esperada Conforme Basiléia

As abordagens de mensuração, segundo o Acordo de Basiléia, são classificadas em

dois tipos: padronizada e a baseada em classificações internas - (Internal Ratings

Based - IRB).

A Abordagem Baseada em Classificações Internas (IRB) oferece tratamento

conceitualmente similar ao método padronizado no tratamento das exposições dos

bancos, porém com maior grau de sensibilidade aos riscos.

A apuração do requerimento de capital deverá considerar os seguintes componentes

de risco:

o PD (Probability Default): possibilidade de um determinado cliente ficar

inadimplente. Deve considerar as características do cliente e está associada

ao risco do cliente (rating) apresentado no ANC - Análise de Cliente;

o LGD (Loss Given Default): medida preditiva que informa o quanto

efetivamente não é recuperado quando um cliente entra em inadimplência.

Na apuração desta medida deve ser considerada a estimativa de quanto se

recupera de uma dívida em atraso menos os custos no processo de

recuperação;

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o EAD (Exposure at Default) ou Exposição no Momento da Inadimplência:

considerando que um cliente tende a aumentar seu endividamento ao se

aproximar de uma situação onde não terá capacidade de honrar seus

compromissos, este componente evidencia o montante (efetivo + potencial)

do endividamento do cliente no momento da inadimplência;

o M (Effective Maturity) ou Maturidade Efetiva: prazo até o vencimento da

operação podendo ser ajustado em função do fluxo de caixa ou critérios do

regulador. Abordagem IRB Básica Nesta abordagem, a instituição

financeira deve estimar internamente a probabilidade de inadimplência (PD)

associada à categoria do tomador; os demais componentes de risco serão

disponibilizados pela autoridade de supervisão/fiscalização.

2.4.3.1 Resolução CMN 2.682/99 e a Abordagem IRB (Internal Ratings Based) para

risco de crédito do Acordo de Basiléia II

A Resolução CMN 2.682/99 determina que as operações de crédito sejam

classificadas por nível de risco, de acordo com as características do devedor, dos

garantidores e da operação de crédito. Conforme a classificação da operação de

crédito, a norma estabelece um percentual que deve ser multiplicado pelo valor

contábil da operação para se determinar o montante da provisão. Desta forma, o

objetivo da norma é assegurar a existência de provisão para operações de crédito de

acordo com a classificação da operação de crédito.

Já a abordagem IRB, para o risco de crédito, utiliza um modelo estatístico para

mensurar as perdas esperadas que podem ocorrer no horizonte de um ano. O objetivo

é que as provisões de um banco sejam suficientes para suportar as perdas esperadas

durante os próximos 12 meses.

Conforme trabalho apresentado por Watanabe (2006), os procedimentos para a

estimativa das perdas esperadas diferem dos procedimentos determinados pela

Resolução CMN 2.682/99. As diferenças encontradas são apresentadas na Quadro 2

e descritas a seguir:

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Quadro 2 - Comparações entre Basiléia II e a Resolução CMN 2.682/99

BASILEIA II - IRB RESOLUCAO CMN 2.682/99

Modelo Modelo estatístico para

determinar as perdas esperadas

Modelo de classificação das operações

de crédito por níveis de risco

Objetivo

Garantir que as provisões

sejam iguais ou superiores

as perdas esperadas

Garantir que as provisões sejam

constituídas de acordo com a

classificação por níveis de risco da

operação de crédito

Cálculo

Perdas esperadas (EL) nos

próximos 12 meses

Provisões - quanto pior a classificação

maior a provisão

Parâmetros

PD, LGD, EAD e M Devedor, garantidor e operação

Indícios Inadimplência Classificação da operação e/ou atraso

Fórmula EL = PD x LGD x EAD Provisão = valor contábil x percentual

conforme o nível de risco da operação

Fonte: Resolução CMN 2.682/99 e Normas do Acordo da Basiléia

A classificação por faixas de risco pela Basiléia II é efetuada utilizando dados

quantitativos e qualitativos do cliente em faixas de risco. Enquanto que na

Resolução CMN 2.682/99, a classificação é feita de acordo com a operação,

utilizando dados do cliente, da operação e dos garantidores;

De acordo com a Resolução CMN 2.682/99, após 15 dias de atraso há a

necessidade de constituir provisão para aquela operação de crédito. Já para a

Basiléia II, somente após 90 dias de atraso, o cliente é considerado inadimplente;

A Basiléia II utiliza a LGD, que é um percentual estimado dos valores que o banco

não esperar receber, mais os custos relacionados ao não recebimento. Há uma

LGD para cada tipo de operação. A resolução CMN 2.682/99 não utiliza este

parâmetro para o cálculo da provisão, e sim a sua tabela de atraso x percentual

estabelecido;

As probabilidades de inadimplência (PD) são estimadas para cada faixa de risco

de cliente, com base em dados históricos de cada banco. Desta forma, para cada

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faixa de risco há uma PD. Enquanto que na Resolução CMN 2.682/99 o percentual

de provisão é determinado pela norma.

O cálculo das perdas esperadas utiliza o valor estimado no momento da

inadimplência, enquanto a Resolução CMN 2.682/99 determina que seja utilizado

o valor contábil.

Com tal comparação é possível destacar que os critérios da Basiléia em relação aos

riscos de crédito são mais abrangentes e objetivos, dando às instituições critérios

específicos para elaboração de seus modelos internos, enquanto que, a Resolução

Bacen apresenta critérios subjetivos deixando que as instituições tenham mais

liberdade para desenvolver seus modelos internos.

Atualmente o BACEN regulamenta aspectos de Basiléia por meio da Resolução

4.193/13 e da Circular 3.648/13 que estabelece os requisitos mínimos para o cálculo

da parcela relativa às exposições ao risco de crédito sujeito ao cálculo do

requerimento de capital mediante sistemas internos de classificação do risco de

crédito (abordagens IRB), de que trata a Resolução nº 4.193. Ou seja, o Banco Central

tem seus critérios específicos, conforme Resolução CMN 2.682/99, mas também

regulamenta que as instituições financeiras obedeçam aos aspectos da Basiléia.

2.4.3.2 Basiléia III

Em resposta à crise financeira internacional ocorrida em 2008, e visando a evolução

do Acordo de Basiléia, em junho de 2011, foi publicado o documento “Basel III: A

global regulatory framework for more resilient Banks and banking systems – revised”,

também conhecido como Basiléia III.

O novo acordo tem como objetivo, ampliar a capacidade do setor bancário em

absorver choques, derivados de problemas econômicos ou financeiros, e, assim,

reduzir o risco de transbordamento de eventuais problemas do setor financeiro para o

setor real da economia. Ou seja, ampliar a resiliência dos bancos foi o norte que guiou

a reforma do arcabouço de Basiléia no pós-crise.

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É importante destacar que as bases da nova regulação bancária se mantiveram

atreladas à Basiléia II. Contudo, mudanças relevantes foram introduzidas nesse

arcabouço para que a reforma fosse capaz de atingir o objetivo traçado. As principais

linhas de mudança introduzidas por Basiléia III foram:

1. A reformulação da estrutura de capital das instituições financeiras, dividida, por

sua vez, entre:

(a) o aprimoramento do cálculo do ativo ponderado pelo risco;

(b) a ampliação dos requerimentos de capital; e

(c) a redefinição do capital regulamentar e seus níveis.

2. A introdução dos índices de liquidez; e

3. A introdução do índice de alavancagem.

Como veremos adiante, as metodologias definidas pelo Acordo Basiléia em relação a

previsão de risco de crédito é o ponto que aproxima as normas estudadas no trabalho.

2.4.4 A Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa segundo o IFRS

As provisões para crédito de liquidação duvidosa (PCLD) são tratadas na IAS 39 como

perdas no valor recuperável e deve seguir critérios específicos para seu

reconhecimento. De acordo com a norma perda por imparidade, ou perda por

impairment, é o montante pelo qual a quantia escriturada de um ativo ou de uma

unidade geradora de caixa excede seu montante recuperável.

Atualmente, segundo o IFRS (IAS 39), as perdas incorridas de um ativo financeiro são

reconhecidas somente quando há evidência objetiva de perda (impairment) e impacto

sobre os fluxos de caixa futuros estimados.

Como visto anteriormente, a IFRS 9, emitida em julho de 2014 e válida a partir de 01

de janeiro de 2018, substitui a IAS 39 e estabelece as exigências de reconhecimento

e mensuração, baixa, perda no valor recuperável (impairment) e contabilização de

hedge em geral.

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A elaboração da nova norma foi relativamente lenta. O projeto foi iniciado pouco antes

da crise financeira de 2008 e sofreu morosidade e alterações de escopo em

consequência da crise. No total foram necessários mais de 6 anos para que o IASB

concluísse seu projeto de substituição e simplificação da norma IAS 39.

Em conformidade com os compromissos tomados em 2008, a norma IFRS 9 foi

desenvolvida pelo IASB em três fases, apresentadas a seguir:

A primeira fase (Phase 1: classification and measurement of financial assets

and financial liabilities) definiu novas regras de classificação e mensuração dos

ativos financeiros e dos passivos financeiros.

A segunda fase (Phase 2: impairment methodology) definiu uma nova

metodologia de reconhecimento das perdas por redução do valor recuperável

(“impairment”) de ativos financeiros.

A terceira fase (Phase 3: hedge accounting) definiu melhorias às regras atuais

de contabilidade de hedge (“hedge accounting”).

Este trabalho tem por objetivo desenvolver os assuntos definidos na segunda fase, a

nova metodologia de recuperabilidade.

2.4.4.1 Conceito de Perda Incorrida segundo a IAS 39

O padrão internacional, estabelecido pelo IASB na IAS 39, estabelece procedimentos

para a contabilização e evidenciação de operações realizadas com instrumentos

financeiros. A norma contém também definições relacionadas a tais instrumentos e

determina procedimentos contábeis específicos para o reconhecimento inicial, baixa

e avaliação subsequente desses itens. O registro contábil de hedge também é escopo

dessa norma.

É importante ressaltar que, para fins dessa pesquisa, dentre os assuntos de escopo

do IAS 39, daremos foco às perdas no valor recuperável dos ativos, que é objeto do

estudo.

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Modelo de Mensuração

De acordo com a norma, um ativo financeiro (ou grupo) tem perda no valor recuperável

e incorre em perda se, e apenas se, existir evidência objetiva de perda no valor

recuperável como resultado de um ou mais eventos que ocorreram após o

reconhecimento inicial do ativo e se esse evento (ou eventos) de perda tiver em

impacto nos fluxos de caixa futuros estimados do ativo financeiro ou do grupo de ativos

financeiros que possa ser confiavelmente estimado.

Como evidências objetivas a norma destaca uma série de eventos que devem ser

observados:

(a) significativa dificuldade financeira do emitente ou do obrigado;

(b) quebra de contrato, tal como o descumprimento ou atraso nos pagamentos

de juros ou de capital;

(c) emprestador ou financiador, por razões econômicas ou legais relacionadas

com as dificuldades financeiras do tomador do empréstimo ou do

financiamento, oferece ao tomador uma concessão que o emprestador ou

financiador de outra forma não consideraria;

(d) torna-se provável que o devedor vá entrar em processo de falência ou outra

reorganização financeira;

(e) desaparecimento de mercado ativo para esse ativo financeiro devido a

dificuldades financeiras; ou

(f) dados observáveis indicando que existe decréscimo mensurável nos fluxos

de caixa futuros estimados de grupo de ativos financeiros desde o

reconhecimento inicial desses ativos, embora o decréscimo ainda não possa

ser identificado com os ativos financeiros individuais do grupo, incluindo:

(i) alterações adversas no status do pagamento dos devedores do grupo

(por exemplo, número crescente de pagamentos em atraso ou número

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crescente de devedores de cartão de crédito que atingiram o seu limite

de crédito e estão apenas pagando a quantia mínima mensal); ou

(ii) as condições econômicas nacionais ou locais que se correlacionam

com os descumprimentos relativos aos ativos do grupo (por exemplo,

aumento na taxa de desemprego na área geográfica dos devedores,

decréscimo nos preços das propriedades para hipotecas na área

relevante, decréscimo nos preços do petróleo para ativos de empréstimo

a produtores de petróleo, ou alterações adversas nas condições da

indústria que afetem os devedores do grupo).

Tais eventos descritos pelo IAS 39 servem para as entidades julgarem se seus

créditos a receber tiveram perdas no seu valor recuperável ou não.

A norma ressalta que o efeito de vários eventos combinados pode causar a perda no

valor recuperável, mas que “as perdas esperadas como resultados de acontecimentos

futuros, independentemente do grau de probabilidade, não são reconhecidas”.

2.4.4.2 Conceito de Perda Esperada segundo a IFRS 9

Em conformidade com a nova norma IFRS 9 as perdas esperadas em ativos

financeiros formam a base para a determinação das perdas a serem reconhecidas no

resultado em decorrência da perda do valor recuperável dos ativos financeiros. Para

aplicar o princípio da “perda esperada”, a norma IFRS 9 descreve os componentes

chave da estimativa das provisões para perdas esperadas nos ativos financeiros:

o Identificar toda a informação razoável, suportável e relevante para formar a

estimativa de perda para o futuro;

o Identificar a gama de possíveis resultados considerando a probabilidade e

razoabilidade desses resultados (por exemplo, uma gama de resultados

possíveis pode incluir um mínimo de dois resultados ponderados por

probabilidade, mas o uso de um único resultado mais provável não seria

apropriado); e

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o O valor do dinheiro no tempo.

Em linhas gerais, o modelo de perdas de crédito esperadas usa uma abordagem de

mensuração dupla. Se o risco de crédito de um ativo financeiro não tiver aumentado

significativamente desde seu reconhecimento inicial, o ativo financeiro terá uma

provisão para perdas esperadas para 12 meses. Se o risco de crédito tiver aumentado

significativamente, a provisão será para as perdas esperadas durante toda a vida do

instrumento, dessa forma, aumentando a montante da provisão de impairment.

Entretanto, a norma não define o que é “significante”, assim, julgamento será

necessário para determinar se o ativo deve ser transferido entre essas categorias.

O novo modelo será aplicável a ativos financeiros que são:

o Instrumentos de dívida reconhecidos no balanço, como empréstimos e bonds;

e

o Classificados como mensurados a valor justo;

o Certos compromissos de empréstimos e garantias financeiras.

Uma abordagem simplificada estará disponível para certos recebíveis comerciais e de

arrendamento, além de ativos de contrato de construção. Regras especiais irão se

aplicar para ativos que já estão com impairment de crédito no seu reconhecimento

inicial.

Os novos requerimentos para impairment de ativos financeiros, passaram a ser

baseados no modelo de perda esperada, e os principais conceitos são apresentados

a seguir:

Impairment de Ativos Financeiros

O principal objetivo dos requerimentos de impairment é reconhecer as expectativas

de perdas de crédito ECL (Expected Credit) para toda vida útil dos ativos financeiros

que tiverem um aumento significativo no risco de crédito, desde o seu reconhecimento

inicial – em base individual ou coletiva –, considerando todas as informações

razoáveis e suportáveis, incluindo o que é prospectivo.

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Fluxo de Aplicação

Para aplicação dos requerimentos de impairment segundo a IFRS 9, a entidade deve

seguir o seguinte fluxo, apresentado na Quadro 3:

Quadro 3: Fluxograma da aplicação de impairment segundo a IFRS 9

Fonte: Elaborado pelo autor com base na análise da IFRS 9

Abordagem Geral

Para cada data de balanço, a entidade deve reconhecer uma provisão de perda

baseada nos estágios apresentados no Fluxograma da Quadro 4:

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Quadro 4: Fluxograma de estágios de mudanças na qualidade de crédito

Fonte: Elaborado pelo autor com base na IFRS 9

Estágio 1: Sem aumento no risco de crédito.

o Todos os novos empréstimos são automaticamente categorizados nesse

estágio.

Estágio 2: Indícios de risco de crédito, exemplos:

o Mudanças significativas nos indicadores de preço interno;

o Mudanças significativas nos indicadores de risco de crédito do mercado;

o Downgrade de rating de crédito interno e externo;

o Mudanças adversas de forecast nos negócios, nas finanças ou condições

econômicas que possivelmente impediriam os clientes de pagar os

empréstimos;

o Mudanças significativas nos valores de garantias que suportam as obrigações;

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o Mudanças significativas no gerenciamento de risco de crédito dos clientes;

o Informações de atraso de pagamentos.

Estágio 3: Evidência de impairment

o Empréstimos são categorizados nesse estágio quando há uma perda efetiva.

Mensuração

Define-se como perda de crédito a diferença entre os fluxos de caixa contratuais

devidos a uma entidade, e todos os fluxos de caixa que a entidade espera receber,

descontados à taxa de juros efetiva original, ou a taxa de juros efetiva ajustada ao

crédito para ativos com problemas de recuperação de crédito:

¹ Ao calcular a taxa de juros efetiva, a entidade estimará os fluxos de caixa esperados levando em

consideração todos os termos contratuais do instrumento financeiro, mas não considerará perdas de

crédito esperadas.

A norma não descreve uma abordagem específica para estimar as perdas de crédito,

mas enfatiza que deve refletir:

a) Um valor não tendencioso e provável;

b) O valor do dinheiro no tempo;

c) Informações razoáveis e sustentáveis, disponíveis sem custo ou esforço

elevados na data de relatório, sobre eventos passados, condições atuais e

previsões de condições econômicas futuras.

Perdas Esperadas de Lifetime

A IFRS 9 define perdas esperadas de lifetime como possíveis eventos de perda de

crédito para toda vida útil de um instrumento financeiro.

A expectativa de perda de crédito deve ser baseada nos:

PERDA DE CRÉDITO = FLUXO DE CAIXA DEVIDO – (FLUXO DE CAIXA A RECEBER x TAXA EFETIVA DE JUROS¹)

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o Fluxos de caixa a receber previstos em contrato; ou

o Fluxos de caixa a receber exposto ao risco de crédito.

Probabilidade Ponderada de Perda

As estimativas de perdas de crédito mensuradas para a vida de um instrumento

financeiro devem identificar:

o Valor e tempo dos fluxos de caixa para resultados específicos;

o Probabilidade estimada desses resultados.

Embora uma entidade não precise identificar todos os possíveis cenários, deverá

considerar a possibilidade da perda de crédito ocorrer, mesmo que a probabilidade

seja baixa.

Valor do Dinheiro no Tempo

A taxa de desconto deve ser calculada a partir dos seguintes critérios:

o Para um ativo financeiro de taxa fixa, determinar ou aproximar a taxa efetiva de

juros no reconhecimento inicial, e, para um ativo financeiro com taxa flutuante,

utilizar a taxa efetiva de juros corrente;

o Para compra de um ativo financeiro com indícios de impairment, mensurar

alterações de perdas incorridas usando a taxa efetiva de juros ajustada ao

crédito deteriorado, no reconhecimento inicial;

o Para compromissos de crédito, utilizar a taxa efetiva de juros do crédito cedido;

o Para contratos com garantia financeira, utilizar a taxa ajustada aos riscos de

fluxos de caixa da operação;

Para arrendamento mercantil a receber, conforme a IAS 17, usar a mesma taxa de

desconto usada no contrato.

Garantia

Na mensuração de perdas esperadas, a entidade pode incluir os fluxos de caixa de

realização das garantias e outras melhorias da qualidade de crédito que fazem parte

dos termos do contrato.

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Por exemplo, em caso de inadimplência para um empréstimo com hipoteca, se as

expectativas da garantia excederem o valor do empréstimo, então a provisão de perda

de crédito esperada poderá ser considerada como zero.

Informações sobre Eventos Passados, Condições Atuais e Previsão de

Condições Econômicas

As bases de dados devem refletir informações históricas e condições futuras.

As informações históricas podem ser usadas como ponto inicial para estimar os

ajustes de perdas esperadas, mas também devem ser incorporadas informações

atuais e prospectivas, considerando que:

o Na maioria dos casos, seriam necessários ajustes para incorporar os efeitos

que não estavam no passado ou para excluir os efeitos que não são relevantes

para o futuro;

o Em alguns casos, a informação histórica poderá ser a melhor estimativa,

dependendo da natureza, das circunstâncias avaliadas e das características do

instrumento financeiro a serem consideradas na data do balanço.

Quando ajustar as perdas de crédito históricas, a entidade deve avaliar:

o O período e as condições econômicas dos dados históricos capturados, pois o

período de dados históricos pode refletir condições incomuns ou condições

adversas, a menos que haja tempo suficiente para todas as mudanças de

produtos, clientes e comportamento dos empréstimos acontecerem;

o Estimativas baseadas em eventos históricos de perdas de crédito e experiência

no ciclo econômico (through-the-cycle), ou estimativas baseadas em

informações, circunstâncias e eventos na data de balanço (point-in-time);

o Se o ciclo econômico representa as condições atuais e as previsões

econômicas futuras.

As estimativas de mudanças nas perdas esperadas deverão ser consistentes com as

alterações nos dados observáveis de período a período, ou seja, de acordo com as

tendências observadas de inadimplência e dados macroeconômicos, tais como

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mudanças nas taxas de desemprego, preços dos imóveis, ou preços de commodities.

Além disso, a fim de reduzir as diferenças entre as estimativas e as perdas de crédito

reais, as estimativas de perdas esperadas deverão ser testadas e recalibradas, isto é,

uma entidade deverá rever regularmente as entradas, premissas, metodologias e

estimativas utilizadas.

Por fim, ao usar experiência histórica de perdas de crédito, é importante que as

informações sejam aplicadas para grupos com o mesmo perfil dos grupos em que

foram observadas as perdas de crédito.

Fatores ou Indicadores de Mudança de Risco de Crédito

A abordagem apropriada para cálculo das mudanças no risco de crédito pode variar

dependendo das atividades e da sofisticação das informações disponíveis. A norma

fornece uma lista de exemplos de fatores ou indicadores que poderiam ser

consideradas como uma mudança de risco de crédito:

o Mudanças significativas nos indicadores do modelo interno de precificação

desde a sua origem;

o Outras mudanças nos preços ou termos de um instrumento financeiro existente

que poderiam ser significativamente diferentes se o instrumento fosse emitido

novamente;

o Mudanças significativas nos indicadores de risco de crédito comparado com

outros instrumentos financeiros semelhantes (benchmarking);

o Downgrade de rating de crédito interno e externo;

o Mudanças adversas de forecast nos negócios, nas finanças ou condições

econômicas que afetariam os clientes no pagamento dos empréstimos;

o Mudança significativa, real ou esperada, nos resultados operacionais do

tomador do crédito;

o Aumentos significativos no risco de crédito de outros instrumentos financeiros

do mesmo tomador de crédito;

o Alterações significativas no ambiente regulatório, econômico e tecnológico do

tomador de crédito;

o Mudanças significativas nos valores de garantias que suportam as obrigações;

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o Mudanças significativas, tais como reduções, no apoio financeiro de matriz ou

coligada do tomador de crédito, ou uma mudança significativa, real ou

esperada, na qualidade do crédito;

o Expectativas de mudança na documentação dos empréstimos;

o Mudanças significativas no desempenho esperado do tomador de empréstimo;

o Mudanças significativas no gerenciamento de risco de crédito do instrumento

financeiro do tomador do crédito;

o Dias de atraso no pagamento, mínimo 30 dias.

2.4.5 Diferenças Metodológicas entre IFRS 9 e Basiléia III no Cálculo de

Impairment

A comparação entre as metodologias requeridas nos levam a perceber que a nova

norma internacional está mais conservadora, por apresentar maior alinhamento com

os critérios mundialmente aceitos pelo acordo da Basiléia.

A Quadro 5 apresenta a comparação entre as metodologias da Basiléia III e a IFRS

9.

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Quadro 5 - Diferenças Metodológicas entre IFRS 9 e Basiléia III

Parâmetros Basiléia III IFRS 9

PDs

Estimativa Estimativa média de perda nos

próximos 12 meses

Estimativa de 12 meses ou prazo

de vida útil dependendo da

qualidade do crédito

Período de

mensuração

Média histórica ao longo do

ciclo econômico inteiro5

Reflete ciclos econômicos atuais e

futuros

LGDs

Estimativa Estimativa média do valor de

perda Estimativa do valor de perda

Tratamento de

despesas de

cobrança

Recuperações líquidas de

despesas de cobrança diretas e

indiretas

Recuperações líquidas de

despesas de cobrança diretas

apenas

Período de

mensuração

Reflete o período de maior

perda de crédito

Reflete ciclos econômicos atuais e

futuros

EL

Base de

exposição

Baseado na EAD, e inclui

serviços inutilizados e

contingentes

Baseado na EAD, e inclui serviços

inutilizados e contingentes

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de análise das normas IFRS 9 e Basiléia III

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3 METODOLOGIA

O produto final dessa pesquisa é um relatório de argumentações, que será utilizado

para pleitear, junto ao Banco Central, o ajuste da Resolução CMN 2.682/99 em

convergência com a nova norma internacional IFRS 9. Para tanto, quanto aos

objetivos, foi realizada uma pesquisa exploratória.

De acordo com Beuren e Raupp (2003), por meio do estudo exploratório, busca-se

conhecer o assunto com maior profundidade, visando torná-lo mais claro ou construir

questões importantes para conduzir a pesquisa. Ademais, explorar, pressupõe a

busca de novas dimensões. Nesse sentido, os autores destacam que, para Gil (1999),

este tipo de pesquisa deverá ser escolhido quando o assunto é pouco explorado.

Quanto aos procedimentos, foi realizada uma pesquisa documental, que, de acordo

com Martins e Theóphilo (2009), tem como característica utilizar documentos como

fonte de dados, informações e evidências. Assim, foram utilizadas, para análise e

discussão, as normas relacionadas ao valor recuperável dos ativos no Brasil e no

âmbito internacional.

A proposta analisou as seguintes normas: Resolução CMN 2.682/99, em vigor no

Brasil; IAS 39 - Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração, em vigor

atualmente, segundo os padrões internacionais; IFRS 9 - Instrumentos Financeiros,

que entra em vigor a partir de 2018; e os aspectos do Acordo da Basiléia. As análises

das normas exploraram os temas “perda no valor recuperável dos ativos” e “PCLD”

para identificar as principais divergências e congruências entre elas, para então,

elaborar um relatório de argumentos que darão subsídios no pleito junto ao Banco

Central.

A proposta de análise também incluiu:

Pesquisa em materiais disponíveis das empresas de auditoria que já estão

avançadas nos estudos para auxiliar as empresas na implantação da IFRS 9;

e

Analisar a aproximação da IFRS 9 com os critérios da Basiléia III como

indicador da congruência entre a norma internacional e a resolução BACEN.

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4 RELATÓRIO DE ARGUMENTAÇÕES

A comparação entre as normas está apresentada no Quadro 6 a seguir:

Quadro 6 - Comparativo entre Resolução CMN 2.682/99, IFRS 9 e Basiléia

RESOLUÇÃO CMN

2.682/99 IFRS 9 IMPAIRMENT Basiléia

Mensuração

Percentual deperdas esperadas baseado no atraso no pagamento de parcela de principal ou de encargos. a) 0 - 15 dias - 0,5% b) 15 - 30 dias - 1% c) 31 - 60 dias - 3% d) 61 - 90 dias - 10% e) 91 - 120 dias - 30% f) 121 - 150 dias - 50% g) 151 - 180 dias - 70% h) > 180 dias - 100%

A perda de crédito é a diferença entre os fluxos de caixa contratuais que são devidos para a entidade e os fluxos de caixa que a entidade estima receber descontado a taxa de juros efetiva original (ou ajustado). - Lifetime ECL; e - Estimativa prospectivas.

Perdas esperadas (EL) nos próximos 12 meses Não há percentuais pré-definidos, porém, as estimativas devem ser realizadas de acordo com as metodologias de avaliação do risco de crédito - ou risco de perdas com inadimplências

Classificação

Classificação por height, baseado no atraso no pagamento de parcela de principal ou de encargos. A - 0 - 15 dias B - 15 - 30 dias C - 31 - 60 dias D - 61 - 90 dias E - 91 - 120 dias F - 121 - 150 dias G - 151 - 180 dias H - > 180 dias

O risco de crédito - ou risco de perdas com inadimplências - deve ser avaliado por meio de três componentes estatísticos: PD - Estimativa de 12 meses ou prazo de vida útil dependendo da qualidade do crédito LGD - Estimativa do valor de perda EL - Baseado na EAD, e inclui serviços inutilizados e contingentes

Modelo estatístico para determinar as perdas esperadas O risco de crédito - ou risco de perdas com inadimplências - deve ser avaliado por meio de três componentes estatísticos: - Probabilidade de inadimplência do crédito concedido (PD) - Percentual de perdas no instante da possível inadimplência (LGD); e - Exposição no instante da possível inadimplência (EAD)

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de análise das normas: Resolução CMN 2.682/99, IFRS 9

e Basiléia II

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Diante das comparações, vemos que a Resolução CNM 2.682/99 tem seus próprios

critérios de mensuração e classificação para perdas por recuperabilidade, o que difere

dos padrões atuais acordados pela Basiléia, porém, como mencionado anteriormente,

apesar de não ter em seu normativo de PCLD as mesmas definições de modelos de

riscos que a Basiléia, o Banco Central, o meio da Resolução 4.193/13 e da Circular

3.648/13 regulamenta os aspectos de Basiléia, para que as Instituições financeiras

estejam aderentes ao Bank For International Settlements (BIS).

Os bancos nacionais, tem liberdade na elaboração de seus modelos internos de risco

de crédito, e com isso acabam convergindo seus modelos ás exigências do Acordo

da Basiléia, adotando as mesmas premissas de entrada de dados, tais como

classificação interna do cliente, probabilidade de default, mitigadores de risco e

maturidade das operações, além de incorporar a taxa de recuperação de créditos

vencidos e o potencial de perdas de limites de crédito concedidos e não utilizados,

que são fatores que fazem parte do modelo avançado de Basiléia II.

Dessa forma é possível dizer que o sistema financeiro brasileiro não apresentaria

muita dificuldade para se enquadrar aos critérios na norma Internacional.

A partir das análises são apresentados os seguintes argumentos que justificam o

alinhamento entre as normas:

1. A IFRS 9 está alinhada com a Basiléia, demonstrando maior conservadorismo

por determinar a metodologia que deve ser aplicada na classificação e

mensuração das perdas. Enquanto que a Resolução CMN 2.682/99 é subjetiva

ao apresentar os critérios a serem utilizados, mas não estabelecer a

combinação entre eles, proporcionando certa liberdade às instituições ao

desenvolverem seus modelos de risco internos.

A IFRS atende mais adequadamente aos requisitos de risco de crédito previsto

no Acordo de Basiléia, o que pode ser entendido como uma evidência de maior

qualidade desse padrão normativo.

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2. Apesar de não determinar a mensuração e classificação das perdas segundo

os padrões da Basiléia, o Bacen determina sua adoção para as projeções de

risco de crédito, isso faz com que as instituições já abordem em suas

metodologias internas os conceitos e critérios estabelecidos pelo acordo. Com

isso, julgamos que o alinhamento das metodologias proporcionará o

desenvolvimento de modelos internos mais robustos e específicos pelas

instituições financeiras, além de reduzir os custos; e

3. Como exposto no início do trabalho, a divergência entre as normas faz com que

as instituições financeiras percam em custo benefício no momento de elaborar

as suas demonstrações financeiras, pois precisam produzir informações

diferentes partindo de uma única base, manter diversos controles, realizar

cálculos diferentes, investir em processos onerosos e morosos, realizar ajustes

contábeis que muitas vezes atrasam as publicações para que possam atender

diferentes reguladores. Dessa forma, como terceiro argumento desse trabalho,

julgamos que o alinhamento entre as normas trará maior benefício às

Instituições Financeiras, que poderão elaborar e apresentar seus dados sobre

risco de crédito e perdas esperadas em um padrão único, garantindo maior

controle e confiabilidade das informações, além da possível redução em ajustes

contábeis e, em custos e processos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do trabalho é apresentar um relatório argumentativo para defender, junto

aos reguladores nacionais a possibilidade de alinhar as normas vigentes de PCLD aos

critérios contábeis internacionais.

O estudo das normas e a comparação entre elas nos trouxe a um principal argumento:

o conservadorismo da norma internacional ao buscar padrões alinhados aos critérios

acordados mundialmente pelos requisitos da Basiléia III. Conforme acordo, as

instituições financeiras não têm liberdade total para estabelecer seus sistemas de

medida de riscos. Há uma série de exigências a cumprir. São essas exigências e

controles que nos levam a crer que esse é a principal razão para o alinhamento entre

as normas, uma vez que a norma Bacen ainda é subjetiva e “liberal” em relação aos

critérios do acordo e da IFRS 9.

Uma vez que as instituições financeiras já são obrigadas a desenvolver modelos

segundo os padrões do acordo da Basiléia, nosso segundo argumento é que um

alinhamento entre as normas será de fácil adaptação e proporcionará às instituições

a definição de modelos únicos que atendam aos seus reguladores. Tal alinhamento

proporcionará às Instituições Financeiras maior controle e confiabilidade em suas

informações, além dos benefícios de redução de custos, processo e ajustes contábeis.

Para futuras pesquisas, recomenda-se estudar os impactos nas instituições

financeiras quanto as dificuldades para implementação do modelo de perda esperada

de crédito, segundo modelos da IFRS 9.

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REFERÊNCIAS

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