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Impresso Especial 9912341424/2014-DR/GO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MEDICINA DO TRABALHO CORREIOS Ano XXVII • Dezembro • 2014 Jornal da ANAMT Associação Nacional de Medicina do Trabalho www.anamt.org.br Inclusão ANAMT lança livro sobre pessoas com deficiência no mercado de trabalho Pág. 15 PCMSO e PPRA Disposivos completam 20 anos e precisam ser atualizados Pág. 14 Médicos do Trabalho se reúnem no Fórum Presença ANAMT 2014 e falam sobre o passado, o presente e o futuro da área Celebração da especialidade Págs. 10 a 13

Impresso Especial AssOcIAçãO NAcIONAl DE ... - ANAMT · Deliberativo da entidade, na qual foi aprovada a necessi-dade de atualização do Estatuto e do Regimento Interno da Associação

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Impresso Especial

9912341424/2014-DR/GO

AssOcIAçãO NAcIONAl DE mEDIcINA DO tRAbAlhO

CORREIOS

Ano XXVII • Dezembro • 2014

J o r n a l d a

ANAMTAssociação Nacional de Medicina do Trabalho www.anamt.org.br

Inclusão ANAMT lança livro sobre pessoas com deficiência no mercado de trabalho Pág. 15

PCMSO e PPRADispositivos completam 20 anos e precisam ser atualizados Pág. 14

Médicos do Trabalho se reúnem no Fórum Presença ANAMT 2014 e falam sobre o passado, o presente e o futuro da área

Celebração da especialidade

Págs. 10 a 13

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Jornal da ANAMT2 Dezembro 2014

Medicina do Trabalho no Brasil. Coordenados pelo diretor de Relações Internacionais Prof. René Mendes e pelo Dr. Mario Bonciani, diretor Científico, os encontros realizados durante o segundo semestre foram gravados e disponibili-zados para os associados no site da ANAMT.

Além de marcar os 300 anos de falecimento de Ramazzini, em 2014 são lembrados os 20 anos do PCMSO e do PPRA, dispositivos que contribuíram para a identificação e o controle dos riscos aos quais os trabalhadores estão expostos. Nesta edição, uma matéria aborda a importância desses divisores de águas e fala sobre a necessidade de atualização de ambos os programas.

INCluSãOEm dezembro a ANAMT está lançando o livro “A inclusão

de pessoas com deficiência – O papel de Médicos do Trabalho e outros profissionais de saúde e segurança”, em parceria com a Rede Empresarial de Inclusão Social. O projeto foi iniciado em 2013 com o então líder da iniciativa, João Ribas. A publica-ção é voltada para os profissionais da especialidade e aborda aspectos técnicos, legais, éticos, além de reunir dicas para a inclusão de pessoas com deficiência no local de trabalho.

Boa leitura e um ótimo 2015!Dr. Zuher Handar

O Jornal da ANAMT é uma publicação trimestral, de circulação nacional, distribuída a seus associados. Os textos assinados não representam necessariamente a opinião da ANAMT, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos

autores. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas neste jornal sem a autorização da ANAMT.

Expediente

Presidente: Dr. Zuher Handar • Diretora de Divulgação: Dra. Marcia BandiniProdução Editorial e Design: Cajá Comunicação (www.caja.com.br • [email protected])

Jornalista Responsável: Annaclara Velasco (MTb/RJ 35.307/RJ) • Reportagens: Annaclara Velasco, Juliana Saporito, Luiza Ribeiro e Naiara Evangelo Fotos: p6. Fellipe Sampaio/TST; p7. Divulgação AMB; p13. Valdir Lopes/Revista Proteção; p14. Free Images/Ivan Soares Ferrer; p15.

• Impressão: Folha Gráfica Editora Ltda

Uma publicação da Associação Nacional de Medicina do Trabalho Jornal da ANAMT

Tradição e modernização

As contribuições do médico italiano Bernardino Ramazzini, autor do livro As Doenças dos Trabalhadores e pioneiro nos estudos da nossa especialidade, foram o tema central do Fórum Presença ANAMT 2014, realizado no dia 31 de outubro em São Paulo. O evento reuniu mais de 170 profissionais da área e discutiu a atualidade das questões históricas da Medicina do Trabalho. O conterrâneo do mestre e diretor da unidade de Saúde Ocupacional do Hospital de Módena (Itália), Prof. Giuliano Franco, apresentou durante sua palestra documentos que validam fatos importantes sobre a vida e a obra do médico.

Após o Fórum, a Diretoria da ANAMT se reuniu com representantes das federadas na reunião do Conselho Deliberativo da entidade, na qual foi aprovada a necessi-dade de atualização do Estatuto e do Regimento Interno da Associação. Para dar andamento aos trabalhos, serão instituídos dois grupos de estudos para esses projetos. Entre as propostas a serem discutidas, estão o fim da reeleição para presidente e o direito de votação à dis-tância para todos os associados adimplentes.

A última edição do Jornal da ANAMT do ano traz uma avaliação de um projeto audacioso de muito su-cesso: as Reuniões Científicas no Ano Ramazzini, que abordaram os cenários e os desafios para o exercício da

m e n s a g e m d o p r e s i d e n t e

Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT Dezembro 2014 3

O programa e os problemas*

f e d e r a d a s

A saúde pública brasileira tem pelo menos três grandes problemas: subfinanciamento, má gestão e corrupção. Quando colocado o programa federal Mais Médicos, não vislumbramos resolver nenhum desses problemas. Claro que colocar mais médicos melhora o acesso, mas precisamos de acesso com qualidade. A partir do momento em que médicos formados fora do Brasil são postos para trabalhar sem que mensu-remos seus conhecimentos, habilidades e atitudes, conclui-se que fica difícil ter qualidade.

É importante deixar bem claro que não somos con-tra médicos formados no exterior virem trabalhar no Brasil. Não há transparência no convênio, principalmen-te no que se diz respeito aos profissionais cubanos. Nos-sas instituições de controle precisam conhecer detalhes dos convênios do governo federal com a OPAS, do Mais Médicos, e outros.

Após conversarmos com alguns cubanos por meio do nosso Programa de Apoio ao Médico Estrangeiro e vermos o contrato que assinam com uma instituição mercantil, temos algumas certezas: leis cubanas em ter-ritório brasileiro, cerceamento de liberdades e salário muito inferior ao de médicos de outras nacionalidades. Nem ajuda de custo para instalarem-se nos municípios eles recebem em valores iguais aos outros. Há médicos nas grandes e pequenas cidades, onde médicos brasilei-ros foram demitidos.

Não há transparência, faltam informações. Os próprios cubanos relatam que o programa os mantém, na maioria dos casos, sem saber principalmente a diferença salarial en-tre eles e os demais médicos. No início seria o equivalente a US$ 400 mensais, depois passou para cerca de R$ 2.900 (bastante inferior aos demais, que recebem R$ 10 mil).

O Sistema Público de Saúde está caótico. Faltam medicamentos, estrutura e muito mais. Acreditar que o Mais Médicos resolverá o problema da saúde no Brasil é querer ludibriar a população mais uma vez. É inegável o apelo emocional que esconde quanto politiqueiro e elei-toreiro o programa é. Enquanto o governo não combater adequadamente o subfinanciamento, a má gestão e a corrupção, nossa saúde pública não vai melhorar. Saúde é nosso bem maior e o povo brasileiro merece respeito.

Florentino Cardoso Presidente da Associação Médica Brasileira

Jornal da ANAMT

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AMT

SEguRANçA DO TRABAlhO NO PARANá

No dia 20 de setembro, a Associação Paranaense de Medicina do Tra-balho (APAMT) abordou as psicopatologias ocupacio nais em sua 4ª Reunião Científica. Entre 27 e 29 de novembro, Curitiba (PR) sediou o II Congresso Paranaense de Medicina do Trabalho, cujo tema central foi a Formação Básica para a Busca de Novas Tecnologias. Em outubro, a APAMT celebrou seus 40 anos com um jantar comemorativo.

JORNADA gAÚChA

Os temas que repercutem na medicina ocupacional foram abordados entre 16 e 18 de outubro na 21ª Jornada Gaúcha de Medicina do Trabalho, organizada pela Sociedade Gaúcha de Medicina do Trabalho (SOGAMT). O evento homenageou o Dr. Sérgio Xavier da Costa, ex-presidente falecido em 2014.

AMIMT REAlIzA JORNADA

A Associação Mineira de Medicina do Trabalho (AMIMT) realizou a 28ª edição da sua jornada entre os dias 13 e 15 de novembro. Trabalho com Saúde: uma união Indispensável foi o tema escolhido para este ano.

SBMT ORgANIzA CONgRESSO

A Sociedade Baiana de Medicina do Trabalho (SBMT) reali zou, entre os dias 10 e 13 de setembro, o II Congresso Baia no de Medicina do Trabalho. O presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar, ministrou a palestra de abertura, cujo tema foi A Assistência Integral aos Trabalhadores nos Processos Pro dutivos do Século XXI. O vice-presidente da Associação para a Região Nordeste, Dr. José Carlos Ribeiro, abordou a Ética em Medicina do Trabalho.

uNIFICAçãO DAS INFORMAçõES

O e-Social foi tema de uma jornada realizada pela Associação Paulista de Medicina do Trabalho (APMT), no dia 11 de outubro, em sua sede.

TRABAlhO EM AlTuRA

A Associação Catarinense de Medicina do Trabalho (ACAMT) participou do seminário NR 35 – Trabalho em Altura, realizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nos dias 25 e 26 de setembro em Florianópolis. Foi abordada a importância de exames físicos, avaliação psicossocial e anamnese para a avaliação adequada da saúde dos trabalhadores.

ACESSIBIlIDADE E PREPARAçãO

A inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho foi tema da mesa redonda Como Homologar e Viabilizar o Trabalho da PCD na Empresa, realizada pela Associação Cearense de Medicina do Trabalho (ACEMT) no dia 27 de setembro. A palestra reuniu médicos de várias especialidades no auditório do CRM do Ceará. Entre outubro e novembro, também foram ministrados dois módulos do curso de atualização em Medicina do Trabalho.

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Principais mudançasDesdobramentos da NR 1O texto proposto para alterar a Norma Regulamentado-

ra nº 01, que dispõe sobre Prevenção em Segurança e Saúde no Trabalho, será estruturante para as demais NRs. Devido à sua importância, foi debatida e analisada pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) durante o seu período de consulta pública, prorrogado pela Portaria MTE nº 449 até janeiro de 2015. O texto resultante da análise con-templa diversas contribuições gerais e pontuais e encontra--se disponível no site da Associação.

Outras legislações de destaque: • Portaria MTE nº 438, de 27 de setembro de 2014

– dispõe sobre a publicação dos róis dos percentis de fre-quência, gravidade e custo, por Subclasse da Classificação Nacional de Atividades Economicas (CNAE 2.1), calculados em 2014; sobre a disponibilização do resultado do pro-cessamento do FAP em 2014, com vigência para o ano de 2015; bem como o processamento e o julgamento das con-testações e recursos apresentados pelas empresas em face do índice FAP a elas atribuídos.

• Recomendação CFM nº 5, de 5 de junho de 2014 – orienta que os médicos de empresas, quando atuarem como assistentes técnicos, ajam de acordo com sua livre consciência, nos exatos termos dos princípios, direitos e vedações previstas no atual Código de Ética Médica. O texto foi elaborado após o posicionamento da ANAMT sobre as mudanças na Resolução nº 1.488. Apesar do avanço, a Associação mantém sua posição de, por questões éticas, não recomendar que o Médico do Trabalho atue como assistente técnico.

• Portaria MTE nº 1.297, de 13 de agosto de 2014 – aprova o Anexo 1 da NR 9 sobre PPRA; e altera o Anexo 8 da NR 15, sobre as Atividades e Operações Insalubres, além de dar outras providências. O primeiro estabelece medidas de prevenção de doenças ocasionadas pela ex-posição às vibrações mão-braço e vibrações de corpo in-teiro. O segundo instaura critérios para caracterizar as con-dições de trabalho insalubres decorrentes da exposição a esses fatores.

• Portaria MS nº 1.984, de 12 de setembro de 2014 – define a lista nacional de doenças e agravos de no-tificação compulsória a serem monitoradas por meio de estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas diretrizes.

Dra. Maria Edilma Fernandes de MendonçaDiretora de legislação da ANAMT

Consulte o texto dessas e de outras portarias no site www.anamt.org.br

13/08/2014Aprova o Anexo 1 da NR 9

(PPRA), e altera o Anexo 8 da NR 15 (Atividades e Operações Insalubres).

19/09/2014Institui o Grupo Especial de Fiscalização Móvel de Combate ao Trabalho em Condições Análogas às de Escravo (GEFM).

Portaria SIT nº 447

27/09/2014Dispõe sobre a publicação dos róis dos percentis de frequência, gravidade e custo, por Subclasse da Classificação Nacional de Atividades Economicas (CNAE 2.1), calculados em 2014, entre outros.

Portaria MTE nº 438

Portaria MS nº 1.984

12/09/2014Define a lista nacional de doenças e agravos de notificação compulsória a serem monitoradas por meio de estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas diretrizes.

Portaria MTE

nº 1.297

Congresso Nacional: http://www.planalto.gov.br/legislacao

Diário Oficial da União: http://portal.in.gov.br/

Conselho Federal de Medicina: http://www.portal.cfm.org.br

Jornal da ANAMT4 Dezembro 2014

l e g i s l a ç ã o

Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT

Atenção no ambiente de trabalho

No dia 2 de novembro, o jornal carioca O Dia pu-blicou matéria sobre a in-fluência do meio ambiente de trabalho na saúde dos trabalhadores. A entrevista-da foi a diretora de Divulga-ção da ANAMT, Dra. Marcia Bandini, que reforçou a im-portância do cuidado com alguns aspectos na hora de pensar na saúde e no bem- estar dos trabalhadores.

lugares muito secos podem causar irritação nas vias aéreas, por exemplo. Por isso, é importante pres-tar atenção na qualidade e no nível de circulação do ar. A temperatura do local também deve ser levada em conta. “Ambientes muito frios ou muito calorentos também afe-tam o humor, tiram a concentração e diminuem a produ-tividade”, alertou a especialista, que também salientou a importância de mesas e cadeiras ajustáveis e do apoio para os pés. E fez o alerta: ficar sentado durante oito horas não é recomendado. “O nosso ambiente de trabalho vai deter-minar se somos pessoas saudáveis ou doentes”, concluiu.

Em outubro, o site Zero Acidentes publicou matéria sobre o Dia da Medi-cina do Trabalho, comemorado em 4 de outubro. A data foi instituída em home-nagem a Bernardino Ramazzini, médico italiano pioneiro da especialidade, cuja morte completa 300 anos em 2014. A

nota destacou ações de aperfeiçoamento promovidas pela ANAMT, como a reestruturação do Conselho Técnico e a promoção das Reuniões Científicas, realizadas quinzenal-mente em São Paulo.

Recentemente, a Associação encaminhou ao MTE uma pro-posta de revisão da NR 35 (Trabalho em Altura), redigida após a observação da aplicabilidade do texto atual. A matéria também citou o Fórum Presença ANAMT 2014, realizado no dia 31 de outubro (leia mais nas páginas 10 a 13).

S S T n a m í d i a

Atualização da ANAMT em pauta

Drogas no Pará uma pesquisa do Ministério da Pre-

vidência Social motivou o jornal para-ense O liberal a escrever uma matéria sobre o uso de drogas e os reflexos no trabalho. Segundo o relatório, pelo menos dois trabalhadores são afas-tados por mês devido ao consumo de substâncias psicoativas. Entre 2009 e 2014, no Pará, 418 pessoas foram afastadas de suas atividades devido à de-pendência química.

O diretor Financeiro da ANAMT, Dr. Dante lago, afirmou que a doença passa por diversos estágios e que a desvincula-ção do trabalho é o último por representar a fonte de renda com a qual o indivíduo compra a droga. “Esse é o último está-gio, a última situação comprometida”, alertou o médico.

O debate Produtividade no Trabalho e Saúde foi o tema da reportagem do jornal Correio Brasiliense, do dia 12 de outubro. A matéria trouxe dados sobre processos ju-diciais envolvendo trabalhadores que desenvolveram do-enças ocupacionais, bem como histórias de personagens que tiveram que brigar na justiça para ter acesso a seus direitos. Em 2012, por exemplo, foram registrados 14.955 casos de enfermidades do trabalho no Brasil. As áreas do corpo mais afetadas foram membros superiores e articula-ções, e as doenças relacionadas ao estresse e à depressão também tiveram incidência significativa.

Para o diretor de Relações Internacionais da ANAMT, Prof. René Mendes, as prin-cipais causas dessas ocorrên-cias não são má postura ou mobiliário inadequado, mas a maneira como as pessoas são inseridas no processo do tra-balho. “Trabalhar sob pressão para cumprimento de prazos, jornadas muito longas, com pausas curtas ou sem pausas... Isso tudo repercute na saúde física e mental”, explicou.

Produtividade e saúde

Dezembro 2014 5Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT6 Dezembro 2014

e m d e s t a q u e

No dia 5 de novembro, a ANAMT as-sinou um termo de adesão ao Programa Trabalho Seguro, juntamente com a Asso-ciação dos Magistrados do Brasil (AMB), em cerimonia solene na sede do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília. A iniciativa do TST e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) visa à formulação e à execução de ações voltadas para a pre-venção de acidentes de trabalho no Brasil.

Estiveram presentes o presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar; o diretor de Relações Internacionais, Prof. René Mendes; a diretora de Divulgação, Dra. Marcia Bandini; a diretora de Ética e Defesa Profissional, Dra. Rosylane Rocha; e a presidente da ACAMT, Dra. Denise Brzozowski, além do presidente do TST e do

CSJT, Ministro Antonio José levenhagen, e de representantes da AMB.

Dr. Zuher classificou o programa como de grande importância na cons-cientização da sociedade ao estimular a reflexão de uma cultura de prevenção e de promoção da saúde dos cidadãos.

“É importante que a ANAMT e suas federadas possam desenvolver discus-sões regionais na busca de estratégias cada vez mais eficazes para reverter essa triste imagem social que nos acom-panha por tanto tempo. A assinatura desse termo vem ao encontro dos prin-cípios estatutários e sociais da Associa-ção quanto à defesa e à proteção da saúde de todos os trabalhadores”, disse o presidente.

ANAMT assina termo de adesão ao Programa Trabalho Seguro

A Sociedade Italiana de Medicina do Trabalho e a ICOH organizaram uma aula magna em Pádua, na Itália, para lembrar os 300 anos de morte de Bernardino Ramazzini. O encontro aconteceu na cidade onde o médico faleceu no dia 5 de novembro de 1714, aos 84 anos, após lecionar por 14 anos na famosa universidade de Pádua.

Para destacar a relevância de seu legado cultural e científico, especialistas abordaram temas como A Medicina Contemporânea e o livro As Doenças dos

Homenagem a Ramazzini na ItáliaTrabalhadores; O Sucesso de Ramazzini: ontem, hoje e amanhã; e Ramazzini, o Precursor da Saúde Pública.

O mestre italiano é autor do livro As Doenças dos Trabalhadores, primeiro a listar as doenças pro-fissinais, e foi pioneiro nas pesquisas sobre o tema. Sua obra foi fundamental para o desenvolvimento dos conceitos da Medicina do Trabalho e da Saúde Pública e apresenta questões que continuam sendo discutidas atualmente.

O presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar, o presidente do TST, Antônio José Levenhagen (de gravata vinho), representantes da diretoria da Associação e Morgana de Almeida Richa (à dir.), coordenadora do Comitê Gestor Nacional do Programa

Seminário Sudeste ANAMT 2015

Vitória (ES) vai receber, entre os dias 23 e 25 de abril de 2015, o Seminário Sudeste ANAMT. O evento, cujo tema central são os desafios para a implantação da gestão da saúde dos tra-balhadores, será realizado no hotel Sheraton. As inscri-ções já estão abertas.

Além de pré-cursos de atualização profissional, será aplicada, na ocasião, a Pro-va de Título de Especialista ANAMT/AMB. Saiba mais informações pelo site www.anamt.org.br/eventos/semi-nario-sudeste2015

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Dezembro 2014 7Jornal da ANAMT

20 anos de ABhO Entre os dias 25 e 27 de agosto, a Associação Brasilei-

ra de Higienistas Ocupacionais (ABHO) realizou uma série de eventos para comemorar seus 20 anos de fundação: o VIII Congresso Brasileiro de Higiene Ocupacional, o XXI En-contro Brasileiro de Higienistas Ocupacionais e a Feira de Produtos e Serviços referentes à Higiene Ocupacional. Os encontros também lembraram as duas décadas de existên-cia do PPRA e do PCMSO.

A Dra. Marcia Bandini, diretora de Divulgação da ANAMT, representou a associação no painel Experiências Bem-Sucedidas em Higiene Ocupacional. A especialista ponderou sobre as conquistas e os desafios da área de SST desde 1994. Destacou como positivo, entre outros aspectos, a definição adequada dos papéis e das responsabilidades dos atores envolvidos. Como desafios, salientou a integração na prática do PCMSO e do PPRA e a falta de profissionais qualificados.

“Nunca se fez tanto pela saúde do trabalhador no Brasil quanto nos últimos 20 anos e a ABHO tem um papel fun-damental nisso. Ainda temos muito a fazer e as duas enti-dades estão juntas para continuarmos essa luta. Temos um objetivo comum que é proteção da saúde e da integridade dos trabalhadores. Higiene e saúde precisam atuar cada vez mais juntas”, declarou a diretora.

SST na AlemanhaO XX Congresso Mundial de SST, promovido pela

OIT, pela Associação Internacional de Seguridade Social (AISS) e pelo Seguro Social alemão (DGuV), foi realizado em Frankfurt, na Alemanha, entre os dias 24 e 27 de agosto. Cerca de quatro mil profissionais de diversos países do mundo compareceram.

Presente no evento, o diretor de Relações Internacionais da ANAMT Prof. René Mendes ressaltou as participações dos brasileiros Dr. Eduardo Algranti, da Fundacentro; Dr. Marco Antonio Gomes Pérez, do Ministério da Previdência Social; e Engo. luiz Guernieri, do SESI-SC.

Além da oportunidade de formar e renovar a rede de relacionamentos da ANAMT, o diretor considerou o congresso importante para observar a hegemonia do país-sede nas questões relativas à seguridade social: “No Brasil, as políticas públi-cas de SST emanam da Saúde, do Trabalho e da Previdência Social e têm tido forte viés estatal e público, distante dos modelos privados ou mistos, sobretudo no que se refere ao seguro contra aci-dentes do trabalho”.

Elaboração de diretrizes e padronização de procedimentos do Médico do Trabalho são alguns dos objetivos da diretoria de Ética e Defesa Profissional

Em uma cerimonia administrativa, a nova diretoria do Conselho Federal de Medicina (gestão 2014 – 2019) tomou posse no dia 1º de outubro, na sede da instituição, em Brasília. Dr. Carlos Vital Corrêa lima foi eleito o novo presidente. A diretora de Ética e Defesa Profissional da ANAMT, Dra. Rosylane Rocha, será a conselheira representante do Distrito Federal. No cargo, ela planeja contribuir para a elaboração das Diretrizes de Saúde do Trabalhador, com padronização de procedimentos do Médico do Trabalho. Para desenvolver esse e outros trabalhos, será criado um grupo com membros da Câmara Técnica de Medicina do Trabalho e da ANAMT.

“Receber a confiança dos colegas médicos denota o reconhecimento pelo trabalho realizado. Participar ativamente do movimento médico pela valorização da medicina, pela defesa do médico e da saúde do povo brasileiro é um prazeroso desafio e uma valiosa oportunidade para realizar um belo trabalho em conjunto com os demais conselheiros”, comemorou a especialista.

Dra. Rosylane Rocha na posse da nova diretoria do CFM

Nova diretoria do CFM toma posse

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Jornal da ANAMT8 Dezembro 2014 Jornal da ANAMT

Vibrações ocupacionais

1 Pós-graduado em Medicina do Trabalho e Higiene do Trabalho pela universidade de São Paulo; Médico do Trabalho do Instituto Butantan e do Banco do Brasil S.A.2 Especialista em Medicina do Trabalho ANAMT/AMB; Presidente da Comissão Técnica Saúde Física e Mental Relacionada ao Trabalho da ANAMT

a r t i g o

Kleber José do Prado Campos1 João Silvestre da Silva-Júnior2

um corpo executa movimento oscilatório quando se desloca em torno de um ponto de referência fixo, e a frequência desse movi-mento é dada pelo número de oscilações realizadas a cada segundo. Quando esse movimento oscilatório causa um estímulo mecânico, considera-se que o corpo está em vibração.

A vibração mecânica de uma máquina é causada pelo movi-mento de seus componentes. Cada parte em movimento tem de-terminada frequência associada à sua movimentação. Portanto, a vibração total transmitida para um corpo humano em contato com a máquina é composta de diferentes frequências de vibração que ocorrem simultaneamente. Esse é um fato importante a se levar em consideração ao realizar a medição de vibração humana: o corpo hu-mano não é igualmente sensível a todas as frequências de vibração.

Há três tipos de exposição humana à vibração:a) Vibrações transmitidas simultaneamente à superfície total do cor-

po e/ou a partes substanciais dele – quando o corpo está imerso em um meio vibratório;

b) Vibrações transmitidas ao corpo como um todo através de super-fícies de sustentação – como a área de sustentação de um homem recostado em veículos, etc;

c) Vibrações aplicadas a partes específicas do corpo, como cabeça e membros – pelo uso de ferramentas e instrumentos manuais.

VIBRAçõES DE CORPO INTEIROVeículos aéreos, terrestres e aquáticos, bem como ma-

quinarias (da indústria ou agricultura), expõem o homem à vibração mecânica, e interferem no conforto, na eficiência, na saúde e na segurança no trabalho.

As respostas fisiológicas temporárias durante a exposição à vi-bração de corpo inteiro são: desconforto e dor; perturbação da visão e do controle dos movimentos de mãos/pés; degeneração da coluna vertebral e náusea e vomito durante transporte.

A exposição de longa duração de corpo inteiro pode causar efei-tos debilitantes ao sistema nervoso central autonomo. São descritas queixas de fadiga, irritabilidade, dores de cabeça, distúrbios cardio-vasculares e impotência masculina.

VIBRAçõES lOCAlIzADAS Ou TRANSMITIDAS PElAS MãOS

Ferramentas, maquinários ou instrumentos de trabalho podem transmitir vibração intensa para as mãos e os braços dos operado-res desses maquinários. Tais situações ocorrem, por exemplo, nas

indústrias manufatureiras, de mineração e de construção, quando se manipulam ferramentas manuais elétricas e pneumáticas e, no trabalho florestal, quando se utilizam motosserras.

Constatou-se que o uso contínuo e habitual de muitas ferramen-tas vibratórias estava ligado a vários padrões de doenças que afetam vasos sanguíneos, nervos, ossos, juntas, músculos ou tecidos con-juntivos da mão e do antebraço.

A exposição à vibração das mãos e dos braços pode causar a síndrome de vibração de mãos e braços. Ela afeta nervos, vasos san-guíneos, músculos e articulações da mão, do pulso e do braço. Esse quadro também inclui a síndrome dos dedos brancos, que pode in-capacitar o trabalhador.

Os estágios iniciais da síndrome da vibração são caracterizados por formigamento ou dormência nos dedos. Para estabelecer esse diagnóstico são considerados os sintomas neurológicos, que devem ser persistentes e ocorrerem sem provocação por exposição imedia-ta à vibração. Os sintomas geralmente aparecem de repente, e são precipitados pela exposição ao frio. Com contínua exposição a vibra-ções, os sinais e os sintomas tornam-se mais graves e a patologia pode se tornar irreversível. Formigamento temporário ou dormên-cia durante ou logo após o uso de uma ferramenta vibratória não é considerado síndrome da vibração.

lEgISlAçãOA NR 9 define que medidas de eliminação, minimização ou

controle dos riscos ambientais devem ser adotadas quando as avaliações quantitativas indicarem que foram ultrapassados os limites de tolerância.

Como parâmetro para a avaliação da vibração à qual os trabalha-dores estão expostos, foram elaboradas pela Fundacentro as Nor-mas de Higiene Ocupacional n° 09 e n° 10. Ambas são fundamentais para os profissionais de SST, por indicarem metodologias de identifi-cação e quantificação da exposição ocupacional a esse agente físico.

Na avaliação, são utilizados transdutores denominados acele-rometros. Esses equipamentos convertem a aceleração da super-fície vibratória em um sinal elétrico. Para estudos realizados em seres humanos, a medição da exposição é estabelecida em três eixos perpendiculares lineares.

Com a publicação da Portaria n° 1.297, o novo anexo 8 da NR 15 dispõe sobre a caracterização da insalubridade em grau médio caso seja comprovada a exposição dos trabalhadores às vibrações localizadas ou de corpo inteiro, se não houver adequada proteção à saúde e à segurança.

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saúde dos trabalhadores. Isso promove a participação multipro-fissional, o que enriquece ainda mais o debate, adicionando a ele uma série de pontos de vista”, explica.

Dr. Newton lara comemora o intercâmbio entre diferentes gerações de profissionais. Presente na maioria das Reuniões Científicas, afirma que a boa qualidade dos convidados aju-dou nessa integração:

“O nível dos palestrantes e das apresentações foi muito bom e possibilitou aos mais experientes revisitarem e atualizarem concei-tos e práticas, assim como um grande aprendizado aos mais novos”.

TEMáRIOEntre os assuntos abordados, destacam-se: a influência das

inovações tecnológicas no cotidiano dos trabalhadores; as mu-danças nos conceitos de saúde e doença no mundo; e os ensi-namentos de Bernardino Ramazzini que se perpetuam até hoje.

“Reunimos temas históricos em função das celebrações dos 300 anos da morte de Ramazzini e assuntos representativos dos atuais desafios do setor. Dessa forma, unimos passado e futuro, estimulamos a renovação de conceitos e buscarmos a melhor qua-lificação diante dos desafios da especialidade”, explica Prof. René.

Além das Reuniões Científicas, novas atividades, como o de-bate sobre a Nova NR 01, realizado em São Paulo no mês de julho, são experimentações para serem definidas e aplicadas no próximo ano. “Testamos agora para definirmos o que deve ser desenvolvido futuramente de acordo com cada situação e objetivo. São eventos que devem ser reorganizados e conversar entre si”, analisa o diretor Científico da ANAMT.

FuTuROPara 2015, a expectativa é aumentar a frequência dos partici-

pantes, além de estabelecer os temas das próximas edições. “Serão assuntos de grande relevância para o desenvolvimento da especiali-dade, a começar pelos Médicos do Trabalho comprometidos com a educação continuada”, projeta Prof. René.

Em agosto, a ANAMT iniciou uma nova atividade voltada para o debate da saúde dos trabalhadores no Brasil. Realizadas quinze-nalmente na sede da Associação Médica Brasileira (AMB), em São Paulo, as dez Reuniões Científicas da ANAMT no Ano Ramazzini tiveram como tema central Cenários e Desafios para o Exercício da Medicina do Trabalho no Brasil.

A iniciativa é coordenada pelo Prof. René Mendes, diretor de Relações Internacionais e responsável pelas reuniões antes da Associação institucionalizá-las, e pelo Dr. Mario Bonciani, diretor Científico da entidade. Para levar a ação a um número ainda maior de pessoas, os vídeos das reuniões são disponibilizados no site da ANAMT, na área exclusiva para associados.

“A experiência tem sido positiva e essas primeiras reuniões servirão de base para aprimorarmos a iniciativa em 2015. A Medi-cina do Trabalho tem vários temas que merecem ser debatidos e o comparecimento é expressivo”, avalia Dr. Mario.

Dr. Newton lara, integrante da Comissão Técnica de Servi-ços Especializados em Saúde do Trabalhador da ANAMT, ressal-ta que os eventos auxiliam na atualização constante de aspec-tos da especialidade, além de abordarem conceitos aplicáveis ao cotidiano dos participantes:

“As discussões não só agregam novos conhecimentos como permitem a atualização de práticas mais adequadas aos novos tempos. Além disso, incentivam os profissionais a buscarem a evo-lução e aplicação desses conceitos adquiridos, sempre na direção da melhora contínua e da excelência técnica”.

Segundo Prof. René, os encontros também são uma oportuni-dade de abordar os temas de forma mais ampla. "As reuniões se tornaram uma referência técnico-científica e cultural da ANAMT, atraindo diferentes gerações de profissionais, como uma espécie de ponto de encontro intergeracional. Estamos felizes pelo número de médicos do trabalho e outros profissionais que têm nos presti-giado, como palestrantes convidados e participantes”, acrescenta.

Palestrante da quinta reunião, realizada no dia 6 de outubro, o diretor de Título de Especialista da Associação, Dr. João Anastácio Dias, abordou o tema O Agronegócio no Brasil: Impactos sobre a Saúde e Segurança dos Trabalhadores e sobre o Meio Ambiente, como Desafio e Oportunidade para a Medicina do Trabalho. Se-gundo ele, o caráter abrangente de alguns temas discutidos torna o evento extensível a outras especialidades.

“As Reuniões Científicas integram a estrutura de eventos da Associação e abordam diversos assuntos importantes não só para os Médicos do Trabalho, mas para outras profissões da área de

Ampliação dos conhecimentosReuniões Científicas da ANAMT no Ano Ramazzini abordam temas relevantes para a especialidade

Escaneie o QR Code com um smartphone ou tablet ou acesse o link http://migre.me/mTVdi para assistir às Reuniões Científicas na íntegra. O conteúdo é exclusivo para associados adimplentes.

r e u n i õ e s c i e n t í f i c a s

Dezembro 2014 9Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT10 Dezembro 2014 Jornal da ANAMT

c a p ac a p ac a p a

Jornal da ANAMT

Fórum Presença ANAMT 2014 celebrou, em São Paulo, o legado de Ramazzini e debateu os principais desafios em prol da excelência no exercício da Medicina do Trabalho

10 Dezembro 2014

A força da tradição aliada aos desafios atuais

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Jornal da ANAMT Dezembro 2014 11

A edição 2014 do Fórum Presença ANAMT, realizada em São Paulo no dia 31 de outubro, uniu tradição e história da Medicina do Trabalho a temas absolutamente atuais. Mais de 170 pessoas estiveram no encontro idealizado pela ANAMT com o objetivo de debater temas relevantes no passado, presente e futuro da especialidade. O tema central foi A Atualidade de Ramazzini, 300 anos Depois, que abordou desde a importante obra do médico italiano, pioneiro nos estudos da Medicina do Trabalho, até os desafios da legislação atual.

A celebração deu tom ao evento, logo na abertura. O conceituado estudioso da obra de Bernardino Ramazzini, o também italiano Dr. Giuliano Franco, veio da Itália especialmente para participar do Fórum. Atual diretor da unidade de Medicina Ocupacional do Hospital de Módena, no qual Ramazzini atuou por 19 anos, Prof. Franco apresentou documentos importantes que validam fatos marcantes da vida e obra do médico. Graças ao legado inestimável que deixou, nada mais justo que tenha sido o grande homenageado de 2014 em eventos, debates e publicações da ANAMT, como bem demonstrou seu sucessor (leia mais no box).

lEgISlAçãO E DESAFIOSOs possíveis desdobramentos da atual legislação relacionada

à especialidade ganharam espaço no primeiro painel, coordenado pelo presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar. Dr. Mário Parreiras de Faria, representante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), falou sobre as alterações da legislação trabalhista e abordou a nova NR 01, a criação do Sistema Único do Trabalho (SuT) e as repercussões sobre a prática da Medicina do Trabalho.

As principais mudanças que devem afetar diretamente os profissionais, do ponto de vista da fiscalização, dominaram a temática da apresentação, assim como sugestões efetivas para a questão. “Descentralizar o sistema atual e garantir mecanismos eficientes, nos moldes de países como a Espanha – que conta com inspetores estaduais com a função de fiscalizar e capacitar os profissionais – pode funcionar no Brasil”, afirmou Parreiras.

O segundo participante do painel, Dr. Jorge Machado, representante do Ministério da Saúde, falou sobre os possíveis impactos da 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNST) no exercício da especialidade. Para ele, a promoção da saúde e dos esforços em prol da saúde coletiva, que abrange áreas como a epidemiologia, por exemplo, é desafio inerente para garantir o grande objetivo da Medicina do Trabalho, nascido a partir dos ensinamentos de Ramazzini: garantir a saúde dos trabalhadores.

“Os desafios atuais serão mais facilmente superados se pudermos revisitar a obra e os ensinamentos que ele deixou”, sugeriu, com destaque para a necessidade de comunhão entre profissionais e estudiosos.

O representante da Diretoria de Saúde do Trabalhador do INSS, Dr. Sergio Carneiro, foi específico ao falar sobre um tema polêmico: as recentes alterações da legislação previdenciária e o modelo de avaliação de capacidade laborativa do INSS, além da terceirização da Perícia Médica. Segundo o especialista, para se obter um consenso de modelo ideal – ou próximo disso – é necessário ouvir todas as partes envolvidas, a fim de desenvolver um trabalho em conjunto. Nas palavras de Carneiro, o grande segredo é trabalhar em rede. Ele garantiu idoneidade, diálogo e total transparência do INSS na conclusão de processos previdenciários e na definição das questões ligadas à perícia médica: “O órgão não vai se isolar da sociedade, pois precisa atender ao trabalhador”.

PREVENçãO E IMuNIzAçãOO primeiro painel de palestras deu destaque especial à

prevenção, por meio do programa de imunização para a saúde dos trabalhadores. A Dra. Sheila Homsani, da Sanofi Pasteur, abordou informações importantes sobre vacinas e como elas devem ser ministradas no ambiente laboral. Entre as curiosidades, a médica afirmou que a grande maioria das pessoas sequer conhece seus dados no que tange à imunização, desde a infância, e que um trabalho educativo é complementar – e necessário – para o bom exercício da especialidade.

“É comum ocorrer a contaminação de um trabalhador e, com ela, a de familiares e até membros da comunidade”, comentou. Outro ponto de atenção é com viagens, muitas vezes realizadas sem acompanhamento médico preventivo. “É muito importante ter em mãos os dados atualizados das vacinas e não pensar que algumas doenças ocorrem apenas em crianças. Há casos relatados em adultos de sarampo, coqueluche e tuberculose, por exemplo, e muitas delas adquiridas em outros estados ou países. O desconhecimento ainda é um grande gargalo”, frisou.

O FuTuRO DA MEDICINA DO TRABAlhOO diretor Científico da ANAMT, Dr. Mario Bonciani, abriu o

segundo painel de apresentações e debates, que teve como foco os pontos de atenção e melhoria para o futuro da especialidade, tanto no que diz respeito à legislação quanto ao exercício pleno da Medicina do Trabalho. Ele abriu a exposição falando sobre a Diretriz Técnica da ANAMT do PCMSO para a Gestão de Saúde Integral dos Trabalhadores.

De caráter eminentemente técnico, o documento deliberativo tem a finalidade de orientar o exercício ético da especialidade, como explicou o anfitrião do painel: “Temos o papel de orientar Médicos do Trabalho e profissionais da área sobre ética e boas práticas da especialidade, de forma a proporcionar a integralização de nossas ações junto a todos os trabalhadores”. O especialista destacou, também, que o documento está em fase de elaboração e, uma vez finalizado, irá para consulta pública no site da ANAMT.

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Jornal da ANAMT12 Dezembro 2014

Para dar sequência ao tema, o diretor de Título de Especialista da ANAMT, Dr. João Anastácio Dias, falou sobre os desdobramentos da alteração na NR 4 a partir da Portaria MTE 590/2014. Ela estabelece parâmetros para a organização do SESMT e regulamenta a formação e o registro profissional em conformidade com a profissão e dentro dos instrumentos normativos emitidos pelo respectivo Conselho Profissional. “A ANAMT enxerga a decisão como uma conquista para os Médicos do Trabalho, que reivindicam esse reconhecimento há mais de uma década. Precisamos contar com a figura do especialista em Medicina do Trabalho na composição do SESMT”, analisou Dr. Dias.

A diretora de Ética e Defesa Profissional da ANAMT, Dra. Rosylane Rocha, em palestra sobre as questões que envolvem o Perito Assistente e o Médico do Trabalho integrante do SESMT, tratou mais precisamente dos posicionamentos do CFM e da ANAMT. Ela defendeu o exercício idoneo e responsável da especialidade. “A constante análise da metodologia de trabalho com desenvolvimento científico e conduta ética ocorre no dia a dia do profissional de Medicina do Trabalho”, garantiu.

A Profa. Elizabeth Costa Dias, assessora da Presidência para Formação dos Médicos do Trabalho da ANAMT, falou sobre o processo de revisão das competências requeridas para o exercício da Medicina do Trabalho: “É um projeto ambicioso, mas vamos enfrentar juntos esse desafio, cujo compromisso central é a valorização e a qualificação dos profissionais da área”.

TRANSPARêNCIA E INCluSãOFechando o painel, o diretor de Relações Internacionais da Associação, Prof. René Mendes

apresentou sugestões de pontos de melhoria principalmente nas atuais políticas públicas de SST indicadas por associados da ANAMT, além do resultado de uma enquete realizada entre os participantes do Fórum sobre o Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (Plansat).

Entre os destaques, promoção de estudos e qualificação, planos de benefícios, revisão da legislação previdenciária, além de outros temas relevantes. “Recebemos essas ideias e ficamos felizes por termos conseguido motivar os participantes a sugerir questões importantes a todos nós. Afirmo que vamos, sim, colocar essas estratégias em ação”, disse.

c a p ac a p a

Público durante o Fórum Presença ANAMT 2014

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Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

A PREVENçãO é MElhOR DO quE A CuRA

Convidado para abrir o Fórum Presença ANAMT 2014, o médico italiano e diretor da unidade de Medicina Ocupacional do Hospital de Módena, Prof. Giuliano Franco, falou sobre a vida e a obra de Bernardino Ramazzini, cujo tricentenário de morte foi homenageado durante todo o ano de 2014 pela ANAMT. Contextualizando a atividade pioneira do italiano no momento histórico e cultural da época, o palestrante mostrou documentos que comprovam a coragem do médico ao realizar pesquisas inéditas sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.

“Ramazzini queria escrever um livro que ajudasse os trabalhadores de todos os setores e deu atenção especial às mulheres, antecipando muitas das nossas preocupações atuais em uma época difícil”, exemplificou. A grande obra do pioneiro, o livro As Doenças dos Trabalhadores, foi fruto deste trabalho.

“Posso garantir que Ramazzini revolucionou a sociedade ao notar fatos como a alta incidência de mortes por câncer de mama entre as freiras, por exemplo”, contou Prof. Franco. Nesta mesma linha, pesquisou a atuação dos trabalhadores de minas e grandes construções, e apontou a necessidade de prevenção de riscos nessas profissões: pregou que deveria haver ventilação e proteção ao sol. A importância do uso de equipamentos de proteção e os riscos de extensas cargas horárias de trabalho também foram pontos levantados por Ramazzini. “Além de ultrapassar barreiras e desenvolver uma obra inédita e importante, ele criou o conceito que rege toda a ação do Médico do Trabalho: ‘A prevenção é melhor do que a cura’”, finalizou Prof. Giuliano Franco.

Dezembro 2014 13

O presidente da Associação, Dr. Zuher Handar, encerrou o Fórum Presença ANAMT 2014 com a proposta de uma reflexão sobre o futuro da especialidade. Para ele, os profissionais precisarão estar preparados para as mudanças que já estão em curso, além de questões psicossociais e outros riscos que devem ser considerados.

“um dos nossos compromissos é trabalhar pela inclusão e atender todas as pessoas que exercem alguma atividade laboral, não somente os empregados de maneira formal. É preciso ampliar o universo de pessoas incluídas e promover um tipo de formação moldado nos caminhos da nossa especialidade”, analisou. Sobre capacitação profissional, o presidente completou: “Vamos trabalhar para desenvolver competências que ajudem a melhorar a capacidade do Médico do Trabalho, proporcionando uma abordagem transdisciplinar”.

Prof. Giuliano Franco(Da esq. para dir.) Prof. René Mendes e Dr. Zuher Handar apresentam Prof. Giuliano Franco em palestra

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Jornal da ANAMT14 Dezembro 2014

O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO – NR 7) e o Programa de Prevenção de Riscos Ambien-tais (PPRA – NR 9) completam 20 anos de criação em 2014. Criados em consequência do movimento social nacional por melhores condições de trabalho, ambos contribuíram decisi-vamente para a identificação dos riscos aos quais os trabalha-dores são expostos e estabelecem diretrizes gerais e critérios técnicos específicos para o controle de SST.

Ainda que na época tenham representado um divisor de águas, os dispositivos precisam ser atualizados para garantir a eficácia na gestão da saúde dos trabalhadores. O presidente da ANAMT, Dr. Zuher Handar, atuou como Secretário de Saúde do Trabalhador do MTE em 1996, ocasião da atualização do texto da NR 7, após instituição da Comissão Tripartite. Ele avalia que a norma possibilitou a retomada de conceitos fundamentais para a saúde do trabalhador:

“Houve um resgate histórico, técnico e científico do prin-cípio da atenção à saúde do trabalhador, com um programa que levou em consideração os riscos existentes. Porém, é im-portante que alguns pontos sejam analisados para que a nor-ma atenda aos objetivos pelos quais foi criada”. Ele ressaltou a importância da revisão referente ao atendimento adequado aos trabalhadores que, em sua opinião, deve ser feito exclusiva-mente por Médicos do Trabalho.

Dr. Mario Bonciani, diretor Científico da ANAMT, classifi-cou os dois documentos como uma das maiores mudanças na abordagem das principais doenças que afetam os trabalhado-res. Atualmente, predominam as ocorrências de enfermidades musculoesqueléticas e transtornos mentais.

“O perfil de adoecimento profissional foi alterado. O texto é mais voltado para ruídos, agentes físicos e quími-cos e, ainda assim, é insuficiente”, avalia o especialista, que exemplifica: “Nos casos de exposição a ruídos, que pode causar transtornos mentais além de perdas auditivas, a NR só menciona a audiometria”.

20 anos de PCMSO e PPRA

h i s t ó r i a

Apesar de representar avanços para a gestão de SST, programas precisam ser atualizados para manterem a eficácia

EMPREgABIlIDADESobre a aplicabilidade do PCMSO e do PPRA, Dr. Mario

Ferreira, auditor fiscal do Trabalho do MTE em São Paulo e participante dos grupos que elaboraram a NR 7, classifica o cenário real do cumprimento como heterogêneo e de difícil generalização. Segundo ele, as empresas de maior porte têm preocupação mais genuína com as questões de SST por ter seu valor reconhecido pelos gestores.

Dr. Zuher observa que inadequações como avaliações dos riscos laborais e Atestados de Saúde Ocupacional (ASO) incom-pletos e genéricos; exames desatualizados; e trabalhadores que não recebem cópias dos mesmos são comumente identificadas por auditores fiscais. Nesse contexto, a participação adequada de todos os atores envolvidos é um dos fatores que possibilita o pleno cumprimento das normas.

“O médico coordenador e executor deve visitar o posto de trabalho periodicamente. Além disso, observa-se a falta de avaliação completa dos riscos e do contato entre o médi-co coordenador e o médico encarregado, que muitas vezes sequer conhece o colega e nem tem acesso ao PCMSO, im-pedindo que os exames sejam feitos com segurança”, analisa o presidente da ANAMT.

PPRA O Engo. Jófilo lima foi Secretário de Segurança e Saúde no

Trabalho da SST/Mtb em 1994, quando foi proposto um novo texto sobre a NR 6 (Equipamentos de Proteção Individual) para ampliá-la na exigência de implantação pelas empresas de medi-das de controle coletivas, estabelecendo o PPRA.

Ele destaca a colaboração direta da NR 9 para as ações de prevenção quanto ao risco de adoecimento nos locais de tra-balho, além de ser uma norma norteadora para as empresas elaborarem um programa de prevenção com etapas claras. “Por outro lado, entendo que faltam indicadores para o programa e auditorias periódicas para sua melhoria contínua”, critica.

Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT

O livro A Inclusão de Pessoas com Deficiência – O Papel de Médicos do Trabalho e Outros Profissionais de Saúde e Segu-rança é fruto de uma parceria, iniciada há pouco mais de um ano, da ANAMT com a Rede Empresarial de Inclusão Social. A publicação, voltada para profissionais da especialidade, será lançada em dezembro e aborda questões do contexto mundial da mudança de perspectivas do mercado de trabalho quanto a aspectos ligados à legislação e ao acompanhamento desses indivíduos no ambiente laboral.

O texto foi elaborado por quatro Médicos do Trabalho, sob a coordenação da diretora de Divulgação da ANAMT, Dra. Marcia Bandini, e leva em consideração questões sobre a pessoa com de-ficiência, gestores das empresas e profissionais de saúde. Segundo Dr. Paulo Rebelo, vice-presidente da entidade, a grande vantagem é reunir, em um único documento, uma fonte de consulta para di-ferentes aspectos como conduta, orientação técnica e legislação.

“A adaptação de pessoas com deficiência ao ambiente de tra-balho é um processo dinâmico, no qual é fundamental a participa-ção de todos os atores envolvidos, para que possa se formar um conhecimento conjunto”, afirma.

Dra. Marcia Bandini ressalta que é o Médico do Trabalho quem acolhe esse trabalhador no local de trabalho e precisa compreender profundamente as particularidades de cada um. Dessa forma, o acompanhamento será adequado e auxiliará o empregador a fazer as adaptações necessárias.

“Somos um dos agentes mais importantes para que a inclu-são no trabalho seja bem-sucedida. Médicos deviam dedicar-se a estudar mais o assunto para ajudarem mais, ao mesmo tempo em que empregadores deveriam se dedicar a ouvir mais os mé-dicos para criar ambientes de trabalho acolhedores para todos”, opina a especialista.

“Entender o trabalhador como ser único e indissociável de uma sociedade historicamente diversificada ainda nos parece um desafio. Para termos um ambiente de trabalho representativo da heterogeneidade dessa sociedade, é preciso que o Médico do Trabalho esteja atento à inclusão de todos. Já para os trabalhado-res com deficiência, a dificuldade maior parece estar inscrita no processo de sensibilização social. É preciso olhar além, e enten-der o universo por trás de cada ser humano”, ressalta Dr. Gustavo locatelli, Médico do Trabalho Coordenador da Serasa Experian e do Banco Santander e um dos autores da obra.

Ambiente inclusivolivro destinado a profissionais de saúde do trabalhador discute amplamente a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho

APTIDãO COMPROVADAHá oito anos, Dra. Daniela Bortman, coautora do

livro, enfrenta diariamente as dificuldades vividas por pessoas com deficiência. Com uma lesão na medula, a Médica do Trabalho é tetraplégica e se dedica a implan-tar o processo de inclusão e contratação na empresa na qual trabalha.

Ela afirma que o Médico do Trabalho tem papel fundamental por explorar as capacidades do candida-to com deficiência e ajudar a identificar uma atividade compatível com suas potencialidades. O livro, segundo ela, vai ajudar esses profissionais a lidarem melhor com esse público, uma vez que o assunto é pouco abordado durante a faculdade e a especialização.

“A maioria das empresas está despreparada e, por falta de informação, acha que a pessoa com deficiência é menos eficiente. Muitos confundem deficiência com inaptidão, o que é totalmente equivocado. Costumo dizer que a deficiência é apenas mais uma caracterís-tica da pessoa, ela não estabelece uma incompetência. O Médico do Trabalho tem que explorar a capacidade dos candidatos em vez de olhar para suas limitações. Apesar de ainda existir muito preconceito, tenho me surpreendido positivamente com o quanto as pessoas são generosas e querem aprender a lidar com essa situ-ação”, relata a médica.

Dezembro 2014 15Jornal da ANAMT Dezembro 2014 15

inclusão

Dra. Daniela Bortman em seu local de trabalho

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Com quase 25 anos de carreira, a Médica do Trabalho, gestora de saúde, professora convidada da uSP e direto-ra de Divulgação da ANAMT, Dra. Marcia Bandini é uma das representantes brasileiras na candidatura ao board da ICOH, principal sociedade científica do mundo referente à área da saúde do trabalhador. Ela se diz apaixonada pela profissão e é motivada pelas mudanças que pode realizar na vida de milhões de trabalhadores. Nesta entrevista, a especialista fala da importância da entidade centenária que representa profissionais de 93 países.

A que cargo a senhora vai se candidatar? Sou candidata ao board da International Commission

of Occupational Health – ICOH (Comissão Internacional de Saúde Ocupacional, na tradução livre para o português), uma entidade científica internacional fundada em 1906 que reúne cerca de dois mil profissionais de 93 países em defesa da saúde do trabalhador.

Como é o processo de candidatura? quais são os requisitos?

A cada três anos o board é renovado. Para se candidatar, é preciso ter um histórico de contribuições na área, com-provado por meio de currículo, bem como ter a candidatura endossada por dez membros da ICOH. Fiquei muito feliz por ter obtido 17 endossos de diferentes países. A votação é por correspondência, segundo as regras da ICOH, antes do con-gresso trienal da entidade. Durante o evento, é anunciada a composição do novo board.

que contribuições da ICOh podem ser destacadas?Como entidade científica, a ICOH tem papel importante

no desenvolvimento de pesquisas e na discussão de assun-tos críticos sobre saúde e trabalho. Atualmente, são 35 co-mitês científicos. Por ampliar o debate internacional, o po-sicionamento da entidade tem peso na discussão de temas relevantes como, por exemplo, o banimento do amianto ou a definição de um código de ética para profissionais da área. Além disso, ela promove eventos científicos que reúnem os profissionais de destaque em suas áreas de atuação.

Novos voosDiretora de Divulgação da ANAMT, Dra. Marcia Bandini é candidata ao board da ICOH

A cada três anos, o Congresso Internacional da ICOH reúne milhares de profissionais. Qual a impor-tância dessa troca de experiências?

Esse congresso é um marco na área de SST e reúne parti-cipantes de todo o mundo para ampliação do conhecimento e definição do posicionamento da entidade. Em 2003, o evento foi em Foz do Iguaçu (PR), com mais de dois mil participantes. O próximo será em Seul (Coreia do Sul). Apesar de longe, adoraria encontrar muitos brasileiros por lá. As inscrições estão abertas com um valor especial para países como o Brasil.

O que representa para a ANAMT ter uma represen-tante no board da principal sociedade científica da área?

Há bastante tempo a ANAMT é membro atuante da ICOH por entender que muitos temas de saúde e segurança têm re-levância global e, por isso, é preciso ter uma atuação interna-cional. Como entidade representativa dos Médicos do Trabalho no Brasil, responsável por eventos científicos que contam com a participação de milhares de profissionais, a ANAMT tem muito a contribuir com a ICOH. No passado, tivemos membros da dire-toria eleitos para o board. Esperamos manter a tradição.

Que experiências obtidas ao longo dos 46 anos da ANAMT podem ser proveitosas para a ICOh?

Destacaria nossa abordagem sobre a saúde integral e integra-da do trabalhador; a defesa da saúde do trabalhador como área de atuação multiprofissional; a luta por um trabalho decente e com melhores condições de saúde e segurança; nossos valores e ideais. Ao longo de quase 50 anos, a ANAMT cresceu, se forta-leceu, amadureceu e ampliou os horizontes da Medicina do Tra-balho para a saúde do trabalhador. Temos muito a compartilhar a partir de nossa experiência no Brasil – um país do tamanho de um continente, com tanta diversidade cultural e desafios, que nos traz oportunidades como em nenhum outro lugar.

O que essa realização representa para a sua carreira?É um enorme desafio que pretendo enfrentar com res-

ponsabilidade, ética e dedicação. Se for eleita, não estarei no board sozinha, representarei o Brasil, a ANAMT, a América latina, os profissionais dedicados à SST. Estarei lá para honrar

16 Dezembro 2014 Jornal da ANAMT

e n t r e v i s t a

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Jornal da ANAMT

nossa história de atuação na saúde do trabalhador e o farei com seriedade e comprometimento.

que ações a senhora pretende realizar?Ser membro do board é ter responsabilidade com uma cau-

sa, uma entidade de alcance global, uma comunidade científi-ca. Pretendo contribuir com a experiência pessoal de mais de vinte anos como Médica do Trabalho, 15 anos como gestora de saúde e 10 anos como professora convidada da uSP. Em quase 25 anos de carreira, tive muitas oportunidades de aprendizado que me ajudaram a construir uma reputação respeitada como profissional atuante na defesa da saúde dos trabalhadores.

A vida associativa é um trabalho voluntário que requer ge-nerosidade. Por isso, é preciso ter um propósito. Sou apaixonada pelo que faço porque sei que posso ajudar a fazer a diferença na vida de muitas pessoas. Pretendo colocar essa paixão a serviço da ICOH, como tenho feito na ANAMT nos últimos anos.

Como analisa a área de SST atualmente?Vejo oportunidades enormes, na mesma proporção dos

desafios. A velocidade das mudanças socioeconomicas dos úl-timos 50 anos é impressionante e trouxe um cenário inédito na história, com repercussões na saúde e na segurança. Enquanto ainda lutamos contra o trabalho infantil, o trabalho em condi-ções análogas à escravidão, o trabalho precário, temos outro polo onde impera a alta tecnologia e as formas inovadoras de trabalho. As relações e as condições de trabalho estão mudan-do e trazem novos problemas para os profissionais de saúde e segurança, ao mesmo tempo em que aspectos antigos conti-nuam sem solução. Isso tudo certamente define um novo ce-nário para a SST.

Entendo que cada vez menos estaremos vinculados ao cumprimento de requerimentos legais e precisaremos enxer-gar o mundo do trabalho sob uma perspectiva muito mais ampla. Especificamente na área de saúde, acredito que os profissionais precisarão ter uma visão mais próxima da Saúde Pública, atuando em todos os níveis de prevenção e integran-do saúde ocupacional, assistência médica e, principalmente, ações de promoção da saúde.

No Brasil, quais são os maiores desafios? Como po-dem ser superados?

Destacaria pelo menos três: a formação de bons profissio-nais, a abordagem integral e integrada e o alcance a todos os trabalhadores. Nesse sentido, a ANAMT tem procurado dar sua contribuição. Por exemplo, está em andamento o Projeto de Revisão de Competências Requeridas para o Exercício da Medicina do Trabalho, em parceria com o CFM, direcionador para a formação dos médicos. A abordagem integral e inte-grada tem sido tema de congressos e seminários promovidos

pela ANAMT, com o intuito de debater o escopo de trabalho do médico. Não somos, nem podemos ser, meros cumpri-dores das NRs. Cumprir a lei é o começo obrigatório, mas o papel do Médico do Trabalho é muito maior. Também temos apoiado as discussões sobre a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, que defende o acesso a serviços de saú-de do trabalhador a todos.

Entendo que a formação de bons profissionais é um pi-lar central para endereçar os desafios, não somente para os Médicos do Trabalho. É importante que, desde a graduação, médicos em geral entendam o papel do trabalho como de-terminante do processo saúde-doença, para que possam atuar preventivamente ou, quando não possível, prevenir, proporcionar diagnóstico precoce e tratamento adequado. O mesmo vale para outros profissionais – enfermeiros, en-genheiros, gestores. Quanto mais abordarmos o assunto e trocarmos experiências, mais reconheceremos os riscos para trabalhar com prevenção. Então, é preciso ampliar os hori-zontes e estudar continuamente para levar o conhecimento a todas as partes interessadas na saúde do trabalhador.

Jornal da ANAMT Dezembro 2014 17

"As relações e as condiçõesde trabalho estão mudando e trazem novos problemas para os profissionais de saúde e segurança"

Dra. Marcia Bandini é uma das representantes brasileiras nas eleições do board da ICOH

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A N A M T r e c o m e n d a

Em setembro, a nova edição da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional reuniu oito artigos, além de um relato de experiência, uma comunicação breve e uma resenha que apresentam diferentes estudos sobre Saúde do Trabalhador. Destes, cinco são resul-tados de dissertações de mestrado e uma pesquisa de doutorado em andamento.

Os artigos publicados abordam de acidentes de trabalho fatais a transtornos mentais comuns em

industriários e tratam tam-bém de limitação no tra-balho proveniente de dor lombar em fumicultores. O relato de experiência des-creve situações de assédio moral no trabalho e a ca-racterização em uma perícia judicial coletiva.

Acesse a publicação pelo link http://migre.me/mc09i

Foi lançado em julho o livro eletronico Trabalho em Saúde: Políticas Públicas, Desigualdade e Relações de Trabalho, com a participação de pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Estruturado em cinco capítulos, o e-book reúne artigos apresentados no seminário homonimo, realizado em 2013 na universidade do Minho (Portugal).

O objetivo é estabelecer o intercâmbio acadêmico entre Portugal e Brasil na área de Trabalho em Saúde. A publicação

aponta também para uma dimen-são interdisciplinar teórica e faz um paralelo com realidades, práticas e experiências diversificadas. Os arti-gos abordam as repercussões dos modelos de gestão adotados na área de saúde no contexto de refor-mas públicas, bem como o papel do Estado nos dois países.

O livro está disponível pelo link: http://migre.me/mc0ny

Políticas públicas na área da saúde

Nova edição da RBSO

18 Dezembro 2014

REVISTA BRASILEIRA DE

SAÚDEOCUPACIONALRBSO

Vol.39 • nº 129jan/jun 2014

ISSN 0303-7657 ISSN (on-line) 2317-6369

RBSOEm agosto, o INSS publicou a segunda parte do documen-

to Diretrizes de Apoio à Decisão Médico Pericial, com enfoque em três grandes temas: HIV/AIDS, Tuberculose e Hanseníase. A publicação tem por finalidade aperfeiçoar as práticas de perícia médica no Brasil e reúne conceitos atualizados e informações da área de infectologia.

O primeiro número, publicado em 2010, contemplou as áreas Endocrinologia, Neurologia, Gastroenterologia e Reuma-tologia. A terceira parte, que ainda será submetida à consulta pública, deverá enfocar Cardiologia e Pneumologia.

A publicação está disponível no site: http://migre.me/mwGQT

Medicina Pericial em pauta

A segunda parte do volume 12 da Revista Brasileira de Medicina do Trabalho (RBMT) está disponível no site da ANAMT. Entre os temas dos sete artigos dessa edição, “Síndrome de Burnout em médicos residentes e predi-tores organizacionais do trabalho”, “Avaliação e controle do risco de estresse térmico dos trabalhadores no corte manual de cana-de-açúcar” e “Auditoria de Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional: proposta de proto-colo específico a partir das exigências da NR 7".

Os artigos estão disponíveis neste link: http://migre.me/mwIu7

RBMT

A Fundacentro e a CNTI publicaram relatório técnico que propõe melhores condições de trabalho na área da minera-ção. Resultado de análises feitas entre 2003 e 2008, o docu-mento traz informações sobre a saúde dos trabalhadores do Quadrilátero Ferrífero (MG) e traça um diagnóstico que apon-ta para melhorias de indicadores para ações de vigilância.

A atividade expõe trabalhadores a diversos riscos ocupacio-nais como exposição a agentes químicos, biológicos e físicos, além de vibrações mecânicas, ruídos, entre outros. O relatório está disponível nas bibliotecas da Fundacentro de MG e SP sob o título “Identificação, mensuração e análise dos acidentes, doenças e mortes no setor mineral: construção de modelo de monitoramento das condições de trabalho e saúde dos traba-lhadores das minerações”.

Saúde de trabalhadores da mineração

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Jornal da ANAMT

espaço do associado

Seu questionamento pode ser enviado para [email protected] e será respondido por e-mail. A cada trimestre, uma questão é selecionada para constar na seção Espaço do Associado.

ANAMT realiza seminário no ES

A cidade de Vitória, no Espírito Santo, sediará o Seminário Sudeste ANAMT, realizado entre os dias 23 e 25 de abril de 2015. O tema principal do evento será Os Desafios para a Implantação da Ges-tão de Saúde dos Trabalhadores. Na programação do evento está prevista a realização de pré-cursos, painéis e palestras, além da aplicação da Prova de Título de Especialista em Medicina do Tra-balho. As inscrições já estão abertas e as vagas são limitadas.

Mais informações:http://www.anamt.org.br/eventos/seminario-sudeste2015/

Cooperativas médicas estão disponibilizando profissionais como médico examinador para re-alizarem a consulta ocupacional com emissão de atestado de saúde ocupacional. Muitas vezes o médico coordenador do PCMSO não os conhece. Qual o entendimento da ANAMT sobre a figura do médico examinador "familiarizado com a Medici-na do Trabalho"? Quais os critérios exigidos para a contratação desse profissional?

Pergunta enviada pela Associação Cearense de Medi-cina do Trabalho (ACEMT), federada da ANAMT

1. Do ponto de vista de contratação, o profissional deverá ser regido pela CLT;2. Familiarizado, nesse caso específico, significa:a. Conhecer os riscos a que os trabalhadores estão ex-postos (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupa-cional - PCMSO);b. Ser informado por um protocolo e passar por um treinamento sobre:• Quais os agravos decorrentes da exposição a esses riscos • Quais as medidas indicadas para a prevenção e a proteção desses agravos3. Conhecer as medidas utilizadas pelo empregador para garantir a proteção desses trabalhadores;4. Esse protocolo deve ser documentado na relação en-tre o coordenador do PCMSO e o médico examinador.

Existem outras questões com posições discordantes, como por exemplo, se esse médico examinador deve possuir o Título de Especialista em Medicina do Tra-balho, emitido por ANAMT/AMB.

Dr. Mario Bonciani Diretor Científico da ANAMT

a g e n d a

Dezembro 2014 19

15º Congresso de Estresse da Isma-BR

O Congresso de Estresse da representante no Brasil da Interna-tional Stress Management Association (Isma-BR) será em Porto Alegre, entre os dias 23 e 25 de junho de 2015. Trabalho, Es-tresse e Saúde: O Engajamento na Prevenção do Burnout – da Teoria à Ação é o tema principal do evento. Na programação, está prevista a realização de palestras, mesas-redondas, painéis e workshops sobre diversos temas relacionados à saúde e à se-gurança dos trabalhadores.

Mais informações:http://ismabrasil.com.br/congressos/congresso-2015

Simpósio em Portugal

Especialistas em saúde do trabalhador se reunirão nos dias 12 e 13 de fevereiro de 2015 na Escola de Engenharia da universidade do Minho, em Guimarães (Portugal), onde será a 15ª edição do International Symposium on Occupational Safety and Hygiene.

Mais informações:http://www.sposho.pt/sho2015/

ICOh realiza congresso em Seul

Entre os dias 31 de maio e 5 de junho de 2015, a International Co-mission on Occupational Health (ICOH) realizará a 31ª edição do seu congresso internacional em Seul, capital da Coreia do Sul. As inscrições para o evento, que abordará o tema Harmonia Global para a Saúde Ocupacional: Ponte para o Mundo, já estão abertas.

Mais informações:http://www.icoh2015.org/

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Jornal da ANAMT20 Dezembro 2014

Vacinas influenza: por que é necessária a revacinação anual?lucia F. Bricks, MD, PhD CRM 36.370 Influenza Medical Director LatAm

A composição das vacinas influenza muda em quase todas as esta-ções, e as cepas contidas nas vacinas são atualizadas de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nas últimas temporadas não houve mudanças nas cepas vacinais recomendadas para o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul.1,2 Muitos médicos têm dú-vidas sobre a necessidade de revacinação, e é necessário rever os con-ceitos básicos sobre a proteção conferida pelas vacinas contra influenza, pois a revacinação é indicada a cada ano, mesmo quando não há mu-danças na cepas incluídas nas vacinas.1-3

Os anticorpos protetores específicos voltados para a hemaglutini-na (HA) são considerados os mediadores primários da proteção contra a infecção por influenza e suas manifestações clínicas, pois reduzem a severidade da doença e aumentam a eliminação do vírus (clearance viral). O correlato de proteção tradicionalmente aceito para o licen-ciamento das vacinas contra influenza foi identificado em 1943. 4 A proteína HA é crítica para a aderência do vírus influenza às células e os anticorpos contra a HA neutralizam a infectividade quando os títulos são > 1:32 ou 1:40, tanto para vacinados como para não vacinados. Com base nos estudos sorológicos, os títulos de inibição da hemaglu-tinação > 1:32 ou 1:40 são considerados protetores, mas é necessário enfatizar que esses títulos conferem proteção a 50% dos indivíduos e que não há um título de anticorpos capaz de conferir proteção com-pleta.4,5 A proteção conferida por vacinas varia de acordo com múlti-plos fatores, que incluem tipo, subtipo e linhagem do vírus influenza, compatibilidade entre as cepas em circulação e as cepas incluídas nas vacinas, imunidade prévia (por exposição natural ou por vacinação), idade, presença ou ausência de comorbidades e outros fatores, como por exemplo, anticorpos contra a neuraminadase (NA) e outros antí-genos virais, imunidade de mucosa, imunidade celular e inclusive imu-nidade coletiva ou de rebanho (herd protection). 3,5,6

Apesar dos conhecimentos sobre a complexidade da respos-ta imune e dos múltiplos fatores associados à proteção, existem evidências substanciais que demonstraram que a proteção conferi-da por vacinas está diretamente associada aos títulos de anticorpos

neutralizantes contra HA. A média geométrica dos títulos de anti-corpos aumenta duas semanas depois da vacinação, alcança altos títulos depois de quatro a seis semanas e cai com o passar do tempo, mas os títulos máximos são variáveis de acordo com as cepas e os títulos pré-vacinação. A redução dos títulos de anticorpos também é variável para cada uma das cepas virais.3,4 A proteção contra os vírus antigenicamente similares àqueles contidos na vacina é maior nos primeiros seis a oito meses depois da vacinação e mais baixa em idosos, em crianças pequenas e em pessoas imunocomprometidas. Enquanto em algumas ocasiões a proteção conferida por vacinas tem maior duração contra uma ou outra cepa, permanecendo por mais de um ano, não se pode garantir a proteção na seguinte estação para todas as cepas.3,4,6-8

Estudos recentes demonstraram que a proteção contra a cepa pandêmica A(H1N1)pdm09 foi baixa no segundo ano depois do uso da vacina monovalente. Apesar disso, até hoje não houve nenhuma mudança genética importante na cepa A(H1N1)pdm09. Pessoas que receberam a vacina trivalente que continha a cepa A(H1N1)pdm09 no segundo ano tiveram alta proteção contra a cepa pandêmica. No Reino unido, a efetividade da vacina monovalente administrada em 2009/2010 foi de 34% (95% CI: -10% a 60%), enquanto a administra-ção da vacina trivalente com a cepa A(H1N1)pdm09 depois da mono-valente foi de 63% (95% CI: 37% a 78%).9 Na Espanha, a efetividade ajustada para a vacina monovalente em 2010/2011 foi de 50% (95% CI: -6% a 77%) e para a trivalente foi de 72% (95% CI: 7% a 92%).10 Nos EuA também se demonstrou que a efetividade da vacina inativa-da trivalente contra a cepa A(H1N1)pdm09 foi de 77% (95% CI: 44% a 90%) no ano 2011, enquanto a proteção conferida pela vacina mo-novalente A(H1N1) administrada entre Outubro/2009 e Abril/2010 não proporcionou proteção na estação 2010/2011 e teve efetivida-de inferior a 1% (95% CI: -146% a 59%).11 Esses dados em conjunto apoiam a recomendação para a revacinação anual contra a influen-za, inclusive quando não há variações antigênicas nas cepas contidas nas vacinas com relação ao ano anterior.9-12

Referências bibliográficas

1.WHO. Recommended composition of influenza virus vaccines for use in the 2014 southern hemisphere influenza season, 26 September 2013. Available from: http://www.who.int/ 2.WHO. Recommended composition of influenza virus vaccines for use in the 2014-2015 northern hemisphere influenza season. Available from: http://www.who.int/ 3.Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Prevention and control of seasonal influenza with vaccines. Recommendations of the Advisory Commit-tee on Immunization Practices-united States, 2013-2014. MMWR Recomm Rep. 2013 Sep 20;62(RR-07):1-43.4.Ohmit SE, et al. J Infect Dis. 2011 Dec 15;204(12):1879-85.5. Bridges CB, et al. Inactivated influenza vaccines. In: Plotkin S, Orenstein W, Offit P, coordinators. Vaccines. 5th ed. [Amsterdam]: Elsevier; 2008. p.259-90. 6. Belongia EA, et al. J Infect Dis. 2009 Jan 15;199(2):159-67. 7. Foy HM, et al. JAMA 1973;226:758–61. 8. Belongia EA, et al. Vaccine. 2011 Sep 2;29(38):6558-63. 9. Pebody R, et al. Euro Surveill. 2011 Feb 10;16(6). pii: 19791. 10. Savulescu C, et al. Euro Surveill. 2011 Mar 17;16(11). pii: 19820. 11. Bateman AC, et al. J Infect Dis. 2013 Apr 15;207(8):1262-9. 12. Castilla J, et al. Euro Surveill. 2013 Jan 31;18(5). pii: 20388.

i n fo rme técn icoSanofi Pasteur

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