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I NST IT UTO DE PE SQU ISAS H I DR UL ICAS
INFLUNCIA DA MATA CILIAR NA QUALIDADE DA GUA NA BACIA DO
RIBEIRO LAJEADO-TO.
DALVANY ALVES DE SOUSA LIMA
Porto Alegre, abril de 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL UFRGS
INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRULICAS IPH
Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia, sob a orientao do Prof. Dr. Andr Luiz Lopes da Silveira e co-orientao da Dra. Paula Benevides de Moraes.
ii
I NST IT UTO DE PE SQU ISAS H I DR UL ICAS
INFLUNCIA DA MATA CILIAR NA QUALIDADE DA GUA NA BACIA DO
RIBEIRO LAJEADO-TO.
Dalvany Alves de Sousa Lima
Orientador: Dr. Andr Luiz Lopes da Silveira Co-orientadora: Dra. Paula Benevides de Moraes Dissertao de mestrado submetida ao Programa de Ps-Graduao em Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Recursos Hdricos e Saneamento. Ambiental. Porto Alegre, abril de 2010
Banca Examinadora
___________________________ Prof. David Manuel Lelinho da Motta Marques, Dr. UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
____________________________ Prof. Dieter Wartchow, Dr.
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
_____________________________
Prof. Vanessa Becker, Dra. UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL UFRGS
INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRULICAS IPH
iii
Ao meu querido esposo JaasielAo meu querido esposo JaasielAo meu querido esposo JaasielAo meu querido esposo Jaasiel LimaLimaLimaLima,,,, pelo apoio, pelo apoio, pelo apoio, pelo apoio, compreenso, compreenso, compreenso, compreenso, carinho ecarinho ecarinho ecarinho e dedicaodedicaodedicaodedicao a qual me foi dadaa qual me foi dadaa qual me foi dadaa qual me foi dada para vencer mais essa para vencer mais essa para vencer mais essa para vencer mais essa etapa da vida.etapa da vida.etapa da vida.etapa da vida.
iv
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi desenvolvido no programa de Ps- Graduao em Recursos Hidricos
e Saneamento Ambiental por meio do Instituto de Pesquisas Hidralicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade Federal do TocantinsMINTER/IPH/UFT,
sob a orientao do Prof. Andr Luiz Lopes da Silveira.
Quero agradecer s seguintes pessoas e entidades, que contriburam para tornar
possvel esta dissertao.
- Em primeiro lugar a Deus, fonte inesgotvel de f, amor e esperana;
- minha famlia e amigos pelo amor e compreenso nos momentos difcieis;
- SRHMA, UFT e IPH/UFRGS, pelo apoio no desenvolvimento do Mestrado;
- Aos professores, as professoras e aos (as) colegas do curso de Mestrado em Recursos
Hdricos e Saneamento Ambiental;
- Aos amigos e as amigas que fiz durante o curso de Mestrado;
- Ao NATURATINS Coordenao de Unidade de Conservao (Parque Estadual do
Lajeado) que tanto contriburam com essa pesquisa;
- equipe do Laboratrio de Microbiologia Ambiental, Setor Hidrobiologia do Campus de
Palmas UFT, pelo apoio nas coletas, anlises e preparo de amostras;
- equipe do Laboratrio de qualidade de gua do Instituto de Pesquisas Hidrulicas, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul IPH/UFRGS, pelo apoio nas anlises de
carbono e tambm pelo grande apoio e sugestes do professor Dr. David Motta Marques e das
tcnicas Dra. Vanessa Becker e Dra. Lcia Helena, na formatao, anlises de PCA,
regresses lineares e nas correes dadas pelos mesmos;
- Agradeo de forma especial aos Professores Dr. Andr Luiz Lopes da Silveira, Paula
Benevides de Morais, que me orientaram e co-orientaram, sempre me incentivando e
acreditando na concluso deste trabalho.
v
RESUMO
INFLUNCIA DA MATA CILIAR NA QUALIDADE DA GUA NA BACIA DO
RIBEIRO LAJEADO-TO.
Dalvany Alves de Sousa Lima
Orientador: Dr. Andr Luiz Lopes da Silveira
Co-orientadora: Dra. Paula Benevides de Moraes
Este trabalho foi desenvolvido no Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental do Instituto de Pesquisas Hidrulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a orientao do Prof. Dr. Andr Luiz Lopes da Silveira e da Dra. Paula Benevides de Moraes.
O trabalho apresenta resultados de um estudo sobre a influncia da mata ciliar na anlise qualitativa e dados quantitativos de gua, em trs pontos pertencentes bacia do Ribeiro Lajeado-TO, cuja rea de 612,77 Km2. Os trs pontos delimitados para a realizao do estudo foram: Trecho do Ribeiro Lajeado (Ponto 1) com 22,09% de mata ciliar; Crrego Brejo da Passagem (Ponto 2) com 14,80% e Contribuinte do Ribeiro Lajeado (Ponto 3) com 49,08%. O objetivo principal do estudo foi avaliar a influncia da mata ciliar na qualidade da gua na bacia do Ribeiro Lajeado. Os dados estatsticos descritivos, mostraram que os trs pontos no perodo chuvoso apresentaram flutuaes significativas de algumas variveis analisadas. O ponto 3, bacia mais preservada, apresentou gradientes maiores de temperatura, nitrognio inorgnico dissolvido, pH e froude. Os pontos 1 e 2, as bacias consideradas menos conservadas, mostraram maiores flutuaes das variveis, no mesmo perodo amostral. O ponto 1 apresentou variaes dos valores de slidos totais dissolvidos, condutividade, transparncia e nitrognio orgnico relativamente mais altas. No ponto 2, a vazo apresentou valor mais elevado. A turbidez, nitrognio total, slidos totais, matria orgnica, alcalinidade, oxignio dissolvido tiveram tambm valores elevados neste ponto. O fosfato apresentou variaes similares nos pontos 1 e 2. Durante o perodo seco, nota-se que o ponto 1 apresentou variaes maiores nas concentraes de temperatura, condutividade, slidos totais dissolvidos e transparncia. A turbidez, pH, alcalinidade, nitrognio inorgnico dissolvido, slidos totais, matria orgnica e Froude, demonstraram um gradiente relativamente alto no ponto 2. As concentraes das variveis oxignio dissolvido, nitrognio (orgnico e total) e a vazo, apresentaram valores mais altos no ponto 3. A varivel fosfato mostrou valores similares em todos os pontos. Os resultados de forma geral na anlise de componentes principais demonstraram tendncias para dois gradientes, temporal e espacial. No gradiente temporal, foi verificada a segregao dos perodos chuvoso e seco, onde foi analisado o comportamento das variveis em ambos e no gradiente espacial observou -se a correlao entre os pontos e campanhas adotadas e o desempenho das variveis fsicas, qumicas e hidrolgicas. Em relao a dinmica do carbono orgnico total e o carbono inorgnico dissolvido, pode evidenciar respostas mais significantes no perodo chuvoso, com valores mais expressivos nos pontos 1 e 2. No perodo seco analisado, observou-se que o ponto 3, apresentou valores mais elevados de carbono orgnico total, e o ponto 1 de carbono inorgnico dissolvido. De acordo com os resultados de outros testes estatsticos aplicados de forma integrada nos dois perodos analisados, verificou-se relaes positivas entre: CND x
vi
STD; Zsd x Q; OD x Q e MO x ST, no ponto 1. Ainda no Ponto 1 os testes demonstraram correlao negativa nas relaes OD x Froude e OD x STD. No ponto 2, verificou-se relaes diretamente proporcionais entre as varireis: T x Q; Zsd x Q; OD x Q; CND x STD e MO x ST. No ponto 3 observou-se tambm relaes positivas entre as variveis, T x Q; CND x STD e MO x ST; e relaes negativas entre STD x (Froude e Q). Com relao ao comportamento hidrolgico, especificadamente a vazo especifica, nos respectivos pontos estudados observou-se que o percentual de cobertura de mata ciliar no ponto 3, influenciou positivamente nos resultados dessa varivel, no perodo seco. No perodo chuvoso, notou-se que os dados apresentaram valores relativamente mais baixos no ms de maro. Os pontos 1 e 2, consideradas as bacias com menores percentuais de mata ciliar, demonstraram comportamentos diferentes nos resultados de vazes especificas. No perodo chuvoso as vazes especificas, com exceo do ponto 2 em parte do perodo de abril a maio, foram elevadas, o que possivelmente pode estar associado ao aumento do escoamento superficial neste perodo. Notou-se, entretanto, que no perodo seco, esses valores sofreram um decrscimo bastante significativo. De maneira geral para avaliar a possvel influncia da mata ciliar na qualidade da gua, outros estudos devem ser realizados e aprofundados considerando caractersticas peculiares do ciclo hidrolgico local, bem como monitoramento do transporte e deposio de sedimentos e a caracterizao dos ciclos de nutrientes na gua e nos ecossistemas de mata ripria, alm de uma cuidadosa caracterizao e quantificao das alteraes no uso do solo.
Palavras-chaves: mata ciliar, qualidade, quantidade, perodos, bacia de Lajeado.
vii
ABSTRACT
INFLUENCE OF RIPARIAN VEGETATION ON WATER QUALITY IN THE RIBEIRO
LAJEADO - TO BASIN.
Dalvany Alves de Sousa Lima
This study was conducted at the Post-Graduate Engineering Water and Environmental Sanitation Institute of Hydraulic Research, Federal University of Rio Grande do Sul, under the supervision of Dr. Andr Luiz Lopes da Silveira and Dra. Paula Benevides de Moraes.
The paper presents results of a study on the influence of riparian vegetation in qualitative and quantitative data of water at three points belonging to the basin of Lajeado stream-TO, whose area is 612.77 km2. The three points chosen for the study were: stretch of Lajeado steam (Point 1) with 22.09% of riparian vegetation; brejo da Passagem stream (Point 2) with 14.80% and Coducive of Lajeado stream (Point 3) with 49.08%. The main objective of the study was to assess the influence of riparian vegetation on water quality in the Lajeado stream basin. Descriptive statistics data showed that the three points in the wet season showed significant fluctuations of some variables analyzed. Point 3 is more preserved basin, showed higher gradients of temperature, dissolved inorganic nitrogen, pH, and Froude. Points 1 and 2 basins considered less conserved, showed greater fluctuations of the variables in the same sample period. Point 1 showed variations in the values of total dissolved solids, conductivity, transparency and relatively higher organic nitrogen. In point 2, the flow were higher. Turbidity, total nitrogen, total solids, organic material, alkalinity, dissolved oxygen values were also high at this point. Phosphate showed similar variations in 1 and 2. During the dry season, it was noted that in point 1 showed greater variations in the concentrations of temperature, conductivity, total dissolved solids and transparency. Turbidity, pH, alkalinity, dissolved inorganic nitrogen, total solids, organic matter and Froude, showed a relatively high gradient in point 2. The concentrations of variables dissolved oxygen, nitrogen (organic and total) and flow, were higher in point 3. The variable phosphate showed similar values at all points. The results generally in principal component analysis showed trends for two gradients, temporal and spatial. In the temporal gradient, there was segregation of the rainy and dry season, where was studied the behavior of both variables. In the spatial gradient it was observed correlation between points and campaigns adopted and performance of physical variables, chemical and hydrological . Concerning the dynamics of total organic carbon and dissolved inorganic carbon, may show the most significant responses in the rainy season, with higher values in point 1 and 2. In the dry period analyzed, it was noted that the point 3 had higher values for total organic carbon, and the point 1 of dissolved inorganic carbon. According to the results of other statistical tests applied in an integrated way in the two study periods analyzed, it was found positive relationships between: CND x STD; ZSD x Q; OD x Q and MO x ST in point 1. Still in Point 1, the tests showed a negative correlation in the relationship OD x Froude and OD x STD. In Point 2, it was observed that there was directly proportional relationship between the varied: T x Q, ZSD x Q; OD x Q; CND x STD end MO x ST. Point 3 was also observed positive relationships between the variables, T x Q; CND x STD and MO x ST and negative relationships between STD x (Froude and Q). With regard to hydrology, specifically the flow specifies, in their points studied it was observed that the percentage coverage of riparian vegetation in point 3, positively influenced the results of that variable in the dry period. In the rainy season, it was noted that the data showed relatively
viii
lower values in March. Points 1 and 2, considering the basins with smaller percentages of riparian vegetation, showed different behaviors on the results of specific flow rates. In the rainy season the specific flows, with the exception of point 2 in part the period from April to May, were high, which possibly can be associated with increased outflow superficial in this period. It was noted, however, that in the dry season, these values have undergone a fairly significant decrease. Generally to assess the possible influence of riparian vegetation on water quality, further studies should be conducted and detailed considering the peculiar characteristics of local hydrological cycle, as well as monitoring the transport and deposition of sediments and the characterization of the nutrient cycles in water and riparian forest ecosystems, beyond of a careful characterization and quantification of changes in land use. Keywords: riparian vegetation, quality, quantity, seasons, Lajeado basin.
ix
SUMRIO
LISTA DE QUADROS .......................................................................................................... xi
LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... xii
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... xiv
APRESENTAO ............................................................................................................. xvii
1. INTRODUO ................................................................................................................. 18
1.1. Justificativa.................................................................................................................. 20
1.2. Objetivo ....................................................................................................................... 20
2. REVISO DE LITERATURA ........................................................................................ 21
2.1 Mata Ciliar.................................................................................................................... 21
2.1.1 Aspectos legais ..................................................................................................... 23
2.1.2. Fatores determinantes para a ocorrncia de matas ciliares .................................. 29
2.1.3 Florstica de florestas ciliares ............................................................................... 29
2.1.4 Funes da mata ciliar .......................................................................................... 30
2.1.4.1 Funes Hidrolgicas ................................................................................... 30
2.1.4.2 Ciclagem de nutrientes ................................................................................. 35
2.2 Qualidade e Quantidade de gua .................................................................................. 36
2.3 Mata ciliar na Bacia do Ribeiro Lajeado -TO ............................................................ 39
2.4 Bacias hidrogrficas: usos e gerenciamento................................................................. 40
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 43
3.1. Estratgia Metodolgica .............................................................................................. 43
3.2. rea de Estudo ............................................................................................................ 43
3.3. Identificao e delimitao dos pontos amostrais ....................................................... 46
3.4. Passos analticos do geoprocessamento ...................................................................... 48
3.4.1 Recorte das Imagens ............................................................................................. 48
3.4.2 Mapeamento de Uso e Cobertura da Terra ........................................................... 48
3.4.3 Realamento das imagens ..................................................................................... 48
3.4.4 Segmentao das Imagens .................................................................................... 49
3.4.5 Classificao da Imagem ...................................................................................... 49
3.4.6 Mapeamento da Imagem ...................................................................................... 49
3.4.7 Edio Matricial ................................................................................................... 50
3.5. Estratgias adotadas para mapear o uso e ocupao da terra ...................................... 50
x
3.6. Caracterizao Hidrolgica ......................................................................................... 51
3.7. Caracterizao fisico-qumica da gua ........................................................................ 52
3.7.1Amostragem .......................................................................................................... 52
3.7.2 Anlises laboratoriais ........................................................................................... 53
3.8. Anlise de dados.......................................................................................................... 54
4. RESULTADOS E DISCUSSO ...................................................................................... 56
4.1. Variveis ambientais ................................................................................................... 56
4.2. Variveis hidrolgicas, fsicas e qumicas .................................................................. 58
4.3. Dinmica do Carbono Orgnico Total e Carbono Inorgnico Dissolvido .................. 79
4.4 Anlise do comportamento da vazo especfica com os pontos estudados.................. 81
5. CONCLUSES GERAIS ................................................................................................. 84
6. RECOMENDAES GERAIS ....................................................................................... 85
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................ 86
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Variveis analisadas no laboratrio de Microbiologia Ambiental, Setor
Hidrobiologia da UFT e do laboratrio de qualidade de gua do Instituto de Pesquisas
Hidrulicas, da UFRGS, com as respectivas unidades de medida, simbologia e metodologia
aplicada. .................................................................................................................................... 53
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Largura da rea de Preservao Permanente (APP) em funo do tipo de corpo
dgua. ...................................................................................................................................... 23
Tabela 2 - Relao dos estudos revisados, conforme Silva (2003). ......................................... 25
Tabela 3 - Valores de rea (ha) e porcentagem (%) de oito classes, de uso e ocupao do solo,
no trecho delimitado do Ribeiro Lajeado (Ponto 1), Crrego Brejo da Passagem (Ponto 2) e
Contribuinte do Ribeiro Lajeado (Ponto 3), Palmas TO. ..................................................... 56
Tabela 4 - Mdias, mnimas, mximas, desvio padro e coeficiente de variao das
concentraes das variveis T = temperatura (C), CND = condutividade (S.cm-), OD =
oxignio dissolvido (mg.L-), pH = potencial hidrogeninico, ALC = alcalinidade (mg.L-),
NID = nitrognio inorgnico dissolvido (mg.L-), NO = nitrognio orgnico (mg.L-), NT =
nitrognio total (mg.L-), PO4 = fosfato (mg.L-), Zsd = transparncia (m), TBZ = Turbidez
(NTU), STD = slidos totais dissolvidos (mg.L-), ST = slidos totais (mg.L-), MO = matria
orgnica (mg.L-), Q = vazo (m3/s) e Froude = n de froude, nos pontos 1, 2 e 3, referente ao
perodo chuvoso. ....................................................................................................................... 59
Tabela 5 - Mdias, mnimas, mximas, desvio padro e coeficiente de variao das
concentraes das variveis T = temperatura (C), CND = condutividade (S.cm-), OD =
oxignio dissolvido (mg.L-), pH = potencial hidrogeninico, ALC = alcalinidade (mg.L-),
NID = nitrognio inorgnico dissolvido (mg.L-), NO = nitrognio orgnico (mg.L-), NT =
nitrognio total (mg.L-), PO4 = fosfato (mg.L-), Zsd = transparncia (m), TBZ = Turbidez
(NTU), STD = slidos totais dissolvidos (mg.L-), ST = slidos totais (mg.L-), MO = matria
orgnica (mg.L-), Q = vazo (m3/s) e Froude = n de froude, nos pontos 1, 2 e 3, referente ao
perodo seco. ............................................................................................................................. 64
Tabela 6 - Resultados da regresso linear no ponto 1, que descrevem relaes entre CND -
Condutividade, Zsd Transparncia , OD Oxignio Dissolvido, MO Matria Orgnica
(variveis dependentes) e variveis fsicas, qumicas e hidrolgicas. ...................................... 69
Tabela 7 - Resultados da regresso linear no ponto 2, que descrevem relaes entre CND -
Condutividade, T - Temperatura, OD Oxignio Dissolvido, Zsd Transparncia, MO
Matria Orgnica (variveis dependentes) e variveis fsicas, qumicas e hidrolgicas. ......... 70
Tabela 8 - Resultados da regresso linear no ponto 3, que descrevem relaes entre T -
Temperatura, STD Slidos Totais Dissolvidos, CND - Condutividade, MO Matria
Orgnica (variveis dependentes) e variveis fsicas, qumicas e hidrolgicas. ...................... 71
xiii
Tabela 9 - Mdias, mnimas, mximas, desvio padro e coeficiente de variao das
concentraes das variveis COT Carbono Orgnico Total (mg/L-1) e CID Carbono
Inorgnico Dissolvido (mg/L-1), referente aos perodos chuvoso e seco, nos pontos 1, 2 e 3. 80
Tabela 10 - Mdias da varivel Qesp. vazo especifca (m3/s/km2), referente aos meses de
maro (mar), abril (abr), maio (mai), agosto (ago) e setembro (set), nos pontos 1, 2 e 3. ....... 82
xiv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Larguras ideais para as funes da zona ripria. ..................................................... 28
Figura 2 - Faixas estimadas pelos estudos pesquisados. .......................................................... 28
Figura 3 - Esquema do efeito osis da zona ripria .............................................................. 31
Figura 4 - Influncia da floresta ciliar na irradiao solar e perda por irradiao .................... 33
Figura 5 - Variao mxima mdia da temperatura diria da gua (em c) em relao s ...... 34
Figura 6 - rea de estudo Bacia do Ribeiro Lajeado TO. ................................................ 44
Figura 7 - Mapa das Unidades de Conservao da APA do Lajeado-TO. ............................... 45
Figura 8 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo do ...................................................................... 45
Figura 10 - Mapas de Uso e ocupao do solo nos pontos estudados ...................................... 57
Figura 11 - Mdias das concentraes das variveis, Turbidez TBZ, Slidos Totais
Dissolvidos STD e Oxignio Dissolvido - OD, no perodo chuvoso, nos pontos 1, 2 e 3. ... 60
Figura 12 - Mdias das concentraes das variveis, Alcalinidade ALC, Nitrognio
Inorgnico Dissolvido NID, Nitrognio Orgnico - NO e Nitrognio Total NT, no perodo
chuvoso, nos pontos 1, 2 e 3. .................................................................................................... 60
Figura 13 - Mdias das concentraes das variveis, Fosfato PO4, Slidos Totais ST e
Matria Orgnica MO, no perodo chuvoso, nos pontos 1, 2 e 3. ......................................... 60
Figura 14 - Mdias das concentraes da varivel, Condutividade CND, no perodo
chuvoso, nos pontos 1, 2 e 3. .................................................................................................... 60
Figura 15 - Mdias das concentraes da varivel, Temperatura T, no perodo chuvoso, nos
pontos 1, 2 e 3. .......................................................................................................................... 61
Figura 16 - Mdias das concentraes da varivel, Potencial Hidrogeninico pH, no perodo
chuvoso, nos pontos 1, 2 e 3. .................................................................................................... 61
Figura 17 - Mdias das concentraes da varivel, Vazo Q, no perodo chuvoso, nos pontos
1, 2 e 3. ..................................................................................................................................... 61
Figura 18 - Mdias das concentraes da varivel Froude Fr, no perodo chuvoso, nos
pontos 1, 2 e 3. .......................................................................................................................... 61
Figura 19 - Mdias da varivel Transparncia Zsd, no perodo chuvoso, nos pontos 1, 2 e 3.
.................................................................................................................................................. 61
Figura 20 - Mdias das concentraes das variveis, Turbidez TBZ, Slidos Totais
Dissolvidos STD e Oxignio Dissolvido - OD, no perodo seco, nos pontos 1, 2 e 3. ......... 65
xv
Figura 21 - Mdias das concentraes das variveis, Alcalinidade ALC, Nitrognio
Inorgnico Dissolvido NID, Nitrognio Orgnico -NO e Nitrognio Total NT, no perodo
seco, nos pontos 1, 2 e 3. .......................................................................................................... 65
Figura 22 - Mdias das concentraes das variveis, Fosfato PO4, Slidos Totais ST e
Matria Orgnica MO, no perodo seco, nos pontos 1, 2 e 3. ............................................... 65
Figura 23 - Mdias das concentraes da varivel Temperatura - T, no perodo seco, nos
pontos 1, 2 e 3. .......................................................................................................................... 65
Figura 24 - Mdias das concentraes da varivel, Condutividade - CND, no perodo seco,
nos pontos 1, 2 e 3. ................................................................................................................... 65
Figura 25 - Mdias das concentraes da varivel, Potencial Hidrogeninico - pH, no perodo
seco, nos pontos 1, 2 e 3. .......................................................................................................... 65
Figura 26 - Mdias das concentraes da varivel Froude - Fr, no perodo seco, nos pontos 1,
2 e 3. ......................................................................................................................................... 66
Figura 27 - Mdias das concentraes da varivel Vazo -Q, no perodo seco, nos pontos 1, 2
e 3. ............................................................................................................................................ 66
Figura 28 - Mdias da varivel Transparncia - Zsd, no perodo seco, nos pontos 1, 2 e 3. .... 66
Figura 29 - Relaes entre (a) Condutividade CND e Slidos Totais Dissolvidos STD; (b)
Transparncia Zsd e Vazo Q; (c) Oxignio Dissolvido OD e nmero de Froude -
Froude; (d) OD e Q; (e) OD e STD; (f) Matria Orgnica - MO e Slidos Totais ST, no
ponto 1. ..................................................................................................................................... 68
Figura 30 - Relaes entre (a) Temperatura T e Vazo Q; (b) Oxignio dissolvido OD e
Vazo - Q; (c) Transparncia Zsd e Vazo Q; (d) Condutividade CND e Slidos Totais
Dissolvidos STD; (e) Matria Orgnica MO e Slidos Totais ST, no ponto 2. ............. 69
Figura 31- Relaes entre (a) Temperatura T e Vazo Q ; (b) Condutividade CND e
Slidos Totais Dissolvidos STD; (c) Matria orgnica MO e Slidos Totais ST; (d)
Slidos Totais Dissolvidos STD e nmero de Froude - Froude; (e) Slidos Totais
Dissolvidos STD e Vazo Q, no ponto 3. ........................................................................... 70
Figura 32 - Relaes entre Condutividade CND (S.cm-) e Slidos Totais Dissolvidos
STD (mg.L-), nos pontos 1, 2 e 3. ........................................................................................... 73
Figura 33 - Relaes entre Transparncia (m) e Vazo (m/s), nos pontos 1, 2 e 3. ................ 73
Figura 34 - Relaes entre OD (mg.L-1) e Froude (Fr), nos pontos 1, 2 e 3. ........................... 73
Figura 35 - Relaes entre OD (mg.L-1) e Vazo (m/s), nos pontos 1, 2 e 3. ......................... 73
Figura 36 - Relaes entre OD (mg.L-1) e Slidos Totais Dissolvidos (mg.L-1), nos pontos 1,
2 e 3. ......................................................................................................................................... 74
xvi
Figura 37 - Relaes entre MO (mg.L-1) e Slidos Totais (mg.L-1), nos pontos 1, 2 e 3. ....... 74
Figura 38 - Relaes entre T (C) e Vazo (m/s), nos pontos 1, 2 e 3. ................................... 74
Figura 39 - Relaes entre STD (mg.L-1) e Vazo (m/s), nos pontos 1, 2 e 3. ....................... 74
Figura 40 - Relaes entre STD (mg.L-1) e Froude (Fr), nos pontos 1, 2 e 3. .......................... 74
Figura 41 - Distribuio dos escores resultantes da anlise dos componentes principais nos
perodos 1= , chuvoso e perodo 2 = , seco, em 2009. ......................................................... 77
Figura 42 - Mdias das concentraes das variveis Carbono Orgnico Total COT (mg,L-
1) e Carbono Inorgnico Dissolvido CID (mg.L-1), no Perodo Chuvoso, nos pontos 1, 2 e
3. ............................................................................................................................................... 80
Figura 43 - Mdias das concentraes das variveis Carbono Orgnico Total COT (mg.L-
1) e Carbono Inorgnico Dissolvido CID (mg.L-1), no Perodo seco, nos pontos 1, 2 e 3. . 80
Figura 44 - Mdias de vazo especifica observadas no estudo nos pontos 1, 2 e 3. ................ 82
xvii
APRESENTAO
Este trabalho foi concebido como requisito para obteno de ttulo do curso de
mestrado interinstitucional em Saneamento Ambiental e Recursos Hdricos, proporcionado
pelas Universidades Federais do Tocantins UFT e do Rio Grande do Sul UFRGS, com
diretrizes gerenciadas pelo Instituto de Pesquisas Hidrulicas IPH/UFRGS. A orientao e
co- orientao desta dissertao esteve a cargo do professor Dr. Andr Luiz Lopes da Silveira
IPH/UFRGS e da professora Dra. Paula Benevides de Morais UFT.
A proposio deste estudo, de analisar a influncia da mata ciliar na qualidade da gua
na bacia do Ribeiro Lajeado-TO, surgiu da necessidade de obter informaes tericas e
prticas de apoio gesto da bacia e conservao e preservao dos recursos hdricos como
um todo, colaborando para o entendimento dos processos de supresso de vegetao ciliar e a
sua possvel relao com a disponibilidade qualitativa da gua. A bacia situa-se em uma rea
de grande interesse para fins de planejamento de uso racional e gesto dos recursos hdricos,
em funo de contribuir diretamente para o reservatrio da Usina Hidreltrica Luis Eduardo
Magalhes, que gera energia ao mesmo tempo em que tem funes de recreao e turismo
para a cidade de Palmas, devendo, portanto, ser preservada a qualidade de suas guas.
Assim, apresentado no ttulo Introduo o tema propriamente dito. A seguir os
subttulos Justificativa e Objetivos que esclarecem a motivao e metas do trabalho. Em
seguida uma Reviso de Literatura que apresenta o estado da arte do conhecimento sobre
mata ciliar, sobre os recursos hdricos e a bacia hidrogrfica.. A Metodologia contendo a
estratgia metodolgica da pesquisa, principais caractersticas da bacia (rea, localizao,
aspectos geogrficos, uso e ocupao), delimitao territorial, hidrografia, relevo,
geomorfologia, vegetao, clima, tratamento de imagens satlites para aquisio dos
percentuais de vegetao ciliar, usos e ocupaes do solo, rea de drenagem dos pontos
amostrais delimitados, variveis hidrolgicas qualiquantitativas, mtodos de coleta de gua e
medio de dados hidrolgicos, alm do teste estatstico utilizado para a anlise e discusso
dos resultados. O ttulo Resultados e Discusso apresenta as tabelas, quadros, figuras e os
testes estatsticos realizados, alm da anlise dos dados em contraponto aos conhecimentos
existentes atuais. Por fim o ttulo Concluses Gerais, acerca da pesquisa realizada,
Recomendaes Gerais que podero subsidiar trabalhos futuros e as Referncias
bibliogrficas.
18 1. INTRODUO
A mata ciliar, caracterizada como formaes florestais, localizadas s margens de rios,
lagos, nascentes e demais cursos e reservatrios de gua, desempenha importante funo
ambiental na manuteno da qualidade da gua, estabilidade dos solos, reas marginais e na
regularizao do regime hdrico (Alvarenga, 2004).
Existem duas zonas dentro de uma bacia que possuem particular importncia para a
manuteno da quantidade e qualidade da gua: as reas de recarga hdrica e as zonas riprias,
onde esto normalmente localizadas as matas ciliares. As reas de recarga hdrica so
responsveis pela recepo da gua que precipita e penetra no solo, chegando aos cursos
dgua. Nas zonas riprias s margens dos cursos dgua, as matas ciliares se desenvolvem e
tem um importante papel como barreira fsica (entre outros) regulando os processos de troca
entre o ambiente terrestre e o aqutico. Ambas precisam ser protegidas para garantir gua de
boa qualidade nas bacias hidrogrficas (Marques et al., 2005).
A gua de chuva que se precipita sobre uma mata segue diversos caminhos. A
interceptao da gua acima do solo pelas folhas participa na formao de novas massas
atmosfricas midas, enquanto os pingos de gua que atravessam a copa ou escoam pelo
tronco, atingem o solo e o seu folhedo. De toda a gua que chega ao solo, uma parte tem
escoamento superficial, chegando de alguma forma aos cursos d gua ou aos reservatrios de
superfcie. A outra parte sofre armazenamento temporrio por infiltrao no solo, podendo ser
liberada para a atmosfera atravs da evapotranspirao, manter-se armazenada por mais
algum tempo ou percolar como gua subterrnea. A gua no solo que no for
evapotranspirada, ou que no migrar para camadas profundas, termina por escoar da floresta
paulatinamente, compondo o chamado deflvio, que alimenta os mananciais e possibilita os
seus usos mltiplos (Braga, 2005).
A gua, por no ser o nico elemento natural do ambiente, no deve ser visto
isoladamente (Lanna, 1995). Assim, a presena ou ausncia de cobertura florestal em uma
bacia hidrogrfica influencia a qualidade e a quantidade da gua. Da mesma forma, as formas
de uso do solo so determinantes para a conservao dos mananciais hdricos. Verifica-se,
portanto, que a gesto ambiental de uma bacia hidrogrfica deve contemplar a qualidade e o
gerenciamento da oferta e da demanda dos outros recursos naturais, como o solo, o ar, a
fauna, a flora e a energia.
19
Com o crescimento populacional, aliado ao desenvolvimento econmico, diversos
fatores tm contribudo para o aumento de presses e degradaes em sistemas ambientais.
Estes recursos uma vez alterados podem interferir diretamente e indiretamente na manuteno
dos aspectos qualitativos da gua, na estabilidade dos solos e na regularizao do regime
hdrico.
No intuito de manter um ecossistema e garantir o mnimo de vegetao que preserve
e conserve os cursos dgua saudvel, muitos paises adotaram faixas protetoras s margens
dos rios atravs de leis especificas de conservao ou manejo. No Brasil, a Lei Federal n
4.771 de 15/09/65, alterada pela Lei Federal 7803 de 18/07/89 que institui o Cdigo Florestal
definindo mata ciliar, como sendo a formao vegetal localizada nas margens dos rios,
crregos, lagos, represas e nascentes, considerada como rea de preservao permanente,
com diversas funes ambientais.
Apesar de sua importncia ambiental e, mesmo sendo reas de preservao
permanente protegidas por legislao, as matas ciliares continuam sendo removidas em vrias
partes do Brasil (Alvarenga, 2004).
A reduo destas matas tem causado um aumento significativo nos processos de
eroso dos solos, como prejuzo a hidrologia regional, reduo da biodiversidade e a
degradao de grandes reas (Barbosa, 1999).
Assim, a cobertura florestal/vegetal em uma bacia hidrogrfica contribui
decisivamente para regularizar a vazo dos cursos dgua, aumentar a capacidade de
armazenamento nas microbacias, reduzir a eroso, diminuir os impactos das inundaes e
manter a qualidade da gua. Alm dessas contribuies hidrolgicas, as florestas propiciam
conservao da biodiversidade, alternativas econmicas de explorao sustentvel da biota,
educao e pesquisa cientfica, desfrute de belezas cnicas, turismo e lazer, e at contribuio
para a reduo do efeito estufa, atravs da captura do carbono atmosfrico (Braga, 2005).
O principal objetivo deste trabalho compreender a influncia da vegetao ciliar na
manuteno da qualidade da gua na bacia do Ribeiro Lajeado TO, atravs de informaes
percentuais de vegetao ciliar em pontos amostrais definidos e contemplado na bacia em
estudo (afluentes diretos), anlises qualitativas de gua e dados relacionados descarga
hdrica. Desse modo, espera-se com os resultados obtidos, determinar tendncias e sadas
para a manuteno da qualidade da gua de uma bacia situada no territrio do Cerrado central
do Brasil, por meio da relao direta com a vegetao ciliar.
20 1.1. Justificativa
Mesmo estando inserida numa rea de Proteo Ambiental e uma parte num Parque
de Proteo Integral, a bacia do Ribeiro Lajeado apresenta alguns indcios antrpicos, como
desmatamentos, aumento de material dissolvido e particulado (orgnico e inorgnico) no
curso dgua, queimadas e ainda introduo de espcies vegetais exticas. Investigaes
voltadas descrio de fatores relacionados possvel influncia da mata ciliar na qualidade
da gua so de grande importncia para o desenvolvimento social, econmico e ambiental do
Estado do Tocantins. Apesar de alguns estudos de qualidade e quantidade de gua,
relacionados ao uso e ocupao do solo estarem sendo desenvolvidos no estado, poucos
trabalhos tcnicos e cientficos so dedicados especificadamente com relao a interface mata
ciliar e qualidade da gua em bacias hidrogrficas. A proteo adequada e a integridade total
dos recursos naturais da bacia a ser estudada so de grande valia, pois garantir a manuteno
qualiquantitativa de suas guas.
Assim a proposta deste trabalho consiste em analisar a influncia da mata ciliar na
qualidade da gua na bacia do Ribeiro Lajeado TO e tambm na possibilidade de subsidiar
futuros estudos para a conservao e preservao dos recursos hdricos no Estado do
Tocantins.
1.2. Objetivo
Avaliar a influncia da mata ciliar na qualidade da gua na bacia do Ribeiro Lajeado
no municpio de Palmas TO.
21 2. REVISO DE LITERATURA
2.1 Mata Ciliar
A mata ou floresta ciliar um componente de fundamental importncia para a
manuteno da integridade de uma bacia hidrogrfica, devido s diversas funes e por sua
ao direta em uma srie de processos importantes para a sustentabilidade da sub-bacia (Lima
& Zakia, 2001). Estas florestas ocupam as reas mais dinmicas da paisagem, tanto em termos
hidrolgicos, ecolgicos e geomorfolgicos, sendo chamados de zona ripria.
A zona ripria, tambm conhecida como rea Varivel de Afluncia (AVA), aquela
onde o lenol fretico pequena, ocorrendo uma grande interao entre o lenol e os demais
componentes do ambiente (Zakia , 1998). Em tese, seus limites laterais se estendem at o
alcance da plancie de inundao (Lima & Zakia, 2000).
Estas reas riprias desempenham desta forma, papel importante na resposta
hidrolgica da microbacia a um evento de chuva. Por outro lado, devido sua condio
permanente de saturao, propicia, tambm, a chamada vegetao ripria. Esta associao,
por sua vez, est, tambm, intimamente relacionada com as condies do prprio curso
dgua, numa cadeia de inter-relaes, que tem sido denominada ecossistema riprio
(Likens, 1992 Apud Zakia, 1998).
Os conceitos de vegetaes riprias variam de acordo com a perspectiva de cada autor.
Geralmente eles abordam nos componentes em que a paisagem est includa, nas
caractersticas e peculiaridades que a compe, nas escalas em que so consideradas, ou nas
leis de melhorias das prticas de manejo para qualidade de gua. A funo de um ecossistema
engloba um conjunto de processos que governam o fluxo de energia e materiais (como luz
solar, carbono, gua e nutrientes). A definio de Ilhardt et al. (1999) para zona ripria inclui
o corpo dgua, a margem do riacho e partes das reas altas que tem uma forte ligao com a
gua. Ainda seguindo essa definio dos respectivos autores, as bordas das reas riprias
tpicas so menos uniformes do que aquelas associadas com uma distncia pr-fixada com
faixas tampo ou faixas filtro. As reas riprias so delineadas de acordo com a distncia da
gua, que influncia na mudana de funo do ecossistema. Essas reas so sujeitas tanto ao
maior escoamento superficial de zonas saturadas como ao maior escoamento subsuperficial
(horizontes saturados prximos gua subterrnea).
22
Para outros autores nos quais testaram diversos experimentos, indicaram que a
manuteno de uma boa cobertura vegetal de fundamental importncia para o controle do
processo erosivo. Essas observaes foram realizadas a partir do efeito da proteo vegetal
sobre o escoamento superficial e sobre as prprias perdas do solo por eroso (Croft e Bailey,
1964).
Muitos autores abordam as matas ciliares como sendo de vital importncia na proteo
de mananciais, controlando a chegada de nutrientes, sedimentos, adubos e agrotxicos e o
processo de eroso das ribanceiras que provocar assoreamento de mananciais, influindo
tambm nas caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas dos corpos dgua e principalmente
na qualidade da gua (Bertoni, 1987; Delitti, 1989; Lima, 1989; Harper et al., 1992; Davide &
Botelho 1999; Carvalho, 2000).
Delitti, (1989) e Rachwel & Camati (2001) confirmam a hiptese de que as florestas
riprias atuam como filtros de gua que atravessa o conjunto de sistemas componentes da
bacia de drenagem, sendo determinantes, tambm, nas caractersticas fsicas, qumicas e
biolgicas dos corpos dgua. Isto faz com que estes locais sejam protegidos por lei,
constituindo-se em reas de preservao permanente (Lei n 4.771/65, BRASIL, 2008).
A presena de vegetao ciliar importante pela suas funes, com efeitos no apenas
locais, mas que refletem na qualidade de vida de toda populao sob influncia de uma bacia
hidrogrfica (Davide et al., 2000).
A importncia da preservao ou restaurao das florestas ao longo dos rios e ao redor
de lagos e reservatrios fundamenta-se ainda no amplo espectro de benefcios que este tipo de
vegetao traz ao ecossistema, exercendo funo protetora sobre os recursos naturais biticos
e abiticos. As reas riprias apresentam importantes funes hidrolgicas, ecolgicas e
limnolgicas para a integridade bitica e abitica do sistema. Do ponto de vista da biologia
dos peixes, a mata ciliar possui as seguintes funes ecolgicas: 1) proteo estrutural dos
habitats; 2) regulagem do fluxo e vazo de gua; 3) abrigo e sombra; 4) manuteno da
qualidade da gua; 5) filtragem de substancias que chegam ao rio; 6) fornecimento de matria
orgnica e substrato de fixao de algas e perifton (Barrella et al., 2000 apud Moretto 2005).
A presena da vegetao ribeirinha fez com que se notasse uma maior diversidade de
peixes e comunidades com maior grau de especializaes. Barrella et al. (1994) apud Moretto
(2005), verificaram diferenas morfolgicas e comportamentais entre as ictiofaunas de dois
rios brasileiros que sofrem diferentes graus de impactos e desmatamento. Em um rio melhor
preservado, h uma comunidade de peixes com elevado grau de especializao morfolgica,
23 referente ao comportamento alimentar e atividade natatria. A ictiofauna do outro rio, menos
preservado, apresentou-se menos especializada, com predominncia de espcies generalistas e
capazes de pequenos deslocamentos migratrios.
2.1.1 Aspectos legais
As matas ciliares esto relacionadas no art. 2 da Lei n 4.771/65 (BRASIL, 2008).
Esta lei (Cdigo Florestal) define como reas de preservao as florestas e demais formas de
vegetao existentes ao redor dos rios, lagos, nascentes, lagoas e reservatrios, especificando,
na maioria das situaes, a dimenso mnima da faixa marginal que deve ser preservada. Esta
faixa varia de 30 a 500m em cada margem, dependendo da largura dos cursos dgua.
Mais recentemente, tendo em vista a necessidade de se regulamentar o artigo 2 do
Cdigo Florestal, entrou em vigor a Resoluo n 303, de 20 de maro de 2002, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2002). Essa resoluo estabelece os parmetros,
definies e limites referentes s reas de Preservao Permanente, (Tabela 1).
Tabela 1 - Largura da rea de Preservao Permanente (APP) em funo do tipo de corpo dgua.
Largura do canal de drenagem Largura da APP
10 m ou menor 30 m em cada margem
de 10 a 50 m 50 m em cada margem
de 50 a 200 m 100 m em cada margem
Lagos ou reservatrios em zonas rurais com menos de 20 ha
50 m ao redor do espelho dgua
Lagos ou reservatrios em zonas rurais com rea a partir de 20 ha
100 m ao redor do espelho dgua
Os limites simtricos e regulares ao longo da microbacia determinados pelas
legislao como reas de preservao permanente, necessita, de informaes mais precisas
para que a rea protegida seja otimizada e possa assim cumprir da melhor forma seu papel
ecolgico e hidrolgico, importantes para a biodiversidade e os recursos hdricos (Attanasio,
2004).
24
Clinnick (1985) em uma reviso extensiva sobre o assunto concluiu que a largura mais
indicada para a faixa ciliar, visando a proteo dos cursos dgua em rea florestais, de 30
metros. No entanto reconhecido que a delimitao da zona riparia na microbacia nem
sempre se restringe ao que se estabelece o cdigo florestal, porm a faixa ciliar de 30 metros
pode realizar o papel fsico de proteo dos cursos dgua (Zakia, 1998). A zona ripria est
intimamente ligada ao curso dgua, mas seus limites no so facilmente demarcados. Os
processos fsicos que moldam continuamente os leitos dos cursos dgua impem a
necessidade de se considerar um padro temporal de variao da zona ripria. O limite a
montante, por exemplo, seria a nascente, mas a zona saturada da microbacia poderia se
expandir consideravelmente durante parte do ano, o que implica na necessidade de se
considera reas cncavas das cabeceiras como parte integrante da zona ripria (Lima & Zakia,
2004).
Barcelos et al.(1995) apud Lima e Brando (2002), chamam ateno para o fato de
que, as reas de Preservao Permanente (APP) demanda ateno especial porque est
voltada para a preservao da qualidade das guas, vegetao e fauna, bem como para a
dissipao de energia erosiva. A legislao reconhece sua importncia como agente regulador
da vazo fluvial, conseqentemente das cheias, preservadora das condies sanitrias para o
desenvolvimento da vida humana nas cidades.
A Tabela 2 mostra de forma resumida os estudos gerais realizados, com relao
estimativa de largura de faixas ciliares recomendadas, de acordo as funes desempenhadas
pelas mesmas. Os campos preenchidos com -, segundo Silva (2003) no puderam ser
extrados dos trabalhos ou no tem relao com o tipo de metodologia utilizada. Por exemplo:
Taxa de aplicao em estudos utilizando modelos ou estudos em campo.
25 2Tabela 2 - Relao dos estudos revisados, conforme Silva (2003).
2 Trabalhos citados por Delgado, Periago & Viqueira (1995) apud Silva (2003)
26
344
3 Trabalhos citados por Delgado, Periago & Viqueira (1995) apud Silva (2003). 4 Morfologia do canal, vegetao, controle de eroso, diversidade vida campestre, uso do solo local, qualidade da gua superficial, potencial de recarga da gua subterrnea, potencial de recreao, condio de montante.
27
Tabela 2 Continuao.
28
Com base na tabela 2 e conforme a adaptao feita pela CRJC, (2003) apud Silva
(2003) as figuras 1 e 2, mostram as larguras idias para as funes da zona ripria e
apresentam uma combinao entre as faixas recomendadas pela CRJC e os resultados obtidos
nos estudos resumidos na tabela acima.
Figura 1 - Larguras ideais para as funes da zona ripria.
Fonte: (Adaptao de CRJC, 2003 apud Silva, 2003).
Figura 2 - Faixas estimadas pelos estudos pesquisados.
Fonte: Delgado, Periago & Viqueira (1995) apud Silva (2003).
29
2.1.2. Fatores determinantes para a ocorrncia de matas ciliares
Matas ciliares so formaes florestais que se encontram ao longo dos cursos dgua e
no entorno de nascentes. Apresentam caractersticas de vegetao definidas por uma
complexa interao de fatores dependentes das condies ambientais ciliares (Rodrigues,
2001).
Os principais fatores condicionantes para ocorrncia das florestas ciliares so
hidrolgicos, geolgicos e topogrficos. A importncia relativa de cada um destes fatores, nos
diferentes ambientes, condicionam, geralmente, diferenas nos parmetros quantitativos das
populaes vegetacionais e, outras vezes, podem at alterar a fisionomia da vegetao
(Ribeiro & Walter, 1998). A intensidade destas diferenas ser determinada pelas
caractersticas do ambiente, como o nvel do lenol fretico, determinado pelas as condies
de relevo e topografia. O lenol ir determinar ou interagir com as caractersticas edficas,
como a composio qumica e fsica do solo, profundidade, ciclagem de nutrientes, entre
outros, atravs do encharcamento ou da atuao diferencial da umidade no solo.
Outro fator que poder condicionar a ocorrncia de florestas ciliares o
transbordamento do leito do rio, atravs, principalmente, da remoo de sedimentos e
remoo ou soterramento da serrapilheira. A correnteza e transbordamento do leito do rio
atuam, tambm, na seletividade de espcies e na definio da mortalidade e estabelecimento
de indivduos na faixa ciliar, pois, dependendo do perodo de encharcamento do solo, somente
as espcies tolerantes ao encharcamento conseguiro sobreviver. Portanto, a elevao do nvel
dgua resulta na heterogeneidade espacial e temporal das populaes riprias, diferenciando
a composio do mosaico sucessional dessas formaes.
Contudo, a dinmica da paisagem determina que as florestas ciliares ocupem as
condies mais favorveis do ambiente, principalmente no que diz respeito disponibilidade
hdrica e de nutrientes, favorecendo algumas caractersticas, entre elas a elevada diversidade,
o mosaico vegetacional pouco definido e muito dinmico e a pronunciada seletividade de
espcies aos micro habitats (Rodrigues, 1992, Walter, 1995).
2.1.3 Florstica de florestas ciliares
As florestas ciliares geralmente apresentam um conjunto de espcies tpicas da
unidade fitogeogrfica ocorrente nas florestas no ciliares, alm de um conjunto de espcies
30
ocorrentes em vrias unidades fitogeogrficas, inclusive em reas ciliares. Apresentam ainda,
um conjunto de espcies caracterizadoras dos vrios ambientes ciliares, adaptadas ou
favorecidas pelo ambiente ciliar, podendo tambm ocorrer em reas no ciliares, mas
geralmente com baixa expresso numrica. Por fim, um conjunto de espcies caracterizadoras
daquela condio ecolgica especfica, em funo da atuao de fatores seletivos, no
necessariamente exclusivos dessas condies, mas com caractersticas populacionais que
permitem classific-las como caracterizadoras daquele ambiente ciliar (Rodrigues &
Shepherd, 2001).
Ao comparar remanescentes de florestas ciliares, Durigan & Leito Filho (1995)
puderam observar que as mesmas so muito diferentes, com valores de similaridade muito
baixos, mesmo entre reas muito prximas. Esta heterogeneidade florstica pode ocorrer
devido a diversos fatores, como a largura da faixa ciliar florestada; estado de conservao ou
degradao dos remanescentes; o tipo vegetacional de origem dessa formao ciliar; a matriz
vegetacional onde essa formao florestal ciliar est inserida e, principalmente, a
heterogeneidade vegetacional como resultado das caractersticas fsicas do ambiente ciliar e
de outros fatores atuantes na seletividade de espcies (Rodrigues, 1992).
Estas matas so estreitas e freqentemente descontnuas, com caractersticas
vegetacionais bem definidas por uma interao complexa de fatores definidores da paisagem,
que refletem as caractersticas geolgicas, geomorfolgicas, climticas, hidrolgicas e
hidrogrficas e, portanto, as condies ecolgicas locais (Rodrigues; Leito Filho, 2000). Tm
sido consideradas corredores biolgicos extremamente importantes para o movimento da
fauna ao longo da paisagem, assim como para a disperso vegetal e o processo de regenerao
natural.
2.1.4 Funes da mata ciliar
2.1.4.1 Funes Hidrolgicas
A funo hidrolgica das florestas ciliares est ligada sua influncia sobre uma srie
de fatores importantes para a manuteno de uma bacia (Lima & Zakia, 2001).
Um dos inmeros benefcios da presena da mata ciliar est relacionado qualidade
da gua, pois as mesmas possuem uma funo tampo, filtrando e retendo boa parte da gua
proveniente das reas adjacentes que escoam para dentro dos cursos dgua. Neste filtro
ficam retidos uma grande quantidade de sedimentos, produtos txicos e nutrientes,
31
principalmente fsforo (P) e nitrognio (N), que em excesso na gua provocam o crescimento
exagerado de algas e plantas aquticas (Lima & Zakia, 2001).
As matas conseguem reter cerca de 80% do fsforo e 89% do nitrognio proveniente
do escoamento superficial das reas adjacentes. Estes valores podem variar em funo de
vrios fatores, como estgio de desenvolvimento e tipo de vegetao, largura da faixa de mata
ciliar, tipo de solo, relevo, regime pluviomtrico local, entre outros (Davide et al., 2000).
A vegetao ciliar em uma microbacia pode reduzir em 38% a concentrao de
nitrognio que chega ao curso dgua e em 94% o fosfato (Emmett et al., 1994). A reduo do
N pode alertar para um limite na capacidade de imobilizao deste elemento pela zona ripria
As matas ciliares tambm permitem a estabilidade das margens dos cursos dgua,
pois as razes da vegetao formam uma malha que d resistncia aos barrancos. A gua do
escoamento superficial retida e absorvida pela serapilheira (formada pelo acmulo de
material vegetal depositado sobre o solo), que exerce uma funo de esponja, auxiliando,
desta maneira, a infiltrao da gua e a sua reteno no solo, reduzindo as enxurradas. A taxa
de infiltrao de gua em solos florestais pode ser de 10 a 15 vezes maior do que em
pastagem e 40 vezes mais que em um solo desprovido de vegetao (Davide et al., 2000).
Outros estudos demonstram que s florestas riprias, so ambientes nicos devido
sua posio na paisagem, constituindo ectones entre zonas aquticas e terrestres e mesmo
corredores que conectam regies e funcionam, em termos micrometeorolgicos, como um
osis, absorvendo energia, evaporando a gua, aumentando a umidade do local e
diminuindo sua temperatura (Figura 3). Formam, assim, um ecossistema diferenciado das
bordas (Fritzsons et al., 2005).
Figura 3 - Esquema do efeito osis da zona ripria Fonte: Malanson (1993) apud Fritzsons et al. (2005).
32
Alm disso, nos fundos dos vales a presena de neblina comum, devido
condensao de vapores de gua, principalmente durante a madrugada, persistindo, s vezes,
nas primeiras horas do dia. Isso ocorre pela manuteno de temperatura da gua superior do
ar durante a noite, facilitando a evaporao por acelerao da atividade convectiva sobre os
espelhos dgua, e posterior condensao do vapor em contacto com o ar noturno ou com a
vegetao, que se encontram mais frios, provendo as florestas ribeirinhas de uma maior
umidade. O orvalho depositado sobre folhas e ramos tanto goteja at o solo quanto volta a
evaporar. Assim, as florestas ciliares, situadas nos fundos dos vales, colaboram fortemente
para uma maior freqncia de nvoas e neblinas, sob inverso trmica noturna, contribuindo
com mais esse fator convergente para a estabilidade trmica dos rios sob floresta ciliar
(Mantovani, 1996).
A nvoa e a neblina formadas a partir da condensao de gotas decimilimtricas de
gua atuam tambm como forte agente refletivo na faixa do infravermelho termal (faixa entre
6 e 20 micrmetros), reduzindo drasticamente a irradiao noturna (Mantovani, 1996). Esse
processo ocorre, sobretudo em noites de circulao mais calma (velocidade do vento prximo
superfcie menor do que 2 m/s), resultando na condensao de orvalho sobre o solo e
vegetao, alm de formao de nvoas no ar, num processo que libera calor latente de
condensao para o ambiente (539 cal.g-1 ou 2,26J.g-1), evitando a queda da temperatura do ar
(Mantovani, 1996).
A integrao da zona ripria com a superfcie da gua proporciona cobertura e
alimentao para peixes e outros componentes da fauna aqutica e, pelo efeito de
sombreamento, intercepta e absorve a radiao solar, o que tambm contribui para a
estabilidade trmica (Lima, 1989). A vegetao ripria, pelo efeito de interceptao (Figura
4), tambm dificulta a perda de calor da gua por irradiao noturna (Fritsons, 2003 apud
Fritsons et al., 2005).
33
Figura 4 - Influncia da floresta ciliar na irradiao solar e perda por irradiao noturna em rios.
Fonte: Fritzsons, (2003) apud Fritzsons et al., (2005)
Alguns autores destacam que esse efeito mais importante em rios pequenos ou de
cabeceiras (stream brooks), pois, devido influncia da entrada das guas subterrneas e do
sombreamento, freqentemente so menos variveis termicamente (Vannote e Sweeney, 1980
citados por Allan, 1995 apud Fritzsons et al., 2005). A temperatura das guas dos grandes rios
no comumente afetada por sombreamento, pois, devido ao seu grande volume, eles
possuem considervel inrcia termal. Assim, a variao da temperatura maior em rios de
tamanho intermedirio, como ilustra a figura 3, a qual relaciona o tamanho do rio ao nmero
de ordens e mxima variao da temperatura em graus Celsius.
Nakamura e Dokai (1989) apud Fritzsons et al. (2005) observaram que a temperatura
das guas do rio Honorai, no Japo, depois de passarem por uma rea de proteo das
florestas ciliares, se elevava, devido exposio direta aos raios do sol. No vero, o aumento
dirio mximo chegava a 4 C. Os autores tambm observaram que o efeito dessa cobertura
decrescia com a largura do rio. Assim, rios maiores estariam menos sujeitos s variaes
trmicas, como mostrado na figura 5.
34
Figura 5 - Variao mxima mdia da temperatura diria da gua (em c) em relao s ordens dos rios de clima temperados. Fonte: Vannote e Sweeney (1980)1, citados por Allan (1995) apud Fritzsons et al. (2005)
A retirada da floresta ciliar traz inmeras implicaes ecolgicas e microclimticas.
Nagasaka e Nakamura (1999) apud Fritzsons et al. (2005), estudaram as mudanas no sistema
hidrolgico e no ecossistema riprio quanto alterao no uso da terra, numa bacia no Japo.
Eles verificaram que a temperatura da gua no vero aumentou, em mdia, de 22 C em 1947,
para 28 C, 42 anos depois, o que gerou uma srie de interferncias na biota (por exemplo, o
desaparecimento de certas espcies de peixes, como os salmondeos).
Arcova e Cicco (1998) apud Fritzsons et al. (2005), em trabalho realizado em Cunha,
na bacia do rio Paraba do Sul, no estado de So Paulo, monitoraram a qualidade de gua em
7 microbacias com diferentes usos de solo, que incluam: floresta natural, pastagem,
agricultura e floresta natural associada ao reflorestamento, em diferentes combinaes. Como
resultado parcial, concluram que nas microbacias onde foram retiradas as florestas (matas
ciliares), houve elevao da temperatura da gua.
No se deve, todavia, concluir que a mera presena da mata ciliar seja suficiente para
sanar todos os problemas da poluio decorrente da atividade agrcola em uma microbacia, a
menos que outras medidas complementares de manejo adequado de uso do solo sejam
tomadas (Zakia, 1998). Omernik et al. (1981) apud Zakia (1998) selecionaram vrias
microbacias com diferentes graus de existncia de mata ciliar e analisaram, por regresso, os
dados da concentrao de N e P no deflvio destas bacias. Os 21 resultados no mostraram
correlao entre o grau de presena de mata ciliar e concentrao de nutrientes no deflvio.
35
2.1.4.2 Ciclagem de nutrientes
Esta funo no tem sido muito detalhada na literatura sobre matas ciliares, mas de
fundamental importncia para funcionamento do ecossistema como um todo. Os nutrientes
esto presentes em toda a cadeia alimentar, sendo que os seres vivos dependem deles para
completarem seus ciclos de vida (Lima e Zakia, 2004).
As florestas ciliares, por estarem prximas gua e por possurem uma diversidade
grande de espcies vegetais e animais, so ambientes geralmente ricos em nutrientes. Se por
um lado recebem nutrientes das guas nas situaes de inundao, por outro lado capturam
estes das reas terrestres adjacentes atravs de sua funo filtro. E atravs da dinmica da
vegetao e dos animais terminam por ciclar os mesmos nutrientes de forma muito eficiente
(Lima e Zakia, 2004).
A ciclagem de nutrientes refere-se s trocas qumicas entre solo e as plantas, em um
primeiro estgio atravs da absoro pelo sistema radicular seguida por sua distribuio entre
os diversos componentes da planta. Em um segundo estgio, transfere os nutrientes
absorvidos ao solo, atravs da deposio da serapilheira, lixiviao das folhas dos ramos e
troncos e pela ao das chuvas, alm da herbivoria e disseminao de frutos e sementes
(Poggiani & Schumacher, 2000).
Em florestas tropicais, tem-se estabelecido que as mesmas desenvolvem mecanismos
para conservar minerais essenciais devido s altas velocidades de decomposio e dos fluxos
de gua atravs do sistema. Assim, uma ciclagem, para ser considerada eficiente, dever
equilibrar as quantidades de nutrientes que entram no sistema e a quantidade destes nutrientes
que saem do mesmo. As florestas ciliares apresentam um padro onde a produo de
serrapilheira apresenta os maiores picos no inverno, que caracterizado pela ocorrncia de
dias mais curtos e baixa precipitao (Pagano & Durigan, 2001). Mas, como esto
freqentemente restritas a uma pequena faixa ao longo dos cursos dgua, estas relaes de
edio e perda de nutrientes do sistema, alm de complexas, so de difcil quantificao
(Delitti, 1989).
A perda de nutrientes com o arraste da serapilheira pelas guas dos rios em reas
inundveis. Faz com que as florestas ciliares sujeitas a esse processo tenham suas
comunidades vegetais freqentemente perturbadas, permanecendo indefinidamente em
estgios sussecionais intermedirios (Pagano & Durigan, 2001). Mas ao mesmo tempo estes
nutrientes levados com a serapilheira podem servir de alimento aos organismos aquticos.
36
Convm ressaltar que neste caso, o aporte de nutrientes pequeno comparado quele que
acompanha sedimentos oriundos de processos erosivos e, desta forma, no provoca
desequilbrios no ecossistema aqutico.
2.2 Qualidade e Quantidade gua
A gua um recurso nico cuja importncia transcede os demais recursos naturais,
considerada como fonte da vida e o vetor dos processos na natureza. Possui, ainda, a
propriedade de atuar como substncia indicadora dos resultados do manejo da terra pelo
homem (Marques et al., 2005).
Segundo o mesmo autor, a qualidade de um corpo dgua est ligada geologia, tipo
de solo, clima, tipo e quantidade de cobertura vegetal e ao grau e modalidade de atividade
humana dentro de uma bacia hidrogrfica.
A gua possui caractersticas qumicas e fsicas bastante especiais: um dos raros
compostos que se apresentam na forma liquida em condies naturais, apresenta grande
estabilidade, alta densidade, viscosidade e tenso superficial e ainda, um solvente universal.
Pelo seu poder de diluir e solubilizar praticamente todas as substancias, a gua desempenha
um importante papel como elemento de ligao entre os compartimentos ambientais. Tudo o
que ocorre na rea de drenagem ser refletido, direta ou indiretamente, na qualidade das guas
do seu corpo dgua (Marques et al., 2005).
Ao avaliar o potencial de desnifitricao e reteno de gua em solos hidromrficos
com diferentes tipos de vegetao, alguns autores concluram que as zonas riprias possuem
alto potencial para melhorar a qualidade da gua e manter a biodiversidade ripria quando a
microbacia possui vegetao diversa e estabilizada, corredores riprios naturais, resposta
hidrolgica do solo caracterizada por escoamento subsuperficial lento em solos saturados e
ricos em carbono (Ducros e Joice, 2003). Em constraste, segundo ainda os mesmos autores,
microbacias com uso intensivo agrcola, baixa diversidade de vegetao, solos com boa
drenagem e eroso, apresentam menor aptido para desenvolver um habitat ou benefcios para
qualidade da gua,
De acordo com outros estudos realizados observaram ainda que a vegetao ciliar
eficiente para a remoo de sedimentos e outros slidos em suspenso do escoamento
superficial, dependendo do tipo de manejo das partes cultivveis da microbacia. A eficincia
da filtragem diminui medida que os sedimentos so acumulados na vegetao (DILLAHA et
37
al., 1989; Peterjohn e Correl, 1984), e a remoo de nutrientes mais eficiente ocorre para o
nitrognio, seguido por clcio, cloro, magnsio, fsforo e potssio (Lowrance et al., 1984).
O efeito direto da mata ciliar na manuteno da qualidade da gua que emana da
microbacia tem sido demonstrado com mais facilidade em diversos experimentos. Esta funo
da zona ripria , sem dvida, de aplicao prtica imediata para o manejo de microbacias
(Kunkle, 1974).
A questo da qualidade das guas ganhou evidncia com a sano da Lei Federal n
9.433, de 8 de janeiro de 1997 que instituiu a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, tendo
como um dos fundamentos gerir tais recursos, proporcionando uso mltiplo, em consonncia
com objetivos que assegurem atual e s futuras geraes a necessria disponibilidade de
gua, em padres de qualidade adequados aos respectivos usos. Esse ponto demonstra a
preocupao com a integrao da gesto quanto aos aspectos de qualidade e quantidade,
destacando-se, tambm, o ponto em que uma das aes principais a integrao da gesto de
recursos hdricos com a gesto ambiental. A implementao do enquadramento dos corpos
de gua em classes, importante instrumento de gerenciamento de recursos hdricos da Lei
9.433, demanda um conhecimento da qualidade das guas a serem geridas e das influncias
ambientais e antrpicas capazes de alter-la. Dessa forma, possvel a utilizao das normas
de qualidade das guas, garantindo os padres para os usos mltiplos desejados pela
comunidade, preservando os aspectos qualitativos para a vida aqutica e demais usos
(Oliveira et al., 2004).
A forma como uma rea usada, influncia na quantidade e qualidade dos recursos
hdricos. A ocorrncia ou no de uma cobertura do solo, bem como com o tipo de cobertura,
correlaciona-se diretamente com o produto hdrico, que um reflexo do que se convencionou
chamar de sade hidrolgica da microbacia (Cf. Walling, 1980 citado por Freixdas, 2007).
Segundo a hidrologia florestal o deflvio o resultado do escoamento direto somado
ao do escoamento base. O escoamento direto o volume de gua que ocasiona o aumento
rpido da vazo nas microbacias aps as chuvas, e seus componentes principais: a
precipitao direta nos canais; o escoamento superficial e o escoamento subsuperficial. O
escoamento base aquele proveniente dos aqferos que emergindo nos canais de rios,
responsvel pela perenizao dos mesmos em pocas de estiagem (Lima, 1994; Lima &
Zakia, 2000).
Todavia, o escoamento direto no produzido em toda a rea da microbacia. Para
garantir o seu bom funcionamento, necessrio que se reconhea que existem reas
38
consideradas sensveis, chamadas de reas riprias. Entretanto, estas so de difcil delimitao
e caracterizao hidrolgica, pois variam em relao a plancie de inundao e ao padro
temporal (Lima, 1994; Zakia, 1998; Lima & Zakia, 2005).
As matas ciliares por serem tambm consideradas e descritas como reas de saturao,
participam do processo de escoamento direto na bacia hidrogrfica, principalmente nas
formas de escoamento superficial e subsuperficial, por serem reas que possuem baixa
capacidade de infiltrao. Geralmente em perodos de baixas precipitaes, apenas as zonas
saturadas localizadas as margens dos corpos dgua e suas cabeceiras, participam deste
processo (adaptado de Freixdas, 2007).
Porm estas reas de origem segundo (Lima, 1994; Lima; Zakia, 2000), se expandem
durante as chuvas, tanto a rede de drenagem, quanto outras reas crticas, incluindo as
concavidades do terreno e linhas de fluxo, reas de solo raso e reas encharcadas. Todas elas
passam a contribuir para a gerao do escoamento direto, influindo em funes hidrolgicas
fundamentais como picos de cheia, vazo, equilbrio trmico e ciclagem de nutrientes.
As reas riprias, desta forma possuem como caracterstica a saturao decorrente da
proximidade do lenol fretico durante a maior parte do ano, propiciando um predomnio de
espcies adaptadas a essa condio. A ausncia dessa vegetao ciliar, por sua vez provoca a
mdio e longo prazo uma degradao da zona ripria que passa a ter uma menor capacidade
de armazenamento na estao seca (Lima & Zakia, 2000).
Estudos tm demonstrado que a recuperao da vegetao ciliar contribui para com o
aumento da capacidade de armazenamento da gua na microbacia ao longo da zona ripria, o
que contribui para o aumento da vazo na estao seca do ano (Elmore & Beschta, 1987).
Esta verificao permite, talvez, concluir a respeito do reverso. Ou seja, a destruio da mata
ciliar pode, a mdio e longo prazos, pela degradao da zona ripria, diminuir a capacidade de
armazenamento da microbacia, e conseqentemente, a vazo na estao seca (Lima & Zakia,
2000).
Desse modo, a produo de gua na bacia encontra-se diretamente ligada ao uso da
terra. Devido a um estado extremamente dinmico e a contnua interdependncia de fatores
que influncia a bacia, a minimizao dos impactos antrpicos deve envolver um manejo
sistmico, baseado em conhecimentos interdisciplinares (Lima, 1994).
Estes conhecimentos se configuram de forma bastante dinmica em termos de
multidisciplinaridade, pois alm das informaes hidrolgicas, outros conhecimentos
39
temticos devem ser estudados como: clima, solos, geologia e tipos de vegetao, nos quais
podem se interagir de diversas formas dentro de uma bacia hidrogrfica.
A zona ripria que inclui a mata ciliar, em sua integridade constitui um ecossistema
que desempenha um dos mais importantes servios ambientais: a manuteno dos recursos
hdricos em termos de qualidade e quantidade de fundamental para garantir a
disponibilidade de gua para os mltiplos usos, tratando-se de uma questo fundamental para
a gesto atual destes recursos (Lima & Zakia, 2000).
2.3 Mata ciliar na Bacia do Ribeiro Lajeado -TO
Conforme estudo de caracterizao da vegetao realizada na rea de Proteo
Ambiental e Parque Estadual Serra do Lajeado o tipo fitofisionmico Mata Ciliar, ocorre ao
longo da bacia do Ribeiro Lajeado de forma descontnua, alternando com outras categorias
naturais e antrpicas com diferentes graus de alterao, conservao e expanso lateral, em
funo de aspectos fsicos do solo, relevo e aes antrpicas (TOCANTINS, 2003).
As aes antrpicas, como a substituio da vegetao natural na rea de preservao
permanente, promoveram modificaes na estrutura e composio florstica na Mata Ciliar do
Ribeiro Lajeado, aspectos observados com maior relevncia nos ambientes planos do mdio
e baixo Lajeado (TOCANTINS, 2003).
Nos ambientes conservados da borda do Ribeiro Lajeado, este tipo fitofisionmico
caracteriza-se pela presena de nesga de vegetao natural junto aos barrancos, onde as
espcies arbreas apresentam formas linheiras e s vezes irregulares em funo de fatores
fsicos como umidade, tipo de solo e maior incidncia de luz. O estrato herbceo/arbustivo
nesse ambiente rarefeito, havendo a presena mais acentuada de plntulas e plantas da
regenerao natural. Nesses ambientes as espcies de maior freqncia so: sessenta-galhas -
Hirtella martiana, ing-de-folha-lisa - Inga sp., cariperana Licania sp., pau-dleo -
Copaifera langsdorffii, enquanto que na borda de contato com a Mata Seca Semidecdua e
Decdua, nas reas de maiores cotas, maior a freqncia do pombeiro Tapirira guianensis
e da ucuba - Virola sebifera (TOCANTINS, 2003).
Ainda nas reas secas mais expandidas, entre 20 e 40 metros de largura, esta
formao abriga outras espcies alm das relatadas anteriormente. Em funo da densidade,
estas espcies apresentam formas linheiras e elevado porte, at 25 metros, o contrrio do que
ocorre imediatamente nas bordas. Dentre as espcies que se destacam no interior desta
formao citam-se jequitib - Cariniana estrellensis, jatob - Hymenaea courbaril, pau-ferro -
40
Caesalpinia sp. e garapa - Apuleia leiocarpa. O breu - Protium heptaphyllum tambm aparece
com elevada freqncia nesta formao, especialmente nas bordas de contato, apresentando,
entretanto, menor porte (TOCANTINS, 2003).
2.4 Bacias hidrogrficas: usos e gerenciamento
Apesar do quantitativo em temos percentuais de vegetao ciliar em torno dos
mananciais serem menores do que o total de vegetao em toda uma bacia hidrogrfica a
conservao e preservao da mesma so de fundamental importncia para a manuteno dos
recursos hdricos. As aes conservacionistas compreendem um conjunto de medidas que
possibilitam a gesto da oferta, ao aumentar a quantidade de gua disponvel nas bacias, por
meio da adequada recarga dos aqferos, e a melhoria de sua qualidade, ao reduzir os
processos erosivos e o volume de efluentes lanados nos corpos de gua.
A Lei Federal n 9.433/97 instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hdricos, que elegeu a bacia hidrogrfica como unidade territorial de atuao das polticas de
recursos hdricos, planejamento e gerenciamento. Assim, a gua passou a ser um bem natural
finito e vulnervel, de domnio pblico e com valor econmico, onde sua gesto deve ser
descentralizada e participativa (BRASIL, 1997).
Tucci (2001) define bacia hidrogrfica como um sistema fsico, onde a entrada o
volume de gua precipitado e a sada o volume de gua escoado pelo exultrio,
considerando-se como perdas intermedirias os volumes evaporados, transpirados e os
infiltrados profundamente.
Santos (2004) afirma que toda ocorrncia de eventos em uma bacia hidrogrfica, de
origem antrpica ou natural, interfere na quantidade e qualidade dos cursos dgua.
A importncia da qualidade da gua est bem conceituada na Poltica Nacional de
Recursos Hdricos (Lei Federal n 9.433/97, Art. 2, Cap. II, Tit. I), que define, dentre seus
objetivos, assegurar atual e s futuras geraes a necessria disponibilidade de gua, em
padres de qualidade adequados aos respectivos usos (BRASIL, 1997).
A melhor maneira de obter informaes sobre os recursos hdricos atravs do
monitoramento quantitativo e qualitativo, instrumento que possibilita a avaliao da oferta
hdrica, aproveitamento mltiplo e integrado da gua e a minimizao de impactos ao
ambiente (Peters e Ward, 2003).
41
A qualidade depende diretamente da quantidade de gua necessria para dissolver,
diluir e transportar as substncias benficas e malficas para o ecossistema (Braga et al.,
2002). Neste sentido, Calijuri e Bubel (2006) ressaltam que a geologia, solos, chuva e a
vegetao influenciam os processos de eroso, sedimentao e produtividade local de uma
bacia hidrogrfica.
Os impactos causados pela mudana do uso do solo certamente acarretaro alteraes
na superfcie da bacia, tendo impactos expressivos sobre todo o processo hidrolgico da bacia
(Tucci, 1998). Assim, pode-se relatar alteraes na interceptao da chuva pela cobertura
vegetal, atravs da retirada da cobertura natural, causando uma maior exposio do solo a
estes eventos, trazendo maior probabilidade de encrostamento superficial e conseqente
diminuio da taxa de infiltrao e aumento do escoamento superficial.
Por isso, os programas de gesto dos recursos hdricos tm dispensado especial
importncia ao planejamento do uso do solo, ou seja, tm dado nfase s medidas de carter
preventivo, mais eficientes e menos onerosas (Mota, 2003 apud Gomes et al., 2008).
Bruijnzeel (1996) apud Gomes et al., (2008) cita que praticamente todos os resultados
existentes sobre a influncia das modificaes do uso do solo associados s alteraes em
vazes, referem-se a pequenas bacias, onde se tm um maior controle dos eventos e aes,
bem como maiores homogeneidades pedo-geomorfolgicas e climticas.
A mesma idia compartilhada por Costa (2003) apud Gomes et al., (2008), onde o
efeito das mudanas do uso do solo em associaes com a alterao no comportamento da
vazo de difcil obteno, devido, sobretudo, alta diversidade espao-temporal dos tipos de
usos do solo, caractersticas vegetacionais, pedolgicas e climatolgicas para reas com
grandes extenses territoriais.
Costa et al., (2003) apud Gomes et al., (2008) chegaram concluso que nos ltimos
50 anos, devido s grandes mudanas do uso do solo ocorridas na bacia do rio Tocantins,
detectou-se efeitos no comportamento das vazes observadas. Neste sentido, Costa e Foley
(1997) apud Gomes et al., (2008), com o uso de modelos hidrolgicos, tentaram avaliar a
converso de reas florestais e cerrado para reas de pasto e para uma condio sem
cobertura. De acordo com estes mesmos autores, a completa retirada da floresta aumentaria
em 16% a vazo mdia anual para a estao fluviomtrica Porto Nacional, localizada a
montante da cidade de Palmas/TO.
Com a substituio de cerrado ou floresta por pasto, diminui a interceptao da gua
da chuva, o que leva a aumentar o escoamento superficial e a diminuio da infiltrao nestas
42
reas, causando uma diminuio das vazes mnimas e aumento das vazes mximas (Costa
et al. 2003 e Bruijnzeel, 1990 apud Gomes et al., 2008).
Neste sentido, com o solo mais exposto o mesmo ficar mais susceptvel s aes da
energia cintica associada a precipitaes e, conseqentemente, a capacidade de infiltrao
tender a ficar reduzida o que acarretar um aumento do escoamento superficial, com reduo
da alimentao do aqfero, aumentando, desta forma, as vazes mximas e reduzindo as
vazes mnimas (Gomes, et al. 2008).
Por outro lado, caso o solo permanea protegido das aes de precipitaes diretas no
mesmo, o excedente de precipitao que no evapotranspirado possui melhores condies
de se infiltrar e o aqfero ter uma maior recarga, aumentando, neste sentido, as vazes
mnimas e reduzindo as vazes mximas (Tucci, 1998).
43
3. METODOLOGIA
3.1. Estratgia Metodolgica
Para estruturao e realizao desta pesquisa e definio dos pontos de coletas,
buscou-se utilizar o mtodo de investigao que fosse mais adequado a cada etapa do
trabalho. Por ordem de desenvolvimento da pesquisa, foi realizado amplo levantamento
bibliogrfico em literaturas correlatas ao tema abordado, leitura em peridicos e artigos. Aps
a escolha do tema, foi feita a delineao de critrios para a escolha da bacia a ser estudada,
sendo realizadas visitas in loco na bacia e duas das suas importantes microbacias para fazer o
reconhecimento de campo. Foi ainda realizado o tratamento e georreferenciamento das reas,
no intuito de compar-las em termos percentuais. O acesso s reas de estudo mostrou que um
dos pontos escolhido tinha difcil acessibilidade. A partir desta etapa, definiu-se os pontos
amostrais e iniciou-se as coletas e posteriormente as anlises para comparao das reas com
os dados escolhidos. Nesta fase de anlise dos dados foram utilizados softwares estatsticos
visando a organizao e analises descritivas dos mesmos.
Necessrio se faz enfatizar que a seqncia de abordagens no foi necessariamente
linear, uma vez que ao longo do processo, consultas foram feitas literatura, outras visitas a
outros pontos e microbacias foram realizadas para checagem de informaes em campo e
mais facilidades de acesso s reas.
3.2. rea de Estudo
A Bacia do Ribeiro Lajeado (figura 6), possui uma rea de 612,77 Km2 e est
localizada entre as coordenadas geogrficas 10 1646 a 09 3906 de latitude sul e 48
2600 a 48 0234 de longitude oeste. Toda a sua bacia est contida na rea de Proteo
Ambiental - APA Serra do Lajeado, sendo que uma parte da mesma est localizada no Parque
Estadual do Lajeado-TO. A maior parte da bacia, inclusive sua foz junto ao Rio Tocantins,
est distribuda no municpio de Lajeado- TO, sendo que para a realizao do estudo
proposto, foram delimitados pontos na mesma, pertencentes ao municpio de Palmas-TO.
44
Figura 6 - rea de estudo Bacia do Ribeiro Lajeado TO.
O Parque Estadual do Lajeado tem como objetivo principal proteger amostras dos
ecossistemas da Serra do Lajeado, assegurando a preservao de sua flora, fauna e demais
recursos naturais, caractersticas geolgicas, geomorfolgicas, e cnicas, proporcionando
oportunidades controladas para visitao, educao e pesquisa cientfica. Tambm tem a
finalidade de proteger os mananciais que abastecem a cidade e coibir a expanso urbana nas
encostas. Foi criado pelo governo Estadual, atravs da Lei n 1.244, em maio de 2001 e fica a
cerca de 25 Km da Capital, pela estrada de Aparecida do Rio Negro. As figuras 7 e 8
demonstram as unidades de conservao contempladas na APA e no Parque Estadual do
Lajeado, onde os pontos amostrais foram delimitados (NATURATINS, 2009).
45
Figura 7 - Mapa das Unidades de Conservao da APA do Lajeado-TO. Fonte: (NATURATINS, 2009)
Figura 8 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo do Parque Estadual do Lajeado-TO. Fonte: (NATURATINS, 2009).
A bacia em estudo se desenvolve predominantemente no sentido sul/norte, com
formaes de serras, reas declivosas e escarpas. No que se refere a sistema virio e acesso
rodovirios, a rea de estudo interceptada pelas rodovias TO-050, 010, 020 e 030 que do
acesso s regies norte, sul e leste do Estado. O desnvel topogrfico entre as nascentes e a foz
da bacia de aproximadamente 500 m em seus quase 65.000 m de percurso, portanto uma
declividade mdia em torno de 0,8%. Dentre os seus principais afluentes, citam-se o Ribeiro
Agem, o Crrego Mutum e o Crrego Cedro. Normalmente essas drenagens possuem traos
encurvados, onde o arqueamento se d em sentido anti-horrio, cuja densidade baixa nas
partes mais altas e altas nas regies de encostas. Possui uma angularidade baixa, com tropia
unidirecional ordenada para noroeste (TOCANTINS, 2003; 2004).
De acordo com o mtodo de Thorthwaite, o clima da regio (C2rAa) umido
submido com pequena deficincia hdrica. A precipitao mdia anual em torno de 1600 a
1700 mm, a temperatura do ar mdia anual de aproximadamente 27 C, atingindo um
mximo no final do inverno, antes do incio das chuvas. Com temperaturas mximas absolutas
que superam os 41C, e do mais frio, maior que 18C. As formas de relevo predominantes so
46
as formas estruturais e as formas erosivas. As formas estruturais so formas de relevo cuja
topografia condicionada pela estrutura. Neste caso, processos morfodinmicos geram
formas de relevo em conformidade com a estrutura geolgica. As formas erosivas so
constitudas a partir de processos predominantemente erosivos, onde houve rebaixamento das
salincias, te