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PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Tese de Doutorado INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NO COMPORTAMENTO MECÂNICO E NAS TENSÕES RESIDUAIS DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇOS Cr-Mo TATIANE DE CAMPOS CHUVAS AGOSTO DE 2015

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NO … · TATIANE DE CAMPOS CHUVAS INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NOCOMPORTAMENTO MECÂNICO E NAS TENSÕES ... acima de tudo, por todo o carinho,

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PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE

PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

ESCOLA DE ENGENHARIA

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Tese de Doutorado

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO

NO COMPORTAMENTO MECÂNICO E NAS

TENSÕES RESIDUAIS DE JUNTAS

SOLDADAS DE AÇOS Cr-Mo

TATIANE DE CAMPOS CHUVAS

AGOSTO DE 2015

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TATIANE DE CAMPOS CHUVAS

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NOCOMPORTAMENTO MECÂNICO E NAS TENSÕES RESIDUAIS DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇOS Cr-Mo

Tese de Doutorado apresentada ao Programa

Francisco Eduardo Mourão Saboya de Pós -

Graduação em Engenharia Mecânica da UFF

como parte dos requisitos para a obtenção do

título de Doutor em Ciências em Engenharia

Mecânica.

Orientador(a): Maria da Penha Cindra Fonseca (PGMEC/UFF)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE NITERÓI, 21 DE AGOSTO DE 2015

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INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO NO COMPORTAMENTO MECÂNICO E NAS TENSÕES

RESIDUAIS DE JUNTAS SOLDADAS DE AÇOS Cr-Mo

Esta dissertação é parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de

DOUTOR EM ENGENHARIA MECÂNICA

Área de concentração: Mecânica dos Sólidos

Aprovada em sua forma final pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Profª. Maria da Penha Cindra Fonseca (D.Sc.)

Universidade Federal Fluminense

(Orientadora)

Prof. Sérgio Souto Maior Tavares (D.Sc.)

Universidade Federal Fluminense

Prof. Juan Manuel Pardal (D.Sc.)

Universidade Federal Fluminense

Prof. Hamilton Ferreira Gomes de Abreu (D. Sc.)

Universidade Federal do Ceará

Prof. Pedro Manuel Calas Lopes Pacheco (D. Sc.)

Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca

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Ao Meu Pai

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Agradecimentos

Primeiramente a Deus, pelo dom da vida. Pela força para vencer cada etapa e por ter a

oportunidade de viver/ter vivido cada momento de felicidade ao lado das pessoas que amo.

Aos meus pais, Nadyr e João, por me ensinarem as primeiras e grandes bases da vida: amor,

respeito e honestidade. Por estarem sempre ao meu lado, mesmo que apenas em meu coração

e, acima de tudo, pelo amor, carinho e atenção em todos os dias de minha vida.

Ao meu irmão Rodrigo Chuvas, por ser um grande protetor e conselheiro. Vivemos tantos

momentos juntos e sei que estará sempre ao meu lado, pois sei que somos, e sempre seremos,

grandes amigos.

À minha professora orientadora Dr.ª Maria Cindra: mais de 6 anos de convívio, quase que

diário, a quem não tenho palavras para agradecer o grande incentivo a minha vida

profissional, mesmo quando praticamente todos achavam que estava errada na minha

escolha. Sempre presente nas dificuldades, não importando quais fossem, profissionais ou

pessoais. Por todas as oportunidades, por todo conhecimento que vem me transmitido e,

acima de tudo, por todo o carinho, que só uma segunda mãe poderia passar.

Ao meu marido, Diogo Barbato, que acompanha e incentiva meu desenvolvimento pessoal e

profissional. Pela compreensão nas ausências e, principalmente, pelo amor que sinto cada dia

ao seu lado.

Ao Eng. Correia da Cruz, do ISQ Portugal, que prontamente disponibilizou os recursos

necessários para a realização de boa parte desse trabalho. Ao Dr. Manuel Gomes, meu

orientador de estágio ISQ, por todo o tempo e conhecimento dados durante todo o período

que estive no ISQ Portugal.

Aos meus amigos, em especial à minha amiga Elaine Melo. Foram muitos os momentos de

felicidades, mas também passamos por grandes perdas e derrotas, que um dia me fizeram

duvidar. Obrigada por não desistir de mim e por me mostrar que seria capaz. Obrigada pela

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paciência com meu mau humor matinal durante os 8 meses que estivemos juntas em Portugal

e por essa amizade que é tão forte e verdadeira quanto o amor de irmãs.

Aos funcionários do ISQ, que me receberam de braços abertos e por sempre estarem

dispostos a ajudar. Em especial, gostaria de agradecer aos grandes amigos que fiz: Inês e

Adilson, que além da valiosa ajuda no desenvolvimento desse trabalho, tornaram meus dias

mais alegres e me fizeram sentir parte da equipe LAMAT – Unidade de Ensaios Mecânicos.

Nossa amizade ficará para sempre e, quando quiserem, as portas estarão abertas. Saudades

enormes.

Em particular, quero agradecer a Eng. Marta Freitas, primeiramente pela competência

profissional, pois sem toda sua paciência, atenção, tempo e conhecimento técnico despedido

não teria conseguido realizar os ensaios de SPT. Por ir aos sábados, sem horas extras. Por me

levar para casa quando já era muito tarde e não havia autocarros. Por essa amizade construída

dia após dia e fortalecida na sinceridade das palavras e das ações.

À equipe do LAT, em especial ao aluno Mateus Campos, pela amizade e grande ajuda

dispensada durante grande parte do trabalho. Por me escutar nos momentos de desespero e

desabafo. Por todos os desenhos malucos e perfeitos que pedi para fazer e, prontamente (e

milagrosamente) realizou. Espero que sua carreira profissional, que está apenas começando,

seja de muito sucesso e saiba que sempre poderá contar comigo para o que for preciso.

Aos professores Dr. Sérgio Souto Maior Tavares e Dr. Juan Manuel Pardal, pela

disponibilização do LABMETT/UFF e ajuda para realização dos ensaios metalográficos e

para sanar “dúvidas técnicas”.

Ao Eng. Guttemberg Chagas da UTC Engenharia, por possibilitar a soldagem do aço P91.

Ao Eng. Pedro Garcia por acompanhar a soldagem de todas as juntas e por se responsabilizar

pela integridade das mesmas, mesmos que para isso tivesse que carrega-las de ônibus.

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Esta pesquisa foi financiada por uma bolsa CAPES.

Esta pesquisa foi, parcialmente, financiada por uma bolsa de

Doutorado Sandwich/CAPES. (Processo 8630/13-5).

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RESUMO

As propriedades mecânicas dos aços são influenciadas pela variação da temperatura,

pois à medida que a temperatura aumenta, a resistência mecânica diminui e o fenômeno de

fluência se evidencia. Assim, componentes expostos a elevados campos de temperatura e

pressão, como sistemas de tubulações de vapor das indústrias petroquímicas, possuem

rigorosos requisitos de resistência, principalmente à fluência, além de microestruturas

estáveis e um conjunto de propriedades que evitem falhas prematuras e catastróficas.

Contudo, alguns fatores metalúrgicos e mecânicos, ou a conjunção deles, podem influenciar

uma propriedade em detrimento de outra. Neste contexto, sendo a soldagem um dos

principais processos industriais de fabricação de estruturas e tubulações, é importante o

conhecimento detalhado das propriedades mecânicas da junta soldada, o que vem

estimulando o desenvolvimento de novos ensaios, capazes de extrair dados sobre as

propriedades mecânicas das diferentes regiões da junta, algumas vezes em serviço, como o

Small Punched Test (SPT). O objetivo do presente trabalho é a caracterização de juntas

soldadas de aços de alto cromo através da avaliação das propriedades mecânicas e de

resistência à fluência, bem como das tensões residuais associadas à soldagem Flux Cored e

Metal Cored, processos de alta produtividade, e tratamento térmicos destes materiais sob

diferentes faixas de temperatura. Os valores de resistência à tração em diferentes condições

de temperatura são comparados aos obtidos por meio do Small Punched Test a fim de

aprofundar o conhecimento sobre a eficiência dessa nova técnica. Os resultados mostraram

que as juntas soldadas possuem boa resistência mecânica e que as tensões residuais

provenientes da soldagem foram satisfatoriamente aliviadas pelo tratamento térmico,

resultando em maior ductilidade das juntas.

Palavras-Chave: aços Cr-Mo; Soldagem Metal Cored/Flux Cored; Small Puched Test;

propriedades mecânicas; fluência; tensões residuais.

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ABSTRACT

The mechanical properties of steel are influenced by temperature variation, because

as the temperature increases, the mechanical strength decreases and the creep phenomenon

becomes evident. Thus, components exposed to high fields of temperature and pressure, such

as steam piping systems of the petrochemical industry, have strict strength requirements,

especially creep, also stable microstructure and a set of properties that prevents premature

and catastrophic failure. However, some metallurgical and mechanical factors, or a

combination of them, may influence a property over another. In this context, as welding is

one of the main industrial processes of manufacturing structures and pipes, it is important the

detailed knowledge of the mechanical properties of the welded joint, which are stimulating

the development of new tests, able to extract data on the mechanical properties of different

regions of the joint, sometimes in service, such as Small Punched Test (SPT). The objective

of this study is the characterization of welded joints of high chromium steels by evaluating

the mechanical properties and creep resistance as well as the residual stresses associated with

Flux Cored & Metal Cored welding, high productivity processes, and thermal treatment of

these materials under different temperature ranges. The tensile strength values at different

temperature conditions are compared to those obtained by Small Punched Test in order to

deepen the knowledge about the efficiency of this new technique. The results have showed

that the welded joints have good mechanical strength and the residual stresses from welding

have been satisfactorily relieved by heat treatment, resulting in enhanced ductility of joints.

Keywords: Cr-Mo steel; Metal Cored / Flux Cored welding process; Small Puched Test;

mechanical properties; creep; residual stresses.

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SUMÁRIO

Lista de Figuras ...................................................................................................................... i

Lista de Tabelas ................................................................................................................... vii

Lista de Símbolos ................................................................................................................ viii

Capítulo 1. Introdução..........................................................................................................1

Capítulo 2. Revisão Bibliográfica

2.1. Aços Cr-Mo .................................................................................................................... 3

2.1.1.Soldagem dos aços Cr-Mo ............................................................................. 10

2.2. Tensões Residuais ........................................................................................................ 15

2.2.1. Tensões residuais em juntas soldadas............................................................ 19

2.2.2. Tensometria por difração de raios-X ............................................................ 22

2.3. Fluência ........................................................................................................................ 27

2.3.1. Ensaio de fluência ......................................................................................... 28

2.3.2. Mecanismos de fluência ................................................................................ 34

2.3.3. Resistência à fluência do aço P91 ................................................................. 38

2.4. Small Punched Test (SPT) ........................................................................................... 41

2.4.1. Propriedades mecânicas ............................................................................... 45

2.4.2. Resistência à fluência .................................................................................... 52

Capítulo 3. Materiais e Métodos

3.1. Materiais ....................................................................................................................... 55

3.1.1. ASTM A335 Grau P91 modificado ............................................................... 55

3.1.2. ASTM A335 Grau P92.................................................................................... 57

3.2. Soldagem das amostras ................................................................................................ 58

3.3. Análise das tensões residuais – aço P91 ...................................................................... 60

3.4. Propriedades Mecânicas ............................................................................................... 63

3.4.1. Ensaios de tração .......................................................................................... 63

3.4.2. Ensaios de fluência ........................................................................................ 65

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3.5. Ensaios de Small Punched ........................................................................................... 67

Capítulo 4. Resultados e Discussões ................................................................................. 71

4.1. Caracterização microestrutural ..................................................................................... 72

4.1.1 Aço ASTM A335 P91 modificado ................................................................... 72

4.1.2 Aço ASTM A335 P92....................................................................................... 78

4.2. Tensões residuais – aço P91 ......................................................................................... 81

4.3. Propriedades mecânicas – Ensaios convencionais ....................................................... 89

4.3.1 Propriedades mecânicas - Aço P91 ............................................................... 89

4.3.2 Propriedades mecânicas - Aço P92 ............................................................... 99

4.4. Ensaios de fluência ..................................................................................................... 102

4.5. Ensaios de Small Punched ......................................................................................... 114

Capítulo 5. Conclusões..................................................................................................... 135

Capítulo 6. Sugestões para Trabalhos Futuros ............................................................ 138

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 139

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Lista de Figuras

Figura 2.1 - Limite de resistência à fluência para 105 horas de serviço dos materiais para altas

temperaturas (Fonte: VonHenge & Bendick, 2001) ............................................................... 6

Figura 2.2 - (a) Partícula da fase Z após tratamento térmico a 800 °C (b) carbonitreto MX

precipitado após tratamento térmico a 850 °C, ambos de aço T122 (Fonte: Danielsen & Hald,

2009) ...................................................................................................................................... 8

Figura 2.3 - Mudanças microestruturais ao longo da ZTA de juntas soldadas de aços com

baixo C (Fonte: Larsson, 2012 modificado) ........................................................................ 11

Figura 2.4 - Localização e orientação dos tipos de fratura na junta soldada (Fonte: Larsson,

2012 modificado) ................................................................................................................. 12

Figura 2.5 - Superposição das tensões residual e aplicada (Fonte: Lu, 2002 modificado) ...16

Figura 2.6 - Superposição das TR dos tipos I, II e III (Fonte: Withers & Bhadeshia, 2001)

.............................................................................................................................................. 17

Figura 2.7 - Interação entre tempo, temperatura, deformação e microestrutura no material

(Fonte: Bhadeshia, 2002 modificado) .................................................................................. 18

Figura 2.8 - Distribuição das tensões residuais em juntas de topo de processo a arco

convencional: (C) contração, (R) Resfriamento superficial mais intenso e (T) Transformação

de fase (Fonte: Macherauch & Wohlfahrt, 1977) ................................................................. 20

Figura 2.9 - Princípios da medição por raio-X (Fonte: Manual XStress 3000) .................... 23

Figura 2.10 - Sistema de coordenadas polares (Fonte: Cindra Fonseca, 2000) .................... 26

Figura 2.11 - Estado de tensão do material em função do declive da curva 2𝜃 vs 𝑠𝑒𝑛2𝜓

(Fonte: Cindra Fonseca, 2000) ............................................................................................. 27

Figura 2.12 - Corpo de prova padrão de ensaio de fluência (Fonte: Hyde et al., 2010) ....... 28

Figura 2.13 - Curva padrão de um ensaio de fluência convencional (Fonte: Garcia et al., 2012,

modificado) .......................................................................................................................... 29

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Figura 2.14 - Curva log 𝜎 vs log 𝑡 para aços P91 (a) temperaturas de 550, 600 e 650 °C e (b)

dados experimentais reunidos da literatura para de temperaturas entre 500 e 700 °C

(Haarmann et al., 2000 e Haney et al. 2009 modificados) ................................................... 31

Figura 2.15 - Curva Monkman-Grant para o aço T91 entre as temperaturas 500 e 625 °C

(Haneyet al., 2009 modificado) ............................................................................................ 34

Figura 2.16 - Modelos que explicam o processo de escalagem como controlador da

deformação por fluência (Fonte: Miranda et al., 1983) ........................................................ 35

Figura 2.17 - Mapa de deformação de Ahshy para tungstênio (Fonte: Meyers & Chawla,

1998, modificado) ................................................................................................................ 37

Figura 2.18 - Curvas tempo vs tensão para aços T/P1 sob diferentes temperaturas (Haney et

al., 2009 modificado) ........................................................................................................... 39

Figura 2.19 - Comparação dos valores de tempo de ruptura de juntas soldadas com o metal

de base para diferentes temperaturas (Haarmann et al., 2000 modificado) .......................... 40

Figura 2.20 - (a) Esquema para o ensaio em miniatura; (b) curva típica obtida no ensaio de

MDBT com diferentes temperaturas e diâmetro do punção (Fonte: Manahan et al., 1981,

modificado) .......................................................................................................................... 42

Figura 2.21 - Curvas deslocamento vs carga para diferentes temperaturas (Fonte: Baik et al.,

1983, modificado) ................................................................................................................ 43

Figura 2.22 - Dimensões (em mm) padrão das amostras para ensaio de SPT (Fonte: Hyde &

Sun, 2011 modificado) ......................................................................................................... 45

Figura 2.23 - Esquema simplificado do equipamento para ensaio de SPT (Fonte: Hyde &

Sun, 2010 modificado) ......................................................................................................... 46

Figura 2.24 - Curva obtida através do ensaio de SPT para um material dúctil em temperatura

ambiente (Fonte: García et al., 2014) ................................................................................... 47

Figura 2.25 - Diferentes propostas para a determinação de 𝑃𝑦 (Fonte: García et al., 2014

modificado) .......................................................................................................................... 49

Figura 2.26 - Obtenção de 𝛼1através da relação entre 𝑃𝑦 𝑡2⁄ e 𝑃𝑦 através do método de Mao

(Fonte: García et al., 2014, modificado) .............................................................................. 51

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Figura 2.27 - Curvas de fluência para diferentes regiões de junta soldadas de aço P91 obtidas

através de SPT (Fonte: Hyde & Sun, 2009) ......................................................................... 53

Figura 3.1 - Junta tubular soldada: (a) detalhamento da junta (mm); (b) sequência de passes

.............................................................................................................................................. 58

Figura 3.2 - Detalhamento do chanfro para as juntas de aço P92 (unidades em mm) ........ 59

Figura 3.3 - Analisador de tensões XStress3000 ................................................................. 62

Figura 3.4 - Representação esquemática da meia-cana soldada mostrando a localização

(pontos vermelhos e ângulos) das medidas de TR (a) no acabamento; (b) na raiz ............... 63

Figura 3.5 - Detalhamento dos cp´s de tração (unidades em mm) ........................................ 64

Figura 3.6 - (a) Máquina de tração utilizada nos ensaios convencionais de tração; (b) detalhe

do posicionamento do cp nos ensaios de tração em altas temperaturas ................................ 65

Figura 3.7 - Corpo de prova de fluência (unidades em mm) ................................................ 66

Figura 3.8 - (a) Máquina de fluência utilizada nos ensaios convencionais; (b) detalhe do

posicionamento do cp ........................................................................................................... 67

Figura 3.9 - Desenho esquemático do corte para a obtenção dos cp´s de SPT ..................... 68

Figura 3.10 - (a) Máquina de tração com sistema de SPT acoplado; (b) detalhe do sistema de

SPT ...................................................................................................................................... 69

Figura 4.1 - Macrografia esquemática da junta soldada de aço P91 (unidades em mm) ..... 72

Figura 4.2 - Perfil microestrutural da raiz da junta pós soldagem ....................................... 73

Figura 4.3 - Microscopia do metal de base do aço P91 ....................................................... 74

Figura 4.4 - Metal de solda (a) como soldado; (b) após o TTPS ......................................... 75

Figura 4.5 - ZTA de grãos grosseiros: (a) como soldado; (b) após o TTPS ........................ 75

Figura 4.6 - ZTA de grãos finos: (a) como soldado; (b) após o TTPS ................................ 76

Figura 4.7 - Perfis de microdureza Vickers para as juntas soldadas de aço P91 (a) no

acabamento, (b) na camada intermediária e (c) na raiz ......................................................... 77

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Figura 4.8 - Macrografia esquemática da junta soldada de aço P92 ................................... 79

Figura 4.9 - Microscopia do metal de base (aumento de 500x) .......................................... 79

Figura 4.10 - (a) Metal de solda (a) e (b) ZTA (aumento de 500x) .................................... 80

Figura 4.11 - Perfis de microdureza Vickers para as juntas soldadas de aço P92 (a) no

acabamento e (b) na raiz ....................................................................................................... 81

Figura 4.12 - Influência do processo de corte nas tensões residuais transversais ao cordão de

solda na superfície das juntas (a) amostra 1A e (b) amostra 1B ........................................... 82

Figura 4.13 - Perfil das tensões residuais transversais ao cordão de solda no acabamento das

juntas: (a) amostra 1; (b) amostra 2 ..................................................................................... 83

Figura 4.14 - Perfil das tensões residuais transversais ao cordão de solda na raiz das juntas:

após soldagem (a) amostra 1A; (b) amostra 1B; (c) amostra 2A; (d) amostra 2B ................ 86

Figura 4.15 - Perfil das tensões residuais transversais ao cordão de solda na raiz das juntas:

após TTPS ............................................................................................................................ 88

Figura 4.16 - Taxa de aquecimento dos cp´s para ensaio de tração ...................................... 91

Figura 4.17 - Curvas tensão-deformação do metal de base do aço P91 para diferentes

temperaturas ........................................................................................................................ 92

Figura 4.18 - Tensão limite de escoamento – aço P91 ........................................................ 93

Figura 4.19 - Macroscopia da região de fratura do cp sem TTPS a 600ºC ......................... 94

Figura 4.20 - Tensão limite de resistência – aço P91 .......................................................... 94

Figura 4.21 - Aço P91: (a) alongamento e (b) redução de área ............................................ 95

Figura 4.22 - Imagens de MEV da fratura de cp de tração em temperatura ambiente na

condição pós soldagem com diferentes aumentos (a) 35x; (b) 500x e (c) 1000x, na região

dúctil .................................................................................................................................... 97

Figura 4.23 - Imagens de MEV da fratura de cp de tração em temperatura ambiente na

condição após TTPS com diferentes aumentos (a) 35x; (b) 500x e (c) 1000x

.............................................................................................................................................. 98

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Figura 4.24 - Aço P92: (a) tensão limite de escoamento e (b) tensão limite de resistência

............................................................................................................................................ 100

Figura 4.25 - Aço P92: (a) alongamento e (b) redução de área ......................................... 101

Figura 4.26 - Curvas de fluência à temperatura de 550 °C: (a) pós soldagem e (b) com TTPS

............................................................................................................................................ 103

Figura 4.27 - Curvas de fluência à temperatura de 600 °C: (a) pós soldagem e (b) com TTPS

............................................................................................................................................ 105

Figura 4.28 - Comparativo do tempo de ruptura por fluência das juntas soldadas com dados

do metal de base da literatura apresentado por Haney et al. (2009): (a) 550°C e (b) 600°C

............................................................................................................................................ 107

Figura 4.29 - Curvas de fluência a 550 °C: (a), (b) e (c) condição como soldado; (d), (e) e (f)

após TTPS .......................................................................................................................... 109

Figura 4.30 - Curvas de fluência a 600 °C: (a), (b) e (c) condição como soldado; (d), (e) e (f)

após TTPS .......................................................................................................................... 110

Figura 4.31 - Curvas Monkman-Grant para as juntas soldadas nas condições pós soldagem e

após TTPS .......................................................................................................................... 112

Figura 4.32 - Comparativo da relação de Monkman-Grant entre as juntas soldadas após TTPS

e a curva para o material de base apresentada por Haney et al. (2009) .............................. 113

Figura 4.33 - Curvas de SPT para o metal de base do aço P91 .......................................... 115

Figura 4.34 - Curvas de SPT para o metal de base do aço P92 .......................................... 116

Figura 4.35 - Detalhamento da região elástica das curvas de SPT para o metal de base (a) aço

P91 e (b) aço P92 ................................................................................................................ 117

Figura 4.36 - Determinação da carga para obtenção do limite de escoamento do material

segundo o método de Mao e CEN ....................................................................................... 118

Figura 4.37 - Determinação da carga para obtenção do limite de escoamento do material

segundo o método de desenvolvido por García et al. (2014) - t/10 ..................................... 119

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vi

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Figura 4.38 - Curva 𝑃𝑦 𝑡2⁄ vs tensão limite de escoamento para a obtenção de 𝛼1 através do

método de Mao .................................................................................................................. 121

Figura 4.39 - Curva 𝑃𝑦 𝑡2⁄ vs tensão limite de escoamento para a obtenção de 𝛼1 através do

método de CEN ................................................................................................................. 121

Figura 4.40 - Curva 𝑃𝑦 𝑡2⁄ vs tensão limite de escoamento para a obtenção de 𝛼1 através do

método de t/10 ................................................................................................................... 122

Figura 4.41 - Curva 𝑃𝑚á𝑥 𝑡2⁄ vs tensão limite de resistência para a obtenção de 𝛽1 e 𝛽2

............................................................................................................................................ 124

Figura 4.42 - Curvas de SPT para a região do MS do aço P91 (a) como soldado e (b) após

TTPS ................................................................................................................................. 125

Figura 4.43 - Curvas de SPT para a região do MS do aço P92 ......................................... 126

Figura 4.44 - Curvas de SPT para a região da ZTA após TTPS do aço P91 (a) ZTA-GG e (b)

ZTA-GF ............................................................................................................................. 127

Figura 4.45 - Curvas de SPT para a região da ZTA do aço P92 (a) ZTA-GG e (b) ZTA-GF

............................................................................................................................................ 128

Figura 4.46 - MEV das fraturas dos cp´s de SPT após tratamento térmico, mostrando à

esquerda o cp fraturado e à direita a região da fratura: (a) MB e (b) MS .......................... 130

Figura 4.47 - MEV das fraturas dos cp´s de SPT após tratamento térmico, mostrando à

esquerda o cp fraturado e à direita a região da fratura: (a) ZTA-GG e (b) ZTA-GF ......... 131

Figura 4.48 - Influência dos parâmetros de ensaio nas curvas de SPT (a) espessura do cp e

(b) velocidade de deslocamento do punção (temperatura ambiente) .................................. 132

Figura 4.49 - Teste de fluência no metal de solda do aço P91 com SPT ............................ 134

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vii

vii

Lista de Tabelas

Tabela 3.1 - Composição química do aço ASTM A335 P91 (% de peso) ........................... 56

Tabela 3.2 - Composição química do eletrodo de raiz E90C-B9 (% de peso) .................... 56

Tabela 3.3 - Composição química do eletrodo de enchimento E91T1-B9 (% de peso) ...... 56

Tabela 3.4 - Propriedades mecânicas dos materiais ............................................................. 57

Tabela 3.5 - Composição química do aço P92 (% de peso) ................................................. 57

Tabela 3.6 - Propriedades mecânicas do material ASTM A335 P92 ................................... 57

Tabela 3.7 - Descrição das etapas de obtenção das amostras soldadas de aço P91 e medição

das TR .................................................................................................................................. 61

Tabela 3.8 - Parâmetros para medição das tensões residuais ............................................... 62

Tabela 3.9 - Parâmetros usados nos ensaios de fluência ...................................................... 66

Tabela 4.1 - Propriedades mecânicas do metal de base do aço P91 ..................................... 90

Tabela 4.2 - Propriedades mecânicas do metal de base do aço P92 .................................... 99

Tabela 4.3 - Valores de taxa mínima de deformação e tempo de ruptura dos ensaios de

fluência .............................................................................................................................. 111

Tabela 4.4 - Estimativa do tempo de ruptura para os ensaios interrompidos .................... 113

Tabela 4.5 - Cargas para determinação do limite de escoamento obtidas através dos ensaios

de SPT para os metais de base ............................................................................................ 120

Tabela 4.6 - Valores da constante 𝛼1 obtidos para a determinação do limite de escoamento

dos materiais ...................................................................................................................... 122

Tabela 4.7 - Valores de limite de escoamento obtidos no ensaio de SPT – aço P91 ......... 128

Tabela 4.8 - Valores de limite de resistência obtidos no ensaio de SPT – aço P91 ........... 129

Tabela 4.9 - Valores de limite de escoamento obtidos no ensaio de SPT – aço P92 ......... 132

Tabela 4.10 - Valores de limite de resistência obtidos no ensaio de SPT – aço P92 ......... 132

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viii

Lista de Símbolos

A Área

F Força

d Distância interplanar

Deformação

Tensão

E Módulo de elasticidade

Ângulo de difração

Coeficiente de atrito

Comprimento de onda

SMAW Shielded Metal Arc Welding

GTAW Gas Tungsten Arc Welding

GMAW Gas Metal Arc Welding

𝑀𝑖 Temperatura de início da transformação martensítica

𝑀𝑓 Temperatura de término da transformação martensítica

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Capítulo 1

Introdução

Os componentes expostos a elevados campos de temperaturas, tais como os

sistemas de tubulações de vapor das indústrias petroquímicas, possuem rigorosos

requisitos de resistência à fluência e à fadiga em altas temperaturas, além de

microestruturas estáveis e um conjunto de propriedades que evitem falhas prematuras e

catastróficas.

Sendo a soldagem um dos principais processos industriais de fabricação de

estruturas e tubulações, o conhecimento das tensões residuais provenientes desse

processo é de fundamental importância, pois a resistência mecânica dos componentes

soldados não é apenas determinada pelas microestruturas presentes na junta, mas também

pelas tensões residuais introduzidas pelo ciclo térmico heterogêneo durante o processo.

A compreensão da distribuição, natureza e magnitude das tensões residuais pode ser

obtida a partir de medições experimentais e estudos teóricos, que no âmbito de uma

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abordagem conjunta de diferentes técnicas de caracterização e análises das propriedades,

possibilita o sucesso do projeto e da operação de uma instalação industrial.

A variação da temperatura em componentes carregados influencia a resistência do

material, pois à medida que a temperatura aumenta, a resistência mecânica diminui e o

fenômeno de fluência fica mais evidente. Entretanto, alguns fatores metalúrgicos e

mecânicos, ou a conjunção deles, podem influenciar uma propriedade em detrimento de

outra. Neste contexto, é importante o conhecimento das propriedades mecânicas da junta

soldada, o que vem estimulando o desenvolvimento de novos ensaios, capazes de extrair

as propriedades mecânicas de regiões diferenciadas da junta, como o ensaio denominado

Small Punched Test – SPT. Contudo, ainda é necessário detalhar a influência dos

parâmetros de ensaio nos valores de resistência obtidos e correlacioná-los, de maneira

eficaz, aos ensaios convencionais utilizados.

O objetivo do trabalho é a caracterização de juntas soldadas de aços de alto cromo

- ASTM P91 e P92, pelos processos Flux Cored e Metal Cored, que são de alta

produtividade, através da avaliação das propriedades mecânicas em altas temperaturas e

resistência à fluência, bem como das tensões residuais associadas à soldagem e

tratamentos térmicos destes materiais. Os resultados das propriedades mecânicas, obtidos

por meio dos ensaios convencionais, são correlacionados com os obtidos por meio do

ensaio em miniatura – Small Punch, a fim de aprofundar o conhecimento sobre a

eficiência dessa nova técnica, o que constitui, juntamente com os processos de soldagem

empregados, o aspecto de originalidade deste estudo.

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Capítulo 2

Revisão Bibliográfica

2.1. Aços Cr-Mo

As necessidades das usinas de energia e centrais de abastecimento da indústria

petroquímica têm impulsionado pesquisas para desenvolvimento de novos aços, com

requisitos de resistência em elevadas temperaturas, a fim de aumentar a eficiência térmica

das mesmas e, assim, minimizar os impactos ambientais causados, principalmente, pela

emissão de CO2 na atmosfera (Narasimhachary & Saxena, 2013). Dentre esses novos

materiais, os de baixo carbono, contendo elementos formadores de carbonetos, tais como

Cr, Mo e V, vêm sendo empregados em estruturas onde a fadiga e a fluência, fenômeno

pelo qual os materiais se deformam quando sujeitos a elevadas tensões combinadas com

elevadas temperaturas, são as principais causas de falhas.

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Historicamente, a adição de molibdênio nos aços levou ao acréscimo de

resistência à fluência dos mesmos, por este ser um elemento endurecedor por solução

sólida. Entretanto, a perda de ductilidade com o aumento do teor deste elemento e a

limitação do uso em temperaturas elevadas, devido à decomposição dos carbonetos de

ferro para temperaturas superiores a 500°C, estimularam o desenvolvimento dos aços

ligados ao cromo e molibdênio (Cr-Mo). A inserção de cromo às ligas permitiu a

utilização em temperaturas acima dos 500ºC, por possibilitar a formação de carbonetos

mais estáveis, além de conferir um aumento da resistência à oxidação e corrosão (Von

Henge & Bendick, 2001; Danielsen & Hald, 2009).

Os aços ligados ao Cr-Mo começaram a ser utilizados na década de 20 nas

indústrias de geração de energia, químicas e petroquímicas. Por volta de 1940, os aços

ferríticos 2,25Cr-1Mo (ASTM P22) e X11CrMo9-1 (ASTM P9) foram introduzidos em

aplicações nas usinas, permitindo operação em temperaturas superiores (até 538ºC) e,

assim, obtendo uma maior eficiência energética (Oliveira, 2010; Von Henge & Bendick,

2001). Posteriormente, os aços 7CrMoVTiB10-10 (ASTM T/P24) e T/P23, com

microestruturas semelhantes ao T/P22, mas com propriedades mecânicas superiores

começaram a ser aplicados em componentes sob pressão, devido à adição de outros

elementos de liga como o titânio, vanádio e boro (Danielsen & Hald2009; Bendick et al.,

2007).

No final da década de 70, foram desenvolvidos nos EUA aços com teores de

cromo acima de 9% e de microestrutura ferrítica/martensítica, como o aço ASTM Grau

91 (X10CrMoVNb9-1, conforme a norma EN 10216-2). Esses aços são resultado da

modificação da composição química do aço convencional, Grau 9, através de pequenas

adições de nióbio e vanádio, que melhoraram a resistência à fluência dos mesmos

(Arivazhagan et al., 2009). Assim, em virtude de suas excelentes propriedades mecânicas

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em temperaturas elevadas, aliadas à boa trabalhabilidade e soldabilidade, esses aços

foram adotados para aplicações em novas usinas de energia (Vaillant et al., 2008).

Paralelamente, pesquisas realizadas no Japão convergiram para a produção de

novas classes de aços ao cromo, tais como o T/P911 (X11CrMoWVNb9-1-1) e o NF616,

designado como Grau 92 na especificação ASTM, com melhores propriedades mecânicas

em altas temperaturas. Por apresentarem aumento na resistência à deformação, a

aplicação destes aços possibilitou uma redução considerável na espessura das paredes dos

tubos e, consequentemente, melhorando sua resistência à fadiga térmica, sendo

empregados em zonas de maior temperatura, como em superaquecedores (Vaillant et al.,

2008; Falat et al., 2009). Na Europa, estudos levaram ao desenvolvimento do aço E911

(9Cr, 1Mo, 1W) de características semelhantes ao P92.

Na Figura 2.1 está representada a evolução do limite de resistência à fluência de

alguns materiais utilizados em plantas de energia com relação às temperaturas de 500 e

550ºC.

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Figura 2.1 - Limite de resistência à fluência para 105 horas de serviço dos materiais para

altas temperaturas (Fonte: VonHenge & Bendick, 2001).

A seleção dos aços de alto Cr para plantas de energia, segundo Kannan et al.

(2013), é baseada principalmente em uma boa combinação de propriedades mecânicas,

alta condutividade térmica, baixo coeficiente de expansão térmica e boa resistência à

fratura por corrosão em sistemas contendo vapor de água, em comparação com os aços

inoxidáveis austeníticos, além de apresentarem boa soldabilidade e estabilidade

microestrutural no decorrer de longos períodos de exposição a altas temperaturas.

Em decorrência da aplicação em condições de temperatura elevada, os aços podem

sofrer deformação por fluência, principalmente através dos mecanismos de difusão e

movimentação de discordâncias. Dessa maneira, a adição de elementos de liga

formadores de carbonetos é de grande importância tendo em vista que os mesmos travam

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o processo de fluência, pois dificultam o movimento dos contornos de grão e, por

consequência, a deformação - endurecimento por precipitação (na matriz e nos contornos

de grão). O molibdênio é mais aplicado que os demais elementos (Ti, V, W e Nb) por

conferir maior resistência à fluência quando adicionado de 0,5 e 1% (Oliveira, 2010).

Nos aços 9-12% Cr, classe mais recente de aços usados na indústria energética, o

tipo de carboneto mais estável é o M23C6, que precipita preferencialmente nos contornos

de grãos da austenita primária e nas fronteiras das ripas de martensita dos referidos aços.

O carboneto M23C6 apresenta uma microestrutura cúbica, constituída em grande parte de

Cr e C, contudo também apresenta pequenas quantidades de Fe, Mo, W e B. Alguns

autores, como Hald (2008), relatam que ao longo do tempo ocorre o coalescimento do

carboneto M23C6 no aço P91, diminuindo drasticamente a resistência à fluência dos

mesmos. Nos aços P92 esses carbonetos são muito mais estáveis, em virtude da adição

de boro, mas ainda não está bem estabelecido como esse elemento influencia na

estabilidade dos mesmos.

Agüero et al. (2013) descreveram que, em geral, é necessário que o aço apresente

valores de cromo acima de 9%, em peso, para que as taxas de oxidação a 650ºCsejam

aceitáveis. Entretanto esse elevado teor de Cr é prejudicial para a resistência à fluência,

devido à precipitação da fase Z (Figura 2.2a) em detrimento dos carbonetos e

carbonitretos.

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(a) (b)

Figura 2.2 - (a) Partícula da fase Z após tratamento térmico a 800 °C (b)

carbonitreto MX precipitado após tratamento térmico a 850 °C, ambos de aço

T122(Fonte: Danielsen & Hald, 2009)

A presença da fase Z, um complexo nitreto, nos aços de alto cromo foi relatada

pela primeira vez por volta dos anos 80 e foi associada com uma microestrutura instável.

A precipitação da fase Z nos contornos de grãos dos aços 9-12% Cr ocorre em detrimento

dos carbonitretos MX (Figura 2.2b), que auxiliam fortemente na resistência à fluência dos

aços em temperaturas elevadas, pois as partículas da fase Z são muito grandes e podem

consumir mais de mil partículas MX. Por esta razão, a degradação das propriedades do

aço ocorre de maneira rápida (Armaki et al., 2010).

Danielsen & Hald (2009) mostraram que a nucleação da fase Z está diretamente

ligada ao teor de Cr, que acelera a precipitação dessa fase. Os autores relataram ainda que

nos aços P91 e o P92 a precipitação da fase Z começa entre 30 a 40 mil horas a 650 °C,

dependendo das condições pressão do componente em uso.

A precipitação de intermetálicos, como o (Fe, Cr)2(Mo, W), denominado de Fase

de Laves também pode causar alterações significativas nos aços de elevado teor de Cr

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durante o processo de fluência. O efeito da Fase de Laves na resistência à fluência do aço

pode ser positivo ou negativo, dependendo do tamanho, distribuição e velocidade de

coalescimento da fase na microestrutura, sendo que a deformação plástica acelera a taxa

de coalescimento desse precipitado, fragilizando o material (Falat et al., 2009).

Em 1984, a ASTM aprovou o aço 9Cr-1Mo modificado para uso em tubulações,

sendo codificado como A335 P91. Estes aços contêm cerca de 9 % de cromo, 1 % de

molibdênio, contando com a adição de outros elementos como vanádio, nióbio e

nitrogênio para garantir a resistência à fluência, sendo o elevado teor de cromo

responsável pela resistência à oxidação (Guodong Zhang et al., 2011).

Nas modernas caldeiras, que operam com combustíveis fósseis, a temperatura de

operação fica por volta de 550°C. Entretanto, a temperatura máxima de trabalho é

limitada em cerca de 610ºC, dependendo de fatores como o fluxo de calor e taxa de

corrosão. O aço P91 é aplicado basicamente em áreas de serviço em condições extremas

de caldeiras e instalações petroquímicas, como superaquecedores e reaquecedores. A

excelente resistência à fluência e à corrosão destes aços, quando comparadas ao P22, por

exemplo, permitiu a diminuição da espessura de parede de equipamentos e tubulações, o

que resultou na recomendação para uso em paredes d’água de caldeiras, que operam com

carvão altamente corrosivo (Kumar et al., 2010; Vaillant et al., 2008).

Nas centrais de abastecimento da indústria petroquímica o aço ASTM A335 P92

é utilizado em decorrência de sua excelente combinação de elevada resistência à corrosão,

à deformação e à fluência em condições de temperaturas acima de 600ºC (Lei Zhao et al.,

2012). Esse aumento na temperatura de trabalho foi conseguido através da adição de boro

(B), que estabiliza os precipitados dispersos de maneira uniforme nos contornos de grãos

(como carbonitretos MX e carbonetos M23C6), reforçando e estabilizando a

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microestrutura, fixando os limites dos grãos e bloqueando o movimento das discordâncias

em temperaturas da ordem de 650°C (Shengzhi Li et al., 2013; Kunz & Lukas, 2002).

2.1.1. Soldagem dos aços Cr-Mo

Processos convencionais de soldagem, tais como eletrodo revestido (SMAW),

TIG (GTAW) e MIG/MAG (GMAW) têm sido usados na soldagem dos aços Cr-Mo.

Durante a soldagem desses aços uma série de variáveis deve ser cuidadosamente

considerada, tais como pré e pós-aquecimento, energia de soldagem, morfologia do

cordão, restrições de composição química dos consumíveis, tratamento térmico pós-

soldagem, que garantem a qualidade do material depositado e a integridade da junta

soldada (Arivazhagan et al., 2008).

É comum que os componentes de aço Cr-Mo soldados apresentem boas

propriedades à temperatura ambiente durante os testes hidrostáticos ou start-up, por

exemplo. Contudo, não é possível afirmar que na temperatura de trabalho não ocorram

falhas prematuras. Assim, para minimizar a possibilidade de fratura frágil nessas

situações, valores mínimos de tenacidade ao impacto para o metal de solda à temperatura

ambiente têm que ser garantidos, conforme normas específicas (Arivazhagan et al.,

2009).

Por serem aplicados em temperaturas elevadas, esses aços necessitam de uma boa

resistência à fluência, obtida, principalmente, através das discordâncias recuperadas no

tratamento térmico (Abd El-Azim et al., 2013). Contudo, a partição térmica no processo

de soldagem induz alterações microestruturais que conduzem à formação da zona

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termicamente afetada (ZTA) composta por sub-regiões denominadas de: ZTA de grãos

grosseiros (ZTA-GG), ZTA de grãos finos (ZTA-GF) e ZTA intercrítica (ZTA-IC).

A Figura 2.3 mostra as mudanças microestruturais que ocorrem nas diferentes

regiões de uma junta soldada (Larsson, 2012).

Figura 2.3 - Mudanças microestruturais ao longo da ZTA de juntas soldadas de aços

com baixo C. (Fonte: Larsson, 2012 modificado).

Analisando o gráfico da Figura 2.3 nota-se que a ZTA-GF fica sujeita a

temperaturas logo abaixo de 𝐴𝑐3e a ZTA-IC a faixa de temperatura entre 𝐴𝑐1 − 𝐴𝑐3. A

diferença na faixa de temperatura à qual cada uma dessas regiões é submetida durante o

processo de soldagem causa transformação de fases em estado sólido e essas

microestruturas são diferentes das encontradas no metal de base (MB) e no metal de solda

(MS). A transformação parcial da martensita revenida em austenita, bem como a

dissolução parcial dos precipitados durante os ciclos térmicos na soldagem resultam na

formação de martensita de baixo carbono na região da ZTA-IC e, durante o tratamento

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térmico pós soldagem (TTPS) são formados poucos precipitados. Entretanto, o

crescimento dos precipitados não dissolvidos ocorre rapidamente, resultando em queda

da dureza e da resistência nas regiões da ZTA-GF e ZTA-IC. A alta resistência das demais

regiões (MS, MB e ZTA-GG) impõe uma restrição microestrutural para os campos de

deformação das regiões mais próximas (ZTA-GF e ZTA-IC), o que leva a um estado de

tensões residuais complexo e cria condições para que o fenômeno de fluência possa se

desenvolver. Esse processo pode levar a ocorrência de falhas durante longos períodos em

serviço (Divya et al., 2014).

Assim, a região mais afastada da solda, definida como a região intercrítica (ZTA-

IC), é a mais sensível nas juntas soldadas de aços Cr-Mo, sendo o local onde, na maioria

dos casos, ocorre a fratura, denominada fratura do Tipo IV (Figura 2.4), devido ao dano

cumulativo por fluência durante a vida em serviço.

Figura 2.4 - Localização e orientação dos tipos de fratura na junta soldada. (Fonte:

Larsson, 2012 modificado).

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Autores como Divya et al., 2014 concluíram que a redução da extensão da ZTA é

um ponto favorável à manutenção da resistência a fluência de componentes soldados de

aço Cr-Mo.

Alguns autores estimam que a resistência à fluência na região intercrítica é de

aproximadamente 1/5 daquela apresentada pelo metal de base. Dessa forma, essa região

é considerada como a de maior risco de fratura por fluência (Takashi et al., 2009; Falat et

al., 2009; Hyde et al., 2010, Yaghi et al., 2013).

Segundo Paddea et al. (2012), algumas pesquisas demonstraram que pequenas

adições de boro (entre 90 e 120 ppm), juntamente com a redução do teor de nitrogênio no

metal de adição, podem eliminar completamente a microestrutura de grãos finos da ZTA

e a zona intercrítica, evitando falhas do Tipo IV.

Com relação às variáveis envolvidas durante o processo de soldagem, o pré-

aquecimento tem significativa importância para os aços Cr-Mo, pois visa diminuir a

velocidade de resfriamento da junta soldada, resultando em menores valores de tensões

residuais, além de facilitar as operações de soldagem. Yaghi et al. (2013) relata que é

necessário manter as temperaturas de pré-aquecimento e interpasses na soldagem GTAW

entre 100 e 150°Cena soldagem GMAW entre 200 e 250 °C para garantir boas

propriedades à junta. A norma API 938-B requer que o aço P91 seja soldado à temperatura

pré-aquecimento mínima de 250 °C para uma maior espessura e temperatura interpasse

entre 200 e 300 °C.

Normalmente, na soldagem dos aços Cr-Mo são utilizados materiais de adição de

mesma composição química ou muito semelhantes, com o intuito de garantir as

propriedades mecânicas das juntas. Em particular, na soldagem de aços do tipo P92, ligas

à base de níquel são também usadas como consumível, por apresentarem elevada

resistência à deformação e à corrosão (Yaghi et al., 2013).

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Dentre os processos de soldagem utilizados para soldagem de tubulações de aço

P91, o FCAW (Flux Cored Arc Welding), ainda pouco aplicado, está associado a menores

valores de tenacidade da zona fundida (< 47J) em comparação ao processo GTAW, por

exemplo (média de 90J), o que caracterizaria uma possível fragilidade. Entretanto, a

utilização desse processo vem crescendo em decorrência da alta produtividade

conseguida (Arivazhagan et al., 2008). Assim, novas variáveis dentro dos processos de

soldagem, como o Metal Cored Arc Welding (MCAW), estão sendo aplicadas na união

dos aços 9-12% Cr, em conjunto com outros processos, como o FCAW, a fim de obter

melhores propriedades mecânicas em elevadas temperaturas com alta produtividade.

O FCAW e o MCAW, processos de soldagem por arame tubular, foram

desenvolvidos para aumentar a competitividade e reduzir custos e são bastante

semelhantes ao processo GMAW (Gas Metal Arc Welding), inclusive no que se refere

aos equipamentos utilizados. Os processos FCAW/MCAW promovem a união de metais

pelo aquecimento destes através de um arco elétrico estabelecido entre o eletrodo e a peça

de trabalho. O arame utilizado é tubular, sendo seu interior preenchido por um fluxo, o

que garante a este processo características especiais. Este processo une as vantagens do

processo de soldagem MIG/MAG, como alta taxa de ocupação do soldador, altas taxas

de deposição e alta produtividade, com o processo por eletrodo revestido (alta

versatilidade, possibilidade de ajuste da composição química do metal de solda e

facilidade de operação em campo) (Marques et al., 2009).

No FCAW, o fluxo servirá tanto para a proteção da solda pela formação da escória,

quanto para a adição de elementos de liga. Por outro lado, no MCAW, o núcleo do arame

é formado apenas por material metálico, ou seja, serve somente para adicionar elementos

à solda. Como a formação de escória é muito pequena e, por vezes, inexistente, a

produtividade é muito elevada (Marques et al., 2009).

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O Metal Cored é caracterizado pela alta produtividade e facilidade para soldagem.

Arivazhagan & Kamaraj (2013) utilizaram o processo MCAW para soldar o aço 9Cr-1Mo

(P91) e obtiveram bons resultados sobre a influência do tempo de tratamento térmico pós

soldagem (TTPS) – normalmente realizado a 760°C por 2h, da junta nos valores mínimos

de dureza (critério a ser satisfeito de acordo com o EN1557: especificação 1997).

Entretanto, ainda não existem estudos sobre o comportamento desse tipo de junta em

condições de elevadas temperaturas.

2.2. Tensões Residuais

Conforme apresentado por Macherauch & Kloos, 1987, tensões residuais (TR)

podem ser definidas como tensões auto-equilibradas existentes nos materiais, em

condições de temperatura uniforme e sem carregamento externo. Ou seja, a presença de

tensões residuais trativas no material é equilibrada por tensões residuais compressivas.

Portanto, qualquer perturbação, como remoção de material, aplicação de carregamentos

térmicos ou mecânicos, altera o seu estado e causa sua redistribuição, de modo que as

tensões se reequilibrem (Kandil et al., 2001).

O estudo sobre a natureza (trativa ou compressiva) e a magnitude das tensões

residuais é de grande importância para a indústria, pois em alguns casos, falhas

prematuras podem ser resultantes da combinação de tensões residuais trativas com

tensões de serviço, mesmo no regime elástico, conforme apresentado na Figura 2.5. Dessa

forma, tensões residuais do tipo trativas são conhecidas como prejudiciais, pois podem

resultar na diminuição da vida em fadiga e aumentar a propensão corrosão sob tensão de

materiais e componentes. Por outro lado, tensões compressivas têm efeitos benéficos,

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inibindo a nucleação e a propagação de trincas (Withers & Bhadeshia, 2001; Löhe &

Vöhringer, 2002).

Figura 2.5 - Superposição das tensões residual e aplicada (Fonte: Lu, 2002 modificado).

Segundo Withers & Bhadeshia (2001), as tensões residuais podem ser

classificadas com base na sua origem (por exemplo, térmica), escala sobre a qual se auto-

equilibram ou de acordo com o método através do qual são medidas. Entretanto, a

classificação mais comum dos tipos de tensões residuais existentes é definida quanto à

área/escala de abrangência, a saber (Hilson et al., 2009):

Tensões residuais do tipo I: tensões a níveis macroscópicos, consideradas quase

homogêneas na escala de vários grãos e equilibradas nos limites de todo o

material. Exemplos: materiais deformados plasticamente de maneira não

uniforme, como barras sujeitas a dobramento além do limite elástico, processos

de laminação, gradientes térmicos e têmpera em aço.

Tensões residuais do tipo II: tensões microscópicas, consideradas quase

homogêneas na escala de um grão e equilibradas nos limites dos contornos de

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alguns grãos do material. Podem ocorrer em interfaces entre fases e partículas

precipitadas e a matriz.

Tensões residuais do tipo III: tensões submicroscópicas, heterogêneas na escala

de algumas distâncias interatômicas e equilibradas nos limites de algumas células

unitárias. Ocorrem nos materiais metálicos sujeitos a processos que produzam

descontinuidades na rede cristalina, tais como, vazios, impurezas e falhas de

empilhamento, entre outros.

A superposição das tensões residuais dos tipos I, II e III determina o estado total

de tensões residuais em um ponto particular do material, como apresentado na Figura 2.6.

Figura 2.6 - Superposição das TR dos tipos I, II e III (Fonte: Withers & Bhadeshia,

2001).

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A origem das tensões residuais pode ser dividida em três grandes categorias

(Cindra Fonseca, 2000; Bhadeshia, 2002):

Deformação - Processamento e/ou carregamento mecânico: são geralmente

causadas por um gradiente de deformação plástica devido à ação mecânica;

Microestrutura - Transformação de fase: ocorre quando há variação heterogênea

de volume causada por mudanças de fases;

Temperatura - Efeitos térmicos: ocorre quando há deformação plástica

heterogênea durante aquecimento ou resfriamento não uniforme.

As tensões residuais ainda podem ser produzidas por uma combinação entre o

tempo, a temperatura, a deformação, e microestrutura. A Figura 2.7 detalha a resultante

da interação entre as principais fontes de TR.

Figura 2.7 - Interação entre tempo, temperatura, deformação e microestrutura no

material (Fonte: Bhadeshia, 2002 modificado).

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2.2.1. Tensões residuais em juntas soldadas

A soldagem é caracterizada pelo aquecimento de regiões localizadas das peças,

permanecendo o restante destas em temperaturas muito inferiores. As regiões aquecidas

tendem a se dilatar, mas esta dilatação é dificultada pelas partes adjacentes submetidas a

temperaturas menores, o que resulta no desenvolvimento de deformações elásticas e

plásticas no material aquecido. Como consequência, ao final do processo de soldagem,

tensões internas (tensões residuais) e mudanças permanentes de forma e de dimensões

(distorções) ocorrem na peça (Modenesi et al., 2008).

Durante a soldagem, as tensões residuais podem ser desenvolvidas devido ao

aquecimento e resfriamento não uniforme em uma pequena área, acompanhado dos

gradientes térmicos que surgem entre a superfície e o núcleo da junta. Além disso, as

transformações de fase que ocorrem no metal de solda e zona termicamente afetada

podem contribuir para a evolução da tensão residual (Heinze et al., 2011; Nguyen &

Wanab, 1996).

Para o caso da geração de tensões devido à transformação de fases na soldagem,

as tensões surgem porque na transformação de algumas fases como a austenita para a

martensita, ocorre alteração de volume. Desta forma, o material da zona fundida e da zona

termicamente afetada, que sofre transformação de fase, tende a se expandir, ou contrair,

e será impedido pela parte fria do metal, não transformada (Cindra Fonseca, 2000).

A magnitude das tensões residuais no cordão de solda está intimamente

relacionada ao grau de restrição presente na junta. No processo de soldagem, sempre

existem tensões residuais macroscópicas e microscópicas com complexas superposições.

Contudo, na prática da soldagem, geralmente, quando se fala de tensões residuais, estão

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implicitamente consideradas apenas tensões residuais macroscópicas, isto é, as tensões

residuais do primeiro - tipo I (Hilson et al., 2009).

Macherauch & Wohlfahrt (1977) comprovaram, experimentalmente, que as

tensões residuais em juntas soldadas são decorrentes da superposição das três fontes de

tensões residuais em soldagem, entretanto, pode haver casos em que uma fonte pode

prevalecer sobre as outras. Na Figura 2.8 está representada esquematicamente a variação

das tensões residuais transversais em juntas soldadas por processos a arco convencionais.

Figura 2.8 - Distribuição das tensões residuais em juntas de topo de processo a arco

convencional: (C) contração, (R) Resfriamento superficial mais intenso e (T)

Transformação de fase (Fonte: Macherauch & Wohlfahrt, 1977).

O processo de soldagem é essencial para a construção de tubulações de aços 9-

12 %Cr, utilizados para condução de vapor em elevadas temperaturas e pressão, entre

outras aplicações. Assim, elevada integridade desses tubos soldados é necessária para o

funcionamento seguro das centrais energéticas, o que poderia ser comprometido pela

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presença de tensões residuais. O processo de soldagem a arco é o mais usual na construção

de linhas de tubulação e, como relatado na Seção 2.1.1, além das alterações

microestruturais no metal de solda e na ZTA, também induz tensões residuais, que podem

atingir valores muito próximos ao limite de escoamento do material nestes locais (Yaghi

et al., 2013).

Grande parte das pesquisas, que visam contribuir para a melhor compreensão do

surgimento das falhas do tipo IV nesses aços, é realizada do ponto de vista

microestrutural. Alguns autores, observando que poucos estudos investigaram a

influência da magnitude das tensões residuais nas falhas, observou que as maiores tensões

residuais de tração estão localizadas nos limites da ZTA, coincidentemente na região

microestrutural propensa às fraturas do Tipo IV em juntas soldadas de P91, tanto na

condição pós soldagem quanto após tratamento térmico (Paddea et al., 2012 e Thomas et

al., 2007). Por outro lado, trabalhos como Hilson et al. (2009) relatam que os maiores

valores de tensão residual em juntas de aço P91 são observadas na região do metal de

solda. Com relação aos processos não convencionais de soldagem, Kumar et al. (2005)

utilizou a soldagem a laser e analisou as TR resultantes. Como conclusões, relata que os

maiores valores de TR em tração estão localizados na região da ZTA de grãos finos, com

valores de até 600 MPa na direção longitudinal ao cordão de solda. Uma possível

explicação para as elevadas tensões trativas na região da ZTA-GF e ZTA-IC pode ser a

transformação microestrutural que ocorre devido ao pico de temperatura atingido durante

o ciclo térmico de soldagem, conforme apresentado na Seção 2.1.1.

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2.2.2. Tensometria por difração de raios-X

As técnicas de medição de tensões residuais podem ser classificadas em

destrutivas e não destrutivas e, para alguns autores, como Hilson et al. (2009), ainda

existem as técnicas parcialmente destrutivas, de acordo com o nível de dano introduzido

no material estudado durante sua aplicação. São destrutivas as técnicas que, para obtenção

de informações de deformação suficientes para a análise das tensões residuais existentes,

comprometem ou impossibilitam o uso da amostra analisada. Por outro lado, as técnicas

não destrutivas não precisam da remoção de material e, portanto não provocam qualquer

tipo de dano durante a medição de tensões residuais.

Existe uma variedade de técnicas disponíveis para a medição tensões ao longo de

um intervalo de escalas de profundidade. Entre os métodos destrutivos mais usados é

possível citar a técnica do furo cego ou furo incremental (Hilson et al., 2009).

Os mais usuais métodos não destrutivos são:

Difração de raios-X;

Difração de nêutrons;

Ultrassom;

Magnético.

A tensometria por difração de raios-X tem como princípio a medição do

espaçamento entre os planos da rede cristalina dos materiais, através do uso de feixes

estreitos de raios-X. Este princípio é caracterizado, de uma maneira básica, pela

incidência de um feixe monocromático sobre a superfície de um material, o qual será

espalhado (difratado) e posteriormente detectado por um dispositivo (Figura 2.9). No

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estado inicial, não deformado, o material metálico possui distância interplanar, 𝑑0, entre

seus planos cristalinos.

Figura 2.9 - Princípios da medição por raio-X (Fonte: Manual XStress 3000).

Um feixe paralelo de raios-X, de comprimento de onda 𝜆, incide na superfície do

material segundo um determinado ângulo de incidência 𝜃. Este feixe é difratado sob o

mesmo ângulo 𝜃, desde que seja satisfeita a lei de Bragg (Equação 2.1):

𝑛𝜆 = 2𝑑. 𝑠𝑒𝑛𝜃 (2.1)

Nessas condições, ao utilizar raios-X monocromáticos (𝜆 = constante), o valor do

ângulo 𝜃, referente a uma intensidade máxima de difração, depende da distância

interplanar𝑑.

Para a engenharia o interesse está nas tensões ao invés de valores de deformações,

que precisam ser convertidos para tensões, com base na Lei de Hooke. A teoria da

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elasticidade do material sólido, oriunda da mecânica dos sólidos, prevê as seguintes

relações:

Tensão:

𝜎 =Δ𝐹

Δ𝐴 (2.2)

Deformação:

𝜀 =Δ𝑑

𝑑0 (2.3)

Lei de Hooke (relação entre tensão e deformação) para estado uniaxial:

𝜀 =𝜎

𝐸 (2.4)

Onde: é o módulo de elasticidade do material.

Dependendo de como as tensões residuais e os carregamentos aplicados atuam,

podem existir no material estados de deformações e tensões uniaxial, biaxial e triaxial.

Devido às condições de equilíbrio, o estado biaxial de tensões pode existir na superfície

livre (sem carregamento), enquanto dentro do material podem se desenvolver estados

triaxiais de tensões.

Com o material sob tensão σ, a distância interplanar 𝑑0, varia de um valor

Δ𝑑 = 𝑑 − 𝑑0 , sendo 𝑑 a distância interplanar no material tensionado, o que ocasiona a

deformação 𝜀 =Δ𝑑

𝑑0 na rede cristalina do material. Nessas condições, a variação do ângulo

E

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de difração é igual a Δ𝜃 = 𝑑 − 𝑑0, que pode ser medida pela técnica da tensometria por

raios-X. Fazendo a diferenciação da lei de Bragg (Equação 2.1) obtêm-se a relação entre

a deformação 𝜀 e o ângulo 𝜃 de difração:

𝜀 =Δ𝑑

𝑑0= −𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃. Δ𝜃 (2.5)

Para efeitos de adequação ao estado real de tensões, é utilizado um sistema de

coordenadas polares (Figura 2.10). Então, da Equação 2.5 pode-se extrair que:

𝜀(𝜑, 𝜓) =(𝑑𝜑,𝜓−𝑑0)

𝑑0= 𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃. (𝜃𝜑,𝜓 − 𝜃) (2.6)

Sabendo que:

𝜀𝜑,𝜓 = (𝜎1. cos2 𝜑 + 𝜎1. sen2 𝜑). 𝜓 − 𝜇.(𝜎1+𝜎2+𝜎3)

𝐸 (2.7)

Mantendo fixo o ângulo 𝜑, e determinado a diferença entre as deformações em

duas direções diferentes, segundo o ângulo 𝜓, tem-se:

𝜀(𝜑, 𝜓2) − 𝜀(𝜑, 𝜓1) = 𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃0. (𝜃𝜑,𝜓2− 𝜃𝜑,𝜓1

) (2.8)

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Figura 2.10 - Sistema de coordenadas polares (Fonte: Cindra Fonseca, 2000).

Reescrevendo o primeiro membro da Equação 2.7, também em função da

diferença entre as deformações em duas direções diferentes:

𝜀(𝜑, 𝜓2) − 𝜀(𝜑, 𝜓1) =(1+𝜇).𝜎𝜑.(𝑠𝑒𝑛2𝜓2−𝑠𝑒𝑛2𝜓1)

𝐸 (2.9)

Substituindo-se o primeiro membro da Equação 2.9 pelo segundo membro da

Equação 2.8, é obtida a equação utilizada na medição de tensões residuais:

𝜎𝜑 =𝐸

(1+𝜇). 𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃0.

(𝜃𝜑,𝜓2−𝜃𝜑,𝜓1)

(𝑠𝑒𝑛2𝜓2−𝑠𝑒𝑛2𝜓1) (2.10)

Esta equação é válida para quaisquer variações de 𝜓1 e 𝜓2 que impusermos ao

equipamento.

É possível observar, através da Equação 2.10, que a tensão residual existente no

material é diretamente proporcional à derivada de 2𝜃, em função de 𝑠𝑒𝑛2𝜓, também

representada na Figura 2.11.

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Figura 2.11 - Estado de tensão do material em função do declive da curva 2𝜃 vs 𝑠𝑒𝑛2𝜓

(Fonte: Cindra Fonseca, 2000).

2.3. Fluência

Fluência é definida como a deformação plástica que ocorre em um material sob

tensão (ou carga) constante, ou praticamente constante, em função do tempo e que pode

levar a falhas catastróficas (Souza, 2007).

Uma das principais indicações da tendência à fluência é a temperatura homóloga

(𝑇𝐻), determinada pela razão entre a temperatura de trabalho e a temperatura de fusão do

material (em Kelvin). A velocidade de fluência (relação entre deformação plástica e

tempo) aumenta com a temperatura, principalmente em temperaturas maiores do que

0,4𝑇𝐻. Assim, resistência à fluência é especialmente importante na seleção de materiais

para estruturas e componentes que operam em altas temperaturas (Hyde et al., 2007;

Kassner & Hayes, 2003).

Com relação à tensão, o processo de deformação plástica está intrinsecamente

relacionado ao nível de tensão aplicado, ou seja, quando mais próximos do limite de

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escoamento, maiores são as deformações causadas no material e, consequentemente,

menor a resistência à fluência do mesmo. Dessa forma, estudos vêm sendo desenvolvidos

ao longo dos anos com o intuito de descrever esse fenômeno, compreender os fatores que

mais influenciam na resistência à fluência e, principalmente, como prever a vida de

estruturas e componentes sujeitos a este processo de deformação (Kumar et al., 2010).

2.3.1. Ensaio de fluência

Um dos métodos para avaliar a resistência à fluência dos materiais é através dos

ensaios de fluência, que utilizam corpos de prova (cp) de seção circular ou retangular,

semelhantes ao de ensaios de tração (Figura 2.12). Esses ensaios podem ser divididos em

três tipos: ensaio de fluência, ensaio de ruptura por fluência e ensaio de relaxação.

(Nagode et al., 2011; Souza, 2007)

Figura 2.12 - Corpo de prova padrão de ensaio de fluência (Fonte: Hyde et al., 2010).

Nos ensaios de fluência os cp´s ficam dentro de um forno elétrico onde são sujeitos

à temperatura constante e controlável e a uma carga (ou tensão) uniaxial constante. A

partir desse ensaio são obtidas, com o auxílio de um extensômetro acoplado ao sistema,

as curvas deformação vs tempo, denominadas curvas de fluência, onde é possível obter

valores da deformação ao longo do tempo para os materiais. Nos ensaios de ruptura por

fluência o cp é levado até a ruptura e, neste caso, obtém-se o tempo de ruptura, sendo

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possível também medir da deformação ao longo do tempo. (Nagode et al., 2011). O ensaio

de relaxação por fluência é normalmente realizado em parafusos e materiais de ligação,

pois o fenômeno de fluência pode afrouxaras uniões dos componentes por deformação

(Souza, 2007).

O corpo de prova ensaiado deve passar por um período de aquecimento, que pode

ser realizado por indução, radiação ou resistência elétrica, até que seja atingida a

temperatura de ensaio, sem que o mesmo sofra superaquecimento. É comum aquecer o

corpo de prova até temperatura abaixo da estabelecida, a fim de garantir a completa

homogeneização da estrutura, seguido do aquecimento do cp à temperatura de ensaio. O

controle da temperatura é, normalmente, realizado através de termopares.

A curva de fluência (Figura 2.13) é normalmente dividida em três etapas ao longo

do tempo: primária (ou transitória), secundária (ou estacionária) e terciária. A inclinação

da curva, em qualquer ponto, é denominada de velocidade de fluência.

Figura 2.13 - Curva padrão de um ensaio de fluência convencional (Fonte: Garcia et al.,

2012, modificado).

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Na primeira fase ocorre uma deformação elástica instantânea, decorrente da carga

aplicada, seguida de uma deformação plástica, que diminui gradualmente até se tornar

praticamente constante devido ao encruamento do material. Na segunda etapa, a mais

longa, a velocidade de deformação é constante, explicada pelo equilíbrio entre os

fenômenos de encruamento e recuperação, que normalmente ocorrem simultaneamente

no material. Por fim, no terceiro estágio o material deforma muito rapidamente até a

ruptura. Este aumento da velocidade de deformação, que caracteriza o processo interno

de fratura, ocorre, principalmente, pela intensa movimentação de discordâncias,

separação dos contornos de grão, formação, coalescimento e propagação de trincas,

levando à ruptura do cp, geralmente, com a diminuição da área da secção útil do mesmo

– estricção (Hyde et al., 2007; Garcia et al., 2012; Souza, 2007). Contudo, alguns

materiais não apresentam o terceiro estágio de deformação em virtude de incapacidade

de apresentar estricção por algum fator metalúrgico ou das condições impostas durante o

ensaio de tensão/temperatura.

Entre os dados obtidos durante o ensaio de fluência, a taxa mínima de fluência (𝜀̇)

ou taxa de fluência em regime estacionário, retirado no segundo estágio do ensaio de

fluência (Figura 2.13), é um dos principais parâmetros para estimar a vida de

componentes que serão aplicados por períodos longos em temperaturas elevadas e sob

pressão (Souza, 2007).

Uma das maneiras mais comumente utilizada para apresentar os resultados de

fluência são gráficos na forma do logaritmo da tensão vs o logaritmo do tempo de vida

até a ruptura, que caracteriza geralmente apresenta comportamento linear para ensaios de

curta duração, como exemplifica a Figura 2.14.

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Figura 2.14 - Curva log 𝜎 vs log 𝑡 para aços P91sob diferentes temperaturas (Haarmann

et al., 2000 modificado)

Já são bem estabelecidas equações que correlacionam o fenômeno de fluência em

materiais em função da tensão e temperatura, com base na taxa mínima de fluência

(Equação 2.11):

𝜀̇ = (𝑑𝜀

𝑑𝑡)

𝐼𝐼 (2.11)

Sendo a tensão constante, a relação fica conforme a Equação 2.12, onde 𝑘 e 𝑛 são

constantes do material:

𝜀̇ = 𝑘. 𝜎𝑛 (2.12)

Para saber a resistência à fluência de um material que será utilizado em serviço

durante anos o ensaio de fluência se torna impraticável devido à longa duração. Assim, a

extrapolação de dados pode ser realizada usando vários parâmetros com base em

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resultados obtidos através de ensaios de curta duração (com tensões e/ou temperaturas

maiores). Dessa maneira é possível prever o comportamento de materiais para longos

períodos, para as condições de serviço (Moura Branco, 2011; Garcia et al., 2012).

Um dos métodos de extrapolação dos dados de deformações por fluência em

função da temperatura pode ser tratado com base na equação de Arrhenius, como

apresentado na Equação 2.13 (Moura Branco, 2011).

𝜀̇ = 𝐴. 𝜎𝑛𝑒𝑥𝑝 (−𝑄

𝑅𝑇) (2.13)

Onde:

𝜀̇= deformação por fluência;

𝑇= temperatura

𝐴= constante dependente do material

𝑄= energia de ativação

𝑅 = constante dos gases

𝑛= constante (dependente do mecanismo de fluência)

𝐴. 𝜎𝑛= função tensão (lei de Norton)

Larson-Miller, com base no método de extrapolação de resultados, através da

obtenção do tempo de ruptura para a mesma tensão ensaiando os materiais a temperaturas

mais elevadas, obtiveram a seguinte equação:

𝑃 = 𝑇(𝐵 + log 𝑡) (2.14)

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A Equação 2.14 é chamada Equação de Larson-Miller. Sendo 𝐵 uma constante para uma

dada deformação e 𝑃 (𝑓(σ)) o parâmetro de Larson-Miller, que tem como principal

característica normalizar os resultados experimentais. Assim, traçando log 𝜎 em função

de 𝑃 obtém-se uma reta, relativa a uma determinada deformação por fluência. Resultados

experimentais indicaram que 𝑡 pode ser o tempo de ruptura a uma dada tensão e

temperatura ou o tempo para atingir uma determinada deformação de fluência. Para a

constante 𝐵 considera-se valores da ordem de 20 para aços, sendo a temperatura em

Kelvin (𝐾). Entretanto, em alguns casos, a curva log 𝜎pode não apresentar uma única

inclinação e a aplicação do parâmetro de Larson-Miller pode levara grandes erros (Moura

Branco, 2011).

Um método simples para a previsão do comportamento em longo prazo de

materiais a partir de ensaios de curta duração, proposto por Monkman e Grant, utiliza a

relação linear entre o tempo de ruptura e mínima taxa de fluência (𝜀̇. 𝑡𝑟𝑢𝑝𝑚 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒,

sendo 𝑚 um valor próximo de 1,0) - relação de Monkman-Grant. Mesmo assim, é

importante estudar cuidadosamente o tipo de mecanismo de deformação predominante

durante a fluência, pois o mesmo vai determinar os parâmetros adequados para posteriores

estudos de extrapolação de dados (Haney et al., 2009). A Figura 2.15 mostra dados sobre

o aço P91 de alguns pesquisadores em várias temperaturas em uma única curva

Monkman-Grant apresentada por Haney et al., 2009.

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Figura 2.15 - Curva Monkman-Grant para o aço T91 entre as temperaturas 500 e

625 °C (Haney et al., 2009 modificado).

Kimura et al. (2009) também utilizaram a relação de Monkman-Grant para estudar

a influência da composição química e rotas de fabricação dos aços P91 na resistência à

fluência em temperaturas entre 500 e 700 °C.

2.3.2. Mecanismos de Fluência

Segundo a literatura, as deformações plásticas dos materiais, provenientes do

fenômeno de fluência podem ser decorrentes de vários mecanismos (Abe et al., 2008),

sendo os de maior aceitação:

1. Deslizamento (escorregamento) das discordâncias

2. Movimentação das discordâncias por escalagem

3. Difusão de átomos e lacunas pelo interior dos grãos (Nabarro-Herring)

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4. Difusão de átomos e lacunas pelos contornos de grão (Coble)

5. Deslizamento dos contornos de grão

O deslizamento das discordâncias envolve o movimento das mesmas ao longo dos

planos preferenciais, sendo as barreiras (precipitados e limites de grãos, por exemplo)

superadas por ativação térmica. Para a movimentação das discordâncias por escalagem,

o deslizamento das discordâncias é responsável pela maior parte da deformação,

entretanto é a escalagem que permite a liberação da discordância dos obstáculos. Este

mecanismo, um dos mais estudados por pesquisadores de todo o mundo, distingue-se do

anterior por ser um processo lento, pois depende da difusão no estado sólido e assim, a

escalagem acaba por ser responsável pela determinação da taxa de fluência. A Figura 2.16

detalha dois modelos simples que tentam explicar como ocorre a escalagem no processo

de fluência: I é o modelo de movimentação não conservativa de degraus e II é o modelo

de superação de obstáculos contidos no plano de deslizamento (Meyers & Chawla, 1998).

Figura 2.16 - Modelos que explicam o processo de escalagem como controlador da

deformação por fluência (Fonte: Miranda et al., 1983).

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A fluência por difusão ocorre em função do fluxo de defeitos pontuais segundo

gradiente de tensão aplicado e assim o processo é termicamente ativado. Em temperaturas

mais baixas tem-se a difusão pelos contornos de grão. Para temperaturas mais elevadas,

a ativação térmica é suficiente para promover a difusão dentro do grão. Contudo, a difusão

no estado sólido é um processo muito lento, ou seja, as taxas de deformação por fluência

são muito baixas e, por esta razão, esses mecanismos são pouco estudados (Miranda et

al., 1983; Meyers & Chawla, 1998).

No mecanismo de deslizamento de contornos de grão, o processo de fratura por

fluência pode ser iniciado pela formação e aumento de microcavidades nos contornos de

grão, que formam microtrincas. Essas microtrincas coalescem e formam macrotrincas,

que diminuem bruscamente a resistência do material, o que leva à fratura do mesmo.

Contudo, muitos autores preferem considerar esse mecanismo como uma interação entre

a fluência por difusão e a fluência por movimentação de discordância. Então, o

deslizamento de contornos de grãos não tem uma contribuição abrangente na deformação

por fluência em materiais policristalinos, mas é fundamental no controle e na

determinação do mecanismo de fratura de componentes e, por esta razão, é amplamente

estudado (Miranda et al., 1983; Abe et al., 2008).

A taxa de deformação por fluência em aços empregados na engenharia varia de

forma complexa com o tempo devido à evolução microestrutural que ocorre durante a

exposição a elevadas temperaturas sob carregamento. Assim sendo, Ashby (1972) propôs

o chamado mapa de mecanismos de deformação, considerando que todos os mecanismos

são independentes entre si, conforme mostra a Figura 2.17. Dessa maneira, o mapa pode

ser aplicado apenas para prever o mecanismo de deformação dominante no início da

fluência em condições específicas de tensão e temperatura (Abe et al., 2008).

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37

Figura 2.17 - Mapa de deformação de Ahshy para tungstênio (Fonte: Meyers & Chawla,

1998, modificado).

As zonas de predomínio de cada mecanismo são determinadas por tensões

normalizadas (𝜎/𝐺), sendo G o módulo de cisalhamento, e a temperatura homóloga

(𝑇/𝑇𝑚), definida como a relação da temperatura em que se encontra o material (𝑇) e sua

temperatura absoluta de fusão (𝑇𝑚), ambas em K (Abe et al., 2008).

Com relação aos modos de fratura, as condições de tensões e temperatura, além

das características do material, podem resultar em uma deformação por fluência

controlada por diferentes mecanismos apresentados anteriormente. Assim, é possível

prever as transições de comportamento do material, resultantes dos mecanismos de

deformação atuantes, com o auxílio dos mapas de deformação. Contudo, as rupturas por

fluência normalmente exibem superfície de fratura intergranular. Rupturas

transgranulares, geralmente resultam de altas tensões aplicadas (elevadas taxas de

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deformação) e ocorrem por um processo de formação de vazio semelhante ao da

coalescência de microvazios (Meyers & Chawla, 1998).

Considerando que os principais mecanismos de deformação por fluência são o

movimento de discordâncias. Novos aços para aplicações em temperaturas elevadas, onde

a fluência é uma das principais responsáveis por falhas, têm sido desenvolvidos. Esses

aços são reforçados por vários tipos de precipitados uniformemente disperso, que podem

estabilizar a microestrutura e garantir alta resistência à fluência, fixando os limites de

grão e bloqueando o movimento de discordâncias (Hyde et al., 2010).

2.3.3. Resistência à fluência do aço P91

Os aços Cr-Mo apresentam uma grande resistência à fluência, sendo esta uma das

razões para aplicação em componentes de caldeira sob alta temperatura, por exemplo.

Essa alta resistência é obtida através da adição de determinados elementos de liga e da

seleção e aplicação correta dos tratamentos térmicos durante fabricação desses aços.

Contudo, relate-se que a resistência de fluência das juntas soldadas desse tipo de material

é significativamente menor em relação ao metal de base (Takashi et al., 2009; Divya et

al., 2014).

Haney et al., 2009compilaram resultados de diversos autores acerca da relação

tempo de fratura vs tensão aplicada para aços T/P91 sob diferentes temperaturas, como

mostrado na Figura 2.18.

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39

Figura 2.18 - Curvas tempo vs tensão para aços T/P1 sob diferentes temperaturas

(Haney et al., 2009 modificado)

Haarmann et al. (2000) mostram dados obtidos com juntas soldadas em

comparação ao próprio material de base, como apresenta a Figura 2.19. É possível

observar que os autores denominam a junta soldada de zona termicamente afeta (ZTA),

uma vez que as fraturas ocorreram na chamada zona intercrítica das mesmas, fenômeno

descrito na Seção 2.1.1. Os valores de resistência das juntas soldadas são menores dos

observados no metal de base.

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Figura 2.19 - Comparação dos valores de tempo de ruptura de juntas soldadas com o

metal de base para diferentes temperaturas (Haarmann et al., 2000 modificado).

Como muitos dos componentes construídos com esses materiais são soldados, é

importante uma correta caracterização das propriedades das juntas, a fim de garantir uma

segura utilização desses, principalmente onde a degradação por fluência é máxima,

normalmente, na zona termicamente afetada (ZTA). Por isso, novas técnicas, capazes de

extrair as propriedades mecânicas de uma amostra com um pequeno volume, estão sendo

desenvolvidas. Três tipos de ensaios têm sido utilizados para a determinação das

propriedades de fluência a partir de amostras pequenas de material: corpos de prova

subdimensionados de fluência, o Impression Creep – IC e o Small Punched Test – SPT,

capazes de obter as propriedades de cada uma das subregiões da junta, separadamente

(Nagode et al., 2011; Hyde et al., 2010).

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2.4. Small Punched Test (SPT)

A indústria nuclear foi uma das precursoras no desenvolvimento de ensaios em

miniatura para avaliar as propriedades dos materiais. Com o objetivo de possibilitar a

caracterização da degradação de diferentes equipamentos ao longo da vida em serviço foi

desenvolvido um ensaio não destrutivo, que não oferecesse risco ao sistema em operação.

Os primeiros dados na literatura sobre ensaios com amostras em miniatura, com

geometria diferente dos ensaios convencionais, foram apresentados por Manahan et al.

(1981). Nesse trabalho ensaios com discos de 3,0 mm de diâmetro com 0,25 mm de

espessura, denominados Miniaturized Disk Bend Test (MDBT), foram realizados em

material utilizado em central de energia nuclear para avaliar qualitativamente as

propriedades do mesmo após irradiação. A Figura 2.18a mostra o esquema do ensaio de

miniatura apresentado por Manahan et al. (1981), que consistia em dispositivo para

encaixe do disco e um punção para compressão uniaxial da amostra. A partir desse ensaio

foi possível obter uma curva do deslocamento do punção vs carga aplicada, conforme

apresentado na Figura 2.20b. Uma das principais informações obtidas nesse trabalho foi

a grande influência do diâmetro do punção empregado para o ensaio e a taxa de

deslocamento do mesmo para a obtenção de resultados mais precisos, além da influência

da temperatura de ensaio no perfil da curva obtida.

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(a) (b)

Figura 2.20 - (a) Esquema para o ensaio em miniatura; (b) curva típica obtida no ensaio

de MDBT com diferentes temperaturas e diâmetro do punção (Fonte: Manahan et al.,

1981, modificado).

Lucas (1983) foi um dos primeiros a correlacionar quantitativamente os dados

obtidos em ensaios convencionais com os obtidos através dos ensaios em miniatura.

Entretanto, embasou todos os resultados do ensaio, denominado no trabalho de “Shear

Punch”, nas forças de cisalhamento atuantes durante o ensaio.

Baik et al. (1983) utilizou os ensaios em miniatura para determinar a transição

dúctil-frágil de um aço Cr-Ni, com diferentes composições químicas. Com base na Figura

2.21, obtida pelos autores, é possível observar que a curva para temperaturas mais baixas

não apresenta a forma apresentada por Manahan et al. (1981), o que poderia caracterizar

a fragilidade do material. Para confirmar, os autores analisaram cada fratura dos ensaios

em miniatura e obtiveram resultados de ensaios Charpy para correlacionar. Como

conclusão, curvas de transição dúctil-frágil, muito semelhantes às obtidas por ensaios

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Charpy, foram levantadas. No entanto, a temperatura de transição no SPT estava a uma

temperatura mais baixa e foi necessário determinar uma correção linear, aplicada em

todas as condições, para aproximar os valores.

Figura 2.21 - Curvas deslocamento vs carga para diferentes temperaturas (Fonte: Baik

et al., 1983, modificado).

Em 1986 foi registrada a patente (Manahan et al., 1986) do ensaio em miniatura

para obtenção de propriedades mecânicas de materiais metálicos, denominado

Miniaturized Bend Test (MBT). Esse documento descreve todo o equipamento utilizado,

como são delimitadas as regiões da curva obtida com o teste e as dimensões do corpo de

prova (cp) utilizado (3,0 mm de diâmetro e 0,25 mm de espessura). Em seguida, autores

como Kameda & Buck (1986), Mao & Takahashi (1987), Tsepelev & Poymenov (1992)

realizaram pesquisas com os parâmetros do MBT buscando efetivar a correlação dos

dados obtidos com os ensaios convencionais, principalmente para identificar a perda de

ductilidade (fragilização) em aços, utilizados na indústria nuclear, devido à temperatura

de trabalho e/ou irradiação.

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Segundo Fleury & Ha (1998), Mao & Takahashi (1987) foram os primeiros

autores a propor uma modelagem da carga versus curva de deflexão para tentar reproduzir

a curva carga vs deslocamento usando elementos finitos. Considerando um

comportamento plástico perfeitamente rígido e utilizando expressões analíticas

descritivas desse comportamento, Mao & Takahashi (1987) conseguiram descrever a

curva carga vs deslocamento do punção para a condição de temperatura ambiente.

Entretanto, esse modelo não conseguiu dar uma descrição precisa do comportamento do

ensaio na região plástica, onde o comportamento ocorre sob um regime de membrana.

O regime de membrana é determinado pelo ponto onde não há mais o

comportamento característico de uma região plástica (deformação e encruamento), pois

o ensaio é baseado em uma compressão onde, quando atingido um determinado estágio

do ensaio, há um deslizamento de camadas simultaneamente com a deformação plástica

localizada em algumas regiões.

Atualmente, o ensaio em miniatura é denominado Small Punched Test (SPT) e

vem sendo explorado como uma das alternativas ao ensaio convencional de avaliação das

propriedades mecânicas e resistência à fluência. Entre as vantagens desse método pode-

se destacar o fato dos corpos de prova (cp´s) utilizados para este tipo de ensaio possuírem

dimensões muito inferiores às dos cp´s convencionais, conforme apresentado na Figura

2.22 (Hyde & Sun, 2010). No entanto, é preciso ressaltar que é necessário garantir que a

área de contato entre o punção e o material seja suficientemente grande em comparação

com características metalúrgicas, como o tamanho de grão e a textura, para assegurar que

as propriedades macroscópicas sejam obtidas (Hyde et al., 1996).

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Figura 2.22 - Dimensões (em mm) padrão das amostras para ensaio de SPT (Fonte:

Hyde & Sun, 2011 modificado).

Em juntas soldadas, as zonas termicamente afetadas (ZTAs) são muito estreitas e

a determinação das propriedades nessas regiões do material, utilizando testes uniaxiais

convencionais, se torna impraticável (Hyde & Sun, 2001). Assim, o SPT tem sido

estudado, principalmente, em juntas soldadas, pois permite a determinação das

propriedades mecânicas e de resistência à fluência nas diferentes regiões da junta, tendo

em vista que as amostras têm dimensões bem inferiores quando comparadas aos corpos

de prova convencionais.

2.4.1. Propriedades mecânicas

Os ensaios de SPT para avaliação das propriedades mecânicas são realizados em

uma determinada temperatura, geralmente, utilizando fornos com atmosfera controlada.

O esquema simplificado do equipamento utilizado para os ensaios está representado na

Figura 2.23 (Hyde & Sun, 2010).

Onde:

𝑎𝑝 = raio do disco entre os suportes

𝑅𝑠 = raio do punção

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Figura 2.23 - Esquema simplificado do equipamento para ensaio de SPT (Fonte: Hyde

& Sun, 2010 modificado).

A Figura 2.24 mostra a representação típica da carga vs deslocamento punção de

uma liga metálica ductil com diferentes regiões delimitadas. A região I corresponde à

parte elástica da amostra, juntamente com o recuo produzido na sua superfície através do

contato da cabeça do punção. A extensão progressiva da curva plástica para toda a

amostra é marcada pela região II. A partir de um determinado ponto, a curva plástica leva

a um comportamento de membrana, que predomina na maior parte do teste, uma fase que

corresponde à região III. Ao aproximar-se da carga máxima, a inclinação da curva começa

a diminuir à medida que o mecanismo de falha (em escala microscópica) começa a se

desenvolver (estiramento e fissuras internas), dando origem à região IV, onde o

estiramento e em seguida uma visível fenda são finalmente produzidos, levando a uma

diminuição da carga, até uma falha total da amostra (García et al., 2014).

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Figura 2.24 - Curva obtida através do ensaio de SPT para um material dúctil em

temperatura ambiente (Fonte: García et al., 2014).

Foram desenvolvidas equações para permitir a obtenção dos valores de tensão

(limite de escoamento e limite de resistência) com base na curva carga vs deslocamento

do punção. Fleury & Ha (1998) mostraram a correlação linear entre os valores obtidos

com base na curva de SPT e os resultados dos ensaios uniaxiais convencionais para

diferentes temperaturas com diferentes aços Cr-Mo. A partir dos resultados os autores

observaram uma diferença entre a inclinação das retas, que posteriormente seriam

utilizadas para o desenvolvimento de equações empíricas de correlação de carga e tensão,

para os diferentes materiais.

A curva obtida no ensaio é relacionada com as propriedades mecânicas por meio

de correlações matemáticas, que dependem das propriedades do material, assim como da

geometria da amostra e do penetrador utilizado no ensaio (Hyde et al., 1996). Neste caso,

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alguns pontos são de extrema importância neste tipo de ensaio, conforme apresentado na

Figura 2.24: (Rodríguez et al., 2009)

𝑃𝑦 é a carga onde se considera que a deformação plástica começa. Pode ser obtida

por diferentes técnicas ainda em estudo.

𝑃𝑚 é a carga máxima obtida durante todo o ensaio e onde se considera o valor para

calcular a tensão limite de resistência.

𝑑𝑚 é o deslocamento utilizado para cálculo do alongamento. A escolha desse

ponto ainda é discutida, pois há uma grande dificuldade em se determinar com

precisão quando o cp rompe durante o ensaio. Dessa maneira, García et al. (2014)

relatam que o ponto de alongamento relativo à carga máxima é mais preciso do

que o valor final do deslocamento.

Entretanto, ainda é muito explorada a determinação desses pontos,

especificamente para o 𝑃𝑦 pois é com base nesses dados que as equações são

desenvolvidas para a melhor aproximação dos valores de tensão resultantes de ensaios

convencionais de tração. García et al. (2014) apresenta resumidamente os 5 métodos já

desenvolvidos para a obtenção do valor de 𝑃𝑦 com base em pesquisas anteriores como

Mao et al. (1987) e Rodríguez et al. (2009). O objetivo desses estudos era tentar

desenvolver uma maneira de obter o valor de 𝑃𝑦 que resultasse em uma equação para o

cálculo do limite de escoamento sendo menos dependente do material e que obtivesse

uma boa aproximação com os valores adquiridos através dos ensaios convencionais de

tração, tanto em temperatura ambiente quanto em altas temperaturas. A Figura 2.25

apresenta graficamente o processo de obtenção de 𝑃𝑦 por cada um dos métodos.

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Figura 2.25 - Diferentes propostas para a determinação de 𝑃𝑦 (Fonte: García et al., 2014

modificado).

Mao & Takahashi (1987) definiram𝑃𝑦 como o ponto de interseção de duas

tangentes definidas no regime elástico (região I) e do regime plástico (zona II) –

denominado 𝑃𝑦_𝑀𝑎𝑜. O CEN (European Committee for Standardization) propôs que

𝑃𝑦fosse definido como a projeção vertical do ponto de interseção das duas tangentes

descritas por Mao & Takahashi (1987) – chamando de 𝑃𝑦_𝐶𝐸𝑁. Nos trabalhos apresentados

por Rodríguez et al. (2009) e Contreras et al.(2008) a carga 𝑃𝑦 é obtida através do ponto

de interseção entre a curva de SPT e uma reta paralela à inclinação inicial do gráfico

(obtida apenas na região elástica), com um deslocamento de 𝑡/10 ou 𝑡/100 (𝑃𝑦_𝑡/10 e

𝑃𝑦_𝑡/100, respectivamente), onde 𝑡 é a espessura do cp ensaiado. Esse método (𝑃𝑦_𝑡/10 e

𝑃𝑦_𝑡/100) é muito semelhante ao aplicado nos ensaios convencionais. Uma proposta mais

recente determina 𝑃𝑦 como a carga correspondente ao primeiro ponto flexão localizado

na zona I, 𝑃𝑦_𝑖𝑛𝑓.

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Para 𝑃𝑚 todos os autores mencionados descrevem como melhor ponto o valor

máximo de carga obtido durante o ensaio. Com relação ao alongamento, devido à

dificuldade de determinar o ponto exato de ruptura do cp de SPT, o valor 𝑑𝑚 é melhor

definido como o valor de deslocamento onde a carga é máxima tendo em vista que após

esse ponto o cp colapsa rapidamente (García et al., 2014).

Após a aquisição dos dados de 𝑃𝑦 e 𝑃𝑚, Mao &Takahashi (1987) apresentaram

equações para adquirir os valores de tensão limite de escoamento e tensão limite de

resistência, que posteriormente seriam descritas conforme mostrou Contreras et al.

(2008). As Equações 2.15 e 2.16 representam as relações entre carga e limite de

escoamento e limite de resistência respectivamente.

𝜎𝐿.𝐸. = 𝛼1.𝑃𝑦

𝑡2 + 𝛼2 (2.15)

𝜎𝐿.𝑅. = 𝛽1.𝑃𝑚

𝑡2 + 𝛽2 (2.16)

Onde α1, α2, β1 e β2 são constantes dependentes principalmente do tipo de material,

das dimensões do cp e dos parâmetros de ensaio e 𝑡 é a espessura do cp utilizado, sendo

considerado padrão 𝑡 = 0,5 mm. Conforme apresentado por García et al. (2014), pesquisas

recentes levaram ao desenvolvimento de uma equação alternativa para o cálculo da tensão

limite de resistência, com base na espessura do cp e no valor do deslocamento onde a

carga é máxima (𝑑𝑚). Dessa forma, o cálculo é descrito conforme mostra a Equação 2.17.

𝜎𝐿.𝑅. = 𝛽1.𝑃𝑚

(𝑡.𝑑𝑚)+ 𝛽2 (2.17)

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Para o alongamento utiliza-se a Equação 2.18, sendo o deslocamento determinado

pelo ponto de maior carga durante o ensaio (𝑑𝑚).

𝐴(%) = 𝑦. 𝑑𝑚 (2.18)

Com base em dados experimentais foram determinadas as constantes para cada

método apresentado na Figura 2.25. Nestes casos o valor de α2 foi considerado nulo e

α1menos dependente do material. Assim, vários materiais foram ensaiados e o valor da

constante para o limite de escoamento foi obtido através da razão entre 𝜎𝐿𝐸 de cada

material com o valor 𝑃𝑦 𝑡2⁄ , sendo o valor de 𝑃𝑦 obtido de modos diferentes, dependendo

do método. A Figura 2.26 mostra um exemplo da relação entre 𝑃𝑦 𝑡2⁄ e 𝜎𝐿𝐸 para o método

de Mao.

Figura 2.26 - Obtenção de 𝛼1através da relação entre 𝑃𝑦 𝑡2⁄ e 𝑃𝑦através do método de

Mao (Fonte: García et al., 2014, modificado).

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O mesmo processo é realizado para o limite de resistência (determinação de β1 e

considerando β2 nulo). Entretanto, até o momento todos os autores que pesquisam sobre

os ensaios de SPT convergem para a utilização de um ponto específico - 𝑃𝑚, descrito

anteriormente.

2.4.2. Resistência à fluência

Apesar de amplamente utilizados, os ensaios padronizados de fluência são de

longa duração, podendo durar até 10.000 h, e não conseguem caracterizar a resistência de

cada região de uma junta soldada em separado, o que restringe a aplicação no meio

industrial. Assim, novos métodos para a determinação da resistência à fluência têm sido

desenvolvidos ao longo dos anos a fim de caracterizar com maior detalhamento as

diferentes regiões das juntas soldadas.

O Small Punch Test (SPT) mostra grande potencial para a avaliação da resistência

à fluência de aços. Dobes & Milicika (2002) relatam que a forma da curva de deflexão

central do cp de SPT versus o tempo de ensaio sob carga constante é qualitativamente

semelhante às curvas de fluência resultante do teste uniaxial convencional. A Figura 2.27

mostra as curvas de fluência para diferentes regiões de uma junta soldada de aço P91,

onde se pode observar grande semelhança com a curva de um ensaio convencional.

Contudo, atualmente, não existe teoria consolidada para a correlação dos dados obtidos

com os ensaios convencionais, pois a deformação que ocorre no SPT envolve interações

de vários processos não lineares (Hyde et al., 2012).

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Figura 2.27 - Curvas de fluência para diferentes regiões de junta soldadas de aço

P91 obtidas através de SPT (Fonte: Hyde & Sun, 2009).

Segundo Blagoeva & Hurst (2009) os ensaios convencionais de fluência são

diretamente relacionados aos fatores carga/área enquanto que os ensaios de SPT são

determinados apenas pela carga. Dessa maneira é preciso determinar a correlação carga e

deslocamento com tensão e deformação, respectivamente, para os ensaios de SPT. Como

base no teorema da membrana se obteve a seguinte relação para carga e tensão, sendo 𝐾

uma constante dependente do material:

𝑃

𝜎= 3,33𝐾𝑎𝑝

−0,2𝑅𝑠1,2𝑡 (2.19)

Substituindo os valores de 𝑎𝑝 e 𝑅𝑠 para os padrões (𝑎𝑝 = 2,0 𝑚𝑚; 𝑅𝑠 =

1,25 𝑚𝑚; 𝑡 = 0,5 𝑚𝑚) e considerando 𝐾 = 1,0, obtém-se a relação apresentada na

Equação 2.20.

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𝑃

𝜎= 1,4 𝑚𝑚2 (2.20)

Mesmo obtendo resultados muito relevantes, Blagoeva & Hurst (2009)

descreveram que a correlação direta entre os resultados do SPT e o convencional não

pode ser alcançada usando um fator de correlação de carga /tensão de 1,4 (𝐾 = 1,0) com

alta tensão (ensaios de curto prazo). Na verdade, um valor de 𝐾 = 1,3 seria mais

apropriado para a correlação para as condições de ensaio aplicadas.

Hyde & Sun (2000) descrevem uma solução analítica para o ensaio de fluência

por Small Punched com base na geometria do punção (𝑅𝑠 = 1,25 mm) e da matriz

(𝑎𝑝 = 2,0 mm). Assim, usando a Equação 2.22 os deslocamentos do punção (Δ), obtidos

experimentalmente, podem ser convertidos em deformação.

𝜀 = 0,17959Δ − 0,09357Δ2 − 0,0044Δ3 (2.21)

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Capítulo 3

Materiais e Métodos

3.1. Materiais

No presente trabalho foram usados dois materiais: dois tubos com classificação

ASTM A335 Grau P91 modificado e Grau P92, respectivamente.

3.1.1 ASTM A335 Grau P91 modificado

Neste trabalho foi utilizado um tubo com diâmetro externo de 152 mm e espessura

de parede de 18 mm, fabricado sem costura e na condição normalizado a 1070 °C e

revenido a 770 ºC, sendo ambos os tratamentos seguidos de resfriamento ao ar.

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Para a soldagem da raiz das juntas foi usado arame-eletrodo, fabricado conforme

a especificação SFA 5.28 pela Metrode, marca comercial CORMET M91, classificação

E90C-B9, com diâmetro de 1,2 mm e para os passes de enchimento foi utilizado o

eletrodo E91T1-B9. As composições químicas e as propriedades mecânicas do metal de

base e dos eletrodos estão apresentadas nas Tabelas 3.1 a 3.4.

Tabela 3.1 - Composição química do aço ASTM A335 P91 (% de peso).

C Si Mn P S Cu Cr Ni

0,108 0,33 0,53 0,013 0,002 0,190 8,560 0,300

Mo V N Al Nb As Sn Ti

0,870 0,221 0,053 0,012 0,067 0,006 0,150 0,003

Tabela 3.2 - Composição química do eletrodo de raiz E90C-B9 (% de peso).

C Si Mn P S Cu Cr

0,09 0,30 0,80 0,001 0,009 0,03 8,0

Ni Mo V N Al Nb Ni + Mn

0,30 0,87 0,18 0,05 0,008 0,03 1,10

Tabela 3.3 - Composição química do eletrodo de enchimento E91T1-B9 (% de peso).

C Si Mn P S Cu Cr

0,11 0,34 0,89 0,020 0,006 0,05 9,4

Ni Mo V N Al Nb Ni + Mn

0,47 0,95 0,22 0,05 0,004 0,04 1,36

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Tabela 3.4 - Propriedades mecânicas dos materiais.

σLE (MPa) σLR (MPa) Alongamento (%)

Norma

ASTM A335 P91 > 415 > 585 > 19

Fabricante 638 724 20

E90C-B9 650 780 17

E91T1-B9 660 790 20

3.1.2 ASTM A335 Grau P92

O segundo material utilizado neste trabalho consta de parte de um tubo de aço

ASTM A335 Grau P92 com diâmetro externo de 323 mm e 60 mm de espessura de

parede. A composição química do material (obtida em laboratório) e as propriedades

mecânicas estão mostradas nas Tabelas 3.5 e 3.6.

Tabela 3.5 - Composição química do aço P92 (% de peso).

C Cr W Mn Mo V Ti Nb Ni

0,11 9,62 1,62 0,17 0,50 0,23 0,18 0,10 0,10

Tabela 3.6 - Propriedades mecânicas do material ASTM A335 P92.

σLE (MPa) σLR (MPa) Alongamento (%)

Norma

ASTM A335 P92 >440 >620 20

Fabricante 516 688 25

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58

3.2. Soldagem das amostras

As juntas soldadas de aço P91 foram confeccionadas pelos processos de arame

tubular com núcleo metálico (MCAW) e arame tubular com núcleo fluxado (FCAW), que

vêm sendo cada vez mais aplicados em juntas tubulares, em campo ou fábrica, devido à

alta produtividade e boa qualidade superficial das juntas formadas.

Foram usadas distâncias de 12 mm entre o bico de contato e a peça (stick-out) e

velocidades de alimentação de arame para a soldagem da raiz (MCAW) e do enchimento

(FCAW) de 48 mm/s e 70 mm/s, respectivamente. A proteção da poça de fusão foi feita

por uma mistura de 98 % de argônio e 2 % de CO2 com vazão de 12 L/min e argônio

comercial (99,99 % de pureza) com vazão de 16 L/min foi usado como gás de purga

(apenas no passe de raiz), utilizando chanfro em V (75° de ângulo de abertura, 3,0 mm

de abertura da raiz e 1,5 mm de face da raiz). A temperatura de interpasse foi de

aproximadamente 255 °C e o aquecimento realizado por meio de resistência elétrica,

protegida por manta isolante. O dimensionamento final das amostras e o croqui com a

sequência de passes estão representados nas Figuras 3.1a e 3.1b.

(a) (b) Figura 3.1 - Junta tubular soldada: (a) detalhamento da junta (mm); (b) sequência de

passes.

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59

Após a soldagem as amostras foram aquecidas à temperatura de 300 °C por 20

minutos para o alívio de hidrogênio. Em seguida, após resfriamento até a temperatura

ambiente, uma parte de cada amostra (meia cana) foi submetida ao tratamento térmico de

revenido com aquecimento à taxa máxima de 125 °C/h até à temperatura de patamar

correspondente a 760 °C ±5 °C por 2 h. O resfriamento até 250 °C foi controlado à taxa

máxima de 125 °C/h.

Para o aço P92 as juntas foram obtidas através do processo TIG, para o passe de

raiz, e eletrodo revestido para os passes de enchimento. Para o passe de raiz foi utilizado

arame de 2,5 mm de diâmetro, temperatura de pré-aquecimento de 230 °C, utilizando

argônio comercial como gás de purga. Os três passes subsequentes forma realizados com

eletrodo de 3,2 mm e o restante dos passes de enchimento com diâmetro 4,0 mm. Em

todos os passes foi mantida a temperatura interpasse de aproximadamente 300 °C. Em

todo o processo foi mantida a posição plana de soldagem através do acoplamento dos

tubos em uma máquina de rotação de grande porte. A Figura 3.2 detalha o chanfro usado

para a soldagem das juntas de aço P92. O tratamento térmico pós soldagem foi realizado

com uma taxa de aquecimento de 100 °C/h até atingir a temperatura de 755 °C, mantida

por 4 h. Após, as juntas foram resfriadas a uma taxa de 315 °C/h.

Figura 3.2 - Detalhamento do chanfro para as juntas de aço P92 (unidades em mm).

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60

3.3. Análise das tensões residuais – aço P91

Na análise da integridade de tubulações soldadas a avaliação da raiz das juntas

soldadas apresenta grande dificuldade, tendo em vista que as mesmas ficam quase sempre

inacessíveis. Assim, um dos objetivos deste trabalho constituiu no estudo das tensões

residuais na raiz das juntas soldadas, sendo para isso necessário o corte da amostra tubular

em meia-cana, possibilitando o acesso à parte interna do tubo de aço P91. Neste trabalho

foram analisados dois tubos soldados, obtidos por diferentes procedimentos, ao final dos

quais foi possível comparar o comportamento das tensões residuais geradas após o

processo de corte e tratamento térmico pós soldagem (TTPS) das juntas. As etapas de

confecção das amostras estão detalhadas na Tabela 3.7.

As tensões residuais superficiais foram medidas na direção transversal das

amostras, na camada de acabamento e na raiz das juntas soldadas, no Laboratório de

Análise de Tensões – LAT, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFF.

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61

Tabela 3.7 - Descrição das etapas de obtenção das amostras soldadas de aço P91 e

medição das TR.

Etapas Amostra 1 Amostra 2

1 Soldagem circunferencial 360º das

partes.

Corte do tubo em quatro meias-canas.

2 Medição das TR em duas regiões no

acabamento do cordão de solda: a 90º e a

270º do início da soldagem.

Soldagem semicircunferencial das

partes em duas meias-canas.

3 Corte em duas meias-canas na região do

início da soldagem.

Medição das TR nas regiões de

acabamento e raiz nas duas meias-

canas soldadas.

4 Medição das TR nas regiões de

acabamento e raiz das meias-canas

soldadas.

TTPS em uma meia-cana – amostra

2A.

5 TTPS em uma meia-cana – amostra 1A. Medição de TR no acabamento e na

raiz da meia-cana com TTPS.

6 Medição de TR no acabamento e na raiz

da meia-cana tratada termicamente.

Corte confecção de cp´s de fluência e

Small Punch Test em ambas as

condições. 7 Corte confecção de cp´s de tração em

ambas as condições.

8 Análise microestrutural e microdureza

Vickers nas duas meias-canas.

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As tensões residuais foram medidas por difração de raios-X, pelo método do

sen2, utilizando radiação Cr (Crk = 2,29092Å), difratando o plano (211) da ferrita,

com um analisador de tensões da marca XStress3000 (Figura 3.3), fabricado pela

Stresstech, conforme parâmetros detalhados na Tabela 3.8.

Figura 3.3 - Analisador de tensões XStress3000.

Tabela 3.8 - Parâmetros para medição das tensões residuais.

Diâmetro do colimador 2,0 mm

Ângulo 2θ 156,41°

Ângulos ψ 0; 20; 30; 40 e 45°

Tempo de exposição 10 s

Corrente 6,7 mA

Tensão 30 V

A Figura 3.4 apresenta o esquema de medição das TR realizado nas juntas de aço

P91.

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63

(a) (b)

Figura 3.4 - Representação esquemática da meia-cana soldada mostrando a localização

(pontos vermelhos e ângulos) das medidas de TR (a) no acabamento; (b) na raiz.

3.4. Propriedades mecânicas

3.4.1. Ensaios de Tração

Os ensaios de tração foram realizados no Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ)

segundo as normas ISO 6892-1 e ISO 6892-2 para a temperatura ambiente e alta

temperatura, respectivamente. Em conformidade com a norma podem ser usados dois

métodos para a determinação da velocidade de ensaio. Devido à limitação dos

extensômetros utilizados, o ISQ opta por usar dois tipos de controle de velocidade para

os ensaios de tração em altas temperaturas: até o escoamento é usado o controle de força

(Método B), velocidade em kN/min, e após atingir o limite de escoamento do material o

ensaio possa a ser realizado em controle de posição (Método A - 4 mm/min). A mudança

de controle se dá quando a deformação atinge 3 %.

Assim sendo, em todos os ensaios a altas temperaturas foi usada a velocidade de

2 kN/min até 3% de deformação seguida do controle de posição de 4 mm/min até a

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64

ruptura do corpo de prova. Para os ensaios de tração em temperatura ambiente foi usada,

com base no Método A, a taxa de 1,5%/min (2,5 x 10-3 s-1).

O aço P91 foi estudado como objetivo de caracterizar a influência do tratamento

térmico pós soldagem (TTPS) nas tensões residuais, propriedades mecânicas em elevadas

temperaturas e resistência à fluência das juntas soldadas pelos processos Metal Cored e

Flux Cored. Os ensaios de tração foram realizados no material de base (MB) e nas juntas

soldadas nas condições pós soldagem e com TTPS em seis temperaturas: ambiente (~

25 °C), 500, 550, 600, 650 e 700 °C. As dimensões dos corpos de prova (cp´s) de tração

estão apresentadas na Figura 3.5.

Figura 3.5 - Detalhamento dos cp´s de tração (unidades em mm).

Com relação ao aço P92, o foco era obter dados suficientes para serem

correlacionados aos obtidos através do ensaio Small Punch Test (STP) e, dessa forma, o

estudo sobre a influência do TTPS nas propriedades mecânicas das juntas foi suprimido

para este aço. Neste contexto, foram utilizados cp´s com as mesmas dimensões (Figura

3.5) e as seguintes condições de temperatura: ambiente, 500, 550, 620 e 650 °C. Contudo,

devido à limitação de material, principalmente com metal de solda, em algumas

temperaturas não foi possível realizar ensaios convencionais de tração.

Como descrito anteriormente, os ensaios de tração foram realizados no Instituto

de Soldadura e Qualidade (ISQ) – Portugal, em máquinas de tração Instron, conforme

mostra a Figuras3.6a. Em todos os ensaios em altas temperaturas foram adquiridas as

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curvas de taxa de aquecimento. A Figura 3.6 detalha o posicionamento dos cp´s para

ensaios em altas temperaturas.

(a) (b)

Figura 3.6 - (a) Máquina de tração utilizada nos ensaios convencionais de tração;

(b) detalhe do posicionamento do cp nos ensaios de tração em altas temperaturas.

3.4.2. Ensaios de Fluência

Os ensaios de fluência convencional foram realizados apenas nas juntas soldadas

de aço P91, conforme os parâmetros apresentados na Tabela 3.9, para as condições após

soldado e com TTPS, a fim de comparar os resultados obtidos e detalhar como o TTPS

influencia na resistência à fluência da junta soldada. Foi usinado apenas um cp de cada

condição devido à disponibilidade de material, equipamentos e tempo, para uma maior

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amostragem. As dimensões dos corpos de prova para os ensaios de fluência convencional

estão representadas na Figura 3.7.

Tabela 3.9 - Parâmetros usados nos ensaios de fluência.

Temperatura

(C) Tensão (MPa)

550 180 200 220

600 120 140 180

Figura 3.7 - Corpo de prova de fluência (unidades em mm).

Os ensaios foram realizados em máquinas de fluência do Instituto de Soldadura e

Qualidade (ISQ) – Portugal, como detalha a Figura 3.8. Em todos os casos foram

realizados ensaios sob carga constante, calculada individualmente para cada cp, de acordo

com a sua seção transversal.

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(a) (b)

Figura 3.8 - (a) Máquina de fluência utilizada nos ensaios convencionais; (b) detalhe do

posicionamento do cp.

3.5. Ensaios de Small Punched

Os ensaios de SPT (Small Punched Test) para avaliação das propriedades

mecânicas foram realizados nas diferentes regiões das juntas: metal de base (MB), zona

termicamente afetada de grãos grosseiros (ZTA-GG), zona termicamente afetada de grãos

finos (ZTA-GF) e metal de solda (MS). O procedimento de obtenção dos cp´s está

representado na Figura 3.9.

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Figura 3.9 - Desenho esquemático do corte para a obtenção dos cp´s de SPT.

Primeiramente, foram usinados cilindros de 8,0 mm de diâmetro e 85 mm de

comprimento com as juntas centralizadas. Os cilindros foram cortados para a obtenção de

discos com cerca de 0,6 - 0,7 mm de espessura, que foram posteriormente lixados com

lixa 600 até a espessura final de 0,5 ± 0,002 mm.

As propriedades mecânicas das diferentes regiões das juntas soldadas obtidas

através de SPT foram avaliadas em diferentes temperaturas, para o aço P91: ambiente,

550 °C e 600 °C; para o aço P92: ambiente, 600 °C e 650 °C. Os ensaios de SPT foram

realizados com um sistema adaptado à máquina de tração Instron, detalhado na Figura

3.10.

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(a) (b)

Figura 3.10 - (a) Máquina de tração com sistema de SPT acoplado; (b) detalhe do

sistema de SPT.

Para ensaios em altas temperaturas foi utilizada uma célula de carga de 30 kN

(classe 0,5 - alta precisão), sendo necessário acoplar um extensômetro de quartzo ao

sistema, garantindo maior precisão na aquisição dos dados de deslocamento em

comparação ao sistema da máquina.

Primeiramente foram realizados ensaios em ambos os metais de base. Dessa forma

foi possível fazer uma correlação primária com a literatura e uma estimativa de cálculo

para as demais regiões. Para as juntas de aço P91 foram estudadas duas condições: sem

TTPS e com TTPS e para o aço P92 apenas na condição final, ou seja, com TTPS. Os

ensaios foram feitos sem atmosfera controlada, com uma taxa de deslocamento constate

do punção de 0,2 mm/min. Em cada condição foram feitos dois ensaios, com exceção das

regiões da ZTA (ZTA-GG e ZTA-GF), devido à limitação de material para essas regiões.

Também foram adquiridos dados sobreas taxas de aquecimento.

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Ensaios de microdureza Vickers e análise metalográfica por microscopia ótica e

análises das superfícies de fratura por microscópio eletrônico de varredura (MEV), nos

ensaios de tração e SPT complementaram o trabalho.

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71

Capítulo 4

Resultados e Discussões

No presente capítulo, os resultados são apresentados em partes, a saber: detalhamento

metalúrgico e perfis de microdureza Vickers das juntas soldadas; análise das tensões

residuais provenientes do processo de soldagem das amostras de aço P91; estudo sobre a

influência do tratamento térmico pós soldagem nas propriedades mecânicas e resistência

à fluência das juntas soldadas de aço P91 (ensaios mecânicos e de fluência); análise sobre

a eficiência dos ensaios em miniatura (Small Punched Test) para a caracterização das

propriedades mecânicas de diferentes regiões das juntas soldadas de aços P91 e P92.

Complementarmente são apresentadas microscopias eletrônicas de varredura das fraturas

dos cp´s para uma melhor caracterização dos resultados, principalmente as relacionadas

aos ensaios de SPT.

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4.1 Caracterização microestrutural

As juntas soldadas de aço P91 e P92 foram analisadas macro e microscopicamente

para descrever suas principais características metalúrgicas. Complementarmente foram

levantados perfis de microdureza Vickres na seção transversal das juntas em diferentes

regiões.

4.1.1. Aço ASTM A335 P91 modificado

A Figura 4.1 mostra a macrografia da junta de aço P91, soldada pelos processos

FCAW e MCAW.

Figura 4.1 - Macrografia esquemática da junta soldada de aço P91 (unidades em

mm)

Analisando a Figura 4.1 é possível observar a presença de poros no metal de solda

na região dos passes de enchimento, que poderiam prejudicar o desempenho da junta em

serviço. Como mencionado na seção 2.1.1, o ciclo térmico de soldagem resulta em regiões

diferentemente aquecidas e plastificadas durante a formação de uma junta soldada e,

consequentemente, as microestruturas ao longo da seção transversal da mesma são bem

distintas, como pode ser observado na Figura 4.2.

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73

Figura 4.2 - Perfil microestrutural da raiz da junta pós soldagem.

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74

A Figura 4.2 apresenta o perfil microestrutural na região da raiz da junta soldada

de aço P91 após a soldagem. De cima para baixo é possível observar o metal de solda

(MS), a zona termicamente afetada (ZTA) de grãos grosseiros (ZTA-GG), a ZTA de grãos

finos (ZTA-GF) e o metal de base (MB) embaixo. Com esse aumento, a determinação

exata da chamada zona intercrítica é muito difícil, pois a mesma, além de ser muito

estreita, é bem semelhante à ZTA-GF.

A microscopia do metal de base está representada na Figura 4.3, que consiste de

martensita revenida com a presença de carbonetos precipitados (pontos escuros).

Figura 4.3 - Microscopia do metal de base do aço P91.

As microscopias do metal de solda como soldado e após o tratamento térmico pós

soldagem (TTPS) estão mostradas nas Figuras 4.4a e 4.4b, respectivamente. Para a junta

na condição como soldada a microestrutura é constituída de ripas de martensita.

Entretanto, após a realização do tratamento térmico, uma microestrutura de martensita

revenida, com elevada precipitação de carbonetos, pode ser nitidamente observada.

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75

(a) (b)

Figura 4.4 - Metal de solda (a) como soldado; (b) após o TTPS.

Além do próprio metal de solda, a zona termicamente afetada de grãos grosseiros

(ZTA-GG – Figura 4.5a), é a região que experimenta temperaturas mais elevadas durante

a soldagem e, assim, os precipitados, que impedem o crescimento dos grãos de austenita

em condição de temperaturas mais baixas, são dissolvidos. Logo após o TTPS nota-se, da

mesma forma que apresentado no metal de solda, uma massiva precipitação de carbonetos

(Figura 4.5b).

(a) (b)

Figura 4.5 - ZTA de grãos grosseiros:(a) como soldado; (b) após o TTPS.

A temperatura de pico na ZTA de grão finos (ZTA-GF) não é suficientemente alta

para dissolver completamente os precipitados existentes, o que pode explicar a presença

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de alguns precipitados na condição como soldado, conforme pode ser observado na

Figura 4.6. A microestrutura da ZTA-GF é muito semelhante à microestrutura do metal

de base, o que torna particularmente difícil a sua identificação, diferenciando somente

pela quantidade de carbonetos. Contudo, a Figura 4.6b apresenta a microestrutura da

ZTA-GF na condição após o TTPS onde pode ser observada uma coalescência dos

carbonetos não dissolvidos durante a soldagem.

(a) (b)

Figura 4.6 - ZTA de grãos finos: (a) como soldado; (b) após o TTPS.

Os perfis de microdureza das juntas soldadas foram obtidos entre três regiões

distintas: no passe de raiz, na camada intermediária e na camada de acabamento, como

apresentado na Figura 4.7.

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-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25

200

250

300

350

400

450

500

ZTAZTA

Mic

rod

ure

za (

HV

)

Distância ao centro do cordão (mm)

Pós Soldagem

TTPS

-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25

200

250

300

350

400

450

500

ZTA

Distância ao centro do cordão (mm)

Mic

rod

ure

za (

HV

)

Pós Soldagem

TTPS

ZTA

-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25

200

250

300

350

400

450

500

ZTAZTAMic

rod

ure

za (

HV

)

Distância ao centro do cordão (mm)

Pós Soldagem

TTPS

Figura 4.7 - Perfis de microdureza Vickers para as juntas soldadas de aço P91 (a)

no acabamento, (b) na camada intermediária e (c) na raiz.

Os valores de microdureza da junta, após o processo de soldagem, foram muito

elevados (aproximadamente 420 HV), possivelmente devido à microestrutura

martensítica predominante em toda a extensão da mesma. Entretanto, após o tratamento

(a)

(b)

(c)

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térmico pós soldagem os valores foram significativamente reduzidos na região do metal

de solda (cerca de 260 HV).

A ZTA apresentou regiões macias, ou seja, os valores de dureza são mais baixos

do que os do metal de base ou do metal de solda após o tratamento térmico. Pode-se

observar ainda que, após a soldagem, a mesma região apresentava valores de dureza mais

baixos que os do metal de solda, lembrando que as amostras foram obtidas de juntas

diferentes e, não seria possível ter exatamente o mesmo local para as ZTAs antes e após

o TTPS e, por esta razão elas estão destacadas nas figuras.

Durante a soldagem, a transformação parcial da martensita do metal de base para

austenita, bem como a dissolução parcial dos precipitados, podem resultar na formação

de martensita com baixo carbono durante o resfriamento. Dessa forma, no tratamento

térmico pós soldagem menos precipitados se formaram nestas regiões e o coalescimento

rápido dos precipitados parcialmente dissolvidos podem ser a causa da queda da dureza

e também da resistência mecânica da região da ZTA de grãos finos e intercrítica.

4.1.2. Aço ASTM A335 P92

A Figura 4.8 mostra a macrografia esquemática da junta soldada do aço P92 onde

é observada uma zona termicamente afetada (ZTA) bem estreita nos passes de

enchimento e de acabamento, soldados pelo processo eletrodo revestido (SMAW). Por

outro lado, na raiz da junta soldada, os passes obtidos pelo processo TIG, apresentam uma

ZTA mais extensa.

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Figura 4.8 - Macrografia esquemática da junta soldada de aço P92.

A análise microestrutural do metal de base mostrou que o mesmo é constituído de

martensita revenida (Figura 4.9) com carbonetos precipitados.

Figura 4.9 - Microscopia do metal de base (aumento de 500x).

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As Figuras 4.10a e 4.10b apresentam a microestrutura da região do metal de solda

e a ZTA das juntas soldadas, respectivamente, constituídas também de martensita

revenida.

(a) (b)

Figura 4.10 - (a) Metal de solda (a) e (b) ZTA (aumento de 500x).

A microdureza da junta soldada do aço P92 foi realizada em duas regiões: raiz e

acabamento e os perfis estão representados nas Figuras 4.11ae 4.11b, respectivamente.

Os valores de microdureza na região do metal de solda apresentaram valores maiores do

que os estabelecidos pela norma ASTM A-335 (até 270 HV) e, mesmo com uma ZTA de

extensão reduzida nota-se para a camada de acabamento (soldagem por eletrodo) que há

valores de microdureza mais baixos do que os de metal de base. Contudo, na raiz da junta

não foi observado esse fenômeno (processo TIG).

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(a) (b)

Figura 4.11 - Perfis de microdureza Vickers para as juntas soldadas de aço P92 (a) no

acabamento e (b) na raiz.

4.2. Tensões residuais – aço P91

Primeiramente, foi analisada a influência do processo de corte nas tensões

residuais pós soldagem. Para isso um tubo foi soldado circunferencialmente, denominado

amostra 1 e as tensões residuais (TR) foram medidas nos pontos representados na Figura

3.4a, na direção transversal ao cordão. Após essa primeira análise, a amostra foi cortada

em meia-cana, obtendo duas amostras denominadas 1A (contendo a região a 90°) e 1B

(região a 270°) e novamente as tensões residuais foram medidas. A Figura 4.12 mostra o

perfil das TR superficiais no acabamento das juntas antes e após o processo de corte.

-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25

200

250

300

350

400

450

500

Mic

rouder

eza

(HV

)

Distância ao centro do cordão (mm)

ZTA

-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25

200

250

300

350

400

450

500

Mic

rou

der

eza

(HV

)

ZTA

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82

(a)

(b)

Figura 4.12 - Influência do processo de corte nas tensões residuais transversais ao

cordão de solda na superfície das juntas (a) amostra 1A e (b) amostra 1B.

Observando a Figura 4.12 é possível notar que o processo de corte causa um alívio

das tensões residuais de tração no passe final das amostras. Este fato pode estar

relacionado a uma provável mudança dimensional (abertura do tubo), que não foi medida.

O processo de corte reduziu a restrição à deformação, o que resultou em um rearranjo das

tensões residuais. Para amostra 1B, a natureza trativa da tensão residual foi alterada para

-20 -10 0 10 20 30

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

Distância ao centro da junta (mm)

Metal

Base

Metal

BaseZTA ZTA

Metal de

Solda

Região 1 - 90º Pós soldagem

Após corte

-20 -10 0 10 20 30

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

Distância ao centro da junta (mm)

Pós soldagem

Após corteRegião 2 - 270º

Metal

BaseZTA

Metal de

Solda ZTA Metal

Base

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83

compressiva. Isto mostra que o processo de soldagem e o nível da restrição das juntas

influenciaram diretamente os perfis das tensões residuais.

A influência dos procedimentos usados para a obtenção das amostras pode ser

observada na Figura 4.13, que apresenta os valores de TR medidos nos dois tubos

(amostras 1 e 2) na região de acabamento das juntas.

(a)

(b)

Figura 4.13 - Perfil das tensões residuais transversais ao cordão de solda no acabamento

das juntas: (a) amostra 1; (b) amostra 2.

-20 -10 0 10 20 30

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

Distância ao centro da junta (mm)

Região 1 - 90º

Região 2 - 270º

Metal

BaseZTA

Metal de

Solda ZTA Metal

Base

-20 -10 0 10 20 30

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

Distância ao centro da junta (mm)

Amostra 2A

Amostra 2B

Metal

Base

ZTAMetal de

SoldaZTA

Metal

Base

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84

Fica evidente que as tensões residuais geradas pela soldagem na superfície das

juntas são de natureza compressiva para o tubo soldado em meia-cana (amostra 2), o que

caracterizaria um estado benéfico no âmbito das tensões residuais. Entretanto, sendo o

processo de soldagem muito heterogêneo, cada amostra apresenta um perfil específico de

tensões residuais.

O controle das temperaturas de pré-aquecimento e interpasse no processo de

soldagem é muito importante pois reduzir o gradiente térmico entre o metal de base e o

metal de solda e diminuem a velocidade de resfriamento entre os passes, promovendo a

libertação de hidrogênio por efusão. Além disso, diminuem a probabilidade de nucleação

de trincas a frio. Dessa maneira, neste trabalho as temperaturas foram controladas

conforme a norma API 938-B e como o mencionado por Yaghi et al. (2013).

O estado de tensões apresentado nestas juntas (Figura 4.13b) pode ser explicado

pelo fato de que o pré-aquecimento e a temperatura interpasse utilizados no processo de

soldagem do aço P91 devem estar dentro da gama de transformação martensítica (𝑀𝑖 e

𝑀𝑓), garantindo uma transformação parcial da austenita durante a soldagem. Ao final do

processo, quando a amostra foi resfriada até a temperatura ambiente, a transformação

martensítica deve ter ocorrido com uma taxa de resfriamento mais baixa e controlada,

resultando em níveis mais baixos de TR. No entanto, é preciso considerar que o valor 𝑀𝑓

é crítico para a geração de tensões residuais, pois uma temperatura 𝑀𝑓 muito próxima da

temperatura ambiente resultaria em tensões residuais de menor magnitude, porque a

diferença entre a temperatura de transformação de fase e a temperatura ambiente se torna

menor e, portanto, a contração de resfriamento é minimizada. Para os aços P91, a

temperatura 𝑀𝑓 se situa por volta de 100 °C, dependendo do tamanho dos grãos da

austenita primária. Assim, as tensões residuais macroscópicas de contração são

minimizadas e aliviadas por tensões microscópicas de transformação de fase. No caso da

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85

amostra 2, a soldagem foi realizada em meia-cana, o que poderia ter permitido a expansão

e contração da junta durante o ciclo térmico de soldagem e resultou em tensões residuais

de compressão, como mostrado na Figura 4.2b. Estes valores tensões residuais podem ser

considerados benéficos no contexto da vida de fadiga do tubo.

Por outro lado, com relação à amostra 1 (Figura 4.13a), soldada

circunferencialmente, a restrição da junta resultou em gradientes de tensão mais elevados

devido a diferença entre a expansão e a contração do volume durante o processo de

soldagem. Considerando que a soldagem foi realizada em vários passes, cada passe

subsequente afeta termicamente os passes adjacentes e, portanto, nestas interações pode

ocorrer o revenimento dos passes anteriores e consequente redução do nível de tensões

residuais. Como as temperaturas interpasses são controladas, há uma diminuição nas

tensões residuais, devido à minimização dos gradientes térmicos envolvidos. No entanto,

para o último passe são esperadas tensões residuais de tração, porque não há interação

subsequente com outros passes e o resfriamento é mais abrupto com contração térmica

severa.

É importante ressaltar a diferença entre os perfis das tensões superficiais

apresentados nas juntas 1 e 2, considerando que os parâmetros de soldagem usados na

confecção de ambas as juntas foram os mesmos. Esse dado mostra que as etapas de

confecção do cordão de solda, aliadas aos fatores de restrição da junta, são fundamentais

para a determinação da natureza e magnitude das tensões residuais no processo de

soldagem.

Como são poucas as técnicas não destrutivas disponíveis para análise das tensões

residuais no interior de tubos, as raízes das juntas não são comumente verificadas, mesmo

se tratando de uma região com grande incidência de trincas e falhas. As Figuras 4.14a a

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86

4.14d mostram o resultado das medições de TR em dois pontos distintos das raízes das

juntas para cada amostra.

(a) (b)

-10 -5 0 5 10 15

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

Região 1 - 30º

Região 2 - 60º

Distância ao centro da junta (mm)

Amostra 2B

Metal

Base

ZTA

Metal de

Solda

ZTA Metal

Base

(c) (d)

Figura 4.14 - Perfil das tensões residuais transversais ao cordão de solda na raiz das

juntas: após soldagem (a) amostra 1A; (b) amostra 1B; (c) amostra 2A; (d) amostra 2B.

Como resultado, observamos que as duas juntas apresentam tensões residuais

trativas e de elevada magnitude na raiz, sendo os maiores valores localizados na região

do cordão de solda, em ambos os pontos analisados, o que pode influenciar diretamente

na nucleação e propagação de trincas durante a vida em serviço da tubulação.

-10 -5 0 5 10 15

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

Distância ao centro da junta (mm)

Região 1 - 30º

Região 2 - 60º

Amostra 1A

Metal

Base

ZTA

Metal de

Solda

ZTA Metal

Base

-10 -5 0 5 10 15

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

Distância ao centro da junta (mm)

Região 1 - 30º

Região 2 - 60º

Amostra 1B

Metal

Base

ZTA

Metal de

Solda

ZTA Metal

Base

-10 -5 0 5 10 15

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Resi

du

ais

(M

Pa)

Região 1 - 30º

Região 2 - 60º

Distância ao centro da junta (mm)

Amostra 2A

Metal

Base

ZTA

Metal de

Solda

ZTA Metal

Base

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87

Macherauch & Wohlfahrt (1977) mostraram que nos processos de soldagem as

tensões residuais são decorrentes da superposição de três fontes principais: contração,

resfriamento e mudança de fase. Entretanto, pode haver casos em que uma fonte pode

prevalecer sobre as outras e, com base nos gráficos apresentados nas Figuras 4.14a a

4.14d, pode-se prever que na raiz a principal fonte de TR foi a contração de resfriamento,

considerando também que foi utilizado gás de purga, tornando o resfriamento mais

intenso no passe de raiz.

Após o tratamento térmico pós soldagem (TTPS) as tensões residuais foram

medidas nas duas juntas, na região 1 de cada junta (Tabela 3.7). Os resultados

apresentados na Figura 4.15 mostram que após o tratamento térmico as tensões residuais

foram aliviadas na raiz das juntas e o mesmo ocorreu na superfície das mesmas. Cabe

salientar que antes do tratamento a junta 2 continha campos de TR de compressão na

superfície (Figura 4.13b) e segundo a literatura este estado compressivo é benéfico,

principalmente, para materiais que trabalham em fadiga, como é o caso da tubulação de

aço P91 onde a fadiga térmica é uma das principais causas de falhas nos componentes.

Assim sendo, o TTPS atingiu o objetivo de aliviar as tensões trativas provenientes do

processo de soldagem na raiz das juntas, contudo, também aliviou as tensões

compressivas da superfície, que seriam benéficas para a vida em serviço das mesmas.

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88

(a)

(b)

Figura 4.15 - Perfil das tensões residuais transversais ao cordão de solda na raiz das

juntas: após TTPS.

Na indústria, é muito comum tentar relacionar valores de dureza com tensões

residuais (TRs). Com base nos perfis apresentados nas Figuras 4.15a e 4.15b não seria

possível fazer uma relação direta entre dureza e tensões residuais porque a natureza das

-10 -5 0 5 10 15

-600

-400

-200

0

200

400

Ten

sões

Res

idu

ais

(MP

a)

ZTA

Distância ao centro da junta (mm)

Amostra 1A

Amostra 1B

Metal de

Base

ZTA

Metal de

Solda

Metal de

Base

-20 -10 0 10 20 30

-600

-400

-200

0

200

400

Metal de

BaseMetal de

Base

ZTAZTA

T

ensõ

es R

esid

uai

s (M

Pa)

Distância ao centro da junta (mm)

Amostra 1A

Amostra 2A

Metal de

Solda

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89

TRs é diferente de região para região (raiz e acabamento). O que poderia ser relacionado

é a queda no valor de dureza como um indício de alívio das tensões residuais, tanto

compressivas quanto trativas. Contudo, a microestrutura, obtida após a soldagem e

tratamento térmico, poderia ser o fator preponderante nos valores de dureza das juntas

soldadas desses aços.

4.3. Propriedades mecânicas – Ensaios convencionais

O conhecimento sobre o comportamento das propriedades mecânicas dos aços

P91 e P92 em elevadas temperaturas é fundamental para estabelecer condições seguras

em serviço, principalmente quando se refere às juntas soldadas. Assim sendo, ensaios de

tração nos aços P91 e P92foram realizados sob diferentes temperaturas.

4.3.1. Propriedades mecânicas – Aço P91

As juntas soldadas de aço P91 foram analisadas sob duas condições: pós soldagem e após

TTPS, além dos ensaios feitos no metal de base, para detalhar como o TTPS pode

influenciar no comportamento mecânico em altas temperaturas. A Tabela 4.1 resume os

dados obtidos após os ensaios no metal de base.

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90

Tabela 4.1 - Propriedades mecânicas do metal de base do aço P91.

Temperatura

(°C) 𝝈𝑳.𝑬. (MPa) 𝝈𝑳.𝑹. (MPa)

Alongamento

(%)

Redução de

área (%)

Ambiente 580 ± 14 734 ± 3 24,5 ± 2,7 47,0 ± 0,5

500 470 ± 7 516 ± 23 15,9 ± 2,1 48,8 ± 1,0

550 365 ± 14 409 ± 12 16,4 ± 1,3 65,4 ± 0,2

600 335 401 28,2 66,4

650 228 ± 11 314 ± 6 31,0 ± 2,9 72,8 ±0,6

700 165 245 36,1 83,2

Analisando os resultados fica evidente a queda da tensão limite de escoamento e

de resistência do material com a temperatura, que é mais significativa acima de 600 °C.

Pela norma, o aço P91 pode ser aplicado em condições de temperaturas até cerca de

650 °C e, neste caso, a queda abrupta na resistência acima de 600 °C é esperada.

Com relação ao alongamento, é previsto que o aumento da temperatura resulte em

uma maior ductilidade do material e, consequentemente maiores valores de alongamento

e redução de área são obtidos, conforme foi observado na Tabela 4.1. Em temperatura

ambiente os valores de alongamento estão de acordo com a norma. Entretanto, valores

reduzidos de alongamento foram observados a 500 e 550 °C e, como esperado, voltaram

a subir em temperaturas mais elevadas. A redução de área e o alongamento tiveram um

aumento expressivo entre 600-700 °C, o que reafirma a grande perda de resistência do

material acima de 600 °C.

Para todos os ensaios em alta temperatura, tanto para o aço P91 quanto para o aço

P92, foram adquiridos os dados da taxa de aquecimento dos cp´s, que foi uniforme,

conforme mostra a Figura 4.16. Assim, pode-se afirmar que as condições de ensaios

foram homogêneas.

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91

Figura 4.16 - Taxa de aquecimento dos cp´s para ensaio de tração.

Para os ensaios de tração, o procedimento adotado para os testes foi primeiramente

a conferência das dimensões e a marcação do comprimento útil dos cp´s com o auxílio de

um marcador (ensaios em temperatura ambiente) e de um punção (ensaios em altas

temperaturas). Em todos os ensaios foi utilizado um extensômetro com precisão maior do

que o deslocamento da máquina para a aquisição dos dados de deslocamento até a

obtenção do limite de escoamento do material. Por esta razão, as curvas da Figura 4.17

apresentam um degrau, que não inviabiliza o ensaio, considerando que os dados para a

aquisição do limite de resistência têm como base a maior carga obtida durante o ensaio e

os dados de alongamento e redução de área são adquiridos diretamente do cp após o

término do ensaio.

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92

Figura 4.17 - Curvas tensão-deformação do metal de base do aço P91 para diferentes

temperaturas.

A Figura 4.18 mostra os valores de tensão limite de escoamento obtidos nas juntas

soldadas para as condições pós soldagem e com TTPS, comparando-as ao comportamento

do metal de base (MB). Na condição pós soldagem não foi possível adquirir dados de

todas as temperaturas devido a um problema mecânico na máquina de tração, que resultou

na perda de 4 corpos de prova, relativos às temperaturas de 550 ºC e 700 oC.

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93

Figura 4.18 - Tensão limite de escoamento – aço P91.

Com base na Figura 4.18 é possível observar que, com relação às juntas sem

TTPS, a tensão limite de escoamento é superior ao metal de base como era esperado

devido à martensita formada no cordão de solda em oposição à martensita revenida

apresentada no metal de base (Seção 4.6). Em comparação a condição após TTPS nota-

se que o tratamento térmico de revenido, além de aliviar as tensões residuais provenientes

do processo de soldagem resultou em diminuição nos valores do limite de escoamento,

que tenderam a ser mais baixos do que os observados no metal de base. Ao final dos

ensaios observou-se que todas as fraturas ocorreram na região do MB, como exemplifica

a Figura 4.19.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

700600 650550

Ten

são

Lim

ite

de

Esc

oam

ento

(M

Pa)

Temperatura (°C)

Metal Base

Pós soldagem

TTPS

Ambiente 500

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94

Figura 4.19 - Macroscopia da região de fratura do cp sem TTPS a 600ºC.

Os valores do limite de resistência das juntas e a comparação com os dados do

MB estão representados na Figura 4.20. Novamente é possível notar que houve uma

tendência para valores mais baixos de resistência após o tratamento térmico pós

soldagem, com exceção do ocorrido à temperatura de 550 °C.

Figura 4.20 - Tensão limite de resistência – aço P91.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Metal Base

Pós soldagem

TTPS

Ten

são L

imit

e de

Res

istê

nci

a (M

Pa)

Temperatura (°C)

Ambiente 500 550 600 650 700

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A Figura 4.21 apresenta os resultados do alongamento e da redução de área. A

norma API 938-B especifica valores mínimos de alongamento de 20% em temperatura

ambiente para o metal de base, mas não determina quais deveriam ser os valores mínimos

para as condições de altas temperaturas. Os fabricantes de tubos de aço P91, apresentam

valores experimentais de alongamento mínimo de 17 % em temperatura ambiente para

juntas obtidas por processos de soldagem semelhantes ao utilizados neste trabalho, como

foi publicado por Haarmann et al. (2000).

(a) (b)

Figura 4.21 - Aço P91: (a) alongamento e (b) redução de área.

Observa-se na Figura 4.21a que os cp´s na condição após TTPS apresentam

valores de alongamento superiores os obtidos nos cp´s após soldagem, além de mostrar a

mesma tendência do MB, com um crescimento dos valores do alongamento para

temperatura acima de 500 ºC. Por outro lado, não foi atingido o valor mínimo típico de

17 % em temperatura ambiente. Neste trabalho foram obtidos alongamentos de

aproximadamente 15 % para as juntas soldadas na condição após TTPS em temperatura

ambiente. O tratamento térmico pós soldagem (TTPS) influencia diretamente na

ductilidade da junta, como apresenta a Figura 4.21a, dessa forma era de se esperar um

0

10

20

30

40

50 Metal Base

Pós soldagem

TTPS

Alo

ng

amen

to (

%)

Ambiente 500 550 600 650 700Temperatura (°C)

0

20

40

60

80

100

Red

uçã

o d

e Á

rea

(%)

Temperatura (°C)

Metal Base

Pós soldagem

TTPS

Ambiente 500 550 600 650 700

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96

aumento na capacidade de deformação plástica com uma perda mínima de resistência

mecânica, conforme mostrado na Figura 4.20.

Com relação à redução de área, analisando a Figura 4.21b nota-se que, com

exceção da temperatura de 550 °C, os menores valores foram obtidos na condição após

soldagem com mudança significativa de valores a partir de 550 °C, afirmando a perda

mais significativa da resistência mecânica do material acima dessa temperatura.

A análise das fraturas através de microscopia eletrônica de varredura (MEV) com

aumento de 35x apresentada na Figura 4.22a mostrou que em temperatura ambiente, para

a condição pós soldagem a fratura dos cp´s de tração foi dúctil com presença de regiões

de característica frágil (brilhante). As Figuras 4.22b e 4.22c apresentam o detalhamento

da parte dúctil com aumentos de 500x e 1000x.

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97

(a)

(b) (c)

Figura 4.22 – Imagens de MEV da fratura de cp de tração em temperatura ambiente na

condição pós soldagem com diferentes aumentos (a) 35x; (b) 500x e (c) 1000x na região

dúctil.

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98

Com relação aos cp´s da junta soldada com TTPS, foram observadas fraturas

homogêneas e dúcteis com dimples de dimensões muito reduzidas, caracterizando o

ganho de ductilidade das juntas após o TTPS (Figura 4.23).

(a)

(b) (c)

Figura 4.23 - Imagens de MEV da fratura de cp de tração em temperatura ambiente na

condição após TTPS com diferentes aumentos (a) 35x; (b) 500x e (c) 1000x.

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99

4.3.2. Propriedades mecânicas – Aço P92

Para o aço P92 foram realizados ensaios de tração no metal de base (MB) e na

junta soldada na condição após TTPS. A Tabela 4.2 mostra os dados obtidos para o MB.

Os valores de alongamento e de redução de área para elevadas temperaturas não

são especificados por norma e, portanto inicialmente não foram adquiridos. Por esta razão

nas temperaturas de 500 e 620 °C não existem esses dados.

Tabela 4.2 - Propriedades mecânicas do metal de base do aço P92.

Temperatura

(°C) 𝝈𝑳.𝑬. (MPa) 𝝈𝑳.𝑹. (MPa)

Alongamento

(%)

Redução de

área (%)

Ambiente 485 675 26,9 45,9

500 376 497 - -

550 373 446 19,4 55,4

600 343 384 20,4 65,6

620 304 334 - -

650 265 320 23,5 74,0

A junta soldada do aço P92 foi caracterizada às temperaturas de 500, 600 e 620 °C,

em virtude de não haver material suficiente para o estudo em todas as faixas de

temperaturas estudadas no aço P91, pois não estavam no escopo do projeto. Assim sendo,

as Figuras 4.24a e 4.24b mostram a comparação entre os resultados obtidos no metal de

base e na junta soldada do aço P92, de tensão limite de escoamento e de resistência,

respectivamente.

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100

(a)

(b)

Figura 4.24 - Aço P92: (a) tensão limite de escoamento e (b) tensão limite de

resistência.

A D E F G H

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000 Metal Base

Junta Soldada

Ambiente 500 550 600 620 650

Temperatura (°C)

Ten

são

Lim

ite

de

Esc

oam

ento

(M

Pa)

A D E F G H

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Metal Base

Junta Soldada

Ten

são L

imit

e de

Res

istê

nci

a (M

Pa)

Ambiente 500 550 600 620 650

Temperatura (°C)

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101

Observando o comportamento quanto à resistência mecânica da junta soldada de

aço P92, nota-se que comparado ao material de base, ela apresenta maiores valores, tanto

de limite de escoamento quanto de resistência, mesmo em altas temperaturas, o que pode

ser resultado dos processos utilizados para a soldagem desse material (Figuras 4.24a e

4.24b). É oportuno ressaltar que, embora possuam características de baixa produtividade,

os processos de soldagem TIG (usado nos passes de raiz) e eletrodo revestido (nos passes

de enchimento) são bem estabelecidos e estão relacionados à obtenção de juntas com alta

integridade estrutural e baixa quantidade de defeitos. Lembrando que a condição estudada

para as juntas soldadas de aço P92 é apenas após o tratamento térmico.

Os valores de alongamento e de redução de área das juntas soldadas, em

comparação ao metal de base estão mostrados nas Figuras 4.25a e 4.25b, respectivamente.

(a) (b)

Figura 4.25 - Aço P92: (a) alongamento e (b) redução de área.

Analisando os dados das figuras é possível observar uma queda nos valores de

alongamento por volta de 500 °C, que volta a aumentar com a temperatura, tanto para o

metal de base (MB) quanto para as juntas soldadas, coincidindo com o mesmo

comportamento apresentado pelo aço P91. À temperatura de 600 °C observa-se um

A D E F G H0

10

20

30

40

50 Metal Base

Junta Soldada

Alo

ng

amen

to (

%)

Ambiente 500 550 600 620 650

Temperatura (°C)

A D E F G H0

20

40

60

80

100 Metal Base

Junta Soldada

Ambiente 500 550 600 620 650

Temperatura (°C)

Red

uçã

o d

e Á

rea

(%)

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102

pequeno ganho na ductilidade das juntas soldadas em comparação com os valores do MB.

Com o aumento da temperatura ocorreu o aumento dos valores de redução de área,

principalmente para as juntas soldadas.

4.4. Ensaios de fluência

As curvas obtidas nos ensaios de fluência do aço P91 à temperatura de 550 °C dos

corpos de prova (cp´s) na condição pós soldagem e após TTPS estão apresentados nas

Figuras 4.26a e 4.26b, respectivamente.

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103

(a)

(b)

Figura 4.26 - Curvas de fluência à temperatura de 550 °C: (a) pós soldagem e (b) com

TTPS.

1 10 100 1000

0

1

2

3

4

5 180 MPa

200 MPa

220 MPa

Pós Soldagem

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

1 10 100 1000

0

1

2

3

4

5 TTPS

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

180 MPa

200 MPa

220 MPa

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104

A análise das Figuras 4.26 permite verificar que o tratamento térmico não foi

significativo para a resistência à fluência das juntas soldadas na temperatura de 550 °C.

Vale ressaltar que, dos seis ensaios realizados, dois não romperam, sendo que ambos

foram testados no modo carga constante, com tensão de carga de 200 MPa. Os ensaios

foram interrompidos devido ao enorme tempo e os gastos despendidos para a realização

dos mesmos.

As Figuras 4.27a e 4.27b mostram as curvas obtidas para a temperatura de 600 °C

(aço P91).

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105

(a)

(b)

Figura 4.27 - Curvas de fluência à temperatura de 600 °C: (a) pós soldagem e (b) com

TTPS.

1 10 100 1000

0

1

2

3

4

5 Pós Soldagem

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

120MPa

140MPa

180MPa

1 10 100 1000

0

1

2

3

4

5 120MPa

140MPa

180MPa

TTPS

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

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106

Para condições apresentadas nas Figuras 4.27a 4.27b, os valores de tempo para a

ruptura foram inferiores aos obtidos à temperatura de 550°C, mesmo aplicando tensões

menores. Contudo, esse resultado era esperado, pois as propriedades mecânicas das juntas

soldadas já mostravam uma queda acentuada de resistência mecânica em temperaturas

acima de 600 °C e o mesmo poderia ocorrer com relação à resistência à fluência. Os

valores de tensão aplicada, apesar de menores do que para 550 °C, foram muito elevados

e, além disso, os mecanismos de deformação por fluência, que determinam as taxas

mínimas de deformação por fluência do material e estão relacionados à temperatura e

tensão (ver Figura 2.17) podem ter propiciado uma fratura muito mais rápida.

Alguns autores, tais como Sklenicka et al. (2003), Kimura et al. (2009) e Abd El-

Azim et al. (2013) estudaram o comportamento de aços Cr-Mo em altas temperaturas,

principalmente quanto à resistência à fluência dos mesmos. Entretanto, existe ainda uma

grande necessidade de detalhar o comportamento das juntas soldadas em elevadas

temperaturas, porque a zona termicamente afetada é uma das regiões mais propícias para

o surgimento de trincas de fluência, que podem resultar nas fraturas do tipo IV.

Após o TTPS foi observada uma queda nos valores de dureza, que ocorre na região

de grãos finos da zona termicamente afetada (ZTA) perto do material de base, ou seja, na

zona intercrítica. Essa diminuição da dureza pode estar relacionada à perda de resistência

à fluência das juntas soldadas. Sob tais condições, a zona intercrítica perde resistência em

relação às regiões vizinhas e, com a aplicação de cargas/tensões elevadas, não suporta as

interações, o que pode resultar em fraturas intergranulares, do Tipo IV. Deste modo, as

juntas soldas de aço P91 geralmente apresentam valores mais baixos de resistência à

fluência, quando comparadas ao material de base, independente do processo de soldagem

utilizado.

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107

A Figura 4.28 compara os dados de tempo de ruptura obtidos no presente trabalho

juntamente com os apresentados por Haney et al. (2009), que compilaram dados da

relação tempo de fratura vs tensão aplicada em aços T/P91 para temperaturas entre 500 e

700 °C de diversos autores. Para melhor visualização, os resultados foram registrados na

mesma figura, pois no presente trabalho não foram adquiridos dados sobre a resistência à

fluência do metal de base.

(a) (b)

Figura 4.28 - Comparativo do tempo de ruptura por fluência das juntas soldadas com

dados do metal de base da literatura apresentado por Haney et al. (2009): (a) 550°C e

(b) 600°C.

Analisando os dados apresentados nas Figuras 4.28 é possível observar com maior

clareza que o tratamento térmico pós soldagem não influenciou significativamente nos

valores de tempo de ruptura por fluência para as tensões de ensaio aplicadas,

principalmente à temperatura de 550 °C. A Figura 4.28b detalha que, após o TTPS, o

decaimento nos valores do tempo de ruptura da junta soldada é muito maior do que a

curva usada como base, o que mostra a possível fragilidade da mesma para aplicação a

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108

esta temperatura, pois haveria um aumento drástico na inclinação da curva tempo vs

tensão (curva lilás).

Para adquirir os dados das taxas mínimas de fluência foi necessário tratar cada

curva individualmente. Assim sendo, as Figuras 4.29 e 4.30 mostram as curvas de fluência

de todos os cp´s com a equação de aproximação da reta no segundo estágio de fluência

para obtenção da taxa mínima de deformação. Na condição com carregamento de

200 MPa (temperatura de 550°C) os cp´s não romperam e as taxas de deformação foram

adquiridas a partir dos dados que os mesmos apresentavam no momento de interrupção

dos ensaios.

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109

(a) (d)

(b) (e)

(c) (f)

Figura 4.29 - Curvas de fluência a 550 °C: (a), (b) e (c) condição como soldado; (d), (e)

e (f) após TTPS.

y = 0,000219x + 0,444319

R² = 0,993017

0

1

2

3

4

5

0 1000 2000 3000 4000 5000

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,000148x + 0,336492

R² = 0,974499

0

1

2

3

4

5

0 1000 2000 3000 4000 5000

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,000108x + 1,348372

R² = 0,997622

0

1

2

3

4

5

0 2000 4000 6000 8000 10000

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,000023x + 0,532746

R² = 0,905545

0

1

2

3

4

5

0 2000 4000 6000 8000 10000

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,002723x + 0,403973

R² = 0,996345

0

1

2

3

4

5

0 200 400 600 800

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,00807x + 0,27283

R² = 0,98992

0

1

2

3

4

5

0 50 100 150 200

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

σ =220 MPa σ =220 MPa

σ =200 MPa σ =200 MPa

σ =180 MPa σ =180 MPa

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110

(a) (d)

(b) (e)

(c) (f)

Figura 4.30 - Curvas de fluência a 600 °C: (a), (b) e (c) condição como soldado; (d), (e)

e (f) após TTPS.

Com base nas Figuras 4.29 e 4.30 foi estabelecida uma relação entre tensão e

deformação. Nos corpos de prova submetidos a tensões mais elevadas houve uma maior

deformação do cp, fenômeno que também pode estar relacionado à mudança no

mecanismo de fluência predominante, responsável pela deformação, durante o ensaio. Os

y = 0,000372x + 0,395488

R² = 0,988385

0

1

2

3

4

5

0 500 1000 1500 2000

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,005183x + 0,188382

R² = 0,999351

0

1

2

3

4

5

0 50 100 150 200

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,099003x + 0,091767

R² = 0,991054

0

1

2

3

4

5

0 5 10 15 20

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,020224x + 0,263324

R² = 0,989208

0

1

2

3

4

5

0 20 40 60 80 100

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,016407x + 0,386161

R² = 0,984807

0

1

2

3

4

5

0 50 100 150

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

y = 0,206426x + 0,071925

R² = 0,985885

0

1

2

3

4

5

0 2 4 6 8

Def

orm

ação

(%

)

Tempo (h)

σ =180 MPa σ =180 MPa

σ =140 MPa σ =140 MPa

σ =120 MPa σ =120 MPa

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111

valores de taxa mínima de fluência e tempo de ruptura obtidos para cada ensaio estão

apresentados na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Valores de taxa mínima de deformação e tempo de ruptura dos ensaios de

fluência.

Temperatura

(°C) Condição

Tensão

aplicada (MPa)

Taxa mínima de

deformação (s-1)

Tempo de

ruptura (h)

550

Pós

soldagem

180 1,48 x 10-4 4274

200 2,30 x 10-5 > 8837

220 8,07 x 10-3 176

TTPS

180 2,19 x 10-4 4030

200 1,08 x 10-4 > 7864

220 2,72 x 10-3 632

600

Pós

soldagem

120 3,72 x 10-4 1820

140 9,90 x 10-2 18

180 1,64 x 10-2 120

TTPS

120 5,18 x 10-3 182

140 2,02 x 10-2 85

180 2,06 x 10-1 7

Vários métodos têm sido utilizados para prever o comportamento de materiais que

trabalham em condições de alta temperatura e pressão por longos períodos. A Figura 4.31

apresenta as curvas Monkman-Grant para as juntas soldadas nas condições como soldado

e após TTPS.

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112

100

101

102

103

104

105

10-5

10-4

10-3

10-2

10-1

100

Tax

a d

e d

efo

rmaç

ão (

s-1)

Pós soldagem

TTPS

Tempo de ruptura (h)

Figura 4.31 - Curvas Monkman-Grant para as juntas soldadas nas condições pós

soldagem e após TTPS.

A Figura 4.31 foi gerada com valores apenas dos cp´s rompidos. Analisando o

gráfico é possível observar que a condição como soldado apresenta uma curva com

decaimento mais acentuado comparado à tendência da junta tratada termicamente,

caracterizando um ganho na resistência à fluência das juntas soldadas após o tratamento

térmico pós soldagem. A partir dos parâmetros obtidos com base nas curvas seria possível

estimar o tempo de ruptura para diversas condições de tensão e temperatura, como foi

obtido para os ensaios que foram interrompidos, mostrados na Tabela 4.4.

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113

Tabela 4.4 - Estimativa do tempo de ruptura para os ensaios interrompidos.

Temperatura Condição Taxa de

deformação (%)

Tempo de ruptura

estimado (h)

550 Pós soldagem 1,08 x 10-4 9588,18

Após TTPS 2,30 x 10-5 20854,01

A Figura 4.32 mostra a comparação da curva obtida para as juntas soldadas de aço

P91 pelos processos Metal Cored/Flux Cored, após tratamento térmico, com a

apresentada por Haney et al. (2009) para o metal de base (aço P91).

10-2

10-1

100

101

102

103

104

105

106

10-10

10-8

10-6

10-4

10-2

Junta soldada

Haney 2009

Tax

a d

e d

efo

rmaç

ão (

s-1)

Tempo de Ruptura (h)

Figura 4.32 - Comparativo da relação de Monkman-Grant entre as juntas soldadas após

TTPS e a curva para o material de base apresentada por Haney et al. (2009).

As curvas apresentadas na Figura 4.32 mostram que as taxas de deformação das

juntas soldadas são maiores quando comparadas às do metal de base, que foram obtidas

por Haney et al. (2009). Os autores compilaram resultados de diversos trabalhos para a

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114

obtenção da curva, entretanto os materiais e os tratamentos eram similares, o que dá

credibilidade aos resultados por eles obtidos. Outro ponto importante a ser ressaltado é o

quase paralelismo entre as curvas apresentadas, que pode ser um indício do

comportamento específico de juntas soldadas de determinados materiais, que se

comportam da mesma forma que os materiais de base, quando os tratamentos térmicos

aplicados são adequados. Entretanto, seriam mais dados de tempo de ruptura por fluência

da junta soldada, sob diferentes condições de temperatura e carregamento para aproximar

mais a curva do comportamento real.

4.5. Ensaios de Small Punched

Os ensaios de Small Punched para a análise das propriedades mecânicas em

amostras reduzidas foram realizados em ambas as juntas (aço P91 e aço P92) em

diferentes regiões e em três temperaturas, sendo a temperatura ambiente e 600 °C aplicada

para ambas. Primeiramente foram analisados os metais de base. A Figura 4.33 mostra as

curvas obtidas para o metal de base (MB) do aço P91.

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115

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

T amb

550ºC

600ºC

Deslocamento do punção (mm)

Car

ga

(kN

)

Figura 4.33 - Curvas de SPT para o metal de base do aço P91.

Analisando a Figura 4.33, observa-se um padrão de decaimento da carga máxima

com o aumento da temperatura, que é o mesmo padrão obtido nos ensaios convencionais.

Com relação ao alongamento (relacionado ao deslocamento do punção), nota-se que à

temperatura de 550 °C há uma diminuição no valor do deslocamento do punção antes da

ruptura do corpo de prova. Dessa maneira é possível perceber que, qualitativamente, os

resultados obtidos por SPT descrevem bem o comportamento mecânico do material, pois

o mesmo padrão foi obtido nos ensaios convencionais do aço P91.

A Figura 4.34 apresenta as curvas de SPT para o aço P92 onde é observado um

valor máximo de carga menor do que para o aço P91 e o deslocamento total do punção é

semelhante nas temperaturas de 550 °C e 600 °C, similares aos ensaios convencionais.

Entretanto, os valores de alongamento obtidos em temperatura ambiente através dos

ensaios convencionais foram superiores aos de alta temperatura, 26 % (temperatura

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116

ambiente) e 20 % (600 °C), e a curva de SPT em temperatura ambiente mostra um

comportamento contrário.

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do Punção (mm)

T amb

600°C

650°C

Figura 4.34 - Curvas de SPT para o metal de base do aço P92.

García et al. (2014) relatam que o ponto de deslocamento do punção relativo à

carga máxima é mais preciso do que o valor final para a determinação do alongamento

total do corpo de prova. Analisando as Figuras 4.33 e 4.34 sob esta perspectiva nota-se

que o padrão de alongamento se torna qualitativamente mais próximo aos ensaios de

tração para ambos os materiais. O aço P91 apresenta um alongamento maior em

temperatura ambiente, um decréscimo em 550 °C, sendo o alongamento a 600 °C um

pouco maior, porém não atingindo o valor da temperatura ambiente. Para o aço P92 têm-

se o maior valor de deslocamento do punção em temperatura ambiente, sendo exatamente

o padrão dos ensaios convencionais.

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117

As Figuras 4.35a e 4.35b detalham a parte inicial dos ensaios no metal de base dos

aços P91 e P92, respectivamente.

0,05 0,10 0,15 0,200,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

T amb

550ºC

600ºC

Deslocamento do punção (mm)

Car

ga

(kN

)

0,05 0,10 0,15 0,200,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

Carg

a (

kN

)Deslocamento do Punção (mm)

T amb

600°C

650°C

(a) (b)

Figura 4.35 - Detalhamento da região elástica das curvas de SPT para o metal de base

(a) aço P91 e (b) aço P92.

Na primeira região do ensaio de SPT é apresentado o comportamento elástico do

material, que é muito semelhante ao perfil de um ensaio de tração convencional.

Entretanto, ao contrário do obtido através dos ensaios convencionais, as inclinações das

curvas são bem heterogêneas e dependentes da temperatura. Mesmo assim, nota-se o

decréscimo nos valores de carga onde começa a ocorrer o encruamento.

Com base nos dados dos metais de base foram usadas correlações matemáticas

para a conversão dos valores de carga para tensão de escoamento, considerando as

equações descritas por García et al. (2014), entretanto, uma nova constante foi proposta

tendo como base os valores do metal de base na temperatura ambiente e a 600°C, afim de

tentar descrever com maior precisão o comportamento em alta temperatura das diferentes

regiões das juntas. Não foi encontrado na literatura dados sobre o levantamento

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118

quantitativo do comportamento em altas de materiais e/ou juntas soldadas através de

ensaios de SPT.

Por se tratar de um ensaio em miniatura e também por apresentar um

comportamento de membrana em grande parte do mesmo, a utilização de uma única

constante para todos os tipos de materiais pode levar a erros grosseiros nas análises das

propriedades mecânicas. Assim sendo, considerando que os dois materiais são aços Cr-

Mo poderia ser viável a tentativa de agrupamento dos mesmos e, dessa forma os dados

dos metais de base de ambos foram usados para definir as constantes que foram utilizadas

nas equações da tensão limite de escoamento, tensão de resistência e alongamento.

As Figuras 4.36 e 4.37 exemplificam como foram obtidos os valores de carga para

a determinação da tensão limite de escoamento através do ensaio de SPT, com base nas

três técnicas utilizadas neste trabalho: Mao, CEN e t/10, conforme descrito na Seção

2.4.1. Para cada condição (região e temperatura) foram realizados 2 ensaios.

Figura 4.36 - Determinação da carga para obtenção do limite de escoamento do material

segundo o método de Mao e CEN.

y = 2,7754x - 0,0032

R² = 0,9724

y = 0,2637x + 0,201

R² = 0,8302

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)

Mao

CEN

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119

Figura 4.37 - Determinação da carga para obtenção do limite de escoamento do material

segundo o método de desenvolvido por García et al. (2014) - t/10.

A Tabela 4.5 apresenta os valores obtidos para os metais de base (aço P91 e aço

P92). Como mostrado nas Figuras 4.36 e 4.37, os valores de carga são muitos baixos e,

por esta razão, foram apresentados na Tabela 4.3, em unidade N. Para cada condição

foram realizados dois testes.

y = -7,8036x2 + 2,7179x + 0,0041

R² = 0,9888

y = 2,7754x - 0,1419

R² = 0,9724

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)

t/10

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120

Tabela 4.5 - Cargas para determinação do limite de escoamento obtidas através dos

ensaios de SPT para os metais de base.

Material Corpo de Prova Carga (N)

Mao CEN t/10

Aço P91

MB1 222,4 168,1 208,7

MB2 217,9 189,6 220,3

MB1 550 °C 113,8 90,3 116,4

MB2 550 °C 134,9 94,8 140,1

MB1 600 °C 84,8 76,0 96,3

MB2 600 °C 99,0 78,7 112,0

Aço P92

MB1 183,0 168,2 201,0

MB2 194,2 166,0 192,0

MB1 600 °C 106,0 91,0 116,7

MB2 600 °C 103 87,5 123,9

MB1 600 °C 103,0 87,5 123,9

MB2 650 °C 81,8 86,0 123,9

Com base nos dados apresentados na Tabela 4.5 foram determinados os valores

𝑃 𝑡2⁄ para cada método apresentado e a constante 𝛼1, que correlaciona 𝑃 𝑡2⁄ e a tensão

limite de escoamento do material foi obtida. As Figuras 4.38 a 4.40 apresentam as curvas

𝑃 𝑡2⁄ vs tensão limite de escoamento para ambos os aços estudados neste trabalho e para

cada método utilizada na determinação da carga de escoamento. Sendo: 𝑃 = carga (em

N) e 𝑡 = espessura do cp ensaiado (em mm).

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121

200 400 600 800 10000

200

400

600 T ambiente

600°C

Ten

são

lim

ite

de

esco

amen

to (

MP

a)

P/t2 (MPa)

Figura 4.38 - Curva 𝑃𝑦 𝑡2⁄ vs tensão limite de escoamento para a obtenção de 𝛼1

através do método de Mao.

200 400 600 800 10000

200

400

600 T ambiente

600°C

Ten

são

lim

ite

de

esco

amen

to (

MP

a)

P/t2 (MPa)

Figura 4.39 - Curva 𝑃𝑦 𝑡2⁄ vs tensão limite de escoamento para a obtenção de 𝛼1

através do método de CEN.

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122

200 400 600 800 10000

200

400

600 T ambiente

600°C

Ten

são

lim

ite

de

esco

amen

to (

MP

a)

P/t2 (MPa)

Figura 4.40 - Curva 𝑃𝑦 𝑡2⁄ vs tensão limite de escoamento para a obtenção de 𝛼1

através do método de t/10.

A Tabela 4.6 resume os valores para a constante 𝛼1 adquiridos através dos

gráficos de cada método, onde é possível observar que os valores obtidos pelas técnicas

de Mao e t/10 são bem próximos. Contudo, a melhor aproximação (razão) obtida é a de

Mao (R2 = 0,702).

Tabela 4.6 - Valores da constante 𝛼1 obtidos para a determinação do limite de escoamento

dos materiais.

Método Constante 𝜶𝟏 Razão (R2)

Mao 0,689 0,702

CEN 0,811 0,677

t/10 0,648 0,678

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123

Era esperado que o valor da constante calculado com base nos dados adquiridos

pelo método CEN fosse mais elevado, pois os valores de carga deste método, mostrados

na Tabela 4.6 foram sempre menores que os obtidos por meio das técnicas de Mao e t/10.

No presente trabalho foi adotada a constante obtida pela técnica t/10, que apesar

de apresentar valor de razão menor, é semelhante à usada para determinação do limite de

escoamento através da curva tensão vs deformação (obtida por ensaios detração

convencional).

A Equação 4.1 descreve como foram obtidos os valores de limite de escoamento

para a região do metal de solda e zona termicamente afetada das juntas estudadas.

𝜎𝐿.𝐸. = 0,648.𝑃𝑦

𝑡2 (4.1)

Para a tensão limite de resistência foi realizado um processo semelhante ao

apresentado para o limite de escoamento. Neste trabalho o alongamento não foi

quantificado para os ensaios de SPT.

A Figura 4.41 apresenta a curva obtida para a determinação das constantes 𝛽1 e

𝛽2 (Seção 2.4.1), com base nos valores máximos de carga para ambos os materiais de

base em temperatura ambiente e a 600 °C.

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124

Figura 4.41 - Curva 𝑃𝑚á𝑥 𝑡2⁄ vs tensão limite de resistência para a obtenção de 𝛽1 e 𝛽2.

Como base na curva apresentada na Figura 4.41, as constantes 𝛽1 e 𝛽2 foram

determinadas e os valores de tensão limite de resistência foram obtidos usando a Equação

4.2.

𝜎𝐿.𝑅. = 0,092.𝑃𝑚

𝑡2 + 71 (4.2)

As curvas das Figuras 4.42a e 4.42b mostram uma comparação qualitativa do

comportamento do metal de solda (MS) do aço P91 na condição como soldado e após o

tratamento térmico pós soldagem.

1000 2000 3000 4000 5000 6000 70000

200

400

600

800

Ten

são

lim

ite

de

resi

stên

cia

(MP

a)

Pmáx/t2 (MPa)

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125

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Car

ga

(kN

)

T amb

550ºC

600ºC

Deslocamento do punção (mm)

(a)

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5 T amb

550ºC

600ºC

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)

(b)

Figura 4.42 - Curvas de SPT para a região do MS do aço P91 (a) como soldado e (b)

após TTPS.

Observando as curvas da Figura 4.42 é possível notar que na condição como

soldado o metal de solda apresenta pouca ductilidade, pois o deslocamento do punção

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126

após atingir a carga máxima é muito pequeno. Por outro lado, após o tratamento térmico

pós soldagem (TTPS) houve um ganho de ductilidade da região do metal de solda em

todas as temperaturas estudadas. Com relação à resistência mecânica, em temperatura

ambiente não foi notória a diminuição da mesma com o TTPS, mas para os ensaios em

alta temperatura há um decaimento significativo dos valores de carga, quando

comparados aos da condição após a soldagem.

A Figura 4.43 apresenta as curvas de SPT para a região do MS do aço P92.

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5 T amb

600°C

650°C

Deslocamento do Punção (mm)

Car

ga

(kN

)

Figura 4.43 - Curvas de SPT para a região do MS do aço P92.

Com relação ao metal de solda do aço P92, a Figura 4.43 descreve o decaimento

da resistência mecânica (diminuição da carga) com ao aumento da temperatura.

Entretanto, comparando estes valores com as curvas apresentadas na Figura 4.34 do metal

de base, é possível observar que não há mudança significativa no comportamento e nos

valores de resistência no metal de solda, o que pode estar relacionado tanto aos processos

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127

de soldagem utilizados quanto ao tratamento térmico pós soldagem aplicado na junta

soldada.

As zonas termicamente afetadas (ZTA) do aço P91 e do aço P92 foram estudadas

apenas na condição após o tratamento térmico.

As Figuras 4.44a e 4.44b apresentam as curvas da ZTA de grão finos (ZTA-GF)

e ZTA de grãos grosseiros (ZTA-GG) das juntas soldadas de aço P91.

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5 T amb

550ºC

600ºC

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)

T amb

550ºC

600ºC

(a) (b)

Figura 4.44 - Curvas de SPT para a região da ZTA após TTPS do aço P91 (a) ZTA-GG

e (b) ZTA-GF.

Observando as curvas de SPT da Figura 4.44, é possível perceber que o

comportamento das regiões de grãos grosseiros e grãos finos da ZTA após o TTPS, são

semelhantes, principalmente à temperatura de 600 °C. Entretanto, nota-se que a ZTA-GF

apresenta maior ductilidade à temperatura ambiente e a 550 °C.

As curvas da ZTA de grão finos (ZTA-GF) e ZTA de grãos grosseiros (ZTA-GG)

das juntas soldadas de aço P92 estão apresentadas nas Figuras 4.45a e 4.45b.

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128

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5 T amb

600°C

650°C

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5 T amb

600°C

650°C

Deslocamento do punção (mm)

Car

ga

(kN

)

(a) (b)

Figura 4.45 - Curvas de SPT para a região da ZTA do aço P92 (a) ZTA-GG e (b) ZTA-

GF

.

A análise das curvas de SPT da Figura 4.45 mostra claramente a diferença de

comportamento entre as regiões de grãos grosseiros e grãos finos da ZTA após o TTPS

do aço P92. À temperatura ambiente e a 600 °C a resistência mecânica é similar,

entretanto, a ZTA-GG apresenta menor ductilidade. À temperatura de 650 °C ocorre um

comportamento inesperado, pois a ZTA-GF é menos dúctil do que a ZTA-GG.

As Tabelas 4.7 e 4.8 mostram os valores do limite de escoamento e resistência,

respectivamente, para as diferentes regiões das juntas soldadas de aço P91 na condição

após TTPS calculadas a partir das Equações 4.1 e 4.2.

Tabela 4.7 - Valores de limite de escoamento obtidos no ensaio de SPT – aço P91.

Região Temperatura (°C)

Ambiente 550 600

Limite de

Escoamento

(MPa)

MB 557 333 270

MS 448 409 321

ZTA-GG 625 458 268

ZTA-GF 625 526 280

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129

Tabela 4.8 - Valores de limite de resistência obtidos no ensaio de SPT – aço P91.

Região Temperatura (°C)

Ambiente 550 600

Limite de

Resistência

(MPa)

MB 730 504 394

MS 660 514 405

ZTA-GG 796 511 367

ZTA-GF 780 460 367

Complementarmente, análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV)

foram realizadas nos cp´s de Small Punched das diferentes regiões da junta soldadas de

aço P91 na condição após TTPS ensaiados à temperatura ambiente. As Figuras 4.46a e

4.46b mostram as superfícies de fratura do cp do metal de base e do metal de solda,

respectivamente.

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130

(a)

(b)

Figura 4.46 - MEV das fraturas dos cp´s de SPT após tratamento térmico,

mostrando à esquerda o cp fraturado e à direita a região da fratura: (a) MB e (b) MS.

As Figuras 4.46a e 4.46b mostram que ambas as fraturas são dúcteis. Contudo, na

Figura 4.46b percebe-se trincas no metal de solda, que podem ser resultado dos poros que

as juntas soldadas apresentavam na região do metal de solda, conforme mostra na

macrografia (Figura 4.1).

O MEV das fraturas dos cp´s de SPT após tratamento térmico da ZTA-GG e ZTA-

GF está apresentado nas Figuras 4.47a e .47b, respectivamente.

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131

(a)

(b)

Figura 4.47 - MEV das fraturas dos cp´s de SPT após tratamento térmico,

mostrando à esquerda o cp fraturado e à direita a região da fratura: (a) ZTA-GG e (b)

ZTA-GF.

Nas Figuras 4.47a e 4.47b observam-se fraturas do tipo dúcteis e muito

semelhantes, sendo que a ZTA-GF apresenta maior estricção, o que está coerente com

sua maior ductilidade (Figura 4.44).

Os valores do limite de escoamento e resistência das diferentes regiões das juntas

soldadas de aço P92 calculadas a partir das Equações 4.1 e 4.2 são apresentados nas

Tabelas 4.9 e 4.10.

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132

Tabela 4.9 - Valores de limite de escoamento obtidos no ensaio de SPT – aço P92.

Região Temperatura (°C)

Ambiente 550 600

Limite de

Escoamento

(MPa)

MB 510 312 297

MS 406 338 244

ZTA-GG 462 270 256

ZTA-GF 340 338 256

Tabela 4.10 - Valores de limite de resistência obtidos no ensaio de SPT – aço P92.

Região Temperatura (°C)

Ambiente 550 600

Limite de

Resistência

(MPa)

MB 673 389 296

MS 670 422 318

ZTA-GG 688 423 346

ZTA-GF 665 457 317

As Figuras 4.48a e 4.48b mostram a influência da espessura do corpo de prova e

da velocidade de deslocamento do punção no comportamento do material. Para este

estudo foi utilizado apenas o material de base do aço P91 e todos os ensaios foram

realizados à temperatura ambiente.

(a) (b)

Figura 4.48 - Influência dos parâmetros de ensaio nas curvas de SPT (a) espessura do cp

e (b) velocidade de deslocamento do punção (temperatura ambiente).

0,5 1,0 1,5 2,0 2,50,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

0,2 mm

0,3 mm

0,4 mm

0,5 mm

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Car

ga

(kN

)

Deslocamento do punção (mm)

0,4 mm/min

0,5 mm/min

0,6 mm/min

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133

A análise das curvas mostradas na Figura 4.48a descrevem que é necessário um

valor mínimo de espessura do corpo de prova (cp) para melhor determinação da chamada

região 1, onde são retirados os dados para calcular os valores do limite de escoamento.

Dessa forma, a espessura pode ser um dos fatores fundamentais para a correta aquisição

de dados através de ensaios por SPT.

As curvas apresentadas na Figura 4.48b mostram que a mudança na velocidade de

deslocamento do punção não seria um fator tão impactante nos resultados obtidos nos

ensaios de Small Punched como a espessura do cp. A região inicial de cada curva é muito

semelhante, caracterizando que o valor do limite de escoamento seria pouco alterado com

a modificação da velocidade de escoamento do material, ressaltando que o padrão de

velocidade de deslocamento do punção utilizado é de 0,2 mm/mim. Os valores de carga

máxima também foram pouco alterados. Entretanto, com a velocidade de deslocamento

de 0,5 mm/min observa-se um valor de deslocamento menor antes da ruptura,

comparando com 0,6 mm/min. Esse fenômeno pode ser pontual, contudo seriam

necessários mais ensaios na mesma condição para maior confiabilidade dos dados.

Mesmo assim, o valor máximo de deslocamento do punção, como descrito anteriormente,

não é fundamental para o ensaio, pois a o alongamento pode ser relativo ao ponto onde

foi atingida a carga máxima.

A Figura 4.49 apresenta curvas de fluência do metal de solda a 600 °C, obtidas a

partir do acoplamento do sistema desenvolvido para a avaliação das propriedades

mecânicas do material através de Small Punched Test (SPT) à mesma máquina de ensaio

universal utilizada para obtenção das propriedades mecânicas.

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134

Figura 4.49 - Teste de fluência no metal de solda do aço P91 com SPT.

Os testes de SPT para verificação da resistência à fluência foram realizados com

aplicação de carga de 600 N, que é muito alta e, por esta razão os ensaios foram muito

rápidos. Contudo, é possível observar que existe uma relação semelhante a apresentada

nos ensaios convencionais de fluência, onde os corpos de prova na condição como

soldado apresentaram menores tempos para a ruptura, quando comparados à condição

após o tratamento térmico pós soldagem.

0 1000 2000 3000 4000 5000

0

1

2

3

Como Soldado

Após TTPS

Des

loca

men

to d

o p

un

ção

(m

m)

Tempo (s)

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135

Capítulo 5

Conclusões

O presente trabalho, que teve como objetivo estudar a influência do tratamento

térmico pós soldagem (TTPS) nas propriedades mecânicas, tensões residuais e resistência

à fluência de juntas soldadas de aços P91 e P92 e a caracterização das mesmas através de

novos ensaios em miniatura denominados Small Punched Test, permite concluir que:

1. As juntas soldadas de aço P91 mostraram a presença de poros na região do metal

de solda e a análise microestrutural destas juntas revelou a presença de martensita

no metal de solda. Após o tratamento térmico (TTPS) ela foi transformada em

martensita revenida, com características muito próximas das observadas no

material de base, o que resultou na redução dos níveis de dureza da região metal

de solda.

2. Foi observada uma zona macia na zona termicamente afetada (ZTA) das juntas

soldadas de P91 após o TTPS. Esse comportamento é esperado para esse tipo de

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136

material, sendo esta região a mais suscetível às fraturas do Tipo IV. Contudo, seria

necessário um estudo detalhado da microestrutura apresentada em cada condição

para obtenção de melhores conclusões acerca desse fenômeno.

3. A junta soldada do aço P92 mostrou uma microestrutura mais homogênea,

comparada ao P91, além de ZTA mais estreita, o que está diretamente ligado aos

processos de soldagem utilizados para a obtenção das mesmas.

4. Os processos de soldagem aplicados na confecção das juntas soldadas de aço P91

originaram diferentes perfis de tensões residuais (TRs) na região de acabamento

das juntas soldadas. Na amostra 1, o perfil de tensões residuais mostra tendência

à tração, principalmente para o último passe, no entanto, a amostra 2 apresentou

altos valores de tensão residual de compressão (-300 MPa). O que permite

concluir que o método utilizado para obter as amostras influencia na natureza e a

magnitude do perfil das tensões residuais geradas pelo mesmo processo de

soldagem.

5. A análise das tensões residuais na raiz das juntas soldadas de aço P91 mostrou

que os valores de tensão residual na região do metal de solda eram trativos e de

alta magnitude (até 400 MPa), o que poderia ser prejudicial à vida em serviço do

componente em serviço. Contudo, após o tratamento térmico pós soldagem

aplicado no aço P91 houve alívio das tensões residuais para valores próximos a

zero, em ambas as regiões estudas: raiz e acabamento.

6. Com base nos perfis de tensão residuais obtidos após a soldagem a o TTPS, não é

possível fazer uma relação direta entre dureza e tensões residuais porque a

natureza das TRs é diferente de região para região (raiz e acabamento). O que se

pode concluir é que a queda no valor de dureza pode ser um indício de alívio das

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137

tensões residuais, tanto compressivas quanto trativas. Contudo, é a microestrutura

o fator preponderante nos valores de dureza das juntas soldadas.

7. Com relação às propriedades mecânicas, o TTPS aplicado às juntas soldadas de

aço P91 foi benéfico, pois propiciou aumento na ductilidade das mesmas, sem

perda significativa da resistência mecânica.

8. As juntas soldadas de aço P92 apresentaram valores de limite de escoamento e

resistência superiores aos do metal de base, o que está diretamente ligado aos

processos de soldagem utilizados. Embora possuam características de baixa

produtividade, os processos de soldagem TIG (passes de raiz) e eletrodo revestido

(passes de enchimento) estão relacionados à obtenção de juntas com alta

integridade estrutural e baixa quantidade de defeitos.

9. Os ensaios de resistência à fluência aplicados às juntas de aço P91 reafirmam o

ganho com a aplicação do TTPS que, segundo a relação de Monkman-Grant

obtida, aumenta significativamente a tempo para a ruptura da junta soldadas por

fluência.

10. Os ensaios de Small Punched Test descrevem bem o comportamento dos materiais

de base e têm grande aplicabilidade para fins de comparação de diferentes regiões

de juntas soldadas.

11. Os valores das constantes obtidas para a quantificação dos valores de tensões

limite de escoamento e limite de resistência se mostrou bem promissora. Contudo,

seriam necessários mais dados, em diferentes condições de temperatura e com

outros materiais para tentar aproximar melhor os valores e, assim determinar uma

correlação mais precisa.

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138

Capítulo 6

Sugestões para Trabalhos Futuros

1. Realizar caracterização microestrutural mais detalhada, através de microscopia

eletrônica de varredura (MEV), para detalhar melhor as regiões das juntas

soldadas.

2. Analisar as fraturas em alta temperatura, tanto dos ensaios de tração quanto nos

ensaios de Small Punched Test.

3. Determinar as demais correlações entre os ensaios convencionais e os ensaios de

Small Punched Test, suprimidas neste trabalho.

4. Fazer a caracterização microestrutural e das fraturas nos corpos de provas de

fluência.

5. Fabricar o dispositivo de Small Punched Test para a realização de novos testes,

sob novas condições e em novos materiais.

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