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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO MARANHÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM NA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 316 SOLDADAS PELO PROCESSO TIG Aluno: Wilman Eduardo Italiano Ferreira São Luís-MA 2008

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO MARANHÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM NA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS EM AÇO INOXIDÁVEL

AUSTENÍTICO AISI 316 SOLDADAS PELO PROCESSO TIG Aluno: Wilman Eduardo Italiano Ferreira

São Luís-MA 2008

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO MARANHÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM NA SENSITIZAÇÃO DE JUNTAS SOLDADAS EM AÇO INOXIDÁVEL

AUSTENÍTICO AISI 316 SOLDADAS PELO PROCESSO TIG

Wilman Eduardo Italiano Ferreira

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Engenharia de

Materiais como requisito para a

obtenção do título de MESTRE em

ENGENHARIA DE MATERIAIS.

Orientador: Dr. Valdemar Silva Leal

Co-orientador: Dr. Auro Atshushi Tanaka

Agência Financiadora: (CAPES)

São Luís-MA 2008

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Ferreira, Wilman Eduardo Italiano.

Influência dos Parâmetros de soldagem na sensitização de juntas soldadas em aço inoxidável austenítico AISI 316 soldadas pelo processo TIG/ Wilman Eduardo Italiano Ferreira. - São Luís, 2008. 84.:il.

Dissertação (Mestrado em Engenharia de Materiais) – Curso de Engenharia

de Materiais. Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão, 2008.

1. Aço Inoxidável 2.Soldagem 3.Corrosão I.Título

CDU: 669.14.018.8

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus pais Maria de Jesus Italiano Ferreira e

Wilmar Lopes Ferreira pelo apoio incondicional e ajuda nos momentos mais

difíceis.

CURRICULUM VITAE

Mestre em Engenharia de Materiais pelo Centro Federal de Educação

Tecnológica do Maranhão - CEFET-MA (2008), Licenciatura em Física pela

Universidade Federal do Maranhão - UFMA (2005).

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MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DE WILMAN EDUARDO ITALIANO FERREIRA

APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA

DE MATERIAIS, DO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

DO MARANHÃO, EM (DATA: 29 de Novembro de 2008).

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________ PROF. Dr. VALDEMAR SILVA LEAL

ORIENTADOR

CEFET-MA

_________________________________________ PROF. Dr. KLEBER MENDES DE FIGUEIREDO

CEFET-MA

________________________________________ PROF. Dr. AYRTON DE SÁ BRANDIM

CEFET-PI

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iii

AGRADECIMENTOS

A Deus por permitir que pudesse chegar a esse momento.

Aos meus pais Wilmar Lopes Ferreira e Maria de Jesus Italiano Ferreira,

minha irmã Wilmara Italiano Ferreira por todo incentivo nas horas difíceis.

Meu filho Carlos Eduardo Veras Ferreira e Michelle Ribeiro Veras por

toda a segurança e incentivo.

Ao Prof. Dr. Valdemar Silva Leal pelo acompanhamento, orientação e

discussão realizada durante o desenvolvimento do trabalho científico, Ao Prof.

Dr. Antonio Ernandes M. Paiva e Aluisio Alves Cabral por todo o apoio dado e

colaboração na resolução de problemas que surgiram durante a

complementação do curso.

A Metalma através do seu proprietário, José de Ribamar barros Jr. pela

disponibilização do material. Aos professores Dr.(a) Regina Célia de Sousa e

Dr. Auro Atshushi Tanaka pela disponibilização dos seus respectivos

laboratórios para a realização da parte experimental do trabalho de pesquisa.

A todos os amigos que colaboraram direta ou indiretamente em especial

Minéia, Éden, Vanda, Ana Rosa, Içamira, Rialberth.

A Capes pela bolsa de mestrado concedida, ao CEFET-MA, REMULT

(Rede Multitarefas de Materiais Especiais do Norte e Nordeste), FINEP que

foram de fundamental importância para a realização deste trabalho.

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v

RESUMO

O aço inoxidável austenítico AISI 316 é utilizado nas indústrias do petróleo e gás,

aeronáutica, da criogenia e farmacêutica por possuir elevada resistência à

corrosão, excelente propriedades mecânica e boa soldabilidade. As aplicações

desse tipo de aço inoxidável em campo muitas das vezes requerem

procedimentos de soldagem, no entanto, a resistência à corrosão desses materiais

é influenciada pelos parâmetros utilizados na soldagem o que podem ocasionar

susceptibilidade à precipitação de carbonetos de cromo (Cr23C6) nos contornos de

grão. O presente trabalho teve por objetivo estudar a influência dos parâmetros de

soldagem na sensitização da zona termicamente afetada (ZTA) de um aço

inoxidável austenítico AISI 316 soldado pelo processo de soldagem TIG. Para

avaliar a sensitização, foi utilizada a técnica eletroquímica de reativação

potenciocinética de ciclo duplo (DL-EPR), microscopia óptica (MO) e microscopia

eletrônica de varredura (MEV). As diferentes energias de soldagem e o ciclo

térmico ocorrido durante a soldagem ocasionaram a sensitização na ZTA para

ambas as condições de resfriamento ar e água, além disto, quanto maior a energia

de soldagem maior o grau de sensitização (Gs) apresentado pelo aço inoxidável

316. Para a pior condição de soldagem foi realizado um tratamento térmico de

solubilização para prevenir a sensitização, sendo demonstrado através do ensaio

DL-EPR e análises microscópicas que esse tratamento é eficiente para diminuir a

precipitação (Cr23C6) diminuindo o Gs. A técnica DL-EPR é um método muito

eficaz para analisar o Gs dos aços inoxidáveis austeníticos.

Palavras chave: aço inoxidável AISI 316, Soldagem TIG, Microdureza e

Sensitização.

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INFLUENCE OF WELDING PARAMETERS OF THE MECHANICAL

PROPERTIES OF MICROHARDNESS AND CORROSIVE OF THE WELD OF A

AUSTENITIC STAINLESS STEEL AISI 316

ABSTRACT The AISI 316 austenitic stainless steel is used in industries from oil and gas,

aeronautics, the cryogenics and pharmaceuticals for having high corrosion

resistance, excellent mechanical properties and good weldability. The applications

of this type of stainless steel in the field and often require welding procedures,

however, the corrosion resistance of these materials is influenced by the

parameters used in welding which can cause susceptibility to precipitation of

carbides of chromium (Cr23C6) in the contours of grain. This study aimed to

investigate the influence of welding parameters in sensitização the heat affected

zone (ZTA) from an AISI 316 austenitic stainless steel welded by TIG welding

process. To assess the sensitização, we used the technique double-loop of

electrochemical reactivation potentiokinetic (DL-EPR), optical microscopy (OM)

and scanning electron microscopy (SEM). The different energies of welding and

thermal cycle occurred during welding caused the sensitização the ZTA for both

conditions of cooling air and water, addition, the higher the energy of welding

greater the degree of sensitização (Gs) from the 316 stainless steel. For the worst

condition of welding heat treatment was carried out to prevent the dissolution of

sensitização, as demonstrated by testing DL-EPR and microscopic analysis that

this treatment is effective at reducing the precipitation (Cr23C6) reducing the Gs.

The technique DL-EPR is a very effective method to analyze the Gs of austenitic

stainless steels.

Key words: AISI 316 stainless steel AISI 316, TIG Welding, Microhardness and Intergranular corrosion.

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PUBLICAÇÕES

FERREIRA, W.E.I.; MELO, M.S.; TANAKA, A.A.; SOUSA, R.C.; LEAL, V.S.

EFEITO DOS PARÂMETROS DE SOLDAGEM TIG NO COMPORTAMENTO DA CORROSÃO INTERGRANULAR DE UM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 316. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E ENGENHARIA DE

MATERIAIS - CBECIMat. Anais: Porto de Galinhas – PE, Novembro, 2008

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xi

ÍNDICE DE ASSUNTOS

Pág.

BANCA EXAMINADORA.................................................................................. i

AGRADECIMENTO.......................................................................................... iii

RESUMO.......................................................................................................... v

ABSTRACT....................................................................................................... vii

PUBLICAÇÔES................................................................................................ ix

ÍNDICE DE ASSUNTOS................................................................................... xi

ÍNDICE DE TABELAS....................................................................................... xv

ÍNDICE DE FIGURAS....................................................................................... xvii

SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES......................................................................... xxi

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1

2 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 3

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................... 5

3.1 Aços Inoxidáveis........................................................................................ 5

3.1.1 Aços inoxidáveis martensíticos............................................................... 6

3.1.2 Aços inoxidáveis ferríticos...................................................................... 6

3.1.3 Aços duplex............................................................................................ 6

3.1.4 Aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação.................................... 7

3.1.5 Aços inoxidáveis austeníticos................................................................ 7

3.2 Influência dos Elementos Composicionais nas Ligas Fe-Cr-Ni................ 12

3.3 Propriedades Mecânicas das Ligas Fe-Cr-Ni............................................ 13

3.4 Metalurgia da Soldagem dos Aços Inoxidáveis Austeníticos..................... 14

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xii

3.4.1 Estrutura do metal de solda dos aços inoxidáveis austeníticos............. 14

3.4.2 Fenômeno da formação de trincas......................................................... 15

3.4.3 Alterações microestruturais na zona termicamente afetada.................. 16

3.5 Soldabilidade dos Aços Inoxidáveis Austeníticos..................................... 17

3.6 Soldagem dos Aços Inoxidáveis................................................................ 18

3.7 Processo de Soldagem TIG....................................................................... 21

3.7.1 Vantagens do processo de soldagem TIG.............................................. 22

3.7.2 Desvantagens do processo de soldagem TIG........................................ 22

3.7.3 Corrente de soldagem............................................................................ 22

3.7.4 Variáveis de processo............................................................................. 24

3.7.4.1 Escolha do metal de adição................................................................. 25

3.7.4.2 Diagrama de Schaeffler....................................................................... 26

3.7.4.3 Gás de proteção.................................................................................. 28

3.8 Corrosão Intergranular............................................................................... 28

3.8.1 Corrosão intergranular em aços inoxidáveis austeníticos soldados....... 30

3.8.2 Influência do local e o tamanho de grão na precipitação de Cr23C6...... 32

3.8.3 Técnicas para avaliação da corrosão intergranular............................... 34

4 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 37

4.1 Materiais.................................................................................................... 37

4.2 Preparação do Metal de Base para a Soldagem....................................... 39

4.3 Dispositivo de Fixação............................................................................... 40

4.4 Processo de Soldagem.............................................................................. 40

4.4.1 Parâmetros de soldagem........................................................................ 41

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xiii

4.5 Metalografia................................................................................................ 43

4.5.1 Ataque eletroquímico segundo norma ASTM A 262.............................. 44

4.6 Ensaio Eletroquímico de Reativação Potenciocinética de Ciclo Duplo

(DL-EPR)..........................................................................................................

46

4.7 Microscopia Óptica...................................................................................... 49

4.8 Tratamento Térmico de Solubilização........................................................ 50

4.9 Ensaio de Microdureza............................................................................... 51

4.10 Microscopia Eletrônica de Varredura e EDS............................................ 53

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................................... 55

5.1 Cálculo das Energias de Soldagem Adotadas para Realização das

Soldas dos Corpos de Prova............................................................................

55

5.2 Análise Metalográfica dos Corpos de Prova Soldados............................. 57

5.3 Ensaio Eletroquímico Potenciocinético de Ciclo Duplo DL-EPR para os

Corpos de Prova Soldados...............................................................................

61

5.4 Tratamento Térmico de Solubilização........................................................ 65

5.5 Microscopia Eletrônica de Varredura.......................................................... 67

5.6 Composição Química através de EDS...................................................... 70

5.7 Perfil de Microdureza para ZTA dos Corpos de Prova.............................. 72

6 CONCLUSÕES............................................................................................. 77

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS............................................ 79

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 81

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xv

ÍNDICE DE TABELAS

Pág.

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas relacionadas à classe de aços

inoxidáveis ferríticos e austeníticos............................................................

13

Tabela 3.2 Alguns problemas na soldabilidade metalúrgica dos aços

inoxidáveis com sua respectiva solução....................................................

17

Tabela 3.3 Principais tipos de soldagem classificados quanto à natureza

da energia utilizada em relação ao tipo de processo.................................

19

Tabela 4.1 – Composição química relativa de um aço inoxidável

austenítico AISI 316 pela % em peso conforme fabricante...........................

37

Tabela 4.2 – Propriedades mecânicas do aço inoxidável austenítico AISI

316 conforme fabricante.............................................................................

38

Tabela 4.3 – Composição química do metal de adição ER 316L-Si pela

% em peso conforme fabricante.................................................................

38

Tabela 4.4 – Propriedades mecânicas do metal de adição conforme

fabricante....................................................................................................

38

Tabela 4.5 – Parâmetros de soldagem relacionados a cada corpo de

prova...........................................................................................................

42

Tabela 4.6 – Parâmetros do ensaio DL-EPR e as características de

programação do software durante ciclo operacional..................................

49

Tabela 4.7 – Relação entre a amostra, temperatura de solubilização e

tempo de exposição...................................................................................

51

Tabela 5.1 – Energias de soldagem relacionadas aos corpos de prova.... 56

Tabela 5.2 – Análise de EDS no contorno de grão para os corpos de

prova 01, 03 e 04........................................................................................

71

Tabela 5.3 – Análise de EDS no contorno de grão para os corpos de

prova 06, 07 e 10........................................................................................

71

Tabela 5.4 - Análise de EDS no contorno de grão para os corpos de

prova 06 - 1h, 06 – 2h, 06 – 4h..................................................................

72

Tabela 5.5 – Tamanho de grão das amostras observadas em MEV......... 76

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xvii

ÍNDICE DE FIGURAS

Pág.

Figura 3.1 – Sistema ternário Fe-Cr-Ni......................................................... 8

Figura 3.2 - Seção vertical do diagrama ternário Fe-Cr-Ni para teores de

cromo inferiores a 0,03% .............................................................................

9

Figura 3.3 – Classificação dos aços inoxidáveis para diferentes

composições.................................................................................................

11

Figura 3.4 – Trinca na região da ZTA e MF de um aço inoxidável

austenítico.....................................................................................................

16

Figura 3.5 Esquema do processo de soldagem TIG..................................... 21

Figura 3.6 – Tipos de polaridade na soldagem TIG: (a) Corrente contínua

de polaridade direta; (b) Corrente contínua de polaridade reversa; (c)

corrente alternada.........................................................................................

23

Figura 3.7 - Junta de topo com chanfro em V com 60º para aço inoxidável

considerando espessura maior que 4 mm....................................................

24

Figura 3.8 – Diagrama de Schaeffler............................................................ 26

Figura 3.9 – Representação do perfil de concentração de cromo das

regiões anódicas em comparação as regiões catódicas...............................

28

Figura 3.10 - Representação esquemática dos precipitados de cromo em

uma junta soldada de aço inoxidável austenítico..........................................

30

Figura 3.11 - Representação esquemática da sensitização em uma junta

soldada de aço inoxidável austenítico...........................................................

30

Figura 3.12 – Diagrama da cinética de precipitação de carbonetos de

cromo (M23C6) no aço inoxidável AISI 304....................................................

31

Figura 3.13 – Esquema do crescimento das dendritas dos Cr23C6 no aço

AISI 304, para temperatura de 732ºC para tempos de 4,8, 48 e 480

horas.............................................................................................................

32

Figura 3.14 – Morfologia dos M23C6 nos contornos de grão em função da

temperatura de sensitização.........................................................................

33

Figura 3.15 - Curvas esquemáticas do ensaio DL-EPR................................ 35

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xviii

Figura 4.1 – Chapa de aço inoxidável austenítico AISI 316.......................... 37

Figura 4.2 – Dimensões da amostra para a confecção dos corpos de

prova.............................................................................................................

39

Figura 4.3 – Dispositivo de fixação e proteção de raiz dos corpos de

prova.............................................................................................................

40

Figura 4.4 – Juntas Soldadas........................................................................ 43

Figura 4.5 – Figura esquemática das regiões ensaiadas: (1) microdureza;

(2) metalografia e ensaio de corrosão; (3) reserva; (4) e (4) regiões

descartadas (começo e fim de cordão); (5) corpo de prova com

dimensões de 1 cm2......................................................................................

43

Figura 4.6 – Ataque eletroquímico segundo norma ASTM 262, prática A:

(a) Fonte CG Son Dual Tracking Dc Power Supply; (b) Becker e corpo de

prova.............................................................................................................

45

Figura 4.7 – Classificação das estruturas atacadas de acordo com a

norma ASTM 262 prática A: (a) estrutura step; (b) estrutura dual; (c)

estrutura ditch................................................................................................

45

Figura 4.8 – Célula eletroquímica composta por três eletrodos: (a)

eletrodo de trabalho corpo de prova AIA 316; (b) Eletrodo de referência de

calomelano saturado ECS; (c) capilar de lugging; (d) eletrodo auxiliar de

platina............................................................................................................

47

Figura 4.9 - Conjunto aparelhos para obtenção das Curvas DL-EPR: (a)

Potenciostato/Galvanostatato modelo PAR 263A; (b) célula eletroquímica;

(c) Computador.............................................................................................

48

Figura 4.10 – Conjunto aparelhos para obtenção das imagens

microestruturais: (a) Microscópio Óptico OLYMPUS BX51 TRF; (b)

Câmera Digital OLYMPUS PM C35DX; (c) Microcomputador......................

50

Figura 4.11 – Mapeamento para os pontos de penetração do ensaio de

microdureza Vickers......................................................................................

52

Figura 4.12 – Microdurômetro Shimadzu HMV 2000.................................... 52

Figura 4.13 – Aparelho de ultra-som para limpeza de Cp’s.......................... 53

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xix

Figura 4.14 – Equipamento de microscopia eletrônica de varredura: (a)

MEV LEO modelo Stereoscan 440; (b) EDS Oxford Link EXL II..................

54

Figura 5.1 – Microestrutura da amostra CR.................................................. 57

Figura 5.2 – Microestruturas dos corpos de prova: (a) Cp’s 01; (b) Cp’s 02;

(c) Cp’s 03 e (d) Cp’s 04...............................................................................

58

Figura 5.3 – Microestruturas dos corpos de prova: (a) Cp’s 05; (b) Cp’s 06;

(c) Cp’s 07; (d) Cp’s 08; (e) Cp’09 e (f) Cp’s 10............................................

59

Figura 5.4 – Ensaios DL-EPR para os corpos de prova: (a) CR; (b) Cp’s

01; (c) Cp’s 02 e (d) Cp’s 03.........................................................................

61

Figura 5.5 – Ensaio DL-EPR para os corpos de prova: (a) Cp’s 04; (b)

Cp’s 05; (c) Cp’s 06; (d) Cp’s 07; (e) Cp’08 e (f) Cp’s 09..............................

62

Figura 5.6 – Ensaio DL-EPR para o corpo de prova: (a) Cp’s 10................. 63

Figura 5.7 – Microestruturas dos corpos de prova tratados termicamente

por processo de solubilização: (a) Cp’s 06 1 h; (b) Cp’s 06 – 2h; (c) Cp’s

06 – 4h..........................................................................................................

65

Figura 5.8 – Ensaio DL-EPR para os corpos de prova: (a) Cp’s 06 - 1 h;

(b) Cp’s 06 – 2h; (c) Cp’s 06 – 4h.................................................................

67

Figura 5.9 – MEV para os corpos de prova: (a) Cp’s 01; (b) Cp’s 03; (c)

Cp’s 04; (d) Cp’s 06; (e) Cp’07 e (f) Cp’s 10.................................................

68

Figura 5.10 – MEV para os corpos de prova tratados termicamente: (a)

Cp’s 06 – 1h; (b) Cp’s 06 – 2h; (c) Cp’s 06 – 4h...........................................

69

Figura 5.11 – Perfil de microdureza dos corpos de prova: (a) Cp’s 01; (b)

Cp’s 02; (c) Cp’s 03; (d) Cp’s 04; (e) Cp’05 e (f) Cp’s 06..............................

73

Figura 5.12 – Perfil de microdureza dos corpos de prova: (a) Cp’s 07; (b)

Cp’s 08; (c) Cp’s 09; (d) Cp’s 10...................................................................

74

Figura 5.13 – Perfil de microdureza dos corpos de prova: (a) Cp’s 06 – 1h

e (b) Cp’s 06 – 2h e (c) Cp’s 06 – 4h............................................................

75

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xx

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xxi

SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES A - Ampéres AIA - Aço inoxidável austenítico AISI – American Iron and Steel Institute

Cg – Contorno de Grão

Cp’s – Corpos de prova

CFC – Cúbica de Face Centrada

CR – Amostra como recebida

Cr23C6 - Carboneto de Cromo

DL-EPR – Ensaio Eletroquímico de Reativação Potenciocinética de Ciclo Duplo

EDS – Energia Dispersiva de Raio -X

E - Potencial

ECS – Eletrodo de Calomelano saturado

Es – Energia de Soldagem

FCAW – Soldagem a Arco com Eletrodo Tubular

Gs – Grau de Sensitização

I – Corrente

M7C3, M23C6 – Carbonetos de cromo

MAG – Metal Ativo Gás

MB – Metal de base

MEV – Mivroscopia Eletronica de Varredura

MIG – Metal Inerte Gás

MO – Microscopia Óptica

SAW – Soldagem a Arco Submerso

SMAW – Soldagem a Arco com Eletrodo Revestido

TIG – soldagem a Arco Gás Tungstênio

UNS - Unified Numbering System

V - Volts

ZTA – Zona Termicamente Afetada

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1

1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história o homem fez uso de diversos materiais para

melhorar o seu bem estar e progredir tecnologicamente, dentre esses inúmeros

materiais podem ser destacados o bronze, a prata, o alumínio e o ferro. Desses

metais citados o mais amplamente utilizado é o ferro e suas ligas.

O ferro é utilizado a mais de dois mil anos, no entanto, somente com a

Revolução Industrial iniciada na Inglaterra é que sua produção se tornaria mais

importante. Com a necessidade cada vez maior de se obter um determinado

material para uma dada aplicação, os pesquisadores foram alterando

composições e adicionando outros elementos ao ferro descobrindo novas ligas,

hoje denominadas aços.

Em 1912, Harry Brearly através de seus trabalhos com ligas de Fe-Cr,

descobriu que esses metais eram bastante resistentes à maioria dos reagentes

utilizados em sua época, atualmente o material das pesquisas de Brearly é

denominado de aço inoxidável martensítico. Além desse, outros tipos foram

sendo descobertos os quais são muito utilizados na tecnologia moderna tais

como os aços inoxidáveis ferríticos, austeníticos, duplex e os endurecidos por

precipitação que continuam tendo avanços tecnológicos no tocante a sua

fabricação, conforme a aplicação a que se destinam.

Dentre os tipos de aços descritos, os aços inoxidáveis austeníticos são

os mais empregados destacando-se aplicações tais como: na fabricação de

instrumentos cirúrgicos, carros, navios, aviões, recipiente para

acondicionamento de alimentos, em tubulações e aplicações nas indústrias

aeroespacial e nuclear. Toda essa vasta utilização está pautada na sua alta

resistência à corrosão e boas propriedades mecânicas a elevadas

temperaturas. Esses materiais não são magnéticos e não podem ser

endurecidos por tratamentos térmicos, mas são muito dúcteis e apresentam

excelente soldabilidade como afirma Sampaio [1].

O aço inoxidável austenítico AISI 316 foi desenvolvido para evitar o

processo de corrosão por pite, através da adição na matriz de molibdênio.

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2

Contudo, quando exposto por algum tempo a temperaturas entre 450ºC e 850º

durante tratamentos térmicos ou processos de soldagem, o aço inoxidável

austenítico pode apresentar precipitações de carbonetos de cromo nos

contornos de grão levando a corrosão intergranular, ocasionando a diminuição

de suas propriedades mecânicas podendo promover uma falha prematura do

metal.

O presente trabalho foi motivado pela necessidade de encontrar uma

forma de minimizar ou evitar um desgaste prematuro do aço inoxidável

austenítico AISI 316 quando submetido à soldagem pelo processo TIG

evitando, dessa forma, a troca prematura de um componente industrial

fabricado a partir desse aço.

Em função dos problemas que podem ser originados na região da solda

e adjacências, associadas às altas energias desprendidas durante a soldagem

é que este estudo foi realizado, tendo por objetivo fazer uma correlação entre

os parâmetros de soldagem, a propriedade mecânica de microdureza e o

comportamento à corrosão intergranular em juntas soldadas pelo processo TIG

em um aço inoxidável austenítico AISI 316.

Como objetivos específicos podem ser destacados:

- O estabelecimento de procedimentos de soldagem para aço inoxidável

austenítico AISI 316, adotando o processo TIG, permitindo a obtenção de

juntas soldadas de boa qualidade;

- Definir parâmetros de soldagem ideais quando da adoção do processo TIG

para a soldagem do aço inoxidável austenítico AISI 316 que proporcionem

excelentes propriedade mecânica de microdureza e resistência à corrosão

intergranular das juntas soldadas;

- Determinar a ocorrência de corrosão intergranular nesse tipo de aço depois

de submetido à soldagem através do ensaio de reativação eletroquímica

potenciocinética de ciclo duplo (DL-EPR), objetivando minimizar este fenômeno

com o intuito de aumentar a vida útil desse metal.

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3

2 JUSTIFICATIVA

Os aços inoxidáveis austeníticos são amplamente utilizados na

fabricação de estruturas metálicas e diversos equipamentos industriais e

domésticos. Porém, na maioria das aplicações ou funções em que esse

material é empregado, necessita ter suas partes unidas através de soldagem.

No entanto, ao se soldar um aço inoxidável austenítico o metal de solda

e a zona termicamente afetada normalmente não apresentam propriedades e

características similares ao metal de base. Pois, se por um lado a composição

química do metal de solda quase sempre é diferente daquela do metal de base,

por outro lado, durante o processo de soldagem ambas as regiões são

submetidas a ciclos térmicos que modificam o comportamento microestrutural

das mesmas, enquanto que, o metal de base praticamente não é afetado por

ciclos térmicos. Por esse motivo, o metal de base muitas das vezes sempre

apresenta maior resistência, ductilidade, tenacidade e resistência à corrosão do

que o metal de solda (MS) e a zona termicamente afetada (ZTA), conforme

afirmações de Fortes e Araújo [2].

As alterações nas propriedades mecânicas e condições corrosivas que

podem ocorrer após a soldagem do material são consideradas, de uma

maneira geral, como um problema de relevância em juntas soldadas de aço

inoxidável austenítico AISI 316 afetando de forma significativa sua vida útil.

Quando os parâmetros de soldagem não são controlados de forma adequada,

as características mecânicas e corrosivas do aço AISI 316 podem decrescer,

levando esse metal a futuras falhas e conseqüentes prejuízos onde for

empregado.

Por esse motivo, o controle dos parâmetros de soldagem e a correlação

destes com a propriedade mecânica de microdureza e característica de

corrosão intergranular de juntas soldadas, desse tipo de aço, se faz necessário

para aumentar a vida útil no estado como soldado.

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4

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5

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Aços Inoxidáveis

A resistência à corrosão juntamente com a resistência mecânica,

ductilidade, soldabilidade, custo, dentre outros fatores são características mais

importantes para a escolha de um aço inoxidável para uma determinada

aplicação, sendo os aços inoxidáveis austeníticos aqueles que apresentam a

melhor combinação entre resistência à corrosão e propriedades mecânicas.

Conforme Braga [3], o aço inoxidável recebe essa denominação para a

identificação de uma família de aços que possuem em sua composição química

uma quantidade de carbono que varia de 0 a 0,2% e um percentual de no

mínimo 12% de cromo que proporciona uma elevada resistência à oxidação,

além da formação de uma fina camada de óxido com espessura de 3 a 5 mm

na superfície destes aços pela combinação do cromo com o oxigênio do ar

atmosférico bastante resistente e contínua, proporcionando aos mesmos uma

elevada resistência à corrosão em muitos meios corrosivos.

Os aços inoxidáveis são normalmente designados pelos sistemas de

numeração da AISI (American Iron and Steel Institute), UNS (Unified

Numbering System) ou por designação própria do fabricante da liga. Entre

estes, o sistema da AISI especificado na literatura [4] é o mais utilizado.

A classificação mais simples e mais usada dos aços inoxidáveis é

baseada de acordo com a microestrutura, composição química e

características metalúrgicas, as quais estão relacionadas com suas

propriedades mecânicas e químicas. São divididos em cinco grupos sendo eles

martensíticos, ferríticos, austeníticos, duplex e os aços endurecíveis por

precipitação. As principais aplicações desses aços quanto a sua microestrutura

são listadas a seguir conforme Costa, Padilha e Guedes, Tebecherani [5-7].

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6

3.1.1 Aços inoxidáveis martensíticos

São aços com teor de cromo entre 12 a 17% e 0,1 a 0,5% de carbono.

Esse tipo de liga pode atingir diversos graus de dureza através das variações

de tratamento térmico, além disso, são ferromagnéticos e apresentam

trabalhabilidade e soldabilidade inferiores aos demais tipos. São comumente

utilizados em cutelarias, na fabricação de instrumento cirúrgico, peças para

válvulas e bombas, peças para turbinas a vapor e compressores, moldes para

plástico e vidro, etc.

3.1.2 Aços inoxidáveis ferríticos

Estes aços têm teor de cromo entre 11 a 27% e apresentam uma

estrutura macia e tenaz, altamente homogênea, conhecida como ferrítica.

Possuem uma maior trabalhabilidade e maior resistência à corrosão que os

aços martensíticos devido ao maior teor de cromo. São ligas que possuem

boas propriedades físicas e mecânicas sendo efetivamente resistentes à

corrosão atmosférica e a soluções fortemente oxidantes e, também, são

ferromagnéticos. Com relação à soldagem, apresentam tendência ao

crescimento de grão principalmente em seções de grande espessura. São

amplamente utilizados na fabricação de adornos arquitetônicos, equipamentos

para indústria alimentícia, equipamentos para a indústria química.

3.1.3 Aços duplex

Os aços duplex são aqueles que possuem uma dupla estrutura

basicamente constituída de austenita e ferrita. Essa estrutura é que

proporciona o dobro em resistência mecânica ao aço duplex em comparação

aos aços austeníticos e ferríticos, maiores tenacidade e ductilidade (em relação

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7

aos ferríticos) e uma maior resistência à corrosão em ambientes que possuam

a presença de cloretos. São principalmente empregados em trocadores de

calor, tubos para equipamentos de indústrias de gás, petróleo e petroquímica.

3.1.4 Aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação

São aços com teores de cromo entre 12% e 18% e níquel compreendido

entre 3% e 10% sendo endurecidos através de tratamento de envelhecimento.

Podem apresentar estrutura austenítica, semi-austenítica ou martensítica. Para

possibilitar o endurecimento por precipitação após tratamento térmico recebe

adição de elementos como o cobre, titânio ou alumínio. Possuem propriedades

mecânicas equivalente aos martensíticos e resistência a corrosão comparável

com os austeníticos.

3.1.5 Aços inoxidáveis austeníticos

São ligas do sistema ternário Fe-Cr-Ni Figura 3.1 que apresentam

estrutura cúbica de faces centrada (CFC) a temperatura ambiente.

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8

Figura 3.1 – Sistema ternário Fe-Cr-Ni [8].

Essa classe de aços possui um teor mínimo de 16% de cromo, 8% de

níquel e uma variação na porcentagem de carbono compreendida entre 0,02%

a 0,15%. Para compreender melhor a estrutura desses elementos

anteriormente citados na estrutura do aço inoxidável austenítico (AIA) é

mostrado uma seção vertical do diagrama ternário Fe-Cr-Ni como ilustrado na

Figura 3.2.

% Ni

% Cr % Fe

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9

Figura 3.2 - Seção vertical do diagrama ternário Fe-Cr-Ni para teores de cromo

inferiores a 0,03% [14].

De acordo com a Figura 3.2, aços inoxidáveis austeníticos com

composições inferiores a 1% ou 1,5% de níquel apresentam microestrutura

ferrítica entre a temperatura ambiente e o início da fusão. De acordo com

Padilha e Guedes [6], para valores compreendidos entre 2% e 3,5% de níquel,

o aço apresenta estrutura bifásica (austenita e ferrita) que aumenta

progressivamente com o aumento do teor de Ni.

Para teores acima de 3,7% de Ni, ocorre a presença completa da

estrutura austenítica que se amplia gradativamente com a elevação dos teores

de Ni, enquanto a temperatura de início da formação de martensita é

diminuída. Contudo, para teores de Ni acima de 8% consegue-se obter a

estrutura austenítica a temperatura ambiente, obtendo-se, dessa maneira, aços

inoxidáveis austeníticos que são ligas contendo teores superiores a 18% de

cromo e 8% de níquel como afirmação da literatura [6]. Além do Cr e Ni, podem

ser adicionados outros elementos constituintes para melhorar as propriedades

mecânicas do aço.

Esse tipo de metal não é ferromagnético, possui baixo limite de

escoamento em comparação aos martensíticos e apresentam alta ductilidade,

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10

além de boa trabalhabilidade e soldabilidade conforme referência bibliográfica

[9].

Os aços inoxidáveis austeníticos não podem ser endurecidos por

tratamento térmico, mas sua resistência à tração e dureza pode ser aumentada

por encruamento. Os aços inoxidáveis austeníticos são muito empregados em

equipamentos, estruturas e tubulações para diversas indústrias, principalmente

a petroquímica.

Este grupo de aços é o mais utilizado, representando cerca de 65% a

70% do total em uso. Esta posição dominante é função do alto nível de

fabricabilidade, resistência à corrosão e uma grande variedade na combinação

de propriedades que podem ser obtidas por diferentes composições,

fornecendo uma boa escolha do material para um grande número de

aplicações como mostra a Figura 3.3.

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11

Figura 3.3 – Classificação dos aços inoxidáveis para diferentes composições

[6].

304 (18/8)

Adição de Cr e Ni para resistência mecânica e

à oxidação

347 Aços inoxidáveis duplex

Alto Cr e baixo Ni para

propriedades especiais

Adição de Mo para resistência a

corrosão por pite

317

Baixo C para reduzir a sensitização

304L 316L

317L

Adição de Cu, Ti, Al, baixo Ni para

endurecimento por precipitação (menor

resistência a corrosão)

316

309, 310, 314, 330

Adição de Ti para reduzir sensitização

321

Aços endurecíveis

por precipitação

Adição de Ni e Ta para reduzir sensitização

Adição de mais Mo para resistência a corrosão por pite

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12

3.2 Influência dos Elementos Composicionais nas ligas Fe-Cr-Ni

Adições de alguns elementos químicos durante o processo de fabricação

das ligas de Fe-Cr-Ni influenciam em determinadas propriedades que se

pretende obter e, também, afetam a estabilidade relativa das fases. Essas

propriedades e fases presentes são especificadas para cada elemento

participante da constituição dessa ligas conforme referências bibliográficas

[6,9]:

• Cromo – É o elemento responsável pela formação da camada passiva

na superfície. Além da resistência à corrosão, o Cr é um elemento

“alfagênico”, isto é, amplia a faixa de estabilidade da ferrita. As adições

de Cr têm influência significativa nas propriedades mecânicas

promovendo o endurecimento por solução sólida. Na presença de C, o

Cr forma carbonetos do tipo M7C3 e M23C6, onde o M corresponde,

geralmente, ao Cr;

• Níquel - Elemento “gamagênico”, isto é, sua adição amplia a faixa de

estabilidade da austenita. É um elemento endurecedor por solução

sólida. Também pode auxiliar na formação da camada passiva (oxido de

Cr-Ni) aumentando a resistência á corrosão e ao calor;

• Manganês – A adição de pequenas quantidades de Mn, associadas à

presença de Ni, melhoram significativamente as funções atribuídas ao

Ni;

• Molibdênio - Aumenta a estabilidade da camada passiva e a resistência

à corrosão em ácido sulfúrico e na água do mar com consequente

resistência a corrosão por pite;

• Titânio, tântalo e nióbio – São elementos formadores de carbonetos.

Suas presenças minimizam a corrosão intergranular;

• Nitrogênio - Melhora a ductilidade (para teores de 0,5% a 1%) e a

dureza (para teores de 0,3% a 0,4%). Estabiliza a austenita podendo ser

empregado como um substituto de níquel;

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13

• Carbono – A adição de C está relacionada com o tipo de aço inoxidável.

Nos aços martensíticos, a adição visa aumentar a dureza da martensita

e a precipitação de carbonetos aumentando dessa maneira a resistência

mecânica e ao desgaste. Nos aços austeníticos e ferríticos, o teor de C

é limitado devido ao fenômeno de sensitização e corrosão intergranular;

• Enxofre – É normalmente considerado como impureza e mantido em

teores inferiores a 0,040%. Sua adição intencional, em conjunto com o

Mn, visa à formação de inclusões de manganês e silício que melhoram a

usinabilidade dessas ligas.

3.3 Propriedades Mecânicas das Ligas Fe-Cr-Ni

Os aços inoxidáveis austeníticos quando comparados com os aços

inoxidáveis ferríticos apresentam maiores limites de escoamento, alongamento,

encruamento, tenacidade e ductilidade, resistência à corrosão generalizada

como afirmam Moreira e Lebrão [9]. Na Tabela 3.1 são apresentadas algumas

propriedades mecânicas relacionadas aos aços inoxidáveis ferríticos e

austeníticos.

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas relacionadas à classe de aços

inoxidáveis ferríticos e austeníticos [10].

Tipo de aço AISI

Limite de resistência à

tração

Limite de escoamento 0,2% (MPa)

Alongamento %

Dureza (HRB)

409 380 205 22 88

430 450 205 22 88

444 497 337 32 83

446 480 280 20 -

301 515 205 40 100

304 700 300 54 85

316 620 300 54 85

316L 515 170 40 95

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14

3.4 Metalurgia da Soldagem dos Aços Inoxidáveis Austeníticos

Durante a soldagem dos aços inoxidáveis diversas são as mudanças

microestruturais que ocorrem devido à soldagem desse material. Essas

mudanças ocasionadas pela energia térmica influenciam diretamente na

estrutura do metal de solda e zona termicamente afetada, formação de trincas,

propriedades mecânicas e corrosivas desse metal.

3.4.1 Estrutura do metal de solda dos aços inoxidáveis austeníticos

O metal de solda (MS) nos aços inoxidáveis austeníticos se diferencia do

metal de base (MB), em geral, pela microestrutura. Enquanto o MB é

constituído inteiramente de austenita, o MS pode reter grandes quantidades de

ferrita δ a temperatura ambiente como afirma Modenesi [14]. No entanto, a

estrutura que o MS apresentará vai depender da forma de solidificação e das

transformações no estado sólido, sendo classificadas de acordo com a

morfologia da ferrita que apresentam, conforme afirmam referências

bibliográficas [11-14].

• Austenita – Essa microestrutura resulta da solidificação direta para

austenita, sem formação de ferrita;

• Austenita mais ferrita eutética – É conseqüência da solidificação em

austenita primária com desenvolvimento de ferrita em reação eutética ao

final da solidificação que se localiza em contornos de grãos ou dendritas;

• Austenita mais ferrita em espinha ou vermicular – O aço austenítico que

apresenta essa microestrutura, advém da solidificação em ferrita

primária com formação de austenita na etapa final de solidificação. A

ferrita fica localizada no centro das dendritas sendo a morfologia mais

observada em aços inoxidáveis austeníticos;

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15

• Austenita mais ferrita laminar ou rendilhada – Resulta da solidificação

em ferrita primária com transformação em austenita.

Através do entendimento da estrutura de solidificação nos aços austeníticos

na região do MS pode ser observado as características intrínsecas desse aço

como, por exemplo, se ele for predominantemente formado por austenita, vai

apresentar excelente ductilidade e boa resistência à fissuração pelo hidrogênio.

E, quando apresentar índices de ferrita não tão elevados, tende a reduzir o

efeito da fissuração durante solidificação.

3.4.2 Fenômeno da formação de trincas

A estrutura da solidificação, o teor das impurezas e as tensões

desenvolvidas na solda durante a solidificação da poça de fusão influenciam

diretamente na formação de trincas de solidificação dos aços inoxidáveis

austeníticos. Se, a solda apresentar ferrita δ a temperatura ambiente o MS terá

uma elevada resistência a fissuração, enquanto que, o MS com estrutura

austenítica apresenta baixa resistência.

Abaixo segue conforme literatura [14], os fatores benéficos responsáveis

pela melhora no fenômeno de formação de trincas e propriedades mecânicas

em virtude da formação de ferrita no metal de solda dos aços inoxidáveis

austeníticos:

• A maior solubilidade de impurezas de enxofre e fósforo na ferrita

ocasiona uma menor segregação desses elementos quando a solidificação

ocorre inicialmente na ferrita;

• Os contornos austenita-ferrita resultam em uma menor molhabilidade por

filmes líquidos nos contornos ferrita-ferrita e austenita-austenita, reduzindo o

espalhamento do líquido ao final da solidificação;

• Os contornos austenita-ferrita são muito sinuosos o que dificulta a

propagação das trincas.

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16

3.4.3 Alterações microestruturais na zona termicamente afetada (ZTA)

Durante a soldagem ocorrem mudanças microestruturais significativas

na zona termicamente afetada dos aços inoxidáveis austeníticos que

influenciam na resistência a corrosão, diminuição da dureza, crescimento de

grãos e precipitação de fases secundárias. Podem surgir ainda trincas

intergranulares, ou seja, trincas que se propagam seguindo os contornos de

grão em virtude das tensões residuais provenientes da fabricação do aço ou

durante operação desse material em condições de trabalho.

Conforme afirmam Modenesi, Marques e Folkhard [14,15], esse tipo de

trinca é comum em AIA que possuem como elemento constituinte o nióbio em

sua composição. Geralmente essas trincas podem iniciar na ZTA, ou então,

nas regiões parcialmente fundidas da solda propagando-se para a ZTA,

conforme ilustra Figura 3.4.

Figura 3.4 – Trinca na região da ZTA e MS de um aço inoxidável austenítico

[13].

Outra alteração de relativa importância na ZTA consiste na precipitação

de fases secundárias que podem diminuir consideravelmente à resistência a

corrosão dessa classe de aços, ocasionando a corrosão intergranular que se

MS

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17

propaga de forma não visível a “olho nu” propiciando um agravante a mais na

ZTA do aço austenítico.

3.5 Soldabilidade dos Aços Inoxidáveis Austeníticos

A soldabilidade é uma característica de fabricação utilizada na união dos

aços e que representa a facilidade com a qual estes materiais podem ser

soldados. Na Tabela 3.2 estão ilustrados alguns problemas relacionados ao

tipo específico de microestrutura que o aço apresenta.

Tabela 3.2 Alguns problemas na soldabilidade metalúrgica dos aços

inoxidáveis com sua respectiva solução [16].

Tipo de aço inox Problema Solução

Ferrítico

Sensitização Utilizar aço com elementos estabilizantes;

Fragilização por hidrogênio

Utilizar procedimento que introduz pouco hidrogênio durante a

Crescimento de grão

Utilizar baixa energia de soldagem.

Austenítico

Sensitização

Utilizar aço estabilizado; Reduzir a energia de soldagem.

Trincas a quente

Utilizar aço com baixo teor de enxofre e fósforo; Empregar metais de adição que gerem um teor de ferrita ao redor de 8% no cordão de solda; Modificar a geometria da junta pra reduzir tensões introduzidas durante a soldagem.

Martensítico Fragilização por hidrogênio

Aplicação de procedimentos que introduzam pouco hidrogênio durante a soldagem; Utilização de técnicas que reduzam a velocidade de resfriamento da junta.

É muito difícil realizar a quantificação de um aço com relação a sua

soldabilidade, porém, é fácil perceber que os materiais que exigem

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18

procedimentos de soldagem mais complexos apresentam difícil soldabilidade

como relata Zeeman [16]. Por exemplo, quando um aço qualquer é qualificado

pela terminologia como de difícil soldabilidade ou, que é difícil de ser soldado,

está se afirmando que a soldagem deste material envolve uma série de

cuidados específicos e, em muitos poucos casos, significa que o metal não é

soldável.

Os aços inoxidáveis austeníticos apresentam uma boa soldabilidade,

pois sua solda é caracterizada por boas ductilidade e tenacidade, no entanto,

durante ou após o processo de soldagem podem surgir na junta soldada ou na

ZTA, em virtude do gradiente térmico, defeitos de natureza metalúrgica.

3.6 Soldagem dos Aços Inoxidáveis

A soldagem é o processo de união mais utilizado na fabricação em nível

industrial, residencial e nos reparos em materiais metálicos como os AIA. Além

disso, é empregado desde a união microscópica de fios em pequenos circuitos

eletrônicos até a união de chapas de grande espessura. Conforme afirma

Modenesi e Marques [15] para aplicações específicas, os processos de

soldagem e as características das juntas soldadas são diferentes e dependem

da forma, espessura, geometria e do tipo do material, do método de soldagem

empregado, do desempenho e emprego esperado para os componentes

soldados diante das condições de serviço.

As partes a serem unidas durante os processos de soldagem podem ou

não envolver a fusão com posterior solidificação. Na Tabela 3.3, podem ser

observados os principais tipos de soldagem classificados quanto à natureza da

energia utilizada em relação ao tipo de processo.

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19

Tabela 3.3 - Principais tipos de soldagem classificados quanto à natureza da

energia utilizada em relação ao tipo de processo [17].

Tipos de soldagem Energia Ação Processo

Soldagem no estado

sólido Mecânica

Fricção Fricção

Impacto Explosão

Pressão Laminação Difusão

Soldagem por fusão

Química Oxidação Alumino-térmica

Queima de gases Oxi-combustível

Elétrica Arco elétrico

TIG SMAW

MIG/MAG FCAW SAW

Física Radiação Feixe de elétrons Laser

Os processos responsáveis pela junção dos metais podem ser

denominados de acordo com a fonte de energia utilizada por cada um deles

durante a soldagem, assim, essas fontes de energias são classificadas como

mecânicas, químicas, elétricas e radiantes conforme referência bibliográfica

[11]. Fontes mecânicas são aquelas que envolvem basicamente energia

mecânica para aproximar estruturalmente os metais onde o calor necessário

para a junção é gerado por atrito, impacto, pressão, por ondas de choque ou

deformação plástica do material.

Na fonte química de energia, o calor é gerado por reações químicas

como, por exemplo, queima de um combustível ou através da reação de

oxidação do alumínio, enquanto que, as fontes elétricas o calor é gerado pela

passagem de corrente elétrica (sendo o aquecimento realizado pelo efeito

Joule) através da formação de um arco elétrico, esse tipo de energia é uma das

mais utilizadas para a união de materiais. Por fim, na fonte radiante o calor

necessário para a soldagem é gerado a partir da natureza física, ou seja, por

radiação eletromagnética como na soldagem a laser ou feixe de elétrons.

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20

A maioria dos processos de soldagem envolve o calor como fonte de

energia para a junção das partes que serão soldadas como afirma Wainer et al

[11], portanto, esse aporte térmico tem influência direta nos ciclos térmicos ao

qual a zona soldada será submetida. Essas condições de variação de

temperatura e de velocidade de resfriamento têm dependência direta na

quantidade de calor que será transferida para o material durante a soldagem,

esse aporte térmico recebe a denominação de Energia de Soldagem.

Conforme exemplifica Fedele [18], essa energia é definida como o calor cedido

a junta por unidade de comprimento, podendo ser calculada a partir da

seguinte equação:

s

V IEv

η ×= (3.1)

Onde:

E = Energia de soldagem (J/cm);

η = Eficiência térmica do processo de soldagem (%);

V = Tensão de soldagem (V);

I = Corrente de soldagem (A);

sv = Velocidade de soldagem (cm/min).

Quanto menor a energia de soldagem transferida para a junta a ser

soldada, maiores serão as taxas de resfriamento e, conseqüentemente,

menores as mudanças microestruturais na zona termicamente afetada.

Os processos de soldagem mais utilizados para a soldagem de aços

inoxidáveis são: Eletrodos revestidos, TIG, MIG, embora vários outros sejam

usados [14]. Cada processo de soldagem possui sua própria eficiência térmica,

dentre esses processos a soldagem TIG vem se destacando, pois produz

soldas de excelente qualidade, boa ductilidade quando utilizado para soldar os

aços inoxidáveis austeníticos. Essas propriedades, como exemplifica Kou [19],

estão em função das baixas energias térmicas que podem ser utilizadas

durante esse tipo de soldagem.

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21

3.7 Processo de Soldagem TIG

A soldagem TIG (Tungsten Inert Gas) é um processo que fundi e une

metais, para isso, utiliza como fonte de calor um arco elétrico mantido entre um

eletrodo não consumível de tungstênio e o metal a ser soldado conforme

afirmam Kou e Bracarense [19, 20], como é ilustrado na Figura 3.5.

Figura 3.5 - Esquema do processo de soldagem TIG [15].

Durante a realização desse tipo de soldagem a proteção da região a ser

soldada é feita por um fluxo de gás inerte, geralmente, argônio, hélio ou

misturas entre eles, e pode ainda ser realizada com ou sem metal de adição.

O grande desenvolvimento dessa técnica ocorreu na Segunda Guerra

Mundial pela necessidade do desenvolvimento de processos de soldagem mais

eficientes para o alumínio utilizados na indústria aeronáutica. Atualmente esse

tipo de união de metais é mais utilizada em ligas de titânio, magnésio, alumínio

e aços inoxidáveis gerando uma solda de boa qualidade como afirma

referência bibliográfica [20], no entanto, existem algumas vantagens e

desvantagens que são listadas a seguir.

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22

3.7.1 Vantagens do processo de soldagem TIG

As vantagens do processo de soldagem TIG são segundo Wainer,

Modenesi e Bracarense, as seguintes [11, 14, 20]:

− Produção de soldas de alta qualidade, geralmente livres de defeitos e dos

respingos que ocorrem em outros processos a arco;

− Pode ser usado com ou sem metal de adição;

− Pode ser usado em quase todos os metais, inclusive metal dissimilar;

− Permite um controle preciso das variáveis da soldagem;

− Fonte de calor concentrada que miniminiza a zona afetada pelo calor e suas

distorções.

3.7.2 Desvantagens do processo de soldagem TIG

As desvantagens do processo de soldagem TIG são segundo conforme

referências bibliográficas [11, 14, 20]:

− Processo com baixa taxa de deposição;

− Há dificuldade de manter a proteção em ambientes turbulentos, ou seja,

impossibilidade de soldagem em locais com corrente de ar;

− Pode haver inclusões de Tungstênio, no caso de ocorrer contato do eletrodo

de tungstênio com a poça de fusão;

− Pode haver contaminação da solda, se o metal de adição não for

adequadamente protegido;

− Emissão intensa de radiação ultravioleta.

3.7.3 Corrente de soldagem

Os tipos de polaridade e corrente empregadas no processo TIG são:

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23

- Soldagem com corrente contínua de polaridade direta (DCEN) – Neste tipo de

polaridade o eletrodo de tungstênio é conectado no pólo negativo da fonte de

alimentação de energia conforme ilustra a Figura 3.6 (a).

Figura 3.6 – Tipos de polaridade na soldagem TIG: (a) Corrente contínua de

polaridade direta; (b) Corrente contínua de polaridade reversa; (c)

corrente alternada [19].

Segundo as indicações da Figura 3.6 (a), há um fluxo de íons positivos

da peça em direção do eletrodo e uma emissão de elétrons do eletrodo de

tungstênio em direção a peça que são acelerados quando viajam através do

arco, mas para isso, uma quantidade significativa de energia é exigida para que

um elétron seja emitido do elétrodo para o metal a ser soldado. Isto torna o

metal de base mais aquecido, proporcionando uma solda relativamente estreita

e de grande penetração.

- Soldagem com corrente contínua de polaridade reversa (DCEP) - Para esse

tipo de polaridade, o eletrodo de tungstênio é conectado no pólo positivo da

fonte de alimentação de energia conforme ilustra a Figura 3.6 (b). Observa-se a

ocorrência de um fluxo de íons positivos do eletrodo na direção do metal de

base e de elétrons do metal base incidindo no eletrodo de tungstênio o que

provoca seu aquecimento, em virtude disso, o eletrodo deve possuir um

diâmetro maior do que na polaridade direta para evitar o derretimento de sua

ponta. Nesse tipo de polaridade os íons positivos do gás de proteção se

Corrente contínua eletrodo negativo

Corrente contínuaeletrodo positivo Corrente alternada

Solda profunda Solda com baixa penetração

Solda profunda Intermediário

(a) (b) (c)

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24

chocam com a camada de óxido do metal produzindo um efeito de limpeza na

solda final, além disso, como o aquecimento é maior na ponta do eletrodo do

que no material, a penetração da solda é pequena e larga.

- Soldagem com corrente alternada – Este tipo de corrente gera uma

alternância na intensidade e tensão de soldagem, o que provoca uma variação

no eletrodo de negativo para positivo e vice-versa, conforme ilustração da

Figura 3.6 (c). Essa mudança produz uma solda final com boa penetração e

limpeza superficial, ou seja, um estado intermediário entre DCEN e DCEP. 3.7.4 Variáveis de processo

Conforme a norma ASME – Secção IX, as variáveis para a qualificação

de procedimento de soldagem TIG são: metais de base; metais de adição; pré

– aquecimento; gás de proteção.

Os principais fatores que afetam a preparação da junta nos metais de

base para os processos de soldagem por fusão são: tipo e espessura do

material a ser soldado, processo de soldagem que será utilizado, grau de

penetração do metal fundido, posição de soldagem e controle de distorção. O

tipo e espessura do metal estão relacionados com a transmissão de calor

através da junta. Assim, para materiais com elevada condutividade térmica, a

junta deve ser projetada de forma a diminuir a perda de calor. Para diminuir a

perda de calor utiliza-se chanfro simples V como ilustrado pela Figura 3.7.

Figura 3.7 - Junta de topo com chanfro em V com 60º para aço inoxidável

considerando espessura maior que 4 mm.

60º

e > 4 mm e

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25

3.7.4.1 Escolha do metal de adição

Para a escolha do metal de adição mais adequado para a soldagem dos

aços inoxidáveis austeníticos, deve se fazer a previsão da microestrutura da

zona fundida, partindo de uma escolha inicial, geralmente, recomendada por

literatura técnica. Utilizando-se o diagrama Schaeffler para previsão das

microestruturas das juntas soldadas através da influência da composição do

metal de base e metal de adição, na estabilização de fase austenita ou ferrita,

contribuindo para a previsão dos problemas que poderão ocorrer durante a

soldagem. Conforme afirma Paredes [18], diagrama de Schaeffler permite

conhecer com antecedência a composição química da estrutura de uma solda,

e escolher os eletrodos apropriados para cada soldagem.

3.7.4.2 Diagrama de Schaeffler

O diagrama de Schaeffler possibilita a previsão da microestrutura da

zona fundida das juntas soldadas dos aços inoxidáveis. Considerando-se a

difusão do metal de base, do metal de adição, e a influência dos elementos de

liga na estabilização da austenita ou ferrita. Os referidos elementos, com

características semelhantes, foram agrupados no cromo e no níquel

equivalentes conforme Equações 3.2 e 3.3, abaixo:

% % 1,5 % 0,5 %eqCr Cr Mo Si Nb= + + × + × (3.2)

% 30 % 0,5 %eqNi Ni C X Mn= + × + (3.3)

A partir destes agrupamentos foi construído o diagrama de Schaeffler,

que relaciona as características microestruturais de um aço com a sua

composição química como relata Cordeiro [21].

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26

Analisando-se o diagrama de Schaeffler (Figura 3.8), percebe-se a

presença de três regiões distintas que possuem somente uma fase: região

austenítica, ferrítica e martensítica. O diagrama também mostra regiões de

duas e até três fases presentes. A composição química junto com o

processamento termo-mecânico confere aos aços inoxidáveis propriedades

diferentes, que dependem da microestrutura com maior ou menor intensidade.

Figura 3.8 – Diagrama de Schaeffler [19].

As regiões delimitadas como região 1, 2, 3 e 4 apresentam as seguinte

morfologia e causas.

• Região 1 – A microestrutura característica é a austenita, com tendência

a fissuração a quente;

• Região 2 – As microestruturas características são a austenita e ferrita.

Uma solda nesta região é suscetível à formação de precipitados

intermetálicos como a fase sigma;

• Região 3 – A ferrita é a microestrutura característica, com baixo teor de

carbono (0,01%C), ocorrendo crescimento irreversível de grãos quando

permanece por muito tempo em temperatura superiores a 1150°C;

• Região 4 - A microestrutura característica é a martensita, no entanto

pode apresentar regiões mistas com martensita, austenita mais ferrita.

Uma solda nesta região está sujeita à fissuração pelo hidrogênio.

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27

A região central do diagrama é a ideal para o dimensionamento de junta

soldada, pois não possui nenhum dos problemas característicos das regiões

anteriores. A finalidade do diagrama é possibilitar a previsão da microestrutura

da zona soldada com base na composição química dos metais de base e

adição. O diagrama de Schaeffler é aplicado apenas na zona fundida, não

prevendo as características microestruturais da ZTA como afirma Cordeiro [21].

3.7.4.3 Gás de proteção

Os gases de proteção têm por finalidade proteger o eletrodo e o material

metálico fundido da contaminação do ar atmosférico e, também, podem ser

utilizados como “gás de purga” para proteção do lado contrário da solda da

oxidação durante a soldagem. Os gases mais empregados são o argônio e o

hélio com pureza de 99,99% e as misturas entre eles, além de misturas com

hidrogênio e nitrogênio.

Para soldagem de aços inoxidáveis pelo processo TIG, utiliza-se o gás

argônio ou hélio com corrente contínua de polaridade direta. A soldagem com

argônio tem algumas vantagens sobre o hélio, pois possibilita um arco mais

suave, estável, de fácil controle e penetração mais reduzida se comparada com

o hélio. Outro fator importante que está relacionado a maior utilização do

argônio em comparação ao hélio é o seu custo mais reduzido.

3.8 Corrosão Intergranular

Os aços inoxidáveis austeníticos possuem uma elevada resistência à

corrosão. Porém, em uma determinada faixa de temperatura, de 400 °C a 850

°C, esses aços estão sujeitos ao processo de sensitização conforme

especificado nas referências bibliográficas [22-25], resultando na perda das

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propriedades mecânicas podendo levar a fraturas quando for submetido a

esforços mecânicos em campo.

A corrosão intergranular tem origem no processo de sensitização. A

sensitização de um aço inoxidável austenítico consiste no empobrecimento de

cromo nas áreas adjacentes aos contornos de grão, atingindo um valor abaixo

do crítico de 12% para a formação do filme passivo, devido à precipitação de

carbonetos de cromo (Cr23C6) nos contornos de grão. Como resultado têm-se

áreas catódicas ricas em cromo (região central dos grãos e contornos de grão)

e áreas anódicas pobre em cromo (áreas adjacentes aos contornos), conforme

Figura 3.9, gerando uma pilha ativa-passiva com deterioração preferencial das

áreas anódicas. Quando isso ocorre diz-se que o aço está sensitizado.

Figura 3.9 – Representação do perfil de concentração de cromo das regiões

anódicas em comparação as regiões catódicas [23].

Para os aços inoxidáveis austeníticos o mecanismo da corrosão

intergranular está relacionada a sensitização. A sensitização deixa as regiões

adjacentes aos contornos de grão bastante fragilizadas quando em operação

ou expostas a algum meio corrosivo prejudicial e, por se desenvolver

microscopicamente, esse tipo de corrosão é de difícil percepção e muito

danosa ao aço como afirma Gentil [23]. A sensitização pode ocorrer durante o

resfriamento lento após solubilização, no alívio de tensões ou durante a

soldagem.

Região Anódica Região Catódica

GRÃO

GRÃO

60%

12%

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A redução da precipitação de carbonetos de cromo nos limites de

grão dos aços inoxidáveis austeníticos pode ser realizada de três maneiras

listadas de acordo com Silva [24]:

- Redução do teor de carbono no aço a valores baixos (menor que 0,03%);

- Tratamento térmico de solubilização, o qual consiste na dissolução parcial ou

total das partículas de precipitados seguido de têmpera (resfriamento rápido);

- Estabilização do aço através da adição de elementos microligantes como

titânio, vanádio e nióbio que possuem maior afinidade pelo carbono que com o

cromo.

3.8.1 Corrosão intergranular em aços inoxidáveis austeníticos soldados

Na tecnologia atual a soldagem é largamente empregada para a união

de diversas ligas metálicas dentre as quais encontram-se os aços inoxidáveis

austeníticos, contudo, a soldagem pode ocasionar danos irreparáveis

relacionados à corrosão. A maioria dos casos que envolvem deterioração em

aços que possuem suas partes soldadas é a corrosão intergranular, cujo

problema está relacionado ao fenômeno da sensitização.

Isto ocorre porque o processo de soldagem ocasiona aquecimentos e

resfriamentos cíclicos de maneira não homogênea nas regiões próximas à

solda. Isto propicia o desenvolvimento de diferenças microestruturais que

podem ser significativas após a soldagem. Essas diferenças estão relacionadas

com a composição química, o tamanho de grão, a possíveis transformações de

fase e ao aparecimento de novos precipitados (Cr23C6), conforme ilustração da

Figura 3.10, nos contornos de grãos dos aços inoxidáveis austeníticos como

afirma Fedele [18].

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30

Figura 3.10 - Representação esquemática dos precipitados de cromo em uma

junta soldada de aço inoxidável austenítico [18].

Em virtude desse aquecimento, a ZTA pode atingir a faixa de

temperatura na qual propicie ao metal uma precipitação de fases secundárias,

no entanto, a nucleação e crescimento dessas fases dependem da composição

química do material, da temperatura atingida na ZTA e do tempo de

permanência nessa temperatura conforme referência bibliográfica [22].

A Figura 3.11 mostra como os precipitados de carboneto de cromo

Cr23C6 em uma junta de aço inoxidável austenítico soldado se localizam nos

contornos de grão da ZTA.

Metal de solda

%Cr 60%18%

12%

Distância

Metal não afetadoZAC

Região sensitizada

Figura 3.11 - Representação esquemática da sensitização em uma junta

soldada de aço inoxidável austenítico [18].

Zona fina adjacente empobrecida em cromo

Carbonetos ricos em cromo Cr23C6

ZTA

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31

Portanto, se o aço inoxidável austenítico sofrer sensitização durante a

soldagem, quando for utilizado em um determinado meio corrosivo pode

ocorrer o desgaste gradual desse metal devido o desenvolvimento da corrosão

intergranular na região da ZTA.

3.8.2 Influência do local e o tamanho de grão na precipitação de M23C6

A cinética de precipitação de carbonetos de cromo obedece a uma certa

ordem preferencial de defeitos na estrutura cristalina. Segundo Carvajal [26],

primeiramente os M23C6 precipitam nos contornos de grão, depois nos

contornos de macla incoerente, contornos de macla coerente e interior dos

grãos, como mostra a Figura 3.12, para um aço inoxidável austenítico AISI 304

com 0,05% de carbono e solubilizado a 1250ºC.

Para os aços AISI 316 a cinética é semelhante, diferenciando no tempo

de precipitação que é ligeiramente menor devido ao maior teor de molibdênio

nesses aços.

Figura 3.12 – Diagrama da cinética de precipitação de carbonetos de cromo

(M23C6) no aço inoxidável AISI 304 [26].

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32

Outro aspecto importante para ressaltar sobre a precipitação de M23C6, é

a morfologia dos precipitados que tem dependência com a temperatura. Para

baixas temperaturas de precipitação, em torno de 600ºC, os M23C6 assumem a

forma de placas finas contínuas, devido à pequena mobilidade dos contornos

ou interface de grãos.

Para temperaturas intermediárias, 600ºC a 800ºC, os M23C6 têm formas

de finas e alongadas dendritas que se formam nos interstícios dos contornos

de grão e crescem. Quanto maior o tempo de permanência nesse intervalo de

temperatura, maior o crescimento e espessura desses precipitados, como

mostra a Figura 3.13.

Figura 3.13 – Esquema do crescimento das dendritas dos Cr23C6 no aço AISI

304, para temperatura de 732ºC para tempos de 4,8; 48 e 480

horas [26].

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33

Para temperaturas maiores, última curva da Figura 3.14, os Cr23C6 têm

forma de discretas partículas que dependem da orientação do grão e da

temperatura conforme afirma Carvajal [26].

O tamanho de grão tem forte influência na cinética de precipitação de

M23C6, pois quanto maior for o tamanho de grão mais rapidamente haverá a

precipitação nos contornos de Cr23C6 através do fenômeno da sensitização

contribuindo para um avanço da corrosão intergranular.

Esse aumento de precipitados ocorre em virtude de uma diminuição na

quantidade de contornos disponíveis por unidade de volume ocasionando uma

supersaturação de lacunas de carbonetos como relata Folkhard [13].

Figura 3.14 – Morfologia dos M23C6 nos contornos de grão em função da

temperatura de sensitização [26].

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34

3.8.3 Técnicas para avaliação da corrosão intergranular

Os ensaios de imersão e eletroquímicos são técnicas muito utilizadas

para estudar o comportamento dos metais quanto à sua resistência a corrosão

sendo classificados como ensaios simulados como relata Wolynec [27].

As normas ASTM 262 [28] e 763 [29], descrevem como avaliar a

susceptibilidade dos aços Inoxidáveis austeníticos e ferríticos, respectivamente,

porém, essas técnicas são destrutivas. Em virtude desse problema, foram

criadas novas técnicas não destrutivas capazes de detectar a corrosão

intergranular.

Como exemplos, pode-se citar o ensaio eletroquímico de reativação

potenciocinética de ciclo simples (EPR) especificado pela norma ASTM G108-

94 [30], que contém o procedimento para detectar a susceptibilidade a corrosão

intergranular dos aços inoxidáveis austeníticos AISI 304 e 304L, e o ensaio

eletroquímico de reativação potenciocinética de ciclo duplo (DL-EPR) que

utiliza as mesmas condições do EPR, porém, com diferenças no ciclo de

varrimento potenciostático e na preparação da superfície da amostra.

A vantagem do emprego da técnica DL-EPR é a isenção de um

polimento mais apurado da amostra, sendo suficiente o polimento com lixa de

granulometria 100, enquanto no EPR é requerido até a pasta de diamante 1µm.

Isso porque a amostra é polarizada a partir do potencial de corrosão até um

potencial em que a mesma fica passivada invertendo-se, em seguida, a direção

de varrimento para o potencial de corrosão.

Dessa forma obtêm-se duas curvas com pico, Figura 3.15, uma curva de

polarização anódica designada por ia e uma de polarização catódica designada

por ir, sendo que a polarização anódica se encarrega de completar o polimento

e dissolver as inclusões não metálicas que podem induzir a corrosão por pites

conforme referências bibliográficas [27, 31 e 32].

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35

Figura 3.15 - Curvas esquemáticas do ensaio DL-EPR [31].

O grau de sensitização Gs conforme estudos de Majidi [31], é calculado

pela razão entre os dois picos de corrente através da equação:

rs

a

iGi

= (3.4)

onde:

ri = pico de corrente reversa;

ai = pico de corrente anódica.

Ir Ia

Ecorr

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37

4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Materiais

Para o desenvolvimento desse trabalho foi utilizada uma chapa de aço

inoxidável austenítico tipo AISI 316, Figura 4.1, com dimensões de 500 mm de

comprimento, 500 mm de largura e 7 mm de espessura fabricada pela

ACESITA. A composição química desse material e suas propriedades

mecânicas são apresentadas conforme fabricante nas Tabelas 4.1 e 4.2,

respectivamente.

Figura 4.1 – Chapa de aço inoxidável austenítico AISI 316

Tabela 4.1 – Composição química relativa de um aço inoxidável austenítico

AISI 316 pela % em peso conforme fabricante.

Tipo de

aço

Teor de cada elemento constituinte em % C Mn Si P S Cr Ni Mo N2

AISI 316 0,08 2 0,75 0,045 0,03 16 - 18 10 - 14 2 - 3 0,1

500 mm

7 mm

1 2

3

5

7

9

4

6

8

10

500 mm

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38

Tabela 4.2 – Propriedades mecânicas do aço inoxidável austenítico AISI 316

conforme fabricante.

Denominação Limite de

resistência a tração (MPa)

Limite de escoamento

Alongamento50(mm)

Dureza (HRB)

AISI 316 620 300 52 85

Para a realização das soldas foi utilizado o arame de diâmetro 1,6 mm,

com especificações AWS ER 316L-Si fabricado pela Di Martino. A composição

química, bem como suas propriedades mecânicas são mostradas na Tabela

4.3 e 4.4, respectivamente, de acordo com as especificações do fabricante.

Tabela 4.3 – Composição química do metal de adição ER 316L-Si pela % em

peso conforme fabricante.

Tipo de metal de adição

Teor de cada elemento constituinte em % C Si Mn P S Cr Ni Mo Cu

ER 316L-Si 0,03 1,0 2,5 0,020 0,015 20 14 3 0,5

Tabela 4.4 – Propriedades mecânicas do metal de adição conforme fabricante.

Classificação Limite de resistência

(MPA) Alongamento Min (%)

AISI 316L-Si 520 30

Para a proteção da poça de fusão e raiz foi utilizado como gás de

proteção e purga o argônio.

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39

4.2 Preparação do Metal de Base para a Soldagem

As amostras para a confecção dos corpos de prova (Cp’s) (juntas

soldadas) foram cortadas em guilhotina, com dimensões de 125 mm de

comprimento X 100 mm de largura X 7 mm de espessura mantendo o sentido

de laminação da direção longitudinal da chapa. Elas foram biseladas com

ângulo de 30º e limpas através de jateamento de areia, escova de aço

inoxidável austenítico e álcool etílico para garantir uma menor presença de

elementos contaminantes na superfície da região a ser soldada. Em seguida,

aos pares, perfazendo um total de dez, formaram juntas de topo com chanfro

em V e ângulo de 60º, como mostrado na Figura 4.2, sem nariz e com abertura

de raiz de 1 mm.

Depois de soldadas com a finalidade de avaliar a influência dos mesmos

no grau de sensitização, geraram dez juntas soldadas (corpos de prova) com

designação 01 a 10 com soldagem realizada adotando corrente contínua com

polaridade direta, usando uma vazão de gás de 7 litros/ minuto para proteção

da poça de fusão, com a mesma vazão para proteção de raiz. O eletrodo

utilizado foi o tungstênio toriado com 2 mm de diâmetro, e bocal de tocha

número 7.

Figura 4.2 – Dimensões da amostra para a confecção dos corpos de prova.

Chanfro em V = 60º100 mm

7 mm

125

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40

4.3 Dispositivo de Fixação para Realização das Soldas

Foi necessário o desenvolvimento de um dispositivo para a fixação dos

Cp’s a mesa de trabalho, com o objetivo de:

• Garantir a regularidade e uma geometria constante do cordão;

• Evitar o empenamento dos corpos de prova mantendo os parâmetros de

soldagem constantes, como por exemplo, a distância entre o bico de

contato e a chapa que pode provocar instabilidade no processo. O

dispositivo é mostrado na Figura 4.3;

• Proteger a raiz dos Cp’s durante o processo de soldagem da

contaminação e oxidação de agentes do ar atmosférico (purga), feita

com gás argônio.

Figura 4.3 – Dispositivo de fixação e proteção de raiz dos corpos de prova.

4.4 Processo de Soldagem

A soldagem do aço foi realizada na posição plana empregando o

processo de soldagem TIG através de um aparelho de soldagem Migatronic

LTE 200 LEHF fabricada por Buck & Hickman.

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41

A operação de soldagem foi realizada por soldador qualificado e, para

evitar variações dos parâmetros durante a soldagem, foram feitos vários testes

anteriores à soldagem para simular as condições de junção dos corpos de

prova. Com isso, reduziu-se ao máximo os problemas oriundos da variação da

distância entre o bico da tocha e os corpos de prova.

4.4.1 Parâmetros de soldagem

A soldagem foi realizada pelo processo TIG que possui uma eficiência

de 60% com metal de adição AWS ER 316L-Si com diâmetro de 1,6 mm e

argônio como gás de proteção e purga como dito anteriormente. O número de

passes utilizados para soldar cada corpo de prova e obter cada junta soldada

foram dois, sendo que não foi usado pré-aquecimento e a temperatura entre

passes foi mantida em 80º C. A medida de temperatura entre os passes foi

realizada através de um equipamento constituído por um termômetro a laser. A

velocidade de soldagem foi determinada através da cronometragem do tempo

de soldagem de cada junta considerando esse tempo como o tempo de arco

aberto.

Além disso, foram adotadas duas condições de resfriamento dos corpos

de prova após soldagem, ar e água, para se verificar a influência da taxa de

resfriamento no grau de sensitização da junta soldada.

Os parâmetros de soldagem utilizados para soldar cada corpo de prova

estão listados na Tabela 4.5.

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42

Tabela 4.5 – Parâmetros de soldagem relacionados a cada corpo de prova.

Corpo de prova Corrente (A) Tensão

(V) Abertura de

raiz Gás de

proteção Resfriamento

* Velocidade de soldagem (cm/min)

1º(passe) e 2º (passe),

respectivamente.

01 70 9 1 Argônio Ar 7,58 7,97

02 80 10 1 Argônio Ar 7,97 7,85

03 90 12 1 Argônio Ar 8,14 7,33

04 100 14 1 Argônio Ar 8,14 7,97

05 115 15 1 Argônio Ar 7,85 8,80

06 120 16 1 Argônio Ar 7,85 8,14

07 100 14 1 Argônio Água 8.20 7.80

08 115 15 1 Argônio Água 7.90

8.70

09 120 16 1 Argônio Água 8.70 7.80

10 140 17 1 Argônio Água 8.20 8.15

Durante a realização das soldas, os parâmetros de soldagem (corrente e

tensão) foram monitorados utilizando-se um equipamento de fabricação Starret

denominado Strunk Messamatik conectado ao equipamento de soldagem

pertencente ao SENAI-MA. Depois de realizada a etapa de soldagem, os

corpos de prova passaram a fase de corte e preparação metalográfica.

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43

4.5 Metalografia

Uma amostra contendo 1 cm2 de área da chapa original foi retirada e

designada de ”como recebida” (CR) para posterior comparação com as demais

no estado soldado, objetivando a verificação da influência dos parâmetros de

soldagem na sensitização do aço AISI 316. Após a confecção e soldagem das

juntas soldadas, Figura 4.4, foram extraídas destas os corpos de prova para a

realização dos ensaios mecânicos, metalográficos e de corrosão, conforme

ilustrado na Figura 4.5.

Figura 4.4 – Juntas Soldadas.

Figura 4.5 – Figura esquemática das regiões ensaiadas: (1) microdureza; (2)

metalografia e ensaio de corrosão; (3) reserva; (4) e (4) regiões

descartadas (começo e fim de cordão); (5) corpo de prova com

dimensões de 1cm2.

1

2

3

4

4

5

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44

Para seccionar as regiões 1, 2, 3 e 4, foi utilizado uma serra de fita e,

para a retirada dos corpos de prova contendo as regiões do MS, ZTA e MB

com dimensão de 1cm2 conforme Figura 4.5, empregou-se uma cortadora

metalográfica CF III da Fortel.

As amostras seccionadas foram divididas em dez pares recebendo a

denominação de corpo de prova 01 a 10 de acordo com os seus respectivos

parâmetros de soldagem. Esses dez pares foram soldados com parâmetros

distintos, conforme anteriormente citado, com a finalidade de avaliar a

influência dos mesmos no grau de sensitização.

A preparação metalográfica dos Cp´s consistiu no embutimento destes

em resina poliéster de cura a frio. Em seguida, o material passou por processos

seqüenciais de lixamento com lixas d’ água de granulometria 100, 220, 320,

400, 600 e 1200, posteriormente a essa operação, foram polidas em alumina

de 1 µm e, depois, pasta de diamante de 0,3 µm.

4.5.1 Ataque eletroquímico segundo norma ASTM A 262

Trata-se de uma norma específica para identificar através da

microestrutura se o material apresenta susceptibilidade a sensitização, ou seja,

precipitação de carbonetos de cromo. Esse ataque eletroquímico visa analisar

qualitativamente através da microestrutura se o material está sensitizado ou

não.

O procedimento foi realizado com a preparação de uma solução de

cristais de ácido oxálico a 10 % (H2C2O42H2O) diluídos em 900 ml de água

destilada. Para o ataque eletroquímico aplicou-se uma densidade de corrente

de 1A/ cm2, a temperatura ambiente, por 1,30 minutos segundo a norma ASTM

A 262, prática A [28]. A Figura 4.6 mostra o conjunto usado para a realização

do ensaio.

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45

Figura 4.6 – Ataque eletroquímico segundo norma ASTM 262, prática A: (a)

Fonte CG Son Dual Tracking Dc Power Supply; (b) Becker e

corpo de prova.

O objetivo do ataque é classificar as microestruturas observadas como

sendo “step” (limite de contornos de grãos não envoltos por carboneto de

cromo), “dual” (alguns contornos com “ditches”, somado a “steps”, mas sem

nenhum grão completamente contornado por “ditches”) ou “ditch” (um ou mais

grãos completamente envoltos por carboneto de cromo) como ilustra a Figura

4.7, esse ataque é utilizado para a aceitação do material, contudo, ele não

rejeita a possibilidade de aplicação do mesmo, portanto, deve-se aplicá-lo em

associação com outros ensaios como, por exemplo, o DL-EPR.

Figura 4.7 – Classificação das estruturas atacadas de acordo com a norma

ASTM 262 prática A: (a) estrutura step; (b) estrutura dual; (c)

estrutura ditch.

a

b

(a) (b) (c)

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46

4.6 Ensaio Eletroquímico de Reativação Potenciocinética de Ciclo Duplo (DL-EPR)

Para avaliar quantitativamente a suscetibilidade do aço inoxidável

austenítico AISI 316 ao ataque intergranular, foi realizado o ensaio DL-EPR.

Para esse ensaio eletroquímico utiliza-se uma célula convencional

eletroquímica, Figura 4.8, de três eletrodos: o eletrodo auxiliar fabricado a partir

de uma folha de platina, um eletrodo de calomelano saturado (SCE) como o de

referência e as amostras de AIA AISI 316 como eletrodo de trabalho. Esses

eletrodos foram colocados dentro de uma solução eletrolítica 0.05 M H2SO4

(ácido sulfúrico) + 0.01 M KSCN (tiocianato de potássio) conforme exemplifica

a Figura 4.8. O eletrodo de trabalho foi construído com as amostras do aço

inoxidável austenítico AISI 316 embutidas em resina poliéster de cura a frio.

Neste ensaio, conforme a literatura [27, 31], a amostra é polarizada

potenciocinéticamente a partir do potencial de corrosão com uma velocidade de

varrimento de 1,67 mV/s até um potencial em que a mesma fica passivada

invertendo a direção de varrimento, com isso, obtém-se duas curvas com um

pico de corrente cada uma, conforme ilustrada na Figura 3.15.

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Figura 4.8 – Célula eletroquímica composta por três eletrodos: (a) eletrodo de

trabalho corpo de prova AIA 316; (b) Eletrodo de referência de

calomelano saturado ECS; (c) capilar de lugging; (d) eletrodo

auxiliar de platina.

Antes de iniciar a aquisição dos picos de corrente, foi feita a

estabilização do potencial fazendo-se uma varredura de potencial de circuito

aberto por 5 minutos. Depois de estabilizado o potencial do sistema, iniciou-se

a aquisição das curvas que resultaram no gráfico DL-EPR. O equipamento

usado para realização deste ensaio foi um Potenciostato/Galvanostato modelo

PAR 263A pertencente ao Laboratório de Eletroquímica (LELQ-DEQUI/ UFMA)

acoplado a um computador, como ilustrado na Figura 4.9, interfaceado ao

software PowerSuite com a atualização de 2008 onde eram obtidos e tratados

os dados. Os intervalos de tempo para a aquisição das curvas de realização do

ensaio foi de aproximadamente 7 minutos.

a

c

b d

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48

Figura 4.9 - Conjunto aparelhos para obtenção das Curvas DL-EPR: (a)

Potenciostato/Galvanostatato modelo PAR 263A; (b) célula

eletroquímica; (c) Computador.

O grau de sensitização (Gs) ou a intensidade de sensitização foi avaliado

pela razão Ir/Ia, conforme Madiji e Streicher [31], aonde Ia e Ir representam as

correntes de pico anódica e pico reverso, respectivamente. Os parâmetros

adotados para a realização dos ensaios pelo teste DL-EPR são listados

resumidamente na Tabela 4.6.

a

b c

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49

Tabela 4.6 – Parâmetros do ensaio DL-EPR e as características de

programação do software durante ciclo operacional.

Parâmetros de montagem

Eletrólito 0.05 M H2SO4 + 0.01 M KSCN

Temperatura Temperatura ambiente

Velocidade de varredura 1,67 mV/s

Lixamento superficial final Lixa de granulometria 600

Potencial de corrosão - 300 mV

Potencial de passivação 0,350 mV

Software PowerCorr v. 2008

Programação do software

Initial Potential E0

Vertex Potential E1

Final potential E2

0,0 mV

0,350 mV

0,0 mV

4.7 Microscopia Óptica

Nas análises microestruturais dos corpos de prova para avaliação da

sensitização para o estudo das amostras do aço inoxidável austenítico AISI 316

no estado como recebido e como soldado, submetidos ao ataque eletroquímico

conforme norma ASTM 262, prática A, foi utilizado um analisador de imagens

pertencente ao Laboratório de Caracterização Microestrutural de Materiais da

Universidade Federal do Maranhão (LCMM-DEFIS/ UFMA). Esse sistema é

constituído de uma câmera digital OLYMPUS PM C35DX, adaptada a um

microscópio óptico OLYMPUS BX51 TRF, Figura 4.10, que transfere a imagem

para um computador e monitor, respectivamente. Com base no programa de

imagens “Image-Pro Plus” versão 4.5 para Windows, as imagens foram

congeladas e armazenadas no computador para identificação das estruturas.

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50

Figura 4.10 – Conjunto aparelhos para obtenção das imagens microestruturais:

(a) Microscópio Óptico OLYMPUS BX51 TRF; (b) Câmera Digital OLYMPUS

PM C35DX; (c) Microcomputador.

4.8 Tratamento Térmico de Solubilização

Para esse tipo de tratamento térmico foi utilizado a amostra com a pior

condição de sensitização depois da confirmação pelos ensaios eletroquímicos

segundo norma ASTM 262, prática A, DL-EPR, além de comprovada a

sensitização depois da análise microestrutural por microscopia óptica. Dessa

forma, a região reserva do corpo de prova soldado (junta soldada) que gerou,

como descrito anteriormente, a pior condição de sensitização foi seccionada

em três partes, sendo elas, designadas conforme Tabela 4.7.

Em seguida foram tratadas termicamente a uma temperatura de 1100º

C, em Forno MUFLA EDG-10PS, para intervalos de tempo conforme ilustra

Tabela 4.7. Cada amostra foi colocada no forno com sua respectiva

temperatura estabilizada durante o intervalo de tempo correspondente e,

a

b

c

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51

terminado esse período de tempo, era retirada e temperada em água para

prevenir a sensitização do aço. Esse procedimento foi repetido até todos os

corpos de prova passarem por esse processo.

Tabela 4.7 – Relação entre a amostra, temperatura de solubilização e tempo de

exposição.

Corpo de prova Temperatura de Solubilização (°C)

Tempo de exposição (minutos)

06 – 1 h 1100 60

06 – 2 h 1100 120

06 – 4 h 1100 240

4.9 Ensaio de Microdureza

O ensaio de microdureza realizado foi do tipo Vickers conforme norma

ASTM E384-89 [33] objetivando mapear a variação de dureza na ZTA da junta

soldada. Para isso foram realizadas três colunas de medidas com seis pontos

distintos iniciando no metal de solda e se estendendo até o metal de base,

usando uma carga de 300 gf, sendo as distâncias entre as medidas iguais a

0,25 mm conforme mostra a Figura 4.11.

Para efetuar as medidas de microdureza o equipamento empregado foi

um Microdurômetro Shimadzu HMV 2000, Figura 4.12, pertencente ao

Departamento de Mecânica e Materiais do CEFET-MA.

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52

Figura 4.11 – Mapeamento para os pontos de penetração do ensaio de

microdureza Vickers.

Figura 4.12 – Microdurômetro Shimadzu HMV 2000.

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53

4.10 Microscopia Eletrônica de Varredura e EDS

A microscopia eletrônica de varredura foi utilizada com o objetivo de

investigar na ZTA dos corpos de prova na condição como soldadas a existência

de precipitados tanto no grão como nos contornos de grãos e, verificar, por

método de energia dispersiva (EDS) a composição química dos elementos para

confirmar a presença de carbonetos de cromo nessas regiões. Além disto, foi

verificado o tamanho médio de grão na região anteriormente citada para

comparação da sua influência na propriedade de microdureza e precipitação de

carbonetos de cromo.

As amostras antes de serem analisadas no microscópio eletrônico de

varredura foram atacadas conforme estabelece norma ASTM 262 [28], prática

A. Em seguida foram lavadas em água para retirada do excesso de agentes

corrosivos do ataque e, logo em seguida, foram imersas em um becker

contendo álcool isopropílico durante cinco minutos e submetidas a ultra-som

como ilustração da Figura 4.13.

Figura 4.13 – Aparelho de ultra-som para limpeza de Cp’s

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54

Logo após o término da limpeza foram encaminhadas para o MEV LEO

modelo Stereoscan 440 acoplado a um EDS Oxford Link EXL II (Figura 4.14),

pertencente ao Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais –

CCDM localizado na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar no

Departamento de Materiais – DEMA. As condições de operação adotadas para

a análise das microestruturas foram as seguintes:

(i) As superfícies das amostras receberam a deposição de uma fina camada

de ouro para uniformização da superfície e melhor condução dos elétrons;

(ii) Foram colocadas em número de cinco no porta amostra em ordem

crescente de parâmetro de soldagem a uma distância média de trabalho de 1

mm;

(iii) A técnica utilizada foi a de feixe de elétrons retroespalhados.

Figura 4.14 – Equipamento de microscopia eletrônica de varredura: (a) MEV

LEO modelo Stereoscan 440; (b) EDS Oxford Link EXL II.

a

b

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55

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo serão apresentados e analisados os resultados das

análises e ensaios realizados no aço AISI 316 estudado, que de certa forma,

permitiram o correto desenvolvimento do trabalho permitindo a obtenção de

resultados compatíveis com a literatura.

5.1 Cálculo das Energias de Soldagem Adotadas Para Realização das Soldas dos Corpos de Prova

Como foram utilizados diferentes parâmetros de soldagem na realização

das soldas dos diferentes Cp’s, a energia de soldagem resultante e adotada na

soldagem de cada um destes é descrita na Tabela 5.1, conforme cálculos

realizados usando os parâmetros dados na Tabela 4.5 com o auxílio da

equação 3.1.

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56

Tabela 5.1 – Energias de soldagem relacionadas aos corpos de prova.

Corpo de Prova

Energia de soldagem (KJ/ cm) 1º(passe) e 2º (passe),

respectivamente.

Energia de Soldagem Média

(KJ/ cm)

01 4,98

4,86 4,74

02 6,02

6,06 6,11

03 7,96

8,40 8,84

04 10,31

10,42 10,53

05 13,18

12,47 11,76

06 14,67

14,41 14,15

07 10.24

10,50 10.77

08 13.10

12,49 11.89

09 14.77

14,41 14.05

10 17.52

17,81 18.10

De acordo com a Tabela 5.1 verificou-se que a energia de soldagem

aumenta gradativamente com o aumento da corrente, tensão e velocidade de

soldagem empregada como parâmetros de soldagem.

5.2 Análise Metalográfica dos Corpos de Prova Soldados

A análise microestrutural do material “como recebido” (CR) revelou a

presença de uma microestrutura ditch conforme norma ASTM A 262 [28], ou

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57

seja, a presença de precipitados nos contornos de grãos e na matriz

austenítica, conforme ilustrado na Figura 5.1. A presença da estrutura ditch

deve-se, provavelmente, a exposição na faixa de temperatura de 450ºC a

850ºC o que ocasionou a sensitização durante processo de fabricação do aço

conforme afirmações da literatura [23-25].

Figura 5.1 – Microestrutura da amostra CR.

Nas Figuras 5.2 e 5.3, é possível verificar através da análise

microestrutural por microscopia ótica que todos os Cp’s de prova soldados com

energias de soldagem de acordo com a Tabela 5.1, tiveram precipitação de

Cr23C6 nas regiões de contornos de grão. Dessa forma, ficou evidente a

presença nas micrografias das estruturas ditches, de acordo com a norma

ASTM A 262 [28]. No entanto, esses precipitados estão finamente dispersos

nos contornos de grão e na matriz se comparados com a norma ASTM A 262,

prática A.

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58

(a) (b)

(c) (d) Figura 5.2 – Microestruturas dos corpos de prova: (a) Cp’s 01; (b) Cp’s 02; (c)

Cp’s 03 e (d) Cp’s 04.

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59

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 5.3 – Microestruturas dos corpos de prova: (a) Cp’s 05; (b) Cp’s 06; (c)

Cp’s 07; (d) Cp’s 08; (e) Cp’09 e (f) Cp’s 10.

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60

Outro ponto importante a ser destacado está relacionado com a

influência dos elementos constituintes do AIA AISI 316 na cinética de formação

de carbonetos de cromo. Conforme referências bibliográficas [34-38] a adição

de 0,04% a 1% de nitrogênio em aços 304L provoca um retardamento na

nucleação e crescimento de carbonetos de cromo nos contornos de grãos. Em

aços 316L, a adição de nitrogênio entre valores percentuais de 0,08% a 0,16%

provoca um aumento na resistência a corrosão e o tempo para a sensitização

da liga. Ambos os AIA foram submetidos a procedimentos da norma ASTM A

262, prática A [27], para verificação dos precipitados.

Ainda conforme a literatura Luz et al, Strawstron et al [39, 40], teores de

molibdênio de 2% em aços inoxidáveis austeníticos, necessitam de apenas

11% de cromo para prevenir a corrosão, sendo que, AIA sem molibdênio

precisam de um teor de cromo de 15% para essa prevenção. O molibdênio

também reforça o efeito benéfico do nitrogênio, pois 2% de molibdênio

adicionado ao aço inoxidável 18% Cr – 15% Ni aumenta o tempo para produzir

sensitização como especificado na literatura [40].

Apesar do AIA AISI 316 avaliado possuir esses elementos em valores

proporcionais aos estudos anteriormente citados, verificou-se a precipitação

para a amostra como recebida e para as submetidas a soldagem com os

valores da Es conforme Tabela 5.1, pois de acordo com as afirmações de Luz

et al e Strawstron et al [39, 40], a sensitização ocorre devido ao processo de

difusão em função do tempo, levando a uma compreensão de que em

processos que envolvam temperaturas que ativem a cinética de difusão do

cromo e carbono para os contornos de grão, possibilite a formação de

pequenos sítios de precipitação, ou seja, a formação de finos precipitados em

virtude da composição dos teores de nitrogênio e molibdênio.

Assim, essa precipitação muito fina pode dificultar a detecção de Cr23C6

através da microscopia óptica (MO) colocando em dúvida os padrões

estabelecidos pela norma ASTM A 262, pois durante os processos em que os

aços inoxidáveis austeníticos sejam submetidos a ciclos térmicos, por exemplo

a soldagem, esses finos precipitados formados na ZTA podem favorecer o

crescimento de carbonetos como afirma Luz et al [39].

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61

5.3 Ensaio Eletroquímico Potenciocinético de Ciclo Duplo DL-EPR para os Corpos de prova Soldados

Em virtude da dificuldade de identificação dos finos precipitados através

de MO, da não quantificação do grau de sensitização através da norma ASTM

A 262 [28], para as diferentes energias de soldagem obtidas para os diferentes

parâmetros, foi realizado em cada corpo de prova o ensaio DL-EPR cujos

resultados são apresentados nas Figuras 5.4, 5.5 e 5.6.

(a) (b)

(c) (d) Figura 5.4 – Ensaios DL-EPR para os corpos de prova: (a) CR; (b) Cp’s 01; (c)

Cp’s 02 e (d) Cp’s 03.

-0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10

0,0000

0,0005

0,0010

0,0015

0,0020

0,0025

ir= 0,000113

ia= 0,002120

i/A

E/ (V vs. ECS)

Gs= 0,053

-0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10

0,000

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

ir= 0,000694

ia= 0,00564I/A

E/ (V vs ECS)

Gs= 0,123

-0,40 -0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10

0,000

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

ir= 0,000757

ia= 0,00456

i/A

E/ (V vs ECS)

Gs= 0,166

-0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10-0,001

0,000

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0,007

ir= 0,000116

ia= 0,00607

I/A

E/ (V vs ECS)

Gs= 0,192

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62

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 5.5 – Ensaio DL-EPR para os corpos de prova: (a) Cp’s 04; (b) Cp’s 05;

(c) Cp’s 06; (d) Cp’s 07; (e) Cp’08 e (f) Cp’s 09.

-0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10

0,000

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

ir= 0,000112

ia= 0,00503

I/A

E/V vs ECS

Gs= 0,224

-0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10-0,001

0,000

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0,007

ir= 0,000187

ia= 0,00686

I/AE/ (V vs ECS)

Gs= 0,273

-0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10-0,001

0,000

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0,007

ir= 0,000223

ia= 0,00687

I/A

E/ (V vs ECS)

Gs= 0,324

-0,40 -0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00

0,0000

0,0005

0,0010

0,0015

0,0020 ia = 0,00187

ir = 0,00015

I/A

E/ (V vs ECS)

Gs = 0,085

-0,45 -0,40 -0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05-0,0002

0,0000

0,0002

0,0004

0,0006

0,0008

0,0010

0,0012

0,0014

0,0016

0,0018

ir= 0,00174

ia= 0,00012

I/A

E/ (V vs ECS)

Gs=0,127

-0,45 -0,40 -0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00-0,00020,00000,00020,00040,00060,00080,00100,00120,00140,00160,00180,0020

ir= 0,00179

ia= 0,00027

I/A

E/ (V vs ECS)

Gs= 0,150

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63

Figura 5.6 – Ensaio DL-EPR para o corpo de prova: Cp’s 10.

Conforme o gráfico da Figura 5.4 (a), observa-se para a amostra “CR”

um grau de sensitização Gs = 0,053 que corresponde à estrutura do tipo ditch

representada pela Figura 5.1. Essa observação está de acordo com Majidi e

Streicher [31], aonde taxas de corrente (ir/ia) com valores menores que 0,001

correspondem à estrutura “step” isentas de precipitados nos contornos de

grãos. Taxas entre 0,001 e 0,05 indicam uma estrutura do tipo “dual”, na qual

alguns precipitados são observados, mas não circundam completamente o

grão. Para taxas maiores que 0,05 correspondem a uma estrutura “ditches”,

com os grãos completamente circundados por carbonetos de cromo, relação

esta aplicada para aços inoxidáveis austeníticos.

De acordo com os gráficos das Figuras 5.4 (b), (c) e (d) e 5.5 (a), (b) e

(c), correspondentes aos Cp’s de 01 a 06 soldados com energias de soldagens

de acordo com a Tabela 5.1, apresentaram Gs maiores que 0,05 demonstrando

que todos esses Cp’s apresentam estrutura ditch em concordância com os

estudos constantes na literatura [31].

Isso permite concluir que durante o processo de soldagem TIG do aço

inoxidável austenítico AISI 316, a zona termicamente afetada é uma região do

metal que atinge temperaturas no intervalo de precipitação dos Cr23C6 que

ocasionam a sensitização e, conseqüentemente, a corrosão intergranular.

Pode ser ressaltado que os gráficos dos Cp’s de prova (01, 02, 03, 04,

05 e 06) soldados, representado pelas Figuras 5.4 (b), (c) e (d) e 5.5 (a), (b) e

-0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10

0,000

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005 Gs= 0,29

ir= 0,00488

ia= 0,001439

I/A

E/ (V vs ECS)

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64

(c), apresentam um pico de corrente na varredura reversa do material. Este

pico de corrente ir proporciona a dissolução preferencial do filme passivo que

cobre a região pobre em cromo, ou seja, as regiões adjacentes aos contornos

de grão como afirmações de Neto et al [25]. Essa deterioração provocada pela

varredura anódica serve para identificar as regiões empobrecidas em cromo.

Esse empobrecimento dará início à migração de elétrons das áreas anódicas

para as regiões catódicas do material dando início ao processo de corrosão

como afirmações da literatura [22, 23, 25].

Além disto, todas as amostras soldadas tiveram os valores do grau de

sensitização maiores que a amostra “CR” e, quanto maior a Es, maior o valor

do Gs em conseqüência do aumento da extensão da zona sensitizada. Esta

dependência da sensitização em função da Es também foi observada em

estudos de Neto et al e Luz et al [25, 39] para aços inoxidáveis austeníticos

304, 304L e 316 soldados com diferentes energias de soldagem com os

processos TIG e MIG.

Para os Cp’s (07, 08, 09 e 10) representados pelos gráficos da Figura

5.5 (d), (e), (f) e Figura 5.6 (a), nota-se a influência do resfriamento em água

após soldagem se comparado com o resfriamento ao ar para os Cp’s 04, 05 e

06 representados pelas Figura 5.5 (a), (b) e (c). O grau de sensitização teve

uma diminuição para os Cp’s de prova resfriados em água se comparados com

os Cp´s resfriados ao ar, considerando-se que os Cp’s (04 e 07), (05 e 08), (06

e 09) foram soldados com energias de soldagem similares conforme Tabela

5.1.

Este fenômeno está relacionado ao tempo de permanência na

temperatura de sensitização conforme afirmações da literatura [23, 24, 40].

Quando ocorre o resfriamento em água o tempo para ocorrer à precipitação de

Cr23C6 é menor que o resfriamento ao ar. Isto reflete diretamente na cinética de

difusão, quanto menor o tempo para ocorrer à difusão do cromo para combinar

com o carbono nos contornos de grão, menor será a quantidade de Cr23C6

precipitados nos contornos de grão e, respectivamente, o grau de sensitização

do metal.

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65

5.4 Tratamento Térmico de Solubilização

Após a verificação da pior condição de sensitização, Cp’s 06, das juntas

soldadas, foi realizado um tratamento térmico de solubilização para verificar se

era possível minimizar a sensitização no aço em estudo na condição como

soldado. Para isso, da parte reserva da junta soldada correspondente ao corpo

de prova 06, conforme metodologia, foram extraídos três Cp’s que foram

submetidos ao tratamento térmico. Suas microestruturas estão ilustradas na

Figura 5.7.

(a) (b)

(c)

Figura 5.7 – Microestruturas dos corpos de prova tratados termicamente por

processo de solubilização: (a) Cp’s 06 1 h; (b) Cp’s 06 – 2h; (c) Cp’s 06 – 4h.

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66

De acordo com as microestruturas obtidas nas Figura 5.7, pode ser

identificada a estrutura dual, ou seja, há a ocorrência de contornos com alguns

precipitados e, também, regiões de contornos de grão sem a presença dos

precipitados ricos em cromo de acordo com Khatak [41].

Durante o tratamento térmico de solubilização a temperatura de 1100 ºC

ocorre o fenômeno da dissolução de boa parte dos precipitados formados

durante o processo de soldagem, sendo que, a têmpera realizada

imediatamente após a retirada dos Cp’s do forno tem a função de não permitir

que os Cr23C6 dissolvidos precipitem novamente em grande quantidade nos

contornos de grão.

Com esse tratamento, evita-se a exposição do aço a um intervalo de

temperatura entre 450º a 850º que pode ocasionar a precipitação de Cr23C6 nos

Cg conforme relata a literatura [23, 40, 42]. Notou-se através da Figura 5.7 que

o tratamento térmico a essa temperatura num intervalo de 4 horas foi o mais

eficaz para a dissolução dos precipitados na matriz austenítica.

A Figura 5.8 ilustra o Gs dos corpos de prova submetidos ao tratamento

térmico de solubilização conforme Tabela 4.7 foram iguais a Gs = 0,02

confirmando a estrutura do tipo dual conforme Majidi e Streicher [32]. Com isso,

infere-se que o tratamento térmico de solubilização foi um método eficaz para

minimizar a sensitização e prevenir a corrosão intergranular do aço inoxidável

austenítico AISI 316, submetido ao processo de soldagem TIG nas condições

adotadas neste trabalho para o Cp’s.

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67

(a) (b)

(c)

Figura 5.8 – Ensaio DL-EPR para os corpos de prova: (a) Cp’s 06 - 1 h; (b)

Cp’s 06 – 2h; (c) Cp’s 06 – 4h.

5.5 Microscopia Eletrônica de Varredura

A Microscopia Eletrônica de Varredura foi realizada para comprovação

das regiões que sofreram a corrosão intergranular em virtude da presença de

finos precipitados não observados através de MO e, que por ventura, possam

deixar alguma dúvida relacionadas a eficácia do método DL-EPR.

As Figuras 5.9 e 5.10 ilustram as microestruturas obtidas através da

MEV.

-0,40 -0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00-0,0002

0,0000

0,0002

0,0004

0,0006

0,0008

0,0010

0,0012

0,0014

ir= 0,00120

ia= 0,000035Gs=0,02

I/A

E/ (V vs ECS)-0,40 -0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00

0,0000

0,0005

0,0010

0,0015

0,0020

ir= 0,00193

ia= 0,000038Gs=0,02I/A

E/ (v vs ECS)

-0,40 -0,35 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00-0,0002

0,0000

0,0002

0,0004

0,0006

0,0008

0,0010

0,0012

0,0014Gs=0,02 ia= 0,000031

ia= 0,00117

I/A

E/ (V vs ECS)

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68

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 5.9 – MEV para os corpos de prova: (a) Cp’s 01; (b) Cp’s 03; (c) Cp’s 04;

(d) Cp’s 06; (e) Cp’07 e (f) Cp’s 10.

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69

(a) (b)

(c)

Figura 5.10 – MEV para os corpos de prova tratados termicamente: (a) Cp’s 06

– 1h; (b) Cp’s 06 – 2h; (c) Cp’s 06 – 4h.

As microestruturas obtidas no MEV, Figura 5.9 (a), (b), (c) e (d),

mostram a presença de valas nas microestruturas e, ao passo que a energia de

soldagem aumentou, essas valas foram ficando maiores. Esse resultado

mostra claramente que as regiões adjacentes aos contornos de grão foram

corroídas quando o aço inoxidável austenítico AISI 316 foi exposto ao ataque

em ácido oxálico conforme norma ASTM 262, prática A, confirmando a

estrutura ditch de acordo com os ensaios DL-EPR realizados em laboratório.

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70

Para a Figura 5.9 (e) e (f) observa-se as valas com larguras menores em

virtude do seu menor grau de sensitização devido ao resfriamento em água se

comparadas as 5.9 (a), (b), (c) e (d) resfriadas ao ar, entretanto, são

microestruturas compatíveis com a presença de ditches. Para a Figura 5.10

(a), (b) e (c) observa-se pequenos sítios de deterioração nos Cg e matriz

austenítica, contudo não apresentam as valas contínuas o que está relacionado

ao tratamento térmico de solubilização.

Todas as Figuras 5.9 e 5.10 estão em conformidade com os ensaios DL-

EPR provando mais uma vez que este método é uma excelente forma de

avaliar quantitativamente o grau de sensitização do aço inoxidável austenítico,

constatação essa que se encontra em conformidade com as referências

bibliográficas [25, 27, 31, 39 e 42].

A análise através de MEV seria a mais indicada para verificação de

precipitação fina de carboneto de cromo nos contornos de grão, em virtude, da

lacuna deixada pela microscopia óptica para análise de precipitados finamente

dispersos [39].

5.6 Composição Química através de EDS

Nas Tabelas 5.2, 5.3 e 5.4 que seguem, são apresentadas as

composições químicas de cada um dos elementos constituintes do AIA AISI

316 na região dos contornos de grãos para os corpos de prova (01, 03, 04, 06,

07, 10, 06 – 1h, 06 – 2h e 06 – 4h).

De acordo com as tabelas citadas anteriormente, verifica-se que a

composição química do cromo nos Cg dos Cp’s possui um valor compreendido

entre 21,92% e 23,06% para as diferentes energias de soldagem. No entanto, o

aço AISI 316 possui em sua composição química de acordo com o fabricante

uma variação de cromo entre 16% a 18%, correspondendo assim, a um

aumento de cromo nas regiões de contornos de grão de aproximadamente

30%. Isto revela que os Cp’s soldados com diferentes Es sofreram uma

precipitação de Cr23C6 nos contornos de grão, provavelmente, em detrimento

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71

do cromo nas regiões adjacentes aos contornos de grão, como relatam Gentil,

Silva e Strawstron [23, 24 e 40] mostrando claramente a ocorrência de

sensitização.

Tabela 5.2 – Análise de EDS no contorno de grão para os corpos de prova 01,

03 e 04.

Corpo de prova 01 03 04

Elemento químico % total % total % total

C 0,75 0,66 1,75

Si 0,45 0,38 0,96

Mo 0,23 1,10 1,17

Cr 22,93 22,63 22,47

Mn 1,84 1,89 2,23

Fe 67,62 67,26 65,75

Ni 6,19 6,10 5,66

Tabela 5.3 – Análise de EDS no contorno de grão para os corpos de prova 06,

07 e 10.

Corpo de prova 06 07 10

Elemento químico % total % total % total

C 0,80 0,36 0,52

Si 0,86 0,79 0,58

Mo 1,16 0,80 0,72

Cr 21,92 22,95 23,06

Mn 1,87 2,36 2,12

Fe 66,49 67,69 67,66

Ni 6,50 5,05 5,34

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72

Tabela 5.4 – Análise de EDS no contorno de grão para os corpos de prova 06 –

1h, 06 – 2h e 06 – 4h.

Corpo de prova 06 – 1h 06 – 2h 06 – 4h

Elemento químico % total % total % total

C 0,80 0,44 0,65

Si 0,97 1,21 0,99

Mo 1,02 1,09 1,13

Cr 22,46 22,37 22,27

Mn 2,01 2,50 2,09

Fe 66,78 66,37 66,56

Ni 5,95 6,02 5,96

5.7 Perfil de Microdureza para ZTA dos Corpos de Prova

As Figuras 5.11 e 5.12 mostram os perfis de microdureza para os dez

corpos de prova nas condições como soldados e a Figura 5.13 ilustra os perfis

de microdureza para a pior condição de sensitização, Cp’s 06, submetida a

tratamento térmico de solubilização. Os resultados da microdureza para todas

as condições de soldagem adotadas no trabalho, mostram para os corpos de

prova soldados que a ZTA apresenta uma dureza menor se comparadas

comparados ao metal de solda e metal de base. Isto se explica em função da

granulação grosseira dessa região, pois quanto maior o tamanho de grão do

aço menor será a sua dureza e, conseqüentemente, maior a ductilidade dos

aços inoxidável austenítico AISI 316, conforme Carvajal [26]. A Tabela 5.5

mostra o tamanho de grão médio da ZTA para as diferentes condições de

soldagem do material estudado.

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(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 5.11 – Perfil de microdureza dos corpos de prova: (a) Cp’s 01; (b) Cp’s

02; (c) Cp’s 03; (d) Cp’s 04; (e) Cp’05 e (f) Cp’s 06.

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

180

190

200

210

220 Perfil de MicrodurezaD

urez

a (H

v)

Região Analisada

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

170

180

190

200

210

220 1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Perfil de Microdureza

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

MS 1 MS 2 MS 3 ZTA 1 ZTA 2 MB160

170

180

190

200

210

220 Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região AnalisadaMS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

170

180

190

200

210

Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

170

180

190

200

210Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região AnalisadaMS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

180

190

200

210

Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

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(a) (b)

(b) (d) Figura 5.12 – Perfil de microdureza dos corpos de prova: (a) Cp’s 07; (b) Cp’s

08; (c) Cp’s 09; (d) Cp’s 10.

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

180

190

200

210

220

230

240

250Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB190

200

210

220

230

240 Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB190

200

210

220

230

240

250

260Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região AnalisadaMS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

180

190

200

210

220 Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

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(a) (b)

(c)

Figura 5.13 – Perfil de microdureza dos corpos de prova: (a) Cp’s 06 – 1h e (b)

Cp’s 06 – 2h e (c) Cp’s 06 – 4h.

Como se observa nas Figura 5.12, houve uma diminuição da dureza na

região da ZTA da junta soldada de AIA AISI 316 para os corpos de prova

submetidos ao tratamento térmico de solubilização para temperatura constante

em tempos diferentes. Provavelmente, ocorreu uma dissolução desses

carbonetos de cromo presentes em solução sólida promovendo uma maior

homogeneidade dos elementos cromo e carbono no aço 316, promovendo uma

diminuição na microdureza desse aço como afirmações de Wainer et al,

Folkhard e Carvajal [11,13 e 26].

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

170

180

Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB

160

170

180

Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

MS1 MS2 MS3 ZTA1 ZTA2 MB160

170

180

Perfil de Microdureza

1ª Linha de medida 2ª Linha de medida 3ª Linha de medida

Dur

eza

(Hv)

Região Analisada

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Tabela 5.5 – Tamanho de grão das amostras observadas em MEV.

Corpo de prova Tamanho de grão (µm)

01 30,48

03 36,28

04 43,27

06 60,10

07 45,38

10 65,95

0 6– 1h 63,72

06 – 2h 73,81

06 – 4h 90,57

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6 CONCLUSÕES

Analisando os resultados obtidos da soldagem do aço inoxidável

austenítico AISI 316 pelo processo TIG, para diferentes parâmetros de

soldagem e tratamento térmico de solubilização pode-se concluir:

• Durante o processo de soldagem TIG ocorreu a precipitação de

carbonetos de cromo nos contornos de grão (sensitização) do aço

inoxidável austenítico AISI 316 para todas as condições de soldagem

empregadas no estudo, sendo que, o Gs de sensitização cresceu

gradativamente com o aumento da energia de soldagem;

• A avaliação através da norma ASTM A262, prática A, pode não ser

eficaz na identificação das regiões de precipitados de Cr23C6 finamente

dispersos. Isto pode induzir a erros na avaliação da sensitização desse

material, onde ocorram situações que requerem processos de soldagem

e haja condições favoráveis para o surgimento desse tipo de precipitado,

o que pode ocasionar a corrosão intergranular quando o material for

exposto a um meio corrosivo;

• O ensaio eletroquímico de reativação potenciocinética de ciclo duplo

(DL-EPR) mostrou-se um método eficiente na determinação da

sensitização da ZTA de juntas soldadas em aços inoxidáveis

austeníticos AISI 316, mesmo quando a precipitação de Cr23C6 for muito

refinada;

• A microscopia eletrônica de varredura é um método eficaz para a análise

microestrutural do aço em estudo quando da ocorrência de precipitados

finamente dispersos nos contornos de grão;

• O tratamento térmico de solubilização a 1100 ºC em intervalos de

temperatura de 1, 2 e 4 horas foi um método eficaz para diminuir a

intensidade de sensitização na ZTA da junta soldada com o maior índice

desse fenômeno;

• O resfriamento em água após soldagem das juntas soldadas diminui a

intensidade de sensitização do aço quando comparado ao resfriamento

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ao ar. Isto porque, as juntas soldadas resfriadas em água tiveram um

tempo de precipitação de carbonetos muito menor do que aquelas

resfriadas ao ar, em conseqüência da menor precipitação de Cr23C6,

ocorreu também, uma diminuição na dureza desse metal resfriado em

água;

• A microdureza da ZTA das juntas soldadas apresentou-se mais baixa

em relação ao metal de solda e metal de base, fator esse associado ao

crescimento de grão dessa região que induz a uma maior dureza e

ductilidade.

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7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

• Realizar a caracterização dos carbonetos de cromo Cr23C6 através de

técnicas de Raios-X no aço inoxidável austenítico AISI 316 fazendo uma

comparação com os resultados obtidos nesse estudo;

• Estudar a influência dos parâmetros de soldagem em outros aços da

série 300 e sua conseqüência na sensitização desses metais;

• Fazer um estudo de ciclos térmicos na junta soldada e relacionar as

taxas de resfriamento para outros processos por fusão, como por

exemplo, a soldagem pelo processo MIG, TIG e Eletrodo revestido;

• Desenvolver um equipamento portátil que permita a análise da superfície

metálica, através do ensaio eletroquímico de reativação potenciocinética

de ciclo duplo (DL-EPR), da intensidade de sensitização nos aços

inoxidáveis, tendo em vista esse processo ser não destrutivo.

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[24] SILVA, Paulo Furtado da. Introdução à Corrosão e Proteção das Superfícies Metálicas. Belo Horizonte, Ed. Imprensa Universitária da UFMG, 1981.

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83

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[35] TEDMON JR., C. S. et al. Intregranular Corrosion of Austenitic Stainless Steels. J. Eletrochem. Soc., 118(1), 1971. [36] OH, J. Y.; HONG, J. H. Nitrogen Effect on Precipitation and Sensitization in Cold Worked Type 316L(N) Stainless Steels. Journal of Nuclear Materials, p. 242-250,2000. [37] MULFORD, R. A. et al. Sensitization of Austenitic Stainless Steels II. Comercial purit alloys. Corrosion, 39 (4), 1983. [38] SHANKAR, P. Effect of Thermal Aging on the Room Temperature Tensile Properties of AISI Type 316LN Stainless Steels. Journal of Nuclear Materials. Elsevier Science, New York, 1999. [39] LUZ, T. S. et al. Resistance to Sensitization and Intergranular Corrosion Through Extreme Randomization of Grain Boundaries. Welding International, vol. 20, nº 12, 2006. [40] STRAWSTRON, C.; HILBERT, M. An Improved Depleted Zone Theory of Intergranular Corrosion of 18-8 Stainless Steel. Iron Steel Institute, 69 (1), 1969. [41] KHATAK, H. S. Corrosion of Austenitic Stainless Steels: Mechanism, Migration and monitoring. ASM International. Ohio, USA, 2002. [42] KOROSTELEV, A. B. Evaluation of Stainless Steels for their Resistance to Intergranular Corrosion. Journal of Nuclear Materials, Elsevier Science, 233-237, p. 1361-1363, New York, 1996.

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