Info 530 STJ

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    Informativo 530 STJ

    Mrcio Andr Lopes Cavalcante Obs: no foram includos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevncia para concursos pblicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse conferi-los, os acrdos excludos foram os seguintes: REsp 1.201.635-MG; REsp 1.114.605-PR.

    NDICE Direito Administrativo

    Servidor que obrigado a pedir exonerao por interpretao equivocada de acumulao ilcita dever ser indenizado com base na extenso do dano e no na teoria da perda de uma chance.

    Na ao de indenizao por desapropriao indireta, os honorrios periciais devem ser adiantados pela parte que requer a realizao da percia.

    O servidor pblico no pode ser designado para exercer atribuies diversas de seu cargo mesmo que esteja presente o interesse pblico.

    Direito Civil

    Aplicao do art. 200 do CC para os casos de ao de indenizao proposta contra o terceiro responsvel (art. 932 do CC).

    Condmino que possui mais de uma unidade poder votar quanto quelas em que esteja adimplente com relao cota condominial.

    DPVAT e situao que no constava como invalidez na lista do CNSP.

    Em ao declaratria de inexistncia de parentesco ajuizada por um irmo contra o outro, a recusa do ru em se submeter ao DNA no gera presuno de inexistncia do parentesco.

    Direito do Consumidor

    Consumidor por equiparao.

    Roubo ocorrido em valet parking de restaurante.

    Distrato da promessa de compra e venda e reteno de parte dos valores pagos pelo promitente comprador.

    Direito Notarial e Registral

    No desmembramento de serventias, no h necessidade de consulta prvia aos titulares atingidos pela medida.

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    Direito Empresarial

    Contribuio previdenciria reconhecida por juiz trabalhista pode ser habilitada na falncia sem CDA. Direito Processual Civil

    Honorrios advocatcios no cumprimento de sentena no precisa levar em considerao a multa do art. 475-J do CPC.

    Empresa no pode recorrer contra a deciso do juiz que redireciona a execuo fiscal contra o scio.

    Se houve um litisconsrcio passivo facultativo comum na ACP e apenas um dos demandados tiver foro na Justia Federal, esta no ser competente para julgar os demais rus.

    Direito Penal

    possvel a condenao pelos arts. 90 e 96, I, da Lei 8.666/93 em concurso formal. Direito Processual Penal

    Magistrado que utiliza termos mais fortes contra o ru na sentena no suspeito. Direito Tributrio

    Cobrana de tarifa de esgoto e concessionria que realiza apenas uma das etapas do servio de esgotamento sanitrio.

    Iseno de IPI para pessoa com incapacidade total para direo de veculo comum.

    aplicvel a pena de multa (e no de perdimento) no caso de subfaturamento de mercadoria importada.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    Servidor que obrigado a pedir exonerao por interpretao equivocada de acumulao ilcita dever ser indenizado com base na extenso do dano e no na teoria da perda de uma chance

    No caso em que o servidor pblico foi impedido irregularmente de acumular dois cargos pblicos em razo de interpretao equivocada da Administrao Pblica, o Estado dever ser condenado e, na fixao do valor da indenizao, no se deve aplicar o critrio referente teoria da perda da chance, e sim o da efetiva extenso do dano causado, conforme o art. 944 do CC. Comentrios Imagine a seguinte situao hipottica:

    Maria exercia dois cargos pblicos. Determinado dia, o rgo de controle interno da Administrao Pblica exarou um parecer afirmando que os cargos ocupados pela servidora no se enquadravam em nenhuma das hipteses do art. 37, XVI, da CF/88 e que, portanto, ela deveria ser notificada para pedir exonerao de um deles no prazo de 30 dias. Aps ser notificada, Maria pediu exonerao do segundo cargo, no qual recebia 2 mil reais. Um ano depois, o rgo de controle interno reviu aquele posicionamento e passou a entender que os cargos que eram ocupados pela servidora enquadravam-se na situao do art. 37, XVI, c, da CF/88. Ocorre que Maria j havia pedido exonerao. Diante disso, Maria ajuizou uma ao de indenizao contra o Estado pedindo a reparao dos danos por ter sido obrigada a fazer a opo por um dos cargos pblicos ocupados, quando era possvel a sua acumulao.

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    Valor da indenizao A autora pediu, como valor da indenizao, o dano material sofrido, ou seja, o valor da remunerao que recebia at a provvel idade de sua morte. Em contestao, a PGE alegou que, em caso de sucumbncia, o Estado deveria ser condenado a pagar apenas uma indenizao para a requerente a ttulo de perda de uma chance. A questo chegou at o STJ. O que foi decidido? Para o STJ, nesse caso concreto em que o servidor pblico foi impedido irregularmente de acumular os cargos em razo de interpretao equivocada do Poder Pblico, o Estado dever ser condenado e, na fixao do valor da indenizao, no se deve aplicar o critrio referente teoria da perda da chance, e sim o da efetiva extenso do dano causado, conforme o art. 944 do CC. O que a teoria da perda de uma chance? Trata-se de teoria inspirada na doutrina francesa (perte dune chance). Segundo esta teoria, se algum, praticando um ato ilcito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de obter uma vantagem ou de evitar um prejuzo, esta conduta enseja indenizao pelos danos causados. Em outras palavras, o autor do ato ilcito, com a sua conduta, faz com que a vtima perca a oportunidade de obter uma situao futura melhor. Com base nesta teoria, indeniza-se no o dano causado, mas sim a chance perdida. A teoria da perda de uma chance adotada no Brasil? SIM, essa teoria aplicada pelo STJ, que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juzo de probabilidade, e no mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, no indenizvel (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009). A teoria da perda de uma chance pode ser aplicada nas relaes de direito pblico? SIM, existem alguns Ministros do STJ que defendem que a teoria da perda de uma chance poderia ser aplicada tambm nas relaes entre o Estado e o particular. Nesse sentido: Min. Mauro Campbell Marques e Min. Eliana Calmon. E por que, no caso concreto, no poderia ser aplicada? Na hiptese de perda da chance, o objeto da reparao a perda da possibilidade de obter um ganho como provvel, sendo que h que se fazer a distino entre o resultado perdido e a possibilidade de consegui-lo. A chance de vitria ter sempre valor menor que a vitria futura, o que refletir no montante da indenizao. (FILHO, Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. So Paulo: Atlas, 2010). Na situao em anlise, o dano sofrido no advm da perda de uma chance, pois a servidora j exercia ambos os cargos no momento em que foi indevidamente impedida de faz-lo, sendo este um evento certo, em relao ao qual no restam dvidas. No se trata, portanto, da perda de uma chance de exerccio cumulativo de ambos os cargos, porque isso j ocorria, sendo que o ato ilcito imputado ao ente estatal gerou dano de carter certo e determinado, que deve ser indenizado de acordo com sua efetiva extenso (art. 944 do CC).

    Processo STJ. 2 Turma. REsp 1.308.719-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/6/2013.

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    Na ao de indenizao por desapropriao indireta, os honorrios periciais devem ser adiantados pela parte que requer a realizao da percia

    No mbito de ao de indenizao por desapropriao indireta, os honorrios periciais devem ser adiantados pela parte que requer a realizao da percia. Isso porque os arts. 19 e 33 do CPC que preveem a regra segundo a qual cabe parte que requereu a prova pericial o nus de adiantar os respectivos honorrios de perito so plenamente aplicveis ao de indenizao por desapropriao indireta, regida pelo procedimento comum. Comentrios Conceito de desapropriao indireta

    A desapropriao indireta ocorre quando o Estado (Poder Pblico) se apropria do bem de um particular sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriao, dentre as quais a declarao indicativa de seu interesse e a indenizao prvia. Trata-se de um verdadeiro esbulho possessrio praticado pelo Poder Pblico. A desapropriao indireta tambm chamada de apossamento administrativo. O que a pessoa faz no caso de desapropriao indireta?

    Se o bem expropriado ainda no est sendo utilizado em nenhuma finalidade pblica: pode ser proposta uma ao possessria visando a manter ou retomar a posse do bem.

    Se o bem expropriado j est afetado a uma finalidade pblica: considera-se que houve fato consumado e somente restar ao particular ajuizar uma ao de desapropriao indireta a fim de ser indenizado. Nesse sentido o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41: Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados Fazenda Pblica, no podem ser objeto de reivindicao, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriao. Qualquer ao, julgada procedente, resolver-se- em perdas e danos.

    Ao de desapropriao indireta Consiste, portanto, na ao proposta pelo prejudicado em face do Poder Pblico, que se apossou do bem pertencente a particular sem observar as formalidades legais da desapropriao. Trata-se de uma ao condenatria, objetivando indenizao por perdas e danos. Tambm chamada de ao expropriatria indireta ou ao de ressarcimento de danos causados por apossamento administrativo. Honorrios do perito Na ao de desapropriao indireta, comum que a parte requeira a realizao de percia para aferir o valor do bem. O STJ decidiu que, nesse caso, os honorrios periciais devem ser adiantados pela parte que requer a realizao da percia. Isso porque os arts. 19 e 33 do CPC so plenamente aplicveis ao de indenizao por desapropriao indireta, considerando que esta regida pelo procedimento comum.

    Art. 19. Salvo as disposies concernentes justia gratuita, cabe s partes prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-lhes o pagamento desde o incio at sentena final; e bem ainda, na execuo, at a plena satisfao do direito declarado pela sentena. Art. 33. Cada parte pagar a remunerao do assistente tcnico que houver indicado; a do perito ser paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofcio pelo juiz.

    Processo STJ. 2 Turma. REsp 1.343.375-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 5/9/2013.

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    O servidor pblico no pode ser designado para exercer atribuies diversas de seu cargo mesmo que esteja presente o interesse pblico

    A Administrao Pblica no pode, sob a simples alegao de insuficincia de servidores em determinada unidade, designar servidor para o exerccio de atribuies diversas daquelas referentes ao cargo para o qual fora nomeado aps aprovao em concurso. Comentrios Imagine a seguinte situao:

    Joo foi aprovado em concurso pblico para o cargo de tcnico judicirio. Em razo da extrema necessidade do servio, devidamente comprovada, ele foi lotado como contador judicial, tendo, ento, se insurgido contra esse ato. A conduta do Poder Pblico foi correta? NO. A Administrao Pblica no pode, sob a simples alegao de insuficincia de servidores em determinada unidade, designar servidor para o exerccio de atribuies diversas daquelas referentes ao cargo para o qual fora nomeado aps aprovao em concurso. O administrador deve agir de acordo com o que estiver expresso em lei, devendo designar cada servidor para exercer as atividades que correspondam quelas legalmente previstas. Apenas em circunstncias excepcionais previstas em lei o que no ocorre na situao em anlise , poder o servidor pblico desempenhar atividade diversa daquela pertinente ao seu cargo. Inexistindo as circunstncias excepcionais, tem o servidor pblico o direito de ser designado para exercer as atividades correspondentes ao cargo para o qual tenha sido aprovado.

    Processo STJ. 2 Turma. RMS 37.248-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/8/2013.

    A execuo de deciso condenatria proferida pelo TCU, quando no houver inscrio em dvida ativa, rege-se pelo CPC

    A execuo de deciso condenatria proferida pelo TCU, quando no houver inscrio em dvida ativa, rege-se pelo CPC (e no pela execuo fiscal). Comentrios O Tribunal de Contas da Unio disciplinado pelos arts. 70 a 75 da CF/88 (Seo IX).

    Os Tribunais de Contas dos Estados, por sua vez, so organizados pelas Constituies estaduais. Contudo, por fora do princpio da simetria, as regras do TCU tambm so aplicadas, no que couber, aos TCEs, conforme determina o art. 75 da CF:

    Art. 75. As normas estabelecidas nesta seo aplicam-se, no que couber, organizao, composio e fiscalizao dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municpios. Pargrafo nico. As Constituies estaduais disporo sobre os Tribunais de Contas respectivos, que sero integrados por sete Conselheiros.

    No art. 71 da CF/88 esto elencadas as competncias do TCU (que podem ser aplicadas tambm aos TCEs). De acordo com o inciso VIII do art. 71, o TCU (assim como os TCEs) pode aplicar multas aos administradores e demais responsveis:

    Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, ser exercido com o auxlio do Tribunal de Contas da Unio, ao qual compete: (...) VIII - aplicar aos responsveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanes previstas em lei, que estabelecer, entre outras cominaes, multa proporcional ao dano causado ao errio;

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    Assim, o Tribunal de Contas poder aplicar multas ou determinar que o gestor faa o ressarcimento de valores ao errio. Essa deciso da Corte de Contas materializa-se por meio de um acrdo. Caso o condenado no cumpra espontaneamente o acrdo do Tribunal de Contas e pague os valores devidos, essa deciso poder ser executada? SIM. As decises do Tribunal de Contas que determinem a imputao de dbito (ressarcimento ao errio) ou apliquem multa tero eficcia de ttulo executivo extrajudicial, nos termos do 3 do art. 71 da CF/88. Logo, podem ser executadas por meio de uma ao de execuo de ttulo extrajudicial. Vale ressaltar que a deciso do Tribunal de Contas dever declarar, de forma precisa, o agente responsvel e o valor da condenao, a fim de que goze dos atributos da certeza e liquidez. A deciso do Tribunal de Contas precisa ser inscrita em dvida ativa? NO. A finalidade de se inscrever o dbito na dvida ativa gerar uma certido de dvida ativa (CDA), que um ttulo executivo indispensvel para o ajuizamento da execuo. Ocorre que o acrdo do Tribunal de Contas j um ttulo executivo extrajudicial por fora do art. 71, 3 da CF/88 c/c o art. 585, VIII, do CPC. Desse modo, no h necessidade de esse dbito ser inscrito em dvida ativa. A execuo da deciso do Tribunal de Contas feita mediante o procedimento da execuo

    fiscal (Lei n. 6.830/80)? NO. O que se executa o prprio acrdo do Tribunal de Contas (e no uma CDA). Assim, trata-se de execuo civil de ttulo extrajudicial, seguindo as regras dos arts. 566 e ss do CPC. Somente haver execuo fiscal se o ttulo executivo for uma CDA. Nesse sentido:

    (...) Consoante a orientao jurisprudencial predominante nesta Corte, no se aplica a Lei n. 6.830/80 execuo de deciso condenatria do Tribunal de Contas da Unio quando no houver inscrio em dvida ativa. Tais decises j so ttulos executivos extrajudiciais, de modo que prescindem da emisso de Certido de Dvida Ativa - CDA, o que determina a adoo do rito do CPC quando o administrador discricionariamente opta pela no inscrio. (...) (REsp 1390993/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2 Turma, julgado em 10/09/2013)

    Processo STJ. 2 Turma. REsp 1.390.993-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/9/2013.

    DIREITO CIVIL

    Aplicao do art. 200 do CC para os casos de ao de indenizao proposta contra o terceiro responsvel (art. 932 do CC)

    O termo inicial do prazo de prescrio para o ajuizamento da ao de indenizao por danos decorrentes de crime (ao civil ex delicto) a data do trnsito em julgado da sentena penal condenatria, ainda que se trate de ao proposta contra empregador em razo de crime praticado por empregado no exerccio do trabalho que lhe competia. Comentrios Joo, na direo de veculo automotor, atropelou Pedro, causando-lhe leses corporais.

    Vale ressaltar que Joo era motorista da transportadora A e estava dirigindo o carro da empresa para fazer uma entrega. Esse fato pode ser analisado sob dois aspectos: o penal e o cvel.

    Sob o aspecto penal: Joo pode responder pelo crime de leso corporal culposa na direo de veculo automotor (art. 303 do Cdigo de Trnsito Brasileiro CTB).

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    Sob o aspecto cvel: Joo e/ou a transportadora podem ser condenados a pagar indenizao pelos danos causados a Pedro (art. 927 e art. 932, III, do CC).

    O julgamento criminal interfere na deciso cvel? Regra geral: NO. Como regra, a responsabilidade civil independente da criminal. Trata-se do princpio da independncia das instncias (art. 935, primeira parte, CC).

    Excees: Essa independncia relativa (no absoluta). Assim, em algumas hipteses, o julgamento criminal ir influenciar na deciso cvel. 1) Se a deciso for condenatria: ir influenciar na deciso cvel. Um dos efeitos da condenao tornar certa a obrigao de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I, do CP). Logo, o juzo cvel no poder dizer que o fato no existiu ou que o condenado no foi o seu autor. Transitada em julgado a sentena condenatria, ela poder ser executada, no juzo cvel, para o efeito da reparao do dano (art. 63 do CPP). 2) Se a deciso for absolutria: nem sempre ir influenciar na deciso cvel. Assim, mesmo o ru tendo sido absolvido no juzo penal, ele pode, em alguns casos, ser condenado no juzo cvel a indenizar a vtima. A absolvio criminal pode ocorrer por uma das hipteses do art. 386 do CPP.

    Art. 386. O juiz absolver o ru, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconhea: I - estar provada a inexistncia do fato; II - no haver prova da existncia do fato; III - no constituir o fato infrao penal; IV - estar provado que o ru no concorreu para a infrao penal; V - no existir prova de ter o ru concorrido para a infrao penal; VI - existirem circunstncias que excluam o crime ou isentem o ru de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e 1 do art. 28, todos do Cdigo Penal), ou mesmo se houver fundada dvida sobre sua existncia; VII - no existir prova suficiente para a condenao.

    Incisos I e IV: a sentena penal absolutria faz coisa julgada no cvel. Incisos II, III, V e VII: mesmo com a sentena penal absolutria, a pessoa pode ser

    condenada no juzo cvel. Inciso VI: pode fazer coisa julgada no cvel ou no, dependendo do caso (vide art. 188

    do CC). comum que a ao cvel e a ao penal tramitem paralelamente. Para evitar decises contraditrias, se a ao penal ainda no tiver sido julgada, o juzo cvel poder suspender a ao de indenizao enquanto aguarda o desfecho do processo penal:

    Cdigo de Processo Civil Art. 265. Suspende-se o processo: IV - quando a sentena de mrito: a) depender do julgamento de outra causa, ou da declarao da existncia ou inexistncia da relao jurdica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente;

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    5 Nos casos enumerados nas letras a, b e c do n. IV, o perodo de suspenso nunca poder exceder 1 (um) ano. Findo este prazo, o juiz mandar prosseguir no processo.

    No exemplo que demos acima, qual o prazo prescricional para que Pedro (vtima do atropelamento) ingresse com ao de indenizao contra Joo (causador do dano) ou contra a transportadora? O prazo de 3 anos, com base no art. 206, 3, V, do Cdigo Civil:

    Art. 206. Prescreve: 3 Em trs anos: V - a pretenso de reparao civil;

    O Cdigo Civil prev a suspenso do prazo prescricional para a ao de reparao civil (ao de indenizao) se o fato estiver sendo apurado no juzo criminal. Veja:

    Art. 200. Quando a ao se originar de fato que deva ser apurado no juzo criminal, no correr a prescrio antes da respectiva sentena definitiva.

    Voltando ao nosso exemplo: O acidente ocorreu em 2007. Foi instaurado processo criminal contra Joo e este foi condenado, com sentena transitada em julgado em 2011. Logo, o prazo para que Pedro ajuze ao de indenizao contra Joo (causador do dano) somente se iniciou em 2011. E o prazo prescricional contra a transportadora tambm ficou suspenso aguardando o processo criminal? Aplica-se o art. 200 do CC tambm para a ao proposta contra o empregador do causador do dano? SIM. Segundo decidiu o STJ, possvel a extenso do art. 200 do CC para alm do suposto infrator, isto , para as hipteses de responsabilizao de terceiro por fato de outrem (na espcie, a responsabilizao do empregador pelos atos do preposto). Essa a opinio tambm da doutrina: (...) no obstante a ao penal s se dirija contra os autores do dano, o prazo prescricional ficar suspenso, tambm, para o ajuizamento da ao contra os responsveis, j que na lei no se encontra limitao desse efeito (art. 932 do CC) (DUARTE, Nestor. Coord. Cezar Peluso. Cdigo civil comentado: doutrina e jurisprudncia. 6 ed. Barueri: Manole, 2012, p. 151). Logo, o prazo para que a vtima ajuze ao de indenizao contra a transportadora tambm somente se iniciou em 2011, data em que houve o trnsito em julgado da sentena condenatria.

    Processo STJ. 4 Turma. REsp 1.135.988-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 8/10/2013.

    Condmino que possui mais de uma unidade poder votar quanto quelas em que esteja adimplente com relao cota condominial

    O condmino proprietrio de diversas unidades autnomas, ainda que inadimplente em relao a uma ou algumas destas, ter direito de participao e de voto relativamente s suas unidades que estejam em dia com as taxas do condomnio. Comentrios Conceito:

    Ocorre o condomnio edilcio quando se tem a propriedade exclusiva de uma unidade autnoma combinada com a copropriedade de outras reas de um imvel.

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    Ex1: prdio residencial com 6 andares e 2 apartamentos por andar. Tem-se um condomnio edilcio, considerando que cada dono do apartamento possui a propriedade exclusiva da sua unidade autnoma (apartamento) e as reas comuns do edifcio (piscina, churrasqueira, quadra de esportes etc.) pertencem a todos os condminos. Ex2: prdio comercial com vrias salas. Se determinado advogado compra uma das salas para servir como seu escritrio, ele ter a propriedade individual sobre a sala (unidade autnoma) e a copropriedade sobre as partes comuns (corredores, recepo etc.). Direitos dos condminos: No art. 1.335 do CC esto previstos os direitos dos condminos no condomnio edilcio. Repare no inciso III, que trata sobre o direito ao voto:

    Art. 1.335. So direitos do condmino: I - usar, fruir e livremente dispor das suas unidades; II - usar das partes comuns, conforme a sua destinao, e contanto que no exclua a utilizao dos demais compossuidores; III - votar nas deliberaes da assemblia e delas participar, estando quite.

    Desse modo, por expressa previso legal, o condmino no poder votar se estiver em dbito com as obrigaes condominiais (cotas condominiais). Proprietrio de vrias unidades e que esteja em dbito com relao a algumas: Imagine agora a seguinte situao: Joo possui trs apartamentos no edifcio Morar Bem (apts. 501, 502 e 503). Como ele possui trs unidades, ele tem direito a trs votos nas deliberaes relacionadas com o condomnio. Foi convocada, ento, uma assembleia geral do condomnio. Joo compareceu e, quando ia votar, o sndico o impediu, afirmando que ele estava em dbito quanto cota condominial referente ao apt. 501. Logo, estaria impedido de votar, com fulcro no art. 1.335, I, do CC. Agiu corretamente o sndico? NO. Segundo decidiu o STJ, o condmino proprietrio de diversas unidades autnomas, ainda que inadimplente em relao a uma ou algumas destas, ter direito de participao e de voto relativamente s suas unidades que estejam em dia com as taxas do condomnio. certo que o CC submete o exerccio do direito de participar e votar em assembleia geral quitao das dvidas que o condmino tiver com o condomnio. Todavia, deve-se considerar que a quitao exigida pelo art. 1.335, III, do CC para que o condmino tenha o direito de participar das deliberaes das assembleias com direito a voto refere-se a cada unidade. Assim, conforme bem exps a Ministra Relatora, considerando que as taxas condominiais so devidas em relao a cada unidade, autonomamente considerada, a penalidade advinda de seu no pagamento, consequentemente, tambm deve ser atrelada a cada unidade. Logo, em nosso exemplo fictcio, Joo teria direito a dois votos.

    Processo STJ. 3 Turma. REsp 1.375.160-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1/10/2013.

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    DPVAT e situao que no constava como invalidez na lista do CNSP

    A vtima de dano pessoal causado por veculo automotor de via terrestre tem direito ao recebimento da indenizao por invalidez permanente prevista no art. 3 da Lei 6.194/1974 a ser coberta pelo seguro DPVAT na hiptese em que efetivamente constatada a referida invalidez, mesmo que, na data do evento lesivo, a espcie de dano corporal sofrido hoje expressamente mencionada na lista anexa Lei 6.194/1974 (includa pela MP 456/2009) ainda no constasse da tabela que, na poca, vinha sendo utilizada como parmetro para o reconhecimento da invalidez permanente (elaborada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados CNSP). Comentrios O DPVAT um seguro obrigatrio de danos pessoais causados por veculos automotores de

    via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou no. Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veculo automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenizao do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. Ex: dois carros batem e, em decorrncia da batida, acertam tambm um pedestre que passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram invlidos. Os herdeiros dos motoristas recebero indenizao de DPVAT no valor correspondente morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre recebero indenizao de DPVAT por invalidez. Para receber indenizao, no importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes recebero a indenizao normalmente. O DPVAT no paga indenizao por prejuzos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais.

    Quem custeia as indenizaes pagas pelo DPVAT? Os proprietrios de veculos automotores. Trata-se de um seguro obrigatrio. Assim, sempre que o proprietrio do veculo paga o IPVA, est pagando tambm, na mesma guia, um valor cobrado a ttulo de DPVAT.

    O STJ afirma que a natureza jurdica do DPVAT a de um contrato legal, de cunho social.

    O DPVAT regulamentado pela Lei n. 6.194/74. Qual o valor da indenizao de DPVAT prevista na Lei? no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vtima) no caso de invalidez permanente: at R$ 13.500 (por vtima) no caso de despesas de assistncia mdica e suplementares: at R$ 2.700,00 como

    reembolso cada vtima. Como a indenizao por invalidez de at R$ 13.500, entende-se que esse valor dever ser proporcional ao grau da invalidez permanente apurada. O que invalidez permanente para fins do DPVAT?

    Em um primeiro momento, a Lei n. 6.194/74 no previu o que seria invalidez permanente. Diante dessa lacuna, o Conselho Nacional de Seguros Privados CNSP elaborou uma tabela

    Prtica forense

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    com diversas situaes que caracterizavam invalidez permanente.

    A MP 451/2008 e, posteriormente, a Lei n. 11.945/2009 acrescentaram, ento, um anexo

    Lei n. 6.194/74, prevendo expressamente, por meio de uma tabela, situaes caracterizadoras de invalidez permanente.

    Essa lista prevista no anexo da Lei n. 6.194/74 exaustiva ou exemplificativa? Exemplificativa. Segundo afirmou, com acerto, o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, no possvel prever, por meio de uma listagem de situaes, todas as hipteses de invalidez permanente, total ou parcial, de forma que, em ltima anlise, incumbe ao intrprete a definio do contedo daquele conceito jurdico indeterminado. Noutras palavras, as situaes previstas na lista elaborada pelo CNSP, assim como as presentes no anexo Lei 6.194/74, constituem rol meramente exemplificativo, em contnuo desenvolvimento, tanto pela cincia como pelo direito. Portanto, o no enquadramento de uma determinada situao na lista previamente elaborada no implica, por si s, a no configurao da invalidez permanente, sendo necessrio o exame das peculiaridades de cada caso concreto. Caso concreto julgado pelo STJ No caso dos autos, o autor, em decorrncia de acidente de trnsito no ano de 2007, teve o seu bao retirado por meio de cirurgia (esplenectomia). Nessa poca, como ainda no havia a lista anexa Lei 6.194/74, era utilizada, como parmetro para a aferio da invalidez permanente e a proporo da cobertura do seguro DPVAT a ser paga, a tabela de danos pessoais elaborada pelo CNSP. A tabela do CNSP, porm, no previa a retirada cirrgica do bao entre as hipteses configuradoras da invalidez permanente parcial. Contudo, segundo decidiu o STJ, a retirada cirrgica do bao em decorrncia de acidente de trnsito deve ser considerada hiptese de invalidez permanente, j que, a partir de 2009, a

    situao passou expressamente a constar da tabela includa na Lei n. 6.194/74. A nova tabela, ainda que no vigente na data do acidente, pode e deve, em razo do princpio constitucional da igualdade, ser utilizada como instrumento de integrao da tabela anterior, cujo rol, como visto, meramente exemplificativo. Nesse sentido, a considerao da nova tabela representa, na verdade, a considerao dos critrios cientficos que pautaram a sua elaborao, no havendo, com isto, aplicao retroativa, mas apenas a sua utilizao na interpretao da tabela anterior. Assim, ainda que a percia realizada nos autos tenha negado a invalidez permanente do recorrente, a situao de invalidez deve ser reconhecida a partir da nova tabela que passou a constar expressamente na lei.

    Processo STJ. 3 Turma. REsp 1.381.214-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/8/2013.

    Em ao declaratria de inexistncia de parentesco ajuizada por um irmo contra o outro, a recusa do ru em se submeter ao DNA no gera presuno de inexistncia do parentesco

    No mbito de ao declaratria de inexistncia de parentesco cumulada com nulidade de registro de nascimento na qual o autor pretenda comprovar que o ru no seu irmo, apesar de ter sido registrado como filho pelo seu falecido pai, a recusa do demandado a se submeter a exame de DNA no gera presuno de inexistncia do parentesco, sobretudo na hiptese em que reconhecido o estado de filiao socioafetivo do ru. Comentrios Imagine a seguinte situao hipottica:

    Leandro e Ricardo so irmos unilaterais por parte de pai (Joo). Quando Joo falece, inicia uma disputa pela herana e Leandro ajuza uma ao com o

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    objetivo de declarar que Joo no era pai de Ricardo e anular o registro de nascimento deste ltimo. Na petio inicial, Leandro pede que seja realizada a prova pericial (exame de DNA) para atestar, com certeza cientfica, a inexistncia de filiao. Em sua contestao, Ricardo refuta todos os argumentos de Leandro, traz diversas provas de que Joo sempre o considerou como filho e recusa-se a fazer o exame de DNA. Diante da recusa do ru em fazer o exame de DNA, o autor pede a procedncia dos pedidos, presumindo a inexistncia de filiao. Para tanto, invoca o art. 231 do CC e, por analogia, a smula 301 do STJ.

    Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame mdico necessrio no poder aproveitar-se de sua recusa. Smula 301-STJ: Em ao investigatria, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presuno juris tantum de paternidade.

    O argumento invocado pelo autor est correto? O fato de o ru ter se recusado a fazer o exame de DNA suficiente para que o juiz presuma que ele no seja filho do seu pai registral? NO. Em situao parecida com essa, o STJ decidiu que a recusa do ru em se submeter a exame de DNA no gera presuno de inexistncia do parentesco, sobretudo no caso concreto em que restou reconhecido que havia tambm um estado de filiao socioafetiva entre o ru e seu pai registral. Em suma, na hiptese em apreo, a recusa do filho no pode gerar presuno de que ele no seria filho biolgico do pai constante no seu registro de nascimento. Em longo e denso voto, o Min. Luis Felipe Salomo analisou os diversos aspectos envolvidos no caso. A manifestao espontnea do falecido pai de colocar o seu nome, na condio de genitor, no registro do filho, ato de vontade perfeito e acabado, gerando um estado de filiao acobertado pela irrevogabilidade, incondicionalidade e indivisibilidade (arts. 1.610 e 1.613 do CC). Desse modo, para o STJ, o reconhecimento espontneo da paternidade somente pode ser desfeito quando demonstrado vcio de consentimento, isto , para que haja possibilidade de anulao do registro de nascimento de menor cuja paternidade foi reconhecida, necessria prova robusta no sentido de que o pai registral foi de fato, por exemplo, induzido a erro, ou ainda, que tenha sido coagido a tanto (REsp 1.022.763-RS, Terceira Turma, DJe 3/2/2009). Alm disso, deve haver uma ponderao dos interesses em disputa, harmonizando-os por meio da proporcionalidade ou razoabilidade, sempre se dando prevalncia quele que conferir maior projeo dignidade humana, haja vista ser o principal critrio substantivo na direo da ponderao de interesses constitucionais. Dessa forma, no conflito entre o interesse patrimonial do irmo que ajuza esse tipo de ao, para o reconhecimento de suposta verdade biolgica, e a dignidade do ru em preservar sua personalidade sua intimidade, identidade, seu status jurdico de filho , deve-se dar primazia aos ltimos. Ademais, o STJ possui o entendimento de que, para a ao negatria de paternidade ter xito necessrio que, alm de no haver vnculo biolgico, tambm no poder ter se formado vnculo socioafetivo entre pai e filho. Em outras palavras, para a ao negatria de paternidade ser julgada procedente, seria necessrio que ficasse provado que no havia paternidade socioafetiva. Portanto, o exame de DNA em questo serviria apenas para

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    discutir o aspecto biolgico, no tendo utilidade no caso em apreo porque ficou provado que entre o falecido pai e o filho havia relao socioafetiva de pai e filho. Logo, mesmo que o exame de DNA comprovasse a inexistncia de vnculo biolgico, persistiria existindo a filiao.

    Processo STJ. 4 Turma. REsp 1.115.428-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 27/8/2013.

    DIREITO DO CONSUMIDOR

    Consumidor por equiparao

    Em uma relao contratual avenada com fornecedor de grande porte, uma sociedade empresria de pequeno porte no pode ser considerada vulnervel, de modo a ser equiparada figura de consumidor (art. 29 do CDC), na hiptese em que o fornecedor no tenha violado quaisquer dos dispositivos previstos nos arts. 30 a 54 do CDC. Comentrios Teoria finalista

    O art. 2 do CDC prev o seguinte:

    Art. 2 Consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio final.

    Em regra, a jurisprudncia do STJ afirma que o art. 2 deve ser interpretado de forma restritiva e que deve ser considerado destinatrio final to somente o destinatrio ftico e econmico do bem ou servio, seja ele pessoa fsica ou jurdica. Com isso, em regra, fica excludo da proteo do CDC o consumo intermedirio, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produo e distribuio, compondo o custo (e, portanto, o preo final) de um novo bem ou servio (Min. Nancy Andrighi). Para ser considerada uma relao de consumo, o bem ou servio no pode ter sido adquirido com finalidade lucrativa ou para integrar a cadeia de produo (atividade negocial). Essa a aplicao da concepo finalista. Teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada Embora consagre o critrio finalista para interpretao do conceito de consumidor, a jurisprudncia do STJ tambm reconhece a necessidade de, em situaes especficas, abrandar o rigor desse critrio para admitir a aplicabilidade do CDC nas relaes entre os adquirentes e os fornecedores em que, mesmo o adquirente utilizando os bens ou servios para suas atividades econmicas, fique evidenciado que ele apresenta vulnerabilidade frente ao fornecedor. Diz-se que isso a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada. Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade de se admitir que, em determinadas hipteses, a pessoa, mesmo sem ter adquirido o produto ou servio como destinatria final, possa ser equiparada condio de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade. Nesse sentido: REsp 1.195.642/RJ, Min. Nancy Andrighi, 3 Turma, julgado em 13/11/2012.

    Em que consiste essa vulnerabilidade? Segundo lio da Min. Nancy Andrighi (REsp 1.195.642-RJ), existem quatro espcies de vulnerabilidade: a) tcnica; b) jurdica; c) ftica; d) informacional.

    Portanto, saber se um destinatrio final de um produto ou servio se enquadra no conceito de consumidor compreender, alm da sua destinao, se a relao jurdica estabelecida marcada pela vulnerabilidade daquele (pessoa fsica ou jurdica) que adquire ou contrata produto ou servio diante do seu fornecedor (Min. Villas Bas Cueva).

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    Caso concreto julgado pelo STJ No caso julgado pelo STJ, foi celebrado um contrato entre um fornecedor de mquinas de xerox de grande porte e uma sociedade empresria de pequeno porte. A empresa de pequeno porte, contratante, pediu para ser considerada consumidora, invocando o art. 29 do CDC:

    Art. 29. Para os fins deste Captulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determinveis ou no, expostas s prticas nele previstas.

    A 4 Turma do STJ no concordou com a tese e afirmou que a empresa de pequeno porte no poderia ser considerada vulnervel, de modo a ser equiparada figura de consumidor (art. 29 do CDC), uma vez que o fornecedor no violou quaisquer dos dispositivos previstos nos arts. 30 a 54 do CDC. Para o Min. Relator, o art. 29 est inserido nas disposies gerais do Captulo V do CDC, que se refere s Prticas Comerciais, e faz meno tambm ao Captulo VI (captulo seguinte), que trata da Proteo Contratual. Assim, para o reconhecimento da situao de vulnerabilidade, o que atrairia a incidncia da equiparao prevista no art. 29, necessria a constatao de violao a um dos dispositivos previstos nos arts. 30 a 54, que correspondem aos Captulos V e VI, do CDC. Nesse contexto, caso no tenha se verificado prticas abusivas na relao contratual examinada, a natural posio de inferioridade do destinatrio de bens ou servios no possibilita, por si s, o reconhecimento da vulnerabilidade. Julgado que destoa da jurisprudncia dominante do STJ importante que voc conhea esse julgado da 4 Turma porque algumas vezes o CESPE cobra apenas um precedente isolado. No entanto, preciso ressaltar que ele no reflete a jurisprudncia prevalecente no STJ. Isso porque, conforme explicado acima, o STJ adota a teoria finalista mitigada, por meio da qual mesmo a pessoa jurdica no tendo adquirido o produto ou servio como destinatria final, pode ser equiparada condio de consumidora por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade. Desse modo, no necessrio invocar o art. 29 do CDC para que a pessoa jurdica seja considerada consumidora. Basta o art. 2 do Cdigo, com a interpretao mitigada que conferida pelo STJ.

    Processo STJ. 4 Turma. REsp 567.192-SP, Rel. Min. Raul Arajo, julgado em 5/9/2013.

    Roubo ocorrido em valet parking de restaurante

    Nesse julgado do STJ foram expostas duas concluses importantes: I Na ao regressiva, devem ser aplicadas as mesmas regras do CDC que seriam utilizadas em eventual ao judicial promovida pelo segurado (consumidor) contra o restaurante (fornecedor). Isso porque, aps o pagamento do valor contratado, ocorre sub-rogao, transferindo-se seguradora todos os direitos, aes, privilgios e garantias do segurado em relao dvida contra o restaurante, de acordo com o disposto no art. 349 do CC. II O restaurante que oferea servio de manobrista (valet parking) prestado em via pblica no poder ser civilmente responsabilizado na hiptese de roubo de veculo de cliente deixado sob sua responsabilidade, caso no tenha concorrido para o evento danoso.

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    Comentrios Imagine a seguinte situao: Carlos e sua esposa foram jantar em badalado restaurante da cidade. Chegando at o local, Carlos deixou seu carro com o manobrista do servio de valet oferecido pelo restaurante aos clientes. Quando o manobrista estava estacionando o carro em uma rua que fica ao lado do restaurante, foi abordado por um ladro, que, mediante grave ameaa com arma de fogo, roubou o automvel. Suponha que Carlos ajuze uma ao contra o restaurante. Qual o tipo de responsabilidade que ser analisada nessa demanda? O juiz analisar se o restaurante tem ou no o dever de indenizar o cliente com base no regime da responsabilidade objetiva. Isso porque o cliente consumidor e o restaurante caracteriza-se como fornecedor do servio de manobrista. Assim, o pedido de indenizao ser baseado na existncia de uma relao de consumo e a deciso ser tomada tendo como anlise o art. 14 do CDC, que trata sobre o fato do servio:

    Art. 14. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao dos servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruio e riscos. (...) 3 - O fornecedor de servios s no ser responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o servio, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

    Suponha agora uma situao diferente. Imagine que Carlos tivesse seguro e a seguradora pagou a ele o valor do automvel. Aps indenizar o lesado, a seguradora ajuza ao de regresso contra o restaurante cobrando o valor pago a Carlos. Qual o tipo de responsabilidade que ser analisada nessa demanda? Tambm se trata de responsabilidade objetiva e a anlise da procedncia ou no do pedido ser feita com base no art. 14 do CDC. Segundo decidiu o STJ, na ao regressiva devem ser aplicadas as mesmas regras que seriam utilizadas caso o segurado (consumidor) tivesse proposto a ao contra o restaurante (fornecedor). Isso porque, aps o pagamento do valor contratado, ocorre sub-rogao, transferindo-se seguradora todos os direitos, aes, privilgios e garantias do segurado, em relao dvida, contra o restaurante, de acordo com o disposto no art. 349 do CC:

    Art. 349. A sub-rogao transfere ao novo credor todos os direitos, aes, privilgios e garantias do primitivo, em relao dvida, contra o devedor principal e os fiadores.

    Em outras palavras, a seguradora, aps pagar a indenizao, passa a ter os mesmos direitos que o segurado tinha. Logo, como o segurado poderia ter cobrado o restaurante com base no art. 14, a seguradora tambm ter esse direito. Vamos, ento, agora questo de fundo. O restaurante, que ofereceu o servio de valet dever indenizar o cliente pelo roubo do veculo, fato que ocorreu quando o manobrista encontrava-se estacionando o carro em uma via pblica? NO. O restaurante que oferea servio de manobrista (valet parking) prestado em via pblica no poder ser civilmente responsabilizado na hiptese de roubo de veculo de cliente deixado sob sua responsabilidade, caso no tenha concorrido para o evento danoso. Mesmo no regime da responsabilidade objetiva, nem sempre o fornecedor ser condenado a indenizar a vtima. O art. 14, em seu 3, prev causas de excluso da responsabilidade.

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    Assim, no caso concreto, o fato de o veculo ter sido roubado caracteriza fato de terceiro (culpa exclusiva de terceiro), afastando o dever de indenizar, nos termos do inciso II do 3 o art. 14 do CDC. O roubo, embora previsvel, inevitvel, caracterizando, nessa hiptese, fato de terceiro apto a romper o nexo de causalidade entre o dano (perda patrimonial) e o servio prestado. Ressalte-se que, na situao em anlise, inexiste explorao de estacionamento cercado com grades, mas simples comodidade posta disposio do cliente. certo que a diligncia na guarda da coisa est includa nesse servio. Entretanto, as exigncias de garantia da segurana fsica e patrimonial do consumidor so menos contundentes do que aquelas atinentes aos estacionamentos de shopping centers e hipermercados, pois, diferentemente destes casos, trata-se de servio prestado na via pblica. E se tivesse ocorrido um furto (ex: o manobrista estacionou o carro e, quando voltou para o restaurante, o ladro, sem ser percebido, conseguiu subtrair o veculo)? Nesse caso, o restaurante deveria ser condenado a indenizar a vtima. Conforme pontuou o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, nos servios de manobristas (valets) ofertados por restaurantes nas grandes cidades, deve-se estabelecer uma distino entre a ocorrncia de furto ou roubo de veculo para efeito de responsabilidade civil. Nas hipteses de roubo, caracteriza-se o fato de terceiro ou a fora maior, podendo-se discutir apenas eventual concorrncia do demandado, mediante uma prestao defeituosa do seu servio, para o evento danoso (fato exclusivo ou concorrrente). Nas hipteses de furto, em que no h violncia, permanece a responsabilidade, pois o servio prestado mostra-se defeituoso, por no apresentar a segurana legitimamente esperada pelo consumidor. Se o restaurante ficasse dentro de um shopping, ele responderia mesmo em caso de roubo? SIM. A ocorrncia de roubo no constitui causa excludente de responsabilidade civil nos casos em que a garantia de segurana fsica e patrimonial do consumidor inerente ao servio prestado pelo estabelecimento comercial. Assim, haver responsabilidade mesmo em caso de roubos, se o evento ocorrer em supermercados, bancos, shopping centers, enfim, empresas que fornecem estacionamentos aos seus consumidores como tcnica para captao de clientela, no apenas em face do conforto, mas tambm da segurana oferecida, que se torna uma legtima expectativa do pblico consumidor. Nesse sentido:

    (...) De acordo com os ditames do Cdigo de Defesa do Consumidor, os shoppings, hotis e hipermercados que oferecem estacionamento privativo aos consumidores, mesmo que de forma gratuita, so responsveis pela segurana tanto dos veculos, quanto dos clientes. Aplicao, ainda, da inteligncia da Smula 130/STJ. (...) (EREsp 419.059/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, Segunda Seo, julgado em 11/04/2012) (...) dever de estabelecimentos como shoppings centers e hipermercados zelar pela segurana de seu ambiente, de modo que no se h falar em fora maior para eximi-los da responsabilidade civil decorrente de assaltos violentos aos consumidores; (...) (REsp 582.047/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 17/02/2009)

    Processo STJ. 3 Turma. REsp 1.321.739-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 5/9/2013.

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    Distrato da promessa de compra e venda e reteno de parte dos valores pagos pelo promitente comprador

    abusiva a clusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliria, que estabelea a possibilidade de a construtora vendedora promover a reteno integral ou a devoluo nfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumidor distratante. Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudncia entende que justo e razovel que o vendedor retenha parte das prestaes pagas pelo consumidor como forma de indeniz-lo pelos prejuzos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgao, comercializao e corretagem, alm do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imvel, e a eventual utilizao do bem pelo comprador. A jurisprudncia normalmente considera razovel a reteno, pelo promitente vendedor, de um percentual que varia de 10% a 20% dos valores j pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Comentrios Imagine a seguinte situao hipottica:

    Joo celebra contrato de promessa de compra e venda de um apartamento com determinada construtora. Uma das clusulas do contrato, intitulada Distrato possua a seguinte redao: 7.1. Nas hipteses de resciso, resoluo ou distrato da presente promessa de compra e venda o promitente vendedor poder reter at 80% do valor pago pelo promitente comprador, a ttulo de indenizao, sendo restitudo o restante. Essa clusula vlida? NO. abusiva a clusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliria, que estabelea a possibilidade de a construtora vendedora promover a reteno integral ou a devoluo nfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumidor distratante. Explico melhor. O art. 53 do CDC veda a reteno integral das parcelas pagas:

    Art. 53. Nos contratos de compra e venda de mveis ou imveis mediante pagamento em prestaes, bem como nas alienaes fiducirias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as clusulas que estabeleam a perda total das prestaes pagas em benefcio do credor que, em razo do inadimplemento, pleitear a resoluo do contrato e a retomada do produto alienado.

    Desse modo, o art. 53 do CDC afirma que nula de pleno direito a clusula de decaimento. O que clusula de decaimento? Clusula de decaimento aquela que estabelece que o adquirente ir perder todas as prestaes pagas durante o contrato caso se mostre inadimplemente ou requeira o distrato. Devoluo de uma parte nfima das prestaes pagas Como o CDC foi expresso ao proibir a reteno integral do valor pago pelo adquirente, as construtoras passaram a tentar burlar essa vedao legal e comearam a prever que, em caso de distrato, seria feita a devoluo das parcelas pagas, fazendo-se, contudo, a reteno de determinados valores a ttulo de indenizao pelas despesas experimentadas pela construtora. Ocorre que diversos contratos previram que essa devoluo seria de valores nfimos, ou seja, muito pequenos, ficando a construtora com a maior parte da quantia j paga pelo adquirente.

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    Essa prtica tambm foi rechaada pela jurisprudncia. Assim, a devoluo de uma parte nfima das prestaes tambm vedada pelo CDC por colocar o consumidor em uma situao de desvantagem exagerada:

    Art. 51. So nulas de pleno direito, entre outras, as clusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e servios que: IV - estabeleam obrigaes consideradas inquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatveis com a boa-f ou a equidade;

    Mas a construtora poder reter, em caso de distrato, uma parte do valor que j foi pago pelo adquirente? SIM. O STJ entende que justo e razovel que o vendedor retenha parte das prestaes pagas pelo consumidor como forma de indeniz-lo pelos prejuzos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgao, comercializao e corretagem, alm do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imvel, e a eventual utilizao do bem pelo comprador. A jurisprudncia normalmente considera razovel a reteno, pelo promitente vendedor, de um percentual que varia de 10% a 20% dos valores j pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador.

    (...) entendimento pacfico nesta Corte Superior que o comprador inadimplente tem o direito de rescindir o contrato de compromisso de compra e venda de imvel e, consequentemente, obter a devoluo das parcelas pagas, mostrando-se razovel a reteno de 20% dos valores pagos a ttulo de despesas administrativas (...) (RCDESP no AREsp 208.018/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 16/10/2012)

    Processo STJ. 4 Turma. REsp 1.132.943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 27/8/2013.

    DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

    No desmembramento de serventias, no h necessidade de consulta prvia aos titulares atingidos pela medida

    Na hiptese de desmembramento de serventias, no h necessidade de consulta prvia aos titulares atingidos pela medida. No h direito adquirido ao no desmembramento de servios notariais e de registro, conforme consolidado na Smula 46 do STF. Outorgado o direito de opo, previsto no art. 29, I, da Lei n. 8.935/94, fica evidenciada a ausncia de violao a direito lquido e certo. Comentrios O que desmembramento da serventia notarial ou registral?

    Desmembramento ocorre na hiptese de diviso da Comarca, ou seja, quando criada uma nova e igual serventia para a nova circunscrio judiciria. Assim, tem relao com comarca nova (outro Municpio). Desmembramento diferente de desdobramento Desdobramento a criao de nova e igual serventia, oriundo de outra anterior, na mesma comarca (dentro da mesma comarca).

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    O titular da serventia desmembrada alegava que, antes de fazer o desmembramento, ele teria que ser ouvido, sob pena de violao ao direito de defesa e ao contraditrio. O STJ acatou esse argumento? NO. O STJ decidiu que, na hiptese de desmembramento de serventias, no h necessidade de consulta prvia aos titulares atingidos pela medida. Os titulares das serventias atingidas pelo desmembramento no tm direito de impedir que o TJ faa o desmembramento. Assim no h direito adquirido ao no desmembramento de servios notariais e de registro. Com outras palavras, isso j foi consagrado pelo STF:

    Smula 46-STF: Desmembramento de serventia de justia no viola o princpio de vitaliciedade do serventurio.

    O que o TJ precisa fazer, no caso de desmembramentos, garantir que o titular da serventia opte se deseja ficar com a serventia anterior ou com a serventia desmembrada. Esse direito de opo chamado pela doutrina de preferncia opcional e est prevista no art. 29, I, da

    Lei n. 8.935/94:

    Art. 29. So direitos do notrio e do registrador: I - exercer opo, nos casos de desmembramento ou desdobramento de sua serventia;

    No caso concreto, o titular da serventia no foi ouvido antes da deciso do TJ que determinou o desmembramento. No entanto, aps o desmembramento ter sido decidido, foi garantido a esse titular o direito de opo. Logo, no houve violao do direito de defesa, do contraditrio ou de qualquer outro princpio constitucional.

    Processo STJ. 2 Turma. RMS 41.465-RO, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/9/2013.

    DIREITO EMPRESARIAL

    Contribuio previdenciria reconhecida por juiz trabalhista pode ser habilitada na falncia sem CDA

    desnecessria a apresentao de Certido de Dvida Ativa (CDA) para habilitao, em processo de falncia, de crdito previdencirio resultante de deciso judicial trabalhista. Comentrios Imagine a seguinte situao adaptada

    Em uma reclamao trabalhista proposta por Joo (empregado) contra a empresa A, o juiz trabalhista condenou a empregadora a pagar as verbas trabalhistas e tambm as contribuies previdencirias que incidiam sobre tais valores. As verbas trabalhistas so devidas ao empregado. J as contribuies previdencirias so verbas que deveriam ter sido recolhidas pela empresa e revertidas ao INSS. Desse modo, so crditos que a empresa dever pagar autarquia previdenciria. Falncia Caso a empresa no pague as verbas trabalhistas e as contribuies previdencirias, a providncia normal que deveria ser adotada pelo juiz trabalhista seria a execuo de tais quantias (art. 114, VIII, da CF/88; art. 876, pargrafo nico, da CLT). Ocorre que essa sociedade empresria encontra-se em processo de falncia. Logo, no poder haver execuo no juzo trabalhista, uma vez que isso ter que ser feito no juzo universal da falncia. Assim, em caso de empresas que estejam em processo de falncia, a Justia do Trabalho ser competente para a ao de conhecimento (onde ser apurado se existe dbito e o seu valor) e o juzo da falncia ser responsvel pela cobrana de tais quantias apuradas. Confira julgado do STJ nesse sentido:

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    (...) A jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia firme no sentido de que, ultrapassada a fase de acertamento e liquidao dos crditos trabalhistas, cuja competncia da Justia do Trabalho, os valores apurados devero ser habilitados nos autos da falncia ou da recuperao judicial para posterior pagamento (...) (AgRg no CC 130.138/GO, Rel. Min. Raul Arajo, Segunda Seo, julgado em 09/10/2013)

    Habilitao dos crditos Diante disso, o empregado e o INSS devero levar ao juzo da falncia esses crditos que foram reconhecidos no processo trabalhista. Esse procedimento chamado de habilitao

    de crditos e est previsto no art. 9 da Lei n. 11.101/2005:

    Art. 9 A habilitao de crdito realizada pelo credor nos termos do art. 7, 1, desta Lei dever conter: I o nome, o endereo do credor e o endereo em que receber comunicao de qualquer ato do processo; II o valor do crdito, atualizado at a data da decretao da falncia ou do pedido de recuperao judicial, sua origem e classificao; III os documentos comprobatrios do crdito e a indicao das demais provas a serem produzidas; IV a indicao da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento; V a especificao do objeto da garantia que estiver na posse do credor. Pargrafo nico. Os ttulos e documentos que legitimam os crditos devero ser exibidos no original ou por cpias autenticadas se estiverem juntados em outro processo.

    Caso concreto O INSS props, no juzo falimentar, a habilitao de seu crdito referente s contribuies previdencirias. O juzo falimentar indeferiu a habilitao do crdito previdencirio, sob o argumento de que a Fazenda Pblica deveria ter inscrito em dvida ativa o valor da condenao imposta pelo juzo trabalhista e ter apresentado a CDA (certido de dvida ativa). Em outras palavras, o juiz da falncia entendeu que o INSS no poderia habilitar na falncia a prpria sentena trabalhista, sendo indispensvel uma providncia anterior, qual seja, a inscrio desse dbito em dvida ativa.

    Agiu corretamente o juiz da falncia? NO.

    As contribuies previdencirias so consideradas como uma espcie de tributo. Em regra, os tributos que so devidos e no foram pagos pelo sujeito passivo devem ser objeto de lanamento tributrio, procedimento a ser realizado pelo Fisco. Aps o lanamento, esse dbito tributrio ser inscrito em dvida ativa, gerando uma CDA, instante em que se torna um crdito tributrio que poder ser exigido judicialmente pela Fazenda Pblica. Assim, em regra, necessrio o lanamento para que haja a constituio do crdito tributrio. Ocorre que, no caso das contribuies previdencirias que forem reconhecidas pela Justia do Trabalho, no ser necessrio que com relao a elas haja um lanamento tributrio a ser realizado pelo Fisco. Dito de outra forma, as contribuies previdencirias que forem apuradas pelo juiz trabalhista no precisam de novo lanamento tributrio para serem executadas. a prpria sentena que executada pela Justia Laboral e no o tradicional crdito constitudo pela via administrativa do lanamento tributrio. Isso ocorre por fora de mandamento constitucional:

    Art. 114. Compete Justia do Trabalho processar e julgar: VIII - a execuo, de ofcio, das contribuies sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus

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    acrscimos legais, decorrentes das sentenas que proferir;

    A partir disso, o Min. Luis Felipe Salomo conclui que o crdito tributrio poder decorrer do:

    do lanamento na via administrativa (hiptese tradicional, regulada pelo CTN); ou

    da sentena da Justia do Trabalho que reconhecer a existncia de contribuies previdencirias devidas (hiptese excepcional, trazida pelo art. 114, VIII, da C/88).

    Desse modo, como as contribuies previdencirias j foram reconhecidas na sentena pelo juiz trabalhista, j houve a constituio do crdito tributrio, sendo desnecessrio que haja um procedimento administrativo de lanamento tributrio. Isso j suprido pela sentena trabalhista.

    Logo, foi indevida a exigncia feita pelo juzo falimentar, sendo possvel que o INSS habilite o crdito tributrio decorrente das contribuies previdencirias apenas com a sentena trabalhista.

    Voto lapidar Para aqueles que quiserem se aprofundar sobre o assunto, recomendo a leitura do inteiro teor do voto do Min. Luis Felipe Salomo, que enriquecedor.

    Processo STJ. 4 Turma. REsp 1.170.750-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 27/08/2013.

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    Honorrios advocatcios no cumprimento de sentena no precisa levar em considerao a multa do art. 475-J do CPC

    A multa do art. 475-J do CPC no necessariamente integra o clculo dos honorrios advocatcios na fase executiva do cumprimento de sentena. Comentrios Veja a seguinte situao hipottica:

    A ajuza uma ao de cobrana contra B. O juiz julga a sentena procedente, condenando B a pagar 1 milho de reais a A. B perdeu o prazo para a apelao, de modo que ocorreu o trnsito em julgado. O que acontece agora? A ter que ingressar com uma petio em juzo requerendo o cumprimento da sentena. O incio da fase de cumprimento da sentena pode ser feito de ofcio pelo juiz? No. O cumprimento da sentena no se efetiva de forma automtica, ou seja, logo aps o trnsito em julgado da deciso. Cabe ao credor o exerccio de atos para o regular cumprimento da deciso condenatria, especialmente requerer ao juzo que d cincia ao devedor sobre o montante apurado, consoante memria de clculo discriminada e atualizada (STJ REsp 940274/MS). Em outras palavras, o incio da fase de cumprimento da sentena exige um requerimento do credor. A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? O juiz determina a intimao do devedor para pagar a quantia em um prazo mximo de 15 dias, sob pena de o valor da condenao ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J.

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    Esse prazo de 15 dias, previsto no art. 475-J, contado a partir de quando? A multa de 10% prevista no artigo 475-J do CPC depende de intimao prvia do devedor, ainda que na pessoa de seu patrono. No basta que o devedor j tenha sido intimado anteriormente da sentena que o condenou. Para comear o prazo de 15 dias para pagamento necessria nova intimao. A intimao para que o devedor pague, nos termos do art. 475-J, precisa ser pessoal (ou seja, para o prprio devedor) ou pode ser feita no nome de seu advogado por meio de publicao na imprensa oficial? No precisa haver intimao pessoal. A intimao pode ser realizada na pessoa do advogado do devedor, por meio de publicao na imprensa oficial. Essa multa pode ser aplicada em caso de execuo provisria ou somente se houver trnsito em julgado? Essa multa prpria da execuo definitiva, de modo que deve ter havido o trnsito em julgado da sentena. A execuo provisria de sentena no comporta a cominao da multa prevista no art. 475-J do CPC (STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR). Se o devedor no pagar no prazo de 15 dias, incide a multa de 10% e o que mais acontecer? O juiz, a requerimento do credor, que apresentar o demonstrativo do dbito atualizado, expedir mandado para que sejam penhorados bens do devedor para satisfao do crdito. Nesta fase, existe alguma forma de defesa do devedor? Sim. A defesa tpica do devedor executado no cumprimento de sentena a chamada impugnao. Para que o devedor apresente impugnao indispensvel a garantia do juzo, ou seja, necessrio que haja penhora, depsito ou cauo? Sim. necessria a garantia do juzo para o oferecimento da impugnao (STJ REsp 1.195.929-SP). Pode haver a condenao de honorrios advocatcios na fase de cumprimento de sentena? Em outras palavras, o devedor poder ser condenado a pagar novos honorrios advocatcios de sucumbncia? Sim. cabvel o arbitramento de honorrios advocatcios na fase de cumprimento de sentena. Como necessrio que o credor faa um requerimento, por meio de advogado, para que seja dado incio fase de cumprimento de sentena, o STJ entendeu que caber a condenao do devedor ao pagamento de honorrios advocatcios de sucumbncia, salvo se ele decidir cumprir voluntariamente a obrigao. Assim, se o credor iniciar a fase de cumprimento de sentena e o devedor, sendo intimado para pagar em 15 dias, efetuar o pagamento, no haver condenao em honorrios. Por outro lado, se o devedor for intimado para pagar, e no o fizer no prazo, ser multado em 10% e ainda ter que pagar, ao final, honorrios advocatcios de sucumbncia ao advogado do credor. No momento de calcular os honorrios advocatcios da fase de cumprimento de sentena, o juiz dever levar em considerao a multa de 10%? O STJ decidiu que a multa do art. 475-J do CPC no necessariamente integra o clculo dos honorrios advocatcios na fase executiva do cumprimento de sentena.

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    Segundo o art. 20, 4 do CPC, nas execues, embargadas ou no, os honorrios sero fixados consoante apreciao equitativa do juiz, atendidas as normas das alneas a, b e c do pargrafo anterior. Logo, no se exige que o juiz, obrigatoriamente, arbitre honorrios advocatcios em percentual vinculado ao valor da condenao. Os honorrios podem, inclusive, ser estipulados em valor monetrio fixo que reflita a justa remunerao do advogado. Assim, incua a discusso acerca da incluso ou no da multa do art. 475-J do CPC na base de clculo dos honorrios devidos na fase de cumprimento de sentena.

    Processo STJ. 3 Turma. REsp 1.291.738-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1/10/2013.

    Empresa no pode recorrer contra a deciso do juiz que redireciona a execuo fiscal contra o scio

    Em execuo fiscal, a sociedade empresria executada no possui legitimidade para recorrer, em nome prprio, na defesa de interesse de scio que teve contra si redirecionada a execuo. Isso porque, consoante vedao expressa do art. 6 do CPC, ningum poder pleitear, em nome prprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei. Comentrios Quando a Fazenda Pblica ajuza uma execuo fiscal contra a empresa (rectius:

    empresrio ou sociedade empresria) e no consegue localizar bens penhorveis, o CTN prev a possibilidade de o Fisco redirecionar a execuo para algumas pessoas fsicas que tenham relao com a empresa e hajam atuado com excesso de poderes ou infrao de lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art. 135 do CTN:

    Art. 135. So pessoalmente responsveis pelos crditos correspondentes a obrigaes tributrias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infrao de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os mandatrios, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurdicas de direito privado.

    Os scios, como regra geral, no respondem pessoalmente (com seu patrimnio pessoal) pelas dvidas da sociedade empresria. Isso porque vigora o princpio da autonomia jurdica da pessoa jurdica em relao aos seus scios. A pessoa jurdica possui personalidade e patrimnio autnomos, que no se confundem com a personalidade e patrimnio de seus scios. No entanto, se o scio praticou atos com excesso de poderes ou infrao de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III), ele utilizou o instituto da personalidade jurdica de forma fraudulenta ou abusiva, podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos dbitos. Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato de a pessoa jurdica estar em dbito com o Fisco no autoriza que os scios paguem pela dvida com seu patrimnio pessoal. necessrio que tenha praticado atos com excesso de poderes ou infrao de lei, contrato social ou estatutos (art. 135, III). Nesse sentido:

    Smula 430-STJ: O inadimplemento da obrigao tributria pela sociedade no gera, por si s, a responsabilidade solidria do scio-gerente.

    Situaes mais comuns em que ocorre o redirecionamento da execuo fiscal para os scios: Excesso de poderes; Infrao lei; Ofensa ao contrato social ou ao estatuto da sociedade; Dissoluo irregular da sociedade; Dolo ou fraude do scio.

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    Feitas essas consideraes, imagine a seguinte situao adaptada: A Unio ajuizou execuo fiscal contra a pessoa jurdica A. A empresa foi citada, mas no pagou o dbito nem garantiu a execuo. O juiz determinou, ento, a penhora de bens da sociedade empresria, no tendo, contudo, sido localizado bens penhorveis. A Fazenda Pblica pediu que o juiz reconhecesse que o scio-gerente da empresa praticou atos com infrao lei e que a execuo fosse contra ele redirecionada. O juiz acolheu o pedido da Fazenda Pblica e determinou o redirecionamento da execuo contra o scio-gerente. Diante disso, a empresa interps agravo de instrumento impugnando essa deciso.

    A sociedade empresria tinha legitimidade para interpor o recurso? NO. Segundo decidiu o STJ, em execuo fiscal, a sociedade empresria executada no possui legitimidade para recorrer, em nome prprio, na defesa de interesse de scio que teve contra si redirecionada a execuo. Isso porque, consoante vedao expressa do art. 6 do CPC, ningum poder pleitear, em nome prprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei. Dessa forma, como no h lei que autorize a sociedade a interpor recurso contra deciso que, em execuo ajuizada contra ela prpria, tenha includo no polo passivo da demanda os seus respectivos scios, tem-se a ilegitimidade da pessoa jurdica para a interposio do referido recurso.

    Processo STJ. 1 Seo. REsp 1.347.627-SP, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 9/10/2013 (recurso repetitivo).

    Se houve um litisconsrcio passivo facultativo comum na ACP e apenas um dos demandados tiver foro na Justia Federal, esta no ser competente para julgar os demais rus

    Em ao civil pblica ajuizada na Justia Federal, no cabvel a cumulao subjetiva de demandas com o objetivo de formar um litisconsrcio passivo facultativo comum, quando apenas um dos demandados estiver submetido, em razo de regra de competncia ratione personae, jurisdio da Justia Federal, ao passo que a Justia Estadual seja a competente para apreciar os pedidos relacionados aos demais demandados. Comentrios O caso concreto, com adaptaes, foi o seguinte:

    A Defensoria Pblica de Unio ajuizou ao civil pblica, com pedido de antecipao de tutela, em face de 11 instituies financeiras, sendo 10 bancos privados e mais a Caixa Econmica Federal. Na ACP, a DPU afirmou que, em determinado ano, esses 11 bancos corrigiram de forma equivocada os valores depositados nas cadernetas de poupana. Assim, pediu que as instituies financeiras fossem condenadas a pagar aos seus clientes os valores decorrentes da correo desses clculos. Onde foi proposta essa ao e por qu? A demanda foi ajuizada na Justia Federal. Segundo argumentou a DPU, havia um litisconsrcio passivo no presente caso e a Justia Federal seria competente em razo da presena da Caixa Econmica como uma das rs. Isso porque a CEF uma empresa pblica federal, o que atrai a incidncia do art. 109, I, da CF/88:

    Art. 109. Aos juzes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal forem interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes, exceto as de falncia, as de acidentes de trabalho e as sujeitas Justia Eleitoral e Justia do Trabalho;

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    A DPU mencionou, ainda, o art. 2 da Lei da ACP (Lei n. 7.347/85):

    Art. 2 As aes previstas nesta Lei sero propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juzo ter competncia funcional para processar e julgar a causa. Pargrafo nico. A propositura da ao prevenir a jurisdio do juzo para todas as aes posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

    De acordo com a Defensoria, o mencionado dispositivo, por se referir a competncia funcional, apto a atrair a competncia da Justia Federal para julgar a causa por completo, em razo da presena da CEF no polo passivo, indicada como litisconsorte. A tese defendida pela DPU quanto competncia foi acatada pelo STJ? A Justia Federal ser competente para julgar essa demanda na forma como proposta? NO. No caso em exame, o STJ entendeu que os poupadores das diversas instituies financeiras e as prprias instituies financeiras entre si no possuem nenhuma relao que os torne indissoluvelmente ligados. O que se tem na hiptese a pluralidade de aes ajuizadas contra uma pluralidade de rus, apenas se valendo o autor de um instrumento formalmente nico (uma nica petio inicial). Em suma, trata-se de um litisconsrcio facultativo comum. No litisconsrcio facultativo comum, alm de termos um cmulo subjetivo (uma ao proposta contra vrios rus), temos tambm um cmulo objetivo, ou seja, uma cumulao de pedidos (pedido de condenao do banco X, Y, Z etc.). Ocorre que somente permitida a cumulao de pedidos se o juzo for igualmente competente para julgar todos os pedidos (art. 292, 1, inciso II, do CPC). No caso concreto, a Justia Federal competente para conhecer dos pedidos relacionados com a CEF, mas no o para os pedidos relacionados com os demais bancos. Logo, a DPU deveria ter proposto a ao na Justia Federal somente contra a CEF e a DPE (ou outro legitimado da ACP) ajuizado a ao contra os demais bancos na Justia estadual.

    Processo STJ. 4 Turma. REsp 1.120.169-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, julgado em 20/8/2013.

    DIREITO PENAL

    possvel a condenao pelos arts. 90 e 96, I, da Lei 8.666/93 em concurso formal

    No configura bis in idem a condenao pela prtica da conduta tipificada no art. 90 da Lei 8.666/1993 (fraudar o carter competitivo do procedimento licitatrio) em concurso formal com a do art. 96, I, da mesma lei (fraudar licitao mediante elevao arbitrria dos preos). Comentrios Por conta de uma mesma licitao, o ru foi condenado pela prtica dos delitos do art. 90 e

    96, I, da Lei n. 8.666/93, em concurso formal:

    Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinao ou qualquer outro expediente, o carter competitivo do procedimento licitatrio, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicao do objeto da licitao: Pena - deteno, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 96. Fraudar, em prejuzo da Fazenda Pblica, licitao instaurada para aquisio ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente: I - elevando arbitrariamente os preos;

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    Diante disso, ele recorreu ao STJ afirmando que houve bis in idem porque o primeiro delito j estaria abrangido pelo segundo. O STJ concordou com a defesa? NO. Para o STJ, NO configura bis in idem a condenao pela prtica da conduta tipificada

    no art. 90 da Lei n. 8.666/1993 (fraudar o carter competitivo do procedimento licitatrio) em concurso formal com a do art. 96, I, da mesma lei (fraudar licitao mediante elevao arbitrria dos preos). Isso porque se trata de tipos penais totalmente distintos. Com efeito, enquanto no crime do art. 90 o agente busca eliminar a competio ou fazer com que esta seja apenas aparente, no crime do art. 96, I, atinge-se diretamente a licitao, elevando arbitrariamente os preos em prejuzo da Fazenda Pblica. Dessa forma, caracterizadas as duas espcies delitivas, um crime no estar absorvido pelo outro.

    Processo STJ. 5 Turma. REsp 1.315.619-RJ, Rel. Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ-PR), julgado em 15/8/2013.

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    Magistrado que utiliza termos mais fortes contra o ru na sentena no suspeito

    Para o STJ, a utilizao de termos mais fortes e expressivos na sentena penal condenatria como bandido travestido de empresrio e delinquente de colarinho branco no configura, por si s, situao apta a comprovar a ocorrncia de quebra da imparcialidade do magistrado. Comentrios Na sentena penal condenatria, o juiz afirmou que o ru era um bandido travestido de

    empresrio e um delinquente de colarinho branco. Diante disso, a defesa alegou que o magistrado, neste momento processual, teria revelado ser suspeito para julgar o caso e que, por conta disso, deveria ser anulado o processo criminal por ele conduzido. O STJ acolheu a tese? NO. Para o STJ, a utilizao de termos mais fortes e expressivos na sentena penal condenatria como bandido travestido de empresrio e delinquente de colarinho branco no configura, por si s, situao apta a comprovar a ocorrncia de quebra da imparcialidade do magistrado. O discurso empolgado, a utilizao de certos termos inapropriados em relao ao ru ou a manifestao de indignao no tocante aos crimes no configuram, isoladamente, causas de suspeio do julgador. Ademais, essa situao no se enquadra como uma causa de suspeio de magistrado, sendo certo que tais hipteses so trazidas de forma taxativa no art. 254 do CPP, dispositivo que no comporta interpretao ampliativa. Obs: o STJ possui julgados afirmando que as causas de suspeio previstas no art. 254 do CPP constituem-se em um rol taxativo. A doutrina majoritria, contudo, defende que a lista de hipteses de suspeio exemplificativa e que as causas de impedimento que seriam taxativas. Nesse sentido: LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Niteri: Impetus, 2013. Cuidado com esse tema nas provas.

    Processo STJ. 5 Turma. REsp 1.315.619-RJ, Rel. Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ-PR), julgado em 15/8/2013.

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    DIREITO TRIBUTRIO

    Cobrana de tarifa de esgoto e concessionria que realiza apenas uma das etapas do servio de esgotamento sanitrio

    A concessionria de gua e esgoto pode cobrar tarifa de esgotamento sanitrio mesmo na hiptese em que realiza apenas a coleta e o transporte dos dejetos sanitrios, sem fazer o tratamento final dos efluentes. Assim, legal a cobrana de tarifa de esgoto na hiptese em que a concessionria realize apenas uma e no todas das quatro etapas em que se desdobra o servio de esgotamento sanitrio (a coleta, o transporte, o tratamento e a disposio final de dejetos). Comentrios A concessionria presta o servio de esgotamento sanitrio no Municpio X.

    Ocorre que a concessionria realiza a coleta e o transporte dos dejetos, mas no o tratamento final dos efluentes (resduos). Pode a concessionria cobrar a tarifa de esgotamento sanitrio mesmo realizando apenas a coleta e o transporte dos dejetos, sem promover o seu tratamento final? SIM. Para o STJ, a cobrana da tarifa no pressupe a prestao integral do servio de esgotamento sanitrio, sendo lcita quando realizada a coleta, a conexo e o escoamento dos dejetos, ainda que sem tratamento final.

    O art. 3, I, b, da Lei n. 11.445/2007 trata sobre o servio de esgotamento sanitrio:

    Art. 3 Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - saneamento bsico: conjunto de servios, infra-estruturas e instalaes operacionais de: (...) b) esgotamento sanitrio: constitudo pelas atividades, infra-estruturas e instalaes operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposio final adequados dos esgotos sanitrios, desde as ligaes prediais at o seu lanamento final no meio ambiente;

    O art. 3, I, b, da Lei n. 11.445/2007 deixa claro que o servio de esgotamento sanitrio constitudo por diversas atividades, dentre as quais a coleta, o transporte e o tratamento final dos dejetos, mas no exigiu que somente exista o servio pblico de esgotamento sanitrio na hiptese em que todas as etapas estejam presentes, nem proibiu a cobrana de tarifa pela s prestao de uma ou algumas dessas atividades. Assim, no pode o usurio do servio, sob a alegao de que no h tratamento dos efluentes, querer deixar de pagar a tarifa. Alm do mais, o art. 9 do Decreto 7.217/2010, que regulamenta a referida legislao, confirma a ideia de que o servio de esgotamento sanitrio formado por um complexo de atividades, explicitando que qualquer uma delas suficiente para, autonomamente, permitir a cobrana da respectiva tarifa. A efetivao de alguma das etapas em que se desdobra o servio de esgotamento sanitrio representa dispndio que deve ser devidamente ressarcido, pois, na prtica, entender de forma diferente inviabilizaria a prestao do servio pela concessionria, prejudicando toda a populao que se beneficia com a coleta e escoamento dos dejetos, j que a finalidade da cobrana da tarifa manter o equilbrio financeiro do contrato, possibilitando a prestao contnua do servio pblico.

    Processo STJ. 1 Seo. REsp 1.339.313-RJ, Rel. Min. Benedito Gonalves, julgado em 12/6/2013 (recurso repetitivo).

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    Iseno de IPI para pessoa com incapacidade total para direo de veculo comum

    Na aquisio de veculo automotor, tem direito iseno de IPI o portador de periartrite e artrose da coluna lombossacra na hiptese em que a enfermidade implicar limitao dolorosa dos movimentos dos ombros, de modo a causar a incapacidade total para a direo de automvel sem direo hidrulica e sem transmisso automtica. Comentrios O art. 1 da Lei n. 8.989/95 estabelece o seguinte:

    Art. 1 Ficam isentos do Imposto Sobre Produtos Industrializados IPI os automveis de passageiros de fabricao nacional, equipados com motor de cilindrada no superior a dois mil centmetros cbicos, de no mnimo quatro portas inclusive a de acesso ao bagageiro, movidos a combustveis de origem renovvel ou sistema reversvel de combusto, quando adquiridos por: IV pessoas portadoras de deficincia fsica, visual, mental severa ou profunda, ou autistas, diretamente ou por intermdio de seu representante legal; 1 Para a concesso do benefcio previsto no art. 1 considerada tambm pessoa portadora de deficincia fsica aquela que apresenta alterao completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da funo fsica, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputao ou ausncia de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congnita ou adquirida, exceto as deformidades estticas e as que no produzam dificuldades para o desempenho de funes.

    No caso concreto, o STJ reconheceu que determinada mulher tinha direito iseno de que trata o inciso IV c/c o 1 por ser portadora de limitao dolorosa dos movimentos dos ombros em virtude de periartrite e artrodese da coluna lombossacra. A mulher apresentou, inclusive, Laudo Mdico emitido por Junta Mdica do DETRAN, o qual atestou expressamente que ela possua total incapacidade para dirigir veculo comum, necessitando de veculo com direo hidrulica e transmisso automtica.

    Processo STJ. 2 Turma. REsp 1.370.760-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 27/8/2013.

    aplicvel a pena de multa (e no de perdimento) no caso de subfaturamento de mercadoria importada

    A pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei 37/66, incide nos casos de falsificao ou adulterao de documento necessrio ao embarque ou desembarao da mercadoria, enquanto a multa prevista no pargrafo nico do art. 108 do mesmo diploma legal destina-se a punir declarao inexata em seu valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada. Assim, aplicvel a pena de multa (art. 108 do Decreto-Lei 37/1966) e no a pena de perdimento (art. 105, VI) na hiptese de subfaturamento de mercadoria importada. Comentrios Imagine a seguinte situao hipottica:

    A empresa importou um veculo dos EUA declarando que seu valor era 20 mil dlares para fins de pagamento do imposto de importao. Ocorre que a Receita Federal descobriu que houve subfaturamento na importao, ou seja, o valor declarado era inferior ao efetivamente pago pelo automvel, que custou, de fato, 50 mil dlares. Diante disso, a RFB aplicou a pena de perdimento do veculo, com base no art. 105, VI, do

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    Decreto-Lei n. 37/1996:

    Art.105 - Aplica-se a pena de perda da mercadoria: VI - estrangeira ou nacional, na importao ou na exportao, se qualquer documento necessrio ao seu embarque ou desembarao tiver sido falsificado ou adulterado;

    Agiu corretamente o rgo fazendrio? NO. Segundo o STJ, na hiptese de subfaturamento de mercadoria importada, a legislao determina a aplicao da pena de multa, prevista no pargrafo nico do art. 108 do

    Decreto-Lei n. 37/1966 (e no a pena de perdimento do art. 105, VI). Confira o dispositivo:

    Art.108. Aplica-se a multa de 50% (cinquenta por cento) da diferena de imposto apurada em razo de declarao indevida de mercadoria, ou atribuio de valor ou quantidade diferente do real, quando a diferena do imposto for superior a 10% (dez por cento) quanto ao preo e a 5% (cinco por cento) quanto a quantidade ou peso em relao ao declarado pelo importador. Pargrafo nico. Ser de 100% (cem por cento) a multa relativa a falsa declarao correspondente ao valor, natureza e quantidade.

    Segundo a jurisprudncia, a pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei n. 37/66, incide nos casos de falsificao ou adulterao de documento necessrio ao embarque ou desembarao da mercadoria, enquanto a multa prevista no pargrafo nico do art. 108 do mesmo diploma legal destina-se a punir declarao inexata em seu valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada.

    (...) 1. A pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei 37/66, incide nos casos de falsificao ou adulterao de documento necessrio ao embarque ou desembarao da mercadoria, enquanto a multa prevista no pargrafo nico do art. 108 do mesmo diploma legal destina-se a punir declarao inexata em seu valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada. 2. Se a declarao de importao for falsa quanto natureza da mercadoria importada, seu contedo ou quantidade, ser possvel aplicar, a par da multa, tambm a pena de perdimento em relao ao excedente no declarado, tendo em vista o que dispe o inciso XII do art. 618 do Regulamento Aduaneiro vigente poca dos fatos (Decreto 4.543/02). 3. Todavia, quando a hiptese exclusiva de subfaturamento, no h regra semelhante que autorize a pena de perdimento, devendo ser adotada somente a norma especfica, que a multa de 100% sobre a diferena apurada entre o valor real e o declarado, nos termos do art. 108, pargrafo nico, do DL 37/66. 4. No caso, segundo o arcabouo ftico delineado na origem, houve apenas subfaturamento, vale dizer, indicao de valores a menor para a operao de importao, o que afasta a incidncia da pena de perdimento. 5. Agravo Regimental no provido. (AgRg no REsp 1341312/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, 2 Turma, julgado em 06/11/2012)

    Processo STJ. 2 Turma. REsp 1.240.005-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 5/9/2013.

  • INFORMATIVO esquematizado

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    JULGADOS QUE NO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR RELEVNCIA PARA CONCURSOS PBLICOS

    DIREITO TRIBUTRIO. CREDITAMENTO DE ICMS INCIDENTE SOBRE A ENERGIA ELTRICA UTILIZADA NA PRESTAO DE SERVIOS DE TELECOMUNICAES. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC. possvel o creditamento do ICMS incidente sobre a energia eltrica utilizada pelas empresas de telefonia na prestao de servios de telecomunicaes. De fato, o art. 19 da LC 87/1996 estabeleceu a no-cumulatividade do ICMS, prevendo a compensao do que for devido em cada operao relativa circulao de mercadorias ou prestao de servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro estado. Por sua vez, o art. 33, II, b, da LC 87/1996 dispe que a entrada de energia eltrica em estabelecimento implicar direito a crdito quando a energia tiver sido consumida no processo de industrializao. Por seu turno, o art. 1 do Dec. 640/1962 equiparou os servios de telecomunicaes indstria bsica para todos os efeitos legais. Por conseguinte, a Primeira Seo do STJ instituiu, no julgamento do REsp 842.270-RS, DJe 26/6/2012, a compreenso de que o ICMS incidente sobre a energia eltrica consumida pelas empresas de telefonia, que promovem processo industrial por equiparao, pode ser creditado para abatimento do imposto devido quando da prestao de servios. Na ocasio, entendeu-se, ademais, que a regra constante do art. 1 do Dec. 640/1962 inteiramente compatvel com o CTN e com a legislao supe