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INFRA-ESTRUTURA 3 A recuperacão dos laboratórios de pesquisa

Infra estrutura 3: A recuperação dos laboratórios de pesquisa

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Pesquisa FAPESP - Suplemento Ed. 66

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INFRA-ESTRUTURA 3

A recuperacão dos laboratórios

de pesquisa

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ESPECIAL

INFRA-ESTRUTURA 3

Casa equipada e em ordem A recuperação e modernização dos laboratórios tornou possível a pesquisa de ponta

uando a FAPESP decidiu, em 1994, criar o Programa Emergencial de Apoio à Recu­peração e Modernização da Infra-Estrutu­ra de Pesquisa do Estado de São Paulo, ou simplesmente Programa de Infra-Estrutu­ra, a justificativa baseou-se no consenso de

que a situação de sucateamento das instalações de pes­quisa do Estado, na ocasião, impedia o desenvolvimento normal da atividade. Ou seja, mesmo havendo recursos para financiar projetas de pesquisa, a falta de equipa­mentos e principalmente a inadequação dos laborató­rios inviabilizavam ou comprometiam os seus resultados. Assim, a recuperação e a modernização dos laboratórios foram prioridades absolutas desde o começo do pro­grama, em 1995. Do total de R$ SOO milhões aplicados pela FAPESP no Programa de Infra-Estrutura, R$ 244 milhões foram diretamente para os laboratórios, por meio dos módulos Infra Geral e Biotérios. O restante foi para os outros módulos do programa: Bibliotecas, Ar­quivos, Museus, Redes Locais de Informática, Equipa­mentos Multiusuários e FAP-Livros.

PESQUISA FAPESP

''Ao criar o Programa de Infra-Estrutura, a FAPESP rompeu com um paradigma: o de que as agências volta­das ao fomento da pesquisa não deveriam se ocupar da infra-estrutura, que seria responsabilidade das universi­dades e dos institutos': diz Jailson Bittencourt de Andrade, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Universidade Federal da Bahia e que acompanha, como consultor, o programa desde o seu início. E ele acrescenta: "Com o programa, reconheceu-se a infra-estrutura como parte da atividade normal de pesquisa':

Ainda é muito cedo para dimensionar o impacto do Programa de Infra-Estrutura na pesquisa científica e tec­nológica paulista, mas já há resultados bastante visíveis, tanto no volume quanto na qualidade da pesquisa. Nes­te suplemento, o terceiro da série sobre o Programa pu­blicado pela revista Pesquisa FAPESP, vamos mostrar as transformações ocorridas em laboratórios das áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Saúde. As repor­tagens são de Cely Carmo, Lara Lima e Maria Aparecida Medeiros, a edição de Luiz Fernando Vitral e Maria da Gra­ça Mascarenhas e a diagramação de Luciana Facchini.

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Os alicerces do sistema

A atividade de pesquisa, para ter resultados e com­petitividade, não depende apenas da competência do pesquisador e da eficiência dos equipamentos. Esses, evidentemente, são pressupostos fundamentais, mas que não dispensam instalações com infra-estrutura adequada: rede elétrica e hidráulica, bancadas, am­bientes climatizados, por exemplo. Coisas aparente­mente prosaicas, mas que compõem o alicerce do siste­ma e para o qual, até o surgimento do Programa de Infra-Estrutura, não havia recursos.

"Para formar o tripé essencial à pesquisa- composto por bolsas, auxílios a projetos e infra-estrutura- falta­va este último." Assim o pesquisador José Antonio Visintin, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zoo­tecnia da Universidade de São Paulo, opina sobre o programa e tem a concordância da pesquisadora Ma­yana Zatz, do Instituto de Biociências da USP. "Foi muito feliz a percepção da FAPESP de que não bastava investir na atividade de pesquisa, deixando a infra-es-

trutura dos laboratórios a cargo das universidades e institutos", diz ela.

As necessidades eram imensas. A falta de condições de trabalho, como pode ser observado nas reportagens e nos depoimentos dos pesquisadores e na própria de­manda por recursos do programa, mostrada nas tabelas, que trazem dados globais, abrangendo laboratórios de todas as áreas do conhecimento. No primeiro edital, ou Infra I, as demandas dos pesquisadores foram direciona­das para dois módulos: Infra Geral, que compreendia os laboratórios em geral, exceto os Biotérios, que constituíam um módulo específico. Nos editais seguintes - Infra II, III e IV- os dois módulos foram reunidos em um só.

Para poder traçar um quadro da situação dos labo­ratórios anterior ao programa e informar sobre os pri­meiros impactos que se delineam com a recuperação dos ambientes de pesquisa, foram ouvidos pesquisado­res de diversas instituições e de vários pontos do Esta­do, das áreas de Ciências Agrárias e Veterinárias, Bio­logia, Saúde, Física, Química, Engenharia e Artes e Ciências Humanas. Muitos não chegaram a ser ouvi­dos- afinal, para a recuperação dos laboratórios foram liberados recursos para 2.356 projetos. Outros tantos deram seus depoimentos, mas, no entanto, não têm seus nomes citados, por absoluta impossibilidade de contemplar a todos nos limites de uma reportagem. Es­

(Situação em 30.06.01)

PROJETO$ INFRA FASE I INFRA FASE 11 INFRA FASE III INFRA FASE IV TOTAL

ses depoimentos, en­tretanto, foram funda­mentais para que se resgatassem as condi­ções anteriores de tra­balho do pesquisador com o colorido das emoções envolvidas e os primeiros impactos após a sua recuperação.

INFRA-GERAL BIOTÉRIOS

Recebidos 1.005 98

Denegados 226 21

Aprovados 772 77

Cancelados 7

Concluídos 771 77

OS RECURSOS LIBERADOS (Situação em 30.06.01)

FASE DO W APROVADOS

PROGRAMA

INFRA BIOTÉRIOS

GERAL

lnfra Fase I 772 77

lnfra Fase 11 432

lnfra Fase III 494

lnfra Fase IV 581

Total 2.279 77

2

TOTAL

849

432

494

581

2.356

1.209

772

432

5

430

VALOR (R$)

939

441

494

4

482

1.051 4.302

465 1.925

581 2.356

5 21

532 2.292

INFRA BIOTÉRIOS TOTAL

GERAL

66.953.338,94 9.998.331,78 76.951.670,72

50.269.108,46 50.269.1 08,46

47.585.470,00 47.585.470,00

68.715.921,82 68.715.921,82

233.523.839,22 9.998.331,78 243.522.171,00

Este suplemento reú­ne reportagens sobre os laboratórios das áreas de Ciências Agrárias e Veterinárias, Biologia e Saúde. O próximo tra-tará das áreas de Física, Química, Engenharia e Artes e Ciências Huma-nas. E, embora seja ain­da um pouco cedo para avaliar efetivamente os impactos do Programa de Infra-Estrutura na produção científica, as reportagens não dei­xam dúvidas de que eles, na verdade, já co-meçaram a aparecer.

PESQUISA FAPESP

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Passado, presente e futuro

Ciências Agrárias e Veterinárias. Biologia. Saúde. Três áreas do conhecimento que sempre foram fortes na pesquisa paulista. Três áreas do conhecimento que possuem tradicionais instituições, algumas centená­rias, responsáveis por pesquisas cujos resultados trans­formaram o panorama do Estado em questões funda­mentais como a de saúde pública, atendimento médico, produção agrícola. Três áreas do conhecimento que contam com instituições jovens, mas já com importan­tes contribuições científicas. Todas elas, infelizmente,

cultiva e estuda fungos e sua aplicação na agricultura, na recuperação ambiental e na área de alimentos, cons­tantemente viam todo o seu material ser contaminado por fungos indesejáveis que proliferavam nas paredes úmidas, devido a vazamentos.

Esses são apenas dois exemplos, que resumem a si­tuação, qualificada pelo professor Eduardo Moacyr Krieger, do Instituto do Coração (Incor) e presidente da Academia Brasileira de Ciências, como "à beira da calamidade". Ao investir nos laboratórios, o Progra­ma de Infra-Estrutura influiu nas condições de tra­balho e no ânimo dos pesquisadores. Linhas de pesqui­sa que estavam paralisadas foram retomadas e outras novas foram criadas. As pesquisas aumentaram em quantidade e em qualidade, dizem os pesquisado­res, que assinalam ainda, como conseqüências positi­vas, o incremento na publicação de resultados científi­

com os seus ambientes de pesquisa comprome­tidos, em maior ou me­nor grau. Esse era o qua­dro antes do Programa de Infra-Estrutura.

INVESTIMENTO POR INSTITUIÇÃO

cos e do intercâmbio com pesquisadores de outras instituições do país e do exterior.

"Mesmo com uma equipe reduzida em rela­ção aos anos anteriores ao Infra, conseguimos aumentar a produtivida­de e a qualidade das pes­quisas, ampliar as linhas de pesquisa e o leque de exame de rotinas", diz o pesquisador Odair Zene­bon, do Instituto Adolfo Lutz. Antônio Carlos Se­guro, da Faculdade de Medicina da USP, faz a sua avaliação: ''A partir de 1996, ano em que os projetos do Infra come­çaram a ser concretiza­dos, tivemos um aumen­to de pelo menos 100% no número de trabalhos publicados no exterior". E Carlos Martins Menck, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, des­taca: "Só nos últimos três anos, o Departamento de Microbiologia do­brou sua produção cien­tífica. A reforma possibi­litou também a vinda de novos professores e pes­quisadores que estavam no exterior".

Juntas, essas três áreas receberam R$ 125,4 mi­lhões para a recuperação de seus laboratórios. A maioria tinha as redes elétrica e hidráulica em ruínas, incapaz de supor­tar a instalação de um novo equipamento que demandasse energia elé­trica. O professor Wag­ner Farid Gattaz, do Ins­tituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, recordou, em seu depoimento, o seu pri­meiro dia de trabalho num local improvisado para ser o laboratório de neurociências. Ao ligar o ar-condicionado, causou uma pane no sistema elé­trico do prédio, impe­dindo até que se comple­tasse uma cirurgia que estava sendo realizada no Hospital das Clínicas. No Instituto de Botânica, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, os pes­quisadores do laborató­rio de micologia, que

PESQUISA FAPESP

INSTITUIÇÃO W PROJETOS CONTRATADOS

USP

UNICAMP

UNESP

OUTRAS INST. ESTADO

708

451

586

366

212 INST. FEDERAIS

INST. PARTICULARES 32

INST. MUNICIPAIS

TOTAL 2.356

VALOR {R$)

109.940.035,58

32.307.589,36

40.473 .631 ,20

39.526.398,17

19.281.254,52

1.801.140,17

192.122,00

INVESTIMENTO POR ÁREA DE ATIVIDADE

ÁREA W PROJETOS CONTRATADOS VALOR {R$)

Agrárias 346 44.371 .015,15

Arquitetura 13 1.402.403,24

Astronomia 8 470.175,98

Biologia 265 27.857.028,77

Economia 9 878.396,98

Engenharia 470 40.908.657,60

Física 196 19.968.689,85

Geociências 92 7.561.347,41

Humanas e Sociais 144 15.437.447,86

Interdisciplinar 2 635.31 3,11

Matemática 43 7.007.319,68

Química 216 23.805.766,98

Saúde 552 53.218.608,39

Total 2.356 243.522 .171,00

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Reformas descentralizam • A • pesqu1sa agronom1ca

Instituições mais jovens se põem ao lado das mais antigas

Casa de vegetação: a recuperação dos laboratórios permitiu a retomada de pesquisas e o início de novas linhas

ências Agrárias e Veteri­rias sempre foram uma rea de tradição da pes­quisa paulista. Os resul­tados de estudos reali­

zados por instituições centenárias, como a Escola Superior de Agricul­tura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP,

, e o Instituto Agronômico de Cam­pinas (IAC), da Secretaria de Agri­cultura e Abastecimento do Estado, modificaram e impulsionaram, ao longo do século 20, a atividade agrí­cola no Estado e no país. Por outro lado, instituições mais novas, como a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, a Facul-

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dade de Ciências Agronômicas de Botucatu e a de Medicina Veteriná­ria e Zootecnia de Botucatu, todas da Unesp, descentralizaram o ensino e a pesquisa agronômica de alto ní­vel e deram importantes contribui­ções. Todas elas, entretanto, enfren­tavam, na década passada, sérias dificuldades para dar prosseguimen­to às suas atividades. Algumas linhas de pesquisa estavam paralisadas. A aplicação de métodos e técnicas mais modernas, inviabilizadas pela falta de equipamentos e de condi­ções estruturais dos laboratórios.

O Programa de Infra-Estrutura mudou esse cenário, com a injeção

de recursos da ordem de R$ 44,4 mi­lhões. Reformas básicas como as das redes de energia elétrica e hidráulica, bancadas novas, adequação de espa­ço, climatização de ambientes, siste­ma de filtragem de ar, capelas para exaustão de gases tóxicos, pivôs de irrigação, casas de vegetação e es­tufas modificaram as condições de trabalho. No laboratório de Genéti­ca de Microrganismo, da Esalq, por exemplo, foram colocados vidros com proteção solar em 465 janelas, porque a insolação e o calor afeta­vam certas reações, informa a pro­fessora Aline Pizzirani Kleiner. As reformas no ambiente de pesquisa

PESQl:JISA FAPESP

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foram complementadas com a aqui­sição de novos equipamentos.

Resultados visíveis - Os resultados não tardaram a aparecer. O Centro de Pesquisas em Sanidade Animal, uma unidade auxiliar da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, funcionava em con­dições precárias e hoje é citado co­mo referência em revistas científicas internacionais. "Devido à estrutura que foi montada, firmamos convê­nios com empresas, que hoje garan­tem o nosso sustento': diz o profes­sor Alvimar José da Costa, que coordena pesquisas para combater a cisticercose bovina, doença transmi­tida por um verme que pode conta­minar o ser humano.

"Antes, quando acabava a luz, toda a cultura de embriões morria", conta José Antonio Visintin, do De­partamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veteriná­ria e Zootecnia da USP. "Hoje, não ficamos devendo nada aos centros mais desenvolvidos de pesquisa." Com o espaço quatro vezes maior e novos equipamentos, o departa­mento refinou as pesquisas sobre clonagem de bovinos e avança nos experimentos de suínos transgêni­cos. No Departamento de Patologia, o setor de necropsia por anos im­pregnou corredores com o cheiro de animais mortos. "Não tínhamos câ­mara fria e os restos dos animais apodreciam em menos de 24 horas", relata o pesquisador Benjamin Ma­lucell, do setor de microscopia. "Era comum encontrar nos corredores jibóias das pesquisas de Patologia Comparada, que escapavam das cai­xas onde ficavam, próprias para ra­tos", conta. Essas histórias estão na lembrança dos pesquisadores, uma vez que agora há uma sala adequada para a conservação das cobaias. Por sua vez, o biotério da faculdade, com novas instalações e equipa­mentos, recebeu recentemente a aprovação do Comitê Internacional de Ética Médica para importar duas linhagens transgênicas de camun-

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dongo, usadas em pesquisas sobre câncer, informa o diretor da facul­dade, José Palermo Neto.

A pesquisa agronômica também ganhou novo impulso. Na Esalq, em Piracicaba, os oito laboratórios do De­partamento de Genética foram rees­truturados. "Pudemos dar condições ótimas de trabalho aos pesquisado­res': diz o professor Ricardo Antunes Azevedo, do laboratório de Genética Bioquímica. O Departamento de En­tomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Esalq viveu readaptação semelhante. "Sem as reformas, não teríamos desenvolvido a tecnologia de produção in vitro do Trichogramma, na qual somos líderes na América Latina': afirma José Roberto Parra, que pesquisa o controle biológico de pragas agrícolas.

,

Agua e ar puros

Resultado: mais embriões

O Departamento de Re­produção Animal da Faculdade de Medici­na Veterinária e Zoo­temia da USP regis­

trou um aumento de 15% para 50% no desenvolvimento de embriões fecundados in vitro desde a conclu­são das obras nos laboratórios, fi­nanciadas pelo Programa de Infra-

No IAC, a Divisão de Física do Solo pôde re1moar as suas pes­quisas depois de passar por reformas e receber e­quipamentos, como um granulômetro a laser pa­ra realizar análises de amostras de solo e um novo sistema coletor de perdas por erosão. E o Projeto Seringueira, do Centro de Café e Plan­tas Tropicais do insti­tuto, montou seus pri­meiros laboratórios com recursos do programa.

Estudos de fecundação in vitro de bovinos e suínos

Desde que foi criado, em 1992, as pesquisas eram feitas nas plantações. "Tudo na base do olho, observando as características externas da planta, o fenótipo': diz Paulo Gonçalves, coordenador do projeto, que agora pode acompanhar o desenvolvimen­to das seringueiras em laboratório. "O impulso à seringueira veio nos últimos seis anos", diz, referindo-se ao período pós-Infra. Os trabalhos do IAC certamente contribuíram pa­ra tornar o Estado de São Paulo, em 1999, o maior produtor nacional de borracha natural, com mais da me­tade das 85 mil toneladas produzi­das no país.

Estrutura. Segundo o professor José Antonio Visintin, esse resultado, que tem evidente impacto nas pes­quisas na área, foi possível depois que o laboratório passou a contar com gerador de energia, caixa d' água de 15 mil litros, sistema de re­frigeração e filtragem de ar e, tam­bém, à reforma que separou os la­boratórios de fecundação in vitro do de clonagem e transgenia animal.

"Trabalhamos com embriões, por isso precisamos de água e ar puros para evitar contaminações. Quando ocorria corte de energia, em segundos toda a cultura de em­briões morria, e com ela, o trabalho

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de vários dias", relata José Antonio Visintin.

Antes da reforma, todas as ativi­dades laboratoriais eram feitas em apenas dois ambientes. "Imagine preparar meios de cultura entre o­vários de vacas e porcas." A aqui­sição de uma máquina para lavagem de materiais com água filtrada au­mentou os padrões de higiene.

Novos espaços - Atualmente, o de­partamento mantém uma sala so­mente para o sistema de refrigera­ção, que distribui ar refrigerado nos ambientes com pressão suficiente para impedir que o ar externo invada os laboratórios. Com o espaço físico du­plicado e mais bem adequado, novos laboratórios foram construídos e equipados, viabilizando a abertura de linhas de pesquisa. A montagem de um estábulo de suínos permitiu que o estudo da maturação de óvu­los de porcas fosse complementado com pesquisas sobre espermatozói­des e sua capacidade de fecundação. O centro cirúrgico construído ao lado, que realiza pesquisas de fecun­dação in vitro, já dispõe de toda a in­fra-estrutura para a implantação, em dois anos, de procedimentos de transgenia em porcas. Isto fechará uma linha de pesquisa com suínos, que inclui inseminação artificial, fecundação in vitro e clonagem.

Entre os outros novos laborató­rios do Departamento de Reprodu­ção Animal estão três de biologia molecular, um de fisiologia e um biotério. A ampliação e moderniza­ção do estábulo de bovinos, que an­tes abrigava todos os animais objeto das pesquisas, possibilitaram que se duplicasse o rebanho de touros e se incluíssem 15 vacas na criação. O lu­gar, que "era só lama': teve o chão concretado e ficou mais bem organi­zado com a instalação de cinco cur­rais. No total, a Faculdade de Medi­cma Veterinária e Zootecnia recebeu, para reforma e moderniza­ção de seus laboratórios, aproxima­damente R$ 5,1 milhões do Progra­ma de Infra-Estrutura.

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Preparada para se manter na História

A centenária Esalq ganha novo fôlego

ola Superior de Agricul­ra Luiz de Queiroz Esalq), da USP, acaba de completar cem anos. Uma das mais antigas

instituições de ensino agrícola do país, a Esalq é também uma tradição na pesquisa agronômica. Hoje, a es­cola continua sendo um centro de ex­celência. Mas, para manter esse pa­drão, seus laboratórios receberam cerca de R$ 12,5 milhões do Progra­ma de Infra-Estrutura, para recupe­ração e melhoria de instalações e aquisição de equipamentos mais modernos.

Os oito laboratórios do Departa­mento de Genética, por exemplo, fo­ram todos reestruturados. "Só assim

pudemos dar condições ótimas de trabalho aos pesquisadores", diz o professor Ricardo Antunes Azevedo, do laboratório de Genética Bioquí­mica. Há 40 anos, lembra ele, quan­do o prédio foi construído, a mani­pulação de microrganismos era bastante restrita. "A estrutura antiga nos impedia de introduzir novas tecnologias:'

Controle biológico - O Departamen­to de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola viveu readaptação semelhante. Ali, os pesquisadores es­tudam e desenvolvem métodos de controle biológico de pragas agríco­las. Para isso, utilizam agentes natu­rais - vírus, bactérias, fungos ou

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mesmo insetos, como moscas e ves­pinhas - para o combate às pragas. Os insetos, chamados de parasitói­des, são produzidos em laboratório: in vivo, isto é, criando juntos a praga e o seu inimigo natural, e in vitro, criando apenas o parasitóide, sem seu hospedeiro. "Sem as reformas, não teríamos desenvolvido a tecno-

Instalação do Departamento de Entomologia da Esalq: ali são realizados importantes estudos para controle biológico de pragas agrícolas

logia de produção in vitro do Tricho­gramma, da qual somos líderes na América Latina", diz José Roberto Parra, professor do Departamento. O parasitóide do gênero Trichogram­ma ataca e destrói ovos de outros in­setos. Seu estudo permitiu a criação de outros parasitóides que atacam culturas diversas, como as de algo­dão, cana-de-açúcar, milho e tomate.

V árias outros departamentos da Esalq foram beneficiados com re­cursos do Infra, como o de Solos e Nutrição de Plantas e o de Epide­miologia de Doenças de Plantas.

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Suporte microscópico

Embora integre o complexo de ensino e pesquisa da Escola Supe­rior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Microsco­pia Eletrônica Aplicada à Pesquisa Agropecuária (NAP/Mepa) dá suporte

Kitajima: acesso livre aos pesquisadores não apenas aos pesqui­sadores dos diversos de­partamentos da escola, mas, também, de outras instituições de vários Estados brasileiros e das mais diversas áreas. Com freqüência o Núcleo recebe estu­dantes e professores de odonto­logia, ciências agrárias, biomé­dicas e das áreas tecnológicas, além de atender ao seta r privado. O acesso aos equipamentos é franqueado aos pesquisadores. "Fazemos uma espécie de pres­tação de serviços. Eles podem vir aqui e executar seu próprio trabalho", diz o professor Elliot Watanabe Kitajima, coordena­dor do NAP/Mepa. Uma esti­mativa do Núcleo é que o uso dos seus aparelhos já permitiÚ o desenvolvimento de pelo me­nos 300 projetas de pesquisa.

Fundado em 1990, o Núcleo recebeu, inicialmente, recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para aquisição de parte dos equipa­mentos necessários. Em 1995, recursos da FAPESP para a com­pra de acessórios e alguns ou­tros equipamentos permitiram que ele iniciasse as suas ativida­des. Posteriormente, recursos do Programa de Infra-Estrutu­ra foram utilizados na melhoria da infra-estrutura do laborató­rio e na aquisição de novos e­quipamentos. Um deles foi um microscópio eletrônico de var-

redura de pressão variável - o Núcleo já dispunha de dois mi­croscópios eletrônicos, um de transmissão e outro de varredu­ra convencional.

Apesar de atuarem em dife­rentes áreas do conhecimento, os usuários do NAP/Mepa têm algo em comum: trabalham com materiais de proporções tão reduzidas que não podem ser observados em microscópio óptico, como por exemplo grãos de lipídios e fragmentos de célula, diz Kitajima. O mi­croscópio de varredura destina­se ao exame de superfícies. O microscópio eletrônico de trans­missão permite a observação de amostras em suspensão ou cor­tes ultrafinos. Para preparar es­sas amostras, foi adquirido, com recursos do Infra, um ul­tramicrótomo, aparelho para cortar seções ultrafinas: 1/20.000 de milímetro - algo como cortar uma peça de 1 mm em 20 mil fatias. Outro aparelho adquiri­do com recursos do Programa de Infra-Estrutura foi o de crio­fratura, que permite o congela­mento de um material biológico em temperaturas criogênicas (em nitro gênio líquido) e, em seguida, o fratura. Moldes das superfícies fraturadas podem ser feitos e observados no mi­croscópio de transmissão.

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uando foi criado, em 1966, o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) tor­nou-se a primeira ins­tituição na América

Latina voltada exclusivamente para a utilização da energia nuclear na pes­quisa agronômica. Entre as suas li­nhas de pesquisa estão o melhora­mento de plantas, com a obtenção de novas linhagens por melhora­mento genético, utilizando o bom­bardeamento de partículas como método de transferência genética, e por indução de mutações, a produ­ção e a conservação de alimentos e o estudo dos ecossistemas tropicais. Para realizar essas pesquisas, o cen­tro, que integra o campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), necessita de labora­tórios e equipamentos modernos e seguros, já que trabalha com ele­mentos radioativos.

Passados 35 anos de sua funda­ção, o Cena acumulava deficiências físicas que afetavam as pesquisas. A FAPESP, por meio do Infra, investiu R$ 4,1 milhões no centro, aplicados na reestruturação de 19 laboratórios, além da execução de obras e a aqui­sição de equipamentos. Foi realizada a reforma dos painéis de força, com substituição de disjuntares; o pára­raios acabou com a freqüente quei­ma de equipamentos; o telhado com infiltrações foi trocado, pondo fim às goteiras que inutilizavam os apa­relhos de pesqfiisa; uma nova rede hidráulica oferece agora água limpa. Também a Casa de Vegetação central foi recuperada, assim como o depó­sito de rejeitos químicos, onde são armazenadas as sobras de todos os

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Mantida segurança no campo da energia nuclear

Cena avança no estudo em melhoramento de plantas

Laboratório de Carbono 14: estudo de paleovegetações

laboratórios. Este setor foi equipado com recipientes para classificação, ar­mazenagem e reciclagem dos resí­duos. "Os impactos do Programa de Infra-Estrutura foram e ainda serãÓ úteis por vários anos': diz o diretor do centro, Augusto Tulmann Neto. "Os reflexos foram altamente positi­vos na quantidade e na qualidade das pesquisas e nas atividades de ex­tensão da instituição."

Carbono 14- Um dos 19laboratórios reestruturados foi o de Carbono 14, responsável por determinar a idade de amostras de solo, carvão, madei­ra, celulose, colágeno de ossos, con­chas, corais e outra infinidade de materiais que contenham aquele ele­mento. Com base na presença de car­bono -quanto menor, mais antiga é a amostra -, o laboratório reconstrói ambientes passados e pode até inferir mudanças sofridas pela vegetação e pelo clima de determinado lugar.

Sua principal linha de pesquisa é o estudo de paleovegetações brasileiras, desde o Sul do Brasil até a região amazônica. No mundo, poucos gru­pos de pesquisa realizam trabalho se­melhante. No Brasil, apenas o Cena.

Segundo o professor Luiz Carlos Ruiz Pessenda, responsável pelo la­boratório, cerca de R$ 800 mil, de R$ 1 milhão investidos nesse labora­tório nos últimos anos, partiram do Programa de Infra-Estrutura. O res­tante foi repassado pela Agência In­ternacional de Energia Atômica, com sede em Viena, na Áustria. ''A linha de síntese de benzeno, que é o coração do laboratório, nunca parou, graças aos recursos da FAPESP", reconhece Pes­senda. Entre 100 e 11 O amostras são datadas a cada ano. Cerca de 70% de­las referem-se à pesquisa, principal­mente básica, desenvolvida pelos pesquisadores do centro, e o restante a­tende a pedidos de arqueólogos e geó­logos de universidades e empresas.

PESQUISA FAPESP

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Dois tratares da década de 50, que até há pou­cos meses eram usados em todo tipo de servi­ço no campus Lageado

- uma das três fazendas da Facul-dade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu, da Unesp -, foram parar no museu. Na última missão que cumpriram ajudaram a superar recentes dificuldades no cul­tivo de feno e legumes, itens neces­sários à produção de ração para os animais destinados à pesquisa.

O projeto de recuperação e reno­vação de máquinas e implementas das fazendas de ensino, pesquisa e produção da faculdade foi apenas um dos que a professora Eunice Oba, do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, en­caminhou à FAPESP, há quatro anos, quando era diretora da unida­de. A aprovação do projeto, no en­tanto, resultou em benefícios para toda a faculdade. Exemplo foi a re­cuperação da fábrica de ração, que, construída há quatro décadas, ope­rava em ritmo lento nos últimos anos. Do total de aproximadamente R$ 1,5 milhão destinados pela FA­PESP a projetas de pesquisa na fa­culdade, parte foi aplicada na reno­vação do maquinário e na modernização das instalações, na compra de dois tratares, de duas plantadoras- de capim e de milho-, de uma ensiladeira, entre outros equipamentos.

Resultado: hoje a fábrica atende a toda a demanda por ração, gastan­do apenas um terço dos valores despendidos anteriormente. Asses­sorada pelo setor de nutrição ani­mal, a fábrica produz rações especí-

PESQUISA FAPESP

Da nutrição animal à pesquisa clínica veterinária

Na Unesp de Botucatu, o cuidado com a saúde da criação

Sistemas de climatização e iluminação induzem os ovinos à reprodução

ficas para bovinos, eqüinos, suínos, ovinos, caprinos, búfalos, coelhos e cães. "Hoje conhecemos a proporção de proteína bruta ingerida por ani­mal", diz Eunice. Dados como esses aumentam o controle das pesquisas nas áreas de Reprodução Animal,

Cirurgia Veterinária, Clínica Veteri­nária e Higiene e Saúde Pública, rea­lizadas a oito quilômetros dali, no campus Rubião Júnior.

O campus abriga as faculdades da Unesp em Botucatu, onde os in­vestimentos do Programa de Infra-

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o outono e, assim, induzir os ovinos à reprodução. A estrutura do assoalho, com espaços entre as ripas, tor­nou o ambiente mais sau­dável. Até o final de 1999, nada disso existia. Não ha­via nem lugar próprio para o manejo dessas espécies. Coletas de sangue e sêmen, pesagem e ultra-sonogra­fia de ovinos, caprinos, bo­vinos e eqüinos dividiam o mesmo espaço. ''As éguas se assustavam com o com­portamento inquieto das ovelhas", conta o professor Dimas Bicudo. Ele e sua equipe perdiam tempo cer­cando bichos arredios.

Estrutura mudaram a rea­lidade do ensino e da pes­quisa. O Departamento de Reprodução Animal - um dos quatro da Medicina Veterinária- passou a con­tar com nove laboratórios. O que hoje é o Centro de Biotecnologia da Repro­dução - instalado segundo padrões internacionais -não passava de um "barra­cão de madeira, de chão batido, com esgoto proble­mático, rede elétrica com­prometida e completa­mente sucateado': segundo o professor Frederico Oza­nam Papa, responsável pelo centro. Ali são feitas pesquisas e cirurgias em bovinos e eqüinos e, desde a conclusão das obras, no começo de 2000, o núme­ro de pós-graduandos que freqüenta o centro subiu de menos de dez para 50. Estudantes de vários Esta­dos brasileiros e também de outros países da Améri­ca Latina são atraídos pelo alto nível alcançado pelo curso. Na graduação, estu­dam cerca de SOO alunos.

Animais criados sob as novas condições atingiram maior peso

Pesquisa agrária- A Facul­dade de Ciências Agronô­micas de Botucatu - que tem a maior parte de sua estrutura localizada nas fazendas, principalmente no campus Lageado -também recebeu recursos do Programa de Infra-Es­trutura: cerca de R$ 1, 7 milhão para a reforma de seus laboratórios e de três

Ambientes integrados - A reestrutu­ração dos ambientes do centro inte­grou a prática clínica, cirúrgica e de pesquisa. Antes, as diversas etapas de uma pesquisa eram feitas em lugares distantes: a coleta de sêmen, no cam­po; a colocação do corante na lâmi­na, num prédio; o congelamento do sêmen coletado, em outro. Agora, junto à nova área de coleta foi mon­tado o laboratório didático, onde os alunos analisam as amostras recém­colhidas em microscópios eletrôni­cos conectados a uma câmera de ví­deo. O setor de microscopia é um dos ambientes acrescentados pelare­forma, assim como o laboratório de meios, onde são preparados os mate­riais de pesquisa, e o local onde são feitos exames de prenhez em éguas.

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O Laboratório de Ovinos e ca: prinos também foi reestruturado com verba do Infra-Estrutura. Pes­quisa iniciada antes da reforma per­mitiu comparar um rebanho criado sob as condições antigas com outro, que cresceu nas novas instalações. Segundo o professor Sony Dimas Bi­cudo, os animais do segundo lote atingiram maior peso. "Ficamos em­polgados. A qualidade dos experi­mentos depende da saúde dos ani­mais." Mais funcional, o laboratório passou a contar com aparelho de lapa­roscopia para inseminação artificial, o que garante 70% de fertilidade con­tra os 30% da inseminação natural.

O estábulo de madeira deu lugar a uma construção de concreto, equi­pada com sistemas de climatização e iluminação que possibilitam simular

casas de vegetação, duas de Horticultura e uma de Defesa Fi­tossanitária. Nesta, os recursos per­mitiram torná-la três vezes maior, além de passar a contar com mo­dernos sistemas de irrigação e di­matização. As pesquisas ali desen­volvidas buscam soluções para sanar doenças em culturas agríco­las com a utilização de agentes químicos, físicos, biológicos ou pela mudança no manejo.

"Vinte projetos tiveram suas eta­pas prejudicadas pela falta de espa­ço': conta o professor Antonio Car­los Maringoni, referindo-se ao período anterior à reforma. Ele e­xemplifica com o caso de experi­mentos com feijão e soja. Feitos em túneis plásticos, não permitiam o controle adequado do desenvolvi­mento da cultura e das doenças.

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uldade de ências Agrá­ias e Veteri­nárias de Ja­boticabal

Um hospital veterinário que é referência no Estado

Em ]aboticabal, a preocupação com a extensão

recebeu cerca de R$ 6,5 milhões do Programa de Infra-Estrutura, para reforma de seus labora­tórios e instalações de pesquisa. Criada em 1964 e integrada à Unesp em 1976, quan­do do surgimento da universidade, a facul­dade sempre teve atua­ção de destaque nas di­versas linhas de pesquisa agronômica e veteriná­ria, como nutrição ani­mal e manejo das diver­sas espécies, sementes, plantas forrageiras, ma­nejo de plantas dani-

A Clínica e Cirurgia Veterinária realiza 35 intervenções diárias em pequenos animais

nhas, controle biológico de pragas e genética.

A modernização dos laborató­rios permitiu aos seus pesquisado­res estar na linha de frente das mais avançadas pesquisas. Muitos partici­param dos projetas Genoma Xylella, Genoma Xanthomonas citri e Genoma Cana-de-Açúcar, e continuam a par­ticipar da rede de laboratórios liga­dos ao projeto Genoma Funcional da Xylella fastidiosa, que visa obter in­formações sobre os mecanismos en­volvidos no modo de ação dos ge­nes da bactéria. A faculdade sedia também o Brazilian Clone Collection Center, o primeiro centro de estoca­geem de genes de bactérias e cana­de-açúcar.

Mas, desde a sua criação, a facul­dade sempre se preocupou em levar

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o conhecimento gerado à comutli­dade. O Hospital Veterinário pode ser citado como exemplo dessa in­tegração entre ensino, pesquisa e extensão. Ali, os alunos têm aulas em salas integradas às atividades do hospital, que, por sua vez, com cen­tros cirúrgicos modernos, pode pôr em prática novas técnicas e oferecer melhor atendimento.

Desde que foi construído, há 27 anos, o Hospital Veterinário é refe­rência na região Nordeste do Estado de São Paulo. Suas instalações, con­tudo, eram inadequadas, segundo o professor Aparecido Antonio Ca­macho, do Departamento de Clíni­ca e Cirurgia Veterinária. Com os recursos do Infra, esse departamen­to e mais os de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal e

de Patologia Veterinária, que com­põem a unidade do hospital, foram recuperados.

Na Clínica e Cirurgia Veteriná­ria, 800 metros quadrados foram re­construídos. Nesse departamento, que trata e faz cirurgias em peque­nos animais, os atendimentos au­mentaram 25o/o, atingindo a média diária de 35 intervenções. "O teta, de lã de vidro, tornava o calor insu­portável nos dias mais quentes; o piso não era lavável; as redes hi­dráulica e elétrica estavam expostas, com risco de incêndio e de quedas freqüentes de energia", enumera Ca­macho. O departamento foi amplia­do e recebeu novos ambientes, o que permitiu separar as práticas ambu­latoriais das emergenciais e essas, dos atas cirúrgicos. A clínica odon-

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tológica, equipada para cirurgias, possibilitou o oferecimento de ser­viço inédito no hospital e criou um ambiente propício para o desenvol­vimento de estudos.

Diagnósticos e cirurgias- Os recursos do Infra possibilitaram também a compra de aparelhos para anestesia e de facoemulsificação- este utiliza­do em cirurgias de catarata-, devi­damente instalados numa ala exclusi­va para cirurgias oftalmológicas em pequenos animais. Anteriormente à reforma, essa cirurgia era feita ma­nualmenü~~ com índice de êxito 20% menor se comparado à nova técnica, pela qual a margem de su­cesso chega a 90%. Pela facoemulsi­ficação, o cristalino é fragmentado e aspirado de forma ultra-sônica.

Um outro equipamento, o de ele­troretinografia, adquirido um ano antes, permanecia encaixotado por falta de instalações físicas apropria­das para instalá-lo, relata o professor José Luiz Laus, responsável pela of­talmologia. Único do gênero em es­cola pública na América do Sul, esse aparelho, que serve para diagnosti­car doenças da retina, passou a exa­minar três animais por semana.

Antes da reestruturação, atendi­mentos cirúrgicos, emergenciais e de ambulatório eram feitos no mes­mo espaço. "Não tínhamos a higie­ne necessária para cirurgias, havia alto risco de contaminação", salien­ta Camacho. Atualmente, além de sala para cirurgia oftalmológica, o hospital tem sala de cirurgia geral, também equipada com recursos do Infra. O setor de cardiologia, outra novidade viabilizada pelo progra­ma, permitiu a expansão das pes­quisas sobre doenças do miocár­dio. Também o laboratório de emergência e de anestesiologia re­cebeu recursos do programa. "Com certeza, hoje conseguimos salvar mais vidas do que no passado", co­memora Camacho, salientando ainda a melhoria de condições para realizar pesquisas sobre novos agentes anestésicos.

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Um patrimônio científico livre de ameaças

No IAC, linhas de pesquisa paralisadas foram retomadas

E m junho do ano passado, os 250 pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) come­moraram os 113 anos da

instituição com uma marca de 400 cultivares desenvolvidos e lançados no Estado de São Paulo e em outras regiões do país e relativos a cerca de 130 produtos agrícolas ali pesquisa­dos. Há cerca de sete anos, contudo, todo o patrimônio científico, reuni­do no IAC em mais de um século de pesquisas, estava ameaçado, tal o es­tado de abandono e deterioração

dos laboratórios de sua sede e das es­tações experimentais. Muitas áreas e linhas de pesquisa estavam paralisa­das. Para reverter esse quadro, desde a primeira fase do Programa de In­fra-Estrutura os pesquisadores do instituto encaminharam projetas de reforma e modernização de seus la­boratórios. No total das quatro fases, foram aplicados nos laboratórios do IAC cerca de R$ 6,1 milhões.

De início, foram recuperados 22 laboratórios instalados nos quatro prédios da sede e outros do Centro Experimental de Campinas. Divisó-

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rias de madeira foram substituídas por paredes de concreto, as redes elétrica e hidráulica foram reforma­das, como também o teto. Bancadas foram renovadas e equipamentos fundamentais adquiridos. Em algu­mas áreas, isso possibilitou a reto­mada de atividades, como ocorreu na Física do Solo, desativada antes da reestruturação dos laboratórios de Análise de Estabilidade de Agre­gados no Solo, Curva de Retenção da Água no Solo e Análise Granulomé­trica. "Não se pode conceber a ava­liação de um sistema de manejo sem a Física do Solo", diz a pesquisadora Sonia Carmela Falei Dechen, da seção de Conservação do Solo. ''A retoma­da permitiu acesso a informações preciosas e a parâmetros importan­tes no estudo do manejo." O granu­lômetro a laser, adquirido com recur­sos do Infra, analisa 100 amostras por hora; no processo manual, a média era de 50 determinações a cada mês.

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Enxurrada monitorada - Construído há 70 anos, o prédio que abriga a Fí­sica do Solo, localizado no Centro Experimental, em Campinas, passou a abrigar as cinco seções de pesquisa do Centro de Solos e Recursos Agroambientes. ''Atendemos à de­manda de todo o Estado nessa área", salienta a pesquisadora. Ela destaca ainda a reforma total do campo de sistemas coletores de perdas por ero­são, em área externa vizinha aos la­boratórios. "Temos o único Sistema Coletor de Perdas por Erosão fun­cion.ando ininterruptamente na América Latina", orgulha-se. Talhões são plantações delimitadas por bar­reiras físicas, que fornecem dados para orientar o manejo do solo, com registras de perdas de água e terra de cada cultura, em enxurradas. No IAC, essas estruturas foram cons­truídas em 1943 e nunca haviam re­cebido qualquer tipo de reparo. Além de reconstruir 80 dos 108 ta-

lhões- distribuídos nas estações ex­perimentais de Campinas, Mococa e Pindorama -, o programa viabilizou a automação do sistema no Núcleo de Campinas.

''A principal vantagem da auto­mação é que, agora, tenho a enxur­rada monitorada minuto a minuto. Sei a que horas começou a chover e por quanto tempo, além de precisar o período crítico da enxurrada. Ou seja, tenho muito mais informações para indicar que tipo de cultura é melhor para cada solo': assinala So­nia Duchen.

Recursos genéticos - As obras deram estímulo também a outras ativida­des estratégicas do IAC. Na seção de Botânica Económica, o herbário foi protegido dos fungos e o Laborató­rio de Anatomia de Plantas recebeu novas bancadas e capela. No Labora­tório de Biotecnologia, além das re­formas, foram adquiridas duas auto­claves e uma estufa climatizada para as culturas de tecidos.

O Projeto Seringueira, desenvol­vido pelo Centro de Café e Plantas Tropicais, conseguiu receber o seu primeiro laboratório. Criado em 1992, todas as pesquisas só eram rea­lizadas no campo. De acordo com o coordenador do projeto, Paulo Gon­çalves, foi apenas após o Infra que elas ganharam impulso. Também o intercâmbio de recursos genéticos foi intensificado com a construção de um novo quarentenário. Com a nova casa de vegetação, especial­mente projetada para a quarentena de plantas, o instituto intensificou a troca de germoplasma com outras instituições de dentro e de fora do Estado. Os recursos do programa também serviram para materializar equipamentos que há muito se fa­ziam necessários, como o sistema de irrigação com pivô central, capaz de irrigar 70 hectares, implantado no Núcleo Experimental de Campinas.

Plantio do Projeto Seringueira, do Centro de Café e Plantas Tropicais: primeiro laboratório montado

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N os principais centros de pesquisa em bio­ciências no Estado de São Paulo, o ânimo dos pesquisadores está em

alta com o salto de competência ob-servado na área nos últimos anos. A principal evidência da mudança está nos recentes resultados da pesquisa genômica - iniciada, em 1997, com o projeto Genoma Xylella, realizado por uma rede de cerca de 200 pes­quisadores de mais de três dezenas de laboratórios, no primeiro se­qüenciamento completo de um fito­patógeno. O feito rendeu reconheci­mento nacional e internacional à competência dos cientistas. Para a coordenadora do Centro de Geno­ma Humano da Universidade de São Paulo, Mayana Zatz, a conclusão da­quele projeto mostrou, de forma muito clara, que é possível desenvol­ver pesquisa de ponta no Brasil.

Mas é consenso entre os pesqui­sadores que esse avanço científico não teria sido possível se alguns anos antes a FAPESP não tivesse começa­do a investir na recuperação dos la­boratórios e instalações de pesquisa do Estado de São Paulo, por meio do Programa de Infra-Estrutura.

"Foi muito feliz a percepção da FAPESP de que não bastava investir na atividade de pesquisa, deixando a infra-estrutura dos laboratórios a car­go das instituições", afirma Mayana. A diretora-geral do Instituto Bioló­gico, Vera Cecília Annes Ferreira, con­corda e acrescenta: ''A maior parte da verba orçamentária das instituições é gasta com a folha de pagamento. No máximo, dá para fazer algum pe­queno reparo, o que não é suficiente para manter em dia a estrutura de

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Um sopro de vida nos laboratórios de biologia Investimentos permitiram um salto de qualificação na área

Mayana: não basta investir na pesquisa

que os laboratórios necessitam': De fato, a situação da maioria

dos laboratórios de biologia até a metade da década de 90 era precária. As construções, sem reformas, esta­vam se deteriorando. Para que fos­sem desenvolvidas pesquisas faltava tudo: espaço, bancadas adequadas, energia elétrica, água, sistema térmi­co e de segurança e equipamentos. Mais grave: em muitos casos, havia problemas tão sérios que colocavam em risco a saúde dos pesquisadores ou comprometiam os resultados das pesquisas. Goteiras nos telhados ameaçavam os equipamentos e tor­navam as paredes úmidas, que se tornavam hábitat para colônias de fungos. As infiltrações comprome-

tiam a estrutura de prédios inteiros e minavam o resul­tado das experiências. Além do risco de desabamento, havia ainda o perigo de in­cêndio, diante da fragilidade das instalações elétricas e das ligações improvisadas para que se mantivessem as ativi­dades em andamento.

Passos de tartaruga - Esses problemas de infra-estrutu­ra eram extremamente co­muns e faziam parte do dia­a-dia das pnne1pa1s universidades públicas do Estado - USP, Unicamp e Unesp - e de importantes centros de pesquisa do país, como os institutos Biológi­co, de Botânica e o Butan­tan. É evidente que essa pre­cariedade comprometia os resultados das pesquisas. A­pesar da persistência e da

boa vontade dos pesquisadores, a biologia no Brasil estava ficando para trás.

"A situação me deixava angus­tiada. Enquanto os pesquisadores lá fora estavam voando de jato, nós aqui andávamos a passo de tartaru­ga", compara Mayana. "Não tínha­mos equipamentos e acabávamos pedindo emprestado dos outros. An­dávamos quilômetros para anali­sar uma coisa aqui, outra lá", lem­bra a cientista.

A partir da aplicação dos recur­sos do Infra, começaram as mudan­ças. A FAPESP investiu nos labora­tórios da área de Biologia R$ 27,8 milhões, beneficiando, entre ou­tros, os institutos de Biociências da

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USP, em São Paulo, da Unesp em Botucatu e Rio Claro, o Instituto de Biologia, Letras e Ciências de São José do Rio Preto (também da Unesp ), o Instituto de Biologia da Unicamp e os institutos estaduais de pesquisa: Butantan, Biológico e de Botânica. O investimento permi­tiu reformar e modernizar labora­tórios, que hoje estão em condições de atuar nas mais diferentes linhas de pesquisa.

Outro aspecto positivo dessas reformas, destaca Ivo Lebrun, do Departamento de Bioquímica e Biofísica do Instituto Butantan, foi o fortalecimento do intercâm­bio entre os pesquisadores. "Au­mentou a presença de pesquisado­res de outras instituições, até do exterior, que se sentem animados porque o laboratório tem condi­ções de desenvolver pesquisas mais avançadas", diz. E a comunidade científica comemora. Os laborató­rios ficaram mais espaçosos - o que proporciona autonomia para as equipes de pesquisa, que, em al­guns casos, criavam um rodízio in­formal para poderem ocupar assa­las e usar os equipamentos em turnos - e já têm condições de re­ceber também um número maior de alunos. "Acredito que vamos po­der acomodar pelo menos mais três alunos de doutorado e pós-doutora­do': afirma Mayana.

Com as reformas dos laborató­rios, os pesquisadores passaram a trabalhar em ambientes mais lim­pos, arejados, seguros e, por conse­guinte, mais agradáveis, o que trou­xe reflexos importantes também sob o ponto de vista psicológico. "Nós vivíamos num ambiente escu­ro e deprimente. Hoje ficou tudo muito mais leve, melhorou o ânimo e, assim, também a produção", diz João Vasconcellos Neto, do Depar­tamento de Zoologia do Instituto de Biologia da Unicamp. A mudan­ça que trouxe essa sensação de bem-estar, para Vera Cecília, pode ser resumida numa única frase: "Foi um sopro de vida".

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Biólogos festejam as boas condições de trabalho Crescem as pesquisas em áreas tradicionais e de ponta

Kerbauy: pesquisadores conviviam com falta de espaço e tubulação enferrujada

D epois de 40 anos, o prédio do Departa­mento de Botânica do Instituto de Biociên­cias da USP, um dos

mais antigos do campus da Cidade Universitária, mostrava marcas do tempo e sinais de abandono. Entre as variáveis com as quais os pesqui­sadores deparavam estavam a falta d'água e um sistema elétrico inope­rante. Os laboratórios inundavam depois das chuvas, o que era uma ameaça para os equipamentos. Sem verba para reformas, a saída era im­provisar. "Quando um laboratório ficava sem água, puxávamos um cano lá de fora", conta Gilberto Bar­bante Kerbauy, vice-diretor do Insti­tuto. Velha e enferrujada, a tubula­ção estava entupida; a rede elétrica, cheia de remendos e fios puxados de uma sala para a outra. "Para ligar um equipamento, precisava desligar outro." A falta de espaço era outra agravante: o pessoal de Biologia Mo­lecular dividia o laboratório com a

equipe de Fisiologia Vegetal, por exemplo. ''As bancadas viviam ocu­padas por docentes, pós-graduandos e estagiários, às vezes simultanea­mente", conta Kerbauy. Nos corre­dores, armários, geladeiras e freezers bloqueavam a circulação. Todos es­ses fatores limitavam o volume e a qualidade das pesquisas.

"Mesmo com pessoal capacitado, faltava infra-estrutura para desen­volver pesquisas na qualidade dese­jada': avalia o pesquisador. A solução começou a ser desenhada na metade dos anos 90, com a construção pela universidade de um novo prédio pa­ra abrigar a graduação, liberando es­paço para os pesquisadores. O Pro­grama de Infra-Estrutura chegou nessa hora. Para Kerbauy, foi uma feliz coincidência. "Com a verba que recebemos pudemos expandir e mo­dernizar todos os laboratórios. Foi a realização de um sonho de 20 anos."

Os recursos foram aplicados na ampliação e adequação dos labora­tórios. Quatro casas de vegetação

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(estufas) ganharam siste­ma de climatização e fo­ram criadas três salas de cultura de plantas de cli­ma quente, com tempera­tura estável e umidade re­lativa do ar própria para espécies amazônicas em extinção.

dos, prejudicando os re­sultados dos estudos", diz Álvares Esteves Migotto, pesquisador do centro e res­ponsável, no Biota, pelo censo dos cnidários, gru­po que inclui águas-vivas e corais. No centro tam­bém se desenvolvem pes­quisas aplicadas sobre substâncias bioativas e monitoramento da polui­ção marinha, entre outras. Suas dependências são ocupadas para aulas de graduação e pós-gradua­ção, cursos de extensão universitária e simpósios.

Ainda no Departa­mento de Botânica, o Pro­grama de Infra-Estrutura permitiu à pesquisadora Marie-Anne Van Sluys montar um laboratório de Biologia Molecular. Depois de adequado, foi es­se laboratório o primeiro no Estado de São Paulo a instalar um seqüenciador automático. O laboratório participou dos projetos Genoma Xylella, Genoma Xanthomonas citri, e in­tegra o projeto Genomas Agronômicos e Ambien­tais, que realizou o seqüen­ciamento genético da Leif­sonia xili e de outras duas

Estação do CEBIMar: em breve, informações na Internet

As estações de meteo­rologia e de oceanografia completam as atividades ali desenvolvidas. Com intervalos de 10 minutos, os equipamentos regis­tram a temperatura do ar, temperatura e salinidade do mar, direção e veloci­dade da corrente, nível do

variantes da Xylella. No total, o Instituto de Biociên­

cias da USP recebeu do Programa de Infra-Estrutura, para reforma de laboratórios, cerca de R$ 4,2 mi­lhões, que beneficiaram as pesqui­sas de outros departamentos, como os de Biologia, Fisiologia, Zoologia e Ecologia Geral, e também de um importante centro de apoio para estudos marinhos, o Centro de Bio­logia Marinha ( CEBIMar).

Laboratório à beira-mar- Inaugurado em 1954, o CEBIMar foi construído no litoral de São Sebastião quando ain­da não existia a SP-55, trecho paulis­ta da rodovia Rio-Santos. Modesto, mesmo depois de reformas e adap­tações realizadas ao longo dos anos, o principal laboratório do centro con­tinuava sujeito aos efeitos corrosivos da maresia e da umidade penetran­te. Foi preciso demolir e reconstruir.

O novo laboratório é apoiado em pilares, o que evita o contato

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com a umidade do solo, facilita a ventilação e a manutenção das re­des de água e luz, agora expostas sob a laje. Na parte interna, ar-con­dicionado e desumidificador aju­dam a preservar os equipamentos,· como lupas e microscópios, sensí­veis à ação de fungos. Para lidar com organismos marinhos, os pes­quisadores contam hoje com água do mar encanada. As pias do labo­ratório têm duas torneiras, de água doce e outra de água salgada, fun­damental para manter vivos os or­ganismos marinhos.

A revitalização do CEBIMar, possível com os recursos do Infra -que liberou cerca de R$ 1,1 milhão para o centro-, acabou por benefi­ciar pesquisadores de outras insti­tuições, como os da Unicamp e Unesp que atuam no Programa Biota, estudando organismos mari­nhos. "Sem laboratório à beira-mar, eles não teriam condições de man­ter vivos os organismos pesquisa-

mar e transparência da água. "São informações importan­tes para pesquisas de ecologia, que precisam de um monitoramento constante das variações ambien­tais", explica Migotto. Antes, os da­dos eram anotados à mão, duas ve­zes ao dia.

Sonho antigo - Ampliar e reformar o prédio do Departamento de Zoolo­gia do Instituto de Biologia da Uni­camp também era um sonho antigo dos seus pesquisadores. O departa­mento fora instalado de forma pre­cária, num barracão de estrutura metálica, e já não comportava os cerca de 200 professores, funcioná­rios, alunos e estagiários.

Havia infiltrações causadas por vazamentos de água e esgoto e a re­de elétrica estava bastante danifica­da, com risco de incêndio. Os labo­ratórios não ofereciam condições mínimas de assepsia. Segundo João Vasconcellos Neto, professor do la­boratório de Interações Animais e

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z

~ equipamentos à dispo-" sição, ele pode ousar " i mais nos seus projetas

de pesquisa", afirma.

Plantas, a quantidade de poeira e substâncias contaminantes era alar­mante e prejudicava sua pesquisa, voltada para o controle bioló­gico de pragas agríco­las. O trabalho corria bem em campo, mas derrapava no laborató­rio. Os recursos do In­fra destinados ao Insti­tuto de Biologia da Unicamp somaram cerca de R$ 3,4 milhões, aplicados na adequa­ção de 70 laboratórios,

Laboratório de Biologia Molecular: seqüenciador automático

Pesquisa comprometida

- Um outro departa­mento do Instituto de Biologia da Unicamp beneficiado pelos re­cursos do programa de Infra-Estrutura foi o de Imunologia. Seus pesquisadores perce­beram que a falta de condições dos seus

de diversos departamentos, o que permitiu novo ritmo às pesquisas.

Vasconcellos Neto tem novos planos de pesquisa. "Em zoologia, ainda há grupos inteiros que são totalmente desconhecidos. Temos muito trabalho pela frente." Outra que também está bastante anima­da com as novas instalações e con­dições de trabalho é a pesquisadora Fosca Pedini Pereira Leite. O labo­ratório de Biologia Marinha em que trabalha é sede da coordena­ção do Programa Biota para a área de organismos marinhos. Todos os meses eles fazem coletas em três áreas do Litoral Norte. O material coletado na areia e nos costais rochosos é levado para Campinas, onde é feita a triagem, cataloga­ção e classificação. "Isso seria im­possível sem espaços e bancadas adequadas."

Ousando mais - O único microscó­pio eletrônico de transmissão do Centro de Microscopia Eletrônica do Instituto de Biologia da Uni­camp estava em atividade havia 30 anos. A sua capacidade original de aumento, de 60 mil vezes, acabou reduzida com o uso a 10 mil vezes. "Esse índice é muito baixo para quem lida com biologia celular e precisa de um aumento de no míni­mo 50 mil vezes", explica Mary Anne Heidi Dolder, diretora do centro. A alternativa dos pesquisa-

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dores era usar microscópios de ou­tras instituições, como faziam na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP, em Piracicaba. ''A Unicamp dispunha de outros mi­croscópios, mas era raro encontrar uma brecha para poder usá-los", co­menta Mary Anne.

Do antigo centro ficou a estru­tura do prédio. Dentro, tudo foi re­formado: da instalação elétrica, que não suportaria a carga de novos equipamentos, até paredes, pisos e bancadas. Também foi preciso ins­talar um aparelho de ar-condicio­nado a fim de garantir a temperatu­ra necessária para o funcionamento dos novos microscópios eletrônico~ de transmissão e de varredura. Fo­ram equipadas ainda duas salas para o preparo de materiais para análise.

O centro agora realiza análises para pesquisadores de diversos de­partamentos e é procurado princi­palmente para estudos de biologia celular, histologia e anatomia, além de microbiologia, zoologia e botâ­nica. "Hoje estamos equiparados aos melhores laboratórios e atende­mos a pesquisadores de várias par­tes do país, que não têm os mesmos recursos em suas cidades", diz Mary Anne. Para o pesquisador Áureo Tatsumi Yamada, ex-diretor, a recu­peração do centro fez mais do que atender a uma demanda reprimida. "Quando o pesquisador tem esses

dois biotérios estava comprometendo as pesquisas. Um estudo, coordenado pela pesquisa­dora Liana Verinaud, demonstrou que os animais ali mantidos esta­vam expostos a contaminações que interferiam nas respostas aos testes com patógenos específicos. "Vínha­mos observando sérias alterações nos resultados das pesquisas: não eram repetitivos e de repente nos deparávamos com dados inespera­dos", diz Liana, que confirmou as suspeitas ao detectar um vírus que interferia em testes da doença de Chagas.

Foi preciso isolar áreas comuns de circulação daquela em que os animais são mantidos e submetidos a experimentações. A circulação do ar passou a ser controlada por meio de filtros e foi instalado um sistema de exaustão para dissipar odores. A temperatura passou a ser estável e todo o material que entra em can­tata com as cobaias é esterilizado. "Reduzimos em quase 100% o nível de contaminação, o que nos dá um grau de certeza muito maior em re­lação aos resultados", diz Liana. Não é difícil avaliar a importância disso. Além da doença de Chagas -pesquisa desenvolvida com o Insti­tuto Pasteur de Paris -, os estudos ali desenvolvidos buscam respostas para muitas dúvidas que ainda exis­tem sobre inflamações, infecções por fungos e desenvolvimento de tumores.

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Atribuição que o Institu­Butantan - um centro

de excelência internacio­nal em pesquisas e pro­

dução de soros antipe­çonhentos - já deu para o pa1s e inestimável. Criado em 1901, pelo médico Vital Brazil, para combater uma epidemia de peste bubônica no porto de Santos, em seus labora­tórios foi desenvolvida a tecnologia de produção em larga escala deva­cinas e soros contra venenos ani­mais e doenças que ameaçam o ser humano. Lá são fabricados atual­mente 15 variedades de soros anti­peçonhas, seis tipos de vacina sim­ples e combinadas contra tétano, difteria, coqueluche, tuberculose e raiva e ainda o Anti CD3, usado na prevenção de rejeições em cirurgias de transplante. Todos os anos, ali são produzidos muitos milhões de doses para abastecer postos de saú­de de todo o país.

Apesar do reconhecimento no campo científico e da importância para a saúde pública, seus pesqui­sadores enfrentavam dificuldades. Até 1984, a produção de soros era artesanal. Sem investimentos para a introdução de técnicas moder­nas, a produção de vacinas ficaria seriamente comprometida. Criou­se então, naquela época, o Centro de Biotecnologia: a linha de pro­dução passou a ser automatizada e foi lançada uma nova geração de produtos destinados ao sistema pú­blico de saúde. O investimento re­sultou na ampliação da linha de medicamentos: vacinas contra me­ningite C e hepatite B, a toxina bo­tulínica e biofármacos, como a eri-

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Butantan equilibra linha de produção e pesquisa Recursos do Infra incentivam trabalho no laboratório

tropoetina (para pacientes que aguardam transplante de rim) e o surfactante pulmonar (usado no combate à síndrome de imaturida­de pulmonar).

No entanto, o Butantan precisa­va suprir uma lacuna na área de pes­quisas. Isso porque a maior parte do seu orçamento- verba governamen­tal e faturamento com a venda de vacinas e soros - é prioritariamente destinada à produção. Por isso, os laboratórios conviveram com pro­blemas de infra-estrutura, que mi­navam o desenvolvimento das pes­quisas. Os prédios eram da época

da fundação da instituição e alguns foram construídos para abrigar ani­mais, como as cocheiras que acaba­ram transformadas em laboratórios. Ivo Lebrun, do Laboratório de Bio­química e Biofísica, lembra que as instalações estavam inadequadas à linha de pesquisas ali desenvolvida, que lida com o isolamento de toxinas de venenos de serpentes para iden­tificação de princípios ativos com potencial de uso na área médica.

Totalmente modernizados com verba do programa de Infra-Estru­tura da FAPESP, que investiu cerca de R$ 2,7 milhões no instituto, os la-

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boratórios passaram a operar com outro padrão de qualidade. As refor­mas no laboratório de Lebrun per­mitiram, por exemplo, adequar es­paços e instalar os equipamentos necessários para o emprego de técni­cas de biologia molecular. São técni­cas fundamentais, pois permitem que as toxinas usadas nas pesquisas sejam produzidas no próprio labo-

!saias Raw: recursos beneficiaram vários laboratórios-fábrica do Centro de Biotecnologia, onde são produzidos medicamentos

ratório. Com isso, os pesquisadores não precisam mais ficar na depen­dênCia de alguma sobra de veneno. A técnica também evita a constante necessidade de extração de venenos dos animais, alguns bastante raros.

"A quantidade de veneno sempre foi um fator limitante, principal­mente de animais como aranha e es­corpião. Hoje temos a possibilidade de obter esse material em meio de cultura ou na bactéria na quantida-

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de que queremos e estudar com mais freqüência e com menos difi­culdade", afirma Lebrun. O poten­cial é grande. "Esses venenos produ­zidos pela natureza oferecem uma série de compostos biologicamente ativos que ainda não passaram por um estudo mais intensivo", diz. Um bom exemplo disso é o recente regis­tro de uma patente para um anti-hi­pertensivo originado do veneno da jararaca. O estudo foi desenvolvido no Centro de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan, que é um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento ( Cepids) criados pela FAPESP.

Outra linha importante das pes­quisas é realizada no laboratório de Inflamação e Dor- uma área total­mente reformada e adequada para esse tipo particular de estudo. Lá os animais, geralmente camundongos, passaram a ser mantidos em salas com temperatura e luminosidade adequadas e à prova de ruídos, para evitar que o estresse provocado pelo movimento de pessoas e o cheiro de outros animais interfiram nos resultados dos testes. Eles são inoculados com vários tipos de to­xinas e submetidos a testes mecâni­cos para avaliação do nível de dor ou de analgesia provocada pelo en.­venenamento.

Antes das reformas, o laboratório funcionava junto com a Fisiopa­tologia, o que trazia sérios incon­venientes. "Estávamos constante­mente perdendo resultados por interferências externas. Agora não temos mais que repetir tantas vezes os testes, então a pesquisa avança muito mais", diz Yara Cury, da Uni­dade de Dor. A expectativa aqui também é melhorar a eficácia dos soros, adicionando substâncias que possam reduzir a forte dor provo­cada pelo veneno da maioria dos animais peçonhentas.

O ambiente principal de traba­lho na Fisiopatologia, que compre­endia quatro salas, foi transformado num amplo laboratório, iluminado e com mais espaço para bancadas.

"Esperávamos por isso desde 1994", conta a pesquisadora Ida Sano­Martins, que desenvolve experi­mentos em animais e pacientes en­venenados para estudar os efeitos das toxinas e sua atividade biológi­ca. Identificando mais detalhadamen­te a ação das toxinas no organismo, Ida acredita que seja possível me­lhorar a eficiência dos soros antivene­nos. Para isso, ela conta com o apoio de centros médicos em todo o país.

No laboratório de Farmacologia, dificuldades também foram supera­das. "Chovia e tínhamos que cobrir os equipamentos com plásticos", conta Catarina Teixeira, chefe do se­tor. Outro problema era observar as mudanças de comportamento dos animais nos testes com venenos que atuam no sistema nervoso central, uma das principais linhas de pes­quisa do laboratório. Vários fatores colaboraram para as melhorias: um antigo banheiro deu lugar a um bem montado biotério, com sistema de exaustão e câmera de vídeo para observação. A sala de cultura foi construída em uma área ociosa de acordo com padrões internacionais; a parte elétrica também recebeu atenção especial que garante funcio­namento ininterrupto da estufa e a qualidade no fluxo laminar para não comprometer as culturas.

Também no Centro de Biotec­nologia, onde as pesquisas são diri­gidas para a produção em larga es­cala, vários laboratórios-fábrica foram beneficiados. Um dos resul­tados dos investimentos do Progra­ma de Infra-Estrutura foi a monta­gem do laboratório onde está sendo criada a linha de produção de sur­factante pulmonar, motivo de co­memoração para Isaías Raw, diretor do centro. Os pesquisadores tam­bém comemoram: cresceu a troca de informações e trabalhos em cola­boração com colegas de outras re­giões do país e do exterior. "Hoje as pesquisas são multidisciplinares e multiinstitucionais. Só é possível desenvolvê-las em condições mate­riais adequadas", diz Lebrun.

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odernização dos labo­tórios do Instituto de

Botânica já começa a produzir os primeiros frutos. As pesquisas

deslancharam num ritmo que sur­preende até os pesquisadores e a preparação de trabalhos científicos para publicação também está mais acelerada. O laboratório de Ficolo­gia, por exemplo, já reuniu mais de 3.500 amostras de algas de água doce e salgada, coletadas em quatro décadas de dedicação. O pesquisa­dor Carlos Bicudo, que coordena no Programa Biota-FAPESP o levanta­mento das espécies de algas que ocorrem em São Paulo, está anima­do e afirma categórico: "Produzi­mos mais nestes últimos dois anos do que nos 40 anteriores". Com me­lhores condições de trabalhos e equipamentos mais modernos, os resultados estão aparecendo. O pri­meiro dos 13 volumes sobre a fauna de algas do Estado está pronto para ser publicado. "As pesquisas agora saem. É uma linha de produção", diz Bicudo.

Nem sempre foi assim. Criado em 1938 com o objetivo de desen­volver pesquisas na área de botânica para subsidiar a política ambiental do Estado e mantido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, os 18 prédios do instituto, que abrigam la­boratórios, herbários, palinoteca (coleção de pólen), xiloteca (amos­tras de madeiras) e o Museu do Jar­dim Botânico, foram construídos nas décadas de 60 e 70 e há mais de 20 anos não recebiam nenhum investi­mento em infra-estrutura.

O apoio da FAPESP, cerca de R$ 2,2 milhões, permitiu recuperar a infra-

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Instituto de Botânica ganha espaço e dá aula de ciência Com novas instalações, cresceram as linhas de pesquisa

Maria Amélia, da seção de Dicotiledôneas, dispõe agora de quatro microscópios

estrutura de pesquisa, deteriorada após anos de adaptações, como ocorria no prédio do laboratório de Ficologia. Construído para abrigar um herbário, nada ali estava ade­quado ao estudo de algas. Em ou­tros laboratórios, a umidade pro­vocada por vazamentos e goteiras gerava a proliferação de fungos in­desejáveis nas paredes, como no de Micologia, onde trabalha o pesqui­sador Adauto Ivo Milanez, que di­rigiu o instituto de 1995 a 1999. Era uma ameaça constante de contami­nação para outros fungos, cultiva­dos com finalidades específicas. Na seção de palinologia, as pesquisas com pólen também estavam com­prometidas. Enferrujados, os caixi­lhos das janelas não vedavam ade­quadamente e o pólen das árvores que circundam o instituto invadiam o laboratório na época da floração e contaminavam as amostras.

Os recursos do Programa de In­fra-Estrutura foram utilizados para reforma dos ambientes de trabalho, recuperação de rede hidráulica e elé­trica, instalações e equipamentos. E os resultados não se fizeram esperar, em quantidade de trabalhos produ­zidos e em qualidade. Maria Amélia Vitorino da Cruz Barros, chefe da seção de Dicotiledôneas, da Divisão de Fitotaxonomia, está entusiasma­da. O laboratório adquiriu quatro novos microscópios, três comuns e um fotônico, acoplado a uma câme­ra e impressora. "O fotônico revolu­cionou nosso trabalho." O feixe de luz desse microscópio faz cortes que permitem visualizar e medir de for­ma precisa as estruturas das cama­das do pólen, cujos grãos podem chegar a 2 micrômetros de diâme­tro. Conectado a outros meios infor­matizados, o aparelho acelera a pre­paração de artigos científicos. "Um

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trabalho que antes levava três meses hoje é feito em apenas um mês", afir­ma Maria Amélia. Por permitir a identificação de espécies vegetais, o estudo do pólen tem grande aplica­ção em programas de preservação ambiental. A partir de amostras co­lhidas no solo de regiões já devasta­das, os pesquisadores podem identi­ficar as espécies que cresciam no local e até mesmo obter, por dedu­ção, dados de clima, chuvas e indicar que animais habitavam a região.

No laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Plantas, as cinco no­vas capelas (eram duas) e as condi­ções de estocagem dos reagentes e solventes orgânicos resultaram no aumento de segurança. Climatizadas, as salas de cultura permitem avaliar melhor a resposta das plantas a estí­mulos que afetem o seu desenvolvi­mento e provoquem mudanças bio­químicas. Para o pesquisador Edson Paulo Chu, sem essas reformas, difi­cilmente o laboratório conseguiria dar conta dos projetos. Na linha de pesquisas com plantas medicinais, uma substância com atividade anti­cancerígena está praticamente pron­ta para ser testada em animais.

Livre do bolor e de outros obstá­culos técnicos, Milanez ganhou mais um motivo para adiar a apo­sentadoria. Suas pesquisas com fungos também indicam resultados promissores. Especialista em fun­gos da Mata Atlântica, ele estuda agora os do Cerrado. "Queremos descobrir que fungos existem no solo e que papel eles podem desem­penhar na agricultura", explica. Mi­lanez acredita que algumas espécies poderiam ser eficientes agentes na­turais contra pragas agrícolas ou para a recuperação de solos conta­minados por resíduos industriais e exploração mineral.

Mas Milanez assinala outros re­sultados positivos do Programa de Infra-Estrutura. O Instituto de Botâ­nica, agora, tem condições de rece­ber mais alunos e já há interesse na criação de um curso de mestrado so­bre biodiversidade.

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Biológico entra na era da pesquisa de fronteira Instituto, em São Paulo, supera a crise de infra-estrutura

Antes, águas entravam pelas janelas sobre os equipamentos

Desde 1927, quando foi criado com a missão de controlar a infestação da broca-do-café, qúe devastava os cafezais

paulistas, o Instituto Biológico fez história como centro de excelência em pesquisas voltadas à defesa sani­tária animal e vegetal. Ali se desenvol­veram vacinas contra a febre aftosa dos bovinos e a doença de Newcas­tle, que ataca as aves. Seus pesquisa­dores descobriram doenças que dizi­mam plantações e seus agentes, como o carvão-da-cana-de-açúcar, causa­do pelo fungo Ustilago scitaminea, e, em colaboração com pesquisadores franceses, a clorose variegada de ci­trus (CVC), causada pela bactéria Xylella fastidiosa.

Mas nem mesmo esse histórico repleto de feitos científicos foi capaz de livrar a instituição da escassez de investimentos em infra-estrutura

para pesquisa, que lhe permitissem acompanhar a evolução científica. O orçamento, repassado pela Secreta­ria da Agricultura, à qual o instituto está vinculado, consome-se integral­mente com a folha de pagamento de funcionários e despesas de ma­nutenção. Durante anos, reformar laboratórios ficou em segundo pla­no. "Nossa instituição vinha numa curva descendente", afirma Vera Ce­cília Anes Ferreira, diretora-geral da instituição.

Por trás da imponente fachada do prédio principal, construído nos anos 60, o que se via no Instituto Biológico era o efeito do tempo. Pouca coisa funcionava. Um vaza­mento de gás no jardim culminou no corte do fornecimento. A tubula­ção estava comprometida e exigiria uma reforma que consumiria vulto­sos recursos. A rede elétrica não su­portava a carga exigida pelos equi-

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pamentos e os canos d'água estavam enferrujados, com pontos de vazamen­to. "Perdemos equipamentos e até um destilador, por causa da ferru­gem", conta Joana D'arc Felício de Souza, pesquisadora do Laboratório de Produtos Naturais. Quando cho­via, a água atravessava as janelas cor­roídas pela ferrugem, escorria pelas paredes e inundava bancadas. "As ja­nelas tinham de ser forradas com plásticos e, para proteger os equipa­mentos da água, era preciso colocá­los sobre caixotes de madeira': reme­mora Joana D'arc.

Além de embaraçosa, a situação era perigosa. Sem armários adequa­dos, reagentes e solventes orgânicos ficavam em prateleiras ao longo dos corredores, sem qualquer proteção. Não havia acessórios de segurança, fundamentais em caso de acidentes com produtos químicos. E pior: as capelas de exaustão estavam que­bradas. "Já não serviam nem para rezar", brinca Vera Cecília. Joana D'arc foi uma das que mais sofre­ram com o problema. Sua linha de pesquisa - química e farmacologia de produtos naturais - exige o uso constante de reagentes e solventes. Sem um sistema de exaustão ade­quado, os gases produzidos pela eva­poração desses produtos contami­navam o ambiente. No final de um dia de trabalho, ela precisou ser in­ternada em um hospital, com diag­nóstico de bronquite, pos­sivelmente ocasionada pela inalação de gases tóxicos.

A segurança é um as­sunto sério no Instituto Biológico, que conta com laboratórios de segurança, classes 2 e 3 (segundo a classificação de segurança, os níveis extremos são o 1 - de baixa periculosidade - e 4 - de alta periculosi-

pecial. "É fundamental tratar eflu­entes, separar área limpa e área suja e ter bons sistemas de exaustão", exemplifica Vera Cecília. "Sem esses cuidados, é muito arriscado traba­lhar com zoonoses", diz.

Vida nova - Hoje, com 80% dos labo­ratórios totalmente modernizados, o ânimo voltou ao Instituto Biológico. O investimento da FAPESP- de R$ 2,7 milhões- foi suficiente para re­cuperar não apenas os laboratórios da capital, mas também os de outras 13 unidades em municípios do inte­rior do Estado. Entusiasmada com a nova instalação de seu laboratório, Vera Cecília comenta: "É um labora­tório de Biologia Molecular, mas pa­rece uma casa de noiva".

Teto, piso, bancadas, armários, tudo foi reformado. Criaram-se as­sim as condições para que o labora­tório pudesse receber seqüenciado­res e participar do Projeto Genoma Xylella. "Se hoje estamos desenvol­vendo pesquisas na fronteira do co­nhecimento, é porque tivemos an­tes apoio do Infra", reconhece Vera Cecília. Para ela, participar do pro­jeto foi fundamental não apenas pelos resultados obtidos, mas, prin­cipalmente, por seus desdobramen­tos. "Hoje temos metodologia em biologia molecular para diagnósti"­co das principais doenças na agri­cultura", afirma.

O trabalho do instituto para re­cuperar a sericicultura (cultura do bicho-da-seda), uma atividade fami­liar em franco declínio por proble­mas sanitários, é um exemplo desse avanço. As novas técnicas de biolo­gia molecular podem identificar os patógenos que atacam essa cultura, facilitando o controle sanitário. O projeto conta com o apoio da indús­tria da seda e dos sericicultores.

No laboratório de Bacteriologia Geral e Micobacterioses, a pesquisa­dora Eliana Roxo também se mostra animada com o novo rumo das pes­quisas. Eliana participa de um projeto de pesquisa, financiado pela FAPESP no âmbito do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas, para avaliar o potencial de veiculação de agentes patogênicos no leite e derivados. Pa­ra identificar micobactérias respon­sáveis pela transmissão da tubercu­lose, sua equipe analisa amostras apreendidas pela Defesa Sanitária Animal do Estado. A contaminação do leite pode ocorrer tanto na origem, ou seja, a vaca doente, como no ma­nuseio inadequado do produto. Em outra linha de pesquisa, Eliana busca métodos mais rápidos de diagnósti­co para a tuberculose bovina, o que pode levar até seis meses. Sua meta, com novas técnicas, especialmente moleculares, é reduzir a identificação dos bacilos para um ou dois dias.

Os planos e as perspectivas do

dade), onde se trabalha com patógenos que amea­çam a saúde humana, co­mo vírus da raiva e bacilos da tuberculose, o que exi­ge uma infra-estrutura es-

Locais para pesquisa: espaços totalmente modernizados

Instituto Biológico são tão animadoras que Vera Cecí­lia não se atém mais ao tem­po em que precisava visitar os colegas de outros insti­tutos apenas para centrifu­gar material de pesquisa. A sensação de desânimo pro­vocada pela falta de condi­ções de trabalho de Joana D' are também ficou para trás. No lugar dela, um sa­bor de vitória e reconheci­mento pelo trabalho de quase uma vida. "Graças a esse investimento, estamos escrevendo uma outra his-tória", afirma.

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Programa de Infra-Estru­tura destinou aos laborató­rios das di-

Laboratórios essenciais para a saúde pública Recursos garantem melhor pesquisa e atendimento

versas instituições de pes­quisa da área da Saúde R$ 53,2 milhões. Um recurso -testemunham em unísso­no os pesquisadores da área -que chegou no momento limite, a tempo de evitar um colapso nas pesquisas. "As instituições públicas de pesquisa em geral, in­cluindo os laboratórios es­senciais para o desenvolvi­mento da medicina e da saúde pública no país, es­tavam de tal forma dete­rioradas que, se não fosse o Infra, a maioria delas esta­ria hoje sem quaisquer con-

Bancada de ensaios no Hospital das Clínicas de São Paulo: alvenaria e equipamentos

dições para a realização das pesqui­sas." A afirmação é do diretor da Unidade de Hipertensão da Divisão de Cardiologia e Cirurgia Cardíaca do Incor, ligado ao Hospital das Clí­nicas da USP, Eduardo Moacyr Krie­ger, presidente da Academia Brasilei­ra de Ciências. Ele acrescenta: "A situação estava tão drástica, à beira da calamidade, que muitos laborató­rios não dispunham nem da mais básica infra-estrutura, muito menos podiam contar com os recursos tec­nológicos sofisticados, fundamentais para qualquer pesquisa séria':

As conseqüências se faziam sen­tir na pesquisa, mas, também, no atendimento à sociedade. Afinal, a maior parte dos resultados das pes­quisas na área da saúde tem aplicabi­lidade imediata ou de médio e longo prazos. Isso para não falar nos estu-

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dos realizados nos hospitais de clíni.­ca das faculdades de Medicina e em instituições como o Instituto do Co­ração (Incor), diretamente relacio­nados com o atendimento médico. Ou, ainda, situações como as do Ins­tituto Adolfo Lutz, da Secretaria de Saúde do Estado, e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, que desenvolvem trabalhos - como os de análise toxicológica de alimentos e a análise de composição de medica­mentos - diretamente relacionados com a saúde pública.

Instalações e equipamentos - Os re­cursos do Infra beneficiaram insti­tuições tradicionais, como a Facul­dade de Medicina da USP, a Universidade Federal de São Paulo e o Adolfo Lutz, mas, também, insti­tuições mais novas, mas não menos

importantes, como o Instituto de Ciências Biomédicas da USP, a Facul­dade de Ciências Médicas da Unicarnp e a Faculdade de Ciências Farmacêu­ticas da Unesp em Araraquara.

O primeiro passo foi investir na recuperação das instalações dos la­boratórios. Os investimentos não ficaram restritos às reformas emer­genciais de alvenaria, sistemas elétri­co e hidráulico e à instalação de no­vos armários e bancadas. ''Antes do Infra, disputávamos espaço com ba­ratas e cupins e sofríamos amarga­mente com as chuvas e inundações que atingiam o interior do prédio e os laboratórios': diz, empolgada, a pesquisadora Mileni Ursich, do De­partamento de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP.

Os resultados foram quase que imediatos. "Ficou mais fácil traba-

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lhar. A qualidade das pesquisas me­lhorou em mais de 100%': avalia o professor do Departamento de Ana­tomia Patológica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Atha­nase Billis, depois que passou a usar o fotomicroscópio, adquirido com recursos do Infra, que, acoplado a um sistema de morfometria, permi­te analisar fragmentos de células de órgãos comprometidos de pacientes com câncer e doenças renais com maior acuidade.

Os biotérios, instalações indis­pensáveis à pesquisa na área, tam­bém foram beneficiados. "Um bio­tério com rígido controle dos parâmetros ambientais e com ani­mais de origem estritamente confiá­vel, em acordo com as linhagens aceitas e catalogadas pelos padrões internacionais, é de extrema impor­tância para a qualidade das pesqui­sas, principalmente dos estudos em medicina", explica Maria Inês Rocha Miritello Santoro, responsável pela reforma geral do biotério de cria- -

Experimentos com drogas e terapias Biotérios ganham melhores condições de trabalho

ção, manutenção e experimentação Biotério credenciado: de acordo com o Comitê Internacional de Ética Médica que serve a todos os pesquisadores da Faculdade de Ciências Farma­cêuticas e do Instituto de Química da USP.

Maria Inês estuda a eficácia de filtros solares para a prevenção do câncer de pele. Para ela, o programa mexeu até com o lado psicológico dos pesquisadores, técnicos e estu­dantes em todos os laboratórios da faculdade beneficiados. "A meu ver, a melhoria da qualidade de vida do ambiente de trabalho, no qual todos passam a maior parte do dia, foi um dos fatores que influenciaram no ga­nho de produtividade."

Na Unesp de Araraquara, o De­partamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas ganhou um laboratório de biossegu­rança nível P-3, para a pesquisadora Clarice Queico, da microbiologia, que trabalha com a Mycobacterium tu­berculosis. O laboratório recebeu a cer­tificação para trabalhar com organis­mos geneticamente modificados de alto risco.

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E xperiências em animais são úteis para que pesqui­sadores testem futuras técnicas terapêuticas e medicações. Por isso, ds

biotérios dos centros de pesquisa onde são criadas e mantidas as co­baias foram tambéu. contemplados com recursos d " Programa de Infré:l ·­Estrutura. ''Antes, todos os procedi mentos com animais eram feitos dentro dos laboratórios e o cheiro era insuportável. Operávamos ratos no meio do corredor, em uma mesi­nha improvisada em lugar por onde circulam dezenas de pessoas", lem­bra a pesquisadora Helena Bonciani Nader, coordenadora do Instituto Nacional de Farmacologia (Infar), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp ), que recebeu cerca de R$ 860 mil.

No Laboratório de Experimenta­ção Animal do Infar, criado com re­cursos do Infra, o biotério está sen-

do utilizado para o estudo do meta­bolismo hepático, com a investiga­ção da ação das calicreínas - enzi­mas envo~ v idas nos processos de inflamação e coagulação-, depois de­puradas no fígado. Outras linhas de pesquisa também se beneficiaram, como o estudo das plantas medici­nais, da ação de várias drogas e das p1 oteínas envolvidas no processo de trombose. "Reformamos e espaço pa­ra receber o biotério, compramos es­tantes e gaiolas metabólicas e equi­pamentos necessários para isolar as diferentes linhagens de animais", conta Helena. A maior parte das pes­quisas necessita de cobaias, especial­mente ratos e camundongos.

Traumas e hipertensão - Parte dos cerca de R$ 720 mil destinados pela FAPESP à pesquisa ao Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da USP, foi aplicada na ade­quação do biotério para ser utiliza-

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do pelos pesquisadores dos grupos de choque, hipertensão, condiciona­mento físico, biologia vascular e ate­rosclerose e cirurgia toráxica. "Agora o Incor pode dizer que tem um bio­tério dentro do padrão de um centro de pesquisa", comenta Maurício da Rocha e Silva, chefe do Serviço de Fisiologia Aplicada e responsável pelo biotério.

Além das vantagens para a uni­dade de hipertensão e para outros grupos de estudo, o biotério trouxe benefícios para o projeto temático do professor Maurício da Rocha e Silva, que trabalha com fisiopatolo­gia do choque circulatório. "Estudo as hemorragias graves causadas por traumas, para verificar como elas evoluem e quais os procedimentos iniciais que devem ser tomados': explica. Os traumas com hemorra­gia são causados principalmente por acidentes de automóveis e ferimen­tos criminosos. Todas as experiên­cias são feitas em cães e ratos.

Araraquara - O campus da Unesp em Araraquara renovou pelo me­nos dois dos seus biotérios para pesquisas médicas, localizados nos departamentos de Ciências Biológi­cas e de Princípios Ati vos Naturais e de Toxicologia, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. A faculda­de recebeu cerca de R$ 2,13 milhões do Infra.

O primeiro biotério ficou a cargo da professora Deise Pasetto Falcão e atende 12 pesquisadores do departa­mento de Ciências Biológicas, que inclui os segmentos de microbiolo­gia, imunologia, saúde pública e pa­rasitologia. Deise estuda uma bactéria patogênica intestinal, a Yersinia sp, e prepara anti-soros em coelhos para estudo. "Não tínhamos biotérios. Os animais ficavam dentro dos labora­tórios ou nos porões da faculdade, em condições precárias e com alto risco de contaminação", conta Deise.

O professor Georgina Honorato de Oliveira, do Departamento de Princípios Ativos Naturais e Toxico­logia, usou a verbas na construção

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de um biotério que atende aos labo­ratórios de farmacologia, farmacog­nosia, toxicologia e botânica. Esse biotério conta com uma sala de mo­nitoramento de vídeo para pesquisas comportamentais.

"O novo biotério possibilitou aumento do número de pesquisas e ganho de qualidade. Também

ajudar os transplantes de córnea e a trazer novas informações sobre as alterações do olho provocadas por doenças, como diabetes", ex­plica. Outro estudo desenvolvido no biotério aborda as modifica­ções do comportamento de medo e defesa dos ratos frente a lesões no sistema nervoso central (SNC).

Biotério na Unifesp: estudo do metabolismo do fígado e de plantas medicinais

abrimos novas linhas, como traba­lhos de neurotoxicidade a praguici­das, usando experimentos em gali­nhas", diz ele.

Ribeirão Preto - No Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos da Facul­dade de Medicina da USP em Ri­beirão Preto, o professor Eduardo Miguel Laicine aplicou recursos do Infra na reforma total e moderni­zação de um biotério de manuten­ção e experimentação. "Todos os projetas do departamento usam o biotério. Depois da reforma, já fo­ram publicados 19 trabalhos, 18 deles no exterior. Impacto que mostra o ganho de qualidade que tivemos."

A pesquisa que coordena, sobre a biologia dos componentes glico­protéicos do olho (vítreo e aquo­so) e do sistema muscular liso da coróide do olho, é realizada em coelhos. "Essa pesquisa pode vir a

Para Reginaldo Ceneviva, profes­sor do Departamento de Cirurgia e Anatomia, o novo biotério trouxe a­poio inestimável para as pesquisas de 40 docentes, úteis para os médicos do H C. "Docentes dos departamentos de clínica médica, ortopedia, gineco­logia, otorrino e oftalmologia também utilizam os animais do biotério:'

Ali, as cobaias são usadas para pesquisas ligadas a doenças cardio­vasculares, como aterosclerose, trans­plantes de órgãos, função hepática e vários tipos de tumores.

A Faculdade de Ciências Farma­cêuticas e o Instituto de Química da USP, na capital, também passaram a contar com um grande e moderno biotério de criação, manutenção e experimentação. Um dos destaques são os estudos para a produção de medicamentos na Fundação para o Remédio Popular (Furp ), que distri­bui remédios para a rede pública de saúde, realizados por pesquisadores das Ciências Farmacêuticas.

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quisadora Magda Maria les Carneiro Sampaio, o Departamento de Imu­nologia do Instituto de Ciências Biomédicas

(ICB) da USP, isolou os anticorpos contidos no leite materno que de­fendem os recém-nascidos de diar­réias e, agora, a sua pesquisa está na fase de encontrar uma vacina, usando lactobacilos geneticamente modificados. É uma pesquisa de grande impacto, que beneficia espe­cialmente populações carentes, cu­jas crianças são as mais afetadas pe­las diarréias. O Departamento de Imunologia foi um dos que recebe­ram maior volume de recursos do Programa de Infra-Estrutura para a reforma e modernização dos labo­ratórios. No total, o ICB recebeu do Programa de Infra-Estrutura cerca de R$ 11,3 milhões.

Os recursos do Infra foram apli­cados na recuperação da rede elétri­ca de dois prédios do ICB (ICB 1 e 2), favorecendo as pesquisas de seis de­partamentos (fisiologia, farmacolo­gia, histologia, microbiologia, para­sitologia e anatomia). O restante foi direcionado para o Departamento de Imunologia, para reformas estrutu­rais, rede de abastecimento de água e mobiliário. Um novo espaço, mais amplo, passou a abrigar 20 labora­tórios. Além da pesquisa sobre os anticorpos presentes no leite mater­no, outros estudos ligados ao meca­nismo das doenças infecciosas fo­ram beneficiados. "Os estudos nesse campo são relacionados à doença de Chagas, esquistossomose, leishma­niose e paracoccidioidomicose. Esta última, representa um enorme risco para pessoas imunodeprimidas", diz

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Um avanço na pesquisa das doenças infecciosas

Estudos do ICB beneficiam populações carentes

Imunologia no ICB: estudo de anticorpos

Magda. Outras linhas de pesquisa desenvolvidas no departamento re­ferem-se à imunologia aplicada ao câncer, imunodeficiências congêni­tas e vários tipos de alergia e infla­mações.

Parasitologia - Chefiado pelo pro­fessor Erney Felicio Plessmann de Camargo, o Departamento de Para­sitologia do ICB da USP também con­tabiliza avanços em suas pesquisas. Camargo aplicou a verba do Infra para a reforma física da maioria dos laboratórios do departamento. São eles, o de biologia de desenvolvi­mento de nematóides, o de glico­biologia de parasitas, que estuda os

tripanossoma tídeos causadores da doença de Chagas e os agentes causadores do tifo e de doenças transmitidas por carrapatos. Tam­bém estão na lista o de bioquímica da Leishma­nia sp. e amebas de vi­da livre, associadas a meningoencefalite, in­fecções cutâneas e ce­ratites, o de leishma­niose e o de malária, que estuda a bioquímica do protozoário Plasmodi­um falciparum e deco­difica o genoma do P. vivax, além dos labora­tórios de hanseníase e mal de Chagas.

O laboratório do professor Camargo foi o único que ficou fora das reformas. Lá são feitas pesquisas de vigi­lância de doenças emer­

gentes, como riquetsioses, erliquio­ses e borreliose. O laboratório conta com uma base no município de Montenegro, em Rondônia, onde foi instalado o Centro Avançado de Pes­quisas do Departamento de Parasi­tologia do ICB. Esse centro serve às pesquisas de todos os docentes do departamento. "Rondônia é uma área de colonização recente, com grande agressão ao meio ambiente. O dese­quilíbrio ecológico resultante desse processo aumenta o risco de o ho­mem desenvolver novas doenças, antes presentes apenas no ciclo sil­vestre", diz Camargo.

No Departamento de Microbio­logia do ICB/USP, as reformas foram

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coordenadas pelos professores Se­bastião Timo Iaria e Carlos Martins Menck. Iaria cuidoú da substituição das redes elétrica, hidráulica e de gás e de reformas gerais de alvenaria em todo o prédio do ICB 2, onde se situam diversos departamentos. Menck, pro­fessor da microbiologia, recebeu uma das alas reformadas e partiu para a montagem final de seu labo­ratório de DNA, instalando banca­das e armários, e na reforma de áreas afins, destinadas à lavagem de mate­rial, eletroforese de DNA, cultura de células bacterianas, bioquímica, apa­relhos multiusuários e manipulação de substâncias radioativas. Também foi criado um laboratório de geno­ma, que participou dos projetas de seqüenciamento da Xylella, da Xan­thomonas citri, da cana-de-açúcar e participa do seqüenciamento do Schistosoma mansoni (causador da esquistossomose) .

Fisiologia - No Departamento de Fisiologia e Biofísica, que reúne vinte laboratórios, além das reformas ge­rais foram adquiridos equipamentos e instrumentos indispensáveis à pesquisa como ultracentrífugas, freezers com temperaturas de até -85°C, para armazenamento de material vivo, capelas de fluxo para material radioativo. Também foram adquiridos aparelhos de PCR, técni­ca para duplicação de DNA, e equipamentos de Northen Blot e Western Blot - técnicas usadas para a separação de RNA, proteínas e para clonagem.

Os resultados do programa po­dem ser medidos pelo aumento da produção científica do instituto. ''A partir de 1995, o ICB teve um enor­me salto em sua produção cientí­fica': diz Magda. Além do cresci­mento do número absoluto de trabalhos, as pesquisas ganharam em qualidade, a julgar pelo aumen­to do índice de publicação, medido a partir de dados do Institute for Scientific Information (ISI): o índice subiu de 0,8 trabalho por pesquisa­dor para 1,3 trabalho.

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Faculdade de Medicina-USP: salto de 38% na produção científica

Nas artérias do velho prédio da Medicina Reforma total na rede elétrica e hidráulica

culdade de Medicina da niversidade de São Pau­o, na capital paulista, iniciou um amplo pro­jeto de restauro e mo­

dernização de seu prédio, erguidç> entre 1928 e 1931 e tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico (Condephaat). O estímulo para a realização do projeto surgiu depois que o Pro­grama de Infra-Estrutura investiu cerca de R$ 5,6 milhões na recupe­ração dos seus laboratórios e da in­fra-estrutura interna do prédio. Uma parte significativa desses re­cursos foi utilizada para trocar as redes elétrica e hidráulica, rede de esgoto e sistema de climatização da maioria dos 62 Laboratórios de In­vestigação Médica (LIMs) da facul­dade. Os laboratórios foram refor­mados e ganharam equipamentos.

"Trocamos todos os encanamen­tos, separando os esgotos em duas redes isoladas: uma para pias e banhei­ros e outra, feita de material ade-

quado para dejetos químicos, exclu­siva para os laboratórios", diz o pro­fessor Gregório Santiago Montes, chefe do Laboratório de Biologia Celular do Departamento de Patolo­gia e que coordenou, como diretor dos LIMs, os projetas dirigidos ao programa. O sistema hidráulico tam­bém foi substituído, melhorando as condições de funcionamento dos la­boratórios e permitindo a instala­ção de um sistema de ar-condicio­nado central movido por um fluxo independente de água gelada, que ser­ve para a climatização dos laborató­rios. Afinal, o fato de o prédio ser tombado impede intervenções na sua fachada, para instalação de apa­relhos comuns de ar-condicionado.

Os efeitos de tudo isso não se fi­zeram esperar na produção de estu­dos e na sua maior visibilidade. "Em 1996, os resultados obtidos nos ex­perimentos dos pesquisadores da faculdade renderam cerca de 420 ar­tigos publicados em revistas cientí­ficas- 37% em publicações indexadas

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pelo Institute for Scientific Information (ISI). Em 2000, o número de arti­gos teve um salto de 38%, passando para 580 trabalhos, 51 o/o deles ava­lizados pelo ISI", compara Montes.

Lípides, hormônios e diabetes - Na área de Endocrinologia, quatro la­boratórios passaram por reformas e os resultados já foram contabiliza­dos. "A maior parte dos estudos rea­lizados nesses LIMs são pesquisas clínicas, que têm conexão estreita com o Hospital das Clínicas (HC), o maior hospital da América Latina", diz o professor Éder Carlos Rocha Quintão. No LIM 42 - que realiza dosagens hormonais de rotina para o HC, além de pesquisas de biologia molecular - houve aumento de 26 mil para 38 mil no número de dosa­gens hormonais mensais. "Com a reforma, pudemos também desen­volver novas técnicas, como o Fish (Fluorescence in situ hibridation), que permite identificar mutações gené­ticas por meio de marcadores cro­mossômicos, melhorando o diag­nóstico de doenças como a síndrome de Turner': informa Berenice Men­donça, chefe do laboratório.

No LIM 18, onde são realizados estudos de carboidratos e radioi­munoensaios voltados a diabetes, novas linhas de pesquisa foram abertas. Entre elas, a professora Mi­leni Josefina Ursich destaca a de au­toimunidade ao diabetes tipo 1, que ocorre em crianças. "Isto foi possí­vel com a melhoria do biotério do laboratório e com a criação de no­vos espaços, como a sala de PCR e a de cultura de células", diz. Foram reformados também o LIM 1 O, de metabolismo de lípides e proteínas, e o LIM 25, de biologia molecular de diabetes e dos tumores glandula­res, bioquímica do tecido adiposo e que participa do projeto Genoma Humano do Câncer.

Antônio Carlos Seguro, professor de Nefrologia e responsável pelo LIM 12, usou os recursos do programa pa­ra a reforma geral do laboratório e do biotério de manutenção.

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Eficiência no estudo das doenças neurológicas

Esquizofrenia e Alzheimer, alvos de pesquisa

Laboratório de neurociências: equipamentos e ampliação da área física

Em 1996, quando voltou da Alemanha, onde lecio­nou e dirigiu o setor de neurobiologia da Uni­versidade de Heidelberg,

Wagner Farid Gattaz recebeu do Ins-tituto de Psiquiatria da USP um espaço de 300 m2 para iniciar suas pesquisas. "A área era um antigo de­pósito de colchões", conta. No pri­meiro dia de trabalho naquele labo­ratório improvisado, Gattaz ligou o ar-condicionado e causou uma pane no sistema elétrico do prédio. "Um paciente do HC que estava sendo operado na neurocirurgia foi trans­ferido às pressas': lembra. Construí­do em 1952, o prédio praticamente mantinha a rede elétrica original, apesar do salto na demanda por ener­gia para os delicados e numerosos aparelhos de pesquisa introduzidos nos últimos 50 anos.

O laboratório de neurociências foi um dos muitos da Faculdade de

Medicina da USP a receber recursos do Programa de Infra-Estrutura. Instalou, é claro, um novo sistema de ar-condicionado, mas adquiriu tam­bém equipamentos para análises neuroquímicas, de biologia molecu­lar e de genética, além de um apare­lho de eletroencefalografia digital de alta resolução. Depois que o laborató­rio passou a oferecer condições de tra­balho, três outros cientistas se junta­ram a Gattaz- Orestes Forlenza, Luís Basile e Homero Vallada- e os qua­tro apresentaram à FAPESP um pro­jeto temático de pesquisa sobre o metabolismo de fosfolípides na esqui­zofrenia e na doença de Alzheimer. Com os recursos da reserva técnica, conseguiram ampliar a área física do laboratório de neurociências."

Criou-se um setor de neuroquí­mica, onde são feitas dosagens de neurotransmissores que podem ser­vir como marcadores biológicos do sangue e do tecido cerebral, o que au-

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xilia a compreender a causa de doen­ças neurológicas e, assim, a detectar e diagnosticar as doenças antes que elas se manifestem. "Esse tipo de pesquisa é essencial para investirmos na prevenção': explica Gattaz. Abriu­se também espaço para estudos de genética, criando-se áreas para pes­quisas afins, como a que estuda neu­rônios isolados, com o uso de ima­gem de um espectrofluorímetro; a de cultura de neurônios; e a de DNA, com quatro máquinas para separa­ção de amostras sanguíneas e purifi­cação de enzimas e concentrados protéicos, os quais ajudam no estu­do do metabolismo de fosfolípides das membranas das células nervosas.

Cerca de 22 pessoas, entre pes­quisadores, pós-doutorandos, pós­graduandos e alunos de iniciação científica trabalham no laboratório de neurociências desde a sua inaugu­ração, em 1999. Resultados de seus trabalhos já foram apresentados em Berlim, no Congresso Mundial de Psiquiatria Biológica, em junho, e em congresso no Brasil. Em um dos tra­balhos, Gattaz e sua equipe mapea­ram o metabolismo de fosfolípides em diferentes áreas do cérebro de pa­cientes esquizofrênicos e concluíram que as principais alterações ocorrem no lobo frontal. A partir desses resul­tados preliminares, Gattaz concluiu também, por meio de outra pesqui­sa, que há uma redução do metabo­lismo de fosfolípides na membrana dos neurônios, o que supõe que este­ja relacionada à formação das placas de amilóide. "Esses são achados neu­ropatológicos importantes da doen­ça de Alzheimer': diz.

laboratório do sono- O professor Va­lentim Gentil também abriu novas frentes de pesquisa no Instituto de Psiquiatria. Numa área cedida pela faculdade, totalmente reformada e equipada, ele instalou dois novos la­boratórios·- o de psicobiologia e o de eletrocardiograma- e deve con­cluir a montagem do laboratório de sono. "Temos cerca de dez docentes ligados a esses temas': diz Gentil.

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Unifesp ganha reformas e novos laboratórios

Impulso para estudos sobre envelhecimento e artrose

O estudo de fibras com colágeno e elastina con­tidas na matriz ex­tracelular do tecido conjuntivo de todo o

organismo é o principal trabalho de-senvolvido pela pesquisadora Olga Toledo, do Departamento de Mor­fologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp ). Essas pesqui­sas- e outras realizadas no departa­mento- ganharam impulso a partir da melhoria da infra-estrutura das instalações, que resolveu problemas graves e permitiu incorporar técni­cas de ponta. Segundo ela, já houve reflexos no aumento do número de pesquisas, algumas delas ligadas a processos de envelhecimento e ar­trose e a doenças dos ossos e dentes. "Trabalhamos com substâncias pe­rigosas, como o ósmio. Antes da re­forma, os experimentos tinham que ser feitos ao lado das janelas, pois não tínhamos nem capelas adequa­das", diz Olga.

No Instituto Nacional de Farma­cologia e Biologia Molecular (Infar), três modernos equipamentos foram

adquiridos: um microscópio confo­cal com fonte multifóton (único no país), um citômetro de fluxo e um seqüenciador de DNA, aparelhos fundamentais para as pesquisas de ponta na área de farmacologia e bio­logia molecular. Foi criado, ainda, um laboratório de dicroismo circu­lar e outro especialmente adequado para o uso de materiais radioativos.

As melhorias nos laboratórios atingiram 300 docentes e estudantes que usam as instalações comuns. No Departamento de Biofísica, os novos equipamentos auxiliam nas pesqui­sas ligadas a hipertermia maligna, doenças da medula óssea humana e função renal, pois permitem o estudo de peptídios vasoativos que agem nessas moléstias. Na área de bioquí­mica, o Infar ganhou reforço da téc­nica de dicroismo circular para o es­tudo de proteinases e inibidores que têm papel importante na coagulação do sangue e em doenças como a trombose. Os estudos ligados ao me­tabolismo hepático e à investigação de glicoconjugados relacionados com câncer e doenças causadas por fun­

gos e parasitas também foram ampliados.

Olga: estudos em farmacologia e biologia molecular

Outra área essencial do Infar, a farmacologia, absorveu novas e moder­nas técnicas de pesqui­sa para o estudo da ação de fármacos na hiperten­são e no diabetes; do me­tabolismo de cálcio no processo de contração muscular; no segmento de endocrinologia ex­perimental; e no estudo farmacológico de plan­tas medicinais.

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almente, cerca de 12 mil mostras de alimentos, be­

idas e remédios à venda no mercado chegam pa­ra análise no Instituto

Adolfo Lutz, da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. "Como cada amostra é submetida a cerca de cin­co exames, realizamos aproximada­mente 60 mil exames por ano': con­tabiliza o pesquisador Odair Zenebon, chefe da Divisão de Bromatologia e Química. São análises indispensáveis para a detecção de alimentos conta­minados e de remédios adulterados, que põem em risco a saúde do con­sumidor brasileiro, encaminhados pelos órgãos de fiscalização da se­cretaria e por entidades de defesa do consumidor. Além das análises bacteriológicas de produtos, o insti­tuto desenvolve, ainda, pesquisas e fornece serviços de diagnóstico de doenças por vírus, bactérias, fungos e parasitas, exames para avaliação de surtos e epidemias e faz vigilância de campo para detecção de agentes in­fecciosos em animais reservatórios silvestres. É uma atividade essencial para prevenir e debelar epidemias.

Pela sua competência, o Instituto Adolfo Lutz é um reconhecido centro internacional de pesquisa na área de vigilância sanitária. Criado em 1892, com o nome de Instituto Bacterioló­gico, desde o início a sua atuação teve grande impacto na saúde públi­ca. Há alguns anos, contudo, sua ati­vidade estava comprometida pela falta de condições de seus laboratórios e de equipamentos mais modernos.

O Programa de Infra-Estrutura destinou ao Adolfo Lutz cerca de R$ 3,3 milhões, grande parte dos quais aplicada na Divisão de Bromatolo-

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Antes da boca, passa pelo Adolfo Lutz Comida, remédio e cosmético no crivo de dois centros

rio. O impacto já per­cebido foi que as análi­ses de qualidade de ali­mentos que pleiteiam registro no Ministério da Saúde ganharam em agilidade e volume.

Testes na Divisão de Química: rigor na análise

Água para hemodiálise­Os recursos do Infra também permitiram a instalação de duas no­vas áreas no setor de Bromatologia: o labora­tório de Análise Sen­sorial, para testes que simulam os sentidos humanos, especialmen­te tato, olfato e gusta­ção; e uma Sala Limpa, totalmente livre de par­tículas e contaminan­tes usada para análise da água utilizada nos hospitais para hemo­diálise.

gia e Química. O prédio fora cons­truído em 1971 e nunca havia pas­sado por uma ampla reforma. O primeiro passo foi instalar a nova rede elétrica que alimenta os cinco pavimentos da edificação. Labora­tórios dos setores de Alimentos (mi­crobiologia, microscopia, cromato­grafia, bebidas, óleos e gorduras, amiláceos, laticínios e doces), Quí­mica Aplicada (embalagens, cosmé­ticos, águas, química biológica, adi­tivos e pesticidas residuais) e Medicamentos (química farmacêu­tica, antibióticos, farmacognosia e controle de esterilidade e pirogêni­co) ganharam reformas, com cons­trução de bancadas e novo mobiliá-

Por meio de recur­sos de um outro módulo do progra­ma, o de Equipamentos Multiusuá­rios (depois transformado em programa autônomo ), foi possível a aquisição de equipamentos para uso comum de vários pesquisadores, como cromatógrafos a gás, com de­tectores de massa para identificar e quantificar contaminantes e fraudes nos alimentos; cromatógrafos líqui­dos, para a separação de partículas; e um espectrofotômetro de absorção atômica, que determina a presença de resíduos de metais em alimentos e amostras biológicas.

Farmácia da USP - Outra instituição também dedicada aos testes e análi-

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ses de produtos para uso da popula­ção é a Faculdade de Ciências Far­macêuticas da USP, que recebeu cer­ca de R$ 2,5 milhões do Programa de Infra-Estrutura. A pesquisadora Maria Inês Miritello Santoro, res­ponsável pelo Laboratório de Con­trole Físico e Químico de Qualidade de Medicamentos e Cosméticos, foi uma das beneficiadas. Uma de suas linhas de pesquisa é o desenvolvi­mento de novos métodos analíticos para estabelecer as condições ideais de produção, transporte e armaze­namento de medicamentos em cli­mas tropicais, além de determinar os prazos corretos de validade, verifi­cando o tipo de degradação química que ocorre com as substâncias tera­pêuticas.

"Essas pesquisas têm, entre ou­tras finalidades, aplicação imediata na produção de medicamentos pela Furp (Fundação para o Remé­dio Popular)", diz Maria Inês. A Furp, da Secretaria de Saúde, pro­duz mais de cem itens de medica­mentos, de analgésicos e soluções salinas até os quimioterápicos, an­tivirais (como o AZT, usado contra a Aids) e antibióticos (amoxicili­na, cefalotina e tetraciclina) para dis­tribuição a pessoas carentes. Em 2000, a fábrica produziu 1,81 bilhão de unidades, distribuídas para 3.200 municípios brasileiros. Na área de cosméticos, a cientista dedica-se ao estudo da qualidade dos filtros so­lares, fundamentais para a proteção da pele contra os raios ultravioleta e infravermelho do sol e, conse­qüentemente, para a prevenção do câncer de pele.

A verba do Infra permitiu ainda a instalação de um laboratório de ressonância magnética no setor de química farmacêutica, para o estu­do de moléculas sintetizadas. Foi possível, também, modernizar o la­boratório de microbiologia, que faz análises de rotina para a indústria farmacêutica e de cosméticos e re­cuperar o laboratório de farma­cognosia, especializado em plantas medicinais.

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Mais pesquisa e ganhos no atendimento médico

Equipamentos elevam a produtividade de hospitais

Unicamp: medicina nuclear, neurologia, oncologia e assistência à mulher

s hospitais de clínica das faculdades de Ciências Médicas da Unicamp e de Mediei-· na da USP, em São

Paulo e Ribeirão Preto, desenvolvem atividade de pesquisa e de atendi­mento. A adequação dos laborató­rios, complementada com a aquisição de equipamentos multiusuários, está promovendo um avanço nas duas atividades. Na Unicamp, as áreas de medicina nuclear, oncologia, neuro­logia, nefrologia, anatomia patológi­ca e assistência à mulher da faculda­de foram diretamente favorecidas com a compra de equipamentos de ponta. Na USP de São Paulo, o pro­grama ampliou os recursos da Unida­de de Hipertensão do HC, que atende milhares de pacientes. Na USP de Ri­beirão Preto, foram as áreas de onco­logia, cardiologia, gastroenterologia e transplante de medula que mais tira­ram proveito do Infra.

Na Faculdade de Ciências Médi­cas da Unicamp os recursos do Infra - da ordem de aproximadamente R$ 5,7 milhões- foram usados prin­cipalmente em equipamentos, que já trouxeram resultados benéficos para os pesquisadores e para a po­pulação de Campinas e municípios da região.

A equipe do professor Edwaldo Eduardo Camargo, diretor do Ser­viço de Medicina Nuclear, foi uma das beneficiadas. Três novos equi­pamentos deram novo ritmo ao trabalho e são usados em tempo in­tegral para exames nos pacientes do HC e para o desenvolvimento de 13 projetos de pesquisa de 27 cientistas das áreas de neurologia, radiologia e ortopedia. "De forma menos fre­qüente, os equipamentos também são usados por outros cem docentes dos departamentos de pneumolo­gia, psiquiatria, nefrologia e medi­cina da mulher", diz Camargo.

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Avanço na pesquisa - Na câmara de cintilação híbrida PET /Spect são feitas tomografias com substâncias radioativas emissoras de pósitrons (Positron Emission Tomography ), para o diagnóstico de vários tipos de câncer e de infarto em pacientes que sofrem de miocárdio hibernan­te. Esse aparelho utiliza uma subs­tância rara no país, o fluor-desoxi­glicose (FDG), marcado com flúor 18, produzido apenas no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuclea­res (Ipen), em São Paulo. "O apare­lho ajudou a transformar a Uni­camp em um dos centros de pesquisa e atendimento em radiologia mais avançados do país", comemora Camargo. O Serviço de Medicina Nuclear dispõe de quatro câmaras de cintilação, mas só a nova má­quina permite o uso de FDG marcado com flúor 18. Anual­mente são realizadas mais de 12 mil cintilografias do cére­bro, do coração e do pulmão na universidade.

No Centro de Atenção In­tegral à Saúde da Mulher

metria- recurso antes inexistente no departamento- e ligado a um com­putador. O conjunto óptico do equi­pamento faz a medição exata das cé­lulas contidas na área focalizada. "Com esse novo recurso, foi possível ampliar a oferta de exames e abrir novos campos de pesquisa", garante Athanase Billis, professor do depar­tamento. "O único microscópio ele­trônico do HC, usado em pesquisas e para exames de rotina de pacientes com câncer e doenças renais, estava quebrado e ficou quase três anos sem conserto", revela Billis.

( Caism) são realizadas cerca de 5.800 consultas por mês, Ressonância magnética: 2 mil exames mensais

em sua maioria de casos de complicações da gravidez. Com o novo aparelho de Ultra-som Bidi­mensional com Doppler Colorido as imagens permitem identificar le­sões no útero e as condições do feto. Segundo o professor Ricardo Barini, da Obstetrícia, o Caism já possuía três equipamentos de ultra-sono­grafia, mas estavam ultrapassados tecnologicamente e em más condi­ções de uso. Antes desse novo equi­pamento, o Caism realizava entre 800 e 1.000 ultra-sonografias por mês. Agora, além do ganho de qua­lidade, ultrapassa a marca de 2 mil exames mensms.

Um microscópio eletrônico e um fotomicroscópio mudaram a rotina do Departamento de Anatomia Pa­tológica, que passou a oferecer 400 exames por ano. O fotomicroscópio é acoplado a um sistema de morfo-

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Transplante de medula- Aos labma­tórios da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto o Infra desti­nou cerca de R$ 4,6 milhões, aplica­dos, em parte, em um equipamento que trouxe melhorias para o setor de atendimento de pacientes com leu­cemia e nas pesquisas de transplante de medula óssea no Hospital das Clínicas. O pesquisador Júlio César Voltarelli, da área de Clínica Médica e coordenador do grupo de Trans­plante de Medula Ossea, passou a contar desde 1995 com um citôme­tro de fluxo FACS Vantage, que está sendo usado por cinco grupos de pesquisa. Esse aparelho é o mais avan­çado para realizar nos pacientes a técnica de sorting (separação de célu­las para a análise) da medula óssea.

No Departamento de Clínica Médica, um equipamento produz

imagens nucleares do coração e ór­gãos do tubo digestivo. Segundo José Antonio Marin Neto, professor de Car­diologia, o aparelho está causando um salto de qualidade nos tratamentos de cardiologia e gastroenterologia. "São feitas marcações de órgãos ou do sangue com elementos radioati­vos e, então, o paciente é examinado no aparelho, que permite visualizar a distribuição de sangue no interior do coração, checar seu funciona­mento e obter diagnósticos de obs­truções coronárias, duplicando a capacidade de atendimento."

Pesquisa no lncor - Dos R$ 720 mil destinados aos laborató­rios do. Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clíni­cas da Faculdade de Medicina da USP, uma parcela foi aplica­da na Unidade de Hipertensão da Divisão de Cardiologia e Ci­rurgia Cardíaca, dirigida pelo pesquisador Eduardo Moacyr Krieger. Ele se empenhou na renovação da área física dos la­boratórios de fisiologia huma­na e fisiologia experimental e para a criação do laboratório de biologia molecular. "Todos são usados em pesquisas de hi-

pertensão e servem também para o atendimento dos mais de 3 mil pa­cientes regularmente matriculados na unidade", diz ele.

Segundo Krieger, o número de pacientes beneficiados, de forma in­direta, é ainda maior. ''As pesquisas realizadas aqui são prontamente a­plicadas no tratamento e servem tam­bém aos médicos de outros hospitais da rede de saúde que cuidam de hi­pertensos."

Nos laboratórios da Unidade de Hipertensão são desenvolvidos es­tudos de epidemiologia e pesquisas visando ao tratamento, controle da doença e aplicação de métodos em cirurgias. ''As pesquisas são integra­das e abrangem estudos de biologia molecular, experimentação animal e estudos clínicos nos pacientes': ex­plica Krieger.

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