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Joana Patrícia de Sousa Teixeira – 5629 Infracções Tributárias Fraude Fiscal Qualificada Direito

Infracções Tributárias

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ESCOLA SUPERIOS DE GESTÃOLICENCIATURA EM SOLICITADORIA

Direito Fiscal

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Índice

ÍNDICE 2

INFRACÇÃO TRIBUTÁRIA 3

Crime Fiscal 4

FRAUDE FISCAL 4

FRAUDE FISCAL QUALIFICADA 5

Evolução ao longo do tempo 8

Sanções e Responsabilidade 9

ACÓRDÃO 11

Ac. TR de Coimbra, Proc. n.º 720/08.1TACBR.C1, de 07.03.2012 11

BIBLIOGRAFIA 12

ANEXO 13

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Infracção Tributária

“Constitui infracção tributária todo o facto típico, ilícito e culposo declarado

punível por lei tributária anterior.” – art.º 2.º, n.º 1 do RGIT

A prática de infracções com natureza fiscal pode ter como consequência,

variando na sua caracterização, a dois tipos de processo. O contra-ordenacional, em que

são aplicadas coimas, ou o criminal, em que são aplicadas penas, as quais podem ser

privativas de liberdade, como a pena de prisão, ou não privativas, as multas.

O critério de distinção destes processos assenta numa avaliação legislativa, em

que atribui uma menor ou maior gravidade da infracção.

Esta divisão fica desde logo marcada com a redacção do art.º 2.º n.º2 do RGIT,

quando dispõe que: “As infracções tributárias dividem-se em crimes e contra-

ordenações”. Com isto, podemos ter a prática de um acto constitua simultaneamente um

crime e uma contra-ordenação. Mas determina o art.º 2.º, n.º 3 do RGIT que: “Se o

mesmo facto constituir simultaneamente crime e contra-ordenação, o agente será

punido a título de crime, sem prejuízo da aplicação das sanções acessórias previstas

para a contra-ordenação”.

Podemos afirmar que esta regra reflecte a ideia do concurso aparente. Ou seja,

nestas circunstâncias, a infracção deve ser punida segundo a norma mais severa que a

prevê, por ser ela a que melhor defende o interesse jurídico protegido.

“Para uma conduta humana assumir a característica de infracção

contraordenacional torna-se indispensável que coincida formalmente com a descrição

feita numa norma legal que preveja, directa ou indirectamente, uma coima.

Pelo princípio da tipicidade fica-se a saber que cabe à lei e só a esta especificar

quais os factos ou condutas que constituem uma contra-ordenação e quais os

pressupostos que justificam a aplicação duma coima.

A culpabilidade é elemento típico do procedimento contraordenacional.” (Ac.

TRCoimbra, 2009)

Tal posição, também é adoptada no que diz respeito aos crimes fiscais.

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Crime Fiscal

No âmbito fiscal, certas condutas adoptadas pelos sujeitos passivos, devido à sua

ilicitude, revelam-se susceptíveis de uma maior censura ético jurídica através da sua

respectiva criminalização. Quanto à legitimidade penal, esta surge da necessidade que o

Estado tem de proteger um especial bem jurídico, sendo este as receitas tributárias,

motivo pelo qual, lhe é reconhecido o seu carácter patrimonialista.

Desde que face à lei, um comportamento é caracterizado com típico, ilícito e

culposo, então ele será havido como crime. A criminalização decorre, essencialmente,

da gravidade de que se reveste o acto levado a cabo pelo sujeito passivo, que no plano

fiscal se caracterizará por ser determinado à frustração das receitas tributárias.

Como exemplo de crime temos a fraude fiscal, podendo figurar com simples ou

qualificada, que serão apresentadas em seguida.

Fraude Fiscal

“A fraude fiscal abrange todas as condutas ilegítimas que tenham em vista a não

liquidação, entrega ou pagamento do imposto ou a obtenção indevida de benefícios

fiscais, reembolsos ou outras vantagens patrimoniais susceptíveis de causar a

diminuição das receitas tributárias. Tal pode processar-se por ocultação ou alteração

dos factos ou valores que devam constar das declarações apresentadas ou prestadas, a

fim de que a administração fiscal especificamente fiscalize, determine, avalie ou

controle a matéria tributável, a ocultação de factos ou valores não declarados e que

devam ser revelados à administração fiscal e a celebração de negócio simulado, quer

quanto ao valor, quer quanto à natureza, quer por interposição, omissão ou

substituição de pessoas.” (Marques S. )

A fraude fiscal pode ter lugar por uma de três vias:

1. Ocultação ou alteração de factos ou valores que devam constar dos livros de

contabilidade ou escrituração, ou das declarações apresentadas ou prestadas a

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fim de que a administração fiscal especificamente fiscalize, determine, avalie

ou controle a matéria colectável;

2. Ocultação de factos ou valores não declarados e que devam ser revelados á

administração tributária;

3. Celebração de negócio simulado, quer quanto ao valor, quer quanto à

natureza, quer por interposição, omissão ou substituição de pessoas.

Só poderá ser qualificada determinada conduta como fraude fiscal quando a

vantagem patrimonial ilegítima for superior a €15.000,00 (quinze mil euros). Caso esse

valor seja inferior, haverá mera contra-ordenação fiscal.

De acordo com o disposto no art.º 103 nº 3 do RGIT, os valores a considerar são

os que, nos termos da legislação aplicável, devam constar de cada declaração a

apresentar à administração tributária.

“O crime de fraude fiscal é um crime comum, na medida em que pode ser

praticado por qualquer pessoa e é um crime de perigo em que o bem jurídico protegido

é a ofensa à Conta do Estado na rubrica que inclui as receitas fiscais destinadas à

realização de fins públicos de natureza financeira, económica ou social.” (Ac.

TRCoimbra, 2011)

Fraude Fiscal Qualificada

A fraude fiscal qualificada encontra-se prevista no art.º 104.º do RGIT, em que

de acordo com este preceito legal: “Os factos previstos no artigo anterior são puníveis

com prisão de um a cinco anos para as pessoas singulares e multa de 240 a 1200 dias

para as pessoas colectivas quando se verificar a acumulação de mais de uma das

seguintes circunstâncias:

a) O agente se tiver conluiado com terceiros que estejam sujeitos a obrigações

acessórias para efeitos de fiscalização tributária;

b) O agente for funcionário público e tiver abusado gravemente das suas

funções;

c) O agente se tiver socorrido do auxílio do funcionário público com grave

abuso das suas funções;

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d) O agente falsificar ou viciar, ocultar, destruir, inutilizar ou recusar entregar,

exibir ou apresentar livros, programas ou ficheiros informáticos e quaisquer outros

documentos ou elementos probatórios exigidos pela lei tributária;

e) O agente usar os livros ou quaisquer outros elementos referidos no número

anterior sabendo-os falsificados ou viciados por terceiro;

f) Tiver sido utilizada a interposição de pessoas singulares ou colectivas

residentes fora do território português e aí submetidas a um regime fiscal claramente

mais favorável;

g) O agente se tiver conluiado com terceiros com os quais esteja em situação de

relações especiais.”

O legislador prevê, no n.º 2 do art.º 104.º do RGIT, que a mesma pena é

aplicável quando a fraude tiver lugar mediante a utilização de facturas ou documentos

equivalentes por operações inexistentes ou por valores diferentes ou ainda com a

intervenção de pessoas ou entidades diversas das da operação subjacente, ou se a a

vantagem patrimonial for superior a €50 000, criando assim uma fraude fiscal

qualificada autónoma da presente no n.º 1.

Todavia, o n.º3 da norma infra citada, verificamos que a opção legislativa segue

no sentido de fazer variar a pena a ser aplicada em função da vantagem patrimonial,

assim, se esta for de valor superior a €200 000, a pena é de prisão de 2 a 8 anos para

pessoas singulares e a de multa de 480 a 1920 dias para as pessoas colectivas.

Como verificámos, este crime encontra-se ligado ao crime de fraude fiscal

simples e a todos os seus pressupostos como crime, gerando assim alguma controvérsia

no aspecto que se prende com a admissibilidade ou não do limite mínimo, para a

vantagem patrimonial obtida, a qual se encontra estabelecida no n.º 2 do art.º 103.º em

€15 000 e à qual o art.º 104.º não faz qualquer referência.

A este propósito tanto a doutrina como a jurisprudência se têm pronunciado,

embora que em diferentes sentidos.

Verificámos que a doutrina opta por considerar legítimo a aplicação daquele

limite ao art.º 104.º do RGIT, entendendo que a conduta do sujeito só poderá ser

classificada como crime de fraude fiscal qualificada quando a vantagem patrimonial

ilegítima conseguida pelo contribuinte, em detrimento do património do Estado, seja

superior a €15 000. Ou seja, considera que existe uma quase obrigação do cumprimento

deste limite, pois assenta na definição legal do crime fiscal como tal, uma vez que, actos

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em que se verifiquem uma diminuição de receitas inferior a €15 000, apenas são

puníveis como contraordenação (art.º 118.º do RGIT) (Aires, 2009) (Marques I. , 2010).

A jurisprudência, recentemente também adoptou esta posição, Podemos verificar

tal entendimento no Ac. do TR do Porto n.º 70/05.5IDAVR.P1, de 23.03.2011,

mencionando que “por razões literais, sistemáticas e teleológicas, o limite de € 15.000

do nº 2 do artigo 103º do RGIT é aplicável à fraude fiscal qualificada prevista no artigo

104º do mesmo RGIT. (…) Em primeiro lugar, existem alguns aspectos literais a impor

tal leitura, como seja a referência, no art. 104º, aos “factos previstos no artigo

anterior”. Um dos factos previstos no artigo anterior é precisamente o previsto no n.º

2, segundo o qual não há punibilidade quando o montante da vantagem patrimonial

ilegítima for “inferior a 15.000 €”. Se tivesse havido intenção de punir a fraude

qualificada, independentemente do valor da vantagem ilegítima, a remissão deveria ter

excluído o n.º 2.

Outro aspecto literal decorre da expressão usada no n.º 2 do art. 104º:

“fraude”. Na verdade, o n.º 2 do art. 104º começa por dizer que “a mesma pena é

aplicável quando a fraude tiver lugar mediante (…)”. Ao falar em fraude, está

certamente a referir-se a uma fraude punível, ou seja, que tenha causado uma

diminuição de receitas de valor superior a 15.000 €, já que abaixo desse valor o

comportamento é punível e qualificado apenas como contra-ordenação e não como

“fraude” fiscal (art. 118º do RGIT).

Para além desta referência aos factos previstos no art. 103º, sem excluir o n.º 2

e utilizando a expressão “fraude”, há elementos sistemáticos relevantes. A técnica

legislativa de agravar a moldura penal dos crimes, através de circunstâncias

qualificativas, traduz sempre uma remissão para o crime simples (género), destacando

um especial modo de realização (espécie). O crime qualificado é assim, por definição,

aquele que contém todos os elementos do crime simples, com a particularidade de ser

cometido em determinadas circunstâncias.”

Em sentido inverso, pronunciou-se o Ac. do TR de Coimbra n.º

720/08.1TACBR.C1, de 07.03.2012, entendendo que “não é aplicável à fraude fiscal

qualificada (mormente quando a execução do crime passa pela utilização de facturas

falsas, cfr. n.º 2, do artigo 104.º), o limite de € 15.000,00 (valor da vantagem

patrimonial ilegítima) previsto no n.º 2, do artigo 103º, do R.G.I.T.”, posição tomada

tendo em atenção o parecer vertido no Ac. do TR de Guimarães de 18.05.2009, no Proc.

n.º 352/02.8IDBRG.G1, entendendo que a realidade prevista na punição da fraude

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qualificada, uma vez que é mais gravosa do que a que vem enunciada na previsão do

tipo fundamental da fraude simples, é dela dissociável e conclui, que não é exigível a

imposição de um valor mínimo de benefício patrimonial ilegítimo obtido, mas apenas

que se verifiquem a acumulação dos factos previstos no art.º 103.º com os presentes no

art.º 104.º do RGIT.

Referindo este último acórdão, que o legislador ao utilizar a expressão no n.º 2

do art.º 103.º “números anteriores”, são apenas os puníveis os números anteriores,

“não existindo nenhuma razão, literal ou outra, para suspeitar que o legislador quis

também abranger os factos previstos nos «artigos seguintes».”

Evolução ao longo do tempo

O crime de fraude fiscal qualificada, é um dos crimes que tem merecido uma

atenção especial por parte do Estado português nos últimos anos, tal facto pode ser

constatado com o Plano Estratégico de Combate à Fraude e Evasão Fiscais e

Aduaneiras, “como forma de garantir uma justa repartição do esforço fiscal e

sancionar de uma forma mais efectiva as práticas dolosas de incumprimento fiscal.”

Uma das medidas que podemos destacar pela sua importância e inovação é a

presente na al. b) do n.º do art.º 104.º, a qual foi introduzida pela Lei n.º 64-B/2011, de

30 de Dezembro. Vindo qualificar um maior número de actos como fraude fiscal

qualificada, pois prevê que tal se verifica quando a vantagem patrimonial auferida pelo

agente em detrimento do Estado seja superior a € 50 000, não necessita de preencher os

elementos exigidos pelos art.º 103 do RGIT. Deparamo-nos, desta forma, com um

consequente aumento do número de fraudes qualificadas, em razão do valor,

dispensando-se a verificação de acumulação com outras circunstâncias.

Dando-se assim corpo à estratégia de reforço no combate à fraude, sancionando

de uma forma mais dolosa, factos que anteriormente se enquadravam na fraude simples.

A mesma Lei veio introduzir uma moldura penal mais elevada (2 a 8 anos de

pena de prisão e 480 a 1920 dias de multa), quando estamos presente valores de

vantagens patrimoniais superiores a € 200 000. Com esta posição, podemos afirma que

o Estado tem como objectivo desincentivar a prática de tais actos por parte do sujeito

passivo, para uma maior equidade nas obrigações fiscais.

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Sanções e Responsabilidade

No que toca à responsabilidade encontra-se definida na parte geral do Regime

Geral das infracções Tributárias, nos art.ºs 6.º e ss.

Quando um acto é caracterizado como infracção tributária temos que analisar em

concreto, pois podemos estar presente uma situação em que existe imputabilidade de

responsabilidade a pessoa colectiva e a seus representantes (ex. sociedades) ou a pessoa

singular que atuou em nome próprio ou através de representante legal ou voluntário (ex.

solicitador, gestor de negócios).

Aquela que actuar na qualidade de titular de um órgão, membro ou representante

de pessoa colectiva, que pelo seu comportamento origine uma determinada infracção,

responde criminalmente e cumulativamente com a pessoa colectiva por este acto

praticado, tal situação também se verifica quando o representado é uma pessoa singular.

Esta responsabilidade, mesmo que o acto jurídico que dá origem a esta representação

seja considerado ineficaz. (art. 6.º do RGIT).

Uma actuação ilícita também é considerada da autoria da pessoa colectiva,

quando esta actua, através dos seus órgãos ou representantes, em seu nome ou no seu

interesse, conforme resulta do exposto do art.º 7.º do RGIT.

Contudo, no n.º 2 deste mesmo preceito legal, esta responsabilidade é excluída

quando as actuações destes mesmos sujeitos violem recomendações expressas (escritas)

da pessoa colectiva, pois “no âmbito dos crimes fiscais ou tributários, o sujeito activo

dos ilícitos criminais aí previstos estende-se aos membros ou representantes, legais ou

de facto, dos órgãos dirigentes das pessoas colectivas infractoras, que para o efeito

tenham agido voluntariamente e cuja conduta tenha conduzido à prática do crime.”

(Ac. TRPorto, 2008)

Temos ainda que abordar um último ponto, a responsabilidade subsidiária dos

gerentes ou administradores pelas coimas e multas aplicadas às pessoas colectivas, que

se encontra prevista no art. 8º do RGIT

Os gerentes/administradores são, por força deste preceito, responsáveis civis,

cuja responsabilidade é decorrente do exercício da respectiva função e causadora de

dano à Administração Tributária. Trata-se de responsabilidade decorrente do mau

exercício de administração das sociedades e geradora de prejuízo à Administração

Fiscal, considerada uma responsabilidade de natureza civil, logo regulada pelo art.º 483

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do CC, que visa proteger os interesses alheios, que possam ser afectados pela violação

da lei levada a cabo pelos gerentes e administradores.

Esta responsabilidade seria subsidiária, ou seja, estes veriam em si imputada a

responsabilidade quando houvesse impossibilidade de cumprimento da obrigação por

parte da pessoa colectiva.

Nesta matéria existe uma grande divergência entre a doutrina e a legislação, pois

a primeira não aceita de ânimo leve, a reversão fiscal das coima. Uma vez que,

considera que existe a violação do direito de audição, pois os representantes não são

ouvidos durante o processo, presumindo-se que os mesmo são culpados, sendo uma

violação ostensiva dos princípios constitucionais da culpa, igualdade e

proporcionalidade. Assim, a jurisprudência veio fixar que o carácter sancionatório

imposto pelo RGIT, implica uma avaliação da culpa, subjacente ao comportamento do

agente, por forma a ser estabelecida a medida da pena.

Com a leitura do art.º 104.º do RGIT, podemos esquematizar a punibilidade do

crime de fraude fiscal qualificada, da seguinte forma:

Pessoas Singulares Pessoas Colectivas

Art.º 104.º n.º1 Prisão de 1 a 5 anos Multa de 240 a 1200 dias

Art.º 104.º n.º 2 Prisão de 1 a 5 anos Multa de 240 a 1200 dias

Art.º 104.º n.º 3 Prisão de 2 a 8 anos Multa de 480 a 1920 dias

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Acórdão

Ac. TR de Coimbra, Proc. n.º 720/08.1TACBR.C1, de 07.03.2012

Com a leitura deste acórdão verificámos que temos como arguidos A, B, C, D,

E, W moldes, Lda. e UU, Lda.

Os arguidos A, B e C são representantes da sociedade W moldes, Lda., enquanto

que E é vendedor e D gerente da sociedade UU, Lda., empresa fornecedora de aço.

E e D, em inícios de 1998, em representação da W moldes, Lda., negociações

para fornecimento de aço com a UU, Lda., em que acordaram, com A, B e C, que esta

matéria-prima seria adquirida com factura e paga ao preço presente na “tabela de preços

da ES” e que posteriormente seria devolvida a diferença do preço.

Esta devolução seria feita através de cheques endossados à empresa-mãe W

moldes, Lda. ou a alguém de confiança, com a intenção de estesvalores não serem

declarados para efeitos fiscais.

Verificamos que houve a aquisição de vantagens patrimoniais ilegítimas, sendo

estas no valor de € 12 467, 34, através da ocultação de valores não declarados e que

deviam ser revelados à administração tributária, agravando ainda o facto de haver a

falsificação de facturas. Facto que ocorreu, pois foi declarado na factura de o aço foi

vendido a um preço inferior àquele que realmente se verificou.

Com tal situação, estamos presente um crime de fraude fiscal qualificada, punida

e prevista no art. 104.º n.º2 al. a) do RGIT.

O arguido defende-se que tal não se deveria verificar, pois o proveito económico

do mesmo foi inferior ao valor presente no art.º 103.º do RGIT (€ 15 000). Contudo com

a leitura do preceito legal 104.º n.º2 verificamos que este apenas refere que as situações

infra apresentadas são punidas com a mesma pena e não com os mesmos fundamentos.

Logo, foi negado o provimento ao recurso apresenta do pelo arguido E,

vendedor da UU, Lda.

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Bibliografia

Ac. TR de Coimbra, 720/08.1TACBR.C1 (Relação de Coimbra 07 de 03 de 2012).

Ac. TR de Guimarães, 352/02.8IDBRG.G1 (Relação de Guimarães 18 de 05 de 2009).

Ac. TRCoimbra, 1818/08.1 TALRA.C1 (Relação de Coimbra 13 de 05 de 2009).

Ac. TRCoimbra, 954/02.2 JFLSB.C1 (Relação Coimbra 04 de 05 de 2011).

Ac. TRPorto, 0717212 (Relação Porto 12 de 03 de 2008).

Ac. TRPorto, 70/05.5IDAVR.P1 (Relação do Porto 23 de 03 de 2011).

Aires, S. (2009). Os Crimes Fiscais, Análise Dogmática e reflexão sobre a legitimidade

do Discurso Criminalizador. Coimbra Editora.

Marques, I. (2010). Regime das Infracções Tributárias, Caderno IDEFF, n.º 5.

Almedina.

Marques, S. A Fraude Fiscal e a Simulação. Pós Graduação, FDUP, Porto.

Paiva, C. (2012). Das Infracções Fiscais à sua Perseguição Processual. Coimbra:

Almedina.

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Anexo

Acórdãos TRC Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra

Processo: 720/08.1TACBR.C1

Nº Convencional: JTRC

Relator: MARIA JOSÉ NOGUEIRA

Descritores: FRAUDE FISCAL QUALIFICADA

Data do Acordão: 07-03-2012

Votação: UNANIMIDADE

Tribunal Recurso: COMARCA DO BAIXO VOUGA - JUÍZO DE INSTÂNCIA

CRIMINAL DE ALBERGARIA-A-VELHA

Texto Integral: S

Meio Processual: RECURSO CRIMINAL

Decisão: CONFIRMADA

Legislação

Nacional:

ART.º 104º, DO R.G.I.T.

Sumário: Não é aplicável à fraude fiscal qualificada (mormente quando a

execução do crime passa pela utilização de facturas falsas, cfr. n.º

2, do artigo 104.º), o limite de € 15.000,00 (valor da vantagem

patrimonial ilegítima) previsto no n.º 2, do artigo 103º, do R.G.I.T.

(Regime Geral das Infracções Tributárias).

Decisão

Texto Integral:

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I.Relatório

1. No âmbito do processo comum n.º 720/08.1TACBR da Comarca

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do Baixo Vouga – Albergaria – A – Velha – Juízo de Instância

Criminal, realizado o julgamento, por acórdão de 03.06.2011

decidiu o Tribunal Colectivo:

“a) absolver o arguido A... do crime de abuso de confiança de que

vem pronunciado (p. e p. pelo artigo 205º, n.ºs 1 e 4, alínea a), do

C. Penal);

b) condenar os arguidos A..., B..., C..., D... e E... pela prática, em

co-autoria material, de um crime de fraude fiscal qualificada,

previsto e punido pelos artigos 103º, nº 1, e 104º, nºs 1 e 2, do

RGIT (aprovado pela Lei 5/2001, de 05-06), o primeiro na pena de

1 (um) ano e 6 (seis) meses de prisão e cada um dos restantes na

pena de 2 (dois) anos de prisão, todas suspensas na sua execução

pelos períodos correspondentes de 1 (um) ano e 6 (seis) meses e de

2 (dois) anos, respectivamente (a contra do trânsito em julgado);

c) condenar as arguidas W... – Moldes, Lda, UU…, Lda, e ZZ…,

pela prática, igualmente em co-autoria material de um crime de

fraude fiscal qualificada previsto e punido pelos artigos 7º, nº 1,

103º, nº 1, e 104º, nºs 1 e 2, do RGIT (aprovado pela Lei 5/2001, de

05-06), cada uma delas na pena de 400 (quatrocentos) dias de

multa, sendo quanto à primeira da taxa diária de € 05,00, no total

de € 2.000,00 (dois mil euros), e quanto à segunda e terceira à taxa

diária de € 30,00, no total de € 12.000,00 (doze mil euros) ;

(…).”

2. Inconformado com o, assim, decidido recorreu o arguido E...,

extraindo da motivação as seguintes conclusões:

1. O douto acórdão não procedeu, como lhe está imposto ao exame

crítico das provas que serviram para formar a sua convicção, sendo

certo que é desta correcta indicação que se entende qual o

raciocínio lógico do tribunal para apurar os factos.

2. E, prescreve o artigo 379º, n.º 1, alínea a), do C.P.P., que é nula a

sentença que não contiver as menções referidas no artigo 374º, n.º

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2, do C.P.P., as quais respeitam ao teor da fundamentação da

sentença, sendo a nulidade de conhecimento oficioso em sede de

recurso.

3. Ora, no acórdão ora posto em crise, tendo como indicação “a

formação da convicção do Tribunal Colectivo teve por base a

análise global da prova produzida em audiência, em conjugação e

confronto, analisada e valorada segundo as regras da experiência

comum e a lógica das coisas …”.

4. Na verdade, do texto da douta decisão constam meras referências

genéricas a cada um dos depoimentos, não sendo contudo

“criticamente” valorados.

5. Bem como, não faz referência aos depoimentos de algumas

testemunhas, não explicando o porque de não os ter valorado.

6. Além de que omite as declarações do arguido A..., não

explicando igualmente o porque de não o ter valorado.

7. Não havendo qualquer fundamentação “critica” aos diversos

relatórios mencionados, não sendo valorado o seu conteúdo e teor,

logo, não aferindo a sua credibilidade.

8. Temos por claro que a fundamentação apresentada na douta

decisão recorrida, ou melhor dizendo, a respectiva ausência, não

satisfaz o dispositivo legal em análise (art. 374º, n.º 2 do C.P.P.),

tal como temos por imprescindível, sobretudo o exame critico dos

relatório, cuja análise nos parece susceptível de pôr em causa o

nexo de causalidade entre as condutas alegadamente praticadas e o

crime em causa, já que se constata a presença de um elemento

influenciador ou potenciador, e ainda da prova que serviu de

suporte ao elemento subjectivo do crime – o dolo, entendido como

dolo directo.

9. O Tribunal a quo devia, nos termos da lei, ter ponderado toda a

prova produzida, tê-la analisado e examinado criticamente e só

depois desse exame podia, de forma coerente, lógica e sobretudo

garantística dos direitos fundamentais do recorrente, formar a sua

convicção, devidamente sustentada nos meios probatórios no seu

todo, e não de forma selectiva e insuficiente.

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10. Pelo que, e desde logo, ofendeu, de forma directa e intolerável

os direitos e garantias do arguido, com consequente violação do art.

32º, nº. 1 da Constituição da República Portuguesa.

11. Para além de que, com tal simplista e insuficiente indicação,

não cumpre o douto acórdão recorrido, o disposto no art. 374º, n.º 2

do C.P.P., enformando do vício constante no disposto no art 379, nº

1, al. a) do C.P.P.;

12. De acordo com a decisão condenatória os arguidos obtiveram

uma vantagem patrimonial ilegítima de € 28.805,81, sendo deste

valor € 23.25,05 a título de IRC.

13, Contudo, em momento algum é mencionado qual a forma como

se chegou a este valor de vantagem patrimonial ilegítima.

14. Além de não referir qual a taxa, também não é possível com os

elementos existentes no processo saber qual o ganho obtido pela

arguida W..., com a inclusão das facturas falsas na sua

contabilidade.

15. A prova pericial é a única admissível como meio de prova

quando a percepção ou a apreciação dos factos exija especiais

conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, como é o presente

caso.

16. Conforme tem vindo a ser entendimento da jurisprudência dos

tribunais superiores, a violação da norma do artigo 163º do Código

de Processo Penal é causa de anulação do julgamento.

17. Pelo exposto, deve ser anulado o julgamento para que, em novo

julgamento, seja observado o disposto nos artigos 158º e 163º do

C.P.P.

18. Daí que da conjugação do preceituado nos artigos 379º, nº 1, al.

a), e 374º, nº 2 do Código de Processo Penal e ao abrigo do

preceituado no artigo 426º, nº 1, do mesmo Código haja lugar ao

reenvio do processo para novo julgamento relativamente à questão

concreta que deixamos referida.

19. Por assim ser, e entendendo o recorrente que este exame

implícito do tribunal não é correcto mais recorre da matéria de

facto, pelo que se passa a invocar e valorar criticamente tal prova.

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20. Antes de mais cumpre referir que, nenhuma das testemunhas

arroladas e ouvidas na audiência, presenciou a prática dos factos

imputados ao arguido.

21. De todos os outros meio de prova invocados, nomeadamente

depoimento de outras testemunhas e prova documental junta aos

autos e valorada para o efeito, nada resultou que pudesse implicar o

arguido nos factos, bem pelo contrário no que diz respeito ao

depoimento da testemunha ..., conforme abaixo demonstraremos,

22. Salvo o devido respeito, o Tribunal “a quo” julgou

incorrectamente os seguintes factos, porquanto em relação aos

mesmos não foi produzida prova. Senão vejamos,

23. O Tribunal deu como provado no ponto 7 e 8, que,

7) “No início de 1998, os arguidos E... e D..., encetaram contactos

com a sociedade W... – Moldes, Lda., e seus gerentes, para

fornecimento de aços comercializados pela UU… Portugal, que

representavam o primeiro enquanto vendedor e o segundo

enquanto gerente”; e

8) Na sequência desses contactos foi acordado entre os arguidos

B..., A... e C..., em representação da W..., e os arguidos E... e D...,

em representação da UU… Portugal que o aço a adquirir pela

W..., seria facturado “seguindo a tabela de preços da ES” sendo a

diferença devolvida após pagamento, sem registo contabilístico,

através de cheque emitido pela empresa “mãe”, à ordem da W...,

dos seus gerentes ou de pessoas da sua confiança, por forma a tais

quantias não terem que ser declaradas, para efeitos fiscais, como

proveitos ou ganhos desta sociedade e delas poderem fazer uso

como entendessem”.

24. Acontece que, da análise da prova produzida resulta que não

ficou demonstrado, nem sequer indiciariamente, que o recorrente

tenha participado em alguma reunião que tivesse por fim o

objectivo de utilizar um “esquema” para defraudar o Estado.

25. A verdade é que não esteve na reunião e não presenciou o que

se terá passado na mesma, nem sequer se chegou a haver a dita

reunião com esse objectivo.

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26. Não se poderá dar como provado que foi nesta dita reunião que

foi montado o tal “esquema”, dado que a testemunha ... afirmou

que “não sabe o que lá se passou”.

27. Não se poderá dar como provado, conforme foi dado no ponto

8., que o recorrente tenha participado em alguma reunião com vista

à elaboração do mencionado plano, e mesmo que se desse como

provado que esteve presente numa reunião não se pode afirmar com

toda a certeza o que lá foi tratado, e em que termos, quem propôs o

quê, quem aceitou o quê …

28. Deste modo, não ficou provado que o recorrente tenha estado

presente na reunião e muito menos que tenha sido esse o tema da

referida reunião, dado que a testemunha não esteve presente na

reunião, tendo-lhe sido unicamente dito, de forma indirecta, pelo

único arguido que implica o recorrente nos factos, A… .

29. Pelo exposto, deveria ter sido considerado como provado que o

recorrente não tinha participado em todas as vendas que eram feitas

pela sua entidade patronal, isto é, havia negócios com a W... que

não passavam pelas mãos do recorrente enquanto vendedor, sendo

tratados directamente com a sede da entidade patronal.

30. Assim, dúvidas não existem que a haver algum “esquema” o

recorrente não tinha qualquer responsabilidade no mesmo, já que

ele até continuou a existir depois da sua saída da empresa.

31. Bem como segundo o depoimento da testemunha ...

(depoimento prestado no dia 3 de Maio de 2011, conforme acta,

(minuto 01.00 até 03.00 e 10.00 até 12.00), que afirmou ao

Tribunal que “foi substituir o senhor E... no cargo de vendedora da

UU….Potugal”, “não participava nas reuniões de gerência da

UU... Portugal, nem tinha conhecimento do que se tratavam nessas

reuniões”.

32. Isto é, a testemunha ocupou o lugar de vendedor do senhor E...

na UU... Portugal, com as mesmas funções, sendo que esta

confirma que nunca participou em nenhuma reunião de gerência

nem tinha poderes de decisão.

33. Afirmou igualmente que “não sabia se eram pagas comissões à

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W...”, e “nunca lhe foi dito para incluir comissões nos negócios”,

“sabia que havia cheques mas não sabia do que se tratavam”, “não

sabe à ordem de quem vinham os cheques”, “os cheques vinham

directamente da Alemanha, não passavam por mim”.

34. Não é plausível configurar que duas pessoas no mesmo cargo e

com as mesmas funções e competências na mesma entidade

patronal, possam ter responsabilidades diferentes perante os

mesmos factos.

35. Assim, nunca se poderia ter dado como provado que a

“responsabilidade do arguido E..., advém da sua intervenção em

tais factos, em representação da UU... Portugal, na qualidade de

vendedor, ou seja, na qualidade de representantes legais ou

voluntários dessas empresas e no interesse destas”, tendo errado o

Tribunal “a quo” na sua decisão.

36. Não resultou dos autos, nem da prova testemunhal e

documental, produzida (quer globalmente considerada quer

individualmente apreciada), matéria suficiente para que se possa

concluir que o recorrente esteve presente na referida reunião e que

mesmo que estivesse estado, qual teria sido o teor da mesma, se

versou ou não sobre o “engendrar” do referido esquema para

prejudicar as receitas fiscais.

37. Na prática baseou-se a condenação única e exclusivamente nas

declarações do arguido A…, contudo, não se pode condenar um

arguido apenas e só com o depoimento de outro que aliás não foi

corroborado por mais nenhum meio de prova.

38. Estranhamente e de forma dolorosa para a defesa, nunca em

momento algum o Tribunal valorou o facto do arguido ser um mero

vendedor, sem qualquer poder de representação ou legitimidade

para vincular a UU... Stahl, tal como não tinha esses poderes a

vendedora que foi ocupar o seu lugar, testemunha ..., conforme foi

confirmado pela mesma a Tribunal.

39. E, legitimamente, pergunta-se, sob uma perspectiva do homem

comum: será assim tão difícil entender e aceitar, que alguém que é

vendedor de uma empresa não tem poderes para representar a

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mesma, não tem que saber de todas as questões que se passam na

mesma, que tenha que ter conhecimento de todas as vendas que são

feitas pela sua entidade patronal …

40. Pelo que, a prova produzida nos presentes autos impunha ao

Tribunal “a quo” uma decisão oposta à que resulta do acórdão

recorrido, considerando em suma “que o recorrente não esteve

presente na dita reunião ou que mesmo que tenha estado presente

não se provou qual ou quais os temas debatidos na mesma, muito

menos se podendo considerar provado que tenha sido nessa

reunião que teria sido “engendrado” o tal plano apto a lesar o

património do Estado.”

41. Entende o recorrente que a matéria de facto foi incorrectamente

julgada (art. 412º, nº 3 do C.P.P.).

42. Desta forma, o Tribunal “a quo” violou, entre outros o Art. 32º

nº 2 da CRP e o Art. 97º, nº 4, 340º, 365, nº 3 e 374, nº 2 todos do

CPP;

43. Salvo quando a lei dispuser diferentemente – diz o artigo 127º

do Código de Processo Penal -, a prova é apreciada segundo as

regras da experiência e a livre convicção da entidade competente;

44. Uma das excepções àquela regra da livre apreciação da prova

vem introduzida no artigo 151.º do Código de Processo Penal;

45. O tribunal a quo fez uma incorrecta aplicação do principio

consignado no art. 127º do CPP, isto é, apreciou mal a prova;

46. Esta questão, leva-nos necessariamente à análise, atenta a

estreita ligação, de duas outras, cuja violação se constata: o

princípio da livre apreciação da prova (art. 127º do CPP) e o

princípio in dubio pro reo, e, bem, assim, o art. 32.º, n.º 2 da Lei

fundamental;

47. Salvo o devido respeito por melhor opinião, entende o

recorrente que o princípio da presunção de inocência do arguido e o

seu corolário in dubio pro reo demandavam condenação diversa,

pelo que resultou o mesmo postergado;

48. O acórdão recorrido enferma dos vícios previstos nas als. a), b)

e c) do n.º 2 do art. 410º do C.P.P., gerando, por isso, a nulidade da

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decisão em crise e determinando o consequente reenvio do

processo, de harmonia com o disposto no art. 426º do mesmo

diploma legal;

49. Não se conforma o recorrente com o sentido com que o

Tribunal recorrido interpretou e aplicou as normas aos factos;

50. A prova produzida em sede de Julgamento, demandava solução

diversa, em cumprimento do princípio da verdade material, que lhe

é imposto pelo normativo do art. 340º do C.P.P.;

51. De acordo com o explanado infra, aspectos relevantes da

matéria de facto foram incorrectamente julgados, o que veio a

redundar na condenação posta em crise, com a apresentação do

presente recurso (artigo 412º, n.º 3, als. a e b) do C.P.P.;

52. O arguido foi condenado como co-autor material de um crime

de fraude fiscal qualificada.

53. O nexo causal insere-se na tipicidade do facto. Portanto, há que

analisar o processo causal na sua globalidade. A lei penal encara a

causalidade como elemento do comportamento humano. É o

homem que é louvado ou censurado pelas suas acções, todos os

resultados dependentes da sua consciência e vontade são causados

por ele e a eles imputados.

54. In casu, o recorrente nega a existência do nexo causal por falta

de prova idónea.

55. O Tribunal da Relação pode, mesmo oficiosamente, verificar da

existência dos vícios art. 410º, n.º 2 do CPP.

56. No douto acórdão é referido que “assim, e na concretização do

plano, os aludidos gerentes da W..., durante os meses de Maio e

Julho e de Agosto a Dezembro e de Janeiro a Julho de 2001,

encomendaram quantidades diversificadas de aço à UU... Portugal,

que os aludidos D... e E... satisfizeram, mandando debitar à W..., as

respectivas facturas …”

57. Pergunta-se como se poderá ter chegado a esta conclusão dado

que quer segundo o depoimento da Dra. ..., quer das funcionárias

da UU... Portugal ouvidas em Tribunal na sessão da Audiência e

Discussão e Julgamento do dia 3 de Maio de 2011, conforme acta,

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o senhor E... não acompanhava as vendas feitas à W..., nem sequer

era ele que dava ordens para se emitirem facturas na UU...

Portugal.

58. Há erro notório na apreciação da prova (que constitui o vício

previsto na alínea c) do citado art. 410º, n.º 2), desde logo, quanto à

dita questão da intenção criminosa do ora recorrente, que, aliás,

constitui matéria de facto.

59. Para assim concluir, pode argumentar-se, aliás, de forma bem

simples e até linear, já que muitas dúvidas quanto ao modo como se

iniciou a factualidade descrita nos autos;

60. Os factos dados como provados não preenchem a previsão dos

artigos 104º do RGIT, pelo que ao aplicá-los o acórdão recorrido

violou a lei.

61. Pelo que, e face a tudo o exposto, entendemos que os doutos

julgadores erraram na valoração da prova e na determinação das

normas a aplicar ao caso “sub judice”.

62. O elemento subjectivo do tipo-de-ilicito imputado ao arguido

na douta decisão recorrida, pressupõe a resolução de cometer uma

infracção penal, ou seja, a vontade ou intenção de praticar um

crime.

63. E agiria o arguido com dolo directo, se nas referidas

circunstâncias de tempo, lugar e acção, se pudesse afirmar que

representou um facto (a obtenção de uma vantagem patrimonial)

que preenche um tipo de crime, e actuou com vontade de o realizar.

64. Logo, na factualidade descrita não está presente, não só o

elemento intelectual ou cognitivo do dolo – traduzido na existência

da representação do facto descrito no tipo legal de crime e no

perfeito conhecimento da situação objectiva -, como também o não

está o seu elemento volitivo – uma vez que o arguido não teve

vontade, nem tão pouco previu ou realizou, atento estar unicamente

a exercer a sua função de vendedor, de realizar o tipo objectivo,

isto é, o facto que não constituiu o objecto da representação.

65. [Repetição do ponto 52.]

66. [Repetição do ponto 53.]

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67. [Repetição do ponto 54.]

68. [Repetição do ponto 55.]

69. [Repetição do ponto 56.]

70. [Repetição do ponto 57.]

71. [Repetição do ponto 58.]

72. [Repetição do ponto 59.]

73. [Repetição do ponto 60.]

74. [Repetição do ponto 61.]

75. [Repetição do ponto 62.]

76. [Repetição do ponto 63.]

77. [Repetição do ponto 64.]

78. Dado que o aqui recorrente só foi constituído arguido em 2008,

deverá o presente procedimento criminal relativo aos factos

ocorridos em relação ao exercício de 2000 ser considerado extinto

por prescrição, ao abrigo do disposto no art. 15º, nº 1 do RJIFNA.

79. [Repetição do ponto 78.]

80. Seguindo o exposto, o que está em causa, relativamente ao

exercício de 2001, as vantagens patrimoniais indevidas são as que

terão sido obtidas pela W..., com a contabilização na sua

contabilidade das facturas nº 10088, 10126, 10189, 10541, 10614,

10715, 10972, 12026 e 12149, alegadamente debitadas em excesso.

81. O que terá provocado um acréscimo do valor facturado de €

12.467,34 (que deu origem à emissão do cheque recebido pela W...

em Dezembro de 2001).

82. Ora nos termos do art. 103º, nº 2 do RGIT, “os factos previstos

nos números anteriores não são puníveis se a vantagem patrimonial

ilegítima for inferior a € 15.000,00.

83. O referido cheque de € 12.467,34, diz respeito a uma vantagem

patrimonial que foi, alegadamente, obtida pela arguida W..., no

exercício de 2001 (ano das referidas facturas falsas), uma vez que

os custos respeitantes a essas facturas falsas, alegadamente em

excesso, terão permitido à arguida W..., declarar e entregar ao

Estado um IRC inferior ao devido, no valor do cheque.

84. Ora, analisada a factualidade dada como provada,

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concretamente no que contende com a que integra a vantagem

patrimonial indevida, vemos que aí se imputa aos arguidos

(utilizadores) em sede de IRC a quantia de € 12.467,34.

85. No caso, o valor da vantagem patrimonial obtida descrita para

cada uma das declarações de IRC individualmente considerada em

cada declaração apresentada é sempre inferior a 15.000 € e por isso

actualmente não punível face ao que se expendeu, beneficiando, os

arguidos, pelo menos quanto às declarações de IRC do ano de 2002

da aplicação da Lei Nova mais favorável (art. 2º, n.º 2 e 4 do Cód.

Penal) com a entrada em vigor da alteração introduzida ao nº 3 do

art. 105 do RGIT pela mencionada Lei n.º 60-A/2005 de 30 de

Dezembro e que alargou o âmbito da não punição da fraude fiscal

àquelas cujo valor da vantagem patrimonial é superior a 15.000 €.

86. Face ao exposto, a ausência de preenchimento dos factos

descritos que se reportam à prática por todos os arguidos dos

crimes de fraude qualificada que lhes vêm imputados, implica que

se tenham como não criminalizadas as condutas de que vêm

acusados e impõem que, nesta parte se declare extinto o

procedimento criminal contra todos eles.

87. Em conclusão e face a tudo quanto supra se expendeu, deverá

se declarar extinto o procedimento criminal contra os arguidos, no

que diz respeito à prática, em co-autoria material e em concurso

real de um crime de fraude fiscal qualificada p. e p. pelo artigo

104º, e nº 2 do Regime Geral das Infracções Tributárias, aprovado

pelo D.L. nº 15/2001 de 5 de Junho.

Nestes termos e nos mais de direito que doutamente serão supridos,

deverá este ser admitido e ser revogada a decisão ora em crise,

assim se fazendo inteira e sã justiça.

3. Ao recurso respondeu na 1.ª instância o Ministério Público,

concluindo:

1ª – O Tribunal recorrido julgou como provados os factos

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constantes sob nº 7 e 8 do douto Acórdão e o recorrente, na sua

globalidade considera-os incorrectamente julgados.

2ª – Porém, o recorrente foi co-autor das fraudes fiscais com

facturas falsas, pois, como vendedor da empresa participava no

esquema em que era prometido aos clientes que o preço que

pagariam era depois reduzido, com a devolução de “comissões” por

parte da UU... alemã, tendo inclusive participado na reunião na

sede da W..., onde este artifício foi combinado.

3ª - O Tribunal motivou a sua convicção, apoiando-se nos

depoimentos de várias testemunhas inquiridas, nomeadamente dos

Inspectores da Judiciária, das Finanças, da testemunha ... e nas

declarações do co-arguido A..., que confessou os factos constantes

da acusação.

4ª – Estes elementos de prova, apreciados livremente, segundo as

regras da experiência e conjugados com os restantes documentos

juntos aos autos, levaram o Tribunal, e bem, a formar convicção

probatória destes factos, concluindo que o recorrente teve uma

participação decisiva na consumação do ilícito por que foi

condenado.

5ª – O crime de fraude fiscal qualificada é punido com pena de

prisão de 1 a 5 anos e os factos ocorreram, conforme se refere na

matéria de facto dada como provada de Maio a Dezembro de 2000

e os cheques foram emitidos em 20/04/2001 e 07/12/2001.

6ª – O crime de fraude fiscal consuma-se no momento em que

ocorre a entrega à Administração Fiscal das respectivas

declarações, onde se incluíam os elementos falsos da respectiva

facturação.

7ª – Ou seja, e como se refere na matéria de facto, foi em

31/05/2002, relativamente à declaração IRC referente ao ano de

2001, que os arguidos omitiram as importâncias recebidas e

tituladas pelos referidos cheques, que deveriam ser contabilizados

pela arguida W..., como proveitos do exercício de 2001.

(Neste sentido, quanto ao momento da consumação do crime de

fraude fiscal, veja-se o Ac. do TRP de 19/03/2003, proferido no P.

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0210683, in www.dgsi.pt).

8ª – Dispõe o art. 21 nº 1 e 2 do RGIT, que o prazo de prescrição

nos crimes tributários é de 5 anos, mas aplicam-se as regras do CP,

quando o limite da pena de prisão for igual ou superior a 5 anos.

No caso, o limite máximo da pena de prisão é de 5 anos, pelo que

nos termos do art. 118 – nº 1 – al. b) CP, o prazo de prescrição é de

10 anos.

9ª – Atenta a data da consumação, ainda não decorreu sequer este

prazo, a que há que acrescer os períodos de suspensão e interrupção

da prescrição, como seja a data da constituição como arguido, que

no caso do recorrente E..., ocorreu em 07/02/2008 – cf. fls. 143.

10ª – A questão da despenalização pelo valor, quando se trata de

crime de fraude fiscal qualificado p. e p. pelo art. 104 nº 1 do

RGIT:

A norma do art. 103 – nº 2 do RGIT é muito clara: os factos

previstos nos números anteriores não são puníveis, se a vantagem

patrimonial ilegítima for inferior a 15.000€.

11ª – Pela letra de norma, torna-se evidente que só se pretende

abarcar nesta despenalização o crime de fraude fiscal simples p. e

p. pelo art. 103.

O crime p. e p. no art. 104 (fraude fiscal qualificada) é um novo

ilícito penal e aí não vem previsto nenhum número idêntico ao do

nº 2 do art. 103: logo, o valor da vantagem patrimonial não releva

para efeitos de despenalização, quando se trata de fraude fiscal

qualificada.

12ª – Quando o legislador pretende desqualificar um crime ou

despenalizar uma conduta, esclarece-o expressamente, como o faz,

quanto à desqualificação prevista no art. 204 – nº 4 do Código

Penal.

13ª – Neste sentido, Acórdão da Relação de Guimarães de

18/05/2009, proferido no P. 352/02.8IDBRG-G1, in www.dgsi.pt:

“São realidades de gravidade distintas: uma coisa é a fraude

consistir unicamente na comunicação da existência de um negócio

simulado. Outra, bem mais grave, é forjar documentos para

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convencer que o negócio efectivamente existiu, tornando mais

difícil a descoberta do crime. Foi apenas o primeiro comportamento

que o legislador pretendeu beneficiar com a norma do art. 103 – nº

2 do RGIT”.

14ª – Em sentido contrário, vai o Acórdão da Relação do Porto de

23/03/2011, proferido no P. 70/05.5IDAVR.P1, in www.dgsi.pt,

sendo que a interpretação da norma vertida no Acórdão do TRG

nos parece a que melhor respeita o espírito e a própria letra da lei.

Nestes termos, improcedendo sempre o recurso quanto ao erro de

julgamento dos factos dados como provados, sob nº 7 e 8, bem

como quanto às questões de direito suscitadas, será feita JUSTIÇA!

4. Admitido o recurso, fixado o respectivo efeito, foram os autos

remetidos a este Tribunal – [cf. fls. 2079].

5. Na Relação, o Ilustre Procurador – Geral Adjunto emitiu o

parecer junto a fls. 2094 a 2096, no qual, acompanhando, no

essencial, a argumentação expendida na 1.ª instância pelo

Ministério Público, se pronunciou no sentido de o recurso não

merecer provimento.

6. Cumprido o disposto no artigo 417º, nº 2 do CPP, reagiu o

arguido B..., referindo, no essencial, mostrar-se extinto por

prescrição o procedimento criminal, o que fez sem embargo de

estar, por certo ciente, de se tratar de questão já por si suscitada e

decidida, conforme resulta da acta de fls. 1649 a 1655, de

03.02.2011.

7. Realizado o exame preliminar e colhidos os vistos, foram os

autos à conferência cumprindo, agora, decidir.

II. Fundamentação

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1. Delimitação do objecto do recurso

De harmonia com o disposto no nº 1 do artigo 412º do CPP, e

conforme jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal de Justiça, o

âmbito do recurso é delimitado em função do teor das conclusões

extraídas pelo recorrente da respectiva motivação, só sendo

permitido ao tribunal ad quem apreciar as questões desse modo

sintetizadas sem prejuízo das que importe, oficiosamente, conhecer,

como são os vícios do artigo 410º do CPP, ainda que o recurso se

encontre limitado à matéria de direito – [cf. acórdão do Plenário

das Secções Criminais do STJ de 19.10.1995, DR. I. Série – A, de

28.12.1995].

A propósito da necessária correlação entre a motivação e as

conclusões escreve Germano Marques da Silva: As conclusões

devem ser concisas, precisas e claras, porque são as questões nelas

sumariadas que hão-de ser objecto de decisão. As conclusões

resumem a motivação e, por isso, que todas as conclusões devem

ser antes objecto de motivação. É frequente, na prática o

desfasamento entre a motivação e as correspondentes conclusões

ou porque as conclusões vão além da motivação ou ficam aquém.

Se ficam aquém a parte da motivação que não é resumida nas

conclusões torna-se inútil porque o tribunal só poderá considerar

as conclusões: se vão além também não devem ser consideradas

porque as conclusões são o resumo da motivação e esta falta – [cf.

“Curso de Processo Penal, III, Editorial Verbo, 2009, pág. 347].

Tendo em conta o supra enunciado, são as seguintes as questões

suscitadas:

- Nulidade do acórdão, por violação do artigo 374º, n.º 2 do CPP;

- Violação dos artigos 151.º e ss. do CPP;

- Impugnação da matéria de facto/vícios do artigo 410º, nº 2 do

CPP/violação do princípio in dubio pro reo/ violação do artigo

127º do CPP;

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- Violação do artigo 340º do CPP;

- Errado enquadramento jurídico – penal dos factos;

- Prescrição do procedimento criminal;

- Aplicação ao crime de fraude fiscal qualificada [artigo 104º do

RGIT] do disposto no artigo 103º, nº 2 do RGIT.

2. O acórdão recorrido

No acórdão recorrido ficaram consignados como provados os

seguintes factos (transcrição parcial):

A

1) A arguida “W... – MOLDES, LDA”, é uma sociedade comercial

por quotas, matriculada na Conservatória do Registo Comercial de

… , que tinha por objecto a fabricação de moldes para a indústria

de plásticos e se encontrava enquadrada, para efeitos de Imposto

Sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas, no regime geral.

2) Os arguidos A... e B... foram gerentes da “W...” desde a sua

constituição, no ano de 1998, e o arguido C... foi gerente da “W...”

desde 1998 a 09 de Julho de 2003, cabendo-lhes, nos períodos

referidos, decidir, conjuntamente, relativamente às formas de

pagamento aos fornecedores, à venda e aquisição de mercadorias,

bens e serviços, gerir as contas bancárias e dar instruções

relativamente à execução da documentação comercial e fiscal.

3) A arguida “UU...-PORTUGAL, LDA”, é uma sociedade

comercial por quotas, matriculada na Conservatória do Registo

Comercial de … , com capital social de € 1449 400,00, que tem por

objecto o comércio de aços e acessórios para a industria

metalomecânica e afins, sendo que até 1993 tinha a denominação

de “ … ”.

4) O arguido D... foi gerente da “UU...- PORTUGAL” desde a sua

constituição, em 1990, até 20 de Dezembro de 2002.

5) A arguida “ZZ...”, é uma sociedade em comandita, com sede na

Alemanha, em …. Detém, desde 1992, duas quotas da “UU...-

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PORTUGAL”, à data no valor de 25.411.000$00 e de

11.589.000$00, respectivamente, e actualmente, após entradas em

dinheiro realizadas no ano de 2005, no valor de € 1.113.415,00 e de

€ 57.806,00.

6) O arguido E... foi vendedor da “UU...- PORTUGAL”, desde o

ano de 1988 até cerca de meados do ano de 2002.

7) No início do ano de 1998, os arguidos E... e D... encetaram

contactos com a sociedade “W... – MOLDES, LDA”, e seus

gerentes, para fornecimento de aços comercializados pela “UU...-

PORTUGAL”, que representavam, o primeiro enquanto vendedor e

o segundo enquanto gerente.

8) Na sequência de tais contactos, foi acordado entre os arguidos

B..., A... e C..., em representação da “W...”, e os arguidos E... e

D..., em representação da “UU...- PORTUGAL”, que o aço a

adquirir pela “W...” seria facturado (seguindo a “Tabela de

Facturação” da UU...-), a preço superiores aos constantes da

“Tabela de Preços” da “UU...-”, sendo a diferença devolvida, após

pagamento, sem registo contabilístico, através de cheque emitido

pela empresa “mãe” “ZZ “ à ordem da “W...”, dos gerentes ou de

pessoas da sua confiança, por forma a tais quantias não terem que

ser declaradas, para efeitos fiscais, como proveitos ou ganhos desta

sociedade e delas poderem fazer uso como entendessem.

Assim:

9) Tal como constituía prática comercial entre as sociedades em

causa, de Maio a Julho de 2000, os arguidos B..., A... e C..., por

algum deles ou alguém a mando, encomendaram à “UU...-

PORTUGAL” aço de diversos tipos, que o arguido D..., em

execução do acordo celebrado, mandou debitar à “W...”, a preços

superiores aos devidos, nas facturas nºs 1411, 1489, 1542, 1594,

1658, 1697, 1794, 1838, 1938, 2044, 2091, 2132, 2279, 2437 e

2473.

10) Recebida a mercadoria, os arguidos B..., A... e C...mandaram

lançar as facturas supra identificadas na contabilidade da “W...” e

proceder ao seu pagamento, pelos exactos montantes debitados.

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11) Aceitando o acordado, em Abril de 2001, os representantes

legais da arguida “ZZ...”, não concretamente identificados,

conscientes do fim por aqueles visado, mandaram emitir, da conta

n.º … , do Deutsche Bank, titulada por aquela sociedade alemã, em

nome dos arguidos C..., A... E B... os cheques nºs … , datados de

20-04-2001, todos do valor de DM 36.039,00 (equivalente a €

18.426,45), para reembolso do acréscimo facturado e pago, nos

termos descritos, de Maio a Julho de 2000.

12) Ainda no mês de Abril de 2001, foram entregues nas

instalações da “W...”, ou para aí remetidos, os aludidos cheques,

que os arguidos B..., A... E C...não mandaram lançar, como

deviam, na contabilidade daquela sociedade e, de comum acordo,

depositaram-nos ou mandaram-nos depositar na conta do BCP

(antes BPSM), com o nº 063/08/544989, pelos três titulada, por

forma a poderem usar aquelas quantias monetárias no pagamento

de despesas não documentadas da arguida “W...”.

13) De Agosto de Dezembro a 2000, os arguidos B..., A... E C...,

por si ou por alguém a seu mando, encomendaram à “UU...-

PORTUGAL” aço de diversos tipos, que o arguido D..., em

execução do acordo celebrado, mandou debitar à “W...”, a preços

superiores aos devidos, nas facturas nºs 2857, 2937, 3185, 3237,

3369, 3522, 3627, 3855, 3983, 4007, 4022 e 4143.

14) De Janeiro a Julho de 2001, os arguidos B..., A... e C..., por

algum deles ou alguém a mando, voltaram a encomendar à “UU...-

PORTUGAL” aço de diversos tipos, que o arguido D..., em

execução do acordo celebrado, novamente mandou debitar à

“W...”, a preços superiores aos devidos, nas facturas nºs 10088,

10126, 10189, 10541, 10597, 10614, 10715, 10972, 12026 e

12149.

15) Recebida a mercadoria, os arguidos B..., A... e C...mandaram

lançar as facturas supra identificadas na contabilidade da “W...” e

proceder ao seu pagamento, pelos exactos montantes debitados.

16) Cumprindo o acordado, em Dezembro de 2001, os

representantes legais da arguida “ZZ...”, não concretamente

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identificados, mandaram emitir, da conta n.º … , do Deutsche

Bank, titulada por aquela sociedade alemã, em nome do arguido

A..., os cheques nºs … , datados de 07-12-2001, nos valores de DM

9.572,00 (equivalente a € 4.894,09)