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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás-PUC-GO COMO A MELHORA DO CLIENTE SE MOSTRA AO TERAPEUTA GESTÁLTICO Especializanda: Maria Eleuza Pereira Orientadora: Marisete Malaguth Mendonça Goiânia/GO, Novembro de 2010

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a

Especialização na Abordagem Gestáltica

Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás-PUC-GO

COMO A MELHORA DO CLIENTE SE MOSTRA AO TERAPEUTA

GESTÁLTICO

Especializanda: Maria Eleuza Pereira

Orientadora: Marisete Malaguth Mendonça

Goiânia/GO,

Novembro de 2010

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COMO A MELHORA DO CLIENTE SE MOSTRA AO TERAPEUTA

GESTÁLTICO1

Especializanda: Maria Eleuza Pereira2

Orientadora: Marisete Malaguth Mendonça3

Resumo: Este artigo resulta de uma pesquisa que teve como objetivo verificar como Gestaltistas, atuando no

atendimento clínico, avaliam a melhora de seus pacientes. Realizaram-se cinco entrevistas por meio

das quais, utilizando o método fenomenológico de Giorgi, foram obtidas vinte e cinco unidades de

sentido. Essas unidades são os indicadores de melhora do cliente, utilizados pelas entrevistadas para

definir a evolução da pessoa no decorrer do processo psicoterapêutico. Verificou-se que a estrutura da

experiência de melhora pode ser entendida em três dimensões existenciais: a intrapsíquica, a

interpessoal e a transpessoal. Os intrapsíquicos somaram quinze indicadores; os interpessoais, nove

indicadores e o transpessoal, apenas um indicador. Tal resultado indica o interesse e o prestígio da

dimensão intrapsíquica junto aos terapeutas entrevistados, seguida da dimensão interpessoal e a

relativa pouca importância da dimensão transpessoal como indicio de saúde existencial.

Palavras-chave: Saúde existencial, Gestalt-terapia, indicadores de melhora do cliente, dimensões

intrapsíquica, interpessoal e transpessoal.

Introdução

Profissionais de várias especialidades possuem indicadores de seus sucessos e

fracassos que oportunizam a melhoria dos procedimentos e viabilizam resultados

mais eficazes. E o psicólogo clínico, como avalia o resultado do trabalho

desenvolvido com o seu paciente? Quais os indícios de progresso do cliente no

processo psicoterapêutico? Essas inquietações que permeiam o início da vida

profissional da maior parte dos psicoterapeutas e persistem mesmo após anos de

exercício da psicologia clínica, foram a motivação para que se prosseguisse com esta

pesquisa.

1 Artigo apresentado ao Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de

Goiânia como requisito à conclusão do curso de Especialização Lato-Sensu em

Gestalt-terapia. 2 Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO. Especializanda

em Gestal-Terapia pelo Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia –

ITGT/PUC-GO 3 Psicoterapeuta, Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

Fundadora, Diretora Acadêmica e Revisora de textos do Instituto de Treinamento e Pesquisa em

Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT. Professora do Departamento de Psicologia na PUC de Goiás

3

Este artigo visa verificar como diferentes profissionais, atuando como gestalt-

terapeutas, avaliam a melhora da existência dos seus clientes no processo de

psicoterapia. A necessidade de investigar o tema abordado surgiu com os primeiros

atendimentos e com a incerteza de estar trilhando o melhor caminho para o

desenvolvimento do cliente e o restabelecimento de sua saúde existencial.

Saúde e doença em Fenomenologia

Para a fenomenologia, concepção filosófica que forneceu embasamento para

elaboração deste trabalho, o homem é um ser relacional. É no contato com o mundo

circundante que o indivíduo vive as experiências que dão significado à sua

existência. Essa relação capaz de proporcionar crescimento e realização,

paradoxalmente traz situações que podem ser vivenciadas como paralisadoras e

impeditivas do desenvolvimento (Forghieri, 1993). Assim, para esta autora, quando a

pessoa não consegue lançar mão de suas possibilidades, usando sua capacidade de

escolha para enfrentar e superar os fatores contrários à realização de sua

potencialidade ela está existencialmente adoecida. Na ignorância das próprias

possibilidades, as limitações e conflitos inerentes à existência, ganham uma

dimensão exagerada sufocando a capacidade de reagir daquela pessoa. É preciso a

coragem de ser para enfrentar a própria condição existencial, superando obstáculos

como o medo, a angústia, a insegurança, os imprevistos e as restrições de todos os

tipos.

Torna-se relevante discutir o que se entende por melhora do cliente no processo

psicoterapêutico. Para a Gestalt-terapia, saúde e patologia não são percebidas como

eventos isolados, mas sim coexistindo em um processo dialético:

Saúde não é um estado, mas um processo, no qual o organismo vai se

atualizando conjuntamente com o mundo, transformando e atribuindo-lhe

significado à medida que ele próprio se transforma (...) Normal é aquele que

supera os conflitos, criando-se dentro de sua liberdade, atendendo

4

igualmente às coações da realidade. Patológico é o momento em que o

indivíduo permanece preso à mesma estrutura sem mudança e sem criação

(Augras, 1986, pp. 11 e 12).

Entende-se, então, que não há um estado fixo de normalidade, mas normal

seria o fluir de um processo, no qual o indivíduo encontra determinadas dificuldades

no enfrentamento e superação de algumas situações, dificuldades estas que lhe

possibilitam ir reconfigurando novas estruturas mais adaptadas às condições atuais

(Malaguth, 2010). Cada evento suscita uma carga emocional própria, com grau de

dificuldade específico para aquele indivíduo, o que pode deixá-lo preso a respostas

insatisfatórias, causando um desequilíbrio no organismo. Esses momentos em que a

situação mobilizadora exige grande carga de energia sem resultados geradores de

mudança são chamados de patológicos. E à medida que o indivíduo consegue, na

interação com o mundo, atualizar-se respondendo às exigências do meio, está

vivendo uma situação de saúde ou normalidade (Perls, 1988).

A psiquiatria convencional conclui pela normalidade ou patologia, avaliando,

principalmente, a maioria estatística. Entretanto, a fenomenologia aponta para a

inadequação dessa definição que desconsidera aspectos importantes do

comportamento e exclui grupos não ajustados às regras vigentes. Diante dessa

perspectiva, seria mais apropriado considerar saudável, do ponto de vista existencial,

o indivíduo com capacidade de transformar o meio, às vezes inadequado, em um

mundo satisfatório. O cliente melhora, então, ao tornar-se capaz de superar os seus

conflitos criativamente, sem perder o contato com a realidade, usando esse contato

como força propulsora para sua construção no mundo (Augras, 1986).

Yontef (1998), baseando-se em PHG (1951), acredita igualmente que uma

pessoa saudável não se ajusta simplesmente ao meio, ela interage criativamente em

busca da melhor solução, responsabilizando-se pelas suas escolhas. Suas figuras são

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claras e bem formadas, destacando-se do fundo. A necessidade dominante é

percebida com clareza e uma solução criativa é encontrada, fazendo com que a figura

mude.

Para Ponciano (2007) a pessoa adoece quando o contato é interrompido,

dificultando a autorregulação organísmica. Esta é o processo através do qual se dá o

re-equilíbrio espontâneo do organismo quando este entra em contato com o meio, e

logra conseguir a satisfação de suas necessidades físicas ou psico-sociais. A doença

dá-se na perturbação da relação e deve ser avaliada observando a pessoa no campo

no qual está inserida. Portanto tratar a doença é ineficaz, o que deve ser tratado é a

pessoa adoecida, cuja relação com o seu meio está comprometida. Para tratá-la deve-

se restaurar sua capacidade de contatar plenamente a si própria, o outro e o mundo.

O contato está estreitamente ligado ao processo de formação e fechamento das

gestalten4. Quando mais situações inacabadas um cliente tem, menos saudável ele é e

mais empobrecido o seu contato.

Para Hycner (1995) a doença é uma disfunção da existência total da pessoa e é

um sinal de que ela necessita de cuidado para que sua existência novamente se torne

integrada. Em geral o que leva um cliente procurar a terapia é o diálogo perturbado e

a dificuldade de contato. A cura está intimamente ligada à relação dialógica e a

awareness5 do cliente. Uma relação saudável exige verdadeiros relacionamentos

interpessoais, não objetais, onde haja reciprocidade entre as pessoas.

Polster e Polster (2001) consideram o termo doente inadequado a grande parte

dos clientes que procuram terapia. Por isso, no lugar de cura, opta por crescimento e

4 Gestalten: plural de Gestatl - o indivíduo em contato com sua totalidade percebe suas necessidades,

sendo que uma delas se configura como a principal, tornando se figura, enquanto as demais

permanecem como fundo. As figuras fluem, transformando-se e integrando-se ao fundo, à medida que

a necessidade emergente é suprida e outra situação se configura. Este processo é responsável pela

formação/fechamento das Gestalten. 5 “Awareness é o processo de estar em contato vigilante com os eventos mais importantes do campo

indivíduo/ambiente com total apoio sensoriomotor, emocional, cognitivo e energético” (Yontef, 1998,

p. 31).

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menciona que as pessoas cada vez mais não perseguem simplesmente a cura, mas

procuram viver melhor, investindo em auto-aperfeiçoamento e em descoberta

pessoal.

Cancello (1991) afirma que o conceito de melhora para um cliente específico é

sempre elaborado ao longo do processo terapêutico e vai se formando à medida que

ele caminha em seu autoconhecimento. Esses momentos nos quais a melhora do

paciente é percebida são pinçados do tempo total da terapia e, assim como na nossa

vida somos capazes de apontar episódios significativos que contribuíram para a

constituição do que somos, esses momentos registrados nas sessões vão definindo a

saúde para aquela pessoa. Portanto, a melhora do cliente revela-se no presente ao

terapeuta, que toma como referência o início da terapia.

Para Malaguth (2001), a doença é a fragmentação da unidade do homem, a

alienação de partes de si mesmo, por meio da interrupção do experienciar o contato

exigido pela situação vivida no aqui e agora. Ela considera que toda perturbação da

unidade solidária do funcionamento humano provém dessas interrupções da

formação das gestalten ou todos sensoriais, perceptivos, emocionais, intelectuais que

o organismo necessita para captar o sentido e a adequação do ajustamento ao meio,

ajustamento criativo e não mera adaptação passiva. Complementa a autora, em

contato pessoal na Orientação, que a saúde existencial seria o restabelecimento do

contato interrompido na frente interna e externa, por meio do diálogo intrapessoal

com os diversos e conflitantes aspectos de si mesmo, e o diálogo interpessoal com o

outro, com a diferença, necessariamente desestabilizadora do eu. O diálogo

recomendado pela Gestalt, implica em uma relação autêntica consigo e com os

outros. Só assim, via contato e diálogo autênticos, a unidade organísmica e a unidade

eu-mundo podem ser restabelecidas, finaliza.

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O Processo psicoterapêutico

O objetivo da psicoterapia, para Yontef (1998), é que o cliente atinja a

awareness, vivênvia que pressupõe a capacidade de contato, implicando em

conhecimento do ambiente, a responsabilidade pelas escolhas, o autoconhecimento e

a auto-aceitação. A Gestalt-terapia não visa alterar diretamente o comportamento, o

foco é no crescimento e na autonomia do cliente, aumentando sua consciência e

integrando partes anteriormente alienadas. O contato e a awareness são obtidos no

presente, sendo que o primeiro abre o caminho para a segunda.

Ginger e Ginger (1995) consideram que a terapia tem como objetivo a

sustentação e desenvolvimento do bem estar harmonioso e não a cura, quando

entendida como enquadramento do indivíduo em um padrão socialmente aceito. A

Gestalt-terapia, por valorizar as diferenças individuais, repudia a busca da

normalidade no sentido de padronização do comportamento. O desenvolvimento

pessoal, a formação e a plenitude do potencial humano são preferíveis, como saúde

existencial, à simples adaptação social.

Não se trata de subestimar o papel do meio social na vida do indivíduo;

Cancello (1991) lembra que o desenvolvimento da pessoa não ocorre somente dentro

dos consultórios, ele acontece também na vida. As experiências terapêuticas se dão

dentro e fora da terapia. Se o indivíduo não adquire a capacidade de levar a “cura”

para o cotidiano, expõe seriamente que não logrou atingir ainda seu equilíbrio e

bem-estar. A conciliação entre as necessidades individuais e as exigências do meio é

um ponto chave para a satisfação pessoal e indicador de maturidade. A melhora é

percebida inicialmente na relação estabelecida entre o terapeuta e seu paciente e cabe

ao terapeuta estar atento ao resultado de suas intervenções no contexto onde se situa

o cliente.

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Para que o processo de psicoterapia inicie é necessário que o cliente perceba

que alguma coisa nele não está funcionando bem e que pode ser melhorada com o

auxílio da terapia; precisa, acima de tudo, ter o desejo de mudança. O psicoterapeuta

verifica, além da vontade do cliente de atingir um bem estar biopsicossocial, o tipo

de problema que está vivenciando, a sua disponibilidade e os recursos internos para

superá-lo e o que espera conseguir com a terapia. Embora a terapia não vise resolver

os problemas pontuais do cliente, atua desenvolvendo-lhe os recursos próprios de

lidar com eles, clareando e ampliando sua visão de si mesmo e do meio ao qual está

inserido, munindo-o de forças para agir, seguindo suas próprias decisões (Ponciano,

1986). O processo psicoterapêutico, prossegue este autor, deve auxiliar o cliente a

retomar ou reiniciar o seu crescimento, independência e maturidade. Por meio da

psicoterapia se espera que ele possa perceber formas melhores de lidar consigo

mesmo e com o mundo circundante.

Giovanetti (1999) entende que a principal missão do terapeuta é ajudar o

cliente a reorganizar sua existência, incentivando-o a descobrir o sentido mais

profundo de sua vida, obter coerência interna e resgatar sua dimensão espiritual. O

terapeuta também deve auxiliar a pessoa a se aproximar de si mesmo, aumentando a

autoconfiança, assumindo a responsabilidade por si e por suas decisões e

desenvolvendo uma relação autêntica na convivência inter-humana.

Desenvolvimento

Optou-se por realizar este trabalho dentro dos preceitos da Fenomenologia, por

ser o método que demonstra melhor adequação à pesquisa qualitativa, viabilizando a

apreensão da subjetividade do sujeito e o significado da experiência relatada.

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A investigação fenomenológica proporciona a oportunidade de conhecer o

fenômeno “sob um novo olhar”. É uma tentativa de encontrar a essência da coisa

estudada, sem ideias pré-estabelecidas, permitindo a manifestação do sentimento e da

subjetividade de cada indivíduo naquele momento (Petrelli, 2001).

Malaguth (2004), lembra que o observador, utilizando o Método

Fenomenológico, deve estar o mais aberto possível àquilo que surgir para que o

apreendido corresponda à realidade e o conhecimento alcançado com a experiência

corresponda à verdade, à essência básica. É necessário estar cônscio de que as

possibilidades são inumeráveis havendo sempre a probabilidade de percepção do

fenômeno sob uma nova perspectiva. Sob esse prisma a fenomenologia pode ser

considerada como a filosofia do inacabamento. Acrescenta que os resultados obtidos

podem vir em complemento ao já conhecido ou implicar em alteração e reformulação

do pensamento vigente.

Portanto, este estudo é apenas um recorte da realidade e não pretende de forma

alguma esgotar o tema, mas apresentar o fenômeno, conforme apreendido pelos

participantes desta pesquisa. Buscou-se identificar as unidades significativas

presentes na fala das entrevistadas, decorrentes de suas vivências no consultório,

registrando-as para análise sobre o assunto e, a seguir, a discussão dos resultados.

Método fenomenológico de Giorgi

Esta pesquisa foi realizada seguindo o método fenomenológico de Giorgi, para

obtenção das unidades de significado ou unidades de sentido percebidas nos relatos

das entrevistadas.

As unidades de significado são ideias centrais identificadas na descrição dos

entrevistados em resposta ao questionamento inicial que, segundo o ponto de vista do

pesquisador, trazem em si informações significativas sobre o fenômeno estudado. É a

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partir da seleção das unidades de significado que se faz a redução fenomenológica

chegando à essência do fenômeno (Martins e Bicudo, 1989), que neste trabalho será

tratada por indicadores de melhora do cliente.

Os quatro passos do método fenomenológico de Giorgi:

O trabalho foi desenvolvido seguindo os quatro passos do método

fenomenológico de Giorgi, conforme descrito por Moreira (2002):

Primeiro passo: fez-se uma leitura geral das entrevistas transcritas, entrando em

contato com o sentido total do que foi dito. Para executar esta atividade foi

necessário que a pesquisadora se sentisse à vontade com a pesquisa transcrita, lendo-

a até conseguir uma visão clara do todo.

Segundo passo: após obter o sentido do todo, voltou-se ao início da entrevista

para uma nova leitura. O texto foi dividido em fragmentos de informação de acordo

com as idéias centrais ou unidades de sentido específicas que apresentavam.

Terceiro passo: realizou-se a leitura de todas as unidades de sentido para que

fosse possível discriminar as unidades relevantes ao objeto de estudo.

Quarto passo: finalmente as unidades de sentido foram sintetizadas em

categorias ou eixos unificadores de forma que estes expressassem as vivências dos

entrevistados consideradas como da mesma natureza, o que passou a ser

denominado de estrutura da experiência, conforme manifestada à pesquisadora.

Participantes

Participaram deste estudo cinco psicólogas, com formação em Gestalt-terapia,

que atuam no atendimento clínico:

Entrevistada I: 04 anos de experiência. Especialista em Gestalt-terapia pelo

Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia - ITGT.

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Entrevistada II: 25 anos de experiência. Especialista em Gestalt-terapia pelo

Instituto de Gestalt-Terapia e Atendimento Familiar, do Rio de Janeiro - IGT.

Entrevistada III: 25 anos de experiência. Especialista em Gestalt-terapia pelo

Centro de Gestalt-terapia de Brasília – CEGEST.

Entrevistada IV: 19 anos de experiência. Especialista em Gestalt-terapia pelo

Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia - ITGT.

Entrevistada V: 09 anos de experiência. Especialista em Gestalt-terapia pelo

Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia - ITGT.

Instrumento

Utilizou-se a entrevista qualitativa fenomenológica, com a seguinte pergunta

norteadora: “na sua experiência como gestalt-terapeuta, como a melhora do cliente se

mostra à sua pessoa?”

A entrevista não estruturada foi a que melhor se ajustou a este estudo, por

permitir a descrição da experiência de cada participante. Algumas perguntas foram

acrescentadas ao longo das entrevistas, com o intuito de esclarecer dúvidas ou clarear

tópicos abordados.

Procedimento

As entrevistas foram agendadas por telefone, ocasião em que o tema e

finalidade da pesquisa foram repassados à psicóloga contatada. Após a aquiescência

das entrevistadas em contribuir com o estudo, a pesquisadora agendou data e local

para realizar a entrevista, que foi gravada e posteriormente transcrita. O texto

transcrito foi encaminhado às mesmas que, em concordando com a utilização do

material, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a

Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, conforme modelo do anexo A. O

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tempo de duração das entrevistas variou de 10 minutos a 25 minutos, conforme

disponibilidade de cada entrevistada para descrever sua experiência em consultório.

Resultados e Discussão

As entrevistadas expuseram suas experiências, traduzindo em palavras a

percepção do que representa para elas a melhora para os seus pacientes. Discutir-se-

á a seguir as Unidades de Sentido (US), ou seja, os indicadores da melhora dos

clientes, obtidos nas entrevistas, cujos trechos estão reproduzidos no anexo B.

Apresentar-se-ão também as tabelas com os fragmentos das entrevistas de onde

foram retiradas as Unidades de Sentido registradas a seguir.

Unidades de Sentido (US) Identificadas

US 1: O cliente supera a queixa ou conflito inicial.

A superação da queixa inicial foi apontada como um dos indicadores de

melhora do cliente, por duas entrevistadas, conforme tabela abaixo.

Tabela 01

Entrevistada I “uma das melhoras é quando o cliente traz uma queixa explícita e

depois de um tempo de terapia a gente vê que aquela queixa não

existe mais e, principalmente, quando ele percebe.”

Entrevistada V “a pessoa começa a estar mais disponível, a energia dela sai

desse conflito e fica mais disponível para agir em prol dela

mesma, para ela fazer coisas tanto em relação a si mesma quanto

em relação ao mundo que ela vive, coisas que a façam se sentir

melhor. (...) ter um sofrimento menor, acho que o sofrimento, a

dor em si, diminui.”

Para Perls (1988) o primeiro passo na terapia é descobrir do que o paciente

necessita. Alguns chegam com figuras bem definidas, ou seja, com uma queixa

inicial, conforme relatado na Tabela 01. Nesse caso, a melhora ocorre quando as

necessidades subjacentes à figura, que fez o cliente procurar ajuda na terapia, são

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supridas ou ressignificadas como ilusórias e abandonadas e ele fica livre para que

outras figuras fluam.

US 2: O cliente descreve melhor sua experiência.

Este indicador foi citado por uma das entrevistadas e transcrito na tabela 2.

Tabela 2

Entrevistada III “ele mesmo vai buscando descrever, favorecendo a minha

entrada no mundo dele. O paciente chega com um mundo

fechado que nem ele compreende. Ele vai melhorando quando

ele compartilha melhor o significado porque ele também já

compreendeu.”

Polster & Polster ( 2001), conduzem a terapia incentivando o cliente a

recuperar suas funções de contato desenvolvendo a capacidade de encontrar consigo

e com o outro. A fala é uma das formas de contatar o outro; por meio dela a pessoa

expressa suas motivações, seu modo de ser no mundo e é apreendida pelos demais.

Dizer realmente aquilo que se deseja, quando já se compreendeu o significado para si

mesmo, é um ato grandioso e vital para uma comunicação genuína. Cada palavra

autêntica vem carregada de possibilidade de contato, pois é uma afirmação pessoal

do indivíduo que busca o outro (Polster & Polster, 2001).

US 3: O cliente escuta melhor o terapeuta.

Este foi um dos indicadores citados, conforme transcrição do trecho que deu

origem à US3.

Tabela 3

Entrevistada III “O cliente é capaz de (...) escutar mais (...) ele escuta melhor o que

eu pergunto.”

Em nossa cultura utiliza-se o mesmo verbo para duas ações bem diferentes:

diz-se que alguém ouviu quando ele percebeu o som das palavras e respondeu algo

muito diferente do perguntado e diz-se o mesmo quando, além de perceber as

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palavras, a pessoa apreendeu o mundo de significados daquele que falou. O ouvir,

verdadeiramente, é mais que observar, é entrar em contato, é estar em relação

(Amatuzzi, 1990). O cliente ao ser escutado na relação pelo seu terapeuta passa a

escutá-lo melhor e, em seguida, expande o aprendizado para fora do espaço

terapêutico

US 4: O cliente desenvolve a escuta em suas relações.

O desenvolvimento da escuta do outro fora da sessão foi o indicador seguinte

de melhora do cliente, citado pela entrevistada IV.

Tabela 4

Entrevistada IV “O que o outro fala passa a ser muito mais importante até

porque a escuta passa a ser muito mais tranquila.”

Segundo Polster e Polster (2001), a terapia deve atuar na restauração e

desenvolvimento das funções de contato. O ouvir é um importante elemento para o

crescimento pleno de um ser humano interferindo diretamente na eficiência

relacional do indivíduo.

Ao ouvir de forma disfuncional, o indivíduo direciona sua escuta

especializando-se em referências específicas que interferem negativamente na

qualidade da audição, gerando as distorções. A palavra ouvida, em contato com o

mundo interno do indivíduo, transforma-se em significados que vão muito além do

sentido comunicado pelo falante. Melhorar o processo de comunicação implica

necessariamente na ação do terapeuta intervir na forma como o cliente ouve,

reduzindo as distorções. Isso permite ao cliente ouvir verdadeiramente aquele que

fala não só na sessão, mas também fora do espaço clínico (Polster & Polster, 2001).

US 5: O cliente desenvolve a auto-escuta.

Este indicador foi referido por uma das entrevistadas.

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Tabela 5

Entrevistada III “ele é capaz de se escutar (...) Ele começa a ter uma

autoescuta.., eu acho que fazer terapia é se escutar e quando ele

vai se escutando, ele vai escutando os sintomas e ao escutar os

sintomas ele vai compreendendo os significados dos sintomas

no contexto em que ele vive.”

Hycner (1995), entende os sintomas na abordagem dialógica da Gestalt-terapia,

como tentativas extremas de estabelecer o diálogo que não deu certo, como uma

forma que o organismo encontrou de obter resposta para as situações interrompidas.

Inicialmente, o cliente recusa as mensagens recebidas de si mesmo porque elas não

se enquadram nas suas expectativas ou nas expectativas do meio. Ele reprime as

awareness para não entrar em contato com as demandas penosas ao seu ser. A terapia

auxilia o paciente a escutar-se, a aceitar-se e integrar à sua totalidade as respostas que

for obtendo.

US 6: O cliente observa melhor o ambiente.

Uma das entrevistadas percebeu que o cliente melhora quando consegue

observar detalhes concretos do ambiente, conforme relatado na tabela 6.

Tabela 6

Entrevistada III “quando ele começa a me perceber nas mínimas coisas, às

vezes até perceber o consultório (...) Então, além da audição eu

percebo a visão.”

Yontef (1998), prescreve em terapia, o aprendizado pelo cliente do uso dos

sentidos para explorar por conta própria a si mesmo e ao ambiente. Ele aprende a

utilizar as funções de contato para assimilação no aqui e agora. Aprende o processo

de ficar consciente do que está fazendo e como está fazendo. Além disso, à medida

que vai fechando as gestalten aumenta sua disponibilidade para o contato com o

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meio e ele começa a ver detalhes antes não percebidos porque estava muito

envolvido com seus conflitos.

US 7 – O cliente torna-se consciente ou aware.

Tornar-se consciente ou aware foi destacado por três das cinco entrevistadas,

como um indicador de melhora do cliente.

Tabela 7

Entrevistada I “tem caso que... são queixas amplas, queixas não definidas. Eu

observo que a melhora é quando o cliente vai se tornando

consciente das coisas dele.”

“ele vai tomando consciência de como ele lida com as coisas

dele... e ao tomar essa consciência ele vai mudando...”

“quando ele mesmo consegue olhar para as coisas dele com um

olhar, não sei se com olhar diferente, crítico ... Então quando o

próprio cliente consegue ter atitude sem a intervenção do

terapeuta.”

Entrevistada IV “ele vai ampliando o contato e nessa ampliação de contato vai

tendo mais consciência (...) vai tendo uma forma mais

organizada de lidar com as coisas dele e vai tendo a

awareness.”

Entrevistada V “A pessoa vai tendo um melhor conhecimento de si, vai

vivendo sob uma perspectiva diferente.”

“Ela começa a ver alternativas que antes ela não via, ela

começa a ver os próprios problemas sob uma perspectiva mais

ampla do que via antes.”

“A própria pessoa vai percebendo que está melhor, as pessoas

vão percebendo que ela está melhor (...) Um indicativo

concreto que a pessoa está bem é quando ela percebe que está

bem e eu também percebo.”

Alguns pacientes possuem queixas não definidas, com o avançar da terapia as

muitas figuras abertas, com suas situações inacabadas, vão atingindo a totalidade ou

o significado. O cliente torna-se aware, quando fica com o que está presentemente

claro, conseguindo mover-se de uma experiência para outra, percebendo as

alternativas que se apresentam (Perls, 1988).

Segundo Ginger e Ginger (1995) a Gestalt-terapia facilita a tomada de

consciência global e isto implica no fato da pessoa conhecer a forma como se

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funciona, como ocorre o ajustamento criativo ao meio, como são integradas novas

experiências no presente, como são seus processos de evitação e mecanismos de

defesa.

A percepção do paciente, inicialmente limitada às impressões sensoriais

externas, vai se expandindo à medida que ele se conhece, incluindo muitos outros

fatores internos e externos. O conscientizar-se significa o conhecimento de suas

capacidades e habilidades, que pressupõe ter acionado as funções sensoriais, motoras

e intelectuais. A tomada de consciência pelo cliente apresenta ao terapeuta uma

imagem dos recursos deste, pois não ocorre apenas na esfera mental ou das palavras.

Ao aumentar a conscientização, a orientação e mobilidade do indivíduo também

aumentam, dando-lhe maior liberdade de escolha e de ação (Perls, 1988).

US 8 – O cliente supera as introjeções.

A superação das introjeções foi um dos fatores de melhora do cliente, segundo

a experiência da entrevistada IV, tabela 8.

Tabela 8

Entrevistada IV “Ele consegue aproximar da própria verdade, o que é verdade

para ele, diminui as introjeções, separa o que é seu e o que é do

outro (...) A evolução da pessoa na terapia é decorrente dessa

aproximação com ela mesma. Tem coisas fáceis de aceitar e

coisas difíceis, complicadíssimas, mas são dela e ela aprende a

lidar com aquilo.”

Segundo Perls (1988), a pessoa que introjeta tem pouca oportunidade para

desenvolver sua própria personalidade porque está muito envolvida com as normas,

atitudes, modo de agir e pensar que não são verdadeiramente dela. A terapia consiste

em corrigir as falsas identificações, restabelecendo a capacidade do cliente de

discriminar o que de fato lhe pertence

US 9 - O cliente obtém auto-aceitação e autorrespeito.

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Uma das entrevistadas percebeu que o cliente melhora quando obtém auto-

aceitação e auto-respeito, conforme tabela 9.

Tabela 9

Entrevistada V “ter uma aceitação maior de si mesmo, tanto das suas limitações,

daquilo que ele realmente não dá conta, quanto em relação às

suas possibilidades, às suas potencialidades...poder respeitar-se,

se olhar no espelho... e você pode até não gostar, mas se

respeitar.”

Quando a pessoa não se aceita, necessita constantemente de apoio externo.

Busca o apoio dos outros para suprir o auto-conceito deficitário e ineficaz. Entretanto

sua auto-imagem está tão comprometida que não possui a capacidade de aceitar

genuinamente os elogios que recebe, continuando insatisfeito diante das

demonstrações de aprovação e afeição recebidas (Perls, 1988). A terapia bem

sucedida consegue promover a integração do paciente sem alienar nenhum aspecto

próprio dele. A pessoa que possui auto-aceitação não julga ou condena a si mesma,

sua própria vivência ou a sua história. Jacobs (1997), assegursa que o cliente

consegue aceitar-se e respeitar-se à medida que se percebe aceito e respeitado pelo

terapeuta).

US 10 - O cliente adquire independência (auto-suporte).

Duas das cinco entrevistadas afirmaram que o cliente melhora quando obtém

independência, conforme transcrição na tabela 10.

Tabela 10

Entrevistada II “o terapeuta percebe a melhora do cliente no momento em que

o indivíduo começa a agir com independência ... quando você

percebe o indivíduo começa a agir sozinho, você percebe o

crescimento.”

Entrevistada IV “tem gente que está muito perdida e devido a isso fica muito

dependente do terapeuta inicialmente e, com o tempo, começa

a decidir as coisas – isso é um crescimento importante (...) a

pessoa adquire seu auto-suporte.”

19

Para Tobin (1977), a pessoa que não possui auto-suporte procura manipular os

outros para assumirem a responsabilidade por sua vida. A necessidade contínua de

apoio dos outros tem origem em sentimentos de incompletude, inadequação e de

estar dividido em pedaços. Atingir a totalidade, a harmonia interna do corpo, mente e

espírito é o grande desafio humano. A terapia permite ao paciente validar-se como

ser humano, para que ele se sinta completo em si mesmo e integrado.

Para Perls (1977), maturidade é a transição do apoio obtido externamente para

o auto-apoio e é alcançado quando o potencial do indivíduo é desenvolvido. Assim

ele se torna mais capaz de mobilizar seus próprios recursos para lidar com o meio

ambiente.

US 11 - O cliente ressignifica a antiga experiência.

Duas entrevistadas relataram que o cliente melhora quando ressignifica a antiga

experiência, conforme descrito na tabela 11.

Tabela 11

Entrevistada III “ele é capaz de significar melhor, detalhar melhor, descrever

melhor a experiência que está acontecendo com ele. Para mim o

processo psicoterapêutico tem o objetivo de ressignificar o já

significado. Então o cliente chega com significado envelhecido

e muitas vezes fora do contexto. Então ele vai melhorando

quando ele vai ressignificando e contextualizando o que ele está

vivendo.”

Entrevistada IV “capacidade de ressignificar sua história.”

Juliano ( 1999, p. 47), esclarece que embora as pessoas não possam mudar as

suas experiências passadas, elas podem modificar radicalmente o modo como olham

para elas. Ninguém tem o poder de mudar os fatos ocorridos, mas eles sempre podem

ser vistos a partir de uma perspectiva diferente, possibilitando a reconstrução da

própria história. O terapeuta trabalha para “completar, focalizar, desfocalizar, mudar

20

o contexto, entrar em contato e transformar a percepção intrapessoal, interpessoal e

transpessoal”.

US 12: O cliente consegue viver no aqui e agora.

Este indicador foi citado por um das entrevistadas, conforme exposto na tabela

12.

Tabela 12

Entrevistada IV “A pessoa consegue viver no aqui e agora (...) O futuro fica em

cima de projetos e não de fantasias.”

Para Polster e Polster (2001) é difícil para o cliente perceber que somente o

presente existe e que ignorá-lo é afastar-se da realidade. Entretanto, é necessário

compreender que as ações de lembrar e planejar podem ser consideradas presentes. O

passado e o futuro contextualizam o aqui e agora e compõem o fundo contra o qual

este emerge.

Em decorrência, alertam os autores que uma postura rígida por parte do

terapeuta, permitindo ao paciente que expresse somente as experiências com verbos

no tempo presente antes que ele consiga viver no aqui e agora, conduz apenas a uma

obediência vazia, longe de uma presença vital.

US 13 – O Cliente começa a perceber o outro.

Este foi mais um dos indicadores citados. Segue a transcrição do trecho que

originou a US.

Tabela 13

Entrevistada III “Ele melhora quando ele entra dentro dele e quando ele sai de

dentro dele. Ele entra, entrando no mundo dos significados dele

e ele sai quando percebe que existe o outro”... “ele vai

ampliando a percepção dos outros (...) é como se o universo

fosse se abrindo para ele. Uma cliente minha disse que depois

que ela começou a fazer terapia, é capaz de perceber o mundo

diferente.”

21

Augras (1986), destaca que ser social é próprio do humano e o seu crescimento

está vinculado ao encontro com os demais. Privar-se do outro é viver de forma alheia

à coexistência, importante estrutura do ser no mundo. O conhecimento do outro

pressupõe um encontro consigo mesmo, a compreensão de si que é o ponto de

partida para a compreensão do outro. Ao mesmo tempo em que uma pessoa se depara

com a imagem do outro que contribui como modelo para construção de si mesmo,

também se depara com a alteridade. A dificuldade de perceber o outro na sua

alteridade pode refletir a dificuldade de aceitar a si mesmo com as suas contradições

e ambiguidades. Algumas das perturbações no relacionamento interpessoal poderiam

ser identificadas como dificuldade de relacionar com a própria alteridade, pois ao

encontrar o outro a pessoa encontra com aspectos de si mesma.

US 14 - O cliente começa a observar a se nos relacionamentos.

Este indicador foi citado por uma das entrevistadas.

Tabela 14

Entrevistada V “Ele começa a se observar no relacionamento com as outras

pessoas.”

Para Forghieri (1993), a relação do homem com outras pessoas é fundamental

desde o seu nascimento. O indivíduo identifica seu potencial propriamente humano,

como amor, liberdade e responsabilidade, no encontro e na relação dessa natureza

com o outro. Nesse contexto, as pessoas se atualizam, compreendem e desenvolvem

tais potencialidades. Assim, é no convívio com os outros que se define o tipo de ser

humano que se é.

US 15 - O cliente percebe a si mesmo e ao outro como compartilhando a

mesma condição humana.

Este indicador foi citado por uma das entrevistas e está transcrito na tabela 15.

22

Tabela 15

Entrevistada IV “À medida que a pessoa se enxerga, ela passa a ter um

sentimento de pertencimento e isso possibilita uma maior

revelação de sua pessoa. Fala com mais tranquilidade suas

coisas, seus sentimentos ao perceber não é único nesse mundo.

É um pertencimento à raça humana... tipo: „eu tenho isso e

outras pessoas também têm‟ ”

Recorrendo ainda à Forghieri (1993), nota-se que ela afirma que as pessoas

possuem a capacidade de se compreenderem mutuamente, por serem muito

semelhantes. Embora suas experiências sejam distintas, possuem a mesma condição

humana. Diferente da relação com o mundo material, na qual o ser humano utiliza-se

de objetos sem deles obter resposta, no encontro com o outro ocorre uma interação

que altera os dois. Nessa interação, segundo a orientadora desse artigo, a percepção

da condição semelhante entre as pessoas é o mais alto nível de consciência holística

e a mais libertadora experiência a que pode chegar o nosso cliente e qualquer ser

humano.

US 16 - O cliente passa a aceitar e a respeitar a si mesmo e ao outro.

Esta US foi citada por uma das cinco entrevistadas e está transcrita abaixo.

Tabela 16

Entrevistada IV “A pessoa na terapia acaba tendo uma maior aceitação de suas

verdades... a aceitação de si e do outro.”

“A pessoa passa a ter consideração e respeito por ela e pelo

outro. Com isso ela fica mais humilde.”

Feldman (2006) considera que uma boa auto-imagem torna a pessoa mais apta

a iniciar novas relações e a mantê-las, preservando a individualidade, mantendo um

nível de exigência e expectativa razoável em relação aos outros, clareza diante de

críticas e respeito pela alteridade. Todos esses aspectos são importantes para a

preservação de relações saudáveis. A terapia gestáltica visando manter um bom

23

relacionamento com o cliente, aumenta as chances do indivíduo desenvolver a

aceitação e respeito por si mesmo e pelo outro.

US 17 - O cliente começa a considerar o outro em suas decisões.

Este foi um dos indicadores citados e está descrito na tabela 17.

Tabela 17

Entrevistada IV “Quando começa, de verdade, a considerar a si próprio e ao

outro em suas decisões.”

Segundo Hycner (1995), o indivíduo vai se tornando saudável à medida que

consegue ir convivendo mais dialogicamente com os seus semelhantes. Torna-se

capaz de experienciar a realidade do outro sem perder o contato com sua própria

realidade. Este é um dos fatores que promove a tomada de decisão responsável. O

cliente que se torna dialógico vai percerbendo que suas escolhas pessoais produzem

efeito não somente na sua vida, mas, também na vida das demais pessoas.

US 18 - O cliente começa a assumir a responsabilidade pelas suas próprias

escolhas.

Este foi apontado como indicador de melhora por três entrevistadas, conforme

tabela 18.

Tabela 18

Entrevistada III “ Começa a sair um pouquinho do papel de vítima e a assumir

a responsabilidade que ele tem.”

Entrevistada IV “Outro passo é fazer escolhas”

Entrevistada V “Aparece a possibilidade de escolher, de não ser simplesmente

empurrada pela vida. A pessoa toma mais posse de si e das suas

escolhas.”

Tobin (1977), alerta que a pessoa existencialmente adoecida confia em suas

obrigações, no que julga o esperado ou no que as pessoas lhe dizem em vez de

confiar em si mesma, no seu modo de ver e de ser. Ela se percebe como uma vítima,

24

à mercê de forças externas, contra as quais não pode lutar, por isso não se sente

responsável pelo que lhe acontece. Não consegue perceber as alternativas disponíveis

e lamenta pelas alternativas não disponíveis. De forma inversa, a pessoa integrada se

sente livre, percebe que tem e faz escolhas, sentindo-se responsável pela sua própria

vida. Essa responsabilidade se reveste, normalmente, da liberdade para responder de

várias maneiras a uma situação.

Para Feldman (2006), responsabilizar-se por si mesmo é o ponto culminante do

processo de crescimento do paciente. É quando ele se sente agente da própria

mudança. O indivíduo pode assumir a responsabilidade como resultado de sua

história ou pode assumi-la a partir do encontro com o outro, quando ele compreende

qual a sua parcela de responsabilidade em determinada situação compartilhada com

outras pessoas.

US 19 - O cliente amplia a consciência da sua construção do próprio

futuro.

Este indicador foi citado por uma das pesquisadas, conforme transcrito na

tabela abaixo.

Tabela 19

Entrevistada III “Quando ele é capaz de vislumbrar perspectivas futuras,

quando ele não vive só do passado e nem do presente, mas

quando ele percebe que fazendo isto agora ele tem uma

responsabilidade no futuro (...) ele amplia a sua consciência na

temporalidade.”

D‟agri, Lima e Orgler (2007), referem-se a este aspecto colocando que o

homem possui uma capacidade de elaboração que o mantém em permanente

construção. Está sempre se transformando, construindo o seu futuro no aqui e agora,

por meio de suas ações. Em terapia, o cliente que está crescendo começa a perceber

25

que suas escolhas no presente têm implicações posteriores, não mais atribuindo ao

destino os episódios ruins de sua vida.

Segundo Augras (1986), a pessoa aceita a certeza de sua finitude e organiza-se

para assegurar sua realização dentro do espaço-tempo de sua existência. Ainda que

não tenha domínio sobre sua própria morte, adquire liberdade para edificar o futuro.

O ser saudável faz planos, projeta-se em uma perspectiva futura, conseguindo

finalmente integrar, de forma harmoniosa, o envelhecer e o morrer à sua existência.

US 20 - O cliente vai se tornando o seu próprio terapeuta.

Para duas entrevistadas esta noção é um dos indicadores da melhora

identificada no cliente.

Tabela 20

Entrevistada III “Lembrar da terapia em um contexto fora da terapia, ...Ele se

interessa em fazer as lições de casa... ele consegue se

autoquestionar, a pergunta não vem mais só do terapeuta...

quando ele deixa de ser hétero-questionado para ser

autoquestionado, ele passa a ser um curioso de si mesmo.”

Entrevistada V “A pessoa trabalha muito fora do ambiente terapêutico... ela dá

conta de levar a terapia lá para fora, com as pessoas que ela

convive. É como se ela assumisse o comando da própria vida”

“As pessoas que ficam muito tempo em terapia suportam

melhor as ausências, as férias, as interrupções... quando é

necessário, elas ficam bem longe da terapia e voltam sem

sofrimento, porque para algumas pessoas é muito sofrido

interromper.”

(Polster & Polster, 2001), afirmam que a Gestalt-terapia incentiva o cliente a

levar a terapia para fora do consultório, podendo lançar mão, inclusive, da lição de

casa, mencionada na tabela 20. Trata-se de um grande passo porque abre

possibilidade ao cliente de se auto-explorar, multiplicando os resultados a um nível

que jamais seria obtido somente nas sessões ou que pelo menos exigiria um grande

investimento financeiro e de um tempo muito maior. Estes autores percebem que à

26

medida que o paciente amplia o envolvimento com o processo psicoterapêutico

integra-o a sua vida, passando a ser um curioso de si mesmo.

US 21 - O cliente desenvolve o diálogo em suas relações.

Este indicador foi relatado por uma das entrevistadas.

Tabela 21

Entrevistada IV “A pessoa desenvolve e aumenta suas condições de dialogar.

No começo o cliente tem muita dificuldade de dialogar, ele não

dá conta de falar o que pensa e sente (...) É uma evolução

quando o cliente começa a perceber que sua fala provoca

alguma coisa no outro e se torna mais responsável ao assumir

sua fala (...) dá conta tanto de defender suas decisões de

maneira tão veemente quanto abrir mão ou ceder.”

No diálogo cada uma das pessoas envolvidas tem em mente o outro, em sua

singularidade, estabelecendo uma relação de mutualidade. Hycner (1995), está de

acordo com a afirmação de que o diálogo não ocorre dentro, mas entre as pessoas

que têm o desejo de encontrar genuinamente o outro ou outros. O importante é a

abertura e a intenção com que as pessoas se encontram. O que diferencia o diálogo

da comunicação técnica ou do monólogo é o interesse na alteridade da outra pessoa,

acentua este autor.

US 22 – O cliente desenvolve a espiritualidade, retornando à sua religião.

Este indicador foi citado pela entrevistada III e está descrito abaixo.

Tabela 22

Entrevistada III “ele se cura, nem é melhora, é cura, quando ele inclui a

dimensão da espiritualidade, quando ele resgata a religião dele”

Embora a entrevistada tenha se referido à religião, foi feito neste trabalho, a

opção de se comentar sobre a espiritualidade, sem referência ao credo.

Retornando a Hycner(1995), pode-se considerar que a repressão e o

distanciamento do homem em relação ao sagrado contribuíram para delinear a

27

situação de isolamento e ansiedade atuais. Ao entrar em contato com o sagrado o

homem percebe ser mais igual que desigual à humanidade. Ele pensa que a pessoa

torna-se mais humana ao se aproximar de um ser superior. Como cada ser humano é

visto como parte da unidade universal, quando o paciente reconhece essa importante

dimensão da própria identidade, vai muito além do seu ser individual e limitado,

abrindo-se à possibilidade do encontro consigo e com o outro.

US 23 – O cliente adquire paz e tranquilidade existencial.

Duas das entrevistadas citaram o indicador transcrito na tabela 23.

Tabela 23

Entrevistada IV “Aumenta-se a clareza das coisas e também a humildade,

diminui sua necessidade de provar um monte de coisa para

várias pessoas. Ela pode ser ela mesma (...) É adquirir uma

tranquilidade em sua existência (...) diminui um pouco a

vaidade.”

Entrevistada V “a pessoa fica mais em paz.”

Forghieri (1993), pondera que ainda que a angústia e a preocupação permeiem

a existência humana, o paciente saudável consegue viver mais momentos de sintonia

e tranquilidade. Quanto menos situações pendentes o indivíduo possui, mais abertura

ele consegue para viver relações plenas, impregnadas de harmonia e bem-estar.

Indivíduos existencialmente saudáveis, que reconhecem e aceitam suas limitações,

sentem-se predominantemente tranquilos e satisfeitos consigo e com a sua existência.

US 24 - O cliente consegue se ajustar ao mundo criativamente.

Este indicador foi citado por uma das entrevistadas.

Tabela 24

Entrevistada IV “A pessoa consegue enfrentar o mundo, consegue enfrentar ela

mesma, as coisas dela (...) Olhar para a realidade, olhar para a

circunstância e perguntar o que eu posso fazer? (...) A pessoa

consegue se ajustar ao mundo criativamente. Esse ajustamento,

esse jeito de viver da melhor forma possível naquele momento

28

é alcançado na terapia.”

Para Yontef (1998), o cliente engajado em um processo de maturidade entra em

contato com o seu espaço vital e assume a responsabilidade por atingir o bem estar,

ajustando-se criativamente ao meio. Isto ocorre quando o indivíduo toma consciência

das suas necessidades e da realidade, percebendo-se capaz de recriá-la e manipulá-la

de maneira a obter satisfação. Não se trata de mera adaptação ao ambiente. Nessa

dinâmica, o indivíduo transforma e é transformado pelo meio, garantindo o seu

crescimento e agindo responsavelmente em busca da satisfação de suas necessidades

e do próprio desenvolvimento.

US 25 – O cliente atinge a ação ética.

Este indicador foi citado por uma das cinco entrevistadas.

Tabela 25

Entrevistada IV “O ponto máximo da terapia é quando o cliente passa a buscar

dentro dele suas respostas, o que Minkowski chama de ação

ética”

Minkowski (1993), citado por Andrade (2005), assegura que ao atingir a ação

ética,o cliente, antes restrito ao cumprimento de normas e preceitos sociais, vê

emergir os seus valores pessoais. A ética, sob esse ponto de vista, está ligada ao

sentido da existência da pessoa, que consegue entrar em contato com a verdade mais

profunda do seu ser. Vê cada pessoa possuindo uma vocação existencial e ao se

deixar orientar por ela dá sentido à sua vida. Em comunhão com sua existência e com

o universo sente-se livre para fazer o que entende ser o correto

Estrutura da experiência: Indicadores de melhora do cliente

Nas tabelas 26, 27 e 28 encontram-se as unidades de sentido colhidas nas

entrevistas com os psicoterapeutas que participaram deste trabalho.

29

Considerou-se que a melhora do cliente vista nas Unidades de Sentido

identificadas pode ser estruturada em três eixos ou categorias denominadas

dimensões da experiência existencial: a intrapsíquica, a interpessoal e a transpessoal,

conforme demonstrado a seguir.

Tabela 26 – Indicadores de melhora do cliente na Dimensão Intrapsíquica

Ocorrências das Unidades de Sentido referentes à Dimensão Intrapsíquica

Ocorrências Nº US Unidades de Sentido

Entrevista I e V US 1 O cliente supera a queixa ou conflito inicial.

Entrevista III US 2 O cliente descreve melhor sua experiência.

Entrevista III US 5 O cliente desenvolve a autoescuta.

Entrevista I, IV e V US 7 O cliente torna-se consciente.

Entrevista IV US 8 O cliente supera as introjeções.

Entrevista V US 9 O cliente obtém auto-aceitação e autorrespeito.

Entrevista II e IV US 10 O cliente adquire independência (autossuporte).

Entrevista III e IV US 11 O cliente ressignifica a antiga experiência.

Entrevista IV US 12 O cliente consegue viver no aqui e agora.

Entrevista III, IV e

V

US 18 O cliente começa a assumir a responsabilidade

pelas suas próprias escolhas.

Entrevista III US 19 O cliente amplia a consciência da sua construção

do próprio futuro.

Entrevista III e V US 20 O cliente vai se tornando o seu próprio terapeuta.

Entrevista III US 22 O cliente desenvolve a espiritualidade e retorna à

sua religião.

Entrevista IV e V US 23 O cliente adquire paz e tranquilidade existencial.

Entrevista IV US 24 O cliente consegue se ajustar ao mundo

criativamente.

Tabela 27 – Indicadores de melhora do cliente na Dimensão Interpessoal

Ocorrências das Unidades de Sentido referentes à Dimensão Interpessoal

Ocorrências Nº US Unidades de Sentido

Entrevista III US 3 O cliente escuta melhor o terapeuta.

Entrevista IV US 4 O cliente desenvolve a escuta em suas relações.

Entrevista III US 6 O cliente observa melhor o ambiente.

Entrevista III US 13 O cliente começa a perceber o outro.

Entrevista V US 14 O cliente começa a observar os seus

relacionamentos.

Entrevista IV US 16 O cliente passa a aceitar e a respeitar si mesmo e ao

outro.

Entrevista IV US 17 O cliente começa a considerar o outro em suas

decisões.

30

Entrevista IV US 21 O cliente desenvolve o diálogo em suas relações.

Entrevista IV US 25 O cliente atinge a ação ética.

Tabela 28 – Indicador de melhora do cliente na Dimensão Transpessoal

Ocorrência da Unidade de Sentido referente à Dimensão Transpessoal

Ocorrências Nº US Unidades de Sentido

Entrevista IV US 15 O cliente percebe a si mesmo e ao outro como

compartilhando a mesma condição humana.

Conclusão

Foram para estes indicadores categorizados nas dimensões intrapsíquica,

interpessoal e transpessoal que apontou este trabalho. Se por um lado não existe, ao

se iniciar o processo psicoterapêutico, um prognóstico pré-definindo para a cura de

uma determinada pessoa, por outro lado, é possível esperar que o cliente faça uma

jornada singular em busca de clareza das suas necessidades e da aquisição da

capacidade para supri-las responsavelmente, estando cônscio tanto da extensão da

sua escolha nos eventos da existência como das repercussões destas no espaço de

convivência e até na comunidade.. Ao terapeuta não cabe fazer julgamento de valor

sobre as necessidades de seus pacientes, sua tarefa é facilitar que cada um atinja a

maturidade que o levará a encontrar os seus objetivos e a lutar por eles dentro dessa

consciência transpessoal. O terapeuta deve estar atento ao risco de incorrer no erro

de uniformizar os clientes, ajustando-os conforme as necessidades e valores culturais

ou do próprio terapeuta.

Foi visto que a melhora do cliente se mostra ao terapeuta à medida que ele

avança especialmente nas demandas intrapsíquica e interpessoal e, secundariamente,

na transpessoal. Estas dimensões são aspectos interdependentes perceptíveis dentro

do processo psicoterapêutico gestáltico com ênfase no dialógico. A ênfase gestáltica

no dialógico não se restringe à relação entre terapeuta-cliente, mas também entre

31

cliente e demais pessoas. Hycner (1995), conceitua esta posição como uma

abordagem vai ao encontro do cliente no nível psicológico em que ele se encontra,

auxiliando-o a ter uma relação mais saudável com o mundo. Este tipo de relação

implica no desenvolvimento da pessoa nas três dimensões fundamentais da

existência humana e referidas nesta pesquisa.

As fases intrapsíquica e interpessoal são percebidas com clareza na terapia. A

dimensão intrapsíquica é normalmente a primeira, quando é explorado o mundo

interno do cliente. A interpessoal vem a seguir, com a construção do entre, uma

realidade inter-humana criada pelo cliente e pelo terapeuta e que é muito mais do que

a soma das realidades dos dois. A saúde existencial do cliente se mostra quando este

consegue equilibrar separação e relação dentro e fora do contexto terapêutico. A

fixação em qualquer um dos pólos significa interrupção do diálogo ou do

crescimento. Jacobs (1997), concorda que o encontro inter-humano é uma dimensão

primordial para o autodesenvolvimento. Esta autora também considera que o

processo terapêutico segue uma linha diretriz partindo das questões intrapsíquicas,

pois à medida que o cliente se organiza internamente, vai se tornando disponível

para a dimensão inter-relacional. No decorrer do processo terapêutico o cliente vai

buscando tipos diferentes de interação com o outro, à medida que ele avança em seu

desenvolvimento. O relacionamento inicialmente estabelecido com o terapeuta vai se

estendendo para além do consultório e se configurando nas demais relações. E, de

acordo com Malaguth (1998), o entre que nasce do contato cliente-terapeuta é a

dimensão espiritual da terapia, por acontecer no âmbito transpessoal que, passando

pelo pessoal, eleva o ser humano além da pessoalidade e o comunga com o universal.

Esta dimensão normalmente surge após as fases intrapsíquicas e interpessoais serem

trabalhadas. É uma dimensão que mais recentemente passou a ser considerada e, por

32

isso, é menos familiar - o que é confirmado nesta pesquisa- e ainda sujeita a

questionamentos. Transpessoal tem a conotação de ir além do individual, sem

suprimir o pessoal. Requer que a pessoa tenha consciência da própria identidade e

que já tenha atingido maturidade suficiente para ir a uma esfera mais ampla sem se

perder. Ao encontrar o sagrado, o ser humano se depara com a unidade do mundo da

qual é parte integrante. Percebe-se mais igual do que diferente dos demais seres

humanos, essa comunhão com o universal aproxima o homem dos seus semelhantes,

tornando o mais apto às relações interpessoais. Os resultados dessa pesquisa revelam,

como foi visto, que a prioridade das terapeutas é pela dimensão intrapsíquica,

seguida da dimensão interpessoal. A dimensão transpessoal não é praticamente

levada em consideração como manifestação de saúde existencial. Entretanto, parece

evidente a um olhar atento, a afirmação de Hycner (1995), que as três dimensões

estão profundamente relacionadas entre si, dando base e sustentação umas às outras.

Referências

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Andrade, C. C. (2005). A atitude ética no mundo contemporâneo. Revista do XI

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Malaguth, M. (1998). Dimensão Espiritual da Terapia. Revista do IV Encontro

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Principais. Revista do X Encontro Goiano da Abordagem Gestáltica, n. 10, 161-

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Perls, F. Hefferline, R. e Goodmann, P. (1951/1998) Gestalt-terapia. São Paulo:

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Gestalt. (pp. 177-199). São Paulo: Summus.

Yontef, G. (1998). Processo, diálogo e awareness. São Paulo: Summus.

35

Anexos

36

Anexo A

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIMENTO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma

pesquisa desenvolvida no Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de

Goiânia- ITGT-, chancelado pela Universidade Católica de Goiás.

Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte

do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua, e

a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa, você não será penalizado

de forma alguma. Em caso de dúvida, você pode procurar o Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Católica de Goiás pelos telefones 3227-1071.

Informações sobre a pesquisa:

Título do Projeto: Como a melhora do Cliente se Apresenta ao Gestalt-Terapeuta

Pesquisador Responsável: Maria Eleuza Pereira

Telefone para contato: 62- 8414 0416

Objetivo do Estudo: Identificar os indicadores de melhora do cliente no processo

psicoterapêutico gestáltico.

Procedimento: Entrevista gravada e posteriormente transcrita e analisada

Assinatura da pesquisadora: ___________________________

Assinatura do entrevistado: ____________________________

Data: __________________

Anexo B

Entrevista I

Método Fenomenológico de acordo com Amedeo Giorgi (1985)

Primeira etapa:

Transcrição da entrevista

Segunda etapa:

Unidade de Sentido (US)

Terceira etapa:

Unidades de Sentido

Diretamente Relacionadas

Fragmento 1

“uma das melhoras é quando o cliente traz uma queixa explícita e

depois de um tempo de terapia a gente vê que aquela queixa não

existe mais e, principalmente, quando ele percebe.”

US 1

O cliente supera a queixa ou conflito inicial.

Todas as unidades de

sentido foram diretamente

relacionadas ao tema

estudado.

Fragmento 2

“tem caso que... são queixas amplas, queixas não definidas. Eu

observo que a melhora é quando o cliente vai se tornando

consciente das coisas dele.”

US 2

O cliente torna-se consciente.

Fragmento 3

“ele vai tomando consciência de como ele lida com as coisas

dele... e ao tomar essa consciência ele vai mudando... o fato dele

tomar essa consciência de como é a atitude dele diante do mundo,

atitude dele diante das pessoas, à medida que ele vai tomando

consciência disso, ele consequentemente vai tendo algumas ações

diferentes na vida... só dele tomar consciência e o sentimento dele

mudar, eu considero uma melhora.”

US2

O cliente torna-se consciente.

Fragmento 4

“quando ele mesmo consegue olhar para as coisas dele com um

US 2

38

olhar, não sei se com olhar diferente, crítico, mas quando ele

mesmo consegue identificar o que ele está fazendo... Então

quando o próprio cliente consegue ter atitude sem a intervenção

do terapeuta.”

O cliente torna-se consciente

Unidades de Sentido da Entrevista I

US 1 Superar a queixa ou conflito inicial

US 2 O cliente torna-se consciente

39

Entrevista II

Método Fenomenológico de acordo com Amedeo Giorgi (1985)

Primeira etapa:

Transcrição da entrevista

Segunda etapa:

Unidade de Sentido (US)

Terceira etapa:

Unidades de Sentido

Diretamente Relacionadas

Fragmento 1

“o terapeuta percebe a melhora do cliente no momento em que o

indivíduo começa a agir com independência....quando você percebe o

indivíduo começa a agir sozinho, você percebe o crescimento.”

US 1

O cliente adquire autossuporte (independência).

Todas as unidades de

sentido foram diretamente

relacionadas ao tema

estudado.

Unidades de Sentido da Entrevista II

US 1 O cliente adquire autossuporte (independência).

40

Entrevista III

Método Fenomenológico de acordo com Amedeo Giorgi (1985)

Primeira etapa:

Transcrição da entrevista

Segunda etapa:

Unidade de Sentido (US)

Terceira etapa:

Unidades de Sentido

Diretamente Relacionadas

Fragmento 1

“o cliente é capaz de ... escutar mais... ele escuta melhor o que eu

pergunto.”

US 1

O cliente escuta melhor o terapeuta.

Todas as unidades de

sentido foram diretamente

relacionadas ao tema

estudado.

Fragmento 2

“ele é capaz de significar melhor, detalhar melhor, descrever

melhor, descrever melhor a experiência que está acontecendo com

ele. Para mim o processo psicoterapêutico tem o objetivo de

ressignificar o já significado. Então o cliente chega com

significado envelhecido, já dado, e muitas vezes fora do contexto.

Então ele vai melhorando quando ele vai ressignificando e

contextualizando o que ele está vivendo.”

US 2

O cliente ressignifica a antiga experiência.

Fragmento 3

“ele é capaz de se escutar... Ele começa a ter uma autoescuta.”

“ele (o cliente) mesmo vai buscando descrever, favorecendo a

minha entrada no mundo dele. O paciente chega com um mundo

fechado de significado que nem ele compreende. Ele vai

melhorando quando ele compartilha melhor o significado porque

ele também já compreendeu.”

“a melhora em relação à escuta, eu acho que fazer terapia é se

US 3 O cliente desenvolve a autoescuta.

US 4

O cliente descreve melhor sua experiência.

US 3

41

escutar e quando ele vai se escutando, ele vai escutando os

sintomas e ao escutar os sintomas ele vai compreendendo os

significados dos sintomas no contexto em que ele vive.”

O cliente desenvolve a autoescuta.

Fragmento 4

“quando ele começa a me perceber nas mínimas coisas, às vezes

até o perceber o consultório... Então, além da audição eu percebo a

visão.”

“ele melhora quando ele entra dentro dele e quando ele sai de

dentro dele. Ele entra, entrando no mundo dos significados dele e

ele sai quando ele percebe que tem o outro.”

US 5

O cliente observa melhor o ambiente.

US 6

O cliente começa a perceber o outro.

Fragmento 5

“sair um pouquinho do papel de vítima e ele começa a assumir a

responsabilidade que ele tem.”

US 7

O cliente começa a assumir a responsabilidade

pelas suas próprias escolhas.

Fragmento 6

“ele vai ampliando a percepção dos outros... é como se o universo

fosse se abrindo para ele. Uma cliente minha disse que depois que

ela começou fazer terapia ela é capaz de perceber o mundo

diferente.”

US 6

O cliente começa a perceber o outro.

Fragmento 7

“quando ele é capaz de vislumbrar perspectivas futuras, quando

ele não vive só do passado e nem do presente, mas quando ele

percebe que fazendo isto agora ele tem uma responsabilidade no

futuro ... ele amplia a consciência dele na temporalidade.”

US 8 O cliente amplia a consciência da sua construção do

próprio futuro.

Fragmento 8

“ele se cura, nem é melhora, quando ele inclui a dimensão da

espiritualidade, quando ele resgata a religião dele”

US 9

O cliente desenvolve a espiritualidade e retorna à

sua religião.

Fragmento 9

“Lembrar da terapia em um contexto fora da terapia, para mim, US 10

O cliente vai se tornando o seu próprio terapeuta.

42

significa uma melhora... O cliente melhora quando ele internaliza

as tarefinhas de casa, ele melhora demais quando, além de

internalizar, ele faz as tarefas de casa, além de fazer, ele melhora

mais ainda quando ele traz as tarefas de casa feitas. ...O cliente

melhora quando ele consegue se autoquestionar, a pergunta não

vem mais só do terapeuta... quando ele deixa de ser

héteroquestionado para ser autoquestionado, ele passa a ser um

curioso de si mesmo.”

43

Unidades de Sentido da Entrevista III

US 1 O cliente escuta melhor o terapeuta

US 2 O cliente ressignifica a antiga experiência

US 3 O cliente desenvolve a autoescuta

US 4 O cliente descreve melhor sua experiência

US 5 O cliente observa melhor o ambiente

US 6 O cliente começa a perceber o outro

US 7 O cliente começa a assumir a responsabilidade pelas suas próprias escolhas.

US 8 O cliente amplia a consciência da sua construção do próprio futuro.

US 9 O cliente desenvolve a espiritualidade e retorna à sua religião.

US 10 O cliente vai se tornando o seu próprio terapeuta

44

Entrevista IV

Método Fenomenológico de acordo com Amedeo Giorgi (1985)

Primeira etapa:

Transcrição da entrevista

Segunda etapa:

Unidade de Sentido (US)

Terceira etapa:

Unidades de Sentido

Diretamente Relacionadas

Fragmento 1

“quando começa, de verdade, a considerar a si próprio e ao outro

em suas decisões.”

“Outro passo é fazer escolhas”

US 1

O cliente começa a considerar o outro em suas

decisões.

US 2

O cliente começa a assumir a responsabilidade pelas

suas próprias escolhas.

Todas as unidades de

sentido foram diretamente

relacionadas ao tema

estudado.

Fragmento 2

“tem gente que está muito perdida e devido a isso fica muito

dependente do terapeuta inicialmente e, com o tempo, começa a

decidir as coisas – isso é um crescimento importante... a pessoa

adquire o próprio autossuporte.”

US 3

O cliente adquire autossuporte (independência).

Fragmento 3

“O ponto máximo da terapia é quando o cliente passa a buscar

dentro dele suas respostas, o que Minkowski chama de ação

ética.”

US 4

O cliente atinge a ação ética.

Fragmento 4

“consegue aproximar da própria verdade, o que é verdade para

ela, diminui as introjeções, separa o que é seu e o que é do

outro... A evolução da pessoa na terapia é decorrente da

aproximação com ela mesma. A cada dia fica mais visível o que

ela sente, o que ela pensa e a ação dela fica mais coerente, pois

US 5

O cliente supera as introjeções.

45

ela se aproxima de sua verdade. Ela separa o que é dela e o que

não é e assume o que é dela. Tem coisas fáceis de aceitar e coisas

difíceis, complicadíssimas, mas são dela e ela aprende a lidar

com aquilo.”

“a pessoa na terapia acaba tendo uma maior aceitação de suas

verdades... aceitação de si e do outro.”

US 6

O cliente passa a aceitar e respeitar a si mesmo e ao

outro.

Fragmento 5

“a pessoa desenvolve e aumenta suas condições de dialogar. No

começo o cliente tem muita dificuldade de dialogar, ele não dá

conta de falar o que pensa e sente, pois na verdade nem sabe ao

certo seus pensamentos e sentimentos e com o tempo o cliente se

conhece melhor e aí consegue ter esse diálogo. É uma evolução e

o cliente começa a perceber que sua fala provoca alguma coisa

no outro e se torna mais responsável ao assumir sua fala... Ao se

conhecer fica mais claro para o cliente defender o que ele

acredita, o que ele pensa e fica até mais fácil abrir mão de algo...

dá conta tanto de defender suas decisões de maneira mais

veemente quanto abrir mão, ceder.”

“O que o outro fala passa a ser muito mais importante até porque

a escuta passa a ser muito mais tranquila.”

US 7

O cliente desenvolve o diálogo nas suas relações.

US 8

O cliente desenvolve a escuta em suas relações.

Fragmento 6

“A medida que a pessoa se enxerga, ela passa a ter um

sentimento de pertencimento e isso possibilita uma maior

revelação de sua pessoa. Fala com mais tranquilidade suas coisas,

seus sentimentos ao perceber não é único nesse mundo. É um

pertencimento à raça humana. Eu tenho isso e outras pessoas

também têm.”

US 9

O cliente percebe a si mesmo e ao outro como

compartilhando a mesma condição humana.

US 6

46

“A pessoa passa a ter consideração e respeito por ela e pelo

outro. Com isso ela fica mais humilde.”

“Aumenta-se a clareza das coisas e também a humildade, diminui

sua necessidade de provar um monte de coisa para várias

pessoas. Ela pode ser ela mesma... É adquirir uma tranquilidade

em sua existência... diminui um pouco a vaidade.”

O cliente passa a aceitar e respeitar a si mesmo e ao

outro.

US 10

O cliente adquire paz e tranquilidade existencial.

Fragmento 7

“capacidade de ressignificar sua história.”

US 11

O cliente ressignifica a antiga experiência.

Fragmento 8

“a pessoa consegue viver no aqui e agora... O futuro fica em cima

de projetos, e não de fantasias.”

US 12

O cliente consegue viver no aqui e agora.

Fragmento 9

“começa a ter relações mais saudáveis porque o diálogo

restaurou, seu autoconhecimento aumentou, sua humildade é

verdadeira, sua escuta é mais atentiva, sua fala mais assertiva.

Com essas atitudes a pessoa incentiva relações mais saudáveis,

tanto no trabalho quanto no ambiente familiar.”

US 7

O cliente desenvolve o diálogo nas suas relações.

Fragmento 10

“ela consegue enfrentar o mundo, consegue enfrentar ela mesma,

as coisas dela... Olhar para a realidade, olhar para a circunstância

e perguntar o que eu posso fazer?... A pessoa consegue se ajustar

no mundo criativamente. Esse ajustamento, esse jeito de viver da

melhor forma possível naquele momento é alcançado na terapia.”

US 13

O cliente consegue se ajustar criativamente ao

mundo.

Fragmento 11

“ela vai ampliando o contato e nessa ampliação de contato vai

tendo mais consciência... vai tendo uma forma mais organizada

US 14

O cliente torna-se consciente.

47

das coisas dela e vai tendo a awareness.”

Unidades de Sentido da Entrevista IV

Expressões Psicológicas Unidades de Sentido

US 1 O cliente começa a considerar o outro em suas decisões.

US 2 O cliente começa a assumir a responsabilidade pelas suas próprias escolhas.

US 3 O cliente adquire autossuporte (independência).

US 4 O cliente atinge a ação ética.

US 5 O cliente supera as introjeções.

US 6 O cliente passa a aceitar e respeitar a si mesmo e ao outro.

US 7 O cliente desenvolve o diálogo nas suas relações.

US 8 O cliente desenvolve a escuta em suas relações.

48

US 9 O cliente percebe a si mesmo e ao outro como compartilhando a mesma condição humana.

US 10 O cliente adquire paz e tranquilidade existencial.

US 11 O cliente ressignifica a antiga experiência.

US 12 O cliente consegue viver no aqui e agora.

US 13 O cliente consegue se ajustar criativamente ao mundo.

US 14 O cliente torna-se consciente.

49

Entrevista V

Método Fenomenológico de acordo com Amedeo Giorgi (1985)

Primeira etapa:

Transcrição da entrevista

Segunda etapa:

Unidade de Sentido (US)

Terceira etapa:

Unidades de Sentido

Diretamente Relacionadas

Fragmento 1

“a pessoa fica mais em paz.”

“a pessoa vai tendo um melhor conhecimento de si,

vai vivendo sob uma perspectiva diferente.”

“começa a se observar no relacionamento com as

outras pessoas.”

US 1

O cliente adquire paz e tranquilidade existencial.

US 2

O cliente torna-se consciente.

US 3

O cliente começa a observar os seus relacionamentos.

Todas as unidades de

sentido foram diretamente

relacionadas ao tema

estudado.

Fragmento 2

“ter uma aceitação maior de si mesma, tanto das suas

limitações, daquilo que ela realmente não dá conta,

quanto em relação às suas possibilidades, às suas

potencialidades.”

“Ela começa a ver alternativas que antes ela não via,

ela começa a ver os próprios problemas sob uma

perspectiva mais ampla do que via antes.”

“a pessoa começa a estar mais disponível, a energia

dela sai desse conflito e fica mais disponível para agir

em prol dela mesma, para ela fazer coisas tanto em

relação a si mesma quanto em relação ao mundo que

ela vive, coisas que a façam se sentir melhor. ... ter

US 4

O cliente obtém autoaceitação e autorrespeito.

US 2

O cliente torna-se consciente.

US 5

O cliente supera a queixa e o conflito inicial.

50

um sofrimento menor, acho que o sofrimento, a dor

em si diminui.”

Fragmento 3

“a pessoa trabalha muito fora, ela não fica com a

terapia só aqui no consultório... ela dá conta de levar a

terapia lá para fora, com as pessoas que ela vive. É

como se ela pegasse o comando da própria vida, ela

vai mudando, tomando posse das coisas que ela pode

fazer, das coisas que ela não pode e ela vai mudando,

se vê diferente.”

US 6

O cliente vai se tornando o seu próprio terapeuta.

Fragmento 4

“De se respeitar, de se olhar no espelho e ela pode até

não gostar, mas de se respeitar.”

“aparece a aceitação a possibilidade de escolher, de

não ser simplesmente empurrada pela vida. A pessoa

toma mais posse de si e das suas escolhas.”

US 4

O cliente obtém autoaceitação e autorrespeito.

US 7

O cliente começa a assumir a responsabilidade pelas suas

próprias escolhas.

Fragmento 5

“a própria pessoa vai percebendo que está melhor, as

pessoas vão percebendo que ela está melhor... Um

indicativo concreto que a pessoa está bem é quando

ela percebe que está bem e eu também percebo.”

“As pessoas que ficam muito tempo em terapia

suportam melhor as ausências, as férias, as

interrupções. O que eu quero dizer com isso é que,

quando é necessário, elas ficam bem longe da terapia

e voltam sem sofrimento, porque para algumas

US 2

O cliente torna-se consciente.

US 6

O cliente vai se tornando o próprio terapeuta.

51

pessoas é muito sofrido voltar.”

Unidades de Sentido da Entrevista V

US 1 O cliente adquire paz e tranquilidade existencial.

US 2 O cliente torna-se consciente.

US 3 O cliente começa a observar os seus relacionamentos.

US 4 O cliente obtém autoaceitação e autorrespeito.

US 5 O cliente supera a queixa e o conflito inicial.

US 6 O cliente vai se tornando o seu próprio terapeuta.

US 7 O cliente começa a assumir a responsabilidade pelas suas próprias escolhas.