INSTITUTO FEDERAL de EDUCAÇÃO Relatorio Revisado Por Niraldo w

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  • 1CAMPUS BELO JARDIM

    LICENCIATURA EM PRTICAS INTERPRETATIVAS DA

    MSICA POPULAR

    A OBRA DO COMPOSITOR DIMAS SEGUNDO SEDCIAS ESCRITAPARA TROMPETE: UMA ABORDAGEM INTERPRETATIVA.

    WILLIAM WANDERLEY DA SILVA

    Belo Jardim

    2015

  • 2A OBRA DO COMPOSITOR DIMAS SEGUNDO SEDCIAS ESCRITAPARA TROMPETE: UMA ABORDAGEM INTERPRETATIVA.

    WILLIAM WANDERLEY DA SILVA

    Relatrio acadmico apresentado ao Instituto Federal dePernambuco (IFPE) - campus Belo Jardim, para aobteno do ttulo de Licenciatura em Msica comhabilitao em trompete popular.

    Orientador: Prof. Marinaldo Loureno da Silva Souza.

    Belo Jardim

    2015

    DEDICATRIA

  • 3 Primeiramente aos meus familiares pela fora, pacincia e por terem acreditado no

    meu esforo e, em especial, aos meus pais Iraquitan Pereira da Silva (in memorian) e Vilma

    Wanderley da Silva que, de forma muito especial, me educaram e me apoiaram durante toda a

    minha carreira musical.

    Aos meus avs Manoel Almeida Wanderley (in memorian) e Rita Rodrigues da Silva,

    Maria Ilza Pereira (in memorian) que sempre me incentivaram nessa rdua caminhada

    acadmica. A minha esposa Valdiane Soares da Silva pelo companheirismo, amor

    incondicional, incentivo e pacincia compartilhada em todos os momentos alegres e difceis

    no decorrer deste curso;

    Por fim, no poderia deixar de mencionar o nome do grande compositor Dimas

    Sedcias (in memorian) que deixou uma obra to vasta e genial, contribuindo efetivamente

    para o desenvolvimento e ampliao do repertrio nacional escrito para trompete. Alm,

    gostaria de citar a figura de Marina Sedicias

  • 4AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao meu maravilhoso DEUS por nunca ter me abandonado e a todos os

    professores que, com seriedade e dedicao, contriburam arduamente na minha formao

    enquanto educador musical. Especialmente, gostaria de agradecer ao professor Mozart Vieira,

    um amigo que levarei no peito por toda minha vida. Meus orientadores e amigos, Marinaldo

    Loureno e Niraldo Rian, que sempre se colocaram em disposio para me orientar. Ao meu

    amigo e irmo Elias de Oliveira, pelos ensinamentos que contriburam para minha formao

    e, por ltimo, a todos os colegas de turma que sempre me apoiaram durante essa rdua

    jornada.

  • 5RESUMO

    O presente trabalho trata-se de um relatrio de recital elaborado a partir das

    experincias e anlises realizadas mediante a execuo de parte da obra do compositor Dimas

    Segundo Sedcias escrita para trompete. Nessa perspectiva, faremos um levantamento

    bibliogrfico acerca da vida e obra do compositor, bem como um catlogo referente s obras

    executadas durante o recital de concluso do curso. Alm disso, as obras passaro por um

    breve processo de anlise no intuito de compreendermos alguns dos seus principais aspectos

    esttico, estilsticos, tcnicos e interpretativos.

    Nessa direo, faro parte do repertrio as seguintes peas: Apenas um trompete

    solitrio, Trompetuba, Corda e caamba e Requiem para um Novillero, Para quinteto de

    metais as respectivas obras: Aboio de Vaqueiros, Berceuse para Ceclia e 300 Lguas.

    Palavras-chave: Tcnica Musical. Dimas Sedcias. Trompete.

  • 6SUMRIO

    1._ INTRODUO..........................................................................................07

    2._ BIOGRAFIA................................................................................................09

    3._ REPERTRIO...................................................................................13

    4._ ASPECTOS FORMAIS DAS OBRAS.............................................14

    5._ ANALISE TCNICAS DAS OBRAS..............................................16

    6._CRONOGRAMA DE ATIVIDADES................................................24

    8._CONSIDERAES FINAIS............................................................25

    7._REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..............................................26 8._ANEXOS...........................................................................................27

  • 7INTRODUO

    Valorizar e executar composies nordestinas de alta qualidade tcnica e poucoexplorada nos programas de recitais de msica de cmara constitui cada vez mais um desafio

    para os msicos brasileiros, sobretudo, os instrumentistas de metais, haja vista a crescente

    produo de peas escritas para esta categoria de instrumentos nas ltimas dcadas. Dentre

    alguns dos principais compositores podemos citar: Duda, Dimas Sedcias, Flvio Lima,

    Porfrio Costa.

    Em meio a esse contexto, possvel observar uma diversidade imensa de gneros

    musicais brasileiros, nordestinos (tradicionais e/ou folclricos), europeus entre outros, atravs

    dos quais os compositores se apropriam e desenvolvem suas obras. Dentre os mais gneros

    representativos presente nas obras dos compositores supracitados pode destacar: o Frevo,

    Maracatu, Baio, Choro, Toada, Valsa, entre outros.

    Direcionando um olhar mais especfico para a obra do compositor Dimas Sedcias, o

    objetivo principal desse trabalho est pautado na execuo de parte da sua obra escrita para

    trompete solo, assim como outras formaes instrumentais onde o trompete esteja inserido, a

    exemplo das peas escritas para quinteto de metais. Ressaltamos que todo o trabalho passar

    por um processo de elaborao, pre e ps-produo musical e anlise de repertrio.

    Assim, a partir das experincias vivenciadas e aps um levantamento bibliogrfico e

    analtico referentes ao compositor e suas peas, sero pontuados alguns aspectos que possam

    de alguma forma, conduzir o intrprete durante o processo de estudos e execuo dessas

    obras. Dentre as peas executadas durante o recital destacamos: Apenas um trompete solitrio,

    Trompetuba, Corda e caamba e Requiem para um Novillero. Para quinteto de metais

    pontuamos as respectivas obras: Aboio de Vaqueiros, Berceuse para Ceclia, 300 Lguas.

    A metodologia adotada para realizao deste trabalho emprega como um dos

    principais instrumentos de coleta de dados a pesquisa a bibliografia. Para tanto, acreditamos

    que o intrprete musical necessita se abarcar de todas as fontes que o possa, direta ou

    indiretamente, fundamentar e nortear durante processo de estudos e anlise das obras, para Gil

    (2002, p. 44) A pesquisa bibliogrfica desenvolvida com base em material j elaborado,

    constitudo principalmente de livros e artigos cientficos.

    A pesquisa documental tambm constituir uma importante fonte de coleta de

    dados, haja vista que, grande parte do acervo musical do compositor Dimas Sedcias encontra-

  • 8se difundido em meio a arquivos pessoais de msicos, professores de msica e familiares do

    compositor. Nessa perspectiva, sero utilizadas partituras manuscritas e editadas, artigos,

    reportagens, dissertaes e teses de mestrado e doutorado, onde direta ou indiretamente o

    objeto de estudo do autor deste trabalho foi citado.

    A pesquisa documental assemelha-se e muito pesquisa bibliogrfica. A diferena

    essencial entre ambas est na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliogrfica

    se utiliza fundamentalmente das contribuies dos diversos autores sobre

    determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que no recebem

    ainda um tratamento analtico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com

    os objetos da pesquisa. (Gil 2002, p. 44)

    Aps a fase inicial de coleta de dados todo o material passar por um processo de

    anlise atravs do qual se tornar possvel uma melhor compreenso de todo o material

    estudado e executado durante o recital. (Segundo MORAES, 1999):

    A anlise de contedo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e

    interpretar o contedo de toda classe de documentos e textos. Essa anlise,

    conduzindo a descries sistemticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a

    reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreenso de seus significados num

    nvel que vai alm de uma leitura comum. (MORAES, 1999)

    Mediante a preparao de todo o material, sero feitos vrios ensaios a fim de que seja

    possvel aplicar, na prtica, e de forma orientada, todos os conceitos absorvidos e expostos

    durante a fase de pesquisa. Um quinteto de metais ser formado para que possamos abarcar o

    repertrio do compositor tambm escrito para esta formao especfica.

    Acreditamos que este ser mais um importante trabalho para a difuso e valorizao

    das obras de compositores nordestinos e especificamente pernambucanos. Alm disso, o

    presente trabalho se configura enquanto uma importante fonte de pesquisa para msicos

    trompetistas, estudantes, professores e msicos em geral que buscam conhecer um pouco mais

    sobre a obra de Dimas Sedcias.

    BIOGRAFIA

  • 9Dimas Segundo Sedcias nasceu no municpio de Bom Jardim, localizado no interiorde Pernambuco, uma cidade muito famosa por ser celeiro de grandes compositores e detimas bandas de msica. Nasceu em meio uma famlia de msicos onde seu av MestreZuza foi o professor do famoso Levino Ferreira, compositor de vrios sucessos do carnavalpernambucano como Ultimo Dia, por exemplo.

    Iniciou os seus estudos de msica aos seis anos de idade com a sua me, Amlia Rosado Brasil, embora a sua carreira tenha se consolidado atravs da sua relao com vriosmaestros pernambucanos, tais como: Nelson Ferreira, Guedes Peixoto, Guio de Moraes e osaxofonista Felix Lins de Albuquerque (Felinho).

    Aps iniciar os seus estudos a principio a prendeu a tocar violo, e aos doze anosiniciou seus estudos de clarinete, comeando sua jornada musical na banda de msica de BomJardim. Depois de um acidente, parou de tocar por um bom tempo o seu clarinete, chegando ofim de sua carreira como clarinetista, mais no como msico, persistindo no intuito de ser ummsico profissional. Aos dezessete anos Dimas Sedcias, deixa bom jardim e vai para o recifetrabalhar numa fabrica de transformadores no bairro de Casa Forte. Meados dos anos 50, Recife era um centro cultural mais atuante depois de So Paulo eRio de Janeiro, era a principal cidade do nordeste por muitas dcadas, a insegurana da vidano recife no foi suficiente para desviar o seu proposito que era o mesmo de seus familiares,seguir a carreira musical. Nos cabars do centro do recife Dimas passa a tocar, e uma dascasas que ele tocou foi o caf Laffayette, localizado na Rua do Imperador, e sobre elacomentava nostlgico, O Laffayette estava para o Recife como o Nice estava para Paris. Em 1948, inaugura no Recife a Rdio Jornal do Comercio, pelo senador FranciscoPessoa de Queiroz, A Rdio possua o que havia de melhor e mais moderno em equipamentose sua potencia era tanta que o seu sinal alcanava toda a Amrica do Sul, Estados Unidos eEuropa. Por causa de tal fato, adotou o conhecido slogan "Pernambuco Falando Para oMundo." Um ano apos sua chegada ao Recife, com o apoio do compositor Inaldo Vilarin,Dimas foi contratado por Djalma Torres, produtor da Radio Jornal do Comercio naquelaocasio, e passou a integrar os grupos da emissora a convite do crooner Antonio Rabelo. Nessa poca, a Radio Jornal apresentava os seus programas ao vivo, com o trabalhode vrios artistas nacionais e internacionais que se apresentava no Recife. Alm do VocalistaParaguau, havia vrios outros grupos fixos, entre eles a Orquestra Paraguau e o Regional deLuperce Miranda. 12 Por volta de 1949, o paraibano Jackson do Pandeiro que integrava oelenco da Radio como percussionista, abandonou esta funo passando a investir em suacarreira como cantor. Dimas foi, ento, convidado pelo maestro Nozinho para substitui-lo.Apos um curto perodo na Radio Jornal do Comercio, partiu em 1950 para Salvador.Chegando Ia, comeou a trabalhar como baterista free lancer nas rdios Sociedade e Cultura.Seguindo os passos de grande parte dos msicos da poca, Dimas desembarcou em 1958 noRio de Janeiro. Nesse perodo trabalhou no Hotel Gloria, na Boate Casablanca, de CarlosMachado, na Radio Tupy, e foi free lancer da Radio Nacional, da Radio Mau, Radio MayrinkVeiga, alm de ter trabalhado junto a grandes nomes da musica brasileira e do teatro derevista, na companhia teatral de Valter Pinto. O Ministrio da Educao e Cultura juntamente com o Ministrio das RelaesExteriores e o Itamaraty resolveram enviar a Blgica em 1958, uma comisso querepresentasse a cultura nacional, para a inaugurao do pavilho do Brasil na EXPO 58 que serealizaria em Bruxelas. Ao lado de Sivuca, Jackson do Pandeiro, Trio Iraquit, Abel Ferreira, Guio de Morais eJoao Pernambuco, entre outros, Dimas integrou essa caravana a Convite do DeputadoHumberto Teixeira. A caravana retornou ao Brasil depois de um ms de tourne. A Europa,entretanto, no foi esquecida e os contatos feitos durante a viagem permitiram a realizao de

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    um novo sonho. Trabalhou um ano em Portugal a convite, atuando no Cassino Estoril,conheceu Maria Gloria Guedes, em 1959, conhecida pelo nome artstico de Marina, comquem veio a trabalhar e se tornar a sua esposa em 1962 e me de seu filho Dimas GuedesSedcias. Fixou residncia por doze anos em Paris onde recebeu uma proposta de trabalho desilva Silveira, cantor brasileiro radicados na Europa. Em Paris Dimas percebe o quanto eraimportante msica brasileira para ele, atuou com diversos artistas em teatros importantescomo o teatro Bobino Salle Wagram, na radio e televiso francesa fez gravao comcelebridades como o cantor Charles Aznavour e a atriz Brigitte Bardot. Em 1960, resolveu fazer um concurso para ingressar na Sociedade dos Autores,Compositores e Editores Musicais - SACEM. Com o auxilio do amigo italiano AlexBianccheri, pianista de uma editora de musica, ele conseguiu editar as cinco obras que eramexigidas pelo regulamento do concurso. Feitos os exames, Dimas foi aprovado na categoria deautor e compositor e tornou-se membro daquela sociedade dos autores franceses, onderegistrou toda a sua produo. No tendo Dimas, uma educao musical formal, sempre foium curioso preocupado em aprender. Ainda em Paris, fez amizade com Roland Rodit,professor de saxofone do Conservat6rio de Nantes, com quem passou a ter aulas particularesde harmonia para melhorar o seu conhecimento. A morte de seu pai, o percussionista Jose Ferreira da Silva em 1971, fez com que ocompositor voltasse ao Brasil para dar assistncia a sua me. J no Recife, comeou atrabalhar em casas noturnas integrando as orquestras de bai1e dos maestros Jose Menezes eGuedes Peixoto. No ano de 1971 faleceu Dona Amelia Rosa, a me do compositor, e este,desesperado, resolveu voltar com sua esposa para a Europa. Antes de sua partida, porem, umaproposta inesperada de emprego fez com que ele permanecesse no Brasil. Dimas assumiu a vaga de percussionista na Orquestra Sinfnica do Recife e logo depoisrecebeu o convite do maestro Guedes Peixoto para tocar os tmpanos. Integrando o quadro daOrquestra por vinte e cinco anos, ele ficou ate o ano 2000, quando completou 70 anos e seaposentou. De espirito obstinado e incansvel, continuou a exercer suas atividades decompositor, arranjador e diretor musical de discos e eventos. Participou de dez frevanas, queso festivais de musica carnavalescas promovidos pela Prefeitura do Recife em parceria comoutras instituies, sendo classificado em muitos e chegando a obter em um mesmo ano, maisde urna colocao. Por mais de urna vez foi diretor musical do Canta Nordeste, promovido pela RedeGlobo (PE), e costumava ser convidado como assistente musical de diversos corais emtournes pela Europa. Planejada viagem a Frana foi adiada por dezoito anos. Ao visitar Paris,em 1989, o compositor encontrou a cidade bastante modificada no que dizia respeito aoambiente musical. No havia mais o "ponto" dos msicos nos cafs, onde se reuniam paraacertar os bailes e apresentaes, ou mesmo para contar as Ultimas novidades, e grande partedos amigos tambm j no morava na cidade. Todas essas mudanas entristeceramprofundamente o compositor. No Brasil, Dimas que era dono de uma criatividade e versatilidades incomuns, seguiucompondo e fazendo arranjos para as mais variadas formaes que iam desde musica parabanda ate peas para instrumento solista. As musicas do compositor comearam a chamar aateno de instrumentistas em todo o pas, e vrios grupos como o Quinteto Brassil, oQuarteto de Trombones da Paraba e o Quinteto Latino Americano de Sopros passaram ainclui-lo em seu repertrio, gravando varias de suas peas. A grande aceitao de sua musica fora de Pernambuco fazia com que o compositorficasse pouco desanimado quanto a execuo de suas obras dentro do prprio Recife edissesse, "em casa ningum da valor a gente ne? J esta na Bblia, Jesus Cristo dizia:Ningum e profeta em sua terra, no ?" e acrescentasse, "ento, quando eu quero ... eu sououo minhas musicas quando eu vou pra fora daqui, que vou pra Braslia ou ... ou pra outroLugar, porque aqui mesmo ... " Em 1999, Dimas foi convidado para participar do Festival Internacional de Musica de

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    Braslia, para trabalhar com banda de musica, convite este, renovado em 2001. Em 1995, noConservat6rio Pernambucano de Musica, Sergio Campelo, professor de flauta transversal,teve a ideia de juntar uns alunos para trabalhar musica erudita brasileira. Pedindo o apoio deClaudio Moura, professor de violo, comearam a trabalhar aos pouquinhos a musica decompositores populares com forte formao erudita, como Ernesto Nazar e ChiquinhaGonzaga. A entrada de Antnio Barreto, professor de percusso e talentoso marimbista, veiodar um colorido especial ao som do grupo. E assim nasceu o Sa Grama. Dimas foi convidado pelo amigo Sergio Campelo para ver o grupo e imediatamente seencantou com a sua sonoridade. Props ento que Sergio fizesse para o grupo o arranjo de suaantiga "Sute Matuta", para flautas e percusso, que era formada por quatro pequenas peas:Novena, Ri-Couro, Caboclos de Orub e Rela-Bucho. 0 grande sucesso da Sute Matuta fezcom que Sergio procurasse Dimas e pedisse uma nova composio, "Dimas, rapaz, o negocioesta bom, faz alguma coisa ai." E ele fez, ento, o BoiBaba, um pequeno auto do bumba-meu-boi. O Sa Grama que inicialmente se propunha atrabalhar a msica erudita passou a se identificar cada vez mais com a msica de Dimas,assumindo uma personalidade totalmente diferente da original.

    ( ... )A nossa inteno desenvolver uma msica de cmara elaborada, baseada nos elementos da cultura popular. QuandoFormamos o grupo, essa linha ainda no estava definida, foi preciso encontrar com Dimas Sedcias, para que este Sa Grama surgisse31

    A aceitao foi tanta, que o produtor fonogrfico Luiz Guimaraes ao assistir umaapresentao do Sa Grama props a gravao de um disco. Dimas participou da gravao, e odisco, intitulado "Sa Grama", foi lanado em 1998. Das dezesseis msicas gravadas, quatroeram dele. musico passou a compor intensamente para o grupo, ligando quase toda semanapara mostrar alguma obra nova ao amigo Sergio. Alm das composies, ele tambminfluenciou o Sa Grama no que diz respeito a execuo instrumental. Embora tenhatrabalhado por muitos anos com msica erudita, era reconhecidamente um timopercussionista popular e utilizava sua experincia para trabalhar com os alunos o modocorreto de executar suas obras. Sempre irreverente costumava dizer, "tira o smoking, vocsesto tocando de smoking. Parece que esto tocando na Orquestra Sinfnica!" No s osalunos, mas tambm outros integrantes do grupo foram estimulados e se beneficiaram com aexperincia do compositor.

    ( ... ) o estilo dele escrever me influenciou totalmente. Minha musica tava rnais ... aminha msica a principio, no tinha nem percusso. Eu comecei a conversar comele, eu tinha medo de escrever ( ... ) eu sempre fui contra essa coisa de escrever oritmo que com~ e termina. Ai, eu comecei a escrever e perguntar a ele. Ele me deumuita ideia e a coisa foi funcionando ( .. .)'32

    31Srrgio Campelo em entrevista a Janaina Lima- Jornal do Comercio- EditoriaCaderno C- Recife, 20/12/1999-http:://""w2.uol.com.br/JC/_!999/2012/cc2012thtm32 Srgio Campelo em entrevista a Dr. Germanna Frana- Recife, 09/06/2001

    No dia 06 de setembro de 2001, no Recife, morre o nosso compositor. Faleceu em suaresidncia, no bairro Jardim So Paulo, cercado pelos cuidados de sua esposa Marina, do filhoDimas, das primas Lili e Elena e tantos outros amigos. O maestro, que passou um perodointernado no Hospital Universitrio Oswaldo Cruz (Recife), em momento algum deixou que adoena superasse o seu espirito musical. Neste ano, havia sido convidado para apresentar umapalestra sobre musica folclrica e popular no 33 Festival de Inverno da UFMG e planejavacom o amigo Sergio Campelo, a incluso de varias obras suas no novo CD do grupo SaGrama. Deixou-nos aos 71 anos, no momento em que comeava a colher os louros de uma vida

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    devotada a musica, e no auge de sua carreira como compositor. Fica-nos o exemplo de sualuta, sua determinao, e a lembrana de seu espirito brincalho e inovador, nos presenteandocom algumas das mais surpreendentes criaes da musica brasileira. A obra certamentepermanecera eleita pelas futuras geraes. Do criador, poderemos dizer ento que no morreu,e sim, como diria o grande Nelson Ferreira: partiu para a eternidade, deixando em suacidade um mundo de saudade sem igual!"44

    44 Trecho retirado do frevo cano Evocao no3, do maestro e compositorpernambucano NelsonFerreira.

  • REPERTRIO

    Todas as msicas foram escolhidas conforme o tema e a partir de uma abordageminterpretativa mediante a prtica contextualizada. Desse modo, pontuamos a seguir arelao das msicas a serem executadas, bem como os gneros referentes a cada umadelas:

    Gnero Msicas Compositor

    1 Valsa Apenas umtrompete solitrio

    Dimas Sedcias

    2 DesenvolvimentoLivre

    Corda e Caamba Dimas Sedcias

    3 Frevo Trompetuba Dimas Sedcias

    4 DesenvolvimentoLivre

    Requiem para umnovillero

    Dimas Sedcias

    5 Aboio/baio Coisas do agreste(Aboio de Vaqueiro)

    Dimas Sedcias

    6 Baio/maracatu 300 Lguas Dimas Sedcias

    7 DesenvolvimentoLivre

    Berceuse paraCeclia

    Dimas Sedcias

    ASPECTOS FORMAIS DAS OBRAS

  • A partir de uma breve anlise das obras podemos aferir alguns pontos que sefazem presente na maioria das msicas. O compositor buscou, a partir de uma breveanlise formal da estrutura dos movimentos das obras consideramos as indicaes decarter marcadas pelo compositor motivo das divises de seo tanto na primeira obra,Cadenza, como tambm nas demais, porm j com sees definidas, como a exposiotemtica, um breve desenvolvimento, reexposio e a coda final e suas respectivassubsees. Evidencio nossa preferncia e escolha nas divises e organizao daestrutura no quadro abaixo (Tabela 1).

    Apenas um trompete solitrio

    Seo Introduo Desenvolvimento Reexposio Coda

    Compassos Cadenza Letras (A,B,C,D,E,F) Cadenza final x

    Andamento Allegro Allegro Allegro Vivo

    b.p.m. 126 126 126 160

    Data e local de composio: Recife, 12 de outubro de 1995Instrumentao: TrompeteClassificao: ValsaExtenso: L2 D5Durao: c. 4'00"Localizao: Arquivo particular do Prof. Ranilson Farias.

    Corda e Caamba

    Seo Introduo Desenvolvimento Reexposio Coda

    Compassos Letras (A, B) Letra (C, D,E,F,G) X X

    Andamento Andante Andante X X

    b.p.m. 96 96 X X

    Data e local de composio: Recife, janeiro de 1999.

  • Instrumentao: Trompete e caixa-claraClassificao: Desenvolvimento livre finalizando com frevoExtenso: Si2 R5Durao: c.340Localizao: Arquivo particular do Prof. Ranilson Farias.

    Trompetuba

    Seo Introduo Desenvolvimento Reexposio Coda

    Compassos Os compassos Antesda letra (A)

    Letras (B, C) x Seis compassos finais

    Andamento Allegro Allegro Allegro Allegro

    b.p.m. 126 126 126 126

    Data e local de composio: Recife, setembro de 1998Instrumentao: Trompete C e tuba CClassificao: FrevoExtenso: Trompete: L2 L4. Tuba: Sol 1 L2Durao: 2'01"Localizao: Arquivo particular do Prof. Valmir VieiraGravao: CD Prisma, a Msica de Dimas Sedicias (2000) Ayrton Benck (trompete) e Valmir Vieira (tuba)

    Requiem para um novillero

    Seo Introduo Desenvolvimento Reexposio Coda

    Compassos Primeiro e segundo compassos

    Do stimo ao vigsimo segundo compassos

    X Seis compassosfinais.

    Andamento Largo Largo Largo Largo

  • b.p.m. 56 56 56 56

    Data e local de composio: Recife, 1980Instrumentao: Trompete e violoClassificao: Desenvolvimento livreExtenso: Trompete: Si2 L4Durao: 523Localizao: Arquivo particular do Prof. Ranilson FariasGravao: CD Prisma, a Msica de Dimas Sedcias (2000) Wilson Pimentel (trompete) e Dimas Sedcias(violo).Dedicatria: No CD Prisma, o compositor escreve: Musicadedicada a um Novillero (toureiro que lida com novilhos) que foi colhido pelo animalnuma "Tarde de Toros" em Pamplona, Espanha.

    ANALISE TCNICAS DAS OBRAS SELECIONADAS

  • Apenas Um Trompete Solitrio

    Na letra (A) Dimas usa o fraseado com a trade comeando com a segunda inverso de

    F Maior.

    No nono compasso da seo A o compositor usa o mesmo motivo rtmico fazendo a

    mesma inverso a partir do acorde de sol menor, segundo grau de F Maior, observa-se

    o modo Jnio, que o modelo de progresso maior. Esta clula rtmica pode ser

    evidenciada em outros trechos da pea.

    Observando a articulao da obra, por ser uma Valsa, apresenta microfrases ligadas que

    chamamos de legato. Aparecendo na segunda seo da cadencia staccato.

    Tambm no decimo stimo compasso de E, o primeiro tempo ligado e o segundo e

    terceiro tempo staccato.

    No compasso oitavo de E, j mostrava que iria mais frente escrever um arpejo Diminuto, concretizado no compasso oito de F; O D Diminuto.

  • Ex; oitavo de E.

    Ex; oitavo de F.

    O uso de notas cromticas de passagem com movimento descendentes, Ex.: vinte e dois de F.

    Na dinmica a pea inicia uma cadncia com f, a segunda seo p com crescendo e decrescendo na fermata, repetindo na terceira seo, acrescentando nas duas fermatas finais da cadncia mf e p.

    No desenvolvimento da pea encontramos trechos Mezzo forte e aparecendo forte em nove de B, trade de Sol menor na primeira inverso, eno trecho treze de E. Fermata final em fortssimo.

  • CORDA E CAAMBA

    Exposio do tema letra A 1 compasso em Sol maior, segundo compasso repete omotivo em l maior, terceiro compasso em Si maior . Uso do crescendo no compasso 3de A , f no quarto compasso, e notas articuladas nos compassos 4,5,6 com a mesmadiviso rtmica.

    Repetio rtmica 7,8.10 de A decrescendo no terceiro compasso de B e p no quarto compasso.

    Letra C Intervalo de 6 aumentada no primeiro compasso, no segundo compasso a mesma diviso rtmica intervalo de 8 justa. (Nos compassos 3,4,5, 7, 8, mesma diviso rtmica com intervalos diferentes).compassos 9,10, (sfz cresc.f)

  • Letra D- Adagio: 6/8 Mezzo forte, Melodia em modo mixoldio e ldio. (7b,4#)Trecho em D.

    Letra E, Repetio rtmica nos compassos 3,4 alterando o 7 no segundo compasso, e no4 grau no 3 compasso .

    Letra G, ltimo movimento frevo: Grupo de semicolcheias no 1 e 3 compasso. Mesmadiviso rtmica com intervalos de 4 justa .uso do modo Locrio descendente F maior no compasso 6..

  • Do compasso 8 em diante o compositor passou por tonalidades:

    Uso de ttrade no compasso 25:

    Final nota oitavada. R 4, para r 3

  • TROMPETUBA

    Exposio do tema em r maior, uso de semicolcheias nos compasso 1,2,3 .

    Letra( A)-modulao para f maior.

    Terceiro compasso de (A) passagem por tonalidade em C#m.

    Letra ( B)- frase em C dim .

    Terceiro compasso de (B)- fragmentos do tema segue nos compassos, 4,5,6.

  • Quinto compasso de (C)- uso do homnimo do quarto grau de Re Maior.

    Stimo compasso de (C )-intervalos de 4 justa, segue no oitavo compasso.

    Coda recapitulao do tema.

  • CRONOGRAMA

    Atividades Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

    PesquisaBibliogrfica/Discogrfica

    X X X X X

    Pesquisa derepertrio

    X X

    Preparao deRecital

    (concepo eensaios)

    X X X X

    Apresentao doRecital

    X

    Entrega do RelatrioFinal

    X

  • CONSIDERAES FINAIS

    A partir de tudo que foi estudado e exposto podemos compreender o quograndioso e importante se faz a obra musical e artstica de Dimas Sedcias, e o quantoela rica em elementos que retratam a paisagem sonora do nordeste. Alm, percebemosque o seu conhecimento em relao percusso e, principalmente, msica regional sefaz muito presentes em suas composies e demonstra claramente.

    notvel que estejam diante de obras que desafiam o intrprete e exigem tantono mbito tcnico como no interpretativo. Assim, a anlise e estudo dos parmetrosinerentes s peas contriburam substancialmente durante o processo de construo deuma interpretao coerente e bem estruturada.

    Ressaltamos a escassez de material informativo, didtico e/ou acadmicorelacionado s peas do compositor Dimas Sedcias escritas para trompete. Desse modo,concentramos o trabalho exclusivamente nas informaes obtidas em algumas poucasfontes de pesquisa e nas informaes descritas nas partituras.

    Chegamos concluso que, cada vez mais, faz-se necessrio o registro audiovisualdesse tipo de obra musical, bem como o incentivo produo escrita e acadmica sobreos vrios aspectos estticos, tcnico musicais, sociais, estticos entre outros, ligados aesse tipo de produo artstica e cultural. Tais aes podero abrir caminhos para quecomposies dessa natureza possam se tornar cada vez mais difundidas, executadas eestudadas pela classe de trompete no Brasil.

    No que concerne s caractersticas tcnicas e interpretativas das obras, podemosobservar que as mesmas apresentam um variado grau de complexidade, alm de umavariada e original interao entre elementos rtmicos e meldicos. O compositordemonstrava ter um cuidado especial com as articulaes e sinais de dinmica eandamento, expressas de forma muito clara e objetiva em todas as partituras.

    No que se refere aos aspectos idiomticos ligados ao trompete podemos aferir que,em sua maioria, as peas eram escritas para trompete em C, muito embora algumaspartituras tinham indicaes trompete in C ou Bb. As peas apresentam uma extensoconfortvel e suas melodias exploram os mais variados fundamentos do trompete, taiscomo: stacato (simples e duplo), legato, arpejos variados, glissandos entre outros.

    Com este trabalho, esperamos contribuir para que a obra do compositor DimasSedcias possa se tornar cada vez mais difundida entre os repertrios e recitais detrompete de todo pas. Alm, este trabalho configura-se enquanto um ponto de partidapara estudantes de msica, professores, msicos e pesquisadores em geral que, dealguma forma, se interessam pela belssima e vasta obra desse compositor.

  • REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    VASCONCELLOS, Ary. Panorama da Msica Popular Brasileira -volume 2. Rio deJaneiro: Martins, 1965.

  • ANEXOS

  • INTRODUOBIOGRAFIAREPERTRIOASPECTOS FORMAIS DAS OBRASANALISE TCNICAS DAS OBRAS SELECIONADASCONSIDERAES FINAISREFERNCIAS BIBLIOGRFICASANEXOS