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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA INTERIOR BIOMAGNIFICAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA DE UM QUELÔNIO DE ÁGUA DOCE (Chelus fimbriata) E SEU PERFIL GENOTÓXICO EM AMBIENTES FLUVIAIS DO MÉDIO RIO NEGRO, AMAZONAS, BRASIL FÁBIO ANDREW GOMES CUNHA Manaus, Amazonas Maio, 2015

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E

PESCA INTERIOR

BIOMAGNIFICAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA DE UM QUELÔNIO DE

ÁGUA DOCE (Chelus fimbriata) E SEU PERFIL GENOTÓXICO EM

AMBIENTES FLUVIAIS DO MÉDIO RIO NEGRO, AMAZONAS, BRASIL

FÁBIO ANDREW GOMES CUNHA

Manaus, Amazonas

Maio, 2015

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FÁBIO ANDREW GOMES CUNHA

BIOMAGNIFICAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA DE UM QUELÔNIO DE

ÁGUA DOCE (Chelus fimbriata) E SEU PERFIL GENOTÓXICO EM

AMBIENTES FLUVIAIS DO MÉDIO RIO NEGRO, AMAZONAS, BRASIL

Orientador: Dr. Bruce Rider Forsberg

Coorientadores: Dr. Richard Carl Vogt e Dra. Fabíola Xochilt Valdez Domingos

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Biologia de

Água Doce e Pesca Interior BADPI/INPA,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Mestre em Ciências Biológicas, área

de concentração em Biologia de Água Doce e

Pesca Interior.

Fonte Financiadora: CNPq

Manaus, Amazonas

Maio, 2015

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FÁBIO ANDREW GOMES CUNHA

BIOMAGNIFICAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA DE UM QUELÔNIO DE

ÁGUA DOCE (Chelus fimbriata) E SEU PERFIL GENOTÓXICO EM

AMBIENTES FLUVIAIS DO MÉDIO RIO NEGRO, AMAZONAS, BRASIL

BANCA EXAMINADORA

Dr. Wanderley Rodrigues Bastos – Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR

- RO

Dr. Bruce Gavin Marshall – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA -

AM

Dr. Augusto Fachin Terán – Universidade do Estado do Amazonas – UEA - AM

CONCEITO FINAL: Aprovado com distinção e louvor.

Manaus, Amazonas

Maio, 2015

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FICHA CATALOGRÁFICA

C972 Cunha, Fábio Andrew Gomes.

Biomagnificação do mercúrio na cadeia de um quelônio de água doce (Chelus

fimbriata) e seu perfil genotóxico em ambientes fluviais do médio rio Negro,

Amazonas, Brasil / Fábio Andrew Gomes Cunha. --- Manaus: [s.n.], 2015.

73 f. : il.

Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015.

Orientador : Bruce Rider Forsberg.

Coorientador : Richard C. Vogt e Fabiola X. V. Domingos.

Área de concentração : Biologia de Água Doce e Pesca Interior.

1. Mercúrio. 2. Biomagnificação. 3. Quelônio. I. Título.

CDD 597.92

Sinopse:

Foram analisadas amostras de músculo, carapaça e garra córnea de quelônios da

espécie Chelus fimbriata para mensurar as concentrações de mercúrio total e

metilmercúrio, bem como analisadas amostras de tecido muscular para

determinar os valores das razões isotópicas de carbono e nitrogênio.

Palavras chaves: quelônios, mercúrio, ecologia isotópica, rio Negro

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Dedico a este senhor de 85 anos

(popularmente conhecido como seo Galo,

foto), que há 15 anos trabalha

voluntariamente dia-e-noite no transplante

das ninhadas de quelônios em praias nas

proximidades da cidade de Oriximiná, Pará.

Que um dia, essa profícua atitude em prol da

conservação das espécies da nossa

biodiversidade possa pulsar em todos nós.

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Agradecimentos

Individualmente se constrói um sonho, mas sua conquista está atrelada a inúmeras

parcerias. Assim foi este projeto!

Pela vida que eu ouso estudar, agradeço a Deus!

Pelos ensinamentos adquiridos, pelo exemplo de profissionalismo e dedicação à

ciência, agradeço aos meus orientadores, Dr. Bruce R. Forsberg, Dr. Richard C. Vogt

– Dick e, Dra. Fabíola V.X. Domingos, cada um de forma singular contribuiu para

este projeto. Obrigado pela confiança! Tenho pelos senhores grande admiração e

respeito.

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, agradeço pela estrutura

oferecida e pela magnífica oportunidade de realização do mestrado.

A coordenação do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Água Doce e Pesca

Interior – BADPI, em nome do atual coordenador Dr. Nelson Silva e a coordenadora

anterior, Dra. Sidnéia Amádio, obrigado pela dedicação e esforço.

Em nome do Dr. Jansen Zuanon, agradeço de forma especial a todos os professores

durante o curso de mestrado. Obrigado pela troca de experiência e pelos

conhecimentos que eu adquiri através dos senhores.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela

concessão da bolsa de mestrado. A Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas,

FAPEAM pelo apoio a viagens para participação de congressos.

Ao Dr. Bruce Marshall, Dr. Rosseval Leite e ao Dr. Mário Tomé, obrigado pelas

contribuições durante a aula de qualificação.

Aos laboratórios, agradeço:

De forma especial, agradeço ao Laboratório de Ecossistemas Amazônicos, INPA,

Manaus, na pessoa do seu coordenador e meu querido orientador Dr. Bruce R.

Forsberg. Aos demais membros e meus amigos, Otávio Peleja, Brendson Brito, João

Henrique Amaral, Pedro Barbosa, nobre Joãozinho e as agregadas do laboratório Dani

do Minhoca e Marina do Otávio, a Gisele por resolver todos os tramites burocráticos.

De maneira singular, quero expressar minha gratidão a Dra. Daniele Kasper, minha

orientadora não-oficial. Obrigado a todos pelos cafés, conversas e companhia.

Laboratório de Análise Mineral, CPRM, Manaus, em nome da pessoa do senhor

Raimundo Gato, da senhora Maria Alice, da senhora Nilda Pantoja e dos técnicos

Eng. Bruno Calvo e Eng. Ceel, pelas análises de mercúrio.

Laboratório de Geocronologia e Isótopos Estáveis, UNB, Brasília, em nome do

técnico e meu amigo Eduardo Carvalho e do senhor Luis Mancini, pelas análises de

Isótopos Estáveis.

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Laboratório Temático de Microscopia Ótica e Eletrônica, INPA, Manaus, em nome

do senhor Wilson Meirelles, do senhor Lucas Castanhola e a senhora Jackieline, pela

ajuda na preparação e leitura das lâminas.

Laboratório de Biogeoquímica, UNIR, Porto Velho, em nome do Dr. Wanderley

Bastos, da senhorita Marília Mussy e do senhor Dario Carvalho, pelas análises de

metilmercúrio.

Laboratório de Nutrição de Peixes, INPA, Manaus, na pessoa da D. Inês, por ter

liofilizado as amostras de fitoplâncton.

Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular, INPA, Manaus, na pessoa do Dr.

Rafael Duarte (Sussu), pelas análises de COD.

As pessoas, agradeço:

A Eurizângela Dary pelas orientações para as coletas de amostras para isótopos

estáveis.

A Faby do laboratório de plâncton, pela compreensão no empréstimo da rede de

plâncton.

A Luciana Crema do sempre trocar dicas e artigos comigo, todos contribuíram para o

resultado final deste trabalho.

A Coleção de Repteis e Anfibios do INPA, em nome da Ariane e de Márcia. Todas

tem contribuição para esta dissertação.

A Priscila Azarak e família por ter me acolhido em sua aconchegante casa em Boa

Vista, RR, durante as tentativas de capturas de Matá-matá. E, ao Vinicius por me

apresentado essa maravilhosa pessoa. Ao João, sua esposa e Gael, obrigado.

A todos que corrigiram meu plano de mestrado e criticaram construtivamente a fim de

que o projeto se tornasse cada vez melhor, em especial ao Dr. Rafael Benhard e a Dra.

Larissa Schneider, suas contribuições foram significantemente proveitosas para

execução deste trabalho.

Ao grupo Tartarugas da Amazônia, em nome das pessoas Elis Perrone, Dra. Camila

Ferrara, Virginia Bernardes, Fernanda Freda, Vinicius Carvalho, Prof. Neves, D.

Oneide Vogt, Mário, Sofia Ponce de Leão e todos os outros que porventura tenha

esquecido.

Ao SISBIO pela autorização para realização das capturas e das coletas de tecido

biológico dos animais. Ao CEUA INPA pela concessão de licença para o trabalho.

Ao Dr. Gonçalo Ferraz e a todos os estudantes da Ecologia da disciplina Ecologia de

Populações, pude aprender muito nessa disciplina de campo.

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Ao Grupo Mauá, em nome da Dra. Maria Tereza Piedade e sua orientada Aline Lopes

pela identificação das plantas.

Aos meus amigos de longa data e colegas de graduação e mestrado, Otávio Peleja e

Brendson Brito, obrigado por tudo meus caros amigos.

A minha turma de mestrado (BADPI 2013), vocês foram a minha família durante

esses dois anos. Em especial Louzamira Biváqua, Marina Carmona, Bianca Weiss,

Diogo Ubatuba, Alexandre Pessoa, Felipe Carvalho, Fernanda Freda e a minha amiga

e parceira de Projeto de Pesquisa Sofia Ponce de Leão.

Aos ajudantes de campo na pessoa do senhor Anízio e seus filhos Beto e outros dois,

tripulantes do Barco Tartarugas da Amazônia, em nome do Mário, vocês foram parte

essencial e indispensável para o presente estudo. Em especial ao Dr. Richard C. Vogt,

pessoa no qual tenho grande carinho e admiração, obrigado pela indescritível

oportunidade de viajar e conhecer a bela região do médio rio Negro.

Aos meus padrinhos, Jocelina e Ferreira, agradeço gentilmente o apoio e o amor

recebido. Aos meus queridos, amigo Guilherme Sampaio e sua esposa (mãe

manauara) Andreia Queiroz pelo amor e amizade de sempre. A tia e amiga Janete

Marques, obrigado pela cumplicidade e amor inigualável que tenho recebido da

senhora. Meus professores e amigos Dr. Reinaldo Peleja e sua esposa Dra. Ynglea

Goch. Certamente vocês fazem parte dessa conquista.

As amigas, Josiara Reis, Larissa Barbosa, Helena Correia e, em especial ao meu

amigo Emânuel Camarão (irmão), Emanuelle Camarão, Camila Ferrara pelo belo

exemplo de profissionalismo, Andreia Omena (mais que amiga) e aos amigos

Marcelo Carneiro, Luan Silva, Edinho e Hudson Almeida, Pablo Walladão e Sidney

Marques!

Em nome da minha vó Lourença Cunha, meu pai Aderbal Cunha, minha mãe Chelsea

Cunha e minha irmã Nathálya Cunha, minha filha Baronesa e suas mães Eveline e

Gabriela Cunha, agradeço a toda minha família, meu porto seguro. As tias manauaras

Vera Tavares e suas irmãs, obrigado pelo carinho que recebo dessa família. A família

de Pierre Gadelha, Carmem Gadelha, Anna Gadelha, Mary, Rayssa Fernanda e Vítor

Gadelha.

A espécie Chelus fimbriata quero agradecer por toda sua peculiaridade, sem dúvida

alguma por ser tão fascinante espécie este trabalho se tornou o que se tornou. O meu

sucesso devo a esta espécie.

A todos que contribuíram para o presente trabalho, muitíssimo obrigado!

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16

Espécie: Chelus fimbriata (Schneider, 1783). ............................................................. 19

OBJETIVOS ................................................................................................................ 22

Objetivo Geral .............................................................................................................. 22

Objetivos Específicos................................................................................................... 22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 24

Capítulo 1 Bioamagnificação do mercúrio na cadeia de um quelônio de água doce

(Chelus fimbriata) e seu perfil genotóxico em ambientes fluviais do médio rio Negro,

Amazonas, Brasil. ........................................................................................................ 30

Resumo ........................................................................................................................ 31

Introdução .................................................................................................................... 33

Material e Métodos ...................................................................................................... 35

Área de estudo.............................................................................................................. 35

Coleta do material de campo........................................................................................ 38

Processamentos das amostras biológicas ..................................................................... 41

Análises Laboratoriais ................................................................................................. 41

Análises Estatísticas ..................................................................................................... 43

Resultados .................................................................................................................... 45

Discussão ..................................................................................................................... 56

Conclusão ..................................................................................................................... 64

Agradecimentos ........................................................................................................... 65

Referências Bibliográficas ........................................................................................... 66

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(...) Por Deus nunca me vi tão só,

É a própria fé o que destrói

Estes são dias desleais

(Metal Contra as Nuvens, Legião Urbana).

(...) Porque ninguém vai dormir

nosso sonho

(Muito Estranho, Nando Reis).

Tempo Rei!

Oh Tempo Rei!

Oh Tempo Rei!

Transformai as velhas formas do viver,

Ensinai-me

Oh Pai!

O que eu, ainda não sei

Mãe Senhora do Perpétuo Socorrei.

(Tempo Rei, Gilberto Gil)

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Resumo

Quelônios podem servir como modelo biológico para estudos de contaminação devido

aos seus atributos ecológicos e sua história de vida, que incluem uma ampla

distribuição geográfica, a variação nos tipos de hábitat que ocupam e a gama de níveis

tróficos aos quais pertencem. Além disso, tartarugas são animais que apresentam alta

longevidade, permitindo a exposição aos contaminantes por longo prazo. O objetivo

do presente estudo foi de investigar a bioacumulação de mercúrio total e o perfil

genotóxio no quelônio Chelus fimbriata e caracterizar a biomagnificação de mercúrio

através da sua cadeia alimentar em ambientes fluviais do médio rio Negro, Amazonas.

Foram coletadas amostras biológicas (músculo, carapaça e garra córnea) de 25

quelônios e também amostras das principais plantas (fitoplâncton, perifíton, arbustos

e herbácea aquática emergente) e consumidores presentes na cadeia alimentar de

Chelus fimbriata nos meses de fevereiro e março de 2013 para análises de mercúrio e

isótopos estáveis. Alguns variáveis limnológicas (pH, OD, temperatura,

condutividade e COD) também foram mensurados. Mercúrio total em todas as

amostras foi determinado pelo método de espectrofotometria atômica de vapor frio.

As razões dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio nas amostras foram

determinadas, após secagem a 60ºC graus durante 48 horas e maceração. Por meio do

método de espectrometria de massa de razão isotópica. Para mensurar danos

genotóxicos, dois esfregaços sanguíneos foram realizados para cada animal, seguido

de tratamento com corante de Giemsa e tampão fosfato pH 5,6. 2000 células foram

observadas para cada animal com microscópio ótico para determinar a frequência de

células com anomalias nucleares. Houve diferença significativa nas concentrações de

mercúrio total entre tipos de amostra nos quelônios (ANOVA F2,70=172 p < 0,001),

com as maiores concentrações médias sendo encontradas em carapaça (3677 ng/g) e

garra córnea (3787 ng/g) e a menor concentração média ocorrendo em músculo (406

ng/g), todos os resultados estão em peso úmido. Os valores médios de δ13

C para

fitoplâncton, perifíton, arbustos e herbácea aquática emergente foram -32,99 ‰; -

34,33‰; -30,70‰ e -30,15‰ e os valores médios de δ15

N foram 5,08‰, 7,33‰, 8‰,

7,29‰, respectivamente. Os valores médios de δ13

C e δ15

N em Chelus fimbriata

foram 11,9‰ e -31,7‰, respectivamente. O animal estava 2 níveis tróficas acima das

plantas e derivou a maior parte da sua energia de cadeias tróficos iniciando com

fitoplâncton e algas perifiticas. Houve relação positiva entre as concentrações de

mercúrio total e o tamanho dos animais (F = 21,17; r2 = 0,467; p < 0,001). A

frequência média de micronúcleo nas células sanguíneas dos animais estudados foi de

1,21±0,65/1000 células. Não houve relação significativa entre a frequência de

micronúcleo e as concentrações de mercúrio total. Houve relação significativa entre o

Log10HgT e δ15

N para a cadeia trófica de Chelus fimbriata (r2 = 0,8009; p < 0,001),

indicando forte biomagnificação. A equação foi: log10Hgt (ng/g) = 0,247+0,2008

δ15

N. A média da concentração de mercúrio total encontrado no tecido muscular da

espécie Chelus fimbriata estava abaixo do limite de contaminação para consumo de

pescado recomendado pela OMS e pelo Ministério da Saúde.

Palavras chaves: mercúrio, bioacumulação, quelônios, rio Negro, Amazônia.

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Abstract

Turtles can be used as biological models in toxicological studies due to their unique

ecological and life-history attributes, including their wide geographic distribution, the

diversity of their habitats and the variety of trophic levels they occupy. Besides this,

turtles are long-lived organisms which can be exposed to long-term contamination.

The objective of the present study was to investigate the bioaccumulation of total

mercury, the genotoxic profile and the biomagnification of Mercury in the food chain

of the turtle Chelus fimbriata in fluvial environments of the middle Negro River,

Amazonas, Brazil. Biological samples (muscle, carapace and claw) were collected

from 25 individuals of Chelus fimbriata and the principal aquatic plants

(phytoplankton, periphyton, emergent macrophytes and shrubs) and consumers in its

food chain during the months of February and March of 2013 for the analysis of

mercury, stable isotopes and, in the case of turtles, genetic defects. Some

limnological variables associated with mercury dynamics (pH, DO, temperature,

conductivity and DOC) were also measured. Total mercury in all samples was

determined, following high temperature digestion, by cold vapor atomic absorption

spectroscopy. Stable isotope ratios for carbon and nitrogen in all biological samples

were determined, after drying at 60ºC for 48 hours and grinding, by isotope ratio mass

spectroscopy. To evaluate genetic defects in turtles, two blood smears for each

animal, were prepared and stained with Giemsa in pH 5,6 phosphate buffer. 2000

blood cells from each animal were examined with a compound microscope and the

frequency of nuclear anomalies was quantified and expressed as anomalies/1000 cells.

A significant difference was found in HgT levels between sample types in turtles

(ANOVA F2,70=172 p<0,001), with the highest average concentrations occurring in

carapace (3677 ng/g) and claws (3787 ng/g) and the lowest concentration occurring in

muscle (406 ng/g) (wet weight). The average values of δ13

C for phytoplankton,

periphytic algae, shrubs and emergent macrophytes were -32,99 ‰; -34,33‰; -

30,70‰ and -30,15‰ and the average values of δ15

N were 5,08‰, 7,33‰, 8‰ and

7,29‰, respectively. The average values of δ13

C e δ15

N in Chelus fimbriata were

11,9‰ and -31,7‰, respectively. On average, the turtles analyzed were 2 trophic

levels above plants and derived most of their energy from food chains beginning with

phytoplankton and periphytic algae. A significant positive relationship was

encountered between body length and HgT in turtles (F = 21,17; r2 = 0,467; p <

0,001). The average frequency of micronuclei encountered in turtle blood was

1,21±0,65/1000 cells. No significant relationship was found between the frequency of

nuclear anomalies and HgT in turtle muscle. A significant positive linear relationship

was encountered between Log10HgT e δ15

N for the entire food chain of Chelus

fimbriata (r2 = 0,8009; p < 0,001), indicating a strong and consistent biomagnification

of mercury through this system. The equation was: log10Hgt (ng/g) = 0,247+0,2008

δ15

N. The average concentration of HgT in the muscle of Chelus fimbriata was below

the maximum level recommended by the WHO and the Brazilian Health Ministry for

food fish.

Keywords: Turtles, mercury, bioaccumulation, Negro river Amazon.

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Lista de Tabela

CAPÍTULO 1

Tabela 1: Variáveis limnológicas de três sítios de coleta amostrados na bacia do rio

Negro (AM) em 2013. OD = Oxigênio dissolvido; Temp. = Temperatura; Cond =

Condutividade; COD = Carbono orgânico dissolvido. Número (N) de quelônios

adultos da espécie Chelus fimbriata (matá-matá) capturados e suas médias ± desvio

padrão de tamanho e peso. Tamanho corresponde ao comprimento curvilíneo da

carapaça........................................................................................................................45

Tabela 2: Concentração média (± desvio padrão) de mercúrio total (HgT, em ng/g) em

três tecidos do quelônio da espécie Chelus fimbriata (matá-matá) capturados em

diferentes sítios de coleta localizados na bacia do rio Negro, em 2013.......................46

Tabela 3: Números de amostras e os valores de δ13

C e δ15

N das fontes autotróficas

estudadas......................................................................................................................48

Tabela 4: Resumo das concentrações de mercúrio total encontrado em peixes e

quelônios na região do rio Negro.................................................................................61

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Lista de Figuras

INTRODUÇÃO

Figura 1. Indivíduo adulto de Chelus fimbriata coletado em fevereiro de 2014, na

região do médio rio Negro/AM....................................................................................21

Figura 2. Individuo filhote de Chelus fimbriata, coletados em fevereiro de 2014,

região do médio rio Negro/AM....................................................................................21

CAPÍTULO 1

Figura 1. Localização dos sítios de coleta na região do médio rio Negro, entre as

cidades de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos........................................................37

Figura 2. Sítio de coleta, Lago Ariaú, região do médio rio Negro, Amazonas............38

Figura 3. Sítio de coleta, Igarapé do Babí, região do médio rio Negro, Amazonas.....39

Figura 4. Sítio de coleta, Igarapé Urupaú, região do médio rio Negro, Amazonas.....39

Figura 5. Concentração de mercúrio total em músculo, carapaça e garra córnea de

Chelus fimbriata. Post-hoc letra (a, b).........................................................................46

Figura 6. Relação entre as concentrações de mercúrio total e a massa corporal de

Chelus fimbriata (F = 21,17; r2 = 0,467; p < 0,001)....................................................47

Figura 7. Relação dos valores de δ13

C de cada grupo das fontes autotróficas (Fito:

fitoplâncton; Peri: perifíton; Arbusto e HAE: herbácea aquática emergente), houve

diferença significativa (ANOVA F(3, 13)=4,4802, p = 0,02). * diferença entre os

grupos (Post-hoc Tukey p = 0,03)................................................................................48

Figura 8. Relação dos valores de δ15

N de cada grupo de fontes autotróficas (Fito:

fitoplâncton; Peri: perifíton; Arbusto e HAE: herbácea aquática emergente), não

houve diferença significativa (ANOVA F(3, 14) =1,9630, p = 0,16).............................49

Figuras 9a. Relação entre os valores de δ15

N e a massa corporal (peso) dos animais

coletados (F = 6,9; r2 = 0,23; p = 0,014). Figura 9b. Relação entre os valores de δ

15N e

o tamanho (comprimento da carapaça) dos animais estudados (F = 6,9; r2 = 0,17; p =

0,03)..............................................................................................................................50

Figura 10. Regressão double Y, entre a massa corporal e as duas variáveis

independentes...............................................................................................................50

Figura 11. Relação entre as concentrações de HgT e os valores de δ15

N (F = 4,16; r2 =

0,11; p > 0,05) dos indivíduos da espécie Chelus fimbriata........................................51

Figura 12. Valores médios e desvio padrão de δ13

C e δ15

N de Chelus fimbriata e

fontes autotróficas (fitoplâncton; perifíton; arbusto e herbácea aquática emergente).

Somente o valor de δ13

C do consumidor foi calibrado para o fracionamento trófico..52

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Figura 13. Valores médios e desvio padrão de mercúrio total (ng/g) peso úmido e

δ15

N (‰) do fitoplâncton (Fito), perifíton (Peri), arbusto, herbácea aquática

emergente (HAE), juvenis de camarão (Marshall et. al., no prelo) (Macrobrachium

sp.), cardinais (Marshall et. al., no prelo) (Paracheirodon axelrodi) e matá-matás

(Chelus fimbriata)........................................................................................................52

Figura 14. A relação entre log10HgT (ng/g) (peso úmido) e δ15

N (‰) dos juvenis de

camarão (CAM), cardinais (C), tucunaré (T) e matá-matás (MM) foi estatisticamente

significativa (r2 = 0,8009; p < 0,001). A função da regressão mostrou a equação:

log10Hgt (ng/g) = 0,247+0,2008 δ15

N..........................................................................53

Figura 15. a, b - células normais de Chelus fimbriata; c – célula com presença de

micronúcleo; d – núcleo em formato de rim; e – núcleo lobado; f – núcleo

segmentado. Todas as fotos com escala de 10µm........................................................55

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INTRODUÇÃO

Nos últimos 100 anos, as emissões antrópicas fizeram o mercúrio aumentar

cerca de 300% na atmosfera global se tornando um dos principais contaminantes dos

ecossistemas aquáticos e terrestres em todo o mundo (Haines et. al., 1995). Isso

resultou na contaminação da biota aquática em muitas regiões do mundo (Haines et.

al., 1995). A poluição por mercúrio representa um risco para saúde humana e

ambiental. Embora o mercúrio esteja presente naturalmente no meio ambiente, as

atividades humanas contribuíram para o aumento das taxas de ciclagem do mercúrio

entre a terra, atmosfera e oceano por um fator de três a cinco vezes (Selin 2009).

A Amazônia é destaque no cenário mundial, pois tem um histórico de

contaminação ambiental e consequentemente à população que vive nessa região. A

contaminação pelo mercúrio é considerada uma das principais agressões antrópicas ao

ambiente amazônico (Lacerda e Solomons 1992).

As características ambientais da região amazônica, tais como: a existência de

grandes reservas de mercúrio em solos (Zeidemann 1998; Roulet et. al., 1998a;

Forsberg et al., 1995) em combinação com processos pedogênicos e hidrológicos

naturais e processos antrópicos como o desmatamento, erosão e queima da biomassa

florestal (Lacerda et. al., 2004), acrescido às características químicas das águas

regionais (Fadini e Jardim 2001), propiciam a mobilização, metilação, bioacumulação

e biomagnificação do mercúrio nos sistemas fluviais (Guimarães et. al., 2000b;

Kehrig et. al., 1998).

Tem sido mostrado em vários estudos que os solos da Amazônia funcionam

como estoque de mercúrio, apontando que as concentrações regionais de mercúrio são

predominantemente de origem natural (Oliveira et. al., 2007; Fadini e Jardim 2001;

Roulet et. al., 1998b). Nesses estudos, os autores encontraram elevadas concentrações

de mercúrio no solo e concluíram que este compartimento é a principal fonte de

mercúrio para o sistema fluvial.

Dentre as bacias amazônicas, a bacia do rio Negro tem características

peculiares, por compreender um sistema fluvial com águas pretas e ácidas (Sioli

1967). A cor característica é devido aos ácidos fúlvicos e húmicos resultado da

decomposição da matéria orgânica e da drenagem por áreas de podzóis hidromórficos

existentes na bacia (Klinge 1965). A matéria orgânica dissolvida interage fortemente

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com o mercúrio, podendo afetar sua especiação, solubilidade, mobilidade e toxicidade

nos ambientes aquáticos (Loux 1998; Buffle 1988). Na bacia do rio Negro foi

encontrada correlação positiva entre o mercúrio total nos cabelos de ribeirinhos

consumidores de pescado e o carbono orgânico dissolvido da água dos rios onde

pescavam (Silva-Forsberg et. al., 1999). Esses resultados corroboram a importância

da matéria orgânica na complexação e transferência de mercúrio dos solos para o

sistema fluvial e, consequentemente, para a biota aquática (Silva-Forsberg et. al.,

1999).

Uma vez presente no ecossistema aquático, o mercúrio pode contaminar os

organismos aquáticos a partir da bioconcentração, sendo a assimilação de mercúrio

através da respiração e da difusão do mercúrio presente na água em decorrência do

contato direto do organismo com o meio (Micaroni et. al., 2000) e da bioacumulação,

o que representa o aumento no nível de concentração de mercúrio em relação ao

tamanho e idade dos organismos aquáticos (Akagi et. al., 1995). Esse aumento

depende da balança corporal entre ganhos e perdas de mercúrio e de mudanças no

nível trófico do organismo ao longo da vida (Wasserman et. al., 2001). A taxa de

absorção de mercúrio depende da forma química do metal, da fonte de exposição

(água ou alimento) e do tipo de tecido receptor, resultando em diferentes padrões de

acumulação (NOAA 1996). A biomagnificação consiste no aumento gradativo do

mercúrio ao longo da cadeia alimentar (Bowles et. al., 2001; Wasserman et. al.,

2001). Neste contexto, o risco de contaminação por mercúrio em animais e seres

humanos, depende do nível de mercúrio nas plantas aquáticas, a taxa de

biomagnificação e os níveis tróficos dos organismos superiores (Bowles et. al., 2001;

Meili 1997).

Bowles et al., (2001) citaram que a maioria dos trabalhos sobre da

contaminação por mercúrio estavam centrados em regiões temperadas do hemisfério

norte. Estes autores argumentaram que os estudos realizados em outras regiões, como

no Everglades, na Flórida (Hurley et. al., 1998) e na bacia Amazônica (Akagi et. al.,

1995), foram principalmente trabalhos que investigaram ambientes poluídos

antrópicamente. Entretanto, a partir da década de 1990 pesquisas começaram a ser

realizadas em ambientes prístinos. De maneira geral, todos os organismos nos

ecossistemas amazônicos, sobretudo os aquáticos, estão suscetíveis a alguma forma

de contaminação por mercúrio (Kasper et. al., 2014; Silva-Forsberg et. al., 1999).

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Os repteis, especificamente os quelônios, podem apresentar alguma forma de

contaminação já que muitos organismos desse grupo pertencem a níveis tróficos

elevados. Frequentemente os quelônios são usados como bioindicadores da qualidade

ambiental (Schneider et. al., 2013). Tartarugas podem servir como modelos

biológicos para estudos de contaminação devido aos seus atributos ecológicos e sua

história de vida, que incluem uma sua ampla distribuição geográfica, a variação nos

tipos de hábitat que utilizam e a gama de níveis tróficos as quais pertencem. Além

disso, tartarugas são animais que apresentam alta longevidade, permitindo a

exposição aos contaminantes por longo prazo (Hopkins et. al., 2013; Yu et. al., 2011).

É pouco conhecido o efeito do mercúrio sobre repteis e anfíbios,

particularmente em ambientes lóticos (Hopkins e Rowe 2010). Entretanto, é sabido

que o acúmulo desse metal pode causar anormalidades comportamentais, dano

neurotóxico, desregulação endócrina (Heinz 1996; Barr 1986) e danos genotóxicos

(Swartz et. al., 2003). Recentemente foi demonstrado que o metilmercúrio atua no

sistema da fisiologia reprodutiva, tornando aves homossexuais (Frederick e Jayasena

2010). Os testes de genotoxicidade se apresentam como importantes ferramentas para

investigar os possíveis danos oriundos da contaminação ambiental, com destaque para

os testes de anomalias nucleares eritrocíticas (Lemos et. al., 2008), e micronúcleo em

peixes (Lemos et. al., 2006; Porto et. al., 2005; Çavas e Ergene-Gozukana 2003),

mexilhão (Aslan et. al., 2010) e repteis (Schaumburg et. al., 2012).

O estudo das relações tróficas entre os seres vivos é a base para entender como

os ecossistemas funcionam (Lindeman 1942). Os estudos sobre cadeias alimentares

são fundamentais para o entendimento funcional de um ecossistema já que as

interações predador-presa podem influenciar em importantes processos do

ecossistema como a ciclagem de elementos (Jepsen e Winemiller 2002).

O estudo das teias tróficas apresentou um avanço significativo nos últimos 30

anos por apresentar ferramentas úteis para auxiliar em respostas a muitas questões

ecológicas. A análise da variação natural nas razões de isótopos estáveis de carbono e

nitrogênio em plantas e animais têm fornecido informações importantes sobre a

estrutura e funcionamento das cadeias tróficas aquáticas na região amazônica

(Marshall et. al., 2008; Forsberg et. al., 1993;). Ecologia isotópica representa uma

alternativa útil para a caracterização das fontes autotróficas de energia e o nível

trófico de um consumidor. A razão de isótopos reflete a integração temporal de

componentes alimentares, portanto não apenas o conteúdo estomacal momentâneo e o

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que foi efetivamente absorvido pelo organismo (Hobson e Clark 1992). O

posicionamento trófico por análise dos isótopos estáveis de nitrogênio é baseado não

apenas na assimilação do alimento consumido, mas também refletem integrações

alimentares que dependem do tecido analisado (Tieszen et. al., 1983). Investigações

em peixes de água doce em lagos canadenses mostraram uma associação forte entre

Hg e δ15

N (Kidd et. al., 1995), indicando uma clara tendência de biomagnificação do

mercúrio ao longo da cadeia alimentar.

Diferente das análises de conteúdo estomacal, que permitem somente

identificar o que foi ingerido no curto prazo, os isótopos estáveis de carbono

conseguem traçar as fontes autotróficas de energia que sustentam a cadeia trófica de

um consumidor (Peterson e Fry 1987).

Espécie: Chelus fimbriata (Schneider, 1783).

O “Turtle Taxonomy Working Group” – (TTWG 2014, ver van Dijk et. al.,

2014), reconhecem 335 espécies de tartarugas (quelônios e tartarugas marinhas) e

jabutis no mundo. A fauna de quelônios do Brasil representa cerca de 11% da fauna

mundial, segundo a Sociedade Brasileira de Herpetologia (Costa e Bérnils 2014), com

36 espécies de quelônios continentais no país. Entre todos os quelônios de água doce

no mundo, Chelus fimbriata se destaca por ser um animal exclusivamente carnívoro.

Chelus fimbriata (Schneider, 1783), popularmente conhecido como matá-

matá, é facilmente reconhecido por suas características morfológicas e

comportamentais. Projeções na carapaça acrescidas de coloração marrom ferrugem

torna os indivíduos dessa espécie imperceptível entre as folhas e galhos nos leitos dos

rios, lagos e igarapés (nome amazônico para riachos) da Amazônia. Coloração,

morfologia da carapaça, cabeça grande achatada dorso-ventralmente e pescoço longo

com muitas fímbrias fazem com que essa espécie se utilize da camuflagem como

forma de defesa e estratégia de alimentação. Esta é a única espécie vivente do gênero

Chelus (com duas espécies fósseis, Wood, 1976) e é considerada a maior espécie da

família Chelidae. Seu nome científico deriva do grego Chelus (tartaruga) e do latim

fimbriata (franjada, ornamentada).

Quelônio de grande porte, cabeça triangular, olhos pequenos, boca grande,

focinho longo, pescoço comprido e largo com numerosas fímbrias, sobretudo na

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região lateral. Sua carapaça possui cerca de 12 ou 13 projeções pontiagudas de

coloração marrom ferrugem, seu plastrão é amarelo claro e, em algumas regiões da

Amazônia o plastrão assume uma coloração marrom claro. As patas possuem dedos

com membranas interdigitais e possuem longas garras córneas. Os filhotes tem

coloração amarelo queimado na carapaça com alguns pontos pretos e o plastrão tem

uma coloração vermelho rosado (Vogt 2008; Pritchard 2008; Rueda-Almonacid et.

al., 2007). Os machos possuem plastrão côncavo e geralmente são menores que as

fêmeas.

Habita as bacias dos rios Orinoco e Amazonas e é encontrado nos seguintes

países: Bolívia, Colombia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname,

Trinidad, Venezuela e Brasil. Nesse último, há registros da espécie nos estados do

Amapá, Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (van

Dijk et al. 2014; Pritchard 2008; Rueda-Almonacid et. al., 2007).

Chelus fimbriata vive em rios, prefere águas calmas, geralmente turvas, com

pouca profundidade onde podem permanecer somente com o focinho na superfície

para respirar. Habitam também florestas inundadas (Morales-Betancourt e Lasso

2012; Vogt 2008). Recentemente, foram observados indivíduos da espécie em

igarapés na região do alto rio Negro. É uma das poucas espécies completamente

carnívoras, com a dieta predominantemente de peixes, embora haja relatos de

predação de aves e pequenos roedores (Rueda-Almonacid et. al., 2007).

Muito da biologia reprodutiva de Chelus fimbriata ainda permanece

desconhecida. Porém, sabe-se que a estação de desova coincide com a estação do

verão amazônico (Daza 2004). Não há uma organização social propriamente dita, este

quelônio tem hábito solitário com contato social somente no período reprodutivo

(Davidson 2012). Segundo Daza (2004), as fêmeas preferem os barrancos (margem

acidentada dos corpos hídricos amazônicos) e desovam cerca de 12 a 28 ovos, com

período de incubação em torno de 200 dias (Vogt 2008; Rueda-Almonacid et. al.,

2007).

Devido à dificuldade existente para encontrar populações de Chelus fimbriata,

não há trabalhos na literatura científica acerca da ecologia populacional dessa espécie.

O estado de conservação para Chelus fimbriata, segundo a TFTSG/IUCN, é “não

listado” ou “menos preocupante” na lista de 1996, e mantém-se como de “menos

preocupante” na avaliação de 2011, van Dijk et al., (2014).

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Figura 2. Individuo filhote de Chelus fimbriata, coletado em fevereiro de 2014,

região do médio rio Negro/AM.

Com sua grande diversidade e longevidade, os quelônios amazônicos podem

como servir bons modelos biológicos para o entendimento da ecotoxicologia do

mercúrio nos mais diversos ecossistemas. De modo especial, Chelus fimbriata

apresenta atributos ecológicos os quais sustentam hipóteses acerca da bioacumulação

Figura 1. Indivíduo

adulto de Chelus

fimbriata coletado

em fevereiro de

2014, na região do

médio rio

Negro/AM.

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do mercúrio e sua genotoxicidade. Por ser piscívora, de nível trófico alto, é suspeito

ter elevadas concentrações de mercúrio, com grande risco de apresentar danos

genotoxicológicos. As populações de Chelus fimbriata do rio Negro habitam uma

região que apresentam características limnológicas com forte correlação com o

mercúrio, pH e COD tem sido correlacionado com mercúrio mostrando exercer

influência sobre as concentrações de mercúrio nos seres humanos e em peixes

predadores (Belger e Forsberg 2006; Silva-Forsberg et. al., 1999).

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Investigar a biomagnificação de mercúrio total na cadeia trófica e seus efeitos

genotóxicos em Chelus fimbriata (Testudines: Chelidae), em ambientes fluviais

do médio rio Negro, Amazonas, Brasil.

Objetivos Específicos

i: Investigar a influência de fatores ambientais e biológicos sobre as

concentrações de mercúrio total em Chelus fimbriata.

ii: Comparar as concentrações de mercúrio total no músculo, garra córnea e

carapaça de Chelus fimbriata.

iii: Investigar as fontes autotróficas de energia que sustentam a cadeia alimentar

de C. fimbriata.

iv: Investigar o nível trófico de Chelus fimbriata ao longo do desenvolvimento e

sua influência sobre as concentrações de mercúrio total.

v: Investigar a biomagnificação ao longo da cadeia alimentar de Chelus

fimbriata.

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vi: Mensurar a razão de metilmercúrio em relação ao mercúrio total em Chelus

fimbriata.

vii: Investigar a influência das concentrações de mercúrio total sobre a

frequência de micronúcleos em Chelus fimbriata.

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29

Capítulo 1

_______________________________________________________________

Fábio A. G. Cunha; Bruce R. Fosrberg;

Richard C. Vogt; Fabíola X.V.

Domingos; Brendson C. Brito; Otávio P.

de Souza; Daniele Kasper; Bruce C.

Marshall; Eduardo C. B. Carvalho.

Bioamagnificação do mercúrio na

cadeia de um quelônio de água doce

(Chelus fimbriata) e seu perfil

genotóxico em ambientes fluviais do

médio rio Negro, Amazonas, Brasil. Manuscrito em preparação para

Environmental Pollution.

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Bioamagnificação do mercúrio na cadeia de um quelônio de água doce (Chelus

fimbriata) e seu perfil genotóxico em ambientes fluviais do médio rio Negro,

Amazonas, Brasil

Fábio A. G. Cunhaa*; Bruce R. Fosrberg

a; Richard C. Vogt

a; Fabíola X.V.

Domingosa; Brendson C. Brito

a; Otávio P. de Souza

a; Daniele Kasper

a; Bruce G.

Marshalla; Eduardo C. B. Carvalho

b.

a Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. Ephigênio Salles, 2239, Manaus,

AM, 69060-020, Brazil.

b Laboratório de Geocronologia e Isótopos Estáveis, Universidade de Brasília, UNB,

Brasília, DF.

*Corresponding author: [email protected]; Phone/Fax +55 93 99138-1421

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. Ephigênio Salles, 2239, Manaus, AM,

69060-020, Brazil.

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31

Resumo:

Quelônios podem servir como modelo biológico para estudos de contaminação devido

aos seus atributos ecológicos e sua história de vida, que incluem uma ampla

distribuição geográfica, a variação nos tipos de hábitat que ocupam e a gama de níveis

tróficos as quais pertencem. Além disso, tartarugas são animais que apresentam alta

longevidade, permitindo a exposição aos contaminantes por longo prazo. O objetivo

do presente estudo foi de investigar a bioacumulação de mercúrio total e o perfil

genotóxio no quelônio Chelus fimbriata e caracterizar a biomagnificação de mercúrio

através da sua cadeia alimentar em ambientes fluviais do médio rio Negro, Amazonas.

Foram coletadas amostras biológicas (músculo, carapaça e garra córnea) de 25

quelônios e também amostras das principais plantas (fitoplâncton, perifíton, arbustos

e herbácea aquática emergente) e consumidores presentes na cadeia alimentar de

Chelus fimbriata nos meses de fevereiro e março de 2013 para análises de mercúrio e

isótopos estáveis. Alguns variáveis limnológicas (pH, OD, temperatura,

condutividade e COD) também foram mensurados. Mercúrio total em todas as

amostras foi determinado pelo método de Espectrofotometria Atômica de Vapor Frio

As razoes dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio nas amostras foram

determinadas, apos secagem a 60º graus durante 48 horas e maceração, por

Espectrometria de Massa de Razão Isotópica. Para mensurar danos genotóxicos, dois

esfregaços sanguíneos foram realizados para cada animal, seguido de tratamento com

corante de Giemsa e tampão fosfato pH 5,6. 2000 células foram observadas para cada

animal com microscópio ótico para determinar a frequência de células com anomalias

nucleares. Houve diferença significativa nas concentrações de mercúrio total entre

tipos de amostra nos quelônios (ANOVA F2,70=172 p < 0,001), com as maiores

concentrações médias sendo encontradas em carapaça (3677 ng/g) e garra córnea

(3787 ng/g) e a menor concentração média ocorrendo em músculo (406 ng/g). Os

valores médios de δ13

C para fitoplâncton, perifíton, arbustos e herbácea aquática

emergente foram -32,99 ‰; -34,33‰; -30,70‰ e -30,15‰ e os valores médios de

δ15

N foram 5,08‰, 7,33‰, 8‰, 7,29‰, respectivamente. Os valores médios de δ13

C

e δ15

N em Chelus fimbriata foram 11,9‰ e -31,7‰, respectivamente. O animal

estava 3 níveis tróficas acima das plantas e derivou a maior parte da sua energia de

cadeias tróficas iniciando com fitoplâncton e algas perifiticas. Houve relação positiva

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entre as concentrações de mercúrio total e o tamanho dos animais (F = 21,17; r2 =

0,467; p < 0,001). A frequência média de micronúcleo nos animais estudados foi de

1,21±0,65/1000 células. Não houve relação significativa entre a frequência de

micronúcleo e as concentrações de mercúrio total. Houve relação significativa entre o

Log10HgT e δ15

N para a cadeia trófica de Chelus fimbriata (r2 = 0,8009; p < 0,001),

indicando forte biomagnificação. A equação foi: log10Hgt (ng/g) = 0,247+0,2008

δ15

N. A média da concentração de mercúrio total encontrado no tecido muscular da

espécie Chelus fimbriata estava abaixo do limite de contaminação para consumo de

pescado recomendado pela OMS e pelo Ministério da Saúde.

Palavras chaves: mercúrio, bioacumulação, quelônios, médio rio Negro.

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Introdução

Muitos trabalhos sobre bioacumulação do mercúrio tem direcionado esforços

utilizando a fauna íctica da Amazônia como modelo biológico (Bastos et. al., 2008;

Kehrig et. al., 2008; Dorea et. al., 2006), devido a importância da pesca na

alimentação de ribeirinhos. Porém, o status ecotoxicológico dos quelônios

amazônicos é ainda pouco conhecido.

Por herança cultural, os quelônios continuam sendo consumido em grande

escala na região amazônica, que representa uma fonte importante de proteína animal

consumido pelo ser humano amazônico (Pezutti et. al., 2005; Fachin Teran et. al.,

2004). Esse grupo animal é considerado bioindicador da contaminação ambiental

devido seus atributos ecológicos, que compreendem uma ampla distribuição ecológica

e ocupam uma variedade de hábitats. Suas populações possuem diferentes densidades

e pertencem a diferentes níveis tróficos (Hopkins et. al., 2013; Yu et. al., 2011;

Schneider et. al., 2009; Golet e Haines 2001; Iverson 1982) e são animais de vida

longa, atuando como sentinela das alterações que os ecossistemas passam.

Estudos recentes demonstraram que em diferentes níveis, todos os grupos

ecológicos da Amazônia existe algum grau de contaminação por mercúrio (kasper et.

al., 2014; Kehrig et. al., 2008; Bastos et. al., 2007; Nascimento et. al., 2006; Silva-

Forsberg et. al., 1999).

Devido à biomagnificação, as concentrações de mercúrio em animais topo de

cadeia são geralmente maiores (Barbosa et. al., 2003), o que os coloca em risco de

apresentar alguma forma de dano toxicológico.

Apesar do efeito do mercúrio sobre repteis ser pouco conhecido (Hopkins e

Rowe 2010), é sabido que o acúmulo desse metal pode causar anormalidades

comportamentais, dano neurológico, desregulação endócrina (Heinz 1996; Barr 1986)

e danos genotóxicos (Swartz et. al., 2003). Recentemente, foi demonstrando que

repteis podem transferir o mercúrio presente no organismo materno para as crias

(Chin et. al., 2013; Hopkins et. al., 2013). Em aves, grupo com relação evolutiva com

os repteis, mostraram que o mercúrio causa alteração no sistema da fisiologia

reprodutiva, tornando aves homossexuais (Frederick e Jayasena 2010).

Investigações utilizando ecologia isotópica demonstraram ser úteis para

desvendar muitas questões da ecologia dos quelônios (Zanden et. al., 2012; Bulté et.

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al., 2008; Godley et. al., 1998). Os isótopos estáveis de carbono são úteis para

identificar as fontes autotróficas de energia enquanto os isótopos estáveis de

nitrogênio são usados para identificar o nível trófico de um organismo. A análise

combinada de isótopos estáveis de carbono (δ13

C) e nitrogênio (δ15

N) nas fontes

autotróficas e nos consumidores pode revelar a fonte original do carbono e seus

passos através da cadeia alimentar (Post 2002; DeNiro e Epstein 1978). Estudos em

ecossistemas tropicais têm identificado fortes relações positivas entre o mercúrio e

δ15

N em cadeias alimentares aquáticas (Marshall et. al., no prelo; Yoshinaga et. al.,

1992). Essas relações podem ser utilizadas para caracterizar o processo de

biomagnificação de mercúrio.

Dentre as 335 espécies de tartarugas (quelônios de água doce e tartarugas

marinhas) e jabutis no mundo (TTWG 2014, ver van Dijk et. al., 2014), Chelus

fimbriata (Schneider, 1783), é a única exclusivamente carnívora, com dieta composta

predominantemente de peixes (Vogt 2008; Fachin-Teran 1995). Devido a dificuldade

de captura poucos são os estudos acerca da ecologia dessa espécie, mais escassos

ainda são os trabalhos sobre ecotoxicologia utilizando como modelo biológico esta

espécie. A população de Chelus fimbriata habita uma região (região do médio e alto

rio Negro) que apresentam características limnológicas com forte correlação com o

mercúrio. pH e COD tem sido correlacionado com mercúrio mostrando exercer

influência sobre as concentrações de mercúrio nos seres humanos e em peixes

predadores (Belger e Forsberg 2006; Silva-Forsberg et. al., 1999).

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Material e Métodos

Área de estudo

A região deste estudo está situada entre as cidades de Barcelos e Santa Isabel

do Rio Negro, médio rio Negro, margem esquerda (Figura 1). Esta região é drenada

por afluentes do rio Negro. Composta por rios de médio porte – zonas interfluviais e

áreas de floresta inundada (igapós). A área de estudo sofre influência do pulso de

inundação, durante alguns meses do ano os lagos permanecem isolados. Nas áreas

interfluviais de modo geral, em termos de química não há muita variação entre os

locais.

Os ambientes pesquisados foram: O Lago Ariaú apresenta água branca, com

muito sedimento em suspensão, visibilidade baixa, profundidade de aproximadamente

1,5-2,0 m, leito coberto com cerca de 40 cm de matéria orgânica (raízes e folhas em

decomposição), borda irregular com trechos medindo 50 metros de largura e seu

comprimento aproximadamente de 200 metros. Neste lago, foram observadas outras

espécies de quelônios (Cabeçudos - Peltocephalus dumerilianus, Tracajá -

Podocnemis unifilis e Irapuca - Podocnemis erythrocephala) e espécies de peixes

(loricarídeos).

O igarapé Urupaú tem águas marrom-avermelhadas, alguns trechos com

pequena profundidade e alta transparência, o leito é arenoso e apresentou-se coberto

de folhas e raízes. Outras espécies da fauna aquática foram observadas neste local

(e.g. quelônios: Cabeçudos - Peltocephalus dumerilianus; peixes: ciclídeos e

loricarídeos).

O igarapé do Babí é meandrante, com alguns trechos muito estreito

(aproximadamente 3 m de largura), durante as coletas existiam inúmeras árvores

caídas, grande quantidade de troncos no igarapé, visibilidade baixa, com profundidade

aproximadamente 2-2,5 m, 50 cm de matéria orgânica no leito (folhas, raízes e

troncos de árvores com espinhos) e água com aparência de um rio de água branca.

Neste local de coleta, foi observada a maior diversidade na fauna aquática (e.g.

répteis: Cabeçudos - Peltocephalus dumerilianus; Tracajá - Podocnemis unifilis;

Irapuca - Podocnemis erythrocephala; Jacaré-açú - Malenosuchus niger; Jacaré-tinga

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- Caiman crocodilus; Cobra d`água - Erythrolamprus sp.; peixes: ciclídeos;

loricarídeos; characidae; gymnotiformes (Sarapós; Poraquê - Electrophorus

electricus); synbranchiformes (Muçuns); Arraia-de-fogo - Potamotrygon sp.

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Figura 1. Localização dos sítios de coleta na região do médio rio Negro, entre as cidades de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.

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Coleta do material biológico

Para investigar a dinâmica e ecotoxicologia de mercúrio na cadeia trófica de

Chelus fimbriata foram coletadas amostras de quelônio, plantas aquáticas e

consumidores aquáticos para a análise de mercúrio, isótopos estáveis e, no caso de

quelônios, danos genotoxicológicos.

Foram coletados 25 animais, em três sítios de coleta, um lago, conhecido como

Lago Ariaú (11 animais) e dois igarapés, denominados: Igarapé Babí (9 animais) e

Igarapé Urupaú (5 animais) (Figuras 2,3,4). Os quelônios foram coletados

manualmente, em mergulhos livres durante o dia. Durante a noite foi realizado

procura ativa iluminada em canoa e ao avistar o animal, realizada a captura manual

após o mergulho. As coletas foram realizadas em fevereiro e março de 2014, durante a

estação de seca do rio Negro.

Figura 2. Sítio de coleta, Lago Ariaú, região do médio rio Negro, Amazonas.

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Figura 3. Sítio de coleta, Igarapé do Babí, região do médio rio Negro, Amazonas.

Figura 4. Sítio de coleta, Igarapé Urupaú, região do médio rio Negro, Amazonas.

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Os animais foram levados ao barco e acondicionados em sacos de nylon (bait

bags, sacos de tartarugas) até o barco de apoio, onde foram identificados, pesados e

tomadas suas medidas morfométricas: largura e comprimento retilíneo da carapaça e

do plastrão, altura máxima entre a carapaça e o plastrão, largura da cabeça, contagem

dos anéis de crescimento quando possível, marcação e análise do conteúdo estomacal

pelo método de flushing (Legler 1977). Para análise de mercúrio total, metilmercúrio

e análises de isótopos estáveis foram coletadas amostras de músculo. Para isso,

pedaços do tecido muscular da região caudal foram retirados e acondicionados em

frascos pequenos tipo ependorff e armazenados em freezer. Ainda para as análises de

mercúrio total, amostras de anexos corporais também foram coletadas para

comparação. Pedaços em forma de “v” da região posterior da carapaça e pontas de

duas garras córneas foram coletados. Em todas as coletas de materiais biológicos

cuidados cirúrgicos foram tomados para evitar qualquer forma de contaminação.

Todos os equipamentos utilizados para coleta de amostras foram previamente

esterilizados em laboratório e a cada animal os equipamentos recebiam antissepsia

etílica e as lâminas de bisturis foram trocadas. Vale ressaltar que para o presente

estudo nenhum animal sofreu eutanásia.

Os tucunarés (Cichla sp.) foram capturados com auxilio de redes malhadeiras.

Comprimento total e peso foram tomados. Para coleta de amostras biológicas dos

peixes, um pedaço de músculo da região lombar foi retirado e refrigerado

posteriormente.

Potenciômetros portáteis foram utilizados para mensurar: Oxigênio dissolvido,

pH, temperatura e condutividade elétrica em todos os sítios de captura. Amostras de

água foram filtradas em filtros de fibra de vidro pré-queimadas a 400°C e

armazenadas em garrafas de vidro pré-queimadas a 400°C para posterior análise de

Carbono Orgânico Dissolvido (COD).

Para coleta de fitoplâncton foi utilizada rede de plâncton (20 µm), com 5 a 10

lances ao corpo hídrico, até atingir cerca de 1 litro de água filtrada. Para perifíton,

galhos, troncos e raízes submersas foram levados ao laboratório do barco para com

auxílio de pinças e água ultrapura, coletar o material aderido aos substratos

mencionados acima até atingir uma amostra em quantidade suficiente para as análises.

Em relação às plantas, cerca de 10 folhas de cada herbácea aquática emergente foram

coletadas e acondicionadas em plástico tipo ziploc e identificadas. Para arbustos,

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folhas foram coletadas e em alguns casos a planta inteira foi coletada para

identificação. Todas as amostras vegetais foram armazenadas no freezer.

Para mensurar o dano genotóxico, 0,1 ml de sangue periférico foi retirado da

região caudal do quelônio com auxílio de seringa de insulina heparinizada. Para cada

animal dois esfregaços sanguíneos em lâminas forem feitos, as lâminas foram

identificadas, armazenadas e levadas ao Laboratório Temático de Microscopia Óptica

e Eletrônica do INPA, para coloração e contagem das células.

Processamento das amostras biológicas

As amostras de fitoplâncton e perifíton foram liofilizadas em Laboratório de

Nutrição de Peixes do INPA. As folhas de herbácea aquática emergente e arbustos

foram lavadas com água ultrapura com pH 2, para eliminação dos carbonatos e evitar

a contaminação nas análises de isótopos de carbono. Em seguida, as amostras vegetais

foram secas em estuda a 60º durante 48 horas (Melendez-Perez e Fostier 2013) e

foram trituradas, até atingirem a consistência de pó.

As análises de COD foram realizadas no Laboratório de Ecofisiologia e

Evolução Molecular do INPA, pelo método de combustão a alta temperatura, com

detecção do CO2 em um aparelho analisador de carbono total (TOC 5000, Shimadzu).

Para as análises de isótopos estáveis, as amostras de músculo foram secas em

estufa a 60º C por 48 horas. Após isso, as amostras foram maceradas em almofariz e

pistilo até atingir a consistência de pó homogêneo.

Análises Laboratoriais

Para as análises de mercúrio total as amostras de carapaças foram lavadas com

água ultrapura e com auxilio de escovas até que todo e qualquer material aderido

tenha sido removido. As garras córneas foram acondicionadas em tubos pequenos

com solução etílica 90% e levadas ao sonicador por 20 minutos, seguindo o método

proposto por Hopkins et. al., (2013).

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No Laboratório de Análise Mineral da Amazônia da CPRM, todas as amostras

foram pesadas em balanças de precisão e analisadas pelo método de

Espectrofotometria Atômica de Vapor Frio, no Analisador Direto de Mercúrio 80

(DMA 80, Direct Mercury Analyzer, Millestone, Monroe, CT, USA) de acordo com o

método 7473 (USEPA, 1998). O limite de detecção é de 0,3 ng/g. As análises de

mercúrio total em músculo foram realizadas com peso úmido, assim como as

amostras de carapaça e garra córnea. As amostras de fitoplâncton, perifíton e folhas

de plantas foram analisadas com peso seco.

Para o controle de qualidade das análises laboratoriais, as amostras de músculo

foram analisadas em duplicata. Para as demais matrizes, uma duplicada foi realizada a

cada dez amostras analisadas. O coeficiente de variação entre as duplicatas para

músculo foi 3,4±3,2, carapaça 9,9±4,6 e para garra córnea 3,8±3,3. Amostras tipo

branco foram analisadas durante as análises laboratoriais. Para mercúrio total foram

utilizados padrões de referências internacionais (Dorm-3 fish protein – National

Research Council of Canada) com recuperação 94% a 108%). Para as análises de

metilmercúrio, amostras de músculo foram enviadas ao Laboratório de

Biogeoquímica da UNIR e analisadas pelo método de Espectrometria de fluorescência

atômica acoplado a um cromatógrafo (CG-AFS).

Devido às amostras de tecido muscular ter sido analisada em peso úmido e as

demais amostras em peso seco (fitoplâncton, perifíton, arbustos e herbáceas aquáticas

emergentes) seguiu-se as razões de conversão (peso seco/peso úmido) estabelecido na

literatura científica.

Herbáceas aquáticas emergentes e arbustos: 5,5 (Sarkka et al., 1978);

Fitoplâncton e perifíton: 12,5 (Sladecek e Sladeckova, 1964).

Para as análises de isótopos estáveis, as amostras foram levadas ao

Laboratório de Geologia e Isótopos Estáveis e Geocronologia da UNB. As amostras

foram analisadas em duplicata pelo método de Espectrometria de Massa de Razão

Isotópica no equipamento Thermo Scientific Delta V Plus IRMS. O erro analítico

associado é de 0,05‰ para carbono e nitrogênio. Os valores de 13

C e 15

N foram

obtidos usando como padrão carbonato de cálcio conhecido PDB (Pee Dee Belemnite)

para carbono e nitrogênio atmosférico para nitrogênio.

Os resultados foram calculados pelas equações:

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13

C(‰) = [(13

C/12

Camostra) – (13

C/12

CPDB)] x 1000

(13

C/12

CPDB)

15

N(‰) = [(15

N/14

Namostra) (15

N/14

N2)] x 1000

(15

N/14

N2)

Para as análises do dano genotóxico, foram realizadas duas medidas, contagem

de micronúcleos e anomalias nucleares eritrocíticas. Para tal, esfregaços sanguíneas

foram corados com Giemsa e tampão fosfato pH 5,6. A leitura microscópica das

lâminas foi feita sob aumento de 1000X. Duas lâminas de cada indivíduo foram

analisadas por um único observador. A determinação da frequência de micronúcleos e

das anomalias nucleares eritrocíticas foi realizada com contagem de 2000 eritrócitos

por quelônio (Carrasco et al., 1990). Imagens dos micronúcleos e anormalidades

nucleares eritrocíticas foram capturadas utilizando objetiva de imersão em

microscópio Zeiss Axioplan II, com capturador de imagens acoplado AxioCam Mrc.

A identificação de cada anomalia nuclear eritrocítica foi realizada de acordo

com o Carrasco et. al., (1990): i - Forma de rim: núcleos com uma pequena

invaginação em forma de fenda bem definida, de largura uniforme na membrana

nuclear que se estende a uma profundidade apreciável para dentro do núcleo. ii -

Lobado: núcleos que apresentam formato irregular em consequência de evaginações

que podem ser visualizadas como pequenas a grandes projeções da membrana

nuclear, podendo formar dois ou mais lobos conectados. iii – Segmentado: núcleos

cuja estrutura aparece dividida em duas partes nitidamente separadas e delimitadas

pela membrana nuclear. iv – Vacuolado: núcleos que apresentam uma região clara

destituída de qualquer material cromatínico visível no seu interior. v - Seguindo o

protocolo sugerido por Carrasco et. al., (1990), os micronúcleos foram definidos

como corpos redondos ou ovais intracitoplasmáticos não ligados ao núcleo principal,

com um diâmetro 1/30-1/3 do núcleo principal e no mesmo plano óptico (Fenech

2000).

Análises Estatísticas

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As análises estatísticas foram realizadas seguindo o pressuposto de Zar (1999)

e todas as análises foram executadas no Programa Statistica 7.0©.

A priori uma regressão simples foi realizada a fim de verificar a relação entre

o comprimento da carapaça (tamanho) e a massa corporal (peso) dos animais. De

posse desse resultado (r2 = 0,857; p < 0,001), adotou-se utilizar somente o peso

referente ao tamanho dos animais.

Após realizar os testes de normalidade, linearidade e homocedasticidade dos

dados, foi realizada uma análise de variância (ANOVA One-way) e o teste post-hoc

de Tukey para verificar a diferença em mercúrio total entre as matrizes biológicas do

quelônio (músculo, carapaça e garra córnea).

A relação entre as concentrações de mercúrio total e o tamanho dos animais

estudados foi testada através de um General Linear Model - Regressão Simples.

Análises de variância (ANOVAs) foram utilizadas para verificar a diferença nos

valores de δ de carbono e nitrogênio entre fontes autotróficas. Para testar a relação

entre os valores δ15

N e peso e tamanho dos quelônios foi utilizado uma General

Linear Model - Regressão Simples. O mesmo teste estatístico foi utilizado para

verificar a relação entre a concentração de mercúrio total no músculo dos quelônios e

δ15

N.

Para evidenciar o fator de biomagnificação do mercúrio total na cadeia

alimentar, foi utilizado a equação Y=B0+B1(x), onde x era o valor de δ15

N e Y era o

log10HgT.

Para identificar as fontes autotróficas de carbono e o nível trófico dos

quelônios, os valores isotópicos de δ13

C e δ15

N dos quelônios foram comparados com

os valores isotópicos de δ13

C e δ15

N das plantas.

Para verificar a proporção entre o metilmercúrio e o mercúrio total no músculo

dos quelônios, foi calculado da seguinte forma: %MeHg = (MeHg/HgT)x 100%.

Para frequência de micronúcleo o número de células alteradas encontradas foi

dividido pelo número de células contadas para cada animal, ou seja,

micronúcleo/1000.

O presente trabalho científico obteve as aprovações pertinentes para atividades

com finalidades científicas: Autorização/Licença IBAMA/SIBIO Nº: 42086-1. E,

aprovação junto a Comissão de Ética em Pesquisa no uso de Animais, CEUA/INPA,

protocolo Nº: 003/2014.

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45

Resultados

Dados morfométricos dos animais e caracterização dos sítios de coleta

Foram capturados 25 espécimes de Chelus fimbriata, em três locais de coleta

da bacia do rio Negro (Tabela 1). No Lago Ariaú foram capturados 11 animais com

tamanho médio do comprimento retilíneo da carapaça (CRC) de 343±32 mm

(variando de 265 a 369 mm), e peso médio de 5,1±1,1 kg (variação de 2,3-6,0 kg).

Neste sítio foi capturada a única fêmea de matá-matá (CRC: 359 mm, peso 5,9 kg.).

No Igarapé Urupaú foram capturados cinco machos adultos, com o menor

quelônio pesando 3,6 kg e o maior 6,0 kg (Tabela 1), neste sitio foi registrado o pH

mais ácido na água.

No Igarapé do Babí foram capturados nove animais adultos machos, cujo

CRC variou de 315 a 384 mm (média 351±22) e peso variou de 4,6 a 7,8 kg (média:

5,7±1,0). Ao realizar análise do conteúdo estomacal (método flushing) de alguns

matá-matás desse local, encontrou-se peixes Characiformes e insetos aquáticos

(ephemenoptera).

Tabela 1: Variáveis limnológicas de três sítios de coleta amostrados na bacia do rio Negro (AM) em

2013. OD = Oxigênio dissolvido; Temp. = Temperatura; Cond = Condutividade; COD = Carbono

orgânico dissolvido. Número (N) de quelônios adultos da espécie Chelus fimbriata (matá-matá)

capturados e suas médias ± desvio padrão de tamanho e peso. Tamanho corresponde ao comprimento

retilíneo da carapaça.

Sítios de coleta pH OD

(mg/L)

Temp.

(ºC)

Cond.

(µS/cm)

COD

(mg/L) N Peso (kg)

Tamanho

(mm)

Lago Ariaú 4,9 2,1 27,1 13,7 9,8 11 5,1 (± 1,1) 343 (± 31)

Igarapé Urupaú 4,7 3,7 26,3 18,1 12,0 5 5,1 (± 0,9) 346 (± 16)

Igarapé do Babí 5,3 4,2 27,5 10,8 8,2 9 5,7 (± 1,0) 351 (± 22)

Concentração de mercúrio total no músculo, carapaça e garra córnea dos matá-matás

As concentrações de mercúrio total foram mensuradas em três tecidos (dois

anexos corporais – carapaça e garra córnea, e músculo). Tendo em vista que os

animais coletados nos três sítios estão em uma faixa de tamanho e peso muito

semelhante, (Tabela 1), os resultados foram analisados independentemente do local de

coleta, com o total de animais capturados (25) analisados em conjunto. Para fins

estatísticos os locais foram desconsiderados, devido a existência de similaridade

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Músculo Carapaça Garra Córnea

Tecido Animal

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

[HgT

] n

g/g

(pes

o ú

mid

o)

a

bb

físico-química entre os ambientes. No entanto, as concentrações observadas nos

animais de cada local são apresentadas na Tabela 2. Considerando os três sítios de

coleta conjuntamente, as maiores concentrações de mercúrio total foram observadas

na garra córnea e na carapaça, e as menores concentrações foram encontradas no

tecido muscular (ANOVA F2,70=172 p < 0,001; Figura 5), feito post-hoc houve

diferença entre os tecidos (letras do gráfico).

Tabela 2: Concentração média (± desvio padrão) de mercúrio total (HgT, em ng/g, peso úmido) em três

tecidos do quelônio da espécie Chelus fimbriata (matá-matá) capturados em diferentes sítios de coleta

localizados na bacia do rio Negro em 2013.

Não houve relação positiva entre as concentrações de mercúrio total no

músculo e na carapaça. Buscou-se esta relação no intuito de indicar para futuros

trabalhos acerca da contaminação de mercúrio em quelônios, uma forma menos

invasiva de determinar suas concentrações.

Figura 5. Concentração de mercúrio total em músculo, carapaça e garra córnea de

Chelus fimbriata. Letras diferentes indicam diferença significativa p < 0,05. Os

pontos representam médias e as barras os desvios-padrão.

Sítios de coleta N Músculo Carapaça Garra

Lago Ariaú 11 385±136 3530±196 3454±497

Igarapé Urupaú 5 362±83 3464±825 3686±733

Igarapé do Babí 9 456±40 3959±292 4307±332

média geral - 406 3677 3787

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47

2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

Massa corporal (g)

0

100

200

300

400

500

600

700

[HgT

] (n

g/g

mu

s. -

pes

o ú

mid

o)

Relação das concentrações de mercúrio total e tamanho dos matá-matás

A relação entre o mercúrio total no músculo e o tamanho dos animais foi

testada através de uma Regressão Simples. Foi observada relação positiva entre o

comprimento da carapaça e massa corporal dos 25 indivíduos analisados (r2 = 0,857;

p < 0,001), por isso, optou-se por adotar somente a massa corporal (peso) como

variável independente para testar a relação entre tamanho e mercúrio total. Gibbons

(1990), sugere que é esperado para quelônios de água doce esse tipo de relação. As

concentrações de mercúrio total em Chelus fimbriata foram mais elevadas nos

animais maiores (F = 21,17; r2 = 0,467; p < 0,001). (Figura 6).

Para este teste foi retirado o outlier (seta na Figura 6), pois o indivíduo era o

único exemplar feminino na população amostral, dessa forma era esperado um

comportamento em dissonância aos demais.

Figura 6. Relação entre as concentrações de mercúrio total e a massa corporal de

Chelus fimbriata (F = 21,17; r2 = 0,467; p < 0,001).

Valores de δ13

C e δ15

N nas fontes autotróficas

Os valores médios de δ13

C para fitoplâncton, perifíton, arbustos e herbácea

aquática emergente foram -32,99 ‰; -34,33‰; -30,70‰ e -30,15‰, respectivamente

(Tabela 3), com diferença significativa dos valores de δ13

C entre os grupos das fontes

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Fito Peri Arbusto HAE

Amostra

-38

-37

-36

-35

-34

-33

-32

-31

-30

-29

-28

-27

δ1

3C

(‰)

*

*

(ANOVA F(3, 13) =4,4802, p = 0,02) (Figura 7), feito post-hoc encontrou-se uma

diferença entre perifíton (peri) e herbácea aquática emergente (HAE) (Tukey, p =

0,03).

Tabela 3: Números de amostras e os valores de δ13

C e δ15

N das fontes autotróficas estudadas.

Figura 7. Relação dos valores de δ13

C de cada grupo das fontes autotróficas (Fito:

fitoplâncton; Peri: perifíton; Arbusto e HAE: herbácea aquática emergente), houve

diferença significativa (ANOVA F(3, 13) =4,4802, p = 0,02). * diferença entre os

grupos (Post-hoc Tukey p = 0,03). Os pontos representam médias e as barras os

desvios-padrão.

Os valores mínimos, médios e máximos de δ13

C das fontes autotróficas

mostraram uma variação, com valores de fitoplâncton e perifíton mais negativos, já

para arbustos e herbácea aquática emergente os valores foram menos negativo e

apresentaram menor variação entre eles (Tabela 3).

FONTES N Média δ

13C

(‰)

Média δ15

N

(‰) Mínimo Máximo

Fitoplâncton 5 -32,00 ± 2,7 5,08 ± 2,2 -36C; 2,2N -30C; 8,12N

Perifíton 4 -34,33 ± 1,4 7,33 ± 0,8 -36C; 6,1N -32C; 7,95N

Arbusto 4 -30,70 ± 1,9 8,00 ± 2,5 -33C; 4,4N -28C; 10,1N

Herbácea Aquática

Emergente 5 -30,15 ± 1,1 7,27 ± 1,7 -31C; 4,8N -29C; 9,58N

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Fito Peri Arbusto HAE

Amostra

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

δ1

5N

(‰)

Os valores médios encontrados de δ15

N encontrados para fitoplâncton,

perifiton, arbustos e herbácea emergente foram 5,08‰, 7,33‰, 8‰, 7,29‰,

respectivamente (Tabela 3). Existiu uma diferença de cerca de 3‰ entre essas fontes

autotróficas, porém a mesma não foi significativa (ANOVA F(3, 14) =1,9630, p = 0,16)

(Figura 8). Apesar das pequenas quantidades de amostras coletadas, os valores

demonstram diferenças nos valores de isótopos para fontes autotróficas (δ13

C e δ15

N)

para região do médio rio Negro.

Figura 8. Relação dos valores de δ15

N de cada grupo de fontes autotróficas (Fito:

fitoplâncton; Peri: perifíton; Arbusto e HAE: herbácea aquática emergente), não

houve diferença significativa (ANOVA F(3, 14) =1,9630, p = 0,16). Os pontos

representam médias e as barras os desvios-padrão.

Estrutura trófica e biomagnificação de mercúrio na cadeia alimentar de Chelus

fimbriata

Os valores de δ15

N (‰) de C. fimbriata tiveram média de 11,95 ‰ (± 0,43),

com mínimo de 11,13‰ e máximo de 13,13‰, com esses resultados e assumindo

uma mudança de aproximadamente de 2,5‰ por cada nível trófico (Lewis et al.,

2001), e admitindo que o δ15

N reflete a hierarquia trófica do consumidor (Post 2002),

Chelus fimbriata está dois níveis tróficos acima das fontes, estando no 3º nível

trófico, um predador com tendência para predar organismos herbívoros. Os valores de

δ15

N tiveram relação positiva com a massa corporal (F = 6,9; r2 = 0,23; p = 0,014)

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260 280 300 320 340 360 380 400

CCC (comprimento carapaça em mm)

11,0

11,2

11,4

11,6

11,8

12,0

12,2

12,4

12,6

12,8

13,0

13,2

δ1

5N

(‰)

2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000

Massa corporal (peso em g)

11,0

11,2

11,4

11,6

11,8

12,0

12,2

12,4

12,6

12,8

13,0

13,2

δ1

5N

(‰)

[Hgt] (ng/g)

δ15N (‰)2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

Massa corporal (peso em g)

0

100

200

300

400

500

600

700

HgT

ng/

g

11,0

11,2

11,4

11,6

11,8

12,0

12,2

12,4

12,6

12,8

13,0

13,2

13,4

δ15N

(‰)

(Figura 9a), e com o comprimento dos animais (F = 6,9; r2 = 0,17; p = 0,03) (Figura

9b). Ao analisar em conjunto as concentrações de mercúrio total e os valores de δ15

N,

houve uma relação estatisticamente positiva (r2 = 0,28; p = 0,005; Figura 10).

Não houve relação significativa entre mercúrio total e δ15

N dos matá-matás

(F = 4,16; r2 = 0,11; p > 0,05; Figura 11).

Figuras 9. Relação entre os valores de δ15

N e (a) a massa corporal (peso) dos animais

coletados (F = 6,9; r2 = 0,23; p = 0,014) e (b) o tamanho (comprimento da carapaça)

dos animais estudados (F = 6,9; r2 = 0,17; p = 0,03).

Figura 10. Regressão double Y, entre a massa corporal e as duas variáveis

independentes.

a b

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11,0 11,2 11,4 11,6 11,8 12,0 12,2 12,4 12,6 12,8 13,0 13,2 13,4

δ15N(‰)

100

200

300

400

500

600[H

gT]

(ng/

g m

us.

- p

eso

úm

ido)

Figura 11. Relação entre as concentrações de HgT e os valores de δ15

N (F = 4,16; r2 =

0,11; p > 0,05) dos indivíduos da espécie Chelus fimbriata.

Os valores de média, desvio padrão, máximo e mínimo de δ13

C (‰) de

Chelus fimbriata foram -31,75±0,9‰; -30,65 ‰ e -34,65 ‰, respectivamente. Não

houve relação entre os valores de δ13

C (‰) e o tamanho dos animais (r2 = 0,06, p =

0,21).

Assumindo que a cada nível trófico há um fracionamento de isótopos

estáveis de carbono em torno de 1 ‰ (DeNiro e Epstein 1978). E que a diferença

entre os valores de δ15

N para Chelus fimbriata e a média das fontes foi de 5,12 ‰,

portanto dois níveis acima das fontes. Assumimos uma calibração de 2‰ nos valores

de δ13

C de Chelus fimbriata (-33,75‰), com isso, as principais fontes autotróficas que

sustentam consideravelmente a cadeia trófica de Chelus fimbriata são o fitoplâncton e

o perifíton (algas epifíticas) (retângulo cinza; Figura 12).

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0,001,002,003,004,005,006,007,008,009,00

10,0011,0012,0013,0014,00

-37,00-35,00-33,00-31,00-29,00-27,00-25,00

δ15N

(‰)

δ13C (‰)

-32,99

-34,33

-30,70

-30,15

-33,75

Fito

Peri

Arbusto

HAE

Matá-matá

Figura 12. Valores médios e desvio padrão de δ13

C e δ15

N de Chelus fimbriata e

fontes autotróficas (fitoplâncton; perifíton; arbusto e herbácea aquática emergente).

Somente o valor de δ13

C do consumidor foi calibrado para o fracionamento trófico.

A relação entre mercúrio total e δ15

N, incluindo Chelus fimbriata e todos as

plantas e vários consumidores na sua cadeia alimentar, foi exponencial (Figura 13,

Marshall et. al., no prelo). A relação linear entre os valores de log10HgT e δ15

N,

incluindo estes mesmos organismos foi significativa, resultando na função da

regressão com equação: log10HgT (ng/g) = 0,247+ 0,2008 δ15

N, com r2 = 0,7009 e p

< 0,001 (Figura 14), para tal a inclinação apresentou um valor de 0,20.

-80

-40

0

40

80

120

160

200

240

280

320

360

400

440

480

520

4 6 8 10 12 14

HgT

(n

g/g)

(p

eso

úm

ido

)

ᵟN15(‰)

5,07

8,06

8

7,27

11,95

7,43

9,31

Matá-matá

Cardinal

Camarão

HAE

Arbusto

Peri

Fito

Figura 13. Valores médios e desvio padrão de mercúrio total (ng/g) peso úmido e

δ15

N (‰) do fitoplâncton (Fito), perifíton (Peri), arbusto, herbácea aquática emergente

(HAE), juvenis de camarão (Marshall et. al., no prelo) (Macrobrachium sp.),

cardinais (Marshall et. al., no prelo) (Paracheirodon axelrodi) e matá-matás (Chelus

fimbriata).

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CCC

C

CCC

C

C C

C

CC

CC

C

CAM

CAMCAM

CAM

MM

MM

MM

MMMM

MM

MM

MM

MMMM

MMMM

MM

MM

MM

MMMM

MM

MM

MM

MM

MMMMMMMM

TT

TTT

T

7 8 9 10 11 12 13 14

δ15N 12,3‰

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

2,8

3,0

3,2

Log

10

HgT

(n

g/g)

pes

o ú

mid

o

Figura 14. A relação entre log10HgT (ng/g) (peso úmido) e δ15

N (‰) dos juvenis de

camarão (CAM), cardinais (C), tucunaré (T) e matá-matás (MM) foi estatisticamente

significativa (r2 = 0,8009; p < 0,001). A função da regressão mostrou a equação:

log10Hgt (ng/g) = 0,247+0,2008 δ15

N.

Razão de mercúrio total e metilmercúrio

As concentrações de metilmercúrio em tecido muscular de quelônios da

espécie Chelus fimbriata apresentou uma média de 270±45 ng/g (150-290ng/g). O

metilmercúrio (MeHg) representa em média 53,6% do mercúrio total, em Chelus

fimbriata.

Genotoxicidade do mercúrio total em Chelus fimbriata.

Quatro tipos de anomalias nucleares eritrocíticas (ANEs) foram encontrados

em Chelus fimbriata: em formato de rim; lobado; segmentado e vacuolado (Figura

15).

Em média, o valor encontrado da frequência de células com presença de

micronúcleo foi de 1,21±0,65 (com maiores valores 2,65 e menores valores 0,52).

Não houve relação significativa entre as concentrações de mercúrio total e a

frequência de células com micronúcleo (F = 0,0; r2 = -0,05; p > 0,05). Assim como,

não houve relação significativa entre os δ15

N (‰) e a frequência de micronúcleo (r2 =

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0,0250; p = 0,4940). Também não foi observada relação entre a frequência de

micronúcleo e o tamanho dos animais (r2 = 0,0093; p = 0,670).

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Figura 15. a, b - células normais de Chelus fimbriata; c – célula com presença de

micronúcleo; d – núcleo em formato de rim; e – núcleo lobado; f – núcleo

segmentado. Todas as fotos com escala de 10µm.

a b

c d

e f

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Discussão

População, razão sexual de Chelus fimbriata e características limnológicas da região

do médio rio Negro

Devido a grande dificuldade de captura de indivíduos da espécie Chelus

fimbriata, poucos são os trabalhos acerca da biologia dessa espécie, mais escassos

ainda, são os trabalhos sobre a contaminação por metais pesados. A desproporcional

razão sexual (27 machos: 1 fêmea) dos quelônios no presente trabalho, pode estar

associado a uma segregação sexual onde fêmeas que já realizaram a cópula migraram

para os locais de desova e, os machos permaneceram no local, com alimentação e

abrigo (Cunha, observações pessoais).

Os parâmetros físico-químicos variaram pouco entre os três locais de coleta.

Tais variações, potencialmente, não exercem influência na concentração de mercúrio

nos diferentes locais, pois para tal é necessário variação muito maior do que

encontrado no presente estudo (Belger e Forsberg 2006; Forsberg et. al., 1995). Os

animais foram coletados em diferentes lugares, entretanto a variabilidade entre os

locais não foram suficiente para uma investigação de tais fatores diretamente. Por esse

motivo, para fins estatísticos os locais foram desconsiderados e os organismos

coletados nos três locais foram analisados em conjunto.

Mercúrio da região do médio rio Negro

Para a região do médio rio Negro, com poucos impactos de emissões

antrópicas (mineração de ouro, lançamentos de efluentes industriais, entre outros), o

presente estudo encontrou elevadas concentrações de mercúrio, entretanto alguns

fatores peculiares daquela região podem elucidar essa questão, como: os solos

regionais se apresentam como um reservatório de mercúrio (Oliveira, et. al., 2007;

Bourgoin et. al., 2002; Fadini e Jardim 2001). Algumas formas de mercúrio são

complexadas por moléculas orgânicas (ácidos húmicos e fúlvicos) encontradas nos

ecossistemas naturais (Rocha et. al., 2000). Os altos níveis de COD e os baixos pHs

da região do médio rio Negro aumentam o exporte do mercúrio do solo (podzóis) para

o sistema aquático, podendo levar a altas concentrações de mercúrio nos organismos,

conforme demonstraram Belger e Forsberg (2006) e Silva-Forsberg et. al., (1999)

com fortes correlações entre o COD e os níveis de mercúrio em cabelos de ribeirinhos

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e peixes do rio Negro. Alguns trabalhos reportaram concentrações relativamente altas

para seres humanos e peixes daquela região (Dorea et. al., 2003; Silva-Forsberg et.

al., 1999).

Fatores que influenciam a bioacumulação do mercúrio para a espécie estudada

Diferentes fatores já foram enfatizados como importantes influenciadores no

processo de biacumulação de mercúrio pelos organismos aquáticos, entretanto alguns

outros permanecem obscuros (Hopkins et. al., 2013). Alguns autores sugerem que o

tamanho do corpo pode ter influência (Kenyon et. al., 2001), enquanto outros autores

atribuem aos diferentes hábitos alimentares como influência na biacumulação

(Bezerra et. al., 2013; Golet e Haines, 2001; Sakai et. al., 2000a).

Para os quelônios amazônicos, diferentes hábitos alimentares influenciam na

bioacumulação de mercúrio (Schneider et. al., 2009), dessa forma é esperado que

animais predadores tenham maiores concentrações de mercúrio (Nichols et. al., 1999;

Belger e Forsberg 2006). Schneider et. al., (2009), encontraram baixas concentrações

de mercúrio em irapuca (P. erythrocephala, quelônio com dieta herbívora) e as

maiores concentrações em matá-matá (C. fimbriata, quelônio carnívoro). Na região do

alto rio Negro, o hábito alimentar exerce influencia na (bio)acumulação de mercúrio,

espécies herbívoras têm as menores concentrações, em seguida as espécies onívoras

com concentrações mais elevadas e espécies quase ou exclusivamente piscívoras com

as maiores concentrações de mercúrio. Green et. al., (2010) encontraram relação

direta entre o mercúrio total e os grupos de dietas (Hg em carnívoros> Hg em

onívoros> Hg em herbívoros) em 14 espécies de quelônios norte-americanos.

A distribuição do mercúrio total do presente estudo seguiu o padrão geral

encontrado para quelônios de água doce, onde as maiores concentrações foram em

carapaça e garra córnea e as menores concentrações em músculo (Green et. al., 2010).

O mercúrio dos anexos carapaça e na garra córnea são mais elevados que o mercúrio

do músculo. Semelhante ao presente estudo, Schneider et. al., (2015) encontraram

maiores valores para mercúrio total na carapaça de tracajá (P. unifilis) e tartaruga-da-

amazônia (P. expansa). Esse padrão se repetiu quando analisaram as concentrações de

mercúrio total na carapaça e músculo de Jacaré-açú (M. niger) e Jacaré-tinga (C.

crocodilus). Trabalhos anteriores mostraram que o mercúrio total presente no músculo

é resultado de uma contaminação recente (orgânica) enquanto o mercúrio total da

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carapaça e garra córnea reflete uma contaminação mais antiga e inorgânica (Kar e

Mirsa 2004; Day et al. 2005). Crewther et. al., (1965) sugerem que o mercúrio total

tem alta afinidade a tecidos queratizados, no caso dos quelônios os anexos corporais

(carapaça e garra córnea), onde o mercúrio é depositado em múltiplas camadas

metabolicamente inativo, ou seja, proteínas queratinizadas permanecem ligadas a

complexos de mercúrio inorgânico relativamente imóveis (Komoroske et. al., 2011;

Day et al., 2005; Sakai et. al., 2000b).

Sakai et. al., (2000a) encontraram correlação entre o mercúrio presente na

carapaça de tartarugas marinhas com o mercúrio total do tecido muscular. No presente

estudo não houve relação entre o mercúrio do tecido muscular com o mercúrio da

carapaça e garra córnea, buscou-se essa investigação no intuito de propor métodos

menos invasivos para futuros trabalhos de determinação das concentrações de

mercúrio em quelônios.

Relação do mercúrio com o hábito alimentar, ecologia trófica e biomagnificação do

mercúrio na região do rio Negro

Estudos demonstram que peixes predadores tendem a aumentar a

concentração de mercúrio à medida que crescem. O mesmo não é esperado para

animais herbívoros e onívoros (Belger e Forsberg, 2006; Meili 1997). Essa relação foi

encontrada no presente estudo, onde animais maiores estão acumulando mais

mercúrio no tecido, por meio da bioacumulação, ou seja, o organismo geralmente

muda sua dieta ao longo da vida e a medida que cresce, o tamanho da boca aumenta e

o organismo come animais maiores que geralmente são mais alto na cadeia trófica e

mais contaminados com mercúrio.

Para a região do médio rio Negro, estudos demonstram elevados níveis de

mercúrio total para espécies de peixes piscívoros (Dorea et. al., 2006; Barbosa et. al.,

2003) e quelônios piscívoros (Schneider et. al., 2009) (Tabela 4). As concentrações

encontradas no presente trabalho em Chelus fimbriata, um quelônio carnívoro que se

alimenta quase exclusivamente de peixes (Vogt 2008; Fachin-Teran et. al., 1995), são

semelhantes às observadas nos trabalhos supracitados, sugerindo que animais topo de

cadeia do médio rio Negro tendem a apresentar elevadas concentrações de mercúrio

total.

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Chelus fimbriata apresentou menores valores de δ13

C (-31,7‰) quando

comparados a P. unifilis (-26,2‰) e P. expansa (-26,1‰) (Lara et. al., 2012). Uma

possível explicação pode ser a diferença na estrutura das cadeias alimentares entre

essas espécies. Em estudos acerca da ecologia trófica de peixes de igarapés do médio

rio Negro na seca, Marshall et. al., (2010) encontraram valores semelhantes ao do

presente estudo para δ13

C e concluírem que fitoplâncton e algas perifíticas foram as

principais fontes de energia para estes consumidores. Portanto, a diferença observada

nos valores de δ13

C entre essas três espécies de quelônio pode refletir a maior

importância de fitoplâncton e algas perifiticas na cadeia trófica de Chelus fimbriata.

Forsberg et. al., (1993) encontraram resultados semelhantes para cadeias tróficas de

peixes da Amazônia Central e atribuem a maior contribuição energética das algas à

seletividade dos herbívoros e detritívoros aquáticos para estas plantas, devido ao seu

alto valor nutricional.

Entre os quelônios estudados na Amazônia, Chelus fimbriata apresentou as

maiores valores de δ15

N, já que a espécie é carnívora (Vogt, 2008; Fachin-Teran

1995). P. unifilis e P. expansa, espécies de quelônios cujas dietas são basicamente

herbívoras, apresentam valores de δ15

N quase 50% menores (Lara et. al., 2012).

No presente estudo, foi encontrada uma variação nos valores de δ15

N para

animais dentro de uma mesma faixa de tamanho. Portanto, concluímos que ocorre um

threshold (limiar) no crescimento destes animais, mas o metabolismo não cessa.

Gibbons (1990) demonstrou isso para a espécie de quelônio Trachemys scripta os

quais a partir de específica idade, cessam o crescimento mas continuam

ecologicamente ativos. Em C. fimbriata o threshold se deu em torno de 6 kg,

entretanto, houve uma variação nos valores de δ15

N, isso pode estar associado ao fato

de que animais com idade diferente tem capacidade (habilidade) de se alimentar de

presas diferentes, consequentemente com diferentes valores de δ15

N. De fato,

analisando os anéis de crescimento presente no plastrão dos quelônios (referência à

idade dos indivíduos). Observamos que animais com sete anéis de crescimento

apresentaram valores de δ15

N 11,5‰ e animais com 10 anéis de crescimento

apresentam valores de δ15

N 12,3‰. Como hipótese alternativa, esta variação no δ15

N

pode ser devido a uma variação individual, não necessariamente associada à variação

da idade ou habilidade dos indivíduos mais velhos de capturar presas.

Devido a grande variação nos valores de δ15

N das fontes, o resultado

apresentado para a posição trófica de Chelus fimbriata é bastante conservador.

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Contudo, há uma grande variação na diversidade morfológica e fisiológica das fontes

autotróficas da região do médio rio Negro. Utilizando os dados das fontes autotróficas

em igarapés da região do rio Negro encontrados por Marshall et. al. (2008), Chelus

fimbriata ocuparia o 4º nível trófico, um predador com tendência a carnivoria.

Houve uma relação exponencial do mercúrio e δ15

N entre as plantas (base da

cadeia trófica) e os camarões, cardinais e matá-matás (níveis tróficos superiores)

(Figura 13). O modelo de biomagnificação ao longo da cadeia trófica foi analisado

contendo crustáceos, peixes de pequeno porte (cardinais), peixes de médio porte

(tucunaré) e Chelus fimbriata, resultando na equação log10Hgt (ng/g) = 0,247+0,2008

δ15

N, mostrando uma relação significativa (r2 = 0,69 e p < 0,001). Observamos que a

cada nível trófico, as concentrações de mercúrio aumentam consistentemente devido à

a biomagnificação do mercúrio total ao longo da cadeia trófica. É esperado que esta

relação seja significativa e positiva, quando o modelo é aplicado para comunidades de

peixes ou cadeias tróficas (Lavoie et. al., 2010; Kidd et. al., 1995;). Tanto para

ecossistemas tropicais, árticos e temperados a inclinação da relação, o que representa

um índice ou taxa de biomagnificação, é aproximadamente 0,20 (Zhang et. al., 2012;

Campbell et. al., 2008; Atwell et. al., 1998; Yoshinaga et. al., 1992). O fator de

biomagnificação encontrado no presente estudo confirma outros trabalhos realizados

na região amazônica que também encontraram fatores de biomagnificação ~0,2

(Marshall et. al., no prelo; Beltran-Pedreros et. al., 2011; Sampaio da Silva et. al.,

2005).

Os tucunarés coletados no presente trabalho tiveram tamanho de 34 a 70 cm.

Animais com essa faixa de tamanho provavelmente comem peixes maiores, que

possivelmente podem estar mais contaminados por mercúrio do que as presas de

Chelus fimbriata. Provavelmente por isso, os tucunarés estão acima dos quelônios no

gráfico de biomagnificação. Fachin-Teran et. al., (1995) mostraram que Chelus

fimbriata se alimenta de peixes das famílias Cichlidae e Characidae, com maior

representatividade para espécies Crenicichla sp. e Triportheus sp. Cunha (dados não

publicados) encontram indivíduos da família Characidae no conteúdo estomacal de

C. fimbriata. Por isso foram utilizados espécies da família Characidae (Paracheirodon

axelrodi – cardinal) e Cichlidae (Cichla sp.) no modelo de biomagnificação

apresentado no presente estudo. As espécies predadas por Chelus fimbriata

apresentaram os seguintes concentrações de mercúrio, conforme Barbosa et. al.,

(2003), Crenicichla sp. (153-606 ng/g) e Triportheus sp. (5,3-476 ng/g).

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Tabela 4: Resumo das concentrações de mercúrio total encontrado em peixes e quelônios na região do

rio Negro.

Nome comum Nome científico Hg faixa ou

média (ng/g) Autor

PEIXES Piscívoros

Agulha Potamorrhaphis spp. 254-1408 Barbosa et. al., 2003

Barba-chata Goslinia platynema 448-1572 "

Bico-de-pato Sorubim lima 113-388 "

Jacundá Crenicichla reticulata 153-606 "

Mandi Pimelodus spp. 60-2024 "

Mandubé Ageneiosus brevifilis 24-1321 "

Peixe-cachorro Hydrolycus scomberoides 114-5437 "

Pescada Plagioscion spp. 160-1064 "

Piranha Serrasalmus spp. 15-1713 "

Sorubim Pseudoplatystoma fasciatum 204-4036 "

Traíra Hoplias malabaricus 120-1592 "

Tucunaré Cichla spp. 39-2441 "

Tucunaré Cichla spp. 160–2441 Dorea et. al., 2006

Peixe cachorro Hydrolycus scomberoides 114–5437 "

Traíra Hoplias malabaricus 247–1537 "

Piranha branca Serrasalmus aff. eigenamanni 15–1237 "

Piranha preta Serrasalmus rhombeus 189–891 "

Tucunaré Cichla spp. 337 Belger e Forsberg 2006

Traíra Hoplias malabaricus 350 "

Tucunaré Cichla spp. 871 Presente estudo

QUELÔNIOS Onívoros

Cabeçudo Peltocephalus dumerilianus 106 Schneider et. al., 2009

Cabeçudo Peltocephalus dumerilianus 85 Presente estudo

Piscívoros

Matá-matá Chelus fimbriata 432 Schneider et. al., 2009

Matá-matá Chelus fimbriata 403 Presente estudo

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Metilmercúrio em Chelus fimbriata

Em tartarugas marinhas, há uma tendência de a concentração de

metilmercúrio e a proporção de metilmercúrio em relação ao mercúrio total aumentar

ao longo dos níveis tróficos, sendo, portanto, de acordo com o hábito alimentar do

organismo (Kampalath et. al., 2006). Isso ocorre porque a forma metilada do mercúrio

é a que apresenta a maior capacidade de bioacumulação (Watras e Bloon 1992).

Para a espécie Caretta caretta (onívora) foi encontrado que o metilmercúrio

representa 78% do mercúrio total (Storelli et. al., 1998), variando de 55 a 95%

(Storelli e Marcotrigiano 2003). Chelonia mydas (onívora/herbívora) apresentou

proporção de metilmercúrio de 12% e Lepidochelys olivacea (carnívora: peixes,

crustáceos e moluscos) apresentou uma proporção de 67% (Kampalath et. al., 2006).

Entretanto, para a região amazônica não é observado esse padrão, conforme

demonstraram Kasper et. al., (2012) para peixes que independente do hábito

alimentar, apresentaram quase 100% do mercúrio na forma orgânica. No presente

estudo, também foi observado que espécies topo de cadeia apresentaram menores

proporções de metilmercúrio em relação ao mercúrio total quando comparadas às

espécies com níveis tróficos basais. Possivelmente para a região amazônica, locais

que propiciam características adequadas à existência de sítios de metilação, são mais

importantes para determinar a proporção metilmercúrio/mercúrio total do que o hábito

alimentar do organismo. Os dados do presente estudo são insuficiente para explicar

porque organismos daquela região apresentam menores valores de metilmercúrio

(%MeHg) diferente do padrão encontrado para outras regiões. Torna-se importante

investigações futuras acerca das concentrações metilmercúrio para região do médio

rio Negro.

Genotoxicidade em Chelus fimbriata

Os testes de genotoxicidade se apresentam como importantes ferramentas

para investigar os possíveis danos oriundos da contaminação ambiental, com destaque

para os testes de anomalias nucleares eritrocíticas (Lemos et. al., 2008), e

micronúcleo em peixes (Lemos et. al., 2006; Porto et. al., 2005; Çavas e Ergene-

Gozukara 2003), mexilhão (Aslan et. al., 2010) e repteis (Schaumburg et. al., 2012).

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Os resultados das análises de micronúcleos em Chelus fimbriata

(1,21±0,65/1000 células) estão levemente mais elevados do que os observados em

outros répteis, como: jacarés: Caiman latirostris – Jacaré do papo-amarelo (Poletta et.

al., 2008); Crodocylus acutus – Crocodilo americano (Zúñiga-González et. al., 2000);

serpentes: Pituophis depei – Bullsnake (Zúñiga-González et. al., 2000) e lagartos:

Tupinambis merianae – Teiú, (Schaumburg et. al., 2012). Entretanto, para uma

espécie de tartaruga carnívora (Macrochelys temminckii) dos EUA, não foi encontrada

presença de micronúcleo (Zúñiga-González et. al., 2000).

Swartz et. al., (2003) encontraram relação entre a frequência de micronúcleo

e concentração de mercúrio em quelônios na Europa. Todavia, as concentrações

medianas de mercúrio total foram de 19,9 mg/g, cerca de 50x as concentrações

encontradas no presente trabalho. Ainda em relação ao estudo acima, mercúrio, DDD

e HCB foram correlacionados conjuntamente.

Algumas hipóteses podem estar relacionadas ao fato de não existir relação

positiva entre mercúrio e as frequências de micronúcleo no presente estudo. Al-Sabti

(1994) demonstrou que o selênio reduziu a frequência de micronúcleo nos tratamentos

com mercúrio. O selênio tem forte influência neutralizante sobre o efeito toxico do

metilmercúrio e há uma tendência do selênio ser abundante em peixes (Ralston et. al.,

2008). Por ter uma dieta piscívora e se alimentar de presas que tendem a organismos

herbívoros, Chelus fimbriata maximiza os benefícios do selênio para sua integridade

fisiológica, minimizando os danos provocados pelo mercúrio total.

Sampaio da Silva et. al., (2013) demonstraram que a principal fonte do

selênio vem dos produtores primários. Presas que consomem organismos herbívoros

tendem a apresentar maiores concentrações de selênio do que presas que consomem

organismos carnívoros. O selênio em geral diminui à medida do que se eleva o nível

trófico. Portanto, comer presas herbívoras pode favorecer o acúmulo de selênio em

Chelus fimbriata e diminuir o potencial dano genotóxico do mercúrio.

Uma segunda hipótese está relacionada à baixa porcentagem de

metilmercúrio em relação ao mercúrio total observado nos animais estudados. Assim,

os danos da bioacumulação do metilmercúrio também podem ser menores, exercendo

um menor potencial para provocar dano celular.

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Conclusão

As concentrações de mercúrio total em Chelus fimbriata foram mais elevadas

nos anexos corporais carapaça e garra córnea do que no músculo. Para este último, as

concentrações de mercúrio estiveram abaixo do limite recomendado pela OMS e pelo

Ministério da Saúde, para consumo de pescado. Existe relação direta entre as

concentrações do mercúrio total e o tamanho dos animais estudados na população de

Chelus fimbriata do médio rio Negro. O carbono que sustenta a cadeia do quelônio

estudado na época da seca é derivado predominantemente do fitoplâncton e perifíton.

Em relação ao nível trófico, Chelus fimbriata foi considerado como um consumidor

primário com tendência a predar organismos herbívoros, entretanto trata-se de uma

análise conservadora. A análise conjunta de mercúrio total e ecologia isotópica na

cadeia alimentar estudada, evidencia-se uma biomagnificação consistente de mercúrio

total. O metilmercúrio representou 53% do mercúrio total. Embora exista o dano

genotóxico, não foi possível associar esse dano às concentrações de mercúrio neste

quelônio.

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Agradecimentos

Os autores do presente estudo agradecem a todos que proporcionaram condições e

suporte financeiro para a realização deste trabalho científico. São eles: CNPq,

FAPEAM e CAPES, ao INPA pela logística. Aos ajudantes de campo. Agradecemos

especialmente aos técnicos e bolsistas dos laboratórios que participaram desse projeto:

Laboratório de Ecossistemas Amazônicos (INPA), Laboratório Temático de

Microscopia Ótica e Eletrônica (INPA), Laboratório de Análises Minerais (CPRM),

Laboratório de Geocronologia e Isótopos Estáveis (UNB), Laboratório de

Biogeoquímica Ambiental (UNIR), Laboratório de Ecofisiologia e Evolução

Molecular (INPA) e a Coleção de Repteis e Anfíbios do INPA.

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