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ENSAIO DE FLEXÃO EM ESTRUTURA DE PAREDES FINAS REFORÇADAS José Manuel Gordo, Carlos Guedes Soares Instituto Superior Técnico, Unidade de Engenharia e Tecnologia Naval RESUMO Apresenta-se os resultados de um ensaio de flexão a quatro pontos de uma estrutura em caixão de paredes finas reforçadas. O ensaio tem três fases distintas em que se estuda respectivamente o comportamento elastoplástico da estrutura devido às tensões residuais na fase de pré-colapso, a resistência última sob flexão pura e a resistência residual após o desenvolvimento de grandes deformações permanentes. Apresentam-se métodos de determinação do nível das tensões residuais a partir dos resultados experimentais do comportamento global da estrutura. Avalia-se a resistência última da estrutura, caracterizando-se o tipo de colapso envolvido. A resistência residual da estrutura de paredes finas é estabelecida através de um ciclo de carga e descarga após o desenvolvimento de grandes deformações permanentes. O ensaio permitiu ainda identificar aspectos secundários da resposta da estrutura resultantes da geometria tridimensioiwzl e da esbelteza dos componentes. INTRODUÇÃO A resistência de vigas em caixão de paredes finas sob flexão é um assunto de bastante interesse em diversas áreas da engenharia, tais como a engenharia naval, mecânica e civil. No entanto existem relativamente poucos dados experimentais disponíveis (Nishihara 1984; Dowling et ai. 1973; Mansour et ai. 1990; Dow 1991). O colapso de tais estruturas é normalmente muito complexo, envolvendo componentes não lineares importantes resultantes da instabilidade elasto-plástica das placas e reforços em compressão, alterações à linearidade em consequência das imperfei-ções geométricas iniciais e tensões residuais, ou fenómenos de interacção entre os elementos devido à tridimensionalidade da estrutura. Estas não linearidades fazem com que o comportamento da estrutura se afaste bastante do comportamento previsto pela teoria linear de vigas sob flexão. O ensaio descrito neste artigo pretende caracterizar o comportamento de vigas em caixão de paredes finas as quais apresentam uma geometria típica da secção transversal de navios sob flexão devido à acção das ondas e permite aferir o método numérico de previsão da resistência longitudinal de navios entretanto desenvolvido (Gordo et al. 1996). 55

Instituto Superior Técnico, Unidade de Engenharia e ... · o momento flector criou-se a Fig 7 que inclui também a relação do momento com a curvatura corrigida. O 0,005 0,01 0,015

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  • ENSAIO DE FLEXÃO EM ESTRUTURA DE PAREDES FINAS

    REFORÇADAS

    José Manuel Gordo, Carlos Guedes Soares

    Instituto Superior Técnico, Unidade de Engenharia e Tecnologia Naval

    RESUMO

    Apresenta-se os resultados de um ensaio deflexão a quatro pontos de uma estrutura em caixão de

    paredes finas reforçadas. O ensaio tem três fases distintas em que se estuda respectivamente o

    comportamento elastoplástico da estrutura devido às tensões residuais na fase de pré-colapso, a

    resistência última sob flexão pura e a resistência residual após o desenvolvimento de grandes

    deformações permanentes. Apresentam-se métodos de determinação do nível das tensões residuais

    a partir dos resultados experimentais do comportamento global da estrutura. Avalia-se a

    resistência última da estrutura, caracterizando-se o tipo de colapso envolvido. A resistência

    residual da estrutura de paredesfinas é estabelecida através de um ciclo de carga e descarga após

    o desenvolvimento de grandes deformações permanentes. O ensaio permitiu ainda identificar

    aspectos secundários da resposta da estrutura resultantes da geometria tridimensioiwzl e da

    esbelteza dos componentes.

    INTRODUÇÃO

    A resistência de vigas em caixão de

    paredes finas sob flexão é um assunto de

    bastante interesse em diversas áreas da

    engenharia, tais como a engenharia naval,

    mecânica e civil. No entanto existem

    relativamente poucos dados experimentais

    disponíveis (Nishihara 1984; Dowling et ai.

    1973; Mansour et ai. 1990; Dow 1991).

    O colapso de tais estruturas é

    normalmente muito complexo, envolvendo

    componentes não lineares importantes

    resultantes da instabilidade elasto-plástica

    das placas e reforços em compressão,

    alterações à linearidade em consequência

    das imperfei-ções geométricas iniciais e

    tensões residuais, ou fenómenos de

    interacção entre os elementos devido à

    tridimensionalidade da estrutura. Estas não

    linearidades fazem com que o

    comportamento da estrutura se afaste

    bastante do comportamento previsto pela

    teoria linear de vigas sob flexão.

    O ensaio descrito neste artigo pretende

    caracterizar o comportamento de vigas em

    caixão de paredes finas as quais apresentam

    uma geometria típica da secção transversal

    de navios sob flexão devido à acção das

    ondas e permite aferir o método numérico

    de previsão da resistência longitudinal de

    navios entretanto desenvolvido (Gordo et

    al. 1996).

    55

  • DESCRIÇÃO DO ENSAIO

    O ensaio consiste na flexão pura de umaviga em caixão até ao seu colapso. A viga aensaiar constitui a parte central de umensaio típico de flexão a quatro pontos,estando ligada nas suas extremidades amordentes de resistência superior quefuncionam unicamente como transmissoresde forças e momentos.

    respectivamente de 3 e 4 mm (M3-200),tendo os reforços uma altura de 45 mm.

    O índice 200 utilizado na identificaçãodo modelo é o espaçamento em milímetrosentre reforços longitudinais ficandoperfeitamente identificada a esbelteza daplaca entre reforços através da razão entre osegundo e primeiro índice, isto é, b/t67.

    2000 ( IODO J 2000

    otdeele, modelo

    Fig 1- Esquema geral do ensaio.

    O ensaio iniciou-se com a aplicação deuma série de ciclos de carga em que seaumentou progressivamente o momentoflector seguido de descarregamento total.Estes carregamentos progressivos poderãodar uma estimativa do valor das tensõesresiduais através da avaliação da energiadissipada durante o processo.

    Numa segunda fase aumentou-se acurvatura da viga em caixão até serultrapassado o ponto correspondente aomomento último e se encontrar bemcaracterizada a descarga da estrutura após ocolapso e o desenvolvimento de grandesdeformações.

    O último ciclo de carga e descarga foiexecutado após a estrutura ter entrado emcolapso e se encontrar bastante danificadapelo desenvolvimento das deformaçõespermanentes geradas na fase anterior.

    Geometria do provete

    A secção transversal do provete estárepresentada na Fig 2 onde se identificamainda as chapas de transmissão de esforçose ligação aos mordentes a qual se fazatravés de 16 parafrisos M22-88.

    As dimensões exteriores no forro dachapa são 0,8m de largura e 0,6m de altura.As espessuras utilizadas para a chapa doforro e dos reforços da viga em caixão são

    O comprimento total do provete é de1,Om dividido em três partes separadas pordois reforços transversais, Fig 3. As partesexteriores têm um comprimento de 0,lm edestinam-se a funcionar corno zonas deuniformização de tensões. A parte centraltem um comprimento total de 0,8m o quefaz com que a razão de dimensões doelemento de placa (a/b) seja de 4.

    100 800 100

    Propriedades mecânicas do material

    Realizaram três ensaios de tracção paracada uma das espessuras. Os provetes dãschapas de 3mm de espessura apresentaramuma tensão média de cedência de 183 MPae uma tensão de rotura média de 287 MPa.

    1000

    t

    o DH

    o Q D ----

    1 1 1

    0L0I°I -

    CH. l6mm

    2 PEÇAS

    Et,’o 022

    /

    Fig 2- Geometria da viga em caixão

    1 1 1. 1

    200

    200

    200

    200

    reforçosloogitud inalo

    Iransvesais

    Fíg 3- Arranjo dos painéis horizontais

    56

  • Para os provetes da chapa de 4mm utilizada

    nos reforços longitudinais as tensões de

    cedência e de rotura foram respectivamente

    de 310 e 417 MPa.

    Os níveis de ductilidade apresentados

    por ambos os aços foram elevados

    traduzidos num mínimo de 37% para a

    extensão de rotura no caso da chapa de

    4mm e um máximo de 50% num dos

    provetes da chapa de 3mm.

    Ambos os aços apresentaram um

    patamar de cedência nítido mas

    relativamente curto.

    CICLOS INICIAIS DE CARGA

    A Fig 4 mostra os resultados obtidos

    directamente nos transdutores de controlo

    de força e deslocamento vertical total para o

    carregamento de 4mm (em cima) e de 10 e

    lSmm (em baixo).

    A área total definida pelas curvas de

    carga e descarga é uma medida da energia

    dissipada a qual resulta essencialmente dos

    processos plásticos que se desenvolvem na

    faixa junto aos reforços e que estão

    inicialmente num estado de tensão elevado

    devido às tensões residuais.

    A energia dissipada é dada pela

    expressão:

    Eu =Fdz

    em que F é a força vertical e dz é o

    incrementô de deslocamento vertical

    associado ao ponto de aplicação da força f.

    Esta energia é dissipada de acordo com

    o modelo de tensões residuais, junto aos

    três reforços que se encontram em tracção

    no painel inferior tendo como resultado

    final, depois do descarregamento, no

    aparecimento de deformações residuais

    permanentes devidos ao rearranjo interno

    das tensões residuais ainda existentes mas

    de valor mais reduzido.

    Da Fig 4 é possível retirar os valores

    das deformações permanentes

    correspondentes ao novo estado de

    equilíbrio: assim para o carregamento de

    4rnm tem-se urna deformação permanente

    muito pequena, de aproximadamente

    0, lmm, para o carregamento de lOmm

    cerca de lmm e finalmente para l5mm de

    carga máxima uma deformação permanente

    de 2mm.

    40

    10

    Convêm realçar que os deslocamentos

    referidos incluem às deformações no

    pórtico de suporte pelo que as energias

    totais incluem a energia elástica absorvida

    na deformação do pórtico, a qual apesar de

    pequena comparativamente à energia

    elástica ou plástica absorvida pelo modelo

    não é negligenciável, Tabela 1. A energia

    dissipada está expurgada deste problema, já

    que o pórtico atinge tensões muito

    pequenas, pelo que não há dissipação de

    energia resultante de eventuais defonnações

    plásticas nessa estrutura.

    Bé.t7o-MO

    0 5 1,0 1,5 ZO Z5 3O 5 4,0 4,5

    caTeo-0

    4 6 a 10 12 14 16

    Fig 4- Representação das leituras dos dados obtidos

    /nos transdutores de controlo de força e deslocamento

    1) globais do modelo M3-200 na fase de précarregamento até 4mm, em cima, e início da fase

    elasto-plástica, em baixo, até lOmrn e l5mm.

    57

  • Tabela 1 - Energia dissipada em cada ciclo de carregamento. A energia está expressa em N.m.

    Deslocamento Energia Energia EdIEt En. Total por En. Diss. Por EdCIEtC(mm) total dissipada (¾) Ciclo Ciclo (¾)

    4,1$ 82,4 5,1 6,2 82,4 5,1 6,2

    • 10,08 898,8 209,3 23,3 893,7 204,2 22,8

    15,16 2167,1 661,6 30,5 1962,9 457,4 23,3

    1

    utilizados na secção dedicada às tensõesresiduais.

    CICLO FINAL DE CARGA

    Posteriormente aos três ciclos de cargainiciais descritos anteriormente procedeu-seao descarregamento da viga e ao seuposterior carregamento até ao colapso, oqual se deu a um deslocamento global decerca de 2Omm. Continuou-se no entanto aaplicação de deslocamento imposto atécerca de duas vezes esse valor por forma aobter informação suficiente paracaracterizar o comportamento pós colapsoda viga, Fig 5.

    NB-200

    0 5 10 15 23 3] 35 40 45

    Idocauro (nii

    Fig 5 - Representação das leituras dos dados obtidosnos transdutores de controlo de força e deslocamentoglobais do modelo M3-200 na fase de carregamentofinal.

    A curva força deslocamento apresentaalgumas irregularidades locais na região dedesenvolvimento de deformações plásticasacentuadas as quais são coincidentes comas paragens mais prolongadas da máquinade ensaios para gravação intermédia dedados. Isto mostra existir algumadependência da resistência da estruturarelativamente à velocidade decarregamento, fenómeno de resto jáperfeitamente identificado e estudado nosensaios de tracção de caracterização demateriais.

    Curva do momento flector

    Para a obtenção da curva momento-curvatura é necessário relacionar odeslocamento global com a curvatura e aforça com o momento. Enquanto que para asegunda existe uma proporcionalidadedirecta relacionando o momento e a forçaaplicada, a qual é unicamente dependenteda geometria do provete e pode ser dadapor M = ft/2, em que 1 é o comprimento daviga lateral de suporte, a primeira relação éestabelecida através das leituras em doisdeflectómetros independentes que medemindirectamente a rotação entre as duas facesde extremas do provete permitindo obter acurvatura global. Se o comportamento fossetotalmente simétrico as leituras seriamiguais e redundantes portanto. Como se vêna Fig 6 os raios de curvatura medidos emlados opostos do provete, Ri e R2, sãodiferentes, o que significa que existe umarotação transversal do provete juntamentecom a imposição da curvatura principal.

    Por outro lado, a energiaefeito de Bauschinger écomparativamente à energiaplastificação local nãoqualidade dos resultadosEstes valores da energia

    dissipada pelomuito baixadissipada porafectando aapresentados.

    dissipada são

    5$

  • O 5 00 15 20 25 30 35 40 45

    Ds2ocaento (m)

    Fig 6 - Relação entre a curvatura e o deslocamento

    vertical de controlo obtida através das leituras dos

    transdutores de deslocamento de referencial

    solidário com cada uma das secções de carga (raios

    de curvatura Ri e R2) e curvatura média da viga

    (l/R).

    A relação entre o raio de curvatura R2 eo deslocamento global apresenta umpatamar a partir dos 35mm dedeslocamento que corresponde àultrapassagem do curso máximo dodeflectómetro pelo que os valores dacurvatura a partir desse valor deixam designificar alguma coisa. No entanto estesdados correspondem a um estado muitopara além do colapso da estrutura, nãoinfluenciando a parte principal da curva.

    Na fase pós colapso existe uma muitoforte correlação entre as curvaturas l/Rl el/R2 sendo possível colmatar a falta deinformação do segundo deflectómetroatravés da extrapolação ‘R2c=l,98967xRl-0,00684’ tendo-se obtido as curvas com oíndice ‘c’ representadas na mesma figura.

    Um outro aspecto interessante reside nadiferença de comportamento entre as duascurvaturas medidas antes e depois docolapso. No pós colapso já foi identificadaa dependência linear entre as duas mas ataxa de crescimento num dos lados (R2) écerca de 98% superior à outra (Ri). Na fasede pré-colapso a curvatura 1/Ri é sempresuperior a i/R2 igualando-se na fase decolapso, o que quer dizer que o lado que era

    mais resistente e rígido na fase inicial passaa ser o menos rígido após o colapso.

    Com a informação sobre as cürvaturas eo momento flector criou-se a Fig 7 queinclui também a relação do momento com acurvatura corrigida.

    O 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025 0,03 0,035

    (1/)

    fig 7 - Relação momento curvatura média da viga

    em caixão M3-200 no último ciclo de carga que

    levou ao colapso.

    A resposta da viga em caixão apresentaclaramente quatro zonas quando sujeita àflexão pura.

    A primeira é de grande rigidez vai atécerca de i6OKNm dependendo o momentoflector linearmente da curvatura imposta.

    A segunda também é tipicamente linearmas com uma rigidez inferior à primeira etermina em valores do momentosemelhantes ao máximo do ciclo anterior decarga, isto é, a cerca de 29OKNm; estadiminuição de rigidez deve resultar dodesenvolvimento de maiores deformaçõesque diminuem a efectividade dos painéisem compressão.

    A terceira apresenta um comportamentonão linear com rigidez progressivamentemenor, devendo-se grande parte destecomportamento à plastificação nas faixasem tracção devidas às tensões residuaisainda não aliviadas no painel inferior etambém à perda de efectividade do painelsuperior na fase próxima do colapso.

    A quarta região inicia-se imediatamentea seguir a ser atingida a carga máxima,havendo uma dependência praticamentelinear entre o momento e a curvatura eassistindo a uma perda de resistênciaprogressiva, acompanhada dodesenvolvimento de grandes deformaçõespermanentes.

    M3—200

    0,040

    035

    . .

    400

    l4metctp

    59

  • É interessante notar que é impossíveldistinguir as duas primeiras zonas a partirdo gráfico que relaciona a força com odeslocamento imposto, fig 5, só setornando evidente pela utilização dasmedições dos deflectómetros associados àcurvatura. Resta caracterizar numericamente o colapso, tendo sido atingida urnacarga máxima de 349, lKNm à curvatura deO,00767rad/m.

    Módulos estruturais

    Analisada qualitativarnente a existênciade quatro zonas, é importante identificar ocomportamento dos módulos estruturais,tanto o tangente como o secante.

    O módulo estrutural tangente é definidoatravés da derivada da curva momentocurvatura o que matematicamente seexpressa por:

    cIØ

    sendo ‘e o momento de inércia efectivo dasecção transversal da viga. O móduloestrntüral tangente depende naturalmente dacurvatura em regime elasto-plástico eanula-se na fase de colapso. A suarepresentação gráfica encontra-seapresentada na Fig 8 em função dacurvatura, tendo-se utilizado um conjuntodos 6 pontos mais próximos para o seucálculo de forma a diluir as ‘anomalias’ dacurva momento curvatura e tornar arepresentação mais interpretável.

    O módulo estrutural secante ésimplesmente a razão entre o momentoflector e a correspondente curvatura emcada ponto da curva, M=M/Ø, e apresentavalores sempre positivos. A suaimportância é relativamente baixa mas, noentanto, existem dois valores característicosque permitem de urna forma simplescomparar a rigidez de duas secções, e sãoeles o módulo secante à primeira cedência eo módulo secante ao colapso. O primeiro ébastante difícil de estimar devido àdificuldade de identificar a primeiracedência, mas o segundo é bastante simplesde calcular e permite gerar aproximações àcurva real.

    Fig 8 - Módulos estruturais tangente e secante domodelo M3-200 no ensaio final

    Da análise da representação gráficaidentificam-se zonas de rigidez distintas,começando por uma zona inicial mitoirregular e de valores muito elevadosdando-se alguma estabilização a cerca de15OMPa.m4 valor este muito próximo dos15 lMPa.m4 estimados pela teoria linearelástica; segue-se nova quebra no módulotangente a urna curvatura de O,0008rad/m

    (2) para um patamar decrescente a 8OMPa.m4;à curvatura de 0,0025 rad/rn dá-se umanova quebra acentuada de rigidez tendendopara. a rigidez nula à curvatura de0,OO75rad/m. O módulo secante tem urnavariação muito mais suave, tal corno seriade esperar, por representar de algum modoo valor médio do módulo tangente a umadada curvatura, e comportando-seaproximadamente de forma linear em escalalogarítmica, a qual permite identificarmelhor o comportamento anterior aocolapso, Fig 9.

    Estes patamares do módulo estruturaltangente ao longo do processo de cargaparecem corresponder a diferentesconfigurações geométricas dos elementosconstitutivos do caixão, não podendo noentanto ser confirmado por não estardisponível um método expedito de mediçãode deformações, sendo portanto impossívelfazer o rastejo das mesmas. A interpretaçãoque é possível fazer baseia-se na naturezadas imperfeições iniciais dos elementos deplaca e dos reforços, que levam a alteraçõesimperceptíveis de geometria resultantes dodesenvolvimento dos modos de deformaçãoconducentes ao nível de energia mais baixo,resultando em patamares progressivamente

    t;I)

    60

  • mais claros por estabilização do modo dasdeformadas.

    100

    1,0—05 1,00—04 1, 00—02 1, 00—02 1, 00—01 1,0

    —1-00

    (1/)

    Fig 9 - Módulos estruturais tangente e secante domodelo M3-200 no ensaio final em escalalogarítmica da curvatura.

    A redução que se assiste em cadapatamar é resultado da perda deefectividade dos elementos reforçadossobre a acção de forças progressivamentecrescentes. Convêm não esquecer acontribuição das tensões residuais e emespecial o seu alivio pelo ciclos de cargaimpostbs, as quais contribuemdecisivamente para a estabilização dasdeformações induzidas criandoinclusivamente memória sobre ocarregamento anterior na estrutura. Repare-se que tanto o gráfico no módulo tangentecomo o gráfico do momento curvaturaguardam informação sobre os ciclos iniciaisde carga (4 e especialmente 10 mm) apesarda estrutura já ter sido sujeita a uma cargade valor superior (l5mm).

    Se do ponto de vista formal a estruturasó deveria recordar o último estado que. lheprovocou deformações plásticaspermanentes, de facto assim não acontece,talvez em resultado dos pontos de paragemprolongados em picos de carga que semostraram não serem inócuos à estruturacom consequências directas num aumentoda curvatura a carga praticamenteconstante.

    Tensões Residuais

    As estimativas das tensões residuais deforma indirecta através dos resultadosexperimentais é assaz complicadaobrigando ao estabelecimento de algumashipóteses inicias, algumas das quais são

    uma aproximação simplificada e poucoprecisa da realidade. No entanto, pensa-seque a estimativa não andará muito longe darealidade dando no entanto um majoranteao valor das tensões residuais por serdemasiado simplificada.

    Uma primeira via consiste emrelacionar o módulo estrutural tangente daestrutura elástica, liberta de deformaçõesplásticas, e o módulo tangente no pontoimediatamente a seguir ao máximo doanterior ciclo de carga. A variação nomódulo corresponde a uma variação nomomento ‘de inércia efectivo da secção quese deve essencialmente à perda de rigidezpor plastificação local. Existem contudooutros efeitos directos resultantes daplastificação local nas faixas de tracção quecorrespondem a alterações de naturezageométrica impossíveis de contabilizar noactual estado do conhecimento.

    Os dados necessários à execução destaestimativa são as curvas momento-curvatura para cada ciclo de carga, tendo-secomo hipóteses iniciais a distribuição detensões residuais típica (Gordç and GuedesSoares 1993), e o comportamento elásticoperfeitamente plástico do material, alémdos valores do módulo de Young e datensão de cedência. Assume-se ainda quenesta região de comportamento elastoplástico global, a não linearidade resultanteda perda de efectividade do painel àcompressão não afecta a taxa de variaçãodo módulo estrutural tangente, ou poroutras palavra, a taxa de variação domódulo estrutural tangente deve-seexclusivamente à plastificação, das faixas àtracção das placas do painel à tracção e que,na ausência desta, o comportamento eralinearizável pontualmente.

    Método do módulo estrutural tangente

    Considere-se que a secção da viga éconstituída por duas regiões: a primeirainclui todas as zonas afectadas pelo calor dasoldadura onde inicialmente as tensõesresiduais eram de tracção com níveissemelhantes à tensão de cedência epertencentes à zona que ficará à tracção,neste caso a parte inferior da viga caixão, e

    +00

    61

  • designe-se a sua área por 4; designe-se arestante área ‘efectiva’ da viga caixão porAe. O módulo estrutural tangente na zona decomportamento elástico pode ser descritopor:

    EI =ES z2dA,+EJ z2dAe Ae L Ap P

    em que z é a distancia vertical ao eixoneutro. Em regime elasto-plástico comdissipação de energia por plastificação naszonas constituintes de 4 esta definiçãoaltera-se assistindo-se simultaneamente auma alteração da posição do eixo neutro. Sea área AJ) for uma pequena percentagem daárea total então o eixo neutro mantém-sepraticamente inalterado sendo possíveldefini-lo no mesmo referencial através de:

    EI =Ef z2dAP Ac C

    Esta imprecisão pela não inclusão daalteração do eixo neutro não tem grandeimportância para este cálculo edesapareceria completamente se fossepossível calcular pontualmente a variaçãono módulo estrutural tangente o que nãoacontece totalmente devido à naturezadiscreta dos resultados experimentais. Avariação do módulo estrutural tangente ésimplesmente expressa por:

    AEI=EI —EI z2dAe P Ap

    AEI = Ez2A

    dada a particularidade geométrica dosmodelos em que z,, é constante para todosos componentes de 4. Finalmente a áreaafectada pela plastificação pode seravaliada através da expressão:

    AAEI

    P 2Ezp

    Devido à simetria do modelo, z,, pode-seconsiderar igual a meia altura do modelo ouretirando os valores dos resultadosexperimentais dos extensómetros colocadosno costado lateral.

    Procedeu-se à análise deste métodotendo-se utilizado três pontos da curvamomento curvatura em tomo da curvaturacorrespondente ao deslocamento vertical de1 5mm, último ponto de inversão de cargado ciclo anterior ao colapso. Com os dados

    “ “ recolhidos, P1 (0,00196 rad/m; 249,0KN.m), P2= (0,002634 rad/m; 290,8 KN.m)e P3= (0,00343 rad/m; 315,8 KN.m),calculou-se a variação do módulo estruturaltangente em tomo do ponto P2, obtendo-seum módulo anterior ao ponto P2 de62,2MN.m2 e posterior de 31,4MN.m2,donde resulta uma variação de 30,8MN.m2.

    painel em tracção. Esta área inclui adeformação plástica nos reforços barra;para efeitos de estimativa das tensõesresiduais considerou-se que existiaequivalência percentual das faixas à tracçãodo reforço e da placa relativamente às áreastotais, pelo que as tensões residuais decompressão se estimam ter um valor de33% da tensão de cedência. Relembra-seque este valor é um majorante às tensõesresiduais já que despreza todos os restantesefeitos redutores da rigidez estrutural.

    Método da dissipação de energia total

    A segunda via indirecta de estimar onível das tensões residuais baseia-se naenergia dissipada em cada cicló de carga e érnuitd menos exigente em termosmatemáticos e nas hipóteses simplificativas.

    Considerando que a dissipação deenergia se dá nas faixas à tracção dospainéis de fundo e que pode ser medida

    através da equação Ed = fr . dz tal comoé apresentado na Tabela 1, estes valorespodem ser comparados com o valor teórico,

    Para a área 4 resulta um valor de962mm2, o qual foi calculado considerandoque o módulo de Young do aço é de200GPa e o eixo neutro se encontra na

    (4) posição obtida •a partir dos dadosexperimentais, isto é, 400mm acima do

    ou . (5)

    Relativamente a estas últimas, é exigidoque o material seja elástico perfeitamente

    (6) plástico, que o eixo neutro não se alteredurante o processo de carga e que o fundoseja igualmente efectivo.

    62

  • obtido através das hipóteses iniciais atrás

    enunciadas:

    ‘d _a0ALxl

    em que é o comprimento entre balizas no

    caso de soldadura contínua ou o

    comprimento total de soldadura no caso de

    soldadura descontinua. Esta equação pode

    ser arranjada de acordo com a geometria

    dos provetes para:

    Ed

    A área das faixas à tracção do painel de

    fundo é dada por:

    EU

    No caso particular do modelo M3-200

    existefri avaliações da energia dissipada

    total a 4, 10 e 15 milímetros, Tabela 1, e

    informação sobre as curvaturas

    correspondentes. Aplicando a equação

    acima e tomando como valores da tensão de

    cedência a média dos três valores obtidos

    nos ensaios de tracção corrigida

    proporcionalmente pela maior tensão de

    cedência da chapa de 4mm dos reforços,obtêm-se a tensão de 2O1MPa, pelo que aárea A,, é 2283 e 2156mm2 respectivamentepara o deslocamento de 10 e l5mm. Estasáreas são muito superiores à área obtida

    pelo método anterior devido à dissipação de

    energia que ocorre nas zonas extremas domodelo, zonas essas com soldaduras fortes

    e muito concentradas. Considera-se, no

    entanto, que o método é suficientemente

    fiável em estruturas de maiores dimensões

    em que as anomalias locais sejam poucorelevantes.

    O cálculo do comprimento dos cordõestransversais de soldadura que fixam asbalizas e as banzos conduz a um resultadomais equilibrado e próximo da realidade,isto é, 1087 e 1027mm2 respectivamentepara o ciclo de 10 e lSrnm. Estes resultados

    desviam-se cerca de 10% do valor obtido

    pelo método anterior o que valida de

    alguma forma o valor indicado para astensões residuais anteriormente.

    Posição do eixo neutro

    A posição do eixo neutro pode ser

    (7) estimada a partir dos dados experimentais

    pela análise das leituras nos extensómetros

    colocados no costado das viga em caixão.

    Para tal foram instalados quatro

    extensómetros verticalmente nas posições

    140, 281, 410 e 508mm acima do fundo, osquais permitem estimar a posição do eixo

    neutro e sua variação com o carregamento,

    e ainda analisar a perda de efectividade do(8) costado durante a fase elasto-plástica.

    A Fig 10 apresenta as leituras nesses

    extensómetros identificando-se perfeita

    mente a fase de comportamento elástico até

    (9) cerca dos lSmm de deslocamento vertical.

    Inicia-se depois uma fase não linear, mas

    não necessariamente elasto-plástica, em quecada extensómetro apresenta umcomportamento diverso, sendo poisnecessário fazer uma análise caso a caso:

    Convêm indicar nesta fase que, sendo asleituras nos extensómetros efectuadas emmicrons e assumindo um módulo deelasticidade de 200GPa para o aço, cada1t)00 microns correspondem a 200MPa detensão linear. Evidentemente que a partir dacedência se toma necessário utilizar ascurvas dos ensaios de tracção para conhecer

    o estado de tensão.

    Fig 10- Evolução das extensões no costado duranteo carregamento final da viga M3-200.

    Estando os extensómetros colocados nolado de fora da viga caixão os valores

    medidos indicam a extensão nessasuperfície e não a extensão média através

    da espessura nessa posição. Quer isto dizerque as leituras incluem as extensões

    Ditibiç de Exteeeà.. Ceetede

    1000

    500

    —500

    —1000

    —1500

    —2000

    —2500

    D..1eeeeete de Cege (e)

    63

  • resultantes da flexão local da chapa devidoao desenvolvimento de deformações fora doplano inicial da chapa para além dasextensões devidas à flexão global da vigacaixão. A partir dos l6mm de deslocamentovertical, as primeiras tornam-se dominantesoriginando situações em que as extensõesmedidas no extensómetro à compressãomais afastado do eixo neutro (508mrn) sãomenores em valor absoluto do que as dosextensómetros mais próximos do eixoneutro (281 e 4lOmm).

    Assim as leituras até aos l5mmpermitem verificar da posição e variação daposição do eixo neutro, Fig 11, enquantoque as medições no regime elasto-plásticoestão muito mais associadas aodesenvolvimento de deformações locaisdando uma ideia do nível de deformação dasuperfície da chapa, Fig 12.

    No regime de pré colapso é possívelidentificar uma pequena mudança do eixoneutro em direcção ao fundo à tracçãodevido à perda de efectividade das zonasem compressão que se identificamvisualmente pela perda de linearidade àdireita na fig 11.

    060toiboiçOn do Entoonõno Cootodo

    100 — 200 300 0. -

    —600 —-—--—---------- — —-—

    Diotonoin Pondo ()

    Fig 11 - Distribuição de extensões no costadodurante o carregamento no regime elástico.

    As extensões só ultrapassam a extensãode cedência, cerca de 885 microns para achapa, nas zonas centrais do costado devidoao desenvolvimento de grandesdeformações permanentes, atingindo noextensómetro instalado junto ao eixo neutroinicial cerca de três vezes a - mencionadaextensão de cedência.

    A Fig 13 mostra as grandesdeformações permanentes no costado apóso colapso da estrutura sendo evidente queestas deformações se devemexclusivamente à transmissão dasdeformações geradas no painel emcompressão após o seu colapso. Oextensómetro mais próximo do reforço,zona sem tinta na imagem, encontra-senuma zona de acentuadas variações degeometria da superfície, de facto uma zonade conformação e encontro de várias linhasde cedência, e por isso apresenta os valoreselevados já apontados.

    Note-se ainda o colapso’ do reforço nazona central a meio vão é coincidente comuma região em que não estava soldado àchapa, o que mostra que esta práticaprejudica a resistência global, como semostrará nas secções seguintes dedicadasao colapso do painel em compressão.

    DiotoiboiçEo do Entensões no Coatado

    1000

    500

    —500

    —1000

    —1500

    -2000

    2000

    —3000 - — ——- -

    Diotonoin no Pondo (o)

    Fig 12 - Distribuição de extensões no costadodurante o carregamento em regime elástico e no pós-colapso.

    soa

    600

    400

    200

    -200

    -400

    Fig 13 - Deformação residual no costado do modeloM3-200 após o colapso total da viga.

    64

  • CONCLUSÕËS

    O ensaio da viga em caixão sujeita a

    flexão pura permite recolher informação

    sobre o comportamento mecânico deste tipo

    de estruturas, identificar o tipo de colapso

    envolvido, analisar a acção das

    imperfeições iniciais nomeadamente das

    tensões residuais, entre outros.

    A recolha de informação sobre o

    comportamento mecânico da estrutura

    concretizou-se através da geração da curva

    que relaciona o momento ftector aplicado

    com a curvatura realçando a natureza não

    linear do comportamento de estruturas

    soldadas novas. A linearização do

    comportamento só é obtida após a aplicação

    de processos de relaxação de tensões

    residuais e que neste ensaio foi obtido

    parcialmente com a aplicação de ciclos de

    carga e descarga a baixa e média carga.

    Estes ciclos iniciais serviram também

    para conhecer de forma aproximada o

    estado de tensões residuais presente neste

    tipo de estrutura. Apresentaram-se dois

    métodos simples que permitem avaliar o

    nível de tensões residuais mantendo a

    estrutura intacta: o método da variação do

    módulo estrutural tangente e o método da

    dissipação da energia total.

    A análise deste tipo de. estruturas é

    geralmente feito através da análise linear

    elástica de vigas a qual considera a

    constância do módulo estrutural tangente e

    da imutabilidade do eixo neutro da viga ao

    longo do carregamento. Este trabalho

    mostra que os efeitos de natureza elasto

    plástica resultante quer da existência de

    tensões residuais ou das imperfeições

    geométricas são extremamente importantes

    na previsão do comportamento e resistência

    de estruturas tridimensionais de paredes

    finas reforçadas sujeitas a flexão.

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    65