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SALA DE AULA INTERATIVA

INTERATIVIDADE

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O conceito de Interatividade na perspectiva de Marco Silva

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SALA DE AULA INTERATIVA

Constata-se a transformação do modelo de comunicação predominante passando de uma modalidade massiva, unidirecional assente na lógica distribuição, para uma modalidade dialógica, bidirecional, assente na lógica comunicacional e que tem por centralidade a interatividade – o espírito do tempo.

A interatividade emerge num contexto complexo de múltiplas interferências e causalidades e se manifesta nas esferas tecnológica, mercadológica e social que, em sua lógica própria de desenvolvimento, se encontram imbricadas havendo uma recursividade evidente (negação à teoria do impacto)

• Conjunção complexa

• Epistemologia da complexidade (Edgar Morin)

Emergência Histórica da Interatividade

• A terceira revolução: explosão do setor de serviços e de profissões liberais que passa a dominar a atividade produtiva

• A sociedade da informação – Daniel Bell (sociedade pós-industrial vs sociedade de informação)

“A informação, o conhecimento e a comunicação aí gerados tornam-se os recursos estratégicos e os agentes transformadores da sociedade” (pag. 35)

• A terceira onda – Alvin Toffler

• A sociedade da informação tal como apresentada por Bell e mapeada por Kumar emerge com a convergência explosiva do computador com as telecomunicações

• A sociedade de informação encontra no computador um artefato basicamente centralizador (uma vez que tudo tende a passar por ele, por seus aplicativos e por sua extensão em rede)... mas ao mesmo tempo descentralizador se for tomado a partir do seu fundamento técnico: o hipertexto. (pág. 36)

• O setor quaternário (pág. 37)

Esfera Tecnológica

A interatividade emerge na esfera tecnológica como conseqüência natural da própria interação das técnicas e linguagens em cena

• O controle remoto e o zapping: percursor do fenômeno da interatividade perante os media (não permite alterar conteúdo);

“Toda a nossa cultura faz a aprendizagem da interação, isto é, ela aprende a projetar extensões sensoriais no universo da tecnologia externa por diferentes interfaces dentre as quais a primeira é o humilde controle remoto” D. Kerkchove (pág. 45)

Surge como evolução da técnica e como adequação entre oferta e demanda.

O video game e joysticks

• “A interação é a verdadeira essência de qualquer jogo” (Chris Crawford) (pág. 47)

Os videogames e games na tela do computador, estes evoluindo para a experiência da interatividade ao mesmo tempo que são cada vez mais tomados em conta pelo mercado, podem ser considerados como os principais difusores da cultura informática. Os videogames são os precursores.

Criações interativas multimídia em telemática (Internet)

Daniel Kapelian: “a palavra mais importante na multimídia é a interatividade, que dá ao usuário a possibilidade de modificar o conteúdo” (pág. 43)

“A recepção é incorporada ao circuito produtivo como mecanismo de diálogo, responsável pela consistência do produto final em cada uma das suas infinitas manifestações” A. Machado (pág. 48)

“... O papel do receptor torna-se concomitantemente menos passivo, dele dependendo muitas vezes o gesto instaurador necessário...” sem o qual não existe experiência interativa alguma.(A. Machado) (pág. 48)

A oferta tecnológica caminha no sentido de uma maior adequação entre a oferta e a demanda e no sentido de favorecer aplicações que contemplem o aleatório (acaso), a ficção (imaginação, virtualidade) e a intervenção (“modificar conteúdo”). A partir destas certezas, suas criações dão continuidade à expansão da cultura informática. E esta, em seu salto qualitativo, resulta em emergência da interatividade (pág. 48).

Imbricação usuário-tecnologia:

ao mesmo tempo que a tecnologia se impõe ao usuário este realiza a inscrição do social na técnica

• Tratamento cultural do instrumento

• Interseção de racionalidades

“A interseção ou imbricação da técnica com o social é, afinal a coexistência trágica do imperativo da técnica sobre a espécie humana e da configuração do instrumento a partir do social”. (pág. 48)

Por isso:

“ a exploração da técnica faz dela marcada e impregnada pelo uso social que a retraduz em termos de estilos socialmente caracterizáveis” (D. Boullier) (pág. 49).

CONCLUINDO:

A pregnância da cultura informática e a emergência da interatividade vêm desde o controle remoto, desde o videogame até a multimídia interativa que permite modificar o conteúdo, que permite o aleatório e a ficção em interfaces amigáveis (pág. 51)

Esfera Mercadológica

Como as empresas podem lançar mão da nova modalidade comunicacional como estratégia para fazer chegar ao indivíduo a oferta de seus produtos e serviços

Ou de que modo o “mais comunicacional” disponibilizado pela esfera tecnológica será apropriado pela esfera mercadológica como “argumento de venda”

• O infoproduto

• Ciberespaço

• Diálogo entre consumidor e oferta

• O produto como ponto tridimensional

• Permite ao consumidor o acesso como experiência de adentramento, de imersão

• O consumidor como “indivíduo-teleintra-atuante”

... Nessa condição tecnológica sui generis... o infoproduto ou conteúdo de qualquer “ponto” na rede... é apenas um suporte, na realidade um pretexto, para a instauração [pelo indivíduo teleintra-atuante] de algo maior, este sim o verdadeiro produto, a saber: a experiência concreta que se elabora no processo de interatividade personalizada com o infoendereço acessado”.

(Trivinho, E.) (pág. 53)

Esta tecnologia permite ao infoproduto “acolher em seu interior os próprios usuários, que assim podem manipulá-lo e modificá-lo a bel prazer como nunca antes”... permite a mistura virtual-heterogênea sujeito-objeto” ... permite bidirecionalidade e hibridação, fundamentos da interatividade. (pág. 53)

Ao mesmo tempo: o empresário conta com uma estratégia competente fazer chegar o seu produto ao cliente e este, por sua vez, inscreve-se no produto, no processo mercadológico e na própria tecnologia; esta por sua vez inscreve-se nos processos de produção, de venda e de consumo dos produtos e serviços, e também no social (aculturação informática, pregnância da modalidade comunicacional interativa) (pág. 53)

Empresa: Estratégia competente de marketing

Cliente: adentra o produto, manipula; aculturação informática

Tecnologia: inscreve-se nos processos de venda, produção, consumo e no social

Não basta expor o produto no ciberespaço. É preciso que essa imagem permita a experiência de adentramento. É preciso dotar a imagem da tridimensionalidade que ela pode ter. É preciso dotá-la das disposições que permitem a participação, a intervenção usuário-consumidor, que permitem o adentramento e a modificação no conteúdo (pág. 54)

O MARKETING INTERATIVO visa assim:

Oferecer ao consumidor a possibilidade efetiva de intervir no processo de criação do produto... Assim a mercadoria será mais estreitamente combinada a uma lógica de comunicação, depois de ter sido fortemente associada a uma lógica de distribuição no século XX e a uma lógica de produção no século XIX. (Marie Marchand) (pág. 55)

... A magia da interatividade está na capacidade para especificar um contexto mediante o qual entidades não pessoais (empresas, organizações, produtos, serviços, etc.) adquirem capacidade para mostrar-se pessoais. Ou seja, os sistemas de informação, as aplicações, as organizações, os produtos, os serviços, as empresas, etc. adquirem uma capacidade de diálogo e uma natureza inteligente que pode interagir e comunicar-se de forma efetiva com as pessoas. E esta interação, como tal resulta em um influência recíproca das duas partes, uma pessoal e outra abstrata (por contraposição ao pessoal), de maneira que o estado de ambas se vê modificado como resultado de tal interação.

MIGUEL, I. (pág. 55)

Aspectos que determinam os desenvolvimentos, evolução e características dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas ao mercado:

Mobilidade: facilidade de poder realizar qualquer operação, seja esta de tipo comercial ou de gestão, ou social em todo o momento e lugar.

Personalização: produtos e serviços que se adaptem ao indivíduo, por contraposição a produtos e serviços desenhados para a generalidade

MIGUEL, I. (pág. 56)

O objetivo de querer conseguir maior e mais profunda interação entre empresas e clientes se converte no motor para o desenvolvimento da interatividade (pág. 57)

Enquanto na esfera tecnológica a interatividade emerge da “cultura informática” a partir do videogame, na esfera mercadológica a interatividade se dá a partir dos anos 60, com o começo da informática nas grandes empresas.

Enquanto veículo mediante o qual se consegue uma maior e mais completa intercomunicação, a noção de interatividade passa a ser desenvolvida e aplicada pelas grandes instituições bancárias e financeiras. Inicialmente ela se configura precariamente como disponibilização de banco de dados para o acesso do cliente. Mas, com a ampliação da “capacidade de interação extremo a extremo”, como uma necessidade, passa à facilidade de intercomunicação entre os usuários e, sobretudo entre estes e as aplicações e também entre estas últimas entre si; passa-se à facilidade de interface de usuário potencializada pela disposição multimídia permitindo acessos de diversas formas (voz, dados, imagem, som, etc.).MIGUEL, I. (pág. 57)

A interatividade emerge nesse movimento recursivo onde a esfera tecnológica tem apenas seu peso, assim como as esferas mercadológica e social.

A linguagem informática hoje mais avançada (“infossemiose em sua forma iconocrata”) tem sua “consagração no mercado em virtude de sua fácil operacionalização”. No entanto é preciso verificar que esta fácil operacionalização surge não apenas como engendramento da própria técnica em suas evoluções possíveis, ou do capital que patrocina o impossível na evolução da técnica.

É preciso verificar que há também a inscrição social na técnica tornando-a de mais fácil operacionalização. (pág. 51)

A INTERATIVIDADE EMERGE DA INTERAÇÃO DAS TRÊS ESFERAS IMBRICADAS

Esfera Social

No processo de globalização, ocorre não a uniformização do social a partir do consumo, mas o recrudescimento da diversificação das culturas locais e interesses pontuais

Há um novo perfil do social que remete a um novo perfil de consumo cada vez mais gigantesco e supermercadológico, mas diversificado. Diversificado o consumo, diversificado o social.

Assiste-se a passagem do esquema de organização social piramidal para a tendência reticular

Assiste-se a ampliação da segmentação social em expressões culturais, raciais, sexuais, consumistas e religiosas conflitivas e\ou associativas e à passagem do esquema de organização piramidal para a tendência reticular.

Não mais à prevalência hierárquica do poder. E sim à ramificação difusa tecendo as relações sociais e remodelando a sociedade em múltiplas identidades ou segmentos ou “tribos” de acordo com a expressão dos interesses e dos estilos

Para atender esta demanda a tecnologia precisa adequar-se

Podemos observar - Influência do consumidor no produto- descentralização do poder- nada é eterno- zapping- abandono do futuro- ceticismo- faça você mesmo- rompimento com a homogeneização- sociedade de redes- tribos

A pregnancia da expressão de interesses e estilos enquanto dado do social em segmentos, em rede, e o progressivo investimento do produtor no produto diversificado engendram a possibilidade cada vez mais real de o consumidor influir na produção, no conteúdo do produto e na sua funcionalidade.

As novas tecnologias vão no sentido de favorecer a expressão dos diferentes estilos e interesses da sociedade em rede.

A cultura de massa não é mais a mesma

A disposição interativa própria do social tem sua origem no próprio campo da cultura. Isto é: nos modos de vida e de comportamento assimilados e transmitidos na vivência histórica e cotidiana.

No campo amplo da cultura assiste-se à passagem da condição social moderna para a condição social pós-moderna.

Características da pós-modernidade ( Teixeira Coelho):

Presenteísmo: em oposição ao futuro como valor predominante

Heterogeneidade: em oposição a homogeneidade. A heterogeneidade traz como valor privilegiado a diferença

Os dois traços atrás referidos remetem a duas conseqüências importantes para a percepção da emergência da interatividade:

• Cepticismo diante das narrativas interpretativas totalizantes (religião, marxismo)

• Relativização dos marcos referenciais

O fato de as pessoas estarem desvinculadas de arcabouços, marcos referenciais, narrativas interpretativas totalizantes implica surgimento de uma nova condição social: a autonomia diante da hierarquização, da uniformização, da homogeneização, do dever ser. Nesta condição, o indivíduo está só ou em segmentos, em tribos de semelhantes, buscando satisfazer e expressar seus interesses e estilos. Ele faz por ele mesmo

Diante da emergência do “faça você mesmo” as indústrias passam a adotar a produção fragmentada, segmentada ao invés da produção de bens para a massa, e passam a disponibilizar em seus produtos a capacidade de assimilar, de incorporar a intervenção do consumidor, do usuário.

Fase pós-fordismo do capitalismo

O pós-fordismo significa:

• Flexibilidade no trabalho, na produção

• Heterogeneidade, diversidade, diferenciação e fragmentação no social.

Emerge da mudança histórica ocorrida no Ocidente para uma nova forma de capitalismo – mundo efêmero e descentralizado da tecnologia, do consumismo e da indústria cultural no qual as indústrias de serviços, finanças e informação triunfam sobre as formas tradicionais de produção.

Modernidade Fordista

Pós-fordismo

• capital fixo na produção de massa• mercados estáveis, padronizados e homogêneos• sólido alicerce na materialidade

• Dominado pela ficção• Imaterial (dinheiro)• capital fictício• flexibilidade em técnicas de produção, mercados de trabalho e nichos de consumo

Trata-se pois de “uma organização da produção que tem mais a ver com questões de qualidade e diversificação do que com a simples escala de produção e tamanho do mercado”.

“Em vez de só apostar no consumidor médio, busca-se o produto certo para o segmento certo do mercado”.

(Cohn, G.)

Sociedade em rede

Modernidade:

• Funcionalismo = unicidade

• Marxismo = dualismo

Pós-modernidade: o social se configura em flexíveis jogos de linguagem, frouxamente ligadas, fazendo por si mesmas, criando e expressando suas próprias formas de vida.

(Jean-François Lyotard)

Massa Redes

• resulta de concentração quantitativa• Receptáculo de informação e sentido• cresce por incorporação indistinta de elementos “novos”• acumula e aglutina• tendem a comportamento de horda e rebanho

• vínculos qualitativos• ocupam espaços, topografias variadas• crescem por integração, são seletivas e dependem das ações individuais• o indivíduo não é polo oposto a um coletivo “sufocante”• oscilam ao sabor de alianças estratégicas

(Schwartz)

A sociedade em rede está aí e com ela a interatividade. O fim dos padrões globais estáveis, dos arcabouços da modernidade piramidal, libera o engendramento da nova condição das esferas social, mercadológica e tecnológica.Quando as garantias da modernidade ou da velha indústria cultural estão fragilizadas, a interatividade vem à tona como exigência de mais interação que cooperação, mais criatividade que reatividade... Vem à tona como conhecimento qualitativo

Neotribalismo e homo aestheticus (Michel Maffesoli)

Sociologia do cotidiano: abordagem microssociológica que se ocupa com a complexidade, heterogeneidade e pluralidade que caracterizam a vida social

Homo aestheticus: é o indivíduo que vive sobretudo das emoções, e experimentações coletivas, no âmago das pequenas redes existenciais das quais participa; vive das paixões, do cotidiano e não tem outra finalidade senão reunir-se sem objetivo, sem finalidade.

A atitude comunicacional é nutriente do neotribalismo. Ela se sustenta na “troca” que é terreno fértil para as agregações. É a comunicação que interliga os indivíduos em redes que se formam em torno de referências comuns como território, símbolos, preferências musicais, esportivas, etc.

O indivíduo está entregue a si mesmo e não submetido à força homogeneizadora dos grandes discursos e por isso aberto a interacções – lógica do estar-junto.

Afinidades seletivas a partir das quais decorrem aglutinações na multiplicidade das práticas, de hábitos, de rituais, enfim, de modos de ser. Esta lógica de identificação pressupõe a perspectiva da conjunção ao invés da disjunção e libera a formação de pequenas participações mais ou menos duráveis (seitas, encontros musicais, sexuais, esportivos, de consumo) e libera uma multiplicidade de nós que se vão agenciar em redes constituindo comunidades de importância variável (tribos).

Comunicação, interação e interatividade são para a sociologia do cotidiano uma só coisa: o cimento, o laço das agregações em torno da criatividade partilhada.