15
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 A Delicadeza na Fruição Estética do Álbum Pitanga de Mallu Magalhães 1 Laís Barros Falcão de ALMEIDA 2 Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE Resumo Neste artigo se propõem pensar e sentir as materialidades e os afetos do álbum Pitanga, de Mallu Magalhães a partir da noção de delicadeza nos estudos de Estética da Comunicação. E tem como objetivo investigar como os elementos visuais e as músicas do álbum Pitanga conduzem a fruição estética da delicadeza na audição do disco, possibilitam ama experiência de pertencimento na contemporaneidade e nos ajuda a repensar aspectos culturais como a desqualificação da música pop e romântica no Brasil. Para tanto, são identificadas noções como sinceridade, sensibilidade, fragilidade na trajetória da cantora, as sugestões na produção e divulgação do álbum, são analisados as músicas e questionadas as críticas musicais, especificamente gostos e valores hegemônicos baseados em aspectos intelectuais da música e na concepção moderna da arte que busca constantemente inovação e ruptura. Palavras-chave: delicadeza; estética; música pop; música romântica; Mallu Magalhães. A Delicadeza Como Opção Ética e Política na Contemporaneidade Pensando nas minhas experiências ligadas ao sensível desencadeadas quando escuto músicas de artistas contemporâneos, que costumam ser classificados pela crítica musical brasileira como nova MPB 3 , confesso que sempre fui seduzida pela delicadeza presente nas músicas de Mallu Magalhães, e sua capacidade de me afetar quando consigo imergir em seu ritmo vagaroso e suas questões intimistas, e a partir da escuta, desenvolver o sentimento de sensibilidade e criar uma atmosfera serena que me desloca das atividades cotidianas mais turbulentas como enfrentar o trânsito das cidades de Maceió e Recife, por onde transito de ônibus e de carro sempre ouvindo música. É esse aspecto que me interessa conhecer mais: a fruição estética da delicadeza em produtos midiáticos, especificamente como a delicadeza 1 Trabalho apresentado no GP Comunicação, Música e Entretenimento do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Doutoranda em Estética e Culturas da Imagem e Som no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UF PE), bolsista da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e integrante do grupo de pesquisa Laboratório de Análise de Música e Audiovisual. E-mail: [email protected]. 3 Nos anos 2000 jornalistas passaram a se referir a um grupo de artistas brasileiros como nova MPB em matérias como: “Chega de Saudade” de Flávio Júnior e Marcio Orsolini, na extinta revista Bravo!, em 2008; “Ninguém é de Ninguém: a Nova Realidade” de Ronaldo Bressane, na Trip, em 2009; e “Artistas Fazem Nova MPB Mesmo Sem Apoio das Grandes Gravadoras” de Marcus Preto, na Serafina, em 2012.

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1501-1.pdf · A compreensão estética da delicadeza que tomo como ponto de partida

  • Upload
    ngotram

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

1

A Delicadeza na Fruição Estética do Álbum Pitanga de Mallu Magalhães1

Laís Barros Falcão de ALMEIDA

2

Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE

Resumo

Neste artigo se propõem pensar e sentir as materialidades e os afetos do álbum

Pitanga, de Mallu Magalhães a partir da noção de delicadeza nos estudos de Estética da

Comunicação. E tem como objetivo investigar como os elementos visuais e as músicas do

álbum Pitanga conduzem a fruição estética da delicadeza na audição do disco, possibilitam

ama experiência de pertencimento na contemporaneidade e nos ajuda a repensar aspectos

culturais como a desqualificação da música pop e romântica no Brasil. Para tanto, são

identificadas noções como sinceridade, sensibilidade, fragilidade na trajetória da cantora, as

sugestões na produção e divulgação do álbum, são analisados as músicas e questionadas as

críticas musicais, especificamente gostos e valores hegemônicos baseados em aspectos

intelectuais da música e na concepção moderna da arte que busca constantemente inovação

e ruptura.

Palavras-chave: delicadeza; estética; música pop; música romântica; Mallu Magalhães.

A Delicadeza Como Opção Ética e Política na Contemporaneidade

Pensando nas minhas experiências ligadas ao sensível desencadeadas quando escuto

músicas de artistas contemporâneos, que costumam ser classificados pela crítica musical

brasileira como nova MPB3, confesso que sempre fui seduzida pela delicadeza presente nas

músicas de Mallu Magalhães, e sua capacidade de me afetar quando consigo imergir em seu

ritmo vagaroso e suas questões intimistas, e a partir da escuta, desenvolver o sentimento de

sensibilidade e criar uma atmosfera serena que me desloca das atividades cotidianas mais

turbulentas como enfrentar o trânsito das cidades de Maceió e Recife, por onde transito de

ônibus e de carro sempre ouvindo música. É esse aspecto que me interessa conhecer mais: a

fruição estética da delicadeza em produtos midiáticos, especificamente como a delicadeza

1 Trabalho apresentado no GP Comunicação, Música e Entretenimento do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em

Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Doutoranda em Estética e Culturas da Imagem e Som no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade

Federal de Pernambuco (UF PE), bolsista da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco

(Facepe) e integrante do grupo de pesquisa Laboratório de Análise de Música e Audiovisual. E-mail:

[email protected].

3 Nos anos 2000 jornalistas passaram a se referir a um grupo de artistas brasileiros como nova MPB em matérias como:

“Chega de Saudade” de Flávio Júnior e Marcio Orsolini, na extinta revista Bravo!, em 2008; “Ninguém é de Ninguém: a

Nova Realidade” de Ronaldo Bressane, na Trip, em 2009; e “Artistas Fazem Nova MPB Mesmo Sem Apoio das Grandes

Gravadoras” de Marcus Preto, na Serafina, em 2012.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

2

atua como fio condutor, isto é, princípio orientador dos ouvintes que se materializa de

diferentes formas e garante consistência e potência a Pitanga, terceiro disco solo da cantora

e compositora paulista Mallu Magalhães, que foi lançado em 24 de outubro de 2011 no

Brasil e em Portugal anos depois, pelo selo Agência de Música em parceria com a

gravadora Sony Music.

A compreensão estética da delicadeza que tomo como ponto de partida neste

trabalho vem dos estudos de Estética da Comunicação que se propõem a pensar e sentir as

materialidades e os afetos dos objetos comunicacionais, dos sujeitos e da fruição estética

entre eles, e pensa a delicadeza como uma busca de pertencimento na contemporaneidade:

“não é portanto, só um tema, uma forma, mas uma opção ética e política, traduzida em

recolhimento e desejo de descrição em meio à saturação de informações” (LOPES, 2006, p.

2006), que acontece como fruição estética a partir de percepções particulares do cotidiano e

da intimidade, de sentimentos como sensibilidade e amor e valores como sinceridade e

autenticidade, e como possibilidade de experiências estéticas em nossos mundos cotidianos

(GRUMBRECHT, 2006). A partir dessa visão sobre a delicadeza lanço a questão: como os

elementos visuais e as músicas do álbum Pitanga conduzem a fruição estética da delicadeza

na audição do disco, possibilitam a experiência estética de pertencimento na

contemporaneidade e nos ajuda a repensar aspectos culturais como a desqualificação da

música pop e romântica no Brasil?

Para desenvolver essa questão, o objetivo do trabalho é analisar o álbum através de

duas direções de investigações das experiências mediadas: com a fabricação do real através

de relatos e com a descrição da própria experiência dos ouvintes (GUIMARÂES; LEAL,

2008), incluindo a experiência da pesquisadora, questionando os julgamentos de valor e

gosto de músicos, produtores, jornalistas. Durante a análise serão consultados a biografia da

cantora, a capa, o encarte, a contracapa, o release, os comentários sobre a produção e escuta

do disco, assim como reportagens, entrevistas e críticas musicais disponíveis na internet. E

com relação às músicas, serão levadas em consideração as letras, a melodia, o ritmo e a

harmonia, identificando temáticas, instrumentos musicais, vozes, arranjos e efeitos sonoros,

considerando “a música não só como produto cultural e/ou processo comunicacional, mas

como uma experiência” (LOPES, 2003, p.87).

A Trajetória de Mallu Magalhães Como Estrela Pop Brasileira

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

3

Mallu Magalhães é uma jovem cantora paulista que ganhou um violão quando tinha

nove anos e começou a compor músicas em inglês aos doze anos. Aos 15 anos de idade,

cantava suas músicas para os amigos. Em 2007, Mallu registrou suas composições na

Biblioteca Nacional, gravou quatro músicas no estúdio Lúcia no Céu, com o dinheiro que

ganhou como presente de debutante de seu pai, e depois disponibilizou todas no perfil que

havia criado no MySpace. Dentre elas, “Tchubaruba” e “J1”, com letras curtas em inglês,

acordes e batidas simples no violão, tornaram-se um sucesso na internet, criando uma

comunidade de fãs que interagiam entre si, replicavam e indicavam as músicas e os vídeos

de Mallu para outras pessoas4. Antes mesmo de lançar seu primeiro disco e sem ajuda de

gravadora, a cantora já possuía 1,9 milhão de acessos no MySpace, fã-clubes, participação

no Programa do Jô, Altas Horas e Caldeirão do Hulk na Globo, show no Circo Voador,

parceria cantando a música “Janta” com Marcelo Camelo (Los Hermanos) no show do

primeiro álbum solo de Camelo, chamado “Sou”, e indicação paras as categorias artista do

ano, melhor show e artista revelação para a premiação do Vídeo Music Brasil (VMB) de

2008, organizado pela MTV Brasil.

Esse sucesso repentino da cantora foi recebido pela imprensa como acontecimento

particular e pouco frequente de criação e prospecção de um artista brasileiro a partir da

internet na época, mas também como possibilidade para o futuro da indústria da música no

país, por isso sua trajetória foi caracterizada por jornalistas como fenômeno pop e “tão

espantosa quanto incerta” (ANTENORE, 2008). Contrariando previsões de que seria um

artista-relâmpago, que aparece com uma ou duas músicas que faz sucesso e depois

desaparece, Mallu prosseguiu com sua carreira na música lançando Mallu Magalhães

(Agência de Música, 2008), DVD Mallu Magalhaes (Agência de Música 2008), Mallu

Magalhães (Agência de Música/Sony Music, 2009), Pitanga (Agência de Música/Sony

Music, 2011), flertando com o mundo da moda (CIOFFI, 2011; PACCE, 2012) e

trabalhando ilustrações (OLIVEIRA, 2014). Mas o que nos interessa na trajetória de Mallu

é como ela sempre esteve envolvida “na mística do vocalista enquanto star e no uso da voz

como forma de articulação das experiências dos ouvintes, marcando seus cotidianos e suas

memórias” (LOPES, 2007, p.166).

A mística que envolve Mallu diz respeito ao seu talento precoce, ou como a Revista

Rolling Stones anuncia a “Garota Prodígio” (CRUZ, 2008), “Estrela Teen” na revista

4 Biografias de Mallu Magalhães podem ser acessadas no site oficial da cantora (www.mallumusic.com.br) e no site criado

pelo selo Agência de Música para divulgar os dois primeiros discos de Mallu

(www.agenciademusica.com.br/mallumagalhaes/site/index.php). Acesso em 28 de junho de 2016.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

4

Capricho (JÚNIOR, 2009), “Garota da Rede” na revista Quem Acontece (FERLA, 2008), e

quanto a sua música “A Adolescente Folk” no jornal O Globo de 2008, “Garota Bossa

Nova” na revista Isto É (RANGEL, 2009), “Prodígio da MPB” no Jornal da Tarde em 2009,

e representante de uma nova MPB na revista Serafina da Folha de São Paulo (PRETO,

2012). Também está relacionada à exposição de sua vida privada pela imprensa brasileira,

principalmente sobre seus relacionamentos amorosos: o rápido namoro com Hélio Flanders,

vocalista de Vanguart de quem era fã (GIACOMO, 2008), logo seguido pela polêmica

gerada quando ela e Marcelo Camelo, integrante dos Los Hermanos, de quem também era

fã, anunciaram que estavam namorando (MARTINEZ, 2008), por ele ser muito mais velho

do que ela. Mallu tinha dezesseis anos e Camelo trinta na época. O fato de Mallu

permanecer namorando outro artista e trabalhar com ele também faz parte da mística que

envolve a cantora (PRETO, 2011).

Na trajetória de Mallu Magalhães também aparece a noção de sinceridade na forma

como fala sobre seus sentimentos em entrevistas, de amor e positividade que quer passá-los

com suas músicas (FERLA, 2008), além de contar que não sabe dividir o que sente do seu

trabalho e defini-lo com “íntimo, sincero e natural” (LORENTZ, 2011), dificilmente

falando sobre aspectos financeiros ligados ao seu trabalho, envolvendo-se nos “jogos entre

sinceridade (desvelamento) e autenticidade (posicionamento)” (JANOTTI;SOARES, 2014)

através de um pensamento romântico sobre a arte.

Outro aspecto que atravessa a trajetória da cantora é a sensibilidade, por se

descrever como alguém com uma personalidade sensível, como na entrevista que falou do

desgaste físico e emocional de ter que ficar longe da sua família para trabalhar, de sua busca

por suporte psicológico (FUSCALDO, 2009; PAULINO, 2009), e de como conta ter sofrido

por ter sido obrigada a ficar na escola, onde ela achava que não tinha espaço para suas

emoções, e com as reações de ódio das pessoas quando assumiu o namoro com Camelo

(PRETO, 2010). E também a fragilidade como relata em entrevista sobre como sua saúde

ficou fraca após deixar de comer, perder muitos quilos e ficar doente com frequência

porque assim se sentia mais bonita (PRETO, 2010).

Entende-se aqui sinceridade, sensibilidade e fragilidade como valores do sujeito e de

sua forma de agir no mundo, que articula Mallu e seus fãs/ouvintes, isto é, faz parte da

partilha sensível (RANCIÉRE, 2009) entre sujeitos e acabam por influenciar de uma forma

ou de outra quem se propõe a ouvir suas músicas.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

5

Sugestões na Produção e Divulgação de Pitanga

Mallu Magalhães escolheu doze entre as muitas composições que tinha em inglês e

português, e seguindo o conselho de Marcelo Camelo, os dois criaram e gravaram os

arranjos para as criações da compositora juntos, tocando, cantando e experimentando o que

melhor ficaria em cada música, com quase todos os instrumentos do disco sendo tocados

por eles, incluindo instrumentos que a cantora ainda não havia tocado em seus discos

anteriores como bateria, piano e guitarra (MIYAZAWA, 2011). Além de Marcelo e Mallu

tocando dezenas de instrumentos, Alexandre Kassin5 participou tocando lap steel (guitarra

havaiana) e guitarras com pedal de volume, Maurício Takara6 tocou congas e bateria, André

Lima teclados e piano, Josué flauta, François trombone, Victor Rice baixo, bateria,

panderola, violoncelo e guitarra, e Daniel D‟Alcantara fugel horn (instrumento de sopro).

Dessa maneira, as canções foram gravadas por Fernando Sanchez e Victor Rice, mixadas

também por Rice, no Estúdio El Rocha em São Paulo (SP), entre maio e julho de 2011 e

masterizadas por Felipe Tichauer no estúdio Redtraxx Music em Miami (Flórida, EUA).

Capa e contracapa do álbum “Pitanga”, de Mallu Magalhães. Fonte:

http://www.premiodamusica.com.br/audicao/audicao-2012-768/. Acesso em junho de 2016.

O título do disco escolhido por Mallu Magalhães, Pitanga, surgiu da sua paixão pela

fruta, que durante as gravações fez um viveiro com mudas de pitangueira em sua varanda

com as sementes das frutas da pitangueira do estúdio El Rocha. Segundo Mallu em

entrevista a revista Rolling Stones, o nome veio do acaso para ela e era tudo que ela

5 Alexandre Kassin produziu discos dos Los Hermanos, Caetano Veloso, João Mautner, Vanessa da Mata e o segundo

disco de Mallu, o Mallu Magalhães (Agência de Música/Sony Musica, 2009). 6 Maurício Takara é conhecido por ser baterista nas bandas Hurtmold e São Paulo Underground.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

6

precisava: uma palavra forte, que ninguém tinha usado e que combinava com seu estilo de

vida, de aproveitar o que aparecer, agarrar e levantar (MIYAZAWA, 2011). E também foi

Mallu quem costurou as lantejoulas que estão na capa do disco, fotografou uma pitangueira,

e desenhou as aquarelas do encarte e da contracapa onde aparecem imagens suas e

elementos da natureza (fruta, folha e pássaro), predominantemente nos tons suaves de

laranja e marrom.

Assim como ela fez em seus álbuns anteriores, do leãozinho desenhado com pedaços

de lã em Mallu Magalhães (Agência de Música, 2008), das dobraduras em papel em Mallu

Magalhães (Agência de Música/Sony Music, 2009), são seus trabalhos manuais, fotografias

e ilustrações que marcam o visual dos álbuns, remetendo à simplicidade do trabalho

artesanal, sem efeitos digitais, feito à mão com cuidado, as fotografias trazem uma

intimidade com a possibilidade de ver através dos olhos de Mallu, e as aquarelas traduzem,

aos olhos de quem folheia o encarte, leveza, espontaneidade e uma ligação com a natureza

em seu trabalho. Mas também é certo que o design gráfico de Renan Costa escolhendo o

fundo branco e as letras das músicas em preto com fontes sem serifas também apelam para

um efeito limpo e simples do disco7.

Fotografia na bandeja de CD e Ilustrações no Encarte do álbum “Pitanga”, de Mallu Magalhães.

Fonte: http://www.premiodamusica.com.br/audicao/audicao-2012-768/. Acesso em junho de 2016.

Essas percepções são intensificadas ao ler o texto que Mallu escreveu no encarte, no

qual expressa gratidão e amor ao seu namorado e também produtor do disco Marcelo

7 O encarte completo encontra-se disponível no site do Premio da Música Brasileira, apresentado e

patrocinado pelo Banco do Brasil: www.premiodamusica.com.br/audicao/audicao-2012-768/. Acesso em 28

de junho de 2016.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

7

Camelo, dedica à sua mãe, à seu pai e à sua irmã, e agradece a sua professora de canto

Eliete, aos amigos do estúdio El Rocha, aos seus fãs e ao coprodutor Vistor Rice pela

dedicação e amizade. Mallu ainda descreve o mundo de detalhes de Pitanga que vai desde

as pessoas nas ruas e os gritos da feira, ao seu universo privado com gatos, plantinhas,

lantejoulas, visitas, chás, pinturas e amigos, conta como trabalhar no novo álbum fez-lhe

descobrir mais sobre si mesma, sobre seus sonhos e medos, e como resultado declara ter

encontrado na sua intimidade e sinceridade a sua arte:

Minha intimidade virou (orgulhosamente) de vez minha arte (nada mais

sincero). Foi no meio da confusão e da poeira de pinheiros onde em cada

um que passa, cada desconhecido, encontro neste, minha paz diante do ser

humano, desfruto da minha existência e coração atento. Por este coração

intenso, não sei a quem agradecer. Talvez ao infinito, seja para o qual eu

deva dizer obrigada. (MAGALHÃES, 2011).

É importante reconhecer novamente o apelo à sinceridade como valor para tornar

seu trabalho “autêntico”, inclusive nas palavras de Mallu ao contar em entrevista que sua

proposta com Marcelo Camelo para o disco era ser a cantora o máximo possível

(MIYAZAWA, 2011) e que o som do disco é sincero (LORENTZ, 2011). Mas também é

importante reconhecer uma poética da intimidade e do cotidiano que para ela, e para quem

escuta e se identifica com seu trabalho, funciona como um posicionamento partilhado de

fuga da confusão das ruas através do encontro de sossego e paz com outrem e consigo

mesmo, retomando a perspectiva da delicadeza como opção ética e política diante do

mundo contemporâneo. E esse posicionamento vai ser justamente um dos pontos a serem

explorados comercialmente na divulgação do álbum, especificamente no release do disco

anunciando Pitanga como maior do que um projeto musical, mas “uma filosofia, um

universo, um portal e um gosto” que parte da exposição do íntimo de Mallu em músicas,

escolhas estéticas e conduta de vida.

Outro ponto a ser explorado na divulgação foi o próprio título do álbum, associando

o nome da fruta e suas qualidades “azedinha, doce, bonita e única” ao disco, como também

o fato de ser nativa da Mata Atlântica brasileira e de ser encontrada em abundância no

bairro de Pinheiros em São Paulo - onde morava Mallu e onde gravou Pitanga - como se

isso indicasse uma guinada de Mallu na música brasileira, com um álbum cantando mais em

português que seus trabalhos anteriores. Esses comentários sobre o álbum ainda propõem

uma forma de escuta íntima e carinhosa como se Pitanga fosse um presente feito à mão por

Mallu e entregue aos ouvintes, que ao se identificarem com a opção de Mallu pela

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

8

delicadeza, podem partilhar um universo sensível acionado pela intimidade de Mallu, sua

própria intimidade e suas experiências cotidianas nas cidades brasileiras.

A sensação de intimidade advém também nas formas de divulgação de Pitanga,

quando Mallu passa a escrever um Blog hospedado em seu site oficial

(www.mallumusic.com.br) quase diariamente sobre sua vida e a gravação do disco, como

também passou a postar fotos tiradas durante a gravação e editadas digitalmente por ela em

seu tablete no Flickr, uma rede social de imagens8. E também no vídeo divulgação curto de

Pitanga, liberado antes mesmo do álbum ser lançado em seu formato digital e físico, onde

Marcelo Camelo filma em plano fechado o rosto de Mallu na praia, ao som da música

“Sambinha Bom”, a segunda música do disco, seguindo sua proposta de confundir o disco e

suas músicas com a própria Mallu9.

Sentimentalismo e Suavidade nas Músicas

Na primeira música “Velha e Louca”, Mallu canta a despreocupação quanto aos

julgamentos dos outros, anuncia automonia com “Agora eu sigo o meu nariz”, lança a

alegria com o verso “Em cada canto um lado bom” e com uma sonoridade reverberante que

remete ao surf music, principalmente por causa das guitarras, evocando sensações joviais e

agradáveis bem ao rock dos anos 1960, cantada de forma espontânea e suave por Mallu.

Um pequeno intervalo e estamos na segunda música, intitulada “cena”, um pedido de

desculpa pelo capricho de fazer drama no romance para depois fazer as pazes, o que remete

a proposta de dosagem do drama da bossa nova e seu cuidado para evitar excessos

sentimentais (NAVES, 2015). Já conhecida das apresentações da cantora, a canção ganha

nova sonoridade no disco acrescentando além do violão que dar um ar acústico, os teclados,

e o Glockenspiel (instrumento percussivo do tipo metalofone), que soa como sinos em

perfeita sintonia com a doçura da voz da cantora.

Essa balada romântica lança o sentimentalismo e a poética da intimidade que

percorre todo o disco na temática da iconstância dos relacionamentos amorosos,

convidando o ouvinte a se sensibilizar com a situação e os sentimentos íntimos do eu lírico,

que se define como temperalmente sensível e facilmente magoado: E eu, que fico à flor da

pele / Sem querer / Eu tenho um coração vulcânico / E sempre acabo errada. Ao tocar

8 As fotografias publicadas por Mallu Magalhães durante a gravação de Pitanga estão disponíveis em:

https://www.flickr.com/photos/mallumusic. Acesso em 5 de julho de 2016. 9 O vídeo de divulgação de Pitanga está disponível no canal oficial da cantora no You Tube:

https://www.youtube.com/watch?v=21_6ZQgN_FY. Acesso em 5 de julho de 2016.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

9

“Sambinha Bom”, a terceira faixa do disco, a intimidade ganha contornos sensuais nos

versos Quero virar sua pele / Quero fazer uma capa / Quero tirar sua roupa e o som

lembra músicas da bossa nova, com a voz, violão, piano e metais também, só que nessa

música com a percussão feita por congas, metalofone e chocalhinhos.

Aparece também o valorização da simplicidade em: Sambinha bom / É esse que tem

pouca nota, e o diminutivo nas palavras, mas nada comparado a quantidade de “inhos” na

quarta canção, “Olha só, Moreno”, muito mais melosa, graciosa e com um caráter

confessional ainda maior, trazendo justamente uma valorização do afeto, da escolha pelo

amar devagar e do permanecer junto diante das dificuldades da vida:

Olha só,

Moreno do cabelo enroladinho,

Vê se olha com carinho pro nosso amor.

Eu sei que é complicado amar tão devagarinho

E eu também tenho tanto medo.

Eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando,

Mas se a gente vai juntinho, vai bem.

Eu não sei se você sabe, mas eu ando aqui tentando

E a gente tem o eterno amor de além. (MAGALHÃES, 2011).

Ao ouvir o começo em inglês da quinta faixa do disco, “Youhuhu”, relembramos a

Mallu adolescente que cantava “Tchubaruba”, inventando palavras que fossem mais

musicais, mas agora cantando “you-hu-hu” “yeah-yeah” na parte da música com mais

movimento com as guitarras, contando que ganhou sua guitarra da avó e como tudo leva a

pensar no seu amado. E quando a música imerge em uma velocidade mais lenta assovia e

suspira apaixonada cantando em português “Ai, ai, ai, moreno / Desse jeito você me ganha /

Esse teu chamego / O meu dengo e a tua manha” ao som do teclado, trombone, chocalhos e

panderola. A tristeza passa pela sexta música de Pitanga em “Por que você faz assim

comigo?”, mas de forma branda, uma melancolia acionada pelo lap steell e guitarras com

pedal de volume de Kassin, e pela letra novamente sobre a inconstância dos

relacionamentos amorosos, ”Até agora estava tudo bem / Todos os sonhos cultivados”, mas

agora também sobre fragilidade em: “Talvez eu seja pequena / Lhe cause tanto problema /

Que já não lhe cabe me cuidar”.

Em “Baby, I‟m sure”, sétima faixa do repertório, Mallu novamente traz pessoas

próximas à ela e fala sobre a relação com sua família (pai, mãe e irmã) na letra toda em

inglês, confessando que quer viver sem brigas e em uma casa pequena, com feixes de luzes

brilhando e que possa ser seu esconderijo junto com seu gato vira-lata e seu namorado. Dá

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

10

para ouvir a segunda voz de Marcelo Camelo cantando “Baby” no refrão, Mallu assoviando

e batendo palmas, as guitarras, o piano, e novamente o metalofone. Mas uma vez a

delicadeza aparece na busca de pertencimento em uma reclusão sossegada, sem os atritos

das relações sociais. Em “In the morning” o destaque maior está no piano, na guitarra com

pedal de volume de Kassin, na voz de Mallu, e dá pra ouvir o barulhinho que faz ao girar a

manivela da câmera Bolex, glockenspiel e metalofone, criando a impressão do som ser

gravado em suporte analógico e não no digital, como de fato é.

Ouvir a viola caipira tocada por Mallu e sobreposições de vozes suas em “Lonely”

remetendo de longe o Folk que tanto esteve presente em discos anteriores da cantora, mas

também ao álbum de Marcelo Camelo, Toque Dela (Universal Music, 2011), onde ele fala

da tristeza de se viver em solidão nas músicas “A noite” e “Tudo que você quiser”, com

Mallu respondendo em inglês “Solitário, não, você não vai ser solitário novamente / Porque

você me tem agora”10

, em meio a sinos, pratos, ukelele, escaleta, baixo, piano, entre outros.

Porém, é na letra metade português e metade em inglês de “Highly Sensitive” que encontra

sintetizada, como o próprio título indica, a questão da sensibilidade: “Você não pode ver

que sou altamente sensível?” e da fragilidade: “Eu não quero brigar / Porque eu não sou

tão forte”11

, com quase todos os músicos envolvidos no disco fazendo coro na canção, que

junto com as guitarras, baixo, bateria e palmas acabou deixando a música animada. Dessa

forma, cria uma impressão de que ser muito sensível necessariamente não implica em

tristeza.

A penúltima faixa, “Oh, Ana”, Mallu conta com intimidade na letra em português

sua relação e seus sentimentos pela sua irmã Ana, também com uma sonoridade que se

aproxima da bossa nova, mas com violão, guitarras, baixo e bateria. E para fechar Pitanga,

sinos, efeito com arco e piano em “Cais”, com Mallu sussurrando acompanhando a música

e depois cantando “De onde eu vim / Não tem mar / Onde eu vim parar? / Atraquei / Nesse

cais / Por amor demais”. Talvez em resposta as metáforas com elementos relacionados ao

mar que Marcelo Camelo sempre usa em suas composições. O álbum acaba e ainda estamos

com as letras e refrãos simples passando pelos pensamentos na a voz pequena, aguda, doce

e arrastada de Mallu e os sons do piano, metalofone, sinos e chocalhinhos.

O Sabor Agridoce de Pitanga nas Críticas

10 A letra da música em inglês: Lonely, no you'll never be lonely again / Cause you have me now. 11 Os versos em inglês :Can't you see I'm highly sensitive? (...) I don't want to argue / Cause I'm not that strong.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

11

Os críticos musicais, que experimentaram Pitanga como uma fruta doce, avaliaram o

álbum de maneira geral como positivo, bom, agradável, como indicação de aprimoramento

da cantora, e como prelúdio de que discos grandiosos de Mallu estão por vir (AZEVEDO,

2011; COSTA, 2011; MORAES, 2001; XI, 2011). Qualificaram o disco como prazeroso,

com vida própria, equilibrado, complexo, artesanal, doce, belo, amoroso, jovial, delicado,

intimista, sincero, sutil, suave e singelo. Em outras palavras, partilham o prazer e o afeto

desencadeados na fruição estética da delicadeza em Pitanga. O jornalista Leonardo Lichote

em O Globo, por exemplo, indica que o potencial de Mallu que fica evidente em Pitanga é

sua capacidade de se posicionar na contemporaneidade por meio de uma erudição pop, de

sua sensibilidade à flor da pele, por cantar tanto em inglês como em português, e na

exibição de sua intimidade.

Ainda seguindo as avaliações positivas, mas não excelentes, Pitanga garantiu o

terceiro lugar na lista de melhores discos de 2012 da revista Rolling Stones por ter “um

gostinho nativo do Brasil, sem mais ter aquela tão característica influência da música norte-

americana (...) e uma brasilidade de bossas e sambinhas”, perdendo para o disco

Doozicabraba e a Revolução Silenciosa (Independente, 2011) de Emicida em segundo

lugar, e para Nó na Orelha (Oloko Records, 2011) de Criolo em primeiro lugar, ambos

rappers paulistas.

Para os críticos que sentiram um gosto amargo ao ouvir Pitanga, o que

experimentaram foi incômodo com “o excesso de instrumentos – comum nos discos solo de

Camelo. Num determinado momento, chega a atrapalhar, como se fosse um barulho externo

do disco” (AZANHA, 2011), uma sensação de cansaço “passar por “Ô Ana” e o haikai

“Cais” – as duas últimas faixas do álbum – é tarefa bastante árdua” (COSTA, 2011), de

letargia causada pelas “bobagens cotidianas (...) empilhadas e combinadas à voz mole e

arrastada da cantora” (FAGUNDES, 2012), e “a impressão (...) de que tudo vai bem (...)

tudo não passa de uma questão de mais amor, por favor” (OLIVEIRA, 2015). Isto é, não

desejam e não partilha fruição estética com Pitanga. Retirando apenas as duas primeiras

críticas do incômodo e cansaço, as demais julgam as músicas de Mallu Magalhães como

ruim e irrelevante.

As questões que surgem então são: por que pitanga não é considerado um álbum

grandioso e por que é julgado como ruim e irrelevante para alguns? Essas perguntas

colocam em discussão valores e gostos hegemônicos de vertentes musicais ligadas à arte

moderna como a MPB (profundidade poética) e o Rock (densidade musical) e a ambos o

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

12

virtuosismo musical, isto é, aos aspectos intelectuais e cerebrais da música que

desvalorizam a afetividade, a simplicidade e o envolvimento romântico assumido pela

música pop (LOPES, 2003). Da mesma forma, tenciona funções sociais, políticas e

artísticas atribuídas às músicas de MPB e Rock na América Latina como perturbadoras da

ordem vigente por meio da abordagem de conteúdos críticos, da visão do cotidiano como

violento e banal, e da busca constante por inovação e ruptura como única forma de arte

possível.

Portanto, se as músicas tem como tema o amor com a intensão de fruir prazer,

desencadear afetos e provocar sensações, sem inovar ou romper com as características de

estilos e gêneros musicais, elas são desqualificadas como irrelevantes, vazias de conteúdo

social e político, quando na verdade são encontros e identificações entre artistas e ouvintes,

partilhas de prazer e afeto entre sujeitos por meio da simplicidade e do sentimentalismo, da

arte também como forma de conhecimento e de estar no mundo, e da visão da beleza no

cotidiano (LOPES, 2003).

A Fruição da Delicadeza em Pitanga na Contemporaneidade

A trajetória de Mallu Magalhães enquanto fenômeno e estrela pop brasileira envolta

em noções como sinceridade, autenticidade, sensibilidade e fragilidade influenciam a

fruição estética de seus álbuns indicando os valores e a concepção de arte que são

partilhados pela cantora e por seus fãs. Enquanto o álbum traz no título percepções do

cotidiano como belo e natural no nome da fruta Pitanga encontrada nas ruas, sítios, casas,

condomínios e apartamentos por todo o Brasil; fotografia como poética da intimidade com a

possibilidade de ver através dos olhos de Mallu; trabalho artesanal com as lantejoulas e as

ilustrações com elementos da natureza (fruta, folha, passarinho) indicam simplicidade e

zelo, as cores das as aquarelas traduzem leveza e espontaneidade; e design gráfico

provocam um efeito limpo e simples no disco. Essas percepções particulares do cotidiano e

da intimidade são intensificadas pelo vídeo de divulgação, pelo texto que Mallu Magalhães

escreve no encarte, pelo release, pelos textos publicados blog do site oficial pela cantora e

pelas fotografias publicadas no Flickr.

Ouvir Pitanga, a voz feminina, pequena, aguda, usada de forma arrastada pela

cantora, com suspiros e sussurros, como também o piano, teclados, metalofone e sinos

transbordam doçura, como as letras convidam a se sensibilizar com eu lírico altamente

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

13

sensível e como Pitanga soa harmonioso com timbres e texturas de diferentes instrumentos

e efeitos sonoros se alternando e se sobrepondo suavemente despertam brandura e

tranquilidade. E ao ler as críticas do disco somos lançados em discussões sobre valores e

gostos a que são submetidas à música pop e romântica no Brasil, no tencionar das funções

que atribuímos à arte e a música na contemporaneidade.

Todos esses elementos exercem papeis importante na fruição estética da delicadeza,

até mesmo o conhecimento de que ela não é desejada e partilhada por todos. Assim, é

importante acrescentar que esse caminho que trilhei, junto à Estética da Comunicação,

também não deixa de ser uma partilha, uma proposição de pensamento e sensibilidade sobre

as materialidades e os afetos de Pitanga, sobre sujeitos e a fruição estética da delicadeza

entre eles. Não se pretendeu aqui definir a fruição estética da delicadeza como única

possibilidade de pensar e sentir esse objeto comunicacional, mas partindo de experiências

do mundo cotidiano da pesquisadora, lançá-lo nas discussões do mundo acadêmico.

REFERÊNCIAS

ANTENORE, Armando. Mallu Magalhães: Revolucionária aos 16 Anos. Revista Bravo!,

2008. Disponível em:<http://super.abril.com.br/blogs/oblogdasperguntas/2008/10/01/mallu-

magalhaes-revolucionaria-aos-16-anos/>. Acesso em 25 de julho de 2016.

AUMONT, Jacques. La Estética Hoy. Madrid: Ediciones Cátedra, 2001.

AZANA, Thiago. Crítica: Pitanga (Mallu Magalhães). Blog Olhares do Radar: 2011.

Disponível em < http://olharesdoradar.blogspot.com.br/2011/10/critica-pitanga-mallu-

magalhaes.html>. Acesso em 5 de julho de 2016.

AZEVEDO, Kamila. “Pitanga”: Mallu Magalhães. Blog Cinéfila por Natureza, 2011.

Disponível em: <http://cinefilapornatureza.com.br/2011/10/07/pitanga-mallu-magalhaes/>.

Acesso em 5 de julho de 2016.

BRESSANE, Ronaldo. Ninguém é de Ninguém: a Nova Realidade. São Paulo: Trip, nº

178, jun. 2009. Disponível em: <http://revistatrip.uol.com.br/revista/178/especial/ninguem-

e-de-ninguem-a-novarealidade.html>. Acesso 5 de julho de 2016.

CIOFFI, Beatriz. Formada em corte e costura, Mallu Magalhães diz: “Tenho vontade

de trabalhar com moda”. R7 Entretenimento, 2011. Disponível em:

http://entretenimento.r7.com/moda-e-beleza/noticias/spfw-formada-em-corte-e-costura-

mallu-magalhaes-diz-tenho-vontade-de-trabalhar-com-moda-20110617.html. Acesso em 25

de junho de 2016.

COSTA, Marcelo. “Pitanga”, Mallu Magalhães (Sony Music). Scream & Yell, 2011.

Disponível em: < http://screamyell.com.br/site/2011/11/02/mallu-magalhaes-fala-sobre-

pitanga/>. Acesso 28 de junho de 2016.

CRUZ, Márcio. Garota Prodígio. Rolling Stone, 2008. Disponível em: <

http://rollingstone.uol.com.br/edicao/18/garota-prodigio#imagem0>. Acesso em 25 de

junho de 2016.

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

14

FAGUNDES, Diego. Mallu Magalhães: Pitanga. Blog Fita Bruta, 2012. Disponível em:

<http://fitabruta.com.br/resenhas/albuns/mallu-magalhaes-pitanga/>. Acesso em 5 de julho

de 2016.

FERLA, Marcelo. A Garota Rede. São Paulo: Quem Acontece, 2008. Disponível em: <

http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI15293-8224,00-

A+GAROTA+DA+REDE.html>. Acesso em 25 de junho de 2016.

FLÁVIO JR., José; ORSOLINI, Márcio. Chega de saudade. São Paulo: Bravo!, 2008.

Disponível em: <http://www.carranca.com.br/bravo/musica_chegadesaudade.shtml>.

Acesso 25 de junho de 2016.

FUSCALDO, Chris. „Quando Se Cresce, Muda Tudo‟, Diz Mallu Magalhães, Madura

Em Seu Segundo Disco. Blog Chris Fuscaldo, 2009. Disponível em: <

http://chrisfuscaldo.com.br/2009/12/17/quando-se-cresce-muda-tudo-diz-mallu-magalhaes-

que-chega-ao-segundo-disco-transbordando-maturidade>. Acesso em 20 de junho de 2016.

GIACOMO, Fred. 5 coisas que só quem foi à festa pós-VMB viu. Editora Abril, 2008.

Disponível em: <http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_348150.shtml>. Acesso em

25 de junho de 2016.

GUIMARÃES, César; LEAL, Bruno. Experiência estética e experiência mediada.

InTexto, v. 2, p. 1-12, 2008.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Pequenas Crises: Experiências Estéticas nos Mundos

Cotidianos. In: GUIMARÃES, C.; LEAL, B.; MENDONÇA, C. Comunicação e

Experiência Estética. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

JANOTTI, Jeder. Aumenta que Isso aí é Rock and Roll: Mídia, Gênero Musical e

Identidade. Rio de Janeiro: E-papers, 2003a.

_______________. Entretenimento, Produtos Midiáticos e Fruição Estética. In:

BORELLI, Silvia Helena; FREITAS, Ricardo (Orgs). Comunicação, Narrativas e Culturas

Urbanas. São Paulo/Rio de Janeiro: Educ/UERJ, 2009.

JANOTTI, Jeder; SOARES, Thiago. Mentiras Sinceras Me Interessam. Belém: Compós

UFPA, 2014.

JUNIOR, Flávio; Orsolini, Marcelo. Chega de Saudade: Você acha que desde os anos 60

e 70 não se faz mais MPB de qualidade? Conheça os talentos da nova geração de cantores

e compositores. Revista Bravo!, 2008.

LICHOTE, Leonardo. Mallu Magalhães está „velha‟ e „louca‟ no álbum „Pitanga‟. O

Globo, 2012. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/mallu-magalhaes-esta-

velha-louca-no-album-pitanga-5181039#ixzz4EJlkoH9B>. Acesso em 5 de julho de 2016.

LOPES, Denilson. Da Música Pop à Música como Paisagem. Eco-Pós (UFRJ), Rio de

Janeiro, v. 6, n.2, p. 86-94, 2003.

______________. Da Estética da Comunicação a uma Poética do Cotidiano. In:

GUIMARÃES, C.; LEAL, B.; MENDONÇA, C. Comunicação e Experiência Estética. Belo

Horizonte: Editora UFMG, 2006.

_____________. A Delicadeza: Estética, Experiência e Paisagem. Brasília: UNB, 2007.

LORENTZ, Braulio. Mallu Magalhães diz que novo CD é 'íntimo, sincero e natural'.

G1, 2011. Disponível em: < http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/10/mallu-

magalhaes-diz-que-novo-cd-e-intimo-sincero-e-natural.html>. Acesso em 5 de julho de

2016.

MAGALHÃES, Mallu. Mallu Magalhães. Agência de Música, 2008.

_________________. Mallu Magalhães. Agência de Música/Sony Music, 2019.

_________________. Pitanga. Agência de Música/Sony Music, 2011.

MARTINEZ, Léo. Mallu Magalhães e Marcelo Camelo Assumem Romance. Rio de

Janeiro: Ego, 2008. Disponível em< http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL872380-

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

15

9798,00ALLU+MAGALHAES+E+MARCELO+CAMELO+ASSUMEM+ROMANCE.ht

ml>. Acesso em 25 de junho de 2016.

MIYAZAWA, Pablo. O Disco Artesanal de Mallu Magalhães. Rolling Stone, 2011.

Disponível em: http://rollingstone.uol.com.br/edicao/60/o-disco-artesanal-de-mallu-

magalhaes#imagem0. Acesso em 20 de junho de 2016.

MORAES, Lidiana. Crítica: Mallu Magalhães – Pitanga. Revista O Grito!, 2011.

Disponível em: < http://oglobo.globo.com/cultura/mallu-magalhaes-esta-velha-louca-no-

album-pitanga-5181039#ixzz4EJlkoH9B>. Acesso em 5 de julho de 2016.

NAVES, Santuza. A Canção Brasileira: Leituras do Brasil Através da Música. Rio de

Janeiro: Zahar, 2015.

OLIVEIRA, Acauam. O Fofo Naufrágio Humano Da MPB Neo-Indie. Chic Pop, 2015.

Disponível em: <http://www.chicpop.com.br/#!O-fofo-naufr%E1gio-humano-da-MPB-

neoindie/cmbz/55c3c8970cf2be396baa16df>. Acesso em 5 de julho de 2016.

OLIVEIRA, Rebeca. Mallu Magalhães, Tulipa Ruiz e Karina Buhr se destacam com

ilustrações. Portal Uai +E, 2014. Disponível em: < http://www.uai.com.br/app/noticia/e-

mais/2014/12/16/noticia-e-mais,162598/mallu-magalhaes-tulipa-ruiz-e-karina-buhr-se-

destacam-com-ilustracoes.shtml>. Acesso em 5 de julho de 2016.

PACCE, Lilian. Mallu Magalhães Além da Música. Blog Lilian Pacce, 2012. Disponível

em: < http://www.lilianpacce.com.br/portfolio/mallu-magalhaes-alem-da-musica/>. Acesso

em 25 de junho de 2016.

PAULINO, Marcos. Mallu Magalhães fala sobre “Pitanga”. Scream & Yell, 2011.

Disponível em: <http://screamyell.com.br/site/2011/11/02/mallu-magalhaes-fala-sobre-

pitanga/>. Acesso 28 de junho de 2016.

PRETO, MARCUS. A Hora de Mallu. São Paulo: Tpm, 2010. Disponível em: <

http://revistatrip.uol.com.br/tpm/a-hora-de-mallu>. Acesso em: 5 de junho de 2016.

________________. Artistas Fazem Nova MPB Mesmo Sem Apoio das Grandes

Gravadoras. São Paulo: Serafina, abril 2012. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/serafina/1082810-artistas-fazem-nova-mpbmesmo-sem-

apoio-de-grandes-gravadoras.shtml>. Acesso em: 5 de junho de 2016.

RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: Estética e Política. Rio de Janeiro: Editora

34, 2009.

ULHÔA, Martha. Pertinência e Música Popular: em busca de categorias para análise

da música brasileira popular. Bogotá: III Congreso de la Rama Latinoamericano, IASPM,

2000.

______________. Categorias de Avaliação Estética da MPB: lidando com a recepção

da música brasileira popular‟. Cidade do México: IV Congreso de la Rama

Latinoamericano, IASPM, 2002.

XI, Marcos. O Que Une Mallu Magalhães e Courtney Love. Rock in Press, 2011.

Disponível em: <http://www.rockinpress.com.br/o-que-une-mallu-magalhaes-e-courtney-

love-mallu-magalhaes-pitanga/>. Acesso em 5 de julho de 2016.