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Curso Marcato – Defensoria Pública São Paulo - 2008 INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS Bibliografia: Ação Popular, Ação Civil Pública e Mandado de Segurança Coletivo – Eurico Ferraresi – Editora Forense (não foi o professor que recomendou). I – CONCEITOS Motauri 11.12.08 Interesses Difusos e Interesses Coletivos são espécies do gênero “Direitos Metaindividuais”. O Código de Defesa do Consumidor contém em seu artigo 81 a seguinte redação: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. 1. Interesses Difusos “Direitos Difusos são aqueles que dizem respeito a um número indeterminável de sujeitos, titulares de um objeto indivisível e que estão ligados por um vínculo fático”. 1

Interesses Difusos e Coletivos

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Interesses Difusos e Coletivos

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Curso Marcato Defensoria Pblica So Paulo - 2008

INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Bibliografia:

Ao Popular, Ao Civil Pblica e Mandado de Segurana Coletivo Eurico Ferraresi Editora Forense (no foi o professor que recomendou).

I CONCEITOS

Motauri 11.12.08

Interesses Difusos e Interesses Coletivos so espcies do gnero Direitos Metaindividuais.

O Cdigo de Defesa do Consumidor contm em seu artigo 81 a seguinte redao:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vtimas poder ser exercida em juzo individualmente, ou a ttulo coletivo.

Pargrafo nico. A defesa coletiva ser exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste cdigo, os transindividuais, de natureza indivisvel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste cdigo, os transindividuais, de natureza indivisvel de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrria por uma relao jurdica base;

III - interesses ou direitos individuais homogneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.1. Interesses Difusos

Direitos Difusos so aqueles que dizem respeito a um nmero indeterminvel de sujeitos, titulares de um objeto indivisvel e que esto ligados por um vnculo ftico.

Indeterminabilidade dos Sujeitos: nos interesses difusos no h como saber qual o nmero possvel de pessoas a serem atingidas por determinado dano. Verifica-se sempre que h dano populao, ou quando o dano afeta um determinado grupo de pessoas, sem que se possa, contudo, cont-las com exatido, e.g., interdio da praia de pitangueiras afetar todas as pessoas que freqentam a praia, e.g.2., contaminao dos vinhos atingir todas (e somente elas) pessoas que tomam vinho.

Note que o nmero de pessoas lesadas poderia ser aferida por meio de um censo. Todavia, isto se daria por estimao. Seria uma mdia aproximada, no exata! Ocorre que a determinabilidade deve ser feita com exatido, de forma que impossvel aferir exatamente quantas pessoas foram atingidas pela contaminao de uma praia, ainda que se faa uma mdia aproximada de seus freqentadores.Indivisibilidade do Objeto: o objeto indivisvel quando pertence a todos e a ningum ao mesmo tempo. No campo material todos possuem aquele direito. Contudo, ningum pode ir a juzo em defesa daquele interesse para si prprio. Esses direitos no podem ser solucionados de forma fragmentada. Ou resolve para todos ou para ningum, e..g, qualidade do ar na cidade de So Paulo. Todos tm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225), porm, impossvel ir a juzo pleitear boa qualidade de ar apenas para si. Ou melhora para todo mundo, ou no melhora pra ningum. Alm disso, caso a sentena de um processo individual produzisse efeitos para todos (erga omnes), extrapolaria sua limitao essencial de fazer coisa julgada apenas intra partes.

Exemplo: imagine que o Presidente de um pas desfalque as contas pblicas em $ 10 mil. Esse pas possui populao de 10 mil habitantes. Caso o Presidente restitua $ 9.990, faltariam $ 10 a serem divididos dentre 10 mil pessoas. Tem como especificar quem ser lesado? bvio que no. Todos sero lesados, pois o objeto do dano indivisvel.

Vnculo Ftico: o que faz o dano ser comum s pessoas indeterminveis uma circunstncia qualquer. O que faz toda a populao de So Paulo sofrer com a m qualidade do ar simplesmente a circunstncia de que todos moram em So Paulo.

2. Direitos Coletivos

Dizem respeito a um nmero determinvel de pessoas integrantes de um grupo, categoria ou classe, titulares de um objeto indivisvel e que esto relacionadas entre si ou com a parte contrria por um vnculo jurdico.Determinabilidade de Sujeitos: nos interesses coletivos h como chegar a um nmero exato de pessoas afetadas por determinada leso. A lei se contenta com a possibilidade de determinao, isto , no precisa saber o nmero de lesados, mas essa contabilizao deve ser possvel ( essa a diferena entre determinabilidade e determinao), e.g., eu no sei quantos scios o Palmeiras tem, mas, se eu for secretaria, posso contabilizar exatamente.

A lei exige que estas pessoas determinveis possuam um vnculo que permitam identific-las como grupo, categoria ou classe. Na verdade, a lei foi redundante, pois as trs palavras transmitem a mesma idia, isto , a de que o vnculo entre aquelas pessoas as distingue do resto da populao.

Indivisibilidade do Objeto: o trao comum com os direitos difusos. Alis, a caractersticas que transforma interesse individual em metaindividual (cujas categorias so os difusos e coletivos). Exemplo de indivisibilidade nos interesses coletivos: o Clube Paulistano possui uma dvida de $ 10 mil. Faz-se um rateio entre os 10 mil scios. Contudo, um deles no paga. Logo, faltar $ 1. A dvida continua a ser do quadro associativo e no apenas daquele que no pagou.

Vnculo Jurdico: nos interesses coletivos o vnculo sempre estar atrelado a um contrato: as pessoas determinveis contrataram entre si (e.g., formao de um condomnio. O contrato se d pela conveno condominial). Contudo, a lei inovou ao tambm considerar interesse coletivo aquele em que as pessoas determinveis contrataram com a mesma parte contrria (Interesse Coletivo Imprprio ou por extenso), e.g., todos os associados de um determinado plano de sade.

3. Interesses Individuais Homogneos

So aqueles que dizem respeito a um nmero determinvel de pessoas, titulares de objetos divisveis e que esto ligadas entre si por um vnculo ftico decorrente da origem comum das leses.

Determinabilidade dos Sujeitos: quantas pessoas compraram um Volkswagen Fox? s ver quantas vendas foram feitas.

Divisibilidade do Objeto: note que no so interesses metaindividuais. So interesses individuais! O objeto divisvel, pois h como reparar individualmente as leses, e.g., o cliente da VW pode acionar a empresa para receber individualmente a indenizao devida. Ou seja, o objeto comporta solues individualizadas.

* Ora, se no um interesse metaindividual, porque a lei o arrola junto com os outros interesses que pertencem a esta categoria (difusos e coletivos)?

que todos eles possuem um elo em comum que o fato de poderem ser defendidos por meio de aes coletivas. Pode-se dizer, assim, que o rol do artigo 81 no um rol de interesses metaindividuais, mas sim de interesses que podem ser defendidos por aes coletivas.

Vnculo Ftico decorrente da origem comum de leses: um mesmo evento causa um nmero expressivo de leses individuais. uma origem nica, e.g., a causa do dano individual foi a mesma para 10 mil clientes: falha no processo produtivo do carro. Contudo, eventualmente esse vnculo pode ser jurdico, e..g, nesta situao do recall do Fox, o vnculo acabou sendo jurdico, pois todas as pessoas realizaram contrato com a Volkswagen.

* Por que a lei autoriza a ao coletiva para proteger interesses individuais?

que o fato geraria inmeras aes com a mesma parte-r e a mesma causa de pedir. Logo, prefervel ter uma nica ao para solucionar os 10 mil danos de uma vez s. Isso leva a algumas vantagens:

- Desafoga o Judicirio que, ao invs de 10 mil aes, recebe apenas uma.

- Gera segurana jurdica, afinal, evita decises contraditrias.

- Permite que se leve ao Judicirio danos que, sem a identificao coletiva, jamais chegariam ao seu conhecimento, uma vez que, em certos casos, a leso individual nfima, mas, quando somada, gera uma leso de grante monta, e.g., um produtor de alimentos que insere 10 g a menos de comida em cada embalagem. Para o consumidor individual esta leso pequena, mas causa um enriquecimento ilcito enorme. (talvez essa acessibilidade ao judicirio seja a maior vantagem da possibilidade dos interesses homogneos serem defendidos por aes coletivas).

Os trs interesses acima arrolados podem ser tutelados por aes coletivas. Contudo, nem sempre a mesma ao que tutela os trs. Alm disso, alguns interesses podem ser difusos, coletivos e homogneos ao mesmo tempo. Depende da perspectiva com que so encarados, e.g., contrato de adeso de seguradora que retira a indenizao em caso de resciso. difuso, pois o contrato est disponibilizado na sociedade. Qualquer um pode contrat-lo. coletivo, pois lesa todas as pessoas que j contrataram. individual homogneo, pois todas as pessoas que j contrataram e desistiram sofrero os efeitos da clusula abusiva.

II MECANISMOS DE DEFESA DOS INTERESSES METAINDIVIDUAIS

1. Motivos

Se o objeto indivisvel, no h como obter reparaes individuais dos danos, uma vez que a sistemtica do processo civil impe a coisa julgada apenas entre as partes, o que incompatvel com o nmero indeterminvel de pessoas prprio dos direitos metaindividuais. Em outras palavras, o CPC um cdigo vocacionado tutela individual.

Porm, a partir do momento em que a jurisdio inafastvel, foi necessrio conceber um sistema que permitisse a tutela em juzo dessa categoria de direitos. Surgiu, ento, a Ao Civil Pblica.

2. Conceito de Ao Civil Pblica

A Ao Civil Pblica no se assemelha a um Cdigo de Processo. Na verdade, ela faz a adaptao ( um vaso comunicador) entre o processo civil comum e a defesa dos interesses metaindividuais. Tanto que a ACP sequer trata de produo de provas, recursos, intimao, execuo, etc.: um conjunto de princpios processuais que faz as adaptaes necessrias no processo civil comum para que possa haver defesa de interesses difusos e coletivos.

De acordo com a lei, destina-se reparao de danos patrimoniais e morais a danos difusos e coletivos. Pode ser movida pelo MP, DP, pessoas polticas, rgos pblicos e associaes civis (Lei. 7.347/85).

Em suma, a ao proposta pelos legitimados de que trata o art. 5 da lei, com o objetivo de tutelar interesses difusos e coletivos.

Note que o conceito formado por dois elementos:

- Subjetivos: quem o autor da ACP?

- Objetivos: qual o objeto?

Sempre que a resposta da primeira questo for legitimado do art. 5 e a da segunda for defesa de direito difuso e coletivo, est-se diante de uma ACP. Ou seja, a ACP no um tipo de processo, como ocorre com a ao popular ou o despejo. muito mais do que isso!

Exemplo dessa no vinculao da ACP a determinado rito se d pelo fato de que, se ocorrer um derramamento de leo no mar, o Ministrio Pblico pode requerer uma medida cautelar de produo antecipada de provas (para fazer a percia). Essa medida cautelar, contudo, ter natureza de Ao Civil Pblica!

Conclui-se, assim, que a ACP pode se utilizar de qualquer rito processual e de qualquer forma de execuo. irrelevante o rito, o que importa a o elemento subjetivo e o objeto da ao, conforme visto acima. NO EXISTE UM RITO DE ACP!

* Mas qual o efeito de uma ao qualquer ter esse carter de ACP?

A diferena se d na medida em que, se a ao for individual, o juiz seguir o rito do CPC. Agora, em se tratando de ACP, o juiz dever seguir princpios prprios e adaptaes.

3. Evoluo Legislativa da ACP

Lei 7.347/85 Lei da ACP

C.F. art. 129, III Erigiu a ACP ao constitucional

Lei 7.853/89 Princpios da ACP para a defesa de pessoas portadoras de deficincia.

Lei 7.913/89 Defesa dos investidores do mercado de valores imobilirios

Lei 8.060/90 (ECA). Defesa da infncia e juventude.

Lei 8.078/90 (CDC). uma Lei Geral de ACP. Seus dispositivos aplicam-se defesa de qualquer interesse difuso e coletivo e no apenas aos interesses dos consumidores.Lei 8.429/92 (Improbidade Administrativa). Defesa do Patrimnio Pblico.

Lei 8.884/94 (Lei Antitruste) Defesa da economia de mercado e da livre concorrncia.

Lei 10.257/01: (Estatuto das Cidades) Defesa dos padres urbansticos.

Lei 10.741/03: (Estatuto do Idoso) Defesa dos Idosos.

Saliente-se que h uma relao de reciprocidade legislativa entre a Lei 7.347/85 e o CDC. As leis se auto-remetem de forma absoluta (no uma aplicao subsidiria entre uma e outra). Devem ser lidas como se fosse uma nica lei. A somatria de ambas forma a base do sistema da ACP.

* Como funciona na prtica?

Quando se quer defender interesses difusos de crianas, por exemplo, primeiro vai norma especfica (ECA). Subsidiariamente, aplica-se a base do sistema (CDC + lei da ACP) e, finalmente, se necessrio, utiliza-se o CPC.

* Mas e se o Direito no tiver lei especial que preveja a tutela coletiva?

Ora, aplica diretamente a base do sistema e, subsidiariamente, o CPC.

4. Consideraesa) Rol Exemplificativo

Por meio da ACP tutela-se qualquer interesse individual. No h limite. O art. 1 da Lei da ACP contm um rol de interesses, mas meramente exemplificativo.

Alm disso, a prpria CF em seu artigo 129, III dispe que a ACP ser usada em defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

b) Questes Tributrias e Previdencirias Individualmente Determinveis

art. 5 - Pargrafo nico.No ser cabvel ao civil pblica para veicular pretenses que envolvam tributos, contribuies previdencirias, o Fundo de Garantia do Tempo de Servio - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficirios podem ser individualmente determinados.

Evidentemente esse pargrafo foi includo na lei para evitar que se promovessem aes civis pblicas em face do governo visando cobrar valores decorrentes de questes tributrias, previdencirias e de fundos de natureza institucional. Alis, h quem cogite a inconstitucionalidade do mesmo.

Contudo, deve-se salientar que tais direitos possuem natureza de direitos individuais homogneos. Dessa feita, ainda que se considere o pargrafo constitucional, a tutela desses direitos pode ser feita por outra ao coletiva: ao coletiva para defesa de interesses individuais homogneos (arts. 91 100 CDC), no sendo necessrio o ajuizamento da ACP.

c) Liberdade de Rito e de PedidoArt. 3 A ao civil poder ter por objeto a condenao em dinheiro ou o cumprimento de obrigao de fazer ou no fazer.

Na literalidade do artigo, a impresso que se tem que a ACP deve-se limitar a aes de cunho condenatrio. Todavia, essa limitao deixou de existir a partir do artigo 83 do CDC:

Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este cdigo so admissveis todas as espcies de aes capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.

Ou seja, admissvel que a ACP siga qualquer rito e contenha qualquer pedido (condenatrio, declaratrio, constitutivo e mandamental).

III COMPETNCIA DAS AES COLETIVAS

Motauri 18.12.081. Ao Civil Pblica

Determina a Lei 7.347/85:

Art. 2 As aes previstas nesta Lei sero propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juzo ter competncia funcional para processar e julgar a causa.

Pargrafo nicoA propositura da ao prevenir a jurisdio do juzo para todas as aes posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

Nota-se que, em regra, a competncia para o conhecimento das aes civis pblicas do juzo do local em que o dano ocorreu ou deveria ocorrer (vale tanto para aes preventivas, como para reparatrias).

O artigo menciona, ainda, que o juiz ter competncia funcional. Ocorre que o termo foi mal empregado, eis que a competncia funcional aquela que confere ao juiz a possibilidade privativa de atuar em determinada fase do processo. Pode ser horizontal, e.g., os jurados nos crimes do Jri. Apenas eles podem julgar em plenrio. Tambm se d de forma vertical, e.g., apenas os Desembargadores atuam na fase de recurso e, nesta fase, somente eles podem julgar. Diante disso, conclui-se que o termo foi erroneamente empregado, ainda mais se levarmos em considerao que o juiz competente para a ACP julga todas as fases destas, no apenas uma delas.

Em verdade, o termo funcional foi utilizado para significar competncia absoluta. Isso porque a competncia em razo do local quase sempre relativa (territorial), contudo, o legislador determinou que, em se tratando de ACP, a competncia seja absoluta.

1.2. Peculiaridades A) Estatuto Criana e Adolescente Dispe o artigo 209 do ECA:Art. 209. As aes previstas neste Captulo sero propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ao ou omisso, cujo juzo ter competncia absoluta para processar a causa, ressalvadas a competncia da Justia Federal e a competncia originria dos tribunais superiores.

Nota-se que o legislador do ECA valeu-se do termo correto ao empregar o termo competncia absoluta. Contudo, h uma diferenciao em relao tutela coletiva geral. Isso porque, ao tratar da tutela coletiva que visa proteger interesses de crianas e adolescentes, o ECA determinou que a competncia se dar pelo local em que ocorreu ou deva ocorrer a ao ou omisso.

Nota-se, assim, que, diferentemente da ACP, o ECA regula a competncia em razo da ao ou omisso, no em razo do local do resultado. Esse critrio mais amplo do que o da Lei 7.347/84, uma vez que a conduta lesiva pode se dar de forma simples (nico ato) ou de forma complexa (srie de atos).

Ora, se ocorrer por um nico ato, no h diferenciao entre o critrio do ECA e o da ACP. Contudo, em se tratando de uma srie de atos, o ECA mais abrangente, e.g., o Governador do Estado edita um ato que gera danos em S. Jos do Rio Preto. Pelo critrio da ACP, apenas o juzo de Rio Preto seria competente (local do resultado). Contudo, pelo critrio do ECA (ou seja, se o dano atingir crianas e adolescentes), a competncia seria concorrente entre o juzo da Capital e o de So Jos do Rio Preto, resolvendo-se pelas regras de preveno dispostas no Cdigo de Processo Civil.

b) Justia Federal

H quem diga que o artigo 2 da Lei 7.347 sofre uma exceo em razo da competncia da Justia Federal. O argumento, todavia, no merece prosperar.

De acordo com a C.F:

Art. 109. Aos juzes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal forem interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes, exceto as de falncia, as de acidentes de trabalho e as sujeitas Justia Eleitoral e Justia do Trabalho;

Vejamos a seguinte situao: uma autarquia federal (e.g., IBAMA) pratica um dano ambiental na cidade de Dracena, a competncia ser da Justia Federal, nos termos do artigo 109, I, da C.F (afinal, o IBAMA entidade autrquica federal). Contudo, a cidade de Dracena no possui Justia Federal, o que levaria o feito a ser julgado pela Seo Judiciria mais prxima, que a de Presidente Prudente. Nota-se que o juiz do local do dano (Dracena) no julgar a Ao, o que ser feito pelo Juiz de P. Prudente.

Diante disso, possvel afirmar que, nem sempre o juiz do local do fato ser competente para julgar as ACPs?

No! Isso porque, o juiz do local do dano aquele que, pelas regras de competncia e de organizao judiciria, exerce jurisdio sobre o local em que ocorreu ou deveria ocorrer o dano.

Dessa forma, se pela organizao judiciria da Justia Federal o juiz de Presidente Prudente exerce jurisdio sobre Dracena, pode-se dizer que ele sim o juiz do local do dano. No uma exceo ao artigo 2 da lei da ACP!

Corroborando com o argumento, o art. 109, I, da Constituio traz uma regra de competncia de jurisdio, enquanto o art. 2 da Lei 7.347/85 trata de uma regra de competncia de foro. Ao propor uma ao, o autor deve sempre verificar, primeiramente, a competncia de jurisdio (C.F), para depois verificar o foro (art. 2 da ACP). Os dois dispositivos aplicam-se sucessivamente, no de forma concomitante. Em outras palavras, no so excludentes!c) Fazenda Pblica

Em regra, a organizao judiciria estabelece que os processos nos quais figurar a Fazenda Pblica sero de competncia de uma Vara especializada (Vara da Fazenda Pblica).

Imagine ento que o Estado de So Paulo cometa um dano ambiental em Cedral. evidente que Cedral no possui Vara da Fazenda Pblica. Ento quem julga? O juiz da Vara da Fazenda Pblica mais prxima?

No! Isso porque a Vara Especializada est prevista em uma mera norma de organizao judiciria (3 Etapa de verificao de Competncia de juzo), que jamais pode se sobrepor norma processual do art. 2 da ACP (2 Etapa de verificao de Competncia de foro).

o inverso do raciocnio apresentado no caso da Federal. que, naquela situao, a competncia da Justia Federal se verificava na 1 Etapa (competncia jurisdicional norma constitucional) que se sobrepe competncia de foro (norma processual 2 etapa).

Dessa forma, mantm-se o artigo 2 da Lei da ACP, o que resulta na competncia do juiz do local (Cedral, no caso).

d) Dano em Duas Comarcas

Quando o dano atingir mais de uma Comarca, a competncia ser concorrente, resolvendo-se pelas regras de preveno do CPC.

2. Ao Coletiva para a Defesa de Interesses Individuais Homogneos

A tutela dos interesses individuais homogneos no pode ser feita por meio das Aes Civis Pblicas. Isso porque estas pressupem a indivisibilidade dos objetos, o que vai contra a prpria essncia do interesse individual homogneo (so danos individualmente sofridos). Em razo disso, o CDC criou uma ao coletiva para defesa de interesses individuais homogneos, prevista em seus artigos 91 a 100. Vejamos, pois, as regras de competncia em relao a essa ao:Art. 93. Ressalvada a competncia da Justia Federal, competente para a causa a justia local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de mbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de mbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Cdigo de Processo Civil aos casos de competncia concorrente.

Note que o inciso I tambm atribui a competncia ao juiz do local em que ocorreu ou deva ocorrer o dano. Contudo, no se trata de uma regra de competncia absoluta funcional, como o a da Ao Civil Pblica. Alis, o prprio inciso II admite uma exceo regra.

que, havendo dano regional, isto , quando atinge parcela expressiva do territrio brasileiro, a competncia passa a ser a da capital do Estado, ainda que ningum tenha sido lesado nas capitais.

* Mas como definir o que seria parcela expressiva?

Em outras palavras: como saber se o dano se enquadra na regra de competncia do inciso I, ou na regra do inciso II? No h definio para o que seria parcela expressiva da populao. Depende da anlise do caso concreto, tanto por parte de quem prope a ao, como do juiz que a recebe.

* E se o dano afetar 2 Estados?

Ainda assim ser regional.

*Mas ento quando passa a ser dano de mbito nacional?

o mesmo critrio aberto do dano regional. Entende-se que o dano nacional quando atingir um nmero expressivo de Estados Federados, e.g., Volkswagen vende 10 mil veculos Fox com problemas para todos os Estados brasileiros.

Nesse caso, o dano nacional, logo, a competncia concorrente entre todos juzes de todas as capitais atingidas. Em se tratando de dano nacional, nunca h competncia centralizada, mas sim concorrente!

3. Jurisprudncia Problemtica

H um dano ambiental que atinge todas as cidades da bacia do Rio Piracicaba. um dano local ou regional?

Em primeiro lugar, frise-se que o dano ambiental, via de regra, envolve interesses difusos, logo, no h como aplicar o artigo 93 do CDC.

Considerando que o dano atinge todas as comarcas da Bacia, pode-se dizer que um dano regional. Dessa forma, pela regra do art. 2 da ACP, a rigor, a competncia seria concorrente entre todos os juzes das comarcas afetadas, mas no poderia ser da Capital do Estado (salvo se ela tambm fosse afetada pelo dano, o que no ocorreu na questo ora discutida). Veja que aqui no h uma centralizao de competncia, mas sim a possibilidade de estender a competncia concorrente para a capital do Estado quando esta tambm for atingida pelo dano.

Ocorre que, recentemente, o STJ entendeu pela possibilidade de aplicar o artigo 93 do CDC s Aes Civis Pblicas, dessa forma, mesmo em se tratando de Ao Civil Pblica a capital do Estado seria competente para conhecer das aes civis pblicas de mbito regional. Haveria, portanto, uma competncia concentrada na ao civil pblica.

Mas a competncia do artigo 2 da Lei da ACP no era absoluta (funcional)? Como foi possvel o STJ flexibiliz-la? Pois ... acontece que, em todos os casos julgados, a capital tambm havia sido atingida pelo dano. O problema ocorrer quando o STJ enfrentar exatamente a questo disposta acima, isto , quando houve interesse difuso de mbito regional, mas a capital do Estado no for atingida.

IV LEGITIMIDADE ATIVA1. Ao Civil Pblica

Nos termos do artigo 5 da Lei 7.347/85:

Art. 5o Tm legitimidade para propor a ao principal e a ao cautelar:

I - o Ministrio Pblico

II - a Defensoria Pblica;

III - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios

IV - a autarquia, empresa pblica, fundao ou sociedade de economia mista;

V - a associao que, concomitantemente:

a) esteja constituda h pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteo ao meio ambiente, ao consumidor, ordem econmica, livre concorrncia ou ao patrimnio artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico.

Completando esse rol, o Cdigo de Defesa do Consumidor fixou uma legitimidade mais abrangente e genrica:Art. 82. Para os fins do art. 81, pargrafo nico, so legitimados concorrentemente:

I - o Ministrio Pblico,

II - a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito Federal;

III - as entidades e rgos da Administrao Pblica, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinados defesa dos interesses e direitos protegidos por este cdigo;

IV - as associaes legalmente constitudas h pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este cdigo, dispensada a autorizao assemblear.

Nota-se, assim, que, de acordo com o inciso III, do artigo 82, a Defensoria Pblica sempre teve legitimidade para propor a Ao Civil Pblica. Nem precisava ser includa no rol do artigo 5 da Lei da ACP.

* Sindicato pode propor ACP?

Pode, pois a legitimidade do sindicato decorre do art. 8, III, da C.F., alm de ser um tipo sui generis da associao civil (ainda que tenha um objeto bem especfico).

1.2. Natureza da Legitimao

Diz-se legitimao ordinria quando o titular do direito material coincide com o do direito processual. J a legitimidade extraordinria ocorre quando, nas hipteses autorizadas por lei, terceiro pleiteia em nome prprio, direito alheio (ou seja, o titular do direito processual diferente do titular do direito material), nos termos do art. 6 do CPC.

H uma corrente expressiva que sustenta que a legitimidade da Ao Civil Pblica possui natureza extraordinria (substituio processual), j que aqueles entes do artigo 5 agiriam em nome prprio, mas em defesa dos interesses difusos e coletivos de inmeras (ou indeterminveis, no caso dos difusos) pessoas. Esta corrente, porm, est equivocada.

No sistema do CPC, o instituto da legitimidade ariva complexo, pois envolve o direito material e processual. Isso porque s se sabe quem legitimado quando h certeza, ou ao menos previsibilidade de quem o titular do direito material.

Sob essa sistemtica, a titularidade das Aes Civis Pblicas somente poderia ser determinada quando se descobrisse a titularidade do direito material, ou seja, do direito difuso e coletivo. No caso dos direitos difusos, evidente que os titulares so indeterminveis ( de todos, mas no de ningum). J no caso dos coletivos, ainda que seja possvel determinar, a natureza indivisvel do objeto torna impossvel fracion-lo, para saber exatamente at que ponto vai a titularidade de cada um.

Ora, se no d para saber quem o titular do direito material, o artigo 6 do CPC inaplicvel Ao Civil Pblica. Em razo disso, afirma-se que, na tutela coletiva, houve uma sistemtica de legitimao puramente processual. uma legitimao autnoma para a conduo do processo.

H dois argumentos que reforam essa concluso:

Em primeiro lugar, a legitimidade ativa da ACP s admite um rol de entes. uma regra geral que no admite exceo. Logo, no h que se falar em uma possvel legitimidade extraordinria, uma vez que a lei no abre margem para tanto.

Alm disso, a legitimidade extraordinria pressupe um substituto e um substitudo. Ocorre que, em se tratando de interesses difusos e coletivos, no d para saber quem seriam os substitudos. Logo, no h substituio processual!

A legitimao do artigo 5 a nica, logo, no pode ser extraordinria. , em verdade, uma forma ordinria, mas que no tem nada a ver com a legitimidade ordinria do artigo 6 do CPC. So dois sistemas diferentes um para a defesa de interesses individuais, outro para a defesa dos interesses metaindividuais.2. Ao Coletiva para Defesa de Interesses Individuais Homogneos

2.1. Natureza

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 podero propor, em nome prprio e no interesse das vtimas ou seus sucessores, ao civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes.

primeira vista, o artigo 91 apenas faz meno ao rol do artigo 82 do CDC. Contudo, frise-se que o artigo 91 menciona expressamente que os legitimados do 82 movero a ao em nome prprio, em defesa das vtimas do ato lesivo. Conclui-se, assim, que, por expressa previso legal, a legitimidade das aes coletivas para defesa de interesses individuais homogneos uma legitimidade extraordinria. Ou seja, h substituio processual!

Mas qual o motivo?

que, nos interesses individuais homogneos, o objeto divisvel. Logo, h pessoas certas, determinadas ou determinveis, a serem substitudas.

3. Limitaes

a) Ministrio Pblico: de acordo com o artigo 127 da Constituio, cabe ao Ministrio Pblico defender os interesses sociais e individuais indisponveis. Logo, tanto na ACP como na Ao Coletiva para Defesa de Direitos Individuais Homogneos, o Ministrio Pblico somente pode agir se for na defesa de um interesse indisponvel. Cuidado! O art. 129, III, menciona que o Ministrio Pblico possui deve promover a Ao Civil Pblica em defesa dos interesses difusos e coletivos, mas no qualquer um. Isso porque todos os incisos do art. 129 devem se amoldar ao artigo 127. Ou seja, devem ser interesses difusos e coletivos INDISPONVEIS. Em regra, os interesses difusos so indisponveis, contudo, isso no vale para os coletivos, que podem ser tanto sociais (indisponveis, pertencem sociedade), como corporativos, e.g., dvida do clube paulistano. O mesmo vale para os interesses individuais homogneos, que, em regra, so disponveis.

b) Defensoria Pblica: a limitao decorre do artigo 134, da C.F: Art. 134. A Defensoria Pblica instituio essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientao jurdica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5, LXXIV.) Nota-se, assim, que a Defensoria somente pode defender os interesses dos necessitados. O problema que, sendo o interesse difuso, no h como determinar o nmero de pessoas a ser beneficiado, logo, englobaria tanto os necessitados como os no necessitados, e.g., a D.P no pode mover uma ACP para beneficiar todos os condutores de veculos, ou ento, para melhorar a qualidade do ar no Morumbi. O mesmo, contudo, no ocorre na tutela dos interesses individuais homogneos, uma vez que a defesa destes est atrelada verificao dos beneficirios concretos da medida. Se forem, em sua maioria, carentes, haver legitimidade da D.P para mover a ao. (Note como a legitimidade do MP e da DP so inversamente proporcionais. A do primeiro aumenta medida que o interesse passa de homogneo para difuso. J a da Defensoria diminui na proporo em que passa de homogneo para difuso, sendo que ambos possuem legitimidade mediana em relao aos coletivos depende da verificao no caso concreto, isto , se o grupo atingido carente ou no, no caso da DP).

c) Pessoas Polticas: tanto as pessoas polticas como os demais legitimados (IV e V) encontram limites na representatividade adequada. As pessoas polticas podem mover a ACP em defesa de qualquer tipo de interesse, desde que este interesse pertena populao que a forma e a qual lhe cabe representar, e.g., Municpio de So Paulo no pode mover uma ACP para tutelar os moradores de Campinas.

* Ora, ento a Unio possui sempre legitimidade?

No, afinal, tutela apenas os interesses de mbito nacional, no os locais. Ou seja, essa legitimidade se aplica de cima pra baixo e de baixo pra cima, e.g., a Unio no tem legitimidade para tutelar danos localizados, e.g., no pode tutelar lesados em Jundia.

d) Demais Legitimados: as associaes e entes da Administrao indireta encontram limitao na pertinncia temtica. Ou seja, ambos (e no apenas as associaes civis, como denota o artigo) apenas podem mover a ACP em defesa de interesses relacionados com suas finalidades institucionais, e.g., o IBAMA no pode ajuizar ACP para tutelar os consumidores. Da mesma forma, o IDEC no pode tutelar o meio ambiente.

* Pr-Constituio da Associao Civil

- As associaes civis ainda contam com mais um requisito, que a pr-constituio: a) esteja constituda h pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil. Isso se d para evitar o uso poltico da ACP, seno qualquer um poderia constituir a associao civil para mover uma ACP, utilizando-a como meio de presso poltica.

- Esse requisito aplica-se tanto s associaes civis, como s fundaes de direito privado e aos sindicatos.

-A constituio regular implica no registro dos estatutos sociais no cartrio de registro civil de pessoas jurdicas h pelo menos um ano.

- Os sindicatos tambm devem estar registrados no Ministrio do Trabalho.

Contudo, o legislador facultou ao juiz uma espcie de controle sobre esse possvel uso poltico da ACP, determinando que: 4. O requisito da pr-constituio poder ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimenso ou caracterstica do dano, ou pela relevncia do bem jurdico a ser protegido. A associao move a ACP e pede, na inicial, a dispensa do requisito. Se o juiz negar, indeferir a inicial.4. Legitimao concorrente e disjuntivaConcorrente porque todas as pessoas arroladas no art. 5 da lei podem propor a ACP. Todos possuem a mesma legitimidade terica, isto , agem por direito prprio. Por que disjuntiva? Todos podem propor a ao at que um dos legitimados o faz, momento no qual os demais perdem a legitimidade ativa para propor a mesma ao. No entanto, os demais no perdem o direito de agir no caso concreto (se habilitando na ao em que est em curso).

Mas qual o motivo?

Exemplo: houve um derramamento de leo no mar, razo pela qual o MP props uma ACP. Imagine que uma associao civil proponha a mesma ao. Por que a associao no pode propor? Pois haveria litispendncia! por isso que a legitimidade ativa disjuntiva. A litispendncia ocorre quando houver identidade de causa de pedir, pedidos e de partes. No caso acima, o ru igual, e o autor tambm! H identidade do titular do direito material. Quando o titular do direito material for o mesmo, h identidade no plo ativo. indiferente o nome do autor. Veja que, no caso, os titulares indeterminveis do direito pleiteado so os mesmos.

5. Litisconsrcio Ativo

Se falamos em ingresso de outro legitimado em uma ao que est em curso, trataremos de litisconsrcio ativo em uma ao que est em curso. O litisconsrcio ativo, no sistema da ACP, sempre facultativo. No existe nenhuma hiptese de litisconsrcio ativo necessrio.

H uma exceo regra do CPC. Em que pese ser sempre facultativo, ser sempre unitrio. A diferena que no processo civil, se o litisconsrcio unitrio, ele ser necessrio. Aqui ele sempre facultativo, mas unitrio (a necessidade afetar todos os autores de modo uniforme).

Pode ser formado desde a propositura da ao (inicial), j que a legitimidade concorrente, e.g., Ministrio Pblico e Defensoria Pblica podem, conjuntamente, ingressar com a ACP. Porm, o mais interessante o litisconsrcio que se forma durante o curso da ao (ulterior), que se forma por meio de habilitao (um prope a ao e o outro se habilita como litisconsrcio ativo do autor original).

O legitimado que se habilita para a formao do litisconsrcio ulterior pode entrar no processo como:

a) Assistente Litisconsorcial:o legitimado apenas adere ao, sem fazer qualquer aditamento inicial. Ele somente pode alterar o processo do momento em que entrou para a frente.

b) Litisconsorte tpico: ocorre quando o legitimado, ao se habilitar, adita a petio inicial. Ele ingressa como espelho retrovisor, isto , voltado ao que j ocorreu no processo, possuindo capacidade de alterar essa realidade histrica do processo.

A partir do momento em que so admitidos na demanda, eles assumem o plo ativo da ao e passam a ter os mesmos direitos, poderes e deveres do autor original. A nica diferena essa (in)capacidade de modificar o que j ocorreu.

5.1. Aditamento da Inicial pelo Litisconsorte Tpico

Esse aditamento pode ser feito para qualquer finalidade, podendo, inclusive, formular novo pedido. H, porm, duas limitaes:

i) pode aditar a inicial, desde que haja compatibilidade entre o aditamento e a inicial ( uma limitao lgica). Havendo compatibilidade, o aditamento pode ter qualquer contedo.

ii) sujeita-se a limites temporais previstos no art. 264 do CPC. H dois marcos quanto ao poder de aditamento da inicial: at a citao, o aditamento livre. Entre a citao e o saneamento, o aditamento depende da concordncia do ru. Aps o saneamento, no pode haver aditamento, nem que o ru concorde.

* Imagine que o litisconsorte se habilita aps a citao. Embora o litisconsorte deseje aditar a inicial, o ru no concorda. O que ocorre?

Ora, se o ru se opuser ao aditamento, o legitimado tem a possibilidade de propor uma nova demanda que, em virtude de conter outro pedido, deixar de manter vnculo de litispendncia com a anterior. Ser, no mximo, conexa.

Na assistncia litisconsorcial h apenas um acrscimo subjetivo no plo ativo da ao (de um autor, passa-se a ter dois). Contudo, no h nenhuma mudana quanto ao contedo da inicial. Ora, se no impe mudana em relao inicial, no h que se falar em momento oportuno para a formao dessa assistncia litisconsorcial. No h limite temporal! Pode ser desde a propositura at a execuo da sentena.

* Quem pode ser litisconsorte ativo na ACP?

Somente as pessoas arroladas no art. 5 da Lei da ACP e no art. 82 do CDC.

* H litispendncia entre AP e ACP?

Se um cidado prope uma Ao Popular visando reparao de um ato lesivo ao meio ambiente. Posteriormente, uma ACP proposta pela D.P. possui a mesma causa de pedir, pedido e ru. H litispendncia?

Em tese pode haver litispendncia! o mesmo raciocnio que se aplica litispendncia entre duas ACPs. Contudo, a jurisprudncia majoritria entende (de forma errnea) que h apenas conexo entre as aes, no litispendncia.

Se se admite a litispendncia entre AP e ACP, seria necessrio aceitar a possibilidade do cidado tambm se tornar assistente litisconsorcial na ACP. Ora, bastaria admitir o cidado como litisconsorte ativo da ACP. Agora, se seguir o entendimento da jurisprudncia dominante (apenas conexo) o cidado no poder ser litisconsorte ativo do autor na ACP.

6. Breve paralelo entre AP e ACP (principais diferenas)

- Legitimao Ativa

- Tipo de Direito Material a ser tutelado nas demandas

A.P: limitao constitucional (art. 5, LXXIII). a tutela do patrimnio pblico e social, da moralidade administrativa, do meio ambiente e do patrimnio cultural ( um rol exaustivo de interesses meta-individuais).

A.C.P: qualquer interesse meta-individual.

- Pedido

A.P: a limitao tambm advm do art. 5, LXXIII: somente pode ter por objeto a desconstituio do ato lesivo ao interesse por ela tratado. Eventualmente pode caber uma indenizao como conseqncia dessa anulao.

A.C.P: pede-se o que bem entender. Qualquer coisa.

* Suponha-se que houve um derramamento de leo no mar. Gerou dano ambiental, bem como lucros cessantes aos pescadores (que ficaram impedidos de trabalhar). Um nico evento gerou leso ao interesse difuso e aos interesses individuais. O particular lesado pode ser litisconsorte ativo do autor na ACP?

No! Pois a ACP no tem por objeto reparar leses individuais. Na ACP se cuida de reparar danos aos interesses metaindividuais (difuso ou coletivo). No cabe a discusso acerca dos lucros cessantes do pescador Joo ou do pescador Jos. Como conseqncia, pode-se concluir que o litisconsorte parte. E somente pode ser parte aquela pessoa a qual a sentena ir conceder ou negar o direito. A sentena da ACP no vai reconhecer o direito dos pescadores. Se no vai reconhecer, eles no podero ser litisconsortes do autor na ACP.

Todavia, a sentena que julga a ACP faz coisa julgada erga omnes, inclusive para beneficiar os particulares que sofreram leses individuais em decorrncia do mesmo evento. Se a Ao Civil Pblica ambiental for julgada procedente, a sentena beneficiar os pescadores. Ora, se beneficiar os pescadores em face dessa eficcia erga omnes, presume-se que os pescadores tm interesse jurdico na procedncia da ACP, logo, poderiam ser assistentes simples do autor! (art. 53 do CPC). Em outras palavras, litisconsorte nunca, assistente simples sim!

7. Ministrio Pblico como rgo Interveniente Obrigatrio

Se o Ministrio Pblico no props a ao, obrigatoriamente dever oficiar no processo como fiscal da lei. (art. 5, 1).

8. Desistncia da Ao Civil Pblica

Se a associao autora desistir ou abandonar injustificadamente a ao, o Ministrio Pblico dever, e os demais legitimados ativos tero a faculdade, de assumir o plo ativo do processo.

H algumas consideraes:

i) O dispositivo fala em desistncia ou abandono por associao. Contudo, a palavra associao no se limita associao civil. Qualquer que seja o legitimado ativo que desistir da ACP, aplica-se o 3. Inclusive o MP pode desistir, e.g., uma ao que tenha perdido o objeto. No h o mnimo sentido em que essa ao prossiga, sendo lgico que o autor desista, seja ele associao, MP ou DP. Agora, se for injustificada, aplica-se o art. 5, 3.

ii) A lei fala em obrigatoriedade do Ministrio Pblico. o nico legitimado que atua por fora do p. da obrigatoriedade. um direito-dever. Nesse sentido que h o dever de assumir o plo ativo da ao em caso de desistncia do autor. Os demais, contudo, tambm tero o direito de assumir o plo ativo, mas apenas a ttulo facultativo.

iii) O dever do MP ou a faculdade dos demais em assumir o plo ativo, somente ocorrer se a desistncia ou abandono for injustificada. Se a desistncia for fundada, no h dever nenhum voltado ao MP, e.g., perda do objeto da ao. Quem decide se a desistncia justificvel? uma anlise subjetiva. Se a pessoa que fizer essa anlise concluir que a desistncia injustificada, haver o dever do MP. Se entender justificada, no h dever nenhum. Quem exerce esse juzo subjetivo o prprio Ministrio Pblico.V COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Dentro do nosso sistema de defesa de direitos metaindividuais, via de regra, lidamos com direitos indisponveis. Em segundo lugar, os legitimados ativos do art. 5 no so os titulares do direito material, logo, a rigor, no poderia haver transao sobre tais direitos.

Nos termos tcnicos do Cdigo Civil (transao implica em concesses recprocas) no seria possvel a transao. Isso, contudo, no significa a impossibilidade de acordos. Est previsto no 6 da Lei 7.347/85.

Os rgos pblicos legitimados podero tomar, dos interessados, compromisso de ajustamento de suas condutas s exigncias legais, mediante cominao, possuindo o documento respectivo fora de ttulo executivo extrajudicial.

1. Tomadores do Termo

Quem pode tomar o acordo? Os rgos pblicos legitimados, nos termos do art. 5: Ministrio Pblico, Defensoria Pblica, pessoas polticas (Unio, Estados e Municpios), autarquias, rgos pblicos sem personalidade jurdica prpria (cuja legitimao vem do art. 82 do CDC), fundaes de direito pblico.

Todos estes podem tomar compromisso, desde que, no caso concreto, tenham legitimidade para mover a ao no caso concreto. Se no tiver, tambm no poder tomar o TAC. No pode, por exemplo, a D.P. tomar o TAC para cuidar de uma leso a interesses afetos classes sociais abastadas.

No podem tomar compromisso as associaes civis, os sindicatos (que so, na verdade, associaes civis) e as fundaes de direito privado.

H, porm, divergncias doutrinrias quanto ao grupo que abarca as sociedades de economia mista e as empresas pblicas. A Lei fala em rgos pblicos legitimados, e as empresas e as SEM possuem natureza jurdica de direito privado, logo, no so rgos pblicos em sentido estrito. Diante disso, i) para uma corrente doutrinria, no podem tomar o compromisso. Porm, h duas outras correntes. ii) para a segunda corrente doutrinria, se a empresa pblica ou a sociedade de economia mista uma prestadora de servio pblico, e.g., CETESB, ela poderia celebrar o compromisso de ajustamento. Porm, se atuar no mercado em regime de livre concorrncia, no poder, e.g., CEF, Banco do Brasil, Petrobrs iii) a corrente majoritria afiana que, em verdade, quando a lei fala em rgos pblicos, ela no se vale da expresso em sua acepo restrita (puramente tcnica). Assim, quando menciona rgos pblicos, refere-se a qualquer integrante da estrutura pblica ou a rgos que sejam controlados pelo Poder Pblico. Nesse sentido, as empresas pblicas e as sociedade de economia mista poderiam tomar os compromissos de ajustamento de conduta.

2. Interessados

O interessado quem causou um dano ou esteja ameaando causar um dano a interesse metaindividual.

Veja que a lei em nenhum momento menciona transao, mas sim compromisso de ajustamento de conduta. Na transao h concesses recprocas, ou seja, cada uma das partes cede parcialmente, para que cheguem a um denominador comum e realizem um acordo.

Quando se fala em compromisso de ajustamento, no se fala em concesses recprocas. Na verdade, o tomador do compromisso permanece inerte. o interessado que se obriga a adequar a sua conduta, adotar as medidas necessrias para voltar a um estado de legalidade. por isso que se chama ajustamento. um compromisso de adequao lei. Ou seja, assume o dever de no causar o dano ou de reparar o dano anteriormente causado.

Nesse sentido, no se pode ter qualquer transao, ainda que seja mnima, e.g., imagine que o interessado tenha que plantar 100 rvores. Diante disso, o tomador do compromisso no pode, de forma alguma, aceitar que o interessado plante apenas 99 rvores. O rgo pblico obrigado a exigir que haja o efetivo replantio das 100 espcies.

Mas que vantagem o interessado leva?

A rigor, se for condenado judicialmente, ele seria obrigado a fazer as mesmas coisas do compromisso, afinal, este no poder ser alvo de transao. Contudo, no compromisso pode haver transao quanto aos aspectos perifricos ao objeto.

Os aspectos perifricos abrangem: i) prazo ii) local iii) forma de cumprimento da obrigao. Em outras palavras, exige-se o replantio de 100 rvores, mas nada obsta que haja transio quanto ao prazo em que ser efeito esse replantio.

3. Acordo Parcial

Imagine que o interessado est poluindo um rio 24h por dia. O interessado se dispe a no poluir o rio das 18h s 8h. No restante, no h acordo. Pode-se fazer o compromisso de ajustamento de conduta?

Pode, a ttulo de acordo parcial. O que no se pode inserir uma outra clusula autorizando a poluir das 8h s 18h. Mas, sendo o acordo omisso, no h transao e sim acordo parcial.

Porm, a partir do momento em que o legitimado realiza um acordo parcial, ele assume a obrigao de mover uma ACP para alcanar o restante do objeto. E aqui, o dever de qualquer um que tenha tomado o compromisso parcial. Isto no transao!

4. Cominaes

O que significam as cominaes? Significa, que o compromisso deve prever uma sano para a hiptese de descumprimento da obrigao assumida, e.g., assume a obrigao de replantar 100 espcies de rvores nativas, em 50 dias, sob pena de multa diria no valor de R$ 100.

Essa cominao pode ter qualquer natureza. Geralmente estipulada sob a forma de multa, mas no obrigatrio. Poderia ser uma obrigao de fazer, entregar coisa, etc., desde que se mostre adequada a assegurar o cumprimento da obrigao especfica.

5. Fora de ttulo executivo extrajudicial

Se o acordo tem fora de ttulo executivo extrajudicial, significa que um acordo administrativo, isto , celebrado fora do processo.

H duas consideraes:

i) A eficcia do compromisso independe de qualquer outra formalidade alm da assinatura do tomador e do interessado e, na eventual hiptese de descumprimento, as cominaes so exigveis.

ii) A existncia de um compromisso de ajustamento impede a propositura de uma ACP no caso concreto? Impede, pois faltaria interesse de agir. Ora, por meio da ACP se buscaria exatamente o mesmo ttulo executivo j obtido por meio do compromisso. Em outras palavras, o compromisso faz as vezes de uma ACP de conhecimento. Descumprido o compromisso, j se pode executar diretamente a obrigao. Todavia, h duas situaes em que a existncia de um compromisso no impede a propositura de uma ACP:

- Caso seja necessrio ampliar o objeto do compromisso ( a hiptese de acordo parcial)

- Suponha que o Presidente de uma autarquia, tenha, em conluio com um poluidor, celebrado um compromisso de ajustamento fajuto, que, na verdade, no permite a reparao do dano. Ou seja, pode ser proposta uma ACP contra o contedo do compromisso de ajustamento? Sim, mas, deve-se propor a ACP para questionar o contedo do compromisso de ajustamento, devendo-se formular pedidos sucessivos: 1) Resciso do compromisso de ajustamento 2) Requerer a condenao do ru ao cumprimento da obrigao que efetivamente deve ser realizada. Nesse caso, deve-se acionar tanto o tomador como o interessado (litisconsrcio passivo necessrio). O problema que, tanto a Defensoria Pblica como o Ministrio Pblico no possuem personalidade jurdica prpria, caso sejam os tomadores, a ACP deve ser movida em face do Estado.

6. Acordos Judiciais

Ora, se se permite o acordo administrativo, bvio que pode haver acordo judicial, afinal, neste caso, h o controle jurisdicional. um plus. H algumas questes:

Situao 1: ao movida por litisconsrcio ativo (e.g., MP e DP). No curso do processo, o Ministrio Pblico e o ru chegam a um acordo. A Defensoria se ops homologao. O acordo pode ser homologado? No! Afinal, o litisconsrcio facultativo, mas sempre unitrio. Dessa forma, a sentena deve afetar A e B do mesmo modo. No possvel homologar um acordo que afeta a A, sem que isso tambm sujeite B, da mesma forma. Em outras palavras, havendo oposio de litisconsorte ativo em acordo realizado dentro do processo, o acordo no pode ser homologado pelo juiz em virtude da unitariedade do litisconsrcio. Todavia, a impugnao do outro litisconsorte deve ser fundada.

Situao 2: imagine que h uma ao na qual a Defensoria Pblica faz um acordo com o ru. Uma autarquia resolve ingressar no processo como assistente litisconsorcial apenas para impugnar o acordo. possvel? Sim, pois, uma vez habilitado, ele passa a ser parte, configurando a situao 1 (acima). Agora, vamos supor que, quando a autarquia se habilitou, o juiz j havia homologado o acordo. A autarquia poderia impugnar o acordo celebrado? Apenas por meio de apelao da sentena. E se a sentena homologatria j houvesse transitado em julgado? Sim, apenas por meio de ao anulatria, nos termos do art. 486 do CPC. No por rescisria!

Situao 3: autor e ru chegaram a um acordo. Contudo, naquele processo, o MP atuava como fiscal da lei (no era parte). O MP pode impugnar o acordo celebrado pelas partes? Pode, de dois modos distintos: i) como fiscal da lei. Nesta hiptese, sua impugnao no vincula o juiz, que pode homologar o acordo. O MP poder apelar. ii) pode alterar sua posio no processo, ingressando no plo ativo, impugnando o acordo. Neste caso, volta-se primeira situao (a impugnao vincula o juiz). Esta segunda hiptese uma decorrncia dos 1 e 3 do art. 5: o MP pode sempre optar pela posio que quiser ter na ao, em qualquer momento. Saliente-se, porm, que ele nunca pode deixar de ser plo ativo para ser fiscal da lei, mas pode fazer o caminho inverso (ora, basta pensar que, se no caso de abandono ele tem o dever de assumir o plo ativo, o que dizer ento da situao em que pode haver transao irregular de um direito indisponvel?).

* O juiz est vinculado homologao do acordo?

No, pois se o direito indisponvel, o juiz tem o dever de controle de eventual acordo. Se entender que est havendo transao, pode negar homologao ao acordo. Se o processo estiver pronto para o julgamento, o juiz deixa de homologar o acordo na sentena e, em seguida, julga o mrito da ao. Agora, e se o processo ainda precisar de instruo? O juiz nega a homologao, restando apenas intimar as partes para darem andamento ao feito sob pena de extino sem resoluo do mrito (provavelmente no daro, j que desejavam fazer o acordo negado). Neste caso, o direito material ser preservado, havendo disposio apenas do processo.

VI LIMINAR E ANTECIPAO DE TUTELA NA ACP

O art. 12 da Lei da ACP determina o cabimento de liminar dentro de qualquer ACP, com ou sem justificao prvia, em deciso sujeita a Agravo. No sistema da ACP no so necessrias aes cautelares incidentais, pois, qualquer pedido de liminar pode ser feito no bojo da prpria ao de conhecimento.

O art. 84, 3, assim como o art. 213 do ECA introduziram o instituto da antecipao da tutela no ordenamento brasileiro. Nas ACPs, o juiz poder conceder liminarmente a tutela sempre que entender relevantes os fundamentos da demanda ou quando houver justificado receio de ineficcia do provimento final. Ora, conceder liminarmente conceder antes. Logo, antecipar a tutela.

Para que o juiz antecipe a tutela nos termos do art. 273 do CPC, necessrio cumprir vrios requisitos (reversibilidade da deciso, prova inequvoca da existncia do direito, etc).

H, portanto, uma diferena entre os sistemas, afinal, no CDC exige-se apenas a relevncia dos fundamentos da demanda (fumus boni juris) e receio de ineficcia do provimento final (periculum in mora). Ou seja, no sistema das ACPs, a antecipao de tutela pode ser concedida quando presentes apenas os dois requisitos. No CPC eles bastam apenas para liminares no antecipatrias. No sistema das ACPs bastam para qualquer liminar, mesmo que antecipem a tutela.

Por que essa diferena? Em primeiro lugar, porque o CPC lida com direitos individuais e disponveis, enquanto as ACPs lidam com direitos metaindividuais e indisponveis. Em face dessa maior magnitude dos direitos tutelados, o mecanismo de tutela antecipada deve ser mais flexvel do que aquele previsto no CPC.Esse mecanismo de liminares flexveis vale tanto para a ACP como para a Ao Defesa Interesses Homogneos. Alm disso, serve tambm para aes em defesa de interesses individuais, desde que afetos a consumidores ou a crianas e adolescentes.

* Medidas Cautelares contra Poder Pblico

Em 1992 foi promulgada a Lei 8.437 que dispe sobre a concesso de liminares em Aes Coletivas movidas em face do Poder Pblico:

Art. 2 No mandado de segurana coletivo e na ao civil pblica, a liminar ser concedida, quando cabvel, aps a audincia do representante judicial da pessoa jurdica de direito pblico, que dever se pronunciar no prazo de setenta e duas horas.

Note que, a primeira vista, passa-se a impresso que o artigo veda a concesso de liminar inaudita altera partes, isto , sem oitiva do ru, quando este for o Poder Pblico.

Imagine ento que o Municpio de So Paulo esteja praticando uma leso em face da qual proposta uma ACP com liminar. Em face do art. 2 da mencionada lei, o juiz estaria impedido de apreci-la, no podendo tomar qualquer medida para obstar o dano, at que fosse ouvido o Municpio.

Ocorre que, pelo princpio da inafastabilidade da jurisdio, o art. 2 estaria impedindo o Judicirio de apreciar ameaa de leso a direito. Diante disso, passou-se a questionar a inconstitucionalidade do art. 2, de forma que a soluo foi interpret-lo conforme a Constituio: o juiz deve receber a inicial e, caso verifique a ocorrncia iminente do dano antes das 72h (dano atual) poder apreciar a liminar. Todavia, se estiver na iminncia de ocorrer, mas for possvel aguardar as 72h, no h razo pela qual no se ouvir o Poder Pblico.

* Suspenso da Execuo de LiminaresArt. 4 Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execuo da liminar nas aes movidas contra o Poder Pblico ou seus agentes, a requerimento do Ministrio Pblico ou da pessoa jurdica de direito pblico interessada, em caso de manifesto interesse pblico ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas.

A mesma Lei 8.437, reproduzindo a regra do art. 12, 1, da Lei das ACP, regula a suspenso da execuo de liminares em razo de: i) manifesto interesse pblico ii) flagrante ilegitimidade iii) resguardo da ordem pblica, sade e segurana.

O rgo pblico interessado poder pedir ao Presidente do Tribunal a suspenso da execuo da liminar, cuja deciso estar sujeita a agravo para uma das Turmas Julgadoras. Note que esse pedido privativo de rgo pblico. Isso porque, em regra, da deciso que concede liminar cabe o agravo de instrumento normal... ordinrio... Acontece que esse pedido do Poder Pblico uma alternativa que pode ser usada at de forma cumulativa ao agravo. uma arma a mais para que o Poder Pblico obste a concesso da liminar em ao coletiva.

Em termos prticos, para que o Tribunal determine o efeito suspensivo no agravo, preciso demonstrar os mesmos requisitos da prpria liminar, isto , periculum in mora (relevantes fundamentos recursais) e fumus boni juris, e.g., uma ACP que vise obstar o lanamento de esgoto no Rio Tiet pelo Estado de So Paulo teria por fundamento os princpios da Constituio Estadual e Federal, logo, o juiz no poderia negar a liminar. Quando o Poder Pblico agravar, tampouco conseguir efeito suspensivo, eis que no h relevantes fundamentos recursais.

O mecanismo do art. 4 ganha relevncia justamente em razo dessa dificuldade que o Poder Pblico encontra em obter efeito suspensivo em sede de Agravo de Instrumento. que, embora o magistrado tenha agido corretamente ao determinar a liminar, no h como o Poder Pblico obstar imediatamente o despejo de dejetos no Rio Tiet. faticamente impossvel. Isso porque a demanda exigiria a construo imediata de estaes de tratamento, o que invivel. Acontece que, se o Estado desviar o esgoto do Rio Tiet, todo o dejeto precisar ficar armazenado em algum local. Ora, sem as estaes de tratamento, haveria um grave risco sade pblica, razo pela qual o Presidente do Tribunal poderia suspender a liminar, nos termos do mencionado art. 4.

Esse pedido tem natureza de incidente processual. No uma ao porque no h contraditrio. Tampouco recurso, pois no h poder de reforma da deciso anterior (afinal, se o Presidente aceitar o pedido, a liminar continuar a existir sem qualquer reforma, ainda que com eficcia suspensa). Lembre-se, porm, que apenas rgos pblicos podem lanar mo deste pedido (o que inclui MP e DP).VII PRINCPIOS PROCEDIMENTAIS EM DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGNEOS1. Anlise Positiva

Inicialmente, o professor salienta que um direito difuso pode tambm ser coletivo e homogneo. Isso porque um mesmo fato pode lesar 3 interesses ao mesmo tempo (v. tpico 3, fls. 3, exemplo VW-Fox).

Essa constatao leva a uma indagao: em casos como estes, deve-se mover uma ACP para tutelar os interesses difusos e, concomitantemente, uma ao para defender os interesses individuais homogneos? No! Ajuiza-se apenas uma, aplicando-se os princpios especficos de cada uma na medida em que for necessrio.

Mas por que o CDC possui princpios especficos para a defesa dos interesses individuais homogneos? que, na ACP, o objetivo no a reparao de danos individuais, mas sim a reparao do dano em nvel marco. J na defesa dos interesses homogneos o objetivo justamente reparao individual. Por essa razo h mecanismos processuais diferenciados:

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 podero propor, em nome prprio e no interesse das vtimas ou seus sucessores, ao civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes

Esse artigo remete legitimao do art. 82. Porm, o que difere a forma de legitimao. No sistema da ACP, a legitimao autnoma, isto , no h aplicao do art. 6 do CPC (substituio processual). J nas ADIH, os interesses so individuais e pertencem a pessoas determinveis, cabendo a substituio processual nos termos do art. 6, ou seja, a legitimao nas ADIH extraordinria.Art. 93. Ressalvada a competncia da Justia Federal, competente para a causa a justia local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de mbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de mbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Cdigo de Processo Civil aos casos de competncia concorrente.

No inciso I, a regra similar quela contida no art. 2 da Lei da ACP. Contudo, naquela fala-se em competncia funcional ( uma competncia territorial absoluta). J no art. 93, a regra de competncia meramente territorial, ou seja, relativa (embora isso no seja pacfico).

O inciso II trata da hiptese de dano de mbito regional ou nacional. Mas quando o dano deixa de ser local e passa a ser regional? H duas teorias:1) O dano passa a ser regional quando atingir moradores de mais de uma comarca.Essa teoria possui um defeito essencial: afasta a competncia do juiz mais prximo da causa, transferindo-a ao juiz da capital, e.g., em um dano ocorrido nos municpios de Rosana e Teodoro Sampaio, a competncia seria transferida para o juiz da Capital, que sequer conhece a realidade social daqueles Municpios. Isso deturpa o prprio objetivo do sistema. Alm disso, dificilmente uma associao civil da regio conseguiria se deslocar capital para mover a ao (impede o acesso Justia).

2) O dano passa a ser regional quando atingir parcela expressiva do territrio com o qual se estiver lidando.

Essa teoria pacfica no STJ. Parcela expressiva do territrio no um termo quantificvel em termos matemticos, cabendo ao autor da ao e ao juzo de admissibilidade (avaliao subjetiva) decidir, respectivamente, onde propor e se recebe a ao.

Mas quando o dano deixa de ser regional e passa a ser nacional?

1) Quando afeta mais de um Estado.

2) Quando afeta uma parcela expressiva dos Estados membros.

Note que a segunda teoria muito semelhante segunda teoria do dano regional, e.g., se houve um dano a interesse individual homogneo envolvendo veculos da VW vendidos do Par ao Rio Grande do Sul. Pelo art. 109 a competncia no federal, logo, residualmente a Justia competente ser a Estadual.

Nesse caso, a competncia ser concorrente entre os juzes de todas as capitais dos Estados ou do D.F. (que no mencionada aqui como capital da Repblica, mas sim como unidade federada assemelhada aos Estados membros).

Art. 94. Proposta a ao, ser publicado edital no rgo oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuzo de ampla divulgao pelos meios de comunicao social por parte dos rgos de defesa do consumidor.

Ao receber a inicial, o juiz mandar publicar edital, o qual tem por finalidade chamar os particulares lesados para que se habilitem como litisconsortes na ADIH. Isso incompatvel com a ACP, pois o particular lesado jamais pode ser litisconsorte do autor. Na ADIH por outro lado, a lei visa justamente a formao do litisconsrcio.

Voltando ao exemplo da VW, o comprador do veculo sempre ter a ao individual de reparao de danos. Contudo, como a leso atinge um nmero grande de indivduos, a lei permite que ingressem como litisconsortes na ao coletiva.

A questo : quais os reflexos de uma ao individual na ao coletiva e vice-versa? Vejamos as seguintes situaes:1) Particular move uma ao individual contra a VW com a mesma causa de pedir e pedido da ao coletiva. Se o individual quiser se habilitar como litisconsorte na ao coletiva, ser obrigado a desistir da ao individual, caso contrrio restar configurada a litispendncia.

2) J h uma ao individual e, posteriormente, move-se uma ADIH pelo mesmo motivo. Neste caso, o particular pode pedir a suspenso a ao individual. Se a ao coletiva for julgada procedente, a ao far coisa julgada erga omnes. Neste caso, o particular obter um ttulo executivo, logo, no precisa mais da ao individual. Agora, se for improcedente, a sentena ter apenas eficcia de coisa julgada material (intra partes). Logo, o particular no ser afetado, podendo retomar o curso da ao individual e, eventualmente, ganhar o que foi negado na ao coletiva.* Por quanto tempo o curso da ao individual ficar suspenso?

Essa suspenso no respeita o art. 265 do CPC. A ao individual ficar suspensa at o trnsito em julgado da ao coletiva.

3) Particular toma cincia da ao coletiva, mas resolve prosseguir com a ao individual.

Neste caso, no ser alcanado de forma alguma pela sentena da ao coletiva, ou seja, no se beneficiar pela eficcia erga omnes dessa sentena.

4) Particular no ingressa com a ao coletiva, nem prope a ao individual.

Caso a ao coletiva seja procedente, ele ser beneficiado pela eficcia erga omnes e apenas executar a sentena. Agora, se for improcedente, poder ingressar com a ao individual, desde que no tenha ocorrido a prescrio, evidentemente.

* Lembre-se que a propositura da ao coletiva interrompe a prescrio para todos os lesados. At para aqueles que se mantiveram inertes.

Art. 95. Em caso de procedncia do pedido, a condenao ser genrica, fixando a responsabilidade do ru pelos danos causados.

O poder de deciso do juiz na ADIH limitado devendo ir apenas at o ponto em que o dano for comum a todos os lesados, ao contrrio da ACP em que no h limite. Note que na ADIH no h fixao de indenizao, pois os danos podem ser diferentes para cada lesado, e.g., motorista de taxi ser mais lesado do que um indivduo que possui 2 carros.

Art. 97. A liquidao e a execuo de sentena podero ser promovidas pela vtima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

A liquidao de sentena poder ser promovida, inclusive, pelos sucessores da vtima, alm dos legitimados do art. 82. Note, porm, que essa legitimao no concorrente. Quem tem o direito de liquidar so as vtimas, que o fazem por liquidaes individuais (o que facilita a quantificao do dano individual). Porm, os legitimados do 82 tambm podero liquidar, mas de forma subsidiria, isto , apenas na hiptese do art. 100 (v. abaixo). Ou seja, se houver habilitao de lesados em nmero compatvel, no h legitimidade do art. 82 para promover a execuo.Art. 98. A execuo poder ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vtimas cujas indenizaes j tiveram sido fixadas em sentena de liquidao, sem prejuzo do ajuizamento de outras execues.

A execuo pode ser coletiva, sendo movida pelos legitimados do art. 82 e abrangendo as vtimas cuja indenizao tenha sido fixada em liquidao de sentena. uma exceo! uma execuo coletiva de liquidaes individuais, e.g., a Defensoria Pblica pode reunir 100 liquidaes julgadas e executar todas juntas. Mas e se, posteriormente, aparecerem mais 60 liquidaes individuais? No h problema, basta que o legitimado do art. 82 ajuze uma nova execuo coletiva (ou seja, pode haver 2 ou mais execues coletivas).

Imagine que o dano foi nacional e a ao foi julgada em So Paulo. Isso significa que um lesado em Manaus precisar se deslocar at SP para liquidar a sentena (j que a regra de que a liquidao se d no foro da execuo)? Pela aplicao do processo comum sim, mas no sistema do CDC h 2 juzos igualmente competentes para a liquidao da sentena:

i) juiz da condenao.

ii) juiz do domiclio da vtima.

O grande problema que o art. 475 no prev mais a extrao de carta de sentena, sendo incompatvel com o sistema do CDC. Dessa forma, a liquidao individual dever seguir a sistemtica antiga (extrai a carta de sentena em SP e liquida em Manaus). J a liquidao coletiva segue a sistemtica nova.Art. 99. Em caso de concurso de crditos decorrentes de condenao prevista na Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizaes pelos prejuzos individuais resultantes do mesmo evento danoso, estas tero preferncia no pagamento.

Essa prioridade de recebimento vale tanto nas ACPs como nas ADIH.

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitao de interessados em nmero compatvel com a gravidade do dano, podero os legitimados do art. 82 promover a liquidao e execuo da indenizao devida.

Aps 1 ano do trnsito em julgado da sentena que julgou procedente a ao, caso no haja habilitao de lesados em nmero compatvel com a lesividade do dano, os legitimados do art. 82 promovero a liquidao e a execuo do remanescente, cujo valor ser destinado ao fundo previsto no art. 13 da Lei 7.347/85.

A previso para os legitimados liquidarem a sentena surge do fato de que, s vezes, toda a mquina movida para reparar um dano grave sob o ponto de vista social, mas nfimo sob o ponto de vista dos particulares lesados, que podem no se interessar. Logo, a legitimao do art. 100 visa garantir que o ttulo executivo no se torne incuo.* Mas quando no h nmero compatvel de lesados?

No h resposta. Cabe uma avaliao subjetiva por parte dos legitimados do art. 82.

Imagine que uma associao civil executou a sentena da ADIH e obteve R$ 30 mil e mandou para o Fundo. E se aparecer um particular? Ele ainda poder executar a ao coletiva? Sim, pois o prazo de 1 ano no preclusivo, mas meramente ordenatrio (para possibilitar a execuo pelos legitimados do art. 82).

A situao se torna fcil se o legitimado possuir direito a um montante inferior queles R$ 30 mil, pois a o dinheiro retirado do fundo e repassado ao particular. Mas e se ele possuir direito a uma indenizao de R$ 35 mil? Neste caso, os R$ 30 mil sairo do fundo e o excedente dever ser cobrado do ru.

VIII EFEITOS DA COISA JULGADA NO SISTEMA DA TUTELA COLETIVA

Os efeitos da coisa julgada na tutela coletiva so definidos pelos artigos 16 da Lei 7.434/85: eficcia erga omnes, exceto na hiptese de improcedncia por insuficincia de provas. Neste caso, a ao poder ser reproposta com fundamento em novas provas. Posteriormente, o art. 103 do CDC regulou melhor as situaes:1) Sentena de procedncia da ACP em defesa de interesses difusos

Nos termos do art. 103, possuir efeitos erga omnes. Se a sentena vedar determinada prtica, esta vedao alcanar ao ru da ao e qualquer terceiro que exera atividades similares.

Nestes casos, a sentena beneficiar, inclusive, particulares que tenham sofrido leses em decorrncia do mesmo evento, os quais podero liquidar e executar a sentena da ACP para serem indenizados.

O professor salienta que o real efeito erga omnes que haver a transferncia de todo o contedo da ACP para a via individual, ou seja, tudo que foi resolvido na ACP no poder ser discutido novamente na via particular (a existncia de dano, conseqncias, causador, etc.

2) Sentena de procedncia da ACP em defesa de interesses coletivos

Faz coisa julgada ultra partes, limitada aos integrantes do grupo, categoria ou classe de pessoas tutelados no processo.

* Por que ultra partes invs de erga omnes?

Em regra, os termos so sinnimos, porm, erga omnes quer dizer mais do que ultra partes. Isso porque os interesses difusos dizem respeito a um nmero indeterminvel de pessoas, logo, no h como limitar o efeito externo da deciso (beneficia qualquer um). J nos interesses coletivos h a determinabilidade dos sujeitos, sendo possvel delimitar o grupo de interessados.3) Sentena de improcedncia da ACP

Ela faz coisa julgada material. Isso porque faz coisa julgada formal apenas a sentena que no julga o mrito. No caso, o juiz julgou a ao improcedente, ou seja, nos termos do 269, I. Contudo, obtidas novas provas, a ao pode ser reproposta. Como fica esse conflito aparente?

Essa sentena tem a mesma natureza jurdica da sentena que condena o ru ao pagamento de penso alimentcia. Nesta tambm h extino com resoluo de mrito e coisa julgada material. Todavia, havendo mudana na situao econmica do alimentante, pode haver ao pleiteando a reviso dos valores (ao revisional). Ou seja, a prova nova admite a repropositura da ao alimentar, mas agora sob o rtulo de ao revisional.

O art. 103 do CDC expresso ao determinar que a eficcia externa da sentena de improcedncia da ACP no prejudicar os particulares que foram lesionados em decorrncia do mesmo evento. Volte ao exemplo do derramamento de leo no mar. Todos os pescadores sero beneficiados em caso de procedncia. Agora, se a ACP for improcedente, nada obsta que um pescador ingresse individualmente em juzo (com uma ao de conhecimento) e tenha reconhecido o direito de obter lucros cessantes em razo disso.

Ora, mas se o efeito externo no atinge os prejudicados, quem seria os terceiros afetados pela eficcia externa da sentena?

O professor entende que ningum ser atingido. Porm, h corrente doutrinria que sustenta que os demais legitimados a ACP seriam prejudicados, pois, uma vez improcedente, os demais legitimados no poderiam propor novamente a ACP, e.g., DP move uma ao que julgada improcedente. MP no poderia propor a mesma ao.

Contudo, isso no tem fundamento, pois a legitimao ativa concorrente e disjuntiva (proposta a ao por um dos legitimados, os outros perdem o direito de propor a mesma ao, evitando assim a litispendncia). Ora, a diferena entre coisa julgada e a litispendncia apenas o tempo em que a segunda ao proposta. Em outras palavras, os demais legitimados no so terceiros, pois h um grave erro tcnico no art. 103. uma incoerncia lgica, pois, se as sentenas tm efeito externo, elas no podem deixar de afetar os particulares lesados...

4) Sentena que Julga Procedente a Ao em Defesa de Interesses Individuais Homogneos

A sentena possui eficcia erga omnes: todos os particulares lesados tero um ttulo executivo. Contudo, h uma exceo (art. 103, 2 c.c. 103): ela no ter efeito quanto os particulares que tenham movido aes individuais e que no tenham pedido a suspenso destas aes no prazo de 30 dias aps o ajuizamento da Ao Coletiva.

5) Sentena que Julga Improcedente a Ao em Defesa de Interesses Individuais Homogneos

Pelo art. 103 essa sentena faz coisa julgada material. Portanto, s afetar as partes da relao jurdica processual: todos os legitimados ativos que no podero repropor a mesma ao, em face da coisa julgada material. Alm disso, atingir todos os particulares lesados que, atendendo ao edital do art. 94, tenham se habilitado como litisconsortes do autor na ao coletiva. Todavia, no alcanar os demais lesados (continuaro tendo ao individual).

Nos interesses difusos e coletivos, o fundamento do julgamento da ao irrelevante, pois se for julgada improcedente, poder ser proposta com novas provas. J na Defesa de Interesses Homogneos, quer ela decorra da insuficincia de provas, ou de qualquer outro fundamento, no poder ser reproposta a ao, ainda que surjam novas provas (s caberia ao rescisria, eventualmente).

* Alteraes

O art. 16 da Lei 7.347/85 foi alterado, fazendo constar que a sentena far coisa julgada erga omnes nos limites da competncia territorial de seu prolator. Ou seja, essa lei alteradora quis limitar a eficcia da sentena, e.g., na capital do Estado de SP foi proposta uma ACP para impedir a venda de um medicamento que afeta a sade. Ora, se ela foi julgada procedente, isso significaria que o remdio jamais poderia ser vendido na capital, mas poderia ser vendido nas outras Comarcas...

Justamente por ser uma aberrao jurdica, foi ajuizada uma ADIN em face da lei alteradora com 2 fundamentos de inconstitucionalidade:

i) violao isonomia art. 5, caput: (se o medicamento prejudicial sade, ele prejudicial a todos, no apenas queles que moram na capital. Ao limitar o efeito da coisa julgada, cria-se uma situao de desigualdade entre iguais).

ii) violao garantia da inafastabilidade da jurisdio art. 5, XXV: ora, se h limitao comarca do prolator, para proibir o medicamento deveria entrar com a ao em todas as Comarcas do Brasil. Isso impediria o controle judicial de interesses difusos e coletivos. At porque corre-se o risco de decises contraditrias.

iii) O art. 103 do CDC tratou inteiramente do objeto do art. 16 da Lei da ACP. Ora, lei nova que trata inteiramente de matria tratada em lei interior revoga esta. Em outras palavras, o CDC revogou o art. 16 da Lei da ACP. A nova lei alterou o art. 16, concedendo efeito repristinatrio a este, mas, pela LICC, esse efeito repristinatrio deve ser expresso, logo, mantm-se a aplicao do 103.

O STJ entende que, se a sentena vier de um juiz estadual, far coisa julgada dentro do territrio do Estado (no da comarca). uma aplicao parcial do art. 16. Agora, se a sentena vier de um juiz federal, o prprio STJ ignora o art. 16, entendendo que far coisa julgada no Brasil inteiro.

Alm disso, o STJ tambm decidiu que essa limitao territorial no se aplica aos interesses individuais homogneos, mas sim apenas aos interesses difusos e coletivos. Isto porque a Lei da ACP no fala em interesses individuais homogneos, afinal, esses so tratados no CDC. No h como fazer uma aplicao extensiva do art. 16. Ou seja, se a sentena da A.C de I. Homogneos partir de um juiz estadual, ela far coisa julgada no Brasil inteiro.

IX - DIREITO AMBIENTAL

Bibliografia

- Interesses Difusos em Espcie - Motaury. Ed. Saraiva

- Direito do Ambiente Edis Milar. Ed. RT.

1. Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente 6.938/81

1.1. Conceitosa) Meio Ambiente: o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Qual o alcance desse conceito?

absolutamente ilimitado. Isso porque, de acordo com o conceito legal, tudo que tenha existncia material considerado meio ambiente! Uma caneta, o a cidade, ar, gua, etc. um conceito inesgotvel e abrange qualquer coisa que tenha ao menos um elemento qumico, fsico e biolgico. Ora, tudo que existe possui ao menos um desses elementos. Se no tiver, fico. Alm disso, tudo que material interfere em ao menos uma forma de vida. Tudo se relaciona de alguma forma com a vida. Por isso o conceito ilimitado.

Justamente em razo dessa amplitude, h uma diviso desse conceito. Fala-se em 4 espcies de meio ambiente:

i) Natural: composto pelas formas de vida e pelos elementos da natureza (fauna, flora, homem, gua, ar e solo.

ii) Artificial: decorrente de intervenes humanas nos elementos da natureza. So as alteraes que o homem faz nos elementos da natureza, com o objetivo de melhorar a sua qualidade de vida, e.g., cidades, fazendas, represas artificiais.

iii) Cultural: formado por bens de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico. Em outras palavras, ser cultural quando o bem possuir um valor diferenciado para o ser humano. Uma maior relevncia, e.g., o prdio do outro lado da esquina no tem valor cultural nenhum... H outras centenas de prdios iguais a este. Agora, se resolvem demolir o Museu do Ipiranga, evidente que este tem um valor diferenciado, o que lhe d a natureza de bem integrante do patrimnio cultural (sinnimo de meio ambiente cultural).

iv) Trabalho: o espao hgido e sem periculosidade em que se desenvolve a atividade laborativa.

Para cada acepo h uma norma de proteo:

Natural Direito Ambiental em sentido estrito (tutelado pelo art. 225, C.F)

Artificial Direito Urbanstico (Estatuto das Cidades)

Cultural Direito Administrativo - Tombamento (Decreto-Lei 25/37 e art. 216, CF)

Trabalho Direito do Trabalho (CLT Sade e Segurana do Trabalhador) - art. 200, VII, CF

b) Degradao da Qualidade Ambiental: (inciso II, art. 3) a alterao adversa das caractersticas do meio ambiente.

c) Poluio: (inciso III, art. 3): a degradao da qualidade ambiental causada por atividade.

Note que a degradao da qualidade ambiental gnero do qual poluio espcie. O que define juridicamente poluio a palavra atividade, esta algo exclusivo do ser humano. As demais vidas no exercem atividade, mas sim funes ambientais. Logo, o conceito correto de poluio seria: a degradao da qualidade ambiental causada pelo homem.

Mas qual seria uma degradao da qualidade ambiental no causada pelo homem? Um raio que incendeia a floresta. Um maremoto que destri determinado local. H degradao, mas sem poluio!

Em suma, a degradao pode decorrer de fatores naturais ou humanos. Se decorrer de humanos, ser a degradao na espcie poluio, e.g., desmatamento, pesca predatria, caa clandestina (ainda que parea estranho).

d) Poluidor: (inciso IV): qualquer pessoa fsica ou jurdica responsvel direta ou indiretamente por degradao da qualidade ambiental.

2. Constituio Federal

2.1. Introduo

O art. 170 da C.F. arrola os fundamentos da ordem econmica brasileira, sendo que um deles a preservao dos recursos ambientais.

Em seu ttulo dos direitos sociais, a Constituio atribuiu um captulo ao meio ambiente. Logo, este um direito social por excelncia e, como tal, possui natureza de direito fundamental. Ele regulado em um nico artigo, mas que possui suma importncia: art. 225.

Esse artigo to importante que a doutrina o define como norma matriz ou norma princpio do direito ambiental brasileiro. Vejamos seu contedo:

- O meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito e um dever, pois, todos (poder pblico e comunidade) tem o dever de preserv-lo.

- O Direito Ambiental visa proteger a vida humana, isto , visa permitir que o homem tenha uma vida saudvel. O homem tem dependncia dos recursos ambientais, sem os quais no h vida humana. Nesse sentido que se fala em viso antropocntrica do direito ambiental, pois este s se justifica enquanto instrumento assecuratrio da vida humana.

2.2. Princpios

Alm disso, possvel extrair 3 princpios do art. 225:

a) Princpio da Ubiqidade: em face de sua importncia como indispensvel vida humana, o direito ambiental deve estar no ncleo de toda e qualquer proposta poltica (poltica pblica). Ou seja, o direito ambiental interfere em todas as demais reas da cincia jurdica. um direito multifacetado (da a ubiqidade).

b) Princpio da Participao Popular / Social: o art. 225 deterimna que dever de todos proteger e preservar os recursos ambientais. Esse dever de proteo no um dever passivo, isto , a sociedade tem o dever de atuar na proteo dos recursos. Nessa perspectiva, para que se assegure essa participao, tanto a C.F. como as leis trazem diversos mecanismos de participao popular (gerais e especficos):

- Gerais:

i) Iniciativa popular de projetos de lei.

ii) Ao Popular (art. 5, LXIII).

- Especficos:

i) Estudo Prvio de Impacto Ambiental / RIMA ( art. 225, 1, IV da C.F). o mais importante instrumento de proteo ambiental e deve ser dotado de publicidade (da a possibilidade de participao popular). Foi por causa disso, alis, que surgiram as audincias pblicas, que so destinadas apresentao e execuo de EIA/RIMA.

ii) CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.981). um rgo consultivo e deliberativo em matria ambiental. Deve assessorar o Presidente da Repblica na formulao e execuo de polticas pblicas ambientais. consultado antes do lanamento da poltica pblica, opina sobre esta, fiscaliza seu exerccio e adota eventuais medidas que se mostrem necessrias efetiva preservao dos recursos ambientais. Alm disso, fixa padres de qualidade ambiental, e.g., nvel mximo de rudo a ser emitido no Brasil, limite de poluio por veculos, composio de gua para ser considerada potvel.

um colegiado de composio paritria: 50% dos integrantes so indicados pelo Governo e 50% so eleitos pela sociedade civil, dentre seus integrantes (especialmente pelas ONGs ambientais). Esse conselho influenciou os demais Conselhos de Direitos.

c) Princpio da Preveno: consiste no dever de se adotar toda e qualquer medida que se mostre til e necessria para impedir o dano ambiental. que a reparao do dano somente existir como objetivo secundrio, isto , somente ser objetivo quando no se puder evitar o dano. Em outras palavras, evitar o dano o alvo principal do sistema.

A precauo est inserida no princpio da preveno. O que a diferencia ambas que se fala em preveno quando houver cincia cientfica acerca da lesividade ambiental de determinada obra, e.g., o empreendedor deseja construir uma usina hidreltrica e, cientificamente, sabe que esta causa dano ambiental. uma certeza matemtica. Logo, por fora do princpio da preveno, obrigado a adotar toda e qualquer medida necessria a impedir o dano ou para que este dano inevitvel seja o menos impactante possvel. Fala-se em precauo quando no tiver certeza cientfica acerca da lesividade ambiental da obra proposta (incerteza cientfica), e.g., plantaes de transgnicos: at hoje no houve nenhum estudo cientfico conclusivo sobre a lesividade e impacto ambiental dessas plantaes. Diante disso, antes de entrar na preveno, o potencial agente lesivo obrigado a tentar obter a certeza cientfica necessria.

2.3. Desenvolvimento Sustentvel

Toda a cincia ambiental tem por objetivo alcanar o desenvolvimento sustentvel. Isto vale para qualquer ramo do conhecimento humano: qumica, biologia, direito, etc.

O Desenvolvimento Sustentvel a compatibilizao de 3 coisas:

- Desenvolvimento

- Melhoria da Qualidade de Vida

- Preservao dos Recursos Ambientais

muito difcil, quase utpico, atingir esse equilbrio, e.g., o carro foi um desenvolvimento, melhora a qualidade de vida, mas agride, de forma severa, o meio ambiente.

Evidentemente, esse conceito de desenvolvimento sustentvel no poderia estar margem do art. 225 e se encontra na expresso meio ambiente ecologicamente equilibrado (so expresses que se auto-implicam de forma absoluta, pois se conseguir o desenvolvimento sustentvel quando o meio ambiente for equilibrado e vice-versa).

2.4. Inovaes

- Eficcia Temporal do Direito Ambiental: a parte final do art. 225 diz que a preservao do meio ambiente se destina s presentes e futuras geraes. Ou seja, um direito inter-geraes. Ele no conhece o limite futuro e final de eficcia. uma proteo que se destina assegurar a perpetuidade da vida humana (os bisnetos devem ter recursos necessrios subsistncia). uma inovao, pois ordenamento jurdico tradicional somente reconhece direitos ao nascituro. Alm dele no h direitos. J no direito ambiental no possui limites. Aquele trabalha com o espelho retrovisor, vale de hoje para trs. O Direito Ambiental vale de hoje para frente!

- Natureza Jurdica do Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: um bem de uso comum do povo. Ora, que inovao essa se o CC de 16 j mencionava bem de uso comum do povo. Acontece que neste, o critrio a propriedade, razo pela qual bem de uso comum seria aquele de propriedade do Poder Pblico, mas de livre fruio, e.g., ruas, avenidas, praas. J o conceito constitucional diferente, pois o meio ambiente no propriedade de ningum. Ele no comporta classificao sob o critrio de propriedade, e.g., o Estado de So Paulo proprietrio das terras em que est implantado o Parque Estadual da Serra do Mar. Porm, ele no pode desmatar o parque, pois, embora seja titular da terra, no titular dos valores ambientais que ali residem, e.g.2., apareceu um cavalo em uma fazenda, o proprietrio pode se apropriar do mesmo. Agora, se aparecer uma ona, o fazendeiro jamais poder se apropriar dela, pois ningum proprietrio do meio ambiente. A conseqncia disso que o meio ambiente ecologicamente equilibrado no um bem pblico, nem um bem privado, pois essa classificao leva em conta o critrio de propriedade, sendo que meio ambiente no admite esse tipo de critrio. Diante disso, sua natureza jurdica a de um bem difuso.

2.5. Deveres do Poder Pblico (1)

O que o Poder Pblico tem de fazer para proteger o meio ambiente?

I - Zelar pelo patrimnio gentico nacional

Patrimnio gentico engloba todas as formas de vida existentes no Brasil. Isso tem duas implicaes bsicas:

i) O Poder Pblico obrigado a realizar pesquisa cientfica para identificar todos os espcimes da fauna e flora brasileira. o dever de conhecer efetivamente qual o patrimnio nacional.

ii) Obrigao de adotar toda e qualquer medida para impedir a extino de qualquer espcime da fauna e flora brasileira.

III Instituir Unidades de Conservao da Natureza

A Lei 4771/65 (Cdigo Florestal) traz duas espcies de reas protegidas: reas de preservao permanente (2 e 3), reserva legal (rea que toda propriedade rural obrigada a manter 16) (ler esses 3 artigos).

A Lei 9.985/00 (Lei do Sistema Nacional das Unidades de Conservao da Natureza): regulamentou o inciso III do 1 do art. 225. a lei do SNUC (ler a lei inteira).

IV Estudo Prvio de Impacto Ambiental e Relatrio Prvio de Impacto Ambiental

a) Estudo Prvio de Impacto Ambiental - EIA

1. Conceito

a anlise prvia da