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SIMPLIFICANDO INTERVENÇÕES DO ESTADO NA PROPRIEDADE LaÍs Deprá Martins (Aprovada na PGM/BH e PGE/SE) Material revisado por André Epifanio Martins Promotor de Justiça

INTERVENÇAO DO ESTADO NA PROPRIEDADE · De fato, a intervenção do Estado na propriedade é justificada pela supremacia do interesse público sobre o privado, princípio basilar

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Page 1: INTERVENÇAO DO ESTADO NA PROPRIEDADE · De fato, a intervenção do Estado na propriedade é justificada pela supremacia do interesse público sobre o privado, princípio basilar

SIMPLIFICANDO INTERVENÇÕES DO ESTADO NA

PROPRIEDADE

LaÍs Deprá Martins (Aprovada na PGM/BH e PGE/SE)

Material revisadopor André EpifanioMartins PromotordeJustiça

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INTERVENÇÕESRESTRITIVASDOESTADONAPROPRIEDADE

Odireitodepropriedade,protegidoconstitucionalmente(art.5,XXII),não

temcaráterabsoluto.Dessemodo,mesmoqueapropriedadeestejacumprindo

sua função social, o Estado pode restringi-la ou condiciona-la em algumas

situaçõesafimdeatenderointeressepúblico.

Entende-sequeaintervençãoestatalnapropriedadedecorredoexercício

do poder de polícia do Estado, prerrogativa que limita o uso da propriedade

privada. De fato, a intervenção do Estado na propriedade é justificada pela

supremacia do interesse público sobre o privado, princípio basilar do direito

administrativo.Alémdisso,pode-seafirmarqueasmodalidadesde intervenção

estatal na propriedade fundamentam-se na necessidade de cumprimento da

funçãosocial(arts.5,XXIII,e170,III,daCF)parasatisfaçãodointeressepúblico.

A doutrina identifica duas modalidades de intervenção estatal na

propriedadealheia:

Intervenção supressiva: O Estado retira a propriedade do seu titular

originárioetransfereparaseupatrimôniocomoobjetivodeatenderointeresse

público.Asdesapropriaçõessãoexemplosdessetipodeintervenção

Intervençãorestritiva:Oestadoapenasrestringeoucondicionaousoda

propriedade, sem retirá-la de seu titular. São exemplos dessa modalidade:

servidão, tombamento, requisição, ocupação temporária e limitações

administrativas.

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DESAPROPRIAÇÃO1

1. Conceito

Desapropriação é o procedimento pelo qual o Estado transfere a

propriedade alheia compulsoriamente e de maneira originária para o seu

patrimônio,comfundamentonointeressepúblicoeapósodevidoprocessolegal,

normalmentemedianteindenização.

Éformasupressivadeintervençãonapropriedade,poisoEstadoretirao

bem do proprietário originário. Como se trata de uma prerrogativa do Poder

Público, o particular deve se sujeitar à desapropriação, respeitados os limites

legais.

Étambémformadeaquisiçãoorigináriadapropriedade,poisnãodecorre

de nenhum título anterior, tornando-se o bem expropriado insuscetível de

reivindicação(art.35doDecreto-lei3.365/41).Porestarazão,obemchegaao

acervodoEstadolivredequaisquerônusdenaturezareal,devendoocredorse

sub-rogarnopreçopagopeloPoderPúblico(art.31doDecreto-lei3.365/41).

2. Modalidadesefontesnormativas

Desapropriaçãocomum(art.5º,XXIV,CF)

1 Dica: Acompanhe esse resumo com a leitura do Decreto-lei 3.365/1941. É um texto normativo

pequeno que possui algumas peculiaridades (em virtude do seu ano de publicação) que podem ser cobradas especialmente em provas objetivas.

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O art. 5, XXIV, da CF consagra a desapropriação por utilidade pública,

necessidadepúblicaouinteressesocial.OProf.ºMatheusCarvalho(2016,p.978-

979)diferenciaastrêsmodalidadesdaseguinteforma:

Utilidadepública

Considera-se utilidade

pública a situação em

que o ente público terá

necessidadedeutilizaro

bem diretamente, seja

paraumaobrapúblicaou

para a prestação de um

determinado serviço,

sendo a situação

regulamentada no

Decreto-lei3.365/41.

Necessidadepública

A necessidade pública,

por sua vez, se verifica

nas mesmas hipóteses

em que se poderia

imaginar uma situação

deutilidade,acrescidada

urgência na solução do

problema. Sendo assim,

emcasosdenecessidade

pública, a ausência de

atuação estatal

premente poderá

ensejar prejuízos ao

interessepúblico.

Interessesocial

As hipóteses de Interesse

social são justificadas pela

necessidadedesegarantira

funçãosocialdapropriedade.

Nestes casos, a

desapropriação tem a

intenção de reduzir

desigualdades sociais e

conferir uma destinação

social ao bem expropriado,

mesmo que ele não seja

utilizado diretamente pelo

enteestatal.Podesercitada

comoexemploautilizaçãode

bemimóvelparaarealização

dereformaagrária.Oscasos

são, em regra,

regulamentados pela Lei

4.132/62(art.2º).

Porse trataremdeconceitos jurídicos indeterminados,nosquais impera

umacertamargemdediscricionariedadeaoadministradorpúblico,asdisposições

legaisnãosãoexaustivasacercadashipótesesdeutilidadepúblicaouinteresse

social,devendoexercê-lascombaseemcritériosdeoportunidadeeconveniência.

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Naverdade,asprovasdeconcursonormalmentenãoexigemadiferença

citadaacima.Aquestãomaisimportantesobreotemaésaberqueasmodalidades

alhures fazem parte da chamada desapropriação ordinária ou comum e

diferenciam-sedasdesapropriaçõesespeciaistambémconstantesdaCF

A desapropriação ordinária pode ser realizada por todos os Entes

federados,aindaqueapropriedadeatendaasuafunçãosocial,pois,nessecaso,

nãohásançãoaoparticular,mas,sim,necessidadedeatenderointeressepúblico.

Dessemodo,éimperativaaindenizaçãoprévia,justaeemdinheiro.

ComoesseassuntofoicobradoemprovaCESPE-2016-PGE-AM-ProcuradordoEstadoAcerca da intervenção do Estado no direito de propriedade, julgue o itemsubsequente.Tendoo direito de propriedade garantia constitucional, ao Estado só é lícitodesapropriar mediante indenização prévia e se a propriedade não estivercumprindo sua função social.-Certo-Errado

GabaritoErrado

Asduasprincipaiscaracterísticasdadesapropriaçãoordináriasão:

a)competência:todososEntesfederadospodemdesapropriarpormeio

dessamodalidade;e

b) indenização: sempre será devida a indenização prévia, justa e em

dinheiro.

ComoesseassuntofoicobradoemprovaFCC-2018-PGE-TO-ProcuradordoEstadoOGovernodoEstadodecidiuconstruirumconjuntohabitacionalpopularemáreaurbana,situadanaregiãometropolitanadePalmas.Paratanto,verificou-seaexistênciadeumterrenodedimensãoadequada,situadoemáreaincluídano plano diretor e declarada passível de edificação compulsória por leimunicipal. Embora notificado há dez anos para promover a edificação noterreno,oproprietárioquedou-seinerte,sendoquehámaisdecincoanosvemsendoaplicadooIPTUprogressivonotempo.Nessecaso,oGovernodoEstado

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a) DeveencaminharpedidodeautorizaçãoàAssembleiaLegislativaparaadesapropriaçãodoterreno,vistoquesetratadebemsobdomíniomunicipal.

b) Poderá promover desapropriação por interesse social do imóvel,todaviamediantejustaepréviaindenização,emdinheiro.

c) Estáimpedidodepromoveradesapropriaçãodoterreno,emvistadaexclusivacompetênciamunicipalparapromoveradesapropriaçãodeáreasurbanasdestinadasàhabitaçãopopular.

d) Poderá promover a desapropriação-sanção do terreno, com opagamentode indenizaçãoemtítulosdadívidapúblicadeemissãopreviamenteaprovadapeloSenadoFederal,comprazoderesgatedeatédezanos,emparcelasanuais,iguaisesucessivas,asseguradosovalorrealda indenizaçãoeos juros legais,porsetratardeterrenosituadoemregiãometropolitana.

e) Poderá editar decreto de desapropriação por interesse social, embenefício do município em que está situado o imóvel, que ficaráresponsável pelo pagamento da indenização em títulos da dívidapúblicadeemissãopreviamenteaprovadapeloSenadoFederal,comprazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais esucessivas,asseguradosovalorrealdaindenizaçãoeosjuroslegais.

GabaritoBPerceba que o enunciado tentou confundir o candidato dando informaçõesreferentes à desapropriação especial urbana, que é de competência doMunicípioeserávistaabaixo,masadesapropriaçãorequeridapeloGovernodoEstadoéadesapropriaçãocomum(art.5,XXIV,CF),decompetênciadetodososentes,baseadaeminteressesocial–art.2,V,Lei4.132.

Oart.5°,XXIV,daCFestabeleceque,nãoobstanteaindenizaçãosejafeita,

como regra, em dinheiro, serão "ressalvadas as exceções trazidas pela própria

Constituição”. Assim, algumas desapropriações não serão efetivadas com

pagamentoprévio,justoeemdinheiro.Atenteparaofatodequeestassituações

excepcionaissomenteserãoaceitasseprevistasnaprópriaConstituiçãoFederal,

ou seja, a legislação infraconstitucional pode até regulamentar, mas não criar

espéciesdedesapropriaçãoqueexcetuemodispostonoreferidodispositivo.

Oprópriotextoconstitucionalestabelece,emseubojo,trêshipótesesde

desapropriaçõesespeciais:

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a)Desapropriaçãourbana(art.182,CF).

b)Desapropriaçãorural(art.184a186,CF).

c)Desapropriaçãoouexpropriaçãoconfisco(art.243,CF).

Desapropriaçãoespecialurbana(art.182,§4º,III,daCFeLei10.257/2001

-EstatutodaCidade).

Trata-sededesapropriaçãoque sópodeserutilizadapelosMunícipiose

refere-seaosimóveissituadosemáreaurbanaquenãoestejamcumprindosua

funçãosocial(imóvelnãoedificado,subutilizadoounãoutilizado).

Defato,aConstituiçãoasseveraqueacidadecommaisde20milhabitantes

devepossuirumplanodiretor,aprovadoporleimunicipal,sendooinstrumento

básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. Desse modo, a

propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências

fundamentaisdeordenaçãodacidadeexpressasnoplanodiretor.

Segundooart. 41, III,doEstatutodaCidade,apenasosMunicípiosque

possuemplanodiretorpodemsevalerdessamodalidadededesapropriação.Sea

propriedade não estiver cumprindo a função social prevista no plano diretor,

algumas restrições serão instituídas pelo poder público municipal. Uma das

restrições será a desapropriação urbana sancionatória, que tem caráter

subsidiário,poisaCFestabeleceumaordemsucessivademedidasquedeveser

observadapeloPoderPúblico.

De acordo com o art. 182, §4º da CF, “é facultado ao Poder Público

municipal,medianteleiespecíficaparaáreaincluídanoplanodiretor,exigir,nos

termosdaleifederal,doproprietáriodosolourbanonãoedificado,subutilizado

ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,

sucessivamente,de”:

1º)notificaçãodoproprietárioparaparcelamento,edificaçãoouutilização

compulsórios(art. 182,§4°, I,daCFearts.5°e6°doEstatutodaCidade).De

acordo com o Estatuto da Cidade, considera-se subutilizado o imóvel cujo

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aproveitamentosejainferioraomínimodefinidonoplanodiretorouemlegislação

deledecorrente;

2º)fixaçãodoIPTUprogressivonotempo,casosejadesatendidooprazo

acimadanotificação.Nessecaso,aalíquotasomentepoderásermajoradaporaté

cincoanosconsecutivos,majorando-seatéduasvezesovalordoanoanterior,

respeitadaaalíquotamáximade15%,sendovedadaaconcessãodeisençõesou

deanistiarelativasàtributaçãoprogressiva(art.182,§4°,II,daCFeart.7°do

EstatutodaCidade).

3º)escoadooprazode5anos,oMunicípiopoderealizaradesapropriação

doimóvel,compagamentoemtítulosdadívidapública,previamenteaprovados

pelo Senado, resgatáveis em até dez anos, em prestações anuais, iguais e

sucessivas,asseguradosovalorrealdaindenizaçãoeosjuroslegaisde6%aoano

(art.182,§4,III,daCFeart.8°,§1°,doEstatutodaCidade).Ademais,oMunicípio

deveprocederaoadequadoaproveitamentodoimóvelnoprazomáximodecinco

anos,contadoapartirdasuaincorporaçãoaopatrimôniopúblico,diretamenteou

pormeiodealienaçãoouconcessãoaterceiros,observando-se,nessescasos,o

devidoprocedimentolicitatório.

Portanto, as principais características da desapropriação urbana, que

funcionacomoumasançãosubsidiáriaaoparticularquenãoutilizaapropriedade

urbanaconformesuafunçãosocial,são:

a) Competência:Município ou Distrito Federal (quando no exercício da

competênciamunicipal;

b) Indenização:atravésdetítulosdadívidapública,resgatáveisematé10

anos.

ComoesseassuntofoicobradoemprovaFCC-2016-DPE-BA-DefensorPúblicoA chamada “desapropriação para política urbana” é uma espécie dedesapropriação de competência dos municípios, conforme artigo 182 daConstituição Federal de 1998 e a Lei nº 10.257 de 2001. São condições para autilizaçãodoinstrumentodedesapropriaçãonessamodalidade:

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a) O ato administrativo reconhecendo a utilidade e necessidade pública, ointeressesocialnaqueleimóvel,especificaçãonoplanodiretordaáreaemqueoimóvelestáinscrito,opagamentodeindenizaçãoprévia,justaeemdinheiro.

b) Especificaçãonoplanodiretordaáreaemqueo imóvel está inscrito, leimunicipal autorizando tal medida, e que o proprietário não atenda àsmedidasanterioresquealeidetermina.

c) Oatoadministrativo reconhecendoautilidadeenecessidadepúblicaeointeressesocialnaqueleimóvel.

d) O ato administrativo reconhecendo a utilidade e necessidade pública, ointeressesocialnaqueleimóveleopagamentodeindenizaçãoprévia,justaeemdinheiro.

e) Especificaçãonoplanodiretordaáreaemqueo imóvel está inscrito, leifederalautorizandotalmedida,opagamentodeindenizaçãoprévia,justaeemdinheiro.

GabaritoB

Desapropriaçãoespecialrural(art.184daCF)

Trata-sedemodalidadededesapropriaçãoquesancionaoproprietárioque

não cumpre a função social do imóvel rural e somente pode ser utilizada pela

Uniãocomoobjetivoimperativodeimplementarreformaagrária.

De acordo com a CF (art. 186), a função social é cumprida quando a

propriedade rural atende, simultaneamente, aos seguintes requisitos: I -

aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos

naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das

disposiçõesqueregulamasrelaçõesdetrabalho;IV-exploraçãoquefavoreçao

bem-estardosproprietáriosedostrabalhadores.

Nadesapropriaçãorural,aindenizaçãoéefetivadapormeiodetítulosda

dívidaagrária,comcláusuladepreservaçãodovalorreal,resgatáveisnoprazode

atévinteanos,apartirdosegundoanodesuaemissão.Todavia,asbenfeitorias

úteisenecessáriasserão indenizadasemdinheiro,respeitando-seasistemática

dosprecatórios.

Ressalta-se que, a própria CF excepciona a propriedade insuscetível de

desapropriação para fins de reforma agrária. São elas: I - a pequena e média

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propriedaderural,assimdefinidaemlei,desdequeseuproprietárionãopossua

outra;II-apropriedadeprodutiva.

Aprofundamentodotema

SegundoRafaelRezendeOliveira,“adesapropriaçãorural(sancionatória)não

seconfundecomadesapropriaçãodeimóvelruralporinteressesocialparafinsde

reformaagrária. Enquantoadesapropriação rural éde competênciaexclusivada

União e representa uma sanção ao particular quedescumpre a função social do

imóvel rural e recebe títulos da dívida agrária, a segunda é a desapropriação

ordinária que pode ser implementada por qualquer Ente federado e exige o

pagamentodeindenizaçãoprévia,justaeemdinheiro.Combasenessadistinção,o

STFeoSTJjáadmitiramadesapropriaçãoporinteressesocialdeimóveisruraispor

EstadodaFederaçãoparafinsdereformaagrária,comfundamentonaregrageral

(art.5,XXIV,daCRFBeLei4.132/1962).”

Todavia, em julgado mais recente, o STF julgou pela impossibilidade de

desapropriaçãopelosEstadosnessesmoldes:“OsEstados-membroseosMunicípios

não dispõemdo poder de desapropriar imóveis rurais, por interesse social, para

efeito de reforma agrária, inclusive para fins de implementação de projetos de

assentamentoruraloudeestabelecimentodecolôniasagrícolas.”(RE496.861-AgR,

Rel.Min.CelsodeMello,julgamentoem30-6-2015,2ªTurma,DJEde13-8-2015).

A questão, portanto, é divergente e precisa de consolidação na

jurisprudência.Emprovasobjetivas,émaissegurooptarpeladecisãomaisrecente

doSTF(queestáatémesmodisponívelnapáginada internet“AConstituiçãoeo

Supremo”,mantidapeloSTF).

Emsíntese,asprincipaiscaracterísticasdadesapropriaçãorural,quetem

carátersancionatório,são:

a)Competência:União.

b)Indenização:títulosdadívidaagrária,resgatáveisematévinteanos.

c)Finalidadeespecífica:reformaagrária.

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Desapropriação(expropriação)confisco(art.243daCF)

Aqui,háverdadeiroconfiscopeloPoderPúblico,autorizadopelaCF,pois

nãoháindenizaçãodevidaaoparticular.Trata-sedaexpropriaçãodepropriedades

ruraiseurbanasdequalquerregiãodopaísondeforemlocalizadasculturasilegais

deplantaspsicotrópicasouexploraçãodetrabalhoescravo,queserãodestinadas

àreformaagráriaeaprogramasdehabitaçãopopular.

AcompetênciaparapromoveraexpropriaçãoéexclusivadaUnião,sendo

desnecessária a expedição do decreto expropriatório. O rito da ação de

desapropriaçãoestáestabelecidonaLei8.257/1991.

ConformeaCF,todoequalquerbemdevaloreconômicoapreendidoem

decorrênciadotráficoilícitodeentorpecentesedrogasafinsedaexploraçãode

trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação

específica,naformadalei.

OqueoSTFvemdecidindosobreotema?

• Aexpropriaçãoirárecairsobreatotalidadedoimóvel,aindaqueocultivo

ilegal ou autilizaçãode trabalhoescravo tenhamocorridoemapenas

partedele. (STF.Plenário.RE543974,Rel.Min.ErosGrau, julgadoem

26/03/2009).

• Aexpropriaçãoprevistanoart.243daCFpodeserafastada,desdequeo

proprietáriocomprovequenãoincorreuemculpa,aindaqueinvigilando

ouinelegendo.(STF.Plenário.RE635336/PE,Rel.Min.GilmarMendes,

julgadoem14/12/2016(repercussãogeral)(Info851).)

Quadro-resumodasdesapropriaçõesespeciais

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Desapropriação especial

urbana

Desapropriação especial

rural

Desapropriaçãoconfisco

Art.182,§4,CF. Arts.184a186daCF Art.243daCF

Sanção subsidiária ao

particular que não

cumpre a função social

do imóvel urbano

definida no plano

diretor.

Sanção ao proprietário

de imóvel rural quenão

cumpre a função social

disposta no art. 186 da

CF.

Tem finalidade

específica: reforma

agrária.

Sanção ao proprietário

do imóvel urbano ou

rural onde forem

localizadas culturas

ilegais de plantas

psicotrópicas ou a

exploração de trabalho

escravo.

Finalidade: reforma

agrária e programas de

habitaçãopopular.

Competência:Município Competência:União Competência:União

Indenização: títulos da

dívida pública,

resgatáveisem10anos

Indenização: títulos da

dívida agrária,

resgatáveis em até 20

anos

Indenização:Nãohá.

3. Objetodadesapropriação

Conformeseextraidooart.2ºdoDecreto-lei3365/41,todoequalquer

bem ou direito que possua valoração econômica pode ser desapropriado pelo

PoderPúblico.Ademais,adesapropriaçãodoespaçoaéreooudosubsolosóse

tornará necessária, quando de sua utilização resultar prejuízo patrimonial do

proprietáriodosolo.

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Também se admite a desapropriação de direito de créditos e ações

referentesacotadesociedadesempessoas jurídicas. Nessesentido,aSúmula

476doSTFestabeleceque:“Desapropriadasasaçõesdeumasociedade,opoder

desapropriante, imitido na posse, pode exercer, desde logo, todos os direitos

inerentesaosrespectivostítulos”.

Entretanto,adesapropriaçãodeações,cotasedireitosrepresentativosdo

capitaldeinstituiçõesquedependamdeautorizaçãodaUniãoparafuncionarem

e se subordinam à sua fiscalização, depende necessariamente de prévia

autorização,pordecretodoPresidentedaRepública,deacordocomoart.2º,§3º,

do DL 3.365. Nesse sentido, o STF editou a Súmula 157: É necessária prévia

autorizaçãodoPresidentedaRepúblicaparadesapropriação,pelosEstados,de

empresadeenergiaelétrica.

,Comoesseassuntofoicobradoemprova:FCC-2018-MPE-PB-PromotordeJustiçaSubstitutoConsidere a seguinte situação hipotética: o Estado da Paraíba pretendedesapropriar açõesquegarantamo controle acionáriodeempresaprivadaqueatuanoserviçode fornecimentodeenergianoEstado,depropriedadedeumadeterminadaholding,sobalegaçãodequeoserviçodeficienteprestadoporessaempresaaoscidadãosdoEstadoestáademandaroseucontrolegovernamental,porrazõesdeinteressepúblico.Nessahipótese:

a) Porsetratardebensdenaturezaprivada,nãoháempecilhojurídicoà

pretendida desapropriação, desde que observado o devido processolegal.

b) Tal desapropriação é possível, desde que precedida por autorizaçãoconcedidaporDecretodoPresidentedaRepública.

c) Adesapropriaçãoéjuridicamenteimpossível,poisumapessoajurídicanãopodeserobjetodedesapropriação,dadasuanaturezadesujeitodedireito.

d) Em vista dos serviços prestados pela referida empresa, taldesapropriaçãoestácondicionadaàautorizaçãodoCongressoNacional,mediantedecretolegislativo.

e) Somente a União, titular do serviço público em questão, teriacompetência para editar o decreto de utilidade pública necessário àdesapropriação.

GabaritopreliminarB

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Porfim,éadmitidaadesapropriaçãoincidentesobredireitosreais,como

ocorrenocasodeenfiteuse,emqueseadmiteadesapropriaçãododomínioútil.

Nãoépossível adesapropriaçãodedireitospersonalíssimos tais comoa

honra, intimidade, liberdade, entre outros. Ademais, não é suscetível de

desapropriação a moeda corrente no país. Outrossim, não se admite a

desapropriaçãodepessoas,sejamelasfísicasoujurídicas.

Em verdade, a questãomais importante sobre o tema em comento é a

possibilidadededesapropriaçãodebenspúblicos.

De acordo com o art. 1º, §2º, do Decreto lei 3365/41, é permitida a

desapropriação de bens públicos desde que respeitada a chamada “hierarquia

federativa” e a previsão em lei do ente expropriante (autorização legislativa).

Dessemodo,aUniãopodedesapropriarbensdosEstadosedosMunicípios,os

Estadospodemdesapropriarbensmunicipais,masoinversonãoépermitido.

Essaéaposiçãomajoritáriaquedeveserlevadaparaaprova.Noentanto,

hádoutrinaminoritáriaqueentendepossíveladesapropriaçãodebenspúblicos

“debaixoparacima”emvirtudedaigualdadeeautonomiadosentesfederados.

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Ademais,segundooentendimentomajoritário,ahierarquiadeinteresses

deve ser observada também na hipótese em que Entes federados distintos

pretenderemdesapropriaromesmobemparticular(ex.:UniãoeEstadoiniciamo

processodedesapropriaçãoemrelaçãoaomesmobem.Nessecaso,prevaleceo

interessedaUnião).

Emrelaçãoàpossibilidadededesapropriaçãodosbensdaadministração

indireta, amelhor doutrina distingue as regras quanto as pessoas jurídicas de

direitopúblicoededireitoprivado.

Assim,nocasodasautarquiasedasfundaçõesestataisdedireitopúblico,

os bens são públicos, razão pela qual deve ser observado o art. 2°, § 2°, do

Decreto-lei 3.365/1941, em sua literalidade, vedando-se a desapropriação dos

ComoesseassuntofoicobradoemprovaFCC-2018-DPE-AM-DefensorPúblicoSuponha que o Estado do Amazonas pretenda construir um anel viáriointerligando diversas rodovias. A obra em questão importa intervenção emterrenosdeparticularese,também,emumaáreadepropriedadedeMunicípio,que se encontra ocupada irregularmente. Diante de tal cenário, afigura-sejuridicamenteviávela

a) Desapropriação dos imóveis particulares e também daquelepertencenteaoMunicípio, esteúltimodependendodeautorizaçãolegislativa,amboscondicionadosàpréviaindenização.

b) Desapropriação dos imóveis privados apenas, eis que o depropriedadedoMunicípioéprotegidopeloregimepúblicoaindaquenãoafetadoafinalidadeespecífica.

c) Requisiçãodasáreas,tantopúblicascomoprivadas,easubsequentedesapropriação,compagamentode indenizaçãoapenasaofinaldoprocesso.

d) Imediata desocupação e imissão na posse da área municipal,independentedeindenização,eadesapropriaçãodasáreasprivadas,medianteediçãodedecretodeutilidadepública.

e) Doação,independentedeautorizaçãolegislativa,doimóvelmunicipalao Estado, e a desapropriação dos imóveis particulares, vedada aimissão na posse antes da concordância destes com o valor daindenizaçãofixadajudicialmente.

GabaritoA

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benspúblicosdosEntes"maiores"porEntes"menores".Assim,ummunicípionão

podedesapropriarumbemdeumaautarquiafederal.

Porseuturno,osbensdasempresaspúblicasesociedadesdeeconomia

mista (pessoas jurídicas de direito privado) não ostentam a qualidade de bens

públicos, sendo,aprincípio, admitidaadesapropriaçãoporquaisquerentesda

Federação. De fato, nesses casos, a doutrina e a jurisprudência têm exigido a

observância do art. 2°, § 3°, do Decreto-lei 3.365/1941, que diz respeito à

necessidadedeautorização,pordecreto,dorespectivochefedoExecutivo.

4. Competência

Apenas a União tem competência para legislar sobre o tema

desapropriação,conformeart.22,II,daCF.

Noentanto,todososentespolíticos(União,Estados,DFeMunicípios)têm

achamadacompetênciadeclaratória,ousejaaatribuiçãoparadeclararautilidade

ou necessidade pública e o interesse social dos bens privados para fins de

desapropriação. Lembre-se que nos casos das desapropriações especiais a

competência declaratória é exclusiva de determinado ente, conforme já

explicitadoacima.

Excepcionalmente, as autarquias: Agência Nacional de Energia Elétrica

(ANEEL)eDepartamentoNacionalde InfraestruturadeTransportes (DNIT),por

expressaprevisãolegal,possuemcompetênciadeclaratória(ANEEL:art.10daLei

9.074/1995eDNIT:art. 82,IX,daLei10.233/2001).Adeclaração,noentanto,

nãoseráformalizadapordecreto,umavezqueesseatoadministrativoéprivativo

dochefedoExecutivo,mas,sim,porportaria.

Há ainda a competência para promover a desapropriação, a chamada

competênciaexecutória,quedizrespeitoàadoçãodosatosmateriais(concretos)

pelo Poder Público ou seus delegatários, devidamente autorizados por lei ou

contrato,como intuitodeconsumara retiradadapropriedadedoproprietário

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originário. Admite-se a delegação da competência executória para entes da

AdministraçãoIndireta,paraconcessionáriadeserviçospúblicos,paraconsórcios

públicose,atémesmoparacontratadospeloPoderPúblicoparafinsdeexecução

deobraseserviçosdeengenhariasobosregimesdeempreitadaporpreçoglobal,

empreitadaintegralecontrataçãointegrada.

5. Procedimento

Fasedeclaratória

Afasedeclaratória iniciaoprocedimentodedesapropriação.Trata-seda

declaração formal do Poder Público que demonstra a necessidade de

desapropriação de determinado bempara o atendimento da utilidade pública,

necessidadepúblicaouinteressesocial.

A declaração deve individualizar, com precisão, o bem que será

desapropriadoedefinirconcretamenteasuafinalidade,nãobastandoaindicação

genéricadeinteressepúblico.

Normalmente,adeclaraçãoéfeitapordecretodoChefedoExecutivo,nos

moldesdoart.6ºdoDL3.365/41.Nocasododispostonoart.8º,queautorizao

PoderLegislativodoenteatomara iniciativadadesapropriação,cumprindoao

Executivo praticar os atos necessários à sua efetivação, a formalização da

declaraçãodeveserfeitapormeiodeleideefeitosconcreto(obs.:hádoutrina

queentendequeessadeclaraçãodeveserfeitapordecretolegislativo.)

A publicação do decreto expropriatório, declarando a

utilidade/necessidade pública ou o interesse social sujeita a propriedade à

determinadas restrições legais. O bem continua sendo de propriedade do

particular, mas estará sujeito à força expropriatória do Estado. Assim, alguns

efeitossurgemapartirdadeclaração:

EFEITOSDADECLARAÇÃO

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Autorizaçãoparaqueas

autoridades

administrativas

ingressemnobem

objetodadeclaração,

paraavaliaçõese

medições,podendo

recorrer,emcasode

oposição,aoauxíliode

forçapolicial(art.7°do

Decreto-lei3.365/1941);

Iníciodoprazode

caducidadedodecreto

expropriatório.

Nadesapropriaçãopor

utilidadepública,o

PoderPúblicotemo

prazode5anos,

contadosdadatada

expediçãododecreto,

parapromovera

desapropriação

(realizaçãodoacordo

comoproprietárioou

proposituradaação

judicial).Casonãoseja

promovidadentrodo

prazo,ocorreráa

caducidadedodecretoe

obemnãopoderáser

objetodenova

declaraçãopeloperíodo

de1ano(art.10doDL

3.365)Na

desapropriaçãopor

interessesocial,oprazo

decaducidadeéde2

anos(art.3°daLei

4.132/62).

Fixaçãodoestadodobem

paradefiniçãodefutura

indenizaçãodasbenfeitorias.

Oproprietário,apósa

declaração,pode

implementarbenfeitoriasno

bem,masarespectiva

indenizaçãodependeda

observânciadoart.26,§1°,

doDecreto-lei3.365/41:as

benfeitoriasnecessárias

serãosempreindenizáveis;

asbenfeitoriasúteis

somenteserãoindenizadas

sehouverautorizaçãodo

PoderPúblico;eas

benfeitoriasvoluptuárias

nãoserãoindenizadas.

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Faseexecutória

Segundo Matheus Carvalho (2016, p. 994), executar ou promover a

desapropriaçãoépagarovalordaindenização,previamentefixado,efetivandoa

imissãodopoderpúbliconapossedobem.

A execução pode ocorrer na via administrativa, quando o particular

concordacomovalorapresentadopeloPoderPúblico,havendoacordoentreas

partes. Ou pela via judicial, quando particular discorda do valor oferecido,

devendoaAdministraçãoproporachamadaaçãodedesapropriação.

6. Açãodedesapropriação:aspectosrelevantes

Aqui trataremos de algumas peculiaridades específicas da ação de

desapropriação,quetêmgranderelevânciaparaasprovasdeconcurso.

Imissãoprovisórianaposse:

OPoderPúbliconãoprecisaesperarodesfechodaaçãodedesapropriação

para se imitir na posse do bem. Nesse caso, durante o curso da ação, a

AdministraçãoPúblicapoderequerersuaimissãoprovisórianaposse,diantedo

interessepúblicodocaso,desdequepreenchidosalgunsrequisitos.Sãoeles:

a) Declaração de urgência: compete ao Poder Público avaliar

discricionariamente,diantedaoportunidadeeconveniência,aurgêncianaimissão

provisória, não sendo lícito ao Judiciário substituir o mérito administrativo. A

doutrina afirma que não existe ummomento específico para essa declaração,

podendo ocorrer no próprio decreto expropriatório, na petição inicial ou em

petiçãoavulsanocursodoprocesso.Todavia,umavezalegadaaurgência,que

nãopoderáserrenovada,oPoderPúblicotemoprazoimprorrogávelde120dias

para requerer a imissão provisória, na forma do art. 15, § 2°, do Decreto-lei

3.365/41;

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b)Depósitoprévio:oPoderPúblicodeveefetuarpreviamenteodepósito

de valor incontroverso da indenização, em juízo, de acordo com os critérios

previstosnoart. 15, §1°,doDecreto-lei 3.365/41, como formadepagamento

mínimo.

O expropriado, réu da ação, poderá levantar, independentemente de

concordância do Poder Público, até 80% do depósito efetivado na imissão

provisória, de acordo comoart. 33, §2°, doDecreto lei 3.365/41.Casoexista

dúvidafundadasobreodomínio,ovalorpermanecerádepositadoatéadefinição,

em ação própria, do legítimo proprietário (art. 34, parágrafo único, do DL

3.365/41).

Ressalte-seque,comaimissãoprovisórianapossedobem,oproprietário

ficaimpedidodeusufruirdasuapropriedade,excluindo-setambémaobrigação

depagamentosdetributosreferentesaobem,comooIPTU.OSTJjádecidiuque

o proprietário somente é responsável pelos impostos, inclusive o IPTU, até a

efetivação da imissão na posse provisória. (REsp 239.687/SP, Rel. Min. Garcia

Vieira,1ªTurma,DJ20.03.2000,p.51).

Aprofundamentodotema

Há certa divergência sobre a constitucionalidade da imissão provisória na

posse,jáqueháquemafirmeserincompatívelcomoart.5°,XXIV,daCFqueexige

a"justaepréviaindenizaçãoemdinheiro”.

Destarte,atualmente,aposiçãomajoritárianadoutrinaenajurisprudênciaé

nosentidodequeaimissãoprovisórianapossenãocontrariaoart.5,XXIV,daCF,

poisagarantiaconstitucionalao justopreçonãosereferea imissãoprovisória.A

exigênciadejustaepréviaindenizaçãoemdinheiroestárelacionadacomaimissão

definitivadaposse.Nessesentindo,entendeoSTJ:

“A imissão provisória na posse do imóvel objeto da desapropriação,

caracterizada pela urgência, dispensa a avaliação prévia e o pagamento integral,

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exigindoapenasodepósitojudicialnostermosdoart.15,§1doDecretoLei3.365”.

(JurisprudênciaemTeses,nº46)

Importante (atualização legislativa): A lei 13.465 de 11 de julho de 2017

acrescentouoart.34-AeparágrafosaoDL3.365/41.

Foiestabelecidaapossibilidadedeacordoentreoexproprianteeexpropriado,

reduzidoatermo,paraqueadecisãoconcessivadaimissãoprovisórianaposse

implique a aquisição da propriedade pelo expropriante, com o consequente

registrodapropriedadenamatrículadoimóvel.Essaconcordâncianãoimplica

renúnciaaodireitodoexpropriadodequestionaropreçoofertadoem juízo.

Alémdisso,nessahipótese,oexpropriadopoderálevantar100%dodepósitode

quetrataoart.33doDL3.365/41.Dovaloraserlevantadopeloexpropriado

devemserdeduzidososvaloresdispostosnos§§1ºe2ºdoart.32doDL(dívidas

fiscais,quandoinscritaseajuizada;multasdecorrentesdeinadimplementoede

obrigações fiscais), alémdeoutros, a critériodo juiz, tidos comonecessários

paraocusteiodasdespesasprocessuais.

Defesadoréu

Deacordocomoart.20doDec.Lei3.365/41,“acontestaçãosópoderá

versarsobrevíciodoprocessojudicialouimpugnaçãodopreço;qualqueroutra

questãodeverá serdecididapor açãodireta.”Dessemodo,o referidodiploma

normativolimitaadefesadoréunaaçãodedesapropriaçãoàalegaçãode:

a) Vícios processuais, como ausência de condições da ação ou de

pressupostosprocessuais;

b) Valor indenizatório, já que o particular não concorda com o preço

ofertadopeloPoderPúblico.

Assimsendo,nãoseadmitediscussãoquantoàexistênciadospressupostos

da desapropriação (utilidade pública, necessidade pública ou interesse social),

devendoaquestãoserdebatidaemprocessoautônomo.

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Entende-semajoritariamentequenãoháviolaçãoaoprincípioconsagrado

noart.5,LV,daCF, jáqueo referidoart.20consagraaampladefesa,masde

formadiferidanotempoenoespaço,poisoréudeveproporarespectiva“ação

direta” para questionar aquilo que foi vedado no curso do processo de

desapropriação.

Alegislaçãoemvigortambémlimitaoalcancedaanálisejudicialemrelação

aos pressupostos da desapropriação. Assim, não podeo Judiciário adentrar no

méritoadministrativoquantoaexistênciadeutilidade/necessidadepúblicaede

interessesocial,razãopelaqualoart.9°doDL3.365/41dispõeque“AoPoder

judiciárioévedado,noprocessodedesapropriação,decidirseseverificamounão

oscasosdeutilidadepública".

Direitodeextensão

Éodireitoqueassisteaoparticularde,impugnandoovalorofertadopelo

PoderPúblico,pleitearaextensãodadesapropriaçãoparaqueestaalcanceparte

remanescente do bem que se tornaria inútil ou de difícil utilização caso

desapropriadoapenasparcialmente.

NaspalavrasdeMatheusCarvalho(2016,p.1007),“noscasosemqueo

Estado desapropria um bem deixando uma área remanescente inaproveitável,

isoladamente, surge ao proprietário o direito de extensão. Nessas situações o

poderpúblicodeverádesapropriarobeminteiroeindenizarátudo.”

Oart.4.ºdaLC76/1993,quedispõesobreoprocedimentosumárioda

desapropriaçãoparafinsdereformaagrária,consagraodireitodeextensão

nosseguintestermos:“Art.4.ºIntentadaadesapropriaçãoparcial,oproprietário

poderárequerer,nacontestação,adesapropriaçãodetodooimóvel,quandoa

área remanescente ficar: I –reduzida a superfície inferior à da pequena

propriedade rural; ou II – prejudicada substancialmente em suas condições de

exploraçãoeconômica,casosejaoseuvalorinferioraodapartedesapropriada”.

Rafael Rezende Oliveira afirma que “o direito de extensão pode ser

invocadopeloréuemsuacontestação,poisenvolve,emúltimaanálise,discussão

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de preço (justa indenização), na forma autorizada pelo art. 20 do Decreto-lei

3.365/1941.”

Indenização

Nadesapropriaçãoporutilidadepúblicaeporinteressesocial(art.5º,XXIV,

daCF),aindenizaçãodeveserprévia,justaeemdinheiro.

Segundoadoutrina,ajustaindenizaçãodeverefletirnãosóovaloratual

dobemexpropriadocomotambémosdanosemergenteseos lucroscessantes

decorrentesdaperdadapropriedade,alémdacorreçãomonetária,dosjuros,das

despesasprocessuaisedoshonoráriosadvocatícios

Nasdesapropriaçõesespeciaisurbanaerural,opagamentonãoéprévio,

nememdinheiro,massim,pormeiodetítulos.

Porfim,nadesapropriaçãoconfiscatórianãoháindenização.

Jurosmoratórios

Osjurosmoratóriosdecorremdoatrasonopagamentodaindenização.A

basedecálculodosjurosmoratórioséovalordaindenizaçãofixadonasentença,

corrigidomonetariamente.

Deacordocomoart.15-BdoDecretoLei3.365/41,“osjurosmoratórios

destinam-searecomporaperdadecorrentedoatrasonoefetivopagamentoda

indenizaçãofixadanadecisãofinaldemérito,esomenteserãodevidosàrazãode

atéseisporcentoaoano,apartirde1odejaneirodoexercícioseguinteàquele

emqueopagamentodeveriaserfeito,nostermosdoart.100daConstituição.”

Portanto, conforme se extrai do dispositivo acima, a sistemática de

aplicaçãodosjurosmoratóriosdeveseranalisadadeacordocomoart.100daCF.

EssanormaprevêqueospagamentosdevidospelasFazendasPúblicas,emvirtude

desentençajudiciária,devemserfeitospormeiodoschamadosprecatórios.

Detalmodo,apósotransitoemjulgado,ovalorfixadonasentençaserá

objetodeprecatórioque,umavezinscritoaté1ºdejulho,deveráserpagoatéo

final do exercício seguinte. Esse é o prazo estipulado pelo próprio texto

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constitucional. Havendo pagamento dentro desse prazo, portanto, não há a

incidênciadejurosmoratórios.

Esse é o entendimento extraído da súmula vinculante nº 17: Durante o

período previsto no parágrafo 1º (atual parágrafo 5º) do artigo 100 da

Constituição, não incidem juros demora sobre os precatórios que nele sejam

pagos.

Assim,seoprecatórioforinscritoaté1ºdejulhode2018,oentepúblico

tem até 31 de dezembro de 2019 para realizar o pagamento e, caso não haja

adimplementonesseprazo,otermoinicialdosjurosmoratóriosé1ºdejaneirode

2020.

Aprofundamentodotema

SegundoCarvalhoFilho,acontagemdosjurosmoratóriosapartirde1º

de janeiro alcança apenas as pessoas jurídicas de direito público, aquelas

beneficiadoscomosistemadosprecatórios.Paraaspessoasjurídicasdedireito

privadoautorizadasaproporaaçãodedesapropriaçãootermoinicialseráo

transitoemjulgadodasentença,conformedispõeasúmula70doSTJ:“osjuros

moratórios,nadesapropriaçãodiretaou indireta,contam-sedesdeotransito

emjulgadodasentença”.Ressalta-sequeasúmulanãotemincidênciaparaas

pessoasdedireitopúblico.

OBS.:Notocanteaosíndicesaplicadosaosjurosdemoranasdesapropriações,

diante da complexidade do tema e da pouca relevância para as provas de

concursos,sugere-sealeituradoartigopublicadopeloProf.ºMarcioAndréno

site do Dizer o Direito ttps://www.dizerodireito.com.br/2018/04/indices-de-

juros-e-correcao-monetaria.html, Ressalta-se que o tema pode ser cobrado

especialmentenafasedesentençadosconcursosparamagistratura.

Juroscompensatórios

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Os juros compensatórios tem como finalidade compensar a perda

prematuradapossedobemdecorrentedaimissãoprovisória.Deacordocoma

súmula113doSTJ,osjuroscompensatórios,nadesapropriaçãodireta,incidema

partir da imissão na posse, calculados sobre o valor da indenização, corrigido

monetariamente.

Já houve muita discussão acerca do percentual aplicável aos juros

compensatóriosnasdesapropriações,mas,recentemente,oSTFsedimentouseu

entendimento, com a decisão definitiva da ADI 2332/DF (STF. Plenário. ADI

2332/DF,Rel.Min.RobertoBarroso,julgadoem17/5/2018(Info902).Vamosas

principaisnovidades:

-Declarou inconstitucionalovocábulo“até”utilizadonoart.15-AdoDL

3.365/41. Portanto, reconheceu a constitucionalidade do percentual de juros

compensatórios de 6% ao ano para remuneração do proprietário pela imissão

provisória do ente público na posse de seu bem. Com essa decisão estão

superadasasSúmulas618doSTFe408doSTJ.

-DeuinterpretaçãoconformeaConstituiçãodocaputdoart.15-AdoDL

3.365/41demodoaentenderqueabasedecálculodos juroscompensatórios

seráadiferençaeventualmenteapuradaentre80%dopreçoofertadoemjuízoe

ovalordobemfixadonasentença.Ex.:OPoderPúblicoofereceR$100.000,00

comopagamentodobemdesapropriado.Oproprietáriopode levantar80%do

valordepositado -R$80.000,00 (deacordocomoart.33,§2ºdoDL3365). O

magistrado sentencia estabelecendo como valor justo o montante de R$

200.000,00.Aaplicaçãoliteraldoart.15-Alevariaàconclusãodequeabasede

cálculoseriaR$100.000,00(diferençaentreopreçoofertadoemjuízopeloente

público -100mil - eo valordobem fixadona sentença -200mil). Todavia,de

acordocomainterpretaçãodoSTF,abasedecálculo,nocaso,seráadiferença

entre80%dopreçoofertado(80%de100mil=80mil)eovalorfixadonasentença

(200 mil), ou seja, R$ 120.000,00 (200.000,00 – 80.000,00). Repare que a

interpretaçãodoSTFbeneficiaoproprietáriodobemexpropriado.

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-Declarouconstitucionaiso§1ºe§2ºdoart.15-A.Em2001,emliminar,o

STF havia considerado que esses dispositivos seriam inconstitucionais pois

consideravaqueosjuroscompensatóriosseriamdevidosmesmoqueoimóvelnão

gerasse renda. Atualmente, ao julgar o mérito da ação, o STF mudou de

entendimentoafirmandoqueosjuroscompensatóriosdestinam-seacompensar

tãosomenteaperdadarendacomprovadamentesofridapeloproprietário,jáque

aperdadapropriedadeemsiécompensadapelovalorprincipal,pelacorreção

monetáriaepelos jurosmoratórios.Assim,os juroscompensatóriosnão têma

funçãodeindenizarovalordapropriedadeemsi,massócompensaraperdada

rendadecorrentedaprivaçãodaposseedaexploraçãoeconômicadobem.

-Declarouinconstitucionalo§4ºdoart.15-A,poiseleexcluiindevidamente

odireitoaosjuroscompensatóriosnasaçõesprevistasno§3º,quaissejam,ações

de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta e

ações que visem a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder

Público,emespecialaquelesdestinadosàproteçãoambiental.

Honoráriosadvocatícios

O § 1º do art. 27 do DL 3.365/41 previu a seguinte regra envolvendo

honoráriosadvocatíciosnadesapropriação:

“§1oAsentençaquefixarovalordaindenizaçãoquandoesteforsuperior

aopreçooferecidocondenaráodesaproprianteapagarhonoráriosdoadvogado,

queserãofixadosentremeioecincoporcentodovalordadiferença,observado

o disposto no § 4o do art. 20 do Código de Processo Civil, não podendo os

honoráriosultrapassarR$151.000,00(centoecinqüentaeummilreais).”

OSTF,nojulgamentodaADI2332/DF,declarouconstitucionalopercentual

mínimode0,5%emáximode5%paraconcessãodoshonorários.Dessemodo,

nãoseaplicamasregrasprevistasnoart.85,§6º,doNCPC,emrazãodoprincípio

daespecialidade.

Ressalta-se que base de incidência dos honorário é a diferença entre o

montantefixadonasentençaeopreçoofertadoemjuízopeloentepúblico.

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Ademais, o STF declarou inconstitucional a expressão “não podendo os

honorários ultrapassar R$ 151.000,00”, pois há violação ao princípio da

proporcionalidade.

Importante: É possível que o ente expropriante desista da ação de

desapropriação?

Segundo recente julgado do STJ, é possível a desistência da

desapropriaçãoaqualquertempo,mesmoapósotrânsitoemjulgado,desde

que:

a) aindanão tenhahavidoopagamento integraldopreço (pois, caso

efetuadoopagamento,játeráseconsolidadoatransferênciadapropriedade

doexpropriadoparaoexpropriante);

b)oimóvelpossaserdevolvidosemqueeletenhasidoalteradodeforma

substancial,ouseja,semquehaja impedimentodautilizaçãocomoantesera

possível).

Ademais,éônusdoexpropriadoprovaraexistênciadefatoimpeditivo

dodireitodedesistênciadadesapropriação.

(STJ.2ªTurma.REsp1.368.773-MS,Rel.Min.OgFernandes,Rel.paraacórdão

Min.HermanBenjamin,julgadoem6/12/2016(Info596).)

Importante:ÉobrigatóriaaintervençãodoMinistérioPúbliconasações

dedesapropriação?

HádiscussãodoutrináriaarespeitodanecessidadedeintervençãodoMP

nasaçõesdedesapropriação,sobretudodiantedaausênciadetratamentodo

temanoDL3.365.

HácorrentedoutrináriaqueafirmaserobrigatóriaaintervençãodoMP

naformadoart.178,I,doNCPC,tendoemvistaapresençadointeressepúblico,

bemcomopelaaplicaçãoanalógicadoart.18,§2º,daLC76/93,queexigea

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intervençãoministerialnasaçõesdedesapropriaçãodeimóvelruralparafinsde

reformaagrária.

Contudo, a posição majoritária entende pela inexistência de

obrigatoriedadedaintervenção,salvonocasodoart.18,§2º,daLC76/93.

ConfirajulgadodoSTJnomesmosentido:

“Emregra,aaçãodedesapropriaçãodiretaouindiretanãopressupõe

automática intervenção do Parquet, exceto quando envolver, frontal ou

reflexamente, proteção ao meio ambiente, interesse urbanístico ou

improbidade administrativa”. (STJ. 1ª Seção. EREsp 506.226/DF, Rel. Min.

HumbertoMartins,julgadoem24/04/2013

7. Desapropriaçãoporzona

Adesapropriaçãoporzonaestáprevistanoart.4ºdoDL3.365/41eabrange

aáreacontíguanecessáriaaodesenvolvimentodaobrapúblicaeaszonasquese

valorizaremextraordinariamenteemdecorrênciadarealizaçãodoserviço.

Assim,hádoisfundamentosparadesapropriaçãoporzona:

a)desapropriaçãodeimóveisnecessáriosàrealizaçãodeobraspúblicas;e

b) desapropriação de imóveis valorizados de forma extraordinária em

decorrênciadarealizaçãodeobrasedaprestaçãodeserviçospúblicos.

Partedadoutrinaentendequeosegundofundamentodadesapropriação

por zona se mostra inconstitucional em razão do Poder Público já dispor de

mecanismomenosrestritivoaodireitodepropriedadequeatingeaomesmofim:

acontribuiçãodemelhoria,previstanoart.145,III,daCF.Todavia,confirajulgado

doSTJentendendoviáveladesapropriaçãoporzonadecorrentedevalorização

extraordinária:“[...]6.Nahipótesedevalorizaçãogeralordinária,dispõeoPoder

Públicodacontribuiçãodemelhoriacomoinstrumentolegalaptoa‘diluir’,entre

osproprietáriosbeneficiadoscomaobra,ocustodesuarealização.7.Nocasode

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valorização geral extraordinária, pode o Estado valer-se da desapropriação por

zona ou extensiva, prevista no art. 4º do Decreto-Lei 3.365/41. Havendo

valorização exorbitante de uma área, pode o Estado incluí-la no plano de

desapropriaçãoe,comarevendafuturados imóveisaliabrangidos,socializaro

benefício a toda coletividade, evitandoqueapenasumoualgunsproprietários

venhamaserbeneficiadoscomaextraordináriamaisvalia.8.Porfim,tratando-se

devalorizaçãoespecífica,esomentenessahipótese,poderáoEstadoabater,do

valoraserindenizado,avalorizaçãoexperimentadapelaárearemanescente,não

desapropriada,nostermosdoart.27doDecreto-Lei3.365/41.[...]”(STJ,2ªTurma,

REsp1.092.010/SC,Rel.Min.CastroMeira,DJede15/09/2011).

8. TredestinaçãoeRetrocessão

AtredestinaçãoocorrequandooPoderPúblicoconferedestinaçãodiversa

daprevistainicialmenteaobemexpropriado.Emsíntese,éodesviodefinalidade

doatodedesapropriação.Atredestinaçãopodeser:

a) Lícita:ocorrequandooPoderPúbliconãosatisfazo interessepúblico

previsto inicialmente no decreto expropriatório, masmantem uma destinação

pública ao bem. Ex.: Determinado município desapropria uma área para

construçãodeumaescolapública,masacabaconstruindoumhospital.

b)Ilícita:ocorrequandooenteestataldádestinaçãodiversaaoobjeto,mas

não atende a nenhum interesse público. Celso Antônio de Melo entende

caracterizadaatredestinação ilícitaquandooenteabre licitaçãoparavendero

bem desapropriado, provando-se que não o utilizará para satisfazer uma

necessidadepública.

Somente a tredestinação ilícita dá ensejo ao chamado direito de

retrocessão,conceituadocomoodireitodoexpropriadodeexigiradevoluçãodo

bemobjetodadesapropriaçãoquenãofoiutilizadopeloentepúblicoparaatender

ointeressepúblico.

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ComoesseassuntofoicobradoemprovaCESPE-2017-PGE-SE-ProcuradordoEstadoÀluzdadoutrinaedajurisprudênciasobreaintervençãodoEstadonapropriedade,assinaleaopçãocorreta.

a) Situaçãohipotética:Determinadapropriedaderuraléprodutivaecumpresua função social emmetadede suaextensão, aopassoque,naoutrametade, são cultivadas plantas psicotrópicas ilegais. Assertiva: Nessasituação,eventualdesapropriaçãorecairásomentesobreametadequesedestinaaocultivodeplantaspsicotrópicasilegais.

b) Situação hipotética: Um estado emitiu decreto expropriatório para aconstrução de um hospital. Após a execução do ato expropriatório, aregião foi acometida por fortes chuvas, que destruíram um grandenúmerodeescolas.Assertiva:Nessasituação,sedeterminaraalteraçãodadestinaçãodobemparaaconstruçãodeescolas,oestadonãoteráobrigaçãodegarantiraoex-proprietárioodireitoderetrocessão.

c) Situaçãohipotética:Mariaadquiriuumapartamentonacoberturadeumedifício.Apósaaquisiçãodoimóvel,comaaverbaçãodoregistro,Mariapleiteouindenizaçãocontraoestado,considerandoapréviaexistênciadelinha de transmissão em sua propriedade. Assertiva: Nessa situação,Mariaterádireitoaindenização,desdequeoprejuízoalegadonãorecaiatambémsobreasdemaisunidadesdoedifício.

d) Situação hipotética: Um imóvel com área efetivamente registradaequivalentea90%dasuaáreareal,depropriedadedePedro,foiobjetode desapropriação direta. Assertiva: Nessa situação, o pagamento deindenização a Pedro deverá recair sobre a totalidade da área real doreferidoimóvel.

e) Um imóvel rural produtivo, mas que não cumpre a sua função social,poderáserdesapropriadoparafinsdereformaagrária,segundoaCF.

GabaritoBAprofundamentodotema

Qualanaturezajurídicadodireitoderetrocessão?

Háprofundadivergênciaacercadanaturezajurídicadaretrocessão.Em

razãododispostonoart.35doDL3.365,partedadoutrinavênaretrocessão

umdireitodenaturezapessoal,poisoexpropriadosópoderiapleitearperdase

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danosenãoadevoluçãodobem.Ademais,oCódigoCivil inseriuodireitode

retrocessãonocapítuloquetratadosdireitospessoais(art.519).

Entretanto,majoritariamente,entende-searetrocessãocomodireitode

natureza real, garantindo-se ao particular desapropriado a possibilidade de

reaverobem,mesmoqueestejátenhasidoalienadoaterceiros,emvirtudeda

prerrogativadesequela,presentenosdireitosreais.Umavezqueoart.5º,XXIV,

da CF apenas admite a desapropriação para atendimento da

utilidade/necessidade pública e interesse social, deve ser tida como

inconstitucional a desapropriação que não satisfaz essas finalidades.

Consideradanula,portanto,adesapropriação,obemdeveserdevolvidoaoseu

proprietário.

Quantoaoprazodeprescriçãoparaproposituradaaçãoderetrocessão,

para os autores que defendem a natureza pessoal da retrocessão, o prazo

prescricional seria de cinco anos, conforme previsão contida no Decreto

20.910/32. Por outro lado, os autores que sustentam o caráter real da

retrocessão,sustentamaaplicaçãodoprazoprescricionaldedezanos,naforma

do art. 205 do CC, tendo em vista a inexistência de prazo específico e a

inexistênciadedistinçãoentreaçõespessoaisereaisparafinsdeprescrição.

Aprofundamentodotema

Em determinados casos, o ente público desapropria o bem, mas não

atende ao interesse público, nem favorece indevidamente interesse privado,

permanecendoinerte.Assim,pergunta-se:aomissão(“adestinação”)doEstado

écapazdeconfigurartredestinação?

Deacordocomacorrentemajoritária,aomissãoestatalnãoconfigura

tredestinação e não gera direito a retrocessão. Entende-se que, diante da

ausênciadeprazolegalparaadestinaçãopúblicadobemdesapropriado,sóse

podefalaremtredestinação ilícita,econsequentementeemretrocessão,por

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meiodeatoconcretoecomissivoquecomproveaintençãodenãoutilizaçãodo

bemparasatisfazerointeressepúblico.

ParaRafaelRezendeOliveira:“oPoderPúblicodeveatenderointeresse

público dentro de um prazo razoável, tendo em vista os princípios

constitucionaisdarazoabilidadeedamoralidade,bemcomoa interpretação

adequadadoart. 5º,XXIV,daCRFB.AomissãoprolongadadoPoderPúblico

demonstra que a desapropriação não era necessária, pois o bem não foi

utilizado para qualquer interesse público(...). Por essa razão, na ausência de

prazo específico, deve ser aplicado, por analogia, o prazo de caducidade do

decretoexpropriatóriocomolimitemáximoparaoatendimentodointeresse

públicocomobemdesapropriado,sobpenadeomissãoilícita.”

9. DesapropriaçãoindiretaA desapropriação indireta é desapropriação que não respeita o devido

processo legal. O ente público se apropria do bem particular sem observar o

procedimento administrativo ou judicial disposto em lei. De fato, trata-se de

verdadeiroesbulhopraticadopelopoderpúblico.

Emquepeseailicitudedamedida,quandoopoderpúblicoesbulhaobem

privadoeutiliza-oparasatisfaçãodointeressepúblico,oparticularnãopodemais

reaver seu bem, dada a destinação pública, restando somente o direito à

indenização,atravésdaAçãodeIndenizaçãoporDesapropriaçãoIndireta.

Ofundamentolegaldadesapropriaçãoindiretaéoart.35doDL3.365que

assimdispõe:“Osbensexpropriados,umavez incorporadosàFazendaPública,

não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do

processodedesapropriação.Qualqueração,julgadaprocedente,resolver-se-áem

perdasedanos.”

A doutrina entende que enquanto não houver afetação do bem ao

interessepúblico, o particular pode se valer de açõespossessórias em facedo

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Estado.Somentenãopoderápleitearoretornodobemaoseupatrimônio,sejá

houversidoutilizadoparaconsecuçãodefinalidadespúblicas.

Quantoanaturezajurídicadaaçãodedesapropriaçãoindireta,oSTFeo

STJentendemcomoaçãodenaturezareal.Dessemodo,acompetênciaparao

julgamentodofeitoédolocaldasituaçãodobem,conformeart.47doNCPC.

ComoesseassuntofoicobradoemprovaCESPE-2017-TJ-PR-JuizSubstitutoAssinaleaopçãocorretaarespeitodadesapropriaçãoindireta.

a) Seaadministraçãoconferirdestinaçãopúblicaadeterminadobem,oparticularprejudicadopoderárecorreraaçõespossessórias,reivindicatóriaseindenizatórias.

b) Ojuízocompetenteparaprocessarejulgaradesapropriaçãoindiretaéodoforodesituaçãodobem

c) Aafetaçãodobemparticularaumfimpúblicoconstituiformadetransferênciadapropriedade.

d) Porobservarodevidoprocessolegal,adesapropriaçãoindiretaéinstitutoamplamentepraticadoepermitidopelalegislaçãobrasileira.

GabaritoBOsjuroscompensatóriossãodevidosdesdeaindevidaocupaçãoeincidem

sobreovalortotaldobem,hajavistaonãopagamentodenenhumaindenização

prévia (súmula114doSTJ), (lembre-sequenadesapropriaçãodiretaabasede

cálculoéadiferençaentre80%dovalorofertadoem juízoeo valor fixadona

sentença).Damesmaforma,serãodevidososjurosmoratóriosapartirdejaneiro

doanoseguinteàdatadepagamentodoprecatórioexpedido.

Emrelaçãoaoprazoprescricionaldaaçãodedesapropriaçãoindireta,oSTJ

entendequeaaçãopodeserpropostapeloparticularprejudicadoenquantonão

tivertranscorridooprazoparaqueoPoderPúblicoadquiraapropriedadedobem

pormeiodausucapião.Assimcomonãoháumprazoespecífico,poranalogia,o

STJentendeuquedeveriaseraplicadooprazodausucapiãoextraordinária.

ComoCódigoCivilde2002,oprazodausucapiãoextraordináriapassoua

serde15anos.Noentanto,esteprazoéreduzidopara10anosseopossuidor

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tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo no local (art. 1.238,

parágrafo único do CC). Como na desapropriação indireta pressupõe-se que o

Poder Público tenha realizado obras no local, dando ao imóvel uma utilidade

pública,entende-sequeasituaçãoseenquadranoparágrafoúnicodoart.1.238

doCC,desorteque,atualmente,ajurisprudênciaconsideraoprazo10anospara

prescriçãodaaçãodedesapropriaçãoindireta.

Cuidado,asúmula119doSTJ,queprevêqueaaçãodedesapropriação

indiretaprescreveem20anos,foieditadasobaégidedoCódigoCivilde1916e

nãoestámaisemvigor.

ComoesseassuntofoicobradoemprovaCESPE-2015-TRF-1ªREGIÃO-JuizFederalSubstitutoAUniãopublicoudecretoexpropriatórioporutilidadepúblicadeimóvelurbano.Nodecreto,declarou-seointeressedeinstalar,noreferidoimóvel,asedededeterminadoórgãopúblicofederal.Aadministraçãopúblicaimitiu-senapossedobemerealizouasreformasnecessárias.Emseguida,asatividadesdoórgãopúblico foram inauguradas no imóvel. O prazo do decreto expropriatóriocaducou sem que a administração propusesse acordo para o pagamento daindenização nem ajuizasse, para esse fim, a ação judicial.Acercadessasituaçãohipotética,assinaleaopçãocorretaà luzdasnormaseprecedentesjurisprudenciaisarespeitodadesapropriação.

a) Aaçãode indenização temnaturezapessoaledeveserpropostapeloproprietárionoforodedomicíliodapessoajurídicaexpropriante.

b) ConformeoentendimentoatualdoSTJ,oprazoparaainterposiçãodaação indenizatória, pelo proprietário, é de vinte anos, contados daimissãonaposse.

c) OproprietáriopoderáobterarestituiçãodobemmedianteaproposituradeaçãoreivindicatóriacontraaUnião.

d) Ocorreu desapropriação indireta, que, comparada à desapropriaçãocomum, caracteriza-se pela inversão entre as fases de pagamento daindenizaçãoeapossamentodobemdesapropriado.

e) Não houve ilegalidade na imissão na posse ocorrida, visto que o atoadministrativoédotadodeautoexecutoriedadeedecorreudospoderestransferidosàadministraçãopelodecretoexpropriatório.

GabaritoD

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SERVIDÃOADMINISTRATIVA Aservidãoadministrativaéodireitorealpúblicoquepermiteautilização

dapropriedadealheiapeloEstadocomoobjetivodeatenderointeressepúblico.

Trata-sederestriçãoimpostapeloenteestatalabensprivados,determinandoque

seuproprietáriosuporteautilizaçãodoimóvelpeloEstado,oqualdeveráusara

propriedadeparaasatisfaçãodointeressepúblico.

De acordo com Rafael Rezende Oliveira, “os traços característicos da

servidãoadministrativasãobasicamenteosmesmosencontradosnasservidões

privadasreguladaspeloart.1378doCC.Nasservidões(administrativaouprivada),

existem dois prédios pertencentes a donos diversos: prédio dominante

(beneficiário da servidão) e prédio serviente (aquele que sofre a restrição). O

prédio serviente deve se sujeitar à restrição estipulada em favor do prédio

dominante.Alémdaobrigaçãodetolerânciaoudenãofazer,oproprietáriodo

prédioservientetem,eventualmente,obrigaçõespositivas(ex.:limparoterreno,

podarárvores,etc.).”

Comoexemplode servidõesadministrativas tem-sea instalaçãode rede

elétricaouaimplantaçãodeoleodutosempropriedadesprivadas;ainstalaçãode

placasinformativasemmuroscontendoonomedaruaeetc.

AservidãoadministrativapodeserinstituídapeloPoderPúblicoouporseus

concessionários e permissionários de serviços públicos. Neste último caso, os

delegatáriosdependemdeautorizaçãolegalounegocialparapromoverosatos

necessários à efetivação da servidão e serão responsáveis pelas eventuais

indenizações.

Nesse sentido, o art. 18, XII, da Lei 8.987/95 define a possibilidade de

instituição de servidões pelo concessionário de serviços públicos, após a

efetivaçãodedeclaraçãodeinteressepúblicopeloenteestatal.

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Objeto

Aservidãoadministrativaincideapenassobrebemimóvel.

Emrelaçãoàbempúblico,MatheusCarvalhoafirmaque,“paraadoutrina

majoritária,épossívelaincidênciadeservidãoadministrativasobrebenspúblicos,

desde que seja respeitada a "hierarquia federativa'', analisando-se

analogicamente o art. 2°, §2°, do Decreto-Lei 3.365/41 que trata da

desapropriação.”Assim,aUniãopoderiainstituirservidãosobrebensestaduaise

municipaiseosEstadossomentesobrebensdeMunicípios,nãoseadmitindoo

inverso.

Nessesentido,naprovaparaProcuradordoEstado(PGE/SE,2017),abanca

CESPE considerou ERRADA a seguinte assertiva: Admite-se a instituição de

servidãoadministrativadebemdaUniãopormunicípio,desdequedeclaradaa

utilidadepúblicaeobservadooprocedimentodadesapropriação.

Comoesseassuntofoicobradoemprova

CESPE-2016-TJ-AM-JuizSubstituto

Acercadaservidãoadministrativa,assinaleaopçãocorreta.

a) Aservidãoadministrativa,denaturezadedireitorealede

definitividade,incidesobrebemimóveledeladecorreodireitoà

indenizaçãopréviaeincondicionadaaoproprietáriodobem.

b) Sendopermanente,aservidãoadministrativajamaisseráextinta,

aindaqueapropriedadesejaincorporadaaopatrimôniodapessoa

emfavordaqualfoiinstituída.

c) Aservidãoadministrativa,direitorealpúblicoqueautorizaopoder

públicoausarapropriedadeimóvelparaaexecuçãodeobrase

serviçosdeinteressecoletivo,podeincidirtantosobrebemprivado

quantopúblico.

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d) Sendoodecretoexpedidoparaconstituiraservidãoadministrativa

revestidodepublicidade,édesnecessáriaainscriçãonoregistrode

imóveisparaaproduçãodeefeitosergaomnes.

e) Aindaquenãohajadanoefetivoouprejuízoscausadosaoimóvel

serviente,serádevidaaindenização,umavezquealimitaçãodo

direitodecorrentedaservidão,porsi,geradanoabstrato.

GabaritoC

Indenização

Emregra,ainstituiçãodeservidãonãoensejaopagamentodeindenização.

Nãoobstanteoart.40doDec.-lei3.365/41disporquePoderPúblicopodeinstituir

servidõesmediante indenização, a indenização somente será devida se houver

comprovaçãododanopeloparticular.

Para Rafael Rezende Oliveira, o prazo prescricional para propositura da

açãoindenizatóriaédecincoanos,naformadoart.10,parágrafoúnico,doDec.-

lei3.365/41.

InstituiçãoeExtinção

As servidões administrativas podem ser instituídas por meio de acordo

entreaspartes,instrumentalizadoporescriturapública.

Além disso, caso não haja acordo, o Poder Público pode intentar ação

judicialparaconstituiraservidãoporsentença.DeacordocomRafaelRezende

Oliveira,oprocedimentoutilizadodeveseranálogoaoprocedimentoexigidopara

adesapropriação(art.40doDec-lei3.365/41).

Deveserregistrada,emCartóriodeRegistrodeImóveis,paraqueproduza

efeitosergaomnes.

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Aprofundandootema

Há divergência doutrinária acerca da possibilidade de instituição de

servidãopúblicapormeiode lei.ParaMariaSylviaDiPietro,aservidãopode

decorrerdeacordo,sentençajudicialoudiretamentedalei.Sedecorredelei,

dispensaregistro;nasdemaishipóteses,oregistroéindispensável.JáJosédos

Santos Carvalho Filho entende que a lei não pode constituir servidão

administrativa.

RafaelRezendeOliveiraexplicaqueacontrovérsiadoutrináriaadvémda

distinção entre servidões e limitações administrativas. Os autores, que não

admitem a instituição de servidões por lei, distinguem as servidões e as

limitaçõesapartirdocritériode instituiçãodessas intervenções:enquantoas

servidõessão instituídasporatosque individualizamoseuobjeto(acordoou

sentença judicial), as limitações administrativas, em virtude do seu caráter

genérico,sãoinstituídasporleiouatonormativo.

Por outro lado, os autores que admitem a utilização da lei como

instrumentoparainstituiçãodeservidõesedelimitaçõesbuscamoutrocritério

paradistinguiressasduasespéciesdeintervenção:alimitaçãoéinstituídapara

satisfazer o interesse público genérico e abstrato (ex.: proteção do meio

ambiente),aservidão,porsuavez,pressupõeaexistênciadeinteressepúblico

materializadoemfavordoprédiodominantequedevesersatisfeito.

Emregra,a servidãoadministrativa temcaráterpermanente (perpétuo).

Contudo, alguns fatores podem levar a sua extinção, como por exemplo o

desaparecimentodobemouaincorporaçãodoimóvelaopatrimôniodapessoa

queainstituiu.Alémdisso,pode-seextinguiraservidãonassituaçõesemquenão

hajamaisinteressepúbliconasuamanutençãosobreobem.

Matheus Carvalho ressalta que “a servidão é intervenção restritiva, não

podendoimpedirautilizaçãodobempeloparticular,situaçãonaqualocorreuma

servidãoquedisfarçaadesapropriação,oquecaracteriza,noentendimentoda

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doutrinaejurisprudência,umasituaçãodedesapropriaçãoindireta.Comefeito,

sea restrição impedeousodobempeloparticular,ocorreráuma intervenção

supressiva(desapropriação)enãorestritiva.”

Comoesseassuntofoicobradoemprova

VUNESP-2018-PC-SP-DelegadodePolícia

A atividade administrativa do Estado frequentemente demanda a

necessidadedeintervençãodapropriedadeindividualemrazãodeuminteresse

público maior. A respeito das diversas modalidades de intervenção na

propriedade,julgueasafirmaçõesaseguireselecioneaalternativacorreta.

A) Aservidãoadministrativaéa intervençãonapropriedadeparticular

quedecorredainstituiçãodedireitoreal,impondoaoproprietárioa

obrigação de suportar ônus parcial sobre o imóvel de sua

propriedade,embenefíciodeserviçopúblicooudeumbemafetado

aumserviçopúblico.

B) A legislaçãobrasileiranãoautorizaaocupação temporáriadebens

imóveis particulares no Brasil, devendo a Administração, se

necessáriaaocupaçãodeimóvelparafinsdepesquisaarqueológica,

apresentaraçãodedesapropriaçãocompedidodeimissãonaposse.

C) Afunçãosocialdapropriedadeéofundamentoparaaaplicaçãodas

restriçõesdecorrentesdotombamentodebensparticularesdoBrasil,

tornandoobem,apartirdaformalizaçãodarestriçãoadministrativa,

integrantedopatrimôniopúblico,deixandodecomporoacervodo

particular.

D) Em regra, o tombamento de bens pela Administração, para a

preservação de interesses de caráter histórico e cultural, exigirá a

préviaindenizaçãodoproprietárioemvalorequivalenteaoônusde

preservaçãoaeleimposto.

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E) Adesapropriaçãodebensimóveisocorrerásempremedianteprévia

indenização em dinheiro, conforme expressa determinação da

Constituição.

GabaritoA

TOMBAMENTO

O tombamento é a forma de intervenção restritiva do Estado na

propriedadequetemcomofinalidadeaproteçãodopatrimônioculturalpátrio.

Deacordocomoart.216daCF,constituempatrimônioculturalbrasileiroosbens

de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,

portadoresdereferênciaàidentidade,àação,àmemóriadosdiferentesgrupos

formadoresdasociedadebrasileira.

Oart.1ºdoDecretoLei25/37definecomopatrimôniohistóricoeartístico

nacionalosbensmóveise imóveisexistentesnopaís,cujaconservaçãosejade

interessepúblico,querporsuavinculaçãoafatosmemoráveisdahistóriadoBrasil,

quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou

artístico.

Todososentesfederativospossuemcompetênciaparapromoverosatos

necessários ao tombamento de bens públicos ou privados. Ademais, omesmo

bempodesofrerrestriçãodemaisdeumenteaomesmotempo.

Defato,oart.23,III,daCFasseveraqueécompetênciacomumdaUnião,

Estados,DFeMunicípiosprotegerosdocumentos,asobraseoutrosbensdevalor

histórico,artísticoecultural,osmonumentos,aspaisagensnaturaisnotáveiseos

sítiosarqueológicos.

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Acompetêncialegislativasobreproteçãoaopatrimôniohistórico,cultural,

artístico,turísticoepaisagístico,deacordocomoart.24,VII,daCF,éconcorrente

entreUniãoeEstados,cabendoaUniãoaediçãodenormasgerais(art.24,§1º).

Entende-sequeosMunicípiospodemlegislarsobretombamentolevando

em consideração o interesse local ou suplementando a legislação federal e

estadual,conformeinterpretaçãosistemáticadosarts23,IIIe30,I,IIeIXdaCF

(obs.: há doutrina que entende que osMunicípios não podem legislar sobre o

tema.Nessesentido:MariaSylviaDiPietro.)

Nãoháconsensoarespeitodanaturezadotombamento.Algunsautores

sustentamqueotombamentoéumaespéciedeservidãoadministrativa(nesse

sentido:CelsoAntônioBandeiradeMelo).Todavia,adoutrinamajoritáriatratao

tombamento como espécie autônoma de intervenção estatal restritiva na

propriedadecomcaracterísticasespecíficas,nãoseconfundindocomnenhuma

outraespécie (nessesentido:MariaSylviaDiPietroe JosédosSantosCarvalho

Filho).

Objeto

Otombamentoincidesobrebensmóveiseimóveisquetenhamrelevância

paraanoçãodepatrimôniohistóricoeartísticobrasileiro.

Algunsautoresadmitemotombamentodebensimateriais(nessesentido:

Di Pietro). Contudo, outra parte da doutrina ressalta que a proteção dos bens

imateriaisdevalorculturalérealizadamedianteo“Registro”(previstonoart.216,

§1º,daCF),enãopropriamentepelotombamento.Tratandodotema,oDecreto

3.551/2000definiuquaisbensimateriaisestãosujeitosaregistronoIPHAN.

Outracontrovérsiadizrespeitoàpossibilidadedesetombarbenspúblicos.

Parte da doutrina não admite o tombamento de bens públicos e outra parte

determina que o tombamento deverá respeitar a "hierarquia federativa", em

analogiaàsdisposiçõesdoart.2°,§2°,doDecreto-Lei3.365/41.

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Ocorre que, a doutrina majoritária entende pela possibilidade de

tombamento de bens públicos, inclusive feita de “baixo para cima”, ou seja,

Municípios podem tombar bens estaduais e federais e Estados podem tombar

bensdaUnião.Comefeito,anormalegal(art.2º,§2º,DL3.365)queimpossibilita

adesapropriaçãodebenspúblicosdeentes“maiores”porentes“menores”deve

ser interpretada de forma restritiva, uma vez que o tombamento não retira a

propriedadedobemcomoocorrecomadesapropriação.

Comoesseassuntofoicobradoemprova

CESPE-2017-PGE-SE-ProcuradordoEstado

Comreferênciaàsformasdelimitaçãodapropriedade,àproteçãodo

patrimôniohistórico,artísticoeculturaleàdesapropriação,assinaleaopção

correta.

a) Apósoprazofixadonaleiquedefineaáreasujeitaaodireitode

preempção,nãoviolaodireitodepreferênciaavendadeimóvela

particularmediantepropostadiferentedaapresentadaaopoder

público,aindaquesempreviamenteconsultá-lo.

b) Emvirtudedaaplicaçãodoprincípiodaisonomia,incideoprazo

prescricionaldetrêsanosàpretensãodoproprietárioparaa

reparaçãodeprejuízosdecorrentesdarequisição.

c) Enquantoarequisiçãoadministrativapodesergratuitaou

remunerada,aocupaçãotemporária,devidoaoseucaráter

precário,serásempregratuita.

d) Admite-seainstituiçãodeservidãoadministrativadebemdaUnião

pormunicípio,desdequedeclaradaautilidadepúblicaeobservado

oprocedimentodadesapropriação.

e) SegundooSTJ,nãoincideoprincípiodahierarquiafederativano

exercíciodacompetênciaconcorrenteparaotombamentodebens

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públicos,oqueautorizaummunicípioatombarbensdorespectivo

estado.

GabaritoE

Ademais, o art. 5º do Decreto 25/37 trata do tombamento dos bens

pertencentesàUnião,aosEstadoseaosMunicípios,afirmandoqueestesefará

deofícioedeverásernotificadoàentidadeaquempertencer,ousobcujaguarda

estiveracoisatombada,afimdeproduzirosnecessáriosefeitos,silenciandosobre

qualquerrestriçãonotombamentodessesbens.

Por fim, excluem-se do patrimônio histórico e artístico nacional, não

podendoser,portanto,objetodetombamentoasobrasdeorigemestrangeiras

descritasnoart.3ºdoreferidodecreto.

Classificações

SegundooDecreto25/37,otombamentopodeser:

-Voluntário(art.7º):Ocorrecomoconsentimentodoproprietáriodobem

a ser tombado. Nesses casos, o proprietário toma a iniciativa para requerer o

tombamento,casoemqueoórgãoresponsávelverificaráseobemtemrelevância

históricaoucultural,ouéefetivadoporiniciativadopoderpúblicoeoparticular,

apósnotificaçãoparamanifestaçãonoprazode15dias,deixade impugnarou

concordaexpressamentecomotombamento.

-Compulsório(arts.8º):Éaqueleefetivadocontraavontadedoparticular.

Nesses casos, deverá ser realizado um procedimento administrativo, com o

exercício do contraditório, com a finalidade de inscrição do bem no Livro do

Tombo.

- De ofício (art. 5º): É o tombamento de bens públicos que se

instrumentaliza de ofício pelo ente federado que pretende tombar o bem,

notificando-seaentidadeaqualpertenceacoisaasertombada,afimdeproduzir

osnecessáriosefeitos.

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Emtodososcasosacima,otombamentoéfinalizadocoma inscriçãodo

bemnoLivrodoTombo,conformeart.10doDec.25/37.

Além disso, há classificação legal de acordo com a eficácia do ato:-

Provisório: Ocorre quando ainda se está em curso o procedimento do

tombamento.SegundoMatheusCarvalho,émedidacautelaradministrativacomo

formadegarantiroresultadopráticodoprocesso.Éiniciadocomanotificaçãodo

Comoesseassuntofoicobradoemprova

VUNESP-2018-PGE-SP-ProcuradordoEstado

MunicípioexpediunotificaçãoaoEstadoafimdecomunicarainscrição,

peloPrefeito,nolivrodotombopróprio,debemimóveldevalorhistórico,de

propriedade estadual e situado no território municipal. O ato municipal de

tombamento,deacordocomajurisprudênciadoSupremoTribunalFederal,é

A) ilegal,porqueoatodetombamentoédecompetênciadoChefedo

PoderExecutivodecadaentedaFederação,apósaprovaçãodoato

pormeiodeleiespecífica.

B) lícito e produz efeitos a partir do recebimento da notificação pelo

Estadoproprietáriodobem.

C) lícito, porém provisório, condicionada a produção de efeitos à

autorização do Poder Legislativo por lei específica de efeitos

concretos.

D) ilegal, porque o tombamento de bem público é de competência

exclusivadoServiçodoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacional.

E) ilegal, nos termos do artigo 2° , § 2° , do Decreto-Lei n° 3.365/41

(Desapropriação),aplicávelaocasodescritoporanalogia,quedispõe

quebensdedomíniodosEstadospoderãoserdesapropriadosapenas

pelaUnião.

GabaritoB

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particular e perdura enquanto não se finaliza a inscrição do bem. Como o

tombamentoprovisórioé,emúltimaanálise,apenasumafasedoprocedimento,

oart.10,parágrafoúnico,doDec.25/37dispõeque:“Paratodososefeitos,salvo

a disposição do art. 13 desta lei, o tombamento provisório se equiparará ao

definitivo.”

-Definitivo:Éaqueleverificadocomaconclusãodoprocessoadministrativo

dotombamento,finalizando-secomainscriçãodobemnoLivrodoTombo.

Otombamentoaindapodeserclassificadocomo individual (incidesobre

um determinado bem) ou geral (quando tem por objeto todos os bens de

determinado bairro, por exemplo). Também pode ser parcial, quando apenas

partedobemétombado(ex.:tombamentodefachadadeumacasahistórica)ou

total,tombando-seatotalidadedobem.

Efeitos

Otombamentodeumbemproduzcertosefeitosaoparticular,aopoder

públicoeàterceiros,conformearts.11a22doDec.25/37.

-Oproprietáriotemodeverdeprotegerobemtombado,impedindosua

demolição,mutilaçãooudestruição(art.17).

-Ademais,temodeverdeconservarobemdaformacomoseencontra,

exigindo-seaautorizaçãodoPoderPúblicoparaprocederreparação,pinturaou

conservação,sobpenademulta(art.17).Ressalta-sequearesponsabilidadede

reparareconservaroimóveltombadoé,emprincípio,doproprietário.Casonão

possua recursos financeiro para realizar a conservação, o proprietário deverá

informar ao órgão ou entidade competente para a realização das obras

necessárias(art.19).

Comoesseassuntofoicobradoemprova

FCC-2016-PrefeituradeTeresina-PI-AuditorFiscaldaReceitaMunicipal

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Otombamentoéatodeintervençãoestatalnapropriedadequeimplica,ao

proprietário,odeverdepreservá-laemtodasassuascaracterísticas

declaradascomoportadorasdesignificativovalorhistórico,cultural,artístico

oupaisagístico,tornando-a,assim,parteintegrantedopatrimôniocultural

brasileiro.Paratalpreservaçãocumpreaoproprietáriodobemtombado

a) eximir-sedecustearasmedidasdepreservação,vistoque,emse

tratandodebemintegrantedopatrimônioculturalbrasileiro,

cumpreaoEstado,titulardessepatrimônio,enãomaisao

particular,custeá-lasintegralmente.

b) arcarintegralmentecomoscustosdepreservação,salvosedeclarar

quenãodispõederecursosparatanto,hipóteseemqueoEstado

deverálheassistir.

c) arcarintegralmentecomoscustosdepreservação,jamaislhe

socorrendoodireitodeobterassistênciaestatalparaessecusteio.

d) arcarintegralmentecomoscustosdepreservação,podendo,

todavia,alterá-losignificativamentesetalmedidaobjetivarangariar

recursosquepermitamamelhorpreservaçãodaparcela

remanescente.

e) repartirsemprecomoEstadooscustosdepreservação,portratar-

sedepropriedadeafetaainteressestantopúblicoscomoprivados.

GabaritoB

-Obemmóvelsópoderádeixaropaísemcasodeautorizaçãodoórgão

competente,porcultoperíododetempo,parafimdeintercâmbiocultural,sema

transferênciadedomínio.(art.14).

-Oproprietáriotemodeverdenotificaropoderpúblicoemcasodefurto

ouextraviodobemtombado,sobpenademulta(art.16).

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É importante ressaltar que o tombamento não inibe o proprietário de

alienar o bem ou gravar livremente a coisa tombada, de penhor, anticrese ou

hipoteca.

Porfim,deacordocomMatheusCarvalho,osbenspúblicostombadossão

inalienáveis,hajavistaostentaremaqualidadedebemdeusoespecial(visandoà

proteçãodomeioambientehistórico,artísticoecultural).

Comoesseassuntofoicobradoemprova

CESPE-2017-MPE-RR-PromotordeJustiçaSubstituto

ObemdepropriedadeparticulartombadopeloServiçodoPatrimônio

HistóricoeArtísticoNacionalpoderá

a) sairdopaíssehouvertransferênciadedomínio.

b) sairdopaís,porprazoindeterminado,desdequeautorizado.

c) seralienado,cabendoaoadquirentefazê-loconstardodevidoregistro.

d) serreparadoourestauradosempréviaautorizaçãodoórgão

competente.

GabaritoC

O Poder Público tem o dever de vigilância permanente sobre o bem e

poderáinspecioná-losemprequeentenderconveniente(art.20).Tambémdeverá

procederamanutençãodobem,quandooproprietárionãotiverrecursosparaa

conservação(art.19,§1º).

Atenção:Anormaquepreviaodireitodepreferência(art.22)doPoder

Públiconocasodealienaçãoextrajudicialdebemtombadofoirevogadacomo

novoCPC(art.1072,I).

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Contudo,aindapermaneceapreferênciadoPoderPúbliconocasode

alienaçãojudicialdebenstombados,deacordocomarts.889,VIII,e892,§3°,

doCPC/2015.

Emrelaçãoaos terceirosvizinhosdobemtombado,oDec.25/37 impõe

que, sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional,nãosepoderá,navizinhançadacoisatombada,fazerconstruçãoque

lheimpeçaoureduzaavisibilidade,nemnelacolocaranúnciosoucartazes,sob

penademulta,alémdodesfazimentodaconstrução(art.18).Adoutrinaentende

queessarestriçãoaosvizinhoséexemplodeservidãoadministrativa.

Indenização

Em regra, entende-se que a instituição de tombamento não enseja

indenizaçãoaoproprietáriodobemtombado.Entretanto,casohajacomprovação

deefetivoprejuízo,oproprietáriopodepleitearorespectivoressarcimento.

Segundo Matheus Carvalho, excepcionalmente, o tombamento pode

ensejaresvaziamentodovaloreconômicodobem,casosnosquaisoproprietário

nãopoderá suportar sozinhoodano, haja vistadeixar de ser uma intervenção

restritivaparaseconfigurarverdadeiradesapropriaçãoindireta,cabendo,nestes

casos,indenização.

Para Rafael Rezende Oliveira, o prazo prescricional para propositura da

açãoindenizatóriaédecincoanos,naformadoart.10,parágrafoúnico,doDec.-

lei3.365/41.

Instituiçãoeextinção

O tombamento deverá ser efetivado mediante a realização de

procedimentoadministrativoemqueseja respeitadoocontraditórioeaampla

defesadoproprietário,ressalvadososcasosdetombamentovoluntário,nosquais

o proprietário concorda integralmente com a medida restritiva sobre seu

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patrimônio.Oprocedimentodeinstituiçãodotombamentoestáprevistonoart.

9ºdoDec.25/37.

Segundo Matheus Carvalho, cada ente federativo, por meio do órgão

competente,deveráconservarolivrodotombo,noqualserãoregistradostodos

osbensdeinteressehistóricoartísticooucultural.

Otombamentodefinitivoseráregistradonolivrodotomboe,emcasode

bensimóveis,aindadeveráserprocedidoaoregistronoCartóriodeRegistrodo

Imóveis.

Aprofundandootema

No tocante à instituição do tombamento, há controvérsia sobre a

possibilidadedeinstituiçãopormeiodelei.JosédosSantosCarvalhoFilhonão

admite tombamento instituído por meio de lei nem mesmo se de efeitos

concretos. Ademais, segundo Rafael Rezende Oliveira, “a impossibilidade de

tombamento legaldecorredanecessidadedeanálise técnicadapresençado

valorculturaldobem,oquesedápormeiodainstauraçãododevidoprocesso

administrativo perante o órgão ou entidade administrativa composta por

especialistas no assunto, com a observância da ampla defesa e do

contraditório.”

Entretanto, deve-se destacar a ressalva do art. 216 §5º, da CF. Nesse

caso, houve a instituição de tombamento, diretamente pela Constituição da

República,de"todososdocumentoseossítiosdetentoresdereminiscências

históricas dos antigos quilombos" Assim, entende-se que, ressalvada essa

hipótese,otombamentodeveserinstituídopormeiodeatoadministrativo.

Comoesseassuntofoicobradoemprova

FCC-2015-TJ-PI-JuizSubstituto

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Considereaseguinteafirmação:

OtombamentoéconstituídomedianteatodoPoderExecutivoque,observada

alegislaçãopertinente,estabeleceoalcancedalimitaçãoaodireitode

propriedade,atoemanadodoPoderLegislativonãopodendoalteraressas

restrições.

Deacordocomoordenamentojurídicobrasileirovigente,talcomo

compreendidopeloSupremoTribunalFederal,aafirmaçãoestá

a) incorreta,eisqueotombamentoéumatomisto,cabendoaoPoder

Executivodecretá-loapósoPoderLegislativohaverfixadoas

limitaçõesaincidiremsobreobemnocasoconcreto.

b) incorreta,eisque,emfacedoprincípiodalegalidade,oPoder

Legislativopodeinterferiremqualquermatéria.

c) correta,eisqueaoPoderLegislativonãocabepraticaratosque,em

caráterindividualeconcreto,digamrespeitoalimitaçõesao

exercíciododireitodepropriedade.

d) incorreta,eisqueotombamento,emregra,éveiculadoporatodo

PoderLegislativo.

e) correta,eisqueoatodoPoderLegislativo,alterandotombamento

concretamentefixadoporatodoPoderExecutivo,seria

incompatívelcomoprincípiodaharmoniaentreosPoderes.

GabaritoE

No tocante a extinçãodo tombamento,MatheusCarvalho admite a sua

revogação,noscasosdeoportunidadeeconveniência,bemcomosuaanulação,

nos casos de ilegalidade. Além disso, pode ocorrer a extinção por

desaparecimentodobemtombado.

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Por fim, é possível o cancelamento do ato de tombamento

(destombamento). O Poder público, de ofício ou em razão de solicitação do

proprietário ou de outro interessado, pode julgar que não mais subsistem os

motivosquederamensejoaoato.

Ademais, segundoMatheus Carvalho, “é cediço que, não obstante seja

responsabilidade do proprietário conservar o bem na forma em que ele se

encontra, caso não tenha condições de fazê-lo, deverá comunicar ao poder

públicoqueteráodeverdeefetivaraconservaçãodestebem.Nestestermos,o

art.19,§2°,dodiplomalegalmencionadoprevêocancelamentonoscasosemque

opoderpúblicoforomissoemsuaobrigaçãodetomarasmedidasnecessáriasà

conservaçãodobem.”

REQUISIÇÃO

A requisição administrativa está prevista no art. 5°, XXV, da CRFB, que

dispõe: "no casode iminenteperigopúblico, a autoridade competentepoderá

usardepropriedadeparticular,asseguradaaoproprietário indenizaçãoulterior,

sehouverdano".

Arequisiçãoéaintervençãonapropriedadequebuscasolucionarsituações

de iminente perigo público, mediante a utilização de bens privados pelo ente

estatal,enquantodurarasituaçãoderisco.Comoexemplo,cita-searequisiçãode

hospitaisprivados,serviçosmédicosedeambulânciasemrazãodeepidemiapara

tratamentodosdoentes.

Ademais, não se deve confundir a competência para implementar

requisições com a competência para legislar sobre o instituto. Todos os Entes

federados podem se valer das requisições administrativas,mas a competência

legislativa somenteé reconhecidaàUnião, conformeart.22, III,daCF (Art.22

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CompeteprivativamenteàUniãolegislarsobre:III-requisiçõescivisemilitares,em

casodeiminenteperigoeemtempodeguerra).

Objeto

Oobjetodarequisiçãoabrangebensmóveis,imóveiseatémesmoserviços

particularesnecessárioparasolucionarasituaçãodeperigo.

Aprofundandootema-requisiçãodebempúblico

Conforme se extrai do art. 5º, XXV, da CRFB, apenas a propriedade

"particular"podeserobjetodarequisiçãoadministrativa

Por outro lado, de acordo com Rafael Rezende Oliveira, “o texto

constitucional menciona a requisição de bens e serviços públicos durante o

EstadodeDefesa(art.136,§1°,II,daCRFB)eoEstadodeSítio(art.139,VIe

VII). O STF (MS 25.295/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, DJ

05.10.2007, p. 22), ao analisar a requisição federal de hospitais públicos

municipais,entendeuquearequisiçãoadministrativatemporobjeto,emregra,

osbenseosserviçosprivados(art.5,XXV,daCRFB)equearequisiçãodebens

e serviços públicos possui caráter excepcional e somente pode ser efetivada

apósaobservânciadoprocedimentoconstitucionalparadeclaraçãoformaldo

EstadodeDefesaedoEstadodeSítio.Nãoépossível,destarte,arequisiçãode

benspúblicosemsituaçãodenormalidadeinstitucional.”

Indenização

Oart.5,XXV,daCF,aotratardarequisição,asseguraaoproprietáriodo

bemrequisitado"indenizaçãoulterior,sehouverdano".Dessemodo,verifica-se

queaindenizaçãoéeventual,jáqueestácondicionadaàefetivacomprovaçãodo

dano;esomenteseráefetivadaulteriormente,ouseja,apósarequisiçãodobem.

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Para Rafael Rezende Oliveira, o prazo prescricional para propositura da

açãoindenizatóriaédecincoanos,naformadoart.10,parágrafoúnico,doDec.-

lei3.365/41.

Comoesseassuntofoicobradoemprova

CESPE-2017-PC-GO-DelegadodePolíciaSubstituto

Umpolicialandavapelaruaquandopresenciouumassalto.Aoveroassaltante

fugir,opolicialparouumcarro,identificou-seaomotorista,entrounocarroe

pediu que ele perseguisse o criminoso. Nessa situação, conforme a CF e a

doutrinapertinente,tem-seumexemplotípicodamodalidadedeintervenção

doEstadonapropriedadeprivadadenominada

a) limitação administrativa, cabendo indenização ao proprietário, se

houverdanoaobemdeste.

b) requisição administrativa, cabendo indenização ao proprietário, se

houverdanoaobemdeste.

c) desapropriação, não cabendo indenização ao proprietário,

independentementededanoaobemdeste.

d) servidão administrativa, não cabendo indenização ao proprietário,

independentementededanoaobemdeste.

e) ocupação temporária, não cabendo indenização ao proprietário,

mesmoquehajadanoaobemdeste.

GabaritoB

Instituiçãoeextinção

Já que utilizada nos caos de iminente perigo público (estado de

necessidade),arequisiçãogozadoatributodaautoexecutoriedade,podendoser

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determinada pelo poder público, independentemente da concordância do

particular,deprocessoadministrativopréviooudedecisãojudicial.

OCUPAÇÃOTEMPORÁRIA AocupaçãotemporáriaéaintervençãobrandapormeiodaqualoEstado

ocupa, por prazo determinado e em situações de normalidade, a propriedade

privadaparaexecuçãodeobrapúblicaouaprestaçãodeserviçospúblicos.Sua

finalidade é permitir que o Poder Público utilize transitoriamente terreno

particular para alocar, por exemplo, máquinas, equipamentos, alojamento de

operários,comomeiodeapoioàexecuçãodeobraseserviços.

Percebe-se que o conceito de ocupação temporária se aproxima da

requisição administrativa. Contudo, enquanto na requisição pressupõe-se uma

situaçãodeiminenteperigopúblico,naocupaçãotemporáriaoEstadousaobem

doparticularemsituaçõesordinárias,corriqueiras.

Essa forma de intervenção encontra-se prevista no art. 36 do Dec.-lei

3.365/41quedispõe:“Épermitidaaocupaçãotemporária,queseráindenizada,

afinal,poraçãoprópria,deterrenosnãoedificados,vizinhosàsobrasenecessários

àsuarealização.”

Tambémestáprevistanoart.58,V,da lei8.666/93quedefineque,nos

casosdeserviçosessenciais,podeoentepúblicoocuparprovisoriamentebens

móveis,imóveis,pessoaleserviçosvinculadosaoobjetodocontrato,nahipótese

danecessidadedeacautelar apuraçãoadministrativade faltas contratuaispelo

contratado,bemcomonahipótesederescisãodocontratoadministrativo.Trata-

sedecláusulaexorbitantequetemointuitodeevitaraparalisaçãodosserviços

públicosprestadospelocontratado,comogarantiaaoprincípiodacontinuidade.

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Disposiçãosimilarencontrarespaldonoart.35,§3º,daLei8.987/95que

reconheceapossibilidadedeocupaçãodasinstalaçõeseautilização,pelopoder

concedente, dos bens da concessionária para evitar a paralisação dos serviços

públicosprestados.

Comoesseassuntofoicobradoemprova

CESPE-2017-DPE-AL-DefensorPúblico

Com o intuito de dar apoio logístico à obra de construção de um hospital

municipal, o prefeito de determinada cidade exarou ato declaratório

informandoanecessidadedeutilização,portempodeterminado,deumimóvel

particularvizinhoàobra,oqualserviriacomoestacionamentoparaasmáquinas

ecomolocaldearmazenamentodemateriais.

Nessa situação hipotética, a modalidade de intervenção do ente público na

propriedadedenomina-se

A) ocupaçãotemporária.

B) desapropriação.

C) requisiçãoadministrativa.

D) servidãoadministrativa.

E) limitaçãoadministrativa.

GabaritoA

Objeto

A ocupação temporária tem por objeto o bem imóvel do particular,

necessárioparaexecuçãodeobrapúblicaouaprestaçãodeserviçospúblicos.

Existe controvérsia doutrinária quanto à possibilidade de ocupação

temporáriadebensmóveisede serviços. Para Josédos SantosCarvalhoFilho,

somenteobemimóvelpodeserocupadotemporariamente.Poroutrolado,pela

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possibilidadedeocupaçãodebensimóveis,móveiseserviçotem-seMaçalJusten

Filho.

Indenização

Em princípio, a ocupação temporária não enseja o pagamento de

indenização,ressalvadoocasodecomprovaçãodeprejuízosofridopeloparticular.

Atenção: Parte da doutrina entende que se a ocupação temporária

estivervinculadaaoprocessodedesapropriação(aquelaprevistanoart.36do

Dec.-lei3.365)aindenizaçãoserádevida,tendoemvistaaimposiçãodanorma

citada:“Art.36:Épermitidaaocupaçãotemporária,queseráindenizada...”

Para Rafael Rezende Oliveira, o prazo prescricional para propositura da

açãoindenizatóriaédecincoanos,naformadoart.10,parágrafoúnico,doDec.-

lei3.365/41.

Instituiçãoeextinção

Não há na legislação pátria regras específicas sobre a instituição da

ocupação temporária. Também não há consenso doutrinário sobre o tema.

Vejamosentãoasposiçõesexistentesnadoutrina:

1ª)A instituiçãodaocupação temporáriaéautoexecutável,dispensando

atoformal.

2ª) Se a ocupação temporária estiver vinculada à desapropriação: é

imprescindível ato formal de instituição (decreto), especialmente pela maior

duraçãodaocupaçãoepelodeverdeindenizaroproprietário.Sedesvinculadada

desapropriação,aocupaçãoéautoexecutória.

3ª)Aocupaçãotemporária,emqualquercaso,dependedaediçãoprévia

dedecreto,bemcomodoacordocomoproprietárioousentençajudicial.

Quantoa suaextinção,entende-sequeaocupação temporáriadeveser

efetivada, em regra, por prazo determinado. Expirado esse prazo, cessa a

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intervenção.Poroutro lado,casonãohajaprazoprefixado,aocupaçãocessará

comaexecuçãodaobraoudoserviçoquejustificouasuainstituição.

LIMITAÇÕESADMINISTRATIVAS São restrições estatais de caráter geral impostas a bens e proprietários

indeterminados,queacarretamobrigaçõesnegativasepositivasaosrespectivos

proprietários,comoobjetivodeatenderafunçãosocialdapropriedade.

Como exemplo clássico, pode-se citar norma municipal que impõe que

prédioslocalizadosàbeiramarnãopossamserconstruídoacimadedeterminado

andar.Verifica-se,assim,umaregulamentaçãoquelimitaaformadeutilizaçãodo

bem,estabelecendoumarestriçãodecarátergeral.

MatheusCarvalhoadverteque“emvirtudedeseucaráterdegeneralidade,

normalmente,alimitaçãoadministrativaproduzefeitosexnunc,nãoretroagindo

paraatingirpessoasepropriedadesquerespeitavamasituaçãoanterior.Sendo

assim,advindonormaquedeterminequeasconstruçõesemdeterminadaárea

não devem ultrapassar o quarto andar, não se impõe que aqueles prédios já

construídos, acima do limite, sejam desfeitos, por se tratar de situação

consolidada.”

Comoesseassuntofoicobradoemprova

CESPE-2017-DPE-AC-DefensorPúblico

Para preservar área de proteção ambiental permanente, uma lei municipal

determinou recuo obrigatório de construção em propriedades situadas em

localidadedecertomunicípio.

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Nessa situação hipotética, ocorre restrição ao direito de propriedade

denominada

A) servidãoadministrativa.

B) tombamento.

C) apossamentoadministrativo.

D) desapropriaçãoporutilidadepública.

E) limitaçãoadministrativa.

GabaritoE

Objeto

O objeto das limitações é amplo, englobando bens móveis, imóveis e

serviçosprivados.

Indenização

Aslimitaçõesadministrativasnãogeram,emregra,odeverdeindenizar,já

quesãofixadasdemaneiragenéricaeabstrata.Comefeito,trata-sederestrição

geralaplicávelatodasaspropriedades,nãohavendoaconfiguraçãodeprejuízo

individualdedeterminadopatrimônio.

Contudo, excepcionalmente as limitações serão indenizadas quando um

determinado indivíduo sofrer prejuízo desproporcional em relação aos demais

atingidos.

Ademais, em algumas situações, as limitações administrativas podem

configurar verdadeira desapropriação indireta, impondo restrições tão fortes

capazesde retiraras faculdades inerentesdodireitodepropriedadedealguns

particulares(ex.:criaçãodereservaambientalque,naprática,inviabilizaodireito

de propriedade de determinados proprietários). Nesses casos, tambémdeverá

haverindenização.

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Porfim,conformeasseveraRafaelRezendeOliveira,éimportantesalientar

que,seas limitaçõesadministrativassãoanterioresàaquisiçãodapropriedade,

nãocabeindenizaçãoaonovoproprietário,pois,nessahipótese,oimóveljáfoi

adquiridocomarespectivalimitaçãolega1.

Oprazoprescricionalparaproposituradaaçãoindenizatóriafundadaem

limitaçõesadministrativasédecincoanos,naformadoart.10,parágrafoúnico,

doDecreto-lei3.365/41.

OquejádecidiuoSTJsobreotema?

ADMINISTRATIVO.CEMIGDISTRIBUIÇÃOS/A.DESAPROPRIAÇÃOINDIRETA.NÃO

CONFIGURAÇÃO. NECESSIDADE DO EFETIVO DE APOSSAMENTO E DA

IRREVERSIBILIDADE DA SITUAÇÃO. NORMAS AMBIENTAIS. LIMITAÇÃO

ADMINISTRATIVA. ESVAZIAMENTO ECONÔMICO DA PROPRIEDADE. AÇÃO DE

DIREITOPESSOAL.PRESCRIÇÃOQUINQUENAL.

1.Nãohádesapropriaçãoindiretasemquehajaoefetivoapossamento

da propriedade pelo Poder Público. Dessemodo, as restrições ao direito de

propriedade,impostaspornormasambientais,aindaqueesvaziemoconteúdo

econômico,nãoseconstituemdesapropriaçãoindireta.

2.Oqueocorrecomaediçãodeleisambientaisquerestringemousoda

propriedadeéa limitaçãoadministrativa,cujosprejuízoscausadosdevemser

indenizados pormeio deuma açãodedireito pessoal, e nãodedireito real,

comoéocasodaaçãoemfacededesapropriaçãoindireta.

3. Assim, ainda que tenha havido danos aos agravantes, em face de

eventualesvaziamentoeconômicodepropriedade,devemserindenizadospelo

Estado,pormeiodeaçãodedireitopessoal,cujoprazoprescricionaléde5anos,

nostermosdoart.10,parágrafoúnico,doDecreto-Lein.3.365/41.

Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1317806/MG, Rel. Ministro

HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/11/2012, DJe

14/11/2012)

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Comoesseassuntofoicobradoemprova

CESPE-2018-TJ-CE-JuizSubstituto

Conforme entendimento jurisprudencial do STJ, a limitação

administrativa sobre determinado bem constitui modalidade de intervenção

restritivanapropriedadedecaráter

A) exclusivo e pode dar ensejo a indenização de natureza jurídica de

direitorealemfavordoproprietário,aindaquenãosejademonstrada

aefetivareduçãodovaloreconômicodobememfunçãodareferida

limitação.

B) geral e condição inerente ao exercício do direito de propriedade,

inexistindohipótesesdeindenização.

C) geral, mas que pode dar ensejo a indenização em favor do

proprietário na hipótese de a limitação causar redução do valor

econômicodobem,independentementedomomentoemquetenha

sidoinstituídaarestrição.

D) exclusivo e pode dar ensejo a indenização de natureza jurídica de

direitorealemfavordoproprietário,desdequeaaquisiçãodobem

tenhaocorridoanteriormenteàinstituiçãodarestrição.

E) geral,masquepodedarensejoaindenizaçãodenaturezajurídicade

direitopessoal,sealimitaçãocausarreduçãodovaloreconômicodo

bemeasuaaquisiçãotiverocorridoanteriormenteà instituiçãoda

restrição.

GabaritoE

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Instituiçãoeextinção

Em regra, as limitações administrativas são instituídas por lei;

secundariamente,poratosadministrativosnormativos.Aextinçãodaslimitações

ocorrecomarevogaçãodalegislaçãooudosatosnormativos.

QUADRO-RESUMODASINTERVENÇÕESRESTRITIVAS

SERVIDÃO A servidão administrativa é o direito

real público incidente sobre uma

propriedade alheia, autorizando o

poder público a usar da propriedade

para permitir a execução de obras e

serviçosdeinteressedacoletividade.

TOMBAMENTO É a modalidade de intervenção na

propriedade que visa proteger o

patrimônio histórico, cultural,

arqueológico, artístico, turístico ou

paisagísticobrasileiro

REQUISIÇÃO A requisição é a modalidade de

intervençãoestatalmedianteaqualo

Poder Público utiliza propriedade

particular diante de situação de

iminente perigo público, sendo

assegurada ao proprietário

indenizaçãoulterior,sehouverdano.

OCUPAÇÃOTEMPORÁRIA É a forma de intervenção do Estado

por meio da qual o poder público

ocupa, por prazo determinado, bens

Page 62: INTERVENÇAO DO ESTADO NA PROPRIEDADE · De fato, a intervenção do Estado na propriedade é justificada pela supremacia do interesse público sobre o privado, princípio basilar

particulares em apoio à execução de

obraseserviçospúblicos.

LIMITAÇÃO São restrições de caráter geral, por

meiodasquaisaadministraçãopública

impõeaproprietáriosindeterminados

obrigaçõesdefazerounãofazer,com

o objetivo de garantir que a

propriedade atenda a sua função

social.

FONTESBIBLIOGRÁFICAS

MatheusCarvalho,ManualdeDireitoAdministrativo,2017.

RafaelCarvalhoRezendeOliveira,CursodeDireitoAdministrativo,2017.

Gustavo Scatolino e João Trindade, Manual didático de Direito

Administrativo,2018.

MarcioAndréLopesCavalcante,DizeroDireito.