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INTRODUÇÃO À BÍBLIA

“Eterno Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, concede-

nos tua graça para que pesquisemos diligentemente as

Sagradas Escrituras, que nelas busquemos e achemos a

Jesus Cristo e que por ele tenhamos a vida eterna”.

Martinho Lutero, 1483 – 1546

Porque a Bíblia é Importante?

A Bíblia é importante porque explica a origem do homem e o propósito de sua exis-

tência. Como ser racional, o homem indaga a razão de sua existência. A questão é tão persis-

tente que tem fornecido uma contínua fonte de cogitação para a filosofia. A Bíblia apresenta a

única resposta satisfatória ao propósito da existência do homem e a natureza do seu destino. O

homem foi criado por Deus para viver em serviço fiel e amoroso a Deus e ao seu próximo e a

passar a eternidade em companhia do seu criador.

A Bíblia é importante porque fornece orientação para a vida diária dos cristãos. A Bí-

blia nos apresenta um plano completo e eficiente para o devido relacionamento com outras

pessoas. Não somente explica como se relacionar com a própria família, amigos e vizinhos,

mas nos ensina como devemos tratar os inimigos. Talvez os três maiores problemas do ho-

mem contemporâneo sejam:

1.  Sua consciência de culpa e rejeição causando um sentimento de alienação e solidão;

2.  Sua incapacidade de relacionamento com seu próximo;

3.  Suas frustrações, causadas pelas derrotas, que o levam a concluir que a vida não tem senti-

do. A Bíblia tem a única resposta adequada a cada um desses problemas.

A Bíblia é importante porque conduz o homem condenado ao Redentor e sofredor, ao

único Confortador que pode resolver suas necessidades. Somente a Bíblia apresenta soluções

aos dois grandes obstáculos do homem:

1.  Seus erros ou más ações;

2.  E a sempre presente possibilidade da morte que o destruirá.

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A Bíblia é importante como livro de conhecimento:

1.  Como livro de filosofia, a Bíblia dá a única explicação satisfatória do ser humano e seu

destino;

2.  Como livro de psicologia, a Bíblia proporciona uma explanação verdadeira da personalida-

de humana e a única solução adequada para seus problemas;

3.  Como livro de história, a Bíblia antecipa qualquer outro trabalho história e contêm a única

profecia plausível do final da história, no entanto, Bíblia não tem por finalidade, todavia,

ser usada como livro de história, nem disputar ou estabelecer teorias;

4.  Como livro de ciências, a Bíblia fornece a verdadeira explicação da origem do mundo e

uma declaração precisa e clara da fonte de operação da natureza.

A Bíblia é o livro da redenção que esclarece ao homem como reconciliar-se com Deus

através de Jesus Cristo. Verdadeiramente é o “Livro dos livros”, o maior livro do mundo!

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Capítulo 1

HISTÓRIA E ESTRUTURA

1.1 Introdução

Apesar de ser um dos livros mais antigos da humanidade, a Bíblia ainda é um best-seller

mundial. A espantosa atualidade dos seus temas, a originalidade de suas ideias, a coerência

ética dos seus conselhos, as experiências particulares que cada pessoa tem ao lê-la, a influên-

cia na história da humanidade, a irrefutabilidade científica, a ausência de contradições entre os

seus sessenta e seis livros são características que fazem da Bíblia um livro singular.

Ela é o livro do cristianismo! Toda a doutrina cristã está, de maneira plena e suficiente,

revelada por meio da Bíblia, não cabendo alterações, acréscimos ou retiradas de qualquer pa-

lavra ou trecho dos livros que a compõem. Isso significa dizer que a Bíblia é o manual de fé e

prática do cristão e que deve ser devidamente estudada e compreendida para que a Palavra de

Deus não se torne motivo de confusão ou tropeço para qualquer pessoa.

Escrita no oriente antigo, sob a inspiração de Deus, a Bíblia jamais se tornou obsoleta,

pelo contrário ela se apresenta extremamente válida para todas as épocas e circunstâncias.

Além de não ter limites temporais, a Bíblia também não possui limites territoriais, isto é, ela

não está sujeita às variações das muitas culturas que se espalham sobre a Terra. Podemos en-

contrar nela todos os assuntos importantes para a vida, através de exemplos ou ensinos dou-

trinários.

Os posicionamentos ético-políticos das Sagradas Escrituras incomodaram muitos filóso-

fos e governantes, tornando-se, em várias ocasiões históricas, um livro altamente perseguido –

alguns tiranos queimaram milhões de exemplares da Bíblia em praça pública, proibindo a sua

leitura pelo povo. Muitos desses déspotas acreditaram mesmo que iam destruí-la. Um grande

número de cientistas também se empenhou profundamente em invalidar os fatos nela narra-

dos. Mas, apesar de tudo isso, ela permanece sendo o livro mais lido, mais traduzido e mais

citado do mundo atual.

A palavra BÍBLIA, que significa livro, passou a fazer parte do vocabulário das línguas

modernas através do francês, passando primeiro pelo latim biblia, com origem no termo grego

biblos. Entretanto, em sua origem, o nome era utilizado para se referir a casca de uma planta

chamada papiro, utilizada para as primeiras comunicações escritas do início da civilização

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ainda no século XI a.C. Após o século II d.C., o nome passou a ser utilizado pelos cristãos

para designar os seus livros sagrados.

A estrutura básica da Bíblia, de uma maneira simplificada, é apresentada em duas por-

ções principais: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. A primeira porção é composta

por 37 livros e foi escrita em hebraico e aramaico pela comunidade judaica, antes de Cristo

em um período que vai de aproximadamente 1.500 a.C até o ano 400 a.C. A segunda porção

possui 27 livros e foi escrita pelos discípulos do Senhor Jesus Cristo que viveram no século I

d.C., a língua utilizada foi o grego comum, isto é, um grego coloquial falado em todas as na-

ções que passaram pelo domínio de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia.

Norman Geisler, comentando essa bipartição estrutural da Bíblia, chama a atenção para

o fato de que “a palavra testamento, é tradução das palavras hebraicas e gregas que significam

‘pacto’ ou ‘acordo’ celebrado entre duas partes”, de maneira mais comum substituímos a pa-

lavra testamento pela palavra aliança. Desta forma, no caso da Bíblia, temos a aliança antiga,

celebrada entre Deus e o seu povo (Israel) e anova aliança, celebrada em Cristo (por meio de

sua morte e ressurreição) entre Deus e a humanidade.

Os estudiosos cristãos, em geral, ensinam que a pessoa de Jesus Cristo é o elemento de

unidade entre os escritos do Novo e do Velho Testamento. Santo Agostinho de Hipona, para

citar um exemplo, afirmava que o Novo Testamento acha-se velado no Antigo Testamento e o

Antigo Testamento revelado no Novo. Outros autores disseram o mesmo em outras palavras.

Isso faz-nos perceber que os crentes anteriores a Cristo olhavam adiante com grande expecta-

tiva, ao passo que os crentes de nossos dias vêem em Cristo a concretização dos planos de

Deus.

1.2 Estrutura e secções

Além de ser dividida em Antigo e Novo Testamento, como vimos acima, a Bíblia pos-

sui várias outras divisões que facilitam o seu manuseio e entendimento. As divisões que apre-

sentaremos nesse material dizem respeito ao agrupamento por gênero literário dos livros que

compõem as Sagradas Escrituras. Valendo lembrar que se trata do gênero literário predomi-

nante de cada livro. Desta forma, livros que estão classificados como históricos podem conter

profecias ou poesias, ou vice versa.

Essa classificação não é canônica, ou seja, não é inspirada, é apenas uma forma de en-

tender melhor a forma como os livros estão organizados, facilitando o manuseio e entendi-

mento das Escrituras.

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1.3 Secções da Bíblia

Velho Testamento

São basicamente três os gêneros literários encontrados no Velho Testamento: história

(narrativa dos fatos históricos referentes ao Povo de Deus); poesia (cânticos, provérbios e

poemas típicos da cultura hebraica que instruem o homem na sua comunicação com Deus) e

proféticos (o anúncio da vontade de Deus por meio de ensinos, admoestações e previsões de

futuro, sendo esta última em menor quantidade).

Na divisão acima, apresentamos os dezessete livros históricos divididos em Pentateuco

(conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia, a palavra grega pode ser traduzida como “Cin-

co Rolos”) e História de Israel. De modo singular, dividimos os dezessete livros proféticos em

Profetas Maiores (trata-se dos cinco profetas mais atuantes e mais importantes de Israel) e

1. Gênesis; 2. Êxodo; 3. Levítico; 4. Números; 5. Deuteronômio.                        

1. Isaías; 2. Jeremias; 3. Lamentações de Jeremias; 4. Ezequiel; 5. Daniel.                      

 

 1. Jó; 2. Salmos; 3. Provérbios; 4. Eclesiastes; 5. Cântico dos Cânti-cos.

5 Livros do Pentateuco

5  Livros  Poéticos  

5 Profetas Maiores

1. Josué; 2. Juízes; 3. Rute; 4. I Samuel; 5. II Samuel; 6. I Reis; 7. II Reis; 8. I Crônicas; 9. II Crônicas; 10. Esdras; 11. Neemias; 12. Ester.

17 Livros Históricos 17 Livros Proféticos

1. Oséias; 2. Joel; 3. Amós; 4. Obadias; 5. Jonas; 6. Miquéias; 7. Naum; 8. Habacuque; 9. Sofonias; 10. Ageu; 11. Zacarias; 12. Malaquias.

12 Livros da História de Isra-el

12 Profetas Menores

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Profetas Menores (um conjunto de doze livros de profecia, que embora tenham a mesma im-

portância espiritual que os demais, são assim classificados para facilitar o manuseio).

Sobre os livros Poéticos, precisamos entender que não se trata de poesia fantasiosa, mas

de um gênero literário frequentemente utilizado na cultura hebraica para comunicar as ideias

em uma sequência lógica. A poesia hebraica não é organizada por rimas, ou métricas, mas

pela composição de ideias sequenciadas que se entrelaçam, construindo uma dinâmica de nar-

rativa bastante especial. É bastante comum encontrar trechos poéticos nas narrativas históricas

ou nas profecias, isso acontece por que a poesia hebraica muitas vezes é utilizada para desta-

car a importância de algum tema específico.

Novo Testamento

EVANGELHOS HISTÓRIA 1.   Mateus 2.   Marcos 3.   Lucas 4.   João

1.   Atos dos Apóstolos

CARTAS OU EPÍSTOLAS PAULINAS NÃO PAULINAS

1.   Romanos 2.   I Coríntios 3.   II Coríntios 4.   Gálatas 5.   Efésios 6.   Filipenses 7.   Colossenses 8.   I Tessalonicenses 9.   II Tessalonicenses 10.   I Timóteo 11.   II Timóteo 12.   Tito 13.   Filemon

1.   Hebreus 2.   Tiago 3.   I Pedro 4.   II Pedro 5.   I João 6.   II João 7.   III João 8.   Judas

PROFECIA 1.   Apocalipse

O Novo Testamento apresenta alguns gêneros literários que não foram utilizados nas

Escrituras Verotestamentárias, são eles: os evangelhos, as cartas e epístolas. Esses três gêne-

ros estão muito ligados à cultura grega e ao momento histórico em que foram redigidos os

textos. No primeiro século da era cristã, devido às incursões militares de Alexandre, o Gran-

de, a língua grega era o idioma predominante do oriente médio. Todas as nações que foram

dominadas pelo exército macedônio foram compelidas a adotar o grego como língua oficial.

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Daí nasceu o grego koiné, ou simplesmente, grego comum, uma espécie de dialeto no qual o

Novo Testamento foi inteiramente escrito.

A palavra evangelho é uma transliteração do termo grego que significa “boas novas”, ou

“boas novidades”. Os evangelhos são a narrativa dos atos e ensinamentos de Jesus Cristo,

poderiam ser considerados históricos, mas apresentam uma diversidade tão grande de estilos e

gêneros literários em sua estrutura interna que se prefere classificá-los apenas como evange-

lhos. Os discípulos que foram divinamente incumbidos de narrar os atos e ensinamentos de

Jesus Cristo buscaram registrar tudo da maneira mais literal possível. Assim, utilizaram pará-

bolas, hipérboles, poesia, narrativa de diversos gêneros, dentre muitas outras figuras de lin-

guagem para fazer o seu trabalho.

O único livro histórico é Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas e, assim como o evange-

lho do mesmo autor, é dirigido a Teófilo. Esse livro é uma continuação do evangelho que

apresentou “tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar” (At 1:1) e tem como intuito falar

sobre as obras, ensinos e primeiros caminhos percorridos pelos apóstolos de Cristo.

As cartas e epístolas compõem outro gênero especial que aparece no Novo Testamento.

Poderíamos ainda dividir as cartas paulinas em gerais e pastorais, gerais são aquelas destina-

das às igrejas como as nove primeiras (também chamadas epístolas), as pastorais são cartas

destinadas ao treinamento e/ou aconselhamento de líderes como aquelas escritas a Timóteo,

Tito e Filemon. As epístolas não paulinas são escritas por outros autores, elas se caracterizam

por, apresentar um caráter mais geral e não um destinatário específico.

Podemos dizer que a profecia no Novo Testamento é, também, um gênero bastante es-

pecífico devido ao grande uso de figuras de linguagem muito especiais utilizadas por João. O

único livro profético do NT é Apocalipse e sua profecia é diferenciada na composição literá-

ria, mas também, e principalmente, no conteúdo. João apresentou, por meio de muitas figuras

de linguagem, uma narrativa do futuro, descrevendo o, já anunciado pelos profetas do Antigo

Testamento, Dia do Senhor.

1.4 Caráter cristocêntrico da Bíblia

O próprio Jesus afirmou ser o tema do Velho Testamento (ver Mt 5:17; Lc 24:27; Jo

5:39 e Hb 10:7) e, indiscutivelmente, Ele é o tema central do Novo Testamento. Desta forma,

a organização da Bíblia de acordo com a estrutura acima colocada pode ser compreendida a

partir dos seguintes subtemas:

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VELHO TES-TAMENTO

PENTATEUCO (LEI) Fundamento da chegada de Cristo HISTÓRIA DE ISRAEL Preparação para a chegada de Cristo POESIA Anelo pela chegada de Cristo PROFECIA Certeza da chegada de Cristo

NOVO TES-TAMENTO

EVANGELHOS Manifestação de Cristo HISTÓRIA (ATOS) Propagação de Cristo CARTAS OU EPÍSTOLAS Interpretação e aplicação de Cristo PROFECIA (APOCALIPSE) Consumação em Cristo

Esses subtemas nos fazem perceber a forma como cada porção das Escrituras se dirige à

pessoa de Cristo, independentemente da época ou local em que foram escritos. É importante

observar que, apesar de toda a diversidade que existe nos sessenta e seis livros que compõem

a Bíblia, Cristo é o tema unificador.

Mais precisamente, podemos observar que a Bíblia se organiza em torno do plano de

Deus para a salvação da humanidade que se perdeu em razão do pecado e que esse plano gira

em torno de Cristo e sua de obra na cruz do Calvário. Desta maneira, concluímos que seria

impossível entender corretamente a Bíblia sem utilizar uma visão cristocêntrica.

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Capítulo 2

A BÍBLIA É A PALAVRA “SOPRADA” DE DEUS

2.1 Introdução

Conhecer a estruturação e obter uma visão cristocêntrica das Escrituras são dois passos

muito importantes para que possamos manusear e compreender melhor a Bíblia. No entanto, o

ponto fundamental da fé cristã é o conteúdo e não apenas a forma como a Bíblia se apresenta.

E, nesse sentido, algumas perguntas precisam ser respondidas: 1) a Bíblia foi escrita por ho-

mens! Então, que razões eu tenho para crer nela? 2) será que as bíblias que são vendidas atu-

almente nas livrarias trazem realmente o conteúdo original das Escrituras ou será que foram

modificadas ao longo do tempo? 3) por que os textos chamados apócrifos que estão presentes

nas bíblias católicas não estão presentes nas bíblias evangélicas?

Antes de prosseguir, precisamos saber qual é a importância prática desses questiona-

mentos. Com a primeira questão, esperamos refletir sobre a autoridade da Bíblia. Afinal, se

ela fosse apenas mais um conjunto de ideias humanas não haveria razões para que nós aceitás-

semos as suas regras, os seus ensinos e conselhos. Pelo contrário, nós poderíamos compará-la

a qualquer outro escrito ou filosofia. Desta maneira, a discussão gira em torno das evidências

da inspiração divina. Pois é a inspiração de Deus que dá autoridade à Bíblia, retirando-a da

condição de mais um livro e alçando-a a condição de Palavra de Deus.

A segunda questão está ligada à credibilidade da Bíblia. Ora, passaram-se quase dois

mil anos de história. Sabemos que nesse período muitos grupos poderosos tentaram destruir

ou manipular a Bíblia, especialmente durante a idade média. Como podemos ter a certeza de

que as palavras registradas nos evangelhos, por exemplo, são, realmente, de Jesus Cristo? Ter

a certeza de que a Bíblia de hoje é a mesma que foi escrita pelos discípulos de Cristo e pelos

verdadeiros autores do Antigo Testamento é fundamental para que possamos reconhecer a sua

validade para o nosso tempo e principalmente para as nossas vidas.

E, finalmente, a terceira questão se refere ao fato de que a Bíblia Católica possui alguns

textos que não aparecem na Bíblia Evangélica. Trata-se de sete livros inteiros (Tobias, Judite,

Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, I e II Macabeus) e alguns acréscimos que foram

feitos aos livros de Daniel [o cântico dos três jovens na fornalha (3:24-90); A história de Su-

zana (Cap. 13) e a história de Bel e o Dragão (Cap. 14)] e de Ester nos versos que vão de 10:4

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a 16:24. Ora, quais são os critérios para que um livro seja considerado canônico ou não? Essa

pergunta é importante, pois precisamos saber como esse conjunto de livros que chamamos de

Bíblia foi composto, quais foram os critérios, qual a sua confiabilidade, quais as razões para

que outros livros não possam ser considerados igualmente inspirados por Deus.

2.2 A inspiração (razões para crer na bíblia)

Quando falamos em inspiração divina, não estamos nos referindo, de modo algum, à

inspiração poética a exemplo do senso comum que fala sobre a inspiração dos cantores, poetas

e demais artistas. No sentido bíblico, a inspiração está ligada ao selo da autoridade divina, ou

seja, estamos dizendo que os textos bíblicos foram literalmente soprados por Deus nos ouvi-

dos dos homens que Ele escolheu para registrar a Sua sabedoria.

Claro que não se tratava de um ditado, mas de uma comunicação especial que foi regis-

trada cada autor. A inspiração não retira as características pessoais dos autores, pelo contrário

cada um registrou a sua própria maneira o conteúdo que Deus lhes instruiu.

A própria Bíblia nos oferece uma explicação muito rica sobre a inspiração, seu signifi-

cado e sua importância:

II Tm 3:16,17 – Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repre-

ensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja

apto e plenamente preparado para toda boa obra.

I Co 2:13 – [...] Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria hu-

mana, mas com as palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais

para os que são espirituais.

II Pe 1:21 – Pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram

da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo.

Os versículos acima nos mostram algo bastante digno de atenção: OS ESCRITOS

SÃO INSPIRADOS, NÃO OS ESCRITORES. Isto é, a autoridade plena e eterna está nas

Escrituras e não nos seus autores humanos.

Segundo Norman Geisler e William Nix, podemos perceber que o processo total da

inspiração contém três elementos essenciais:

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a) Causalidade divina: Deus é a Fonte Primordial da inspiração da Bíblia. O elemento divino

estimulou o elemento humano. Primeiro Deus falou aos profetas1 e, em seguida, aos homens,

mediante esses profetas. Deus revelou-lhes certas verdades da fé, e esses homens de Deus as

registraram. O primeiro fator fundamental da doutrina da inspiração bíblica, e o mais impor-

tante, é que Deus é a fonte principal e a causa primeira da verdade bíblica. No entanto, não é

esse o único fator.

b) Mediação profética: Os profetas que escreveram as Escrituras não eram autômatos. Eram

algo mais que meros secretários preparados para anotar o que se lhes ditava. Escreveram se-

gundo a intenção total do coração, segundo a consciência que os movia no exercício normal

de sua tarefa, com seus estilos literários e seus vocabulários individuais. As personalidades

dos profetas não foram violentadas por uma intrusão sobrenatural. A Bíblia que eles produzi-

ram é a Palavra de Deus, ou seja, Deus usou personalidades humanas para comunicar propo-

sições divinas. Os profetas foram a causa imediata dos textos escritos, mas Deus foi a causa

principal.

c) Autoridade escrita: O produto final da autoridade divina em operação por meio dos profe-

tas, como intermediários de Deus, é a autoridade escrita de que se reveste a Bíblia, conforme

II Tm 3:16. A Bíblia é a última palavra no que se concerne a assuntos doutrinários e éticos.

Todas as controvérsias teológicas e morais devem ser trazidas ao tribunal da Palavra escrita

de Deus. As Escrituras receberam sua autoridade do próprio Deus, que falou mediante os pro-

fetas. No entanto, são os escritos proféticos e não os escritores desses textos sagrados que

possuem e retêm a resultante autoridade divina. Os profetas morreram, mas os escritos profé-

ticos continuam.

Compreendendo esses três elementos essenciais da inspiração, podemos perceber que

o ser humano é apenas um instrumento para que as verdades divinas sejam registradas. Em

outras palavras, o ser humano envolvido no processo de registro das Escrituras não possui

nenhuma influência no conteúdo, mas apenas e tão somente nos estilos literários da escrita.

Importante lembrar que a Bíblia está completa, ou seja, que não pode haver uma se-

gunda inspiração. Para ser bem claro: a INSPIRAÇÃO CESSOU. Tudo que temos agora é a

                                                                                                                         1  Adotamos  aqui  a  palavra  profeta  no  sentido  apoiado  por  Coenen  e  Brown  em  seu  Dicionário  Internacional  de  Teologia  do  Novo  Testamento.  Isto  é,  profeta  é  aquele  que  “proclama  abertamente”,  “declara  publicamente”,  “proclama  em  alta  voz”.  A  palavra  grega  –  quase  igual  a  nossa  –  indica  em  sua  epistemologia  que  o  profeta  é  aquele  que  anuncia  aquilo  que  Deus  lhe  ordena  e  que  não  tem  nenhuma  relação  necessária  com  o  futuro.  

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iluminação da própria palavra de Deus. Isso quer dizer que todo ensino sobre a vontade de

Deus que escapar daquilo que é ensinado na Bíblia deve ser rejeitado, conforme Gl 1:8,9.

2.3 A confiabilidade (as bíblias que compramos são confiáveis)

Desde o século XIX, quando a metodologia científica se propagou com mais veemên-

cia, fazendo surgir uma abordagem chamada “análise das fontes”, que, como o próprio nome

sugere, investiga se as fontes geradoras do material literário são confiáveis e se é possível

atribuir a esses textos a qualidade de históricos. Por meio desse método, duas questões podem

ser levantadas: 1) os textos bíblicos a que temos acesso nos dias atuais são realmente idênticos

aos originais? 2) os fatos narrados nesses textos, caso os textos sejam confiáveis, são narrati-

vas de uma história real, ou são ficção?

Sobre a primeira questão, podemos afirmar com muita tranquilidade que as bíblias a

que temos acesso nos dias atuais estão referendadas pelo testemunho de muitos documentos

da antiguidade. Documentos estes que oferecem à Bíblia mais credibilidade do que qualquer

outro escrito da mesma época possa ter. Vamos dividir essa argumentação, como seria de se

esperar, em dois blocos, Antigo e Novo Testamento.

2.3.1 Antigo Testamento

O Antigo Testamento teve o seu cânon2 concluído por volta do ano 430 a.C., inician-

do um período conhecido como “Período Interbíblico” ou “Tempo da Espera”. Malaquias foi

o último a profetizar no Antigo Testamento, foi a última palavra profética antes de João Batis-

ta. No entanto, o manuscrito mais recente a que se tinha acesso datava do século IX d.C. essa

era uma distância histórica3 que punha em dúvida a confiabilidade das cópias disponíveis,

pois acreditava-se que elas podiam ter sido alteradas e não mais corresponder àquilo que os

verdadeiros autores haviam escrito.

Porém, aprouve a Deus que, “acidentalmente”, fossem encontrados manuscritos ex-

tremamente antigos em 11 grutas nas rochas da colina de Qunrã, a 13 Km ao sul de Jericó, as

                                                                                                                         2  Cânon  é  uma  palavra  de  origem  grega  cujo  significado  original  é  “régua”  ou  simplesmente  “cana”,  tratava-­‐se  de  um  instrumento  utilizado  para  padronizar  as  coisas,  para  colocar  tudo  dentro  de  um  mesmo  padrão.  Quan-­‐do  vemos  expressões  como  o  cânon  bíblico,  ou  expressões  correlatas,  entendemos  que  estamos  nos  referindo  aos   livros  que  possuem  evidências  de   inspiração  divina,   ou   seja,   que  estão  dentro  de  um  padrão  que  por   si  mesmo  sugere  que  foram  inspirados  por  Deus.  3  O  termo  distância  histórica  é  utilizado  para  definir  o  período  entre  a  data  em  que  o  material   foi  escrito  e  o  manuscrito  mais  antigo  que  se  possui  nos  dias  atuais.  

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margens do Mar Morto. Trata-se dos famosos Manuscritos do Mar Morto. Esses manuscritos

foram encontrados entre os anos de 1947 e 1956 e datam do século II a.C. até o século primei-

ro da era cristã. Agora sim, haveria uma aproximação histórica maior do que qualquer outro

documento da antiguidade.

Mas, afinal, o que havia naquelas grutas? Ali, foram encontrados pergaminhos inteiros

e fragmentos de diversos livros do Antigo Testamento. Entre eles, o livro de Isaías inteiro. Os

outros livros bíblicos ali encontrados, infelizmente, estavam bastante estragados, restando

apenas cerca de dez por cento de seu conteúdo. Foram encontrados 36 exemplares do livro

dos Salmos, 29 exemplares de Deuteronômios e 21 exemplares do livro de Isaías, além de

outros textos encontrados em menor quantidade.

O que esses textos provaram? Eles mostraram que não há diferenças significativas en-

tre os textos do século II a.C. e a Bíblia que lemos hoje. As pequenas diferenças que foram

encontradas, apenas ajudaram a esclarecer, ainda mais, a compreensão e interpretação dos

textos que hoje temos disponíveis. Podemos, por tanto, fundamentar o nosso argumento da

seguinte forma: os manuscritos mais antigos que possuíamos antes de encontrar os manuscri-

tos do Mar Morto datavam do século IX d.C. Os novos manuscritos são onze séculos mais

velhos e possuem o mesmo conteúdo, sem apresentar nenhuma diferença que desqualifique as

bíblias que lemos hoje, pelo contrário, apenas ratificando a perfeição da herança que o Senhor

nos legou e divinamente providenciou que chegasse intacta ao século XXI.

A tradução da Bíblia chamada NVI (Nova Versão Internacional) já considera os do-

cumentos do Mar Morto em sua tradução, tornando aquilo que já era correto, ainda mais fiel

aos escritos antigos. (Para aprofundamento sobre esse tema, leia: Apêndice: Rolos do Mar

Morto in Ridderbos (1995)).

2.3.2 Novo Testamento

A documentação comprobatória da autenticidade do Novo Testamento é imensa e in-

contestável. Atualmente são conhecidos cerca de 5.500 manuscritos do Novo Testamento. São

papiros4, pergaminhos5 e códices6 que ratificam as Sagradas Escrituras, dando-nos total segu-

rança de que aquilo que hoje lemos é fiel à obra original.

                                                                                                                         4  Papiro  era  o  principal  material  de  escrita  da  antiguidade,  segundo  Paroschi  (1999,  p.  25-­‐26)  os  originais  e  as  primeiras  cópias  do  Novo  Testamento,  assim,  como  o  Antigo  Testamento  foram  escrito  nesse  tipo  de  material.  Bom  lembrar  que  o  papel  só  começou  a  ser  utilizado  no  preparo  de  livros  bíblicos  ou  litúrgicos  no  século  XIII.    

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Esses manuscritos, como o nome indica, são cópias feitas manualmente por pessoas

chamadas copistas, que passavam a palavra de Deus adiante. Obviamente, estamos falando de

uma época anterior a invenção da imprensa7 e, portanto, as cópias não são perfeitamente

iguais. Dessa forma, existe uma ciência chamada crítica textual que se preocupa em analisar

todos os materiais disponíveis. As análises são realizadas com alto rigor científico e buscam

fazer com que as traduções sejam totalmente fieis ao texto original.

Além dos manuscritos, existe uma grande quantidade de materiais auxiliares que com-

provam a autenticidade do Novo Testamento, trata-se dos escritos dos pais da Igreja. Homens

como Jerônimo (tradutor da Vulgata8), Atanásio, Agostinho, dentre vários outros, registraram

praticamente todas as partes do Novo Testamento em seus escritos. Esses escritos funcionam

como testemunho de que as citações feitas nos primeiros séculos do cristianismo ratificam a

Bíblia que temos hoje.

2.4 Os Apócrifos9

A Bíblia utilizada pelos evangélicos é diferente da Bíblia utilizada pelos católicos? A

resposta é sim e, ao mesmo tempo não. As Bíblias católicas e evangélicas são idênticas em

seu conteúdo, porém os católicos acrescentaram alguns escritos que não são reconhecidos

pelos evangélicos. Dessa maneira, a Bíblia evangélica é composta por 66 livros, enquanto a

Bíblia católica apresenta 73. O fato é que, desconsiderando as adições feitas pelos católicos,

os outros 66 livros são idênticos, com exceção do livro de Daniel que também sofre algumas

adições. Importante perceber que todas as adições foram realizadas no Antigo Testamento,

logo o Novo Testamento é ponto comum entre católicos e evangélicos.

Mas, por que não aceitamos essas adições feitas pelos católicos? Vamos responder a

essa questão dividindo-a em duas partes, primeiramente vamos ver os termos gerais, aqueles

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           5  Pergaminho  era  um  material  melhor  e  mais  durável  do  que  o  papiro,  começou  a  ser  utilizado  no  século   III.  Eles  eram  formados  de  peles  de  carneiro  ou  ovelhas  que  passavam  por  um  tratamento  com  cal  e  depois  eram  raspadas  com  pedra-­‐pomes.  6  Os  códices  eram  uma  espécie  de  cadernos  da  antiguidade.  As  folhas,  ao  invés  de  enroladas  em  pergaminhos,  eram  pregadas   em  uma  das  margens   formando  um   caderno   bastante   volumoso,   pois   era   feito   de  materiais  como  os  dos  pergaminhos.  7  Aqui  uma  curiosidade,  a   imprensa  foi   inventada  por  um  alemão  chamado  Johannes  Gutenberg  por  volta  de  1440  e  o  primeiro  livro  impresso  nela  foi  a  Bíblia  Sagrada.  Essa  máquina  ficou  conhecida  como  “prensa  de  tipos  móveis”  e  foi  uma  grande  revolução  para  a  comunicação.  8  Vulgata  é  a  tradução  do  Antigo  Testamento  da  língua  hebraica  para  o  latim.  9  A  palavra  “apócrifo”   significa:  de  origem  duvidosa.  Utilizamos  esse   termo  para  nos   referir  aos   textos  que  a  igreja  católica  acrescentou  ao  Antigo  Testamento  das  Sagradas  Escrituras.  Os  católicos,  por  sua  vez,  chamam  esses  textos  de  “deuterocanônicos”,  ou  seja,  livros  de  uma  segunda  inspiração.  

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que valem para todos os livros e depois vamos ver os termos específicos, aqueles que expli-

cam a não aceitação de cada texto.

Termos Gerais: os termos gerais a que nos referimos aqui, dizem respeito a dois crité-

rios importantes: 1) à aceitação dos livros pelos povos a quem se destinaram; e 2) os proble-

mas de datação e de historicidade. A não aceitação de um livro pelo povo a quem se destina,

no caso os Judeus, é um problema muito sério para o reconhecimento da inspiração. Como

poderíamos reconhecer a inspiração divina de um livro que não tem autoridade reconhecida

pelo povo? Quanto problema da historicidade, a pergunta é: como poderíamos reconhecer

como divinamente inspirado um livro que se baseia erros crassos de histórica, de geografia e,

em algumas vezes, de caráter? Os motivos gerais que elencamos para o não reconhecimento

dos apócrifos são os seguintes:

1.  Os judeus jamais aceitaram esses livros como canônicos;

2.  Eles também não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento;

3.  A maior parte dos primeiros padres da igreja rejeitou a canonicidade desses livros;

4.  Jerônimo, grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, jamais aceitou os apócrifos.

Somente depois de sua morte, esses livros foram inseridos na Vulgata;

5.  Esses livros são rejeitados pela Igreja Católica Ortodoxa, pelos Anglicanos e pelos Protes-

tantes;

6.  Esses livros não foram unanimidade entre os teólogos católicos da patrística10, nem da re-

forma11;

7.  Esses livros, em sua maioria, foram escritos em datas muito distantes dos fatos narrados,

sem nenhuma evidência de compromisso histórico em sua narrativa. Mas, isso será mais

bem avaliado nos termos específicos.

Termos específicos: nesta parte do nosso estudo, vamos verificar os motivos de não

aceitação de cada escrito individualmente. Não seremos exaustivos na abordagem, para apro-

fundamento, por favor, procure os livros indicados na bibliografia que segue esse texto.

                                                                                                                         10  Patrística  é,  segundo  Kelly  (2009)  o  período  demarcado  historicamente  entre  o  final  do  século  primeiro  até  meados   do   século   quinto,   constituindo   um  movimento   de   profundo   estudo   das   Escrituras   e   da   filosofia.   Os  estudiosos  dessa  época   ficaram  conhecidos  como  os  Pais  da   Igreja,  pois  desenvolveram  a   teologia  e   filosofia  cristã  que  temos  hoje.  11  Aqui  tratamos  da  Reforma  Protestante  ocorrida  em  1517,  liderada  por  Martinho  Lutero.  Naquela  época  hou-­‐ve  grande  discussão  sobre   todos  os  aspectos   teológicos,   inclusive,   com  muita  ênfase  no   reconhecimento,  ou  não,  dos  livros  que  formariam  o  Cânon  Bíblico.  

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Texto Data Descrição e Problemas

Tobias 200 a.C.

É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel, pai de Tobias, e alguns milagres preparados pelo anjo Gabriel.Os problemas apresentados são: -Um anjo engana Tobias e o ensina a mentir (5:16-19); -Ensina mediação dos santos (12:12); -Justificação pelas obras (4:7-11 e 12:8); -Superstições 6:5, 7-9, 19.

Judite 150 a.C.

História de uma heroína viúva e formosa que salva sua cida-de enganando um general inimigo e decapitando-o. Sua grande heresia é a própria história baseada em mentiras e enganações. Além disso, existem vários erros nas descrições geográficas do lugar.

Baruque 100 d.C.

É apresentado como escrito por Baruque, o cronista do pro-feta Jeremias; exorta os judeus após a destruição de Jerusa-lém. É escrito em uma data muito posterior, na época da segunda destruição de Jerusalém, depois da morte de Cristo. Além da incompatibilidade histórica, o livro apresenta, den-tre outras heresias, a intercessão pelos mortos (3:4).

Eclesiástico 180 a.C.

É parecido com o livro de Provérbios, porém possui proble-mas teológicos que conflitam com a unidade bíblica: -Justificação pelas obras (3:33,34); -Trato cruel aos escravos (33:26 e 30; 42:1 e 5); -Incentiva o ódio aos samaritanos (50:27,28).

Sabedoria de Sa-lomão 40 d.C.

Escrito com a finalidade exclusiva de lutar contra a doutrina epicurista12. A discussão promovida pelo livro, bem como a sua data de escrita, é incompatível com o tempo de Salomão. Ali, encontramos várias doutrinas estranhas: -o corpo como prisão da alma (9:15); -doutrina estranha sobre a origem e o destino da alma (8:19 e 20); -salvação pela sabedoria (9:19).

I Macabeus 100 a.C.

Descreve a história de 3 irmãos da família Macabeus, que no período interbíblico (400 a.C. – 3 d.C.), lutam contra inimi-gos dos judeus visando a preservação do seu povo e terra. Apesar de não conter heresias, jamais foi aceito pelo povo judeu e jamais fez parte do Cânon Hebraico.

II Macabeus 100 a.C.

Não é a continuação de I Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de lendas e prodígios de Judas Macabeus. Apresenta problemas como: -oração pelos mortos (12:44-46); -culto e missa pelos mortos (12:43); -o autor não se julga inspirado (15:38-40 e 2:25-27); -intercessão pelos santos (7:28 e 15:14).

                                                                                                                         12  O  epicurismo  é  uma  doutrina  filosófica,  fundada  por  Epicuro  por  volta  do  ano  240  a.C.  que  apregoava  a  feli-­‐cidade  por  meio  dos  prazeres  físicos.  Mal   interpretado,  Epicuro  foi  visto  durante  muito  tempo  como  um  per-­‐vertido,  mas  a  sua  doutrina  também  apresenta  preceitos  morais  compatíveis  com  a  fé  cristã.  

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Capítulo 3

CARACTERÍSTICAS DAS ESCRITURAS

3.1 Introdução

Encontramos na carta ao Hebreus a seguinte afirmação: “a Palavra de Deus é viva e

eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir

alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intensões do coração” (Hb 4:12).

Esse trecho das escrituras nos ajuda a perceber que a Bíblia faz declarações a seu próprio res-

peito, indicando características que precisam ser destacadas. Nesta secção, vamos conhecer as

principais características da Bíblia, de acordo com as suas próprias declarações.

Os principais ensinos da Bíblia a seu próprio respeito podem ser classificados em qua-

tro características (às vezes chamadas atributos):

(1)   A autoridade das Escrituras;

(2)   A clareza das Escrituras;

(3)   A necessidade das Escrituras;

(4)   A suficiência das Escrituras.

Cada uma dessas características, ou atributos, produz em nós a certeza de que pode-

mos confiar nas Escrituras, não apenas de um ponto de vista histórico, mas, também, e princi-

palmente, do ponto de vista de ensinamentos práticos, claros, necessários e suficientes para a

vida. Tudo isso, revestido da plenitude da autoridade de Deus. Por isso é importante conhecer

essas características e compreender exatamente o que cada uma delas ensina.

Ora, é necessário compreender que se as Escrituras não tivessem essas características

que destacamos acima – e comentamos abaixo – nós teríamos a necessidade de outras bases

para a nossa fé e para a nossa prática de vida, tornando a Bíblia um livro como outro qual-

quer. Para ser mais claro, imagine se as Escrituras não tivessem a característica da suficiência,

ou seja, se a Bíblia não tratasse de tudo aquilo que precisamos para a condução da nossa vida,

nesse caso, nós precisaríamos de filosofias, doutrinas e idéias complementares à Palavra de

Deus. Mas, graças ao fato de que a Bíblia é suficiente, podemos utilizá-la como a nossa única

regra de fé e prática.

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3.2 A autoridade das Escrituras

Segundo Grudem (1999, p. 44) “a autoridade das Escrituras significa que todas as pa-

lavras nas Escrituras são palavras de Deus, de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia

ou desobedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a Ele”. Dessa afirmação de Grudem,

podemos entender os seguintes pontos sobre a autoridade das Escrituras:

3.2.1 Todas as palavras nas Escrituras são palavras de Deus

a. Isso é o que a Bíblia afirma a seu próprio respeito.

Há muitas afirmações na Bíblia declarando que todas as palavras das Escrituras são

palavras de Deus (ao mesmo tempo em que são palavras escritas por homens). No Antigo

Testamento, isso se vê com freqüência na frase introdutória “assim diz o Senhor”, que ocorre

centenas de vezes. No mundo do Antigo Testamento, essa frase seria reconhecida como idên-

tica em forma à expressão “assim diz o rei...”, usada para introduzir um edito de um rei a seus

súditos, edito que não poderia ser desafiado nem questionado, mas simplesmente obedeci-

do. Dessa forma, quando os profetas dizem “assim diz o Senhor” eles estão reivindicando a

condição de mensageiros do soberano Rei de Israel, ou seja, o próprio Deus, e declarando que

suas palavras são palavras de Deus com autoridade absoluta. Quando um profeta falava dessa

forma em nome de Deus, cada palavra dita vinha de Deus, senão ele seria um falso profeta

(cf. Nm 22.38; Dt 18.18-20; Jr 1.9; 14.14; 23.16-22; 29.31-32; Ez 2.7; 13.1-16).

b. Somos convencidos a aceitar as reivindicações da Bíblia de que ela é a Palavra de

Deus à medida que a lemos.

Uma coisa é afirmar que a Bíblia alega ser as palavras de Deus. Outra coisa é con-

vencer-se de que essas afirmações são verdadeiras. Nossa convicção definitiva de que as pa-

lavras da Bíblia são palavras divinas vem apenas quando o Espírito Santo fala ao nosso cora-

ção nas palavras da Bíblia e por intermédio delas, dando-nos a segurança íntima de que essas

são as palavras de nosso Criador falando conosco. Logo depois de explicar que sua mensagem

apostólica consistia de palavras ensinadas pelo Espírito Santo (1Co 2.13), Paulo diz: “... o

homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode

entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14). À parte do trabalho do Es-

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pírito de Deus, uma pessoa não receberá verdades espirituais e, em particular, não receberá

nem aceitará a verdade de que as palavras das Escrituras são de fato palavras de Deus.

c. Outros indícios são úteis, mas não totalmente convincentes.

A seção anterior não foi escrita para negar a validade de outros tipos de argumento que

podem ser usados para sustentar a afirmação de que a Bíblia é a palavra de Deus. Para nós é

útil saber que a Bíblia é historicamente precisa, tem coerência interna, contém profecias que

se cumpriram centenas de anos mais tarde, influenciou os rumos da história humana mais do

que qualquer outro livro, vem mudando a vida de milhões de indivíduos ao longo da história,

pessoas encontraram a salvação por meio dela, possui em seus ensinos beleza majestosa e

profundidade que nenhum outro livro pode superar e afirma centenas de vezes ser a verdadei-

ra palavra de Deus. Todos esses e outros argumentos são úteis para nós e removem obstáculos

que de outra forma se levantariam contra nossa fé nas Escrituras. Mas todos esses argumentos

considerados separadamente ou em conjunto não conseguem ser convincentes de maneira

definitiva.

d. As palavras das Escrituras são autocorroborantes.

Elas não podem ser “comprovadas” como palavras de Deus apelando-se a alguma

autoridade superior. Pois caso se apelasse a uma autoridade superior (por exemplo, exatidão

histórica ou coerência lógica) como recurso para provar que a Bíblia é a Palavra de Deus, en-

tão a própria Bíblia deixaria de ser a nossa autoridade mais alta ou absoluta e ficaria subordi-

nada em matéria de autoridade àquilo a que apelássemos a fim de provar que ela é a Palavra

de Deus. Se no final das contas apelamos à razão humana, ou à lógica, ou à exatidão histórica,

ou à verdade científica como autoridade pela qual se demonstra que as Escrituras são as pala-

vras de Deus, então estamos pressupondo que a coisa para a qual apelamos é uma autoridade

superior às palavras de Deus e também mais verdadeira ou mais confiável.

e. Não crer nas Escrituras ou desobedecê-las é não crer em Deus ou desobedecê-lo.

A divisão anterior afirmou que todas as palavras das Escrituras são de Deus. Conse-

quentemente, não dar crédito ou desobedecer a qualquer palavra das Escrituras é não dar cré-

dito ou desobedecer ao próprio Deus. Assim, Jesus pode repreender seus discípulos por não

crerem nas Escrituras do Antigo Testamento (Lc 24.25). Os crentes devem guardar e obedecer

às palavras dos discípulos (Jo 15.20: “... se guardaram a minha palavra, também guardarão a

vossa”). Os cristãos são incentivados a se lembrar “do mandamento do Senhor e Salvador,

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ensinado pelos [...] apóstolos” (2Pe 3.2). Desobedecer aos escritos de Paulo tornava a pessoa

passível de disciplina da igreja, tal como excomunhão (2Ts 3.14) e punição espiritual (2Co

13.2-3), inclusive punição por Deus (aparentemente é esse o sentido do verbo na voz passiva

“será ignorado”, em 1Co 14.38). Por outro lado, Deus se alegra em todo aquele que “treme”

diante de sua palavra (Is 66.2).

3.2.2 A Veracidade das Escrituras

a. Deus não pode mentir nem falar com falsidade.

A essência da autoridade das Escrituras está na sua capacidade de nos compelir a crer

nelas e a elas obedecer, fazendo que tal fé e obediência sejam equivalentes a fé e obediência

ao próprio Deus. Por esse motivo, é necessário considerar a veracidade das Escrituras, pois

crer em todas as palavras da Bíblia implica confiança na completa veracidade das Escrituras

em que cremos. Embora esse assunto vá ser discutido mais a fundo quando considerarmos a

inerrância das Escrituras, vamos tratá-la rapidamente neste ponto.

b. Portanto, todas as palavras nas Escrituras são inteiramente verdadeiras e não contêm

erro em lugar algum.

Já que as palavras da Bíblia são palavras de Deus, e já que Deus não pode mentir nem

falar falsamente, é correto concluir que não há inverdades ou erros em qualquer parte das pa-

lavras das Escrituras. “As palavras do SENHOR são palavras puras, prata refinada em cadinho

de barro, depurada sete vezes” (Sl 12.6). Aqui o salmista usa imagem vívida para falar da pu-

reza não diluída das palavras de Deus: não há imperfeição nelas. Também em Provérbios 30.5

lemos: “... toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam”. Não são ape-

nas algumas palavras das Escrituras que são verdade, mas cada palavra.

c. As palavras de Deus são o padrão definitivo da verdade.

Em João 17 Jesus ora ao Pai: “... santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”

(Jo 17.17). Esse versículo é interessante porque Jesus não usa os adjetivos alÂthinos ou

alÂthÂs (“verdadeiro”), que poderíamos esperar, para dizer “tua palavra é verdadeira”. Ele

usa um substantivo, alÂtheia(“verdade”), para dizer que a Palavra de Deus não é simplesmen-

te “verdadeira”, mas é a própria verdade.

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d. Algum fato novo poderia contradizer a Bíblia?

Será que poderia ser descoberto algum fato novo, científico ou histórico, que vá con-

tradizer a Bíblia? Podemos dizer com confiança que isso nunca acontecerá — isso, na verda-

de, é impossível. Se algum suposto “fato” descoberto contradiz as Escrituras, então (se enten-

demos corretamente as Escrituras) esse “fato” deve ser falso, pois Deus, o autor das Escritu-

ras, conhece todos os fatos verdadeiros (passados, presentes e futuros). Nunca virá à tona ne-

nhum fato que Deus não conhecesse eras atrás e não tenha levado em conta quando fez com

que as Escrituras fossem produzidas. Cada fato verdadeiro é algo que Deus conhece desde a

eternidade e que, portanto, não pode contradizer o que o Senhor fala nas Escrituras.

3.2.3 As Escrituras em forma escrita são nossa autoridade final

É importante perceber que a forma final em que as Escrituras permanecem como auto-

ridade é a forma escrita. Foram as palavras de Deus escritas em tábuas de pedra que Moisés

depositou na arca da aliança. Mais tarde, Deus ordenou a Moisés e aos profetas que o segui-

ram que escrevessem suas palavras em um livro. E foi a Escritura em forma escrita (graphÂ)

que Paulo disse ser “inspirada por Deus” (2Tm 3.16). De modo semelhante, são os escritos de

Paulo que são “mandamento do Senhor” (1Co 14.37) e que poderiam ser classificados com

“as demais Escrituras” (2Pe 3.16).

Temos afirmado ao longo desse estudo que todas as palavras na Bíblia são palavras de

Deus e que, portanto, não crer em alguma palavra das Escrituras ou não obedecer a ela é não

crer em Deus ou desobedecer a ele. Afirmamos ainda que a Bíblia ensina claramente que

Deus não pode mentir nem falar com falsidade (2Sm 7.28; Tt 1.2; Hb 6.18). Assim, todas as

palavras nas Escrituras são declaradas completamente verdadeiras e destituídas de erros,

qualquer que seja o trecho (Nm 23.19; Sl 12.6; 119.89, 96; Pv 30.5; Mt 24.35). As palavras de

Deus são, de fato, o padrão máximo da verdade (Jo 17.17). A isso nós chamamos de Inerrân-

cia Bíblica.

Crer na inerrância das Escrituras é fundamental para o cristão, pois é ela quem garante

que a Palavra de Deus não pode ser relativizada. Se não crermos nesse ponto que diz respeito

à Autoridade das Escrituras, teremos sérios problemas.

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Veja alguns problemas que podem ser gerados se não crermos na inerrância das Escri-

turas:

a. Se rejeitarmos a inerrância, teremos de nos confrontar com um problema moral sé-

rio:

Podemos imitar a Deus e também mentir intencionalmente em questões secundárias?

Isso se assemelha à discussão em resposta à quarta objeção acima, mas aqui se aplica não só

aos que levantam essa objeção como também de maneira mais ampla a todos os que negam a

inerrância. Efésios 5.1 nos diz que devemos ser imitadores de Deus. Mas uma negação da

inerrância que ainda defenda que as palavras das Escrituras são inspiradas implica necessari-

amente que Deus nos falou inverdades intencionalmente em algumas de suas declarações me-

nos centrais das Escrituras.

b. Se rejeitarmos a inerrância, começaremos a questionar se realmente podemos confiar

em Deus em tudo que nos diz.

Uma vez convencidos de que Deus nos falou inverdades em algumas questões secun-

dárias das Escrituras, vamos perceber que Deus é capaz de nos falar inverdades. Isso terá um

efeito nocivo sobre nossa capacidade de aceitar a palavra de Deus e de confiar nele por com-

pleto ou de obedecer a ele plenamente no restante das Escrituras.

c. Se rejeitarmos a inerrância, em essência, estaremos fazendo de nossa mente humana

um padrão de verdade mais elevado que a própria Palavra de Deus.

Empregamos nossa mente para julgar algumas seções da Palavra de Deus e anuncia-

mos que estão erradas. Mas na prática isso significa que conhecemos a verdade com mais

certeza e exatidão que a Palavra de Deus (ou que o próprio Deus), pelo menos nessas áreas.

Tal procedimento, que faz de nossa mente um padrão mais elevado de verdade que a Palavra

de Deus, está na raiz de todo pecado intelectual.

d. Se rejeitarmos a inerrância, precisaremos também dizer que a Bíblia está errada não

apenas em detalhes secundários, mas também em algumas de suas doutrinas.

A negação da inerrância implica estarmos dizendo que o ensino da Bíblia sobre a na-

tureza das Escrituras e sobre a veracidade e fidedignidade das palavras de Deus é também

falso. Esses detalhes não são secundários, mas questões doutrinárias centrais nas Escrituras.

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3.3   Bíblia um livro sem igual.

Revendo o que já estudamos no início. Embora tenhamos a Bíblia na conta de um só

livro, na realidade ela é constituída de uma coleção de livros menores. Ao todo são 66 livros:

39 compõem o Antigo Testamento e 27, o Novo Testamento. A Bíblia foi escrita por cerca de

40 autores inspirados por Deus, num período aproximado de 1.500 anos. Esses homens foram

ajudados pelo Espírito Santo a escrever a palavra de Deus. Esta é a razão pela qual apesar de

ter sido escrita por homens, ela é chamada “palavra de Deus”. Por esse fato a Bíblia é inerran-

te, ou seja, os escritos inspirados não contem erros. Os livros da Bíblia formam uma unidade,

apesar de ter sido escrita por homens diferentes de costumes diversos e que também viveram

em épocas diferentes. Por exemplo: Amós foi pastor de gado; Davi era rei; Paulo, além de

intelectual, tinha o ofício de fabricante de tendas; Lucas era médico; Pedro e João eram pes-

cadores. Estes livros se harmonizam entre si justamente porque o Espirito Santo inspirou to-

dos os escritores de cada um deles.

A Bíblia contém verdades que os homens não poderiam ter descobertos por si mesmo.

Ninguém poderia ter escrito sobre a criação do universo, sem que Deus lhe houvesse revela-

do. Jesus deu testemunho a respeito da inspiração da Bíblia.

A Bíblia contém 31.000 versículos e 1.189 capítulos.

O maior livro da bíblia é Salmos, com 150 capítulos.

O menor livro da bíblia é 2º João. - O maior capítulo é Salmos 119.

O menor capítulo é Salmos 117.

Foram usados três idiomas para escrever a bíblia: Hebraico, grego e aramaico.

3.3.1. Traduções e versões para a língua Portuguesa.

As primeiras tentativas de apresentação da Bíblia em português são traduções parciais

de pequenas porções textuais e de alguns livros do Novo Testamento. Em 1320 durante o rei-

nado de D. Diniz, os monges de Alcobaça publicaram os Atos dos Apóstolos. No Séc. XV

durante o reinado de D. João I (1385-1433), foram traduzidos os Evangelhos, os Atos dos

Apóstolos e as Cartas Paulinas. Veremos a seguir as principais obras completas para a língua

portuguesa:

3.3.1.1. Tradução de João Ferreira de Almeida

A primeira tradução completa da Bíblia para a língua portuguesa é resultado do traba-

lho de um pastor português protestante, chamado João Ferreira de Almeida. Nascido em Por-

tugal em 1628, tornou-se pastor em 1645. Foi enviado como missionário entre os povos de

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fala portuguesa na Indonésia. Em 1681 concluiu a primeira edição do Novo Testamento. Mor-

reu em 1691, tendo traduzido o Antigo Testamento até o Capítulo 48 de Ezequiel. A partir

daí, discípulos seus, missionários da Liga Holandesa de Missões, se encarregaram de comple-

tar a obra, a qual foi concluída entre 1748 e 1753 na Batávia, atual Ilha de Java (Indonésia).

Essa tradução não continha os livros Apócrifos. A partir daí muitas revisões têm sido feitas ao

texto original de Almeida em virtude do dinamismo que permeia o desenvolvimento da lín-

gua. Em 1948 com as dificuldades e transtornos provocados pela segunda guerra mundial, os

cristãos brasileiros que até então importavam bíblias de outros países, surgiu a iniciativa de se

produzir a bíblia aqui em nosso país. Assim nascia a Sociedade Bíblica do Brasil, a primeira

editora a publicar a bíblia produzida em solo brasileiro.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GAGLIARD, Ângelo. Panorama do Velho Testamento. 2a ed. Vinde. São Paulo: 1995.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Edições Vida Nova. São Paulo: 1999.

KELLY, J. N. D. Patrística. Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã.

São Paulo: Vida Nova, 2009.

PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. 2a Ed. São Paulo: Vida Nova,

1999.

RIDDERBOS, J. Isaías. Introdução e Comentários. Série Cultura Bíblica. 2a Ed. São Paulo:

Vida Nova, 1998.