Introducao Ao Direito Das Familias

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  • 8/3/2019 Introducao Ao Direito Das Familias

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    ____________________________________________________Prof Carolina MarquesDuarte.

    DIREITO DAS FAMLIAS: PERSPECTIVA HISTRICA. TRATAMENTODIREITO DAS FAMLIAS: PERSPECTIVA HISTRICA. TRATAMENTOCONSTITUCIONAL. CONCEITO. CONTEDO. PRINCPIOSCONSTITUCIONAL. CONCEITO. CONTEDO. PRINCPIOSCONSTITUCIONAIS . OBJETO. NATUREZA JURDICA.CONSTITUCIONAIS . OBJETO. NATUREZA JURDICA.01

    DIREITO DAS FAMLIAS.

    1. PERSPECTIVA HISTRICA.

    O casamento uma das instituies mais antigas do mundo civilizado,

    e a sua celebrao conserva as mesmas caractersticas h mais de dois mil

    anos.

    A cultura do incio do sculo passado levou o legislador a emprestar

    juridicidade apenas ao relacionamento matrimonializado afastando a

    possibilidade de extrair consequncias jurdicas de qualquer outro vnculo

    afetivo. Proibiu doaes, seguros, bem como a possibilidade de herdar aos

    partcipes de ligaes tidas por esprias. Legtima era apenas a famlia

    formada por meio do casamento; ilegtima, a resultante de unio informal,

    de fato, pela convivncia de fim amoroso entre homem e mulher, sem as

    formalidades do papel passado.

    Era a famlia extensiva uma comunidade rural, verdadeira unidade de

    produo integrada por todos os parentes e alguns agregados. Tratava-se de

    entidade patrimonializada, identificando-se seus membros como fora de

    trabalho. Havia um grande incentivo a procriao, posto que o crescimento

    da famlia ensejava melhores condies de sobrevivncia a todos. O homem

    era a figura central, da ser ele o cabea-do-casal, o chefe da sociedade

    conjugal.

    A famlia tinha um perfil patriarcal e hierarquizado. Pelo casamento

    tornava-se a mulher relativamente capaz, sendo obrigada a adotar o

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    sobrenome do marido. poca era bem definido os papis dos partcipes da

    famlia: o homem como oprovedor,

    responsvel pelo sustento da famlia; a mulhercomo reprodutora, restrita

    ao ambiente domstico, administrao da casa e criao dos filhos.

    Com a Revoluo Industrial a mudana desse contexto com a

    necessidade de mo-de-obra ingressando, ento, a mulher no mercado de

    trabalho, deixando o homem de ser a nica fonte de subsistncia da famlia.

    Tais alteraes acarretaram um certo embaralhamento de papis. Com o

    afastamento da mulher do lar, o marido se viu forado a assumir algumas

    funes domsticas e a auxiliar no cuidado com os filhos.

    O afrouxamento dos laos entre o Estado e a Igreja esmaeceu os

    rgidos padres de moralidade que impunham a mantena do casamento. A

    afetividade passou a prevalecer. Conforme Paulo Lobo, a famlia patriarcal

    entrou em crise, privilegiando a afetividade nas relaes familiares: a

    famlia se tornou espao de realizao.1

    Diante desse contexto, desenhado pela nova realidade que se

    imps, acabou afastando da famlia o pressuposto do casamento, que deixou

    de ser um marco de sua existncia e o nico sinalizador do estado civil das

    pessoas. Nessa evoluo, a funo procriacional da famlia e seu papel

    econmico perdem terreno para dar lugar a uma comunho de interesses e

    de vida, em que laos de afeto marcam a estabilidade da famlia. Os novos

    modelos familiares esto quase a desafiar a possibilidade de se encontrar

    conceituao nica para a sua identificao.

    1 Paulo Lobo, A repersonalizao das relaes familiares, 61.

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    Portanto, hoje as relaes de afeto caminham frente. As

    premissas bsicas em que sempre esteve apoiado o direito de famlia

    sexo, casamento e reproduo desatrelaram-se.2 Tornou-se possvel uma

    coisa sem a outra e cada vez mais comum relacionamentos sexuais sem a

    oficialidade do casamento. Tambm a evoluo da

    engenharia gentica permite a reproduo sem a ocorrncia de contato

    sexual, o que leva necessidade de buscar novo conceito de famlia que

    mais tenha tais pressupostos como elementos caracterizadores.

    Pois bem, podemos dizer, ento, que a carada famlia moderna

    mudou. Surgiu a chamada famlia eudominista , doutrina que considera

    ser a felicidade individual ou coletiva o fundamento da conduta humana. O

    novo modelo da famlia funda-se sobre os pilares da repersonalizao, da

    afetividade, da pluralidade e do eudominismo, impingindo nova roupagem

    axiolgica ao direito das famlias. Agora a tnica reside no indivduo, e no

    mais nos bens ou coisas que guarnecem a relao familiar. A famlia atual

    centrada no conceito de dignidade humana; correspondente a uma

    instituio repersonalizada e despatrimonializada que se afasta de

    interesses patrimoniais para atender a valores existenciais que privilegiam a

    pessoa humana.

    Todas as transformaes ensejaram a mudana do prprio nome

    do ramo do Direito correspondente. Para significar o seu atual formato, ao

    invs de direito de famlia passou-se a falar em direito das famlias.

    2. ENTIDADES FAMILIARES: TRATAMENTO CONSTITUCIONAL.

    2 Rodrigo da Cunha Pereira,A sexualidade vista pelos tribunais, 62.

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    A Constituio Federal de 1988 reconheceu a famlia como base da

    sociedade e concedeu-lhe a especial ateno do Estado.3 Novas formas de

    convvio foram consagradas, o que produziu profunda revoluo nas

    estruturas sociais. Foi emprestada juridicidade aos relacionamentos no

    sacralizados pelo matrimnio, bem como ao convvio entre um dos pais e

    seus filhos. Com a insero, no conceito de entidade familiar, da unio

    estvel e do vnculo monoparental, se pe termo na posio excessivamente

    privilegiada do casamento como base de formao e proteo da famlia.

    Ento, famlia a unio de pessoas:

    a) constituda formalmente, pelo casamento civil(CF, art. 226, 1):

    b) constituda informalmente, pela unio estvel(CF, art. 226, 3); e

    c) constituda pela relao monoparental (CF, art. 226, 4).

    Em sentido estrito, a doutrina vem utilizando-se da expresso

    entidade familiar para designar a unio estvel e a relao entre o

    ascendente e o descendente. Cumpre observar, no entanto, que essa figura

    designa qualquer relao familiar, e o constituinte poderia ter contemplado

    outras situaes jurdicas, alm das que evidenciou.

    2.2 OUTRAS FAMLIAS.

    O reconhecimento da pluralidade de formas de constituir famlia

    tornou-se realidade no Direito brasileiro a partir da Constituio Federal de

    1988. Em que pese a Constituio Federal ter se referido expressamente

    apenas s entidades familiares fundadas no casamento, na unio estvel e

    na famlia monoparental, a interpretao dos demais dispositivos legais

    constitucionais leva a concluir que as entidades familiares protegidas

    constitucionalmente no se limitam quelas expressas pelo constituinte.

    Assim, atendidos os requisitos de afetividades, estabilidade e3 CF, art. 226: A famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado

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    ostensibilidade, estar-se- diante de entidade familiar merecedora de tutela

    constitucional.

    Ao texto constitucional deve ser dada interpretao sistemtica, no

    sendo permitida interpretao que contrarie seus principais fundamentos e

    princpios. Nesta esteira, tem-se como a melhor exegese das normas

    constitucionais aquela que considera

    os valores, a realidade social e o ser humano na sua integridade, devendo

    reconhecer as mais diversas formas de constituir famlia.

    A aplicao dos dispositivos de tutela e proteo s diversas entidades

    familiares requer uma interpretao aberta e criativa, sempre com base nos

    princpios da igualdade, liberdade, dignidade da pessoa humana e de

    proteo intimidade e privacidade.

    Unies simultneas. Unies de pessoas do mesmo sexo.

    Unipessoal (Smula 364 do STJ). (...)

    3. CONCEITO DE DIREITO DAS FAMLIAS: Direito de Famlia o ramo do direito

    civil que estuda, em sntese, a relao das pessoas unidas pelo matrimnio, bemcomo daqueles que convivem em unies sem casamento; dos filhos e da relao

    destes com os pais, da sua proteo por meio da tutela e da proteo dos

    incapazes por meio da curatela. ( Clvis Bevilqua).

    4. CONTEDO:

    Direito matrimonial - abrange normas concernentes validade docasamento; as relaes pessoais entre os cnjuges, com a imposio de

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    direitos e deveres recprocos, bem como as suas relaes econmicas como

    o instituto de bens entre os cnjuges e a dissoluo da sociedade conjugal

    e do vnculo matrimonial.

    A relao de parentesco - que so regidas pelo direito parental, quecontm normas sobre filiao, adoo, poder familiar e alimentos. Esse

    direito rege, portanto, relaes pessoais entre parentes e relaes

    econmicas.

    Os institutos de direito protetivo - so disciplinados pelas normas dodireito assistencial atinente s relaes que substituem s familiares, ou

    seja, a guarda, a tutela e a curatela, e pelas normas alusivas s medidas

    especficas de proteo do menor (Lei n. 8.069/90).

    5. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DAS FAMLIAS: Vejamos o rol

    de princpios constitucionais do direito de famlia na atual Constituio Federal,advertindo que no exaustivo, pois outros podem ser inferidos como princpios

    gerais ou implcitos:

    Princpio da ratio do matrimnio e da unio estvel : segundo o qual ofundamento bsico da vida conjugal e do companherismo a afeio entre

    cnjuges e os conviventes e a necessidade de que perdure completa comunho de

    vida, sendo a ruptura da unio estvel, separao e o divrcio uma conseqncia

    da extino do affectio.

    Igualdade jurdica entre os cnjuges e dos companheiros (art. 5, caput, Ie art. 226, 5 CF/88 e artigos. 1.511 e 1.569, CC): no que diz respeito aos seus

    direitos e deveres, que revolucionou o modelo de famlia, inicialmente, patriarcal.

    Com esse princpio desaparece opoder marital e a autocracia do chefe de famlia

    substituda por um sistema em que as decises devem ser tomadas de comum

    acordo entre marido e mulher ou conviventes.

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    Igualdade entre os filhos havidos ou no dentro do casamento, ou poradoo (art. 227, 6): com base nesse princpio no se faz distino entre filho

    matrimonial, no matrimonial ou adotivo quanto ao poder familiar, nome e

    sucesso; permite-se o reconhecimento de filhos extramatrimoniais, proibindo que

    se revele no assento de nascimento a ilegitimidade simples ou espuriedade.

    Princpio do pluralismo familiar: reconhecimento no s da famliaconstituda a partir do matrimnio, mas tambm daquelas constitudas de unies

    sem casamento (Unio Estvel art. 226, 3 da CF/88) e a monoparental (art.226, 4 da CF/88).

    Princpio da consagrao do Poder Familiar: o poder-dever de dirigir afamlia exercido conjuntamente por ambos os genitores, desaparecendo o poder

    marital e paterno.

    Princpio da Liberdade: Livre poder de como formar uma comunho devida; livre deciso do casal no planejamento familiar; livre escolha do regimematrimonial de bens; livre aquisio e administrao do patrimnio familiar; livre

    opo pelo modelo de formao educacional, cultural e religiosa da prole.

    Princpio do respeito da dignidade da pessoa humana (CF, art.1, III):garantia do pleno desenvolvimento dos membros da famlia, tendo como parmetro

    a afetividade, o pleno desenvolvimento e realizao de todos os membros.

    Princpio da afetividade: base do respeito dignidade humana, norteadordas relaes familiares e da solidariedade familiar.

    6. OBJETO: O objeto do direito das famlias a prpria famlia, embora contenha

    normas concernentes tutela dos menores que se sujeitam a pessoas que no

    so seus genitores, curatela, que no tem qualquer relao com o parentesco,

    mas encontra guarida nessa seara jurdica devido semelhana ou

    analogia com o sistema assistencial.

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    6.1 ACEPES DO VOCBULO FAMLIA.

    Num sentido amplssimo o termo abrange todos os indivduos queestiverem ligados pelo vnculo da consanginidade ou da afinidade, chegando a

    incluir estranhos, como no caso do art. 1.412, 2 do Cdigo Civil, em que as

    necessidades da famlia do usurio compreendem tambm as das pessoas de seu

    servio domstico. A Lei 8.112/90 ( Estatuto dos Servidores Civil da Unio), no seu

    art. 241, considera como famlia do funcionrio, alm do cnjuge e prole, quaisquer

    pessoas que vivam a suas expensas e constem de seu assentamento individual.

    Num sentido amplo (lato sensu) - o conjunto de pessoas ligadas porvnculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco

    ancestral comum.

    Num sentido restrito ( stricto sensu) - A famlia se reduziria ao pais esua prole. o que se chama, atualmente, famlia nuclear. nesse sentido que a

    palavra empregada pelos arts. 1.567 e 1716).

    7. NATUREZA JURDICA.

    Sabe-se que o direito de famlia, em qualquer de suas partes (direito

    matrimonial, convivencial, parental ou tutelar), no tem contedo econmico, a no

    ser indiretamente, no que concerne ao regime de bens entre os cnjuges ou

    conviventes, obrigao alimentar entre parentes, entre outros, o que apenas

    aparentemente assume a fisionomia de direito real ou obrigacional.

    Por ser um direito extrapatrimonial, portantopersonalssimo, irrenuncivel,

    intransmissvel, no admitindo condio ou termo ou o seu exerccio por meio de

    procurador.

    As instituies no direito de famlia, como o matrimnio, a unio estvel, a

    filiao e o parentesco esto delimitadas por normas que as organizam e

    regulamenta, portanto, o Estado reduz o exerccio da autonomia da vontade,

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    porque o interesse individual est sujeito ao da famlia, em virtude disso a maioria

    das normas direito de famlia so cogentes ou de ordem pblica, insuscetveis de

    serem derrogadas pelo simples arbtrio do sujeito.

    O direito de famlia ramo do direito privado, apesar de sofrer como vimos a

    interveno estatal, devendo-se esta ser em decorrncia da importncia social da famlia.

    E, por fim, podemos dizer que as suas instituies jurdicas do direito das famlias so

    direitos-deveres.

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