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Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 27 (l) :13-19, janeiro-f evereiro, 1985 ESTUDOS EPIDEMIOTÓGICOS ENTRE GRUPOS INDIGENAS DE RONDÔNIA | - PIODERMITES E PORTADORES |NAPARENTES DE srApHyLococcus sp. NA BOCA E NARIZ ENTRE OS SURUí E KARITIANA Carlos E. Á. COIMBRA JR. (f), Ric¿rdo Ventura SANTOS (Z) e Ronan TANUS (Z) ITE SUMO Foram realizadas culturas baoteriológicas a partir de material colhid.o na boca e nariz entre 38 pacientes indígenas suruí e 58 Karitiana, no Estado de Rondônia. Entre os suruÍ, foi isolado s. aureus em 10 (26,Bvo) indivíd.uos e s. epidermidis em 25 (65,8%). Na populaçáo Karitiana, s. aureus foi isolado em 21 (36,2Vo) pacientes e S. elridermidis em 42 (72,4%). Testes de sensibilidade as dro- gas foram realizados com todas as cepas de s. aureus isoladas. É discu,tid.o o prapel de portadores inaparentes desta bactéria nas cavidades oral e nasal, assim como alguns aspectos relacionados à sua transmissão e prevalência de piodermi- tes entre populações indígenas. INTRODUçÃO A presença de Staphylococcus sp. nas ca_ vidades naso-oro-faríngeas, trato intestinai e pele de indivídu,os sáos é comum, caracteri_ zando o estado de portador inaparente. Em populações indígenas, após o contato com'a "civilização", alguns Autores têm veri- ficadg a ocorrência freqüente de piodermites que de maniJestam com formas clínicas exube- rantes e muitas vezes com caráter rebelde à antibioticoterapia (COIMBRA Jr.3; VIEIRA FI- LHOrs). No Brasil, o único trabalho do nosso co- nhecimento, que procurou estudar aspectos re- lativos a etiologia e a epidemiologia destas in- fecções entre populações indígena"s, revelou a presença de diferentes cepas de Streptococcus sp., Staphylococcus aureus e Corynebacterium diphtheriae com agentes patógenos primários do processo infeccioso (LAWRENCE & col. s). No presente artigo, continuamos a série de estudos que vem sendo realizada entre popu- cDU 616.981.25 lações indigenas do Estado de R,ondônia, dis- cutindo-se o papel epidemiológico dos portado- res inaparentes de bactérias piogênicas na bo- ca e naríz nos Suruí e nos Karitiana, assim co- mo as formas de piodermites observadas nes- sas populações. MATERIAL E METODOS O grupo indÍgena Suruí vive na Reserva do Posto IndÍgena 7 de Setembro, na área admi- nistrativa do Parque fndígena do Aripuanã. Quando do contato com a sociedade nacionál, ocorrido em 1969, a população do grupo era es- timada em 800 indivíduos. Em decorrência de epidemias de gripe, sarampo e tuberculose, ve- rificadas logo após o contato, a população Su- ruí atual soma cerca de 300 índios, demonstran- do as altas tar<as de mortalidade do grupo. Maiores informações sobre a história do con- tato do grupo com a sociedade nacional são encontradas em PUTTÏ<AMER, ls. DAVIS ó e COIMBRA Jr. ¡. TrabaJho re¿lizsdo com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Fundação Na- clonal do lndio (1) Pesquisador do CNPq. Secretarla da, Saúde de Rondôniå (?8.900). Porto Velho - RO (2) Núcleo de Mediclna Tropicel Universidade de Bra.sflia. cx. Postal 15.2965 - (70.919), E¡asília - DF, Brasil 13

INTRODUçÃO - IMT Cursos · como alguns aspectos relacionados à sua transmissão e prevalência de piodermi-tes entre populações indígenas. INTRODUçÃO A presença de Staphylococcus

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Rev. Inst. Med. trop. São Paulo27 (l) :13-19, janeiro-f evereiro, 1985

ESTUDOS EPIDEMIOTÓGICOS ENTRE GRUPOS INDIGENAS DE RONDÔNIA| - PIODERMITES E PORTADORES |NAPARENTES DE srApHyLococcus sp.

NA BOCA E NARIZ ENTRE OS SURUí E KARITIANA

Carlos E. Á. COIMBRA JR. (f), Ric¿rdo Ventura SANTOS (Z) e Ronan TANUS (Z)

ITE SUMO

Foram realizadas culturas baoteriológicas a partir de material colhid.o naboca e nariz entre 38 pacientes indígenas suruí e 58 Karitiana, no Estado deRondônia. Entre os suruÍ, foi isolado s. aureus em 10 (26,Bvo) indivíd.uos e s.epidermidis em 25 (65,8%). Na populaçáo Karitiana, s. aureus foi isolado em 21(36,2Vo) pacientes e S. elridermidis em 42 (72,4%). Testes de sensibilidade as dro-gas foram realizados com todas as cepas de s. aureus isoladas. É discu,tid.o oprapel de portadores inaparentes desta bactéria nas cavidades oral e nasal, assimcomo alguns aspectos relacionados à sua transmissão e prevalência de piodermi-tes entre populações indígenas.

INTRODUçÃO

A presença de Staphylococcus sp. nas ca_vidades naso-oro-faríngeas, trato intestinai epele de indivídu,os sáos é comum, caracteri_zando o estado de portador inaparente.

Em populações indígenas, após o contatocom'a "civilização", alguns Autores têm veri-ficadg a ocorrência freqüente de piodermitesque de maniJestam com formas clínicas exube-rantes e muitas vezes com caráter rebelde àantibioticoterapia (COIMBRA Jr.3; VIEIRA FI-LHOrs).

No Brasil, o único trabalho do nosso co-nhecimento, que procurou estudar aspectos re-lativos a etiologia e a epidemiologia destas in-fecções entre populações indígena"s, revelou apresença de diferentes cepas de Streptococcussp., Staphylococcus aureus e Corynebacteriumdiphtheriae com agentes patógenos primários doprocesso infeccioso (LAWRENCE & col. s).

No presente artigo, continuamos a série deestudos que vem sendo realizada entre popu-

cDU 616.981.25

lações indigenas do Estado de R,ondônia, dis-cutindo-se o papel epidemiológico dos portado-res inaparentes de bactérias piogênicas na bo-ca e naríz nos Suruí e nos Karitiana, assim co-mo as formas de piodermites observadas nes-sas populações.

MATERIAL E METODOS

O grupo indÍgena Suruí vive na Reserva doPosto IndÍgena 7 de Setembro, na área admi-nistrativa do Parque fndígena do Aripuanã.Quando do contato com a sociedade nacionál,ocorrido em 1969, a população do grupo era es-

timada em 800 indivíduos. Em decorrência deepidemias de gripe, sarampo e tuberculose, ve-rificadas logo após o contato, a população Su-

ruí atual soma cerca de 300 índios, demonstran-do as altas tar<as de mortalidade do grupo.Maiores informações sobre a história do con-

tato do grupo com a sociedade nacional são

encontradas em PUTTÏ<AMER, ls. DAVIS ó e

COIMBRA Jr. ¡.

TrabaJho re¿lizsdo com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Fundação Na-clonal do lndio

(1) Pesquisador do CNPq. Secretarla da, Saúde de Rondôniå (?8.900). Porto Velho - RO(2) Núcleo de Mediclna Tropicel Universidade de Bra.sflia. cx. Postal 15.2965 -

(70.919), E¡asília - DF, Brasil

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COIMBRA JR., C. E. A.; SANTOS, R. V. & TANUS, R,

dônia. I - Piodermites e portadores inaparentes deRev. trnsú. Med. trop. São Paulo 27:13-19, 1985.

Os l{aritiana habitarn a Reserva do PostoIndÍgena Karitiana, às margens do igararpé Sa-poti, afluente do Rio das Garças. Os primeiroscontatos com a sociedade nacional datam dofinal do século passado, quando foram perse-guidos por seringueiros. Segundo dados doCIMI 2, a populaçã.o atual é de 84 indivíduos.Informações referentes ao histórico do contatodo grupo podem ser obtidas em LOPES e, ME-TRiAUXIT e HUGO7.

PaÍa a, pesquisa bacteriológica, coletamoso material em "swabs" de madeira com algo-dão umidecido em soluçáo fisiológica, levadosem tubos de ensaio estéries tapados com algo-dão para o traboratório do Núcleo de Medici-na Tropical da Universidade de Brasília. Cole-tamos material das fossas nasais e de raspadosda língua em indivíduos sem sintomas clínicosaparentes pãrâ, a pesquisa de portadores sãos. Otra.balho de campo foi realizado durante o mêsde julho de 1983, tanto na aldeia Suruí comona l{aritiana.

No laboratório, os eram imedia-tamente semeados em placas contendo ágar-sangue e iucubada^s a 37"C por 24-48 horas. Re-picamos em caldo-tioglicolato, à mesma tem-peratura, as colônias isoladas suspeitas. Aofim de 24 horas, preparávamos um esfregaçoe, após coloraçáo pelo Gram, os que apre-sentavam morfologia tipo Staphylococcus eramsubmetidos à prova de coagulase e fermentaçãoda manita para sua confirmaçáo. Utilizamosos meios de cultura de fabricaçáo dos labo-ratórios Difco.

Iùealizamos antibiogramas com todas ascepas de S. aureus isoladas, utilizando discosfabricados pelos laboratórios Cefar, à exceçáoda neomicina produzida pela BBL. Tesfamosapenas as drogas antimicrcbianas distribuídaspela Central de Medicamentos (CEME), quesáo as usad,as nas enfermarias da FUNAI: neo-

micina (30mcg), ampicilina (10mcg), estrepto-micina (10mcg), penicilina (10mcg), tetracicli-na (30mcg), gentamicina (10mcg), rifampicina(5mcg), sulfametoxazol*trimetropim (25mcg),eritromicina (15mcg), ácido nalidíxico (30mcg)

e cloranfenicol (30mcg).

Por motivo de ordem logÍstica, não foipossÍvel realizarmos fagotipagem com as cepasde S. aureus isoladas,

- Estudos epidemiológicos entre grupos indígenas de Ron-Staphylococ€us sp. na boca e nariz entre os Suruí e Karitiana.

TRATAMENTO ESTATfSTICO

A prevalência de indivíduos portadores deS. aurcus, segundo a fonte de isolamento (bo-ca ou nariz), entre os grupos I(aritiana e Su-ruÍ foi comparada estatisticamente pelo testedo "qui-quadrado", sendo analisada a possívelassociaçáo entre a fonte de isolamento da bac-téria e sua ocorrência nas populações indíge-nas em estudo. O mesmo foi realizado comS. epidermidis visando o mesmo objetivo.

RESULTAI}OS

Foram realizadas 191 culturas bacteriológi-cas a partir de material colhido na região bu-cal (lÍngua) e nasal (Tabelas I e II).

TABELA IPrevalência de Súaphylococcus ¿uleus entre portadores ina-

parentes nos grupos indfgenas Karitiana e Sutuí,Rondônia, 1983

Habitat Kâritiana SuruÍ

Língua e nariz

Negativos

TABELA IIPrevalência de Stapþlococcus epidermidis entre portadotesinaparentes nos grupos Karitiana e Su¡uí, Rondônia. lgg3

5 ( 8,60/o)

37 (63,80/o)

Língua

58 (1000/o)

Lingua e na¡iz

? (18,40lo)

Negativos

28 (73,'lo/o)

Entre os Suruí, dos 38 pacientes submeti-dos a exames loacteriológicos, foram isoladascepas de S. aureus em 10 (26,3Vo) indivíduos,sendo 3 (7,9Vo) a partir de material prove-niente da boca e 7 (L8,4%) do nariz. Quantoao S. epidermidis, esta bactéria foi isolada em7 (L8,LVo) pacientes a partir da boca, em 1?

(44,8Vo) no nariz e em apenas um isolada si-

38 (1000/o)

17 (29,30/o)

!4 (24,1o/o)

11 (19,0%)

16 (27,60/o)

58 (1000/o)

7 (L8,40/o)

77 (44,8o/o)

I ( 2,60/o)

73 (34,20/o)

38 (1000/o)

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coIMBR'Arl$',':c' E' A'; sANToS, R'' v. & TANUS, R, - Estudos epidemiotóglcos enrre grupos indÍgenas de Ron.dôniã. rl .- Piodermites e portad.ores inaparentes de staphylococcu. ip. ,r" boca e nar, entre os suruf e Karitiana.Rev. fnst. Med. úrop. São paulo 2?:18-19. 198b.

rrìultangamente da bocâ e rratiz. Em IB (B ,ZVo)indivÍduos a"s culturas foram negativas,

No grupo Karitiana, foram examinados 58pacientes, isolando-se cepas de S, aureus em37 rcï,Bok) indivíduos, sendo 16 (27,6%) a par-tir da boca e 5 (8,6%) do nariz. Em 16 (27,6%)pacientes os exames foram negativos.

Não foram identificad.os portadores nasaise bucais, simulta.neamente, de S. at[eus entreos SunrÍ, tampouco entre os Karitiana.

A análise da prevalência de indivíduos por-tadores de S. aureus revelou a existência de as-sociação significativa, ao nível de íVo de sig-nificância, entre as variáveis grupo indígena efonte de isolamento da bactéria. Entre os Su-ruÍ, o S. aureus foi isolado com maior freqüên-cia no nariz (tB,AVo) enquanto que entre osKaritiana, a freqüência de isolamento dâ bac-téria foi maior na lÍngua Q1 ,6%).

Também quanto ao S. epidermidis conclui.se pela existência de associação entre grupoindígena e fonte de isolamento. A bactéria foiencontrada com maior freqüência, entre os Su-ruí, também no nariz (44,8%). Com os l{aritia_na, o maior número de isolamentos se deu nalíngua (29,3Vo).

Os testes de sensibilidade aos agentes qui_mioterápicos realizados com as cepas de S,aureus revelaram alto índice de resistência àsdrogas testadas (Tabela III). A droga que seapresentou com o maior Índice de resistênciabacteriana foi o ácido nalidíxico, com Zg(93,ïVo) cepâs resistentes, e 2 (6,7Vo ) poucosensÍveis. Apenas uma, (8,3ïo) cepa apresentouresistência à neomicina, enquanto que 17(56,7Vo) mostraram-se pouco, sensíveis e 11

ß6,7Vo) sensíveis. Analisando a Ta;bela III,pode-se visualizar melhor o padrão de rqsis_tência às drogas antimicrobianas testadas.

TABELA IIIcepas de sÚaphJzlococcus auleus isoladas a partir de porta.dores sãos entre os grupos indígenas suruí e Karitiana e seuspadrões de sensibilidade frente a difetentes dtogas antimicrobianas=. testad.as

Drogastestadas

NeomicinaAmpicilinaEstreptomicinaPenicilinaTetraciclinaGentarr¡icinaRifampicinaSulfa.metoxazol +TrimetropimEritromicinaAcido NalidÍxicoCloranfenicol

Cepas Cepas Cepassensíveis pouco resistentes

sensíveis

Grupo Surui

05

06

06

05

0509

06

05 06 72 0101 03 02 10 0?04 06 11 0201 04 01 0? 1102 03 06 06 0?01 10 06 03

04 08 08 03

03 08 02 0901 04 06 03 1001 09 01 1802 n2 11 03 05

. DISCUSSÃO

Os poucos trabalhos publicad.os sobre pio_dermites entre grupos tribais, como MAR_PLES 10 na Oceania, NSANZUMUHIRE & col.raem Uganda e LAWRENCE ,& col.8 no Brasil,têm constatado uma elevada morbid.ade destas infecções, associadas principalmente âoStaphylococcus aureus.

LAWRENCE & col.s, ao estudarem a pre-valência e etiologia de piodermites entre osgrupos Ticuna e Kashjnawa no Estado do Ama-

Cepas Cepas CepassensÍveis pouco resistentes

sensÍveis

0705

06

Grupo KaritianaTotal de

cepas

sensÍveis

L2 (40,00/o)

9 (30,00/o)

13 (43,30/o)

I7 (23,30/o)

11 (36,?0/o)

2Q (67,70/o)

15 (50,00/o)

L4 (46,70/o)

11 (36,7%)

yt (56,70/o)

Total de Total decepas pouco cepas

sensÍveis resistências

17(56,70/o) L(3,3%)7I (36,70/0) 70 (61,,t%)15(50,00/o) 2(6,7/a)8 (26,70/0) 75 (50,0o/o)

18 (60,00/o) 7l (36,Wo)7 (23,30/o) 3 (tO,O%)8 (26,70/o) 7 (23,3%)

2 ( 6,70/o) 73 (43,3%'4 ( 3,3oh) 75 (50,00/ø)

2 ( 6,'10/o) 28 (93,3%)5 (16,?0/o) I (26,7%)

zonas, registraram para o total da amostra exa_minada (775), 1I7o de indivÍduos com pioder-mites. Os Autores isolaram as seguintes bac-térias a partir das lesões: Staphylococcus au-reus, Strepúococcus p-hemotítico grupo A e Ge Coryneba.cterium diphtheriae.

COIMBRA Jr. ¡ relatou entre o grupo Suruíuma microepidemia de furunculose, observan-do-se na ocasião mais de 25 pacientes queixan-do-se de furúnculos, em âpenas 20 dias. Essesfurúnculos, denominados de "neg" pelos Su-

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COIMBRA JR., C. E. A.; SANTOS, R. V. & TANUS, R'

dônia. I - Piodermites e portadores inaparentes deR¿v. Inst. Med. úrop. São Paulo 27:13-19, 1985.

Agravado pelo fato de comportarem um núme'ro excessivo de pessoas.

Esses fatores favorecem a sobrevivência doestafilococos fora do orgànismo humano, po-dendo a bacténa permanecer, segundo BALDY& LOPES 1 em partículas de poeira, durantevários anos, persistindo viáveis, nos fomites,poliempo prolongado.

Os antibiogramas revelaram um alto índicede resistência aos agentes quimioterápicosusuais. Este problema ja foi aventado porCOIMBRA Jr. & MELLOS que, ao pesquisarema etÍologia de furunculose e Ímpetigo entre ogrupo Suruí, também verificaram alto índicede resistência microbiana. A eficácia da a,nti-bioticoterapia pode ser diminuida devido a pres-crição de antibióticos por indivíduos não quali-ficados nas enfermarias, acarretando pouco su.cesso nos tratamentos e gerando desconfiançapela populaçáo indígena em relação à medicinaocidental praticada entre o grupo.

O problema das piodermites entre popula-ções indígenas deve merecer maior atençáo porparte das agências governamentais ou missio-nárias responsáveis pela saúde destas popula-ções. Essa observaçáo é feita náo só pela altaprevalência de piodermites e impetigo observa-da, mas também pelos prejuízos que estas in-fecções osasionam tanto ao indivíduo como àcomunidade, ressaltando-se a incapacitaçáo fí-sica temporária para o trabalho e complica-ções clÍnicas como esteomielites, podendo tra-zer graves seqüelas para o indivÍduo.

SUMMARY

Epidemiological studies among amerÍndians ofRondônia. I - Fioderrna and assymptomaticcarriers of Stapþylococcus sp, in the mouth

and nose among the Suruí and KaritianaIndians

Bacteriological examinations were done with38 Indian patients from the Suruí and 58 pati-ents frorn the Karitiana groups, in the State ofRondônia, BraziT. Among the SuruÍ, S. aureuswas isolated ]n I0 (26.3oio) individuals and S.epidermidis in 25 (65,8% ). In the Karitianapopulation, S. aureus r,¡¡as recorded from ?1

ß6.2%) patients and S. epidermidis lrorn 42(J14%). Sensibility tests to different drugs

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- Estudos epidemiológicos entre grupos indlgenas de Ron-Staphylococcus sp. na þocâ e nariz entre os SuruÍ e Kari.tiana,

were done with all strains of S. aurcus iso-lated. The Authors discuss the role of assymp-tomatic carriers of these bacteria in the oraland nasal cavities, as well as some aspectsrelated to its transmission and the prevalenceof pyoderma infections within Indian popula.tion.

AGRADECIMENI1OS

Ao Prof. Philip D. Marsden, do Núcleo deMedicina Tropical da Universidade de Brasília,pelas sugestões emitidas. A Prof.' Lucia lIele-na Chiarini, do Departamento de Estatística daUniversidade de Brasília pela orientaçáo doscálculos. Ao Dr. Ari Miguel T. Ott da Secreta-ria da Saúde de Rondônia, pela revisão dosoriginais.

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Recebido para publicação em Lg/Z/t984.

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