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57 Física na Escola, v. 16, n. 2, 2018 Introdução G rande parte dos alunos tem dificuldades em compreender assuntos que envolvam conceitos de física, pelo fato da forte necessidade de abstração e cognição aguçada. Com base nisso, buscou-se uma alternativa para atrair a atenção e melhorar a assimilação por parte dos alunos aos conteúdos estudados em física. Para isso, o presente artigo propõe a utilização do jogo de tabuleiro “Caminhos Termométricos”, com objetivo de proporcionar um ambiente lúdico em sala de aula, que desperte o in- teresse dos discentes para os conteúdos relacionados das aulas de termometria. Segundo Lopes [1], “É muito mais eficiente aprender por meio de jogos e, isso é válido para todas as idades, desde o maternal até a fase adulta. O jogo em si, possui compo- nentes do cotidiano e o envolvimento desperta o interesse do aprendiz, que se torna sujeito ativo do processo, e a confecção dos próprios jogos é ainda muito mais emocionante do que ape- nas jogar.” Geralmente, notam-se grandes desa- fios para com as turmas de Ensino Médio composto tanto por jovens quanto por adultos, principalmen- te no que diz respeito ao ensino e aprendiza- gem da componente curricular de física, por inúmeros motivos. Dentre os quais pode- mos destacar: traba- lhar e estudar ao mesmo tempo, estarem muitos anos fora da escola, entre outros. Vale salientar que o uso de jogos represen- tam recursos facilitadores para o apren- dizado [2], criando um ambiente agradável com aulas dinamizadas [3]. Neste contexto, para fomentar aulas diferenciadas e agradáveis, muitos pro- fessores usam experimentos. Entretanto, se o docente propõe dinamizar as aulas com o uso de experimento referente aos conceitos físicos, e esta ação não promover a participação de forma legítima dos alu- nos, o experimento que deveria ser inte- rativo, torna-se apenas mais uma aula ex- positiva. Ao refletir sobre como inserir os estudantes ativamente nas aulas, o uso de jogos representa uma promissora ferra- menta de aprendizagem, ampliando o leque de recursos didáticos que podem ser utilizados pelo professor, pois assim como Shulman [4] afirma, “Para que o aluno aprenda, não basta que o professor domine o conteúdo es- pecífico da disciplina, mas é necessário que ele tenha sólidos conhecimentos de didática, de psicologia da educação, de currículo e que domine a pedagogia específica para ensinar física”. Observe que um jogo bem elaborado, que contrabalance o aspecto lúdico e o pedagógico, que apresenta “um equilíbrio coerente entre diversão e aprendizado de modo a evitar que um prejudique o outro” [5], pode ter um potencial didático alcan- çado com maior facilidade. De maneira geral, os jogos são importantes recursos para as aulas de física, no sentido de servir como um instrumen- to facilitador da aprendizagem me- diante a participação dos estudantes. Além disso, Cunha afirma que os jogos permitem experiências im- portantes não só no campo do conheci- mento, mas desenvolvem diferentes habilidades especialmente no campo afe- tivo e no social do estudante [6]. Essas habilidades também se estendem ao Joisilany Santos dos Reis * , Victoria Cristina Morais Oliveira, Aline Mariane Alves de Amorim, Bianca Martins Santos Universidade Federal do Acre, Campus Universitário, Rio Branco, AC, Brasil * E-mail: [email protected] O presente trabalho compartilha uma experiên- cia didática realizada com estudantes do Ensino Médio da escola pública Dr. Santiago Dantas em Rio Branco-AC, ministrada por bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Licenciatura em Física, da Universidade Federal do Acre (UFAC), durante uma atividade de extensão. O Jogo “Caminhos Termométricos” foi elaborado com o intuito de auxiliar a abordagem do conteúdo de ter- mometria, especificamente sobre as transfor- mações de escalas de temperatura, a fim de despertar o interesse dos estudantes. A atividade foi aplicada dentro de uma sequência didática que inclui: (1) Apresentação dos conteúdos introdutórios sobre temperatura e calor; (2) Discussão do assunto com exemplos práticos; (3) Resolução de questões de edições anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM); (4) Apresentação das escalas termométricas e suas transformações; (5) Realização do jogo de tabuleiro “Caminhos Termométricos”; (6) Apli- cação do questionário. Os resultados mostra- ram ser possível inovar no formato de ensinar física, inserindo os alunos de forma ativa no processo ensino-aprendizagem, já que o jogo motivou os mesmos a participarem efetiva- mente da aula. O lúdico despertou a curiosidade dos alunos em interagirem entre si, estimu- lando a resolução das questões contidas no jogo e o trabalho em equipe. Ensino de termologia com aplicação de um jogo didático “Caminhos Termométricos” é um jogo de tabuleiro que tem por objetivo proporcionar um ambiente lúdico em sala de aula, que desperte o interesse dos discentes para os conteúdos relacionados à termometria

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57Física na Escola, v. 16, n. 2, 2018

Introdução

Grande parte dos alunos temdificuldades em compreenderassuntos que envolvam conceitos

de física, pelo fato da forte necessidade deabstração e cognição aguçada. Com basenisso, buscou-se uma alternativa paraatrair a atenção e melhorar a assimilaçãopor parte dos alunos aos conteúdosestudados em física. Para isso, o presenteartigo propõe a utilização do jogo detabuleiro “Caminhos Termométricos”, comobjetivo de proporcionar um ambientelúdico em sala de aula, que desperte o in-teresse dos discentes para os conteúdosrelacionados das aulas de termometria.Segundo Lopes [1],

“É muito mais eficiente aprender pormeio de jogos e, isso é válido para todasas idades, desde o maternal até a faseadulta. O jogo em si, possui compo-nentes do cotidiano e o envolvimentodesperta o interesse do aprendiz, quese torna sujeito ativo do processo, e aconfecção dos próprios jogos é aindamuito mais emocionante do que ape-nas jogar.”

Geralmente, notam-se grandes desa-fios para com as turmas de Ensino Médiocomposto tanto porjovens quanto poradultos, principalmen-te no que diz respeitoao ensino e aprendiza-gem da componentecurricular de física, porinúmeros motivos.Dentre os quais pode-mos destacar: traba-lhar e estudar ao mesmo tempo, estaremmuitos anos fora da escola, entre outros.Vale salientar que o uso de jogos represen-tam recursos facilitadores para o apren-dizado [2], criando um ambiente agradávelcom aulas dinamizadas [3].

Neste contexto, para fomentar aulasdiferenciadas e agradáveis, muitos pro-fessores usam experimentos. Entretanto,se o docente propõe dinamizar as aulascom o uso de experimento referente aosconceitos físicos, e esta ação não promovera participação de forma legítima dos alu-nos, o experimento que deveria ser inte-rativo, torna-se apenas mais uma aula ex-positiva. Ao refletir sobre como inserir osestudantes ativamente nas aulas, o usode jogos representa uma promissora ferra-menta de aprendizagem, ampliando oleque de recursos didáticos que podem serutilizados pelo professor, pois assim comoShulman [4] afirma,

“Para que o aluno aprenda, não bastaque o professor domine o conteúdo es-pecífico da disciplina, mas é necessárioque ele tenha sólidos conhecimentos dedidática, de psicologia da educação, decurrículo e que domine a pedagogiaespecífica para ensinar física”.

Observe que um jogo bem elaborado,que contrabalance o aspecto lúdico e opedagógico, que apresenta “um equilíbriocoerente entre diversão e aprendizado demodo a evitar que um prejudique o outro”[5], pode ter um potencial didático alcan-çado com maior facilidade. De maneira

geral, os jogos sãoimportantes recursospara as aulas de física,no sentido de servircomo um instrumen-to facilitador daaprendizagem me-diante a participaçãodos estudantes. Alémdisso, Cunha afirma

que os jogos permitem experiências im-portantes não só no campo do conheci-mento, mas desenvolvem diferenteshabilidades especialmente no campo afe-tivo e no social do estudante [6]. Essashabilidades também se estendem ao

Joisilany Santos dos Reis*,Victoria Cristina Morais Oliveira,Aline Mariane Alves de Amorim,Bianca Martins SantosUniversidade Federal do Acre, CampusUniversitário, Rio Branco, AC, Brasil*E-mail: [email protected]

O presente trabalho compartilha uma experiên-cia didática realizada com estudantes do EnsinoMédio da escola pública Dr. Santiago Dantasem Rio Branco-AC, ministrada por bolsistas doPrograma Institucional de Iniciação à Docência(PIBID) do curso de Licenciatura em Física, daUniversidade Federal do Acre (UFAC), duranteuma atividade de extensão. O Jogo “CaminhosTermométricos” foi elaborado com o intuitode auxiliar a abordagem do conteúdo de ter-mometria, especificamente sobre as transfor-mações de escalas de temperatura, a fim dedespertar o interesse dos estudantes. A atividadefoi aplicada dentro de uma sequência didáticaque inclui: (1) Apresentação dos conteúdosintrodutórios sobre temperatura e calor; (2)Discussão do assunto com exemplos práticos;(3) Resolução de questões de edições anterioresdo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM);(4) Apresentação das escalas termométricas esuas transformações; (5) Realização do jogo detabuleiro “Caminhos Termométricos”; (6) Apli-cação do questionário. Os resultados mostra-ram ser possível inovar no formato de ensinarfísica, inserindo os alunos de forma ativa noprocesso ensino-aprendizagem, já que o jogomotivou os mesmos a participarem efetiva-mente da aula. O lúdico despertou a curiosidadedos alunos em interagirem entre si, estimu-lando a resolução das questões contidas no jogoe o trabalho em equipe.

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Ensino de termologia com aplicação de um jogo didático

“Caminhos Termométricos” éum jogo de tabuleiro que tempor objetivo proporcionar umambiente lúdico em sala de

aula, que desperte o interessedos discentes para os

conteúdos relacionados àtermometria

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campo docente, na premissa de que o pro-fessor é o principal mediador dentro desseinterativíssimo, deixado muitas vezes otermo técnico “docente” de lado para sersupervisor, juiz do tabuleiro, auxiliadordentre outras funções e papéis que omesmo pode assumir. Veja o que afirmaCunha [7],

“O aspecto de coerência pode ser veri-ficado por meio da testagem prévia dojogo. É importante que o professor oexperimente antes de levá-lo à sala deaula, ou seja, que ele vivencie a ativi-dade de jogar. O professor deve desen-volver a atividade como se fosse o estu-dante, pois somente assim será possívelperceber os aspectos de: coerência dasregras, nível de dificuldade, conceitosque podem ser explorados durante eapós o seu desenvolvimento, bem comoo tempo e o material necessário parasua realização.”

O professor ainda precisa saber lidarcom o barulho que o jogo pode vir a cau-sar e às vezes quando não controlado podevir a ser mais um problema do que umasolução. Neste ponto vale ressaltar o queafirma Silva [8],

“É claro que, quando usamos o jogona sala de aula, o barulho é inevitável,pois só através de discussões é possívelchegar-se a resultados convincentes. Épreciso encarar esse barulho de umaforma construtiva; sem ele, dificilmen-te, há clima ou motivação para o jogo.É importante o hábito do trabalho emgrupo, uma vez que o barulho diminuise os alunos estiverem acostumados ase organizar em equipes. Por meio dodiálogo, com trocas de componentesdas equipes e, principalmente, enfati-zando a importância das opiniões con-trárias para descobertas de estratégiasvencedoras, conseguimos resultadospositivos. Vale ressaltar que o sucessonão é imediato e o professor deve terpaciência para colher os frutos dessetrabalho.”

Em linhas gerais, os jogos educacio-nais são estratégias lúdicas, motivacionaise interativas de ensino, ou seja, eles visamfazer com que os alunos através do jogoaprendam se divertindo, de modo a des-pertar a atenção dos mesmos para os as-suntos abordados no decorrer do currículoescolar, proporcionando consequente-mente um maior rendimento no aprendi-zado. Observa-se que a ação de educaçãorequer maior envolvimento do docente,para que o aluno desenvolva sua compre-ensão através de metodologias de ensinoque despertem suas capacidades cogniti-

vas. É de suma importância que o profes-sor seja capaz de inovar, assumindo aresponsabilidade de gerar um interesseindividual de cada aluno nas aulas. Nestaperspectiva, a referência [9] apresentauma reflexão sobre a evolução dos jogosem física segundo a perspectiva do pro-fessor.

Com ênfase nisso, para tornar asaulas mais atraentes e melhorar o binômioensino/aprendizagem,o presente trabalhopropôs o jogo “Cami-nhos Termométricos”como recurso didáticopara o ensino de ter-mometria, com foconas operações detransformações de es-calas termométricas. O jogo busca atraira atenção dos estudantes para as aulas,visando interação do aluno de forma in-dividual e coletiva, na construção doconhecimento, utilizando a rivalidade e acompetição que o jogo proporciona comomotivação para consolidar o raciocinalógico e matemático envolvido nas ope-rações de transformações de escalas detemperaturas. Além de propor o jogo, opresente trabalho descreve a utilizaçãodesta atividade em sala de aula, relatandoa experiência de sua aplicação e os resul-tados animadores mediante tal ferramentade ensino.

Materiais e métodos

A metodologia do trabalho consistena aplicação de uma sequência didáticacom alunos do terceiro ano de uma escolapública de Rio Branco-AC, que incluiutilização de um jogo de tabuleiro e aofinal da atividade, a aplicação de um ques-

tionário investigativo. A presente ativi-dade integra uma das ações de extensãodo projeto “Ciências na escola: Experi-mentação e Teoria”, que reúne duranteuma semana aulas de física, química ebiologia planejada e ministrada por gra-duandos do curso de Licenciatura nas res-pectivas áreas, da Universidade Federal doAcre (UFAC). Tal projeto de extensão con-ta com a parceria entre universidade e

escola de educaçãobásica; para isso, asatividades foram rea-lizadas no contratur-no das aulas regularesdo Ensino Médio. Apresente prática tam-bém compõe uma dasações desenvolvidas

pelos bolsistas do Programa Institucionalde Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID/Física da UFAC.

A elaboração da aula e preparação dosmateriais utilizados foi realizada com aorientação da coordenadora do PIBID/Fí-sica - UFAC. A primeira etapa de prepara-ção da aula envolvia a escolha do tema,que por ter foco na preparação para o Exa-me Nacional do Ensino Médio (ENEM),optou-se por assuntos que foram cobra-dos com maior frequência em ediçõesanteriores, neste caso, calor e tempera-tura. Diante da carência da escola, locali-zada em uma zona rural de difícil acesso,optou-se por elaborar um material didá-tico que não estivesse diretamente ligadoa aparelhos tecnológicos ou laboratóriosde física de difícil acesso ou manuseio parao público alvo da atividade. Vale ressaltarque outros recursos podem ser utilizadose adequados para tal realidade, como porexemplo, a construção de um laboratório

Figura 1: Jogo desenhado em plataforma digital como referência para a criação domanual.

Ensino de termologia com aplicação de um jogo didático

Os jogos educacionais sãoestratégias lúdicas,

motivacionais e interativas deensino, ou seja, eles visamfazer com que os alunos

através do jogo aprendam sedivertindo

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de física de baixo custo, conforme descritopor Silva e Leal [10]. Entre as diversas pos-sibilidades de recursos didáticos descritosna literatura para o professor da compo-nente curricular de física, o cenário da in-clusão ganha destaque na área, como oapresentado por Cordova e cols. [11].

Para a presente atividade, o jogo detabuleiro idealizado, intitulado de “Cami-nhos Termométricos”, segue apresentadona Fig. 1. Entretanto, uma versão commateriais de baixo custo também pode serutilizada, veja a Fig. 2.

Para elaboração do tabuleiro (Fig. 2)utiliza-se materiais simples, como: carto-lina; cola quente; tesouras; papel cartão;canetinha preta, EVA colorido e tampa degarrafa PET. Com tais materiais, um dadode seis lados também pode ser construído.Além desses elementos, o jogo dispõe detrês pilhas de cartas (azul, branco e ama-relo) com perguntas sobre transformaçõesem escalas de temperatura, veja a Fig. 3.

As regras do jogo são detalhadas a se-guir. O jogo foi proposto para três joga-dores ou três equipes representadas portrês tampas coloridas de garrafas PET,como mostra a Fig. 2. Podendo ser adap-tado para mais jogadores; neste caso,deve-se aumentar o número de cartas-per-guntas. A divisão das equipes e a escolhade quem começa a jogar fica a critério dosjogadores ou do professor. Para iniciar ojogo, a primeira equipe joga o dado e andao número de casas que saiu no dado, con-sequentemente a cor da casa que a res-pectiva peça alcançar, indica a cor da pilhade cartas que os jogadores terão que retiraruma carta e responder à pergunta contidanela. Vale ressaltar que todas as cartasapresentavam desafios com transforma-ções de escalas, por exemplo: Quanto

equivale 20 °C (graus Celsius) em K (Kel-vin)?

Para responder a pergunta o aluno po-deria calcular esta operação usando: a fór-mula de transformação entre as escalas;ou uma regra de proporcionalidade entreos intervalos de temperatura das escalas aserem consideradas, ou seja, comparandoos intervalos de temperatura da questão.Cada grupo disponibilizava de 2 minutosno máximo para responder a perguntacorretamente. Se o grupo ou equipe queestivesse na vez de responder acertasse apergunta, ele permanecia na casa, casocontrário, se errasse a pergunta, voltavatodas as casas que andou nessa rodada.Vale mencionar que algumas cartasapresentavam prêmios extras, comoexemplo: ao acertar, avance duas casas,caso contrário volte duas casas. Nesse caso,o jogador atenderia como premiação oupunição, pelo acerto ou erro, res-pectivamente, o que a carta determinava.

Quando o jogador ou equipe que esti-ver na vez errar a resposta da questão,este retorna as casas que andou na rodada;e os outros grupos têm a chance de dar aresposta correta, motivando assim a parti-cipação de todos os alunos para respondertodas as questões sorteadas em cada ro-dada. Lembrando que em cada rodada, sãosorteadas três perguntas, correspondendoao número total de jogadores. Ocorrendode uma das equipes ou ambas as equipesacertarem a pergunta, estes andam o nú-mero de casas sorteada no dado pelo gru-po que estava na vez de responder. O obje-tivo do jogo é chegar ao final do caminhoo mais rapidamente possível, assim quan-to mais ágil o jogador ou equipe calcularas transformações entre as escalas, maio-res as chances de ganhar o jogo.

É com referências e jogos assim queFortuna ressalta [12]: “Enquanto joga oaluno desenvolve a iniciativa, a imagi-nação, o raciocínio, a memória, a atenção,a curiosidade e o interesse, concentrando-se por longo tempo em uma atividade.”

O jogo “Caminhos Termométricos”foi aplicado durante a atividade de exten-são realizado na escola Dr. Santiago Dan-tas, na zona rural de Rio Branco, com alu-nos do terceiro ano do Ensino Médio. Aaula ministrada seguia a sequência didá-tica apresentada no Quadro 1. Vale ressal-tar que por ser uma atividade de extensão,estava voltada para fazer uma revisão dosconteúdos de física sobre temperatura ecalor.

A primeira etapa da sequência didá-tica foi fundamentada em apresentar aosalunos os conceitos físicos de temperaturae calor com aula teórica, expositiva e dia-logada. A segunda etapa apresentou umadiscussão sobre os assuntos com exemplospráticos. Em seguida, algumas questõespropostas com embasamento na explica-ção anterior foram resolvidas junto com

Figura 2: Jogo “Caminhos Termométricos”, montado com papel cartão, canetinha pretae EVA colorido para utilização em sala de aula.

Figura 3: Cartas usadas no tabuleiro do jogo.

Ensino de termologia com aplicação de um jogo didático

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os alunos, como proposta de preparaçãopara o ENEM. Como quarta etapa, a expli-cação sobre as escalas termométricas esuas transformações foram abordadas,bem como os cálculos que o sucedem. Emconsonância, aplicou-se o jogo, que tam-bém pôde ser usado como meio de avalia-ção se os estudantes aprenderam a calcularas transformações de escalas de tempera-tura. Por fim, a última etapa consistiu naaplicação do questionário, onde os alunosrelataram suas opiniões sobre o uso dojogo durante a aula.

Na oportunidade, as regras e os dire-cionamentos foram passados aos estudan-tes, que divididos em três grupos se posi-cionaram ao redor da sala de aula, e otabuleiro foi colocado no centro da classe,onde ficasse ampliado a visualização paratodos os grupos, Fig. 4.

Ao final da atividade, o questionáriofoi aplicado, os dados computados e apre-sentados a seguir. O total de alunos queparticiparam da atividade foram 21.

Ao se tratar da competitividade, ouaté mesmo das regras impostas pelo jogo,surge o questionamento da divisão dosalunos entre si, ou da forma como podemreagir com a perda, entretanto, a visão deBrougère [13] estabelece que:

“Mesmo as regras chegando prontasaos alunos, estes têm a liberdade e aflexibilidade de aceitar, modificar ousimplesmente ignorá-las. Isto podedepender do contexto no qual o alunoestará inserido e dos parceiros dos jo-gos. O objetivo final de uma criança

perante um jogo é a vitória sobre ooponente, entretanto, mesmo que oaluno não vença, o prazer usufruídodurante o jogo pode fazer com que acriança retorne a jogar.”

Resultados e discussões

Os resultados aqui apresentados estãobaseados nas observações durante a aplica-ção do jogo e das respostas fornecidas pelosestudantes ao questionário. Na Fig. 5 estãoapresentados momentos da aplicação dasequência didática, como a explicação dasregras do jogo e suas funcionalidades.

No decorrer do jogo, notou-se que amaioria dos alunos apresentaram grandesdificuldades nas operações matemáticas,muitos conseguiam montar a relação deequivalência exigida para regra de propor-cionalidade entre os intervalos de tempe-ratura das escalas, mas no momento deefetuar passagens algébricas para chegarao resultado, constatou-se um grande

Figura 5: Aplicação da sequência didática.

Figura 4: Momento de explicação sobre as regras do jogo e objetivos.

desafio para eles. Mediante tal dificuldade,a primeira rodada foi realizada com ajudado professor, onde os estudantes dispuse-ram da oportunidade de treinar a operaçãoe sanar as dúvidas. A partir da segundarodada, foi cronometrado o tempo de doisminutos aos estudantes para respondercada questão. Neste momento, foi possívelobservar que a operação de transformaçãode escala ocorreu de forma mais rápida,dentro do tempo estipulado e com resul-tados corretos. Entretanto, algumas ques-tões bem simples de raciocínio lógico, ondeos estudantes poderiam dar as respostassem realizar contas, ainda constatou-seem alguns a necessidade do uso do tempototal disponível para encontrar a resposta.

Analisando as dificuldades particu-lares da área, identificou-se um grandedéficit dos alunos com relação a cálculosbásicos de matemática, como isolar as in-cógnitas ou a resolução de equações deprimeiro grau, domínio necessário paraexecução do jogo. Felizmente o conceitofísico sobre os fenômenos pareceu bastan-te promissor, contando que os alunos nãoapresentaram dificuldade quanto à com-preensão do conteúdo. Vale mencionar queapesar de muitos professores ainda nãoenxergarem o jogo lúdico como uma for-ma alternativa de alcançar melhoresresultados, verificou-se que este propiciauma ampla visão das principais dificul-dades encontradas pelos alunos ao longoda atividade possibilitando a avaliação donível de aprendizado da turma por partedo professor.

Um aspecto importante para incre-mentar as discussões sobre o jogo “Cami-nhos Termométricos” é o registro das ex-periências dos alunos para análise poste-rior, para tanto, elaborou-se umquestionário com duas perguntas sobre aaula e o jogo. A primeira pergunta inda-gava os alunos o que eles acharam daaula. Entre as opções de respostas, os estu-dantes poderiam marcar: Ótima, Boa,Regular ou Ruim. Os resultados mostramque 89,9% dos entrevistados afirmaramque a aula foi ótima e 10,1% que foi boa.

Quadro 1: Sequência didática.

Etapa Descrição da sequência didática

1° Apresentação dos conteúdos introdutórios de temperatura e calor;2° Discussão do assunto com exemplos práticos;3° Resolução de questões de edições anteriores do ENEM;4° Apresentação das escalas termométricas e suas transformações;5° Realização do jogo de tabuleiro Caminhos Termométricos;6° Aplicação de um questionário para coleta de dados sobre a atividade.

Ensino de termologia com aplicação de um jogo didático

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Referências

[1] M.G. Lopes, Jogos na Educação: Criar, Fazer e Jogar (Cortez, São Paulo, 2001), 4a ed, p. 23.[2] L. Alves e M.A. Bianchin, Rev. Psicopedagogia 27, 282 (2010).[3] Santa Marli Pires dos Santos, O Lúdico na Formação do Educador (Vozes, Petrópolis, 1997), 6ª ed.[4] L. Shulman, Harvard Educational Review, p. 5, 1987.[5] R.F. Pereira, P.A. Fusinato, e M.C.D. Neves, in: VII Encontro De Nacional De Pesquisa Em Educação Em Ciências, Florianópolis, 8 de Novembro de

2009.[6] M.B. Cunha, Jogos Didáticos de Química. Edição Única (Grafos, Santa Maria, 2000).[7] M.B. Da Cunha, Química Nova na Escola 34, 92 (2012).[8] A.F. Da Silva, e H.M.Y. Kodama,in: II Bienal da Sociedade Brasileira de Matemática, UFBa, 25 a 29 de Outubro, p. 1-19, 2004.[9] M.C. Ferreira e L.M.O. Carvalho, Revista Brasileira de Ensino de Física 26, 57 (2004).[10] J.C.X. Silva e C.E.S. Leal, Revista Brasileira de Ensino de Física 39, e1401 (2017).[11] H.P. Cordova, C.E. Aguiar, H.S. Amorim, K.S.O.M. Sathler e A.C.F. Santos, Revista Brasileira de Ensino de Física 40, e2505, 2018.[12] T.R. Fortuna, Revista do Professor 19(75), 15 (2003).[13] Gilles Brougere, Jogo e Educação, tradução Patrícia Chittoni Ramos (Artes Médicas, Porto Alegre, 1998), 1 ed. 218 p.

Quadro 2: Justificativa dos entrevistados à segunda pergunta do questionário.

Questão: Você acha que o uso do jogo de tabuleiro para as transformações de escalas detemperatura, ajudaram você a compreender o conteúdo de forma mais fácil? Justificativados alunos que responderam concordo.

Aluno 1: “Se tivesse aulas assim todos os dias, eu seria apaixonada pela física”.Aluno 2: “Se eu soubesse que o assunto era tão fácil, teria aprendido antes.”Aluno 3: “O jogo de tabuleiro tornou a aula mais divertida e assim possibilitou a

compreensão mais fácil.”Aluno 4: “O jogo de tabuleiro para as transformações de escalas de temperatura

ajudou a compreensão de forma mais fácil pois o jogo exige uma rapidezna hora de calcular, facilitando a nossa lógica.”

Aluno 5: “Através de jogos práticos como esses aprendemos bem mais.”

O interessante é que nenhum dos entre-vistados marcaram as opções regular ouruim demonstrando que a atividade teveboa aceitação entre os alunos.

A segunda pergunta questionava seos alunos acharam que o uso do jogo detabuleiro para as transformações de esca-las de temperatura ajudou na compreen-são do conteúdo de forma mais facilitada.Como opção de resposta, os estudantespoderiam marcar: Concordo totalmente;Concordo; Concordo em parte; Discordo;e Discordo totalmente.

Para tal questionamento, todos osalunos afirmaram concordo. A perguntainvestigava ainda exigia uma justificativa.Observou-se que tais respostas estão rela-cionadas ao dinamismo que o jogo deu aaula, como pode ser visualizado no Qua-dro 2, que apresenta algumas das respos-

tas dos entrevistados.Verifica-se que o jogo mostrou aos

estudantes uma nova visão sobre a físicadesmistificando o conceito de uma física“temida” e “odiada”. Aponta-se ainda aimportância da utilização de recursosdidáticos onde os estudantes participemativamente das aulas, como exemplo:jogos lúdicos e aulas experimentais, bemcomo ferramentas de ensino que viabi-lizem o processo de ensino/aprendizagemem física de forma efetiva e inovadora.

Conclusões

Buscando novas maneiras de ensinopor meio do lúdico, o presente trabalhopropõe e apresenta resultados para apli-cação do jogo “Caminhos Termométricos”em uma turma de terceiro ano do EnsinoMédio. Com base nos resultados, verifi-

cou-se que o jogo proporciona uma maiorinteração entre os alunos e aprendizagemem grupo, que auxilia em interesses enecessidades particulares da classe. Caberessaltar que uma atividade lúdica não éapenas a somatória de ações, é antes detudo, uma maneira de ser, de estar, depensar, de encarar o ensino e de relacionar-se com o aluno. É preciso conhecer a rea-lidade do estudante, o seu contexto, seuscostumes, para que a partir de então oprofessor possa elaborar o jogo e jogarcom ele. Quanto mais recursos pedagó-gicos diferenciados forem proporcionadosno ambiente de sala de aula, mais alegre,espontâneo, criativo, autônomo e efetivoa aprendizagem será.

A atividade também comprovou queo jogo de tabuleiro auxiliou e motivou osalunos, facilitando a compreensão dosassuntos físicos e a minimização das difi-culdades nas operações matemáticas, oque tornou a aula mais interativa eatraente culminando para a sua aprendi-zagem. Desenvolvendo o cognitivo dosestudantes, o raciocínio lógico, alcançandoa avaliação de que a atividade alcançouseu objetivo de maneira satisfatória, des-pertando o aluno a participar de formaativa da aula. Destaca-se ainda que o jogoproposto possa ser adaptado para outrosconteúdos de física, com alterações nasregras sempre que necessário, demons-trando ser um recurso promissor comresultados animadores.

Ensino de termologia com aplicação de um jogo didático