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OS INVENTORES NO BRASIL: TIPOS E MODALIDADES DE INCENTIVOS José Carlos Barbieri

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OS INVENTORES NO BRASIL: TIPOS E MODALIDADES DE INCENTIVOS José Carlos Barbieri PALAVRAS-CHAVE Inventor individual, empreendedor, inovação tecnológica, patente, capital de risco. Administração da Produção e Sistemas de Informação RAE - Revista de Administração de Empresas • Abr./Jun. 1999 São Paulo, v. 39 • n. 2 • p. 54-63 54 RAE • v. 39 • n. 2 • Abr./Jun. 1999

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OS INVENTORES NO BRASIL:

TIPOS E MODALIDADES

DE INCENTIVOS

José Carlos Barbieri

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Administração da Produção e Sistemas de Informação

54 RAE • v. 39 • n. 2 • Abr./Jun. 1999

José Carlos BarbieriProfessor do Departamento de Administração da Produção e Operações Industriais da EAESP/FGV.

OS INVENTORES NO BRASIL:

TIPOS E MODALIDADES DE

INCENTIVOS

RESUMOEste artigo analisa o papel dos inventores no processo de inovação tecnológica. Inicialmente, o texto

apresenta uma tipologia de inventores considerando sua situação profissional, vinculação com o sistemaP&D, comportamento empreendedor etc. Depois, resume uma pesquisa sobre os inventores que solicitaram

patentes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial e tece comparações com os resultados de pesquisassimilares realizadas em outros países. Por último, é feita uma análise dos instrumentos públicos e privados

criados para apoiar cada tipo de inventor.

ABSTRACTThis paper analyses the role of inventors concerning innovation of technologic processes. First, thepaper presents a typology of inventors taking into consideration professional status, link with R&D

systems, entrepreneurial behaviour and so on. After that, the paper summarises a research oninventors who filled patent applications at the Instituto Nacional da Propriedade Industrial, the BrazilianPatents Office, and compares its results with similar researches in other countries. Finally, private and

public instruments created in Brazil to aid each kind of inventor are examined.

PALAVRAS-CHAVEInventor individual, empreendedor, inovação tecnológica, patente, capital de risco.

KEY WORDSIndividual inventor, entrepreneur, technological innovation, patent, venture capital.

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RAE • v. 39 • n. 2 • Abr./Jun. 1999 55©1999, RAE - Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.

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que passaram a dar auxílio a seus associados.que passaram a dar auxílio a seus associados.que passaram a dar auxílio a seus associados.que passaram a dar auxílio a seus associados.que passaram a dar auxílio a seus associados.

INTRODUÇÃO

O tema central deste artigo é o inventor indepen-dente ou individual, um assunto pouco estudado noBrasil e nos países com trajetórias de industrializa-ção semelhantes. Nos países desenvolvidos, ele fi-cou esquecido até bem pouco tem-po em face da idéia amplamentedifundida de que sua importânciafora completamente superada pelaP&D institucionalizada. Atual-mente, os inventores individuaisvoltaram a receber a atenção deinúmeras pesquisas, e diversos in-centivos apropriados às suas ca-racterísticas foram criados nessespaíses. Isso se deve em grandeparte à crescente importância daspequenas e médias empresas debase tecnológica criadas por pesquisadores e profis-sionais vinculados às instituições de ensino e pes-quisa ou às unidades de P&D empresariais. Na reali-dade, esses inventores nunca saíram de cena e suaimportância, até bem pouco tempo subestimada, co-meça novamente a ser reconhecida. O Brasil, comose verá neste texto, ainda caminha a passos lentosnessa direção.1

ASCENSÃO E DECLÍNIO DO INVENTORINDEPENDENTE

Mudanças ao longo dos anos no modo de produ-ção de tecnologia também alteraram a importânciados inventores individuais. Conforme Sabato &Mackenzie, a tecnologia, produzida de forma artesa-nal até o final do século XIX, passou para o estágiode manufatura com a criação dos laboratórios de pes-quisa, quando cientistas e tecnólogos foram reunidossob o comando de empresários. O final da SegundaGuerra Mundial marca o início da produção de tec-nologia em moldes industriais. A causa desse pro-cesso foi a mudança drástica no desempenho dos la-boratórios devido à aplicação intensiva de novos co-nhecimentos de física, química, eletrônica, ciênciasdos materiais, computação etc., bem como ao proje-to e funcionamento de instrumentos científicos, demeios para estocar informações e de outros elemen-tos que integram a maquinaria dos laboratórios(Sabato e Mackenzie, 1981, p. 24-5).

A incorporação sistemática de novos conhecimen-tos técnicos e científicos às atividades produtivas tor-nou-se mais intensa a partir da segunda metade doséculo XIX, movimento esse que teve nos inventores

um dos principais agentes dessa época. Wiener con-sidera que esse foi o período de exploração por exce-lência dos conhecimentos acumulados ao longo de 200anos da física newtoniana e da química. Segundosuas palavras, essa foi a era da “invenção de ofici-na”, na qual o inventor trabalhava em sua oficina para

desenvolver novos artefatos, e só o fato de estes fun-cionarem já era o suficiente para chamar a atençãodo público e dos industriais. Essa fase artesanal daprodução de tecnologia iria se alterar com a criaçãodos laboratórios de pesquisas industriais, na qualavulta a contribuição de Thomas Alva Edison, com acriação de um laboratório em 1876 nos Estados Unidos,em Menlo Park. Edison, que começou sua trajetóriacomo inventor de oficina, é considerado um marcoimportante no processo de produção de tecnologia.Para Wiener, a sua maior invenção não foi de carátercientífico, mas sim econômico: a criação do labora-tório industrial, no qual diversos técnicos contrata-dos passaram a trabalhar regularmente no desenvol-vimento de novos inventos, orientados para objeti-vos comerciais, ou seja, Edison inventou o modo deinventar de forma contínua e sistemática, e seu exem-plo foi seguido por outros empresários após um lapsode tempo considerável (Wiener, 1995, p. 95-6).

Com o laboratório industrial, surge o inventor as-salariado, a carreira de pesquisador e os administra-dores especializados em atividades que, mais tarde,seriam denominadas Pesquisa e Desenvolvimento Ex-perimental (P&D). Dados da Unesco mostram que em1995 existiam cerca de 5,2 milhões de pessoas em-pregadas em tempo integral em P&D, sendo 85,4%delas nos países desenvolvidos (Unesco, 1992). O tra-balho no interior desses laboratórios é organizado,planejado e controlado, à semelhança do que ocorrenas fábricas de modo geral. Os seus profissionais, ci-entistas e tecnólogos, realizam suas atividades sobsupervisão externa, recebem bônus por produtivida-de e respondem por prazos, orçamentos, resultadosetc. (Sabato e Mackenzie, 1981, p. 24). Diante des-

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sas mudanças, não faltou quem prognosticasse o fimdo inventor individual, que passou a ser denomina-do inventor isolado na escassa literatura sobre o as-sunto. Isolado de quê? Isolado das organizações pro-dutoras de invenções em moldes industriais, isto é,dos laboratórios de P&D de empresas ou de institui-ções públicas.

Para Schumpeter, as inovações importantes na fasedo capitalismo concorrencial foram basicamenteintroduzidas com a criação de novas empresas, nasquais os empresários cumpriam pessoalmente umaimportante função nesse processo. Com o capitalis-mo oligopolizado, as inovações surgem nas grandesempresas por seus departamentos técnicos. Dessa for-ma, o progresso técnico torna-se automatizado e cadavez menos dependente das iniciativas pessoais(Schumpeter, 1971, p. 35-8). Seguindo um raciocí-nio semelhante, Galbraith ironiza os que ainda acre-ditam nos inventores independentes como fonte deinovação no presente século. Para esse autor, trata-seinfelizmente de uma ficção a idéia de que a mudançatécnica resulta da incomparável inventividade dohomem comum, forçado a utilizar-se de sua sagaci-dade para ser melhor que seu vizinho. A maioria dasinvenções baratas e simples, de acordo com Galbraith,já foram feitas, de modo que o desenvolvimento téc-nico tornou-se território de cientistas e engenheiros,só podendo ser levado adiante por uma firma quepossua recursos em consideráveis proporções(Galbraith, 1952, p. 90-2).

O próprio sistema de patentes tornou-se umobstáculo a mais para dificultar a vida dos invento-res independentes. Noble afirma que o sistema de pa-tentes dos Estados Unidos, que havia sido criado paradefender o inventor, foi se tornando cada vez maisformalista e burocratizado, de forma a atender aosinteresses das grandes empresas que já possuíam cen-tros cativos de P&D. Dessa forma, o acesso a essesistema passou a exigir a mediação de escritórios es-pecializados em patentes, afastando, com isso, os in-ventores independentes. Na opinião de Noble, diantedessa situação, a maioria desses inventores não teveoutra opção a não ser a de se tornar um profissionalde pesquisa assalariado das grandes empresas (Noble,1977, p. 108-10).

Apesar do formalismo cada vez maior dos siste-mas de patentes, no mundo todo, os indivíduos con-tinuaram e continuam depositando um grande nú-mero de pedidos de patentes, muitas vezes até supe-rior ao das pessoas jurídicas, fato esse que tem sidonegligenciado ou passado despercebido nos estudossobre esse tema. Os inventores individuais conse-guiram contornar as dificuldades impostas pelos sis-

temas de patentes criando associações que passarama dar auxílio a seus associados, no mínimo atuandocomo escritórios especializados para facilitar o pa-tenteamento. A Organização Mundial da Proprieda-de Intelectual cadastrou mais de duas centenas des-sas associações em 68 países, inclusive no Brasil(OMPI/WIPO, 1988). Além dessas iniciativas parti-culares, em diversos países, existem órgãos gover-namentais que mantêm programas de ajuda aos in-ventores individuais, como é o caso da AgenceNationale pour la Valorization de la Recherche(Anvar), na França, que mantém um programa deauxílio aos inventores independentes para constru-ção e teste de protótipos, para a realização de estu-dos visando comercializar as invenções, bem comopatentear suas invenções fora da França.

Com auxílios como esses, não seria de se estra-nhar que os inventores individuais recuperassem asua participação no movimento geral de patentea-mento de diversos países. Sirilli verificou que elesforam responsáveis por 40% das invenções patente-adas na Itália. Verificou também que cerca de 3/4desses inventores possuíam formação universitáriae que muitos eram proprietários de pequenas e mé-dias empresas (Sirilli, 1987). No Canadá, aproxima-damente 40% do total de patentes de titulares cana-denses pertenceram a esses inventores, conformeestudo realizado por Amesse & Desranleau (1991,p. 13-27). Esses inventores apresentavam um nívelde escolaridade acima da média da população cana-dense, sendo que 46% deles possuíam formação uni-versitária. Além disso, o estudo mostrou que 46,3%trabalhavam por conta própria ou eram donos de seupróprio negócio. Um estudo feito por MacDonaldsobre os inventores na Austrália também mostrouque eles apresentavam elevado nível de escolarida-de, muitos com mestrado e doutorado. Cerca de 40%dos inventores australianos também se encontravamna situação de auto-emprego, inclusive como peque-nos empresários. Esse autor verificou que os inven-tores individuais concentram sua atenção em áreastécnicas relativamente negligenciadas pelas empre-sas. Invenções relacionadas com agricultura, objetosde uso doméstico e pessoal, saúde, entretenimento etransporte representavam mais de 52% das patentesdesses inventores contra 18,4% das patentes das em-presas. Para MacDonald, os resultados de sua pes-quisa permitem admitir a hipótese de que os invento-res individuais não competem com as unidades deP&D (MacDonald, 1986, p. 199-210). Estudos comoos citados anteriormente mostram que o crescimentodo número de laboratórios industriais não eliminouas práticas artesanais de produzir invenções. Essa é a

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razão pela qual a própria literatura vem abandonan-do a expressão inventor isolado, como era típico nopassado não muito distante, pelas expressões inven-tor individual ou independente.

TIPOS DE INVENTORES

Do exposto acima, pode-se verificar a existênciade três tipos distintos de inventores, a saber: (1) osinventores do tipo clássico, (2) os inventores em-pregados em centros ou uni-dades de P&D e (3) os inven-tores empreendedores. Osprimeiros são os que produ-zem inovações de modo arte-sanal, para usar a terminolo-gia de Sabato & Mackenzie.Como afirma Wiener, são osinventores que ainda conser-vam traços da era da oficina.Eles são os que atuam emáreas pouco exploradas pelasempresas, conforme a hipó-tese de MacDonald acima mencionada. Esses inven-tores estão continuamente desmentindo a infeliz afir-mação feita por Galbraith de que as invenções ba-ratas e simples já foram feitas. Por exemplo, o pro-saico parafuso, conhecido desde o neolítico, conti-nua recebendo aperfeiçoamentos importantes, sendoque, em 1991, um inventor britânico, por ironia, denome John Galbraith, patenteou um parafuso com en-caixe triangular na cabeça que apresenta um desem-penho superior ao dos demais, conforme comprova-ram diversos testes realizados na Universidade deCambridge (Encaixe, 1994, p. 10). Mitos não fal-tam para embalar os sonhos desses inventores, a co-meçar por Thomas Alva Edison. As revistas dedi-cadas aos inventores e empreendedores citam per-manentemente histórias de sucesso, tal como a deCharles Darrow, um engenheiro que ficou desem-pregado durante a Depressão dos anos 30 e que uti-lizou o seu engenho e o tempo ocioso para inventaro jogo denominado Monopólio e ficar rico com isso(What’s, 1994). Grande parte dos inventos criadospor esse tipo de inventor tem suas origens no seupróprio cotidiano doméstico e profissional, a exem-plo da dona de casa que inventa utensílios domésti-cos, do médico que aperfeiçoa instrumentos cirúr-gicos, do mecânico de automóveis que concebe no-vos dispositivos antifurto, do eletricista que cria umalicate que corta e desencapa fios ao mesmo tempo,do professor de Educação Física que cria aparelhospara ginástica, da professora que inventa objetos pe-

dagógicos ou do empresário que aperfeiçoa os pro-dutos e processos de produção da sua empresa.

Os inventores empregados surgem com o labora-tório de pesquisa, sendo o de Edison considerado opioneiro desse novo modo de produzir tecnologia,conforme comentado acima. Pouco se sabe dos in-ventores contratados por Edison, que, segundoWiener, cuidava para que todos os inventos produ-zidos em seu estabelecimento levassem o seu nome,sem nenhuma menção aos inventores por ele con-

tratados (Wiener, 1995, p. 95). O mesmo aconteciacom os demais laboratórios industriais. A luta dosinventores empregados para serem reconhecidos evalorizados insere-se na luta geral pelos direitossociais. Levou tempo para que as leis de patentespassassem a contemplar as invenções decorrentes decontratos de trabalho. O caso brasileiro é exemplare não difere muito da experiência de outros países,mesmo os mais avançados em matéria de ciência etecnologia. A primeira legislação brasileira sobrepatentes data de 1830, porém as invenções de em-pregados somente foram contempladas no Código daPropriedade Industrial de 1945. Os códigos que vie-ram depois, de 1969, de 1971 e o atual, instituídopela Lei nº 9.279, de 1996, mantiveram e aperfeiço-aram os dispositivos concernentes às invençõesrealizadas por empregados.

Os inventores empreendedores, embora indepen-dentes, não se enquadram no modelo artesanal ou deoficina. Eles criam empresas para explorar seusinventos. Alguns desses inventores atuam em áreasde desenvolvimento recente, tais como eletrônica,biotecnologia, mecânica de precisão, produção desoftware etc. Eles participam do ambiente de P&Dmantendo vínculos bastante estreitos com unidadesempresariais de P&D e com instituições de ensino epesquisa, não raro combinando as atividades de em-presário com as de pesquisador assalariado de centrode pesquisas científicas e tecnológicas. As empresasassociadas a esse tipo de inventor são as empresas

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baseadas em novas tecnologias, expressão utilizadapor Bollinger et al. para aquelas que apresentam asseguintes características: são empresas de pequenoporte nas quais claramente se identifica o pequenonúcleo de seus fundadores, são totalmente indepen-dentes, isto é, não fazem parte ou não são subsidiári-as de uma grande empresa e a motivação básica paraa sua criação foi a de explorar uma idéia tecnologi-camente inovadora (Bollinger, Hope e Utterback,1983, p. 2). Na realidade, apenas a última caracterís-tica está presente em todas essas empresas, pois tam-bém é de base tecnológica a grande empresa que sis-tematicamente explora inovações intensivas em P&D,como as dos ramos de eletrônica e de produtos far-

macêuticos. Os autores mencionados acima tambémreconhecem a dificuldade de definir empresa inde-pendente e consideram que pode haver diversos tiposde vínculos ligando as novas empresas de base tec-nológica a outras já estabelecidas.

Um tópico recorrente da literatura sobre tecnolo-gia refere-se às diferenças entre invenção e inovaçãotecnológica, algo que também se deve a Schumpeter.Veja, por exemplo, o que diz Betz: “inovação tecno-lógica é definida usualmente como a invenção, o de-senvolvimento e a introdução no mercado de novosprodutos, processos e serviços que incorporam novastecnologias. A inovação começa como invenção, umaidéia de como fazer alguma coisa” (Betz, 1994, p. 8).Como processo, a inovação tecnológica envolve di-ferentes agentes em diferentes etapas, sendo a inven-ção apenas uma delas, embora nem toda invenção setransforme em inovação por diferentes motivos, sejapor não estar bem desenvolvida do ponto de vista téc-nico, seja por não atender às necessidades de merca-do. Durante a fase da produção artesanal de tecnolo-gia, o inventor e o inovador quase sempre eram amesma pessoa, tais como Arkwrigth, Siemens,Goodyear, Singer, Benz, Edison e tantos outros. Aprodução de tecnologia nos moldes industriais iriaampliar a separação entre eles. Baseando-se emSchumpeter, podem-se distinguir dois tipos de ino-vação: uma, do tipo empreendedor, que se dá pela

criação de novas empresas baseadas nas tecnologiasemergentes fazendo surgir novos setores econômi-cos e outra, do tipo gerencial, conduzida pelas uni-dades empresariais existentes, nas quais a P&D in-ternalizada desempenha um papel central. O inven-tor empreendedor refere-se ao primeiro tipo, ou seja,o criador de empresas de base tecnológica.

O INVENTOR NO BRASIL

O inventor individual foi muito pouco estudadono Brasil, o que não poderia ser diferente. Primeiro,porque era tido como superado no mundo todo, con-forme mostrado acima. Segundo, o esforço para re-

cuperar o atraso tecnológicodo país deveria estar em con-sonância com o que ocorriano mundo desenvolvido, deforma que a ação governa-mental enfatizou o modo do-minante de produzir tecnolo-gia, no qual as unidades deP&D desempenham um papelcentral. A política de substi-tuição de importações de in-

sumos básicos, bens de capital e tecnologia do finaldos anos 60 em diante levou os governos a elabora-rem planos para a área de ciência e tecnologia que,em linhas gerais, tinham os seguintes objetivos: for-talecer a capacidade das empresas públicas e priva-das de absorver as tecnologias adquiridas de forne-cedores externos; consolidar a infra-estrutura de ci-ência e tecnologia; fortalecer a engenharia consulti-va e de projeto; auxiliar a criação de centros de P&Dempresariais; restringir a importação indiscriminadade tecnologia para favorecer a absorção das tecnolo-gias adquiridas de fornecedores externos e a P&Dinterna; ampliar e consolidar as fontes de fomento aodesenvolvimento científico e tecnológico; expandira pós-graduação; ampliar a interação entre empresase instituições de ensino e pesquisa etc.

Assim, o tipo de inventor considerado nessa polí-tica foi o pesquisador empregado nas unidades deP&D. A literatura sobre gestão tecnológica no Brasiltem dedicado razoável atenção a esse tipo de pesqui-sador, basicamente dentro de um enfoque funcional eprescritivo, objetivando melhorar seu desempenho.Identificação de atributos do pesquisador industriale acadêmico, resolução de conflitos com os funcio-nários de outras áreas empresariais, seleção de ge-rentes ou líderes de projetos de P&D ou de inovação,planos de carreira apropriados à racionalidade dasatividades de P&D são alguns temas que foram e con-

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tinuam sendo tratados na literatura especializada. Jáos estudos a respeito de inventores empreendedores,empresas de base tecnológica, incubadoras, parquestecnológicos e outros empreendimentos semelhantestornaram-se mais freqüentes no Brasil somente nofinal dos anos 80. Esses estudos têm dado mais ênfa-se aos aspectos gerenciais e institucionais dessesempreendimentos, tais como implantação de incuba-doras e parques, fatores relacionados à localização,vinculação com IES, planejamento de incubadoras,processo de seleção dos candidatos às vagas na incu-badora, promoção comercial, financiamento das em-presas nascentes etc.

Acompanhando o que ocorre na maioria dos paí-ses, a selva burocrática em que se transformara o sis-tema de patentes, como afirmou Noble, não intimi-dou os inventores individuais requerentes de paten-tes no Brasil. De acordo com os dados colhidos nasRevistas da Propriedade Industrial (RPIs), cerca de1/3 dos pedidos de patentes de invenção de 1995 per-tencem a inventores independentes. Nesse mesmoano, os inventores, após os pedidos de patentes te-rem passado pelo processo de exame técnico paraapurar o requisito da novi-dade absoluta e da aplica-bilidade industrial, obtive-ram 10,6% das patentes deinvenção expedidas. Os in-ventores independentesapresentam um percentu-al elevado em relação aosmodelos de u t i l idade ,44,4%, à semelhança dosdemais países que admi-tem essa modalidade. UmModelo de Utilidade é toda disposição ou formanova introduzida em objetos conhecidos, desde quese prestem a um trabalho ou uso prático. Em tese,as concepções relativas a essa modalidade reque-rem menos atividade criativa que as passíveis deserem protegidas via patente de invenção. O mo-delo de utilidade surge quase sempre de um apren-dizado do tipo by doing no interior das unidadesprodutivas, e não de pesquisas planejadas, e suaadoção tem sido justificada como uma forma de de-fesa desses inventores independentes e das peque-nas empresas nacionais.

As empresas comparecem praticamente em todasas áreas técnicas. Estas predominam sempre, quandonão de forma exclusiva, em áreas de maior dinamis-mo tecnológico, tais como em pesquisas sobre con-servação de corpos, biocidas, repelentes ou atrativosde pestes ou reguladores de crescimento; próteses,

aparelhos ortopédicos e dispositivos anticoncepcio-nais; preparados para finalidades médicas e odonto-lógicas; dispositivos para introduzir ou depositarmateriais no corpo; catalisadores; lingoteamento con-tínuo de metais; produtos laminados; aparelhos paracontrolar fluxo de líquidos; metalurgia de ferro;produção e refino de metais e ligas; processos eletro-líticos; máquinas e sistemas de refrigeração; compu-tadores e dispositivos semicondutores; comunicaçãotelefônica e transmissão de imagens; circuitos impres-sos e aparelhos para sua fabricação. Dada a elevadadensidade tecnológica de algumas dessas áreas, é ra-zoável supor que dificilmente uma empresa conse-guiria obter patentes sem aquela maquinarialaboratorial citada por Sabato & Mackenzie, confor-me comentado no início deste trabalho.

Os inventores independentes não obtiveram paten-tes de invenção nas áreas citadas acima ou tiveramuma participação insignificante. As áreas nas quaisesses inventores mais se destacaram foram as seguin-tes: jogos e brinquedos; aparelhos para exercícios físi-cos e esportes; processos mecânicos de separaçãode materiais e filtros; usinagem de metais, broquea-

mento e torneamento; recipientes para armazena-mento ou transporte de materiais; elementos paraedificações; engenharia geral, principalmente válvu-las, torneiras e bóias; material educativo e para apre-sentação visual; dispositivos de comutação e chaveselétricas. Nenhuma dessas áreas pode ser considera-da de ponta do desenvolvimento tecnológico, embo-ra exijam na sua maioria uma formação profissionaltécnica compatível. As áreas técnicas relativas aosprivilégios de modelos de utilidade expedidos no pe-ríodo são mais restritas, pois essa modalidade se apli-ca apenas às modificações de forma em produtos co-nhecidos para dotá-los de melhor funcionalidade. Daía concentração nas áreas da mecânica e eletricidade,sendo que, em algumas áreas, os inventores indepen-dentes superam ou igualam as empresas em número.Esses dados permitem supor que os inventores indi-viduais concentram sua atenção em áreas técnicas

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relativamente negligenciadas pelas empresas, à se-melhança do que foi observado por MacDonald naAustrália, conforme comentado anteriormente.

As características das patentes expedidas aos in-ventores independentes, conforme pode ser verifi-cado pelas informações constantes na RPI, permi-tem supor que seus titulares são inventores de ofici-na, para usar a expressão de Wiener, muitos delesmicros, pequenos e médios empresários. O uso cor-reto dos adjetivos “independente” ou “isolado”, quefreqüentemente acompanham o substantivo “inven-tor”, refere-se ao seu distanciamento em relação àP&D institucionalizada, mas não em relação ao sis-tema produtivo. As descrições das invenções e mo-delos de utilidade constantes nos despachos da RPIindicam que a maioria deles resulta de um aprendi-zado em situação de trabalho, no interior da fábrica,do armazém ou da loja. Mais ainda, muitas inven-ções não seriam possíveis sem uma formação pro-fissional de nível superior.

APOIO AOS INVENTORES

O apoio aos inventores deve necessariamente le-var em consideração as características dos três tiposde inventores, conforme apresentadas anteriormente.Os inventores independentes do tipo artesanal ou deoficina continuam ativos em áreas de baixa densida-de tecnológica, mas nem por isso menos importantespara a melhoria dos sistemas produtivos. A julgar pelaexperiência internacional, o associativismo parece sera forma típica de auxílio a esse tipo de inventor. Porexemplo, a Association des Inventeurs et FabricantsFrançais, com sede em Paris, tem entre seus objeti-vos promover as invenções de seus associados, de-fender seus direitos e auxiliá-los nas atividades depatenteamento e comercialização de suas invenções.São poucas as associações de inventores existentesno Brasil, sendo que muitas delas não fazem muitomais que baratear o custo do patenteamento e provi-denciar inscrições em feiras e exposições nacionais einternacionais. Isso é pouco; as associações de inven-tores devem também se empenhar em encontrar par-ceiros para explorar as invenções de seus associados.Merece destaque a atuação da Associação Nacionaldos Inventores, com sede em São Paulo, que não temdescuidado desse aspecto.

O apoio governamental não deve ser dispensado.Os mecanismos governamentais de apoio e fomentoa esse tipo de inventor no Brasil restringiram-se a criarórgãos para atuar como agentes de propriedade in-dustrial. Esse foi o caso do Serviço Estadual de As-sistência aos Inventores (Sedai), órgão do governo do

estado de São Paulo desativado em 1995, que tinhacomo objetivo precípuo auxiliar os inventores inde-pendentes, embora sua atuação básica consistisse,pouco antes de ser extinto, em fazer o que faria umagente de propriedade industrial sem cobrar os hono-rários pelos serviços prestados. Muitos dirigentes pú-blicos crêem que fazem muito aos inventores inde-pendentes quando facilitam o patenteamento e divul-gam as invenções e modelos em revistas, jornais eboletins de sua organização. A experiência tem mos-trado, porém, que esse tipo de apoio é muito pobre,quando não inócuo.

Obter proteção patentária para seu invento ou mo-delo é importante para o inventor independentemen-te de ser do tipo artesanal, mas não é o suficiente. Atransformação de uma idéia em produto ou processo,novo ou modificado, depende de uma diversidade defatores que muitas vezes escapa ao alcance desses in-ventores, principalmente quando o inventor não dis-põe de um aparato produtivo ou canais de comercia-lização. Essa é uma das razões pelas quais muitas in-venções não chegam a se transformar em inovações.Mais ainda, a excelência técnica de uma invenção nãoé a única condição necessária para o sucesso de umainovação. Custo de produção elevado, momento ino-portuno para o lançamento do novo produto, falta dedivulgação eficaz das vantagens reais que esse pro-duto traz em relação aos produtos similares ou quepretende substituir e outras considerações operacio-nais e mercadológicas não corretamente tratadas po-dem inviabilizar uma boa idéia.

Uma forma efetiva de apoio a esses inventoresdeve levar em conta a necessidade de continuar seutrabalho incorporando novos estudos, tais como pes-quisa de mercado, testes, apresentação visual, mar-ca, resultados financeiros e outros, que o inventor ge-ralmente não faz ou não está capacitado a fazer, ouseja, é necessário transformar a idéia, a invenção, emum projeto viável em termos técnicos, mercadológicose financeiros. Para isso não é preciso criar nenhumórgão específico, mas acionar e articular os órgãos jáexistentes (INPI, Sebrae, sindicatos patronais, insti-tuições de ensino e pesquisa, associações de invento-res etc.) a prover os estudos adicionais necessáriospara convencer empresas ou investidores a se torna-rem parceiros na exploração da invenção. Conside-rando que os inventores independentes não compe-tem com as empresas, como mostrado acima, é razo-ável supor que exista um amplo campo de interaçãoentre eles ainda não explorado. Nesse sentido, pare-ce bastante apropriado o Programa da Inventiva Naci-onal, de iniciativa da Secretaria da Tecnologia Indus-trial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

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Comércio, lançado em dezembro de 1997, que procu-ra articular entidades governamentais e empresariaisexistentes para apoiar inventores individuais institu-cionais a fim de transformar suas invenções em inova-ções. Incubadoras mistas, a exemplo das criadas noProjeto Incubatur, promovido pela Fiesp, constituemuma alternativa aos inventores que apresentam caracte-rísticas de empreendedores, que atuam em áreas tecno-logicamente maduras.

Quanto aos inventores emprega-dos, a legislação brasileira de pa-tentes estabelece diversas hipóte-ses para as invenções e modeloscriados na vigência de contrato detrabalho. De acordo com a Lei nº9.279, de 1996, a invenção e o mo-delo de utilidade pertencem exclu-sivamente ao empregador quandodecorrerem de contrato de trabalhocuja execução ocorra no Brasil eque tenha como objeto a pesquisaou a atividade inventiva ou resulteesta da natureza dos serviços para os quais foi o em-pregado contratado (art. 88, caput). A propriedadeda invenção ou modelo será comum, em partesiguais, quando resultante da contribuição pessoal doempregado e de recursos, dados, meios, materiais,instalações e equipamentos do empregador, ressal-vada expressa disposição contratual em contrário(art. 91). A invenção ou modelo de utilidade perten-ce ao empregado desde que desvinculado do contra-to de trabalho e não decorrente da utilização daque-les recursos e meios do empregador mencionadosacima (art. 90). Nesse caso, o inventor, embora em-pregado de alguma organização, enquadrar-se-ia notipo independente.

Alguns países criaram incentivos específicos aosinventores empregados, na forma de compensaçãoadicional ao salário, para motivá-los a perseguir ele-vados padrões de produtividade. A produtividadedesses inventores parece ser um problema grave ajulgar pela quantidade de apresentações sobre esseassunto em eventos e de artigos publicados em re-vistas especializadas em gestão tecnológica, taiscomo a R&D Management , Research Pol icy ,Research Technology Management etc. Na Alema-nha, vigora, desde 1957, um texto legal específicopara os inventores empregados, conferindo a estes odireito de receber compensações monetárias adequa-das de seus empregadores, independentemente do sa-lário. A lei de patentes do Japão também prevê umacompensação a ser determinada pelo lucro que o em-pregador auferir com a exploração da invenção. Em

muitos países, existem estatutos legais específicospara os docentes de instituições de ensino superiore pesquisadores de laboratórios governamentais. Acitada legislação alemã de 1957 estabelece que per-tencem a esses docentes as invenções realizadas emdecorrência das suas atividades de ensino, mesmoque tenham sido utilizados recursos da instituiçãoempregadora. Essas legislações, sem dúvida, devemter influenciado positivamente o desempenho des-

ses países em termos de tecnologia. No Brasil, a atualLei de Propriedade Industrial estabelece que, no casodas entidades de administração pública, direta, in-direta e fundacional, federal, estadual e municipal,será assegurada ao inventor, cujo contrato de traba-lho tenha por objeto a pesquisa e a atividade inven-tiva, premiação de parcela do valor das vantagensauferidas com o pedido ou com a patente, a título deincentivo, na forma e condições previstas no seu es-tatuto ou regimento interno (Lei nº 9.279/96, art. 93,§ único). Excetuando-se esse dispositivo legal apli-cável aos funcionários de entidades públicas, não hánenhum outro conferindo aos demais inventores em-pregados o direito de receber compensações mone-tárias adicionais de seus empregadores, independen-temente do salário. Cabe lembrar que o dispositivolegal acima comentado não é auto-aplicável, deven-do, portanto, ser regulamentado pelos órgãos gover-namentais. E isso é algo que esses órgãos ainda es-tão devendo aos seus inventores.

Os inventores empreendedores de empresas debase tecnológica ainda são um fenômeno bastanterecente no Brasil, embora já existam por aqui diver-sas experiências de sucesso e com amplas possibili-dades de expansão. As empresas nascentes de basetecnológica apresentam praticamente os mesmos pro-blemas que qualquer pequena empresa independente,como dificuldade de acesso aos financiamentos, ges-tão não-profissional, interferência dos problemas fa-miliares, baixo poder de barganha na compra de in-sumos etc. Como qualquer pequena empresa, as de

Como processo, a inovação tecnológicaComo processo, a inovação tecnológicaComo processo, a inovação tecnológicaComo processo, a inovação tecnológicaComo processo, a inovação tecnológica

envolve diferentes agentes emenvolve diferentes agentes emenvolve diferentes agentes emenvolve diferentes agentes emenvolve diferentes agentes em

diferentes etapas, sendo a invençãodiferentes etapas, sendo a invençãodiferentes etapas, sendo a invençãodiferentes etapas, sendo a invençãodiferentes etapas, sendo a invenção

apenas uma delas.apenas uma delas.apenas uma delas.apenas uma delas.apenas uma delas.

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Administração da Produção e Sistemas de Informação

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base tecnológica também encontram grandes dificul-dades para alavancar seu crescimento com recursospróprios. Sem esquemas especiais de apoio, essasempresas dificilmente superam as dificuldades ini-ciais e, por conseguinte, são raras as que experimen-tam uma fase de expansão significativa.

Nos países desenvolvidos, a criação e a sustenta-ção das novas empresas de base tecnológica, que cons-tituem uma das principais formas de introduzir ino-vações em setores de ponta, têm sido facilitadas pelaexistência de inúmeras fontes privadas de capital derisco (venture capital). A empresa de capital de riscobusca participar de empreendimentos que oferecemaltos retornos, que podem ocorrer com as inovaçõescom elevada taxa de novidade. Por isso, as empresasnascentes de base tecnológica ou as idéias e projetossobre novos produtos nas áreas de desenvolvimentotecnológico avançado constituem um campo idealpara a aplicação de capital de risco. Outras caracte-rísticas são: participação minoritária, geralmente nun-ca excedendo 30% ou 35% do investimento global,participação temporária (não mais de dez anos) e par-ticipação sem contrapartida de garantias reais, ou seja,a empresa de capital de risco arca com o prejuízo fi-nanceiro no caso de um investimento fracassado. Oapoio das organizações de capital de risco, via de re-gra, não se limita ao fornecimento de recursos finan-ceiros às novas empresas, mas também ao aporte decompetências administrativas necessárias para levaradiante o empreendimento.

A participação governamental nas atividades derisco associadas às inovações foi e continua sendoimportante em todos os países em que existem. Umadas principais formas de estimular a formação de com-panhias de capital de risco tem sido a redução dosimpostos sobre os ganhos de capital associados a em-preendimentos de risco. Nos Estados Unidos, porexemplo, esse tipo de atividade ganhou impulso, em1958, com a Small Business Investment CompaniesAct (SBIC Act) e, desde então, foram criados diver-

sos incentivos fiscais nas esferas federal, estadual elocal para estimular os investimentos de risco. Agên-cias governamentais também têm operado modalida-des de risco, como é o caso da Anvar, na França, e daNational Research Development Corporation (NRDC),no Reino Unido. Em praticamente todos os países de-

senvolvidos, o capital de risco é incenti-vado e considerado um dos principais ins-trumentos de política de inovação.

Praticamente todos os que estudaramas incubadoras e as novas empresas in-dependentes de base tecnológica no Bra-sil concordam que a ausência do capitalde risco constitui um importante fatorlimitante para a expansão e o crescimen-to desse tipo de empresa. A julgar pelaexperiência internacional, o capital derisco não floresce sem instrumentos pú-blicos adequados. Um dos poucos apoios

governamentais se dá pelo BNDES ParticipaçõesS.A. (BNDESPAR), que opera modalidades de riscopara a capitalização de pequenas empresas de basetecnológica em fase de start-up ou de expansão pormeio de um programa específico, denominado Con-domínio de Capitalização de Empresas de Base Tec-nológica (Contec), que também prevê auxílio para aimplantação e o fortalecimento de parques tecnoló-gicos. O Contec pode apoiar diretamente as empre-sas de base tecnológica ou indiretamente, por meiode participação acionária em Companhias Regionaisde Capital de Risco (CCRs), não podendo ser, nessecaso, o seu maior acionista individual. As CCRs de-vem estar localizadas em pólos tecnológicos e devemapoiar apenas as empresas de base tecnológica de suaregião de influência.

Outra modalidade de aporte de recursos finan-ceiros às empresas de base tecnológica pode ocor-rer com os Fundos Mútuos de Investimento em Em-presas Emergentes, instituídos pela Comissão deValores Mobiliários. Embora atuem dentro da lógi-ca do venture capital, eles não se destinam exclusi-vamente ao apoio dessas empresas. Na definição deempresa emergente, não são levados em considera-ção as características tecnológicas do produto ou oprocesso de produção da empresa, mas o seu fatura-mento e a sua relação com grupos econômicos. Comefeito, entende-se por empresas emergentes as com-panhias que apresentem faturamento líquido anualinferior a 60 milhões de reais, apurado no balançode encerramento do exercício anterior à aquisiçãodos valores mobiliários de sua emissão. É vedadoao fundo investir em sociedade integrante de grupode sociedades, de fato ou de direito, cujo patrimô-

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nio líquido consolidado seja superior a 120 milhõesde reais (Brasil, 1994). Uma das novidades é a pos-sibilidade de negociação das cotas do fundo no mer-cado de bolsa ou balcão (art. 21), o que aumenta aliquidez para o investidor e que pode, portanto, re-presentar um estímulo a mais para o investimentoem empresas emergentes. Embora estejam na dire-ção certa, as iniciativas mencionadas acima aindasão bastante tímidas quando comparadas com as deoutros países, alguns aqui citados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou mostrar que continua ha-vendo espaço para todos os tipos de inventores. Oinventor independente do tipo artesão, de oficina oude fundo de quintal continuará existindo e dando suacontribuição, principalmente em áreas técnicas ma-duras ou em vias de consolidação, aperfeiçoando oque existe, bem como criando novos produtos e pro-cessos em decorrência de uma estreita vinculação comas operações de produção e comercialização de bense serviços ou do exercício profissional. Vez por ou-tra, inventará ovos de Colombo e seu exemplo iráacalentar as esperanças de gerações de outros inven-tores. Já os inventores empregados continuarão de-senvolvendo a maioria das invenções intensivas emciência e tecnologia e, dentre esses, alguns irão criarseus próprios negócios para explorar as oportunida-

des geradas pela intensificação da P&D institucio-nalizada.

Inventores empreendedores de empresas de basetecnológica existem com mais freqüência em épo-cas de profundas transformações no ambiente pro-dutivo, como a que se verifica no presente momen-to. Essa figura, que fora substituída pela P&Dinstitucionalizada, agora ressurge como um elementocentral do novo modelo de produção e transferênciade tecnologia baseado em novas estratégias de ris-co, dentre elas, a criação de novas empresas a partirdos transbordamentos produzidos pela quantificaçãoda P&D realizada pelas empresas e instituições deensino e pesquisa de alto nível numa determinadaregião.

Para os três tipos de inventores, conforme a tipo-logia apresentada neste trabalho, os instrumentos deincentivo existentes no Brasil ainda não são satisfa-tórios, principalmente quando comparados com osexistentes nos países desenvolvidos, em que sua com-petitividade cada vez mais se assenta no desenvolvi-mento científico e tecnológico ou na inventividadeinstitucionalizada nas unidades de P&D e dispersa noambiente produtivo. Deixar os inventores desampa-rados ou mal-assistidos é um desperdício insuportá-vel para qualquer nação, independentemente do seunível de desenvolvimento. Essa é, sem dúvida, umasituação que deve ser urgentemente contemplada nasreformas de que tanto se fala no Brasil. �

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1. As duas primeiras seções deste artigo foram extraídas deum relatório de pesquisa patrocinada pelo Núcleo de

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