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INÊS ESTEVES INVESTIGANDO OS FATORES QUE INFLUENCIAM O RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO EM ADOLESCENTES DE 14 ANOS – 8ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL Mestrado em EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PUC – SP 2001

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INÊS ESTEVES

INVESTIGANDO OS FATORES QUE

INFLUENCIAM O RACIOCÍNIO

COMBINATÓRIO EM ADOLESCENTES DE

14 ANOS – 8ª SÉRIE DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Mestrado em EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

PUC – SP2001

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INÊS ESTEVES

INVESTIGANDO OS FATORES QUEINFLUENCIAM O RACIOCÍNIO

COMBINATÓRIO EM ADOLESCENTES DE14 ANOS – 8 ª SÉRIE DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dissertação apresentada com exigênciaparcial para a obtenção do título deMESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICAà Pontifica Universidade Católica de SãoPaulo, sob orientação da ProfessoraDoutora Sandra M. P. Magina.

PUC – SP2001

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AGRADECIMENTOS

A Profª. Drª. Sandra M. P. Magina, não só pela orientação firme e segura como

também pela amizade, paciência e entusiasmo, que transformaram um projeto de

pesquisa em realidade.

Ao Prof. Dr. Jorge T. da Rocha Falcão e à Profª Drª Tânia M. M. Campos, pelas

sugestões, comentários e críticas que tanto contribuíram para a elaboração e

evolução desta dissertação.

A todos os professores, funcionários e colegas do curso de Pós-graduação em

Educação Matemática da PUC-SP, pelo incentivo e apoio oferecidos de diversas

maneiras.

Em especial, à Professora Maria Inez R. Miguel que, por meio de sua longa

experiência profissional no ensino de análise combinatória, teve uma participação

valiosa na montagem tanto dos instrumentos diagnósticos quanto da nossa

seqüência de ensino. Sabemos que suas inúmeras leituras foram sempre

acompanhadas de críticas e sugestões, o que enriqueceu em muito o nosso

trabalho.

À Direção do colégio “Lusíada” , por autorizar a aplicação da seqüência de

ensino, e à Profª Santa Elza Pivatto, por ceder suas aulas para tal aplicação.

Sabemos que o sucesso da nossa pesquisa, cujo índice de desistência foi

mínimo, é devido à abertura que a escola nos deu.

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Aos alunos do colégio “Lusíada” que, com responsabilidade e carinho,

demonstraram interesse em todo o processo. Para os alunos da 8ª série do

Ensino Fundamental, os quais infelizmente não podem ser citados um a um, por

serem muitos, um agradecimento especial por participarem de todos os

encontros extra aula, sendo que muitas vezes deixaram o lazer de lado,

assumindo este compromisso até o final. A todos esses alunos, nosso carinho e

respeito.

À Universidade Santa Cecília, pela ajuda de custo que permitiu uma maior

dedicação ao programa de Pós-Graduação.

À amiga Cileda de Queiroz Coutinho, pela amizade, companheirismo e valioso

auxílio durante este processo, enviando valiosos textos para nossa revisão de

literatura e para nosso estudo histórico.

à amiga Ana Kalassa, pela sua amizade e pelo valioso auxílio durante este

processo.

À minha família, especialmente meus pais, que não só durante todo este

processo, mas em todos os momentos, me apoiaram, fornecendo auxílio e

compreensão.

Ao meu marido Sergio, pela compreensão quanto às ausências e falhas como

esposa e sobretudo por haver sempre participado e me apoiado em todos os

momentos do trabalho.

A Deus, sem o qual nada é possível.

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RESUMO

O objetivo desta pesquisa consistiu em estudar a aquisição e odesenvolvimento dos primeiros conceitos de análise combinatória emadolescentes de 14 anos de idade, cursando a última série do EnsinoFundamental.

Para tal, construímos uma seqüência de ensino, fundamentada em teoriaspsicológicas e educacionais, que parte de situações-problema através dacontagem direta.

Trabalhamos com dois grupos: experimental e de referência. Estes sesubmeteram a um pré-teste antes de serem introduzidos nesse novo conceito,para, depois, estudarem o conceito de análise combinatória, segundo duasabordagens distintas. Enquanto o grupo experimental realizou o estudo através deuma seqüência de ensino elaborada por nós, o grupo de referência seguiu aabordagem tradicional apresentada pelos livros didáticos. Por fim, os dois gruposrealizaram um pós-teste, cujos resultados foram analisados sob os seguintespontos de vista: desempenho geral dos grupos e desempenho por itens, objetivo,indivíduo. Por fim, procedemos à análise do comportamento de três duplas dogrupo experimental quanto a seus desempenhos ao longo do estudo.

Os resultados mostram que os alunos apresentaram dificuldade emresolver esses problemas. As principais causas de fracasso são referentes àconfusão sobre a relevância da ordem, principalmente em problemas decombinação, falta de organização para enumerar os dados sistematicamente,dúvidas na identificação da operação aritmética equivalente e interpretaçãoincorreta do problema, quando este apresenta mais de uma etapa.

ABSTRACT

The aim of this research was studying the acquisition and the developmentof the prime concepts about combinatory analyses among fourteen years oldteenagers finishing the elementary school.

In order to do this, we developed a teaching sequence based onpsychological and educational theories, which belong to problem-situationsthrough the direct county.

We dealed with two groups: the experimental and the reference ones.These had done a previous test before beginning the new concept, and thenstudying the combinatory analyses based on two different approaches. While theexperimental group did a study through a teaching sequence prepared by us, thereference group followed the traditional approach presented by didactic books. Atthe end both groups did a final test whose results were analyzed observing thesepoints of view: general fulfilment of the groups and the fulfilment by items, targetsand the individual one. At last, we proceeded the analyse of the behaviouramong the three pairs of students from the experimental group based on theirperformances during the study.

The results showed that the students presented troubles solving theseproblems. The main faillure motives were about the misunderstanding of the ordercombination problems; lack of organization to number systematically the data,doubts about the identification of equivalent arithmetic species and the wronginterpretation of the problem when this presented more than one stage.

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ÍNDICE

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

1.1. Problemática e objetivo...............................................................................02

1.2. Descrição da Dissertação...........................................................................04

CAPÍTULO II: O DESENVOLVIMENTO DA ANÁLISE COMBINATÓRIA2.1. Introdução...................................................................................................08

2.2. Estudo Histórico..........................................................................................09

2.3. Análise Combinatória na Escola.................................................................20

2.3.1. Introdução..........................................................................................20

2.3.2. Categorias.........................................................................................21

2.3.3. Justificativa da escolha das categorias.............................................22

2.3.4. Os livros didáticos.............................................................................28

2.3.5. Análise dos livros didáticos...............................................................29

2.3.6. Análise do Parâmetro Curricular Nacional........................................39

2.3.7. Análise da Proposta Curricular do Estado de São Paulo

para o Ensino da Matemática...........................................................41

2.3.8. Comparação das abordagens adotadas nos livros didáticos

analisados com a Proposta Curricular e com o PCN........................44

2.4. Revisão de Literatura.................................................................................45

2.5. Idéias Teóricas............................................................................................52

2.5.1. Transposição didática........................................................................53

2.5.2. A teoria dos campos conceituais......................................................59

2.5.3. A noção de registros de representações...........................................63

2.5.4. O contrato didático............................................................................67

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2.5.5. Zona de desenvolvimento proximal ..................................................68

CAPÍTULO III: METODOLOGIA3.1. Introdução ..................................................................................................70

3.2. Universo do Estudo.....................................................................................70

3.2.1. Os sujeitos ........................................................................................70

3.2.2. Material .............................................................................................72

3.3. Desenho Geral do Experimento .................................................................73

3.3.1. Fase dos instrumentos diagnósticos ................................................73

3.3.2. Fase da seqüência de ensino ...........................................................73

3.3.3. Análise prévia dos instrumentos diagnósticos ..................................75

3.3.3.1. Pré-teste .............................................................................75

3.3.3.2. Pós-teste .............................................................................88

3.3.3.3. Descrição da seqüência de ensino .....................................91

CAPÍTULO IV: ANÁLISE DOS RESULTADOS4.1. Introdução ................................................................................................110

4.2. Comentários Gerais Sobre a Aplicação da Seqüência.............................110

4.2.1. Ficha 1 ............................................................................................112

4.2.2. Ficha 2 ............................................................................................115

4.2.3. Ficha 3 ............................................................................................120

4.2.4. Ficha 4 ............................................................................................122

4.2.5. Ficha 5 ............................................................................................125

4.2.6. Ficha 6 ............................................................................................126

4.2.7. Ficha 7 ............................................................................................131

4.3. Análise do Desempenho dos Grupos Experimental e de

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Referência nos Testes ..............................................................................134

4.3.1. Análise numérica e gráfica do percentual de acertos

dos grupos......................................................................................135

4.3.2. Análise do percentual dos acertos por itens ...................................137

4.4. Análise dos Testes por Objetivo ...............................................................152

4.5. Análise do Desempenho dos Sujeitos por Grupo ....................................162

4.6. Análise Qualitativa das Duplas .................................................................166

4.6.1. Dupla A ...........................................................................................166

4.6.2. Dupla B ...........................................................................................170

4.6.3. Dupla C ...........................................................................................174

CAPÍTULO V: CONCLUSÃO5.1. Conclusão ................................................................................................180

5.2. Considerações Finais ...............................................................................184

CAPÍTULO VI: REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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ÍNDICE DE FIGURAS

2.1 Desenho do Pa-kua encontrado nos objetos..............................................11

2.2 Cadeados montados com cilindros móveis.................................................13

2.3 Triângulo chu shih-chieh...................................................………………….15

2.4 Desenho das pontes da cidade de Konegsberg………………………….....19

2.5 Exemplo do livro Matemática – Imenis e Lellis...........................................32

2.6 Exemplo do livro Matemática – Imenis e Lellis...........................................32

2.7 Exemplo do livro Matemática 2 – Giovani e Bonjorno.................................33

2.8 Exemplo do livro Matemática 2 – Giovani e Bonjorno.................................34

3.1 Material concreto da ficha 2........................................................................96

3.2 Material concreto da ficha 5......................................................................103

3.3 Material concreto da ficha 7......................................................................108

ÍNDICE DE TABELAS

2.1 Relação entre os problemas resolvidos, propostos e complementares

dos livros analisados...................................................................................37

2.2 Comparação das seqüências adotadas pela proposta curricular e pelos

Livros didáticos............................................................................................45

3.1 Tabela referente as questões do pré e pós-teste........................................91

4.1 Desempenho das duplas nos itens da atividade 1....................................116

4.2 Desempenho das duplas nos itens da atividade 2....................................123

4.3 Desempenho das duplas nos itens da atividade 3....................................128

4.4 Desempenho das duplas nos problemas da ficha 7..................................131

4.5 Percentual de acertos dos dois grupos no pré e póe-testes.....................137

4.6 Questões e seus principais objetivos........................................................156

4.7 Relação numérica entre as questões do pré e pós-teste..........................157

4.8 Desempenho dos alunos – grupo experimental........................................162

4.9 Desempenho dos alunos – grupo de referência........................................163

4.10 Evolução dos alunos do pré para o pós-teste...........................................165

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ÍNDICE DE QUADROS

3.1 Apresentação da seqüência de ensino no grupo experimental..................75

3.2 Apresentação da seqüência de ensino no grupo de referência..................75

3.3 Problemas da ficha 1 da seqüência de ensino............................................92

3.4 Problemas da ficha 2 da seqüência de ensino............................................95

3.5 Problemas da ficha 3 da seqüência de ensino............................................97

3.6 Problemas da ficha 4 da seqüência de ensino............................................99

3.7 Problemas da ficha 5 da seqüência de ensino..........................................101

3.8 Problemas da ficha 6 da seqüência de ensino..........................................103

3.9 Problemas da ficha 7 da seqüência de ensino..........................................106

ÍNDICE DE GRÁFICOS

4.1 Porcentagem de acertos geral dos grupos...............................................135

4.2 Desempenho dos grupos experimental e referência no

pré e pós-testes, por itens.........................................................................138

4.3 Resultado das questões do pós-testes com relação aos

grupos experimental e referência..............................................................140

4.4 Resultados atingidos no pré e pós-testes por objetivo..............................157

4.5 Comparação entre os dois grupos no pós-teste.......................................158

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INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMÁTICA E OBJETIVO

Nosso trabalho tem por objetivo estudar a aquisição e o desenvolvimento

dos primeiros conceitos de análise combinatória em adolescentes de 14 anos de

idade, cursando a 8ª série do Ensino Fundamental.

No papel de professor e em discussões com colegas da área, percebemos

que existem dificuldades no processo de ensino e aprendizagem de tal conteúdo

e, conseqüentemente, na formação de seu campo conceitual.

Entre essas dificuldades, coube destaque àquelas relativas à interpretação

e distinção entre arranjo e combinação, o que faz com que os alunos não

consigam desenvolver o problema ou desenvolvam-no de forma equivocada.

Nosso interesse de pesquisa centra-se sobre a formação do conceito,

ligado à operação de análise combinatória. Interessados em investigar mais

amiúde a existência de problemas na formação desse conceito, desenvolveremos

uma investigação da pré-concepção dos alunos sobre análise combinatória e, a

partir dessa investigação, elaboraremos uma seqüência de ensino.

O método usado para a formulação da seqüência de ensino será a criação

de situações-problema que se aproximem da realidade dos alunos. Essa proposta

vem de encontro a estudos que procuraram relações entre a facilidade de

compreensão de conceitos complexos a partir de outros conhecidos e de grau

mais simples, dando significado aos conhecimentos que devem ser adquiridos.

Não pretendemos abranger todo o estudo sobre análise combinatória. O âmbito

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desta seqüência restringe-se a fornecer uma alternativa para a introdução desse

tema, procurando facilitar a ampliação posterior do conceito estudado.

Estabelecida nossa área de abrangência estipulamos, a seguinte questão

de pesquisa: “Em função do ensino oferecido, os sujeitos demonstram progresso

verificável no que tange ao campo conceitual considerado?“ E como questão

derivada e operacional, temos: “Tal evolução se diferencia daquela observada no

grupo de referência?”.

As situações-problema da nossa seqüência de ensino serão conduzidas de

forma que o aluno as desenvolva sem a utilização de fórmulas, pois acreditamos

na necessidade de o discente entender o desenvolvimento do conceito

matemático em questão, seguindo alguns passos até chegarem à formalização.

Segundo Nunes (1997), quando os alunos fazem uso da representação, eles

criam ferramentas diferentes para a resolução do problema. Em outras palavras, o

conceito pode ser representado de modos diferentes. A autora cita uma pontaria

importante de instrução matemática: conduzir os alunos a comprimir as

representações feitas por eles de tal modo que percebam as operações novas

possíveis com essa visão, sem perder a visão do velho. Para Piaget (1995), a

formalização deve se constituir em seu próprio tempo e não ser formada através

de constrangimentos prematuros. Se a intuição matemática é essencialmente

operacional e a natureza de estruturas operacionais consiste em dissociar forma

de conteúdo, então a formalização final estaria preparada de maneira

progressivamente necessária pela própria construção destas estruturas iniciais.

Com isso, queremos mostrar que a fórmula em si não é negativa nem

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contraproducente; ao contrário, ela representa uma compressão algorítmica que

assegura uma economia cognitiva importante, desde que colocada no tempo

certo. Para o conteúdo Análise Combinatória, quando não reforçamos a fórmula,

acreditamos que estamos valorizando o uso da árvore de possibilidade, do

método de tentativa e erro, do desenho e do princípio fundamental da contagem

para um melhor desenvolvimento do raciocínio combinatório. Assim, a fórmula no

papel deixa de ser apenas uma ferramenta para desenvolver os problemas de

maneira mais econômica. Como nossa intenção é desenvolver o raciocínio

combinatório, não institucionalizaremos as fórmulas no final do estudo.

Desenvolveremos nosso estudo com dois grupos, um experimental e outro

de referência, os quais estudarão a introdução desse conceito, segundo

abordagens diferentes. Para o grupo de referência, utilizaremos a abordagem

comumente adotada no ensino atual e para o grupo experimental, utilizaremos

uma seqüência, elaborada por nós, em que não serão apresentadas as fórmulas.

As definições e nomenclaturas de cada agrupamento serão apresentadas no

último encontro da seqüência.

1.2 DESCRIÇÃO DA DISSERTAÇÃO

No presente capítulo, apresentamos nossa motivação no que se refere ao

tema, por meio da descrição da problemática e da apresentação tanto da questão

de pesquisa como da hipótese relacionada ao ensino de análise combinatória.

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O capítulo II traz um breve estudo histórico com a intenção de ressaltar a

origem, o desenvolvimento e os objetivos da análise combinatória na época de

sua criação.

A seguir, investigaremos como esse conteúdo é desenvolvido atualmente

no Ensino Fundamental e no Médio. Para tanto, apoiar-nos-emos na Proposta

Curricular do Estado de São Paulo, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

e na análise de livros didáticos. Para esse estudo, procuraremos observar os

materiais, por meio da elaboração de categorias que acreditamos serem capazes

de interferir na aprendizagem do conceito. Faremos, ainda, uma revisão de

literatura e, na seqüência, discutiremos idéias teóricas que embasarão nosso

trabalho. Na revisão de literatura, temos a finalidade de obter uma visão geral das

pesquisas existentes que envolvam analise combinatória ou temas correlatos que

possam contribuir para esse trabalho. Quanto às idéias teóricas, procuraremos

apresentar aquelas que tratam de representação e transposição didática. Neste

caso, os estudos de Brousseau, Chevallard e Piaget e Vergnaud serão os mais

abordados. Citaremos, também, Vygotsky em relação à Zona de desenvolvimento

proximal (ZDP).

Descreveremos, no capítulo III, a nossa metodologia de pesquisa. Nela

revisitaremos a nossa proposta, acompanhada de seus objetivos, e

descreveremos os sujeitos e o material utilizado para o estudo de análise

combinatória. Em seguida, apresentaremos o desenho geral do experimento,

composto de três fases: o pré-teste, a seqüência de ensino e o pós-teste. Os pré

e pós-testes serão nossos instrumentos diagnósticos, a partir dos quais

procederemos à análise. Trabalharemos toda a seqüência de ensino em duplas,

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explorando a idéia de Vygotsky (1997) sobre a Zona de desenvolvimento

proximal. Utilizando as concepções de Vergnaud (1994) – o conhecimento

emerge na resolução de problemas – e ainda fundamentados em Piaget (1951),

procuraremos criar uma série de atividades a fim de possibilitar que os alunos

tenham diversas interações com o objeto de estudo, em situações análogas, de

maneira a criar-lhes condições, a partir de seus esquemas de ação, de formarem

os conceitos.

Dedicaremos o capítulo IV à análise dos dados obtidos nos testes e na

seqüência. Assim sendo, teremos dois tipos de análise: quantitativa, associada ao

percentual de acertos, e qualitativa, associada às estratégias de ação e à

qualidade das respostas apresentadas por esses sujeitos.

No capítulo V, apresentaremos nossas conclusões e sugestões para

futuras pesquisas e no capítulo VI as referências bibliográficas.

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O DESENVOLVIMENTO DA ANÁLISE COMBINATÓRIA

2.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo tem por objetivo abordar o tema análise combinatória sob três

perspectivas.

A primeira diz respeito ao surgimento e desenvolvimento desse conteúdo

no seio da ciência matemática. Nosso intento aqui é fornecer uma visão geral da

origem e do desenvolvimento da análise combinatória, procurando descrever as

necessidades e os objetivos da época, além de ressaltar os principais nomes que

contribuíram para a criação e ampliação desse conceito.

Na seção seguinte, o ponto de vista passa a ser a escola, isto é,

discutiremos a “transposição didática” 1da análise combinatória. Nesse momento

faremos a análise de alguns livros didáticos – aqueles mais comumente adotados

nas escolas de maneira geral – e da proposta curricular. Partimos da hipótese de

que esses instrumentos são os principais recursos do professor na sua tarefa de

transpor o saber matemático para seus alunos.

A última perspectiva vem do campo dos estudos científicos na área da

Educação Matemática, cujos temas são correlatos ao nosso. Assim sendo,

apresentaremos trabalhos realizados em análise combinatória e idéias teóricas

advindas da Didática da Matemática, de grande influência no desenvolvimento do

nosso trabalho.

Esperamos que, após termos analisado o nosso conteúdo de estudo a

partir desses três pontos de vista, estaremos mais aparelhados para pensar em

1 O saber pesquisado pelo matemático sofre inúmeras transformações até chegar ao aluno. Ao conjunto destastransformações dá o nome de transposição didática.

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uma maneira eficaz de introduzir o conceito de análise combinatória. Não

estamos preocupados em englobar todo o conteúdo referente a esse tópico, já

que o mesmo só é desenvolvido no ensino de nível médio e nosso estudo será

realizado no de nível fundamental.

2.2 ESTUDO HISTÓRICO

Para melhor compreendermos as dificuldades relativas ao ensino e à

aprendizagem do Cálculo de Análise Combinatória, faremos um pequeno recuo

histórico, analisando as contribuições dos chineses, gregos, latinos, hindus e

europeus.

Existem correntes com diferentes concepções a respeito do início do

desenvolvimento da matemática, porém acredita-se que o conceito de número e o

processo de contagem foram desenvolvidos antes dos primeiros registros

históricos.

A necessidade de se efetuarem contagens mais extensas provocou uma

sistematização no processo de contar. Assim, surgiram sistemas de

agrupamentos simples (hieróglifos egípcios), que talvez sejam o mais antigo

sistema de numeração, os multiplicativos (sistema chinês-japonês tradicional), os

cifrados (sistema grego, conhecido como jônico ou alfabético, cujas origens

situam-se por volta de 450 a.C.) e o posicional (o nosso sistema).

Provavelmente o trabalho mais antigo que envolve este assunto seja o livro

chinês I – King ou livro das permutações (1182 – 1135 a.C), ponto de apoio para

a escrita de outros livros sobre o assunto. Nesse livro, que se pretende haver sido

escrito por Won – Wang, apareceu o Liang I, ou “os dois princípios” (o masculino

Yang _, e o feminino Ying _ _). A partir deles, formam-se as seguintes oito figuras,

chamadas Pa-Kua (ou oito trigramas).

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Podemos perceber que estes oito trigramas representam arranjos com

repetição de dois símbolos tomados três a três.

__ _ _ __ _ _ __ _ _ __ _ _

__ __ _ _ _ _ __ __ _ _ _ _

__ __ __ __ _ _ _ _ _ _ _ _

A2,3 = 23 = 8

Estes oitos símbolos, aos quais estão ligados vários atributos, passaram a

ser usados em adivinhações. Embora não se tenha certeza, acredita-se que o Pa-

Kua representa um prenúncio do sistema de numeração binário, pois tomando-se

o “___“ como um e o “__ __“ como zero, é possível supor que as sucessivas

colunas de traços, mostrados anteriormente, começando da direita,

representariam os números 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7.

TIGRAMAS ______

______

______

___ ___

______

______

______

___ ___

______

___ ___

___ ___

_______

______

______

___ ___

___ ___

_______

___ ___

______

___ ___

___ ___

___ ___

___ ___

___ ___

Numerais nabase 2.

111 110 101 100 011 010 001 000

Numerais nabase 10

7 6 5 4 3 2 1 0

Podemos observar que o Pa-kua ganhou uma conotação mística em todo o

oriente, tanto que esses agrupamentos são encontrados em vasos, talismãs e

outros objetos. Cada um dos oito agrupamentos representa um ponto cardeal ou

colateral, além de algum elemento da natureza.

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Figura 2.1: desenho do Pa-kua encontrado nos objetos (Smith,vol. 1, pp.27)

Encontra-se, ainda, nessa obra, o arranjo com repetição de dois símbolos

(___ , __ __), tomados seis a seis, obtendo-se, assim, os “sessenta e quatro

hexagramas”.

O desenvolvimento do binômio (1 + x)n está entre os primeiros problemas

estudados ligados à análise combinatória. O caso n = 2 já pode ser encontrado

nos elementos de Euclides, em torno de 300 a.C. O triângulo de Pascal era

conhecido por Chu Shih-Chieh, na China (em torno de 1300) e antes disso pelos

hindus e árabes.

Da Grécia, podemos destacar algumas pequenas contribuições nesta área,

porém nenhuma teoria de análise combinatória. Sabe-se que o grego, Chrysippus

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(280 – 270 a.C) achou que o número de combinações de dez axiomas era maior

que 1000000.

Dentre os matemáticos latinos, o único que desenvolveu algo nesta área foi

Boecio (510), criando uma regra para determinar combinações de n elementos

tomados dois a dois.

Da Matemática hindu, podemos destacar Bhaskara (1114–1185),

conhecido geralmente pela “fórmula de Baskara” para a solução de equação do 2º

grau. Ele forneceu regras para o cálculo de arranjos de n elementos tomados r a r

(com ou sem repetição) e para cálculo de combinações de n elementos tomados r

a r (sem repetição). Esta contribuição aparece na sua obra intitulada “Lilavati”,

onde ainda relaciona a idéia de permutação com situações práticas (aplicações

na poesia, arquitetura, música e medicina).

Analisando agora o interesse da Europa nesse assunto, bem como suas

contribuições, podemos destacar, no início da Era Cristã, em vários manuscritos

hebreus, relações entre permutações e combinações com a ciência mística

denominada cabala. Na Idade Média, Rabbi ben Ezra (1140) usou permutações e

combinações com aplicações na astronomia (estudo de conjunções de planetas,

dois a dois e três a três). Nos seus manuscritos aparece a relação C7,2 = C7,5,

porém não podemos afirmar se se conhecia a regra geral Cn,k = Cn, n-k.

Levi ben Gerson (1288 – 1344), matemático e filósofo religioso francês, que

nasceu e trabalhou no sul da França, e que, entre outras coisa, tentou demonstrar

o 5º postulado de Euclides, sistematizou as fórmulas de arranjo simples de n

elementos tomados k a k, de permutação de n elementos e de combinação de n

elementos tomados k a k (sem repetição). Estas noções aparecem no seu

manuscrito denominado “trabalho para o computador”.

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Outro francês, Nicole Oresme (1323 – 1384), apresentou em seu

manuscrito “Tratactus de Figuratione potentiarum et mensurarum difforitatum” a

soma das combinações de 6 elementos tomados 1 a 1, 2 a 2, 3 a 3, 4 a 4 e 5 a 5,

que hoje representamos por: C6,1 + C6,2 + C6,3 + C6,4 + C6,5. Não podemos afirmar

se o mesmo conhecia a regra geral envolvida nestes cálculos, visto que a

apresentação destas combinações era dada de forma retórica.

A primeira obra impressa que contém problemas de Análise Combinatória

foi a “Summa de Arithmetica, geometria, proportione et proportionalita” , de Luca

Pacioli (1455 – 1514), publicada em Veneza no ano de 1494, onde ele apresenta

como achar o número de permutações de qualquer número de pessoas sentadas

ao redor de uma mesa. Luca Pacioli apresentou o resultado para os casos

particulares em que n = 1, 2, ..., 11, acrescentando que valeria para qualquer “n”.

Devemos citar, também, na Inglaterra, W, Buckley (1540), que trabalhou

em casos especiais de combinações de n elementos tomados k a k. Niccolo

Tartaglia foi o primeiro a usar as noções de análise combinatória em jogos de

dados, assunto também desenvolvido posteriormente por Joannes Buteo (1485 –

1560). Este apresentou na sua obra, “Logística qual e Arithmetica vulgo dicitur in

libros quinque digesta”, um problema interessante das combinações de

fechaduras com cadeados montados com cilindros móveis, conforme figura:

Figura 2.2: cadeados montados com cilindros móveis.(Smith, vol 2, pp.527)

No século XVI, Rabbi Moses Cordovero desenvolveu algumas regras

gerais da análise combinatória, na sua obra Pardes Rimmonim.

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No século XVII, esse assunto passou a ser desenvolvido em grande

escala. Thomas Harriot (1560 –1621) usou o seguinte simbolismo para o produto

de binômios:

a – b = aaaa - baaa + bcaa

a – c - caaa + bdaa

a – d - daaa + cdaa – bcda

a – f - faaa + bfaa – bcfa

+ cfaa – bdfa

+ dfaa – cdfa + bcdf

Podemos notar que ele trabalhou com agrupamentos de 4 elementos, com

a condição de que a letra ”a” figurasse exatamente 4 vezes, em seguida 3 vezes,

2 vezes, 1 vez e, por último, houvesse um agrupamento com 4 elementos sem a

letra “a”.

Porém, foi Hérigone (1634) o primeiro a escrever a regra geral:

Cn,r = n (n – 1) (n – 2) ... (n – r + 1) / r!.

Outra contribuição importante para o desenvolvimento da análise

combinatória veio de Niccolo Fontana Tartaglia (1500 – 1557). Este relacionou os

elementos do triângulo de Pascal com as potências de (x + y). É importante frisar

que o primeiro aparecimento desse triângulo, no ocidente, foi no “frontispício” 2 de

um livro escrito por Petrus Apinus (1495 – 1552).

Contudo, só no século XVII, deu-se destaque para o trabalho de Blaise

Pascal (1623 – 1662), através da obra Traité du triangle arithméthique, embora

escrita em 1653, só foi publicada em 1665. Ele construía seu triângulo aritmético

de modo que se obtinha qualquer elemento (da segunda linha em diante) como

soma de todos os elementos da linha precedente, situados exatamente acima ou

à esquerda do elemento desejado.

2 Frontispício: título principal e inteiramente desenvolvido de um livro; ilustração colocada na página derosto ou anterior a ela. (Dicionário Larousse Cultural).

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1 1 1 1 1 1 ...

1 2 3 4 5 6 ...

1 3 6 10 15 21 ...

1 4 10 20 35 56

1 5 15 35 70 126 ...

Os números ao longo da diagonal (do triângulo apresentado por Pascal)

são os coeficientes sucessivos de uma expansão binomial. Por exemplo, os

números ao longo da Quinta diagonal: 1, 4, 6, 4, 1 são os coeficientes sucessivos

da expansão de (a + b)4. Pascal usava seu triângulo para determinar o número de

combinações de n objetos tomados r a r, o que ele corretamente afirmava ser: n! :

[r! (n – r)!]

O símbolo “!” foi introduzido por Christian Kramp em 1808; n! é a notação

atual para o produto n (n –1) (n-2) ... 3 . 2 . 1.

Como já vimos, Pascal não foi o primeiro a mostrar o triângulo aritmético.

Vários séculos antes, esse arranjo numérico já havia sido antecipado por

escritores chineses (ver figura abaixo).

Figura 2.3: Triângulo Chu Shih-Chieh (Eves, pp.250)

Porém, como ele foi o primeiro matemático conhecido a utilizar-se do

triângulo do mundo ocidental e por longo tempo foi o único a desenvolver e a

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fazer vária aplicações das propriedades desse triângulo, este se tornou conhecido

como triângulo de Pascal.

Vejamos um bom exemplo das relações desenvolvidas por Pascal

envolvendo o triângulo, relacionadas à análise combinatória:

CONSIDERE UMA COLEÇÃO DE N OBJETOS. QUALQUER CONJUNTO DE R DESSES

OBJETOS, CONSIDERADOS SEM SE LEVAR EM CONTA A ORDEM, CHAMA-SE COMBINAÇÃO DE N

OBJETOS TOMADOS R DE CADA VEZ. USAREMOS C(N,R) PARA DENOTAR O NÚMERO DESSAS

COMBINAÇÕES. MOSTRE QUE C(N,R) APARECE NA INTERSECÇÃO DA (N + 1)-ÉSIMA DIAGONAL

COM A (R + 1)-ÉSIMA COLUNA DO TRIÂNGULO DE PASCAL.

VERIFICANDO:

EXEMPLO : C(4,3) = 4 (INTERSECÇÃO DA QUINTA DIAGONAL COM A QUARTA COLUNA).

Percebe-se, então, que no século XVII, o estudo da Análise Combinatória,

desenvolvido principalmente para resolver problemas de probabilidade de jogos

de azar, foi sistematizado. Sabe-se que Girolamo Cardano (1501 – 1576)

escreveu um manual de jogador, onde aparecem interessantes problemas de

análise combinatória e probabilidade. Essa obra, conhecida como o livro De Ludo

Aleae (sobre jogos de azar), publicou-se em 1663. É possível que o interesse de

Cardano pelo assunto se deva a sua paixão pelos jogos de azar.

Uma questão que está relacionada à origem da probabilidade e que se

utiliza de conhecimento de análise combinatória é o “problema dos pontos”

(introduzido na obra Suma de Pacioli em 1494), analisado por vários matemáticos

dos séculos XVI e XVII. O grande avanço efetivo nesse problema se deu em

1654, quando Chevalier de Méré, um hábil jogador, cujo raciocínio teórico sobre o

problema não coincidia com suas observações, o propôs a Pascal que, por sua

vez, o levou ao conhecimento de Fermat. Com isso, ocorreu uma notável

correspondência entre os dois matemáticos. Embora cada um tenha resolvido o

problema por um método particular, ambos chegaram ao resultado correto.

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PROBLEMA DOS PONTOS: “determine a divisão de apostas de um jogo de azar

entre dois jogadores igualmente hábeis, supondo-se conhecido o marcador no

momento da interrupção e o número de pontos necessários para ganhar o jogo”.

Solução de Fermat:

Fermat discutiu o caso em que o jogador A precisava de dois pontos para ganhar

e o jogador B, de 3. Como é claro que mais quatro partidas decidem o jogo, seja

“a” uma partida ganha por A e seja “b” uma partida ganha por B. Consideremos,

então, os dezesseis arranjos completos, de ordem 4 das letras a e b.

aaaa, aaab, abba, bbab, baaa, bbaa, abab, babb, abaa, baba, aabb, abbb, aaba,

baab, bbba, bbbb.

Os casos em que “a” aparecer duas ou mais vezes são favoráveis a A e há onze

deles. O caso em que “b” aparece 3 ou mais vezes são favoráveis a B e há cinco

deles. Portanto, as apostas devem ser divididas na razão 11:5. Para o caso geral,

em que A precisa de m pontos para ganhar e B precisa de n, anotam-se os 2m+n-1

arranjos completos, de ordem m+n-1, das duas letras “a” e “b”. Procura-se o

número x de casos em que “a” aparece m ou mais vezes e o número y de casos

em que “b” aparece n ou mais vezes. As apostas devem ser divididas na razão

x:y.

Solução de Pascal:

Ele utilizou o triângulo aritmético para a solução. Indicando por C(n,r) o número de

combinações simples, de ordem r, de n objetos, pode-se facilmente mostrar que

os números ao longo da Quinta diagonal do triângulo são respectivamente:

C(4,4) = 1, C(4,3) = 4, C(4,2) = 6, C(4,1) = 4 e C(4,0) = 1

Retornando ao particular problema dos pontos considerados, C(4,4) é o número

de maneiras de se obterem quatro letras “a”, C(4,3) é o número de maneiras de

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se obterem três letra “a” e assim por diante. Segue-se, pois, que a solução do

problema é dada por:

[ C(4,4) + C(4,3) + C(4,2)] : [C(4,1) + C(4,0)] = ( 1+ 4 + 6) : (4 + 1) = 11 : 5

No caso geral, em que A precisa de m pontos para ganhar e B, de n, escolhe-se a

(m + n)-ésima diagonal do triângulo de Pascal. Calcula-se, então, a soma x dos n

números da diagonal considerada e a soma de y de seus últimos m números.

Então, devem-se dividir as apostas segundo a razão x :y.

É importante citar que o triângulo de Pascal serviu de base para algumas

demonstrações importantes da Matemática. Por exemplo, Jakob Bernoulli (1654 –

1705), em seu Ars Conjectandi, de 1713, usou a interpretação de Pascal para

demonstrar que (x + y)n =∑ (n ) x n-i y i, 0≤ i ≤ n. A segunda parte desse livro de

Bernoulli foi dedicada à teoria das combinações e permutações, que continha

praticamente toda a teoria de análise combinatória que conhecemos atualmente e

que é desenvolvida no âmbito do ensino médio.

Devemos, também, citar Euler (1707 – 1783), que desenvolveu em seu

livro clássico Introductio in Analysin Infinitorum a técnica das funções geradoras,

utilizada para atacar o problema das partições de um inteiro. O interesse de Euler

por esse problema surgiu devido a uma pergunta feita, em uma carta, pelo

matemático francês Phillipe Naudé, que trabalhava em Berlim. Entre outras

coisas, indagava de quantas maneiras um número pode ser escrito como soma

de inteiros positivos distintos. A pergunta, prontamente respondida por Euler, foi a

origem da “teoria das partições” ou “partitio numerorum”, como escreveu Euler.

Mas suas contribuições à análise combinatória não se limitaram a isso. Várias

obras suas, muitas delas sobre probabilidade, contêm resultados importantes no

que diz respeito à análise combinatória. Em particular, devemos a ele o enunciado

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e a solução do “Problema das Sete Pontes de Königsberg, um teorema da Teoria

dos Grafos, parte muito importante, atualmente, da análise combinatória”.

Tal problema, resolvido por Euler em 1736, tinha a seguinte questão: “Seria

possível fazer um passeio pela cidade de Königsberg de maneira a cruzar todas

as pontes da cidade, uma, e uma só vez, e voltar ao ponto de partida?”.

A cidade, localizada perto da foz do rio Pregel, era famosa por suas sete

pontes, cinco delas dando acesso a uma ilha, como mostra a figura. Euler reduziu

o problema ao de percorrer o grafo da figura de maneira tal que cada uma de

suas linhas fosse percorrida uma só vez, terminando o percurso no ponto de

partida.

Figura 2.4- desenho das pontes da cidade de Königsberg (Eves, pp.500)

Por fim, gostaríamos ainda de citar uma teoria mais recente, e não menos

importante, de combinatória, elaborada pelo lógico inglês F.P. Ramsey (1903 –

1930). Ela garante a existência de certas configurações. Um dos exemplos mais

simples do chamado teorema de Ramsey afirma que se tivermos no plano um

conjunto de n pontos, com n ≥ 6, tais que nenhum subconjunto com três pontos

seja colinear, e, se unirmos todos os pontos dois a dois, usando duas cores

distintas, por exemplo, preto e branco, para traçar os segmentos de reta que

unirão os pontos, então forçosamente teremos formado um triângulo cujos lados

são todos da mesma cor (preto ou branco).

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2.3 ANÁLISE COMBINATÓRIA NA ESCOLA

2.3.1 Introdução

Uma vez apresentados à origem e o desenvolvimento histórico da análise

combinatória, trataremos aqui da questão de sua transposição didática nas

escolas. Para tanto, analisaremos os principais instrumentos disponíveis para o

professor, quais sejam a Proposta Curricular do Estado de São Paulo, o

Parâmetro Curricular Nacional (PCN) e o livro didático. Com relação a este último,

utilizaremos como critério para escolha dos livros aqueles mais comumente

adotados pelos colégios da cidade de Santos, acreditando que, dessa forma,

estaremos traçando um perfil mais realístico de como a análise combinatória vem

sendo trabalhada na escola.

O critério adotado para a escolha dos livros foi uma amostragem por

acessibilidade, isto é, selecionamos 7 escolas (5 particulares e 2 publicas) a que

tínhamos acesso e pesquisamos os livros adotados no Ensino Fundamental e no

Ensino Médio. Entrevistamos, ainda, os professores de matemática dessas

escolas e que também ensinam em outras, a fim de obtermos informações sobre

quais livros de matemática essas outras escolas adotavam.

Partimos do pressuposto de que se o aluno tiver oportunidade de interagir

com o conteúdo através de situações significativas, ele terá maior oportunidade

de aprender o objeto matemático. Acreditamos que o fato de oferecer ao aluno a

possibilidade de interagir com o conceito de análise combinatória, desde o início,

através de representações (diagramas, desenhos), de elaboração de atividades

com espaço para discussão de idéias, ou, ainda, de construção do conceito por

meio de matérias concretos, cria nele um ambiente mais rico para que possa

entender e justificar as características inerentes a esse conceito.

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De fato, segundo Vieira (1993):

“É importante, também, que repensemos a educação

matemática, em torno de significados criados em tarefas culturalmente

ligadas à escola, como uma prática cotidiana, na forma de atividades

que requeiram a reflexão sobre conceitos matemáticos, a partir de

situações problemáticas. Enquanto prática cultural, a atividade de

matemática, na escola, pode gerar significados que são próprios deste

contexto, apropriados para o desenvolvimento da compreensão de

conceitos e modelos matemáticos”. (pp. 24)

Assim sendo, ao elaborarmos atividades pedindo que os alunos analisem

sua construção, resolvam o problema e depois argumentem sobre o caminho

escolhido para achar a solução, defendendo suas idéias matemáticas, estaremos

instrumentalizando-os para resolverem problemas com diferentes enunciados.

O desenvolvimento desta seção será dividida em três partes. Inicialmente,

iremos analisar os livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, em

relação a seis categorias, por as considerarmos como fatores capazes de

interferir na formação do conceito de combinatória. Em seguida, faremos uma

análise da Proposta Curricular do Estado de São Paulo do Ensino Fundamental e

Médio e do PCN em relação ao Ensino Fundamental, sob a óptica dessas

mesmas categorias. E, por último, iremos comparar as abordagens adotadas nos

livros didáticos do Ensino Médio com a proposta curricular e a dos livros didáticos

do Ensino Fundamental com o PCN.

2.3.2 Categorias

Gostaríamos, inicialmente, de enfatizar que as categorias que elaboramos

surgiram a partir do que consideramos ser variáveis que influenciam na formação

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deste campo conceitual. Para a escolha das variáveis, baseamos-nos nos

critérios usados pelo MEC para analisar os livros didáticos, na teoria e na revisão

de literatura.

♠ Forma de introdução do conteúdo

♠ Apresentação dos conceitos de arranjo e combinação

♠ Como e quando são introduzidas as fórmulas

♠ Apresentação de problemas com enunciados diversificados

♠ Ênfase na resolução com auxílio de diagramas

♠ Inclusão de fatos históricos.

2.3.3. Justificativa da escolha das categorias

Ao elencarmos as seis categorias, tínhamos em mente duas questões:

primeiramente a de que elas representam fatores que podem, eventualmente,

influenciar o processo de ensino-aprendizagem da análise combinatória; em

segundo lugar, a de podermos olhar com maior imparcialidade os instrumentos

disponíveis ao professor. Dessa forma, não estaremos aqui colocando nenhum

juízo de valor quanto à qualidade deste ou daquele livro, nem tão pouco elegendo

um livro como melhor que o outro. Estaremos discutindo os livros, o PCN e a

proposta sob a óptica das nossas categorias. Em outras palavras, estaremos

discutindo aqui se, como e quanto cada um desses instrumentos aborda e

trabalha essas categorias. As categorias, por sua vez, não têm a pretensão de

esgotar todas as variáveis didáticas e de conteúdo, envolvidas na introdução do

conceito de análise combinatória. Elas representam apenas as nossas hipóteses,

levantadas a partir da história, de leituras e de reflexões advindas de nossa

prática docente. Acreditamos, ainda, que trabalhar no Ensino Fundamental, com a

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construção de diferentes agrupamentos, logicamente sem a sistematização do

ensino médio, facilita a abordagem desse assunto no futuro.

♠ Forma de introdução do conteúdo:

Parece-nos que interagir com o conceito inicial da análise combinatória não

significa memorizar a definição e calcular mecanicamente cada tipo de

agrupamento, pois, segundo Piaget (1995), a combinatória constitui o início do

pensamento hipotético-dedutivo ou formal:

“O primeiro resultado dessa espécie de resultado de desengate do

pensamento em relação aos objetos é liberar as relações e as

classificações de seus laços concretos e intuitivos”. (pp. 113).

Piaget (1995) considera a ação do sujeito como determinante para aquisição

do conhecimento e Vergnaud (1990) complementa esse argumento, ao afirmar

que a ação é fonte e critério do saber.

Segundo Vergnaud (1990), a construção do conhecimento consiste na

construção progressiva da representação mental, implícita ou explícita,

homomórfica à realidade para alguns aspectos e não para outros.

Como nossa preocupação é ajudar o aluno na sua construção do conceito e

não apenas no domínio da técnica, temos como meta criar um ambiente onde o

aluno seja incentivado a analisar e sintetizar os problemas propostos.

Nessa categoria, pretendemos observar se a abordagem adotada permite ao

aluno a construção gradativa do conceito de análise combinatória. Para isso,

analisaremos se o conteúdo é iniciado através da contagem direta e se são

colocadas situações-problema para os alunos resolverem antes de ser introduzido

o princípio fundamental da contagem. Observaremos, também, como se introduz

o conceito do princípio fundamental da contagem.

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♠ Apresentação dos conceitos de arranjo e combinação.

A dificuldade em considerar se a ordem dos elementos é importante ou não

está evidenciada nos estudos de Batanero (1997). Ela observa que o erro de

ordem está principalmente ligado às combinações. Conforme nos mostram as

pesquisas da autora, esse tipo de erro, já descrito por Fischbein e Gazit, consiste

em confundir os critérios de arranjo e combinação.

Partindo da premissa de que a apropriação do conceito de arranjo e

combinação passa necessariamente pela interação de diversas situações

cuidadosamente preparadas, no sentido de favorecer a diferenciação dos dois

tipos básicos de agrupamento, essa prática pode gerar no aluno segurança no

momento da interpretação e resolução do problema. Tal premissa encontra apoio

nas idéias de Vergnaud (1990), que defende que um simples conceito não se

desenvolve normalmente isolado, mas sim em interação com os outros conceitos,

através de vários problemas e com ajuda de vários tipos de problemas e com

ajuda de várias expressões e simbolismos.

Sendo assim, nesta categoria, observaremos se os livros didáticos iniciam tal

abordagem com situações-problema introdutórias que confrontem os dois tipos de

agrupamentos e que exijam do aluno o exercício da interpretação.

♠ Como e quando são introduzidas as fórmulas.

Considerando que a Análise Combinatória não é apenas um jogo de fórmulas

complicadas, pretendemos observar se os livros didáticos introduzem as fórmulas

após a definição de cada agrupamento ou se elas são apresentadas no final do

estudo.

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Segundo Batanero (1997), a falha da interpretação dos problemas de análise

combinatória se deve à dificuldade em identificar a operação combinatória correta.

A esses erros se unem outros: como exemplo, o erro em fórmula.

Inicialmente, defendemos que melhor seria proporcionar aos alunos situações-

problema para que, de forma independente, os mesmos resolvam-nos sem o uso

ou conhecimento de fórmula. Adotamos tal posição por acreditar que o aluno

pode apresentar uma concepção errônea, conforme a maneira que o conteúdo for

abordado. Isto é, se as fórmulas são apresentadas após ligeira abordagem e

apresentação formal da definição de cada tipo de agrupamento, tal fato poderá

gerar dificuldade por parte do aluno em reconhecer o tipo de agrupamento

envolvido no problema e, conseqüentemente, a fórmula que deve utilizar. Com

isso, o aluno estaria sendo induzido ao domínio da técnica, sem se preocupar

com a interpretação do problema, o que na análise combinatória é fundamental.

Aqui, seguimos a idéia dos teoremas-em-ação, do Vergnaud (1990). Eles

formam a primeira base intuitiva dos alunos que os professores podem usar para

estender e formalizar o conceito do estudante. Isto é, acreditamos na necessidade

do aluno iniciar trabalhando com situações-problema, usando um caminho

intuitivo e, aos poucos, introduzirmos situações mais complexas, onde poderemos

institucionalizar o conceito introduzindo, ou não, as fórmulas.

♠ Apresentação de problemas com enunciados diversificados.

Observando os critérios que o Mec usou para analisar os livros didáticos,

notamos que um dos itens do porquê avaliá-los referia-se à quantidade de

exercícios repetitivos, o que nos motivou a construir essa categoria.

Levando em conta que a solução de um problema combinatório exige sempre

criatividade e compreensão plena da situação nele descrita, iremos observar se

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os livros se limitam aos exercícios segundo os tópicos abordados ou se eles

fornecem problemas diversos, exigindo, assim, não só a aplicação dos conceitos

estudados bem como sua interpretação.

Também observaremos se existe um abuso de analogia dos problemas no

sentido de eles apresentarem enunciados semelhantes uns aos outros,

estimulando, dessa forma, o aluno a associar certas palavras-chave ao tipo de

fórmula que deverá utilizar.

Nessa categoria, estamos levando em consideração o seguinte: apenas

conseguiremos avaliar a assimilação do conteúdo se os alunos, de posse dos

conceitos apresentados, souberem agir diante de problemas diversificados e, de

preferência, com enunciados diferentes daquele trabalhados em sala de aula. E

mais, que esse procedimento seja adotado durante todo o processo e não

somente no final do capítulo.

♠ Ênfase na resolução com auxílio de representações

Acreditamos que o uso de representações pode facilitar o aprendizado do

conteúdo análise combinatória, sob o ponto de vista de interpretação do

problema, pois, segundo Vergnaud (1991), a representação é um reflexo da

realidade, um instrumento de simulação. Piaget (1978) também enfatiza a

importância da representação na aquisição e desenvolvimento do conhecimento,

argumentando que a representação é a reunião de um significante que permite a

formação de um significando fornecido pelo pensamento.

Mediante tais reflexões teóricas, observaremos se a diversidade de

representações é valorizada, em outras palavras, se há proposta, e mesmo

incentivo, do uso de diagramas, tabelas, árvore de possibilidades, antes da

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sistematização do princípio fundamental da contagem e de cada tipo de

agrupamento.

Vergnaud (1991) ainda comenta que a representação em árvore guarda

relações privilegiadas com a combinatória, pois tem a vantagem de ser estendida

indefinidamente. Nesse caso, analisaremos até que ponto os livros trabalham com

a árvore de possibilidades e se existe um espaço para que os alunos a possam

construir.

♠ Inclusão de fatos históricos

Partimos do pressuposto de que a aprendizagem de um novo tópico se

desenvolve de maneira mais sólida e, conseqüentemente, mais significativa, se o

aluno entender em que contexto e por qual motivo ele foi criado, destacando-se aí

as necessidades da época e a finalidade de seu estudo em tempos atuais.

Vergnaud (1990), ao escrever sobre a Epistemologia e Psicologia da

Educação Matemática defende com ênfase a importância de trazer para os livros

didáticos fatos históricos:

“É essencial que autores de livros textos incluam em seu material uma

perspectiva histórica e apresentem alguns exemplos importantes de

mudanças em idéias matemáticas. É também essencial que estudantes

passem por mudanças importantes em suas próprias idéias através da

resolução de problemas, discutindo conjecturas e procedimentos diferentes

e tornando-se mais conscientes das suas próprias concepções e

dificuldades”. (pp. 30).

E, segundo Piaget (1995), a orientação dada à Educação Matemática

depende, naturalmente, da interpretação adotada sobre o tema desenvolvimento

psicológico ou adquirida a respeito das operações e estruturas lógico-

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matemáticas. Tal interpretação depende igualmente do significado epistemológico

dado a essas coisas.

Então, observaremos se há preocupação em situar o aluno no momento

histórico da criação da análise combinatória, para que o mesmo compreenda os

motivos do surgimento e desenvolvimento desse tópico.

2.3.4 Os livros didáticos

Selecionamos cinco coleções de livros didáticos do Ensino Fundamental e

cinco livros do Ensino Médio, mais freqüentemente usados nas escolas de

Santos. Para o Ensino Fundamental, iremos analisar se os livros abordam ou não

o conteúdo problemas de contagem e, para o Ensino Médio, como o tema análise

combinatória é trabalhado por eles.

Relações dos livros:

♦ Matemática e vida –5ª a 8ª - Bongiovanni/ Vissoto/ Laureano – Editora Ática.

São Paulo, 1996.

♦ Matemática - 5ª a 8ª - Imenis e Lellis – Editora Scipione – São Paulo, 1997.

♦ Matemática Uma Aventura do Pensamento - 5ª a 8ª - Oscar Guelli – Editora

Ática – São Paulo, 1998.

♦ Aprendendo Matemática - 5ª a 8ª - José Ruy Giovanni e Eduardo Parente

FTD – São Paulo, 1999 (Com base nos avanços indicados pelo PCN).

♦ A conquista da Matemática - 5ª a 8ª - Giovanni, Castrucci e Giovanni Jr. –

FTD – São Paulo, 1998 (Coleção revisada de acordo com as observações da

avaliação dos livros didáticos do Mec – SEF/FNDE).

♦ Matemática - 2º grau, volume único – Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce, David

Mauro Degenszajn, Roberto Périgo – Editora Atual – São Paulo, 1997.

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♦ Matemática e Vida – 2º grau, volume 2 – Bongiovanni/Vissoto/Laureano –

Editora Ática – São Paulo, 1993.

♦ Matemática para a Escola do Segundo Grau – volume 2 – Antonio do Santos

Machado – Editora Atual – São Paulo, 1996.

♦ Matemática para o Segundo Grau – volume 2 – Gentil, Marcondes, Greco,

Belloto, Sérgio – Editora ática – São Paulo, 1997.

♦ Matemática 2 – volume 2 – José Ruy Giovanni e José Roberto Bonjorno –

Editora Ftd – São Paulo, 1992.

2.3.5 Análise dos livros didáticos

Nesta seção, faremos a análise dos livros do Ensino Fundamental e do Ensino

Médio, separadamente, em relação às seis categorias citadas na seção 2.2.3.

Ensino Fundamental

Ao analisar as cinco coleções, citadas anteriormente, constatamos que

apenas uma apresenta o conteúdo de análise combinatória na 5ª série e

retornando-o um pouco, na 7ª série, como ferramenta para introduzir o conceito

de probabilidade. Portanto, a análise dos livros didáticos para o Ensino

Fundamental ficará um tanto comprometida, porque será feita apenas a partir de

uma coleção, qual seja, Matemática 5ª a 8ª, de Imenis e Lellis, e ainda assim em

apenas duas séries das quatro séries finais desse nível.

♠ Forma de introdução do conteúdo

A forma de introdução do conteúdo na 5ª série é feita por meio da

contagem direta, trazendo situações-problema que podem criar no aluno, de

modo gradativo, o raciocínio combinatório. Exemplificando, mostraremos uma das

situações que inicia a abordagem do conteúdo.

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CONVERSANDO SOBRE O TEXTO

♦ ALGUÉM CONSEGUE DAR EXEMPLO DE SITUAÇÕES COM VÁRIAS POSSIBILIDADES?

♦ NO JOGO DA VELHA QUE VOCÊ VIU, O X PODE FAZER UMA JOGADA QUE GANHA. QUAL É

ESSA JOGADA? MOSTRE DUAS POSSIBILIDADES DE O JOGO TERMINAR DEPOIS DESSA JOGADA.

Matemática – (Imenis e Lellis, 5ª série, pp. 23)

No livro da 7ª série, ainda observamos a preocupação de mostrar ao aluno

um caminho que o faça analisar e interpretar o problema proposto, direcionando-o

para o conceito de probabilidade, como exemplificaremos a seguir:

JOGOS COM DADOS

JOGO 1 – SOMA DA SORTE

NA CLASSE, FORMAM-SE 11 TIMES. UM TERÁ O NÚMERO 2, OUTRO O NÚMERO 3 E ASSIM POR

DIANTE ATÉ 12.

CADA TIME, NA SUA VEZ, JOGA DOIS DADOS E SOMA OS PONTOS. O TIME CUJO NÚMERO É IGUAL À

SOMA FAZ GOL.

ALGUÉM DEVE ANOTAR NA LOUSA O NÚMERO DE GOLS DE CADA TIME.

APÓS 50 LANÇAMENTOS ACABA O JOGO E GANHA O TIME COM MAIS GOLS.

TRANSCREVA EM SEU CADERNO OS RESULTADOS DA LOUSA E ANOTE SUA OPINIÃO: O TIME

VENCEDOR GANHOU APENAS POR TER MAIS SORTE?

Matemática – (Imenis e Lellis, 7ª série, pp. 169)

Analisando esses dois volumes, pudemos observar que a abordagem

adotada tem uma grande chance de permitir que o aluno construa de forma

gradativa o conceito.

♠♠♠♠ Apresentação dos conceitos de arranjo e permutação

Observamos que não há uma preocupação em definir arranjo e

combinação, pois o objetivo é apenas introduzir o raciocínio combinatório.

♠ Como e quando são introduzidas as fórmulas

Como comentamos anteriormente, essa coleção tem apenas por objetivo

introduzir o raciocínio combinatório e, conseqüentemente, não foi apresentada

nenhuma fórmula.

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♠ Apresentação de problemas com enunciados diversificados

Tanto na 5ª como na 7ª série notamos enunciados bem diversificados,

solicitando dos alunos criatividade e compreensão plena da situação descrita no

problema. Como é dada apenas uma introdução à análise combinatória, não há

como o aluno associar certas palavras-chave.

Para exemplificar, mostraremos alguns tipos de problemas sugeridos em

classe e para a casa.

• VEJA TODAS AS ADIÇÕES DE DOIS NÚMEROS NATURAIS QUE TÊM SOMA 3:

0+3 1+2 2+1 3+0

a) ESCREVA TODAS AS ADIÇÕES DE DOIS NÚMEROS NATURAIS COM SOMA 5.

b) ESCREVA TODAS AS QUE TÊM SOMA 8.

c) SEM ESCREVER TODAS, DESCUBRA QUANTAS SÃO AS ADIÇÕES DE DOIS NÚMEROS NATURAIS

COM SOMA 100.

•AS PLACAS DE AUTOMÓVEIS DE UM CERTO PAÍS SÃO CONSTRUÍDAS COM APENAS UMA LETRA E

DOIS ALGARISMOS.

A LETRA É SEMPRE UMA DAS CINCO VOGAIS. O PRIMEIRO ALGARISMOS É 1 OU 2; O SEGUNDO

TAMBÉM.

a) MOSTRE TODAS AS PLACAS POSSÍVEIS QUE COMECEM COM A

b) CONSIDERANDO TODAS AS 5 VOGAIS, QUAL É O TOTAL DE PLACAS POSSÍVEIS?

Matemática – (Imenis e Lellis, 5ª série, pp. 236 e 240)

♠♠♠♠ Ênfase na resolução com auxílio de diagramas

Observamos que na 5ª série o autor utiliza desenhos e esquemas para a

resolução do problema; já na 7ª série, ele se vale da árvore de possibilidades.

Notamos que a resolução por meio de representações é bem valorizada, na

interpretação do problema dado.

Exemplificando a observação acima, mostraremos dois exercícios

propostos nos livros de 5ª e 7ª séries.

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Figura 2.5: Exemplo do livro Matemática – (Imenis e Lellis, 5ª série, pp. 235)

Figura 2.6: Exemplo do livro Matemática –(Imenis e Lellis, 7ª série, pp. 173)

♠♠♠♠ Inclusão de fatos históricos

Em nenhum momento, houve a preocupação em explorar fatos históricos

ou apresentar biografia dos principais matemáticos envolvidos na criação da

análise combinatória. Também não se apresentou exercício contextualizado da

época. Encontramos, apenas, alguns problemas que solicitam o cálculo do

número de possibilidades de um certo jogo, mostrando, indiretamente, o

surgimento da análise combinatória.

Ensino médio

Aqui, analisaremos cinco livros didáticos, sempre sob a óptica de nossas

categorias.

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♠ Forma de introdução do conteúdo.

Nessa categoria, observaremos se os livros apresentam problemas que

proporcionam os alunos a procurar caminhos para solucioná-los, motivando-os a

desenvolver técnicas para a descrição dos casos possíveis e para sua contagem.

Apenas um dos cinco livros analisados familiariza os alunos com

problemas de contagem, numa tentativa de possibilitar que os mesmos construam

as técnicas para a resolução dos problemas propostos.

Nos demais livros didáticos analisados, não há proposta de familiarização

com os problemas de contagem, mas sim com a sistematização imediata do

conteúdo, isto é, são apresentados um ou dois exemplos os quais apresentam a

resolução através da contagem direta e, logo a seguir, define-se o princípio

fundamental da contagem, como exemplificaremos:

Figura 2.7: Exemplo do livro Matemática 2 (Giovanni e Bonjorno, pp. 183)

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Figura 2.8: Exemplo do livro Matemática 2(Giovanni e Bonjorno, pp. 184)

Notamos que o exemplo apresentado não sugere questionamento nem

atividades que envolvam a participação do aluno. Trata-se de um texto pronto e

formal, fato que, baseado nos estudos de Vergnaud (1991), acreditamos fornecer

pouca ou nenhuma condição para o aluno construir de maneira gradativa e

significativa esse conceito.

Segundo Vergnaud (1991), os conhecimentos adquiridos pelo aluno devem

ser construídos por ele mesmo, em relação direta tanto com as operações que ele

é capaz de fazer com a realidade como com as relações que ele está em

condições de captar, compor e transformar, e ainda em relação aos conceitos que

ele vai construindo progressivamente. A análise do papel da linguagem e do

simbolismo dentro da conceitualização é muito importante para que o professor

Page 43: INVESTIGANDO OS FATORES QUE INFLUENCIAM O … · 2.6 Exemplo do livro Matemática – Imenis e Lellis.....32 2.7 Exemplo do livro Matemática 2 ... e distinção entre arranjo e combinação,

possa identificar em que ponto do processo de aprendizagem se encontra o seu

aluno.

No caso do exemplo apresentado na figura 2.6, observamos que em

nenhum momento é dada ao aluno a possibilidade de, a partir da análise do

problema, poder chegar ao conceito do princípio fundamental da contagem.

♠ Apresentação dos conceitos de arranjo e combinação.

Analisaremos como os livros apresentam esses dois tipos de

agrupamentos, pois, segundo resultados obtidos nas pesquisas de Batanero

(1996), uma das principais causas do fracasso na resolução de problemas de

combinatória é a confusão sobre a relevância de ordem.

Acreditamos que se esses dois tipos de agrupamentos forem explicados

simultaneamente, facilitará a compreensão do aluno sobre a questão ordem.

Observamos que, em três dos livros analisados, a definição de arranjo e

combinação vem pronta, ou seja, a institucionalização do conceito ocorre no início

do estudo. Esses dois tipos de agrupamentos são mencionados separadamente e

também não se faz uma relação entre eles.

Os outros dois livros abordam simultaneamente os dois tipos de

agrupamentos, sendo que apenas um se preocupa em colocar problemas para

serem analisados os dois tipos de agrupamentos, reforçando, assim, a

importância ou não da ordem dos elementos, abrindo um sub item à parte

“Arranjo ou Combinação”, como exemplificado a seguir:

“Numa classe do 2º colegial há oito alunos que praticam corrida:

a) Quantos resultados diferentes podem ocorrer, para os três primeiros

lugares, numa disputa entre eles?

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b) De quantos maneiras diferentes podem ser escolhidos três desses

alunos para formar uma comissão que irá pedir dispensa das aulas?”.

Acreditamos que esse processo de ensino poderá gerar no aluno

problemas em relação ao hábito de analisar e diferenciar arranjo de combinação.

♠ Como e quando são introduzidas as fórmulas

Conforme análise feita, pudemos constatar que apenas um livro, dos cinco

livros analisados, iniciou arranjo e permutação sem utilização da fórmula,

colocando-a apenas no final do capítulo, quando definiu combinação simples.

Acreditamos que houve um trabalho significativo, antes da introdução das

fórmulas, apesar de ter sido, apenas, para arranjo e permutação.

Nos demais livros, observamos que após a definição de cada tipo de

agrupamento, as fórmulas são introduzidas, seguidas de uma série de problemas

para que na resolução se utilizem as fórmulas.

♠ Apresentação de problemas com enunciados diversificados

Quatro dos cinco livros analisados apresentam, no final do capítulo,

problemas com enunciados diversificados, relacionados a arranjo, combinação e

permutação. Considerando o fato de que esses quatro livros analisados não

partem de situações problemas para a introdução do conceito, acreditamos que

os exercícios apresentados no final do capítulo não são de fácil resolução para os

alunos, pois não houve um trabalho anterior que valorizasse o reconhecimento

dos diferentes tipos de agrupamentos.

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O quadro a seguir mostra as relações entre problemas resolvidos

(incluindo exemplos), problemas propostos e problemas complementares, de

cada livro analisado.

LIVROS

Nº DEPÁGINAS DO

CAPÍTULO

QUANTIDADE DEPROBLEMASRESOLVIDOS

QUANTIDADE DEPROBLEMASPROPOSTOS

PROBLEMASCOMPLEMENTARES

COM

CONTEXTO

SEM

CONTEXTO

COM

CONTEXTO

SEM

CONTEXTO

COM

CONTEXTO

SEM

CONTEXTO

MATEMÁTICA E VIDA 29 31 0 94 4 0 0

MATEMÁTICA PARA OSEGUNDO GRAU

22 34 12 44 18 6 5

MATEMÁTICA 2 19 26 7 99 22 50 3

MATEMA’TICA PARA AESCOLA DO SEGUNDO

GRAU23 15 4 71 23 08 0

MATEMÁTICA 15 12 2 60 17 28 2

Tabela 2.1: Relações entre os problemas resolvidos, propostos e complementares, dos livros analisados.

Podemos notar que o único livro que destacamos nas categorias

anteriores, por trabalhar o conteúdo de análise combinatória de forma diferente

dos demais, foi também o único que não colocou problemas complementares no

final do capítulo. Observamos, também, que todos os livros analisados,

apresentam exercícios sem contexto, alguns em quantidade que nós

consideramos excessiva, pois estes tipos de exercícios levam os alunos ao

mecanismo do cálculo.

O livro com maior número de problemas propostos e complementares foi o

Matemática 2, que faz a institucionalização do conteúdo logo no início. Devemos

ressaltar que esse livro é o adotado na escola onde trabalharemos nossa

seqüência didática e será utilizado na turma de referência.

Podemos, também, observar que o livro Matemática para o Segundo Grau

foi o que apresentou maior quantidade de exercícios resolvidos e menor

quantidade de exercícios propostos.

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Notamos que alguns dos problemas complementares trazem enunciados

semelhantes aos exercícios propostos, estimulando os alunos a associar algumas

palavras-chave.

♠ Ênfase na resolução com auxílio da representação

Todos os livros analisados iniciam o conteúdo usando esquemas ou a

árvore de possibilidades, mas apenas um livro faz uso da árvore de possibilidades

durante a apresentação do conteúdo.

Pudemos, também, observar que para definir o princípio fundamental da

contagem, arranjo, permutação e combinação, todos fizeram uso do processo de

“tentativa e erro”, para depois colocarem a fórmula.

Nos exercícios propostos, nenhum livro induz o aluno a usar qualquer tipo

de representação. O único que ainda possibilita o discente a usar algum tipo de

representação é o livro “Matemática e Vida”, pois além de iniciar o conteúdo

através da contagem direta, propõe alguns problemas.

Podemos concluir que nenhum dos livros analisados apresenta uma

proposta explícita para o uso de diagramas, tabelas ou árvore de possibilidades.

♠ Inclusão dos fatos históricos

Não existe, na maioria dos livros didáticos analisados, preocupação de

explorar fatos históricos, afirmação que pode ser comprovada pela amostra de

livros didáticos selecionados. Dentre eles, um inclui pequena exploração histórica

e outro apresenta a biografia de “Henri Poincaré” (matemático que deu seqüência

aos trabalhos de probabilidade). O primeiro apresenta, também, alguns problemas

contextualizados da época, resolvidos por análise combinatória, usando jogos

atuais como loteria esportiva e loto.

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Nos demais livros, não encontramos nenhum comentário sobre o porquê

do surgimento da análise combinatória.

2.3.6 Análise do Parâmetro Curricular Nacional – Ensino Fundamental

O conteúdo análise combinatória, no ensino fundamental, é apresentado,

somente, no segundo e terceiro ciclos. O objetivo consiste, apenas, em introduzir

o raciocínio combinatório, sem a preocupação de se deter em casos particulares.

♠ Forma de introdução do conteúdo

O PCN (1998) aborda noções básicas de análise combinatória,

pretendendo que o aluno interaja com situações concretas de análise de dados

através da contagem direta.

O assunto é introduzido no 2º ciclo, através das possíveis maneiras de

combinar elementos de uma coleção e contabilizá-las usando estratégias

pessoais.

Como exemplo, observemos, a seguinte situação-problema:

Tendo duas saias – uma preta (P) e uma branca (B) e três blusas – uma

rosa (R), uma azul (A) e uma cinza (C), de quantas maneiras diferentes posso me

vestir?

No 3º ciclo, notamos que são colocadas situações-problema para serem

resolvidas usando contagem direta e o princípio multiplicativo. Existe uma

proposta de direcionar os alunos a compreenderem intuitivamente o princípio

multiplicativo através de problemas, como exemplificaremos a seguir:

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“Lancei dois dados: um vermelho e um azul. Quantos resultados diferentes

são possíveis encontrar?”.

♠ Apresentação dos conceitos de arranjo e combinação

♠ Como e quando são introduzidas as fórmulas

Como já observamos anteriormente, o parâmetro para o ensino

fundamental não tem como meta introduzir estes conceitos nem,

conseqüentemente, suas fórmulas.

♠ Apresentação de problemas com enunciados diversificados

Não são apresentados muitos problemas, mas acreditamos que a proposta

de trabalho seria não criar um abuso de analogia dos mesmos.

♠ Ênfase na resolução com auxílio de diagramas.

Pudemos observar que existe uma valorização em relação à

representação. Pretende-se, principalmente, que o aluno se confronte com

situações concretas de análises de dados através da contagem direta, fazendo

uso da árvore de possibilidades.

No terceiro ciclo, as situações-problema apresentadas direcionam o aluno

a fazer uso de representações (diagramas de árvore, tabelas, desenhos) como

procedimento de resolução.

♠ Inclusão de fatos históricos

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Não há uma proposta de introduzir algum fato histórico nem problemas

contextualizados da época para que o aluno tenha conhecimento do surgimento

da análise combinatória.

2.3.6 Análise da Proposta Curricular do Estado de São Paulo para o

Ensino da Matemática (1989)

Primeiro Grau (Ensino Fundamental)

O conceito de contagem aparece no ciclo básico, somente para o

aprendizado do conceito de multiplicação (na 3ª série) e para o aprendizado de

potenciação (na 5ª série).

Na abordagem desse tema, é proposto que o aluno classifique os

elementos de uma coleção, fazendo uso do diagrama de árvores ou

confeccionando material concreto, para chegar a uma escrita multiplicativa.

Existe uma preocupação de familiarizar o aluno com a relação existente

entre as classificações e a árvore, para depois envolvê-lo em problemas de

contagem em que seja necessário utilizar a multiplicação.

Na 5ª série, o objetivo é apresentar situações-problema que envolvam

multiplicações sucessivas de fatores iguais, enfatizando a grandeza do resultado

(potência), ainda fazendo uso da árvore de possibilidades.

A nosso ver, essa introdução de contagem no ciclo básico é uma etapa que

auxilia o aluno na construção do raciocínio combinatório.

Segundo Grau (Ensino Médio)

♠ Introdução do conteúdo

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A proposta inicia-se com problemas a serem resolvidos de forma intuitiva,

com o objetivo de que os alunos discutam as soluções encontradas. Nela sugere-

se que o professor conduza os alunos a tal apresentação das soluções,

induzindo-os a uma discussão, onde possam argumentar seu procedimento de

resolução. Nessa etapa, são colocados problemas variados, compostos de

poucos elementos, para que os alunos se familiarizem com o raciocínio

combinatório sem ainda precisarem se deter em casos particulares.

A seguir, propõem-se problemas para que os estudantes possam

sistematizar a contagem. A proposta tem, para essa análise, o objetivo de

fornecer indicações para o desenvolvimento da técnica de contagem, como, por

exemplo, o princípio multiplicativo. Tal princípio deverá ser entendido

intuitivamente, isto é, deve ser uma conseqüência natural do processo de

formação e representação das possibilidades.

São propostos, a seguir, problemas para que os alunos utilizem o princípio

multiplicativo, acreditando-se que eles já o dominem intuitivamente.

♠ Apresentação dos conceitos de arranjo e combinação

A apresentação desses conceitos é trabalhada de forma intuitiva, quando

são propostos problemas para serem resolvidos através do princípio fundamental

da contagem. Já são feitas algumas observações relacionadas a importância de

considerar a ordem dos elementos, como exemplificaremos a seguir:

“Numa urna foram colocadas 5 bolas de cores diferentes: vermelha, preta,

amarela, cinza e branca. De quantas maneiras diferentes poderemos retirar 3

bolas da urna?”. (problema 21, pp 93)

Comentário

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Ao ser proposto o problema para a classe, é possível que surjam soluções

diferentes, pois os alunos podem interpretar diferentemente o enunciado.

Façamos um levantamento dessas possíveis soluções.

São levantadas três possíveis soluções, a primeira onde serão retiradas

três bolas consecutivas e com reposição (arranjo com repetição), a segunda onde

serão retiradas três bolas consecutivas e sem reposição (arranjo simples) e a

terceira, onde as três bolas serão retiradas simultaneamente (combinação

simples). Observam que nas duas primeiras soluções ficou estabelecida a ordem

em que as bolas foram retiradas.

Até este momento, nomenclatura, definições relativas a arranjos,

permutações e combinações não foram abordadas. As idéias relativas a esses

conceitos deverão ser desenvolvidas intuitivamente pelos alunos durante o

trabalho com o princípio multiplicativo. Depois desta etapa é que deverá ser feita

a sistematização dos conceitos de arranjos e combinações.

♠ Como e quando são introduzidas as fórmulas

Como já mostramos na análise da apresentação dos conceitos de arranjo e

combinação, a sistematização desses conceitos é feita após um trabalho intuitivo,

através do princípio multiplicativo, e logo em seguida são apresentadas as

fórmulas, usando-se o conceito do princípio fundamental da contagem.

♠ Ênfase na resolução com auxílio de diagramas

Podemos observar que existe uma certa valorização no uso de diagramas,

tabelas e árvores de possibilidades para iniciar a resolução de um problema.

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Também são colocadas situações-problema onde não é aplicável o princípio

multiplicativo, sendo um dos processos de resolução a árvore de possibilidades.

♠ Inclusão dos fatos históricos

Na proposta, não existe uma preocupação de mostrar aos alunos um

pouco da história do surgimento da análise combinatória. Os únicos problemas,

apresentados, referentes a jogos são os do dominó e da moeda, que mostram, de

maneira indireta, a necessidade do surgimento da análise combinatória.

A nosso ver, o método de ensino da análise combinatória presente na

Proposta Curricular é bom e pode ser desenvolvido em sala de aula, pois existe

uma preocupação de levar o aluno à construção gradativa do conceito. Baseados

neste ponto de vista, decidimos seguir alguns tópicos da proposta na nossa

seqüência de ensino.

2.3.8 Comparação das abordagens adotadas nos livros didáticos

analisados com a Proposta Curricular e com o PCN.

Quanto às coleções do Ensino Fundamental e do PCN, podemos observar

que os dois enfatizam a contagem direta e o uso de representações para, só

depois, fazerem uso do princípio multiplicativo. Ambos trabalham apenas com a

parte introdutória de análise combinatória, isto é, introduzem o raciocínio

combinatório sem a preocupação de definir arranjo, permutação e combinação.

As demais coleções não apresentam o conteúdo análise combinatória no

ensino fundamental.

Quanto aos livros do Ensino Médio e a proposta curricular, temos, que dos

cinco livros didáticos analisados, quatro não fornecem a parte introdutória

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sugerida pela proposta, ou seja, não há uma preocupação em familiarizar o aluno

com os problemas de contagem, mas sim com a sistematização imediata do

conceito. Esses quatro livros fornecem a parte introdutória, passando rapidamente

sobre o tópico em questão, com todas as problemas resolvidos.

A proposta sugere, inicialmente, situações-problema sobre arranjo,

combinação e permutação, para que possam ser resolvidas através de contagem.

Dos livros didáticos analisados, quatro não se preocupam em motivar o aluno a

analisar o tipo de agrupamento que está sendo envolvido no problema. Isso pode

gerar dificuldade no momento em que o aluno se deparar com enunciados

diferentes, aos quais não está acostumado a resolver.

Faremos, a seguir, uma comparação das seqüências adotadas pela

proposta curricular e de três livros que não desenvolvem o conteúdo da mesma

forma sugerida pela proposta.

PROPOSTA CURRICULAR LIVROS DIDÁTICOS

PROBLEMAS DE CONTAGEM PARA SEREM RESOLVIDOS

INTUITIVAMENTE

FATORIAL

SISTEMATIZAÇÃO DA CONTAGEM, ATRAVÉS DE

DIAGRAMAS, ÁRVORES E QUADROS PARA A DESCRIÇÃO

DOS ACONTECIMENTOS

PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO

PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO ARRANJO SIMPLES

ÁRVORE DE POSSIBILIDADES EM CASOS ONDE NÃO É

APLICÁVEL O PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO

COMBINAÇÃO SIMPLES

ARRANJOS COM REPETIÇÃO ARRANJO COM REPETIÇÃO

ARRANJOS SIMPLES PERMUTAÇÃO COM REPETIÇÃO

FATORIAL EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES

PERMUTAÇÃO SIMPLES

COMBINAÇÃO SIMPLES

Tabela 2.2: Comparação das seqüências adotadas pela proposta curricular e os livros didáticos.

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2.4 REVISÃO DE LITERATURA

Para a realização deste estudo, procuramos investigar o que já foi

elaborado no contexto das pesquisas em Educação Matemática. Pouco

encontramos, ao revisarmos a literatura, em relação ao ensino de análise

combinatória. Todavia, o que existe é de grande relevância, como os trabalhos de

Batanero, Piaget, Fischbein, Grenier e Maury, além de pesquisas correlatas de

probabilidade, como a de Coutinho.

Iniciaremos por Batanero, dado que esta autora desenvolveu diversos

trabalhos sobre o comportamento dos alunos na resolução de problemas

combinatórios, com ou sem o conhecimento de análise combinatória. Esses

trabalhos (1996, 1997) serviram de referência para o nosso estudo principalmente

no que se refere ao capítulo da análise dos resultados que obtivemos.

Em “Estratégias en la resolución de problemas combinatórios por

estudiantes com preparación matemática avanzada” Batanero (1997),

destacamos a importância de analisar as etapas que o aluno seguiu para resolver

os problemas propostos. A intenção era de observar o entendimento dos

estudantes no processo de resolução de um problema combinatório. A aplicação

foi realizada com apenas quatro estudantes do curso de licenciatura em

matemática, escolhidos entre os que obtiveram os melhores e piores resultados

na resolução de treze problemas combinatórios elementares, apresentados a 29

estudantes em questionário escrito, para que explicassem mais detalhadamente

suas respostas.

Como conclusão dos resultados obtidos, foi observado que os alunos

mostram uma dificuldade elevada na resolução desses problemas, inclusive os

alunos com uma boa preparação matemática. Os bons resultados são

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caracterizados pela facilidade em identificar a configuração da combinatória

pedida, compreender a ordem, a repetição e o enunciado do problema, ser capaz

de enumeração sistemática, generalização e identificação da combinatória

adequada. As causas de fracasso seriam a confusão sobre o tipo de elementos

que se combinam, falta de capacidade de enumeração e falhas de tipo aritmético.

Esse trabalho em muito contribuiu na construção de nossa seqüência de

ensino, alertando-nos para a ênfase na ordem e repetição e não utilização das

fórmulas.

Em outro trabalho, “Razonamiento combinatorio en alumnos de secundária”

(1996), Batanero, destaca a importância de analisar as variáveis que afetam os

procedimentos e erros dos alunos ao resolverem problemas combinatórios,

mostrando como devem ser consideradas essas variáveis no aprendizado. A

aplicação foi realizada em uma amostra de 720 alunos (14 – 15 anos) de nove

escolas de Granada e Córdoba. Desses 720 alunos, 352 aprenderam

Combinatória e o restante (368) não.

A autora observou que nos dois grupos de alunos houve grandes

dificuldades em resolver os problemas. Os estudantes mostraram falta de

raciocínio recursivo e dificuldade de interação de todos os fatores de instrução. A

análise qualitativa revelou a dependência de tipos de erros, de grande importância

para nossa pesquisa.

Muito significativos para a elaboração da nossa seqüência e para a análise

dos instrumentos diagnósticos foram os trabalhos a seguir:

Nos anais do EPEM, encontramos o texto “Como Resolver Problemas

Combinatórios: Modelos e Analogias” (Rigolino e Hariki, 1996). Esse mini curso

teve como objetivo trabalhar os seguintes aspectos da heurística da resolução de

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problemas de análise combinatória: (i) o uso de modelos, por exemplo, o modelo

da colocação de bolas em urna; e (ii) o uso de analogias, para criar conexões na

rede de problemas. Com tais instrumentos heurísticos, seria possível abordar de

maneira efetiva todos os problemas de contagem usualmente trabalhados no

ensino de segundo grau, o atual ensino médio.

Esse trabalho foi apresentado de forma resumida, mais como caráter de

experiência do que de pesquisa, o que não nos permitiu estabelecer maiores

considerações. Apesar disso, notamos que o estudo envolve técnicas de

modelagem matemática e assim concluímos sobre a importância de se construir

uma visão mais ampla do conhecimento, através de uma seqüência que

procurasse explorar e dar sentido ao conceito.

Encontramos, no “Educacional Studies in Mathematics”, um trabalho

desenvolvido por Fischbein e Grossman (1997, nº 34) sobre a afinidade entre

esquema e intuição, denominado: “Schemata and intuitions in combinatorial

reasoning”. Tal trabalho basicamente procura levantar a hipótese de que as

intuições são sempre baseadas nos esquemas estruturais.

Os autores analisaram a interação entre intuição e esquemas subjacentes

em estimações intuitivas do valor das operações combinatórias com diversos

tipos de sujeitos, entre os quais se encontram adultos sem instrução

combinatória. Observaram que às estimações intuitivas dos sujeitos subjaziam

cálculos básicos relacionados a operações combinatórias, e os números de

elementos que se têm a combinar. Os cálculos se reduzem a operações

multiplicativas binárias, em lugar de se realizar o conjunto requerido de

operações, sugerindo que os esquemas combinatórios sofrem um processo de

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compreensão e reduzem-se a uma estrutura mínima, para apoiar as intuições

errôneas dos sujeitos.

Achamos esse estudo importante para o nosso trabalho, visto que a nossa

seqüência tem o objetivo de deixar que os alunos resolvam, a princípio,

intuitivamente as situações-problema. O trabalho apresentado nos mostra que

existem problemas em relação à construção dos esquemas e à forma de avaliar

através do seu ponto de vista, mas que o pensamento seria simplesmente

impossível se não nos apoiássemos, de imediato, nas próprias intuições

evidentes.

No livro de Piaget e Inhelder, “La genése de l’idée de hasard chez l’enfant”

(1951), o qual estudou a natureza e as condições da gênese das idéias do acaso,

observamos que existe uma estreita relação entre a formação dos conceitos e as

operações formais já avaliadas por Piaget.

No estado sensori-motora (4 a 7 anos aproximadamente), o aluno não

chega a descobrir as combinações empíricas. Esse primeiro estágio

(combinações empíricas) é comparável ao que caracteriza o começo da seriação.

As operações de combinação persistem e agem a um nível preparatório.

No estado das operações concretas (7 a 11 anos) aproximadamente, já se

inicia uma quantificação sistemática. Nesse estágio (pesquisa de um sistema),

existe interesse por parte do aluno em fazer diversos ensaios de sistema, dos

mais rudimentares até a aproximação de um método correto.

No estado das operações formais (11 – 12 anos em diante), o aluno

procura a combinação metódica e completa. Nesse estágio (descoberta de um

sistema), os sujeitos descobrem um sistema, de modo que nenhuma associação

seja esquecida.

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Esse livro apresenta trabalhos interessantes realizados com alunos nos

três estágios apresentados. Foi a partir dessa leitura que nos veio o incentivo em

aplicar a nossa seqüência em uma turma de 8ª série do ensino fundamental, já

que, nessa fase, segundo Piaget, os alunos procuram a combinação metódica e

completa.

Encontramos em “Recherches em Didactique des Mathématiques” (1998,

nº1, vol.18), um trabalho desenvolvido por Grenier e Payan sobre o processo de

modelagem na matemática discreta, denominado: “Spécificités de la Preuve et de

la Modélisation em Mathématiques Discrètes”. Este desenvolve a importância da

demonstração e da modelização (sair do problema de interpretação de uma

situação real para chegar à resolução matemática), por meio de uma descrição

rápida, ilustrada por alguns exemplos de certos temas e métodos da matemática

discreta. Como exemplo, utiliza-se a análise combinatória, por ser um estudo que

gera grandes dificuldades e por trazer à tona a necessidade de modelizar as

situações de contagem.

Tal estudo veio evidenciar a necessidade de que o aluno participe do

processo de modelagem para o ensino da análise combinatória.

Em “Recherches em Didactique des Mathématiques” (1986, nº 1, vol. 7),

também encontramos um estudo sobre resolução de problemas combinatórios

com alunos de 9 e 10 anos de idade, denominado “Combinatoire et Résolution de

Problemes au Cours Moyens Premiere et Deuxieme Années”. É um estudo

realizado em CM1 e CM2 (1ª a 4ª série do ensino fundamental), o qual investiga

os processo utilizados pelos alunos ao resolverem problemas de combinatória,

colocando um material referente à área de eletricidade. Os alunos do CM1

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trabalham em dupla, enquanto os do CM2 trabalham individualmente, surgindo

um efeito positivo na interação social em CM1.

Esse estudo reforçou a escolha em trabalhar nossa seqüência, para o

grupo experimental, em dupla. E também foi ao encontro do que acreditamos ser

possível, iniciar o conteúdo análise combinatória antes do 2º ano do Ensino

Médio.

Nos anais do EPEM, também encontramos um estudo de Coutinho (1996),

sobre “Introdução ao Conceito de Probabilidade Para Adolescentes (12/13 anos –

6ª Série do 1º Grau)”. Nele foi possível verificar que os alunos têm capacidade

para o raciocínio combinatório, desde que a introdução deste conceito seja feita a

partir de construções que lhe dê sentido. A pesquisa objetivou utilizar a visão

freqüentista como um agente facilitador para os conceitos básicos de

probabilidade, devido a sua maior proximidade com a realidade do aluno.

Acredita-se que a introdução do conceito de probabilidade no âmbito da 6ª série

do Ensino Fundamental deve diminuir significativamente os entraves para a

aprendizagem deste conteúdo, dificultando o reaparecimento das concepções

errôneas.

Nos anais do PME20, encontramos outro estudo de Coutinho (1996), sobre

“Introduction on the Concept of Probability to Teenargers – (12/13 years old).

Este trabalho se refere a um pôster apresentado no PME20, que analisa as

concepções errôneas mais resistentes sobre as noções de acaso e probabilidade,

encontradas na análise comparativa de dois questionários aplicados em

momentos distintos, antes do aprendizado e três meses após o mesmo.

Nesse estudo, foi observado que muitos dos estudantes que apresentaram

concepções errôneas no primeiro teste, apresentaram concepções corretas após

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a seqüência didática. Entretanto, também foram encontrados alguns alunos com

os mesmos erros apresentados no primeiro teste.

Com base nestes resultados, em 1996, foi feita uma análise clínica com 6

alunos participantes das atividades no ano anterior, por meio de problemas que

levassem a identificar as concepções então existentes.

Após a análise, conclui-se que os jovens analisados, que foram os que

melhor se saíram nas atividades em 1995, não possuíam organização mental

nem raciocínio combinatório, o que ficou bastante evidente nas questões que

envolviam o conceito de proporção. Conforme esperado também, apresentaram

problemas de linguagem, ou seja, muitas vezes sabiam o conceito, mas não

conseguiam expressar seu pensamento por falta de um vocabulário adequado.

Essas duas pesquisas de Coutinho nos levaram a investigar os fatores que

influenciam o raciocínio combinatório, utilizando-nos de situações-problema com

enunciados significativos para os alunos.

Os resultados desses estudos somados com nossas leituras sobre

Teorema-em-ação (Vergnaud, 1990, 1998) nos alertaram para a importância de

considerarmos em nossa seqüência não apenas a fala dos alunos bem como

suas ações. De fato, a partir de seus estudos, Falcão (no prelo), conclui que:

... Assim os experts mais experimentados não são capazes de

exprimir em palavras uma boa parte dos conhecimentos que ainda assim

eles utilizam na ação [competência-em-ação], e que são justamente

representativas em sua expertise. Da mesma forma as crianças não são

capazes de explicar todos os conhecimentos que contribuem à

organização racional de suas atividades, apesar de serem de se engajar

em atividades cognitivamente complexas, interpretáveis pelo observador

externo em termos de ”teoremas-em-ação”.(pp.2).

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2.5 IDÉIAS TEÓRICAS

Nessa seção, descreveremos as concepções que fundamentam

teoricamente a nossa pesquisa, provenientes da Didática da Matemática

Francesa.

Há pelo menos três idéias principais influenciando nossa pesquisa:

transposição didática, teoria dos campos conceituais e noções de registros de

representações. Ao invés de discutirmos os autores, trataremos dessas idéias,

inserindo-os no decorrer da análise. Faremos, ao final da seção, breves

comentários sobre a noção de “contrato didático”, na visão de Brosseau, e de

“zona de desenvolvimento proximal”, introduzida por Vergnaud.

2.5.1 Transposição didática

O estudo da transposição didática nos permitiu escolher a abordagem que

daremos ao nosso trabalho. Para isso, fizemos um estudo histórico, procurando

os métodos desenvolvidos para a resolução da análise combinatória; observamos

livros didáticos atuais para comparar suas abordagens através das categorias que

achamos ser essencial para o desenvolvimento do conteúdo; e produzimos uma

seqüência didática ,a fim de aplicar o conteúdo de análise combinatória de forma

mais significativa.

Uma das questões centrais da educação matemática é o estudo do

processo evolutivo por que passa a formação do seu objeto de ensino. Na análise

dessa evolução, é possível identificar diversas fontes de influências que

determinam as transformações do saber ensinado na escola. Aqui,

descreveremos a estrutura dessas transformações, através da noção de

transposição didática segundo Brousseau e Chevallard.

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Brousseau (1986) critica a metodologia do ensino da matemática que se

apóia na apresentação axiomática. Essa metodologia permite ao estudante e a

seu professor ordenar as atividades e acumular, num tempo mínimo, bastante

“saber”, mais próximo do “saber sábio”.

Ele observa que essa apresentação esconde completamente a história

desses saberes, isto é, a sucessão das dificuldades e questões que provocaram a

aparição dos conceitos fundamentais, seu uso na criação de novos problemas, a

introdução de técnicas e questões nascidas do progresso de outros setores, a

rejeição de certos pontos de vistas julgados falsos ou impróprios e as numerosas

alterações que esse saber sofreu.

O “saber sábio” deve sofrer adaptações e transformações para torná-lo

ensinável. Brousseau (1996) chama essa operação de “transposição didática”.

O autor situa o processo de transposição didática em três etapas:

1) O trabalho dos matemáticos

No momento da comunicação dos resultados de sua pesquisa, o

matemático despersonaliza, descontextuliza e destemporaliza o mais

possível os seus resultados.

2) O trabalho do aluno

Para G. Brosseau (ibid.), o trabalho do aluno deve ser, às vezes,

comparável ao do matemático. Saber a matemática não é só aprender as

definições e os teoremas, para reconhecer a ocasião de os utilizar e os

aplicar, mas além de tudo resolver os problemas. Brosseau observa que

resolver os problemas é só uma parte do trabalho, pois achar boas

questões e suas soluções é também importante. O professor é

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encarregado da busca das situações-problema que permitem ao aluno agir,

formular, provar, etc...

3) Trabalho do professor

O professor deve construir situações-problema nas quais o conhecimento

matemático apontado seja recontextualizado e repersonalizado, em vista

de se tornar um conhecimento do aluno, quer dizer, uma resposta mais

natural às condições particulares é indispensável para que esse

conhecimento tenha um sentido.

No desenvolvimento de toda prática educativa, é sempre necessário

estabelecer prioridades na conduta dos procedimentos pedagógicos. Uma dessas

prioridades diz respeito à seleção dos conteúdos presentes nos programas

escolares. O conjunto desses conteúdos, que também pode ser chamado de

saber escolar, tem como fonte original o saber científico. Entretanto, através dos

efeitos de todo um processo evolutivo, ocorrem transformações que acabam

determinando características bem particulares ao saber escolar. A noção de

transposição didática visa estudar esse processo seletivo que ocorre através de

uma longa rede de influências, envolvendo diversos segmentos do sistema

educacional. Essas idéias já aparecem numa primeira definição de transposição

didática dada por Chevallard (1991):

“Um conteúdo do conhecimento, tendo sido designado como saber a

ensinar, sofre então um conjunto de transformações adaptativas que vão

torná-lo apto a tomar lugar entre os “objetos de ensino”. O “trabalho”

que, de um objeto de saber a ensinar faz um objeto de ensino, é

chamado de transposição didática.(pp.39).

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Chevallard estuda a transposição didática, seguindo o esquema:

SABER SÁBIO OBJETOS A ENSINAR SABER A ENSINAR

SABER DISPONÍVEL SABER ENSINADO O SABER ESCOLAR

Transposição didática = conjuntos destas adaptações e transformações.

A seguir definimos as diferentes etapas da transposição didática, segundo

o pesquisador (1991).

Saber sábio:

Quando um pesquisador tem por objetivo comunicar os resultados da sua

pesquisa, ele não faz geralmente referência a seus conhecimentos

próprios, a suas estratégias pessoais de pensamentos, ao tempo e duração

de seu trabalho. Digamos que ele despersonaliza esse saber.

Para dar uma generalidade máxima aos resultados, ele elimina a origem

dos problemas encontrados na partida. Nessa passagem para a abstração,

ele apenas retém os conceitos operatórios. Digamos que ele

descontextualiza o saber. Podemos dizer que o saber sábio em matemática

é:

- despersonalizado;

- descontextualizado (no que se refere às publicações);

- ordenado pelos problemas encontrados (no que tange aos

conhecimentos dos pesquisadores);

- sincretizado, ou seja, os saberes são ligados.

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Os objetos a ensinar.

O conjunto das fontes de influências atuantes na seleção dos conteúdos,

que deverão compor os programas escolares e determinam todo o

funcionamento do processo didático, recebeu, por parte de Chevallard, o

nome de noosfera. Fazem parte da noosfera: cientista, professores,

especialistas, políticos, autores de livros e outros agentes da educação.

O resultado do trabalho seletivo da noosfera não só determina os

conteúdos escolares como também acaba exercendo uma influência

considerável na estruturação dos valores, objetivos e métodos que

conduzem o processo de ensino. Isto é o primeiro ato da transposição

didática.

O saber a ensinar e os objetos do ensino:

Tendo sido designados os objetos a ensinar, o sistema educativo está

encarregado de traduzi-los em um conjunto de conhecimentos que os

alunos deverão saber. Os objetos do saber são, então, organizados em

disciplinas do ensino (então o saber sábio é de natureza transdisciplinar),

estruturados numa progressão e se integram nas propostas curriculares,

articulados logicamente, sem lacunas importantes.

Para tentar fazer do saber a ensinar um conjunto de conhecimentos

estruturados e acessíveis aos alunos, os especialistas são, às vezes,

obrigados a reescrever as definições e propriedades, repensar as

articulações lógicas e transformar certas demonstrações.

Podemos, assim, distinguir no texto do saber os objetos a ensinar e os

objetos de ensino:

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- Os objetos a ensinar na matemática são introduzidos explicitamente por

uma definição, seguida de demonstrações de propriedades a partir de

um certo nível, e do estudo sistemático das possibilidades do uso do

saber pelos alunos.

- Os objetivos de ensino do tipo: saber raciocinar, saber argumentar,

saber resolver problemas, não são sempre objetos do ensino explícito e

sistemático.

Esse conjunto de etapas constitui o segundo ato da transposição didática.

O saber escolar

Na realidade, o ensino se refere mais aos livros didáticos em vigor que aos

textos dos programas. Esses livros didáticos visam, geralmente, colocar

nas mãos dos alunos uma ferramenta de referência para pesquisas

eventuais. Fornecem ilustrações diversas, evitando aos professores a

consulta constante de seus arquivos ou biblioteca. É uma base de dados

para os exercícios de treinamentos e para os problemas complementares.

Enfim, os livros explicam um texto, expondo as noções do programa.

Esses manuais didáticos ressaltam um certo tipo de saber que contribui à

instalação de uma cultura particular nos alunos de uma mesma época.

Esse saber chama-se saber escolar. Sua elaboração é o terceiro ato da

transposição didática.

O saber ensinado

O quarto ato da transposição didática vem do professor. Nesse nível, o

professor vai gerenciar a transposição didática e adaptar os objetos a

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ensinar a seus conhecimentos próprios, inseri-los no saber escolar e

organizá-los no tempo.

O professor dispõe de variáveis didáticas que vão transformar a situação

de aprendizagem. Suas escolhas terão conseqüências sobre a percepção

do saber que os alunos vão desenvolver e as concepções que eles vão

forjar.

Os professores sabem que o saber ensinado não é retido pelo aluno, este

cumpre o quinto ato da transposição didática, isto é, a transformação do

saber ensinado em saber do aluno.

Esta interação entre professor e aluno, colocando em jogo o saber

transportado, é essencialmente a relação didática. Ela merece um exame

mais aprofundado, onde podemos colocar em evidência a dialética que

desempenha o papel motor na aprendizagem.

O professor deve proporcionar a devolução do ensino. Isso significa que o

professor deve responsabilizar o aluno por uma parte da aprendizagem, de

tal modo que esse aluno seja capaz de conduzir sua ação sem que o

professor o faça no seu lugar.

Neste último processo de transposição, o professor deve relacionar o saber

em jogo (saber novo) aos conhecimentos já adquiridos (pré-requisitos ou

pré-construídos, saberes antigos) pelos alunos, nos quadros onde eles têm

significado.

2.5.2 A teoria dos campos conceituais

Discutiremos, brevemente, a seguir, a teoria dos campos conceituais,

elaborada por Gerard Vergnaud, detendo-nos em alguns conceitos.

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Em linhas gerais, o objetivo da teoria dos campos conceituais consiste em

proporcionar um quadro teórico para as investigações sobre as atividades

cognitivas complexas, especialmente as que se referem aos aprendizados

científicos e técnicos. Trata-se de uma teoria psicológica do conceito, ou ainda, a

conceitualização do real, que permite localizar e estudar as filiações e as rupturas

que os estudantes fazem durante aquisição do conhecimento. Ela explicita,

também, a relação entre significados e significantes.

Define-se campo conceitual como um conjunto de situações cuja

apropriação requer o domínio de vários conceitos de naturezas diferentes. Por

exemplo, o campo conceitual das estruturas multiplicativas consiste em todas

aquelas situações que podem ser analisadas ou como problemas simples ou de

proporções inversas, ou ainda aquelas que precisam normalmente multiplicar ou

dividir.

As relações multiplicativas servem não somente a um conjunto de

composições numéricas (multiplicações, divisões, regras de três simples e

compostas, etc.) como igualmente à composição sobre as dimensões.

Embora essa definição de campo conceitual seja bastante clara, as

fronteiras cognitivas entre os campos conceituais não são necessariamente bem

definidas. Por exemplo, existe uma filiação entre as estruturas aditivas e

multiplicativas. A principal razão para tal é que há um severo corte no

conhecimento humano. Contudo, existe também especificidade suficiente nos

problemas cognitivos, que surgem ora através das estruturas aditivas ora das

estruturas multiplicativas, as quais nos permitem estudar esses campos

conceituais separadamente.

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Um conceito não pode ser reduzido à sua definição. O que nos interessa é

a sua aprendizagem e o seu ensinamento. Seu processo de elaboração

pragmática é essencial para a psicologia e a didática da matemática, como é

essencial para a história da ciência. O conhecimento racional é operatório ou não.

Podemos distinguir dois tipos de classes de situações:

1) aquelas em que o sujeito dispõe, em seu repertório, a um momento

dado de seu desenvolvimento e de suas circunstâncias, de

competências necessárias ao tratamento relativamente imediato à

situação;

2) aquelas em que o sujeito não dispõe de todas as competências

necessárias, obrigando-o a um tempo de reflexão, exploração,

hesitações e as tentativas, que ou o conduzem ao sucesso ou ao

fracasso.

O conceito de esquema é interessante para uma ou outra classe de

situações, mas não funciona da mesma maneira para os dois casos. No primeiro

caso, vamos observar, para uma mesma classe de situações, as condutas

largamente automatizadas, organizadas por um único esquema; no segundo

caso, vamos observar desencadeamento sucessivo de vários esquemas.

Para Vergnaud (1990), esquema é a organização invariante de conduzir

uma classe de situações dadas. Os esquemas investigam os conhecimentos-em-

ação do sujeito, isto é, os elementos cognitivos que permitem à ação do sujeito

ser operatória.

Outro conceito bastante importante dentro da teoria dos campos

conceituais é o de “teorema em ação” o qual está muito ligado ao conceito de

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esquemas, uma vez que costuma lhe preceder no processo da formação do

conceito.

Teorema-em-ação é definido por Vergnaud (1990) como relações

matemáticas levadas em consideração pelos estudantes quando estes escolhem

uma operação ou seqüência de operações para resolver um problema. Essas

relações não são normalmente expressas verbalmente por eles. Portanto,

teorema-em-ação não é um teorema no sentindo convencional do termo, pois não

é explícito. Ele está subjacente ao comportamento dos alunos e seu âmbito de

validade é local. Para estudar os comportamentos matemático dos alunos, é

necessário expressar os teoremas-em-ação em termos matemáticos.

Normalmente, observa-se que os estudantes usam teorema-em-ação em

domínios de contexto fáceis e de valores numéricos simples. No entanto, eles são

a primeira base intuitiva que os professores podem usar para estender e

formalizar os conceitos de seus alunos. Os professores podem ajudá-los a

explicitar os teoremas-em-ação e, assim, estender o uso dessas interrelações

para situações mais complexas.

Por fim, gostaríamos de apresentar algumas reflexões de Vergnaud (1990)

sobre a Educação Matemática, do ponto de vista epistemológico.

A epistemologia diz respeito a uma questão principal: o que é

conhecimento?

A partir dessa questão, Vergnaud sugere várias outras:

“Como o conhecimento é adquirido? Que papel a ação, a percepção, a

linguagem e o simbolismo têm no desenvolvimento e funcionamento do

conhecimento? Qual é a relação entre o conhecimento padronizado e a

resolução de problemas? E assim por diante”.(pp. 14)

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Há também questões epistemológicas específicas da matemática: que

tipos de objetos são inteiramente matemáticos? Existem tipos de objetos

diferentes? Qual é a relação entre a Matemática, as outras ciências, e os outros

campos da experiência humana? Em que sentido a Matemática tanto é um

conjunto de ferramenta quanto um conjunto de objetos?

Iremos dedicar a nossa atenção a um restrito conjunto de questões

epistemológicas que sejam centrais, tanto para o estudo do processo

aprendizagem-redescoberta-reinvenção na mente dos estudantes, quanto para a

história da Matemática: qual é a natureza e a função de um novo conceito, um

novo procedimento, um novo tipo de raciocínio, uma nova representação? Mais

precisamente, qual é a relação existente entre as novas competências e

concepções matemáticas e os problemas práticos e teóricos que as tornam

valiosas e significativas?

Esse tipo de pergunta é essencial para a escolha de situações feitas pelos

professores, visto que a identificação dos conceitos envolvidos e das

propriedades relevantes dos teoremas é crucial para a análise cognitiva das

tarefas e comportamentos – especialmente para a análise das novidades.

É também o tipo de questão epistemológica que dirige a investigação do

historiador quando ele tenta descobrir as circunstâncias históricas e sociais sob

as quais as invenções matemáticas emergiram. Há muito que ganhar a partir do

estudo interativo do processo individual e histórico do desenvolvimento do

conhecimento matemático. O estudo dos obstáculos vividos por matemáticos no

passado ajuda-nos a interpretar os erros hoje cometidos por nossos alunos; por

sua vez, os erros, dificuldades e concepções errônea dos alunos colocam luz

sobre o nosso entendimento da história da Matemática.

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O estudo da teoria dos campos conceituais entra em nosso trabalho em

dois momentos. O primeiro, quando julgamos importante analisar os

procedimentos que os alunos utilizam nas resoluções de situações-problema;

segundo, na formulação da seqüência de ensino, quando pensamos em criar

situações em que pudéssemos analisar o desenvolvimento de concepções e

competências dos alunos.

2.5.3 A noção de registros de representações

Existe uma preocupação muito grande entre os pesquisadores em

Educação Matemática com a aquisição do conhecimento, com a forma como se

processa a aprendizagem. Inicialmente, descreveremos a idéia do uso de

representações no ensino da matemática.

A matemática trabalha com objetos abstratos. Ou seja, os objetos

matemáticos não são diretamente acessíveis à percepção, necessitando para a

sua apreensão o uso de uma representação. Nesse caso, as representações,

através de símbolos, signos, códigos, tabelas, gráficos, algoritmos, desenhos são

bastante significativas, pois permitem a comunicação entre os sujeitos e as

atividades cognitivas do pensamento.

A definição de representação à qual Piaget se atém em todos os seus

trabalhos se limita a uma relação de objetos já vistos, familiares, mas

momentaneamente ausentes porque se encontram afastados. Ela constitui

essencialmente o ambiente próximo do indivíduo, o que é concreto.

Em “O Nascimento da Inteligência da Criança” (1937), Piaget recorreu à

noção de representação como “evocação dos objetos ausentes” para caracterizar

a transformação que marca o último dos estágios da inteligência sensório-motora.

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Em um longo artigo de 1941 sobre o “mecanismo do desenvolvimento mental”, ele

propõe esta definição a fim de explicar como a representação pode se formar em

continuidade com a atividade sensório-motora:

“A representação não é outra coisa, com efeito, senão que o esboço

motor interiorizado de ações que não têm necessidade de serem

efetuados materialmente e sucessivamente para se coordenar, mas

que ultrapassam a coordenação com a ajuda de seus sucedâneos

simbólicos”.(pp.231).

Em “A formação do Símbolo na Criança” (1978), Piaget retoma a mesma

definição da representação como “evocação dos objetos ausentes” e introduz a

idéia de uma função simbólica para relativizar a importância do aparecimento da

linguagem e de seu papel no desenvolvimento intelectual.

Nessa obra, Piaget procura desenvolver duas teses. A primeira: no terreno

do jogo e da imitação, pode-se acompanhar de maneira contínua a passagem da

assimilação e da acomodação sensório-motoras – os dois processos que

parecem essenciais na constituição das formas primitivas e pré-verbais da

inteligência – para a assimilação e a acomodação mentais que caracterizam os

inícios das representações. A representação começa quando há,

simultaneamente, diferenciação e coordenação entre “significantes” e

“significados”, ou significações. A segunda: interação das diversas formas de

representação. Há representação quando se imita um modelo ausente. Assim

acontece no jogo simbólico, na imaginação e até no sonho. Enfim, o sistema de

conceitos e relações lógicas supõe a representação, quer em suas formas

operatórias quer nas intuitivas.

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Vergnaud (1991) vai ao encontro de Piaget quando coloca que o

pensamento consiste, por sua vez, de operações conceituais e pré-conceituais

sobre os significados, e de operações simbólicas sobre os significantes. Estes

podem formar vários sistemas simbólicos distintos. É função do pensamento

buscar estabelecer vínculos entre os significantes e o significado.

Para Vergnaud (1998), a representação nos habilita a antecipar eventos

futuros e gerar comportamento para alcançar um pouco de efeito positivo ou

evitar algum negativo. As representações podem ser verdadeiras ou erradas,

vagas ou precisas, explícitas ou totalmente implícitas. O autor (1991) é enfático

ao afirmar que não se compreenderia o papel da representação se ela não viesse

como um reflexo da realidade, um instrumento de simulação desta e,

conseqüentemente, um meio para prever efeitos reais e calcular as ações que se

vão realizar.

Reproduziremos, a seguir, um esquema elaborado por Vergnaud, o qual

coloca de forma brilhante a relação entre representação e realidade:

REALIDADE ASPECTOS DA REALIDADE TRANSFORMAÇÕES EFEITOS

EM AÇOES

DIFERENTES NÍVEIS

REPRESENTAÇÃO CONCEITOS, PRÉ-CONCEITOS

DE DIFERENTES NÍVEIS OPERAÇÕES DO REGRAS

(ELEMENTOS, PROPRIEDADES, PENSAMENTO DE AÇÃO

CLASSES,ETC...) PREVISÕES

Portanto, esse esquema geral seria excessivamente simples se não se

colocassem imediatamente as seguintes idéias:

1. Não existe só uma representação e sim múltiplas representações, de

formas e níveis diferentes.

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2. Existem homomorfismos não só entre a realidade, por uma parte, e as

representações, por outras, como também entre as diferentes formas de

representações.

REALIDADE ASPECTOS DE DIFERENTES NÍVEIS

SIGNIFICADO CONCEITOS E PRÉ-CONCEITOS DE

REPRESENTAÇÃO DIFERENTES NÍVEIS

SIGNIFICANTE SISTEMA I SISTEMA III

SISTEMA II

O pensamento funciona de maneira excessivamente diferenciada, posto que

trabalha ao mesmo tempo em diferentes níveis (elementos, classes, relações,...) e

com a ajuda de diferentes sistemas simbólicos (linguagem natural, representação

imaginada, esquemas, etc.).

Há buracos importantes entre o que é representado na mente do indivíduo e o

usual significado das palavras (Vergnaud, 1998). Essa cartografia parcial faz para

a comunicação um tipo de milagre, pelo menos quando os indivíduos produzem

novas idéias.

Um conceito não é uma mera definição; refere-se a um jogo de situações,

envolve um jogo de invariantes operacionais diferentes, e suas propriedades

podem ser expressas através de representações lingüísticas e simbólicas

diferentes. Professores são mediadores e a parte deles consiste principalmente

em ajudar o aluno a desenvolver o seu repertório de esquemas e representações.

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2.5.4 O contrato didático

O contrato didático é importante em nosso trabalho no momento em que forem

aplicados o pré-teste e a seqüência, pois acreditamos que o relacionamento dos

alunos com a pesquisadora, os tipos de atividades propostas e o ambiente de

trabalho são alguns dentres os diversos fatores que podem influenciar no

aprendizado. Para o pré-teste, teremos uma ruptura do contrato didático adotado

pela escola tradicional, pois os alunos terão que resolver os problemas sem terem

conhecimento do conteúdo. A seqüência de ensino poderá, de forma geral,

provocar nos alunos insegurança em relação ao objetivo do ensino a ser

ministrado, o que pode ser explicada pela alteração do contrato didático.

Segundo Brousseau (1982), contrato didático é um conjunto de regras que

determinam o comportamento e as expectativas de alunos e professor em sala de

aula. Tais regras são freqüentemente implícitas, mas podem também ocorrer

explicitamente.

As resoluções tomadas pelo professor durante a aula, seu comportamento

frente às respostas dos alunos quando questionado ou seu modo de avaliar são

alguns aspectos que fazem parte de tal conjunto. As atitudes dos alunos perante

o comportamento do professor em relação ao saber ensinado também se incluem

neste contrato.

2.5.5 Zona de desenvolvimento proximal (ZDP)

A zona de desenvolvimento proximal, pressupõe que a experiência coletiva

contribui para a individual. Representa, ainda, a discrepância entre o que um

indivíduo consegue resolver por conta própria e o que resolve com auxílio de

alguém (diferença entre o nível de desenvolvimento real e o de desenvolvimento

potencial). Essa idéia será utilizada no momento em que acreditamos que o

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desenvolvimento da seqüência em dupla garanta um avanço na aprendizagem,

pois tem por finalidade explorar a cooperação entre indivíduos de ZDP(s)

provavelmente próximas, mas diferentes. Além disso, o professor também terá

por função, através da orientação e da solicitação de perguntas, contribuir para o

sucesso nesse desenvolvimento.

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METODOLOGIA

3.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo diz respeito à realização de nosso estudo experimental. Na

seção 1, serão apresentado o universo de estudo (seção 1), os sujeitos

participantes e o material utilizado nas duas seqüências: a elaborada por nós

(para o grupo experimental) e a proposta pela escola (grupo de referência). Na

seção 2, mostraremos o desenho do nosso experimento, bem como, a descrição

de uma análise prévia dos instrumentos diagnósticos e da seqüência elaborada

para o grupo experimental.

3.2 UNIVERSO DO ESTUDO

O nosso estudo será realizado com alunos de uma instituição da rede

particular de ensino do Estado de São Paulo, na cidade de Santos.

3.2.1 Os sujeitos

Este estudo será realizado com dois grupos: o grupo experimental e o grupo

de referência. Em relação ao grupo experimental, trabalharemos com 14 duplas

totalizando 28 sujeitos, todos pertencentes a uma mesma instituição, estudantes

da última série (8ª série) do Ensino Fundamental, idade aproximada de 14 anos

com a característica de não haverem realizado o estudo de análise combinatória.

A escolha do número de sujeitos foi de origem pragmática. Por um lado,

queríamos um grupo com cerca de 20 alunos para assemelhar-se a uma classe

de aula ideal; por outro lado, sabemos que é comum a perda de sujeitos ao longo

do experimento. Optamos, então, por 28 alunos para não nos distanciarmos muito

do número 20 e ao mesmo tempo termos uma “folga” para o caso da

“mortalidade” de sujeitos (seja por falta, mesmo que justificada, na seqüência,

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seja por desistência).

Já o grupo de referência será composto por uma turma da segunda série do

ensino médio, com idade aproximada de 16 anos, inicialmente constituída por 30

alunos da mesma instituição particular de ensino. Realizaremos o estudo de

análise combinatória através da abordagem tradicional apresentada nos livros

didáticos.

Ambos os grupos se submeterão a dois testes individuais: um, antes de

serem introduzidos no ensino de análise combinatória; outro, após o contato com

esse conteúdo. Consideraremos para a análise dos resultados, em relação aos

dois grupos, somente aqueles que participarem do estudo completo (pré-teste,

seqüência e pós-teste).

Vale a pena ressaltar que os dois grupos são semelhantes em todos os

aspectos, exceto em relação à variável que vamos estudar (abordagem didática)

e à idade. Na escolha dos dois grupos, procuramos alunos que tivessem

desempenho escolar semelhante e fossem semelhantes também quanto ao

gênero (turmas mistas). Para nos certificarmos de que os dois grupos

apresentavam o mesmo desempenho escolar, fizemos uma entrevista com a

professora de matemática que trabalha com as duas turmas e a direção. Além

disso, analisamos o histórico escolar dos grupos e pudemos constatar que ambos

apresentavam, em média, um rendimento satisfatório. Logo, quanto ao

rendimento escolar, teremos, distribuídos eqüitativamente, nos dois grupos,

alunos considerados excelentes, médios e insatisfatórios em matemática.

Para o grupo experimental, a aplicação dessa seqüência será realizada em

horário extra-aula, num total de sete encontros de aproximadamente 60 minutos

cada, o que equivale, na escola, a uma média de 8 horas/aula. A aplicação desta

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seqüência será realizada em duplas, sendo que o atendimento será feito

coletivamente em uma sala de aula.

Com relação ao grupo de referência, composto por uma turma de sala de

aula, o trabalho será desenvolvido conforme determinado pela escola. As aulas

serão realizadas em horário normal durante seis segundas-feiras, totalizando 12

horas/aula. Estas aulas serão ministradas pela pesquisadora, a fim de se certificar

de que todo o planejamento referente a esse conteúdo será cumprido, além de

observar mais de perto os alunos em relação aos questionamentos, o

procedimento de resolução e a participação em aula.

O conteúdo para esse grupo será o do ensino tradicional, adotando-se todo

o contexto do livro didático usado pela escola. Aqui a pesquisadora terá a

preocupação de dar essas aulas da melhor maneira possível a fim de que não

haja dúvida em relação aos resultados obtidos. Embora muitos pesquisadores

prefiram deixar com a própria professora o trabalho de ministrar o conteúdo para

o grupo de referência, alegando ser essa a forma mais imparcial de proceder

nesse tipo de experimento, cremos que durante o desenvolvimento do conteúdo

algumas observações importantes poderiam ficar obscuras, o que deixaria a

nossa análise de resultado carente de muitas informações e explicações.

3.2.2 Material

Para a realização da nossa seqüência com o grupo experimental, faz-se

necessário o uso dos seguintes materiais: papel, lápis. borracha, calculadora,

fichas de atividades e materiais concretos, descritos em seção posterior. Quanto

ao grupo de referência, o material utilizado será o livro didático adotado pela

escola, além do material básico, como lápis, borracha e caderno. Embora não

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seja hábito da escola, forneceremos calculadora a esse grupo. Assim, os dois

grupos poderão fazer uso da calculadora, quando estiverem resolvendo os testes.

3.3 DESENHO GERAL DO EXPERIMENTO

Nosso experimento incluirá duas fases, a fase dos instrumentos

diagnósticos (testes) e a fase da seqüência de ensino para o grupo experimental.

3.3.1Fase dos instrumentos diagnósticos

Essa fase envolverá a aplicação de dois testes. O primeiro (teste inicial ou

pré-teste) será composto de 10 questões sobre Análise Combinatória, distribuídas

das seguintes maneiras: 9 questões básicas (nos moldes apresentados pelos

livros didáticos e nos vestibulares) e uma questão de conceitualização. O teste

será aplicado com a finalidade de fazer uma sondagem sobre os conhecimentos

prévios dos alunos e as possíveis estratégias utilizadas por eles. Vale ressaltar

que os alunos dos dois grupos serão submetidos ao teste sem ainda haverem

estudado análise combinatória. O segundo, pós-teste, seguirá os moldes do

primeiro. Isso significa que o pós-teste terá a equivalência matemática

cuidadosamente respeitada em relação ao pré-teste . Este segundo teste será

aplicado após o encerramento da seqüência.

A aplicação do pós-teste será complementada por entrevista, quando a

resposta do aluno não estiver clara para a pesquisadora. Nesse caso, a entrevista

acontecerá imediatamente após a aplicação do instrumento.

3.3.2 Fase da seqüência de ensino

A seqüência de ensino para o grupo experimental será realizada em 7

encontros, com duração média de aproximadamente 60 minutos, em horário

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extra-aula, como já comentamos na seção 3.2.1. Trabalharemos toda a seqüência

de ensino em duplas, pois, segundo Maury e Fayol (1986), surge um efeito

positivo, durante o aprendizado, através dessa interação social. As duplas serão

formadas por afinidades. Pretendemos formar pares homogêneos (menino e

menino ou menina e menina) e mistos. Essas atividades serão apresentadas em

forma de fichas, sendo que em cada sessão será trabalhada uma ficha. As fichas

apresentarão as situações-problema.

Como a proposta da nossa pesquisa é estudar uma forma significativa de

introduzir análise combinatória, partiremos de situações-problema que envolvam

contagem direta. A seguir, confrontaremos os alunos com situações-problema que

envolvam o princípio fundamental de contagem e só depois buscaremos a

institucionalização do conceito, apresentando, nesse momento, a nomenclatura

de cada agrupamento sem as respectivas fórmulas. Após cada ficha, os alunos

levarão alguns problemas para serem resolvidos em casa, de maneira a lhes

permitir maior interação com o objeto de estudo.

Por estarmos preocupados com a formação do conceito e não com o

treinamento de algoritmos, durante o processo de aprendizagem pretendemos

usar calculadora para facilitar a resolução de problemas. Além disso, como já foi

dito anteriormente, lançaremos mão do uso de materiais concretos para algumas

atividades.

Objetivando possibilitar uma analise mais rica do processo interacional

ocorrido no interior das duplas, e destas com a pesquisadora, iremos gravar

alguns pares e video-gravar um outro, escolhidos aleatoriamente.

Assim sendo, elaboraremos a seqüência da seguinte forma:

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- 1º ENCONTRO: SITUAÇÕES-PROBLEMA QUE POSSIBILITEM O USO DA CONTAGEM DIRETA E INDUZAM OS

ALUNOS AO PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO.

- 2º ENCONTRO: SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM.

- 3º ENCONTRO: CONTINUAÇÃO DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS VOLTADOS PARA O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA

CONTAGEM.

- 4º ENCONTRO: SITUAÇÕES-PROBLEMA ONDE O PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO NÃO É APLICÁVEL E

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA ÁRVORE DE POSSIBILIDADES COMO REPRESENTAÇÃO DE CONTAGEM.

- 5º E 6º ENCONTROS: CLASSIFICAÇÃO DE PROBLEMAS. DADO UM PROBLEMA RECONHECER AS CARACTERÍSTICAS

QUE PERMITEM DIFERENCIAR ARRANJO DE COMBINAÇÃO.

- 7º ENCONTRO: INSTITUCIONALIZAÇÃO DE ARRANJO, PERMUTAÇÃO E COMBINAÇÃO.

Quadro 3.1: Apresentação da seqüência de ensino do grupo experimental.

A seguir, mostraremos, de forma geral, como será desenvolvida a

seqüência do grupo de referência, sumarizando a quantidade de encontros. Para

este grupo, será seguido o planejamento da escola e os encontros serão

realizados em aulas duplas de 50 minutos cada, conforme as condições citadas

na seção 3.2.1.

- 1º ENCONTRO: FATORIAL, PROBLEMAS DE CONTAGEM E PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM

- 2º ENCONTRO: EXERCÍCIOS REFERENTES AO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM

- 3º ENCONTRO: ARRANJO SIMPLES, FÓRMULA DOS ARRANJOS SIMPLES E EXERCICIOS

- 4º ENCONTRO: COMBINAÇÃO SIMPLES, FÓRMULAS DAS COMBINAÇÕES SIMPLES E EXERCÍCIOS

- 5º ENCONTRO: PERMUTAÇÃO SIMPLES, PERMUTAÇÃO COM ELEMENTOS REPETIDOS E EXERCÍCIOS

- 6º ENCONTRO: EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Quadro 3.2: Apresentação da seqüência do grupo de referência

3.3.3 Análise prévia dos instrumentos diagnósticos

A análise dos instrumentos diagnósticos será iniciada pelo pré-teste,

seguida da análise do pós-teste.

3.3.3.1 Pré-teste

Inicialmente, informaremos aos alunos que não haverá nota e que o teste

tem a finalidade de informar a pesquisadora o que eles pensam sobre um assunto

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que a escola ainda não lhes ensinou. Também deixaremos bem claro que nossa

intenção é tentar encontrar um bom caminho para o ensino desse conteúdo,

baseando-nos nas resoluções apresentadas pelos alunos. Acreditamos que,

dessa forma, os alunos poderão expressar mais livremente suas idéias, sem a

preocupação de que essa expressão resultaria em um conceito negativo no seu

desempenho escolar. Estimularemos o máximo possível a justificativa de suas

respostas, de forma que possamos identificar com maior clareza os conceitos que

esses alunos possuem sobre raciocínio combinatório.

A seguir, apresentaremos as questões do pré-teste, acompanhadas do

objetivo, de uma análise a priori e de possíveis procedimentos de resolução.

QUESTÃO 1: JOÃO ESCOLHEU SEIS NÚMEROS PARA FAZER O JOGO DA SENA, CONFORME

CARTÃO ABAIXO:

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

41 42 43 44 45 46 47 48 49 50

PERGUNTA-SE:

A)QUANTAS QUINAS DIFERENTES ELE PODERIA FORMAR COM ESSES NÚMEROS?

B)QUANTAS QUADRAS DIFERENTES ELE PODERIA FORMAR COM ESSES NÚMEROS?

JUSTIFIQUE CADA RESPOSTA, SABENDO QUE A ORDEM EM QUE OS NÚMEROS SERÃO SORTEADOS

NÃO TEM IMPORTÂNCIA.

OBS: QUINA – SÉRIE DE CINCO NÚMEROS NO CARTÃO DA SENA

QUADRA – SÉRIE DE QUATRO NÚMEROS NO CARTÃO DA SENA

Essa questão objetiva analisar se os alunos apresentam algum raciocínio

combinatório e se se utilizam de registros de representações.

Por ser uma questão fácil de ser desenvolvida de forma intuitiva, o que

chamamos de princípio de contagem direta, os alunos poderão demonstrar a

existência dos subconjuntos dos elementos do conjunto finito, satisfazendo as

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condições dadas, através de um processo de tentativas e erros. Aqui temos uma

questão aberta, sem indicação do método de resolução que deverá ser aplicado.

Acreditamos que a maioria dos alunos resolverá o item “a” de forma intuitiva,

através de tentativas e percebendo que a ordem dos elementos não seria

essencial; quanto ao item “b”, alguns alunos o resolverão também por tentativa e

erro, mas pode ser que não cheguem ao total de possibilidades, pois o método é

muito trabalhoso, e há dificuldade em se encontrar um procedimento que os leve

a todas as possibilidades. Também poderão aparecer algumas respostas sem o

raciocínio combinatório, como, por exemplo, o aluno apontar que pode se formar

apenas uma quina e uma quadra, não utilizando a combinação dos números.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) CONTAGEM DIRETA:

A) 07 – 14 – 18 – 26 – 33 07 – 14 –26 – 33 - 38

07 – 14 – 18 – 26 – 38 07 – 26 – 18 – 33 - 38

07 – 14 – 18 – 33 – 38 14 – 18 – 26 – 33 – 38

B) 07 – 14 – 18 – 26 07 – 26 – 33 –38 07 – 18 – 26 – 38

07 – 14 – 18 – 33 14 – 18 – 26 – 33 18 – 26 – 33 – 38

07 - 14 - 18 – 38 14 – 18 – 26 – 38 07 – 14 – 33 – 38

07 – 14 - 26 – 33 14 – 26 – 33 – 38 07 – 18 – 33 – 38

07 – 14 – 26 – 38 07 – 18 – 26 – 33 14 – 18 – 33 -38

2 ª) USANDO O PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO E DIVIDINDO PELO NÚMERO DE PERMUTAÇÕES QUE SÃO

IGUAIS.

A) (6 . 5 . 4 . 3 .2 ) : ( 5. 4 . 3 .2 .1) = 6 : 1 = 6

B) (6 . 5 . 4 . 3) : ( 4 . 3 . 2 . 1) = 30 : 2 = 15

3 ª) USANDO A FÓRMULA DE COMBINAÇÃO:

C 6,5 = 6! : (5! . 1!) = (6. 5!) : (5! . 1) = 6 : 1 = 6

C 6,4 = 6! : (4! . 2!) = (6. 5 .4!) : (4! . 2 . 1) = 30 : 2 = 15

RESPOSTA : ELE APOSTOU EM 6 QUINAS E 15 QUADRAS.

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Nossa expectativa será de que nenhum aluno use os dois últimos

procedimentos de resolução, pois ainda não houve contato com o conteúdo

análise combinatória.

QUESTÃO 2: EXISTEM APENAS DOIS MODOS DE ATINGIR A CIDADE DANONE PARTINDO DA CIDADE

ARAGUAIA. UM DELES É IR ATÉ A CIDADE INTERMEDIÁRIA BANANAL E DE LÁ ATINGIR DANONE, E OUTRO É

IR ATÉ A CIDADE CANAVIAL E DE LÁ CHEGAR A DANONE.

EXISTEM 10 ESTRADAS LIGANDO ARAGUAIA A BANANAL; 12 LIGANDO BANANAL A DANONE; 5 LIGANDO

ARAGUAIA A CANAVIAL; 8 LIGANDO CANAVIAL A DANONE; NENHUMA ESTRADA ENTRE BANANAL E CANAVIAL

E NENHUMA ESTRADA ENTRE ARAGUAIA E DANONE.

PARTINDO DE ARAGUAIA, QUANTOS PERCURSOS DIFERENTES PODEM SER FEITOS PARA CHEGAR A

DANONE. JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.

Nesta questão, ainda temos como objetivo analisar se os alunos

apresentarão raciocínio combinatório e se levantarão alguns dos diversos

registros de representação.

A questão é dividida em duas etapas: a primeira, em que é necessário

calcular o número de percursos diferentes, usando cada cidade intermediária; a

segunda, em que se junta o total de percursos em relação às duas cidades

intermediárias.

Na primeira etapa, os alunos terão que perceber a situação de

correspondência de “um para muitos”3, e na segunda etapa será necessário o

entendimento de que existem dois conjuntos disjuntos e que há necessidade de

uni-los, fazendo a adição dos elementos.

Consideramos esse problema mais difícil que o anterior, pois requer dos

alunos mais interpretação, principalmente por causa do enunciado longo e pouco

familiar. Nossa expectativa é que haja alguns acertos, se bem que em menor

3Segundo Nunes, “um-para-muitos” refere-se a um termo usado para distinguir um tipo de situaçãomultiplicativa. A correspondência de um-para-muitos é a base para um novo conceito matemático, oconceito de proporção. Alguns exemplos cotidianos dessa correspondência são: um carro tem quatro rodas(1-para-4)... . (Nunes e Bryant, 1997)

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quantidade que o problema 1. É possível que certos alunos utilizem o princípio

multiplicativo e aditivo, de forma intuitiva, para resolver o problema apresentado.

É provável, ainda, que outros alunos utilizem a estratégia de diagrama ou

desenho para representar as cidades e as estradas. Com a utilização dos

princípios multiplicativo e aditivo, podem aparecer resoluções errôneas, como

mostraremos a seguir:

A → C = 8 ESTRADAS ; C → X = 5 ESTRADAS , LOGO TEMOS 8 + 5 ESTRADAS PARA CHEGAR A X.

A → B = 10 ESTRADAS; B → X = 12 ESTRADAS, LOGO TEMOS 10 + 12 ESTRADAS PARA CHEGAR A X.

TEMOS 13 POSSIBILIDADES PASSANDO PELA CIDADE C E MAIS 22 POSSIBILIDADES PASSANDO PELA CIDADE

B, DANDO UM TOTAL DE 35 POSSIBILIDADES.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) PARA CADA ESTRADA QUE LIGA A E B, TEMOS 12 POSSIBILIDADES PARA CHEGAR À CIDADE X.

COMO SÃO 10 ESTRADAS LIGANDO A E B, ENTÃO TEMOS 10 . 12 POSSIBILIDADES, SAINDO DE A

PASSANDO POR B E CHEGANDO A X.

TEMOS UM RACIOCÍNIO ANÁLOGO PARA SAIR DE A, PASSAR POR C E CHEGAR A X. ENTÃO, TEMOS

58 POSSIBILIDADES. SOMANDO OS DOIS RESULTADOS, TEMOS O NÚMERO DE PERCURSOS DIFERENTES QUE

PODEM SER FEITOS PARA ATINGIR X PELA PRIMEIRA VEZ, PARTINDO DE A.

( 10 . 12) + (5 . 8) = 120 + 40 = 160.

2ª) ATRAVÉS DE ESQUEMA

A 10 B 12 X = 120

A 8 C 5 X = 40

120 + 40 = 160

3ª) USANDO A FÓRMULA

C10, 1 . C12,1 + C5,1 . C 8,1 =

= [10! :(9! . 1!)] . [ 12! :(11! . 1!)] + [5! : (4! .1!)] . [8! : (7! . 1!)] =

= 10 .12 + 5 . 8 = 120 + 40 = 160

RESPOSTA: PODEM SER FEITOS 160 PERCURSOS DIFERENTES PARA ATINGIR A CIDADE X, SAINDO

DE A.

Esperamos que o terceiro procedimento não venha a ser usado por

nenhum aluno, visto que os discentes ainda não tiveram contato com as fórmulas

de análise combinatória. A possibilidade de o aluno lançar mão de algum

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procedimento de esquema é grande, embora saibamos que a escola não

privilegia tal procedimento.

Considerando que este pré-teste será aplicado para alunos que não

estudaram análise combinatória, temos por hipótese que o percentual de acerto a

partir da terceira questão será zero ou próximo disso, pois a possibilidade de

acerto por manipulação direta (contagem) é quase impossível. Pensando em

manter a equivalência matemática entre as questões dos testes, as próximas

perguntas estão voltadas principalmente para o pós-teste. Porém, estamos

interessadas em investigar qual estratégia o aluno usará diante de questões que

envolvem o conceito de combinatória, as quais requerem o uso do princípio

fundamental da contagem, a interpretação de ordem ou de elementos repetidos,

sabendo que esse aluno ainda não estudou formalmente análise combinatória.

Pretendemos, então, observar se os alunos apresentarão alguma estimativa de

resultado, usando o processo de tentativa e erro, e/ou se buscarão o auxílio da

visualização através da construção de esquemas e/ou diagramas.

QUESTÃO 3: DE QUANTOS MODOS PODEMOS DISTRIBUIR 8 PRESENTES PARA 8 PESSOAS, DANDO UM

PRESENTE PARA CADA UM? E OITO PRESENTES PARA SEIS PESSOAS, SABENDO QUE CADA PESSOA

RECEBERÁ APENAS UM PRESENTE?

Nosso objetivo continua o mesmo: analisar se os alunos apresentarão

raciocínio combinatório, observando sua capacidade de interpretação e se eles

farão uso do princípio multiplicativo.

Visto que os alunos ainda não aprenderam Análise Combinatória, é

possível que alguns utilizem o processo aditivo (somando 8 + 8, no caso do item

“a”) ou, ainda, o princípio relacionado à multiplicação direta. Isto é, multipliquem 8

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pessoas vezes 8 presentes, totalizando 64 combinações. Ou ainda teremos

alunos que utilizarão a divisão, mostrando que cada pessoa irá receber 1

presente para o item a e para o item b que cada pessoa receberá 1 presente e

sobram dois, pois o significado de distribuir, para eles, é dividir. Por motivos

óbvios, prevemos, ainda, que nenhum aluno resolverá o problema através da

fórmula de permutação simples, a qual apresentaremos no segundo procedimento

de resolução.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) 1ª PESSOA - 8 POSSIBILIDADES DE PRESENTES

2ª PESSOA – 7 POSSIBILIDADES DE PRESENTES

3ª PESSOA – 6 POSSIBILIDADES DE PRESENTES

4ª PESSOA – 5 POSSIBILIDADES DE PRESENTES

5ª PESSOA – 4 POSSIBILIDADES DE PRESENTES

6ª PESSOA – 3 POSSIBILIDADES DE PRESENTES

7ª PESSOA – 2 POSSIBILIDADES DE PRESENTES

8ª PESSOA – 1 POSSIBILIDADE DE PRESENTE

PORTANTO, TEMOS 8 X 7 X 6 X 5 X 4 X 3 X 2 X 1 = 40 320.

1ª PESSOA – 8 POSSIBILIDADES E ASSIM POR DIANTE ATÉ A SEXTA PESSOA

TEMOS 8 X 7 X 6 X 5 X 4 X 3 = 20 160

2ª) RESOLUÇÃO ATRAVÉS DE PERMUTAÇÃO SIMPLES:

P8 = 8! = 8 X 7 X 6 X 5 X 4 X 3 X 2 X 1 = 40 320

P6 = 6! = 8 X 7 X 6 X 5 X 4 X 3 = 20 160

RESPOSTAS: TEMOS 40 320 MODOS DIFERENTES PARA DISTRIBUIR 8 PRESENTES PARA 8

PESSOAS E 20 160 MODOS DIFERENTES PARA DISTRIBUIR 8 PRESENTES PARA SEIS PESSOAS.

QUESTÃO 4 : QUANTOS ANAGRAMAS PODEMOS FORMAR COM A PALAVRA FAZER? E COM A PALAVRA

PRATA? TEMOS A MESMA QUANTIDADES DE ANAGRAMAS PARA AS DUAS PALAVRAS? JUSTIFIQUE SUA

RESPOSTA.

ANAGRAMA: É UMA SENHA (OU CÓDIGO) FORMADA POR TODAS AS LETRAS DE UMA PALAVRA (SEM

REPETIÇÃO A NÃO SER QUE A PALAVRA TENHA LETRA REPETIDA), PODENDO OU NÃO TER SIGNIFICADO NA

LÍNGUA PORTUGUESA. (EXPRESSÃO MATEMÁTICA, 5ª SÉRIE, S.P., 1994)

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Nosso objetivo consiste em diferenciar permutação simples de permutação

com repetição.

Os conceitos multiplicação e divisão se fazem de grande importância para

a resolução correta da questão. Este é um tipo de problema fechado onde os

alunos têm pouca autonomia. Se fosse através de tentativas e erros, a resolução

se tornaria exaustiva, o que muito provavelmente não os faria construir todas as

possibilidades. Alguns alunos poderão dar uma solução numérica, sem justificá-la,

o que a nosso ver é apenas uma tentativa de “chute”.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) MÉTODO INTUITIVO, ONDE OS ALUNOS CRIARÃO NOVAS PALAVRAS

FAZRE, REFAZ, .....

PARTA, ATARP, ....

A PALAVRA FAZER TEM MAIS ANAGRAMA QUE A PALAVRA PRATA.

2ª) A) 1ª LETRA = 5 POSSIBILIDADES

2ª LETRA = 4 POSSIBILIDADES ...

PELO PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO TEMOS 5 X 4 X 3 X 2 X 1 = 120

B) 1ª LETRA = 5 POSSIBILIDADES ...

PELO PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO TEMOS 5 X 4 X 3 X 2 X 1 = 120 E DIVIDE POR 2 QUE É A

QUANTIDADE DE PERMUTAÇÃO DA LETRA A QUE APARECE DUAS VEZES, DANDO UMA REPOSTA DE

60 ANAGRAMAS.

PODEMOS VERIFICAR ATRAVÉS DOS RESULTADOS QUE A PALAVRA FAZER TEM MAIS ANAGRAMAS

QUE A PALAVRA PRATA.

3ª) A) P 5 = 5! = 120

B) 5! : 2! = 60

RESPOSTA: TEMOS 120 ANAGRAMAS DA PALAVRA FAZER E 60 ANAGRAMA PARA A PALAVRA

PRATA.

QUESTÃO 5: UMA FÁBRICA DE PERFUMES PRODUZ 10 TIPOS DE ESSÊNCIAS DISTINTAS. A FIM DE

CONSEGUIR NOVAS ESSÊNCIAS, RESOLVEU ESCOLHER 3 DELAS, AO ACASO, E MISTURÁ-LAS EM

QUANTIDADES IGUAIS. QUANTAS NOVAS ESSÊNCIAS SERÃO OBTIDAS PELA FÁBRICA?

IMAGINE AGORA QUE, QUANDO ESCOLHIDAS AS 3 ESSÊNCIAS, ELAS SEJAM MISTURADAS, MAS EM

QUANTIDADES DIFERENTES: 20% DA PRIMEIRA, 30% DA SEGUNDA E 50% DA TERCEIRA. QUANTAS

NOVAS ESSÊNCIAS SERÃO OBTIDAS DESSA FORMA?

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Nesta questão, temos por objetivo analisar a capacidade de interpretação

dos alunos, onde eles poderão observar as situações em que se deve ou não

considerar a ordem dos elementos. Também observaremos se fazem uso do

princípio multiplicativo.

Os conhecimentos de que os alunos precisarão, nesta questão, são os

conceitos de seqüência e conjunto. Tais conceitos servem para que registrem os

casos possíveis, analisando quando a ordem é ou não importante. Também serão

necessários os conhecimentos de multiplicação e divisão. Talvez possa existir

alguma dificuldade nessa questão.

Quanto aos alunos que não fizerem uso do raciocínio combinatório, pode

ser que se utilizem da multiplicação 10 por 3, dando um resultado de 30

essências, ou somem as porcentagens. Poderá acontecer de colocarem uma

solução numérica qualquer e não a justificar.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) USANDO CONTAGEM DIRETA

E1, E2, E3 ; E1, E2, E4 .... PARA AS MISTURAS EM QUANTIDADE IGUAIS, DEVEMOS ELIMINAR AS

TERNAS IGUAIS COMO EXEMPLO, TEMOS QUE E1, E2, E3 É A MESMA MISTURA QUE E2, E3, E1, E É

A MESMA QUE E3, E2, E1. ENTÃO, CONSIDEREMOS ESTAS TRÊS MISTURAS SENDO APENAS UMA.

PARA AS MISTURAS DE QUANTIDADES DIFERENTES DEVEREMOS CONSIDERAR TODAS AS TERNAS.

2ª) USANDO O PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO:

PARA AS MISTURAS COM A MESMA QUANTIDADE TEMOS 10 X 9 X 8 E DIVIDE POR 6 (PERMUTAÇÃO

DAS TERNAS QUE SÃO IGUAIS)

PARAS AS MISTURAS COM QUANTIDADES DIFERENTES, FAZEMOS 10 X 9 X 8

3ª) USANDO AS FÓRMULAS:

MISTURAS COM MESMA QUANTIDADE: C10,3 = 10! : (3! . 7!) = 120

MISTURAS COM QUANTIDADES DIFERENTES: A 10,3 = 10! : 7! = 720

RESPOSTA: MISTURANDO AS ESSÊNCIAS EM QUANTIDADES IGUAIS, OBTEMOS 120 ESSÊNCIAS

NOVAS E MISTURANDO AS ESSÊNCIAS EM QUANTIDADES DIFERENTE, OBTEMOS 720 ESSÊNCIAS

NOVAS.

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QUESTÃO 6: DNA MARTA TEM UMA MALA CUJO SEGREDO É CONSTITUÍDO POR 4 LETRAS DO NOSSO

ALFABETO (26 LETRAS), SEGUIDO DE DOIS ALGARISMOS DISTINTOS DE 0 A 9. CASO LHE ROUBEM A MALA,

QUAL O NÚMERO MÁXIMO DE TENTATIVAS DIFERENTES QUE PODERÁ SER NECESSÁRIO FAZER PARA ABRIR

A MALA?

SUPONDO QUE AS LETRAS TEM QUE SER DISTINTAS E OS ALGARISMOS TAMBÉM, QUAL O NUMERO MÁXIMO

DE TENTATIVAS? JUSTIFIQUE SUAS RESPOSTAS.

Temos como objetivo diferenciar arranjo simples e arranjo com

repetição e observar a capacidade de interpretação dos alunos.

Para desenvolver o problema, os alunos precisarão do conceito de

multiplicação.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) CONTAGEM DIRETA

AAA00; AAA01; ....

2ª) PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO

26 X 26 X 26 X 10 X 10 = 1757600

26 X 25 X 24 X 10 X 9 = 1404000

3ª) USANDO FÓRMULAS

AR 26,3 . AR 10,2 = 26 3 X 10 2 = 1757600

A 26,3 . A 10,2 = (26! : 23!) X (10! : 8!) = 140400

RESPOSTA: O NÚMERO MÁXIMO DE TENTATIVAS PARA O PRIMEIRO CASO É 1757600 E PARA O

SEGUNDO CASO, 1404000.

QUESTÃO 7: MARCOS POSSUI DOIS CDS DOS BEATLES, QUATRO DOS ROLLING STONES E TRÊS DO

DIRE STRAITS. DE QUANTAS MANEIRAS DIFERENTES MARCOS PODE COLOCÁ-LOS NUM PORTA CD, DE

MODO QUE OS CDS DO MESMO CONJUNTO FIQUEM JUNTOS?

Nosso objetivo é levantar os diversos registros de representação

apresentados pelos alunos.

Nessa questão, faz-se necessário que os alunos percebam que temos a

ação composta por duas etapas. A primeira etapa, como colocar os dois CDs dos

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Beatles, os quatro dos Rolling Stones e os três do Dire Straits; a segunda como

colocar cada coleção, o primeiro do Dire Straits e assim por diante. Para isto será

necessário o conhecimento dos conceitos de seqüência e multiplicação.

Vislumbramos a possibilidade de alguns alunos tentarem resolver a

questão por tentativas e erro, interpretando apenas uma etapa da resolução.

Tomamos quase por certo que nenhum estudante usará o princípio fundamental

da contagem como procedimento de resolução.

Possíveis procedimentos de resolução

1ª) USANDO A CONTAGEM DIRETA

CD1B CD2B CD1RL CD2RL CD3RL CD4RL CD1DS CD2DS CD3DS

CD2B CD1B CD1RL CD2RL CD3RL CD4RL CD1DS CD2DS CD3DS...

2ª) USANDO O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL

BEATLES ROLLING STONES DINE STRAITS

2 X 1 X 4 X 3 X 2 X 1 X 3 X 2 X 1 = 288

6 . BEATLES DINE STRAITS ROLLING STONES = 288 ...

= 6 X 288 = 1728

3ª) USANDO FÓRMULAS

P2 . P4 . P3 = 6 X 2! X 4! X 3! = 6 X 2 X 1 X 4 X 3 X 2 X 1 X 3 X 2 X 1 = 1728

RESPOSTA EXISTEM 1728 MANEIRAS DE ARRUMAR OS CDS.

QUESTÃO 8: UMA AGÊNCIA DE PROPAGANDA VAI CRIAR O NOME DE UM NOVO PRODUTO FAZENDO

ANAGRAMAS A PARTIR DA PALAVRA BONECA.

A)SABENDO QUE A SÍLABA NE TERÁ QUE APARECER, DESCUBRA QUANTOS ANAGRAMAS SÃO

POSSÍVEIS?

b)Sabendo que começa por consoante e termina por vogal,

descubra quantos anagramas são possíveis.

Temos como objetivo trabalhar com permutação, colocando

certas condições e analisando a capacidade de interpretação dos

alunos.

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No item “a”, será preciso que os alunos percebam que a sílaba NE vai

corresponder a uma letra. No item “b”, será preciso que eles observem que para

cada consoante colocada no início do anagrama, temos 3 possibilidades para

terminar.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) PRINCÍPIO FUNDAMENTAL

NE _ _ _ _ 4 X 3 X 2 X 1 = 24

_ NE _ _ _ = 24

_ _ NE _ _ = 24

_ _ _ NE _ = 24

_ _ _ _ NE = 24

24 + 24 + 24 + 24 + 24 = 5 X 24 = 120

B) CONSOANTE _ _ _ _ VOGAL

9 X 4 X 3 X 2 X 1 = 216

2ª) USANDO FÓRMULAS

5 X P4 = 5 X 4! = 120

9 X P4 = 9 X 4! = 216

RESPOSTA: APARECENDO A SÍLABA NE, TEMOS 120 ANAGRAMAS; COMEÇANDO POR CONSOANTE E

TERMINANDO POR VOGAL, TEMOS 216 ANAGRAMAS.

QUESTÃO 9: MARCAM-SE CINCO PONTOS SOBRE UMA RETA R. SOBRE UMA OUTRA RETA S, PARALELA À

R, MARCAM-SE MAIS QUATRO PONTOS. QUANTOS TRIÂNGULOS PODEM SER FORMADOS COM VÉRTICE EM

TRÊS QUAISQUER DESSES PONTOS?

O objetivo, nesta questão, é levantar os diversos registros de interpretação

utilizadas pelos alunos e o raciocínio combinatório.

Este problema requer dos alunos conhecimentos adicionais tais como: as

definições de retas paralelas e triângulo, além da lembrança de que a construção

de um triângulo é feita através de três pontos não colineares. Precisarão ainda

dos conceitos de multiplicação e divisão.

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É necessário os alunos compreenderem que não basta somar todos os

pontos pertencentes as duas retas e fazer uma combinação três a três. Terão que

perceber que unindo três pontos de uma mesma reta não construirão um

triângulo.

Referente a esta questão, acreditamos que a idéia inicial do aluno será

construir as duas retas, marcar os pontos e construir alguns triângulos, ou iniciar a

construção dos triângulos na reta r, indo para s, esquecendo que também poderia

começar da reta s em direção à r.

Possíveis procedimentos de resolução:

1ª) PRINCÍPIO MULTIPLICATIVO

SOMAMOS OS NÚMEROS DE PONTOS PERTENCENTES AS DUAS RETAS E A SEGUIR FAZEMOS A COMBINAÇÃO

DOS 9 PONTOS 3 A 3. DEPOIS DEVEMOS SUBTRAIR DESSE NÚMERO AS COMBINAÇÕES FORMADA POR 3

PONTOS ESCOLHIDOS ENTRE OS 5 PONTOS DA PRIMEIRA RESTA E OS 4 PONTOS DA SEGUNDA RETA, POIS

ESTA COMBINAÇÕES NÃO REPRESENTAM TRIÂNGULOS.

(9 X 8 X 7) : ( 3 X 2 X 1) = 84

(5 X 4 X 3) : ( 3 X 2 X 1) = 10

(4 X 3 X 2) : ( 3 X 2 X 1) = 4

TEMOS: 84 – 10 – 4 = 70

2ª) USANDO FÓRMULA

C9,3 – C5,3 – C 4,3 = 70

RESPOSTA: PODEM SER FORMADOS 70 TRIÂNGULOS.

QUESTÃO 10: TEMOS DOIS MODOS DE AGRUPAR OS ELEMENTOS DE UM CONJUNTO. UM É CHAMADO DE

ARRANJO E OUTRO, DE COMBINAÇÃO. O QUE DIFERENCIA UM DO OUTRO?

JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.

Nosso objetivo é identificar a concepção dos alunos acerca de arranjo e

combinação.

Considerando que este pré-teste foi aplicado para alunos que não

estudaram Analise Combinatória, acreditamos que nenhum deles dará a resposta

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correta, mesmo apresentando os conceitos de seqüência e conjunto. Pode haver

resposta do tipo “não sei o que significa”.

RESPOSTA: COMBINAÇÃO É O PROCEDIMENTO PELO QUAL AGRUPAMOS ELEMENTOS DE MODO

QUE, CADA AGRUPAMENTO, NÃO IMPORTA A ORDEM DOS ELEMENTOS; ARRANJO É O PROCEDIMENTO NO

QUAL AGRUPAMOS ELEMENTOS DE MODO QUE, EM CADA AGRUPAMENTO, IMPORTA A ORDEM DOS

ELEMENTOS.

3.3.3.2 Pós-teste

Este teste, tal como o pré-teste, também será composto de 10 questões,

aplicadas para os mesmos alunos que responderam ao pré-teste e participaram

da seqüência, já que a nossa finalidade é a de analisar os conhecimentos

adquiridos após uma seqüência de ensino, tanto a nossa como a da escola.

Dessa forma, poderemos proceder a uma análise sobre o desempenho dos

alunos antes e depois do aprendizado.

A seguir apresentaremos as questões do pós-teste. Entre parênteses,

colocaremos a qual questão do pré-teste cada uma é equivalente.

QUESTÃO 1: (QUESTÃO 7) UMA CINEMATECA DISPÕE DE DOIS FILMES DE TERROR, QUATRO FILMES DE

ROMANCE E TRÊS FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA. DE QUANTAS MANEIRAS DIFERENTES ESTES FILMES

PODEM SER COLOCADOS NUMA PRATELEIRA DE MODO QUE OS FILMES DA MESMA CATEGORIA

PERMANEÇAM JUNTOS?

Comentário: Nesse tipo de questão, o aluno, além de questionar a ordem, terá

que perceber a importância da permutação dos filmes e das categorias.

Queremos observar se a seqüência deu conta em relação à ordem, e se os

alunos conseguem interpretar passo a passo o enunciado do problema. Erros já

ressaltados em pesquisas, como de Batanero (1996,1997).

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QUESTÃO 2: (QUESTÃO 4) QUANTOS ANAGRAMAS PODEMOS FORMAR COM A PALAVRA CALOR?

E COM A PALAVRA CALMA? TEMOS A MESMA QUANTIDADE DE ANAGRAMAS PARA AS

DUAS PALAVRAS? JUSTIFIQUE.

Comentário: Na literatura, observamos que o erro em relação à repetição de

elementos, está associado aos problemas de permutação com repetição. Para

saber se a seqüência deu conta em relação a este tipo de erro, elaboramos a

questão acima.

QUESTÃO 3: (QUESTÃO 1) RICARDO FEZ UM JOGO DA SENA CONFORME INDICA CARTÃO

ABAIXO. PERGUNTA-SE:

A) QUANTAS SÃO AS QUINAS QUE SE PODEM FORMAR, SABENDO-SE QUE, DOS SEIS NÚMEROS

SORTEADOS, RICARDO TEM CINCO DELES MARCADOS EM SUA CARTELA?

B) QUANTAS SÃO AS QUADRAS POSSÍVEIS QUE SE PODEM FORMAR COM OS NÚMEROS ESCOLHIDOS

POR RICARDO?

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

31 32 33 34 35 36 37 38 39 40

41 42 43 44 45 46 47 48 49 50

Comentário: Nessa questão observaremos se os alunos questionarão a ordem

dos elementos como essencial ou não, pois pudemos verificar nos estudos de

Batanero (1996, 1997), um grande número de erro em relação à ordem, nos

problemas de combinação,

QUESTÃO 4: (QUESTÃO 8) DETERMINE QUANTOS ANAGRAMAS DA PALAVRA CHAVE

A) APRESENTAM A SÍLABA VE.

B) COMEÇAM POR CONSOANTE E TERMINAM POR VOGAL.

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QUESTÃO 5: (QUESTÃO 2) PARA IRMOS DA CIDADE ARRAIAL ATÉ A CIDADE BOTAFOGO, HÁ DUAS

OPÇÕES; IR DE ÔNIBUS ATÉ O PONTO COMÉRCIO E DE LÁ PEGAR UMA AVIÃO ATÉ A CIDADE

BOTAFOGO OU IR DE TÁXI ATÉ UM PONTO DIANA E DE LÁ PEGAR UM BARCO. SABENDO-SE QUE HÁ

DOZE COMPANHIAS DE ÔNIBUS QUE COBREM O PERCURSO ARRAIAL - COMÉRCIO E DEZ

COMPANHIAS AÉREAS QUE COBREM O PERCURSO COMÉRCIO – BOTAFOGO, ALÉM DE OITO

COMPANHIAS DE TÁXI QUE COBREM O PERCURSO ARRAIAL - DIANA E CINCO COMPANHIAS DE

BARCO QUE COBREM O PERCURSO DIANA – BOTAFOGO, PERGUNTA-SE: DE QUANTOS MODOS

DIFERENTES É POSSÍVEL VIAJAR DE ARRAIAL ATÉ BOTAFOGO?

Comentário: Nessa questão, queremos observar se, depois do aprendizado, o

aluno usará algum tipo de representação para a resolução.

QUESTÃO 6: (QUESTÃO 3) SOBRE UMA MESA ESTÃO OITO CARTAS E SEUS RESPECTIVOS

ENVELOPES. UMA SECRETÁRIA MUITO MÍOPE, TENDO ESQUECIDO OS ÓCULOS, COLOCA, AO

ACASO, UMA CARTA EM CADA ENVELOPE. DE QUANTOS MODOS ELA PODERÁ COLOCAR ESSAS

CARTAS? E SE ESTIVESSEM FALTANDO OS ENVELOPES REFERENTES A DUAS CARTAS, DE

QUANTOS MODOS ELA PODERIA COLOCAR AS OITO CARTAS EM SEIS ENVELOPES?

Comentário: Na literatura,observamos a existência de erro de interpretação do

verbo, isto é, distribuir significa dividir. Nesse caso, queremos observar se a

nossa seqüência deu conta deste tipo de erro.

QUESTÃO 7: (QUESTÃO 5) NUMA TURMA DE OITAVA SÉRIE, HÁ SEIS ALUNOS QUE PRATICAM

NATAÇÃO:

A) QUANTOS RESULTADOS DIFERENTES PODEM OCORRER, PARA OS TRÊS PRIMEIROS LUGARES

NUMA DISPUTA ENTRE ELES?

B) DE QUANTAS MANEIRAS DIFERENTES PODEM SER ESCOLHIDOS 3 DESSES ALUNOS PARA

FORMAR UMA COMISSÃO QUE IRÁ PEDIR DISPENSA DAS AULAS?

Comentário: Segundo Batanero (1996), o erro de ordem está associado às

combinações. Então, por meio dessa questão, gostaríamos de verificar se a

seqüência conseguiu dar conta de tal tipo de erro ou se ele ainda persiste quando

se trata de combinação.

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QUESTÃO 8: (QUESTÃO 9) MARCAM-SE 4 PONTOS SOBRE UMA RETA R E 6 PONTOS SOBRE UMA

RETA R’, PARALELA À R. ESCOLHENDO-SE 3 DENTRE OS PONTOS MARCADOS, QUANTOS

TRIÂNGULOS PODEM SER FORMADOS?

QUESTÃO 9: (QUESTÃO 6) O SEGREDO DO COFRE DE UM BANCO É CONSTITUÍDO DE DUAS LETRAS

DISTINTAS (ESCOLHIDAS ENTRE AS 26 DO ALFABETO) E TRÊS ALGARISMOS DISTINTOS

(ESCOLHIDOS DE 0 A 9). CASO O GERENTE ESQUEÇA O SEGREDO, QUAL O NÚMERO MÁXIMO DE

TENTATIVAS DIFERENTES QUE ELE TERÁ QUE FAZER PARA ABRIR O COFRE? SUPONDO QUE AS

LETRAS E OS ALGARISMOS NÃO TENHAM QUE SER DISTINTOS, QUAL O NÚMERO MÁXIMO DE

TENTATIVAS? JUSTIFIQUE.

Comentário: Os erros de repetição estão associados a problemas de arranjo com

repetição, segundo Batanero (1996). Logo, queremos observar se esse tipo de

erro persiste depois de desenvolvida a seqüência de ensino com os alunos.

QUESTÃO 10: (QUESTÃO 10) O QUE PERMITE DIFERENCIAR ARRANJO DE COMBINAÇÃO?

Para facilitar a análise que faremos posteriormente sobre os testes

aplicados, apresentaremos a seguir uma tabela relacionando as questões do pré

com a do pós-teste, de tal forma a podermos referir às questões usando a mesma

numeração. Assim sendo, a questão 1 do pré-teste teve equivalência matemática

com a questão 3 do pós-teste e doravante ao nos referirmos a elas chamaremos

de “questão1”.

Questões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pré-teste Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10Pós-teste Q3 Q5 Q6 Q2 Q7 Q9 Q1 Q4 Q8 Q10

Tabela 3.1 : tabela referente as questões do pré e pós teste

3.3.3.3 Descrição da seqüência de ensino

A seguir, apresentaremos a descrição inicial da seqüência de ensino.

Faremos uma análise prévia das atividades bem como a descrição dos objetivos

dos problemas.

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Ficha 1

A primeira ficha de nossa seqüência envolve dois problemas cuja a

resolução pode ser feita através do uso da contagem direta. O quadro a seguir

apresenta esses problemas.

1) ATIVIDADE DO PARQUE

VOCÊ VAI A UM PARQUE DE DIVERSÕES, O QUAL TEM 3 ENTRADAS E 4 SAÍDAS. DE QUANTOS MODOS DIFERENTES

VOCÊ PODE ENTRAR E SAIR DESSE PARQUE?

ENTRADA S-

SAÍDAS-

1) ATIVIDADE DO CAMPEONATO DE FUTEBOL.

VAMOS REALIZAR UM CAMPEONATO DE FUTEBOL, ENTRE 4 ESCOLAS DO BAIRRO. PARA ESSE CAMPEONATO, FOI

CRIADA UMA LOBOTECA, FIM DE QUE OS ALUNOS PUDESSEM FAZER SUAS APOSTAS. GANHA O ALUNO QUE

ACERTAR O PRIMEIRO E O SEGUNDO COLOCADOS. QUANTAS APOSTAS DIFERENTES PODERÃO SER FEITAS?

TIME

SUPONDO QUE AS ESCOLAS ACÁSSIO (A) E BARÃO (B) FORAM AS DUAS PRIMEIRAS COLOCADAS.

O GANHADOR, DA LOBOTECA FOI O QUE APOSTOU EM QUAIL DOS CARTÕES ABAIXO:

JOÃO TIME ABEL TIME

1º AC. 1º BA.

2º BA. 2º AC.

() JOÃO ( ) ABEL ( ) OS DOIS ( ) NADA POSSO AFIRMAR

Quadro 3.3: Problemas da ficha 1 da seqüência de ensino

Objetivo das atividades: desenvolver o raciocínio combinatório através de

experimentações com situações-problema que envolvam contagem.

Observaremos a forma como os alunos interpretam as situações, estando

atentos para os registros de representação. Temos, ainda, o objetivo de

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institucionalizar a árvore de possibilidades como uma ferramenta para produzir

soluções. Por fim, discutiremos a aplicação do princípio multiplicativo em

problemas de contagem.

Procedimentos: para a atividade um, a pesquisadora deixará que as duplas

testem todos as maneiras possíveis de entrar e sair do parque, registrando todos

os casos possíveis para efetuar a contagem.

A seguir, a pesquisadora pedirá para as duplas que façam as suas apostas, no

cartão da atividade dois. Depois, colocará as apostas na lousa e perguntará se

existem mais possibilidades para o primeiro e segundo lugar. Pedirá que algumas

duplas façam a representação do problema na lousa, para análise e crítica dos

registros apresentados, com o intuito de abrir uma discussão geral sobre quais

são os registros mais descritivos, econômicos e informativos.

Após a discussão dos problemas iniciais, outros problemas serão

propostos, para que os alunos possam ter mais interação com situações cuja

solução pode ser encontrada, usando-se o princípio multiplicativo de forma

intuitiva.

Assim sendo, serão postas questões complementares, tais como:

- Vamos supor que o parque da atividade 1 fosse o maior parque da

América, o qual teria 20 entradas e 50 saídas. De quantos modos diferentes você

poderia entrar e sair desse parque?

- Agora vamos voltar para o primeiro parque, o qual tem 4 saídas. Cada

uma delas vai dar em um estacionamento e cada estacionamento tem 3 saídas.

De quantos modos diferentes posso sair desse parque, sabendo que um

estacionamento não tem ligação com o outro?

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- E no parque que tem 50 saídas, se cada uma der em um estacionamento

que tem duas saídas, de quantos modos diferentes posso sair desse parque?

- Para a atividade dois, vamos supor que estamos na quarta de final do

campeonato brasileiro de futebol. Desses oito times que foram para a quarta de

final, quais seriam as possibilidades para os dois primeiros colocados? (Nesta

atividade a pesquisadora pedirá para que os alunos citem os times).

- Continuando na atividade dois, vamos supor que da próxima olimpíada

irão participar 150 Países. Quais são as possibilidades para as medalhas de ouro,

prata e bronze?

Material: Ficha de atividade contendo duas folhas.

Análise prévia: Na atividade da ficha 1, os alunos precisam ter como

conhecimento o conceito de multiplicação (correspondência um para muitos).

Intuitivamente, acreditamos que os alunos facilmente escreverão o número

de trajetos para entrar e sair do parque. Poderá ocorrer que algumas duplas se

utilizem do raciocínio multiplicativo e outras, de esquema.

Para a atividade dois, esperamos que os alunos também não apresentem

dificuldades, pois a solução apresenta poucas combinações. Nessa atividade,

também poderá ocorrer o uso do raciocínio multiplicativo.

Para as questões complementares, acreditamos que se os alunos se

apropriarem do raciocínio presente nas duas atividades da ficha, eles não

apresentarão dificuldade em encontrar a solução correta, utilizando o princípio

multiplicativo intuitivamente.

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Tempo previsto: 15 minutos para cada uma das duas atividades e 30

minutos para as questões complementares.

Ficha 2

Nessa ficha, os alunos encontrarão atividades que lhes possibilitarão a

utilização do princípio fundamental da contagem, ainda que de forma intuitiva.

1) ATIVIDADE DOS TRIÂNGULOS E QUADRADOS:

1.1) DADOS QUATRO QUADRADOS E TRÊS TRIÂNGULOS, CONFORME DESENHO ABAIXO, DE QUANTAS

MANEIRAS PODEMOS SELECIONAR:

�������

a) TRÊS QUADRADOS SEM REPOSIÇÃO.

b) TRÊS QUADRADOS COM REPOSIÇÃO.

c) DOIS TRIÂNGULOS SEM REPOSIÇÃO.

d) DOIS TRIÂNGULOS COM REPOSIÇÃO.

e) NA PRIMEIRA VEZ UM TRIÂNGULO E A SEGUIR DOIS QUADRADOS, SEM REPOSIÇÃO.

f) NA PRIMEIRA VEZ UM QUADRADO E A SEGUIR DOIS TRIÂNGULOS, COM REPOSIÇÃO.

g) UM QUADRADO, UM TRIÂNGULO E UM QUADRADO, NESTA ORDEM E SEM REPOSIÇÃO.

1.2) DESCREVA AS MESMAS SITUAÇÕES DO PROBLEMA 1.1, USANDO SEIS QUADRADOS E CINCO TRIÂNGULOS,

CONFORME DESENHO ABAIXO:

�����������

1.3) DADOS TRÊS QUADRADOS E DOIS TRIÂNGULOS, CONFORME DESENHO ABAIXO, DE QUANTAS MANEIRAS

PODEMOS COLOCAR ESTAS CINCO FIGURAS EM UMA FILEIRA HORIZONTAL?

�����

2) ATIVIDADES DOS QUADRADOS, TRIÂNGULOS E CÍRCULOS.

DADOS DOIS QUADRADOS, DOIS TRIÂNGULOS E TRÊS CÍRCULOS, CONFORME DESENHO ABAIXO, DE

QUANTAS MANEIRAS DISTINTAS PODEMOS COLOCAR ESSAS SETE FIGURAS EM UMA FILEIRA

HORIZONTAL?

�����••

Quadro 3.4 : Problemas da ficha 2 da seqüência de ensino.

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Objetivo da atividade: Continuar o trabalho de interpretar corretamente os

enunciados, resolvendo situações-problema através de material concreto. Aplicar

intuitivamente o princípio multiplicativo.

Procedimentos: A pesquisadora disponibilizará o material concreto e, em

seguida, solicitará que os alunos, em dupla e usando o método de tentativa e

erro, distribuam o material conforme as situações dadas. Quando as duplas

tiverem chegado a uma solução, a pesquisadora pedirá que algumas delas

escrevam na lousa o caminho percorrido na resolução, juntamente com a solução

encontrada. Desse modo, poderá ser feita a comparação entre os resultados,

destacando-se as diferenças e semelhanças observadas. Por fim, a pesquisadora

convidará os alunos a refletirem e elegerem qual dos processos adotados se

apresentou mais organizado.

Material: Ficha de atividades contendo três folhas e material concreto

(quadrados, triângulos e círculos), confeccionado com cartolinas coloridas.

figura 3.1- Material concreto da ficha 2

Análise prévia: Nessas atividades, os alunos necessitam dos conceitos de

seqüência e multiplicação. Com tais conceitos formados, acreditamos que a

maioria dos estudantes consiga chegar intuitivamente ao princípio fundamental da

contagem. Pode ser que a partir da segunda atividade, alguns alunos não façam

mais uso do material concreto.

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Tempo previsto: 10 minutos para a resolução de cada uma das quatro

questões da atividade e 20 minutos para a discussão, no grande grupo dos

procedimentos adotados e das respostas obtidas pelas duplas.

Ficha 3

A terceira ficha da nossa seqüência apresenta problemas em que a

contagem direta é impraticável, sendo necessário que o aluno utilize o princípio

fundamental da contagem, o qual será entendido intuitivamente e não

memorizado.

1) ATIVIDADE DAS POLTRONAS

A ESCOLA VAI PROMOVER UMA EXCURSÃO PARA O PLAYCENTER E QUATRO AMIGOS, JOÃO, CARLOS, MANOEL E

IVAN, VÃO OCUPAR AS QUATRO POLTRONAS DA FRENTE, CONFORME DESENHO ABAIXO:

1 2 CORREDOR 3 4

A) DE QUANTAS MANEIRAS DISTINTAS PODEMOS DISTRIBUIR OS BILHETES DAS QUATRO POLTRONAS REFERIDAS PARA

OS QUATRO AMIGOS?

B) DE QUANTAS MANEIRAS PODEM SER OCUPADAS AS POLTRONAS DO LADO DIREITO E AS POLTRONAS DO LADO

ESQUERDO, SEM PREOCUPAÇÃO COM A NUMERAÇÃO DAS POLTRONAS?

O NÚMERO DE POSSIBILIDADES DOS ITENS A E B SÃO IGUAIS? JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.

2) ATIVIDADE DOS ANAGRAMAS

2.1) VAMOS SUPOR QUE OS CÍRCULOS, OS QUADRADOS E OS TRIÂNGULOS DA ATIVIDADE 2 DA FICHA 2,

REPRESENTAM, CADA UM, UMA LETRA DO ALFABETO. POR EXEMPLO A, B, C, D, E, F, G, DE QUANTAS MANEIRAS

DISTINTAS PODEMOS COLOCAR ESSA SETE LETRAS EM UMA FILEIRA HORIZONTAL?

2.2) ESCOLHENDO A PALAVRA FAZER, QUANTOS ANAGRAMAS PODEMOS FORMAR?

ANAGRAMA: É UMA SENHA (OU CÓDIGO) FORMADA POR TODAS AS LETRAS DE UMA PALAVRA (SEM REPETIÇÃO, A

NÃO SER QUE A PALAVRA TENHA LETRA REPETIDA), PODENDO OU NÃO TER SIGNIFICADO NA LÍNGUA PORTUGUESA

3) ATIVIDADE DA SENHA

3.1) O QUE É UMA SENHA?

3.2) PARA QUE SERVE?

3.3) CITE ALGUNS TIPOS DE SENHAS.

”É COMUM A UTILIZAÇÃO DE SENHAS PARA CARTÕES MAGNÉTICOS BANCÁRIOS, PARA PROGRAMAS DE

COMPUTADORES, PARA RÁDIOS DE CARROS, MALAS DE VIAGEM, ETC”.

NO FINAL DO MÊS, CADA ALUNO, USUÁRIO DO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA, DEVERÁ TER UMA SENHA PARA

ACESSAR O COMPUTADOR. A TAREFA DO RESPONSÁVEL PELO LABORATÓRIO É CRIAR UM TIPO DE SENHA, DE MODO

A DIFICULTAR QUE UMA PESSOA TENHA ACESSO À SENHA DA OUTRA. OBSERVANDO ALGUNS TIPOS DE SENHAS,

RESPONDA:

QUAL DAS DUAS SITUAÇÕES A SEGUIR CRIARIA UMA SENHA MAIS DIFÍCIL DE SER DESCOBERTA? POR QUÊ?

A) TER UMA SENHA COM 4 ALGARISMOS DISTINTOS?

B) TER UMA SENHA COM 4 ALGARISMOS?

E NAS SITUAÇÕES ABAIXO, QUAL CRIARIA UMA SENHA MAIS DIFÍCIL DE SER DESCOBERTA? POR QUÊ?

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C) TER UMA SENHA COM 2 LETRAS E 2 ALGARISMOS, NESSA ORDEM?

D) TER UMA SENHA COM 1 LETRA E 3 ALGARISMOS, NESSA ORDEM?

E) TER UMA SENHA COM 3 LETRAS E 1 ALGARISMO, NESSA ORDEM?

AGORA, OBSERVANDO AS SITUAÇÕES ABAIXO, QUAL CRIARIA UMA SENHA MAIS DIFÍCIL DE SER DESCOBERTA? POR

QUÊ?

F)TER UMA SENHA COM 4 LETRAS?

G)TER UMA SENHA COM 4 LETRAS DISTINTAS?

DAS TRÊS SITUAÇÕES QUE VOCÊ ESCOLHEU ACIMA, QUAL DELAS CRIARIA UMA SENHA MAIS DIFÍCIL DE SER

DESCOBERTA? POR QUÊ?

4) ATIVIDADE DAS PLACAS DOS CARROS

SABEMOS QUE AS PLACAS DOS CARROS FORAM MUDADAS QUANTO A COR E O NÚMERO DE LETRAS E

ALGARISMOS: DE AMARELA COM DUAS LETRAS E QUATRO ALGARISMOS, PARA CINZA COM TRÊS LETRAS E QUATRO

ALGARISMOS.

4.1) POR QUE VOCÊ ACHA QUE HOUVE ESSA MUDANÇA?

4.2) CALCULE A QUANTIDADE MÁXIMA DE PLACAS QUE PODEM SER FORMADAS COM DUAS LETRAS E QUATRO

ALGARISMOS?

AS PLACAS GF 2544 E FG 2544 SÃO DIFERENTES? POR QUÊ?

4.3) CALCULE A QUANTIDADE MÁXIMA DE PLACAS QUE PODEM SER FORMADAS COM 3 LETRAS E 4 ALGARISMOS?

AS PLACAS CLL 4566 E CLL 6645 SÃO DIFERENTES? POR QUÊ?

4.4) SE PRECISÁSSEMOS MUDAR NOVAMENTE AS PLACAS, QUAL SERIA A MELHOR OPÇÃO:

( ) AUMENTAR A QUANTIDADE DE LETRAS

( ) AUMENTAR A QUANTIDADE DE ALGARISMOS

POR QUÊ?

4.5) QUAL SERIA A QUANTIDADE DE PLACAS POSSÍVEIS COM 3 LETRAS E 4 ALGARISMOS, SE CONSIDERÁSSEMOS

PLACAS SEM REPETIÇÃO DE LETRAS E ALGARISMOS?

AS PLACAS CTZ 8719 E CZT 8197 SÃO DIFERENTES? POR QUÊ?

Quadro 3.5: problemas da ficha 3 da seqüência de ensino.

Objetivo das atividades: Reforçar o trabalho na direção da compreensão

intuitiva do princípio multiplicativo através de situações-problema onde a

contagem direta se torna impraticável. Generalizar o princípio multiplicativo,

constituído como uma ferramenta básica, ao lado do princípio aditivo, para

resolver problemas de contagem.

Procedimentos: Nas atividades, a pesquisadora não deverá tecer qualquer

comentário inicial. Depois, solicitará que cada dupla exponha, para a classe, as

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idéias discutidas. A seguir, fará as comparações entre os resultados

encontrados e institucionalizará o princípio multiplicativo.

Material: Ficha de atividade contendo 6 folhas e calculadora.

Análise prévia: Nas atividades da ficha 3, os alunos precisarão ter o

conceito do princípio multiplicativo trabalhado nas fichas anteriores.

Provavelmente, os alunos que entenderam as atividades anteriores não

apresentarão dificuldades nas resoluções das atividades desta ficha.

Tempo previsto: para as atividades, 60 minutos; para a institucionalização

do princípio fundamental da contagem, 10 minutos.

Ficha 4

A ficha 4 traz situações-problema onde o princípio multiplicativo não é

aplicável, podendo tais situações ser resolvidas através da árvore de

possibilidades.

1) ATIVIDADE DO JOGO DE FRESCOBOL

NUM TORNEIO DE FRESCOBOL, NA PRAIA DO BOQUEIRÃO, OS FINALISTAS FORAM ZECA E KADU. SERÁ DECLARADO

CAMPEÃO AQUELE QUE VENCER DUAS PARTIDAS SEGUIDAS OU VENCER TRÊS PARTIDAS ALTERNADAS.

OBSERVANDO QUEM SAI VENCEDOR EM CADA PARTIDA ATÉ QUE SE OBTENHA O CAMPEÃO, QUAIS OS RESULTADOS

QUE SE PODE OBTER?

SUGESTÃO: USE A ÁRVORE DE POSSIBILIDADES PARA ENCONTRÁ-LOS.

2) ATIVIDADE DOS ANAGRAMAS

A) QUANTOS ANAGRAMAS PODEMOS FORMAR COM AS TRÊS LETRAS DA PALAVRA ANA?

B) QUANTOS ANAGRAMAS PODEMOS FORMAR COM A LETRAS DA PALAVRA AMADA?

C) QUANTOS ANAGRAMAS PODEMOS FORMAR COM AS LETRAS DA PALAVRA LILI?

Quadro 3.6: Problemas da ficha 4 da seqüência de ensino.

Objetivo das atividades: Trabalhar com contra-exemplos, visando evitar a

pseudoconcepção de que qualquer problema de contagem pode ser resolvido

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através do princípio multiplicativo. Continuar o trabalho de conscientização da

importância na interpretação das situações-problema e observar os diversos

registros de representação utilizados pelos alunos.

Procedimentos: Nas atividades, a pesquisadora deixará que os alunos

tentem fazer a resolução solicitada. Depois, pedirá que cada aluno coloque as

soluções dadas pelas duplas no quadro. Se nenhuma dupla utilizar a árvore de

possibilidades, conforme sugestão dada na atividade 1, a pesquisadora utilizará a

solução correta dada pelos alunos, usando a árvore de possibilidades. A seguir,

mostrará, construindo na lousa, que a árvore de possibilidade serve tanto para

problemas em que se aplica o princípio multiplicativo quanto naqueles casos onde

o princípio multiplicativo não determina o número de casos possíveis.

Material: Ficha de atividade contendo duas folhas.

Análise prévia: Considerando que os alunos, nas atividades anteriores, já

trabalharam com diversos registros de representações, acreditamos que nas duas

atividades eles farão uso de esquemas, diagramas ou ainda tentarão se valer do

princípio multiplicativo. Pode ser que nenhum aluno se utilize da árvore de

possibilidades e aqueles que usarem o princípio multiplicativo não percebam que

o problema está sendo resolvido de forma errônea.

Tempo previsto: 30 minutos para a primeira atividade, 20 minutos para a

segunda atividade e 10 minutos para a institucionalização.

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Ficha 5

Na ficha 5, temos duas atividades para diferenciar arranjo de combinação.

1) ATIVIDADE DA AGÊNCIA DE TURISMO

A AGÊNCIA DE TURISMO CDD RECEBEU, PARA INCLUIR NO PACOTE DE VIAGEM, UMA PROPOSTA DOS SEIS

RESTAURANTES DE LISBOA: RESTAURANTE ROSA DOS MARES, RESTAURANTE FADO, RESTAURANTE F.I.L.,

RESTAURANTE GRAND’ELIAS, RESTAURANTE SALSA LATINA, RESTAURANTE BAMBINO DE OURO.

SE A AGÊNCIA LEVAR OS TURISTAS PARA ALMOÇAR NESSES RESTAURANTES, RECEBERÁ UM DESCONTO, PORÉM, O

RESTAURANTE ESCOLHIDO PARA O ALMOÇO NÃO PODERÁ SER O MESMO PARA O JANTAR.

VOCÊ FOI CONTRATADO PELA AGÊNCIA E FICOU ENCARREGADO DE ESCOLHER EM QUAIS RESTAURANTES ELES IRÃO

ALMOÇAR E JANTAR. PARA O PRIMEIRO DIA DE ESTADA EM LISBOA, DE QUANTAS MANEIRAS VOCÊ PODE ESCOLHER

RESTAURANTES PARA O ALMOÇO E O JANTAR?

2) ATIVIDADE DA MARATONA DO SABER

UMA ESCOLA FOI CONVIDADA PARA PARTICIPAR DE UMA “MARATONA DO SABER” PARA ALUNOS DA 8ª SÉRIE.

COMO A ESCOLA TEM SEIS CLASSES DE OITAVA SÉRIE, A DIRETORA PEDIU QUE FOSSE SELECIONADO O MELHOR

ALUNO DE CADA SÉRIE.

SABENDO QUE OS ALUNOS SELECIONADOS TÊM O MESMO DESEMPENHO E QUE A DIRETORA SÓ PODE MANDAR DOIS

ALUNOS PARA A TAL MARATONA, DE QUANTAS MANEIRAS ELA PODERÁ ESCOLHER ESSA DUPLA?

NAS ATIVIDADES 1 E 2 ENCONTRAMOS O MESMO NÚMERO DE POSSIBILIDADES?

( ) SIM ( ) NÃO

POR QUE?

Quadro 3.7: Problemas da ficha 5 da seqüência de ensino

Objetivo das atividades: Reconhecer nos problemas as características que

permitem diferenciar arranjo e combinação, trabalhando mais incisivamente na

interpretação das situações-problema e na utilização de diversos registros de

representação.

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Procedimentos: A pesquisadora deverá deixar que as duplas discutam a

solução de cada problema, iniciando a seguir, a institucionalização dos conceitos

de arranjo e combinação.

Os alunos farão as representações das duas atividades através do uso do

material concreto.

Solicitar que as duplas discutam os dois problemas até que consigam

perceber que a primeira atividade é da mesma natureza que a maioria das

atividades anteriores, isto é, para saber o total de casos, podemos aplicar o

princípio multiplicativo. Todavia, na segunda atividade, somente o princípio

multiplicativo não determina o número de casos possíveis, como na atividade dos

anagramas usando palavras com letras repetidas.

A seguir, baseado nas atividades dessa ficha, outros problemas poderão

ser propostos, tais como:

- Vamos supor que, na atividade da agência de turismo, você tivesse que

escolher um restaurante para o café da manhã, outro para o almoço e outro para

o jantar, seguindo a mesma regra. De quantas maneiras você pode escolher os

restaurantes para o primeiro dia?

- Supondo que na atividade da maratona do saber a escola poderá mandar

três alunos. De quantas maneiras a diretora poderá escolher os três alunos?

Material: Ficha de atividade, contendo duas folhas, canetas coloridas e um

círculo de madeira dividido em seis partes e linha de bordar.

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Figura 3.2 – material concreto da ficha 5

Análise a priori: Após haverem se familiarizado com problemas que

envolvem contagem e com processos de formação de agrupamentos,

acreditamos que os alunos consigam resolver estas atividades sem grandes

dificuldades. Acreditamos que esse material poderá ajudá-los a entender o

procedimento de resolução e chegar ao resultado correto, distinguindo quando a

ordem é essencial ou não.

Tempo previsto: 25 minutos para cada atividade e 10 minutos para a

institucionalização do conceito.

Ficha 6

Na ficha 6, temos algumas situações-problema em que se devem formar

agrupamentos onde a ordem dos elementos é importante, e outras em que a

ordem não é importante.

1) ATIVIDADE DA COBRANÇA DE PÊNALTIS

FERNANDO, VINÍCIUS, JORGE E FABIO VÃO TREINAR PARA A COBRANÇA DE PÊNALTIS. INICIALMENTE, VÃO SER

SORTEADOS DOIS DELES: UM PARA O GOL E OUTRO PARA A COBRANÇA DOS PÊNALTIS. QUANTOS POSSÍVEIS CASOS

DISTINTOS EXISTEM PARA O RESULTADO DO SORTEIO DESSA PRIMEIRA DUPLA?

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2) ATIVIDADE DA “MONTANHA RUSSA”

DEPOIS DO TREINO, ESSES QUATRO AMIGOS VÃO AO PARQUE DE DIVERSÕES ANDAR DE MONTANHA RUSSA. ELES

PRETENDEM IR NO MESMO CARRINHO, PORÉM NO BANCO DA FRENTE, QUE PROVOCA MAIOR EMOÇÃO, SÓ CABEM DUAS

PESSOAS. DE QUANTAS MANEIRAS DIFERENTES ELES PODEM ESCOLHER A DUPLA QUE IRÁ NO BANCO DA FRENTE?

ESCOLHER OS QUATRO AMIGOS PARA A COBRANÇA DOS PÊNALTIS E ESCOLHER A DUPLA QUE IRÁ NO BANCO DA

FRENTE DO CARRINHO DA MONTANHA RUSSA REQUEREM O MESMO PROCEDIMENTO DE RESOLUÇÃO? POR QUÊ?

3) ATIVIDADE DO JÓQUEI

VOCÊ VAI AO JÓQUEI E DECIDE ARRISCAR UM PALPITE. NESSE DIA, HAVERÁ UM PÁREO COM SEIS CAVALOS E VOCÊ

DECIDE ESTUDAR QUAL MODALIDADE DE APOSTA TEM MAIOR CHANCE DE GANHAR. AS MODALIDADES ESCOLHIDAS SÃO

AS SEGUINTES:

a) MODALIDADE MAIS SIMPLES – VENCEDOR (OU PONTA)

NESSA MODALIDADE, VOCÊ ESCOLHE UM CAVALO E GANHA SE ELE CHEGAR EM PRIMEIRO LUGAR.

b) DUPLA (OU INEXATA)

VOCÊ ESCOLHE DOIS CAVALOS. PARA GANHAR, UM DELES TEM QUE CHEGAR EM PRIMEIRO LUGAR E O OUTRO EM

SEGUNDO. VOCÊ SÓ TEM QUE ACERTAR OS DOIS VENCEDORES, MAS NÃO PRECISA ACERTAR QUEM CHEGOU EM

PRIMEIRO E QUEM CHEGOU EM SEGUNDO LUGAR.

c) EXATA

VOCÊ ESCOLHE DOIS CAVALOS: UM PARA O PRIMEIRO LUGAR E OUTRO PARA O SEGUNDO. OU SEJA, É PRECISO

ACERTAR OS DOIS PRIMEIROS COLOCADOS E ACERTAR, TAMBÉM, QUEM FOI O PRIMEIRO COLOCADO E O SEGUNDO

COLOCADO.

d) TRIFETA SIMPLES

VOCÊ ESCOLHE TRÊS CAVALOS E É PRECISO ACERTAR QUEM CHEGOU EM PRIMEIRO LUGAR, QUEM CHEGOU EM

SEGUNDO LUGAR E QUEM CHEGOU EM TERCEIRO LUGAR.

e) TRIFETA COMBINADA

PARA ACERTAR, É NECESSÁRIO QUE OS TRÊS CAVALOS ESCOLHIDOS CHEGUEM EM PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO

LUGARES, NÃO PRECISANDO ACERTAR QUAL DOS TRÊS CHEGOU EM PRIMEIRO EM SEGUNDO LUGAR E EM TERCEIRO

LUGAR.

PERGUNTA –SE :

NO TOTAL, COM OS SEIS CAVALOS QUE PARTICIPARÃO DA CORRIDA, QUANTAS APOSTAS VOCÊ PODE FAZER EM CADA

MODALIDADE? QUAL MODALIDADE LHE DÁ O MAIOR NÚMERO DE POSSIBILIDADES? O QUE DIFERENCIA A TRIFETA

SIMPLES DA TRIFETA COMBINADA? O QUE DIFERENCIA A DUPLA INEXATA DA DUPLA EXATA? JUSTIFIQUE SUAS

RESPOSTAS.

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4) ATIVIDADE DAS FRUTAS

DONA MARIA FOI À FEIRA COMPRAR FRUTAS PARA SEUS TRÊS FILHOS: JOÃO, ROBERTO E ANA. O FEIRANTE TEM, EM

SUA BANCA, DEZ TIPOS DE FRUTAS. DONA MARIA RESOLVEU COMPRAR CINCO TIPOS DE FRUTAS DIFERENTES. DE

QUANTAS MANEIRAS DISTINTAS ELA PODERÁ ESCOLHER ESSAS CINCO FRUTAS?

DONA MARIA COMPROU MAÇÃ, MAMÃO, ABACAXI, MELANCIA E MELÃO. DE QUANTOS MODOS DISTINTOS ELA PODERÁ

DISTRIBUIR UMA FRUTA PARA CADA UM DOS SEUS FILHOS, DE MODO QUE CADA UM COMA UMA FRUTA DIFERENTE?

SE DONA MARIA COMPRAR MAÇÃ, MAMÃO, ABACAXI, MELANCIA E MELÃO OU SE DONA MARIA COMPRAR ABACAXI,

MAÇÃ, MELÃO, MAMÃO E MELANCIA, ELA LEVA FRUTAS DIFERENTES PARA CASA?

SE DONA MARIA DER UMA MAÇÃ PARA JOÃO, UM PEDAÇO DE MAMÃO PARA ROBERTO E UM PEDAÇO DE MELANCIA

PARA ANA OU SE DONA MARIA DER UM PEDAÇO DE MAMÃO PARA JOÃO, UM PEDAÇO DE MELANCIA PARA ROBERTO E

UMA MAÇÃ PARA ANA, ELA DISTRIBUI AS FRUTAS DE MODO DIFERENTE?

Quadro 3.8: Problemas da ficha 6 da seqüência de ensino.

Objetivo das atividades: dar continuidade ao objetivo da ficha anterior,

oferecendo condições para que os alunos avancem na diferenciação dos

conceitos de arranjo e permutação e na interpretação cuidadosa das situações

propostas.

Procedimentos: A pesquisadora distribuirá uma atividade de cada vez e

após cada atividade analisará as respostas encontradas, observando os

procedimentos utilizados. Ela buscará, constantemente, ressaltar as

características que diferenciam arranjo de combinação.

Na atividade do jóquei, a pesquisadora deixará, a princípio, que os alunos

façam suas apostas. A seguir, dará a atividade para que eles possam calcular o

número de possibilidades.

Material: Ficha de atividades contendo quatro folhas e calculadora.

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Análise prévia: Nessas atividades, os alunos precisam utilizar os

conhecimentos adquiridos nas atividades da ficha anterior. Deverão, também,

reconhecer quando a construção dos agrupamentos depende ou não da ordem

dos elementos.

Uma vez entendida a diferença entre arranjo e combinação, acreditamos que

os alunos conseguirão resolver todas as atividades. Pode ser que eles tenham

uma dificuldade maior na atividade das frutas, pois terão que trabalhar com

números maiores que as outras atividades.

Tempo previsto: 70 minutos para a resolução de todas as atividades.

Ficha 7

Na ficha 7, trabalharemos com situações-problema sobre arranjo,

permutação e combinação.

1) A) QUANTOS NÚMEROS DE 3 ALGARISMOS DISTINTOS PODEM SER FORMADOS, USANDO-SE OS ALGARISMOS 1, 2, 3,

5, 8?

B) E QUANTOS NÚMEROS DE 5 ALGARISMOS DISTINTOS PODEM SER FORMADOS, USANDO OS MESMOS ALGARISMOS

DO ITEM A)?

QUANDO VOCÊS ESCOLHERAM 3 ALGARISMOS E FORMARAM UM NÚMERO, POR EXEMPLO, SE O PRIMEIRO NÚMERO

ESCOLHIDO FOR 5, DEPOIS OS NÚMEROS 2 E 6, VOCÊS CRIARAM O NÚMERO 526. SE ESCOLHESSEM OS MESMOS

ALGARISMOS, MAS TROCANDO A ORDEM DA ESCOLHA, ISTO É, PRIMEIRO O NÚMERO 2 E DEPOIS O CINCO E O SEIS, O

NÚMERO FORMADO SERIA DIFERENTE? JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.

O QUE DIFERENCIA O ITEM A) DO ITEM B)?

2)QUANTAS RETAS PODEM SER TRAÇADAS PASSANDO POR DOIS PONTOS DA CIRCUNFERÊNCIA ABAIXO. E QUANTAS

DIAGONAIS? NESTE PROBLEMA SE VOCÊ ESCOLHER PRIMEIRO O PONTO A E DEPOIS O PONTO B VOCÊ TEM UMA RETA.

SE VOCÊ ESCOLHER PRIMEIRO O PONTO B E DEPOIS O PONTO A, A RETA QUE VOCÊ OBTÉM É DIFERENTE DA

ANTERIOR? JUSTIFIQUE.

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3)EM UM CONGRESSO HÁ 10 FÍSICOS E 6 MATEMÁTICOS. QUANTAS COMISSÕES DE TRÊS FÍSICOS E 2 MATEMÁTICOS

PODEMOS FORMAR? NESSE PROBLEMA, SE VOCÊ ESCOLHER PRIMEIRO OS FÍSICOS ABEL, BENEDITO E CARLOS E

DEPOIS OS MATEMÁTICOS DANIEL E EDUARDO ESTARÁ FORMANDO UMA COMISSÃO. SE VOCÊ TROCAR A ORDEM DA

ESCOLHA, ISTO É, PRIMEIRO ESCOLHE OS MATEMÁTICOS DANIEL E EDUARDO E DEPOIS OS FÍSICOS ABEL, BENEDITO E

CARLOS, A COMISSÃO FORMADA SERÁ A MESMA? JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.

4)DE QUANTAS MANEIRAS DIFERENTES PODEMOS TROCAR AS POSIÇÕES DOS ELEMENTOS DO CONJUNTO B =

= { , �, �, !, �}?

5)QUANTOS SÃO OS NÚMEROS COMPREENDIDOS ENTRE 2000 E 3000, FORMADOS POR ALGARISMOS DISTINTOS

ESCOLHIDOS ENTRE 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 E 9?

6)VOCÊ TERÁ QUE PAVIMENTAR UM SALÃO CONFORME A FIGURA 1 APRESENTADA. O PISO ESCOLHIDO TEM FORMA

RETANGULAR E DUAS CORES (CONFORME A FIGURA 2). PERGUNTA-SE: DE QUANTAS FORMAS VOCÊ PODERÁ FAZER

ESTE SERVIÇO, SEM CORTAR O PISO? → COLUNA

FIGURA 1

FIG.2

Quadro 3.9: Problemas da ficha 7 da seqüência de ensino.

Objetivo das atividades: Familiarizar os alunos com as notações de

arranjo, combinação e permutação. O objetivo do último problema é mostrar

que nem sempre na prática o raciocínio combinatório pode ser aplicado.

Procedimentos: A pesquisadora deverá dar um tempo suficiente para que

os alunos leiam cada problema e cheguem à solução, destacando as diferenças

entre eles e familiarizando-os com os nomes e notações de cada tipo de

agrupamento.

Material: Ficha de atividade contendo três folhas, canetas coloridas,

calculadora, chão do salão e pisos emborrachados, conforme desenho do

problema 6.

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figura 3.3- material concreto da ficha 7

Análise prévia: Nesta ficha, os alunos precisam se valer de todos os

conhecimentos usados e adquiridos durante a seqüência. Logo, acreditamos que

os alunos não apresentarão grandes dificuldades na resolução dos problemas.

Quanto à última atividade, apenas os alunos que fizerem a resolução por tentativa

conseguirão chegar à conclusão certa.

Tempo previsto: 50 minutos para a resolução dos problemas e 10 minutos

para a institucionalização.

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ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 – INTRODUÇÃO

Este capítulo é composto por trêspartes. A primeira traz comentáriosgerais sobre a aplicação de nossa

seqüência com o grupo experimental. Nasegunda parte, procederemos com aanálise quantitativa do desempenho

apresentado pelos grupos (experimentale de referência) nos pré e pós-testes.Essa análise será realizada, segundo

quatro pontos de vista:• o percentual geral de acertos de cada grupo nos dois testes;

• o desempenho por item;

• o desempenho por objetivo;

• o desempenho por indivíduo, envolvendo seu resultado em cada teste e a

sua evolução do pré para o pós-teste.

Finalmente, a última parte seráreservada para a análise qualitativa, a

qual terá um momento que será a análiseindividual das estratégias de ação de três

duplas nas três fases do experimento(pré-teste, seqüência e pós-teste).

4.2 COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE AAPLICAÇÃO DA SEQÜÊNCIA

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Nesta seção, apresentaremos ediscutiremos o comportamento dosalunos frente às atividades e resoluçãode problemas propostos ao longo denossa seqüência didática. Para umamelhor organização da apresentação e,principalmente, para sermos fieis àcronologia da seqüência, faremos nossoscomentários e discussões de acordo coma ordem utilizada nas fichas, as quaismantém relação direta com o número deencontros. Como já havíamos dito nocapítulo anterior, a análise da seqüênciaserá feita para doze duplas, totalizando24 alunos. Inicialmente, convém definiroperacionalmente três termos, usados aolongo de nossa análise.Procedimento: Processo usado pelosalunos na determinação de resultadospossíveis, que pode ser porrepresentação ou por tentativa e erro.Representação: Quando o aluno faz usode desenhos, tabelas ou árvore depossibilidades, na determinação deresultados possíveis.Exemplo: Resolução usada, por umadupla, na atividade do jogo de frescobolda ficha 4.

Zeca Z•••• KK••••

K Z Z••••Z••••

K•••• 5 formas Kadu K•••• ZK••••

Z K K••••Z•••• Z••••5 formas

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Essa dupla usou um procedimento parachegar a todas as possibilidades, usandoa árvore de possibilidades.Tentativa e erro: Quando o aluno escreve,uma a uma, as possibilidade de ocorrerum certo evento.Exemplo: Resolução usada, por umaoutra dupla, na atividade do jogo defrescobol da ficha 4.Zeca – ZecaKadu – KaduZeca – Kadu – Zeca- kadu – ZecaKadu- Zeca – Kadu – Zeca – KaduEsta dupla não usou um procedimentoque levasse a todas as possibilidades, eneste caso escreveu seis possibilidadesa menos.A seguir, historiaremos a aplicação daseqüência, comentando ocomportamento e desempenho dasduplas de alunos ao resolverem as fichasde atividades. Sempre que se fizernecessário ou adequado,transcreveremos trechos de diálogos deduplas para ilustrar esse desempenho.Cabe informar ainda que esse históricorefere-se a 12 duplas (24 alunos). Dos 28alunos iniciais, três foram excluídos dogrupo por haverem faltado uma, ou maisvezes, aos encontros da seqüência e umtrabalhou quase que constantementesozinho. Este último sujeito só serácomputado na análise dos instrumentosdiagnósticos.

4.2.1 Ficha 1Situação problema 1: Atividade do parque

Das 12 duplas que participaram dessaatividade, nove duplas acertaram, umaerrou, uma não respondeu e uma dupladeu duas respostas sem justificativa,

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sendo que uma das respostas estavacorreta.As nove duplas que acertaram fizeramuso da figura do parque, apresentada naficha, desenhando as possibilidades.Uma dupla resolveu de três maneirasdiferentes:usou a figura do parque, valeu-se da tentativa e erro e, por último,utilizou um esquema para resolver aatividade.Além da figura do parque, cinco duplasusaram a multiplicação para dar asolução do problema, e uma usou aadição. A dupla que errou utilizou a figuraapresentada na ficha, desenhandoalgumas possibilidades e, a seguir,respondeu que poderia entrar e sair doparque “de um modo só”. Veja, a seguir,como foi o diálogo dessa dupla,conforme gravação:

Aluna 1: - Só pode entrar de um modo e sair de um modo. É

uma coisa óbvia, de um modo só.

Aluna 2: - eu acho que é 12

Aluna 1: - Por que 12?

Aluna 2: - 3 vezes 4 dá 12, entra por esta entrada e sai por

esta saída ...

Aluna 1: - Isto não é matemática.

Aluna 2: - Mas você entra por esta entrada e sai por esta

saída, depois entra por esta entrada e sai por esta saída e ...

Aluna 1: - Mas é de um modo só... Posso entrar e sair de

modos diferentes... Este exercício é obvio, um modo só.

Pela resposta apresentada na ficha, aaluna 1, depois de tanta insistênciaacabou convencendo a aluna 2.

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Fica claro, nesse diálogo, que adificuldade da aluna 1 estava nainterpretação do problema. A perguntadizia respeito ao número depossibilidades de entrada e saída e elaconsiderou apenas o processo realmentede entrada. É claro que uma pessoa nãopoderia entrar simultaneamente por trêslugares, nem tampouco sair,simultaneamente, por quatro lugares.

A princípio, observamos que os alunosfizeram uma rápida leitura da atividade elogo em seguida começaram a reclamarque não haviam entendido. Solicitamosque lessem mais uma vez e novamenteficaram esperando uma resposta dapesquisadora, que leu lentamente oproblema sem interferir na interpretação.Quando perceberam que não teriam aresposta, leram novamente o enunciado etentaram buscar uma solução, discutindoos caminhos possíveis com o seurespectivo par. A maneira com que osalunos corresponderam à atividade nospareceu reforçar a atitude de esperar doprofessor, quase sempre, uma respostapronta. Percebemos, também, que asduplas apresentaram uma certaresistência em tentar resolver oproblema, sem antes ter umconhecimento prévio do assunto.Observamos uma certa dificuldade nainterpretação do enunciado, masacreditamos que o desenho apresentadona ficha possa ter contribuído para que amaioria das duplas apresentasse oraciocínio correto.

A seguir, pedimos a cada dupla queescrevesse a resposta obtida na lousa ecomeçamos a questionar os alunos.Debatemos a resposta “de um modo só”,discutindo o porquê de ela estar errada.Depois, questionamos qual seria o

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processo de resolução mais eficiente,dentre aqueles que foram apresentados.Todas as duplas chegaram à mesmaconclusão: multiplicar o número deentradas pelo número de saídas doparque.

Situação problema 2: Atividade docampeonato de futebol.

Dessa vez, os alunos leram oproblema sem questionar ou esperar uma

resposta da pesquisadora.A princípio, foi pedido a cada dupla quefizesse sua aposta no cartão desenhadona atividade e, em seguida, escrevessena lousa. Depois, a pesquisadora tirou asapostas iguais e, em relação as queficaram na lousa, perguntou se existiamoutras possibilidades e qual seria onúmero total de possibilidades para seapostar.

Nesta atividade, nove duplasresponderam corretamente, sendo queoito duplas fizeram uso derepresentações e tentativas e erros eapenas uma usou a multiplicação. Adupla que respondeu “de um modo só”na atividade do parque também nãoapresentou raciocínio combinatórionessa atividade, respondendo: “dependeda quantidade de apostas feitas porescolas”. A dupla que respondeu àatividade 1 sem justificar também o feznesta e a outra dupla, que não resolveu aatividade1, também não resolveu esta.Quanto à segunda parte, onde os alunostinham dois cartões com as aposta deJoão e Abel, dez duplas perceberam queera necessário especificar, no enunciadoda questão, qual escola ficou em primeirolugar e qual ficou em segundo lugar, para

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ser possível identificar o ganhador daloboteca.Após as duplas apresentarem assoluções da segunda atividade na lousa,questionamos novamente qual seria amelhor solução. Logo a seguir, forampropostas questões complementares.Nelas, todas as duplas se valeram damultiplicação, sendo que três iniciaram asolução usando representação ,abandonando-a em seguida e optandopelo uso da multiplicação.

Avaliação do encontro.Apesar da resistência apresentada noinício, percebemos que os alunos foramficando mais à vontade para expor seuraciocínio. No final, notamos umaaceitação maior do novo método deensino.

4.2.2 Ficha 2Situação-problema 1: Atividade dos

triângulos e dos quadrados.Essa atividade está dividida em três

partes: Na primeira (1.1), as duplasreceberam quatro quadrados e trêstriângulos de cores diferentes; nasegunda (1.2), as duplas receberam seisquadrados e seis triângulos; e na terceira(1.3), os alunos trabalharam trêsquadrados e dois triângulos.O objetivo de tal atividade é introduzir oprincípio fundamental da contagem portentativas e erros, com um procedimentoque leve o aluno a todas aspossibilidades. Na questão 1.2,colocamos mais figuras e questionamosos mesmos itens da questão 1.1. Nossoobjetivo, ao colocar mais figuras,consistiu em dificultar a contagem eobservar se os alunos iriam procurar uma

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maneira mais rápida de chegar aoresultado, por exemplo, usando oprincípio fundamental da contagem.Distribuímos as fichas e o materialconcreto para cada dupla, sem comentaro que teriam que fazer. Como, no início,houve muita dificuldade em compreendero enunciado da questão, a pesquisadorafez uma interferência: leu o item a daquestão 1.1 e iniciou a solução, comauxílio do material concreto, pedindo, aseguir, que as duplas continuassem atéachar o número total de possibilidades.Os itens restantes foram resolvidos semquestionamentos, com uso do materialconcreto. Apenas uma das duplas deixouo material concreto de lado e fez aresolução por meio de tentativa e erro,escrevendo as possibilidades na folha dequestão.A tabela a seguir apresenta a quantidadede acertos e erros em cada item daquestão 1.1:

b c d

7 8 8

5 4 4Tabela 4.1: Desempenho das duplas nos itens a, b, c, d, e, f,

g da atividade 1

No item “a”, dentre as duplas queacertaram, duas usaram o processo detentativa e erro e uma usou o princípiomultiplicativo. Entre as que erraramconstatamos que três usaram amultiplicação de um para muitos, quatroduplas fizeram por tentativa e erro, e asoutras duas usaram representação, mascom um procedimento que nãopossibilitou que encontrassem todas aspossibilidades.

No item “b”, também tivemosdiferentes tipos de solução. Das duplasque acertaram, quatro usaram o processo

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de tentativa e erro , duas usaram oprincípio multiplicativo e uma resolveuusando representação. Uma das duplasque errou, usou o princípio multiplicativo,retirando quatro quadrados, comreposição, em lugar de três; outra usou oprocesso de multiplicação de um paramuitos “4 cores vezes 4 opções” e asrestantes usaram a representação oufizeram por tentativa e erro, mas com umprocedimento que não possibilitou queencontrassem todas as possibilidades.

Quanto ao item “c”, oito duplaschegaram ao resultado correto. Nesseitem, as duplas tiveram mais facilidadeem achar um procedimento que aslevasse a encontrar todas aspossibilidades, pois o número de figurasera menor, em relação aos itensanteriores. Das oito duplas quechegaram ao resultado correto, 4 usaramo princípio multiplicativo e 4 usaram oprocesso de tentativa e erro.

No item “d”, oito duplas fizeram asolução correta, pois tiveram a mesmafacilidade do item anterior. Nesse item,apenas uma dupla, dentre as queacertaram, fez uso da representação pararesolver a questão.

Nos itens “e”, “f” e “g”, as duplasvoltaram a apresentar dificuldade emchegar ao número total de possibilidades.Talvez o fato de termos aumentado onúmero de figuras nesses itens possa tercontribuído para tal fato, mesmo porque,segundo Fischbein, existe umadificuldade relativa dos problemas deanálise combinatória em função danatureza e do número de elementos quedevem ser combinados.Dos resultados obtidos, constatamosque os alunos ainda não se apropriaramdo conceito do princípio multiplicativo e

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o processo de tentativa e erro não é umprocedimento eficiente que possibilita adeterminação de todas as possibilidades.Depois que todas as duplas colocaram asrespectivas resoluções na lousa, fizemosum debate para que os alunosdiscutissem qual seria a resoluçãocorreta de cada item. Discutimos, ainda, oque havia de errado nas outrasresoluções. Logo a seguir, questionamosquais das soluções apresentadas erammais eficientes.Notamos um certo entusiasmo dasduplas que responderam corretamenteaos itens da questão 1.1, principalmenteporque tiveram oportunidade de explicaro raciocínio para os colegas.Percebemos, também, uma certafragilidade das duplas que nãoconseguiram chegar à resposta correta,mas tentamos incentiva-las mostrando-lhes que, mesmo não chegando aoresultado, usaram um raciocíniocombinatório, que indicava um grandepasso para o aprendizado desseconteúdo.A seguir, distribuímos a continuação daficha 2. Como já mencionamos, naquestão 1.2 foram colocadas maisfiguras, pedindo-se aos estudantes quedescrevessem as mesmas situações daquestão 1.1. Apenas duas duplasperceberam a relação existente nestasduas questões e fizeram corretamentetodas as situações anteriores usando oprincípio multiplicativo. As duplas quenão interpretaram corretamente oproblema fizeram a permutação dasfiguras.Nas questões 1.3 e 2, as duplas ficaramem dúvida se deveriam trabalhar comtodas as figuras ao mesmo tempo Nessecaso, houve intervenção da

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pesquisadora: foi construída umapossibilidade, mudando-se a posição deduas figuras. Na questão 1.3, quatroduplas acertaram, usando o princípiomultiplicativo. Das duplas que erraram,cinco usaram a multiplicação de um paramuitos (5 x 4) e as restantes responderamsem justificar. Na questão 2, as quatroduplas que acertaram a questão anteriortambém acertaram esta, valendo-se domesmo processo de resolução; as duplasque erraram a questão anterior tambémerraram esta, usando o mesmo processopara chegar à solução.Observamos que o conceito demultiplicação do tipo um para muitosainda é forte. Após a apresentação dassoluções na lousa, houve a preocupaçãoem comentar cada tipo de solução.Tentamos destacar as diferenças entrecada tipo de solução e a correta, dandocondições aos alunos de aplicaremintuitivamente do princípio multiplicativo.

Avaliação do encontro:Nesse segundo encontro, as duplasestavam mais soltas e pediam um tempomaior para resolver os problemasapresentados. Notamos que todas asduplas ficaram entusiasmadas com aentrega de um material concreto paratrabalhar, mas observamos uma grandedificuldade em manuseá-lo. Descreveramas etapas solicitadas com certadificuldade. Observamos, também, umagrande dificuldade na interpretação doenunciado e em relação aodesenvolvimento do raciocínionecessário para a resolução deproblemas combinatórios.Podemos notar que essa observação vaicontra a Teoria de Piaget (1951). Segundo

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o autor, depois das operações formais, oadolescente descobre procedimentossistemáticos de construçõescombinatórias, mas ao mesmo tempo vaiao encontro do trabalho de Batanero(1997). Esta constata que a maiordificuldade em resolver os problemas deanálise combinatória é a ausência deenumeração sistemática.

4.2.3 Ficha 3Situação-problema 1: atividade daspoltronasEm relação a essa atividade, percebemosque as duplas utilizaram o desenho daspoltronas, auxiliando a resolução do item“a”. Oito duplas acertaram o item “a”,sendo que quatro fizeram uso darepresentação e do princípiomultiplicativo, uma dupla resolveu portentativa e erro e três duplas usaramapenas o princípio multiplicativo. Umadelas, que resolveu erroneamente, fez amultiplicação do tipo um para muitos (4amigos vezes 4 poltronas).No item “b”, houve necessidade dainterferência da pesquisadora nainterpretação do problema. Três duplasconseguiram chegar ao resultado correto,usando o processo de tentativa e erro.Uma das duplas que errou, usou oprincípio multiplicativo e percebeu quedeveria dividir o resultado, obtido nocálculo do princípio multiplicativo, pelonúmero de possibilidades que equivalema uma, mas acabou dividindo por dois,quando deveria dividir por 4. Quantos aoserros, persistem os apresentados nasfichas anteriores.Quatro duplas acharam que o modo desolução seria igual para os dois itens. As

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demais duplas perceberam que oprocesso de solução mudava, pois, noitem “a”, a ordem em que os amigosocupam as poltronas é importante e, noitem “b”, a ordem em que os amigosocupam as poltronas de cada lado docorredor é irrelevante.

Situação-problema 2: atividade dosanagramas

Tal atividade foi dividida em duaspartes: 2.1 e 2.2. Na questão 2.1, tivemossete duplas que acertaram, sendo queduas duplas usaram representação ecinco duplas usaram o princípiomultiplicativo. Uma das duplas usou amultiplicação do tipo um para muitos eoutra dupla fez por tentativa e erro,chegando a 12 possibilidades emultiplicou esse resultado pelo númerode letras (7). As outras três duplasresponderam, sem justificar.Na questão 2.2, oito duplas responderamcorretamente, sendo que apenas uma fezuso da representação e as restantesusaram o princípio multiplicativo. A duplaque resolveu a questão 2.1 usando amultiplicação de um para muitos repetiuo procedimento nessa questão. A duplaque usou tentativa e erro também repetiuo mesmo procedimento. As outras duasnão responderam à questão.Quando as duplas apresentaram asrespostas na lousa, tivemos apreocupação de comentar os resultadoserrôneos, justificando. Utilizando a árvorede possibilidades, demonstramos que amultiplicação do tipo um para muitos setorna inviável nesse tipo de problema. Percebemos uma certa resistência dasduplas em usar a árvore depossibilidades ou qualquer tipo derepresentação.

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Situação-problema 3: atividade dasenha

Essa atividade foi dividida em 4etapas. Seis duplas fizeram uso doprincípio multiplicativo e oito duplascolocaram a quantidade de letras oualgarismos em cada situação, etapainicial do princípio multiplicativo. Dasdoze duplas, apenas uma respondeuerroneamente a duas etapas, sendo estauma das que não usou o princípiomultiplicativo.Após apresentarem as soluções,mostramos que havia necessidade dejustificar a resposta através de umcálculo e todas concordaram que omelhor caminho era o princípiomultiplicativo.Resolvemos deixar a atividade quatropara ser dada junto com a ficha 4, já queteríamos que prolongar o encontro pormais 10 minutos e, certamente, nãohaveria rendimento satisfatório naresolução desta atividade. Além disso, jáhavíamos observado que algumas duplastinham um certa ânsia em responderrapidamente às questões.

Situação-problema 4: atividade dasplacas dos carros

Todas as duplas conseguiramestabelecer uma relação com asatividades anteriores e a resolveramcorretamente, usando o princípiomultiplicativo.Vale ressaltar que os alunosconsideraram também as mudanças deordem dos elementos como novas placasa serem consideradas, justificando queseriam diferentes porque as letras oualgarismos estavam em posiçõestrocadas.

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Ao final dessa atividade, foiinstitucionalizado o princípiofundamental da contagem.

Avaliação do encontro:Nesse encontro, pudemos constatar adificuldade de algumas duplas emdiferenciar os casos em que a ordem doselementos é fator de diferenciação dosresultados. A mesma constatação éapresentada nas pesquisas de Batanero.Notamos, ainda, que as duplas estavammais soltas e participativas nasdiscussões das soluções apresentadaspelos colegas.

4.2.4 Ficha 4Situação-problema 1: atividade do jogode frescobol.Inicialmente, as duplas tentaram fazeruso do princípio multiplicativo, mas nãohavia um número exato de partidas,determinando que poderia haver nomínimo duas e no máximo cinco. Nessemomento, houve interferência dapesquisadora, sugerindo que usassem aárvore de possibilidades, conformeenunciado na atividade. Mesmo com talinterferência, apenas três duplas fizeramuso de tal representação, sendo que umadupla fez uma parte da árvore e depoismultiplicou por cinco partidas, em vez demultiplicar o número de finalistas, queseriam dois. Tivemos cinco duplas queacertaram a solução do problema e seteque erraram. Das sete duplas queerraram, três usaram representação e trêsusaram o processo de tentativa e erro,porém sem usar um procedimento que aslevasse ao número total depossibilidades.

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Pedimos que as duplas colocassem assoluções na lousa e discutimos não só oserros apresentados como aimpossibilidade do uso do princípiofundamental da contagem.Novamente, nessa ficha, constatamos adificuldade dos alunos em estabelecerum procedimento que os levasse a todasas possibilidades.

Situação problema 2: atividade dosanagramasEssa atividade contém três itens etambém não pode ser resolvida por meiodo princípio multiplicativo, mas sim pelaárvore de possibilidades.A tabela abaixo mostra o desempenhodas duplas nos três itens da situaçãodescrita:

Itens a b

Acertos 7 2

Erros 5 10Tabela 4.2: Desempenho das duplas nos itens a, b, c da

atividade 2

Nessa atividade, pudemos constatar adificuldade dos discentes em trabalharcom elementos repetidos, principalmentena permutação, fato já observado naspesquisas de Batanero. Outraconstatação é a diminuição do número deduplas que acertaram o item “b”, poisnele aumentamos o número de letras aserem permutadas. Novamente,corroboramos os resultados de Fischbein(1997), “ os alunos apresentamdificuldade quando aumenta o número deelementos a combinar”.Das duplas que acertaram o item “a”,uma fez uso da árvore de possibilidadese as outras usaram o processo detentativa e erro. Uma das duplas queerrou, fez a árvore de possibilidades, mas

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não cancelou as possibilidades iguais, ea outra usou o princípio multiplicativo,porém sem levar em consideração asletras repetidas. As duplas restanteserraram o resultado, pois resolveram portentativa e erro, sem usar umprocedimento.No item “b”, as duplas que acertaramusaram como método de resolução aárvore de possibilidades. Três das queerraram usaram o princípio multiplicativoe as outras, o processo de tentativa eerro.No item “c”, das duplas que acertaram,cinco usaram o processo de tentativa eerro e uma usou o princípiomultiplicativo. Uma das duplas queerrou, usou a árvore de possibilidades,porém escreveu 12 possibilidades, duasusaram o princípio multiplicativo, sendoque uma delas começou usandorepresentação antes de utilizar oprincípio multiplicativo. As demaisfizeram por tentativa e erro.

Avaliação do encontro:Nesse encontro, constatamos anecessidade de usar os conhecimentos jáadquiridos e a resistência em usar aárvore de possibilidades.As duplas aindaapresentam alguma dificuldade emrelação ao desenvolvimento do raciocínionecessário para a resolução deproblemas combinatórios. A cadaencontro, observamos uma necessidademaior das duplas no que se refere àdiscussão de suas soluções. Não existemais a preocupação por haverem errado,mas sim pela descoberta de onde estãoerrando.

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4.2.5 Ficha 5Nessa ficha, usamos um círculo demadeira, em que havia seis pregos.Faríamos as ligações dois a dois, comlinha de bordar. O círculo foi escorado nalousa para que qualquer dupla o usassese e quando julgasse necessário. Nasatividades, foi desenhado um círculo emcada uma das questões. Pedimos quecada dupla dividisse o círculodesenhado, conforme a divisãoapresentada no material concreto.Distribuímos canetas coloridas para cadadupla e pedimos que resolvessem oproblema, utilizando o círculo desenhadoe colocando o nome de cada restaurantenos pontos marcados (para a atividade 1),e representassem cada 8ª série (para aatividade 2).

Situação-problema 1: atividade daagência de turismo

Todas as duplas chegaram aoresultado correto, sendo que seteresponderam `a questão multiplicando onúmero de restaurantes pelo número deligações que saíam de cada restaurante,quatro ligaram os pontos e responderamcontando o número de retas traçadas nodesenho apresentado na ficha e umasomou as possibilidades de cadarestaurante, desenhadas nacircunferência.

Situação-problema 2: atividade damaratona do saber.

Tal atividade tem como objetivo oquestionamento do fator ordem, isto é,levar os alunos a perceberem que amudança de ordem dos elementos, nessecaso, não altera a dupla que participará

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da maratona. Cinco duplas acertaram,pois perceberam que, ao unirem “o alunoda 8ª B com o aluno da 8ª A, teriam osmesmos alunos”. As outras sete duplaserraram, pois chegaram à mesma soluçãoda atividade anterior.Quando fizemos o debate referente aosresultados colocados na lousa, tentamosquestionar por que as duas atividadesnão apresentavam o mesmo processo deresolução. Utilizando o material concreto,mostramos passo a passo odesenvolvimento do raciocínionecessário para as duas atividades, como auxílio da árvore de possibilidades.A seguir, apresentamos duas questõescomplementares. Em uma das questões,pedimos para que escolhessem osrestaurantes para o café da manhã,almoço e jantar, seguindo a mesmacondição da atividade 1, e na outra, queescolhessem três alunos paraparticiparem da maratona do saber.Para a questão complementar dorestaurante, as duplas usaram o princípiomultiplicativo sem nenhuma dificuldade.Para a questão complementar damaratona, já apresentaram dificuldade.Nesse momento, houve interferência dapesquisadora no sentido de chamar-lhesa atenção para o fato de que eles teriamum número menor de possibilidades.Então, à parte, as duplas começaram aspossibilidades, fixando três elementos,sendo que dez chegaram ao resultadocorreto.

Avaliação do encontroObservamos um entusiasmo quanto aouso do material concreto, mas pudemosconstatar que este não foi suficiente paraque todas as duplas percebessem a

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relação de ordem, principalmente quandoligado a problema de combinação. Essaobservação reafirma os resultadosencontrados nas pesquisas de Batanero(1996, 1997).

4.2.6 Ficha 6Situação-problema 1: atividade da

cobrança de pênaltisNessa atividade, os alunos não

pediram a interferência da pesquisadora,responderam às questões com muitaconfiança e rapidez. Apenas duas duplaslevaram mais tempo para resolver porquenão chegavam a uma conclusão entre si.Uma dupla errou, não considerando aordem, e onze acertaram, poisperceberam que a ordem das escolhasseria importante. Das que acertaram, seteusaram como processo de resolução oprincípio multiplicativo, duas usaram arepresentação para depois utilizar oprincípio multiplicativo, uma usou oprocesso de tentativa e erro e outra usouo princípio aditivo.

Situação-problema 2: atividade damontanha russa

Uma dupla considerou a ordemquando era irrelevante e usou o princípiomultiplicativo; as demais perceberamque, nesse caso, a ordem não tinhaimportância, justificando que semudassem as posições dos amigos, elesainda ficariam no banco da frente.Das onze duplas que acertaram, duasfizeram uso da representação, uma doprocesso de tentativa erro e oitoutilizaram o princípio fundamental dacontagem.Na questão em que perguntamos se oprocedimento de resolução das duas

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atividades seria igual, onze duplasresponderam que “não”, justificando“que na segunda atividade a ordem dequem vai no banco da frente nãoimporta”.Ressaltamos, novamente, a importânciada interpretação cuidadosa de umproblema de combinatória, para sucessona sua resolução, Nesse momento,salientamos a necessidade de semprenos questionarmos sobre “se trocarmosa posição entre dois elementos, teremosou não uma nova possibilidade”.Comentamos que essa pergunta poderianos auxiliar a saber qual procedimentousar para resolver um problema deanálise combinatória.

Situação problema 3: atividade dojóquei

Entregamos a atividade eesperamos que todos lessem. A seguir,pedimos para que cada dupla fizesse asua aposta. A partir das apostas,perguntamos quem teria uma chancemaior de ganhar o prêmio. Depois dedebater um pouco sobre o que a questãoinformaria e requeria, pedimos que elafosse resolvida. Nesse momento,tentando resgatar um pouco da históriacomentando que o estudo da análisecombinatória foi desenvolvidoprincipalmente para resolver problemasde probabilidade referentes a jogos deazar.Tal atividade está dividida em cinco itense cada item representa uma modalidadede aposta.

a b c

11 5 9

1 7 3

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Tabela 4.3: Desempenho das duplas nos itens a, b, c, d, e daatividade 3.

Uma dupla respondeu, de forma errada, àprimeira modalidade, colocando oitopossibilidades. Questionamos como seriapossível se tínhamos apenas seiscavalos. Logo perceberam o erro ecomentaram que haviam trabalhado comoito cavalos em todas as modalidades.Na segunda modalidade, as duplasdeveriam perceber que a ordem erairrelevante. Cinco acertaram, sendo queapenas uma usou representação. As seteque erraram resolveram através doprincípio multiplicativo.Na terceira modalidade as duplasdeveriam considerar a ordem. Noveresolveram corretamente, sendo queapenas a dupla que utilizou arepresentação na segunda modalidade,continuou usando nesta modalidade. Asdemais usaram o princípio multiplicativo.As três duplas que erraram consideraramirrelevante a ordem de chegada doscavalos.Na quarta modalidade, a ordem deveriaser considerada. Das sete duplas queresolveram corretamente, uma fez arepresentação e as demais usaram oprincípio multiplicativo. As duplas queerraram a resposta não consideraram aordem.Na quinta modalidade, a ordem erairrelevante, pois precisavam só acertar ostrês primeiros colocados, não importandoa ordem de chegada. Das quatro duplasque acertaram, só a dupla que usou arepresentação em todas as modalidadesanteriores continuou a usar. As demaisusaram o cálculo. Uma das que errouconsiderou a ordem irrelevante, maserrou no cálculo. As outras sete usaram oprincípio multiplicativo.

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Na questão que pedimos para diferenciara trifeta simples da combinada, todas asduplas responderam corretamente,acontecendo o mesmo na questão quepedimos para diferenciar a dupla inexatada dupla exata. Observamos algumadificuldade em relação ao procedimentoque deveria ser usado para cada tipo demodalidade. Mediante a esta observaçãotentamos enfatizar qual procedimentodeve ser usado para cada caso, quandodiscutimos as soluções colocadas nalousa.

Situação-problema 4: atividade dasfrutas

Novamente nesta atividade asduplas teriam que questionar se a ordemera essencial ou não. Na primeira fase doproblema 9 duplas acertaram e todasusaram como processo de resolução ocálculo aritmético. As outras trêserraram, sendo que duas consideramcorretamente que a ordem era irrelevante,mas fizeram o cálculo errado. Uma duplaerrou porque usou duas frutas no lugarde cinco, e outra dupla que errou usourepresentação, mas sem o procedimentoque chegasse em todas aspossibilidades.Na outra parte da questão, cinco duplasperceberam que a ordem seria essenciale resolveram corretamente, usando oprincípio multiplicativo. Das que erraram,uma usou a representação sem oprocedimento que fizesse chegar a todasas possibilidades, outra respondeu semjustificar, outra considerou a ordem, masfez repondo as frutas (5 x 5 x 5) e asdemais consideraram a ordemirrelevante.

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Quanto às duas últimas questões, emrelação à ordem, todas as duplasresponderam corretamente. Novamente,percebemos a dificuldade de interpretaro problema, de questionar o fator ordeme de saber qual processo de resoluçãousar.Como estávamos no nosso penúltimoencontro, decidimos fazer um debatemais prolongado, utilizando a árvore depossibilidades para auxiliar nainterpretação do problema e noraciocínio, novamente resgatando aimportância de como a representaçãopode auxiliar nesse tipo de problema.

Avaliação do encontro:Nesse encontro, começamos a observarque as duplas questionavam se era ounão importante à ordem dos elementos,mas tinham dificuldade em saber oprocesso de resolução a ser usado emcada tipo de problema. Acreditamos queos alunos que utilizaram a representaçãoou tentativa e erro, conseguiramdiferenciar um processo do outro. Nofinal do encontro, enfatizamos a questãoda ordem e mostramos qual processo deresolução deveriam seguir para osproblemas em que a ordem é importantee para os que a ordem não é importante.

4.2.7 Ficha 7Entregamos essa ficha e esperamos queas duplas resolvessem os problemaspropostos para depois familiarizar osalunos com as notações de arranjo,permutação e combinação.Algumas duplas ainda apresentaram oerro ordem, principalmente nos

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problemas com enunciados diferentes ouos que exigiam mais de uma etapa deresolução.

1b 212 9 60

3 6Tabela 4.4: Desempenho das duplas nos problemas 1a, 1b, 2,

3, 4, 5, 6 da ficha 7

Nos problemas 1a e 1b, todas as duplasperceberam que a ordem era essencial econseguiram diferenciar que no item “a”deveriam usar três dos cinco númerosapresentados e no item “b” deveriamtrabalhar com todos números. Uma dasduplas respondeu sem justificar e asdemais justificaram através do princípiomultiplicativo.No problema 2, temos duas partes: a quepede o número de retas que podem serformadas passando pelos pontos dadosna circunferência e a que pede o númerode diagonais. Para a primeira parte temosnove duplas que acertaram e três queerraram, e para a segunda parte seisacertaram e seis erraram. Das duplas queacertaram a primeira parte, seteutilizaram o desenho apresentado naatividade, e das que acertaram a segundaparte, quatro utilizaram o desenho.Pudemos perceber que uma das duplasque errou as duas partes, desenhou asretas na circunferência apresentada naatividade, mas não respondeunumericamente à questão.Percebemos que as duplas apresentaramdificuldade em relacionar este tipo deproblema, que para eles seria geométrico,a um problema combinatório. Houvenecessidade de que a pesquisadorainterferisse, tentando associar esteproblema às atividades da ficha 5. Naparte do problema que pedia o número de

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diagonais, as duplas apresentaramdúvida quanto ao conceito de diagonais.As duplas também apresentaram umagrande dificuldade no problema 3, ondeelas teriam que calcular a quantidade decomissões formadas por físicos ematemáticos. Inicialmente, as duplas nãoperceberam que teriam que formar,primeiro, a comissão dos físicos e,depois, a dos matemáticos, unindo asduas comissões. Novamente, houveinterferência da pesquisadora.Uma das duplas, cuja a solução foiclassificada como errada, não fez ejustificou que não sabia iniciar. Dasoutras quatro que erraram, uma só fez acomissão de físicos; outra representouas comissões, não terminou e usou oprincípio multiplicativo, considerando aordem importante; a terceira permutoutodos os matemáticos; a quarta juntou aquantidade de físicos com a dematemáticos e fez uma comissão de seispessoas. Das que acertaram, nenhumausou representação.No problema 4, todas as duplasperceberam que a ordem era essencial eresolveram-no corretamente, usando oprincípio fundamental da contagem.Tratava-se de um problema depermutação, utilizando-se figuras,semelhante às últimas atividades da ficha2.No problema 5, as duplas, a princípio,não conseguiram perceber que oalgarismo 2 teria que ficar fixo na casa domilhar. Então, começaram a questionar euma das duplas conseguiu notar que osnúmeros compreendidos entre 2000 e3000 começavam por 2. Essacompreensão foi colocada oralmente e asdemais duplas acabaram ouvindo,

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questionando até conseguirem entendere aceitar tal raciocínio.Das cinco duplas que erraram, trêsesqueceram de eliminar o algarismo 2 etrabalharam com os 9 algarismos (9 x 8 x7 no lugar de 8 x 7 x 6). Pudemosperceber que interpretaram corretamentea questão da ordem. As outras duasresponderam sem justificar. As queacertaram usaram o princípiomultiplicativo.Para o problema 6, distribuímos canetascoloridas e deixamos o materialconfeccionado (material emborrachado) àdisposição das duplas que quisessemusá-lo.Cinco duplas não fizeram uso dessematerial, sendo que duas não chegaram anenhuma conclusão e não responderamao problema, e três encontraram umasolução. Dessas três, uma usou odesenho apresentado na ficha erespondeu que “teria que deixar doisespaços em branco”, a outra resolveuuma usando divisão (34 : 2) e a outra,multiplicação (16 x 2). As demais usaramo material e o desenho apresentado naatividade, percebendo que eraimpossível dar uma solução.Depois de discutida toda a soluçãoencontrada em cada um dos problemasapresentados na ficha, a pesquisadoraexplicitou os nomes para cada tipo deagrupamento e suas respectivasnotações.Enfatizamos, mais uma vez, a importânciade se analisar, em todos os problemas deanálise combinatória, se o fator ordemera ou não relevante no problema.Aproveitamos para diferenciar arranjo decombinação, mostrando que, paraarranjo, a ordem dos elementos é

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essencial, enquanto que paracombinação, irrelevante.

Avaliação do encontro:Nesse encontro, ainda percebemos,conforme resultados encontrados naspesquisas de Batanero (1996, 1997),dificuldade em resolver os problemas emque a ordem é irrelevante. Notamos queas representações e o processo detentativa e erro foram praticamenteabandonados.Fazendo um levantamento da nossaseqüência, chegamos à conclusão de queprecisaríamos ainda de mais doisencontros para que pudéssemostrabalhar com outros tipos de situações-problema, principalmente aqueles queprecisassem de mais de uma etapa deresolução. Havia necessidade de maisproblemas de combinação simples,momento em que os alunosapresentaram maior dificuldade.

4.3 ANÁLISE DO DESEMPENHO DOSGRUPOS EXPERIMENTAL E DE

REFERÊNCIA NOS TESTESNessa seção, faremos a análise quantitativa do desempenho apresentado

pelos grupos experimental e de referência nos instrumentos diagnósticos, quais

sejam pré e pós-testes. Sempre que pertinente, compararemos os resultados

destes grupos.

Após a apresentação da tabulação numérica de cada um dos quatro pontos

de vista pelos quais analisaremos os dados, procederemos à discussão dos

resultados obtidos.

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Antes de darmos procedimento à análise, gostaríamos de reiterar a

mudança na quantidade de participantes tanto no grupo experimental quanto no

de referência. Tal mudança foi necessária porque alguns sujeitos não

compareceram a todos os encontros previstos no experimento. Assim sendo, o

grupo experimental, que se iniciou com 28 sujeitos, perdeu três e ficou com 25

sujeitos; já o grupo de referência, que se iniciou com 30, perdeu seis e ficou com

24 sujeitos.

4.3.1 Análise Numérica e Gráfica do Percentual de Acertos dos

Grupos.

Apresentaremos, a seguir, a análise da porcentagem relativa de acertos de

cada grupo no pré e pós-testes. Em cada teste (pré e pós), havia 16 itens a serem

analisados. Como o grupo experimental era composto de 25 alunos, tivemos um

total de 400 possibilidades de acerto por teste. Já no grupo de referência,

composto de 24 alunos, 384 passa a ser o número de possibilidades de acerto

por teste. Dessa forma, obteremos a porcentagem relativa de acertos (de cada

grupo) nos pré e pós-testes.

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Gráfico 4.1: porcentagem de acertos geral dos grupos

O gráfico, acompanhado da tabela, mostra-nos que o grupo experimental

teve maior desempenho tanto no pré como no pós-teste, sendo que no pré-teste

esta diferença foi ínfima (menos de 2%).

Observando o gráfico, surge uma questão: a diferença entre os dois

grupos, no pós-teste, seria estatisticamente significativa?

Para responder a tal questão, construímos um quadro com os acertos

globais de cada sujeito e fizemos um tratamento estatístico, para verificar a

significância de diferenças.

Escolhemos o teste estatístico de Mann-Whitney por ser adequado para

comparação de dois grupos independentes e o número de acertos por sujeito

constituir uma mensuração ordinal.

Os cálculos obtidos foram os seguintes: z = 2,56 e p = 0,0052. Como o

valor de p é inferior a α = 0,01, nossa decisão é rejeitar a hipótese de nulidade em

favor da hipótese alternativa. Concluímos, então, que a diferença obtida entre os

dois grupos (experimental e referência) é significativa. Isso quer dizer que o

melhor desempenho do grupo experimental sobre o grupo de referência não se

deu ao acaso.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Pré 7,50% 6,00%

Pós 53,20% 36,50%

Grupo experimental Grupo de referência

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O grupo de referência, mesmo após haver estudado o conteúdo análise

combinatória proposto para o ensino médio, sendo submetido a três avaliações

antes de ser aplicado o pós-teste – o que implica maior contato com o objeto, em

comparação com o grupo experimental – acertou o equivalente a pouco mais de

um terço do pós-teste. No pré-teste, vale notar que o acerto em ambos os grupos

foi muito baixo. De fato, o pré-teste foi elaborado de tal forma que permitisse que

um aluno que não tivesse nenhum contato com o conteúdo análise combinatória

pudesse acertar no máximo 20%, o que está longe de ser realidade nos dois

grupos.

Com relação ao pós-teste, o percentual de acerto do grupo experimental foi

satisfatório, muito mais se considerarmos que os alunos só tiveram contato com o

objeto durante os encontros. Contudo, essa primeira apresentação dos resultados

é muito geral e não nos fornece dados suficientes para que possamos analisar o

comportamento desses alunos sob o ponto de vista da formação e do

desenvolvimento do conceito de análise combinatória. Para tanto, procuramos

realizar outros tipos de análise que apresentaremos nas seções a seguir.

4.3.2 Análise do Percentual de Acertos por Itens

A tabela a seguir representa o percentual de acertos de cada questão

apresentado pelos grupos nos dois testes. Temos a intenção de realizar tal

análise, visto que cada item foi elaborado de modo a privilegiar um determinado

processo de resolução. Com isso, poderemos observar em que pontos há

maiores dificuldades.

Faremos uma análise quantitativa de seus desempenhos em cada questão,

citando os principais tipos de erros. Uma análise global da categorização de erros

será apresentada mais adiante, com a finalidade de se obter uma visão mais

ampla dos caminhos que levaram o aluno ao insucesso.

Questões/ Grupo experimental Grupo de referência

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Grupos 8ª série 2º colegial

Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste

Q1 a 72% 20% 50% 33%

Q1b 20% 8% 8% 25%

Q2 32% 76% 25% 42%

Q3a 0% 60% 0% 21%

Q3b 0% 44% 0% 12%

Q4a 0% 88% 4% 75%

Q4b 0% 84% 0% 42%

Q5a 0% 96% 0% 67%

Q5b 0% 44% 0% 38%

Q6a 0% 48% 0% 46%

Q6b 0% 52% 0% 46%

Q7 0% 28% 0% 4%

Q8a 0% 76% 0% 29%

Q8b 0% 32% 0% 17%

Q9 0% 28% 0% 17%

Q10 0% 72% 0% 71%Tabela 4.5: Percentual de acertos dos dois grupos, no pré e pós-teste, por itens.

A seguir, apresentaremos os gráficos de comparação da evolução por

questão do pré para o pós-teste e da comparação do percentual de acertos por

questão entre os dois grupos (no pós-teste).

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Q1 a

Q1b

Q2

Q3a

Q3b

Q4a

Q4b

Q5a

Q5b

Q6a

Q6b

Q7

Q8a

Q8b

Q9

Q10

q u estõ es

G ru p o e x p e rim e n ta l

P ré tes te P ós tes te

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Gráfico 4.2: Desempenho dos grupos experimental e de referência no pré e pós-teste, por itens.

Observando o gráfico acima, notamos que o grupo de referência

apresentou uma porcentagem de acerto maior na questão 1 em relação ao grupo

experimental, não chegando, porém, a um resultado satisfatório. Nas questões

5b, 6a, 6b e 10, vemos que os dois grupos apresentaram quase a mesma

porcentagem de acerto, com uma diferença que varia de 1% a 6%. Nas demais

questões, o grupo de referência apresentou um percentual maior de acerto.

Notamos que na questão 1a, o rendimento de acerto do pós-teste caiu

substancialmente nos dois grupos, em relação ao pré-teste, sendo que a queda

do grupo experimental foi ainda mais acentuada. Na questão 1b, o número de

alunos que acertou no pré-teste também foi relativamente maior do que no pós-

teste. Outra questão que nos chamou a atenção foi a 5a, pois os dois grupos

apresentaram grande dificuldade no pré-teste (um acerto de 0 %) e, no pós-teste,

houve um bom rendimento, principalmente o grupo experimental, com 96% de

acertos. A questão 7 foi outra que nos chamou a atenção, já que, no pré-teste,

nenhum dos alunos dos dois grupos conseguiu acertar e, no pós-teste, o número

de acertos também foi pequeno para os dois grupos. O mesmo aconteceu com a

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Q1

a

Q1b

Q2

Q3a

Q3b

Q4a

Q4b

Q5a

Q5b

Q6a

Q6b

Q7

Q8a

Q8b

Q9

Q10

questões

Grupo de referência

Pré teste Pós teste

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questão 9. Tais questões serão melhores comentadas a seguir, quando

iniciarmos a análise por questão.

Podemos, também, observar que os dois grupos mantiveram uma mesma

tendência de comportamento, exceto na questão 1b. Em outras palavras, à

exceção da questão 1b, todas as outras que o grupo experimental mais acertava

eram as que o grupo de referência também mais acertava, embora os percentuais

de acertos diferissem de um grupo para o outro. Assim, notamos que na questão

2 tanto o grupo experimental como o grupo de referência tiveram um percentual

de acerto maior do que em relação à questão 3a. Depois, na questão 4a, aumenta

o percentual de acerto, voltando a diminuir na questão 4b e novamente

aumentando na questão 5a.

A seguir, partindo dos resultados apresentados no gráfico 4.3, faremos a

análise para cada questão do pós-teste com relação aos dois grupos.

Gráfico 4.3: Resultado das questões do pós-teste com relação aos grupos experimental e de referência.

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

%

Q1 a

Q1b

Q2

Q3a

Q3b

Q4a

Q4b

Q5a

Q5b

Q6a

Q6b

Q7

Q8a

Q8b

Q9

Q10

questões

comparação entre os dois grupos no pós teste

8ª 'serie 2º colegial

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Observando o item “a” da questão 1, podemos notar que os dois grupos

regrediram, não apresentando uma porcentagem de acertos satisfatória no pós-

teste. Nessa questão, foram marcados seis números, em um cartão do jogo da

sena, para se saber o número de quinas que poderiam ser formadas com eles. No

pós-teste, notamos que os alunos perceberam a irrelevância da ordem e usam o

princípio fundamental da contagem ou a fórmula de arranjo (grupo de referência),

no processo de resolução. No pré-teste, acreditamos que a apresentação de um

resultado mais satisfatório se deve ao fato de os alunos usarem o processo de

tentativa e erro e assim conseguirem perceber que, ao mudarem a posição de um

número, tinham a mesma quina formada, chegando a todas as possibilidades

possíveis e, conseqüentemente, ao resultado correto.

As figuras abaixo são os protocolos da questão 1 do pré e pós-teste de um

dos sujeitos do grupo experimental. Nela é possível observar as diferenças nas

estratégias de ação desse sujeito.

Extrato de protocolo da aluna 3 do grupo experimental -extraído do pré-teste

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Extrato de protocolo da aluna 3 do grupo experimental -extraído do pós-teste

Podemos observar que no pós-teste a aluna começou a resolver por

tentativa e erro, tal qual o fez no pré-teste, mas desistiu e buscou resolver usando

o princípio multiplicativo, considerando a ordem importante, enquanto esta não o

era.

No item “b” da questão1, os alunos deviam calcular o número de quadras

possíveis. Podemos notar que os dois grupos apresentaram resultados

insatisfatórios, sendo que o grupo de referência evoluiu no pós-teste enquanto o

grupo experimental regrediu. A dificuldade apresentada pelo dois grupos foi

novamente não questionar o fator ordem. O grupo experimental obteve um

resultado um pouco melhor no pré-teste, pois efetivou o mesmo procedimento de

resolução do item “a”, por tentativa, onde novamente o fator ordem foi percebido

intuitivamente.

Podemos observar, a partir do exemplo anterior, que se a aluna tivesse

feito uso da representação também no pós-teste provavelmente chegaria à

resposta correta, pois perceberia que a ordem era irrelevante. Questionando as

resoluções apresentadas pelos alunos, pudemos observar que eles deixaram de

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lado a representação e tentaram usar o processo mais econômico (princípio

fundamental da contagem ou fórmula, tratando-se do grupo de referência).

Depois de várias reflexões, achamos que deveríamos ter valorizado mais a

representação, desde o início da nossa seqüência didática. Por exemplo,

poderíamos ter criado uma atividade, onde eles trabalhassem com os volantes

dos jogos da sena ou outros jogos, e fazer um sorteio, usando uma urna de bingo.

Aí trabalharíamos com a troca da ordem dos números sorteados e

questionaríamos os alunos para que pudessem perceber que, mudando a ordem

dos números sorteados, estes teriam a mesma seqüência.

Nessa questão, também, podemos nos perguntar se os alunos não

obtiveram melhor resultado no pré-teste devido ao contrato didático estabelecido.

Isto é, no pré-teste eles não tinham conhecimento do conteúdo pedido e poderiam

resolver de uma forma mais livre; já no pós-teste, eles haviam estudado o

conteúdo e já possuíam conhecimento de outras formas de resolução sem ser a

representação. Por isso, talvez se tenham sentido na obrigação de utilizar o

conhecimento adquirido e quando foram usar o princípio fundamental da

contagem, esqueceram-se de questionar a ordem.

A questão 2 é um tipo de problema que o aluno já conseguiria resolver no

pré-teste, através da representação. Os dois grupos apresentaram uma

porcentagem insatisfatória no pré-teste, provavelmente por exigir do aluno a

interpretação do problema. Após o estudo do conteúdo Análise Combinatória, o

grupo experimental teve um crescimento satisfatório (76%), enquanto que o grupo

de referência, apesar de ter um crescimento em relação ao pré-teste, não chegou

a um resultado satisfatório (42%).

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Nesta questão os alunos fizeram uso do desenho para resolver o problema.

Dessa forma, o tipo de representação através do desenho os auxiliou na

resolução e eles não o abandonaram durante a resolução do pós-teste, como

veremos em algumas questões adiante.

A questão 3 é referente à permutação dos elementos , onde o processo

correto de resolução seria através do princípio fundamental da contagem, ou

através da fórmula de permutação sem repetição. Nessa questão, uma

calculadora seria essencial para não haver erro de conta. Pudemos notar que no

pós-teste o grupo experimental obteve 60% de acerto, enquanto o grupo de

referência apenas 21%. O principal motivo que levou os grupos a uma resposta

incorreta no pré-teste foi constituído pela forte interpretação do verbo “distribuir”

que para eles significa dividir. Analisando o procedimento de resolução que os

alunos adotaram no pós-teste, foi possível notar que o principal motivo que levou

a resposta incorreta foi constituída pela correspondência do tipo um-para-muitos

entre dois conjuntos: Uma carta para 8 envelopes, como são 8 cartas, então

temos 8 x 8 possibilidades.

No item “b” da questão3, os alunos não teriam que usar todos os

elementos do conjunto (arranjo simples). Os dois grupos não tiveram

desempenho satisfatório. No pós-teste, acreditamos que o grupo experimental

não teve um desempenho satisfatório, para os alunos que acertaram o item “a”,

devido ao erro de conta ou a forte interpretação do verbo “distribuir”. Podemos

ressaltar, para os alunos que erram o item a, que continuou a correspondência do

tipo um-para-muitos. Este tipo de resolução apareceu freqüentemente nos

primeiros encontros da seqüência e tivemos grande dificuldade para ‘convencer’

algumas duplas de que elas estavam erradas ao usar esta correspondência.

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Questão 4, item “a”, pede o número de anagramas que podem ser

formados através de uma palavra sem letras repetidas. Notamos que os dois

grupos evoluíram, apresentando uma porcentagem de acertos satisfatórios no

pós-teste.

Na questão 4, item “b” , já é dada uma palavra com duas letras (a)

(permutação com repetição). Pudemos notar que o grupo experimental obteve

84% de acerto, enquanto o grupo de referência apenas 42%. Nesse caso, para o

grupo de referência, durante a seqüência de ensino, valorizamos a fórmula de

permutação com repetição, enquanto que para o grupo experimental valorizamos

a árvore de possibilidades e o princípio fundamental da contagem, mostrando que

as possibilidades que são iguais devem equivaler a uma possibilidade,

diminuindo, assim, o número total de possibilidades. Talvez esta abordagem da

nossa seqüência tenha favorecido o bom desempenho do grupo experimental

nesse item, pois iniciamos o trabalho com problemas onde o número de letras das

palavras era pequeno e com poucas repetições. Só depois aumentamos a

quantidade de letras na palavra e a quantidade de letras repetidas. O que nos

levou a formular uma situação-problema deste tipo foram os trabalhos de

Batanero (1996, 1997), que mostra que um dos tipos de erros freqüentes no

estudo de análise combinatória é o de repetição.

Questão 5 item “a”, o grupo experimental atingiu quase que a totalidade de

acertos no pós teste (96%) e o grupo de referência é satisfatório (67%). Para o

grupo de referência foi valorizada a fórmula e dada a definição de arranjo,

enquanto que para o grupo experimental foi valorizado que a ordem tinha

importância e que poderia fazer através da árvore de possibilidades ou através do

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princípio fundamental da contagem. Todos que acertaram do grupo experimental

trabalharam com o princípio multiplicativo.

No item “b” da questão 5, temos por objetivo analisar se o aluno perceberia

que a ordem, irrelevante, é um caso de combinação simples. Não foi apresentado

um bom resultado nem no grupo experimental (44%) nem no grupo de referência

(38%). Pudemos observar que alguns alunos do grupo experimental parecem ter

percebido que existia uma certa diferença do item “a” para o item “b”, resolvendo-

os de uma forma diferente, embora errônea. Outros consideraram a ordem

irrelevante,mas erraram no cálculo. Quanto ao grupo de referência alguns alunos

distinguiram a ordem como sendo irrelevante, mas erravam na aplicação da

fórmula.

Na aplicação da seqüência, mais do que nas aulas com o grupo de

referência, buscamos enfatizar a importância de se observar à ordem nos

problemas de combinação, pois esse tipo de erro já havia aparecido nos trabalhos

de Batanero. Pudemos observar que apenas um aluno do grupo experimental não

se preocupou em ver se existia alguma diferença do item “a” para o item “b” e

resolveu os dois itens usando o princípio multiplicativo e chegando ao mesmo

resultado. Os outros alunos perceberam que o item “a” da questão era diferente

do item “b”, mas não souberam que processo utilizar para resolver o item “b”.

Exemplificando, temos:

O aluno número 12 do grupo experimental respondeu à questão usando o

princípio fundamental da contagem: 6 x 5 x 4. Nesse caso, o aluno respondeu que

o número de resultados possíveis para os três primeiros lugares é igual para a

quantidade de comissões formadas por três alunos.

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A aluna número 5 do grupo experimental respondeu à questão 5 item “a”

usando o princípio fundamental da contagem, conforme aluno número 12. A

questão 5 item b ela resolveu da seguinte maneira:

o correto seria (6 . 5.4) : 6

Extrato de protocolo da aluna 5 do grupo experimental -extraído do pós-teste

Podemos ver que a aluna considerou que o número de possibilidade

diminuiu, só que não soube que processo aritmético usar para a resolução. Nesse

caso, houve a interpretação correta do enunciado e sobre a questão ordem.

Observamos ainda que, nesta questão, no grupo experimental, apenas um

aluno errou o item “a”, pois quando foi resolver colocou sete alunos em lugar de

seis, mas fez o processo aritmético correto. Dos alunos que erraram o item “b”,

um aluno montou corretamente o processo, mas errou na divisão:

(6 x 5 x 4) : (3 x 2 x 1) = 2

e outros alunos não souberam por qual número dividir.

Podemos concluir então que os alunos questionaram o fator ordem, só que

eles ainda apresentam dificuldade no processo de resolução.

A questão 6 item “a”, do pós teste, pedia o número de tentativas para

achar o segredo de um cofre, constituído com letras e algarismos distintos. Nessa

questão, os dois grupos não apresentaram resultado satisfatório. Os erros

apresentados foram: erros de conta, operação aritmética incorreta, consideraram

que os algarismos de 0 a 9 são no total de 9 algarismos ou fizeram o número de

possibilidades das letras separadas dos números de possibilidades dos

algarismos.

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Quanto ao item “b”, da questão 6, cujo segredo do cofre era formado por

letras e algarismos distintos ou não, o grupo experimental chegou a uma

porcentagem de acertos média (52%) enquanto o grupo de referência conservou

a mesma porcentagem de acerto do item “a” (46%).

Esta diferença no grupo experimental, entre os itens “a” e “b”, se deve ao

fato de o aluno ter errado no item “a”, a operação aritmética.

Novamente, percebemos que os alunos deixam a representação de lado e

também não conseguem definir a operação aritmética a ser usada. Tal resultado

evidencia que este é um fator com que devemos nos preocupar, quando

pretendemos passar da representação para a operação aritmética.

A questão 7 pedia a permuta de 3 coleções. No caso do pós-teste foi a

coleção de filmes, que deveria permanecer junto os da mesma categoria. No pós-

teste não tivemos bom resultados tanto no grupo experimental (28% de acertos)

como no grupo de referência (4% de acertos). Notamos que o principal erro

apresentado pelos alunos foi falha na interpretação do problema, onde eles

resolveram apenas uma etapa. Tivemos alunos que permutaram apenas as

categorias dos filmes e outros permutaram os filmes permanecendo a ordem das

categorias. Este tipo de problema foi trabalhado em vários exercícios propostos

no grupo de referência e apenas um exercício para casa no grupo experimental.

Nessa questão, levantamos duas hipóteses quanto ao insucesso na

resolução. 1) a interpretação errônea dos alunos se deve a um enunciado falho ou

2) a interpretação errônea se deve à dificuldade do aluno em pensar em mais

uma etapa de resolução.

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Dos alunos que erraram, no grupo experimental, 4 fizeram a permutação

da coleção e dos filmes (no pós-teste), só que usaram a operação aritmética

incorreta, como no caso da aluna 17:

Extrato de protocolo da aluna 17 do grupo experimental -extraído do pós-teste

Nesse exemplo, podemos observar que a aluna permutou os dois filmes de

terror, os quatro filmes de romance e os três filmes de ficção científica, só que

somou as permutações dos filmes ao invés de multiplicá-las. A seguir, permutou

as 3 categorias de filmes e multiplicou corretamente com o resultado errado da

permutação de filmes. Novamente, temos um erro de operação aritmética

incorreta.

Temos, neste caso, 44% dos alunos que interpretaram corretamente o

enunciado e 56% que só fizeram uma permutação (ou só as categorias de filmes

ou só os filmes). Podemos afirmar, portanto, que a maioria dos alunos teve o

raciocínio combinatório, já que todos perceberam que se tratava de um problema

de permutação.

A questão 8, tanto no item a como no item “b”, pedia para encontrar o

números de anagramas de uma certa palavra de acordo com as condições dadas.

No item “a” do pós-teste, que pedia o número de anagramas da palavra

Chave que apresentam a sílaba VE, o grupo experimental obteve um resultado

satisfatório, com 76% de acertos, enquanto que o grupo de referência apresentou

um resultado baixo, 29% de acertos. Apesar, do grupo experimental não ter

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trabalhado com este tipo de problema na seqüência, eles conseguiram utilizar

uma representação e perceber que a sílaba VE representava uma letra. É

possível que o trabalho que realizamos com as figuras da ficha 2, na qual o aluno

tinha que lançar mão da representação para interpretar o problema, tenha

ajudado o grupo experimental a conseguir uma melhor resultado.

No item “b”, não obtivemos grandes sucessos em nenhum dos dois grupos.

Pedia-se nesse item que o aluno calculasse o número de anagramas que

começavam por consoante e terminavam por vogal. No grupo experimental

tivemos alguns alunos que permutavam as consoantes e as vogais, mas

esqueciam de permutar as letras que ficariam entre elas, ou então, que erravam

no processo de permutação. Esse tipo de erro também aconteceu no grupo de

referência, mas em menor porcentagem. Tal qual o item “a”, este item também

requeria do aluno mais do que uma etapa no processo de resolução e,

novamente, pudemos observar que alguns alunos faziam apenas uma das

etapas, isto é, permutavam apenas as consoantes iniciais e vogais finais das

palavras. O exemplo abaixo, retirado do protocolo da aluna 25 do grupo

experimental, ilustra bem este caso.

Extrato de protocolo da aluna 25 do grupo experimental -extraído do pós-teste

Notamos, no exemplo acima, que a aluna troca as letras do meio, quando

faz a representação das possibilidades por tentativa e erro, mas sua maior

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preocupação é com a permutação das consoantes e das vogais. Quando

resolveu aritmeticamente, fez apenas o calculo das consoantes iniciais e das

vogais finais.

Já a aluna número 17 pensou em todas as etapas da permutação, mas

errou no número de letras da permutação central, como podemos notar no trecho

de seu protocolo abaixo transcrito:

Extrato de protocolo da aluna 17 do grupo experimental -extraído do pós-teste

Na questão 9, os alunos tinham que calcular o número de triângulos que

poderiam ser formados com os pontos marcados em duas retas paralelas.

Novamente os dois grupos apresentaram baixos índices de sucesso (grupo

experimental – 28% de acertos e grupo de referência – 17% de acertos). Ao

analisar os protocolos, identificamos que a maior deficiência dos alunos estava na

interpretação do número de combinações deveriam ser feitas. Isto é, não bastava

somar os pontos e fazer a combinação entre 3 pontos. Alguns alunos desenharam

as retas e os pontos e tentaram construir os triângulos, obtendo o número de

possibilidades existentes referentes aos triângulos que conseguiram desenhar.

Outros apresentaram apenas uma solução numérica sem justificar a respostas.

Nossa expectativa para este problema era a de que o grupo de referência

apresentasse um bom desempenho, obtendo resultados melhores do que o outro

grupo, uma vez que os alunos do grupo de referência já haviam resolvido em aula

problemas muito semelhantes a esse. Quanto ao grupo experimental, esta era a

primeira vez, depois do pré-teste, que os alunos se deparavam com esse tipo de

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situação. De fato, durante a seqüência de ensino, não apareceram problemas

deste tipo, o que nos leva a ponderar que isto foi uma lacuna da nossa seqüência.

Observamos que os dois grupos fizeram uso do desenho para resolver o

problema, mas a quantidade de triângulos a serem desenhados era numerosa, o

que dificultava a representação. Alguns alunos usaram o processo aritmético, mas

não levaram em consideração que se os três pontos pertenciam à mesma reta

formar-se-ia um segmento de reta e não um triângulo. A figura abaixo ilustra o

procedimento de uma aluna (No 10 do grupo experimental), que considerou

apenas os triângulos que saíam dos 4 pontos da reta r:

Extrato de protocolo da aluna 10 do grupo experimental -extraído do pós-teste

Por fim, a questão 10 solicitava o conceito de arranjo e combinação.

Pretendíamos observar se os alunos conseguiriam diferenciar estes dois tipos de

agrupamentos ou, pelo menos, identificar quando a ordem é essencial ou não.

Apesar de os alunos terem apresentado dificuldade durante o teste em

distinguirem ser a ordem irrelevante ou não, os dois grupos apresentaram uma

porcentagem de acertos satisfatória, o grupo experimental apresentou 72% de

acertos e o grupo de referência 71% de acerto.

Observando os resultados como um todo, notamos que, para ambos os

grupos, a dificuldade surgia em questões que exigiam uma interpretação mais

cuidadosa do enunciado, isto é, quando eles teriam que resolver o problema em

duas ou mais etapas ou quando tinham que questionar se a ordem era essencial

ou não. Baseadas no percentual de sucesso que o grupo experimental

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apresentou no pós-teste para os itens relacionados a esses dois pontos,

constatamos que precisaríamos ter trabalhado mais esses pontos em nossa

seqüência.

4.4 ANÁLISE DOS TESTES POR OBJETIVO

No capítulo 3, definimos os objetivos de nossa seqüência e elaboramos os

testes tendo em vista tais objetivos. Faremos, então, uma análise do desempenho

dos dois grupos sob a óptica desses objetivos, os quais servirão como mais um

termômetro para avaliar a aprendizagem do conceito de Análise Combinatória.

A seguir apresentaremos os objetivos contidos nos teste, definindo e

exemplificando cada um. Estes estarão indicados neste contexto por algarismos

romanos.

I – apresentar raciocínio combinatório;

Nesse objetivo, observamos se os alunos apresentaram o raciocínio

combinatório para a resolução de problemas de análise combinatória, não

importando se chegaram ou não ao resultado correto.

Os dois casos abaixo foram retirados dos protocolos de dois sujeitos do

grupo experimental. Eles ilustram o que consideramos como objetivo alcançado,

embora a resposta final esteja incorreta. No primeiro exemplo (resolução da aluna

2 à questão 3 do pós-teste), está clara a presença do raciocínio combinatório,

mas há erro na interpretação da ordem:

Extrato de protocolo da aluna 2 do grupo experimental -extraído do pós-teste

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O segundo exemplo, abaixo ilustrado, vem da questão 7 do pós-teste. A

aluna número 25 também apresentou raciocínio combinatório mas resolveu

apenas a permutação das categorias de filmes:

Extrato de protocolo da aluna 25 do grupo experimental -extraído do pós-teste

II – registros de representações;

Nosso objetivo consiste em observamos se os alunos usaram algum tipo

de representação para interpretar e resolver os problemas.

Exemplificaremos o objetivo apresentando a resolução do aluno 18 grupo

experimental à questão 1 do pós-teste. Este aluno esquematizou as cidades e as

estradas para chegar ao número total de possibilidades.

C

A

III – diferenc

Aqui os, al

palavras com letra

mesma quantidad

alunos percebam

quantidade de an

chegaram ao resul

Como exem

em que ele utilizo

1 0

2

B 120 + 40 = 160

i

u

s

e

a

ta

p

u

8

D

ar permutação

nos precisam

repetidas di

de letras, só

que as pala

gramas que

do correto.

lo, temos a r

a estratégia

1

m

r

e

5

simples de permutação com repetição;

notar que a quantidade de anagramas para

inui em relação a uma palavra que contém a

que todas diferentes. O importante é que os

vras com letras repetidas irão formar uma

epresentarão apenas um, não importando se

solução do aluno 15 à questão 4 do pós-teste.,

de tentativa e erro, chegando a perceber que

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algumas possibilidades eram iguais, mas não chegou ao resultado correto. Neste

caso consideramos que o aluno atingiu o objetivo.

Extrato de protocolo da aluna 15 do grupo experimental -extraído do pós-teste

IV – utilização do princípio fundamental da contagem ou fórmula;

Neste objetivo: observamos, para o pré-teste, se os alunos faziam uso do

princípio fundamental da contagem de forma intuitiva e para o pós-teste

observamos se preferiam fazer uso do princípio multiplicativo ou da fórmula (no

caso da turma de referência), ou ainda se usavam a representação.

V – diferenciar arranjo simples de arranjo com repetição;

Observamos se os alunos percebiam a diferença entre elementos distintos

e não distintos, para o procedimento de resolução.

A resolução da aluna 6 do grupo experimental é um bom exemplo.

Observamos que a aluna atingiu o objetivo, mas não chegou ao resultado correto,

pois errou na operação aritmética a ser usada (somou ao invés de multiplicar o

número de possibilidades de letra com o número de possibilidades de

algarismos). Neste caso consideramos o objetivo atingido, embora o resultado

não esteja correto.

Extrato de protocolo da aluna 6 do grupo experimental -extraído do pós-teste

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VI – interpretar os problemas combinatórios em relação à ordem;

Aqui, observamos se os alunos resolviam os problemas combinatórios

questionando a importância da ordem, mesmo que não chegassem ao resultado

correto.

A aluna 17 do grupo experimental alcançou o objetivo, percebendo que

conforme se mudava a ordem dos mesmos elementos, obtinha-se a mesma

possibilidade, só que não calculou a quantidade de possibilidades que

representariam uma única possibilidade.

Extrato de protocolo da aluna 17 do grupo experimental -extraído do pós-teste

VII – interpretação de todas as etapas.

Este objetivo está bem exemplificado na questão 1 do pós-teste, onde a

primeira etapa requer a permutação das categorias dos filmes e a segunda, a

permutação dos filmes por categoria. Depois, é preciso multiplicar os resultados

das duas permutações. Observamos se os alunos faziam a resolução das duas

etapas, conforme ilustra o protocolo da aluna 2 do grupo experimental:

Extrato de protocolo da aluna 2 do grupo experimental -extraído do pós-teste

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Gostaríamos de enfatizar que dificilmente uma questão envolvia apenas

um dos objetivos citados. Então, para realizar esta análise, relacionamos cada

questão aos seus objetivos principais, como mostra a tabela a seguir:

Objetivos QuestõesI 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9II 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 ,8 e 9III 4IV 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9V 6VI 1 e 5VII 7 e 9

Tabela 4. 6: Questões e seus principais objetivos

Na elaboração desta tabela, não separamos as questões por itens, pois

quando as elaboramos, os itens seriam um modo de atingir os objetivos

desejados. Exemplificaremos através da questão 5, onde no item “a” os alunos

teriam que notar que a ordem é essencial e no item “b” a ordem não era

essencial. Então, os dois itens foram elaborados para que pudéssemos observar

se os alunos interpretavam em relação a ordem.

Para esta análise, continuaremos com a relação numérica entre as

questões do pré e pós-testes, a qual apresentaremos a seguir:

Pré-teste Pós-teste Questão – nº

Q1 Q3 1

Q2 Q5 2

Q3 Q6 3

Q4 Q2 4

Q5 Q7 5

Q6 Q9 6

Q7 Q1 7

Q8 Q4 8

Q9 Q8 9

Tabela 4. 7: Relação numérica entre as questões do pré e pós-teste.

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A questão 10 do pré e pós-teste não será analisada quanto ao objetivo,

pois não consideramos de extrema importância que os alunos saibam as

definições de arranjo e combinação e, sim que consigam diferenciar estes dois

tipos de agrupamentos na resolução do problema, questionando a ordem.

A tabela a seguir mostra a correspondência dos objetivos com as

porcentagens de sucessos, para cada grupo nos pré e pós-testes.

Grupo experimental Grupo de referênciaobjetivos

PRÉ-TESTE % PÓS-TESTE % PRÉ-TESTE % PÓS-TESTE %

I 27,5 84 25 61,1

II 45,8 25,3 33,3 13

III 8 84 4 45,8

IV 0,4 76,5 0,5 58,8

V 0 68 0 58,3

VI 30 42 25 39,6

VII 0 40 0 12,5

Gráfico 4.4: Resultado atingido no pré e pós-teste por objetivo

Fazendo uma análise do desempenho do grupo experimental com relação

aos objetivos, notamos que a tabela mostra que não conseguimos atingir um

resultado satisfatório nos objetivos II, VI e VII. Analisando estes objetivos,

observamos que no objetivo II (registros de representações) houve uma queda

em relação ao uso das representações para auxiliar na resolução dos problemas

do pós-teste. Apesar da sua importância como ferramenta para produzir a

solução, os alunos preferiram usar o processo aritmético conveniente. Alguns

alunos que fizeram uso da representação para resolver o problema construíram

um desenho, ou um diagrama inadequado causando uma interpretação errônea.

0

20

40

60

80

100

I II III IV V VI VII

o bje tivo s

Gr u p o e xp e r im e n tal

0

20

40

60

80

100

I II III IV V V I V II

o b je tiv o s

Gr u p o de r e fe r ê n cia

Pré-teste %

Pós-teste %

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Gráfico 4.5 : Comparação entre os dois grupos no pós-teste

Quanto ao objetivo VI (interpretar os problemas combinatórios em relação à

ordem), observamos que o fator representação pode ter interferido no insucesso

dessa meta, visto que na questão 1, como já analisamos anteriormente, quando

os alunos resolveram escrevendo as possibilidades (no pré teste), eles notaram

que a ordem era irrelevante, já no pós-teste onde eles não fizeram a

representação, não houve um percentual de acerto satisfatório.

Este objetivo consiste em diferenciar os critérios de arranjo e combinação.

Podemos perceber que este objetivo não é alcançado principalmente nos

problemas de combinação. Na questão 1 observamos que o índice de sucesso

deste objetivo foi pequeno, em relação a questão 5, onde os alunos conseguirem

observar que o número de possibilidade diminuía, mas não conseguiam achar o

processo aritmético correto para resolver a questão.

Em relação ao objetivo VII (interpretação de todas as etapas), apesar do

resultado apresentado ter sido insatisfatório, notamos que houve um crescimento

no percentual de acerto com relação a este objetivo (de 0% para 40%). Vale a

pena pontuar que não foi trabalhado este tipo de problema durante a seqüência.

Podemos observar que na questão 7 poucos alunos questionaram se deveriam

permutar as categorias dos filmes ou os filmes ou os dois, isto é, consideram

apenas um subconjunto de todas as permutações.

0102030405060708090

100

I II III IV V VI VII

objetivos8ª série

2º colegial

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Quanto aos outros objetivos envolvidos nos teste (I, III, IV, e V),

consideramos de maneira satisfatória. Em relação ao objetivo V (diferenciar

arranjo simples de arranjo com repetição), em que 68 % dos alunos responderam

a contento, também há fortes indícios de que os fatores interpretação e

representação tenham contribuído para não elevar este índice. Embora a maioria

dos alunos tenha acertado a questão relativa ao objetivo III (diferenciar

permutação simples de permutação com repetição), notamos a necessidade de

trabalhar com outros tipos de problemas que envolvam estes dois tipos de

situações, a fim de garantir que os alunos possam ter um bom desempenho

nesse objetivo, pois alguns alunos consideram a possibilidade de não repetir os

elementos quando podem faze-los ou vice e versa.

Já o grupo de referência dos sete objetivos analisados atingiu de forma

pouco satisfatória apenas três objetivos (I, IV e V). Quanto ao objetivo I

(apresentar raciocínio combinatório), notamos que, nesse grupo, o aprendizado

do conteúdo baseado em técnicas de cálculo não desenvolveu um raciocínio

combinatório tão satisfatório quanto o do grupo experimental. Visto que

consideramos que este é um dos objetivos necessário para o aprendizado do

conteúdo análise combinatória, pois o primeiro passo é aprender combinar os

elementos, depois saber identificar se repete os elementos ou não, se a ordem

dos elementos tem importância ou não, se existe mais de uma etapa ou não e

qual operação aritmética (ou fórmula deverá ser usada).

Através dos dados da tabela, pudemos observar que os alunos no pré-teste

já apresentavam algum raciocínio combinatório e nos pós-teste notamos que este

raciocínio foi desenvolvido de maneira satisfatória nos dois grupos, principalmente

no grupo experimental.

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Nos demais objetivos (II, III, VI e VII), não conseguimos um resultado

satisfatório. Notamos que o objetivo II (registros de representações) também

registrou uma queda em relação ao pré-teste, conforme observado no grupo

experimental. Para o grupo de referência, já era esperado não atingir

satisfatoriamente este objetivo, pois a seqüência apresentada no livro didático não

valorizou a representação. Para o grupo experimental, esperávamos um resultado

mais satisfatório, pois tentamos sempre fazer uso da representação em todas as

atividades apresentadas. É difícil analisar o porquê de os alunos não usarem a

representação, depois de aprenderem o princípio fundamental da contagem, mas

analisando os comentários dos alunos durante a seqüência de ensino no grupo

experimental, percebemos que os alunos procuram sempre o processo mais

econômico de resolução, o que no caso vem ser o uso de fórmulas ou de uma

operação aritmética. Podemos, também, analisar o comportamento dos alunos

quando aplicamos o pré-teste e até mesmo quando começamos a nossa

seqüência. Eles apresentaram uma certa resistência em resolver um conteúdo

desconhecido, pois não sabiam como resolver os problemas apresentados. Este

comportamento nos faz concluir que os alunos não estão acostumados a usar

uma representação para desenvolver o raciocínio no nosso ensino tradicional e de

repente fica difícil quebrar este contrato já estabelecido há um tempo de sua vida.

O objetivo VII (interpretação de todas as etapas) foi o grupo que

apresentou menor desempenho nas questões relacionadas a este objetivo, visto

que foi um tipo de problema explorado durante o aprendizado do conteúdo,

durante a seqüência apresentada no livro didático. O livro apresentou vários

problemas em que os alunos teriam mais de uma etapa de resolução,

principalmente em problemas de permutação e combinação.

É interessante destacar que o objetivo VI (interpretar os problemas

combinatórios em relação à ordem) também atingiu um percentual baixo de

desempenho, nesse grupo de referência.

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Para esse objetivo, observamos que nenhum dos grupos sai do patamar

zero no pré-teste, mas não atinge um percentual significativamente maior no pós-

teste. Conforme pesquisas de Batanero, notamos que este tipo de erro é

freqüente na resolução de problemas combinatórios. Podemos observar que nos

resultados obtidos para este objetivo VI nenhuma das duas seqüências aplicadas

para os dois grupos deu conta para que a maioria dos alunos pudesse interpretar

se a ordem era importante ou não, e conforme mostrou Batanero (1996) este tipo

de erro acontece principalmente nos problemas de combinação, justamente o que

acontece nos teste aplicados para os dois grupos.

Durante a seqüência elaborada para o grupo experimental, trabalhamos

com situações-problema que pudessem diferenciar arranjo de combinação, mas

parece que não foi o suficiente para que os alunos pudessem questionar, durante

a interpretação do problema se a ordem era essencial ou não. No nosso ponto de

vista, deveríamos ter trabalhado com situações-problema em que os alunos

pudessem fazer uso apenas da representação para chegar ao número de

resultados possíveis, sem induzi-los ao princípio fundamental da contagem.

4.5 ANÁLISE DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS POR GRUPO

Neste momento, faremos um estudo do desempenho e da evolução dos

alunos nos testes aplicados. Para tanto, enumeramos os alunos do grupo

experimental (de 1 a 25) e os alunos do grupo de referência (de 1 a 24). Vale

lembrar que os dois testes possuíam 16 itens cada, portanto o número máximo de

acerto por aluno é 16. A tabela a seguir indica o número de acertos por aluno no

pré e no pós-teste e a porcentagem de acerto no pós-teste.

Alunos Pré-testeNº de acertos

Pós-testeNº de acertos

% de acertos dopós-teste

1 1 2 12,5

2 1 13 81,25

3 3 6 37,5

4 1 10 62,5

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5 1 12 75

6 2 12 75

7 0 5 31,25

8 0 4 25

9 3 11 68,75

10 2 11 68,75

11 0 9 56,25

12 0 6 37,5

13 1 12 75

14 1 6 37,5

15 1 5 31,25

16 1 10 62,5

17 2 11 68,75

18 3 11 68,75

19 2 7 43,75

20 0 3 18,75

21 1 4 25

22 0 11 68,75

23 1 15 93,75

24 1 7 43,75

25 0 11 68,75Tabela 4.8: desempenho dos alunos – Grupo experimental

Analisando a tabela, podemos observar que todos os sujeitos do grupo

experimental apresentaram evolução. Apenas 20% dos alunos (5 alunos) seriam

aprovados com um acerto maior ou igual a 75% da avaliação e 56% (14 alunos)

de nossa amostra experimental teria condições de ser aprovado, segundo os

parâmetros da escola. O aluno “1” foi aquele que apresentou um menor

crescimento em seu desempenho, visto que no pré-teste acertou uma questão e

no pós-teste 2 questões, ou seja menos da metade do teste. Os alunos “3”, “7”,

“8”, “12”, “14”, “15”, “19”, ”20”, “21” e “24” também não apresentaram um

crescimento satisfatório, apesar de apresentarem uma certa evolução em relação

ao pré-teste. Os demais sujeitos apresentaram um bom desempenho. O aluno

“23” foi o que apresentou melhor desempenho, sendo que, no pré-teste, havia

acertado 1 questão e no pós-teste, 15 questões, quase a totalidade. Podemos

ressaltar o aluno número “18”, que em três itens o erro foi de conta, sendo que de

11 itens acertaria 14 no pós-teste. O mesmo ocorreu com os alunos “9” e “10”, o

primeiro em 2 itens errou em conta, e o segundo, em 1 item, passando o número

de acertos para 13 e 12, respectivamente, no pós-teste. Mesmo assim,

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acreditamos ter atingido uma boa parte dos nossos objetivos através da aplicação

da nossa seqüência.

A seguir apresentaremos a mesma análise para os sujeitos do grupo de

referência.Alunos Pré

Nº de acertosPós

Nº de acertos% de acertos do

pós-teste1 0 1 6,252 0 3 18,753 0 4 254 2 10 62,55 4 8 506 1 9 56,257 0 5 31,258 2 7 43,759 1 10 62,5

10 0 0 011 0 10 62,512 1 8 5013 0 2 12,514 1 7 43,7515 0 1 6,2516 1 9 56,2517 1 4 2518 1 2 12,519 1 8 5020 0 3 18,7521 3 15 93,7522 0 6 37,523 2 7 43,7524 1 1 6,25

Tabela 4.9: desempenho dos alunos – Grupo de referência

Consultando a tabela, notamos que apenas 33,3% dos alunos (8 alunos)

tiveram um acerto maior ou igual a 50% do pós teste sendo que 4,2% (1 aluno)

atingiu um percentual maior que 75%. Em relação aos outros dezesseis alunos

dessa amostra, o desempenho apresentado foi insatisfatório, sendo que dois

alunos não apresentaram nenhum crescimento do pré para o pós-teste (alunos 10

e 24). Com isso, menos de um terço da amostra teria condições de ser aprovado,

segundo os parâmetros da escola. O aluno “21” apresentou um crescimento bem

satisfatório, acertou 93,75% das questões, visto que no pré-teste acertou 3

questões e no pós teste 15 questões (quase a totalidade). E ainda temos os

alunos “8”, “9”, “12” e “13” que erraram em conta em um item, assim passariam de

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7 acertos para 8, de 10 para 11, de 8 para 9 e de 2 para 3 acertos,

respectivamente. Tivemos 10 alunos que tiveram rendimento menor ou igual a

25%, que representa 42% da amostra. Podemos também ressaltar ao aluno

número 5 que, apesar de atingir 50% de acerto no pós-teste, não obteve grande

evolução do pré para o pós-teste (acertou 4 questões no pré-teste e 8 questões

no pós-teste).

Convém novamente ressaltar que esta turma estudou todo o conteúdo de

análise combinatória desenvolvido na segunda série do ensino médio, ou seja,

teoricamente teria muito mais chance de obter um resultado satisfatório, visto que

teve mais contato com esse tópico, se comparado com o grupo experimental.

Além disso, realizaram o pós-teste como uma atividade que comporia a nota do

bimestre. Com esta atitude, acreditamos ter obtido um resultado mais realista da

situação de aprendizagem do grupo de referência.

Faremos uma comparação entre os grupos de referência e experimental.

Para esta comparação, nós fizemos a diferença entre os acertos do pré para o

pós-teste, isto é, para um aluno que acertou 2 questões no pré teste e 10

questões no pós teste a diferença foi de 8 questões. Na primeira coluna da tabela,

colocamos esta diferença, na segunda coluna a quantidade de alunos do grupo

experimental e na terceira coluna a quantidade de alunos do grupo de referência.

Diferença entre osacertos nos pré e

pós-testes

Experimental Referência

0 0 2

1 1 3

2 0 1

3 3 3

4 2 2

5 3 3

6 2 2

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7 0 2

8 2 3

9 5 1

10 1 1

11 4 0

12 1 1

14 1 0

Tabela 4.10: evolução dos alunos do pré para o pós-teste

Analisando a tabela, podemos observar que todos os sujeitos do grupo

experimental apresentaram uma evolução, mesmo que mínima, enquanto que no

grupo de referência tivemos dois sujeitos que não apresentaram qualquer

evolução. Notamos que 46% dos sujeitos do grupo de referência acertaram até 4

questões a mais em relação ao pré-teste contra 24% do grupo experimental.

Acima de 4 questões, obtivemos 54% dos sujeitos do grupo de referência contra

76% dos sujeitos do grupo experimental.

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4.6 ANÁLISE QUALITATIVA DAS DUPLAS.

Nesta seção, faremos uma análise do processo interacional ocorrido no

interior de três duplas durante a seqüência de ensino e uma análise dos

processos de evolução dos alunos em relação aos pré e pós-testes. Como

estamos levando em conta o construto teórico ZDP, fizemos uma observação

mais detalhada do processo interacional ocorrido em três das doze duplas do

grupo experimental, as quais foram escolhidas aleatoriamente. Essas

observações foram feitas através de gravações, filmagens e anotações durante o

encontro.

4.6.1 Dupla A: Alunas número 1 e número 18

A primeira constatação que podemos fazer das componentes da dupla é

que, quantitativamente, os desempenhos delas foram díspares. A aluna número

18 apresentou uma grande evolução do pré para o pós-teste, ao passo que a

aluna número 1, uma evolução mínima, como mostra a tabela abaixo:

Alunas Pré Pós

Nº 1 1 2

Nº 18 3 11

A transcrição das gravações ao longo da seqüência nos informa que era a

aluna número 18 quem resolvia todas as atividades da seqüência de ensino, mas

sempre com a preocupação de expor o seu raciocínio para a aluna número 1.

Esta assumia o papel passivo de aceitar o processo de resolução feito por seu

par, sem discuti-lo ou dele discordar, embora parecesse estar atenta à explicação

dada. Quanto à interlocução com a pesquisadora, isso era sempre feito pela aluna

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número 18, por meio de questionamento sobre o entendimento do problema ou

exposição de suas dúvidas em relação a como resolver as atividades. Embora

quantitativamente possamos afirmar que não houve evolução no aprendizado da

aluna número 1, o mesmo não é verdade do ponto de vista qualitativo, como

mostraremos a seguir:

Na questão 2 do pré-teste, a aluna fez um esquema e não chegou a

nenhuma resposta; já no pós-teste ela, não só se utilizou de um esquema como, a

partir dele, calculou o número de possibilidades de cada caminho. O que faltou foi

fazer o somatório das possibilidades, obtendo, assim, o total. Podemos perceber

que a aluna atingiu o objetivo referente a apresentar raciocínio combinatório,

embora não tenha realizado a segunda etapa do problema.

Extrato de protocolo da aluna 1 do grupo experimental – extraído do pré-teste

Extrato de protocolo da aluna 1 do grupo experimental – extraído do pós-teste

Essa evolução também pode ser observada ao compararmos o processo

de resolução de tal aluna nas questões 7 do pré e do pós-teste.

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No pré-teste, a aluna não apresentou nenhum raciocínio combinatório.

Tudo o que ela fez foi listar os conjuntos e indicar que havia 2 Beatles, 4 Rolling

Stones e 3 Dire Straits. No pós-teste, a aluna voltou a apresentar raciocínio

combinatório. Ela fez a permutação das categorias dos filmes, embora não tenha

feito a permutação dos filmes; conseqüentemente, não multiplicou os resultados.

Extrato de protocolo da aluna 1 do grupo experimental – extraído do pré-teste

Extrato de protocolo da aluna 1 do grupo experimental – extraído do pós-teste

Até agora, fizemos uma análise parcial da aluna número 1, mostrando que

qualitativamente ela apresentou uma evolução na direção de se apropriar do

conceito de combinatória, diferindo dos resultados quantitativos. Neste momento,

começaremos uma análise mais geral desta aluna.

No pré-teste, pudemos observar que a discente apresentou raciocínio

combinatório nas questões 1, 4 e 8. Em todas elas, o procedimento adotado foi

tentativa e erro. Esse procedimento deu conta de resolver apenas o item 1a,

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ficando o item 1b e as questões 4 e 8 sem apresentar todas as possibilidades

possíveis. Nas demais, questões a aluna não apresentou nenhum raciocínio

combinatório. Na questão 3, podemos notar que a palavra “distribuir” foi

associada a “dividir”.

Durante a seqüência de ensino, não foi possível avaliar o desempenho da

aluna, pois, como explicamos anteriormente, ela deixava que a aluna 18

desenvolvesse o processo de resolução das atividades apresentadas.

No pós-teste, observamos que a aluna iniciou a resolução de todas as

questões através da representação. Na questão 1, ela resolveu o item “a” do

mesmo modo que resolveu no pré-teste, por tentativa e erro, encontrando as 6

possibilidades, mas a seguir colocou uma multiplicação (12 x 5) e apresentou o

resultado dessa multiplicação como o número total de possibilidades. Na primeira

parte da questão 3, não mais associou a palavra “distribuir” a “dividir”, resolvendo-

a corretamente, mas na segunda parte (onde faltava envelope para a quantidade

total de cartas), ela voltou a resolver por tentativa e erro. Seu protocolo mostra

que ela fez algumas tentativas de sistematização para encontrar todas as

possibilidades e depois, mais abaixo, voltou a associar a palavra “distribuir” com

“dividir”, como havia feito no pré-teste. Observamos que quando a aluna se

utilizava do método de tentativa e erro e o número de possibilidades a serem

encontradas era muito grande, este não funcionava, pois ela não conseguia

encontrar um procedimento que a levasse a encontrar todas as possibilidades.

Batanero (1996, 1997) encontrou tal tipo de procedimento muito freqüentemente

em seus trabalhos. Podemos classificá-lo como a primeira etapa na aquisição do

raciocínio combinatório.

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Podemos, então, concluir que a aluna 1 partiu de praticamente nenhum

raciocínio combinatório (no pré-teste) e ao final da seqüência já apresentava os

primeiros rudimentos desse raciocínio. Nossa hipótese para explicar o pouco

avanço desta aluna vem do contrato implícito que a dupla estabeleceu. De fato, o

papel ativo, necessário na construção do conhecimento, foi assumido apenas pela

aluna 18, e o processo de interação entre as alunas – onde a troca de

conhecimento e dúvidas, a discussão e discordância como posterior

convencimento das idéias de um dos elementos sobre o outro – não ocorreu.

Quanto à aluna número 18, observando qualitativamente o seu pós-teste,

notamos que a mesma errou apenas a questão 1, onde considerou a ordem

importante enquanto esta não era. Nas questões 7 e 3, a aluna resolveu

corretamente, só que errou em conta.

Em relação ao pré-teste, ela só “regrediu” quantitativamente na questão 1,

pois acertou no pré-teste e não no pós-teste. No pré-teste, a resolução

apresentada pela aluna foi por tentativa e erro, acertando os dois itens da

questão, e no pós-teste usou o princípio fundamental da contagem e, quando fez

uso desse procedimento, acabou não percebendo a questão da ordem dos

elementos, conforme havia percebido quando resolveu por tentativa e erro.

4.6.2 Dupla B: Alunas número 3 e número 8

A transcrição das filmagens, ao longo da seqüência, informa-nos que as

alunas discutem muito entre si, mas quem, na maioria das vezes, conduz a

resolução é a aluna número 3. Comparando essa dupla com a dupla A,

constamos que a “B” apresentou uma interação bem maior, pois todo processo de

resolução que a aluna 3 começava a aluna 8 questionava e vice-versa.

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A partir da ficha 2, a dupla sentiu mais dificuldade e, sempre que possível,

as estudantes pediram a interferência da pesquisadora, expondo as dúvidas ou

questionando sobre a interpretação do problema.

Analisando as fichas apresentadas e seguindo as filmagens, constatamos

que esta dupla sempre iniciava as atividades da seqüência de ensino usando o

procedimento de tentativa e erro, para encontrar o total de possibilidades.

Notamos, ainda, que este tipo de resolução foi abandonado no pós-teste. Na

transcrição da filmagem e usando as observações feitas durante os encontros,

percebemos que a dupla apresentou dificuldade em resolver as atividades

propostas, mas. ao mesmo tempo, as alunas tentavam vencer a dificuldade.

Tal dupla teve uma interação muito boa entre si e com a pesquisadora,

mas não foi o suficiente para um bom desempenho no pós-teste pelo ponto de vista

quantitativo, como mostra o quadro abaixo:

Alunas Pré Pós

Nº 3 3 6

Nº 8 0 4

Fizemos uma análise do desempenho da aluna número 3 e pudemos

observar uma regressão quanto à questão número 1, tal qual aconteceu com a

aluna número 18 da dupla A. No pré-teste, a aluna 3 acertou os dois itens da

questão, resolvendo por tentativa e erro. Já no pós-teste, ela iniciou o item “a” por

contagem, encontrou as 6 possibilidades, abandonou o raciocínio, fez uso do

princípio fundamental da contagem e acabou considerando a ordem importante,

seguindo com o mesmo procedimento para o item “b” (como já demonstramos na

seção 4.3.2, através de seu protocolo).

Já na questão 5, podemos notar avanço no raciocínio desta aluna no item

“a”. No pré-teste, ela resolveu por tentativa e erro e não chegou a um

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procedimento que levasse a todas as possibilidades. Quanto ao item “b”, a aluna

não respondeu. Já no pós-teste, ela resolveu o item “a” usando o princípio

fundamental da contagem e de maneira correta, considerando a ordem

importante. No item “b”, ela fez o mesmo cálculo usado no item “a”, isto é, não

questionou a ordem.

Analisando a filmagem da seqüência de ensino e os testes diagnósticos

desta aluna, percebemos que a mesma apresentou problema em discernir a

importância da ordem apenas nos problemas de combinação. Esse tipo de erro

nos problemas de combinação parece ser comum, segundo as pesquisas

realizadas por Batanero (1996, 1997).

Constatamos que essa aluna muito vezes, durante a seqüência de ensino,

discutiu constantemente com seu par a questão da ordem. No entanto, ficava

clara, sua insegurança, demonstrada pelas inúmeras vezes que a mesma

procurava a pesquisadora para expor o seu raciocínio e certificar-se quanto a

estar correto ou não. Analisando o pós-tese, notamos que tal questionamento de

ordem nos problemas referentes à combinação parece ter sido abandonado e a

aluna assumiu que em todos os problemas a ordem era importante.

Analisando, agora, a questão 6 do pré-teste, vemos que a aluna 3 deixou

em branco a primeira parte da questão e na segunda parte fez a multiplicação de

23 letras por 26 letras. Entretanto, no pós-teste, ela alcançou o objetivo do

raciocínio combinatório, só que nas duas partes do problema ela fez a quantidade

de possibilidades de letras separada da quantidade de possibilidades dos

números e não multiplicou estas duas respostas encontradas. Similarmente, ao

resolver a atividade das placas na seqüência de ensino, a dupla o fez isolando o

número de possibilidades de letras e algarismos. Agora, analisando a resolução

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da aluna número 8, nesta mesma questão, constatamos que em parte ela

resolveu corretamente, juntando o número de possibilidades das letras com o

número de possibilidades dos algarismos, só que usou 9 algarismos no lugar de

10, conforme fizera ao iniciar a resolução da atividade das placas. Na seqüência,

nesse momento, houve interferência da pesquisadora, que mostrou que os

algarismos de 0 a 9 formam um total de 10 algarismos e não 9.

Na questão 5 do pós-teste, a aluna 8 resolveu a primeira parte, usando o

processo de resolução de forma correta, mas acabou errando a resposta porque

eram 6 alunos e a aluna colocou 7 alunos. Na segunda, parte a aluna questionou

o fator ordem, mas o procedimento de resolução foi errado, conforme protocolo

abaixo:

Extrato de protocolo da aluna 8 do grupo experimental – extraído do pós-teste

Fazendo uma análise geral da aluna 8, pudemos observar que a aluna

partiu praticamente do zero, colocando em questão o raciocínio combinatório,

mas ao longo da seqüência era evidente o desenvolvimento desse raciocínio. No

pós-teste, seu raciocínio combinatório se mostrou mais eficaz que o de sua

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parceira. Em relação à aluna 3, esta partiu com um pouco mais de raciocínio

combinatório comparado ao da aluna 8 e também apresentou avanço no

desenvolvimento desse tipo de raciocínio, mas a superação da dificuldade de

detectar se a ordem era importante nos problemas de combinação persistiu.

Podemos concluir que houve um processo interacional entre as duplas,

mas não o suficiente para superar a dificuldade inicial sobre a importância da

ordem e da enumeração sistemática (Batanero, 1996). Esse último erro consiste

na resolução, por tentativa e erro, sem um procedimento que conduza à formação

de todas as possibilidades. O erro de enumeração sistemática foi observado

durante a seqüência. Quando a quantidade total de possibilidades era pequena, a

dupla não apresentava tal tipo de erro. Este só apareceu nas atividades em que a

quantidade de possibilidades era muito grande.

Concluímos que a aluna 3 quase não apresentava raciocínio combinatório

no pré-teste. Já ao longo da seqüência, esse raciocínio estava sempre presente,

algumas vezes de maneira mais simples. Ela também percebeu que é importante

questionar a ordem. No pós-teste, ela assumiu a ordem importante para todas as

questões. Já a aluna 8 foi mais longe: a ordem passou a ser menos problemática

do que era no início. Embora apresentasse erro de ordem, começou a apresentar

acerto. Podemos observar que as duas alunas saíram de um patamar muito

baixo, porém conseguem atingir uma certa evolução, só que a aluna 8

desenvolveu mais que a 3.

4.6.3 Dupla C: alunos número 6 e número 12

Desta dupla, temos apenas a análise feita durante os encontros, mas

achamos interessante continuar com a opção de analisá-la, pois o comportamento

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do aluno 12 durante os encontros bem como seu desempenho, tanto qualitativo

como quantitativo no pós-teste, nos surpreendeu.

Esta é uma dupla mista, sendo que o menino foi um pouco disperso

durante a resolução das atividades, brincou muito e muitas vezes deixou a

menina iniciar sozinha a resolução das atividades da seqüência. A pesquisadora

interferiu várias vezes no comportamento deste aluno e conseguiu que a cada

encontro este participasse um pouco mais.Observamos que sempre que possível

ele tentava atrapalhar o raciocínio da menina com brincadeiras conversa sobre

outros assuntos.

Constatamos que do pré para o pós-teste, o aluno 12 apresentou evolução,

mas a aluna 6 apresentou uma evolução ainda maior, o que já era esperado, pois

as dúvidas sobre o procedimento ou sobre a interpretação do problema eram

sempre questionados por ela e quando a pesquisadora pedia para a dupla colocar

a resolução das atividades na lousa era sempre a aluna número 6 que o fazia,

mostrando o raciocínio utilizado para resolver a atividade.

Abaixo, apresentamos o quadro com o número de acertos nos dois testes pela

dupla.

Alunas Pré Pós

Nº 6 2 12

Nº 12 0 6

Analisando os procedimentos de resolução, no pós-teste, apresentado pelo

aluno 12, pudemos constatar que sua dificuldade residia no discernimento da

ordem nas questões 1 e 5, de combinação. Na entrevista com o aluno, logo após

o término do pós-teste, este comentou que não chegou a se questionar se a

ordem era importante ou não. Apenas pensou em combinar os elementos, usando

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o princípio fundamental da contagem. Na questão 9 do pós-teste, que também era

de combinação, ele questionou o fator ordem e resolveu o problema,

considerando a ordem irrelevante, o erro apresentado nesta questão foi o de

operação errada e de conta, como mostra o seguinte protocolo:

Extrato de protocolo da aluna 6 do grupo experimental – extraído do pós-teste

Observando o pré-teste deste aluno e lembrando da sua participação, na

seqüência e comparando com o pós-teste, podemos concluir que ele teria um

desempenho melhor se seu par ou a pesquisadora tivessem conseguido motivá-lo

o suficiente para envolvê-lo nas resoluções das atividades. Mesmo com suas

brincadeiras, tentando atrapalhar o andamento da seqüência, ele foi um aluno que

evoluiu, pois no pré-teste ele apresentou o raciocínio combinatório apenas na

questão 4. Assim mesmo, sua estratégia de resolução foi a de tentativa e erro, e

mesmo essa foi abandonada.

Constatamos também que este aluno não voltou a resolver nenhuma

questão do pós-teste da mesma forma que havia tentado resolver no pré-teste,

isto é, usando o mesmo raciocínio ou o mesmo tipo de operação como aconteceu

com a aluna número 1 da dupla A, questão 3, conforme já mencionamos

anteriormente.

Podemos concluir que o aluno 12 partiu de praticamente nenhum raciocínio

combinatório (no pré-teste) e ao final da seqüência apresentou evolução

satisfatória, a qual é verificada no pós-teste tanto quantitativa como

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qualitativamente. Nossa hipótese para explicar o porquê de o avanço desse

aluno não ter sido melhor se deve ao fato de que o papel ativo necessário para o

desenvolvimento do conhecimento foi assumido em maior proporção pela aluna 6.

O aluno só o fez em poucas atividades de alguns encontros. Quando resolvia

questionar as dúvidas, discutir com e discordar de seu par, até chegarem a uma

conclusão comum.

Quanto à aluna número 6, esta cometeu o mesmo erro das alunas

números 3 e 18, duplas B e A consecutivamente. Na questão um, no pós-teste, a

aluna resolveu pelo princípio fundamental da contagem e não questionou a

ordem, enquanto no pré-teste resolveu pelo processo de tentativa e erro e

conseguiu perceber que a ordem era irrelevante. Na questão 6, o erro cometido

pela aluna 12 foi operação aritmética incorreta; ela somou a possibilidades de

letras e algarismo no lugar de multiplicá-los, conforme resolução a seguir:

Extrato de protocolo da aluna 6 do grupo experimental – extraído do pós-teste

Nas três duplas analisadas, pudemos observar que os alunos durante a

seqüência de ensino, utilizavam a representação para iniciar as atividades, mas

na última ficha esta representação foi praticamente abandonada, e só faziam uso

quando era apresentado um desenho na questão dada. Observamos, também,

que durante algumas atividades, principalmente nas últimas fichas, em alguns

momentos eles questionam se a ordem era importante ou não, em outros não

questionavam. Notamos em que nas atividades que o número de possibilidades

era relativamente grande, eles procuravam um processo aritmético que os

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levassem à solução correta, mas nem sempre conseguiam encontrá-la, enquanto

nas atividades que o número de possibilidades era pequena eles conseguiam

encontrar todas as possibilidades pelo processo de tentativa e erro e muitas

vezes conseguiam chegar ao processo aritmético correto. Portanto, o processo de

tentativa e erro foi uma estratégia usada até o final, a qual dava certo quando o

total de elementos a ser combinado era pequeno.

Mediante as constatações sobre o desenvolvimento dos alunos no pós-

teste, pudemos observar que nossa seqüência de ensino carece de mais

encontros. Avaliando a seqüência, percebemos que esse é o caminho a ser

seguido, pois a seqüência deu conta desse raciocínio. Nós apontamos como um

ponto a ser mais trabalhado, nos problema de combinatória, seria o enunciado

desses problemas verificando supostas ambigüidades. Nesse ponto,

questionamos que se o enunciado for mais claro, e mais discutido, isto é, se

conseguirmos trabalhar uma seqüência visando a interpretação do enunciado

talvez possamos levar os alunos a um resultado melhor onde os erros em relação

à ordem, operação aritmética incorreta e de enumeração sistemática, sem um

procedimento que leve a todas as possibilidades, possam ser minimizados.

Também achamos que se as representações forem mais valorizadas no início da

seqüência, este processo talvez não seja abandonado no final da seqüência e na

resolução dos problemas, depois do aprendizado do conteúdo.

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CONCLUSÃO5.1 CONCLUSÃONesta pesquisa, estudamos a aquisição e desenvolvimento dos primeiros

conceitos de análise combinatória em adolescentes de 14 anos de idade,

cursando a última série do Ensino Fundamental.

Partimos das noções de contagem, representações e princípio fundamental

da contagem. Buscamos problemas que colocassem os alunos em situações as

quais, através da experimentação, eles pudessem realizar uma modelização do

real e descrever o número de possibilidades do evento dado. Assim, iniciamos

nosso trabalho buscando identificar as concepções espontâneas dos alunos

(aplicação de um instrumento diagnóstico - pré-teste) e continuamos trabalhando

essas concepções nos primeiros encontros da seqüência de ensino.

Ao analisar as concepções apresentadas pelos alunos, no pré-teste e na

seqüência, pudemos classificar algumas que dificultaram a aprendizagem do

conteúdo análise combinatória. As mais freqüentes foram:

• A falta de um procedimento recursivo que os levasse à formulação de

todas as possibilidades. Isto acontecia quando os alunos resolviam problemas por

enumeração, mediante tentativa e erro, principalmente nos casos em que a

formação de todas as possibilidades se tornava exaustivo.

• A resposta injustificada errônea. Algumas vezes, os alunos apresentavam

uma solução numérica errônea, sem explicar de onde veio tal número ou ainda

sem indicar o caminho percorrido para encontrá-lo.

• O não uso da árvore de possibilidades ou sua construção inadequada, a

qual levava a uma interpretação errônea.

• Nos problemas de permutação e arranjo, apareceu a interpretação da

palavra distribuir como dividir.

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• Nos problemas de combinação e arranjo, os alunos confundiam os

critérios que deviam ser usados em cada situação e algumas vezes decidiam

considerar a ordem importante quando esta não era ou vice-versa.

Estas concepções ganharam maior evidência em nossas análises feitas da

metade para o final da nossa seqüência de ensino e no pós-teste.

Um comportamento que nos chamou muito a atenção foi que quando os

alunos aprenderam um processo aritmético ou algébrico, eles abandonavam as

representações. Pudemos observar que poucos alunos fizeram uso da árvore de

possibilidades, mesmo quando dada como sugestão para resolução do problema

e no final da seqüência de ensino e na resolução do pós-teste ela foi praticamente

abandonada.

Este dado é confirmado nos estudos de Batanero (1996), já citados no

capítulo II. Batanero aponta como dificuldade o escasso uso que os estudantes

fazem da árvore de possibilidades, e quando a usam é com pouco êxito.

Nossa explicação para tal comportamento vem do contrato didático

implícito ou talvez explícito que a escola estabelece para com seus alunos, ou

seja, a valorização do uso do processo formal (utilização de algoritmo). Esta

valorização costuma acontecer a partir do 2º ciclo do Ensino Fundamental (3ª e 4ª

séries) quando o cálculo mental é pouco ou nada valorizado e existe uma

cobrança do uso correto dos algoritmos. A partir do 3º ciclo (5ª e 6ª série), a

resolução de problemas sem o uso dos tradicionais “x” e “y “ é considerada uma

resolução “pobre” ou, o que é pior , algumas vezes é considerada errada.

Nossa amostra é de alunos da 8ª série, ou seja, alunos que lidam com esse

critério a maior parte de suas vidas escolares. Para eles, o uso da representação

chega a ser uma ruptura deste contrato didático, onde apenas os alunos

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“atrasados” é que necessitam representar para a seguir fazer uso ou não do

algoritmo.

Apesar de estimularmos o uso da representação constatou-se que não foi o

suficiente a ponto de romper com este contrato didático. Acreditamos que para tal

ruptura seria necessário ter valorizado mais em todas as atividades sua

importância.

Durante a seqüência, pudemos observar que os alunos evoluíram passo a

passo com as apresentações das resoluções e com as discussões relativas aos

processos de resoluções usados. Acreditamos que a mudança na forma de se

trabalhar com o conteúdo, seguindo uma abordagem que procurou envolver o

aluno através de situações reais, além do trabalho desenvolvido em dupla, criou

um ambiente favorável para tal comportamento. Apesar disso, todos

apresentaram dificuldade na interpretação dos problemas propostos, o que vai ao

encontro a nossa análise dos livros didáticos, onde constatamos que a

memorização do algoritmo é privilegiada.

Notamos que as dificuldades apareceram, quando começaram as fichas

em que era preciso questionar se a ordem em que os elementos eram colocados

tinham importância ou não. Também observamos grande dificuldade na ficha 2,

onde os alunos se perdiam em fazer as representações das figuras dadas através

de tentativa e erro, e esta dificuldade apareceu principalmente nos problemas em

que o número de possibilidades era grande.

Analisando os testes diagnósticos, pudemos verificar que estas

dificuldades são constatadas nos dois testes (pré e pós-teste). No pré-teste,

pudemos constatar que os alunos iniciavam a questão por tentativa e erro e

abandonavam ou chegavam até um certo número de possibilidades e colocavam

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este número como resultado. Quanto à ordem, eles só conseguiam distinguir se

era importante ou não usando a representação. No pós-teste, já observamos que

os alunos procuravam não usar o processo de tentativa e erro, ou quando

iniciavam este processo, acabavam abandonando-o, por ser exaustivo, e

procuravam uma operação aritmética para resolver o problema. As questões em

que os alunos tinham que perceber que a ordem era irrelevante (problemas de

combinação) são as que apareceram com índice maior de erro.

Tanto no pré como no pós-teste pudemos notar uma grande dificuldade

dos alunos em decomporem o problema em partes para depois generalizarem a

solução.

Todas estas dificuldades aqui demonstradas também, são nomeadas nos

estudo de Batanero (1996.1997), como já citamos anteriormente.

Estamos conscientes das dificuldades encontradas pelos alunos nos

problemas relativos ao conteúdo analise combinatória. Acreditamos que a solução

para as dificuldades está na busca de uma aprendizagem fundamentada na

atividade do aluno que procura construir seu próprio conhecimento. As atividades

diversificadas, que venham a ser proposta para favorecer um comportamento de

busca, de hipóteses e que despertem o raciocínio, ajudam o processo de

aprendizagem do aluno. O importante é admitirmos que os erros dos alunos são

normais no processo de aprendizagem, e que através deles podemos levar os

discentes a superarem os obstáculos e, conseqüentemente, à evolução do

desenvolvimento do conhecimento.

Esta reflexão sobre a aprendizagem de análise combinatória nos leva à teoria de

Piaget que afirma que a solução para as dificuldades dos alunos, em questões

matemáticas, esta numa aprendizagem fundamentada na atividade do aluno que

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constrói seus próprios conhecimentos. E nas idéias de Vergnaud, quando afirma

que um campo conceitual representa um conjunto de situações cujo domínio

requer uma variedade de conceitos, procedimentos e domínio da representação

simbólica.

5.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Gostaríamos de apresentar, nesta seção, como educadores e

pesquisadores, as nossas posições pessoais. Os resultados obtidos nessa

pesquisa nos forneceram um enorme crescimento, além da credibilidade de que é

possível desenvolver um conceito matemático em sala de aula de forma

significativa. Para nós, ficou evidente que uma abordagem que procura envolver a

participação do aluno, explorando constantemente situações próximas de seu

cotidiano, favorece a apresentação de um outro tipo de comportamento. Fato

comprovado pela participação assídua dos alunos em encontros que foram

ministrados fora do horário normal de aulas. A “mortalidade” dos 3 alunos que não

entraram na nossa análise se deve aos seguintes motivo:

A ausência de um dos três alunos explica-se por problemas relativos à

saúde. Esse aluno, após ter iniciado os encontros, ficou com uma infecção, mas

na semana que não apresentava febre, fazia questão de participar da seqüência e

realizou o pós-teste. Quando faltou a primeira vez, pediu para que não o

tirássemos dos encontros, pois, assim que pudesse voltaria.

Os outros dois alunos apenas não compareceram no dia da aplicação do

pós-teste.

Outro fato que nos fez comprovar que esta abordagem foi bem aceita se

deve ao elogio recebido dos pais dos alunos que participaram da seqüência. Tais

pais telefonaram para a diretora e um deles foi diretamente conversar com a

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pesquisadora. Também ficamos contentes quando recebemos alguns alunos do

2º ano do Ensino Médio (nosso grupo de referência), pedindo para darmos o

mesmo estilo de aula que estava sendo ministrada à turma da 8ª série.

Nos iniciais momentos, do primeiro encontro, pudemos constatar que este

era visto pelos alunos como uma atividade de lazer e não como algo que

objetivasse um aprendizado. No segundo momento, já ocorreu uma certa

resistência dos alunos em resolverem as atividades dadas, sem que houvesse

uma explicação prévia sobre o assunto. Sentimos, então, a quebra do contrato

didático existente até o momento, provocando uma dispersão por parte de alguns

alunos, embora poucos. Depois de uma explicação sobre a pesquisa que estava

sendo realizada, constatamos que os alunos não mais assumiram um papel

apático e passivo, caracterizado pela espera da “transmissão” do conhecimento

como algo obrigatório. Conseguimos que uma boa parte dos alunos assumissem

o papel de “construtores” de tal conhecimento. Quanto aos materiais concretos,

estes foram bem aceitos e quase a totalidade dos alunos fez uso deles.

Pretendemos deixar bem claro que acreditamos que existem outras formas

de introduzir o conceito de análise combinatória, baseadas em situações que

procuram dar significado ao aluno. Apenas acreditamos que o enfoque que

demos para nossa seqüência ajudou a facilitar um pouco a construção desse

conhecimento.

Realizando uma avaliação crítica de nosso estudo, notamos que, em

alguns pontos, haveria necessidade de aperfeiçoamento. Cremos que ampliando

a duração da aplicação de nossa seqüência, trabalharíamos melhor certos

aspectos que provavelmente levariam à obtenção de melhores resultados, tanto

qualitativo como quantitativo. Acreditamos, ainda, que seria válido trabalhar com

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um número maior de situações-problema que valorizassem a contagem direta e

permitissem aos alunos descobrir um procedimento que os levassem a todas as

possibilidades, sendo que pouco a pouco, seria aumentado o número de

possibilidades total. Essa afirmação se deve ao fato de julgarmos que, se o aluno

tiver possibilidade de interagir mais com esse tipo de problema, terá condições de

desenvolver a habilidade de interpretação sobre a ordem dos elementos e

algumas etapas a serem realizadas, quando formadas, uma a uma, as

possibilidades possíveis. Temos, também, que devíamos trabalhar mais a

interpretação do enunciado e ter uma preocupação, maior do que a que tivemos

com a elaboração da nossa seqüência, em ver a clareza do enunciado. Em

alguns problemas, observamos que os alunos apresentaram dificuldade na

interpretação do enunciado. Como exemplo, temos a questão 7 do pós-teste, em

que os estudantes permutam as categorias dos filmes, mas não fazem a

permutação dos filmes dentro das categorias. Questionamos nesse problema se o

enunciado estava claro, se os alunos conseguiram interpretar que os filmes

podiam ser permutados dentro de cada categoria.

Por fim, ainda como sugestão de pesquisa, acreditamos ser de vital

importância desenvolver o estudo sobre análise combinatória de forma

significativa, e que este estudo aconteça em etapas, como sugerem os PCNs. O

ideal, no nosso ponto de vista, seria que o estudo pudesse ser iniciado no Ensino

Fundamental de forma significativa, sem apresentação de fórmulas, e que no

Ensino Médio o aluno pudesse ter este conceito institucionalizado, apresentando

as fórmulas de forma significativa e não apenas como um algoritmo que o leve a

mecanizar e associar palavras-chave.

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Pretendemos, em futura pesquisa, trabalhar em relação aos enunciados

dos problemas de análise combinatória. Formaríamos, assim, dois grupos, um em

que os enunciados são cuidadosamente trabalhados, com a preocupação de

formular cada problema com muita clareza e trabalhar a interpretação através de

representações, e o outro em que os enunciados estejam nos livros didáticos.

Com esse estudo, gostaríamos de avaliar até que ponto a interpretação do

enunciado e a clareza deste podem sanar os erros encontrados na nossa

pesquisa.

BIBLIOGRÁFIA

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