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A origem da data Iom haShoá é a data que marca o massacre de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial e que lembra de suas vidas, de suas práticas culturais, de suas contribuições para a sociedade. Seu nome completo é Iom Hazikaron laShoá velaG'vurá (“Dia em Lembrança ao Holocausto e ao Heroísmo”) e marca, não apenas as vítimas, mas também os atos de bravura e resistência à barbárie nazista. A palavra Shoá significa “catástrofe” e a data de Iom haShoá (27 de Nissan) foi estabelecida pela lei israelense em 1951. Tradicionalmente, cerimônias públicas são organizadas para marcar a data, tanto em Israel quanto na Diáspora – frequentemente, incluindo acendimento de velas Davar Acher: Outras interpretações... O estabelecimento da data de 27 de Nissan para Iom haShoá não foi unânime e ainda encontra resistências. De um lado, havia quem propusesse a data de 14 de Nissan, que marca o levante do Gueto de Varsóvia; de outro lado, havia quem defendesse datas já estabelecidas no calendário judaico para marcar tragédias nacionais, como 10 de Tevet e 9 de Av. Em particular, o Rabinato Central de Israel considerava inapropriado marcar a Shoá no mês de Nissan, no qual celebramos Pessach e que é simbolicamente associado a temas de redenção. Até hoje, segmentos da ultra-ortodoxia (charedim) se recusam a observar Iom haShohá. Pardês Eliezer Max - O Pomar do Eliezer Max Iom haShoá 1 Edição n° 4 Abril, 2017 | Nissan, 5777

Iom haShoá Davar Acher: Outras interpretações · 2017. 4. 26. · De outro lado, há quem veja na data uma oportunidade de se recordar também de outros genocídios da era moderna

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Page 1: Iom haShoá Davar Acher: Outras interpretações · 2017. 4. 26. · De outro lado, há quem veja na data uma oportunidade de se recordar também de outros genocídios da era moderna

A origem da dataIom haShoá é a data que marca o massacre de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial e que lembra de suas vidas, de suas práticas culturais, de suas contribuições para a sociedade. Seu nome completo é Iom Hazikaron laShoá velaG'vurá (“Dia em Lembrança ao Holocausto e ao Heroísmo”) e marca, não apenas as vítimas, mas também os atos de bravura e resistência à barbárie nazista. A palavra Shoá significa “catástrofe” e a data de Iom haShoá (27 de Nissan) foi estabelecida pela lei israelense em 1951.

Tradicionalmente, cerimônias públicas são organizadas para marcar a data, tanto em Israel quanto na Diáspora – frequentemente, incluindo acendimento de velas

Davar Acher: Outras interpretações...O estabelecimento da data de 27 de Nissan para Iom haShoá não foi unânime e ainda encontra resistências. De um lado, havia quem propusesse a data de 14 de Nissan, que marca o levante do Gueto de Varsóvia; de outro lado, havia quem defendesse datas já estabelecidas no calendário judaico para marcar tragédias nacionais, como 10 de Tevet e 9 de Av. Em particular, o Rabinato Central de Israel considerava inapropriado marcar a Shoá no mês de Nissan, no qual celebramos Pessach e que é simbolicamente associado a temas de redenção. Até hoje, segmentos da ultra-ortodoxia (charedim) se recusam a observar Iom haShohá.

Pardês Eliezer Max - O Pomar do Eliezer Max

Iom haShoá

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Edição n° 4Abril, 2017 | Nissan, 5777

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Pardês Eliezer Max - O Pomar do Eliezer Max - Ed. 4 - Iom haShoá 2

Um debate mais recente vem sendo travado desde 2005, quando a ONU estabeleceu o Dia Internacional para a Memória do Holocausto em 27 de janeiro, data em que o Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz-Birkenau foi libertado em 1945. No Brasil, as Federações Israelitas têm organizado cerimônias do Dia Internacional para a Memória do Holocausto em parceria com as autoridades civis e políticas nacionais e estaduais e cerimônias de Iom haShoá mais focadas na comunidade judaica.

Além do debate sobre a data do calendário judaico em que a Shoá deveria ser lembrada, tampouco existe consenso sobre qual o enfoque Iom haShoá deve ter. De um lado, há aqueles que acreditam que a data deve focar-se exclusivamente nas vítimas judaicas do regime nazista (posição contemplada, inclusive, pelo preâmbulo da lei israelense que instituiu a data) e que as implicações devem estar limitadas a impedir que um novo genocídio aconteça contra o povo judeu. De outro lado, há quem veja na data uma oportunidade de se recordar também de outros genocídios da era moderna e de aprofundar processos pedagógicos que eduquem para a tolerância e que protejam todas as pessoas, judeus e não judeus, do tipo de violência que o mundo testemunhou na Segunda Guerra.

Tradições & CostumesPor ser uma data relativamente recente, há uma variedade de tradições e costumes referentes a Iom haShoá:

● Toque da Sirene: Em Israel, as sirenes soam em todo o país às 10h00, quando as pessoas param tudo que estiverem fazendo e observam, postados em pé, um minuto de silêncio. Este link mostra um exemplo deste momento em uma estrada israelense.

● Liturgia de Iom haShoá: o Rabino Avi Weiss, líder da Ortodoxia Aberta norte-americana, criou há cerca de 15 anos, uma cerimônia familiar para Iom haShoá, similar ao seder de Pessach, incluindo uma hagadá desenvolvida especialmente para a data. Os movimentos Conservador, Reformista e Reconstrucionista também desenvolveram cerimônias para marcar a data do ponto de vista religioso.

● Marcha da Vida: O programa “Marcha da Vida” foi estabelecido em 1988 e tem levado, desde então, pessoas de todo o mundo para visitar os campos de concentração e extermínio na Polônia. Na data de Iom haShoá, é realizada uma marcha de 3 km entre Auschwitz a Birkenau.

O projeto Marcha Pela Vida do Eliezer Max agrega, ao programa oficial da Marcha da Vida, visitas a instituições sociais, encontros com estudantes e outras atividades que têm como objetivo possibilitar o diálogo e a criação de uma cultura de paz e tolerância.

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Valores & Questões para discussãoUma das questões fundamentais no debate sobre Iom haShohá é sobre quais são as lições que aprendemos deste evento, certamente o mais trágico da história judaica recente:

● Na sua opinião, qual o equilíbrio entre usar Iom haShoá para debater o holocausto judaico da Segunda Guerra e usar a data para debater também outros genocídios ou intolerâncias em geral?

● O nome da data indica que ela deve recordar tanto a Shoá quanto os atos de bravura e heroísmo. É possível honrar estas duas dimensões ao mesmo tempo? Como?

● Em que medida a dimensão da Shoá justifica o estabelecimento de uma data exclusiva para sua memória ou deveria ser incorporada às datas de luto coletivo judaico já estabelecidas (como 9 de Av e 10 de Tevet)?

● Cada vez mais, discursos políticos no Brasil, em Israel e em outras partes fazem referências à Shoá, apontando o risco de que a posição política contrária à sua conduza à intolerância e ao totalitarismo. Em que situações este uso é, na sua opinião, apropriado? Neste sentido, há “linhas vermelhas” que não deveriam, sob hipótese alguma, ser cruzadas?