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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Ionara Cristine Lermen Anjos no Cinema: na perspectiva dos estudos de comunicação e semiótica MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA São Paulo 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP

Ionara Cristine Lermen

Anjos no Cinema: na perspectiva dos estudos de comunicação e semiótica

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

São Paulo

2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC- SP

Ionara Cristine Lermen

Anjos no Cinema:

na perspectiva dos estudos de comunicação e semiótica

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Comunicação e Semiótica, Signo e Significação das mídias, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Jerusa Pires Ferreira.

São Paulo

2013

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BANCA EXAMINADORA

____________________________________

____________________________________

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À Ti, somente à Ti, meu Deus e meu Pai,

provedor misericordioso das pessoas, oportunidades e manifestações do intelecto.

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Resumo

A presente pesquisa objetivou compreender quais as relações e contribuições

possíveis, advindas dos estudos da angelologia, para com o pensamento tecnológico-

científico na área da comunicação e semiótica, a partir de manifestações midiáticas da

personagem Anjo no cinema. Conjecturou-se que a figura do Anjo, abordada dentro

dos estudos da angelologia possuía relações e contribuições fundamentais para com a

área da comunicação, em caráter tanto análogo, sob a ótica da fundamentação de

personagem “mensageiro”, bem como elemento persuasivo dentro das manifestações

midiáticas no cinema, tendo em vista seu caráter mitológico-arquetípico e religioso

seguido de sua relevância enquanto signo semiótico; Em específico, buscou ainda

compreender a figura do Anjo a partir dos estudos da angelologia (pseudociência

proposta dentro dos estudos da religião, da teologia e da filosofia, abordada em

especial através dos autores Arturo Blanco e Charles Ryrie e de literatura judaico-

cristã tendo como referência a Bíblia) e sua categorização dentro das ciências,

agregando brevemente suas esferas de análise dentro do berço destas (filosofia) e do

estudo das religiões (teologia), além de analisar de modo descritivo interpretativo com

base no argumento comparativo, vinte e cinco filmes que contemplam a personagem

Anjo (filmografias ocidentais datadas no período entre os final do século XX e início do

século XXI) gerando categorias de "tipos" de personagens recorrentes

arquetipicamente (referencial teórico pautado especialmente em Carl Jung e

Christopher Vogler); Amparou as constatações em conceitos da teoria da

comunicação que fizeram o uso do Anjo como metáfora para seus fenômenos, em

especial através dos autores Michel Serres e Walter Benjamim e as questões da

modelização e tradutibilidade advindas dos estudos da Semiótica da Cultura, com seu

expoente, Iury Lotman. O procedimento teórico-metodológico se deu em torno de

conceitos advindos de suportes bibliográficos e de suportes de mídia (filmes

cinematográficos), em proposta descritiva, analítica e interpretativa, gerando uma

pesquisa de base qualitativa. A obra mostra-se importante por considerar-se que a

área da comunicação tem se mostrado carente de pesquisas que promovam a

interação entre estudos tecnológicos científicos e as pseudociências, a exemplo da

angelologia. Como elementos conclusivos, traz apontamentos que desmitificam a

idealização do senso comum do Anjo ser necessariamente de base judaico-cristã no

cinema, permeado por especificidades e novos atributos que apenas a narativa

introduz, bem como atenta-se para a ideia infundada de que personagens Anjos no

gênero fantástico, são recorrentes no cinema, deixando-se assim em aberto a reflexão

das possíveis contribuições que as tecnologias digitais dentro da comunicação podem

oferecer para a amplificação, disseminação e "materialização" do universo

angelológico e seus signos, fazendo uso da sétima arte.

Palavras-chave: Anjo | Angelologia | Personagem judaico-cristão | Cinema | Semiótica

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Abstract

This research aimed to understand which relationships and possible contributions,

arising from the study of angelology, to the technological-scientific thinking in the area

of communication and semiotics, media events from Angel's character in the movies.

Conjectured that the figure of the Angel addressed within the study of angelology had

relations and fundamental contributions to the field of communication, both similar in

character, from the perspective of reasoning character "messenger", as well as

persuasive element within the manifestations media in film, considering his character

and religious mythological-archetypal followed by their relevance as semiotic sign, in

particular, has also sought to understand the figure of the Angel from the studies of

angelology (pseudoscience proposed within the study of religion, theology and

philosophy, addressed in particular by the authors Arturo Blanco and Charles Ryrie and

Judeo-Christian literature with reference to the Bible) and its categorization within the

sciences, briefly adding their spheres of analysis within the cradle of these (philosophy)

and the study of religion (theology), and to analyze in a descriptive interpretation based

on comparative argument twenty-five films that include the character Angel (Western

filmographies dated in the period between the late twentieth and early twenty-first

century) generating categories of "types "recurring characters archetypally (theoretical

guided especially Carl Jung and Christopher Vogler), He has helped the findings on

concepts of communication theory that made use of the Angel as a metaphor for its

phenomena, in particular by the authors' Michel Serres and Walter Benjamin and

issues arising from modeling and translatability studies Semiotics of Culture, with its

exponent, Iury Lotman. The theoretical-methodological procedure took around

concepts based on media publications and media holders (motion pictures), proposed

in descriptive, analytical and interpretive, generating a basic qualitative research. The

work shows is important considering that the area of communication has proved

lacking in research that promote interaction between scientific and technological

studies pseudoscience, such as the angelology. How conclusive elements, brings

desmitificam notes that the idealization of common sense Angel necessarily be basic

Judeo-Christian film, permeated with new specificities and attributes that only

introduces narativa well as attentive to the unfounded idea that characters Angels the

fantastic genre, are recurring in film, thus leaving open the reflection of the possible

contributions that digital technologies within the communication can provide for

amplification, and dissemination "materialization" of the universe and its angelological

signs, making use of the seventh art.

Keywords: Angel | Angelology | Character Judeo-Christian | Cinema | Semiótica

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SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................. 09

1.O Anjo no imaginário judaico cristão ................................................................... 15

1.1. O Anjo nos primórdios do pensamento filosófico e teológico ................................ 16

1.2 Aspectos histórico religiosos sobre os estudos Angelológicos .............................. 22

1.3. Considerações bíblicas cristãs sobre os Anjos .................................................... 29

1.3.1. A genealogia dos Anjos bíblicos cristãos ........................................................... 30

1.3.2. A personalidade dos Anjos bíblicos cristãos ...................................................... 32

1.3.3. A organização hierárquica dos Anjos bíblicos cristãos ...................................... 34

1.3.4. O ministério dos Anjos bíblicos cristãos ............................................................ 40

1.3.5. A forma dos Anjos bíblicos cristão ..................................................................... 42

2. O Anjo no cinema: Aparições.................................................................................50

2.2. Filmografia angelológica: aspectos metodológicos .............................................. 53

2.3 Filmografia angelológica: as obras ........................................................................ 55

a. Que espere o céu (1941) ................................................................................. 55

b. A felicidade não se compra (1946) ................................................................... 57

c. Um anjo caiu do céu (1947) ............................................................................. 59

d. Anjos e piratas (1951) ...................................................................................... 62

e. Barbarella (1968) ............................................................................................. 63

f. O céu pode esperar (1978) ............................................................................... 66

g. As aventuras de um anjo (1985) ...................................................................... 68

h. Asas do desejo (1987) ..................................................................................... 69

i. Tão longe, tão perto (1993) ............................................................................... 73

j. Os anjos entram em campo (1994) ................................................................... 76

k. Anjos rebeldes (1995) ...................................................................................... 78

m. Por uma vida menos ordinária (1997) ............................................................. 83

n. Cidade dos anjos (1998) .................................................................................. 86

o. Anjos rebeldes 2 (1998) ................................................................................... 89

p. Dogma (1999) .................................................................................................. 91

q. Anjos rebeldes 3: o ascendente (2000) ............................................................ 94

r. Sem notícias de Deus (2001) ............................................................................ 96

s. O céu pode esperar (2001) .............................................................................. 99

t. Anjos rebeldes 4: a guardiã do destino (2005) ................................................ 101

u. Anjos rebeldes 5: renegados (2005) .............................................................. 103

v. Angel-a (2005) ................................................................................................ 105

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x. Constantine (2005)......................................................................................... 108

y. Gabriel: a vingança de um anjo (2007) ........................................................... 110

w. Legião (2010) ................................................................................................ 117

2.4. Filmografia angelológica: considerações técnicas .............................................. 119

2.5 Filmografia angelológica: análise das personagens ............................................ 123

2.5.1. O nome dos Anjos ........................................................................................... 130

2.5.2 A forma dos Anjos ............................................................................................ 132

- O sexo dos Anjos ............................................................................................ 132

- Cabelos e olhos de Anjo .................................................................................. 133

- Asas de Anjo .................................................................................................... 133

- Figurino de Anjo ............................................................................................... 135

2.5.3. Genealogia dos Anjos no cinema .................................................................... 137

2.5.3. Hierarquia dos Anjos no cinema ..................................................................... 139

2.5.4. O que fazem os Anjos do cinema ................................................................... 140

2.5.5. A personalidade dos Anjos fílmicos ................................................................. 145

-Os bondosos .................................................................................................... 145

-Os rebelados/revoltados ................................................................................... 146

-Os atrapalhados ............................................................................................... 146

-Os sedutores/sensuais ..................................................................................... 147

-Os apaixonados: ............................................................................................... 148

-Os existenciais: ................................................................................................ 149

2.5.6. O "ministério" dos Anjos no cinema ................................................................ 150

-Os mensageiros motivadores de vidas humanas: ............................................. 150

-Os promotores da rebelião contra Deus: ......................................................... 153

-Os promotores da rebelião contra os Homens: ................................................. 154

3. O Anjo na comunicação: relações.......................................................................156

3.1 O Anjo na Comunicação: breves metáforas aos nossos dias .............................. 157

3.2. O Anjo como texto semiótico cultural modelizado, traduzido e ritualizado na

linguagem cinematográfica ....................................................................................... 162

Considerações Finais ............................................................................................. 183

Referências ............................................................................................................. 191

Referências Audiovisuais ...................................................................................... 195

Lista de figuras ....................................................................................................... 199

Lista de tabelas ....................................................................................................... 204

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Introdução

Apesar do avanço das discussões acerca da tradutibilidade ou "adaptações" de

textos advindos da linguagem literária para o cinema ou demais formatos de narrativa

audiovisual (como as telenovelas, por exemplo), mostou-se relevante, para nós,

enquanto aspecto motivador do presente trabalho, um estudo em que

preponderassem às características da linguagem textual escrita para o suporte

audiovisual (a exemplo do cinema) onde as principais reflexões se debrucem acerca

da composição de personagens de cunho arquetípico-mitológico.

Observa-se que as características oníricas e subjetivas ganham força no

suporte literário, haja vista a disponibilidade de palavras, e nestas, em especial os

adjetivos, que qualificam as personagens que não possuem na materialidade real

(física) sua referência direta. Nesse aspecto, a literatura mostrou-se sempre bastante

emancipada, especialmente pela alfabetização sígnica do código escrito e seu acesso

àqueles que o dominam (prova tal é a permanência da Bíblia até a atualidade, como

um dos livros mais vendidos do mundo, suporte verbal a ser utilizado neste estudo).

No que concerne o cinema, enquanto manifestação midiática, apesar de ter

apoiado-se na literatura na construção de suas primeiras narrativas, cabe observar

que apenas nos últimos anos, especialmente com o advento das tecnologias digitais e

das imagens numéricas, imersas no que os estudiosos denominam como pós-

modernidade, as formas e personagens de cunho onírico apareceram com maior

preponderância. O cinema assim, é observado como importante meio para a

resignificação de personagens arquetípicos, haja vista a sua capacidade de concentrar

pessoas que outrora se reuniam em rituais religiosos, sacros, profanos, e hoje,

buscam diante da tela a possibilidade de contemplarem narrativas mitológicas em uma

situação ritualizada de convívio.

Em relação a especificidade da personagem Anjo (e os estudos da angelologia)

avaliada nesta pesquisa, a iniciativa advém de pesquisas anteriores da autora que

caracterizaram o Anjo cinematográfico de grande parte das produções comerciais,

essencialmente com características advindas da cultura judaico cristã bíblica, o que

faz do suporte literário Bíblia (nesta pesquisa em sua tradução para a língua

portuguesa por João Ferreira de Almeida1) a ferramenta de gênese da personagem,

1 João Ferreira de Almeida (1628-1691): português que recebeu a sua educação teológica na Holanda,

empreendeu a primeira tradução do Novo Testamento para a língua portuguesa, a partir do original grego. Em 1670 a tradução estava concluída e onze anos depois foi publicada. João Ferreira de Almeida faleceu antes de completar a tradução de todo o Antigo Testamento do original hebraico. No entanto traduziu-o, de Génesis a Ezequiel, enquanto estava em Java (Indonésia). Em 1819 foi publicada a primeira edição da

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mediadora de suas conseguintes. A personagem ainda, no que se refere a

características narrativas de cunho icônico, concentra em si potencialmente a

aglutinação de arquétipos (velho sábio, grande herói, entre outros), o que a torna

complexa e ainda mais sedutora.

A título de exemplo da atualidade de nosso tema, no ano de 2011, período em

que demos início a este estudo, a revista brasileira Istoé trouxe uma reportagem

referente ao aspecto que intitulou como "uma nova era dos anjos", haja vista a

literatura ter atentado para este tipo de personagem e já fazer previsões de que não

tardaria para o cinema também representá-los:

O mundo vive uma nova era dos anjos. Eles desceram

dos altares e estão sendo escalados pelas pessoas para atuar ao lado delas nas tarefas mais prosaicas do dia a dia, como o ato de cozinhar, estacionar um carro, achar um objeto perdido ou ir bem numa prova, por exemplo. No campo do esoterismo, eles foram incluídos nas mais diferentes correntes místicas, tais como cromoterapia, ioga, reiki, cabala, astrologia, óleos essenciais e cristais. A face mais visível dessa nova era angelical está nas livrarias. Somente em 2011, os lançamentos de títulos de não ficção sobre o assunto cresceram 20%, segundo dados das duas principais editoras especializadas no segmento. Com isso, os livros que tinham os anjos como tema já representam quase 40% do mercado editorial místico esotérico. Para 2012, a previsão é de os anjos ajudarem seus autores a vender 25% a mais. E até mesmo chegar para às telas do cinema." (LOES, 2011, p. 84)

Observa-se que a reportagem em especifico "anuncia" uma nova retomada

destes personagens no cinema, porem como sabemos, já há uma filmografia "de

Anjos" disponível desde os primórdios do cinema, da qual grande parte é contemplada

nesta pesquisa.

Símbolos, mitos e ritos são elementos que se perpetuam. No contexto urbano

pós-moderno, suas sobrevivências dizem respeito à necessidade do “estar junto”,

compartilhar, da busca do utópico “comunitário”. “O ideal comunitário dá novamente

sentido aos elementos arcaicos, que se acreditava totalmente esmagados pela

racionalização do mundo” (MAFESSOLI, 1995, p.16). Sendo assim, a observação de

uma personagem mitológica judaica-cristã sob a ótica de um rito contemporâneo

midiático (cinema), mostram-se campos de estudo bastante salientes.

Bíblia em Português, de Génesis a Apocalipse, traduzida por João Ferreira de Almeida, sendo as versões revistas e actualizadas, posteriormente, as quais continuam a ser utilizadas pelos cristãos evangélicos de língua portuguesa. (Fonte: <http://irmaos.net/historia/biografia_joaoferreiraalmeida.html> Acesso em julho de 2013).

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Sendo assim, a pesquisa buscou responder: Quais as relações e/ou

contribuições possíveis, advindas dos estudos da angelologia, para com o

pensamento tecnológico-científico na área da comunicação e semiótica, a partir

de manifestações midiáticas da personagem Anjo no cinema?

Enquanto hipóteses conjecturou-se que: 1. A figura do Anjo, abordada dentro

dos estudos da angelologia (pseudociência proposta dentro dos estudos da religião,

da teologia e da filosofia) possui relações e contribuições fundamentais para com a

área da comunicação, em caráter tanto análogo, sob a ótica da fundamentação de

“mensageiro” abordada como uma das principais características da figura, bem como

elemento persuasivo dentro das manifestações midiáticas da área, tendo em vista seu

caráter mitológico-cultural e religioso e sua preponderância enquanto signo semiótico.

2. Enquanto personagem, a figura possui significativas características que aprimoram

o ato comunicativo e sua eficácia junto aos públicos, elemento este já atentado pela

área, mas ainda não utilizado quantitativamente de forma expressiva. Esta última

ideia, argumentada a partir da já estruturada e praticada produção de personagens

vinculados ao imaginário coletivo e sua, também já consolidada, relação entre as

manifestações midiáticas (em especial junto ao cinema, rito contemporâneo pós-

moderno aglutinador das massas, capaz de caracterizar o Anjo como “mito renovado”),

sejam essas narrativas verbais escritas, filmografias (cinema) e todas as demais

formas e veículos utilizados, em especial em formato audiovisual.

Com base nisso, nosso objetivo é mensurar as características da personagem

Anjo dentro das referenciações bíblicas judaico-cristãs e suas potenciais contribuições

aos estudos da comunicação e semiótica a partir de suas manifestações midiáticas no

cinema. Paralelo a este, em específico, busca compreender a figura do Anjo a partir

dos estudos da angelologia e sua categorização dentro das ciências, agregando

brevemente suas esferas de análise dentro do berço destas (filosofia) e do estudo das

religiões(teologia), além de analisar de modo descritivo interpretativo com base no

argumento comparativo, filmes selecionados que contemplam a personagem Anjo

(filmografias ocidentais datadas no período entre os final do século XX e início do

século XXI); Para, por fim, amparar nossas constatações em conceitos semióticos e

da teoria da comunicação e oferecer possíveis contribuições dos estudos da

angelologia para com a comunicação midiática.

O procedimento teórico-metodológico se deu em torno de conceitos

advindos de suportes bibliográficos perpassando pela utilização de suportes de mídia

(filmes cinematográficos em DVD2) e de literatura em proposta descritiva, analítica e

2 DVD: Abreviação para abreviatura de Digital Versatile Disc 1 , em português, Disco Digital Versátil.

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interpretativa. Consideramos assim a pesquisa de base qualitativa, onde apesar de um

levantamento de obras (filmes "de Anjo") e estas possuírem alguns caráters da ordem

comparativa numérica -quantitativos-, na maior parte as análises interpretativas são

feitas de forma a compreender aspectos que deram origem a tais constatações,

buscando mostrar tendências, diferenças e apontamentos para trabalhos futuros

dentro da temática ("[...] descritiva limita-se a descrever os fatos, analisar e classificar

os fatos, sem que seu pesquisados neles interfira. A explicativa busca

fundamentalmente o porquê das coisas. (SANTAELLA, 2001, p. 147)).

Os capítulos 1 e 3 fizeram uso de maior de aportes bibliográficos dentro de

seus títulos, já o capítulo 2, onde constam os filmes analisados em específico, o

método estruturado partiu das considerações obtidas no capítulo 1 (classificações do

universo angelológico citadas pelo teólogo Charles Ryrie), somadas a

explicação/interpretação pessoal dos dados.

No que se refere a estruturação dos capítulos, o capítulo 1, intitulado O Anjo

no imaginário judaico cristão, faz um breve levantamento filosófico sobre como a

figura do anjo foi introduzida dentro de um pensamento científico, desembocando no

momento em que ciência e fé passaram a fazer parte de esferas distintas do

conhecimento. Dentro da escala da fé, os estudos teológicos passaram a acolhe-lo e

destes, dentro das religiões judaico-cristãs, em especial de vertente católica (igreja

primitiva da idade média), deram-se início as categorizações e descrições de aspectos

dos anjos pautados, especialmente, na bíblia sagrada e em demais características

'anexadas' conforme seus precursores (Tomás de Aquino, por exemplo). Como

organização dos estudos, os aspectos contemplados foram genealogia, personalidade,

organização hierárquica, ministério e forma dos anjos, todas, amplamente embasadas

pelas citações bíblicas cristãs - muito recorrentes na pesquisa- que as justificam.

O capítulo 2, intitulado O Anjo no cinema: aparições, é o mais extenso por

conter nossos objetos de análise descritos e interpretados (filmes). Inicia-se com

explanações sobre o cinema enquanto arte representativa do imagético, fazendo uso

em especial de argumentos do filósofo Edgar Morin. Segue com breves

esclarecimentos sobre o método utilizado no capítulo e apresenta detalhes das

obras/filmes selecionados entre os anos de 1940 e 2010 sendo eles: a. Que espere o

céu (1941); b; A felicidade não se compra (1946); c. Um anjo caiu do céu (1947); d.

Anjos e piratas (1951); e. Barbarella (1968); f. O céu pode esperar (1978); g. As

aventuras de um anjo (1985); h. Asas do desejo (1987); i. Tão longe, tão perto (1993);

j. Os anjos entram em campo (1994); k. Anjos rebeldes (1995); l. Michael: um anjo

sedutor (1996); m. Por uma vida menos ordinária (1997); n. Cidade dos anjos (1998);

o. Anjos rebeldes 2 (1998); p. Dogma (1999); q. Anjos rebeldes 3: o ascendente

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(2000); r. Sem notícias de Deus (2001); s. O céu pode esperar (2001); t. Anjos

rebeldes 4: a guardiã do destino (2005); u. Anjos rebeldes 5: renegados (2005); v.

Angel-a (2005); x. Constantine (2005); y. Gabriel: a vingança de um anjo (2007); w.

Legião (2010).

Cada uma das obras deste capítulo é avaliada nos aspectos de: Título Original,

Ano de produção, País de Origem, Direção, Gênero, Duração, Premiações e Sinopse

comercial. Estes dados em sua maioria foram extraídos dos DVDs ou de pesquisas

em sites3 sobre cinema e locadoras.

Agregados a estes, dá-se sequencia a análise - neste momento mais

aprofundada, onde foi necessário assistir e reassistir todas as obras - com os tópicos

advindos do capítulo 1: Nome do Anjo (como se chamava a personagem no filme);

Genealogia (se havia ou não menção de sua gênese enquanto criatura celeste e

havendo, qual era); Personalidade (quais os aspectos relevantes de seu modo de

pensar e agir dentro da narrativa fílmica - normalmente descritos através de adjetivos);

Hierarquia (se havia ou não menção ao patamar que a personagem ocupava em

relação a demais anjos ou ao "céu"); Ministério/ Função (qual era o objetivo da

personagem na história; O que almejava; Pelo que "lutava") e Forma (como se davam

suas características físicas, envolvendo nestas desde cabelos, olhos, estatura, sexo e

aspectos de seu figurino). Nesta última característica, a imagem de cada um dos

Anjos é apresentada através de figuras.

Os dados apresentados são então divididos em considerações técnicas

demonstrados através de tabela que sintetiza as descrições, sendo posteriormente

analisada de forma comparativa, elencando aspectos breves da forma como os títulos

das obras foram apresentados em língua portuguesa, os anos ou décadas em que

houveram maiores e menores produções de filmes com a temática, diretores, se

recorrentes ou conhecidos por este tipo de produção, países de origem, no sentido de

averiguar qual/quais privilegiam mais a temática e a questão das premiações, se

existentes e/ou expressivas dentro dos filmes avaliados.

Após esta etapa apresentam-se mais duas tabelas, seguidas de análises

descritivas sobre: o nome dos anjos (se recorrentes (repetidos) referenciados no

suporte bíblico etc); A forma dos anjos (dividindo esta análise em; sexo, cabelos e

olhos, asas (voo) e figurino, tendo este último subcategorias criadas a partir da

comparação e recorrência de alguns elementos, à exemplo do "casaco sobretudo"); A

genealogia dos anjos (de onde as personagens vêm, caem, aparecem, se

mencionado); Hierarquia (como os anjos dos filmes estruturam-se, se mencionado tal

3 Endereço virtual utilizado para comunicação comercial ou pessoal pela internet (rede mundial de

computadores).

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aspecto); Personalidade (quais os adjetivos que denominam essa categoria mais

recorrentes, de modo a criar neste tópico sub categorias de "tipos" de anjos a serem

agrupados por semelhança de perfil) e Ministério/ Função (o quê os anjos nos filmes

tem como missão e se esta é recorrente em aspectos comparativos, criando também

"tipos de missões" comuns, agrupando-os por semelhança). Enfatiza-se que nos dois

últimos aspectos referentes a Personalidade e Ministério/Função das análises,

privilegia-se a retomada de aspectos abordados no primeiro capítulo e introduzem-se

alguns conceitos arquetípicos capazes de justificarem algumas argumentações.

Dá-se sequência através do terceiro e último Capítulo, sob o título: O Anjo na

comunicação: relações, o qual busca teorizar as características do Anjo enquanto

personagem arquetípico, icônico, passível de análise semiótica e suas possíveis

interpretações através de metáforas filosóficas para a área da comunicação. Através

do subtítulo O Anjo na Comunicação: breves metáforas aos nossos dias traz em

especial os autores Michel Serres e Walter Benjamim, colocando breves ideias em

que o "Anjo" foi metaforizado dentro de suas características signicas (asas,voo,

genealogia como criatura de Deus, onipresença mesmo sem ser "visto" etc/ já citadas

nos capítulos 1 e 2) com importantes acontecimentos históricos, em especial os da

contemporaneidade, envolvendo velocidade, progresso e, em especial, a comunicação

(mensageiros/ mensagens/ anunciadores). O segundo e último subtítulo traz O Anjo

como texto semiótico cultural modelizado, traduzido e ritualizado na linguagem

cinematográfica, onde o trabalho faz a reflexão teórica sobre os processos de tradução

(conceito bastante discutido, em especial do código verbal para o imagético) e

modelização da 'personagem' Anjo, citando alguns exemplos da pintura, retomando

exemplos do cinema trabalhados no capítulo 2 e agregando considerações sobre o

cinema como rito contemporâneo das massas urbanas. Neste subtítulo a Semiótica da

Cultura, através das considerações de Iury Lotman, é utilizada como norteadora dos

conceitos que, confrontados com os aportes práticos dos a capítulos anteriores,

direcionam para as considerações finais da pesquisa.

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CAPÍTULO 1.

O Anjo no imaginário judaico cristão

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CAPÍTULO 1. O Anjo no imaginário judaico cristão

Falar em Anjo (s) torna-se uma delicada discussão por não estarem esses –

seres, personagens, entes, ou quaisquer outras denominações – em uma experiência

dos sentidos com os quais assimilamos a matéria do mundo que nos envolta. A falta

da evidenciação dos seres e cientificidade do tema trazem estudos como a

Angelologia4, espécie de pseudociência5 à margem do postulado científico.

O discurso que estuda os Anjos atualmente muito se mostra ligado à fé,

associação primária dada ao tema, desenha-se, mais esporadicamente, dentro de um

estudo pré-científico. Porém, a reflexão apenas toma corpo quando observada sob a

ótica da fé versus a razão, onde, por um lado, exige da fé a crença e, de outro, da

razão exige um juízo de valor criticamente e cientificamente fundamentado.

Assim, apresenta-se um breve resgate do modo como essa figura desenhou-se

ao longo dos séculos dentro do pensamento científico, em especial na filosofia e

teologia, abarcando nesta última o universo das religiões, das quais a presente

pesquisa privilegia o cristianismo e o aporte bíblico cristão como fonte de análise e

entendendo-se esta especificidade como manifestação cultural.

1.1. O Anjo nos primórdios do pensamento filosófico e teológico

Em contextualização histórica, podemos afirmar que anterior a Platão, dentre

os filósofos gregos, não haviam evidências da afirmação da existência dos Anjos. Por

volta do século V a. c, na Grécia, dá-se início a um novo curso do pensamento

humano, o Período Pré- Socrático6 (VII-V a.c), caracterizado pelo interesse

direcionado a natureza e ao mundo; Este período foi seguido do Período Socrático7 (IV

a.c), considerado o período de maior importância, haja vista a permanência do

interesse pela natureza, porém integrado ao interesse pelas ideias do “espírito”

4 A Angelologia é uma das ramificações originais da teologia, por este termo entende-se o estudo

dos anjos. 5 Pseudociência por definição é a falsa ciência. Na vida prática, pseudociência é toda atividade em que se

tente afirmar e/ou comprovar algo sem ser utilizado e respeitado o método científico. (SAGAN, Carl. 1996) 6 O período Pré-Socrático estabelecia como base de estudo apenas as coisas visíveis, relevando

elementos da realidade corpórea e ignorando as incorpóreas, negando as divindades. Nomes como Diágoras de Melos, o Sofista Crítias e Teodoro de Cirene (todos do séc. V), Pródico de Céos (séc. V-VI) e Teodoro o Ateu (séc, III) afirmaram que não haviam nem deuses nem realidade divina (BLANCO, 2009,p. 87). 7 Esse foi o período dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. Já o terceiro caracterizou-se pelo Período

Pós-Socrático (IV a.c. - VI d.c.) onde os pensamentos metafísicos dão lugar aos pensamentos sobre a moral (período também conhecido como moral ou antropológico).

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(metafísica8). E por fim, o Período Religioso, caracterizado pela importância dada à

religião, onde surgem as concepções de que a razão não abrangeria a totalidade dos

problemas existenciais (iniciam-se aí as primeiras reflexões da fé versus a razão)

(PADOVANI e CASTAGNOLA, 1974).

O curso desses pensamentos foi bastante criticado pelas crenças religiosas.

Com o materialismo9 como proposta de pensamento, consequentemente ocorreu um

certo agnosticismo10 a respeito dos Anjos, negando sua existência. Porém, apesar de

também ter executado uma espécie de revisão crítica das crenças religiosas nos seres

intermediários (e/ou divindades), Sócrates (Período Socrático) reagiu às críticas do

materialismo; Platão, reivindicou o primado da realidade espiritual e invisível, sendo

inédito ao propor as ideias (realidades invisíveis) e o conhecimento humano, em

formas separadas: “Essas espécies estão como exemplares na natureza e as outras

coisas se assemelham a elas e são imagens delas; a participação dessas outras

coisas na espécie consiste apenas em serem imagens da espécie” (PLATÃO, 2005,

p.132)

Platão via certa familiaridade em tais concepções, por oferecer indícios

mitológicos pautados na relação Deus – homem – seres intermediários, afeição posta

na seguinte passagem:

Tudo o que é demoníaco (daimon) é intermédio entre deus e o mortal (..). Tem poder de interpretar e levar aos deuses as coisas que vêm dos homens e aos homens as coisas que provêm dos deuses: dos homens as orações e sacrifícios; dos deuses, pelo contrário, as ordens e as recompensas dos sacrifícios. E, estando no meio entre uns e outros, realiza um complemento, de modo que o todo esteja bem conexo consigo mesmo. Graças à sua acção, tem lugar a mântica e também a arte sacerdotal que diz respeito aos sacrifícios, as indicações e os encantamentos e toda a espécie de divinação e magia. Um deus não se mistura com o homem, mas por meio deste demónio os deuses mantêm toda a espécie de relações e de colóquio com os homens, quer no

8- Metafísica: “Originalmente o título dos livros de Aristóteles que se seguiram à Física, o termo aplica-se agora a qualquer investigação que levante questões sobre a realidade que estejam por detrás ou além das que podem ser tratadas pelos métodos da ciência [...] A metafísica tende, portanto, a estar mais preocupada com os pressupostos do pensamento científico, ou do pensamento em geral, apesar de também aqui qualquer sugestão de que existe uma maneira intemporal de conduzir o pensamento encontrar forte oposição”. (BLACKBURN, Simon, 1997, p. 246) 9- Materialismo –“Perspectiva que sustenta que o mundo é inteiramente composto de matéria. Os filósofos hoje preferem o termo “fisicalismo”, visto que a física mostrou que a própria matéria se decompões em força e energia, sendo aquela apenas um entre outros habitantes fisicamente respeitáveis do universo. [..] Opõe-se ao dualismo mente-corpo, mas não tem qualquer relação com o desejo de bens ou de riqueza, o que constitui um significado diferente do termo”. (BLACKBURN, Simon, 1997, p. 239) 10- Agnosticismo: O termo foi utilizado em 1869 por Thomas Huxley. Do grego agnostos ("irreconhecível") refere-se à sua convicção de que o conhecimento é impossível em muitas disciplinas que abrangem a doutrina religiosa. Sendo assim, grosso modo, o agnosticismo ficou caracterizado por uma posição filosófica (e/ou religiosa) que afirma a impossibilidade do saber sobre a existência de Deus e a natureza humana. (FERRATER, 1965)

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estado de vigília, quer quando dormem (...). tais demónios são muito variados” (PLATÃO, 1995, p. 202d)

Aristóteles, a partir de seu mestre e da aceitação de suas ideias, caracterizou

esses seres como “não ligados a matéria” e os nominou como “substâncias

separadas”. Aristóteles também identificava o Uno à “Forma” e a Díade à “matéria”. As

Ideias seriam geradas pelo Uno como “causa formal” e pela Díade como “causa

material . Porém argumentou contraditoriamente que a atuação dessas criaturas não

era passível com o mundo ontológico11 atuando no mundo visível, na ordem dos

movimentos. Aristóteles também não aceitava em suas obras metafísicas a relação

entre fé (crenças religiosas) e filosofia, o que o rotulou ao longo da história como ateu

(ou ímpio).

Tais propostas geraram o que mais adiante se caracterizaria pelo chamado

materialismo, que expunha mais uma vez a contradição entre a ciência concreta e as

incitações mais abstratas, advindas das religiões:

La mayoría de los filósofos, de Platón em adelante, han descartado el materialismo ontológico por burdo e incapaz de explicarel esíritu humano y sus creaciones [...] [...] El materialismo ontológico há sido difamado por vários motivos. Primeramente, por estar em conflito com las cosmovisiones mágicas e religiosas.” (BUNGE, 1981, p.5)

Já a teologia, “ciência da fé”, interessa-se pelos Anjos sob a ótica destes

fazerem parte justamente da fé religiosa. Parte de um universo postulado inicialmente

como dogma e reafirmado com a fé em Deus e o universo por ele criado, estando os

Anjos imersos nessa criação. Em contrapartida, a filosofia, observa os Anjos de modo

especulativo, sendo capaz de caracterizá-los como seres reais, independente de

possuírem ou não materialidade (concretude).

Em concepção semelhante, Tomás de Aquino, no século XVIII, em sua obra

Suma Teológica12, já observava um certo embate entre a relação de dependência da

teologia diante da filosofia. Porém, cabe lembrar que Teologia e Filosofia possuem

berços e histórias distintas, estando a filosofia com uma gênese muito distante da

própria Bíblia (velho testamento – fonte dos estudos teológicos). Para Adler (1995), os

11

Ontologia: Estudo das questões que afetam o conhecimento de gênero das coisas. Assim, a partir do

cunho desses termos ainda em Aristóteles, a Metafísica atuava como a ciência que compreendia tudo o que poderia ir além do visível, e a Ontologia compreendia os conhecimentos formais. (FERRATER, 1965) 12

TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Trad. Aimom- Marie Roguet et al. São Paulo: Loyola, 2001. v. I, II, III, V.

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estudos de uma teologia séria buscam também arcabouço na história da filosofia, para

não cair-se no risco de uma espécie de misticismo. Ainda para o autor, as ideias de

Aquino, se houvessem baseado-se em orientações apenas filosóficas, não trariam

informações em grande escala, por isso colocou junto ao tema Angelologia

especulações ligadas a fé, o que faz de suas abordagens serem hoje consideradas,

para teólogos católicos ou protestantes, uma angelologia exagerada.

Ainda na esfera das grandes bibliografias da história das religiões, Calvino, em

sua obra As Institutas da Religião Cristã13, aponta que os Anjos seriam mais do que

inspirações ou “bons pensamentos”, afirmando as sagradas escrituras possuírem

evidenciações suficientes para que esses seres fossem encarados como realidade, e

não como entes meramente simbólicos. Porém, Calvino possuía uma metodologia

própria em seu “fazer teológico”, com a negação das vertentes filosóficas acerca dos

Anjos, resultando em uma Angelologia em volume menor do que a de Aquino, como

demonstra Adler:

As escrituras nada nos dizem sobre muitos assuntos que constituem a essência das questões tratadas na angelologia de Aquino. Estas, incluindo a existência, natureza e propriedades dos anjos como seres puramente espirituais, substâncias incorpóreas, mentes sem corpos, pertencem à filosofia, não à teologia. (ADLER, 1995, p. 33)

A negação da realidade pessoal dos Anjos e dos demônios dentro da teologia

iniciou-se historicamente com o protestantismo liberal14, que negava o caráter das

afirmações bíblicas sobre os Anjos e os demônios, reduzindo-os a projeções da

percepção psicológica do bem e do mal. Agrega-se ainda a ideia de que o Novo

Testamento traz uma representação mítica do universo, não compreensível com a

moderna ciência que o mundo hoje faz uso. Para eles, o mundo dos espíritos é uma

concepção ultrapassada, de natureza mitológica e simbólica. (BULTMANN, 2003)

13

CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas par estudo e pesquisa. Tradução Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. 14

-O liberalismo protestante é inquestionavelmente um dos movimentos mais importantes que surgiram

dentro do pensamento cristão moderno. Suas origens são complexas. Entretanto, é proveitoso pensar na sua origem, em resposta ao programa teológico encetado por F.D. Schleiermacher, especialmente, em relação à sua ênfase no “sentimento” religioso humano e na necessidade de relacionar a fé cristã com a situação humana. O protestantismo liberal clássico tem sua origem na Alemanha em meados do século XIX, em meio à crescente compreensão de que a fé cristã e sua teologia exigiam reconstrução, à luz do conhecimento moderno. Na Inglaterra, a recepção crescente à teoria da seleção natural de Darwin criou um clima, em que alguns elementos da teologia cristã tradicional pareciam cada vez mais inviáveis. Desde o seu começo, o liberalismo estava dedicado a criar uma ponte entre a fé cristã e o conhecimento moderno. (TAKATSU, Sumio. 2011)

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Paul Tillich (1984) coloca que os Anjos e demônios são símbolos de estruturas

do gênero humano, imagens de bem e mal, “concreções poético-simbólicas”, que não

devem ser entendidas em sentido literal (TILLICH, Poul. 1984). Na mesma ótica,

Hagg, teólogo proeminente dentro dos estudos da demonologia, coloca que em uma

ótica bíblica cristã, os evangelhos não são suficientes para uma crença em Anjos e

demônios. (BLANCO apud HAAG. 2009)

Nesse âmago, Adler (1995) pondera a seguinte questão:

O que sobra então? Todas e quaisquer questões sobre anjos que tenham origem em uma hipótese inicial e puramente filosófica, isto é, que seres puramente espirituais – mentes sem corpos- constituem uma possibilidade metafísica. Esse raciocínio sobre anjos prossegue sem qualquer referência à revelação divina, às Sagradas escrituras, ou dogmas e crenças religiosas. Não recebe ajuda nem direção da luz da fé. (ADLER,

1995, p. 34-35)

Blanco traz um apontamento a essas indagações, através da seguinte citação:

O homem apresenta dupla característica da imanência e da transcendência: faz parte deste mundo visível e ao mesmo tempo ultrapassa-o. O homem experimenta a sua corporalidade e, por tanto, aquilo que o liga aos seres materiais; mas experimenta e partilha também as ânsias do seu espírito, que aspira à imortalidade, a bens duradouros, à memória não reconhecimento dos outros. Os seres intermédios participando como nós na dimensão criatural e estando nesse sentido perto dos homens, podem ser objeto de múltiplas analogias. (BLANCO, 2009, p. 95)

Por fim, o que cabe como afirmação é a observada saliente preocupação do

homem em melhor compreender suas questões existenciais e de gênese, indagações

essas que perpassam pelos estudos ou apontamentos Angelológicos, sejam essas

evidências tidas através da dependência da fé religiosa, sejam pautadas pela filosofia

através de sua gentil “abertura de portas” ao imaterial, já em um período onde muito

da história do mundo não havia sido delineada. Compreender brevemente as relações

da teologia e da filosofia sob a ótica angelolológica faz perceber que independente do

caráter metodológico que poderá pautar ou não a Angelologia como ciência - em um

pensamento futurológico otimista e provocativo - mostrou-se uma importante

evidenciação de que a construção de conceitos e da própria história do conhecimento

deve estar sempre atenta às mais variadas formas de manifestações de informações,

oferecendo espaço para que cada uma apresente seus argumentos e adeptos.

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Nessa ótica de pensamento, Blanco coloca:

Incluem-se aqui também os defensores do positivismo filosófico, segundo os quais a angelologia se não deveria propor como ciência do real, mas no máximo como mitologia, poesia, discurso simbólico- eficaz, porque bem sucedido- com a finalidade de recordar as recorrentes problemáticas entre o bem e o mal. (...) os anjos não podem ser , por si mesmos, objetos das ciências experimentais; todavia isto não significa que não exista qualquer ponto de contato entre as modernas ciências da natureza e a angelologia. (BLANCO, 2009, p.91)

Se for possível falar-se em experiências morais, estéticas, afetivas, intelectuais,

entre outras, subjetivas, conforme aponta Blanco, os Anjos não deveriam ser

considerados como fora da “experiência do possível”, pois, apesar de, em tese,

excederem a ordem do sensível por, também em tese, contatarem o espírito humano:

Sem se poder dizer que a angelologia seja uma ciência “experimental” do mesmo modo que a física, a química ou a biologia, reconhecendo portanto que como ciência se situa no interior da metafísica, das ciências da religião e da teologia, é todavia possível dizer que o conhecimento “experiencial”, isto é, baseado em elementos adquiridos por experiências no sentido mais amplo agora exposto. (BLANCO, 2009, p.92)

Tal comprovação da experiência seria apenas possível se houvessem maiores

credibilidades dentro das fontes da fenomenologia da religião, nas descrições bíblicas

e na história das religiões. A crença mais lúdica (e/ou mística) atual nos Anjos da

guarda, por exemplo, clama por efeitos na ordem das experiências concretas. Dentro

da história das religiões, sobretudo dentro do cristianismo, as experiências

“angelológicas” estão presentes no campo cultural, moral e existencial mitológico.

A indagação defende que é questionável a ideia de apresentar a concepção de

seres intermediários como algo supérfluo ou exótico, postura que a própria Angelologia

busca adequar-se fronte às pressões do pensamento científico:

“Não passa hoje despercebido um certo “retorno dos anjos” em muitos aspectos da cultura, do vestuário, do cinema. O modo como dele se fala permanece, muitas vezes, mais num plano anedótico ou folclórico, sem capacidade de aceder a considerações sérias e empenhativas. “(BLANCO, 2009, p. 94)

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Ainda para Bunge, em pensamento condizente com Blanco, uma atividade

cultural é primeiramente uma atividade cerebral e influi na maneira como os outros

indivíduos pensam e sentem. É um produto chamado “objeto cultural”, podendo ser um

poema, um teorema, uma receita médica ou culinária, e independente do produto, este

permanece dentro do crânio de seu criador, em processo cerebral: para converter-se

em objeto cultural precisa “comunicar-se”. Assim, uma canção que jamais foi cantada

ou escrita pode ser um objeto belo para seu criador, mas não pode ser considerada

um objeto cultural.

[...] la cultura resulta ser tan material como el movimento o el cambio químico, porque tienes lugar em y entre nosotros, que somos sistemas materiales, Y si se la concibe como um sistema compuesto de produtores y consumidores de bienes culturales, la cultura se nos aparece como um sistema material. (BUNGE, 1981, p. 27)

Observa-se que os estudos "dos Anjos" como objetos simbólicos, faz-se

possível em especial pela sua presença recorrente nas produções culturais e

artísticas, alimentando o imaginário coletivo. A crença "fiel" ou a crença "mitológica"

nos Anjos não anula a razão e as evidências do mundo visível, mas procura,

discretamente, chegar a um conhecimento não redutor do ser humano. Para isto,

encontra aporte na Semiótica, como ciência interpretante dos signos.

Assim, são os estudos dos anjos – não apenas sob a ótica da teologia, ou

filosofia, indissociavelmente– mas em especial na semiótica como ciência

comunicativa, importantes para o aprimoramento da complexidade do pensamento

humano, oportunizando aos indivíduos o conhecimento de um imaginário mítico-

religioso e de seu potencial comunicativo e gerador de significado para as culturas.

1.2 Aspectos histórico religiosos sobre os estudos Angelológicos

Apesar do recorte de pesquisa que privilegia as fontes judaico-cristãs da figura

do Anjo, as referências mais antigas deste ícone não estão apenas nas considerações

bíblicas, mas em um universo de religiões e crenças de formas modestas ou

relevantes. Sob esta proposta, reconhecer a nomenclatura “Anjo” em todas as

manifestações torna-se um dado menos assertivo, porém, se denotarmos a ideia de

Anjo como ser “entre” o divino e o humano – abaixo de Deus (ou deuses) e acima dos

homens – emerge um universo de tais referências dentro da história das religiões.

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Para o teólogo Charles C. Ryrie (2004), o fato do ser humano não possuir

referências para afirmar do que o universo é feito ou a partir de que ponto de vista foi

formado, faz com que, apesar de muitas vezes negar as vertentes sobrenaturais, estas

exercem sobre ele um grande fascínio.

Se, por um lado, a tendência do ser humano em rejeitar tudo que é sobrenatural faz com que sua mente descarte a existência dos anjos, por outro, as atividades que não consegue explicar racionalmente faz com que a existência desses seres pareça necessária. (RYRIE, 2004, p. 135)

Já para Calvino15, referência na segunda fase do Protestantismo na Europa, a

aceitação ou negação de criaturas como os Anjos se dá pelas limitações da existência

humana em relação ao conhecimento de sua gênese:

A humanidade não dispõe de um manual chamado “Catálogo de Todas as Criaturas Possíveis”. Não dispomos de informações sobre a criação além dos dados apresentados pela criação que o homem já conhece. Em outras palavras, o conhecimento limitado do ser humano não permite que chegue a conclusões de que seres como os anjos não existem. (CALVINO, 2006, p. 135)

Os motivos que levam aos estudos Angelológicos, sejam por ótica ligada a fé

ou a questões filosóficas (tópicos a serem mais bem trabalhados no capítulo II),

conjectura-se que o interesse pelo sobrenatural e pelas questões existenciais

humanas sempre foi uma inquietante e instigante fonte de análise. Arturo Blanco

(2009) propõe nesse aspecto, a relação dos estudos Angelológicos com as ciências

experimentais, através da seguinte passagem:

A fé nos anjos pode exercer um influxo sereno, mas eficaz, no conjunto do saber humano e em particular também nas ciências experimentais: ajuda a redimensionar o antropocentrismo quando este se torna exagerado, desperta o homem das tendências materialistas e da exclusiva atenção ao

15

João Calvino: Figura central da segunda fase da Reforma Protestante (A primeira fase é caracterizada

pela atuação de Martinho Lutero, na Alemanha). O francês João Calvino (1509-1564) escreveu Institutos da Religião Cristã aos 25 anos. Formou-se em Direito na Universidade de Paris e após aderir à Reforma Protestante, fugiu para a Suíça, de onde propaga o protestantismo pela Europa. Maiores informações in CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas par estudo e pesquisa. Tradução Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

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mundo visível, amplia o seu horizonte para as criaturas superiores àquelas que são objeto do seu estudo específico, facilita o conhecimento de Deus, ajuda a compreender melhor o sentido profundo do curso e do fim da história, também como confronto entre o bem e o mal. (BLANCO, 2009, p. 96)

A abordagem do autor permite avaliar que o certo tom de ludicidade que a

temática angelológica propicia e instiga nos homens, pode ser um indício da

recorrência dessa “personagem” na arte, ou ainda, uma espécie de fuga da própria

mente humana, sedenta por respostas a questões bastante subjetivas que permeiam-

se ao longo de sua existência, a exemplo da evidenciação ou não de Deus, da

composição da realidade (ou irrealidade/imaterialidade), as possibilidades de

imortalidade, os porquês da vida e da morte etc. Como ainda coloca Blanco, tais

estudos levam o homem a questionar suas próprias dimensões corporais, e de modo

análogo, “o conhecimento desses seres espirituais, e portanto dos anjos, pode ajudá-

lo a conhecer e a gerir melhor sua dimensão espiritual”. (BLANCO, 2009, p. 96)

Em caráter analítico histórico breve, observa-se que independente da

denominação Anjo, a relação do homem com os seres dos quais chamaremos de

intermediários, sempre esteve presente ao longo da história das religiões. A

religiosidade dita Telúrica16 apresenta em sua gênese, em maioria, uma divindade

feminina que une-se a uma “semidivindade”, normalmente masculina, mostrando

assim a crença em seres intermediários.

Dentro das religiões ditas Celestes17, apesar de iniciarem-se monoteístas (um

único Deus), passam a um modo politeísta (vários deuses), porém conservando

sempre um deus supremo e principal, uma espécie de deus pai; A existência desses

“semideuses”, como é o caso dos trezentos e trinta milhões do Hinduísmo18,

caracterizam também a crença em seres intermediários.

16

Telúrica: Constante vertente que representava a divindade feminina através da deusa mãe-terra (tellus).

A representação telúrica se dava em imagens femininas que inspiravam fecundidade 300 a.c. (proeminência dos seios e da região do útero). A fecundidade era inspirada tanto no poder feminino de procriação, quanto no poder da terra (humus) em relação a natureza (ELIADE & COULIANO, 1994) 17

Religiões Celestes: A noção de um único Deus pai Celeste é a base da religiões celestes, ideia que

gerou mais tarde o politeísmo, onde o Deus pai, através de semi-deuses (intermediários), rege o mundo. Esse Deus é tido como pai dos demais deuses e pai do homem. “[...] os nomes das divindades ou do Ser supremo para os quais remete maior parte das tradições religiosas não se identificam como o “céu” enquanto tal, mas falam com maior freqüência, de alguém que ali habita como na sua morada.” (NITTI, 2009, p.295) 18

Hinduímo: 3000 a.c., a Índia era habitada por povos que tinham como Deus de seus cultos o Pai do

Universo (monoteísmo). Em 2.500 a.c, no vale do Indo (que hoje abrange o território Paquistão e noroeste

da índia) a civilização “drávida” fazia seus cultos, baseados na adoração a natureza e as estátuas

femininas (cultura matriarcal). Por volta de 1500 a.c, os arianos, guerreiros nômades indo-europeus, opõe

sua ideologia aos “drávidas”, reduzindo a classe social de “párias” (inferior), dominando a região. Essa

primeira fase do Hinduísmo recebe o nome de Hinduísmo Védico, com culto aos deuses tribais. Já a

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Já as religiões chinesas, pautadas pelos princípios yin e yang19, apesar do

sincretismo, compreendem a ideia de seres celestes atuantes como uma espécie de

“senhores feudais” abaixo de um “deus-imperador”.

No Xintoísmo20, as divindades (Kami) indicam uma vastidão (na casa dos

milhares) de seres. Os Kamis traduziriam-se em seres que auxiliam o homem no

discernimento do bem e do mal. Já nas religiões Animistas21, encontram-se os “mana”,

como forças distintas atuantes entre o homem e a matéria, reconhecendo a existência

de seres espirituais, responsáveis por aproximar as almas dos que morrem (BLANCO,

Arturo. 2009)

O Xamantismo22 agrega na existência dos Shamans também a intermediação

de seres espirituais, distintos dos homens. Ainda em caráter de breve citação, o

Zoroastrismo23 e o Maniqueísmo24, religiões dualistas, trouxeram à tona a discussão

da existência do bem e do mal e de quem seriam os responsáveis por respectivas

partes. Sob essa ótica, afirmar a existência de Deus como soberano benfeitor e, a

partir disso, questionar o porquê dos males do mundo, fez nascer tanto o Ateísmo

(ausência ou rejeição na crença em divindades e seres sobrenaturais) e o Deísmo

(crença nas leis da natureza e da ciência, porém sem negar a existência de divindades

e/ou divindade criadora (s)), criando um dualismo religioso que reconhece ações

positivas e negativas, dotadas de forças antagônicas.

segunda fase recebe o nome de Vedanta (fim dos Vedas) ou Hinduísmo Bramânico (deus Brahma, que

simboliza a alma universal). Para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma

força perene e indestrutível. A trajetória desse espírito depende das ações do indivíduo (lei do carma).

Tem como base literária o Veda e os Upanishads (Escrituras Sagradas). Como deuses, Shiva (Deus

masculino) e Ganesha (imagem representada com corpo de homem e cabeça de elefante), além de uma

vastidão de semi-deuses. (ELIADE & COULIANO, 1994) 19

Ying e Yang: Representam princípios do Taoísmo (religião de filosofia chinesa); Ying denota o lado

negativo, escuro e feminino; Yang representa o lado brilhante, positivo e masculino. A influência do

símbolo interage nessa filosofia com o destino das criaturas e das coisas. (ELIADE & COULIANO, 1994) 20

A religião nacional do Japão é um vasto complexo de crenças, costumes e práticas que recebeu

tardiamente o nome de xintó (shinto), para ser distinguido das religiões provenientes da China (budismo e confucionismo). A palavra xitó significa “Caminho (to, chinês tão) dos Kamis” ou divindades tutelares de todas as coisas. (ELIADE & COULIANO, 1994) 21

Manifestação religiosa que contempla os elementos do cosmos, da natureza (seres vivos). É motivado

pelo princípio vital denominado “anima”. Para os animistas todos os elementos são passíveis de terem sentimentos, desejos, vontades, como os seres humanos; todas as coisas que compõem o universo são vivas, possuidoras de “anima”. (BLACKBURN, 1997) 22

“O xamantismo não é propriamente uma religião, mas um conjunto de métodos estáticos cujo objetivo é

obter o contato com o universo paralelo, mas invisível, dos espíritos e o apoio destes últimos na gestão dos assuntos humanos. Em que pese ter-se manifestado nas religiões de praticamente todos os continentes e em todos os níveis culturais. [...] O termo “xamã” é de origem tungue e significa “feiticeiro””. (ELIADE & COULIANO, 1994, p. 267) 23

Religião pré-Zaratustra, antes da reforma de Zaratustra no Irã. Possuía como ritos o sacrifício de

animais e a ingestão de bebidas alucinógenas. Correspondia a uma sociedade dominada pela aristocracia guerreira, com práticas violentas que culminavam em estados de furor. (ELIADE & COULIANO, 1994) 24

"Doutrina segundo o qual o mundo não é governado por um único ser perfeito, mas por um equilíbrio de

forças do bem e do mal. A doutrina eleva o demônio, como personificação do mal, a uma posição de poder comparável à de Deus. Resulta do Zoroastrismo, e foi defendida pelos maniqueus, seguidores do professor Manes ou Maniqueu. O maniqueísmo floreceu entre os séculos III e V d.C." (BLACKBURN, 1997, p. 236)

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26

No Islamismo25, a relação entre Deus e os homens é totalmente mediada por

espíritos. Cada homem possui cinco anjos da guarda, sendo dois ao longo do dia, dois

durante a noite e um habitualmente. A criação de uma “criatura sensível” (um homem)

para essa religião, é o espelho da criatura angélica26 que o acompanha. (ISBELLE,

2003)

Já dentro do judaísmo, o aprofundamento da doutrina sobre os anjos se deu ao

povo judeu a partir de problemáticas teológicas, ainda cinco séculos antes do

nascimento de Jesus (messias no cristianismo). Dentro do Judaísmo Apocalíptico27,

baseado no livro de Apocalipse, há um misto de historia e cultura (visto o misto de

acontecimentos sociais, político, militares, econômicos, entre o mundo grego e

israelita) que resgata acontecimentos passados e atuais como resultados de um

futuro. Nessa teologia, os Anjos (e demônios) surgem como protagonistas dos

acontecimentos, onde já não mais apenas os homens são atores do universo social.

Em Apocalipse muitos nomes referem-se aos Anjos, como por exemplo: filhos de

Deus, filhos do céu, os santos, sentinelas, guardas, princípios, espíritos, os gloriosos,

guias e guardiões dos homens, etc. A batalha apocalíptica, propõe um evento onde

Anjos bons e maus lutam entre si, no intuito de libertar a história do poder do mal.

Observa-se que pelas breves ideias abordadas, a conceituação de “seres

intermediários” dentro das religiões, ainda apresenta-se como a mais adequada para a

análise da figura do Anjo. Sobre a ótica da abordagem angelologica dentro desse

universo, torna-se por pressuposto a afirmação de que é no Cristianismo28, através da

Bíblia (ou Escrituras Sagradas) a referenciação direta aos Anjos, das quais muito do

que hoje os estudos teológicos e religiosos se alimentam.

25

Uma das mais importantes religiões da humanidade, o ilsamismo está presente hoje em todos os

continentes. É predominante no Oriente Médio. Alá é considerado Deus, ao lado de demais deusas árabes. O islamismo crê na existência de espíritos onipresentes (djins). Possuem festas, jejuns e peregrinações como práticas religiosas (como por exemplo o culto do AL-Rahmãn). Possui como escritura sagrada o Corão (livro de Maomé). (ELIADE & COULIANO,1994) 26

Maiores referências em “A Crença em Seus Anjos”, in ISBELLE, Sami Armed. Islam: A sua crença e a

sua prática. 1. ed. Rio de Janeiro: Azaan, 2003. 27

O povo judeu surge na história depois do ano 200 a.C. Descendente em parte dos amoritas ou “ocidentais” que se instalaram na Mesopotâmia no fim do III milênio. Utilizam como livro sagrado o Torah. A literatura apocalíptica judaica é extra bíblica, com exceção do livro de Daniel. Essas revelações foram obtidas dos mais diversos modos, trazendo uma dimensão visionária referente a Deus e ao universo. Possui como referências a Jerusalém Terrestre (ameaçada pelo pecado e por inimigos) e a Jerusaém Celeste, onde os “justos” encontrarão suas recompensas, guardadas desde a criação do mundo. (ELIADE & COULIANO,1994) 28

Religião baseada no “cânon” cristão, composto por 27 livros chamados “Novo Testamento”, sendo

esses: quatro evangelhos (Marcos, Mateus, Lucas e João), os Atos dos Apóstolos, as Epístolas dos Apóstolos e o livro de Apocalipse (Revelação). Em toda a literatura o antigo testamento é interpretado como a profecia da vinda do messias Jesus Cristo. Jesus Cristo, profeta judeu de Nazaré na Galiléia, foi nascido no início da era que ganhou seu nome (Cristã). Sua vida e sua carreira de messias são descritas nos Evangelhos. A trindade é uma das particularidades do cristianismo (Pai, Filho e Espírito Santo). (ELIADE & COULIANO, 1994)

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27

A Angelologia cristã atribui aos Anjos o “próprio Verbo encarnado”, os

encarando como seres que auxiliavam os discípulos a pregar o evangelho. Seriam os

Anjos os habitantes da chamada “Jerusalém Celeste”, sendo submissos a Jesus

Cristo.

Escritores cristãos como Pseudo-Dionísio29, Gregório Magno30, Orígenes31 e

Agostinho32 estudaram a Angelologia cristã, porém, apenas no século XIII, Tomás de

Aquino33 expôs com maior clareza a doutrina sobre os anjos, sendo designado como

“Dr.º Angélico”:

29

“Dionísio o Pseudo-Areopagita (c 500 d,C) Também conhecido como Pseudo Dionísio. Um teólogo

místico, confudamente identificado durante a Baixa Idade Média com Dionísio, o Aeropagita, cuja conversão é descrita por Paulo (At 17.34). Os escritos de Pseudo Dionísio tentam fazer a síntese entre o cristianismo e o neoplatonismo, e a crença infundada de que datavam do tempo dos apóstolos contribui para a autoridade que vieram a ter. O homem aproxima-se de Deus através do abandono da percepção e

da razão, entrando numa obscuridade da qual será salvo por um “raio de divina escuridão [...]." (BLACKBURN, 1997, p. 103) 30

“Papa católico (590-604) nascido em Roma, considerado um dos pais da Igreja moderna ao reafirmar o

papel da igreja como aglutinadora da sociedade cristã e cujas ações mais marcantes no seu pontificado para a história do catolicismo foi iniciar o ensino do dogma do purgatório, que tinha objetivo financeiro (593) e depois adotar o ofício da missa, assim como o latim como sua língua oficial.” Disponível em

<http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/PPGregM1.html>. Acesso em 04 de fevereiro de 2012. 31

Um dos principais teólogos cristãos. Orígenes produziu uma edição elaborada do Velho Testamento, o Hexapla, na qual se apresentam lado o hebraico, o hebraico transliterado em grego e quatro versões gregas. Sua obra De Principiis abrange diversos tópicos a partir de uma perspectiva em que se procura

reconciliar a filosofia de *Platão com o cristianismo [...]. (BLACKBURN, 1997, p. 275) 32

Aurélio Agostinho, nascido em Tagase em 354 e falecido em Hipona em 430, cidade de que foi bispo desde 395, é sem dúvida o padre latino que mais influência teve na formação da cristandade ocidental. Vivendo num momento que assinala a passagem entre dois mundos (o antigo e o medieval), deixou uma marca indeleável nos campos da filosofia, da teologia e da espiritualidade. Se bem que conhecido universalmente como Doutor da Graça (Doctor gratiae). (REALE, 2009) 33 Tomás de Aquino, da Ordo Prædicatorum (Ordem dos Pregadores/Dominicanos), nascido em

Roccasecca, em 1225 e falecido em Fossanova, 1274, Itália, é considerado o maior e mais importante entre os chamados Doutores da Igreja. Conhecido como o “Doutor Angélico”, notabilizou-se com a obra “Suma Teológica”, que define todos os procedimentos ritualístico-metafísicos da Igreja Católica Apostólica Romana, sendo consultada para qualquer tipo de decisão ou ação que envolva fé e ritual. Responsável pela disciplina do uso do “Ritus Exorcizandi Obsessos a Daemonio”, S. Tomás de Aquino definiu que qualquer homem ou mulher de conduta santa poderia exorcizar Satanás e seus anjos apostáticos sem a necessidade da ordenação sacerdotal [...]. Disponível em

<http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/PPGregM1.html> Acesso em 04 de fevereiro de 2012.

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Figura 1. Tomás com asas, o “Doutor Angélico” (imagem esculpida, no altar-mor da igreja do antigo

Mosteiro de Jesus, em Aveiro, Portugal). Disponível em < http://svmmvmbonvm.org/aquino.pdf > Acesso em 04 de fevereiro de 2012.

Para Aquino, Deus representava o infinito e suas obras, do mesmo modo, não

poderiam ser finitas, ou, se finitas, sua perfeição seria infinita; Aquino postava ainda,

que as coisas criadas por Deus foram feitas em totalidade, harmonia e ordem, não

havendo espaço para desordens. A criação estaria imersa em três planos elevados a

espiritualidade e imersos da camada mais profunda até Deus (deduzindo-se ser a

camada mais superior). Em baixo estariam as coisas materiais, sem espírito e mais

longe de Deus, após essa a camada humana, que possui uma certa parte espiritual e

após esta, uma camada inteiramente espiritual, composto de serem sem corpo, que

Aquino denomina como “substâncias espirituais”, nas quais Deus exprime sua maior

semelhança. (AQUINO, 2001)

O pensamento de Aquino lembra o pensamento Aristotélico e de demais

filósofos gregos, pela ideia de substâncias separadas, distinguindo Deus, homem e

seres intermediários:

[…] os espíritos são seres intermédios entre Deus e os homens”, conceito que o Angélico exprime com grande clareza metafísica, dizendo que eles são compostos de ser e essência, enquanto Deus é puro Ser e os homens são, além disso, compostos de espírito e matéria.” (AQUINO, 2001)

Aquino conseguiu melhor elucidar, de certo modo, aspectos dos pensamentos

Angelológicos precedentes, concluindo que “o corpóreo é, por natureza, apto para ser

movido por uma substância espiritual. Por isso os filósofos afirmaram que os corpos

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são movidos localmente por substâncias espirituais”. (AQUINO, 2001) Para ele eram

comuns os Anjos, além dos homens, serem protagonistas da história universal.

Dentro da ótica cristã, nosso recorte específico, seguem considerações bíblicas

sobre o universo angelológico, aporte sob o qual, em sequência, trataremos em

âmbitos como Genealogia, Personalidade, Organização Hierárquica, Ministério

(atribuições) e Forma dos Anjos.

1.3. Considerações bíblicas cristãs sobre os Anjos

Ao abordarem-se temáticas acerca da Angelologia, observa-se que até mesmo

os estudos teológicos a apontam de forma um tanto negligenciada, estando seus

estudiosos a considerar os Anjos apenas, em especial, pelo fato de Jesus Cristo haver

citado tais criaturas, o que torna para esse campo de estudo, especialmente para os

críticos bíblicos, a existência dos Anjos inquestionável. Porém, ideias de que Jesus

havia adaptado seus ensinamentos as ditas “crenças ignorantes” da época, ou que os

autores dos evangelhos acrescentaram os Anjos em suas passagens por esses

próprios crerem nessas criaturas, entre demais argumentos que contrariam esta

crença, também são comuns dentro desse universo (RYRIE, 2004). Em forma

sintética, Ryrie (em primeira pessoa) aponta tornar-se importante compreender que o

caminho percorrido pela Bíblia ao longo dos séculos parte de um esquema básico que

perpassou pelas seguintes etapas:

Figura 2: Como a Bíblia chegou até nós. RYRIE, 2004, p. 96.

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A estrutura apresentada tem o intuito de explicitar a canonicidade bíblica e seus

processos interpretativos, que para a teologia fazem uso da hermenêutica34 como

princípio sistêmico de interpretação das escrituras. É no berço etimológico bíblico que

a palavra Anjo tomou forma, propagando seus sentidos ao longo dos séculos. A

tradução grega das sagradas escrituras traz a palavra ángeloi, e em tradução para o

hebraico mal‟eak, significando enviado, embaixador, mediador. Já em grego profano, a

palavra Anjo significa sempre mensageiro (BLANCO, Arturo, 2009).

A Bíblia desvenda os Anjos através de suas ações, atribuindo a eles sempre

um caráter de superioridade, poder, invisibilidade, certa indisponibilidade para os

homens e submissão ao seu senhor, pelo qual cumprem missões específicas como

“[...] valorosos em poder, executores das suas ordens e obedientes a sua palavra” (Sl

103. 20). As referências denotam a proximidade dos Anjos com Deus é bastante

estreita, sendo estes seus mensageiros escolhidos.

Quantitativamente, a Bíblia aponta ideias sobre Anjos em mais de cem vezes.

O Novo Testamento aponta-os cento e sessenta e cinco vezes, já no antigo, são trinta

e quatro ocorrências. São mencionados do primeiro ao último evangelho, de Gêneses

a Apocalipse, em trinta quatro livros da Bíblia. A referenciação e contexto de cada uma

dessas citações não cabe aqui como proposta, porém, devido ao suporte bíblico ser o

documento de maior referência aos estudos angelológicos que esta pesquisa propõe,

a apresentação de versículos específicos torna-se uma constante ao decorrer do

trabalho, para a explanação e embasamento das argumentações. A seguir,

apresentam-se as considerações sobre o universo dos Anjos, pautadas nas indicações

bíblicas cristãs:

1.3.1. A genealogia dos Anjos bíblicos cristãos

Quanto à genealogia dos Anjos, a Bíblia não descreve a criação de tais seres,

nem sobre sua estrutura ou essência. A partir do exílio babilônico, do povo eleito

(judeus) as revelações acerca dos Anjos consolidam o monoteísmo. Porém a Bíblia os

denomina como “seres criados” (“Louvem o nome do SENHOR, pois mandou, e logo

34- Hermenêutica: “a. Interpretação de texto na teologia, filosofia e crítica literária. B. Filosofia- A doutrina idealista de que fatos sociais (e talvez naturais, igualmente) são símbolos ou textos a serem interpretados mais do que descritos ou explanados objetivamente. A hermenêutica filosófica opõe-se ao estudo científico da sociedade; ela denota particular desdém pela estatística social e pela modelagem matemática. E, por encarar tudo o que é social como espiritual, subestima os fatores ambientais, biológicos e econômicos, e recusa-se a enfrentar fatos macrossociais, como a pobreza e a guerra. A hermenêutica constitui assim um obstáculo à busca das verdades acerca da sociedade, portanto, ao embasamento de políticas sociais.” (BUNGE, 2002, p. 171)

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foram criados”. Sl 148. 5) e o fato de não terem capacidade reprodutiva (“Porque na

ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os Anjos de

Deus no céu”. (Mt 22.30)

Como agente da criação desses, atribui-se a Deus a existência dos Anjos, a

afirmativa de que “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito

se fez” (Jo 1.1-3) e nestas, os Anjos também foram criados por ele:

“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16).

Sugere-se que os Anjos, foram, de certo modo, uma das primeiras criações,

estando já presentes durante a criação do mundo. Por serem criaturas de um criador,

as Sagradas Escrituras os distinguem dos seres humanos, apesar de também estarem

submetidos ao julgamento apocalíptico, conforme as seguintes passagens: “Não são

porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles

que hão de herdar a salvação?” (Hb1.14), e ainda: “Não sabeis vós que havemos de

julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?”(1 Co 6.3).

Já a característica de santidade dos Anjos, é atribuída pela origem do mundo,

onde em princípio todas as criações eram santas (“E viu Deus tudo quanto tinha feito,

e eis que era muito bom” (Gn 1.31)) e eram considerados como eleitos de Deus

(“Conjuro-te diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que sem

prevenção guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade; ” (1Tm 5.21)).

Coloca-se que após a “entrada do pecado no mundo” (Ideia de Adão e Eva,

tentados pela serpente e expulso do paraíso), surgem as primeiras incitações de

“Anjos do mal”, designados como os que se rebelaram contra Deus, sendo aqueles

que seguiram Lucifer (demônio, Satanás)35 (“Então dirá também aos que estiverem à

35: “Assim como Deus, seu rival e imitador (comparar Ap1.4-8; 8.4 e 17.8-10) Satanás, “o Adversário”, tem

seus enviados: “O Anjo de Satanás” (2 Cor 12.7), ou seus “anjos” (Ap 19.9), ou ainda “os demônio”, dos quais é chamado “Príncipe” (Lc 11.14); um princípio irrisório, ridicularizado pelo jogo de palavras, já muito antigo (2 Rs 1.2-3), que reduz esse “Príncipe dos demônios” a mera condição de “Senhor das moscas” (Mt 12.24). ANTIGO TESTAMENTO: Esses demônios significam o mesmo que Satanás; são descritos como animais maléficos: a “serpente” (Gn 3.1), imaginários: Asmodeu (Tb 3.8; 6,14,7,11), Lilit (Is 34, 14; Jó 18,15). Os deuses pagãos foram às vezes encarados como demônios (Dt 32.17). Os LXX usaram amplamente esta identificação (ver Sl 96.5). O Judaísmo próximo da era cristã debruça sobre a origem dos demônios. Admite que sejam anjos decaídos, vê neles “filhos de Deus” que teriam amado as “filhas dos homens” (Gn 6, 1-2), ou considera que se rebelaram abertamente contra Deus (conforme Is 14,13-16). O orgulho e a impureza caracterizam sua natureza original; a função é tentar o homem para arrastá-lo ao mal. NOVO TESTAMENTO: A época de Jesus dá uma grande importância a esses “espíritos imundos” (Mc 1.23-25). (LOUIS, Monloubou.1996; p. 184). Ainda no Novo Testamento existe a ideia de atribuição de doenças a ação de Satanás, os quais Jesus expulsava através de exorcismo, mostrando

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sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o

diabo e seus anjos;” (Mt 25.41)). Quanto a descendência angélica de Lúcifer, tido

como querubim, as evidenciações são postas na seguinte passagem:

Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.” (Ez 28.14-19)

Posto isso, observa-se ainda que a questão da possibilidade de reprodução

dos Anjos, ou da criação contínua de Anjos (novos nascimentos), não encontra aporte

bíblico, sendo comum a representação desses pelas artes, normalmente como

assexuados. Ocorre apenas em Gênesis a idéia do relacionamento sexual entre Anjos

e mulheres, as quais vieram a gerar gigantes (a exemplo de Golias), porém sendo

esses, apesar de gigantes, homens “comuns".

1.3.2. A personalidade dos Anjos bíblicos cristãos

Com relação à índole dos Anjos, as escrituras os classificam como criaturas

espirituais, dotadas de inteligência e personalidade própria, sendo mais desenvolvidos

do que os homens, principalmente no que concernem os conhecimentos sobre Deus,

por estarem mais próximos Dele. Segundo Ryrie (2004), a Bíblia traz a ideia de Anjos

possuírem personalidade, pois possuem inteligência, demonstram emoções e

possuem vontade própria. São imateriais, incorpóreos e tidos como mensageiros

enviados por Deus para auxiliarem os cristãos. Com relação a Deus, suas atribuições

assim a presença do Reino de Deus. Após a morte de Jesus, a luta continuou através da igreja, dando aos seus discípulos o poder de “expulsar demônios”.

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são louvá-lo, regorjearem-se com seus feitos, servirem-no, se apresentarem diante

dele e serem instrumentos do juízo divino.

Evidencia-se que os Anjos não sabem de todas as coisas como Deus sabe

(“Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu

Pai” (Mt 24.36)), mas possuem maiores conhecimentos do que os humanos. Coloca-

se ainda, que os Anjos adquiriram conhecimento diante da larga observação das

atividades humanas. Ao contrário dos homens, os Anjos não precisam testemunhar o

passado, pois o presenciaram. Sendo justamente essa experiência de longevidade

que lhes garante maiores conhecimentos em comparação aos homens (ideia

relacionada a já estarem presentes na criação do homem, conforme posto

anteriormente).

Para Ryrie (2004), existem ainda os chamados “Anjos específicos”, que não

enquadram-se nas categorizações Bíblicas (conforme veremos mais adiante), como

Gabriel, que mesmo não sendo chamado de arcanjo (como é Miguel), demonstra na

Bíblia ser um Anjo importante. Observa-se que a rememoração de Gabriel mostra-se,

empiricamente, como uma das mais evidentes do universo angelológico, pois a ideia

de que é Miguel, e não Gabriel, o Anjo “de maior importância”, é pouco disseminada e

recorrente no senso comum. O nome “Gabriel”, de origem hebraica, significa “Quem é

com Deus?”, ou ainda “Enviado de Deus” e sua função, segundo as escrituras, era

levar mensagens importantes de Deus a várias personalidades, a exemplo da

passagem da anunciação do nascimento de Jesus Cristo para Maria:

E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. (Lc 1. 26-28)

Existem ainda outras citações quanto a Anjos com responsabilidades especiais,

destoantes dos demais, principalmente no livro de Apocalipse, que referencia um Anjo

com poderes sobre a água, outro com poderes sobre o fogo, outro sobre os abismos

e, um último, capaz de “amarrar” satanás. A Bíblia traz ideias inclusive a “futuros

Anjos”, apesar da característica de estes não “nascerem”. É também o caso das ditas

“últimas sete pragas” que conforme Apocalipse serão lançadas pelos Anjos sobre a

terra ao final dos tempos. Aspecto exposto na seguinte passagem:

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34

E ouvi, vinda do templo, uma grande voz, que dizia aos sete anjos: Ide, e derramai sobre a terra as sete taças da ira de Deus. E foi o primeiro, e derramou a sua taça sobre a terra, e fez-se uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem. E o segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente. E o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue. [...]E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com fogo. [...] E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, e o seu reino se fez tenebroso; e eles mordiam as suas línguas de dor. [...] E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do oriente. [...] E o sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e saiu grande voz do templo do céu, do trono, dizendo: Está feito. (Ap. 16. 1-17; grifo nosso)

Observa-se assim que a personalidade dos Anjos mescla a autonomia e

supremacia diante dos homens e a submissão a Deus. Submissão essa permeada

pela adoração constante ao seu criador, que resulta em “missões especiais” a serem

cumpridas (em pequena ou larga escala, a um indivíduo específico ou a numerosas

nações).

1.3.3. A organização hierárquica dos Anjos bíblicos cristãos

Quanto à organização dos Anjos, as escrituras mencionam uma “assembléia”

de anjos (“os céus louvarão as tuas maravilhas, ó SENHOR, a tua fidelidade também

na congregação dos santos. Deus é muito formidável na assembléia dos santos, e

para ser reverenciado por todos os que o cercam (Sl 89.5,7)), mencionam ainda sua

organização para batalha (“E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos

batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos” (Ap 12.7)) e a

existência de um rei que comanda os chamados “gafanhotos demoníacos”, uma

menção aos Anjos seguidores de Lúcifer, como posto na seguinte passagem:

E o parecer dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens. E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como de leöes. E tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao

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combate. E tinham caudas semelhantes às dos escorpiöes, e aguilhöes nas suas caudas; e o seu poder era para danificar os homens por cinco meses. E tinham sobre si rei, o anjo do abismo; em hebreu era o seu nome Abadom, e em grego Apoliom. (Ap 9.7-11)

Conforme as escrituras, a título de organização, os Anjos também receberam

classificação segundo o poder, o que indica o aspecto de hierarquia. Termos como

principados e potestades36 são bastante recorrentes: Em Efésios 3.10, há a menção:

“Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos

principados e potestades nos céus”. No mesmo capítulo, em 6.10, vemos também:

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os

principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra

as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.

Fica posto desse modo, que é atribuída a Deus a organização dos Anjos bons

e de Satanás os Anjos maus. Como já ressaltado, Miguel é o único “Arcanjo” existente

na Bíblia, porém existe menção de nomes específicos quanto a Gabriel, Rafael,

Jeremiel e Uriel (RYRIE, 2004).

A classificação tida como querubins são comumente denominados através da

Bíblia como uma ordem distinta de Anjos, que ocupam posições superiores (Lúcifer

era um deles) por serem guardiões da santidade de Deus, servindo para proteger o

caminho que levava a árvore da vida, no jardim do Éden (“E havendo lançado fora o

homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que

andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3.24)).

Dentro desta organização a Bíblia menciona também os Serafins, que

pertencem a uma ordem similar a dos Querubins, estes, servem diante do trono de

Deus e exercem obra de purificação, dentre suas funções, inclui-se a adoração a

36Segundo as Escrituras Sagradas, os cristãos estão indiretamente submissos aos Anjos (principados e

potestades), que estão no governo de tal nação e dirigem as autoridades terrenas. Os principados e potestades da Terra têm domínio sobre os homens. Há dois tipos de potestades. As do Céu e as da Terra. Exemplos com passagens bíblicas que referem-se a principados e potestades: “Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam e estejam preparados para toda a boa obra. Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens” (Tt. 3.1-2). E ainda: “Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há, foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são um terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade. Faze o bem e terás o louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para o teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz mal” (Rm. 13.1-4).

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36

Deus. A descrição desses Anjos sugere que são criaturas com aparência humana,

mas com seis asas37. (RYRIE, 2004).

Os Anjos também são referenciados como espíritos ministradores (“Não são

porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles

que hão de herdar a salvação”. (Hb1.14)). Já os demônios são chamados de espíritos

malignos ou imundos, conforme os versículos de Lucas, postos abaixo:

“E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; “Quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa, de onde saí. E, chegando, acha-a varrida e adornada.” (Lc 8.2; 11.24-26)

Dentre os estudos de Ryrie, o autor contata que existe um número tão grande

de Anjos que não podem ser contados. Esse é o sentido de “hostes” - expressão

usada para descrever o número de Anjos, posta em Hebreus 12.22: “Mas chegastes

ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares

de anjos”. Essa ideia também é reforçada em Apocalipse, na passagem: “E olhei, e

ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o

número deles milhöes de milhöes, e milhares de milhares (Ap 5.11)”

Por fim, não há um senso único em relação as escalas hierárquicas dos anjos,

mesmo em relação específica a Bíblia cristã; Prova disto é que na Idade Média,

personalidades atuantes das tradições cristãs propuseram-se a organizar um quadro

diferenciado em relação a hierarquia angelológica, com as seguintes nomenclaturas e

escalas (BAU & KOHLER, 2013) 38:

-Clemente, em Constituições Apostólicas, século I: 1. Serafins, 2. Querubins, 3.

Éons, 4. Hostes, 5. Potestades, 6. Autoridades, 7. Principados, 8. Tronos, 9. Arcanjos,

10. Anjos, 11. Dominações.

37 *A questão da forma dos anjos será tratada em subtítulo posterior. 38

Relação extraída da Enciclopédia Judaica on line/ Jewish Encyclopedia in: BLAU & KOHLER. Ludwig, Kaufmann. Angelology. In Jewish Encyclopedia, disponível em: http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1521-angelology; Acesso em julho de 2013.

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37

-Ambrósio, em Apologia do Profeta David, século IV: 1. Serafins, 2. Querubins,

3. Dominações, 4. Tronos, 5. Principados, 6. Potestades, 7. Virtudes, 8. Anjos, 9.

Arcanjos.

-Jerônimo, século IV: 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Potestades, 4. Dominações,

5. Tronos, 6. Arcanjos, 7. Anjos.

- Pseudo-Dionísio, o Areopagita, em De Coelesti Hierarchia, c. século V: 1.

Serafins, 2. Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Virtudes, 6. Potestades, 7.

Principados, 8. Arcanjos, 9. Anjos.

-Gregório Magno, em Homilia, século VI: 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Tronos,

4. Dominações, 5. Principados, 6. Potestades, 7. Virtudes, 8. Arcanjos, 9. Anjos.

-Isidoro de Sevilha, em Etymologiae, século VII: 1. Serafins, 2. Querubins, 3.

Potestades, 4. Principados, 5. Virtudes, 6. Dominações, 7. Tronos, 8. Arcanjos, 9.

Anjos.

-João de Damasco, em De Fide Orthodoxa, século VIII: 1. Serafins, 2.

Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Potestades, 6. Autoridades (Virtudes), 7.

Governantes (Principados), 8. Arcanjos, 9. Anjos.

-Tomás de Aquino, em Summa Theologica, (1225-1274): 1. Serafins, 2.

Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Virtudes, 6. Potestades, 7. Principados, 8.

Arcanjos, 9. Anjos.

-Dante Alighieri, na Divina Comédia (1308-1321): 1. Serafins, 2. Querubins, 3.

Tronos, 4. Dominações, 5. Virtudes, 6. Potestades, 7. Arcanjos, 8. Principados, 9.

Anjos.

Percebe-se que no aspecto hierarquia, apesar das diversas concepções

existentes, sendo a religião católica uma das de maiores adeptos no mundo, as

adotadas e mais divulgadas nos dias atuais é a de Dionísio (século V) e Tomás de

Aquino (1225-1274), ambas disseminadas pela igreja (católica); As reportagens a

seguir, das revistas e Veja (2010) e Istoé (2011) trazem essas classificações,

especificando-as:

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Figura 3: A Hierarquia dos Anjos segundo Tomás de Aquino. LOES, 2011, p. 84.

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39

Figura 4: A Hierarquia dos Anjos segundo Dionísio. MEYER & TEIXEIRA, 2010, p. 150.

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1.3.4. O ministério dos Anjos bíblicos cristãos

Dentre as funções dos Anjos, as responsabilidades postuladas na Bíblia são

relacionadas a seis esferas, sendo essas (RYRIE, 2004):

a) Em relação a Deus: Ministérios de louvor e adoração, regozijando-se com seus

feitos, servindo-o e sendo instrumentos de juízo divino.

b) Em relação aos tempos: Ministram tarefas a Deus ao longo da história iniciando na

criação do mundo, estando presentes na entrega dos mandamentos a Moisés39,

durante a primeira vinda de Cristo, durante os primeiros anos da igreja e nas

considerações sobre a segunda vinda de Cristo.

c) Em relação ao ministério de Cristo: Em relação ao nascimento, foram citados na

previsão (Gabriel prediz o nascimento de Jesus a Maria40 e na anunciação aos

pastores41. Já na vinda de Cristo, um Anjo alertou José para a fuga para o Egito (da ira

de Herodes)42 e depois orientou a família para o retorno a Israel43 . Estavam ainda

presentes na tentação de Jesus no deserto44 e em seu conflito no Getsêmani45. Cristo

também os aponta como seus defensores -em legiões-, caso fosse necessário

39- “E apareceu-lhe o anjo do SENHOR em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqu”i. (Êx 3.2-4)

40-“E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo”; (Mt 1.20) E ainda: “E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”. (Lc 1. 26-28)

41-“Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. [...] E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pastores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos fez saber”. (Lc 2.8-15) 42-“E, tendo eles se retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga; porque Herodes há de procurar o menino para o matar”. (Mt 2.13-14) 43- “Morto, porém, Herodes, eis que o anjo do SENHOR apareceu num sonho a José no Egito, Dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel; porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino. Então ele se levantou, e tomou o menino e sua mãe, e foi para a terra de Israel”. (Mt 2.19-21) 44- “Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam”. (Mt 4.11) 45- “E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia”. (Lc 22.43)

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chamá-los46. Após a morte e ressurreição de Cristo, um Anjo rolou a pedra que

fechava a entrada do sepulcro47; Um Anjo anunciou a ressurreição as mulheres48;

Anjos também estavam presentes na ascensão de Jesus49 . Quanto ao que seria a

segunda vinda de Jesus (ideia apocalíptica), há a citação da audição da voz de um

arcanjo no arrebatamento50; Anjos acompanharão Jesus nessa segunda vinda51; Anjos

serão responsáveis pela separação dos homens (joio do trigo) também na segunda

vinda52.

d) Em relação às nações da terra: Anjos são os responsáveis por guardarem e

influenciarem os governantes e as nações53 e estarão envolvidos durante as

tribulações do Apocalipse.

e) Em relação aos ímpios: Anjos separarão justos e ímpios no fim dos

tempos54, infligindo sobre esses o juízo de Deus55.

f) Em relação à Igreja: Anjos envolvidos na revelação da verdade, da qual a

igreja se utiliza, estando também encarregados do envio de respostas as orações56,

46-“Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiöes de anjos?” (Mt 26.53) 47-“E, no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra da porta, e sentou-se sobre ela.” (Mt 28.1-2) 48-“Mas o anjo, respondendo, disse às mulheres: Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia. (Mt 28:5-6); E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia, Dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de

homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite.” (Lc 24.5-7) 49-“E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir”. (AT 1.10, 11) 50 -“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.” (1Ts 4.16)

51 -“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará

no trono da sua glória;” (Mt 25.31);

52-“O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim

como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo.” (Mt 13.39, 40)

53-“Esta sentença é por decreto dos vigias, e esta ordem por mandado dos santos, a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até ao mais humilde dos homens constitui sobre ele. Mas eu te declararei o que está registrado na escritura da verdade; e ninguém há que me anime contra aqueles, senão Miguel, vosso príncipe Eu, pois, no primeiro ano de Dario, o medo, levantei-me para animá-lo e fortalecê-lo” (Dn 4.17, 10.21, 11.1) 54-“O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo.” (Mt 13.39,40) 55-“E no mesmo instante feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu glória a Deus e, comido de bichos, expirou.” (At 12.23), E ouvi, vinda do templo, uma grande voz, que dizia aos sete anjos: Ide, e derramai sobre a terra as sete taças da ira de Deus” (Ap 16.1) 56-“Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus. E quando Herodes estava para o fazer comparecer, nessa mesma noite estava Pedro dormindo entre dois soldados, ligado com duas cadeias, e os guardas diante da porta guardavam a prisão. E eis que sobreveio o anjo do Senhor, e resplandeceu uma luz na prisão; e, tocando a Pedro na ilharga, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram-lhe das mãos as cadeias. E disse-lhe o anjo: Cinge-te, e ata as tuas alparcas. E ele assim o fez. Disse-lhe mais: Lança às costas a tua capa, e segue-me. E, saindo, o seguia. E não sabia

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auxiliando nos esforços evangelísticos; Observam as experiências humanas, e dentre

elas seus sofrimentos e obras de trabalho57. Encorajam nas horas de perigo58 e estão

próximos dos justos na hora da morte59.

1.3.5. A forma dos Anjos bíblicos cristão

Distinguir dentre as citações angelológicas bíblicas cristãs o aspecto forma das

criaturas angélicas, mostra-se um universo com poucos apontamentos específicos. De

modo empírico, as artes, em especial a pintura, as representou ao longo dos séculos

reforçando a característica da presença de asas, como a mais recorrente. Para Adler

(1995), tratar a forma dos Anjos é algo que tendencia mais para um aspecto onírico,

permeado pela imaginação humana, do que por evidências reais da forma “visual”

desses seres:

Anjos podem aparecer ao homem em vários aspectos, e assim são descritos na Bíblia. Mas por que essas aparições não podem ser interpretadas como visitas visionárias, do mesmo tipo que ocorrem a seres humanos quando dormem? Por que não podem todas as referências a anjos das Sagradas Escrituras serem interpretadas simbolicamente como manifestando a presença de Deus, e não literalmente como representando a presença de seus mensageiros – membros das hostes celestiais que vieram a terra em forma corporal? (ADLER, 1995, p. 34)

Atenta-se que o autor utiliza a menção “forma corporal”, item que também faz

ater, nas formas representativas do anjo que permeiam o universo humano, a

semelhança desses com as próprias características corporais do homem.

Tal ideia recebe aporte através de passagens bíblicas que reiteram o fato de

em alguns momentos Anjos terem sido confundidos com homens comuns, por

que era real o que estava sendo feito pelo anjo, mas cuidava que via alguma visão. E, quando passaram a primeira e segunda guardas, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, a qual se lhes abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram uma rua, e logo o anjo se apartou dele.” (At 12.5-10) 57-“ Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pós por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos.” (1 Co 4.9; 11.10); “Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus,” (Ef 3.10); “Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pe 1.12)

58-“Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo, Dizendo:

Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.” (At 27.23-24) 59- “E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.” (Lc 16.22)

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assumirem tais formas, como mostram as seguintes passagens: “E levantou os seus

olhos, e olhou, e eis três homens em pé junto a ele. E vendo-os, correu da porta da

tenda ao seu encontro e inclinou-se à terra,” (Gn 18.2)- passagem que refere-se aos

Anjos que surgem para Abraão. Ou ainda: “E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde,

e estava Ló assentado à porta de Sodoma; e vendo-os Ló, levantou-se ao seu

encontro e inclinou-se com o rosto à terra;” (Gn 19.1). Acredita-se que a passagem

que refere-se a tal aspecto de forma mais enfática é a do livro do profeta Ezequiel: “E

do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência:

tinham a semelhança de homem”. (Ez 1.5).

Na pintura, em especial através dos pintores italianos, foram retratados

famosos episódios bíblicos com anjos, arcanjos e querubins. Os anjos são figuras

presentes em muitas produções artísticas do período Renascentista (Ano de 1300 a

1650 aproximadamente) e com estilo seguido por artistas posteriores que ainda

propaga-se na atualidade. Seguem algumas obras selecionadas:

Figura 5: Obra de Sandro Botticelli. Natividade Mística. Cerca de 1500-1501. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Natividade_M%C3%ADstica> Acesso em maio de 2013.

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Figura 6: Obra de Rembrandt.The archangel Raphael Leaving Tobias‟s Family. 1637. Disponível em:

<http://grandearte.net/rembrandt/angel-raphael-leaving-family-tobit> Acesso em maio de 2013.

Figura 7: Obra de Luca Giordano. Miguel Arcanjo. 1663. Disponível em:

<http://www.istoe.com.br/reportagens/183375_O+PODER+DOS+ANJOS> Acesso em maio de 20213.

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Figura 8: Obra de William-Adolphe Bouguereau. A canção dos anjos. 1881. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/William-Adolphe_Bouguereau> Acesso em maio de 2013.

Figura 9: Obra de Nanci Noel. Angel Looking Down. 2010. Disponível em:

<http://www.nanoel.com/angel/angel-looking-down.html> Acesso em maio de 2013.

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De forma exemplificativa, outra passagem que melhor elucida o contexto de

semelhança entre Anjo e homem, está na aparição de um Anjo à Gideão, o qual

necessitou “provar” sua condição de Anjo, devido à semelhança com a forma humana:

Então o anjo do SENHOR lhe apareceu, e lhe disse: O SENHOR é contigo, homem valoroso. Mas Gideão lhe respondeu: Ai, Senhor meu, se o SENHOR é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? [...] E ele disse: Se agora tenho achado graça aos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que falas comigo. Rogo-te que daqui não te apartes, até que eu volte e traga o meu presente, e o ponha perante ti. E disse: Eu esperarei até que voltes. E entrou Gideão e preparou um cabrito e pães ázimos de um efa de farinha; a carne pós num cesto e o caldo pôs numa panela; e trouxe-lho até debaixo do carvalho, e lho ofereceu. Porém o anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os pães ázimos, e põe-nos sobre esta penha e derrama-lhe o caldo. E assim fez. E o anjo do SENHOR estendeu a ponta do cajado, que estava na sua mão, e tocou a carne e os pães ázimos; então subiu o fogo da penha, e consumiu a carne e os pães ázimos; e o anjo do SENHOR desapareceu de seus olhos. Então viu Gideão que era o anjo do SENHOR e disse: Ah, Senhor DEUS, pois vi o anjo do SENHOR face a face. (Jz 6.2-22)

Já no livro do Profeta Ezequiel, há a menção de Anjos com quatro asas, da

hierarquia dos querubins:

[…] E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem. E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas. E os seus pés eram pés direitos; e as plantas dos seus pés como a planta do pé de uma bezerra, e luziam como a cor de cobre polido. E tinham mãos de homem debaixo das suas asas, aos quatro lados; e assim todos quatro tinham seus rostos e suas asas. Uniam-se as suas asas uma à outra; não se viravam quando andavam, e cada qual andava continuamente em frente. E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro. Assim eram os seus rostos. As suas asas estavam estendidas por cima; cada qual tinha duas asas juntas uma a outra, e duas cobriam os corpos deles. E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam; não se viravam quando andavam […]. (Ez 5.12)

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A citação do livro de Ezequiel é complementada ainda a questão da presença

de asas, no número de quatro: “E debaixo do firmamento estavam as suas asas

direitas uma em direção à outra; cada um tinha duas, que lhe cobriam o corpo de um

lado; e cada um tinha outras duas asas, que os cobriam do outro lado.” (Ez 5.23)

Cabe observar ainda, que as “visões' dos seres angélicos nem sempre eram

iguais, como aponta o livro de Isaías, profeta que os visualizou Anjos da ordem dos

Serafins, com seis asas, e não quatro, como o livro do Profeta Ezequiel: “Serafins

estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e

com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”(Is 6.2)

No Santíssimo do tabernáculo e no templo de Salomão, haviam querubins de

duas asas. Esses Anjos eram uma espécie de guardiões da caixa “arca do pacto”. (Ex

25:10-22; 37:6-9)

Farás um querubim na extremidade de uma parte, e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório, fareis os querubins nas duas extremidades dele. Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; as faces deles uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o testemunho que eu te darei. E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel. (Ex 25.19-22)

Observa-se que os querubins de duas asas são comumente os de maior

representação na arte, assim como os animais alados. A questão da presença de

asas, e, por consequência a capacidade de voar, também é referenciada no livro de

Apocalipse em Salmos: “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho

eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e

língua, e povo. (Ap14.6); E montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do

vento. (Sl 8:10)

Gheerbrant e Chevalier (2007), autores do “Dicionário dos Símbolos” postam a

ideia de que os Serafins, Anjos de seis asas, circundarem o trono de Deus, onde duas

asas servem para cobrir o rosto (por medo de ver Deus), duas para cobrir os pés

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(eufemismo para designar o sexo) e duas para voar. Com relação à simbologia das

asas, os autores trazem a seguinte passagem:

Na tradição cristã, as asas significam os movimentos aéreos, leves, simbolizam o pneuma, o espírito. Na Bíblia são símbolos constantes da espiritualidade, ou da espiritualização, dos seres que as possuem, quer sejam representados por figuras humanas, quer tenham forma animal. Dizem respeito à divindade e a tudo o que dela se aproximar, após uma transfiguração; por exemplo, os anjos e a alma humana. Quando se fala de asas a propósito de um pássaro , trata-se, na maior parte das vezes, do símbolo da pomba, que significa o Espírito Santo. (CHEVALIER E GHEERBRANT, 2007, p. 90)

Tais incitações referentes ao aspecto forma dos seres angelicais, levam a um

indício a ser melhor compreendido em capítulo posterior, no que concerne a

representação da personagem Anjo nos filmes selecionados.

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CAPÍTULO 2.

O Anjo no cinema: aparições

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CAPÍTULO 2. O Anjo no cinema: aparições

2.1. Sétima arte: considerações

"A MAGIA NÃO TEM ESSÊNCIA: verdade estéril, se tratar

simplesmente de observar que a magia é ilusão. Urge

investigar os processos que dão corpo a esta ilusão..."

Edgar Morin. A Alma do Cinema (in XAVIER, 1983, p. 145)

Em 1985, em Paris, houve a primeira exibição de cinema pública, atribuída aos

irmãos Lumier com a famosa passagem da chegada do trem na estação. A partir dali,

o cinema foi galgando espaço entre as artes e consolidando-se como aquele que dá a

"impressão de realidade" agregando imagem, som e movimento e aprimorando cada

vez mais suas técnicas. Mas a arte do "real" passou a não só imprimir "fidedignidade"

e veracidade em registros documentais, mas aspirar a projeção do imaginário humano

que não necessariamente possui referenciação no cotidiano, na vida, na "realidade".

"A instituição cinematográfica tem a ver com o desejo, com o imaginário e com o

simbólico; insiste nos jogos que regulam o funcionamento da nossa psique, de nosso

inconsciente." (COSTA, 1989, p.25).

O passado propunha uma delimitação entre "real" e

"imaginário" na própria história do cinema, uma espécie de

opção entre o realista e o fantástico: [...] a própria noção de real

é sempre um produto histórico, fruto de convenções culturais ,

semióticas e ideológicas. Por outro lado, o próprio imaginário

pode constituir um objeto essencial do discurso histórico: de

fato, como afirma Ferro (1997, p.90 ), "O imaginário é história

tanto quanto História". (COSTA, 1989, p. 53)

É sobre este aspecto da magia da aparição de coisas e criaturas "imagéticas" e

consequentemente sígnicas, que iremos debruçar-nos ao adentrar-mos nas

especificações do cinema.

Edgar Morin, em O Cinema ou o Homem Imaginário coloca-nos sobre a "Alma"

do cinema e sua magia da aparição, como processo de identificação do homem com a

projeção, estando neste "aparecer" do imaterial o caráter de sonho no cinema.

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"Quando os nossos sonhos - os nossos estados subjetivos- se desligam de nós para

fazerem corpo com o mundo, dá-se a magia." (MORIN apud XAVIER,1983, p. 147)

Muito do sucesso do cinema, para o autor, atribui-se ao fato de que a evolução

dos indivíduos fez a magia interiorizar-se, hipertrofiando a afetividade e o estado

mágico, sendo o cinema o catalisador que traz para fora a inundação subjetiva. A

consciência racional, adulta, "responsável" nos freia as aspirações da alma, e o

cinema é uma das formas de tornar reconhecível a amplitude destes fenômenos, como

um verdadeiro mecanismo de excitação, em que o imaginário toma corpo.

Podemos agora acrescentar à compreensão que adquirimos uma nova compreensão da metamorfose do cinematógrafo em cinema. A magia manifesta, a magia de Méliès, de G.A. Smith e seus imitadores, não só nos apresenta como um ingênuo momento de infância, mas também como o desabrochar primeiro e natural, no seio da imagem objetiva, das

potencialidades afetivas. (MORIN apud XAVIER,1983, p.164)

Porem, apesar do caráter ficcional que o cinema possa nos oferecer, dando

corpo a nossa subjetividade, Morin também coloca que um dos fatores que fazem o

cinema ser-nos tão afetuosos é o fato de a própria vida ser para cada um uma espécie

de espetáculo, onde confeccionamos nossos personagens e somos caricatos a nós

mesmos. Assim, a identificação não se dá só do real pelo real, mas nossas projeções

que já são irreais na vida, colocadas na tela.

Temos uma personalidade de confecção [...]. Vestimo-la como se veste a roupa e vestimos roupa como quem desempenha um papel. Representamos um papel na vida, não só perante nós próprios. O vestuário (esse disfarce), o rosto (essa máscara), as palavras (essa convenção), o sentimento da nossa importância (essa comédia), tudo isso alimenta , na vida corrente, esse espetáculo que damos a nós próprios e aos outros, ou seja, as projeções-identificações imaginárias. Na medida em que identificamos as imagens da tela com a vida real, pomos nossas projeções-identificações referentes à vida

real em movimento. (MORIN apud XAVIER,1983, p. 166)

Estaria assim garantida nossa "identificação" com o cinema, pois além da

técnica, que faz uso do close (um plano), do som e clima (uma ambientação) do

tempo em cortes (montagem), dentre outros, nossos "sonhos" e nossa "simulação' de

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nós próprios aparece diante de nós reforçando que a projeção é um imitar da vida,

uma parte de nós em participação, "perguntamos a nós próprios se somos simples

espectadores, ou atores de cenas de tão espantoso realismo".( XAVIER apud MORIN,

1997, p.164)

O autor atribui ainda o fascínio do cinema a questão da passividade do

expectador diante das situações expostas, não é possível interferir para salvar a

mocinha, não é possível avisar sobre o perigo eminente, e isso torna o expectador

sensível as emoções. Somado a isto também há o "envolto negro" que a sala escura

propicia, como uma espécie de estado hipnótico que favorece a imersão, mesmo

estando ele em grupo, abrem-se espaços para a magia, a consolidação do mito.

Neste universo o Anjo aqui analisado pode ser encarado como aquele que

"aparece" duas vezes, tanto pelo suporte fílmico em sí, da projeção na tela

branca, como da personagem que ganha corpo advindo de um imaginário

embasado na literatura bíblica. Tem- se a noção de alma como aquela relacionada

ao espírito, ao incorpóreo, imaterial, impalpável, invisível. Morin também nos fala da

"alma do cinema" como aquela parte em que amor, paixão, emoção e criação

adentram a nosso mundo "viscoso e lacrimejante". Estaria o cinema hoje a ponto de

ter tanta alma que o expectador tornou-se incapaz de "ver" o filme, consegue apenas

"senti-lo".

O que é a alma? É esta zona de psiquismo no seu estado nascente, no seu estado transformante, esta embriogênese mental em que tudo quanto é distinto se confunde, em que tudo o que é confundido se encontra no âmago da participação subjetiva num processo de distinção. Que nos perdoe o leitor que goste de ostentar a sua alma. A alma nada mais nos é do que uma metáfora para designar as necessidades intermediárias, os processos psíquicos na sua materialidade nascente ou residualmente decadente. O homem não tem uma

alma; tem alma...( MORIN apud XAVIER,1983, p.167)

A vida prática não é capaz de nos satisfazer as necessidades do imaginário. O

ser humano tem necessidade de ser "fantástico", mirabolante, as mulheres querem

identificar-se com as donzelas dos filmes, os homens com os heróis. O Anjo, como já

visto, é um arquétipo da maravilha de um ser sábio, enigmático, alado, por vezes

invisível, poderoso. Além de sua estruturalidade "fantasmagórica" e um tanto obscura,

sua forma cinematográfica amplia ainda mais seu fascínio, necessita de criatividade

para "coisifica-lo" em personagem. Talvez por isso não nos é estranho este parecer-se

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nas maioria das filmografias como homem/mulher, no quesito forma. A semelhança

com o humano não se da apenas pela suposta escassez de "técnica" em materializar

algo tão enigmático, mas justamente pela necessidade de "ver-se" como um herói.

"Necessidade de nos reencontrarmos, de sermos mais nós próprios, de nos elevarmos

à imagem desse duplo que o imaginário projeta em mil e uma vidas extraordinárias."

(MORIN apud XAVIER,1983, p. 169)

2.2. Filmografia angelológica: aspectos metodológicos

A presente pesquisa teve como aporte metodológico prático a observação de

filmes que possuíam a personagem Anjo. A seleção foi livre, com foco apenas na

personagem existente, independente de ser esta principal ou secundária nas

narrativas. Não contemplou também nenhuma nacionalidade específica. Apesar do

cinema hollywoodiano americano predominar, contempla filmes alemães, franceses,

dentre outras nacionalidades.

A pesquisa partiu da busca de relações de filmes em que a personagem era

exposta independente do gênero fílmico, contemplando assim dramas, fantasias,

comédias, romances dentre outros. Já no que compete a gênero enquanto

sexualidade, também não houveram distinções, apresentando dentro das narrativas

anjos homens, mulheres e aqueles tidos como andrógenos devido a asexualidade.

Como um dos poucos recortes, partiu-se da opção em não agregar as

pesquisas filmes do gênero terror com a presença de anjos caídos, demônios, tendo

em vista esses personagens, de certo modo antagônicos aos anjos tradicionais,

aparecerem em alguns momentos nos próprios filmes abordados, estando assim já

contemplados em nosso trabalho, mesmo que de forma breve.

É importante reforçar ainda que, apesar de em um primeiro momento parecer

uma pesquisa demasiadamente abrangente, optou-se em incluir todos os filmes

encontrados via pesquisa bibliográfica e eletrônica, justamente por considerar-se que

o número é bastante pequeno em comparação com demais tipos de personagens,

característica essa que será melhor explanada em nosso capítulo de conclusão. Este

método de seleção metodológica busca trazer ao trabalho uma abrangência mais

horizontal, que não privilegia uma análise densa de um ou alguns

exemplares/personagens/ filmes, mas apenas um esquema metodológico pontual de

cada um, que converge em uma análise do "Anjo no cinema" como um todo.

Quanto as características de análise privilegiadas, há em um primeiro momento

a discriminação de alegorias mais relacionadas ao suporte "fílmico" enquanto cinema,

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com dados como nome do filme, título original no idioma de nacionalidade, país de

origem, ano de produção, direção (nome do diretor), tempo (duração do filme),

premiações e sinopse comercial (sinopse encontrada em fontes que argumentam

persuasivamente em curto parágrafo sobre as características positivas do filme, uma

espécie de resumo também encontrado nas contracapas quando as produções são

adquiridas em formato DVD).

Após isso, agrega em cada produção o método analítico do primeiro capítulo

deste trabalho, que abordou aspectos de genealogia, hierarquia, função,

personalidade e forma dos anjos (no capítulo 1, tendo como fonte o suporte bíblico

cristão). Em especial, na característica "forma" a pesquisa busca apresentar ainda,

imagens dos anjos de cada filme, "cenas congeladas", se é que podemos assim

chamá-las, em apenas um frame60, selecionadas de acordo com a que nos pareceu

ser a que mais evidencia a forma física dos anjos de cada produção. Neste aspecto

cabe observar que não são feitas decupagens específicas de cenas de cada narrativa,

enquanto formato linear com tempo de duração específico, comuns em análises

filmográficas, mas apenas pontua-se uma imagem como aquela que nos apresenta a

"estética fílmica do anjo". E, no que se refere ao perfil psicológico das personagens,

chamados no trabalho de "ministério" e função", as análise são feitas com base na

trajetória da personagem do início ao fim do filme, pontuando suas características

mais pessoais, sem adentrarem-se em diálogos ou cenas específicas.

Por fim, após oferecidas estas análises individuais, o presente capítulo

apresentará esquemas de relações entre os filmes, onde cada uma das categorias de

análise aparecerá mais uma vez, porem aglutinando os filmes semelhantes de modo a

nos direcionar a conclusões de que "tipos" de filmes e personagens "Anjos", com suas

comuns características, o cinema tem mais privilegiado de 1941 (1º filme analisado) a

2011 (último filme analisado). Dentro deste período, contemplaremos 25 filmes, sendo

eles:

QUE ESPERE O CÉU 1941

A FELICIDADE NÃO SE COMPRA 1946

UM ANJO CAIU DO CÉU 1947

OS ANJOS ENTRAM EM CAMPO 1951

BARBARELLA 1968

O CÉU PODE ESPERAR 1978

AS AVENTURAS DE UM ANJO 1985

ASAS DO DESEJO 1987

TÃO LONGE, TÃO PERTO 1993

60

Unidade de tempo da imagem “fixa" em um produto audiovisual. Um frame= um quadro.

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OS ANJOS ENTRAM EM CAMPO 1994

ANJOS REBELDES 1995

MICHAEL: UM ANJO SEDUTOR 1996

POR UMA VIDA MENOS ORDINÁRIA 1997

CIDADE DOS ANJOS 1998

ANJOS REBELDES 2 1998

DOGMA 1999

ANJOS REBELDES 3: O ASCENDENTE 2000

SEM NOTÍCIAS DE DEUS 2001

O CÉU PODE ESPERAR 2001 ANJOS REBELDES 4: A GUARDIÃ DO DESTINO 2005

ANJOS REBELDES 5: RENEGADOS 2005

ANGEL-A 2005

CONSTANTINE 2005

GABRIEL: A VINGANÇA DE UM ANJO 2007

LEGIÃO 2010

2.3 Filmografia angelológica: as obras

a. Que espere o céu (1941)

-Título Original: Here Comes Mr. Jordan

-Ano: 1941

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Alexander Hall

-Gênero: Comedia/ Fantasia/Romance

-Duração: 94 minutos

-Premiações: Melhor Roteiro/ Melhor História Original- 1942 (Roteirista Harry Segall);

O filme faz parte da lista dos 1000 melhores filmes de todos os tempos do jornal The

New York Times.

-Sinopse Comercial61: Duas vezes vencedor do Oscar (melhor história original e

melhor roteiro, 1941) e baseado na peça Heaven Can Wait, Que Espere o Céu é uma

encantadora comédia romântica com atuações excepcionais e diálogos inteligentes.

Joe Pendleton (Robert Montgomery) é um lutador de boxe que está a caminho de uma

competição e acaba morrendo em um acidente de avião. Infelizmente para Joe, ele

61

Sinopse comercial de "Que espere o céu" disponível em: <http://www.interfilmes.com/filme_17359_que.espere.o.ceu.html>. Acesso em junho de 2013.

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não deveria ter morrido no acidente, mas foi levado para o céu por um anjo ansioso

(Edward Everett Horton). Agora, a decisão é do chefe do anjo, Sr. Jordan (Claude

Rains), que tem que achar um novo corpo para Joe e dar-lhe uma segunda chance de

lutar pelo título. À procura de sua nova casa, Joe conhece uma jovem idealista (Evelyn

Keyes) pela qual imediatamente se apaixona, e que lhe dá uma nova razão para viver

além do boxe.

-Anjo (s): Sr.º Jordan e o Mensageiro 7013 (Atores Claude Rains e Edward Everett

Horton)

-Genealogia: Não é mencionado no filme nenhuma característica que evidencie a

genealogia dos Anjos apresentados.

-Personalidade: O Anjo assistente Mensageiro 7013 mostra características como

ansiedade, submissão e temor em relação ao chefe e respeito em relação as regras

do céu; demonstra ser mais atrapalhado e inexperiente dentro de sua função; Já o

Anjo Sr.º Jordan demonstra ter personalidade madura, sábia, com autoridade mas

sem deixar de ser flexível e piedoso; Com aparições inesperadas em meio aos

espaços cotidianos do personagem Joe, ambos os anjos transmitem na narrativa um

tom cômico em alguns momentos, em especial por serem invisíveis aos olhos

humanos e visíveis apenas para Joe.

-Hierarquia: O Anjo Sr.º Jordan demonstra possuir poder e autonomia no céu; Não

fica especificada sua hierarquia, mas consegue interferir em problemas tomando

atitudes de "exceção", impróprias para os demais anjos; Já o Mensageiro 7013 está

abaixo de Jordan, e devido a menção numérica de seu nome (7013), não possuindo

um nome especifico, sendo referido apenas como "mensageiro" ou assistente,

demonstra assim ser um anjo de escala menor, com atividades operacionais.

-Ministério/função: A função do assistente mensageiro 7013 era de apenas

encaminhar para o céu os recém falecidos, porém devido a sua ansiedade comete o

equívoco de "levar" Joe Pendleton (lutador de boxe); A partir deste enredo o anjo Sr.º

Jordan, chefe de 7013, passa a fazer parte da história tentando corrigir o erro e

devolvendo a Joe a vida através do corpo de outra pessoa; Esta passa a ser sua

missão em todo o filme, "a busca de uma alternativa para corrigir um erro feito por seu

assistente a um homem que morreu por engano".

-Forma: Ambos os Anjos possuem a forma humana de homens de meia idade (corpo

e vestimenta), sem características como asas, auréolas ou demais elementos

angelicais.

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Figura 10: Anjo Mensageiro 7013. Ator: Edward Everett Horton. Disponível em:

<http://memorialdafama.com/biografiasEI/EdwardEverettHorton.html> Acesso em maio de 2013.

Figura 11: Anjo Sr.º Jordan. Ator: Claude Rains. Disponível em:

<http://melhoresfilmes.com.br/atores/claude-rains> Acesso em maio de 2013.

b. A felicidade não se compra (1946)

-Título Original: It's a Wonderful Life

-Ano: 1946

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Frank Kapra

-Gênero: Comédia dramática/ Fantasia

-Duração: 130 minutos

-Premiações: Em 1947/ 19º Oscar, foi indicado como Melhor Som.

-Sinopse Comercial62: Em Bedford Falls, no Natal, George Bailey (James Stewart),

que sempre ajudou a todos, pensa em se suicidar saltando de uma ponte, em razão

das maquinações de Henry Potter (Lionel Barrymore), o homem mais rico da região.

Mas tantas pessoas oram por ele que Clarence (Henry Travers), um anjo que espera

62

Sinopse comercial de "A felicidade não se compra" disponível em <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-5762>. Acesso em junho de 2013.

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há 220 anos para ganhar asas, mandado Terra, para tentar fazer George mudar de

idéia, demonstrando sua importância através de flashbacks.

-Anjo: Clarence (Ator Henry Travers)

-Genealogia: Não é mencionado nenhum tipo de “nascimento” no filme, porém

Clarence comenta com seu superior que já está há 200 anos no céu, ainda sem

possuir um par de asas.

-Personalidade: Clarence demonstra ser humilde e paciente, devido a condição de

submissão em estar há 200 anos no céu e aguardar ser chamado para uma missão

que lhe fará um anjo completo, com asas; Diante dos demais anjos e seu superior no

céu, é considerado de menor intelecto, tendo seu QI comparado ao de um coelho por

seus superiores, porem bem visto para a missão designada, por ter "o coração de uma

criança"; Na terra, para com George Bailey (seu protegido, homem, trabalhador, pai de

família, que pensa em suicídio após adquirir de forma injusta uma grande dívida),

Clarence demonstra-se prestativo, paciente, engraçado e inusitado em algumas

situações, com autonomia para aparecer e desaparecer conforme as situações que

envolvem George; Demonstra possuir extrema "didática angelical" ao e utilizar

métodos próprios de fazer George perceber aspectos positivos e negativos da vida e a

importância que teve para o mundo e as pessoas ao seu redor.

-Hierarquia: Não fica clara a hierarquia, porem Clarence não possui asas (fica

implícito que outros anjos já as possuem) e a missão que lhe é incumbida por um ser

superior (que no filme apenas ouve-se a voz) é para que as consiga, subentendendo

assim que terá uma promoção de “cargo”, tornando-se um Anjo completo.

-Ministério/função: Na narrativa Clarence é incumbido de salvar a vida de George; A

ação é proposta na medida que Clarence oferece a George uma espécie de

retrospectiva de sua vida, desde a infância, demonstrando as conseqüências

benéficas das ações, grandes ou pequenas, tomadas por George, em contraponto às

tragédias que teriam acontecido a cada um destes personagens se George não

tivesse existido; Deste modo, Clarence consegue resultar em George um sentimento

de amor pela vida e em especial por sua família e cada personagem de sua história, o

fazendo retornar ao momento em que sua vida parou (instante da chegada de

Clarence); Ao final, Clarence presenteia George com uma festa natalina onde é

homenageado e todos os personagens de sua vida estão presentes. Clarence deixa

George na terra e retorna ao céu, onde é parabenizado por seu superior, ganhando

assim seu par de asas, finalizando sua missão.

-Forma: Clarence tem no início do filme a forma de um ponto de luz e ao descer para

a terra a forma de humana de homem de cerca de 55 anos, estatura mediana, cabelos

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loiros grisalhos, com semblante de um senhor bem humorado, simpático e brincalhão.

suas vestimentas são na maioria das vezes longas batas de cor clara.

Figura 12: Anjo Clarence, em pé (Ator Henry Travers). Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Travers> Acesso em maio de 2013.

c. Um anjo caiu do céu (1947)

-Título Original: The Bishop's Wife

-Ano: 1947

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Henry Koster

-Gênero: Comédia/ Romance

-Duração: 109 minutos

-Premiações: 1948/ 20º Oscar: Melhor Som

-Sinopse Comercial63: O bispo episcopal Henry Brougham (Niven) tem por meses

trabalhado nos planos para uma nova catedral, que será paga por uma caprichosa e

teimosa viúva, Agnes Hamilton (Gladys Cooper). Henry se distanciou de sua família,

pois se tornou um religioso em primeiro lugar. Dudley (Cary Grant), um anjo, é enviado

pelo céu para ajudá-lo. Dudley ajuda a todos que encontra, mas não do jeito que eles

preferem. Todos amam Dudley exceto Henry, que se sente ameaçado, pois sua

mulher, Julia (Loretta Young), está sempre na companhia dele e se mostra cada vez

63

Sinopse comercial de "Um Anjo caiu do céu" disponível em: <http://www.interfilmes.com/filme_21749_um.anjo.caiu.do.ceu.html>. Acesso em junho de 2013.

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mais feliz. Além disto a filha do casal, Debby (Karolyn Grimes), também adora Dudley

e Henry acha que Dudley pode querer tomar seu lugar.

-Anjo: Dudley (Ator Cary Grant)

-Genealogia: Não é mencionada no filme, Dudley "aparece" após uma oração de

Henry Brougham. Não é mencionando em sua estadia na terra nenhum aspecto de

seu passado. Diz apenas ter sido "enviado".

-Personalidade: Dudley demonstra comportamento que deixam o espectador em

dúvida no que compete a sua ingenuidade, tipicamente angelical; Em um primeiro

momento mostra-se prestativo e com ar de superioridade em relação ao que o Bispo

Henry (até aqui, seu protegido) consegue compreender; Passa entre portas e faz

ações inusitadas e um tanto cômicas, como por exemplo, no sentido de confundir o

Professor Wutheridge, amigo da família de Henry, deixar a garrafa de wisk sempre

cheia, bem como o copo, independente da quantidade que o professor beba. Porem,

na medida que o filme se passa existe uma aproximação entre Dudley e a esposa do

Bispo Hary, Sr.ª Julia, resultando em contato muito próximo e afetuoso, com ações

incomuns para uma mulher casada e um funcionário do marido, tendo em vista Dubly

ter sido apresentado a família como novo secretário de Henry; Nestes momentos

Dudley pode passar a interpretar uma personalidade oportunista, em uma visão

negativa de sua postura, mas que também pode ser compreendida como ingênua,

podendo cogitar-se que o anjo não possui elementos ou vivência terrena que façam

sua atitude de aproximação de Júlia ser condenável; É inegável que Dudley admira

Júlia, diz-lhe belas palavras em relação a sua beleza e personalidade que propiciam a

ela momentos agradáveis dos quais o marido não tinha por hábito fazer. Além disso, a

simpatia de Dudley conquista as empregadas da casa, que sentem-se lisonjeadas com

os comentários agradáveis de Dudley, sem contar com Debby, filha do casal Henry e

Julia, que devido a forma de brincar e contar histórias de Dudley, mostra-se

extremamente contente com sua presença. Dudley não mede esforços para que na

condição de anjo, e assim poder fazer “aparecer” e “desaparecer” objetos e

oportunidades como um passe de mágicas, fazer feliz quem está ao seu lado,

parecendo que o único a quem tem menos contato e auxilia é justamente seu

protegido, o Bispo Henry; Após a percepção de Henry da proximidade de Dudley com

todos, em especial com sua esposa Júlia, sente-se incomodado e, invejando Dudley

por ter cativado todos ao seu redor, cumpre então sua missão inicial no sentido de

recuperar a igreja prestes a ser perdida, e assim, despedindo-se e “apagando” da

memória de todos sua passagem pelo local (especialmente de Júlia, que está

completamente apaixonada pelo anjo), a estabilidade, paz e felicidade voltam a reinar

para Henry e sua família; Em muitos momentos mostra-se dúbia a compreensão em

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relação ao papel do anjo, como aquele que trouxe “problemas” ou “soluções” para a

vida de Henry. Porem o desfecho demonstra que a vinda de Dudley e sua relação de

afeto com cada uma das pessoas da vida de Henry, fazendo-o perceber que pode ser

melhor com todos, em especial sendo mais presente na vida da esposa e da filha.

-Hierarquia: Não é mencionada a hierarquia de Dudley no filme.

-Ministério/função: Dudley é incumbido de auxiliar o Bispo Henry na tarefa de manter

a igreja aberta; Porem, o filme foca em ações em que Dudley traz felicidade e

momentos de alegria para todos a volta de Henry, em especial para Júlia, sua esposa.

Deste modo, fica implícito ao final do filme que a função principal de Dudley não foi

recuperar a igreja em si, tarefa que ele consegue ao final, com bastante facilidade,

mas sim demonstrar ao Bispo Henry que tipo de ações o fariam mais feliz e completo

como pai, chefe, amigo e em especial, como marido.

-Forma: Dudley tem em todo o momento a forma humana masculina, média de 40

anos. Suas vestimentas correspondem as dos demais homens da época presentes no

filme. Percebe-se que em relação a vestimenta, o Anjo busca imitar o Bispo Henry,

usando seus casacos, cachecóis e chapéus, como forma de parecer-se mais comum e

"humano". Devido ao clima ser sempre bastante frio e com neve, é comum o uso de

sobretudo.

Figura 13: Anjo Dudley, ator Cary Grant. Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Cary_Grant>. Acesso em maio de 2013.

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62

d. Anjos e piratas (1951)

-Título Original: Angels in the Outfield

-Ano: 1951

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: William Dear

-Gênero: Comedia/ Fantasia/ Drama/ Esporte

-Duração: 102 minutos

-Premiações: não constam

-Sinopse Comercial64: Guffy McGovern (Paul Douglas ) é o gerente desbocado do

time de baseball "Pittsburgh Pirates". Com sua equipe sendo derrotada, McGovern

tem muito do que reclamar. Mas tudo isso muda quando ao passear pelo campo

durante a noite, Guffy é abordado pela voz do arcanjo Gabriel (James Whitmore).

Como o porta-voz do "Coro Celestial Nine", Gabriel começa a oferecer "milagres" para

os "Pittsburgh Pirates", mas na condição de que McGovern não utilize mais palavrões.

Com a ajuda dos "fantasmas invisíveis" de grandes nomes do beisebol passado, os

Pittsburgh Pirates vão em busca de títulos. Durante um jogo crucial, a órfão menina

Bridget White (Donna Corcoran) insiste que ela pode ver os anjos ajudando os

jogadores de beisebol "ao vivo" - de forma compreensível, uma vez que foram as

orações de Bridget que levaram Gabriel à visitar McGovern. A jornalista Jennifer

(Janet Leigh) transforma visões angelicais de Bridget em uma notícia em todo o país,

causando um problema sem fim para McGovern. Quando são confirmadas as

afirmações de Bridget, caem nas mãos do vingativo esportista Fred Bayles (Keenan

Wynn), que esteve planejando o tempo todo a expulsão de McGovern do baseball.

-Anjo: Gabriel

-Genealogia: Não mencionada

-Personalidade: Gabriel é generoso, inspirando o técnico do time com as melhores

táticas de baseball; Possui certa comicidade sutil em suas ações, ao auxiliar os

jogadores do time com jogadas inusitadas e improváveis.

-Hierarquia: Não mencionada

-Ministério/função: Auxiliar o time de baseball Pittsburgh Pirates a vencer o

campeonato de baseball através das inspirações que oferece ao técnico do time e as

visões das garotinha Bridget; Indiretamente, promove a fé nos anjos pelos

participantes do time e, em especial, seu técnico.

64

Sinopse comercial de "Anjos e Piratas" disponível em <http://www.allmovie.com/movie/angels-in-the-outfield-v83734>. Acesso em junho de 2013.

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63

-Forma: O anjo é incutido no filme com uma voz, sem forma física, havendo menção

de sua invisibilidade. A menina do filme, Bridget, é a única que na narrativa diz poder

vê-los. Há também em uma das cenas a presença de uma pena (elemento angelical)

que indica que o anjo "passou" por ali.

Figura 14: Pena. Indício do Anjo Gabriel. Disponível em

<http://pt-br.iedb.net/filme/anjos-e-piratas>. Acesso em maio de 2013.

e. Barbarella (1968)

-Título Original: Barbarella: Queen of the Galaxy65

-Ano: 1968

-País de Origem: França/ Itália

-Direção: Roger Vadim

-Gênero: Ficção Científica

-Duração: 1hora e 38 minutos

-Premiação: não consta

-Sinopse Comercial66: No século 40, a astronauta Barbarella (Jane Fonda), em

patrulha com sua nave em algum lugar do universo, é enviada pelo presidente da

Terra para capturar o criminoso Duran Duran, que inventou um arma num longínquo e

desconhecido planeta, colocando em perigo a paz da galáxia, onde há séculos não

65

Filme baseado nos quadrinhos de 1962 do escritor e ilustrador francês Jean-Claude Forest. 66

Sinopse comercial de "Barbarella" disponível em:

http://www.interfilmes.com/filme_12715_barbarella.html. Acesso em junho de 2013.

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64

existem mais guerras. Em sua busca por Duran, ela é seduzida por um humano

residente em SoGo67, Dildano (Hemmings), que a apresenta a uma nova modalidade

de intercurso sexual, que seduz um anjo cego chamado Pygar (John Phillip Law) e

destrói uma máquina do sexo destinada a matar de prazer aos que nela são

colocados.

-Anjo: Pygar (Ator John Phillip Law)

-Genealogia: Pygar é habitante do longínquo planeta que Barbarella buscara salvar,

porem não são mencionados maiores detalhes de sua genealogia.

-Personalidade: Pygar de forma poética pode ser classificado como o elemento

"amor" do filme. Uma de suas falas de que “um anjo não faz amor, um anjo é amor”,

demonstra ser ele a imagem da inocência e de amor verdadeiro. O filme possui

conotação sexual e simbologias fálicas em toda a sua narrativa, porem tudo é

apresentado de forma ingênua, característica reforçada pelo fato do anjo ser cego. A

própria personagem Barbarella, só conhece o sexo e o prazer sexual após conhecer o

planeta que buscará salvar para que o "amor' não seja extinto e, junto com ele, o "ato"

de amor (sexo). Pygar, deste modo, reforça na narrativa a ideia do amor puro, do sexo

como ato simbólico de união. O Anjo protege Barbarella dos perigos a carregando nos

braços em seus voos; Protege-a. Pygar possui poucas falas, aparenta ser sábio,

apesar de ingênuo. Em dado momento é cercado pelos habitantes do planeta devido a

sua condição de Anjo e sua beleza, porem não se mostra envaidecido. Em análise

mais profunda, apesar das feições masculinas (ator John Phillip Law), o fato de

Pygar ter a aparência clichê de um anjo (loiro, olhos claros, forte), acrescentado de um

bronzeado reluzente e além das asas, possuir uma espécie de pano que lhe cobre

apenas as partes íntimas, somado ao fato de e não relação sexual com Barbarella, fez

seu personagem hoje, pela crítica, ser tido como "um anjo gay".

-Hierarquia: Não mencionada.

67 SoGo, nome do planeta desconhecido, é uma menção a Sodoma e Gomorra, cidades bíblicas relatadas

como perversidade, imoralidade e desobediência a Deus. Segundo o livro de Gênesis, dois anjos de Deus dizem a Abraão que o clamor de Sodoma e Gomorra se têm multiplicado e o seu pecado se têm agravado muito. Abraão ora pelo povo sodomita e Deus ordena que se houvesse em Sodoma dez justos, não seria destruída.

Dois anjos que visitaram Abraão descem à cidade e são hospedados na casa de Ló.

Porem, os homens da cidade cercaram a casa de Ló para terem relações sexuais com seus hóspedes anjos. Ló oferece em troca suas filhas virgens. Os anjos ferem com cegueira os homens que estavam á porta da casa de Ló e o com sua família da cidade, ordenando que sigam em direção às montanhas. Pedem que não olhem para tras, a fim de que não se transformassem em estátuas de sal. A mulher de Ló desobedece a ordem dada pelos anjos e transforma-se em estatua. Inicia-se assim a destruição de Sodoma e Gomorra com fogo e enxofre. A característica de cegueira do Anjo Pygar, também nos remete a história bíblica.

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65

-Ministério/função: Auxiliar Barbarella na destruição do vilão Duran Duran, de modo

que este não consiga levar adiante seus planos de provocar uma guerra de SoGo cm

demais planetas, iniciada pela falta de amor (e de sexo) entre as pessoas.

-Forma: Humana, masculina; Jovem, loiro de olhos claros; Pouca vestimenta, apenas

para cobrir as partes íntimas; Presença de asas. Representa um anjo cego.

Figura 15: Anjo Pygar, Ator John Phillip Law e Barbarella (Jane Fonda). Disponível em:

http://culturemob.com/movie-review-how-in-the-world-did-barbarella-ever-get-made>. Acesso em maio de 2013.

Figura 16: Anjo Pygar (John Phillip Law) sobrevoando SoGo com Barbarella (Jane Fonda).

Disponível em: <http://designinnova.blogspot.de/2013/07/os-45-anos-do-filme-barbarella.html>. Acesso

em maio de 2013.

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f. O céu pode esperar (1978)68

-Título Original: Heaven Can Wait

-Ano: 1978

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Warren Beatty / Buck Henry

-Gênero: Comédia/ Romance

-Duração: 101 minutos

-Premiações: Oscar/ 1979: Melhor Direção de Arte. Globo de Ouro/ 1979: Melhor

Ator: Warren Beatty/ Melhor Atriz Coadjuvante: Dyan Cannon.

Indicações ao Oscar/ 1979: Melhor Filme, Melhor Diretor - Warren Beatty e Buck

Henry, Melhor Ator - Warren Beatty, Melhor Ator Coadjuvante - Jack Warden, Melhor

Atriz Coadjuvante - Dyan Cannon, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de

Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original.

-Sinopse Comercial69: Joe Pendleton (Warren Beatty), um jogador de futebol

americano do Los Angeles Ram, é mandado acidentalmente para o Paraíso décadas

antes da sua hora. Quando o erro é notado ele volta para a Terra, mas seu corpo foi

cremado. Provisoriamente habita o corpo de um mega industrial, que foi assassinado

por Julia Farnsworth (Julie Christie), sua esposa, e Tony Abbott (Charles Grodin), seu

amante. Mas a morte não foi notada, assim quando Joe passa a habitar seu novo

corpo Julia e Tony nada entendem, pois ela tinha certeza que o marido estava morto.

Mas o que causa mais espanto é o comportamento de Joe no corpo do empresário,

que era conhecido por ser maquiavélico mas agora a boa índole de Joe comanda as

empresas. Todos vêem um magnata altruísta, tanto que Bety Logan (Julie Christie),

uma jovem que buscava reparar injustiças feito por uma das indústrias de Farnsworth,

inicialmente desconfia da mudança mas gradativamente começa a se apaixonar por

Joe.

-Anjo(s): Sr.º Jordan (James Mason) e seu anjo assistente (Buck Henry).

-Genealogia: Não são mencionadas as naturezas genealógicas dos Anjos.

-Personalidade: Devido a Heaven Can Wait ser uma regravação de Here Comes Mr.

Jordan, a personalidade de Jordan e seu assistente são semelhantes a dos mesmos

personagens no filme de 1941, apesar de serem diferentes atores.

-Hierarquia: Idem menção em "Que espere o céu", 1941.

68

Releitura de "Que espere o céu" (1941); 69

Sinopse comercial de "O céu pode esperar" disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-36570/>. Acesso em junho de 2013.

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67

-Ministério/função: Um anjo assistente atrapalhado com atitude de novato na função

de "recolher" as almas/corpos que morrem (falecem) na terra; Porem, em uma atitude

com o objetivo de ser proativo e premeditado, traz para o céu (estação de passagem

no céu) o atleta Joe Pendleton; Porem como constam "nos altos celestes" que Joe, só

deveria estar lá após 50 anos, o anjo assistente é repreendido por seu chefe, o anjo

Jordan, que se coloca à disposição, na condição de superior, de sair do protocolo das

orientações celestes e disponibilizar a Joe a oportunidade de voltar à vida (o que

torna-se impossível devido ao corpo de Joe ter sido cremado) sendo necessário que a

dupla de anjos encontre um novo corpo para o atleta; Provisoriamente, oferecem a Joe

o corpo de um milionário recém assassinado, no qual Joe se interessa devido a

perceber que assim teria contato com a bela jovem Betti Logan; Os anjos não se

opõem a decisão de Joe e enquanto isso se comprometem a encontrar um corpo

"atlético" para que Joe possa jogar baseball novamente; A empreitada torna-se uma

difícil missão para a dupla de anjos que aparecem esporadicamente no filme para falar

com Joe sobre o processo de procura; O anjo aparece como porta voz de recados e

missões mais enfáticas e que mudam o rumo da vida de Joe, como por exemplo

quando o velho milionário morre, por decisão dos anjos, e Joe perde seu corpo para

ganhar outro, de atleta (ideia que já não mais lhe agrada devido ao relacionamento já

iniciado com a jovem Betti Logan). Já o assistente aparece como aquele tido como o

"anjo atrapalhado" que não possui autonomia para maiores decisões e tem suas

aparições para dar recados a Joe normalmente quanto ao prazo de vencimento de sua

vida no corpo de milionário

-Forma: Os dois anjos possuem forma humana, masculina, meia idade, com

vestimentas sociais (terno e gravata); O anjo assistente usa óculos, o que reforça suas

características nerds e atrapalhadas.

Figura 17: De terno, Sr.º Jordan (ator James Mason) e seu anjo assistente (Buck Henry). Disponível em: <http://hmeteoro.blogspot.com.br/2010/08/o-ceu-pode-esperar-heaven-can-wait-1978.html.> Acesso em

abril de 2013.

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g. As aventuras de um anjo (1985)

Título Original: The Heavenly Kid

-Ano: 1985

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Cary Medoway

-Gênero: Comédia

-Duração: 90 minutos

-Premiações: não constam

-Sinopse Comercial70: Quando Bobby morre em um acidente de carro, não tem

permissão para entrar no céu, mas tem que ficar em um dos níveis mais baixos até

que ele tem trabalhado bastante como um anjo da guarda, a fim de merecer o paraíso.

Um de seus trabalhos é Lenny, um garoto talentoso, que ama a sua colega Sharon,

que é a garota mais bonita da classe. Mas ela nem percebe ele de modo que ele está

prestes a cometer suicídio. Bobby impede isso, fazendo de Lenny um cara playboy e

duro para que ele consiga o que quer, embora Bobby saiba que este não é o melhor

caminho. Pensando que seu trabalho está feito, Bobby descobre que a mãe de Lenny

é sua ex-namorada que se casou com outro cara. Embora não sendo permitido que

ele se torna visível para ela.

-Anjo: Bobby (Ator Beau Dremann)

-Genealogia: Bobby tem como gênese ter "morrido" como ser humano, como um

garoto estilo "playboy". Torna-se anjo a fim de que possa, com boas ações angelicais,

merecer o paraíso.

-Personalidade: Bobby é em um primeiro momento atrapalhado, por necessitar

habituar-se a forma de um anjo. Aos poucos sua generosidade é aflorada, na medida

em que auxilia seu "protegido" Lenny a livrar-se de pensamentos suicidas e o fazer

lutar por Sharon. Porem, Bobby traz muito de sua personalidade rebelde quando

humano, de forma a transformar Lenny em um playboy como ele mesmo foi em vida,

apesar de saber não ser esta a melhor alternativa.

-Hierarquia: Não é mencionada em especifico, porem ao chegar no céu Bobby não

tem permissão para entrar no céu, ficando "níveis abaixo", até que após trabalhar com

anjo da guarda, possa merecer o paraíso.

-Ministério/função: Bobby tem como função ser "anjo da guarda" de Lenny, de modo

a fazê-lo não mais pensar em suicídio, mas lutar por seu grande amor, Sharon. Porem,

70

Sinopse comercial de "As aventuras de um anjo" disponível em: <http://www.cinedica.com.br/Filme-As-

Aventuras-De-Um-Anjo-23023.php>. Acesso em junho de 2013.

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apesar da missão "solidária' a outro jovem, o objetivo de Lenny dado pelo "céu" é que

auxilie a si próprio a galgar maiores patamares, a fim de que chegue ao Paraíso.

-Forma: Bobby tem a forma de um jovem de cerca de 16 anos, veste jaqueta de couro

em todas as cenas, conforme imagem:

Figura 18: Anjo Bobby (Ator Beau Dremann). Disponível em

<http://www.mgmchannel.com/hungary/movie/Az_%C5%91rangyal_16.html> Acesso em abril de 2013.

h. Asas do desejo (1987)

-Título Original: Der Himmel über Berlin

-Ano: 1987

-País de Origem: Alemanha Ocidental/ França

-Direção: Wim Wenders

-Gênero: Drama

-Duração: 127 minutos

-Premiações: Festival de Cannes/ 1987: Melhor Diretor; Bafta/ 1989/ Indicação:

Melhor Filme em língua não-inglesa; César/ 1988/ Indicação: Melhor Filme

Estrangeiro; Independent Spirit Awards /1989: Melhor Filme Estrangeiro; European

Film Awards/ 1988: Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Curt Bois); Mostra São

Paulo/ 1988: Prêmio do Público.

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-Sinopse Comercial71: Na Berlim pós-guerra, dois anjos perambulam pela cidade.

Invisíveis aos mortais, eles lêem seus pensamentos e tentam confortar a solidão e a

depressão das almas que encontram. Entretanto, um dos anjos, ao se apaixonar por

uma trapezista, deseja se tornar um humano para experimentar as alegrias de cada

dia.

-Anjos: Damiel (Bruno Ganz) e Cassiel (Otto Sander)

-Genealogia: As características de gênese de Damiel e Cassiel na condição de anjos

aparecem no diálogo em que comentam sobre como ocorreu a criação do mundo por

Deus, de modo que a presenciaram o momento em águas baixassem (referência ao

dilúvio de Gênesis) e a criação de árvore, animais etc, até o surgimento de um ser

com os mesmos traços físicos deles, anjos, fazendo referência a criação do homem;

Do mesmo modo, em diálogos em que comentam sobre o quanto estão de certo modo

entediados com a "eternidade" e o "ter certeza" dos fatos, oferece a conotação se

Damiel e Cassiel serem eternos e apesar de não citada uma gênese (um nascimento

específico) já estarem no mundo antes de "tudo". A narrativa apresenta o

pensamentos de ambos, demonstrando sua eternidade e o tempo que acompanham

os homens como guardiões. Porém a questão da imortalidade e da necessidade de

uma "queda", simulando um suicídio/morte ser necessária para que um anjo torne-se

humano, demonstra que a "gênese" do homem, ex-anjo, é a morte e o sangue (que sai

do corpo de Damiel após a queda) acompanhado da dor física e de todas as demais

características que Damiel é apresentado (toque, cheiro, gosto etc).

-Personalidade: Damiel Cassiel apresentam personalidade extremamente altruísta

em relação as pessoas de Berlim no modo em que as inspiram com bons

pensamentos e sondam os espaços e mentes sempre alertas e ideias que possam ser

contra a vontade de Deus (suicidas, depressivos etc); Damiel aparece na obra mais

vezes do que Cassiel e apesar de Cassiel compartilhar com ele pensamentos de

descontentamento em relação a condição eterna e previsível de "ser anjo", é mais

tímido e contido em suas colocações. Já Damiel, através de longas falas, em especial

a que ocorre em um BMW conversível já no início do filme, demonstra como sente-se

oprimido por não "sentir" e "achar" as coisas como os homens, tendo em vista na

condição de anjo não possuir um corpo material e ao invés de "achar" possuir todas as

certezas72. Essa característica de curiosidade e anseio em sentir-se como um humano

71

Sinopse comercial de "Asas do desejo" disponível em:

<http://www.interfilmes.com/filme_12656_asas.do.desejo.html>. Acesso em junho de 2013. 72

Diálogo na íntegra entre Damiel e Cassiel sobre esta catacterística: “[...] É ótimo ser espírito e testemunhar por toda a eternidade apenas o lado espiritual das pessoas. Mas às vezes – ele continua – me canso dessa existência espiritual. Não quero pairar para sempre. Quero sentir um certo peso que ponha fim à falta de limite e me prenda ao chão. Eu gostaria de poder dizer „agora‟ a cada passo, a cada rajada de vento. „Agora‟ e „agora‟ e não mais „para sempre‟ e „eternamente‟. Sentar-me numa mesa de

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ganha ainda mais força a partir do momento em que se apaixona por Marion, a

trapezista de um circo; Sabedoria, maturidade, inteligência, bondade, altruísmo e bom

humor são características comuns aos anjos, porem a partir do momento em que

Damiel opta em tornar-se humano (morrendo como anjo em uma espécie de suicídio,

do qual Cassiel presencia), existe a conotação de uma felicidade contagiante,

acompanhado de certa ingenuidade passam a fazer parte de suas ações, na medida

em que se familiariza com a vida de homem.

-Hierarquia: Não identificada. A narrativa não faz menção à escalas ou posições

específicas de Damiel e Cassiel.

-Ministério/função: Damiel e Cassiel tem como função proteger a população da

cidade de Berlim em período pós guerra (assim como os demais anjos não nominados

que aparecem no filme). Fazem anotações de pensamentos inusitados e os ocorridos

mais interessantes durante o dia e relatam um para o outro. Porem a narrativa

caminha em seu enredo para a negação de Damiel de sua função angelical protetora

na medida em que abre mão da condição de anjo para tornar-se humano.

-Forma: Damiel e Cassiel são apresentados na narrativa como invisíveis (visíveis

apenas para as crianças e "intuídos" por alguns adultos mais sensitivos. Possuem

aparência de homens de meia idade (de 35 a 45 anos), ambos de cabelos até o ombro

sempre presos e trajandocasacos sobretudo escuros. Damiel é apresentado em preto

e branco (juntamente com Cassiel e toda a narrativa) até o momento em que recebe

vida humana, a partir daí, sua imagem é colorida.

jogos sem dinheiro, ser cumprimentado. Toda vez que participamos foi apenas fingimento. Lutamos com alguém e fingimos deslocar o quadril. Fingimos pegar um peixe. Fingimos sentar nas mesas, beber e comer. Fingimos ter cordeiros assados e vinhos servidos nas tendas do deserto. Não, não precisa ter um filho ou plantar uma árvore. Mas seria bom voltar para casa após um longo dia para comer como o gato Phillip Marlowe. Ter febre, dedos pretos por causa do jornal. Não vibrar apenas pelo espírito, mas por uma refeição, pelos contornos de uma nuca, de uma orelha. Mentir, deslavadamente – e os dois anjos sorriem – sentir os ossos se movendo enquanto caminha. Supor em vez de saber sempre. Poder dizer „ah‟, „oh‟, „ei‟, em vez de „sim‟ e „amém‟. O outro anjo entra na mesma sintonia e devaneia: “Sim. Poder se empolgar com o mal, atrair todos os demônios da terra e sair pelo mundo!”. O anjo amigo sopra, com força. “Ser selvagem”, diz. “Pelo menos sentir como é tirar os sapatos debaixo da mesa. Torcer os dedos do pé, descalço, assim”. Ainda um pouco inconformado, o outro anjo arremata: “Ficar sozinho. Deixar acontecer. Ser sério. Só podemos ser selvagens à medida que formos sérios. Nada mais que olhar, reunir, testemunhar, preservar. Continuar espírito. Manter distância. Manter a palavra.” (MARTINS, Pablo, 2012, p. 3-4)

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Figura 19: Ajo Damiel (ator Bruno Ganz). Disponível em:

< http://oteatrodavida.blogspot.com.br/2011/06/1001-filmes-asas-do-desejo-der-himmel.html> Acesso em abril de 2013.

Figura 20: Anjos Cassiel e Damiel, atores Otto Sander e Bruno Ganz. Disponível em:

< http://www.dw.de/1987-lan%C3%A7amento-de-asas-do-desejo/a-2509237> Acesso em abril de 2013.

Figura 21: Cena do Anjo Damiel sobre as ruínas da torre Gedächtniskirche, Berlim pós Guerra/

Alemanha. Disponível em <http://www.jonathanrosenbaum.com/?p=7651> Acesso em abril de 2013.

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73

Figura 22: Cena final de Damiel com Marion (forma humana/cor). Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=MUqAev1Z7LI>. Acesso em abril de 2013.

i. Tão longe, tão perto (1993)

-Título Original: In weiter Ferne, so nah!

-Ano: 1993

-País de Origem: Alemanha

-Direção: Wim Wenders

-Gênero: Drama, Fantasia, Romance

-Duração: 144 minutos

-Premiações: Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 1993.

Indicado ao Globo de Ouro de melhor canção original em 1994 - por "Stay", da banda

U2.

-Sinopse Comercial73: Anjos observam as pessoas que circulam por Berlim, agora

unificada. Quando vê uma criança caindo de um prédio, Cassiel (Otto Sander) vai

contra as regras que proíbem a interferência dos anjos nas vidas das pessoas e a

socorre. Por conta disso ele se torna humano, assim como seu amigo Damiel (Bruno

Ganz), agora casado com Marion (Solveig Dommartin) e funcionário de uma pizzaria

(continuidade de Asas do Desejo, 1987).

-Anjo: Cassiel (Otto Sanders), Raphaela (Natassja Kinski)

-Genealogia: A genealogia de Cassiel é especificada no filme anterior, Asas do desejo

(19870, como anjo que vive eternamente na terra estando presente desde a criação do

universo e do homem por Deus; Porém, a genealogia de Cassiel na condição de

73

Sinopse comercial de "Tão longe, tão perto" disponível em:

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-99673/. Acesso em junho de 2013.

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humano, ex-anjo, se dá, assim como com Damiel em Asas do Desejo, através de uma

queda de local alto (sacada de prédio) em uma espécie de suicídio involuntário, tendo

em vista Cassiel não ter programa-do se para "morrer" como anjo e "nascer" como

homem, mas sim apenas salvar a vida de uma garotinha, de forma impulsiva. A

genealogia de Raphaela não é mensionada, mas fica implícito que pertence ao mesmo

histórico de Damiel e Cassiel na condição de anjos eternos.

-Personalidade: Cassiel na condição de anjo é solidário e atento aos humanos,

inspirando-os com bons pensamentos e observando suas ações e reações como

quem aprende a cada dia; É um típico anjo protetor, calmo e de grande sabedoria; Na

medida em que torna-se humano, sua personalidade, apesar de permanecer bondosa,

"degrine" em aspectos resultantes de sua condição de falta de dinheiro e apoio, bem

como resultantes de sua ingenuidade diante da malícia humana, apesar de Damiel

auxiliá-lo em alguns momentos; Cassiel torna-se um alcoólatra, andarilho das ruas,

envolvendo-se com "bandidos" de forma involuntária; É revoltado, questionando o céu

e invocando sua amiga anja Raphaela para auxiliá-lo; É impulsivo, não teme riscos,

característica que herdou da imortalidade que possuía ao ser anjo, mas que acaba o

levando a morte, como uma espécie de mártir da bondade e do altruísmo. Já

Raphaela é amável, dócil e pacífica; Demonstra extrema piedade pelo sofrimento

humano e por Cassiel, quando humano, apesar de não poder ajudá-lo. Inspira os

humanos com bons pensamentos e conforta-os diante da morte. Demonstra conhecer

bem sua função de anjo, não questiona sua "vida" e função (diferente de Cassiel e

Damiel, quando anjos, ainda em Asas do desejo).

-Hierarquia: Não identificada. A narrativa não faz menção à escalas ou posições

específicas de Cassiel e Raphaela.

-Ministério/função: A função de Cassiel e Raphaela, como anjos, é de proteger,

inspirar em pensamentos os homens e observá-los. Porém Cassiel, por acidente, cai

em uma não tão bem aventurada vida humana, deixando-se envolver pelo álcool e por

uma vida de andarilho, em uma espécie de degeneração. Em certo momento, levado

por sua ingenuidade e tentativa de "ser um homem comum", trabalha para Lou Reed

(interpretando a si mesmo no filme). Porém descobrirá que seu benfeitor chefe é na

verdade um contrabandista de armas e filmes pornôs. Fica explícito que muito do que

ocorre com Cassiel trata-se de uma espécie de premeditação feita por Willem Dafoe

no papel de uma misteriosa figura controladora do tempo, transformando as

expectativas de Cassiel em puro fracasso. Já Raphaela, após a queda de Cassiel,

continua em sua missão angelical, porém agora acompanhando as alegrias sutis,

tristezas profundas, momentos de revolta e degeneração de Cassiel, até sua

"ascensão" através da morte.

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75

-Forma: Cassiel é alto, magro, com um rosto expressivo de um típico descendente

alemão loiro de olhos claros, possui rugas no rosto; Tem cabelos até o ombro que

mantém presos; Traja casaco sobretudo; Quando humano perde seus cabelos longos,

ficando curtos e traja roupas comuns da época; Raphaela é esbelta, com cabelos

longos e loiros, os quais estão presos e ligeiramente sempre caem sobre seu rosto.

Figura 23: Cassiel (Otto Sanders) e Raphaela (Natassja Kinski). Disponível em

<http://www.unsungfilms.com/3392/faraway-so-close/> Acesso em abril de 2013.

Figura 24: Cassiel e Raphaela. Disponível em

<http://hippiekittenngc.wordpress.com/film-synopsis/>Acesso em abril de 2013.

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76

Figura 25: Raphaela em "missão" (Natassja Kinski). Disponível em

<http://www.unsungfilms.com/3392/faraway-so-close/> Acesso em abril de 2013.

j. Os anjos entram em campo (1994)

-Título Original: Angels in the Outfield

-Ano: 1994

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: William Dear

-Gênero: Comédia/Drama/Esporte/Fantasia

-Duração: 102 minutos

-Premiações: Não constam

-Sinopse Comercial74: Roger é um menino que mora com a mãe divorciada. Ele e

seu amigo J.P. são os maiores fãs do time de basebol de Los Angeles. Roger tem dois

sonhos: viver em uma família completa e ver o LA ganhar o campeonato. E ele está

rezando para que seus desejos se tornem realidade. E somente nos anjos serão

capazes de ajudar o pobre garoto.

-Anjo: Não consta nome específico dos anjos participantes no filme.

-Genealogia: Não mencionado

74

Sinopse comercial de "Os anjos entram em campo" disponível em: http://www.cineplayers.com/filme.php?id=5389. Acesso em junho de 2013.

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77

-Personalidade: Os anjos auxiliares do time de Baseboll "Angels" são atrapalhados,

engraçados mas antes disso, generosos por auxiliarem com seus poderes

sobrenaturais o time a vencer as partidas. Mostram-se sábios, de modo a

comunicarem-se de uma forma não verbal, mas astutos inspirando palavras nos

humanos (jogadores, técnico) e o resultado de suas ações, apesar de atrapalhadas,

sempre é positivo.

-Hierarquia: Não mencionada.

-Ministério/função: Os anjos do filme atuam como "inspiradores" e auxiliadores do

time de Baseboll "Angels"; com seu voos, empurrões e intervenções nas jogadas

fazem o time ser campeão.

-Forma: Apresentam como homens, alguns vestindo túnicas brancas, outro como um

jogador de baseball, porem há a presença de asas (capacidade de voar).

Figura 26: Anjos de Os Anjos entram em campo. Disponível em

< http://www.youtube.com/watch?v=Fpho5FJqk-E> Acesso em março de 2013.

Figura 27: Anjos de Os Anjos entram em campo. Disponível em

< http://www.youtube.com/watch?v=Fpho5FJqk-E> Acesso em março de 2013.

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k. Anjos rebeldes (1995)

-Título Original: The Prophecy

-Ano: 1995

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Gregory Widen

-Gênero: Terror, Fantasia

-Duração: 98 minutos

-Premiações: Não constam.

-Sinopse Comercial75: Algumas pessoas perdem a fé porque o céu lhe mostra tão

pouco. Mas quantas pessoas a perdem porque o céu lhes mostra demais? Um grupo

de Anjos Renegados, liderados por Gabriel (Christopher Walken), pretendem destruir o

céu e fazer dele um novo inferno. Isso não agrada Lúcifer, que reinou absoluto.

Enquanto isso em Los Angeles, um crime acontece. No local é encontrado uma nota

de falecimento de um coronel do exército, um livro sobre anjos,uma Bíblia esfarrapada

contendo trechos até então nunca revelados. O destino coloca o policial Thomas

Dagget (Elias Koteas) para investigar o caso. Anjos malvados, misticismo, tudo está

em seu caminho. Até que ele se encontre com o próprio Lúcifer.

-Anjo: Gabriel (Christopher Walken), Uziel (Jeff Cadiente), Lucifer (Viggo Mortensen).

-Genealogia: Os três anjos fazem menção a já estarem presentes durante a criação

do mundo, ao lado de Deus, tendo assistido a criação do homem.

-Personalidade: Gabriel: Apresentado como o principal anjo, Gabriel é o anjo

rebelado que vem a terra para arrecadar almas, de modo que crie um exército capaz

de destruir o céu, fazendo dele um novo inferno. Gabriel possui traços típicos de

maldade como dissimulação, habilidade em mentir, humor negro, mágoa (a motivação

da rebelião de Gabriel é o fato de considerar que Deus privilegiou mais os homens do

que os anjos) e obstinação em sua missão. Uziel, o anjo bom, é calmo e pacífico, mas

ao mesmo tempo bastante corajoso para lutar com Gabriel. Sua participação no filme

é em menor proporção, tendo em vista morrer antes da metade do filme, tendo seu

coração arrancado por Gabriel. Já Lúcifer, apesar de todas as características de

ardilosidade, levianismo, maldade e representar-se como um ser asqueroso, busca

com ironia e manipulação auxiliar os protagonistas "bons" da história, pois teme ter

um "concorrente" caso Gabriel consiga criar um novo inferno, sendo assim seu

75

Sinopse comercial de "Anjos Rebeldes" disponível em: http://www.interfilmes.com/filme_12617_anjos.rebeldes.html. Acesso em junho de 2013.

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concorrente. Ao final, Lúcifer é desprezado por todos, mas não é impedido de após

matar Gabriel, comendo seu coração, seguir seu "destino" como líder do inferno.

-Hierarquia: Gabriel é da escala do arcanjos, mesma ierarquia de Lucifer, o anjo

caído. A hierarquia de Uziel não é mensionada.

-Ministério/função: Gabriel sai do céu insatisfeito com Deus com a obstinação de

criar um exército de almas ruins capaz de fazer o céu transformar-se em um novo

inferno. Inicia sua tarefa fazendo uso da alma do recém falecido coronel mais perverso

já existente na terra (que possui o corpo de uma garotinha). Tem seus planos

contrariados pelo policial Thomas Dagget, espiritualista e conhecedor das verdades o

céu e do inferno. Uziel configura-se na narrativa como "o anjo bom" que vem à terra

para impedir Gabriel, auxiliando a garotinha 'possuída' pela alma do malvado coronel,

porem o bom anjo acaba sendo morto por Gabriel. Já Lúcifer, apresentado na historia

como o antagonista de Deus, tem a incumbência de "auxiliar" de modo um tanto

irônico e um pouco malvado, mas ainda assim configurando-se como ajuda, o policial

e a garotinha (bem como sua professora, que virá a se tornar o par romântico do

policial); Lucifer possui essa atitude "boa" devido ao fato de que se não auxiliar a

acabar com os planos de Gabriel, terá um "concorrente", pois já prevê que a terra não

pode ter dois infernos, querendo assim manter sua autonomia e poder.

-Forma: Os três anjos possuem olhos claros. Gabriel é o mais velho, com aparência

humana pálida e cabelos curtos e escuros. Uziel, o anjo bom, é o mais jovem, ruivo e

de cabelos longos. Lúcifer possui cabelos levemente longos, claros. Uziel traja

sobretudo. Gabriel e Lúcifer aparecem sempre de terno, muito distintos. Nenhum dos

anjos, apesar das cenas que simulam que são capazes de levitar, atravessar paredes

etc, aparecem asas, auréolas ou outros elementos do universo angelológico.

Figura 28: Lucifer (Viggo Mortensen). Disponível em

<http://www.brego.net/viggo/movies/prophecy/?gallerycatId=9&galleryimageId=397> Acesso em maio de 2013.

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Figura 29: Gabriel (Christopher Walken). Disponível em <http://blog.ricecracker.net/2012/12/10/the-

prophecy-christopher-walken-as-gabriel/> Acesso em maio de 2013.

Figura 30: Uziel (Jeff Cadiente). Disponível em< http://fraa.blox.pl/2010/03/ZaFraapowana-filmami-8-

Armia-Boga.html> Acesso em maio de 2013.

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l. Michael: um anjo sedutor (1996)

-Título Original: Michael

-Ano: 1996

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Nora Ephron

-Gênero: Comédia. Romace

-Duração: 1h e 45 min

-Premiações: Não constam

Sinopse Comerial76: Quando uma simpática senhora do Lowa (estado dos EUA)

afirma morar com um anjo, o dono de um tablóide manda uma equipe cobrir a história.

Logo os incrédulos repórteres Frank Quinlan (William Hurt), Huey Driscoll (Robert

Pastorelli) e a pretensa especialista no assunto Dorothy Winter (Andie MacDowell)

descobrem que ele tem grandes asas brancas, um enorme apetite por açúcar, gosta

de fumar, dançar e, sobretudo, se divertir. Com seu doce cheiro, encanta as mulheres.

Um legítimo arcanjo guerreiro, Michael (John Travolta), no entanto, não foge a um bom

combate. Mas nesta sua última passagem pela Terra ele vai ter muito trabalho para

amolecer o coração do desiludido Quinlan, dar um jeito na tumultuada vida amorosa

de Dorothy e salvar o emprego de Huey.

-Anjo: Michael

-Genealogia: Não é mencionada a origem de Michael. O filme demonstra que ele

"aparece" na casa de uma simpática velhinha em uma madrugada e ela passa a

cuidá-lo como um filho "crescido".

-Personalidade: Michael, apesar das asas e a boa aparência, um tanto acima do

peso, é o oposto do anjo tradicional, gosta de bebidas alcoólicas, muito açúcar,

mulheres, uma vida sem grandes responsabilidades. Muda parte de seu

comportamento ao perder sua protetora, uma velha senhora que o abriga em sua

casa, falece. Inicia uma jornada encontrando si próprio, restaurando suas funções de

anjo como poder de cura e protegendo e aconselhando as pessoas, em especial

incumbe-se de unir um casal apaixonado, mas confuso. Acidentalmente, devido a ter

um cheiro que atrai as mulheres, é extremante sedutor e age com ingenuidade nas

situações em que é assediado.

-Hierarquia: Não mencionada.

76

Sinopse comercial de "Michael: Um anjo sedutor" disponível em:

<http://www.cineclick.com.br/michael-anjo-e-sedutor>. Acesso em junho de 2013.

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-Ministério/função: A princípio não fica especificada a função de Michael, tendo em

vista seus hábitos de comer demais, beber de mais, ser um tanto "mulherengo" e com

atitudes desleixadas. Porem, na medida em que acompanha os três repórteres em

uma espécie de "road movie" vai aos poucos deixando de lados antigos hábitos para

ter atitudes mais angelicais, como contatar Deus e ressuscitar um cãozinho ou

oferecer conselhos amorosos ao casal Hue e Doroty. Michel é extremamente sedutor

com as mulheres, porem isso ocorre de forma inusitada, devido ao odor que exala por

ser Anjo. É divertido ao se expressar, dançar e ter uma forma desinibida de comportar-

se. Somente ao final do filme fica claro que apesar de parecer que eram os três

repórteres que estavam auxiliando Michael a sair de uma vida um tanto degradante,

era na verdade o Anjo quem estava unindo o casal Hue e Doroty e incentivando uma

nova vida profissional a Frank. Michael desaparece "da vista" dos companheiros nas

penúltimas cenas, aparecendo apenas na última, levando o espectador a perceber que

a profissão de "anjo" que protege e encaminha todos os acontecimentos ocorridos até

ali foi verdadeiramente cumprida por Michael.

-Forma: Representado por John Travolta, Michael é um homem de cerca de 40 anos,

levemente acima do peso, cabelos um tanto longos, escuros, possui asas que na

maioria das cenas aparecem fechadas. Suas vestimentas possuem aberturas para

que as asas fiquem para fora, com exceção de seu casaco sobretudo, usado em

cenas em que o anjo está em público, de forma a parecer um homem comum.

Figura 31: Michael (John Travolta). Disponível em:< http://xfinity.comcast.net/slideshow/entertainment-

travoltamovies/13/> Acesso em maio de 2013.

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m. Por uma vida menos ordinária (1997)

-Título Original: A Life Less Ordinary

-Ano: 1997

-País de Origem: Estados Unidos e Reino Unido

-Direção: Danny Boyle

-Gênero: Comédia

-Duração: 60 minutos

-Premiações: MTV Movie Awards/ Indicações: Melhor Sequência de Dança/ Melhor

Canção Original - "Deadweight".

-Sinopse Comercial77: No Paraíso, Gabriel (Dan Hedaya), que está sendo

pressionado pelo seu "superior", envia os anjos O'Reilly (Holly Hunter) e Jackson

(Delroy Lindo) até a Terra para fazerem duas pessoas se apaixonarem para sempre,

pois está havendo um grande número de divórcios. Se os anjos falharem, serão

obrigados a permanecerem na Terra. O casal escolhido é Celine Naville (Cameron

Diaz), a filha de um milionário, e Robert Lewis (Ewan McGregor), um faxineiro que

aspira ser escritor. Robert trabalha em uma corporação cujo dono é o pai de Celine.

Repentinamente Robert é despedido, pois será substituído por um robô, e além disto é

abandonado por Lily (K.K. Dodds), sua namorada, que decidiu viver em Miami com

Ryan, um professor de aeróbica, pois está cansada do jeito sonhador com que Robert

encara a vida. Ele vai para casa arrasado e, enquando tenta entender o que está

acontecendo, O'Reilly e Jackson batem na sua porta se fazendo passar como

empregados da agência de despejo "Tomamos Justamente". Eles dizem que vieram

recolher alguns itens da casa de Robert como forma de pagamento de débitos com o

governo e, além disto, vieram entregar uma ação de despejo e levar a cabo esta

tarefa. Paralelamente em seu escritório, o pai de Celine está muito irritado, pois sua

mimada filha ao "brincar" de William Tell com um revólver de verdade gravemente feriu

Elliot Zweikel (Stanley Tucci), um conhecido dentista que cortejava Celine. O magnata

diz que Celine agora passará a trabalhar sob sua supervisão. Enquanto esta

"agradável" conversa acontece, Robert invade a sala pedindo o emprego de volta e

teria sido detido se Celine não o ajudasse. O pai dela é baleado levemente e ela se

deixa seqüestrar. Após estes acontecimentos os dois estavam juntos e faltava se

apaixonarem, mas isto seria outra etapa da missão de O'Reilly e Jackson, que fingem

ser assassinos profissionais para o pai de Celine. Paralelamente, em uma casa nas

montanhas, a "vítima" ajuda seu sequestrador em elaborar uma forma para intimidar o

77

Sinopse comercial de "Por uma vida menos ordinária" disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-64445/>. Acesso em junho de 2013.

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pai dela. No entanto, O'Reilly e Jackson precisam fazer algo urgentemente para que

Robert e Celine se sintam mais do que apaixonados, se sintam predestinados.

-Anjos: Gabriel (Ator Dan Hedaya), O'Reilly (Atriz Holly Hunter) e Jackson (Ator Delroy

Lindo).

-Genealogia: Não especificada; Gabriel, O'Reilly e Jackson aparentemente "vivem" no

céu, sob as ordens de Deus, em uma espécie de grande escritório.

-Personalidade: Gabriel, na condição de chefe do céu, ou de um de seus

departamentos, possui personalidade com características de "estressado", autoritário,

porém com ar um tanto cômico; Também se mostra um tanto inconformado com sua

rotina e incompetência de seus "funcionários", de modo que dá há O'Reilly e Jackon

uma chance de lhe provarem o contrário; O sucesso da missão dos anjos é a condição

para que permaneçam no céu e não se tornem humanos. O'Reilly, anjo feminino,

mostra personalidade confusa, com traços de maldade e sensualidade que a tornam

caricata e um tanto desequilibrada; é firme e confiante em suas opiniões e atitudes, de

forma que convence facilmente seu companheiro anjo Jackson de suas ideias; Já

Jackson é mais contido, calmo, enigmático e por vezes ingênuo ao executar os planos

de O'Reilly.

-Hierarquia: Gabriel é chefe de O'Reilly e Jackson e possui ligação direta com Deus

(evidência através de cena em que Gabriel fala com Deus ao telefone). O'Reilly e

Jackson são anjos "operacionais" incumbidos de missão na terra.

-Ministério/função: Gabriel é advertido por deus de que o número de divórcios na

terra está muito alto e que é preciso fazer algo para reverter este quadro e provar que

os Anjos são capazes disso; Para isso, Gabriel convoca a dupla de anjos O'Reilly e

Jackson, com a missão de unirem um casal totalmente diferente e improvável,

fazendo-os crer de que sentem um pelo outro o verdadeiro amor e que são

predestinados. Toda a narrativa gira em torno das atrapalhadas estratégias da dupla

para despertar esse amor em Celine Naville (Cameron Diaz), a filha de um milionário,

e Robert Lewis (Ewan McGregor) atrapalhado faxineiro da empresa do milionário.

-Forma: Nenhum dos anjos possui características como asas ou auréolas etc; Gabriel

é um homem de meia idade com vestimentas sociais todas brancas; Jackson é

homem, também de meia idade, negro, alto e ao lado de O'Reilly provoca contraste,

devido a anja ser branca, loira e baixa, porém é ela quem "dá as ordens" na dupla. O

casal também possui vestes absolutamente brancas no céu, Jacson mais tradicional,

com terno e chapéu e O'Reilly mais futurista, com minisaia e botas brancas; Na terra,

em missão, apresentam-se formais, como uma dupla "profissional", em viagem usam

sobretudo, estão sempre acompanhados de maletas de trabalho e o chapéu em

Jackson e as minisaias em O'Reilly são sempre constantes.

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Figura 32: Anjos O'Reilly e Gabriel (Atores Holly Hunter e Dan Hedaya). Disponível em

<http://www.youtube.com/watch?v=daHP-j0qjMM> Acesso em julho de 2013.

Figura 33: Anjos Jackson e O'Reilly em missão (Atores Delroy Lindo e Holly Hunter). Disponível em

<http://www.youtube.com/watch?v=daHP-j0qjMM> Acesso em julho de 2013.

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n. Cidade dos anjos (1998)78

-Título Original: City of Angels

-Ano: 1998

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Brad Silberling

-Gênero: Romance. Espiritualista.

-Duração: 114 minutos

-Premiações: Globo de Ouro/ Indicação: Melhor Canção Original - "Uninvited";

Grammy/ Indicações: Melhor Canção Original - "Uninvited" Melhor Trilha Sonora -

Cinema.

-Sinopse Comercial79: Em Los Angeles, uma dedicada cirurgiã (Meg Ryan) fica

arrasada quando perde um paciente durante uma operação, no mesmo instante em

que um anjo (Nicolas Cage), que estava na sala de cirurgia, começa a se sentir atraído

por ela. Em pouco tempo ele fica apaixonado pela médica e resolve ficar visível para

ela, a fim de poder encontrá-la frequentemente, o que acaba provocando entre os dois

uma atração cada vez maior, apesar dela ter um sério relacionamento com um colega

de profissão. O ser celestial não pode sentir calor, nem o vento no rosto, o gosto de

uma fruta ou o toque da sua amada, assim ele cogita em deixar de ser um imortal para

poder amar e ser amado intensamente.

-Anjo: Seth Plate (Nicolas Cage) Cassiel (Andre Braugher).

-Genealogia: Não é mencionada em específico, mas há a ideia de Seth existir desde

o início do universo, assim como os demais anjos de papel secundário da historia,

estando presente na criação do homem, motivo pelo qual compreende os segredos da

humanidade, apesar de não possuir uma vivência "prática".

-Personalidade: Seth é um anjo que vaga pela Terra consolando aqueles que estão

com problemas, a um passo da morte; Porém, é aberta uma espécie de exceção na

tarefa de protetor de Seth, na medida em que apaixona-se por Maggie, uma médica

cirurgiã (humana); Neste momento, Seth, após abrir mão de sua condição de anjo e

tornar-se humano para poder ficar com Maggie, passa a assumir uma personalidade

mais ingênua, no sentido de, além de conquistar Maggie, “aprender” a conviver em um

78

Foi baseado no fime “Der Himmel über Berlin” ( Wings of Desire, de 1987); Filme alemão dirigido por

Wim Wenders, no Brasil está sob o título “Asas do Desejo”, já apresentado nesta pesquisa. "É apontado como uma releitura do Clássico filme Asas do desejo, de Wim Wenders, mas, apesar de certamente podermos identificar um núcleo temático comum, o tratamento dado ao tema pelo diretor Brad Silberling é totalmente diferente, sendo absolutamente difícil compará-lo ao de Wenders. Se por um lado podemos concordar que Cidade dos Anjos não apresenta méritos cinematográficos excepcionais, por outro lado vemos sua relevância na medida em que propõe um tema que julgamos dos mais pertinentes: o elogio à sensoriedade, à "estética carnal [...]". (CONTRERA, 2002, p. 105) 79

Sinopse comercial de "Cidade dos Anjos" disponível em: www.adorocinema.com/filmes/filme-17811/.

Acesso em junho de 2013.

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mundo desconhecido, com gostos, cheiros e sensações que antes não sentia; Porém,

apesar de ter realizado seu desejo e ter vivido sua história de amor com Maggie, Seth

perde-a ao vê-la morrer em seus braços após sofrer um acidente, mostrando mais ao

final do filme uma personalidade de revolta e injustiça. Nathaniel é apresnetado na

narrativa como um "ex anjo" agora humano, mostra-se engraçado, irreverente, sábio

(devido a já ter feito a passagem de um estado para o outro e aconselhar Seth) porem

rebelde, tendo em vista estar com sérios problemas de saúde e ter práticas contra as

orientações médicas; Cassiel é assim como Seth anjo, porem mais contido e

criterioso, ouve com atenção a Seth sendo seu confidente, mas fica implícito que não

concorda totalmente com a decisão do amigo.

Hierarquia: Não fica clara a hierarquia dos anjos apresentados, porem é

compreendido que acima deles há uma relação direta com Deus, sem intermediações.

Ministério/função: Seth é um anjo que vaga pela terra consolando aqueles que estão

com problemas, a um passo da morte; Após tornar-se humano, através de uma

espécie de suicídio, fazendo a passagem de anjo para homem, aparenta ter todos

seus esforços concentrados em conquistar Maggie e viver sua história de amor, não

podendo mais fazer uso de suas habilidades ou funções como anjo. Nathaniel não

possui mais função como anjo, por ter-se tornado humano, a não ser apresentar e

convencer a Seth sobre os prazeres e oportunidades de uma vida humana; Cassiel

tem como função aconselhar e acompanhar Seth em sua vida angelical e em seu

processo de transição, como conselheiro e amigo.

Forma: Todos possuem forma humana masculina. Seth e Cassiel, bem com os

demais anjos não nominados que aparecem na história usam roupa preta,

caracterizada em especial pelos casacos sobretudo; Seth é branco, Cassiel negro;

Figura 34: Seth Plate (Nicolas Cage).

Disponível em http://www.osimplespensar.com/cidade-dos-anjos/>. Acesso em maio de 2013.

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Figura 35: Cassiel (Andre Braugher), junto com hoste de anjos semelhantes. Disponível em

<http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=299> Acesso em maio de 2013.

Figura 36: Seth Plate (Nicolas Cage), Maggie (Mag Ryan). Disponível em

<http://filmesresumos.blogspot.com.br/2011/10/cidade-dos-anjos-1998.html>

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o. Anjos rebeldes 2 (1998)

-Título Original: The Prophecy 2

-Ano: 1998

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Greg Spence

-Gênero: Terror/Fantasia

-Duração: 87 minutos

-Premiações: Não constam

-Sinopse Comercial80: O anjo Gabriel (Christopher Walken) retorna à Terra para

evitar o nascimento de um nefilim, que é o filho de um anjo com uma mulher, pois a

idéia de um humano com poderes angelicais o desagrada imensamente, estando

disposto a matar para evitar este nascimento. Valerie (Jennifer Beals) engravida do

anjo Danyael (Russell Wong) e se vê envolvida em fatos que não entende totalmente,

mas fica claro que sua vida corre perigo. Quando Daniel mata membros do exército de

anjos de Gabriel, este por sua vez utiliza uma adolescente, que tentou cometer

suicídio e a qual vem mantendo viva, para auxiliá-lo a combater Danyael e outros

anjos81.

-Anjo: Gabriel (Christopher Walken), Danyael (Russell Wong).

-Genealogia: Assim como em Anjos Rebeldes (1995, 1º filme) os anjos fazem menção

a já estarem presentes durante a criação do mundo, ao lado de Deus, tendo assistido

a criação do homem (os tidos como "macacos de Deus" por Gabriel). Danyael é

incurtido no filme na medida em que simula ser atropelado exatamente pelo carro da

enfermeira Valerie (que já havia sido previamente selecionada como a potencial mãe

para o nascimento do neflim).

-Personalidade: Gabriel é interpretado em anjos Rebeldes 2 também pelo ator

Christopher Walken, sua personalidade permanece com os mesmos traços de humor

negro, ardilosidade, porem acrescida de muito mais violência e obstinação. Danyael é

misterioso, doce, calmo, possui extremo senso de proteção em relação a Valerie e

mostra-se um exímio lutador ao enfrentar Gabriel em várias lutas que ocorrem durante

o filme.

-Hierarquia: Ambos, Gabriel e Danyael são da classe dos arcanjos, porem de lados

opostos, Gabriel do inferno, Danyael do céu.

80

Sinopse comercial de "Anjos rebeldes 2" disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-171356/. Acesso em junho de 2013. 81

Estes "demais anjos" não serão aqui detalhados por possuírem participações muito pequenas no filme, com cenas muito curtas e/ou sem momentos de fala.

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90

-Ministério/função: Danyael aparece antes de Gabriel na narrativa. Sua missão é

engravidar Valerine e zelar por sua proteção até que possa nascer um bebê, meio

anjo, meio homem. Na medida em que Gabriel descobre o plano, sua missão passa a

ser matar Valerie, de modo a não permitir que a criança venha a nascer.

-Forma: Gabriel (Christopher Walken) permanece com a mesma aparência e figurino

e Anjos Rebeldes 1, já Russell Wong empresta seus traços asiáticos para a

personagem Danyael. Possui feição de homem calmo, centrado, misterioso e forte.

sua vestimenta é casual. Não há presença de asas ou algum outro elemento angelical

comum das personagens.

Figura 37: Danyael (Russell Wong). Disponivel em < http://www.russellwongfan.com/gal_prophecy.shtml>.

Acesso em maio de 2013.

Figura 38: Gabriel (Christopher Walken). Disponível em < http://www.screenjunkies.com/movies/movie-

lists/5-occult-movies-that-worship-the-devil-or-something-worse/> Acesso em maio de 2013.

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p. Dogma (1999)

Título Original: Dogma

Ano: 1999

País de Origem: Estados Unidos

Direção: Kevin Smith

Gênero: Comédia

Duração: 128 minutos

Premiações: Framboesa de ouro82/ Indicação:Pior Atriz Coadjuvante:Salma Hayek.

Sinopse Comercial83: O mundo corre o risco de desaparecer. Tudo por causa de

Bartleby (Ben Affleck) e Loki (Matt Damon), dois anjos expulsos do céu e que querem

retornar a qualquer custo. Para tanto, eles têm um plano: cruzar o portal de uma igreja

em Nova Jersey para, absolvidos de seus pecados, poderem retornar ao paraíso. Só

que tal ato provaria que Deus falível e, como consequência, a realidade se

desmancharia. Para evitar que a tragédia ocorra montada uma equipe de combate aos

anjos, formada pela última descendente de Jesus Cristo (Linda Fiorentino), um 13º

apóstolo negro (Chris Rock), dois profetas (Jason Mewes e Kevin Smith) e uma Musa

Inspiradora (Salma Hayek).

Anjo: Bartleby (Ben Affleck) e Loki (Matt Damon).

Genealogia: Bartleby e Loki denotam terem sido criados juntamente com o universo,

quando deus criou o homem, acompanhando a evolução da humanidade ao longo dos

séculos.

Personalidade: Bartleby e Loki tem personalidade sábia por conta de concentrarem

as informações do céu e da terra e segredos da humanidade e da criação, porém são

atrapalhados e possuem um humor negro bastante aguçado; São obstinados por suas

tarefas. Loki, que o início aparenta ser o mais revoltado e comete assassinatos em

nome de Deus contra pessoas que ele considera pecadoras, se contrapõe a Bartleby,

mais pacífico e mostrando ser o “racional” da dupla; Porem ao final fica exposto que

Bartleby possuía seus sentimentos de revolta reprimidos, tomando atitudes mais

drásticas e inconsequentes, aos olhos de Loki, que torna-se o mais sensato.

82

Framboesa de Ouro (Razzie Awards) trata-se de uma premiação que parodia a premiação do Oscar, elegendo os piores filmes do ano e demais categorias (ator, atriz, roteiro, diretor etc). O premio foi fundada em 1980; Possui indicação, votação por internautas e cerimônias em que a maioria dos "premiados" não costuma comparecer. 83

Sinopse comercial de "Dogma" disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-22214/. Acesso em junho de 2013.

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Hierarquia: Ambos apresentam como terem tudo ligação direta com deus em um

"passado" onde o serviam, após de terem sido expulsos do céu por rebelarem-se e

configuram na narrativa como "anjos caídos" na terra.

Ministério/função: Bartleby (Ben Affleck) e Loki (Matt Damon) são dois anjos

expulsos do céu e que querem retornar. A única alternativa é cruzar o portal de uma

igreja em Nova Jersey para, sendo assim absolvidos de seus pecados, retornando ao

paraíso. Durante a trama (na qual atuam como os antagonistas) não fazem uso de

características comuns aos anjos como proteção ou benevolência, pelo contrário,

utilizando ameaças, ousadia, violência e idéias um tanto atrapalhadas buscando seus

objetivos; Porem, por tratar-se de uma comedia, nem mesmo uma chacina ao final os

torna malvados, pois tudo é justificável pela sede de justiça que possuem por

considerarem um erro terem sido expulsos do céu e considerar em que os humanos

são mais privilegiados que os anjos pela questão de poder “escolher” se crêem ou não

em Deus.

Forma: Humana, masculina, jovens. Trajes esportivos como camiseta e moletom na

forma humana; Já na forma "angelical' apresentam-se com armadura, escudo,

grandes asas brancas e a capacidade de voar; Citam serem assexuados.

Figura 39: Bartleby (Ben Affleck) e Loki (Matt Damon). Disponível em

<http://www.cinema.de/bilder/dogma,1309099.html>.Acesso em maio de 2013.

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93

Figura 40: Bartleby (Ben Affleck). Disponível em: <http://www.iluminerds.com.br/iluminamos-dogma/>

Acesso em maio de 2013.

Figura 41: Mecatron. Voz de Deus. Personagem não é apresnetada como Anjo no filme, mas possui forma semelhante, cita ser assexuado e em uma cena expõe suas asas. Disponível em:

<http://www.iluminerds.com.br/iluminamos-dogma/> Acesso em maio de 2013.

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q. Anjos rebeldes 3: o ascendente (2000)

-Título Original: The Prophecy 3: The Ascent

-Ano: 2000

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Patrick Lussier

-Gênero: Fantasia, Mistério, Terror

-Duração: 84 minutos

-Premiações: Não constam

-Sinopse Comercial84: O anjo Gabriel (Christopher Walken) tem morado na Terra,

onde apreendeu a desfrutar de simples prazeres dos humanos, como dirigir um carro

ou saborear um rosquinha. Uma noite ele testemunha Daniel (Dave Buzzotta), um

pregador herege, dizer para os seus seguidores que Deus não tem nenhum plano para

os que vivem na Terra e o que acontece é obra do acaso. Então um cego, que

reivindica ouvir a voz de Deus, atira várias vezes no peito de Daniel. No entanto,

várias horas depois dele ser declarado morto, Daniel sai da sua gaveta no necrotério e

vai para a rua. A aturdida e inconformada Maggie (Kayren Butler), a namorada de

Daniel, conhece Zofael (Vincent Spano), um anjo amaldiçoado que necessita do

coração de Daniel, já que só assim morrerá realmente, para seus demoníacos

propósitos.85

-Anjo: Gabriel (Christopher Walken), Daniel (Dave Buzzotta), Zofael (Vincent Spano)

-Genealogia: Idem Anjos Rebeldes 1 e 2.

-Personalidade: Gabriel, diferentemente de Anjos Rebeldes 1 e 2, encontra-se

"definitivamente" na terra. Sua personalidade é diferente dos demais filmes. Está

imerso em uma espécie de experimentação da vida humana, com seus pequenos

prazeres, que vão de dirigir "de cabelos ao vento" a comer guloseimas. Atua como o

"protetor" do protagonista do filme, primeira vez que atua nesta condição nos filmes da

série. Daniel (ou Danyael, em língua inglesa) não e considerado especificamente um

84

Sinopse comercial de "Anjos rebeldes 3: o ascendente" disponível em: www.adorocinema.com/filmes/filme-34738/. Acesso em junho de 2013. 85

Sinopse a acrescentar: "Danyael (Dave Buzzota), um garoto pregador de rua, é assassinado em uma

igreja. Após sua morte tem uma introspectiva viagem de descoberta. Danyael ainda não sabe de missão

que terá que cumprir, até que Pyriel (Scott Cleverdon), o cruel anjo do genocídio surge com o exército dos

anjos rebeldes para reforçar o poder do mal, promovendo guerra no céu e no inferno. Danyael, filho de

um anjo e uma mulher é a única pessoa capaz de evitar a matança. No entanto, Gabriel (Christopher

Walken) um anjo decaído, tem sido seu guardião secreto e o ajuda a descobrir a reais intenções de Pyriel.

Agora Danyael terá que deter Pyriel numa batalha do bem e do mal para defender os vivos e os mortos

antes que a humanidade seja destruída". Disponível em:

http://www.forumnow.com.br/vip/mensagens.asp?forum=80223&topico=2978943. Acesso em junho de

2013.

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anjo, mas um "Nephilin", filho de uma mulher humana com um anjo (continuação de

Anjos Rebeldes 2, trata-se do filho de Valerine), é o protagonista da historia, uma

espécie de justiceiro apocalíptico, mas que na verdade esta sendo enganado. É forte,

obstinado, mas ao mesmo tempo sonhador e ingênuo por não perceber a presença do

mal. Zofael é o "executor operário" do mal. É cruel, fiel ao seu senhor, ardiloso e usa

um certo ar de sedutor para vencer seus obstáculos.

-Hierarquia: Não fica especificada, mas dá-se a entender que Gabriel permanece na

classe dos arcanjos, Daniel como Nephlin, Zofael como um 'arcanjo' do inferno-

Ministério/função: Daniel tem como função salvar o mundo do genocídio; Gabriel tem

a função de proteger Daniel; Zofael tem como função ganhar almas para o inferno e

promover a guerra entre céu e inferno para destruir a humanidade.

-Forma: Daniel: forma humana masculina, jovem, figurino social, cabelos levemente

longos; Zofael: forma humana masculina, asiático, cabelos levemente longos, figurino

clássico, na maioria das vezes usa coletes; Gabriel: Diferente dos filmes anteriores,

Gabriel passa a ter cabelos longos, desgrenhados, usa casaco sobretudo, luvas e tem

uma aparência de andarilho.

Figura 42: Zofael (Vincent Spano). Disponível em <http://www.doblu.com/2012/09/02/the-prophecy-3-the-

ascent-review/>. Acesso em março de 2013.

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Figura 43: Daniel (Dave Buzzotta). Disponível em <http://patjacksonpodium.blogspot.com.br/2013/04/the-

prophecy-3-ascent-2000.html> Acesso em março 2013

Figura 44: Gabriel (Christopher Walken). Disponível em: <http://ardilvirtual.blogspot.com.br/>

Acesso em março de 2013.

r. Sem notícias de Deus (2001)

-Título Original: Sin noticias de Dios

-Ano: 2001

-País de Origem: França, Espanha, Itália, México

-Direção: Agustín Díaz Yanes

-Gênero: Comédia. Fantasia

-Duração: 1hora e 35minutos

-Premiações: GOYA/Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor - Agustín Díaz Yanes,

Melhor Atriz - Victoria Abril, Melhor Ator Coadjuvante - Gael García Bernal, Melhor

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Maquiagem, Melhor Desenho de Produção, Melhor Trilha Sonora, Melhor Direção de

Arte, Melhor Roteiro Original, Melhor Som, Melhor Edição.

-Sinopse Comercial86: O céu está vazio, o inferno está cheio. Cada alma é disputada

com unhas e dentes pelos dois espectros. Quando parece que uma contusão no

cérebro vai encerrar a vida do boxeador mexicano Manny (Demián Bichir), duas

agentes sobrenaturais são enviadas para tentar conquistar sua alma: uma é um anjo

de um céu que se parece exatamente com o melhor de Paris e onde todos falam

francês. A outra é uma garçonete do inferno, enviada para seduzi-lo a passar o resto

da eternidade numa prisão pintada de vermelho, onde todos falam inglês.

-Anjo (s): Lola (Atriz Victoria abril), Carmem (Atriz Penelope Cruz)

-Genealogia: Lola e Carmem compõe a narrativa como anjas, porém Lola sendo uma

anja do bem e Carmem do mal; Lola trata-se de uma agente do céu, que no passado

já foi humana com profissão relacionada a política, devido à sua boa índole, é no céu

uma estrela, cantora de grande sucesso; Já Carmem, quando humana era um

gângster e como castigo tornou-se uma "anja do mal" em corpo de mulher, servindo

aos interesses do inferno;

-Personalidade: Lola, anja do bem, é compassiva, delicada, dedicada na profissão de

cantora (estrela no céu); Na terra em sua missão cumpre o papel da "esposa perfeita",

dedicada com o lar, o marido, o emprego de balconista de mercado, não deixando

transparecer que possui vantagens em relação ao marido; Já Carmem no inferno é

uma garçonete ousada, intolerante, sensual, desbocada (atrevida) e revoltada com

sua condição; Ao se encontrarem na terra, Lola permanece com sua personalidade

compassiva e dedicada, apesar de temerosa com Carmem; Já Carmem começa a

assumir traços de comportamento homossexual (devido a ter sido gângster em sua

vida terrena); Ambas, de formas distintas, travam uma guerra pela alma de Manny,

boxista fracassado marido de Lola e "primo" de Carmem; Lola usa o amor e a

compreensão para com o marido em seu dia a dia; Já Carmem usa da sensualidade e

de "maus conselhos" para conseguir seu objetivo; Ao final, Lola amplia sua

personalidade demonstrando apesar da fragilidade, saber ser firme e até violenta

quando necessário, passando por cima de si mesma. Carmem, do mesmo modo,

mostra também apesar da revolta e maldade, ter compaixão e misericórdia.

-Hierarquia: Lola é um anjo devido a ter sido uma "alma boa" em vida; Possui uma

chefe representante do céu na terra e dela cumpre ordens; Carmem é um anjo do

inferno devido a ter sido um gângster em sua vida terrena, no inferno é abusada por

homens e está em um "patamar" do inferno do qual quer sair (o inferno é apresentado

86

Sinopse comercial de "Sem notícias de Deus" disponível em:

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-33987/. Acesso em junho de 2013.

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com escalas, como pisos a serem almejados, onde os mais baixos são piores e os

mais altos com maiores regalias); Por ser uma das piores garçonetes do inferno é

chamada por Lúcifer e seus assistentes para ganhar uma alma para o inferno,

deixando-o em vantagem em relação ao céu.

-Ministério/função: Lola (para o céu) e Carmem (para o inferno) tem a missão de

conseguir a alma de Manny, um boxeador em fim de carreira. A alma de Manny torna-

se o único objetivo de ambas para que seja declarado um dos lados vitoriosos;

Porem, apesar de Carmem a princípio lutar a favor do inferno, recebe o pedido do

próprio Lúcifer para que deixe Manny em vantagem para o céu, pois suspeita de um

complô de seus assistentes no inferno para tirá-lo do cargo de chefe; Assim, juntas,

Carmem e Lola passam ao final a lutar para Manny ser julgado como uma boa alma,

apesar de seus pecados.

-Forma: Ambas são mulheres entre 30 e 40 anos; Lola é loira e com traços mais

clássicos e delicados, traja roupas discretas; Carmem é morena e com traços mais

exóticos e sensuais; Traja roupas provocantes e por vezes é completamente

masculina em seu andar e vestir.

Figura 45: Lola (Victoria Abril), Carmem (Penelope Cruz) (Manny, ao centro). Disponível em

<http://forum.foreignmoviesddl.org/viewtopic.php?f=18&t=23949>. Acesso em março de 2013.

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Figura 46: Lola (Victoria Abril), Carmem (Penelope Cruz). Disponível em

<http://forum.foreignmoviesddl.org/viewtopic.php?f=18&t=23949>. Acesso em março de 2013.

s. O céu pode esperar (2001)87

Original: Down To Earth

Ano: 2001

País de Origem: Estados Unidos

Direção: Chris Weitz, Paul Weitz

Gênero: Comédia

Duração: 101 min

Premiações: Não constam

Sinopse Comercial88: Lance Barton (Chris Rock) é um comediante negro que tem por

sonho atuar em uma lendária casa de show em Nova York antes que ela feche suas

portas para sempre. Porém, em uma noite ele acaba sendo atropelado por um

caminhão e morre. Ao chegar ao paraíso, ainda sem saber direito o que tinha ocorrido,

ele conhece King (Chazz Palminteri) e Keyes (Eugene Levy), os anjos que o retiraram

da Terra por engano. Para corrigir seu erro, King oferece a Lance que ele retorne à

Terra novamente em outro corpo, proposta esta que é aceita. Porém, ao chegar

novamente à Terra Lance percebe que agora é Charles Wellington (Brian Rhodes), um

poderoso empresário branco que é inimigo de Sontee (Regina King), a mulher pela

87

Releitura de "Que espere o Céu" (1940 e 1978). 88

Sinopse comercial de "O céu pode esperar" disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-

28948/>. Acesso em junho de 2013.

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qual Lance é apaixonado. Com isso, enquanto Sontee busca se aproveitar do dinheiro

de Wellington para projetos filantrópicos, Lance irá aproveitar seu novo corpo para

enfim poder realizar seu grande sonho.

Anjo: King e Keyes

Genealogia: Não mensionada

Personalidade: Keyes é o anjo intermediário, executor das ordens de "King". É, acima

de tudo, atrapalhado, devido ao equívoco que comete em retirar seu protegido da terra

antes da hora. É ansioso e se esmera para corrigir seu erro. Tem personalidade mais

infantil e engraçada que King. King, é o "chefe", aquele que pode resolver o problema

causado por Keyes. Possui um humor sutil, ar de maturidade e confiança em suas

atitudes de anjo há longo séculos. Sabe ser rígido sem ser severo e deixa

transparecer sua docilidade ao abrir exceções para Lance desfrutar de seu romance.

Hierarquia: Não é apresentada em específico, mas King trata do anjo "chefe" do céu e

Keyes é um de seus subordinados, ajudantes, intermediário entre o King e os homens.

Ministério/função: King é o "administrador" do céu e da "rotina' de chegada das

almas no paraíso; Keyes é um de seus assessores, contato direto com os recém

"mortos" chegados ao céu. Na história, ambos deixam seus postos para dedicarem-se

exclusivamente à missão de corrigir o erro de ter enviado precocemente Laurence

para o paraíso. Acham um novo corpo para Laurence, temporário, enquanto buscam

outro corpo "jovem, atlético e negro" (a pedido de Laurence) para substituí-lo.

Forma: King e Keyes são senhores com cerca de 40 anos, vestem-se com ternos

azuis-celestes. King é mais sóbrio, Keyes possui estampas que simulam o céu em seu

terno e usa óculos (aspecto nerd). Ambos possuem cabelos curtos, escuros e observa

que usam algum tipo de fixador para deixar o penteado impecável. O traje formal de

ambos também justifica-se pelo Paraíso onde trabalham ser semelhante a um

Cassino, onde existem outros homens de smoking, bebendo, fumando e jogando em

roletas da sorte.

Figura 47: Kneys (esquerda) e King (direita).Disponível em

<http://www.hollywood.com/photos/misc/470728/down-to-earth#732470/1> Acesso em março de 2013.

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t. Anjos rebeldes 4: a guardiã do destino (2005)

-Título Original: The Prophecy 4: Uprising

-Ano: 2005

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Joel Soisson

-Gênero: Terror

-Duração: 98 minutos

-Premiações: Não constam

-Sinopse Comercial89: Allison (Wührer Kari), uma jovem mulher, que ajuda um padre

numa igreja, descobre a existência de um livro, o Léxicum, que contém textos secretos

da Bíblia até hoje não publicados. Agora ela é a guardiã da fé da humanidade e

começa a ser perseguida por um estranho ser que muda de corpo, sem antes mutilar.

Alison é guiada por mensagens de uma voz que tenta ajudá-la a se livrar do perigo. Ao

mesmo tempo um policial da Interpol passa a acompanhar outro tira na investigação

de um serial killer que arranca o coração de suas vítimas. Na Terra, o bem e o mal vão

se encontrar numa horripilante batalha, que pode mudar o destino dos homens.

-Anjo: Belial (Doug Bradley), Lucifer (John Luz).

-Genealogia: Belial é um ex assistente de Lucifer que decide rebelar-se, pertence a

classe dos querubins (caídos), Lúcifer, por ser seu superior, pertence a classe dos

arcanjos. De forma dedutiva, em especial pelo filme ser uma sequência de seus três

antecessores, ambos já existem desde a criação da homem no universo.

-Personalidade: Belial é um anjo rebelado dentro do universo de Lúcifer. Por invejá-lo

e achar que o inferno está "parado de mais" resolve assumir o posto de líder de uma

rebelião; É obstinado, intrépido, ousado e um tanto irônico. Lúcifer, em exceção à

regra, é o "anjo bom" do filme; Auxilia os Nephlins contra Belial; É protetor, inteligente,

misterioso e suas ações vão contra o princípio do mal no inferno;

-Hierarquia: Beliel é um querubim caído, assistente de Lúcifer, arcanjo do inferno.

-Ministério/função: Beliel tem como missão encontrar o livro "Léxico", que conta com

o capítulo 23 da Bíblia relatando a guerra entre os anjos. Belial, que era leal a Lúcifer,

agora quer obter alguma vantagem com a guerra dos anjos. Ele está frustrado pela

"inércia" de Satanás e agora quer um inferno agressivo. Satanás, que tinha

inicialmente se opôs a Deus por seu amor para os seres humanos, ajuda os seres

humanos a lutar contra Belial, por não querer concorrência em seu inferno.

89

Sinopse comercial de "Anjos rebeldes 4: a guardiã do destino" disponível em: http://www.cinefis.com.br/anjos-rebeldes-4-a-guardi-do-destino/filme/48712. Acesso em junho de 2013.

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-Forma: Belial, interpretado pelo ator Doug Bradley, é um senhor idoso, calvo,

franzino. Traja roupas sociais e um sobretudo semelhante a um detetive; Lucifer (John

Luz) é jovem, de boa aparêcia, seus olhos em alguns momentos são negros (sem

pupilas), traja roupas pretas e largas.

Figura 48: Belial (Doug Bradley). Disponível em: <http://dougbradley.yuku.com/topic/911/Prophecy-

Uprising> Acesso em março de 2013.

Figura 49: Lucifer (John Luz) e Alison. Disponível em: <http://dtvcimage.blogspot.com.br/2013/07/the-

prophecy-uprising-2005.html> Acesso em março de 2013.

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u. Anjos rebeldes 5: renegados (2005)

-Título Original: The Prophecy: Forsaken

-Ano: 2005

-País de Origem: Estados Unidos

-Direção: Joel Soisson

-Gênero: Suspense; Horror; Fantasia

-Duração: 75 minutos

-Premiações: Não constam

-Sinopse Comercial90: Os anjos desertores procuram aqui na Terra o livro que revela

o nome daquele que dará início ao Armagedon. Sabe-se apenas que é um homem

com quatro marcas distintas no corpo, o Anti-Cristo. O guardião deste livro tão

poderoso é a bela Allison que é perseguida sem dó por forças diabólicas. São cenas

arrepiantes entre o bem e o mal.

-Anjo: Lúcifer (John Luz), Stark (Tony Todd)

-Genealogia: Idem ao mesmo item de anjos rebeldes 4; Passa a fazer parte da

história "Stark", o líder dos anjos renegados nominados como " Thrones". Pela

sabedoria e postura, dá a entender estar na terra desde seu princípio, quando Deus

criou o homem.

-Personalidade: Por ser uma continuação exata de Anjos Rebeldes 4, Lúcifer e

Alyson (interpretados pelos mesmos atores do filme anterior) permanecem com as

mesmas características. Start, integrado a história, é ambicioso, manipulador,

chantagista e obsecado em conseguir o livro "Lexicon" a fim de conhecer os segredos

do Armageddon e descobrir o nome do anti cristo contido lá;

-Hierarquia: Lúcifer e Stark são da classe dos arcanjos; Alysson é uma nephlin (meio

homem, meio anjo);

-Ministério/função: Lúcifer permanece cm a missão de auxiliar Alysson; Alysson,

mais do que nunca, é a responsável em proteger o sagrado livro do Léxico. Stark é o

responsável em trazer a verdade cruel para Alison, de que ela é uma nephlin criada

apenas como ferramenta para proteger o livro, tendo desde o princípio seu

concebimento como criança apenas com esse objetivo. Alisson tem neste filme a

possibilidade de se auto-conhecer, onde após a queda em um precipício, que faz as

páginas do Léxico se perderem, voando para diferentes lugares, poder curar-se

90

Sinopse comercial de "Anjos rebeldes 5: renegados" disponível em: http://www.cinefis.com.br/anjos-

rebeldes-5-renegados/filme/48736. Acesso em junho de 2013.

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usando seus poderes de nephlim, aflorando assim seu lado anjo, até então

desconhecido.

-Forma: Lucifer é protagonizado pelo mesmo ator de Anjos Rebeldes 4 (John Luz),

Stark, interpretado pelo ator Tony Todd é alto, negro e forte, acrescentando mais um

membro do lado obscuro (mal) do filme.

Figura 51: Lúcifer (John Luz), Disponível em

< http://www.doblu.com/2012/09/23/the-prophecy-forsaken-review/>. Acesso em março de 2013.

Figura 50: Stark (Tony Todd). Disponível em

< http://www.doblu.com/2012/09/23/the-prophecy-forsaken-review/>. Acesso em março de 2013.

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v. Angel-a (2005)

-Título Original: Angel-A

-Ano: 2005

-País de Origem: França

-Direção: Luc Besson

-Gênero: Comédia/ Romance

-Duração: 90 minutos

-Premiações: Não constam

-Sinopse Comercial91: As muitas dívidas de André (Jamel Debbouze), um zé-

ninguém de 28 anos, o mantém preso a perigosíssimos gângsteres. Prestes a cometer

suicídio atirando-se de uma das mais altas pontes de Paris, André nota a presença de

um outro suicida - na verdade outra, uma linda loura (Rie Rasmussen). Depois de

resgatá-la das turbulentas águas que correm sob a ponte, André e a misteriosa mulher

descobrem que ambos têm muito mais coisas em comum do que imaginam.

-Anjo: Angela (Rie Rasmussen)

-Genealogia: Não é mencionada, porém Angela traz em suas falas menção de

inquietude e desespero por ela mesma não saber de seu passado e quando e como

foi concebida como anjo.

-Personalidade: Angela é misteriosa, sensual, extremamente ousada e com ar de

destemida; Traz em suas atitudes toda a coragem e atitude que André (seu protregido)

não possui, como modo de mostrar a ele um novo modo de impor-se diante do mundo.

É generosa e amável em alguns momentos, fazendo André perceber além de sua

beleza exterior, a bondade de seu coração; É também violenta em alguns momentos,

diante de situações que exigem sua força em especial diante de homens que pensam

ser ela prostituta; É sensual sem ser vulgar, com a sabedoria de perceber o quanto

seu corpo lhe abre portas em sua passagem pela terra; Porem, mais ao final do filme,

Angela mostra-se temerosa em relação aos sentimentos que nutriu por André,

mostrando-se confusa, complexa, medrosa e desesperada ao tentar abandoná-lo por

acreditar que o relacionamento entre os dois nunca seria possível e não compreender

os sentimentos que nasceram em seu coração.

Hierarquia: Não fica explícita a hierarquia de Angela na condição de anjo.

Ministério/função: Angela foi enviada para auxiliar Andre, uma espécie de golpista

bondoso, a não ser assassinado por agiotas e demais bandidos com os quais

mantinha negócios e empréstimos, além de fazê-lo perceber o quanto poderia ser uma

91

Sinopse comercial de "Angel-A" disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-61511/. Acesso em junho de 2013.

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106

pessoa boa se resgatasse a bondade que já habitava em seu coração e era nítida em

seus olhos; Tem como primeiro desafio fazer André compreender e permitir que uma

mulher tão bela pudesse interessar-se em ajudá-lo; Depois disso o convence de que é

um anjo e consegue convencê-lo a usar sua sensualidade e beleza para atrair dinheiro

de forma a quitar as dívidas de André e viverem em Paris por alguns dias, comendo

em barracas de lanche e dormindo em hotéis; Quando consegue fazer André ser um

homem forte, convicto de suas potencialidades e pode abandoná-lo, é surpreendida

por um sentimento de amor do qual julga preceder um envolvimento que não poderia

ter, com isso, torna-se extremamente confusa e frágil, sendo então a vez de André

mostrar a ela como vencer este desafio e deixar-se descobrir o amor.

Forma: Angela cita que ainda no céu, após terem lhe dado a missão de auxiliar André,

vai para o "quarto de vestir" onde escolhe uma forma humana para vir a terra; Quando

André a questiona de "o que ela estava interpretando" diz ter escolhido a forma

"prostituta" e achar estar se divertindo; Angela é extremamente alta, magra, loira de

cabelos curtos e usa um vestido muito curto e saltos altos durante todo o filme; Ao

final, em sua tentativa de retorno para o céu, mostra suas imponentes asas brancas

que a fazem voar pelo céu de Paris.

Figura 52: Angela (Rie Rasmussen) e André (Jamel Debbouze). Disponível em

<http://www.fanpix.net/0703804/012048859/angela-s-eyes-2006-large-picture.html> Acesso em março de

2013.

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107

Figura 53: : Angela (Rie Rasmussen) e André (Jamel Debbouze). Disponivel em

<http://www.superiorpics.com/rie_rasmussen/movie-picture/2006_angel_a_002_big.html> Acesso em março de 2013.

Figura: Angela (Rie Rasmussen) sobrevoando Paris. Figura 54: Angela (Rie Rasmussen) sobrevoando Paris. Disponível em

<http://forum.ladypopular.com/viewtopic.php?f=22&t=42354> Acesso em março de 2013.

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x. Constantine (2005)

Título Original: Constantine

Ano: 2005

País de Origem: Estados Unidos, Alemanha

Direção: Francis Lawrence

Gênero: Suspense

Duração: 121 minutos

Premiações: Não constam

Sinopse Comercial92: Constantine é um caçador de demônios que nasceu com um

dom, um presente como dito no filme. Ele consegue ver coisas que um ser humano

normal não enxerga. John Constantini desde criança sofreu com estas visões e por se

achar "maluco" resolve se matar. No filme diz que ele ficou morto por ligeiros minutos,

mas que como foi um suicida passou estes minutos no inferno. "Pode acreditar,

minutos no inferno são uma eternidade". O filme relato que o mundo que vivemos é

um mundo no meio de outros dois mundos, o céu e o inferno e que existe uma disputa

entre Deus e o Diabo para quem dominará este mundo. No início do filme Izabel, uma

poderosa "médium" suicida-se por ser escolhida pelo filho de Satanás, Mamom para

servir de portal para o nascimento dele no mundo dos homens. Sua irmã gêmea,

policial que negou o seu dom quando criança vivencia a morte da irmã e a descoberta

de que a mesma foi para o inferno por suicidar-se e resolve, junto com Constantine

investigar os motivos que levaram sua irmã a cometer o suicídio. O que ela menos

esperava é que Mamom havia descidido trocar sua escolha por ela, utilizando a

"Lança do Destino", que matou Jesus sacrificando-a com a ajuda do Anjo Gabriel para

passar a nosso mundo. Constantine tem a missão de impedir este acontecimento e

livrar-se de seu trágico destino, por ser um fumante descontrolado desde os 15 anos,

de morrer de câncer nos próximos meses e evitar o inferno por ser um suicida.

Anjo: Gabriel (Tilda Swinton), Lúcifer (Peter Stormare)

Genealogia: Há menção de Gabriel, por conhecer o segredo dos homens e as

especificidades do pensamento de Deus, ser "eterno" e ter sido criado por Deus antes

do universo. Lúcifer, com sua já conhecida genealogia de Anjo Caído implícita, luta

para dar vida a seu filho Mamon, na terra.

Personalidade: Gabriel, em uma forma andrógena e exótica, é bastante dissimulado;

Apesar de frágil em aparência, sua força se dá pela sabedoria e forma como

chantageia Constantine. É ousado, intrépido, arquitetando seu plano de auxiliar

92

Sinopse comercial de "Constantine" disponível em:

http://www.cienciashumanas.com.br/resumo_artigo_2250/artigo_sobre_filme_-_constantine. Acesso

em junho de 2013.

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Satanás no nascimento de um filho que terá como missão dominar o mundo. Porem,

na medida em que Constantine consegue acabar com os planos de Satanas, Gabriel

torna-se inseguro e desesperado, luta, usa a força do corpo, o poder de voo dos anjos,

a agilidade, mas ainda assim é derrotado. Como castigo de Deus, Gabriel "perde' suas

asas (cortadas) ao final do filme e torna-se humano, mas apesar da condição que

considera extremamente degradante, ainda assim propõe a Constantine uma rebelião

contra Deus, o que dá a ele um tom cômico, tamanho seu desespero. Lucifer é

"asqueroso", característica reforçada por sua forma de falar, seus olhos frios e suas

insinuações e deboches. Torce para a votória do mal, para o fracasso de Constantine;

É irônico e oportunista, usando de chantagem para atingir seus objetivos e as forças

do inferno que possui.

Hierarquia: Gabriel é um arcanjo. Lúcifer o oposto de Deus, líder do inferno.

Ministério/função: Lúcifer busca na narrativa dar vida a seu filho Mammon no campo

humano, através do ventre de uma mulher médium; essa seria a forma de finalmente o

inferno possuir o controle da terra, e ser superior ao céu. Lucifer busca ainda

aproveitar-se do câncer de Constantine para levá-lo ao inferno, tendo em vista este

não ter fé (condição primordial para ir para o céu). Gabriel, a princípio é um anjo sábio

e bom, pertencente a Deus, mas a partir das promessas de Lúcifer e somando a sua

revolta com os homens, passa a auxiliar Lúcifer a conseguir dar um nascimento

humano a Mamon; Gabriel, ainda no início do filme, mais lúcido, dá conselhos a

Constantine sobre como funciona a salvação, o fé e Deus. Ao final, mostra-se

desesperado e infiel, pois depois de ter perdido suas asas (condição por ter servido a

dois senhores ao mesmo tempo: Deus e Lucifer), torna-se humano, e busca com

fracos argumentos convencer Constantine a continuar com a guerra entre céu e

inferno.

Forma: Gabriel, interpretado por Tilda Swinton, é andrógeno, assexuado, possui

cabelos loiros, cacheados, parte longos, parte curtos; Pele extremamente branca e

corpo frágil e franzino, o que o torna ágil em saltos e ao "aterrissar" em algumas cenas

ou lutar fisicamente em outras. Suas roupas são sempre claras, com sobreposição de

panos, tiras de pano etc. Possui asas que aparecem em alguns momentos do filme,

asas escuras, de cor cinza, que destoam da 'brancura" de sua aparência. Lúcifer traja

sempre a cor branca, em ternos clássicos; Interpretado pelo ator Peter Stormare, sua

maldade transborda em seus olhos azuis, mas sempre vermelhos, como se

estivessem irritados; suas olheiras também são vermelhas e parece em alguns

momentos com aparência de quem acaba de chorar. Possui muitas tatuagens, pretas

e com formas tribais pontiaguadas;

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Figura 55: Gabriel (Tilda Swinton). Disponível em

http://www.nytimes.com/imagepages/2005/02/06/arts/06devr_CA0ready.html> Acesso em março de 2013.

Figura 56: Lucifer (Peter Stormare). Disponível em < http://www.themovies.co.za/2013/02/20/guilty-

pleasures-constantine/> Acesso em março de 2013.

y. Gabriel: a vingança de um anjo (2007)

Título Original: Gabriel

Ano: 2007

País de Origem: Austrália

Direção: Shane Abbess

Gênero: Ação

Duração: 113 minutos

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Premiações: Não constam

Sinopse Comercial93: O anjo caído Sammael quer conquistar o mundo em nome da

escuridão. Com a ajuda de seus perversos cúmplices ele está transformando tudo em

escuridão, vícios, crueldade e violência. A vitória de Sammael estava garantida até a

chegada de Gabriel, o último dos sete arcanjos do céu. Gabriel é jovem, forte e o

mais nobre guerreiro já visto desde que Michael, seu antecessor, desapareceu.

Rapidamente a coragem e os atributos de Gabriel ameaçam dizimar o mal de

Sammael e redimir Jade, o anjo perdido com o coração de ouro. Mas Sammael possui

uma última carta nas mangas: o segredo do seu próprio passado, um conhecimento

que pode destruir Gabriel para sempre.

Anjo (s): Gabriel (Andy Whitfield), Uriel (Harry Pavlidis), Amitiel/Jade (Samantha

Noble), Ithuriel (Matt Hylton Todd), Raphael (Jack Campbell), Michael (apenas citado

pelos demais, sem se fazer presente na história).

Anjos Caídos: Sammael (Dwaine Stevenson), Asmodeus (Michael Piccirilli), Balan

(Brendan Clearkin), Ahriman (Kevin Copeland), Lilith (Erika Heynatz).

Genealogia: Há menção de que todos os anjos bons, criados por Deus, são eternos,

presentes no universo antes de seu início, "criaturas de Deus". Os anjos maus vieram

com a queda de Lúcifer, mas não há menção em específico da origem de cada um.

Personalidade:

Gabriel: Gabriel é enviado para o Purgatório para substituir Michael, seu antecessor

que fracassou ao ser derrotado pelos anjos caídos na missão de trazer a luz para o

purgatório, derrotando as trevas. É obstinado por sua missão, beirando a teimosia, não

compreende porquê os demais anjos de luz, que habitam no purgatorio, optaram em

esconder-se e aceitar a condição em que vivem. Têm compaixão especialmente por

Jade (anjo Amitiel, escravizada como prostituta), por quem se apaixona e a tem como

aliada em sua missão, protegendo-a e cativando os demais anjos a lutarem com ele.

Uriel: Uriel é o anjo mais próximo do protagonista Gabriel, aparenta em um primeiro

momento certa covardia e passividade, por ter optado em esconder-se longe da

civilização do "purgatorio", vivendo em um trailler; É resistente em auxiliar Gabriel na

missão de lutar contra os anjos caídos, mas aos poucos, para proteger o amigo, que

considera ingênuo em tentar lutar, começa a participar dos planos de Gabriel e

retomar atitudes com seus poderes de anjo, antes adormecidos.

Amitiel/Jade: Anjo do lado da luz, é a personagem com maior variação de

personalidade, iniciando sua história como uma prostituta conformada com sua

condição, fazendo uso de drogas para "anestesir-se" do sofrimento da profissão, é

93

Sinopse comercial de "Gabriel: A vingança de um anjo" disponível em: http://www.interfilmes.com/filme_18853_gabriel.a.vinganca.de.um.anjo.html. Acesso em junho de 2013.

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revoltada com a maldade dos homens e desacreditada da regeneração de sua vida.

Após ser resgatada por Gabriel, é motivada a buscar sua força angelical novamente

(Jade já foi o anjo Amitiel). Inicia-se um romance entre Gabriel e Jade, ele lutando

contra as forças do mal e ela, por ser compassiva e apaziguadora, aconselhando

Gabriel a não fazer uso de violência, mas sim, sabedoria.

Ithuriel: Possui um bom coração, mas é desacreditado da possibilidade de vitória do

bem contra o mal. Tem sua ação de bondade, apesar de passiva, traduzida no ato de

fazer sopa diariamnete para oferecer alimento as almas do purgatório.

Raphael: Um anjo bom, porem já desacreditado das possibilidades do bem vencer o

mal. Impelido por Gabriel, retoma suas forças (deixadas de lado até a chegada de

Gabriel, por ter decidido ser um homem comum, a fim de passar desapercebido pelos

anjos caídos no purgatório).

Sammael: É o anjo caído líder dos demais. Obstinado por seu objetivo de fazer as

trevas vencerem a luz. É ardiloso, meticuloso em suas ações estrategicamente

pensadas e consegue a submissão dos demais com base em ameaças e crueldade.

Asmodeus: Dentre os anjos caídos, faz o papel "cômico", como o anjo atrapalhado.

Balan: Com uma participação em apenas uma cena, Balan é sádico e asqueroso, sem

piedade ao tentar estuprar Jade.

Ahriman: É revoltado e tem como característica principal a insubordinação a seu líder

Sammael, por querer tomar seu posto.

Lilith: Mostra-se uma mulher com certo rancor, ódio dos homens e das forças da luz e

que, implicitamente, faz uso da sensualidade para conseguir seus objetivos.

Hierarquia: Os Anjos de luz demonstram estarem subservientes a Gabriel, que é

arcanjo (servo de Deus); Já os anjos das trevas, servem a Sammel.

Ministério/função:

Gabriel: Um Arcanjo comprometido e respeitado, Gabriel é ocasionalmente imprudente

e teimoso. Ele aspira a imitar seu mentor mais forte e mais sábio, Michael, que não

aparece no filme, mas é citado como um bravo guerreiro anterior a Gabriel que não

conseguiu vencer sua missão, sendo destruído pelos anjos caídos.

Uriel: Uriel é o diplomata dos Arcanjos, preferindo trégua do que o conflito com os

anjos caídos. Depois de ter sido corrompido pelo "purgatório", espaço onde a narrativa

é mostrada, como uma espécie de planeta terra decaído, Uriel foge da "cidade" e vive

isolado, longe dos anjos caídos e mantendo ocultos seus poderes manifestados

através de energia, para que os anjos caídos não possam senti-lo.

Amitiel/Jade: Amitiel é o anjo com capacidade de nutrir e curar, essas habilidades são

maiores do que suas habilidades em combate, porem é destruído e como castigo é

transformado pelos anjos caídos em uma prostituta para servi-los (Jade). Como Jade,

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uma prostituta com um coração de ouro, ela se apaixona por Gabriel, tentando-o a

abandonar sua busca por guerra contra os anjos caídos, já desacreditada na força do

bem e traumatizada com a invencibilidade do mal no purgatório.

Ithuriel: É um Arcanjo de coração compassivo, mas não acredita ser forte o suficiente

para lutar contra a escuridão. Ele opta em abrir uma cozinha de sopa como uma forma

de chegar às almas do purgatórioe viver "camuflado" como uma pessoa comum.

Raphael: Conhecido por suas habilidades de liderança, o Arcanjo Rafael é impedido

de lutar a guerra no purgatório. Depois que recebe um tiro quase fatal "cura-se"

fazendo uso de suas forças angelicais e é "sentido" pelos anjos caídos, necessitando

assim auxiliar Gabriel em sua missão, como forma de proteção e última tentativa de

fazer a luz venecer as trevas.

Sammael: É o anjo caído mais temido e fiel ao mal. Procura o controle da cidade

(purgatório) e acabar com cada um dos anjos bons, seguidores da luz.

Asmodeus: Também um anjo caído, é brincalhão e pervertido. Asmodeus opta por

permanecer caído, a fim de satisfazer seus desejos carnais.

Balan: Anjo caído e sádico, ele bate e tenta estuprar Amitiel (participação em apenas

uma cena do filme).

Ahriman: Em alguns momentos confronta Sammael, seu líder. Propõe a caçar e matar

Gabriel imediatamente após sua chegada e persegue-o constantemente.

Lilith: Personagem feminina do lado "mal", Lilith tem um forte ódio dos homens. Ela é

impulsionado por este instinto para lutar contra os anjos de luz.

Forma: Todos os anjos possuem forma humana, conforme imagens a seguir:

Figura 57: Gabriel (Andy Whitfield).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

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Figura 58: Uriel (Harry Pavlidis).

Disponível em < http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

Figura 59: Amitiel/Jade (Samantha Noble).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

Figura 60: Ithuriel (Matt Hylton Todd).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

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Figura 61: Raphael (Jack Campbell).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

Figura 62: Sammael (Dwaine Stevenson).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

Figura 63: Asmodeus (Michael Piccirilli).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

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Figura 64: Balan (Brendan Clearkin).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

Figura 65: Ahriman (Kevin Copeland).

Disponível em <http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

Figura 66: Lilith (Erika Heynatz).

Disponível em < http://thecia.com.au/reviews/g/gabriel/> Acesso em março de 2013.

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w. Legião (2010)

Título Original: Legion

Ano: 2010

País de Origem: Estados Unidos

Direção: Scott Stewart

Gênero: Fantasia

Duração: 100 minutos

Premiações: Não constam

Sinopse Comercial94: Deus perdeu a fé na humanidade e enviou o anjo Michael (Paul

Bettany), juntamente com uma legião de anjos, para dar início ao apocalipse.

Entretanto, ao chegar Michael resolve se opor às ordens recebidas e proteger os

humanos. O palco da batalha será no interior dos Estados Unidos, onde fica uma

lanchonete gerenciada por Bob Hanson (Dennis Quaid) e seu filho Jeep (Lucas Black).

Juntamente com Charlie (Adrianne Palicki), uma garçonete grávida, e Percy Walker

(Charles S. Dutton), eles precisam encontrar um meio para sobreviver aos anjos que

desejam exterminá-los a todo custo.

Anjo: Miguel/Michael (Paul Bettany) e Gabriel (Kevin Durand)

Genealogia: É mencionado apenas Michael ter sido um anjo enviado diretamente por

Deus.

Personalidade: Michael é protetor, forte, obstinado por sua tarefa em salvar as

pessoas boas que permaneceram na terra e preservar a vida da mulher que carrega

no ventre a esperança (um filho) da retomada de um novo universo, do bem. É

altruísta e rígido em sua função de liderar o grupo, manter sua "equipe" viva e derrotar

os demônios.

Hierarquia: Arcanjo

Ministério/função: Quando Deus perde a fé na humanidade, ele envia seu exército de

anjos, liderados por Gabriel para iniciar o Apocalipse. A única esperança da

humanidade está num grupo de pessoas estranhas entre sé e em Miguel. Miguel (Paul

Bettany) que vai para a cidade de Los Angeles, onde corta suas asas e invade uma

loja coreana de brinquedos importados que esconde armas de fogo. Na saída da loja

confronta com dois policiais, quando um deles é possuído e mata o outro. Miguel mata

o policial possuído e rouba sua viatura. Ele chega em uma lanchonete isolada,

próximo ao deserto de Mojave, que se torna um campo de batalha onde será decidida

a sobrevivência ou extinção da raça humana.

94

Sinopse comercial de "Legião" disponível em:<http://www.adorocinema.com/filmes/filme-134196/>.

Acesso em junho de 2013.

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Forma: Michael é um homem forte, com aparência de soldado de guerra; Possui cerca

de 35 anos, usa tatuagens tribais e vestimentas e equipamentos militares (arma,

granada, colete, botas). Gabriel possui aparência de "anjo guerreiro" com imponentes

asas escuras, e armadura reluzente.

Figura 67: Michael (Paul Bettany) defendendo Charlie (Adrianne Palicki).

Disponível em < http://filmreviewonline.com/2010/01/22/legion-paul-bettany/> Acesso em março de 2013.

Figura 68: Gabriel (Kevin Durand). Disponível em

<http://www.hotflick.net/movies/2010_Legion/kevin_durand.html> Acesso em março de 2013.

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119

2.4. Filmografia angelológica: considerações técnicas

A partir da filmografias apresentadas, podemos observar que em um

paralelismo de dados de cunho quantitativo, temos a seguinte relação:

FILME ANO DIREÇÃO PAÍS GÊNERO PREMIAÇÃO

A QUE

ESPERE O CÉU

1941 Alexander

Hall Estados Unidos

Comedia/ Fantasia/R

omance

Indicação ao Oscar de Melhor Roteiro/ Melhor História Original- 1942

(Roteirista Harry Segall); O filme faz parte da lista dos 1000 melhores filmes de todos os tempos do jornal

The New York Times.

B

A FELICIDADE

NÃO SE COMPRA

1946 Frank Kapra

Estados Unidos

Comédia dramática/ Fantasia

Em 1947/ 19º Oscar, foi indicado como Melhor

Som.

C UM ANJO CAIU DO

CÉU 1947

Henry Koster

Estados Unidos

Comédia/ Romance

1948/ 20º Oscar: Melhor Som

D ANJOS E PIRATAS

1951 William Dear

Estados Unidos

Comedia/ Fantasia/ Drama/ Esporte

Não constam

E BARBAREL

LA 1968

Roger Vadim

França/ Itália

Ficção Científica

Não constam

F O CÉU PODE

ESPERAR 1978

Warren Beatty /

Buck Henry

Estados Unidos

Comédia/ Romance

Oscar/ 1979: Melhor Direção de Arte. Globo de Ouro/ 1979: Melhor Ator: Warren Beatty/ Melhor

Atriz Coadjuvante: Dyan Cannon.

Indicações ao Oscar/ 1979: Melhor Filme, Melhor

Diretor - Warren Beatty e Buck Henry, Melhor Ator -

Warren Beatty, Melhor Ator Coadjuvante - Jack

Warden, Melhor Atriz Coadjuvante - Dyan

Cannon, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção

de Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original.

G

AS AVENTURA

S DE UM ANJO

1985 Cary

Medoway Estados Unidos

Comédia Não constam

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120

H ASAS DO DESEJO

1987 Wim

Wenders

Alemanha

Ocidental/

França

Drama

Festival de Cannes/ 1987: Melhor Diretor; Bafta/

1989/ Indicação: Melhor Filme em língua não-inglesa; César/ 1988/

Indicação: Melhor Filme Estrangeiro; Independent

Spirit Awards /1989: Melhor Filme Estrangeiro; European Film Awards/ 1988: Melhor Diretor,

Melhor Ator Coadjuvante (Curt Bois); Mostra São Paulo/ 1988: Prêmio do

Público.

I TÃO

LONGE, TÃO PERTO

1993 Wim

Wenders Aleman

ha

Drama, Fantasia, Romance

Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de

1993. Indicado ao Globo de Ouro de melhor canção original em 1994 - por "Stay", da

banda U2.

J OS ANJOS ENTRAM

EM CAMPO 1994

William Dear

Estados Unidos

Comédia/Drama/Esporte/Fantasia

Não constam

K ANJOS

REBELDES 1995

Gregory Widen

Estados Unidos

Terror /Fantasia

Não constam

L MICHAEL: UM ANJO SEDUTOR

1996 Nora

Ephron Estados Unidos

Comédia. Romace

Não constam

M

POR UMA VIDA

MENOS ORDINÁRIA

1997 Danny Boyle

Estados Unidos e Reino Unido

Comédia

MTV Movie Awards/ Indicações: Melhor

Sequência de Dança/ Melhor Canção Original -

"Deadweight".

N CIDADE

DOS ANJOS 1998

Brad Silberling

Estados Unidos

Romance. Espiritualist

a.

Globo de Ouro/ Indicação: Melhor Canção Original -

"Uninvited"; Grammy/ Indicações: Melhor Canção

Original - "Uninvited" Melhor Trilha Sonora -

Cinema.

O ANJOS

REBELDES 2

1998 Greg

Spence Estados Unidos

Terror Fantasia

Suspense Não constam

P DOGMA 1999 Kevin Smith

Estados Unidos

Comédia Framboesa de ouro: Indicação:Pior Atriz

Coadjuvante:Salma Hayek

Q

ANJOS REBELDES

3: O ASCENDEN

TE

2000 Patrick Lussier

Estados Unidos

Fantasia, Mistério, Terror

Não constam

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121

R SEM

NOTÍCIAS DE DEUS

2001 Agustín

Díaz Yanes

França, Espanha, Itália, México

Comédia. Fantasia

GOYA/ Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor - Agustín Díaz Yanes,

Melhor Atriz - Victoria Abril, Melhor Ator Coadjuvante - Gael García Bernal, Melhor

Maquiagem, Melhor Desenho de Produção, Melhor Trilha Sonora,

Melhor Direção de Arte, Melhor Roteiro Original,

Melhor Som, Melhor Edição.

S O CÉU PODE

ESPERAR 2001

Chris Weitz, Paul

Weitz

Estados Unidos

Comédia Não constam

T

ANJOS REBELDES

4: A GUARDIÃ

DO DESTINO

2005 Joel

Soisson Estados Unidos

Fantasia, Mistério, Terror

Não constam

U

ANJOS REBELDES

5: RENEGADO

S

2005 Joel

Soisson Estados Unidos

Suspense; Horror;

Fantasia Não constam

V ANGEL-A 2005 Luc Besson França Comédia/ Romance

Não constam

X CONSTANTI

NE 2005

Francis Lawrence

Estados Unidos, Aleman

ha

Suspense Não constam

Y

GABRIEL: A VINGANÇA

DE UM ANJO

2007 Shane Abbess

Austrália

Ação Não constam

W LEGIÃO 2010 Scott

Stewart Estados Unidos

Fantasia Não constam

Tabela 1: Filmografia angelológica: considerações técnicas. Ano/direção/país/gênero/premiação.

Os dados apresentados nos indiciam alguns aspectos na ordem dos títulos, do

ano de lançamento, diretor, país de origem, gênero e as premiações obtidas que

geram os seguintes apontamentos de análise:

-Na ordem dos títulos, levando em consideração apenas a tradução para a

língua portuguesa, que na maioria dos filmes se mostra fiel ao original, 13 filmes

apresentam já no título a indicação de tratarem-se de "Anjo" ou "Anjos"; Para os

demais, as indicações de Deus, Céu, Legião e Asas oferecem indícios da temática; Há

ainda os genéricos como Angel-A e Barbarella (nomes femininos), Constantine,

Dogma, Tão Longe Tão Perto e A felicidade não se compra; De modo geral, observa-

se que a temática Anjo, não tão comum em relação as demais personagens-temas do

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cinema, já busca no nome das produções deixar claro ao espectador de que

encontrará naquele filme, se não uma personagem anjo, elementos do universo

angelológico.

-Na ordem dos anos de produção, iniciados em nosso levantamento em 1941-

primórdios do cinema- e findados em 2010, podem-se elencar características

importantes sobre a popularidade da temática: Nos anos 40, encontram-se três

produções. Nos anos 50, 60 e 70, apenas uma por ano. Nos anos 80, duas. Observa-

se que é a partir da década de 90 que as produções tornam-se mais expressivas,

complementadas por filmes no estilo Disney, mais voltados ao público infantil e o início

da série Anjos Rebeldes; Nos anos 90, nove filmes encorpam as produções na

temática, porém cabe lembrar que quatro deles são apenas da série Anjos Rebeldes,

o que faz-nos compreender que, apesar da tecnologia cinematográfica estar mais

avançada, o tema em específico foi menos abordado. Porém, é fundamental

lembramos de que devido ao nosso recorte, a temática terror dentre outras, não foram

contempladas. Os filmes em que os "anjos de luz" não apareciam, dando lugar a

outros formatos como seres vampirescos, alados, ou os "anjos bons" não tinham este

nome em específico, mas eram caracterizados como outras criaturas (duendes,

homens com superpoderes, fantasmas etc.) são infinitamente vastos , em especial no

início do século XXI. Neste período, o universo da literatura fantástica traduzida ao

cinema ganhou extrema força e espaço, em especial junto ao público infanto juvenil.

Como conjectura, fica nos a impressão de que, talvez, a possibilidade das tecnologias

digitais criarem "outras criaturas fantásticas" fez o anjo, em seu formato caricato

convencional/tradicional, não ser mais tão atrativo.

-No quesito diretores que estiveram a frente de filmes com a temática Anjo(s),

o aprofundamento na trajetória profissional de cada um não é aqui nosso objetivo,

porem é inegável que nomes como Frank Kapra, 1946; Roger Vadim, 1968; Wim

Wenders, 1987-1993; Agustín Díaz Yanes 2001 e Luc Besson, 2005 são os mais

expressivos, mas ainda assim, não são capazes de colocar a temática angelológica

como uma das preferidas dos grandes diretores; Tratando-se de senso comum, Asas

do Desejo é uma "renomada exceção", por ter o nome do diretor Wim Wenders como

propulsor da obra e, a obra, como propulsora da carreira de Wim Wenders.

-Em relação aos países de origem dos filmes, é comum a maioria das

produções, de berço hollywoodiano ter os Estados Unidos como criadores, porém

cabe como observação que a Alemanha, com Wim Wenders em suas duas produções,

premiadas, em especial Asas do Desejo e a França, com um filme de Augustin Dias

Yanes, premiados com festivais expressivos (Goya, Cannes etc.) nos dão indícios de

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que a quantidade estadunidense não é páreo para a qualidade de demais países que

se lançaram em obras que abordaram a temática/personagem.

-No que se refere as premiações do filme com o tema "Anjo(s)", observa-se

que a categoria "Melhor Roteiro" ou "Melhor Filme" praticamente não aparece. Na

década de 40, os três filmes produzidos tiveram indicação de melhor som (técnica em

aperfeiçoamento para o período, se levada em conta a história do cinema), com Um

Anjo Caiu do Céu sendo vencedor na categoria, na premiação do Oscar. Em 1978, O

Céu pode Esperar consagra-se como filme como melhor direção de arte (Oscar) e tem

várias indicações, em especial dentro de seu elenco como melhores atores e atrizes

(principal, coadjuvante etc.); Mas é em 1987, com Asas do Desejo, que "o mundo"

pode botar olhos na temática angelológica, consagrando Wenders como melhor diretor

(Festival de Cannes), dentro outras premiações de menor escala como melhor filme e

incluindo, no Brasil, o prêmio do público na Mostra São Paulo. Após este, apenas a

releitura do filme de Wenders, Cidade dos Anjos, foi premiada como melhor canção e

Sem notícias de Deus teve várias indicações ao prêmio Goya (premiação espanhola).

Por fim, reitera-se que a análise posta com base em dados quantitativos,

sucintamente, nos servirá de auxílio e retomada para as conclusões de ordem

qualitativa e de análise semiótica a serem expostas em capítulo final deste trabalho.

2.5 Filmografia angelológica: análise das personagens

Conforme já exposto, os filmes contemplados tiveram suporte metodológico

baseado na forma de análise descrita no primeiro capítulo, em especial pelo autor

Charles Ryrie, onde com as características de Forma; Genealogia; Hierarquia;

Personalidade; Ministério/Função, descrevemos as referenciações judaico-cristãs,

permeadas por citações de embasamento bíblico, das quais o imaginário angelológico

muito se alimentou/alimenta ao longo dos séculos; A partir dos filmes apresentados,

neste momento propomos uma confrontação analítica entre as características teóricas

expostas e as evidenciações práticas que as filmografias nos foram capazes de

propiciar. A tabela a seguir foi construída com o objetivo de, de forma melhor

estruturada, fornecer os elementos qualitativos para essa análise:

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124

FILME

ANJO/NOME

FORMA GENEALOGIA HIERARQUIA

A QUE ESPERE

O CÉU

Sr.º Jordan e o

Mensageiro 7013

2 homens invisíveis aos humanos,

cabelos e olhos escuros, meia

idade.Vestimentas formais (ternos)

Não mencionada

Mensageiro e assistente

B A FELICIDADE

NÃO SE COMPRA

Clarence

Homem idoso, cabelos claros, olhos escuros.Vestimentas formais (terno) e uma espécie de túnica em

algumas cenas.

Não mencionada em

específico, Clarence cita

"estar" no céu a 200 anos.

Asssitente (Anjo

"incompleto")

C UM ANJO CAIU

DO CÉU Dudley

Homem, cerca de 35 anos, cabelos e olhos escuros.

Vestimentas formais (terno).

Não mencionada

Não mencionada

D ANJOS E PIRATAS

Gabriel *não possui forma

material, apenas voz. Não

mencionada Não

mencionada

E BARBARELLA Pygar

Homem, porém com asas e roupas

mínimas, apenas uma espécie de "saia" angelical;

Cerca de 25 anos, cabelos loiros, olhos

azuis.

Não mencionada

Não mencionada.

F O CÉU PODE

ESPERAR

Sr.º Jordan e seu Anjo Assistente

2 homens "invisíveis aos humanos", de

meia idade, cabelos e olhos escuros.

Não mencionada

Mensageiro e assistente

G AS

AVENTURAS DE UM ANJO

Bobby

Homem, adolescente, cabelos e olhos escuros, em estilo rebelde (veste

jaqueta de couro, calça jeans).

Ex-humano que após a morte

virou anjo

Não mencionada

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125

H ASAS DO DESEJO

Damiel e Cassiel

2 homens de meia idade, cabelos ao ombro,Damiel de cabelos e olhos

escuros, Cassiel, claros. Ambos usam casaco sobretudo.

Mencionam como existentes desde a criação

do mundo, como criaturas feitas por Deus.

Não mencionada

I TÃO LONGE, TÃO PERTO

Raphaela e Cassiel

Cassiel, homem de meia idade, cabelos

e olhos claros; Raphaela, mulher, jovem, cerca de 28

anos, cabelos longos loiros e olhos claros. Ambos usam casaco

sobretudo.

Mencionam como existentes desde a criação

do mundo, criaturas

criatuiras por Deus.

Não mencionada

J OS ANJOS

ENTRAM EM CAMPO

*Sem nomes

específicos

Homens de cerca de 30 anos, com longas

túnicas brancas, asas e auréoloas.

Voam.

Não mecionada Não

mencionada

K ANJOS

REBELDES

Gabriel, Uziel, Lucifer

Homens, Uziel e Lucifer, cerca de 35 anos, cabelos (até os

ombros) e olhos claros, trajando

sobre tudo. Gabriel é mais velho (cerca de

50 anos), cabelos escuros curtos, olhos

claros.

Fazem menção a já estarem presentes na terra antes da

criação do homem.

Arcanjos

L MICHAEL: UM

ANJO SEDUTOR

Michael

Homem, com asas e cabelos escuros até o ombro, levemente

acima do peso, olhos claros.

Mensiona-se apenas que

"caiu do céu"

Não mencionada

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126

M POR UMA

VIDA MENOS ORDINÁRIA

Gabriel, O'Reilly, Jackson

Dois homens. Gabriel, homem de meia idade, perfil executivo (veste ternos brancos); O'Reilly, homem

negro de meia dade. Jackson, mulher,

media de 40 anos, loira. O'Reilly e Jackson usam

roupas acinzentadas, normalmente com

sobretudo

Não mencionada

Não mencionada

N CIDADE DOS

ANJOS Seth Plate ,

Cassiel

Seth tem forma humana, olhos claros, cabelos

curtos escuros, cerca de 40 anos, veste rupas escuras, na maioria das vezes sobretudo. Cassiel tem a mesma faixa

etária, é negro e usa roupas iguais as de

Seth.

Fazem menção a já estarem presentes na terra antes da

criação do homem.

Não mencionada

O ANJOS

REBELDES 2 Gabriel, Danyael

Dois homens. Gabriel idem Anjos Rebeldes 1. Russell Wong empresta seus traços asiáticos para

a personagem Danyael. Sua

vestimenta é casual.

Fazem menção a já estarem presentes na terra antes da

criação do homem.

Arcanjos (um do céu, outro do inferno)

P DOGMA Bartleby e

Loki

Humana, masculina, jovens. Trajes

esportivos como camiseta e moletom na forma humana;

Na forma "angelical' apresentam-se com armadura, escudo,

grandes asas brancas e a

capacidade de voar; Citam serem

assexuados.são fisicamente

parecidos, sendo Bartleby moreno e

Loki loiro.

Mencionam como existentes desde a criação

do mundo, como criaturas feitas por Deus.

Não mencionada

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Q

ANJOS REBELDES 3:

O ASCENDENTE

Gabriel, Daniel, Zofael,

4 homens; Daniel, jovem, figurino social, cabelos

escuros levemente longos; Zofael,

asiático, cabelos escuros levemente

longos, figurino clássico, na maioria

das vezes usa coletes; Gabriel:

cabelos compridos, claros,

desgrenhados, usa sobretudo, luvas e tem uma aparência

de andarilho;

Idem Anjos Rebeldes 1 e 2

Arcanjos

R SEM NOTÍCIAS

DE DEUS Lola e

Carmem

Mulheres, entre 30 e 40 anos; Lola é loira e com traços mais

clássicos e delicados, traja

roupas discretas; Carmem é morena e

com traços mais exóticos e sensuais;

Traja roupas provocantes e por

vezes é completamente

masculina em seu andar e vestir.

Ex-humano que após a morte

virou anjo

Anjos que servem a

líderes maiores, (ex. outros anjos e Lúcifer), sem nominar em especifico a hierarquia.

S O CÉU PODE

ESPERAR King e Keyes

2 homens, cerca de 40 anos, vestem-se com ternos azuis-

celestes. King é mais sóbrio, Keyes possui

estampas que simulam o céu em

seu terno e usa óculos (aspecto nerd). Ambos

possuem cabelos curtos, escuros.

Não mencionada

King é "chefe do céu" e Keyes seu assistente

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T

ANJOS REBELDES 4: A GUARDIÃ

DO DESTINO

Belial, Lucifer

2 homens. Belial, senhor idoso, calvo,

franzino. Traja roupas sociais e um

sobretudo semelhante a um detetive; Lucifer é

jovem, de boa aparêcia, olhos

negros, em alguns momentos sem

pupilas, traja roupas pretas e largas.

Idem mesmo item de anjos rebeldes 4;

Beliel é um Querubim

Caído, assistente de

Lúcifer, Arcanjo do

inferno.

U ANJOS

REBELDES 5: RENEGADOS

Lúcifer, Stark,

Lucifer idem Anjos Rebeldes 4; Stark é

alto, negro, forte, usa tatuagens e traja roupas pretas.

Idem mesmo item de anjos rebeldes 4;

Lúcifer e Stark são Arcanjos;

Alysson é uma Nephlin

(meio homem, meio anjo);

V ANGEL-A Angela

Angela é extremamente alta.

Magra, loira de cabelos curtos e usa

vestido em cor escura, bastante

curto e saltos altos. Tem aparência de

modelo, mas devido aos trajes é

semelhante a uma prostituta. Em cena

final, mostra imponentes asas

brancas.

Não é mencionada, porém Angela menciona ela mesma "não saber de seu

passado e quando/como foi concebida como anjo.

Não mencionada

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X CONSTANTINE Gabriel

Gabriel é andrógeno, assexuado, possui

cabelos loiros, cacheados, parte

longos, parte curtos; Pele extremamente

branca e corpo frágil. Suas roupas são

sempre claras, com sobreposição de panos, tiras etc. Possui asas que

aparecem em alguns momentos do filme, asas escuras, de cor

cinza. Lúcifer traja sempre branco, em

ternos clássicos;Tem olhos azuis, mas,

como se estivessem irritados; Possui

muitas tatuagens, pretas e com formas tribais pontiagudas;

Menciona como existente desde

a criação do mundo e do

homem, como criatura feita por

Deus.

Gabriel é um Arcanjo.

Lúcifer, líder do inferno.

Y GABRIEL: A

VINGANÇA DE UM ANJO

Gabriel , Uriel,

Amitiel, Jade,

Ithuriel, Raphael , Michael,

Sammael, Asmodeus,

Balan, Ahriman,

Lilith

Os Anjos Gabriel , Uriel, Ithuriel,

Raphael , Michael vestem-se com

roupas casuais mas bastante "surradas";

Com exceção de Uriel, o mais velho,

os demais são homens, jovens, cerca de 30 a 35

anos; Jade/Amitiel é morena, jovem,

cerca de 25 anos; Nas primeiras cenas

seu figurino é de prostituta, passando depois a usar roupas largas e claras, com alguns babados; Os

anjos caídos (Sammael,

Asmodeus, Balan, Ahriman) trajam-se

com mais acesessórios de guerra e peças típicas como

coturnos e coletes. Lilith usa figurino que

lembra roupas sensuais,

mazoquistas.

Há menção de que todos os anjos bons, criados por Deus, são eternos,

presentes no universo antes de seu início,

como "criaturas de Deus". Os anjos maus

teriam surgido com a queda de

Lúcifer.

Os Anjos de luz

demonstram estarem

subservientes a Gabriel, que é arcanjo; Já os anjos das

trevas, servem a

Sammel, sem nominar suas classes em especifico.

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W LEGIÃO Miguel, Gabriel

2 homens. Michael é um homem forte, com aparência de soldado de guerra; Possui cerca de 35 anos, usa tatuagens tribais e vestimentas

e equipamentos militares (arma, granada, colete, botas). Gabriel

possui aparência de "anjo guerreiro" com

imponentes asas escuras, e armadura

reluzente.

Há apenas menção de

Michael ter sido um anjo enviado diretamente por

Deus.

Arcanjos

Tabela 2: Filmografia angelológica: considerações técnicas. Nome do Anjo/ forma/ genealogia/

hierarquia.

2.5.1. O nome dos Anjos

Apesar da Bíblia relatar a existência de milhares e milhares de Anjos, apenas

três destes são chamados por nomes, sendo estes: Gabriel, Miguel e Rafael. Os

demais nomes tão comuns não apenas em filmes, mas na literatura e no senso

comum, pertencem em parte a anjos específicos do judaísmo (que alem dos três anjos

cristãos cita outros como Metatron, Camel, Tsadkiel, Raziel etc), islamismo (onde além

dos três do cristianismo é acrescido Azrael), espiritismo e astrologia (além de outras

religiões ou seitas), nesta última, por exemplo, encontram-se citações de nomes como

Cassiel, Uriel, Anael, Samuel etc. Não cabe aqui como proposta uma análise

aprofundada da origem de cada um dos nomes apresentados nas filmografias, mas

elencar alguns pontos em comum no intuito de melhor compreendermos como o

"nome dos anjos" vem sido apresentados através do cinema.

Primeiramente, é importante a compreensão de que o sufixo "el", tão comum

nos nomes angelicais, possui origem em línguas como fenício, aramaico e acadiano;

Em hebraico, "el" é colocado como o "acima", "alto", "elevado" e não aparece na Bíblia

judaico-cristã apenas em nome de Anjos, como podemos constatar com Samuel,

Israel, Emanuel (referindo-se a Jesus Cristo), Natanael, Salastiel, Isabel dentre vários

outros.

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Na língua portuguesa o sufixo é traduzido como "Deus" ou "de Deus" sendo os

prefixos o "verbo" que determina uma espécie de dom a criatura que o possui, como

por exemplo: Isab (consagrada) el: de Deus= Isabel; Rafa (curado, sarado); el: de

Deus= Rafael, Migu ou Mik (igual a, igualado) el: Deus= Miguel95,Mikael, Micael; Gabri

(enviado) el: de Deus= Gabriel, dentre vários outros (RYRYE; 2004).

Iniciando nossa análise em relação aos três Anjos da Bíblia judaico cristã,

Gabriel, Miguel e Rafael, em relação aos filmes selecionados, podemos observar que:

-Gabriel aparece em dez produções, sendo elas: Anjos e Piratas, Anjos Rebeldes

(1,2,3,4,5), Por uma Vida menos Ordinária, Constantine e Gabriel: a vingança de um

anjo e Legião.

-Miguel consta em Legião e a variação "Michael" em Gabriel: A Vingança de um Anjo

e Michael: Um Anjo Sedutor.

-Rafael aparece como Raphael em Gabriel: A Vingança de um Anjo e como Raphaela

em Tão longe, Tão perto.

Já para os demais com sufixo "el" temos ainda: Damiel e Cassiel (Asas do

desejo), Uziel (Anjos Rebeldes), Cassiel (cidade dos Anjos), Danyael (Anjos Rebeldes

2), Zofael e Pyriel (Anjos Rebeldes 3), Uriel, Amitiel, Ithuriel e Sammael (Gabriel: A

Vingança de um Anjo).

Dentre os demais anjos que não encaixam-se nas duas categorias acima, mas

aparentam ter nomes mais "comuns" encontramos: Jordan, Dudley, Pygar, Bobby,

O'Reilly, Jackson, Lola, Carmem, Seth, Bartleby e Loki. Há ainda os com nomes

possíveis de associações com elementos do universo angelológico, como é o caso de

Clarence (claridade, luz), King e Keys (o rei e a chave para o céu), Angela (referencia

direta a Angel/Angelo) e Mensageiro 7013, oferecendo a este último uma conotação

de fazer parte de uma hoste grandiosa, onde é mais um mensageiro, identificado por

números também significativos em aspecto bíblico, como é o caso do número 7, 70 e

13.

Já em relação ao nome Lúcifer, anjo caído, observamos que se fez presente

nos cinco filmes da série Anjos Rebeldes e em Constantine. Como já posto no capítulo

1, o nome Lúcifer representa "anjo de luz"; Observa-se que no filme Gabriel: a

95 Em hebraico, Miguel significa "aquele que é similar a Deus" (mi-"quem", ke-"como", El-

"deus"), o que é tradicionalmente interpretado como uma pergunta retórica: "Quem é como Deus?" (em latim: Quis ut Deus?), para a qual se espera uma resposta negativa, e que implica que "ninguém" é como Deus. Assim, Miguel é reinterpretado como um símbolo de humildade perante Deus.

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vingança de um anjo, os anjos de luz possuem o sufixo "el" em seus nomes, já a

maioria dos anjos das trevas possuem nomes que remetem ao universo dos deuses

(poste-ídolos) dos quais era comum que as culturas, especialmente a egípcia,

seguissem. Asmodeus, remete ao o demônio do Judaísmo, uma espécie de príncipe

do inferno abaixo de Lúcifer; Ahriman também é um 'deus do mal' na mitologia

babilônica, assim como Lilith, um demônio feminino citado na cabala e em alguns

apócrifos como a "primeira mulher" de Adão, antes de Eva; No mesmo filme ainda a

Balan, que remete ao nome "Baal", no histórico bíblico citado como um ídolo

introduzido em Israel pelo rei Acabe; Havia também Baal-Sebude (que mais tarde

originou o nome Belzebu ou Beliel, no novo testamento, definindo-o como príncipe dos

demônios).

De modo geral, podemos contatar que Gabriel ainda é o anjo de maior

propagação na arte cinematográfica (mais adiante veremos que o que tem sofrido

mudança é a conotação de santidade oferecida a sua imagem); Para os demais, os

sufixos "el" empregados ficam claros no sentido de objetivarem oferecer caráter de

santidade às personagens, assim como o nome de demônios mitológicos oferece

caráter de temor em relação a personalidades "malvadas"; Para os demais nomes, a

maioria "americanizados" como Bob, Seth, Jordan, dentre outros, denotam que não

houve uma intenção angelológica no sentido nominal, muito frequente nas

personagens que tinham como enredo se infiltravam no meio humano, parecendo

"comuns".

2.5.2 A forma dos Anjos

O aspecto forma nesta análise refere-se as características físicas apresentadas pelas

personagens, dentre estas, as dividimos em: O sexo dos Anjos, Cabelos e olhos de

Anjo, Asas de Anjo e Figurino de Anjo.

- O sexo dos Anjos

Conforme exposto no primeiro capítulo, a ideia de que as composições corporais das

representações dos anjos seguem o padrão do "corpo humano" (características

referenciada com citações bíblicas que embasavam o argumento) foi uma constante

em todos os filmes apresentados. Neste aspecto, cabe a observação de que a maioria

das produções apresentavam homens (sexo masculino) representando as

personagens. Foram 46 anjos "homens", com apenas 7 "anjas mulheres" e 1 ser

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andrógeno, caracterizado por Gabriel (nome masculino) mas interpretado pela atriz

Tilda Swinton.

Observa-se que em relação ao caráter assexuado do Anjo, tal aspecto só é

citado no filme Dogma, onde as personagens comentam não possuírem órgão genital

e não saberem compreender como é o sexo entre os humanos. Para os demais, ou a

característica não é levantada ou fica clara a não existência quando a narrativa aborda

um romance com o sexo oposto, "humano (a)", como observado nos filmes: Um anjo

Caiu do Céu, Barbarella, Asas do Desejo, Michael: Um Anjo Sedutor, Cidade dos

anjos, Sem notícias de Deus e Angel-A. O filme Gabriel: A Vingança de um Anjo, é o

único a abordar um romance entre um casal de anjos.

- Cabelos e olhos de Anjo

Na predominância de personagens homens, uma constante é a boa aparência

destes, na maioria das vezes jovens ou de meia idade. Quanto a característica comum

dos anjos barrocos de "cabelos loiros cacheados e olhos azuis" os únicos

representantes da "idéia caricata" são Pygar, do filme Barbarela e Gabriel, de

Constantine; No quesito "cabelos", observa-se que após o filme de Wim Wenders

(Asas do Desejo) outras produções trazem, assim como são apresentados Cassiel e

Damiel, anjos com cabelos levemente compridos, normalmente até os ombros (todos

os anjos da série Anjos Rebeldes, de 1 a 5, possuem essa característica, bem como a

maioria dos 11 anjos de luz ou das trevas do filme Legião). Porem, se contabilizados

todos, anjos de cabelos pretos, curtos e bem alinhados, ainda são a maioria nos

filmes. Em relação a pele, dos 46 anjos apresentados, apenas dois são negros

(Sammael de Legião e O'Reilly de Por uma vida menos Ordinária).

Entre as mulheres, as "anjas" se mostram mais fiéis ao padrão barroco; Angel-

A, Lola (Sem Notícias de Deus), Jackson (Por uma vida menos ordinária) e Raphaela

(Tão Longe/ Tão Perto) e Lílith (Gabriel) são loiras de cabelos longos e olhos claros;

Apenas Jade (Gabriel) e Carmem (atriz Penélope Cruz em Sem Notícias de Deus)

possuem cabelos e olhos escuros;

- Asas de Anjo

De todas as características, as asas são as de maior expressão no universo

angelológico; conforme colocado no primeiro capítulo, através de citações bíblicas,

são elas que distinguem "um ser humano comum" de um anjo. De modo geral, um ser

"alado" já oferece automaticamente a conotação de "vindo do céu". Asas são símbolos

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de leveza, despojamento de "peso", ícones da liberdade, da desmaterialização.

Representam a alma em ascensão e reiteram as características de santidade e poder.

Porem, apesar de podermos em um primeiro momento denotar as asas como um

elemento clássico dos anjos, nas produções analisadas elas aparecem em

pouquíssimas personagens de forma "fixa" (no sentido de estarem "nas costas dos

anjos" todo o tempo): Os Anjos alados são: Pygar (Barbarella); Michael (Um anjo

Sedutor); Gabriel (Constantine) e Gabriel (Legião). Há ainda os Anjos que na maior

parte da narrativa são homens e mulheres de forma comum e apenas ao final, ou em

cenas de "ascensão", as asas são mostradas. São eles: Damiel e Cassiel (Asas do

desejo), Raphaela e Cassiel (Tão longe, Tão perto), Bartleby e Loki (Dogma) e Angela

(Angel-A).

Ainda nesse aspecto, no que se refere a fazer uso das asas para voar,

podemos citar que os anjos que "voam" nos filmes são apenas 5: Pygar, Gabriel

(Constantine), Bartleby, Loki e Angela. A imagem clássica do anjo Cassiel de Wim

Wenders em Asas do desejo, apesar de bela e referencial em tratando-se de "anjos no

cinema", é apenas um instante de toda a narrativa, não chegando a compor uma cena

em movimento, mas um quadro fixo; Cassiel não "voa", apenas "aparece" com asas.

Conjectura-se que devido a tecnologia da época, um "voo" efetivo sobre Berlim exigiria

maiores aparatos técnicos. Barbarella, com Pygar, apesar de ser um filme da década

de 70, anterior ao de Wenders, mostra um voo de Pygar com Barbarella (Jane Fonda)

nos braços, justificado, em nosso entendimento, por Barbarella ser um filme precursor

em vários outros recursos tecnológicos de experimentação de efeitos especiais (é um

filme reconhecido neste aspecto) e estar na categoria "ficção científica"; Os voos são

captados através da tecnologia Chroma -Key96.

Já no quesito de maior plasticidade e beleza das cenas com "anjos a voar",

Gabriel em Constantine oferece vôos baixos, curtos rasantes, e suas asas são as mais

imponentes de todos os filmes nas personagens analisadas. Bartleby e Loki em

Dogma, apresentam voos extremamente altos com tomadas panorâmicas em que o

efeito aplicado é quase imperceptível devido a computação gráfica; Porém, é em

Angel-A, com o voo da atriz Rie Rasmussen, que apresentam-se as cenas mais belas

e avançadas em tecnologia (conforme pesquisas empíricas realizadas, através dos

making-offs da produção, é possível ver o verdadeiro engendramento entre a captação

e pós produção para que tais imagens fossem geradas). Angela, em uma cena

96

Chroma Key: O termo chroma kei pode designar tanto a caixa preta (às vezes chamada de blue box) quanto os efeitos que ela permite realizar, entre os quais, o mais conhecido é a incrustação de partes de uma imagem sobre uma outra, através da anulação de uma cor, em geral o azul. O chroma key é o dispositivo eletrônico que permitiu que se fizesse as primeiras fusões e trucagens eletrônicas seletivas, sem a necessidade de utilização de máscaras e contramáscaras mecânicas. (PARENTE, 1993, p. 281)

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extremamente dramática ao abandonar seu "amado" André, sobrevoa a ponte do rio

Sena em Paris, sendo estas imagens as de maior tradução e verdade na característica

"alada" dos anjos, onde a tecnologia que poderia conotar algo "falso" é minimizada

pelo filme ser em preto e branco.

No que se refere ao elemento "asas" em sí e suas formas, os anjos

apresentados em sua maioria possuem asas na cor branca ou levemente

acinzentadas (Gabriel em Constantine e Bartleby e Loki em Dogma) em tamanhos

avantajados e proporcionais aos corpos dos atores, no que se refere a "aerodinâmica"

para que "levantem voo", quando estes o fizeram.

- Figurino de Anjo

No quesito figurino, não há um consenso clássico do que seria a vestimenta de

um anjo no sentido mais caricato, porem foram elencados alguns "tipos"

predominantes:

-Os sofisticados: A maioria dos anjos "comuns", sem asas, auréolas97 ou

demais elementos, traja-se de modo sofisticado/formal, sendo "anjos de terno e

gravata", retratados em Que Espere o Céu, Um Anjo Caiu do Céu, O Céu Pode

Esperar, Por uma vida menos ordinária e O Céu Pode Esperar. Observa-se que na

medida que os filmes são mais antigos, este tipo de figurino é mais comum, passando

uma imagem de sobriedade e austeridade às personagens.

-Os despojados: Os anjos "despojados" possuem estilos curiosos, como é o

caso de Michael (com macacão jeans, suspensório etc, em algumas cenas), Miguel

(Legião) com figurino militar e a inusitada Angel-A, com um vestido curtíssimo que

justifica como sendo escolhido por ter optado em "descer para terra como uma

prostituta" e ter ido em um "quarto de vestir" onde os anjos passariam, escolhendo

uma "personagem" antes de cumprir sua missão na terra. Há ainda Carmem (Sem

notícias de Deus), que usa roupas sensuais e por vezes masculinas (em alguns

momentos a personagem tem tendências para o lesbianismo) e Bobby, um

adolescente em estilo "rock in roll" com jaqueta de couro e coturnos.

-Os clássicos: Anjos com túnicas ou envoltos em faixas brancas (como a

pintura retrata ao longo dos séculos) são os menos comuns nas narrativas; Tem-se

uma cena com Clarence (A felicidade não se compra) usando uma espécie de estola,

Pygar em Barbarella, envolto em panos mínimos, brancos, e as personagens de "Os

Anjos entram em campo", também com estolas brancas; Gabriel em Constantine, em

97

A característica Aureola não foi elencada como característica angelologica devido a não se fazer presente na maioria dos filmes, apenas em "Os Anjos Entram em Campo" os Anjos possuem esse elemento.

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algumas cenas aparece com roupas "modernas" em estilo andrógeno, claras e com

predominância de faixas, dando a impressão de estar realmente "envolvido(a)" por

pedaços de tecido; É visível uma preocupação da produção do filme com elementos

de moda no figurino de Gabriel, em tendências bastante modernas (em breve

pesquisa informal realizada na internet, o figurino deste anjo foi bastante comentado

devido ao apelo para o design de moda bastante qualificado).

-Os guerreiros: Os anjos com esse apelo nas filmografias variam na

vestimenta, mas tem um comum um ar de certa agressividade passado através do

figurino, é o caso de Gabriel em Legião, usando uma armadura em metal; A armadura

também é uma peça usada nas cenas finais de Dogma, por Bartleby e Loki; Já os

onze anjos do filme Gabriel, por estarem imersos entre uma espécie de "guerra entre o

bem e o mal" possuem muitas peças em couro, jaquetas "surradas", coletes e

acessórios como braceletes, espartilhos (em especial na Anja Lilith, com roupas que

lembram figurino sadomazoquista), largos cintos para fixarem armas, coturnos etc. As

tatuagens também são bastante presentes neste perfil, normalmente na cor preta e em

traços tribais e esotéricos.

-Os de "sobretudo": A peça casaco sobretudo é uma constante nos anjos a

partir do filme de Wim Wenders (Asas do Desejo); Damiel e Cassiel usam a peça,

seguidos de Raphaela em Tão Longe, Tão Perto (também de Wenders); Na série

Anjos Rebeldes, o sobretudo é comum nas personagens, intercalado apenas por

algumas cenas em que "travestidos" de homens comuns, os anjos usam terno e

gravata; A dupla O'Reilly e Jackson também usa a peça na cena de "chegada a terra"

em Por uma vida menos ordinária; Em Gabriel, a peça também aparece nos anjos, em

especial os "caídos"; Mas é em Michael: Um Anjo sedutor (ator John Travolta), que a

peça é justificada mais claramente, despertando para uma maior compreensão de seu

real significado: Havendo a ideia de que os anjos apresentados "vieram do céu" e

habitam na terra, momentaneamente, há a impressão de que estes, possuindo asas,

precisam escondê-las dos humanos, sendo o sobretudo, devido ao comprimento, a

peça que é capaz de oferecer tal emprego e fazê-los passarem "desapercebidos";

Michel, em algumas cenas aparece com sobretudo, sendo possível ver a ponta de

suas asas, abaixadas, despontando na barra do casaco, detalhe ressaltado com um

plano close-up (imagem a seguir); Alem dessa característica, entende-se que no

sentido arquetípico, um anjo é sempre vislumbrado como uma espécie de viajante

atemporal, um detetive da vida humana (normalmente as personagens detetives do

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cinema também fazem uso de sobretudo, tendo como ícone Sherlock Holmes98), uma

figura sem paradeiro específico, sendo assim o casaco, devido a sua comum grossa

espessura e tamanho, adequado para proteção contra o frio e para cobrir a maior

parte do corpo, uma espécie de escudo que protege e ao mesmo tempo camufla sua

"real identidade celeste".

Figura 69: Asas de anjo escondidas no casaco sobretudo (cena de Michael: Um Anjo Sedutor).

Disponível em <http://www.flogao.com.br/trilhassonoras/128359408> Acesso em março de 2013.

2.5.3. Genealogia dos Anjos no cinema

Percebe-se que a questão da genealogia dos anjos no o próprio suporte bíblico

já é bastante sucinta, característica que se mantém nas filmografias apresentadas;

Dentre as obras propostas, observamos que o tema é pouco recorrente ou não muito

98 Sir Sherlock Holmes é um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e escritor Sir

Arthur Conan Doyle. Holmes é um investigador do final do século XIX e início do século XX que aparece pela primeira vez no romance Um estudo em Vermelho [...] Sherlock Holmes ficou famoso por utilizar, na resolução dos seus mistérios, o método científico e a lógica dedutiva. Sherlock Holmes ainda hoje é um dos mais atraentes personagens dos romances policiais. Carismático e astuto, fez do método científico e da lógica dedutiva suas melhores armas. Sua habilidade para desvendar crimes aparentemente insolúveis, transformou seu nome em sinônimo de detetive. (Disponível em <ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sherlock_Holmes> Acesso em junho de 2013).

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preciso, sendo em oito das obras não ter sido sequer mencionada a origem das

criaturas que as protagonizam.

Dentre os fiéis ao escrito bíblico, advindos de Deus e já serem criaturas antes

da criação do homem, tendo assistido essa "implantação" do humano na terra, há

menção no filme Asas do Desejo, em diálogo entre Damiel e Cassiel, reforçado na

sequencia Tão Longe Tão Perto, com Cassiel e Raphaela. Na série Anjos Rebeldes,

os cinco filmes deixam claro também esta ideia, ampliando ainda para a ficção a

conotação de que anjos e homens são antagônicos, onde apesar dos poderes

sobrenaturais que Deus presenteou aos Anjos, deu ao homem o Livre Arbítrio,

característica que não ofereceu aos Anjos; Em Dogma essa questão é levantada em

diálogo entre Bartleby e Loki, colocando que eles, na condição de anjos, precisam

adorar a Deus sem questionar, sempre, não havendo outra alternativa, já o homem,

poderia conhecer a Deus e optar se o aceita, ou não, considerando esta condição

humana um privilégio. Em Anjos Rebeldes, Gabriel (personagem que aparece nas

cinco obras, sempre interpretado pelo ator Christopher Walken) interpreta cenas da

ira referindo-se aos homens como "macacos falantes" e considerando o fato de Deus

ter criado os homens como um erro que gera certa ciúme aos anjos em relação ao seu

criador e suas "criaturas preferidas", referindo-se aos humanos.

Em Constantine a característica se repete, Gabriel também menciona que já

era uma criatura de Deus e que viu os humanos serem criados. Em Gabriel: A

vingança de um anjo, não fica claro este aspecto, porem é ressaltado que os anjos de

luz da trama foram enviados diretamente por Deus para a missão de salvar as almas

do purgatório, enquanto os maus nem sempre existiram, surgiram apenas após a

queda de Lúcifer, não especificando se foram anjos criados por Lúcifer, ou rebelados

de Deus (ex-anjos de luz); Miguel e Gabriel em Legião, do mesmo modo mencionam

terem sido enviados diretamente por Deus.

Há ainda Bobby, em As Aventuras de um Anjo e Lola e Carmem, em Por uma

vida menos ordinária. Estes, demonstram ser uma espécie de reencarnação em

formato de anjo, tendo em vista citarem sobre suas antigas vidas como humanos na

terra, de modo que hoje, ainda em forma humana, após morrerem, ganham um corpo

para cumprir missões como anjos. Michel, em Michel um anjo sedutor cita apenas

como ter "caído do céu"; Clarence em "A felicidade não se compra" é citado como um

anjo que está a 200 anos no céu, sem identificar-se como foi criado.

Porem, o filme onde essa questão identitária de origem é mencionada de forma

mais emblemática e desperta para uma reflexão "alem" do senso bíblico ou das

demais apresentadas, é o filme Angel-A; A personagem Angela deixa implícito que é

uma criatura do céu, enviada diretamente por Deus, porem em uma espécie de crise

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existencial, aos prantos, questiona o fato de não saber como realmente foi criada, se

possui pai, mãe, uma história, um passado, e que admira isso nos humanos, sofrendo

assim por na condição de anjo, não saber 'como' foi feita e 'surgiu', apenas saber 'por

quem' foi feita. Dá nos a impressão de que a fala de Angela traduz uma inquietude que

talvez permeie a própria mente humana, referente a 'como' Deus fez existir as 'coisas'

e as 'criaturas' do universo.

2.5.3. Hierarquia dos Anjos no cinema

Assim como a questão da Genealogia, os aspectos hierárquicos dentro dos

seres angelológicos não possuem um direcionamento precisou ou comum as obras.

Doze obras não fazem menção específica a forma como as criaturas estão

organizadas. Dentre as que nos indicam, tem-se: Os "mensageiros e seus

assistentes", em duplas, presentes em: Que espere o céu, A felicidade não se compra

e O céu pode esperar.

Com nominação de "Arcanjos", em especifico, tem-se os anjos da série Anjos

Rebeldes, com exceção de Lúcifer, nominado como "Querubim" caído; Em Anjos

rebeldes 4 e 5 aparece ainda a figura dos Nephlins designados como meio anjos e

meio homens (citação com embasamento bíblico posta no capítulo 1 deste trabalho).

Em Constantine, Gabriel também é mencionado com Arcanjo, assim como

Miguel e Gabriel em Legião; De forma diferente destas, tem-se em especial em

Gabriel: a vingança de um anjo, as denominações de "anjos" de luz, todos

subservientes a Gabriel, mas sem especificar em que escala hierárquica se

encontram, bem como os anjos das trevas, todos subservientes ao líder Sammael,

também sem a referida especificação.

Em Sem notícias de Deus, Lola e Carmem, na condição de anjas de lados

opostos, possuem uma relação diferente em relação a hierarquia; Carmem, a anja do

inferno, está em um 'andar" do inferno muito inferior ao qual almeja (gostaria de subir

de posição) e para isso é contatada por um casal que intitula-se como uma espécie de

gerente do espaço; Mais tarde, passa a servir diretamente a Lúcifer, o qual chama de

"chefe". Já Carmem, a anja do bem, apesar de ser anjo, é mencionada como uma

"diva", uma estrela que vive no céu onde pode realizar seus sonhos e ser uma cantora

famosa, porem é chamada por sua "gerente do céu" (oposta a gerente do inferno) para

cumprir uma missão especial. A relação de poder hierárquico e subserviência em

relação as escalas neste filme é a melhor apresentada e mostra-se importante para a

narrativa, diferente dos demais, onde a característica não produz impacto direto.

Entende-se que este elemento não se mostra uma preocupação nos filmes,

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conjecturado-se pelo fato deste terem focos bem definidos em apresentarem suas

personagens como sendo "anjos do bem" ou "anjos do mal" de outras formas, através

das falas, personalidades, figurinos e demais elementos da narrativa cinematográfica,

não fazendo uso necessariamente de aporte na hierarquia que as personagens

possuem.

2.5.4. O que fazem os Anjos do cinema

A tabela a seguir tem como objetivo elencar traços da personalidade dos anjos

apresentados nos filmes analisados, bem como, quais suas atribuições dentro da

narrativa. Como método, as características de personalidade são mencionadas

através de adjetivos e as referentes a função/papel na historia com o uso de verbos de

ação, para uma posterior análise qualitativa dos dados:

FILME

ANJO/NOME

PERSONALIDADE MINISTÉRIO/FUNÇÃO

A QUE ESPERE O

CÉU

Sr.º Jordan

e o Mensag

eiro 7013

Ansioso, submisso, temeroso, atrapalhado,

inexperiente

Encaminhar recém falecidos para o céu; Localizar um novo corpo para a " ressurreição" de um "morto" por engano.

B A FELICIDADE

NÃO SE COMPRA

Clarence

Humilde, paciente, atrasado, bondoso, paciente, engraçado,

inusitado

Salvar a vida de um homem e fazê-lo perceber como sua

vida/história sua importância para outras pessoas.

C UM ANJO CAIU

DO CÉU Dudley

Prestativo, arrogante, inusitado, cômico, sedutor

Diretamente, auxiliar um bispo provinciano a não ter sua

igreja fechada; Implicitamente, mostrar ao bispo o quanto sua

esposa e filha, bem como o amor pelas demais pessoas, é

importante.

D ANJOS E PIRATAS

Gabriel Generoso, engraçado

Diretamente, auxiliar um time de baseball a vencer o

campeonato. Indiretamente, ampliar a fé dos integrantes

do time e seus simpatizantes.

E BARBARELLA Pygar Sentimental, forte,

poético, delicado, protetor

Auxiliar a personagem principal a lutar contra o inimigo, protegendo-a e evitando a destruição do

planeta

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F O CÉU PODE

ESPERAR

Sr.º Jordan e seu Anjo

Assistente

Ansioso, submisso, temeroso,

atrapalhado,inexperiente

Encaminhas recém falecidos para o céu; Localizar um novo corpo para a "russurreição" de

um "morto" por engano.

G AS

AVENTURAS DE UM ANJO

Bobby Atrapalhado, rebelde, ciumento, generoso,

ansioso

Ser Anjo da guarda de um garoto com hábitos

semelhantes aos seus, quando humano.

H ASAS DO DESEJO

Damiel e

Cassiel

Sábio, maduro, inteligente, bondoso,

altruísta, bem humorado,ingênuo,

inexperiente

Proteger a cidade de Berlim em período pós guerra.

Cassiel permanece na função, Damiel "suicida-se" como anjo

e "nasce" como homem, iniciando romance com uma

mulher humana.

I TÃO LONGE, TÃO PERTO

Cassiel e

Raphaela

Cassiel: Solidário, curioso, depressivo, bondoso, altruísta.

Raphaela: Doce, sábia, bondosa, protetora.

Proteger e inspirar os pensamentos humanos.

Cassiel, ao tornar-se humano 'por acidente' tem o objetivo de estruturar-se como um

homem digno (finda morrendo como uma espécie de mártir).

J OS ANJOS

ENTRAM EM CAMPO

*Sem nomes específi

cos

Engraçados, atrapalhados, generosos,

astutos

Auxiliar os jogadores de um time de baseboll a vencerem o

campeonato.

K ANJOS

REBELDES

Gabriel, Uziel, Lucifer

Gabriel: rebelde, maquaivélico, frio, ameaçador. Uziel: Generoso, frágil,

corajoso. Lúcifer: astuto, articulador, asqueroso

Gabriel: busca criar um novo inferno com anjos rebelados a partir da alma de um coronel manifestada em uma criança. Uziel: anjo bom enviado para derrotar Gabriel, mas perde suas forças e morre. Lucifer: atua como um segundo vilão,

porem auxilia o "bem" pelo interesse pessoal de nao

querer um setundo inferno como concorrência de Gabriel.

L MICHAEL: UM

ANJO SEDUTOR

Michael

Atrapalhado, acomodado, ingênuo, resignado, sedutor, prestativo,

protetor.

Regenerar-se como anjo em suas funções de cura,

proteção etc e ao mesmo tempo proteger pesoas e

auxiliar a união de um casal apaixonado, mas confuso,

como uma espécie de cupido.

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M POR UMA VIDA

MENOS ORDINÁRIA

Gabriel, O'Reilly, Jackson

Gabriel: estressado, submisso, bondoso;

O'Reilly: calmo, analítico passivo. Jackson:

desesperada, ansiosa, prática, dissimulada

Ambos tem a função de unir um casal totalmente

incompatível provando que o amor é possível entre opostos, para assim

manterem suas condições e privilégios de Anjos no céu.

N CIDADE DOS

ANJOS

Seth Plate , Cassiel

Calmos, protetores, inspirados. Seth: curioso, observador, obstinado.

Inspirar os habitantes de Los Angeles com bons

pensamentos, afastando tristezas e encaminhando os recém falecidos pra ao céu. Seth apaixona-se por uma

mulher e sua historia passa a ser a renuncia da condição de anjo pra imersão na condição de homem, ficando ao lado da mulher que ama e habituando-

se ao "mundo".

O ANJOS

REBELDES 2 Gabriel, Danyael

Gabriel: dissimulado, ardiloso, violento,

obstinado. Danyael: misterioso, doce, calmo,

protetor

Danyael:engravidar Valerine e zelar por sua proteção até que possa nascer um bebê, meio anjo, meio homem, uma nova criatura capaz de salvar o lado

bom da humanidade.

P DOGMA Bartleby e Loki

Sábios, cômicos, bem humorados, obstinados,

insensatos.

Bartleby e Loki são anjos expulsos do céu e que

querem retornar. A única alternativa é cruzar o portal de

uma igreja em Nova Jersey para, sendo assim absolvidos de seus pecados, retornando

ao paraíso.

Q ANJOS

REBELDES 3: O ASCENDENTE

Gabriel, Daniel, Zofael,

Gabriel: protetor, bem humorado, sábio. Daniel: protetor, justiceiro, forte,

obstinado, ingênuo. Zofael: cruel, fiel, ardiloso,

sedutor.Pyriel: sanguinário, assassino, impiedoso, obstinado.

Daniel tem como função salvar o mundo do genocídio objetivado por Pyriel; Gabriel

tem a função de proteger Daniel; Zofael tem como

função auxiliar seu senhor, Pyriel, a executar sua tarefa de ganhar muitas almas para o inferno. Pyriel é o promotor da guerra entre céu e inferno

que busca destruir a humanidade;

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R SEM NOTÍCIAS

DE DEUS Lola e

Carmem

Lola: compassiva, delicada, dedicada,

ponderada; Carmem: ousada, intolerante, sensual, atrevida,

revoltada.

Lola (para o céu) e Carmem (para o inferno) tem a missão

de conseguir a alma de Manny, um boxeador em fim

de carreira a fim de que o céu ou o inferno seja declarado

"vencedor".

S O CÉU PODE

ESPERAR King e Keyes

Keyes: atrapalhado, ansioso,infantil,

engraçado.King: bem humorado, maduro,

confiante rígido.

King é o "administrador" do céu e da "rotina' de chegada das almas no paraíso; Keyes

é um de seus assessores, contato direto com os recém "mortos" chegados ao céu. Ambos deixam seus postos

para dedicarem-se exclusivamente à missão de corrigir o erro de ter enviado precocemente Laurence para

o paraíso.

T

ANJOS REBELDES 4: A

GUARDIÃ DO DESTINO

Belial, Lucifer

Belial:revoltado, obstinado, intrépido,

ousado, irônico. Lúcifer: protetor, inteligente,

misterioso.

Beliel tem como missão encontrar o livro "Léxico", que

conta com o capítulo 23 da Bíblia relatando a guerra entre os anjos. Belial, leal a Lúcifer, busca obter alguma vantagem

com a guerra dos anjos, buscando promover um

inferno agressivo. Satanás, ajuda os seres humanos a lutar contra Belial, por não

querer concorrência em seu inferno.

U ANJOS

REBELDES 5: RENEGADOS

Lúcifer, Stark, Allison

(Nephlin)

Idem Anjos Rebeldes 4

Lúcifer permanece com a missão de auxiliar Alysson

(anjos Rebeldes 4); Stark é o responsável em trazer a

verdade para Alison (fato de ser nephlin criada apenas

como ferramenta para proteger o livro "Lexico").

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V ANGEL-A Angela

Misteriosa, sensual, destemida, ousada,

otimista, consoladora, complexa, temerosa.

Angela foi enviada pelo céu para auxiliar Andre, uma

espécie de golpista bondoso, a não ser assassinado por agiotas e demais bandidos

com os quais mantinha negócios, além de fazê-lo

perceber o quanto pode ser uma pessoa boa se resgatar a

bondade que habita em seu coração e transborda em seus

olhos.

X CONSTANTINE Gabriel

Gabriel: andrógeno, exótico, dissimulado, obstinado; Lucifer:

asqueroso, irônico e oportunista.

Lúcifer busca na narrativa dar vida a seu filho Mammon no campo humano, através do

ventre de uma mulher médium; Gabriel, a princípio é

um anjo sábio e bom, pertencente a Deus, a partir das promessas de Lúcifer e

somando a sua revolta com os homens, passa a auxiliá-lo a conseguir dar um nascimento

humano a "Mamon";

Y GABRIEL: A

VINGANÇA DE UM ANJO

Gabriel , Uriel

Amitiel/Jade,

Ithuriel Raphael

, Michael, Samma

el, Asmode

us, Balan,

Ahriman, Lilith

Anjos de luz/ Anjos caídos

Anjos de luz/ Anjos caídos

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W LEGIÃO Miguel, Gabriel

Michael:protetor, forte, obstinado, altruísta,

rígido.Gabriel: sóbrio, obstinado.

Miguel buscará que o Apocalipse não ocorra

(vontade de Deus, que envia Gabriel para a terra a fim de

promovê-lo); Auxilia um pequeno grupo de pessoas a

manterem-se vivas, em especial preservando a

gravidez de uma garçonete, no intuito de que o filho a nascer será o futuro da humanidade; é um anjo

rebelado a favor dos homens, que luta para provar para Deus que a humanidade

merece mais uma chance.

Tabela 3: Personalidade, ministério e função dos anjos fílmicos.

2.5.5. A personalidade dos Anjos fílmicos

Tomando para nós o significado de personalidade como a individualidade

consciente do ser, imbuída de um caráter/característica pessoal e individual, os Anjos

dos filmes apresentados foram abordados com algumas peculiaridades relevantes

demonstradas em seus enredos, de modo que, classificatoriamente, temos "tipos"

comuns apresentados, os quais classificamos como: "os bondosos", "os

rebelados/revoltados", "os atrapalhados", "os sedutores/sensuais", "os apaixonados" e

"os existenciais".

-Os bondosos

Um anjo (de luz) já tem por pressuposto ser bom. Caracterizando-se a bondade

como uma virtude pessoal que promove atitudes "satisfatórias" em relação aos

demais, percebemos que na maioria dos anjos que se propõem a auxiliarem seus

humanos protegidos ela se faz presente, porem de forma mais "imaculada", sem

deixar abertura para outras categorizações predominantes, enquadram-se Clarence (A

felicidade não se compra), Dudley (Um anjo caiu do céu), Damiel (em Asas do

Desejo), Raphaela (Em Tão Longe,Tão perto), Uziel (Em Anjos Rebeldes 1), Lúcifer

(Anjos Rebeldes 5), Cassiel (em Cidade dos Anjos) e Carmem (Por uma vida menos

ordinária).

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-Os rebelados/revoltados

Estas características não são exatamente sinônimos, embora contem em

muitos dicionários como similares; Entende-se que a revolta traduz-se como algo

pontual, uma oposição, biblicamente podendo ser embasada na passagem "Irai-vos, e

não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira", presente em Efésios 4:26; Já a

rebelião caracteriza-se por uma insubmissão que gera ações de teimosia, resistência,

motim e desordem. Bobby, em As aventuras de um anjo, é um anjo revoltado,

característica que já traz de sua vida humana passada como adolescente, com

comportamentos comuns a faixa etária, porem suas ações não são insubordinadas em

relação ao pedido que o céu lhe faz de guardar uma vida humana; Já os anjos Gabriel

(Anjos Rebeldes 1,2,3), Belial (Anjos Rebeldes 4), Gabriel (Por uma vida menos

ordinária), Bartebly e Loki (Dogma), Carmem (Sem notícias de Deus), Gabriel

(Constantine), todos os anjos de Gabriel: A vingança de um anjo e Miguel (Legião),

podem ser assentados na categoria de rebeldia, a maioria contra Deus ou os homens

ou alguma situação que os deixa obstinados em prol da destruição de algo ou alguém;

Até mesmo os anjos de luz de Gabriel: a vingança de um anjo, apesar de não terem

sua rebeldia contra Deus, são audaciosos e promovem uma verdadeira guerra por

estarem inconformados pela condição de escravidão em que vivem do purgatório,

destilando assim sua ira e suas forças para atacar os anjos das trevas. Tendo os anjos

arquetipicamente a conotação de força e poder e biblicamente terem tido missões que

envolviam batalhas contra potestades do inferno (em especial os anjos apocalípticos,

todos guerreiros) mostra-nos relevante que este aspecto seja bastante recorrente

quando representado no cinema.

-Os atrapalhados

Ser atrapalhado é estar incoerente ao "comum" em determinada situação,

agindo de maneira confusa, embaraçada, desconexa com o habitual. Esta

característica é bastante comum nos anjos apresentados, em especial os que

convivem por um período com os humanos, onde há a "comparação" entre o

comportamento socialmente conveniente e as ações do anjo, não habituado àquele

contexto. Nesta categoria temos Sr.º Jordan e o Mensageiro 7013 (Que espere o céu),

"aparecendo" em lugares inusitados ao buscarem contato com seu "protegido", assim

como Sr.º Jordan e seu anjo assistente e King e Keys (O céu pode esperar). Gabriel

(Anjos e Piratas) que faz seus auxílios ao time de baseball serem inusitados e

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cômicos, igualmente aos Anjos de "Os Anjos entram em campo. Bartleby e Loki

(Dogma), apesar da experiência da eternidade, atrapalham-se em cenas que exigem

certa maldade como um sequestro, um furto, ou até mesmo por em certa altura

estarem em dissintonia, um mantendo sua revolta e outro tentando manter a situação

sob controle. Lola e Carmem (nas cenas finais de Sem Notícias de Deus) do mesmo

modo, ao envolverem-se em uma assalto a um supermercado, apesar da cena

contemplar tiros, sangue, morte de inocentes etc o enfoque é dado pelo despreparo

em empunharem armas, lutarem e fugirem da polícia, elevando a comicidade das

cenas. O'Reilly e Jackson (Por uma vida menos ordinária) também fazem graça nas

cenas em que tentam ser violentos, ameaçando, sequestrando e amarrando o casal

que buscam unir. O'Reilly é mais contido e inexperiente, já Jackson, apesar de

"desajeitada" nessas situações humanas é mais ousada e busca incansavelmente

fazer coisas "más" para assustar seus protegidos, na intenção de ajudá-los, beirando

ao "ridículo" e mostrando um certo desequilíbrio. Observa-se que um anjo

"atrapalhado" para os filmes analisados, normalmente possui a motivação de suas

ações (que resultam em incoerências), ao decidir "imitar" um humano, em especial em

suas maldades.

-Os sedutores/sensuais

Nesta categoria temos "Dudley" em Um anjo caiu do céu, Pygar (Barbarella),

Michael (Michael: um anjo sedutor), Carmem (Sem notícias de Deus), Angela (Angela-

A). Todos, com exceção de Dudley, fazem uso de poucas roupas e a boa aparência

para direta ou indiretamente conseguirem vantagens. Pygar não tem dentro da

narrativa esta conotação proposital, mas pelo filme Barbarella em sí já trazer a

inusitada "máquina de sexo que mata pessoas de prazer" e estar ele em trajes

mínimos, sendo sua aparência um legítimo clichê de anjo masculino (conforme

exposto no tópico Figurino anterior) percebe-se que esta conotação é proposital;

Michael é sedutor não por objetivar na narrativa essa impressão, mas por

exalar um "odor de anjo" que age como uma espécie de imã para as mulheres; Por

onde passa elas o seguem e ficam de certo modo hipnotizadas, levando humor as

cenas; Carmem, na tentativa de conseguir ter a alma de seu protegido para levá-la ao

inferno, faz uso de roupas justas, curtas e propositalmente usa de todos os seus

artifícios para conquistar o boxeador Many, assim como faz para conquistar um

emprego e, mais tarde, travestida de homem, dança e demonstra suas tendências

homossexuais, também fazendo uso deste artifício para conquistar mulheres.

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Ângela, com sua aparência de modelo, envolta em um curtíssimo vestido e

semi-nua em algumas cenas não possui malícia em relação as reações que provoca

nos homens, porem usa suas formas como artifício para seduzi-los e de certo modo

"vingar-se" daqueles que contratam o serviço de prostitutas; Em uma boate, dança

com vários homens e os seduz para um "programa", porem seu objetivo é, alem de

conseguir dinheiro para seu protegido Andre, não ter relações com eles e, em lugar

disso, dar-lhes uma surra (fazendo uso de sua força de anjo, desproporcional a

fragilidade feminina de sua aparência humana) incitando uma espécie de revolta

feminina contra o machismo.

Dudley, diferente dos demais, não é sensual, mas sim sedutor, seu carisma e

extrema gentileza faz com que não apenas sua protegida Julia se apaixone por ele,

mas as empregadas da casa onde está hospedado; Exerce sobre as mulheres certo

fascínio sem ter em ações concretas do filme motivos para isso, dando a entender que

este é um poder intrínseco dos anjos; Sua personagem é tão sedutora e causa tantos

problemas por conta dessa característica, que fica confuso ao espectador se há um

propósito para isso e se seria ele "bom" ou "mal", dualidade exposta ao final como

uma tática que serviu para que o bispo Henry, enciumado com o poder de Dudley,

passe a dar mais atenção a sua esposa, as empregadas da casa e a sua filha.

Percebe-se que a sensualidade e a sedução, tratando-se de anjos no cinema,

é revestida de certa mácula, diferente de personagens sedutores/sensuais humanos,

que são tidos muitas vezes como vulgares; Os enredos das histórias analisadas

sempre levam o espectador a compreender que tais apelações, por tratarem-se de

anjos, são todas "compreensíveis".

-Os apaixonados:

Nesta categoria o "amor" torna-se o norte dos anjos, ao ponto de Damiel (Asas

do Desejo) e Seth (Cidade dos Anjos) abandonarem seu posto de anjos e darem lugar

a sentimentos que acabam os levando a personificação de homens comuns. No caso

destes, a ideia de que os anjos possuem total controle sob seus corpos (mesmo que

incorpóreos) e sentimentos, estando acima de "coisas mundanas" é desmitificada;

Observa-se que a passagem posta no primeiro capítulo sobre os anjos terem tido

relações com mulheres e estas terem dado a luz a gigantes (meio homens, meio

anjos, mitologicamente chamados de "nephlins"), é uma indicação de que a narrativa

possui embasamento bíblico, desmitificando também o argumento de anjos serem

assexuados. Já Gabriel (Gabriel: a vingança de um anjo) tem como objetivo destruir a

legião de anjos das trevas, porem fica claro desde o início da trama que antes mesmo

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de buscar destruir o mal, vai resgatar Jade (Anjo Amitiel) e através de uma relação

sexual devolve a ela a força de anjo a tirando da condição de degradação em que

vive; Muito comum em filmes do gênero romance e ação, a relação de Gabriel e Jade

é a de um amor avassalador por traz de um objetivo maior, atuando como combustível

romântico da narrativa, em meio a cenas de violência e perseguição.

-Os existenciais:

Aplicando ao termo "existenciais" a condição de "pensar sobre si", algumas

personagens anjos fazem mais do que "aparecer" nas filmografias apresentadas, mas

refletem sobre sua condição de criatura em relação a Deus, ao universo, aos homens

e a sua função; São eles: Damiel e Cassiel (Asas do Desejo), Cassiel e Raphaela (Tão

perto, Tão longe), Gabriel (Anjos Rebeldes 1,2,3,4,5), Angela (Angel-A), Gabriel

(Constantine), Gabriel e Sammael (Gabriel: A vingança de um anjo), Miguel (Legião).

Todos eles alem de deixarem ao espectador "pistas" de suas histórias pessoais

apresentam uma maior racionalidade e pensamento crítico em relação aos demais. As

duplas Damiel e Cassiel e Cassiel e Raphaela através de longas reflexões em voz

over (voz em tom de narrador) demonstram terem muito claras sua incumbências

angelicais, não restringindo seu "pensar existencial" apenas sob si próprios, mas em

oferecerem verdadeiros poemas sobre a existência humana e o modo de pensar dos

"protegidos" que cuidam em seu dia a dia; Gabriel, em Anjos Rebeldes (1,2,3,4,5)

rebela-se, primeiramente, por atentar-se que sua condição de anjo de Deus não lhe

ser mais satisfatória; É sua inquietação e ambição enquanto criatura que o motiva em

todas as suas ações; Gabriel em Constantine, do mesmo modo, não reflete

primeiramente sobre quem é ou o que faz, é subserviente, mas ao perceber a

possibilidade de ter mais poder e autoridade, passa a proferir discursos contra Deus e

contra a ingenuidade dos homens; Gabriel e Sammael (filme Gabriel), um anjo de luz e

outro de trevas, juntamente com seus companheiros de causa, trazem vários diálogos

sobre os porquês do purgatório, os benefícios de seguir a luz, os motivos da ira e

adesão as trevas etc; Miguel em Legião leva ao seu grupo de humanos protegidos

mais conhecimentos sobre Deus, atuando não apenas ele como um ser pensante

sobre as questões do céu e da terra, mas promovendo nos demais um maior

entendimento sobre os males que a humanidade tem praticado a ponto de irar a Deus

e a importância em ter fé em um novo mundo, assim como Angel-A ao refletir sobre

seu "passado" e a curiosidade sobre sua história (conforme exposto anteriormente no

tópico Genealogia).

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2.5.6. O "ministério" dos Anjos no cinema

O termo ministério, possui a conotação de "a serviço". Biblicamente este termo

é bastante comum, como por exemplo em: “[...] e, quanto a nós, nos consagraremos à

oração e ao ministério da palavra”. (At 6. 4 ), referindo-se ao trabalho dos apóstolos).

Na Bíblia tem-se o termo empregado para várias missões especiais designadas por

Deus à seus servos (levitas, profetas, sacerdotes, apóstolos, discípulos, anjos etc).

Observamos que a própria atuação de Jesus, no novo testamento, teve tal emprego

da palavra: “Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o seu ministério [...]” (Lc

3. 23).

Em nossa análise, assim como para averiguarmos os aspectos de

personalidade, criou-se categorias que melhor elucidam e auxiliam-nos a compreender

de que forma o cinema apresenta os anjos em suas "missões", sendo elas:

-Os mensageiros motivadores de vidas humanas:

Clarence (A felicidade não se compra), Dudley (Um anjo caiu do céu), Mensageiro

7013 (Que espere o céu), King e Keyes (O céu pode esperar), Gabriel (Anjos e

Piratas), Pygar (Barbarela) Cassiel (Asas do Desejo), Raphaela (Tão perto, Tão

Longe), Michael (Michael: Um anjo sedutor), Jackson e O'Reilly (Por uma vida menos

ordinária), Cassiel (Cidade dos Anjos), Lola e Carmem (Sem notícias de Deus), Lúcifer

(Anjos Rebeldes 5), Angela (Angel-A), seguidos dos "enamorados pelas mortais", que

abortam a missão angelical: Damiel (Asas do Desejo) e Seth (Cidade dos Anjos).

Esta categoria é, sem dúvida, a mais apresentada pelo cinema, salvo suas

peculiaridades de narrativa que destoam no modo como cada anjo opera (são muito

similares no que se refere a ser o "protetor" de um "protegido"). Acredita-se que a

maior diferença dos anjos desta categoria se encontra no caráter diegético (atuação

direta na trama) e extradiegético (atuação/intervenção em que a personagem não

visualiza o anjo, apenas o espectador é ciente da participação). Clarence, Dudley,

Mensageiro 7013, King e Keyes, Pygar, Michael, Jackson e O'Reilly, Lola e Carmem,

Lúcifer e Angela "aparecem" às personagens de modo que sua materialidade física as

faz ser como uma espécie de ser com superpoderes; O "protegido" e o "protetor"

vivem em caráter de igualdade na trama, conversam, trocam experiências, onde o

Anjo aconselha e induz de forma prática seu protegido na resolução de seu desafio

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pessoal; São "anjos da autoestima", personagens de um período da vida dos

protegidos que vem e vão, promovendo um antes e depois de suas passagens.

Já os anjos extradiegéticos Gabriel (Anjos e Piratas), Damiel e Cassiel (Asas

do Desejo), Raphaela (Tão perto, Tão Longe) e Seth (Cidade dos Anjos) são

personagens que tem suas ações ocorrendo em paralelo as da personagem protegida.

São sentidos através de intuições, pensamentos, inspirações, brisas, ocasiões de

coincidência, ações de terceiros (pessoas/objetos) dentre outras formas; Neste

aspecto é interessante avaliarmos que o senso de proteção sem a possibilidade de

uma interferência direta na vida dos protegidos (toque, fala etc) oferece a essas

personagens em alguns momentos sentimentos de impotência e desânimo, expressos

em especial em seus diálogos com outros anjos.

Como característica peculiar de ação nas tramas, os anjos Damiel (Asas do

Desejo) e Seth (Cidade dos Anjos, releitura de Asas do Desejo) passam pelos dois

modos de intervenção na vida de suas protegidas; Teoricamente, os anjos iniciam

suas historias como sendo isentos a preferências no que se refere a quem proteger,

porem Damiel, ao apaixonar-se pela trapezista de circo Marion, e Seth pela médica

Magie, passam a perceber as limitações angelicais no que se refere aos aspectos

físicos, por não possuírem um corpo carnal; O "suicídio" do anjo para dar a nascer "o

homem de carne, osso e sangue" fá-los sair da extradiegese e adentrar na diegese

cinematográfica, podendo assim viverem suas histórias como homens.

Tal "passagem de mundos" também é vivida por Cassiel em Tão Perto, Tão

Longe, porem para Cassiel a materialidade humana não era um anseio; Foi um

"acidente" de percurso ao impulsivamente salvar a vida de uma garotinha que caía da

sacada de um prédio, transgredindo a regra de que os anjos não poderiam intervir

neste tipo de situação. Cassiel mostra em sua vida humana a trajetória mais dramática

de todos os anjos, em muito gerada por estar 'humano" não por opção; Suas atitudes

desesperadas, atrapalhadas, seu modo de vida a perambular pelas ruas, seu vício em

álcool, sua ingenuidade ao confiar em pessoas erradas, mostram-se como

consequências de um despreparo para sua nova condição. Seth e Damiel, por opção,

passaram por problemas de adaptação humana em detalhes superficiais como o modo

de ingerir alimentos, o cheiro das coisas etc, lúcidos de que o aprendizado é

necessário para a sobrevivência. Cassiel, diferentes destes, "caiu do céu" e está

totalmente desprotegido, sujeito às intempéries da vida, como uma espécie de ironia,

onde um protetor vira um protegido sem proteção.

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Uma das características menos representadas mas importantes deste perfil de

anjo é o fato de alguns destes deixarem-se "aprender" com seus protegidos; Sendo os

anjos arquetipicamente soberanos nos conhecimentos da eternidade da mente

humana, a característica é pouco representada no cinema; Há uma certa satisfação

comum ao final das narrativas quando estes "cumprem suas missões"; Mas é em

Angel-A que percebemos uma inversão de papéis ao final da história, onde o

"protegido" Andre, após aprender a ser melhor e descobrir seu "eu" como um homem

de bom caráter, apaixona-se pela Anja, percebendo que esta não permite-se "ser

feliz", não abre exceções em seu "método de trabalho" e guarda dentro de si os

sentimentos que nutre pelo protegido; Ele, em um momento de extrema lucidez,

parecendo agora ele o anjo e ela a protegida, orienta-a no sentido de permitir-se ter

sentimentos humanos e o quanto a "perfeição" que ela tanto busca e a "infalibilidade"

dos anjos não é necessária. Ângela então, em um momento de pranto, desespero e

dúvida existencial, coloca de lado toda a sobriedade e soberania que possuía até alí,

deixando transparecer o quanto apesar de sua posição, é frágil e tem medo,

sentimentos com os quais não sabe lidar. E assim, ao contrario de Damiel e Seth, que

apaixonam-se e optam em abdicar da condição de Anjo, Angela é "presenteada"

pelos céus com a condição de "mulher comum" (também após uma queda, no rio

Sena, em Paris, que aparentemente a mata afogada como anja, mas a faz "ressurgir

das águas" como mulher) para que possa continuar ao lado de Andre.

Por fim, observa-se que de modo geral este perfil de anjo está sempre em uma

espécie de "passagem", de missão temporária, alguns dão a entender terem um

passado ou um futuro com outros protegidos. Percebe-se também que é comum certa

troca de favores entre protetor e protegido, de modo que as narrativas onde os anjos

deixam-se surpreender e colocam-se a admirar aspectos da personalidade humana,

são filmes mais interessantes dos que os que apenas "vem e vão, soberanos na sua

vontade"; Como exemplo, Jackson e O'Reilly em Por uma vida menos ordinária que

encantam-se com a forma como o amor entre um homem e uma mulher humanos

pode ser inusitado, complexo e belo; Lola e Carmem, em Sem notícias de Deus

surpreendem-se em como a alma de um "homem ruim", boxeador, que abandonou a

mãe, cometeu um assassinato, dentre outros "pecados", pode ter um lado doce e

frágil.

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-Os promotores da rebelião contra Deus:

Esta categoria consiste em específico os anjos que deixam claro que, assim

como Lúcifer biblicamente, estão em desacordo com alguma atitude de Deus. São

eles: Gabriel (Anjos Rebeldes 1,2), Bartleby e Loki (Dogma), Gabriel e Lucifer

(Constantine), Michael (Legião). Gabriel em anjos Rebeldes (apesar do nome e seu

histórico bíblico como sendo aliado a Deus, seu mensageiro em algumas situações a

exemplo da anunciação à Maria) tem postura semelhante ao que biblicamente é

relatado como atitudes de Lúcifer, um anjo de trevas, e não de um anjo de luz;

Cansado da passividade de Deus e motivado pela inveja que tem dos seres humanos,

rebela-se com o objetivo de criar um inferno á altura do céu, por também considerar

que o próprio inferno de Lúcifer está "passivo demais"; A questão inusitada na

narrativa e até de certo modo cômica, é que Lúcifer, habitualmente representado como

anjo mal, a fim de impedir que Gabriel consiga construir um segundo inferno (que seria

seu concorrente) acaba por auxiliar a "Deus", aos homens e aos anjos bons da

história, mesmo que contra sua vontade "original";

Bartleby e Loki (Dogma), do mesmo modo, após terem sido expulsos do céu

por Deus e terem com isso gerado uma espécie de mágoa, pois o fato de "não poder

adorar a Deus" deixa os anjos infinitamente infelizes (tendo sido essa a atribuição de

gênese dos anjos), revoltam-se ainda pelo fato dos humano possuírem o livre arbítrio

para crer/adorar a Deus (conforme já citado); Outro aspecto que também é colocado

de forma polêmica é que caso consigam ultrapassar um portal em data e horário

específico, serão "reintegrados" a hoste celeste, provando assim que Deus é falível,

ideia que os deixa temerosos e esclarece que estão "magoados" com seu criador.

Gabriel em Contantine inicia a história longe de qualquer suspeita,

demonstrando ser um anjo misericordioso e temente a Deus, porem seduzido por uma

proposta de Lúcifer passa a servi-lo; Como consequência, baseado na promessa

bíblica de que "não se pode servir a dois senhores" é castigado por Deus tendo suas

asas cortadas e tornando-se mortal, condição que considera extremamente inferior,

causando-lhe revolta e desespero.

Já Michel em Legião não nutre em específico uma revolta com Deus, mas sua

ação de rebeldia se dá motivada pelo amor aos seres humanos, tendo em vista Deus

ter dado início ao apocalipse, revoltado com a maldade da humanidade e planejando

acabar com o mundo; Michel não pretende derrotar a Deus, mas sua ira consiste em

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provar a Ele que ainda é possível dar início a uma nova civilização humana que o

temerá e amará.

-Os promotores da rebelião contra os Homens:

Nesta categoria encontramos: Gabriel (anjos Rebeldes 1,2,3); Gabriel, Jackson

e O'Reilly (Por uma vida menos ordinária), Bartleby e Loki (Dogma). Como já

colocado, Gabriel em Anjos Rebeldes 1, 2 e 3 refere-se aos homens como "macacos"

que jamais deveriam ter sido criados; Percebe-se que sua motivação para a revolta

com os humanos é pautada na inveja por considerar que estes são "protegidos e

preferidos" de Deus, de modo que antes de terem sido criados, Deus só tinha olhos

para os anjos; Gabriel, Jackson e O'Reilly (Por uma vida menos ordinária), de forma

cômica, não possuem uma revolta "sanguinária", mas consideram os humanos muito

teimosos e difíceis de serem 'trabalhados"; eles, por já saberem as consequências de

cada fato e viverem eternamente, não possuem a devida paciência com os homens;

Gabriel, o chefe, é mais compassivo, já Jackson e O'Reilly, que dependem do sucesso

de um relacionamento humano entre um casal totalmente incompatível para poder

voltar ao céu e permanecerem como anjos, em vários momentos irritam-se com a

forma de pensar e agir do casal apaixonado (Deus solicita esta missão devido a

perceber que na terra os índices de divórcio estão muito altos e unir um casal

incompatível seria uma forma de provar que o amor sempre pode prevalecer).

Bartleby e Loki, em Dogma, não possuem revolta com toda a humanidade, mas

por estarem sendo impedidos de realizar sua missão por alguns seres celestes (um

13º apóstolo negro e dois duendes humanos) e por uma mulher que seria a última

descendente de Jesus Cristo na terra, passam a persegui-la, tentando em alguns

momentos matá-la.

Percebe-se por fim que a revolta dos anjos retratada no cinema, na maioria dos

casos, ou é motivada por algum tipo de inveja em relação a "paternidade" com Deus

como criador (uma espécie de ciúme entre irmãos do mesmo pai) ou tem relação com

a impaciência com as limitações humanas (impaciência e revolta que ficam expostas

também na série Anjos Rebeldes, mas em caráter secundário, onde Gabriel desafia os

homens em relação a fé que possuem em Deus).

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-Os promotores da rebelião contra outros Anjos:

Uziel e Lúcifer (Anjos Rebeldes 1), Danyael (Anjos Rebeldes 2), Gabriel,

Danyael, Zofael e Pyriel (Anjos Rebeldes 3), Lucifer e Belial (Anjos Rebeldes 4), todos

os onze anjos de Gabriel: A Vingança de um Anjo, Gabriel (Legião) encontram-se

nesta categoria.

Todos os anjos citados representam sempre a dualidade entre a luz e as

trevas, em guerras ou pseudo-guerras dos enviados de Deus e os enviados de

Lúcifer, quando este último não é apresentado "pessoalmente". Deus,

fisicamente, só aparece no filme Dogma, interpretado pela atriz e cantora

Alanis Monrissette.

Observa-se que não há, biblicamente, passagens em específico sobre a revolta

de anjos com homens, já em relação a anjos de luz e anjos de trevas, encontramos

referência em várias passagens: Em Isaías o profeta coloca a citação de Satanás em

sua rebelião contra Deus: “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das

estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas

extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao

Altíssimo” (v. 13-14). Deus responde-lhe com: “Contudo, serás precipitado para o

reino dos mortos, no mais profundo do abismo” (v. 15). Satanás tornou-se assim

inimigo de Deus, levantando-se desde Adão e Eva, passando por guerras e

promovendo a ira de reis e tentando a Jesus Cristo. Observa-se assim que além da

comum "díade" do bem versus mal, que já faz parte da estrutura das narrativas em

qualquer espécie (romances literários, novelas, contos, cinema etc), especificando-se

de anjos, mais do que se justifica por tratarem-se estas personagens de defensoras de

seus senhores (Deus ou Lúcifer), onde mesmo quando não seguem a estes, ao

seguirem as suas próprias vontades (anjos rebelados senhores de sí, a exemplo de

Gabriel em Anjos Rebeldes) possuem características de personalidade que

automaticamente os enquadram em um dos dois extremos (lados), sem exceções.

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CAPÍTULO 3.

O Anjo na comunicação: relações

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CAPÍTULO 3. O Anjo na comunicação: relações

3.1 O Anjo na Comunicação: breves metáforas aos nossos dias

"No início deste século, um erudito, ao que se diz, bastante sagaz, escreveu que a modernidade começa quando a filosofia deixa de falar de Anjos. Que ciência, que sabedoria não se anuncia, quando estes mensageiros aí reaparecem, para tecer, percorrendo novos caminhos, um universo conspiraste de fluxos e redes?" Michel Serres

(SERRES apud SILVA, 2009, p. 37)

Nos filmes apresentados observa-se que para o cinema enquanto código o

Anjo atua como um signo linguístico, uma personagem complexa e embasada tanto

em referenciações verbais da Bíblia quanto no potencial criativo de roteirista, diretor e

ator que a ele "dão a vida". Já para a área da comunicação em específico, onde o

presente trabalho se insere, também é possível serem elencadas algumas

considerações desta personagem enquanto metáfora explicativa de fenômenos

estudados por alguns autores.

Michel Serres, filósofo francês, desenvolveu a obra "A Lenda dos Anjos, Um

ensaio sobre a comunicação" no qual faz um paralelismo entre elementos do universo

agelologico e as relações comunicacionais atuais. Dentre os tópicos abordados, traz o

conceito de "mensageiria" como "produção de mensagens que transpõe os espaços,

os tempos e as muralhas, guarda, indica, atravessa as portas fechadas" (SERRES,

1995, p. 293), metaforizando a comunicação como a ação de um anjo. O autor (tido

como o filósofo esotérico da academia francesa), argumenta que:

Olhe o céu, aqui acima de nós, atravessado por aviões, satélites artificiais, ondas eletromagnéticas, televisão, rádio, fax, correio eletrônico. O mundo no qual nos banhamos é um espaço-tempo comunicação. Por que não falaria de espoco dos anjos, já que esta expressão significa mensageiros, os conjuntos de fatores, de transmissões prestes a passar, ou o espaço dos passes? Você sabe, por exemplo, que a todo momento há pelo menos um milhão de homens em vias de voar, acima da atmosfera, como que imóveis e suspensos, invariantes por meio de variações? Sim, vivemos no século dos anjos...Os anjos são as mensagens, seu corpo é uma mensagem...Imagino que a cada anjo corresponde uma preposição. Mas, uma preposição não transporta mensagem, ela indica um conjunto de caminhos possíveis, no espaço ou no tempo. (SERRES, 1999, p. 157)

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Norval Baitello Jr.º, professor do Programa de Estudos Pós Graduados em

Comunicação e Semiótica, no ano de 1999 participou do Programa Roda Viva, na

emissora de televisão TV Cultura (São Paulo, Brasil), onde juntamente com demais

entrevistadores questionou Michel Serres sobre aspectos de sua vida e obra; Baitello

Jr.º, em dado momento, questiona o filósofo em específico sobre a metáfora com a

comunicação posta em A Lenda dos Anjos. A resposta de Serres, transcrita abaixo,

nos elucida de que modo o Anjo, objeto de estudo do presente trabalho, pode nos

auxiliar não apenas na compreensão da amplitude de processos semióticos, culturais

ou na propagação de um mito religioso, mas sim "olhar avante" em relação a de que

modo o Anjo pode nos inspirar a pensar sobre o futuro, com base nas atuais

transformações sociais e tecnológicas.

[...] Norval Baitello Jr.: O senhor fala dos "filtradores de informação” e eu tomei contato,

agora, por conta da entrevista, com um belíssimo livro do senhor, publicado em português, que

se chama A lenda dos anjos. E eu queria que o senhor falasse um pouco se os anjos são os

filtradores da informação também. Então os jornalistas, se são os anjos, os professores, se são

os anjos...[...] É um tema ao mesmo tempo poético e ao mesmo tempo uma forte metáfora da

contemporaneidade, como o senhor retrata no seu livro.

Michel Serres: Fico feliz com a pergunta porque, se eu escrevi A lenda dos anjos, livro que

teve uma exímia tradução para o português, é porque... É muito simples. A palavra "anjo" tanto

em português, como em francês, em inglês, como alemão, vem do grego angelos, que significa

mensageiro, aquele que leva a mensagem. Vejamos. Ao nosso redor, quem leva a mensagem?

É o câmera quem leva a mensagem. É o engenheiro de som, o apresentador do programa. Os

senhores são professores e levam a mensagem. Mas, em nossa sociedade, quem não leva

mensagens? O piloto do Boeing leva a mensagem, o carteiro, ao entregar cartas, leva

mensagens, estamos numa sociedade de comunicação. E temos de entender esse papel do

mensageiro. Quem emite as mensagens, quem as recebe, quem as transporta, quem as

interrompe, quem as parasita, quem as intercepta. E eu lembrei, antes de escrever o livro, que

não tínhamos nenhuma teoria filosófica referente à sociedade de informação. E, como todos

temos profissões de transportadores e interceptadores de mensagens, pensei "mas, afinal,

quando na Idade Média os filósofos inventaram a teoria dos anjos, isto é, a angelologia, o que

tinham em mente?" Eles tinham em mente, meu senhor, a utopia da sociedade da informação.

Eles tinham tido a idéia de que se podia imaginar operadores encarregados justamente de

tarefas que só a tecnologia de hoje permitiu realizar. Então, nesse livro, fiz um tipo de curto-

circuito entre a angelologia da Idade Média e a teoria moderna de comunicação. E vocês

sabem que curtos-circuitos causam muita luz, causam muito fogo. [risos] E acho que permitiu

esclarecer muito bem duas coisas. Por exemplo, dizem sempre que os anjos são invisíveis. É

verdade, vocês nunca os viram, eu também não. Mas por que são invisíveis? Eu vou dizer.

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159

Estou falando em francês, mas os telespectadores estão ouvindo a mensagem em português.

Há, portanto, entre mim, o emissor da mensagem, e o telespectador, o receptor da mensagem,

alguém que trata a mensagem. Onde ele está? Ele não está aqui. O telespectador não o vê. Eu

não o vejo. Vocês também não, mas, sem ele, nada seria possível, já que falo em francês e

vocês ouvem em português. Conseqüentemente, é um anjo. E quanto melhor ele faz seu

trabalho, menos ele aparece. O tradutor está ausente. Aliás, agradeçamos a ele por estar

ausente; ele não apareceu ainda. Suponhamos agora que, em vez de traduzir fielmente a

minha mensagem, ele diga o contrário. Vamos ficar preocupados. Vamos ficar bravos. Isso

pode causar, entre nós, discussões que não teriam acontecido, talvez afrontas, talvez até

guerras. Neste momento, ele existe. Ele afirmou sua presença. Eu o vejo. E, quando o vejo,

significa que é um anjo mau. Entendem? E isso, o apresentador de TV sabe melhor do que

ninguém. Um professor, também. Por quê? Porque o apresentador quando deve passar a

mensagem de outro, precisa sempre escolher. Por que não confessa? Quando o senhor deve

transmitir algum discurso feito na Assembléia Nacional, deixa falar o deputado, ou fala no lugar

dele? Há uma escolha jornalística a fazer, e torna-se um hábito. Da mesma forma, quando

damos aula, damos a palavra ao poeta que estamos explicando ou tomamos seu lugar? É

sempre um problema delicado. Portanto a questão dos anjos é muito mais profunda. Vou

contar mais uma história. Eu estava em Silicon Valley [o Vale do Silício, localizado na

Califórnia, Estados Unidos, corresponde a um conjunto de empresas implantadas a partir da

década de 1950 com o objetivo de produzir inovações científicas e tecnológicas na áreas de

eletrônica e informática, principalmente para produção de chips e microchips], moro lá e um de

meus ex-estudantes ficou rico ao inventar uma máquina que permite a conexão entre

computadores. Fui visitar a fábrica, ele ficou feliz, eu era seu ex-professor. Então, eu disse:

"Meu Deus, só vejo querubins na sua fábrica!" Ele me olhou como se eu fosse louco. Porém, se

lembrarmos a tradição dos querubins, a palavra "querubim", que parece hebraica, é uma

palavra que os hebreus tomaram dos assírios. E, nos templos da Assíria, não sei se lembram,

há uma espécie de animal, um tipo de leão agachado diante do templo, com asas nas costas e

o rosto de um ancião de barba. É um animal com três corpos. É um leão, portanto é um animal

terrestre; tem asas, portanto é um animal que voa; tem rosto de ancião, portanto é um homem

que pensa. Então, quando entramos num templo da Assíria, passamos da terra – o leão – para

o ar, a águia, e para o pensamento, a sabedoria do ancião. É por meio desse animal com três

corpos que podemos nos conectar com um outro mundo. Então, nós, ao conectarmos várias

redes entre si, temos de fabricar uma máquina com três corpos: é seu computador com o seu

com o dela. E temos de fazer um tipo de permutador para poder conectá-los. É um querubim. É

o conceito filosófico de anjo que corresponde à teoria da comunicação. Meu livro está cheio

dessas descobertas, que foram maravilhosas para mim. De repente, eu ressuscitava uma velha

teoria filosófica, conferindo uma forma de pensamento inovadora à nossa sociedade de

comunicação. (Memória Roda Viva. Entrevista com Michel Serres. 8 de novembro de 1999;

Fapesp; São Paulo; Disponível em <http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/386/entre>Aacesso

em julho de 2013)

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Percebemos que Serres deixa-nos confortados em demonstrar que pensar em

anjos é pensar em comunicação, onde não caberiam controvérsias em relação a sua

metáfora mais do que poética. Como o autor coloca, se etimologicamente a

"mensagem" já deriva de nossos mensageiros alados celestes e se esta relação entre

o divino e humano é arquetipicamente encabeçada por estes, as atuais tecnologias e,

indo mais adiante, a própria internet99 como "a nuvem" que paira sob nossas cabeças,

são mais do que evidencias de quanto os anjos estão atualizados.

Walter Benjamim, também filósofo (alemão), assim como Seres usou o anjo

como metáfora dentro da história da humanidade, em relação ao progresso. Ainda em

1940, com a tese IX Sobre o conceito da História:

Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispara a nossos pés. ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos, mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irreversivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. essa tempestade é o que chamamos de progresso. (BENJAMIN, 1987, p. 226)

Figura 70. Obra de Poul Klee, Angelus Novus. Disponível em

<http://www.paginainternacional.com.br/2010/07/o-novo-angelus-novus.html> Acesso em janeiro de 2013.

99

Maior rede mundial de computadores.

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161

O quadro que Benjamin (Figura 70), refere-se faz nos atentar para como o

modo interpretativo de uma obra de arte pode desembocar nas mais variadas leituras

sígnicas, indo desde os anjos dos pintores da idade média, até uma releitura em

relação a contextos históricos, utilizando o Anjo como translação.

A citação de Benjamim, dado este momento do trabalho, torna-se bastante

"visual" através de suas descrições, em especial após a análise dos vinte e cinco

filmes apresentados. Alem das "ruínas que pesam" sob as asas do anjo em relação

ao passado, mas que mantém as asas abertas impelido a dar sequência a um futuro

"progresso" que o convida, relembram-nos Angela, Loki, Gabriel, Damiel e todos os

anjos que em dado momento de suas histórias fílmicas precisaram fazer escolhas

entre um passado e um futuro, entre uma condição e um alguém, escolhas estas

sempre dolorosas, pesadas como uma "catástrofe", muitos deles por optarem entre o

"reles mortal" em relação ao Deus supremo.

Além das metáforas angelológica em si, observamos que as próprias obras de

arte, em seus mais variados suportes (não apenas na pintura ou no cinema) rendem a

quem delas aprecia uma relação de matriz geradora de conhecimento a partir de

novos conceitos. Esta relação entre o uso de uma obra de arte em relação ao "por

vir", também foi citada por Lotman (semioticista russo a ser melhor apresentado em

título posterior) em:

Pode-se afirmar com certeza que uma obra de arte é o que existe de mais complexo e de funcionamento mais eficaz entre todas as coisas que o homem criou até ao momento. Sob certos aspectos, a obra de arte é o protótipo ideal da máquina do futuro (tendo assimilado certos princípios estruturais da obra de arte, o futuro objeto técnico não a substituirá então que a oposição funcional entre arte e técnica aparecerá em estado "puro". (LOTMAN, 1971, p. 29)

E ainda:

O desenvolvimento actual da teoria da comunicação mostra, em segundo lugar, que a interação é o contrário do nivelamento. A comunicação entre dispositivos idênticos é inútil. é precisamente o nivelamento dos homens que determina a paragem da comunicação. Esta torna-se demasiado fácil e, funcionalmente, inútil ao todo. Pelo contrário, a especialização das diversas esferas da cultura, fazendo da comunicação um problema semiótico complexo, determina simultaneamente a sua necessidade recíproca. Portanto, não se trata de transformar a ciência em cultura, ou vice -versa. Quanto mais a arte for arte e a ciência, tanto mais específicas serão as suas funções culturais e tanto mais o diálogo entre elas será possível e fecundo. (LOTMAN, 1971, p. 28)

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Observa-se que Lotman vislumbra, já introduzindo assim seus conceitos

semióticos, o quanto as distinções entre arte e ciência são de certo modo infundadas

ou pouco úteis e como a integração de ambas pode resultar em resultados mais

positivos não apenas no sentido das metáforas (como fizeram Seres e Benjamin), mas

no aprimoramento da cultura. "Pode-se ter esperança de que chegará o momento em

que o estudo atento dos fenômenos artísticos e dos mecanismos da cultura se tornará

corrente tanto para o ciberespaço teórico como para o criador de novas formas de

técnica". (LOTMAN, 1971, p. 30)

Percebemos assim que a utilização do Anjo, seja este no cinema, na pintura ou

na filosofia - como mãe dos conceitos científicos -, deixa claro o quanto a tradução de

um ícone para demais códigos linguísticos é possível e passível, gerando criativos e

por vezes poéticos modos de enxergar os fenômenos sociais e, em especial, os da

comunicação, vislumbrada aqui como um verdadeiro fenômeno de berço angelológico,

através de suas 'mensagens' e de seus 'anunciadores' Anjos, que "voam" além da

cultura juaica-cristã. Ganham assim espaços em campos como epistemologia e

etimologia de conceitos a 'aparecerem' assim como eles, sem um passado específico

(uma genealogia sólida, com "pai" e 'mãe") mas com um futuro 'eterno' na medida em

que vão sendo retomados, divulgados e aprimorados, assim como tão bem faz a arte.

3.2. O Anjo como texto semiótico cultural modelizado, traduzido e ritualizado na

linguagem cinematográfica

Sendo a semiótica a ciência que estuda signos e sistemas sígnicos imersos na

cultura, é importante, pela vertente da semiótica da cultura, compreendemos como

desenha-se o conceito de "cultura", a fim de podermos fazer com mais propriedade

nossa "personagem" Anjo, na medida em que está imerso no recorte judaico cristão.

Lótman & Uspenski, em 1971, já apontavam as inúmera definições de cultura

e suas discrepâncias, porem mostram ser possível, dentro da multiplicidade,

determinar ao menos duas características comuns, independente da interpretação

dada ao termo; Para os autores a base da definição está em um primeiro momento

ligada ao fato de que cultura "possui traços distintivos" sendo um subconjunto, nunca

um espaço universal; Uma peça, nunca um todo. "A cultura só se concebe como uma

parte, como uma área fechada sobre o fundo da não-cultura". (LOTMAN & UPENSKI,

1971, p. 37)

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O caráter da contraposição variará: a não cultura pode aparecer como uma coisa estranha a uma religião determinada, a um saber determinado, a um determinado tipo de vida e de comportamento. Mas a cultura sempre é de uma contraposição semelhante. Ainda mais, será precisamente a cultura a que intervirá como membro assinalado da oposição.

(LOTMAN, 1971, p. 37, grifo nosso)

Já a segunda característica pontuada pelos autores é a de que a cultura

intervém como um sistema de signos, sendo traços distintivos de cada uma como

"opositores", à exemplo de "convencional" em oposição a "natural e absoluto", ou

ainda "capacidade de condensar a experiência humana" em oposição a "estado

originário da natureza", sendo sempre estes, diferentes aspectos de essência sígnica.

Nesse contexto ocorre ainda a "mudança de cultura" ou pequenas mudanças

de aspectos sígnicos destas, havendo uma "elevação da semioticidade do

comportamento", como uma luta contra velhos rituais, mas que acaba podendo findar

em ações duplamente ritualizadas ou reforço da signicidade simbólica dos elementos

culturais. (LOTMAN, 1971). Neste contexto de "alteração" dos elementos culturais,

cabe aqui introduzirmos o conceito de Modelização, como catalisador dentro da

Semiótica da Cultura, dessa espécie de "refazer-se" dos signos a partir de sua

gênese.

Modelizar100 conceitua-se como ler os signos e seus sistemas a partir de sua

linguagem natural. Para a semiótica da cultura a linguagem natural está diretamente

atrelada a "fala" que modeliza um pensamento de gênese. Modelizar seria um "esforço

de compreensão do potencial sígnico dos objetos culturais", ou ainda, em

conceituação mais epistemológica:

Modelização é um termo forjado no campo da informática e da cibernética, particularmente porque provém dessa última a noção de sociedade em conjunto de sistemas caracterizados pela interdependência de auto-organização, isto é, por modos particulares de comportamento. Na modelização os modelos são sempre generalidades, daí sua capacidade de construir linguagem. (MACHADO, 2003, p. 50)

100

O termo modelizar é aqui empregado à luz das reflexões da Semiótica da Cultura. O objetivo dos pesquisadores russos da Escola de Tartu Moscou (berço da disciplina) era entender a comunicação como um sistema semiótico e a cultura como um conjunto de sistemas. Para eles, um sistema semiótico é constituído por diversos tipos de códigos que atuam simultaneamente, só existindo significado em suas correlações e não isolados. Para melhor entendimento dos sistemas, reelaboraram-se certos conceitos, como texto e linguagem (LOTMAN, 1978), código (POSNER, 1997) e modelização, conceito dinâmico que se refere à recodificação da informação codificada (LOTMAN, 1996).

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Assim, partindo da ideia de que Modelizar configura-se como "ler sistemas de

signos a partir de um arcabouço cultural" e tendo como berço deste, a linguagem

natural (fala/ oralidade), onde a busca por uma certa estruturalidade não corresponde

necessariamente a "decodificar" seu sistema modelizante, seu caminho percorrido,

mas voltar-se para o sistema construído a partir dele, podemos observar a figura do

Anjo e sua referenciarão bíblica cristã (de gênese verbal/fala) como um signo que

apesar de sua constituição extremamente subjetiva, ligada ao etéreo, a imaterialidade,

ao composto imagético das culturas. Esta modelização toma corpo, em especial tendo

a religião como viés de propagação e, dentro desta, a arte (a exemplo do anjo

barroco). Se mostram assim serem estas características ainda mais relevantes na

compreensão em como configuravam-se os estágios modelizantes anteriores do Anjo

em demais expressões da arte e da cultura, auxiliando na configuração do "Anjo no

cinema" atual, que o presente trabalho compreende.

Dentre os estudiosos fundantes da semiótica da cultura houveram os

chamados Linguistas101, Folcloristas102, Orientalistas103 e os Teóricos da Literatura,

nestes últimos, podemos citar como os idealizadores Iuri Lotman e Boris Uspenski,

bem como Michail Bakhtin, este último, mais para as questões linguísticas. Lotman,

torna-se expressivo em nosso trabalho no sentido de seu interesse em definir e

compreender a chamada Semiosfera, universo da Semiótica da Cultura.

Semiosfera configura-se para o estudioso como uma espécie de símbolo

comunicativo de toda uma cultura e dos indivíduos nela inseridos. O "comunicar"

abrolha como inerente aos seres através de sinais de "comum acordo significativo"

aos seus interlocutores. Nesta ideia, surge ainda a conceituação de "texto" e de

cultura. A cultura como geradora de textos e destes resultando a comunicação. Se

apresenta ainda como um mecanismo dinâmico que traduz mensagens em novos

textos ou sistemas de signos. Por isso, “cultura é memória, ela relaciona-se

necessariamente com a experiência histórica passada. (...) A própria existência da

cultura pressupõe a construção dum sistema de regras para a tradução da experiência

imediata em texto”. (LOTMAN, 1971, p. 41). Um texto nunca é um fenômeno isolado,

está inserido dentro da Semiofera. Lotman, em analogia ao conceito de biosfera,

aponta Semiosfera como “o espaço semiótico fora do qual é impossível a existência da

semiose”. (LOTMAN,1996, p. 24).

101

Destacando Viacheslav Ivanov, Isaac Revzin e Vladimir Toporov. 102

Eleazar Mieletinski, Dmitri Segal e Zara Monts. 103

Aleksandr Piatigorski e Boris Ogibenin.

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O autor ainda, em Semiótica de la cultura y del texto (1996), deixa claro o

quanto o conceito de texto, com sua raiz linguística,104 está longe da ideia de "o que o

autor quis dizer", mas sim, seu potencial dotado de significados no "por vir"; Sua

capacidade de tradutibilidade, seu espaço de relações e o quanto precede a própria

linguagem, sobrevivendo circunscrito nas culturas, modelizado nas cidades, em

espaços "in natura", gerando poliglotismos e polissemias do/no mundo. Uma espécie

de duplicações pela voz, pela palavra, pela imagem:

"La introducción de un texto externo en el mundo inmanente de un texto dado desempeña un enorme papel. Por una parte, en el campo estructural de sentido del texto, el texto externo se transforma, formando un nuevo mesaje". (LOTMAN, 1996, p. 99).

Para o autor, a diversidade do que constitui 'a vida' e suas formas de expressão, seja

pela arte, pelos rituais, pelo modus operandi social, constituem sempre como formas

de texto:

[...] qualquer comunicação registrada em um determinado sistema sígnico. Deste ponto de vista, podemos falar de um balé, de um espetáculo teatral, de um desfile militar e de todos os demais sistemas de signos de comportamento como texto, na mesma medida em que aplicamos este termo a um texto escrito em uma língua natural, a um poema ou a um quadro. (LOTMAN, 1978, p. 41)

Já Bakhtin, teórico da cultura, das artes e da linguística, em seu livro "Estética

da Criação Verbal" define com precisão a importância da compreensão dos elementos

criativos culturais como gênese da "tradução", seja na escrita, seja na oralidade, com

ideia muito similar a de Lotman sobre o nascer de novos textos, a partir dos primeiros:

O texto é realidade imediata (realidade dos pensamento e das vivências), a única da qual podem provir essas disciplinas e esse pensamento. Onde não há texto não há objeto de pesquisa e pensamento. O texto "subentendido". Se entendido o texto no sentido amplo como qualquer

104

"La definicion que aquí damos de texto en el plano de la semiótica de la cultura, sólo a primera vista contradice la adoptada en la linguística, porque también en esta última el texto, de hecho, está codificado dos veces: en una lengua natural y en el metalenguage de la descripción gramatical de la lengua natural dada". (LOTMAN,1996, p. 78)

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conjunto coerente de signos, a ciência das artes (a musicologia, a teoria e a história das artes plásticas) opera como textos (obras de arte). São pensamentos sobre pensamentos, vivências sobre vivências, palavras sobre palavras. (BAKHTIN, 2003, p. 307, grifo nosso)

Lotman, ainda na mesma linha, aponta que:

La naturaleza sígnica del texto artístico es dual en su base: por una parte, el texto finge ser la realidad misma, simula tener una existencia independiente, que no depende del autor, simula ser una cosa entre las cosas del mundo real; por otra, recuerda constantemente que es una creación de alguien y que significa algo. (LOTMAN,1996, p. 106)

Posto isso, interagindo tais conceituações a nosso objeto de estudo, torna-se

afirmativo o fato de que o suporte bíblico-cristão em seu formato "papel", ao fazer uso

da língua escrita, é uma modelização primógena da materialidade da figura do Anjo.

Sem deixar de lado os primeiros papiros ou ainda as pinturas rupestres nas cavernas,

é sabido que foi na pintura, mais do que até mesmo na escultura, que os Anjos

realmente ganharam corpo na materialidade. Com recorte cristão, foram nas pinturas

das catedrais, à exemplo da Capela Cistina, nos tetos, vitrais, quadros, esculturas e

demais manifestações da arte, que o legado angelológico estético se fez.

O verbal escrito bíblico serviu como modelo para o texto artístico e a forma do

Anjo passou a ganhar um corpo mais definido do que aquele que a imaterialidade da

fé e da imaginação davam a quem buscava uma associação entre "ideia" e "forma",

(conceituações expostas no Capítulo 1). "A princípio era a fé, que exige apenas

compreensão, interpretação." (BAKHTIN, 2003, p.308).

Dois suportes assim se encontraram, um como gênese para o outro e vice

versa, haja vista a literatura ficcional ou de vertente religiosa atribuir ainda mais

detalhes aos Anjos em caráter tanto físico quanto psicológico, em especial na

"literatura fantástica" atual, que desemboca no cinema, servindo-lhe como roteiro.

Sobre encontros como este, Bakhtin coloca que:

Dois enunciados distantes um do outro, tanto no tempo quanto no espaço, que nada sabem um do outro, no confronto de

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sentidos revelam relações dialógicas se entre eles há ao menos alguma convergência de sentidos (ainda que seja uma identidade particular do tema, do ponto de vista, etc.). (BAKHTIN, 2003, p.331)

Acontece assim o "encontro de dois autores" em uma tradução que não se

finda, como por exemplo, uma interpretação dos pintores como reação ao verbal

bíblico, não apenas em "Anjos" emoldurados, mas em todo um universo bíblico cristão

de personagens e cenários. "O dado e o criado no enunciado verbalizado" (BAKHTIN,

2003, p. 326). Houve uma nova manifestação do "mesmo", como um corpo de nova

roupagem que se alimenta da mesma alma: "O espírito (o meu e o do outro) não pode

ser dado como coisa (objeto imediato das ciências naturais) mas apenas na expressão

semiótica, na realização em textos [...]" (BAKHTIN, 2003, p. 310). Como também propôs

Bakhtin, ocorreu "a coisificação do sentido". Coisificou-se assim: o Anjo.

Em caráter exemplificativo, seguem abaixo os textos da anunciação do anjo

Gabriel para Maria, sobre a chegada do menino Jesus, representados na arte por

diferentes pintores, à exemplo de Martelli Chapel, James Tissot, Leonardo Da Vinci,

Lorenzo Monaco etc e na Bíblia judaico cristã, cada qual, a seu modo de modelização

em texto artístico:

E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. (Lc 1. 26-28)

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Figura 71: Obra de de James Tissot . The Annunciation. The Brooklyn Museum

Disponível em <http://angelsinart.blogspot.com.br/> Acesso em março de 2013.

Figura 72: Obra de Martelli Chapel.The Annunciation. San Lorenzo, Itália.

Disponível em <http://angelsinart.blogspot.com.br/> Acesso em março de 2013.

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Figura 73: Fra Angelico. Anunciação. Convento de S. Marco, Florença.

Disponível em <http://angelsinart.blogspot.com.br/> Acesso em março de 2013.

Figura 74: Lorenzo Monaco. Anunciação. Bartolini Salimbeni. Florença.

Disponível em <http://angelsinart.blogspot.com.br/> Acesso em março de 2013.

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Em aspectos cronológicos, as obras apresentadas nos fazem pensar como o

passar dos séculos traz às manifestações artísticas a característica surpreendente de

que alguns elementos iconográficos, em especial nas imagens de cunho mitológico,

perpetuam-se intactos, garantindo a longevidade dos textos nas formas. Auréolas,

asas, túnicas, cabelos longos, claros e cacheados, semblantes bondosos, são

algumas das características do anjo que perpetuam. Sobre esse embasamento,

Lotman e Uspenski apontam que há um dinamismo interno dos códigos culturais,

capaz de conservar a cultura como memória longeva da coletividade, elencando assim

três características desta:

1. Aumento quantitativo do volume dos conhecimentos. Conjunto das diferentes células do sistema hierárquico da cultura por meio de diversos textos. 2. Redistribuição dentro da estrutura das células, que leva a uma conseqüente mudança do próprio conceito de "facto memorável" e da valorização hierárquica daquilo que foi registrado na memória. [...] 3. Esquecimento. A transformação em um texto duma cadeia de factos vem inevitavelmente acompanhada da seleção, isto é, da fixação de determinados acontecimentos, que se traduzem em elementos do texto, e por esquecimento de outros, declarados inexistentes. Neste texto qualquer texto contribui para a memorização mas também para o esquecimento. [...] Um texto não é a realidade, mas o material para a reconstruir. [..] Contudo, o esquecimento também efectiva-se doutra forma; a cultura exclui continuamente do seu prórpio âmbito determinados textos. A história da destruição de textos move-se paralelamente à história da criação de novos textos. (LOTMAN, 1971, p. 43-44)

De forma sucinta, podemos elencar os três elementos citados pelos autores

em: -Memória como produtora de conhecimento; -Memória "seletiva" da cultura

filtrando fatos a serem propagados ou não; -Capacidade de esquecimento de fatos

não traduzidos em textos culturais. Sobre esses três elementos, em exemplo breve,

haja vista as obras de arte compostas da figura anjo não serem aqui nosso objeto de

estudo, observamos que os quadros apresentados dos pintores sobre o evento da

anunciação do anjo Gabriel à Maria já trazem em seus elementos algumas dessas

características: Observa-se que o quadro de Martelli Chapel traz a presença de três

anjos, não apenas um como relata a citação bíblica. Outras características de

destaque são a certa "urbanização" dos cenários em que a anunciação ocorre, com

presença de colunas e ambientes que remetem as construções da igreja romana em

seus primórdios, e não necessariamente a Jerusalém, cidade em que o evento bíblico

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é relatado. A semelhança de Maria com os próprios Anjos, em quase todas as obras,

também é característica sobressaliente, onde apesar da passagem bíblica não

referenciar em exatidão de que modo o anjo Gabriel "aparece", a distinção entre ela e

os anjos se dá por características como asas, auréolas ou cor da túnica. Outra

característica "adicionada" e interessante é o fato de que em todas as obras o anjo, ou

os anjos, aparecem do lado esquerdo e Maria sempre ao lado direito, apesar de não

haver indicação destas posições no texto escrito.

Com base nas próprias teorizações da semiótica da cultura, em específico

de Lotman, é importante sob esses aspectos elucidarmos que:

[...] o texto, sendo semioticamente não homogêneo, entra em jogo com os códigos que o decifram e exerce uma influência deformadora. Como resultado, no processo de avanço do texto do destinador ao destinatário se produz uma mudança e um crescimento de sentido. (LOTMAN, 1996, p.88).

Segre, também fazendo uso do vocábulo texto, coloca o quanto a etimologia da

palavra por sí só já nos indica uma espécie de metáfora da amplitude de seus

sentidos:

No uso comum, texto, que deriva do latim TEXTUS, 'tecido', desenvolve uma metáfora na qual são visíveis as palavras que formam uma obra e os elementos que as unem, como ao se tratar de uma trama. Esta metáfora na qual são visíveis as palavras que formam uma obra e os elementos que as unem, como ao se tratar de uma trama; Esta metáfora, que antecipa as observações sobre coesão do texto, alude em particular ao

seu conteúdo, ao que está escrito em sua obra. (SEGRE, 1985, p. 28-29

Tratando-se de texto "escrito" e de suas modelizações para novos formatos,

permitindo a amplitude semântica de seus significados, Lotman tambem introduziu o

termo "tradução" dentro da "cultura", conceituando-os como:

"[...] culture is a gathering of historically formed semiotic systems (languages) [...] The translation of the same texts into other semiotic systems, the assimilation of different texts, the moving of the boundaries between texts belonging to culture and those beyond its boundaries are the mechanisms through which it is possible to culturally incorporate reality. Translating a given section of reality into one of the languages of culture,

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transforming it into a text, i.e. into an information codified in a given way, introducing this information into collective memory: this is the everyday cultural activity sphere. Only what has been translated into a sign system can become part of memory. The intellectual history of humankind can be considered as a struggle for memory. Not by chance, the destruction of a culture manifests itself in the form of destruction of memory, annihilation of texts, oblivion of nexsues (...cultura é uma acumulação histórica de sistemas semióticos (linguagens) [...] A tradução dos mesmos textos para outros sistemas semióticos, a assimilação dos distintos textos, o deslocamento dos limites entre os textos que pertencem à cultura e os que estão além de seus limites constituem o mecanismo da apropriação cultural da realidade. A tradução de uma porção determinada da realidade para uma das linguagens da cultura, de sua transformação em texto, ou seja, em informação codificada de certa maneira, a introdução de tal informação na memória coletiva: esta é a esfera da atividade cultural cotidiana. Somente o que se tenha traduzido para um sistema de signos pode passar a fazer parte da memória. A história intelectual da humanidade pode ser considerada uma luta pela memória. Não é casual que a destruição de uma cultura se manifeste como destruição da memória, aniquilação de textos e esquecimento dos nexos)".(LOTMAN, 1987, p.31)

Traduzir um certo setor da realidade em linguagem, transformá-la num texto,

em uma informação codificada, introduzindo essa informação na memória coletiva,

fazendo dessa berço para a cultura em forma de ritos, mitos e comunicação é, para

nós, um fenômeno instigante de estudo. Num crescendo, vai nos mostrando que

cultura é informação, transmissão, memória, e nos faz perceber, de forma a não deixar

lapsos onde “somente aquilo que foi traduzido num sistema de signos pode vir a ser

patrimônio da memória”. (FERREIRA, 2003, p. 74).

Tais compreensões mostram-se fundamentais para o presente estudo, onde a

tradução do código verbal escrito para o suporte imagético cinematográfico perpassam

por uma imagem que potencialmente não visa apenas representar, mas objetiva

simular os signos culturais, a exemplo da personagem proposta (Anjo), mediada e

midiatizada pelas atuais tecnologias, promotoras de informação e memória.

Retomando o exemplo da anunciação do Anjo Gabriel avaliado na pintura,

como exemplo de mais uma re-tradução, o cinema, de forma satírica na comédia

Dogma (citada no capítulo anterior), simula também tal aparição de um anjo, porem

com um contexto totalmente diferenciado, urbano, temporal e polêmico:

A personagem Bethany/Betânia, interpretada pela atriz Linda Fiorentino é uma

mulher que perdeu "sua fé" (a tinha apenas quando criança) e trabalha em uma clínica

de aborto. Tal opção de trabalho se deu como uma espécie de revolta pelo fato de

descobrir ser uma mulher estéril e seu marido tê-la abandonado por isso. Ainda neste

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início, já observamos o antagonismo e a releitura em relação a Maria, que foi

agraciada pela presença de um anjo justamente para anunciar sua gravidez, gerando

a Jesus.

Durante a madrugada em seu quarto, desce uma espécie de bola de fogo

(ícone comum da aparição dos anjos bíblicos), porem a personagem apaga o fogo

com um extintor de incêndio e não satisfeita ainda bate no "Anjo" com um taco de

baseboll. Neste aspecto, apesar da comicidade, observa-se o quanto a

contemporaneidade e a emancipação feminina fazem da ação racional de Bethany

algo comum, onde a violência gera em mulheres (e homens) reações como esta

(bater, chingar etc) não havendo espaço para nenhum tipo de cogitação de o elemento

estranho que aparece, poder ser algo divino.

O Anjo, após reclamar da falta de cordialidade, tendo tido seu fogo apagado,

apanhado com um taco de baseball e ter sido chingando pela personagem, reclama

que "antigamente" (incitando talvez aos ministérios bíblicos) as aparições eram mais

respeitosas e que ser anjo hoje em dia está "cada vez pior". Por fim identifica-se como

Metatron, a Voz de Deus. Como missão, convoca Bethany para uma "cruzada divina",

dando início assim ao enredo de ação do filme.

Figura 75: Mecatron. A voz de Deus. Filme Dogma.

Disponível em: <http://www.hwdyk.com/quiz/m/45/dogma>. Acesso em maio de 2013.

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Figura 76: Bethany. Filme Dogma. Disponível em

<http://newjr.tripod.com/dogma.htm> Acesso em maio de 2013.

Este exemplo nos oferece indícios de como uma releitura imersa em um

conceito cultural específico tem seus sentidos alterados, podendo até servir de uso

para traduções voltadas ao cômico. O próprio filme, imensamente criticado (mais de

trinta milhões de críticas na internet) por fazer escárnio com elementos da fé cristã,

incita justamente essas características de "tradução" de fatos bíblicos para fatos

cômicos e questionadores, como por exemplo, apresentar Deus como uma mulher

(cantora Alanis Monriset) com comportamentos extremamente românticos e as vezes

infantis; Apresentar um 13º apóstolo negro; Apresentar demônios como crianças

(meninos de patins) etc. O filme apresenta em sua síntese a proposta da necessidade

de uma tradução da "religião" (no caso do filme, a católica) mais moderna e prática;

Não na classe dos anjos, mas como exemplo do propósito, um dos elementos do

enredo é um padre "moderno" que decide que para ganhar mais adeptos a sua igreja

não irá mais apresentar a imagem de Jesus Cristo crucificado, morto, martirizado; Cria

então o "Jesus Camarada" (Buddy Christ), uma escultura que apresenta Cristo

sorrindo e fazendo gesto otimistas e acolhedor; A imagem foi inclusive comercializada

oficialmente pelos produtores do filme, com réplicas; Um exemplo real de como a

própria cultura compreende, mesmo que de forma não intelectualmente elaborada, o

quanto alguns aspectos estão relacionados a tradições, passíveis (ou necessários) de

serem modelizados.

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Figura 76: "Jesus Camarada". Filme Dogma. Disponível em <http://thefilmstage.com/features/top-ten-

religious-films/ > e <http://nerdmais.com.br/dogma-s-buddy-christ> Acesso em maio de 2013.

Oferecidas essas exemplificações, há de se refletir sobre a compreensão das

características que fazem esses tipos de personagens mitológicos ressurgirem nas

narrativas, independente da temporalidade. O autor Joseph Campbell elucida esse

aspecto com o que chama de Jornada do Herói, aspecto também compreendido por

Christopher Vogler, que utiliza as ideias de Campbell em uma ligação direta com a

construção de roteiros e personagens cinematográficos:

A Jornada do Herói não é uma invenção, mas uma observação. É o reconhecimento de um belo modelo, um conjunto de princípios que governa a condução da vida e o mundo da narrativa do mesmo modo que a medicina e a química governam o mundo físico. É difícil evitar a sensação de que a Jornada do Herói existe em algum lugar, de algum modo, como uma realidade eterna, uma forma ideal platônica, um modelo divino. Deste modelo, cópias infinitas e altamente variadas podem ser produzidas, cada uma repercutindo o espírito essencial da forma. (VOGLER, 2006, p.16)

Para o autor, Joseph Campbell compreendeu na criação de arquétipos

específicos com base Junguiana105, a possibilidade de uma mesma história repetir-se

não apenas por estruturas narrativas pré-concebidas, mas oferecer aos criadores a

possibilidade de interpelação e aprimoramento, desafiando um esquema que sempre

existiu. “A “fórmula” pode articular idéias infinitas, porém novas situações aparecem

pondo os Heróis a refleti-las, fazendo com que continuem para sempre” (VOGLER,

2006, p.33).

105

O termo junguiana, refere-se ao psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (fundador da psicologia analítica e autor dos conceitos de arquétipos e inconsciente coletivo).

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As personagens de cunho arquetípico mitológico presentes na jornada do

herói, a exemplo do personagem anjo judaico cristão, possuem em grande parte

essência nos escritos bíblicos (que atuam nessa proposta como suporte de

exemplificação do código verbal escrito), Para Kenedy “(...) o propósito de Joseph

Campbell ao explorar os mitos bíblicos não é descartá-los como inacreditáveis, mas

expor mais uma vez seu núcleo vivo e nutriente” (VOGLER apud KENEDY, 2006, p. 4).

Já no que concerne a tradição judaica cristã como berço do personagem

apresentado, os estudos de Campbell mostram vir ao encontro do tema de estudo

proposto, tendo em vista Kenedy afirmar que “(...) o foco dirigido ao estudo da

tradição judaico-cristã é expandido pela amplitude de conhecimento de Joseph

Campbell, o que o leva a se mover com leveza pela história religiosa e mitológica”.

VOGLER apud KENEDY, 2002, p. 4). Para Campbell, “(...) os mitos provêm da

imaginação criativa que nós todos partilhamos, a narrativa que cada um de nós

reconhece na busca de significado espiritual forma um paralelo com todas as lendas

de heróis”. (CAMPBELL, 2004, p. 98)

Tais heróis advém de mitologias organizadas por “figuras mitológicas”.

Desta forma, a seleção de um personagem arquetípico mitológico, deve retirar-

se da cena mundana e iniciar uma jornada onde residam dificuldades e tomá-las

a favor de si mesmo, penetrando nos domínios da experiência e da assimilação,

realizada a primeira tarefa, o heróis retorna, transfigurado, pronto a ensinar uma

lição de vida renovada sobre o que aprendeu. (CAMPBELL, 2004).

Uma das formas “materiais” em manter latentes mitologias que advieram do

código verbal (tanto oral quanto escrito) mostrou-se sempre através da arte, ao iniciar-

se pela pintura (como já exposto) em especial quando liberta-se do cunho de

representação a partir da descoberta da fotografia (final do século XIX) e reinventa-se

com novos ares, ao chegar o abstracionismo e seus movimentos. Tal possibilidade

criativa liberta a criatividade humana para transpor os limites daquilo que muito

dependia apenas da imaginação ou da adjetivação da palavra escrita para tomar

forma. Essa liberação vem ao encontro do onírico e do gênero fantástico, das

representações e/ou simulações angelológicas que nosso trabalho contempla.

Na contemporaneidade ou no passado, características oníricas e subjetivas

ganham força no suporte literário, haja vista a disponibilidade de palavras, e nestas,

em especial os adjetivos, que qualificam personalidades que não possuem na

materialidade real (física) sua referência direta (Quem já viu um anjo?). Neste aspecto

a literatura mostrou-se sempre bastante emancipada, especialmente pela

alfabetização sígnica do código escrito e seu acesso a aqueles que o dominam

(quantos já falaram e escreveram sobre Anjos?).

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Em caráter exemplificativo, no que concerne o cinema enquanto arte e produto

cultural, apesar de ter se amparado na literatura na construção de suas primeiras

narrativas106, cabe observar que apenas nos últimos anos, especialmente com o

advento das tecnologias digitais e das imagens numéricas, as formas e personagens

de cunho onírico apareceram com maior preponderância. Se fôssemos fazer um

resgate cronológico, dos primeiros anos do século XXI, há uma verdadeira overdose

de personagens e mundos fantásticos107, especialmente advindos da literatura108.

Campbell reflete também sobre as relações do fantasioso e onírico (em especial

advindo dos mitos) com a mente humana, respaldando sua capacidade de produzir

narrativas que galgam o tempo, inerentes ao homem ou a alguma forma racional de

aprendizado.

Como os sonhos, os mitos são produtos da imaginação humana. Suas imagens, em conseqüência, embora oriundas do mundo material e de sua suposta história, são como os sonhos, revelações das mais profundas esperanças, desejos e temores, potencialidades e conflitos da vontade humana (...) (CAMPBELL, 2004, p. 40)

Conde e Duque, autores espanhóis que também expõem ideias acerca das

imagens arquetípicas, observam a aura de magia e influência sobre a mente humana

que as temáticas arquetípicas circunscrevem, em um contexto “atemporal” que é

capaz de reunir passado-presente-futuro em um único contexto. Pudemos assim

observar como pequenos elementos postos de forma sutil na Bíblia, transformaram-se

em grandes enredos para o cinema, como é o caso dos anjos que apaixonam-se pelas

humanas, que ofereceu enredo para filmes inteiros como Asas do Desejo e Cidade

dos Anjos.

(...) los temas arquetípicos aparecen em todo El mundo em los mitos, los cuentos de hadas, lãs fantasias y los sueños. Podemos reconocer estos motivos arquetípicos por La fascinación y El poder irracional que ejercen sobre nosotros. La mente consciente contiene todo lo que conocemos em El mundo interno, desde lãs representaciones personales, hasta todas lãs vastas possibilidades de La psique, Del

passado, El presente y El futuro. (CONDE & DUQUE, 2003, p. 19)

106

Além das frequentes adaptações de obras literárias para as telas tornaram-se práticas correntes no início do cinema as contratações de escritores como roteiristas, como por exemplo, Scott Fritzgerald, Aldous Huxley, Gore Vidal, William Faulkner, James Age e Nathanael West, dentre outros (ROSSO, Mauro. 2010) 107

Convém observar que a própria literatura expande seus gêneros e traz na contemporaneidade uma maior expressividade em gêneros como fantástico, maravilhoso e estranho (TZEVAN, Todorov. 1992) 108

A contemporaneidade nos traz nesse âmago, trilogias cinematográficas a exemplo de “As Crônicas de Narnia”, “Harry Potter”, “Piratas do Caribe”, “Crepúsculo”, “Senhor dos anéis”, entre outros.

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Se trouxermos para nossos filmes analisados, os voos do filme Dogma ou de

Angela (tido para nós como o voo de anjo mais convincente e poético dentre todos os

observados) não teriam tamanha plasticidade e verossimilhança com o "voar" que

busca-se referência tanto nas aves quanto no imaginário das criaturas voadoras

(super heróis, fadas, anjos etc).

Como exemplo desta tradução arquetípica, Bruno Meyers e renan Teixeira, em

reportagem junto a revista Veja (2010), apresnetam um sucinto modelo de Como os

Anjos chegaram até nós, partindo do velho testamento, novo testamento, passando

pela idade média, renascença e idade moderna até o século XIX e dias atuais:

Figura 77: Evolução Angelical ao longo da história. MEYER & TEIXEIRA, 2010, p. 152-154.

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Vilém Flusser, teórico da comunicação, também fala de tradução, à exemplo

de Lotman e dos demais autores apresentados. O autor abarca os conceitos de linha e

superfície, que vem de encontro com a temática proposta, tendo como premissa

tratarmos o suporte bíblico narrativo da figura do anjo judaico cristão como linha e sua

materialidade através da imagem cinematográfica na condição de superfície.

Para o autor, o pensamento ocidental histórico concebeu sempre o mundo em

linhas, concebido primariamente pelo povo judeu, o “povo do livro”, da escrita linear,

apesar de poucos dominarem a leitura. Com base nisso, polemiza afirmando que a

invenção da imprensa vulgarizou o alfabeto, porém, na atualidade, apesar das linhas

escritas serem muito mais importantes do que antes, vem se tornando menos

importantes para as massas do que as superfícies. “O que significam essas

superfícies? Essa é a pergunta do momento. Com certeza elas representam o mundo

tanto quanto as linhas o fazem.” (FLUSSER, 2007, p. 103) Ainda para o autor, torna-se

importante descobrir que tipo de adequação existe entre as superfícies e o mundo de

um lado, e as superfícies e linhas de outro.

Perguntas como: “Qual a diferença entre ler linhas escritas e ler uma pintura”?

(FLUSSER, 2007, p. 104) levam Flusser a apontamentos teóricos sobre questões

quanto ao tempo de leitura, a alfabetização dos códigos visuais, a liberdade contida no

processo de leitura, entre outras questões acerca da imagem superfície versus o

código escrito. Flusser confere ao cinema, nosso suporte imagético analisado, a

materialização de “superfícies” que contem além das problemáticas de demais

imagens bidimensionais (pintura, fotografia), mas com os agravantes da presença do

som e dos cortes que compõe a montagem: “Ao lermos linhas escritas, estamos

seguindo “historicamente” pontos (conceitos). Ao lermos os filmes, estamos

acompanhando, “historicamente” superfícies dadas (imagens)“ (FLUSSER, 2007, p.

108). Para ele, na atualidade o pensamento em superfície vem absorvendo o

pensamento em linha, ou vem aprendendo a como produzi-lo.

Partindo de tais afirmativas, observa-se que códigos imagéticos (como filmes)

dependem de pontos de vista predeterminados: são subjetivos. São baseados em

convenções que não precisam ser aprendidas conscientemente: elas são

inconscientes. Códigos conceituais (como alfabetos) independem de um ponto de vista

predeterminado: são objetivos. São baseados em convenções que precisam ser

aprendidas e aceitas conscientemente: são códigos conscientes. As linguagens do

pensamento linear (poesia, literatura, música) estão aproximando-se cada vez mais do

pensamento imagético (pintura, fotografia, cinema). (FLUSSER, 2007)

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“Os fatos são representados pelo pensamento imagético de maneira mais completa, e são representados pelo pensamento conceitual de maneira mais clara. As mensagens da mídia imagética são mais ricas e as mensagens da mídia conceitual são mais nítidas” (FLUSSER, 2007, p. 115).

Scorsi, complementa-nos essa ideia com:

O fato de uma tradição de escrita ter firmado na cultura não pode e deve titular a literatura em posição de primazia, neste momento, ou definir a escrita como critério absoluto em uma comparação que definiria a imagem como um substituto mais ou menos imperfeito. Carregamos uma tradição de escrita, sim, porem reconhecemo-nos cada vez mais como uma civilização da imagem. E, nesse processo cultural, destacam-se as imagens-sons em movimento produzidos pelo cinema. (SCORSI, 2005, p .42)

Observa-se assim que as próprias condições do espetáculo cinematográfico

(as imagens luz e sombras – que se movem na tela, os sons que envolvem o

espectador) contribuem para criar uma sensação de isolamento, ainda que estejamos

no meio de uma multidão que não se vê e não se escuta, e isso tende a provocar no

espectador algo semelhante a um estado hipnótico, um estado de transe no qual a

consciência pode ficar totalmente adormecida. Nesse sentido as imagens de um filme

podem ser comparadas a um sonho compartilhado. Reside neste sonho, advindo do

verbal e traduzido à imagem no cinema e seus personagens arquetípicos mitológicos,

a modelização ea tradução de Lotman e a superfície de Flusser.

O cinema é vislumbrado como rito pós-moderno, dentro deste contexto, há

importância da análise de ação ritual como constitutiva dos processos sociais, que tem

sido cada vez mais amplificada, em especial pelo excesso populaiconal dos grandes

centros urbanos. Estudiosos introduziram a noção de “performance cultural” ou

“performance” para expressar a multiplicidade de formas rituais que estruturam e

permeiam "a vida", estas, incluindo os ritos sagrados antigos indo até as formas de

entretenimento e os processos políticos atuais. O cinema em nossa pesquisa é

caracterizado como rito.

O rito, ou performance cultural, é um evento crítico, que é marcado por uma

ruptura no fluxo da ação social, por um limite temporal, e os atores sociais que estão,

de alguma maneira, manifestando sobre seu mundo. Etimologicamente, rito vem do

latim ritus, que indica ordem estabelecida.

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O rito coloca ordem, classifica, estabelece as

prioridades, dá sentido do que é importante e do que é secundário. O rito nos permite viver num mundo organizado e não-caótico, permite-nos sentir em casa, num mundo que, do contrário, apresentar-se-ia a nós como hostil, violento, impossível (TERRIN, 2004, p. 19).

Na perspectiva das religiões, rito toma forma de uma ordem cósmica universal

estabelecida pelos deuses, fundamentos de todo o universo. Para isso nos servimos

dos estudos de Terrin (Crf. 2004; p. 19-22). Quando utiliza o termo “rito”, faz-se

referência a uma ação realizada em determinado tempo e espaço (a iniciação torna o

menino adulto, o batismo faz a criança cristã).

Tratam-se de ações, com início, meio e fim, que são diferentes das ações da

vida cotidiana. Parafraseando Terrin, grosso modo, existem as seguintes

especificações quanto aos ritos:

-“Ritual” refere-se a uma idéia ampla, da qual o rito é uma instância específica. Uma

abstração, enquanto o rito é aquilo que se realiza e se vive em determinada religião ou

cultura. -“Cerimônia” é o fundamento, a base da “encenação” ou “atuação” de

qualquer rito. -“Ritualizar” é o processo pelo qual se formam ou se criam ritos. -O

“Ritualismo”, é quando se passa a dar uma conotação negativa ao processo. Um

comportamento estereotipado, vazio de conteúdo simbólico.

Contudo, hoje o termo “rito” é de tal forma amplo que inclui qualquer atividade

realizada de forma padronizada, formalizada e repetida, inclusa no que os autores

nominam – nos mais amplos conceitos- como pós-moderno:

O que define o pós-moderno, embora isso seja apenas um nome em busca de um significado, não é reconhecer esses mundos múltiplos como outras tantas realidades em que nós vivemos, e sim o perceber que esses mundos vão se sobrepondo, fragmentando-se, cruzando-se, anulando-se e depois de novo, empregando técnicas recorrentes, voltam a nos fazer sonhar... (TERRIN, 2004, p. 372).

Um rito ocorre quando em seu instante, oferece aos seus participantes a

sensação de estarem imersos em um "centro do mundo". A concepção de centro do

mundo, na visão de Eliade, era fundamental na vida do ser humano nas culturas

arcaicas (ELIADE, 1984). Nosso mundo situa-se sempre no centro. Espaços como a

casa, a aldeia, a cidade, a praça, o espaço de convivência social, resíduo mítico do

espaço sagrado das culturas primitivas, passa a ser transportado, por meio de uma

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operação simbólica social, para a mídia em seu não-lugar-específico. Para a

sociedade moderna, a mídia é o novo centro do mundo, exercendo o poder agregador

que em outros tempos reunia os povos ao redor das fogueiras, dos xamãs, dos totens,

dos centros religiosos.

Assim, mais do que simplesmente negar o mito (o anjo da tela nega o anjo

bidimensional da tela pintada, que por sua vez nega o anjo escrito bíblico), o cinema

renova suas versões, contextualizando-o na sociedade moderna, criando uma

expectativa da qual o público sabe de antemão o desfecho, podendo ainda em uma

sala escura promover um rito de contemplação, unindo indivíduos incomuns, que, por

algumas horas, não estão mais atentos a luz de uma fogueira, adorando uma

divindade, mas estão boquiabertos, contemplando o fascínio que a imagem em

movimento, o som e a tecnologia promovem enquanto linguagens, como coloca

Antonio Costa em Compreender o Cinema:

Cinema é linguagem vista e ouvida no seu acontecer e, portanto, sempre presente . Se o advento da escrita nos forçou a conhecer a oralidade da linguagem verbal, com o advento do cinema pudemos tomar conhecimento do real. Real que é realidade a-presnetada na contiguidade de imagens-sons que acumulam significados, na sucessão temporal em que se passam. Linguagem que tem parentesco com literatura, possuindo em comum com ela o uso da palavra, das personagens e a finalidade de contar historias (COSTA, 1989, p. 27)

Por fim, colocamos que não há primazia de um tipo de linguagem em relação a

outra, porem, ler imagens na contemporaneidade, passa a ser um novo alfabeto. "Ao

contrario da escrita, em que as palavras estao sempre de acordo com um código que

você deve saber ou ser capaz de decifrar (você aprende a ler e a escrever), a imagem

em movimento estava ao alcance de todo mundo. Uma linguagem naõ só nova, como

tambem univeral: um antigo sonho" (CARRIÈRE, 1995, p. 19)

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Considerações Finais

Ao propormos uma análise do "Anjo no Cinema" nosso objetivo foi

compor reflexões que mensurassem as características da personagem Anjo dentro

das referenciações bíblicas judaico-cristãs e suas potenciais contribuições aos estudos

da comunicação e semiótica a partir de suas manifestações nesse suporte midiático.

Nosso foco era descobrirmos quais as relações e/ou contribuições possíveis, advindas

da personagem e seus estudos "angelológicos", em muito advindos da teologia,

observando os mais diferentes aspectos da personagem nos filmes selecionados.

Tínhamos inicialmente como hipóteses que 1. A figura do Anjo,

abordada dentro dos estudos da angelologia (pseudociência proposta dentro dos

estudos da religião, da teologia e da filosofia) possui relações e contribuições

fundamentais para com a área da comunicação, em caráter tanto análogo, sob a ótica

da fundamentação de “mensageiro” abordada como uma das principais características

da figura, bem como elemento persuasivo dentro das manifestações midiáticas da

área, tendo em vista seu caráter mitológico-cultural e religioso e sua preponderância

enquanto signo semiótico. 2. Enquanto personagem, a figura possui significativas

características que aprimoram o ato comunicativo e sua eficácia junto aos públicos,

elemento este já atentado pela área, mas ainda não utilizado quantitativamente de

forma expressiva. Esta última ideia, argumentada a partir da já estruturada e praticada

produção de personagens vinculados ao imaginário coletivo e sua, também já

consolidada, relação entre as manifestações midiáticas (em especial junto ao cinema,

rito contemporâneo pós-moderno aglutinador das massas, capaz de caracterizar o

Anjo como “mito renovado”), sejam essas narrativas verbais escritas, filmografias

(cinema) e todas as demais formas e veículos utilizados, em especial em formato

audiovisual.

Consideramos que, ao findar dessa pesquisa, a primeira colocação mostrou-se

mais do que afirmativa ao levarmos em conta em especial as considerações do último

capítulo do trabalho, que contempla a comunicação e a semiótica da cultura.

Compreender o Anjo como metáfora para autores como Serres e Benjamim fez-nos

refletir o quanto a figura pode transpor alem de uma interpretação que normalmente se

restringe ao campo das artes e adentrar em outras disciplinas, explicando fenômenos

sociais concretos, a exemplo das mensageirias e querubins propostos por Serres. Em

relação a semiótica, observa-se que a semiótica da Cultura em suas especificidades

acerca da tradutibilidade e da modelização dos signos veio de encontro com o

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processo pelo qual perpassou o Anjo bíblico, o anjo na arte primitiva dentro da pintura

cristã (mesmo que não avaliada a fundo) e o anjo cinematográfico contemporâneo.

Como sugestão, fica a disposição para futuras sequências, um aprofundamento nas

questões arquetípicas da personagem (outro recorte). Observamos que dentro dos

mais variados autores que trazem distintos nomes para seus arquétipos (em grande

maioria reinterpretações das classificações e Jung109) Nelson Brissac Peixoto

(brasileiro) coloca os arquétipos viajante- detetive-estrangeiro como uma espécie de

clichês cinematográfico e literário.

Em seu livro Cenários em Ruínas (São Paulo: Brasiliense, 1987), analisa os

arquétipos cinematográficos de filmes derivados de antigas novelas policias, filme noir,

western e literatura de best-seller. Apresenta os três modos de constituição de

personagem na cultura fílmica contemporânea. Nosso Anjo, poderia adentrar-se com

suas especificidades em cada uma delas, como por exemplo, um "andarilho" que

reescreve uma nova história em cada lugar onde passa, na expectativa de ter

encontrado uma raiz e uma referência de sua origem.

Para ele identidade, significa não ter casa. Assumir esta inquietação como constitutiva de seu modo de ser. Viver em hotéis, em mobile homes, em motéis de beira de estrada. Num lugar qualquer onde estiver passando em locais que se fique por pouco tempo, em que não se deixe rastros, dos quais não se guarde lembranças. É preciso que as coisas se tornem inseguras para que fiquem, de um outro modo, seguras. É isso que significa estar num local desconhecido, se mudar, se tornar um estranho: um jeito de fazer as coisas deixarem de ser óbvias, de se tornar disponível para perceber o novo. Cruzar fronteiras permite uma nova percepção das coisas. Negar-se todo o tempo, romper permanentemente como o que se é, voltar sempre a zero. [...] É preciso mudar sempre. Desaparecer, torna-se desconhecido, partindo para longe ou se perdendo na própria cidade, é a verdadeira forma do movimento da viagem. Ser sempre alguém diferente, como se fosse de fora. buscar saídas, criar válvulas de escape, furar buracos, abrir caminhos. Partir sem rumo traçado, parar por pouco tempo nos lugares, nunca mais voltar. Viver na superfície, não se apegar a nada nem ninguém, não criar raízes. Não ter casa, não ter memória, não ter para onde ir. Afirmar sempre sua distância. Abandonar os lugares conhecidos, desfazer continuamente a própria identidade: processos infinitos de estranhamento (PEIXOTO, 1987, p. 82)

As classificações de Peixoto podem contemplar ainda uma análise do Anjo

como o Detetive que encara a sensação de estranhamento do mundo em mistério a

109

Para Jung os arquétipos são símbolos do inconsciente coletivo, atualizados por diversos meios

(lendas, mitos, misticismo, religião, enredos contemporâneos da publicidade, telenovelas etc). Neles são concentradas aspirações, desejos da espécie humana. "Vivenciar um arquétipo é se sintonizar nessa rede inconsciente de nem que seja por breves flashs, como num déjà-vu".(FERREIRA, 2011)

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ser desvendado ou o Estrangeiro, aquele sem paradeiro e casa, que mesmo a tendo,

não possui sensação de pertencimento a lugar algum, procurando esquecer o seu

passado. Observa o mundo "deteriorar-se" como uma espécie de apocalipse e

permanece tenso, quieto, observador (PEIXOTO, 1987). Para Peixoto, esses três

"tipos" são os protagonistas da pós-modernidade. Em suas narrativas aparecem, em

geral, como prisioneiros em um universo hostil, estrangeiros dentro do seu próprio

país, uma estranha sensação de deslocamento, de não fazer parte de um mundo

decadente e corrompido (FERREIRA, 2011), todas características conclusivas de

nosso trabaho.

A questão do caráter "mitológico-cultural religioso", exposto também na

hipótese, mostrou-se uma vertente muito além do que "forte", mas sim como "única"

dentro das personagens apresentadas; Dentro das filmografias, não houveram

menções aos anjos da guarda do esoterismo ou aos anjos mitológicos, à exemplo do

"Cupido110", mas sim personalidades com gênese e função muito semelhantes aos

anjos bíblicos, obviamente que ampliadas em enredos dignos à composição de um

longo roteiro cinematográfico, que comportasse em média duas horas de filme.

Porem, apesar desses aspectos tradicionalmente bíblico cristãos, algumas

considerações "novas" foram atentadas, sob as quais deixam-se lançadas para

estudos posteriores, sobre a tradução entre suportes. Como coloca Scorsi: "Se a

tradução é um trabalho de interpretação da obra original, o desejo de recriar obra

perfeita, na outra linguagem, existirá junto com o saber de sua impossibilidade."

(SCORSI, 2005, p.39):

- O Anjo Gabriel, anunciador da virgem Maria e com missões estritamente

relacionadas a Deus na Bíblia, aparece de forma expressiva com ou "anjo rebelado",

igualando-se em a Lúcifer e descontente com seu criador;

- Lúcifer, não necessariamente representa o lado mal, antagônico a Deus; em

algumas narrativas assume uma posição positiva de auxiliador, onde o "antagonista"

acaba sendo outro anjo;

- Os nomes dos Anjos bíblicos (Gabriel, Rafael, Miguel) ou nomes com o sufixo

"el" não são necessariamente uma constante. Nomes modernos e mais adequados ao

contexto americano (filmes hollywoodianos) são comuns nas obras;

110

Cupido: s.m. O deus romano do amor. Os antigos gregos e romanos referiam-se a Cupido como

possuidor de uma natureza ao mesmo tempo cruel e amistosa. Sua crueldade transpareceu no tratamento que deu a sua esposa, a bela princesa Psiquê. Cupido proibiu-a de tentar ver alguma vez sequer como ele era. Recusava-se a estar com ela exceto à noite, na escuridão. Certa noite, enquanto Cupido dormia, Psiquê acendeu uma luz a fim de poder vê-lo. Cupido despertou e fugiu, furioso. Entretanto, os mitos também o descrevem como um rapaz belo e amistoso, que unia os amantes sempre que podia. (Disponível em: <http://www.dicio.com.br/cupido/>. Acesso em junho de 2013).

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-Os Anjos ainda são necessariamente masculinos; As anjas mulheres possuem

pouco espaço no cinema e quando aparecem, tem apelo mais relacionado a

sensualidade, mantendo padrões estéticos da mídia (cabelos, olhos), diferente dos

homens, que possuem os mais variados perfis;

- O "anjo barroco", ou o anjo com cabelos e olhos claros e toda uma tradição

de "tipo" não confirmaram-se nas narrativas; Podemos até ousar dizer que o cinema

busca atores que os representem a causar justamente um proposital olhar de

estranhamento do espectador em relação a sua forma; Mostram-se anjos belos, mas

mais predispostos a parecerem-se com "homens comuns";

- O figurino de um Anjo cinematográfico não representa possuir um padrão e

nem ser uma preocupação nas narrativas; a maioria das personagens assemelha-se a

"pessoas comuns", com pequenos elementos ou cenas "ápices" em que o "Anjo"

efetivamente "aparece" travestido de "Anjo" efetivamente.

- Asas, auréolas, túnicas, não são constantes nos filmes; quando aparecem são

em cenas curtas, momentos específicos e percebe-se um cuidado para que não sejam

caricatas (parecendo mais uma fantasia do que parte da personagem); Risco que esse

tipo de adereço acaba trazendo;

-No cinema, os anjos não voam. Quando voam, são filmes mais recentes, que

fazem uso de recursos de pós-pródução; As atuais tecnologias digitais agregadas ao

cinema ainda não se mostram expressivas dentro deste tipo ação para esta

personagem em específico.

-No cinema, os anjos não são assexuados; Os romances são comuns, na

maioria com humanas;

-No cinema, os anjos não são passivos ou do tipo "bonzinhos"; Muitos lutam

com técnicas de artes marciais e empunham armas, sendo violentos com seus

inimigos quando necessário;

-No cinema, os anjos não demonstram seguir ordens de Deus; Quando essa

questão é implícita, não há um contato ou temor em relação ao ser superior; Todos

são autônomos e com narrativa vertendo para imagem de "senhores do próprio

destino".

-Os filmes "de/com Anjo" não possuem premiações expressivas, em especial

os mais contemporâneos.

-Os filmes "de/com Anjo" não são uma constante no cinema francês, no cinema

nacional (Brasil) ou demais países. A Alemanha, como berço dos filmes de Wim

Wenders, apesar da fama e poética que a divulgam com "Asas do Desejo" também

não possui produções comerciais expressivas. Hollywood, enquanto cinema

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americano, ainda é (assim como para a maioria das temáticas) o berço deste tipo de

personagem.

Em relação ao segundo apontamento hipotético do início da pesquisa,

confirma-se parcialmente que o Anjo enquanto personagem é pouco utilizado pelo

cinema e que a área "atenta" para características positivas que este ícone traz nas

narrativas que compõem; Porém, há implicitamente (mais atrelado ao senso comum)

um conceito de que a literatura infanto-juvenil dos últimos anos, que usa em demasia

essa personagem, "alimentaria" os roteiros cinematográficos, trazendo o "Anjo' como

uma constante (como colocado em nossa introdução, através de citação da revista

Istoé), porém, nosso trabalho, que objetivava trazer os filmes mais expressivos até os

dias atuais, teve sua última análise com o filme "Legião", do ano de 2011;

Com este dado, observa-se um certo equívoco entre o que é um personagem

"Anjo" e o que é um outro perfil de personagem "fantástico"; Este último, muito comum

na literatura e adaptado às telas do cinema nas séries que contemplam em especial os

mundos fantásticos. O "Anjo" atual é mais comum na literatura do que no cinema e as

previsões ou impressões de que é traduzido ao cinema em larga escala, não se

confirmam. Diferente do mercado editorial mostra-se cada vez mais adepto a temática,

como por exemplo a relação recente de obras que estão sendo comercializadas: -

Sussurro: Hush, Hush, (Becca Fitzpatrick); -Sete dias para uma eternidade (Marc

Ievy); -Anjo negro (Antonio Tabucci); - Anjos caídos e a origem do mal (Elizabeth Clare

Prophet); - Anjo da morte (Jacj Higgins); -O vale dos Anjos (Eden Maguire); -Tempo

dos Anjos (Anne Rice); -Fallen (Lauren Cate); -Halo: Os anjos descobrem o desejo

(Alexandra Adornetto); -Beijada por um anjo (Elisabeth Chandler); -O Vale dos Anjos

(Leandro Shulai); -Diário de um Anjo (Mandy Porto); -A batalha do apocalipse: Da

queda dos anjos ao crepúsculo do mundo (Eduardo Spohr); Estes três últimos, na

categoria literatura nacional.

Sobre este aspecto, Maria Carolina Maia, em texto na revista Veja on line

(2010) intitulado "Na literatura, os anjos são vários, mas são todos humanos", coloca

que:

Os livros sobre anjos não são iguais. Em alguns, eles são melhores do que em outros – aqueles em que são caídos e enfrentam dilemas éticos e existenciais. Em algumas histórias, eles vivem aventuras cheias de ação e suspense. Em outras, vêm à terra conhecer ou ajudar pessoas e acabam se apaixonando. Se há algo em comum entre eles, além das asas, é com certeza o caráter humano que carregam em todas as páginas. “A febre de anjos na literatura se manifesta em livros diferentes, mas com um elemento em comum: a tendência a apresentá-los como criaturas mais próximas do ser humano do que da visão arquetípica do anjo da guarda”, diz Roberto Feih,

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diretor-presidente da editora Objetiva, que lançou no país, em outubro, Angeologia (456 páginas, 49,90 reais), romance construído sobre antigos mitos em que anjos são capazes de ter sexualidade e realizar atos cruéis. Para Feith, é justamente essa forma de tratar os seres de asas que faz deles personagens atraentes aos leitores. E que os transforma em best-sellers. (MAIA, 2010. <http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/na-literatura-os-anjos-sao-multiplos-mas-sao-todos-humanos>)

Deste modo, considera-se que as características de tradutibilidade111 de

enredos, personagens, histórias e narrativas fantasiosas, advindas da linguagem

verbal escrita para a imagem cinematográfica, tratando-se de Anjos, ainda são uma

previsão, não uma prática, incluindo nesta o auxílio das técnicas do digital112.

Atentava-se que o surgimento dessa forma de imagem, tendo como morfogênese113 o

pixel114 – o que a contextualiza como “imagem numérica” – oportunizasse formas de

composição e criação a partir de uma estrutura que não necessariamente faz uso de

vínculo com a materialidade real (adequadas para uma personagem como o Anjo),

galgados em características arquetípico-mitológicas. Para o Anjo, em nossa análise,

essa característica não foi uma constante. Couchot, sobre esta hipótese, do uso da

tecnologia pelos artistas, coloca que:

(...) a ordem numérica torna possível uma hibridação quase orgânica das formas visuais, sonoras, do texto e da imagem, das artes, das linguagens, dos saberes instrumentais, dos modos de pensamento e de percepção. Esse possível não é forçosamente provável: tudo depende da maneira pela qual especialmente os artistas farão com que tais tecnologias se curvem aos seus sonhos. (COUCHOT, 1993, p. 47)

Para o autor as formas não se concentram mais em questões voltadas para o

ser ou não real, mas sim para o que é “conveniente” e “harmônico”, sendo construídas

como recipientes para os fenômenos e modelos. Flusser, contemporâneo a Couchot,

aponta que na contemporaneidade o homem “descobriu as artimanhas do eterno”, o

111

Como complemento, o termo tradutibilidade é abordado em sentido semiótico cultural, onde a unidade de tradução não caracteriza-se apenas pela palavra, pelo texto, ou seu significado, mas sim pela cultura, definida como um complexo que inclui crenças, arte, leis, moral e todos os sistemas significativos. Define-se ainda como um modelo de significados, transmitidos historicamente e concretizados em símbolos, que servem para a comunicação e perpetuação da relação do homem com o mundo e/ou demais culturas. 112 Digital: Um método de representação de sinais por um conjunto de valores numéricos diferentes (1s e

0s), ao contrário de uma corrente ou voltagem continuamente variável. (DIZARD JR, 2000, p.286) 113

Morfogênese nesse contexto caracteriza-se por uma projeção que implica na presença de um objeto real pré-existente à imagem. Cria uma relação biunívoca entre o real e sua imagem, atuando a morfogênese como o mecanismo de geração e “desenvolvimento da forma”. (COUCHOT, Edmond. 2003) 114

Pixel: Unidade mínima de informação numa imagem digitalizada; tem em geral, a forma de um quadrado extremamente pequeno, com determinados tom e matiz.

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que o possibilita a sentir-se como um criador supremo, porém o faz refletir que

independente das facilitações, o homem ainda esbarra em limitações, especialmente

aquelas adjacentes da restrição dos “modelos”:

Será que as formas não são divinas, mas sim humanas? Não serão eternas no além-mundo, mas plásticas e modeláveis no nosso mundo? Não serão ideias, mas fórmulas e modelos? O difícil de digerir não é o fato de destituirmos Deus para colocarmos os designers como criadores do mundo. Não, o que realmente não se pode digerir é que, se fosse verdade que estivéssemos ocupando o trono de Deus, os céus (e em geral todo aspecto da natureza) deveriam ser formalizados do modo que quiséssemos, e isso não se dá assim (FLUSSER, 2007, p. 77)

O autor segue com: “Esse é um belo caldeirão de bruxas: cozinhamos mundos

com as formas que quisermos e o fazemos ao menos tão bem, como fez o Criador no

decorrer dos famosos seis dias. Somos autênticos mestres feiticeiros”. E, no que se

refere ao “real”, parafraseia Emanuel Kant, propondo que: “’real‟ é tudo aquilo que é

computado em formas, de modo decente, eficaz, consciente; e „irreal‟” (onírico,

ilusório) é aquilo que é computado de modo desmazelado. (FLUSSER, 2007, p. 79).

Percebe-se assim que o posto “onírico” e “ilusório” faz sinônimo com o “irreal”, que

predispõe decência, conceito que emana em valores estéticos, ambíguos em cada

sujeito, propositores de “juízo de valor” para com as obras e seus artistas, mas ainda

assim, capazes de reforçar o quanto o “sonho” não tem espaço na realidade; A

realidade é campo das artes figurativas; para o “sonho” vem, neste momento, em

encontro mais do que conveniente: o digital.

Estas questões, no que se referem em especial as novas tecnologias, são

apontamentos para uma possível sequência deste trabalho ou para auxiliar posteriores

pesquisadores sobre como nosso objeto de estudo está imerso nesse contexto e quais

suas potencialidades dentro do que o contemporâneo, tido como pós-moderno,

oferece. As obras de referenciarão possíveis, já não necessitam do suporte bíblico,

alçaram voos com a vasta bibliografia atual e estão disponíveis para adentrar ao

cinema. Como coloca Benjamim:

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[...] is also "the original same of the linguistic spirit", [...] Each superior language is a translation of the inferior, until the deplooyment, in the ultimate clarity, of the word of God, wich is the unifrying force this linguistic movement'. In others words, any linguistic condition below Paradise, depending on the distance that separates it from Paradise, that it has from Truth, is intent on redemption, it seeks tranlation as well (o pecado original [...] é também, "o pecado original do espírito linguístico". Ou seja, toda condição linguística que esteja abaixo da paradisíaca, dependendo da distância que as separe do Paraíso, ou da Verdade, aspira à redenção, aspira também à sua tradução). (APEL apud BENJAMIM, 1997, p.193)

Por fim, se por um lado desmitifica-se a ideia de que os Anjos no cinema

fazem-se presentes de forma expressiva e de que estes são repetições do mesmo em

relação ao universo bíblico cristão, fica aqui conclusivamente a noção de que muitos

aspectos enxertados em suas formas cinematográficas são inéditos, haja vista a

análise extensa de vinte e cinco fimes com exemplares desta personagem; Por outro,

atenta-se para o quanto a comunicação hoje, pautada pelo digital, pode dar suportes e

exemplares ainda mais complexos destes, onde, incrivelmente, a literatura tem se

mostrado não mais uma forma que teme a extinção, mas aquela, e só ela, que

consegue dar margem as adjetivações e fantasias que o cinema ainda não dá conta

em sua totalidade para com os Anjos. Apontamentos estes, lançados para uma futura

pesquisa.

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OS ANJOS ENTRAM EM CAMPO. Direção: William Dear. Comédia/ Drama/ Esporte/

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QUE ESPERE O CÉU. Direção: Alexander Hall. Comedia/ Fantasia/Romance. Sony

Pictures. 1941. DVD. som. preto e branco.

SEM NOTÍCIAS DE DEUS. Sinopse comercial disponível em:

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SEM NOTÍCIAS DE DEUS. Direção: Agustín Díaz Yanes. Comédia/ Fantasia. Europa Filmes. 2001. DVD. som. cor. TÃO LONGE, TÃO PERTO. Sinopse comercial disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-99673/>. Acesso em junho de 2013.

TÃO LONGE, TÃO PERTO. Direção: Wim Wenders. Drama, Fantasia, Romance.

Bioskop Film. Road Movies e Filmproduktion. 1993. DVD. som. cor.

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UM ANJO CAIU DO CÉU. Direção: Heny Koster. Comédia. Romance. 1947. DVD.

som. cor.

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Lista de figuras

Figura 1. Imagem Esculpida de São Tomás de Aquino, o Dr.º Angélico. Tomás com asas, o “Doutor Angélico” (imagem esculpida, no altar-mor da igreja do antigo Mosteiro de Jesus, em Aveiro, Portugal). Disponível em <http://svmmvmbonvm.org/aquino.pdf > Acesso em 04 de fevereiro de 2012. Figura 2: Como a Bíblia chegou até nós. RYRIE, 2004, p. 96. Figura 3: A Hierarquia dos Anjos segundo Tomás de Aquino. LOES, 2011, p. 84. Figura 4: A Hierarquia dos Anjos segundo Dionísio. MEYER & TEIXEIRA, 2010, p. 150. Figura 5: Obra de Sandro Botticelli. Natividade Mística. Cerca de 1500-1501. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Natividade_M%C3%ADstica> Acesso em maio de 2013. Figura 5: Obra de Rembrandt.The archangel Raphael Leaving Tobias‟s Family. 1637. Disponível em: <http://grandearte.net/rembrandt/angel-raphael-leaving-family-tobit> Acesso em maio de 2013. Figura 6: Obra de Luca Giordano. Miguel Arcanjo. 1663. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/reportagens/183375_O+PODER+DOS+ANJOS> Acesso em maio de 20213. Figura 7: Obra de William-Adolphe Bouguereau. A canção dos anjos. 1881. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/William-Adolphe_Bouguereau> Acesso em maio de 2013. Figura 8: Obra de Nanci Noel. Angel Looking Down. 2010. Disponível em: <http://www.nanoel.com/angel/angel-looking-down.html> Acesso em maio de 2013. Figura 9: Anjo Mensageiro 7013. Ator: Edward Everett Horton. Disponível em: <http://memorialdafama.com/biografiasEI/EdwardEverettHorton.html> Acesso em maio de 2013. Figura 10: Anjo Sr.º Jordan. Ator: Claude Rains. Disponível em: <http://melhoresfilmes.com.br/atores/claude-rains> Acesso em maio de 2013. Figura 11: Anjo Clarence, em pé (Ator Henry Travers). Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Travers> Acesso em maio de 2013. Figura 12: Anjo Dudley, ator Cary Grant. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cary_Grant>. Acesso em maio de 2013. Figura 13: Indício do Anjo Gabriel. Disponível em <http://pt-br.iedb.net/filme/anjos-e-piratas>. Acesso em maio de 2013. Figura 14: Anjo Pygar, Ator John Phillip Law e Barbarella (Jane Fonda). Disponível em: http://culturemob.com/movie-review-how-in-the-world-did-barbarella-ever-get-made>. Acesso em maio de 2013.

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Lista de tabelas

Tabela 1

Filmografia angelológica: considerações técnicas. Ano/direção/país/gênero/premiação.

Tabela 2

Filmografia angelológica: considerações técnicas. Nome do Anjo/ forma/ genealogia/

hierarquia.

Tabela 3

Personalidade, ministério e função dos anjos fílmicos.