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Intervenção
Psicológica
com CriançasMaltratadas
Mestrado Integrado em Psicologia
4º Ano / 2º Semestre
Docente: Luiza Nobre Lima
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Um quadro abrangente de intervenção para crianças traumatizadas
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Vinculação, Auto-regulação e
Competência (ARC)
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Modelo ARC
• Modelo desenvolvido por Margaret Blaustein e Kristine Kinniburgh
• Dirigido a crianças vítimas de traumas complexos e com forte impacto desenvolvimental
• Modelo orientador da intervenção
• procura organizar as principais áreas e níveis de intervenção• identifica e estrutura as potenciais áreas deficitárias na criança informando a
escolha de tratamentos possíveis.
• Modelo que enfatiza a importância da intervenção no contexto em que a criança vive.Mudanças sistémicas conduzem a resultados efetivos e sustentáveis.
• Modelo flexível – Procura ajustar a intervenção a cada caso (não é um protocolo detratamento manualizado).
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Modelo ARC
• O modelo ARC identifica os 3 domínios nucleares daintervenção com crianças traumatizadas e seus sistemas decuidado:
• Vinculação (Attachment)
• Auto-regulação (Regulation)
• Competência (Competence)
. Para cada um destes domínios apresenta componentes
essenciais onde a intervenção se deve focar (building blocks).
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Modelo ARC
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Modelo ARC
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Gestão doafeto docuidador
Sintonia Rotinase rituais
Respostaconsisten-
te docuidador
Identifica-ção dosafetos
Modula-ção
Expressãoafetos
Auto-desenvolvimento e
identidade
Funçõesexecutivas
Integraçãoda
experiên-cia
traumática
Fig.- Building blocks do modelo ARC
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Modelo ARC / Building Blocks
1. Vinculação
Gestão do afeto do cuidador Dar suporte ao sistema cuidador da criança (pais ou
profissionais) em termos de compreensão, gestão ecoping das suas próprias respostas emocionais, para quefiquem mais aptos a dar suporte às crianças de quem têmde cuidar
Sintonia Oferecer suporte ao sistema cuidador da criança para que
(pais/profissionais) aprendam a compreender e responderàs ações, comunicações, necessidade e sentimentos dascrianças com precisão e empatia
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Modelo ARC / Building Blocks
1. Vinculação (cont.)
Resposta consistente do cuidador Apoiar o sistema cuidador na construção de respostas
previsíveis, seguras e apropriadas aos comportamentos
das crianças, de forma a que ele reconheça e sejasensível ao papel das experiências passadas nocomportamento atual
Construir rotinas e rituais Trabalhar para estabelecer rotina e ritmo no dia-a-dia das
crianças e famílias
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Modelo ARC / Building Blocks
2. Regulação
Identificação dos afetos Trabalhar com a criança de modo a desenvolver nela uma
consciência da experiência interna, a capacidade de
discriminar e nomear estados emocionais e decompreender por que é que esses estados surgem
Modulação Trabalhar com a criança para desenvolver estratégias
seguras e eficazes para gerir e regular a experiênciafisiológica e emocional, de forma a conseguir manter um
estado de activação confortável Expressão dos afetos
Ajudar as crianças a desenvolver competências etolerância para conseguirem partilhar as suasexperiências emocionais com os outros.
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Modelo ARC / Building Blocks
3. Competência
Fortalecer as funções executivas Trabalhar com a criança de modo a que ela aprenda a
agir, em vez de reagir, utilizando processos cognitivos de
nível superior para resolverem problemas e fazeremescolhas ativas por forma a que possam alcançarobjetivos identificados.
Auto-desenvolvimento e identidade Apoiar as crianças na exploração e construção de uma
compreensão de si e da sua identidade pessoal, incluindo
a identificação de qualidades únicas, o desenvolvimentode um sentido de coerência através do tempo e dasexperiências. Apoiar, ainda, a capacidade para imaginar etrabalhar em direção a um conjunto de possibilidadesfuturas.
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Modelo ARC / Building Blocks
4. Integração da experiência traumática
Trabalhar com a criança no sentido de ela explorar,processar e integrar experiências da sua história de vidanuma compreensão abrangente e coerente do seu self,
por forma a promover a sua capacidade de se envolverativamente com a sua vida presente.
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Modelo ARC:
a intervenção bloco a bloco
Gestão do afeto do cuidador
Psicoeducação sobre efeitos e respostas ao trauma; validar aexperiência emocional do cuidador;
Desenvolver competências de auto-monitorização: atenção ásreacções fisiológicas, cognitivas, emocionais,comportamentais perante situações dificeis
Desenvolver competências de gestão dos afectos (ex.:respiração profunda, distracção, time-out, auto-acalmar-se)
Ajudá-lo a identificar fontes de suporte social
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Modelo ARC:
a intervenção bloco a bloco
Sintonia
Prestar atenção ao comportamento de vigilância da criança
Dispôr do tempo para compreender a perspectiva dacriança
Respeitar o que a criança sente
Corrigir percepções erradas
Descodificar as partículas da comunicação da criança(expressão facial, tom de voz, extensão do discurso, qualidadedo discurso, humor, capacidade de modular as emoções)
Treinar competências de escuta activa
Realizar jogos de sintonia diádica: charadas de sentimentos(mímica de estados emocionais); jogos “Segue o Líder” (ritmosmusicais, movimentos de dança, etc)
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Modelo ARC:
a intervenção bloco a bloco
Resposta consistente do cuidador
Ensinar o cuidador a usar o elogio e o reforço (promove interaçõespositivas, comportamentos desejados, sintonia, sentimentos desegurança…)
Selecionar o que elogiar. Valorizar o que é importante e serverdadeiro
Escolher os comportamentos mais salientes e desejados e relacionaro elogio com esse comportamento
Não colocar a fasquia muito alta e ir ajustando o que se espera.Elogiar as aproximações ao comportamento que se deseja
Elogiar qualidades e empenho
Ensinar o cuidador a gerir o comportamento - estabelecer limites, ignorar,
time-out Psicoeducação
Modelação (role-play)
TPC
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Modelo ARC:
a intervenção bloco a bloco
Rotinas e rituais“Establishment of routines is not about structure for the sake of structure; rather, it is
about supporting children, families, and systems in establishing predictability in the
service of modulation and felt safety ” (Blaustein & Kinniburg, 2010, 96)
Criação de rotinas diárias: rotinas matinais, horário refeições, momentoda brincadeira em família, realização de tarefas, trabalhos de casa,higiene
A hora de dormir: rotina importante mas sensível para criançastraumatizadas (pode desencadear memórias traumáticas)
Estabelecer uma rotina consistente: lavar dentes, fazer xixi, vestir o pijama,
disfrutar de um momento de tranquilidade O momento de tranquilidade e relaxamento pode ser: ler uma história, ouvir
música calma, rezar, etc
Garantir um sentimento de segurança à criança: luz de presença, dormircom um boneco ou uma mantinha
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Modelo ARC:
a intervenção bloco a bloco
Rotinas e rituais (cont.)
No trabalho terapêutico do psicólogo com a criança/jovemas rotinas e rituais também podem ser trabalhadas: Pontualidade
Consistência na duração da consulta
Espaço arrumado e estruturado
Trabalhar sempre no mesmo sítio do espaço de consulta
Manter a sequência das atividades a realizar
Ter um momento não estruturado na sessão, ainda queeste momento surja sempre na mesma altura
Estabelecer rotinas para encerramento da sessão
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Trabalho prático
CASO
O Miguel é um menino de 5 anos, filho de um casal muito jovem que se juntou em virtude deuma gravidez não desejada. Ambos os pais estavam em abandono escolar e sem trabalho.
Alice, a mãe, tem 23 anos, não completou o 12º ano e está em casa com o Miguel. Álvaro, opai, tem 24 anos, também sem a escolaridade obrigatória completa e vai arranjando trabalhosprecários e pouco duradouros. Por vezes está ausente de casa por causa dos trabalhos quevai arranjando, deixando Alice e Miguel sozinhos. São ambos provenientes de famílias pouco
estruturadas, com poucas condições materiais e psicológicas para lhes darem apoio. Vivemlonge das suas famílias e contam apenas com a ajuda de alguns vizinhos, que lhes vão dandocomida e roupas . Quando o Álvaro está em casa, Alice anda mais calma, desorienta-semenos e dá mais atenção a Miguel. Gostam um do outro e sentem-se felizes por terem umfilho deles. Apesar de não demonstrarem grande afeto pelo filho, revelam algumapreocupação e interesse pelo menino.
Miguel tem vivido sempre com a mãe e nunca frequentou o infantário ou jardim de infância.Por vezes passa fome, frio, tem pouquíssimos brinquedos e a mãe raramente brinca com ele,apesar do tempo que passam juntos. Alice é capaz de andar muito com ele ao colo, masinterage pouco com ele. É uma criança triste, que anda sempre agarrado à mãe, mas que temum temperamento fácil. Tem pouco contacto com outras crianças e até com outros adultos. Àsvezes, a mãe sai para pedir comida durante a sesta do Miguel, acabando ele por ficar sozinhodurante algum tempo mesmo depois de acordar. O acompanhamento médico é deficiente.
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Trabalho prático
CASO (cont.)
Alice gosta do filho, tem pena da situação dele, chora e queixa-se mas sente-secompletamente perdida sem saber o que fazer à sua vida e à do seu filho. Não procura
emprego por causa do filho, não consegue pedir ajuda, nem recorre às estruturas sociais queexistem no seu concelho (Santa Casa da Misericórdia(com muitas valências), Centro deSaúde, Centro de Emprego, etc) pois tem medo que lhe tirem o Miguel. Apesar de a casa terpoucas coisas, está sempre desarrumada e com a loiça permanentemente suja. Por vezes,desabafa com uma vizinha que lhe presta algumas ajudas, uma mulher carinhosa epreocupada, já reformada, que trabalha no campo e cujos filhos já saíram de casa.
Recentemente esta vizinha achou conveniente sinalizar o caso à Comissão de Proteção deMenores.
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Trabalho prático
Enquanto Técnicos da CPCJ, elaborar um plano de intervençãopara a situação do Miguel, tendo em conta o modelo ARC. Esteplano de intervenção deve ter em vista o apoio à criança e àfamília no seu contexto natural de vida.
Este plano deve começar por incluir um protocolo de avaliação dodesenvolvimento pós-traumático do Miguel.
Trabalho de grupo: 4 elementos
Data de entrega: última aula – 26 maio
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Bibliografia
Kinniburg, K.; Blaustein, M.; Spinazolla, J. & van der Kolk, B.(2005). Attachment, self-regulation and competency. Psychitaric
Annals, 35(5), 424-430
Blaustein, M. & Kinniburg, K. (2010). Treating Traumatic Stress in
Children and Adolescents. How to foster resilience throughattachment, self-regulation and competency . NY: The GuilfordPress
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