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Revista SÍNTESE Direito Previdenciário ANO XV – Nº 70 – JAN-FEV 2016 REPOSITÓRIO AUTORIZADO Tribunal Regional Federal 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013 Tribunal Regional Federal 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 Tribunal Regional Federal 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR DIRETOR EXECUTIVO Elton José Donato GERENTE EDITORIAL E DE CONSULTORIA Eliane Beltramini COORDENADOR EDITORIAL Cristiano Basaglia EDITORA Valdinéia de C. Tessaro de Souza CONSELHO EDITORIAL Danilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia, Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia, Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo, Wladimir Novaes Martinez COMITÊ TÉCNICO Hermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho, Marco Aurélio Serau Junior Tatiana Sada Jordão COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Alexandre dos Santos Silva, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Juliano Sarmento Barra, Luciano Domingues Leão Rêgo,Rodrigo de Andrade Belmonte, Vinícius Pacheco Fluminhan ISSN 2237-714X

ISSN 2237-714X Revista SÍNTESE › AnexosPDF › SDS 70_miolo.pdf · 2016-04-22 · RESUMO: Discussão sobre a possibilidade de fruição do direito à estabilidade acidentária,

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Revista SÍNTESEDireito Previdenciário

Ano XV – nº 70 – JAn-FeV 2016

RepositóRio AutoRizAdo

Tribunal Regional Federal 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013Tribunal Regional Federal 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087

Tribunal Regional Federal 3ª Região – Portaria nº 03, de 31.05.2012 – Registro nº 26 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

diRetoR eXecutiVo

Elton José Donato

GeRente editoRiAl e de consultoRiA

Eliane Beltramini

cooRdenAdoR editoRiAl Cristiano Basaglia

editoRAValdinéia de C. Tessaro de Souza

conselho editoRiAlDanilo Ribeiro Miranda Martins, Érica Paula Barcha Correia,

Heloísa Hernandez Derzi, Ivani Contini Bramante, José Aldizio Pereira Junior, Marcus Orione G. Correia,

Maria Garcia, Marisa Ferreira dos Santos, Oscar Valente Cardoso, Roberto Luis Luchi Demo,

Wladimir Novaes Martinez

comitê técnicoHermes Arrais Alencar, Luciano Marinho Filho,

Marco Aurélio Serau Junior Tatiana Sada Jordão

colAboRAdoRes destA ediçãoAlexandre dos Santos Silva, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Juliano Sarmento Barra,

Luciano Domingues Leão Rêgo,Rodrigo de Andrade Belmonte, Vinícius Pacheco Fluminhan

ISSN 2237-714X

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2011 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Publicação mensal de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos trabalhistas e previdenciários.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 5.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected].

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista SÍNTESE Direito Previdenciário. – Ano 15, n. 60 (jan./fev. 2016)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v. ; 23 cm.

Trimestral: 2001-2011. Bimestral: 2011- . Continuação de: Revista de Direito Social. Ano 1, n. 1 (jan./mar. 2001)-ano 10, n. 42 (abr./jun. 2011). Publicação: Sapucaia do Sul: Notadez, 2001-2010; São Paulo: SÍNTESE, 2011. Descrição baseada em: Ano 10, n. 43 (jul./ago. 2011).

ISSN 2237-714X

1. Ciências sociais aplicadas - Periódico. 2. Legislação social - Periódico. 3. Direito previdenciário - Periódico.

CDU: 34:368.4 CDD: 341.67

Bibliotecária responsável Jucelei Rodrigues Domingues – CRB 10/1569

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.sage.com.br

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

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Carta do Editor

Nesta edição da Revista SÍNTESE Direito Previdenciário escolhe-mos para o assunto especial o tema “Lei nº 8.213/1991 e o Emprega-do sem Concurso Público”, com a publicação de dois importantes ar-tigos de autoria dos Mestres Gustavo Filipe Barbosa Garcia e Luciano Domingues Leão Rêgo.

Os autores explicarão a estabilidade acidentária no caso do em-pregado público não submetido ao concurso público, com base no art. 37, II da CF/1988.

Já, na Parte geral, levamos a você o que há de mais atual e rele-vante no Direito Previdenciário com a publicação de diversos Acórdãos na Íntegra, Seções Especiais, Doutrinas, Clipping Jurídico, Tabelas e Bibliografia Complementar.

Na Seção de Doutrinas, contamos com a participação de renoma-dos autores com os seguintes temas: “Transexualidade e Aposentadoria no Regime Geral de Previdência”, pelo Dr. Vinícius Pacheco Fluminhan; “A Previdência Complementar na União Europeia: uma Introdução ao Direito Institucional da União Europeia e à Responsabilidade Adminis-trativa dos Administradores de Entidades de Previdência Complementar e Fundos de Pensão”, pelo Dr. Juliano Sarmento Barra; e “O Acúmulo e o Desvio de Função e sua Repercussão nos Benefícios Previdenciários”, pelo Dr. Alexandre dos Santos Silva.

Além disso, publicamos a Seção Especial intitulada “Acontece” com um artigo do Dr. Rodrigo de Andrade Belmonte, analisando a Emenda Constitucional nº 88/2015, a qual foi responsável por alterações na sistemática das aposentadorias do Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos.

Desejamos a você uma excelente leitura!

Eliane Beltramini Gerente Editorial e Consultoria

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Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto EspecialLei nº 8.213/1991 e o empregado sem ConCurso púbLiCo

doutrinas

1. Estabilidade Acidentária e Empregados Públicos Admitidos sem Concurso PúblicoLuciano Domingues Leão Rêgo .................................................................9

2. Estabilidade Provisória por Acidente do Trabalho e Ausência de Concurso PúblicoGustavo Filipe Barbosa Garcia ................................................................21

Parte Geral

doutrinas

1. Transexualidade e Aposentadoria no Regime Geral de PrevidênciaVinícius Pacheco Fluminhan ...................................................................25

2. A Previdência Complementar na União Europeia: uma Introdução ao Direito Institucional da União Europeia e à Responsabilidade Administrativa dos Administradores de Entidades de Previdência Complementar e Fundos de PensãoJuliano Sarmento Barra ............................................................................41

3. O Acúmulo e o Desvio de Função e Sua Repercussão nos Benefícios PrevidenciáriosAlexandre dos Santos Silva ......................................................................74

JurisprudênCia previdenCiária

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Supremo Tribunal Federal .......................................................................84

2. Superior Tribunal de Justiça ....................................................................93

3. Superior Tribunal de Justiça ..................................................................103

4. Tribunal Regional Federal da 1ª Região .................................................115

5. Tribunal Regional Federal da 1ª Região .................................................120

6. Tribunal Regional Federal da 2ª Região .................................................124

7. Tribunal Regional Federal da 3ª Região .................................................133

8. Tribunal Regional Federal da 4ª Região .................................................136

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9. Tribunal Regional Federal da 5ª Região .................................................15010. Tribunal Regional Federal da 5ª Região .................................................15411. Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul ............................16412. Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso .......................................174

ementário Previdenciário

1. Ementário de Jurisprudência Previdenciária ..........................................182

Seção EspecialaConteCe

1. A PEC da BengalaRodrigo de Andrade Belmonte ..............................................................214

Tabelas Práticas ..............................................................................................227

Bibliografia Complementar .................................................................................229

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................230

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Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação do

Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publi-cações.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. No caso de publicação dos artigos enviados, não serão devidos direitos autorais, re-muneração ou qualquer espécie de contraprestação a seus autores, sendo apenas en-viado um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, ficando, ainda, a critério do Editor a seleção e aprovação para publicação, a qual será comunicada ao autor.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da Síntese.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.

11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preen-cher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastro-deautores e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail [email protected].

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Assunto Especial – Doutrina

Lei nº 8.213/1991 e o Empregado sem Concurso Público

Estabilidade Acidentária e Empregados Públicos Admitidos sem Concurso Público

LuCIAnO DOmInguES LEãO RêgOAdvogado formado pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo em 1997 (Local de tra-balho: Empresa de Tecnologia de Informação e Comunicação do Município de São Paulo – Prodam SP S.A., desde 2012. Antes: Advogado na Companhia de Engenharia de Tráfego – CET, período de 2010-2012. Desde 2010 atuo no Direito do Trabalho.

RESUMO: Discussão sobre a possibilidade de fruição do direito à estabilidade acidentária, pre-vista no art. 118 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, por empregados contratados, em regime trabalhista, pelas Administrações direta e indireta sem prévio concurso público, cujos contratos, nesta situação, são considerados nulos pela Justiça do Trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Direito Previdenciário; Administração direta e indireta; contrato de trabalho; concurso público; nulidade; doença e acidentes laborais; estabilidade acidentária; princípios constitucionais.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Do regime jurídico do empregado público; 2 A doença/acidente laboral e seus efeitos no contrato de trabalho; 3 Choque de princípios: nulidade de vínculo e preserva-ção da garantia da dignidade da pessoa humana; Conclusões; Referências.

INtrodução

O presente artigo procura analisar a compatibilidade (ou não) do direito inserido no art. 118 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, com o regramento constitucional inserto no inciso II e § 2º do art. 37 da Constituição da República, no contexto de empregados contratados por empresas públicas e sociedades de economia mista, sem que, para tanto, tenham se submetido a prévio concurso público.

A situação destes empregados é, deveras, bastante corriqueira, tanto na Administração indireta como na própria Administração direta, notadamente em prefeituras municipais pelo interior do Brasil, onde o compadrio político gera uma multiplicidade de situações em que traba-

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lhadores passam anos a fio exercendo atividades típicas de cargos públi-cos por mera indicação do detentor do Poder Executivo da localidade, como, por exemplo, professores da rede municipal de ensino.

E, assim como qualquer trabalhador, estão sujeitos às intercorrên-cias de saúde por doenças adquiridas em razão do (ou agravadas pelo) labor exercido, ficando sujeitas a afastamentos e aposentadorias por in-validez, visto que sempre contribuíram para a Previdência Social como segurados obrigatórios, pois o seu contrato de trabalho é regido, via de regra, pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

O problema surge na hipótese – comum, dado o regime de transfe-rência de poder inerente à democracia que vivemos – da demissão imo-tivada de empregados na situação de não concursados, frequentemente para a sua substituição por novos indicados pela autoridade ocupante do comando da Administração, mas que, em razão função exercida, es-tes trabalhadores tenham adquirido doença relacionada ao trabalho ou mesmo sofrido algum acidente.

Muitos optam pelo ingresso de ações na Justiça do Trabalho para que, com base no regramento do art. 118 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, logrem a reintegração ao emprego, buscando a estabilidade de, no mínimo, 12 (doze) meses ou indenização substitutiva.

Tendo a Justiça do Trabalho já firmado entendimento pela nulida-de desta forma de contratação (Súmula nº 363 do Tribunal Superior do Trabalho, inciso II e § 2º do art. 37 da Constituição), gerando tão somen-te direito às horas trabalhadas (respeitado o valor do salário-mínimo/hora) e os depósitos ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS (com exclusão da multa de 40%), por expressa disposição legal prevista no art. 19-A da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, acaba por ocor-rer o choque (antinomia aparente) entre princípios constitucionais, o da moralidade e legalidade na Administração Pública de um lado e o da universalidade da cobertura e do atendimento e dignidade da pessoa humana de outro, tendo a Justiça Laboral oscilado em reconhecer a pre-valência dos primeiros e dos segundos. É o que passaremos a expor para, ao final, manifestarmos nossa opinião.

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA .............................................................................................................11

1 do regIme jurídIco do empregado públIco

Na definição de Celso Antônio Bandeira de Mello, citando a Lei nº 9.962, de 22 de fevereiro de 2000, empregos públicos “são núcleos de encargos de trabalho permanentes a serem preenchidos por agentes contratados para desempenhá-los, sob relação trabalhista”1.

São, segundo o mesmo autor, espécies do gênero agentes públicos, tendo como principal diferencial em relação aos servidores públicos o regime de seu vínculo com a Administração, incidindo sobre aqueles a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

Em se tratando de entes da Administração indireta (empresas pú-blicas e sociedades de economia mista), o regime do emprego público e a consequente incidência da legislação trabalhista e do regime geral de previdência social são decorrentes do mandamento constitucional do § 1º e inciso II do art. 173 do Texto Magno, que impõe a sujeição destes entes ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos di-reitos e às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias.

Nada obstante, o art. 37, II, da Constituição reveste o regime do emprego público (tanto na Administração direta como na indireta), com caracteres de direito público e parcialmente revogadores do regime cele-tista, notadamente no que tange ao início do vínculo e a sua terminação.

Desta forma, impõe a Constituição que o ingresso no emprego público seja necessariamente por intermédio de concurso público e, quanto à terminação do vínculo, seja esta precedida de motivação e procedimento administrativo prévio, garantidores do contraditório e da ampla defesa, não sendo reconhecida aos empregados das empresas pú-blicas e sociedade de economia mista, no entanto, a estabilidade típica dos servidores estatutários.

Importa consignar quanto à terminação do vínculo, que, durante muito tempo, a orientação do Tribunal Superior do Trabalho era pela possibilidade de despedida imotivada de empregados públicos em em-presas públicas e sociedades de economia mista (OJ 247 da SBDI-1). Desde 2013, porém, o Supremo Tribunal Federal vem delineando uma

1 Bandeira de Mello, 2011, p. 255.

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12 .........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

nova orientação, em razão do julgamento (ainda não encerrado) do Re-curso Extraordinário nº 589.998/PI sob a sistemática da repercussão ge-ral. Neste recurso (interposto pela Empresa Brasileira de Correios e Te-légrafos – ECT), a conclusão chegada foi de que é necessária motivação para a demissão de empregados públicos que tenham ingressado nos entes da Administração indireta por intermédio de concurso público, antecedida de procedimento administrativo que garanta o contraditório. Como o julgamento ainda não se encerrou (a ECT opôs embargos de de-claração com pedido de efeito infringente), os Tribunais Regionais ainda aplicam esta nova orientação com certa relutância, havendo situações em que demissões são invalidadas e em outras situações validadas, ante o entendimento de que a OJ 247 da SBDI-1 ainda estaria em vigor. O próprio Tribunal Superior do Trabalho ainda não se posicionou de forma clara, havendo casos de aplicabilidade da nova orientação, mas diver-gindo quanto à necessidade de procedimento administrativo, quanto à amplitude da motivação (se mero ato formal e abstrato ou obrigatoria-mente concreto)2 e, por fim, casos em que o julgamento é simplesmente sobrestado até a conclusão final do assunto na Corte Suprema3.

Fechado este breve parênteses, podemos concluir que o emprego público, para a sua validade, necessita da aprovação em concurso, ten-do a própria Constituição do Brasil estabelecido a consequência para a inobservância deste requisito no § 2º do art. 37, qual seja: a nulidade do vínculo. Nesta linha, o Tribunal Superior do Trabalho editou a Súmula nº 363, estabelecendo as consequências econômicas para o trabalhador nesta situação: direito ao recebimento das horas trabalhadas e dos de-pósitos de FGTS, excluída a indenização de 40% (quarenta por cento)4.

No entanto, a questão que se impõe é se este trabalhador, caso adquira doença do trabalho ou sofra acidente com nexo causal com a sua atividade laboral, teria direito a usufruir dos mesmos benefícios que o empregado regularmente contratado, notadamente no que se refere à

2 TST, RO 1094-42.2011.5.12.0000.3 TST, RR 0042100-85.2008.5.02.0073.4 Súmula nº 363 do TST:

“CONTRATO NULO – EFEITOS (nova redação) – Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS.”

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA .............................................................................................................13

estabilidade no emprego por, no mínimo, 12 (doze) meses após a cessa-ção do auxílio-doença acidentário e o seu retorno ao trabalho, uma vez que é segurado obrigatório da Previdência Social.

Antes de procurar responder a esta questão, façamos uma breve análise do instituto.

2 a doeNça/acIdeNte laboral e SeuS efeItoS No coNtrato de trabalho

Mauricio Godinho Delgado ensina que

o afastamento do trabalhador, a partir do 16º dia, causado por acidente do trabalho ou doença profissional ou ocupacional (situações equipa-radas pela lei trabalhista e previdenciária), enquadra-se como suspen-são do contrato de trabalho – segundo tendência doutrinária dominante. Contudo, há controvérsia a esse respeito.5

A situação, com efeito, é híbrida, visto que ao longo do afastamen-to (após o 16º dia) o empregador não está mais obrigado a pagar a remu-neração ao empregado, que passará a receber o benefício previdenciário do auxílio doença acidentário (B91). No entanto, permanecem a cargo de empregador algumas obrigações de cunho econômico, como, por exemplo, os depósitos do FGTS e a consideração do tempo de afasta-mento inferior a 6 (seis) meses no período aquisitivo de férias.

Mas a principal consequência do afastamento nestes moldes se reflete na preservação do vínculo laboral após o retorno ao trabalho por, no mínimo, 12 (doze) meses, com previsão expressa do art. 118 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991.

O Tribunal Superior do Trabalho, inclusive, estendeu esta possi-bilidade para situações em que o nexo entre doença e trabalho é cons-tatado após o encerramento do vínculo com a demissão, ou seja, sem que para tanto haja a obrigatoriedade de afastamento e percepção do auxílio-doença acidentário. É o teor da parte final do inciso II da Súmula nº 3786.

5 Delgado, 2011, p. 1023.6 Súmula nº 378 do TST:

“ESTABILIDADE PROVISÓRIA – ACIDENTE DO TRABALHO –.ART. 118 DA LEI Nº 8.213/1991 (inserido item III) – Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012

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14 .........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

A lei previdenciária instituiu, assim, uma garantia de vínculo por, no mínimo, 12 (doze) meses ao trabalhador acidentado, sendo que o seu despedimento neste período lhe garante a reintegração ao emprego ou os salários correspondentes a título de indenização, acrescido das van-tagens trabalhistas (FGTS, multa indenizatória, férias com o terço consti-tucional, aviso-prévio).

Mas e quando o próprio vínculo é nulo, por ausência de concurso público? Tratemos da questão.

3 choque de prINcípIoS: NulIdade de víNculo e preServação da garaNtIa da dIgNIdade da peSSoa humaNa

Como visto antes, o contrato de trabalho do empregado público que não é precedido de concurso público é nulo por disposição cons-titucional (§ 2º do art. 37). Sendo nulo, os seus efeitos patrimoniais são limitados às horas trabalhadas e aos depósitos de FGTS, sem a multa indenizatória pela terminação da relação.

Este tipo de contratação fere o princípio da moralidade adminis-trativa (além, é claro, da legalidade e probidade), tendo a Constituição imposto a obrigação de responsabilização dos agentes públicos que pro-piciaram contratações deste tipo.

Partindo-se desta premissa (nulidade do contrato), não haveria em que se falar em garantia de vínculo, pelo que seria irrelevante o traba-lhador nestas condições padecer de moléstia laboral, pois não se pode extrair efeitos de negócio jurídico nulo. Esta é a linha que vem adotando tanto o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região como o Tribunal Superior do Trabalho, como se pode ver dos seguintes julgados:

I – É constitucional o art. 118 da Lei nº 8.213/1991 que assegura o direito à estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-doença ao empregado acidentado. (ex-OJ 105 da SBDI-1 – inserida em 01.10.1997)

II – São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade com a execução do contrato de emprego. (primeira parte – ex-OJ 230 da SBDI-1 – inserida em 20.06.2001)

III – O empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determinado goza da garantia provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho prevista no art. 118 da Lei nº 8.213/1991.”

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Da reintegração – estabilidade provisória. Insurge-se a recorrente contra a r. sentença que determinou a reintegração do reclamante, bem como a sua manutenção no emprego até um ano após a sua alta, pagando-lhe as parcelas vencidas e vincendas de salários, 13º salários, férias acres-cidas de um terço, depósitos de FGTS desde a dispensa do recorrido em 12.09.2003 até um ano após a alta. A recorrente argumenta que o recorrido foi contratado sem se submeter a concurso público, portanto seu contrato de trabalho é nulo e não gera quaisquer direitos. Invoca a aplicação da Súmula nº 363 do col. TST, salientando que ao contrato nulo apenas é garantido o direito ao salário e FGTS. Alega, ainda, não se aplica a estabilidade acidentária ao recorrido, pois cingido ao regular contrato de trabalho, no caso do recorrido contrato nulo ou perda da qua-lidade de confiança não gera qualquer estabilidade. Diz, também, que no presente caso a condenação aos depósitos do FGTS, não deve preva-lecer, pois além do contrato ser nulo o recorrido encontra-se aposentado por invalidez, estando, portanto, suspenso seu contrato de trabalho. A análise. De fato a reclamada não observou o art. 37, IX, da Constituição Federal, admitindo o reclamante a seu serviço sem a prévia aprovação em concurso público, o que torna nula a contratação do obreiro. Em que pese a constatação de flagrante violação do Texto Constitucional, não há como ser reconhecida a reintegração postulada em face da esta-bilidade acidentária. Uma ilegalidade não justifica outra. Disso decorre que a contratação levada a efeito é nula de pleno direito, não gerando quaisquer efeitos, excetuado o direito do recorrido de receber os salários, stricto sensu, porquanto impossível restituir-se as partes ao status quo ante, bem como dos depósitos do FGTS. Aplicação da Súmula nº 363 do col. TST, do seguinte teor: “363 – Contrato nulo. Efeitos (Res. 97/2000, DJ 18.09.2000 – Rep. DJ 13.10.2000 e DJ 10.11.2000. Redação alterada pela Res. 111/2002, DJ 11.04.2002. Nova redação – Res. 121/2003 – DJ 19.11.2003). A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da con-traprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, res-peitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS”. Aliás neste sentido, colaciona-se a seguinte ementa: “CONTRATO NULO – EFEITOS – ESTABILIDADE ACIDENTÁRIA – IN-DENIZAÇÃO – DESCABIMENTO – Nos termos da Súmula nº 363, os efeitos do contrato de trabalho nulo com a Administração Pública se li-mitam ao direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS. Descabida, as-

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sim, a condenação ao pagamento de indenização substitutiva do período de estabilidade acidentaria. Noutro sentido, a indenização de danos mo-rais e materiais decorrentes de ato lesivo do tomador do serviço, ainda que sob contratação nula, exorbita da esfera tipicamente trabalhista e sua viabilidade jurídica não encontra óbice no entendimento expresso na Súmula nº 363” (destaquei). Assim, considerando que não consta do rol de pedidos pretensão alusiva a saldo salarial impago ou pedido de pagamento dos depósitos do FGTS, reformo a r. decisão de origem que determinou a reintegração do reclamante, com fundamento no art. 118 da Lei nº 8.213/1991. [...]. (grifamos)7

O eg. Regional, não obstante a nulidade da contratação, porque não pre-cedida de concurso público, manteve a condenação da ré ao pagamento de indenização substitutiva equivalente aos salários da autora no período compreendido entre a data do término do benefício previdenciário e o final do período da garantia de emprego, assim como diferenças do 13º salário proporcional e férias acrescidas do terço constitucional, e deu parcial provimento ao recurso ordinário da reclamante, para acrescer à condenação o pagamento de honorários advocatícios. A demandada re-corre de revista, quanto aos efeitos da nulidade contratual, apontando ofensa aos arts. 5º, II, e 37, II e § 2º, da Carta Magna, além de contra-riedade à Súmula nº 363/TST. Acrescenta que a autora não está assisti-da pelo seu sindicato, sendo indevidos os honorários advocatícios, nos termos das Súmulas nºs 219 e 329 e da OJ 305 da SBDI-1, todas do TST. Colaciona arestos. Ao atribuir efeitos a contrato individual de trabalho, celebrado com a Administração Pública, sem atendimento ao requisito prévio do concurso, a Corte de origem vulnera o art. 37, inciso II e § 2º, da Constituição Federal, sufragando tese oposta àquela sustentada. “CONTRATO NULO – EFEITOS – A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS”. No que se refere aos honorários ad-vocatícios, incontroverso, nos autos, que a reclamante não está assistida pelo seu sindicato (fl. 3-v). Com efeito, ao condenar a reclamada ao pa-gamento dos honorários advocatícios, mesmo constatando a inexistên-cia de assistência sindical, o Regional contrariou a Súmula nº 219 do TST. Assim, com esteio no art. 557, § 1º-A, do CPC, conheço do recurso

7 Proc. nº 01289.2004.291.02.00-3.

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de revista, quanto aos efeitos da nulidade da contratação da autora, por contrariedade à Súmula nº 363/TST, assim como quanto aos honorários advocatícios, por contrariedade ao Verbete Sumular nº 219/TST e, no mérito, dou-lhe provimento, para limitar a condenação aos valores relati-vos aos depósitos para o FGTS e excluir da condenação o pagamento de honorários advocatícios. Publique-se.” (grifamos)8

É pertinente considerar, no entanto, que é corriqueira a hipótese na qual o trabalhador nestas situações usufruía, ao longo do contrato de trabalho, de todos as vantagens e deveres do vínculo de emprego, tendo figurado, inclusive, como segurado obrigatório da Previdência Social.

Não estaria este trabalhador garantido, então, pelo princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, previsto no inciso I do art. 194 da Constituição, devendo, assim, gozar do mesmo direito à ma-nutenção de um vínculo caracterizado pelo próprio texto constitucional como nulo?

Não seria o próprio princípio da dignidade da pessoa humana a afastar, assim, a nulidade contratual para garantir ao trabalhador que despendeu (muitas vezes por anos) a sua força de trabalho e energia, dilapidando a sua capacidade laboral, para, ao final, não fazer jus à manutenção, ainda que provisória, do vínculo de emprego até conseguir uma recolocação no mercado?

Esses argumentos têm sensibilizado alguns magistrados que op-tam por tentar igualar as situações, ora reintegrando o empregado, ora concedendo a este a indenização substitutiva, como se vê do julgado do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, em julgado posteriormente revertido no Tribunal Superior do Trabalho e indicado anteriormente:

[...] Inicialmente, conforme consta no relatório, consigno que o contra-to de trabalho mantido entre as partes efetivamente foi declarado nulo pelo primeiro grau de jurisdição, decisão contra a qual inexiste insur-gência. Prosseguindo, é incontroverso que a reclamante foi contratada (ainda que não observadas as formalidades legais), para exercer o cargo de Assistente de Direção em 17.04.2003, conforme contrato de traba-lho juntado à fl. 27. Também é incontroverso que, no curso da relação

8 TST, RR 234-81.2012.5.04.0015, em decisão monocrática o il. Ministro Relator Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, em 7 de fevereiro de 2014.

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mantida entre as partes, a reclamante sofreu acidente do trabalho, con-forme dispõe a CAT juntada à fl. 06, em razão do qual teve concedido auxílio-doença acidentário, que perdurou até 10.11.2011. Diante disso, a análise dos argumentos expendidos pela reclamante limitar-se-á aos efeitos decorrentes do dito contrato. Nessa senda, embora a contrata-ção seja nula, entendo que a reclamante faz jus ao reconhecimento da garantia de emprego prevista no art. 118 da Lei nº 8.213/1991, como se não fosse nulo o contrato, a título de indenização. Fundamento o juízo de valor adotado nos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da valorização social do trabalho e ainda, considerando o apreço que a Constituição da República tem para com as questões que dizem respeito à saúde e segurança no trabalho, tenho por irrelevante, no momento do acidente, a forma de contratação do trabalhador. Também, diante da boa-fé com a qual se presume ter ocorrido a contratação cele-brada entre as partes, não há porque não se reconhecer à reclamante o direito à garantia de emprego. Nesse contexto, entendo que a declaração da nulidade do contrato de trabalho opera efeitos ex nunc, sendo intan-gíveis os direitos trabalhistas decorrentes de contratação nula. Consigno que este Colegiado manifestou-se no mesmo sentido ora adotado: “RE-LAÇÃO DE EMPREGO – CONTRATO NULO GERADOR DE EFEITOS – APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 363 DO TST – O vínculo empregatí-cio se perfectibiliza por meio de um contrato-realidade. É antijurídica a exposição do trabalhador à exploração de sua mão-de-obra, em razão da má conduta da administração pública (art. 7º, XXX, c/c art. 37, § 6º, da CF/1988). Prevalência do princípio constitucional da valorização do trabalho. Declaração de nulidade da contratação que produz efeitos ex nunc. Devidas as parcelas decorrentes do vínculo de emprego. Recur-so não provido (TRT 4ª R., RO 0000654-05.2010.5.04.0291, 1ª T., Rel. Des. José Felipe Ledur, 11.04.2012). Participaram do julgamento: De-sembargadores Iris Lima de Moraes e George Achutti). Além disso, tenho que a finalidade buscada pelo legislador – que é assegurar o amparo do trabalhador no momento da debilidade – não poder estar elidida em detrimento de vícios causados pela própria contratante, os quais agora invoca para eximir-se da sua responsabilidade, sob pena de se permitir que se beneficie de sua própria torpeza, o que é vedado por nosso or-denamento jurídico. Por conseguinte, preenchidos os pressupostos para o reconhecimento da garantia de emprego de que trata o art. 118 da Lei nº 8.213/1991 e inexistindo qualquer incompatibilidade entre esse ins-tituto e a nulidade do contrato de trabalho, conforme já examinado, en-tendo que a reclamante era portadora de dita garantia por ocasião do término do benefício previdenciário, em 11.11.2011. Entretanto, em sen-

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do nulo o contrato de trabalho, mas mantidos os seus efeitos, impõe-se a condenação da reclamada ao pagamento de indenização equivalente aos salários da reclamante no período compreendido entre a data do término do benefício previdenciário (11.11.2011) e o final do período da garantia de emprego (10.11.2012) e às demais vantagens, o que com-preende diferenças do 13º salário proporcional ao ano de 2011 e ao ano de 2012 e férias com 1/3 [...].

coNcluSõeS

A questão ainda está em aberto, ainda que se note certa tendência a restringir o direito à estabilidade e/ou o direito à indenização substitu-tiva aos empregados públicos que têm o seu contrato de trabalho consi-derado como nulo por ausência de prévio concurso público.

Há, com efeito, uma antinomia aparente entre princípios cons-titucionais, na medida em que a observância da dignidade da pessoa humana e da universalização da cobertura e do atendimento, neste caso, implicaria na preservação de uma situação atentatória ao princípio da moralidade administrativa, cujo próprio texto constitucional fulmina de nulidade.

Ponderem-se, ainda, quais são os interesses que efetivamente de-vem ser preservados: o individual do acidentado ou o difuso do patri-mônio público.

A conclusão que poderíamos chegar é a de valorar os princípios da dignidade da pessoa humana, valorização do trabalho e universalida-de da cobertura e atendimento de forma a se sobrepor, nestes casos, aos da moralidade e legalidade administrativas, na medida em que o inte-resse da Administração pode ser classificado como interesse público se-cundário (do órgão), enquanto que a cobertura de uma situação de fato já consolidada no tempo se amoldaria no interesse público primário.

Estariam, assim, justificadas as indenizações substitutivas, sem prejuízo da responsabilização dos agentes públicos que ensejaram a contratação nula, que poderiam, inclusive, ter de ressarcir os cofres pú-blicos dos prejuízos que ocasionaram, aplicando a estes a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 (Lei da Improbidade Administrativa).

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referêNcIaS

CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa; JORGE NETO, Francisco Ferreira. O em-pregado público. 4. ed. São Paulo: LTr, 2014.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008.

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

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Assunto Especial – Doutrina

Lei nº 8.213/1991 e o Empregado sem Concurso Público

Estabilidade Provisória por Acidente do Trabalho e Ausência de Concurso Público

guSTAVO FILIPE BARBOSA gARCIALivre-Docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Especialista em Direito pela Uni-versidad de Sevilla, Pós-Doutorado em Direito pela Universidad de Sevilla, Membro da Aca-demia Brasileira de Direito do Trabalho, Titular da Cadeira nº 27, Membro Pesquisador do IBDSCJ, Professor Universitário em Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito, Ad-vogado e Consultor Jurídico. Foi Juiz do Trabalho das 2ª, 8ª e 24ª Regiões, Ex-Procurador do Trabalho do Ministério Público da União e Ex-Auditor-Fiscal do Trabalho.

A garantia de permanência no emprego decorrente de aciden-te do trabalho ou doença ocupacional é prevista no art. 118 da Lei nº 8.213/1991, que assim dispõe: “O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manuten-ção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio--doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-aci-dente”.

Trata-se da chamada estabilidade provisória acidentária, que tem a importante função de proibir a despedida arbitrária ou sem justa causa do empregado na situação exposta, sabendo-se que teria maior dificul-dade em conseguir novo emprego, justamente em razão do acidente do trabalho ou da doença ocupacional de que foi vítima.

Como essa estabilidade provisória é prevista em lei ordinária, e não complementar, discutiu-se a respeito de sua constitucionalidade, em razão do disposto no art. 7º, inciso I, da Constituição da Repúbli-ca Federativa do Brasil, ao prever, no rol de direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que deve prever indenização compensatória, entre outros direitos.

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Entretanto, por se tratar de garantia de emprego específica, mas não da disciplina genérica e completa dessa proteção da relação de em-prego contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa, firmou-se o enten-dimento de que o art. 118 da Lei nº 8.213/1991 é constitucional.

Nesse sentido, conforme a Súmula nº 378, inciso I, do Tribunal Superior do Trabalho: “É constitucional o art. 118 da Lei nº 8.213/1991 que assegura o direito à estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-doença ao empregado acidentado”.

Ainda quanto aos requisitos para a aquisição do direito à estabili-dade provisória acidentária, a mesma Súmula nº 378 do TST, no inciso II, assim esclarece: “São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a consequente percepção do auxílio--doença acidentário, salvo se constatada, após a despedida, doença pro-fissional que guarde relação de causalidade com a execução do contrato de emprego”.

Como se pode observar na parte final do art. 118 da Lei nº 8.213/1991, para a aquisição desse direito de permanecer no empre-go não se exige que o empregado tenha ficado com sequelas decorrentes do infortúnio no trabalho.

O Tribunal Superior do Trabalho, por meio da Resolução nº 185/2012, acrescentou o inciso III à Súmula nº 378, passando a dispor que o “empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determi-nado goza da garantia provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho prevista no art. 118 da Lei nº 8.213/1991”.

Entretanto, discute-se a respeito da possibilidade de aquisição do referido direito de permanecer no emprego se o acidente do trabalho (ou a doença ocupacional) tiver ocorrido em caso de empregado público admitido sem prévia aprovação em concurso público.

Nos termos do art. 37, inciso II, da Constituição da República, a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, sendo ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

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A não observância dessa exigência implica a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei (art. 37, § 2º, da Constituição Federal de 1988).

Trata-se, no caso, de nulidade do contrato de trabalho, justamente em razão da ausência de aprovação em concurso público.

A respeito do tema, segundo a previsão da Súmula nº 363 do Tri-bunal Superior do Trabalho:

CONTRATO NULO – EFEITOS – A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pa-gamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS.

Logo, apesar da referida nulidade, com o fim de se evitar o enri-quecimento sem causa, são assegurados apenas os direitos ao salário em sentido estrito e aos depósitos do FGTS.

Ainda assim, mesmo havendo acidente do trabalho, não há direito à estabilidade provisória no emprego, justamente em razão da nulidade em questão.

Se o contrato de trabalho é nulo, por descumprimento de exigên-cia constitucional, o seu término, a rigor, nem mesmo decorre de despe-dida arbitrária ou sem justa causa, mas da necessidade de adequação ao comando normativo de ordem pública.

Quanto ao tema em estudo, cabe fazer referência aos seguintes julgados:

Agravo de instrumento. Nulidade do contrato. Súmula nº 363 do TST. Garantia de emprego prevista no art. 118 da Lei nº 8.213/1991. A nulida-de da contratação de servidor público é disciplinada pela Súmula nº 363 do TST, cujo teor é o seguinte: “Contrato nulo. Efeitos. Nova redação. Res. 121/2003, DJ 21.11.2003. A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalha-das, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referen-

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tes aos depósitos do FGTS”. Assim, sendo nulo o contrato de trabalho dos reclamantes, não há embasamento legal para a condenação referente ao período de estabilidade previsto no art. 118 da Lei nº 8.213/1991, pois não se pode conceder garantia de empregado em relação a um contrato de trabalho inexistente. Agravo de instrumento desprovido. (TST, AI-RR 1840-46.2006.5.02.0069, 2ª T., Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, DEJT 19.12.2011)

Contrato nulo. Efeitos. Estabilidade acidentária. Indenização. Descabi-mento. Nos termos da Súmula nº 363, os efeitos do contrato de trabalho nulo com a Administração Pública se limitam ao direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do FGTS. Descabida, assim, a condenação ao pagamento de indenização substitutiva do período de estabilidade acidentaria. Noutro sentido, a indenização de danos morais e materiais decorrentes de ato lesivo do tomador do serviço, ainda que sob contratação nula, exorbita da esfera tipicamente trabalhista e sua viabilidade jurídica não encontra óbice no entendimento expresso na Súmula nº 363. Conhecido e, no particular, provido em parte. (TST, RR 100-97.2007.5.09.0562, 5ª T., Rel. Min. Emmanoel Pereira, DEJT 19.03.2010)

Conclui-se, portanto, não haver direito à estabilidade provisória decorrente de acidente de trabalho em caso de contrato nulo por ausên-cia de prévia aprovação em concurso público.

De todo modo, é relevante acompanhar a consolidação da juris-prudência a respeito da interessante questão.

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Parte Geral – Doutrina

Transexualidade e Aposentadoria no Regime Geral de Previdência

VIníCIuS PAChECO FLumInhAnAdvogado, Professor Universitário, Doutorando em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

PALAVRAS-CHAVE: Regime geral; aposentadoria; transexualidade.

SUMÁRIO: Introdução; 1 A diferença jurídica entre homens e mulheres no regime geral; 2 Que diferenças justificam o discrímen jurídico entre homens e mulheres?; 2.1 Capacidade física; 2.2 Maternidade; 3 Transexualidade: conceito e controvérsias; 4 Como enquadrar o transexual nas regras da aposentadoria? Conclusão; Referências.

INtrodução

Toda vez que o Direito não oferece respostas claras para fatos sociais novos os juristas são desafiados a encontrar soluções que per-mitam conciliar as necessidades sociais com as possibilidades jurídicas em vigor. Tal tarefa torna-se ainda mais desafiadora quando o tema é multidisciplinar e repleto de controvérsias também em outras áreas do conhecimento.

A cirurgia para alteração de genitália encontra-se inserida nos procedimentos cobertos pelo SUS desde 2008, mas para alguns espe-cialistas a transexualidade pode ser configurada independentemente de cirurgias para alteração anatômica. Em ambos os casos o fenômeno pro-voca uma série de reflexões por suas consequências jurídicas, já que a legislação eventualmente adota tratamento normativo diferenciado para homens e mulheres. A título de exemplo, tem-se distinções no sistema penitenciário (art. 5º, XLVIII, da CF), na regulação do trabalho (art. 384 da CLT), na proteção penal (Lei nº 11.340/2006), nas licenças para pais e mães quando ganham filhos, e assim por diante. Portanto, em muitos casos o sexo é parâmetro para a aplicação distinta da lei.

No que tange à previdência social, as distinções também estão presentes porque as regras para a concessão de algumas aposentadorias no regime geral diferenciam-se pelo sexo. Desta forma, considerando a repercussão jurídica ligada à alteração do sexo, impõe-se saber como

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26 .................................................................................................................. RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – PARTE GERAL – DOUTRINA

fica a subsunção deste fato às normas previdenciárias atinentes às apo-sentadorias.

Não tardará para que os primeiros casos cheguem aos balcões de atendimento do INSS. Por isso, é mister pensar a respeito. Se as regras para a aposentadoria fossem as mesmas para ambos os sexos não ha-veria motivo para a reflexão proposta neste texto. Todavia, sendo elas diferentes, uma análise mais detida do tema torna-se necessária.

O presente artigo procurará, primeiramente, apontar as diferenças legais entre homem e mulher para três espécies de aposentadoria do regime geral de previdência. Em seguida, tentará resgatar as razões dou-trinárias que levaram à adoção do discrímen entre os sexos e adequar a pertinência de tal discrímen frente ao transexual. Por fim, propõe uma solução para o enquadramento do transexual no contexto das aposen-tadorias.

1 a dIfereNça jurídIca eNtre homeNS e mulhereS No regIme geral

No regime geral de previdência social três modalidades de apo-sentadoria seguem regras distintas em função do sexo.

Na aposentadoria por idade, embora o prazo de carência seja igual para homens e mulheres (15 anos de contribuição), as idades mínimas previstas no art. 48 da Lei nº 8.213/1991, combinado com o art. 201, § 7º, II, da CF, são de 60 (sessenta) anos para a mulher e 65 (ses-senta e cinco) anos para o homem, reduzidas, para o trabalhador rural, a 55 (cinquenta e cinco) anos, no caso da mulher, e 60 (sessenta) anos no caso do homem.

Na aposentadoria por tempo de contribuição, embora a carência também seja a mesma para ambos os sexos, o tempo de contribuição mí-nimo exigido é de 30 (trinta) anos para a mulher e de 35 (trinta e cinco) anos para homem, conforme se infere do art. 53 da Lei nº 8.213/1991, combinado com o art. 201, § 7º, I, da Constituição Federal.

Por fim, para a aposentadoria especial à pessoa portadora de de-ficiência há também exigência de idade mínima ou tempo de contribui-ção distintos em função do sexo. Nas modalidades previstas nos incisos I, II e III do art. 3º da Lei Complementar nº 141/2013, exige-se 20 (vinte),

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24 (vinte e quatro) ou 28 (vinte e oito) anos de contribuição, para mulhe-res, conforme o grau da deficiência, e, para homens, 25 (vinte e cinco), 29 (vinte e nove) ou 33 (trinta e três) anos de contribuição, conforme o grau da deficiência, enquanto na modalidade prevista no inciso IV há redução da idade mínima para 55 (cinquenta e cinco) anos, no caso da mulher, e 60 (sessenta) anos, no caso do homem.

Portanto, embora seja discutível a opção política que desiguala os critérios para a concessão de aposentadorias no regime geral (e a mes-ma opção política ocorre nos regimes próprios), o fato é que homens e mulheres recebem tratamento jurídico diferenciado no Brasil e este discrímen tem matriz constitucional.

Não se adentrará neste estudo o mérito da diferenciação entre ho-mens e mulheres, a qual, diga-se de passagem, inexiste em diversos pa-íses (França, Espanha, Portugal, EUA, Uruguai, Japão)1. O propósito do texto é perquirir as razões que explicam a diferenciação previdenciária entre os sexos e, posteriormente, avaliar a sua aplicabilidade na análise do direito dos transexuais.

2 que dIfereNçaS juStIfIcam o dIScrímeN jurídIco eNtre homeNS e mulhereS?

A doutrina elenca várias razões que justificariam a opção do legis-lador em estabelecer regras diferentes para a aposentadoria em função do sexo. Entre elas duas se destacam: a diferença na capacidade física e a maternidade.

2.1 CapaCidade físiCa

Segundo Wladimir Novaes Martinez, a atenção peculiar à figura feminina é nítida na própria origem dos primeiros sistemas previdenciá-rios. Quando as primeiras normas trabalhistas e previdenciárias surgiram no século XIX, o ambiente de trabalho vivia a novidade das máquinas pesadas e do necessário esforço físico exigido para o seu manuseio.

Por consequência, dado que geralmente se observa uma diferença nas capacidades físicas do homem e da mulher, os primeiros sistemas de

1 STEPHANES, Reinhold. Reforma da previdência sem segredos. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 11.

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proteção previdenciária procuraram compensá-la mediante regras mais vantajosas para as mulheres2.

Esta tese no Brasil é confirmada por disposições da CLT, como, por exemplo, os arts. 390 e 384. A despeito de uma possível ofensa ao princípio da igualdade entre os sexos, a constitucionalidade do art. 384 foi reconhecida recentemente pelo STF no RE 658.312 com a seguinte ementa:

Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Direito do Tra-balho e Constitucional. Recepção do art. 384 da Consolidação das Leis do Trabalho pela Constituição Federal de 1988. Constitucionalidade do intervalo de 15 minutos para mulheres trabalhadoras antes da jornada extraordinária. Ausência de ofensa ao princípio da isonomia. Mantida a decisão do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso não provido.

1. O assunto corresponde ao Tema nº 528 da Gestão por Temas da Re-percussão Geral do portal do Supremo Tribunal Federal na Internet.

2. O princípio da igualdade não é absoluto, sendo mister a verificação da correlação lógica entre a situação de discriminação apresentada e a razão do tratamento desigual.

3. A Constituição Federal de 1988 utilizou-se de alguns critérios para um tratamento diferenciado entre homens e mulheres: i) em primeiro lugar, levou em consideração a histórica exclusão da mulher do mer-cado regular de trabalho e impôs ao Estado a obrigação de implantar políticas públicas, administrativas e/ou legislativas de natureza prote-tora no âmbito do direito do trabalho; ii) considerou existir um com-ponente orgânico a justificar o tratamento diferenciado, em virtude da menor resistência física da mulher; e iii) observou um componente social, pelo fato de ser comum o acúmulo pela mulher de atividades no lar e no ambiente de trabalho – o que é uma realidade e, portanto, deve ser levado em consideração na interpretação da norma.

4. Esses parâmetros constitucionais são legitimadores de um tratamento diferenciado desde que esse sirva, como na hipótese, para ampliar os direitos fundamentais sociais e que se observe a proporcionalidade na compensação das diferenças.

2 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Tratado prático da pensão por morte. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 73.

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5. Recurso extraordinário não provido, com a fixação das teses jurídicas de que o art. 384 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 e de que a norma se aplica a todas as mulheres trabalhadoras.

A decisão do Supremo Tribunal Federal foi publicada no Diário da Justiça em 10.02.2015, refletindo, assim, uma hermenêutica contem-porânea a respeito de uma velha norma jurídica. O reconhecimento da diferença orgânica entre o homem e a mulher positivado na CLT há mais de 70 anos ainda se faz presente no pensamento jurídico para fins de tratamento diferenciado, sendo digno de nota que o acórdão recebeu votos de duas ministras que compõem aquela corte.

Portanto, tem-se atualmente uma posição oficial muito clara no STF quanto à desigualdade na resistência física da mulher e sua perti-nência para fins de aplicação da CLT. Percebe-se, assim, que a tese de Wladimir Novaes Martinez explica de forma coerente o tratamento jurí-dico diferenciado também na seara previdenciária como compensação pelo maior desgaste físico da mulher.

2.2 Maternidade

A maternidade, por outro lado, é um ônus para a carreira profissio-nal da mulher. O fato do sistema previdenciário e trabalhista preverem o afastamento remunerado durante a gestação, inclusive protegendo o emprego com a estabilidade, não elide a presunção de que este intervalo na vida laboral da mulher pode gerar atrasos no desenvolvimento da sua carreira.

É bem verdade que a figura paterna pode eventualmente suportar ônus parecido3, mas não é de se presumir que esta situação seja a mais comum. A participação da mãe é muito mais notória nos primeiros me-ses de vida de uma criança, seja porque a gestação ocorre no ventre da mulher, seja pela recomendação médica de amamentação da criança. Não é por outro motivo que a legislação protege a maternidade com benefício previdenciário específico e estabilidade no emprego.

Há quem credite o tratamento diferenciado para a mulher na teoria da dupla jornada, segundo a qual as mulheres teriam presumidamente

3 A exemplo das adoções feitas por pais solteiros e de pais que se tornam viúvos no contexto do parto.

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uma acumulação dos encargos domésticos com as atividades profissio-nais4, e por isso uma aposentadoria antecipada para compensar tal ônus. A maternidade inegavelmente encaixa-se neste contexto.

Todavia, a própria doutrina aponta para o anacronismo da dupla jornada frente às mudanças de comportamento da mulher na sociedade contemporânea e à exigência de um tratamento cada vez mais igualitá-rio entre os sexos. Segundo Sérgio Pinto Martins,

o princípio da igualdade não é verificado no inciso II do § 7º do art. 201 da Constituição, quando menciona que os homens se aposentam com 65 anos de idade e as mulheres com 60 anos [...] Não mais se justificam essas distinções, já que homens e mulheres são iguais em direitos e obri-gações, principalmente diante do fato de que a mulher vive mais do que o homem.5

Em que pese a observação de Martins, a teoria da dupla jornada ainda merece ponderação e não pode ser integralmente negada a priori. A sua superação requer uma pesquisa profunda sobre todos os aspectos socioeconômicos no ambiente doméstico, a fim de se investigar se as mulheres compartilham (ou não) com os homens os afazeres domésticos e saber quem é geralmente o provedor do lar, tomando-se, ainda, muita cautela com as diferenças regionais e culturais presentes no País.

É preciso também atentar para o fato de que pesquisas recentes do IBGE revelam um mercado de trabalho muito injusto com a mão de obra feminina:

Embora a taxa de formalização entre homens e mulheres seja bastante próxima, as mulheres recebem em média menos que os homens em to-das as formas de trabalho, seja formal ou informal. No entanto, a rela-ção de desigualdade de rendimentos entre homens e mulheres é maior nos trabalhos informais. Em 2013, o rendimento médio das mulheres em trabalhos informais era equivalente a 65% do rendimento médio dos ho-mens nesses trabalhos. Nos trabalhos formais essa relação era de 75% [...] As desigualdades de gênero no mercado de trabalho não se configu-ram apenas no rendimento, o acesso de mulheres a cargos gerenciais e de direção é reduzido comparativamente aos homens. Em 2013, a pro-

4 IBRAHIM, Fábio Zambite. Curso de direito previdenciário. 17. ed. Niterói: Impetus, 2012. p. 609.5 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 70-71.

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porção de mulheres de 25 anos ou mais de idade nestes cargos era 5,1%, enquanto entre os homens a proporção era 6,4%.6

Embora não seja objetivo imediato do sistema previdenciário fazer política de equalização de gênero, os dados do IBGE mostram que a igualdade prevista no art. 5º, caput, da CF ainda é uma falácia no mundo do trabalho.

Por isso, mesmo que a teoria da dupla jornada da mulher não se mostre inteiramente válida (o que se admite aqui apenas como hipótese), ainda assim restariam grandes dúvidas sobre o acerto de uma igualdade absoluta no tratamento jurídico previdenciário entre homens e mulheres.

Presente ou não a acumulação do trabalho com os afazeres do-mésticos (dupla jornada), é inegável que o ônus da maternidade justifica o discrímen para a aposentadoria. Afinal, se o mercado de trabalho já possui uma tendência de tratar a mulher de forma desigual, presume-se um quadro ainda pior no contexto da maternidade.

3 traNSeXualIdade: coNceIto e coNtrovérSIaS

A definição de transexualidade tem sido objeto de muita contro-vérsia entre especialistas da área médica, da psicologia, da sociologia, da antropologia, entre outras áreas do conhecimento. O viés patológico que a medicina impõe ao tema não é aceito de forma universal e há for-te indicação de que a transexualidade deixe de figurar como transtorno psíquico na próxima versão da Classificação Internacional de Doenças a ser elaborada pela Organização Mundial da Saúde7.

À parte a controvérsia supra (cujo aprofundamento transcende as competências do autor), o art. 4º da Resolução nº 1.955/2010 do Conse-lho Federal de Medicina refere-se ao transexual como pessoa portadora de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência à automutilação e/ou autoextermínio. Portanto,

6 IBGE. Síntese de Indicadores Sociais – uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, v. 34, 2014. p. 133-135.

7 ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA. Revista RADIS, Rio de Janeiro: ENSP, n. 137, fev. 2014, p. 6. Disponível em: <http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/sites/default/files/radis_137.pdf>. Acesso em: 3 jul. 2015.

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embora a questão seja polêmica, o CFM considera a transexualidade uma patologia.

Segundo o entendimento da referida norma, a definição clínica do transexual deve obedecer ao menos os seguintes requisitos: (1) des-conforto com o sexo anatômico natural; (2) desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; (3) permanência desses distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; (4) ausência de outros transtornos mentais.

Deduz-se dos requisitos mínimos que o desejo expresso de alterar a anatomia do sexo integra o protocolo médico para a definição do tran-sexual. Por conta disso, o processo de transgenitalização tem sido ofere-cido pelo SUS desde a edição da Portaria MS nº 1.707, de 18.08.2008, depois substituída pela Portaria MS nº 2.803, de 19.11.2013, e pressu-põe recomendação feita por equipe multidisciplinar de profissionais da área da saúde.

Ocorre que o desejo expresso de realizar alterações anatômicas não encontra consenso para fins de definição do transexual. Nas pala-vras de Heloisa Helena Barboza:

Entende-se como transexual a pessoa que sente pertencer ao sexo oposto ao seu sexo biológico e em razão disso passa a viver em função desse sentimento e a buscar todos os meios disponíveis para compatibilizar o seu corpo com o do sexo que entende ser o seu, o que pode incluir, além da ingestão de hormônios, cirurgias para a modificação da genitália.8

De acordo com a definição de Heloisa Barboza, as cirurgias para alteração do fenótipo não seriam conditio sine qua non para a mudança da identidade masculina para a feminina, ou vice-versa. Neste sentido, os especialistas têm colocado em discussão a própria categoria sexo, por ser insuficiente na identificação de uma pessoa. De acordo com a referida autora,

na contemporaneidade, critica-se a categoria sexo, uma vez que as figu-ras do homem e da mulher são construções sociais e culturais de grande

8 BARBOZA, Heloisa Helena. Disposição do próprio corpo em face da Bioética: o caso dos transexuais. In: LIGIERA; GOZZO (Org.). Bioética e direitos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 138.

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complexidade [...] Em lugar do sexo, adota-se a concepção de gênero, que permite reconhecer os procedimentos que são constitutivos do ho-mem e da mulher, além dos limites biológico.9

Esse posicionamento sobre a questão encontra apoio nos estudos da socióloga Berenice Bento, que, após ter realizado prolongadas e de-tidas investigações em comunidades transexuais, propõe a despatologi-zação da experiência transexual e sugere que esta experiência deva ser abordada sob o paradigma das questões de gênero, ou seja, abandonan-do-se a referência biológica e levando-se em consideração apenas as performances dos sujeitos em suas práticas cotidianas10.

Nesta linha, a Jurista Maria Berenice Dias aborda a transexualidade sem incluir o processo de transgenitalização como etapa absolutamente necessária para a identificação do gênero. Segundo ela, “a problemática da identidade sexual de alguém é muito mais ampla do que seu sexo morfológico [...] a aparência externa não é a única circunstância para a atribuição do gênero, pois com o lado externo concorre o elemento psicológico”11.

Conforme se pode observar, além da despatologização da tran-sexualidade, existe também uma forte tendência de não se atribuir as práticas do gênero – e, consequentemente, a identidade – às mudanças anatômicas do sexo. Neste sentido, a designação do gênero masculino ou feminino não dependeria necessariamente de uma alteração anatô-mica no corpo, mas sim das práticas que são culturalmente atribuídas a um gênero e outro.

Portanto, a pessoa transexual pode ser definida como aquela que sente pertencer ao sexo oposto ao seu sexo biológico, vive em função desse sentimento e busca todos os meios disponíveis para compatibilizar o seu corpo com o do sexo que entende ser o seu, submetendo-se ou não à cirurgia de transgenitalização, bastando a adoção permanente das práticas do gênero oposto.

9 Id., p. 135.10 BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo (Tese de Doutoramento). Apud PEREIRA, Carolina Grant. Biotética

e transexualidade: para além da patologização, uma questão de identidade de gênero. Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI, jun. 2010, p. 843.

11 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 119.

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4 como eNquadrar o traNSeXual NaS regraS da apoSeNtadorIa?

O quadro retratado anteriormente desafia o jurista que estuda a le-gislação previdenciária. O fato de a maioria das aposentadorias apresen-tarem regras distintas para homens e mulheres exige uma reflexão acerca do modo como se deve fazer o enquadramento normativo do transexual. O homem que se torna mulher deve obedecer à regra das mulheres? A mulher que se torna homem deve submeter-se à regra dos homens? Em ambos os casos, a partir de que momento?

Ao lado de tais perguntas há de se colocar outras ainda mais com-plexas. Se a cirurgia para alteração do fenótipo não é etapa necessária para a configuração do transexual, qual seria o critério objetivo para analisar o direito de aposentadoria de tais pessoas? A simples autodecla-ração da sua identidade? A prova de sua performance social nas véspe-ras da aposentadoria?

Conforme aponta Frederico Batista de Oliveira, “o exercício da orientação sexual ou da identidade de gênero deve ser protegido como direito absoluto e inalienável que não esbarra nem causa dano a nenhum outro direito”12. Todavia, a liberdade de orientação sexual ou identidade de gênero esbarra em aspectos administrativos do Direito Previdenciário em função de danos que possam ser causados para o sistema. A ausência de elementos objetivos de análise deixa o campo administrativo aberto para fraudes. Neste caso, data venia, o direito não pode ser visto como absoluto.

Não se trata aqui de negar à pessoa o direito de vivenciar diferen-tes gêneros com o seu corpo nem de negar a ela a sua liberdade sexual. É necessário que se compreenda que, embora esses direitos fundamentais mereçam todo o respeito da legislação, existe também uma preocupa-ção operacional do sistema previdenciário relacionada à possibilidade de fraudes.

Se as regras para a aposentadoria fossem as mesmas para ambos os sexos, não haveria motivo para preocupação. Todavia, sendo elas diferentes, é mister investigar caso a caso se os critérios eleitos pelo le-

12 OLIVEIRA, Frederico Batista. Políticas públicas e diversidade sexual no Brasil. In: SMANIO; BERTOLIN (Org.). O direito e as políticas públicas no Brasil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 477.

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gislador para o discrímen se fazem presentes no caso dos transexuais, até mesmo para evitar a quebra da isonomia com os demais segurados e seguradas do sistema.

Conforme já visto, a distinção na capacidade física e a materni-dade estão na base da diferenciação para a aposentadoria. Assim, por uma questão metodológica, se a legislação adotou tais critérios para o discrímen, deve ser a partir deles também a reflexão sobre o enqua-dramento do transexual. A identificação de tais critérios, no entanto, é observada mais facilmente no caso da pessoa transexual que se submete a cirurgias para alteração da aparência anatômica.

CapaCidade físiCa

Segundo a Resolução do CFM, o processo de transgenitalização pressupõe não só o desconforto com a anatomia do sexo natural e o de-sejo expresso de eliminá-lo para adquirir características do sexo oposto, mas também o acompanhamento por equipe multidisciplinar de saúde por um período de, no mínimo, dois anos.

Além disso, o tratamento não é exaurido nos procedimentos cirúr-gicos. Tanto o homem quanto a mulher que assumem o sexo oposto ao natural devem ingerir hormônios constantemente para realçar as carac-terísticas secundárias do sexo desejado, advindo daí alterações na voz, na quantidade de pelos e em outras características secundárias.

Uma das consequências do tratamento hormonal permanente é a alteração na capacidade muscular. A mulher que ingere testosterona aumenta a sua musculatura e adquire maior força física, enquanto que o homem, ao ingerir estrogênio, diminui a sua massa muscular e perde força física13.

Ora, se um dos critérios do legislador brasileiro para estabelecer as regras de aposentadoria para homem e mulher é a diferença na ca-pacidade física, ele pode servir como diretriz hermenêutica para o en-quadramento do transexual que efetivamente se submete a permanente tratamento hormonal.

13 MCDERMOTT, Michael. Segredos – Endocrinologia. Tradução de Alexandre Vianna Aldighieri Soares et al. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 382.

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É de se presumir que o indivíduo que passa por cirurgias de al-teração anatômica realiza, de forma constante, o tratamento hormonal porque, à exceção dos raros casos de arrependimento, decidiu alterar definitivamente o sexo natural e juntamente com ele as características secundárias do sexo natural.

No caso da mulher, embora a mastectomia não seja irreversível, é de se presumir que, enquanto a característica primária (ausência de mama) estiver presente, haverá com ela o tratamento para manter as características secundárias coerentes ao sexo desejado!

Deste modo, se a mulher que se tornou homem ganha mais força física e o homem que se tornou mulher perde força física, as regras de aposentadoria pelo critério da força física devem acompanhar o novo sexo adquirido.

Não é uma questão meramente anatômica que permeia a análi-se, mas sim o fato de que, em razão do tratamento hormonal, um dos critérios do legislador brasileiro (força física) permite o enquadramento normativo do transexual de forma segura e coerente.

Maternidade

Em relação ao ônus da maternidade, pode-se, em um primeiro olhar, recusar a tese de que a pessoa transexual que assume identida-de feminina receba a mesma compensação jurídica que uma gestante. Todavia, a ausência da gestação não elide a possibilidade de que a pes-soa transexual se torne mãe, uma vez que o Direito brasileiro permite a adoção.

Conforme prevê o art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente, não há vedação para que a pessoa transexual adote, já que as restrições presentes neste dispositivo são de outra ordem. Assim, o homem que passou pelo processo transexualizador e assumiu a identidade feminina pode perfeitamente tornar-se mãe.

Por outro lado, a maternidade requer atenção imediata do ado-tante em relação ao adotado. Tanto é verdade que o art. 71-A da Lei nº 8.213/1991 foi recentemente alterado pela Lei nº 12.873/2013, jus-tamente para conferir à mãe adotiva o mesmo tempo de afastamento da mãe biológica.

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Ora, se a legislação permite a adoção e admite a existência de um ônus neste processo, a ponto de prever um benefício previdenciário es-pecífico para a maternidade e uma garantia de estabilidade no emprego, então o critério eleito pelo legislador para favorecer a mulher na apo-sentadoria aplica-se também à pessoa transexual que assume identidade feminina.

Portanto, se o homem adotou a identidade feminina e oficialmente obteve o reconhecimento jurídico dela – ainda que sem o procedimento de transgenitalização, como já surge em alguns julgados14 –, será mãe a partir do momento que obtiver a guarda de uma criança ou um adoles-cente.

Por conseguinte, enfrentando o ônus da maternidade como qual-quer outra mulher estará preenchendo o outro critério eleito pelo legis-lador brasileiro (maternidade) como justificativa da aposentadoria ante-cipada para a mulher, não havendo motivo para que, do ponto de vista previdenciário, o tratamento jurídico seja diferente daquele já empresta-do ao indivíduo na seara civil.

HoMeM ou MulHer desde quando?

Parece-nos irrelevante o momento a partir do qual a mudança de identidade com a cirurgia de transgenitalização ocorreu.

O sentimento de pertencer ao sexo oposto e comportar-se de acor-do com ele pode ter origem desde a infância, nada obstante a cirurgia ocorra na fase adulta. Assim, parece impróprio exigir-se eventualmente uma contagem de tempo de contribuição e de idade mínima proporcio-nais aos períodos pré e pós-cirurgia de transgenitalização.

A solução neste caso não pode ser cartesiana se desde antes da ci-rurgia o sentimento e o comportamento eram do sexo oposto, até porque este hipotético cômputo proporcional de idade e tempo de contribuição seria apenas mais uma ofensa jurídica à identidade sexual de tais pesso-as. Portanto, a adoção de uma mera regra-de-três deve ser descartada de plano por absoluta falta de razoabilidade.

14 TJRJ, Apelação Cível nº 0013986-23.2013.8.19.0208; TJRS, Agravo de Instrumento nº 0238556-92.2014.8.21.7000.

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Se o homem se transformou em mulher, então o tempo de con-tribuição e/ou idade mínima exigido deve ser aquele previsto para a mulher, e vice-versa, até porque como a transformação do sexo é feita após um longo e desgastante processo (envolvendo preconceitos, hosti-lização, procedimentos cirúrgicos de risco, dificuldade na alteração do nome, etc.), não há como presumir male fide da pessoa com vistas a obter vantagens do sistema previdenciário.

Aliás, no caso da mulher que assume a identidade masculina, a presunção de má-fé seria até inócua, uma vez que o tempo de contribui-ção e a idade mínima para a aposentadoria do homem são maiores, ou seja, não haveria qualquer vantagem previdenciária neste caso.

coNcluSão

A legislação previdenciária distingue as regras para aposentadoria de homens e mulheres a partir de dois critérios muitos claros e essenciais para a sua hermenêutica: a diferença na capacidade física dos sexos e o ônus da maternidade. É a partir desta ratio que se torna possível interpre-tar e aplicar a legislação para os transexuais.

O uso de hormônios para a alteração das características secundá-rias (voz, pelos, variações anatômicas leves, etc.) do transexual implica alterações na sua capacidade física, isto é, o homem que ingere estro-gênio perde força física e a mulher que ingere testosterona ganha força física.

Em que pese não haver consenso quanto à necessidade de cirurgia de transgenitalização para a alteração jurídica da identidade da pessoa, é possível presumir de forma segura o uso habitual e permanente de hormônios quando o transexual submete-se a alterações do fenótipo por meio de cirurgias.

Portanto, em princípio, os casos de transexualidade sem a adoção de cirurgias e sem a consequente ingestão de hormônios do sexo oposto não indicam, a priori, a possibilidade de alteração das regras para a apo-sentadoria. Não se trata de negar à pessoa o direito de vivenciar diferen-tes gêneros com o seu corpo nem de negar a ela a sua liberdade sexual.

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O que deve ser compreendido é que a análise para o enquadra-mento nas regras da aposentadoria precisa observar os critérios eleitos pelo legislador no discrímen entre homem e mulher. Assim, não há como aplicar a legislação previdenciária segundo o sexo eventualmente escolhido. Existe uma preocupação operacional do sistema previdenciá-rio relacionada à possibilidade de fraudes e se os parâmetros de análise não forem objetivos abre-se uma grande porta para fraudes.

Deste modo, o comportamento crossdressing ou drag queen, ou, ainda, fetiches vinculados à alteração do gênero não permitem a apli-cação de regras previdenciárias distintas daqueles previstas ao sexo biológico. A despeito das performances adotadas pela pessoa no seu cotidiano, não há como se vislumbrar a variação normativa quanto às regras para a aposentadoria se um dos critérios eleitos pelo legislador (capacidade física) estiver ausente.

Por outro lado, havendo a adoção oficial da identidade feminina, ainda que sem a cirurgia de transgenitalização (mormente se acompa-nhada da maternidade), é evidente que ao Direito Previdenciário não ca-berá contrapor a solução jurídica já consolidada pelo Direito de Família.

Assim, estando presentes de forma inequívoca e continuada as di-ferenças na capacidade física e/ou a maternidade, pode-se concluir que as regras para a aposentadoria no regime geral de previdência devem ser aquelas previstas para o gênero que foi adotado pelo segurado ou pela segurada.

referêNcIaS

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Parte Geral – Doutrina

A Previdência Complementar na União Europeia: uma Introdução ao Direito Institucional da União Europeia e à Responsabilidade Administrativa dos Administradores de Entidades de Previdência Complementar e Fundos de Pensão

JuLIAnO SARmEnTO BARRAAdvogado, Especialista e Mestre em Direito pela PUC/SP, Doutorando em Droit Social pela Université Paris 1 Panthéon – Sorbonne, Membro do Departamento de Direito Social do Insti-tute de Recherche Juridique de la Sorbonne – IRJS e do Réseau Académique Européen sur la Charte Sociale et les Droits Sociaux – RACSE.

PALAVRAS-CHAVE: Previdência Complementar; Seguridade Social; Direito Institucional da União Europeia; direito comunitário; Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Aposentadoria – EIOPA; responsabilidade administrativa; dirigentes; fundos de pensão; proces-so administrativo; Corte de Justiça da União Europeia; Instituições da União Europeia; Diretiva nº 2003/41/CE e Diretiva nº 2014/50/EU; Regulamento (UE) nº 1094/2010; Direito Comparado; Direito Internacional da Seguridade Social.

SUMÁRIO: Introdução; Primeira Parte: A União Europeia; Título I: Direito Institucional da União Europeia; Capítulo I: Escorço Histórico e Perspectivas. Seção 1: A Gênese da Construção da União Europeia: do Desenvolvimento de “L’idée Européenne” Até Seus Tratados Fundadores; Capítulo II: Instituições da União Europeia; Seção 1: Órgãos da Estrutura Institucional da União Europeia e Suas Funções; A) Cúpula do Conselho Europeu; B) Conselho da União Europeia (Con-selho de Ministros); C) O Parlamento Europeu; D) A Comissão Europeia; E) Tribunal de Justiça da União Europeia; Título II: A Regulação da Previdência Privada no Âmbito da União Europeia; Capítulo I: As Fontes Jurídicas do Direito da EU; Seção 1: Natureza Jurídica das Normas da EU; A) Direito Originário da EU; 1. Os Tratados da União Europeia; B) Os Atos Jurídicos da União. O Direito Derivado da EU; C) Acordos Internacionais Concluídos pela EU; D) Princípios Gerais do Direito; Seção 2: Espécies Normativas no Âmbito da EU; Capítulo II: Do Direito Comunitário; Se-ção 1: Do Primado do Direito da União Sobre o Direito Nacional; Seção 2: Do TJUE e o Papel de Sua Jurisprudência para o Direito Comunitário; Capítulo III: Do Quadro Regulatório em Matéria de Previdência Complementar; Seção 1: Da Recomendação da Comissão Europeia. Livro Branco. Estratégia para Pensões Adequadas; Seção 2: Dos Instrumentos Aplicáveis aos Sistemas Com-plementares Privados em Nível Comunitário; Segunda Parte: Os Administradores de Entidades de Previdência na União Europeia; Título I: Contornos Gerais da Responsabilidade Administrativa; Capítulo I: Da Previsão de Responsabilidade sob o Enfoque das Normas Comunitárias; Seção 1: Das Normas de Supervisão e do Órgão Supervisor; A) Da Diretiva nº 2003/41/CE. Atividades e supervisão das instituições e planos de previdência profissionais; B) Do Regulamento (UE) nº 1094/2010. Autoridade Europeia de Supervisão (Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões

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Complementares de Aposentadoria – EIOPA); Capítulo II: Da Responsabilidade Administrativa sob o Enfoque do Direito Interno; Seção 1: Das Legislações Internas a Partir da Transposição da Diretiva nº 2003/1941; A) Portugal; B) Espanha; C) França; D) Bélgica; Conclusão; Referências.

INtrodução

O presente trabalho serviu de base para a apresentação feita no seminário internacional “A Estrutura da Previdência na Europa” reali-zado em Paris entre 14 e 22 de maio de 2014 e promovido pela Asso-ciação Brasileira dos Fundos de Pensão – Abrapp. O tema proposto foi a “Responsabilidade Administrativa e Civil de Gestores e Conselheiros Previdenciários”1. O evento foi uma ótima oportunidade para discutir com os dirigentes de fundos de pensão brasileiros a experiência euro-peia, o atual contexto por que passam as entidades previdenciárias e, ao mesmo tempo, a apresentação de algumas propostas para estudo e aplicação no direito nacional2.

Desta forma, e em linha com o título do presente artigo, nosso objetivo é introduzir na doutrina brasileira as principais fontes norma-tivas da previdência complementar na União Europeia e os contornos da responsabilidade administrativa dos dirigentes de fundos de pensão. Escopo é traçar uma rota inicial para os estudiosos que queiram se apro-fundar neste tema.

O plano proposto se inicia com os contornos na formação da União Europeia, as suas fontes normativas e a sua estrutura institucional. Contempla, na verdade, uma verdadeira introdução ao chamado Direito Institucional da União Europeia. Seguramente, sem este conhecimento prévio a teoria das fontes do Direito da União, por exemplo, restaria falha, pois o leitor menos adaptado ao direito comunitário poderia não compreender os efeitos jurídicos entre um regulamento e uma diretiva,

1 Diante da extensão do tema e por medida metodológica, iremos tratar no presente artigo somente da questão da responsabilidade administrativa.

2 Registro meus agradecimentos a Juan Yermo, antigo head da área de fundos de pensão da OCDE e atualmente Assessor Sênior da Secretaria Geral da mesma organização, pela proposição do tema e discussão geral da proposta; Francis Kessler, professor associado da Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne, Senior Counsel e membro do conselho cientifico do escritório Gide Loyrette Nouel Avocats, pelo aporte doutrinário e discussão quanto aos aspectos da regulação europeia dos fundos de pensão; Jean-François Akandji-Kombé, professor titular da Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne e codiretor do Departamento de Direito Social, pelo suporte e reflexões sobre o Direito Institucional da União Europeia. O meu reconhecimento e os meus mais sinceros agradecimentos pela oportunidade e convivência. As opiniões aqui concernentes vinculam somente o autor.

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e.g. Posteriormente, é apresentado o quadro regulatório da previdência complementar em nível europeu e os seus reflexos no direito interno dos Países-membros. Por fim, são trazidos alguns exemplos sobre as legisla-ções sobre a responsabilidade administrativa e o seu procedimento.

prImeIra parte: a uNIão europeIa

título I: dIreIto INStItucIoNal da uNIão europeIa

Capítulo i: esCorço HistóriCo e perspeCtivas

Seção 1 – a gênese da construção da união europeia: do desenvolvimento de “l’idée européenne” até Seus tratados fundadores

As fontes sobre a ideia do desenvolvimento de uma união entre os países do continente europeu podem ser encontradas a partir do sé-culo XVII. Victor Hugo em seu discurso no Congresso Internacional da Paz, realizado em Paris em 1849, utilizou diversas vezes o termo “Es-tados Unidos da Europa”. Entre as duas grandes guerras podemos citar o trabalho sobre a “A União paneuropéenne” de Richard Nikolaus de Coudenhove-Kalergi, em 1923, e o Plano Briand, de 1929, com a sua proposição de um “laço federal entre os povos da Europa”.

De toda forma, somente após a Segunda Guerra, tomados pelo contexto social, econômico e político totalmente devastados, que a gê-nese daquilo que viria a ser tornar a União Europeia futuramente come-çou a se propagar. Havia a necessidade de se “faire construire l’Europe”, e a sua recuperação tanto na economia quanto na paz eram os pontos primordiais. Churchill, em seu discurso de 1946, torna a utilizar a ex-pressão “Estados Unidos da Europa”, sendo que, em 1948, no Congresso de Haia, chamado Congresso da Europa, duas tendências começam a se formar: (i) os “unionistes” os quais visavam a uma cooperação, mas sem comprometer ou limitar a soberania de cada País. Os britânicos se alinharam a esta posição; (ii) os “fédéralistes” onde prevalecia a ideia da transferência de parte da soberania de cada país em benefício de um governo superior. Franceses, belgas e italianos defenderam esta posição.

Em todo caso, foi o lançamento do Plano Schuman, em 1950, que forneceu as bases para a construção europeia. Extrai-se do referido pla-

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no a passagem onde Robert Schuman, então ministro das relações ex-teriores francês, aduz que “a Europa não se fará de um golpe, nem de uma construção de conjunto; far-se-á por meio de realizações concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de fato”. Foi proposta a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – CECA, cujo objetivo era assegurar a paz criando um mercado comum de carvão e aço e estabelecendo um poder econômico sólido e eficaz. A criação da CECA se deu, em 1951, com o Tratado de Paris assinado por França, Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda, tendo como duração prevista 50 anos. Era uma organização supranacional e ficou conhecida como a “Europa dos seis”.

O marco que caracteriza de forma mais ampla a integração eco-nômica global do continente foi a criação, em 1957, da Comunidade Econômica Europeia – CEE por meio do Tratado de Roma. Visou o tra-tado a criação de um mercado comum implicando a implementação de uma união aduaneira. As suas características eram possuir uma duração ilimitada, integração econômica global e transferência mais extensa de direitos sobre a soberania de cada País. Outro tratado assinado na mes-ma oportunidade foi para a criação da Comunidade Europeia da Energia Atómica – EURATOM, objetivando a promoção e o desenvolvimento da utilização da energia nuclear para fins pacíficos3.

Em 1986, foi assinado o Ato Único Europeu, tendo em vista o re-forço da integração econômica e política dos países da Europa. Os seus objetivos foram: abolição de todas as barreiras físicas, técnicas e fiscais; reforço da cooperação econômica e social; reforço da pesquisa e do desenvolvimento; harmonização de regras em vários setores; criação do Conselho Europeu; reforço dos poderes do Parlamento Europeu e prote-ção do meio ambiente.

O nascimento da União Europeia advém com o Tratado de Maastricht, de 1992. Três pilares foram constituídos: 1º Pilar – Comuni-dades europeias. União aduaneira e mercado interno, política agrícola,

3 Antes da criação da CEE podemos também citar o Benelux, que foi uma das primeiras organizações econômicas da Europa instituindo uma área de livre comércio entre Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. Tivemos também é OECE (Organização Europeia de Cooperação Econômica), que foi criada por 16 países europeus associados aos EUA e ao Canadá para fins de administrar o Plano Marshall de ajuda ao continente europeu. A organização tornou-se mais tarde o que conhecemos hoje como OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

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políticas estruturais, política comercial, cidadania europeia. Os Estados passam a transferir uma parte importante de suas competências e so-berania para a União; 2º Pilar – Política externa e segurança comuns. Desenvolvimento de uma cooperação intergovernamental em matéria de relações exteriores e segurança; 3º Pilar – Cooperação em matéria de justiça. Cooperação policial. Cooperação judicial em matéria cível e penal. Este tratado ultrapassou o objetivo econômico dos tratados ante-riores, pois visou à criação de uma união política e social mais ampla. O nome União Europeia passaria a substituir o de Comunidade Europeia.

Após o Tratado de Maastricht, foram assinados os Tratado de Amsterdã, em 1997, com entrada em vigor em 1º de maio de 1999, consolidando a UE e o aparecimento das preocupações sociais e com os direitos humanos; Tratado de Nice, de 2001, com entrada em vigor em 1º de fevereiro de 2003, adaptando o sistema comunitário em razão da proporção que a UE tinha tomado e dos novos Países-membros; introdu-ziu modificações na forma de composição da Comissão Europeia; modi-ficação da ponderação do direito de voto de cada Estado e proclamação da Carta de Direitos Fundamentais da UE.

Para o enfrentamento dos complexos desafios que o século XXI anunciava e para uma melhor harmonização de sua legislação, a UE necessitava de um método mais simples e eficiente de tomar decisões em conjunto. Foi proposto um referendum sobre uma Constituição Euro-peia, sendo que esta foi rejeitada em 2005. Alternativamente, esta Cons-tituição foi substituída por um novo tratado, o Tratado de Lisboa, que foi assinado em 13 de dezembro 2007 e entrou em vigor em 1º de dezem-bro de 2009. Ele visou a introduzir as principais alterações que estavam previstas na Constituição; propôs uma Europa de direitos e de valores, da liberdade, solidariedade e segurança; reforça os valores democráticos e dá uma força vinculatória à Carta de Direitos Fundamentais.

O continente europeu, contudo, vem sofrendo com uma forte crise econômica que é lastreada nas dívidas internas de alguns Países--membros e refletida na crise de credibilidade dos mercados acionários. Foi estabelecido pelos Países-membros o que se denominou de “cinco objetivos para a UE em 2020”, sendo eles: (i) Emprego: 75% das pessoas com 20 a 64 anos de idade empregadas; (ii) Pesquisa e inovação: 3% do PIB da UE investido na pesquisa; (iii) Alterações climáticas/energia:

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redução em 20% das emissões de gases com efeito de estufa em relação a 1990, 20% da energia com origem nas energias renováveis e 20% de aumento da eficiência energética; (iv) Educação: taxas de abandono es-colar inferiores a 10%, 40% das pessoas com 30 a 34 anos de idade com educação de terceiro nível; e (v) Combate contra a pobreza: menos 20 milhões de pessoas em situação ou risco de pobreza e exclusão social.

De fato, algumas mudanças deverão ocorrer na EU nos anos vin-douros. O continente passou, em 2014, por um processo eleitoral para renovação do Parlamento Europeu, o qual, pela primeira vez, teve po-deres para indicar o Comissário da União Europeia. Houve um aumento considerável de votos em partidos de extrema direita, antieuropeus e partidos nacionalistas ou eurocéticos. Claramente não o suficiente para colocar em cheque a instituição, mas certamente foi dado um sinal de alerta aos governantes europeus. Na França, por exemplo, o partido de extrema direita se saiu vencedor com 26% dos votos, podendo ter em torno de 25 eurodeputados. Antes, eles possuíam somente 3. Nos discur-sos de muitos partidos de direita e de esquerda vislumbra-se a intenção da redução dos poderes da UE em detrimento da soberania dos próprios países. Atualmente, vemos a crise dos refugiados que toma uma pro-porção feroz, fazendo com que muitos países retomem a verificação de passaportes e documentos, relativizando a premissa essencial da EU, que é a livre circulação de pessoas estabelecida pelo espaço Schengen. Um novo desenho institucional de fato não pode ser descartado.

Capítulo ii: instituições da união europeia

Seção 1: Órgãos da estrutura Institucional da união europeia e Suas funções

A estrutura existente dentro do corpus União Europeia é deveras complexa diante das funções que cada um deles possui e de sua distri-buição pelo continente: Bruxelas, Estrasburgo, Luxemburgo, Frankfurt, entre outros. Vejamos, assim, quais são os principais órgãos de funcio-namento e as suas responsabilidades.

a) cúpula do conselho europeu

A cúpula que reúne os Chefes de Estado e de Governo de todos os Países-membros da UE e que se realiza ao menos 4 vezes por ano. É

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a principal instituição política da UE e define as suas orientações gerais, estabelece os objetivos e define as formas de alcançá-los. Toma decisões sobre questões difíceis em relação às quais o Conselho de Ministros não tenha conseguido chegar a um acordo.

b) conselho da união europeia (conselho de ministros)

O Conselho de Ministros é a instituição por onde os Estados-mem-bros se manifestam. É composto por um ministro de cada país da UE e estes variam em função da matéria inscrita na ordem do dia, isto é, se o tema refere-se a condições de trabalho, participam os Ministros do Tra-balho, se o tema é financeiro, participam os Ministros da Fazenda. A sua presidência é rotativa e semestral. As suas principais funções são decidir sobre a legislação e o orçamento da UE em conjunto com o Parlamento, gerar a política externa e de segurança comum, bem como assinar os acordos internacionais negociados pela Comissão.

c) o parlamento europeu

O Parlamento Europeu é a instituição onde se expressam os repre-sentantes eleitos pelos cidadãos da UE. Os deputados são eleitos para mandatos de cinco anos. Tem como função aprovar, em conjunto com o Conselho de Ministros, a legislação e o orçamento da UE e fazer a supervisão democrática de todo o trabalho pelas demais instituições, tais como aprovar nomeações em comissões, análise de relatórios ou de petições apresentadas pelos cidadãos. Para as últimas eleições que ocorreram em 2014 foram eleitos 751 eurodeputados.

d) a comissão europeia

A Comissão é composta de 28 Comissários independentes, um de cada país da UE. Ela é o órgão responsável por apresentar os projetos de regulamentos e as diretivas que serão votadas pelo Parlamento e pelo Conselho de Ministros. Trata-se do órgão executivo da UE, representan-do-a também no nível internacional. Atua como a guardiã dos tratados, devendo assegurar se a legislação europeia está sendo aplicada pelos Países-membros. Caso não esteja, a Comissão pode recorrer ao Tribunal de Justiça da União Europeia para impor a aplicação do direito da União.

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e) tribunal de justiça da união europeia

É composto por 28 juízes independentes, um de cada país da UE, designados de comum acordo entre os governos dos Estados-membros para um mandato renovável de seis anos. É o órgão competente para de-cidir sobre a interpretação da legislação da UE, garantindo a aplicação uniforme da legislação em todos os Países-membros.

título II: a regulação da prevIdêNcIa prIvada No ÂmbIto da uNIão europeIa

Capítulo i: as fontes JurídiCas do direito da ue

Seção 1: da Natureza jurídica das Normas da ue

a) direito originário da ue

1. os tratados da união europeia

A primeira fonte jurídica é formada pelos tratados que instituíram a UE, seus anexos, seus complementos e protocolos. Os Tratados de Maastricht, Amsterdã, Nice e de Lisboa, assim como os respectivos tra-tados de adesão, contêm regras jurídicas e bases relativas ao funciona-mento e à organização da UE. Sendo um direito criado diretamente pe-los Estados-membros, estas regras são classificadas pela doutrina como sendo o droit originaire de l’Union.

b) os atos jurídicos da união. o direito derivado da ue

O direito criado no exercício das competências e prerrogativas transferidas às instituições da UE é denominado de direito derivado da União, sendo a segunda fonte de direito mais importante dentro da UE. Eles são formados por (i) atos legislativos: são atos jurídicos que têm como fonte o processo legislativo, ordinário ou especial, previsto no art. 289 do TFUE (Tratado de Funcionamento da União Europeia); (ii) atos jurídicos delegados: são atos que não têm característica de lei mas possuem um efeito geral e obrigatório, podendo modificar ou com-plementar certos dispositivos não essenciais de um ato legislativo. É a Comissão que os adota, podendo a delegação ser revogada pelo Con-selho ou pelo Parlamento; iii) atos jurídicos de execução: são atos que visam às medidas necessárias para que todos os atos jurídicos obrigató-

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rios sejam tomados pelos Países-membros a partir da aplicação em seu direito interno; e iv) outros atos jurídicos lato sensu: são atos jurídicos permitindo às instituições da União de publicar pareceres e declarações não vinculatórios ou atos que regem a vida interna no âmbito da UE, tais como os regimentos internos.

c) acordos Internacionais concluídos pela ue

Os acordos internacionais firmados pela União Europeia são evi-dentemente parte de sua fonte normativa, a exemplo dos (i) Acordos de Associação, (ii) Acordos de Cooperação e (iii) Acordos Comerciais.

d) princípios gerais do direito

Trata-se de fonte não escrita permitindo aplicar o direito da UE em caso de lacunas e desenvolvê-lo a partir do principio da equidade. São mais visíveis por meio da jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia. Além do princípio da autonomia, da aplicabilidade direta do direito da União e de seu primado, constam os princípios de proteção dos direitos fundamentais, o princípio da proporcionalidade, da subsi-diariedade, da proteção da confiança legítima, do direito de ser ouvido e ainda o princípio da responsabilidade do Estado-Membro em caso de violação ao direito da União.

Seção 2: espécies Normativas no Âmbito da ue

O sistema jurídico então aplicável aos Países-membros teve de ser aperfeiçoado ou mesmo reinventado em alguns de seus institutos quan-do da criação da UE. A engenharia jurídica levada em conta era o fato de que as Instituições da UE (Comissão, Conselho de Ministros, etc.) de-veriam ter o poder de nivelar de forma eficaz as condições econômicas ou sociais dentro do espectro do Direito da União, uma vez que as legis-lações eram muito desiguais nos respectivos países. Ao mesmo tempo, não deveriam intervir além do necessário na ordem jurídica nacional.

Desta forma, temos, por assim dizer, que existem cinco espécies de atos no âmbito da União Europeia, sendo que os seus efeitos e obje-tivos variam conforme uma maior ou menor necessidade de intervenção no direito interno. Vejamos:

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(i) Regulamento: Tem como destinatário todos os Estados-mem-bros, pessoas físicas e jurídicas. Como efeitos, tem a sua apli-cação direta e obrigatória no direito interno dos Países-mem-bros em todos os seus elementos.

(ii) Diretiva: Tem como destinatário todos ou parte dos Estados--membros. Uma diretiva não tem o condão, em princípio, de ser diretamente aplicável no direito interno dos Países-mem-bros4. Ela é obrigatória quanto ao resultado a ser alcançado, de forma que o país deve integrar efetivamente o seu conte-údo em seu direito interno dentro do um prazo determinado. Visa a uma harmonização jurídica, preservando a competên-cia legislativa local.

(iii) Decisão: Tem como destinatário grupo de pessoas indeter-minado, todos ou parte dos Estados-membros, assim como certas pessoas físicas ou jurídicas. Pode ser exarada pela Co-missão ou por uma agência reguladora, a exemplo de multas, e é diretamente aplicável e obrigatória em todos os seus ele-mentos.

(iv) Recomendação: Tem como destinatário todos ou parte dos Estados-membros, outras instituições da UE ou particulares. Os seus efeitos não são obrigatórios. Normalmente sugerem um determinado comportamento ou ato ordem política ou moral, por exemplo.

(v) Pareceres: Têm como destinatário todos ou parte dos Estados--membros, outras instituições da UE ou grupo de destinatários indeterminado. Os seus efeitos não são obrigatórios. Consti-tuem, por vezes, condição prévia para uma futura legislação em nível europeu.

A diferença primordial a ser destacada é aquela entre os regula-mentos e as diretivas. Enquanto os primeiros têm efeitos imediatos no direito interno, as diretivas, ressalvados certos casos referendados pela jurisprudência do TJUE, não possuem efeito imediato, mais sim de resul-tado, devendo o Estado-membro tomar as medidas legislativas cabíveis

4 Vide casos específicos de aplicação direta conforme jurisprudência do TJUE.

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para que seja integrado o seu conteúdo de maneira eficaz em seu direito interno.

Capítulo ii: do direito CoMunitário

Seção 1: do primado do direito da união sobre o direito Nacional

Quais são as consequências pelo fato de existir uma antinomia entre dispositivos do direito interno de determinado País-membro e um dispositivo previsto no direito na União? Neste aspecto o direito escrito da União não possui nenhuma previsão em seus tratados, em particular, que regre expressamente esta questão. O conflito normativo, contudo, é sanado a partir da aplicação do princípio do primado do direito da União sobre o direito interno dos Países-membros. Sem tal princípio se-ria difícil tipificar uma ordem jurídica da União, que perderia eficácia diante da dependência de um país aplicar ou não determinada norma aprovada em nível europeu.

E como se colmataria o conflito normativo entre o direito da União e uma previsão constitucional de um País-membro? A jurisprudência do TJUE tem papel preponderante nesta controvérsia e decidiu no caso Costa/ENEL (nacionalização do setor elétrico italiano) que também seria aplicável o princípio do primado do direito da União sobre a Constitui-ção. Destaque-se que tal jurisprudência não foi aceita de forma unâni-me, sendo que os tribunais de alguns Países-membros colocaram resis-tência na sua assimilação, como comprova o contexto francês por meio de seu Conseil d’Etat, no affaire Sarran (1998), Arcelor (2009), sua Cour de Cassation no affaire Fraise (2000) e seu próprio Conseil Constitution-nel, no affaire número 2004-505.

Seção 2: do tjue e o papel de Sua jurisprudência para o direito comunitário

O Tribunal de Justiça da União Europeia é composto por três ju-risdições: o Tribunal de Justiça (criado em 1952), o Tribunal de Primeira Instância (criado em 1989) e o Tribunal da Função Pública (criado em 2004). A sua jurisprudência constitui – juntamente com os Tratados, os regulamentos, as diretivas e as decisões – o direito da União.

O Tribunal de Justiça não é um tribunal de recurso ou uma ins-tância especial para decisões proferidas pelos tribunais nacionais. Re-

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ferida instituição não pode anular ou modificar as decisões proferidas essencialmente pelos tribunais dos Países-membros, sendo reservado ao cidadão duas vias para acionar o Tribunal de Justiça ou o Tribunal Geral: uma via indireta e outra via direta.

Pela via indireta é necessário que um processo esteja em trâmite junto a uma jurisdição nacional e que o problema jurídico discutido diga respeito ao direito da União. Em assim sendo, o juiz nacional suspende a instância e apresenta um pedido de decisão prejudicial, isto é, solicita ao TJUE que interprete ou fiscalize a validade de uma disposição de direito da União.

Pela via direta o cidadão pode contestar diretamente no Tribunal Geral uma decisão tomada por uma instituição, um órgão ou um orga-nismo da União. É necessário que seja destinatário da decisão ou que o ato em questão lhe diga direta e individualmente respeito (multas, e.g.).

Desta forma, quando o TJUE conclui que um ato de uma institui-ção da União não respeita os Tratados, ou quando interpreta o direito da União, esta decisão tem força obrigatória e impõe-se tanto ao órgão jurisdicional que submeteu a questão como a todos os órgãos jurisdi-cionais dos Estados-membros. Os órgãos jurisdicionais nacionais estão, portanto, vinculados pela interpretação dada pelo Tribunal de Justiça (evidentemente existem vozes discordantes quanto a esta posição), o mesmo acontecendo em relação às outras autoridades públicas.

Capítulo iii: do quadro regulatório eM Matéria de previdênCia CoMpleMentar

Seção 1: da recomendação da comissão europeia. livro branco. estratégia para pensões adequadas

Em 16 de fevereiro de 2012 a Comissão Europeia tornou público o chamado “Livro Branco: uma estratégia para aposentadorias adequadas, seguras e viáveis”, onde fez uma análise global do continente e as ações a serem tomadas. Aponta referida análise uma Europa marcada pelo en-velhecimento de sua população, ameaçando a viabilidade dos sistemas de aposentadorias públicos existente, agravado, ademais, pela crise eco-nômica. É sublinhada a urgência de se manejar reformas tendo em vista o aumento significativo da esperança de vida a qual deve aumentar em 7,9 anos para homens e 6,5 para mulheres entre 2010/2060, da mesma

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forma que o número de pessoas com mais de sessenta anos tem aumen-tado em média dois milhões por ano. A Comissão destaca, ainda, que algumas importantes reformas foram feitas por certos Países-membros, o que não impediu a existência de uma grande disparidade nos gastos em matéria de aposentadorias, a exemplo da Irlanda, que despende 6% de seu PIB, enquanto a Itália gasta 15%, o que indica que reformas suple-mentares serão necessárias.

Com efeito, o item 3 da Recomendação aduz, ademais, sobre a necessidade de reformas em matéria de aposentadorias, referindo que é necessário “encontrar um equilíbrio entre o período de atividade la-boral e a duração do benefício de aposentadoria”, assim como no item 3.2 consigna a ideia de que “devem ser desenvolvidos sistemas priva-dos de aposentadoria complementar (l’épargne-retraite complémentaire privée)”.

A relação das reformas com o desenvolvimento de sistemas de previdência complementar privado é notória. Consigna o documento que a previdência complementar deve contribuir mais para garantir uma adequação futura das aposentadorias, razão pela qual os Estados-mem-bros deverão encontrar maneiras de melhorar a relação custo-eficácia--segurança dos regimes complementares, de forma a proporcionar um mais justo acesso a estes regimes. Vantagens fiscais, outros incentivos fi-nanceiros, bem como as negociações coletivas, são instrumentos essen-ciais neste contexto para o desenvolvimento perene e sustentado destes regimes privados. Outro ponto levado em consideração é a questão da igualdade de gênero para evitar o agravamento das disparidades entre os sexos, uma vez que as mulheres teriam menos oportunidades do que os homens para constituir uma aposentadoria complementar privada.

Caminha a Recomendação no sentido de que em matéria de pre-vidência complementar é necessário evoluir para um mercado único, estável de normas e regras, uma vez que hoje as legislações dos Países--membros possuem grandes disparidades, o que impede um melhor de-senvolvimento destes sistemas de proteção do segundo pilar. A UE pode reforçar o seu quadro regulatório para apoiar regimes profissionais (fun-dos de pensão) no regime geral de aposentadorias dos Estados-membros e contribuir para a redução do custo das aposentadorias públicas. E não sem razão que a Diretiva nº 2003/41 (Institutions for Occupational Re-

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tirement Provision – IORP) está em trâmite de revisão para facilitar as atividades transfrontières e modernizar o seu monitoramento, tendo em conta os diferentes tipos de instituições existentes nos Estados-membros5.

É colocada, por fim, a importância de se adotar medidas que im-peçam que os regimes de previdência complementar sejam entraves na mobilidade profissional (livre circulação de pessoas) e na flexibilização do mercado de trabalho. Para a Comissão, tanto a mobilidade profis-sional quanto certos aspectos da flexibilização do mercado de trabalho podem contribuir diretamente para o crescimento econômico da UE sem que os efeitos negativos recaiam sobre o sistema complementar6.

O que extraímos da referida Recomendação em matéria de pre-vidência complementar é o intuito de que esta seja mais desenvolvi-da para fins de instrumentalizar uma diminuição da dependência das pessoas nas aposentadorias públicas, auxiliando, por consequência, na diminuição dos déficits existentes quanto aos sistemas do primeiro pilar, lastreados por repartição. Claramente não há uma conotação expres-sa no sentido de que os sistemas privados devem substituir os sistemas públicos, mas, em nosso sentir, visou a Comissão consignar que o de-senvolvimento de sistemas privados de aposentadoria pode ajudar na diminuição dos gastos com as aposentadorias públicas, ou seja, inexora-velmente os sistemas privados terão um papel cada vez maior diante das dificuldades orçamentárias e demográficas por que passam os países da UE. O sistema público do primeiro pilar continuará a existir, mas certa-mente seguirá uma tendência de não mais possuir as características que hoje conhecemos, herança mesmo do período pós-guerra.

Seção 2: dos Instrumentos aplicáveis aos Sistemas complementares privados em Nível comunitário

A legislação europeia faz diferenciação quanto às espécies norma-tivas e os seus respectivos órgãos de supervisão, a depender da natureza jurídica de proteção social que estamos a tratar. Se a análise recai sobre os sistemas ditos do primeiro pilar, o qual cobre os regimes de Seguri-

5 Consultar a proposição de diretiva do Parlamento e do Conselho referente às atividades e à supervisão das instituições de realização de planos de pensões profissionais de 27 de março de 2014, Doc. COM (2014).

6 Consultar: European Comission. White Paper: An Agenda for Adequate, Safe and Sustainable Pensions. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2012:0055:FIN:EN:PDF>. Acesso em: 10 maio 2014.

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dade Social públicos e geridos por sistema de repartição, o regulamento principal a ser observado no campo da coordenação é o Regulamento nº 883/2004 (ex-1408/71). No chamado terceiro pilar, ou seja, aquele que se refere aos dispositivos de sistemas privados não obrigatórios de poupança, mais próximos dos seguros, observa-se a Diretiva nº 2002/83/CE. Por fim, e diretamente ligado ao objeto do presente artigo, temos os sistemas do segundo pilar de proteção, também conhecidos como “sistemas de aposentadoria profissionais” (Institutions for Occupational Retirement Provision – IORP), em regime de capitalização, financiados ou cofinanciados pelo empregador e com um gestor de fundos designa-do por ele.

Em matéria de previdência complementar privada do segundo pi-lar, em nível europeu, temos atualmente quatro diplomas principais, as-sim delimitados em suas funções e objeto, a saber:

a) Regulamento (UE) nº 1094/2010 do Parlamento Europeu e do Conselho de 24 de novembro de 2010, que cria uma Autoridade Europeia de Supervisão (Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Aposentadoria – EIOPA), altera a Decisão nº 716/2009/CE e revoga a Decisão nº 2009/79/CE da Comissão.

b) Diretiva nº 2003/41/CE do Parlamento Europeu e do Conse-lho de 3 de junho de 2003, relativa às atividades e à supervi-são das instituições de realização de planos de pensões pro-fissionais.

c) Diretiva nº 98/49/CE do Conselho de 29 de junho de 1998, relativa à salvaguarda dos direitos à pensão complementar dos trabalhadores assalariados e independentes que se deslo-cam no interior da Comunidade.

d) Diretiva nº 2014/50/UE do Parlamento Europeu e do Conse-lho de 16 de abril de 2014, relativa aos requisitos mínimos para uma maior mobilidade dos trabalhadores entre os Esta-dos-membros, mediante a melhoria da aquisição e manuten-ção dos direitos à pensão complementar.

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Aos interessados em desbravar o universo intricando da legislação previdenciária complementar em nível europeu, a leitura destes quatro diplomas é o primeiro passo para a sua compreensão.

SeguNda parte: oS admINIStradoreS de eNtIdadeS de prevIdêNcIa Na uNIão europeIa

título I: coNtorNoS geraIS da reSpoNSabIlIdade admINIStratIva

Capítulo i: da previsão de responsabilidade sob o enfoque das norMas CoMunitárias

Seção 1: das Normas de Supervisão e do Órgão Supervisor

a) da diretiva nº 2003/1941/ce. atividades e Supervisão das Instituições e planos de previdência profissionais

A Diretiva nº 2003/1941 representou o primeiro passo na direção de um mercado interno de planos de pensões profissionais organizado na escala europeia. Ela definiu o princípio do “gestor prudente” como princípio inerente ao investimento de capitais, permitindo que as institui-ções regulatórias de cada Estado-membro exercessem atividades trans-fronteiriças (entre as fronteiras de cada país), encorajando a poupança para o setor dos planos de pensões profissionais, contribuindo, também, para o progresso econômico e social (um fundo de pensão baseado na Bélgica poderia administrar planos de uma empresa na Irlanda).

Consigna a Diretiva que, segundo o princípio de subsidiariedade, os “Estados-membros deverão continuar a ser plenamente responsáveis pela organização dos seus sistemas de aposentadoria e pela tomada de decisões quanto ao papel a desempenhar por cada um dos três pilares. Deverão também, no contexto do segundo pilar, ser plenamente responsáveis pelo papel e pelas funções a desempenhar pelas diferentes instituições de planos de pensões profissionais”, tais como os fundos de pensões por setor de atividade, os fundos de pensões empresariais e as empresas de seguros de vida que gerem os planos por sobrevivência.

É fundamental assegurar uma informação adequada aos membros e beneficiários dos planos de pensões. Essa informação reveste-se de especial relevância para os pedidos de informação relativos à solidez financeira da instituição, regras contratuais, prestações e financiamento

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efetivo dos direitos às prestações de aposentadoria cumulados, política de investimento e gestão dos riscos e custos. As autoridades competen-tes deverão dispor dos devidos direitos de informação e de poderes de intervenção em relação às instituições e às pessoas responsáveis pela sua gestão efetiva. Neste aspecto, os métodos e as práticas de supervisão di-vergem entre os Estados-membros. Por conseguinte, estes devem dispor de certos poderes discricionários quanto às regras de investimento espe-cíficas que desejam impor às instituições previdenciárias situadas no seu território. Estas regras não devem, contudo, restringir a livre circulação de capitais, salvo se se justificarem por razões prudenciais.

Neste aspecto, o Tribunal de Justiça da União Europeia veio a jul-gar interessante caso envolvendo a Diretiva nº 2003/41 e a legislação que regulamenta os fundos de pensão da Polônia, uma vez que esta restringia as entidades previdenciárias privadas na realização de investi-mentos no exterior, violando o princípio da livre circulação de capitais entre os Países-membros (processo C-271/09)7.

No final de 2007 a Comissão Europeia notificou extrajudicialmen-te a Polônia em razão da não conformidade dos arts. 141, 136, n. 3, 136 a, n. 2, e 143 da lei que regulamenta os fundos de pensão no país, os quais restringiam os seus investimentos no estrangeiro, violando, des-tarte, a liberdade fundamental de circulação de capitais. Ao responder, aduziu a Polônia, entre outros argumentos, a natureza não econômi-ca de seus fundos de pensão (FPA), logo, a não aplicação do citado princípio.

7 O regime previdenciário polonês à época era baseado no conhecido sistema de três pilares (atualmente o segundo pilar foi “estatizado” e o sistema passa por uma refundação. Os fundos de pensão praticamente perderam sua função no país). À época do julgamento este era o contexto legal existente: O primeiro pilar, de filiação obrigatória, baseado no sistema de repartição e administrado por uma entidade pública (ZUS); o segundo, também obrigatório, porém baseado no princípio da capitalização das reservas cuja administração fica a cargo de quatorze fundos de pensão atualmente existentes; o terceiro pilar, facultativo, baseia-se por meio da poupança voluntária complementar.

Os Fundos de Pensão polacos (FPA) são pessoas jurídicas constituídas sob a forma de fundações e dotadas de personalidade jurídica e de ativos diferentes da sociedade que o criou e a qual o administra, gere os seus ativos e que o representa a título exclusivo nas suas relações com terceiros (Powszechne Towarzystwa Emerytalne), cuja sigla é “PTE”.

Os trabalhadores poloneses tinham a liberdade de escolher em qual dos quatorze Fundos de Pensão desejariam que um terço das contribuições realizadas para o regime público fossem alocadas para o regime de capitalização (tratava-se de um regime misto obrigatório entre previdência pública e previdência privada existentes em alguns países sul-americanos). No Brasil, a previdência privada é facultativa, isto é, somente se o indivíduo desejar fará uma adesão a um plano privado. Comparando com o sistema polonês então vigente, seria o mesmo que cada trabalhador brasileiro tivesse a opção de escolher uma entidade privada de previdência para a qual um terço de suas contribuições ao INSS seriam dirigidas.

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Foi instaurada, posteriormente, ação por descumprimento de obri-gação (actions for failure to fulfil an obrigation) da Comissão contra o Estado polonês perante a Corte Europeia.

Quando da decisão, o TJUE aduziu:

(i) que o argumento da não aplicação da livre circulação de ca-pitais pelo fato de os FPA não se inserirem como atividade econômica, mas, sim, social, não é válido na medida em que aquela Corte já vem decidindo no

sentido de que os fundos de pensão profissional que funcionam segundo o princípio da capitalização, não obstante a sua finalidade social e o ca-ráter obrigatório da inscrição no segundo pilar do sistema de reforma em que se integram, exercem uma atividade econômica (v. acórdão de 21 de setembro de 1999, Albany, C-67/96, Colect., p. I-5751, nºs 81 a 87). De acordo com os arts. 2º, 3º, 27 e 29).

(ii) a limitação de 5% do valor da totalidade das reservas para fins de investimento fora do país também não se sustenta pelo fato de o art. 18, n. 5, alínea b), da Diretiva nº 2003/1941 estabelecer que os Estados-membros não podem impedir as instituições de planos de pen-sões profissionais de investir até 30% dos ativos representativos das suas provisões técnicas em ativos denominados em moedas estrangeiras. Ca-beria, portanto, ao Estado polonês alterar a sua legislação para fins de se adaptar ao direito da União.

Retornando aos aspectos da Diretiva nº 2003/1941, esta assim aduz quanto às condições de funcionamento das entidades previdenciá-rias, conforme o seu art. 9º, a saber:

1. Em relação a cada instituição situada no seu território, cada Estado--membro assegura que:

[...]

b) A instituição seja efetivamente dirigida por pessoas idôneas que devem possuir as habilitações e a experiência profissionais adequadas ou recorrer a assessores com as devidas habilitações e experiência profissionais. (g.n.)

E no que tange aos poderes de intervenção e responsabilização do dirigente que não agiu com o zelo necessário, o disposto no art. 14 prescreve:

Art. 14. Poderes de intervenção e deveres das autoridades competentes.

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1. As autoridades competentes devem exigir que todas as instituições situadas no seu território disponham de procedimentos administrativos e contábeis sólidos, bem como de mecanismos adequados de controle interno.

2. As autoridades competentes têm poderes para adoptar quaisquer me-didas de carácter administrativo e financeiro, quer relativamente a qual-quer instituição situada no seu território, quer contra as pessoas responsá-veis pela sua gestão, que sejam adequadas e necessárias para impedir ou sanar eventuais irregularidades prejudiciais aos interesses dos membros e beneficiários.

3. Para salvaguardar os interesses dos membros e dos beneficiários, as autoridades competentes podem transferir, no todo ou em parte, os po-deres atribuídos às pessoas responsáveis pela gestão de uma instituição situada no seu território, nos termos da lei do Estado-membro de origem para um representante especial com competência para exercer os referi-dos poderes. (g.n.)

No âmbito da responsabilidade administrativa, claramente cada Estado-membro é responsável por estabelecer qual será o órgão respon-sável pela supervisão e regulamentação do sistema previdenciário priva-do, estabelecendo as suas competências e quais as infrações serão pu-nidas, assim como o procedimento para tanto. A Diretiva nº 2003/1941, levadando em consideração os princípios da subsidiariedade e propor-cionalidade no âmbito do direito da União, deixa uma margem discri-cionária para os Estados legislarem, na medida em que estejam em linha com os seus dispositivos e não a contrariem.

Notemos que, para fins de execução desta Diretiva, cada Estado--membro teve até setembro de 2005 e, em certas circunstâncias, até setembro de 2010 para transpor o seu conteúdo junto ao direito interno. Recentemente, a República Tcheca foi condenada pelo TJUE pela não transposição integral, conforme CJUE, 25 juin 2013, Commission euro-péenne/République tchèque, Aff. C-241/11.

b) do regulamento (ue) nº 1094/2010. autoridade europeia de Supervisão (autoridade europeia dos Seguros e pensões complementares de aposentadoria – eIopa)

A crise financeira de 2007 e 2008 tornou patente algumas defi-ciências na supervisão financeira, tanto em casos específicos como em relação ao sistema financeiro no seu conjunto. Neste sentido, foi

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fundada a Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementa-res de Aposentadoria – EIOPA, a qual tem como objetivo melhorar o funcionamento do mercado interno, nomeadamente por meio de um nível elevado, eficaz e coerente de regulação e supervisão, tomando em consideração os interesses de todos os Estados-membros e a natureza di-versa das instituições. Registre-se que a espécie normativa utilizada para introduzir a EIOPA junto ao direito da União foi o Regulamento, sendo os seus dispositivos de observância obrigatória pelos Estados-membros e de aplicação cogente pelo direito interno.

Vejamos, assim, que o órgão é responsável por supervisionar o direito da União em matéria de seguros e aposentadorias complementa-res, como, por exemplo, se os Estados-membros cumprem efetivamente o disposto na Diretiva nº 2003/41 sob o plano regulatório. Assim, para permitir uma resposta nos casos de aplicação incorreta ou insuficiente da legislação da União, foi vislumbrado um mecanismo procedimental em três fases.

(i) A autoridade dispõe de poderes para investigar as alegações de aplicação incorreta ou insuficiente de obrigações decorrentes da legis-lação da União por parte das autoridades nacionais nas suas práticas de supervisão, após o que apresentará uma recomendação sobre os fatos analisados e a sua conformidade ou não com os dispositivos regulatórios aplicáveis.

(ii) Caso o órgão nacional competente não siga a recomendação exarada pela EIOPA, a Comissão Europeia (como órgão responsável por zelar pela aplicação da legislação da União) é competente para emitir um parecer formal, tendo em conta a recomendação da autoridade, exi-gindo do órgão nacional competente a adoção das medidas necessárias para garantir o cumprimento da legislação da União.

(iii) Permanecendo inerte a autoridade de um Estado-membro, a EIOPA é competente para, em última análise, adotar decisões dirigidas direta e individualmente contra pessoas físicas ou jurídicas. Essa compe-tência deverá ser limitada às circunstâncias excepcionais em que uma autoridade competente de um Estado-membro não dê cumprimento ao parecer formal que lhe foi dirigido e que exista legislação da União dire-tamente aplicável em vigor ou a adotar futuramente.

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Em suma, a EIOPA possui as seguintes atribuições, a saber:

(i) Contribuir para o estabelecimento de normas e práticas comuns de regulamentação e de supervisão de elevada qualidade, nomeadamente dando pareceres às instituições da União e desenvolvendo orientações, recomendações e projetos de normas técnicas de regulamentação e de execução com base nos atos legislativos da União; (ii) promover a prote-ção dos tomadores de seguros e dos membros e beneficiários de regimes de pensões; (iii) contribuir para uma aplicação coerente dos atos juridica-mente vinculativos da União, nomeadamente contribuindo para o desen-volvimento de uma cultura comum de supervisão, garantindo uma apli-cação coerente, eficiente e eficaz dos atos referidos no nº 2 do artigo 1 do Regulamento nº 1094/2010 (entre eles zelar pela aplicação da Direti-va nº 2003/41); (iv) adoptar decisões individuais a dirigir às autoridades competentes quando estiver em causa legislação da União diretamente aplicável; (v) emitir pareceres à atenção do Parlamento Europeu, do Con-selho ou da Comissão Europeia.

Em seu processo decisório, a EIOPA informa todos os destinatários identificados da sua intenção, fixando um prazo para que estes apre-sentem as suas observações sobre a questão, tomando inteiramente em consideração a sua urgência, complexidade e potenciais consequências. Uma vez proferida a decisão, as partes afetadas poderão recorrer para a Câmara de Recursos, organismo conjunto das Autoridades Europeias de Supervisão (ESAs).

A Câmara de Recursos é composta por seis membros e seis su-plentes, com mandatos de cinco anos, podendo ser renovado por uma vez. Os seus membros devem ser figuras de renome com conhecimentos relevantes comprovados e experiência profissional, nomeadamente de supervisão, de nível suficientemente elevado nos domínios das ativida-des bancárias, dos seguros, das pensões complementares, dos mercados de valores mobiliários ou de outros serviços. Qualquer pessoa física ou jurídica, incluindo as autoridades competentes de cada Estado-membro, pode recorrer das decisões da autoridade de que seja destinatária, ou de uma decisão que, embora formalmente dirigida à outra pessoa, diga-lhe direta e individualmente respeito.

O recurso com a sua fundamentação deve ser apresentado por es-crito no prazo de dois meses a contar da data da notificação. A Câmara,

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também no prazo de dois meses a contar de sua apresentação, deverá decidir. Os recursos interpostos não têm efeito suspensivo. No entanto, se considerar que as circunstâncias o exigem, a Câmara pode suspender a aplicação da decisão.

Da decisão da Câmara de Recursos pode ser interposto recurso para o Tribunal de Justiça da União Europeia, também no prazo de dois meses. Caso a autoridade (EIOPA) esteja obrigada a agir e não adote uma decisão, pode ser interposto recurso por omissão também perante este Tribunal, ao abrigo do art. 265 do Tratado de Funcionamento da União Europeia (TFUE).

Capítulo ii: da responsabilidade adMinistrativa sob o enfoque do direito interno

Seção 1: das legislações Internas a partir da transposição da diretiva nº 2003/1941

a) portugal

Os diplomas básicos aplicáveis quanto à matéria são o Decreto--Lei nº 12/2006, de 20 de janeiro, o qual regula a constituição e o fun-cionamento dos fundos de pensões e das entidades gestoras de fundos de pensões, e o Decreto-Lei nº 94-B/1998, de 17 de abril (republicado pelo Decreto-Lei nº 2/2009, de 5 de janeiro), que regula as condições de acesso e de exercício da atividade seguradora e resseguradora.

Vejamos os principais aspectos da legislação em matéria de res-ponsabilização dos dirigentes, apoiado a partir das disposições do De-creto-Lei nº 2/2009.

O órgão responsável pela supervisão é denominado Instituto de Seguros de Portugal, o qual possui competência com relação às empre-sas de seguros e de resseguros com sede em Portugal, sucursais de em-presas de seguros com sede na União Europeia, sucursais de empresas de seguros com sede fora da União Europeia e as sociedades gestoras de fundos de pensões.

Nos termos do art. 206, a responsabilização pode recair sobre pes-soas físicas ou jurídicas, conjuntamente ou não. A responsabilidade da pessoa jurídica será relevada quando o agente autor do ato atuar contra ordens ou instruções expressas da entidade previdenciária.

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Quanto à graduação da sanção, o art. 207 assim dispõe, in verbis:

1. A medida da multa e as sanções acessórias aplicáveis serão determi-nadas em função da culpa, da situação econômica do agente e da sua conduta anterior.

2. A gravidade da infracção cometida pelas pessoas coletivas será avalia-da, designadamente, pelas seguintes circunstâncias:

a) Perigo criado ou dano causado às condições de atuação no mercado segurador, à economia nacional ou, em especial, aos contratantes ou beneficiários dos produtos comercializados;

b) Carácter ocasional ou reiterado da infração;

c) Atos de ocultação, na medida em que dificultem a descoberta da infração ou a adequação e eficácia das sanções aplicáveis;

d) Atos da pessoa coletiva destinados a, por sua iniciativa, reparar os danos ou obviar aos perigos causados pela infracção.

3. Para os agentes individuais, além das circunstâncias correspondentes às enumeradas no número anterior, atender-se-á ainda, designada-mente, às seguintes:

a) Nível de responsabilidade e esfera de ação na pessoa coletiva em causa que implique um dever especial de não cometer a infração;

b) Benefício, ou intenção de obter, do próprio, do cônjuge, de parente ou de afim até ao 3.º grau, direto ou por intermédio de empresas em que, direta ou indiretamente, detenham uma participação.

4. A atenuação decorrente da reparação do dano ou da redução do pe-rigo, quando realizadas pelo ente coletivo, comunica-se a todos os agentes individuais, ainda que não tenham pessoalmente contribuído para elas.

5. A multa deve, sempre que possível, exceder o benefício econômico que o agente ou a pessoa que fosse seu propósito beneficiar tenham retirado da prática da infração.

É considerado como reincidente quem praticar infração adminis-trativa depois de ter sido condenado por decisão definitiva ou transitada em julgado pela prática anterior de infração nele igualmente prevista, desde que não se tenham completado três anos sobre a sua prática. Em

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caso de reincidência, os limites mínimo e máximo da multa aplicável são elevados em um terço.

Em matéria de prescrição, o procedimento pelas infrações admi-nistrativas prescreve em dois anos, sendo que no mesmo prazo prescre-vem as multas e sanções acessórias, contados do dia em que a decisão administrativa se tornou definitiva ou do dia em que a decisão judicial transitou em julgado.

Em matéria de infrações administrativas estas são classificadas como simples, graves ou muito graves. O Decreto-Lei nº 2/2009 assim define:

(i) Art. 212 – Infrações administrativas simples. Serão puníveis com multa de € 249,40 a € 14.963,94 ou de € 748,20 a € 74.819,68, consoante seja aplicada à pessoa física ou jurí-dica. Exemplo: o descumprimento do dever de envio, dentro dos prazos fixados, de documentação requerida pelo Instituto de Seguros de Portugal.

(ii) Art. 213 – Infrações administrativas graves. São puníveis com multa de € 748,20 a € 49.879,79 ou de € 1.496,39 a € 249.398,95, consoante seja aplicada à pessoa física ou ju-rídica. Exemplo: o impedimento ou obstrução ao exercício da supervisão pelo Instituto de Seguros de Portugal, designa-damente pelo descumprimento, nos prazos fixados, das ins-truções ditadas no caso individual considerado, para cumpri-mento da lei e respectiva regulamentação.

(iii) Art. 214 – Infrações administrativas muito graves. São pu-níveis com multa de € 1.496,39 a € 149.639,37 ou de € 2.992,79 a € 748.196,85, consoante seja aplicada a pessoa física ou jurídica. Exemplo: a prática de atos ou operações de seguros, resseguros ou de gestão de fundos de pensões, por conta própria ou alheia, sem que para tal exista a necessária autorização.

Além das penas de multas, a legislação prevê também penas de restrição de direitos, as quais são chamadas de “sanções acessórias”. O art. 216 estabelece que, quando o agente for pessoa física, este poderá

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incorrer na pena de interdição do exercício de cargos sociais nas enti-dades sujeitas à supervisão do Instituto de Seguros de Portugal, por um período de até um ano, nos casos previstos nos arts. 212 e 213, ou de seis meses a três anos, nos casos previstos no art. 214.

A competência para processamento das infrações administrativas, a aplicação das multas e de certas sanções acessórias, cabe ao Conselho Diretivo do Instituto de Seguros de Portugal. A aplicação das sanções acessórias de interdição do exercício de cargos sociais compete, sob parecer do Instituto de Seguros de Portugal, ao Ministro das Finanças.

O art. 218 traz uma interessante possibilidade de suspensão do processo quando “a infração constitua irregularidade sanável, não lese significativamente nem ponha em perigo iminente e grave os interesses dos tomadores, segurados ou beneficiários das apólices, ou dos associa-dos, participantes ou beneficiários de fundos de pensões, e nem cau-se prejuízos importantes ao sistema financeiro ou à economia nacional [...]”. Outrossim, uma vez proferida a decisão e a respectiva pena, é possível também lograr a suspensão da execução da sanção nos termos do art. 225:

1. A autoridade administrativa pode, fundadamente, suspender, total ou parcialmente, a execução da sanção.

2. A suspensão, a fixar entre dois e cinco anos a contar da data em que se esgotar o prazo da impugnação judicial da decisão condenatória, pode ser sujeita a injunções, designadamente as necessárias à regula-rização de situações ilegais, à reparação de danos ou à prevenção de perigos.

3. Se decorrer o tempo de suspensão sem que o agente tenha praticado infração criminal ou ilícito de mera ordenação social previsto no pre-sente diploma e sem ter violado as obrigações que lhe tenham sido impostas, ficará a condenação sem efeito, procedendo-se, no caso contrário, à execução imediata da sanção aplicada.

Uma vez proferida a decisão sancionatória e constatada a inter-posição de recurso, o Instituto de Seguros de Portugal remete os autos, no prazo de 15 dias, ao magistrado do Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa, órgão competente para conhecer do recurso, des-pachos e demais medidas tomadas pelas autoridades administrativas no

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decurso do processo, bem como para proceder à execução das decisões definitivas.

b) espanha

Os diplomas básicos aplicáveis quanto à matéria são o Real Decreto Legislativo nº 1/2002, de 29 de noviembre, Ley de Regulación de los Planes y Fondos de Pensiones; a Ley nº 11/2006, de adaptación de la le-gislación española al Régimen de Actividades Transfronterizas (Diretiva nº 2003/41); e o Real Decreto Legislativo nº 6/2004, de 29 de octubre, conhecido como Ley de ordenación y supervisión de los seguros pri-vados.

De acordo com o Real Decreto Legislativo nº 1/2002, art. 24, com-pete ao Ministério da Economia e da Fazenda a regulação e supervisão administrativa das entidades gestoras de fundos de pensão, as quais de-vem fornecer à Dirección General de Seguros y Fondos de Pensiones as informações sobre a sua situação, a dos fundos de pensão que adminis-tram, assim como dos respectivos planos.

As entidades gestoras e custodiantes, os promotores de planos de pensão, assim como aqueles que exercem cargos de administração ou direção nestas entidades, os membros de comissões e subcomissões de controle de planos e fundos de pensão, ambos são passíveis de incorrem em responsabilidade administrativa, punível nos termos do referido Real Decreto Legislativo.

A legislação também estabelece uma graduação quanto às infra-ções, sendo elas muito graves, graves e leves. Serão consideradas infra-ções (i) muito graves, por exemplo, a substituição das entidades gestoras ou depositárias sem a observação dos requisitos legais; a falta de conta-bilidade exigida por lei ou tomá-lo com anomalias impedindo ou difi-cultando substancialmente conhecer a situação econômica e financeira da entidade gestora ou do fundo de pensão; a falsificação de registros contábeis, de auditoria, atuarial ou de informações nos termos desta lei.

Serão consideradas infrações (ii) graves o descumprimento mera-mente ocasional ou isolado das especificações e bases técnicas dos pla-nos de pensão ou das normas de funcionamento dos fundos de pensão; a recusa ou resistência de se deixar fiscalizar, quando esta não tenha cons-

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tituído uma infração muito grave ou a realização de atos ou operações descumprindo as normas que regem a forma e condições de contratação de planos de pensões com os participantes, salvo no caso de caráter ocasional ou isolado.

Serão infrações (iii) leves, por exemplo, o descumprimento de pre-ceitos de observância obrigatória, compreendidas as normas de regu-lação e de supervisão dos planos e fundos de pensão, desde que não constituam infrações graves ou muito graves ou o descumprimento me-ramente ocasional ou isolado nos prazos e condições previstos nas nor-mas sobre a forma de cobrança e reconhecimento de direitos às presta-ções ou de reembolso.

Por previsão do art. 36, 2, do Real Decreto nº 1/2002, se apli-cam as sanções do art. 42 do Real Decreto Legislativo nº 6/2004, Ley de ordenación y supervisión de los seguros privados, para aqueles que exercem cargos de administração ou direção em entidade seguradora ou demais entidades enumeradas no art. 40.1, tais como gestores de fundos de pensão.

Por infrações muito graves poderão ser imposta as seguintes pena-lidades:

a) Remoção do cargo, com inabilitação para exercer cargos de administração ou direção em qualquer entidade seguradora por um prazo máximo de 10 anos.

b) Suspensão temporária para o exercício do cargo por prazo não inferior a um ano nem superior a cinco.

c) Multa não superior a € 90.000,00, podendo ser cumulada com a previsão do parágrafo (a) quando estas sejam imputá-veis à sua conduta dolosa ou negligente.

Por infrações graves poderão ser imposta as seguintes penalidades:

a) Suspensão temporária do exercício do cargo por prazo não superior a um ano.

b) Multa não superior a € 45.000,00, podendo ser imposta con-juntamente com a sanção do parágrafo (a).

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c) Advertência privada.

d) Advertência pública.

O art. 45 do Real Decreto Legislativo nº 6/2004 estabelece o prazo para a prescrição das infrações muito graves e graves, as quais incorre-rão no interregno de cinco anos, sendo que as infrações leves transcor-rerão em dois anos. A competência para a instrução e para imposição de sanções correspondentes é prevista no art. 46, estabelecendo que (a) será competente para a instrução dos processos o órgão interno que seja designado pela Dirección General de Seguros y Fondos de Pen-siones; (b) a imposição de sanções por infrações graves e leves é de competência do Director general de Seguros y Fondos de Pensiones; e (c) a imposição de sanções por infrações muito graves é de competência do Ministro de Economía y Hacienda, a partir de parecer da Dirección General de Seguros y Fondos de Pensiones.

c) frança

A legislação em matéria de responsabilização de gestores e diri-gentes é, de fato, um mille feuilles legislativo diante das varias remissões a diferentes textos e pelo fato de o próprio posicionamento ambíguo dos planos de previdência suplementar (retraite supplémentaire) dentro da legislação francesa (aspecto entre contrato de trabalho e contrato de seguros).

Os principais diplomas que podem guiar o leitor são a Ordonnan-ce nº 2006-344 du 23 mars 2006 relative aux retraites professionnelles supplémentaires (Dir 2003/41); a Ordonnance nº 2010-76 du 21 janvier 2010 portant fusion des autorités d’agrément et de contrôle de la banque et de l’assurance; o Code Monétaire et Financier; o Code de la Sécurité Sociale e o Code D’assurances.

O livro IX do Code de la Sécurité Sociale remete o leitor ao art. L. 612-1.-I e II do Code Monétaire et Financier (CMF), sendo a instituição competente para fiscalizar entidades previdenciárias de retraite profes-sionnel supplémentaires denominada de Autorité de Contrôle Prudentiel et de Résolution (ACPR).

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Nos termos do art. 612-4 e 9 do CMF a Autorité de Contrôle Pru-dentiel (ACPR) é integrada por um collège composto por 16 membros e uma comissão de sanções, sendo esta composta por cinco membros.

Na dinâmica do processo fiscalizatório compete ao Secretário Ge-ral da ACPR organizar o controle sobre o respeito das normas regulató-rias aplicáveis às pessoas que estão sob a sua supervisão (arts. L 612-1 e L 612-23). A partir do resultado da fiscalização in loco, é elabora-do um relatório com as observações e eventuais infrações cometidas (art. L 612-27). O presidente da ACPR submete, a depender da situação, as conclusões do relatório de fiscalização ao collège (art. 612-12, II). A formação competente do collège examina as conclusões alcançadas no âmbito da missão de monitoramento da ACPR. Se no relatório foram identificadas deficiências, ele pode decidir/instaurar um processo dis-ciplinar. Ele também pode abrir um processo dessa natureza se não foi respeitada uma medida administrativa imposta pelo próprio collège; se não foi apresentado à ACPR, o programa de recuperação demandado ou não foi dado cumprimento às determinações requerias. É o collège o órgão competente para decidir sobre a abertura ou não de um proce-dimento disciplinar. Em decidindo pela abertura o Presidente da ACPR, notificará os envolvidos da denúncia ao mesmo tempo em que enviará as conclusões para o Comitê de Sanções (art. L. 612-38).

Neste aspecto, o presidente da Comissão de Sanções designa um relator entre os membros da Comissão, podendo a pessoa objeto do pro-cesso administrativo impugnar esta nomeação, conforme o art. R. 612-41. O relator procede com todas as diligências necessárias e, após formar as suas conclusões, encaminha o relatório à pessoa envolvida e ao re-presentante do collège para que estes apresentem as suas observações. Após, tanto a pessoa objeto do processo administrativo quanto o repre-sentante do collège são convocados perante a Comissão para audição. Pode ser solicitado pela pessoa suspeita de ter cometido a infração que a audiência não seja pública. Durante a audiência, o relator apresenta o seu relatório final. O representante do collège pode apresentar as suas observações e requerer a sanção cabível. Na sequência, a pessoa que é parte no processo disciplinar tem a palavra para apresentar a sua defesa e versão dos fatos. Importante notar que a Comissão de Sanções delibe-ra somente na presença de seus membros e sem a presença do relator. Após o chamado délibère (decisão de condenação ou absolvição), a de-

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cisão é comunicada às partes envolvidas e tornada pública. Caso a parte tenha sido condenada, ela pode apresentar um recurso (recours de plein contentieux) perante o Conselho de Estado (Conseil d’Etat), conforme o art. 612-16 do Code Monetaire et Financier.

O art. L. 612-39 do mesmo Code traz as sanções aplicáveis, sendo elas: (i) advertência; (ii) proibição de efetuar certas operações; (iii) sus-pensão temporária de um ou vários dirigentes com ou sem a designação de um administrador provisório; (iv) demissão de ofício de um ou vários dirigentes com ou sem a designação de um administrador provisório. As sanções de inabilitação não podem exceder dez anos, sendo que podem ser aplicadas multas de até € 5 milhões de euros e estabelecida astreintes em caso de obrigação de fazer.

d) bélgica

O regime belga de pensões profissionais é regido pela Lei de 27 de outubro de 2006 (Loi relative au contrôle des institutions de retraite professionnelle). Nos termos do art. 331 da Decisão Real de 3 de março de 2001, a Comissão Bancária, Financeira e de Seguros foi substituída pela Autoridade de Serviços e Mercado Financeiro (Autorité des services et marchés financiers – FSMA).

Neste sentido, a FSMA é também responsável pela supervisão dos planos e das entidades previdenciárias do chamado segundo pilar, ze-lando por sua observância e seu respeito às normas sociais e financeiras aplicáveis. A referida autoridade também é responsável no tratamento das queixas e reclamações feitas pelos participantes com relação a seus planos e gestores ou, caso esteja constatado situação de insuficiência financeira, é o órgão responsável por elaborar um plano de recuperação.

O art. 151 da Lei de 27 de outubro de 2006 estabelece que é passível de prisão de um mês a cinco anos e/ou uma multa que pode variar de € 25,00 a € 2.500,00, os administradores, dirigentes efetivos ou mandatários de uma entidade ou empresa que tentaram geriu ou ge-rem um regime de previdência complementar fora de uma instituição de pensão profissional (fundo de pensão ou seguradora, e.g.). Na mesma pena incorre quem utiliza do nome “entidade de previdência profissio-nal” (institution de retraite professionnelle), não estando autorizado para tanto, nos termos do art. 6º.

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As mesmas pessoas físicas podem incorrer em penas que variam de um mês a três anos, com multas nos mesmos patamares citados, caso forneçam deliberadamente informações inexatas à FSMA ou se recusem a fornecer as informações demandadas para fins de cumprimento da lei de previdência complementar belga.

coNcluSão

Verificamos que existe uma coordenação de normas no âmbito da União, de forma que o administrador ou gestor de fundos de pensão se submete, primeiramente, às regras do Estado-membro, às quais, não estando em conformidade com o direito da União, poderão dar azo a uma atuação por parte da EIOPA: (i) primeiro contra o Estado, e este. não tomando as medidas necessárias, (ii) individualmente contra a insti-tuição ou mesmo contra o gestor, a depender da matéria e da gravidade dos atos.

A EIOPA visa a zelar pelas normas da União e se dirige, em prin-cípio, aos Estados-membros. Porém ela pode tomar medias individuais diretas em certos casos, o que pode implicar na responsabilidade direta do administrador ou gestor de uma entidade previdenciária complemen-tar privada.

Pelo estudo das legislações dos países analisados, os quais se so-mariam Inglaterra, Holanda e Alemanha, temos que estes procederam com as reformas necessárias para a aplicação do direito da União ao transporem para o direito interno os preceitos da Diretiva nº 2003/1941 CE, mantendo, contudo, cada país a sua discricionariedade em adotar a previdência complementar como obrigatória ou facultativa. Os preceitos sobre as competências dos órgãos supervisores são extraídas da citada Diretiva, sendo que em matéria de responsabilização, tal como valor das multas e penas, cada País-membro continua tendo a sua autonomia para aplicar a sua legislação, e, nos exemplos citados, não é difícil encon-trar as mesmas infrações, porém com penalidades diferentes. Denota-se também que, diante das tradições jurídicas diferentes, ocorre, por vezes, de a organização institucional do Estado possuir uma esfera adminis-trativa autônoma e definitiva. Uma verdadeira “justiça administrativa”, por assim dizer, que faz com que seja totalmente relevante o papel a ser

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desempenhado pelo Juiz Administrativo e a força de sua jurisprudência, a exemplo do Conselho de Estado (Conseil d’Etat) na França.

Estudar a previdência complementar em nível europeu é uma ta-refa deveras árdua. Existe um verdadeiro mosaico de legislações, con-ceitos e línguas. Não sem razão que a própria Comissão Europeia re-conhece esta dificuldade de uniformização e de criação de fundos de pensão pan-europeus. A proposição de reforma da Diretiva nº 2003/41 tem como escopo diminuir estas diferenças para uma maior uniformida-de e para melhorar o desenvolvimento do sistema que, como visto, ten-de a ser incentivado para fins de auxiliar na diminuição da dependência da previdência pública e na tentativa do apaziguamento de seus gastos versus PIB. A nosso ver, um considerável caminho ainda deve ser trilha-do na busca dessa sistematização8.

Por fim, é importante ressaltarmos que a relação entre os bene-ficiários de um fundo de pensão e os seus gestores possui as carac-terísticas de uma relação jurídica fiduciária (fiducia cum amico). O Direito romano estipulava um relacionamento baseado na confiança mútua entre um cliente e o seu agente de confiança. Outra forma de fidúcia também encontrada no Direito romano era a transferência de uma família inteira para um amigo, que ficaria encarregado de assumir as atribuições e a competência do pater familias. O gestor de fundos de pensão – fiduciarius – deve, portanto, fazer zelar por esta confiança e sempre praticar com prudência os seus atos, ciente do ônus de que milhares de pais de família o confiaram, por assim dizer, o futuro de suas próprias famílias.

8 “La proposition de directive du 27 mars 2014. Le 27 mars 2014, la Commission a adopté une proposition législative établissant de nouvelles règles et procédant à la refonte de la directive de 2003. Quatre axes de réforme sont évoqués dans l’exposé de motifs: 1) instaurer des normes de gouvernance plus strictes, intégrant les bonnes pratiques dégagées au niveau national afin d’éviter de mettre en danger les retraites des bénéficiaires en cas de mauvaise gestion ou de gestion insuffisante des risques; 2) réduire les divergences réglementaires et l’excès de lourdeur des procédures transfrontières; 3) renforcer la réglementation en matière d’information fournie aux affiliés et aux bénéficiaires; 4) donner aux autorités de surveillance les moyens de surveiller efficacement les institutions de retraite professionnelle. L’approche de la Commission demeure prudente: les États membres conservent la responsabilité de l’organisation de leur système de retraite. La révision envisagée ne remet pas en cause cette prérogative, pas plus qu’elle ne porte sur des questions de droit interne social, fiscal ou contractuel. Les définitions et principes issus de la Directive nº 2003/41/CE ne sont pas davantage modifiés.” (D’ALLENDE, Mickaël. La contribution du droit européen au droit de la protection sociale complémentaire. Paris: Dalloz, 2015. p. 74/75)

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referêNcIaS

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Parte Geral – Doutrina

O Acúmulo e o Desvio de Função e Sua Repercussão nos Benefícios Previdenciários

ALExAnDRE DOS SAnTOS SILVAPós-Graduando em Direito Material e Processual do Trabalho – ESA/OABSP, Sócio do Escritório Santos Souza e Silva Sociedade de Advogados, Ex-Coordenador da Comissão do Advogado Trabalhista da OAB Barueri/SP.

RESUMO: O presente artigo tem por finalidade debater a problemática do acúmulo e do desvio de função de forma a demonstrar que, após o deferimento do plus salarial por intermédio da sentença trabalhista, nasce ao segurado o direito à retificação do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais).

PALAVRAS-CHAVE: INSS; retificação do CNIS; sentença trabalhista; acúmulo de função; desvio de função.

SUMÁRIO: Introdução; 1 A problemática do acúmulo e do desvio de função; 2 A repercussão nos benefícios previdenciários; 3 Da resistência do INSS e da Justiça Federal em reconhecer direitos advindos de sentença trabalhista; Conclusão; Referências.

INtrodução

Em decorrência da competitividade empresarial, que, embora se utilizando de menos mão de obra, obteve aumento na produção, o di-reito individual do trabalho tem sofrido transformações necessárias ao seu aprimoramento.

Com a redução da mão de obra nas corporações, o ambiente de trabalho ficou mais agressivo. Trabalhadores contratados a fim de execu-tarem determinada tarefa acabam por executar atividades alheias à sua contratação.

O tema aqui levantado é de grande relevância ao âmbito do di-reito do trabalho, pois, com a globalização, onde a forte carga tributária incide sobre a folha de pagamento das corporações, os antigos postos de trabalhos sofrem adequações, ocasionando, assim, a ampliação de tarefas a serem desenvolvidas pelos trabalhadores.

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Portanto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar ao operador do Direito Material do Trabalho e Previdenciário, caracteri-zando e distinguindo, de forma correta e eficaz, o acúmulo e o desvio de função na relação de emprego, bem como tarefa e função, entenden-do, assim, a problemática da fixação das tarefas a serem desenvolvida pelo empregado, a aplicação do princípio da inalterabilidade unilateral do contrato de trabalho sobre o jus variandi, como quantificar o plus salarial no acúmulo e no desvio de função, além de levar o leitor a superar lacunas existentes na legislação trabalhista e a resistência dos magistrados em não deferir o aumento salarial decorrente do acúmulo e do desvio de função e, por fim, verificar a repercussão nos benefícios previdenciários.

1 a problemÁtIca do acúmulo e do deSvIo de fuNção

O direito individual do trabalho, para garantir a proteção ao tra-balhador, hipossuficiente perante o seu empregador, impôs que todos os direitos e deveres do empregado sejam explicitados no contrato indivi-dual de trabalho.

Sendo o contrato individual de trabalho um instrumento que ga-rantirá ao trabalhador as informações e concordâncias de sua vida fun-cional, englobando a quantidade de horas de sua jornada de trabalho, especificidade dos dias da semana, dias de descanso, vencimentos men-sais e, principalmente, função e cargo exercido, bem como as atividades que serão desenvolvidas.

Com isso, podemos definir o contrato individual de trabalho como sendo o acordo tácito ou expresso entre empregador e empregado, onde este, pessoa física, por meio de vencimentos mensais, se compromete a prestar serviços não eventuais, mediante subordinação em favor daquele que pode ser pessoa jurídica ou física.

Sendo assim, toda função a ser exercida por algum trabalhador deve ser inserida no contrato individual de trabalho, permitindo o co-nhecimento referente à função para a qual foi contratado.

Nessa linha, percorre Casagrande (2007, p. 170):

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[...] caso o empregado condicione a formação do contrato à manutenção de sua função, ou seja, teve como representação a ideia de que estaria sendo contratado para exercer uma dada função e somente esta. A modi-ficação desse quadro fático autoriza a revisão judicial do negócio ou do contrato de trabalho, podendo acarretar, até, a anulação deste por erro essencial ou erro nos motivos, já que a boa-fé ou a lealdade contratual restou comprometida (art. 422 do CC/2002). [...].

Pensamento esse, também, de Dallegrave Neto (2009, p. 251):

[...] uma vez sendo o empregado contratado para o exercício de deter-minada função, não poderá ser submetido ao exercício de outra mais complexa ou sobreposta, sob pena de ferir a confiança negocial espe-rada pelos contratantes. Nesse sentido são emblemáticos os princípios da função social e da boa-fé objetiva que informam o direito contratual, conforme preveem, respectivamente, os arts. 421 e 422 do Código Civil, aplicáveis ao contrato de trabalho. [...].

Entretanto, no contrato individual de trabalho será necessária a identificação da função a ser desenvolvida pelo empregado. A função não se confunde com a tarefa. Aquela é o feixe de tarefas que identifica o posto de trabalho, enquanto esta atribuição indica a função.

Conforme destaca Delgado (2014, p. 1076): “[...] A tarefa consiste em uma atividade laborativa específica, estrita e delimitada, existente na divisão do trabalho estruturada no estabelecimento ou na empresa. [...] função corresponde a um conjunto coordenado e integrado de tarefas – um feixe unitário de tarefas. [...]”.

Feita a diferenciação entre função e tarefa, convém aqui definir acúmulo e desvio de função.

Acúmulo de função é o exercício de novas tarefas pertencentes à determinada função já executada pelo trabalhador, mas pelas quais não foi contratado.

Desvio de função pode ser entendido como o conjunto de tarefas executadas pelo trabalhador para as quais não foi contratado e que exi-jam do empregado melhor capacidade técnica.

No mesmo sentido, pronuncia-se Dallegrave Neto (2009, p. 250):

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[...] cada vez que o empregado exercer atividades que não guardam qualquer afinidade ou correlação com a função contratada, estar-se-á diante de ilícito desvio funcional. Se tais atividades estranhas à função contratada com esta se acumulam, o obreiro fará jus a uma indenização a título dupla função. [...].

Destarte, as condições pactuadas no contrato individual de tra-balho não poderão ser alteradas sem o consentimento do trabalhador, salvo se tal alteração não lhe acarretar prejuízos.

Como ensina Barros (2013, p. 6710): “[...] só é lícita a alteração das condições do contrato individual de trabalho por mútuo consenti-mento e, ainda assim, desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente dessa garantia (art. 468 da CLT). [...]”.

No entanto, a função apontada no contrato de trabalho poderá ser alterada no curso do contrato, desde que não acarrete prejuízos ao trabalhador; para isso, o empregador fará jus do jus variandi que lhe permite fazer alterações contratuais com fundamento no poder diretivo.

Agora, se a alteração for lesiva, entra em cena o princípio da inal-terabilidade unilateral do contrato de trabalho que inibe modificações contratuais que prejudiquem o trabalhador.

Como bem adverte Hashimoto:

[...] quando o empregado é admitido para exercer uma função especifi-cada no seu contrato de trabalho, ele tem o direito de somente trabalhar no serviço que foi ajustado inicialmente, face à regra geral da inaltera-bilidade unilateral do contrato de trabalho, prevista no artigo 468, da Consolidação das Leis do Trabalho. [...].

Ocorrendo alterações unilaterais na função do empregado, a título de acúmulo ou desvio de função, não se pode perder de vista que o con-trato de trabalho é sinalagmático, que impõe igualdade entre empregado e empregador, devendo haver um equilíbrio mediante um plus salarial.

Para calcular o plus salarial o operador do direito do trabalho, de-verá utilizar-se da analogia, como permite o art. 8º da CLT.

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Por não haver norma que aponte como calcular o plus salarial em decorrência de acúmulo ou desvio de função, a analogia deverá ser empregada.

As regras aplicadas ao radialista no art. 13 da Lei nº 6.615/1978 e art. 16 do Decreto nº 84.134/1979 nos leva a compreender que servi-rão para o computo do plus salarial no caso de acúmulo ou desvio de função, ou seja, um aumento salarial entre 10, 20 ou 40 por cento ao empregado.

O critério apontado supra para o cálculo do plus salarial é adotado por Casagrande (2007, p. 172):

[...] Por analogia, com base no art. 8º da CLT, deve-se aplicar o art. 16 do Decreto nº 84.134/1979 que estabelece o pagamento de um adicio-nal, caso configurada a hipótese fática do acúmulo. Tal adicional deve arbitrado nos termos do art. 852-I, § 1º, da CLT, tendo em vista o que determina o art. 460 da CLT. [...].

Fórmula já aplicada pela 4ª Turma do Tribunal Regional do Traba-lho em caso envolvendo acúmulo de função, in verbis:

[...] Em tal hipótese, nos termos do art. 8º da CLT, aplicável, por analogia, o art. 13 da Lei nº 6.615/1978, que prevê o direito ao recebimento de adicional de acúmulo de funções de 10%, 20% ou 40%, para o radialis-ta, conforme os critérios definido em lei, in verbis:

[...].

Sendo assim, toda vez que o contrato individual de trabalho sofrer uma alteração expressa ou verbal, em relação à função que configure acúmulo ou desvio de função, em decorrência do princípio da inaltera-bilidade unilateral do contrato de trabalho, tal alteração deverá permitir um plus salarial que deverá ser aplicado à analogia para o seu computo.

2 a repercuSSão NoS beNefícIoS prevIdeNcIÁrIoS

Quantificado o plus salarial decorrente do acúmulo ou do desvio de função em sentença da Justiça do Trabalho, nasce ao empregado segurado o direito de ter tais valores computados no salário de contribui-ção e a retificação do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais).

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As contribuições previdenciárias recolhidas em decorrência de de-cisões trabalhistas devem ser consideradas como tempo de contribuição, para viabilizar os reflexos no cálculo dos benefícios previdenciários.

A Constituição Federal, em seu art. 201, § 11, determina:

Art. 201. [...]

[...]

§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incor-porados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e conse-qüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.

[...].

No mesmo sentido prevê o art. 29, § 3º, da Lei nº 8.213/1991, in verbis:

Art. 29. [...]

[...]

§ 3º Serão considerados para cálculo do salário-de-benefício os ganhos habituais do segurado empregado, a qualquer título, sob forma de moeda corrente ou de utilidades, sobre os quais tenha incidido contribuições previdenciárias, exceto o décimo-terceiro salário (gratificação natalina).

Os dispositivos supracitados não deixam dúvidas de que a autar-quia previdenciária (INSS) deverá considerar os recolhimentos advindos de processos trabalhistas no salário de contribuição, pois o não compu-to de tais valores repercutirá negativamente no salário de benefício do segurado, ou seja, os valores deferidos em sentença trabalhista devem englobar o salário de contribuição (todos os rendimentos recebidos pelo segurado que possui incidência previdenciária), tendo em vista que o salário de benefício (valor pago pelo INSS que é a média do salário de contribuição) será calculado sobre a média aritmética simples das 80 (oitenta) maiores contribuições. Portanto, é do salário de contribuição que se calcula o valor do salário de benefício, que, por fim, apontará a renda mensal inicial dos benefícios previdenciários.

Como o sistema previdenciário está fundado no princípio da filia-ção obrigatória, que observa o caráter contributivo e o direito aos bene-fícios conforme os valores recolhidos pelo segurado e o tempo de contri-

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buição, após o reconhecimento do plus salarial no processo trabalhista poderá retificar o CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais), sen-do que o INSS utilizará, para fins de cálculo do salário de benefício, as informações constantes no CNIS, conforme preceitua o art. 29-A da Lei nº 8.213/1991; o segurado poderá retificar de duas maneiras: a primeira pela via administrativa e a segunda pela via judicial.

Pela via administrativa, o segurado deverá levar cópia de todo o processo trabalhista para comprovar os recolhimentos advindos da sen-tença trabalhista, que servirá para alterar o salário de contribuição apon-tado por determinado empregador no CNIS, procedimento autorizado pelo art. 29-A da Lei nº 8.213/1991, in verbis:

Art. 29-A. [...]

[...]

§ 2º O segurado poderá solicitar, a qualquer momento, a inclusão, exclu-são ou retificação de informações constantes do CNIS, com a apresen-tação de documentos comprobatórios dos dados divergentes, conforme critérios definidos pelo INSS.

O procedimento do art. 29-A da Lei nº 8.213/1991 é de grande valia ao segurado. Como bem aponta Ibrahim (2007, p.169), in verbis: “[...] Este dispositivo tem grande alcance, pois tem o objetivo de retirar do segurado o ônus da comprovação dos salários-de- contribuição que compõe o período básico de cálculo. O INSS utilizar-se-á dos valores constantes do CNIS, que recolhe informações da RAIS e da GFIP. [...]”.

No mesmo sentido, pronuncia-se Rocha (2014, p. 174):

[...] Por isso, estabeleceu o artigo em comento que as informações cons-tantes no CNIS sobre as remunerações dos segurados serão empregadas para fins de cálculo do salário de benefício. Assim, é do máximo inte-resse do segurado conhecer e retificar, a qualquer momento, as informa-ções do CNIS, tendo a Autarquia o prazo de 180 dias para fornecer ao segurado as informações previstas nesse banco de dados. Para promover a mudança deverá o interessado comparece munido dos documentos comprobatórios relativos ao período contestado. [...].

Já, na via judicial, o segurado poderá utilizar-se do juiz do traba-lho para expedir ofício ao INSS para que retifique no CNIS o seu salário

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de contribuição do período em que foi reconhecida a existência do acú-mulo e o desvio de função. Agora, a autarquia federal, não aceitando o procedimento administrativo ou tampouco o ofício do magistrado tra-balhista, poderá ainda ajuizar perante a Justiça Federal ou nos Juizados Especiais Federais a ação específica com objetivo de retificar o CNIS, utilizando-se de cópias da demanda trabalhista.

Portanto, a retificação do CNIS é importante ao segurado, por ser um banco de dados que armazena as informações necessárias que ga-rantirá a concessão dos benefícios previdenciários.

3 da reSIStêNcIa do INSS e da juStIça federal em recoNhecer dIreItoS advINdoS de SeNteNça trabalhISta

O segurado, mesmo possuindo o direito líquido e certo de retificar as suas informações previdenciárias no CNIS, como autoriza o art. 29-A da Lei nº 8.213/1991, sofrerá resistência do INSS e da Justiça Federal em retificar o referido documento previdenciário apenas com base em sentença trabalhista.

Tanto a instância administrativa (INSS) quanto a judiciária de pri-meira instância (Justiça Federal ou Juizado Especial Federal) fundamenta-rão a resistência por meio do § 3º do art. 55 da Lei nº 8.213/1991, que diz:

Art. 55. [...]

[...]

§ 3º A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta Lei, inclu-sive mediante justificação administrativa ou judicial, conforme o dispos-to no art. 108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme dis-posto no regulamento.

O dispositivo supramencionado aponta que a comprovação do tempo de serviço (aqui podemos ler também como comprovação do salário de contribuição) mediante a esfera administrativa ou judicial só será aceita se houver início de prova material; no caso do acúmulo e do desvio de função debatido perante a Justiça do Trabalho, por muitas vezes a prova é exclusivamente testemunhal, o que é vedado pelo artigo supracitado.

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Para superar a resistência do INSS e da Justiça Federal, caberá ao segurado, desde a ação administrativa, apontar em seu benefício a apli-cação do princípio da proteção ao hipossuficiente previdenciário, o qual ensina que os conflitos entre segurado (hipossuficiente na relação jurídi-ca) e Estado (INSS), por muitas vezes, versam sobre prestações de caráter social, e, por isso, impõe que se interpretem as normas sempre a favor do segurado menos favorecido.

Sobre tal possibilidade pronuncia-se Lazzari e colaboradores (2015, p. 24):

[...] o intérprete deve, dentre as várias formulações possíveis para um mesmo enunciado normativo, buscar várias formulações possíveis para um mesmo enunciado normativo, buscar aquela que melhor atenda á função social, protegendo, com isso, aquele que depende das políticas sociais para sua subsistência. [...].

Aqui destacamos que o princípio ventilado não está sendo aceito pelos magistrados previdenciários, o que é um equívoco, porque a Cons-tituição Federal é baseada em princípios. Com isso, podemos entender que o julgador não pode encarar as diversas normas jurídicas como um sistema de regras, mas, sim, de princípios.

Não é demais lembrar que os princípios devem sempre servir ao julgador como inspiração de interpretar a norma jurídica em favor da justiça social, e não da justiça positivista, que apenas aplica a letra fria da lei.

Como se vê, não será fácil ao segurado retificar o CNIS com base em sentença trabalhista que alterou o salário de contribuição em de-corrência de reconhecimento do acúmulo e desvio de função; portan-to, cabe ao cidadão não se curvar pelo positivismo jurídico encrustado na seara previdenciária e fazer valer a sua proteção por intermédio dos princípios que são os alicerces da justiça social.

coNcluSão

O presente artigo demonstrou ao leitor técnicas para vencer as barreiras do reconhecimento em juízo do acúmulo ou do desvio de fun-ção e a fixação do plus salarial.

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O dispositivo constitucional e os artigos da lei de benefícios cita-dos no presente texto deixam claro ao leitor que a retificação do CNIS é importante para deixar atualizadas as informações previdenciárias que servirão, posteriormente, para o cálculo do salário de benefício.

Dessa maneira, fica evidente que somente com a definição da contraprestação em virtude do acúmulo ou do desvio de função é que o empregado-segurado terá o seu contrato de trabalho equilibrado face ao seu empregador e à correta fixação do salário de benefício frente à autarquia federal (INSS).

referêNcIaS

BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2013.

CASAGRANDE, Vinicius Magalhães. Acúmulo de funções e revisão do contrato de trabalho. Coordenador Nelson Mannrich. Revista de Direito do Trabalho, Revista dos Tribunais, ano 33, n. 127, p. 159-173, jul./set. 2007.

DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Acúmulo e desvio funcional: há amparo legal para deferir a indenização equivalente ao prejuízo? Revista da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 15ª Região – Amatra XV, São Paulo: LTr, n. 2, p. 246-253, 2009.

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 13. ed. São Paulo: LTr, 2014.

HASHIMOTO, Aparecida Tokumi. Alteração de função ao longo do contrato de trabalho. Disponível em: <http://www.granadeiro.adv.br/template/template_clipping.php?Id=8043>. Acesso em: 11 out. 2015.

IBRAHIM, Fábio Zambitte. Resumo de direito previdenciário. 8. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007.

LAZZARI, João Batista et al. Prática processual previdenciária. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

RIBEIRO, Ivete. Acórdão nº 20140854503, RO 00009893320135020078, 4ª Turma, TRT 2ª Região, Data de Julgamento: 30.09.2014. Disponível em: <http://aplicacoes1.trtsp.jus.br/vdoc/TrtApp.action?viewPdf=&id=2555721>. Acesso em: 5 fev. 2015.

ROCHA, Daniel Machado da. Comentários à lei de benefícios da previdência social. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

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Supremo Tribunal Federal13.10.2015 Primeira TurmaAgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 904.424 Santa CatarinaRelatora: Min. Rosa WeberAgte.(s): Frida Bennert TenfenAdv.(a/s): Carlos Berkenbrock e outro(a/s)Agdo.(a/s): Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProc.(a/s)(es): Procurador‑Geral Federal

eMenta

dIreIto prevIdeNcIÁrIo – apoSeNtadorIa por tempo de coNtrIbuIção – adIcIoNal de 25% – alegação de ofeNSa ao art. 5º, II, XXXv, XXXvI, lIv e lv, da coNStItuIção da repúblIca – legalIdade – coNtradItÓrIo e ampla defeSa – devIdo proceSSo legal – INafaStabIlIdade da jurISdIção – debate de ÂmbIto INfracoNStItucIoNal – eveNtual vIolação refleXa da coNStItuIção da repúblIca Não vIabIlIZa o maNejo de recurSo eXtraordINÁrIo – acÓrdão recorrIdo publIcado em 02.12.2014

1. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV e LV, da Lei Maior, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária prevista no art. 102 da Magna Carta.

2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.

3. Agravo regimental conhecido e não provido.

aCórdão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber, na conformidade da ata de julgamento e

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das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 13 de outubro de 2015.

Ministra Rosa Weber Relatora

relatório

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Contra a decisão por mim proferida, pela qual negado seguimento ao recurso, maneja agravo regimental Frida Bennert Tenfen.

A matéria debatida, em síntese, diz com a extensão do benefício de aposentadoria por invalidez, previsto no art. 45 da Lei nº 8.213/1991, à aposentadoria por idade sob o argumento de que necessita de acom-panhamento e assistência permanente de outra pessoa.

Ataca a decisão agravada, ao argumento de que a violação dos preceitos da Constituição Federal se dá de forma direta. Insiste na tese da afronta aos princípios da legalidade, inafastabilidade da jurisdição, devido processo legal, contraditório e ampla defesa. Reitera a afronta aos arts. 2º, 5º, XXXV e XXXVI, e 201, § 1º, da Lei Maior.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgou a controvérsia em decisão cuja ementa reproduzo:

“VOTO

Trata-se de recurso interposto pela parte autora contra a sentença de im-procedência do pedido de acréscimo de 25% ao valor da aposentadoria por idade.

A sentença analisou a questão nos seguintes termos:

‘[...] A parte autora, beneficiária de aposentadoria por idade pretende, em suma, a concessão do acréscimo de 25% previsto no art. 45 da Lei nº 8.213/1991, sob o argumento de que necessita de acompanhamen-to e assistência permanente de outra pessoa.

De acordo com o art. 45 da Lei nº 8.213/1991, “o valor da aposen-tadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência per-

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manente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento)”’.

Tal dispositivo prevê o acréscimo tão somente para os que perce-bem aposentadoria por invalidez, o que não é o caso da parte autora que percebe o benefício de aposentadoria por idade.

Nesse sentido, aliás, já decidiu a Turma Regional de Uniformiza-ção da 4ª Região, como se infere a seguir:

PREVIDENCIÁRIO – ART. 45 DA LEI DE BENEFÍCIOS – ACRÉSCIMO DE 25% DAS APOSENTADORIAS POR INVALIDEZ – APLICAÇÃO ANALÓGICA ÀS DEMAIS APOSENTADORIAS – FONTE DE CUS-TEIO – ART. 195, § 5º, DA CF – MATÉRIA UNIFORMIZADA – 1. A Turma Regional de Uniformização externou o entendimento de que: ‘A aplicação analógica do art. 45 criaria um novo tipo de benefício, com requisitos próprios e distintos (embora semelhantes) aos da apo-sentadoria por invalidez, sem a devida fonte de custeio, o que conflita com o art. 195, § 5º da CF: “Nenhum benefício ou serviço da segurida-de social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspon-dente fonte de custeio total” (IUJEF 0010550-56.2009.404.7254/SC, Rel. Juiz Fed. Antonio Fernando Schenkel do Amaral e Silva). 2. In-cidente de uniformização de jurisprudência improvido. (TRU4, Rel. p/ Ac. Juiz Fed. Paulo Paim da Silva, DE 24.04.2012) Desse modo, tenho que o pedido não deve ser acolhido. […]’ No presente caso, porém, a parte autora recebe benefício de aposentadoria por idade (evento 1, doc. INFBEN9), e não aposentadoria por invalidez. Não havendo previsão legal para a incidência do acréscimo de 25% ao valor percebido pelo segurado – aposentadoria por idade – em caso de este necessitar de assistência permanente de outra pessoa, não é possível a sua concessão.

Nesse sentido, as decisões do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e da Turma Regional de Uniformização:

PREVIDENCIÁRIO – ART. 45 DA LEI DE BENEFÍCIOS – ACRÉSCIMO DE 25% DAS APOSENTADORIAS POR INVALIDEZ – APLICAÇÃO ANALÓGICA ÀS DEMAIS APOSENTADORIAS – FONTE DE CUS-TEIO – ART. 195, § 5º, DA CF – 1. ‘A aplicação analógica do art. 45 criaria um novo tipo de benefício, com requisitos próprios e distintos (embora semelhantes) aos da aposentadoria por invalidez, sem a de-vida fonte de custeio, o que conflita com o art. 195, § 5º da CF: “Ne-

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nhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”’ (IUJEF 0010550-56.2009.404.7254, Rel. Antonio Fernando Schenkel do Amaral e Silva, DE 02.09.2011). 2. Precedentes da TRU 4ª Re-gião, Questão de Ordem nº 13, da TNU. 3. Incidente não conheci-do (5000262-91.2012.404.7210, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Rel. p/ Ac. Osório Ávila Neto, juntado aos autos em 29.01.2014).

PREVIDENCIÁRIO – ART. 45 DA LEI DE BENEFÍCIOS – ACRÉSCIMO DE 25% DAS APOSENTADORIAS POR INVALIDEZ – APLICAÇÃO ANALÓGICA ÀS DEMAIS APOSENTADORIAS – FONTE DE CUS-TEIO – ART. 195, § 5º, DA CF – 1. ‘A aplicação analógica do art. 45 criaria um novo tipo de benefício, com requisitos próprios e distintos (embora semelhantes) aos da aposentadoria por invalidez, sem a de-vida fonte de custeio, o que conflita com o art. 195, § 5º da CF: “Ne-nhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”’ (IUJEF 0010550-56.2009.404.7254, Rel. Antonio Fernando Schenkel do Amaral e Silva, DE 02.09.2011). 2. Incidente improvido (5002654-47.2011.404.7207, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relª p/ Ac. Marina Vasques Duarte de Barros Falcão, DE 28.02.2013).

PREVIDENCIÁRIO – ART. 45 DA LEI DE BENEFÍCIOS – ACRÉSCIMO DE 25% DAS APOSENTADORIAS POR INVALIDEZ – APLICAÇÃO ANALÓGICA ÀS DEMAIS APOSENTADORIAS – FONTE DE CUS-TEIO – ART. 195, § 5º, DA CF – MATÉRIA UNIFORMIZADA – 1. A Turma Regional de Uniformização externou o entendimento de que: ‘A aplicação analógica do art. 45 criaria um novo tipo de benefício, com requisitos próprios e distintos (embora semelhantes) aos da apo-sentadoria por invalidez, sem a devida fonte de custeio, o que conflita com o art. 195, § 5º da CF: “Nenhum benefício ou serviço da segurida-de social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspon-dente fonte de custeio total”’ (IUJEF 0010550-56.2009.404.7254/SC, Rel. Juiz Fed. Antonio Fernando Schenkel do Amaral e Silva). 2. Incidente de uniformização de jurisprudência improvido (5000501-89.2012.404.7115, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Rel. p/ Ac. Juiz Federal Paulo Paim da Silva, DE 24.04.2012).

PREVIDENCIÁRIO – ART. 45 DA LEI Nº 8.213/1991 – INAPLICABILI-DADE À APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO – 1. A dispo-

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sição constante no art. 45 da Lei de Benefícios, que permite o acrés-cimo de 25% ao valor do benefício de quem necessita de assistência permanente de outra pessoa, aplica-se tão somente à aposentadoria por invalidez, não podendo ser deferida ao beneficiário de aposen-tadoria por tempo de serviço. 2. Não é possível a transformação do benefício por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez, dado o seu caráter de irreversibilidade e irrenunciabilidade e em razão da necessidade de falta de aptidão do segurado para prover o seu próprio sustento. No caso o autor percebe benefício previdenciário, tendo sido o quadro incapacitante posterior à aposentadoria. (TRF 4ª R., AC 2001.72.07.002588-4, 5ª T., Rel. Ricardo Teixeira do Valle Pereira, DJ 11.02.2004)

Confirmo a sentença por seus próprios fundamentos.

Condeno a parte autora no pagamento de honorários advocatícios arbi-trados em 10% (dez por cento) sobre da condenação ou, não havendo condenação, sobre o valor atualizado da causa. Ressalvo que a condena-ção em honorários não pode ser inferior ao salário mínimo vigente nesta data, salvo se o conteúdo econômico da causa o for, hipótese em que os honorários devem corresponder ao valor da demanda. Caso o valor dos honorários tenha como base de cálculo o valor da causa este deverá ser corrigido pelo IPCA-E da data do ajuizamento até 30.06.2009. Após esta data (30.06.2009), deve-se aplicar exclusivamente o critério de correção previsto no art. 5º da Lei 11.960/2009. Suspendo desde logo a execução, no caso de ter sido deferida Assistência Judiciária à parte autora.

Ante o exposto, voto por negar provimento ao recurso.”

Acórdão recorrido publicado em 02.12.2014.

É o relatório.

voto

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Preenchidos os pressu-postos genéricos, conheço do agravo regimental e passo ao exame do mérito.

Nada colhe o agravo.

Transcrevo o teor da decisão que desafiou o agravo:

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“Vistos etc.

Contra o juízo negativo de admissibilidade do recurso extraordinário, exarado pela Presidência do Tribunal a quo, foi manejado agravo. Na minuta, sustenta-se que o recurso extraordinário reúne todos os requisitos para sua admissão.

Aparelhado o recurso na afronta aos arts. 2º, 5º, XXXV e XXXVI, e 201, § 1º, da Constituição Federal.

É o relatório.

Decido.

Preenchidos os pressupostos extrínsecos.

Da detida análise dos fundamentos da decisão denegatória de seguimen-to do recurso extraordinário, bem como à luz das razões de decidir ado-tadas pelo Tribunal de origem, por ocasião do julgamento do recurso veiculado na instância ordinária, concluo que nada colhe o agravo.

O exame de eventual ofensa aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais, consagradores dos princípios da legalidade, da proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, bem como ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º da Lei Maior), demanda, em primeiro plano, a interpretação das normas infra-constitucionais aplicáveis à espécie, de tal modo que, se afronta ocorres-se, seria indireta, o que não atende à exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal Federal, verbis:

‘RECURSO – Extraordinário. Inadmissibilidade. Alegação de ofensa ao art. 5º, XXII, XXIII, XXIV, LIV e LV, da Constituição Federal. Vio-lações dependentes de reexame prévio de normas inferiores. Ofensa constitucional indireta. Matéria fática. Súmula nº 279. Agravo regi-mental não provido. É pacífica a jurisprudência desta Corte, no sen-tido de não tolerar, em recurso extraordinário, alegação de ofensa que, irradiando-se de má interpretação, aplicação, ou, até, inobser-vância de normas infraconstitucionais, seria apenas indireta à Cons-tituição da República, e, muito menos, de reexame de provas’ (STF, AI-AgR-495.880/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, 1ª T., DJ 05.08.2005).

‘Recurso extraordinário: descabimento: acórdão recorrido, do Tribu-nal Superior do Trabalho, que decidiu a questão à luz de legislação infraconstitucional: alegada violação ao Texto Constitucional que, se ocorresse, seria reflexa ou indireta; ausência de negativa de pres-

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tação jurisdicional ou de defesa aos princípios compreendidos nos arts. 5º, II, XXXV, LIV e LV e 93, IX, da Constituição Federal.’ (STF, AI-AgR-436.911/SE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª T., DJ 17.06.2005)

‘CONSTITUCIONAL – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – ALEGAÇÃO DE OFENSA À CF, ART. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV E LV – I – Ao Judi-ciário cabe, no conflito de interesses, fazer valer a vontade concreta da lei, interpretando-a. Se, em tal operação, interpreta razoavelmente ou desarrazoadamente a lei, a questão fica no campo da legalidade, inocorrendo o contencioso constitucional. II – Decisão contrária ao interesse da parte não configura negativa de prestação jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV). III – A verificação, no caso concreto, da existência, ou não, do direito adquirido, situa-se no campo infraconstitucional. IV – Alegação de ofensa ao devido processo legal: CF, art. 5º, LIV e LV: se ofensa tivesse havido, seria ela indireta, reflexa, dado que a ofensa direta seria a normas processuais. E a ofensa a preceito consti-tucional que autoriza a admissão do recurso extraordinário é a ofensa direta, frontal. V – Agravo não provido.’ (STF, RE-AgR 154.158/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª T., DJ 20.09.2002)

‘TRABALHISTA – ACÓRDÃO QUE NÃO ADMITIU RECURSO DE RE-VISTA, INTERPOSTO PARA AFASTAR PENHORA SOBRE BENS ALIE-NADOS FIDUCIARIAMENTE EM GARANTIA DE FINANCIAMENTO POR MEIO DE CÉDULA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO – DECRE-TO-LEI Nº 413/1969 E LEI Nº 4.728/1965 – ALEGADA AFRONTA AO ART. 5º, II, XXII, XXXV E XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – Questão insuscetível de ser apreciada senão por via da legislação infraconstitucional que fundamentou o acórdão, procedimento invi-ável em sede de recurso extraordinário, onde não cabe a aferição de ofensa reflexa e indireta à Carta Magna.

Recurso não conhecido.’ (STF, RE 153.781/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª T., DJ 02.02.2001)

Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas ra-zões recursais, porquanto, no caso, a suposta ofensa somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação infraconstitucional, o que tor-na oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Nesse sentido: ARE 802.086-AgR, de minha lavra, 1ª Turma, DJe 07.11.2014; e ARE 850.435-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª T., DJe 12.05.2015, com a seguinte ementa:

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‘Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Previdenciário. 3. Aposentadoria por tempo de contribuição. Adicio-nal de 25%. Necessidade do revolvimento do conjunto fático-proba-tório dos autos (Súmula nº 279). Matéria infraconstitucional. Ofensa reflexa. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.’

Nesse sentir, não merece processamento o apelo extremo, consoante também se denota dos fundamentos da decisão que desafiou o recurso, aos quais me reporto e cuja detida análise conduz à conclusão pela au-sência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.

Nego seguimento (art. 21, § 1º, do RISTF).”

Irrepreensível a decisão agravada.

A suposta afronta aos postulados constitucionais invocados no apelo extremo somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação infraconstitucional local, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.

Nesse sentir, o exame de eventual afronta aos preceitos constitu-cionais apontados, consagradores dos princípios da legalidade, da pro-teção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, bem como ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defe-sa (art. 5º da Lei Maior), demanda, em primeiro plano, a interpretação das normas infraconstitucionais aplicáveis à espécie, de tal modo que, se afronta ocorresse, seria indireta, o que não atende à exigência do art. 102, III, a, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência deste egrégio Supremo Tribunal Federal (STF, AI-AgR-495.880/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, 1ª T., DJ 05.08.2005; STF, AI-AgR-436.911/SE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª T., DJ 17.06.2005; STF, REAgR-154.158/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª T., DJ 20.09.2002 e STF, RE 153.781/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª T., DJ 02.02.2001).

Constato, ademais, que o Tribunal de origem, na hipótese em apreço, se lastreou na prova produzida para firmar seu convencimento, razão pela qual aferir a ocorrência de eventual afronta aos preceitos constitucionais invocados no apelo extremo exigiria o revolvimento do quadro fático delineado, procedimento vedado em sede extraordinária.

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Aplicação da Súmula nº 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”

As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.

Agravo regimental conhecido e não provido.

É como voto.

priMeira turMa eXtrato de ata

AgRg no Recurso Extraordinário com Agravo nº 904.424

Proced.: Santa Catarina

Relatora: Min. Rosa Weber

Agte.(s): Frida Bennert Tenfen

Adv.(a/s): Carlos Berkenbrock e outro(a/s)

Agdo.(a/s): Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

Proc.(a/s)(es): Procurador-Geral Federal

Decisão: A Turma negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 13.10.2015.

Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. Presentes à Sessão os Senhores Ministros Marco Aurélio, Luiz Fux, Roberto Barroso e Edson Fachin. Compareceu o Senhor Ministro Teori Zavascki para julgar pro-cessos a ele vinculados.

Subprocuradora-Geral da República, Dra. Deborah Duprat.

Carmen Lilian Oliveira de Souza Secretária da Primeira Turma

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1870

Superior Tribunal de JustiçaAgRg no Agravo de Instrumento nº 1.353.893 – RS (2010/0171440‑9)Relatora: Ministra Maria Isabel GallottiAgravante: Maria de Fátima Chaves SchlottgenAdvogados: Ivone da Fonseca Garcia

Lúcia Louza D’Aquino e outro(s) Winston da Rocha Martins Mano

Agravado: Fundação dos Economiários Federais – FuncefAdvogados: Claudia Cristiane Gomes de Moraes e outro(s)

Luiz Antônio Muniz Machado

eMentaagravo regImeNtal – prevIdêNcIa prIvada – proveNtoS de complemeNtação – dIStINção – perceNtual – homeNS e mulhereS – apoSeNtadorIa proporcIoNal ao tempo de ServIço – beNefícIo INIcIal – revISão do cÁlculo – NegÓcIo jurídIco – vícIo de coNSeNtImeNto – aNulação – decadêNcIa

1. A pretensão de afastar a distinção dos percentuais aplicados a homens e mulheres no cálculo inicial do benefício de complementação de aposentadoria proporcional ao tempo de serviço, o que dependeria da alteração do aditivo contratual com base no qual foi concedido o benefício, sujeita-se ao prazo de decadência de 4 anos (art. 178, § 9º, V, b, Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos, correspondente ao art. 178, inc. II, do CC/2002). Precedentes da 2ª Seção e da 4ª Turma.

Verifica no caso presente.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

aCórdão

A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Minis-tros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 05 de novembro de 2015 (data do Julgamento).

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Ministra Maria Isabel Gallotti Relatora

relatório

Ministra Maria Isabel Gallotti (Relatora): Trata-se de agravo regi-mental interposto por Maria de Fátima Chaves Schlottgen contra deci-são mediante a qual conheci do agravo de instrumento e dei parcial provimento ao recurso especial da Fundação do Economiários Federais – Funcef, para, reconhecendo que a pretensão de afastar a distinção nos percentuais aplicados a homens e mulheres no cálculo inicial do benefício de complementação de aposentadoria proporcional ao tempo de serviço, sujeita-se ao prazo decadencial de 4 anos, julgar extinto o processo com resolução do mérito.

Afirma a agravante que a decisão agravada usurpou a competên-cia do STF, que ao examinar o RE 639.138/RS reputou constitucional a questão relativa à distinção nos percentuais para o cálculo de proventos de complementação de aposentadoria para homens e mulheres, reco-nhecendo a repercussão geral do tema. Acrescente que, tratando-se de prestação de trato sucessivo, a prescrição não atinge o fundo de direito, mas apenas as parcelas vencidas há mais de cinco anos do ajuizamento da ação.

Requer, assim, a reforma da decisão agravada regimentalmente, a fim de que seja restabelecido o acórdão da apelação que julgou proce-dente o pedido.

É o relatório.

voto

Ministra Maria Isabel Gallotti (Relatora): Anoto, inicialmente, que, como admite a própria agravante, no RE 639.138/RS irá examinar, com repercussão geral reconhecida, a distinção nos percentuais para o cál-culo de proventos de complementação de aposentadoria para homens e mulheres, que se constitui no mérito propriamente dito em discussão nos autos, tema, todavia, não abordado pela decisão agravada regimental-mente, que limitou-se a reconhecer a decadência do direito de pleitear

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ....................................................................95

a revisão desse benefício, a partir da interpretação do art. 178, § 9º, V, b, Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos, correspondente ao art. 178, inc. II, do CC/2002.

Sem pertinência alguma, pois, a alegação de usurpação da com-petência do STF.

Conheci do agravo de instrumento e dei parcial provimento ao recurso especial com os seguintes fundamentos (fls. 486-493):

Assim delimitada a questão, observo, inicialmente, que o acórdão re-corrido se manifestou de forma suficiente e motivada sobre o tema, não havendo que se falar, portanto, em ofensa ao art. 535, II, do CPC. Ade-mais, não está o órgão julgador obrigado a se pronunciar sobre todos os argumentos apontados pelas partes, a fim de expressar o seu convenci-mento. O pronunciamento acerca dos fatos controvertidos, a que está o magistrado obrigado, encontra-se objetivamente fixado nas razões do acórdão recorrido.

Afasto, pois, a alegação de violação ao art. 535 do CPC.

Anoto que o entendimento do acórdão recorrido encontra-se em con-sonância com o posicionamento de ambas as Turmas que integram a 2ª Seção deste Tribunal de que não há litisconsórcio entre entidades de previdência privada e seu patrocinador, confira-se:

PROCESSUAL CIVIL – ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA COMPLEMEN-TAR – INSTITUIÇÃO PATROCINADORA – LITISCONSÓRCIO NE-CESSÁRIO – INEXISTÊNCIA – PATRIMÔNIO E PERSONALIDADE JU-RÍDICA – AUTONOMIA – QUESTÕES SUSCITADAS NO RECURSO ESPECIAL – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO

1. Não há litisconsórcio passivo necessário do fundo de previdência complementar com a instituição patrocinadora, em face da autono-mia de patrimônio e de personalidade jurídica própria do ente previ-denciário. Precedentes.

[...]

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg-Ag 1.030.415/SC, 4ª T., Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 17.08.2009)

AGRAVO REGIMENTAL – PREVIDÊNCIA PRIVADA – FAPES – LITIS-CONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO COM O BNDES – AFASTA-

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MENTO – RECURSO ESPECIAL – FALTA DE PREQUESTIONAMEN-TO – SÚMULA Nº 211/STJ

I – Não há litisconsórcio necessário entre a entidade de previdência complementar e o patrocinador, mas mero interesse econômico, haja vista que cada um é dotado de personalidade jurídica própria e patri-mônio distintos.

Precedentes.

[...]

IV – Agravo Regimental improvido.

(AgRg-REsp 861.063/RJ, 3ª T., Rel. Sidnei Beneti, DJ 09.06.2010)

Incide, pois, o enunciado da Súmula nº 83/STJ, no ponto.

Em relação à prescrição, observo que a autora, ex-empregada da Caixa Econômica Federal, aposentou-se proporcionalmente por tempo de ser-viço, quando contava menos de 30 anos de serviço.

Como participante da Funcef, recebeu suplementações de aposentadoria pela Fundação no percentual de 70% dos respectivos salários quando em atividade. Invocando alegado direito de isonomia em relação aos participantes do sexo masculino, pretende seja reconhecida a ilegalidade da distinção e a consequente revisão do contrato firmado entre as partes, para o efeito de passar a receber o percentual de 80% de seu salário na atividade (fls. 5-25).

Em contestação, a Funcef esclarece que a autora aderiu ao plano de be-nefícios da Funcef antes da entrada em vigor da Constituição de 1988, quando não havia previsão constitucional e legal para a aposentadoria proporcional por tempo de serviço para as mulheres.

Estas tinham apenas o direito de aposentadoria integral aos 30 anos de contribuição, enquanto aos homens era assegurada a aposentadoria inte-gral aos 35 anos e proporcional aos 30 anos.

Seguindo o regramento legal da aposentadoria previdenciária, o regu-lamento e o contrato de previdência complementar previa o benefício integral para mulheres aos 30 anos e proporcional para os homens a partir dos 30 anos, até completada a integralidade da complementação aos 35 anos.

A Constituição de 1988 permitiu que as mulheres se aposentassem pro-porcionalmente junto à Previdência Oficial após 25 anos de trabalho,

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ....................................................................97

mantida a aposentadoria proporcional dos homens aos 30 anos de traba-lho (CF, art. 202, § 1º, na redação original).

Regulamentando o novo direito, a Lei nº 8.213/1991 estabeleceu que a aposentadoria proporcional por tempo de serviço, para a mulher, consis-tiria numa renda mensal de 70% do salário-de-benefício aos 25 anos de serviço, até o máximo de 100% aos 30 anos de serviço (art. 53, I).

Na sequência, a Diretoria Executiva da Funcef resolveu aprovar a con-cessão de suplementação de aposentadoria às associadas admitidas no REG, mediante a assinatura de “Instrumento Particular de Alteração Con-tratual – Ipac” (celebrado por livre e espontânea vontade pelas autoras, de modo que o percentual de benefício Funcef seguisse a regra então vigente para o INPS/INSS.

Ressalta que a autora optou por aderir ao Ipac, o que lhe ensejou o direi-to, não previsto no contrato original, de aposentar-se proporcionalmente aos 25 anos de trabalho. Enfatiza que se lhe fossem aplicadas as regras previstas para o sexo masculino jamais poderia ter se aposentado propor-cionalmente aos 25 anos de serviço. Poderia ter contribuído por período superior, com a correspondente elevação do percentual de benefício, opção, que, todavia, não seguiu por livre iniciativa.

O acórdão recorrido entendeu que a prescrição não atinge o fundo de direito do benefício previdenciário complementar, mas apenas as presta-ções vencidas há mais de cinco anos do ajuizamento da ação e, no mé-rito propriamente dito, determinou a utilização dos mesmos percentuais para homens e mulheres no cálculo de aposentadoria complementar de seguro, observado o tempo de contribuição em cada caso, sob pena de ofensa ao princípio da isonomia (fls. 376-386).

Diante disso, penso ser relevante distinguir a hipótese em que se pleiteia apenas a condenação ao pagamento de quantia (sentença condenatória), pretensão sujeita a prazo de prescrição, dos casos em que a postulada condenação ao pagamento de diferença pecuniária decorrerá da neces-sária (mesmo que implícita) anulação de contrato (ou aditivo contratual) celebrado entre as partes (sentença constitutiva negativa ou positiva), su-jeita a prazo decadencial.

Com efeito, a propósito do tema prescrição e decadência em ações em que se discute benefício de previdência privada, recordo o voto condutor do acórdão que proferi no julgamento do REsp 1.201.529/RS perante a 2ª Seção, que teve por objeto a revisão de proventos de pensão pagos pela MBM – Previdência Privada, mediante a aplicação de índice de con-

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tribuição correspondente à faixa etária em que se inseria o instituidor do benefício quando de sua filiação à referida entidade de previdência privada.

Ressalto que, no referido voto, descrevi o histórico das legislações que regulamentaram o regime de previdência privada e da correspondente interpretação jurisprudencial deste Tribunal sobre a prescrição, para de-monstrar que a redação do art. 75 da Lei Complementar nº 109/2001, atualmente em vigor, não apresentou alteração substancial ao conte-údo dos arts. 57, caput, da Lei nº 3.807/1960, 418 e 419 do Decreto nº 72.771/1973 e 103 da Lei nº 8.213/1991, em seu texto originário, ado-tando, do mesmo modo que a legislação anterior, o prazo de prescrição de cinco anos, ressalvando expressamente o direito ao benefício, motivo pelo qual subsiste o entendimento pacificado neste Tribunal no sentido de que a prescrição não atinge o fundo de direito do benefício previ-denciário complementar correspondente ao contrato celebrado entre a entidade de previdência (fechada ou aberta) e o aderente, mas apenas as prestações vencidas há mais de cinco anos do ajuizamento da ação.

E, após mencionar o entendimento doutrinário e da própria Superinten-dência Nacional de Previdência Complementar – Previc, ambos nesse mesmo sentido, conclui que na hipótese de pedido de revisão do bene-fício de complementação de aposentadoria, a prescrição para reclamar o direito a prestações de benefício previdenciário é parcial, vale dizer, atinge apenas as prestações vencidas em período anterior a cinco anos do ajuizamento da ação, nos termos do art. 75 da LC 109/2001, assim como ocorria sob a égide da legislação anterior (Lei nº 3.807/1960, De-creto nº 72.771/1973 e Lei nº 8.213/1991).

Ressaltei, todavia, que o referido julgamento tratava de pretensão diver-sa, na qual o deferimento do pleito inicial deveria ser precedido da anu-lação do contrato celebrado em 1983, pretensão esta sujeita a prazo de-cadencial de 4 anos, seja sob a égide do Código Civil de 1916 (art. 178, § 9º, b, do Código Civil de 1916), encontrando-se a ementa do referido julgado assim redigida:

RECURSO ESPECIAL – PREVIDÊNCIA PRIVADA – REVISÃO DE PEN-SÃO – ÍNDICE DE CONTRIBUIÇÃO – FAIXA ETÁRIA – RENDA MEN-SAL INICIAL – REVISÃO DO CÁLCULO – NEGÓCIO JURÍDICO – VÍ-CIO DE CONSENTIMENTO – ANULAÇÃO – DECADÊNCIA

1. Não ofende o art. 535 do CPC a decisão que examina, de forma fundamentada, todas as questões submetidas à apreciação judicial.

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2. Nos termos do art. 75 da LC 109/2001, assim como ocorria sob a égide da legislação anterior (Lei nº 3.807/1960, Decreto nº 72.771/1973 e Lei nº 8.213/1991), a prescrição para reclamar o direito a prestações de benefício previdenciário é parcial, vale dizer, atinge apenas as prestações vencidas em período anterior a cinco anos do ajuizamento da ação.

3. Hipótese, todavia, em que o autor da ação não se limita a pleitear prestações com base no contrato previdenciário em vigor quando se tornou elegível ao benefício. Pretende alterar a base da relação jurí-dica entre as partes; modificar o próprio contrato em que assentado equilíbrio atuarial do plano de previdência. Como fundamento para o pedido de revisão do benefício, invoca critérios estabelecidos no contrato celebrado em 1950, o que dependeria da anulação do con-trato de 1983, que o substituiu, por vício de consentimento, pretensão sujeita ao prazo de decadência de 4 anos (art. 178, § 9º, V, b, Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos, correspondente ao art. 178, inc. II, do CC/2002).

4. Recurso especial provido. (2ª Seção, Relª p/ Ac. Min. Isabel Gallotti, DJ 01.06.2015)

No caso presente, a pretensão deduzida na inicial consiste em modificar cláusulas do aditivo ao contrato previdenciário, assinado pela autora da ação precisamente para obter o direito ao benefício de complementação de aposentadoria proporcional. Pretende a ora agravada, portanto, a alte-ração da relação jurídica fundamental existente entre as partes (contrato previdenciário e respectivo aditivo), sendo essa pretensão de natureza constitutiva, sujeita a prazo decadencial (Código Civil de 1916, art. 178, § 9º, V, b, vigente à época dos fatos, correspondente ao art. 178, inc. II, do CC/2002), premissa necessária para a condenação ao pagamento das diferenças de complementação de aposentadoria.

Caso a pretensão consistisse em mero recálculo do valor do benefício inicial, tomando por base o contrato em vigor regente da relação jurídica entre as partes, penso que eventual equívoco, no entender da autora/agravada, detectado no cálculo inicial do benefício ou das parcelas pos-teriores não afetaria a relação jurídica fundamental – o fundo do direito, imprescritível segundo a regra do art. 75 da LC 109/2001 – e, natural-mente, as reservas técnicas constituídas ao longo da relação com base naquele mesmo contrato em discussão.

Se a agravada pleiteasse, portanto, somente a adequação, ao contrato re-gente da relação entre as partes, do cálculo dos benefícios iniciais ou das

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prestações subsequentes, seria induvidosa, ao meu sentir, a prescrição apenas parcial, renovando-se a alegada lesão de direito a cada parcela paga em valor inferior ao pretendido.

No caso dos autos, todavia, não alega a autora da ação que o benefício inicial e as prestações subsequentes estejam sendo calculados de forma discrepante do estabelecido no contrato previdenciário em vigor.

Pretende discutir a própria relação jurídica fundamental entre as partes, buscando alterar o aditivo contratual por ela assinado e com base no qual foram concedidos os benefícios, em 1998 (fl. 15).

Não socorre, portanto, à autora a regra do art. 75 da Lei Complementar nº 109/2001, a qual preserva o benefício previsto no contrato previden-ciário (“Sem prejuízo do benefício, prescreve em cinco anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época própria [...]”), não regulando o prazo de decadência do direito potestativo de requerer a modificação do contrato.

Ressalto, por fim, que a 4ª Turma, ao examinar matéria absolutamente idêntica de pedido para afastar a distinção nos percentuais aplicados a homens e mulheres no cálculo inicial do beneficio de complementação de aposentadoria proporcional ao tempo de serviço, formulado por as-sistida da Funcef, no julgamento do REsp 1.310.114/RS, concluído em 16.04.2015, Rel. Min. Luis Felipe Salomão (acórdão pendente de publi-cação), decidiu, por unanimidade, que essa pretensão sujeita-se ao prazo decadencial de 4 anos, previsto no art. 178, § 9º, V, b, Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos, correspondente ao art. 178, inc. II, do CC/2002.

No caso presente, a própria autora da ação informa que o benefício de complementação de aposentadoria proporcional foi concedido em 1998 e a ação foi ajuizada no dia 8.4.2008 (fl. 15), motivo pelo qual reconhe-ço a perda pelo decurso do tempo do direito de requerer a alteração do contrato previdenciário, necessária para a postulada alteração do valor do benefício, em razão da decadência.

Em face do exposto, conheço do agravo e, com base no art. 557, § 1º-A, do CPC, dou parcial provimento ao recurso especial para julgar extinto o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 269, inc. IV, do CPC. Responderá a autora pelo pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais), ônus suspensos nos termos do art. 12 da Lei nº 1.060/1950.

Intimem-se.

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Os argumentos da agravante não infirmam os fundamentos da re-ferida decisão.

Em face do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

Certidão de JulgaMento quarta turMa

Número Registro: 2010/0171440-9

Processo Eletrônico AgRg-Ag 1.353.893/RS

Números Origem: 10800884675 70034590877 70035980127

Em Mesa Julgado: 05.11.2015

Relatora: Exma. Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti

Presidente da Sessão: Exma. Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Mônica Nicida Garcia

Secretária: Belª Teresa Helena da Rocha Basevi

autuação

Agravante: Fundação dos Economiários Federais – Funcef

Advogados: Luiz Antônio Muniz Machado Claudia Cristiane Gomes de Moraes e outro(s)

Agravado: Maria de Fátima Chaves Schlottgen

Advogados: Winston da Rocha Martins Mano Ivone da Fonseca Garcia Lúcia Louza D’Aquino e outro(s)

Assunto: Direito civil – Obrigações – Espécies de contratos – Previdência privada

agravo regiMental

Agravante: Maria de Fátima Chaves Schlottgen

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Advogados: Winston da Rocha Martins Mano Ivone da Fonseca Garcia Lúcia Louza D’Aquino e outro(s)

Agravado: Fundação dos Economiários Federais – Funcef

Advogados: Luiz Antônio Muniz Machado Claudia Cristiane Gomes de Moraes e outro(s)

Certidão

Certifico que a egrégia Quarta Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regi-mental, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1871

Superior Tribunal de JustiçaEDcl no Agravo em Recurso Especial nº 715.538 – SE (2015/0120864‑0)

Relatora: Ministra Maria Isabel Gallotti

Embargante: Thomas William Hutchinson

Advogados: Manuela Simões Falcão Alvim de Oliveira Thiago D’Ávila Fernandes e outro(s)

Embargado: Fundação Petrobras de Seguridade Social – Petros

Advogada: Nayca Negreiros Ferreira e outro(s)

eMenta

embargoS de declaração – efeItoS modIfIcatIvoS – agravo regImeNtal – agravo – prevIdêNcIa – prIvada – víNculo empregatícIo partIcIpaNte e patrocINador – coNdIção – complemeNtação de apoSeNtadorIa – valIdade – tema jurídIco SubmetIdo ao rIto doS repetItIvoS – SobreStameNto Não aplIcação

1. Não configura violação ao art. 535 do CPC a decisão que examina, de forma fundamentada, todas as questões submetidas à apreciação judicial, circunstância que afasta a negativa de prestação jurisdicional.

2. A suspensão de recursos prevista no art. 543-C do CPC destina-se aos Tribunais Regionais Federais e aos Tribunais de Justiça dos Estados, não se aplicando aos processos já encaminhados ao STJ, por ausência de previsão legal. Precedentes.

3. É válida a exigência, estabelecida em regulamento de entidade fechada de previdência privada, de rompimento do vínculo empregatício entre o participante e o patrocinador, como condição para a concessão do benefício de complementação de aposentadoria. Precedentes de ambas as Turmas que compõem a 2ª Seção.

4. Embargos de declaração recebidos com agravo regimental ao qual se nega provimento.

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aCórdão

A Quarta Turma, por unanimidade, recebeu os embargos de de-claração como agravo regimental e negou-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 05 de novembro de 2015 (data do Julgamento).

Ministra Maria Isabel Gallotti Relatora

relatório

Ministra Maria Isabel Gallotti: Trata-se de embargos de declaração interposto por Thomas William Hutchinson contra decisão mediante a qual conheci do agravo interposto pela Fundação Petrobras de Segurida-de Social – Petros e dei parcial provimento ao recurso especial por ela interposto, para, nos termos da orientação de ambas as Turmas que com-põem a 2ª Seção deste Tribunal, considerar válida a exigência, estabe-lecida em regulamento de entidade fechada de previdência privada, de rompimento do vínculo empregatício entre o participante e patrocina-dor, como condição para a concessão do benefício de complementação de aposentadoria, inclusive na hipótese de plano de benefícios instituído antes da vigência da Lei Complementar nº 108/2001 e no qual não havia essa previsão, na ocasião da filiação do ora agravado.

Afirma o embargante que a decisão embargada contém contradi-ção “com o posicionamento deste Superior Tribunal de Justiça”, ao não determinar a suspensão do feito, nos termos do art. 543-C do Código de Processo Civil, em razão de o REsp 1.435.837/RS, que trata de matéria idêntica, ter sido submetido ao rito dos recursos repetitivos por decisão do relator, Min. Paulo de Tarso Sanseverino.

Alega que o recurso especial não poderia ter sido conhecido, em razão da ausência do requisito do prequestionamento, bem assim por-que a alteração do entendimento do acórdão recorrido ensejou o reexa-me do conjunto fático-probatório dos autos e das cláusulas do contrato

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de previdência complementar. Acrescenta que o dissídio jurisprudencial não foi demonstrado mediante o cotejo analítico entre os acórdãos re-corridos e paradigmas.

É o relatório.

voto

Ministra Maria Isabel Gallotti (Relatora): Recebo os embargos de declaração como agravo regimental em razão do caráter infringente da irresignação, que todavia não merece prosperar.

E isso porque, em primeiro lugar, a regra prevista no art. 543-C, § 1º, do CPC, destina-se aos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados, não se aplicando aos recursos especiais já encami-nhados a esta Corte Superior, conforme consolidado entendimento deste Tribunal. Nesse sentido, entre muitos outros, confira-se:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 182/STJ – PLEITO DE SUSPENSÃO DO FEITO EM RAZÃO DE ADMISSIBILIDADE DE RE-CURSO REPETITIVO – IMPOSSIBILIDADE – INEXISTÊNCIA DE PRE-VISÃO LEGAL QUE IMPONHA AOS MEMBROS DESTA CORTE A SUSPENSÃO DOS RECURSOS QUE JÁ SE ENCONTRAM NO STJ – AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO

[...]

2. O art. 543-C do Código de Processo Civil não previu a necessi-dade de sobrestamento nesta Corte do julgamento de recursos que tratem de matéria afeta como representativa de controvérsia repetiti-va, mas somente da suspensão dos recursos nos tribunais de segunda ins tância.

3. Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação de multa.

(AgRg-Ag 959.104/SP, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ 13.04.2012)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – PLEITO DE SUS-PENSÃO DO FEITO EM RAZÃO DE ADMISSIBILIDADE DE RECUR-

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SO REPETITIVO – NÃO ACOLHIMENTO – FUNDAMENTOS INSU-FICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO AGRAVADA – AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO

[...]

2. Não subsiste o pleito de sobrestamento deste apelo nobre até o julgamento de recurso especial submetido ao rito do art. 543-C do Código de Processo Civil, pois a norma inserta nesse dispositivo legal dirige-se aos feitos a serem processados no Tribunal de origem.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg-REsp 1.115.068/RS, 3ª T., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJ 28.10.2011)

Não há, pois, dispositivo legal que estabeleça a suspensão dos processos em tramitação do STJ nos quais se discute tema jurídico submetido ao rito dos recursos repetitivos, mas apenas a possibilidade de ser determinada a suspensão dos recursos que cuidem da mesma matéria nos tribunais de apelação, nos termos, a propósito, em que o art. 543-C, do CPC, foi regulamentado, no ponto, pelo § 2º do art. 2º da Resolução/STJ nº 8, de 2008, assim redigido:

Art. 2º Recebendo recurso especial admitido com base no art. 1º, caput, desta Resolução, o Relator submeterá o seu julgamento à Se-ção ou à Corte Especial, desde que, nesta última hipótese, exista ques-tão de competência de mais de uma Seção.

§ 1º A critério do Relator, poderão ser submetidos ao julgamento da Seção ou da Corte Especial, na forma deste artigo, recursos especiais já distribuídos que forem representativos de questão jurídica objeto de recursos repetitivos.

§ 2º A decisão do Relator será comunicada aos demais Ministros e ao Presidente dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais Regionais Fede-rais, conforme o caso, para suspender os recursos que versem sobre a mesma controvérsia.

No mérito, conheci do agravo e dei parcial provimento ao recurso espe-cial da Petros, com os seguintes fundamentos (fls. 768-776):

Observo que o acórdão recorrido manifestou-se de forma suficiente e motivada sobre o tema em discussão nos autos. Ademais, não está o ór-gão julgador obrigado a se pronunciar sobre todos os argumentos apon-tados pelas partes, a fim de expressar o seu convencimento. No caso em

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exame, o pronunciamento acerca dos fatos controvertidos, a que está o magistrado obrigado, encontra-se objetivamente fixado nas razões do acórdão recorrido.

Afasto, pois, a alegação de ofensa ao art. 535 do CPC.

No mérito, verifico que o entendimento do acórdão recorrido encontra--se em divergência com a orientação de ambas as Turmas que compõem a 2ª Seção deste Tribunal, no sentido de que é válida a exigência, esta-belecida em regulamento da entidade fechada de previdência, de rom-pimento do vínculo empregatício entre o participante e o patrocinador, como condição para a concessão do benefício de complementação de aposentadoria, inclusive na hipótese de plano de benefícios instituído antes da LC 108/2001, para dar cumprimento ao disposto no inc. I de seu art. 3º.

Nesse sentido, entre muitos outros, destaco os seguintes acórdãos:

PREVIDÊNCIA PRIVADA FECHADA – RECURSO ESPECIAL – CON-TRATO DE TRABALHO E CONTRATO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA – VÍNCULOS CONTRATUAIS DISTINTOS, SUBMETIDOS À NOR-MATIZAÇÃO E PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS – PLANO DE BENEFÍCIOS SUBMETIDO À LEI COMPLEMENTAR Nº 108/2001 – VEDAÇÃO ES-TABELECIDA PELO ART. 3º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 108/2001 À CONCESSÃO DE BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO QUE SEJA PROGRA-MADA E CONTINUADA, SEM QUE TENHA HAVIDO CESSAÇÃO DO VÍNCULO DO PARTICIPANTE COM A PATROCINADORA – TESE DE VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO – DESCABIMEN-TO – OUTROSSIM, SÓ HÁ DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO – NOS MOLDES DO REGULAMENTO VIGENTE DO PLANO – NO MOMENTO EM QUE O PARTICIPANTE PASSA A TER DIREITO AO BENEFÍCIO COMPLEMENTAR DE PREVIDÊNCIA PRIVADA

1. Na previdência privada, o sistema de capitalização constitui pilar de seu regime – baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado. Nessa linha, os planos de benefícios de previ-dência complementar são previamente aprovados pelo órgão público fiscalizador, de adesão facultativa, devendo ser elaborados com base em cálculos matemáticos, embasados em estudos de natureza atua-rial, e, ao final de cada exercício, devem ser reavaliados, de modo a prevenir ou mitigar prejuízos aos participantes e beneficiários do plano (art. 43 da ab-rogada Lei nº 6.435/1977 e art. 23 da Lei Com-plementar nº 109/2001).

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2. A ab-rogada Lei nº 6.435/1977, dentre outras disposições, estabe-lecia que as entidades fechadas eram consideradas complementares do sistema oficial de previdência e assistência social, cabendo às pa-trocinadoras supervisionar e proporcionar garantia aos compromissos assumidos para com os participantes dos planos de benefícios.

3. Com a Emenda Constitucional nº 20, de 1998, a Carta Magna pas-sou a estabelecer a autonomia do regime de previdência complemen-tar em relação ao regime geral de previdência social e a dispor, no art. 202, § 3º, ser vedado o aporte de recursos a entidade de previdên-cia privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocina-dor, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado.

4. Nesse contexto, com o advento da Lei Complementar nº 108/2001 – Diploma cuja edição foi determinada pelo art. 202, § 4º, da CF –, o ordenamento jurídico passou a contar com novas normas para os planos de benefícios, estabelecendo – em regra jurídica cogen-te de eficácia imediata contida no art. 3º, I, da Lei Complementar nº 108/2001, a vincular, independentemente de alteração regulamen-tar ou estatutária, participantes, entidade de previdência privada, ór-gãos públicos regulador e fiscalizador – carência mínima de sessenta contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de presta-ção que seja programada e continuada.

5. Embora a relação contratual de previdência privada não se confun-da com a relação de emprego mantida pelo participante com a pa-trocinadora, a vedação ao recebimento de benefício de previdência complementar sem que tenha havido o rompimento do vínculo traba-lhista, em vista das mudanças operadas no ordenamento jurídico, não é desarrazoada, pois refletirá no período médio de recebimento de benefícios pela coletividade de beneficiários do plano de benefícios.

Ademais, o fundamento dos planos de benefícios de previdência pri-vada não é o enriquecimento, mas permitir uma continuidade no pa-drão de vida do participante, na ocasião em que se torna assistido.

6. Recurso especial provido.”

(REsp 1.415.501/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª T., Julgado em 27.05.2014, DJe 04.08.2014)

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“RECURSO ESPECIAL – CIVIL – PREVIDÊNCIA PRIVADA – PATRO-CINADOR – ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM – ENTIDADE FECHADA DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR – CÓDIGO DE DE-FESA DO CONSUMIDOR – INAPLICABILIDADE – CONCESSÃO DE APOSENTADORIA SUPLEMENTAR – REQUISITOS – CESSAÇÃO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO – ADESÃO AO PLANO DE BENEFÍCIOS – CONDIÇÃO INEXISTENTE – DIREITO ADQUIRIDO – AFASTAMEN-TO – MERA EXPECTATIVA DE DIREITO – EXIGÊNCIA INSTITUÍDA POR LEI – CARÁTER COGENTE – NORMAS APLICÁVEIS AO TEMPO DO CUMPRIMENTO DE TODOS OS REQUISITOS EXIGIDOS PARA A OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO

1. Ação ordinária que visa a concessão de suplementação de aposen-tadoria, visto que, apesar de o participante ter sido aposentado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, a aposentadoria comple-mentar lhe foi negada ao argumento de que também deveria promo-ver o desligamento da empregadora, requisito inexistente ao tempo da adesão ao plano de benefícios.

2. A orientação jurisprudencial desta Corte Superior é no sentido de que o patrocinador não possui legitimidade para figurar no polo pas-sivo de demandas que envolvam participante e entidade de previdên-cia privada, ainda mais se a controvérsia se referir ao plano de bene-fícios, como a concessão de aposentadoria suplementar. Isso porque o patrocinador e o fundo de pensão são dotados de personalidades jurídicas próprias e patrimônios distintos, sendo o interesse daquele meramente econômico e não jurídico.

3. O Código de Defesa do Consumidor não é aplicável à relação jurídica mantida entre a entidade fechada de previdência privada e seus participantes, porquanto o patrimônio da entidade e respectivos rendimentos revertem-se integralmente na concessão e manutenção do pagamento de benefícios, prevalecendo o associativismo e o mu-tualismo, o que afasta o intuito lucrativo. Desse modo, o fundo de pensão não se enquadra no conceito legal de fornecedor, devendo a Súmula nº 321/STJ ser aplicada somente às entidades abertas de pre-vidência complementar.

4. A relação jurídica estabelecida entre o participante e a entidade fechada de previdência privada é de índole civil e não trabalhista, não se confundindo, portanto, com a relação formada entre o emprega-dor (patrocinador) e o empregado (participante). Assim, para a solu-ção das controvérsias atinentes à previdência privada, devem incidir,

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prioritariamente, as normas que a disciplinam e não outras, alheias às suas peculiaridades.

5. Seja sob a égide da Lei nº 6.435/1977 ou das Leis Complementares nºs 108/2001 e 109/2001, sempre foi permitida à entidade fechada de previdência privada alterar os regulamentos dos planos de custeio e de benefícios como forma de manter o equilíbrio atuarial das reservas e cumprir os compromissos assumidos diante das novas realidades econômicas e de mercado que vão surgindo ao longo do tempo. Por isso é que periodicamente há adaptações e revisões dos planos de benefícios a conceder, incidindo as modificações a todos os parti-cipantes do fundo de pensão após a devida aprovação pelos órgãos competentes (regulador e fiscalizador), observado, em qualquer caso, o direito acumulado de cada aderente.

6. Não há falar em direito adquirido, mas em mera expectativa de di-reito do participante, à aplicação das regras de concessão da aposen-tadoria suplementar quando de sua admissão ao plano, sendo apenas assegurada a incidência das disposições regulamentares vigentes na data em que cumprir todos os requisitos exigidos para obtenção do benefício, tornando-o elegível.

7. As normas editadas pelo Poder Público com relação às entidades de previdência privada são de caráter cogente e devem integrar as regras estatutárias, ainda que não tenha havido a devida alteração no plano de benefícios, sobretudo porque não dependem, para a sua eficácia, de ato de vontade da administração do fundo de pensão em providenciar a adaptação do regulamento ao novo sistema legal em vigor.

8. Não há ilegalidade na exigência feita pela entidade de previdência privada do requisito da cessação do vínculo empregatício do partici-pante com o patrocinador (empregador) como condição para a con-cessão da aposentadoria complementar, haja vista a alteração regu-lamentar ocorrida por força de lei (art. 3º, I, da LC 108/2001) antes de implementados os requisitos para a obtenção do benefício, o que acabou por atingir a sua situação jurídica, em que pese tal condição não ter constado quando da adesão ao plano de benefícios.

9. Recurso especial provido.”

(REsp 1.421.951/SE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª T., Julga-do em 25.11.2014, DJe 19.12.2014)

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Acrescento, nos termos da também pacificada jurisprudência da 2ª Seção, apenas os participantes que já haviam preenchido os requisitos necessários para a aposentadoria antes da mudança de regime jurídico adquiriram o direito de terem os seus benefícios de complementação calculados com observância das regras anteriores, confiram-se:

AGRAVO REGIMENTAL – PREVIDÊNCIA PRIVADA FECHADA – RE-CURSO ESPECIAL – CONTRATO DE TRABALHO E CONTRATO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA – VÍNCULOS CONTRATUAIS DISTINTOS, SUBMETIDOS À NORMATIZAÇÃO E PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS – PLA-NO DE BENEFÍCIOS SUBMETIDO À LEI COMPLEMENTAR Nº 108/2001 – VEDAÇÃO ESTABELECIDA PELO ART. 3º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 108/2001 À CONCESSÃO DE BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO QUE SEJA PROGRAMADA E CONTINUADA, SEM QUE TENHA HAVIDO CES-SAÇÃO DO VÍNCULO DO PARTICIPANTE COM A PATROCINADO-RA – TESE DE VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO, CASO NÃO PREVALEÇA O REGULAMENTO VIGENTE POR OCASIÃO DA ADE-SÃO À RELAÇÃO PREVIDENCIÁRIA – MANIFESTO DESCABIMENTO – PLEITO QUE NÃO TEM NENHUM SUPEDÂNEO NA AB-ROGADA LEI Nº 6.435/1977 NEM NA VIGENTE LEI COMPLEMENTAR Nº 109/2001 – OUTROSSIM, SÓ HÁ DIREITO ADQUIRIDO AO BENEFÍCIO – NOS MOLDES DO REGULAMENTO VIGENTE DO PLANO - NO MOMEN-TO EM QUE O PARTICIPANTE PASSA A TER DIREITO AO BENEFÍCIO COMPLEMENTAR DE PREVIDÊNCIA PRIVADA

1. A ab-rogada Lei nº 6.435/1977, dentre outras disposições, estabelecia que as entidades fechadas eram consideradas complementares do siste-ma oficial de previdência e assistência social, cabendo às patrocinadoras supervisionar e proporcionar garantia aos compromissos assumidos para com os participantes dos planos de benefícios.

2. Com a Emenda Constitucional nº 20, de 1998, a Carta Magna passou a estabelecer a autonomia do regime de previdência complementar em relação ao regime geral de previdência social e a dispor, no art. 202, § 3º, ser vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fun-dações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras enti-dades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado.

3. “Nesse contexto, com o advento da Lei Complementar nº 108/2001 – Diploma cuja edição foi determinada pelo art. 202, § 4º, da CF –, o

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ordenamento jurídico passou a contar com novas normas para os pla-nos de benefícios, estabelecendo – em regra jurídica cogente de eficácia imediata contida no art. 3º, I, da Lei Complementar nº 108/2001, a vin-cular, independentemente de alteração regulamentar ou estatutária, par-ticipantes, entidade de previdência privada, órgãos públicos regulador e fiscalizador – carência mínima de sessenta contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continua-da.” (REsp 1415501/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª T., Julgado em 27.05.2014, DJe 04.08.2014)

4. Embora a relação contratual de previdência privada não se confunda com a relação de emprego mantida pelo participante com a patrocinado-ra, a vedação ao recebimento de benefício de previdência complementar sem que tenha havido o rompimento do vínculo trabalhista, em vista das mudanças operadas no ordenamento jurídico, não é desarrazoada, pois refletirá no período médio de recebimento de benefícios pela coletivida-de de beneficiários do plano de benefícios. Ademais, o fundamento dos planos de benefícios de previdência privada não é o enriquecimento, mas permitir uma continuidade no padrão de vida do participante, na ocasião em que se torna assistido.

5. “No tocante ao regime de previdência privada complementar, é pa-cífica a orientação desta Corte de que o direito adquirido somente se aperfeiçoa no momento em que o participante preencher os requisitos para a percepção do benefício previdenciário” (AgRg-REsp 989.392/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª T., Julgado em 08.04.2014, DJe 14.04.2014)

6. Os vigentes arts. 17, parágrafo único e 68, § 1º, da Lei Complemen-tar nº 109/2001 dispõem que as alterações processadas nos regulamen-tos dos planos aplicam-se a todos os participantes das entidades fecha-das, a partir de sua aprovação pelo órgão público fiscalizador, só sendo considerados direito adquirido do participante os benefícios a partir da implementação de todas as condições estabelecidas para elegibilidade consignadas no regulamento vigente do respectivo plano de previdência privada complementar.

Precedentes.

7. Agravo regimental não provido.

(REsp 1.410.414/SE, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ 26.08.2014)

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AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL – PREVIDÊNCIA PRI-VADA COMPLEMENTAR – ALTERAÇÃO DO REGULAMENTO – SU-POSTA MODIFICAÇÃO DO TETO DE SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO – AUSÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO A REGIME DE PREVIDÊNCIA – NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS PARA APOSENTAÇÃO – PRECEDENTES

1. No tocante ao regime de previdência privada complementar, é pacífi-ca a orientação desta Corte de que o direito adquirido somente se aper-feiçoa no momento em que o participante preencher os requisitos para a percepção do benefício previdenciário.

2. Agravo regimental não provido.

(AgRg-REsp 989.392/DF, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJ 14.04.2014)

Diante disso, não se aplica o entendimento do acórdão recorrido que determinou o pagamento da complementação de aposentadoria, sem cessação do vínculo empregatício do participante com a patrocina-dora da ora agravante, em razão de não existir essa exigência na ocasião em que o agravado filiou-se ao plano de benefícios.

Em face do exposto, conheço do agravo e, com base no art. 557, § 1º-A, do CPC, dou parcial provimento ao recurso especial para julgar improcedente o pedido. Responderá o autor pelo pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais).

Os argumentos do embargante não infirmam os fundamentos da referida decisão.

Em face do exposto, recebo os embargos de declaração como agravo regimental e a ele nego provimento.

É como voto.

Certidão de JulgaMento quarta turMa

Número Registro: 2015/0120864-0

Processo Eletrônico EDcl-AREsp 715.538/SE

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Números Origem: 00036137020148250000 201311000166 201400804256 201400812241 49562014 88262014

Em Mesa Julgado: 05.11.2015

Relatora: Exma. Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti

Presidente da Sessão: Exma. Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Mônica Nicida Garcia

Secretária: Belª Teresa Helena da Rocha Basevi

autuação

Agravante: Fundação Petrobras de Seguridade Social – Petros

Advogada: Nayca Negreiros Ferreira e Outro(s)

Agravado: Thomas William Hutchinson

Advogados: Thiago D’Ávila Fernandes e outro(s) Manuela Simões Falcão Alvim de Oliveira

Assunto: Direito civil

eMbargos de deClaração

Embargante: Thomas William Hutchinson

Advogados: Thiago D’Ávila Fernandes e outro(s) Manuela Simoes Falcão Alvim de Oliveira

Embargado: Fundação Petrobras de Seguridade Social – Petros

Advogada: Nayca Negreiros Ferreira e outro(s)

Certidão

Certifico que a egrégia Quarta Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Quarta Turma, por unanimidade, recebeu os embargos de declaração como agravo regimental e negou-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1872

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoAgravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 0035048‑35.2012.4.01.0000/MG (D)Processo Orig.: 0001236‑37.2006.4.01.3807Relatora: Desembargadora Federal Maria do Carmo CardosoAgravante: Mercanorte Mercantil Norte Agroindústria Ltda. e outros(as)Advogado: Aline Marilurdes Generoso CangussuAgravado: Fazenda NacionalProcurador: Cristina Luisa Hedler

eMenta

proceSSual cIvIl – agravo regImeNtal No agravo de INStrumeNto – eXecução fIScal – peNhora de proveNtoS de apoSeNtadorIa e peNSão – ImpoSSIbIlIdade – verba de NatureZa alImeNtar – comprovação – ImpeNhorabIlIdade – art. 649, Iv e X, do cpc

1. Nos termos do art. 557 do CPC, pode o relator negar provimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de tribunal superior.

2. São absolutamente impenhoráveis, nos termos do art. 649 do Código de Processo Civil: os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo (inciso IV); até o limite de quarenta (40) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança (inciso X).

3. Necessário o desbloqueio de valores objeto de penhora on line quando comprovadamente decorrentes de proventos de aposentadoria e pensão.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

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aCórdão

Decide a Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da relatora.

Brasília/DF, 16 de outubro de 2015.

Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso Relatora

relatório

A Exma. Sra. Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso (Relatora):

Este agravo regimental foi interposto pela Fazenda Nacional à de-cisão que, nos termos do art. 557, caput, do Código de Processo Civil, deu provimento ao agravo de instrumento para determinar o desblo-queio apenas dos valores constritos que tenham origem no recebimento de pensão ou proventos de aposentadoria.

Preliminarmente, a agravante alega ser nula a decisão monocráti-ca que deu provimento ao agravo sem intimar a agravada para contra-minutar.

No mérito, sustenta, em síntese, que a decisão de 1º grau deve ser mantida pelos seus próprios fundamentos, eis que, conforme bem deci-diu o magistrado “Com relação à outra parte constrita junto ao Banco do Brasil, que alcança a cifra de R$ 18.323,69, verifica-se que, provavel-mente, resulta do acúmulo de capital decorrente dos proventos (aposen-tadoria e pensão) da executada. Desta forma tal quantia não está coberta pelo manto protetor da impenhorabilidade, tendo em vista a perda do caráter de sustento da devedora e de sua família”, a precariedade da documentação apresentada pelo agravado com o intuito de comprovar a natureza alimentar dos valores bloqueados e a necessidade da manu-tenção do bloqueio via Bacen-Jud, que teria recaído sobre valores pro-venientes de investimentos.

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Aduz que a regra de impenhorabilidade não é absoluta, e que a parte do salário ou aposentadoria do devedor que não for utilizada no mês em que recebeu os proventos pode perfeitamente ser penhorado.

Requer a reconsideração da decisão monocrática ou o provimento do agravo regimental.

É o relatório.

voto

A Exma. Sra. Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso (Relatora):

Não assiste razão à agravante no que se refere à inaplicabilidade do art. 557 do CPC, uma vez que tal dispositivo pode ser utilizado quan-do, no mérito, a tese sustentada pela parte agravante é manifestamente improcedente, como no caso em tela.

Os argumentos trazidos pela recorrente não são suficientemente hábeis para ilidir os fundamentos expostos na decisão ora impugnada.

Embora a jurisprudência do STJ tenha consolidado a orientação segundo a qual tem preferência a penhora em dinheiro, inclusive me-diante a utilização do sistema Bacen-Jud, não pode a exequente requerer a medida extrema de bloqueio de valores dos quais não sabe sequer a origem ou destinação. Os aludidos valores podem ser impenhoráveis (a exemplo dos incisos II e IV do art. 649 do CPC) ou destinados ao paga-mento de salários dos empregados de pessoa jurídica, ou, ainda, no caso de pessoa física, podem ser de natureza alimentar.

No presente caso, está devidamente comprovado, pelos documen-tos juntados às fls. 147-154 destes autos, que o bloqueio atingiu proven-tos oriundos da aposentadoria e de valores recebidos a título de pensão da agravante Maria José Mendes Coelho.

Dispõem os incisos IV e X do art. 649 do Código de Processo Civil:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:

[...]

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IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua fa-mília, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo.

[...]

X – até o limite de quarenta (40) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança;

Não há dúvida, portanto, acerca da condição de impenhorabilida-de dos respectivos valores.

Conforme ressaltado na decisão agravada, a percepção de acúmu-lo de valores em conta bancária da executada ou a realização de inves-timentos não desnaturam a impenhorabilidade das verbas recebidas a título de aposentadoria ou pensão.

O salário merece proteção constitucional, nos termos do art. 5º, LIV (ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal), e do art. 7º, X, (são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa), da Constituição de 1988.

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL – TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – AGRAVO REGIMENTAL – BLOQUEIO DE VALORES EM CONTA CORRENTE POR MEIO DO SISTEMA BACEN-JUD – VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR – IMPENHORABILIDADE – ART. 649, IV, CPC

1. Dispõe o art. 649, IV do CPC, verbis: “Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remune-rações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os hono-rários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo.”

2. No caso em exame, vê-se dos documentos acostados aos autos que os valores existentes na referida conta corrente são resíduos de aposentado-ria e possuem natureza eminentemente alimentar.

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3. “Embora legítimo o bloqueio de valores, via sistema Bacen-Jud (Lei nº 11.382/2006), tal intervenção estatal não pode alcançar verba de na-tureza alimentar ou que garanta, por exemplo, o tratamento de saúde do executado” (AGA 2008.01.00.011375-0/MG, Rel. Des. Fed. Reynaldo Soares da Fonseca, 7ª T., e-DJF1 p.444 de 26.06.2009).

4. Decisão mantida.

5. Agravo regimental não provido.

(AGA 0045598-89.2012.4.01.0000/MG, Rel. Des. Fed. Reynaldo da Fonseca, 7ª T., e-DJF1 de 08.03.2013, p. 757)

A constrição preferencial via Bacen-Jud, embora encontre guarida na legislação processual vigente e na jurisprudência, não se sobrepõe à impenhorabilidade absoluta que recai sobre os valores recebidos a título de proventos de aposentadoria e pensão, como no caso dos autos.

Além disso, deve ser observado, in casu, o princípio da proporcio-nalidade entre a restrição de eventual direito de propriedade do execu-tado e o benefício que a exequente pretende obter.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1873

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoApelação Cível nº 0023948‑66.2011.4.01.3800/MGRelator(a): Juiz Federal Francisco Renato Codevila Pinheiro FilhoApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: Adriana Maia VenturiniApelado: Holandino Pedro de AlmeidaAdvogado: Marcos Andre de Almeida e outro(a)

eMentaprevIdeNcIÁrIo – coNStItucIoNal – teto prevIdeNcIÁrIo – readequação do SalÁrIo-beNefícIo – aplIcação ImedIata do art. 14 da ec 20/1998 e art. 5º da ec 41/2003 – poSSIbIlIdade

1. Sentença julgou o pedido procedente.

2. Não há falar em decadência, considerando que a presente ação não tem por objeto a revisão do cálculo da renda mensal inicial do benefício previdenciário, mas tão somente a readequação dos valores dela resultantes (RMI) aos novos tetos limitadores estabe-lecidos pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003. Em se tratando de benefícios de natureza previdenciária, a prescrição alcança as parcelas eventualmente vencidas antes do quinquênio que precede ao ajuizamento da ação, nos termos do parágrafo único do art. 103 da Lei de Benefícios, da Súmula nº 85/STJ e da jurisprudência desta Corte.

3. O E. STF (RE 564.354, Relª Min. Carmem Lúcia, DJe de 14.02.2011) e este Tribunal (AC 0011114-71.2014.4.01.3300/BA, Rel. Juiz Federal Carlos Augusto Pires Brandão, 23.09.2015 e-DJF1 p. 361), concluíram no sentido de assegurar o direito à aplicação dos novos tetos previdenciários aos benefícios concedidos antes das ECs 20/1998 e 41/2003, as quais promoveram a elevação dos mesmos para R$ 1.200,00 e R$ 2.400,00, respectivamente.

4. Juros e correção monetária com base nos índices do Manual de Cálculos da Justiça Federal, aplicando-se o INPC após a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, tendo em vista a imprestabilida-

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de da TR – atualmente usada na remuneração das cadernetas de poupança – como índice de correção monetária de débitos ju-diciais, conforme fundamentos utilizados pelo STF no julgamen-to das ADIs 493 e 4.357/DF, e ainda pelo STJ no julgamento do REsp 1.270.439/PR, pelo rito do art. 543-C do CPC.

5. Honorários no importe de 10% sobre o valor da condenação, com a limitação da S. 111/STJ.

6. Apelação do INSS parcialmente provida para adequar juros e correção monetária, na forma da fundamentação, e reduzir a ver-ba honorária para 10% sobre o valor da condenação, na forma da S. 111/STJ.

aCórdão

Decide a Turma, por unanimidade, dar parcial provimento à ape-lação do INSS, nos termos do voto do relator.

Brasília, 28 de outubro de 2015.

Juiz Federal Francisco Renato Codevila Pinheiro Filho Relator Convocado (Portaria nº 17/2015 – CNJ Projeto de Aceleração de Julgamentos)

relatório

O Exmo. Sr. Juiz Federal Francisco Renato Codevila Pinheiro Filho (Relator Convocado):

Recorre o INSS contra a sentença que julgou procedente o pedido.

Contrarrazões apresentadas.

É o relatório.

voto

O Exmo. Sr. Juiz Federal Francisco Renato Codevila Pinheiro Filho (Relator Convocado):

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Não há falar em decadência, considerando que a presente ação não tem por objeto a revisão do cálculo da renda mensal inicial do be-nefício previdenciário, mas tão somente a readequação dos valores dela resultantes (RMI) aos novos tetos limitadores estabelecidos pelas Emen-das Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003.

Em se tratando de benefícios de natureza previdenciária, a pres-crição alcança as parcelas eventualmente vencidas antes do quinquênio que precede ao ajuizamento da ação, nos termos do parágrafo único do art. 103 da Lei de Benefícios, da Súmula nº 85/STJ e da jurisprudência desta Corte.

No mérito, trata-se de matéria já examinada por esta Corte e pelo E. STF, restando assegurado o direito à aplicação dos novos tetos previ-denciários aos benefícios concedidos antes das ECs 20/1998 e 41/2003, as quais promoveram a elevação dos mesmos para R$ 1.200,00 e R$ 2.400,00, respectivamente.

Nesse sentido:

“PREVIDENCIÁRIO – CONSTITUCIONAL – BENEFÍCIO LIMITADO AO TETO PREVISTO NO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA – PERÍODO DENOMINADO ‘BURACO NEGRO’ – READEQUAÇÃO DO SALÁRIO--DE-BENEFÍCIO – APLICAÇÃO IMEDIATA DO ART. 14 DA EC 20/1998 E DA EC 41/2003 – POSSIBILIDADE – REPERCUSSÃO GERAL NO RE 564.354 – CORREÇÃO MONETÁRIA – JUROS DE MORA – HONORÁ-RIOS ADVOCATÍCIOS – 1. Inaplicável, no caso, o instituto da decadên-cia, considerando que a presente ação não se refere à revisão do cálculo da renda mensal inicial do benefício previdenciário, mas tão somente à readequação dos valores dela resultantes (RMI), aos novos tetos limitado-res estabelecidos pelas Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003. 2. Em se tratando de benefícios de natureza previdenciária, a prescri-ção alcança as parcelas vencidas antes do quinquênio que precede o ajuizamento da ação, nos termos da Súmula nº 85/STJ, bem como da jurisprudência firmada no âmbito desta Corte. 3. A Reforma da Previ-dência Social, levada a efeito pela Emenda Constitucional nº 20/1998, modificou o teto dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social elevando-o ao patamar de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais), confor-me estabelecido em seu art. 14. Posteriormente, na segunda Reforma da Previdência Social, realizada pela Emenda Constitucional nº 41/2003, o referido teto sofreu nova majoração para o valor de R$ 2.400,00 (dois mil

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e quatrocentos reais), nos termos do seu art. 5º. 4. O Supremo Tribunal Federal, em acórdão proferido em sede de repercussão geral (art. 543-B do CPC) no julgamento do Recurso Extraordinário nº 564.354 (Relª Min. Carmem Lúcia, Julgado em 08.09.2010, DJe de 14.02.2011), firmou entendimento no sentido de que não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional nº 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional nº 41/2003 aos benefícios previdenciá-rios limitados a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo Teto Constitucional. 5. Comprovada a limitação do salário de benefício ao teto previsto no regime geral de previdência então vigente, faz jus a parte autora ao reconhecimento do direito à imediata readequação da renda mensal, considerando os novos tetos estabelecidos nas Emendas Cons-titucionais nº 20/1998 e 41/2003, ainda que a concessão do benefício previdenciário tenha ocorrido no período denominado ‘buraco negro’, conforme se verificou no caso em apreço. 6. Apelações do INSS e da parte autora desprovidas.”

(AC 0011114-71.2014.4.01.3300/BA, Rel. Juiz Federal Carlos Augusto Pires Brandão, 23.09.2015 e-DJF1 p. 361)

Juros e correção monetária com base nos índices do Manual de Cálculos da Justiça Federal, aplicando-se o INPC após a entrada em vi-gor da Lei nº 11.960/2009, tendo em vista a imprestabilidade da TR – atualmente usada na remuneração das cadernetas de poupança – como índice de correção monetária de débitos judiciais, conforme fundamen-tos utilizados pelo STF no julgamento das ADIs 493 e 4.357/DF, e ainda pelo STJ no julgamento do REsp 1.270.439/PR, pelo rito do art. 543-C do CPC.

Honorários no importe de 10% sobre o valor da condenação, com a limitação da S. 111/STJ.

Ante o exposto, dou parcial provimento ao apelo do INSS para adequar juros e correção monetária, na forma da fundamentação, e re-duzir a verba honorária para 10% sobre o valor da condenação, na for-ma da S. 111/STJ.

É o voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1874

Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoIV – Apelação/Reexame Necessário nº 2010.51.01.804671‑2Nº CNJ: 080467115.2010.4.02.5101Relator: Desembargadora Federal Simone SchreiberApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: Daniel Malaguti Bueno e SilvaApelado: Fernando Antonio FerreiraAdvogado: Luciana da Costa PereiraRemetente: Juízo Federal da 25ª Vara – RJOrigem: Vigésima Quinta Vara Federal do Rio de Janeiro (201051018046712)

eMentaprevIdeNcIÁrIo – cobraNça de parcelaS relatIvaS a beNefícIo prevIdeNcIÁrIo – maNdado de SeguraNça que determINou a revISão do pedIdo admINIStratIvo coNSIderaNdo tempo de ServIço de período trabalhado como meNor – preScrIção – INterrupção – praZo – juroS e correção moNetÁrIa – recurSo adeSIvo Não provIdo

I – A impetração do mandado de segurança interrompe o prazo prescricional para cobrança das parcelas anteriores ao seu ajuizamento e, considerando que o mandado de segurança não se presta cobrança das parcelas pretéritas, interrompido o prazo prescricional, este só voltará a correr após o trânsito em julgado da decisão que deferiu o writ.

II – O art. 4º do Decreto nº 20.910/1932 dispõe que “não corre a prescrição durante a demora que, no estudo, no reconhecimento ou no pagamento da dívida, considerada líquida, tiverem as repartições ou funcionários encarregados de estudar e apurá-la”. De outro lado, cediço que mandado de segurança não é sucedâneo de ação de cobrança, bem como que os efeitos financeiros de seu ajuizamento somente retroagem à data do ajuizamento (Súmulas nºs 269 e 271 do STF).

III – Na hipótese, não ocorreu prescrição das parcelas anteriores aos cinco anos que antecederam ao ajuizamento da ação considerando que o autor requereu o benefício de aposentadoria em 09.11.1998,

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ajuizou a ação em 2000, tendo o acórdão transitado em julgado em 2009, ocorrendo o ajuizamento da presente ação em 2010.

IV – Até a data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês, ao passo que a correção monetária deve ser calculada de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal. Após a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, passam a incidir o índice oficial de remuneração básica e os juros aplicados à caderneta de poupança, conforme dispõe o seu art. 5º.

V – Aplicação do Enunciado nº 56 da Súmula deste Tribunal, que dispõe: “É inconstitucional a expressão ‘haverá incidência uma única vez’, constante do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dado pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009”.

VI – Negado provimento à apelação do INSS, dado parcial provimento à remessa necessária e negado provimento ao recurso adesivo da parte autora.

aCórdão

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indica-das, decide a Segunda Turma Especializada do Tribunal Regional Fede-ral da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, dar parcial provimento à remessa necessária e negar provimento ao recurso adesivo, nos termos do Relatório e Voto, constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 06 de outubro de 2015 (data do Julgamento).

Simone Schreiber Relatora

relatório

Trata-se de remessa necessária e de apelação cível interposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, contra sentença de fls. 76/81, e decisão em embargos de declaração de fls. 96/97, que julgou proce-dente em parte o pedido formulado na inicial (art. 269, I, do CPC), para

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condenar o réu a pagar ao autor os atrasados do benefício previdenciário NB 111.751.326-0, compreendidos no período de 09.11.1998 (data do requerimento administrativo, fl. 75) e 12.12.2000, dia anterior ao ajuiza-mento do Mandado de Segurança nº 2000.51.01.5316700.

O mandamus citado, havia concedido parcialmente a segurança para determinar ao INSS que revisse o processo de aposentadoria do impetrante que havia sido indeferido, passando a considerar o tempo de serviço do período trabalhado como menor.

Sustentou o autor que passou a receber o benefício a partir de 13.12.2000, sendo que, o INSS não pagou o período compreendido en-tre 09.11.1998 e 12.12.2000.

Restou determinado na sentença que as parcelas serão corrigidas mês a mês pelos índices oficiais da Previdência Social até 12.12.2000, quando então serão somadas; e que o resultado do somatório (parcela única) deverá ser corrigido monetariamente pela Tabela de Precatórios da Justiça Federal até 29.06.2009. A partir de 30.06.2009, nos termos do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (redação dada pela Lei nº 11.960/2009), a atualização será feita apenas pela aplicação conjunta dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados às cadernetas de poupança.

Foi o INSS condenado, ainda, ao pagamento de honorários advo-catícios fixados em 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do parágrafo único do art. 21 do CPC.

Em razões de apelação a Autarquia previdenciária argumentou que a intimação, em via de mandado de segurança, não interrompe a prescrição; ou seja, “uma vez que a DIB do autor ocorreu em 1998, o ajuizamento do mandado de segurança em 2000 e a presente ação em 2010, houve prescrição dos valores pleiteados pela parte autora”.

Aduziu o INSS que “mesmo que eventualmente a parte autora te-nha razão quanto ao mérito, ainda assim, a Autarquia não deverá pagar as parcelas eventualmente devidas uma vez que, nos termos do art. 103 da Lei nº 8.213/1991, já foram fulminadas pela prescrição”.

E ainda: “quando se trata de Mandado de Segurança, não há cita-ção. Sendo assim, não há que se falar em pagamento de atrasados, visto

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que os esses valores estão prescritos, uma vez que somente a citação válida conduz à interrupção do prazo prescricional”. (sic)

Contrarrazões às fls. 107/111.

A parte autora apresentou recurso adesivo de apelação, pugnando pela reforma da sentença no sentido de se deferir a correção monetá-ria das parcelas do benefício pelo índice aplicável aos benefícios previ-denciários também ao período de 12.12.2000 a 29.06.2009, a partir de quando incidiriam as disposições do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997.

O Ministério Público Federal restituiu os autos não vislumbrando interesse público a ensejar sua intervenção (fls. 124/125).

É o relatório. Peço dia.

Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2015.

Simone Schreiber Relatora

voto

Conheço da apelação, eis que presentes seus requisitos de admis-sibilidade, e da remessa necessária, na forma da Súmula nº 490 do STJ.

Conforme relatado, cuida-se de remessa necessária e de apela-ção cível interposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, contra sentença de fls. 76/81, e decisão em embargos de declaração de fls. 96/97, que julgou procedente em parte o pedido formulado na ini-cial (art. 269, I, do CPC), para condenar o réu a pagar ao autor os atra-sados do benefício previdenciário NB 111.751.3260, compreendidos no período de 09.11.1998 (data do requerimento administrativo, fl. 75) e 12.12.2000, dia anterior ao ajuizamento do Mandado de Segurança nº 2000.51.01.5316700.

O mandamus citado, havia concedido parcialmente a segurança para determinar ao INSS que revisse o processo de aposentadoria do impetrante que havia sido indeferido, passando a considerar o tempo de serviço do período trabalhado como menor.

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Passo a analisar o recurso interposto pelo INSS quanto à alegação de prescrição e à remessa necessária. Posteriormente, procedo à análise do recurso adesivo do autor.

Buscava o autor o recebimento dos valores atrasados compreen-didos entre a data em que requereu o benefício administrativamente (09.11.1998) e a data do ajuizamento do mandado de segurança (Proc. 2000.51.01.5316700, impetrado em 13.12.2000), em feito em que fora determinado que o réu promovesse a revisão do procedimento admi-nistrativo considerando a certidão emitida pela Autarquia. Aduziu que passou a receber o benefício a partir de 13.12.2000, sendo que, o INSS não pagou o período compreendido entre 09.11.1998 e 12.12.2000. Requereu juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, e a condenação do réu aos ônus de sucumbência.

A sentença apelada afastou a prescrição quinquenal arguida pelo INSS, sob o fundamento de que “o autor propôs mandado de segurança em 13.12.2000 (fl. 21), com sentença (fls. 22/24) transitada em julgado em 30.11.2009 (fl. 21), na qual concedeu parcialmente a segurança para que a Autarquia revisse o processo de aposentadoria do autor, que havia sido indeferido, considerando-se o tempo de serviço da certidão emitida pelo próprio órgão. Dessa forma, não há que se falar em prescrição, pois o mandado de segurança interrompeu a prescrição, não havendo que se falar em inércia do autor”.

A matéria posta em discussão foi amplamente analisado pelo Juízo de primeiro grau, sendo que os fundamentos que embasaram a decisão meritória sequer foram impugnados pelo apelante.

Pleiteia o INSS a reforma da r. sentença exclusivamente no que toca à observância da prescrição.

Sem razão o apelante.

Como se extrai dos autos, o segurado ajuizou mandado de se-gurança, (Processo nº 2000.51015316700), requerendo o benefício de aposentadoria ante o indeferimento do pedido administrativo ocorrido em 09.11.1998.

No processo citado o Juízo a quo determinou ao INSS que revisse o processo de aposentadoria do impetrante que havia sido indeferido,

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passando a considerar o tempo de serviço do período trabalhado como menor.

Na certidão de fl. 21 emitida pela Secretaria da 39ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, consta que a decisão do Mandado de Segurança nº 2000.5101.5316700, prolatada por esta e. Corte, publi-cada no Órgão Oficial do Diário da Justiça no dia 01.10.2009, transitou em julgado em 30.11.2009.

Em 25.05.2010 o segurado ajuizou a presente demanda para plei-tear o pagamento das parcelas vencidas do período de 09.11.1998 a 13.12.2000.

O art. 4º do Decreto nº 20.910/1932 dispõe que “não corre a pres-crição durante a demora que, no estudo, no reconhecimento ou no pa-gamento da dívida, considerada líquida, tiverem as repartições ou fun-cionários encarregados de estudar e apurá-la”.

De outro lado, cediço que mandado de segurança não é sucedâ-neo de ação de cobrança, bem como que os efeitos financeiros de seu ajuizamento somente retroagem à data do ajuizamento (Súmulas nºs 269 e 271 do STF).

Desta forma não ocorreu prescrição das parcelas anteriores aos cinco anos que antecederam ao ajuizamento da ação, considerando que o autor requereu o benefício de aposentadoria em 09.11.1998, ajuizou a ação em 2000, tendo o acórdão transitado em julgado em 2009, ocor-rendo o ajuizamento da presente ação em 2010.

Nesse sentido, confira-se acórdão do c. Superior Tribunal de Jus-tiça:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – RECURSO ESPECIAL – ACÓRDÃO RECORRIDO – OMISSÃO – INEXISTÊNCIA – MANDADO DE SEGURANÇA – INTERRUPÇÃO – PRESCRIÇÃO – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL – NÃO CARACTERIZAÇÃO

I – O acórdão não padece de qualquer omissão, tendo amplamente apre-ciado a matéria em debate, tornando possível sua análise em sede de recurso especial.

II – A impetração do mandado de segurança interrompe e suspende a fluência do prazo prescricional de molde que, tão somente após o trânsi-to em julgado da decisão nele proferida, é que voltará a fluir a prescrição

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da ação ordinária para cobrança das parcelas referentes ao quinquênio que antecedeu a propositura do writ.

III – O recurso não merece admissão quanto ao dissenso pretoriano, por-quanto não demonstrada a identidade fática das situações em confronto, e a diferente interpretação atribuída à lei federal. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.”

(STJ, REsp 634518, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., DJ 02.08.2004, p. 566)

Cabível transcrever excerto do aresto supramencionado para me-lhor elucidar o tema em discussão:

“[...]

Não obstante interrompa a prescrição, o mandado de segurança não se presta ao adimplemento das parcelas anteriores à impetração, as quais deverão ser posteriormente cobradas administrativa ou judicialmente, consoante preconiza a Súmula nº 271 do Pretório Excelso: ‘Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.’

De outra parte, dispõe o art. 4º do Decreto nº 20.910/1932, verbis:

‘Art. 4º Não corre a prescrição durante a demora que, no estudo, no reconhecimento ou no pagamento da dívida, considerada líqui-da, tiverem as repartições ou funcionários encarregados de estudar e apurá-la.

Parágrafo único. A suspensão da prescrição, neste caso, verificar-se-á pela entrada do requerimento do titular do direito ou do credor nos livros ou protocolos das repartições públicas, com designação do dia, mês e ano.’

O dispositivo supra deve ser aplicado à espécie, o que corresponde a dizer que, durante a tramitação do mandado de segurança, a prescrição ficará suspensa.

Entendimento contrário, em muitos casos, afastaria a possibilidade da cobrança das parcelas anteriores à impetração do writ, porquanto pres-critas. Fugiria, também, da razoabilidade e lógica jurídicas, além de não coadunar com a celeridade e economia processuais, porquanto condu-ziria à necessidade do ajuizamento simultâneo do mandamus e de ação ordinária de cobrança.

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Em síntese, a questão pode ser assim resumida: a impetração do manda-do de segurança interrompe e suspende a fluência do prazo prescricio-nal de molde que, tão somente após o trânsito em julgado da decisão nele proferida, é que voltará a fluir a prescrição da ação ordinária para cobrança das parcelas referentes ao quinquênio que antecedeu a propo-situra do writ.

[...]”

Destarte não procedem os argumentos lançados pela autarquia previdenciária.

Passa-se à análise do recurso adesivo apresentado pelo autor.

Requereu o autor a reforma da sentença para que fosse deferi-da a correção monetária das parcelas do benefício pelo índice aplicá-vel aos benefícios previdenciários também ao período de 12.12.2000 a 29.06.2009, a partir de quando deveriam incidir as disposições do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997.

No tocante à aplicação de juros e correção monetária acrescidos sobre os valores em atraso, cabem algumas considerações.

Com efeito, a Corte Especial do STJ, no julgamento do Recurso Especial repetitivo nº 1.205.946/SP (DJe 02.02.2012), de relatoria do Ministro Benedito Gonçalves, assentou a compreensão de que art. 5º da Lei nº 11.960/2009, por se tratar de norma de caráter eminentemente processual, deve ser aplicado de imediato aos processos em curso, sem, contudo, retroagir a período anterior à sua vigência.

Dessa forma, até a data da entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios, contados a partir da citação, devem ser fixados em 1% ao mês, ao passo que a correção monetária deve ser calculada de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal. Após a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, passam a incidir o índice oficial de remu-neração básica e os juros aplicados à caderneta de poupança, conforme dispõe o seu art. 5º.

Ainda sobre o tema, deve ser aplicado o Enunciado nº 56 da Sú-mula deste Tribunal Regional da 2ª Região, que dispõe que: “É incons-titucional a expressão ‘haverá incidência uma única vez’, constante do

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art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dado pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009”.

Outrossim, é de se salientar que, em sessão ocorrida em 16.04.2015, o e. STF reconheceu a repercussão geral do regime de atualização mo-netária e juros moratórios incidentes sobre as condenações judiciais da Fazenda Pública, conforme disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009. Contudo, a ques-tão ainda está pendente de julgamento no âmbito do RE 870.947 RG/SE.

Diante do exposto, nego provimento à apelação do INSS, dou par-cial provimento à remessa necessária, e nego provimento ao recurso adesivo da parte autora, para reformar parcialmente a r. sentença, quan-to aos índices de correção monetária e juros de mora, observado o Enun-ciado nº 56 da Súmula desta Corte, nos termos da fundamentação supra.

É como voto.

Simone Schreiber Relatora

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1875

Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoAgravo Legal em Apelação Cível nº 0020270‑74.2015.4.03.9999/SP2015.03.99.020270‑8/SPRelator: Desembargador Federal Paulo DominguesApelante: Marlene Candido FernandesAdvogado: SP181671 Luciano Calor CardosoApelado(a): Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: Leonardo Moulin PenidoAdvogado: SP000030 Hermes Arrais AlencarAgravada: Decisão de folhasNº Orig.: 10048253720148260597 3ª Vr. Sertãozinho/SP

eMentaagravo legal – prevIdeNcIÁrIo – correção moNetÁrIa – obServÂNcIa do maNual de cÁlculoS da juStIça federal – adIN 4357 e 4425 – INcoNStItucIoNalIdade da tr lImItada ao período de tramItação do precatÓrIo – íNdIceS vIgeNteS Na data da elaboração do cÁlculo – INocorrêNcIa de afroNta À coISa julgada

1. As parcelas vencidas deverão ser corrigidas monetariamente e acrescidas de juros de mora, a partir da citação e observado o prazo prescricional de cinco anos, de acordo com os critérios fixados no manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal.

2. A adoção dos índices estabelecidos no Manual de Cálculos da Justiça Federal para a elaboração da conta de liquidação é medida de rigor, porquanto suas diretrizes são estabelecidas pelo Conselho da Justiça Federal observando estritamente os ditames legais e a jurisprudência dominante, objetivando a unificação dos critérios de cálculo a serem adotados na fase de execução de todos os processos sob a sua jurisdição.

3. A correção monetária deve ser aplicada de forma integral, garantindo ao credor o recebimento do crédito atualizado desde a data em que devido até a do efetivo pagamento. A jurisprudência é dinâmica e se consolida com as decisões que são proferidas ao longo do tempo pelos tribunais superiores acerca da forma de correção

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mais real possível das dívidas reconhecidas judicialmente, a fim de reparar as injustiças da forma mais efetiva. O congelamento da forma de correção, da forma com que pretende o agravante, somente promoveria injustiças, contra o autor ou contra o réu, em caso de futuro reconhecimento da aplicação de outros índices forma de correção monetária, e apenas perpetuaria a discussão em Juízo. Remeter a forma de atualização ao Manual de Cálculos é benéfico para as partes e para a segurança jurídica.

4. Agravo legal não provido.

aCórdão

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indica-das, decide a Egrégia Sétima Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento ao agravo, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 26 de outubro de 2015.

Paulo Domingues Desembargador Federal

relatório

Trata-se de agravo legal interposto pelo Instituto Nacional do Se-guro Social – INSS em face de decisão monocrática de fls. 103/106 que, com fulcro no art. 557, § 1º-A, do CPC, deu parcial provimento à apela-ção da parte autora.

Requer a reforma da decisão no tocante aos índices de correção monetária a serem aplicados na atualização do débito, ao fundamento que o Manual de Cálculos da Justiça Federal em vigor afasta a aplicação do art. 5º da Lei nº 11.960/2009 inclusive nos períodos anterior e pos-terior à sua inscrição em precatório, estando, portanto, em dissonância com o decidido pelo Supremo Tribunal Federal nas ADIs 4357 e 4425 que, diante da ofensa à norma do § 12 do art. 100 da Constituição Fe-deral, declarou a inconstitucionalidade da TR (Taxa Referencial) tão so-mente durante o período de tramitação daquele.

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Sustenta, por fim, que o afastamento retroativo da Lei nº 11.960/2009 do cálculo da correção monetária no período que pre-cede a inscrição do débito em precatório depende de declaração de inconstitucionalidade ex tunc da norma pelo STF, o que não ocorreu na espécie.

É o relatório.

Apresento o feito em mesa.

voto

As razões de mérito ventiladas no presente recurso são incapazes de infirmar a decisão impugnada, pelo que submeto o trecho combatido à apreciação deste colegiado:

“A correção monetária e os juros de mora devem ser aplicados de acordo com os critérios fixados no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal.”

Insta esclarecer que não desconhece este Relator o alcance e abrangência da decisão proferida nas ADIs 4.357 e 4.425, nem tam-pouco a modulação dos seus efeitos pelo STF ou a repercussão geral reconhecida no RE 870.947 pelo E. Ministro Luiz Fux no tocante à cons-titucionalidade da TR como fator de correção monetária do débito fa-zendário no período anterior à sua inscrição em precatório.

Contudo, a adoção dos índices estabelecidos no Manual de Cálcu-los da Justiça Federal para a elaboração da conta de liquidação é medida de rigor, porquanto suas diretrizes são estabelecidas pelo Conselho da Justiça Federal observando estritamente os ditames legais e a jurispru-dência dominante, objetivando a unificação dos critérios de cálculo a serem adotados na fase de execução de todos os processos sob a sua jurisdição.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo legal.

Paulo Domingues Desembargador Federal

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1876

Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação Cível nº 5037472‑49.2015.4.04.9999/PRRelatora: Juíza Federal Carla Evelise Justino HendgesApelante: GMA Ind. e Com. de Artefatos Plásticos e Metais Ltda.Advogado: Viviane de Carvalho Lima

Paulo Henrique Berehulka Rafael Augusto Buch Jacob

Apelante: União – Fazenda NacionalApelado: Os Mesmos

eMenta

eXecução fIScal – embargoS – remeSSa ofIcIal – INterpoSIção de ofícIo – coNtrIbuIção prevIdeNcIÁrIa – afaStameNto por motIvo de doeNça ou acIdeNte (quINZe prImeIroS dIaS) – avISo-prévIo INdeNIZado – férIaS – terço coNStItucIoNal de férIaS – décImo terceIro SalÁrIo – repouSo SemaNal remuNerado – SalÁrIo- -materNIdade – cda – eXceSSo de eXecução – adequação medIaNte SImpleS cÁlculo

1. A sentença está sujeita ao reexame necessário, porquanto o valor da dívida ativa executada excede o limite de sessenta salários mínimos.

2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pacificou-se no sentido de que não é devida a contribuição previdenciária sobre a remuneração paga pelo empregador ao empregado durante os primeiros quinze dias de afastamento por motivo de doença ou acidente, porquanto essa verba não possui natureza salarial.

3. Diante da natureza indenizatória, é indevida a incidência de contribuição previdenciária sobre as verbas pagas a título de aviso- -prévio indenizado.

4. O valor pago a título de férias indenizadas, inclusive o respectivo terço constitucional, constitui verba indenizatória não sujeita à contribuição previdenciária. A inexigibilidade da cobrança, aliás, está expressamente prevista no art. 28, § 9º, alínea d, da Lei nº 8.212/1991. Em situações ordinárias, porém, em que há o efetivo gozo do direito, a verba se reveste de indubitável caráter

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salarial, conforme previsão constitucional do art. 7º, inciso XVII, devendo, pois, nestes casos, incidir contribuição previdenciária.

5. Face à natureza indenizatória, é indevida a contribuição previdenciária sobre o terço constitucional de férias.

6. A teor da Súmula nº 207 do STF, o décimo terceiro salário possui natureza salarial, o que, aliás, não se transmuta pelo fato de ser pago quando da extinção do contrato de trabalho, uma vez que tem por base o número de meses efetivamente trabalhados.

7. Tratando-se de verba essencialmente remuneratória, tem o empregador o dever de recolher contribuição previdenciária sobre o repouso semanal remunerado.

8. Do art. 7º da Constituição Federal, infere-se que salário e salário- -maternidade têm a mesma natureza, diferindo o nomen juris apenas por este ser percebido durante o afastamento motivado pela gravidez da segurada. Ademais, a teor do art. 28, § 2º, da Lei nº 8.212/1991, considera-se tal benefício previdenciário como remuneração paga à segurada.

9. Havendo incidência da contribuição sobre valores que não podem ser por ela tributados, a solução é o reconhecimento de excesso de execução e a adequação do montante mediante simples cálculo. A liquidez e exigibilidade do título mantêm-se hígidas, não havendo causa para extinção da execução. Precedentes do STJ.

aCórdão

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indi-cadas, decide a Egrégia 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento à remessa oficial, tida por interposta, e à apelação da União e dar parcial provimento à apelação da parte embargante, nos termos do relatório, votos e notas de julgamen-to que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 27 de outubro de 2015.

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Juíza Federal Carla Evelise Justino Hendges Relatora

relatório

GMA Indústria e Comércio de Artefatos Plásticos e Metais Ltda. opôs embargos contra execução fiscal movida pela União Federal para cobrança de débitos no importe de R$ 2.877.383,26.

Sobreveio sentença, exarada nos seguintes termos:

Diante do exposto, julga(m)-se:

a) extinto o processo, sem resolução do mérito, no que tange ao pedido de alteração da base de cálculo do FGTS, por ausência de interesse processual, na forma do art. 267, inciso VI, do Código de Processo Civil;

b) parcialmente procedentes os embargos à execução fiscal opostos por GMA Indústria e Comércio de Artefatos Plásticos e Metais Ltda. contra a União Federal, a fim de reconhecer o excesso de execução, excluin-do da base de cálculo da contribuição previdenciária o auxílio-doen-ça/acidente nos primeiros 15 (quinze) dias, as férias indenizadas e o terço constitucional de férias.

Condena-se a embargante ao pagamento integral das custas processuais. No que tange aos honorários advocatícios, estes já estão compreendidos no Decreto-Lei nº 1.025/1969.

Em suas razões de apelação, sustentou a embargante não incidir contribuição previdenciária sobre o aviso prévio indenizado, sobre o salário maternidade, sobre o descanso semanal remunerado, sobre as férias usufruídas e sobre o 13º salário. Apontou a nulidade da CDA em face do excesso.

Por sua vez, também em sede de apelação, sustentou a União a ilegitimidade da embargante para discutir os débitos constantes na CDA 41.679.849-7. Defendeu a incidência de contribuição previdenciária so-bre os valores pagos nos quinze primeiros dias de afastamento por moti-vo de doença/acidente, sobre o terço constitucional de férias e sobre as férias indenizadas.

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Com as contrarrazões, vieram os autos a esta Corte.

É o relatório.

voto

remeSSa ofIcIal

Tenho por interposta a remessa oficial, forte no art. 475, II, do CPC (Súmula nº 423 do STF), haja vista a dívida ativa executada (R$ 2.877.383,26) ser de valor superior a sessenta salários mínimos.

legItImIdade

Aponta a Fazenda a ilegitimidade da embargante para discutir os débitos constantes na CDA 41.679.849-7. Argumenta que, como ela ocupa a condição de substituta tributária, não figura como contribuinte, razão pela qual não possui interesse em discutir a base de cálculo da contribuição dos segurados empregados/individuais.

Contudo, vale observar que a contribuição previdenciária prevista na Lei nº 8.212/1991, tanto aquela a cargo da empresa como a do em-pregado, possui a mesma base de cálculo, de modo que os efeitos do afastamento do tributo sobre determinada rubrica se estendem a ambas as contribuições.

Com efeito, a extensão da declaração de não incidência da con-tribuição previdenciária patronal sobre verbas de natureza indenizató-ria para àquela a cargo do empregado decorre justamente do fato de a empresa embargante estar enquadrada perante os órgãos fiscais como responsável tributária pelo recolhimento da exação.

Sublinhe-se que é a embargante que está sendo executada pela falta de recolhimento da contribuição. Restam, pois, demonstrados seu interesse e legitimidade no presente feito.

coNtrIbuIção prevIdeNcIÁrIa Sobre oS valoreS pagoS pelo empregador NoS quINZe prImeIroS dIaS de afaStameNto do empregado por motIvo de doeNça ou acIdeNte

Já está pacificado no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que não incide contribuição previdenciária sobre os valores pagos

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pelo empregador relativamente aos quinze primeiros dias da licença, o que torna dispensável maior fundamentação.

Com efeito, o pagamento recebido pelo empregado incapacitado nos primeiros quinze dias após o afastamento da atividade, embora su-portado pelo empregador, representa verba decorrente da inatividade, não possuindo natureza salarial.

Acerca do tema, transcrevo os seguintes precedentes do STJ:

TRIBUTÁRIO – ART. 4º, PARTE FINAL, DA LC 118/2005 – INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE NO ERESP 644.736/PE – TRIBUTO IN-DEVIDO RECOLHIDO ANTES DA VIGÊNCIA DAS NORMAS QUE IM-PÕEM LIMITE À COMPENSAÇÃO – APLICABILIDADE DAS NORMAS SUPERVENIENTES – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – AUXÍLIO--DOENÇA – PRIMEIRA QUINZENA DE AFASTAMENTO – NÃO INCI-DÊNCIA

[...]

3. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de que não deve incidir contribuição previdenciária sobre o auxílio-doença pago pelo em-pregador nos quinze primeiros dias de afastamento.

[...]

(EDcl-REsp 1126369/DF, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe 22.06.2010)

TRIBUTÁRIO – REPETIÇÃO DE INDÉBITO – PRESCRIÇÃO – APLICA-ÇÃO RETROATIVA DO ART. 3º DA LC 118/2005 – INCONSTITUCIO-NALIDADE – MATÉRIA APRECIADA SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – AUXÍLIO-DOENÇA E TER-ÇO DE FÉRIAS – NÃO INCIDÊNCIA

[...]

3. O STJ pacificou entendimento de que não incide Contribuição Previ-denciária sobre a verba paga pelo empregador ao empregado durante os primeiros quinze dias de afastamento por motivo de doença, porquanto não constitui salário.

[...]

(AgRg-Ag 1239115/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 30.03.2010)

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TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – REPETIÇÃO DE INDÉBITO – TRI-BUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO – PRESCRI-ÇÃO – ART. 4º DA LC 118/2005 – DETERMINAÇÃO DE APLICAÇÃO RETROATIVA – DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE – CONTROLE DIFUSO – CORTE ESPECIAL – RESERVA DE PLENÁRIO – DIREITO INTERTEMPORAL – FATOS GERADORES ANTERIORES À LC 118/2005 – APLICAÇÃO DA TESE DOS “CINCO MAIS CINCO” – RE-CURSO ESPECIAL REPETITIVO RESP Nº 1.002.932/SP – APLICAÇÃO DO ART. 543-C DO CPC – AUXÍLIO-DOENÇA – VERBAS RECEBIDAS NOS 15 (QUINZE) PRIMEIROS DIAS DE AFASTAMENTO – NÃO INCI-DÊNCIA – SALÁRIO-MATERNIDADE – NATUREZA JURÍDICA – INCI-DÊNCIA

[...]

3. “O auxílio-doença pago até o 15º dia pelo empregador é inalcançá-vel pela contribuição previdenciária, uma vez que referida verba não possui natureza remuneratória, inexistindo prestação de serviço pelo empregado, no período. Precedentes: EDcl-REsp 800.024/SC, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 10.09.2007; REsp 951.623/PR, Rel. Min. José Delgado, DJ 27.09.2007; REsp 916.388/SC, Rel. Min. Castro Meira, DJ 26.04.2007” (AgRg-REsp 1039260/SC, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., DJe 15.12.2008).

[...]

(AgRg-REsp 1107898/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., DJe 17.03.2010)

Como se vê, indevida a contribuição previdenciária sobre a re-muneração paga pelo empregador ao empregado durante os primeiros quinze dias de afastamento por motivo de doença ou acidente.

avISo-prévIo INdeNIZado

A Lei nº 8.212/1991 excluía expressamente o aviso-prévio indeni-zado do salário-de-contribuição, nos seguintes termos:

Art. 28. [...]

§ 9º Não integram o salário-de-contribuição:

[...]

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e) a importância recebida a título de aviso-prévio indenizado, férias in-denizadas, indenização por tempo de serviço e indenização a que se refere o art. 9º da Lei nº 7.238, de 29 de outubro de 1984;

Posteriormente, a Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de 1997, re-vogou tal dispositivo. No entanto, a exclusão ainda permaneceu no or-denamento, em face do contido no Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999, que assim dispõe:

Art. 214. [...]

§ 9º Não integram o salário-de-contribuição, exclusivamente:

[...]

V – as importâncias recebidas a título de:

[...]

f) aviso-prévio indenizado;

Em 12.01.2009, sobreveio o Decreto nº 6.727, que revogou a alí-nea f do inciso V do § 9º do art. 214 do Decreto nº 3.048/1999. Assim, deixou de haver no ordenamento jurídico previsão expressa para a ex-clusão do aviso-prévio indenizado do salário-de-contribuição.

Entretanto, entendo seja indevida a incidência da contribuição previdenciária sobre as verbas pagas a título de aviso-prévio indenizado, diante da sua natureza indenizatória.

Com efeito, como a dispensa de cumprimento do aviso objetiva disponibilizar mais tempo ao empregado para a procura de novo empre-go, não pode o aviso-prévio indenizado ser enquadrado como salário. Aliás, em razão de sua eventualidade, também ajusta-se à previsão inser-ta no art. 28, § 9º, alínea e, item 7, da Lei nº 8.212/1991, não devendo, também por tal razão, integrar o salário-de-contribuição.

Nesse sentido, colaciono o seguinte precedente deste Regional:

TRIBUTÁRIO – AGRAVO LEGAL – PRAZO PRESCRICIONAL – LC 118/2005 – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – AVISO-PRÉVIO INDENIZADO – AUXÍLIO-DOENÇA

[...]

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4. O aviso-prévio indenizado, sendo verba indenizatória paga em virtu-de de rescisão contratual, não está sujeito a incidência de contribuição previdenciária.

[...]

(Agravo Legal em Apelação/Reexame Necessário nº 000876257200 94047108, 1ª T., Des. Fed. Álvaro Eduardo Junqueira, por unanimidade, DE 28.10.2010)

Assim, estão a salvo da incidência da contribuição previdenciária as verbas referentes ao aviso-prévio indenizado. Merece, pois, reforma a sentença nesse ponto.

coNtrIbuIção prevIdeNcIÁrIa Sobre férIaS

O valor pago a título de férias não gozadas (indenizadas), inclusive o respectivo terço constitucional, constitui verba indenizatória não sujei-ta à contribuição previdenciária.

A inexigibilidade da cobrança, aliás, está expressamente prevista na legislação de regência, o que de fato se constata pelo simples exame do disposto no art. 28, § 9º, alínea d, da Lei nº 8.212/1991, que assim dispõe:

Art. 28. [...]

§ 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei, exclu-sivamente:

d) as importâncias recebidas a título de férias indenizadas e respectivo adicional constitucional, inclusive o valor correspondente à dobra da remuneração de férias de que trata o art. 137 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT;

Em situações ordinárias, porém, em que há o efetivo gozo do direi-to, a verba se reveste de indubitável caráter salarial, conforme previsão constitucional do art. 7º, inciso XVII, que a seguir transcrevo:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

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XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; (grifei)

Portanto, em relação às férias gozadas, deve ser mantida a inci-dência da contribuição previdenciária.

terço coNStItucIoNal de férIaS

Como já visto no tópico anterior, o valor pago a título de férias não gozadas (indenizadas), inclusive o respectivo terço constitucional, constitui verba indenizatória não sujeita à contribuição previdenciária.

Segundo a atual orientação da 1ª Seção do STJ, consolidada no REsp 1.230.957/RS (DJ de 18.03.2014), também o adicional concernen-te às férias gozadas possui natureza indenizatória/compensatória, por-tanto, não passível de contribuição previdenciária. O respectivo acórdão restou assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL – RECURSOS ESPECIAIS – TRIBUTÁRIO – CONTRI-BUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA – REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL – DISCUSSÃO A RESPEITO DA INCIDÊNCIA OU NÃO SOBRE AS SEGUINTES VERBAS: TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS; SALÁRIO-MATERNIDADE; SALÁRIO-PATERNIDADE; AVI-SO-PRÉVIO INDENIZADO; IMPORTÂNCIA PAGA NOS QUINZE DIAS QUE ANTECEDEM O AUXÍLIO-DOENÇA

[...]

1.2 Terço constitucional de férias.

No que se refere ao adicional de férias relativo às férias indenizadas, a não incidência de contribuição previdenciária decorre de expressa pre-visão legal (art. 28, § 9º, d, da Lei nº 8.212/1991 – redação dada pela Lei nº 9.528/1997).

Em relação ao adicional de férias concernente às férias gozadas, tal im-portância possui natureza indenizatória/compensatória, e não constitui ganho habitual do empregado, razão pela qual sobre ela não é possível a incidência de contribuição previdenciária (a cargo da empresa). A Pri-meira Seção/STJ, no julgamento do AgRg-EREsp 957.719/SC (Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJe de 16.11.2010), ratificando entendimento das Turmas de Direito Público deste Tribunal, adotou a seguinte orientação: “Jurisprudência das Turmas que compõem a Primeira Seção desta Corte consolidada no sentido de afastar a contribuição previdenciária do ter-

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ço de férias também de empregados celetistas contratados por empresas privadas”.

[...]

(EREsp 1.230.957/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 1ª S., Julgado em 26.02.2014).

Assim, face à natureza indenizatória, é indevida a contribuição previdenciária sobre o terço constitucional de férias.

décImo terceIro SalÁrIo

É pacífico o entendimento de que o décimo terceiro salário, embo-ra não corresponda a uma contraprestação, tem natureza remuneratória. Nesse sentido é o teor das Súmulas nºs 207 e 688 do Supremo Tribunal Federal, que assim dispõem:

Súmula nº 207

As gratificações habituais, inclusive a de Natal, consideram-se tacitamen-te convencionadas, integrando o salário.

Súmula nº 688

É legítima a incidência da contribuição previdenciária sobre o 13º sa-lário.

Sublinhe-se que a natureza salarial do décimo terceiro salário não se transmuta pelo fato de ser pago quando da extinção do contrato de trabalho. Como tem por base o número de meses efetivamente trabalha-dos, essa verba não se torna indenizatória.

repouSo SemaNal remuNerado

A remuneração dos dias de repouso, tanto o semanal como o cor-respondente aos feriados, integra o salário para todos os efeitos legais e com ele deve ser paga. Para ilustrar o caráter remuneratório dessa verba, transcrevo o teor da Súmula nº 172 do TST:

Computam-se no cálculo do repouso remunerado as horas extras habi-tualmente prestadas.

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Assim, tratando-se de verba essencialmente remuneratória, tem o empregador o dever de recolher contribuição previdenciária sobre o re-pouso semanal remunerado.

coNtrIbuIção prevIdeNcIÁrIa Sobre SalÁrIo-materNIdade

Com relação ao salário-maternidade, também não assiste ra-zão à parte embargante. Do art. 7º da Constituição Federal, infere-se que salário e salário-maternidade têm a mesma natureza, diferindo o nomen juris apenas por este ser percebido durante o afastamento moti-vado pela gravidez da segurada. Ademais, a teor do art. 28, § 2º, da Lei nº 8.212/1991, considera-se tal benefício previdenciário como remune-ração paga à segurada. Assim, configurada a natureza salarial das referi-das verbas, forçoso concluir que sobre elas incide a exação em comento.

Nesse sentido, colaciono os seguintes julgados deste Regional:

TRIBUTÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA – CONTRIBUIÇÃO PRE-VIDENCIÁRIA – SALÁRIO-MATERNIDADE – As verbas alcançadas às trabalhadoras a título de salário-maternidade, a despeito de constituí-rem ônus do INSS, integram a base de cálculo das contribuições previ-denciárias patronais, consoante se extrai do disposto nos arts. 7º, XVIII, da CF, e 28, § 2º, da Lei nº 8.212/1991, bem como da própria nature-za salarial ínsita à prestação. (TRF 4ª R., Apelação Cível nº 5008727-33.2014.404.7206, 2ª T., Juíza Federal Cláudia Maria Dadico, por una-nimidade, juntado aos Autos em 05.08.2015)

TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – SALÁRIO-MATER-NIDADE – FÉRIAS GOZADAS – TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS – AUXÍLIO-DOENÇA – PRIMEIROS QUINZE DIAS DE AFASTAMENTO – AVISO-PRÉVIO INDENIZADO – AUXÍLIO-CRECHE/BABÁ – VALE--TRANSPORTE – 1. O salário-maternidade, nos termos do julgamento do REsp 1230957/RS, sujeito ao regime previsto no art. 543-C do CPC, tem natureza salarial e integra a base de cálculo da contribuição previ-denciária. [...] (TRF 4ª R., Apelação/Reexame Necessário nº 5005628-28.2014.404.7215, 1ª T., Des. Fed. Jorge Antonio Maurique, Por Unani-midade, Juntado aos Autos em 25.06.2015)

cda

Havendo incidência da contribuição sobre valores que não po-dem ser por ela tributados, a solução é o reconhecimento de excesso

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de execução e a adequação do montante mediante simples cálculo. A liquidez e exigibilidade do título mantêm-se hígidas, não havendo causa para extinção da execução. Nesse sentido é o entendimento jurispruden-cial do STJ:

PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – EMBARGOS À EXECU-ÇÃO FISCAL – INEXIGIBILIDADE PARCIAL DO TÍTULO EXECUTIVO – ILIQUIDEZ AFASTADA ANTE A NECESSIDADE DE SIMPLES CÁLCU-LO ARITMÉTICO PARA EXPURGO DA PARCELA INDEVIDA DA CDA – PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL POR FORÇA DA DECI-SÃO, PROFERIDA NOS EMBARGOS À EXECUÇÃO, QUE DECLAROU O EXCESSO E QUE OSTENTA FORÇA EXECUTIVA – DESNECESSIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA CDA

[...] a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, em se tra-tando de revisão do lançamento, pelo Poder Judiciário, que acarrete a exclusão de parcela indevida da base de cálculo do tributo, o excesso de execução não implica a decretação da nulidade do título executivo ex-trajudicial, mas tão somente a redução do montante ao valor tido como devido, quando o valor remanescente puder ser apurado por simples cál-culos aritméticos, como no caso concreto.

2. Recurso especial provido.

(REsp 1247811/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., Julgado em 14.06.2011, DJe 21.06.2011)

Assim, mesmo o reconhecimento definitivo da inexigibilidade par-cial do crédito executado não implicaria a extinção do processo, poden-do o valor remanescente ser apurado por mero cálculo, com a diminui-ção do montante das rubricas reconhecidas como indevidas.

ÔNuS SucumbeNcIaIS

Tem-se que, “segundo o Sistema Processual vigente, a imposição dos ônus processuais pauta-se pelo princípio da sucumbência, norteado pelo princípio da causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instauração do processo deve arcar com as despesas dele decorrente” (STJ, REsp 748.836/PR, 2ª T., unânime, Relª Min. Eliana Calmon, DJ de 10.10.2005).

No caso, como a embargante deu causa ao excesso de execução, ao adicionar em sua declaração verbas passíveis de exclusão, deve su-portar os ônus sucumbenciais, em respeito ao princípio da causalidade.

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prequeStIoNameNto

Saliento, por fim, que o enfrentamento das questões apontadas em grau de recurso, bem como a análise da legislação aplicável, são sufi-cientes para prequestionar junto às instâncias superiores os dispositivos que as embasam. Deixo de aplicar os dispositivos legais tidos como ap-tos a obter pronunciamento jurisdicional diverso do que até aqui foi de-clinado. Dessa forma, evita-se a necessidade de oposição de embargos de declaração tão-somente para esse fim, o que evidenciaria finalidade procrastinatória do recurso, passível de cominação de multa (art. 538 do CPC).

dISpoSItIvo

Ante o exposto, voto por negar provimento à remessa oficial, tida por interposta, e à apelação da União e dar parcial provimento à apela-ção da parte embargante.

Juíza Federal Carla Evelise Justino Hendges Relatora

eXtrato de ata da sessão de 27.10.2015

Apelação Cível nº 5037472-49.2015.4.04.9999/PR

Origem: PR 00017675620148160036

Relator: Juíza Federal Carla Evelise Justino Hendges

Presidente: Otávio Roberto Pamplona

Procurador: Dra. Carmen Hessel

Apelante: GMA Ind. e Com. de Artefatos Plásticos e Metais Ltda.

Advogado: Viviane de Carvalho Lima Paulo Henrique Berehulka Rafael Augusto Buch Jacob

Apelante: União – Fazenda Nacional

Apelado: os mesmos

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Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 27.10.2015, na sequência 46, disponibilizada no DE de 15.10.2015, da qual foi intimado(a) União – Fazenda Nacional, o Ministério Público Federal e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) 2ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, decidiu negar provimento à remessa oficial, tida por interposta, e à apelação da união e dar parcial provimento à apelação da parte embargante.

Relator Acórdão: Juíza Federal Carla Evelise Justino Hendges

Votante(s): Juíza Federal Carla Evelise Justino Hendges Juiz Federal Luiz Carlos Cervi Des. Federal Otávio Roberto Pamplona

Leandro Bratkowski Alves Secretário de Turma

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1877

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal Paulo Machado CordeiroAC 583216 – PE (0002770‑38.2015.4.05.9999)Apelante(s): Maria Luciene dos SantosAdvogado(s): Cícero Fernando Alves MoratoApelado(s): INSS – Instituto Nacional do Seguro SocialRepte.: Procuradoria Representante da EntidadeOrigem: Juízo da Vara Única da Comarca de Canhotinho/PERelator: Des. Federal Paulo Machado Cordeiro

eMentaprevIdeNcIÁrIo – peNSão por morte – mãe de Segurado – depeNdêNcIa ecoNÔmIca – Não comprovação – dIreIto – INeXIStêNcIa

1. A pensão por morte é devida ao conjunto dos dependentes do segurado, em razão do evento morte, independente de carência.

2. Nos termos do art. 16 da Lei nº 8.213/1991, a dependência econômica é presumida somente quanto às pessoas indicadas no inciso I (cônjuge, companheiro(a) e filho não emancipado menor de 21 anos ou inválido), de modo que, com relação aos pais (inciso II), deve ser comprovada.

3. Hipótese em que a relação de dependência econômica entre a autora e o de cujus não restou demonstrada nem pelos documentos acostados aos autos nem pela prova testemunhal produzida.

4. Depósitos bancários de pequena monta realizados por curto período de tempo não caracterizam, por si só, a dependência econômica.

5. Apelação desprovida.

aCórdão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que figuram como partes as acima identificadas, decide a Terceira Turma do Tribunal Re-gional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à ape-

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lação, nos termos do Relatório, do Voto do Relator e das Notas Taqui-gráficas constantes dos autos, que passam a integrar o presente julgado.

Recife, 08 de outubro de 2015 (data do Julgamento).

Paulo Machado Cordeiro Desembargador Federal Relator

relatório

Desembargador Federal Paulo Machado Cordeiro (Relator):

Cuida-se de apelação interposta contra sentença que julgou im-procedente o pedido da autora de pensão por morte, na condição de genitora de segurado do INSS.

Sustenta a apelante, em síntese, que restou demonstrada a depen-dência econômica em relação ao falecido filho, razão pela qual faz jus ao benefício pleiteado.

Contrarrazões.

É o relatório.

voto

Desembargador Federal Paulo Machado Cordeiro (Relator):

A questão devolvida a esta Corte diz respeito à concessão de pen-são por morte à autora, na qualidade de dependente do seu falecido filho.

Não merece prosperar a irresignação da recorrente.

O art. 74 da Lei nº 8.213/1991 prevê que “a pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposen-tado ou não...”, independentemente de carência, nos termos do art. 26, I, da referida lei.

Acerca dos dependentes, o art. 16 do mencionado diploma legal dispõe, in verbis:

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Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I – o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativa-mente incapaz, assim declarado judicialmente;

II – os pais;

III – o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicial-mente;

[...]

§ 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo ex-clui do direito às prestações os das classes seguintes.

[...]

§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é pre-sumida e a das demais deve ser comprovada. (grifei)

Depreende-se do inciso II, § 4º, do dispositivo acima transcrito, que o falecimento de segurado solteiro e sem filhos faz nascer o direito dos pais à pensão por morte, desde que comprovada a relação de depen-dência econômica entre estes e o de cujus.

Na hipótese de que se cuida, apesar de comprovada a filiação do de cujus, sua qualidade de segurado da Previdência Social e o seu óbito, não restou demonstrada a condição de dependente econômica da autora.

Com efeito, ainda que se admita que os depósitos bancários na conta do Sr. Genival Pereira de Melo, vizinho da recorrente, tenham sido realizados pelo falecido para entrega a sua genitora (demandante), as quantias remetidas (entre R$ 50,00 e R$ 100,00) e o curto lapso tem-poral em que ocorreram (aproximadamente sete meses) não caracteri-zam, por si só, a dependência econômica.

Nesse sentido, trago à tona o seguinte julgado:

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PREVIDENCIÁRIO – PROCESSUAL CIVIL – PENSÃO POR MORTE DE FILHO – DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DA GENITORA – NÃO COM-PROVAÇÃO – 1. Cuida-se de apelação contra sentença que julgou im-procedente o pedido de concessão de pensão por morte, por entender o magistrado que não restou demonstrada a existência de dependência econômica. 2. Nos termos do art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/1991, e ne-cessária a comprovação da dependência econômica dos pais para com o segurado falecido. 3. Compulsando os autos, verifica-se que os docu-mentos anexados não comprovam a alegada dependência econômica. A autora limitou-se a afirmar que recebia ajuda financeira do seu filho que morava no Rio de Janeiro através de depósitos mensais na conta do seu genro. No entanto, juntou apenas 3 extratos referentes ao ano de 2008. 4. Ademais, o envio de auxílio financeiro mensal para sua mãe, não prova, por si só, a dependência econômica da mesma. Salienta-se que o marido da autora recebe aposentadoria no valor de um salário mínimo mensal. 5. Como não implementados os requisitos para a concessão do benefí-cio, resta indeferida a pensão por morte. Sentença mantida. 6. Apelação improvida. (TRF 5ª R., AC 539547, Rel. Des. Fed. Francisco Cavalcanti, DJe 11.05.2012)

Por todo o exposto, nego provimento à apelação.

É como voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1878

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal Rubens CanutoApelação Cível nº 584596/SE (0003530‑84.2015.4.05.9999)Apte.: José de SouzaAdv./Proc.: Rodrigo Fernandes Dantas Lima e outroApdo.: INSS – Instituto Nacional do Seguro SocialRepte.: Procuradoria Representante da EntidadeOrigem: Vara Única da Comarca de Ribeirópolis/SERelator: Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto (Convocado)

eMentaprevIdeNcIÁrIo – Segurado rural – coNceSSão de apoSeNtadorIa por Idade – requISItoS – preeNchImeNto – leI Nº 8.213/1991 – INícIo de prova materIal – prova teStemuNhal – víNculoS urbaNoS eNtre SafraS – Não deScaracterIZação

1. A legislação que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previ-dência Social, Lei nº 8.213/1991, reconhece ao segurado especial rural o direito à aposentadoria por idade, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprovada idade mínima de 60 (sessenta) anos para homem e 55 (cinquenta e cinco) anos para mulher, e o exercício de atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idênticos à carência do referido benefício (art. 142).

2. Na hipótese, o requisito da idade foi satisfeito, em face de ter o autor, na época do requerimento administrativo (07.08.2013), mais de 60 (sessenta) anos de idade, eis que nascido em 02.08.1953, como se depreende da carteira de identidade e título de eleitor acostados aos autos.

3. A qualidade de trabalhador rural do demandante é inquestio-nável, pois foram juntados vários documentos que comprovam tal condição, entre os quais: Recibo emitido por proprietário de terreno situado na Comunidade de João Ferreira, datado de 13.04.1998, registrado em Cartório no mesmo dia, na qual de-clara haver recebido do ora apelante uma quantia em dinheiro correspondente à venda da referida área de terra medindo 1 hec-

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tare; Documentos referentes ao Sítio João Ferreira, tais como CCIR 2000/2002, em nome de terceiro, e CCIR 2003/2009 em nome do demandante; Cadastro em nome do autor, como agricultor, data-do de 27.11.2006, no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, do Ministério de Desenvolvimento Agrário; Escritura Pública de Cessão de Herança, datada de 05.07.2006, na qual a irmã do autor cedeu ao demandante o seu quinhão, equi-valente a aproximadamente 6 (seis) tarefas, no lugar denominado João Ferreira.

4. O depoimento pessoal e testemunhal, colhido em juízo, por meio audiovisual, corroboram com as provas documentais junta-das aos autos, de que o autor é de fato agricultor, primeiramente, em terras de terceiro, e, posteriormente nas suas próprias terras concebidas por herança, perfazendo um período maior que 15 (quinze) anos trabalhados na agricultura, em regime de economia familiar, fazendo jus, portanto, a aposentadoria rural por idade, a partir do requerimento administrativo, já que naquela época já preenchia os requisitos legais.

5. É de se ressaltar que os períodos trabalhados pelo demandan-te na zona urbana, nos períodos de 07.03.1988 a 09.09.1988, 21.11.1988 a 03.08.1089, 01.12.1989 a 09.02.1990, 01.07.1990 a 31.10.1990, 19.12.1990 a 12.1990, 17.03.1997 a 08.01.1998, 03.08.2008 a 08.2009 e 03.08.2009 a 08.09.2009, não desca-racterizam a atividade campesina, eis que laborado em tempo de entre safras, necessário para a sustentação da família em tempos ruins de colheitas.

6. Comprovados o exercício e o tempo da atividade rural do re-querente como segurado especial, por meio de documentos há-beis, complementados por prova testemunhal idônea, e o imple-mento da idade mínima necessária à obtenção da aposentadoria por idade nos termos do art. 143 da Lei nº 8.213/1991, não se vis-lumbram restrições quanto a sua concessão, inclusive no que diz respeito aos requisitos exigidos no art. 39, I, c/c o art. 142, ambos constantes na referida Lei.

7. Quanto aos juros e correção monetária aplicáveis à hipótese, o eg. Plenário desta Corte firmou entendimento no sentido de que a

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atualização e os juros de mora nas condenações impostas, tanto à Fazenda Pública quanto aos particulares, ainda que em matéria previdenciária, devem se dar mediante a aplicação do IPCA-E (ou outro índice que venha a ser recomendado pelo Manual de Cál-culos da Justiça Federal) acrescidos de 6% (seis por cento) ao ano, exceto nos créditos de natureza tributária, para os quais se mantêm os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários (Selic). (TRF 5ª R., Pleno, EINFAC 0800212-05.2013.4.05.8100, J. 17.06.2015, Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira)

8. Precedentes da Primeira Turma deste Tribunal (AC 568345/CE, Rel. Des. Fed. Joaquim Lustosa Filho (Convocado), J. 27.03.2014, DJe 03.04.2014/Ap-Reex19366/CE, Rel. Des. Fed. Manoel Erhardt, J. 20.10.2011, DJe 27.10.2011).

9. Apelação provida.

aCórdão

Vistos, etc.

Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Re-gião, por unanimidade, dar provimento à apelação, nos termos do Rela-tório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Recife, 10 de dezembro de 2015 (data de Julgamento).

Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto Relator Convocado

relatório

O Sr. Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto (Convocado):

Trata-se de apelação interposta por José de Souza em face da sen-tença proferida pela Juíza de Direito Ana Maria Andrade Freiman Bar-rozo, da Comarca de Ribeirópolis, que julgou improcedente o pedido autoral de aposentadoria rural por idade.

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A Juíza a quo entendeu que embora existam indícios do exercício de atividade rural pelo requerente, a prova documental apresentada não abrange o período de carência previsto na tabela progressiva do art. 142, da Lei nº 8.2013/1991, in casu, 180 (cento e oitenta) meses.

O recorrente afirma que, ao contrário do que entendido pela Juí- za sentenciante, foram juntadas provas suficientes de sua condição de lavrador, e, em contrapartida, o INSS não juntou qualquer documento que comprovasse o contrário, sequer impugnou qualquer documento juntado pelo demandante.

Ressalta que os tribunais pátrios têm exigido apenas um início ra-zoável de prova material do tempo de serviço rural, não sendo necessá-rio que a prova documental abranja todo o período de atividade rural. Neste sentido, cita as Súmulas nºs 6 e 14 da Turma Nacional de Unifor-mização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, doutrina e jurisprudências para reforçar sua tese.

Quanto aos vínculos trabalhistas afirma que exerceu atividade urbana esporádica, dedicando-se longos períodos de tempo exclusiva-mente à lavoura.

Por fim, requer o provimento da apelação, para o fim de reformar a r. sentença, no sentido de condenar o INSS ao pagamento do benefício de aposentadoria por idade ao recorrente, a partir da data do requeri-mento administrativo (fls. 103/112).

O INSS apresentou contrarrazões requerendo a manutenção da sentença, pelos próprios fundamentos (fls. 115/117).

É o relatório.

voto

O Sr. Des. Fed. Rubens de Mendonça Canuto (Convocado):

A legislação que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previ-dência Social, Lei nº 8.213/1991, reconhece ao segurado especial rural o direito à aposentadoria por idade, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprovado o exercício de atividade rural no período ime-

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diatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idênticos à carência do referido benefício (art. 1 42).

Dispõe o art. 11, VII, da Lei nº 8.213/1991:

Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas:

[...]

VII – como segurado especial: o produtor, parceiro, meeiro e o arren-datário rurais, garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, compro-vadamente, com o grupo familiar respectivo.

Prevê ainda o art. 39 da mesma lei:

Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII, do art. 11, desta Lei, fica garantida a concessão:

I – de aposentadoria por idade ou por invalidez de auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que de for-ma descontínua, no período, imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido;

Por fim, dispõem os arts. 24 e 26 da Lei nº 8.213/1991:

“Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências.

Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:

III – Os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39 aos se-gurados especiais referidos no inciso VII, do art. 11 desta Lei.”

A prova da atividade rural deve ser feita na forma prevista no art. 106 da Lei nº 8.213/1991, com redação dada pela Lei nº 9.063/1995. Contudo, ante as reconhecidas dificuldades daqueles que vivem na zona

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rural, em sua maioria desprovidos de qualquer registro do trabalho, a ju-risprudência tem admitido que a comprovação seja feita mediante início de prova documental, corroborada por depoimentos testemunhais.

No caso, é de se registrar, primeiramente, que o pedido do autor (em 07.08.2013), na via administrativa, perante o INSS, foi indeferido por falta de carência, ou seja, não comprovação do período mínimo de atividade rural correspondente a 180 meses (fls. 43/44).

Passo à análise do caso concreto:

O requisito da idade foi satisfeito, em face de ter o autor, na época do requerimento administrativo, mais de 60 (sessenta) anos de idade, eis que nascido em 02.08.1953, como se depreende dos documentos acos-tados à fl. 11 (carteira de identidade e título de eleitor).

Para comprovar o labor na agricultura, o autor juntou aos autos os seguintes documentos: Certidão Eleitoral, datada de 25.10.2013, na qual consta no cadastro do autor que o mesmo declarou ser agricultor (fl. 14); Documento do Banco Nordeste/Itabaiana (Resumo de Operações), datado de 17.08.2009, no qual consta a profissão do autor como sendo agricultor (fl. 17); Cadastro em nome do autor, como agricultor, datado de 27.11.2006, no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, do Ministério de Desenvolvimento Agrário (fl. 18); Ficha do Sis-tema de Informação de Atenção Básica, datada de 30.01.2003, na qual consta a profissão “lavrador” como sendo a profissão do demandante (fl. 20/21); Ficha de Matrícula da filha do autor, datada de 21.12.2011, na qual consta a escolaridade do autor como sendo “Fundamental Me-nor” e profissão “lavrador”; Boletim de Ocorrência, emitido pela Dele-gacia de Ribeirópolis, datado de 10.10.2006, na qual confirma a pro-fissão do autor como sendo lavrador (fl. 23); Contrato de Comodato, datado de 13.08.2013, na qual consta que o autor explorou área de-nomina Sítio João Ferreira, no período entre 13.04.1988 a 13.04.1998 (fl. 24); Documentos referentes ao Sítio João Ferreira – CCIR 2000/2002, em nome de terceiro, e CCIR 2003/2009 em nome do demandante (fls. 25/29 e 36/37), e outros (fls. 38/42); Declarações do Sindicato Rurais de Ribeirópolis, datada de 18.05.1998, na qual atesta que o autor possui um faixa de terra no sítio denominado João Ferreira (3 hectares) desde o ano de 1998 (fl. 30/31); Recibo emitido pelo Sr. José Santos, datado de

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13.04.1998, registrado em Cartório no mesmo dia, na qual declara haver recebido do ora apelante uma quantia em dinheiro correspondente a venda de uma área de terra medindo 1 hectare, situada na Comunidade de João Ferreira (fl. 32); Escritura Pública de Cessão de Herança, datada de 05.07.2006, na qual a irmã do autor cedeu ao demandante o seu quinhão, equivalente a aproximadamente 6 (seis) tarefas, no lugar deno-minado João Ferreira (fls. 33/34).

O depoimento pessoal e testemunhal, colhido em juízo, por meio audiovisual, corroboram com as provas documentais juntadas aos au-tos, de que o autor é de fato agricultor, primeiramente, em terras de terceiro, e, posteriormente nas suas próprias terras recebidas por heran-ça, perfazendo um período maior que 15 (quinze) anos trabalhados na agricultura, em regime de economia familiar, fazendo jus, portanto, a aposentadoria rural por idade, a partir do requerimento administrativo, já que naquela época já preenchia os requisitos legais.

É de se ressaltar que os períodos trabalhados pelo demandante na zona urbana, nos períodos 07.03.1988 a 09.09.1988, 21.11.1988 a 03.08.1089, 01.12.1989 a 09.02.1990, 01.07.1990 a 31.10.1990, 19.12.1990 a 12.1990, 17.03.1997 a 08.01.1998, 03.08.2008 a 08.2009 e 03.08.2009 a 08.09.2009, não descaracterizam a atividade campesi-na, eis que laborado em tempo de entre safras, necessário para sustenta-ção da família em tempos ruins de colheitas.

Sendo assim, não é o caso de prova exclusivamente testemunhal, e sim, de prova suficiente para comprovar a condição de trabalhador rural da parte autora, sua respectiva idade e o tempo de serviço por ele exercido na zona rural.

A jurisprudência pátria vem entendendo que o indício de prova material complementada pelas provas testemunhais uníssonas apresen-tadas em juízo, como é o caso, perfazem meio idôneo e hábil para a comprovação do tempo de serviço pleiteado como segurado especial.

Nesse sentido, cito alguns precedentes da Primeira Turma deste Tribunal:

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA ESPECIAL RURAL POR IDADE – COMPROVAÇÃO DA CONDIÇÃO DE TRABALHADORA RURAL PELO PERÍODO DE CARÊNCIA EXIGIDO EM LEI – TERMO INICIAL – DATA DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO

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1. Trata-se de Apelação interposta pelo INSS – Instituto Nacional do Se-guro Social contra sentença que julgou procedente o pedido de conces-são de aposentadoria rural por idade.

2. O Trabalhador Rural tem direito à aposentadoria especial, aos 60 anos, se homem, e aos 55 anos, se mulher (art. 201, § 7º, da Carta Magna), comprovados o exercício de labor no campo e o período de carência (art. 143, da Lei nº 8.213/1991).

3. É meramente exemplificativo o rol de documentos constantes do art. 106, parágrafo único, da Lei nº 8.213/1991, daí se poder aceitar qual-quer outro indício de prova material, revelador da realidade e típico da cultura rural, a ser complementado com a prova testemunhal.

4. A requerente comprovou que atendeu ao disposto no art. 55 da Lei nº 8.213/1991, haja vista constar nos autos início razoável de prova do-cumental da atividade rurícola exercida pelo postulante, ao qual se so-mou a prova testemunhal produzida em juízo durante a instrução do feito.

5. Não é necessária a comprovação, por documentos, de todo o período de carência, desde que a prova testemunhal amplie sua eficácia probató-ria ao tempo exigido por Lei. É o caso.

6. No tocante ao termo inicial da obrigação, é de se reconhecer que o início do benefício conta-se a partir do requerimento administrativo, haja vista os requisitos legais já terem sido preenchidos desde àquela data, ou seja, 20.03.2009. Precedentes deste TRF 5ª R.: AC 528938/SE, Rel. Des. Fed. Manoel Erhardt, 1ª T., J. 10.05.2012; AC 539628/CE. Rel. Des. Fed. José Maria Lucena, 1ª T., J. 10.05.2012; AC 534661/CE, Rel. Geraldo Apoliano, 3ª T., J. 10.05.2012.

7. Apelação do INSS improvida e apelação do particular provida para reconhecer o direito da parte autora à aposentadoria rural por idade a partir da data do requerimento administrativo.

(Processo: 00006063720144059999, AC 568345/CE, Rel. Des. Fed. Joaquim Lustosa Filho (Convocado), 1ª T., J. 27.03.2014, DJe 03.04.2014, p. 95)

PREVIDENCIÁRIO – COMPROVAÇÃO DA CONDIÇÃO DE TRABA-LHADOR RURAL, PARA O FIM DE APOSENTADORIA ESPECIAL POR IDADE – INÍCIO DE PROVA MATERIAL COMPLEMENTADA POR PRO-VA TESTEMUNHAL – COMPROVAÇÃO DO PERÍODO DE CARÊNCIA E DO EXERCÍCIO DE ATIVIDADE RURAL – JUROS DE MORA – CORRE-ÇÃO MONETÁRIA

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1. O Trabalhador Rural tem direito à aposentadoria especial, aos 60 anos, se homem, e aos 55 anos, se mulher (art. 201, § 7º, da Carta Magna), comprovados o exercício de labor no campo e o período de carência (art. 143 da Lei nº 8.213/1991).

2. É meramente exemplificativo o rol de documentos constante do art. 106, parágrafo único, da Lei nº 8.213/1991, daí se poder aceitar qual-quer outro indício de prova material, revelador da realidade e típico da cultura rural, a ser complementado com a prova testemunhal; neste caso a Certidão de Casamento onde consta a condição de rurícola do esposo da demandante; (b) Certidão de óbito do de cujus onde também consta a profissão de agricultor, lavrada em 27.02.1989; documento do INSS em que registra a pensão por morte de trabalhador rural recebido pela apela-da e os testemunhos prestados em juízo demonstram satisfatoriamente a qualidade de Trabalhadora Rural da apelada.

3. Oportuno registrar a análise do MM. Juiz Sentenciante quanto à pro-fissão de agricultor do marido da parte autora na certidão de óbito, visto ser entendimento pacífico do SJT que referida qualificação nos assenta-mentos de registro civil é extensível à esposa, constituindo dessa forma indício de prova material.

4. Exigir-se prova material ou escrita de relações historicamente informais é o mesmo que fadar os pleitos dos Trabalhadores Rurais ao insucesso processual ou lhes vedar acessibilidade à jurisdição protectiva, máxime quando lhes é reconhecido o direito ao benefício da inativação, indepen-dentemente de contribuição ao sistema previdenciário, indicando que se trata de técnica de amparo à pessoa do hipossuficiente e de distribuição da renda social pela via da assistência estatal.

5. Aplicação de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação válida, até o advento da Lei nº 11.960/2009, quando passarão ambos a incidir na forma prevista no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação da nova Lei.

[...]

7. Honorários advocatícios, em desfavor do INSS, fixados em 10% sobre o valor da condenação, respeitada a Súmula nº 111 do STJ.

8. Remessa oficial e apelação parcialmente providas.

(Processo: 00048371520114059999, Ap-Reex 19366/CE, Relator: Des. Fed. Manoel Erhardt, 1ª T., J. 20.10.2011, DJe 27.10.2011, p. 167)

Tratando-se o caso de segurado especial, ressalte-se que é desne-cessária a comprovação do recolhimento de contribuições previdenciá-

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rias, previsto no art. 142, acima referido, já que o art. 26, da mesma Lei, isenta os segurados especiais deste pagamento, nos casos de concessão de aposentadoria por idade, conforme anteriormente descrito.

Ademais, a norma constante no art. 55, §§ 2º e 3º, da Lei nº 8.213/1991 somente tem aplicação no âmbito administrativo, não sendo o magistrado a ela vinculado, pois estaria ferindo o princípio do livre convencimento, além do direito das partes de socorrerem-se da Justiça por ações diversas que permitam a defesa dos seus direitos, que não seja única e exclusivamente a justificação.

Assim sendo, reconheço o direito do autor à aposentadoria ru-ral por idade, contados a partir do requerimento administrativo (em 07.08.2013), bem como ao pagamento das parcelas vencidas até a data de efetiva implantação do benefício.

Quanto à correção monetária e juros de mora, o eg. Plenário desta Corte firmou entendimento no sentido de que a atualização e os juros de mora nas condenações impostas, tanto à Fazenda Pública quanto aos particulares, ainda que em matéria previdenciária, devem se dar mediante a aplicação do IPCA-E (ou outro índice que venha a ser re-comendado pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal) acrescidos de 6% (seis por cento) ao ano, exceto nos créditos de natureza tribu-tária, para os quais se mantêm os mesmos critérios pelos quais a Fa-zenda Pública corrige seus créditos tributários (Selic). (TRF 5ª R., Pleno, EINFAC 0800212-05.2013.4.05.8100, J. 17.06.2015, Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira).

Com relação aos honorários advocatícios, fixo-os em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, por se apresentar razoável em relação à matéria trazida à apre- ciação.

Posto isso, dou provimento à apelação.

É como voto.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1879

Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul4ª Câmara CívelApelação nº 0000614‑53.2010.8.12.0031 – CaarapóRelator: Exmo. Sr. Des. Odemilson Roberto Castro FassaApelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: Luciano Martins de Carvalho VelosoApelado: Milton da SilvaAdvogado: Alci Ferreira França

eMentaapelação cível – ação de ImplaNtação de beNefícIo prevIdeNcIÁrIo – IlegItImIdade da perícIa afaStada – precluSão – art. 473 do cpc – doeNça preeXISteNte À fIlIação No regIme prevIdeNcIÁrIo – poSSIbIlIdade de agravameNto – preSeNteS oS requISItoS para coNceSSão de apoSeNtadorIa por INvalIdeZ – ImplaNtação do beNefícIo coNcedIdo Na eSfera judIcIal Na data da cItação da autarquIa federal – recurSo deSprovIdo

É defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas, a cujo respeito se operou a preclusão.

Quando demonstrado o agravamento da doença, através de prova documental, é devida a concessão da aposentadoria por invalidez, mesmo sendo atestado doença preexistente à filiação no Regime Geral da Previdência Social.

A citação válida informa o litígio, constituindo em mora a autarquia previdenciária federal e deve ser considerada como termo inicial para a implantação da aposentadoria por invalidez concedida na via judicial quando ausente a prévia postulação administrativa.

reeXame NeceSSÁrIo – termo INIcIal da ImplaNtação do beNefícIo – apoSeNtadorIa por INvalIdeZ – data da cItação da autarquIa federal – SeNteNça reformada

Os ministros do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.369.165/SP, representativo da controvérsia, sujeito ao procedimento do art. 543-C, do CPC, reconheceram que o termo inicial do benefício, nos casos de concessão na via judicial, é a data da citação da autarquia federal.

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aCórdão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos, por unanimidade, negar provimento ao recurso e, de ofício, em sede de reexame necessário, reformar a sentença, nos termos do voto do Relator.

Campo Grande, 9 de dezembro de 2015.

Des. Odemilson Roberto Castro Fassa – Relator

relatório

O Sr. Des. Odemilson Roberto Castro Fassa:

Trata-se de reexame necessário e recurso de apelação interposto por Instituto Nacional do Seguro Social – INSS em face em face da sentença proferida por Jeane de Souza Barboza Ximenes Escobar, Juíza da 2ª Vara Cível Residual da Comarca de Caarapó, que na ação de aposentadoria por invalidez ajuizada por Milton da Silva, em face do recorrente, julgou procedente os pedidos formulados na inicial para, condenar a autarquia a pagar em favor do segurado o benefício previdenciário da aposentadoria por invalidez a partir da data do ajuizamento da ação em 17.03.2010 no equivalente a 100% (cem por cento) do salário de benefício.

Em razões recursais (fls. 170/176), a autarquia, pleiteia a reforma da sentença ao argumento de que inexiste incapacidade laboral para concessão do benefício de aposentadoria por invalidez.

Alega que o médico-perito nomeado nos autos, Dr. Laidenss Guimarães da Silva, já foi perito do INSS e que atualmente é réu em duas ações judiciais, sendo a primeira na ação penal de estelionato majorado no processo nº 0003843-82.2003.4.03.6002 da 2ª Vara Criminal da Justiça Federal de Dourados e a segunda em ação civil pública de improbidade administrativa no processo nº 0002465-47.2010.4.03.6002 da 1ª Vara Cível da Justiça Federal de Dourados.

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Afirma que ambas as ações tratam de concessão indevida de benefício previdenciário enquanto o referido perito ainda era profissional da autarquia.

Assevera que “tal profissional não se reveste da confiança, isenção e imparcialidade necessárias para oficiar como perito judicial” e que o autor não faz jus aos benefícios pleiteados na inicial.

Aduz que “a incapacidade do autor é preexistente ao seu ingresso no sistema” e que “o Sr. Laidenss Guimarães da Silva concluiu que a suposta incapacidade do autor teve início no ano de 1990 (quesito 11, fl. 106)”.

Argumenta que a perícia realizada pela autarquia é um ato administrativo munido de presunção de legitimidade e que no momento de sua realização não foi constatada no segurado a sua incapacidade laboral.

Requer o provimento do presente recurso e em caso de não ser dado provimento, que a DIB seja fixada na data da juntada do laudo de fl. 92 (26.08.2011).

Intimado à fl. 178, o autor não ofereceu contrarrazões.

Os autos foram remetidos ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região, às fls. 182/183 foi declinada a competência remetendo os autos a este Egrégio Tribunal de Justiça.

voto

O Sr. Des. Odemilson Roberto Castro Fassa (Relator):

Trata-se de recurso de apelação interposto por Instituto Nacional do Seguro Social – INSS e reexame necessário em face da sentença proferida por Jeane de Souza Barboza Ximenes Escobar, Juíza da 2ª Vara Cível Residual da Comarca de Caarapó, que na ação de aposentadoria por invalidez ajuizada por Milton da Silva, em face do recorrente, julgou procedente os pedidos formulados na inicial para, condenar a autarquia a pagar em favor do segurado o benefício previdenciário da aposentadoria

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por invalidez a partir da data do ajuizamento da ação em 17.03.2010 no equivalente a 100% (cem por cento) do salário de benefício.

Confira-se o dispositivo da sentença (fls. 152/159):

Diante do exposto, e por tudo mais que dos autos consta, julgo procedente o pedido formulado nestes autos de Ação de Aposentadoria por Invalidez promovida por Milton da Silva em face de Instituto Nacional do Seguro Social INSS e, por consequência, condeno o requerido a pagar ao autor o benefício previdenciário de aposentadoria por invalidez, a partir de 17.03.2010 (data do ajuizamento da ação), no equivalente a 100% do salário de benefício, devendo as prestações vencidas no período serem adimplidas de uma só vez, corrigidas monetariamente a partir de quando deveriam ter sido pagas e incidindo juros moratórios a partir da citação, tudo na forma do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (alterado pela Lei nº 11.960/2009). Estando presentes os requisitos do art. 273 do Código de Processo Civil, tanto que a ação foi julgada procedente, antecipo os efeitos da tutela nesta sentença, determinando a implantação do benefício no prazo máximo de 10 dias, sob pena de incorrer o INSS em multa de um salário mínimo por dia de atraso. Condeno o requerido ao pagamento dos honorários advocatícios, esses arbitrados em R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais), já considerando o grau de zelo do profissional, a importância e a complexidade da causa, o tempo e o lugar da prestação do serviço, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC. Sem custas. Declaro extinto o processo, com resolução de mérito, o que faço com fundamento no inciso I do art. 269 do Código de Processo Civil.

Em razões recursais, a apelante pretende a reforma da sentença, ao argumento de que a perícia realizada em juízo não se reveste de confiança, isenção e imparcialidade. O prazo para o autor oferecer contrarrazões decorreu in albis (fl. 180), mesmo após intimado à fl. 176.

do mérIto

No que se refere à alegação de imprestabilidade da perícia realizada em juízo (fls. 92/107), tenho que deve ser rechaçada, uma vez que se trata de questão preclusa, pois não foi arguida no momento oportuno.

Com o intuito de evitar futuras alegações de nulidades, o magistrado a quo na decisão de fl. 71, determinou a intimação da autarquia para

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esclarecer se o perito, Dr. Laidenss Guimarães Silva, ainda pertencia ao quadro de funcionários, no entanto, após intimada, a autarquia quedou- -se inerte, não respondendo ao ofício de fl. 75, conforme consta na certidão de fl. 77, sendo mantida pelo juiz singular, na decisão de fl. 81, a nomeação e a realização da perícia.

Por força do que dispõe o art. 473 do CPC “é defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas, a cujo respeito se operou a preclusão”.

A teor do que dispõe o art. 245 do CPC “A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão”.

Acerca do tema, Nelson Nery Júnior1 e Rosa Maria de Andrade Nery lecionam:

“A preclusão indica perda da faculdade processual, pelo seu não uso dentro do prazo peremptório previsto pela lei (preclusão temporal), ou, pelo fato de já havê-la exercido (preclusão consumativa), ou, ainda, pela prática de ato incompatível com aquele que se pretenda exercitar no processo (preclusão lógica).” (destaquei)

Rodolfo Kronemberg Hartmann2 aponta:

“[...] a ‘preclusão’ impede que as partes possam novamente discutir as questões já decididas no processo o que, em certos aspectos, se assemelha à ‘coisa julgada’. Afinal, ambas se constituem em mecanismos que foram criados para impedir a repetição de atos processuais já praticados ou o retorno a fase processuais pretéritas, de modo a prestigiar a celeridade na tramitação do processo e o respeito às decisões já proferidas e não impugnadas” (destaquei).

Nesse sentido:

EMENTA – AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO CÍVEL – PREVIDENCIÁRIO – PERÍCIA – ARGUIÇÃO DE NULIDADE PRECLUSA – [...] – RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E NA PARTE CONHECIDA NÃO PROVIDO. Não há falar em nulidade da perícia ao argumento de que realizada por profissional inabilitado se, quando da

1 NERY JR., Nelson; ANDRADE, Rosa Maria de. Código de processo civil. 14 ed. São Paulo: 2014. p. 473.2 HARTMANN. Rodolfo Kronemberg. Curso completo de processo civil. Niterói: Impetus, 2014. p. 179.

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nomeação do perito, a parte devidamente intimada, quedou-se inerte, pois evidente a preclusão. Ademais, a conclusão pericial corroborou laudo adotado para interditar civilmente a periciada”.[...] (TJMS, Agravo Regimental em Apelação Cível, Lei Especial nº 2009.025742-4/0001-00, Dourados, Rel. Exmo. Sr. Des. Divoncir Schreiner Maran, 1ª T.Cív., 20.04.2010). (destaquei)

Desse modo, afasto referida alegação.

da data do INícIo da INcapacIdade

Sustenta a autarquia que a incapacidade laboral do apelado é preexistente ao início de suas contribuições previdenciárias.

O laudo pericial atestou que a incapacidade laboral do apelado ocorreu no ano de 1990, confira-se:

“[...]

Quesito 11: Caso seja considerada incapaz, desde quando começou a doença e a incapacidade? Quais parâmetros clínicos ou de exames complementares foram usados para fixar estas datas?

Resposta: Início provável da doença: 00.00.1986. A incapacidade seria 00.00.1990, segundo o relato do acompanhante. Não temos outros elementos concretos para determinação, no entanto as datas citadas seriam coerentes com o contexto histórico pericial.

[...]”

À fls. 15/20 e fL. 37 consta extrato juntado pela autarquia comprovando a qualidade de segurado, a partir do ano de 1998 a 2001 e novamente em 2009 até 2010, porém, o laudo pericial também atestou que o apelado é portador de moléstia grave, denominada esquizofrenia, confira-se:

“[...]

VIII. Diagnósticos:

Esquizofrenia

CID: F 20.[...]

Doenças: Esquizofrenia:

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A esquizofrenia é uma perturbação mental grave caracterizada por uma perda de contato com a realidade (psicose), alucinações, delírios (crenças falsas), pensamento anormal e alteração do funcionamento social e laboral. [...] Conclusão: Existe incapacidade laborativa multiprofissional, total e por tempo indefinido. Insuscetível de reabilitação profissional.”

A perícia também atestou no quesito nº 14 respondido à fL. 107 a possibilidade da doença se agravar, confira-se:

“[...]

Quesito 14: No caso do segurado considerado incapaz, qual o tipo de tratamento instituído pelo médico assistente e quais os objetivos deste tratamento:

Resposta: Tratamento para compensar a doença e evitar maiores agravos. [...]” (destaquei)

Com efeito, desde que sejam preenchidos os requisitos legais, a saber: a) a condição de segurado; b) a incapacidade permanente para o trabalho; c) a impossibilidade de reabilitação, a doença de que o segurado é portador, mesmo antes de se filiar à Previdência Social, não obsta a concessão da aposentadoria por invalidez, se a incapacidade decorre de progressão ou agravamento da doença.

A teor do que dispõe a ressalva do art. 42 da Lei nº 8.213/1991 em seu § 2º “a doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão”.

Nesse sentido é o posicionamento jurisprudencial, confira-se:

APELAÇÃO CÍVEL – REVISÃO DE APOSENTADORIA – PRETENSÃO À APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – PRESENÇA DE CARDIOPATIA GRAVE – AGRAVAMENTO DA DOENÇA CONFIGURADA – RECURSO PROVIDO – 1. Os proventos de aposentadoria por invalidez serão proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrentes de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, hipóteses em que os proventos serão integrais, observado, quanto ao seu cálculo, o disposto no art. 76. Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis, a que se refere o parágrafo segundo, as seguintes: tuberculose ativa; hanseníase; alienação mental; neoplasia

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maligna; cegueira; paralisia irreversível e incapacitante; cardiopatia grave; doença de Parkinson; espondiloartrose anquilosante; nefropatia grave; estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante); Síndrome da Deficiência Imunológica Adquirida – Aids; esclerose múltipla, contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada, e hepatopatia. 2. A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao regime de previdência social instituído nesta Lei não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão, após ter entrado no exercício do cargo ou função. 3. Devidamente demonstrado o agravamento da doença, através de prova documental, é devida a aposentadoria por invalidez.” (Apelação Cível – Ordinário – nº 2010.026789-0/0000-00, Campo Grande, 5ª T.Cív., Rel. Des. Sideni Soncini Pimentel, Publicação: 06.10.2010, Diário: 2291) (Destaquei)

Esse raciocínio é corroborado pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, confira-se:

PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – INCAPACIDADE COMPROVADA – DOENÇA PREEXISTENTE À FILIAÇÃO – AGRAVAMENTO PELO TRABALHO – CONCESSÃO DO BENEFÍCIO – 1. É devida a Aposentadoria por Invalidez ao segurado considerado total e permanentemente incapacitado para qualquer atividade laborativa que lhe garanta a subsistência. 2. Sendo tal incapacidade oriunda de moléstia adquirida na infância, é ainda imperiosa a concessão do benefício quando sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão. A análise dessa circunstância não é possível no Recurso Especial – Súmula nº 07/STJ. 3. Recurso não conhecido.” (REsp 196.821/SP, Rel. Min. Edson Vidigal, 5ª T., Julgado em 21.09.1999, DJ 18.10.1999, p. 260) (Destaquei)

Assim, não assiste razão a autarquia, uma vez que estão preenchidos os requisitos legais, para obtenção da aposentadoria por invalidez.

do termo INIcIal da ImplaNtação do beNefícIo da apoSeNtadorIa por INvalIdeZ

A magistrada de primeiro grau, ao proferir a sentença, determinou a implantação da aposentadoria por invalidez a partir de 17.03.2010, data do ajuizamento da ação.

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O art. 43 da Lei 8.213/1991 dispõe:

Art. 43. A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da cessação do auxílio-doença, ressalvado o disposto nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo.

§ 1º Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será devida:

a) ao segurado empregado, a partir do trigésimo primeiro dia do afasta-mento da atividade ou a partir da data de entrada do requerimento, se entre o afastamento e a data de entrada do requerimento decorrerem mais de quarenta e cinco dias;

b) ao segurado empregado doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual, especial e facultativo, a contar da data do início da incapacidade ou da data da entrada do requerimento, se entre essas datas decorrerem mais de trinta dias.

§ 2º Durante os primeiros trinta dias de afastamento da atividade por motivo de invalidez, caberá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral.

§ 3º Revogado pela Lei nº 9.032, de 1995.

Ocorre que a matéria já foi objeto de análise pelo Superior Tribunal de Justiça que no Recurso Especial nº 1.369.165/SP, representativo da controvérsia, sujeito ao procedimento do art. 543-C, do CPC, reconheceu que o termo inicial do benefício, nos casos de concessão na via judicial, é a data da citação da autarquia federal.

Confira-se:

PREVIDENCIÁRIO – RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA – ART. 543-C DO CPC – APOSENTADORIA POR INVALIDEZ – TERMO INICIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO BENEFÍCIO CONCEDIDO NA VIA JUDICIAL – AUSÊNCIA DE PEDIDO ADMINISTRATIVO – ART. 219, CAPUT, DO CPC – CITAÇÃO VÁLIDA DA AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA – 1. Com a finalidade para a qual é destinado o recurso especial submetido a julgamento pelo rito do art. 543-C do CPC, define-se: A citação válida informa o litígio, constitui em mora a autarquia previdenciária federal e deve ser considerada como termo inicial para a implantação da aposentadoria por invalidez concedida na

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via judicial quando ausente a prévia postulação administrativa. 2. Recurso especial do INSS não provido. (REsp 1369165/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª S., Julgado em 26.02.2014, DJe 07.03.2014). (Destaquei)

Desse modo, considerando-se que a citação da apelante foi realizada em 16.04.2010, o benefício aposentadoria por invalidez deverá ser implantado a partir desta data.

dISpoSItIvo

Pelo exposto, nego provimento ao recurso de apelação interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

Contudo, exercendo o reexame necessário, reformo a sentença para determinar que o benefício aposentadoria por invalidez deverá ser implantado a partir de 16.04.2010, data da citação da autarquia federal.

decISão

Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

Por unanimidade, negaram provimento ao recurso e, de ofício, em sede de reexame necessário, reformaram a sentença, nos termos do voto do relator.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Claudionor Miguel Abss Duarte Relator, o Exmo. Sr. Des. Odemilson Roberto Castro Fassa.

Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Odemilson Roberto Castro Fassa, Des. Claudionor Miguel Abss Duarte e Des. Amaury da Silva Kuklinski.

Campo Grande, 09 de dezembro de 2015.

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Parte Geral – Jurisprudência – Acórdão na Íntegra

1880

Tribunal de Justiça do Estado do Mato GrossoQuarta Câmara CívelApelação/Reexame Necessário nº 131290/2014 – Classe CNJ – 1728Comarca de AraputangaInteressado/Apelante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSInteressada/Apelada: Aparecida de Fatima Penha FerreiraNúmero do Protocolo: 131290/2014Data de Julgamento: 08.12.2015

eMentaapelação cível e reeXame NeceSSÁrIo – ação prevIdeNcIÁrIa – auXílIo-acIdeNte – leSão doS membroS SuperIoreS ocaSIoNada por eSforço repetItIvo – INcapacIdade parcIal e permaNeNte da obreIra comprovada – beNefícIo de auXílIo-acIdeN-tÁrIo devIdo – termo INIcIal – laudo perIcIal coNcluSIvo – pagameNto doS valoreS atraSadoS – atualIZação– precedeNte do Stj – hoNorÁrIoS advocatícIoS reduZIdoS – recurSo parcIalmeNte provIdo – SeNteNça retIfIcada em parte

Devidamente comprovado nos autos os requisitos necessários à concessão do benefício de auxílio-acidente, quais sejam, a lesão, a incapacidade laborativa e o nexo de causalidade, nos moldes do disposto no art. 86, da Lei nº 8.213/1991, a procedência do pedi-do é medida que se impõe.

Conforme entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, nas lides previdenciárias decorrente de benefício pago em atraso, devem ser observados os seguintes parâmetros: “[...] a) os juros de mora serão à razão de 1% ao mês, a partir da citação válida (Súmula nº 204/STJ), até a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, quando será observado o índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança; b) os índices de corre-ção monetária aplicáveis aos débitos previdenciários em atraso são, ex vi do art. 18 da Lei nº 8.870/1994, o INPC (janeiro a de-zembro de 1992), IRSM (janeiro de 1993 a fevereiro de 1994), URV (março a junho de 1994), IPC-r (julho de 1994 a junho de 1995), INPC (julho de 1995 a abril de 1996), IGP-DI (maio de 1996 a dezembro de 2006) e INPC (a partir da vigência da Lei

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nº 11.430/2006), os quais, aplicados, devem ser convertidos, à data do cálculo, em UFIR e, após sua extinção, o IPCA-e. [...]” (EDcl-AgRg-REsp 1394796/DF, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 12.08.2014, DJe 19.08.2014)

aCórdão

Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a Quarta Câ-mara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Pre-sidência do des. Luiz Carlos da Costa, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo Des. José Zuquim Nogueira (Relator), Des. Luiz Carlos da Costa (Revisor) e Des. Sebastião de Moraes Filho (Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: por unanimidade, deu provimento parcial ao recurso e retificou parcialmente a sentença.

Cuiabá, 8 de dezembro de 2015.

Desembargador José Zuquim Nogueira – Relator

relatório

Exmo. Sr. Des. José Zuquim Nogueira:

Egrégia Câmara:

Trata-se de reexame necessário e apelação cível interposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, contra sentença proferida nos autos da ação de concessão de benefício previdenciário por aciden-te de trabalho, movida por Aparecida de Fátima Penha Ferreira, onde o Juízo julgou procedente o pedido, para condenar o INSS a implementar, em favor da autora, o benefício auxílio acidente em 50% do salário do benefício, a partir da citação, bem como ao pagamento das prestações vencidas, observando o prazo prescricional de cinco anos, a contar da juntada do laudo pericial (14.09.2007), a serem atualizadas pela corre-ção monetária pelo IGP-DI (MP 1.415/1996; Lei nº 9.711/1998), e juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação e a partir de 11.01.2002 (entrada em vigor do Novo Código Civil), aplica-se em substituição aos juros de mora e correção monetária, a Taxa Selic, conforme disposto no art. 406 do CC.

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Condenou, ainda, o INSS ao pagamento de honorários advocatí-cios fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor das parcelas ven-cidas até a publicação da sentença.

Nas razões recursais, o apelante sustenta, em síntese, que é neces-sário para a concessão do benefício previdenciário de auxílio-acidente a constatação do acidente, da lesão e que dela decorra, perda ou redução da capacidade laborativa, bem como que a redução da capacidade la-borativa seja para o trabalho que o segurado exercia habitualmente, nos moldes do art. 86, da Lei nº 8.213/1991.

Aduz que não restou comprovado nos autos o acidente de traba-lho, bem como a redução de capacidade ensejadora da concessão da prestação perseguida. Pede pelo provimento do recurso, para julgar im-procedente a ação e que a verba honorária seja reduzida.

As contrarrazões foram apresentadas às fls. 162/162, pugnando pelo desprovimento do recurso.

Os autos foram encaminhados ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região que se declarou incompetente para julgar o feito (fls. 170/175).

A Procuradoria-Geral de Justiça deixou de opinar, ante a ausência de interesse público a justificar a intervenção ministerial.

É o relatório.

À douta Revisão.

Cuiabá, 30 de julho de 2015.

José Zuquim Nogueira Desembargador Relator

voto

Exmo. Sr. Des. José Zuquim Nogueira (Relator):

Egrégia Câmara:

Conforme relatado, trata-se de reexame necessário e recurso de apelação interposto contra sentença que julgou procedente o pedido

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formulado em ação previdenciária decorrente de acidente de trabalho, reconhecendo o direito da autora à implantação do benefício de auxílio--acidente em 50% (cinquenta por cento) do salário-benefício, bem como às verbas retroativas, a ser observado o prazo prescricional quinquenal, a contar da juntada do laudo pericial (14.09.2007).

Narra a autora, na inicial, ter sofrido em 07.03.2000, acidente de trabalho consistente em lesão lombar nas articulações superiores dos braços, quando estava realizando suas tarefas de ajudante geral (desos-sadora) no Frigorífico Araputanga S/A. Em razão disso, sua capacidade laborativa foi reduzida, fazendo jus ao benefício previdenciário reque-rido.

Na avaliação médica oficial (fls. 122/125), o expert, valendo-se do exame clínico, constatou ser a obreira portadora de LER, com limitação dos movimentos do membro superior direito, de caráter progressivo aca-so continue na mesma função, bem como que se encontra incapacitada para a função de ajudante geral, trabalho com carne.

Demais disso, concluiu que a incapacidade decorrente da lesão nos ombros é definitiva e parcial, pois tem origem no esforço repetitivo e provocou diminuição da força muscular, redução da mobilidade.

Em que pese à alegação do INSS de que não foi comprovado nos autos o acidente de trabalho, bem como o nexo de causalidade entre o acidente e a lesão, consta à fl. 15 a emissão da CAT,dando conta da data do acidente e da lesão ocasionada.

Como se percebe, o laudo pericial é conclusivo pela incapacidade parcial e permanente da obreira. A autarquia, por seu turno, não conse-guiu infirmar o diagnóstico oficial e tampouco provou que as moléstias são passíveis de tratamento, com recuperação satisfatória.

Dessa forma, inafastável é a concessão do benefício, por es-tarem preenchidos todos os requisitos necessários, quais sejam, a le-são, a incapacidade laborativa e o nexo de causalidade (art. 86, da Lei nº 8.213/1991).

Nesse sentido, vejamos o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

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“PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – AUXÍLIO-ACIDENTE – LER – MEM-BROS SUPERIORES – MOLÉSTIA INCAPACITANTE PARCIAL E PERMA-NENTEMENTE – NEXO CAUSAL COMPROVADO – REVALORAÇÃO DE PROVAS – RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA QUE CONFERI-RA O AUXÍLIO-ACIDENTE – AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO – 1. A concessão do auxílio-acidente exige que o segurado empregado, exceto o doméstico, o trabalhador avulso e o segurado especial (art. 18, § 1º da Lei nº 8.213/1991), tenha redução na sua capacidade laborativa em decorrência de acidente de qualquer natureza. 2. O art. 20, I da Lei nº 8.213/1991, por sua vez, considera como acidente do trabalho a do-ença profissional, proveniente do exercício do trabalho peculiar à de-terminada atividade, enquadrando-se, nesse caso, as lesões decorrentes de esforços repetitivos. 3. In casu, o entendimento esposado na Senten-ça foi mais específico quanto à análise da situação atinente à atividade habitualmente exercida pela parte agravada, qualificando como parcial e permanentemente incapacitante a moléstia do segurado em face do processo inflamatório crônico que lhe acomete. O Magistrado asseverou, ademais, a irrelevância da alteração da atividade, uma vez que os sin-tomas surgem quando se exige, continuamente, esforço de determinado agrupamento muscular para o exercício da atividade laboral que a parte agravante exercia habitualmente (função de vulcanizador) – destacan-do, nessa seara, o nexo de causalidade entre a síndrome decorrente dos esforços repetitivos e o trabalho desenvolvido pelo segurado. 4. O resta-belecimento da Sentença não demanda revolvimento de matéria fático--probatória, mas tão somente de revaloração das provas. 5. Agravo Re-gimental desprovido.” (STJ, AgRg-AREsp 179366/SP, 2012/0100980-9, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Data de J. 07.08.2014, 1ª T., Data de Publicação: DJe 20.08.2014) (Destaquei)

Do mesmo modo, é a jurisprudência desta Câmara, in verbis:

“APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO – AÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ACI-DENTE DE TRABALHO – SEQUELAS QUE IMPLICARAM NA REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORATIVA – AUXÍLIO-ACIDENTE – CABIMEN-TO – TERMO INICIAL PARA O PAGAMENTO – DIA SEGUINTE AO DA CESSAÇÃO DO AUXÍLIO-DOENÇA – ATUALIZAÇÃO DO VALOR – CORREÇÃO MONETÁRIA – ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CON-SUMIDOR (INPC) – SEQUÊNCIA PELO ÍNDICE DE PREÇOS AO CON-SUMIDOR AMPLO (IPCA) – JUROS MORATÓRIOS DE 1% AO MÊS ATÉ O ADVENTO DA LEI Nº 11.960/2009, QUANDO SERÃO CALCULA-

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DOS SEGUNDO OS ÍNDICES OFICIAIS DE REMUNERAÇÃO BÁSICA E JUROS APLICADOS À CADERNETA DE POUPANÇA – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – FIXAÇÃO EM DEMASIA – REDUÇÃO – POSSIBILI-DADE – Nos termos do art. 86, cabeça, da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, é devido o auxílio-acidente a segurado, vítima de acidente de trabalho (ou de qualquer outra natureza), cujas sequelas implicaram na redução da sua capacidade laborativa. Na hipótese em que há anterior deferimento de auxílio-doença, o termo inicial para o pagamento do au-xílio-acidente deve ser o dia seguinte ao da cessação daquele benefício. Quanto à atualização do valor, no tocante à correção monetária, utilizar--se-á o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) desde quando cada parcela deveria ter sido paga, até o advento da Lei nº 11.960, de 30 de junho de 2009, que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei nº 9.494, de 10 de setembro de 1997, quando passará a incidir o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No referente aos juros de mora, devidos somente a partir da citação, incidirão, a priori, no percentual de um por cento (1%) ao mês, até o advento da Lei nº 11.960, de 30 de junho de 2009, quando serão calculados com base nos índices oficiais de remune-ração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. A redução do valor dos honorários advocatícios quando fixados em demasia, é medida que se impõe. Recurso de José Claudino dos Santos provido. Recurso do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS provido em parte. Sentença parcialmente retificada.” (Apelação/Reexame Necessário nº 71015/2014, Des. Luiz Carlos da Costa, 4ª C.Cív., Julgado em 05.05.2015, Publicado no DJe 18.05.2015)

Quanto ao termo inicial do benefício deve ser mantido na data da apresentação do laudo oficial em juízo, porque a consolidação de sua lesão foi comprovada somente com a juntada aos autos da perícia ofi-cial, o que ocorreu apenas em 14.09.2007 (fls. 122/125).

De outro lado, merece reparos a sentença quanto à atualização dos pagamentos em atraso.

Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça, levando em conside-ração o entendimento firmado pelo STF, que declarou a inconstitucio-nalidade parcial do art. 5º, da Lei nº 11.960/2009, no que se refere aos critérios de atualização monetária, na ocasião do julgamento do Recurso Especial repetitivo nº 1270439/PR, consolidou o posicionamento da se-guinte forma: a) a correção monetária das dívidas fazendárias deve ob-

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servar índices que reflitam a inflação acumulada do período, a ela não se aplicando os índices de remuneração básica da caderneta de poupança; e b) os juros moratórios serão equivalentes aos juros aplicáveis à cader-neta de poupança, exceto quando a dívida ostentar natureza tributária, para as quais prevalecerão as regras específicas.

Nas lides previdenciárias decorrente de benefício pago em atraso, o STJ observou os seguintes parâmetros: “[...] a) os juros de mora serão à razão de 1% ao mês, a partir da citação válida (Súmula nº 204/STJ), até a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, quando será observado o índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança; b) os índices de correção monetária aplicáveis aos débitos previdenciários em atraso são, ex vi do art. 18 da Lei nº 8.870/1994, o INPC (janeiro a dezembro de 1992), IRSM (janeiro de 1993 a fevereiro de 1994), URV (março a junho de 1994), IPC-r (julho de 1994 a junho de 1995), INPC (julho de 1995 a abril de 1996), IGP-DI (maio de 1996 a de-zembro de 2006) e INPC (a partir da vigência da Lei nº 11.430/2006), os quais, aplicados, devem ser convertidos, à data do cálculo, em UFIR e, após sua extinção, o IPCA-e. [...]”. (EDcl-AgRg-REsp 1394796/DF, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 12.08.2014, DJe 19.08.2014)

Quanto à redução da verba honorária fixada em 15% (quinze por cento) sobre o valor das parcelas vencidas, tenho que assiste razão ao apelante.

Isso porque, a verba honorária deve ser arbitrada, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, de forma equitativa e em quantia razoável, de modo que, entendo como justa, para o caso, a quantia de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Isso posto, dou parcial provimento ao recurso do INSS, apenas para reduzir os honorários advocatícios ao patamar de R$ 1.000,00 (um mil reais), e, em sede de reexame, retifico a sentença para o fim de de-terminar que os juros moratórios, a partir da Lei nº 11.960/2009, sejam calculados pelo índice de remuneração da caderneta de poupança, en-quanto os índices da correção monetária serão, ex vi do art. 18 da Lei nº 8.870/1994, o INPC (janeiro a dezembro de 1992), IRSM (janeiro de 1993 a fevereiro de 1994), URV (março a junho de 1994), IPC-r (julho de 1994 a junho de 1995), INPC (julho de 1995 a abril de 1996), IGP-DI

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(maio de 1996 a dezembro de 2006) e INPC (a partir da vigência da Lei nº 11.430/2006), os quais, aplicados, devem ser convertidos, à data do cálculo, em UFIR e, após sua extinção, o IPCA-e.

É como voto.

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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência1881 – Aposentadoria – revisional – adicional de tempo de serviço – cancelamento –

impossibilidade

“Prescrição do fundo de direito. Inocorrência. Relação de trato sucessivo. Inteligência da Súmula nº 85 do STJ. Decreto de prescrição do fundo do direito afastado. Aplicação analógica do art. 515, § 3º do CPC. No mérito, a ação procede. Servidor público muni-cipal. São Bernardo do Campo. Revisional de aposentadoria. Adicional de senhoridade. O adicional por tempo de serviço (de senhoridade) é vantagem de caráter pessoal que não pode ser retirado do servidor, devendo ser incorporado aos proventos de quem se inativou pela aposentadoria proporcional. Precedentes. Ação julgada procedente em parte na 1ª instância. Sentença reformada. Recurso provido.” (TJSP – Ap 1024616-91.2014.8.26.0564 – São Bernardo do Campo – 6ª CDPúb. – Rel. Leme de Campos – DJe 17.11.2015)

1882 – Aposentadoria especial – atividade insalubre – comprovação pericial – conces-são – cabimento

“Servidor público municipal. Presidente Venceslau. Pretensão de obter a concessão da aposentadoria especial. Cabimento. Comprovação de exercício de atividade em condi-ção insalubre por 25 anos conforme laudo pericial. Ademais, previsão na Lei Comple-mentar Municipal nº 23/2001. Recurso improvido. Recurso adesivo. Recebimento de proventos de aposentadoria desde o ajuizamento da ação. Não acolhimento. Impossi-bilidade de cumulação de salário com benefício previdenciário. Recurso improvido.” (TJSP – Ap 9000011-33.2010.8.26.0483 – Presidente Venceslau – 4ª CDPúb. – Rel. Luis Fernando Camargo de Barros Vidal – DJe 13.11.2015)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 56, set.-out./2013, ementa nº 1044 do STF.

1883 – Aposentadoria especial – atividade insalubre – conversão do tempo de serviço – possibilidade

“Servidor público estadual. Pretensão à conversão do tempo de serviço prestado em atividade insalubre em tempo comum para fins de aposentadoria especial. Possibilidade (art. 40, § 4º, inciso III, da Constituição Federal). Aplicação supletiva da regra do Regime Geral da Previdência Social (Lei Federal nº 8.213/1991), tendo em vista a ausência de norma regulamentadora. Precedentes. Ação julgada improcedente na 1ª instância. Sen-tença reformada. Recurso provido.” (TJSP – Ap 1005093-23.2014.8.26.0361 – Mogi das Cruzes – 6ª CDPúb. – Rel. Leme de Campos – DJe 04.11.2015)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 56, set.-out./2013, ementa nº 1044 do STF.

1884 – Aposentadoria especial – ruído e hidrocarboneto – caracterização de atividade laborada sob condições especiais – pagamento devido

“Previdenciário. Apelação do INSS e remessa. Aposentadoria especial. Ruído e hidrocar-boneto. Caracterização de atividade laborada sob condições especiais. EPI. Extempora-neidade dos laudos. Juros e correção monetária. Lei nº 11.960/2009. I – A contagem do tempo de trabalho de forma mais favorável àquele que esteve submetido a condições

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prejudiciais à saúde deve obedecer a lei vigente na época em que o trabalhador esteve exposto ao agente nocivo, no caso ruído. Assim, na vigência do Decreto nº 2.172, de 5 de março de 1997, o nível de ruído a caracterizar o direito à contagem do tempo de trabalho como especial deve ser superior a 90 decibéis, só sendo admitida a redução para 85 decibéis após a entrada em vigor do Decreto nº 4.882, de 18 de novembro de 2003. II – No caso dos autos, os PPPs juntados demonstram que o autor trabalhou nos períodos de 12.12.1998 a 02.09.2008, de 09.09.2008 a 05.06.2010 e 06.06.2010 a 12.12.2013 com exposição a ruídos superiores a 90 dB, havendo a violação dos limites de tolerância previstos, além de estar exposto a hidrocarboneto. Observa-se, assim, que o demandante faz jus à concessão de aposentadoria especial, eis que somando-se refe-rido período ao considerado incontroverso pelo INSS, perfaz um total de 26 anos, 04 meses e 23 dias de tempo laborado em condições especiais. III – Entende-se, de forma pacificada, que o uso de Equipamento de Proteção Individual – EPI não descaracteriza a nocividade causada ao ser humano, não sendo motivo para se afastar a conversão do tempo de serviço para trabalho especial, quando não houver prova da neutralização por completo da insalubridade para o trabalhador. IV – A extemporaneidade dos formulários ou laudos técnicos não afasta a validade de suas conclusões. V – Aos juros e a corre-ção monetária das parcelas devidas aplica-se o determinado pela Lei nº 11.960/2009, a qual continua em vigor, como salientado pelo Exmo. Ministro Luiz Fux, quando do julgamento da Questão de Ordem nas Ações de Inconstitucionalidade nºs 4357 e 4425.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0120453-55.2014.4.02.5104 – 1ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Paulo Espirito Santo – DJe 07.12.2015 – p. 91)

1885 – Aposentadoria por idade – início de prova material corroborada por testemu-nha – requisitos – ausência – não comprovação

“Previdenciário. Aposentadoria por idade. Início de prova material corroborada pela prova testemunhal. Requisitos não preenchidos. Atividade rural não comprovada. Di-versos vínculos urbanos. Descaracterização da qualidade de segurado especial. Hono-rários. I – Remessa oficial e apelação interposta contra sentença que julgou procedente o pedido autoral, no sentindo de conceder o benefício de aposentadoria por idade, na qualidade de segurado especial. II – A concessão da aposentadoria por idade ao traba-lhador rural encontra-se atrelada ao preenchimento dos requisitos previstos nos §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 8.213/1991. III – No que concerne ao requisito etário, percebe-se que a parte autora já atingiu a idade prevista para a aposentação, de 55 anos para mulhe-res ou de 60 anos para homens (fl. 13), obedecendo ao disposto no art. 201, § 7º, II, da Constituição Federal e no art. 48, § 1º, da Lei nº 8.213/1991. IV – O rol de documentos previsto no art. 106 da Lei nº 8.213/1991 é meramente exemplificativo, tendo em vista a informalidade do trabalho rural, a escassez de documentação e a precariedade das condições de vida dos trabalhadores deste meio. V – Vê-se, ainda, que o demandante, quando da inicial, juntou aos autos, com o objetivo de comprovar sua condição de rurícola, os seguintes documentos: documentações do Incra (fl. 18), do sindicato de tra-balhadores rurais (fl. 23), certificado de cadastro de imóvel rural (fl. 22), certidão emitida pela Justiça Eleitoral na qual fica discriminado sua profissão de agricultor (fls. 27/28), fichas de matrícula (fls. 29/30), recibo de compra e venda de propriedade rural (fl. 40), na qual consta sua atividade enquanto lavrador, impostos sobre a propriedade rural (ITR) (fls. 21, 31/39), declaração de aptidão ao Pronaf (fl. 15), na qual declara sua atividade

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de agricultor, dentre outros. VI – A prova testemunhal produzida em juízo (fl. 134) é no sentido do exercício de atividade rural pelo demandante, à medida que a testemunha José Gregório Martins de Santos declara que conhece o demandante há mais de 30 anos, que o mesmo sempre sobreviveu da roça junto com a família – sua mulher e filhos, que ajudam no trabalho – que planta mandioca, batata, milho, entre outros, que utiliza a colheita para subsistência, vendendo na porta de casa ou na feira o que excede. No mes-mo sentido é o depoimento do declarante Wilson Vieira, que também conhece o autor há mais de 30 anos e que ele sempre viveu na roça, plantando e exercendo a pesca, esporadicamente. VII – Contudo, apesar das provas materiais e testemunhais constantes dos autos, percebe-se, que a parte autora teve diversos vínculos de trabalhos urbanos no período de 1981 a 2009, principalmente no setor da construção civil, conforme relatório do Cadastro Nacional de Informações Sociais (fls. 71/72). Nessa esteira, entende-se que estes vínculos apresentados, por serem vários e por vezes longos, como por exemplo, o labor efetuado nas construtoras Dumar (20.05.1996 a 08.1996), Criativa (21.01.1997 a 03.07.1997), G. Barbosa e Cia. (18.08.1997 a 05.08.1998), entre outras, são suficien-tes para a desqualificação do demandante como segurado especial. VIII – Ausência de condenação em custas e honorários advocatícios em razão do autor ser beneficiário de justiça gratuita. IX – Apelação e remessa oficial providas. [16.4].” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0004945-10.2012.4.05.9999 – (32805/SE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 07.12.2015 – p. 42)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 60, maio-jun./2014, ementa nº 1283 do TRF 5ª R.

1886 – Aposentadoria por idade – mandato de vereador – condição de segurado-em-pregado – requisito não preenchido – benefício não concedido

“Previdenciário. Aposentadoria por idade. Condição de segurado-empregado. Requisito não preenchido. Filiação ao RGPS. Cômputo das contribuições de mandato de vereador. Impossibilidade. Lei nº 9.506/1997. Inconstitucionalidade. Lei nº 10.887/2004. Inclusão dos exercentes de mandato eletivo no Regime Geral da Previdência Social. Vincula-ção ao regime próprio da previdência. 1. Trata-se de apelação em face de sentença que julgou improcedente o pedido de aposentadoria por idade em face do INSS, em virtude da vinculação da demandante ao regime próprio de previdência social, por ter exercido mandado eletivo no município de Jacuípe/AL, nos períodos de 01.02.1983 a 30.12.1998 e de 01.01.1993 a 30.11.2006. 2. A apelante alega que, embora possuísse vínculo estatutário com o município (auxiliar de enfermagem), seria vinculada também ao Regime Geral da Previdência Social, pelo exercício do mandato de vereadora, uma vez que as contribuições incidentes sobre a folha de pagamentos da Câmara Municipal deveriam ser recolhidas ao órgão previdenciário. 3. A controvérsia da presente lide está menos relacionada à possibilidade de cumulação de aposentadorias em regimes previ-denciários diversos do que à viabilidade de enquadramento do vereador como segurado do regime geral da previdência social, mesmo na hipótese de o município empregador possuir regime próprio da Previdência Social, em afronta violação ao art. 12, I, alínea j, da Lei nº 8.212/1991. 4. Os ocupantes de mandado eletivo passaram a ser considerados segurados obrigatórios com a introdução da Lei nº 9.506/1997, a qual foi declarada inconstitucional pelo STF, em sede de Recurso Extraordinário, suspendendo-se a inci-

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dência da contribuição previdenciária sobre os subsídios dos exercentes de mandato eletivo, prevista no art. 12, I, h, da Lei nº 8.212/1991, introduzida pelo § 1º do art. 13 da Lei nº 9.506/1997 (RE 351.717-1/PR, DJ 21.11.2003). 5. Apenas com o advento da Lei nº 10.887/2004 (posterior à EC 20/1998), que acrescentou a alínea j ao inciso I do art. 12 da Lei nº 8.212/1991, os titulares de mandato eletivo federal, estadual ou muni-cipal passaram a ser submetidos ao Regime Geral de Previdência Social, desde que não vinculados a regime próprio. 6. Nesses moldes, nos períodos anteriores à entrada em vigor da Lei nº 10.887/2004, vale dizer, de 01.02.1983 a 30.12.1988 e de 01.01.1993 a 20.06.2004, em que a apelante exerceu a função de vereadora, sua filiação ao RGPS somente poderia se dar na condição de segurada facultativa, o que não ocorreu, pois jamais recolheu contribuições à previdência nessa qualidade. 7. No que concerne ao pe-ríodo de exercício do mandado eletivo após a vigência da referida lei, de 21.06.2004 a 30.11.2006, o fato de o Município de Jacuípe/AL possuir regime próprio de previdência (ofício de fl. 144) é óbice à inclusão da demandante como segurada obrigatória do RGPS. 8. Apelação improvida. [10].” (TRF 5ª R. – AC 0000801-10.2011.4.05.8000 – (536579/AL) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 29.09.2015 – p. 47)

1887 – Aposentadoria por idade – rurícola – prova testemunhal e documental – valo-ração – benefício devido

“Previdenciário. Aposentadoria por idade. Trabalhador rural. Atividade rural comprova-da. Provas testemunhal e documental suficientes. Juros de mora fixados em 0,5% (meio por cento) ao mês na forma do manual de cálculos da Justiça Federal a partir do requeri-mento administrativo. 1. A aposentadoria por idade para o segurado especial independe de carência, desde que comprovado o exercício da atividade rural, à luz do disposto no art. 26, III, da Lei nº 8.213/1991. O rurícola não está dispensado de comprovar o efetivo exercício da atividade rural, no período anterior ao requerimento do benefício, em número de meses correspondentes ao benefício pretendido (arts. 39, I, c/c art. 106 e 143, da Lei nº 8.213/1991). 2. A Demandante ao requerer o benefício administrativa-mente, em 15.02.2012, já havia completado a idade mínima exigida, vez que nascida em 20.07.1956, preenchendo assim o requisito temporal de idade (55 anos), em atendi-mento ao contido no § 1º do art. 48 da Lei nº 8.213/1991. 3. É possível a comprovação da condição de trabalhador rural e do tempo de serviço através de documentos os quais, apesar de não servirem como prova documental stricto sensu, já que não previstas na legislação, funcionam como início de prova material (TRF 5ª R., AC 329061/CE, 1ª T., J. 16.12.2004, DJ de 14.03.2005, p. 736, Rel. Des. Fed. José Maria Lucena). 4. A exigência da prova documental, conforme previsão do art. 55, § 3º c/c art. 106, parágrafo único, da Lei nº 8.213/1991, aplica-se tão somente à autoridade administrativa e não ao Poder Judiciário, não podendo, no processo contencioso, o juiz ficar adstrito a esse ou aquele meio de prova para formar o seu convencimento ao decidir o litígio. Não há no ordena-mento jurídico pátrio prevalência do princípio da hierarquização das provas coligidas no processo. 5. A título de início de prova documental, verifica-se que constam dos autos: a) certidão de casamento da requerente, constando a profissão do marido como agricultor, b) Comprovante de pagamento da contribuição sindical – agricultura familiar; c) boletim de movimentação do programa hora de plantar, corroborada com os depoi-mentos testemunhais, são suficientes para comprovar que a autora detinha a qualidade de segurada especial, em razão de exercer atividade rurícola, fazendo jus à aposentado-

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ria rural por idade, nos termos da Lei nº 8.213/1991, desde o requerimento administrati-vo. 6. Apelação do INSS improvida e remessa oficial parcialmente provida para fixar os juros moratórios no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês, desde o requerimento administrativo, assim como correção monetária, na forma prescrita no Manual de Cálcu-los da Justiça Federal.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0002425-72.2015.4.05.9999 – (32609/CE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Carlos Rebelo Júnior – DJe 20.08.2015 – p. 124)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 60, maio-jun./2014, ementa nº 1283 do TRF 5ª R.

1888 – Aposentadoria por idade urbana – filiação ao RGPS anterior a 1991 – preenchi-mento dos requisitos legais – regra transitória – aplicação

“Previdenciário. Aposentadoria por idade urbana. Filiação ao RGPS anterior a 24.07.1991. Preenchimento dos requisitos legais. Aplicação da regra transitória do art. 142 da Lei nº 8.213/1991. Desnecessidade de concomitância do requisito etário e da carência. Sentença trabalhista. Cômputo para carência. Validade. Concessão do benefí-cio. 1. Comprovado o requisito etário do art. 48 da Lei nº 8.213/1991 e cumprida a ca-rência legalmente exigida no art. 25, II, levando-se em conta o ano em que implementou o requisito etário (art. 48, caput, c/c art. 142, ambos da Lei nº 8.213/1991), possui direito ao benefício de aposentadoria por idade o trabalhador urbano desde o requerimento, com efeitos patrimoniais, entretanto, a partir da impetração do mandado de segurança. 2. Entendimento ratificado pela edição da Lei nº 10.666/2003, não havendo exigência de concomitância de preenchimento dos requisitos legais. Jurisprudência consolidada do C. STJ. 3. A regra de transição de que trata o art. 142 da Lei nº 8.213/1991 é aplicada a todos os segurados inscritos na Previdência Social antes de 24.07.1991, não fazendo a lei distinção entre aqueles que perderam ou não a qualidade de segurado. 4. Prova de vínculo por sentença trabalhista. Admissibilidade como prova cabal para fins de carên-cia. Recolhimento de contribuições pelo empregador. Irrelevância para fins de carência ou tempo de serviço. 5. Quanto aos atrasados, os juros e correção monetária devem observar os percentuais e índices previstos para causas previdenciárias no Manual de Cálculos da Justiça Federal, Res. CJF 267/2013 e compensação de eventuais benefícios inacumuláveis recebidos no período de cálculo. 6. Remessa oficial parcialmente provida e apelação improvida.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2007.38.00.031096-0/MG – Rel. Juiz Fed. Márcio Jose de Aguiar Barbosa – DJe 30.09.2015 – p. 1302)

1889 – Aposentadoria por invalidez – contribuinte individual – contribuições vertidas em atraso – requisito não preenchido – pagamento indevido

“Previdenciário. Auxílio-doença. Aposentadoria por invalidez. Contribuinte individual. Contribuições vertidas em atraso. Carência. Requisito não preenchido. Incapacidade preexistente. Improcedência. 1. São três os requisitos para a concessão dos benefícios por incapacidade: a) a qualidade de segurado; b) o cumprimento do período de carência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter permanente (aposentadoria por invalidez) ou temporária (auxílio-doença). 2. Com relação ao con-tribuinte individual, serão consideradas, para o cômputo do período de carência, as contribuições realizadas a contar da data do efetivo pagamento da primeira contribui-ção sem atraso, a teor do art. 27, II, da Lei nº 8.213/1991. 3. No caso dos autos, restou

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demonstrado ter havido recolhimento das parcelas relativas a todo o período de uma só vez, inviabilizando a sua utilização para fins de carência. Assim, na data do reque-rimento administrativo, a autora não havia cumprido o requisito. 4. A preexistência da doença não impede a concessão do benefício quando a incapacidade laboral decorre do agravamento ocorrido ao longo do tempo, e não da moléstia propriamente dita. Todavia, in casu, há documentos que demonstram a inaptidão laboral da autora em momento anterior ao mês correspondente à primeira competência recolhida – em atraso – pela au-tora. 5. Destarte, é indevida a concessão de qualquer dos benefícios por incapacidade.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0017545-90.2012.4.04.9999/PR – 5ª T. – Rel. Juiz Fed. Luiz Antonio Bonat – DJe 24.08.2015 – p. 161)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 61, jul.-ago./2014, ementa nº 1351 do TRF 1ª R.

1890 – Aposentadoria por invalidez – doença profissional – lesão por esforço repeti-tivo – responsabilidade civil do Estado – indenização por danos morais – nexo causal – ausência

1. Pretende a autora seja a União condenada à reparação de danos materiais e morais, alegando que, em virtude do exercício de seu cargo de agente administrativo, desen-volveu Lesão por Esforço Repetitivo (LER) que a incapacitou para o desenvolvimento de qualquer atividade laborativa, tendo a ré omitido tal síndrome quando da elaboração do laudo médico que embasou a concessão de sua aposentadoria. 2. Conforme constante dos autos foi concedida à autora, nos termos do art. 40, § 1º, I, da CF e art.186 da Lei nº 8.112/1990, aposentadoria por invalidez, com proventos integrais, dada a sua inca-pacidade laborativa decorrente de doença progressiva do sistema neurológico – Doença de Parkinson. 3. Não demonstrado pela autora que, de fato, sofre de lesão por esforço repetitivo, que tal lesão decorreu das atividades por ela desenvolvidas quando do exer-cício de seu cargo, que a União teria concorrido para o surgimento ou agravamento das lesões por esforço repetitivo e que a alegada lesão a tenha incapacitado definitivamente para qualquer atividade laborativa. 4. Como sabido, para a responsabilização civil – objetiva ou subjetiva –, necessária a demonstração da conduta, nexo causal e danos, cabendo ao autor da ação reparatória, nos termos do art. 333, I, do CPC, a prova dos referidos elementos. 5. Note-se que, tendo sido oportunizada às partes a especificação de provas, a autora/apelante informou que não havia mais provas a produzir, não ten-do sido produzida prova pericial. 6. Apelação desprovida.” (TRF 2ª R. – AC 0114583-89.2013.4.02.5160 – 7ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Luiz Paulo da Silva Araújo Filho – DJe 26.11.2015 – p. 192)

1891 – Aposentadoria por invalidez – incapacidade laboral não comprovada – benefí-cio indevido

“Processo civil e previdenciário. Prova oral para comprovação de inaptidão laboral. Impossibilidade. Denegação de provas. Cerceamento de defesa. Inocorrência. Auxílio--doença ou aposentadoria por invalidez. Incapacidade laboral não comprovada. 1. A prova oral não se presta à comprovação de incapacidade laboral, questão técnica a ser aferida por perito médico da confiança do juízo. 2. Desnecessária a complementação ou realização de novas provas quando o próprio juiz, destinatário da prova, demonstra

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à suficiência que as questões suscitadas pela parte autora já se encontram analisadas no laudo pericial. 3. Não comprovada a incapacidade laboral é indevido o auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez.” (TRF 4ª R. – AC 0011258-09.2015.4.04.9999/RS – 6ª T. – Relª Desª Fed. Vânia Hack de Almeida – DJe 02.12.2015 – p. 215)

1892 – Aposentadoria por tempo de contribuição – atividade rural não comprovada – benefício indevido

“Decisão monocrática. Agravo legal. Previdenciário. Aposentadoria por tempo de con-tribuição. Atividade rural não comprovada. Benefício indevido. Pela análise do conjunto probatório, não é possível o reconhecimento do alegado tempo de serviço rural sem registro em CTPS, uma vez que os demais documentos acostados pela autora não são vá-lidos como início de prova material. A certidão de seu nascimento não é contemporânea à prestação de serviço rural e à época da certidão de casamento de seus pais a autora não era sequer nascida. Por sua vez, na certidão de óbito de seu pai e em sua CTPS não há nenhuma informação que possibilite concluir pelo seu labor rural sem o devido registro. Agravo legal não provido.” (TRF 3ª R. – Ag-Ap-RN 0012064-71.2015.4.03.9999/SP – 7ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Domingues – DJe 07.12.2015 – p. 955)

1893 – Aposentadoria por tempo de contribuição – conversão do período laborado em condições especiais – admissibilidade

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Conversão do tempo labora-do em condições especiais. Enquadramento profissional. Possibilidade até 28.04.1995. Retroação DIB Primeiro Requerimento. Juros e correção. Observância do manual. 1. O cômputo do tempo de serviço para fins previdenciários deve observar a legislação vigente à época da prestação laboral, tal como disposto no § 1º, art. 70 do Decreto nº 3.048/1999, com redação do Decreto nº 4.827/2003. 2. No período de trabalho até 28.04.1995, antes da alteração da redação original da Lei nº 8.213/1991 (arts. 57 e 58), possível o reconhecimento da especialidade do trabalho quando houver a comprovação do exercício de atividade enquadrável como especial nos decretos regulamentadores e/ou na legislação especial ou quando demonstrada a sujeição do segurado a agentes no-civos por qualquer meio de prova (exceto para ruído). 3. O autor comprovou através dos formulários o enquadramento profissional anterior à Lei nº 9.032/1995, o que lhe garante o direito à contagem dos períodos pleiteados, mediante a conversão em tempo comum pelo multiplicador 1.4, que, após somado aos demais períodos comuns contabilizados na sentença, resulta em tempo de contribuição suficiente à concessão de aposentadoria por tempo de contribuição (já concedida administrativamente) desde o primeiro requeri-mento. Condenação do INSS ao pagamento de parcelas atrasadas desde a primeira DER. Manutenção. 4. Sobre os valores dos benefícios atrasados devem incidir juros moratórios desde a citação ou desde quando devidos, se posteriores à citação, além de correção monetária desde quando cada benefício for devido, utilizando-se os percentuais de juros e índices de correção para os débitos previdenciários constantes do Manual de Cálculos da Justiça Federal, Res. CFJ 267/2013, compensando-se eventuais benefícios inacumu-láveis recebidos em período concomitante. 5. Remessa oficial parcialmente provida e apelação do INSS não provida.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2005.38.04.000283-3/MG – Rel. Juiz Fed. Márcio José de Aguiar Barbosa – DJe 07.12.2015 – p. 613)

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1894 – Aposentadoria por tempo de contribuição – reconhecimento de tempo presta-do para time de futebol – benefício devido

“Previdenciário e processual civil. Apelação cível. Aposentadoria por tempo de contri-buição. Reconhecimento de tempo prestado para time de futebol. Tempo comum. 1. O MM. Juízo a quo reconheceu, para fins de cálculo do tempo de contribuição, como tem-po comum, o serviço prestado pelo autor no período compreendido entre 18.07.1978 a 18.12.1978 e 19.03.1979 a 19.12.1979 ao São Raimundo Esporte Clube e ao Nacional Futebol Clube, respectivamente. 2. Verifico que restou comprovado nos autos o labor, pelo autor, nos períodos e nos clubes mencionados, conforme cópia da CTPS de fls. 18 e 19. 3. A Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) em relação à qual não se aponta defeito formal que lhe comprometa a fidedignidade goza de presunção relativa de veracidade, formando prova suficiente de tempo de serviço para fins previdenciários, ainda que a anotação de vínculo de emprego não conste no Cadastro Nacional de Infor-mações Sociais (CNIS). 4. Não há retoque a ser feito, na sentença recorrida, quanto ao reconhecimento do tempo trabalhado. 5. Remessa oficial não provida.” (TRF 1ª R. – RN 2005.32.00.005476-8/AM – Rel. Des. Fed. Candido Moraes – DJe 08.10.2015 – p. 1824)

Comentário Editorial SínTESECuida a ementa em destaque do reconhecimento do tempo de serviço prestado pelo atleta, jogador de futebol, ao clube para a obtenção do benefício.

Do voto do Relator destacamos:

“A questão central diz respeito à contagem de tempo de serviço do autor, realizada pela autarquia recorrente, à época de seu requerimento de aposentadoria propor-cional, em 08.04.2002.

Nesse ponto, conclui-se que deve prevalecer a decisão de 1ª instância, que re-conheceu, para fins de cálculo do tempo de contribuição, como tempo comum, o serviço prestado pelo autor no período compreendido entre 18.07.1978 a 18.12.1978 e 19.03.1979 a 19.12.1979 ao São Raimundo Esporte Clube e ao Nacional Futebol Clube, respectivamente.

Da análise dos autos verifico que restou comprovado nos autos o labor, pelo autor, nos períodos e nos clubes mencionados, conforme cópia da CTPS de fls. 18 e 19.

Ressalto que a CTPS goza de presunção relativa de veracidade, cabendo ao INSS comprovar a inexistência ou irregularidade da anotação em relação ao segurado. Não havendo meios de desconstituir a prova da carteira de trabalho, o que geral-mente acontece, o tempo anotado será computado para fins de carência.

Eis a redação original da Súmula nº 75 da TNU:

‘A Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) em relação à qual não se apon-ta defeito formal que lhe comprometa a fidedignidade goza de presunção relativa de veracidade, formando prova suficiente de tempo de serviço para fins previ-denciários, ainda que a anotação de vínculo de emprego não conste no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS).’

Não há, portanto, retoque a ser feito, na sentença recorrida, quanto ao reconheci-mento do tempo trabalhado.”

Note-se que a prova material usada teve sua valoração.

Nesse sentido, o Professor Wladimir Novaes Martinez leciona:

“Segundo cediça afirmação e dispositivo adjetivo, a obrigação de confirmar é en-cargo de quem alega. Por exemplo, se o segurado afirma ter trabalhado em certa

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empresa durante determinado período, precisa juntar os comprovantes da decla-ração.

Muitas vezes, porém, o interessado não dispõe dos meios de convicção, em razão deles estarem acima de suas forças [...] ou inacessíveis [...]. É uso e costume administrativo o segurado requerer a providência à autarquia ou aos órgãos julga-dores. Neste caso, a certeza provirá do próprio INSS ou MPS.

[...]

Os fatos alegados podem ser provados por meio de matéria [...], documentos [...], declarações escritas e depoimentos.

Qualquer objeto material presta-se para a persuasão, se ele permite exame de sua legitimidade e ancianidade. Ressalvam-se os microfilmes, quando pretender-se examinar a autenticidade corporal da folha.

[...]

O depoimento testemunhal é válido em algumas circunstâncias [...], mesmo sendo o único responsável e, nas demais situações, acompanhado de início razoável de prova material.” (Curso de direito previdenciário. 5. ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 1092-1093)

1895 – Aposentadoria por tempo de contribuição – suspensão – processo administrati-vo – irregularidade – efeitos

“Previdenciário. Suspensão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição. Processo administrativo. Irregularidades do vínculo empregatício comprovadas. Negado provimento à apelação. 1. O INSS conferiu oportunidade de defesa à autora, observando o princípio da ampla defesa e do contraditório, ao contrário do sustentado pela apelante. 2. É certo que, uma vez concedido o benefício previdenciário, o ato administrativo de concessão goza de presunção de legitimidade. Por esse motivo, bem como pela própria natureza dos direitos envolvidos nessa relação, há necessidade de comprovação de in-dícios de irregularidades no ato concessório para que seja suspenso o benefício. 3. No caso em tela, o INSS procedeu à auditoria geral efetuando diligências junto à Malharia PRA Ltda., ao Cadastro de ICMS e junto à CEF, restando comprovada a ausência de vínculo laboral da mencionada empresa com a autora. 4. Uma vez que a suspensão do benefício foi precedida de processo administrativo em que o contraditório e a ampla de-fesa foram proporcionados à autora em diversos momentos e a irregularidade do vínculo trabalhista foi amplamente comprovada por meio dos documentos acostados aos autos, não há que se falar em necessidade de prova pericial para aferir a legalidade do ato ad-ministrativo contra o qual se insurge a parte autora. 5. Negado provimento à apelação.” (TRF 2ª R. – AC 2008.51.01.811173-4 – (557668) – 2ª T.Esp. – Relª Simone Schreiber – DJe 07.12.2015 – p. 344)

1896 – Aposentadoria por tempo de serviço – suspeita de fraude – impossibilidade

“Previdenciário. Processual civil. Constitucional. Aposentadoria por tempo de serviço. Suspeita de fraude. Impossibilidade de suspensão do benefício antes do exaurimento das instâncias administrativas recursais (precedentes). Inobservância dos princípios do devi-do processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Superveniente reconhecimento da condição de anistiado. Abrangência do período questionado pelo INSS. Litispendência afastada. 1. Preliminar de litispendência afastada, acertadamente, em face da desistência

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do MS 2001.35.014.281-5, e da ausência de identidade das causas de pedir e pedidos formulados nos autos do presente feito e no MS 2005.35.00.10776-4. 2. É prerrogativa da Administração Pública rever os seus próprios atos para suspender ou cancelar bene-fício previdenciário concedido de maneira indevida. Todavia, ela não pode dispensar a instauração do competente processo administrativo, com vistas a viabilizar ao adminis-trado/segurado o direito ao devido processo legal, tal como estatui a norma constitucio-nal. 3. Consoante a Súmula nº 160 do extinto TFR ‘a suspeita de fraude na concessão de benefício previdenciário não enseja, de plano, a sua suspensão ou cancelamento, mas dependerá de apuração em procedimento administrativo’. 4. Na hipótese dos autos, mesmo sob a suspeita de fraude relativa ao tempo de serviço prestado à firma individual Etelvina Peres Naves Freitas, de 01.01.1966 a 30.11.1968, a autarquia previdenciária não poderia cancelar ou suspender o benefício da parte autora antes que fosse enseja-da a apresentação de recurso na esfera administrativa e proferida decisão, havendo o exaurimento de todas as instâncias recursais, o que só veio a ocorrer no curso do proces-so judicial. Ademais, vale registro que no decorrer da instrução processual, não houve comprovação da ocorrência de fraude. 5. Constatada a inobservância dos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa configura-se ilegal a suspen-são do benefício pago ao autor, devendo-se restabelecer o benefício. 6. Superveniente Resolução (nº 001/2002) da Comissão Especial de Anistia, reconheceu a condição do autor de anistiado político, assegurando-lhe o direito à contagem, para todos os efeitos, do tempo de serviço (sem contribuição) compreendido entre 01.06.1965 a 12.12.1968, abrangendo, assim, o período de trabalho questionado pelo INSS, e que teria dado en-sejo à suspensão do benefício do autor. Com tal fato o tempo de contribuição do autor passou a ser de 30 (trinta) anos, 10 (dez) meses e 18 (dezoito) dias, o que lhe assegurava a aposentadoria. Em virtude da aludida anistia, o autor teve reconhecido, por meio de sentença proferida nos autos do MS 2005.35.00.10776-4, o direito ao restabelecimento de seu benefício previdenciário, mas apenas a partir da data da impetração, ocorrida em 2005. 7. Devidas as parcelas da aposentadoria suspensa pelo INSS, no período anterior à impetração do aludido mandado de segurança, como estabeleceu a sentença recorrida. 8. A correção monetária e os juros moratórios incidentes sobre as parcelas atrasadas, nas ações condenatórias, tanto em sede previdenciária quanto na seara administrativa, sendo o devedor a Fazenda Pública, devem observar as orientações do Manual de Cálculos da Justiça Federal ora em vigor. 9. Em se tratando de causas ajuizadas perante a Justiça Federal, o INSS está isento de custas por força do art. 4º, inc. I, da Lei nº 9.289/1996, abrangendo, inclusive, as despesas com oficial de justiça. A isenção se repete nos Esta-dos onde houver Lei estadual assim prescrevendo. No entanto, no caso, como se trata de reembolso das custas pagas ao autor, em face da maior sucumbência do INSS, prevalece a sentença, também na parte que determinou a inclusão de tal consectário no RPV. 10. Honorários fixados de acordo com o art. 21 do CPC. 11. Remessa oficial parcialmen-te provida.” (TRF 1ª R. – RN 0001409-15.2011.4.01.3507/GO – Relª Desª Fed. Gilda Sigmaringa Seixas – DJe 28.08.2015 – p. 210)

1897 – Auxílio-acidente – redução da capacidade laboral – não comprovação – bene-fício indevido

“Previdenciário. Auxílio-acidente. Redução da capacidade laboral não comprovada. 1. Quatro são os requisitos para a concessão do benefício em tela: (a) qualidade de se-gurado; (b) a superveniência de acidente de qualquer natureza; (c) a redução parcial e definitiva da capacidade para o trabalho habitual; e (d) o nexo causal entre o acidente a

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redução da capacidade. 2. Não comprovada a redução da capacidade para o trabalho habitual, é indevido o auxílio-acidente.” (TRF 4ª R. – AC 0012656-88.2015.4.04.9999/SC – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Afonso Brum Vaz – DJe 02.12.2015 – p. 317)

1898 – Auxílio-doença – erro no tocante ao cômputo dos salários-de-contribuição – revisão – cabimento

“Previdenciário. Pedido de revisão da renda mensal inicial de auxílio-doença. Erro no tocante ao cômputo dos salários-de-contribuição tomados para efeito de cálculo do be-nefício. Direito à revisão e às diferenças devidas. Desprovimento do recurso. 1. A hipó-tese é de apelação contra a sentença pela qual o MM. Juízo a quo a julgou procedente o pedido em ação ajuizada em face do INSS, objetivando a revisão da renda mensal inicial de benefício previdenciário de auxílio-doença, em razão de não terem sido computados corretamente os salários-de-contribuição. 2. Verifica-se que no recurso o INSS não sus-tenta o acerto do cálculo questionado através desta ação, mas defende a tese de que o vínculo empregatício da parte autora na qualidade de empregada doméstica não pode ser considerado apenas com base no registro da CTPS, devendo ser corroborado por ou-tras provas. 3. Nota-se que a autarquia não apresenta qualquer indício de irregularidade do vínculo em questão, não havendo razão plausível para desconsiderá-lo no cálculo do benefício. 4. Ademais, restou verificado pelo contador judicial (fls. 316/318) que de fato houve erro na apuração da renda mensal inicial do auxílio-doença deferido à parte autora, o que impõe o recálculo do benefício, bem como o pagamento das diferenças devidas à segurada. 5. Do exame dos autos, afigura-se portanto correta a sentença pela qual se reconheceu o direito da parte autora à revisão do valor da renda mensal inicial de seu benefício previdenciário de auxílio-doença, bem como das diferenças devidas. 6. Não há razão para alteração do percentual de 10% (dez por cento) fixado a título de verba honorária, uma vez arbitrado em consonância com a legislação processual (art. 20 do CPC) e com a Orientação Jurisprudencial desta Turma Especializada. 7. Ape-lação conhecida e desprovida.” (TRF 2ª R. – AC 0000824-97.2008.4.02.5104 – 1ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Abel Gomes – DJe 31.08.2015 – p. 5)

1899 – Auxílio-doença – incapacidade comprovada – correção monetária – cabimento

“Previdenciário. Restabelecimento de auxílio-doença. Incapacidade comprovada. Cor-reção monetária. 1. Comprovado que o segurado encontra-se incapacitado para suas atividades habituais, devida é a concessão de auxílio-doença desde o dia posterior a data da cessação indevida do benefício. 2. As prestações em atraso serão corrigidas pelos ín-dices oficiais, desde o vencimento de cada parcela, ressalvada a prescrição quinquenal, e, segundo sinalizam as mais recentes decisões do STF, a partir de 30.06.2009, deve-se aplicar o critério de atualização estabelecido no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, na reda-ção da Lei nº 11.960/2009. 3. Este entendimento não obsta a que o juízo de execução observe, quando da liquidação e atualização das condenações impostas ao INSS, o que vier a ser decidido pelo STF em regime de repercussão geral (RE 870.947), bem como eventual regramento de transição que sobrevenha em sede de modulação de efeitos.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0014031-27.2015.4.04.9999/SC – 6ª T. – Relª Desª Fed. Vânia Hack de Almeida – DJe 02.12.2015 – p. 169)

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1900 – Auxílio-doença – qualidade de segurado – incapacidade – comprovação por laudo pericial – benefício devido

“Previdenciário. Coisa julgada. Não ocorrência. Auxílio-doença. Requisitos. Qualidade de segurado. Período de carência. Incapacidade. Laudo pericial. Consectários legais. Tutela específica. Implantação do benefício. 1. Em se tratando de benefícios previden-ciários, há necessidade de relativização, sob a ótica do caso concreto, do instituto da coisa julgada diante de outros princípios tão importantes quanto à segurança jurídica. In casu, reconhece-se a existência da coisa julgada apenas com relação ao período anterior ao trânsito em julgado da decisão proferida em processo anterior. 2. São três os requisitos para a concessão dos benefícios por incapacidade: a) a qualidade de segurado; b) o cum-primento do período de carência de 12 contribuições mensais; c) a incapacidade para o trabalho, de caráter permanente (aposentadoria por invalidez) ou temporária (auxílio--doença). 3. A concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez pressupõe a averiguação da incapacidade para o exercício de atividade que garanta a subsistência do segurado, e terá vigência enquanto permanecer ele nessa condição. 4. A incapacidade é verificada mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social ou realizado por perito nomeado pelo juízo; o julgador, via de regra, firma sua convicção com base no laudo do expert, embora não esteja jungido à sua literalidade, sendo-lhe facultada ampla e livre avaliação da prova. 5. No caso dos autos, o laudo peri-cial indicou que a parte autora encontra-se temporariamente incapacitada para o exercí-cio da atividade habitual, razão pela qual faz jus à percepção do auxílio-doença. 6. Não há falar em doença preexistente quando a incapacidade laboral decorre do agravamento ocorrido ao longo do tempo, e não da moléstia propriamente dita. 7. Termo inicial do benefício fixado no dia seguinte ao do trânsito em julgado da decisão prolatada no pro-cesso anterior, uma vez evidenciado nos autos que a incapacidade já estava presente àquela data. 8. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios devem ser equivalentes aos índices de juros aplicáveis à caderneta de pou-pança (STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª S., Rel. Min. Castro Meira, 26.06.2013). No que tange à correção monetária, permanece a aplicação da TR, como estabelecido naquela lei e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudência. 9. Havendo o feito tramitado perante a Justiça Estadual de Santa Catarina, deve a autarquia responder por metade das custas devidas, consoante a Lei Complementar nº 156/1997 desse Estado, na redação dada pela Lei Complementar nº 161/1997. 10. O cumprimento imediato da tutela es-pecífica, diversamente do que ocorre no tocante à antecipação de tutela prevista no art. 273 do CPC, independe de requerimento expresso por parte do segurado ou beneficiário e o seu deferimento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos fundados no art. 461 do CPC.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0001308-44.2013.4.04.9999/SC – 5ª T. – Rel. Juiz Fed. Luiz Antonio Bonat – DJe 24.09.2015 – p. 111)

1901 – Benefício assistencial – incapacidade e hipossuficiência – comprovação – pres-crição – inocorrência – pagamento devido

“Previdenciário. Processual civil. Benefício assistencial. Amparo social. Prescrição. Ino-corrência. Incapacidade e hipossuficiência comprovadas. 1. Apelação interposta em face da sentença que condenou o INSS ao pagamento do benefício previdenciário de Amparo

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Social ao deficiente. 2. O benefício previdenciário de prestação continuada é devido independentemente de contribuição para o sistema de Seguridade Social. Previsão do art. 203, V, CF/1988. Objetivo: ‘a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria subsistência ou tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei’. 3. Afastada ocorrência da prescrição. Requerimento administrativo datado de 22.03.2007. Ação proposta em 10.03.2010. Não houve lapso temporal superior a 5 (cinco) anos. 4. Laudo pericial afirma ser o Autor portador de ‘Deficiência mental e motora’. Incapaci-dade para o trabalho em qualquer atividade, de forma definitiva, e o periciando é porta-dor da doença possivelmente desde que nasceu, nunca apresentando capacidade para o trabalho. 5. Demonstração de que o Autor era incapaz de prover a própria subsistência e de praticar os atos da vida civil, além de preencher o requisito da hipossuficiência econô-mica. Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – AC 0002421-35.2015.4.05.9999 – (582345/PB) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Cid Marconi – DJe 28.08.2015 – p. 56)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 59, mar.-abr./2014, assunto especial intitulado “O benefício assis-tencial”.

1902 – Competência – Justiça Federal – ajuizamento da ação na comarca de residência do segurado – efeitos

“Agravo legal em agravo de instrumento. Previdenciário. Competência. Ajuizamento na comarca de residência do segurado. Art. 109, § 3º, CF. Vara Distrital não constitui foro autônomo. Existência de Vara Federal na comarca da qual a Vara Distrital é vinculada. Competência da Justiça Federal. O art. 109, § 3º, da Constituição Federal, facultar ao segurado aforar as demandas contra a previdência no município de sua residência, ga-rantindo, desta forma, o seu acesso à justiça. O Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento no sentido de que a Vara distrital não constitui foro autônomo, consubs-tanciando apenas uma divisão administrativa da Comarca à qual está circunscrita, de maneira que somente se não houver Vara Federal instalada na Comarca do domicílio do segurado é que o Juiz Estadual estará investido de jurisdição para processar e julgar as causas previdenciárias. A competência para o julgamento e processamento das causas em que são partes o INSS e segurado ou beneficiário somente será do foro distrital na hipótese de a Comarca à qual pertence não sediar Vara da Justiça Federal. Agravo legal não provido.” (TRF 3ª R. – Ag-AI 0021019-18.2015.4.03.0000/SP – 7ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Domingues – DJe 07.12.2015 – p. 950)

1903 – Competência – Justiça Federal – salário-maternidade – demissão – manutenção da qualidade de segurada – alcance

“Previdenciário. Salário-maternidade. Segurada empregada. Legitimidade passiva do INSS. Competência da Justiça Federal. Demissão. Manutenção da qualidade de segu-rada. 1. O salário-maternidade é devido à segurada da Previdência Social, durante 120 dias, com início no período entre 28 dias antes do parto e a data de ocorrência deste, ob-servadas as situações e condições previstas na legislação no que concerne à proteção da maternidade. 2. O fato de ser atribuição da empresa pagar o salário-maternidade no caso da segurada empregada não afasta a natureza de benefício previdenciário da prestação

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA ................................................................................195

em discussão. Ademais, a teor do disposto no art. 72, § 2º, da Lei nº 8.213/1991, na re-dação dada pela Lei nº 10.710, de 05.08.2003, a responsabilidade final pelo pagamento do benefício é do INSS, na medida em que a empresa tem direito a efetuar compensação com as contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos. Se assim é, não há razão para eximir o INSS de pagar o que, em última análise, é de sua respon-sabilidade. Firmada a legitimidade, firma-se, também, a competência da Justiça Federal. 3. A segurada não pode ser penalizada com a negativa do benefício previdenciário que lhe é devido, pelo fato de ter sido indevidamente dispensada do trabalho. Eventuais pendências de ordem trabalhista, ou eventual necessidade de acerto entre a empresa e o INSS, não constituem óbice ao reconhecimento do direito da segurada, se ela optou por acionar diretamente a autarquia. 4. A legislação previdenciária garante a manutenção da qualidade de segurado, até 12 meses após a cessação das contribuições, àquele que dei-xar de exercer atividade remunerada. 5. A segurada tem direito ao salário-maternidade enquanto mantiver esta condição, pouco importando eventual situação de desemprego.” (TRF 4ª R. – AC 0016101-51.2014.4.04.9999/PR – 5ª T. – Relª Juíza Fed. Taís Schilling Ferraz – DJe 23.09.2015 – p. 66)

1904 – Contribuição previdenciária – fator acidentário de prevenção – observação

“Processual civil e tributário. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Con-tribuição previdenciária. Fator Acidentário de Prevenção – FAP. Matéria decidida pela corte de origem sob o enfoque constitucional. Impossibilidade de apreciação da matéria pelo STJ. 1. A discussão relacionada à legalidade da cobrança da contribuição previ-denciária destinada ao custeio do Seguro de Acidente de Trabalho – SAT, nos termos do art. 10 da Lei nº 10.666/2003, permitindo a redução ou majoração da alíquota, com base na aplicação do FAP, foi resolvida pelo Tribunal de origem com base em fun-damentos eminentemente constitucionais, escapando sua revisão à competência desta Corte, em sede de recurso especial. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 654.947 – (2015/0014084-3) – 2ª T. – Relª Min. Diva Malerbi – DJe 02.12.2015 – p. 622)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 67, jul.-ago./2015, artigo de Aparecido Sebastião de Oliveira, James Bill Dantas e Heloisa do Rocio Ramos Toledo intitulado “Fator previdenciário”.

1905 – Contribuição previdenciária – recolhimento post mortem – impossibilidade

“Apelação cível. Direito previdenciário. Contribuições após o óbito. Impossibilidade. Concessão de pensão por morte. Perda da qualidade de segurado. Ausência de direito ao benefício. I – É sabido que não há direito à regularização das contribuições depois do óbito, tendo em vista que, por força dos arts. 30, II, e 45-A da Lei nº 8.212/1991, a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e da indenização por aquelas atrasadas é do segurado contribuinte individual, e não de seus dependentes. II – A improcedência do pedido se impõe, pois o falecido, na data do óbito, já havia perdido a qualidade de segurado, contava com 60 (sessenta) anos de idade e havia contribuído para a previdência por tempo insuficiente, não preenchendo, portanto, os requisitos para se aposentar, tanto por tempo de contribuição, quanto por idade, fatos que acarretam, como consequência, a extinção do direito de suas dependentes à per-

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cepção da pensão por morte. III – Apelação desprovida.” (TRF 2ª R. – AC 0036585-62.2012.4.02.5101 – 1ª T.Esp. – Rel. Antonio Ivan Athié – DJe 25.09.2015 – p. 488)

1906 – Desaposentação – necessidade de restituição dos valores recebidos a título de aposentadoria anterior – efeitos ex tunc

“Previdenciário. Desaposentação. Renúncia a benefício de aposentadoria para obtenção de novo benefício sob o mesmo regime. Necessidade de restituição dos valores recebi-dos a título de aposentadoria anterior. Efeitos ex tunc. Apelação provida. I – Remessa e Apelação interposta pelo INSS em ação cujo pedido foi julgado procedente, para conde-nar o Réu a reconhecer o direito do Apelado a renunciar ao seu benefício de aposenta-doria original, para conceder um novo benefício sob o mesmo regime, haja vista não ter deixado de laborar, recolhendo as contribuições previdenciárias regularmente. II – Ca-bível a desaposentação, conforme decisões reiteradas do E. Superior Tribunal de Justiça, eis que a aposentadoria constitui um direito patrimonial disponível, sendo passível de re-núncia para fins de concessão de novo benefício mais vantajoso, ainda que sob o mesmo regime. III – A concessão de nova aposentadoria, aproveitando-se as contribuições pagas durante a aposentadoria anterior, implicam obrigatoriamente na restituição ao INSS de todas as prestações pagas relativas à primeira aposentadoria, eis que a cobrança da con-tribuição previdenciária dos aposentados do RGPS, que retornem à atividade, se destina ao custeio geral do sistema previdenciário, não se destinando aos próprios aposentados contribuintes: respeito aos princípios da solidariedade e universalidade, consagrados no art. 195 da Constituição Federal. IV – A renúncia ao benefício previdenciário terá obriga-toriamente efeitos ex tunc, a fim de recompor o Fundo da Previdência, resguardando-se o direito dos demais aposentados, razão pela qual é necessária a devolução de todos os proventos já recebidos, sob pena de romper o equilíbrio financeiro e atuarial. V – Inca-bível a mistura das duas espécies de aposentadoria (a proporcional e a integral) para a criação de uma nova espécie de benefício, não previsto em lei e sem fonte de custeio (art. 195, § 5º da CF).” (TRF 2ª R. – AC-RN 0017697-80.2015.4.02.5120 – 1ª T.Esp. – Rel. Paulo Espirito Santo – DJe 07.12.2015 – p. 166)

1907 – Execução fiscal – contribuições previdenciárias – folha de salários – verbas in-denizatórias – não incidência

“Processual civil. Agravo legal. Agravo de instrumento. Execução fiscal. Contribuições previdenciárias. Folha de salários. Verbas indenizatórias. Não incidência. Manutenção da decisão recorrida. Agravo não provido. 1. A apresentação do recurso em mesa, sub-metendo-se a decisão monocrática ao crivo do órgão colegiado supre eventual des-conformidade do julgamento singular com o art. 557, do Código de Processo Civil. 2. O entendimento segundo o qual não é devida a contribuição previdenciária sobre a remuneração paga pelo empregador ao empregado, durante os primeiros dias do auxílio--doença e auxílio-acidente, à consideração de que tais verbas, por não consubstancia-rem contraprestação a trabalho, não têm natureza salarial, é dominante no C. Superior Tribunal de Justiça. 3. No que respeita à contribuição sobre o terço constitucional de férias, a Primeira Seção do C. Superior Tribunal de Justiça, em sede de incidente de uniformização de jurisprudência das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais, modificou o posicionamento, alinhando-se à jurisprudência já sedimentada por ambas

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as turmas do C. Supremo Tribunal Federal, no sentido da não incidência da contribuição previdenciária sobre o benefício. 4. Em relação ao aviso-prévio indenizado, esta Corte Regional tem entendimento pacificado no sentido da não incidência da contribuição previdenciária. 5. No que tange ao auxílio-educação, a não incidência de contribui-ção previdenciária decorre da natureza não remuneratória de tal verba, visto que não é paga em função do trabalho desenvolvido pelo empregado. 6. Agravo não provido.” (TRF 3ª R. – Ag-AI 0026231-54.2014.4.03.0000/SP – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Hélio Nogueira – DJe 29.09.2015)

1908 – Pensão por morte – beneficiária maior de 21 anos – prorrogação até 24 anos – previsão legal – ausência – impossibilidade

“Mandado de segurança. Direito administrativo. Pensão por morte. Beneficiária maior de 21 anos. Prorrogação até 24 anos. Estudante universitário. Ausência de previsão le-gal. Impossibilidade de prorrogação. Denegação da ordem. A Lei nº 8.112/1990 leciona taxativamente que os beneficiários de pensão por morte de servidor, não reconhecendo o benefício àquele maior de 21 anos, salvo em caso de invalidez. Estudante universitário que pretende extensão da concessão do benefício até os 24 anos não possuem direito líquido e certo a amparar tal desiderato.” (TJPB – MS 2014084-90.2014.815.0000 – 2ª S.Esp.Cív. – Rel. Des. João Alves da Silva – DJe 22.09.2015)

Destaque Editorial SínTESESelecionamos os seguintes julgados no mesmo sentido:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – AGRAVO REGIMENTAL NO RECUR-SO ESPECIAL – SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL – PENSÃO POR MORTE – EXTEN-SÃO DO BENEFÍCIO ATÉ OS 24 ANOS DE IDADE – DEPENDENTE UNIVERSITÁ-RIA – IMPOSSIBILIDADE – AUSÊNCIA DE PREVISÃO NORMATIVA – AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO – 1. ‘A Lei nº 8.112/1990 prevê, de forma taxativa, quem são os beneficiários da pensão temporária por morte de servidor público civil, não reconhecendo o benefício a dependente maior de 21 anos, salvo no caso de invalidez. Assim, a ausência de previsão normativa, aliada à jurisprudên-cia em sentido contrário, levam à ausência de direito líquido e certo a amparar a pretensão do impetrante, estudante universitário, de estender a concessão do benefício até 24 anos’ (MS 12.982/DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Corte Especial, DJe 31.03.2008). 2. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg--REsp 1.479.964 – (2014/0229977-1) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 30.03.2015 – p. 704) (Disponível em online.sintese.com, sob o nº 101000514181. Acesso em: 22 set. 2015)

“PREVIDENCIÁRIO – PENSÃO POR MORTE – FILHO UNIVERSITÁRIO MAIOR DE 21 ANOS – PRORROGAÇÃO ATÉ 24 ANOS OU ATÉ CONCLUSÃO DO CURSO SU-PERIOR – IMPOSSIBILIDADE – A situação do estudante de curso de nível superior não representa critério válido para o afastamento do limite legal de 21 anos para a percepção do benefício previdenciário de pensão por morte, sob pena de quebra do princípio da isonomia. O magistrado não pode criar novas hipóteses para percep-ção de benefícios previdenciários, função estrita do Poder Legislativo.” (TRF 4ª R. – AC 0021033-82.2014.404.9999/RS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle Pereira – DJe 21.01.2015 – p. 781) (Disponível em online.sintese.com, sob o nº 110000369625. Acesso em: 22 set. 2015)

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1909 – Pensão por morte – companheira – comprovação da união estável – termo inicial

“Previdenciário. Pensão por morte. Companheira. Comprovação da união estável. Ca-bimento da pensão por morte. Termo inicial. Custas judiciais. Isenção. Impossibilidade. Correção monetária. Juros de mora. Honorários advocatícios. I – Apelação interposta contra sentença que julgou procedente o pedido autoral para concessão do benefício de pensão por morte, condenando a autarquia conceder o referido benefício, com base no art. 269, I, do CPC , por entender que restaram preenchidos todos os requisitos para obtenção. II – De fato, os requisitos para concessão do benefício da pensão por morte são os seguintes: 1. óbito; 2. qualidade de segurado do falecido; 3. dependência eco-nômica dos requerentes em relação ao falecido. III – O primeiro requisito encontra-se comprovado pela certidão de óbito de 25.08.1990, à fl. 07. No que se refere à qualidade de segurado do falecido, deve se ressaltar que a autarquia ré não impugnou a qualidade de segurado da de cujus, uma vez que a mesma já era beneficiária de aposentadoria por idade rural (B/Nº 097.216.605-0) à fl. 16, limitando-se na contestação a arguir a inexistência de comprovação da união estável, o que descaracterizaria a qualidade de dependente. IV – Quanto ao requisito da dependência econômica do autor, Sr. José Arcanjo da Fonseca, em face Sra. Josefa Batista dos Santos, falecida, constata-se que a união estável foi comprovada pelos seguintes documentos: declaração do coveiro do Cemitério Casa da Saudade na cidade de Salgado/SE em 30.08.1990 à fl. 05; Certidão de casamento de 28.07.1986 à fl. 08, entre outros documentos que comprovam que a parte autora é companheiro da segurada especial, em regime de economia familiar, resta preenchido o requisito da dependência econômica do autor em face da falecida é presumida, conforme prevê o art. 16 da Lei nº 8.213/1991. V – Aliados a prova docu-mental, foi produzido também prova testemunhal colhida em mídia digital às fls. 59 e 81, afirmando as testemunhas quando inquiridas pelo Juízo que ‘conheciam o autor há mais de 40 anos; que o autor sempre viveu como casado com a falecida; que tiveram 4 filhos; que sempre trabalharam na roça em regime de economia familiar; que a causa da morte foi um infarto; que o autor sempre permaneceu ao lado da falecida esposa; que nunca conviveu com outra mulher’. VI – Assim, preenchidos os requisitos previstos na legislação, deve ser reconhecido à parte autora o direito à pensão por morte. VII – O ter-mo inicial é a data do requerimento administrativo em 22.07.2011. VIII – Conforme en-tendimento desta Segunda Turma Julgadora nas ações previdenciárias deve ser aplicado, sobre as parcelas devidas, o critério de atualização previsto no Manual de Cálculos da Justiça Federal, e juros de mora de 0,5% ao mês, a partir da citação (Lei nº 9.494/1997, art. 1º-F, dada pela Medida Provisória nº 2.180-35/2001). IX – Honorários advocatícios fixados no percentual de 10% (dez por cento) sobre valor da condenação, observando--se o disposto na Súmula nº 111 do STJ. X – Apelação improvida. [16.1].” (TRF 5ª R. – AC 0003016-34.2015.4.05.9999 – (583376/SE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 04.12.2015 – p. 62)

1910 – Pensão por morte – companheiro – comprovação da união estável e dependên-cia econômica – benefício devido

“Previdenciário. Concessão de pensão por morte de companheiro. Comprovação da união estável. Dependência econômica presumida. Antecipação de tutela. Consectá-

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rios da condenação. 1. Para a obtenção do benefício de pensão por morte deve a parte interessada preencher os requisitos estabelecidos na legislação previdenciária vigente à data do óbito, conforme dispõe a Súmula nº 340, do Superior Tribunal de Justiça. 2. Comprovada a união estável, presume-se a dependência econômica (art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/1991), impondo-se à Previdência Social demonstrar que esta não existia. Hi-pótese em que a parte autora comprovou a existência de união estável com a segurada falecida, fazendo jus, portanto, à pensão por morte da companheira. 3. Preenchidos os requisitos exigidos pelo art. 273 do Código de Processo Civil (CPC) – verossimilhança do direito alegado e fundado receio de dano irreparável –, cabível a antecipação dos efeitos da tutela. 4. O Supremo Tribunal Federal reconheceu repercussão geral à ques-tão da constitucionalidade do uso da Taxa Referencial (TR) e dos juros da caderneta de poupança para o cálculo da correção monetária e dos ônus de mora nas dívidas da Fazenda Pública, e vem determinando, por meio de sucessivas reclamações, e até que sobrevenha decisão específica, a manutenção da aplicação da Lei nº 11.960/2009 para este fim, ressalvando apenas os débitos já inscritos em precatório, cuja atualização deverá observar o decidido nas ADIs 4.357 e 4.425 e respectiva modulação de efeitos. 5. Com o propósito de manter coerência com as recentes decisões, deverão ser adotados, no presente momento, os critérios de atualização e de juros estabelecidos no 1º-F da Lei nº 9.494/1997, na redação dada pela Lei nº 11.960/2009, sem prejuízo de que se ob-serve, quando da liquidação, o que vier a ser decidido, com efeitos expansivos, pelo Supremo Tribunal Federal.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0010463-03.2015.4.04.9999/RS – 6ª T. – Rel. Juiz Fed. Osni Cardoso Filho – DJe 23.09.2015 – p. 152)

Comentário Editorial SínTESEO Tribunal considerou válidas as provas apresentadas e concedeu o benefício de pensão por morte ao companheiro da segurada.

Recentemente, com a vigência da Lei nº 13.135/2015, algumas alterações ocor-reram na concessão do benefício de pensão por morte.

A Professora Erica Paula Barcha Correia, assim comenta:

“Dessa forma, para concessão de benefícios previdenciários, há de se verificar a ocorrência de fatos determinantes que lhe são específicos, como a ocorrência da contingência geradora de necessidade e a verificação prévia da ausência ou não da carência como pressuposto básico e geral na concessão de benefícios previ-denciários.

Assim, no caso do benefício de pensão por morte, o risco a ser coberto é a morte, com dispensa legal da carência, nos termos do art. 26 da Lei nº 8.213/1991 [...].

[...]

Desse modo, todos os dependentes do inciso I do art. 16 em comento concorrem ao benefício de pensão por morte em igualdade de condições, excluindo o direito de outros dependentes, pertencentes a outras classes.

Melhor dizendo, a condição de casado em ou regime de união estável não pode ser fator de discrímen para a concessão do benefício de pensão por morte. Filhos e pais devem receber igual tratamento da lei no tocante à concessão do benefício de pensão por morte.

Destarte, para concessão de benefícios previdenciários, há de se verificar a ocor-rência de fatos determinantes que lhe são específicos, como a ocorrência da con-tingência geradora de necessidade e a verificação prévia da ausência ou não da

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carência como pressuposto básico e geral na concessão de benefícios previden- ciários.

A partir daí, da leitura conjugada do art. 201 da CF com os arts. 16 e 26 da Lei nº 8.213/1991, concluímos que a morte é a contingência geradora da pensão, benefício concedido sem carência, tendo como beneficiários, concorrendo em con-dições de igualdade o cônjuge, a companheira, o companheiro e os filhos.

Feitas as considerações acima, passamos a analisar o benefício de pensão por morte disposto no art. 77 da Lei de Benefícios, com redação dada pela Lei nº 13.135/2015.

[...]

Como mencionamos acima, embora o art. 26 da Lei nº 8.213/1991 disponha que o benefício de pensão por morte independe de carência, a alteração significativa no tocante à sua duração vem disciplinada no art. 77, § 2º, V, c (incluído pela Lei nº 13.135/2015), ao instituir novas hipóteses de cessação de cota individual para o(a) cônjuge ou companheiro(a), além da já existente, que é a morte do dependente.

Sem qualquer sentido a lei fala em cessação do benefício, sendo que este mesmo, como visto anteriormente, para ser concedido, independia de carência.

Ora, não há como se falar em cessação da cota parte, na medida em que a ces-sação, aqui, aparece como elemento obstativo – não reconhecido constitucional-mente, como visto anteriormente – de concessão de benefício previdenciário. Ora, se inexiste carência, não há como, de forma sub-reptícia, introduzir um número de meses que, sob a inadequada figura da ‘cessação’, passa a corresponder a uma carência. No mínimo, ao fazê-lo, há uma antinomia legal. No entanto, acreditamos mesmo, mais do que isto, que estamos diante de uma carência posta de forma transversa e que atinge o próprio conceito legal de carência, que, por sua vez, serve apenas para regulamentar o art. 201 da Constituição Federal.

Vencidas tais premissas, a duração do benefício de pensão por morte dependerá de um terceiro elemento: a idade do(a) cônjuge ou companheiro(a).

[...]

Colhe verificar que a pensão, como benefício vitalício, ocorrerá somente ao cônjuge ou companheiro(a) que contar com pelo menos 44 (quarenta e quatro) anos de idade, desde que cumpridas as outras duas exigências anteriores.

Cumpre destacar que, enquanto o art. 26 da Lei nº 8.213/1991 estabeleceu que não há carência na concessão do benefício de pensão por morte, o art. 77, § 2º, da mesma lei dispõe que a cota da pensão por morte para o cônjuge ou companheiro(a) cessará (terminará) segundo uma tabela que varia de 3 anos até a vitaliciedade do benefício, desde que haja 18 contribuições mensais e 2 anos de casamento ou união estável.

Cotejando-se o disposto no art. 26 da Lei nº 8.213/1991 com o art. 77, § 2º, da mesma lei, constata-se que há antinomia no sistema e que a solução dela está na observância da exegese do referido art. 26, que dispensa a carência na concessão do benefício de pensão por morte, tendo em vista que para extinção de cota indi-vidual da pensão para o(a) cônjuge ou companheiro(a) não pode haver exigência de contribuição (no caso, as 18 contribuições mensais) e, sequer, considerar como carência referidas contribuições.

Constata-se que, como a contingência geradora de necessidade coincide com a morte do segurado, com o óbito há o direito ao benefício, já que, ali por presunção

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legal, se dá a condição de dependência. Ora, não há que se determinar, por pre-sunção insustentável em qualquer dado fático, que, após o decurso de um certo prazo, a presunção legal da dependência deixou de existir. Trata-se de presunção absoluta. O máximo que se poderia admitir – com o que não concordamos – é que estaríamos diante de presunção relativa, que comportaria prova da posterior ausência de dependência. No entanto, ainda aqui haveria necessidade de prova da falta de dependência, não bastando, para tanto, o advento de uma certa idade. Caso não pensássemos da forma anterior, certamente estaríamos diante uma nova modalidade de contingência – a pensão transitória por morte, o que não está pre-visto na Constituição Federal. Portanto, em se tratando de nova contingência, que diminui os direitos sociais do segurado, nem mesmo emenda constitucional pode-ria introduzir a alteração, como se depreende do art. 6º, § 4º, IV, da Constituição (pior ainda que tenha sido feito por uma lei ordinária, a Lei nº 13.135/2015).” (Revista SÍNTESE Direito Previdenciário. Aspectos inconstitucionais da pensão por morte introduzida pela Lei nº 13.135/2015, ano XIV, n. 68, set.-out./2015)

1911 – Pensão por morte – cumulação com vencimento de médico – cessação da de-pendência econômica – suspensão do benefício – cabimento

“Servidor. Pensão por morte cumulada com vencimentos de médico. Aprovação em concurso público. Cessação da dependência. Contradição. Inexistência. 1. É pressuposto específico de admissibilidade dos embargos de declaração a existência de obscuridade, omissão ou contradição no acórdão, sobre ponto que devia pronunciar-se o órgão co-legiado. 2. O julgado apreciou suficientemente toda a matéria posta ao seu exame e de relevância para a composição da lide, não tendo o acórdão incidido em contradição sobre qualquer matéria que, impugnada pela parte, tivesse o condão de modificar o en-tendimento nele esposado. 3. Trata-se de ação em que se discute o direito ao benefício de pensão por morte, decorrente do falecimento do pai do embargante, economista dos quadros de funcionários do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, após comunicação feita pela administração, em julho de 2013, em virtude da verificação da sua percepção cumulada com o salário de médico recebido pelo autor, ocupante de cargo público desde 13.05.1984, por meio de aprovação em concurso público. 4. Após realizada auditoria e instaurado processo administrativo para apurar a real condição do embargante, regularmente foi reconhecida a ausência de dependência econômica do autor, necessária à manutenção do pagamento do benefício em debate, eis que deixou de ostentar a condição de dependente econômico, inexistindo qualquer contradição quanto ao ponto. 5. Válido destacar que mesmo para efeitos de prequestionamento, os embargos de declaração só poderão ser acolhidos, se presentes qualquer um dos vícios elencados no art. 535 do Código de Processo Civil, o que não se constata na situação vertente. 6. Embargos declaratórios improvidos.” (TRF 2ª R. – AC 0136435-55.2013.4.02.5101 – 6ª T.Esp. – Relª Salete Maria Polita Maccalóz – DJe 24.11.2015 – p. 468)

1912 – Pensão por morte – ex-servidor público federal – companheira – possibilidade

“Administrativo. Constitucional. Pensão por morte de ex-servidor público federal. Com-panheira. Possibilidade. Art. 217 da Lei nº 8.112/1990. Prova material suficiente. Pensão estatutária estadual concedida por sentença judicial. Pensão previdenciária concedida

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na via administrativa. Ausência formal de designação. Irrelevância. Juros de mora. Ho-norários advocatícios. 1. Trata-se de remessa oficial e apelações interpostas contra sen-tença que julgou procedente o pedido inicial, para condenar a parte demandada (União, Ministério da Saúde) a conceder à parte autora a pensão por morte, na condição de companheira de ex-servidor falecido, desde a data do requerimento administrativo, com pagamento das parcelas atrasadas, acrescidas da correção monetária nos moldes estatu-ídos pelo Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, desde quando cada parcela deveria ter sido paga, e juros de mora à razão de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação válida (Súmula nº 204 do STJ), até 30 de junho de 2009. E a partir de 1º de julho de 2009, com a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, nos termos da Lei nº 11.960/20091. Condenou, ainda, a União, ao pagamen-to de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação. 2. Quanto à designação prevista no art. 217, I, c, da Lei nº 8.112/1990, resta consolidado pela ju-risprudência de nossos tribunais o entendimento de que a ausência de designação pelo servidor público, em vida, de sua companheira como sua beneficiária, não constitui óbi-ce à concessão da pensão por morte, se comprovados seus requisitos por outros meios idôneos de prova. 3. A fim de comprovar a união estável e a dependência econômica da demandante em relação ao de cujus quando em vida, foram anexados aos autos docu-mentos como: certidão de nascimento da filha em comum entre o ex-servidor e a postu-lante; fichas de matrícula escolar da filha assinada pelo seu genitor, contendo o mesmo endereço da entidade familiar; comprovante de pensão por morte junto à PBPREV, con-cedida na via judicial, ao ser reconhecida a condição de companheira/dependente do de cujus; comprovante de pensão previdenciária concedida pelo INSS à autora na via administrativa; comprovante de concessão de pensão por morte pela União à filha da de-mandante, na qualidade de dependente do falecido servidor; além da comprovação de que não há mais dependentes habilitados à pensão temporária do ex-servidor. 4. Dessa forma, fazendo-se uma avaliação conjunta dos elementos de prova constantes dos autos, resta patente a presença dos requisitos necessários para a concessão da pensão por morte à postulante, na qualidade de companheira do ex-servidor falecido. 5. Quanto ao termo inicial para a concessão do benefício, a jurisprudência tem por correta a data do re-querimento administrativo ou, na inocorrência deste, do ajuizamento da ação. No caso dos autos será a partir do requerimento administrativo, conforme fixado pela sentença. 6. Esta Segunda Turma Julgadora tem se posicionado no sentido de que nesses casos se aplicam juros de mora de 0,5% ao mês, nos termos do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com redação dada pela MP 2.180-35/2001, e correção monetária de acordo com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal. Isso porque o STF declarou a inconstitucionalidade da inovação trazida pela Lei nº 11.960/2009 na redação do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, que determina, quanto aos juros e correção, a aplicação dos índices de caderneta de poupança. Embora tenha havido decisão no tocante à mo-dulação dos efeitos, esta se aplica somente no caso de precatórios já expedidos. 7. Nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, no caso em tela, os honorários advocatícios devem ser fixados no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), compatíveis com o grau de dificuldade do feito, bem como com o trabalho realizado pelo advogado e com o tempo exigido para o serviço, afora o fato de atender aos requisitos da razoabilidade e da pro-porcionalidade. 8. Apelação da União improvida. Remessa oficial parcialmente provida,

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para fixar os juros de mora à razão de 0,5% (meio por cento) ao mês, nos termos do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com redação dada pela MP 2.180-35/2001, e correção mo-netária de acordo com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, bem como reduzir a condenação dos honorários advocatícios ao valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).” [07]. (TRF 5ª R. – Ap-Reex 2009.82.00.000458-4 – (31718/PB) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 20.11.2015 – p. 54)

Remissão Editorial SínTESEVide RSP nº 69, nov.-dez./2015, ementa nº 1864 do TJPB.

1913 – Pensão por morte – neta menor designada – demandante que figura como re-presentante legal da filha e não como titular do benefício – reabertura da dis-cussão – impossibilidade

“Previdenciário. Embargos declaratórios. Pensão por morte. Art.16, IV, da Lei nº 8.213/1991. Óbito do segurado ocorrido na vigência do referido artigo. Neta menor designada pelo de cujus como beneficiária da pensão. Demandante que figura como representante legal da filha e não como titular do benefício. Reabertura de discussão acerca de matéria já analisada. Impossibilidade. 1. Trata-se de embargos de declaração opostos contra acórdão que, em cumprimento à determinação do STJ, julgou embargos declaratórios anteriormente manejados, conferindo-lhes efeitos infringentes, para dar provimento à apelação e à remessa oficial, negando o pedido de restabelecimento de pensão por morte em favor da autora, em razão de constar dos autos designação do instituidor do benefício em nome da filha da parte demandante, figurando a autora/em-bargante apenas como representante legal da menor. 2. A parte embargante sustenta que o acórdão restou omisso e contraditório, por não apreciar a questão de sua qualidade de pessoa maior designada, conforme carta de concessão do benefício de pensão por morte, bem como que a indicação da filha da requerente na CTPS do segurado não fora feita pelo mesmo, mas pela própria demandante, no dia do requerimento administrati-vo, para que a impúbere fosse designada como sua dependente. 3. No caso dos autos, embora alegue ter sido designada pelo ex-segurado para receber o benefício, a autora, ora embargada, não comprovou sequer tal indicação pelo de cujus, porquanto apenas alegou, para embasar a sua pretensão, que, por culpa do INSS, designou sua filha menor como sucessora da pensão por morte em questão, sem fazer qualquer prova a respeito. Note-se, ainda, constar dos autos à fl. 20 a designação da neta menor como futura bene-ficiária dos referidos valores. 4. O que se conclui, dos presentes autos, é que o requeri-mento administrativo, em 09/1988, fora formulado em nome da neta menor designada, e, por equívoco ocorrido no sistema da Previdência, o INSS interpretou, erroneamente, ser a demandante titular da pensão por morte, quando a mesma era, na verdade, repre-sentante legal da filha. Constatando-se que a beneficiária era, em verdade, menor que atingiu a maioridade, não há que se falar, pois, em suspensão indevida do benefício, des-cabendo o restabelecimento do mesmo. 5. O Código de Processo Civil, em seu art. 535, condiciona o cabimento dos embargos de declaração à existência de omissão, contra-dição ou obscuridade no acórdão embargado, não se prestando este recurso à repetição de argumentação contra o julgamento de mérito da causa. 6. Embargos de declaração improvidos. [10].” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0010807-83.2010.4.05.8300/02 – (16447/PE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Conv. Ivan Lira de Carvalho – DJe 25.09.2015 – p. 104)

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204 ............................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

Comentário Editorial SínTESENa ementa em destaque discutiu-se a concessão de pensão por morte ao menor designado.

Em 1995, a Lei nº 9.032 revogou o art. 16, IV da Lei nº 8.213/1991, não re-conhecendo o direito do menor designado sob guarda judicial ao recebimento do benefício previdenciário.

No entanto, os dependentes designados anteriormente ao advento da Lei nº 9.032/1995, e cujo óbito do segurado ocorreu até a sua edição, têm direito adquirido ao recebimento do benefício até que advenham as hipóteses de extinção.

O Mestre Sergio Henrique Salvador assim explica:

“Pois bem, ocorreu que tal previsibilidade não se perdurou por muito tempo, tendo em vista que a partir de 14 de outubro de 1996, data da publicação da Medi-da Provisória nº 1.523, reeditada e convertida na Lei nº 9.528/1997, o menor abrangido por guarda judicial deixou de integrar a relação de dependentes para as finalidades do sistema, cuja exclusão se dá até a presente data.“

O Professor e Procurador Federal Hermes Arrais Alencar leciona com clareza o que foi a vontade do legislador:

“A alteração legislativa buscou reverter o quadro crescente de avós que postulavam a guarda judicial dos netos, com o fim único de garantir a estes o direito de pensão por morte junto à previdência. Manipulavam o instituto da guarda judicial como se fosse instrumento de disposição de última vontade, na busca de outorgar ao neto o direito a benefício previdenciário, consistente na pensão por morte.”

Entretanto, citada exclusão legal não foi bem aceita, tampouco comemorada por expressiva parcela da doutrina.

Tal defesa, aliás, lúcida e arrazoada, encontrando claro arrimo constitucional, em especial no art. 227, § 3º, da Lei Excelsa, senão vejamos:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, cruelda-de e opressão.

[...]

§ 3º O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

II – garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;

[...]”

Ainda, a própria legislação específica ao instituto da guarda abrangeu e estendeu esta previsibilidade constitucional.

Neste prisma, a literalidade do art. 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): “A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.”

O Professor Wagner Balera, uma das vozes doutrinárias mais respeitadas no âmbi-to previdenciário, se manifestou a respeito:

“É estranhíssima a exclusão de menor sob guarda do rol de dependente, consoante dispunha a primitiva redação do § 2º do art. 16. O pretexto utilizado pelo Poder Executivo para propor a exclusão foi o comum em todas as distintas fórmulas de redução de direitos sociais: a existência de fraudes. Contra essa cabal afronta aos direitos da criança e do adolescente carentes insurgiu-se o Ministério Público que

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aforou diversas ações civis públicas propugnando pelo retorno à proteção social do menor sob guarda.

Dando azo ao entendimento de expressivo jurista, aliás, Mestre, Doutor e Livre--Docente pela PUC-SP, verdade que o Ministério Público Federal aforou diversas ações civis públicas em toda a federação; porém, após os esperados embates judiciais, tão somente em Minas Gerais e em Tocantins, o menor sob guarda judi-cial continua inserido no rol de dependentes previdenciários, por força de decisões ainda vigentes na ACP 1999.38.00.004900-0 da 29ª Vara Federal da Circuns-crição Judiciária de Minas Gerais e na ACP 1999.43.00.000326-2 do Estado de Tocantins.

Cabe aqui ressaltar que várias outras ACPs aforadas com o mesmo intento, ape-sar de liminares favoráveis e mesmo de sentenças de mérito positivas a respeito, atualmente se encontram todas superadas, ou seja, com exceção de Minas Gerais e Tocantins, prevalece a exclusão do menor sob guarda, conforme a literalidade da atual legislação.

Ademais, perfilhou o entendimento esposado pelo STJ de que o contido no art. 33 do ECA não pode ser aplicado aos benefícios mantidos pelo Sistema de Segurida-de Social, em especial do Regime Geral, pois há lei de benefícios específica que trata da matéria.” (STJ e a pensão por morte do menor sob guarda: proteção ou restrição social? Revista SÍNTESE Trabalhista e Previdenciária, ano XXIII, n. 271, jan/2012)

1914 – Pensão por morte – união estável – comprovação – benefício devido

“Previdenciário. Pensão por morte. União estável demonstrada. Benefício devido. Sen-tença mantida. 1. Para a obtenção do benefício de pensão por morte, deve a parte in-teressada preencher os requisitos estabelecidos na legislação previdenciária vigente à data do óbito, consoante iterativa jurisprudência dos Tribunais Superiores e desta Corte. 2. É presumida a dependência econômica de companheiro que vivia em união está-vel com o de cujus. 3. As prestações em atraso serão corrigidas pelos índices oficiais, desde o vencimento de cada parcela, ressalvada a prescrição quinquenal, e, segundo sinalizam as mais recentes decisões do STF, a partir de 30.06.2009, deve-se aplicar o critério de atualização estabelecido no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, na redação da Lei nº 11.960/2009. 4. Este entendimento não obsta a que o juízo de execução observe, quando da liquidação e atualização das condenações impostas ao INSS, o que vier a ser decidido pelo STF em regime de repercussão geral (RE 870.947), bem como eventual regramento de transição que sobrevenha em sede de modulação de efeitos. 5. Os juros de mora são devidos a contar da citação, à razão de 1% ao mês (Súmula nº 204 do STJ e Súmula nº 75 desta Corte) e, desde 01.07.2009 (Lei nº 11.960/2009), passam a ser calcu-lados com base na taxa de juros aplicáveis à caderneta de poupança (REsp 1.270.439), sem capitalização.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 0010840-71.2015.4.04.9999/RS – 6ª T. – Relª Desª Fed. Vânia Hack de Almeida – DJe 02.12.2015 – p. 295)

1915 – Previdência privada – ação de revisão de benefício previdenciário – prescrição – observação

“Agravo regimental no agravo em recurso especial. Previdência privada. Ação de revisão de benefício previdenciário. Prescrição. Relação de trato sucessivo. Acórdão em conso-nância com a jurisprudência desta Corte. Honorários advocatícios. Revisão dos critérios

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206 ............................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

para sua fixação. Impossibilidade. Incidência da Súmula nº 7 do STJ. Precedentes. Diver-gência jurisprudencial não demonstrada. Agravo improvido. 1. Segundo a atual Orienta-ção Jurisprudencial adotada por ambas as Turmas que integram a Segunda Seção desta Corte Superior, nas demandas em que se pleiteia a revisão de renda mensal inicial de benefício previdenciário complementar, a prescrição alcança apenas as parcelas pagas anteriormente ao quinquênio que precede o seu ajuizamento (relação de trato sucessi-vo), não alcançando o próprio fundo de direito. 2. A revisão dos critérios adotados pela Corte de origem para a fixação dos honorários advocatícios, com base no art. 20, § 4º, do CPC, em regra, é inviável em recurso especial, tendo em vista a necessidade do revol-vimento do conjunto fático-probatório dos autos. Incidência da Súmula nº 7 do STJ. Pre-cedentes. 3. O dissídio jurisprudencial não foi demonstrado, pois a parte agravante não comprovou as similitudes fáticas e divergências decisórias entre os casos confrontados. 4. Agravo regimental improvido.” (STJ – AgRg-Ag-REsp 718.581 – (2015/0122327-5) – 3ª T. – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – DJe 07.12.2015 – p. 911)

1916 – Prova material – rurícola – atividade especial – ruído – comprovação – aposen-tadoria concedida

“Previdenciário. Atividade rural. Trabalhador boia-fria. Início de prova material. Inexis-tência. Atividade especial. Ruído. Uso de EPI. Conversão do tempo especial em comum. Aposentadoria por tempo de serviço/contribuição. Requisitos não implementados. Aver-bação de tempo no RGPS. 1. Tratando-se de trabalhador rural que desenvolveu atividade na qualidade de boia-fria, deve o pedido ser analisado e interpretado de maneira sui generis, no sentido de que a apresentação de prova material somente sobre parte do lapso temporal pretendido não implica violação da Súmula nº 149 do STJ, cuja aplicação é mitigada se a reduzida prova material for complementada por idônea e robusta prova testemunhal. 2. Ausente o mínimo início de prova material, não pode ser reconhecido o tempo de serviço rural postulado. 3. O enquadramento por categoria profissional é cabí-vel até 28.04.1995; após, é necessária a demonstração de efetiva exposição a agentes in-salubres. 4. Apresentada a prova necessária a demonstrar o exercício de atividade sujeita a condições especiais, conforme a legislação vigente na data da prestação do trabalho deve ser reconhecido o respectivo tempo de serviço. 5. Possível afastar o enquadramento da atividade especial somente quando comprovada a efetiva utilização de equipamentos de proteção individual que elidam a insalubridade. A exposição habitual e permanente a níveis de ruído acima dos limites de tolerância estabelecidos na legislação pertinente à matéria sempre caracteriza a atividade como especial, independentemente da utilização ou não de EPI ou de menção, em laudo pericial, à neutralização de seus efeitos noci-vos. 6. Deixando a parte de comprovar o implemento dos requisitos necessários para a obtenção da aposentadoria por tempo de serviço/contribuição, devem ser averbados os períodos reconhecidos, para futura utilização pelo segurado. 7. Em razão da sucum-bência recíproca, devem os honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa, ser compensados entre as partes, independentemente de AJG. Custas processuais suportadas igualmente pelas partes, suspendendo-se a exigibilidade quanto à autora por ser beneficiária da AJG.” (TRF 4ª R. – AC 0015426-93.2011.4.04.9999/PR – 6ª T. – Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira – DJe 15.07.2015 – p. 153)

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1917 – Salário-de-contribuição – fator previdenciário – incidência

“Previdenciário. Salário-de-benefício calculado na forma do art. 29, I, da Lei nº 8.213/1991. Observância do teto do salário-de-contribuição. Incidência do fator pre-videnciário. 1. A prova dos autos demonstra que valor do salário-de-benefício foi calcu-lado corretamente, considerando a norma do art. 29, inciso I, da Lei nº 8.213/1991, bem como que as contribuições consideradas no período básico de cálculo se limitaram ao teto (fls. 71/73) e ocorreu a incidência do fator previdenciário. Prejudicada a alegação de não incidência da prescrição quinquenal. 2. Apelação da parte autora não provida.” (TRF 1ª R. – AC 0002379-67.2010.4.01.3307 – Rel. Juiz Fed. Conv. Pedro Braga Filho – DJe 07.12.2015 – p. 597)

1918 – Salário-maternidade – guarda judicial – avó – qualidade de segurada especial comprovada – concessão do benefício

“Previdenciário. Salário-maternidade. Guarda judicial. Avó. Direito ao benefício. Traba-lhadora rural em regime de economia familiar. Qualidade de segurada especial compro-vada. Concessão do benefício. 1. Conquanto inexista previsão legal para a concessão de salário-maternidade àquela que detém a guarda judicial sem fins de adoção, não se pode olvidar que a avó, impedida legalmente que está de adotar, encontra-se em situação semelhante à da adotante, recebendo a criança desde tenra idade para seu cuidado e necessitando afastar-se de seu trabalho. 2. O tempo de serviço rural para fins previden-ciários pode ser demonstrado através de início de prova material, desde que complemen-tado por prova testemunhal idônea. 3. Demonstradas a maternidade, a atividade rural e a qualidade de segurada especial durante o período de carência, faz jus à parte autora ao benefício de salário-maternidade.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 2009.70.99.001732-6/PR – 6ª T. – Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira – DJe 02.12.2015 – p. 354)

1919 – Salário-maternidade – segurada especial – ausência de prova material – paga-mento indevido

“Previdenciário. Salário-maternidade. Segurada especial. Ausência de prova material. Falta de comprovação da condição de trabalhadora rural durante o período de carência. Apelação do INSS provida. 1. A trabalhadora rural tem direito ao benefício de salário--maternidade, desde que comprove o exercício de labor no campo durante o período de carência de 10 meses (arts. 71 a 73 da Lei nº 8.213/1991). 2. É meramente exem-plificativo o rol de documentos constante do art. 106, da Lei nº 8.213/1991, daí se po-der aceitar qualquer outro início de prova material revelador da realidade e típicos da cultura rural, a ser complementado com a prova testemunhal. 3. A certidão da Justiça Eleitoral da requerente, de 01.06.2011, além de ter sida emitida próxima ao nascimento da criança, ocorrido em 06.07.2011, tem cunho meramente declaratório, não havendo, portanto, valor probatório. 4. A certidão verbum ad verbum, do 2º Ofício da Comarca de Umbaúba, de 11.06.2012, em que a profissão da requerente está registrada como lavradora, atestando o nascimento da criança e o pagamento de contribuição sindical no nome do pai da criança, com vencimento em 30.12.2011 são posteriores ao nascimento da criança, não se prestando para comprovar o período de carência. Assim ocorre com o contrato de comodato, que foi firmado em 02.03.2011, ou seja, próximo ao nascimento da criança, que ocorreu em julho do mesmo ano. 5. A qualificação da apelada atesta que

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208 ............................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA

ela é solteira. Assim, não há como reconhecer a declaração de aptidão ao Pronaf do pai da criança, referente ao ano de 2006, como início de prova material, já que em nenhum momento foi demonstrado desde quando eles estão juntos. 6. Ateste-se a contradição constante no depoimento administrativo da requerente e o da testemunha: a primeira afirmou que se afastou da atividade rural quando soube que estava grávida, enquanto o Sr. Edemilson Santos de Jesus afirmou que ela trabalhou ‘até ganhar o neném’. 7. Não havendo, pois, início de prova material que comprove o exercício da atividade rural nos 10 meses anteriores ao parto, não há que ser reconhecido o direito da requerente ao benefício em questão. 8. Restando indubitável que a autora não possui condições de arcar com as verbas de sucumbência sem colocar em risco a sua manutenção, sendo, portanto, beneficiária da gratuidade da justiça, não pode ser condenada ao pagamento dos honorários advocatícios, seja em cumprimento ao que dispõe o art. 3º, V da Lei nº 1.060/1950, seja em razão de que a disposição do art. 12 da mesma lei não foi recep-cionada pela CF/1988, em virtude da auto-aplicabilidade plena do disposto na art. 5º, inciso LXXIV. 9. Apelação do INSS provida, para julgar improcedente o pedido inicial.” (TRF 5ª R. – AC 0002599-81.2015.4.05.9999 – (582732/SE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira – DJe 27.08.2015 – p. 210)

1920 – Servidor público – auxílio-reclusão – período de graça – extensão – exegese

“Apelação cível. Direito constitucional. Direito administrativo. Auxílio-reclusão. Incons-titucionalidade. Parte final do art. 229, inciso II, da Lei nº 8.112/1990. Não verificada. Advento da Emenda Constitucional nº 20/1998. Restrição do benefício. Seletividade. Família de servidor de baixa renda. Parâmetro. Remuneração do servidor. Entendimento sufragado em sede de repercussão geral. Extensão do período segurado (período da gra-ça). Incidência do art. 13, §§ 1º e 2º, do Decreto nº 3.048/1999. Não cabimento. Manu-tenção da sentença. 1. O auxílio-reclusão é um benefício que consiste na obrigação de o Estado pagar determinada quantia aos familiares de servidor preso, tendo por escopo a manutenção dos familiares durante o período em que o servidor se encontra impedi-do de trabalhar, em virtude da constrição de sua liberdade. 2. Consoante disposto no art. 229, II, da Lei nº 8.112/1990, o direito ao auxílio-reclusão fica afastado no caso de perda do cargo público derivada de condenação criminal, motivo pelo qual o funda-mento da suposta inconstitucionalidade da dita regra não merece sequer análise quando a perda do cargo não decorreu de condenação criminal, e sim em razão de processo administrativo disciplinar. 3. A Emenda Constitucional nº 20/1998 envidou caminhos de restrição do benefício do auxílio-reclusão com base no critério da seletividade, conforme autoriza o art. 194, III, da CF, para identificar aqueles que efetivamente necessitam do auxílio. Com efeito, a referida Emenda impôs limitação expressa, em seu art. 13, em re-lação aos beneficiários do auxílio-reclusão, o qual passou a se destinar apenas à família do servidor de baixa renda. 4. A jurisprudência do e. Superior Tribunal de Justiça, bem como do Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, sedimentou-se no sentido de que o auxílio-reclusão é devido apenas à família do servidor de baixa renda, consideran-do-se como parâmetro a remuneração do servidor, e não a dos seus dependentes (STJ: AgRg-REsp 831.251/RS, 6ª T., DJe 23.05.2011; STF: RE 587365, Tribunal Pleno, Reper-cussão Geral; Mérito. DJe-084 Divulg. 07.05.2009). 5. O pleito de extensão do período da graça, previsto no art. 13, §§ 1º e 2º, do Decreto nº 3.048/1999, aos servidores civis regidos por regime próprio de previdência social imprescinde da observância do dispos-to no art. 13 da Emenda Constitucional nº 20/1998. Verificado que o segurado não pode

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ser enquadrado como servidor de baixa renda, é imperativa a conclusão de que não há direito à extensão do período segurado na hipótese de perda do cargo (período da graça). 6. Apelação cível conhecida e não provida.” (TJDFT – AC 20130111677136 – (902834) – 1ª T.Cív. – Relª Desª Simone Lucindo – DJe 11.11.2015)

Transcrição Editorial SínTESE• Lei nº 8.112/1990:“Art. 229. À família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão, nos seguintes valores:[...]II – metade da remuneração, durante o afastamento, em virtude de condenação, por sentença definitiva, a pena que não determine a perda de cargo. [...]”• Decreto nº 3.048/1999:“Art. 13. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:I – sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;II – até doze meses após a cessação de benefício por incapacidade ou após a cessação das contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade remu-nerada abrangida pela previdência social ou estiver suspenso ou licenciado sem remuneração;III – até doze meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação compulsória;IV – até doze meses após o livramento, o segurado detido ou recluso;V – até três meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Arma-das para prestar serviço militar; eVI – até seis meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até vinte e quatro meses, se o se-gurado já tiver pago mais de cento e vinte contribuições mensais sem interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.

§ 2º O prazo do inciso II ou do § 1º será acrescido de doze meses para o segurado desempregado, desde que comprovada essa situação por registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e Emprego. [...]”

1921 – Servidor público – doença grave – aposentadoria – concessão – admissibilidade

“Servidor público. Doença grave. Enquadramento de aposentadoria. Lei nº 8.112/1990. Revisão. 1. ‘No caso em apreço, depreende-se, da leitura dos dispositivos legais antes transcritos, que a revisão dos proventos, conforme requerido pela impetrante, dependia apenas de ter ela o diagnóstico de quaisquer das enfermidades previstas no § 1º do art. 186 da Lei nº 8.112/1990. Tal condição implementou-se quando obteve o resultado dos exames realizados no ano de 2005, muito antes, pois, das alterações promovidas na citada lei, o que gerou, em seu favor, direito adquirido que não mais pode ser retirado de sua esfera patrimonial, nos termos do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal’. 2. Ape-lação não provida. Sentença confirmada.” (TRF 1ª R. – AC 2009.38.00.030349-9/MG – Rel. Juiz Fed. Rafael Paulo Soares Pinto – DJe 12.11.2015 – p. 282)

1922 – Servidor público – padeiro – acidente de trabalho – sequelas irreversíveis – apo-sentadoria por invalidez – indenização – dano moral – impossibilidade

“Apelação. Servidor público municipal. Município de Martinópolis. Padeiro. Acidente em serviço quando do manuseio da amassadeira de pães, para sua manutenção, no

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local de trabalho. Grave contusão nos dedos da mão esquerda, que resultaram em se-quelas irreversíveis, a culminar com sua aposentadoria por invalidez. Dano material. Impossibilidade. Ausência de provas de prejuízo patrimonial suportado pelo autor. Im-possibilidade de atribuir-se valor patrimonial indenizável à perda de função motora, sem provas de descenso salarial ou prejuízo não reembolsado. Dano moral. Ocorrência. Abalo emocional e dor psíquica comprovados. Dever de indenizar. Negligência da Ad-ministração Pública configurada. Ausência de fornecimento de equipamento necessário ao servidor, bem como de supervisionamento adequado para que efetuasse o serviço público. Dano moral configurado. Indenização devida. Realinhamento dos encargos do processo. Sentença de improcedência reformada para o Decreto de parcial procedência da demanda. Recurso parcialmente provido. Havendo acidente em serviço, com lesões comprovadas em laudo pericial, em ordem à configuração de dano moral, sem provas concretas da culpa exclusiva do servidor público, para a mecânica do infortúnio; da Administração Pública, pela deficiência referente à disponibilização ou efetiva proteção de EPI, supervisionamento adequado, bem como na gestão de cautela de policiamento do uso desses equipamentos, em atividades de risco, há o dever de indenizar.” (TJSP – Ap 0050434-42.2011.8.26.0346 – Martinópolis – 1ª CDPúb. – Rel. Vicente de Abreu Amadei – DJe 27.10.2015)

1923 – Servidor público – tempo de serviço como especial – contagem – exposição a agentes nocivos – prova – ausência

“Administrativo. Servidor público. Ação civil coletiva. Contagem do tempo de serviço como especial. Ausência de prova da exposição a agentes nocivos. Apelo e remessa oficial, tida como interposta, improvidos. Sentença mantida. 1. Sentença que está sujeita ao duplo grau de jurisdição, nos termos do art. 19 da Lei nº 4.717/1965, com reda-ção dada pela Lei nº 6.014/1973. 2. Conforme estabelece a Súmula Vinculante nº 33, ‘aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o art. 40, § 4º, inciso III, da Constituição Federal, até a edição de lei complementar específica’. 3. Assim, até a vigência da Lei nº 9.032/1995, para o reconhecimento do tempo de serviço especial era suficiente o mero enquadramento profissional, conforme o rol de atividades consideradas penosas, insalubres e perigosas, previsto nos Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979, sendo possível, ainda, a comprovação de tal situação, quando o serviço prestado pelo segurado não constar do referido rol de atividades, que é meramente exemplificativo. Com a Lei nº 9.032/1995, no entanto, passou a ser obrigatória a comprovação do tempo de ativida-de especial por meio de formulários e, após o Decreto nº 2.172/1997, por meio de laudo técnico, atestando a efetiva exposição aos agentes nocivos. 4. A percepção de adicional de localidade, por si só, não comprova o labor sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e consequente direito à contagem do tempo de serviço como especial. 5. Não estando a atividade exercida pelos filiados do autor incluída no rol de atividades previsto nos Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979, e ausente prova de que, no exercício de suas atividades, estiveram eles expostos a agentes nocivos quími-cos, físicos ou biológicos, em nível superior ao considerado tolerável, deve ser mantida a sentença recorrida, que julgou improcedente a ação civil coletiva. 6. Apelo e remessa oficial, tida como interposta, improvidos. Sentença mantida.” (TRF 3ª R. – AC 0016469-52.2011.4.03.6100/SP – 11ª T. – Relª Desª Fed. Cecilia Mello – DJe 14.10.2015)

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Destaque Editorial SínTESEEm seu voto, a Relatora citou o seguinte trecho da sentença:

“[...] Como bem asseverou o Juízo a quo, na sentença proferida às fls. 553/558:

‘[...] a autora pleiteia seja deferida a contagem do tempo especial para seus asso-ciados que receberam a denominada Gratificação por Exercício em determinadas zonas/locais.

Porém, as atividades exercidas pelos associados da autora não estão enquadradas nos anexos dos referidos decretos [53.831/1964 e 83.080/1979].

E, embora tais róis não sejam taxativos, para o enquadramento da atividade como especial é necessário que se verifique similaridade da situação com aquelas elen-cadas em referido rol, por algum dos meios de prova, a fim de demonstrar a sub-missão do trabalhador aos agentes nocivos.

Assim, no caso em tela, não se comprova o trabalho em condições especiais ape-nas em razão dos servidores receberem adicional de localidade.

Aplicando a analogia ao caso concreto, cito decisão relativa à atividade de bancário que, apesar de ter reduzida a jornada (6 horas diárias), não é considerada como especial, pela ausência de exposição, de modo habitual e permanente, a agentes agressivos à saúde ou integridade física do trabalhador. Assim, segue o julgado abaixo [...].

Assim, ainda que se reconheça a situação de penosidade por estar o servidor lotado em localidade que não oferece as melhores condições de vida, a compen-sação a isso se dá por meio da instituição de gratificação específica, sem que isso implique no reconhecimento do tempo especial para fins de aposentadoria, pela ausência de laudo específico identificando a situação de periculosidade, penosida-de ou insalubridade, ou, considerando-se a vigência da legislação anterior, também a ausência de identificação da atividade exercida pelos associados da autora com alguma das atividades mencionadas nos anexos dos Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979.

Ressalte-se que o stress profissional e o desgaste físico e psicológico são inerentes a diversas profissões. Porém, o risco genérico não pode ser considerados para fins previdenciários, no sentido de se determinar o tratamento especial pretendido pela associação autora, dependendo, sim, da comprovação da exposição efetiva do segurado a agentes biológicos, físicos ou químicos nocivos à saúde.

Por fim, em que pesem as situações especiais que envolvem a prestação do serviço no caso em tela, já foram compensadas pela concessão da gratificação mencio-nada.

Outrossim, ressalto o entendimento pacífico da jurisprudência no sentido de que tal adicional não é incorporado para fins de aposentadoria.

[...]

Dessa forma, apesar de reconhecido o direito dos servidores à aposentadoria es-pecial, esta depende da comprovação do exercício de atividades que efetivamente exponham o servidor a risco, o que no caso em tela não se verificou.’ [...]”

1924 – Tempo de serviço especial – averbação – agentes biológicos – habitualidade e permanência – equipamentos de proteção individual – irrelevância – benefício devido

“Previdenciário. Atividade especial. Averbação. Agentes biológicos. Habitualidade e permanência. Equipamentos de proteção individual. 1. Exercida atividade enquadrável

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como especial, sob a égide da legislação que a ampara, o segurado adquire o direito ao reconhecimento como tal e ao acréscimo decorrente da sua conversão em tempo de serviço comum no âmbito do Regime Geral de Previdência Social. 2. Até 28.04.1995, é admissível o reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a agentes nocivos, aceitando-se qualquer meio de prova (exceto para ruído); a partir de 29.04.1995, não mais é possível o enquadramento por categoria profissional, deven-do existir comprovação da sujeição a agentes nocivos por qualquer meio de prova até 05.03.1997 e, a partir de então, por meio de formulário embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. 3. A exposição a agentes biológicos enseja o reconhecimen-to do tempo de serviço como especial. 4. As atividades de técnico/atendente de enferma-gem, exercidas até 28.04.1995, devem ser reconhecidas como especial em decorrência do enquadramento, por equiparação, à categoria profissional de enfermagem. 5. Com-provado o exercício de atividades em condições especiais no intervalo de 01.08.1994 a 11.07.2012, tem a autora direito a sua averbação para fins de futura concessão de benefício previdenciário.” (TRF 4ª R. – AC 0000260-79.2015.4.04.9999/RS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Afonso Brum Vaz – DJe 02.12.2015 – p. 245)

1925 – Tempo de serviço especial – conversão em comum – impossibilidade

“Previdenciário. Agravo regimental no recurso especial. Conversão de tempo comum em especial após a Lei nº 9.032/1995. Impossibilidade. REsp 1.310.034/PR, submetido ao rito do art. 543-C do CPC. 1. Evidencia-se que a decisão recorrida assentou com-preensão que está em consonância com o entendimento fixado no julgamento do REsp 1.310.034/PR (DJe de 19.12.2012), submetido ao rito do art. 543-C do CPC, de que a lei a reger a conversão entre tempos de serviço comum e especial é aquela vigente no momento da aposentadoria. Assim, se na data da reunião dos requisitos da aposenta-doria já não vigorava a redação original do art. 57, § 3º, da Lei nº 8.213/1991, mas a redação dada pela Lei nº 9.032/1995 (art. 57, § 5º), não há direito à conversão de tempo de trabalho comum em especial. 2. No caso concreto, o pedido de aposentadoria deu--se em 09.04.2003, razão pela qual não é possível a pretendida conversão. 3. Agravo regimental não provido.” (STJ – AgRg-REsp 1.562.559 – (2015/0261770-3) – 1ª T. – Rel. Min. Benedito Gonçalves – DJe 07.12.2015 – p. 866)

1926 – Tempo de serviço especial – conversão em comum – requisitos não preenchi-dos – efeitos

“Previdenciário. Conversão de tempo de serviço comum em especial. Incidência da legislação vigente quando preenchidos os requisitos do benefício pretendido. Matéria decidida sob o rito do art. 543-C do CPC. Incidência da Súmula nº 168/STJ. 1. No julga-mento do REsp 1.310.034/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, processado nos termos do arts. 543-C do CPC, ficaram estabelecidos os seguintes parâmetros: ‘a) a configuração do tempo especial é de acordo com a lei vigente no momento do labor; e b) a lei em vigor quando preenchidas as exigências da aposentadoria é a que define o fator de con-versão entre as espécies de tempo de serviço’. 2. Segundo as premissas estabelecidas, para que o segurado faça jus à conversão de tempo de serviço comum em especial, é necessário que ele tenha reunido os requisitos para o benefício pretendido antes da vi-gência da Lei nº 9.032/1995, de 28.04.1995, independentemente do momento em que

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foi prestado o serviço. 3. Portanto, na espécie, há incidência da Súmula nº 168/STJ: ‘Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no mes-mo sentido do acórdão embargado.’ 4. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ – AgRg-ED-AgREsp 726.770 – (2015/0138389-4) – 1ª S. – Rel. Min. Sérgio Kukina – DJe 04.12.2015 – p. 493)

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Seção Especial – Acontece

A PEC da Bengala

RODRIgO DE AnDRADE BELmOnTEBacharel em Direito, Pós-Graduado em Direito Público, Servidor do Ministério Público Federal, Professor de Direito Constitucional e de Direito Administrativo do LACCursos.com.br.

RESUMO: Trata-se de artigo jurídico cujo objeto é analisar a Emenda Constitucional nº 88, de 07.05.2015. A norma foi responsável por alterações na sistemática das aposentadorias do Re-gime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos. O texto abordará aspectos constitucionais da inovação legislativa, seus efeitos jurídicos, bem como uma breve comparação com o modelo anterior à emenda sobredita.

PALAVRAS-CHAVE: PEC da Bengala; Emenda Constitucional nº 88; Previdência; servidores; apo-sentadoria compulsória; princípio da igualdade; constitucionalidade; STF.

ABSTRACT: It is legal article, whose purpose is to analyze the Constitutional Amendment number 88, of 05.07.2015. The standard has been responsible for systematic changes in the pension’s Own Pension Scheme for Civil Servants. The text will address constitutional aspects of legislative innovation its legal effects as well as a brief comparison with the previous model the amendment aforesaid.

KEyWORDS: PEC of Bengal; Constitutional Amendment number 88; Security; servers; compul-sory retirement; principle of equality; constitutionality; STF.

SUMÁRIO: Considerações iniciais; 1 Aposentadoria do servidor público antes da Emenda nº 88/2015; 2 Aposentadoria do servidor público após a Emenda nº 88/2015; 3 A primeira regra; 4 A segunda regra; 5 Por que existem iniciativas legislativas privativas?; 6 A terceira regra; Considerações finais.

coNSIderaçõeS INIcIaIS

A Constituição Federal de 19881, norma máxima desta República, e que deveria apresentar poucas alterações em seu texto, mais se asse-melha a um estatuto de condomínio quando o assunto são as mudan-ças em seu conteúdo. A Constituição Cidadã é um remendo só. Vale destacar que até o mês de novembro de 2015, a Constituição ostentava noventa emendas constitucionais, além das emendas de revisão.

1 Constituição da República Federativa do Brasil. Texto atualizado até o dia 29 de novembro de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE ..............................................................................................................215

Uma dessas reformas do texto constitucional merece destaque e atenção redobrada dos estudiosos do Direito. Refiro-me à Emenda Cons-titucional nº 88, publicada no dia 8 de maio de 2015, véspera do Dia das Mães.

Esse recente retalho aplicado à Constituição modificou pontual-mente a regra da aposentadoria compulsória, modelo de aposentadoria bastante conhecido entre agentes públicos como “a expulsória”.

É nesse contexto de inúmeras modificações do texto da Lei Maior que serão feitas algumas análises sobre a aposentadoria obrigatória, dan-do enfoque ao caráter constitucional e político que impulsionaram o an-damento do projeto de reforma da Constituição da República de 1988 e alteraram a data limite para aposentadoria no serviço público brasileiro.

1 apoSeNtadorIa do ServIdor públIco aNteS da emeNda Nº 88/2015

Antes da vigência da emenda em pauta, o art. 40, § 1º, II, da CF/1988 previa que os trabalhadores públicos sujeitos ao regime de pre-vidência próprio de servidores estatutários seriam aposentados compul-soriamente aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, desde que observado o tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco no cargo a se apo-sentar, como se verifica no texto que segue:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Esta-dos, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.

[...]

II – compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos propor-cionais ao tempo de contribuição;

[...]

Posto isso, conclui-se que havia apenas uma regra sobre aposen-tadoria compulsória: a norma de que, ao servidor com setenta anos de idade, a rua! Além disso, seus proventos seriam proporcionais ao tempo de contribuição do regime previdenciário em questão.

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216 ...........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE

O texto em destaque, em especial o caput do art. 40, é fruto de alteração da redação originária da Constituição Federal. A mudança foi realizada no dia 15 de dezembro de 1998, pela Emenda Constitucional nº 20. O conteúdo anterior à Emenda nº 20 era o seguinte:

Art. 40. O servidor será aposentado:

[...]

II – compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos propor-cionais ao tempo de serviço;

[...]

A regra em destaque era simples e, mesmo após sua primeira al-teração em 1998, facilmente se concluía que todo servidor com setenta anos de idade e após dez anos de efetivo exercício de cargo público, sendo cinco no cargo em atividade, seria coercitivamente aposentado e passaria à inatividade do serviço público percebendo uma remuneração proporcional ao tempo de suas contribuições previdenciárias.

Em razão desse regulamento, fui questionado algumas vezes pela minha mãe, dona Neuzair, professora da rede estadual de ensino que, depois de aprovada em concurso público, descobriu a impossibilidade de aposentar-se pelo regime de previdência próprio dos servidores, pois não teria 10 anos de efetivo exercício ao completar 70 anos de idade.

Esse exemplo de mulher perseverante me questionava sobre sua pretensão de aposentar-se como servidora pública e dizia: “Meu filho, conseguirei me aposentar aos 70 anos pelo Estado?” Minha resposta: “Não, mãe. Em razão da idade limite de 70 anos, você não completará 10 anos como professora estatutária, e, por conta disso, não poderá apo-sentar-se como servidora estadual”. Apesar disso, eu complementava: “Mãe, essa regra pode mudar; a idade limite pode aumentar”.

Então..., o tempo passou, a regra mudou e a idade limite au mentou.

Sendo assim, no segundo domingo de maio de 2015, fui questio-nado: “E agora, filho, vou me aposentar como servidora estadual?” A mi-nha resposta, que era simples, tal como era a antiga regra, desapareceu. Tive que dizer à minha mãe: “Depende”. Minha mãe ficou em silêncio e

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE ..............................................................................................................217

preferiu receber os parabéns pelo Dia das Mães a ouvir uma explicação jurídica sobre o “depende”.

Mas, enfim, depende de quê? Veremos a seguir.

2 apoSeNtadorIa do ServIdor públIco apÓS a emeNda Nº 88/2015

A Emenda Constitucional nº 88/2015 não fez uma simples eleva-ção da idade limite para aposentadoria no serviço público, que era de 70 anos e passou para 75 anos.

A alteração constitucional foi mais complexa do que parece. Os reflexos constitucionais e legais causados pela mudança ainda levarão muitos tribunais a enfrentar questionamentos, cuja abordagem das partes ventile, por exemplo: a violação do princípio da igualdade entre servido-res; a afetação do cálculo atuarial previdenciário, entre outros argumen-tos. Sendo assim, e para compreendermos com maior precisão os efeitos causados pela reforma constitucional, vejamos o texto da Emenda nº 88, de 7 de maio de 2015:

Art. 1º O art. 40 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte alteração:

“Art. 40. [...] § 1º [...] II – compulsoriamente, com proventos proporcio-nais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; [...]”

Art. 2º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte art. 100:

“Art. 100. Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inci-so II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição Federal.”

Art. 3º Esta emenda constitucional entra em vigor na data de sua publi-cação.

Feita a leitura, nota-se que a antiga expulsória, regra única, agora multiplicou em três. A primeira conclusão sobre essa alteração: quando dá para complicar, para que facilitar? No lugar onde existia apenas uma

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regra, brotaram três. E algumas desafiadoras de princípios constitucio-nais básicos, como o da isonomia.

3 a prImeIra regra

A primeira norma resultante dessa alteração constitucional apre-senta um regramento geral: servidores serão aposentados compulsoria-mente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade. Até aqui nenhuma novidade ou complicador.

A primeira parte do inciso II do art. 40 manteve a regra anterior à Emenda nº 88. Os destinatários dessa parte da Constituição ainda são os servidores com setenta anos de idade que, após dez anos de efetivo exercício e cinco no cargo, serão aposentados com proventos propor-cionais ao tempo de contribuição, e, independente da esfera político--administrativa ou função de Estado da qual faça parte, a regra destina-se a todos os agentes públicos estatutários da Administração Direta e Indi-reta federal, estadual, distrital e municipal. Vale salientar que tal regra não se estende aos empregados públicos e nem aos agentes políticos ocupantes de cargos eletivos, tendo em vista a diversidade dos sistemas previdenciários.

4 a SeguNda regra

Na sequência da primeira regra, aparece o segundo preceito previ-denciário, o de que serão aposentados compulsoriamente os servidores públicos aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei comple-mentar. A hipótese secundária da aposentadoria compulsória só ocorre-rá no momento em que a supracitada lei complementar entrar em vigor e regulamentar o assunto, pois o aumento da idade tem reflexos diretos no Erário da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Tal assertiva repousa no fato de que, à medida que um trabalhador público mantém-se por mais tempo e atividade, isso implica aumento financeiro da contrapartida previdenciária de qualquer desses entes políticos. O custo de manutenção do trabalhador público em atividade aumenta para o empregador público e isso tem reflexos diretos na Lei Orçamentária Anual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e até no Plano Plurianual.

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Ciente dessa necessidade de regulamentação constitucional, o Congresso Nacional, especificamente o Senado da República, rapida-mente apreciou o projeto de lei complementar para aposentadoria aos setenta e cinco anos destinada aos servidores públicos.

O projeto, de autoria do Senador José Serra, registrado nas de-pendências do legislativo federal como projeto de Lei Complementar nº 274/20152, tinha por finalidade a regulamentação do art. 40, § 1º, II, da Constituição da República de 1988, “a expulsória”. Escrevo “tinha por finalidade” porque o projeto foi vetado integralmente pela presi-dência da República ao argumento de vício de iniciativa, no dia 23 de outubro de 20153.

O argumento presidencial baseou-se no entendimento de que ma-térias pertinentes à previdência do servidor público da União e Territó-rios estão vinculadas à iniciativa do Executivo por força do art. 61, § 1º, II, c, da Constituição Federal de 1988, cuja redação é a que segue:

Art. 61. [...]

§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:

[...]

II – disponham sobre:

[...]

c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provi-mento de cargos, estabilidade e aposentadoria;

[...]

A redação em destaque frisa que projeto de lei cujo objeto trate da aposentadoria dos servidores públicos da União e dos Territórios é de iniciativa privativa da presidência da República e por isso o projeto do Senado é natimorto. E foi sob essa ótica que a proposta de regula-mentação foi sepultada por inconstitucionalidade decorrente de vício de iniciativa legislativa. O argumento tem como fundamento de validade a cláusula de reserva constitucional do Executivo, que, por sua vez, desau-

2 Projeto de Lei Complementar nº 274/2015. Disponível em: <http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/121072>.

3 Despachos da Presidência da República. Diário Oficial da União, de 23 de outubro de 2015. Disponível em: <http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=3&data=23/10/2015>.

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220 ...........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE

toriza qualquer outra função de Estado a dar início ao trâmite legislativo de regulamentação dessa espécie, destinada aos servidores públicos da União e Territórios.

Entretanto, o Supremo Tribunal Federal, especificamente o Minis-tro Marco Aurélio4, manifestou entendimento de que não há prerrogativa presidencial de iniciativa de lei complementar. A observação do referido Magistrado tem significativa relevância jurídica porque destaca que o art. 61, § 1º, II, c, da Lei Maior refere-se à iniciativa de leis ordinárias, ao passo que o texto constitucional exige lei complementar como norma indispensável à regulamentação da “PEC da Bengala”.

Nesse sentido, merece atenção uma lição simples de hermenêuti-ca constitucional, a qual ensina, quase que de forma acadêmica, que o texto constitucional, ao referir-se às matérias que devem ser vinculadas à lei complementar, o faz de forma expressa e, quando se refere à lei ordinária, utiliza apenas o substantivo lei.

Posto isso, e frente à redação do texto normativo em estudo, con-clui-se: o art. 61, § 1º, II, da CF/1988 registra apenas e expressamente a redação da palavra lei, somente lei. Inexiste qualquer referência à ex-pressão lei complementar. Em virtude da literalidade da norma, restou enfraquecido o argumento de que a iniciativa é privativa da presidência da República para leis complementares. A iniciativa privativa é para leis ordinárias de natureza jurídica previdenciária, destinadas aos agentes administrativos federais.

Inobstante a esse detalhe hermenêutico, vale destacar que o caput do art. 61 mostra que a iniciativa de leis complementares e ordinárias compete a “qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da Repú-blica, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procu-rador-Geral da República e aos cidadãos”.

Disso resulta que apenas as iniciativas de leis ordinárias registradas no art. 61, § 1º, II, da Constituição é que são privativas da presidência da República, e, ao contrário do veto presidencial, as demais leis ordinárias

4 Entrevista ao Conjur, em 23 de outubro de 2015. Disponível em: http://www.conjur.com.br.

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE ..............................................................................................................221

cujas matérias não façam parte da cláusula de reserva do Executivo, as-sim como leis complementares, são de livre iniciativa.

5 por que eXIStem INIcIatIvaS legISlatIvaS prIvatIvaS?

Diante do que foi exposto no tópico anterior, resta ainda uma fa-gulha de questionamento acerca da constitucionalidade do Projeto de Lei Complementar nº 274/2015: a razão jurídica sobre a constituciona-lidade ou inconstitucionalidade do projeto de lei em pauta pertence a quem?

Afinal, são dois argumentos fortes. De um lado, o Executivo afirma possuir a prerrogativa constitucional de apenas ele iniciar a tramitação legislativa da regulamentação previdenciária de seus servidores. De ou-tra sorte, o Supremo Tribunal Federal manifesta que a reserva ventilada no veto presidencial aplica-se às leis ordinárias, e não às leis comple-mentares, e por isso não haveria o dito vício de iniciativa.

Antes de enfrentar o espinhoso questionamento, cumpre alertar ao leitor que esse arrazoado não tem a pretensão de dizer a quem pertence razão. A intenção aqui alinhavada reside apenas no interesse de especu-lar com maior profundidade e amplitude o tema pertinente à iniciativa legislativa e indicar balizadores mais precisos para que cada um forme sua convicção sobre o assunto.

Sendo assim, questiona-se: por que existem iniciativas legislativas privativas?

A resposta tem início no texto constitucional. A Constituição da República, ao tratar do processo legislativo, arts. 59 usque 69, agrupou assuntos que podem ser discutidos perante o Legislativo a partir da ini-ciativa de quaisquer dos Poderes constituídos; pelo cidadão, por inter-médio das leis de iniciativa popular ou em caso de matérias específicas, o processo será iniciado por quem a Lei Maior indicar – é o caso das iniciativas privativas ou exclusivas.

Mas qual é a razão jurídica de classificar e, em algumas hipóteses, restringir o acesso ao início do processo legislativo? A resposta é: a ma-téria, o assunto, o objeto da discussão e seus respectivos efeitos.

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222 ...........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE

O legislador constituinte originário prestou-se ao trabalho de va-lorar o conteúdo de certos assuntos. Alguns temas têm gigantesca im-portância para o Judiciário, ao passo que outros são muito caros ao Exe-cutivo e outros ainda são valiosos só ao Legislativo. Nessa esteira de raciocínio, também se estabeleceu que certas questões são de interesse geral.

Assuntos como organização judiciária, por exemplo, são mui-to importantes ao Judiciário, pois qualquer regulamentação sobre esse tema repercute diretamente no funcionamento desse Poder da Repúbli-ca, nada mais adequado do que permitir a essa função de Estado a inde-pendência de propor a regulamentação das suas atividades, e de forma privativa.

Visto isso, pode-se afirmar: o Poder Constituinte Originário foi sen-sível a essa realidade fática, a de que certos assuntos têm maior impor-tância para uns do que para outros. Na concepção do legislador origi-nário, cada um dos legitimados sabe, ou deveria saber, qual é o melhor momento político e administrativo para dar início ao processo legislati-vo, tendo em vista o possível resultado da discussão legislativa sobre o tema que lhe interessa.

Então, a reserva de iniciativa de lei arguida no veto presidencial para fulminar o projeto de lei complementar que regulamentaria a nova aposentadoria compulsória aos 75 anos para servidores públicos em ge-ral levou em consideração a legitimidade para início do processo de produção do instrumento que veicula a norma.

Tal observação é feita ante a literalidade do texto constitucional posto no art. 61, § 1º, II, c, da CF/1988 e seu uso no veto presidencial. A justificativa apresentada pela presidência da República é a de que a lei que trate de assuntos previdenciários dos servidores públicos da União e Territórios tem iniciativa legislativa vinculada ao Executivo Federal.

Em contraponto, o Ministro Marco Aurélio assevera que a referi-da exclusividade procedimental não alcança leis complementares e o projeto apresentado foi de lei complementar. A discussão, ao que tudo indica, teve como foco a legitimidade para propor um instrumento legis-lativo e não se ateve ao conteúdo da norma.

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE ..............................................................................................................223

Arrisco-me a registrar, e com o devido respeito aos dois posicio-namentos já expostos, que, apesar da robustez dos argumentos, o foco da discussão deveria repousar no conteúdo somente, e não na forma legislativa que positivaria o assunto.

As discussões foram postas sobre a lei e não sobre a norma. Existe diferença entre lei e norma? Sim, e muita! Uma é instrumento formal, fonte formal de apresentação de um conteúdo normativo. A outra é a norma, é a regra que impactará a realidade, é o objeto a ser positivado.

Dessa forma, uma discussão mais profunda e que poderia elimi-nar dúvidas sobre quem poderia dispor sobre a previdência dos servido-res públicos da União e Territórios, segundo a Emenda Constitucional nº 88, deveria observar não só o impacto jurídico, financeiro, trabalhis-ta e social, mas também a função de Estado economicamente atingida pelo dispositivo legal. A discussão deveria recair sobre a matéria, e não sobre a forma. Definido a quem interessa o tema, a matéria de fundo, oportunizar-se-ia ulteriormente o questionamento sobre a forma.

Ocorre que essa valoração ficou ao encargo do Poder Constituin-te Reformador. Na ponderação do assunto, aposentadoria de agentes públicos, entendeu por bem que a matéria referente ao limite de ida-de de atividade funcional seria de interesse geral, mas que deveria ser formalizada por lei complementar. Um assunto simples, mas veiculado por norma forjada em processo legislativo mais rigoroso do que aquele dedicado à lei ordinária.

Muitas vezes me espanto com a arquitetura reformista da Consti-tuição, pois as leis complementares são instrumentos normativos desti-nados a tratar de assuntos de extrema relevância para a República, são complementos do texto magno. E, mesmo ciente disso, o constituinte derivado atrela a idade limite de aposentadoria do servidor público à existência de lei complementar.

A impressão que fica é a de que o legislador, conhecedor do pen-samento do Executivo federal, resolveu criar um entrave, um artifício, para evitar o veto presidencial, qual seja: veicular um assunto de impor-tância jurídica secundária, por instrumento normativo criado para assun-to de importância primária e sem reserva de iniciativa. A idade limite da aposentadoria do servidor público tornou-se formalmente matéria de lei

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224 ...........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE

complementar, ao passo que todo o restante do sistema previdenciário brasileiro é regulado por leis ordinárias. Nisso não há coerência norma-tiva, infelizmente.

E foi nesse contexto jurídico e político que foi vetado o projeto de lei complementar que teria a missão de regulamentar a idade máxima para atividade do agente público. Ao que tudo indica, o Executivo vetou porque acredita que a norma tem conteúdo de lei ordinária e o afeta diretamente, razão pela qual defesa a reserva de iniciativa legislativa. De outra banda, o ministro do Supremo Tribunal Federal já citado, em interpretação literal do texto constitucional, adverte que, em matéria de lei complementar, a iniciativa do processo legislativo é concorrente, o que, ao seu modo, enfraquece o argumento do veto. Salienta-se, portan-to, que há razão, ainda que em parte, de ambos os lados.

Apesar dessa análise, o fato é que a norma complementar em pau-ta foi vetada integralmente, e os motivos apresentados não sugerem uma razão juridicamente pura.

Feitas essas considerações, então é possível afirmar: hoje ninguém aposenta compulsoriamente aos 75 anos, tendo em vista a inexistência da lei complementar mencionada. Afirmação errada.

6 a terceIra regra

Existe uma terceira hipótese muito peculiar para aposentadoria compulsória.

A terceira alternativa de aposentação obrigatória é dedicada ex-clusivamente aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e aos do Tribunal de Contas da União. Esses agentes públicos poderão permanecer em seus cargos, caso queiram, até chegarem aos 75 anos, independente da existência imprescindível da lei complemen-tar já mencionada, diferentemente de todos os demais servidores públi-cos deste país que terão que aguardar futura e incerta lei complementar caso queiram permanecer em seus cargos até os 75 anos. Essa terceira hipótese está prevista no art. 100 dos Atos das Disposições Constitucio-nais Transitórias, ADCT, texto já destacado anteriormente neste artigo.

O que chama a atenção nessa terceira via é que o legislador re-formador criou um grupo especial entre milhares de agentes públicos

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE ..............................................................................................................225

brasileiros. Esse seleto time pode, desde a promulgação e vigência do texto da Emenda Constitucional nº 88, manter-se em seus cargos até os setenta e cinco anos idade, independente da existência de lei comple-mentar regulando o assunto.

Vale destacar que, em relação a essas dezenas de agentes polí-ticos, pois assim são reconhecidos pelo Supremo Tribunal Federal, a idade limite de atividade funcional apresenta-se como uma norma de eficácia plena, ao passo que aos milhões de servidores públicos brasi-leiros a mesma idade mostra-se como uma norma de eficácia limitada, pendente de regulamentação. Salienta-se ainda que mesmo outros pares dessa seleção, Desembargadores, Magistrados e Conselheiros de Tribu-nais de Contas, só poderão aposentar-se aos 75 anos caso exista regula-mentação efetuada pela referida lei complementar. Situação desafiadora do princípio da igualdade. A isonomia foi prontamente ignorada, e assim a norma deu origem a uma classe especial de agentes públicos.

Diante disso, fica o questionamento: o que justificou esse apar-theid entre agentes públicos? Motivos jurídicos não foram. Tampouco questões previdenciárias de cálculo atuarial, por exemplo. A divisão está pautada, ao que tudo indica, em questões estritamente políticas e vincu-ladas à prerrogativa presidencial de indicar os ocupantes dos cargos em que agora se permite aposentar aos 75 anos de idade. Talvez exemplos como esse justifiquem a denominação de uma Constituição como Carta Política de um país.

De outro lado, é interessante observar que o Professor José Afon-so da Silva, em sua obra Aplicabilidade das normas constitucionais5, ao ensinar sobre o sistema norte-americano de classificação dos efeitos das normas, não destacou que uma mesma norma pode ser considerada como de eficácia plena e limitada simultaneamente e que sua classifi-cação dependeria da identificação do seu destinatário. O fator determi-nante para sua classificação como uma norma de produção de efeitos imediatos e autoaplicação ou uma norma de efeitos mediatos carente de regulamentação não é, em nenhuma das hipóteses da obra mencionada, o sujeito destinatário da regra, mas sim a estrutura normativa e jurídica garantidora da produção dos efeitos necessários para sua perfeita apli-

5 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 91 a 101.

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226 ...........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – SEÇÃO ESPECIAL – ACONTECE

cação. A classificação dos efeitos das normas constitucionais leva em conta critérios normativos objetivos, ao passo que a emenda em estudo considera o sujeito, critério subjetivo. A emenda mais se assemelha a uma norma de efeito concreto, uma exceção normativa que contraria o princípio da generalidade das normas.

coNSIderaçõeS fINaIS

Enfim, com a nova redação da Constituição Federal de 1988 dada pela Emenda Constitucional nº 88, a aposentadoria compulsória possui três possibilidades. Uma delas aos 70 anos, seguindo o texto anterior; outra, a expulsória dos 75 anos, que só existirá, de fato, após a vigência da lei complementar exigida pela nova redação da Constituição; e a última, destinada com exclusividade aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e aos do Tribunal de Contas da União, que poderão permanecer no cargo até os 75 anos, mesmo sem a dita lei complementar.

A PEC da Bengala é boa ou boa ou ruim? Ainda é cedo para saber. Todavia, as novas regras já indicam apartheid no sistema previdenciário próprio do servidor público. A inovação legislativa prevê aposentadoria compulsória especial aos 75 para certos agentes públicos, sem necessi-dade da lei complementar, e outras duas comuns aos 70 e aos 75 anos para todo o resto, nos últimos casos indispensável a lei complementar.

Feitas essas considerações, fica a impressão de que o princípio da igualdade foi esquecido, pois, para uns, basta querer permanecer no car-go até os 75 anos e, para outros, essa possibilidade ficará condicionada à boa vontade do legislador em implementar a referida lei complementar.

Ademais, as impressões deixadas no rastro da produção da emen-da podem assumir ainda caráter de desconfiança quando o questiona-mento descamba para especulação dos reais motivos de alteração cons-titucional tão pontual, com peculiaridades precisas e cirurgicamente direcionadas para alguns cargos públicos.

Para essas incógnitas deixo que cada um pense sobre o atual con-texto jurídico-político vivido no país.

Forte abraço, bons estudos e até a próxima.

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Tabelas Práticas

LIMITES DE DEPÓSITOS RECURSAIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Novos valores para Depósitos Recursais na Justiça do Trabalho (Ato nº 397/2015 do TST, DJe de 13.07.2015, vigência a partir de 01.08.2015)

Recurso Ordinário R$ 8.183,06

Recurso de Revista, Embargos, Recurso Extraordinário e Recursos em Ação Rescisória R$ 16.366,10

Ação Rescisória – Depósito prévio de 20% do valor da causa, salvo prova de miserabilidade, nos termos do art. 836 da CLT, alterado pela Lei nº 11.495/2007, cujos efeitos começam a fluir a partir do dia 24.09.2007.

INSS – JANEIRO/2016Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração a partir de 1º de janeiro de 2016.

Salário-de-contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%) Até 1.556,94 8,00% De 1.556,95 até 2.594,92 9,00% De 2.594,93 até 5.189,82 11,00%

Ir foNte – tabela progreSSIva meNSal para cÁlculo a partIr de abrIl/2015 – mp 670/2015 – dou 11.03.2015

Base de cálculo em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$ Até 1.903.98 – – De 1.903,99 até 2,826,65 7,5 142,80 De 2.826,66 até 3.751,05 15,0 354,80 De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13 Acima de 4.664,69 27,5 869,36 Dedução por dependente 189,59

TABELA DE ATUALIzAÇÃO MONETÁRIA DAS PARCELAS RELATIvAS A BENEFÍCIOS PAGOS COM ATRASO (ART. 175, DECRETO Nº 3.048/1999)

Janeiro/2016 (Portaria nº 35, de 08.01.2016)

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/94 7,082064

ago/94 6,676153

set/94 6,330508

out/94 6,236339

nov/94 6,122461

dez/94 5,928596

jan/95 5,801542

fev/95 5,706248

mar/95 5,650310

abr/95 5,571748

mai/95 5,466786

jun/95 5,329810

jul/95 5,234541

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

ago/95 5,108863

set/95 5,057279

out/95 4,998793

nov/95 4,929776

dez/95 4,856444

jan/96 4,777613

fev/96 4,708864

mar/96 4,675667

abr/96 4,662146

mai/96 4,629738

jun/96 4,553244

jul/96 4,498364

ago/96 4,449860

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

set/96 4,449682

out/96 4,443905

nov/96 4,434150

dez/96 4,421769

jan/97 4,383197

fev/97 4,315020

mar/97 4,296972

abr/97 4,247699

mai/97 4,222785

jun/97 4,210154

jul/97 4,180888

ago/97 4,177129

set/97 4,177129

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

out/97 4,152628

nov/97 4,138557

dez/97 4,104490

jan/98 4,076363

fev/98 4,040804

mar/98 4,039996

abr/98 4,030725

mai/98 4,030725

jun/98 4,021476

jul/98 4,010247

ago/98 4,010247

set/98 4,010247

out/98 4,010247

Page 228: ISSN 2237-714X Revista SÍNTESE › AnexosPDF › SDS 70_miolo.pdf · 2016-04-22 · RESUMO: Discussão sobre a possibilidade de fruição do direito à estabilidade acidentária,

228 ...........................................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – TABELAS PRÁTICAS

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

nov/98 4,010247

dez/98 4,010247

jan/99 3,971328

fev/99 3,926177

mar/99 3,759266

abr/99 3,686277

mai/99 3,685172

jun/99 3,685172

jul/99 3,647962

ago/99 3,590868

set/99 3,539544

out/99 3,488267

nov/99 3,423561

dez/99 3,339083

jan/00 3,298511

fev/00 3,265206

mar/00 3,259014

abr/00 3,253158

mai/00 3,248934

jun/00 3,227311

jul/00 3,197574

ago/00 3,126906

set/00 3,071013

out/00 3,049969

nov/00 3,038725

dez/00 3,026920

jan/01 3,004089

fev/01 2,989441

mar/01 2,979311

abr/01 2,955666

mai/01 2,922640

jun/01 2,909837

jul/01 2,867965

ago/01 2,822244

set/01 2,797071

out/01 2,786482

nov/01 2,746656

dez/01 2,725938

jan/02 2,721041

fev/02 2,715880

mar/02 2,711001

abr/02 2,708022

mai/02 2,689197

jun/02 2,659675

jul/02 2,614188

ago/02 2,561674

set/02 2,502612

out/02 2,438243

nov/02 2,339740

dez/02 2,210638

jan/03 2,152520

fev/03 2,106803

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

mar/03 2,073829

abr/03 2,039965

mai/03 2,031636

jun/03 2,045339

jul/03 2,059758

ago/03 2,063885

set/03 2,051168

out/03 2,029855

nov/03 2,020962

dez/03 2,011308

jan/04 2,000505

fev/04 1,984038

mar/04 1,976330

abr/04 1,965129

mai/04 1,957105

jun/04 1,949308

jul/04 1,939610

ago/04 1,925553

set/04 1,915973

out/04 1,912722

nov/04 1,909475

dez/04 1,901111

jan/05 1,884900

fev/05 1,874217

mar/05 1,866007

abr/05 1,852484

mai/05 1,835778

jun/05 1,823017

jul/05 1,825025

ago/05 1,824477

set/05 1,824477

out/05 1,821745

nov/05 1,811240

dez/05 1,801511

jan/06 1,794334

fev/06 1,787541

mar/06 1,783439

abr/06 1,778637

mai/06 1,776505

jun/06 1,774199

jul/06 1,775442

ago/06 1,773491

set/06 1,773846

out/06 1,771012

nov/06 1,763429

dez/06 1,756054

jan/07 1,745233

fev/07 1,736723

mar/07 1,729460

abr/07 1,721883

mai/07 1,717418

jun/07 1,712964

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

jul/07 1,707671

ago/07 1,702224

set/07 1,692239

out/07 1,688019

nov/07 1,682970

dez/07 1,675765

jan/08 1,659666

fev/08 1,648293

mar/08 1,639929

abr/08 1,631608

mai/08 1,621232

jun/08 1,605816

jul/08 1,591335

ago/08 1,582158

set/08 1,578843

out/08 1,576478

nov/08 1,568635

dez/08 1,562697

jan/09 1,558178

fev/09 1,548269

mar/09 1,543484

abr/09 1,540403

mai/09 1,531978

jun/09 1,522840

jul/09 1,516471

ago/09 1,512991

set/09 1,511782

out/09 1,509367

nov/09 1,505753

dez/09 1,500202

jan/10 1,496611

fev/10 1,483555

mar/10 1,473243

abr/10 1,462856

mai/10 1,452255

jun/10 1,446037

jul/10 1,447629

ago/10 1,448643

set/10 1,449658

out/10 1,441872

nov/10 1,428728

dez/10 1,414162

jan/11 1,405727

fev/11 1,392637

mar/11 1,385157

abr/11 1,376075

mai/11 1,366238

jun/11 1,358494

jul/11 1,355512

ago/11 1,355512

set/11 1,349843

MêsFator Simplificado

(Multiplicar)

out/11 1,343796

nov/11 1,339509

dez/11 1,331918

jan/12 1,325159

fev/12 1,318435

mar/12 1,313313

abr/12 1,310954

mai/12 1,302617

jun/12 1,295492

jul/12 1,292132

ago/12 1,286600

set/12 1,280836

out/12 1,272817

nov/12 1,263844

dez/12 1,257056

jan/13 1,247822

fev/13 1,236447

mar/13 1,230050

abr/13 1,222714

mai/13 1,215542

jun/13 1,211303

jul/13 1,207921

ago/13 1,209493

set/13 1,207561

out/13 1,204309

nov/13 1,197007

dez/13 1,190578

jan/14 1,182067

fev/14 1,174667

mar/14 1,167197

abr/14 1,157704

mai/14 1,148744

jun/14 1,141892

jul/14 1,138931

ago/14 1,137452

set/14 1,135409

out/14 1,129872

nov/14 1,125595

dez/14 1,119661

jan/15 1,112762

fev/15 1,096533

mar/15 1,083959

abr/15 1,067835

mai/15 1,060307

jun/15 1,049912

jul/15 1,041890

ago/15 1,035882

set/15 1,033299

out/15 1,028055

nov/15 1,020200

dez/15 1,009000

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Bibliografia Complementar

Recomendamos como sugestão de leitura complementar aos assuntos abordados nesta edição os seguintes conteúdos:

artIgo doutrINÁrIo

• RequisitosparaaConcessãodoAuxílio-Reclusãoea Inter-pretação Jurisprudencial do Conceito de Segurado de Baixa Renda

Fabio Alessandro Fressato Lessnau Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET, disponíveis em: online.sintese.com

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Índice Alfabético e Remissivo

índice por assunto especial

DOUTRINAS

Assunto

Lei nº 8.213/1991 e o empregado sem ConCurso púbLiCo

•Estabilidade Acidentária e Empregados Públi-cos Admitidos sem Concurso Público (LucianoDomingues Leão Rêgo) ..........................................9

•Estabilidade Provisória por Acidente do Traba-lho e Ausência de Concurso Público (Gustavo Filipe Barbosa Garcia) .........................................21

Autor

gustavo FiLipe barbosa garCia

•Estabilidade Provisória por Acidente do Traba-lho e Ausência de Concurso Público ...................21

LuCiano domingues Leão rêgo

•Estabilidade Acidentária e Empregados PúblicosAdmitidos sem Concurso Público ..........................9

índice geral

DOUTRINAS

Assunto

aposentadoria

•Transexualidade e Aposentadoria no Regi-me Geral de Previdência (Vinícius PachecoFluminhan) ..........................................................25

beneFíCio previdenCiário

•O Acúmulo e o Desvio de Função e Sua Reper- cussão nos Benefícios Previdenciários (Alexandredos Santos Silva) ..................................................74

previdênCia CompLementar

•A Previdência Complementar na União Euro-peia: uma Introdução ao Direito Institucional da União Europeia e à Responsabilidade Ad-ministrativa dos Administradores de Entida- des de Previdência Complementar e Fundos de Pensão (Juliano Sarmento Barra) ..........................41

Autor

aLexandre dos santos siLva

•O Acúmulo e o Desvio de Função e Sua Reper-cussão nos Benefícios Previdenciários .................74

JuLiano sarmento barra

•A Previdência Complementar na União Euro-peia: uma Introdução ao Direito Institucional da União Europeia e à Responsabilidade Admi-nistrativa dos Administradores de Entidades de Previdência Complementar e Fundos de Pensão ............................................................................41

viníCius paCheCo FLuminhan

•Transexualidade e Aposentadoria no RegimeGeral de Previdência ...........................................25

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Assunto

agravo

•Agravo regimental – Previdência privada – Pro-ventos de complementação – Distinção – Per-centual – Homens e mulheres – Aposentadoria proporcional ao tempo de serviço – Benefício inicial – Revisão do cálculo – Negócio jurídi-co – Vício de consentimento – Anulação – De-cadência (STJ) ............................................1870, 93

aposentadoria por idade

•Previdenciário – Segurado rural – Conces-são de aposentadoria por idade – Requisitos – Preenchimento – Lei nº 8.213/1991 – Início de prova material – Prova testemunhal – vín-culos urbanos entre safras – Não descaracteri-zação (TRF 5ª R.) .....................................1878, 154

aposentadoria por tempo de Contribuição

•Direito previdenciário – Aposentadoria por tempo de contribuição – Adicional de 25% – Alegação de ofensa ao art. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV e LV, da Constituição da República – Le-galidade – Contraditório e ampla defesa – De-vido processo legal – Inafastabilidade da juris-dição – Debate de âmbito infraconstitucional – Eventual violação reflexa da Constituição da República não viabiliza o manejo de recur-so extraordinário – Acórdão recorrido publi-cado em 02.12.2014 (STF) .........................1869, 84

auxíLio-aCidente

•Apelação cível e reexame necessário – Ação previdenciária – Auxílio-acidente – Lesão dos membros superiores ocasionada por esforço repetitivo – Incapacidade parcial e permanente da obreira comprovada – Benefício de auxílio--acidentário devido – Termo inicial – Laudo pericial conclusivo – Pagamento dos valores atrasados – Atualização – Precedente do STJ – Honorários advocatícios reduzidos – Recurso parcialmente provido – Sentença retificada emparte (TJMT) .............................................1880, 174

beneFíCio previdenCiário

•Apelação cível – Ação de implantação de be-nefício previdenciário – Ilegitimidade da pe-rícia afastada – Preclusão – Art. 473 do CPC – Doença preexistente à filiação no regime previdenciário – Possibilidade de agravamento – Presentes os requisitos para concessão de apo-sentadoria por invalidez – Implantação do be-nefício concedido na esfera judicial na data da citação da autarquia federal – Recurso despro-vido – Reexame necessário – Termo inicial da implantação do benefício – Aposentadoria por invalidez – Data da citação da autarquia federal – Sentença reformada (TJMS) ...................1879, 164

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RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIvO .........................................................................................................231 •Previdenciário – Cobrança de parcelas relati-

vas a benefício previdenciário – Mandado de segurança que determinou a revisão do pedido administrativo considerando tempo de serviço de período trabalhado como menor – Pres-crição – Interrupção – Prazo – Juros e corre-ção monetária – Recurso adesivo não provido(TRF 2ª R.) ...............................................1874, 124

•Previdenciário – Constitucional – Teto pre-videnciário – Readequação do salário-bene-fício – Aplicação imediata do art. 14 da EC 20/1998 e art. 5º da EC 41/2003 – Possibilidade(TRF 1ª R.) ...............................................1873, 120

Correção monetária

•Agravo legal – Previdenciário – Correção mo-netária – observância do manual de cálculos da justiça federal – ADIn 4357 e 4425 – In-constitucionalidade da TR limitada ao período de tramitação do precatório – Índices vigentes na data da elaboração do cálculo – Inocorrên-cia de afronta à coisa julgada (TRF 3ª R.) .1875, 133

embargos de deCLaração

•Embargos de declaração – Efeitos modificativos – Agravo regimental – Agravo – Previdência – Privada – Vínculo empregatício participante e patrocinador – Condição – Complementação de aposentadoria – Validade – Tema jurídico sub-metido ao rito dos repetitivos – Sobrestamentonão aplicação (STJ) ..................................1871, 103

exeCução

•Execução fiscal – Embargos – Remessa oficial – Interposição de ofício – Contribuição previden-ciária – Afastamento por motivo de doença ou acidente (quinze primeiros dias) – Aviso-prévio indenizado – Férias – Terço constitucional de fé-rias – Décimo terceiro salário – Repouso sema-nal remunerado – Salário-maternidade – CDA – Excesso de execução – Adequação mediante simples cálculo (TRF 4ª R.) ......................1876, 136

•Processual civil – Agravo regimental no agra-vo de instrumento – Execução fiscal – Penhora de proventos de aposentadoria e pensão – Im-possibilidade – Verba de natureza alimentar – Comprovação – Impenhorabilidade – Art. 649,IV e X, do CPC (TRF 1ª R.) .......................1872, 115

pensão

•Previdenciário – Pensão por morte – Mãe de se-gurado – Dependência econômica – Não com- provação – Direito – Inexistência (TRF 5ª R.) ................................................................1877, 150

EMENTÁRIO

Assunto

aposentadoria

•Aposentadoria – revisional – adicional de tempo de serviço – cancelamento – impossibilidade ................................................................1881, 182

aposentadoria espeCiaL

•Aposentadoria especial – atividade insalubre – comprovação pericial – concessão – cabi-mento ......................................................1882, 182

•Aposentadoria especial – atividade insalubre – conversão do tempo de serviço – possibi-lidade ......................................................1883, 182

•Aposentadoria especial – ruído e hidrocarbo-neto – caracterização de atividade laborada sob condições especiais – pagamento devido ................................................................1884, 182

aposentadoria por idade

•Aposentadoria por idade – início de prova ma-terial corroborada por testemunha – requisitos – ausência – não comprovação ................1885, 183

•Aposentadoria por idade – mandato de verea-dor – condição de segurado-empregado – re-quisito não preenchido – benefício não conce-dido .........................................................1886, 184

•Aposentadoria por idade – rurícola – prova testemunhal e documental – valoração – be-nefício devido ..........................................1887, 185

•Aposentadoria por idade urbana – filiação ao RGPS anterior a 1991 – preenchimento dos requisitos legais – regra transitória – aplicação ................................................................1888, 186

aposentadoria por invaLidez

•Aposentadoria por invalidez – contribuinte individual – contribuições vertidas em atraso – requisito não preenchido – pagamento in-devido .....................................................1889, 186

•Aposentadoria por invalidez – doença profis-sional – lesão por esforço repetitivo – respon-sabilidade civil do Estado – indenização por da-nos morais – nexo causal – ausência .......1890, 187

•Aposentadoria por invalidez – incapacidade laboral não comprovada – benefício indevido ................................................................1891, 187

•Aposentadoria por tempo de contribuição – ati-vidade rural não comprovada – benefício in-devido .....................................................1892, 188

aposentadoria por tempo de Contribuição

•Aposentadoria por tempo de contribuição – conversão do período laborado em condições especiais – admissibilidade ......................1893, 188

•Aposentadoria por tempo de contribuição – re-conhecimento de tempo prestado para time de futebol – benefício devido .......................1894, 189

•Aposentadoria por tempo de contribuição – suspensão – processo administrativo – irregula-ridade – efeitos ........................................1895, 190

aposentadoria por tempo de serviço

•Aposentadoria por tempo de serviço – suspeita de fraude – impossibilidade .....................1896, 190

auxíLio-aCidente

•Auxílio-acidente – redução da capacidade la-boral – não comprovação – benefício indevido ................................................................1897, 191

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232 ..........................................................................................................RSP Nº 70 – Jan-Fev/2016 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIvO

•Auxílio-doença – erro no tocante ao cômputo dos salários-de-contribuição – revisão – cabi-mento ......................................................1898, 192

•Auxílio-doença – incapacidade comprovada – correção monetária – cabimento .............1899, 192

•Auxílio-doença – qualidade de segurado – in-capacidade – comprovação por laudo peri-cial – benefício devido ............................1900, 193

beneFíCio assistenCiaL

•Benefício assistencial – incapacidade e hipos-suficiência – comprovação – prescrição – ino-corrência – pagamento devido .................1901, 193

CompetênCia

•Competência – Justiça Federal – ajuizamen-to da ação na comarca de residência do se-gurado – efeitos .......................................1902, 194

•Competência – Justiça Federal – salário-ma-ternidade – demissão – manutenção da quali-dade de segurada – alcance .....................1903, 194

Contribuição previdenCiária

•Contribuição previdenciária – fator acidentário de prevenção – observação .....................1904, 195

•Contribuição previdenciária – recolhimento post mortem – impossibilidade ................1905, 195

desaposentação

•Desaposentação – necessidade de restituição dos valores recebidos a título de aposentadoria anterior – efeitos ex tunc ..........................1906, 196

exeCução

•Execução fiscal – contribuições previdenciárias – folha de salários – verbas indenizatórias –não incidência .........................................1907, 196

pensão

•Pensão por morte – beneficiária maior de 21 anos – prorrogação até 24 anos – previsão le-gal – ausência – impossibilidade ..............1908, 197

•Pensão por morte – companheira – compro-vação da união estável – termo inicial .....1909, 198

•Pensão por morte – companheiro – compro-vação da união estável e dependência econô-mica – benefício devido ..........................1910, 198

•Pensão por morte – cumulação com vencimen-to de médico – cessação da dependência eco-nômica – suspensão do benefício – cabimento ................................................................1911, 201

•Pensão por morte – ex-servidor público federal – companheira – possibilidade ................1912, 201

•Pensão por morte – neta menor designada – de-mandante que figura como representante legal da filha e não como titular do benefício – rea-bertura da discussão – impossibilidade ...1913, 203

•Pensão por morte – união estável – compro-vação – benefício devido .........................1914, 205

previdênCia privada

•Previdência privada – ação de revisão de bene-fício previdenciário – prescrição – observação ................................................................1915, 205

prova

•Prova material – rurícola – atividade especial – ruído – comprovação – aposentadoria conce-dida .........................................................1916, 206

saLário-de-Contribuição

•Salário-de-contribuição – fator previdenciário –incidência ................................................1917, 207

saLário-maternidade

•Salário-maternidade – guarda judicial – avó – qualidade de segurada especial comprovada – concessão do benefício ...........................1918, 207

•Salário-maternidade – segurada especial – au-sência de prova material – pagamento inde-vido .........................................................1919, 207

servidor púbLiCo

•Servidor público – auxílio-reclusão – períodode graça – extensão – exegese .................1920, 208

•Servidor público – doença grave – aposentado-ria – concessão – admissibilidade ............1921, 209

•Servidor público – padeiro – acidente de traba-lho – sequelas irreversíveis – aposentadoria por invalidez – indenização – dano moral – impos-sibilidade .................................................1922, 209

•Servidor público – tempo de serviço como es-pecial – contagem – exposição a agentes noci-vos – prova – ausência .............................1923, 210

tempo de serviço

•Tempo de serviço especial – averbação – agen-tes biológicos – habitualidade e permanên-cia – equipamentos de proteção individual –irrelevância – benefício devido ................1924, 211

•Tempo de serviço especial – conversão emcomum – impossibilidade ........................1925, 212

•Tempo de serviço especial – conversão em comum – requisitos não preenchidos – efeitos ................................................................1926, 212

Seção especial

ACONTECE

Assunto

servidor púbLiCo

•A PEC da Bengala (Rodrigo de Andrade Belmonte) ..........................................................................214

Autor

rodrigo de andrade beLmonte

•A PEC da Bengala ..............................................214

TABELAS PRÁTICAS ..............................................227

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................229

ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ......................230