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JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE Expositor Victor Martins Pesquisador da Casa das Áfricas / Cecafro-Puc- SP

JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE

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JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE. Expositor Victor Martins Pesquisador da Casa das Áfricas / Cecafro-Puc-SP. JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE. O VETOR GEOPOLÍTICO DA OBRA DE SEMBÈNE OUSMANE. - PowerPoint PPT Presentation

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JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE

SEMBÈNE OUSMANE

Expositor Victor Martins

Pesquisador da Casa das Áfricas / Cecafro-Puc-SP

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JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE

SEMBÈNE OUSMANE

Expositor Victor Martins

Pesquisador da Casa das Áfricas / Cecafro-Puc-SP

O VETOR GEOPOLÍTICO DA OBRA DE SEMBÈNE OUSMANE

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Antecedentes do cinema africano: o olhar colonialista

“Na época colonial o cinema era uma distração para estrangeiros. O mundo africano, o mundo negro, só aparecia nele através de bananeiras e coqueiros, através de personagens de mensageiros ou domésticos fiéis. Mas, depois, os cineastas africanos passaram a levantar problemas reais – mal ou bem, mas de qualquer forma os levantaram. Então, as pessoas começaram a se identificar lentamente com sua história. E o cinema tornou-se uma realidade”. (Sembène Ousmane, Correio da Unesco, 03.1990).

Tarzan, 1918, Elmo Lincoln

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Filmes colonialistas

- Em sua maioria documentários, cinejornais (actualités franceses) e alguns filmes de ficção (décadas de 1890, 1910,20,30,40;

- Espelhava o olhar colonialista;- A câmera, a exemplo de um microscópio, era

uma ferramenta usada para dissecar o outro (o africano, o asiático, o oriental, o latino-americano).

Page 5: JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE

Filmes colonialistas Desde fins do século XIX cinegrafistas europeus e

sobretudo franceses são enviados à África.

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O cinema em África: olhar colonialista

Por objetivo celebrar as virtudes da civilização;

O “soft power” das potências europeias (poder de influência por meio da cultura e na esteira ideológica, seg. Joseph Nye);

Também contou com o apoio de particulares (o caso Citroën).

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O olhar colonialista

Em 1926, é filmado “La croisière noire”, uma travessia do Sahara com carros de trilha, patrocinado pelo magnata André Citroën e pelo Centro Africano de Paris. Filmado por León Poirier. O filme foi um sucesso.

“O cruzeiro negro”, 1926, León Poirier.

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“La croisière noire” (1926)

Estilo pedagógico e ufanista; Turismo visual; Segundo Elisabeth Lequeret, trata-se de

familiarizar os espectadores da metrópole com os habitantes dos territórios coloniais.

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Cinema para educar

No início dos anos 1930, as principais potências coloniais fazem uso de projeções cinematográficas para “educar” as populações locais (vide “Femmes Demain”, década de 1950);

Em 1936, o Ministério da Informação inglês cria o “Colonial Film Unit”, para organizar a distribuição e difusão de filmes (Bouchard, p.149). O projeto encontra dificuldades mas é uma experiência pioneira. (cinema enquanto política de Estado).

Em Gâmbia e no Senegal práticas como essa duraram até os anos 1950.

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“Vamos por partes”

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Colonizador – um “pensamento abissal”

“a epistemologia ocidental dominante foi forjada na base das necessidades de dominação colonial e assenta na ideia do que designa por pensamento abissal (Boaventura de Sousa Santos, Epistemologias do Sul, p.31-32; 519-562.)”.

DEFINIÇÃO UNILATERAL DE LINHAS

Divide experiências, saberes e atores sociais entre:

-Úteis- Inteligíveis- Visíveis

- Inúteis- Perigosos- Ininteligíveis

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Colonizador – um “pensamento abissal”

“a epistemologia ocidental dominante foi forjada na base das necessidades de dominação colonial e assenta na ideia do que designa por pensamento abissal (Boaventura de Sousa Santos, Epistemologias do Sul, p.31-32; 519-562.)”.

DEFINIÇÃO UNILATERAL DE LINHAS

Divide experiências, saberes e atores sociais entre:

-Úteis- Inteligíveis- Visíveis

- Inúteis- Perigosos- Ininteligíveis

“Peixe Lophiiformes” Fonte: Dpto. De Botânica da Univ. de Coimbra, acesso em: 22.03.2013.

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Utópico – As “imagens fora do lugar”

Filmes de Tarzan – baseado nas histórias de Edgar Rice

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Utópico – As “imagens fora do lugar”

Filmes de Tarzan – baseado nas histórias de Edgar Rice

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Utópico – As “imagens fora do lugar”

Filmes de Tarzan – baseado nas histórias de Edgar Rice

Dos filmes aos quadrinhos!

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Utópico – As “imagens fora do lugar”

Filmes de Tarzan – baseado nas histórias de Edgar Rice

Dos filmes aos quadrinhos!

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Letrado –um mundo moldado a partir da ditadura da escrita

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Letrado –um mundo moldado a partir da ditadura da escrita

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Letrado –um mundo moldado a partir da ditadura da escrita

“Tal como a arma, ela [escola] possui a eficácia de instrumento de combate, sendo mais eficaz para perpetuar a conquista. A arma contrai os corpos, a escola fascina as almas. Onde a arma faz um buraco de cinzas e de morte, antes que o homem, de modo persistente, surja dentre as ruínas, a escola nova instala sua paz. A manhã da ressurreição será uma manhã abençoada pela virtude apaziguadora da escola” – Cheick Hamidou Kane. Aventura ambígua. Paris, 1961, p.66..

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“Toubab”

“Aprendi com o tio Diop, evitar de se “toubabisar (ocidentalizar)” (Sembène Ousmane, em entrevista cedida a Guy Henebelle)

“Predomina na consciência ocidental um estereótipo da África como continente escuro e obscuro, abrigando tribos primitivas, imóveis no tempo e espaço, com suas culturas arcaicas e estáticas. De acordo com essa imagem, não haveria comunicação ou troca de ideias entre as várias etnias africanas, e muito menos entre elas e o restante do mundo, sobretudo nos tempos antigos” (Nascimento, Elisa Larkin, A matriz africana no mundo. SP: Selo Negro, p.80).

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“Toubab”

“Aprendi com o tio Diop, evitar de se “toubabisar (ocidentalizar)” (Sembène Ousmane, em entrevista cedida a Guy Henebelle)

“Predomina na consciência ocidental um estereótipo da África como continente escuro e obscuro, abrigando tribos primitivas, imóveis no tempo e espaço, com suas culturas arcaicas e estáticas. De acordo com essa imagem, não haveria comunicação ou troca de ideias entre as várias etnias africanas, e muito menos entre elas e o restante do mundo, sobretudo nos tempos antigos” (Nascimento, Elisa Larkin, A matriz africana no mundo. SP: Selo Negro, p.80).

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O olhar do colonizador: o cinema de ficção e documentários

No entreguerras, os africanos são apresentados como os “filhos” que a França deveriam educar;

As especificidades de suas culturas são ignoradas em prol de um olhar folclórico e etnologizante.

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A África enquanto espaço representado

- Até os anos 1950, o lugar dos africanos na produção cinematográfica eram bem marcados – no “écran” (nas telas), sobretudo, enquanto figurantes.

- Alguns africanos acabaram aprendendo o ofício de técnicos, mas em pequena escala, já que os patrões da “direção” restringiam a estética e a ideologia no processo de filmagem.

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Jean Rouch (1917-2004)

Cineastas e etnólogo francês. Trabalha como engenheiro de obras públicas em Níger. Interessa-se pela cultura Songhay e decide estudar etnologia. Na década de 1940, organiza em Dakar campanhas de libertação. Trabalha como investigador do Centre National de la Researche

Scientifique (CNRS), em Paris. Cria em 1953 com Henri Langlois, Levi-Strauss, dentre outros, o

Comitê do Filme Etnográfico, com Sede no Museu do Homem. Ajuda a formar quadros junto a jovens cineastas africanos na França,

ligados ao Museu do Homem.

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“Les Statues meurent aussi (1953)”

Rodado por Chris Maker, Alain Resnais e Ghislain Coquetet (franceses), o filme foi encomendado pela Revista Presénce Africaine, fundada em 1947.

A tese do filme: “o porquê” da Arte africana não está representada no Louvre, mas sim no Museu do Homem;

O filme ganhou o prêmio Jean Vigo, mas implicou em problemas aos idealizadores da obra.

Trata também da museolização de objetos que são extraídos de uma cultura viva

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Quadro cinematográfico pré-independência

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1980

1990

2000

2010

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França

Reino Unido

Bélgica

Alemanha

Portugal

Espanha

Itália

Separatismo

Gráfico 1: Independência das ex-colônias africanas e movimentos separatistas

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Pós-independência

Busca por autorepresentação; Luta pelo direito à imagem; Luta anticolonialista (nas diferentes esferas)

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Song of Karthoum (Gadalla Gubara, Sudão – 1958)

Obra de circulação restrita, mas considerado o primeiro filme africano (rodado no continente).

Fonte: site Festival de Cannes, 2012.

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Afrique-sur-Seine (África sobre o Sena, 1955

Paulin Soumanou Vieyra, filme de 21 minutos.

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Produções de Vieyra

Mol (1958): aventuras de um pescador para motorizar seu barco (Vieyra).

Lamb (1963): documentário sobre uma luta senegalesa homônima (Vieyra).

Sindiely (1964): protesto contra os casamentos forçados (Vieyra).

N’diongane (1965): drama familiar adaptado do romance do escritor Birago Diop

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Outras produções

Grand Magal (1962, Blaise Senghor), aborda a peregrinação a Touba – filme premiado no Festival de Berlim.

L’afrique noir en piste (década de 1960, Yves Diagne, Delou Thyossane)

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Nascimento do cinema africano(Nova forma de inventariar, narrar e ler o mundo)

O Cinema africano é filho de dois cruzamentos:

1 – luta anticolonialista x busca por autorepresentação;

2 – a diáspora negro-africana x engajamento político.

(Obs: cruzamento que se aproxima com o assinalado pelo crítico Ismail Xavier ao narrar o surgimento do Cinema Novo no Brasil)Com exceção da diáspora e da crítica colonial, o cinema novo brasileiro buscou intervir na agenda política a partir de uma nova estética (estética da fome) e da crítica a nacionalidade mal sedimentada, denunciando espaços ausentes do projeto nacionalista de ontem e do positivismo de anteontem.

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Crítica anticolonial

“Encontro de escritores e artistas negros de Paris” (1955). – questão diaspórica

“Colóquio de artes negras e estética” (Dakar, 1974). – problematização da estética das artes negras e islâmica.

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Columbianum – a ponte clandestina

Resenha de Cinema em Gênova, 1959-1965.

Insituto Columbianum de Gênova – Padre Angelo Arpa.“América Latina e Cuba, num primeiro momento, depois Ásia e África, permite afirmar que o Columbianum teve um papel pioneiro no que se refere ao diálogo entre tais filmografias.”

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Nova estética

Estética da fome, da oralidade, da africanidade – busca por autorepresentação.

Criação de homens novos. A farsa do multiculturalismo.

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Filmes – primeira produção

Borrom Sarret (1962, 19min)“Longos planos seqüências e inúmeros planos gerais enunciam e denunciam as precariedades das periferias de Dakar. O olhar do carroceiro confunde-se com o olhar do cineasta, perspicazes observadores das mazelas sociais de um espaço desassistido. As imagens são intercaladas por reflexões. O filme narra “um dia na vida de um pobre entre os pobres.”

“Para além da pedagogia, Sembène busca dialogar com o povo”

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La noire de...(1966)

Premiações:

Jean Vigo-FR.

Tani de Ouro (Cártago)

Melhor Diretor (Festival de Artes Negras – Dakar)

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La noire de...

Diouana (Therèse Diop), uma doméstica senegalesa que sai de Dakar para servir seus patrões brancos na comuna de Antibes. Neste processo a personagem passa por uma constante perda de identidade, que a leva ao suicídio. Na sua obra prima, Sembene denuncia as formas mais sofisticadas do neocolonialismo - inclusive no âmbito doméstico -, além de demonstrar grande sensibilidade no trato de personagens femininas, aspecto que marcaria grande parte de sua filmografia e literatura

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Cinema de autor x cinema industrial

Trabalho de autoria versus o “gênio do sistema”.

Autoria: marca confessadamente pessoal nas obras.

Cinema industrial: modelo padronizado (direção executiva)

As brechas do sistema !!!!

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Le Mandat (Mandabi, 1968) (o encontro com Glauber)

Prêmio Especial do Juri, em Veneza“Primeiro filme a possuir diálogos em wolof. Dramatiza a experiência de Ibrahima Dieng, um morador de Dakar, que não sabe ler francês e recebe do sobrinho, residente em Paris, uma ordem de pagamento a ser descontada em um banco. As burocracias locais são as grandes barreiras que impedem Dieng de sacar o dinheiro deixado pelo sobrinho. Em Mandabi, percebe-se um olhar crítico em relação às instituições senegalesas, mostrando igualmente como os valores das classes dirigentes são incompatíveis com os da população, em que há uma estrutura criada para dirimir a participação do povo neste processo representativo.” – Sembène apresenta o filme para Glauber Rocha em sua visita a Dakar.

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Sobre Mandabi

“Com Le Mandat [Mandabi], rodado em 1968, quis denunciar a burguesia senegalesa, de uma maneira brechtiana. Burguesia de um tipo um pouco especial, composta de intelectuais e de quadros administrativos que utilizam o saber para esmagar o povo” (Entrevista concedida a Guy Henebelle)

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Mandabi

“Le Mandat (Mandabi) existe em versão francesa e em versão wolof. Particularmente, prefiro não projetar a versão francesa, visto que a outra é mais autêntica” (Sembène Ousmane)

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Wolof – a língua enquanto instrumento de nova consciência política.

Xala (1975)

“Ele faz da língua uma imagem, no sentido em que preenche a imagem de palavras, ficando a cargo da montagem coreográfica a dinâmica do discurso” (Busch & Annas). Assim, Sembene inaugura um debate em torno da língua enquanto um instrumento de uma nova consciência política, proposta que foi mais aprofundada no filme Xala.

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Xala

“O Presidente da associação calou-se. Os seus olhos brilhavam de satisfação. Detinham-se em cada um dos assistentes: uma dezena de pessoas, ricamente vestidas. O corte dos fatos, de tecido inglês, feitos por medida, e as impecáveis camisas brancas exprimiam bastante bem as suas ambições” (Xala, romance, p.10, 1973).

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Filmes

Xala (1975):

El Hadji Abdou Kader Bèye, contrai o xala, (que em wolof significa impotência sexual, induzida e temporária), no exato momento em que desposa a jovem N’Goné, sua terceira esposa... El Hadji é obrigado a voltar-se para tradição, tendo em vista a cura da enfermidade. Contudo, ao longo da trama é revelada a raiz do drama da personagem. A impotência de El Hadji é uma punição por ele ter se afastado da tradição e usurpado seu povo.

Wolof x Francofonia

Ancestralidade x “toubab”

Critica uma “burguesia” infértil, que não produz riqueza

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Os vetores geopolíticos de Sembène Ousmane

Há na obra do cineasta-escritor uma relação entre processo político e mudança social.

Sembène capta os imperativos do momento,Isso visível em sua obra. Estabelece estratégias, tendo em vista a projeção de

cenários futuros. Suas personagens encenam experiências de

grupos, são sujeitos históricos em busca de justiça, via de regra, indo de encontro ao colonialismo (conflito).

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Filmes

Camp de Thiaroye (1988)

Análise de trechos.

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Diálogos cinematográficos

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Diálogos em imagens: o cinema do dito terceiro mundo (qual caminho?).

Vento do Leste (Godard e Gorin, 1969).

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Os vetores geopolíticos de Sembène Ousmane

Literatura; Cinema; Militância; Luta sindical.

Emitai, 1971, sobre a II GM.

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Ceddo (1976)

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Ceddo

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Sembène Ousmane – os três “pês”

Polêmico Político Popular

Em que medida?

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