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Educomunicação: reflexões sobre teoria e prática. A experiência do Jornal do Santa Cruz Claudia Jawsnicker * Índice 1 Introdução 1 2 Desafios e perspectivas da utilização da mídia na escola 2 3 Experiências escolares com jornais 4 4 A experiência do jornal Santa Cruz 6 5 Considerações finais 7 6 Referências bibliográficas 8 Resumo Considerando o referencial teórico acerca da Educomunicação (Schaun 2002, Gaia 2001, Soares 2002), este artigo pretende relatar a experiência da produção do Jornal do Santa Cruz, tablóide produzido em conjunto por alunos do curso de Jornalismo da Fundação Assis Gurgacz (FAG) e estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Santa Cruz, ambas instituições localizadas em Casca- vel, oeste do Paraná. O projeto ressalta a importância da produção de um jornal escolar como forma de estimular e socializar o debate de temas de interesse dos alunos * Jornalista profissional. Mestre em Educação. Docente do Curso de Comunicação Social / Jorna- lismo da da FAG, em Cascavel. E-mail: [email protected] e da integração entre a universidade e a comunidade escolar. Palavras-chave: Educomunicação, jornal escolar, Jornal do Santa Cruz. 1 Introdução A Educomunicação tem se afirmado, nos úl- timos anos, como um campo de interven- ção social que procura incluir a Comuni- cação no processo da mediação educacio- nal. Este campo, segundo Schaun (2002), caracteriza-se por atividades de intervenção política e social fundamentadas no desejo de análise crítica do papel dos meios de comu- nicação que atuam no âmbito do ensino for- mal e informal. 1 As práticas de interven- ção social da Educomunicação constituem- se em ações, programas e produtos destina- dos a criar e a fortalecer ecossistemas comu- nicativos em espaços educativos (presenciais e virtuais), partindo da compreensão da im- portância da ação comunicativa para o con- vívio humano, para a produção do conheci- 1 Entendemos ensino formal como cursos de níveis fundamental, médio, superior e de formação de pro- fessores e ensino não-formal como aqueles organiza- dos por meio de empresas, movimentos populares e organizações não-governamentais (SCHAUN 2002).

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Educomunicação: reflexões sobre teoria e prática.A experiência do Jornal do Santa Cruz

Claudia Jawsnicker∗

Índice1 Introdução 12 Desafios e perspectivas da utilização

da mídia na escola 23 Experiências escolares com jornais 44 A experiência do jornal Santa Cruz 65 Considerações finais 76 Referências bibliográficas 8

ResumoConsiderando o referencial teórico acerca daEducomunicação (Schaun 2002, Gaia 2001,Soares 2002), este artigo pretende relatar aexperiência da produção do Jornal do SantaCruz, tablóide produzido em conjunto poralunos do curso de Jornalismo da FundaçãoAssis Gurgacz (FAG) e estudantes do ensinomédio do Colégio Estadual Santa Cruz,ambas instituições localizadas em Casca-vel, oeste do Paraná. O projeto ressaltaa importância da produção de um jornalescolar como forma de estimular e socializaro debate de temas de interesse dos alunos

∗Jornalista profissional. Mestre em Educação.Docente do Curso de Comunicação Social / Jorna-lismo da da FAG, em Cascavel.E-mail: [email protected]

e da integração entre a universidade e acomunidade escolar.

Palavras-chave: Educomunicação, jornalescolar, Jornal do Santa Cruz.

1 IntroduçãoA Educomunicação tem se afirmado, nos úl-timos anos, como um campo de interven-ção social que procura incluir a Comuni-cação no processo da mediação educacio-nal. Este campo, segundo Schaun (2002),caracteriza-se por atividades de intervençãopolítica e social fundamentadas no desejo deanálise crítica do papel dos meios de comu-nicação que atuam no âmbito do ensino for-mal e informal.1 As práticas de interven-ção social da Educomunicação constituem-se em ações, programas e produtos destina-dos a criar e a fortalecer ecossistemas comu-nicativos em espaços educativos (presenciaise virtuais), partindo da compreensão da im-portância da ação comunicativa para o con-vívio humano, para a produção do conheci-

1Entendemos ensino formal como cursos de níveisfundamental, médio, superior e de formação de pro-fessores e ensino não-formal como aqueles organiza-dos por meio de empresas, movimentos populares eorganizações não-governamentais (SCHAUN 2002).

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mento e para a elaboração e implementaçãode projetos de mudanças sociais.

O paradigma da educação no seu estatuto demobilização, divulgação e sistematização deconhecimento implica em acolher o espaçointerdiscursivo e mediático da Comunicaçãocomo produção e veiculação de cultura, fun-dando um novo lócus – o da inter-relaçãoComunicação/ Educação (SCHAUN 2002, p.20)

A Comunicação voltou-se para a Educa-ção na busca de um espaço de relações so-ciais no qual possa trabalhar com os aspec-tos cognitivos, críticos e comportamentais dopúblico e onde prevaleça uma postura for-mativa e libertadora (CASTILHO COSTA2007). A escola, por sua vez, vê nos meiosde comunicação um instrumento que ajuda a

formar o julgamento, o senso critico, o pensa-mento hipotético e dedutivo, as faculdades deobservação e de pesquisa [...], a imaginação,a leitura e a análise de textos e de imagens,a representação de redes, de procedimentose de estratégias de comunicação. (PERRE-NOUD, 2000, p.128).

A inserção dos meios de comunicação naescola remete ao conceito de uma pedago-gia comunicacional, defendida pelo educa-dor pernambucano Paulo Freire2 (2000), queconsidera as mídias e as relações com elas,estimulando um diálogo entre a escola e aslinguagens midiáticas. Freire (ibid) ressaltao caráter ‘problematizador’ deste diálogo,que propõe despertar no aluno a leitura do

2O educador e ativista social Paulo Freire desen-volveu uma prática de alfabetização e de pedagogiacrítico-libertadora, que defende ser através da relaçãodialógica que se consolida a educação como práticada liberdade.

mundo, fazendo da educação um ato de apro-ximação com a realidade. A Educação é en-tendida, assim, como um processo de cons-trução da consciência crítica, e a mídia comoum canal capaz de despertar, nos jovens, oexercício de criticidade em relação aos fatosdo cotidiano.

2 Desafios e perspectivas dautilização da mídia na escola

Segundo Cortelazzo (2005), é essencialque o docente se aproxime dos meioscomunicacionais, familiarize-se com eles,apropriando-se de suas potencialidades, con-trolando sua eficiência e seu uso, para então,criar novos saberes.

Os professores precisam aprender a utilizar amídia não como resolução dos problemas im-postos pela prática didática, mas como pro-posta que traga uma fonte de aprendizadoa mais para ser trabalhada em sala de aula.Esta visão implica ter uma atitude sem pre-conceito, não somente porque colabora paradesnudar a noção de verdade perpassada pe-las mídias e aceita por um expressivo nú-mero de cidadãos, mas também porque pensaesse fenômeno como parte da nossa realidade(GAIA 2001: 35).

No entanto, ainda é grande a incerteza einsegurança dos professores sobre a melhorforma de utilização dos meios de comunica-ção em sala de aula.3 Esta dificuldade parece

3Pesquisa conduzida pela revista Triálogos, doDepartamento de Jornalismo da Universidade Esta-dual de Londrina (UEL), com 45 professores que le-cionam de 5a a 8a séries do ensino fundamental, reve-lou que o uso de material midiático pelos professoresé normalmente ocasional e fruto de decisões tomadasde improviso (NIEBUHR 2002).

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estar associada a três fatores. Inicialmente, esegundo especialistas como Moran (1993), aescola ainda considera contraditória a rela-ção entre os meios de comunicação e a soci-edade. Por um lado, a mídia, de uma maneirageral, tem sido duramente criticada pelo sis-tema educacional, por servir como um ca-nal para a sociedade de consumo alienante(BAUDRILLARD, 1990)4. Por outro, edu-cadores reconhecem que os meios de comu-nicação – por seu apelo respondem, muitomais que a escola, à sensibilidade dos jovens.

Uma outra dificuldade sobre o uso da mí-dia como material pedagógico relaciona-seà formação do professor que valoriza, so-bretudo, a técnica de aula expositiva comoforma de transmissão de conteúdo (MO-RAN, MASETTO e BEHRENS 2000). 5

Por fim, muitos professores assumem odesconhecimento das etapas e particulari-dades da produção jornalística. Esta nosparece ser a dificuldade mais significativa eque requer especial atenção. Pois, para me-lhor utilização da mídia como material pe-dagógico, o professor deve compreender oprocesso de produção jornalística jornalís-tico, assim como suas limitações e constran-gimentos.

Segundo muitos autores (Traquina 2005,Pena 2005 e Souza 2002), o entendimento do

4O filósofo francês Jean Baudrillard situa a recep-ção da mídia como parte de uma engrenagem de con-sumo cultural que abrange todos os imperativos dosistema social de consumo da sociedade.

5Pesquisa indica que aulas expositivas contribuemao oferecer aos alunos as informações mais recentesdo campo de estudo colhidas de diferentes fontes eapresentadas de maneira organizada e sintetizada. Noentanto, o professor pode encontrar dificuldade emmanter a atenção dos estudantes durante 60 ou 90 mi-nutos de exposição e podem induzir a cópia do conhe-cimento e não a sua construção (PACHECO).

processo de produção jornalística deve par-tir do pressuposto que as notícias – princi-pal produto do trabalho jornalístico – não re-presentam um reflexo objetivo dos aconteci-mentos do cotidiano. Central à compreensãodesta teoria está a noção de que o processode seleção dos fatos que serão transforma-dos em relatos noticiosos submete-se à açãopessoal dos jornalistas (gatekeepers) e, porisso mesmo, caracteriza-se por ser arbitrá-rio, subjetivo e muito dependente de juízosde valor, experiências, atitudes e expectati-vas de repórteres, pauteiros e editores.

Um outro elemento, que permeia o pro-cesso de produção jornalística e que deveser compreendido por educadores, relaciona-se à teoria do agendamento, que defendeque a mídia é capaz de estabelecer umaagenda temática junto ao público (SOUZA2002). Para McClure e Patterson (apudSouza 2002), esta capacidade de agenda-mento dos temas difere de meio para meio:os jornais, por fornecerem uma visão maisaprofundada e analítica dos assuntos – em re-lação ao noticiário breve e heterogêneo ofe-recido pela televisão –, teriam maior capaci-dade de agendar os temas a serem tratadospelo público.

Fixar a agenda é fixar o calendário dos acon-tecimentos, é dizer o que é importante e o quenão é, é decidir chamar a atenção sobre umcerto problema. [...] Fixar a agenda é esco-lher o bom momento e o bom lugar para di-fundir a informação. É fixar não só o que vaiser discutido, mas como e por quem (BAR-ROS FILHO in Barzotto e Ghilardi , 1999, p.13)

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Estes e outros constrangimentos à práticajornalística6 impõem a reflexão de que a mí-dia estabelece, hierarquiza, legitima e ordenaos fatos a serem discutidos pelo público. Éfundamental que educadores e alunos, aocompreenderem que as notícias apresenta-das pela mídia estão sujeitas a um processode escolhas e seleções arbitrárias, estejamatentos ao perigo do que Bordenave (2003)chama de ‘ilusão referencial’ – a crença quea informação consumida por um jornal (ounoticiário televisivo ou radiofônico) é um ab-soluto reflexo da realidade.

Da enorme quantidade de fatos que a reali-dade contém, os meios de comunicação se-lecionam só alguns, decodificam à sua ma-neira, combinam-nos entre si, estrutura-nose recodificam, formando mensagens e pro-gramas, e difundem-nos, carregados agora deideologia, de estilos e intenções. (BORDE-NAVE, 2003, p. 50).

Alguns projetos têm aproximado profes-sores de universidades e educadores do en-sino médio e fundamental interessados emtrocar experiências e reflexões sobre estasquestões e a inter-relação entre Comunica-ção e Educação. No Paraná, professores deensino médio e fundamental da rede estadualestiveram reunidos em Faxinal do Céu, em2005, durante três dias, para trocar experi-ências e discutir propostas sobre a utiliza-ção da mídia em sala de aula. Cerca de 200

6A seleção de notícia pode ser influenciada aindapor outros fatores, como o contexto profissional-organizativo-burocrático da redação; critérios profis-sionais ligados às rotinas de produção – como o prazode fechamento do jornal –; a eficiência e velocidadede avaliação individual de relevância da noticiabili-dade do fato; e interesses políticos do veículo (TRA-QUINA 2005, PENA 2005 e SOUZA 2002).

professores participaram de oficinas de Edu-comunicação conduzidas por professores ealunos do curso de Jornalismo da FundaçãoAssis Gurgacz (FAG), de Cascavel, que fo-calizaram a produção de jornais, fotografiase vídeos escolares. Em Cascavel, tambémno mesmo ano, professores de Jornalismo aUniversidade Paranaense (UNIPAR) promo-veram curso de capacitação para acadêmicosde Pedagogia da instituição interessados emaprender a trabalhar com jornais em sala deaula.

No portal Cidade do Conhecimento, daUniversidade de São Paulo7, o programaEducar na Sociedade de Informação é um es-paço para a formação de redes de contato en-tre professores do ensino fundamental e mé-dio, da rede pública e privada, e educado-res de organizações não-governamentais. Alieles trocam experiências sobre iniciativas,projetos de pesquisa e ações sociais que fa-zem uso inteligente dos meios de comunica-ção de massa. Um outro projeto, da mesmainstituição, inclui a RBE - Rede Brasileira deEducomunicadores 8-, movimento que tam-bém reúne especialistas que se voltam para areflexão e a prática da Educomunicação emespaços culturais e em instituições educati-vas. O projeto oferece cursos de extensão,seminários de aperfeiçoamento para educa-dores, interligados através do boletim online“O Educomunicador”.

3 Experiências escolares comjornais

Pelo caráter menos exigente e complexoem termos de recursos técnicos e financei-

7http://www.cidade.usp.br/projetos8http://www.usp.br/nce/

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ros, são crescentes, no ambiente educacio-nal, atividades educomunicativas utilizandojornais.9 Muitos destes projetos escolares10

priorizam a leitura, a discussão e a interpre-

9O jornal foi o primeiro elemento da mídia a serutilizado por professores como recurso didático. Con-forme Adair (1995), trata-se de prática educacionalantiga: na Espanha, em fins do século XIX, já se dis-cutia a possibilidade de introdução o jornal nas sacasde aula. Na Noruega, foram encontrados artigos dejornais do começo do século XX falando sobre revo-lucionários métodos de ensino com o uso de jornal.Nos Estados Unidos, em 1932, o New York Timesiniciou seu programa de jornal na educação, sendo re-conhecido como marco na história destas iniciativas,através da distribuição de suas edições nas escolas.No Brasil, a introdução do jornal como recurso di-dático começou na década de 70. Na época, a expe-rimentação era inovadora: influenciada pela obra deMcLuhan, a Secretaria de Educação de São Paulo in-troduziu, em suas diretrizes curriculares, a produçãode jornais, o que continuou nas décadas de 80 e 90,mantendo programas funcionando até hoje em váriosestados brasileiros.

10Entre eles, o projeto “Jornal na Sala de Aula”,implementado em mais de 40 municípios do estadodo Ceará; o projeto “Correio Educação”, que atende30 mil estudantes da pré-escola à 8a série de 62 es-colas municipais de Uberlândia, em Minas Gerais; oprojeto “Correio Escola”, coordenado pelo Departa-mento de Educação do Estado de São Paulo e o pro-jeto “Quem Lê Jornal Sabe Mais”, no qual o jornalcarioca O GLOBO desenvolve um processo de forma-ção continuada, através de oficinas, encontros, pales-tras, reuniões pedagógicas, para capacitar os profes-sores da rede estadual que irão trabalhar com os jor-nais em sala. O projeto “Pião dos bairros: o jogo queé também jornal”, fruto do TTC de um grupo de aca-dêmicos de Jornalismo da FAG em 2005, apresentauma proposta Educomunicativa inovadora: um jornal/ jogo, que tem como objetivo “fazer com que as cri-anças aprendem a interpretar e questionar as informa-ções dos meios de comunicação de massa” (TAVA-RES et al 2005). O projeto ganhou, em 2006, o 3o

lugar do Prêmio Sangue Novo, categoria projeto im-presso, concedido pelo Sindicato dos Jornalistas Pro-fissionais do Paraná.

tação de diferentes assuntos (que podem ounão estar relacionados aos conteúdos progra-máticos) enfocados pela mídia, estimulandoa reflexão crítica da realidade social e o ma-nejo da linguagem oral e escrita.

Outros projetos, além de usar o jornalcomo ponto de partida para debates e dis-cussões sobre temas da atualidade, encora-jam os acadêmicos a produzirem seu própriomaterial jornalístico impresso. Entre as vá-rias experiências envolvendo jornais escola-res no país, destacamos três:

1. O Jornal Uga-Uga é um projeto daAgência Uga-Uga de Comunicação -organização não-governamental, semfins econômicos, que atua na capital emunicípios do interior do Amazonas.11

O tablóide escolar, que está na sua 20a edição, é produzido e gerenciado porjovens e adolescentes da rede pública deensino de Manaus e voltado para essemesmo público: 77 escolas utilizam oUga-Uga como material didático emsalas de aula. A equipe do projeto de-senvolve oficinas de treinamento e ca-pacitação para que os estudantes pos-sam elaborar o jornal de forma críticae criativa e de acordo com as técnicas elinguagens do meio impresso. A idéiaé fazer com que a publicação seja maisuma alternativa inserida à prática me-todológica escolar, e não um concor-rente do livro didático ou dos professo-res. Além da versão impressa, o projetoestá desenvolvendo uma proposta ele-

11O projeto originou-se do Projeto Jornal na Es-cola, uma ação desenvolvida, em 1997, pela Secre-taria Municipal de Educação (Semed) e pelo Fundodas Nações Unidas para a Infância (Unicef).

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trônica, via Web, como estratégia paraalcançar um maior número de leitores.

2. A ONG Comunicação e Cultura, quedesenvolve ações no Ceará, apóia doisprojetos de Educomunicação: o “Pri-meiras Letras” e o “Clube do Jornal”.O “Primeiras Letras” apóia a publica-ção de jornais que resultam do trabalhoem sala de aula no ensino fundamentale EJA (Educação de Jovens e Adultos)e são editados por professores, com tex-tos e desenhos dos alunos. O projeto be-neficia, atualmente, 880 escolas de 104municípios no Ceará.

O “Clube do Jornal” apóia a publicaçãode jornais jornais estudantis editadoscom autonomia por adolescentes do en-sino médio. Os jovens têm independên-cia tanto no que diz respeito à escolha eredação de matérias, como à programa-ção visual dos jornais, formas de distri-buição e número de páginas. O projetopromove cursos em diversas áreas (co-municação, liderança, produção de tex-tos e editoração eletrônica, entre outros)e encontros de intercâmbio de experiên-cias entre os redatores das publicações.O projeto beneficia, atualmente, 122 es-colas de 33 municípios no Ceará.

3. O projeto “Olho Vivo”, da ONGBem TV, viabiliza processos educativospara adolescentes das comunidades daGrota, Morro do Preventório e Jurujuba,em Niterói, no Rio de Janeiro. As ati-vidades, que começaram em 2003, in-cluem edição de jornais, exposições fo-tográficas e até promoção de campa-nhas contra a disposição inadequada dolixo.

4 A experiência do jornal SantaCruz

Considerando a conceituação e os impassesque a Educomunicação enfrenta na atuali-dade, um grupo de alunos do curso de Jor-nalismo da Fundação Assis Gurgacz (FAG),instituição situada em Cascavel, no oestedo Paraná, iniciou a produção do Jornal doSanta Cruz. O projeto pretende aproximaros acadêmicos da FAG com a comunidadedo bairro Santa Cruz e possibilitar à comuni-dade escolar do Colégio Jardim Santa Cruz aparticipação efetiva em um projeto de comu-nicação.

O Jornal do Santa Cruz nasceu em 2006,como fruto de uma parceria entre o curso deJornalismo da FAG e o bairro Santa Cruz.No início daquele ano, o Curso de Jorna-lismo foi procurado por representantes da es-cola e da associação de moradores local in-teressados em produzir um veículo impressoque divulgasse e debatesse questões impor-tantes para a comunidade – como segurançapública, saúde e saneamento básico. Umgrupo de alunos do curso encampou a idéia einseriu a produção do jornal no projeto de ex-tensão “Olhar na cidadania”, que desenvolveprojetos comunicacionais para outras comu-nidades do município.

A dificuldade em obter patrocínio não de-sanimou os estudantes de Jornalismo que op-taram pela produção de um tablóide de ape-nas quatro páginas, de periodicidade bimes-tral e com tiragem de 2 mil exemplares. Pelaimpossibilidade de veiculação de matérias‘quentes’, optou-se pela produção de um jor-nal temático, que enfocasse tema de perti-nência para a comunidade.

A produção do jornal foi dividida em trêsfases. Inicialmente foi organizada uma reu-

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nião com a presença dos 10 alunos da es-cola – do 1o e 2o anos do ensino médio - quese inscreveram para participar do projeto, de3 acadêmicos de Jornalismo e 2 professoresorientadores envolvidos no programa. Noencontro, discutiu-se a importância da pro-dução de um jornal para o bairro e para aescola, e selecionou-se o tema principal daprimeira edição do jornal (saúde), a partir deum consenso entre os participantes.

Uma segunda reunião enfocou a discussãode pautas para a primeira edição. Os aca-dêmicos de Jornalismo ficaram responsáveispela produção das páginas 2 e 3 e da capa12 eos alunos do colégio pelas fotografias e notí-cias da página 4, que repercutiriam, na vidaescolar, o tema geral do jornal. O grupo de-cidiu que o jornal incluiria, além de repor-tagens, um editorial - produzido pelos aca-dêmicos de Jornalismo e que apresentaria oveículo e o tema da edição -, e um texto deopinião, em forma de artigo, produzido porum membro da comunidade.

Os alunos da escola tiveram prazo de duassemanas para apurarem as notícias. Com aapuração concluída, reuniram-se com os aca-dêmicos da FAG em um dos laboratórios deinformática da instituição para a produçãodos textos. Foram orientados sobre princi-pais dificuldades acerca de ortografia, voca-bulário, seqüência de idéias, expressão oral,coesão e clareza textual. Em grupos, pro-duziram quatro textos noticiosos para a pri-meira edição do jornal: a matéria “Fumó-dromo: conflito entre alunos” mostra a rei-vindicação por um local apropriado para osfumantes; a reportagem “DST no currículo

12A página 2 conta, além do editorial com artigoe charge. A página 3 apresenta reportagem sobre aunidade básica de saúde que atende a comunidade.

escolar” relata a palestra de profissionais daárea de saúde; “Alimentação saudável, vidamelhor” avalia a qualidade da merenda esco-lar e “Higiene faz falta” aborda os transtor-nos causados pela falta de limpeza nos ba-nheiros e cozinha do colégio. Além dos tex-tos, os alunos foram responsáveis pela pro-dução de títulos, fotografias e legendas.

Finalmente, os alunos da escola participa-ram da fase final da produção do jornal: adiagramação do jornal. Em um novo encon-tro, acompanharam o processo de diagrama-ção feito por uma das acadêmicas de Jorna-lismo.

A expectativa de todos os envolvidos como projeto é que os alunos do colégio adqui-ram confiança suficiente para, em breve, pro-duzirem sozinhos todas as páginas do jornal.Espera-se também que a repercussão do tra-balho motive os comerciantes do bairro a pu-blicarem anúncios no veículo, financiando asua impressão. O projeto “Olhar na cidada-nia” pretende, ainda, oferecer aos professo-res de Língua Portuguesa do colégio oficinasde capacitação para a produção de jornaistablóides para que eles possam desenvolvercom os alunos produção semelhante.

5 Considerações finaisA Educomunicação ressalta a importância dacriação e fortalecimento de ecossistemas co-municativos nas escolas, através da inserçãode meios de comunicação nos espaços edu-cativos (SOARES 2007). Para isso, o pri-meiro passo é capacitar professores para ouso das diferentes linguagens midiáticas emsala de aula - a familiarização de educadores– e educandos - com os meios de comunica-ção possibilita a melhor utilização da mídiae sua análise crítica. A partir daí, então, os

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alunos poderão desenvolver um olhar críticoem relação à produção midiática e produzirseu próprio material jornalístico, valorizandotemáticas de seu interesse e da comunidadeescolar.

É visível, no país, o fortalecimento de umarede de apoio à formação de professores inte-ressados em utilizar a mídia em sala de aula.Mas, para a maioria dos professores, a utili-zação da mídia – e mais do que isso, a produ-ção de produtos impressos – em sala de aulaainda representa uma novidade. A produçãodo Jornal do Santa Cruz, agora em sua 3a

edição, pretende valorizar a produção esco-lar, estimular e socializar o debate de temasde interesse dos alunos e integrar a comuni-dade universitária à escolar.

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