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Jornal das boas Notícias, nº 31
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31 1 de Setembro de 2015
O J
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A santidade não consiste em não cometer erros ou nunca pecar. A
santidade cresce com a capacidade de conversão, arrependimento e
disponibilidade de recomeçar e, sobretudo, com a capacidade de
reconciliação e perdão
Papa Bento XVI A vingança de um judeu errante .............. 1 A ditadura da infância mais que
perfeita .................................................. 2 Moral da história ...................................... 2 A importância de se chamar Cecil ............ 3 Tornou-se mãe aos 12 anos. A partir
daí, tudo mudou ..................................... 3 O grande combate ...................................... 4 Debates e consensos ................................. 4 "Marcou a sua geração sacerdotal a
vários níveis, belíssimos todos" ........... 5 Holocausto inútil ..................................... 5 O milagre em Hiroshima ............................ 6 Perto do rio dos ‘Bons Sinais’ de
Vasco da Gama ........................................ 6 “O catolicismo está estritamente
ligado à razão. Para mim, é muito importante tentar aprofundar as coisas em que acredito” ........................ 7
Quando uma astrofísica ateia se converte a Cristo: "Eu percebi que existe uma ordem no Universo" ............. 8
A vingança de um judeu errante P. Gonçalo Portocarrero de Almada Observador 1/8/2015 Um judeu britânico, nascido austríaco, ‘vingou-‐se’ dos cristãos que, em 1938, o salvaram de uma morte certa pelos nazis, criando um fundo para o resgate dos cristãos perseguidos no Médio Ori-‐ente Arthur George Weidenfeld é um jovem britânico que, no próximo dia 13 de Setembro, cumpre 96 primaveras. Nasceu austríaco e tinha 18 anos quando, em 1938, o exército nazi ocupou o seu país. Sendo judeu, o mais certo é que tivesse sido deportado para um dos numerosos campos de concentração onde, com toda a probabilidade, encontraria a morte, como tantos outros judeus e não só. Mas teve a sorte ou, melhor dizendo, a graça de ter quem o libertasse desse mais do que provável destino. Com efeito, foi socorrido por cristãos, que também providenciaram a sua emi-‐gração para a Grã-‐Bretanha, onde conseguiu residência e trabalho. Desde então, Weidenfeld, a quem a rainha Isabel II fez par do reino e barão, sente-‐se em falta para com os que o salvaram, porque entende que lhes deve a sua sobrevivência, seriamente ameaçada depois da anexação da Áustria pelo terceiro Reich. Os anos decorridos desde então – mais de setenta! – não bastaram para esquecer essa dívida de gratidão e, por isso, quis ‘vingar-‐se’ dos seus benfeitores de 1938, criando um programa que se propõe resgatar os cristãos que são perse-‐guidos nos países do Médio Oriente, sobretudo pelo auto-‐intitulado Estado Islâmico, responsável pelo assassinato de milhares de seguidores de Cristo. O Weidenfeld Safe Havens Fund propõe-‐se
resgatar aproximadamente dois mil cristãos, na Síria e no Iraque, durante os próximos dois anos. Apesar da dimensão trágica do referido genocídio, poucas têm sido as vozes que se levantaram para condenar esta implacável perseguição religiosa, que todos os dias ceifa novas vidas. O Papa Francisco parece ser a excepção que confirma a regra, pois tem-‐se referido com frequência a este novo holocausto. Mas os seus alertas ainda não tiveram o condão de despertar a comunidade internacional, que parece mais interessada em resolver a crise financeira do que defender os milhares de cristãos que estão em perigo iminente de vida na conturbada região do próximo Oriente, no Paquistão – onde a católica Ásia Bibi, condenada à morte por blasfémia, continua presa – na Nigéria, no Sudão, etc. Ainda a 9 de Julho passado, o Papa confessou a dor que lhe vai na alma: “é consternados que assistimos à perseguição de cristãos no próximo Oriente e noutras partes do mundo”, onde “tantos dos nossos irmãos e irmãs são perse-‐guidos, torturados e mortos pela sua fé em Jesus”, nomeadamente no Iraque e na Síria, onde não só alguns cristãos são decapitados, por razão da sua fé, como os sobreviventes são forçados a converterem-‐se ao islamismo. Não obstante a insistência dos apelos, as organizações políticas e humanitárias optaram até à data, ao que parece, por um cúmplice alheamento. Graças a Deus, esse não foi o caso do lorde Weidenfeld, que em boa hora tomou a iniciativa de lançar esta operação de resgate de cristãos perseguidos na Terra Santa e em toda a região. Segundo informação veiculada pela Lugar-‐Tenência de Portugal da Ordem do Santo Sepulcro, uma organização pontifícia mundial ao serviço dos Lugares Santos e das respectivas comunidades cristãs, este projecto, apesar de só ter algumas semanas de vida, já expatriou, para a Polónia, cento e cinquenta cristãos sírios. Não obstante a natureza humanitária da operação, surgiram algumas críticas ao carácter confessional do apoio que este fundo presta. Arthur George Wei-‐denfeld explicou, no entanto, que a iniciativa nasceu da dívida contraída por ele e por muitos outros jovens judeus, integrados nos Kindertransports, para com as confissões cristãs que os salvaram, levando-‐os para Inglaterra. Há quem diga que os judeus são muito ‘vingativos’ e materialistas e, se assim for, o promotor desta iniciativa não é excepção. Contudo, a sua ‘vingança’ é muito especial, porque é expressão da sua gratidão e totalmente desinter-‐essada. Uma atitude que ele quereria ver partilhada por todos os membros do seu povo: “nós, os judeus, devemos também ser gratos e fazer alguma coisa pelos cristãos em vias de extinção”.
As férias não são um parêntesis O Jornal das Boas Notícias faz parte do regresso do Povo à sua
actividade normal.
Porém, enquanto estamos de férias a Terra gira em volta do
Sol que nasce e se põe todos os dias, o que serve para dizer
que a vida continua movida sempre pelas mesmas motivações e
condicionada pelas mesmas restrições.
Às vezes podemos achar que as coisas não acontecem se não
estivermos a olhar.
Neste Jornal das Boas Notícias procurei seleccionar histórias e
acontecimentos que edificam.
Porém, em Agosto continuaram a acontecer outras notícias
que podem ser lidas no blog O Povo (que não foi de férias)
Um bom regresso Pedro Aguiar Pinto
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No entanto, o barão Weidenfeld não tem razão quando afirma que, como não pode salvar o mundo todo, contenta-‐se com ajudar alguns cristãos. A verdade é que, ao contrário do que afirma, quem salva um seu irmão, seja ou não cristão, salva-‐se a si mesmo e salva o mundo também.
A ditadura da infância mais que perfeita Helena Matos | Observador 2/8/2015 É um dos meu terrores: discutir políticas de natal-‐idade. Mal ouço a expressão, sempre dita com um ar solene, por pivots e políticos, é como se es-‐tivesse diante mim o Obélix a perguntar ao Asté-‐rix qual era o papel das abelhas e das cegonhas no aparecimento dos bebés. As políticas de natalidade são as novas cegonhas: oficialmente trazem os bebés. Mas tal como jamais se viu um bebé no bico de uma cegonha (e a minha geração bem que se esforçou por tal avistamento!), está por encontrar o primeiro bebé nascido graças àquilo a que pomposamente se chama políticas de natalidade. Ou então, se alguns bebés nasceram graças a essas políticas, nomeadamente aquelas que passam por mais abonos e subsídios, cabe perguntar que mal fiz-‐eram essas crianças e os demais cidadãos para terem de conviver com pessoas que têm filhos se lhes pagarem para tal. Claro que há circunstâncias que ajudam quem tem filhos, como as licenças e os horários flexíveis, mas infelizmente entre nós desapareceu mais rapidamente o papel selado que a rigidez dos horários de trabalho! Fundamental seria também acabarmos com a maldita cultura do presentismo que leva umas almas sem mulher, homem, gato, cão, periquito ou livro que lhes apeteça rever em casa, a reproduzir na hora de sair do trabalho o síndroma “eu não hei-‐de ser o primeiro a parar” dos congressos estalinistas: ali ninguém parava de bater palmas, aqui ninguém se levanta para sair e empatam, empatam, ten-‐tando desse modo provar que trabalham muito. A única forma socialmente aceitável de quebrar o presentismo é anunciar que se tem o gato ou o cão doentes. Ou a precisar de passear. Aí todos se mostram solidários. Já se for por causa de um filho é sempre um escolho, uma questão a ter em conta na hora de atribuir àquela pessoa um cargo de responsabilidade. Afinal não foi ela irre-‐sponsável q.b. para ter avançado para tal encargo apesar de todos os avisos sobre o entrave para a carreira que os filhos representam? (Se discutir as políticas de natalidade faz parte dos meus terrores o termo carreira aplicado à profissão é um dos meus ódios de estimação. O que é uma carreira? Percebo a carreira dos eléc-‐tricos, das camionetas e dos autocarros. Mas o que será a carreira do condutor desses trans-‐portes? E de ser caixa de supermercado? Ou jornalista? O que será essa coisa chamada carreira em nome da qual é suposto que se abdique de tudo? Regra geral, chamamos carreira a empregos pagos assim-‐assim, desempenhados por pessoas mais ou menos irrelevantes que se acreditam insubstituíveis. O resto são trabalhos, empregos ou cargos, transitórios como tudo na vida, e para cujo desempenho ter responsabilidades famili-‐ares, seja de filhos ou outras, é um valor acres-‐centado de realidade.) Mas voltemos às neocegonhas, ou seja, às polí-‐ticas de natalidade. Sei por experiência própria como as circunstâncias económicas, o presentis-‐
mo e a rigidez laboral condicionam a vida de quem tem filhos. Sobretudo de quem não se ficou pelo casalinho e teve de ouvir os sábios “Já pensaste?!…” Mas a grande condicionante deste século XXI na hora de ter filhos chama-‐se complicadismo, conceito que traduzido de forma simples quer dizer que a maternidade deixou de ser algo natural na vida dos jovens adultos para se tornar na mais temerosa das tarefas a que alguém pode meter ombros. Face ao espalhafato criado em torno da maternidade e da paternidade o que me admira não é que as pessoas tenham menos filhos. O que não entendo mesmo é como ainda existe gente com coragem para meter ombros a tal empreendimento. Ter um filho tornou-‐se uma tarefa imensa. Um saber-‐ciência algures entre a exactidão das matemáticas e a imprevisibilidade do mundo do oculto em que cada sinal de febre, birra, más notas ou grama a mais é um sinal inequívoco do falhanço dos pais em geral e das mães em particular. Tudo o que as crianças fazem e não fazem, tudo o que não lhes aconteceu e devia ter acontecido (ou vice-‐versa) é visto, analisado e ponderado como o resultado daquilo que os pais disseram, deram e fizeram. A gravidez tem de ser perfeita, o parto um momento sublime, a amamentação um equivalente da demanda do Santo Graal que nunca se sabe como deve terminar, a introdução dos alimentos uma viagem ao mundo dos produtos sem isto e sem aquilo. Caso isto não se cum-‐pra no seu todo ou em parte lá vêm a perturbação, a disfunção e outras coisas tenebrosas já conhecidas e por conhecer. Angustia-‐me pensar o que vai ser destes pobres pais e dos seus filhos no dia em que estes últimos tenham finalmente de sair da escola A onde as crianças só comem legumes biológicos; ou da escola B onde aprendem por um método natural (nas outras, as não naturais enfiam-‐lhes um capacete e ligam-‐lhes eléctrodos à cabeça!) e do sítio C onde como actividade extra-‐curricular se ensina filosofia a crianças que ainda não têm a dentição de leite completa. Esta ditadura da infância perfeita é das coisas mais assustadoras que me foi dado ver e tudo indica que veio para ficar tanto mais que proliferam os filhos únicos. (E só Deus sabe os trabalhos e complicações que uma mulher em dedicação exclusiva a um ser humano é capaz de inventar!) Para cúmulo os nados e criados nesse espaço-‐tempo da infância perfeita tendem não só a manter-‐se como eternas crianças – já viram aqueles matulões compêlos a despontar nas pernas e umas mães ansiosas a puxarem-‐lhe a mala de rodin-‐has? – como a acreditar com convicção que todos os outros devem condi-‐cionar as suas vidas e atitudes para que eles não se traumatizem. No Observador até vinha esta semana uma lista daquilo que os pais não devem fazer para não envergonhar os filhos. Supõe uma pessoa que seriam referidos actos como roubar, burlar ou não cuidar da família. Nada disso. No limite creio que até matar não constrangeria muito os inquiridos desde que os progenitores não disparassem sobre leões. (Já agora, o leão Cecil era lindíssi-‐mo e não percebo o prazer de disparar sobre leões. Mas ao contrário dos habitantes humanos do Zimbabwe, o leão Cecil teve comparativamente uma vida longa que, acrescente-‐se, na Natureza terminaria de uma forma não menos cruel.) Mas voltemos aos pais que envergonham os filhos. Entre outras coisas devem os pais evitar dançar na presença dos filhos ou simplesmente cantar na co-‐zinha. É que face a esses comportamentos os filhos que claro cantam e dan-‐çam o que lhes apetece e quando lhes apetece, ficam envergonhados. E logo traumatizados, e logo com problemas afectivos. Só não percebi se os pais podem ousar essas manifestações longe do olhar dos filhos ou se mesmo assim estes ficam consternados porque outros os podem avistar em tais ati-‐tudes. Enfim, tal como no pretérito tempo em que as cegonhas traziam os bebés, um bocadinho de realidade faz muita falta. E já agora uma boa dose de bom senso ajudaria à demografia muito mais que as políticas ditas de natalidade.
Moral da história Sónia Morais Santos, Cocó na fralda, 2015.07.28 Ontem fui tratar das matrículas dos miúdos. Estava a preencher a ficha da Madalena e, tal como fiz sempre, quando che-‐gou ao item "Educação Moral e Religiosa", preenchi o quadradinho do "Não se inscreve". Depois, parei. Olhei para ela e lembrei-‐me de todas as vezes que a apanhei a rezar. Da ida a Paris e de ter pedido para acender uma velinha na basílica de Sacré Coeur. Das suas insistentes perguntas por Jesus. Do pedido para ser baptizada. E então perguntei-‐lhe, como se ela soubesse responder-‐me: -‐ Tu queres ter Educação Moral e Religiosa? Ela olhou-‐me com aqueles olhos de curiosidade e desejo de aprender. -‐ O que é isso? -‐ É para saberes mais sobre Jesus. -‐ Quero!!!
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E foi então que, pela primeira vez desde que sou mãe, pus uma cruzinha neste item.
A importância de se chamar Cecil Catarina Nicolau Campos, senzapagare, 2015.08.02 Cecil era um leão que vivia numa área protegida no Zimbabué. Os seus passos eram seguidos por investigadores de Oxford, era um animal conside-‐rado sociável e particularmente fotogénico – as suas fotografias pela internet são mais que mui-‐tas. Era um leão conhecido na região, e no mun-‐do, de uma grande beleza, e do qual gostavam todos quantos o conheciam. Na passada semana, numa caçada, Cecil acabou decapitado e sem pele. O seu perpetrador, Walter Palmer, cidadão norte-‐americano, médico dentis-‐ta, pelos vistos, caminha para o mesmo destino. Para além das ameaças de morte, do Pólo Norte ao Pólo Sul, manifestações de revolta, insultos e pedidos de extradição, a administração de Obama decidiu também abrir um inquérito ao que terá ocorrido, a fim de se apurarem as devidas respon-‐sabilidades, e de que a punição seja exemplar. Palmas. Pela mesma altura foi divulgado um vídeo que mostra a directora da Planned Parenthood, uma associação americana que promove e colabora na prática de abortos nos Estados Unidos da Améri-‐ca, a vender órgãos de bebés em troca de somas avultadas de dinheiro e outros gozos materiais, tais como, por exemplo, um Lamborghini. A seguir ao vídeo, outro, e outro.... Tráfico de órgãos de bebés. Bebés que são mortos e des-‐membrados. A troco de dinheiro, muito dinheiro. Sob a máscara de “saúde sexual e reprodutiva”. Seguido do choque inicial, que levou a que muitas empresas, como a Coca-‐Cola, Xerox ou a Ford, se desvinculassem da Planned Parenthood, a reac-‐ção do Partido do mesmo Obama: outro inquéri-‐to. Mas desta feita não para apurar responsabili-‐dades, não para punir exemplarmente, mas para silenciar, para compactuar, para fingir que este horror não existe. Um inquérito para averiguar, pasme-‐se, a legalidade das imagens obtidas. E agora, o silêncio. O sepulcral silêncio dos media, das televisões, das rádios, das redes sociais. O silêncio que esconde o sangue dos inocentes. Onde estão as manifesta-‐ções, as petições à Casa Branca, o choro, a indig-‐nação, a revolta, a vontade de fazer desaparecer esta gente da face da Terra? Onde estão os cora-‐ções inflamados de justiça e de compaixão? A coragem de fazer frente, de proteger quem não pode ser protegido, de gritar por quem não con-‐segue falar, de garantir a liberdade e defender a dignidade de quem tem a mesma Natureza? Onde está a identidade, a consciência de cada um? Para onde caminhas tu, ó Homem, para onde caminhamos nós, nesta selva em que um rugido de um leão é mais importante que um choro silenciado de uma criança?
Tornou-se mãe aos 12 anos. A partir daí, tudo mudou RR online 03-‐08-‐2015 10:00 por Filipe d’Avillez e Joana Bourgard A experiência mostra que a gravidez adolescente não tem de ser uma tragé-‐dia. Quem está no terreno para ajudar garante que não conhece quem se tenha arrependido de ter o filho e há histórias de sucesso, como da Vanessa. Tinha apenas 12 anos. O rapaz com quem estava era pouco mais velho, tinha 15. Duas crianças sem verdadeira noção daquilo em que se estavam a meter. “Tinha noção que isso acontecia... Mas aos outros. A nós nunca nos acontece nada, não é?”, diz Vanessa Silva, actualmente com 24 anos e funcionária num lar, em Alenquer. Só que aconteceu mesmo. Vanessa engravidou, mas, na inocência dos seus 12 anos, levou meses a perceber. Nem o facto de não lhe aparecer a menstrua-‐ção levantou suspeitas. “Eu era uma miúda. Eu queria era não ter, não sabia porque é que não acontecia. Quem deu conta mesmo foi o meu irmão mais velho, que estranhou, porque era ele quem nos pagava tudo. O meu pai, na altura, já era ausente. E estranhou que alguma coisa se passava para eu não pedir dinheiro para as coisas de mulher.” A consulta no hospital confirmou as suspeitas, para desgosto e frustração do irmão mais velho, que, desde a morte da mãe e do abandono por parte do pai, cuidava da família de seis irmãos. “Eu era das mais novas e ele sentia que falhou. Era frustrante, porque ele matava-‐se a trabalhar para conseguir criar os irmãos e, no entanto, foi um bocado desilusão. E havia a preocupação de saber o que iria acontecer comigo, porque, naquele instante, ele percebeu que nunca mais ia voltar a ser a mesma coisa, tudo ia mudar.” Vanessa foi encaminhada para a Casa de Santa Isabel, um centro de acolhi-‐mento do Apoio à Vida, vocacionado para acolher grávidas em situações difí-‐ceis. Os outros irmãos foram para diferentes instituições e as duas mais novas acabaram por ser adoptadas. Apesar de na altura ter custado, Vanessa não duvida que foi para melhor. “Foi tudo melhor. Era egoísta da minha parte dizer que ia ser possível. Não ia. As duas irmãs mais novas tinham problemas de saúde e o meu irmão tinha a vida dele. Era um rapaz novo também, tinha de constituir a família dele, mas, coitado, ele tomava conta de nós como se fôssemos filhos, e não éramos.” Joana Tinoco de Faria, psicóloga no Apoio à Vida Centenas de casos todos os anos Todos os anos em Portugal nascem centenas de bebés cujas mães têm menos de 15 anos. As gravidezes com 11 ou 12 anos são raras, mas existem. As razões por detrás são mais complexas do que po-‐dem parecer à primeira vista, explica Joana Tinoco de Faria, psicóloga do Apoio à Vida. “Muitas vezes as gravidezes surgem, psicologicamente, como um grito incons-‐ciente de autonomia e até de uma construção de um projecto de família des-‐fasado, isto é, fantasioso, mas um grito por uma família própria, um porto de abrigo, em famílias em que isto se calhar não existe", declara. Para muitos que assistem de fora a solução mais óbvia poderia parecer ser o aborto, mas a vontade das meninas muitas vezes é outra. Não é raro haver, nesses casos, uma pressão difícil de resistir. “Se ponderam abortar nesta etapa tem sobretudo a ver ou com a pressão da família, o que acontece com fre-‐quência e a família tem aqui um peso fundamental, sobretudo nestas idades, e normalmente é a família que não vê uma maternidade adolescente como uma possibilidade na vida daquela rapariga”, diz a psicóloga. “Parece uma resolução, o chamado ‘desengravidar’, isto é, ‘engravidaste, mas vamos resolver o assunto’ e é frequentemente assim que é abordado este assunto. Acho que a família, grande parte das vezes acredita que está a fazer o melhor, porque sente que está a devolver à criança aquela infância. Resta saber se passar por uma experiência como o aborto, ainda que não se tenha a verdadeira consciência daquilo que se está a fazer, mais tarde não se vai fazer sentir de outras formas.” No caso da Vanessa, o aborto legal não era opção. A Lara nasceu em Maio, já a mãe tinha 13 anos, mas a estadia na Casa de Santa Isabel prolongou-‐se por vários anos. A ideia da instituição é a de que as raparigas só saiam com um projecto de vida formado, como explica Fernanda Ludovice, directora do centro de acolhimento: “Gostamos que nos cheguem o mais cedo possível na
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gravidez, porque temos um espaço enorme para preparar a gravidez, vincular a mãe ao bebé, enquanto está dentro da barriga, mas, às vezes, não acontece assim.” “Depois da gravidez, os primeiros tempos do bebé, para preparar a mãe para as coisas mais normais, como tomar banho, amamentar, passar à sopa... Todas essas coisas. Depois desses quatro ou cinco meses em que elas estão completamen-‐te centradas no bebé, e no seu papel de mãe, a preparação para o regresso ao mundo lá fora, à vida de trabalho, construção de competências ao nível profissional”, conclui. Engravidar existe, “desengravidar” não Foi o que se passou com a Vanessa, que hoje em dia leva uma vida independente e segura, susten-‐tando-‐se a si e à Lara com o fruto do seu trabalho. A menina de 12 anos já lá vai. “Saí a agradecer tudo o que fizeram por mim. Porque se não fosse a Casa de Santa Isabel eu não era quem sou hoje. Devia ser uma grande calona que não queria trabalhar, que não queria nada, mas sou comple-‐tamente o oposto”, que é como quem diz, “se não fosse a Lara, não era eu.” A verdade, porém, é que nem todas as meninas que engravidam têm a sorte da Vanessa. Algumas escolhem, ou são empurradas, para um caminho diferente e doloroso. Porque na verdade, o verbo “desengravidar” não existe. A psicóloga Joana, que admite nunca ter acompa-‐nhado uma mulher que se arrependesse de ter tido o seu filho, recorda: “Uma vez fui a uma escola falar e quando estava a sair, houve uma rapariga que se aproximou de mim e que disse que gostava de falar comigo. Vinha de lágrimas nos olhos e disse-‐me: ‘Só lhe quero pedir um favor: Que falem disto a mais gente. Porque se eu soubesse o que sei hoje, se soubesse que havia ajudas, não tinha feito o que fiz.” O Apoio à Vida opera em Lisboa desde 1998. Todos os anos recorrem aos seus serviços cerca de 350 mulheres e pela Casa de Santa Isabel, que foi fundada em 2003, já passaram pelo menos 140 mães. A instituição tem um número grátis para quem precisa de ajuda: 800 20 80 90
O grande combate JOÃO CÉSAR DAS NEVES | DN 2015.08.05
Este é um tempo de intenso combate ideológico. As causas são muitas, mas a origem é única: a enorme aceleração do ritmo de mudança do mundo. Estas décadas trouxeram espantosas novidades tecnológicas, geopolíticas, económicas e financeiras. As potencialidades são espantosas, mas também os custos dessa transformação. Desaparecem muitas profissões, sectores e activi-‐dades, criando fortes tensões sociais e intensas perplexidades políticas. O mundo melhora imen-‐so, mas, como sempre, os danos colaterais são também trágicos. As consequências destas novidades sobre o qua-‐dro institucional e as atitudes ideológicas são crescentes. Temos de lutar por muito daquilo que consideramos básico e seguro. Como em antigas épocas de tumulto, a nossa será confrontada com clivagens, confrontos e escolhas difíceis, que testarão os nossos valores mais fundamentais. Chegam períodos em que precisaremos de ideias
claras e opções firmes. O elemento mais palpável é um descontentamento generalizado contra as forças tradicionais, que há poucos anos facilmente ganhavam eleições. As mudanças, que assolam todos, impõem intenso descrédito aos partidos domi-‐nantes e suscitam o ressurgimento de forças extremistas, de ambos os lados do espectro doutrinal. Aparentando novidade, esses movimentos copiam antigas teses e fundamentalismos que a estabilidade enterrara durante déca-‐das. Hoje em muitos países ocidentais, de ambos os lados do Atlântico, ou-‐vem-‐se de novo os embates entre radicais de esquerda e de direita que apai-‐xonaram e feriram os nossos avós. Do Syriza grego ao Tea Party norte-‐-‐americano, do Podemos ao Ciudadanos espanhóis, as novíssimas vozes vêm de velhos partidos jacobinos ou liberais, ensaiando as mesmas lutas de há 80, 150 e 230 anos. As condições concretas, drasticamente diferentes, têm em comum o forte descontentamento pela cíclica intensificação da mudança socioeconómica. Tal basta para criar um renovado combate ideológico que vemos crescer à nossa volta e para o qual temos nos preparar. Apesar das semelhanças, é importante notar as novidades que o nosso tempo trouxe a esse confronto clássico. Sem que aliviem necessariamente o embate, não deixam de ser relevantes. O primeiro aspecto original, em grande medida surpreendente, é a ausência de utopias. Os extremismos actuais limitam-‐se a bramar contra a situação, sem prometerem o paraíso na terra. Robespierre, Marx, Hitler, Estaline e Mao cavalgavam uma onda de ideais, que justificava os sacrifícios que impunham; hoje, Tsipras, Trump, Le Pen, Iglesias e Huckabee protestam muito mais do que prometem. A culpa ou o mérito não são seus pois, após os desastres precedentes, ninguém acredita já nos profetas do mundo perfeito. Isto, se revela um tempo mais sensato e realista, também concede uma atitude mais cínica, amarga e desiludida. Por outro lado, o descontentamento acontece em sociedades espantosamente mais ricas. Ninguém pode menosprezar o terrível sofrimento da desgraça grega, o desemprego espanhol, banlieues franceses ou inner cities america-‐nas; mas é também inegável que esses dramas não têm comparação com os horrores de 1793, 1848, ou 1933. Também os esfomeados d"As Vinhas da Ira de Steinbeck (1939), apesar dos seus automóveis, continuavam miseráveis, mas muito menos do que os de Victor Hugo (1862). A presente crise social desenrola-‐se no Twitter e no Facebook, usa telemóvel e tem serviço nacional de saúde e seguro social. Isso, se revela um tempo mais cómodo e burguês, também concede meios mais poderosos às forças subversivas. De qualquer modo não pode haver dúvida de que hoje, como nas gerações anteriores, vamos ser testados nas nossas convicções mais decisivas. No meio da dívida, do desemprego, da imigração, do aborto e do terrorismo, múltiplas questões banais e quotidianas vão estar mergulhadas em debates profundos, como nos tempos de Danton, Bismarck ou Roosevelt. Os conceitos básicos de liberdade e igualdade, nascimento e casamento, democracia e Europa, justiça e solidariedade, que há uns anos eram pacíficos e consensuais, tomam novos cambiantes ambíguos e geram acesas discussões e lutas. Sabemos que isto nos pode conduzir à desgraça. Os confrontos anteriores terminaram em regimes totalitários, de esquerda ou direita, cujos horrores ainda vivem na memória colectiva. Essa pode ser uma vantagem, se tal evi-‐dência servir de antídoto. Sabemos que a única solução é cada um, no seu sítio, dar voz às posições sábias e moderadas que, no meio da fúria, os nossos antepassados ignoraram. Só isso nos pode salvar no próximo terrível embate.
Debates e consensos Raquel Abecasis RR online 05-‐08-‐2015 Na véspera das eleições de 4 de Outubro conseguiu-‐se o que normalmente é impossível em Portugal: mudou-‐se a lei e houve consenso para realizar deba-‐tes imprescindíveis ao esclarecimento do eleitorado. Depois de vários actos eleitorais sem debates, por causa das interpretações de uma lei de cobertura de campanhas que estava completamente obsoleta e que inviabilizava a qualquer meio de comunicação social cumprir todos os requisitos sem perder toda a sua clientela, na véspera das eleições de 4 de Outubro conseguiu-‐se o que normalmente é impossível em Portugal: mudou-‐se a lei e houve consenso para realizar debates imprescindíveis ao esclareci-‐mento do eleitorado. Talvez seja um bom presságio para o que aí vem. Afinal são possíveis enten-‐dimentos em benefício do país. A Renascença orgulha-‐se de fazer parte desta história. No mês de Maio fez o desafio às nossas rádios concorrentes, para que nos juntássemos no desafio de trazer o debate à rádio. O desafio foi aceite de imediato e, desde então, Renascença, TSF e Antena 1 trabalharam em conjunto até agendarem para o dia 17 de Setembro a realização do último frente a frente entre os dois candi-‐
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datos a primeiro-‐ministro: Pedro Passos Coelho e António Costa. À semelhança do que fizeram as rádios, as televi-‐sões tomaram idêntica iniciativa ao perceberem que não era possível realizar um debate em cada estação. O entendimento foi possível entre con-‐correntes e entre candidatos e quem fica a ganhar são os portugueses que podem assim ter duas oportunidades de ponderar e escolher perante os argumentos dos que pedem o nosso voto. Toda esta história prova que é possível fazer diferente e que a maturidade democrática tam-‐bém mora para estas bandas. É um bom início para uma campanha eleitoral que se espera dife-‐rente para melhor, porque é disso que Portugal e os portugueses precisam depois de terem atra-‐vessado a maior crise dos últimos 40 anos. Agora é tempo de virar a página.
"Marcou a sua geração sacerdotal a vários níveis, belíssimos todos"
6 de Agosto de 2015 Nascido em Lisboa a 15 de setembro de 1972, o padre Ricardo Neves viveu a infância em Rio de Mouro, beneficiando desde o berço de uma cari-‐nhosa edução cristã e humana que se refletiu em muitos traços da sua personalidade e da sua atuação pastoral. Aluno dos seminários do Patri-‐arcado de Lisboa desde 1986, foi ordenado padre a 29 de junho de 1997, no Mosteiro dos Jeróni-‐mos, e celebrou a sua Missa Nova a 13 de julho, em Rio de Mouro. Desde setembro de 2011 era pároco de Santo António do Estoril e vigário de Cascais, juntamen-‐te com a direção do Serviço de Animação Espiri-‐tual. Ao longo dos seus 18 anos de sacerdócio, foi também prefeito e vice reitor do Seminário de São José de Caparide, assistente do Sector de Cascais das Equipas de Jovens de Nossa Senhora e diretor diocesano do Serviço da Pastoral Vocacio-‐nal. Escrevendo um dia a João Costa, membro do “Percurso Alpha”, o padre Ricardo Neves confes-‐sava: «Ser padre é para mim uma grande felicida-‐de. Não o procuro por causa da felicidade mas ela vem realmente como consequência de estar ao serviço, de viver em comunhão com Jesus, de estar na vida das pessoas e ajudar a construir a Igreja. Esta felicidade tem as mesmas marcas da de Jesus: está atravessada pelo mistério da Cruz, onde o amor e a confiança são chamados a radi-‐calizar-‐se. Tenho experimentado também isso na minha vida: pelo meio de tormentas e sofrimen-‐tos, Deus faz crescer um amor mais límpido». O Cardeal-‐Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemen-‐te, que o conheceu desde a entrada no seminário e o acompanhou proximamente na sua vida, com um cuidado especial neste último ano, reconhece essa felicidade que o padre Ricardo Neves expe-‐
rimentava no seu sacerdócio e no serviço às pessoas: «O padre Ricardo Neves marcou a sua geração sacerdotal a vários níveis, belíssimos todos. Entre os seus colegas de seminário, era naturalmente líder, pela inteligência, pela sensibilidade, pelo entusiasmo. Entre os seus seminaristas, depois, juntava um alto grau de discernimento com a relação próxima, fraterna e estimulante. Para quem o escolheu como "diretor espiritual", de perto ou mais longe, foi determinante para o sentido cristão da existência e a fidelidade certa aos compromissos. Para os seus paroquianos, foi um pastor de todas as horas, de todos os projetos, de aplicação sacerdotal inteira. Foi-‐o também nos longos meses da sua doença, de que fez cruz salvadora». Recorda o padre José Paulo Machado, vigário paroquial, que o auxiliou e viveu com ele todos estes anos de pároco do Estoril, desde que se encontraram em Julho de 2011 para «traçar um plano conjunto para a comunidade paroquial do Estoril»: o padre Ricardo Neves era um «atento observador de todos os pormenores» e «foi essa observação amorosa sobre as pessoas, sobre a paró-‐quia, sobre as situações, sobre os pormenores, a responsável pela construção de uma paróquia agora verdadeiramente conciliar, dotada de instrumentos de corresponsabilidade transversais a todos os seus membros». Impressionado pelo sentido pastoral e pelo testemunho que manteve sempre, incluindo durante a doença, refere ainda que «mesmo na dolorosa provação do galo-‐pante cancro que o invadiu, o Padre Ricardo nunca descurou uma atenta observação sobre o amanhã da paróquia e sobre si próprio». Logo quando tomou posse no Estoril, o padre Ricardo Neves renovou e inovou muitas práticas pastorais, mas a mais simples e fundamental de todas terá sido, muito provavelmente, a oferta permanente e diária do sacramento da Reconciliação. «Num dia muito importante da história da minha conversão senti uma força muito grande para não adiar mais a Confissão: meti-‐me no carro e fui direita à paróquia. A minha história com o padre Ricardo começa porque ele estava no sítio certo à hora certa: o confessionário! Aí começou o caminho que me trouxe ao convento e no qual o padre Ricardo tem sido uma mão da Providência», lembra Sor Maria Madalena da Divina Misericórdia (monja concepcionista). No mesmo sentido de disponibilidade permanente para o acompanhamento pessoal, Fátima Terra, atualmente no Secretariado da Catequese do Patriarca-‐do de Lisboa, que conheceu o Padre Ricardo Neves na juventude e era sua dirigida espiritual, vê nele «um irmão, um amigo, um companheiro nesta peregrinação que fazemos para o Céu…uma vez que não temos aqui morada permanente» e conclui: «Tenho a certeza que o padre Ricardo foi colocado no meu caminho por Deus. Foi ele que nestes seis anos me acolheu, apoiou e suportou, animando a minha Fé e Esperança e estimulando a minha vivência da Caridade, particularmente nos momentos mais difíceis». No mesmo senti-‐do, João Costa: «Através da sua catequese, a minha vida espiritual cresceu bastante. Nos dias que correm, em que nos faltam mestres de vida interior, e de uma existência digna de ser vivida, eu sinto-‐me muito privilegiado por o ter tido no meu convívio íntimo e a guiar-‐me, hoje e sempre». Maria João Dias Ferreira, jovem da paróquia do Estoril, recorda que o nosso prior se fazia «transmissor incansável desse mesmo amor [de Deus]. Uma dádiva de Deus na minha vida, que sem eu esperar e nada antever, me tocou profundamente. O padre Ricardo era uma pessoa cheia de Jesus. Uma alma amiga e extremamente inspirada. (…) O amor de Deus é grande e transmite-‐se desta forma: através de quem nos ama, de quem nos quer bem e nos motiva a fazer o mesmo. Assim era o padre Ricardo Neves, alguém que me amou de verdade, como Jesus, convertendo o meu coração».Como conclui o Patriarca de Lisboa no seu testemunho sobre o padre Ricardo Neves, «Continuaremos com ele, pois, como Santa Teresinha, "passará o seu céu a fazer bem na Ter-‐ra"».
Holocausto inútil Jaime Nogueira Pinto | Sol | 11/08/2015 Há 70 anos, em Agosto de 1945, a guerra continuava no Pacífico. Acabara na Europa no dia 8 de Maio e tinham já desaparecido três dos seus grandes pro-‐tagonistas: F. D. Roosevelt morrera a 12 Abril sem que chegasse a ver a vitória aliada; Mussolini fora fuzilado no dia 28 de Abril por um grupo de partigiani, não se sabe ao certo às ordens de quem; e Adolfo Hitler, o discípulo de Wag-‐ner que fizera da Europa e do Mundo o cenário do seu Götterdamerung, suici-‐dara-‐se a 30 no bunker da Chancelaria. Mas ficara o Império do Japão, que os Estados Unidos tinham praticamente obrigado a ir para a guerra quando lhe cortaram o abastecimento energético em 1941. O Japão, depois de Pearl Harbour, lançara-‐se na guerra relâmpago, conquistando e dominando grandes extensões do Pacífico, da Indochina e da Insulíndia, até aí domínios coloniais franceses e britânicos. Parados em Midway pelos porta-‐aviões americanos, os guerreiros do Sol Nas-‐cente vão conhecer depois a retirada e a derrota. A guerra aérea com bombas
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incendiárias contra as suas cidades e a guerra submarina que lhes vai afundando os navios, os petroleiros e os transportes, vai ter um efeito devastador no sistema militar e logístico imperial. No dia seguinte à vitória na Europa, os america-‐nos concentraram-‐se na frente do Pacífico. Consi-‐derando o modo renhido e fanático da resistência japonesa, desde os aviadores kamikazes até ao encarniçamento da infantaria nas ilhas, pensava-‐se que a conquista final do Japão pudesse custar mais de dois milhões de baixas aos invasores e muitos mais às tropas e às milícias civis nipónicas. O Projecto Manhattan começara nos Estados Unidos no pressuposto de que os alemães, cujos físicos eram pioneiros da pesquisa nuclear, esta-‐vam a construir a bomba atómica. Em Los Alamos, Novo México, J. Robert Oppenheimer dirigiu e coordenou a equipa que construiu as duas bom-‐bas que seriam lançadas sobre o Japão. Perante os efeitos devastadores das novas armas, os japoneses render-‐se-‐iam, poupando os dois contendores ao preço de uma longa conquista. Os alvos iniciais foram Hiroshima e Quioto mas, por pressão do Secretário da Guerra, Stimson, Quioto foi retirada e substituída por Nagasaki. No dia 6 de Agosto, o Enola Gay lançou a primeira bomba, Little Boy, sobre Hiroshima, matando cerca de 80.000 pessoas de imediato e deixando outras tantas com vontade de ter morrido. Três dias depois, Nagasaki recebia a segunda: mais 40.000 mortos. A justificação ‘humanitária’ de Truman e dos seus conselheiros viria a ser duramente contestada e a polémica ainda não terminou. Os responsáveis militares americanos -‐ como Eisenhower e o almirante Leahy -‐ condenaram a bomba por inútil, já que o Japão estava a ponto de render-‐se. O próprio general Douglas MacArthur, comandante-‐em-‐chefe do Pacífico, que não fora consultado, mostrou-‐se crítico. O Japão render-‐se-‐ia desde que a dinastia continuasse. Que foi o que veio a acontecer.
O milagre em Hiroshima senzapagare, 2015.08.06 A 6 de Agosto de 1945, Festa da Transfiguração de Cristo, um bombardeiro americano largou uma bomba atómica que detonou 580 metros acima de Hiroshima, Japão. A explosão incandescente matou todas as pessoas no raio de 1600 metros a partir do “ground zero” -‐ estimam-‐se 60000 ho-‐mens, mulheres e crianças. Nesta data, aconteceu um milagre de que poucos ouviram falar. Os únicos sobreviventes nesse raio de 1600 metros eram oito padres jesuítas. Estes oito homens escaparam à explosão atómica e viveram até uma idade avançada sem contamina-‐ção radioactiva. O padre Jesuíta Hubert Schiffer, um dos sobrevi-‐ventes, tinha 30 anos na altura da explosão de Hiroshima em 1945. Depois de celebrar o Santo Sacrifício da Missa, da festa da Transfiguração, sentou-‐se para o pequeno-‐almoço quando todas as janelas brilharam com luz em todas as direc-‐ções. Aqui está a descrição do Padre Schiffer sobre o que aconteceu: “Uma explosão assustadora en-‐cheu o ar com um violento choque como um trovão. Uma força invisível levantou-‐me da minha
cadeira, arremessou-‐me através do ar, agitou-‐me, bateu-‐me, e arrastou-‐me a rodar e a rodar. Ele teve algumas lesões menores, e os médicos do Exército Americano ainda confirmaram que ele e os seus sete companheiros não sofreram nem lesões graves nem danos de radiação. Quando lhe perguntaram porque é que ele e os seus companheiros jesuítas saíram sem problemas enquanto que todas as outras pessoas naquele raio de 1600 metros tinha morrido, o Padre Schiffer respondeu: “Nós sobrevivemos porque estávamos a viver a mensagem de Fátima. Nós vivíamos e rezávamos o Terço diariamente em casa.” Nagasaki, casa de dois terços dos Católicos japoneses, sofreu a segunda bom-‐ba atómica a 9 de Agosto de 1945. Este cidade, que se tinha tornado a “capital japonesa do Catolicismo” foi obliterada. No entanto, o mosteiro dos francisca-‐nos estabelecido por S. Maximiliano Maria Kolbe em Nagasaki permaneceu sem danos. S. Maximiliano tinha anteriormente decidido ir contra um conse-‐lho que lhe tinham dado para construir o seu mosteiro numa localização mais perto da cidade. Em vez disso, S. Maximiliano escolheu uma localização atrás de uma montanha que ficava no meio deles. Quando a bomba atómica explo-‐diu, o mosteiro mariano foi protegido e preservado.
Perto do rio dos ‘Bons Sinais’ de Vasco da Gama Gabriel Mithá Ribeiro | Obseravdor 16/8/2015 Caminhei cerca de oito quilómetros a pé da ‘cidade de cimento’ de Quelimane ao bairro periurbano da Madal, no norte de Moçambique. Passada a primeira povoação, continuei na única estrada de terra batida ladeada por mangais despovoados. Ao início da manhã havia muita gente a caminhar em sentido contrário em direção à cidade. Iam a pé e sobretudo de bicicleta, muitas fa-‐zendo de ‘táxi’. Também circulavam umas poucas motorizadas. Em qualquer caso, algumas transportavam sacos com sal, farinha, carvão, milho, amen-‐doim, fardos de lenha, havia um cabrito rechonchudo torturado a cordas contra o suporte da bicicleta, entre outros bens que, em geral, iriam ser nego-‐ciados nos mercados da cidade. Como eu e o guia que me acompanha, poucos eram os que ao início da manhã se afastavam da cidade. Entre esses, uns quantos transportavam bens trazidos da cidade: tábuas polidas, portas de casas, grades de bebidas como a ‘2M’, a cerveja nacional, entre outros. Entretido com a paisagem, a caminhada, o movimento ou a conversa, a certo passo alertou-‐me um sinal do poder estado, ou melhor, da sua ausência. Atra-‐vessava uma ponte metálica, herança colonial que passa por cima de um dos afluentes do rio. Junto à margem oposta havia um pequeno engarrafamento. Ora passavam os de um sentido, ora os do sentido contrário. De perto vi que naquela parte só é possível prosseguir a pé porque o tabuleiro da ponte fica reduzido a uma largura pouco maior do que a de uma das vigas metálicas. Bicicletas e motorizadas têm de ser levadas pela mão. Algumas das cargas exigem destreza aos que as transportam porque o risco de queda não deixa dúvidas. Daí a ausência de carros ou camiões naquele circuito. A ponte serve muita gente que habita numa das províncias mais populosas e economicamente mais periféricas de Moçambique, a Zambézia. A sua restau-‐ração ou reconstrução valerá um quase nada comparado com os sofisticados investimentos em betão que todos os dias vemos crescer em Maputo, a capi-‐tal no extremo sul. Quem andar pelo país apercebe-‐se do fascínio civilizacional, cultural, ideológi-‐co pela cidade e pelo que ela representa, muito em particular pela cidade grande, os mesmos espaços que num passado não muito longínquo eram a reserva civilizacional do colono. Há semanas na Matola (Maputo), um dos indivíduos comuns com quem vou falando opinou (cito de cor): ‘A diferença é que no tempo colonial os brancos iam para o mato e agora os nossos dirigen-‐tes ficam só na cidade’. Tese exagerada, porém sintomática. Ela conduz ao enigma das raízes culturais dos africanos habitualmente rotula-‐das de ‘profundas’. Ou são de tal modo profundas que dificilmente se rompem ou, por serem profundas, os próprios rompem-‐nas sem retorno para abrirem caminho a uma alteridade identitária ultra-‐acelerada. Por essa razão, escu-‐dam-‐se num mal disfarçado estado de negação antieuropeu. Não faz muitos anos, um intelectual e político negro moçambicano criticava com aspereza o facto de a sua sociedade ser regulada pelo que designava por “norma branca”, uma herança colonial perversa ainda não ultrapassada. Por sua causa, explicava, os autóctones abandonaram a sua matriz identitária, cultural e civilizacional africana. Curioso é que esse mesmo intelectual e políti-‐co sugeriu que a entrevista que lhe solicitei decorresse no luxuoso hotel Pola-‐na, em Maputo, vestia-‐se da mais apurada indumentária de origem europeia, exprimia-‐se num português límpido de fazer inveja e é descendente de uma
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família de assimilados, a elite autóctone criada no tempo colonial. Ainda que não quisesse julgá-‐lo, saltavam à vista as dissonâncias entre discurso e práticas, entre atitudes e comportamentos. Prosseguindo a caminhada na estrada de terra batida e quando a ponte metálica se perdeu da vista, aproximei-‐me de um troço no qual a areia solta dificultava um pouco mais a circulação. Nova revelação: afinal o poder do estado dava um ar da sua graça junto das pessoas comuns. Cerca de meia dúzia de polícias municipais mandavam parar os transeuntes para lhes exigirem a licença da bicicleta e o documento da permissão de con-‐dução. Os azarados ou distraídos tinham de pagar uma multa para seguirem viagem. O guia infor-‐mou-‐me que era de cinquenta meticais e, de seguida, tinham de ir tratar da legalização na cidade. O custo era de cento e cinquenta a duzen-‐tos meticais, valor muito acima de um salário diário médio, se se quisessem livrar de futuros incómodos. Como o mangal que ladeia a estrada tinha zonas sem água, em vez de regressar à procedência, um ou outro ciclista indocumentado metia-‐se pelo mangal lodoso, por vezes com passageiros ou carga, e saía mais à frente contornando as autori-‐dades, um ou outro a barafustar contra os abusos do poder e contra o matope (lama) agarrado ao calçado. Não sei se tal controlo policial faz sentido. O que sei é que o episódio trouxe-‐me à memória relatos dos piores dias da guerra civil (1976-‐1992) quan-‐do as pessoas dificilmente conseguiam passar por certos controlos nas estradas sem que fossem molestadas por militares. Estes poderiam confis-‐car-‐lhes bens conseguidos e transportados a muito custo ou cometer todo o tipo de abusos no caso de os viajantes serem renitentes. O tempo passa e as pessoas vão suportando os fardos da vida. No destino, o bairro periurbano da Madal, tive a sorte de falar longamente com o régulo. Conserva na memória a permanência por seis meses em Portugal, no ano de 1958, e de então ter ouvido falar na campanha presidencial do general Hum-‐berto Delgado. Tinha treze anos quando começou a trabalhar, em Quelimane, como empregado doméstico do comandante do navio ‘Lúrio’. Pró-‐ximo do rio que Vasco da Gama batizou de ‘Bons Sinais’, entre outros assuntos, o régulo contou a sua versão da história do império colonial, a que sobrevive com as pessoas que (também) o vive-‐ram. A outra é a versão rainha, a dos livros e das universidades. Por alguma razão vou preferindo o sentido atribu-‐ído à vida e ao tempo que passam pelas pessoas comuns antes que os mais velhos se desliguem da vida e, com eles, as suas subjetivas e indiscutíveis verdades.
“O catolicismo está estritamente ligado à razão. Para mim, é muito importante tentar aprofundar as coisas em que acredito” Catarina Melo | Diário Económico | 2015.08.16 Exigente consigo próprio e com os outros � Apesar do seu contributo para o processo de inovação e do marketing associado aos produtos da Renova, Paulo Pereira da Silva, alerta para a excessiva personalização que, por vezes, há na sua pessoa. "A Renova é um grupo de pessoas. Se puder contribuir para que o grupo seja inovador, criativo, faça coisas com paixão e arrisque, é essa
a minha função. É mais fazer cultura do que fazer rolos de papel higiénico", faz questão de frisar. A viver no Chiado, em Lisboa, o gestor desloca-‐se todos os dias à fábrica em Torres Novas. Mas as viagens preenchem-‐lhe cerca de meta-‐de do ano, entre deslocações aos 60 mercados onde a Renova está e que contribuem para mais de metade da facturação da empresa, que ascende a 140 milhões de euros. No dia-‐a-‐dia de trabalho, a rotina de Paulo Pereira da Silva é sempre diferente, entre reuniões e ver pessoas, mas há coisas das quais não prescinde. "Tenho de ler alguma coisa, espreitar as redes sociais, o que acaba por ser um hábito importante, e, se puder, à hora de almoço gosto de nadar", refere. As redes sociais são espaços que muito valoriza. "Gosto e aprendo todos os dias muito com as redes sociais". Quem o conhece não lhe poupa elogios no papel de gestor. "As pessoas vêem nele um líder e uma pessoa de acesso fácil. Quando vai à fábrica não tem qualquer preconceito em falar com uma pessoa que está na linha de produ-‐ção", refere Luís Saramago, director de marketing da Renova, que já estava na empresa quando Paulo Pereira da Silva lá entrou em 1984. O rigor e a exigên-‐cia são características que sobressaem no seu perfil de trabalho. "É uma pes-‐soa de um grau de exigência elevado e que pauta pelo rigor que exterioriza nas emoções, tanto na satisfação como na irritação", explica Luís Saramago. Uma exigência que considera ser uma virtude já que leva as pessoas a melho-‐rar. Mas, no dia-‐a-‐dia, há coisas que Paulo Pereira da Silva não admite. Uma delas é a falta de qualidade na informação. "Para lhe exporem um assunto, as pessoas têm de o saber explicar e responder às questões que coloca", explica Luís Saramago. Já o amigo José Luís Nunes Martins confessa que mudou a opinião que tinha acerca do gestor quando o conheceu há cerca de três anos. "É completamente diferente do que julgava. Pensava que era vaidoso e rígido. Na verdade é muito humilde. Só pode ser verdadeiramente humilde quem é extremamente genial", salienta o filósofo que desafiou Paulo Pereira da Silva a partilhar a escrita do livro "Via-‐Sacra para Crentes e Não-‐Crentes", lançado no início deste ano. Reconhece-‐lhe ainda a determinação, a vontade de estudar, conhecer os problemas a fundo e resolvê-‐los, entre os principais atributos. A ligação entre a ciência e a religião Numa das paredes do gabinete de Paulo Pereira da Silva salta à vista uma grande ardósia preta preenchida com equações de Schrödinger e Maxwell que este classifica de "muito belas", e que mostram até onde o homem chegou na compreensão do universo. Mesmo ao lado, está um grande telescópio que, ainda recentemente, foi usado para partilhar com os colaboradores um vis-‐lumbre do último eclipse solar. O entusiasmo com que fala nos fenómenos da física não significa que se considere um físico frustrado. "Não tenho frustração nenhuma. Tenho de ser humilde em relação àquilo que Deus me deu na cabe-‐ça para ser. Não foi para ser um Einstein, o que posso dizer?", diz a sorrir. Mas a formação em física acaba também por influenciar o seu trabalho como gestor. "Quando tinha a função de engenheiro, tinha fenómenos físicos no dia-‐a-‐dia, hoje em dia não. Mas o rigor intelectual que está por detrás de uma ciência pura, isso sim. Ou seja, o método abstracto que está na base e a curio-‐sidade, isso sim influencia o meu trabalho", refere. Um físico que ao mesmo tempo é católico, à partida poderá parecer incom-‐preensível. Mas não na cabeça de Paulo Pereira da Silva. "O catolicismo está estritamente ligado à razão. Para mim, é muito importante tentar aprofundar as coisas em que acredito. Tentar estudar", disse o CEO numa entrevista re-‐cente ao canal Família Cristã. Na mesma ocasião explicou que a religião é uma questão familiar. "Sempre fez parte da minha vida. É algo importantíssimo para o meu equilíbrio: para saber o que me move", esclareceu. Os ‘hobbies' Considerado bom ouvinte, Paulo Pereira da Silva é visto também como uma pessoa solitária, sendo que nunca casou nem tem filhos. É o próprio a admitir que às vezes precisa estar sozinho e de silêncio para "pensar e arrumar a cabeça". Podem ser três, quatro dias ou uma semana, mas, nesse espaço de tempo, todos os aspectos práticos do dia-‐a-‐dia têm de estar resolvidos. "Se não estiverem, não estou livre", confessa. Entre o grande número de viagens que faz ao longo do ano, parte são dedicadas ao lazer. Volta normalmente aos mesmos sítios e elege uma noite na Grande Chartreuse, o primeiro mosteiro e a casa-‐mãe da Ordem dos Cartuxos situado em Grenoble, França, como um dos melhores momentos das viagens que já fez. Entre os ‘hobbies' preferidos os seus interesses divergem para um grande leque de áreas. Tanto pode estar absorvido a ler um livro, como nas profundi-‐dades do mar a fazer mergulho e a abservar peixes ou corais. "A água é um elemento que me tranquiliza, traz paz, e é um meio onde há sempre uma descoberta. Quando estou debaixo de água consigo ver com mais facilidade coisas que não estão tocadas pelo Homem e gosto também do silêncio", reve-‐la. Paulo Pereira da Silva confessa-‐se também um leitor compulsivo. O gosto foi
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cultivado desde criança quando vivia em Abrantes e se deixou envolver pelos livros que a mãe lia. A literatura brasileira da colecção de livros "Dois Mundos" e autores norte-‐americanos como John Steinbeck estão entre as suas primeiras leituras. Hoje, os seus hábitos de leitura abrangem desde livros científicos como a "História da ciência em Portugal", do físico Carlos Fiolhais, que agora está a ler, até livros de fotografia -‐ outro dos seus hobbies preferidos -‐, passando por obras de Agus-‐tina Bessa Luís ou de José Luís Peixoto. Os autores internacionais premiados também são leitura obrigatória. "Leio muito e não seria feliz se não estivesse a ler", confessa. Os audio-‐livros são seus parceiros, sobretudo quando viaja. O coleccionismo de antiguidades é um dos gostos que habitualmente lhe atribuem. Algo que nega. "Se tiver uma edição dos ‘Pensamentos' de Pascal -‐ de quem gosto muito -‐ que comprei num alfar-‐rabista, em Paris, é algo que me é muito caro, mas não é por colecção. Tem a ver com as coisas que quero. Gosto de ter e estar rodeado por muito poucos objectos, mas alguns deles demorei mui-‐tos anos até ter exactamente o que queria", con-‐clui.
Quando uma astrofísica ateia se converte a Cristo: "Eu percebi que existe uma or-dem no Universo" Aleteia, 2015.08.18 Uma história turbulenta, que, entre estudos rígidos e sofrimentos profundos, chegou à pleni-‐tude em Jesus Repercutiu em sites de todo o planeta, recente-‐mente, o testemunho de Sarah Salviander, pes-‐quisadora do Departamento de Astronomia da Universidade do Texas e professora de Astrofísica na Universidade Southwestern. A incrível história da sua conversão a Cristo começa com os seus estudos científicos e culmina com a morte da filha. Vale a pena investir cinco minutos em ler o depoimento dela. "Eu nasci nos Estados Unidos e fui criada no Ca-‐nadá. Meus pais eram ateus, embora preferissem se definir como ‘agnósticos’. Eles eram carinhosos e mantinham uma ótima conduta moral, mas a religião não teve papel nenhum na minha infân-‐cia". "O Canadá já era um país pós-‐cristão. Olhando em retrospectiva, é incrível que, nos primeiros 25 anos da minha vida, eu só conheci três pessoas que se identificaram como cristãs. A minha visão do cristianismo era intensamente negativa. Hoje, olhando para trás, eu percebo que foi uma absor-‐ção inconsciente dessa hostilidade geral que existe no Canadá e na Europa em relação ao cristianismo. Eu não sabia nada do cristianismo, mas achava que ele tornava as pessoas fracas e tolas, filosoficamente banais". Aos 25 anos, quando abraçava a filosofia raciona-‐lista de Ayn Rand, Sarah entrou em uma universi-‐dade dos EUA: "Entrei no curso de Física da Eas-‐tern Oregon University e percebi logo a secura e a esterilidade do objetivismo racionalista, incapaz de responder às grandes questões: qual é o pro-‐pósito da vida? De onde foi que viemos? Por que estamos aqui? O que acontece quando morre-‐mos? Eu notei também que esse racionalismo sofria de uma incoerência interna: toda a sua atenção se volta para a verdade objetiva, mas sem apresentar uma fonte para a verdade. E, embora se dissessem focados em desfrutar a vida,
os objetivistas racionalistas não pareciam sentir alegria alguma. Pelo contrário: estavam ferozmente preocupados em se manter independentes de qualquer pressão externa". A atenção da jovem se voltou completamente ao estudo da física e da mate-‐mática. "Entrei nos clubes universitários, comecei a fazer amigos, e, pela pri-‐meira vez na minha vida, conheci cristãos. Eles não eram como os racionalis-‐tas: eram alegres, felizes e inteligentes, muito inteligentes. Fiquei de boca aberta ao descobrir que os meus professores de física, a quem eu admirava muito, eram cristãos. O exemplo pessoal deles começou a me influenciar e eu me via cada vez menos hostil ao cristianismo. No verão, depois do meu segun-‐do ano, participei de um estágio de pesquisa na Universidade da Califórnia, num grupo do Centro de Astrofísica e Ciências Espaciais que estudava as evi-‐dências do Big Bang. Era incrível procurar a resposta para a pergunta sobre o nascimento do Universo. Aquilo me fez pensar na observação de Einstein de que a coisa mais incompreensível a respeito do mundo é que o mundo é com-‐preensível. Foi aí que eu comecei a perceber uma ordem subjacente ao uni-‐verso. Sem saber, ia despertando em mim o que Salmo 19 diz com tanta clare-‐za: ‘Os céus proclamam a glória de Deus; o firmamento anuncia a obra das suas mãos’". Depois desse insight, a razão de Sarah foi gradualmente se abrindo ao Misté-‐rio: "Comecei a perceber que o conceito de Deus e da religião não eram tão filosoficamente banais como eu pensava que fossem. Durante o meu último ano, conheci um estudante finlandês de ciências da computação. Um homem de força, honra e profunda integridade, que, assim como eu, tinha crescido como ateu num país laico, mas que acabou abraçando Jesus Cristo como o seu Salvador pessoal, aos 20 anos de idade, graças a uma experiência particular muito intensa. Nós nos apaixonamos e nos casamos. De alguma forma, mesmo não sendo religiosa, eu achava reconfortante me casar com um cristão. Termi-‐nei a minha formação em física e matemática naquele mesmo ano e, pouco tempo depois, comecei a dar aulas de astrofísica na Universidade do Texas em Austin". A penúltima etapa da jornada de Sarah foi a descoberta, também casual, de um livro de Gerald Schroeder: “The Science of God” “A Ciência de Deus”. "Fiquei intrigada com o título e alguma coisa me levou a lê-‐lo, talvez o anseio por uma conexão mais profunda com Deus. Tudo o que sei é que aquilo que eu li mudou a minha vida para sempre. O Dr. Schroeder é físico do MIT e teó-‐logo. Eu notei então que, incrivelmente, por trás da linguagem metafórica, a Bíblia e a ciência estão em completo acordo. Também li os Evangelhos e achei a pessoa de Jesus Cristo extremamente convincente; me senti como quando Einstein disse que ficou ‘fascinado com a figura luminosa do Nazareno’. Mes-‐mo com tudo isso, apesar de reconhecer a verdade e de estar intelectualmen-‐te segura quanto a ela, eu ainda não estava convencida de coração". O encontro decisivo com o cristianismo aconteceu há apenas dois anos, depois de um acontecimento dramático: "Eu fui diagnosticada com câncer. Não muito tempo depois, meu marido teve meningite e encefalite; ele se curou, felizmen-‐te, mas levou certo tempo. A nossa filhinha Ellinor tinha cerca de seis meses quando descobrimos que ela sofria de trissomia 18, uma anomalia cromos-‐sômica fatal. Ellinor morreu pouco depois. Foi a perda mais devastadora da nossa vida. Eu caí nas mãos do desespero até que tive, lucidamente, uma visão da nossa filha nos braços amorosos do Pai celestial: foi só então que eu encon-‐trei a paz. Depois de todas essas provações, o meu marido e eu não só ficamos ainda mais unidos, como também mais próximos de Deus. A minha fé já era real. Eu não sei como teria passado por essas provações se tivesse continuado ateia. Quando você tem 20 anos, boa saúde e a família por perto, você se sente imortal. Mas chega um momento em que a sensação de imortalidade evapora e você se vê forçada a enfrentar a inevitabilidade da própria morte e da morte das pessoas mais queridas". "Eu amo a minha carreira de astrofísica. Não consigo pensar em nada melhor do que estudar o funcionamento do universo e me dou conta, agora, de que a atração que eu sempre senti pelo espaço não era nada mais do que um inten-‐so desejo de me conectar com Deus. Eu nunca vou me esquecer de um estu-‐dante que, pouco tempo depois da minha conversão, me perguntou se era possível ser cientista e acreditar em Deus. Eu disse que sim, claro que sim. Vi que ele ficou visivelmente aliviado. Ele me contou que outro professor tinha respondido que não. Eu me perguntei quantos outros jovens estavam diante de questões semelhantes e decidi, naquela hora, que iria ajudar os que esti-‐vessem lutando com esses questionamentos. Eu sei que vai ser uma jornada difícil, mas o significado do sacrifício de Jesus não deixa dúvidas quanto ao que eu tenho que fazer".