8
31 1 de Setembro de 2015 O Jornal das Boas Notícias A santidade não consiste em não cometer erros ou nunca pecar. A santidade cresce com a capacidade de conversão, arrependimento e disponibilidade de recomeçar e, sobretudo, com a capacidade de reconciliação e perdão Papa Bento XVI A vingança de um judeu errante .............. 1 A ditadura da infância mais que perfeita .................................................. 2 Moral da história ...................................... 2 A importância de se chamar Cecil ............ 3 Tornou-se mãe aos 12 anos. A partir daí, tudo mudou ..................................... 3 O grande combate ...................................... 4 Debates e consensos ................................. 4 "Marcou a sua geração sacerdotal a vários níveis, belíssimos todos" ........... 5 Holocausto inútil ..................................... 5 O milagre em Hiroshima ............................ 6 Perto do rio dos ‘Bons Sinais’ de Vasco da Gama ........................................ 6 “O catolicismo está estritamente ligado à razão. Para mim, é muito importante tentar aprofundar as coisas em que acredito” ........................ 7 Quando uma astrofísica ateia se converte a Cristo: "Eu percebi que existe uma ordem no Universo" ............. 8 A vingança de um judeu errante P. Gonçalo Portocarrero de Almada Observador 1/8/2015 Um judeu britânico, nascido austríaco, ‘vingouse’ dos cristãos que, em 1938, o salvaram de uma morte certa pelos nazis, criando um fundo para o resgate dos cristãos perseguidos no Médio Ori ente Arthur George Weidenfeld é um jovem britânico que, no próximo dia 13 de Setembro, cumpre 96 primaveras. Nasceu austríaco e tinha 18 anos quando, em 1938, o exército nazi ocupou o seu país. Sendo judeu, o mais certo é que tivesse sido deportado para um dos numerosos campos de concentração onde, com toda a probabilidade, encontraria a morte, como tantos outros judeus e não só. Mas teve a sorte ou, melhor dizendo, a graça de ter quem o libertasse desse mais do que provável destino. Com efeito, foi socorrido por cristãos, que também providenciaram a sua emi gração para a GrãBretanha, onde conseguiu residência e trabalho. Desde então, Weidenfeld, a quem a rainha Isabel II fez par do reino e barão, sentese em falta para com os que o salvaram, porque entende que lhes deve a sua sobrevivência, seriamente ameaçada depois da anexação da Áustria pelo terceiro Reich. Os anos decorridos desde então – mais de setenta! não bastaram para esquecer essa dívida de gratidão e, por isso, quis ‘vingarse’ dos seus benfeitores de 1938, criando um programa que se propõe resgatar os cristãos que são perse guidos nos países do Médio Oriente, sobretudo pelo autointitulado Estado Islâmico, responsável pelo assassinato de milhares de seguidores de Cristo. O Weidenfeld Safe Havens Fund propõese resgatar aproximadamente dois mil cristãos, na Síria e no Iraque, durante os próximos dois anos. Apesar da dimensão trágica do referido genocídio, poucas têm sido as vozes que se levantaram para condenar esta implacável perseguição religiosa, que todos os dias ceifa novas vidas. O Papa Francisco parece ser a excepção que confirma a regra, pois temse referido com frequência a este novo holocausto. Mas os seus alertas ainda não tiveram o condão de despertar a comunidade internacional, que parece mais interessada em resolver a crise financeira do que defender os milhares de cristãos que estão em perigo iminente de vida na conturbada região do próximo Oriente, no Paquistão – onde a católica Ásia Bibi, condenada à morte por blasfémia, continua presa – na Nigéria, no Sudão, etc. Ainda a 9 de Julho passado, o Papa confessou a dor que lhe vai na alma: “é consternados que assistimos à perseguição de cristãos no próximo Oriente e noutras partes do mundo”, onde “tantos dos nossos irmãos e irmãs são perse guidos, torturados e mortos pela sua fé em Jesus”, nomeadamente no Iraque e na Síria, onde não só alguns cristãos são decapitados, por razão da sua fé, como os sobreviventes são forçados a converteremse ao islamismo. Não obstante a insistência dos apelos, as organizações políticas e humanitárias optaram até à data, ao que parece, por um cúmplice alheamento. Graças a Deus, esse não foi o caso do lorde Weidenfeld, que em boa hora tomou a iniciativa de lançar esta operação de resgate de cristãos perseguidos na Terra Santa e em toda a região. Segundo informação veiculada pela Lugar Tenência de Portugal da Ordem do Santo Sepulcro, uma organização pontifícia mundial ao serviço dos Lugares Santos e das respectivas comunidades cristãs, este projecto, apesar de só ter algumas semanas de vida, já expatriou, para a Polónia, cento e cinquenta cristãos sírios. Não obstante a natureza humanitária da operação, surgiram algumas críticas ao carácter confessional do apoio que este fundo presta. Arthur George Wei denfeld explicou, no entanto, que a iniciativa nasceu da dívida contraída por ele e por muitos outros jovens judeus, integrados nos Kindertransports, para com as confissões cristãs que os salvaram, levandoos para Inglaterra. Há quem diga que os judeus são muito ‘vingativos’ e materialistas e, se assim for, o promotor desta iniciativa não é excepção. Contudo, a sua ‘vingança’ é muito especial, porque é expressão da sua gratidão e totalmente desinter essada. Uma atitude que ele quereria ver partilhada por todos os membros do seu povo: “nós, os judeus, devemos também ser gratos e fazer alguma coisa pelos cristãos em vias de extinção”. As férias não são um parêntesis O Jornal das Boas Notícias faz parte do regresso do Povo à sua actividade normal. Porém, enquanto estamos de férias a Terra gira em volta do Sol que nasce e se põe todos os dias, o que serve para dizer que a vida continua movida sempre pelas mesmas motivações e condicionada pelas mesmas restrições. Às vezes podemos achar que as coisas não acontecem se não estivermos a olhar. Neste Jornal das Boas Notícias procurei seleccionar histórias e acontecimentos que edificam. Porém, em Agosto continuaram a acontecer outras notícias que podem ser lidas no blog O Povo (que não foi de férias) Um bom regresso Pedro Aguiar Pinto

JBN31

  • Upload
    papinto

  • View
    401

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal das boas Notícias, nº 31

Citation preview

Page 1: JBN31

31 1 de Setembro de 2015

O J

or

na

l d

as

Bo

as

No

tíc

ia

s

A santidade não consiste em não cometer erros ou nunca pecar. A

santidade cresce com a capacidade de conversão, arrependimento e

disponibilidade de recomeçar e, sobretudo, com a capacidade de

reconciliação e perdão    

Papa Bento XVI  A vingança de um judeu errante .............. 1  A ditadura da infância mais que

perfeita .................................................. 2  Moral da história ...................................... 2  A importância de se chamar Cecil ............ 3  Tornou-se mãe aos 12 anos. A partir

daí, tudo mudou ..................................... 3  O grande combate ...................................... 4  Debates e consensos ................................. 4  "Marcou a sua geração sacerdotal a

vários níveis, belíssimos todos" ........... 5  Holocausto inútil ..................................... 5  O milagre em Hiroshima ............................ 6  Perto do rio dos ‘Bons Sinais’ de

Vasco da Gama ........................................ 6  “O catolicismo está estritamente

ligado à razão. Para mim, é muito importante tentar aprofundar as coisas em que acredito” ........................ 7  

Quando uma astrofísica ateia se converte a Cristo: "Eu percebi que existe uma ordem no Universo" ............. 8  

A vingança de um judeu errante P.  Gonçalo  Portocarrero  de  Almada  Observador  1/8/2015    Um  judeu  britânico,  nascido  austríaco,  ‘vingou-­‐se’  dos   cristãos   que,   em   1938,   o   salvaram   de   uma  morte  certa  pelos  nazis,  criando  um  fundo  para  o  resgate   dos   cristãos   perseguidos   no   Médio   Ori-­‐ente  Arthur  George  Weidenfeld   é   um   jovem  britânico  que,  no  próximo  dia  13  de  Setembro,  cumpre  96  primaveras.   Nasceu   austríaco   e   tinha   18   anos  quando,   em   1938,   o   exército   nazi   ocupou   o   seu  país.  Sendo  judeu,  o  mais  certo  é  que  tivesse  sido  deportado   para   um   dos   numerosos   campos   de  concentração   onde,   com   toda   a   probabilidade,  encontraria  a  morte,  como  tantos  outros  judeus  e  não   só.  Mas   teve   a   sorte   ou,   melhor   dizendo,   a  graça  de  ter  quem  o  libertasse  desse  mais  do  que  provável   destino.   Com   efeito,   foi   socorrido   por  cristãos,  que   também  providenciaram  a   sua  emi-­‐gração   para   a   Grã-­‐Bretanha,   onde   conseguiu  residência  e  trabalho.  Desde  então,  Weidenfeld,  a  quem  a  rainha  Isabel  II  fez  par  do  reino  e  barão,  sente-­‐se  em  falta  para  com  os  que  o  salvaram,  porque  entende  que  lhes  deve   a   sua   sobrevivência,   seriamente   ameaçada  depois   da   anexação   da   Áustria   pelo   terceiro  Reich.  Os  anos  decorridos  desde  então  –  mais  de  setenta!   –   não   bastaram   para   esquecer   essa  dívida  de  gratidão  e,  por  isso,  quis  ‘vingar-­‐se’  dos  seus   benfeitores   de   1938,   criando   um   programa  que  se  propõe  resgatar  os  cristãos  que  são  perse-­‐guidos   nos   países   do   Médio   Oriente,   sobretudo  pelo   auto-­‐intitulado  Estado   Islâmico,   responsável  pelo   assassinato   de   milhares   de   seguidores   de  Cristo.  O  Weidenfeld  Safe  Havens  Fund  propõe-­‐se  

resgatar  aproximadamente  dois  mil   cristãos,  na  Síria  e  no   Iraque,  durante  os  próximos  dois  anos.  Apesar  da  dimensão   trágica  do   referido  genocídio,  poucas   têm  sido  as  vozes  que   se   levantaram  para   condenar   esta   implacável   perseguição   religiosa,   que  todos  os  dias  ceifa  novas  vidas.  O  Papa  Francisco  parece  ser  a  excepção  que  confirma  a  regra,  pois  tem-­‐se  referido  com  frequência  a  este  novo  holocausto.  Mas  os  seus  alertas  ainda  não  tiveram  o  condão  de  despertar  a  comunidade  internacional,   que  parece  mais   interessada  em   resolver   a   crise   financeira  do  que  defender  os  milhares  de  cristãos  que  estão  em  perigo  iminente  de  vida  na  conturbada   região   do   próximo  Oriente,   no   Paquistão   –   onde   a   católica   Ásia  Bibi,  condenada  à  morte  por  blasfémia,  continua  presa  –  na  Nigéria,  no  Sudão,  etc.  Ainda  a  9  de   Julho  passado,  o  Papa  confessou  a  dor  que   lhe  vai  na  alma:   “é  consternados  que  assistimos  à  perseguição  de  cristãos  no  próximo  Oriente  e  noutras  partes  do  mundo”,  onde  “tantos  dos  nossos  irmãos  e  irmãs  são  perse-­‐guidos,  torturados  e  mortos  pela  sua  fé  em  Jesus”,  nomeadamente  no  Iraque  e  na  Síria,  onde  não  só  alguns  cristãos   são  decapitados,  por   razão  da  sua   fé,  como   os   sobreviventes   são   forçados   a   converterem-­‐se   ao   islamismo.   Não  obstante   a   insistência   dos   apelos,   as   organizações   políticas   e   humanitárias  optaram  até  à  data,  ao  que  parece,  por  um  cúmplice  alheamento.  Graças   a   Deus,   esse   não   foi   o   caso   do   lorde  Weidenfeld,   que   em   boa   hora  tomou  a  iniciativa  de  lançar  esta  operação  de  resgate  de  cristãos  perseguidos  na  Terra  Santa  e  em  toda  a  região.  Segundo  informação  veiculada  pela  Lugar-­‐Tenência  de  Portugal  da  Ordem  do  Santo  Sepulcro,  uma  organização  pontifícia  mundial  ao  serviço  dos  Lugares  Santos  e  das  respectivas  comunidades  cristãs,  este  projecto,  apesar  de  só  ter  algumas  semanas  de  vida,  já  expatriou,  para  a  Polónia,  cento  e  cinquenta  cristãos  sírios.  Não  obstante  a  natureza  humanitária  da  operação,  surgiram  algumas  críticas  ao  carácter  confessional  do  apoio  que  este  fundo  presta.  Arthur  George  Wei-­‐denfeld  explicou,  no  entanto,  que  a   iniciativa  nasceu  da  dívida  contraída  por  ele  e  por  muitos  outros   jovens   judeus,   integrados  nos  Kindertransports,  para  com  as  confissões  cristãs  que  os  salvaram,  levando-­‐os  para  Inglaterra.  Há  quem  diga  que  os  judeus  são  muito  ‘vingativos’  e  materialistas  e,  se  assim  for,  o  promotor  desta   iniciativa  não  é  excepção.  Contudo,  a   sua   ‘vingança’  é  muito   especial,   porque   é   expressão   da   sua   gratidão   e   totalmente   desinter-­‐essada.  Uma  atitude  que  ele  quereria  ver  partilhada  por  todos  os  membros  do  seu  povo:  “nós,  os   judeus,  devemos  também  ser  gratos  e   fazer  alguma  coisa  pelos  cristãos  em  vias  de  extinção”.  

As férias não são um parêntesis O Jornal das Boas Notícias faz parte do regresso do Povo à sua

actividade normal.

Porém, enquanto estamos de férias a Terra gira em volta do

Sol que nasce e se põe todos os dias, o que serve para dizer

que a vida continua movida sempre pelas mesmas motivações e

condicionada pelas mesmas restrições.

Às vezes podemos achar que as coisas não acontecem se não

estivermos a olhar.

Neste Jornal das Boas Notícias procurei seleccionar histórias e

acontecimentos que edificam.

Porém, em Agosto continuaram a acontecer outras notícias

que podem ser lidas no blog O Povo (que não foi de férias)

Um bom regresso Pedro Aguiar Pinto

Page 2: JBN31

Página 2 de 8 O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 1 de Setembro de 2015

No   entanto,   o   barão  Weidenfeld   não   tem   razão  quando   afirma   que,   como   não   pode   salvar   o  mundo   todo,   contenta-­‐se   com   ajudar   alguns  cristãos.   A   verdade   é   que,   ao   contrário   do   que  afirma,   quem   salva   um   seu   irmão,   seja   ou   não  cristão,   salva-­‐se   a   si   mesmo   e   salva   o   mundo  também.  

A ditadura da infância mais que perfeita Helena  Matos  |  Observador  2/8/2015    É  um  dos  meu  terrores:  discutir  políticas  de  natal-­‐idade.  Mal  ouço  a  expressão,  sempre  dita  com  um  ar   solene,   por   pivots   e   políticos,   é   como   se   es-­‐tivesse  diante  mim  o  Obélix  a  perguntar  ao  Asté-­‐rix  qual  era  o  papel  das  abelhas  e  das  cegonhas  no  aparecimento  dos  bebés.  As  políticas  de  natalidade  são  as  novas  cegonhas:  oficialmente   trazem   os   bebés.   Mas   tal   como  jamais  se  viu  um  bebé  no  bico  de  uma  cegonha  (e  a   minha   geração   bem   que   se   esforçou   por   tal  avistamento!),   está   por   encontrar   o   primeiro  bebé  nascido  graças  àquilo  a  que  pomposamente  se   chama   políticas   de   natalidade.   Ou   então,   se  alguns   bebés   nasceram   graças   a   essas   políticas,  nomeadamente   aquelas   que   passam   por   mais  abonos   e   subsídios,   cabe   perguntar   que  mal   fiz-­‐eram   essas   crianças   e   os   demais   cidadãos   para  terem  de  conviver  com  pessoas  que  têm  filhos  se  lhes  pagarem  para  tal.  Claro   que   há   circunstâncias   que   ajudam   quem  tem   filhos,   como   as   licenças   e   os   horários  flexíveis,  mas  infelizmente  entre  nós  desapareceu  mais   rapidamente   o   papel   selado   que   a   rigidez  dos   horários   de   trabalho!   Fundamental   seria  também   acabarmos   com   a   maldita   cultura   do  presentismo   que   leva   umas   almas   sem   mulher,  homem,   gato,   cão,   periquito   ou   livro   que   lhes  apeteça   rever   em   casa,   a   reproduzir   na   hora   de  sair  do  trabalho  o  síndroma  “eu  não  hei-­‐de  ser  o  primeiro   a   parar”   dos   congressos   estalinistas:   ali  ninguém   parava   de   bater   palmas,   aqui   ninguém  se   levanta   para   sair   e   empatam,   empatam,   ten-­‐tando  desse  modo  provar  que  trabalham  muito.  A  única  forma  socialmente  aceitável  de  quebrar  o  presentismo   é   anunciar   que   se   tem   o   gato   ou   o  cão  doentes.  Ou  a  precisar  de  passear.  Aí  todos  se  mostram   solidários.   Já   se   for   por   causa   de   um  filho  é  sempre  um  escolho,  uma  questão  a  ter  em  conta  na  hora  de  atribuir  àquela  pessoa  um  cargo  de   responsabilidade.   Afinal   não   foi   ela   irre-­‐sponsável  q.b.  para  ter  avançado  para  tal  encargo  apesar  de  todos  os  avisos  sobre  o  entrave  para  a  carreira  que  os  filhos  representam?  (Se  discutir  as  políticas  de  natalidade  faz  parte  dos  meus   terrores   o   termo   carreira   aplicado   à  profissão   é   um   dos  meus   ódios   de   estimação.   O  que  é  uma  carreira?  Percebo  a  carreira  dos  eléc-­‐tricos,   das   camionetas   e   dos   autocarros.   Mas   o  que   será   a   carreira   do   condutor   desses   trans-­‐portes?   E   de   ser   caixa   de   supermercado?   Ou  jornalista?  O  que  será  essa  coisa  chamada  carreira  em   nome   da   qual   é   suposto   que   se   abdique   de  tudo?  Regra  geral,  chamamos  carreira  a  empregos  pagos   assim-­‐assim,   desempenhados   por   pessoas  mais   ou   menos   irrelevantes   que   se   acreditam  insubstituíveis.   O   resto   são   trabalhos,   empregos  ou  cargos,  transitórios  como  tudo  na  vida,  e  para  cujo   desempenho   ter   responsabilidades   famili-­‐ares,   seja   de   filhos   ou   outras,   é   um   valor   acres-­‐centado  de  realidade.)  Mas   voltemos   às   neocegonhas,   ou   seja,   às   polí-­‐ticas   de   natalidade.   Sei   por   experiência   própria  como   as   circunstâncias   económicas,   o   presentis-­‐

mo  e  a  rigidez   laboral  condicionam  a  vida  de  quem  tem  filhos.  Sobretudo  de  quem  não  se  ficou  pelo  casalinho  e  teve  de  ouvir  os  sábios  “Já  pensaste?!…”  Mas  a  grande  condicionante  deste  século  XXI  na  hora  de   ter   filhos  chama-­‐se  complicadismo,   conceito   que   traduzido   de   forma   simples   quer   dizer   que   a  maternidade   deixou   de   ser   algo   natural   na   vida   dos   jovens   adultos   para   se  tornar  na  mais  temerosa  das  tarefas  a  que  alguém  pode  meter  ombros.  Face  ao  espalhafato  criado  em  torno  da  maternidade  e  da  paternidade  o  que  me   admira   não   é   que   as   pessoas   tenham  menos   filhos.  O   que   não   entendo  mesmo   é   como   ainda   existe   gente   com   coragem   para   meter   ombros   a   tal  empreendimento.  Ter  um   filho   tornou-­‐se  uma   tarefa   imensa.  Um  saber-­‐ciência   algures  entre  a  exactidão  das  matemáticas  e  a  imprevisibilidade  do  mundo  do  oculto  em  que  cada  sinal  de  febre,  birra,  más  notas  ou  grama  a  mais  é  um  sinal  inequívoco  do  falhanço  dos  pais  em  geral  e  das  mães  em  particular.  Tudo  o  que  as  crianças  fazem  e  não  fazem,  tudo  o  que  não  lhes  aconteceu  e  devia  ter  acontecido  (ou  vice-­‐versa)   é   visto,   analisado   e   ponderado   como   o   resultado   daquilo   que   os  pais   disseram,   deram  e   fizeram.   A   gravidez   tem  de   ser   perfeita,   o   parto   um  momento   sublime,   a   amamentação   um   equivalente   da   demanda   do   Santo  Graal  que  nunca  se  sabe  como  deve  terminar,  a  introdução  dos  alimentos  uma  viagem  ao  mundo  dos  produtos  sem  isto  e  sem  aquilo.  Caso  isto  não  se  cum-­‐pra  no  seu  todo  ou  em  parte  lá  vêm  a  perturbação,  a  disfunção  e  outras  coisas  tenebrosas  já  conhecidas  e  por  conhecer.  Angustia-­‐me  pensar  o  que  vai  ser  destes  pobres  pais  e  dos  seus  filhos  no  dia  em  que  estes  últimos  tenham  finalmente  de  sair  da  escola  A  onde  as  crianças  só  comem  legumes  biológicos;  ou  da  escola  B  onde  aprendem  por  um  método  natural   (nas   outras,   as   não   naturais   enfiam-­‐lhes   um   capacete   e   ligam-­‐lhes  eléctrodos   à   cabeça!)   e   do   sítio   C   onde   como   actividade   extra-­‐curricular   se  ensina  filosofia  a  crianças  que  ainda  não  têm  a  dentição  de  leite  completa.  Esta  ditadura  da   infância  perfeita  é  das   coisas  mais   assustadoras  que  me   foi  dado  ver  e  tudo  indica  que  veio  para  ficar  tanto  mais  que  proliferam  os  filhos  únicos.   (E   só   Deus   sabe   os   trabalhos   e   complicações   que   uma   mulher   em  dedicação   exclusiva   a   um   ser   humano   é   capaz   de   inventar!)   Para   cúmulo   os  nados   e   criados   nesse   espaço-­‐tempo   da   infância   perfeita   tendem   não   só   a  manter-­‐se   como   eternas   crianças   –   já   viram   aqueles   matulões   compêlos   a  despontar  nas  pernas  e  umas  mães  ansiosas  a  puxarem-­‐lhe  a  mala  de  rodin-­‐has?   –   como   a   acreditar   com   convicção   que   todos   os   outros   devem   condi-­‐cionar  as  suas  vidas  e  atitudes  para  que  eles  não  se  traumatizem.  No   Observador   até   vinha   esta   semana   uma   lista   daquilo   que   os   pais   não  devem   fazer   para   não   envergonhar   os   filhos.   Supõe  uma  pessoa  que   seriam  referidos  actos  como  roubar,  burlar  ou  não  cuidar  da  família.  Nada  disso.  No  limite  creio  que  até  matar  não  constrangeria  muito  os  inquiridos  desde  que  os  progenitores  não  disparassem  sobre  leões.  (Já  agora,  o  leão  Cecil  era  lindíssi-­‐mo   e   não   percebo   o   prazer   de   disparar   sobre   leões.   Mas   ao   contrário   dos  habitantes  humanos  do  Zimbabwe,  o   leão  Cecil   teve  comparativamente  uma  vida   longa   que,   acrescente-­‐se,   na   Natureza   terminaria   de   uma   forma   não  menos  cruel.)  Mas  voltemos  aos  pais  que  envergonham  os  filhos.  Entre  outras  coisas  devem  os   pais   evitar   dançar   na   presença   dos   filhos   ou   simplesmente   cantar   na   co-­‐zinha.  É  que  face  a  esses  comportamentos  os   filhos  que  claro  cantam  e  dan-­‐çam  o  que  lhes  apetece  e  quando  lhes  apetece,  ficam  envergonhados.  E  logo  traumatizados,   e   logo   com   problemas   afectivos.   Só   não   percebi   se   os   pais  podem   ousar   essas   manifestações   longe   do   olhar   dos   filhos   ou   se   mesmo  assim  estes   ficam  consternados  porque  outros  os  podem  avistar  em   tais   ati-­‐tudes.  Enfim,  tal  como  no  pretérito  tempo  em  que  as  cegonhas  traziam  os  bebés,  um  bocadinho  de  realidade  faz  muita  falta.  E  já  agora  uma  boa  dose  de  bom  senso  ajudaria  à  demografia  muito  mais  que  as  políticas  ditas  de  natalidade.  

Moral da história Sónia  Morais  Santos,  Cocó  na  fralda,  2015.07.28    Ontem  fui  tratar  das  matrículas  dos  miúdos.    Estava  a  preencher  a  ficha  da  Madalena  e,  tal  como  fiz  sempre,  quando  che-­‐gou  ao  item  "Educação  Moral  e  Religiosa",  preenchi  o  quadradinho  do  "Não  se  inscreve".  Depois,  parei.  Olhei  para  ela  e  lembrei-­‐me  de  todas  as  vezes  que  a  apanhei  a   rezar.  Da   ida  a  Paris  e  de  ter  pedido  para  acender  uma  velinha  na  basílica  de  Sacré  Coeur.  Das   suas   insistentes  perguntas  por   Jesus.  Do  pedido  para   ser   baptizada.   E   então  perguntei-­‐lhe,   como   se   ela   soubesse   responder-­‐me:  -­‐  Tu  queres  ter  Educação  Moral  e  Religiosa?  Ela  olhou-­‐me  com  aqueles  olhos  de  curiosidade  e  desejo  de  aprender.  -­‐  O  que  é  isso?  -­‐  É  para  saberes  mais  sobre  Jesus.  -­‐  Quero!!!  

Page 3: JBN31

Página 3 de 8 O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 1 de Setembro de 2015

E  foi  então  que,  pela  primeira  vez  desde  que  sou  mãe,  pus  uma  cruzinha  neste  item.  

A importância de se chamar Cecil Catarina  Nicolau  Campos,  senzapagare,  2015.08.02    Cecil   era  um   leão  que  vivia  numa  área  protegida  no   Zimbabué.  Os   seus   passos   eram   seguidos   por  investigadores  de  Oxford,  era  um  animal  conside-­‐rado   sociável   e   particularmente   fotogénico   –   as  suas   fotografias   pela   internet   são  mais   que  mui-­‐tas.  Era  um   leão  conhecido  na  região,  e  no  mun-­‐do,   de   uma   grande   beleza,   e   do   qual   gostavam  todos  quantos  o  conheciam.    Na   passada   semana,   numa   caçada,   Cecil   acabou  decapitado  e  sem  pele.  O  seu  perpetrador,  Walter  Palmer,  cidadão  norte-­‐americano,  médico  dentis-­‐ta,  pelos  vistos,  caminha  para  o  mesmo  destino.    Para  além  das  ameaças  de  morte,  do  Pólo  Norte  ao   Pólo   Sul,  manifestações   de   revolta,   insultos   e  pedidos  de  extradição,  a  administração  de  Obama  decidiu   também   abrir   um   inquérito   ao   que   terá  ocorrido,  a  fim  de  se  apurarem  as  devidas  respon-­‐sabilidades,  e  de  que  a  punição  seja  exemplar.    Palmas.    Pela   mesma   altura   foi   divulgado   um   vídeo   que  mostra   a   directora   da   Planned   Parenthood,   uma  associação  americana  que  promove  e  colabora  na  prática  de  abortos  nos  Estados  Unidos  da  Améri-­‐ca,  a  vender  órgãos  de  bebés  em  troca  de  somas  avultadas   de   dinheiro   e   outros   gozos   materiais,  tais  como,  por  exemplo,  um  Lamborghini.      A   seguir   ao   vídeo,   outro,   e   outro....   Tráfico   de  órgãos   de   bebés.   Bebés   que   são   mortos   e   des-­‐membrados.  A  troco  de  dinheiro,  muito  dinheiro.  Sob   a  máscara   de   “saúde   sexual   e   reprodutiva”.  Seguido  do  choque  inicial,  que  levou  a  que  muitas  empresas,  como  a  Coca-­‐Cola,  Xerox  ou  a  Ford,  se  desvinculassem   da   Planned   Parenthood,   a   reac-­‐ção  do  Partido  do  mesmo  Obama:  outro   inquéri-­‐to.  Mas  desta   feita  não  para  apurar   responsabili-­‐dades,   não  para  punir   exemplarmente,  mas  para  silenciar,   para   compactuar,   para   fingir   que   este  horror   não   existe.   Um   inquérito   para   averiguar,  pasme-­‐se,  a  legalidade  das  imagens  obtidas.      E  agora,  o  silêncio.    O  sepulcral  silêncio  dos  media,  das  televisões,  das  rádios,  das  redes  sociais.  O  silêncio  que  esconde  o  sangue   dos   inocentes.   Onde   estão   as  manifesta-­‐ções,  as  petições  à  Casa  Branca,  o  choro,  a   indig-­‐nação,  a   revolta,  a  vontade  de   fazer  desaparecer  esta  gente  da  face  da  Terra?  Onde  estão  os  cora-­‐ções   inflamados   de   justiça   e   de   compaixão?   A  coragem   de   fazer   frente,   de   proteger   quem   não  pode  ser  protegido,  de  gritar  por  quem  não  con-­‐segue   falar,   de  garantir   a   liberdade  e  defender  a  dignidade  de  quem  tem  a  mesma  Natureza?  Onde  está  a  identidade,  a  consciência  de  cada  um?    Para   onde   caminhas   tu,   ó   Homem,   para   onde  caminhamos   nós,   nesta   selva   em  que   um   rugido  de   um   leão   é   mais   importante   que   um   choro  silenciado  de  uma  criança?  

Tornou-se mãe aos 12 anos. A partir daí, tudo mudou RR  online  03-­‐08-­‐2015  10:00  por  Filipe  d’Avillez  e  Joana  Bourgard    A  experiência  mostra  que  a  gravidez  adolescente  não  tem  de  ser  uma  tragé-­‐dia.   Quem   está   no   terreno   para   ajudar   garante   que   não   conhece   quem   se  tenha  arrependido  de  ter  o  filho  e  há  histórias  de  sucesso,  como  da  Vanessa.      Tinha  apenas  12  anos.  O  rapaz  com  quem  estava  era  pouco  mais  velho,  tinha  15.  Duas  crianças  sem  verdadeira  noção  daquilo  em  que  se  estavam  a  meter.    “Tinha  noção  que  isso  acontecia...  Mas  aos  outros.  A  nós  nunca  nos  acontece  nada,  não  é?”,  diz  Vanessa  Silva,  actualmente  com  24  anos  e  funcionária  num  lar,  em  Alenquer.    Só  que  aconteceu  mesmo.  Vanessa  engravidou,  mas,  na  inocência  dos  seus  12  anos,   levou  meses  a  perceber.  Nem  o  facto  de  não   lhe  aparecer  a  menstrua-­‐ção   levantou  suspeitas.  “Eu  era  uma  miúda.  Eu  queria  era  não  ter,  não  sabia  porque  é  que  não  acontecia.  Quem  deu  conta  mesmo   foi  o  meu   irmão  mais  velho,  que  estranhou,  porque  era  ele  quem  nos  pagava   tudo.  O  meu  pai,  na  altura,   já  era  ausente.  E  estranhou  que  alguma  coisa  se  passava  para  eu  não  pedir  dinheiro  para  as  coisas  de  mulher.”    A  consulta  no  hospital  confirmou  as  suspeitas,  para  desgosto  e  frustração  do  irmão  mais  velho,  que,  desde  a  morte  da  mãe  e  do  abandono  por  parte  do  pai,  cuidava   da   família   de   seis   irmãos.   “Eu   era   das   mais   novas   e   ele   sentia   que  falhou.  Era   frustrante,  porque  ele  matava-­‐se  a   trabalhar  para  conseguir   criar  os   irmãos  e,  no  entanto,   foi  um  bocado  desilusão.  E  havia  a  preocupação  de  saber  o  que  iria  acontecer  comigo,  porque,  naquele  instante,  ele  percebeu  que  nunca  mais  ia  voltar  a  ser  a  mesma  coisa,  tudo  ia  mudar.”    Vanessa   foi   encaminhada   para   a   Casa   de   Santa   Isabel,   um   centro   de   acolhi-­‐mento  do  Apoio  à  Vida,  vocacionado  para  acolher  grávidas  em  situações  difí-­‐ceis.  Os  outros  irmãos  foram  para  diferentes  instituições  e  as  duas  mais  novas  acabaram   por   ser   adoptadas.   Apesar   de   na   altura   ter   custado,   Vanessa   não  duvida  que  foi  para  melhor.    “Foi  tudo  melhor.  Era  egoísta  da  minha  parte  dizer  que  ia  ser  possível.  Não  ia.  As  duas  irmãs  mais  novas  tinham  problemas  de  saúde  e  o  meu  irmão  tinha  a  vida  dele.  Era  um  rapaz  novo  também,  tinha  de  constituir  a  família  dele,  mas,  coitado,  ele  tomava  conta  de  nós  como  se  fôssemos  filhos,  e  não  éramos.”      Joana  Tinoco  de  Faria,  psicóloga  no  Apoio  à  Vida      Centenas  de  casos  todos  os  anos  Todos  os  anos  em  Portugal  nascem  centenas  de  bebés  cujas  mães  têm  menos  de  15  anos.  As  gravidezes  com  11  ou  12  anos  são  raras,  mas  existem.  As  razões  por  detrás  são  mais  complexas  do  que  po-­‐dem   parecer   à   primeira   vista,   explica   Joana   Tinoco   de   Faria,   psicóloga   do  Apoio  à  Vida.    “Muitas  vezes  as  gravidezes  surgem,  psicologicamente,  como  um  grito  incons-­‐ciente  de  autonomia  e  até  de  uma  construção  de  um  projecto  de  família  des-­‐fasado,  isto  é,  fantasioso,  mas  um  grito  por  uma  família  própria,  um  porto  de  abrigo,  em  famílias  em  que  isto  se  calhar  não  existe",  declara.    Para  muitos  que  assistem  de  fora  a  solução  mais  óbvia  poderia  parecer  ser  o  aborto,  mas  a  vontade  das  meninas  muitas  vezes  é  outra.  Não  é   raro  haver,  nesses  casos,  uma  pressão  difícil  de  resistir.  “Se  ponderam  abortar  nesta  etapa  tem   sobretudo   a   ver   ou   com   a   pressão   da   família,   o   que   acontece   com   fre-­‐quência  e  a  família  tem  aqui  um  peso  fundamental,  sobretudo  nestas  idades,  e  normalmente  é  a  família  que  não  vê  uma  maternidade  adolescente  como  uma  possibilidade  na  vida  daquela  rapariga”,  diz  a  psicóloga.    “Parece  uma  resolução,  o  chamado  ‘desengravidar’,  isto  é,  ‘engravidaste,  mas  vamos   resolver   o   assunto’   e   é   frequentemente   assim   que   é   abordado   este  assunto.  Acho  que  a  família,  grande  parte  das  vezes  acredita  que  está  a  fazer  o  melhor,   porque   sente   que   está   a   devolver   à   criança   aquela   infância.   Resta  saber  se  passar  por  uma  experiência  como  o  aborto,  ainda  que  não  se  tenha  a  verdadeira  consciência  daquilo  que  se  está  a  fazer,  mais  tarde  não  se  vai  fazer  sentir  de  outras  formas.”    No  caso  da  Vanessa,  o  aborto  legal  não  era  opção.  A  Lara  nasceu  em  Maio,  já  a  mãe   tinha   13   anos,  mas   a   estadia   na  Casa  de   Santa   Isabel   prolongou-­‐se  por  vários   anos.  A   ideia  da   instituição  é   a  de  que  as   raparigas   só   saiam  com  um  projecto   de   vida   formado,   como   explica   Fernanda   Ludovice,   directora   do  centro  de  acolhimento:  “Gostamos  que  nos  cheguem  o  mais  cedo  possível  na  

Page 4: JBN31

Página 4 de 8 O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 1 de Setembro de 2015

gravidez,   porque   temos   um  espaço   enorme  para  preparar   a   gravidez,   vincular   a   mãe   ao   bebé,  enquanto   está   dentro   da   barriga,  mas,   às   vezes,  não  acontece  assim.”    “Depois   da   gravidez,   os   primeiros   tempos   do  bebé,   para   preparar   a   mãe   para   as   coisas   mais  normais,   como   tomar  banho,   amamentar,   passar  à  sopa...  Todas  essas  coisas.  Depois  desses  quatro  ou  cinco  meses  em  que  elas  estão  completamen-­‐te   centradas   no   bebé,   e   no   seu   papel   de  mãe,   a  preparação   para   o   regresso   ao  mundo   lá   fora,   à  vida  de  trabalho,  construção  de  competências  ao  nível  profissional”,  conclui.    Engravidar  existe,  “desengravidar”  não  Foi  o  que  se  passou  com  a  Vanessa,  que  hoje  em  dia  leva  uma  vida  independente  e  segura,  susten-­‐tando-­‐se  a  si  e  à  Lara  com  o  fruto  do  seu  trabalho.  A  menina   de   12   anos   já   lá   vai.   “Saí   a   agradecer  tudo  o  que  fizeram  por  mim.  Porque  se  não  fosse  a  Casa  de  Santa  Isabel  eu  não  era  quem  sou  hoje.  Devia   ser   uma   grande   calona   que   não   queria  trabalhar,  que  não  queria  nada,  mas  sou  comple-­‐tamente  o  oposto”,  que  é  como  quem  diz,  “se  não  fosse  a  Lara,  não  era  eu.”    A   verdade,   porém,   é   que   nem   todas   as  meninas  que  engravidam  têm  a  sorte  da  Vanessa.  Algumas  escolhem,  ou   são  empurradas,  para  um  caminho  diferente  e  doloroso.  Porque  na  verdade,  o  verbo  “desengravidar”  não  existe.    A  psicóloga  Joana,  que  admite  nunca  ter  acompa-­‐nhado   uma   mulher   que   se   arrependesse   de   ter  tido   o   seu   filho,   recorda:   “Uma   vez   fui   a   uma  escola   falar   e   quando   estava   a   sair,   houve   uma  rapariga   que   se   aproximou   de   mim   e   que   disse  que   gostava   de   falar   comigo.   Vinha   de   lágrimas  nos   olhos   e   disse-­‐me:   ‘Só   lhe   quero   pedir   um  favor:  Que  falem  disto  a  mais  gente.  Porque  se  eu  soubesse   o   que   sei   hoje,   se   soubesse   que   havia  ajudas,  não  tinha  feito  o  que  fiz.”    O   Apoio   à   Vida   opera   em   Lisboa   desde   1998.  Todos   os   anos   recorrem   aos   seus   serviços   cerca  de  350  mulheres  e  pela  Casa  de  Santa  Isabel,  que  foi  fundada  em  2003,  já  passaram  pelo  menos  140  mães.   A   instituição   tem   um   número   grátis   para  quem  precisa  de  ajuda:  800  20  80  90    

O grande combate JOÃO  CÉSAR  DAS  NEVES  |  DN  2015.08.05  

Este  é  um  tempo  de   intenso  combate   ideológico.  As   causas   são   muitas,   mas   a   origem   é   única:   a  enorme   aceleração   do   ritmo   de   mudança   do  mundo.   Estas   décadas   trouxeram   espantosas  novidades   tecnológicas,   geopolíticas,   económicas  e   financeiras.  As  potencialidades   são  espantosas,  mas   também   os   custos   dessa   transformação.  Desaparecem  muitas  profissões,  sectores  e  activi-­‐dades,   criando   fortes   tensões   sociais   e   intensas  perplexidades   políticas.   O  mundo  melhora   imen-­‐so,   mas,   como   sempre,   os   danos   colaterais   são  também  trágicos.  As   consequências   destas   novidades   sobre   o   qua-­‐dro   institucional   e   as   atitudes   ideológicas   são  crescentes.  Temos  de  lutar  por  muito  daquilo  que  consideramos   básico   e   seguro.   Como  em  antigas  épocas  de  tumulto,  a  nossa  será  confrontada  com  clivagens,   confrontos   e   escolhas   difíceis,   que  testarão   os   nossos   valores   mais   fundamentais.  Chegam  períodos  em  que  precisaremos  de   ideias  

claras  e  opções  firmes.  O   elemento   mais   palpável   é   um   descontentamento   generalizado   contra   as  forças   tradicionais,   que   há   poucos   anos   facilmente   ganhavam   eleições.   As  mudanças,  que  assolam  todos,  impõem  intenso  descrédito  aos  partidos  domi-­‐nantes  e  suscitam  o  ressurgimento  de  forças  extremistas,  de  ambos  os   lados  do   espectro   doutrinal.   Aparentando   novidade,   esses   movimentos   copiam  antigas  teses  e  fundamentalismos  que  a  estabilidade  enterrara  durante  déca-­‐das.   Hoje   em  muitos   países   ocidentais,   de   ambos   os   lados   do   Atlântico,   ou-­‐vem-­‐se  de  novo  os  embates  entre  radicais  de  esquerda  e  de  direita  que  apai-­‐xonaram  e  feriram  os  nossos  avós.  Do   Syriza   grego   ao   Tea   Party   norte-­‐-­‐americano,   do   Podemos   ao   Ciudadanos  espanhóis,  as  novíssimas  vozes  vêm  de  velhos  partidos   jacobinos  ou   liberais,  ensaiando  as  mesmas  lutas  de  há  80,  150  e  230  anos.  As  condições  concretas,  drasticamente   diferentes,   têm   em   comum   o   forte   descontentamento   pela  cíclica   intensificação   da   mudança   socioeconómica.   Tal   basta   para   criar   um  renovado  combate   ideológico  que  vemos  crescer  à  nossa  volta  e  para  o  qual  temos  nos  preparar.  Apesar  das  semelhanças,  é  importante  notar  as  novidades  que  o  nosso  tempo  trouxe  a  esse  confronto  clássico.  Sem  que  aliviem  necessariamente  o  embate,  não  deixam  de  ser  relevantes.  O  primeiro  aspecto  original,   em  grande  medida   surpreendente,   é   a   ausência  de   utopias.   Os   extremismos   actuais   limitam-­‐se   a   bramar   contra   a   situação,  sem  prometerem  o  paraíso  na  terra.  Robespierre,  Marx,  Hitler,  Estaline  e  Mao  cavalgavam  uma  onda  de  ideais,  que  justificava  os  sacrifícios  que  impunham;  hoje,   Tsipras,   Trump,   Le   Pen,   Iglesias   e   Huckabee   protestam  muito  mais   do  que   prometem.   A   culpa   ou   o   mérito   não   são   seus   pois,   após   os   desastres  precedentes,   ninguém   acredita   já   nos   profetas   do   mundo   perfeito.   Isto,   se  revela  um  tempo  mais  sensato  e  realista,  também  concede  uma  atitude  mais  cínica,  amarga  e  desiludida.  Por  outro  lado,  o  descontentamento  acontece  em  sociedades  espantosamente  mais   ricas.   Ninguém   pode   menosprezar   o   terrível   sofrimento   da   desgraça  grega,   o   desemprego   espanhol,   banlieues   franceses   ou   inner   cities   america-­‐nas;  mas  é  também  inegável  que  esses  dramas  não  têm  comparação  com  os  horrores  de  1793,  1848,  ou  1933.  Também  os  esfomeados  d"As  Vinhas  da  Ira  de   Steinbeck   (1939),   apesar   dos   seus   automóveis,   continuavam   miseráveis,  mas  muito  menos   do   que   os   de   Victor   Hugo   (1862).   A   presente   crise   social  desenrola-­‐se  no  Twitter  e  no  Facebook,  usa  telemóvel  e  tem  serviço  nacional  de   saúde  e   seguro   social.   Isso,   se   revela  um   tempo  mais   cómodo  e  burguês,  também  concede  meios  mais  poderosos  às  forças  subversivas.  De   qualquer  modo   não   pode   haver   dúvida   de   que   hoje,   como   nas   gerações  anteriores,  vamos  ser  testados  nas  nossas  convicções  mais  decisivas.  No  meio  da  dívida,  do  desemprego,  da  imigração,  do  aborto  e  do  terrorismo,  múltiplas  questões  banais  e  quotidianas  vão  estar  mergulhadas  em  debates  profundos,  como  nos  tempos  de  Danton,  Bismarck  ou  Roosevelt.  Os  conceitos  básicos  de  liberdade  e  igualdade,  nascimento  e  casamento,  democracia  e  Europa,  justiça  e  solidariedade,  que  há  uns  anos  eram  pacíficos  e  consensuais,  tomam  novos  cambiantes  ambíguos  e  geram  acesas  discussões  e  lutas.  Sabemos   que   isto   nos   pode   conduzir   à   desgraça.   Os   confrontos   anteriores  terminaram   em   regimes   totalitários,   de   esquerda   ou   direita,   cujos   horrores  ainda   vivem  na  memória   colectiva.   Essa   pode   ser   uma   vantagem,   se   tal   evi-­‐dência   servir   de   antídoto.   Sabemos   que   a   única   solução   é   cada   um,   no   seu  sítio,  dar  voz  às  posições  sábias  e  moderadas  que,  no  meio  da  fúria,  os  nossos  antepassados  ignoraram.  Só  isso  nos  pode  salvar  no  próximo  terrível  embate.  

Debates e consensos Raquel  Abecasis  RR  online  05-­‐08-­‐2015    Na  véspera  das  eleições  de  4  de  Outubro  conseguiu-­‐se  o  que  normalmente  é  impossível  em  Portugal:  mudou-­‐se  a  lei  e  houve  consenso  para  realizar  deba-­‐tes  imprescindíveis  ao  esclarecimento  do  eleitorado.  Depois  de  vários  actos  eleitorais  sem  debates,  por  causa  das  interpretações  de  uma   lei   de   cobertura   de   campanhas   que   estava   completamente   obsoleta   e  que   inviabilizava   a   qualquer   meio   de   comunicação   social   cumprir   todos   os  requisitos   sem   perder   toda   a   sua   clientela,   na   véspera   das   eleições   de   4   de  Outubro  conseguiu-­‐se  o  que  normalmente  é  impossível  em  Portugal:  mudou-­‐se  a   lei  e  houve  consenso  para   realizar  debates   imprescindíveis  ao  esclareci-­‐mento  do  eleitorado.  Talvez  seja  um  bom  presságio  para  o  que  aí  vem.  Afinal  são  possíveis  enten-­‐dimentos  em  benefício  do  país.  A  Renascença  orgulha-­‐se  de  fazer  parte  desta  história.  No  mês  de  Maio  fez  o  desafio   às   nossas   rádios   concorrentes,   para  que  nos   juntássemos  no  desafio  de   trazer  o  debate  à   rádio.  O  desafio   foi   aceite  de   imediato  e,   desde  então,  Renascença,  TSF  e  Antena  1  trabalharam  em  conjunto  até  agendarem  para  o  dia  17  de  Setembro  a  realização  do  último  frente  a  frente  entre  os  dois  candi-­‐

Page 5: JBN31

Página 5 de 8 O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 1 de Setembro de 2015

datos  a  primeiro-­‐ministro:  Pedro  Passos  Coelho  e  António  Costa.  À  semelhança  do  que  fizeram  as  rádios,  as  televi-­‐sões   tomaram   idêntica   iniciativa   ao   perceberem  que  não  era  possível  realizar  um  debate  em  cada  estação.   O   entendimento   foi   possível   entre   con-­‐correntes  e  entre  candidatos  e  quem  fica  a  ganhar  são   os   portugueses   que   podem   assim   ter   duas  oportunidades  de  ponderar  e  escolher  perante  os  argumentos  dos  que  pedem  o  nosso  voto.  Toda   esta   história   prova   que   é   possível   fazer  diferente   e   que   a   maturidade   democrática   tam-­‐bém   mora   para   estas   bandas.   É   um   bom   início  para  uma  campanha  eleitoral  que  se  espera  dife-­‐rente  para  melhor,  porque  é  disso  que  Portugal  e  os   portugueses   precisam   depois   de   terem   atra-­‐vessado  a  maior  crise  dos  últimos  40  anos.  Agora  é  tempo  de  virar  a  página.    

"Marcou a sua geração sacerdotal a vários níveis, belíssimos todos"

6  de  Agosto  de  2015  Nascido  em  Lisboa   a   15  de   setembro  de  1972,   o  padre   Ricardo   Neves   viveu   a   infância   em   Rio   de  Mouro,  beneficiando  desde  o  berço  de  uma  cari-­‐nhosa  edução  cristã  e  humana  que  se  refletiu  em  muitos   traços   da   sua   personalidade   e   da   sua  atuação   pastoral.   Aluno   dos   seminários   do   Patri-­‐arcado  de  Lisboa  desde  1986,  foi  ordenado  padre  a   29   de   junho   de   1997,   no  Mosteiro   dos   Jeróni-­‐mos,  e  celebrou  a   sua  Missa  Nova  a  13  de   julho,  em  Rio  de  Mouro.    Desde   setembro   de   2011   era   pároco   de   Santo  António  do  Estoril  e  vigário  de  Cascais,  juntamen-­‐te   com  a   direção  do   Serviço   de  Animação   Espiri-­‐tual.  Ao  longo  dos  seus  18  anos  de  sacerdócio,  foi  também   prefeito   e   vice   reitor   do   Seminário   de  São   José   de   Caparide,   assistente   do   Sector   de  Cascais  das  Equipas  de  Jovens  de  Nossa  Senhora  e  diretor  diocesano  do  Serviço  da  Pastoral  Vocacio-­‐nal.  Escrevendo   um   dia   a   João   Costa,   membro   do  “Percurso  Alpha”,  o  padre  Ricardo  Neves   confes-­‐sava:  «Ser  padre  é  para  mim  uma  grande  felicida-­‐de.  Não  o  procuro  por  causa  da  felicidade  mas  ela  vem   realmente   como   consequência   de   estar   ao  serviço,   de   viver   em   comunhão   com   Jesus,   de  estar   na   vida   das   pessoas   e   ajudar   a   construir   a  Igreja.   Esta   felicidade   tem   as  mesmas  marcas   da  de   Jesus:  está  atravessada  pelo  mistério  da  Cruz,  onde  o  amor  e  a  confiança  são  chamados  a   radi-­‐calizar-­‐se.  Tenho  experimentado   também   isso  na  minha   vida:   pelo  meio  de   tormentas   e   sofrimen-­‐tos,  Deus  faz  crescer  um  amor  mais  límpido».    O  Cardeal-­‐Patriarca  de  Lisboa,  D.  Manuel  Clemen-­‐te,  que  o  conheceu  desde  a  entrada  no  seminário  e  o  acompanhou  proximamente  na  sua  vida,  com  um  cuidado  especial  neste  último  ano,  reconhece  essa   felicidade   que   o   padre   Ricardo  Neves   expe-­‐

rimentava  no  seu  sacerdócio  e  no  serviço  às  pessoas:  «O  padre  Ricardo  Neves  marcou   a   sua   geração   sacerdotal   a   vários   níveis,   belíssimos   todos.   Entre   os  seus   colegas   de   seminário,   era   naturalmente   líder,   pela   inteligência,   pela  sensibilidade,  pelo  entusiasmo.  Entre  os  seus  seminaristas,  depois,  juntava  um  alto   grau   de   discernimento   com   a   relação   próxima,   fraterna   e   estimulante.  Para  quem  o  escolheu  como  "diretor  espiritual",  de  perto  ou  mais   longe,   foi  determinante   para   o   sentido   cristão   da   existência   e   a   fidelidade   certa   aos  compromissos.  Para  os  seus  paroquianos,  foi  um  pastor  de  todas  as  horas,  de  todos   os   projetos,   de   aplicação   sacerdotal   inteira.   Foi-­‐o   também  nos   longos  meses  da  sua  doença,  de  que  fez  cruz  salvadora».    Recorda  o  padre  José  Paulo  Machado,  vigário  paroquial,  que  o  auxiliou  e  viveu  com  ele  todos  estes  anos  de  pároco  do  Estoril,  desde  que  se  encontraram  em  Julho  de  2011  para  «traçar  um  plano  conjunto  para  a  comunidade  paroquial  do   Estoril»:   o   padre   Ricardo   Neves   era   um   «atento   observador   de   todos   os  pormenores»  e  «foi  essa  observação  amorosa  sobre  as  pessoas,  sobre  a  paró-­‐quia,  sobre  as  situações,  sobre  os  pormenores,  a  responsável  pela  construção  de  uma  paróquia  agora  verdadeiramente  conciliar,  dotada  de  instrumentos  de  corresponsabilidade   transversais   a   todos   os   seus   membros».   Impressionado  pelo   sentido   pastoral   e   pelo   testemunho   que   manteve   sempre,   incluindo  durante   a   doença,   refere   ainda   que   «mesmo  na   dolorosa   provação   do   galo-­‐pante   cancro   que   o   invadiu,   o   Padre   Ricardo   nunca   descurou   uma   atenta  observação  sobre  o  amanhã  da  paróquia  e  sobre  si  próprio».    Logo  quando  tomou  posse  no  Estoril,  o  padre  Ricardo  Neves  renovou  e  inovou  muitas   práticas   pastorais,   mas   a   mais   simples   e   fundamental   de   todas   terá  sido,  muito   provavelmente,   a   oferta   permanente   e   diária   do   sacramento   da  Reconciliação.   «Num   dia   muito   importante   da   história   da   minha   conversão  senti   uma   força  muito   grande   para   não   adiar  mais   a   Confissão:  meti-­‐me   no  carro  e   fui  direita  à  paróquia.  A  minha  história  com  o  padre  Ricardo  começa  porque  ele  estava  no  sítio  certo  à  hora  certa:  o  confessionário!  Aí  começou  o  caminho  que  me  trouxe  ao  convento  e  no  qual  o  padre  Ricardo  tem  sido  uma  mão   da   Providência»,   lembra   Sor   Maria   Madalena   da   Divina   Misericórdia  (monja  concepcionista).  No  mesmo   sentido  de  disponibilidade  permanente  para  o   acompanhamento  pessoal,  Fátima  Terra,  atualmente  no  Secretariado  da  Catequese  do  Patriarca-­‐do   de   Lisboa,   que   conheceu   o   Padre   Ricardo   Neves   na   juventude   e   era   sua  dirigida   espiritual,   vê   nele   «um   irmão,   um   amigo,   um   companheiro   nesta  peregrinação  que  fazemos  para  o  Céu…uma  vez  que  não  temos  aqui  morada  permanente»  e  conclui:  «Tenho  a  certeza  que  o  padre  Ricardo  foi  colocado  no  meu   caminho   por   Deus.   Foi   ele   que   nestes   seis   anos  me   acolheu,   apoiou   e  suportou,  animando  a  minha  Fé  e  Esperança  e  estimulando  a  minha  vivência  da  Caridade,  particularmente  nos  momentos  mais  difíceis».  No  mesmo  senti-­‐do,   João   Costa:   «Através   da   sua   catequese,   a   minha   vida   espiritual   cresceu  bastante.  Nos  dias  que  correm,  em  que  nos  faltam  mestres  de  vida  interior,  e  de  uma  existência  digna  de  ser  vivida,  eu  sinto-­‐me  muito  privilegiado  por  o  ter  tido  no  meu  convívio  íntimo  e  a  guiar-­‐me,  hoje  e  sempre».  Maria   João  Dias  Ferreira,   jovem  da  paróquia  do  Estoril,   recorda  que  o  nosso  prior   se   fazia   «transmissor   incansável   desse   mesmo   amor   [de   Deus].   Uma  dádiva  de  Deus  na  minha  vida,  que  sem  eu  esperar  e  nada  antever,  me  tocou  profundamente.  O  padre  Ricardo   era   uma  pessoa   cheia   de   Jesus.  Uma   alma  amiga  e  extremamente  inspirada.  (…)  O  amor  de  Deus  é  grande  e  transmite-­‐se  desta  forma:  através  de  quem  nos  ama,  de  quem  nos  quer  bem  e  nos  motiva  a  fazer   o  mesmo.  Assim  era   o   padre   Ricardo  Neves,   alguém  que  me   amou  de  verdade,  como  Jesus,  convertendo  o  meu  coração».Como  conclui  o  Patriarca  de  Lisboa  no  seu   testemunho  sobre  o  padre  Ricardo  Neves,  «Continuaremos  com  ele,  pois,  como  Santa  Teresinha,  "passará  o  seu  céu  a  fazer  bem  na  Ter-­‐ra"».  

Holocausto inútil Jaime  Nogueira  Pinto  |  Sol  |  11/08/2015    Há  70  anos,  em  Agosto  de  1945,  a  guerra  continuava  no  Pacífico.  Acabara  na  Europa  no  dia  8  de  Maio  e  tinham  já  desaparecido  três  dos  seus  grandes  pro-­‐tagonistas:  F.  D.  Roosevelt  morrera  a  12  Abril  sem  que  chegasse  a  ver  a  vitória  aliada;  Mussolini   fora  fuzilado  no  dia  28  de  Abril  por  um  grupo  de  partigiani,  não  se  sabe  ao  certo  às  ordens  de  quem;  e  Adolfo  Hitler,  o  discípulo  de  Wag-­‐ner  que  fizera  da  Europa  e  do  Mundo  o  cenário  do  seu  Götterdamerung,  suici-­‐dara-­‐se  a  30  no  bunker  da  Chancelaria.  Mas   ficara   o   Império   do   Japão,   que   os   Estados  Unidos   tinham  praticamente  obrigado  a   ir  para  a  guerra  quando  lhe  cortaram  o  abastecimento  energético  em  1941.  O  Japão,  depois  de  Pearl  Harbour,   lançara-­‐se  na  guerra  relâmpago,  conquistando  e  dominando  grandes  extensões  do  Pacífico,  da  Indochina  e  da  Insulíndia,  até  aí  domínios  coloniais  franceses  e  britânicos.    Parados  em  Midway  pelos  porta-­‐aviões  americanos,  os  guerreiros  do  Sol  Nas-­‐cente  vão  conhecer  depois  a  retirada  e  a  derrota.  A  guerra  aérea  com  bombas  

Page 6: JBN31

Página 6 de 8 O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 1 de Setembro de 2015

incendiárias   contra   as   suas   cidades   e   a   guerra  submarina   que   lhes   vai   afundando   os   navios,   os  petroleiros   e   os   transportes,   vai   ter   um   efeito  devastador  no  sistema  militar  e  logístico  imperial.  No   dia   seguinte   à   vitória   na   Europa,   os   america-­‐nos  concentraram-­‐se  na  frente  do  Pacífico.  Consi-­‐derando  o  modo  renhido  e  fanático  da  resistência  japonesa,   desde   os   aviadores   kamikazes   até   ao  encarniçamento  da   infantaria   nas   ilhas,   pensava-­‐se  que  a  conquista   final  do   Japão  pudesse  custar  mais   de   dois   milhões   de   baixas   aos   invasores   e  muitos  mais  às  tropas  e  às  milícias  civis  nipónicas.  O   Projecto   Manhattan   começara   nos   Estados  Unidos  no  pressuposto  de  que  os  alemães,   cujos  físicos   eram   pioneiros   da   pesquisa   nuclear,   esta-­‐vam  a  construir  a  bomba  atómica.  Em  Los  Alamos,  Novo   México,   J.   Robert   Oppenheimer   dirigiu   e  coordenou   a   equipa  que   construiu   as   duas   bom-­‐bas  que  seriam  lançadas  sobre  o  Japão.  Perante  os  efeitos  devastadores  das  novas  armas,  os   japoneses   render-­‐se-­‐iam,   poupando   os   dois  contendores  ao  preço  de  uma  longa  conquista.  Os  alvos   iniciais   foram  Hiroshima  e  Quioto  mas,   por  pressão  do  Secretário  da  Guerra,  Stimson,  Quioto  foi  retirada  e  substituída  por  Nagasaki.    No  dia  6  de  Agosto,  o  Enola  Gay  lançou  a  primeira  bomba,   Little   Boy,   sobre   Hiroshima,   matando  cerca  de  80.000  pessoas  de   imediato  e  deixando  outras   tantas   com   vontade   de   ter   morrido.   Três  dias   depois,   Nagasaki   recebia   a   segunda:   mais  40.000  mortos.  A  justificação  ‘humanitária’  de  Truman  e  dos  seus  conselheiros  viria  a  ser  duramente  contestada  e  a  polémica   ainda   não   terminou.   Os   responsáveis  militares   americanos   -­‐   como   Eisenhower   e   o  almirante  Leahy  -­‐  condenaram  a  bomba  por  inútil,  já   que   o   Japão   estava   a   ponto   de   render-­‐se.   O  próprio  general  Douglas  MacArthur,  comandante-­‐em-­‐chefe   do   Pacífico,   que   não   fora   consultado,  mostrou-­‐se   crítico.   O   Japão   render-­‐se-­‐ia   desde  que   a  dinastia   continuasse.  Que   foi   o   que   veio   a  acontecer.    

O milagre em Hiroshima senzapagare,  2015.08.06    A   6   de   Agosto   de   1945,   Festa   da   Transfiguração  de  Cristo,  um  bombardeiro  americano  largou  uma  bomba   atómica   que   detonou   580   metros   acima  de   Hiroshima,   Japão.   A   explosão   incandescente  matou  todas  as  pessoas  no  raio  de  1600  metros  a  partir   do   “ground   zero”   -­‐   estimam-­‐se   60000   ho-­‐mens,  mulheres  e  crianças.    Nesta  data,  aconteceu  um  milagre  de  que  poucos  ouviram  falar.  Os  únicos  sobreviventes  nesse  raio  de   1600  metros   eram   oito   padres   jesuítas.   Estes  oito   homens   escaparam   à   explosão   atómica   e  viveram  até  uma  idade  avançada  sem  contamina-­‐ção  radioactiva.    O  padre   Jesuíta  Hubert   Schiffer,   um  dos   sobrevi-­‐ventes,   tinha   30   anos   na   altura   da   explosão   de  Hiroshima   em   1945.   Depois   de   celebrar   o   Santo  Sacrifício   da   Missa,   da   festa   da   Transfiguração,  sentou-­‐se   para   o   pequeno-­‐almoço   quando   todas  as   janelas   brilharam   com   luz   em   todas   as   direc-­‐ções.    Aqui   está   a   descrição   do   Padre   Schiffer   sobre   o  que   aconteceu:   “Uma   explosão   assustadora   en-­‐cheu   o   ar   com   um   violento   choque   como   um  trovão.  Uma  força  invisível  levantou-­‐me  da  minha  

cadeira,  arremessou-­‐me  através  do  ar,  agitou-­‐me,  bateu-­‐me,  e  arrastou-­‐me  a  rodar  e  a  rodar.    Ele   teve  algumas   lesões  menores,  e  os  médicos  do  Exército  Americano  ainda  confirmaram  que  ele  e  os   seus   sete   companheiros  não   sofreram  nem   lesões  graves  nem  danos  de  radiação.    Quando   lhe   perguntaram  porque   é   que   ele   e   os   seus   companheiros   jesuítas  saíram  sem  problemas  enquanto  que  todas  as  outras  pessoas  naquele  raio  de  1600  metros   tinha  morrido,   o   Padre   Schiffer   respondeu:   “Nós   sobrevivemos  porque  estávamos  a  viver  a  mensagem  de  Fátima.  Nós  vivíamos  e  rezávamos  o  Terço  diariamente  em  casa.”    Nagasaki,  casa  de  dois  terços  dos  Católicos  japoneses,  sofreu  a  segunda  bom-­‐ba  atómica  a  9  de  Agosto  de  1945.  Este  cidade,  que  se  tinha  tornado  a  “capital  japonesa  do  Catolicismo”  foi  obliterada.  No  entanto,  o  mosteiro  dos  francisca-­‐nos   estabelecido   por   S.   Maximiliano  Maria   Kolbe   em   Nagasaki   permaneceu  sem  danos.  S.  Maximiliano  tinha  anteriormente  decidido   ir  contra  um  conse-­‐lho  que  lhe  tinham  dado  para  construir  o  seu  mosteiro  numa  localização  mais  perto  da  cidade.  Em  vez  disso,  S.  Maximiliano  escolheu  uma  localização  atrás  de  uma  montanha  que  ficava  no  meio  deles.  Quando  a  bomba  atómica  explo-­‐diu,  o  mosteiro  mariano  foi  protegido  e  preservado.  

Perto do rio dos ‘Bons Sinais’ de Vasco da Gama Gabriel  Mithá  Ribeiro  |  Obseravdor  16/8/2015    Caminhei  cerca  de  oito  quilómetros  a  pé  da  ‘cidade  de  cimento’  de  Quelimane  ao  bairro  periurbano  da  Madal,  no  norte  de  Moçambique.  Passada  a  primeira  povoação,   continuei   na   única   estrada   de   terra   batida   ladeada   por   mangais  despovoados.   Ao   início   da  manhã  havia  muita   gente   a   caminhar   em   sentido  contrário  em  direção  à   cidade.   Iam  a  pé  e   sobretudo  de  bicicleta,  muitas   fa-­‐zendo  de   ‘táxi’.   Também  circulavam  umas  poucas  motorizadas.   Em  qualquer  caso,   algumas   transportavam   sacos   com   sal,   farinha,   carvão,   milho,   amen-­‐doim,   fardos   de   lenha,   havia   um   cabrito   rechonchudo   torturado   a   cordas  contra  o  suporte  da  bicicleta,  entre  outros  bens  que,  em  geral,  iriam  ser  nego-­‐ciados  nos  mercados  da  cidade.  Como  eu  e  o  guia  que  me  acompanha,  poucos  eram   os   que   ao   início   da   manhã   se   afastavam   da   cidade.   Entre   esses,   uns  quantos   transportavam   bens   trazidos   da   cidade:   tábuas   polidas,   portas   de  casas,  grades  de  bebidas  como  a  ‘2M’,  a  cerveja  nacional,  entre  outros.  Entretido  com  a  paisagem,  a  caminhada,  o  movimento  ou  a  conversa,  a  certo  passo  alertou-­‐me  um  sinal  do  poder  estado,  ou  melhor,  da  sua  ausência.  Atra-­‐vessava  uma  ponte  metálica,  herança  colonial  que  passa  por  cima  de  um  dos  afluentes  do  rio.  Junto  à  margem  oposta  havia  um  pequeno  engarrafamento.  Ora  passavam  os  de  um  sentido,  ora  os  do  sentido  contrário.  De  perto  vi  que  naquela  parte  só  é  possível  prosseguir  a  pé  porque  o  tabuleiro  da  ponte   fica  reduzido   a   uma   largura   pouco  maior   do   que   a   de   uma   das   vigas  metálicas.  Bicicletas   e   motorizadas   têm   de   ser   levadas   pela   mão.   Algumas   das   cargas  exigem  destreza  aos  que  as   transportam  porque  o   risco  de  queda  não  deixa  dúvidas.  Daí  a  ausência  de  carros  ou  camiões  naquele  circuito.  A  ponte  serve  muita  gente  que  habita  numa  das  províncias  mais  populosas  e  economicamente  mais  periféricas  de  Moçambique,  a  Zambézia.  A  sua  restau-­‐ração  ou  reconstrução  valerá  um  quase  nada  comparado  com  os  sofisticados  investimentos  em  betão  que  todos  os  dias  vemos  crescer  em  Maputo,  a  capi-­‐tal  no  extremo  sul.  Quem  andar  pelo  país  apercebe-­‐se  do  fascínio  civilizacional,  cultural,  ideológi-­‐co   pela   cidade   e   pelo   que   ela   representa,   muito   em   particular   pela   cidade  grande,   os  mesmos   espaços   que   num   passado   não  muito   longínquo   eram   a  reserva   civilizacional   do   colono.   Há   semanas   na   Matola   (Maputo),   um   dos  indivíduos  comuns  com  quem  vou  falando  opinou  (cito  de  cor):  ‘A  diferença  é  que  no  tempo  colonial  os  brancos  iam  para  o  mato  e  agora  os  nossos  dirigen-­‐tes  ficam  só  na  cidade’.  Tese  exagerada,  porém  sintomática.  Ela  conduz  ao  enigma  das  raízes  culturais  dos  africanos  habitualmente  rotula-­‐das  de  ‘profundas’.  Ou  são  de  tal  modo  profundas  que  dificilmente  se  rompem  ou,  por  serem  profundas,  os  próprios  rompem-­‐nas  sem  retorno  para  abrirem  caminho   a   uma   alteridade   identitária   ultra-­‐acelerada.   Por   essa   razão,   escu-­‐dam-­‐se  num  mal  disfarçado  estado  de  negação  antieuropeu.  Não   faz  muitos   anos,   um   intelectual   e   político   negro  moçambicano   criticava  com  aspereza  o  facto  de  a  sua  sociedade  ser  regulada  pelo  que  designava  por  “norma  branca”,   uma  herança   colonial   perversa   ainda  não  ultrapassada.   Por  sua   causa,   explicava,   os   autóctones   abandonaram   a   sua   matriz   identitária,  cultural  e  civilizacional  africana.  Curioso  é  que  esse  mesmo  intelectual  e  políti-­‐co  sugeriu  que  a  entrevista  que  lhe  solicitei  decorresse  no  luxuoso  hotel  Pola-­‐na,  em  Maputo,  vestia-­‐se  da  mais  apurada  indumentária  de  origem  europeia,  exprimia-­‐se  num  português   límpido  de   fazer   inveja  e  é  descendente  de  uma  

Page 7: JBN31

Página 7 de 8 O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 1 de Setembro de 2015

família  de  assimilados,  a  elite  autóctone  criada  no  tempo   colonial.   Ainda   que   não   quisesse   julgá-­‐lo,  saltavam  à   vista   as  dissonâncias   entre  discurso  e  práticas,  entre  atitudes  e  comportamentos.  Prosseguindo   a   caminhada   na   estrada   de   terra  batida   e   quando   a   ponte  metálica   se   perdeu   da  vista,   aproximei-­‐me  de   um   troço   no   qual   a   areia  solta  dificultava  um  pouco  mais  a  circulação.  Nova  revelação:  afinal  o  poder  do  estado  dava  um  ar  da  sua   graça   junto   das   pessoas   comuns.   Cerca   de  meia   dúzia   de   polícias   municipais   mandavam  parar  os   transeuntes  para   lhes  exigirem  a   licença  da  bicicleta  e  o  documento  da  permissão  de  con-­‐dução.  Os  azarados  ou  distraídos  tinham  de  pagar  uma   multa   para   seguirem   viagem.   O   guia   infor-­‐mou-­‐me   que   era   de   cinquenta   meticais   e,   de  seguida,   tinham   de   ir   tratar   da   legalização   na  cidade.  O  custo  era  de  cento  e  cinquenta  a  duzen-­‐tos   meticais,   valor   muito   acima   de   um   salário  diário   médio,   se   se   quisessem   livrar   de   futuros  incómodos.  Como  o  mangal  que   ladeia  a  estrada   tinha  zonas  sem  água,  em  vez  de  regressar  à  procedência,  um  ou   outro   ciclista   indocumentado   metia-­‐se   pelo  mangal   lodoso,   por   vezes   com   passageiros   ou  carga,  e  saía  mais  à  frente  contornando  as  autori-­‐dades,  um  ou  outro  a  barafustar  contra  os  abusos  do   poder   e   contra   o  matope   (lama)   agarrado   ao  calçado.  Não  sei  se  tal  controlo  policial   faz  sentido.  O  que  sei  é  que  o  episódio  trouxe-­‐me  à  memória  relatos  dos  piores  dias  da  guerra  civil   (1976-­‐1992)  quan-­‐do  as  pessoas  dificilmente  conseguiam  passar  por  certos   controlos   nas   estradas   sem   que   fossem  molestadas   por  militares.   Estes   poderiam   confis-­‐car-­‐lhes   bens   conseguidos   e   transportados   a  muito  custo  ou  cometer  todo  o  tipo  de  abusos  no  caso   de   os   viajantes   serem   renitentes.   O   tempo  passa   e   as   pessoas   vão   suportando   os   fardos   da  vida.  No  destino,  o  bairro  periurbano  da  Madal,   tive  a  sorte  de  falar  longamente  com  o  régulo.  Conserva  na   memória   a   permanência   por   seis   meses   em  Portugal,  no  ano  de  1958,  e  de  então   ter  ouvido  falar   na   campanha   presidencial   do   general  Hum-­‐berto  Delgado.  Tinha  treze  anos  quando  começou  a   trabalhar,   em   Quelimane,   como   empregado  doméstico   do   comandante   do   navio   ‘Lúrio’.   Pró-­‐ximo  do  rio  que  Vasco  da  Gama  batizou  de  ‘Bons  Sinais’,   entre   outros   assuntos,   o   régulo   contou   a  sua  versão  da  história  do   império  colonial,   a  que  sobrevive   com   as   pessoas   que   (também)   o   vive-­‐ram.  A  outra  é  a  versão  rainha,  a  dos  livros  e  das  universidades.  Por  alguma  razão  vou  preferindo  o  sentido  atribu-­‐ído  à  vida  e  ao  tempo  que  passam  pelas  pessoas  comuns  antes  que  os  mais  velhos  se  desliguem  da  vida  e,  com  eles,  as  suas  subjetivas  e  indiscutíveis  verdades.  

“O catolicismo está estritamente ligado à razão. Para mim, é muito importante tentar aprofundar as coisas em que acredito” Catarina  Melo  |  Diário  Económico  |  2015.08.16    Exigente  consigo  próprio  e  com  os  outros  �  Apesar   do   seu   contributo   para   o   processo   de  inovação  e  do  marketing   associado  aos  produtos  da   Renova,   Paulo   Pereira   da   Silva,   alerta   para   a  excessiva   personalização   que,   por   vezes,   há   na  sua  pessoa.  "A  Renova  é  um  grupo  de  pessoas.  Se  puder  contribuir  para  que  o  grupo  seja   inovador,  criativo,  faça  coisas  com  paixão  e  arrisque,  é  essa  

a  minha  função.  É  mais  fazer  cultura  do  que  fazer  rolos  de  papel  higiénico",  faz  questão  de  frisar.  A  viver  no  Chiado,  em  Lisboa,  o  gestor  desloca-­‐se  todos  os  dias  à  fábrica  em  Torres  Novas.  Mas  as  viagens  preenchem-­‐lhe  cerca  de  meta-­‐de   do   ano,   entre   deslocações   aos   60   mercados   onde   a   Renova   está   e   que  contribuem  para  mais   de  metade   da   facturação   da   empresa,   que   ascende   a  140  milhões  de  euros.  No  dia-­‐a-­‐dia  de  trabalho,  a  rotina  de  Paulo  Pereira  da  Silva  é  sempre  diferente,  entre  reuniões  e  ver  pessoas,  mas  há  coisas  das  quais  não  prescinde.  "Tenho  de  ler  alguma  coisa,  espreitar  as  redes  sociais,  o  que  acaba  por  ser  um  hábito  importante,  e,   se  puder,  à  hora  de  almoço  gosto  de  nadar",   refere.  As   redes  sociais  são  espaços  que  muito  valoriza.  "Gosto  e  aprendo  todos  os  dias  muito  com  as  redes  sociais".  Quem  o  conhece  não  lhe  poupa  elogios  no  papel  de  gestor.  "As  pessoas  vêem  nele   um   líder   e   uma   pessoa   de   acesso   fácil.   Quando   vai   à   fábrica   não   tem  qualquer  preconceito  em   falar   com  uma  pessoa  que  está  na   linha  de  produ-­‐ção",  refere  Luís  Saramago,  director  de  marketing  da  Renova,  que  já  estava  na  empresa  quando  Paulo  Pereira  da  Silva  lá  entrou  em  1984.  O  rigor  e  a  exigên-­‐cia  são  características  que  sobressaem  no  seu  perfil  de  trabalho.  "É  uma  pes-­‐soa  de  um  grau  de  exigência   elevado  e  que  pauta  pelo   rigor  que  exterioriza  nas   emoções,   tanto  na   satisfação   como  na   irritação",   explica   Luís   Saramago.  Uma  exigência  que  considera  ser  uma  virtude  já  que  leva  as  pessoas  a  melho-­‐rar.  Mas,  no  dia-­‐a-­‐dia,  há  coisas  que  Paulo  Pereira  da  Silva  não  admite.  Uma  delas  é  a  falta  de  qualidade  na  informação.  "Para  lhe  exporem  um  assunto,  as  pessoas  têm  de  o  saber  explicar  e  responder  às  questões  que  coloca",  explica  Luís  Saramago.  Já  o  amigo  José  Luís  Nunes  Martins  confessa  que  mudou  a  opinião  que  tinha  acerca  do  gestor  quando  o  conheceu  há  cerca  de  três  anos.  "É  completamente  diferente   do   que   julgava.   Pensava   que   era   vaidoso   e   rígido.   Na   verdade   é  muito  humilde.  Só  pode  ser  verdadeiramente  humilde  quem  é  extremamente  genial",   salienta   o   filósofo   que   desafiou   Paulo   Pereira   da   Silva   a   partilhar   a  escrita  do  livro  "Via-­‐Sacra  para  Crentes  e  Não-­‐Crentes",  lançado  no  início  deste  ano.  Reconhece-­‐lhe  ainda  a  determinação,  a  vontade  de  estudar,  conhecer  os  problemas  a  fundo  e  resolvê-­‐los,  entre  os  principais  atributos.  A  ligação  entre  a  ciência  e  a  religião  Numa   das   paredes   do   gabinete   de   Paulo   Pereira   da   Silva   salta   à   vista   uma  grande  ardósia  preta  preenchida  com  equações  de  Schrödinger  e  Maxwell  que  este  classifica  de  "muito  belas",  e  que  mostram  até  onde  o  homem  chegou  na  compreensão   do   universo.  Mesmo   ao   lado,   está   um   grande   telescópio   que,  ainda   recentemente,   foi   usado   para   partilhar   com   os   colaboradores   um   vis-­‐lumbre  do  último  eclipse  solar.  O  entusiasmo  com  que  fala  nos  fenómenos  da  física  não  significa  que  se  considere  um  físico  frustrado.  "Não  tenho  frustração  nenhuma.  Tenho  de  ser  humilde  em  relação  àquilo  que  Deus  me  deu  na  cabe-­‐ça  para  ser.  Não  foi  para  ser  um  Einstein,  o  que  posso  dizer?",  diz  a  sorrir.  Mas  a  formação  em  física  acaba  também  por  influenciar  o  seu  trabalho  como  gestor.  "Quando  tinha  a  função  de  engenheiro,  tinha  fenómenos  físicos  no  dia-­‐a-­‐dia,   hoje   em   dia   não.  Mas   o   rigor   intelectual   que   está   por   detrás   de   uma  ciência  pura,  isso  sim.  Ou  seja,  o  método  abstracto  que  está  na  base  e  a  curio-­‐sidade,  isso  sim  influencia  o  meu  trabalho",  refere.  Um   físico  que  ao  mesmo   tempo  é   católico,   à  partida  poderá  parecer   incom-­‐preensível.  Mas  não  na  cabeça  de  Paulo  Pereira  da  Silva.  "O  catolicismo  está  estritamente  ligado  à  razão.  Para  mim,  é  muito  importante  tentar  aprofundar  as   coisas  em  que  acredito.  Tentar  estudar",  disse  o  CEO  numa  entrevista   re-­‐cente  ao  canal  Família  Cristã.  Na  mesma  ocasião  explicou  que  a  religião  é  uma  questão   familiar.   "Sempre   fez   parte   da   minha   vida.   É   algo   importantíssimo  para  o  meu  equilíbrio:  para  saber  o  que  me  move",  esclareceu.  Os  ‘hobbies'  Considerado  bom  ouvinte,  Paulo  Pereira  da  Silva  é   visto   também  como  uma  pessoa  solitária,  sendo  que  nunca  casou  nem  tem  filhos.  É  o  próprio  a  admitir  que   às   vezes   precisa   estar   sozinho   e   de   silêncio   para   "pensar   e   arrumar   a  cabeça".  Podem  ser   três,  quatro  dias  ou  uma  semana,  mas,  nesse  espaço  de  tempo,   todos   os   aspectos   práticos   do   dia-­‐a-­‐dia   têm   de   estar   resolvidos.   "Se  não  estiverem,  não  estou  livre",  confessa.  Entre  o  grande  número  de  viagens  que  faz  ao  longo  do  ano,  parte  são  dedicadas  ao  lazer.  Volta  normalmente  aos  mesmos  sítios  e  elege  uma  noite  na  Grande  Chartreuse,  o  primeiro  mosteiro  e  a   casa-­‐mãe   da  Ordem  dos   Cartuxos   situado   em  Grenoble,   França,   como  um  dos  melhores  momentos  das  viagens  que  já  fez.  Entre   os   ‘hobbies'   preferidos   os   seus   interesses   divergem   para   um   grande  leque  de  áreas.  Tanto  pode  estar  absorvido  a  ler  um  livro,  como  nas  profundi-­‐dades  do  mar  a   fazer  mergulho  e  a  abservar  peixes  ou  corais.   "A  água  é  um  elemento   que   me   tranquiliza,   traz   paz,   e   é   um  meio   onde   há   sempre   uma  descoberta.  Quando   estou   debaixo   de   água   consigo   ver   com  mais   facilidade  coisas  que  não  estão  tocadas  pelo  Homem  e  gosto  também  do  silêncio",  reve-­‐la.  Paulo  Pereira  da  Silva  confessa-­‐se  também  um  leitor  compulsivo.  O  gosto  foi  

Page 8: JBN31

Página 8 de 8 O JORNAL DAS BOAS NOTÍCIAS 1 de Setembro de 2015

cultivado  desde  criança  quando  vivia  em  Abrantes  e  se  deixou  envolver  pelos  livros  que  a  mãe  lia.  A  literatura   brasileira   da   colecção   de   livros   "Dois  Mundos"  e   autores  norte-­‐americanos   como   John  Steinbeck   estão   entre   as   suas   primeiras   leituras.  Hoje,  os   seus  hábitos  de   leitura  abrangem  desde  livros   científicos   como   a   "História   da   ciência   em  Portugal",  do  físico  Carlos  Fiolhais,  que  agora  está  a   ler,   até   livros   de   fotografia   -­‐   outro   dos   seus  hobbies  preferidos  -­‐,  passando  por  obras  de  Agus-­‐tina  Bessa  Luís  ou  de  José  Luís  Peixoto.  Os  autores  internacionais   premiados   também   são   leitura  obrigatória.   "Leio   muito   e   não   seria   feliz   se   não  estivesse  a  ler",  confessa.  Os  audio-­‐livros  são  seus  parceiros,  sobretudo  quando  viaja.  O  coleccionismo  de  antiguidades  é  um  dos  gostos  que  habitualmente   lhe   atribuem.  Algo   que  nega.  "Se  tiver  uma  edição  dos  ‘Pensamentos'  de  Pascal  -­‐  de  quem  gosto  muito   -­‐  que  comprei  num  alfar-­‐rabista,  em  Paris,  é  algo  que  me  é  muito  caro,  mas  não  é  por  colecção.  Tem  a  ver  com  as  coisas  que  quero.   Gosto   de   ter   e   estar   rodeado   por   muito  poucos   objectos,  mas   alguns   deles   demorei  mui-­‐tos  anos  até  ter  exactamente  o  que  queria",  con-­‐clui.    

Quando uma astrofísica ateia se converte a Cristo: "Eu percebi que existe uma or-dem no Universo" Aleteia,  2015.08.18    Uma   história   turbulenta,   que,   entre   estudos  rígidos   e   sofrimentos   profundos,   chegou   à   pleni-­‐tude  em  Jesus  Repercutiu   em   sites   de   todo   o   planeta,   recente-­‐mente,   o   testemunho   de   Sarah   Salviander,   pes-­‐quisadora   do   Departamento   de   Astronomia   da  Universidade  do  Texas  e  professora  de  Astrofísica  na  Universidade  Southwestern.  A   incrível  história  da   sua   conversão   a   Cristo   começa   com   os   seus  estudos   científicos   e   culmina   com   a   morte   da  filha.  Vale  a  pena   investir  cinco  minutos  em  ler  o  depoimento  dela.  "Eu   nasci   nos   Estados  Unidos   e   fui   criada   no  Ca-­‐nadá.  Meus  pais  eram  ateus,  embora  preferissem  se  definir  como  ‘agnósticos’.  Eles  eram  carinhosos  e   mantinham   uma   ótima   conduta   moral,   mas   a  religião   não   teve   papel   nenhum  na  minha   infân-­‐cia".  "O  Canadá  já  era  um  país  pós-­‐cristão.  Olhando  em  retrospectiva,   é   incrível   que,   nos   primeiros   25  anos   da   minha   vida,   eu   só   conheci   três   pessoas  que  se   identificaram  como  cristãs.  A  minha  visão  do   cristianismo  era   intensamente  negativa.  Hoje,  olhando  para  trás,  eu  percebo  que  foi  uma  absor-­‐ção   inconsciente   dessa   hostilidade   geral   que  existe   no   Canadá   e   na   Europa   em   relação   ao  cristianismo.   Eu   não   sabia   nada   do   cristianismo,  mas   achava   que   ele   tornava   as   pessoas   fracas   e  tolas,  filosoficamente  banais".  Aos  25  anos,  quando  abraçava  a  filosofia  raciona-­‐lista  de  Ayn  Rand,  Sarah  entrou  em  uma  universi-­‐dade  dos  EUA:   "Entrei  no   curso  de  Física  da  Eas-­‐tern  Oregon  University  e  percebi  logo  a  secura  e  a  esterilidade   do   objetivismo   racionalista,   incapaz  de   responder  às  grandes  questões:  qual  é  o  pro-­‐pósito  da  vida?  De  onde  foi  que  viemos?  Por  que  estamos   aqui?   O   que   acontece   quando   morre-­‐mos?   Eu   notei   também   que   esse   racionalismo  sofria   de   uma   incoerência   interna:   toda   a   sua  atenção   se   volta   para   a   verdade   objetiva,   mas  sem   apresentar   uma   fonte   para   a   verdade.   E,  embora  se  dissessem  focados  em  desfrutar  a  vida,  

os  objetivistas  racionalistas  não  pareciam  sentir  alegria  alguma.  Pelo  contrário:  estavam  ferozmente  preocupados  em  se  manter   independentes  de  qualquer  pressão  externa".  A  atenção  da  jovem  se  voltou  completamente  ao  estudo  da  física  e  da  mate-­‐mática.  "Entrei  nos  clubes  universitários,  comecei  a   fazer  amigos,  e,  pela  pri-­‐meira  vez  na  minha  vida,  conheci  cristãos.  Eles  não  eram  como  os  racionalis-­‐tas:   eram   alegres,   felizes   e   inteligentes,   muito   inteligentes.   Fiquei   de   boca  aberta   ao  descobrir   que  os  meus  professores  de   física,   a   quem  eu  admirava  muito,  eram  cristãos.  O  exemplo  pessoal  deles  começou  a  me  influenciar  e  eu  me  via  cada  vez  menos  hostil  ao  cristianismo.  No  verão,  depois  do  meu  segun-­‐do   ano,   participei   de   um   estágio   de   pesquisa   na  Universidade   da   Califórnia,  num  grupo  do  Centro  de  Astrofísica  e  Ciências  Espaciais  que  estudava  as  evi-­‐dências  do  Big  Bang.  Era  incrível  procurar  a  resposta  para  a  pergunta  sobre  o  nascimento  do  Universo.  Aquilo  me   fez  pensar  na  observação  de  Einstein  de  que  a  coisa  mais  incompreensível  a  respeito  do  mundo  é  que  o  mundo  é  com-­‐preensível.   Foi   aí  que  eu  comecei  a  perceber  uma  ordem  subjacente  ao  uni-­‐verso.  Sem  saber,  ia  despertando  em  mim  o  que  Salmo  19  diz  com  tanta  clare-­‐za:   ‘Os   céus   proclamam   a   glória   de   Deus;   o   firmamento   anuncia   a   obra   das  suas  mãos’".  Depois  desse  insight,  a  razão  de  Sarah  foi  gradualmente  se  abrindo  ao  Misté-­‐rio:  "Comecei  a  perceber  que  o  conceito  de  Deus  e  da  religião  não  eram  tão  filosoficamente  banais   como  eu  pensava  que   fossem.  Durante  o  meu  último  ano,  conheci  um  estudante  finlandês  de  ciências  da  computação.  Um  homem  de   força,   honra   e   profunda   integridade,   que,   assim   como   eu,   tinha   crescido  como  ateu  num  país  laico,  mas  que  acabou  abraçando  Jesus  Cristo  como  o  seu  Salvador   pessoal,   aos   20   anos   de   idade,   graças   a   uma   experiência   particular  muito  intensa.  Nós  nos  apaixonamos  e  nos  casamos.  De  alguma  forma,  mesmo  não  sendo  religiosa,  eu  achava  reconfortante  me  casar  com  um  cristão.  Termi-­‐nei   a  minha   formação  em   física  e  matemática  naquele  mesmo  ano  e,  pouco  tempo  depois,  comecei  a  dar  aulas  de  astrofísica  na  Universidade  do  Texas  em  Austin".  A  penúltima  etapa  da   jornada  de  Sarah   foi  a  descoberta,   também  casual,  de  um   livro   de   Gerald   Schroeder:   “The   Science   of   God”   “A   Ciência   de   Deus”.  "Fiquei  intrigada  com  o  título  e  alguma  coisa  me  levou  a  lê-­‐lo,  talvez  o  anseio  por  uma  conexão  mais  profunda  com  Deus.  Tudo  o  que  sei  é  que  aquilo  que  eu  li  mudou  a  minha  vida  para  sempre.  O  Dr.  Schroeder  é  físico  do  MIT  e  teó-­‐logo.  Eu  notei  então  que,   incrivelmente,  por   trás  da   linguagem  metafórica,  a  Bíblia  e  a  ciência  estão  em  completo  acordo.  Também  li  os  Evangelhos  e  achei  a  pessoa  de   Jesus  Cristo  extremamente  convincente;  me  senti   como  quando  Einstein  disse  que  ficou  ‘fascinado  com  a  figura  luminosa  do  Nazareno’.  Mes-­‐mo  com  tudo  isso,  apesar  de  reconhecer  a  verdade  e  de  estar  intelectualmen-­‐te  segura  quanto  a  ela,  eu  ainda  não  estava  convencida  de  coração".  O  encontro  decisivo  com  o  cristianismo  aconteceu  há  apenas  dois  anos,  depois  de  um  acontecimento  dramático:  "Eu  fui  diagnosticada  com  câncer.  Não  muito  tempo  depois,  meu  marido  teve  meningite  e  encefalite;  ele  se  curou,  felizmen-­‐te,  mas   levou  certo  tempo.  A  nossa  filhinha  Ellinor  tinha  cerca  de  seis  meses  quando   descobrimos   que   ela   sofria   de   trissomia   18,   uma   anomalia   cromos-­‐sômica   fatal.   Ellinor  morreu   pouco   depois.   Foi   a   perda  mais   devastadora   da  nossa  vida.  Eu  caí  nas  mãos  do  desespero  até  que  tive,  lucidamente,  uma  visão  da  nossa  filha  nos  braços  amorosos  do  Pai  celestial:  foi  só  então  que  eu  encon-­‐trei  a  paz.  Depois  de  todas  essas  provações,  o  meu  marido  e  eu  não  só  ficamos  ainda  mais  unidos,   como  também  mais  próximos  de  Deus.  A  minha   fé   já  era  real.  Eu  não  sei  como  teria  passado  por  essas  provações  se  tivesse  continuado  ateia.   Quando   você   tem   20   anos,   boa   saúde   e   a   família   por   perto,   você   se  sente   imortal.  Mas   chega  um  momento   em  que   a   sensação  de   imortalidade  evapora  e  você  se  vê  forçada  a  enfrentar  a  inevitabilidade  da  própria  morte  e  da  morte  das  pessoas  mais  queridas".  "Eu  amo  a  minha  carreira  de  astrofísica.  Não  consigo  pensar  em  nada  melhor  do  que  estudar  o  funcionamento  do  universo  e  me  dou  conta,  agora,  de  que  a  atração  que  eu  sempre  senti  pelo  espaço  não  era  nada  mais  do  que  um  inten-­‐so  desejo  de  me  conectar  com  Deus.  Eu  nunca  vou  me  esquecer  de  um  estu-­‐dante   que,   pouco   tempo   depois   da  minha   conversão,  me   perguntou   se   era  possível  ser  cientista  e  acreditar  em  Deus.  Eu  disse  que  sim,  claro  que  sim.  Vi  que  ele   ficou  visivelmente  aliviado.  Ele  me  contou  que  outro  professor   tinha  respondido  que  não.  Eu  me  perguntei  quantos  outros   jovens  estavam  diante  de  questões  semelhantes  e  decidi,  naquela  hora,  que   iria  ajudar  os  que  esti-­‐vessem   lutando  com  esses  questionamentos.  Eu  sei  que  vai   ser  uma   jornada  difícil,  mas  o  significado  do  sacrifício  de  Jesus  não  deixa  dúvidas  quanto  ao  que  eu  tenho  que  fazer".