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JOÃO CABRAL DE MELO NETO

João Cabral de Melo Neto Slide Trabalho

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JOÃO CABRAL DE MELO NETO

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Sobre João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto foi poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética vai de uma tendência surrealista até a poesia popular.

Nascimento: 9 de janeiro de 1920, Recife, Pernambuco Falecimento: 9 de outubro de 1999,  Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro Obras: Morte e Vida Severina, além de outros poemas em voz

alta. Prêmio: Prêmio Camões, Neustadt International Prize for

Literature, Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero – Americana. Filme:  Morte e Vida Severina. Cônjuges:  Stella Maria Barbosa de Oliveira (de 1946 a 1986).

Marly de Oliveira (de 1986 a 1999).

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João Cabral de Melo Neto (1920-1999) nasceu em Recife e é considerado um dos maiores poetas da Geração de 45, assim chamada por rejeitar os “excessos do modernismo” para elaborar uma poesia de rigor formal, construindo uma expressão poética mais disciplinada.

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Desde cedo mostrou interesse pela palavra, pela literatura de cordel e almejava ser crítico literário. Conviveu com Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, que eram seus primos. Com apenas o curso secundário mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou no funcionalismo público.

Três anos depois, através de concurso, mudou-se para o Itamarati, ocupando cargos diplomáticos e morando em várias cidades do mundo, como Londres, Sevilha, Barcelona, Marselha, Berna, Genebra.

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Apesar de ser cronologicamente um poeta da Geração de 45, João Cabral seguiu um caminho próprio, recuperando certos traços da poesia de Drummond e Murilo Mendes, como a poesia substantiva e a precisão dos vocábulos, produzindo uma poesia de caráter objetivo numa linguagem sem sentimentalismo e rompendo com a definição de “poesia profunda” utilizada até então. Para o poeta, “a poesia não é fruto de inspiração em razão do sentimento”, mas de transpiração: “fruto do trabalho paciente e lúcido do poeta”.

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A primeira obra de João Cabral, Pedra do sono (1945) apresenta uma declinação para a objetividade e imagem surrealista.

Já em O engenheiro (1945), percebe-se que o poeta se afasta da linha surrealista, pendendo para a geometrização e exatidão da linguagem, como se ele próprio fosse o engenheiro, economizando as palavras (o material com que se constrói) e a objetivação do poema (o propósito do uso do material – a construção terminada).

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Nas suas principais obras, como O cão sem plumas (1950), O rio (1954), Quaderna (1960), Morte e vida severina (1965), A educação da pedra (1966), Museu de tudo (1975), A escola das facas (1980), Poesia crítica (1982), Agrestes (1985) e Andando em Sevilha (1990), o poeta revela uma preocupação com a realidade social, principalmente com a do Nordeste Brasileiro; reflete constantemente sobre a criação artística (Catar feijão – poema); aprimora a poética da linguagem objeto, definida como a linguagem que, pela própria construção, sugere de que assunto aborda (Tecendo a manhã – poema).Essa característica de sua obra constitui a principal referência do Movimento Concretista da década de 50 e 60 e de vários poetas contemporâneos, como Arnaldo Antunes.

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João Cabral é considerado pelos críticos “não apenas um dos maiores poetas sociais, mas um renovador consistente, instigante e original da dicção poética antes, durante e depois dele”. Ele e Graciliano Ramos possuem o mesmo grau ético e artístico, um na poesia, o outro na prosa, que objetiva com precisão uma prática poética comum: deram à paisagem nordestina, com suas diferenças sociais, uma das dimensões estéticas mais fortes, cruéis e indiscutíveis que já se conheceu.

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Algumas Fotos...

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Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:ele precisará sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que elee o lance a outro; de um outro galoque apanhe o grito de um galo antese o lance a outro; e de outros galosque com muitos outros galos se cruzemos fios de sol de seus gritos de galo,para que a manhã, desde uma teia tênue,se vá tecendo, entre todos os galos.E se encorpando em tela, entre todos,se erguendo tenda, onde entrem todos,se entretendendo para todos, no toldo(a manhã) que plana livre de armação.A manhã, toldo de um tecido tão aéreoque, tecido, se eleva por si: luz balão.

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O cão sem PlumasA cidade é passada pelo riocomo uma rua é passada por um cachorro;uma fruta por uma espada.O rio ora lembrava a língua mansa de um cãoora o ventre triste de um cão,ora o outro riode aquoso pano sujodos olhos de um cão.Aquele rio era como um cão sem plumas.Nada sabia da chuva azul, da fonte cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água.Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem.Sabia da lama como de uma mucosa.Devia saber dos povos.Sabia seguramente da mulher febril que habita as ostras.Aquele rio jamais se abre aos peixes,ao brilho, à inquietação de faca que há nos peixes.Jamais se abre em peixes.

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Uma Faz só LâminaAssim como uma balaenterrada no corpo, fazendo mais espessoum dos lados do morto;assim como uma balado chumbo mais pesado, no músculo de um homempesando-o mais de um lado;qual bala que tivesse um vivo mecanismo, bala que possuísseum coração ativo igual ao de um relógiosubmerso em algum corpo, ao de um relógio vivoe também revoltoso, relógio que tivesseo gume de uma faca e toda a impiedadede lâmina azulada;assim como uma faca que sem bolso ou bainhase transformasse em parte de vossa anatomia;qual uma faca íntimaou faca de uso interno, habitando num corpocomo o próprio esqueletode um homem que o tivesse,e sempre, doloroso de homem que se ferissecontra seus próprios ossos.

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Alguns ToureirosEu vi Manolo Gonzálese Pepe Luís, de Sevilha:precisão doce de flor, graciosa, porém precisa.Vi também Julio Aparício de Madrid, como Parrita:ciência fácil de flor, espontânea, porém estrita.Vi Miguel Báez, Litri, dos confins da Andaluzia,que cultiva uma outra flor:angustiosa de explosiva.E também Antonio Ordóñez que cultiva flor antiga:perfume de renda velha, de flor em livro dormida.Mas eu vi Manuel Rodríguez,Manolete, o mais deserto, o toureiro mais agudo,mais mineral e desperto o de nervos de madeira,de punhos secos de fibra o da figura de lenhalenha seca de caatinga o que melhor calculavao fluido aceiro da vida o que com mais precisãoroçava a morte em sua fímbria o que à tragédia deu número à vertigem, geometriadecimais à emoção e ao susto, peso e medida.

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Morte e Vida Severina

— O meu nome é Severino como não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos que é santo de romaria deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.Mas isso ainda diz pouco: Bula há muitos na freguesia por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias lá da serra da Costela limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos já finados, Zacarias vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida morremos de morte igual mesma morte severina: que é a morte de que se morrede velhice antes dos trinta de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte Severina ataca em qualquer idade e até gente não nascida).Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima a de tentar despertarterra sempre mais extinta a de querer arrancar algum roçado da cinza.

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Ao redor da vida do homemhá certas caixas de vidro, dentro das quais, como em jaula,se ouve palpitar um bicho, Se são jaulas não é certo;mais perto estão das gaiolas ao menos, pelo tamanhoe quadradiço de forma.Umas vezes, tais gaiolas vão penduradas nos muros;outras vezes, mais privadas, vão num bolso, num dos pulsos.Mas onde esteja: a gaiola será de pássaro ou pássara:é alada a palpitação, a saltação que ela guarda;e de pássaro cantor, não pássaro de plumagem:pois delas se emite um canto de uma tal continuidade Ao redor da vida do homem há certas caixas de vidro,dentro das quais, como em jaula, se ouve palpitar um bicho.Se são jaulas não é certo; mais perto estão das gaiolas ao menos, pelo tamanho e quadradiço de forma.

O Relógio.

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Difícil de ser funcionárioDifícil Ser FuncionárioDifícil ser funcionário nesta segunda-feira.Eu te telefono, Carlos pedindo conselho.Não é lá fora o dia que me deixa assim,Cinemas, avenidas e outros não-fazeres.É a dor das coisas, o luto desta mesa;É o regimento proibindo assovios, versos, flores.Eu nunca suspeitara tanta roupa preta;Tão pouco essas palavras —Funcionárias, sem amor.Carlos, há uma máquina que nunca escreve cartas;Há uma garrafa de tinta que nunca bebeu álcool.E os arquivos, Carlos . As caixas de papéis:Túmulos para todos os tamanhos de meu corpo.Não me sinto correto de gravata de cor,E na cabeça uma moça em forma de lembrançaNão encontro a palavra que diga a esses móveis.Se os pudesse encarar…Fazer seu nojo meu…

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A Educação pela Pedra

Uma educação pela pedra: por lições;Para aprender da pedra, frequentá-la;Captar sua voz inenfática, impessoal(pela de dicção ela começa as aulas).A lição de moral, sua resistência friaAo que flui e a fluir, a ser maleada;A de poética, sua carnadura concreta;A de economia, seu adensar-se compacta:Lições da pedra (de fora para dentro,Cartilha muda), para quem soletrá-la.Outra educação pela pedra: no Sertão(de dentro para fora, e pré-didática).No Sertão a pedra não sabe lecionar,E se lecionasse, não ensinaria nada;Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,Uma pedra de nascença, entranha a alma.

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Fábula de um Arquiteto

A arquitetura como construir portas,de abrir; ou como construir o aberto;construir, não como ilhar e prender,nem construir como fechar secretos;construir portas abertas, em portas;casas exclusivamente portas e tecto.O arquiteto: o que abre para o homem(tudo se sanearia desde casas abertas)portas por-onde, jamais portas-contra;por onde, livres: ar luz razão certa.Até que, tantos livres o amedrontando,renegou dar a viver no claro e aberto.Onde vãos de abrir, ele foi amurandoopacos de fechar; onde vidro, concreto;até fechar o homem: na capela útero,com confortos de matriz, outra vez feto.

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Num Monumento à Aspirina

Claramente: o mais prático dos sóis,o sol de um comprimido de aspirina:de emprego fácil, portátil e barato,compacto de sol na lápide sucinta.Principalmente porque, sol artificial que nada limita a funcionar de dia que a noite não expulsa, cada noite, sol imune às leis de meteorologia a toda hora em que se necessita dele levanta e vem (sempre num claro dia): acende, para secar a aniagem da alma quará-la, em linhos de um meio-dia.Convergem: a aparência e os efeitosda lente do comprimido de aspirina:o acabamento esmerado desse cristal,polido a esmeril e repolido a lima prefigura o clima onde ele faz viver e o cartesiano de tudo nesse clima.De outro lado, porque lente interna de uso interno, por detrás da retina não serve exclusivamente para o olhoa lente, ou o comprimido de aspirina:ela reenfoca, para o corpo inteiro,o borroso de ao redor, e o reafina.

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Agradecimentos:

Gabriela Padilha Brito Deyvid Rocha Brito.

Professora: Elizabeth Franke Faculdade Diadema – UNIESP 23/O3/2013