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V ENCONTRO DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E MÚSICA POPULAR T T e e r r r r i i t t ó ó r r i i o o s s e e f f r r o o n n t t e e i i r r a a s s d d a a m m ú ú s s i i c c a a m m e e d d i i á á t t i i c c a a 29 a 31 de agosto de 2013 – Centur, Belém-PA 1 JOÃO PETRA DE BARROS 1 : Dois tempos da carreira de um nome em dois tempos do rádio brasileiro – um exame nas páginas dos jornais A Noite e A Noite – Supplemento e na discografia do intérprete Nísio Teixeira 2 Departamento de Comunicação Social - UFMG Resumo: O objetivo do presente artigo é pesquisar de forma descritiva as informações sobre o intérprete João Petra de Barros (1914-1948) e verificar em que medida as notas e notícias coletadas em A Noite e A Noite – Supplemento (importantes veículos da primeira metade do século XX no Brasil), e na discografia do artista reiteram apontamentos estabelecidos em texto preliminar sobre a trajetória do intérprete (TEIXEIRA, 2011/2012), quais sejam: a sua vinculação a uma primeira geração do rádio brasileiro e a um circuito incipiente de indústria cultural que se insere na sociedade fluminense, que será reconfigurado pela ascensão do Estado Novo em 1937. O artista tenta a sorte em outras regiões, como o Rio Grande Sul e Pará. Mas ao retornar para a cena carioca em 1940, reencontra um circuito cultural mais desenvolvido e competitivo e busca reforçar o seu lugar na cena musical. Apesar do relativo êxito nessa empreitada, tem a carreira abruptamente interrompida por um acidente que o retira definitivamente da cena artística em 1946 e que vai leva-lo ao suicídio em 1948. Palavras-chave: João Petra de Barros, A Noite, A Noite – Supplemento, Era do Rádio. De muito longe, voltei Porque sem ti não viverei Sim, sou eu quem volta Porque não pude te esquecer Canta João Petra de Barros para a valsa Sou eu quem volta, de Olga Maria e Ribeiro Filho, 1943 João Petra de Barros nasceu em 23 de junho de 1914. Sua carreira teve início no famoso programa de Ademar Casé, na Rádio Philips, onde foi colega de trabalho de Noel Rosa, o qual entregou a João Petra a primeira gravação do artista, o samba Até amanhã (MÁXIMO E DIDIER, 1990), gravado em 19 de outubro de 1932, no álbum 10950 da Odeon, mas lançado em janeiro do ano seguinte, juntamente com outro samba, Quero falar com você, 1 Trabalho apresentado ao GT N.1: Memória e história midiática da música do V Musicom – Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular, realizado no período de 29 a 31 de agosto de 2013, no Centro Cultural de Belém – Centur, Belém/PA. 2 Professor adjunto do DCS e Coordenador do curso de Comunicação Social da UFMG. Este trabalho vem sendo produzido e desenvolvido com o apoio das Pró-reitorias de Extensão, Graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, às quais o autor agradece estimadamente, bem como a Fabrício Petra de Barros pela oportunidade da entrevista com a Sra. Elzy Petra de Barros.

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JOÃO PETRA DE BARROS1:

Dois tempos da carreira de um nome em dois tempos do rádio brasileiro – um exame nas páginas dos jornais A Noite e A Noite – Supplemento e na discografia do intérprete

Nísio Teixeira2 Departamento de Comunicação Social - UFMG

Resumo: O objetivo do presente artigo é pesquisar de forma descritiva as informações sobre o intérprete João Petra de Barros (1914-1948) e verificar em que medida as notas e notícias coletadas em A Noite e A Noite – Supplemento (importantes veículos da primeira metade do século XX no Brasil), e na discografia do artista reiteram apontamentos estabelecidos em texto preliminar sobre a trajetória do intérprete (TEIXEIRA, 2011/2012), quais sejam: a sua vinculação a uma primeira geração do rádio brasileiro e a um circuito incipiente de indústria cultural que se insere na sociedade fluminense, que será reconfigurado pela ascensão do Estado Novo em 1937. O artista tenta a sorte em outras regiões, como o Rio Grande Sul e Pará. Mas ao retornar para a cena carioca em 1940, reencontra um circuito cultural mais desenvolvido e competitivo e busca reforçar o seu lugar na cena musical. Apesar do relativo êxito nessa empreitada, tem a carreira abruptamente interrompida por um acidente que o retira definitivamente da cena artística em 1946 e que vai leva-lo ao suicídio em 1948.

Palavras-chave: João Petra de Barros, A Noite, A Noite – Supplemento, Era do Rádio.

De muito longe, voltei

Porque sem ti não viverei

Sim, sou eu quem volta

Porque não pude te esquecer

Canta João Petra de Barros

para a valsa Sou eu quem volta, de Olga Maria e Ribeiro Filho, 1943

João Petra de Barros nasceu em 23 de junho de 1914. Sua carreira teve início no

famoso programa de Ademar Casé, na Rádio Philips, onde foi colega de trabalho de Noel

Rosa, o qual entregou a João Petra a primeira gravação do artista, o samba Até amanhã

(MÁXIMO E DIDIER, 1990), gravado em 19 de outubro de 1932, no álbum 10950 da Odeon,

mas lançado em janeiro do ano seguinte, juntamente com outro samba, Quero falar com você,

1 Trabalho apresentado ao GT N.1: Memória e história midiática da música do V Musicom – Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular, realizado no período de 29 a 31 de agosto de 2013, no Centro Cultural de Belém – Centur, Belém/PA. 2 Professor adjunto do DCS e Coordenador do curso de Comunicação Social da UFMG. Este trabalho vem sendo produzido e desenvolvido com o apoio das Pró-reitorias de Extensão, Graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, às quais o autor agradece estimadamente, bem como a Fabrício Petra de Barros pela oportunidade da entrevista com a Sra. Elzy Petra de Barros.

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de Noel e Gradim. Morador do Grajaú, no Rio, Petra como alguns outros jovens da classe

média carioca, gradativamente foi se engajando no rádio, apesar da oposição inicial da família

(ELZY PETRA DE BARROS, 2011). Além dos parceiros e amigos Custódio Mesquita e

Noel Rosa, Petra gravou composições de Mário Lago, Orestes Barbosa, Valfrido Silva,

Braguinha (do qual gravou a primeira versão de As Pastorinhas, creditada então como Linda

Pequena), Ary Barroso, Ismael Silva, Peterpan e até mesmo uma das primeiras músicas de

Vinicius de Moraes: Dor de uma saudade.

Em ocasião anterior (TEIXEIRA, 2011/2012) apontamos como a trajetória de

Petra tem dois tempos que coincidem com outros dois tempos do rádio brasileiro na década de

1930. O primeiro vai de 1932 a 1937, quando o rádio brasileiro dá os primeiros passos rumo à

profissionalização a partir do decreto 21.111, de 1º de março de 1932, ainda no primeiro

governo de Getúlio Vargas, e regulamenta a propaganda comercial. O segundo parte de 1939,

em pleno Estado Novo (por isso remonta, de certa forma, a 1937) quando o Departamento de

Imprensa e Propaganda (DIP) é criado para consolidar o modelo de propaganda do governo

getulista, que no ano seguinte, 8 de março de 1940, consolida-se com o decreto-lei número

2073, que vai incorporar ao patrimônio da União “todo o acervo das sociedades A Noite, Rio

Editora e Rádio Nacional” (op. cit. in: SAROLDI e MOREIRA, 2005, p. 40).

Na ocasião, ressaltamos que, no primeiro momento, as estações eram poucas, os

cachês e equipamentos, modestos. Mas, gradativamente, a partir de 1936, cresce o número de

emissoras, cujas transmissões também aumentam de alcance. Além disso, nota-se o aumento

e/ou mesmo abertura de seções dedicadas ao rádio em revistas como Fon Fon e Carioca, o

que amplia o circuito industrial e comercial do rádio, atingindo níveis elevados de comércio,

intercâmbio internacional e programação, incluindo-se, entrementes, a criação do DIP. Assim,

o controle varguista era exercido sobre a indústria cultural ao mesmo tempo em que permitia

as ações comerciais e publicitárias necessárias para a injeção financeira na mesma indústria,

numa curiosa articulação entre ação econômica estatal e privada para a consolidação do setor.

O que percebemos é que João Petra de Barros, como personagem de seu tempo,

apresenta uma carreira que praticamente coincide com o período do varguismo no país e, em

especial, será particularmente sensível a esses dois momentos do rádio. Em um primeiro

momento, integra o núcleo artístico emergente que Frota (2003), por exemplo, chama de

“geração Noel Rosa”, os quais

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tiveram que aprender a lidar com instâncias de consagração e suas circunstâncias mais imediatas. Isto quer dizer que todos estes artistas – sem exceção, é bom que se diga – passaram por um tal processo informal de aprendizagem que preconizava um determinado uso, então, completamente novo, de seus dotes artísticos na busca do sucesso, algo que eles de início apenas conjeturavam e intuíam (FROTA, 2003, p.41).

Por essa época incipiente, o rádio, por exemplo, não tinha o hábito de fixar

contratos de exclusividade e, portanto, a mobilidade dos artistas entre instâncias de produção

cultural era frequente. Há registros de Petra nesse circuito desde 1932, nos tempos de suas

primeiras incursões no rádio, na indústria fonográfica no circuito de shows – a maioria ao

lado das irmãs Miranda, do humorista Jorge Murad e do importante compositor e amigo,

Custódio Mesquita, com apresentações memoráveis no Rio (Cine Glória) e em São Paulo

(Teatro Santana e, em 1935, na Rádio Record). Em indispensável estudo sobre Custódio

Mesquita, Barros (2003) fala sobre esse ponto.

Custódio, apesar de assíduo ao Programa Casé, comparecia frequentemente a outras emissoras do Rio, como ocorreu, por exemplo, em 10 de novembro de 1933 quando, no teatro João Caetano, ao lado de Noel, de Petra de Barros e Sílvio Caldas, dava alma ao recente “Programa Cristóvão de Alencar”, que dali transmitia diretamente, iniciando uma competição acirrada com o “Programa Casé”, concorrente no mesmo gênero de programação. Além disso, em São Paulo, apresentou-se em programações especiais nas rádios Educadora, Record, Cruzeiro do Sul e Cosmos, muitas vezes com as irmãs Carmen e Aurora Miranda e o comediante Jorge Murad, aproveitando a oportunidade de estarem em São Paulo exibindo-se, usualmente, no Cassino Antartica ou no Teatro Santana (BARROS, 2001, p.66-67).

Em um segundo momento, como citado, Petra tenta a sorte em emissoras fora da

então capital federal e, quando retorna,

encontra uma indústria cultural radiofônica mais complexa e profissional, impulsionada por maiores campanhas de marketing junto às publicações e, no campo do governo, pela ascensão da Rádio Nacional, em meio à expansão das demais – todas sob os olhos atentos do DIP e do Estado Novo. Em 1940, segundo a revista Carioca, após disputa com o intérprete Roberto Paiva, célebre cantor de uma das versões de Oh Minas Gerais!, Petra consegue um contrato de exclusividade junto a outros artistas na Victor (TEIXEIRA, 2011/2012, p.104).

Nosso objetivo, ao recorrer às páginas de A Noite, A Noite – Supplemento e à

discografia do intérprete é agregar novos elementos a tais apontamentos previamente

construídos, no sentido de confirmar essa proposta, ao mesmo tempo em que se obtêm novas

informações e fatos sobre o artista.

Para avançar nessa abordagem descritiva sobre detalhes da trajetória do intérprete

nestes dois momentos, optou-se por não só incluir novas revisões bibliográficas à pesquisa,

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mas nestas, em especial, um exame intenso de todas as informações publicadas sobre o

intérprete nos jornais A Noite e A Noite – Supplemento. A escolha deste veículo em especial

se justifica não só por ocasião de sua incorporação ao patrimônio da União e integração ao

circuito cultural do governo, mas, mesmo antes, como sublinham Saroldi e Moreira (2005),

Mais influente órgão da mídia impressa da capital da República, A Noite tirava várias edições por dia e se apresentava a seus leitores como o “vespertino da cidade”. O jornal tinha sido fundado em 1911 por Irineu Marinho e Joaquim Marques da Silva. Na década seguinte a empresa se transformaria em Sociedade Anônima, sendo o capital constituído de 7.500 ações ao portador no valor de 200 mil réis cada, totalizando um milhão e 500 mil contos de réis. Mas em 1925 Irineu Marinho renunciou ao cargo de diretor e se retirou como acionista – desse gesto nascendo O Globo. A Assembleia Geral extraordinária convocada para examinar a saída do diretor admitiu então a entrada na sociedade do jornalista Geraldo Rocha, “sub-rogado nos direitos e ações do resignatário Irineu Marinho”. Aclamado diretor-presidente em outra Assembleia, Geraldo Rocha iria gerir a fase de expansão de A

Noite – agora contando com as revistas A Noite Ilustrada, Carioca e Vamos Ler – e empenhar-se na inauguração da nova sede construída na praça Mauá, n. 7, em terreno adquirido ao Liceu Literário Português (SAROLDI e MOREIRA, 2005, p. 30)3.

Contribui para essa pesquisa também um exame das gravadoras do artista, o que

pôde ser feito através de uma compilação minuciosa de toda a discografia dos 105

fonogramas do intérprete4 cujo acesso foi possível graças ao acervo digital do Instituto

Moreira Salles e do site Collector’s5. Por fim, também inclui breves trechos de entrevista

realizada em março de 2011, com a Sra. Elzy Petra de Barros, cunhada do artista, viúva de

Mário Petra de Barros, irmão mais novo do intérprete, com quem João Petra de Barros dividiu

algumas canções.

Para a presente pesquisa foram consideradas todas as ocorrências encontradas na

base de dados da Biblioteca Nacional Digital6 na escolha dos periódicos A Noite e A Noite –

Supplemento pesquisados em dois períodos cada um: 1930-1939 e 1940-1949. O termo de

pesquisa utilizado foi a versão mais conhecida do nome completo do artista, “João Petra de

Barros”. Assim, acreditamos que ao examinar as páginas de A Noite e A Noite - Supplemento,

bem como a discografia de Petra, possamos agregar ainda mais novos elementos importantes

3 A sede da publicação foi inaugurada em 7 de setembro de 1929. 4 O verbete do músico no site do instituto Cravo Albim (ICCA) aponta um total de 48 discos, com 95 fonogramas ao todo, entre marchinhas, sambas-canções, foxtrotes e toadas interpretadas por João Petra de Barros. A pesquisa amplia esse número em 16 fonogramas, aumentando para 105, ao propor a inclusão de alguns duetos não creditados com Aurora Miranda – como a belíssima Se a lua contasse, de Custódio Mesquita 5 Respectivamente através dos sites www.ims.com.br e www.collectors.com.br. 6 Esta base de dados digital está disponível em http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx.

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que marcam não só a trajetória desse importante e pouco comentado artista, mas com ela

também todo um relevante período da história da indústria cultural no Brasil.

1º tempo (1932-1937): o início e a consagração no pioneirismo da rádio no Rio

Em 1932, ano em que João Petra de Barros grava seu primeiro disco, foram

encontradas quatro ocorrências sobre o artista no jornal A Noite que já evidenciam sua

participação no circuito incipiente das rádios brasileiras. Vale relembrar que o ano de 1932

também ficou marcado pelo decreto 21.111 do governo Vargas, que dobrava os índices de

publicidade na programação radiofônica: a publicidade, que poderia chegar a 10% do tempo

total do programa, podendo ter no máximo 30 segundos passa a ter 75 segundos nos dias úteis

– entre 7 e 16 horas (JAMBEIRO, 2004).

Assim, duas pequenas notas na seção “Sem fio” informavam o leitor acerca da

programação das rádios. Na edição do dia 26 de julho, Petra aparece como atração da Rádio

Sociedade do Rio de Janeiro após as 21h15, ao lado de Carmen Miranda e outros artistas. Na

edição do dia 17 de dezembro, a seção informa que Petra, juntamente com outros artistas

como Noel Rosa e Luiz Barbosa, vai integrar a transmissão da rádio Guanabara da Festa da

Arte, em homenagem a Sílvio Caldas e Ary Barroso. Um detalhe importante é que a festa

acontece nos salões do Villa Isabel Football Club e as outras duas ocorrências do artista no

ano apontam participação em locais semelhantes: uma “Noite do Violão” no Tijuca Tennis

Club a partir das 21 horas do domingo, 25 de setembro e dois meses depois, no Botafogo

Football Club.

Em 1933, o número de ocorrências sobe para 18. Quatro delas, no entanto, se

referem à simples reprodução da primeira notícia e/ou nota em dias distintos, como

“Preparando a grande folia”, na qual Petra e todo o cast do programa de Ademar Casé na

rádio Phillips, aliás também sublinhado na programação do dia 12 de janeiro, anuncia em

notícias publicadas naquele mês nos dias 13; 15; 18 e 30 as batalhas de confetti para o

Carnaval do mês seguinte nas ruas de São Januário e Santa Luzia, respectivamente (dias 11 e

12 de fevereiro, sendo a deste dia para a “petizada” de Vila Isabel). Na verdade, a nota é

publicada em meio às outras atrações e preparativos anunciados para o Carnaval, incluindo

letras de músicas e uma curiosa entrevista com o obscuro intérprete Efigenio Roussoulieres,

que comenta o momento “civilizado” do samba. Em janeiro, Petra também aparece ao lado de

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Gastão Formenti, Barbosa Júnior e outros como atração de uma festa em prol da maternidade

São Christóvão. Nota do dia 25 de janeiro aborda festa promovida por Petra e Nonô (o

pianista Romualdo Peixoto) no salão nobre do Lyceu de Artes e Officios, às 20 horas, para a

qual são anunciadas as presenças de Francisco Alves, Aracy Cortes, Carolina Cardoso de

Menezes, Custódio Mesquita, Madelou de Assis, Almirante e o Bando de Tangarás, entre

outros. Em 20 de abril, o jornal anuncia para o sábado, 22, no Studio Eros Volusia, a comédia

“Rumo à Turquia”, de Jorge Murad seguida de apresentação musical do próprio com Petra,

Barbosa Júnior, Luiz Barbosa, Nonô, Marília Batista, entre outros. No mesmo sábado, o

jornal A Noite anuncia seu grito de Carnaval, ciceroneado pelo speaker Bento Gonçalves, com

a presença de Petra, Joaquim Medina, Barbosa Júnior, Sílvio Caldas, Patrício Teixeira, entre

outros. Emerge aqui uma constatação interessante ao perceber a presença de alguns artistas

nas duas atrações de sábado, o que evidencia uma intensidade e sobreposição de agendas: em

algumas ocasiões, eram mais de uma apresentação por noite.

Em meio a notas de horas dançantes e cocktails sobre o Tijuca Tennis Club,

Fluminense, a seção Noite Mundana do dia 11 de maio inclui uma outra festa no Villa Isabel

F.C. em função dos 21 anos da casa e em homenagem ao radialista Christóvão de Alencar

(também jornalista de O Mundo Sportivo, publicação que instituíra, no ano anterior, o

primeiro concurso de sambas no Rio de Janeiro) com a participação de Petra, Sônia Barreto,

Custódio Mesquita, Madelou de Assis, Antônio Moreira da Silva, Patrício Teixeira, Luiz

Barbosa “e seu chapéu de palha”, o trio dos J., “composto por J. Pereira Filho, J. Medina, J.

Penteado”, entre outros. Igualmente à anterior, a festa foi irradiada e, embora não haja a

menção explícita a qual emissora, infere-se que seja a Guanabara, pela nota anterior e pela

homenagem ao radialista. Na semana seguinte, a mesma seção destaca outra festa na qual

Petra dividirá a atração principal com a argentina Lely Morel:

É fora do commum o interesse que o grande baile de hoje, nos salões do Automóvel Club, vem despertando em nossa alta sociedade. Comparecerá um grande e seleto grupo de doutorandos das escolas de Medicina, Direito, Engenharia, Militar e Naval, que, para tal fim, receberam convites especiaes. As casas La Royale, Castro, Araújo e Spieler offereceram lindos prêmios para quem melhor danse o samba e o tango. Tocarão duas orquestras típicas. Na primeira cantará dois sambas inéditos de sua autoria, João Petra de Barros e, na argentina, Lely Morel. Os trajes são: smoking, vestido de baile e primeiro uniforme para os militares (A NOITE, 20 de maio de 1933)7.

7 Nem sempre foi possível identificar o número da página da edição consultada. Optou-se ainda pela manutenção da grafia original das palavras quando citadas diretamente.

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A presença de Petra e artistas contemporâneos em eventos beneficentes e/ou

organizados pelo veículo, conforme visto até aqui, irá se repetir adiante, como neste, realizado

para construção de uma casa para os “pequenos vendedores de jornal”. O promotor foi Saint-

Clair Senna, diretor do Grajahú Tennis Club. A matéria destaca foto de Carmen Miranda:

Está despertando o mais vivo interesse em nossos círculos sociais a encantadora festa que o Grajahú Tennis Club realizará no dia 23 do corrente, domingo, em favor da “Casa do Garoto”, destinada a amparar os pequenos vendedores de jornais. Emprestando sua franca solidariedade à iniciativa da NOITE, o Grajahú Tennis Club organizou um programa verdadeiramente magnífico para a festa que oferecerá à “Casa do Garoto”. O Dr. Saint-Clair Senna, diretor social do Grajahú, está empenhando todos os esforços no sentido de assegurar o mais amplo successo à alludida festa, que será dividida em duas partes, uma artística e uma dansante. A primeira está a cargo do tenor Angelo de Freitas e, no seu desempenho tomarão partem entre outros, os festejados artistas: Lucilla Frazão, Anita Ribas, Madelou de Assis, Carmen Miranda, Lely Morel, Ogarita del Amico, Aurora Miranda, Lamartine Babo, Jorge Murad, Jorge Fernandes, Augusto Vasseur, Edgard Velloso, Aniz Murad, Irmãos Tapajós, José Maria de Abreu, Castro Barbosa, Waldo Abreu, Mário Cabral, Walfredo Machado, João Petra de Barros, Pereira Filha, Medina, Custódio Mesquita, Tito Souza, Portella, Muraro e o professor Fernando de Araújo. Terminada a parte artística, serão iniciadas as dansas ao som de excelente jazz-band, que executará as mais interessantes novidades musicais. A festa começará às 20 horas em ponto. Constituirá, certamente, um brilhante acontecimento social essa festa que o Grajahú Tennis Club oferecerá à “Casa do Garoto” (A NOITE, 14 de julho de 1933).

A maioria das matérias é a reaproveitada seja em outro clichê (A Noite chegava a

ter três edições diárias) ou guardada para ser republicada em outras ocasiões. Nessas

ocorrências, poucas vezes se verificou alguma mudança substancial nas notas. No caso

específico, entretanto, a matéria foi reaproveitada para a véspera da atração, 22 de julho, com

duas alterações: incluiu entre os participantes o casal de dançarinos Sylvio e Yola Regis, com

foto em destaque, e também acrescenta o parágrafo: “a directoria, por nosso intermédio, avisa

que terão direito à entrada os sócios e as respectivas famílias, de acordo com os estatutos,

sendo necessário o ingresso para parentes e amigos, o qual pode ser já adquirido na sede do

club. Não será permitida a entrada de menores de 13 anos” (A NOITE, 22 de julho de 1933).

A seguir, as três últimas notas detectadas no ano reforçam o aspecto de

circularidade entre emissoras distintas já constatado no início deste levantamento, apontando

que a ideia de exclusividade de artistas ainda estava em estágio embrionário. Petra vai passar

novamente pela programação da rádio Educadora do Brasil (28 de agosto, após 21h), pela

rádio Sociedade do RJ (2 de setembro, 21h15) e, em 14 de outubro será uma das atrações da

festa da Mayrink Veiga no dia seguinte, às 21 horas.

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O espetáculo que a Mayrink Veiga preparou para amanhã, no estádio Brasil, está na ordem do dia. (...) Veremos reunidos nada menos de que as nossas mais rutillas estrelas de nosso broadcasting, como Carmen Miranda, Francisco Alves, Arnaldo Pescuma, Jorge Fernandes, Aurora Miranda, Gastão Formenti, Madelou Assis, Mário Reis, Patrício Teixeira, Custódio Mesquita, João Petra de Barros e Lamartine Babo. (...) A festa da Mayrink Veiga terá início às 21 horas, no Estadio Brasil, recinto da Feira de Amostras.Três mil réis a poltrona e, com o atractivo de uma grande distribuição de caramelos (A NOITE. 14 de outubro de 1933, p.4).

Em 1934 foram detectadas 13 ocorrências, 11 delas no mês de janeiro. A primeira

é uma batalha de confetti semelhante à do ano anterior, programada para a mesma rua Santa

Luzia, em Vila Isabel, nos dias 3 e 4 de fevereiro, só que desta vez em homenagem à rádio

Mayrink Veiga, sendo a do dia 4 dedicada ao público infantil.

Foram convidados a fazer parte da commissão julgadora os intérpretes de nosso folk-lore Lamartine Babo, João Petra de Barros, Luiz Barbosa, Mário Reis, Murillo Caldas, Noel Rosa, Waldo Abreu e o tenente Sylvestre Travassos. Serão armados três coretos, sendo que dois se destinam às bandas de músicas militares e o outro, que vae ser todo ornamentado de flores naturaes, às commissões promotora e julgadora (A NOITE, 3 de janeiro de 1934).

Uma semana depois, Petra, Madalou de Assis, Moreira da Silva são alguns dos

“ases de nosso broadcasting” que interpretarão os sambas concorrentes de concurso

promovido pelo jornal O Malho a partir das 21 horas no Teatro João Caetano, “a fim de que o

público, ouvindo-as possa em seguida votar nas que mais lhes agradaram”, ideia descrita no

texto como um “interessante systema de classificação” (A NOITE, 10 de janeiro de 1934).

No dia 25 de janeiro, a publicação estampa a manchete “Momo vem ahi” e

distribui notas de visitas aos barracões (Fenianos, Democráticos, Bola Preta) e batalhas de

confetti, entre outras. Destaque para a primeira – e única – ocorrência de um trecho em aspas

para João Petra de Barros: seu comentário sobre a excelência do Studio Nicolas (situado à

praça Marechal Floriano Peixoto, 52, 2º andar).

Um dos cantores de rádio que pelo seu mérito artístico está em condições de julgar o valor das músicas do Carnaval neste anno é, sem dúvida, João Petra de Barros, o intérprete sentimental das canções de Hekel Tavares, Custódio Mesquita e muitos outros autores. O artista patrício acha que as composições do Carnaval são em maioria populares de accordo, portanto com a festa que o carioca mais enthusiasmo tem, dahi não especificar qual a melhor e qual a que melhor sucesso obterá nos quatro dias de folia. Sobre os bailes nos salões do Studio Nicolas, Petra de Barros assim se manifestou: “o conceito que gosa Nicolas na elite carioca é o bastante para que bailes do “movimento artístico brasileiro” consigam um dos maiores êxitos do Carnaval (...) (A NOITE, 25 de janeiro).

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Na semana de 26 a 31 de janeiro de 1934, uma série de pequenas notas mostram

Petra de Barros como atração junto aos locais de exibição de filmes. Primeiro, no cine Glória:

dia 26, canta “canções carnavalescas” ao lado de Carmen Miranda e outros, às 16 e 21 horas.

No dia seguinte (antes e após, presume-se) da exibição do filme She had to say yes (que a

nota traduz como Amor por atacado, com Loretta Young e Lyle Talbot – produção lançada

em julho de 1933, segundo o site do IMDB8) Petra sobe ao palco com as irmãs Miranda,

Custódio Mesquita, Jorge Murad e a orquestra de Napoleão Tavares. Na segunda-feira, 29 de

janeiro, repete no Glória o filme de sábado e, na atração musical, mantém-se a dupla João

Petra de Barros e Carmen Miranda, agora acompanhados pelo Bando da Lua na interpretação

de canções carnavalescas. Esta atração se repete no dia seguinte, destacando o horário: 16 e

21 horas. O mesmo programa acontecerá na terça e quarta seguintes.

Completa o levantamento de 1934 duas notas em torno da atuação de Petra na

programação radiofônica – e ambas na Mayrink: a 31 de maio, aparece na programação das

19 às 22 horas, ao lado de Carmen Miranda, Patrício Teixeira, Elisa Coelho de Andrade e, por

César Ladeira, a crônica da cidade. Também é atração na programação de 5 de julho,

novamente ao lado de Carmen e, ainda, Barbosa Júnior, Arnaldo Péscuma, além das “crônicas

e desenhos animados”.

Em 16 de junho, integra os artistas de uma festa de arte dirigida por Custódio

Mesquita no Club Central a partir das 21 horas do domingo seguinte. Escalados para a ocasião

também constam Marília Batista, Sylvia Mello, Paulo Magalhães, Lu Marival, Sylvio Caldas,

Luiz Barbosa, Jorge Murad e Gastão Bueno Lobo. A orquestra foi creditada como sendo a da

PRA9, ou seja, Mayrink Veiga.

O ano de 1935 foi o que mais registrou ocorrências: 29. A primeira, datada de 26

de janeiro, confirma Petra na rádio Mayrink Veiga, no programa de estúdio de César Ladeira,

speaker e também diretor artístico da emissora, desde setembro de 1933. Será atração ao lado

de Patrício Teixeira, Cyrene Fagundes, Fernando de Castro Barbosa, Conjunto Tupy, as

esquetes de Barbosa Júnior e as crônicas do próprio Ladeira. Vinte notas semelhantes e

posteriores de programas publicadas entre abril e dezembro (este mês, aliás, teve publicados

dois anúncios da programação da PRA9 – em um deles, já se incluía o bordão de César

Ladeira para Petra – “a voz de 18 quilates”) reapresentam o artista ao lado de outras atrações

8 www.imdb.com. Acesso em 3 de junho de 2013.

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da emissora, como Carmen Miranda, Duo Valloni e Grassi, Irmãos Tapajós, F. Alvarez, Cyro

Monteiro, Heloísa Helena, Marion Grant, Elisa Coelho de Andrade, Maria Amorim, Mário

Reis, Joaquim Pimentel, Judith de Almeida, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Jack Fay,

Amália Dias, Áurea Beatriz, entre outros.

De especial atenção é a notícia “Dois annos de actividade radiophônica”,

publicada em 29 de agosto, com uma foto de Carmen Miranda, que destaca uma programação

especial dos dois anos da “nova fase” da Mayrink, capitaneada por Ladeira, que acontecerá no

domingo seguinte, 1º de setembro, das 16 às 22 horas. A atração será transmitida e foi

organizada por Ladeira em blocos de meia hora, dedicados a cada uma das nove emissoras do

Rio, a órgãos de classe, como a Confederação Brasileira de Radiodifusão, Associação

Brasileira de Imprensa (ABI) e ao próprio jornal A Noite. Note-se que Petra vai dividir o

principal horário do programa, a penúltima meia hora de transmissão, com o “cartaz” da foto,

Carmen Miranda, dobradinha a qual, aliás, como citado anteriormente, deriva pelo menos

desde os tempos da rádio Educadora, em 1932. Essa sessão, precisamente, será a dedicada ao

jornal A Noite. Note-se ainda a presença do irmão Mário Petra de Barros entre as atrações.

Além dos anúncios da rádio Mayrink Veiga citados anteriormente, percebe-se a

presença do nome do intérprete, dessa vez sob forma de pequenas chamadas para a edição da

revista Carioca, uma publicação lançada pelo próprio grupo de A Noite naquele ano9.

Aparecem várias chamadas para a primeira edição de novembro daquele ano, mas uma delas

remete a uma entrevista com o intérprete. Por fim, ainda em abril, duas notas seguidas

publicadas nos dias 9 e 10 convidavam os leitores a participarem de uma hora dançante no

Tijuca Tennis Club com Petra, Dircinha Batista, Barbosa Júnior e outros a partir das 21 horas

do sábado seguinte, 13 de abril.

O ano de 1936 trouxe nove ocorrências as quais, basicamente, seguem reforçando

aspectos observados em 1935. Com o detalhe que novos nomes aparecem no casting da

Mayrink ao lado de Petra: Irmãs Pagãs, Muraro, Augusto Calheiros, como na primeira nota de

ocorrência, publicada em 7 de fevereiro de 1936 e também em outras (27/4, 12/5,15/5,4/7 –

um detalhe interessante é notar que a seção se chama Rádio, enquanto há outra específica para

9A Revista tem um tom de almanaque, mas abre mais espaço para o cinema e a rádio brasileira. Aí duas seções chamam a

atenção: O que pensam os ouvintes, em que a revista premia com dinheiro as cinco melhores cartas, além de incluir menções honrosas. A outra seção a se destacar é Por trás do dial, que reúne pequenas notas sobre o mundo do rádio e música brasileiros.

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Música que aborda a cena erudita). Novamente, outro anúncio da revista Carioca sobre a

edição de abril, que tratará das “manias” dos artistas, inclui mais uma vez Petra entre as

fontes. O mesmo também se observa com relação às festas que acontecem no Fluminense

F.C. no sábado, 13 de junho, quando Petra se apresenta ao lado de Elisinha Coelho, Barbosa

Júnior, Luiz Barbosa, Dircinha Batista e “o menino Alberto Fontoura”. Outra nota publicada

na segunda-feira, 29 de junho, aborda a “Noite do Samba” ocorrida no final de semana

anterior em Petrópolis e que reuniu Petra, Nonô, Luiz Barbosa, Jorge Muraro, Djalma

Ferreira, Irmãos Tapajós e Sylvinha Mello. Por fim, nota publicada na sexta, 02/10, anuncia a

“Festa da Primavera” no Tijuca Tennis Club para o domingo, com Petra, Mary Klee, Jack

Fay, Pierre Michailowsky e Vera Grabinska.

Confirmam-se até aqui alguns aspectos: a circularidade e não exclusividade dos

artistas entre as rádios, especialmente em sua fase mais inicial, a forma como as mesmas

rádios incorporavam à programação musical a agenda cultural de segmentos mais abastados

da sociedade, o que se percebe pelos clubes e locais citados (e em alguns casos o acesso pela

carteira), a efetiva presença de Petra ao conjunto de artistas que integram a chamada geração

Noel Rosa, incluindo sua notória presença ao lado das irmãs Miranda nos shows e, em

especial, como veremos, de Aurora Miranda nas gravações. Afinal, como se pode depreender

da TABELA I, entre outubro de 1933 e janeiro de 1937, que marca a primeira fase do cantor,

a principal gravadora de Petra é a Odeon, onde grava mais da metade de sua produção (62

fonogramas) – salvo por um período de dois meses na Victor (agosto e setembro de 1933,

quando grava seis fonogramas).

TABELA I – João Petra de Barros: períodos e fonogramas produzidos, por gravadora

* O fonograma “A Felicidade não sorri duas vezes” é creditado como da Columbia. ** A partir de novembro de 1942 os fonogramas passam a ser creditados como RCA-Victor (a fusão ocorrera em 1929).

FONTE: tabela produzida a partir de pesquisa do autor.

Gravadora Início Fim Período N. fonogramas Odeon (1ª fase) janeiro 1933 julho 1933 6 meses 12 Victor (1ª fase) agosto 1933 setembro 1933 2 meses 06 Odeon (2ª fase) setembro 1933 janeiro 1937 3 anos e 4 meses 15 (1933); 21

(1934*); 11 (1935); 2 (1936) e

2 (1937) Victor (2ª fase) janeiro 1940 fevereiro 1944 4 anos e 1 mês 6 (1940); 12

(1941); 10 (1942**); 2

(1943); 2 (1944) Continental fevereiro 1945 setembro 1946 1 ano e 7 meses 2 (1945); 2 (1946)

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TABELA II – João Petra de Barros: gravadoras, períodos e fonogramas produzidos -

consolidado

Gravadora Período Total Fonogramas Odeon 3 anos e 10 meses 62 Victor 4 anos e 3 meses 38

Continental 1 ano e 7 meses 04 Columbia - 01* TOTAL 9 ANOS E 8

MESES 105

* O fonograma “A Felicidade não sorri duas vezes” é creditado como da Columbia. FONTE: tabela produzida a partir de pesquisa do autor.

Incluem-se nesta primeira fase todos os principais duetos de sua carreira: Noel Rosa,

Joaquim Medina, Luís Barbosa, com o irmão Mário Petra e, principalmente, com Aurora

Miranda – círculo de nomes que, aliás, se confirma nas matérias e notas pesquisadas até aqui,

bem como no depoimento da Sra. Elzy. “Ele (João), era amigo íntimo da Carmen e da Aurora

Miranda. As duas” (ELZY PETRA DE BARROS, 2011). Apesar disso, no consolidado

(TABELA II), a gravadora onde esteve mais tempo foi a Victor, seguido, por fim, da

Continental.

Também percebe-se claramente, na TABELA I, como não há registro de nenhuma

gravação sua como intérprete entre 1937 e 1940. Neste período, aliás, é curioso perceber

também como não foram detectadas de Petra em A Noite: a busca não recuperou qualquer

ocorrência nos anos de 1937 a 1939, o que, de certa forma, confirma o hiato da carreira de

Petra no então Distrito Federal. Mas, curiosamente, a pesquisa também não recuperou nada

nos anos seguintes de 1941 a 1945, quando a carreira do artista havia, afinal, reencontrado um

caminho no Rio. A única exceção aqui é o ano de 1940, o qual marca esse retorno do artista à

capital – ainda assim, em apenas uma ocorrência: notícia publicada na véspera do famoso

concerto promovido pelo DIP no estádio do América. Com preços variando entre mil réis a

geral, três mil réis a arquibancada, cadeiras simples, cinco mil réis e cadeiras no gramado a

dez mil réis, o show reunirá diversos artistas brasileiros a partir das 21 horas no sábado, 27 de

janeiro daquele ano. Matéria fala dos artistas que participarão do encontro, incluindo o de

Petra entre outros nomes como Roberto Paiva, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Aracy de

Almeida, Orlando Silva e Patrício Teixeira.

Como as ocorrências restantes de A Noite se referem mais especificamente ao acidente

do artista e os desdobramentos daí decorrentes (anos 1946 a 1948), preferimos pausar o

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exame deste veículo e, seguindo a ordem cronológica de abordagem, recorrer às ocorrências

de A Noite – Supplemento. Isso porque, curiosa e felizmente, este caderno de A Noite vai

cobrir boa parte destes anos que não foram abordados pela própria A Noite, permitindo assim

reunir alguma informação sobre o artista no período. Entretanto, se somadas, todas as

ocorrências chegam a apenas 12 e acontecem entre 1937 e 1948 – incluindo-se aí aquelas

referentes ao acidente do artista, que não serão detalhadas aqui.

O primeiro número de A Noite – Supplemento saiu em 1930 e, ao longo dos anos,

apesar de ter dobrado o número de páginas, de 15 para 30, essencialmente a proposta se

manteve nos anos 1940 – um suplemento que pudesse reunir fotos das agências existentes

pelo mundo e as produzidas pelo próprio jornal. Também abriga contos, crônicas, astrologia,

moda e, a partir da segunda metade dos anos 1930, começa a aparecer seções dedicadas ao

rádio, como Ondas Sonoras e Gente de Rádio, igualmente recheadas de fotos dos artistas –

uma perspectiva editorial que se aproximava muito da revista Carioca, do mesmo grupo.

Afinal, a ideia do Supplemento parece ser essa mesmo, uma versão magazine de A Noite, com

maior ênfase na imagem e em uma diagramação mais espaçada – e, por essa razão, percebe-

se, num primeiro olhar, muitos pontos comuns de sua proposta editorial com a de Carioca.

2º tempo (1937-1946): ida ao RS e disputado retorno no profissionalismo da rádio no Rio

A primeira informação sobre Petra no suplemento data de 6 de abril de 1937. Nota na

seção Ondas Sonoras informa que Petra assinou contrato de seis meses com a rádio Difusora

de Porto Alegre. A emissora publica em 15 de fevereiro de 1938 anúncio de página inteira no

caderno, com fotos sobre o estúdio, instalações, auditório e casting, no qual inclui João Petra

de Barros: ou seja, o cantor prolongou sua estada no sul. Como veremos nas próximas

ocorrências, que datam de 1940, o artista, uma vez de volta ao Rio, parece finalmente

conseguir contrato com a rádio Educadora (nota de 26 de novembro de 1940), mas encontra

um novo cenário, como diz coluna publicada na véspera de Natal daquele ano – e que

confirma impressão apontada em nosso texto anterior sobre o artista (TEIXEIRA,2011/2012)

e parte central da própria argumentação que apresentamos aqui.

João Petra de Barros teve em 1934 o seu período de glória radiofônica, atuando com renome absoluto e grande cartaz. Mas a “voz de 18 quilates”, que é modesto e pouco ambicioso, empreendeu pouco depois uma viagem ao sul, onde se demorou por cinco anos, esquecido do seu lugar de destaque no rádio carioca. Tornou-se diretor

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artístico no sul, enquanto artistas de seu gênero eram elevados à categoria de “astros de primeira grandeza” do “broadcasting” carioca. E quando João Petra voltou encontrou certas modificações. Ele continuava o mesmo, mas o cenário artístico era outro. E o artista precisou se adaptar ao novo, quase iniciar uma nova carreira. A rádio Educadora contratou-o. E a Victor favoreceu-o para gravações. João Petra de Barros, que obteve com um único disco, aquele saudoso “Até amanhã”, o seu maior sucesso, gravou este ano várias músicas para o Carnaval. “Mal agradecida”, samba de Ataulpho Alves e Jardel Noronha; “Ai, ai, ai”, samba de Milton de Oliveira e Haroldo Lobo, “Já chegou a hora”, de Russo e Walfrido Silva; “Segura o bode”, de J. Portella. Esperemos o sucesso dessas músicas que poderão concretizar o “cartaz” de João Petra de Barros. Mas o artista pensa em embarcar para o Pará, muito em breve. Irá deixar que lhe fuja de novo a “chance”? (A NOITE – SUPPLEMENTO, 24 de dezembro de 1940, p. 12 e 13).

A próxima nota irá reforçar a divulgação do artista, ao comentar sobre outra gravação,

“a linda valsa ‘Rosa de Veludo”, de Mário Castellar (aliás, jornalista do grupo A Noite) e José

Maria de Abreu, gravada na Victor (em 23 de setembro de 1941) – o que confirma a

gradativa, porém firme presença do artista no cenário carioca. Já a viagem ao Pará aconteceu

a convite de Custódio Mesquita e sobre essa experiência há poucas informações.

Em 25 de agosto de 1942, o jornal publica foto do cantor e traz na legenda a

informação de que Petra está de volta à Mayrink Veiga. E, em matéria publicada no ano

seguinte, a 23 de fevereiro, novamente com foto, Petra aparece entre outros artistas em

matéria chamada “A favor das democracias”, na seção Gente de Rádio da publicação, que

enumera marchinhas produzidas no contexto da entrada do Brasil na II Guerra Mundial10.

Petra participa da matéria por causa da música “Quem é o tal?”, de Ubirajara Nesdan e

Afonso Teixeira, na qual se ridiculariza a figura de Hitler e se enaltece a de Getúlio Vargas.

Em 25 de maio, nota da mesma seção anuncia o 29º aniversário de Petra. Mas, de toda forma,

encontra-se aí, nesta pequena nota, a última ocorrência do artista em A Noite – Supplemento.

Pois as ocorrências seguintes também farão apenas referências ao acidente sofrido pelo artista

e seus desdobramentos.

Assim, mesmo aqui e com o esforço para recuperar o seu lugar ao sol, o que se

percebe é que, ainda que sem a mesma frequência ou estrelato de outros nomes, o cantor

conseguia estabelecer um posto entre a constelação do broadcasting carioca – como sugere,

aliás, de forma praticamente explícita este interessante anúncio publicado pela Victor em

10 Em artigo produzido para o IV Musicom, falamos sobre os especiais do programa Conte uma Canção, desenvolvido pela UFMG, que incluiu, precisamente, uma série de pílulas radiofônicas envolvendo as marchinhas compostas em função da guerra. Para saber mais e ouvir os programas, ver TEIXEIRA, 2012.

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janeiro de 1942, no qual se percebe a foto de Petra entre as estrelas da época – ele é o

segundo, em sentido anti-horário (CARIOCA, 330, 1942).

Coda

Assim, tanto em A Noite, como em A Noite - Supplemento, as ocorrências sobre

Petra só vão ser retomadas três anos depois, por ocasião de seu lamentável acidente ocorrido

em 22 de julho de 1946 e noticiado no dia seguinte pelo jornal A Noite, que aqui

reapresentamos de modo mais sintético, uma vez que todo o material reunido exigiria um

espaço ainda maior para sua exposição e análise:

No dia 22 de julho, às 18h30, enquanto viajava no estribo de um bonde pela rua da Assembléia com destino à Praça 15, João Petra de Barros é vitimado por uma caminhonete da Escola de Aeronáutica, dirigido por Trifino Francisco de Almeida Filho. O veículo se choca com o bonde, fraturando o terço médio da perna direita de Petra de Barros. O cantor recebe atendimento no Hospital de Pronto Socorro, mas tem a sua perna amputada. Petra retira-se da cena artística, apesar do apoio de amigos, como, por exemplo, Carmen Miranda, que o teria convidado para se tratar nos Estados Unidos. Inconsolável, o cantor tenta se matar por duas vezes, até conseguir alcançar o suicídio em 11 de janeiro de 1948. Três dias depois, a coluna Rádio, de Alziro Zarur, publicada no jornal A Noite, assim também se despede de Petra: “Morreu o cantor da voz de 18 quilates, como lhes chamou César Ladeira, nos tempos áureos da PRA-9. Depois de rudes sofrimentos, que o amigo leitor está longe de imaginar, João Petra de Barros cerrou para sempre aqueles olhos bons, que eram bem o fiel espelho de sua alma de escol” (TEIXEIRA, 2012a, p. 105)11.

O abrupto desaparecimento do cantor encerra uma carreira que estava

devidamente reposicionada no cenário competitivo da rádio carioca, com gravações pela

11 Essa síntese do acontecimento foi reproduzida de texto anterior, construído após uma semana de pesquisa no acervo do jornal A Noite existente na Biblioteca Pública estadual de Minas Gerais, graças a uma concatenação anterior de datas, para conseguir chegar e localizar os exemplares que noticiaram o acidente e morte do intérprete nos dias 23 e 31/7 e 24/10 de 1946 e 16/1/1948 – pesquisa, aliás, facilitada hoje em função da varredura digital.

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Continental (cujo diretor artístico era Braguinha) e contrato com a rádio Globo. Tendo como

pano de fundo o cenário do varguismo, o exame das páginas de A Noite e A Noite –

Supplemento e da discografia do intérprete mostram, através da trajetória de sua carreira no

circuito de shows, gravações e rádios, os primeiros movimentos e agendamentos da sociedade

carioca com o ritmo que vinha “do morro”, bem como os primeiros passos do rádio brasileiro

até sua profissionalização e consagração nos anos 1940. Neste aspecto, cabe frisar, Petra

também desempenhou papel importante ao viajar de norte a sul do país para trabalhar na

implantação de outras rádios e ainda batalhar novamente no Rio de Janeiro por seu lugar

como intérprete de uma das vozes mais importantes – e talvez mais esquecidas – do país.

Referências

BARROS, Orlando. Custódio Mesquita – um compositor romântico no tempo de Vargas (1930-1945). Rio de Janeiro: Funarte, EdUERJ, 2001. DICIONÁRIO do Instituto Cravo Albim. Disponível em http://institutocravoalbin.com.br/publicacoes-do-icca/dicionario-cravo-albin. FROTA, Wander Nunes. Auxílio luxuoso – samba símbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural. São Paulo: Annablume, 2003. JAMBEIRO, Othon (et. al.). Tempos de Vargas – o rádio e o controle da informação. Salvador, EdUFBA, 2004. JOÃO PETRA DE BARROS – Discografia completa em 78 RPM. JORNAL A Noite. Edições diversas entre 26/07/1932 a 16/01/1948. JORNAL A Noite – Supplemento. Edições diversas entre 06/04/1937 a 20/01/1948. MÁXIMO, João e DIDIER, Carlos. Noel Rosa – uma biografia. Brasília: UnB, 1990. REVISTA Carioca. n. 171, 198, 216, 310, 330. SAROLDI, Luiz Carlos e MOREIRA, Sônia Virgínia. Rádio Nacional – o Brasil em sintonia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. TEIXEIRA, Nísio. João Petra de Barros (1914-1948) - A doce voz esquecida do rádio brasileiro. Rádio em Revista (UFMG), v. 8, p. 101-105, 2011/2012. (Uma versão desse texto está disponível no site Brasilianas.org no link http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/joao-

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petra-de-barros-1914-1948. Também pode ser acessada através do site Overmundo no link http://www.overmundo.com.br/overblog/joao-petra-de-barros-doce-voz-esquecida-do-radio). TEIXEIRA, Nísio. Conte Uma Canção – Especiais: Roberto Paiva, Ester de Abreu e Segunda Guerra Mundial. IV Encontro de pesquisadores em Comunicação e Música Popular. Linguagens e identidades da musica contemporânea. Universidade de São Paulo – ECA/USP. 15 a 17 de agosto de 2012.