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O acúmulo de lixo doméstico, hospitalar, eletrônico e resíduos industriais é um dos grandes desafios ambientais da atualidade. Reciclar, apenas, não resolve o problema. Repensar os hábitos de consumo, Reduzir os desperdícios na vida cotidiana e Reaproveitar ao máximo as “sobras”, os objetos usados, os “rejeitos” dos processos industriais e até a água do banho somam-se agora na máxima dos quatro Rs. Nesse contexto, sistemas de coleta seletiva, logística reversa e bolsa de resíduos sólidos ganham importância social, econômica e ambiental. Meio Edição Especial Michel Oliveira Jornal Laboratório dos alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe Ano 8-Nº 26 Contexto Energia nuclear ainda divide opiniões 3 e 4 Abril a Junho de 2010 Páginas 7 a13 Ciência & Tecnologia Comunicação Programas de rádio e televisão renovam o discurso ecológico Setor de transportes debate alternativas para combustíveis fósseis Pesquisas desvendam as riquezas do Semiári- do brasileiro 5 6 15 14 Esportes Estádios de futebol aderem à tática do marketing “verde” [email protected] Ambiente

Jornal Contexto ed26

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Jornal Laboratório dos alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

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Page 1: Jornal Contexto ed26

O acúmulo de lixo doméstico, hospitalar, eletrônico e resíduos industriais é um dos grandes desafios ambientais da atualidade. Reciclar, apenas, não resolve o problema. Repensar os hábitos de consumo, Reduzir os desperdícios na vida cotidiana e Reaproveitar ao máximo as “sobras”, os objetos usados, os “rejeitos” dos processos industriais e até a água do banho somam-se agora na máxima dos quatro Rs. Nesse contexto, sistemas de coleta seletiva, logística reversa e bolsa de resíduos sólidos ganham importância social, econômica e ambiental.

Meio Edição Especial

Michel O

liveira

Jornal Laboratório dos alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

Ano 8-Nº 26

Contexto Energia nuclear

ainda divide

opiniões3 e 4Abril a Junho de 2010

Páginas 7 a13

Ciência & Tecnologia

ComunicaçãoProgramas de rádio e televisão renovam o discurso ecológico

Setor de transportes debate alternativas para combustíveis fósseis

Pesquisas desvendam as riquezas do Semiári-do brasileiro

56

1514EsportesEstádios de futebol aderem à tática do marketing “verde”

[email protected]

Ambiente

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Editorial

Na contramão do “verde”Faz tempo que semear mudas de árvores vi-

rou senso comum em matéria de demonstrar preocupação com o meio ambiente. Mas será que alguém se preocupa em acompanhar se elas brotaram? Os repórteres do Contexto descobri-ram que sim, ao investigar por que Aracaju é tão pouco arborizada, apesar de ostentar o slogan de “cidade da qualidade de vida”. E souberam que, mesmo demarcadas, muitas mudas morrem pre-cocemente, pisoteadas ou por inadequação ao solo ou ao clima (p.16).

Também faz parte do senso comum associar meio ambiente ao “verde”, como se esta fosse a única cor possível para harmonizar a relação en-tre sociedade e natureza. Em tempos de euforia pela Copa do Mundo e ansiedade por 2014, até os marqueteiros do futebol aderiram a esse ambien-talismo cosmético. As bolas da vez são os ecoes-tádios, as camisetas derivadas de garrafas PET e troféus de material reciclado (p.15). Essa concep-ção monocromática da questão ambiental ajudou a construir uma visão preconceituosa do Semi-árido brasileiro, concentrado na região Nordeste e dominado pelo bioma Caatinga, cuja riqueza multicor aos poucos vem sendo desvendada (p.6).

Foi pensando em ir um pouco além do senso comum que esta edição especial dedicou metade de suas páginas a um dos mais graves problemas ambientais contemporâneos, raras vezes aborda-do pela mídia: o lixo, visto pela ótica do descuido, do desperdício e do consumismo, seja ele do-méstico, hospitalar, eletrônico ou industrial, com suas várias destinações – aterro sanitário, coleta seletiva, recliclagem, banco de resíduos, logísti-ca reversa. Diante do tamanho do problema, a filosofia dos 3Rs - reduzir, reutilizar e reciclar – exige agora mais um: repensar os hábitos de consumo, as atitudes cotidianas e as responsabili-dades individuais e coletivas frente ao destino do Planeta (p. 7 a 13).

Há, porém, um tipo de lixo para o qual ainda não se encontrou um caminho seguro de trata-mento e estocagem, o atômico, apontado como um dos principais fatores da desconfiança que ainda paira sobre a energia nuclear (p.4) e a op-ção do governo federal de ampliar a produção nessa área com um novo complexo de usinas na região Nordeste. Você é a favor que uma delas venha para Sergipe? Veja o que responderam no ConteXtando (p.3). A matriz energética brasileira também está em pauta no setor de transportes, que começa a dar atenção a fontes alternativas aos combustíveis fósseis, como os veículos elétri-cos híbridos (p.5).

Esta edição cumpre, enfim, a parte que lhe cabe no novo campo da comunicação ambiental, que segue caminhos desbravadores ou inovadores em algumas experiências de rádio e TV (p.14).

2

http://issuu.com/contextoufs/docs/contexto26

Coordenação editorial: Profª. Drª. Sonia Aguiar

Universidade Federal de SergipeReitor: Prof. Dr. Josué Modesto dos Passos SubrinhoVice-reitor: Prof. Dr. Angelo Roberto AntoniolliPró-Reitor de Graduação: Prof. Dr. Francisco Sandro Rodrigues HolandaDiretor do CECH: Prof. Dr. Jonatas Silva MenesesChefe do Departamento de Comunicação Social (DCOS): Profª. Drª. Messiluce da Rocha Hansen

Universidade Federal de SergipeCampus Prof. José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, S/N, São Cristóvão - SE Fone: (79)2105-6921 (chefia)/2105-6919 (secretaria)E-mail: [email protected]

Jornal Laboratório dos alunos de Jornalismo

Contexto

Equipe ContextoAntonio Vinicius Diogenes de Souza Erick de OliveiraFernanda Carvalho Gabriel Cardoso Iuri Max Jailton Prata

Departamento de Comunicação Social

Versão digital

Leia e passe adiante!

Leia e passe adiante!

Janaina FreitasJeimy Remir Joanne Mota Larissa Ferreira Lorene Vieira Michel OliveiraMonique de SaNikos Eleftherios

Editoração EletrônicaIuri Max

Sonia Aguiar (http://licaufs.blogspot.com/)

Contextoabril-junho/2010

Pedro AlvesPedro IvoRafael FreireRicardo GomesVictor BrunoVictor HugoYasmin BarretoZeca Oliveira

Michel Oliveira

tironas.blogspot.com

Opinião

para diferentes matérias e a redundância de informações, por exemplo. Estar longe dos grandes centros produtores (e poluidores), onde as coisas supostamente “acontecem”, foi outro ponto de dificuldade para a verificação de algumas informações importantes.

Embora seja uma temática atual, tratar de meio ambiente não é fácil, porque não temos traquejo para falar deste assunto de forma contextualizada, crítica e, portanto, informativa. A maioria de nós acabou descobrindo fatos, processos e situações que nem imaginávamos. E este foi o ponto mais positivo do trabalho, o aprendizado.

Por último, cremos que pudemos exercer o papel fiscalizador do jornalismo, de cobrar das instituições sociais, inclusive da Universidade, a aplicação de políticas ambientais, em especial as que envolvem o lixo, que nos parece um tema invisível na mídia e no dia-a-dia das pessoas. Quem sabe, assim, as matérias sirvam para conscientizar os leitores sobre o problema?

Comentários, críticas e sugestões serão bem-vindos pelo email [email protected]

Quando o “meio ambiente” foi proposto para esta edição especial, uma certa decepção tomou conta da equipe. Afinal, o tema estava longe da unanimidade dos transportes públicos, que escolhemos para o Contexto 23 (http://issuu.com/contextoufs/docs/contexto23). Além disso, alguns tinham dúvida sobre a possibilidade de esgotar o assunto e o risco de cansar os leitores.

Outros, ao contrário, viam aí uma oportunidade de aprofundamento do tema, de buscar causas e soluções para certos problemas, de levar ao leitor (e também à/ao repórter) uma reflexão sobre os diversos ângulos da mesma questão. Assim, poderíamos alcançar conhecimentos que a mídia, em seu cotidiano, lança superficialmente. Teríamos a chance de dar um tratamento mais exaustivo ao jornalismo, que geralmente é percebido como algo fragmentário. Será?

Logo percebemos que, na verdade, uma edição monotemática é mais difícil de ser elaborada. Exige que a turma trabalhe de forma coordenada, em uma mesma direção, o que pode gerar experiências colaborativas, mas também problemas, como a sobrecarga da mesma fonte

Um tema, múltiplas possibilidadesPor Erik Souza, Janaína de Oliveira, Jeimy Reimi, Lorene Vieira e Ricardo Gomes

Crítica e autocrítica

De onde vem tanta chuva?Antonio Cruz/ABrAgência Brasil

Riviera Francesa, Angra dos Reis, Ilha da Madeira, Blu-menau, Veneza, Baviera e Pernambuco; não, não estou fa-lando sobre destinos turísticos, mas sim sobre os inúmeros lugares onde, nos últimos anos, ocorreram chuvas devas-tadoras que produziram dezenas ou centenas de mortes, além de milhares de desabrigados. (...) As chuvas não fazem distinção entre países ricos e pobres. A diferença é a forma com que enfrentam a situação. Não é preciso explicar que cidades planejadas e uma defesa civil equipada e preparada diminuem as perdas de vida e os danos materiais, mas a grande diferença é a consciência do problema. Ele se chama aquecimento global. Para muitos um mito. Tudo bem, tem gente que acredita que o homem não foi à Lua.

”Leslie Tavares - biólogo com mestrado em ecologia tropical, no Blog Ciência e Meio Ambiente do Jornal do Commercio - http://jc3.uol.com.br/blogs/blogcma/)

Santana do Mandaú, em Alagoas, uma das várias cidades destruídas pelas enchentes de junho no Nordeste

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Usina nuclear em Sergipe?A proposta do governo federal de estender o programa nuclear brasileiro

à região Nordeste, encampada pelo governo de Sergipe, vem motivando acalarodados debates no Estado. Uma usina poderá ser instalada nas marges do rio São Francisco, próximo à represa de Xingó, ou no litoral Norte, beirando o oceano. A questão gera dúvidas que vão da segurança à relação custo-benefício do empreendimento para a população sergipana. Será que o Estado

está preparado para ter uma usina nuclear? A energia a ser gerada compensa os riscos socioambientais? Ou será que o risco de um “Chernobyl brasileiro” é um mito que a tecnologia nuclear já superou? Foi com essas questões em pauta - e o objetivo de ampliar o debate para além dos especialistas - que o Contexto ouviu estudantes, professores e funcionários da Universidade Federal de Sergipe. As respostas mostram que ainda há muito desconhecimento a respeito.

Vinícius [email protected]

XSIM NÃO

Contexto abril-junho/2010 ConteXtando 3

Usina nuclear produz grande quantidade de energia e não é necessário diversificar as fontes. É a energia mais limpa que existe! ”“

Ricardo Melo, funcionário da UFS

Se os físicos da universidade estão dizendo que é seguro, é porque é seguro. Mostraram que não tem risco. A universidade tem um grande papel na formação

da opinião da sociedade nesse sentido. Por isso sou a favor.”“

Ícaro Daniel, estudante de Estatística

Produz energia limpa e é muito menos poluente do que a energia eólica e solar. A quantidade de lixo nuclear produzida é mísera em compensação à quantidade de

energia produzida, além de não poluir as águas. Além disso, os estudos sobre resíduos estão avançando e cada vez mais tornam-se mais seguros. ”“

Murilo Alves, estudante de Química

Energia nuclear é positiva pois produz grande quantidade de energia. Exemplo da França e Alemanha, em que a primeira optou pela enegia nuclear e a segunda

pela energia eólica, investindo quase a mesma quantia. Hoje a França exporta energia para a Alemanha. A energia nuclear é financeiramente mais viável. Ecologicamente, é preciso saber onde serão depositados os resíduos radioativos aqui no Estado com o maior cuidado possível. ”

Patrick Hallan, estudante de Física

Não considero uma foma de energia segura. Não tem como garantir o bem estar ambiental e das populações aqui do Estado.”“

Juliana Cordeiro, funcionária da UFS

Sou contra porque a energia nuclear trabalha com materiais pesados que podem causar impactos ambientais, principalmente nos rios. Hoje, no nosso Estado,

uma suprema parte da produção de peixes vem da pesca artesanal. Caso haja algum dano, as populações ribeirinhas e que sobrevivem da pesca seriam muito afetadas.”“

Valfredo Elnai, estudante de Engenharia de Pesca

Por principio, existem outras formas limpas de geração de energia, como as “usinas de lixo”, por exemplo, onde com o reaproveitamento dos gás metano

produziria energia limpa. Temos que começar a pensar formas de energia seguras e ambientalmente sustentáveis no presente, e para o futuro.”“

André Teixeira, estudante de Comunicação Social

Onde o lixo atômico seria armazenado? Jogaríamos no Rio São Francisco, tão importante para a nossa cultura local, ou no oceano? O governo do Estado

não tem política para o “lixo comum”, imagine para o nuclear? Fora que os efeitos de um acidente são irreparáveis, as sequelas de Chernobyll na Rússia são sentidas até hoje. Não podemos analisar uma questão dessa apenas pelo critério econômico, sem abrir qualquer forma de diálogo com a população que estará em risco.

Alexis Azevedo , estudante de Direito”

Romero Venâncio, professor de Filosofia

1. Segurança: o risco realmente é reduzido, mas se acontecer não há formas eficazes de remediar. A exemplo do “Césio 19 gramas” em Goiânia, que afetou

6.500 pessoas, o maior acidente com produto radioativo em meio urbano do mundo. Em Angra fazem simulações de evacuação da cidade, mas mesmo assim o Greenpeace alerta que não é possível garantir a segurança da população em caso de acidente.

2. Emprego e renda: os empregos nessa área são super especializados e boa parte da mão de obra vem de empresas estrangeiras. Para a população local

resta o trabalho precarizado e temporário. Canindé do São Francisco já recebe royalties por Xingó e tem um dos piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil.

3. Ecologia: Existem outras formas de energia mais baratas e sustentáveis. São necessários 10 bilhões de reais para construir Angra III, enquanto que com 7

bilhões se poderia construir um parque eólico (alimentado pelos ventos) que produziria o dobro de energia e geraria mais emprego.

4. Soberania nacional: a questão das usinas do Nordeste faz parte da volta da discussão de um programa nuclear para o Brasil, mesmo plano que a ditadura

militar tentou impor ao país e gerou uma dívida que não pagamos até hoje. As empresas que construiriam a usina nuclear seriam as mesmas da obra de transposição do Rio São Francisco. É vital que debatamos a matriz energética brasileira.

Milthon Serna, professor de Engenharia Elétrica

1. Segurança: nunca houve problemas com energia nuclear no Brasil. Exemplos são Angra I, Angra II e Angra III (em Angra dos Reis, Estado do Rio de Janei-

ro), considerada a quarta unidade nuclear mais segura do mundo. As usinas nucleares adotadas pelo Brasil são seguras. Na disputa política entre Sergipe e Alagoas pela nova usina planejada pelo governo federal o argumento do risco não vale, por conta da proximidade entre os dois estados. O fator de risco seria o mesmo para as populações sergipana e alagona.

2. Emprego e renda: a vinda da usina nuclear para Sergipe gerará emprego e renda de forma direta e indireta, tanto na sua construção quanto na sua manu-

tenção, contribuindo para o desenvolvimento do Estado e para a cidade-sede, com a aquisição de royalties.

3. Ecologia: a energia nuclear não polui os rios. Uma pequena parte da água é usada para esfriar e não entra em contato direto com o material nuclear. Não

prejudica a pesca, nem as populações próximas dos rios.

4. Soberania nacional: a França é um exemplo de como é possível um país sobreviver a partir da energia nuclear. Aproximadamente 70% de sua produção

vem da energia nuclear. Atualmente, inclusive, o país está reaproveitando cada vez mais os resíduos nucleares e compactando o restante em lugares seguros.

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Opção nuclear ainda gera polêmica

mundial”, para Ana Maia. “O que se sabe é que as 104 usinas construídas nos Estados Unidos geraram e continuam gerando energia”, protesta a professora, acrescentan-do que em nenhuma delas houve registro de morte. Segundo Maia, enquanto o enrique-cimento de urânio para produzir bombas atômicas é feito a 90%, para a produção de energia esse índice não ultrapassa 3%.

Outro foco de preocupação é o desco-missionamento - processo de desinstalação da usina - que segundo o deputado Van-derlê transforma a área que abriga a central nuclear em um cemitério virtual. A profes-sora Ana Maia reconhece que esse proce-dimento exige cuidado. “É de responsabili-dade do governo deixar o terreno onde foi instalada a usina da mesma forma que ele era antes. É feita uma avaliação de tudo o que está na usina e [dado] um destino final para tudo o que foi usado, seja esse destino um repositório ou a descontaminação das peças que foram utilizadas para reaproveitamento. É um processo demorado, mas faz parte do funcionamento da usina”, explicou.

O lixo nuclearAs incertezas quanto ao destino dos re-

jeitos radioativos das usinas brasileiras são um dos aspectos que mais causam contro-vérsia nesse debate. As usinas de Angra, que funcionam há mais de 20 anos, não possuem um destino certo para os seus resí-duos – que podem levar até milhões de anos para perder o efeito radioativo. Estima-se que o Repositório Nacional de Rejeitos de baixa e média atividade, onde todo o lixo produzido pelas usinas será guardado, entre em operação em 2018; só em 2026 o de-pósito intermediário de longa duração deve funcionar. “Se essa usina vem para o Nor-deste, com certeza aumentam as chances de esse depósito ser instalado aqui. Esse é outro temor”, reforça Vanderlê Correia.

Heitor Scalambrini, da UFPE, lembra que os rejeitos de alta radioatividade neces-sitam de isolamento por 10 mil anos. Os investimentos necessários em um espaço para tanto são pesados. Talvez isso explique a indefinição. “Além das questões econô-micas, de segurança e ambientais, existem questões éticas. Não se deve deixar para as

futuras gerações a resolução de problemas da época presente”, lembra.

Até que se crie o Repositório Nacional, os detritos serão acumulados na própria usina. A quantidade, frente ao que se produz em usinas convencionais, é considerada pequena: apenas 1% de todo o lixo tóxico in-dustrial é radiativo (uma amostra que se tem de outros países). Uma tática que está sendo difundida para que o lixo fique com os níveis mais baixos de radiação possível é o repro-cessamento, cujo índice de aproveitamento para gerar mais combustível chega a 95% onde a técnica é utilizada. França, Inglaterra, Rússia, Japão, China e índia estão no rol das nações que reprocessam o lixo nuclear.

Energia limpa?Em operação rotineira, as centrais nuclea-

res pouco agridem o meio ambiente. Não liberam CO2, por exemplo, como fazem termoelétricas que queimam carvão ou gás. “Eu tenho muito mais medo do aquecimen-to global do que de uma usina nuclear”, pro-vocou Susana Lalic, no debate da UFS.

A também física Divanízia Nascimen-to explicou que, para gerar energia, tanto a usina hidrelétrica quanto a nuclear utilizam água para mover suas turbinas. A primeira, entretanto, usa mais desse recurso do que a segunda. “O impacto, baseado na expe-riência de Angra, é pequeno: a água sai com temperatura elevada em mais 4 graus, o que não é prejudicial”, ressaltou.

Mas para Scalambrini, os defensores desta tecnologia não incorporam em seus cálculos de emissões de gases estufa o processo completo da produção da eletri-cidade. “Se consideramos a mineração do urânio, o transporte, o enriquecimento, a posterior desmontagem da central e o pro-cessamento e confinamento dos rejeitos radioativos a produção em gramas de CO2 (113 por kWh) é aproximadamente o que produz uma central a gás”.

O que o professor da UFPE questiona é: se desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades atuais sem compro-meter a capacidade de atender às necessidades das gerações futuras, por que priorizar a opção nuclear com tantas opções que o país conta para gerar energias renováveis e limpas?

Diógenes de Souza e Iuri [email protected] /w [email protected]

O Governo brasileiro espera que até 2030 a geração de energia

elétrica no país seja ampliada em quase 130.000 MW. Deste total, 5.345 MW, cerca de 4,1%, virão de usinas nucleares. Além da retomada de Angra 3, está prevista a construção de mais quatro centrais nuclea-res, duas delas na região Nordeste.

Estrutura geológica estável, proximida-des de linhas de transmissão de energia e de grande volume de água (necessário para o res-friamento do reator) são alguns fatores técni-cos favoráveis à localização das duas usinas nordestinas às margens do Rio São Francis-co. A construção de cada uma tem valor esti-mado em U$13 bilhões. O empreendimento despertou o interesse de políticos locais e vem sendo disputado por quatro estados nordes-tinos: Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe.

Tão logo Sergipe entrou no páreo para instalação de uma central nuclear (que pode abrigar até quatro usinas), os debates co-meçaram. A questão, naturalmente, tornou-se polêmica por conta das controvérsias que envolvem o assunto energia nuclear. Um exemplo do nível que as discussões podem atingir foi sentido em um debate promovido pelo Departamento de Física (DFI) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 16 de abril. Inicialmente pre-visto como um seminário acadêmico, o evento acabou perturbardo pela presença do deputado Vanderlê Correia, contrário à instalação de usinas nucleares. Tanto que, após um rápido conflito de idéias, o político deixou o auditório sob protesto do público. As professoras Suzana de Souza Lalic, Ana Maia e Divanízia Nascimento, coordenado-ras do debate, fizeram a defesa. Nos dois lados, uma certeza: a sociedade ainda é bas-tante receosa em relação à energia nuclear.

4 ContextoCiência e Tecnologia Abril-Junho/2010

C

Plano Nacional de Energia (210 Mil MW), projeção do governo para 2030

Medo de acidentesPara a professora Susana Lalic, o grande

vilão, na verdade, é o medo que predomina no senso comum. As medidas de segurança atuais impediriam, por exemplo, que um de-sastre do porte de Chernobyl (ocorrido na Ucrânia, então parte da União Soviética, em 1986) pudesse se repetir. Este acidente até hoje emblemático causou em torno de 30 mortes imediatas e alguns milhares de outras ao longo dos anos seguintes, decorrentes dos efeitos da exposição à radiação.

“Apesar dos renovados esforços da in-dústria nuclear em apresentar-se como segura, acidentes em instalações nucleares em diversos países continuam a demons-trar que esta tecnologia é perigosa”, afirma Heitor Scalambrini Costa, doutor em ener-gética e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“Quando aquele reator (de Chernobyl) explodiu, além de ser velho, não havia con-tenção de concreto, uma parede com um metro de espessura que as usinas atuais têm”, rebate a professora Lalic. Mas Scalambrini observa que problemas sérios em usinas nu-cleares ainda acontecem. Como exemplo, cita o acidente pós-terremoto, em julho de 2007, na maior usina atômica do mundo, situada em Kashiwazaki-Kariwa, no Japão, que além do vazamento para o mar provocou emissão de gás radioativo para a atmosfera.

Para demonstrar a redução desses riscos, Lalic mostrou uma escala chamada INES – International Nuclear Event Scale – que referencia o cálculo da amplitude dos aci-dentes nucleares (assim como se mede a intensidade dos terremotos). O acidente ucraniano foi o único de nível 7, o máximo registrado até agora (ver quadro abaixo). De nível 6 houve apenas um, em Mayak, na Rússia, em 1957. Desde 1990 os mais graves atingiram os níveis 3 e 4: dois em Tomsk, na Rússia, em 1993, e outro no Japão, em 1999, em Tokai-mura. Em todos, os efeitos ficaram restritos ao interior das usinas e o número de mortes chegou a duas. O último acidente registrado até o fechamento desta edição ocorreu em 2008, na França, consi-derado um evento de nível 1 e tratado como “anomalia”, pela restrição dos danos.

Teoria da conspiraçãoSituações alheias à produção energética

também fazem parte do imaginário popular que associa morte ao uso de materiais radioa-tivos. O acidente de 1987 com o césio-137, em Goiânia, e outros acidentes em minas de extração de urânio são alguns exemplos. Para o deputado Vanderlê Correia a energia nuclear tem na sua trajetória a marca da des-truição. “Ela não surgiu por uma necessida-de energética, pois o aumento de usinas se deu justamente na Guerra Fria, voltada mais para a produção de armas. Prova disso é que os Estados Unidos deixaram de investir nessas obras ainda na década de 1970”, diz. A idéia de que as usinas nucleares camufla-ram projetos militares du-rante a Guerra Fria não passam de mera “teoria da conspiração

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to, com a ameaça do fim das reservas mun-diais de petróleo, vários países já reconhe-cem a sua eficácia.

Entre as qualidades desse combustível, o professor Gabriel Francisco da Silva, do Departamento de Engenharia Química da UFS, ressalta o ciclo natural do gás car-bônico liberado e reabsorvido pela cana: “Um dos problemas da combustão é o gás carbônico liberado para o meio ambiente, que caso do etanol a conta é praticamente zerada pelo plantio da cana, que reabsorve o CO2 no seu processo de fotossíntese”.

Para ele, outra área de pesquisa impor-tante é a do biodiesel, que ainda está em processo de evolução, mas já é misturado com o diesel comum (fóssil) nas bombas de combustível brasileiras (entre 5 e 8%). A produção nacional é feita majoritaria-mente a partir da soja. Na Europa, o óleo é extraído de outros vegetais ricos em ami-do, tal como batata, mandioca e beterraba, mas ainda se revela pouco eficiente.

A solução dos motores elétricosMuitos pesquisadores apontam os car-

ros elétricos ou híbridos (que misturam eletricidade e outra forma de alimentação) como solução para redução significativa dos gases causadores do efeito estufa e outras agressões ao meio ambiente. En-tretanto, as pesquisas ainda são bastante deficientes.

Douglas Bressan, do Núcleo de Enge-nharia Mecânica da UFS, ressalta a impor-tância das pesquisas sobre carros híbridos, que segundo ele seriam completamente vi-áveis, mas ainda sofrem várias limitações. “O problema de produzir carros elétricos é a autonomia, que é muito baixa. Ainda hoje, as baterias estão como as de 50 anos atrás.” O professor considera, porém, que os motores elétricos não devem ser vistos como a grande salvação para um sistema de transportes ambientalmente correto. “Depende da energia, porque se a produ-ção é feita por meio de usinas nucleares ou termelétricas, o meio ambiente também não é poupado como se pensa”.

Atualmente, trens e ônibus elétricos são a principal aplicação dos motores movidos a propulsão. Veículos de transporte coleti-vo ligados diretamente a postes eletrifica-dos já estão em uso há alguns anos, porém esta ligação por fios limita os caminhos a serem percorridos pelos veículos. Em al-guns países, as pesquisas tecnológicas com motores elétricos e os movidos a células de hidrogênio já estão bem adiantadas, embo-ra seu uso comercial e massivo ainda não esteja previsto. A Associação Brasileira do Veículo Elétrico reune 50 associados, entre empresas, órgãos governamentais, indivi-duos e universidades como as federais de Santa Catarina e Rio de Janeiro.

Enquanto o desenvolvimento de alter-nativas energéticas segue a passos lentos, a demanda por transportes menos poluentes cresce sem freios, com o limite ecológico do planeta no horizonte

Erick [email protected]

Em relatório divulgado recentemen-te, a Associação Nacional das Em-

presas de Transportes Urbanos (NTU) faz projeções alarmantes para o País. Dentre elas está a triplicação do uso de combus-tíveis majoritariamente fósseis em apenas 20 anos. A baixa eficiência dos motores, o desperdício de energia e a grande emissão de poluentes com baixo índice de controle já colocam o setor rodoviário – responsá-vel por 92% dos transportes no Brasil – como um dos maiores agentes colaborado-res para o aquecimento global e o efeito estufa, ao lado da indústria.

A coletivização dos transportesUm fator importante para o aumento da

demanda de combustíveis é o crescimento das cidades brasileiras. O melhoramento do transporte público coletivo e a implan-tação de políticas públicas educativas de conscientização são pontos cruciais, não apenas para a redução de danos ao meio ambiente, mas também para o combate aos gigantescos congestionamentos que abalam o cotidiano das grandes cidades. O uso de transportes individuais, mesmo de motocicletas, que consomem menos ener-gia proporcional, causa grandes danos em âmbito global, já que estes veículos trans-portam no máximo dois passageiros. Os

Poluição deixa transportes em alertaCiência e Tecnologia 5

carros de passeios lideram entre os meios de transporte mais dispendiosos e prejudi-ciais ao meio ambiente.

Há algumas décadas, a provável escas-sez das fontes de petróleo também pres-siona os governos a financiarem pesquisas de matrizes energéticas alternativas e reno-váveis. Entretanto, interesses econômicos dos grandes produtores do óleo barraram, por muito tempo, grande parte destes fi-nanciamentos.

Reduzir a grande emissão de poluen-tes de âmbito local e principalmente glo-bal, como é o caso do dióxido de carbono (CO2), principal responsável pelo efeito estufa, é objetivo de diferentes setores do meio produtivo. Além dele, dezenas de ou-tros elementos nocivos à vida humana são liberados no ar que respiramos nas grandes cidades pela combustão da gasolina, do gás natural, do diesel automotivo, dentre ou-tros. É o caso do material particulado (MP) e dos óxidos de nitrogênio (NOx).

Etanol e combustíveis renováveisA busca por alternativas que ao mesmo

tempo poluam menos e sejam economica-mente viáveis é um desafio para a pesquisa científica e tecnológica e também para a burocracia e o protecionismo econômico exercido pelos países desenvolvidos.

O Programa Nacional do Álcool (Pró--Álcool) foi um audacioso projeto de subs-

CVeículo elétrico híbrido fabricado no Brasil pela Eletra, uma das associadas da ABVE (http://www.abve.org.br/)

http://www.eletrabus.com

Estudo aponta que consumo de petróleo pode chegar a 150 milhões de toneladas por ano

tituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados de petróleo por eta-nol, produzido a partir da cana-de-açúcar, e financiado pelo governo brasileiro a par-tir dos anos 1970. O objetivo principal era fugir da crise econômica causada pelos dois choques internacionais do petróleo, que inflacionaram os preços dos combus-tíveis à época.

Com quase 40 anos de desenvolvimen-to, as pesquisas sobre o álcool extraído da cana têm avançado consideravelmente em parâmetros globais. A patente registrada pelo governo brasileiro é agora negociada e, ao mesmo tempo, enfrenta diversas bar-reiras comerciais de países desenvolvidos.

O etanol é hoje um dos combustíveis renováveis mais eficientes e rentáveis de todo o planeta. A sua tecnologia já foi le-vada para alguns países da Europa, como a Suécia, onde recebe incentivos fiscais, e é utilizado em caráter aditivado, que aca-ba por torná-lo mais caro. Lá, porém, faz circular inclusive ônibus e veículos de mé-dio porte – fato incomum no Brasil. Além de renovável, o álcool polui menos que os combustíveis fósseis.

A busca pela utilizção de tecnologias próprias, a fuga do pagamento das patentes e os interesses econômicos que moldam o mercado internacional de combustíveis ainda barram a expansão do combustível brasileiro no mercado externo. No entan-

Contexto abril-junho/2010

Page 6: Jornal Contexto ed26

(MST) no município sergipano de Poço Re-dondo, às margens do Rio São Francisco. Lá foram montados pequenos sistemas de tratamento d’água. “Nós temos interesse de levar esse sistema para outras regiões. Já começamos a avaliar a possibilidade de desenvolvê-lo em Arauá”, revela.

Além disso, o professor contou que há intenção de desenvolver um outro projeto na cidade de Nossa Senhora da Glória. Neste caso, o objetivo é o de difundir um kit de baixo custo para tratamento de água para consumo humano, que está sendo desen-volvido na UFS também a partir da semente da moringa. “Com o kit, as pessoas poderão pegar água no chafariz e fazer o tratamento da água em casa mesmo”, explica

Zeca [email protected]

Não podemos mudar um clima, mas é possível conviver com ele. Otimi-

zação de recursos hídricos e o uso de fontes alternativas de energia, associados ao desen-volvimento de culturas apropriadas formam um complexo de medidas que garantiriam a sustentabilidade no semiárido. Uma com-binação desses fatores, aliada a uma política de desenvolvimento social, seria o suficiente para que a imagem do sertanejo castigado pela seca ficasse para o passado.

Quando falamos em sertão, a primeira imagem que nos vem à mente é a da carcaça do gado tombada no solo rachado. Mas a caatinga apresenta uma biodiversidade considerável e pode surpreender. Estudos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), que agrupa especialistas no assunto, revelam um bioma com mais de 20 mil espécies de animais, plantas e fungos.

Arisvaldo Mello, professor do De-partamento de Agronomia da UFS, também defende essa posição de forma categórica. “Cada bioma brasileiro tem a sua diversidade específica. A caatinga se caracteriza pela escassez de água. Dizer que ela é pobre se apoiando nessa diferença é uma bobagem científica”, sustenta.

Salinidade O professor explica que um grande

problema para o desenvolvimento no semiárido é a salinidade do solo. Há uma quantidade expressiva de água no subterrâneo, mas a grande concentração de sais nas rochas acaba tornando a maioria dos recursos hídricos impróprios para a agropecuária e para o consumo humano.

Só para se ter uma ideia, Sergipe possui três grandes aquíferos, extensos aglomerados

Combinação de fatores pode resolver problema da seca no sertão brasileiro

Sonia Aguiarsubterrâneos de água. O que possui a melhor água fica localizado na zona costeira, logo abaixo do Rio São Francisco. O que possui maior volume d’água fica no alto sertão, mas trata-se de um aquífero cárstico, ou seja, que apresenta elevado grau de salinidade por se encontrar entre rochas sedimentares. “Na década de 1950, o governo construiu pequenos reservatórios, mas todos eles salinizaram”, conta Arisvaldo. E tirar todo esse sal da água ainda custa caro.

Mas cientistas de Massachusetts (EUA) descobriram recentemente uma forma barata de dessalinizar água em pequenas quantidades. O modelo consiste em separar o sal da água através de ondas iônicas. As experiências da pesquisa foram realizadas com água do mar. O estudo foi apresentado em março deste ano na renomada revista científica “Nature”.

Além disso, há uma série de técnicas de baixo custo de otimização de recursos hídricos. Uma delas é a construção de cisternas para armazenar água da chuva. A média de chuvas no semiárido nordestino é de 400mm por ano. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), esse volume, se bem distribuído, poderia sustentar uma boa safra de milho e feijão, por exemplo. É possível também reter água dos lençóis freáticos através de barragens subterrâneas. Tudo muito simples, basta fincar no solo uma lona estendida na vertical e esperar a água acumular.

De acordo com estudos realizados pela Embrapa Semiárido, durante 10 anos, as chances do produtor da região que depende exclusivamente das chuvas colher uma boa safra é de apenas 30%. “Não adianta plantar uma ou outra cultura e depender da chuva. É preciso investir no armazenamento da água”, defende o professor Arisvaldo. Tornar-se mais independente da chuva é

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Pesquisa desenvolvida pelo Departamen-to de Engenharia Química da UFS analisa o uso da semente de moringa - árvore de pequeno porte típica de climas secos - no tratamento de água. Depois de extraído o óleo da semente, obtém-se um subproduto chamado “torta”, que vai se aglutinando às impurezas, como explica Patrícia Carmelita, bolsista da pesquisa. Depois de um tempo, toda a sujeira ou se deposita no fundo do recipiente ou flutua, e pode ser separada da água potável. Os estudos são coordenados pelo professor Gabriel Francisco da Silva, mas não se restringe ao laboratório. O pes-quisador conta que os resultados já foram testados em um assentamento do Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Árvore típica do sertão é usada no tratamento da água

Pó da semente remove impurezas da água

6 ContextoCiência e Tecnologia Abril-Junho/2010

uma mudança de postura fundamental para mudar a situação do sertanejo, rompendo assim com a sina do flagelado.

Problema complexoO desenvolvimento da região vai além

da questão dos recursos hídricos. Para que o povo da caatinga viva bem, a água precisa ser manejada com boas práticas agrícolas e ambientais. Isso é o que defende um estudo dos pesquisadores da Embrapa José Maria Pinto e Marcelo Calgaro. Eles afirmam ser possível produzir cultivos de alto valor agregado, como frutas e hortaliças, otimizando a irrigação, para assim aumentar o desenvolvimento do Produto Interno Bruto (PIB) da região.

Plantações de fibras e oleoginosas

também seriam grandes aliadas. Porém, é fundamental garantir a segurança alimentar do sertanejo. Sementes e raízes que se adaptam bem ao clima seco, a exemplo do milho, feijão e mandioca, cumpririam esse papel.

A energia é outro componente desse complexo de condições para a convivência com o clima seco. Arisvaldo Mello defende o aproveitamento de energias limpas (eólica e solar) cujas fontes são abundantes na caatinga. O professor pondera que é necessário mais do que atualmente é feito pelos governos para resolver o problema da seca. “O que a região precisa é de uma política de investimentos, associada ao desenvolvimento de áreas como saúde e educação”, ressalta

A caatinga abriga mais de 20 mil espécies de animais, plantas e fungos

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Moringa oleífera

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tivo de negligência. Não existem dados sobre a inserção de equipamentos eletroeletrônicos no mercado, por exemplo, e os dados dispo-níveis, como os de geração anual de lixo, es-tão defasados – datam de 2005.

O segundo problema é semelhante ao primeiro: a apatia e omissão dos produtores. As associações industriais não olham para o problema do lixo eletrônico como uma prio-ridade, avaliou o UNEP.

Outro ponto preocupante é a qualidade da reciclagem que é feita atualmente no Bra-sil. Segundo o relatório, ela é até sustentável, mas preocupada em aproveitar somente os materiais mais rentáveis, o que não resolve os problemas de armazenamento e de poluen-tes.

Em seguida vêm os empecilhos legais: a falta de uma lei abrangente de manejo de lixo seria o maior impedimento para desenvolver leis específicas a respeito de lixo eletrônico. O professor Eduardo de Matos, no entanto, não concorda totalmente com isso. “Nos-so sistema legislativo já abarca a situação. É

claro que, para os resíduos eletrônicos, seria preciso uma explicitação maior no Conselho Nacional de Meio Ambiente, mas isso seria um pormenor”, avaliou. Para ele, o que falta é efetividade legal. “Vamos pegar a realidade de Sergipe: aqui nós temos uma lei estadual que define a política de resíduos sólidos, mas nós não temos um município com a dispo-sição correta e adequada de seus resíduos”.

O último comentário do UNEP é a res-peito do sistema de reciclagem de lixo eletrô-nico com cobrança de taxa extra aos consu-midores – ideia que seria muito impopular no Brasil, por causa dos já elevados impostos cobrados pelo governo. Matos, por sua vez, entende que o custo do lixo não deve ser transferido para o comprador de forma algu-ma. “Quem lucra é que deve ter esses custos ambientais internalizados. É o princípio do poluidor pagador: a atividade dele é de risco para o meio ambiente”, afirmou. “A obriga-ção do consumidor é levar o produto aonde ele comprou ou num ponto de recolhimento adequado”

Ricardo [email protected]

ONU aponta Brasil como um dos maiores produtores de lixo eletrônico

de lixo do bairro Santa Maria, que põe em risco o aquífero Marituba. “É um perfil que se reproduz em muitas cidades brasileiras”, comentou Matos.

Soluções via reciclagemSegundo o UNEP, o desenvolvimento de

políticas globais de reciclagem pode ajudar a conter danos ambientais de maneira eficien-te. Para tanto, além de outras ações, seria ne-cessário promover transferências de conhe-cimentos e identificar centros que poderiam se tornar referências na área. Isso tornaria os países emergentes capazes não só de lidar com um acúmulo problemático de resíduos, mas também de realizar economias em seto-res decisivos.

É evidente, por exemplo, o impacto da indústria eletrônica sobre os recursos de me-tais. Em um telefone celular pode haver não só cobre e estanho, mais comuns, mas tam-bém índio ou cobalto, ouro e prata. Retiran-do-se as baterias, uma tonelada de celulares pode conter 3,5 kg de prata, 340 g de ouro, 140 g de paládio e 140 kg de cobre, para citar apenas alguns exemplos.

Não é, entretanto, apenas matéria-prima que pode ser poupada quando se emprega mecanismos de reciclagem. Existem impac-tos consideráveis no consumo de energia também. É o caso do alumínio: além de evi-tar a criação de 1,3 kg de bauxita, a produção de 1 kg de alumínio através de reciclagem uti-liza 1/10 ou menos da energia necessária na produção primária.

O Brasil, de acordo com a ONU, tem al-guns pontos favoráveis ao estabelecimento de políticas de reciclagem. Ao lado de África do Sul, Marrocos, Colômbia e México, o país foi classificado como tendo um “potencial significante” para adaptar tecnologias de pré--processamento, como seleção e tratamento mecânico, e de processamento final, como fundição e refinamento, às necessidades lo-cais. Também foi colocado como um pos-sível centro regional de reciclagem para a América Latina nos próximos anos, graças a estruturas de alto desempenho já existentes, como as de refinamento de alumínio.

Fatores negativosNo entanto, se as oportunidades existem,

os obstáculos também não são poucos. O primeiro é a falta de informações, esse indica-

Um país que faz pouco pela recicla-gem do lixo proveniente de apare-

lhos eletroeletrônicos. Esta é a imagem do Brasil que aparece no último relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla em inglês) sobre como pa-íses emergentes tratam a “sucata” que vem sendo gerada sobretudo pelas tecnologias de informação e comunicação. Os números são preocupantes: segundo o documento, concluído no ano passado, a quantidade de computadores pessoais descartados nacio-nalmente chegou a meio quilo anual per ca-pita – a maior proporção dentre os 11 países analisados (Quênia, Uganda, Senegal, Peru, Índia, China, África do Sul, Marrocos, Co-lômbia, México e Brasil).

O estudo, entitulado Recycling – From E-waste To Resources (Reciclagem – do lixo eletrônico aos insumos, em tradução livre), aborda principalmente as tecnologias de reciclagem de produtos como celulares, impressoras e refrigeradores, com foco no potencial de desenvolvimento econômico e de segurança ambiental. A premissa é a seguinte: os aparelhos eletrônicos são compostos de vários materiais – os mais modernos utilizam cerca de 60 elementos – que podem ser reaproveitáveis, preciosos ou tóxicos. Tratá-los ou colocá-los de volta no fluxo de produção é estratégico para a saúde humana, do meio ambiente e da economia; daí a reciclagem ser um tema central para os países ditos em desenvolvimento.

Poluição tóxicaSe armazenados ou processados de forma

inadequada, os eletrônicos são fontes quase certas de problemas. Elementos como chum-bo e mercúrio, por exemplo, são altamente perigosos. “Eles estão presentes em placas e chips, são bons condutores, trabalham na parte de energia, mas trazem muitos danos à nossa saúde”, explicou o professor do De-partamento de Computação da Universidade Federal de Sergipe, Ricardo Salgueiro.

Em alguns países, como Marrocos e Índia, há relatos de reciclagens informais via queima de equipamentos e fiações a céu aberto, lixi-viação com cianeto e “cozimento” de placas de circuito. A liberação do gás CFC, presente nos refrigeradores e prejudicial à camada de ozônio, também é apontada como uma preo-cupação em regiões onde faltam recicladoras equipadas com tecnologia de ponta e sobra gente precisando dos resíduos para sobreviver.

No Brasil, segundo o promotor de justiça e professor do Departamento de Direito da UFS Eduardo de Matos, o problema maior vem dos lixões. “Nós estamos enterrando em grandes lixões todo tipo de resíduo, do eletrônico ao comum. Em muitos casos, são lixões que estão em cima de aqüíferos, na margem de nascentes e estradas”, alerta. Aracaju tem um caso exemplar: o depósito

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Economia 7

Produtos eletônicos não devem ser descartados sem tratamento

Ricardo Gomes

Contexto abril-junho/2010

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bientalmente adequada de um produto pode trazer ao consumidor o entendi-mento sobre uma marca muito mais responsável e direta do que qualquer comercial. É uma aposta no consumo consciente”, afirma Débora Martins, especialista em Gestão em Marketing Ambiental. E completa: “ser ambien-talmente correto afeta a satisfação do cliente. Se você não faz porque é am-bientalista, faça pelo lucro e pela ima-gem corporativa. O que é lixo hoje pode valer dinheiro, se for bem em-pregado no futuro”.

Quando o assunto são os eletrôni-cos, entram em cena outros elementos e o preço pesa cada vez mais, por se tratar de produtos mais caros, mas que podem ser facilmente adquiridos em locais impróprios. O mercado “negro”, que comercializa equipamentos ilegal-mente, é alimentado por consumidores que buscam por valores mínimos e é aí que reside um grande nó da logística reversa.

Produtos falsificadosSe você compra máquina digital e

pen drive em camelôs que vendem pro-dutos falsificados ou, no mínimo, im-portados irregularmente, saiba que a responsabilidade de se livrar dele deixa de ser do fabricante, já que ele desco-nhece a trajetória do seu produto ori-ginal. Também não é do vendedor, um trabalhador informal que não oferece garantia ao consumidor, que assim não tem a quem recorrer.

Em caso de falsificação, a situação fica ainda pior porque não há preocu-pação com o tipo de material utilizado, nem uma indústria que seja oficialmen-te responsável por nada. “Isso é anistia do comportamento da ilegalidade, um processo em que não existe educação ambiental. E quem comprou com nota, pagou os impostos e utilizou a ferra-menta legal?”, questiona Robson de Souza, aluno do curso de logística. Seu colega de curso Fábio Melo segue o seu raciocínio: “Geralmente, as pessoas se tornam conscientes ou mobilizadas pe-las questões ambientais por pressão da mídia e da sociedade, mas o quanto elas contribuem de forma efetiva?”.

Estímulos Para o professor de logística do cur-

so de Engenharia de Produção Leynal-do Chile, a maior dificuldade que uma empresa encontra ao fazer LR é a que-da dos lucros. “Ninguém quer deixar de ganhar e o processo de LR necessita de muito investimento, pois não exis-te estímulo por parte do governo. A

Logística reversa propõe alternativas para a redução do acúmulo de lixo

A logística reversa é um dos prin-cipais pontos da Política Na-

cional de Resíduos Sólidos (PNRS), que está em fase final de aprovação, de-pois de 19 anos de tramitação no Con-gresso Nacional. Logística é o processo de planejar, programar e controlar de modo eficiente o fluxo de materiais.

A preocupação da logística reversa (LR) é fazer com que a parte dos ma-teriais sem condições de ser reutilizada retorne ao ciclo produtivo que lhe deu origem, ou para o de outra indústria, como insumo. Este procedimento evita nova busca por mais recursos na natu-reza e promove um descarte ambiental-mente correto.

Parece simples e inteligente, mas o processo ainda não funciona bem. Além do desconhecimento do assunto, existe ineficiência na sua implementação, que exige uma estrutura complexa para re-colher, armazenar e tratar resíduos e um investimento inicial alto. A PNRS prevê diversos aspectos relacionados à logística reversa: classificação para os diversos tipos de resíduos sólidos, instituição da coleta seletiva domiciliar obrigatória em municípios com mais de 150 mil habitantes, tributação dife-renciada às atividades de reciclagem de materiais, entre outros.

A coleta seletiva de lixo urbano ain-da não é prática comum no Brasil, o que dificulta o estabelecimento de um canal de distribuição reverso, pois pro-dutos recicláveis são descartados junto a quaisquer outros tipos de lixo, inuti-lizando parte destes produtos para rea-proveitamento. “Coisas muito simples podem ser feitas para diminuir o impac-to ao meio ambiente, mas simples não

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Janaina de [email protected] quer dizer que seja fácil. O fato é que

para isso é necessário conscientização e vontade. Eu separo o lixo da minha casa todos os dias, sei que os catadores passam logo cedo, então o que serve para ser reciclado vai para rua primei-ro”, conta Gisele Carvalho, técnica em saneamento ambiental.

Conscientização basta?Outro ponto fundamental é que pre-

cisa haver o compromisso dos clientes de fazer a melhor compra e não se guiar apenas pelo menor preço. “Hoje o con-sumidor precisa aprender a fazer o con-sumo consciente. É fundamental que esteja bem informado sobre os produ-tos e serviços que serão adquiridos ou contratados, pois cabe a ele escolher produtos derivados de empresas éticas, que respeitam os direitos humanos e os limites naturais do planeta”, aconselha Luís Morato, professor de logística re-versa do curso de logística da Fanese - Faculdade de Administração e Negó-cios de Sergipe.

Inúmeras empresas diminuíram o tamanho da embalagem de seus produ-tos sem afetar seu conteúdo parar gerar menos lixo. Elas montam seus equipa-mentos comerciais pensando na facili-dade que terão em desmontá-los para reciclá-los depois e, claro, procuram utilizar materiais reciclados e reciclá-veis em sua confecção.

Algumas redes de supermercados como Wal-Mart, Pão de Açúcar e Bom Preço buscam incentivar o maior con-sumo de produtos com algum diferen-cial de sustentabilidade e a não utilizar sacolas plásticas. Essas são iniciativas de conscientização mais difundidas no país e que começam a funcionar. “A conscientização e a destinação am-

única forma de recuperação desse in-vestimento é com o aumento do preço do produto, o que necessariamente faz com que essa empresa fique atrás da concorrência que não pratica LR”, considera.

Mas há quem pense diferente. Um exemplo disso é o Programa de Subs-tituição e Promoção de Acesso a Re-frigeradores Eficientes, que pretende substituir cerca de 10 milhões de ge-ladeiras de famílias de baixa renda nos próximos 10 anos. Além de estimular as remanufaturas, as recicladoras e a logís-tica reversa, a ação objetiva dar oportu-nidade às famílias que ganham até dois salários mínimos por mês de terem seu primeiro refrigerador eficiente e ecoló-gicamente correto.

Mais da metade dos produtos de li-nha branca (55%) são trocados ao final de sua vida útil. Alguns com eficiência menor continuam a ser utilizados. Por isso, a intenção é estimular a troca, por meio de propostas diferenciadas. Uma delas seria um desconto significativo na hora de adquirir esse novo produ-to, caso o cliente entregasse o seu an-tigo refrigerador para ser desmontado e reinserido no ciclo produtivo. “Aqui em Sergipe aconteceu algo parecido, quando o GBarbosa e a HP fizeram uma campanha: quem levava sua anti-ga impressora ganhava um desconto ao adquirir uma nova”, lembra Morato.

A outra etapa do Programa, ainda sem previsão de início, será facilitar a compra dessas geladeiras pelos cerca de três milhões de brasileiros que ainda não dispõem do equipamento. Espera-se que o conjunto de medidas elimine cinco mil toneladas de CFC e econo-mize 1,6 bilhão de investimentos por pelo menos 20 anos na construção de algumas usinas hidrelétricas

Pedro Ivo

Eletrodomésticos sem utilidade podem voltar ao ciclo produtivo pela logística reversa

Janaina Oliveira

Falsificações não podem ser submetidas à LR

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isso, a empresa elabora projetos de redução para mitigar os impactos gerados pelos rejei-tos, tudo atendendo aos requisitos das ‘Nor-mas e Certificações Ambientais’.

Além disso, Alan acrescenta que para aprimorar o gerenciamento dos resíduos dos seus parceiros, a Biorecycle disponibiliza um software chamado Programa de Excelência para o Gerenciamento Ambiental de Re-síduos (PEGAR), gratuito e com acesso dire-tamente pela Web. Através deste programa, os parceiros poderão fazer todo o gerencia-mento dos seus resíduos utilizando relatórios financeiros, quantitativos de venda, certifica-dos de coleta e gráficos. “Isso garante mais eficiência em nosso acompanhamento e gerenciamento dos materiais. Assim, nossa empresa articula uma cadeia de destinação final dos resíduos, o que supera o negócio e torna-se um comprometimento sustentável, pois a reciclagem é uma arma indispensável na preservação do meioambiente”, enfatiza Alan Fraga.

Problema ou oportunidade? Para articular melhor as ações de empre-

sas como a Biorecycle, a Federação das In-dústrias do Estado de Sergipe (FIES) lançou, em abril, o programa Bolsa de Resíduos em Sergipe (BRS), que contribui para identificar e apoiar iniciativas de gestão ambiental que permitam a redução, o reuso e a reciclagem dos rejeitos industriais gerados a partir de processos de produção, dentro de uma visão socioeconômica sustentável.

O coordenador da BRS, John Sales, sa-lienta que entre seus principais objetivos está a identificação e disponibilização de infor-mações sobre rejeitos industriais passíveis de

transformação, o que estimula o relaciona-mento entre agentes. Além disso, o programa gera uma economia alternativa, pois dissemi-na tecnologias de utilização dos resíduos com vistas a criar projetos de geração de emprego e renda e o fomento de novos investimen-tos. “O resíduo ganha valor e transforma-se em matéria prima ou no insumo necessário para outra empresa, criando uma cadeia de aproveitamentos. É importante lembrar que a implantação da Bolsa de Resíduos é recente no estado, e que o espaço disponibilizado pela FIES para as empresas é gratuito e pode ser acessado pelo endereço www.sibr.com.br”, informa John Sales.

Para o economista e coordenador do Nú-cleo de Informações Econômicas (NIE), Ro-drigo Rocha, a partir da Bolsa de Resíduos, as indústrias, o meio acadêmico e institutos de pesquisa estarão estimulados a buscar tecno-logias capazes de operar a utilização dos rejei-tos das indústrias e da sociedade em geral. “O que se espera com o programa é estimular a responsabilidade para o “lixo” produzido, pois com a PNRS todos serão responsáveis, e se não cumprirem com sua obrigação serão punidos”, enfatiza o economista.

Pesquisa científicaPara o professor do curso de Enge-

nharia de Materiais da Universidade Fede-ral de Sergipe (UFS) Daniel Véras, o estado tem mais um desafio. No entanto, ele aler-ta que reutilizar o rejeito sem um estudo que demonstre sua viabilidade técnica e ambiental pode se tornar uma ação muito perigosa. Nesse sentido, a UFS já entrou em contato com a FIES para colaborar com a Bolsa de Resíduos. A Universidade

pode entrar como parceira no aperfeiçoa-mento de pesquisas que contribuam para o reaproveitamento dos materias pelas em-presas vinculadas ao programa. “Quando as empresas não investem em laboratórios próprios para a pesquisa, torna-se muito difícil um banco de resíduos funcionar de maneira produtiva e sustentável, e nesse sentido a academia é uma parceira funda-mental. Isso se reflete não só na absorção de mão-de-obra, como também numa re-lação afinada com a pesquisa científica”, salienta o pesquisador.

“Infelizmente Sergipe ainda não possui a cultura de reaproveitar seus rejeitos indus-triais e urbanos. Hoje, as empresas que não respeitam as políticas ambientais também sofrem com o lançamento dos resíduos na natureza. As multas aplicadas são altíssimas e inibem o agravamento dos danos causados ao meio ambiente. Porém, é importante que se crie uma cultura de sobrevivência susten-tável alinhada ao desenvolvimento econômi-co, e o banco de resíduos é uma boa alterna-tiva para começar”, acrescenta Daniel.

Segundo John Sales, qualquer empresa pode participar da Bolsa de Resíduos. Em Sergipe já participam 26 empresas. Porém, ele lembra que o programa abrange seis esta-dos que relacionam aproximadamente 7 mil empresas. “Isso é um avanço para a socie-dade, já é tempo de todos se conscientizarem de sua responsabilidade ambiental. Os resul-tados obtidos através da reciclagem atingem âmbitos sociais, econômicos e ambientais, podendo promover melhorias em regiões de densidade industrial e escassez de serviços de destinação dos rejeitos. E isso se configura como um bem coletivo”, diz John

Fotos: Gabriel Cardoso

Resíduos sólidos na agenda pública

Joanne Mota e Gabriel [email protected] / [email protected]

A miséria de grande parte do povo brasileiro é a contrapartida do hiper-

consumo praticado por uma pequena mino-ria em termos relativos”. Esta foi a afirmação do respeitado intelectual e economista Celso Furtado, no início da década de 1990, para alertar sobre os possíveis males sociais que enfrentaríamos se não repensássemos nossos padrões de vida. Na mesma época, ocorria em Brasília um debate sobre a criação de uma lei de controle dos resíduos sólidos, cujos transtornos ao meio ambiente começavam a ser identificados.

Após 20 anos de discussão, a Política Nacional de Controle de Resíduos Sólidos (PNRS) abre caminho para uma nova postu-ra do cidadão e lança um desafio para o setor produtivo do país. Entre as medidas previstas pela PNRS estão o estabelecimento da res-ponsabilidade compartilhada entre agentes públicos e privados, e a logística reversa, pela qual as indústrias podem absorver o descarte do produto usado (ver pág. 8). Com isso, o mercado intensifica um processo de implan-tação de empreendimentos sustentáveis e abre caminho para mais um ramo na área in-dustrial: o do reuso dos materias descartados.

A Biorecycle Indústria e Comércio de Materiais Recicláveis atua há mais de um ano na coleta e gestão de resíduos sólidos, sejam refugo, orgânico ou lixo em geral. Localizada no município de Itaporanga D’ajuda, em Sergipe, atende a diversas empresas no setor de papel, materiais metálicos e plástico. Se-gundo informações do gerente de negócios, Alan Fraga, a rede de agentes da Biorecycle é formada por parceiros formais e informais e os catadores. Todos contribuem para im-plementar soluções rentáveis a partir de um programa de redução na fonte geradora. Para

“Reciclar não traz apenas benefícios econômicos, traz também benefícios sociais”, frisa Jeferson Oliveira, funcionário da Biorecycle

Política Nacional e Bolsa em Sergipe dão novo rumo ao setor

Infelizmente Sergipe ainda não possui a cultura de reaproveitar seus rejeitos industriais e urbanos

Política 9

Daniel Véras, pesquisador da UFS

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fletindo na conta”, diz Josevaldo.Uma das alternativas utilizadas pela

família para diminuir gastos é controlar o uso de eletrodomésticos, como o ferro de passar, que só é usado a cada 20 dias quando as trouxas de roupas ficam acumuladas. Eles também se controlam nas compras do mês: “só compramos o que é necessário, às vezes Maria do Carmo foge para a sessão de per-fumaria, mas eu a chamo de volta para a realidade”, conta Josevaldo, que também se preocupa com o consumo de água. “Educo meus filhos para pouparem água, vi na tele-visão que existe pouca quantidade de água

potável e tenho medo que um dia ela acabe”.

Há uma conscientização gerada por problemas rotineiros, como alagamen-tos no bairro. “Sempre que vejo meu vizinho jogando lixo na rua, chamo a atenção dele porque aquele ato pode gerar problemas que vão prejudicar todo mundo que mora aqui”, relata Maria do Carmo. Josevaldo também acrescenta que na casa deles as coisas só são jogadas no lixo quando não podem mais serem reutilizadas e que quase nunca consomem por impulso.

ta Cristina, que já foi mais consumista, passou a repensar seus hábitos. Diferen-temente da caçula Melissa, que não abre mão da chapinha e do secador de cabelo.

A família conta que evita carregar os celulares a toda hora e controla o ímpeto de trocá-los com frequência. “Com-pramos apenas quando está quebrado, chegamos a passar anos com o mesmo celular’, afirma o pai. Outra atitude ecoló-gica que Ari tenta passar para seus filhos é a chamada carona amiga, que contribui para diminuir o número de carros nas ruas e a aglomeração nos ônibus, além

de reduzir a poluição do meio ambiente.Thanna, que é estudante de Biologia,

é a única que já conhecia a filosofia dos 4 Rs. A futura bióloga acha que falta ins-trução e interesse por parte das pessoas. “Penso que se medidas em prol do meio ambiente fossem discutidas em teleno-velas, a população se interessaria mais pela causa. Infelizmente, vivemos num mundo de alienação em que as crianças são induzidas desde cedo a consumir e famílias com hábitos sustentáveis, como a minha, são rotuladas de ‘ecochatas’”, desabafa.

Monique de Sá

10 Comportamento

Os 4Rs: na prática a teoria é outraa filosofia dos três Rs, proposta por am-bientalistas europeus na década de 1970. O primeiro “R” é o de reduzir o consumo, principalmente cortando aquilo que é des-necessário, ou seja, combater o desperdí-cio. O segundo “R’, o de reutilizar, é uma forma de evitar que vá para o lixo aquilo que possa ser reaproveitado de outras ma-neiras, como por exemplo, fazer suco ou adubo com a casca de algumas frutas. O último “R” é o da reciclagem, o mais co-nhecido dos três e também o mais polêmi-co. De acordo com o doutor em Ciências Sociais da Unicamp Philppe Layargues, o padrão de discurso brasileiro segue o modo oficial de supervalorização do “R” da reciclagem, que segundo ele não apre-sentaria impacto nenhum na economia e nos impostos gerados pelo consumismo

que são pagos ao governo. Uma revisão crítica dessa h i e r a rq u i a entre os “ e r r e s ” i n v e r -teu a posição da reci-clagem e acrescentou um quarto “R”, o de re-pensar, antes de tudo, os atuais padrões de consumo e o modelo de obsolescência programada do industrialismo.

O planeta encontra-se em estado de emergência, devido à inter-

ferência prejudicial da ação humana - que usufrui (sem controle) do que a nature-za oferece, sem se conscientizar de que é parte dela. Aquecimento global, alaga-mentos, enchentes são indícios de algo que está em debate na sociedade: atos predatórios e consumismo contribuem significativamente para as catástrofes que atingem todos os cantos do mundo. De-sastres ecológicos tornam-se rotina nos noticiários e pautam discussões entre especialistas em meio ambiente. Mas as respostas podem não estar em fórmulas técnicas e científicas e sim em medidas simples no dia-a-dia das pessoas. Como

Nem todos conhecem essa filosofia, mas a aplicam de uma maneira indireta, seja com o objetivo de controlar as despesas (principalmente nas classes C e D), ou até mesmo com a justificativa de preservação da natureza. O Contexto visitou três famílias aracajuanas de diferentes faixas de renda para saber como se dá essa relação entre economia e hábitos sustentáveis.

Os “Rs” no dia-a-dia de três famílias

Composta por quatro membros, sendo eles Ari (pai), Cristina (madrasta), Melissa (filha) e Thanna (filha). A família mora em um apartamento no bairro Treze de julho, onde a coleta seletiva é obrigatória para os condôminos; gastam, em média sete minutos em cada banho e mantêm uma política ambiental própria dentro de casa. “Meu pai nos ensinou que a cada roupa comprada, devemos doar uma”, conta Thanna. Já a madras-

Família Cruz

ambiente, mas com a questão financeira.A média de tempo gasto no banho é de

sete minutos, com exceção de Jacqueline, que chega a passar 20 minutos embaixo do chuveiro. “Felizmente, ela diminuiu o tempo, pois tinha épocas em que passava cerca de uma hora no banho”, conta Rejane, que ressalta a importância de se desligar a torneira quando não está sendo usada. Além disso, a família utiliza água oriunda da chuva para lavar a calçada e dar descarga, como faz com a água

gerada pela máquina de lavar roupas.Apesar de não conhecerem a filoso-

fia dos 4 Rs, alguns destes preceitos são aplicados de maneira inconsciente pela família Pereira, que se vale da redução e da reutilização em hábitos cotidianos.

Para Edite, educação é uma questão de berço e cita como exemplo sua so-brinha de dois anos: “mesmo sendo tão pequena, ela já coloca o lixo no devido lugar e sabe da importância deste ato”, finaliza C

Conhecida como a casa das três mu-lheres - Rejane (mãe), Edite (filha mais velha) e Jacqueline (filha) -, a família mora no Centro da capital, fator que incentiva o alto consumismo de Edite, que chega a comprar roupas repetidas do mesmo modelo. O fator que predomina na economia tanto de água quanto de energia não está relacionado com o meio

Família Pereira

Moradores do bairro América, situado na zona oeste, os cinco integrantes da família – Josevaldo (pai), Maria do Carmo (mãe) e Júnior, Brendo e Clara (filhos) - eco-nomizam água, energia e alimentos tendo em vista, principalmente, a contenção de gastos. Por conta disso pagam a taxa mínima no serviço de água. “Ainda quero diminuir o consumo de energia. Júnior, meu filho mais velho, passa muito tempo com o computador ligado e isto acaba re-

Família Santos

Monique de Sá

Yasmin Barreto

[email protected] / [email protected] de Sá e Yasmin Barreto

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Pedro [email protected]

Para aonde vai o seu lixo eletrônico?Descarte e reciclagem corretos

Computadores obsoletos para uns podem ter vida útil para outros, às vezes até como fer-ramenta de trabalho. O engenheiro civil Marco Aurélio Faro sabe bem disso, pois costuma le-var para o escritório onde trabalha os computa-dores que são substituídos em casa. “Quando o computador já não é mais útil no escritório, dou a algum funcionário da firma, que fica com a máquina por mais algum tempo”, relata.

Mas essa solução do “passe adiante” indi-vidual não serve para empresas ou instituições que precisam substituir vários computadores e periféricos ao mesmo tempo, ou para quem precisa se desfazer rapidamente de equipamen-tos e acessórios por motivos de mudança, por exemplo.Nesses casos, são necessárias ações de reciclagem adequada a esse tipo de material, como faz o Centro de Descarte e Reúso de Re-síduos de Informática (CEDIR-USP), uma par-ceria do Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo com o Laboratório de Sustentabilidade do Massachussets Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos. O trabalho desenvolvido desde 2008 consiste em realizar uma “faxina geral”, recuperando o que for possível e indicando as possibilidades de reuso ou reciclagem do descarte de informática da universidade.

Outra iniciativa nesse sentido, também em São Paulo, é a do E-lixo Maps, uma parceria da Secretaria de Estado do Meio Ambiente com o Instituto Sergio Motta que mapeia os pon-tos de descarte e orienta a população sobre aonde levar sua sucata eletrônica. O site do serviço de utilidade pública (www.e-lixo.org) possui cerca de 200 postos cadastrados, que podem ser identificados a partir de uma busca pelo CEP do interessado. O Instituto preten-de estender o serviço para outros pontos do país, mas ainda não tem previsão de quando isso será feito.

A exemplo da indústria, o lixo ele-trônico nosso de cada dia (tam-bém chamado e-lixo) - das pi-

lhas aos refrigeradores, passando pelos cada vez mais “descartáveis” celulares - pode ter uma longa sobrevida.

“Já passei adiante muitos aparelhos”, diz a dona de casa Elizabete Pinto, lembrando da televisão, da geladeira, do fogão e do forno mi-croondas que doou; tudo substituído por mo-delos mais atuais, porém ainda úteis para outras pessoas. Sua irmã, a enfermeira Sandra Pinto, fez algo semelhante. “A nossa primeira tele-visão foi trocada por outra em 2001; a antiga nós demos um tempo depois para a moça que trabalha aqui em casa”, recorda. Maria Arlete Santos, que recebeu a doação, já a passou adian-te para sua filha mais velha. A família do estu-dante Orlando Filho também adotou o mesmo método de “descarte” de equipamentos usa-dos. Ele lembra de um aparelho de som micro--system que foi deixado na loja de assistência técnica, para descarte das peças, porque o preço cobrado pelo conserto não valeria a pena

Essa prática agora é corriqueira, segun-do o técnico em eletrônica Jonas Francisco Silva, dono de uma loja especializada em televisores no bairro Suíssa. “Muitas vezes a pessoa deixa o televisor aqui e não volta para pegar. Aí, a gente retira algumas peças e guarda para uma necessidade posterior”, explica. O que sobra vira sucata e doado para reciclagem, Na pilha de aparelhos acu-mulados na loja há alguns com mais de 30 anos de uso, e o custo dos reparos varia de 30 a 70 reais, dependendo do problema. Se-gundo Jonas, em tempo de chuva a pilha de TVs aumenta: “chega a aparecer umas 40 por dia para realizar algum reparo, normal-mente oriundo de problemas na tela.

No setor privado, a pioneira do ramo é a Descarte Certo (www.descartecerto.com.br/), que recolhe equipamentos eletrônicos usados, separa seus materiais e componentes e os en-caminha para os locais corretos de reciclagem. Uma parceria com a rede de supermercados Carrefour permite ao comprador solicitar a retirada do produto eletrônico a ser substituí-do no ato da compra do novo, mediante o pa-gamento de uma taxa. A Descarte Certo atua em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, mas também pretende estender suas atividades a outras regiões do país.

Em Sergipe ainda não existe um serviço vol-tado exclusivamente para coleta e destinação do e-lixo, mas já há instituições preocupadas com essa demanda. Um exemplo é a Secretaria de Estado da Segurança Pública (http://ssp.se.gov.br/), que criou uma comissão interna para ava-liar os resíduos de informática sucateados ou absoletos existentes em todas as unidades do órgão e sua possível destinação. O processo é

lento, pois envolve procedimentos burocráticos obrigatórios por lei, mas a unidade local do Senai demonstrou interesse em aproveitar os resíduos de informática da SSP para utilização nos cursos de montagem e manutenção de computadores.

Mudanças de hábitoPara saber mais sobre o que fazer com

o seu e-lixo um bom caminho é o site do Coletivo Lixo Eletrônico (http://lixoele-tronico.org/), que oferece desde links para iniciativas ecologicamente corretas de várias empresas e governos a orientações sobre como contribuir para a redução do e-lixo.

Desenvolvido a partir de pesquisa realiza-da por Bruna Daniela da Silva, Dalton Martins e Flávia Cremonesi, o site lembra que antes de pensar em descarte é preciso reduzir a pro-dução, consumir conscientemente e reutilizar. “Afinal, para fabricar um computador são gas-tos 240 quilos de combustível, 22 quilos de produtos químicos e 1,5 tonelada de água” C

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Larissa Ferreira e Lorene [email protected]

Água também pode ser reutilizadadefendeu o vereador.

O projeto foi enviado para diversos órgãos municipais, inclusive a Empresa Municipal de Urbanização (EMURB), mas foi considerado inviável sob a alegação de que chove pouco no estado. A Câmara partiu, então, para uma solu-ção caseira.Em sua última reforma, optou por utilizar vasos sanitários que evitam o desperdício de água – os chamados “vasos ecológicos”, que possuem densidades diferentes para a eliminação de água pela descarga, variando de 3 a 6 litros.

Busca de alternativasOutra iniciativa de aproveitamento das águas

pluviais é um estudo realizado pelo professor do Departamento de Engenharia Civil da Uni-versidade Federal de Sergipe (UFS) José Daltro Filho no aeroporto Santa Maria, em Aracaju. “Esse trabalho visou mostrar aos dirigentes da Infraero que a instituição tem potencial para o aproveitamento da água de chuva, pois há uma área coberta imensa que pode dar suporte ao

fornecimento de água para a jardinagem e os va-sos sanitários, resultando numa economia subs-tancial”, explicou.

Para o engenheiro civil e professor do Ins-tituto Federal de Sergipe (IFS) Antônio Alves da Anunciação Filho, o aumento da demanda por água tem imposto pressões econômicas e socioambientais aos novos empreendimentos imobiliários, para que adotem medidas visando à diminuição do consumo e a busca por fontes alternativas.

“A implementação de sistemas de aproveita-mento de águas pluviais para fins não potáveis, como irrigação e lavagem de pisos, tornou-se uma alternativa viável para as novas edificações. Além da água de chuva coletada pelo sistema de drenagem dos edifícios, a água de condensação de ar condicionado e a proveniente de cortinas de drenagem de lençol freático, também podem ser aproveitadas”.

O engenheiro diz que iniciativas locais para a reutilização de água estão em fase de estudo e

devem ser lançadas futuramente. “Mas não po-demos deixar de levar em conta de que é uma questão de tempo e de cultura”, completou.

Faltam políticasCom seis bacias hidrográficas em seu mapa

– incluindo a do Rio São Francisco – Sergipe põe em risco esse patrimônio natural ao despejar mais de 90% dos esgotos das suas cidades nos rios. Além da urgência do sanemaneto básico, o reuso planejado da água nos meios urbanos é apontado como uma demanda a ser incorporada às políticas públicas de recursos hídricos, embora nenhuma medida concreta tenha sido tomada no estado.

Ailton Francisco da Rocha, técnico responsá-vel pela Superintendência de Recursos Hídricos do Estado de Sergipe (SRH/SE), vinculada à Se-cretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA-RH), confirma: “Ainda não temos ideias con-cretas sobre a reutilização da água em Sergipe, temos apenas discussões no Legislativo”

A cidade de Curitiba foi pioneira na ado-ção do reuso de água, através de uma

lei sancionada em 2003 que estabelece que os novos prédios construídos possuam sistemas de reutilização da água do chuveiro no vaso sanitá-rio.

Em Aracaju, há uma proposta semelhante em tramitação na Câmara Municipal, apresen-tada em 2008 pelo vereador Emmanuel Nasci-mento, O projeto de lei 22/2008 prevê a inclusão de sistemas de armazenamento de águas pluviais em prédios da capital.

“As novas edificações erguidas deveriam possuir cisternas para o acúmulo de águas oriundas das chuvas, uma vez que a população aracajuana já experimentou as conseqüências negativas do racionamento e rodízio na distribuição de água. A implantação dessas cisternas não seria a solução final para o problema, mas amenizaria a ocorrência deles”, C

Contexto abril-junho/2010 Comportamento

Políticas Públicas

Falta de local apropriado para descarte do e-lixo ainda é um problema

Pedro Ivo

Page 12: Jornal Contexto ed26

(HUSE) iniciou um projeto em 2008 de total reformulação na separação e no trata-mento dos resíduos sólidos hospitalares. Ronaldo Cruz, gerente de Higienização e Limpeza, responsável pelo plano, admite que enfrentou grande dificuldade ao tentar por todas as medidas necessárias em prática. “O hospital passava por dificuldades antigas que existiam desde a sua criação. O pessoal responsável pela seleção e coleta do lixo não tinha o devido treinamento, o que dificul-tava muito o nosso trabalho”, contou.

O projeto contempla desde pequenas ações dentro dos setores até grandes mu-danças no destino final do lixo, como a melhoria das instalações de abrigo externo,

onde é armazenado até ser retirado e en-caminhado à vala séptica (diferente da que recebe resíduos comuns), no Santa Maria. Essa coleta é realizada diariamente pela Torre Empreendimentos, que possui um contrato com a Secretaria de Estado da Saúde (de número 063/2006) e a disposição final é de responsabilidade da Emsurb.

Essas mudanças não se restringem ao Hospital João Alves e deverão ser estendidas aos demais hospitais públicos de Sergipe. Porém, muitos ainda não conseguem se adequar às normas para o serviço. “Elas são muito inovadoras. Nós estamos até bem avançados em relação a isso”, conclui Ronaldo Cruz

Passados oito anos, a cooperativa conta com dois caminhões de coleta seletiva cedidos pela Emsurb, dois galpões de separação e prensagem e 44 cooperados trabalhando efetivamente. “O lixo seco coletado pelos caminhões vem para a Care e aqui nós separamos os materiais para a venda. Uma parte do dinheiro recebido é destinado para pagar os nossos salários de R$ 460, e a outra sustenta o projeto com as crianças. Nosso objetivo é equiparar ao valor do salário minimo”, afirma Vaneide Ribeiro, representante da Care.

Além do trabalho de coleta seletiva, a cooperativa sustenta o projeto Recrearte com as crianças da Comunidade Santa Ma-ria, muitas delas filhos e filhas dos coopera-dos. “O Recrearte é um projeto de reforço

escolar desenvolvido com 60 crianças, o objetivo é manter as crianças nas escolas e longe do lixão”, diz Vaneide. Em média, chegam 50 toneladas de lixo seco por mês, porém, após a separação, 10 a 15 toneladas são impróprias para a reciclagem por haver contato com lixo orgânico

“É preciso que as pessoas se conscien-tizem e separem os lixos. Hoje a gente faz palestras em escolas, prédios, condomínios, mas mesmo assim ainda é fraca a divulga-ção da coleta seletiva. Tentamos divulgar uma propaganda na TV, mas o preço co-brado dava para pagar o salário de cinco cooperados”, diz Vaneide. A separação do lixo orgânico do lixo seco tornou-se uma questão de responsabilidade social

Já em lugares menos acessíveis, como as invasões populacionais (Pantanal, Morro do Avião, Coqueiral, entre outros), a co-leta é feita com veículos menores ou de tração animal. Grande parte da população descarta no mesmo recipiente restos de comida, embalagens plásticas e vários ou-tros materiais que, em sua maioria, pode-riam ser reutilizados. (Nikos Eleftherios)

A atividade hospitalar por si só já é grande geradora de resíduos infectantes. Entretanto, a maioria dos hospitais os trata da mesma maneira que os comuns, descar-tando os riscos impostos à saúde pública e ao meio ambiente.

Existem leis que orientam e normatizam todo o processo de trabalho em relação à manipulação, manejo e transporte desse tipo de lixo. Um bom exemplo é a resolução RDC 306/2004 da Anvisa, que além de

tratar de todas as questões envolvendo os resíduos da área hospitalar, também deter-mina o que é lixo infectante, lixo comum e como devem ser separados.

Segundo essa regulamentação, a separa-ção deve ser feita em três grupos: resíduos infecciosos (materiais perfuro-cortantes, sobras de tratamentos como gaze, drenos e sondas, e peças amputadas); resíduos espe-ciais (materiais radioativos, farmacêuticos e químicos) e resíduos gerais ou comuns (pa-péis, copos descartáveis, resto de alimentos).

O Hospital de Urgência de Sergipe

A sociedade moderna nos mostra a cada segundo a superação de con-

hecimentos passados e o surgimento de tecnologias avançadas. O consumismo pas-sou a ser fonte principal de sustentação de-sta sociedade e, em consequência, os bens materiais tornaram-se descartáveis com um tempo mínimo de vida. O que “não serve mais” deve ser jogado no lixo, porém, quan-do quase tudo torna-se descartável surge um grande problema. O que faremos com a grande quantidade de lixo produzido?

Esta é a pergunta feita diariamente pelas populações das grandes cidades, onde o problema é mais evidente. A preocupação torna-se ainda maior quando relacionamos esta questão com as grandes catástrofes am-bientais ocorridas nos últimos tempos. Chu-vas, tempestades, desabamentos, ala-gamen-tos deixam a população em estado de alerta. Diante desta situação delicada, ações como coleta seletiva e reciclagem de lixo surgem como práticas amenizadoras.

A coleta seletiva consiste na separação do lixo orgânico (restos de alimentos) do lixo seco (papel, metal, alumínio e vidro) com ob-jetivo de reaproveitar e reciclar o que ainda pode ter utilidade. A coleta deve ser feita na fonte, ou seja, onde o lixo é produzido. Des-de 2001, a Cooperativa dos Agentes de Re-ciclagem de Aracaju (Care), juntamente com a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), vem desenvolvendo um projeto de coleta seletiva na capital sergipana. Antes, todos os resíduos sólidos eram despejados no lixão do bairro Santa Maria.

“Hoje a Emsurb faz a separação do lixo seco e envia para a Care. Lá o material é reaproveitado, servindo muitas vezes de fonte de renda para os trabalhadores da re-ciclagem”, informa Célia Bastos, assessora técnica da Emsurb.

Segundo a empresa pública, o serviço começou atendendo ao conjunto do Inácio Barbosa e hoje abrange 26 localidades. Em 2009 o programa recolheu 1.120 toneladas de lixo para reciclagem, segundo a Prefei-tura de Aracaju, “Nós atendemos bairros como Treze de Julho, Jardim Esperança,

Coleta seletiva assume função social

Beira Mar, Cirurgia, Bela Vista, entre ou-tros. De 2002 para cá, o lixo seco coletado e destinado à Cooperativa aumentou cinco vezes”, diz Célia Bastos.

Do Lixão à CarePor muito tempo, todo o lixo produ-

zido em Aracaju era despejado no lixão do bairro Santa Maria. Lá, urubus, ratos, catadores e crianças disputavam o espaço a procura de restos de comida e materiais a serem aproveitados. Muitas destas pes-soas moravam em barracos localizados no próprio lixão. Eram condições precárias de sobrevivência. Um dos problemas era o trabalho infantil. Pelas péssimas condições de vida as crianças, filhos e fil-has dos catadores, ajudavam no trabalho árduo, trocando o tempo de estudo pelo tempo no lixão.

Diante desta situação, em 1999, catado-res resolveram se organizar por melhores condições de trabalho e principalmente para exterminar o trabalho infantil. Depois de muita luta, conseguiram criar, em 2002, a Cooperativa dos Agentes de Reciclagem de Aracaju (Care), com apoio do Unicef - o Fundo das Nações Unidas para a Infância, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e o Ministério Público.

C

Lixo hospitalar tem novas normas

12 ContextoPolíticas Públicas abril-junho/2010

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Pedro [email protected]

Victor [email protected]

Pedro Alves

As 50 toneladas de lixo que chegam todo mês à Care são separadas e vendidas para a reciclagem

No estado de Sergipe, o órgão res-ponsável pelo ciclo de coleta, transporte e descarte do lixo é a Emsurb - Empresa Municipal de Serviços Urbanos, que reali-za esse processo em dias alternados, tanto durante o dia quanto à noite. Para isso, a cidade foi dividida em setores, com coleta diferenciada conforme os locais. Onde o acesso é viável, são utilizados caminhões.

Lixo doméstico ainda não é separado

Page 13: Jornal Contexto ed26

O processo de coleta seletiva que está sendo implan-

tado na UFS atende ao decreto 5.940, instituído pela

Presidência da República em 25 de outubro de 2006, O

regulamento determina que os órgãos e entidades da

administração pública federal devem realizar a sepa-

ração dos resíduos reciclados descartados e destiná-los

às associações e cooperativas de catadores. O decreto

prevê a prática da coleta seletiva solidária para os que

possuem a catação de materiais como única fonte de

renda, e a criação de um espaço para triagem e classifi-

cação de resíduos.

Orientação legal

mente atende a cerca de 40 cooperados.“O galpão que está sendo pensado para

a UFS é voltado para o reaproveitamento de tudo, até mesmo da água e energia que serão utilizadas. Teremos então um galpão auto-sustentável. Nossa dificuldade, apesar dos recursos internacionais, está na falta de ges-tão pública ambiental das prefeituras de São Cristóvão e Aracaju, que não apóiam o nos-so projeto”, desabafou Laura. Ela destaca o fortalecimento do programa de extensão que impulsionará a comercialização de produtos reciclados.

Recolhimento e prensagemAtualmente, a coleta de todo o lixo orgâni-

co e inorgânico do Campus de São Cristóvão, e mais o lixo hospitalar do Campus Saúde, é realizada pela Torre, empresa terceirizada que executa os serviços de limpeza na Grande Aracaju. O destino desses rejeitos é o aterro sanitário ou “lixão” do bairro Santa Maria.

Na UFS, a Divisão de Serviços Gerais (DSG) é o setor da prefeitura dos campi que presta os serviços na área de limpeza. Todo o excedente é coletado por uma equipe também terceirizada, a cargo do Departamento de Ser-viços Gerais (DSG). Segundo o chefe deste setor, Lindomar Silva, as rotinas de limpe-za e coleta de lixo nos campi já vêm sendo alteradas. “Em função da nova política de coleta do lixo, a UFS também mudará seu modo de trabalhar, uma vez que passare-mos a ter não só um local apropriado para o despejo, mas toda uma lógica de seleção de resíduos”, considerou.

Com a coleta seletiva, os campi passa-rão a disponibilizar coletores de lixo apro-priados, comumente diferenciados com cores fortes que designarão o tipo de ma-terial a ser despejado. “Os coletores ficarão

Depois de vários anos de conflitos com o Ministério Público por con-

ta do “lixão” do Rosa Elze, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) inicia uma ampla mudança no processo de coleta de resíduos sólidos, com base no princípio da coleta se-letiva solidária instituída por lei pelo governo federal (ver quadro). Esta orientação atende aos dois principais pontos de controvérsia so-bre a questão do lixo na Universidade: a socio-ambiental e a de geração de trabalho e renda para as dezenas de famílias de “catadores” da comunidade.

De acordo com o vice-reitor da UFS, Ân-gelo Antoniolli, que está à frente desse pro-cesso, a implantação da política especial para o lixo envolve, antes de tudo, uma mudança de pensamento. “Pensar em coleta seletiva do lixo parte do princípio da consciência ecológi-ca. E conscientizar não é tarefa simples, em-bora seja a grande preocupação da universida-de. Por isso, estamos realizando estudos nessa direção”, explicou o professor, enfatizando o arranjo produtivo de alto valor econômico no qual o lixo está inserido.

Questionado sobre a demora para im-plantar um projeto de cunho socioambien-tal na Universidade, o vice-reitor disse que o prazo para isso já está definido. “Até o início do segundo semestre de 2011 implantaremos a política de coleta seletiva do lixo em todos os campi da UFS. Já estamos com o projeto em andamento no Campus de São Cristóvão e no de Itabaiana, para em seguida chegarmos a Laranjeiras e, logo depois, em Lagarto”, pro-meteu o vice-reitor.

Economia solidáriaSegundo a engenheira florestal Laura Jane

Gomes, que integra a coordenação do projeto ambiental da UFS, entre as propostas da ini-ciativa está a criação de um galpão que servi-rá para o processo de triagem, classificação e seleção de todo o lixo produzido no Campus de São Cristóvão. “No galpão iremos desen-volver uma economia solidária, em que os antigos catadores do lixão terão um meio de trabalho certo e seguro, através do associati-vismo e da cooperação”, disse a pesquisadora.

A construção desse galpão envolve dife-rentes setores da universidade e outras orga-nizações externas. A elaboração do projeto fi-cou a cargo do Departamento de Engenharia Civil. O cadastramento de cooperados ficará sob a responsabilidade da Unitrabalho, uma rede universitária nacional que agrega mais de 90 instituições de ensino superior de todo o Brasil, e que já realiza trabalhos nesse sentido.

A ONG holandesa ICCO doará os ma-teriais, assim como vem fazendo com uma cooperativa no bairro Lamarão e outra ain-da a construir no Morro do Avião. A ICCO também financiou a Cooperativa de Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care), localizada no bairro Santa Maria, e que atual-

diferenciados em lixo reciclável, não-reciclável e orgânico. No Campus de São Cristóvão, por exemplo, já disponibilizamos esses coletores, mas sem essa diferenciação”, comentou o mestrando em Desenvolvimento e Meio Am-biente da UFS Fred Alves. Ele também consi-dera que serão necessárias mudanças de atitu-de e comportamento por parte de estudantes, professores, funcionários e visitantes.

Passada a fase de coleta, os respectivos ex-cedentes terão seu destino certo: os não-reci-cláveis e orgânicos serão coletados pela Torre e levados para o aterro do bairro Santa Maria, e os recicláveis irão para o galpão para serem prensados e recolocados em uso. “A ICCO nos cederá todo o equipamento necessário para o processo de reciclagem, como pren-sa, balança e mesa separadora. A Unitrabalho fará a extensão universitária com os catadores de lixo da comunidade e a coleta seletiva soli-dária ganhará forma e responsabilidade socio-ambiental”, explicou a professora Laura.

Mobilização extensivaA campanha ambiental da UFS conta com

a contribuição de diversas áreas de saber:

Comunicação, Engenharia Florestal, Biologia, Ecologia, Direito, Psicologia, Administração e Serviço Social. O projeto de sensibilização pretende atingir alunos, professores, técnicos e trabalhadores terceirizados, segundo o pro-fessor de Publicidade Matheus Felizola.

Para isso, ele e uma equipe realizaram dois levantamentos: um focando professores, téc-nicos e alunos, e outro apenas os terceirizados (em especial seguranças e serviços gerais). “A partir dessas pesquisas, criamos um briefing (re-sumo do problema a ser resolvido) e a marca da campanha. Estamos agora abrindo um edi-tal para o slogan e realizando o planejamento de marketing para as ações no Campus de São Cristóvão”, informou.

O conteúdo da campanha será divulga-do através de spots, outdoors, panfletos com papel reciclado e adesivos no chão, além de promoções com camisas, canetas, canecas e sacolas recicladas. “Esse é o passo inicial do processo de consciência ecológica que vem sendo implantado na UFS nos últimos anos”, finalizou o vice-reitor, considerando o projeto como parte de uma educação coletiva C

Universidade 13

Latões coloridos não são enfeiteCampanha de comunicação divulgará importância da coleta seletiva solidária

Jeimy [email protected]

Michel Oliveira

Contexto abril-junho/2010

Recolhimento do lixo no campus de São Cristóvão antes da implantação da coleta seletiva

Page 14: Jornal Contexto ed26

meio ambiente como forma de obtenção e preservação da qualidade de vida. Por isso tem como foco o comportamento humano como direcionador desta qualidade. “Não dá para discutir meio ambiente sem quali-dade de vida, como não dá para pensar qua-lidade de vida sem pensar no meio em que vivemos. Queremos contribuir para que as pessoas desenvolvam um comportamen-to cada vez mais civilizado em relação ao meio”, enfatizou Alex.

O programa, pioneiro em Sergipe, apre-senta um formato dinâmico: possui em sua abertura um editorial, na voz do próprio Alex; propõe o debate em torno dos temas, expondo as visões de especialistas convida-dos; traz notícias nacionais e internacionais, através de boletins informativos com a jor-nalista Valéria Lima; e convida à reflexão com as crônicas produzidas e apresentadas pelo colaborador Antônio dos Passos. Além disso, traz a participação do estudante de en-genharia florestal Marx Miller, que através de um texto informativo faz uma ponte entre a comunidade e as propostas, pesquisas e projetos ambientais, oriundos da academia. Tudo isso acompanhado, sempre que pos-sível, de recursos sonoros, como música de fundo, ou intercalados com músicas de can-tores nacionais ou sergipanos relacionadas à temática do programa.

Outros ecosIniciativas como estas são calcadas no

propósito de utilizar os meios de comuni-cação em favor da educação ambiental. No Brasil, o rádio ainda é o veículo de maior pe-netração social, por conta da sua acessibili-dade e abragnência. “Ele é democrático, tra-balha idéias com leveza, permite a música, o humor, torna os assuntos mais leves sem tirar sua relevância,” explica a professora do curso de Audiovisual da Universida-de Federal de Sergipe (UFS), Ana Ângela Farias Gomes.

Foi com esse referencial que a profes-sora e o colega Matheus Felizola, ambos do Departamento de Comunicação Social (DCOS), propuseram o projeto de extensão “O meio ambiente no cotidiano: educação ambien-tal na R á d i o UFS”. O projeto, iniciado em abril, traz uma nova abordagem da questão ambiental, considerada central para “decisões sociais, po-líticas e econômicas no mundo”.

O projeto ressalta a importância de se investir em campanhas educativas que utili-zem a expressão radiofônica, na qual o uso da música e da sonoplastia reforça o efeito da palavra, dando mais impacto ao texto. A produção utiliza a linguagem dos spots publicitários e é feita por nove alunos dos cursos de Audiovisual e Publicidade e Pro-paganda.

A necessidade de promover e agendar constantemente a questão ambiental na mídia explica-se, na visão da professora Ana Ângela, pelo fato de este ser “um tema de alta relevância para o mundo contemporâ-neo, que questiona nossos padrões de re-lações sociais e propõe ao indivíduo uma forma mais cooperativa e ética de vida”. Ela considera que vivemos hoje “um momento de grande ebulição em torno de perspecti-vas sociais que colocam a questão ambiental como central em relação a qualquer modelo

de desenvolvimento”

O meio ambiente nas ondas do rádioO documento da Organização das

Nações Unidas (ONU) que estabeleceu 2010 como o Ano Internacional da Biodi-versidade evidenciou, mais uma vez, a neces-sidade de agir e repensar possíveis formas de amenizar o impacto do homem sobre meio ambiente. Em Aracaju, a reflexão sobre este documento foi responsável também, por in-centivar a concretização de um projeto que há algum tempo fazia parte do imaginário do jornalista e professor Alex Nascimento: um programa de rádio que pautasse conti-nuamente e exclusivamente temas relaciona-dos ao meio em vivemos.

Foi com esse objetivo que nasceu o ‘Ecos em Debate’, no ar desde 29 de março deste ano pela Aperipê, 104,9 FM. A pri-meira edição foi uma espécie de programa piloto, destinado a informar e problematizar questões ambientais de Sergipe. Com uma hora de duração, o programa aborda temas como energia nuclear, água, meio ambien-te urbano, resíduos sólidos, entre outros, inserindo-os num contexto de relação direta com as ações humanas do cotidiano e noções de cidadania e coletividade. Mas, segundo seu idealizador e presentador, Alex Nascimento, o Ecos em Debate visa, sobre-tudo, promover a discussão em torno do

14 Comunicação‘

Fernanda [email protected]

Reality show em versão ecológica

A febre dos “realities shows” vem sendo utilizada no Brasil de forma

inovadora pela TV Cultura para tratar do meio ambiente. Lançado em abril de 2009, o programa Ecoprático aborda os comportamentos cotidianos ecologicamente incorretos de uma família paulistana e sugere atitudes que respeitem o meio ambiente e, ao mesmo tempo, possam melhorar a qualidade de vida dos moradores da casa. A primeira

Os dois visitam casas de diferentes regiões da Grande São Paulo, habitadas por pessoas dos mais diversos perfis socioeconômicos, e avaliam a sua situação a partir de dez “ecocri-térios”: energia, água, alimentação, resíduos, ecossistema, bem-estar, transporte, consumo, estrutura e atitude. A partir daí, propõem uma série de mudanças estruturais, físicas e com-portamentais na casa e na família.

“Na maioria dos casos, soluções simples, que não comprometem o orçamento familiar, são suficientes para tornar o ambiente ecologicamente adequado”, explica Anelis. “Muito mais do que as reformas, nossa grande preocupação é fazer a pessoa refletir e mudar de atitude. Como as dicas sugeridas são simples, eficazes e economicamente viáveis, o próprio telespectador pode incorporá-las à sua realidade”, completa Pane. Trocar telhas na área de serviço por uma opção que permita a entrada da luz solar ou construir um deck no quintal para escoamento da água são alguns dos exemplos destacados pelo apresentador.

Com roteiro de Carol Ribeiro, os pro-gramas exibem todo o processo realizado na residência, desde a primeira visita até o retor-no da equipe, com as mudanças já realizadas. Também mostra de que forma as intervenções mexeram com a rotina da família. Cada edição do “EcoPrático” conta com a participação de dois especialistas. Um deles é o arquiteto Fran-cisco Lima, o Xico, que assina os projetos de reforma. Já a jornalista Maria Zulmira, respon-sável pela direção de conteúdo do programa,

trata de questões importantes relacionadas à sustentabilidade doméstica, contextualizando o tema abordado no quadro “Zuzu Respode”.

A atração conta ainda com os quadros “Eco Dica”, com o próprio morador dando toques simples como desligar o chuveiro du-rante o banho enquanto ensaboa o corpo; e “Eco Nota”, em que cada participante do episódio avalia suas atitudes e é avaliado pela produção do programa.

A produtora Carla Schertel avalia como bastante positiva a utilização do formato de reality show para tratamento dessa temática, por permitir passar do discurso ecológico para uma prática diária de sustentabilidade. “Não se trata de um show no sentido sensacionalista e sim da maneira que encontramos para mostrar que é possível mudar e contribuir para um fu-turo mais consciente e sustentável”. O objeti-vo maior do programa é sensibilizar as pessoas para uma atitude concreta frente às questões do seu cotidiano. “Não basta ter informação, chegou a hora de agir. Multiplicar dicas práti-cas e ampliar a rede da sustentabilidade é o nosso desafio”, provoca a produtora.

A professora Ana Ângela Farias Gomes, da Universidade Federal de Sergipe, elogia esta “estratégia discursiva do programa de realizar educação ambiental via reality show, isto é, de ‘invasão’ da vida privada de sujeitos comuns para tentar transformá-la, reeducá-la. Para ela, este programa é “único” na TV pública brasileira, por sua forma interativa, que ajuda no enfrentamento do problema ambiental

Jailton [email protected]

CPeri ensina a construir um minhocário que trasforma material orgânico em adubo

Divulgação

ContextoAbril-Junho/2010

temporada, que teve dez episódios, pode ser assistida na Internet (www.ecopratico.com.br) e acaba de ganhar versões em DVD e Blue Ray. Atualmente é exibido aos domingos pela Cultura (disponível em alguns pacotes de TV por assinatura).

Segundo os apresentadores Anelis As-sumpção e Peri Pane, o Ecoprático trata a questão ambiental de forma didática, com leve-za e bom humor. “A cada programa uma famí-lia é escolhida para uma reciclagem de hábitos relacionados à sustentabilidade no dia-a-dia.”

C

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no consumo de energia no processo de produção.

Outra novidade foram as medalhas das Olimpíadas e Paraolimpíadas de In-verno 2010, realizadas em Vancouver, Canadá. Elas foram feitas a partir de ma-terial reciclado, como partes de placas eletrônicas e circuitos velhos reaprovei-tados.

No GP de Interlagos de F1 o troféu do campeão de 2008 foi feito a partir de polietileno verde, ou seja, de plástico

100% renovável. No ano se-guinte, foi montada uma mini-usina de reciclagem no circuito, que traba-lhou durante os quatro dias do evento cole-tando resíduos plásti-cos descartados pelo público para serem transformados em troféus 100% re-ciclados

Janguito Malucelli, mais conhecido como Ecoestádio.

De pequeno porte, o estádio que fica em Curitiba (PR) pertence ao antigo J. Malucelli, hoje Corinthians Paranaense, tem capacidade para 6.000 pessoas e custou modestos R$ 1,2 milhão (se comparado, por exemplo, ao japonês Domo de Sapporo, que consumiu R$ 750 milhões).

O Ecoestádio fica na região do Parque Barigui, um dos principais cartões postais da capital paranaense, que tem cerca de dois milhões de metros quadrados de área verde e recebe quase 50 mil pessoas nos domingos. de jogos A idéia de harmonizar o estádio com o parque deu certo, e muitos dos visitantes nem percebem que existe um jogo de futebol profissional acontecendo logo ao lado. Essa impressão é reforçada pela bela vista que se tem do lago do parque, em conjunção com os outros espaços futebolísticos que existem ao redor do campo principal.

Um dos pontos fortes do Janguito é a popularmente conhecida “arquibancada ecológica”, que foi projetada e construída em cima do morro que circunda o estádio, sem a utilização de concreto, sendo inserida apenas grama em toda a sua extensão e sobre ela as cadeiras verdes.

Segundo a assessora de imprensa do Co-rinthians Paranaense, Ruthe Precoma, todo o ferro e madeira utilizados na construção do es-tádio são provenientes de ferrovias desativadas e de áreas de reflorestamento.

Em janeiro, o Janguito teve repercussão na mídia internacional, em uma coluna que avaliou os clubes mais ecologicamente corre-tos do planeta: “o The Guardian, jornal da In-

glaterra, referiu-se ao Ecoestádio como o mais verde”, comentou a assessora.

Projetos para a Copa 2014Segundo o ministro dos Esportes, Orlando

Silva, o Brasil será responsável pela primeira copa ecologicamente correta do mundo. Mas converter grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que sofrem com graves pro-blemas estruturais e ambientais, em cidades ecologicamente corretas não será tarefa das mais fáceis.

Diante disso, é bem provável que o carro-chefe dessa “campanha” sejam dois estádios ainda em projeto: o Estádio das Dunas, em Natal (RN), e o estádio Governador José Fra-gelli, o Verdão, em Cuiabá (MT).

O Estádio das Dunas, apelidado de Novo Machadão, possuirá 80 hectares de área, sendo que 35% deles se converterão em áreas preser-vadas – o equivalente a 270 mil m². Também contará, entre outras coisas, com uma mo-derna estação de tratamento de esgoto, com diversas especificações, como o reaproveita-mento de águas pluviais e de afluentes (fato que já caracterizava a capital potiguar). Tudo isso ao custo – inicial – de R$ 300 milhões.

Ao mesmo tempo, no Mato Grosso, os cuiabanos terão grande orgulho do Verdão, que como o nome diz, será ornamentado em verde e, obviamente, cercado por centenas de árvores. Tudo isso ao longo de uma área de 307 mil m² ao custo de cerca de R$ 440 milhões. Além disso, o interior do estádio será alimentado por energia solar, e atividades que envolvem uso de água não-potável, como lim-peza de banheiros e irrigação, serão feitas a partir de água da chuva

A nova cor do futebol

Apesar de todas as belezas naturais que a África do Sul exibiu, ao sediar

a Copa do Mundo de Futebol, ainda não foi desta vez que tivemos uma competição eco-logicamente correta. Na verdade, tirando a cor dos gramados, até pouco tempo atrás futebol e meio ambiente não jogavam no mesmo time. Mas há sinais de mudança, e a partir de 2014 o marketing esportivo promete dar outro rumo a essa história.

A preocupação da FIFA - Federation Inter-nationale de Football Association, dos grandes clubes e dos comitês organizadores das com-petições internacionais tem feito com que al-guns estádios construídos ou reformados des-de o início do século se valham da tecnologia e da economia para incluir itens ecologicamente corretos em suas estruturas.

Essa aproximação entre futebol e meio ambiente começou na Copa do Mundo de 2002, disputada no Japão e na Coréia do Sul, onde os estádios foram construídos pensando em um futuro melhor para se viver. É o caso do Suwon Stadium, na cidade de Suwon, no qual foi construído um sistema de reaproveita-mento de água da chuva para regar o gramado.

Porém, foi no outro país-sede que o mun-do parou para observar o espetáculo promo-vido pelo estádio Domo de Sapporo, na Ilha de Hokkaido, no norte do Japão. Como possui cobertura fixa, criou-se um sistema para man-ter o gramado ao ar livre (do lado de fora do estádio), para que o mesmo não se deteriore. Este sistema consiste em uma plataforma de 8.300 toneladas movida a ar comprimido, que tem como função transportar o gramado para dentro do estádio em dias de jogos, através de

15Contexto abril-junho/2010

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Rafael [email protected]

O futebol não é a única modali-dade que tem merecido atenção do “marketing verde”. Fornecedores de materiais esportivos, medalhas olím-picas e até mesmo troféus da Fórmula 1 já pegam carona na “onda ecológi-ca”.

As novas camisas das seleções brasileira e australiana, produzidas

Muito além dos gramados

pela empresa estadunidense Nike e uti-lizadas no Mundial da África do Sul, foram desenvolvidas a partir da produção de um poliéster reciclado de garrafas PET (100% reciclável), que reduz o peso da camisa em cerca de 10 a 15%.

Cada camisa é feita com oito garra-fas e, além disso, segundo a Nike, gera uma redução de aproximadamente 30%

Estádios ecodirecionados alinham o esporte com o discurso do marketing verde

uma porta de 90 metros de largura que se abre nas arquibancadas. Uma vez dentro, o campo ainda se vira em 90 graus para que fique na posição correta.

Depois disso, vieram os estádios da Copa de 2006, disputada na Alemanha. Cidades como Bielefeld (Bielefelder Alm), Freiburg (Badenova-Stadion), Kaiserslautern (Fritz-Walter-Stadion) e Nuremberg (EasyCredit-Stadion), construíram ótimos e ecológicos, porém dispendiosos estádios.

As mais recentes arenas ecologicamente corretas estão na Ásia: o Kaohsiung Stadium, em Taiwan, e o Dalian Shide Stadium, na Chi-na. O moderno estádio de Taiwan possui 14 mil m² de teto e é composto por 8.844 painéis de captação de luz solar, que são suficientes para suprir as necessidades de energia no es-tádio (composta por 3.300 luzes e dois telões gigantes) e ainda iluminar 80% das residências do entorno.

Já o Dalian Shide Stadium é dono de uma beleza estonteante, além de ser muito mais ecológico que todos os anteriormente citados, juntos. Ao custo de 150 milhões de dólares, fica em local privilegiado e escolhido a dedo: à beira-mar e com montanhas próximas, o que faz com que se aproveitem as correntes maríti-mas, melhorando assim a ventilação de todo o estádio (com a ajuda da cobertura, projetada para resfriar naturalmente as arquibancadas). Além disso, utiliza energia renovável – através de turbinas eólicas e painéis solares que tra-balham em conjunto – e recicla água da chuva para uso nos vestiários, banheiros e irrigação do gramado.

E no Brasil, isso existe?Por aqui existem vários projetos, mas ape-

nas um concretizado: o rústico e simpático

Projeto do Estádio das Dunas, em Natal, que manterá a tradição potiguar de aproveitar as águas das chuvas

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A arquibancada do Ecoestádio paranaense foi construída sem a utilização de concreto

Divulgação

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Esporte

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emitidos pela ação humana, além de auxiliar no equilíbrio climático, re-duzir os ruídos urbanos e bloquear os raios solares.

Soluções e paliativosPara tentar solucionar esses

problemas, a Prefeitura Municipal de Aracaju vem realizando plantio de mudas pela cidade. Desde 2005 pequenas ações foram realizadas, mas foi em 2009 que medidas mais efeti-vas começaram a ser tomadas, com a criação do Comitê Consultivo de Arborização e lançamento do projeto ‘Plantando Cidadania’, que espalhou cerca de cinco mil mudas pela capital.

Em março deste ano, o projeto foi relançado com uma meta bem mais audaciosa: 30 mil mudas. As espécies foram escolhidas de acordo com o clima, a umidade do ar e as condições do solo. São espécies de pequeno, médio e grande porte, adaptáveis às várias situações de espaço: pau-brasil, abacateiro, aroeira da praia, cajueiro, caraíba, carambola, espatódea, ipê rosa, mangabeira, oitizeiro, dentre

outras. As mudas frutíferas não serão plantadas em vias públicas para evitar problemas futuros.

A prefeitura não possui dados so-bre a quantidade de árvores que pre-cisam ser plantadas, mas reconhece que a deficiência é grande. Segundo Mayusane Matsunae, assessora de comunicação da Empresa Munici-pal de Serviços Urbanos (Emsurb), o ‘Plantando Cidadania’ foi desen-volvido para estimular a parceria entre cidadão e meio ambiente, daí o nome do projeto.

Por se tratar de um trabalho de longo prazo, ações de conscientização estão sendo feitas nas escolas. Para a assessora, “a prática de plantar uma muda vai promover melhor a questão ambiental, pois as crianças levarão essa consciência para sua família. É nosso objetivo que a sociedade tenha a vontade de plantar uma árvore perto de sua residência”, ressalta.

Mayusane conta ainda que foi feita uma análise para corrigir as falhas do ano anterior. “Quase 70 % das mudas que foram plantadas em 2009 já não

Número de árvores em Aracaju é muito menor que o recomendado

16 Cidade

Arborização no campusCom a expansão da UFS, foram cons-

truídas novas edificações: didáticas, labo-ratórios, passarelas. Com isso, algumas árvores tiveram de ser arrancadas. Para compensar essa perda e ampliar a área

verde do campus, foi criado, em junho de 2008, o projeto de ex-tensão ‘Análise da Vegetação e Recuperação da Paisagem de São Cristóvão’, do Núcleo de Enge-nharia Florestal.

Atualmente, nove alunos par-ticipam do projeto, sob orientação do professor Robério Anastácio. Antes do plantio das mudas, as ár-vores já existentes foram numeradas e catalogadas. Muitas delas estavam infestadas com cupins ou fungos, ou-tras sofreram danos devido a podas mal feitas.

Após o levantamento, novas mu-das foram plantadas, levando em consi-deração as futuras mudanças que ainda ocorrerão no campus. Segundo Carla Zoaid, estudante de engenharia flores-tal, no primeiro ano a mortalidade foi muito alta, devido principalmente à baixa pluviosidade. No segundo ano, aproximadamente 70% das mudas sobreviveram. Sendo que estas pas-sam por avaliação periódica. “Ape-

sar da sinalização muitas mudas foram arrancadas. Algumas por vandalismo, outras pisoteadas nas festas e calouradas. Houve ainda as que foram cortadas pela

capinagem”, conta Carla. O campus de São Cris-

tóvão fica em uma área de Mata Atlântica, por isso houve

a preocupação em plantar es-pécies nativas da região. Foram mais de 27 espécies, como ange-lim, pau-brasil, pau-pombo, pau-ferro, ipê-amarelo. “Os resultados não são imediatos. Daqui a alguns anos veremos uma mudança no micro clima, com diminuição das ilhas de calor. As árvores servirão também como atrativo para ani-mais, como pássaros, por exemplo”,

conclui Carla C

A organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que

as cidades disponham, no mínimo, de 12m² de área verde por habitante. Já a Sociedade Brasileira de Arboriza-ção Urbana (SBAU) propôs um valor maior: 15m²/hab. Mesmo sendo con-siderada a ‘Capital da Qualidade de Vida’, Aracaju está 18 vezes abaixo do índice da OMS e 22 vezes se levado em conta o índice da SBAU.

Um estudo apresentado em 2008 pelo Grupo de Pesquisa em Geo-ecologia e Planejamento Territorial (Geoplan), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) revelou que a média de área arborizada da capital é 0,66m², com o agravante de maior concentra-ção nos bairros mais antigos, como Centro e São José. O número foi obtido a partir da análise de 35 bair-ros da capital, entre 2005 e 2007, dos quais 85% ficaram abaixo de 1m²/hab. Esses dados revelam um quadro preocupante, pois as árvores são fun-damentais na filtragem dos poluentes

Michel Oliveira e Victor [email protected] / [email protected] estão mais nos seus locais de plantio.

Este ano, iremos colocar uma caixa de proteção para que elas possam se de-senvolver adequadamente”.

Apesar dessa iniciativa da prefeitu-ra, as novas construções urbanas não contemplam um projeto de arboriza-ção consistente. Basta comparar uma das antigas praças do centro histórico, como a Praça da Bandeira, no bairro Cirurgia, com as atuais, onde prevalece o concreto e as plantas ornamentais, a exemplo da Praça Franklin Roosevelt no bairro América (ver fotos abaixo).

Segundo Myrna Landim, profes-sora do departamento de Biologia e coordenadora do Laboratório de Ecologia Vegetal da UFS, Aracaju ain-da precisa investir mais em arboriza-ção. “Reconheço que há praças bem conservadas, mesmo em alguns bair-ros mais pobres. Mas o investimento deve ser no sentido de ampliar esses espaços de lazer com boa qualidade paisagística, sem esquecer a seguran-ça”, observa.

“Casas na árvore”Mudar esse quadro não cabe só ao

poder público. As construtoras que utilizam grandes espaços para a cons-trução de condomínios e áreas come-rciais muitas vezes se aproveitam do “marketing verde” para atrair com-pradores, com nomes como ‘Alameda das Árvores’, ‘Morada das Manguei-ras’ e ‘Solar das Árvores’. No entanto, a paisagem dos seus empreendimen-tos não faz jus aos rótulos.

Para a professora Landim, “todo mundo acha o verde muito bonito, mas existe um custo a se pagar por ele. No caso das construtoras, elas teriam que diminuir as áreas de cons-

trução, deixando mais espaços verdes. Não apenas fazer a plan-tação de gramado 2X2 ou de uma ‘mudinha’ de Fícus”.

Myrna ressalta ainda a falta de planejamento: “o bairro Jar-dins foi construído quando já havia uma consciência da im-portância dos limites da ocu-pação humana e de seus ris-cos. Mesmo assim, o poder econômico foi preponderan-te para determinar a ocu-pação daquela área (antes ocupada pelo mangue). Na zona de expansão isso não é um problema ainda. O risco é que, futuramente, aquilo se torne um grande deserto de condomínios fechados, sem praças, parques ou áreas de reserva natural. Já existe um relatório de impacto ambiental que peca muito no tocante à preservação daquela área”, revela a professora.

Para Mayusane, a assesso-ra da Emsurb, é fundamental que a população participe, preservan-do as mudas plantadas. “Se alguém tiver interesse em ter uma muda na calçada de casa, ou mesmo se alguma árvore estiver precisando de poda, deve entrar em contato com a Em-surb. As árvores das calçadas são de nossa responsabilidade. Temos uma equipe capacitada que orienta na escolha da melhor espécie para ser plantada e que realiza as po-das sem prejudicar as árvores”. O telefone para solicitar os serviços de poda e plantio é o 0800 284 3100A praças mais antigas de Aracaju (como a da foto à esquerda) contrastam com as novas, em termos de arborizaçao

Fotos: Michel Oliveira

Contextoabril-junho/2010

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