16
Filiada à: Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA CONTAG ANO XII • NÚMERO 134 • MAIO DE 2016 Jornal da Representantes da CONTAG e das Federações entregam ao governo federal a pauta de reivindicações com propostas para o Plano Safra, prorrogação do CAR, políticas sociais e medidas emergenciais para a Reforma Agrária. DILMA RECEBE PAUTA DO 22º GRITO DA TERRA BRASIL Verônica Tozzi

Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 1Filiada à:Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA

CONTAGANO XII • NÚMERO 134 • MAIO DE 2016

Jornal da

Representantes da CONTAG e das Federações entregam ao governo federal a pauta de reivindicações com propostas para o Plano Safra, prorrogação do CAR, políticas sociais

e medidas emergenciais para a Reforma Agrária.

DILMA RECEBE PAUTA DO 22º GRITO DA TERRA BRASIL

Verônica Tozzi

Page 2: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG2

EDITORIAL

PRESIDÊNCIA

Negociação da CONTAG resulta em mais avanços para o campo

Nos últimos 22 anos, a CONTAG

tem sido a grande prota-

gonista e interlocutora dos

trabalhadores(as) rurais junto aos gover-

nos para a construção de políticas públi-

cas para o campo. Ao longo desse perío-

do, a CONTAG junto de suas federações

e sindicatos filiados organizou, mobilizou

e negociou pautas de reivindicações da

categoria. Esta trajetória de luta se alicer-

çou nas grandes mobilizações do Grito da

Terra Brasil, da Marcha das Margaridas,

do Festival da Juventude e da Mobilização

Nacional dos Assalariados(as) Rurais e,

através delas, conquistamos importantes

políticas que melhoraram muito as condi-

ções de vida e trabalho da nossa gente.

Hoje, graças aos esforços do nosso

MSTTR, os trabalhadores(as) rurais po-

dem contar com políticas públicas como

o Pronaf, o Programa de Aquisição de

Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de

Alimentação Escolar (PNAE) para organizar

sua propriedade e melhorar sua produção,

gerando trabalho e renda para a sua co-

munidade. Tem o Programa Nacional de

Habitação Rural (PNHR) que pode me-

lhorar ou construir uma casa nova, dando

mais conforto e segurança para a sua famí-

lia. Os assalariados(as) podem contar com

a PNATRE, que tem o propósito de me-

lhorar as condições de trabalho e salário.

Nossos jovens podem sonhar em perma-

necer no campo se a política de sucessão

rural, que nós defendemos, for implemen-

tada, permitindo que os(as) jovens possam

acessar o conjunto de políticas existentes,

na reforma agrária, no crédito fundiário,

no Pronacampo, no Pronaf, no PAA, entre

outras. Pois sabemos que o protagonismo

da juventude, com seu espírito de empre-

endedorismo, dará mais vida e fortalecerá

a agricultura familiar com a produção de

alimentos saudáveis para o povo brasileiro.

Neste ano, em virtude da conjuntura de

crise política, não realizaremos o 22º Grito

da Terra Brasil na data prevista (está suspen-

so). Essa decisão foi tomada na última reu-

nião do Conselho de Presidentes. Porém,

a pauta que foi elaborada e aprovada na

última reunião do Conselho Deliberativo foi

apresentada ao governo em 28 de abril,

ocasião em que se negociou 15 pontos

centrais diretamente com a presidenta

Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra

da Agricultura Familiar - 3 de maio.

A estratégia adotada pela CONTAG e

FETAGs foi correta e fundamental, pois

dos 15 pontos apresentados, a presiden-

ta atendeu 11, dentre os quais 10 foram

anunciados no lançamento do Plano Safra

2016/2017. No crédito, destacamos: a)

ampliação do volume de recursos para

custeio e investimento; b) manutenção das

taxas de juros para as linhas do Pronaf; c)

nova linha de crédito com juros de 2,5%/

ano para a produção de alimentos; d) am-

pliação dos limites de financiamento; e) re-Alberto Ercílio Broch

Presidente da CONTAG

Arquivo pessoalcursos para a produção agroecológica e/

ou orgânica e; f) recursos para incentivar

a produção das mulheres rurais (quintais

produtivos). Para a assistência técnica e

extensão rural conseguimos a recomposi-

ção e ampliação dos recursos para Ater via

chamadas públicas pelo MDA e a nomea-

ção da equipe e recursos para a Anater co-

meçar a operar. Na comercialização conse-

guimos a recomposição e ampliação dos

recursos para o PAA e o PNAE. Também

conseguimos ampliar os recursos previs-

tos para o Seguro da Agricultura Familiar

e apoio ao cooperativismo da agricultura

familiar e o Plano Nacional de Juventude

e Sucessão Rural, dando início à política

de incentivo à permanência dos(as) jovens

rurais no campo brasileiro. Outra conquista

foi a edição da Medida Provisória 724, de

4 de maio de 2016, que prorroga por mais

um ano para o agricultor(a) familiar realizar

o Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Os avanços conquistados e anuncia-

dos no Plano Safra 2016/17 são fruto

da nossa luta. Portanto, é obrigação da

CONTAG, FETAGs e STTRs divulgar junto

aos trabalhadores(as) rurais cada ponto que

nós conquistamos. Além disso, devemos

alertar a nossa base de que a crise política

e institucional poderá ser agravada e afetar

as medidas anunciadas no Plano Safra e

outras políticas públicas que conquistamos

se vingar o impeachment de Dilma e preva-

lecer a agenda de retrocesso a ser imposta

pelo Governo de Michel Temer.

Por isso, é preciso estar atentos, vigilan-

tes e mobilizados. Devemos estar prepa-

rados e, se necessário for, vamos para a

rua lutar e defender nossos direitos e as

políticas públicas. Não podemos admitir

qualquer retrocesso. A luta continua!

Page 3: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 3

VICE-PRESIDÊNCIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONJUNTURA POLÍTICA

Direitos do povo do campo ameaçados por crise política e econômica nas esferas nacional e internacional

O desenvolvimento sustentável e

solidário do campo, floresta e

águas brasileiras ainda tem mui-

tos desafios a serem superados. Porém,

não podemos desconsiderar as conquistas

que, nos últimos 13 anos, com os sucessi-

vos governos de esquerda, eleitos demo-

craticamente, consolidaram por meio de

intenso diálogo e pressão dos movimentos

sociais e sindicais rurais. Diversas políticas

públicas importantes para a agricultura

familiar e camponesa transcenderam as

fronteiras nacionais e contribuíram para

fortalecer a agricultura familiar em blocos

econômicos mundiais.

Por isso, a ameaça ao mandato da

presidenta Dilma Rousseff, além de con-

figurar um grave ataque à democracia,

coloca em risco também o avanço e a

continuidade de políticas públicas para

garantir aos trabalhadores e trabalha-

doras rurais condições dignas de viver

e produzir no campo. O grupo político

que impõe ao Brasil uma tentativa de

golpe institucional já demonstrou ser fa-

vorável a medidas que prejudicam os(as)

trabalhadores(as) e representam retro-

cessos em direitos trabalhistas conquis-

tados com décadas de luta. Os gover-

nos do presidente Lula e da presidenta

Dilma Rousseff foram exemplos para o

mundo ao retirar o Brasil do mapa da

fome, da pobreza, e da miséria mais de

22 milhões de pessoas, segundo dados

da Organização das Nações Unidas para

Alimentação e Agricultura (FAO).

No entanto, não se trata apenas de

defender um projeto político inclusivo,

que efetivamente aumente as oportuni-

dades de crescimento da enorme par-

cela da população historicamente exclu-

ída do progresso econômico. Trata-se

também de defender a democracia. A

Constituição Federal aponta que as cha-

madas “pedaladas fiscais” só configuram

crime caso sejam caminho para o desvio

de recursos, o que não está configura-

do nesse processo. Ainda assim, a ação

foi conduzida e aprovada na Câmara dos

Deputados por parlamentares que, em

sua maioria, efetivamente são investiga-

dos por diversos crimes.

“Não podemos ser exemplo para o

mundo de um golpe institucionalizado pelo

Congresso Nacional que vai atingir direta-

mente as pessoas mais pobres. Esse golpe

não tem interesse em resolver o problema

da fome ou da pobreza no Brasil. Trata-se

de resolver os problemas do grande capi-

tal. É isso que enfrentamos na conjuntura

atual”, afirma o vice-presidente e secretário

de Relações Internacionais da CONTAG,

Willian Clementino Matias.

A crise pela qual passamos não se

restringe somente ao Brasil: ela é ori-

ginada em uma crise econômica mun-

dial, mas que no Brasil se agrava de-

vido a interesses políticos do capital.

“Precisamos apontar para um novo mo-

mento respeitando as eleições de 2014

e a democracia, onde se restabeleça um

pacto do governo pelas classes sociais

mais empobrecidas, em que o governo

garanta o diálogo necessário para avan-

çar em políticas públicas para a redução

da pobreza, da miséria e da fome”, con-

clui Willian Clementino.

Verônica Tozzi

Page 4: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG4

LUTA DAS MARGARIDAS

MULHERES RURAIS

Em defesa da democracia, contra o golpe e o machismo!

JORNAL DA CONTAG4

Além das motivações políticas que

impulsionam um processo de im-

peachment que afronta a demo-

cracia brasileira, têm sido crescentes as

manifestações e incitações à violência,

ao racismo e, em especial, ao machis-

mo, que permeiam as críticas ofensivas

e despropositadas contra a presidente

Dilma Rousseff: temos visto a força do

ódio nos diversos comentários machis-

tas divulgados pelos meios de comuni-

cação, pelas redes sociais e, também,

nas conversas cotidianas, capitaneados

pelos posicionamentos retrógrados e

fundamentalistas da bancada conserva-

dora do Congresso Nacional.

Frente a estas manifestações, nós,

Margaridas, afirmamos que não podemos

aceitar esse desrespeito porque ele afeta a

cada uma de nós. Precisamos nos manter

firmes na luta contra o preconceito, a discri-

minação e qualquer tipo de violência contra

as mulheres, seja física ou verbal. Não po-

demos deixar que nos diminuam, ou que

duvidem de nossa capacidade de agir politi-

camente, pois somos uma força transforma-

dora que deve ser respeitada por todas(os).

Além destas situações que afrontam a

construção de uma sociedade mais jus-

ta e igualitária, a crise política instalada

no País revela, de maneira assustadora, a

tentativa a qualquer custo da direita con-

servadora em não permitir que o País siga

avançando em direção aos mais pobres

e historicamente excluídos da sociedade.

Fato este revelado na ampla maioria das

falas da histórica sessão do dia 17 de abril,

onde a população brasileira se deu conta

do nível de comprometimento político com

o desenvolvimento do Brasil, em especial

com a classe trabalhadora, revelado pelos

que defendiam o golpe.

Diante destes fatos, nós, Margaridas,

temos a certeza de que a luta se faz ne-

cessária e cada dia mais desafiadora em

defesa da democracia, contra o golpe e

o machismo. Os preconceitos e a violên-

cia têm sido instrumentos de opressão de

uma sociedade reacionária, que não tem

mais vergonha de agredir publicamente

qualquer pessoa que discorde da posição

política daqueles que não suportam que

mais pessoas tenham acesso a muitas

oportunidades que, historicamente, foram

benefícios de apenas alguns.

“Precisamos continuar nas ruas con-

tra qualquer retrocesso de direitos dos

trabalhadores(as), especialmente os do

campo, além de continuar levantando a

bandeira da Reforma Agrária, da produ-

ção de alimentos saudáveis para garantir

nossa segurança e soberania alimentar,

o acesso à educação, saúde, tecnologia

e oportunidades de geração de renda.

Estamos firmes na batalha cotidiana de

fortalecer nossas articulações e mobiliza-

ções pela desconstrução de informações

mentirosas e manipuladoras da grande mí-

dia, fazendo prevalecer uma consciência

libertária e igualitária na sociedade”, afir-

ma a secretária de Mulheres da CONTAG,

Alessandra Lunas.

Lembramos que, entre os dias 10 e

12 de maio, será realizada em Brasília a

Conferência Nacional de Políticas para

Mulheres. Paralelamente, está prevista a

votação do processo do impeachment no

Senado. “A conferência será, para nós, mais

um momento de resistência, uma grande

oportunidade para que as Margaridas do

campo, floresta e águas, das marés e cida-

des, de todas as raças, etnias, orientações

sexuais e idades reafirmem e fortaleçam a

luta pelo respeito e pela igualdade, contra

qualquer tipo de violência e, neste momen-

to da história, de ataque à democracia e

contra o golpe”, aponta.César Ramos

Page 5: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 5

JUVENTUDE RURAL ENTREVISTA

A crise política não vai parar a juventude rural

Estamos em um delicado mo-

mento da política brasileira, em

que a presidenta da República,

Dilma Rousseff - eleita democratica-

mente com 54 milhões de votos -, vê

seu mandato ameaçado por setores da

política e do mercado nacional e inter-

nacional que promovem um processo

de impeachment sem que a governante

tenha cometido qualquer crime previsto

na Constituição Federal. Essa crise po-

lítica agrava a crise econômica que tem

origem no exterior do Brasil, mas afeta a

economia brasileira e exige cortes no or-

çamento que dificultam o avanço de po-

líticas para a continuidade do desenvol-

vimento do País. A secretária de Jovens

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da

CONTAG, Mazé Morais, indica nesta en-

trevista quais os desafios que a juventu-

de rural deve enfrentar neste cenário.

O QUE DEFENDE A JUVENTUDE RURAL BRA-

SILEIRA NESTE MOMENTO DE GRAVE CRISE

POLÍTICA?

Continuamos defendendo um projeto

político que garanta direitos e oportuni-

dades para todos e todas: acesso a ter-

ra, saúde, educação, segurança, cultura,

lazer, esportes, tecnologia, agroecologia e

geração de renda. Por isso, somos contra

o golpe que os grandes meios de comuni-

cação e partidos políticos de direita, além

daqueles que não têm bandeira política

definida, tentam impor a um governo que

há 13 anos tem aberto as portas para as

camadas mais pobres e mais discrimina-

das da população.

QUAIS DEVEM SER AS PRIORIDADES PARA

A JUVENTUDE RURAL?

Em termos gerais, seremos sempre

contrários a qualquer tipo de corrupção

e acreditamos que, se forem compro-

vados crimes, os responsáveis devem

ser punidos, independentemente de

partido político. Mas somos totalmen-

te contrários a um golpe contra a de-

mocracia. No que diz respeito à juven-

tude rural, continuamos na luta pela

implementação do Plano Nacional de

Sucessão Rural, para garantir políticas

públicas para que a juventude possa

permanecer no campo com dignida-

de, com oportunidades para se edu-

car, para produzir alimentos saudáveis

e sem agrotóxicos. É preciso que eles

tenham as mesmas oportunidades e

as mesmas estruturas que os e as jo-

vens das cidades, pois também são

cidadãos(ãs) brasileiros(as).

CASO O SENADO FEDERAL APROVE O IM-

PEACHMENT DA PRESIDENTA DILMA

ROUSSEFF, QUAIS SERÃO AS CONSEQUÊN-

CIAS PARA A JUVENTUDE RURAL?

As consequências serão as piores

possíveis, pois certamente corremos o

risco de perder tudo o que conquista-

mos nos governos Lula e Dilma, como

o Bolsa Família, o Crédito Fundiário,

o Prouni, o Fundo de Financiamento

Estudantil (Fies), o Programa Minha

Casa Minha Vida, o Pronaf, o Pronatec,

o Pronacampo, o Programa de

Aquisição de Alimentos (PAA) e outras

conquistas. Nós, jovens, estamos con-

tra o golpe porque lutamos por uma

sucessão rural com políticas públicas

inclusivas para que as juventudes qui-

lombola, ribeirinha, das florestas e das

águas, possam viver felizes no campo.

Divulgação

Page 6: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG6

Federações e sindicatos ainda aguardam análise do registro sindical

FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SINDICAL ORGANIZAÇÃO SINDICAL

O Movimento Sindical dos Traba-

lhadores e Trabalhadoras Rurais

(MSTTR) vem estruturando ao

longo dos últimos três anos um processo

de reorganização sindical para estruturar e

consolidar a representação das duas cate-

gorias profissionais específicas reconheci-

das no campo: os trabalhadores(as) da agri-

cultura familiar e os(as) trabalhadores(as)

assalariados(as) rurais. Para isso, vem

adequando sua estrutura sindical obser-

vando o entendimento dos tribunais e

aquilo que prevê a legislação. Essa etapa

de reorganização sindical segue dois cami-

nhos: a alteração estatutária de entidades

já existentes ou a fundação de novos sindi-

catos e federações. Qualquer uma dessas

ações exige a alteração ou o requerimento

de novo registro sindical junto ao Ministério

do Trabalho e Previdência Social (MTPS).

No trabalho que o MSTTR tem feito para

consolidar a dissociação dos dois segmen-

tos de trabalhadores(as) rurais, já foram

solicitadas as alterações estatutárias ou a

criação de mais de 700 sindicatos espe-

cíficos, além de 22 federações, do regis-

tro sindical da Confederação Nacional dos

Trabalhadores Assalariados e Assalariadas

Rurais (CONTAR), criada em outubro de

2015, e da alteração estatutária da CONTAG,

aprovada em abril de 2016. Todos esses

processos estão na fila da Secretaria de

Relações do Trabalho do MTPS, que conta

com apenas nove analistas para responder

a um total de quase quatro mil processos

de todas as categorias trabalhistas – três mil

apenas de sindicatos.

No entanto, mesmo com todas as li-

mitações do ministério, no mês de abril

conseguimos um relativo avanço, com a

concessão dos registros sindicais de uma

federação de assalariados rurais que fez

pedido de alteração estatutária em 2015

– e duas federações novas de assalaria-

dos rurais (Pernambuco e Goiás) funda-

das em 2015.

Já as federações do Rio Grande do Sul,

Ceará, Piauí, do Rio Grande do Norte, São

Paulo, Goiás e Pernambuco, que já eram

do Sistema CONTAG, alteraram seus es-

tatutos para representar somente a agri-

cultura familiar e também já tiveram seus

registros concedidos pelo MTPS. Além

destas, o Ministério do Trabalho também

concedeu registro a nova Federação da

Agricultura Familiar do Mato Grosso do

Sul. Essas recentes concessões sinalizam

que, ao todo, 11 federações já tiveram seu

registro final publicado no Diário Oficial da

União. Mas o Sistema CONTAG já conta

hoje com 22 federações que realizaram a

alteração estatutária, e duas novas federa-

ções de assalariados rurais fundadas, mas

ainda estão na fila para conseguir o registro

junto ao MTPS, além dos 700 sindicatos.

“O diálogo com o MPTS ainda não con-

segue corresponder a toda expectativa

que o MSTTR tem dentro da área de or-

ganização sindical. Existe um justo receio

por parte do MSTTR sobre os impactos

que o atual cenário político pode terminar

ocasionando a um processo que ainda

deve muito à categoria dos trabalhadores

e trabalhadoras rurais no Brasil”, afirma

o secretário de Formação e Organização

Sindical da CONTAG, Juraci Souto.

“Mesmo com todos os recentes avanços,

o MTPS ainda não consegue fazer frente

a todas as expectativas, em especial com

relação a sindicatos. A nova estratégia de

reorganização se materializou com mudan-

ças em 2014 e 2015, mas atualmente os

nove analistas começaram a trabalhar com

processos de sindicatos de 2009 a 2011,

quando ainda não havíamos iniciado esse

processo. Há um receio de que a espera

ainda seja longa, pois esses processos

dependem de decisões administrativas, e

estas não estão seguras no atual cenário

da conjuntura”, completa Juraci Souto.

Em abril, o MTPS concedeu registros sindicais para dez entidades dos Sistemas CONTAR e CONTAG

NOVAS FEDERAÇÕES ALTERAÇÕES DE ESTATUTO PARA CATEGORIA ESPECÍFICA

Mato Grosso do Sul – Representação da Agricultura Familiar

Mato Grosso do Sul – Representação de Assalariados(as) Rurais

Goiás – Representação de Assalariados(as) Rurais

Rio Grande do Sul, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, São Paulo, Goiás e Pernambuco – Representação da Agricultura Familiar

Pernambuco – Representação de Assalariados

STR Afonso Cláudio

Page 7: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 7

POLÍTICAS SOCIAIS SAÚDE DO CAMPO

O uso de agrotóxicos leva à morte de seres humanos e deve

ser combatido por todos nós

truturas técnico-operacionais e financeiras

para executarem suas atribuições.

As normas para registro de agrotóxi-

cos no Brasil são muito flexíveis quando

comparadas às existentes nos Estados

Unidos e União Europeia. Em nosso País,

o custo para registro é baixo e o tempo

de validade é indeterminado. Aqui temos

também incentivos fiscais à comerciali-

zação de agrotóxicos: desde a redução

até a isenção total do imposto sobre a

circulação dessas mercadorias. Além dis-

so, as empresas de agrotóxicos não são

responsabilizadas por danos causados à

saúde humana e ao ambiente.

“Para agravar a situação, faltam con-

dições políticas para o governo lançar

estratégias para a implementação do

Programa Nacional para Redução do Uso

de Agrotóxicos (Pronara). Nesse sentido,

a CONTAG entende que a problemática

do agrotóxico deve ser analisada, denun-

ciada e superada, instituindo-se políticas

de Estado que assegurem o processo de

transição do atual modelo produtivo agro-

exportador para a construção de desen-

volvimento rural sustentável e solidário,

tendo como protagonista a agricultura fa-

miliar de base agroecológica e orgânica”,

argumenta o secretário de Políticas Sociais

da CONTAG, José Wilson Gonçalves.

consumidor de agrotóxicos do mundo. Na

safra de 2011, foram pulverizados cerca

de 12,5 litros de veneno por habitante. A

exposição prolongada aos agrotóxicos

pode causar desde irritações na pele, do-

res de cabeça, vômitos e alergias, até mal

de Parkinson e câncer, podendo, muitas

vezes, levar à morte.

FALTA NOTIFICAÇÃO, SOBRA FLEXIBILIDADE –

Segundo o Ministério da Saúde, de 2011

a 2015 foram registrados 56.823 casos

de intoxicação por agrotóxicos no País.

Os estados com maior índice de notifi-

cação neste período foram: São Paulo

(17,7%), Minas Gerais (16,7%), Paraná

(12,7%), Pernambuco (7,8%) e Goiás

(5,47%). A rede pública de saúde pre-

cisa estar preparada para solucionar

essas demandas.

No entanto, também chamam a aten-

ção os baixos índices de notificação em

estados onde há forte expressividade de

monoculturas. Há ainda a ineficácia do

sistema de notificação sobre os casos de

intoxicação por agrotóxicos. Segundo a

Organização Mundial da Saúde, para cada

caso notificado, existem 50 casos que não

foram notificados. Embora o Brasil dispo-

nha de legislação para regular o setor, as

instituições fiscalizadoras carecem de es-

O crescimento econômico do

País precisa estar ligado ao de-

senvolvimento social, à sobe-

rania alimentar, às condições de vida e

trabalho do seu povo. O uso intensivo de

agrotóxicos no processo de produção de

alimentos contraria tudo isso, pois, além

de devastar a saúde de trabalhadores(as)

rurais, suas famílias, dos consumidores

e dos animais, contaminam recursos na-

turais como a água e o solo. Sabemos

também que muitos(as) agricultores(as)

tornam-se endividados para comprar os

venenos agrícolas.

Desde a década de 1960, a chamada

“revolução verde” tenta impor à produção

agrícola a dependência de um pacote quí-

mico como se fosse o principal meio para

aumentar a produção. Vendedores levam

os(as) trabalhadores(as) a acreditarem que,

sem agrotóxicos e sem transgênicos, não

há produção de alimentos.

De acordo com o dossiê chamado

“Um alerta sobre os impactos dos agro-

tóxicos na saúde”, lançado em 2015 pela

Associação Brasileira de Saúde Coletiva

(Abrasco), o mercado de agrotóxicos no

Brasil cresceu 190% em dez anos, en-

quanto no resto do mundo o crescimen-

to foi de 93% no mesmo período. Desde

2008, o Brasil ocupa o lugar de maior

Divulgação

Page 8: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG8

FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO SUSTENTABILIDADE POLÍTICO-FINANCEIRA

Oficina nacional planeja ações do Plano Sustentar em 2016

Uma das ações prioritárias da

CONTAG para o mandato 2013-

2017 é a consolidação de uma

Política Nacional de Sustentabilidade

Político-Financeira. Juntamente com a

participação do Coletivo Nacional de

Finanças, foi construído o Plano Sustentar,

que em 2016 está na sua terceira etapa

de execução. Desde a sua concepção,

elaboração, criação da identidade visual

e lançamento junto às Federações filia-

das, no final de 2014, houve um período

de divulgação e adesão ao plano, bem

como do início da operacionalização do

SisCONTAG e do Seguro Vida.

Nesta terceira etapa, o objetivo é am-

pliar a adesão dos Sindicatos ao Plano

Sustentar e suas ações para fortalecer

a sustentabilidade político-financeira do

Movimento Sindical de Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais (MSTTR), realizando

ações e massificando a sua divulgação.

Em abril de 2016, a Confederação realizou

a Oficina Nacional de Autoformação em

Gestão Administrativa e Financeira com

Multiplicadores e Multiplicadoras, com a

participação dos secretários de Finanças

e de Formação, dos presidentes e dos

assessores(as) de Comunicação das

Federações. Sendo um espaço de ava-

César Ramos

liação da execução do Plano Sustentar e

de planejamento da terceira etapa den-

tro de cada um dos eixos estratégicos –

Gestão, Formação e Comunicação.

Para o secretário de Finanças e

Administração da CONTAG, Aristides

Santos, este foi um momento rico, de

troca de impressões, de sugestões e

encaminhamentos. “A oficina nacional

contribuiu com qualidade para o pla-

nejamento da terceira etapa do Plano

Sustentar, nos ajudando a ampliar as

ações e a fortalecer a sustentabilidade

político-financeira do movimento sindi-

cal, sendo uma das ações estratégicas

da CONTAG e cumprindo com as deli-

berações do 11º Congresso.”

AVALIAÇÃO – Na avaliação feita em conjun-

to com as Federações, foram identificadas

algumas dificuldades colocadas desde a

primeira etapa do Plano Sustentar. Dentre

elas foram apontadas: integração entre as

ações das Secretarias; fazer investimen-

to nas ações do Sustentar e campanhas

de sindicalização; produção de peças de

comunicação que possam alcançar os

trabalhadores(as) rurais sócios e nãos só-

cios; ter o SisCONTAG trabalhando off-line.

POTENCIALIDADES – Os Eixos de Gestão,

Formação e Comunicação também listaram

potencialidades na implementação do Plano

Sustentar em todo o País, e foram apresen-

tadas as seguintes: informatização dos sin-

dicatos (SisCONTAG); Seguro Vida; melhor

gestão dos sindicatos; ter dados concretos

sobre a categoria; campanhas de sindicaliza-

ção contínua; e aumento da consciência polí-

tica dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

AÇÕES PLANEJADAS – Nos três eixos prio-

ritários do Plano Sustentar, foram planeja-

das diversas ações nos âmbitos nacional,

regional e estadual. Destacamos: encon-

tros estaduais; mutirões e campanhas de

sindicalização; oficinas e capacitações;

produção de materiais de comunicação

com ênfase no Plano Sustentar; continuar

os debates nos polos e regionais; discus-

são sobre o seguro vida; dentre outras.

PORQUÊ ADERIR AO PLANO SUSTENTAR?• Para que tenhamos uma gestão administrativa e financeira, política e sindical;• Valorizar cada vez mais a contribuição social (de balcão);• Aprimorar os processos de arrecadação da Contribuição Sindical para os

Agricultores(as) Familiares;• Ter o Orçamento Sindical Participativo – OSP, enquanto estratégia política para

fortalecer a sustentabilidade político-financeira;• Seguro Vida (Morte Acidental ou Auxílio Funeral) para os sócios(as);• Discussão sobre implementação de seguro vida para sócios(as) que não são

aposentados(as);• Campanha de Sindicalização continuada.A CONTAG reafirma a importância da execução do Plano Sustentar em vista do for-talecimento das entidades sindicais a partir de maior unidade dos STTRs, FETAGs e Confederação, com aumento da arrecadação, de uma gestão transparente e com maior participação da base. “Juntos somos mais fortes!”, destacou Aristides Santos.

Page 9: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 9

POLÍTICA AGRÁRIA QUESTÃO AGRÁRIA

Mudanças políticas podem agravar situação da Reforma Agrária no Brasil

Aluta pela terra e pela Reforma

Agrária ampla precisa continuar

cada vez mais forte, especialmen-

te neste momento em que se avolumam

os indícios de que as forças políticas que

articulam o golpe contra a democracia po-

dem conseguir o afastamento da presiden-

ta Dilma Rousseff, que foi eleita por mais

de 54 milhões de votos. As consequências

deste golpe podem resultar na implemen-

tação do projeto político que tem sido cha-

mado de “Ponte para o Futuro”- elaborado

pelo atual vice-presidente Michel Temer

e seus aliados – levando à retomada da

agenda neoliberal e à concretização de

medidas que levem ao esvaziamento do

Estado, enfraquecimento das instituições

públicas, à redução dos programas so-

ciais, além da criminalização das lutas dos

trabalhadores(as).

No que diz respeito à Reforma Agrária

- questão central em uma disputa de mo-

delos de desenvolvimento para o campo

e para o País – a retomada desta agen-

da neoliberal pode se refletir na extinção

do Ministério do Desenvolvimento Agrário

(MDA), na transformação do Instituto

Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (Incra) em uma agência executi-

va, no acirramento da tomada das terras

brasileiras pelo capital internacional, no

processo de desterritorialização das po-

pulações camponesas, no abandono de

políticas públicas de reforma agrária e no

agravamento da violência no campo, den-

tre outras consequências.

“Na área da reforma agrária, tivemos

dificuldades nos últimos governos, mas,

mesmo assim, tivemos alguns avan-

ços significativos e não podemos deixar

que abandonem os assentamentos ou

reduzam as ações do crédito fundiário.

Precisamos lutar para reforçar as políti-

cas do MDA. A solução para a questão

agrária não foi dada por nenhum governo

deste País, em que o latifúndio, há sé-

culos, impõe a exploração, a violência e

a degradação ambiental, negando aos

trabalhadores e trabalhadoras o aces-

so a terra, às oportunidades e direitos”,

afirma o secretário de Política Agrária da

CONTAG, Zenildo Xavier.

É necessário, também, reagir contra o

acirramento da violência no campo, que

continua vitimando os trabalhadores e

trabalhadoras rurais. Este fato foi confir-

mado pelo recente relatório de conflitos,

divulgado pela Comissão Pastoral da

Terra, que apontou elevação do número

de despejos de trabalhadores, de amea-

ças a lideranças dos movimentos de luta

pela terra e aos(às) trabalhadores(as) e

de assassinatos, como os que ocorreram

recentemente no Paraná, Paraíba, Bahia,

Pernambuco e no Pará.

“A defesa da vida é mais uma das ra-

zões para fortalecermos nossas lutas. A

realização da reforma agrária é uma exi-

gência central para acabar com a violên-

cia e para construir o desenvolvimento

solidário e sustentável do País”, explica

Zenildo Xavier. “A concentração da terra e

o fortalecimento do modelo de desenvolvi-

mento rural baseado no agronegócio e na

monocultura, não é bom para o povo, pois

leva à privatização e degradação dos bens

naturais, à exclusão social e produtiva e

ao êxodo dos povos do campo, floresta e

águas, comprometendo a história, os mo-

dos de vida e de produção e as raízes cul-

turais do nosso País”, aponta o dirigente.

Arquivo Pessoal

Page 10: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

SECRETARIA GERAL MOBILIZAÇÃO CONTRA O GOLPE

Movimentos sociais e sindicais estão unidos para defender a democracia

Neste importante momento da

conjuntura política nacional, o

trabalho conjunto das entidades

que compõem a Frente Brasil Popular é

fundamental para enfrentar com força e

eficiência a tentativa de golpe que um

grupo político neoliberal e conservador

tenta impor à democracia brasileira. A

CONTAG tem participado ativamente

de todas as atividades promovidas pela

Frente Brasil Popular porque acredita

que a união entre os movimentos sociais

e sindicais do campo e da cidade são

a única saída para resistir às mudanças

que podem prejudicar as conquistas de

direitos em nosso País.

As mobilizações populares são a prin-

cipal arma nessa luta histórica pela qual

passamos. Precisamos estar nas ruas

para garantir que a democracia seja res-

peitada: não podemos permitir que par-

lamentares denunciados, investigados e

alguns que são até mesmo réus por cri-

mes conduzam e aprovem o processo de

impeachment contra a presidenta Dilma

Rousseff, alegando um crime de respon-

sabilidade que não aconteceu.

Essa manobra política é um forte golpe

contra a decisão legítima de 54 milhões de

brasileiros(as) em 2014. A CONTAG e to-

das as entidades da Frente Brasil Popular

compreendem que os prejuízos para a so-

ciedade brasileira se estendem para além

da esfera política. O grupo político que ten-

ta voltar ilegitimamente ao poder defende

a flexibilização dos direitos trabalhistas e já

propõem sistematicamente no Congresso

Nacional Projetos de Lei que favorecem

as grandes empresas e o grande capital

– principais financiadores das campanhas

da maior parte dos parlamentares.

Por isso, a defesa de uma Reforma

Política Democrática e Popular conti-

nua sendo nossa pauta, assim como

a necessidade da promoção de uma

Constituinte Exclusiva para a elaboração

de uma reforma que possibilite a efetiva

representatividade do povo brasileiro. O

Congresso Nacional deve ser o reflexo

real de nossa população, sendo ocupa-

do por mulheres, por negros, por indíge-

nas, por representantes do campo, das

florestas e das águas.

“Nossa principal tarefa nesse momento

é dialogar sobre as reais intenções des-

se golpe”, afirmou a secretária Geral da

CONTAG, Dorenice Flor da Cruz. Para ela,

as declarações de voto durante a sessão

na Câmara dos Deputados, que autorizou

a abertura de processo do impeachment

contra a presidenta Dilma Rousseff, evi-

denciou que não há crime. “Aquela ses-

são tornou clara a intenção do golpe e a

população percebeu isso, tanto que nem

teve clima de vitória nas ruas, e as últimas

pesquisas de opinião já demonstram que o

apoio popular ao impeachment diminuiu. É

preciso que as pessoas se posicionem jun-

to aos senadores(as) demonstrando que a

população não apoia o golpe. Com certe-

za isso influenciará os votos no plenário do

Senado”, afirmou a secretária.

JORNAL DA CONTAG10

Verô

nica

Toz

zi

Page 11: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 11

POLÍTICA AGRÍCOLA PLANO SAFRA 2016/2017

A CONTAG avalia de forma positiva

o lançamento do Plano Safra da

Agricultura Familiar 2016/2017.

A presidenta Dilma Rousseff anunciou

R$ 30 bilhões para o financiamento de

projetos individuais ou coletivos nas

operações do Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar

(Pronaf) e a redução para 2,5% ao ano

dos juros para as linhas direcionadas à

produção de alimentos da cesta básica,

assim como para a criação de gado lei-

teiro, abelhas, peixes, ovelhas e cabras.

Nesta safra haverá a ampliação dos

limites de crédito do Pronaf, sendo

R$ 250 mil para custeio e R$ 330 mil para

investimento, além de mais proteção para

quem produz. Estão mantidas as atu-

ais condições do Seguro da Agricultura

Familiar (Seaf), com cobertura de até de

80% da renda bruta esperada, com limite

de cobertura da renda líquida de até R$ 20

mil. O Garantia-Safra (R$ 850,00/família),

deverá proteger 1,35 milhão de famílias

agricultoras da área da Sudene, com per-

da de safra por estiagem.

A presidenta Dilma lançou o 2º Plano

Nacional de Agroecologia e Produção

Orgânica (Planapo), com R$ 20 milhões

para o período 2016-2019, estimando al-

cançar um milhão de famílias produzindo

em base agroecológica em todo o País

até 2019.

Foi anunciado o início das operações

da Agência Nacional de Assistência

Técnica e Extensão Rural (Anater), com

o objetivo de capacitar dois mil técnicos até

o final de 2016 e atender dez mil famílias

com metodologia inovadora de gestão por

resultados. Outras metas: atender 600 mil

agricultores(as) familiares e assentados da

reforma agrária para estimular a produção

Dilma anuncia R$ 30 bilhões para o Pronaf e reduz juros para agricultores(as) que produzem alimentos

agroecológica; e 11.800 agricultores(as)

familiares e assentados com foco na con-

vivência com o Semiárido.

Também foram anunciadas ações de

apoio ao cooperativismo, por meio do

Ater Mais Gestão. O apoio à comercia-

lização também teve destaque no anún-

cio do Plano Safra: R$ 2,7 bilhões para

o PAA Compra Institucional; R$ 312 mi-

lhões para o PAA no MDA, MDS e Conab

para a compra de alimentos produzidos

por agricultores(as) familiares, cooperati-

vas e associações; e R$ 1,1 bilhão para

o Programa Nacional de Alimentação

Escolar (PNAE).

Este Plano Safra também traz ações de

apoio à produção das mulheres rurais,

como contratação de projetos de estrutu-

ração produtiva das atividades de grupos

de mulheres nos territórios rurais, Ater para

mulheres focada na agroecologia, organi-

zação e sistematização de experiências

dos quintais produtivos das mulheres ru-

rais e outras ações.

Outro importante avanço foi o lançamen-

to do Plano Nacional de Juventude e

Sucessão Rural para o período de 2016-

2019, que articula políticas, programas e

ações do governo federal que contribuem

para a promoção da sucessão rural, do

desenvolvimento sustentável e para a ga-

rantia dos direitos da juventude do campo,

floresta e águas.

“Avaliamos positivamente o anúncio

do Plano Safra pela presidenta Dilma.

Porém, achamos que seria fundamental

o governo federal sinalizar com políticas

para a inclusão de famílias que vivem

no meio rural e não são atendidas pelo

Pronaf Crédito. São mais de 2 milhões de

famílias que necessitam de Assistência

Técnica. Mais uma vez, o MSTTR se

sentiu frustrado por não ter sido as-

sinado o Decreto-Lei de criação do

Programa Nacional de Redução do Uso

de Agrotóxicos (Pronara)”, avaliou o se-

cretário de Política Agrícola da CONTAG,

David Wylkerson, que disse que a enti-

dade continuará aberta ao diálogo para

garantir mais avanços. “Não aceitaremos

retrocessos para a agricultura familiar”,

reforçou o sindicalista.

César Ramos

Page 12: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG12

PLENÁRIA NACIONAL

TERCEIRA IDADE

Participe você também desse importante momento da construção da história do MSTTR!

Entre os dias 13 e 16 de junho de 2016, o pro-

tagonismo e a participação política das

pessoas da terceira idade e idosas

no Movimento Sindical de Trabalhadores

e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) es-

tarão em destaque: a cidade de

Luziânia (GO) receberá mais de

1.000 participantes da 2ª Plenária

Nacional dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais da Terceira

Idade e Idosos – Tecendo Histórias

e Valorizando Saberes.

A participação de trabalhadoras e

trabalhadores rurais que têm a partir de

55 anos é muito importante para enrique-

cer e fortalecer o evento, pois entre seus gran-

des objetivos está a construção da Política Nacional do

MSTTR para a Terceira Idade e Idosos(as). O documento da polí-

tica vem sendo elaborado desde os Encontros Estaduais realiza-

dos ao longo de 2014 e 2015. A Política Nacional deverá ser dis-

cutida e aprovada no 12º Congresso Nacional de Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais, a ser realizado em março de 2017.

OFICINAS E DEBATES PARA APROFUNDAR CONHECIMENTOS – Dar visi-

bilidade às histórias de vida e experiências de luta das pessoas da

terceira idade e idosas; valorizar a participação e a contribuição

delas nas ações e para o fortalecimento do MSTTR; refletir sobre

como o movimento sindical trata as pessoas de terceira idade

e idosas e, também, avaliar de que forma as políticas públicas

respondem aos anseios e necessidades das pessoas do campo,

da floresta e das águas: esses são os objetivos específicos da

plenária, que contará com diversas atividades para

promover o debate e o conhecimento.

No primeiro dia, após a abertura políti-

ca, será realizada a conferência Tecendo

Histórias e Valorizando Saberes, para

possibilitar a reflexão sobre o prota-

gonismo e a participação política

das pessoas da terceira idade e

idosas. Estão previstas também 16

oficinas pedagógicas - de temas

variados como saúde, sexualidade,

uso de mídias sociais, produção agro-

ecológica, plantas medicinais e outras

– e mais 10 oficinas de aprofundamento

temático, nas quais serão discutidos temas

como seguridade social, violência, gênero e for-

mação político-sindical.

A programação inclui grandes momentos de debate sobre os de-

safios e perspectivas para a atuação político sindical das pessoas

da terceira idade no MSTTR, o diálogo sobre sucessão rural e ter-

ceira idade, além da socialização das diretrizes da Política Nacional

do MSTTR para a Terceira Idade. E, como também é preciso con-

fraternizar, em duas noites estão previstas apresentações culturais

para os participantes. A última atividade da plenária será um passeio

pela Esplanada dos Ministérios, na manhã do dia 16 de junho.

“Será um grande momento para que as pessoas da tercei-

ra idade e idosas tenham a oportunidade de compartilhar seus

conhecimentos e afirmarem o valor de suas contribuições para

o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.

Será muito importante a participação de todos”, afirma a secretá-

ria de Terceira Idade da CONTAG, Lúcia Moura.

JORNAL DA CONTAG12

Fotos César Ramos

Page 13: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 13

MEIO AMBIENTE SUBSÍDIOS GOVERNAMENTAIS

É preciso compensar os(as) agricultores(as) que preservam recursos naturais

Apreservação efetiva do meio am-

biente precisa ser foco da cons-

trução de políticas estruturantes

na qual agricultores e agricultoras sejam

recompensados por manter os recursos

naturais intactos. Em pequenas proprie-

dades, cada hectare de produção é valio-

so, nós sabemos disso. Mas as nascen-

tes, as matas ciliares e as matas nativas

também são - não apenas para quem tra-

balha na terra, mas para todos os seres

vivos. Sem água, sem abelhas ou sem

um solo fértil estamos destinados a um

futuro bastante complicado.

Tramitam no Congresso Nacional brasi-

leiro mais de 30 Projetos de Lei que têm o

objetivo de regulamentar e implementar os

Pagamentos por Serviços Ambientais. No

entanto, uma das principais dificuldades

para a aprovação de um projeto como,

por exemplo, o PL 792/2007 - que prevê a

criação da Política Nacional de Pagamento

por Serviços Ambientais – é a inexistência

no governo federal de orçamento que re-

almente destine recursos para a preserva-

ção do meio ambiente. O Poder Legislativo

não pode criar uma lei que demande re-

cursos, pois eles devem ser previstos pelo

Poder Executivo.

O ESTADO PRECISA GARANTIR RECURSOS –

Precisamos de políticas estruturantes nas

quais os recursos sejam públicos, previs-

tos no orçamento, e não financiadas pelo

setor privado. A Organização das Nações

Unidas para Alimentação e Agricultura

(FAO) recomenda que seja aplicado no

setor - que inclui agricultura familiar, agro-

negócio e políticas para o meio ambiente

- todo o valor correspondente ao PIB da

agropecuária. Se seguisse a orientação da

FAO, o Brasil poderia investir, somente no

ano de 2015, R$ 263,6 bilhões no meio

rural brasileiro.

Mas não é isso que acontece. Em 1985,

8,5% do orçamento público tinha como

objetivo financiar o meio rural. Em 2015,

esse percentual caiu para 0,94% do orça-

mento – R$ 1,4 bilhão para o Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA), R$ 11,7

bilhões para o Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA), e ape-

nas R$ 812 milhões para o Ministério do

Meio Ambiente (MMA). O Estado brasileiro

está se retirando de financiar o meio ru-

ral. Estudos apontam que, nos últimos 20

anos, mais de R$ 100 bilhões de recursos

públicos foram deslocados das atividades

agropecuárias para outros segmentos.

Países como os Estados Unidos têm

bem desenvolvidos programas que

investem bilhões de dólares em sub-

sídios para a proteção ambiental por

produtores(as) rurais. De acordo com

dados do governo norte-americano, fo-

ram destinados US$ 322,7 bilhões em

subsídios entre 1995 e 2014. Desse to-

tal, US$ 34,9 bilhões foram destinados

para o Programa de Conservação. Os

recursos foram divididos entre 961.989

produtores(as) rurais, o que dá uma mé-

dia de US$ 36 mil por ano para cada um,

ou US$ 3 mil por mês, durante 19 anos,

para compensar os(as) agricultores(as)

que protegem os recursos naturais de

suas propriedades.

“O Estado brasileiro – nos âmbitos fe-

deral, estaduais e municipais – não está

dando a importância necessária para as

questões ambientais. Esse descompro-

misso se reflete nas ações da sociedade.

O Estado precisa ter consciência que so-

mente por meio de contrapartida financeira

é que haverá engajamento da sociedade

para a preservação ambiental e a manu-

tenção das condições de vida da popula-

ção”, afirma o secretário de Meio Ambiente

da CONTAG, Antoninho Rovaris.

Fabrício Martins

Page 14: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG14 JORNAL DA CONTAG14

TERCEIRIZAÇÃO

ASSALARIADOS(AS) RURAIS

MSTTR precisa pressionar o Senado para que os direitos dos(as) trabalhadores(as) sejam respeitados

No dia 12 de maio será reali-

zado, em Brasília, um grande

evento em que a Comissão dos

Direitos Humanos do Senado Federal lan-

çará uma carta que rejeita o Projeto de

Lei Complementar (PLC) nº 30/2015, que

regulamenta a terceirização, ampliando-a

para as atividades fim dos setores produti-

vos. O PLC estará pronto para ser votado

no plenário do Senado Federal, e é pre-

ciso pressionar para que não seja apro-

vado. O Ministério Público do Trabalho,

o Tribunal Superior do Trabalho e os mo-

vimentos sociais, entre eles a CONTAG,

afirmam que a terceirização significa a

precarização do trabalho, assim como o

aumento do desemprego e a flexibilização

de direitos trabalhistas.

A TERCEIRIZAÇÃO NO CAMPO – De acor-

do com a Secretaria de Assalariados e

Assalariadas Rurais, a terceirização do

trabalho no campo vai piorar ainda mais a

situação de milhões de homens e mulhe-

res que já convivem com a informalidade,

a falta de acesso a direitos trabalhistas, a

longas jornadas de trabalho e, muitas ve-

zes, a condições precárias para exercer

suas atividades.

“A CONTAG participou de várias audi-

ências públicas da Comissão de Direitos

Humanos do Senado, sempre reforçan-

do os danos que a aprovação da tercei-

rização representa para os assalariados e

assalariadas rurais. Não podemos deixar

que esse projeto seja aprovado porque ele

representa um enorme retrocesso na luta

dos direitos dos trabalhadores e trabalha-

doras do Brasil, tanto rurais quanto urba-

nos”, afirma o secretário de Assalariados

e Assalariadas Rurais da CONTAG, Elias

D’Angelo Borges.

SALÁRIOS MENORES E MENOS DIREITOS –

Dados do Departamento Intersindical de

Estatística e Estudos Socioeconômicos

(Dieese), de 2014, mostram que os(as)

terceirizado(as) recebem salários 30%

a 40% menores que trabalhadores vin-

culados diretamente às empresas.

Estudo publicado pela Central Única dos

Trabalhadores (CUT) aponta que existem

hoje cerca de 12,7 milhões de assalaria-

dos terceirizados, o que representa 26,8%

do mercado formal de trabalho. Mas esse

número pode ser ainda maior, pois a

maior parte dos terceirizados encontra-

-se na informalidade. O mesmo docu-

mento afirma que os(as) terceirizados(as)

realizam jornadas de trabalho que têm,

em média, 3 horas a mais do que a jorna-

da dos não-terceirizados, sem considerar

horas extras ou banco de horas realiza-

das. O estudo da CUT aponta ainda que,

se a jornada dos trabalhadores em seto-

res tipicamente terceirizados fosse igual à

jornada de trabalho daqueles contratados

diretamente, seriam criadas 882.959 va-

gas de trabalho.

Outra grande desvantagem é a alta ro-

tatividade entre os(as) terceirizados(as).

Enquanto a permanência no trabalho entre

os trabalhadores diretos é de, em média,

5,8 anos, para os(as) terceirizados(as) é

de 2,7 anos. Isso tem muitas consequên-

cias para o(a) trabalhador(a), que não tem

condições para planejar sua vida, em pro-

jetos pessoais ou formação profissional. A

alta rotatividade também afeta o Fundo de

Amparo do Trabalhador (FAT), pois aumen-

ta os custos com o seguro-desemprego.

Fabrício Martins

Page 15: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG 15

O SENADOR PAULO PAIM (PT-RS), exemplo de lutador

no Congresso Nacional em defesa dos interesses da

classe trabalhadora e dos aposentados(as), continua sua

batalha contra a aprovação do projeto de terceirização

nas relações de trabalho, contra a regulamentação do

trabalho escravo e contra a reforma da Previdência Social,

entre outras matérias que tragam riscos e prejuízos

aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros(as). Em

entrevista ao Jornal da CONTAG, o senador faz uma análise

sobre o atual cenário político e as consequências com

uma possível mudança no Executivo, bem como convoca

todos e todas a permanecerem mobilizados contra o

retrocesso nos direitos e em defesa da democracia.

Na opinião do senhor, quais os

riscos e prejuízos que esse atu-

al cenário político e uma possível

mudança de governo podem trazer

para os trabalhadores e trabalhado-

ras brasileiros?

Falo com muita convicção de que

são enormes. Eu tenho travado uma

batalha há décadas no Congresso, es-

tou aqui há 30 anos, mas infelizmente

vejo um horizonte muito perigoso. Isso

porque já publicaram a chamada “Pon-

te para o Futuro” e aquilo, para nós tra-

balhadores, é uma “Ponte para o Preci-

pício”. Primeiro, porque ali já desvincula

as receitas da saúde e da educação.

Segundo, querem fazer uma reforma

radical da Previdência Social, que não

vai assegurar ao aposentado nem se-

quer o salário mínimo de quem está

na ativa. Querem desvincular todos os

benefícios sociais e previdenciários do

salário mínimo. Chegaram ao extremo

de propor de que vão aprovar o nego-

ciado sobre o legislado. Seja para os

trabalhadores do campo ou da cidade,

não vai valer mais a lei e sim o que o

ENTREVISTAWaldemir Barreto - Agência Senado

patrão acordar diretamente. É pratica-

mente a volta do trabalho escravo. É

por isso que estou muito preocupado.

Nós fazemos aqui o bom combate e

continuaremos a fazer, mas estamos

muito preocupados com esse quadro.

E eu só dei um resumo do que significa

essa “Ponte para o Futuro”.

Com essa sinalização, um dos

grandes riscos seria até a extinção

da Consolidação das Leis do Traba-

lho (CLT)?

Com certeza! E vão, ainda, fortale-

cer a famosa terceirização, tendo como

consequência o pagamento de metade

do salário de quem trabalha na empresa

matriz. A cada 10 acidentes de traba-

lho com sequelas, oito envolvem tra-

balhadores terceirizados; a cada cinco

mortes, quatro são de terceirizados. É a

chamada lei da mão mais forte. O mais

forte nós sabemos que é o empregador.

Na região do Mississipi, nos Estados

Unidos, adotam essa lei. Os trabalha-

dores de lá já pediram socorro ao Brasil

para mudar essa situação e agora, aqui

no nosso País, podemos ficar em uma

situação semelhante à deles.

Como o senhor acompanha de per-

to duas matérias de extrema impor-

tância para a classe trabalhadora,

como o PL da Terceirização e a re-

gulamentação do trabalho escravo,

quais os riscos que corremos nestas

duas propostas na atual conjuntura?

São muitos os riscos. Felizmente

neste governo eu consegui pegar a re-

latoria, sou o relator das duas. No proje-

to da terceirização, que não vou admitir

ampliar a terceirização para a atividade

fim como eles querem, eu quero melho-

rar a vida do terceirizado assegurando a

eles os mesmos direitos dos outros tra-

balhadores. Estava conseguindo avan-

çar nesse sentido. A outra que também

consegui pegar a relatoria é a questão

do trabalho escravo. Trabalho escravo

a gente proíbe e não regulamenta. Teve

que vir aqui no Senado o Prêmio Nobel

da Paz 2014, o indiano Kailash Satyarthi,

para nos ajudar a travar um projeto que

estava pronto para ser votado e eu con-

Page 16: Jornal da CONTAG · Dilma, dias antes do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar - 3 de maio. A estratégia adotada pela CONTAG e FETAGs foi correta e fundamental, pois dos

JORNAL DA CONTAG16

EXPEDIENTE / Jornal da CONTAG – Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretário de Relações Internacionais Willian Clementino da Silva Matias | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Elias D'Angelo Borges | Finanças e Administração Aristides Veras dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto | Secretaria Geral Dorenice Flor da Cruz | Jovens Trabalhadores Rurais Mazé Morais | Meio Ambiente Antoninho Rovaris | Mulheres Trabalhadoras Rurais Alessandra da Costa Lunas | Política Agrária Zenildo Pereira Xavier | Política Agrícola David Wylkerson Rodrigues de Souza | Políticas Sociais José Wilson Sousa Gonçalves | Terceira Idade Maria Lúcia Santos de Moura | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Edição e Reportagem Verônica Tozzi | Reportagem Lívia Barreto | Projeto Gráfico e Diagramação Fabrício Martins | Impressão Viva Bureau e Editora

www.contag.org.br facebook.com/contagbrasil @contagBrasil youtube.com/contagbrasil

ENTREVISTA

segui pegar a relatoria. Agora, esse novo

governo, se acontecer, vai nos atropelar.

As minhas preocupações estão aumen-

tando a cada dia que passa e, por isso,

eu tenho tentado alertar o povo brasileiro

e a situação para nós só tende a piorar.

Até o momento nós conseguimos travar

para que essa onda conservadora que

viesse da Câmara não fosse aprovada

no Senado. Mas, a partir do momento

que houver um governo que toca na

mesma gaita dessa onda conservadora,

nós seremos atropelados.

E sobre a reforma da Previdência

Social? Quais as chances de retro-

ceder nos direitos já garantidos com

a mudança no Executivo brasileiro?

São todas as chances. Pode ver que

todas as vezes que tem uma crise, a pri-

meira coisa que eles levantam é mexer

nos direitos dos trabalhadores, principal-

mente usando a reforma da Previdência.

A gente lamenta muito! A Previdência

Social brasileira sempre foi superavitária,

e poderá sim se tornar deficitária pela

forma como estão atuando e estão di-

zendo o que vão fazer, porque querem

desmoralizar a Previdência Social para

que as pessoas procurem a previdência

privada. E a primeira coisa que vão fazer

é essa: será 65 anos para se aposen-

tar para todo mundo e vão desvincular

o valor do salário mínimo das aposen-

tadorias. Então será um prejuízo no ato

de encaminhar para a aposentadoria,

outro nos vencimentos mensais e toda

vez que tiverem uma expectativa de te-

rem um reajuste. Por isso tudo é que

estamos entrincheirados aqui em defesa

da democracia e não concordamos com

esse movimento que está se fazendo

aqui no Congresso.

E quais seriam os prejuízos diretos

para a população rural?

O primeiro prejuízo direto seria esse

da desvinculação do salário mínimo com

as aposentadorias. A maioria dos traba-

lhadores e trabalhadoras rurais ganha

um salário mínimo e vai passar a receber

menos que o mínimo para efeito de be-

nefício. E o segundo é ter que trabalhar

até 65 anos, igualando a idade entre ho-

mens e mulheres para se aposentar.

Qual a mensagem que o senhor dei-

xa para os nossos trabalhadores(as)

que estão ansiosos pela supe-

ração dessa crise e em defesa

da democracia?

Eu só acredito na possibilidade de

revertermos esse quadro, que vai piorar

muito para os trabalhadores e aposenta-

dos, se estivermos mobilizados em todo

o País. Mesmo que eles consigam passar

a admissibilidade do processo de impe-

achment até o dia 12 de maio, que infe-

lizmente podem conseguir passar porque

precisam de maioria simples, quanto aos

2/3, que significam 54 votos que preci-

sam daqui a seis meses para afastar de-

finitivamente a presidenta Dilma, não será

possível pois eles não têm esses 54 votos

necessários. Eu faço um apelo para que

toda a nossa gente se mobilize no campo

e na cidade para evitar esse golpe fatal

para os nossos empregos, e que a gente

possa, então, em defesa da democracia,

combater junto aos grandes movimentos

esse ataque covarde que estão fazendo à

causa mais bela que qualquer pessoa so-

nha: liberdade, justiça, igualdade e com

uma vida melhor para todos e todas. De-

fender a democracia é dizer não ao golpe!

Como diz um poeta espanhol, o caminho

a gente faz caminhando e aqui nós va-

mos escrevendo a nossa própria histó-

ria pensando sempre, em primeiro lugar,

naqueles que produzem e que elevaram

esse País à nona potência do mundo,

que são os trabalhadores da área rural e

da área urbana.

Geraldo Magela - Agência Senado