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Nº 18 | Outubro de 2011 Os escândalos do setor elétrico As conquistas são fruto da luta dos trabalhadores e trabalhadoras Placas solares: uma alternativa para aquecimento de água Página 4 Páginas 6 e 7 Página 11

Jornal do MAB | Nº 18 | Outubro de 2011

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Nº 18 | Outubro de 2011

Os escândalosdo setor elétrico

As conquistas são frutoda luta dos trabalhadores

e trabalhadoras

Placas solares: uma alternativa para

aquecimento de águaPágina 4 Páginas 6 e 7 Página 11

Concessões de energia elétrica:Não privatizar, baixar o preçoda luz e recuperar os direitosdos trabalhadores e atingidos

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EDITORIAL

Jornal do MABExpediente

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 7.000 exemplares

Não privatizare baixar

o preço da luz

VISITE O SITE DO MABEm www.mabnacional.org.br é possível ler no-tícias sobre o Movimento, ver fotos e vídeos, ler artigos e ouvir músicas. Acompanhe as novidades e compartilhe com os companheiros e companheiras!

Depois de participarmos da grande luta coor-denada pela Via Campesina no último mês de agosto, e que sem dúvida foi uma luta vito-

riosa ao chamar a atenção do país para a necessidade da reforma agrária, está colocado neste momento uma nova e importante batalha em nosso país.

Vencem a partir do ano 2012 muitas concessões na área de energia no Brasil. As posições já estão nas ruas, nas propagandas de TV e nos debates dos setores interessados.

Os empresários representados pela poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) dizem: “Vamos leiloar, assim o preço da luz vai baixar.” Mas na verdade isso quer dizer: “Vamos privatizar a energia e assim vamos encher ainda mais os bolsos” .

São quase 20 mil megawatts de energia em ques-tão. É um negócio que pode envolver 30 bilhões de reais por ano. É isto que os empresários querem leiloar/privatizar, para mais uma vez ficar com a riqueza.

Nossa luta deve ser para não deixar privatizar. Essa riqueza (as barragens, linhas de transmissão e distribuição) foi construída com o trabalho e o dinhei-ro do povo brasileiro. Então deve estar a serviço das famílias do nosso país, os consumidores residenciais, baixando em média 25% o preço da luz.

Isto é justo e necessário. É possível baixar o preço da luz sem privatização.

Coordenação Nacional do MAB

Durante o mês de setembro, militantes do MAB fizeram um amplo trabalho de base em 30 comunidades de quatro municípios do Vale do Ribeira, na região sul do estado de São Paulo. A perspectiva é fazer o mes-mo trabalho em toda a região do Vale, que tem um histórico de luta e resistência de mais de 20 anos contra as construções de hidrelétricas no rio Ribeira de Iguape. Neste rio estão previstas quatro barragens: UHE Tijuco Alto, UHE Itaóca, UHE Funil e UHE Batatal. São projetos antigos, pleiteados pela Companhia Brasileira de Alumínio, do Grupo Votorantim, e pela Companhia Energética de São Paulo.

Trabalho de base no Vale do Ribeira

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Projetos de hidrelétricaspara o rio Tapajós:

uma nova “corrida ao ouro”

A história do sudoeste do Pará, especialmente da região de Itaituba, assim

como da Amazônia em geral, foi marcada por vários ciclos de explosão econômica: ciclo da borracha, ciclo da madeira, do ouro, das frentes pioneiras de colonização. Porém, esta rique-za nunca foi distribuída entre os trabalhadores. Na região, o que permanece é apenas uma enorme dívida social e ambiental.

Atualmente a região se vê ameaçada por uma nova “corrida ao ouro”: o ciclo das hidrelétricas, que traz consigo um projeto maior do capital, que é o saqueio dos recursos naturais.

Com essa nova onda de ex-ploração, as famílias e a natureza novamente ficarão com a conta para pagar. Na Amazônia temos o caso de Tucuruí, de Balbina, das usinas no rio Madeira e agora de Belo Monte, cujos impactos so-ciais e ambientais são drásticos e sem política de reparação.

As usinas no rio Tapajós e seus afluentes

O denominado Complexo Tapajós é composto por 16 usinas hidrelétricas, sendo seis no rio Juruena, cinco no rio Teles Pires, três no rio Jamaxim e cinco no rio Tapajós, além de várias pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Todas estas obras representam o interesse dos sojicultores, dos madeireiros, dos latifundiários, das grandes empresas eletrointensivas e das in-dústrias construtoras das barragens nacionais e internacionais.

As cinco hidrelétricas que o governo planeja para o Tapajós, se construídas, alagarão mais de 1.979 quilômetros quadrados de área de floresta, incluindo parques e florestas nacionais, provocando o desalojamento de várias aldeias indígenas da etnia mundurucu e várias comunidades tradicionais de pescadores e ribeirinhos.

Para a construção das PCHs projetadas para o rio Itapacurá,

afluente do rio Tapajós, a empresa comprou as colônias dos ribeirinhos antes mesmo de dar entrada ao pro-cesso de licenciamento ambiental, em uma clara atitude de arrogância, falta de respeito aos trabalhadores e interesse econômico acima de tudo.

Na região do entorno da cida-de de Itaituba, o abuso das empre-sas se destaca como cartão de boas vindas, invadindo as comunidades dos ribeirinhos sem pedir licença, como ocorreu na Vila Pimental, na Montanha Mangabal e em diversas outras comunidades às margens do rio Tapajós.

Mas mesmo com tanta explo-ração, esse povo sempre lutou e re-sistiu às invasões. Para as lideranças do MAB, é hora de juntar forças, pois uma nova ameaça é eminente. “Não deixaremos que expulsem as famílias que sempre viveram aqui, estamos nos organizando e lutaremos para impedir a constru-ção dessas hidrelétricas, este ouro é nosso!”, afirmou Iury Charles, militante do MAB na região.

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Os escândalos do setor elétricoDe norte a sul, problemas mostram descaso das empresas do setor com atingidos e com toda a população

O discurso da privatiza-ção do setor elétrico para ter melhoria na

qualidade do serviço cada vez mais tem dado comprovações de como é falso. Com a entrega do patrimônio público, as empresas privadas assumiram a geração, transmissão e distribuição da energia elétrica, desqualificando esses serviços e colocando a vida da população em risco.

O caso mais recente que ilustra esse problema é o rompi-mento de uma das nove compor-tas da usina hidrelétrica Salto Osório no Paraná, construída nos anos 70. Hoje a concessão é da empresa Suez Tractebel, que para solucionar o proble-ma teve que diminuir o lago em 20 metros de profundidade, praticamente secando o reser-vatório. “Essa é uma situação complicada. Foi o rompimento de uma comporta, mas quem garante que isso foi um acidente isolado e não poderá se repetir

em uma proporção mais grave? As famílias estão apreensivas, as informações são bastante imprecisas e isso nos preocupa muito”, pondera Robson For-mica, da coordenação do MAB no Paraná.

Fatos se repetem pela irresponsabilidade das empresas

No sul a Suez Tractebel deixou romper uma comporta. No norte, onde é acionista do Con-sórcio Ceste, com o fechamento das comportas para a formação do lago da barragem de Estreito, a cota da água foi acima dos níveis

previstos e casas foram alagas. Os moradores afir-mam que o con-sórcio errou nas medições, pois durante todas as audiências pú-blicas, afirmava que os povoados à beira rio no final da área de alague não seriam atingi-dos. No entanto, a água foi entrando nas casas, além de

causar uma grande mortandade de peixes, assim como aconteceu no rio Madeira, em Rondônia.

Problemas semelhantes acontecem em inúmeros lo-cais, como na região atingida pela usina Foz do Chapecó, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, cujas comportas foram fechadas em 2010. Para moradores que fi-cariam fora da área que seria alagada, a água foi muito além e recentemente inundou gal-pões e áreas de plantio.

Segundo Rodrigo Zanca-naro, atingido pela barragem, os es tudos de impacto am-biental são fraudulentos, jus-tamente para diminuir o custo social da empresa, omitindo os impactos ambientais e so-ciais. “A empresa apresentou um estudo indicando que 1700 famílias seriam atingidas pela barragem, depois o Ibama fez uma reavaliação e indicou 2474 famí l ias . O Consórc io não reconheceu e nem indenizou estas famílias, que agora so-frem com a inundação de suas terras”, afirmou.

Para o engenheiro ele-tricista e diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná, Antônio Goulart, esses proble-mas são da própria estrutura do modelo energético, onde o in-teresse é ter muito lucro. “Veio o apagão como resultado da falta de investimento das em-presas privadas, a precarização das condições de trabalho dos trabalhadores do setor elétrico e mais recentemente tivemos, além do apagão das linhas de t ransmissão de I taipu, uma série de explosões e de pro-blemas graves com distribui-doras, como a Ligth, no Rio de Janeiro. Esses são problemas que revelam os prejuízos da privatização do setor elétrico”, afirma Goulart.

Para o Movimento dos Atingidos por Barragens, além da privatização, há o proble-ma de modelo de produção de energia, pois a prioridade não é atender as necessidades do povo, e sim o interesse do grande capital. Enquanto isso, os atingidos e os trabalhadores brasileiros pagam a conta!

Alagamento não previsto causado pela usina Foz do Chapecó

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Concessões: empresas querem aprofundar privatização do setor elétrico

A posição do MAB é:não privatizar, baixar o preço da luz para as residências brasileiras e recuperar os direitos dos trabalhadorese atingidos

Até o final deste ano o go-verno brasileiro vai ter que decidir se prorroga

os contratos de concessão do se-tor elétrico que vencem a partir de 2015 ou se faz novos leilões. Na visão do MAB, fazer novos leilões significará um aprofunda-mento da privatização do setor, por isso, o Movimento é contra essa proposta.

As concessões que vão ven-cer representam 23% da capacida-de de geração, 74% da transmissão e 33% da distribuição da energia elétrica. A maior parte dos con-tratos, principalmente de geração, está sob controle de empresas estatais, como Chesf, Furnas, Eletronorte, Cesp, Cemig e Co-pel. É aí que entra o interesse das empresas privadas na realização de novos leilões: elas querem que esses bens, que representam cerca

de R$ 30 bilhões por ano, sejam privatizados.

É só olhar para o que acon-teceu nos anos 90, com a priva-tização do setor elétrico sob o neoliberalismo, para entender por que o MAB é contrário: a tarifa de energia subiu 400%, a qualidade do serviço piorou e aumentaram as violações aos direitos dos atingidos e dos trabalhadores do setor.

Uma das principais interes-sadas na privatização, a Fiesp (Fe-deração das Indústrias do Estado de São Paulo), deu início a uma campanha defendendo a realização dos leilões. Ela argumenta que dessa forma os preços da energia diminuirão de cerca de R$ 90 para R$ 20 o megawatt-hora na geração. Esse argumento esconde que, na verdade, se houvesse essa redução, a diferença seria embolsada pelas empresas privadas, que controlam as distribuidoras, e não chegaria aos consumidores residenciais, ou seja, aos trabalhadores.

Contra a privatizaçãoO MAB é contra fazer no-

vos leilões porque essa medida significa a privatização e de-

fende, portanto, a prorrogação das concessões das estatais nas áreas de geração, transmissão e distribuição.

As empresas estatais têm cerca de 140 terawatts-hora de “energia velha”, ou seja, cujas fontes de produção estão com seus investimentos em instala-ção praticamente amortizados. O MAB defende que essa energia seja toda destinada às 55 milhões de residências brasileiras, como medida concreta para diminuir a tarifa para os trabalhadores em no mínimo 20%.

Por fim, o MAB defende a recuperação das condições de tra-balho e dos direitos dos atingidos, que sofreram grave retrocesso durante o período de privatização do setor.

“Essa é a principal disputa política no campo da energia nes-se momento, por isso vai exigir unidade entre os movimentos e organizações da classe trabalha-dora para não deixar privatizar e garantir que essa energia seja para o povo brasileiro”, afirma Gilberto Cervinski, da Coordenação Nacio-nal do MAB.

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Vencerão as concessões de 74% das linhas de transmissão

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As conquistas são fruto da lutados trabalhadores e trabalhadoras

Marchas, acampa-mentos, tranca-mentos de rodo-

via e seminários marcaram a Jornada Nacional de Lu-tas da Via Campesina em agosto, com um saldo po-sitivo para o conjunto dos movimentos sociais.

As lutas aconteceram para que as tarifas da água, energia, gás e transporte se-jam públicas e acessíveis aos trabalhadores, por Reforma Agrária, por uma política de incentivo e de créditos para a agricultura camponesa e pela solução do problema do endividamento, contra o uso dos agrotóxicos, pela produ-ção de alimentos saudáveis e contra as alterações do Có-digo Florestal, entre outras reivindicações.

As ações fizeram avan-çar a pauta, em especial para recolocar o tema da Reforma Agrária na agenda do governo, com a imedia-ta liberação de R$ 400 mi-lhões para compra de terras. Com relação ao problema do endividamento dos agri-cultores, foi dada a possi-bilidade de os agricultores e agricultoras que possuem até 20 mil reais de dívida terem acesso a novos crédi-tos, além do compromisso de manter o grupo de traba-lho para ir construindo uma solução definitiva para o problema.

Confira as lutas onde os atingidos por barragens es-tiveram participando:

RondôniaMais de 300 atingidos pela barragem de Samuel bloquearam a rodovia BR 364, próximo ao município de Itapuã do Oes-te. A usina, construída há mais de 26 anos, ainda deixa um rastro de problemas sociais e ambientais. Entre as reivindicações dos atingidos está um plano de recuperação dos municípios da região, o reassenta-mento de 800 famílias, ações de fortalecimento da pesca e melhoria no siste-ma de abastecimento de energia.

ParáMilitantes do MAB realizaram um am-plo debate sobre a usina de Belo Monte com os moradores de Altamira nas sema-nas que antecederam a Jornada de Lutas. Atingidos pela barragem de Tucuruí par-ticiparam das visitas relatando os graves casos de violação dos direitos humanos

naquela região. Depois desse mutirão, o MAB montou um acampamento, cujo principal debate foi Belo Monte para quê e para quem?. Durante quatro dias foram feitas marchas, atividades de formação e construção da pauta de reivindicação dos atingidos.

Em Tucuruí, cerca de 500 pessoas fizeram uma marcha em direção à barragem para cobrar os acordos firmados ainda em 2005, mas que até agora não foram cumpridos pela Eletronorte.

Minas GeraisIntegrantes da Via Campesina ocuparam por quatros dias a sede do Incra em Belo Horizonte para reivindicar terras para assentamento e reassentamento de famí-lias sem terra e atingidas por barragens. Os movimentos também deram apoio à greve estadual dos professores do estado, que lutam pelo pagamento do piso profissional nacional. No norte do estado, foi realizado o Seminário Mineração no Alto Rio Pardo para debater as violações e os impactos gerados pelas obras de mineração da região. Outro seminário, realizado na Zona da Mata mi-neira, debateu os temas da Plataforma Operária e Camponesa da Ener-gia, como o preço abusivo das tarifas públicas, entre elas do transporte, gás, água e energia.

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Bacia do rio Uruguai Rio Grande do Sul e Santa CatarinaMilhares de camponeses inte-grantes da Via Campesina e da Fetraf se mobilizaram em diver-sos municípios para pressionar o Governo Federal a negociar as dívidas dos agricultores. Houve trancamentos da ponte em Mar-celino Ramos, na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e ações no Banco do Brasil em Esmeralda, Lagoa Vermelha e Vacaria.

Tocantins

Atingidos por barragens e sem terra, acampados às margens da rodovia TO 010, marcharam por mais de 15 quilômetros até a cidade de Porto Nacional para denunciar a situação de 800 famílias acampadas que aguardam desapropriação de terras para reassentamento.

CearáEm Fortaleza, cerca de 1400 camponeses da Via Campesi-na ocuparam a sede nacional do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), para cobrar do governo federal um plano emergencial para a reforma agrária, a construção de escolas, projetos de irrigação, a proibição da pulverização aérea na Chapada do Apodi, políticas de acesso à água e a não construção de barragens. A luta também foi pela redução das tarifas de energia, água e gás.

ParaíbaCentenas de camponeses e trabalha-dores organizados na Assembléia Popular se mobilizaram na capital paraibana para denunciar o aumen-to de 8,06% nas contas de energia. O protesto foi uma lavagem nas es-cadarias da distribuidora de energia do estado, a Energisa.

Vale do rio São Francisco Pernambuco e BahiaNo acampamento montado em Jua-zeiro, na Bahia, os camponeses deba-teram a problemática das barragens na região, o uso abusivo de agrotóxi-cos pelos fazendeiros, a necessidade de implementar a agroecologia e o

problema do endividamento agrícola dos agricultores. Na cidade vizi-nha de Petrolina os manifestantes ocuparam a sede da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e se manifestaram em frente ao Banco do Brasil.

Paraná

Cerca de 300 atingidos por bar-ragens da região sudoeste do Paraná participaram de uma audiência pública realizada em Pato Branco para discutir a vio-lação dos direitos humanos nas obras previstas para a região. A audiência foi promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná.

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Atingidos por barragens lutam pela terra

A luta para garantir ter-ra às famílias atingi-das sempre foi uma das

bandeiras do MAB. Em alguns estados e regiões onde houve um processo intenso de luta das populações atingidas e foi possí-vel avançar em alguns acordos e garantir o reassentamento digno as famílias atingidas.

“Temos a certeza que esta tem sido a melhor forma de repa-ração e garantia dos direitos dos atingidos. Porém, como não exis-tem critérios e uma política única de tratamento aos atingidos por parte do estado brasileiro, esta

situação sempre fica a mercê da correlação de forças entre a pos-sibilidade de luta da população local e a ofensiva das empresas construtoras de barragens”, afir-mam lideranças do MAB.

Em 2010, o Incra iniciou um processo de cadastramento das pessoas que foram atingidas com a construção das hidrelétri-cas e precisam da terra para rees-truturar suas vidas e a dinâmica produtiva das regiões.

Pelo quadro levantado pelo próprio Incra, só em uma ação de cadastramento os núme-ros passam de 12.000 famílias.

“Com certeza este número será bem maior. Por isso, o MAB exige do governo a continui-dade deste cadastro, e que seja organizado um plano imediato para reassentar as famílias já cadastradas”, afirmam as lide-ranças do Movimento.

Como forma de exigir mais agilidade do Estado e das empre-sas do setor elétrico, os atingidos sem terra montam acampamen-tos, acreditando que a luta será o caminho para garantir o reas-sentamento e também a criação de uma política de tratamento aos atingidos.

Acampamentos no sulNo fim de outubro, integrantes do MAB e do

MST ocuparam e montaram acampamento em uma área da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecu-ária (Fepagro), em Vacaria, no Rio Grande do Sul. A principal reivindicação das famílias acampadas

é transformar a área em um cen-tro de pesquisa voltado para a realidade da re-gião. A proposta dos movimentos sociais é colocar famílias para vi-ver da terra, tra-balhando e pro-

duzindo alimentos saudáveis. Já no município de Cerro Nego, em Santa Catarina, outro acam-pamento começou no início de junho. O objetivo é garantir os direitos das famílias que há anos estão esperando receber um pedaço de terra para produzirem e sobreviver.

Acampamentos em TODesde maio 1200 famílias do MAB e do MST

estão acampadas entre os municípios de Porto Na-cional e Palmas, na região central do estado. Já no sul de Tocantins, no município de Palmeirópolis,

cerca de 400 atingidos pelas barragens de Peixe Angelical e São Salvador estão acampados há quase dois anos. Outro acampamento mais recente, organizado no final de agosto, é formado por 400 atingidos pela barragem de Estreito e sem terras do MST, no município de Luzinópolis. Além dos acampamentos, existe uma ocupação urbana no município de Barra do Ouro, onde 300 famílias estão construindo suas casas.

Acampamento em MGFamílias atingidas pelas barragens de Embo-

que e Granada, na Zona da Mata de Minas Gerais, fizeram um acampamento para denunciar a violação de direitos humanos na construção de barragens e reivindicar da empresa canadense Brookfield, res-ponsável pelas duas barragens, o reassentamento das famílias pre-judicadas e reati-vação econômica, social, ambiental e cultural, com projetos estrutu-rantes. O Incra se comprometeu a fazer vistorias nas terras escolhidas pelos atingidos que sem terra desde 1998, no caso de Emboque, e desde 2003, no caso de Granada.

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Consórcio Norte Energia não tem resposta para atingidos

por Belo Monte

O decreto presidencial que reconhece um conceito amplo de atingido, uma

das conquistas do MAB no últi-mo período, está sendo rasgado pelo consórcio construtor de Belo Monte, formado principalmente pelas empresas Eletrobras, Chesf, Eletronorte, Vale e Queiroz. Ape-sar de, nas reuniões, o consórcio Norte Energia dizer que segue o documento, na prática seus fun-cionários têm dito outra coisa: “Os moradores perguntam quem vai ser atingido e o consórcio diz que é só quem a água bater na casa”, denuncia Fabiano, militante do MAB em Altamira.

Devido à obra, ao menos cinco mil pessoas terão de deixar suas casas nos baixões de Altamira. Esse número pode ser bem maior, pois uma medição independente realizada pela Uni-versidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com o Ministério Pú-blico Federal aponta que as áreas alagadas poderão ser bem maiores que as descritas no Estudo de Im-pacto Ambiental (EIA).

O MAB considera que cerca de 20 mil moradores serão atingi-dos na cidade. Esse número inclui pescadores e oleiros, atingidos diretamente em sua atividade eco-nômica, para os quais as empresas do consórcio não tem dado ne-nhuma resposta sobre seu destino. Também inclui os moradores que estão vendo suas vidas mudarem radicalmente com o furor da che-gada do “progresso” na região.

O militante do MAB tam-bém denuncia a situação das famílias residentes na zona rural, onde o processo de desapropria-ção já começou. “As famílias que já saíram receberam uma indenização em dinheiro que mal dá para sobreviver na cidade. Compram uma casinha e já aca-bou. Além disso, são agricultores, como é que vão sobreviver na cidade?”, questiona.

Para alertar sobre essa situa-ção e para organizar as famílias, o MAB está motivando o processo de organização dos grupos de base no bairro Boa Esperança e Aparecida, em Altamira, onde no mês de agosto foram feitas visitas às casas de todos os moradores. Os grupos estão sendo constituí-dos, em média, por oito famílias, e através deles está sendo feito o debate sobre os direitos da popu-lação atingida.

A grande questão que está sendo debatida é “Belo Monte para quê e para quem?”. Além disso, o MAB reivindica o ime-diato cancelamento das obras de construção da barragem de Belo Monte, a manutenção das políticas

públicas que visam o desenvolvi-mento da região, sem a construção da barragem, a liberação de recur-sos para investir em projetos de cultura, a construção, ampliação e melhoramento da qualidade dos atendimentos médicos, bem como a infraestrutura dos hospitais, políticas públicas para melhoria da qualidade de vida das famílias residentes na periferia de Altamira entre outras pautas.

Problemas das usinas do rio Madeira se repetem em Belo Monte

Todos estes problemas que os atingidos por Belo Monte estão enfrentando já foram vivenciados pelos atingidos pelas barragens de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, que viram os con-

flitos se multiplicarem durante o perí-odo de construção. Um levantamento feito pelo próprio consórcio Santo Antônio Energia constatou que 74% dos atingidos tiveram piora em relação ao trabalho e renda com a construção da barragem. “Isso por que o grau de responsabilidade social das empresas construtoras é quase nada, ao contrário do que propagandeiam”, afirmam os militantes do MAB.

Essa realidade não é localiza-da apenas em Rondônia ou no Pará. Casos de violações dos direitos humanos e degradação da natureza estão espalhados em todo o Brasil, na construção de Estreito, Cana Brava, Castanhão, Barra Grande e outras barragens que só aumentam o passivo social e ambiental.

Marcha contra Belo Monte em Altamira, durante a Jornada de Lutas de agosto

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Atingidos produzem açaíagroecológico no Tocantins

NOSSA PRODUÇÃO

A produção de alimentos saudáveis, cultivados de maneira agroecoló-

gica e livre de agrotóxicos, está sendo incentivada pelo MAB em todos os estados e diversas famílias já estão produzindo dessa maneira.

Os atingidos por barra-gens do reassentamento Ma-riana, a 25 km da cidade de Palmas, em Tocantins, estão utilizando novas formas de plantio e provando que, com força de vontade, assistência técnica, recursos hídricos e mercado consumidor, frutas amazônicas como açaí e cupu-açu podem facilmente ser cul-tivadas em áreas de cerrado.

Tudo começou quando o agricultor Getúlio Vieira da Sil-va, 58 anos, e mais 12 pessoas se mudaram, no ano de 2000, para as margens da Serra do Lajeado, em Palmas, área com grande quantidade de mata preservada, que esconde riquezas turísticas ainda pouco conhecidas. Atin-gidos pela usina hidrelétrica de Lajeado, os agricultores conquistaram o reassentamento Mariana após um processo de luta no MAB.

Antes de ser atingido, Ge-túlio cultivava hortaliças para

subsistência e após a mudança teve que se adaptar às condições da nova área, sujeita a alagamen-tos. “Um dia acordei e a água es-tava chegando à porta da minha casa”, conta.

Mas o que poderia ser um grave problema de produção tornou-se uma nova forma de geração de renda. Sabendo que a palmeira do açaí se dá muito bem em terreno encharcado, ele viajou mais de 700 km e, no estado do Pará, pesquisou espécies que se adaptassem ao clima de Palmas. Levou mil mudas. “No início as pessoas falavam que eu estava perden-do meu tempo, que a planta não iria sobreviver e que eu não iria ganhar dinheiro com isso. Hoje, todos os moradores do reassentamento cultivam açaí”, ressalta.

Das mudas plantadas, hoje ele passeia animado por uma área de cinco hectares de Sistema Agroflorestal (SAF), forma de utilização da terra com plantio de diversas espécies de árvores de maneira consorciada numa determinada área. Pedras no caminho e superação

De acordo com o senhor Getúlio, problemas como a

falta de energia elétrica e a demora no restabelecimen-to do fornecimento fizeram com que ele e o restante da comunidade tivessem perdas financeiras.

“Em 2008, tivemos que jogar fora 500 kg de polpa de açaí, porque não tinha energia elétrica”, lembra. Mesmo as-sim eles não desistiram. Prova disso foi que, com o apoio de diversos órgãos, a comunida-de conquistou maquinários para despolpa, pasteuriza-ção e congelamento do açaí, além de uma casa do mel para centrifugação e envasamento da produção e uma unidade demonstrativa de criatório de galinha caipira.

Juntamente com a pro-d u ç ã o d e a l i m e n t o s s a u -dáve i s , o Movimento dos Atingidos por Barragens tem incentivado as famílias a par-ticiparem do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e a usarem a tecnologia que tem como base o programa “Produção Agroeco lóg ica I n t e g r a d a e S u s t e n t á v e l ” (PAIS). Com isso, haverá o fortalecimento da organiza-ção dos camponeses e a gera-ção de renda através da venda do excedente da produção.

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Placas solares: uma alternativapara aquecimento de água

ao alcance dos trabalhadores

Obter água quente sem agredir a natureza e ainda por cima economizar na

conta de luz. Essas vantagens são oferecidas pelas placas solares que o MAB está implantando nos três estados do sul, em São Paulo e em Minas Gerais.

“Esta tecnologia está sendo desenvolvida desde janeiro de 1999, pela Sociedade do Sol (So-Sol), sediada no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas da Uni-versidade de São Paulo. Tivemos a oportunidade de conhecer e apro-fundar o debate no MAB, fazer algumas experiências e agora esta-mos implementando nas casas das comunidades e reassentamentos”, disse Verilson Gheno, militante do MAB no Paraná.

A família de Nilce Antonelo, moradora da comunidade de Linha Marília, no município paranaense de Dois Vizinhos, foi uma das be-

neficiadas com a placa solar. Ela descreve a economia: “A conta de luz vinha R$ 80, R$ 85, então passou a vir R$ 60 e nos últimos dois meses chegou perto dos R$ 40”, afirmou.

Por enquanto, Nilce usa a água quente das placas só no chu-veiro, o aparelho que mais con-some energia elétrica na maioria das casas. Ela pretende conectar a água à torneira para lavar louça com água quente também. “É bem quente. Quando dá sol o dia inteiro precisa até ligar o registro da água fria para misturar”, diz.

Alternativa ao atual modelo energético

Ao incentivar o uso das pla-cas, o MAB avança na proposição do Projeto Energético Popular. “A energia solar é superior a qualquer outra forma de geração de energia convencional por tratar-se de uma

fonte totalmente natural e limpa”, afirma Verilson.

Além disso, a utilização de placas solares contribui para a autonomia da população atingida na geração e utilização de energia, poia sua técnica de construção pode ser apropriada pelas famílias trabalhadoras e camponesas por um baixo custo. Assim, a proposta se contrapõe ao monopólio da ge-ração, transmissão e distribuição de energia, que no Brasil são con-centradas por grandes empresas.

A ideia é tornar esses siste-mas de aquecimento de água co-nhecido e adotado pela população. A construção das placas solares também deve contribuir para for-talecer a organização do MAB nas regiões, pois sua implementação é feita através dos grupos de base do Movimento, dando possibilidade dos atingidos e atingidas aprende-rem a construir.

Energia do sol, tecnologia do povoCom o objetivo de animar os atingidos a experimentar essa nova forma de gerar calor, o MAB produziu o documentário “Energia do sol, tec-nologia do povo”, que mostra a experiência de implantação das placas solares no sul do país. Peça o vídeo aos coordenadores do seu grupo ou confira no site do MAB: http://www.mabnacional.org.br/?q=video/energia-do-sol-tecnologia-do-povo

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As mulheres atingidasestão em luta

Desde que o Movimento dos Atingidos por Barragens começou um trabalho mais intencionalizado com as mulheres, elas tem participado e se envolvido mais em diversas ações do próprio

Movimento. É o que conta a militante do MAB Marta Rodrigues, da região do Vale do São Francisco. “Com a inserção das mulheres na organização e nas lutas, o Movimento vem se fortalecendo no último período”, afirmou. Acompanhe a entrevista ao Jornal do MAB.

Como está a participação das mulheres na sua região?No Vale do São Francisco notamos um aumento na participação a partir do debate sobre a organização das mulheres e a necessida-de delas conduzirem o processo. É uma região muito rica, porém empobrecida pelo grande capital, em que as mulheres têm muita dependência de seu companheiro ou do mercado de trabalho. Mas elas estão se empenhando na construção de mudança na sociedade e ocasionando mudança no próprio Movimento.

Em quais atividades elas estão se envolvendo mais?

Na formação dos grupos de base, elas estão assumindo as tarefas de coordenação. Também se envolvem na organização do PAA (Progra-ma de Aquisição de Alimentos), discutindo mudanças no modelo de produção. Além disso, as mulheres estão tendo grande participação nos encontros de formação e se qualificando cada vez mais no debate do modelo energético.

Como foi a participação das mulheres nas ações da Jornada de Lutas de agosto?Na Jornada de Lutas da Via, notamos grande participação das mu-lheres do MAB, com uma contribuição mais qualificada. Antes, as mulheres iam para a luta, mas não se enxergavam como sujeitas. Hoje, elas vão para a rua e sabem por que estão lá. Têm a consciência de que “sou mulher, estou no MAB e preciso fortalecer essa organização”.

Você acha que o Encontro das Mulheres Atingidas por Barragens (ocorrido em abril deste ano) motivou a par-ticipação política das mulheres?As mulheres saíram de lá se sentindo mais fortalecidas e mais conscientes do seu próprio papel, entendendo que sua opressão é uma questão estrutural, que envolve libertação política e também econômica.

Quais são os próximos passos para animar as mulheres a participarem cada vez mais do Movimento?

A partir do Encontro das Mulheres, estamos debatendo essa questão entre a militância, estudando a cartilha sobre a violação dos direitos humanos na vida das mulheres atingidas. Estamos nos preparando para fazer o Encontro Estadual das Mulheres Atingidas por Barragens no final do ano.