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Nº 12 | Março de 2010 MAB reforça a luta contra a usina de Belo Monte, no Pará Estudo em preparação aos acampamentos e assembléias estaduais Dia Internacional da Mulher é marcado por mobilização nacional Página 4 Páginas 5 a 8 Página 12 Ricardo Stuckert/PR

Jornal do MAB | Nº 12 | Março de 2010

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Jornal do MAB | Nº 12 | Março de 2010

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Nº 12 | Março de 2010

MAB reforça a luta contra a usina de Belo Monte, no Pará

Estudo em preparação aos acampamentos e assembléias estaduais

Dia Internacional da Mulher é marcado por mobilização nacional

Página 4 Páginas 5 a 8 Página 12

Em audiência com Lula, MAB cobra o cancelamento de Belo Monte e o

pagamento da dívida do Estado com os atingidos

Rica

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Stuc

kert

/PR

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EDITORIAL

www.mabnacional.org.br

Jornal do MABExpEdiEntE

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 5.000 exemplares

14 de março: Dia Internacional de Luta

Contra as Barragens e pelos Rios, pela Água e pela Vida

MAB e UFRJ formam a primeira turma de

especialistas em energia

O mês de março é um mês espe-cial para seguirmos nas lutas permanentes contra todas as

estruturas injustas da sociedade. Neste mês comemoramos o Dia Internacion-al das Mulheres (08 de Março), o Dia Internacional de Luta contra as Bar-ragens e pelos rios, pela água e pela vida (14 de março) e o Dia Mundial da Água (22 de março).

Ao lembrarmos destas datas, con-vocamos a todos os movimentos popu-lares e sindicais, igrejas, entidades e ONGs que apóiam a luta pela defesa da vida, contra a mercantilização da natureza e por outro modelo de socie-dade, para juntos nos manifestarmos contra as injustiças sofridas, em todos os locais possíveis.

Devemos denunciar a exploração sobre nosso povo, em especial sobre as populações que são expulsas de suas terras; denunciar a entrega dos recur-sos naturais e dos recursos públicos nas mãos de grandes grupos nacionais e multinacionais; denunciar as políticas dos Estados nacionais que ferem os dire-itos dos povos e promovem a destruição da natureza. Devemos ainda aproveitar este momento para fortalecer as nossas reivindicações, as nossas organizações e a solidariedade internacional. Pro-mover todo tipo de ação e manifestação pública neste período é muito impor-tante, e com este objetivo é que fazemos esta convocatória e que apresentamos esta edição do Jornal do MAB.

Aos lutadores e lutadorasdo povo, muitas e boas lutas

nesse mês de março.Coordenação Nacional do MAB

No final de janeiro e início de fevereiro, 65 militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e de di-versos movimentos sociais de todas as regiões do Brasil,

e também da Colômbia, El Salvador e Argentina, estiveram no Rio de Janeiro para a conclusão da primeira turma do Curso de Extensão e Especialização "Energia e sociedade no capitalismo contemporâneo". O curso foi realizado em uma parceria entre o MAB e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Os principais objetivos do curso foram ampliar o acesso de integrantes de movimentos sociais à universidade e contribuir para a capacitação desses militantes, aprofundando o conhecimento so-bre as relações entre energia, meio ambiente e sociedade. Uma das prioridades desta etapa foi a entrega do trabalho de conclusão, um artigo elaborado por cada um dos alunos sobre algum dos temas que perpassaram o curso. "A 4ª etapa do curso é mais um impor-tante passo no processo de elaboração de um modelo energético popular, não somente para o Brasil, mas para toda a América La-tina. Nesse contexto, a parceria entre os movimentos sociais e a universidade propicia grandes avanços, pois ao mesmo tempo em que traz para o mundo da universidade as lutas sociais, proporcio-na o saber teórico para a militância", afirmam os coordenadores.

A criação do curso é considerada uma vitória das organiza-ções populares e inscreve-se no esforço da UFRJ de se abrir aos movimentos e organizações sociais. Neste sentido já existem arti-culações entre o MAB e a universidade para o início de uma nova

turma em julho deste ano. O professor Carlos Vainer, co-ordenador do convênio reforçou a necessidade de conti-nuar seguindo com a proposta do curso, e que por parte da universidade, existem iniciativas inclusive de criação de um centro para receber cursos com este caráter.

Mística durante o curso de energia, na UFRJ

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Audiência do MAB com Lularevela divergências na política energética e avança no tratamento das questões sociais

No início de fevereiro, re-presentantes do Movi-mento dos Atingidos por

Barragens foram recebidos pelo Presidente Lula, em Brasília. Na audiência o MAB entregou uma carta ao presidente, na qual refor-çou sua posição contrária à cons-trução da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e criticou a atual po-sição do governo quanto ao setor elétrico, que entrega para empre-sas privadas o controle da gera-ção, transmissão e distribuição de energia.

O MAB solicitou ainda que seja feita uma séria revisão nos altos preços das tarifas de energia elétrica e que sejam criados meca-nismos para que as empresas que se apropriaram indevidamente de mais de 10 bilhões de reais nos últimos 10 anos devolvam estes recursos na forma de investimen-tos coletivos necessários aos mu-nicípios. Além disso, os represen-tantes também citaram o aumento

da violência e da criminalização contra as lideranças do MAB e demais movimentos sociais.

O presidente manifestou que nem todos os pontos apresentados são convergentes entre o MAB e o governo, no entanto reconheceu novamente a dívida do Estado bra-sileiro com os atingidos por barra-gens e afirmou a necessidade das pessoas terem as condições neces-sárias para viver com dignidade. Para Lula é preciso estabelecer normas para o reconhecimento das famílias como atingidas por barragens. Ele considerou a audi-ência como o primeiro encontro com o MAB e que novas reuniões deverão acontecer depois de reu-nir os ministérios para formalizar as solicitações do Movimento.

Na opinião dos coordena-dores, a audiência explicitou que

Na reunião o governo entregou respostas à algumas pautas de reivindicação do MAB, dentre elas a que garante que os atingidos terão prioridade em uma série de programas governamentais já existentes.

existem divergências entre o Mo-vimento e o governo quando se trata da construção de barragens e outros pontos da política ener-gética nacional. Por outro lado, reconhecem a sensibilidade que o governo está tendo ao acatar inú-meras sugestões para o tratamento da área social. “Mesmo com sina-lizações positivas nas questões sociais, o MAB entende que sua principal tarefa é fortalecer a or-ganização e fazer a luta para ga-rantir todos os direitos do povo atingido”, afirmou um dos coor-denadores nacionais.

Na oportunidade da audi-ência, o MAB, em nome da Via Campesina, também entregou ao presidente uma carta solicitando inúmeras providências para au-xiliar o povo do Haiti que foi as-solado por um forte terremoto no início do ano.

Militante do MAB entrega carta do Movimento ao presidente Lula durante audiência

Ricardo Stuckert/PR

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‘Belo Monte não é uma batalha perdida’Entrevista com Moisés Ribeiro

IHU On-Line – Qual a sua aná-lise sobre a decisão do go-verno de licenciar a obra de Belo Monte?Moisés Ribeiro – Como ela é uma das principais obras do PAC, faze-mos a leitura de que o governo não vai voltar atrás, mesmo sabendo que há uma série de impactos e que há um monte de problemas que não fo-ram devidamente dimensionados. O governo, para atender o interesse do grande capital, não irá abrir mão disso. Temos uma série de grandes empresas multinacionais, que atu-am no setor elétrico brasileiro, que fazem uma pressão imensa sobre o governo e o Ministério de Minas e Energia. Mas, para nós, fica claro que eles usarão sempre a questão das condicionantes, um elemento novo que eles “criaram”. Eles irão dizer que estão inaugurando outro proces-so, que agora existem quarenta con-dicionantes e que irão garantir isso e aquilo. Isso, para nós, não resolve a questão dos atingidos, pois, o que constatamos é que as empresas, de-pois que assumem o papel de cons-trutoras, passam por cima de tudo aquilo que se possa imaginar que seja direito dos atingidos.

Nós trabalhamos sempre com duas perguntas básicas: Energia para quê? Energia para quem? Entende-mos que o grande capital precisa de energia para se expandir, na Amazô-nia principalmente. Entendemos que esse grande capital, que determina as coisas na sociedade atual, vai, de todas as formas, tentar garantir mais uma hidrelétrica, mesmo causando todos os impactos possíveis para a so-ciedade e o meio ambiente.

Belo Monte é um caso emble-mático nesta conjuntura do setor energético. Há todo um conjunto de questionamentos e especialistas que

se debruçaram sobre o assunto e que estão dizendo que é uma obra inviá-vel. Sabemos, conhecendo um pouco da região, descendo e subindo o Rio Xingu, que é uma obra que não tem a menor possibilidade de dar certo. Principalmente, por se tratar de uma obra que irá produzir, no máximo, 4 mil MW, ou seja, não vai produzir nem 40% de sua capacidade instala-da. Por mais que o governo declare que é uma única obra, temos certeza que esta hidrelétrica é a primeira de

IHU On-Line – Belo Monte é uma batalha perdida?Moisés Ribeiro – Para nós, Belo Monte não significa uma batalha perdida. Está aí a licença prévia, mas ainda há um bom caminho a ser per-corrido, e já há muitas ações sendo feitas. O próprio Ministério Público Federal já está questionando a libe-ração da licença prévia. Existia um documento anterior a essa licença, que era assinado por seis técnicos ambientais do IBAMA, onde eles diziam que havia muitas questões sem conclusão. Eles não tinham tido tempo hábil para chegarem a algu-ma conclusão, e aquelas questões, já concluídas por eles, direcionavam para a não realização da obra. Ou seja, eles concluíram que não havia viabilidade para construir a obra.

O que sabemos é que ainda ha-verá entraves e lutas, isso no âmbito da justiça. Nós, do Movimento dos

Atingidos por Barragens, vamos continuar lutando, organizando as famílias e mon-tando nossas bri-gadas para resistir ao projeto. Enten-demos que não é um projeto viável, que não irá trazer nenhum tipo de

benefício para a população que será atingida e muito menos trazer algum tipo de desenvolvimento para aquela região. Nenhum projeto de barragem no Brasil levou consigo algum tipo de desenvolvimento, na região onde foi instalado. Não nos damos por venci-dos de forma alguma.

Moisés Ribeiro, coordenador e integrante da direção do Movimento dos Atingidos por Barragens, narra, em entrevista à IHU On-Line, a recente audiência do MAB com o presidente Lula. Um dos pontos altos da entrevista é a Usina de Belo Monte, confira.

* Entrevista originalmente publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos.

A íntegra pode ser lida no siteda instituição (www.ihu.unisinos.br).

Se construída, a barragem de Belo Monte encobrirá 1/3 da cidade de Altamira

Crianças indígenas da tribo juruna atingidas

tantas outras que terão de sair para que a produção de energia naquela região dê certo. Queremos, defini-tivamente dizer que somos contra Belo Monte, pois entendemos sua inviabilidade. Não precisamos de energia desse tipo, pois não se trata de energia para o povo, e sim para os grandes produtores e consumidores. Reafirmamos nosso posicionamento, tanto o MAB quanto os movimentos que lutam por outro projeto de de-senvolvimento na região.

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Neste mês de março o MAB estará em luta, mobilizado em diversos estados em acampamentos, encontros e audiências.

Cada vez mais temos que nos preparar para enfrentarmos as estruturas injustas des-

sa sociedade e fortalecermos um modelo energético popular. Com o objetivo de debatermos a rea-lidade da questão energética na-cional bem como avaliarmos os pontos de pauta que o MAB tem defendido é que escrevemos os textos a seguir.

Mas por que as grandes empresas têm tanto interesse em tantos projetosde barragens?

Pela importância que a energia assumiu na so-ciedade: Hoje ela é o que

impulsiona o movimento e o avanço da sociedade, tanto das sociedades socialistas como capitalistas, mas para as capita-listas a energia é indispensável,

pois sem ela as indústrias e fá-bricas deixam de produzir e os empresários deixam de lucrar em grande escala. Um dos des-tinos da geração de energia elé-trica em nosso país é abastecer os grandes consumidores, prin-cipalmente a chamada indús-tria eletrointensiva (indústria de celulose, alumínio, ferro, aço, entre outras) e os grandes supermercados (shoppings). No Brasil, atualmente existem 665 grandes consumidores de energia e sozinhos consomem aproximadamente 30% de toda energia elétrica brasileira.

Pela alta lucratividade do negócio: No Brasil, as 30 maiores empresas de

energia elétrica formaram o se-tor com segundo maior lucro

em 2007. Faturam nas obras de construção, venda de mate-riais, venda de equipamentos, construindo as obras com fi-nanciamento público, superfa-turando-as, vendendo a energia a um preço muito caro para a população, e o governo subsi-diando os preços para as gran-des indústrias.

As mineradoras VALE e ALCOA e a produtora de celu-lose Votorantim, recebem ener-gia do governo brasileiro a 4 centavos ao kWh (seus contra-tos são de 20 anos), enquanto a população brasileira paga 50 centavos pela mesma quantida-de de energia consumida. Ou seja, com a privatização do se-tor elétrico as tarifas represen-tam um verdadeiro roubo sobre toda população brasileira.

Os Acampamentos Regionaise o Encontro Nacional estão aí!

AVANTE!

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baixo custo deve-se à nega-ção dos direitos sociais pelas empresas e por não repara-rem os danos ambientais.

d) O Brasil possui um dos sistemas mais eficientes do mundo, é o chamado “Sistema Interligado Na-cional”, que permite levar

energia de uma região para outra, conforme a intensi-dade das chuvas, fazendo os lagos das hidrelétricas funcionarem como uma grande caixa de água. Ou seja, o sistema interligado permite o controle sobre todo rio, sobre a bacia hi-drográfica, inter-bacias e inter-regiões.

Mesmo com todas estas vanta-gens e o baixo custo para produzir, o Bra-sil tem a 5º tarifa de energia mais cara do mundo. Por quê?

Isto ocorre porque dentro do modelo de socie-dade capitalista, a mercadoria “energia elétrica” produzida a baixo custo nas barragens não tem seu preço estabele-cido pelo custo de produção real, e sim,

Pela eficiência da fonte hidráulica em produzir energia elé-

trica: A mesma água de um rio pode ser utilizada diversas vezes, basta que sejam constru-ídas diversas hidrelétricas num mesmo rio, como se fosse uma escadaria de usinas.

b) A fonte hidráulica apresenta alta pro-dutividade. A energia hídrica possui alta efi-ciência energética se comparada com a fonte térmica, predominante no mundo. Eficiência energética é a capa-cidade que o sistema possui de perder o mínimo de energia possível no pro-cesso de transformação de uma energia em outra. No caso da barragem, de trans-formar a energia mecânica (fluxo da água) em energia elétrica através da turbina.

c) É a fonte de menor custo de produção, pois a maté-ria prima utilizada nas tur-binas (água) não apresenta nenhum custo, está “estoca-da” no lago, por isso o cus-to médio para gerar 1 Mwh gira em torno de 20 dólares. Devemos lembrar que este

Pelo potencial hidre-létrico existente no Brasil: O aproveitamen-

to do potencial hidrelétrico no mundo revela que na maioria dos países ricos e desenvolvi-dos, os principais rios já foram utilizados para construção de usinas. Nestes países, o apro-veitamento chegou ao seu limi-te máximo, apresentando enor-mes dificuldades na construção de novas barragens. Com isso, a indústria de barragens (formada por empresas como a Siemens, Alstom, General Electric, VA Tech, etc) buscam encontrar novas regiões no mundo para manter seus negócios e altos faturamentos.

No Brasil, além de suprir a escassez energética de muitas multinacionais, os capitalistas hegemônicos estão buscando apropriar-se tanto do potencial hidrelétrico já implantado no nosso país como do potencial ainda possível de ser aproveitado. Isso se acelerou com as privatizações das estatais no início da década de 90.

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pela fonte energética que tiver o maior custo de produção, no caso, pelo preço do petróleo. Isto aumenta muito o lucro das empresas: produz a ener-gia barata, mas vende cara para a população. O grande potencial hidráulico nos pa-íses da América Latina e os altos lucros obtidos com a hidroeletricidade, fazem com que ocorra uma aceleração na construção de hidrelétricas em todas as regiões do Bra-sil.

AVANTE!

Com o aumento na construção de barragens, aumentam também os problemas sociais e ambientais. A cada ano milhares de atingidos por barragens são expulsos de suas terras e ficam sem condições de sobrevivência. A nossa história demonstra que só pela luta garantimos conquistas, por isso que as mobilizações de março são importantes para os atingidos por barragens. Nossa pauta de reivindicação e luta é a seguinte:

por difusão de informações e organização popular, que garanta acesso aos progra-mas governamentais e aos direitos dos atingidos.

2. Pelo direito às condições de vida, trabalho e renda:

Cumprimento integral de to-• das as recomendações da Co-missão Especial de Direitos Humanos, constante de rela-tório aprovado, para os atin-gidos por barragens;

Extensão do direito às linhas • do Pronaf A (crédito, educa-ção...) para todos os atingidos por barragens – reassentados e ribeirinhos;

Garantia de assistência técni-• ca e social para as comunida-des atingidas;

Só a luta faz valer!

1. Pelo direito à informação e educação

Garantia pelos governos dos • direitos dos atingidos (das obras projetadas, já cons-truídas e em construção), de forma igualitária, indepen-dente da jurisdição;

Reconhecimento e transfor-• mação em Lei Federal do conceito de “atingido por barragem” pelo Conselho dos Presidentes das Estatais do Setor Elétrico;

Continuidade do Projeto de • Educação para atingidos por barragens com aprovação imediata de convênio para realização de diagnóstico nas comunidades;

Continuidade da política de • capacitação técnica e social dos atingidos por barragens

Pelos direitos dos atingidos por barragens

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AVANTE!

Criação de um fundo especial • para o projeto popular de re-cuperação e desenvolvimento das regiões atingidas ou ame-açadas por barragens, com re-cursos do BNDES;

Perdão das dívidas dos atingi-• dos por barragens até o valor de 10 mil reais e negociação de valores superiores a este;

Assentamento para os filhos • de assentados e ribeirinhos sem terra;

Criação de política pública • especial para os pescadores artesanais e garantia de con-dições de trabalho e comer-cialização do pescado;

Concessão de cestas básicas a • cada mês, para as 16 mil fa-mílias cadastradas.

3. Pelo direito à água, energia e tarifa social:

Garantia do abastecimento de • água e energia elétrica para todas as famílias do Brasil e com plano de urgência para todas as famílias atingidas por barragens;

Aplicação imediata da Lei • da Tarifa Social de energia elétrica que garante acesso a todas as famílias que conso-mem até 200 Kw/h/mês, res-peitando os máximos regio-nais estabelecidos;

Implantação de política pú-• blica especial de aquecedores solares de baixo custo para aquecimento de água. Com projeto inicial para os estados

das regiões Centro-Oeste, Su-deste e Sul;

Ampliação do projeto de cis-• ternas para atingir todas as comunidades ribeirinhas, re-assentamentos e demais famí-lias atingidas por barragens;

4. Pelo direito à liberdade:

Não à criminalização dos mo-• vimentos sociais que lutam por seus direitos.

5. Pela defesa, preservação e recuperação domeio ambiente:

Aprovação de uma política • especial para capacitação e aplicação de projetos relacio-nados à proteção ambiental e preservação, para as comuni-dades ribeirinhas e lindeiras dos lagos de barragens;

Criação de Seguro Social e • Ambiental para empreen-dimentos do Setor Elétrico, com recursos para enfrentar os problemas sociais e am-bientais que se manifestarem mesmo após o processo de licenciamento; e para proble-mas sociais e ambientais que surgirem e não foram previs-tos pelos estudos de impacto e pelos processos de licencia-mento;

Criação de formas concretas • de compensação para a prote-ção das áreas de preservação ao redor dos lagos e rios, áre-as extrativistas e demais áreas previstas no Código Florestal.

A PARTIR DESTAS INFORMAÇÕES, deve-mos refletir com todos os atingidos e com todos que apóiam a nossa luta algu-mas questões:

Na nossa região, quem são os donos da ener-gia? Qual o preço da luz para o povo? Como estão sendo tratados os atingidos?

Que outros pontos de pauta deveríamos le-vantar e lutar por eles diante dos governos ou das empresas?

Que atitudes devemos tomar para denunciar e lutar contra as injusti-ças cometidas pelo atu-al modelo energético e conquistar os direitos dos atingidos e de todo o povo?

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Todos estão convocados a debater, decidir e participar das lutas deste ano de 2010.

Boa luta e grandes vitórias para todos e todas.

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Região Sul avança na elaboração de projeto popular de recuperação

Há tempos, os militantes do MAB na bacia do Rio Uru-guai (divisa entre Santa Ca-

tarina e Rio Grande do Sul) estão debatendo junto às famílias, comu-nidades e municípios um projeto popular de recuperação da região atingida por inúmeras barragens.

“A prioridade é pensar pro-postas para melhorar a vida do povo que vive nas comunidades, onde as pessoas, de forma organizada, de-vem ser os sujeitos do processo, debatendo, planejando, decidindo e executando o que é melhor para o povo”, disse um dos militantes. “Estamos debatendo e construindo propostas, através de reuniões, as-sembléias municipais e seminários regionais”, defendeu.

No último período estas ati-vidades se intensificaram e estão reunindo diversos setores da socie-dade, como prefeitos, sindicatos, igrejas, lideranças e demais movi-mentos para a construção de propos-tas unificadas. O que já é consenso na região é que o plano se materiali-zará através do Projeto Popular que inclua um plano de recuperação, preservação e satisfação das necessi-dades das comunidades, municípios e região atingida pelas hidrelétricas na Bacia do Rio Uruguai.

“Já demos vários passos, entre eles as audiências com o BNDES no sentido de pleitear o financiamento de projetos na linha de produção de ali-mentos. E essa reivindicação é mais do que justa já que, do custo total das barragens na região (8 bilhões de re-ais), 5,5 bilhões foram investidos pelo BNDES. Até agora o debate nas co-munidades foi de levantar os proble-mas e propostas de onde investir.

Realidade regional aponta a necessidade de organização

Na Bacia do Rio Uruguai já foram construídas as hidrelétricas de Itá, Machadinho, Barra Gran-de, Campos Novos, Monjolinho, Foz do Chapecó e várias Pequenas Centrais Hidrelétricas. Essas obras já expulsaram em torno de 50 mil pessoas de suas terras e atingiram mais de 350 comunidades. Entre

Região: Bacia do Rio Uruguai

Número de barragens construídas: 6 usinas hidrelétricas e diversas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs)

Pessoas atingidas: 50 mil pessoas

Comunidades atingidas: 350 comunidades

Empresas que lucram com as barragens: Alcoa, Votorantim, Suez-Tractebel, Camargo Correa e Engevix

Faturamento por ano: 3,2 bilhões de reais

Custo das obras: 8 bilhões de reais

Financiamento do BNDES: 5,5 bilhões de reais

as famílias que foram expulsas e aquelas que continuam morando nas comunidades ribeirinhas, cerca de 100 mil pessoas já foram atingi-das nesta região.

Várias outras hidrelétricas estão planejadas, entre elas a bar-ragem de Garibaldi, Itapiranga, Pai Querê, Garabi e várias pequenas barragens, que se construídas, tam-bém expulsarão milhares de famí-lias e aumentarão o lucro das cinco empresas que estão se apropriando das riquezas da região: Alcoa (Esta-dos Unidos), Suez-Tractebel (Fran-ça), Votorantim, Camargo Correa e Engevix (brasileiras).

Segundo levantamentos feitos pelo Movimento dos Atingigos por Barragens na região, estas empresas estão gerando um faturamento de 3,2 bilhões de reais por ano. Os 50 mu-nicípios atingidos receberam do Go-verno Federal em 2009 apenas 15% deste valor. “Toda promessa de em-prego, desenvolvimento e progresso tem sido uma grande mentira, pois parte da riqueza gerada em nossa re-gião acaba sendo levada para fora da região e até pra fora do país. Por isso estamos realizando estas assembléias, para debater e propor alternativas para a melhoria das condições de vida, pro-duzindo e vendendo nossos produtos na região”, afirmou uma das lideran-ças do Movimento.

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A UHE Barra do Braúna, de propriedade da empresa Brookfield, antiga Brascan,

é mais um exemplo de desrespei-to aos atingidos por barragens em Minas Gerais. A usina atinge os municípios de Laranjal, Recreio, Leopolina e Cataguases e está ge-rando energia desde o final do ano passado com a Licença de Opera-ção (LO) concedida pela Secre-taria Estadual de Meio Ambiente do estado, sem ouvir o Conselho Estadual de Política Ambiental da Zona da Mata.

A anulação dessa licença aconteceu porque não foi implan-tado o Plano de Assistência Social da barragem, requisito legal para concessão da LO. No entanto, agora o Presidente do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais suspen-deu a liminar que anulava a Licen-ça de Operação com a alegação de prejuízo à economia pública. “Os atingidos pela barragem é que es-tão tendo prejuízo”, afirmou um morador do local, Marcelo Perei-ra de Freitas. Segundo ele, as fa-mílias sofrem ameaças, persegui-ções, e muitas delas até hoje não receberam nenhuma indenização. “Os pescadores, mergulhadores, trabalhadores rurais estão sem ter seu meio de sustento e não rece-beram nada”, declarou Freitas.

Os moradores denunciam

que vários requisitos que preci-sam ser cumpridos antes da con-cessão da Licença de Operação estão sendo ignorados. Além do não desenvolvimento do Plano de Assistência Social, a multina-cional dona da barragem não fez a limpeza do lago e depois do fe-chamento das comportas, deixou que toneladas de peixes morres-sem. Se não bastasse, as casas do novo povoado foram construídas em Área de Preservação Perma-nente e os agricultores não podem mexer na terra para plantar, invia-bilizando a sobrevivência.

No início de fevereiro, atingidos por barra-gens protestaram contra a construção das barra-gens de Pedra Branca e Riacho Seco, projetadas para o Rio São Francisco. As famílias realizaram uma marcha na BR 210, no município de Curaçá (BA). Segundo o MAB, a população organiza-da, consciente de seus direitos, não aceitará mais barragens na região. Isso porque as barragens de Sobradinho e de Itaparica já trouxeram muita po-breza para o povo do Vale do São Francisco.

Para uma das coordenadoras da região, a marcha foi o momento de fortalecer o processo de resistência contra as barragens e de reforçar a necessidade de desenvolvimento através da pro-dução camponesa, com instalação de cisternas e de redes de luz elétrica, construção de moradias, recuperação de estradas, etc. As empresas que fi-zeram os estudos das barragens são Odebrecht, Chesf e Desenvix. Estima-se que as duas obras podem expulsar cerca de 17 mil famílias.

Em Minas Gerais,multinacional persegue atingidos

Na Bahia, atingidos por barragensmarcham na BR 210

Empresa não cumpriu requisitos para a concessão da Licença de Operação da barragem

Barragem Barra do Braúna, em Minas Gerais

Jorge Luiz Ferreira

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Os atingidos pelas barragens do Rio Madeira continu-am mobilizados e reali-

zando assembléias em várias co-munidades. Eles discutem a pauta de reivindicações e exigem que as empresas façam o reassentamento das famílias e apliquem um plano de desenvolvimento local.

As famílias ainda resistem à retirada forçada pelo consórcio, que vem negando informações aos atingidos. "Nós apenas sabemos que vamos ter que sair das nos-sas casas, mas não sabemos qual

Os atingidos pela barragem de Tucuruí estão fechando convênio com o governo do estado do Pará para a construção e reforma de moradias nos muni-cípios de Tucuruí e Baião. Os primeiros projetos já foram liberados ainda em dezembro de 2009 e os atingidos estão na expectativa de que no próximo período os demais também sejam encaminhados. Ao todo, mais de 200 famílias serão beneficiadas.

Em Tucuruí são 25 anos de espera para solu-cionar os inúmeros problemas sociais que surgiram com a construção da barragem. E mesmo sem a so-lução para uma série de problemas, novos projetos estão impactando a região: duas eclusas estão sendo construídas com o objetivo de tornar o rio Tocantins navegável para o escoamento de grãos e minérios de ferro para a exportação. O contrato assinado para

Atingidos pela barragem de Jiraunão querem casas de placa e cobram seus direitos

será a forma de indenização nem se haverá indenização para todos. Queremos ter a garantia de conti-nuar na terra produzindo para sus-tentar nossas famílias", disse um atingido.

No início de janeiro, o MAB teve acesso ao Plano de Remane-jamento da População Atingida, produzido pela empresa Enersus, dona da barragem de Jirau. O pla-no ainda não contempla os diretos dos atingidos e possui pontos que o MAB não concorda, entre eles a carta de crédito e agrovilas ur-

banas. Como dizem os atingidos, "com a carta de crédito o dinhei-ro acaba logo e no Pólo Industrial não teremos condições de pro-dução, como eram acostumados. Nosso povo deve ser reassentado em áreas que dêem condições mí-nimas de reestruturação das famí-lias, como possibilidade de con-tinuarem produzindo na terra", afirmou uma liderança.

O MAB afirma que os atin-gidos têm direito de decidir para onde querem ir, e como deve ser a sua transferência. No entanto, o que acontece é que a empresa decide tudo pelas famílias e está construindo casas de placas nas agrovilas. Dezenas dessas casas já caíram, mesmo antes de serem ocupadas. "É um modelo de casa que não serve para realidade da Amazônia, pois a região é muito quente e será insuportável viver nelas, além do mais, a qualidade dessas casas é péssima e nós não queremos morar nesses lugares", declarou um morador.

a construção das Eclusas entre o Departamento Na-cional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), Ele-tronorte e o Consórcio Camargo Corrêa tem valor de R$ 440 milhões. As duas eclusas, ligadas por um canal intermediário, com 5,5 quilômetros de exten-são, irão possibilitar a navegabilidade no Rio Tocan-tins. “Querem transformar o rio num corredor para exportação das riquezas da nossa Amazônia”, disse um militante do MAB.

Segundo dados do Movimento, muitas famílias que foram expulsas de suas casas para dar lugar às eclusas ainda não receberam nenhuma indenização ou receberam em valor insuficiente. A conquista das moradias é uma reivindicação histórica dos atingi-dos, mas repara apenas em parte todas as perdas que eles tiveram nesses anos todos de espera.

Atingidos conquistam moradias no Pará

Assembléia dos atingidos pela Usina Hidrelétrica de Jirau

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Jornal do MAB | Março de 201012

Dia Internacional da Mulheré marcado por mobilização nacional

Atingidas por barragens participam da marcha que reunirárepresentantes de todos os estados do país

Com o lema “Seguiremos em marcha até que todas seja-mos livres”, as mulheres

irão fazer uma marcha de Campi-nas a São Paulo, realizando debates nas escolas, igrejas e clubes sobre temas como a autonomia econômi-ca das mulheres, os bens comuns e serviços públicos (contra a priva-tização da natureza e dos serviços públicos) e a violência contra as mulheres.

As mulheres atingidas por barragens também participarão le-vando a experiência de vida e de luta no processo de construção das usinas. Por residirem em áreas ru-rais, em sua maioria, elas mantêm uma relação próxima com a terra. Usam os recursos naturais princi-palmente para a alimentação, mas também à outros usos, como chás, energia da lenha para cozinhar e aquecer, etc. Nesse sentido, as mu-lheres são as principais vítimas da

degradação ambiental ocasionada pelas barragens, que implica em grandes perdas para quem depende da natureza para sobreviverem.

Vale ressaltar que, no que tange ao trabalho fora de casa, mui-tas atingidas por barragens perdem sua identidade e há uma precariza-ção das condições de trabalho com a chegada dessas grandes obras. “Mulheres que antes eram pescado-

ras, extrativistas, de comunidades tradicionais e indígenas, por exem-plo, são obrigadas a saírem de seus espaços e fazer serviços domésti-cos nas casas dos trabalhadores das obras, ou nas empresas que chegam na região, sem nenhum direito ga-rantido. Assim, elas e as futuras ge-rações perdem suas raízes, pois são obrigadas a vender sua força de tra-balho para sobreviver”, disse uma coordenadora do MAB.

Outra constatação é a insta-lação de negócios da prostituição perto do canteiro de obras da bar-ragem ou junto ao alojamento dos trabalhadores. “Essa estratégia das empresas tem o objetivo de “entre-ter” os operários, que estão longe de suas famílias há bastante tempo. Em alguns casos, há a mercantili-zação do corpo das mulheres com a venda de adolescentes para a pros-tituição, podendo até influenciar e facilitar o tráfico internacional de mulheres”, denuncia a militante.

Estes e outros temas que re-fletem as condições de vida das mu-lheres atingidas por barragens serão levados para a Marcha Mundial de Mulheres, além de todo o acúmulo que o MAB possui no debate sobre a soberania energética e a campanha “O preço da luz é um roubo”.

Entre os dias 8 e 18 de março, a Marcha Mundial das Mulheres organizará sua 3ª Ação Internacional no Brasil.

Está sendo organizado para o início de outubro deste ano, o 3º Encontro Internacional dos Atingi-dos por Barragens. O 1º Encontro aconteceu no Brasil em 1997 e o MAB foi anfitrião de organizações e movimentos sociais de diversas partes do mundo. No México, onde acontecerá o 3º Encontro, atingi-dos por barragens, representantes

Homenagem a Glenn Switkesde Ongs e especialistas estarão reunidos para compartilhar experi-ências e informações, desenvolver estratégias em comum e fortalecer o movimento internacional contra a construção de barragens e pelos di-reitos das populações ribeirinhas.

Glenn Switkes, da entidade International Rivers, era um dos organizadores do 3° Encontro In-

ternacional e bravo combatente da luta contra as barragens no Brasil e no mundo. Glenn faleceu no dia 21 de dezembro de 2009. O MAB presta sua homenagem a este his-tórico lutador e vai propor que durante o Encontro Internacional dos Atingidos seja relembrada sua história contra as barragens e pelos rios, pela água e pela vida.